sexta-feira, 23 de outubro de 2015

4) Adoração 5) Alianças 6) Amizade e Fraternidade

4) ADORAÇÃO

ÍNDICE

1 - ADORAÇÃO
2 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap XV - Sobre o Louvor
3 - O Culto Racional a Deus
4 - Adoração – Parte 4 a Parte 13
14 - Adoração Significativa
15 - Adoração
16 - A Filosofia e a Propriedade do Louvor Abundante
17 - Adoração em Tempos de Guerra
18 - A Adoração que é Aceita e Aprovada por Deus


1 - ADORAÇÃO

Sem santidade não há adoração. E a santificação demanda a nossa responsabilidade em praticar a Palavra, apartando-se do mal e praticando o bem, em outras palavras, despojando-se da carne e revestindo-se de Cristo.
Cabe ressaltar que a impressão que nos causa o conhecimento sobre o esplendor da glória de Deus, do Seu trono e dos seres celestiais que o cercam, não deve ser o motivo da nossa adoração, mas aquilo que o Senhor é em Sua natureza.
Desde os profetas do Velho Testamento somos ensinados que aquele que se gloriar, glorie-se no Senhor (Jer 9.24). Em conhecê-lo em Seus atributos, especialmente os de justiça, amor e misericórdia.
Não devemos nos gloriar nas coisas que o Senhor tem feito por nós, mas no Senhor mesmo.
É Ele quem deve ser adorado e não as Suas obras.
Devemos adorá-lo também pelas Suas obras, mas não adorá-las.
Os querubins são obras da mãos de Deus, assim como todas as demais coisas e seres.
Devemos ter o diligente cuidado para não adorarmos o que Deus criou ou mesmo o que possa criar a nossa imaginação.
Somente o Senhor deve ser adorado porque só Ele é digno de adoração. Ele nos criou, redimiu do pecado, nos vestiu com a justiça de Seu filho, deu-nos a vida eterna, a habitação do Espírito, um coração inteiramente novo na regeneração, tem nos capacitado e ensinado a vencer o mal e a andar em justiça, livrou-nos da maldição da lei, da condenação eterna, da servidão ao pecado e ao diabo, e nos tem aceito inteiramente como filhos através de Cristo.
É por isso que quando Moisés pediu ao Senhor para ver a Sua glória (Êx 33.18), Ele não lhe deu a visão do trono e dos querubins que deu a Ezequiel, para que Ele não confundisse a verdadeira glória do Senhor com as manifestações externas da Sua majestade. Para não confundir a glória da  vestimenta do Rei, com a glória do caráter do Rei.
Assim a resposta de Deus ao desejo de Moisés foi a revelação do Seu caráter, e a manifestação da Sua misericórdia que escolhe salvar os pecadores que amam a Sua santidade, pela graça, dizendo-lhe que é compassivo, clemente, longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade; e que guarda a misericórdia até mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos, e nos filhos dos filhos até à terceira e quarta geração (Êx 34..6,7).
Diante destas palavras, Moisés se curvou imediatamente para a terra e adorou o Senhor (Êx 34.8).
A profecia de Ez 28.14-19, refere-se a Satanás como querubim da guarda ungido que perdeu a sua perfeição por causa da iniquidade.
Satanás ainda detém muito do seu primitivo poder.
Suas hostes o obedecem e é o príncipe deste mundo.
Mas inteiramente vencido pelo mal, por causa da sua rebelião e desobediência a Deus, perdeu o seu estado original estando já julgado à condenação eterna.
Ele cobiçou a glória externa da majestade de Deus (Is 14..12-14) e não valorizou a verdadeira glória de Deus que é ser bondoso e misericordioso. Negligenciando o verdadeiro valor não buscou ser igual a Deus em Seu caráter e veio a cair.
De igual forma todo aquele que procura agradar a Deus sem levar em conta a importância de valorizar aquilo que Ele é em Sua natureza e caráter (santidade, amor, bom, justo etc) corre o risco de não tentar agradar a Deus pela reprodução do que Ele é em essência, em sua própria vida.
Como a chamada do cristão é para ser semelhante a Cristo (Rom 8.29,30) segundo o propósito eterno de Deus, então é no alto, onde Cristo vive, que deve buscar as cousas que lhe convêm à sua santidade, pois que se encontram no próprio Cristo (Col 3.1-4).
E é nisto que deve ocupar o seu pensamento, e não nas coisas terrenas, quando o assunto se refere à sua santificação.
Não a achará fora de Cristo, e sem fazer morrer a sua natureza terrena, despojando-se das obras da carne (Col 3.5-9), e revestindo-se das virtudes de Cristo (Col 3.12-17), porque foi regenerado pelo Espírito, recebendo uma nova natureza na conversão (Col 3.9,10).
O verdadeiro tesouro eterno do cristão está no céu e não na terra, é portanto nas coisas celestiais que deve estar o seu coração.
Certos pregadores da mídia, e em muitas igrejas, ensinam que o objetivo da fé em Jesus é que os cristãos sejam ricos, cheios de saúde, prosperidade e sucesso mundano no aqui e agora.
É o chamado evangelho da prosperidade.
A igreja, de modo geral, não tem o céu em sua mente, e o resultado disto é que tende a ser indulgente e egoísta e centrada em si mesma e fraca. É seu desejo estar confortável somente com passageiros pensamentos sobre o céu.
Que as visões dos querubins na Palavra, em Ezequiel e Apocalipse e em outras passagens das Escrituras, e de tudo o mais que nos revela a realidade do céu, nos ajudem a despertar para a realidade de que somos cidadãos do céu e não deste mundo.
Que teremos toda uma eternidade para ser vivida não aqui nesta terra, mas na nossa pátria celestial.
Devemos nos preparar para o local onde viveremos para sempre e por um tempo que não termina e que não pode ser comparado com a nossa brevíssima peregrinação aqui na terra.
Nossa herança eterna está no céu, não aqui na terra, de onde, a propósito nada levaremos conosco quando da nossa partida para a glória.
Nosso Pai está no céu, nosso Salvador também, nossos irmãos e nossas irmãs estão lá e todos lá estaremos um dia, nossa morada eterna está no céu, nosso novo nome está lá e a eterna função que teremos também está lá. A perfeição de caráter, de amor, de unidade, também.
João diz que o mundo passa (I Jo 2.17), mas o terceiro céu jamais passará assim como aquele que faz a vontade de Deus.
O problema está em se pensar no céu como um local imaginário. Muitos pensam que o céu é um estado de mente.  Mas a Bíblia afirma que o céu é um lugar, assim como o inferno é também um lugar.
Em Rom 8.18-25 Paulo fala sobre a glória que será revelada em nossa nova vida no céu. A redenção do nosso corpo. O desejado corpo celestial.  É por isso que ele afirma que aspirava por ser revestido da sua habitação celestial, referindo-se ao corpo glorificado que o seu espírito teria no céu (II Cor 5.2).
Seu desejo era que morrendo, o seu corpo mortal seria absorvido pela vida entrando na esperança da glória a ser revelada no céu (II Cor 5.4).
Paulo era um homem com o pensamento centralizado na vida que esperava ter no céu.
O céu era para ele, como de fato é, um local real.
A glória revelada nas Escrituras da beleza e majestade, que ele já havia contemplado num arrebatamento que tivera até o terceiro céu, ao paraíso, onde ouviu palavras inefáveis (II Cor 12.1-5), faziam com que ele aspirasse por ser chamado pelo Senhor para a sua morada eterna, na qual ele já estivera.
I Reis 8.27 afirma que os céus e até o céu dos céus não podem conter a Deus. Isto Salomão disse referindo-se ao templo que construíra para habitação do Senhor.
O local da habitação do Senhor é infinitamente distante da terra, pois está além do universo visível, está no chamado terceiro céu.
Ali estão todos os anjos, os cristãos que morreram, os querubins, os 24 anciãos, e é um lugar infinitamente grande, mas agora pense nisto, Deus é maior do que tudo o que criou.
Não pode ser contido pela criação.
No entanto o terceiro céu é o lugar da morada de Deus.
Assim como nossa casa não pode conter toda a nossa existência e vida, pois agimos em vários locais, mas nela residimos, de igual forma o terceiro céu está para Deus. Não pode restringi-lo em sua ação e movimento, mas é o local da Sua habitação (Is 57.15; Sl 33.14; 102.19).
Estamos sendo treinados na terra para o céu.
As falhas que cometemos em nosso aprendizado na terra não poderiam ser praticadas no céu, porque é um lugar de absoluta santidade e perfeição.
Por isso existe uma grande distância entre a terra e o terceiro céu, onde Deus habita.
Por isso Deus criou a terra e colocou nela o homem.
Mas ninguém pense pelo muito pecado e injustiças que vê na terra, que há alguma sombra destas coisas no céu. Ou que o céu não exista de fato em face do mal que existe na terra. Exatamente o contrário, em razão de haver terra, primeiro, segundo e terceiro céu, prova-se que de fato Deus é santo e não habita em Sua morada eterna onde exista o pecado, portanto, não há outra alternativa para quem deseja ir para o céu, senão a de santificar a sua vida.
A retirada da Sua glória do templo de Jerusalém na visão que fora concedida a Ezequiel, prova que Ele não permanece onde predomina o pecado, assim como ocorrera com a nação de Judá nos dias do profeta.
O próprio Deus vem ao encontro do pecador que se arrepende para torná-lo santo e habilitado para viver no céu (Is 57.15). Mas nenhuma impureza, nenhum pecado pode penetrar lá (Apo 21.27; 22.15).
Por isso semeia-se neste mundo corpo natural que morre, pela corrupção do pecado, mas ressuscita-se ou colhe-se corpo espiritual (I Cor 15.44).
Semeia-se em fraqueza, conforme nossa natureza terrena, e ressuscita em poder, conforme a glória do corpo que teremos no céu (I Cor 15.43).
O corpo que temos neste mundo, em razão do pecado de Adão, foi semeado com uma semente corruptível, que de fato veio a se corromper, pois todos pecaram, mas para os que crêem, que foram regenerados de uma semente incorruptível, a Palavra de Deus (I Pe 1.23), há uma ressurreição em glória (I Cor 15.42).
O céu é infinito assim como Deus é infinito. Mas é um local acessível ao cristão assim como foi a Ezequiel em sua visão, quando foi arrebatado ao terceiro céu, tanto como Paulo e tantos outros.
E que nunca esqueçamos que dentre os muitos significados que possam ter os rostos dos querubins, em suas formas de leão, boi, águia e homem, que eles nos falam sobretudo do caráter que deve ser encontrado nos filhos de Deus, da mesma forma que se encontram em Cristo.
Os cristãos devem ter a força, a coragem, a ousadia e a majestade do leão, especialmente em sua luta contra os poderes da trevas e do pecado, assim como elas se encontram em Cristo; devem também ao mesmo tempo ter a mansidão, o serviço, a humildade, o sacrifício representados no boi; assim como estão em Cristo e que nos ordena que o imitemos em Sua mansidão, humildade e serviço; devem ainda ter a perseverança da águia que voa contra a tempestade, vencendo assim todas as tentações e tribulações, assim como Cristo venceu o mundo; e finalmente tendo as características essenciais da perfeita humanidade assim como nos foram reveladas em Cristo, em sua misericórdia, ternura, amor, bondade, alegria, enfim, em todos os atributos que recebemos do próprio Deus, pois que fomos criados à Sua imagem e semelhança.
O pecado desfigurou tal imagem corrompendo a natureza terrena, que foi destinada por Deus à destruição, pois está reconstruindo em nós tal semelhança por meio de Cristo, através da co-participação em sua natureza divina (II Pe 1.4), a partir do novo nascimento.
Recebemos uma vida novinha em folha que está destinada ao crescimento até a estatura de varão perfeito.
A natureza terrena ainda guarda alguns resquícios da imagem e semelhança com que o homem foi criado, por isso se vê nela traços da bondade, da justiça, do amor, mas a natureza terrena, em razão do pecado de Adão é qual um edifício que veio abaixo, e que em sua destruição ficou ainda com algumas colunas de pé, aqui e ali, mas está inteiramente destruído, apesar haver tais resquícios da construção original.
Estamos sendo, desta forma, reconstruídos, não utilizando os materiais da antiga construção que ruiu com o pecado, mas  transformados de glória em glória, porque é real o trabalho de Deus na edificação desta nova vida que recebemos na conversão.
Mas como vimos, a esta glória de nossa transformação interna, em nosso caráter, há de se refletir também a glória de Deus externamente, nos corpos imortais e celestiais que teremos, tal como esta glória está refletida nos querubins, nos serafins, nos anjos e arcanjos, que já se encontram em seu estado eterno.
Que maravilha !!! Deus nos criou também para este propósito e o tem cumprido através de Cristo.
Assim como trouxemos a imagem do primeiro Adão, que é terreno, com o seu corpo feito do pó, devemos trazer também a imagem do último Adão (Cristo), que é celestial, com o seu corpo glorificado (I Cor 15.45-49).
Deus o fará, porque nos tem ensinado aqui na terra que há vários tipos de corpos, de carnes, de glórias, mesmo entre os peixes há tipos de carnes diferentes, mesmo entre as aves e os mamíferos; até entre os planetas e estrelas, há várias composições diferentes.
Deus o fez assim, e isto nos ensina que de fato a composição e a glória do corpo eterno que teremos, será totalmente diferente da condição do corpo que se corrompe, no qual habitamos agora (I Cor 15.35-42).
Segundo Daniel 12.3 nossos corpos resplandecerão com o fulgor do firmamento e brilharão como as estrelas, sempre e eternamente, e aí, tal como os querubins refletiremos a glória do Senhor, e somente então poderemos suportá-la em Sua plenitude, e com a face aberta poderemos contemplar a face do Santo, e juntamente com os vinte e quatro anciãos querubins, serafins, arcanjos e anjos, prostraremos nossos rostos e adoraremos Aquele que se assenta no trono e ao Cordeiro.
Finalmente, devemos considerar que nossa visão do céu não deve estar localizada apenas nos querubins, nem mesmo nos bilhões de criaturas celestiais que lá residem, mas no Criador.
Lembremos, que em Apocalipse João ouviu a voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões, e milhares de milhares, que adoravam a Cristo dizendo: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra e glória e louvor.” (Apo 5.11,12).
Os santos servirão ao Senhor no céu (Apo 7.15; 22.3). O céu será um local de serviço permanente, dia e noite, tal como fazem os querubins e todos os demais seres celestiais. Ninguém estará desocupado no céu. Este é de fato um local de descanso das tribulações, aflições e canseiras deste mundo, mas não no sentido de estarmos desocupados. Não haverá tristezas e dores no céu. Os santos não se cansarão.
Os querubins e os anjos estão em estado de exaltação no céu, e por isso a sua adoração é contínua e perfeita, mas nós, na terra, estamos ainda no estado de humilhação. As tribulações estão aperfeiçoando o nosso caráter.
Falamos muito sobre adoração, porque esta é uma das funções principais de todos os servos de Deus, quer terrenos, quer celestiais, inclusive os querubins e os anjos, mas, em razão da nossa atual limitação somos também incentivados à oração para receber a misericórdia de Deus e achar a graça que nos socorre na ocasião oportuna conforme determinada pela soberania do Senhor.





2 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap XV - Sobre o Louvor

Efésios 5:19 - falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais,

Colossenses 3:16 - Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.

Sobre cantar os Salmos em nossas devoções particulares. E sobre a excelência e benefício deste tipo de devoção, pelos grandes efeitos que ela tem sobre nossos corações. E sobre os meios de fazê-lo da melhor maneira.

Você já viu no capítulo anterior, o que significa e quais são os métodos para aumentar e melhorar a sua devoção. Quão cedo você deve começar suas orações, e o que deve ser o objeto de suas primeiras devoções pela manhã.
Há ainda uma coisa restante, que deve ser observada, e que não pode ser negligenciada, sem grande prejuízo às suas devoções.
E isto é, que você deve começar todas as suas orações com um Salmo.
Isto é tão certo, é tão benéfico para a devoção, porque tem muito efeito em nossos corações.
Eu não quero dizer, que você deve ler um Salmo, mas que você deve cantá-lo.
Deve ser considerada a importância de se cantar um Salmo  no início de suas devoções, por ser algo que despertará tudo o que é bom e santo dentro de você, e que chamará o seu espírito ao seu dever apropriado, para ajustá-lo em sua melhor postura para o céu e sintonizar todos os poderes de sua alma para a adoração.
Pois não há nada que tão melhor limpe o caminho para suas orações, nada que tanto expulse a indolência de coração, nada que purifique a alma das paixões pobres e pequenas, nada que  abra o céu, ou conduza o seu coração para tão perto dele, como essas canções de louvor.
Elas criam um sentido e prazer em Deus, elas despertam santos desejos, e lhe ensinam a pedir, e  prevalecem com Deus para atender suas petições. Elas acendem uma chama sagrada, e transformam seu coração em um altar, suas orações em incenso, e as conduzem como um doce aroma suave ao trono da graça.
A diferença entre cantar e ler um Salmo, será facilmente compreendida, se você considerar a diferença entre ler e cantar uma canção comum que você goste. Enquanto você apenas a lê, você somente gosta da letra, e isso é tudo, mas assim que você a canta, então você a aprecia, você sente o prazer e a emoção dela, ela se apodera de você, suas emoções entram em ritmo com ela e você sente dentro de si o mesmo espírito que  parece estar nas palavras.
Se você tivesse que dizer a uma pessoa que tem essa canção, que ela não precisa cantá-la, que seria suficiente ler, ela iria querer saber o que você quis dizer, e achar que lhe pediu um  absurdo, como se tivesse lhe dito que somente  deveria olhar para a comida, para ver se era boa, mas não precisava comê-la; porque um cântico de louvor não cantado, é muito parecido com qualquer outra coisa boa da qual não se fez uso.
Talvez você diga, que cantar é um talento especial, que pertence somente a determinadas pessoas, e que você não tem nem voz, nem ouvido para cantar qualquer música.
Se você tivesse dito que cantar é um talento geral, no qual  as pessoas diferem, como em todas as outras coisas, você teria dito alguma coisa muito mais verdadeira.
Pois as pessoas diferem muito no talento de pensar, que não é somente comum a todos os homens, mas parece ser a própria essência da natureza humana.
No entanto, ninguém deseja ser dispensado do pensamento, ou razão, ou discurso, porque ele não tem esses talentos, como algumas pessoas o possuem.
Se uma pessoa viesse a deixar de orar, porque ela tinha um estranho tom em sua voz, ela teria uma boa desculpa para não cantar Salmos, por ter pouca voz.
Em segundo lugar, esta objeção poderia ser de algum peso, se você fosse cantar para entreter outras pessoas, mas isto não é para ser admitido no presente caso, onde você só está obrigado a cantar os louvores de Deus, como uma parte de sua devoção privada.
Todos os homens são cantores, da mesma forma como todos os homens pensam, falam, riem e choram.
Cada estado do coração, naturalmente, coloca o corpo em algum estado que é adequado para ser mostrado a outras pessoas. Se um homem está com raiva, ninguém precisa lhe instruir como expressar essa paixão pelo tom de sua voz. O estado de seu coração o conduzirá ao uso adequado da sua voz.
Se, portanto, existem, senão poucos cantores de músicas divinas, se as pessoas querem ser excluídas desta parte da devoção, é porque são poucos, cujos corações são elevados à altura da piedade, e que sentem impulsos de alegria e prazer nos louvores a Deus.
Imagine a si mesmo, como se tivesse estado com Moisés quando ele conduzia o povo através do Mar Vermelho, e que você tivesse visto as águas se dividirem, e que estas caíssem sobre os seus inimigos depois de você tê-lo atravessado em segurança, então teria voz para cantar louvores a Deus juntamente com Moisés: “O Senhor é a minha força, e o meu cântico, e se tornou a minha salvação, etc”.
Eu sei, e seu coração lhe diz, que todas as pessoas naquela ocasião devem ter entoado louvores. E isto, portanto, lhe  ensina que é o coração que afina a voz para cantar os louvores de Deus; e que se você não pode cantar essas mesmas palavras agora com alegria, é porque você não está tão afetado com a salvação do mundo por Jesus Cristo, como os israelitas ficaram com a sua libertação no Mar Vermelho.
Se você, então, despertar o seu coração, ele tão naturalmente cantará as palavras do Salmo, como ele ri quando ele está satisfeito. E este será o caso em cada música que tocar o coração.
Se você puder dizer com Davi, meu coração está firme, ó Deus, meu coração está firme; será muito fácil e natural você adicionar a isto, como ele fez, eu vou cantar e louvar, etc.
Em segundo lugar, vamos agora considerar uma outra razão para este tipo de devoção. Como o canto é um efeito natural da alegria no coração, por isso tem também um poder natural de tornar o coração alegre.
A alma e o corpo são tão unidos, que têm cada um deles poder sobre o outro em suas ações. Certos pensamentos e sentimentos na alma, produzem tais e tais movimentos ou ações no corpo, e, por outro lado, certos movimentos e as ações do corpo, têm o mesmo poder de aumentar tais e tais pensamentos e sentimentos na alma. Porque, como o canto é o efeito natural da alegria na mente, por isso é tão verdadeiramente uma causa natural que eleva a alegria na mente, pois há aqui uma recíproca relação de causa e efeito.
Como a devoção do coração faz surgir naturalmente atos de oração, de igual modo os atos de oração são meios naturais para elevar a devoção do coração.
Como a raiva produz palavras de raiva, então palavras iradas aumentam a ira.
Embora, a sede da Religião esteja no coração, mas uma vez que nossos corpos têm um poder sobre nossos corações, uma vez que as ações tanto procedem, quanto entram no coração, está claro que as ações externas têm um grande poder sobre essa Religião que está sediada no coração .
Devemos, portanto, tanto usar ajuda externa, quanto interna em nossa meditação, a fim de gerar e corrigir hábitos de piedade em nossos corações.
Esta doutrina pode ser facilmente levada longe demais, pois,  se dependermos de muitos meios exteriores de adoração, isto pode degenerar em superstição; como, por outro lado, alguns têm caído no extremo contrário. Porque para provar a Religião sediada no coração, alguns têm exercido essa noção, até agora, como renúncia à oração vocal, e outros atos exteriores de adoração, como o louvor, e têm resumido toda a sua religião em um quietismo, ou relação mística com Deus em silêncio.
Ora, estes são dois extremos igualmente prejudiciais à verdadeira Religião, e não devem ser achados quer no culto interno ou externo.
Pois desde que não somos somente alma, nem somente corpo, por não serem nenhuma de nossas ações separadas da alma, ou separadas do corpo, sabendo que os hábitos são produzidos tanto em nossas almas quanto em nossos corpos , é certo, que, para se chegar a hábitos de devoção, ou prazer em Deus, devemos não somente meditar e exercitar nossas almas, mas devemos praticar e exercitar nossos corpos para todas aquelas ações externas, por serem conformes a esses temperamentos interiores, entre os quais podemos citar o hábito de cantar louvores.
Se quisermos verdadeiramente prostrar nossas almas diante de Deus, devemos usar nossos corpos em posturas de humildade; se desejamos verdadeiro fervor de devoção, devemos fazer da oração o trabalho frequente de nossos lábios.
Se quisermos banir todo o orgulho e paixão de nossos corações, nós devemos nos forçar a todas as ações exteriores de paciência e mansidão. Se quisermos sentir os movimentos interiores de alegria e prazer em Deus, devemos praticar todos os atos externos relativos a isto, e fazer as nossas vozes se ajustarem aos nossos corações.
Agora, pois, você pode ver claramente que a razão e necessidade do cântico dos Salmos, é porque são necessárias ações externas para apoiar as disposições interiores, e, portanto, o ato externo de alegria é necessário para aumentar e apoiar a alegria interior da mente.
Toda oração e devoção, jejuns e arrependimento, meditação e retiros espirituais, a santa ceia e o batismos e todas as ordenanças, têm por alvo senão tornar a alma, assim, santa, e conforme à vontade de Deus, e para enchê-la com gratidão e louvor por cada coisa que vem de Deus. Esta é a perfeição de todas as virtudes; e todas as virtudes que não tendem a isso, ou que não procedam disso, são senão falsos ornamentos de uma alma não convertida a Deus.
Você não precisa, portanto, agora perguntar, porque eu dou tanta ênfase à importância de cantar um Salmo em todas as suas devoções, pois você vê que é para encher o seu espírito de alegria e gratidão a Deus, que é a mais alta perfeição de uma vida divina e santa.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do décimo quinto capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.





3 - O Culto Racional a Deus

Não podemos servir a Deus corretamente e de modo aceitável, a menos que nós o adoremos regularmente, e como podemos fazer isso, se formos ignorantes dos fundamentos da fé que são radicados na Sua Palavra? Estaremos longe de oferecer um "culto racional" a Deus, Rom 12.1, se não entendermos os fundamentos da fé cristã. Como o culto pode ser racional quando falta isto? Os fundamentos da nossa fé enriquecem a mente: é uma lâmpada para os nossos pés, que nos dirige em todo o curso do Cristianismo, como o olho dirige o corpo. O conhecimento dos fundamentos é a chave de ouro que abre os principais mistérios da fé. Daí ser tão enfatizada a necessidade de revelação para o conhecimento da vontade de Deus, como o apóstolo o expressa na sequência de Rom 12.1, pela apresentação de nossos corpos como sacrifícios vivos a Deus, pela renovação da nossa mente pela Palavra pelo seu Espírito, de modo que não conformados ao mundo, ou seja, estando santificados, possamos conhecer qual seja a Sua boa, perfeita e agradável vontade em relação a tudo o que revelou nas Escrituras, para que possamos cultuá-lo da forma correta e aceitável, que o apóstolo chama de “culto racional”, ou seja, não baseado em sentimentos, emoções, imaginações, e pensamentos oriundos do próprio homem, e não na verdade, como ela se encontra em Cristo Jesus, e revelada na sua Palavra. Muito deste culto racional se refere à nossa transformação à imagem de Cristo, pela mortificação do pecado e revestimento das virtudes do Senhor (humildade, mansidão, ternura, bondade, amor, alegria, longanimidade, justiça, misericórdia etc). Há muito fogo estranho sendo oferecido no templo do Espírito que é o nosso próprio corpo. Quanto o Espírito é agravado e entristecido com isto, e somente não somos consumidos como foram os dois filhos de Arão no passado, porque estamos numa dispensação onde Deus tem sido completamente longânimo para com as nossas negligências e ignorância. Mas permaneceremos no erro, tendo uma vez sido iluminados em nosso entendimento que há um modo correto de se viver para Deus e cultuá-lo? Nosso Senhor afirmou a necessidade de estarmos firmemente fundados com nossa casa espiritual sobre a rocha do conhecimento e prática da Palavra. Para isto é necessário cavar profundamente nas Escrituras para chegarmos ao fundamento (Cristo) para que sejamos edificados pelo Espírito mediante a Palavra exata do evangelho. Pelo quê e como interceder se não sabemos o que é e o que não é aprovado por Deus? Como disciplinar e exortar se não tivermos a régua do conhecimento celestial e divino, pela qual as ações devem ser medidas com amor, misericórdia e longanimidade? Se a semente da graça da nova criatura que foi implantada em nós não estiver devidamente arraigada na Palavra, a planta da nova vida não crescerá e dará frutos, por falta de raízes fortes e firmes. Quando não se possui a plenitude da Palavra, que é a única coisa que pode satisfazer à alma, esta buscará o seu contentamento em novidades vãs, e formas de culto sensual, que jamais poderão mantê-la naquela paz e vida que Cristo veio nos dar. Se não houvesse a necessidade do devido aprendizado da Palavra, por que então Deus levantaria, pastores e mestres, entre outros ministérios, com o propósito de fazê-lo?




4 - Adoração – Parte 1

Pergunta 1 - O que Deus requer de nós em nossa dependência dele, para que ele seja glorificado por nós, e para que nós sejamos aceitos por ele?

Resposta – Que nós o a) adoremos b) pelos modos de sua própria ordenação.
a) Mt 4.10; Apo 14.7; Deut 6.13; 10.20
b) Lev 10.1-3; Êxodo 24.3; Gen 18.19; Jos 23.6-8; Zac 14.16

O pendor para a adoração foi colocado por Deus na natureza humana desde o princípio da criação, para capacitar o homem a responder à lei da Sua criação, requerendo esta obediência dele em sua dependência de Deus.
E essa adoração não pode sofrer variações porque ela está amarrada às formas exteriores e meios pelos quais Deus tem ordenado a fé, o amor, o temor a Ele que devem ser  exercidos e expressados para sua glória.

(Baseado no tratado de John Owen sobre adoração)



5 - Adoração – Parte 2

Pergunta 2 - Por que meios podemos vir a saber como Deus deve ser adorado?

Resposta – Deus deve ser adorado em conformidade com sua própria vontade e ordenança, porque isto a parte a) principal da lei da nossa criação, escrita em nossos corações, b) o sentido da qual é renovado no segundo mandamento da Lei de Moisés, mas as formas e meios desta adoração dependem meramente da c) soberana vontade e instituição de Deus.

a) Rom 1.21, 2.14,15; Atos 14.16,17, 17.23-31
b) Êxodo 20.4-6

c) Jer 7.31; Êxodo 25.40; Heb 3.1-6; Jo 1.18



6 - Adoração – Parte 3

Pergunta 3 - Como, então, são essas formas e meios de adoração a Deus manifestados a nós?

Resposta - Em e pela Palavra escrita somente, que contém uma completa e perfeita revelação da vontade de Deus, tanto para toda a sua adoração quanto para tudo o que se relaciona a isto.
Jo 5.39; Isa 8.20; Lc 16.29, 2 Tim 3.15-17; 2 Pe 1.19; Deut 4.2, 12.32; Jos 1.7; Prov 30.6; Apo 22.18,19; Isa 29. 13,14

Explicação - O fim para o qual Deus concedeu a sua palavra à igreja foi, para que por meio dela os cristãos possam ser instruídos em sua mente, como também no o que diz respeito à adoração e obediência que Ele requer de nós, e que é aceita por ele.
Isto, a própria Escritura declara em todos os lugares e fala a todos os que a recebem, como em 2 Tim 3.15-17.
É declarado que de nós mesmos somos ignorantes quanto a quem Deus seja, e como ele deve ser adorado, Isa 8.20. Além disso, ela declara que Deus é zeloso, no exercício dessa propriedade sagrada de sua natureza, especialmente quanto à forma estabelecida para a sua adoração, rejeitando e desprezando tudo o que não esteja de acordo com a sua vontade, que não seja da sua instituição, conforme por ele revelado em sua Palavra, Êxodo 20.4-6

A própria Escritura afirma que ela e apenas ela é suficiente, capaz e perfeita para nos guiar na adoração a Deus - 2 Tim 3.15-17; 2 Pe 1.19; Sl 19.7-9.

Deus nos tem ordenado que observemos tudo o que ele nos tem prescrito na Palavra, e não devemos fazer qualquer adição à mesma, Jos 1.7; Deut 4.2, 12.32; Prov 30.6; Apo 22.18,19.



7 - Adoração – Parte 4

Pergunta 4 - Essas formas e meios da adoração a Deus sempre foram as mesmas desde o início?

Resposta: Não, mas Deus alterou e as mudou em diversas épocas, de acordo com o conselho da sua própria vontade, conforme julgou necessário para a sua própria glória e para a edificação de sua igreja.
Gên 2.16,17; 17.10,11; Êxodo 12.3-24; 20.9; Heb 1.1,2; 9.10-12

Desde que Deus fez a promessa de abençoar a semente da mulher e esmagar a cabeça da serpente, ele ordenou sacrifícios para serem os grandes meios de sua adoração, para ser glorificado por meio da oferta dos homens das principais coisas boas que lhes tinha dado, de modo a instruí-los na fé, e confirmá-los na expectativa do grande sacrifício pelo qual o pecado seria removido pela semente prometida (Jesus), Gên 4.3,4, Heb 11.4. Estes foram os primeiros cultos instituídos por Deus no mundo, depois da entrada do pecado.
Depois foi adicionada a circuncisão, como um sinal expresso da aliança, pela a graça, com a qual chamou Abraão e à sua descendência até Jesus Cristo, Gên 17.10,11.
Depois foi acrescentada a Páscoa, com suas instituições de celebração, Êx 12.3-24, e então toda a Lei baseada em ordenanças, pelo ministério dos anjos, no Monte Sinai, e com a mediação de Moisés, Êxodo 20.
Esta forma de adoração duraria até a vinda de Cristo em carne, Heb 1.1,2; 9.10-12, Col 2.14-10.
As prescrições cerimoniais para o culto de adoração no Velho Testamento foram removidas por Deus, pela Sua própria autoridade, desde que institui uma nova aliança por meio de Jesus Cristo, mas ele manteve todos os deveres morais prescritos na Lei, cujo cumprimento pelos cristãos fazem também parte da adoração que é requerida por Ele.




8 - Adoração – Parte 5

Pergunta 5: Existe alguma alteração  a mais a ser esperada, da parte de Deus, para as instituições e ordenanças para o culto de adoração, que são reveladas no evangelho?

Resposta: Não, a última revelação completa da vontade de Deus foi feita por meio do Filho, que é o Senhor de tudo, os seus mandamentos e as instituições devem ser observados inviolavelmente até o fim do mundo, sem alteração, diminuição ou acréscimo.
Heb 1.1,2, 10.25-27; Mat 28.20, 1 Coríntios 11.26, 1 Tim 6.14 

As ordenanças de adoração de caráter cerimonial do Velho Testamento duraram até a vinda de Cristo, e por isso é dito que o fim da lei é Cristo em Rom 10.4.
Aquelas ordenanças ensinavam em figura tudo aquilo que se cumpriu em nosso Senhor Jesus Cristo, pois que haviam sido estabelecidas para este fim mesmo.  

Então, especialmente neste sentido “a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio." Gál 3.24,25. 




9 - Adoração – Parte 6

Pergunta 6: Pode a condição da fé e da perfeição na obediência não ser alcançada nesta vida, e de que maneira os crentes podem ser libertos de todas as obrigações relativas à  observação das instituições do evangelho?

Resposta: Não; porque os decretos e as instituições do evangelho sendo inseparavelmente ligados à administração evangélica do pacto da graça, não podem ser deixados de serem observados, seja no que se refere a prática ou omissão, enquanto estivermos caminhando diante de Deus nesse pacto, sem desprezo da própria aliança, como também da sabedoria e autoridade de Jesus Cristo.
Heb 3.3-6; 10.25; Rom 4.3-6; Lc 22.19,20, 1 Coríntios 11.23-26; Apo 2.5; 3.3.

Deus fez uma nova aliança por meio de Cristo na qual ele afirmou que colocaria as suas leis na mente do seu povo, e que a gravaria em seus corações, e que seria o Deus deles sendo misericordioso para com as suas iniquidades e que não se lembraria dos seus pecados. Heb 8.9-12.
E tudo o que os homens alcancem é em virtude da graça do pacto; nem há qualquer graça prometida no pacto para levar os homens nesta vida, ou para lhes dar um estado de perfeição, destituído da glória. No pacto estão as instituições da adoração do evangelho incluídas, e a sua administração  é concedida à igreja com base no advento e morte de Cristo.
Sem renúncia e abandono da aliança e da graça que há nela, essas instituições não podem ser omitidas ou abandonadas.
Se os homens supõem que têm atingido um estado em que não precisam nem da graça de Deus, nem da misericórdia de Deus, nem do sangue de Cristo, nem do Espírito Santo, o que eles pensam não está em acordo com as ordenanças da adoração.
Seu orgulho e insensatez, sem a misericórdia que é ensinada, prometida, e exibida nessas ordenanças, serão a causa da sua ruína.
Além disso, o Senhor Jesus Cristo é o Senhor absoluto "sobre a sua própria casa", Heb 3.3-6, e ele deu as leis pelas quais ele vai governá-la enquanto estivermos neste mundo. Em e por essas leis as suas ordenanças de adoração são estabelecidas.




10 - Adoração – Parte 7

Pergunta 7: Quais são as principais coisas que devemos visar em nossa observação das instituições de Cristo no evangelho?

Resposta: a) Santificar o nome de Deus, b) professar a nossa sujeição ao Senhor Jesus Cristo, c) edificar a nós mesmos em nossa santíssima fé, e, d) testificar e confirmar o nosso amor mútuo, como cristãos.
a) Lev 10.3; Heb 12.28,29
b) Deut 26.17; Jos 24.22, 2 Coríntios 8.5
c) Ef 4.11-16; Judas 20
d) 1 Coríntios 10.16,17 

Devemos procurar saber diligentemente o que Deus requer de nós, para que não acrescentemos ou retiremos algo de tudo o que Ele nos tem revelado nas Escrituras para a sua adoração. 




11 - Adoração – Parte 8

Pergunta 8: Como podemos santificar o nome de Deus no uso das instituições do evangelho?

Resposta: a) Por uma reverência sagrada à sua autoridade soberana na ordenação delas; b) por um respeito sagrado à Sua presença especial nelas; c) pela fé em suas promessas anexadas a elas; d) pelo prazer em sua vontade, sabedoria, amor e graça, que se manifestam nelas, e) pela constância e perseverança na obediência a elas em sua devida observação.
a) Lev 10.3; Mal 1.6; Rom 4.11; Êxodo 20.6; Tg 4.12
b) Mat 28.20; Isa 59.21; Êxodo 29.43-45
c) Gên 15.6; Heb 4.2,6; Êxodo 12.27,28, 2 Coríntios 6. 16-18; 7.1 
d) Sl 84.1,28, 65.4; 36.7,8
e) Sl 23.6; 27.4; Apo 2.3,10; Gál 6.9; Heb 10.23-25; 12.3 

Esta é a primeira coisa que Deus requer de nós para atendermos na celebração das ordenanças de sua adoração,  ou seja, santificar o seu nome, o maior dever que nós somos chamados a executar neste mundo. Ele estabelece isto como regra geral de tudo o que fazemos aqui: Lev 10.3. Tudo o que fazemos na sua adoração, devemos fazê-lo para que ele seja santificado.
Agora, as principais maneiras como podemos santificar o nome de Deus são expressas, como:
Adorar em espírito e em verdade (Jo 4.21,23).
Orar e suplicar na presença de Deus.
Ter comunhão com Deus com a reverência que lhe é devida. 
Observar e praticar todas as ordenanças das Escrituras.




12 - Adoração – Parte 9

Pergunta: Como é que nós professamos a nossa submissão ao Senhor Jesus Cristo e seu evangelho?

Resposta: A base e a razão desse dever é evidente. O Senhor Jesus Cristo ordena diretamente a todos os seus discípulos a profissão do seu nome, e o coloca sobre eles como indispensável para a salvação: Rom 10.10 - "Com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa (ou se professa), a respeito da salvação"; veja também João 12.42-45.
Agora, esta profissão do nome de Cristo, que é muito abusada e enganada do mundo, consiste na guarda dos seus mandamentos: João 15.14 - "Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando." Assim também, em Mat 28.20, os seus discípulos devem ser ensinados a fazer e a observar tudo o que ele ordena.

1 Coríntios 11.23; Heb 3.6, 12.25; João 8.31; 13.13; 14.15,21,23; Lucas 9.26; 1 João 2.3,4 





13 - Adoração - Parte 10

Pergunta 10: Como edificamos a nós mesmos em nossa santíssima fé?

Resposta: Pelo exercício da comunhão com Deus em Cristo Jesus, para o aumento da sua graça em nós.
Gên 17.10; Lev 26.11,12; Prov 9.5,6; Ez 36.27,28; Zac 14.16,17; Mat 26.27,28; Rom 6.3

Explicação: A finalidade principal de todo culto de adoração em relação aos cristãos é o aumento da graça de Deus neles, e a sua edificação em sua fé: Ef 4.11-16.

Veja também Ef 3.16-19; Tg 1.21; I Pe 2.12.



14 - Adoração Significativa

Por John MacArthur

Se você visitar Londres, não terá qualquer problema em reconhecer a Catedral de São Paulo. Ela é considerada uma das dez mais belas construções do mundo e domina os céus de Londres. Aquela venerável construção permanece como um monumento ao seu criador — o astrônomo e arquiteto Christopher Wren. A Cadetral de São Paulo é a mais famosa realização de Christopher Wren, mas existe uma interessante história a respeito de uma construção menos famosa que ele projetou.
Wren recebeu a incumbência de projetar o interior da Câmara Municipal, em Windsor, ao oeste do centro de Londres. Seu projeto exigia colunas largas para suportar o teto elevado. Quando a construção foi terminada, os vereadores vistoriaram o edifício e expressaram preocupação a respeito de um problema: as colunas. O problema não era que eles estavam preocupados com a utilidade das colunas; eles apenas queriam um número maior de colunas.
A solução de Wren foi tão maldosa quanto a sua inspiração. Ele fez exatamente como lhe haviam pedido, instalando quatro novas colunas e satisfazendo as exigências de seus críticos. Aquelas colunas permanecem na Câmara Municipal, em Windsor, até hoje; e não são difíceis de identificar. Elas são as únicas que não suportam qualquer peso e, na realidade, nem alcançam o teto. Aquelas colunas são imitações. Wren as instalou para satisfazerem um único propósito — proporcionar melhor aparência. Elas são um embelezamento construído para agradar os olhos. No que diz respeito a suportar o edifício e a fortalecer a estrutura, elas se mostram tão úteis quanto os quadros pendurados nas paredes.
Embora me entristeça ao dizer isto, creio que muitas igrejas têm construído as suas próprias colunas decorativas, especialmente no culto. Vocês já observaram que na adoração congregacional —aquilo que os crentes fazem quando se reúnem — não é difícil achar crentes que a adoração tenha deixado vazios?Alguma coisa está faltando – alguma coisa importante.
Será que estamos colhendo as conseqüências de abandonarmos o modelo bíblico de adoração e construindo um modelo simplesmente decorativo? É possível que tenhamos construído uma fachada que não oferece qualquer suporte, não sustenta qualquer peso e está muito aquém de alcançar as alturas que Deus projetou e desejou que caracterizassem a adoração?
A verdadeira e genuína adoração não é uma opção para o povo de Deus. Não é uma sugestão; não é uma proposição do tipo “pegar ou largar”. A adoração no Dia do Senhor deveria ser a maior alegria de nossa semana. É a nossa oportunidade de engajarmos nossa mente nas coisas de Deus; de nos regozijarmos com o povo de Deus; de nos aquecermos na presença dEle; de bebermos corporativamente da sua Palavra; de dedicarmos nossos talentos e recursos; de encorajarmos e sermos encorajados e de Lhe oferecermos os nossos louvores.
A ênfase na adoração bíblica e nos elementos que constituem um culto rico e transformador tem sido substituída, em anos recentes, por aquilo que é superficial. A substância tem sido trocada por aquilo que é a sombra. O conteúdo foi lançado fora, para dar lugar ao estilo. O significado foi banido, o método tomou- lhe o lugar. O culto talvez pareça correto, mas traz consigo pouco valor espiritual.
Essa tendência talvez seja mais evidente em uma área muito íntima ao meu coração — o ensino da Palavra de Deus. Os exemplos mais óbvios são igrejas que menosprezam francamente a Bíblia e o ensino do seu verdadeiro significado, ao mesmo tempo que enfatizam o ritual e a tradição.
No entanto, esse é um exemplo muito fácil de citarmos. O que podemos dizer sobre as igrejas evangélicas, conservadoras que tomaram um caminho um pouco diferente, mas igualmente perigoso?
Os cultos, que antes centralizavam-se no ensino da Bíblia, têm sido substituídos por entretenimento ostentoso e mini-sermões. A luz das Escrituras tem sido perdida e em seu lugar há luzes de shows e efeitos especiais. A presença do pastor no palco é mais examinada do que o seu sermão. O tempo que antes era reservado ao ensino do pastor tem sido reduzido a alguns desprezíveis minutos de humor e bate-papo. Isto parece uma coluna decorativa que não suporta muito peso e nunca alcança o teto.
As ordenanças constituem outra área que foi deixada de lado nos cultos. Por ordenanças, eu me refiro ao batismo em água e à Ceia do Senhor — a comunhão. A Bíblia é clara. O batismo e a comunhão são integrais à vida da igreja e devem ter um papel elevado na adoração.
Mas algumas igrejas abandona ram completamente o batismo e a Ceia do Senhor, relegando-as aos cultos do meio da semana, quando provavelmente ofendem menos os incrédulos. Além disso, o significado do batismo e da Ceia do Senhor raramente é ensinado; e isto os condena à morte lenta nas mãos da obscuridade e da negligência.
Talvez você fique surpreso com a outra área que perdeu muito do seu significado na adoração. É um assunto sobre o qual não falo com freqüência, mas tem sido vital à minha igreja e ao seu ministério.
Creio que a música tem perdido o seu devido lugar na adoração e tornou-se uma coluna ornamental.
Em vez de nos conduzir a uma resposta ativa e pessoal à verdade de Deus, a música se tornou um barulho de segundo plano cujo objetivo é manter-nos ocupados, enquanto os pratos de coleta são passados. Em vez de elevar nossos pensamentos a respeito de Deus, além do nível que podemos fazê-lo sozinhos, a música se tornou uma rotina sem significado observamos. Em vez de desprender-nos das pompas da vida diária e de atrair nossos pensamentos para o alto, a música se tornou um intervalo colocado antes da pregação. Em vez de glorificar a Deus, a música se tornou um estimulante para o ego de alguns cantores. Em vez de envolver nossas mentes na verdade a respeito de quem Deus é e do que Ele tem feito, a música é um carrossel emocional onde subimos e descemos quando queremos.
Mas o segredo de tornarmos mais significativa a música da adoração é uma questão de escolhermos músicas antigas e/ou músicas de estilo diferente? Não necessariamente. Martinho Lutero disse que a música é um servo criado e outorgado por Deus. Lutero estava correto. A música em si mesma — as notas, os sons, o ritmo — é apenas um instrumento para ajudar-nos a transmitir a verdade. Enquanto o estilo não contradiz nem obscurece a verdade, e a mensagem está correta, a música é uma questão de preferência.
O verdadeiro âmago da música é o seu significado — é a verdade contida em sua melodia. A verdade é a fonte da qual jorra toda a verdadeira adoração. A verdade é aquilo que torna a música uma coluna de sustentação e não apenas um ornamento na igreja. Quando a nossa música está fundamentada na verdade, ela eleva nossos pensamentos a Deus; impulsiona nosso coração em direção ao céu, de um modo que nenhuma outra coisa pode fazê-lo. A música nos emociona e, ao mesmo tempo, escava profundamente o solo empedernido de nosso coração. Acima de tudo, a música nos faz deixar de olhar para nós mesmos e atribui a glória a Deus. A música eleva nossa consciência da santidade de Deus e intensifica tanto o nosso senso de completa indignidade como o nosso senso de desventura.
Certamente, a música pode e deve produzir emoções. No entanto, as emoções devem surgir em resposta à verdade, e não ao custo da verdade. Por si mesmas, as emoções nunca se qualificam como adoração.
Tenho receio de que, enquanto não reconhecermos o devido lugar da música e nos treinarmos para escolhê-la e utilizá-la com cuidado, a música permanecerá como nada mais do que um simples ornamento, contribuindo muito pouco para a edificação da igreja. E o que é pior: teremos perdido o verdadeiro poder que a adoração tem a oferecer — o poder que transforma nossas vidas e nos atrai a maior intimidade com Deus.



15 - Adoração

Em princípio havia pensado em dar a este estudo, o título Adoração e Louvor, mas como a adoração compreende muito mais do que o louvor, abrangendo todos os atos de devoção e serviço a Deus, como por exemplo, a oração, a meditação na Palavra, a pregação e ensino, enfim tudo o que se relacione ao Senhor e à Sua obra, incluindo até mesmo as ações dos anjos, optamos pelo título acima.
Adorar é uma faculdade do espírito. Somente seres espirituais morais podem adorar, porque este pendor foi colocado pelo próprio Deus, sendo que lhes foi dada a liberdade de definirem o objeto da sua adoração, uma vez que toda adoração deve ser voluntária, ainda que inspirada pelo Espírito Santo. Por isso Jesus disse que o Pai procura aqueles que O adorem em espírito e em verdade.
Havendo este pendor para a adoração em todo espírito criado, então aqueles que não escolhem adorar a Deus serão achados adorando de forma idolátrica, quer a deuses formados em sua imaginação, a demônios, ou a outras criaturas, no lugar dAquele que é o único que é digno de adoração.
Deus é o único que deve ser adorado, porque ninguém mais é o criador e sustentador dos seres espirituais. É Ele quem lhes comunica a imortalidade que possuem. Mesmo espíritos condenados ao suplício no fogo eterno jamais deixarão de existir, porque foram destinados como todos os demais a alcançarem a eternidade.
A adoração também determina quem somos, porque somos levados a imitar a quem adoramos, e nisto se cumpre o propósito de Deus de que sejamos semelhantes a Cristo, sobretudo quanto ao Seu caráter e santidade.
A adoração é o vínculo da unidade em amor entre todos os que pertencem a Deus, porque lhes faz dirigirem todos seus desejos e energias para um único centro de atração, a saber, a pessoa do próprio Deus.
Como podemos ver, a adoração extrapola não somente o louvor, como o próprio ato de cultuar a Deus em serviços públicos; pois deve ser uma constante em nossa vida, aonde quer que estejamos. Crentes confirmados na fé e na Palavra adoram dessa forma, porque têm as suas faculdades amadurecidas e esclarecidas para discernirem qual seja a vontade de Deus. Sabem que dependem de um caminhar permanente no Espírito, para que a adoração não seja interrompida por outros tipos de afeto que possam dominar seus corações.
Então, deve-se exercer vigilância e oração incessantes para que a adoração possa ser mantida no nível em que convém ser achada.
Importa que Deus seja adorado em espírito, pelo mover do Espírito Santo, porque não poderíamos expressar o nosso amor por Ele de toda a mente, toda a força e  todo o coração a não ser pelo poder do Espírito Santo atuando em nós; de modo que não importa apenas o que somos e fazemos para Deus, mas também o modo como o fazemos, a saber, com todo o amor e fervor.
Santo e elevado como é, Deus não pode aceitar uma devoção na qual não esteja envolvido todo o nosso ser, com sua razão, seu espírito, seus sentimentos e emoções.
Recebemos de Deus todo este aparato de expressão para ser usado no seu mais alto grau, e é crescendo de graça em graça, de fé em fé, que somos habilitados a isto pelo poder do Espírito.
O fogo aumenta quanto mais se acrescente combustível nele. O fogo do altar do nosso coração não pode se apagar; e isto estava figurado no altar dos holocaustos do tabernáculo, onde o culto e serviços a Deus eram realizados nos dias do Velho Testamento.

Você pode ler os versículos bíblicos contendo as palavras abaixo destacadas relativas ao assunto, acessando um dos seguintes links:

http://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/5416593

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128349


1 – proskuneo (grego) – adorar;

2 – shachah (hebraico) – adorar; inclinar-se.




16 - A Filosofia e a Propriedade do Louvor Abundante

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

(É de suma importância, para nossa instrução espiritual, que as palavras de louvor e gratidão do Salmo 145 tenham partido do coração e dos lábios de Davi, uma vez que experimentou em toda sua vida grandes lutas e tribulações que a maioria de nós não teria sido capaz de suportar. Mas ele não somente as suportou como se gloriou nelas pois viu em tudo que sofreu o forte braço do Senhor lhe guiando, sustentando e livrando. Na verdade, louvores e gratidão desta dimensão somente podem ser entoados por aqueles que tiveram que atravessar grandes montes e vales na companhia amiga e amorosa do Senhor – nota do tradutor)

"Proferirão abundantemente a memória da tua grande bondade, e cantarão a tua justiça." (Salmo 147.5)

Este é um "Salmo de louvor de Davi", e você vai ver que todo ele está inflamado por um forte desejo de que Deus possa ser muito magnificado. Por isso, Davi usa uma variedade de expressões e as repete com santa veemência: "Eu vos exalto." "Bendirei o teu nome." "Todo dia eu te bendirei". "Louvarei seu nome para todo o sempre." "Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado." "Uma geração proclamará as tuas obras à outra geração." "Falarei da magnificência gloriosa da tua majestade." "Os homens devem falar da força dos Seus atos terríveis" e outras palavras do mesmo sentido até o último verso, "A minha boca falará o louvor do Senhor, e toda a carne louvará o seu santo nome para todo o sempre."
Davi não se contenta em declarar que o Senhor é digno de louvor, ou em suplicar que Seu louvor deve ser sentido no coração, mas ele vai publicamente proclamá-lo. Abertamente declarado, claramente pronunciado e alegremente proclamado em canção. O salmista inspirado, movido pelo Espírito Santo, convida toda a carne, sim, e todas as obras de Deus a entoarem louvores ao Altíssimo!
Davi tinha falado no versículo cinco da majestade de Deus - o Rei glorioso. Seus olhos parecem estar deslumbrados com o glorioso esplendor do Trono augusto e ele clama: "Falarei da magnificência gloriosa da tua majestade." Então ele pensa no poder daquele Trono de majestade e na força com que seus justos decretos são realizados e, por isso, no versículo seis, ele exclama: "Os homens devem falar da força dos seus atos terríveis e eu vou declarar sua grandeza ".
"Proferirão abundantemente", diz nosso texto, "a memória da tua grande bondade." Agora, o nosso desejo é que nós, também, possamos louvar e engrandecer o nome do Senhor infinito sem limite e que possam especialmente os nossos corações serem alargados e nossas bocas abertas para falar abundantemente de Sua grande bondade.
A primeira coisa, portanto, para o louvor abundante de Deus é a observação cuidadosa de Sua bondade. Muitos estão cegos para este abençoado assunto. Eles recebem as bênçãos de Sua liberalidade e estão sob o Seu cuidado, mas eles atribuem tudo o que recebem a si mesmos ou a agentes secundários. Deus não está em todos os seus pensamentos e, consequentemente, a Sua bondade não é considerada. Eles não têm memória de Sua bondade, porque eles não têm nenhuma observação dela! Alguns, de fato, em vez de observar a bondade de Deus, se queixam de sua crueldade para com eles e imaginam que ele é desnecessariamente severo.
Como o servo inútil, na parábola, eles dizem, "Eu sabia que você é um homem austero." Outros julgam Seus caminhos, como os encontram registrados na Sagrada Escritura, e se atrevem a condenar o Juiz de toda a terra!
Este dia dizemos com Davi: "Este Deus é o nosso Deus para todo o sempre." "Vinde adoremos e prostremo-nos; Vamos nos ajoelhar perante o SENHOR nosso Criador. Pois Ele é o nosso Deus e nós somos o povo do seu pasto e ovelhas de Suas mãos."
Terra, mar e ar, estão repletos de inúmeras formas de vida, todas cheias da bondade do Senhor! O sol, a lua e estrelas afirmam que o Senhor é bom e todas as coisas terrestres ecoam a proclamação. Sua bondade também é para ser vista na Providência, que governa todas as coisas. Deus é bom para todas as Suas criaturas e, especialmente, em relação aos objetos do seu amor eterno para quem todas as coisas cooperam para o bem.
É, no entanto, no domínio da Graça Divina que a forma mais nobre da bondade divina é vista. Comece com a bondade que brilha em nossa eleição e a seguir o fio de prata da redenção, a missão do Espírito Santo, a vocação, a adoção, a preservação, o aperfeiçoamento dos escolhidos, e você vai ver as riquezas da bondade que irão surpreendê-lo!
Alguma vez você já se sentiu condenado por Deus e expulso de Sua presença? Será que as dores do inferno começam no interior de sua consciência assustada? Será que a sua alma espera a morte, em vez da vida, enquanto as espessas nuvens e escuridão envolvem seu espírito culpado? Se assim for, quando o Senhor perdoar o teu pecado e disser: "Você não deve morrer." Quando Ele o trouxer para fora da prisão, quebrar suas cadeias e firmar seus pés sobre uma rocha, em seguida, colocará uma nova canção na sua boca, e um hino para todo o sempre! Então você saberá que é grande em bondade Aquele que, assim o libertou.
É na tormenta que aprendemos a louvar ao Senhor por Sua bondade e pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens! Eu poderia desejar que nada de novo pudesse perturbar a serenidade do meu espírito tranquilo, mas se fosse  assim, eu suspeito que eu deveria saber, senão pouco da grande bondade do Senhor.
Sem dúvida não perceberemos a grandeza de Deus se nós não virmos a profundidade do poço horrível do qual Ele nos arrebata.
Então, quando estamos fracos e doentes, devemos dar graças a Deus porque não seremos doentes para sempre, pois há um lugar onde os habitantes não ficam mais doentes.
Por último, vamos louvar e bendizer a Deus, porque é a maneira pela qual Ele é glorificado. Nada podemos adicionar à sua glória, pois é infinito em si, mas nós podemos fazer que ele seja mais conhecido simplesmente dizendo a verdade sobre ele. Você não quer dar honra a Deus? Bem, se você não pode cobrir a Terra com os Seus louvores, como as águas cobrem o mar, você pode, pelo menos, contribuir com a sua parte para a inundação! Oh, não deixem de fazer seus louvores, mas bendigam e engrandeçam o seu nome desde o nascer do sol até o ocaso!
"Glória, honra e majestade, e poder, e domínio, sejam dados a Ele, que se assenta no trono, e ao Cordeiro para sempre e sempre ".




17 - Adoração em Tempos de Guerra

Por John Piper

Se a adoração fosse opcional, Paulo e Silas não estariam cantando com as costas cheias de sangue no calabouço de Filipos à meia-noite.

Imagine essa cena incrível. Paulo e Silas tinham feito uma invasão estratégica na Macedônia. Era território inimigo, governado pelo "deus desse mundo" (2 Coríntios 4:4). Era uma "fortaleza" de Satanás (2 Coríntios 10:4), e dentro dela, muitas vítimas eram mantidas cativas para fazerem a vontade de Satanás (2 Timóteo 2:26). Em uma visão, Paulo viu um desses cativos clamando, "Venha até a Macedônia e nos ajude!" (Atos 16:9).

Estrategicamente, Paulo e seu "esquadrão de libertação" navegaram pelo Mar Egeu, evitaram o menor posto avançado inimigo de Neápolis e se dirigiram diretamente ao coração do bastião chefe de Filipos (Atos 16:11-12). A viagem de Trôade para o coração da Macedônia levou pouco mais de três dias.

Havia uma jovem escrava de Satanás ali que tinha um espírito de adivinhação. Seus senhores ganhavam dinheiro às custas de suas habilidades satânicas. Mas quando o "esquadrão de libertação" a viu, uma breve batalha com os poderes das trevas (Efésios 6:12) libertou a jovem e fez com que os poderes de Satanás batessem em retirada.

Mas o contra-ataque veio rapidamente. Paulo e Silas foram arrastados diante dos magistrados. Eles arrancaram suas roupas e bateram neles com varas. (Isso aconteceria três vezes na vida de Paulo, 2 Coríntios 11:25). Essas varas rasgavam a pele, causavam contusões e vergões, e às vezes quebravam costelas. Então, Paulo e Silas foram colocados na parte mais profunda da prisão—sem dúvida úmida, fria e infestada de ratos. E para aumentar a segurança e miséria, seus pés foram presos em troncos (Atos 16:24).

Ali eles estavam a tarde toda e noite adentro, em território estrangeiro, sem advogados na câmara da cidade, com as costas expostas a infecção, rodeados pela escuridão, tremendo de frio, incapazes de ajustar sua posição, a centenas de milhas de distância de casa e sua invasão na Macedônia mal havia começado. Qual é a resposta deles?

"Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus" (Atos 16:25). Adoração em tempos de guerra! Que cena! Escute-os! Eu ouço Paulo orando, "Senhor Soberano, que fez os céus e a terra e o mar e tudo o que neles há, os Gentios estão furiosos, mas em vão. O Senhor reina."..."Silas, comece. Vamos cantar a canção de Isaías, aquela que nós memorizamos no barco:"

Quão amáveis sobre as montanhas
são os pés daquele,
Que trás as boas novas, boas novas,
Anunciando paz,
proclamando novas de felicidade
O nosso Deus reina. Nosso Deus reina.
O nosso Deus reina. Nosso Deus reina.
Nosso Deus reina!
Nosso Deus reina!

"E de repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão."

Se nós queremos o poder de Deus, adoremos com todo nosso coração e com toda nossa alma e com toda nossa força. Deus está entronizado sobre os louvores do seu povo.

Ansioso para me encontrar com você e cantar,

Pastor John






18 - A Adoração que é Aceita e Aprovada por Deus

“2 Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque falou o Senhor: Criei filhos, e os engrandeci, mas eles se rebelaram contra mim.
3 O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.
4 Ah, nação pecadora, povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos que praticam a corrupção! Deixaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, voltaram para trás.
5 Por que seríeis ainda castigados, que persistis na rebeldia? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco.” (Isaías 1.2-5)

De tal ordem é a força e obstinação do pecado no coração humano, que apesar de Deus ter dado a a sua Lei a Israel e lhe ter feito mui grandes e preciosas promessas, agindo com bênçãos e livramentos sem medida, especialmente nas investidas que sofriam de nações e povos inimigos, Israel era sempre dado a se desviar dos caminhos do Senhor e a se entregar a grosseiras idolatrias.
Quando estas palavras foram proferidas por Deus através do profeta Isaías, o Reino do Norte, com suas dez tribos, havia sido levado em cativeiro pelos assírios, e apenas Judá e Benjamin permaneceram na terra prometida, mas por não muito tempo depois de Isaías ter profetizado, porque seriam levados para o cativeiro pelos babilônios em três levas consecutivas a partir de 627 a.C., com a última delas em 586 a.C.
Eles retornariam para a sua própria terra em 537 a.C., pela misericórdia de Deus para com eles, e segundo a promessa que lhes fizera de trazê-los de volta depois de decorrido 70 anos em Babilônia, conforme profecia de Jeremias.
Todavia, apesar de terem sido curados da sua idolatria na volta do cativeiro, os seus líderes deturparam a Lei de Deus que lhes fora dada pela mediação de Moisés, e lhe acrescentaram mandamentos de homens, nos quatrocentos anos que se seguiram ao profeta Malaquias (Período Interbíblico), e foi neste contexto que Jesus se manifestou a Israel em carne, no final do citado período.
Então foi para um povo que vivia da forma citada que Isaías dirigiu a sua profecia, e esta tem sido aplicável a toda a história de Israel até mesmo aos nossos dias, porque eles têm rejeitado o evangelho, em razão do seu endurecimento.
Eles não tinham em sua quase totalidade, um conhecimento pessoal e íntimo de Deus.
Conheciam a letra dos mandamentos mas não a sua eficácia espiritual aplicada em suas vidas.
Eles haviam recebido suas leis, seus preceitos, seu amor, seus livramentos, e tinham estado por várias vezes debaixo dos seus juízos corretivos por causa do pecado, e em vez de se emendarem, mais se rebelavam contra Ele.
Isto revela a obstinação da natureza humana decaída no pecado, e o quanto necessitamos de Jesus para que possamos ser libertados desta condição de escravidão ao pecado.
Assim, a aparente religiosidade de Israel nos dias do profeta Isaías, mantendo o culto de adoração no templo, com apresentação de sacrifícios e cumprimento de todos os rituais prescritos na lei, não poderia agradar a Deus, e muito menos produzir um verdadeiro conhecimento do Seu caráter divino.
Porque, para isto, é necessário ter o nosso próprio caráter transformado à semelhança ao de Cristo, pela operação do Espírito Santo, e aplicação da Sua Palavra aos nossos corações.
A consequência desta falta de verdadeira comunhão com Deus não pode ser outra senão a descrita no verso 5:
“Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco.”.
E diante de tal condição Deus pergunta retoricamente qual seria o efeito do castigo que Ele lhes aplicasse diante desta deliberada rebelião?
A correção seria inócua, porque a repreensão produzirá um endurecimento ainda maior, quando se anda de modo deliberadamente contrário à Sua vontade.
Em Is 1.13 Deus declara aberta e diretamente que não aceita culto, rituais, cerimoniais, enfim, qualquer forma de ato devocional, quando não há pureza no interior do coração, e quando as ações externas não são de prática de amor, justiça e verdade.
Ele na verdade, ordena que o povo pare com tais atos de devoção enquanto não emendar os seus caminhos.
É melhor não louvar quando o coração não é reto.
É melhor não ofertar quando há avareza.
Deus chama a tudo isto de ofertas vãs (Is 1.13).
Quando se anda de tal forma, Deus declara que sequer ouve as nossas orações (Is 1.5).
É um dever adorá-lO e se devotar inteiramente a Ele, mas isto deve ser feito com santidade de vida.
Por isso é ordenado que o Seu povo espiritualmente se lave, se purifique, e que deixe a maldade dos seus atos, deixando de fazer o mal, e não apenas isto, mas sobretudo, aprendendo a fazer o bem e a buscar a justiça, pondo fim a toda forma de opressão e se dando especial atenção aos fracos, desamparados e necessitados, representados naquela época nos órfãos e viúvas (Is 1.16,17).
O Senhor promete que se for obedecido nisto que nos tem ordenado, nossos pecados serão lavados, de modo que seremos alvejados como a pureza da brancura da neve e da lã (v. 18).
E a consequência desta obediência será uma vida abençoada na terra (v. 19).
Todavia, em caso de endurecimento na rebeldia, e na falta de arrependimento, por não se dar ouvido ao Senhor, haveria juízo (v. 20).
No caso de crentes da Igreja cristã, ainda que não para uma condenação final, o juízo de Deus lhes visitará, tal como fizera com os crentes de Corinto.
Por isso o Senhor declarou por meio de Isaías, que os rebeldes do Seu povo terão a Sua mão voltada contra eles, não para abençoar com alegria, mas para corrigir com tristeza que é para arrependimento, para que sejam purificados de toda a sua escória e impureza (v. 15).

Quando este trabalho for feito pelo Senhor, então Ele dará ao Seu povo líderes que sejam segundo o Seu coração, que os apascentem com conhecimento e com inteligência, tal como havia prometido dar líderes justos a Israel nos dias de Isaías, em face da purificação que faria neles (v. 26).














5) ALIANÇAS


ÍNDICE

1 - A Troca da Antiga pela Nova
2 - Porque Deveria Ser Escrito no Coração
3 - Aliança
4 - As Alegorias de Sara e Agar

5 - A Antiga e a Nova Alianças
6 - A Antiga e a Nova Dispensações
7 - Uma Promessa Para Você
8 - A Nova Aliança Instituída com o Sangue de Cristo
9 - Aliança de Justiça e de Paz
10 - Uma Aliança Firmada em Graça
11 - É Irrevogável e Indissolúvel Porque é Eterna
12 - A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo


1 - A Troca da Antiga pela Nova

“Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.” (Hebreus 8:13)
 Toda vez que abrirmos as páginas do Velho Testamento, devemos sempre colocar como pano de fundo o Evangelho de Cristo, para que não tomemos ao pé da letra, como mandamento divino ordenado aos discípulos de Jesus, muitos dos preceitos da antiga dispensação, que durou de Moisés a João Batista (Mt 11.13; Lc 11.16), os quais não podem e não devem ser aplicados na nova dispensação em que estamos vivendo há cerca de dois milênios.
 A Lei Antiga, determinada por Deus para vigorar em Israel, por cerca de 1440 anos prescrevia:
  . morte por apedrejamento em razão de determinadas transgressões daquela Lei dada por meio de Moisés.
 . como maldito de Deus deveria se anunciar a si mesmo publicamente o leproso.
 . proibidos estavam vários alimentos classificados como impuros.
 . sacrifícios de animais oferecidos para cobrir o pecado.
 . e muitos outros preceitos civis e cerimoniais, além dos morais.
 Deus, pela Lei, revelava que era o Juiz do Seu povo e ensinava ao mesmo tempo o quanto é oposto ao pecado.
 Todavia, em sendo Juiz, é também pai bondoso, amoroso, misericordioso, perdoador e salvador.
 E como revelou isto, já que os preceitos da Lei antiga poderiam ofuscar tais atributos relativos à Sua completa longanimidade, amor e bondade?
 Ele o fez trazendo uma nova lei por meio de Cristo, para substituir a antiga.
 Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá.
Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR.
Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
Jer 31:34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.
 Heb 8:7 Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda.

Heb 8:13 Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.

Heb 9:15 Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados.

Heb 10:9 então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo.
Heb 10:10 Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.
  A Lei da nova aliança, do novo testamento, do evangelho, da graça, pela qual se revogou a primeira, é chamada pelo apóstolo de lei  régia (Tg 2.8), porque prescreve o amor ao próximo, sem qualquer tipo de condenação legal, conforme ocorria na primeira, apesar de também prescrever o amor ao próximo.
 Assim, a lei do amor de Cristo não vigora pelo cumprimento de ordenanças cerimoniais e civis, como a primeira, mas simplesmente por fé, graça, misericórdia e arrependimento.
 A punição dos malfeitores é designada para as autoridades civis de cada nação, conforme determinação da parte de Deus.
Não é portanto, uma característica ou atribuição do evangelho, pelo qual se oferta a libertação do espírito do jugo e condenação do pecado.
 A lei do evangelho é amar a Deus acima de tudo e ao  próximo como a si mesmo.
 O amor nunca busca o mal, ou que seja do próprio interesse, não se conduz inconvenientemente, não é preconceituoso, enfim, o amor faz somente o bem ao seu semelhante.
 Mat 22:35 E um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou:
Mat 22:36 Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?
Mat 22:37 Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.
Mat 22:38 Este é o grande e primeiro mandamento.
Mat 22:39 O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Mat 22:40 Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.

Rom 13:10 O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.
 Poderia haver uma lei melhor do que essa?
 No episódio da mulher adúltera que Jesus livrou da condenação por apedrejamento, podemos constatar o quanto Ele realmente mudou a antiga lei por uma nova, porque pela antiga, ela deveria morrer apedrejada.
É por isso que é ordenado por Cristo aos cristãos, na Bíblia, que façam o convite da salvação pelo evangelho a todas as pessoas e em todos os lugares da terra.
 Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.
 Este convite consiste basicamente no oferecimento gratuito que Ele está fazendo da Sua própria justiça divina, amor e misericórdia, para perdoar todos os nossos pecados e justificar a todos os que nEle crerem, de modo que sejam livrados da condenação, e para o recebimento da vida eterna.
 Todavia, em havendo recusa em se ouvir a mensagem do evangelho, o próprio Cristo ordena que não haja insistência.
 Luc 10:16 Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou.
 Mar 6:11 Se nalgum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, ao sairdes dali, sacudi o pó dos pés, em testemunho contra eles.

O evangelho é o tempo da paciência, da misericórdia, da longanimidade de Deus para com todos os pecadores.
 A ninguém Deus está condenando, enquanto durar esta dispensação. Ao contrário, está salvando.

João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.
Joã 12:48 Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia.
 O evangelho é a lei divina, se assim podemos nos referir a ele, na presente dispensação da graça, e esta lei de justiça oferecida para a nossa justificação e perdão, a ninguém condena.
É a rejeição do evangelho, segundo nosso Senhor Jesus Cristo, que será o motivo da condenação no último dia, como Ele o afirma em João 12.48.
 João 3:16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Joã 3:17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
Joã 3:18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.

Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.
Mar 16:16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.

 Esta nova dispensação do evangelho substituiu a chamada antiga dispensação da lei de Moisés, porque Jesus se ofereceu a si mesmo como sacrifício, em nosso lugar, para satisfazer a exigência da justiça divina.
 Não é portanto do teor e essência do evangelho condenar as pessoas pelos seus maus atos e até mesmo pensamentos, porque até os próprios cristãos que fazem a oferta do evangelho também são pecadores, que foram remidos pela graça, mediante a fé em Jesus.

Aos que têm abraçado a fé no evangelho, Cristo lhes impõe a disciplina da nova aliança, pela admoestação mútua à prática do amor e das boas obras.
 Outra característica do convite do evangelho é que não se deve fazer distinção de qualquer pessoa, que não deve haver preconceito de raça, religião, condição social, ou de qualquer outra natureza.
 Desta forma, aqueles que têm sentimentos preconceituosos, não estão de modo algum anunciando o verdadeiro evangelho de Cristo, tal como ele se encontra registrado nas páginas da Bíblia.

Rom 3:21 Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas;
Rom 3:22 justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que crêem;porque não há distinção,
Rom 3:23 pois todos pecaram e carecem da glória de Deus,
Porque isto seria uma contradição, uma vez que não se pode conciliar preconceito com o fato de Jesus não fazer acepção, distinção de qualquer pessoa, e de igual modo, devem portanto agir aqueles que falam em Seu nome.
 Por outro lado, deixar de anunciar o evangelho, em desobediência ao mandamento de Deus, para o bem eterno dos ouvintes que o receberem, por livrar o espírito da condenação eterna a ser proferida no dia do Juízo Final,  seria então uma grande prova de falta de amor e de misericórdia para com nossos semelhantes, esconder deles esta mensagem, ou então adulterá-la.

Por isso é também ordenado nas Escrituras que se deve ter cautela com o ensino de falsos pastores, profetas e mestres que falam em nome de Cristo, e que se dizem cristãos, e mensageiros genuínos do evangelho, quando na verdade não são, e o fazem por motivo interesseiro e por torpe ganância.
 Mat 7:16  Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.
 2Pe 2:1 Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor.
2Pe 2:2 E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade;
 Mat 10:16 Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.
Mat 10:17 E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas;

Mat 10:25 Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?

A prudência da serpente é recomendada pelo Senhor aos que se empenham na obra da pregação do evangelho, ao lado da simplicidade das pombas.
As serpentes evitam confrontos desnecessários, mas atacam quando são atacadas. Por isso o cristão deve reter apenas a prudência da serpente, e associá-la à inofensividade das pombas, que nunca atacam quando são atacadas.
Por fim, ao concluir esta breve explanação, deve ser dito que a ninguém deve ser imposto o evangelho como uma forma de obrigação a ser cumprida, e nem mesmo nas congregações de Cristo, porque Deus quer ser amado e adorado em espírito e de modo voluntário.
 Ninguém deve ser condenado ou acusado por conta da religião ou costumes que tenha adotado, evidentemente, é claro, desde que não infrinjam as normas legais e os costumes de cada sociedade à qual se pertença, mas isto não é um encargo dos cristãos enquanto cristãos, mas das autoridades constituídas.
 Os mensageiros do evangelho devem ser promotores da paz, e por isso é dito por Cristo que bem-aventurados são os pacificadores.
 Para este propósito, da promoção da paz e do bem estar dos seus semelhantes, devem orar em favor de todos os homens.
 1Tm 2:2  Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,
1Tm 2:2 em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito.
1Tm 2:3 Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador,
1Tm 2:4 o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.
 Devem também os cristãos serem modelos de bom comportamento e de conduta, como pais, filhos, empregados, empregadores, ou o que for.
 Devem estar sujeitos às autoridades, porque conforme afirmado na Bíblia, não há autoridade genuína que não tenha sido instituída por Deus.
 Rom 13:1  Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.
O evangelho não é pregado por mero dever de consciência ou por obediência ao mandamento divino, mas sobretudo porque os discípulos de Jesus são movidos em amor a fazê-lo, pelo mesmo Espírito Santo que neles habita, e que também atuava em nosso Senhor Jesus Cristo.
 “como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele;” (Atos 10:38)





2 - Porque Deveria Ser Escrito no Coração

Sabendo o Senhor, desde o princípio, que o coração do homem jamais poderia obedecer aos seus mandamentos, senão por uma aplicação da lei diretamente no próprio coração, por uma recepção voluntária deste, Ele escreveu a primeira aliança feita com aqueles que seriam parte do seu povo, não nas tábuas do coração humano, mas em tábuas de pedra.
Com isto, pretendia demonstrar, com aquela primeira aliança feita com os israelitas, através da mediação de Moisés, quão ineficaz é esperar que haja uma obediência voluntária e prazerosa em se cumprir Seus mandamentos, quando a Lei é simplesmente apresentada àqueles que têm o dever de obedecê-la.
Em suas sucessivas gerações, os israelitas descumpriram a Lei de todas as formas imagináveis. E não somente a descumpriram, como também não chegaram a conhecê-la de modo adequado, e chegaram até mesmo a esquecê-la.
Assim, o único modo pelo qual a Lei pode ser estimada e guardada, foi reservado por Deus para a nova aliança que faria com as pessoas do Seu povo, através da mediação de Jesus Cristo.
E o fizera mediante o cumprimento de uma promessa feita desde os dias do Velho Testamento, como podemos ver por exemplo em Jeremias 31.31-33:

“Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá.
Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR.
Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.”

Em um dos seus textos, Charles Haddon Spurgeon, assim se expressou a respeito deste assunto:
“Os homens podem ser intimidados pelo poder, mas eles só podem ser convertidos pelo amor. A espada da justiça tem menos poder sobre o coração humano do que o cetro da misericórdia. Além disso para preservar essa Lei, o próprio Deus a inscreveu em duas tábuas de pedra e deu os mandamentos pelas mãos de Moisés. Que tesouro!... Mas estas leis sobre pedra não foram mantidas, nem as pedras, nem as leis eram reverenciadas.
Quando Moisés desceu do monte com as tábuas de valor inestimável em suas mãos, viu as pessoas totalmente entregues à idolatria, em sua indignação, ele jogou as tábuas no chão e as quebrou... quando viu como o povo as tinha espiritualmente quebrado e violado toda a Palavra do Altíssimo! De tudo isso deduzo que a lei nunca é realmente obedecida como o resultado de temor servil. Você pode pregar sobre a ira de Deus e os terrores do mundo vindouro, mas isto não conduz o coração à obediência fiel. É necessário, para outros fins, que o homem deve saber sobre a determinação de Deus para punir o pecado, mas o coração não é, por esse fato, ganho para a virtude. O homem se revolta ainda mais teimosamente quanto mais lhe é ordenado, mais ele se rebela!
O Decálogo nas paredes da Igreja e em seu culto diário tem a sua utilidade, mas nunca pode ser operativo na vida dos homens até que ele também seja escrito em seus corações. Tábuas de pedra são duras e os homens acham a obediência à lei de Deus como sendo uma coisa difícil, os mandamentos são considerados de pedra, enquanto o coração é de pedra e os homens se endurecem, porque o caminho do preceito é difícil para as suas mentes frias.
Pedras são proverbialmente frias e a Lei parece uma coisa que dá calafrios, pelas quais não temos amor, enquanto o apelo é para os nossos temores.
Tábuas de pedra, embora aparentemente duráveis, podem ser quebradas facilmente, e por isso os mandamentos de Deus são, de fato, quebrados todos os dias por nós.
Aqueles que têm o mais claro conhecimento da vontade de Deus, no entanto, a ofendem e agem contra ela. Contanto que eles nada tenham para mantê-los sob controle, senão um temor servil do castigo, ou uma esperança egoísta de recompensa, eles não prestam uma observância fiel aos preceitos do Senhor!”

Portanto, há a necessidade que a Lei de Deus seja escrita nos corações, mas não em corações de pedra, que podem ser quebrados pelo pecado juntamente com a Lei, mas em corações de carne, e daí temos também a promessa feita por Deus pelo profeta Ezequiel:

“Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.” (Ez 36.26,27)




3 - Aliança

Por Charles Haddon Spurgeon

No capítulo 31 de Jeremias, versículo 31, essa aliança é chamada “nova
aliança”. Isso contrasta com a aliança anterior que o Senhor fez com Israel
quando o trouxe para fora do Egito. É nova no que diz respeito ao principio
em que se baseia. o Senhor havia dito aos Seus que se guardassem as
Suas leis e andassem nos Seus estatutos., Ele os abençoaria. Ele colocou
diante deles uma longa lista de bênçãos, ricas e cheias; todas elas seriam a
sua porção se escutassem o Senhor e obedecessem à Sua lei. Mas nos dias
presentes o Senhor, em Cristo Jesus, tem feito com a verdadeira
descendência de Abraão, com todos os crentes verdadeiros, um nova
aliança; não segundo o teor da antiga, nem passível de ser quebrada, como
aquela. Irmãos, tomem o cuidado de distinguirem entre a velha aliança e a
nova aliança, porque nunca deverá haver confusão entre elas. Muitos
nunca percebem a verdadeira natureza da aliança da graça; não entendem
um concerto de pura promessa. Falam a respeito da graça, mas
consideram que ela depende do mérito. Falam da misericórdia de Deus,
porém a misturam com condições que fazem com que seja mais justiça do
que graça. Irmãos, façam distinção entre coisas diferentes. Se a salvação é
por graça, não é por obras, senão, a graça já não seria graça; e se é por
obras, não é por graça, senão as obras já não seriam obras. (conforme
Romanos 11:6). A nova aliança é toda pela graça, desde a primeira letra
até à sua palavra final.
No entanto, é uma aliança “eterna”. E é nesse aspecto que o texto em
Jeremias 32:40 insiste. A velha aliança foi de duração muito curta; mas
esta é uma aliança “eterna”. A despeito de alguns pensadores modernos,
espero que tenha licença para crer que a palavra “eterna” significa que
dura para sempre.
A primeira razão porque é uma aliança eterna é que foi feita conosco em
Jesus Cristo. A aliança das obras foi feita com a raça humana, no primeiro
Adão; mas o primeiro Adão era falho, e fracassou bem rapidamente; ele
não conseguiu suportar a tensão da sua responsabilidade, de modo que
aquela aliança foi quebrada. Mas o Fiador da nova aliança é Jesus Cristo,
e Ele não tem falhas; é perfeito. O Senhor Jesus é o cabeça federal dos
Seus escolhidos, e Ele os representa; são considerados membros do Seu
corpo, e Ele é seu cabeça, seu porta-voz, seu representante. Sendo que o
159
Senhor Jesus representa todo o Seu povo fiel na aliança, é eterna essa
aliança.
A segunda razão porque a aliança não pode falhar é devido o lado humano
dela ter sido cumprido. O lado humano poderia ser considerado o lado
fraco; no entanto quando Jesus Se tornou o representante do homem, esse
lado ficou firme Até este momento Ele tem cumprido integralmente todas
as exigências daquela parte da aliança em que Ele é o Fiador. Visto,
portanto, que foi cumprida aquela parte da aliança que pertence ao
homem, só falta ser cumprida a parte de Deus, que consiste em promessas
(promessas incondicionais, cheias de graça e verdade) tais como estas:
Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as
vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei. Também
vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei
da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ainda
porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos,
e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.” (Ezequiel 36:25-27).
Porventura Deus não cumprirá Seu compromisso? Sim, certamente.
Além disso, a aliança forçosamente é eterna, porque é fundamentada na
livre graça de Deus. A primeira aliança dependia da condição da
obediência dos homens. Se guardassem a lei, Deus os abençoaria; mas
fracassaram pela desobediência, e herdaram a maldição.
Demais disso, na aliança está fornecido tudo quanto se pode supor como
condição prévia. É necessário que o homem, para ser perdoado, se
arrependa; porém o Senhor Jesus está exaltado nas alturas para dar
arrependimento e remissão de pecados. (conforme Atos 5:31). É necessário
que o homem, a fim de ser salvo, tenha fé no Senhor Jesus Cristo; mas a
fé é operada por Deus, e o Espírito Santo opera em nós esse fruto do
Espírito (Paulo disse aos Efésios que a fé é dom de Deus). É necessário,
antes de entrarmos no céu, que sejamos santos; mas o Senhor nos
santifica mediante a Palavra, e opera em nós para desejarmos e
praticarmos Seu próprio beneplácito (Jesus em João 17:17 orou:Pai,
santifica-os na verdade, a Tua palavra é a verdade). Se houver, em
qualquer parte da Palavra de Deus, qualquer ato ou graça mencionado
como se fosse a condição prévia da salvação, noutro trecho bíblico isso é
descrito como um dom da aliança que Jesus Cristo dará aos herdeiros da
salvação. Isso é salvação pela graça, e não por obras!!!
Finalmente, a aliança é eterna porque não pode ser ultrapassada por algo
mais glorioso. Na ordem de Suas operações, Deus sempre avança do bom
para o melhor. A antiga lei foi deixada de lado porque Ele achou nela
falhas, e, portanto, a nova aliança deve durar até que seja achada nela
uma falha; o que nunca acontecerá.
160
Quero repetir aquelas palavras: “Para que nunca se apartem de mim”. Se
houvesse apenas esse texto na Bíblia a respeito do assunto, bastaria para
comprovar a perseverança final dos santos: “Para que NUNCA SE
APARTEM de mim”. A promessa não é cumprida por meio de alterar o
efeito da apostasia. Se eles se apartassem de Deus, isto seria fatal.
Suponhamos que um filho de Deus se afastasse totalmente de Deus, e
perdesse totalmente a vida de Deus: o que seria dele então? Seria salvo da
mesma forma? Respondo: sua salvação se acha no fato de que ele nunca
perderá totalmente a vida de Deus. Por que devemos perguntar o que
aconteceria num caso que nunca poderá ocorrer? Mas se devemos supor
tal coisa, não hesitaremos em dizer que se o crente fosse totalmente
separado de Cristo, teria, sem dúvida, que perecer eternamente. Se alguém
não permanece em Cristo, é lançado fora como um sarmento, e secará. Se
o Espírito Santo realmente regenerou uma alma, porém aquela
regeneração não a salvar da apostasia total, o que mais poderá ser feito?
Existe o “nascer de novo”; mas não existe o nascer e renascer várias vezes.
A regeneração é de uma vez por todas: não pode ser repetida. As
Escrituras não contêm nenhuma palavra ou indicação nesse sentido. Se os
homens foram lavados no sangue de Jesus, e renovados pelo Espírito
Santo, e esse processo sagrado fracassou, então não sobra outra
alternativa.
Que ninguém diga, portanto: “Embora volte para meus velhos pecados, e
cesse de orar, de me arrepender, ou de crer, ou de ter algo da vida de Deus
em mim, ainda assim serei salvo porque tempo houve quando eu era
crente”. Não, não, falador profano; o texto não diz: “Serão salvos embora se
apartem de mim” ele diz “para que nunca se apartem de mim”, que é
assunto bem diferente. Ai daqueles que se apartam do Deus vivo!
Essa perseverança dos santos não entra, tampouco, mediante a remoção
da tentação. Podem ser tentados; no entanto nunca serão vencidos.
Embora pequem em certa medida, não pecarão de tal maneira que se
apartarão de Deus. Ainda se apegarão a Ele, e viverão em Cristo mediante
a habitação neles do Espírito Santo.
Como pois são preservados ? Ora, não conforme alguns dizem falsamente,
como se pregássemos “que o homem convertido pode viver como quiser”.
Nunca dissemos isso; nunca sequer pensamos assim. O homem convertido
não pode viver como quer; ou melhor, é tão transformado pelo Espírito
Santo, que se pudesse viver como quer, nunca pecaria, mas viveria uma
vida absolutamente perfeita.
Alguns pregam uma doutrina que tem uma porta bem larga, porém é só
porta, e quem entra por ela, não recebe nada; não está mais seguro do que
quando estava fora. As ovelhas não se apressam para entrar onde não há
pastagem. Alguns têm pensado que esta doutrina é estreita, embora eu
161
tenha certeza de que não é; contudo, se uma porta parecer estreita, e se há
algo que valha a pensa ser recebido por quem entrar, muitos procurarão a
admissão. “Oh”, diz alguém, “se a salvação é uma coisa permanente, se
essa regeneração importa numa mudança da natureza de tal tipo que
nunca poderá ser desfeita, quero tê-la. Se a salvação é meramente um
artigo banhado a prata, que perderá seu brilho, não a quero; todavia se é
prata de lei maciça, desejo recebê-la”.
Muitas pessoas têm crido em Deus para salvá-las, mas só por algum
tempo; enquanto são fiéis, ou enquanto são sinceros. Amados, creiam em
Deus para Ele mantê-los fiéis e sinceros durante toda a sua vida: comprem
uma passagem até o ponto final. Obtenham um salvação que cubra todos
os riscos.
Aqueles que não pode guardar vocês para sempre, não poderá guardá-los
por um dia sequer. Se o poder da regeneração não perdurar por toda a
vida, talvez nem dure uma hora. A fé na aliança eterna agita o sangue do
meu coração, enche-me de confiança, inspira-me de entusiasmo. Nunca
posso abrir mão daquilo que o Senhor tem dito: “Farei com eles aliança
eterna segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu
temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jeremias
32:40).
Fonte: Trecho retirado do livro A Perseverança na santidade de C. H. Spurgeon.





4 - As Alegorias de Sara e Agar – Parte 1

Por Charles Haddon Spurgeon

“porque estas mulheres são duas alianças” (Gálatas 4:24)

Não pode haver maior diferença no mundo do que há entre lei e graça. E ainda assim, por mais estranho que pareça, embora sejam diametralmente opostas e essencialmente diferentes entre si, a mente humana está tão corrompida, e o intelecto, mesmo quando abençoado pelo Espírito, tão longe do julgamento correto, que uma das coisas mais difíceis é distinguir corretamente entre lei e graça. Quem conhece a diferença, e sempre a tem em mente — a diferença fundamental entre lei e graça — compreende a essência da teologia. Quem pode dizer exatamente a diferença entre lei e graça não está longe de entender o evangelho em toda sua extensão, seu alcance e suas nuances. Em toda ciência há sempre uma parte que se torna muito simples e fácil depois que a aprendemos, mas que, no início era como uma grande soleira antes da porta. Então, essa é a primeira dificuldade na luta para aprender o evangelho. Entre lei e graça existe uma diferença suficientemente clara para todo cristão, especialmente para quem é mais esclarecido e instruído; mas até para estes, mais esclarecidos e instruídos, há sempre uma tendência de confundir as duas coisas. Eles são tão opostas entre si quanto luz e trevas, e não concordam mais que fogo e água, mas, mesmo assim, o homem sempre tentará combiná-las — frequentemente sem conhecimento, e às vezes intencionalmente. Procuram unir as duas coisas, quando Deus positivamente as separou.

Nesta manhã, tentaremos ensinar algo sobre as alegorias de Sara e Agar, para que possam compreender melhor a diferença essencial entre as alianças da lei e da graça. Não iremos muito a fundo, mas daremos algumas ilustrações fornecidas pelo próprio texto. Primeiro, gostaria que observassem as duas mulheres, as quais Paulo usa como tipos  — Sara e Agar; depois falaremos dos dois filhos — Ismael e Isaque; em terceiro lugar, do comportamento de Ismael com relação a Isaque; e então concluirei chamando sua atenção para os diferentes destinos dos dois.

           1. Primeiro, convido-os a observar AS DUAS MULHERES — Agar e Sara. Está escrito que elas são tipo de duas alianças; e, antes de começar, não podemos deixar de dizer quais são essas alianças. A primeira, referente a Agar, é a aliança das obras, que diz: “Eis a minha lei, ó homem; se da tua parte, te comprometeres a guardá-la, Eu, de minha parte, Me comprometo a manter-te com vida. Se prometeres obedecer aos mandamentos plena, integral e perfeitamente, sem única falha, Eu te conduzirei ao céu. Mas vê bem, se violares uma única regra, se te rebelares contra uma única ordenança, Eu te destruirei para sempre.” Esta é aliança de Agar — a aliança proposta no Sinai, em meio a tempestades, fogo e fumaça — ou melhor, proposta, antes de tudo, no jardim do Éden, onde Deus disse a Adão: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Enquanto não comesse da árvore, e permanecesse puro e imaculado, Adão certamente viveria. Esta é aliança da lei, a aliança de Agar. A aliança de Sara é a aliança da graça, não feita por Deus com o homem, mas feita por Deus com Jesus Cristo, a qual diz: “Jesus Cristo, de Sua parte, Se compromete a suportar a pena pelo pecado do Seu povo, a morrer, para pagar suas dívidas, e a carregar suas iniquidades sobre Seus ombros; e o Pai, de Sua parte, promete que todos por quem o Filho morreu certamente serão salvos; e, por causa de seus vis corações, Ele colocará neles a Sua lei, da qual não se apartarão; e, vendo seus pecados, Ele passará por eles e deles jamais Se lembrará.” A aliança das obras era “faze isto e viverás”, mas a aliança da graça é “faze isto, ó Cristo, e tu, homem, viverás”. Nisto repousa a diferença entre as duas alianças. Uma foi feita com o homem, a outra com Cristo; uma era condicional, condicionada à obediência de Adão, a outra era condicional para Cristo, mas perfeitamente incondicional para nós. Na aliança da graça não há qualquer tipo de condição; e, se houver, a própria aliança a proverá. A aliança provê a fé, o arrependimento, as boas obras e a salvação, como um ato puramente gratuito e incondicional; nem a nossa permanência nela depende, em qualquer medida, de nós mesmos. A aliança foi feita por Deus com Cristo, assinada, selada e ratificada, em todas as coisas bem ordenada.

Agora, vejamos a alegoria. Primeiro, gostaria que notassem que é Sara o tipo da nova aliança da graça, pois foi ela a esposa original de Abraão. Antes de ele saber qualquer coisa sobre Agar, Sara já era sua esposa. A aliança da graça, afinal, é a aliança original. Há alguns teólogos ineptos que ensinam que Deus criou o homem justo, e fez uma aliança com ele; então o homem pecou, e Deus, como numa espécie de reconsideração, fez uma nova aliança com Cristo para salvar Seu povo. Ora, isso é um completo engano. A aliança da graça foi feita muito antes da aliança das obras, pois Jesus Cristo, antes da fundação do mundo, tornou-se seu guia e representante; e de nós está escrito que fomos eleitos pela presciência de Deus Pai, por meio da obediência e aspersão do sangue de Jesus. Nós, muito antes da queda, fomos amados por Deus; Ele não nos amou por sentir pena de nós; mas Ele amou Seu povo como simples criaturas. Ele amou Seu povo quando se tornaram pecadores; mas no começo, Ele os considerou como criaturas. Ele permitiu ao homem cair em pecado para mostrar a riqueza da Sua graça, a qual já existia antes do pecado. Ele não nos amou e nos escolheu dentre os demais, depois da queda, mas nos amou muito além do pecado, e antes dele. Ele fez a aliança da graça antes de cairmos pela aliança das obras. Se pudéssemos voltar na eternidade e perguntar qual era o filho mais velho, ouviríamos que a graça nasceu antes da lei — que veio ao mundo muito antes da lei ser promulgada. Mais antiga que os princípios fundamentais que regem a nossa moral está a grande pedra fundamental da graça, na aliança feita na antiguidade, muito antes dos videntes promulgarem a lei, muito antes do Sinai fumegar. Antes mesmo de Adão ser colocado no jardim, Deus já havia decretado a vida eterna ao Seu povo, para que fossem salvos por meio de Jesus.

           A seguir, observem: embora Sara fosse a esposa mais velha, foi Agar quem teve o primeiro filho. Assim, Adão, o primeiro homem, era filho de Agar. Embora tenha nascido perfeito e sem pecado, quando estava no jardim ele não era filho de Sara. Agar teve o primeiro filho. Ela deu à luz a Adão, o qual viveu durante algum tempo sob a aliança das obras. Adão viveu no jardim com base nesse princípio. O pecado causou sua queda; se não tivesse pecado, ele teria ficado lá para sempre. Adão tinha o poder de decidir se iria ou não obedecer a Deus: sua salvação, então, dependia simplesmente disto: “Se tocares nesse fruto, morrerás; se obedeceres ao meu mandamento, e não tocares no fruto, viverás.” E Adão, perfeito como era, foi só um Ismael, não um Isaque, até depois da queda. De qualquer forma, aparentemente, ele foi descendente de Agar, embora ocultamente, na aliança da graça, talvez tenha sido um filho da promessa. Bendito seja Deus, pois agora não estamos sob Agar; não estamos debaixo da lei desde a queda de Adão. Sara já deu à luz. A nova aliança é “a mãe de todos nós”.

           Mas observe mais uma vez, a finalidade de Agar não era ser esposa; ela nunca foi outra coisa senão serva de Sara. O propósito da lei nunca foi salvar os homens; ela foi designada apenas para ser um aio para a aliança da graça. Quando Deus promulgou a lei no monte Sinai, não foi com o propósito do homem poder ser salvo por ela; Ele nunca planejou que o homem alcançasse a perfeição por meio dela. No entanto, sabemos que a lei é uma serva magnífica para a graça. Quem nos levou ao Salvador? Não foi a lei trovejando em nossos ouvidos? Nunca teríamos aceitado a Cristo se a lei não nos tivesse conduzido a Ele; nunca teríamos conhecido o pecado se a lei não o tivesse revelado. A lei é a serva de Sara para varrer o nosso coração e levantar a poeira, a fim de nos fazer clamar para o sangue ser aspergido e poder assentá-la. A lei, por assim dizer, é o cão pastor de Jesus Cristo, que vai atrás da ovelha e a conduz ao pastor; a lei é o raio estrondoso que aterroriza os ímpios, e os faz deixar os seus maus caminhos e buscar a Deus. Ah, se soubéssemos como usar a lei corretamente, se compreendêssemos como colocá-la em seu lugar, tornando-a obediente a sua senhora, então tudo ficaria muito bem. Esta Agar, no entanto, está sempre desejando ser senhora, tal como Sara; mas Sara jamais permitirá isso, e terá razão em tratá-la mal e mandá-la embora. Devemos fazer o mesmo, e não permitir que ninguém murmure contra nós, se tratarmos com severidade os filhos de Agar em nossos dias — se às vezes dissermos coisas duras para quem confia nas obras da lei. Citaremos Sara como exemplo. Ela tratou Agar com severidade; e nós faremos o mesmo. Isso significa fazer Agar fugir para o deserto: não queremos ter nada com ela. Contudo, é incrível que, mesmo feia e inferior, Agar seja mais amada pelos homens do que Sara, e eles estejam sempre propensos a dizer “Agar, seja minha senhora” em vez de “Não! Sara, eu serei teu filho, e Agar será a escrava.” Onde está a lei de Deus agora? Ela não está acima do cristão — está abaixo dele. Alguns usam a lei de Deus como fosse uma vara, de terror, sobre os cristãos, dizendo “se pecar, você será punido com ela”. Mas não é assim. A lei está sob o cristão; é para ele andar nela; ela deve ser seu guia, sua regra, seu padrão. “Não estamos debaixo da lei, e sim da graça.” A lei é a estrada que nos guia, não a vara que nos controla, nem o espírito que nos move. A lei é boa e excelente, se ficar em seu lugar. Ninguém critica a serva porque ela não é a esposa; e ninguém deve desprezar Agar porque ela não é Sara. Se ela pelo menos tivesse se recordado das suas funções, não haveria problema algum, sua senhora nunca a teria mandado embora. Não queremos tirar a lei das nossas igrejas, desde que ela continue no lugar certo; mas quando ela quer ser senhora, fora com ela; não queremos o legalismo.

           Novamente, Agar nunca foi livre, e Sara nunca foi escrava. Portanto, amados, a aliança das obras nunca foi livre, nem nenhum de seus filhos. Quem confia nas obras jamais será livre, nem poderá ser, até sendo perfeito em boas obras. Mesmo não tendo pecado, ainda são escravos, pois quando tivermos feito tudo o que deveríamos, Deus não será nosso devedor, pois ainda estaremos em débito com Ele, ainda seremos como escravos. Se cumpro toda a lei de Deus, não tenho direito a favor algum, pois nada mais fiz que a minha obrigação, e ainda serei escravo. A lei é o patrão mais rigoroso do mundo; nenhum homem sensato gostaria de estar a seu serviço, pois depois de ter feito tudo, não se recebe nem um “obrigado” por isso, só um “vá em frente, continue”. O pobre pecador tentando ser salvo pela lei é como um cavalo cego dando voltas e mais voltas em torno de um moinho, não dando um único passo além, mas sempre recebendo açoites; sim, quanto mais rápido for, quanto mais trabalhar, quanto mais cansado ficar, tanto pior para ele. Quanto mais legalista alguém for, mais certeza terá da condenação; quanto mais santo alguém for, se confiar em suas obras, mais certeza terá da sua própria rejeição final e da porção eterna com os fariseus. Agar era escrava; Ismael, embora bom e digno, nada mais era que um escravo, e nunca poderia ser outra coisa. Nem todas as obras que alguma vez ele fez a seu pai poderiam torná-lo um filho nascido em liberdade. Sara nunca foi escrava. Ela pode ter sido feita prisioneira de faraó algumas vezes, mas não foi sua escrava; seu marido pode tê-la negado, mas ela ainda era sua esposa; tão logo foi reconhecida por seu marido, faraó teve de devolvê-la. Por isso, a aliança da graça podia parecer em perigo, e seu representante clamar “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!”, mas esse nunca foi um risco real. Por vezes, as pessoas sob a aliança da graça parecem cativas e escravas, mas ainda são livres. Oh, se soubéssemos como ficar “firmes na liberdade com que Cristo nos libertou!”

           Só mais um pensamento. Agar foi expulsa, assim como seu filho, mas Sara, não. Por isso, a aliança das obras não tem mais validade como aliança. Naufraga quem nela confia, pois não só Ismael foi lançado fora, como também sua mãe. PORTANTO, o legalista não só sabe que ele mesmo está condenado, como também que a lei como aliança cessou, pois mãe e filho foram expulsos pelo evangelho, e quem confia na lei é mandado embora por Deus. Perguntem-me quem é a esposa de Abraão hoje. Não é Sara? Não é ela quem repousa ao lado do marido na caverna de Macpela neste instante? Ela está lá, e se estiver nos milhares de anos por vir, ainda será a esposa de Abraão, enquanto Agar jamais poderá ser. Oh, como é doce pensar que a aliança celebrada nos tempos antigos em todas as coisas foi bem ordenada, e jamais, jamais será removida. “Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura.” Ah, legalistas, não me admira que vocês ensinem a doutrina da perda da salvação, pois ela é totalmente coerente com sua teologia. Agar, é claro, tem de ser expulsa, e seu filho Ismael também. Mas nós, os que pregamos a aliança da salvação plena e gratuita, sabemos que Isaque nunca será expulso, e Sara nunca deixará de ser amiga e esposa de Abraão. Ó filhos de Agar! Ó ritualistas! Ó hipócritas! Ó formalistas! De que adiantará, quando enfim disserem “Onde está minha mãe? Onde está minha mãe, a lei?” Ah, ela foi expulsa, e tu podes acompanhá-la no esquecimento eterno. “Mas onde está minha mãe?” pode, enfim, dizer o cristão; e ele ouvirá “Eis a mãe dos fiéis, a Jerusalém do alto, a mãe de todos nós; e ali entraremos e habitaremos com nosso Deus e Pai.”

           2. Agora vamos analisar os DOIS FILHOS. Enquanto as duas mulheres são tipo de duas alianças, os filhos são tipo de quem vive debaixo de cada aliança. Isaque é tipo do homem que anda pela fé, não pelo que vê, e espera ser salvo pela graça; Ismael, do homem que vive pelas obras, e espera ser salvo por suas boas ações. Vamos examinar os dois.

           Em primeiro lugar, Ismael é o mais velho. Por isso, amados, o legalista é muito mais velho que o cristão. Se eu fosse um legalista hoje, teria uns quinze ou dezesseis a mais do que tenho como cristão, pois todos nós nascemos legalistas. Falando sobre os arminianos, Whitfield disse: “Todos nós nascemos arminianos.” É a graça que nos torna calvinistas, a graça nos torna cristãos, a graça nos liberta e nos faz conhecer a nossa posição em Cristo. Deve-se esperar, então, que o legalista tenha mais poder de argumentação do que Isaque; e quando os dois garotos estão brigando, é claro que Isaque geralmente vai ao chão, pois Ismael é muito maior. Deve-se esperar também ouvir Ismael fazendo o maior barulho, pois ele vai se tornar um homem selvagem, “a sua mão será contra todos, e a mão de todos, contra ele”, ao passo que Isaque é um rapaz pacífico. Ele está sempre ao lado da mãe, e quando é alvo de zombaria, pode ir até ela e contar-lhe o que Ismael fez com ele; mas isso é tudo o que pode fazer, pois ele não tem muita força. Por isso, observe os nossos dias. Os ismaelitas geralmente são mais fortes, e podem nos derrubar violentamente quando discutimos com eles. Na verdade, eles se gabam e se vangloriam porque os Isaques não têm muito poder de raciocínio — não têm muita lógica. Não, Isaque não quer discutir, pois é herdeiro segundo a promessa, e promessa e lógica não combinam muito bem. Sua lógica é sua fé, sua retórica é sua sinceridade. Não espere que o evangelho seja vitorioso quando se disputa segundo a maneira dos homens; é mais comum vê-lo vencido. Se você estiver discutindo com um legalista, e ele vencer a questão, diga: “Eu já esperava por isso; isso mostra que sou um Isaque, pois Ismael com certeza dá uma coça em Isaque, mas isso de forma alguma me abate. O pai e a mãe dele estão no vigor da vida, e são fortes. É natural que eu seja superado, pois meu pai e minha mãe estão muito velhos.”

           Mas, na aparência exterior, onde está a diferença entre os dois rapazes? Não há diferença entre eles quanto às ordenanças, pois ambos são circuncidados. Não há nenhuma distinção quanto aos sinais externos e visíveis. Portanto, amados, muitas vezes não há diferença entre Ismael e Isaque, entre o legalista e o cristão, no que se refere aos rituais externos. O legalista toma a Santa Ceia e é batizado; ele ficaria muito temeroso se não o fizesse. E não creio que haja muita diferença quanto ao caráter. Ismael, como homem, foi quase tão bom e honrado quanto Isaque; não há nada contra ele nas Escrituras; na verdade, sou levado a crer que ele era um rapaz especial, pelo que Deus disse quando proferiu a bênção: “Com Isaque estará minha bênção.” Abraão, respondeu: “Tomara que viva Ismael diante de ti.” Abraão clamou a Deus por Ismael porque, sem dúvida, amava o rapaz por seu caráter. Deus disse: sim, darei a ele tais e tais bênçãos; ele será pai de príncipes e terá bênçãos temporais. No entanto, Deus não mudaria, nem mesmo pela oração de Abraão. E está escrito que, quando Sara ficou furiosa, como no dia em que expulsou Agar de casa, “Abraão ficou pesaroso por causa do seu filho”.  Não creio que o sentimento dele fosse uma tolice. Há um traço no caráter de Ismael que todos irão gostar. Quando Abraão morreu, ele não deixou sequer um pedaço de pau ou de pedra para Ismael, pois Abraão já tinha lhe dado sua parte quando o despachou; no entanto, o rapaz foi ao funeral do pai, pois está escrito que ambos, Ismael e Isaque, sepultaram Abraão em Macpela. Por isso, parece haver bem pouca diferença no caráter dos dois. Portanto, amados, há pouquíssimas diferenças entre o legalista e o cristão quanto ao aspecto externo. Ambos são filhos de Abraão. Não há distinção na vida, pois Deus permitiu a Ismael ser tão bom quanto Isaque, para mostrar que não é a bondade de um homem que faz diferença, mas que Ele “tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”.

           Então, qual é a distinção? Paulo nos diz que o primeiro nasceu segundo a carne, e o outro segundo o Espírito. O primeiro era filho natural, o segundo, espiritual. Pergunte ao legalista: “Você faz boas obras, se arrepende, e diz: quando se cumpre a lei não é preciso arrependimento. De onde vem a sua força?” Talvez ele responda: “da graça”; mas se você lhe perguntar o que isso significa, ele dirá que usou a graça; ele a tinha, mas usou-a. Então, a diferença é, você usa a graça, os outros não. Sim. Bem, então, é devido às suas ações. Você pode chamar de graça, ou de mostarda; enfim, não é graça, pois foi o uso, você diz, que fez a diferença. Contudo, pergunte ao pobre Isaque como ele observa a lei. O que ele diz? Não faço nada direito! Isaque, você é pecador? “Oh, sim, um grande pecador; vezes sem conta tenho me rebelado contra meu pai; estou sempre me desviando de seus caminhos.” Então você não se acha tão bom quanto Ismael, não é? “Não”. Ah! Então existe uma diferença entre vocês afinal! O que faz a diferença? “A graça me faz ser diferente.” Por que Ismael não é um Isaque? Ele poderia ter sido um Isaque? “Não”, diz Isaque, “foi Deus quem me tornou diferente, do princípio ao fim; Ele me fez filho da promessa antes de eu nascer, e vai me manter assim.”

A graça toda obra coroará
Por todos os dias da eternidade
Ela firma nos céus a pedra suprema
E bem merece todo o nosso louvor


           Na realidade, Isaque tem mais boas obras; ele não fica atrás de Ismael. Quando é convertido, ele trabalha e, se possível, serve ao pai muito melhor que um legalista a seu senhor. Entretanto, se fôssemos ouvir a história de ambos, sem dúvida, veríamos que Isaque se considera um pobre pecador miserável, enquanto Ismael se mostra como um honrado cavalheiro farisaico. A diferença, contudo, não está nas obras, mas nos motivos; não na vida, mas nos meios de sustentá-la — não no que fazem, mas muito mais em como fazem. Eis, portanto, a diferença entre eles. Não que os legalistas sejam piores que os cristãos; com frequência podem ter uma vida melhor; mas mesmo assim podem estar perdidos. Eles se queixam das injustiças? Nem um pouco. Deus diz que os homens devem ser salvos pela fé, mas eles dizem: “Não, seremos salvos pelas obras.” Eles podem tentar, mas estarão perdidos para sempre. É como se alguém tivesse um servo e lhe dissesse: “João, faça isso, isso e isso no estábulo”, mas o servo se retira e faz o contrário, e depois diz: “Senhor, fiz tudo certinho.” “Sim”, diz ele, “mas não foi o que eu pedi.” Da mesma forma, Deus não lhe pediu para desenvolver sua salvação por meio de obras, mas para “desenvolver a vossa salvação com temor e tremor;  porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” De forma que, quando você se apresentar diante dEle com suas obras, Ele dirá: “Não lhe pedi para fazer isso. Eu disse que quem crer e for batizado será salvo.” “Ah”, diz você, “achei que o outro jeito fosse melhor.” Amigo, o que você acha o levará à perdição. “Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a alcançá-la”, quando Israel, que a buscava, não a alcançou? É por isso, “Porque não decorreu da fé, e sim como que das obras.”

3.  Agora direi uma palavra ou duas a respeito da CONDUTA DE ISMAEL EM RELAÇÃO A ISAQUE. Lemos que Ismael caçoou de Isaque. Será que os queridos filhos de Agar não se irritam ao ouvir essa doutrina? Eles dizem: “é horrível, sem sentido e totalmente injusto que eu possa ser tão bom quanto queira, mas se não for filho da promessa, não possa ser salvo; essa é realmente uma doutrina terrível e imoral; é um grande perigo e precisa ser detida.” Sem dúvida! Isso mostra que ele é um Ismael. É claro que Ismael caçoará de Isaque, e não é preciso outra explicação. Onde a absoluta soberania de Deus for pregada, onde se disser que o filho da promessa, não o da carne, é o herdeiro, o filho da carne sempre fará o maior reboliço. Mas o que disse Ismael a Isaque? “Que quer aqui? Não sou eu o filho mais velho de meu pai? Tudo seria meu, se não fosse por você. Acaso você é melhor do que eu?” Assim é como falam os legalistas. “Deus não é pai de todo mundo? Não somos todos Seus filhos? Ele não deve fazer nenhuma distinção.” Ismael disse: “Não sou tão bom quanto você? Não sirvo igualmente a meu pai? Quanto a você, sei que é o favorito da sua mãe, mas a minha é tão boa quanto a sua.” E assim, ele provocou Isaque e caçoou dele. É assim que os arminianos fazem com a salvação pela graça. O legalista diz: “Não a entendo, não a tenho e não a quero; se somos ambos iguais em caráter, não é possível que um se perca e o outro seja salvo.” Por isso, ele zomba da graça. Podemos viver em harmonia, se não pregarmos a plenitude da graça; mas se ousarmos falar dela, conquanto ofensiva ao público, o que as pessoas dirão? Chamam-na de “o anzol da popularidade” (vejam o assim chamado Jornal Homem Livre). Poucos peixes, no entanto, mordem a isca. A maioria diz: “Odeio esse pregador, não o suporto; ele é intolerante demais.” Dizem que pregamos sobre a graça para ganhar popularidade! Ora, no fundo, isso é uma mentira deslavada, pois a doutrina da soberania de Deus sempre será impopular; as pessoas sempre a detestarão, e rangerão os dentes, da mesma forma como fizeram quando Jesus a ensinou. Havia muitas viúvas em Israel, disse Ele, mas a nenhuma foi enviado o profeta, senão à viúva de Sarepta. Havia muitos leprosos em Israel, mas nenhum foi curado, senão aquele que veio de longe, da Síria. Quanta popularidade conseguiu nosso Salvador com esse sermão! As pessoas rangeram os dentes para ele; e toda sua popularidade teria descido morro abaixo, de onde queriam lançá-lO de cabeça, se Ele não tivesse aberto caminho por entre eles e se retirado. Como? Popular por tirar o orgulho de alguém, por destruir sua posição e por fazê-lo se encolher diante de Deus como um pobre pecador? Não, isso nunca será popular até os homens nascerem anjos, e todos amarem o Senhor, o que suponho não será agora.

           4. Mas ainda temos de perguntar no QUE SE TORNARAM OS DOIS FILHOS

           Primeiro, Isaque herdou tudo, e Ismael não herdou nada. Não que Ismael tenha ficado pobre, pois ele recebeu muitos bens, e se tornou rico e poderoso; mas ele não recebeu herança espiritual. O legalista, da mesma forma, receberá muitas bênçãos como recompensa por sua legalidade; ele será honrado e respeitado. “Em verdade”, disse Jesus, “vos digo que eles (os fariseus) já receberam a recompensa”. Deus não priva ninguém da sua recompensa. Qualquer coisa que um homem peça, ele a terá. Deus paga a todos o que é devido, e muito mais; e quem cumpre a Sua lei, mesmo neste mundo, receberá grandes benefícios. Por obedecer aos mandamentos de Deus, não terão o corpo tão prejudicado quanto os devassos, e preservarão melhor sua reputação — obediência, nesse sentido, faz bem. Por outro lado, Ismael não herdou nada. Por isso, ó pobre legalista, se és dependente das tuas obras, ou de qualquer outra coisa, a não ser da soberana graça de Deus, para te livrares da morte, não terás sequer um palmo de herança em Canaã, e no grande dia em que Deus repartir a porção dos filhos de Jacó, não haverá uma parte para ti. Se és, no entanto, um pobre Isaque, um pobre e trêmulo pecador  — e, se disseres: “Ismael tem as mãos cheias

Mas nada em minhas mãos eu trago
Somente à cruz me agarro.

Se disseres nesta manhã —

Eu, de mim, nada sou
Mas Cristo é meu tudo em tudo.”

Se renunciares a todas as obras da carne, e confessares: “Eu sou o principal dos pecadores, mas sou filho da promessa e Jesus morreu por mim”, terás uma herança e não serás privado dela nem por todos os Ismaeis zombadores do mundo; nem será ela diminuída pelos filhos de Agar. Talvez sejas vendido, e levado para o Egito, mas Deus trará de volta Seus Josés e Seus Isaques, e serás exaltado para a glória, e te assentarás à direita de Cristo. Ah, como tenho pensado na consternação que haverá no inferno quando aqueles que aparentam ser justos forem para lá. “Senhor”, diz alguém, “preciso mesmo ir para essa masmorra horrenda? Mas não guardei o dia de descanso? Não cumpri fielmente teu mandamento? Em toda minha vida, jamais disse um palavrão ou proferi uma maldição. Preciso mesmo ir para lá? Dei o dízimo de tudo o que tinha, e ainda assim serei trancafiado lá? Fui batizado, tomei a Santa Ceia, e fui tão bom quanto pude. É bem verdade que não cri em Cristo; mas pensei que não fosse necessário, pois me achava bom e honrado demais; preciso mesmo ser trancafiado lá?” Sim, senhor! E entre os condenados terás a primazia, pois escarneceste de Cristo mais do que todos. Eles nunca erigiram um anticristo. Eles andaram nos caminhos do pecado, e tu também, mas acrescentaste ao teu pecado o mais abominável de todos: erigiste a ti mesmo como um anticristo, e te curvaste ante a tua própria bondade ilusória e a adoraste. E então, Deus dirá ao legalista: “Em tal dia Eu te ouvi criticar minha soberania; te ouvi dizer que era injusto Eu salvar meu povo e distribuir meus favores conforme o conselho da minha vontade; tu contestaste a justiça do teu Criador, e justiça terás em toda força.” Ele pensava que tivesse um grande peso da balança a seu favor, mas descobriu que era somente um grãozinho de dever; Deus, então, exibe a imensa lista de seus pecados, com esta inscrição no final: “Sem Deus, sem esperança, um estranho à riqueza de Israel”. O pobre homem, então, percebe que seu pequeno tesouro não vale nem meio centavo, enquanto a enorme conta apresentada por Deus é de dez trilhões de talentos; e assim, com um terrível gemido de angústia, e um urro desesperado, ele foge com todas as suas notinhas de mérito, as quais esperava pudessem salvá-lo, gritando: “Estou perdido! Estou perdido com todas as minhas boas obras! Descobri que minhas boas obras eram grãos de areia, enquanto meus pecados eram montanhas; e porque não tive fé, toda minha justiça foi somente deslavada hipocrisia.”

Agora, mais uma vez, Ismael foi mandado embora, e Isaque foi mantido em casa. Assim será com alguns de vocês, quando vier o dia da perseguição para provar a igreja de Deus; pois, embora estejam na igreja como os outros e, embora usem a máscara de professos, descobrirão que isso será de nenhuma valia. Vocês são como o filho mais velho; quando o filho pródigo entra na igreja, dizem: “vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.” Ah, legalistas invejosos, enfim sereis expulsos de casa. E eu vos digo, legalistas e formalistas, que tendes com Cristo o mesmo que qualquer pagão; e vós, que fostes batizados com o batismo cristão, embora vos assenteis à mesa do Senhor, embora ouçais sermões cristãos, não tendes parte nem porção nisso, não mais que um católico romano ou um muçulmano, a menos que confieis simplesmente na graça de Deus, e sejais herdeiro segundo a promessa. Todo aquele que confia nas suas obras, mesmo que seja só um pouquinho, descobrirá que esse pouquinho arruinará a sua alma. Todos os movimentos do universo devem ser desvelados. O navio construído pelas obras deve ter a quilha partida. A alma deve confiar única e exclusivamente na aliança de Deus, ou está perdida. Legalista, esperas ser salvo pelas obras. Vem agora, e te tratarei com respeito. Não te acusarei por teres sido um bêbado, ou maldizente, mas quero te perguntar: sabes que, para seres salvo por tuas obras, deves ser totalmente perfeito? Deus requer o cumprimento de toda a lei. Se você tem um vaso com uma pequena rachadura, por menor que ela seja, ele não está inteiro. Você nunca cometeu pecado em sua vida? Nunca teve maus pensamentos, nunca imaginou coisas ruins? Ora, meu amigo, não acho que você tenha manchado suas luvas brancas com algum tipo de luxúria, ou carnalidade, ou que sua boca pura, que usa linguagem casta, tenha proferido algum xingamento, ou qualquer coisa lasciva; nem penso que você tenha cantado alguma música obscena; isso está fora de questão — mas nunca pecaste? “Sim”, respondes. Então, nota bem: “a alma que pecar, essa morrerá”; e isso é tudo o que tenho a te dizer. Mas se negares que tenhas pecado, sabe que, se no futuro cometeres um único pecado — embora tenhas vivido uma vida perfeita durante setenta anos, e ao final desses anos cometeres um único pecado, toda a tua obediência de nada servirá, pois “aquele que tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”. Mas você diz: “o senhor está fazendo suposições erradas, pois embora eu creia que precise fazer boas obras, também creio que Jesus é muito misericordioso e, embora eu não seja inteiramente perfeito, sou sincero, e acho que obediência sincera será aceita em lugar da obediência perfeita.” É mesmo? Então diga: o que é obediência sincera? Conheci um homem que se embebedava uma vez por semana; ele era muito sincero e não achava que estivesse fazendo algo errado, contanto que estivesse sóbrio no domingo. Muitas pessoas têm o que elas chamam de obediência sincera, mas isso sempre deixa margem para a iniquidade. E então você diz: “Não dou muita margem, só permito alguns pecadinhos.” Caro amigo, você está totalmente errado quanto à sua obediência sincera, pois se isso é o que Deus requer, então centenas dos mais vis pecadores são tão sinceros quanto você. Não creio na sua sinceridade. Se fosse sincero, obedeceria ao que Deus diz: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo.” Tua obediência sincera me parece uma sincera enganação, e isso logo descobrirás. “Oh”, dizes tu, “creio que depois de tudo o que fizemos, devemos ir a Jesus Cristo e dizer: “Senhor, temos um grande problema, o Senhor o perdoará?” Ouvi dizer que antigamente pesavam bruxas contra a Bíblia da paróquia, se fossem mais pesadas, as bruxas eram inocentadas; mas colocar bruxas em pé de igualdade com a Bíblia é uma ideia sem precedentes. Porque Cristo não será colocado na balança com um tolo presunçoso como tu. O teu desejo é que Cristo sirva de contrapeso. Ele agradece muito o cumprimento, mas não aceitará um trabalho servil. “Oh”, dizes tu, “Ele me ajudará na minha salvação.” Sim, sei que isso lhe agradaria; mas Cristo é um tipo bem diferente de Salvador; quando pega algo para fazer, Sua tendência é executar tudo Ele mesmo. Você pode achar estranho, mas Ele não gosta de assistência. Quando formou o mundo, Ele não pediu ao anjo Gabriel para resfriar a matéria incandescente com suas asas, Ele fez tudo sozinho. Com a salvação é a mesma coisa: Ele diz: “a minha glória, pois, não a darei a outrem”. E peço que te lembres, se professaste seguir a Cristo, mas ainda tens uma pequena porção de si mesmo nisso, que existe uma passagem das Escrituras que é apropriada para ti, e podes remoer a teu bel-prazer: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça.” Pois, se as misturares, estragarás ambas. Vá para casa, amigo, e faça você mesmo um mingau de fogo e água, tente manter em casa um leão e um cordeiro, e quando for bem-sucedido, diga-me que fez obras e graça concordarem; e eu lhe direi que você me contou uma mentira, pois as duas coisas são tão essencialmente opostas que não podem concordar. Quem dentre vocês jogar fora todas as boas obras, e vier a Jesus com isto: “Nada, nada, NADA

Nada em minhas mãos eu trago,
Simplesmente à cruz me agarro.

Cristo lhe dará boas obras suficientes, Seu Espírito agirá em você e fará tudo conforme Lhe apraz, e o tornará santo e perfeito; mas se você tentar obter a santidade antes de Cristo, você começou do lado errado, e procurou florescer antes de enraizar, e são inúteis os seus esforços. Ismaeis, tremam diante dEle agora! Se alguns de vocês forem Isaques, talvez se lembrem de que são filhos da promessa. Permanecei firmes. “Não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão, pois não estais debaixo da lei, e sim da graça”.





5 - A Antiga e a Nova Alianças

Por Antiga Aliança se entende o sistema de culto estabelecido por Deus para vigorar no período do Velho Testamento, desde os dias de Moisés até a morte e ressurreição de Jesus.
Assim, uma Nova Aliança foi inaugurada desde então, para vigorar no chamado período ou dispensação da graça, uma vez que a antiga dispensação não era regida pela graça, mas pela lei de Moisés.
Em consequência disto, todos os mandamentos civis e cerimoniais da Lei de Moisés (exceto os morais), perderam o caráter de cumprimento obrigatório, como por exemplo a circuncisão do prepúcio, a distinção entre alimentos e animais e pessoas, puros e imundos; a apresentação de ofertas e sacrifícios no templo; e toda a prescrição prevista para o funcionamento da ordem sacerdotal que era segundo a descendência de Arão.
Apesar de nosso Senhor não ter revogado a validade da Lei de Moisés, e como de fato não poderia fazê-lo, porque ela possui propósitos determinados no conselho de Deus, todavia, todo o seu aparato cerimonial e civil, em não sendo mais exigido o seu cumprimento, continua servindo didaticamente para nos ensinar em figura acerca da santidade e justiça de Deus, de modo que a respeito das Escrituras do Velho Testamento, em sua totalidade o apóstolo Paulo se expressa nos seguintes termos:
“Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” (II Timóteo 3.16,17).
Assim, encontramos na Bíblia tanto textos se referindo à manutenção da Lei e dos Profetas (modo de se referir às escrituras e à aliança do Velho Testamento), quanto à sua revogação.
Quando se afirma a manutenção o que está em foco é todo o conjuntos dos escritos do Velho Testamento, seja para cumprimento da lei moral, seja para aprendizagem por princípio didático da lei cerimonial e civil; e quando se afirma a revogação, isto abrange o sistema de culto do Velho Testamento, com todas as suas prescrições cerimoniais, e a sua substituição pela Nova Aliança instituída por nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta substituição não fora feita por Deus, no entanto, de forma pontual e abrupta, mas gradativamente, de modo a que o novo sistema fosse assimilado sem ofender as consciências fracas daqueles que prestavam culto no antigo sistema.
Todavia, foi com todo o vigor que os apóstolos combateram a ideia errônea de que pelo antigo sistema de culto, alguém poderia obter a justificação.
De forma que não havia nenhum mal em alguém continuar observando a prática da circuncisão do prepúcio, mas seria um grande equívoco e perigo pensar-se que por ela se poderia alcançar a justificação que é somente por graça e mediante a fé.
Daí Paulo falar ironicamente na epístola aos Gálatas que aquele que procurasse a justificação por meio da circuncisão, que estava obrigado a cumprir todos os demais mandamentos cerimoniais da lei de Moisés, inclusive continuar com a apresentação de sacrifícios de animais.
Pois se alguém pretendesse ser justificado e obter a salvação pelas obras da lei, somente poderia obtê-lo por uma guarda perfeita e constante de toda a lei. E de fato ninguém é suficiente para isto. Esta foi a razão de Jesus – o único que poderia guardar toda lei com perfeição, viesse a este mundo como homem para guardá-la e morrer em nosso lugar, para que pudéssemos morrer para a maldição e condenação da lei.
O autor da epístola aos Hebreus afirma diretamente que a Antiga Aliança foi revogada para que pudéssemos servir a Deus nos termos da Nova Aliança, conforme prometido por Ele através do profeta Jeremias (Jer 31.31-34).
Isto foi possível, porque havendo mudança do sacerdócio, porque Jesus não era da tribo de Levi, mas de Judá, e não era da ordem de Arão, mas de Melquisedeque, pôde também mudar a ordem de culto prevista no Antigo Testamento, para a Nova instituída por ele no Novo.
A Antiga Aliança ou Antigo Testamento recebe também as seguintes designações na Bíblia: Primeira Aliança (Hb 8.7); Lei de Moisés (I Cor 9.9); Lei do Senhor (II Cr 31.3,4): Lei de Deus (Ed 7.21); Lei (Rom 3.19); Aliança da Letra (II Cor 3.6); Ministério da Morte (II Cor 3.7), e Ministério da Condenação (II Cor 3.9).
Foi celebrada por Deus com a nação de Israel quando esta foi libertada do cativeiro egípcio (cerca de 1440 aC).
A Antiga Aliança abrangia todos os israelitas em todas as gerações de Israel, de Moisés até a morte de Jesus, e por isso, possuía também um caráter essencialmente coletivo quanto às aplicações das suas promessas de bênçãos (Lev 26.3-13; Dt 7.12-26; 11.8-32; 28.1-14), e de maldições (Lev 26.14-42; Dt 11.26-28; 27.26; 28.15-68).
Apesar do caráter essencialmente coletivo daquela aliança, a mesma não excluía a responsabilidade individual de cada israelita perante Deus (Dt 24.16; Ez 18.20).
Mas, à responsabilidade pessoal, sobrepunha-se a coletiva, com vistas principalmente, à manutenção da unidade de Israel como nação separada para o serviço de Deus, e para preservá-la da idolatria e costumes pagãos das demais nações.
Daí o mandamento que proibia o casamento de israelitas com gentios.
Não porque os demais povos fossem desprezados por Deus, conforme os israelitas passaram a interpretar o mandamento, mas simplesmente para preservar Israel dos costumes das nações até que Jesus viesse e inaugurasse a Nova Aliança.
Ao dar a lei a Israel através da mediação de Moisés, firmando com a nação  a  chamada  Antiga  Aliança ou  Testamento, Deus não tinha em vista forjar o legalismo no seu povo, mas forjar a justiça, o amor e a santidade, através da obediência à  Sua santa vontade, expressada  nos diversos mandamentos da lei.
A palavra LEI, recebe no texto da Bíblia, diferentes conotações. Por vezes, é usada com o significado do Pacto ajustado por Deus com os israelitas a partir de Moisés, ou seja, a Aliança Antiga propriamente dita.
Em outras passagens, refere-se aos cinco primeiros livros da Bíblia, ou Pentateuco, também conhecidos como livros da lei de Moisés.
Quando aparece a expressão a Lei e os Profetas, normalmente é uma referência ao conjunto das Escrituras  do Velho Testamento (At 13.15), ou ao Pacto Antigo propriamente dito (Lc 16.16).
E, finalmente, em outras porções bíblicas, a palavra Lei, designa o conjunto de regulamentos e mandamentos civis, cerimoniais e morais, constantes sobretudo do Pentateuco.
Por exemplo, quando Jesus disse que não veio revogar a lei e os profetas (Mt 5.17), estava se referindo às Escrituras do Velho Testamento; e quando afirmou que a lei e os profetas haviam vigorado até João Batista (Mt 11.13; Lc 16.16), ao Pacto, à Aliança Antiga, que estava sendo substituída pela Nova.
Ao instituir a Nova Aliança no seu sangue, Jesus revogou a Antiga Aliança e marcou o encerramento do período da dispensação da lei,   mas não revogou, isto é, não cancelou, as Escrituras do Velho Testamento (Mt 5.17).
Se as Escrituras dão testemunho do Senhor, como Ele as revogaria?
Se o fizesse estaria negando a Si mesmo e à obra que recebeu do Pai para realizar.
Abraão, Moisés e os profetas, falaram de Jesus. Os utensílios e ofícios do tabernáculo e do templo ensinam-nos acerca dEle, em figura.
A forma como o pecado entrou no mundo e a provisão que Deus fez para salvar o pecador ali também estão revelados.
A Nova Aliança não foi um plano emergencial concebido por Deus, por terem os israelitas violado a Antiga Aliança.
Em absoluto. Ela já estava no Seu coração desde antes da criação do mundo. E fora prometida a Abraão antes mesmo da celebração da Antiga (Gên 17.1-5), tendo sido a promessa posteriormente confirmada pelo ministério dos profetas.
Jesus e nenhum dos apóstolos ensinaram contra a lei, pois fora outorgada pelo próprio Deus a Moisés para vigorar como termos da Antiga Aliança, que firmara com a nação de Israel, e para servir também de testemunho a todo o mundo gentílico, acerca do Seu caráter e da Sua vontade.
Desta forma, nem Paulo ou qualquer outro dos apóstolos ensinou contra a lei.
Eles sabiam que a justiça que é pela fé, e operante segundo a graça,  passou a se manifestar com o advento de Jesus. Mas também sabiam que Deus havia salvado e justificado pela graça, mediante a fé, a muitos nos dias do Antigo Testamento.
Não foi este o caso de Abraão? A ponto de ser designado como pai dos que creem.
Mas, a  Antiga Aliança foi revogada, e suas ordenanças civis e cerimoniais já não são obrigatórias aos israelitas, com quem foi celebrada, e muito menos aos gentios,  quanto ao seu cumprimento, bem como não é  aplicável, à igreja, de forma específica, o seu sistema de bênçãos e maldições, ritos etc, desde a inauguração da Nova Aliança, que a revogou.
“Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João.” (Mt 11.13)
“A lei e os profetas vigoraram até João; desde então é anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele.” (Lc 16.16)
“Porque, se o ministério da condenação tinha glória, muito mais excede em glória o ministério da justiça. Pois na verdade, o que foi feito glorioso, não o é em comparação com a glória inexcedível.  Porque, se aquilo que se desvanecia era glorioso, muito mais glorioso é o que permanece.” (II Cor 3.9-11)
“Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade  (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de Deus.” (Hb 7.18,19)
“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor pacto, o qual está firmado sobre melhores promessas. Pois, se aquele primeiro fora sem defeito, nunca se teria buscado lugar para o segundo. Porque repreendendo-os, diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá um novo pacto.” (Hb 8.6-8)
“Dizendo: Novo pacto, ele tornou antiquado o primeiro. E o que se torna antiquado e envelhece, perto está de desaparecer.” (Hb 8.13)
“ Tendo dito acima: Sacrifício e ofertas e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem neles te deleitaste (os quais se oferecem segundo a lei); agora disse: Eis-me aqui para fazer a tua vontade. Ele tira o primeiro, para estabelecer o segundo.” (Hb 10.8,9)
A Nova Aliança é designada na Bíblia como sendo As Fiéis Misericórdias Prometidas a Davi, como se lê em Is 55.3 e Atos 13.34.
“E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi.” (Atos 13.34)
 “Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3)
É dito no texto de Isaías (VT) que seria feita uma aliança eterna, que estaria baseada nas misericórdias fiéis que Deus havia prometido a Davi.
Trata-se portanto de uma aliança de misericórdias, e misericórdias que não falharão, porque não foram prometidas pelo homem, mas prometidas por Deus a Davi.
Esta aliança eterna, que é a Nova Aliança, que vigoraria na dispensação da graça em que temos vivido, foi prometida em várias passagens do Velho Testamento.
Temos muitos textos na Bíblia que se referem à citada aliança de misericórdias, e de misericórdias fiéis que durarão para sempre, e pelas quais nossos pecados e transgressões são perdoados e esquecidos por Deus para sempre.
As figuras do Antigo Testamento (sacrifícios de animais, móveis e utensílios sagrados do tabernáculo e do templo etc) tiveram cabal cumprimento em Jesus.
O ofício profético de Moisés e a sua obra de libertador e legislador de Israel é tipo da obra de Jesus.
O sacerdócio de Arão é tipo do de Jesus.
O reinado de Davi é tipo do Seu reinado eterno.
Muito do Velho Testamento é figura da Sua pessoa e obra.
Podemos dizer que temos, a rigor, no velho, a promessa, e no novo, o cumprimento, a realização. Daí  ter  o Senhor afirmado que não veio revogar a lei e os profetas, mas cumprir.
O autor de Hebreus afirmou que a lei tem a sombra dos bens vindouros.
No caso, o uso da palavra lei se refere ao Antigo Pacto propriamente dito, que foi estabelecido com a nação de Israel, para ser a figura da Nova Aliança, isto é, do pacto que Deus faria com as pessoas de todas as nações, por meio de Jesus. Como figura, o primeiro seria removido, para dar lugar ao segundo e último, cuja validade é eterna.
“Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que estão no céu fossem purificadas com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes.Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, mas no próprio céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus;” (Hb 9.23,24)
“Porque a lei, tendo a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, não pode nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem de ano em ano, aperfeiçoar os que se chegam a Deus.” (Hb10.1)
Mas, nem tudo no Velho Testamento é figura.
Muitos dos mandamentos morais da Antiga Aliança permanecem em vigor (honrar os pais, amar ao próximo como a si mesmo, não proferir o nome  de  Deus em  vão,  não cultuar outros deuses, não invocar mortos etc).
Nosso  amor  ao  Senhor   se expressa, conforme  Ele  próprio definiu, como obediência aos Seus mandamentos (Jo 14.21-24).
E dentre estes, contam-se também os registrados no Velho Testamento (note-se bem: os que possam ser aplicáveis à igreja), uma vez que o Deus do Velho é o mesmo Deus do Novo Testamento.
As prescrições civis e cerimoniais da Antiga Aliança foram chamadas de jugo pesado e de escravidão, tanto pelo apóstolo Pedro (At 15.8-10), quanto pelo apóstolo Paulo (Gál 5.1-4).
Não no sentido de que fossem uma coisa ruim, pecaminosa, pois no dizer de ambos, a lei é santa boa e perfeita, mas algo demasiadamente trabalhoso para ser cumprido (distinção entre coisas limpas e imundas – animais, alimentos; lavagens cerimoniais; diversos tipos de sacrifícios de  animais  e outros tipos de  ofertas; circuncisão; festas religiosas; etc), que havia vigorado até que Cristo viesse.
Desde a morte e ressurreição de Jesus, nem os gentios, nem os próprios judeus, estão mais obrigados a carregar tal jugo.
Ao se referir à separação do cristianismo do judaísmo, por se tratarem de alianças amplamente distintas, Paulo disse aos gálatas que foi “para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gál 5.1).
Antes de tudo, libertou  tanto os crentes quanto as igrejas, na Nova Aliança, de um sistema religioso repleto de rituais e cerimônias, como era o caso da Antiga Aliança.
Havia necessidade de uma determinação legal de cobrança de dízimos e ofertas, especialmente para a administração dos serviços do templo, e pagamento e sustento de levitas e sacerdotes.
E, no entanto, isto, sabidamente, em nada contribuiria para a santificação dos levitas e sacerdotes, em razão da fraqueza da natureza humana (carne), e foi principalmente    por este motivo que havia tanta corrupção no ofício dos levitas e dos sacerdotes.
Nenhum sistema religioso, por mais exigente que seja, não pode, de modo nenhum, promover a santidade de coração dos que se congregam de tal forma institucional.
É preciso uma aliança não meramente administrativa, mas sobretudo do trabalho do Espírito Santo nos corações, conduzindo os fiéis a uma verdadeira santidade e comunhão com Deus.
Foi por isso que a opção dos gálatas pelo judaísmo, com sua pregação da necessidade da circuncisão para a salvação, bem como a negação da necessidade da fé em Cristo, para obtenção da justificação pelas obras da lei (Gál 2.16; 3.1-5), levou Paulo a chamá-los de insensatos, pois estavam aceitando que o evangelho fosse pervertido (Gál 1.6,7).
Ainda hoje, quando alguém oculta o caráter da obra que Jesus realizou em favor do pecador, e a necessidade da novidade de vida em que devem andar todos quantos foram regenerados (que nasceram de novo), faz por merecer a mesma imprecação proferida aos que induziam os gálatas ao erro: “seja anátema”. (Gál 1.9)
A Nova Aliança só seria inaugurada após a morte de Jesus, posto ter sido estabelecida com base no seu sangue, que seria derramado na cruz, e até aquele momento, Jesus, como qualquer outro  judeu,  estava  obrigado  ao  cumprimento  de  toda a lei (Lc 22.20; Hb 9.11-18).
“Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós. (Lc 22.20)
Quando o apóstolo João disse que a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por meio de Jesus (Jo 1.17), estava se referindo à Antiga e à Nova Aliança.
É fora de qualquer dúvida que aludia a coisas distintas entre si.
E ainda que tal distinção, não configure o que é  fundamental   em  termos   de contraste, podemos citar que a Nova Aliança não possui uma prescrição variada de rituais e de regulamentos cerimoniais, como a Antiga Aliança possuía, e conforme está registrado nas páginas do Velho Testamento.
A Nova Aliança apresenta apenas dois cerimoniais (ceia e batismo), e nem alude sequer quanto à forma de se realizar a ministração de ambos.
“Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra.” (Rom 7.6)
O que caducou é o que ficou antigo e ultrapassado, e a  palavra “letra” deste texto é vertida do original grego  gramma, do qual vem a nossa palavra gramática,  sendo que gramma é sempre usado no Novo Testamento com o significado de carta, registro, escrito, letras, e Paulo usava esta palavra com frequência para se referir à Lei cerimonial e civil do Velho Testamento, que constava de várias ordenanças que se cumpriram em Cristo, como por exemplo as leis referentes a coisas limpas e imundas, ao sacrifício de animais, dos dízimos e das ofertas levíticas etc.
Deste modo, não se trata a uma referência aos mandamentos de Cristo do Novo Testamento, nem sequer aos mandamentos morais da Lei de Moisés, ou a tudo o que se pode aprender das Escrituras, inclusive da própria Lei cerimonial e civil.
Ao chamar um viver pelos mandamentos externos civis e cerimoniais da Lei de Moisés, de letra que havia caducado, Paulo não pretendia de modo algum, falar contra a Palavra de Deus, mas afirmar a liberdade que os crentes têm na Nova Aliança do cumprimento das prescrições civis e cerimoniais da Lei, como por exemplo a circuncisão do prepúcio e de tantas outras prescrições que foram dadas por Deus a Moisés para serem cumpridas pelos israelitas no período do Velho Testamento.
Por isso, no próprio texto de Rom 7.6 no qual  afirma a caducidade da letra, o apóstolo Paulo afirma também a libertação dos crentes das prescrições civis e cerimoniais da Lei de Moisés, por terem morrido com Cristo para tais exigências da Lei, de modo a poderem viver em novidade de espírito, ou seja, na Nova Aliança do Espírito Santo, na qual a Lei de Deus é escrita pelo Espírito em suas mentes e corações.
Aqui se diz que a letra mata porque a Antiga Aliança ou mesmo toda a Lei de Moisés não podia gerar vida eterna conforme a Nova Aliança em Cristo Jesus, na qual os crentes são vivificados em espírito pelo Espírito Santo.
 2 Coríntios 3:7:  “E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente,”
O crente não está na carne, mas no Espírito (Rom 8.9), porque tem a habitação do Espírito por meio da fé em Jesus.
Sabe que é filho de Deus pela testificação do Espírito com o seu espírito (Rom 8.14-17).
Então deve viver nessa nova vida, como filho de Deus, que de fato é. E não mais na carne, que era a condição em que vivia antes do seu encontro pessoal com Cristo (Rom 8.5-8).
Por isso o apóstolo João diz que a lei foi dada por meio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo (Jo 1.17).
Jesus mesmo destrói as obras do diabo e da carne, e gera em nós a nova vida que procede de Deus e que é operada pelo Espírito Santo.
E isto temos recebido pela graça, que atua mediante a fé.
Assim temos recebido da plenitude de Jesus e graça sobre graça (Jo 1.16).
Vivamos então na sua graça, e o pecado não terá mais domínio sobre nós.
Nada disso pode ser obtido pelo nosso simples esforço em cumprir a Lei, ainda que tal esforço seja necessário.
Não vem de nós, é um dom de Deus.
Não estamos sozinhos, isolados, debaixo da lei, gemendo por tentar cumprir os seus mandamentos, sem que tenhamos grande sucesso nisso.
Ao contrário, estamos nAquele que não somente é poderoso para guardar-nos de tropeços e do mal.
Mas, que, por meio da Sua graça pode conduzir-nos a viver de modo inteiramente agradável a Deus, pela força operante do Seu poder em nós.
A Ele seja portanto, toda glória, honra e todo louvor, pelos séculos dos séculos.
Amém!
Pr Silvio Dutra





6 - A Antiga e a Nova Dispensações

Partes de um sermão de Joseph Addison Alexander, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

“E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele.” (Mateus 11.12)

O que chamamos de velha economia ou antiga dispensação, foi um sistema temporário e preparatório, estendendo-se apenas para o advento do Salvador, ou, no máximo, para a conclusão da sua obra de salvação. Sua aparição necessariamente trouxe consigo uma mudança de dispensações, que havia sido prevista desde o começo. Mas este propósito divino tinha sido gradualmente perdido de vista, e os judeus tinham aprendido a considerar seu sistema temporário como perpétuo, e seus ritos simbólicos como intrinsecamente eficazes. Para tal estado de sentimento e opinião a revogação do sistema antigo parecia uma monstruosa revolução, uma catástrofe calamitosa, a perspectiva da qual chocou suas pressuposições mais fortes, e parecia destruir suas mais caras esperanças. A fim de corrigir esse erro, e preparar o caminho para o evento assim tão temido, mesmo por muitos judeus devotos, aprouve a Deus adotar um método que deveria simbolizar, e, por assim dizer, encarnar a verdadeira relação da antiga e a nova dispensação, e a mudança pela qual uma deveria substituir a outra.
Para garantir tal fim, Cristo não veio de forma abrupta, mas foi precedido por um precursor, cuja vida pessoal, e cujo ministério público, apresentasse, em uma espécie de tipo ou emblema, as características peculiares da Lei, em contraste com o Evangelho - ou melhor, que exibisse, em um ponto de vista, tanto os pontos de semelhança quando os de dissimilitude. Estes pontos são bastante óbvios. Como, por um lado, tanto a velha e a nova dispensação eram semelhantes da parte de Deus, igualmente genuínas e autoritativas; assim como ambas estavam destinadas para o benefício do homem, e, em última instância, para o benefício dos homens em geral; assim como o grande projeto de ambas era moral e espiritual, não sendo material e temporal; assim, por outro lado, enquanto que uma era provisória, a outra era permanente; uma era preparação para a outra, e por consequência necessária, inferior em dignidade; as características peculiares de uma eram, em grande medida, arbitrárias e convencionais, as da outra, necessárias e essenciais; uma era tipológica e cerimonial em seu caráter, a outra espiritual e substancial. Uma foi concebida para ensinar a necessidade e excitar o desejo daquilo que poderia ser totalmente fornecido apenas pela outra.

Estas semelhanças e contrastes dos dois grandes sistemas, deveriam ser incorporados na pessoa e no ministério de duas pessoas como seus representantes. Do evangelho, não foram necessários, tais representantes, exceto o próprio Cristo. Na empregada para representar a Lei, poderia ter sido esperado que estes pré-requisitos deveriam ser encontrados; que ele deveria ser pessoalmente próximo dAquele cujo caminho ele veio preparar; que ele deveria ser uma pessoa de alto escalão e de sagrada dignidade; que ele deveria viver, isolado do resto dos homens, com uma vida de austeridade abstinente; para que o tom moral, tanto de sua doutrina e exemplo, devessem ser elevados; que seus apelos deveriam ser diretamente dirigidos à consciência, e destinados a estimular o sentimento de culpa, perigo, necessidade, e fraqueza; que, por esta mesma razão, todo o seu ministério deveria ser prospectivo e preparatório, introdutório para algo intrinsecamente melhor e mais eficaz do que o seu. Tudo isso deveria ter parecido com a necessária antecedência no precursor que deveria simbolizar a velha dispensação, como distinta da nova; e tudo isso foi realmente percebido na pessoa e ministério de João o Batista. Ele era um parente de nosso Senhor; ele era um pouco mais velho, tanto na pessoa e no ofício; ele era de classificação e linhagem sacerdotal; o filho de eminentes pais piedosos; aquele cujo nascimento havia sido anunciado e acompanhado de mensagens do céu e interposições divinas marcantes; um Nazireu desde o ventre; um morador no deserto desde a juventude "até o dia da sua manifestação a Israel."

Com a antiga dispensação ele estava claramente conectado por profecias notáveis, como a voz do que clama no deserto. Preparai o caminho do Senhor - como o mensageiro que deveria vir diante do
Anjo do Pacto - como o novo Elias ou Elias, cujo ministério de espírito e poder do velho reformador deveria ser revivido em Judá, menos apóstata agora do que Israel era então. Sua conexão com a antiga dispensação foi feita ainda mais clara e marcante, por coincidências externas, providencialmente garantidas e feito notáveis. Seu local de habitação remonta ao daqueles que andaram errantes por quarenta anos no deserto, e à promulgação da lei sobre o Monte Sinai. Seu ministério no Jordão chamava a atenção para a travessia desse rio na conquista de Canaã. Suas vestes de pelos e refeições abstêmias, recordavam a todos os espectadores os profetas em geral, e Elias, em particular. Suas chamadas distantes para as pessoas saírem a ele, em vez de procurá-los em seus locais habituais de estância, era perfeitamente análoga à segregação e retiro do povo eleito sob a lei, e às instituições locais e restritivas da própria lei.
Com tudo isso concordou sua pregação, que foi preparatória. Ele chamou os homens ao arrependimento, como sendo algo essencial para a remissão dos pecados, mas ele não ofereceu uma remissão de si mesmo. Ele pregou o reino dos céus, e não como já estabelecido, mas como às portas. Descreveu a si mesmo como um mero precursor, inferior em dignidade e poder Àquele que viria a seguir, e para quem ele não era digno, na sua própria linguagem forte, para o ofício servil de desamarrar suas sandálias.

A mesma coisa é verdade em relação ao rito significativo, pelo qual sua pregação foi acompanhada, e da qual se originou o seu título. O batismo de João era apenas o precursor do batismo de Cristo - o batismo de arrependimento, como distinguido do batismo da fé - o batismo de água como distinguido do batismo de fogo e do Espírito Santo que ele pregou. A partir de tudo isto, é evidente que o ministério de preparação de João foi perfeitamente adaptado ao seu propósito providencial, que contém, e, por assim dizer, a personificação da verdadeira relação da antiga dispensação para a nova, da lei para o evangelho, não como sistemas rivais ou antagônicos, mas como o princípio e o fim, o início e a perfeição do mesmo grande processo.

Para que a semelhança do tipo e as coisas tipificadas pudesse ser completa, foi ordenado que o ministério de João, em vez de cessar quando nosso Senhor começou, deveria ser contemporâneo com ele por um tempo, assim como as antiga e nova dispensações, por razões providenciais importantes, deveriam fundir-se ou desvanecer-se uma em relação à outra, sem qualquer ponto de transição ou linha claramente definida de demarcação, de modo que a Igreja, sob suas ambas manifestações, pudesse manter a sua identidade, e ser, como o manto de seu Mestre, "sem costura, tecido a partir do alto a baixo." (João 19.23). A consequência disto foi que, enquanto alguns rejeitaram a ambas, e alguns passaram ​​através de João, como uma escola preparatória para a recepção de Cristo, outros permaneceram na mesma após o seu trabalho de preparação ter sido concluído, assim como o corpo dos judeus, eventualmente, agarrou-se à dispensação mosaica, depois que esta tinha cumprido seu desígnio e foi substituída pela dispensação do Filho e do Espírito. Por isso não é, talvez, surpreendente que as provas da messianidade de Jesus devam ter parecido inconclusivas para os judeus. É muito mais surpreendente que a fé do próprio João deveria parecer vacilar, depois de sua prisão, como algo suposto e implícito em sua mensagem, enviada por dois de seus discípulos para nosso Senhor: És tu aquele que há de vir, ou estamos à espera de outro? No entanto facilmente pode se explicar isso, por supor que se destinava apenas para confirmar a fé ou dissolver as dúvidas de seus discípulos, nenhuma dessas soluções é absolutamente necessária, ou tão natural como aquela que, supõe que a mensagem foi expressiva dos próprios receios de João, na verdade não em relação à pessoa de Cristo, que tinha sido feita conhecida a ele por revelação especial, e para a qual ele tinha dado várias vezes e publicamente testemunho, senão com respeito ao método de proceder de nosso Salvador, que parece ter partido muito do espírito e das formas do Antigo Testamento, para ser inteiramente satisfatório ou mesmo inteligível para o último profeta da velha economia, cuja inspiração não alcançou o fechamento do sistema que foi aniquilado em Cristo. A pessoa do próprio Cristo, como o fundador de uma nova dispensação, ele reconheceu claramente, mas ele não parece ter sido preparado, por qualquer ensinamento divino, para a revolução total no modo externo de servir a Deus e salvar almas, que começou a ser divulgado no ministério pessoal de Cristo.

Que esta é a verdadeira solução da aparente vacilação de João - ou seja, que ele ficou parado no chão do Antigo Testamento, e ainda pertencia à dispensação judaica, e foi, portanto, não preparado, sem uma revelação especial, que não tinha sido proferida a ele, para entender ou apreciar o novo estado de coisas que Cristo tinha começado a introduzir - pode ser deduzido a partir do tratamento que nosso Salvador deu à sua mensagem. Depois de enviar de volta os mensageiros, com uma referência aos milagres que eles haviam contemplado, como provas de sua messianidade, ele parece ter se apressado para prevenir qualquer inferência injusta ou desfavorável, pelas multidões, a partir do que eles tinham acabado de ouvir, como se João Batista havia retraído seu testemunho ou vacilado em sua própria crença. Para este fim, ele lhes lembrou, em termos vívidos e figurativos, peculiarmente adaptados para uma audiência oriental, que quando eles saíram em grandes multidões para o deserto, para ouvirem e serem batizados por João, o homem a quem eles tinham procurado e encontrado ali, era muito mais do que um caniço agitado pelo vento - um homem de temperamento inconstante, ou de julgamento incerto, flutuante - e alguém diferente dos cortesões de linguagem suave e de vestes esplêndidas, que suprimiam a verdade para lisonjear e conciliar seus ouvintes. Ao contrário, eles sabiam que João Batista era eminentemente arrojado, intransigente, proclamador da verdade de Deus, e contra os pecados dos homens. Seria uma loucura, portanto, supor que seu testemunho idôneo relativo à messianidade de nosso Senhor, ou que foi dado sem sinceridade, através do medo dos homens e o desejo de agradá-los, ou que foi agora retraído, a partir de uma vacilação de fé ou inconstância de temperamento. Isto seria inconcebível em um homem, embora sem inspiração; quanto mais em um profeta - um profeta no pleno e mais alto sentido da expressão do Antigo Testamento - um profeta igual em autoridade a todos o que tinham sido antes dele; ou melhor, um superior a todos eles, como o imediato precursor da nova dispensação, como o último na longa série de profetas do Antigo Testamento, em quem a sucessão deveria cessar ou a quem ele deveria passar e ser para sempre mesclada no ministério profético do próprio Cristo.

As mesmas considerações, portanto, que exaltaram João Batista na escala da antiga dispensação, provaram que ele pertencia a ela, e não à nova. Enquanto ainda era verdade que não teve nunca antes aparecido um homem maior, quando medido por esse padrão, era igualmente verdade que o menor no reino do céu - a nova dispensação - era maior que ele, ou seja, mais esclarecido quanto à natureza daquela nova dispensação e os pontos em que diferia da velha, e mais capaz, tanto para apreciar e colocar em prática esta nova forma de divina administração, que até mesmo o maior deles, que, embora investido com autoridade divina, mas ainda era ministro do antigo sistema restritivo, e poderia, portanto, se esperar sentir alguma surpresa, se não desprazer, no desuso súbito dos métodos antigos, a negligência de meras externalidades, de modo inseparável daquela religião sob as instituições mosaicas, e a derrubada das barreiras, não somente, entre judeus e pecadores notórios de sua própria raça, mas entre eles e os gentios.

“E, desde os dias de João o Batista até agora,” isto é, uma vez que o trabalho do meu antecessor foi concluído, e meu começou “se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele.”

Que isso não se refere a perseguição, é evidente do fato notório, que a única perseguição que tinha ocorrido até então, foi a do próprio João, que acabara de ser excluído do reino do céu no sentido técnico distintivo, ou, pelo menos, atribuído a ele o lugar mais baixo no reino, o que, de fato, se infere pelo seu tratamento por seus inimigos a ser considerado ou descrito como aquele experimentado pelo reino do céu. Igualmente incorreta é a suposição, que a violência aqui mencionada em conexão com o reino do céu, é ativa, não passiva - o reino do céu exerce violência ou poder irresistível sobre os homens. Isto está igualmente em desacordo com o uso das palavras imediatamente em questão e com a outra frase - os violentos o tomam pela força. A única interpretação natural é aquela que converte o todo como uma ousada e forte, mas marcante e inteligível figura, para denotar o entusiasmo e a liberdade de restrição, com que os homens de todas as classes e caráter, fariseus e publicanos, santos e pecadores, judeus e gentios, haviam começado ou estavam prestes a começar a pressionar a entrada no reino dos céus, através ou acima de barreiras, moral, legal, cerimonial, ou natural.

A imagem particular mais prontamente sugerida pelas palavras, é, talvez, a de uma fortaleza mantida por uma guarnição veterana, mas que de repente é aberta pelo seu novo comandante, que nela entrou impetuosamente com o que parece ser uma multiplicidade de inimigos. Mas depois de um tempo percebe-se que aqueles que têm, assim, tumultuosamente entrado, não são inimigos, mas amigos.
Em alguns pontos esta comparação, como todas as demais, não se sustenta bem; mas pode servir para ilustrar a diferença essencial entre as expectativas de João Batista, e o curso realmente tomado por nosso Salvador, que usou as palavras do texto: “E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele.”





7 - Uma Promessa Para Você

Por John PIper

 “Eu farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem... e regozijarei em fazer-lhes bem” (Jeremias 32:40,41)
Essa é uma das promessas de Deus para onde eu retorno vez após vez quando fico desencorajado (sim, isso acontece com pastores). Você pode pensar em algum fato mais encorajador do que Deus se regozijar em te fazer bem? Ele não cumpre a Sua promessa de má vontade (Romanos 8.28). É a Sua alegria te fazer bem. E não só às vezes. Sempre! “Eu não me desviarei de fazer-lhes o bem.”
Contudo, às vezes, nossa situação é tão difícil de suportar que não conseguimos gerar nenhuma alegria. Quando isso acontece comigo, eu tento imitar Abraão: “Em esperança, ele creu contra a esperança” (Romanos 4.18) Deus sempre tem sido fiel em manter essa pequena fagulha de fé para mim e, eventualmente (não imediatamente), em soprá-la até se tornar uma chama de alegria e plena confiança.
Oh, como me alegro pelo fato de que a coisa que faz o Deus Todo Poderoso mais feliz é fazer bem a você e a mim!
Descansando na promessa,
Pastor John






8 - A Nova Aliança Instituída com o Sangue de Cristo

Um dos textos mais citados em toda a história da Igreja, especialmente depois da Reforma, é o que encontramos nos versículos 31 a 34 do capítulo 31 de Jeremias, que se refere à promessa da Nova Aliança.
É importante, para uma interpretação correta de todas as palavras da citada passagem, considerá-la no contexto de toda a mensagem do livro de Jeremias, especialmente à luz da sentença inapelável de que muitos seriam mortos em Judá e o restante do povo seria levado para o cativeiro em Babilônia por causa dos seus pecados.
Então, a promessa da Nova Aliança foi dirigida originalmente às casas  de Israel e de Judá, que tinham sido duramente castigadas pelo Senhor, e levadas para o cativeiro, para que tivessem confiança que o remanescente do povo que fosse poupado por Deus, poderia ter a plena confiança de que os antigos pecados e iniquidades que eles haviam praticado, seriam totalmente esquecidos, porque o Senhor tornaria a lhes fazer o bem, nos dias desta Nova Aliança que ainda seria inaugurada.
O Novo Testamento cita esta promessa, especialmente o autor de Hebreus, para afirmar que a condição de se estar aliançado com Cristo, é de perdão total de pecados, por causa do sangue deste novo pacto que foi derramado por Ele justamente para a remissão de pecados de muitos.
A nova aliança que seria feita com Israel e Judá seria estendida também aos gentios, porque a  promessa do Messias, do Redentor, que foi dado aos judeus para apartá-los dos seus pecados, alcançaria também os gentios, para que uma vez remidos de seus pecados (perdoados, livrados, justificados) por causa da obra deste Redentor, que tomaria sobre Si mesmo as nossas iniquidades, para que pudéssemos ser livrados da ira de Deus contra o pecado, tal como Ele a havia manifestado contra Israel e Judá, conforme vemos no livro de Jeremias.
E esta Nova Aliança seria firmada para que pudéssemos receber a implantação  da Sua Lei em nossas mentes e corações, pela habitação do Espírito Santo, que é Aquele que implanta a Palavra de Deus em nós, de modo que sejamos admitidos como participantes do verdadeiro povo de Deus, que jamais será condenado por Ele, e que habitará com Ele por toda a eternidade.
Então, está claro que a promessa da Nova Aliança não tem em vista nos dar um salvo conduto para continuarmos na prática do pecado, enquanto temos a certeza de que iremos para o céu, por terem sido perdoadas as nossas iniquidades em Cristo, ou seja, vivermos tal como viveram  os israelitas do passado, e sobre os quais viera a ira de Deus nos dias de Jeremias.
Evidentemente, não poderia ser este, de modo algum, o significado da promessa da Nova Aliança e dos seus benefícios.
Porque está bastante claro no contexto de Jeremias que Deus não ficou cansado de exigir santidade de Seu povo, por julgar que isto seja algo impossível de ser alcançado, mas nos proveu de um meio eficaz na Nova Aliança, para que possamos alcançar este propósito da nossa santificação, no qual Ele está interessado tão de perto, tanto que o autor de Hebreus não cita simplesmente o perdão das iniquidades e o esquecimento dos pecados dos cristãos por Deus, por causa da Nova Aliança, como também os exorta ao progresso em santificação, dizendo que sem esta evidência ninguém verá o Senhor.
Isto significa que o sangue derramado por Cristo tem o propósito de nos santificar, de modo que possa ser cumprido o desígnio eterno de Deus em relação aos que nele creem.          
Esta passagem de Jeremias relativa à Nova Aliança requer uma reflexão especial porque trata de algo realmente inteiramente novo que Deus providenciaria para que aqueles que fossem admitidos por Ele como integrantes do Seu povo pudessem receber um auxílio especial, na pessoa e obra do Messias, do Rei Justo prometido no vigésimo terceiro capítulo deste livro de Jeremias.
“5 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra.
6 Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (Jer 23.5,6).
Nos dias da Antiga Aliança, Deus havia levantado governantes, juízes e reis justos e piedosos para conduzirem o povo, tais como Moisés, Josué, Samuel, Davi, Josafá, Ezequias, Josias, dentre outros, entretanto, nenhum deles poderia garantir que um só israelita vivesse em santidade diante de Deus.
Mas este Rei procederia como um renovo de Davi, um ramo que brotaria do tronco-raiz seco e morto de Jessé, pai de Davi, na plenitude do tempo, depois de Deus ter demonstrado fartamente, que sem a Sua ajuda, e sem que Ele nos fosse dado, Ele não poderia ter um povo que andasse na prática da justiça e da piedade.
E isto foi demonstrado de modo prático durante séculos na vida da nação de Israel, antes que Jesus se manifestasse e inaugurasse a Nova Aliança, que está sendo prometida no trigésimo primeiro capitulo de Jeremias.
Deus teve no antigo pacto pessoas que foram justificadas e andaram na justiça como Moisés e outros, e até mesmo antes deles, outros como Abel, Enoque e Abraão, mas nunca se viu todo o povo de Deus andando nos Seus caminhos, e conhecendo a Sua vontade.
Por isso as bases do pacto puderam ser mudadas, para que não fosse conforme o que fora feito por meio de Moisés, porque o Rei do povo de Deus, que lhes seria dado, seria poderoso para garantir o andar de todos eles na justiça, e fazer com que todos eles também conhecessem a Deus, diferentemente dos judeus nos dias do Antigo Testamento, que em sua grande maioria, apesar de fazerem parte da aliança, de serem do povo Deus, não O conheciam e não andavam em Seus caminhos.
Como o Seu governo é efetivo no coração, na alma, no espírito, e no próprio corpo dos súditos do Seu reino, então não haveria mais necessidade de se promulgar uma lei que ameaçasse com destruição, com seca, com morte pela espada, pela doença, e com cativeiro, a qualquer dos aliançados que viessem a transgredir os mandamentos de Deus, porque eles não seriam lançados fora da aliança, porque seria garantido por este Rei que seria a própria JUSTIÇA deles, que os seus pecados todos e todas as suas iniquidades, fossem perdoados e esquecidos, porque carregaria os pecados e a culpa do Seu povo sobre Si mesmo, quando morresse no lugar deles na cruz.    
Por isso se diz que o nome que o Seu povo seria conhecido é o de SENHOR JUSTIÇA NOSSA, porque Ele próprio seria a justiça deles, com a qual estariam justificados de seus pecados diante de Deus.
Deste modo, se afirma que já não há nenhuma condenação, acusação, ou maldição para quem está em Cristo Jesus.
Porque foram resgatados da maldição da Lei por Ele, e também da escravidão ao pecado e ao diabo, e do poder da morte.
Então os cristãos não se encontram debaixo das maldições previstas na Lei de Moisés, porque eram inerentes à Antiga Aliança, mas debaixo de uma Nova Aliança, que substituiu inteiramente a Antiga.
A Justiça deste Rei Justo com a qual somos justificados é a base do Seu reino, ao qual fomos chamados a participar pela misericórdia de Deus, nos associando a Ele, de um modo vital, de modo que se diz que: “sendo Rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra.  Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.”. Então é esta Justiça que é dEle, e não propriamente nossa, que nos salva e nos faz habitar em segurança, conforme a promessa constante da profecia deste texto citado de Jer 23.5b,6.
Esta justificação não pode significar que nos tornamos perfeitamente justos desde que tivemos um encontro pessoal com Cristo, pois que ainda permanecemos sujeitos à ação do pecado e nem se pode dizer de nós, enquanto neste mundo, que chegaremos à plenitude da perfeição das virtudes de Deus.
Ora, isto ocorrerá no porvir. Mas não se declara na Palavra que seremos justificados no porvir, porque a justiça do Rei Justo será implantada progressivamente em nós pela santificação, e também nos aperfeiçoará perfeitamente no porvir, porque isto terá sido possível por causa da justificação que nos foi atribuída de uma vez para sempre desde que passamos a pertencer a Ele, e consequentemente ao Seu reino de justiça.
É por isso que o Senhor afirma que não lança fora a nenhum que vem a Ele, e que a vontade do Pai é que não perca a nenhum dos que lhes foram dados por Ele.
Ora, isto significa sobretudo que enquanto permanecermos nEle, nada poderá nos separar do Seu amor, porque a obra de expiação que fizera em nosso favor, para o perdão do nosso pecado, foi completa, perfeita e segura; assim, como a nossa justificação por estarmos nEle possui também tais características, porque é impossível que Ele possa ser vencido, e Sua vida é eterna e inabalável.                    
Em Cristo temos sido aperfeiçoados.
Podemos ser ainda imperfeitos, mas seremos perfeitos como Ele é perfeito, se permanecermos firmes na fé e nEle mesmo.
Somos chamados de justos, ainda que imperfeitos, porque estamos nAquele que é perfeitamente Justo.
O capítulo 31 de Jeremias é introduzido pela citação “Naquele tempo”, ou seja, nos dias da Nova Aliança, da dispensação da graça.
E o Senhor diz que na referida época, Ele seria o Deus de todas as famílias de Israel e elas seriam o Seu povo (v. 1), isto, sabemos agora, por causa da promessa de que todo cristão seria um verdadeiro israelita, conhecido e conhecedor de Deus, integrante de Sua família, porque de outro modo, seria impossível o cumprimento de uma tal promessa em que todas as famílias de Israel pudessem ser consideradas integrantes do verdadeiro povo de Deus.
Deus faria isto por causa do Seu grande amor que é eterno, e da Sua benignidade que atrairia aqueles que salvaria pela Sua misericórdia a Si mesmo, e hoje sabemos que Ele o faz, nos atraindo a Jesus Cristo para sermos salvos por Ele (v. 3).
Haveria nestes dias futuros de bênçãos quem gritasse como sentinelas no monte de Efraim, que se subisse ao monte Sião, à presença do Senhor, porque haveria cânticos de alegria, e haveria exultação por causa de Israel, que seria posta como a principal das nações, e o que se proclamaria seria o seguinte: “Salva, Senhor, o teu povo, o resto de Israel.”. Este resto de Israel, é o remanescente fiel deste povo que será salvo por Cristo.
O Senhor havia falado antes somente em destruir, mas agora Ele está falando de uma edificação que ocorreria no futuro.
Já não falaria mais em destruição, mas em edificação, por isso Jesus disse que não veio condenar o mundo, ou julgá-lo, mas salvá-lo, ou seja, na presente dispensação da graça, Ele está sendo inteiramente longânimo para com todos os pecadores, na expectativa de que se arrependam e vivam.
Ele estará convocando, através da Igreja, as pessoas de todos os recantos da terra, para que se arrependam e creiam nEle para que vivam, em vez de destruí-las por causa dos seus pecados.
Então, em face de tal graça e misericórdia, os de Israel, que haviam sido espalhados pelas nações, por causa dos juízos de Deus, tornariam a ser reunidos por Ele em sua própria terra, assim como o pastor ajunta o seu rebanho para guardá-lo.
O pecado e o diabo que eram mais fortes do que Israel e que continuamente o levava a pecar e a se desviar de Deus, seriam vencidos por Jesus, que é mais forte do que ambos, de modo que uma vez sendo amarrados por Ele esses valentes, Israel poderia ser libertado (v. 11).
E então o Senhor passou a proclamar as bênçãos que viriam não somente sobre os judeus, que haviam sido deportados para Babilônia, como também para os israelitas que haviam sido levados em cativeiro pelos assírios, ou seja, para os descendentes deles, especialmente sob o governo de Jesus, quando fossem reunidos a Ele.
Haveria um clamor em Ramá, por causa da matança de meninos de dois anos para baixo em Belém e seus arredores, por ordem do Rei Herodes, que tentaria impedir o cumprimento da promessa de Deus, de dar a Seu povo o Rei que o salvaria dos seus pecados (v. 15, Mt 2.16-18).
Todavia, o propósito eterno de Deus não poderia ser frustrado, e Herodes nada poderia fazer para impedir a chegada a este mundo do Rei dos reis, e Senhor dos senhores, por causa de quem o povo de Deus canta com júbilo e fica radiante com os benefícios do Senhor, em todas as Suas provisões, e também por quem suas vidas se tornam como jardins regados, de modo que nunca mais desfalecerão.
Além disso, por causa da Nova Aliança em Cristo, haverá cântico de júbilo nos altos de Sião, que simbolizam a condição elevada da alma na presença de Deus nas regiões celestiais (v. 12 a).      
Jovens e velhos dançariam alegremente quando o Senhor edificasse o Seu povo, e o pranto deles seria transformado em alegria, porque seriam consolados pelo Espírito Santo, e o Senhor lhes daria alegria no lugar da tristeza (v. 13).
Todo o choro pelas tribulações e aflições, especialmente as produzidas pelo Inimigo, deveria ser reprimido, bem como todas as lágrimas dos olhos, porque o Senhor recompensaria o trabalho dos Seu povo, e o livraria da opressão do Inimigo (v. 16).
Os que haviam sido castigados deveriam abandonar as suas queixas, e pedirem ao Senhor para serem restaurados, porque estava preparando uma nova dispensação onde prevaleceria mais a Sua misericórdia do que os Seus juízos (a da graça), e portanto, os que se achavam desviados poderiam regressar a Ele com confiança, porque saciaria toda alma cansada e fartaria toda alma desfalecida (v. 25).
Tudo isto fora dado em sonho a Jeremias (v. 26), para que o Senhor o confirmasse logo depois ao profeta com a promessa relativa à Nova Aliança, na qual se cumpririam todas estas bênçãos que ele vira em sonho.
Deus disse que no passado havia falado em arrancar e derrubar, transtornar, destruir, e afligir, relativamente às casas de Israel e de Judá, como vemos nas Suas ameaças em quase todo o Velho Testamento, mas disse que nos dias que ainda viriam (dispensação da graça), Ele agora vigiaria para edificar e para plantar. (v. 28).
Por isso o apóstolo Paulo diz que a Igreja é a lavoura de Deus, referindo-se a ela como uma plantação, e também como o edifício de Deus, porque o Senhor prometeu plantar e edificar, e não arrancar e destruir o Seu povo nos dias da Nova Aliança.
Nós vemos também o apóstolo se dirigindo à Igreja carnal de Corinto, dizendo que os repreenderia pelos seus pecados, mas que não os destruiria porque o ministério que havia recebido do Senhor era para edificação e não para destruição (II Cor 13.10).
Deus revogaria também o princípio da iniquidade dos pais ser visitada nos filhos até a terceira e quarta geração, conforme previsto na Antiga Aliança, porque na Nova, cada um responderia pelos seus próprios pecados perante Ele (v.29, 30).
E depois de ter feito esta introdução de promessas de bênçãos, revelou ao profeta como elas se cumpririam, a saber: com a entrada em vigor da Nova Aliança no lugar da Antiga, conforme já comentamos anteriormente (v. 31 a 34).
E para ratificar a imutabilidade deste Seu propósito que se cumpriria em Cristo, o Senhor afirmou que se tal promessa pudesse ser revogada, então Israel deixaria também de ser uma nação diante dEle para sempre, porque não há outro modo de existir um povo para Deus, senão na união dos Seus filhos com Jesus Cristo, sendo salvos por Ele, pela justificação da Nova Aliança, com a qual o próprio Abraão havia sido justificado, antes mesmo da Lei, para que se soubesse, que é por tal justificação em Cristo que se tem vida eterna, e não pela Lei de Moisés (v. 35, 36).
Deus não rejeitaria Israel apesar de tudo quanto haviam feito, porque usaria de misericórdia e salvaria o remanescente da referida nação, e não deixaria de fazer isto de modo algum, e por isso afirmou que o faria somente caso alguém pudesse medir os céus e os fundamentos da terra (v. 37).
Assim, os judeus deveriam ter confiança, enquanto estivessem no cativeiro, que o Senhor visava ao bem do Seu povo, e não à Sua destruição, e que deveriam voltar com alegria e com confiança para a sua própria terra, depois que fossem libertados por Ele do cativeiro em Babilônia, porque o Seu propósito para Israel é o de que seja colocado como cabeça das nações na terra para sempre, sem que possa ser jamais derrubado, e isto terá cumprimento por ocasião da volta de Jesus (v. 38 a 40).







9 - Aliança de Justiça e de Paz

Quando Deus tirou a nação de Israel do cativeiro no Egito, por meio de Moisés, foi para que eles entrassem em aliança com Ele, por meio da qual viveriam para obedecer-Lhe e aos Seus mandamentos.
Não é algo muito diferente disto que foi feito por Cristo quando nos retirou do cativeiro nas trevas do pecado, ou seja, para que entrássemos numa Nova Aliança com Deus para viver em obediência à Sua Santa vontade.
Assim, não há meio termo na nossa vocação – nossa chamada por Deus para a salvação – ou o servimos com um coração sincero e inteiramente consagrado à Sua vontade, ou então não podemos participar da Sua natureza divina por meio da fé em Jesus Cristo.
O Senhor chamará e fará entrar numa aliança de justiça e de paz com Ele, somente aqueles que se reconhecerem pecadores e desejarem ter suas vidas santificadas pelo Espírito Santo e pela Sua Palavra revelada na Bíblia.
O Senhor falou da aliança que faria conosco em Jesus Cristo, na dispensação da graça, através dos profetas, e inclusive pelo Rei Davi, conforme podemos ver no 23º capítulo do livro de 2 Samuel, o qual registra as últimas palavras proferidas por ele próximo da sua morte (v. 1 a 7).
As últimas palavras proferidas por Davi são extraordinárias e comprovam que ele havia sido realmente exaltado e ungido por Deus, e foi inspirado pelo Espírito Santo para ser o mavioso salmista de Israel, sendo conhecido em todas as partes do mundo em todos os séculos, pelos Salmos que escreveu debaixo desta inspiração (v. 1).
Ele não tinha o Espírito de Deus apenas no seu coração, guardando comunhão com Ele, mas permitiu que Ele usasse a sua língua, para proferir a Sua Palavra através da Sua boca (v. 2).
Davi regeu a todos que foram colocados debaixo do seu governo pelo Senhor, com o temor de Deus, porque o fizera com justiça (v. 3), tal como faria Neemias, depois dele (Ne 5.15).
Deus mesmo, a quem Davi chama de a Rocha de Israel (v. 3), havia lhe falado que aqueles que governam deste modo, são como a luz da manhã, quando sai o sol, como uma manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva (v. 4).
Assim, é descrito o caráter de todos os justos que reinarão juntamente com Cristo, porque, falando ainda pelo Espírito, Davi aplica estas palavras à sua casa, dizendo: “Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o meu desejo?”.
Esta certeza da salvação eterna, para todos os que estão na casa de Davi, por sua associação com Cristo, que pertence a esta casa, e é Senhor sobre ela, pois não foi estabelecida pelo homem, mas pelo próprio Deus, é devido ao pacto, que nas palavras do Espírito, pela boca de Davi, é “em tudo bem ordenado e seguro”.
Este é o caráter da aliança da graça, e é por ser uma aliança eterna que ela prosperará e jamais frustrará o desejo de qualquer um que tiver colocado no Senhor a Sua confiança, participando da aliança eterna, que foi prometida a Davi.
Na verdade, não há outra esperança de salvação senão por meio das condições da aliança prometida a Davi. Tanto que aqueles que permanecerem na condição de filhos de Belial, por não estarem assim aliançados com Deus, serão lançados fora, sem uma só exceção, como espinhos, porque não podem ser tocados com as mãos, isto é, não se permitem serem transformados e educados na justiça por Deus.
Por isso, quem os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança, e a fogo serão totalmente queimados no seu lugar (v. 6,7).
As pessoas ímpias estão sujeitas não apenas ao braço da justiça dos magistrados terrenos, como também serão sujeitados ao braço forte do juízo eterno do Senhor, que os queimará num fogo eterno, que jamais se apagará.
Os filhos de pais piedosos nem sempre são tão santos e devotados quanto deveriam ser, tal como se deu com o próprio Davi, que a par de todo o seu amor e esforço para santificar os seus filhos, teve entre eles Amnom e Absalão, que eram ímpios.
Isto nos revela que é a corrupção e não a graça, que corre no sangue.
Por isso, a casa de Davi é típica da Igreja de Cristo, que é a casa dEle (Hb 3.3).
Cristo não é fiel a toda a sua casa, na condição de um servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas como Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa terrena.
O Senhor da casa espiritual de Davi é Cristo, e não o próprio Davi, porque este foi impedido de continuar o seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas Cristo, que vive e reina para sempre, reina sobre toda a Sua casa, e sobre todos aqueles que lhes foram dados pelo Pai, em todas as nações.
Deus fez uma aliança com a cabeça da Igreja, o Filho de Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre a qual as portas do inferno não prevalecerão, ou seja, nunca poderão predominar sobre a Sua casa.
E esta segurança é garantida por Deus e realizada na Rocha segura que é Cristo, que é o autor e consumador da nossa fé e salvação.
Desta forma, é nEle que se cumprem todas as promessas da aliança da graça feita com Davi.
A aliança que Deus fez com um rei terreno apontava para a aliança que Ele fizera antes que houvesse mundo, no céu, com Aquele que reinará para sempre.
Por isso as promessas da aliança eterna são chamadas de fiéis misericórdias prometidas a Davi:
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).
É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura e eterna.
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação.
Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela.
Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a glória de Deus, de modo que se a obra não for completada na terra, ela o será no céu.
E para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos. Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que não lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.
Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador.
E se diz que a aliança é segura, porque está assim bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu.
Ela está tão bem estruturada, que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será concluída no céu.
Uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo.
Ainda que todos os aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática da justiça.
As misericórdias prometidas aos aliançados é segura, e operarão de acordo com as condições estabelecidas em relação à necessidade de arrependimento e fé.
A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura.
É segura porque é suficiente.
Nada mais do que isto nos salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo. É somente disto que a nossa salvação depende.
Por isso, os que estão de fora da aliança, os filhos de Belial (v. 6,7), são como espinhos que não podem ser tocados, trabalhados pelas mãos de Deus, e esta será a razão de serem queimados para sempre, num fogo eterno que jamais se apagará.

"2Sm 23:1 São estas as últimas palavras de Davi: Palavra de Davi, filho de Jessé, palavra do homem que foi exaltado, do ungido do Deus de Jacó, do mavioso salmista de Israel.
2Sm 23:2 O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua.
2Sm 23:3 Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Aquele que domina com justiça sobre os homens, que domina no temor de Deus,
2Sm 23:4 é como a luz da manhã, quando sai o sol, como manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva.
2Sm 23:5 Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele prosperar toda a minha salvação e toda a minha esperança?
2Sm 23:6 Porém os filhos de Belial serão todos lançados fora como os espinhos, pois não podem ser tocados com as mãos,
2Sm 23:7 mas qualquer, para os tocar, se armará de ferro e da haste de uma lança; e a fogo serão totalmente queimados no seu lugar."







10 - Uma Aliança Firmada em Graça

Em Isaías 55 vemos que o evangelho é para os que têm fome e sede de justiça.
A mesa do banquete está pronta e tudo o que de nós se exige é apetite. É tudo de graça.
Por isso o convite da salvação é dirigido a todos os que têm sede para que venham às águas da salvação, e que poderão adquirir (comprar) o vinho espiritual da alegria, e o leite racional que nos alimenta que é a graça de Cristo, que acompanha o evangelho, para sermos alimentados por ela, sem dinheiro e sem preço (Is 55.1).
Diz-se portanto que todo esforço e gasto de dinheiro para obter a salvação é vão, porque a salvação verdadeira que Deus está operando pelo Filho, é completamente gratuita.
A boa comida espiritual, e o tutano divino são achados somente na mesa de Cristo, e não nas mãos dos que fazem da religião ocasião de comércio (Is 55.2).
A mensagem do evangelho deve ser ouvida atentamente, pela voz dos ungidos do Senhor, através dos quais Cristo fala, para que pessoas se convertam a Ele, para entrarem na aliança eterna, que Ele havia prometido como sendo firmes beneficências a Davi (v. 3).
Estas firmes beneficências a Davi são citadas também em  passagens do Novo Testamento, como em At 13.34.
 “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).
É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura e eterna.
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação. Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela.
Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a glória de Deus, de modo que se a obra não for completada na terra, ele o será no céu.
E para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos.
Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que na lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.
Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador.
E se diz que a aliança é segura porque está assim bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu.
Ela está tão bem estruturada que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será concluída no céu.
E uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo, embora todos os aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática da justiça.
As misericórdias prometidas aos aliançados é segura, e operarão de acordo com as condições estabelecidas em relação à necessidade de arrependimento e fé.
A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura.
É segura porque é suficiente.
Nada mais do que isto nos salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo.
É somente disto que a nossa salvação depende.
Muitos podem pensar que quando se conclama, na profecia de Isaías, ao ímpio a deixar o seu caminho e o homem maligno os seus pensamentos para se voltar para o Senhor, para achar misericórdia e perdão, porque se diz que Deus é rico em perdoar, que isto não se aplique às pessoas perversas.
No entanto, é um convite a todas as pessoas porque não há quem não peque, e Cristo veio salvar e justificar ímpios (Rom 4.5), de forma que aquele que se julgar justo e bom a seus próprios olhos jamais poderá ser salvo por Cristo, porque Ele salva aqueles que se reconhecem pecadores.
Para esclarecer este ponto, para que ninguém fizesse uma avaliação errada relativa à sua real condição diante de Deus, Ele declarou que os seus pensamentos não são os nossos pensamentos, nem os nossos caminhos os seus caminhos (Is 55.8).
Se nos compararmos com outras pessoas é possível que nos achemos bons e justos.
Mas se contemplarmos os que estão no céu, especialmente ao próprio Deus em sua perfeita santidade e glória, nós veremos quão imperfeitos  somos.
E clamaremos tal como Isaías fizera no capítulo sexto, quando viu a santidade e glória com que os serafins louvavam ao Senhor no Seu trono de glória.
Por isso se ordena que olhemos para Cristo para que sejamos salvos, porque somente quando contemplamos a majestade da sua santidade, é que podemos enxergar qual é o nosso real quadro de miséria e de necessidade que temos de sermos salvos por Ele.
Então esta salvação não será achada em nós mesmos. Porque ela nos vem inteiramente destes caminhos e pensamentos elevados de Deus que procedem do céu e não da terra.
É do alto que a graça e o Espírito são derramados, e por isso somos conclamados a olhar para o alto, para Cristo, para o tesouro do céu e não para o que é terreno, quando o assunto se refere à nossa salvação.
Esta salvação vem do alto, mas a Palavra que salva foi revelada por Cristo na terra, e está não apenas na Bíblia, mas junto da nossa boca e coração, para que façamos a confissão da fé no Seu nome e senhorio, para que sejamos salvos.
Deus pôs esta autoridade para nos salvar na Sua Palavra. A palavra do evangelho é a semente que contém a vida eterna.
De maneira que todo o que crê na Palavra da verdade será salvo, porque esta Palavra gerará em seu coração a fé pela qual Deus o salvará. Por isso Ele afirma o que se lê em Is 55.10,11.
Estes que crerem no evangelho e forem salvos sairiam dando testemunho por todas as partes com a alegria e a paz com que seriam guiados pelo Espírito Santo, e por onde passarem anunciando as boas novas, a maldição será transformada em bênção porque se diz que em vez de espinheiros e sarças,   cresceriam a faia e a murta que são plantas ornamentais. E isto seria para o Senhor um nome e um sinal eterno que nunca se apagará (v. 12, 13).






11 - É Irrevogável e Indissolúvel Porque é Eterna

Deus fez uma aliança eterna com os cristãos, e prometeu isto desde os dias dos profetas, e o prometeu especialmente a Davi.
Sendo eterna não pode ser anulada.
E como aliança em seu caráter matrimonial onde Ele é o esposo, e a igreja a noiva, o que se requer então dos aliançados é que eles sejam fiéis.
Deus sempre será fiel porque não pode se negar a si mesmo.
Todavia, os cristãos, por causa do resquício de corrupções que remanescem na natureza terrena, são exortados a serem fiéis em tudo durante a sua peregrinação terrena, porque, tal casamento, do Criador com a criatura, requer isto.
Deus continuará amando seus filhos adúlteros, mas os sujeitará à disciplina da aliança.
Ele não os repudiará porque tem prometido manter o compromisso por toda a eternidade.
Diante de tal caráter imutável da promessa que Ele fez, não resta aos aliançados senão a alternativa de serem também fiéis, de modo que se viva de modo agradável Àquele com os quais se aliançaram numa união de amor indissolúvel e eterno.
Ao falar do caráter eterno da Nova Aliança que faria com os crentes por meio da fé em Jesus Cristo, Deus disse que esta consistiria na fiéis misericórdias que havia prometido a Davi.

“Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Isaías 55:3)

Esta promessa de Isaías 55.3 foi confirmada em Atos 13.34.
Davi fizera menção ao caráter eterno desta aliança em suas últimas palavras antes de morrer:

“Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele prosperar toda a minha salvação e toda a minha esperança?” (II Samuel 23.5)






12 - A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo

No sétimo capítulo de Romanos nós vemos o caráter firme e seguro da nossa aliança com Jesus, e pela qual somos libertados da condenação de uma aliança segundo a lei.
Deus como o Grande Legislador e Juiz de todo o universo, criou o homem e fez com que ele fosse responsável perante Ele segundo a norma da lei moral que ele inscreveu em sua consciência, instalando ali um tribunal que age no próprio homem condenando-o naquilo que é reprovável e aprovando-o naquilo que é louvável.
Mas, segundo a Lei Régia há a exigência da perfeita obediência, conforme foi revelado a Adão, e que a penalidade para qualquer ato de desobediência é a morte, e todo homem responde à referida Lei até hoje.
Posteriormente, nos dias de Abraão, Deus acrescentou novos mandamentos para serem guardados pelas pessoas da descendência do patriarca, com as quais formaria um povo para Si, para se revelar ao mundo através do mesmo, e principalmente para que por este povo nos fosse dado o Messias.
O caráter da obediência completa exigida de toda a humanidade da Lei Régia foi ainda mais detalhado com os mandamentos que foram dados através de Moisés. E desde então, até que viesse o Messias, o modo de agradar a Deus, passava obrigatoriamente pelo cumprimento dos mandamentos da Lei.
E a pena de morte espiritual e eterna para os desobedientes foi mantida porque se afirma na Lei de Moisés que é maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas da Lei, para cumpri-las.
Isto descreve a condição de miséria espiritual e de condenação que paira sobre toda a humanidade, porque todos são pecadores, e não têm em si mesmos a condição e o poder para obedecerem perfeitamente a todos os mandamentos da Lei.
Como poderia então Deus se prover de filhos semelhantes a Cristo?
Se todos estão obrigados à Lei, como poderão ter vida, estando mortos; como poderão ser livres, estando condenados?
Só havia um modo de Deus nos libertar da condenação da Lei e nos dar vida eterna, permanecendo Justo, por não remover ou contrariar a Lei. Isto Ele fez nos considerando como mortos para a Lei, por ter feito com que a morte de Jesus na cruz fosse a nossa própria morte.
Ele visitaria o Seu próprio Filho Unigênito com o castigo que era destinado a nós pecadores. Ele executaria a sentença de morte exigida pela Lei nEle, fazendo com que fosse feito pecado e maldição no nosso lugar.
E assim, a Lei não seria removida, mas nós seríamos resgatados por meio de Cristo de debaixo da sua condenação e maldição.
É basicamente isto que Paulo expõe no sétimo capítulo de Romanos; de modo que toda a argumentação que ele fizera quanto à condição de não se fazer o bem que queremos, e fazer o mal que não queremos, pelo pecado que opera na nossa carne, é sobretudo uma condição que explica sobretudo a condição em que se encontram aqueles que permanecem debaixo da Lei e não da graça do evangelho, a saber as pessoas que não foram regeneradas pelo Espírito Santo.
Elas podem dizer isto, por não terem encontrado a solução que Paulo havia encontrado: "miserável homem que sou". Isto porque não têm a Cristo que é o único que pode nos livrar do corpo desta morte.
E este livramento que se obtém somente por Cristo e em Cristo, não é decorrente do fato de que agora os próprios crentes são perfeitos segundo a Lei, porque sempre haverá resquícios de pecado e de desobediência em sua natureza terrena que ainda carregam neste mundo, mas sim, e exclusivamente pelo fato de que foram resgatados da condenação da Lei por terem morrido para a Lei em Cristo.
Uma Lei não tem autoridade sobre quem já está morto. Assim, os crentes já não são julgados ou condenados por Deus com base na Lei, porque não estão mais debaixo da Lei, quanto ao que se refere ao seu poder de condenação daqueles que pecam contra os seus mandamentos. Eles são julgados agora pela lei da liberdade, respondendo, livres que são, não mais a um Juiz, mas a um Pai de amor, que os corrige e dirige como filhos amados, por causa de Jesus Cristo.
Haverá ainda um grande conflito entre o Espírito e a carne, entre a velha e a nova natureza, em todos os crentes, mas juntamente com Paulo eles podem dizer em uníssono: "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor." Não serão mais condenados por não serem tão bem sucedidos nesta guerra contra as suas almas, quanto gostariam de ser. Contudo, sabem que são amigos de Deus, que amam a Deus, que odeiam o diabo e o pecado, e que por fim serão transformados à perfeita imagem de Jesus, ainda que isto ocorra somente na glória.
Todavia, esta grande verdade central do evangelho não deve servir de motivo para que abusemos da liberdade que foi conquistada para nós por um preço elevadíssimo de sangue, e não de um sangue qualquer, senão o puro e imaculado sangue do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Preço este que foi pago para que livres do pecado, pudéssemos viver em novidade de vida santificada perante Deus. Afinal, foi para isto que fomos chamados e justificados.
E para vivermos esta vida santa sem a qual não podemos manter nossa comunhão com Deus, necessitamos de poder do alto.
Veja que quando os apóstolos viram todos os sinais que Jesus havia realizado, Sua ressurreição e ascensão, a uma mente carnal pareceria que isto seria o suficiente para que eles saíssem pelo mundo afora dando testemunho das coisas que haviam visto e ouvido.
Todavia, nosso Senhor lhes falou da necessidade de permanecerem em oração, e aguardando em Jerusalém o batismo do Espírito Santo, para que fossem revestidos de poder, pois quem dá e sustenta o testemunho de Cristo em nós é o poder do Espírito Santo.
Por este motivo vemos o apóstolo Paulo dirigindo a Timóteo as seguintes palavras, para o cumprimento adequado do seu ministério:

“Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus.” (2 Tim 2.1)

E a todos os cristãos:

“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.” (Ef 6.10)

Vemos assim a nossa necessidade vital de estarmos permanentemente fortalecidos na graça de Jesus, mediante o poder do Espírito Santo que em nós opera.
Muitos pensam erroneamente que quando se fala em batismo do Espírito Santo, revestimento de poder do Espírito, ou enchimento do Espírito, que isto signifique simplesmente receber um poder sobrenatural que operará em nossas vidas independentemente das condições morais e espirituais em que nos encontremos.
Todavia, se examinarmos com mais cuidado não somente o texto bíblico, mas a nossa própria experiência prática em relação a este assunto, verificaremos que é muito mais do que isto o significado do poder da graça e do Espírito Santo atuando em nossas vidas.
Antes de tudo, devemos lembrar que este poder nos é dado para sermos cheios do fruto do Espírito Santo, que tem a ver com as nossas atitudes, com o nosso comportamento, com a transformação progressiva do nosso caráter e coração.
É um poder para nos habilitar a sermos obedientes aos mandamentos de Deus, para aprendermos a ser mansos e humildes de coração, a sustentarmos um bom testemunho de comportamento em nossa vida cristã, de modo a nos tornarmos exemplo para ser seguido por outros.
Trata-se de ser cônjuges exemplares, filhos exemplares, servos exemplares, líderes exemplares, cidadãos exemplares, enfim, sermos achados em todas as áreas de relações humanas como homens e mulheres de Deus, que trazem estampada em suas vidas a imagem de Jesus Cristo, conforme veremos no estudo do oitavo capítulo de Romanos, no qual se afirma que fomos predestinados por Deus para tal propósito.
E nada disto poderá existir sem que haja uma transformação do nosso coração. E por isso necessitamos crucialmente deste poder do alto, porque como o próprio Senhor Jesus afirmou, sem Ele nada podemos fazer, notadamente no que tange às coisas que são celestiais, espirituais, e divinas.
Em cumprimento à promessa que nos fez em relação à Nova Aliança (Jeremias 31.31-35) Deus já nos deu um coração de carne em substituição ao coração insensível de pedra às coisas concernentes ao reino dos céus que tínhamos antes da nossa conversão a Cristo.












6) AMIZADE E FRATERNIDADE


ÍNDICE

1 - Dias de Poucos Amigos
2 - O Amigo de Deus
3 - O Cuidado Mútuo dos Cristãos uns com os Outros
4 - Amizade e Fraternidade
5 - O Amigo da Nossa Alma
6 - Imperfeitos Mas Não Inimigos


1 - Dias de Poucos Amigos

Uma verdade dura e triste. Mas é verdade e não há como negá-la.
Ninguém deve se admirar e nem se culpar caso  não tenha muitos amigos, por ser um servo fiel de Cristo, e disposto a amar o Seu próximo dando bom testemunho da verdade e justiça evangélicas.
Nosso Senhor profetizou que nestes nossos últimos dias o amor de muitos se esfriaria por causa da multiplicação da iniquidade.
E onde falta o verdadeiro amor, não pode existir uma verdadeira amizade.
Isto significa que não é possível ser amigo fiel e verdadeiro, quando o amor de Deus está ausente nos nossos corações.
Somente pessoas espirituais podem compartilhar as mesmas aspirações pela causa da justiça e da verdade divina, porque podem amar com o amor de Deus, que cobre multidão de pecados, e que tudo sofre, perdoa e suporta com paciência, e que nos leva a dar a nossa vida por aqueles aos quais amamos.
Esta é a razão de muitos cristãos fiéis, piedosos e espirituais, se sentirem como se fossem estranhos no ninho; e muitas vezes como solitários vagando no meio de uma grande multidão.
Temos o mandamento de sermos fraternalmente amigos.
Mas isto falhará onde os cristãos ao nosso redor não forem amigos de Cristo, ou seja, que não guardem os Seus mandamentos e não honrem a Sua Palavra.
Por isso, não se culpe caso não consiga manter relacionamentos fraternos de amizade duradoura, quando o seu caso é de um Ló vivendo em Sodoma e Gomorra.
É melhor ser fiel a Deus do que negá-lo e a Sua Palavra como o preço a ser pago para ter “amigos”.
Não se deve vender a verdade, negociá-la, por uma aparente paz em relacionamentos.
Cristo nunca pagou este horrível preço, nem seus apóstolos, e nem têm pago todos os que lhe são fiéis.



2 - O Amigo de Deus

"Mas tu, ó Israel, servo meu, tu, Jacó, a quem elegi, descendente de Abraão, meu amigo," (Isaías 41.8)

"E ele foi chamado amigo de Deus." (Tiago 2.23)

Abraão foi chamado de amigo por Deus, porque ele era assim. O título somente declara um fato. O Pai dos crentes foi, além de todos os homens "o amigo de Deus", e a cabeça desta raça escolhida de crentes a quem Jesus chama de seus amigos.
Eu acho que ouvi você dizer: "Sim, de fato foi um alto grau em que Abraão chegou, tão alto que não posso atingir. Seria inútil para nós sonhar em ser considerados amigos de Deus." Meus irmãos, eu lhes suplico, não pensem assim! Nós, também, podemos ser chamados de amigos de Deus. Deixe-me ler para vocês as palavras de nosso Senhor no capítulo 15 de João, "Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.” (João 15.14,15)
Isto está, então, ao seu alcance! Jesus mesmo nos convida a viver e a agir e a ser seus amigos!
Certamente, nenhum de nós irá negligenciar qualquer realização graciosa que fica na região do possível. Nenhum de nós irá se contentar com uma medida escassa da Graça, quando podemos ter vida em abundância. Eu creio que você não é tão tolo a ponto de dizer: "Se eu puder chegar ao céu apenas com a pele dos meus dentes, eu não me importo sobre o que eu sou na estrada." Isso seria falar mal e, se você falar assim, eu receio que você nunca chegará ao céu! Aquele que está sendo preparado para Glória está sempre com fome de uma maior medida de Graça. Aquele que é nascido de Deus deseja o amor de seu Pai, enquanto é ainda uma criança e não tem ideia do que espera por ele  quando chegar à maturidade. Deixe-me ter tanto do Céu ainda agora, quanto eu possa ter! Sim, deixe-me ser amigo de Deus!
Há grande diferença entre ser "salvo como pelo fogo" e de ter "uma entrada abundante concedida a nós” para o Reino de Deus. Vamos então desfrutar o céu na estrada para o Céu!

Tradução e adaptação de parte da introdução do sermão de nº 1962, de autoria de Charles Haddon Spurgeon.



3 - O Cuidado Mútuo dos Cristãos uns com os Outros

“Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.” (Ef 4.15,16)

A união da igreja vem de Cristo, e toda igreja é de Cristo. A partir dele elas fluem, e elas crescem nele. Isto é consolidado em união por oficiais e ordenanças. Sobre ambos, o apóstolo tinha se referido antes: "consolidado pelo auxílio de toda junta." Oficiais e ordenanças pela virtude que procede de Cristo. Eles são consolidados e adequadamente acompanhados por oficiais e ordenanças. Como eles devem proceder? "pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor." O grande negócio da igreja não é o nosso número de membros, mas o crescimento que procede da graça em Cristo. E o modo pelo qual isto é feito é pelo trabalho de cada parte, de acordo com a medida de cada um, para a edificação de si mesmo em amor. O que é, então, o alvo da igreja? É o trabalho de cada membro, de acordo com a sua medida, para o aumento da graça em si mesmo e nos outros, de acordo com o princípio do amor. Isto todos nós sabemos; mas somos lentos na sua aplicação.
Não é necessário que cada um seja um pregador, mas cada um tem uma medida; e onde existe qualquer medida, há algum trabalho. Se este não for encontrado em nós, o ajuste e a consolidação da nossa igreja, como o apóstolo o chama, não irá nos  aproveitar. E, realmente, parece-me que as igrejas nestes dias não cumprem este teste. Os cristãos não são "adequadamente unidos pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte", que deve crescer e aumentar no amor. Isso é perdido. Quero saber de todos os irmãos e irmãs o que têm feito para responder a esta regra e dever, - o que eles têm feito para aumentar o corpo em todas as partes. Alguns eu posso dizer... o que eles têm feito para destruir e puxar para baixo, ao contrário deste princípio apontado.
Para chegar mais perto, vou mostrar-lhe onde repousa  a regra deste cuidado da igreja. É o trabalho mútuo e cuidado de todos os membros da igreja para o bem temporal, espiritual, e eterno de todos e de cada membro, provenientes de união e amor, - a operação mútua de todos os membros da igreja. Este é o cuidado sobre o qual eu gostaria de lhes falar.
Ele procede originalmente de união; eles são unidos no amor. Sobre isto o apóstolo falou amplamente, 1 Cor 12, comparando os membros da igreja com os membros de um homem, cujo cuidado e assistência mútua são para a unidade do mesmo corpo. Não há nenhum de nós, que conheça o que concerne ao cuidado mútuo de todos os membros. Você acredita ser da igreja de Deus? Sim. Então, a Escritura diz que somos membros, e que deve haver o mesmo cuidado espiritual de todos os membros mutuamente, assim como ele existe no corpo natural. Mas será que é assim? Quão ignorante é uma mão em relação à outra, um membro com o outro! Eu coloco este princípio, que todos vocês são membros uns dos outros em todas as congregações.
Ninguém é tão grande ou tão sábio, mas é um membro; ninguém é tão pobre e miserável, mas é um membro. E se nós não cuidarmos de todo o corpo, de acordo como as oportunidades e ocasiões que temos, devemos procurar fazê-lo diligentemente. De fato, não há cuidado sem amor. O apóstolo nos diz que o amor "é o vínculo da perfeição", Col 3.14. Isto é o perfeito ajuste e consolidação da igreja. Tome um feixe  de varas, algumas longas e algumas curtas, algumas retas e algumas tortas. Enquanto houver uma firme amarra sobre elas, você pode levá-las onde quiser: remova essa amarra, e tudo aparecerá torto. Se essa amarra, - isto é, a nossa perfeição, - for solta, a fraqueza de cada um vai aparecer, um  muito longo, um muito curto, um torto, e um reto, e não há como mantê-los juntos. Toda a ordem no mundo nunca manterá uma igreja unida, se a amarra (vinculo) do amor for perdida.
Há duas coisas que eu gostaria de lhes dizer – que eu descobri no meu ministério pela experiência. Eu descobri que a consolidação da  igreja era a maior facilidade ou alívio que um homem poderia certamente desejar ou alcançar. Eu tenho conhecido isto. E eu tenho vivido para ver a consolidação da igreja, da qual muitos têm se queixado que isto é o fardo mais insuportável. Nada mais é a razão disto, senão a decadência do amor. De modo que qualquer pessoa que vai cumprir o seu dever tem um peso insuportável sobre si. Digo-lhes abertamente, que meus temores são de que, caso fôssemos reunir igrejas novamente, como fizemos há trinta anos, teríamos apenas uma pequena colheita. O que deve nos unir e nos manter no amor está perdido. Leia 1 Coríntios 13. Eu lhes peço que creiam que a Escritura é a palavra de Deus. Nós podemos amar aqueles que são amáveis, mas o amor "suporta todas as coisas e crê em todas as coisas". Eu temo que apenas seis de nós creiam que isto é um dever. Se ouvirmos qualquer coisa de um irmão ou irmã, e usamos o que ouvimos para agravá-lo com a próxima pessoa que encontrarmos. Isso é amor?
Este cuidado referido é isto? Isto é para o bem temporal, e espiritual, e eterno de todos os crentes?
Seu bem temporal é primeiro cuidar dos pobres, o que eu penso que será bem atendido, sendo colocado no caminho de Deus.
Seu bem espiritual, pelo qual podemos manter este cuidado, é realizado de duas maneiras: - pela prevenção do mal, por um lado, e pela recuperação do mal, com a promoção da graça, e confirmação na mesma, por outro lado.
Devemos evitar o mal nos outros. Há duas maneiras com que podemos fazê-lo - pelo exemplo, e pela exortação.
Se um número considerável de igrejas se envolvesse com esforço na busca de uma santidade exemplar e utilidade em todas as coisas, isto preveniria muitos males em outros. Algumas coisas são problemáticas na igreja, mas ainda assim, a santidade exemplar e a utilidade nos crentes são ótimos meios para impedir o mal em outros.
A exortação deve ser assim também. Exortar uns aos outros para edificação. Nós somos criaturas necessitadas quanto a este dever.
Necessitamos de três coisas: necessitamos de amor, necessitamos de habilidade, necessitamos de uma consciência santa para nós mesmos. Nada pode conquistar essas coisas senão a graça de Deus, e se não tivermos essas coisas, não podemos fazê-lo. Nossa recuperação de qualquer um desses males é uma grande parte deste cuidado.
Vou lhes dizer sobre dois defeitos:
1. Se não fizermos isto, para admoestar os outros, nós não o faremos com aquela humildade, que evidencia o amor, com aquela ternura, que é requerida de nós. Eu não teria nenhuma pessoa chamando a atenção de outra, senão o ofensor e o ofendido – com esta profissão de amor.
2. Necessitamos de sabedoria, porque isso é muito certo, uma fraca gestão neste ponto tem mimado muitas coisas nesta congregação, - falando, refletindo, queixando-se, mesmo entre pessoas carnais. A sabedoria vem do exercício constante da mente renovada pelo Espírito Santo, e equipada com os princípios da luz e da vida espiritual, em pensamentos e meditações sobre as coisas espirituais, provenientes da fixação das nossas afeiçoes por elas, com um senso de um gosto espiritual , apreciando e se deleitando nelas, e será isto que nos capacitará para este dever.

Traduzido e adpatado pelo Pr Silvio Dutra de um sermão de John Owen.




4 - Amizade e Fraternidade

A palavra amizade vem da raiz latina amicus, mas esta remonta à palavra grega filos, que significa aquele que ama ou gosta de algo ou alguém.
Em Jesus, o crente é chamado a amar até mesmo os seus inimigos. Então, apesar de ser considerado um inimigo, o crente que ama é na verdade um amigo, pois todo aquele que ama o seu próximo, ora e trabalha para a salvação e edificação de sua alma, é o melhor tipo de amigo que se pode ter neste mundo.
Neste sentido Jesus é o amigo de todos os homens, pois ama os pecadores e deseja que achem a salvação.
Agora, é óbvio que no sentido de amizade de intimidade e comunhão é impossível que esta seja estabelecida quando uma das partes envolvidas não o deseja, ou então o deseje sob a condição de jugo desigual, a saber, de comunhão das trevas com a luz, o que é impossível à citada comunhão.
Daí Jesus definir como seus amigos íntimos, somente aqueles que guardam os Seus mandamentos, porque são estes que são nascidos do Espírito Santo, e tendo a Sua habitação podem partilhar da comunhão espiritual com o Senhor, o qual é espírito.
A rigor, não se pode chamar de verdadeira amizade aquela que é fundamentada no mal, porque neste não pode existir verdadeiro amor, pois o que caracteriza uma amizade verdadeira é o amor.
Assim, há amigos íntimos, amigos não próximos, e em nossos dias até amigos virtuais, como os das redes sociais, que apesar de não se conhecerem pessoalmente, em alguns casos, podem manter laços de amizade pelo interesse comum de desejar o bem um do outro.
Agora, devemos considerar que a amizade não é algo que seja necessariamente permanente, pois é possível que alguém assuma uma posição diferente e contrária a quem antes amava, por motivo justificável ou não. A Bíblia está repleta de exemplos relativos a isto, inclusive de amigos que se tornaram até mesmo traidores.
Todavia, a par de toda a prudência que devemos ter, é necessário cumprir a ordenança bíblica de que no que depender de nós devemos ter paz com todas as pessoas, e não abrigar mágoas e ressentimentos em nosso coração, mesmo em relação aos que nos têm ofendido.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras:
1 – sod (hebraico) – intimidade, assembleia, conselho (no sentido de ajuntamento);
2 – philadelfia (grego) – amor fraternal;
3 – philos (grego) - amigo;
4 – Outros versículos sobre amigo e amizade; relativos ao assunto, acessando um dos seguintes links:

http://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/5416616

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128415





5 - O Amigo da Nossa Alma

Não há amigo como Jesus Cristo, pois não nos oferece bens, fama, riquezas, influência, nem sequer benesses e confortos mundanos, que são meras coisas passageiras.
Ele não leva em conta qualquer que seja a nossa condição ou situação neste mundo. Não lhe importa a cor da nossa pele, se somos sábios ou ignorantes, ricos ou pobres, de temperamento brando ou agitado, uma vez que não nos ama de forma interesseira e nem é nosso amigo por conveniência.
É a Sua própria vida e pessoa que nos oferece.

Chama-nos a ter íntima comunhão com Ele em espírito, visando tão somente ser o amigo e amado da nossa alma.





6 - Imperfeitos Mas Não Inimigos

“Rom 5:10 Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida;”

“Rom 7:16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
Rom 7:17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.
Rom 7:18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
Rom 7:19 Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.
Rom 7:20 Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.
Rom 7:21 Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim.
Rom 7:22 Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
Rom 7:23 mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
Rom 7:25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.”

Nós podemos ver destacado nas duas porções retrocitadas da epístola de Paulo aos Romanos, uma clara alusão à nossa condição perante Deus, por estarmos em Jesus Cristo.
Veja que ele diz no verso décimo do quinto capítulo de Romanos que éramos inimigos de Deus quando estávamos no mundo sem Cristo. Mas, por meio dele e da sua cruz fomos reconciliados de tal maneira que a citada inimizade já não mais existe, de modo que agora somos amigos de Deus.
Todavia, na porção mais extensa de Romanos 7.16-25 ele explica detalhadamente que apesar de não sermos mais inimigos de Deus no tocante à nossa personalidade, à nossa mente, à nossa vontade, temos ainda uma natureza carnal corrompida, chamada pecado, que se opõe à Deus e à sua vontade.
Não é fácil entender isto, porque há duas naturezas em permanente conflito no cristão.
Uma nova recebida do alto, pela fé em Cristo, que o dispõe a buscar e a fazer o que é puro e santo.
E uma velha, que se associava à nossa mente e vontade para nos afastar de Deus e da sua vontade, quando éramos seus inimigos.
De fato, antes de recebermos a nova natureza, não amávamos ao Senhor e aos seus mandamentos, conforme revelados por ele na Bíblia.
Agora, estando em Cristo, apesar de amarmos o que é puro e santo, e desejarmos sinceramente fazer somente aquilo que lhe é agradável, somos dotados ainda de um velho homem que deve ser crucificado diariamente, porque seus desejos não são puros e santos, conforme emanados de nossa velha natureza pecaminosa.
Então, com a nossa mente renovada estamos dispostos a servir a Deus e à sua Lei, mas o princípio operativo do pecado que está ligado à nossa natureza terrena se levanta e se opõe tenazmente à natureza celestial que recebemos por meio da fé.
Daí decorre a luta constante que há entre o Espírito Santo e a carne.
Podemos dizer então que esta luta existe somente naqueles que não são mais inimigos de Deus, pois diz o apóstolo: “quando éramos inimigos”, denotando por conseguinte que já não o somos mais.
Não fiquemos, portanto, desanimados por nossas eventuais falhas, porque sabemos que temos uma natureza terrena decaída que estará ligada a nós até o dia da nossa morte; e que por mais que nos despojemos dela, sempre haverá alguma influência da mesma nos levando a desejar e a nos inclinarmos para práticas que não estão conformadas ao caráter de Cristo.
Confessemos nossas faltas. Mortifiquemos o pecado. Aproximemo-nos com confiança de Deus, porque ele é nosso amigo e somos também seus amigos, e ele sempre estará disposto a nos ajudar com toda a sua paciência, longanimidade e misericórdia, conforme a promessa que nos fez segundo a Nova Aliança que temos celebrado com ele por meio do sangue de Jesus.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário