sexta-feira, 23 de outubro de 2015

13) Bênção e Bem-Aventurança

13) BÊNÇÃO E BEM-AVENTURANÇA


ÍNDICE

1 - Bênçãos Espirituais
2 - A Noção Correta Sobre a Verdadeira Bem-Aventurança
3 - Abençoar, Bendizer e Benção
4 - A Bênção de Abraão
5 - Abençoados para Sempre
6 - Bênção em vez de Maldição
7 - As Superiores e Eternas Bênçãos Espirituais
8 - Nos Lugares Celestiais
9 - Bênçãos e Maldições da Lei e Bênçãos da Graça
10 - A Importância das Bênçãos Espirituais
11 - A Bênção da Velhice


1 - Bênçãos Espirituais

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo;” (Ef 1.3)

Deus  pode abençoar com muitos livramentos, com provisões de bens materiais, e com muitas ações exteriores inclusive no corpo físico.
Mas, a imensa e variada quantidade de bênçãos espirituais, somente podem ser concedidas por Ele,  através da comunhão que se tiver com o Espírito Santo, por uma busca de Jesus Cristo, em espírito, especialmente por se orar no Espírito.
As bênçãos espirituais  somente podem ser obtidas por uma experiência real e viva com o Espírito Santo.
Não se deve ficar contente portanto, somente com as bênçãos que se referem à vida natural que passa, pois é ordenado, para o nosso próprio bem, que se busque as maiores, melhores e eternas bênçãos que vêm por se andar no Espírito em plena comunhão com Ele.
O texto bíblico afirma que quando se é de Cristo, já se está abençoado com toda a sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais, ou seja, elas estão ao alcance da mão, estão bem perto, porque o que ama a Cristo já está na posição espiritual na qual se encontram as bênçãos, a saber, no Senhor Jesus Cristo.
Todavia, Deus impõe o esforço da fé para experimentá-las. O esforço da santificação, pela oração, exercício da fé, meditação e prática da Sua Palavra, renúncia ao ego carnal e pecaminoso etc. Então, aquele que o fizer, viverá na dimensão da bênção do Espírito Santo, que satisfaz plenamente a alma, e que o levará a ser grato por tudo e a estar contente em toda e qualquer circunstância.





2 - A Noção Correta Sobre a Verdadeira Bem-Aventurança

Tradução e adaptação de citações extraídas do sermão de Thomas Manton, baseado no Salmo 119.1, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.

SERMÃO I

“Bem-aventurados os retos nos seus caminhos, que andam na lei do Senhor”  (Salmo 119.1)

O Salmista começa com uma descrição do caminho para a verdadeira bem-aventurança, como Cristo começou seu Sermão do Monte. Bem-aventurança é tudo o que almejamos, apenas somos ignorantes ou imprudentes quanto ao caminho que a ela conduz, por isso o salmista define primeiro o verdadeiro conceito de um homem abençoado: "Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do Senhor. "
Nestas palavras você tem:
1. O privilégio, abençoado.
2. A maneira e a forma de ser considerado, não tanto na natureza e na sua formalidade, quanto ao caminho que a ele conduz. Ou,
Em primeiro lugar, aqui está se falando de uma forma  geral.
Em segundo lugar, temos esta forma especificada - a lei do Senhor.
Em terceiro lugar, a qualificação da sinceridade das pessoas, a irrepreensibilidade, e constância, com que se caminha.

1. Todos desejam isto, os cristãos, pagãos, todos concordam nisto. Quando Paulo estava lidando com os pagãos, ele apresentou duas noções sobre Deus pelas quais pode ser reconhecido. Esta é a primeira causa: “contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria.” (Atos 14.17)
“para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós;” (Atos 17.27)
“Há muitos que dizem: Quem nos dará a conhecer o bem?” (Salmo 4.6).
Bom... bom, é o clamor do mundo. Isto está enraizado na própria natureza do desejo, pois tudo o que é desejado é desejado como bom. Ninguém, em são juízo, se disporia a buscar para si o estragado, o ruim.
Isto sucede porque Deus implantou em nós sentimentos de aversão para evitar o que é mau, de modo a termos sentimentos para buscar o que é bom. O que há é um sentimento de preservação, de amor próprio, e não de destruição ou de auto-desprezo ou ódio.
Por isso, todos os homens buscam felicidade e contentamento. Perguntar entretanto se os homens desejariam de um outro modo ser felizes ou não, equivale a  perguntar se eles amam a si mesmos. Pode ser sim ou não. Mas se desejariam ser santos, isto é outra coisa.
2. Tudo que está sem a graça divina está muito errado em si mesmo. Alguns erram no final. Eles desejam comumente o que é bom, não o que seja de fato o verdadeiro bem, pois eles buscam a felicidade em riquezas, honras, prazeres, e assim eles flutuam nestas coisas que buscam, enquanto as procuram. Eles pretendem ser felizes, mas escolhem a miséria: Lucas 16.25 – “Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos.”; e Salmo 4.7: “Mais alegria me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho.”
O trigo, o vinho e azeite, não somente possuídos por eles, mas por eles escolhidos como sua felicidade e porção. Eles falham quanto aos meios. Eles não se conhecem ou não se amam. Eles discernem isto, mas fracamente, como uma torre, à distância: é assim que o veem, como o cego que viu os homens como árvores que andavam. A luz da natureza, sendo tão fraca, eles consideram esta realidade, mas fracamente, a mente está sendo desviada para outros objetos, eles os desejam, mas fracamente, os afetos sendo sobrepassados e interceptados por coisas que vêm junto ao lado de veleidades e inclinações frívolas, mas não há vontade séria ou firmeza de coração.
Ou suponha um homem sob alguma convicção, tanto quanto ao que se refere à finalidade e aos meios, mas seus esforços são muito frios e frouxos; eles não a perseguem com aquela seriedade, exatidão e uniformidade do esforço que é necessário para obter a sua felicidade.
São como crianças que parecem desejar uma coisa com paixão, mas ficam logo de mau humor: "A alma do preguiçoso deseja, e nada tem, porque as suas mãos recusam trabalhar.” Quando a verdadeira felicidade está suficientemente revelada, nós gostamos disto mas não nos termos de Deus, João 6.34 – “Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão.” Os judeus disseram isto quando nosso Salvador lhes falou sobre o pão de Deus que desceu do céu para dar a vida ao mundo. Mas ao ouvirem as condições de obtê-lo,  “murmuravam, voltaram para trás e já não andavam com ele." (v.66). Todos iriam viver para sempre, mas quando viram que eles deveriam seguir ao Cristo desprezado por todo o mundo, e incorrerem em censuras e perigos, eles não gostaram disso: 'Sim, eles desprezaram a terra aprazível, e não acreditaram na sua palavra." (Salmo 106.24). A terra era uma terra boa, mas o caminho para isso foi através de um imenso deserto. Quando ouviram falar da força e estatura dos homens e, suas fortificações, caíram em paixão e murmuração, e desistiram de conquistar Canaã. O céu é um lugar bom, mas como os homens têm que chegar a ele com muita dificuldade, então eles ficam relutantes em calcular o custo.
Os homens ficariam felizes com esse tipo de felicidade que é a verdadeira felicidade, mas não da maneira que Deus a tem proposto, porque estão predispostos para fantasias carnais. É considerado uma coisa insensata esperar em Deus em meio de tribulações, conflitos e tentações: 1 Coríntios 2.14 -  "O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." Mais prejudica mentir contra os meios do que contra o fim; portanto, sem desespero, eles se acomodam com uma escolha carnal, como pessoas desapontadas numa partida de tomar a próxima oferta. Uma vez que não podem ter a felicidade de Deus, eles resolvem ser seus próprios escultores, e tornam-se tão felizes quanto possível, no gozo das coisas presentes.
3. Nossos erros sobre isto  nos custarão caro. Deus é muito zeloso quanto ao que nós fazemos ser a nossa felicidade, e, portanto, fica irado com a escolha carnal. Aqueles que vão fazer experimentos, sejam inteligentes pois nesta questão. Salomão chegou em casa chorando: Eclesiastes 1.14 - 'Eu vi todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito." Ele tinha provado isto com as próprias mãos. Ele tinha um grande coração e uma grande condição, e se entregou aos prazeres, para extrair a felicidade das criaturas, para buscar satisfações mundanas de uma maneira mais artificial do que beberrões brutais, que apenas agem de acordo com luxúria e apetite: Ec 2.1 - "Disse comigo: vamos! Eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade; mas também isso era vaidade.” Ele se entregou aos prazeres, e não apenas aos sensuais, mas também em busca de curiosidades e coisas artificiais, e ainda assim encontrou seu coração secretamente afastado de Deus.
Vamos estudar bem este ponto.
1. Que não podemos nos elevar com uma falsa felicidade, ou criar o nosso descanso em prazeres temporais, como   honra elevada, abundância de riquezas, favor dos grandes homens, etc; coisas úteis em sua própria esfera, e benéficas para adoçar e confortar a vida do homem, que colocou sua felicidade em Deus. Prazeres que estão sendo apreciados, não satisfazem; sendo amados, eles contaminam; sendo perdidos, aumentam a nossa tribulação e tristeza.
[1] Eles não podem satisfazer, por causa de sua imperfeição e incerteza. Eles não respondem a todos os desejos do homem, e não possuem qualquer relação com a consciência. O que faz um homem feliz deve ter uma proporção completa para atender todas as necessidades, desejos e capacitações da alma, assim como a consciência e o coração e todos possam dizer que é o suficiente. Mas, infelizmente! estas coisas não podem nos dar uma paz sólida e contentamento: Isaías 4.2 - "Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? e do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?”
Até que a consciência seja provida, não podemos ser felizes. Mas, além de sua baixa utilização, considere a incerteza do prazer. Nada pode nos dar paz sólida, senão aquilo que nos faça eternamente felizes. Nada além do favor de Deus é de eternidade a eternidade. Nós não temos uma posse eterna dessas coisas do mundo. Elas são incertas e são  possuídas com temor. 1 Coríntios 7.30,31. Este é o conselho do apóstolo "mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa.”
Um homem deve esperar por mudanças, e passar por   várias situações no mundo: Salmo 39.11 -  “Quando castigas o homem com repreensões, por causa da iniquidade, destróis nele, como traça, o que tem de precioso. Com efeito, todo homem é pura vaidade.”
[2]. Sendo incomumente amadas, elas contaminam. Não existe apenas uma vesícula, mas veneno nelas. Elas não podem nos tornar melhores, mas podem facilmente nos  tornar piores, escravizando-nos aos nossos próprios desejos: 1 Tim 6.9,10 - 'Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na ruína e perdição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males, que, enquanto alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores."
[3] Sendo perdidas, aumentam a nossa tribulação e tristeza. Um homem que não tem aprendido a ser humilhado, bem como a ter abundância, a sua abundância torna o seu caso o mais miserável. É difícil voltar um ou dois degraus. Elas são capazes de trazer muitos problemas no coração daquele que é versado sobre elas: "Tudo é vaidade e aflição de espírito." Quanto mais nós fazemos delas a razão da nossa felicidade, quando perdidas aumentam a nossa tribulação.
2. Em segundo lugar, na abordagem detalhada do assunto, não podemos ser preconceituosos contra a verdadeira felicidade. Os homens pensam que é uma felicidade viver sem o jugo da religião de Cristo, para poderem falar, pensar, e fazer o que quiserem, sem restrição. Salmo 2.3 - “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas.”
 Ao estudar este ponto – “Não te estribes no teu próprio entendimento". “Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência.” (Prov 23.4),  mas busque a direção de Deus através da Sua Palavra e do Espírito Santo. Somente Deus pode determinar quem é o homem bem-aventurado, porque está somente em suas mãos nos fazer bem-aventurados. Trazidos à luz da fé; o senso e a razão carnal lhe decepcionarão. A bem-aventurança é um enigma que só pode ser descoberto pela fé , “que é a prova das coisas que se não veem" (Hebreus 11.1).
Que um homem piedoso pobre, que é reputado como sendo a sujeira e a escória de todas as coisas, seja o único homem feliz, e que os grandes homens deste mundo, que têm todas as coisas à sua vontade, seja "pobres, cegos, miseráveis, e nus", é um paradoxo que nunca entrará no coração de um homem natural, que tem apenas a luz do bom senso e da razão carnal para julgar as coisas, porque a visão e a razão não são nada para tal propósito.
Espere a luz e a força do Espírito Santo para inclinar o teu coração a Deus. Muitas vezes estamos doutrinariamente corretos quanto ao que seja a bem-aventurança, mas não na prática; nos contentamos com a mera noção, mas não a colocamos sob o poder dessas verdades, que é a obra do Espírito. É fácil provar que isto é a felicidade dos animais que desfrutam de prazer sem remorso; é fácil provar a incerteza das riquezas, e que são fundamentos instáveis para a alma para descansar; mas retirar do coração essas coisas é a obra de  Deus, a obra do Espírito Santo: Salmo 49.13 - "Tal proceder é estultícia deles; assim mesmo os seus seguidores aplaudem o que eles dizem." Muitos homens que estão sobre o túmulo de seus antepassados vão dizer: Ah! quão tolos foram em desperdiçar o seu tempo e força em prazeres, e na caça de grandeza e estima mundana e favor com os homens, que proveito há nisso agora? E contudo a sua posteridade aprova o mesmo, isto é, vivem pelos mesmos princípios, são tão gananciosos sobre satisfações mundanas como aqueles sempre foram antes de partirem, que negligenciaram a Deus e as coisas celestiais, e desceram à sepultura, e sua honra foi colocada no pó.
Até que o Senhor tire o nosso coração com a luz e o poder da sua graça, permanecemos como ébrios, insensatos e mundanos como eles. Assim, você vê em que se baseia a noção correta da verdadeira bem-aventurança.
A sincera, constante e uniforme obediência à lei de Deus é o único caminho para a verdadeira bem-aventurança.
Isto é chamado de um caminho, e deste caminho é dito ser a lei de Deus, e este caminhar deve ser sem mácula, o que não implica absoluta pureza e perfeição legal, mas a sinceridade do evangelho; e neste caminho devemos andar, com uniformidade e constância; isto deve ser o nosso curso, e nele devemos perseverar.
Três coisas que precisam ser abertas:
1. Falar sobre a regra.
2. A conformidade com a regra; que deve ser sincera, uniforme e constante.
3. Como este é o caminho para a verdadeira felicidade; quanto ao que respeita ter a verdadeira bem-aventurança.
Em primeiro lugar, a regra é a lei de Deus. Todos os seres criados têm uma regra. A natureza humana de Cristo foi a mais elevada de todas as criaturas, e ainda assim está em sujeição a Deus; ele está sob uma regra: Gál 4.4 -  “nascido de mulher, nascido sob a lei".
Os anjos têm muitas imunidades em relação ao homem; eles são livres da morte, das necessidades de comida e bebida, mas eles não estão livres da lei, não são sui juris, do seu próprio direito; eles obedecem aos seus mandamentos, ouvindo a voz da sua palavra – Salmo 103.20. Seres Inanimados, o sol, a lua, as estrelas, estão sob a lei da providência, sob um pacto de noite e de dia. Eles têm os seus cursos e movimentos designados. Todas as criaturas estão sob uma lei, segundo a qual elas se movem e agem. Muito mais agora está o homem sob a lei, porque ele tem vontade e escolha. Mas se a lei não fosse uma regra para um cristão (como alguns Antinomianos têm essa opinião), se ela não estivesse em vigor, então não haveria nenhum pecado ou dever, pois "onde não há lei, não há transgressão”; porque a natureza do "pecado é a transgressão da lei" - 1 João 3.4 ; Rom 4.15. Certamente a lei como uma regra é um grande privilégio, e, certamente, Cristo não veio para diminuir ou abolir os privilégios de seu povo: Dt 4.4 “Não há nenhuma nação com tais estatutos” – Sl 147.20: "Ele deu a conhecer os seus estatutos a Israel", foi sua prerrogativa.
Se a lei pode ser anulada pelos que são tornados  novas criaturas em Cristo Jesus, então por que o Espírito de Deus a escreve com caracteres tão legíveis em seus corações? Isto é prometido como a grande bênção do pacto da graça - Hebreus 7.10. Agora, aquilo que o Espírito grava no coração, Cristo veio para desfigurar e abolir? A lei foi escrita em tábuas de pedra, e a grande obra do Espírito é escrevê-la sobre a tábua do coração, e a arca era um baú onde a lei foi mantida e, com alusão ao que Deus diz, “eu porei a minha lei no seu coração.” Claramente, então, há  uma regra, e esta regra é a lei de Deus. Agora, essa regra deve ser consultada em todas as ocasiões, se quisermos obter a verdadeira bem-aventurança, tanto para nos informar (instruir), quanto para gerar temor a Deus em nós.
Em primeiro lugar, para nos informar, para que não ajamos aquém ou além.
1. Não aquém. Existem muitas regras falsas com que os homens agradam a si mesmos, e são muitos os caminhos que nos levam para longe da nossa própria felicidade. Por exemplo, boas intenções, isto é uma regra falsa, o mundo vive de palpites e objetivos devotos. Mas se boa intenção fosse uma regra, um homem poderia se opor ao interesse de Cristo, destruir seus servos, e fazer tudo isso com boa intenção: João 16.2 - "Aqueles que matarem vocês acharão que estão fazendo um bom serviço a Deus." Os homens podem errar grosseiramente ao seguirem uma consciência cega.
Costume, é outro exemplo. Não importa o que os outros fizeram antes de nós, mas o que Cristo fez diante de todos. Se o costume fosse relevado, a maioria das instituições de Cristo estariam fora das portas.
Exemplo dos outros; também não é boa regra. Não é para nós irmos onde outros foram antes, mas no que é o verdadeiro caminho: Mat 7.14 – “O caminho largo, que conduz à perdição, e muitos andam nele." O caminho para o inferno é mais percorrido; não estamos sempre seguindo a corrente, pois eles são peixes mortos que nadam para baixo seguindo a correnteza: não estamos sendo conduzidos por costumes e exemplo, e fazendo o que os outros fazem. Nossos próprios desejos e inclinações não são a nossa regra. Oh, quão miseráveis seríamos se o nosso desejo fosse nossa lei, se a inclinação de nossos corações fosse nossa regra! Judas 16 – “andando segundo as suas próprias concupiscências," é a descrição daqueles que eram monstros, que haviam superado todos os sentimentos de consciência. As leis dos homens não são a nossa regra. Isto é muito estreito e curto para nos recomendar a Deus - ser apenas observadores das leis dos homens e nada mais: Salmo 19.7 - "A lei de Deus é perfeita, e refrigera a alma." Para nos convencer do pecado, para humilhar o coração e nos trazer de volta a Deus, não existe uma regra para isso, mas a lei de Deus. Os homens fazem as leis, como alfaiates fazem roupas, para atender os corpos curvados que as vestirão, de acordo com os temperamentos das pessoas a serem regidas por essas leis, certamente elas não são uma regra suficiente para nos convencer do pecado e para nos guiar para a verdadeira felicidade. Um homem ordeiro civilmente é uma coisa, e um homem renovado e piedoso é outra. É prerrogativa de Deus dar uma lei para a consciência e para renovar as inclinações do coração. As leis humanas são boas para estabelecer uma conversa com o homem, mas breve demais para estabelecer a comunhão com Deus e, portanto, devemos consultar a regra, que é a lei do Senhor, para que não fiquemos alijados da verdadeira bem-aventurança.
2. Vejamos agora, para que não ajamos além. Há uma santidade supersticiosa e apócrifa que é contrária a uma verdadeira e bíblica santidade, sim, destrutiva por causa disso: isto é como a concubina em relação  à esposa: isto afasta o respeita devido à verdadeira religião. Agora, o que é este tipo da santidade? É uma religião temporária de satisfação da carne, que consiste em um acordo com os ritos e cerimônias exteriores e mortificações externas, como é praticado pelos formalistas "segundo os preceitos e doutrinas dos homens:" Col 2.23 – “coisas, com efeito, que têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.”
Deus não lhes agradecerá por lhe darem mais do que ele tem requerido. Estas coisas têm uma aparência de sabedoria. Como o dinheiro de bronze pode ser mais reluzente do que verdadeira moeda, embora não seja de tal valor, então esta adoração baseada na própria vontade, e santidade supersticiosa podem parecer justas, mas são destrutivas para a verdadeira piedade e santidade bíblica, que nos guiam à comunhão com Deus. Quando o zelo dos homens ferve mais numa santidade fingida, isto apaga o fogo e destrói a verdadeira fé e piedade. O excesso é enorme, bem como o defeito. Portanto, ainda temos que consultar a lei e a regra, para que não ajamos aquém ou além.
Em segundo lugar, como a lei deve ser consultada, para que nos informe, assim ela pode gerar temor em nós e nos manter sob um senso de nosso dever para com Deus: "Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado." - Rom 3.19. Geralmente, a maioria dos cristãos vive de forma mecânica, e não estuda a sua regra. Será que um homem adoraria a Deus com tanta frieza e habitualmente, se ele tivesse  observado a regra que exige diligência de alma, fervor de espírito, diligente obediência a Deus em seus juízos? Será que um homem permitir-se-ia a liberdade de discursos vãos, conversação ociosa, e usar a língua para brincadeiras, se ele se consultasse com a regra, e lembrasse que estas palavras serão pesadas na balança de Deus? Estes são condenados pela lei da liberdade: Tiago 2.12 – “Então, falai, e assim procedei, como aqueles que devem ser julgados pela lei da liberdade." Seria um homem tão superficial nas coisas celestiais? tão desordenado e imoderado no uso do prazer e da busca do lucro mundano, se ele tivesse considerado a regra, e qual é a santa moderação que Deus tem exigido de nós em todas as ocasiões? Esta é a primeira coisa, a saber, a regra, que é a lei de Deus.
Em segundo lugar, há uma conformidade a esta regra. Se você quiser ser bem-aventurado, deve haver uma sincera, constante, e uniforme obediência. A vontade de Deus não somente deve ser conhecida, mas praticada. Muitos vão concluir que a lei de Deus na teoria é a única direção para a verdadeira felicidade; mas agora, ter isto como a sua regra, para manter-se perto da mesma, nem mesmo um entre mil o tem feito.
1. Então, a obediência sincera é necessária: "Bem-aventurado é o irrepreensível no caminho." À primeira audição destas palavras, um homem pode responder, Oh, então, ninguém pode ser abençoado, se isto é a qualificação, "porque quem pode dizer, meu coração está limpo?" Prov 20.9. Eu respondo – esta pureza, esta irrepreensibilidade deve ser entendida de acordo com o teor da segunda aliança feita no sangue de Jesus, que não exclui a misericórdia de Deus e a justificação dos pecadores arrependidos: Sl 133.3,4 – “Se tu, Senhor, observares as iniquidades, quem subsistirá? Mas há misericórdia contigo.” Não há como escapar da condenação  ou da maldição, se Deus nos tratar de acordo com a estrita justiça, e exigir uma irrepreensibilidade absoluta. Bem, então, esta qualificação deve ser entendida, como eu disse, no sentido do segundo pacto, e o que é isso? Sinceridade de santificação. Quando um homem cuidadosamente se esforça para manter suas vestes livres da corrupção do mundo, e para ser aprovado por Deus; quando este é o seu o exercício constante para evitar qualquer ofensa, tanto para com Deus quanto para com os homens - Atos 24.16, e é cauteloso e vigilante para que não se contamine; quando ele é mais humilhado por suas corrupções; quando está sempre purgando o seu coração, e se esforçando, e que, com sucesso, anda no caminho de Deus, aqui está o irrepreensível no sentido do evangelho: Sl 84.11 – “Porque o SENHOR Deus é sol e escudo; o SENHOR dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente.”  Para quem? "Para aqueles que andam na retidão." Isto é bastante possível; aqui não há motivo para desespero. Isto é o que vai nos levar à bem-aventurança, quando estivermos perturbados por nossas falhas, e haverá um exercício diligente na purificação de nossos corações.
2. A obediência constante. Os homens maus têm os seus bons modos e devotos sofrimentos no caminho para o céu, mas eles não são duradouros. Eles vão com Deus, um passo ou dois. Mas é dito: "Aquele que anda na lei do Senhor." Um homem perverso ora cansado da oração, e se professa cansado da santidade. Um homem é julgado pelo teor de sua vida, e não por uma ação – “Deleitar-se-á o perverso no Todo-Poderoso e invocará a Deus em todo o tempo?” Jó 27.10 . Muitos correm bem por um tempo, mas em breve param. Enoque andou com Deus 365 anos.
3. A obediência uniforme e completa: Êxodo 20.1 – “Falou Deus todas estas palavras." Ele ordenou uma coisa, assim como outra, e a consciência se deu conta de todas.
Um servo não escolhe seu trabalho, mas o mestre. Um filho de Deus é uniforme tanto num lugar, bem como em outro, em casa e no exterior, em todas as passagens de sua vida, na prosperidade e na adversidade, "quer quando é honrado, quer quando é humilhado" Fp 4. Ele não é como Efraim como "um bolo que não foi virado," mas há uma uniformidade. Porventura teria consciência de piedade e adoração, e não teria consciência de honestidade e justiça no trato com os homens? Será que ele teria consciência de seus atos, e não teria de suas palavras? Ele não daria a si mesmo um discurso ocioso e fútil. Um hipócrita se sente melhor quando ele é tomado em pedaços, mas um homem sincero se sente melhor quando ele é tomado por completo. Um cristão é sempre o mesmo. É notável na história da criação que Deus vê o trabalho de cada dia, e Deus viu que isso era bom; “E Deus viu todas as coisas que ele tinha feito, e eis que era muito bom", ele as considerava por completo. Assim, um cristão está mais feliz em examinar o seu caminhar segundo o mandamento.
Em terceiro lugar, qual é a relação disto com a  verdadeira bem-aventurança? Isto é o caminho para isto: 'Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do Senhor." Isso aparecerá em dois aspectos:
(1) É o início da bem-aventurança. Semelhança com Deus é o fundamento da glória. Conformidade com ele será realizada "de glória em glória", 2 Coríntios 3.18. E, como conformidade para a comunhão com Deus na beleza da santidade é o começo da felicidade: "Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça, e estarei satisfeito quando eu acordar com a tua semelhança", Sl 17.15.
(2). Obediência sincera e constante é a prova do nosso direito à bem-aventurança futura. Um homem tem algo para demonstrar isto, Mat 5.8. É uma evidência inclusiva: "Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”, e é uma evidência exclusiva: Heb 12.14, "Sem santidade ninguém verá o Senhor." Bem, então, quando este é o nosso caminho e curso, podemos esperar a felicidade futura.
As Aplicações são-
1. Para mostrar que os homens carnais vivem como se procurassem miséria ao invés de felicidade: Prov 8.36, "Aquele que pecar contra mim fará mal à sua própria alma, todos que me odeiam amam a morte" Se um homem estivesse viajando para York, diria que seu objetivo era chegar a Londres? Será que esses homens que andam de tal modo profano buscam a felicidade? Isto é, o caminho da lei de Deus que conduz à verdadeira bem-aventurança?
2. Para incentivá-lo a andar de acordo com esta regra, se você quiser ser abençoado. Para este fim, deixe-me encorajá-lo a tomar a lei de Deus como a sua regra, o Espírito de Deus como o seu guia, as promessas como o seu encorajamento, e a glória de Deus como o seu fim.
[1] Tome a lei de Deus como a sua regra. Estude a mente de Deus, e conheça o caminho para o céu, e se mantenha exatamente no mesmo. Isto é uma prova de sinceridade, quando um homem tem o cuidado de praticar tudo o que ele sabe, e ser curioso para saber mais, mesmo que seja toda a vontade de Deus, e quando o coração está debaixo do temor da palavra de Deus. Se um mandamento surge no caminho, isto é mais para o coração gracioso do que se mil ursos e leões estivessem, mais do que se um anjo estivesse no caminho com uma espada flamejante: Prov 13.13, "Aquele que teme o mandamento será recompensado." Será que você quer as bênçãos de Deus? Tema o mandamento. Isto não significa aquele que teme a ira, a punição, inconveniências, os problemas do mundo, assédios da carne, não, mas aquele que teme transgredir um mandamento. Como em Jer 35.6: Vá, traga uma tentação, coloque potes de vinho diante dos recabitas. Oh, não se atreviam a beber deles. Por quê? "Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos ordenou, dizendo: não beberão vinho.” Assim, um filho de Deus, tem razão quando o diabo vem e apresenta uma tentação diante dele, e zeloso de Deus, não se atreve a cumprir com os desejos e humores dos homens, embora eles possam lhe prometer paz, felicidade e abundância
[2] Tome o Espírito de Deus para ser o seu guia. Nunca podemos andar no caminho de Deus, sem a direção do Espírito de Deus. Devemos não somente ter um modo, mas uma voz para nos dirigir quando estamos andando: Isa 30. 21: "E os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele." Ovelhas têm um pastor, e as crianças que aprendem a escrever devem ter um professor, e por isso não é o suficiente ter uma regra, mas termos um guia, um monitor, para nos colocar na mente o nosso dever. Os israelitas tinham uma coluna de nuvem durante o dia e uma coluna de fogo à noite. A igreja evangélica não é destituída de um guia: Os 37.24 - “Tu me guias com o teu conselho, e depois me receberás na glória." O Espírito de Deus é o guia e diretor para nos alertar sobre o nosso dever.
[3] As promessas para o seu encorajamento. Se você olhar ao redor, viverá por sentido, e não pela fé, você terá desânimos suficientes. Como um homem deve se conduzir através das tentações do mundo com honra a Deus? 2 Pedro 1.4 - "no qual são dadas a nós preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção que há no mundo pela concupiscência.” Quando temos promessas para nos guardar, isso vai nos conduzir puros através das tentações, e nos fazer agir com generosidade, nobreza e nos manter perto do Senhor.
[4] Fixar a glória de Deus como o seu objetivo, senão isto será um curso carnal. A vida espiritual é viver para Deus, Gál 2.20 , quando Ele é tido como o fim de cada ação nossa. Você tem um caminho a tomar, e se você dormir ou acordar, sua jornada ainda é um curso. Como em um navio, se os homens sentam, deitam, estão de pé, se comem ou dormem, o navio mantém seu curso, e vai para o seu porto, de modo que todos estão indo para um outro mundo, ou para o céu ou para o inferno, no caminho amplo ou no estreito.

E, então considere quão confortável será o final da sua viagem, na hora da morte, ter sido sem mácula no caminho; então os homens maus que estão contaminados em seu caminho desejarão que eles tivessem se mantido mais próximos de Deus. Os homens terão então outras noções, de santidade do que tinham anteriormente. Oh, então eles desejarão que tivessem sido mais cautelosos.
DOCT 3 Como será abençoado aquele que anda em conformidade com a regra de Deus?
1. Ele está livre da ira. Ele tem a sua quitação, e a bem-aventurança de um homem perdoado: João 5.24, "Aquele que crê em Cristo tem a vida eterna, e não entrará em condenação, pois já passou da morte para a vida." Ele está fora do perigo de perecer, o que é uma grande misericórdia.
2. Ele está debaixo do favor e amizade de Deus: João 15.14, 'Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. " Há uma verdadeira amizade estabelecida entre nós e Cristo, não somente no ponto de harmonia e concordância de espírito, mas prazer mútuo e comunhão uns com os outros.
3. Ele está sob os cuidados especiais e conduta da providência de Deus, que ele jamais perderá: 1 Coríntios 3.23 , "Todas as coisas são vossas, e vós sois de Cristo e Cristo é de Deus." Todas as condições de sua vida são anuladas para o bem; suas bênçãos são santificadas, e suas misérias extintas: Rom 8.28: "E sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."
4. Ele tem a certeza de um pacto para a glória eterna: 1 João 3.1: "Eis que agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser," etc. Um título nada é antes que se venha a desfrutar uma propriedade? Reputamos um herdeiro mundano feliz, tanto quanto aquele que já se encontra na posse do bem, e não somos herdeiros felizes de Deus?
5. Ele tem experiências doces da bondade de Deus para com ele aqui neste mundo: Sl 17.15: "Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça, vou estar satisfeito quando eu acordar com a tua semelhança." A alegria da presença e do sentido do amor do Senhor contrabalançará todas as alegrias do mundo.
6. Ele tem uma grande paz: Gál 5.16: "E a todos quantos andarem conforme esta regra, a paz esteja com eles, e misericórdia, e sobre o Israel de Deus.” Obediência e caminhar santo trazem paz: "Grande paz têm os que amam a tua lei, e neles não há tropeço", Sl 119.165, como há paz na natureza, quando todas as coisas mantêm o seu lugar e a ordem. Esta paz os outros não podem ter. Há uma diferença entre um mar morto e um mar calmo. Eles podem ter uma consciência estúpida,  não uma consciência tranquila. A virtude deste ópio em breve acabará; e a consciência voltará a ser despertada.
APLICAÇÃO. Oh então, deixe-nos tomar parte nesta  bem-aventurança! Há dois estímulos no serviço de Cristo - nossas tribulações e nossas recompensas. Nossas recompensas devem ser suficientes, o gozo eterno em si mesmo. Mas, oh! clamamos do tédio do caminho. Temos também nossas aflições, que não são desprezíveis. Se um homem oferecesse um senhorio ou fazenda para outro, e este dissesse: O caminho é sujo e perigoso, o clima muito problemático, eu não vou cuidar dela, você não iria acusar este homem de loucura, que ama a sua facilidade e prazer? Mas agora, se este homem tivesse a garantia de um caminho agradável e bom, mas se ele tivesse que fazer um pouco de esforço para  vê-lo, não seria de fato uma loucura irracional recusá-lo. Nosso Senhor tem feito uma bendita herança nos termos do evangelho, mas estamos cheios de preconceitos, porque  pensamos que cumprir a regra poderá trazer problemas, e nos privar de muitas vantagens de ganho, e pensamos que nunca mais teremos um boa dia. Mas temos a certeza de que há uma grande bênção andar junto com o jugo de Deus; e temos a promessa do gozo da presença de Deus, onde há prazeres para sempre, isto deve fazer-nos despertar na obra do Senhor.





3 - Abençoar, Bendizer e Benção

Se o próprio Senhor Jesus Cristo nos advertiu sobre o nosso dever de abençoar, até mesmo aqueles que nos maldizem e perseguem, deveríamos dar uma atenção especial a esse assunto tão importante para o bem e saúde de nossa própria vida espiritual.
A prática de abençoar é tão extensa na Bíblia, inclusive da parte do próprio Deus, que podemos inferir com segurança que há muita eficácia e poder no ato de abençoar, porque de outro modo, não seria tão citada, caso não houvesse qualquer eficácia e operação no mundo espiritual no ato de abençoar.
Isto é tão verdadeiro, que nosso Senhor quando comissionou os discípulos a saírem e pregarem o evangelho lhes ordenou que ao entrarem numa casa, a primeira coisa que deveriam fazer era impetrar a sua bênção dizendo “paz seja nesta casa”, e que se ali houvesse algum filho da paz, esta repousaria sobre ele; em caso contrário, não seria perdida, pois retornaria àqueles que a impetraram.
Não se tratava, no entanto, de se proferir uma simples fórmula expressada em tais palavras, mas no impulso do Espírito Santo, em amor, em corações crentes, fervorosos e desejosos de levar a salvação e a bênção do Senhor à humanidade perdida e necessitada.
Daí a superação da barreira da oposição levantada no mundo espiritual pelos inimigos do evangelho, uma vez que o poder do Espírito prevaleceria, levando os crentes a amá-los e abençoá-los, em vez de amaldiçoá-los.
Este é o coração do próprio Deus se expressando – um coração cheio de terno amor e misericórdia, capaz de dizer “perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”, como vimos o testemunho do próprio Jesus em Sua morte de cruz.
Uma dúvida que percorre muitas mentes e corações, mesmo de crentes, é saber se a bênção do Senhor é afinal condicional ou não.
A isto respondemos pela Bíblia, que sim e não.
Há bênçãos como o desfrutar de todas as coisas que Deus disponibiliza para todos, por Sua bondade, na criação, que não têm qualquer “se” inserido nelas, pois não há condições quanto ao que devemos ser e fazer para recebê-las. A provisão do sol, da chuva, das colheitas, das estações, há de continuar conforme prometido por Deus através de Noé.
Há bênçãos de curas de enfermidades, de livramentos de perigos, e muitas outras coisas, que não dependem da fé ou condição santificada de quem as recebe. Deus simplesmente as concede por Sua muita misericórdia e bondade.
Agora, quando o assunto se refere a privar das bênçãos espirituais, relativas à comunhão com o Senhor, há a interposição da condicionante da fé, do arrependimento, da oração, do andar nos caminhos do Senhor.
Tudo o que depende de um assentimento da nossa vontade, e acolhimento pacífico da vontade de Deus, caso esteja ausente, certamente nos alijará, enquanto nesta condição, da face favorável do Senhor, pois os Seus olhos repousam sobre os que andam em justiça, mas Ele resiste aos que praticam males (I Pe 3.9-12).
A exortação retro citada do apóstolo Pedro evidencia a necessidade de se buscar com todo empenho esta condição de alma, na qual somos abençoados por Deus, e é desnecessário dizer que isto deve ser feito com sinceridade, de fato e em verdade, porque é possível bendizer com os lábios enquanto se guarda o mal no coração. Então, o viver abençoado por Deus referido pelo apóstolo contempla uma atitude abençoadora que busque a paz de coração, e não apenas de língua.
A maldição é decorrente de se agir contra a santidade e justiça de Deus, mas o desejo permanente do coração do Senhor é o de abençoar e não maldizer. Mas como poderia falar bem, do que é mau, sendo verdadeiro e justo?
Todavia não deixou de agir por causa do Seu grande amor e misericórdia, em nosso favor – nós que nos tornamos seus inimigos em razão do pecado, pois para transformar a maldição em bênção, nos deu o próprio Filho Unigênito para nos resgatar da maldição da Lei.
A promessa feita por Deus a Abraão, que no seu descendente seriam abençoadas todas as nações da Terra, cumpre-se em Jesus Cristo, que é o descendente de Abraão segundo a carne, no qual todos os crentes de todas as nações são abençoados.

Você pode ler os versículos bíblicos contendo as palavras abaixo destacadas relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.escrita.com.br/escrita/leitura.asp?Texto_ID=33573

1 – eulogeo (grego) – abençoar, bendizer, falar bem de;
2 – eulogia (grego) – bênção, beneficio, o efeito d0 abençoar;
3 – barak  (hebraico) – abençoar, bendizer, falar bem de;
4 – (berakah) (hebraico) – bênção, presente, o efeito do abençoar.





4 - A Bênção de Abraão

Deus prometeu a Abraão que na sua descendência seriam benditas todas as nações da terra. (Gên 12.3b; 18.18)
Isso tem sido interpretado por muitos fora do contexto do ensino bíblico, ao se referirem simplesmente à bênção de Abraão, como algo inerente ao próprio patriarca, e que também desejam para si mesmos, como por exemplo as riquezas que ele conseguiu por ter confiado em Deus.
Todavia, quando examinamos atentamente no texto bíblico em que consiste a referida bênção, percebemos que se trata de uma referência direta a nosso Senhor Jesus Cristo, que seria descendente de Abraão, segundo a carne, e que é por meio da fé nEle que recebemos o dom do Espírito Santo.
Não se trata portanto da bênção que recebemos diretamente de Abraão ou por causa de Abraão, mas como diz a Bíblia, a bênção que Deus prometeu a Abraão, a saber, Jesus Cristo, para a conversão de pessoas de todas as nações, e não apenas de Israel.
O texto de Gálatas 3.13-16 apresenta esta verdade de forma muito clara e direta:

“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;
14 Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito.
15 Irmãos, como homem falo; se a aliança de um homem for confirmada, ninguém a anula nem a acrescenta.
16 Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitos, mas como de um só: E à tua descendência, que é Cristo.” (Gálatas 3.13-16)
A bênção de Abraão a que se refere à Bíblia, especialmente para nós gentios, é Jesus Cristo, para os que têm fé nEle.





5 - Abençoados para Sempre

A salvação não é somente para este tempo, mas sobretudo para a perfeição em glória na eternidade.
Foi para isto que Deus nos salvou.
Como deixaria pois de concluir a Sua obra iniciada na justificação e na regeneração? (Fp 1.6).
Como poderia o Criador de todas as cousas, para o qual tudo é possível, ser frustrado naquilo que planejou no Pacto, feito antes da fundação do mundo?
Nem o pecado foi impedimento para a realização de Sua vontade de ter muitos filhos semelhantes a Cristo.
Isto não depende de nós, de modo algum e também não é por meio de nós, mas exclusiva e totalmente por meio da Sua soberana vontade que tem sido cumprida através de Cristo.  
Este é o verdadeiro evangelho, porque está em conformidade com o ensino de Jesus e dos apóstolos.
O modernismo evangélico adulterou a mensagem e ofendeu a soberania divina na salvação, e não são poucos por isso, que pregam que a salvação é conquistada pelas obras do homem, em cooperação com a vontade de Deus.
Somos salvos para as boas obras, não pelas boas obras.
Não é a santificação que cobre a multidão dos meus pecados. Mas o ato de Deus em Jesus Cristo da redenção dos meus pecados na cruz.
Não é o meu esforço que me torna justo aos olhos de Deus, mas a justiça de Cristo com a qual fui vestido na justificação.
Deus se agrada do nosso esforço na prática da justiça, mas não é isto de modo nenhum o que nos justifica, e nem o que nos torna agradáveis e aceitáveis a Ele, isto decorre simplesmente dos méritos de Cristo.
É simplesmente por causa de Jesus e da justificação que obtivemos por meio dEle, pela graça, mediante a fé, que somos agradáveis a Deus.
É pela fé nEle, que podemos nos aproximar do Senhor e sermos santificados.
É o sangue dEle que nos perdoa os pecados e purifica de toda injustiça.
É por ser nosso Advogado e Sumo Sacerdote que temos paz com Deus, que podemos sentir a Sua Santa presença.
Maldito sentimento portanto, é o de justiça própria que acaba nos afastando de Deus, tanto quanto o fariseu da parábola.
Tenhamos a mesma atitude do publicano para o bem das nossas almas e progresso verdadeiro em santificação.
A graça é concedida a quem se humilha, que reconhece que tudo está em Cristo, e que tudo procede dEle em relação à nossa salvação, crescimento espiritual, paz no relacionamento com Deus, santificação etc.
Lembremos que Deus não somente deixa de conceder graça ao soberbo, como também lhe resiste.  




6 - Bênção em vez de Maldição

Não há um só registro nos anais do Cristianismo, de qualquer cristão que sofrendo o martírio tivesse amaldiçoado ou se rebelado contra os seus algozes.
Ao contrário, temos o registro de louvores entoados a Deus, pedidos de perdão e de salvação para aqueles que lhes estavam tirando as suas vidas, como sucedeu com o próprio Senhor Jesus Cristo e Estevão, conforme registro na Bíblia.
Policarpo e John Huss, e muitos outros assim também procederam quando foram queimados na fogueira.
E isto tudo ocorreu porque foram assistidos pela força da graça suprida pelo Espírito Santo, que encheu seus corações de amor divino e de coragem para enfrentarem o martírio.
Nestes exemplos extremos temos a testificação da verdade da Palavra que devemos em todas as circunstâncias, sempre abençoar e nunca amaldiçoar.




7 - As Superiores e Eternas Bênçãos Espirituais

Paulo, como em todas as suas demais epístolas, orou para que a graça e a paz fossem dadas aos efésios pelo Senhor, como lemos no segundo versículo de Efésios 1.
A paz é fruto da graça, e por isso sempre vêm juntas, porque a paz que é tão desejada não pode existir sem a graça do Senhor nos nossos corações, dirigindo a nossa vida.
Logo em seguida, Paulo não fez qualquer menção a circunstâncias em que estivessem vivendo os cristãos efésios, e tendo simplesmente lhes chamado na saudação inicial de santos e fiéis em Cristo Jesus, passou a exaltar e a bendizer a Deus Pai por todas as bênçãos espirituais com as quais abençoou os cristãos nas regiões celestes em Cristo, como se vê em Ef 1.3.
Note que os apóstolos nunca fizeram qualquer menção em seus escritos a promessas de bênçãos materiais que nos tenham sido feitas em caráter absoluto na Nova Aliança, ainda que estas nos sejam também concedidas por Deus, como acréscimo ao fato de buscarmos em primeiro lugar o Seu reino e a Sua justiça.
É fácil entendermos porque não há promessas específicas e absolutas quanto á concessão de bênçãos materiais para os cristãos na Nova Aliança, conforme havia na Antiga.
Em primeiro lugar porque a quase totalidade delas está ao alcance das mãos.
Elas são deste mundo.
São obtidas como recompensa do nosso próprio trabalho e esforço. E a quase totalidade das coisas que são providas por Deus para o nosso sustento, fazem parte do mundo natural que Ele criou nos seis dias da criação, e elas se reproduzem no mundo animal e vegetal; e as minerais, como por exemplo a água, foram espalhadas por Deus por sobre toda a superfície da terra, ao alcance de todos os homens, sejam eles cristãos ou não.
Uma outra razão para não existir qualquer ênfase na doação de bênçãos materiais como uma promessa da Nova Aliança, para a Igreja, consiste no fato de que tudo o que é material se desfaz pelo uso e tudo passará um dia, e além disso não poderemos levar conosco nenhuma destas coisas materiais quando sairmos deste mundo, nem mesmo o nosso corpo físico.
No entanto, as bênçãos espirituais não são deste mundo, e dizem respeito à vida eterna, porque elas são eternas em sua própria natureza.
Elas são recebidas a partir do céu e por um ato doador e específico de Deus para aqueles que as buscam pela fé.
De modo que somos incentivados por Jesus a buscar não o alimento que perece, mas aquele que subsiste para a vida eterna. E a não ajuntarmos tesouros na terra, mas no céu.
Ninguém deve ser insensato de chegar a pensar que não precisa de bens materiais, especialmente os necessários ao sustento do corpo. O próprio Jesus afirmou que o Pai sabe que necessitamos destas coisas materiais, mas Ele também disse que são aqueles que não conhecem a Deus que têm os seus corações naturalmente dispostos somente para estas coisas.
O cristão não deve portanto se deixar dominar por nenhuma delas, e fazer de quaisquer delas o seu objetivo de vida, senão somente o reino de Deus e a sua justiça; sabendo que o Senhor acrescentará estas coisas àqueles que Lhe forem fiéis enquanto eles se empenham em trabalhar exaustivamente no que tiverem sido chamados por Deus a fazerem neste mundo.
É dito pelo apóstolo Paulo que as bênçãos espirituais são obtidas nas regiões celestiais em Cristo Jesus,  a saber, elas nos vêm a partir do céu e elas nos vêm de nosso Senhor Jesus Cristo, em quem se encontram, e de quem procedem todas estas bênçãos.
Por isso estas bênçãos são exclusivas para aqueles que crêem em Cristo e que se encontram unidos a Ele. São bênçãos para aqueles que são da Igreja de Cristo, para os Seus santos (Nota: quando a Bíblia se refere à igreja, não é nenhuma instituição ou estrutura secular que estão em foco, mas a reunião dos cristãos em determinado local para a cultuarem a Deus).
As bênçãos espirituais são dadas aos homens por causa do ato de Deus em Jesus Cristo, conforme planejado no conselho eterno da Sua própria vontade divina, e são concretizadas pela operação do Espírito Santo na própria vida dos cristãos, daí serem exclusivas para os que são da Igreja, porque somente os cristãos têm a habitação do Espírito Santo.
Paulo se referiu à eleição como sendo a primeira e principal causa das bênçãos espirituais que os cristãos têm nas regiões celestiais em Cristo Jesus, e, porque ela é a razão de todas as demais bênçãos espirituais que serão concedidas por Deus ao eleito, a saber, a justificação, a redenção, a regeneração, a santificação, os dons e o fruto do Espírito Santo, e a glorificação.
Estas bênçãos espirituais não podem portanto ser experimentadas por aqueles que permanecem no mundo, pertencendo ao mundo, porque se diz delas que são celestiais, e portanto, são concedidas àqueles que se tornaram pela fé em Cristo, cidadãos do céu.
 Estas bênçãos estão projetadas por Deus para preparar os cristãos para o céu, conforme Ele havia planejado desde antes da fundação do mundo.
Por isso não devemos fixar a nossa atenção e afetos nas coisas terrenas, mas naquelas coisas pelas quais nós somos santificados em Cristo, porque fomos projetados para sermos como os anjos, por toda a eternidade, os quais não são dependentes de nenhuma coisa criada para que sejam sustentados em vida, senão somente da graça e da glória de Deus, que eles têm em plenitude.
Todos os cristãos devem ser santos; e, se alguém não tiver sido santo na terra, jamais será santo no céu. E ninguém poderá ser santo sem estas bênçãos espirituais que nos são concedidas somente por Cristo.
Tendo se referido às bênçãos celestiais que os cristãos têm em Cristo, Paulo passou a descrever que bênçãos são estas, no verso 4, e iniciou pela eleição que Deus fez antes da fundação do mundo daqueles que deveriam ser santos e irrepreensíveis diante dEle em amor, os quais foram predestinados para Si mesmo, para serem Seus filhos por adoção, por meio da união deles com Jesus Cristo.
Ou seja, Deus desejou este resultado. Ele planejou isto. Ele assim o quis, em Seu próprio Ser divino, antes dos tempos eternos.
Ele criaria a humanidade para se prover de filhos amados semelhantes a Jesus Cristo.
E Deus fez isto segundo o bom desejo da Sua própria vontade, de maneira que esta escolha não foi causada por nada externo ou pelos próprios eleitos, senão exclusivamente pela Sua soberana vontade, como Paulo afirma no verso 5.
O propósito desta eleição e adoção em amor, e o trabalho de santificação por Ele realizado de maneira que estes eleitos sejam santos e irrepreensíveis, traz muito louvor à glória desta Sua graça que Ele concedeu gratuitamente a estes que são transformados por ela, por causa da união deles com Jesus Cristo, como se lê no verso 6.
Todos os que atendem ao chamado à salvação pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo, são estes que a Bíblia chama de eleitos de Deus.
Este trabalho rico da graça em favor dos eleitos se tornou possível porque Jesus Cristo os redimiu dos seus pecados com o Seu sangue, como Paulo afirma no verso 7.
O texto de Romanos 8.28-30 nos ajuda a entender o modo desta eleição.

“28 E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.
29 Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos;
30 e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.”

Este texto no diz que aqueles que amam a Deus têm todas as coisas concorrendo para o bem deles, porque os tais são chamados segundo o Seu propósito.
Estes que amam a Deus não são chamados porque O conheciam e O amavam antes da chamada deles por Deus, mas, porque Deus se revelou a Ele, por meio de Jesus Cristo e do trabalho do Espírito Santo.
Assim, eles amam a Deus porque Ele os amou primeiro.
Além disso, é dito diretamente que esta chamada é segundo o propósito eterno de Deus de adotar como Seus filhos aqueles que dentre os pecadores viessem a Lhe amar.
Todos aqueles que têm sido diligentes para a santificação das suas vidas têm recebido a graça necessária, conforme distribuída por Deus, para conhecer o mistério da Sua vontade, segundo o Seu bom desejo que propusera em Cristo, para que na presente dispensação da plenitude dos tempos, que é a da graça ou do derramar do Espírito Santo em todas as nações, faça convergir em Cristo todas as coisas, quer as do céu, quer as da terra, de maneira que Ele tenha autoridade, tanto sobre os espíritos aperfeiçoados no céu, quanto sobre os que se encontram na terra, como se vê nos versos 9 e 10.
A união com Cristo é um grande privilégio e bênção espiritual, e o fundamento de toda vida espiritual verdadeira que existe na terra e no céu.
Por causa desta união com Cristo os cristãos têm recebido por promessa de Deus uma herança incorruptível no céu, e para terem a certeza de que serão herdeiros juntamente com Cristo, conforme Deus havia predestinado desde antes da fundação do mundo, para que assim fosse, conforme o conselho da Sua vontade, o Espírito Santo habita nos cristãos como um selo e penhor divino de que entrarão de fato na posse desta herança que eles alcançaram por causa da união deles com Cristo, como se vê nos versos 11 a 14.
O conselho da própria vontade de Deus é tudo aquilo que Ele tem planejado desde toda a eternidade conforme a Sua exclusiva autoridade e soberania.
Quanto à nossa salvação nós vemos em Hebreus 6.17 que este conselho é imutável.
Em Atos 2.23 nós vemos que Jesus foi entregue por nós conforme o conselho determinado e presciência de Deus.
Em Atos 4.28 é dito que a perseguição de Herodes, de Pilatos e do povo contra a Igreja estava acontecendo conforme Deus havia predeterminado no Seu conselho eterno, porque Ele planejou que o evangelho avançaria em meio a perseguições e oposições, para que Ele receba muita glória nas vitórias sobre os poderes que se opõem à Sua santa vontade.
Em Atos 20.27 nós vemos Paulo afirmando aos Efésios que não havia se esquivado de lhes anunciar todo o conselho de Deus.
A palavra boulê usada no original grego para conselho, no texto de Ef 1.11 é a mesma que é usada em todos estes demais textos, que acabamos de citar.
Então as ações contra a Igreja já estavam determinadas por Deus desde antes da fundação do mundo, como vemos em At 4.28, para a Sua exclusiva glória, pelo testemunho dos Seus servos no amor a Ele e à verdade, na medida em que teriam a fé deles aperfeiçoada por estas tribulações, que vêm aos cristãos como oposições de Satanás.

O nosso texto de Ef 1.11 diz que os cristãos foram feitos herança do Senhor por terem sido predestinados de acordo com o propósito de Deus, que foi feito segundo o conselho da Sua própria vontade.
É declarado quanto à salvação dos que crêem em Cristo, que o caráter do decreto eterno é imutável, isto é, os que foram salvos, jamais poderão perder a condição de filhos de Deus porque foram marcados por um conselho que é imutável e absoluto quanto a isto.
De igual modo é também imutável o conselho quanto ao crescimento destes eleitos na graça e no conhecimento de Jesus, mas ele não é absoluto quanto à sua execução relativamente a todos os cristãos, porque este crescimento não dependerá somente da vontade de Deus, mas também do empenho e diligência de cada cristão em santificação.
Ainda que esteja determinado que todos eles serão perfeitos em santidade na glória, porque Deus é santo, e importa que Seus filhos sejam santos, no entanto, enquanto eles estiverem neste mundo se verá mais progresso em santidade em uns do que em outros.
E aqui se revela que eles devem crescer por um ato de escolha voluntária, porque não há amor e obediência verdadeiros que não sejam voluntários.
Isto implica a necessidade de cooperação com o trabalho do Espírito Santo para que haja crescimento espiritual.        
Em Apocalipse 10.6 nós lemos o seguinte:

“e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, o qual criou o céu e o que nele há, e a terra e o que nela há, e o mar e o que nele há, que não haveria mais demora,”.

A humanidade está em contínuo processo de criação através dos séculos, com a geração de novas pessoas, mas se diz que Deus tudo criou, com o verbo criar no tempo passado, indicando uma ação concluída, como vemos no texto de Apocalipse 10.6 que acabamos de citar.
Isto indica que tudo chega à existência no tempo, mas tudo já foi visto por Deus como criado no Seu próprio planejamento eterno, conforme o conselho da Sua vontade.
Assim, o que virá a ser ainda, já foi conhecido por Ele em Sua presciência.
Tudo o que vier a ser já se encontrava em latência na mente de Deus, assim como um arquiteto tem todo o planejamento de um edifício em sua mente, antes de construí-lo.
Podemos por assim dizer, que todos os seres morais que chegam à existência, á se encontravam criados na imaginação e vontade de Deus, antes de serem formados por Ele no tempo da chegada que Ele previu para cada um deles a este mundo.
Há este controle perfeito do Senhor sobre os seres morais, porque eles têm um espírito, tal qual Deus é espírito, e assim não poderiam ser o fruto de uma geração espontânea ou meramente natural, porque também são seres espirituais além de terem um corpo natural.
Isto não significa que houvesse algum bem prévio ou mérito nos eleitos, porque quanto ao pecado, como ensinam as Escrituras, são tanto pecadores e culpados como os não eleitos, sendo salvos gratuitamente pela graça que está em Cristo Jesus.
É realmente muito fascinante sabermos que Deus criou os seres morais à Sua imagem e semelhança.
Eles estão dotados desta capacidade de juízo próprio, de direção própria, de determinação própria, em escolhas que podem fazer pelo exercício da razão e da imaginação.
Temos então em cada ser moral criado, uma personalidade específica e definida. Cada um deles é único e são distintos uns dos outros.
E é por isso que alguns afirmam erroneamente que Deus arriscou em havê-los criado, porque muitos deles poderiam por esta característica de direção própria, determinarem caminharem afastados da Sua vontade.
Dizemos que não houve erro porque tudo isto estava planejado nos conselhos eternos de Deus, de maneira que estes vasos rebeldes são enchidos com a Sua ira, para manifestar neles o Seu poder como Juiz e Vingador do mal. A criatura que não honra o seu criador é também desonrada por ele.
É a isto que Paulo quer se referir em Romanos 9, quando diz que Deus criou vasos para honra, que são os eleitos; e vasos para desonra, que são os não eleitos.
Deus sabia de antemão e desejava este efeito, de maneira a exibir tanto a sua misericórdia, graça e amor nos eleitos, que salvou de suas misérias no pecado, como o Seu grande poder em julgar e condenar ao sofrimento eterno aqueles que resistem à Sua vontade; apesar de não ter nenhum prazer em fazer isto, porque não criou nem anjos, nem homens, para serem rebeldes, e prova isto os sujeitando aos Seus juízos, porque são responsáveis perante Ele pelo uso da liberdade que receberam, e que deveriam colocar debaixo da Sua instrução e governo, por uma obediência voluntária em amor.  
Os cristãos estão portanto, selados e marcados pelo Espírito Santo, como propriedade de Deus, para serem resgatados no tempo oportuno.
Eles têm parte desta herança celestial garantida pela presença do Espírito Santo, que é o penhor de que haverão de receber a recompensa plena no futuro.
A habitação do Espírito Santo é também um penhor de que a santificação que Ele está operando agora será uma santificação perfeita na glória, quando os cristãos entrarem na posse da plenitude da herança deles no céu.
A alegria e o consolo que são gerados no presente pelo Espírito são também um penhor daquela alegria e consolo que serão perfeitos no céu.
Tudo isto foi comprado para os cristãos pelo sangue de Cristo.
A herança que nos foi prometida antes da fundação do mundo foi perdida por causa do pecado, mas Cristo comprou a nossa hipoteca e a resgatou para nós, pela redenção do Seu sangue, que foi o preço da compra ajustado para que pudéssemos ter o resgate da posse da nossa herança, que havia sido perdida, e que Cristo recuperou para nós.
Depois de ter falado da obra que Deus fez em favor dos cristãos através de Cristo, Paulo orou na parte final deste capítulo pelos efésios, dando graças a Deus pelo que Ele havia feito por eles, e para que continuasse operando em suas vidas, dando-lhes espírito de sabedoria e de revelação dEle, através da iluminação dos seus olhos espirituais, para que pudessem conhecer qual era a esperança da vocação deles, e as riquezas da glória da herança deles nos santos, e também qual é a suprema grandeza do poder de Deus para com os cristãos, segundo a força do Seu poder, como lemos nos versos 15 a 19.
Poder este que Deus manifestou no próprio Cristo quando o ressuscitou dentre os mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus, muito acima de todo principado, autoridade, poder e domínio, tendo sujeitado tudo aos pés de Cristo, dando-o como Cabeça à Igreja, a qual é o seu corpo e a Sua plenitude, como lemos nos versos 20 a 23.
Veja que nos versos 15 a 19 se fala em relação aos cristãos que eles devem ter espírito de sabedoria e revelação da pessoa do próprio Deus; iluminação dos olhos espirituais, para o conhecimento das coisas espirituais relativas àquilo que eles devem ser e da herança que têm em Cristo; e finalmente conhecerem de forma também experimental qual é o poder de Deus que neles opera.
Isso tudo fala de vida de experiência com a realidade das coisas espirituais que estão em Cristo.
Isto é muito mais do que mero conhecimento intelectual.
Não se fala de mente de sabedoria e revelação, ainda que isto esteja incluso, mas de sabedoria e revelação de espírito, uma vez que toda sabedoria e revelação de Deus são feitas ao nosso espírito pelo Espírito Santo.
Este poder espiritual foi manifestado em Cristo e tem sido manifestado por Deus na Igreja, porque esta é o corpo de Cristo, e tem sido por meio dela que o poder de Cristo tem se manifestado na presente dispensação.
O conhecimento do poder de Deus por experiência pessoal e real com o Espírito Santo é absolutamente necessário para um caminhar íntimo e constante com Ele.
É da vontade de Deus que conheçamos o poder da Sua graça operando em nosso espírito de maneira experimental.
 É uma coisa difícil trazer um espírito a crer em Cristo e a confiar na Sua justiça e esperança de vida eterna.
Somente o poder do Todo-Poderoso poderá fazer tal trabalho nos pecadores.
O caráter deste poder é o mesmo que ressuscitou Jesus dentre os mortos, e assim não é fácil defini-lo com palavras. Não serão portanto palavras persuasivas de sabedoria humana que poderão fazer este trabalho de conversão e de santificação, senão somente o poder operante de Deus.




8 - Nos Lugares Celestiais

Por D. M. LLoyd Jones

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” – Efésios 1:3

Já temos visto que muitos erram em todo o seu pensamento sobre o cristianismo porque partem de um ponto de vista errado. Eles têm uma concepção materialista do cristianismo, e não se dão conta de que a fé cristã é positivamente extra-mundo. A consequência é que eles ficam constantemente em dificuldade. Há muitos que dizem que não podem ser cristãos por causa do estado do mundo e das coisas que estão acontecendo nele. O argumento deles é que, se Deus é amor, que promete abençoar todo aquele que O buscar, os cristãos não deveriam sofrer – não deveriam adoecer ou sofrer adversidade. Temos aí um claro exemplo daqueles mal-entendidos resultantes da não percepção de que as bênçãos advindas ao cristão são "espirituais" e estão "nos lugares celestiais”.

Mas devemos examinar este assunto de maneira mais minuciosa. Nem nesta Epístola, nem em qualquer outro lugar, o apóstolo sobe a maiores alturas do que neste versículo particular, onde ele nos eleva aos “mais altos céus” e nos mostra o ponto de vista cristão em sua maior glória e majestade. De muitas maneiras a expressão "nos lugares celestiais” é a chave desta Epístola, em particular, onde ela ocorre não menos que cinco vezes. Acha-se neste versículo 3, e também no versículo 20 deste capítulo primeiro, onde Paulo escreve sobre o fato de Cristo estar assentado à mão direita de Deus nos lugares celestiais. Alguns comentaristas não gostam da palavra “lugares”, pois acham que ela tende a localizar o conceito. Contudo, não basta dizer “celestiais”. Vê-se a mesma expressão também no capítulo 2, versículo 6, e no versículo 10 do capítulo 3. A última referência é no versículo 12 do capítulo 6, na declaração: “Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. É óbvio que o apóstolo não repetiria esta frase, se ela não tivesse um significado real e profundo; e ela é, repito, uma das apresentações mais gloriosas da verdade cristã. Se tão-somente pudéssemos enxergar como nós estamos em Cristo nos lugares celestiais, isso faria uma revolução em nossas vidas, e mudaria toda a nossa maneira de ver.

Ao empregar a frase “nos lugares celestiais”, o apóstolo emprega uma expressão descritiva que, era muito popular no século primeiro. Era uma concepção judaica típica. Ele faz uso da mesma ideia na Segunda Epístola aos Coríntios, capítulo 12, onde nos dá um pouco de biografia, e no versículo 2 diz: conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei: Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu”. A expressão “terceiro céu” é exatamente idêntica a “lugares celestiais”, nos termos em que é empregada nesta Epístola aos Efésios. Segundo essa concepção, o primeiro céu é o que se pode descrever como o céu atmosférico, onde ficam as nuvens. O segundo céu pode ser descrito como o céu estelar; é aquela parte das regiões superiores onde estão colocados o sol, a lua e as estrelas. Essa parte está muito mais distante de nós do que as nuvens ou o céu atmosférico, e os números astronômicos utilizados pelos cientistas lembram-nos que os céus estelares estão a uma tremenda distância de nós.

Contudo, há um “terceiro céu”, que não se trata do céu atmosférico nem do céu estelar. Trata-se da esfera em que Deus , de maneira muito especial, manifesta a Sua presença e a Sua glória. É também o lugar em que o Senhor Jesus Cristo, em Seu corpo ressurreto, habita. Além disso, é o lugar em que os “principados e potestades” aos quais o apóstolo se refere no capítulo 3 têm a sua habitação; na verdade, é o lugar a respeito do qual lemos no capítulo 5 de Apocalipse, onde a glória de Deus se manifesta. Lemos ali a respeito de Cristo em Seu corpo glorificado, "um Cordeiro, como havendo sido morto”, cios brilhantes espíritos angélicos, dos animais c dos "vinte e quatro anciãos”. Todos esses dignitários angélicos e poderes têm sua habitação ali. E, ainda mais maravilhoso e glorioso, ali também estão “os espíritos dos justos aperfeiçoados”. Os que morreram no Senhor, “em Cristo”, estão ali com – Cristo neste momento. Estão nos “lugares celestiais”, no “terceiro céu”, naquele domínio em que Deus manifesta algo da sua glória eterna.

Agora podemos passar a considerar o sentido da expressão “nos lugares celestiais” à luz destas cinco referências a ela nesta Epístola aos Efésios. O Senhor Jesus Cristo, ressurreto dentre os mortos, já está naquele domínio em Seu corpo glorificado, como disso nos faz lembrar o versículo 20. O que, portanto, o apóstolo está dizendo é que o que temos, e tudo o que gozamos corno cristãos, vem de Cristo, que está naquela esfera, e por meio dEle. Mais que isso, pelo novo nascimento, por nossa regeneração, somos ligados ao Senhor Jesus Cristo, e nos tornemos partícipes de Sua vida e de todas as bênçãos que dEle vêm. O ensino do apóstolo é que, nos estamos "em Cristo”. Somas parte de Cristo; estamos tão ligados a Ele por esta união orgânica mista que tudo quanto lhe, seja próprio, nos é próprio espiritualmente. Assim como Ele está nos lugares celestiais, assim também nós estamos nos lugares celestiais. As bênçãos que gozamos como cristãos são bênçãos "nos lugares celestiais” porque elas toquem de Cristo que lá está.

É minha opinião que aqui vemos mais claramente do que em qualquer outro lugar a profunda mudança a que alguém sc sujeita por tornar-se cristão. Não se trata de uma mudança superficial, não é apenas que vestimos uma roupa de respeitabilidade ou decência ou moralidade, não é um melhoramento na superfície ou uma mudança temporal. É tão profunda como o fato de que somos tomados de um reino e colocados em outro. Assim corno Deus tirou o Senhor Jesus Cristo do túmulo, e dentre os mortos, e O colocou à Sua mão direita nos lugares celestiais, assim o apóstolo ensina que a mudança pela qual passamos em nosso novo nascimento e regeneração leva a esta correspondente mudança em nós. É a fim de que os cristãos efésios possam entender isso mais completamente que Paulo ora por eles: para que "tendo iluminados os olhos do vosso entendimento... saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força de seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o h sua direita nos céus” (VA: “nos lugares celestiais”). Essa, e nada menos que essa, é a verdade ‘acerca do cristão. Dada a limitação das nossas capacidades, em consequência da nossa condição finita e do nosso pecado, achamos muito difícil apossar-nos destas coisas; mas tudo o que esta Epístola aos Efésios procura fazer é concitar-nos a lutar para que tornemos posse delas, a orar pedindo iluminação para podermos entender.

A dificuldade surge pelo fato de que o cristão é, necessariamente, num certo sentido, dois homens em um ao mesmo tempo. É óbvio (não é?) que os cristãos simplesmente não podem entender nada destas questões O apóstolo expõe isso claramente no capítulo 2 da Primeira Epistola aos Coríntios, onde ele descreve a diferença entre o homem “natural” e o "espiritual” Ele escreve “O que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido”. “Discernir” (VA: julgar) significa entender. O cristão, diz Paulo, entende todas as coisas, mas ele mesmo não é entendido por ninguém Ele é, por definição, um homem que o incrédulo não tem a mínima possibilidade de entender. Portanto, um dos melhores testes que podemos aplicar a nós mesmos c descobrir se as pessoas acham difícil entender-nas porque somos cristãos Se a afirmação de Paulo é verdadeira, o cristão deve ser um enigma para todos os não cristãos. Aquele que não é cristão acha que há algo estranho quanto ao cristão, este não é como os outros, é diferente É como tem que ser, por definição, porque o cristão tem esta vida celestial e pertence a este domínio celestial. Entretanto, ele não somente escapa ao entendimento do não cristão: num sentido é certo dizer que ele próprio não pode entender a si mesmo. Ele tornou-se um problema para si próprio, por causa dessa nova natureza que há nele..“Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em num” (Gálatas 2:20). Eu sou eu e não sou eu.

Analisemos isto um pouco mais. O cristão tem duas naturezas. Num sentido ele ainda é um homem natural. O que por nascimento ele herdou de seus antepassados, ele ainda possui. Ele ainda está neste mundo e nesta vida, como todos os demais. Ele tem que viver, tem que ganhar a vida e fazer várias coisas da mesma maneira que os outros. Ele ainda vive a vida secular, a vida “normal”, a vida vivida em termos do intelecto e do entendimento. Ele estuda vários assuntos e, como todos os demais interessa-se pelas condições políticas e sociais; ele tem que comprar e vender como todos os outros. Ele pode estudar artes, pode interessar-se por música. Essa é a sua vida "normal”, sua vida secular, sua mentalidade, coisas que ele compartilha com os não cristãos. Na verdade, podemos ir além e dizer que ele ainda experimenta falhas em vários aspectos, ele tem consciência do pecado Por vezes ele se olha e indaga se é diferente das outras pessoas, parece idêntico a elas. Ele falha, faz coisas que não devia fazer, ainda se sente culpado do pecado. Continua parecido com o homem natural. Se vocês tiverem apenas uma ideia superficial do cristão, poderão muito bem chegar à conclusão de que na verdade não há diferença alguma entre ele e qualquer outra pessoa. Mas isso não está certo, pois essa não é toda a verdade sobre ele. Em acréscimo a tudo isso, há outra natureza, há uma outra coisa que ocorre; e é esta outra coisa que faz do cristão um enigma para os outros e para si mesmo Num sentido ele é um homem natural, porém ao mesmo tempo é um homem espiritual O apóstolo contrasta o homem natural com o homem espiritual, porque o que há de grande acerca do cristão é que ele tem esta natureza espiritual adicional Esta é a característica principal, e é o furor dominante em sua vida O cristão, mesmo na pior condição, sabe que é diferente do incrédulo.

Expondo isso em sua expressão mais baixa, o cristão continua sendo culpado de pecado, mas o cristão não aprecia o pecado como apreciava, e como os outros apreciam. Há algo diferente até quanto ao seu pecado, graças a este princípio espiritual que há nele, a esta natureza espiritual, a esta consciência de uma nova vida, de uma vida que pertence a uma ordem diferente e a uma esfera diferente. É muito difícil expor isto em palavras; há algo evasivo nisso tudo e, todavia, há algo que o cristão sabe. É essencialmente subjetivo, embora resulte da fé na verdade objetiva. Noutras palavras, a menos que você sinta que é cristão, fica uma dúvida se você o é. A menos que lhe tenha acontecendo algo existencialmente, experimentalmente, a menos que lhe tenha acontecido algo na esfera da sua sensibilidade, você não é cristão.

Muitos no presente correm o perigo de considerar a fé de maneira tão puramente objetiva que pode tornar-se antibíblica. Eles dão toda a sua ênfase à subscrição de certos credos e à aceitação de certas formulações da verdade Mas isso pode não passar de assentimento intelectual. Ser cristão significa que Deus, mediante o Espírito, está operando em sua alma, deu-lhe um novo nascimento e colocou dentro de você um principio da vida celestial. E você tem que saber disso. Só você pode sabê-la. Você, necessariamente, tem consciência deste algo mais, desta diferença, deste poder que está agindo em você, deste elemento perturbador, como se pode provar. Você necessariamente tem consciência até de um novo conflito em sua vida. A pessoa não cristã é somente uma pessoa; a pessoa cristã é duas. Para usar a terminologia escriturística, o não cristão não é nada senão o “velho homem”. O cristão, porém, tem também um "novo homem” E entre o novo homem e o velho não há acordo; há uma tensão entre o velho homem e o novo, e há conflito – “A carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne” (Gálatas 5.17). O próprio estágio inferior da verdadeira experiência cristã é aquele estágio no qual você está cônscio justamente desse conflito. Você ainda não sabe o que é ser “cheio da plenitude de Deus”; você sabe pouco, se é que sabe algo, de uma comunhão pessoal e direta com Cristo; mas sabe que há algo em você que o inquieta, sabe que há, por assim dizer, outra pessoa em você, que há um conflito, que há quase que esta personalidade dual, esta dualidade por assim dizer. Estou tentando comunicar o fato da consciência que o cristão tem das duas naturezas. Ele está cônscio das duas naturezas porque ele está “em Cristo”, e Cristo está “nos lugares celestiais”. Ele recebeu esta vida de Cristo, e tudo o que ele tem deriva de Cristo; e isso é tão diferente de tudo mais, que o cristão tem consciência de que tem duas naturezas.

Pois bem, não é só certo dizer que o cristão tem duas naturezas; também tem dois interesses, porque vive em dois mundos. O cristão é cidadão de dois mundos ao mesmo tempo. Pertence a este mundo, tem nele a sua existência; e, contudo, sabe que pertence a outro mundo tão definidamente como a este. Isso é consequência inevitável do fato de que ele tem duas naturezas. Daí dizer o apóstolo que o cristão é alguém que foi transferido “da potestade das trevas para o remo do Filho do seu amor” (Colossenses 1:13) – ele foi transferido, transportado, e recebeu uma nova posição. E essa mudança é, num sentido, paralela a que se deu com o próprio Cristo. Deus manifestou o Seu poder quando ressuscitou a Cristo dentre os mortos e O colocou à Sua direita nos lugares celestiais. Com efeito, algo similar aconteceu com todos os cristãos. Não ficamos onde estávamos, fomos transportados, fomos transferidos de um lugar, de um domínio para outro, de um reino para outro, de um mundo para outro. Este é um elemento vital da experiência total do cristão.

Não significa que o cristão sai do mundo. Historicamente muitos cristãos caíram nesse erro, e diziam: visto que sou cristão não pertenço ao Estado. Há cristãos que dizem que não se deve votar nas eleições parlamentares, e que não se deve ter nenhum interesse pelas atividades do mundo. Mas isso não se harmoniza com o ensino das Escrituras, pois o cristão ainda é cidadão deste mundo e pertence à esfera secular. Ele sabe que este mundo é de Deus, e que nele Deus tem um propósito para ele. Ele sabe que é cidadão do país a que pertence, e está ciente de que tem as suas responsabilidades. A verdade é que, desde que é cristão, terá que ser um cidadão melhor do que ninguém no território. No entanto, ele não para aí, ele sabe que também é cidadão de outro reino, de um reino que não se pode ver, um reino que não é deste mundo. Todavia, ele está neste mundo, e o outro reino colide com ele. O cristão sabe que pertence a ambos os remos Assim, isto vem a ser um teste da nossa profissão de fé como cristãos. Sabemos das exigências que a nossa terra natal nos faz, e também sabemos das exigências do reino celestial. Nosso desejo é não transgredir as leis da terra, e maior ainda é o nosso desejo de não ofender o “Rei eterno, imortal, invisível” (1 Timóteo 1:17, VA, ARA) que habita aquele outro reino e que é o Senhor.

O apóstolo prossegue e diz, porém, que não somente pertencemos àquele domínio celestial; no versículo 6 do capítulo 2 de Efésios ele faz uma declaração que soa tão espantosa quanto impossível Diz ele que Deus “nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus ”. Significa nada menos que eu e você, em Cristo, estamos assentados neste momento em lugares celestiais. Estamos lá; ele não está dizendo que vamos estar lá, e sim, que estamos lá. Mas como se pode conciliar isso com o fato de que ainda estamos neste mundo limitado pelo tempo, com toda a sua confusão e contradição? Como podem estas duas coisas ser verdadeiras ao mesmo tempo? A princípio soa paradoxal; e, contudo, é gloriosamente verdadeiro quanto ao cristão. Espiritualmente estou neste momento no céu, “em Cristo”, num sentido como sempre estarei; mas o meu corpo continua vivendo na terra, ainda sou deste mundo limitado pelo tempo, O meu espírito foi redimido em Cristo, como sempre redimido será; porém o meu corpo ainda não foi redimido, e eu, com todos os outros cristãos, estou “esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Romanos 8:23). Ou, como Paulo o expressa, escrevendo aos Filipenses, a nossa situação neste mundo limitado pelo tempo é que “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (3:20-21). Em meu espeto já estou lá, mas ainda estou na terra na carne e no corpo.

O aspecto glorioso desta verdade é que, devido eu estar “em Cristo”, o meu corpo vai ser emancipado; a adoção, a redenção dos nossos corpos vai acontecer; virá o dia em que eu estarei nos lugares celestiais, não somente em meu espírito, mas também em meu corpo Isso é absolutamente certo. Seremos transformados, os nossos corpos serão glorificados, e estaremos sem nenhum pecado, culpa ou ruga ou mancha. Em espírito e no corpo estaremos com Ele e O veremos como Ele é; na totalidade do nosso ser e das nossas personalidades estaremos naqueles lugares celestiais.

A dedução que tiramos do ensino do apóstolo foi exposta perfeitamente por Augustus Toplady, quando escreveu:

Mais felizes, mas não mais seguros,

Os espíritos glorificados no céu.

"Os espíritos glorificados no céu”, os cristãos que partiram e estão com Cristo são mais felizes do que nós. Isso porque nós, que ainda estamos nesta vida, estamos “sobrecarregados”, e, por isso, “gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu” (2 Coríntios 5:2). Os cristãos que pararam, já não têm que combater o pecado na carne, e no mundo; disso eles estão completamente livres; isso acabou, no que se refere a eles; porém nós continuamos na carne, no corpo, continuamos lutando, continuamos gemendo. Porque partiram, eles são “mais felizes”; mas não estão mais seguros. Não estão “em Cristo” mais do que nós. Eles estão lá agora porque estavam “em Cristo” quando estavam aqui; nós, mesmo agora, estamos “em Cristo” e estamos assentados espiritualmente junto com eles nos lugares celestiais – com eles e com Cristo, neste exato momento. Como nos lembra o autor da Epístola aos Hebreus, “não chegastes ao monte palpável, aceso em fogo, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao sonido da trombeta, e à voz das palavras, a qual os que a ouviram pediram que se lhes não falasse mais, porque não podiam suportar o que se lhes mandava: se até um animal tocar o monte será apedrejado. E tão terrível era a visão que Moisés disse: estou assombrado, e tremendo. Mas chegaste ao monte de Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; à universal assembleia e Igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o Mediador duma Nova Aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” (Hebreus 12:18-24). Estamos lá agora em nossos espíritos; estaremos finalmente lá em nossos corpos também.

Isso nos leva à percepção de que o cristão não somente tem duas naturezas, e duas existências, mas também, necessariamente, tem duas perspectivas. O cristão vê a vida e o mundo, e num sentido os vê como todo o mundo os vê; todavia, ao mesmo tempo ele os vê diferentemente. Como cristãos não olhamos para as coisas como o mundo olha, mas o fazemos como pessoas pertencentes aos domínios celestiais; vemos tudo diferentemente, vemos tudo do ponto de vista espiritual. Os homens e as mulheres não cristãos consideram o estado em que o mundo se encontra, as guerras e os tumultos, a causa de todas essas coisas e a possibilidade de outra guerra mundial. Consideram as sugestões quanto ao que se pode fazer, e se é certo ou errado ter exércitos e engajá-los na luta. Estas coisas requerem atenção. O cristão como cidadão deste domínio visível, tem que chegar a decisões, e tem que ser capaz de dar os motivos das suas decisões.

Com relação à Igreja Cristã, num sentido ela não tem nada a ver com os problemas do mundo, e não deve gastar muito tempo com eles. A tarefa primordial da Igreja é apresentar a perspectiva, o ponto de vista espiritual. Ela vê a causa de todos os problemas de maneira inteiramente diversa. A visão mundana enxerga a causa da guerra como uma questão de “equilíbrio do poder” entre as nações e em termos de como lidar com isso de maneira a mais eficiente. Isso está certo, dentro dos seus limites; porém não é esse o problema fundamental que, como Paulo nos ensina no último capítulo desta Epístola, consiste em que “não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (6:12). O cristão sabe que o mundo está como está devido ao pecado, devido ao diabo; ele vê todas as coisas com uma nova perspectiva e com um novo entendimento. Ele sabe que estas coisas são apenas a manifestação do poder satânico; e que, em última análise, o conflito deste mundo é um conflito espiritual, não um conflito material. Os problemas do mundo não são meramente resultantes da colisão de concepções materiais apenas; são produzidos pelos poderes do inferno e de satanás lutando contra o poder de Deus. Em contraste com a visão que o mundo tem, a visão do cristão é muito mais profunda. O cristão não vê as coisas meramente ao nível horizontal; ele as vê perpendicularmente também. Para ele há sempre este elemento básico – “sub specie aeternitatis”. *

Ele sabe, ademais, que a única maneira de lidar com estes problemas só pode ser espiritual. O cristão sabe que Deus tem duas maneiras de tratar destes problemas que resultaram das atividades do diabo, da queda do homem e do pecado. A primeira é que Deus restringe o mal, e o faz de muitas maneiras. Primeiro o fez, em parte, dividindo o mundo em países e estabelecendo limites para cada um deles. Isso Ele fez ordenando que houvesse reis e chefes de Estado, magistrados e autoridades. Nunca nos esqueçamos de que as potestades que existem foram ordenadas por Deus (Romanos 13 1). Foi Deus que ordenou os governos e os sistemas de governo. É por isso que o cristão é exortado a honrar o rei, os senhores e todos os que estão revestidos de autoridade. Dessa maneira Deus mantém o mal dentro de certos limites, restringindo o mal. Ele faz isso por meio dos governos, pelo uso dos estadistas, das conferências internacionais e pelo uso de diversos outros meros No entanto eles são somente negativos, simplesmente restringem o mal. A força policial pode impedir que um homem faça certas coisas más, porém nenhuma força policial pode transformar alguém num homem bom. O mesmo aplica-se também aos governos. Também se aplica esta verdade à cultura, à educação e a tudo quanto esteja destinado a melhorar os costumes e a tornar a vida ordeira, harmoniosa e agradável. Todas essas agências fazem parte do mecanismo de Deus para refrear o pecado e as suas manifestações e consequências. Entretanto, elas são negativas. Um homem altamente civilizado nunca fará certas coisas; mas isso não significa necessariamente que ele é um bom homem. É certo que a cultura não faz dele um homem espiritual.

Mas existe este outro aspecto positivo: Deus trata dos problemas do mundo de maneira positiva e curativa, a saber, em Cristo e por meio de Cristo e Sua grande obra de salvação. Ele tira um homem deste “presente mundo mau” em espírito, e o coloca dentro do reino de Cristo Coloca dentro dele um novo principio que não somente lhe tira a disposição para pecar, mas também lhe dá amor à santidade O homem se torna positivamente bom e passa a ter “fome e sede de justiça" Ele se torna semelhante ao Senhor Jesus Cristo Há um novo remo dentro “dos remos deste mundo"; é o reino de Deus Essa é a única cura. O remo de Deus finalmente vai ser tão grande que o pecado será destruído e banido, e não mais existirá. O cristão, e somente ele, vê o plano e o propósito de Deus. Os estadistas do mundo, os não cristãos, na melhor das hipóteses nada sabem a respeito, eles só veem a situação em termos do visível e daquilo que está diretamente diante deles.

Estas duas maneiras de ver também são inteiramente diversas com respeito ao futuro. O incrédulo liga a sua fé às conferências. E imagina que se tão-somente os homens pudessem ter uma Conferência de Mesa Redonda e acordassem nunca mais fazer uso da bomba atômica ou da bomba de hidrogênio, o mundo se tornaria mais ou menos perfeito. Mas, ao que parece, isso nunca se efetuará. Ele não pode ir além da sua visão horizontal, ele nada sabe deste elemento espiritual superior. Ele a credita na perfectibilidade do homem e na evolução de toda a raça humana. Ele acredita que o homem ficará cada vez melhor, à medida que se torne mais instruído, e que finalmente abolirá a guerra.

Ora, infelizmente isso nunca acontecerá por causa deste elemento espiritual em conflito. Conquanto o homem tenha pecado em sua natureza, ele não somente será culpado do pecado individualmente, mas também numa escala nacional e mundial. Porque a mente de uma multidão sena diferente da mente de um indivíduo”. Graças a Deus, há outra mensagem; e a maior tragédia do mundo é que a Igreja, em vez de pregar a sua verdadeira mensagem, está pregando uma mensagem terrena, humana, carnal. Não teria a Igreja algo melhor para pregar do que apelar para os estadistas para que resolvam os problemas? Isso é realmente uma negação da fé cristã, e revela uma abismal ignorância dos "lugares celestiais”. Como cristãos, temos outra maneira de ver, temos algo inteiramente diverso. As preleções sobre a temperança nunca tornarão sóbrios os homens, nem as estatísticas das perdas de guerra porão fim à guerra. Sabemos que o problema é espiritual, e que a solução tem que ser igualmente espiritual Como é de satanás que basicamente vêm os maus desejos, as paixões e as cobiças, assim é de Cristo, e dEle somente, mediante o Espírito, que vem o poder para sobrepujá-los E Ele virá não somente para o indivíduo, graças a Deus, Ele virá para o mundo todo. O cristão sabe que Cristo, que agora está nos lugares celestiais, voltará a este mundo em forma visível, cavalgando as nuvens do céu e rodeado pelos santos anjos e pelos santos que já estão com Ele; e os que estiverem na terra quando Ele vier serão transformados e serão elevados nos ares para encontrar--se com Ele, e estarão todos "sempre com o Senhor". Ele derrotará os Seus inimigos, e banirá o pecado e o mal. Seu reino se estenderá "de mar a mar” (Salmos 72:8; Zacarias 9:10) e Ele será aclamado como o Senhor por todas as coisas “que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra” (Filipenses 2:10).
Isso é otimismo cristão, e significa que sabemos que somente Cristo pode vencer, e vencerá. Você está “nos lugares celestiais”, você está ciente das duas naturezas que há em você, está ciente de que pertence a duas esferas? Tem você esta nova visão espiritual da guerra e da paz e dos problemas do mundo? Você vê tudo pela perspectiva do céu, de Deus e do Senhor Jesus Cristo, assentado com Ele nos lugares celestiais? Bendito seja o nome de Deus!




9 - Bênçãos e Maldições da Lei e Bênçãos da Graça

Nos dias do Velho Testamento, a obediência a Deus e aos Seus mandamentos traria bênçãos aos israelitas, e a desobediência traria maldições. São descritas as promessas de bênçãos da Antiga Aliança, tanto quanto das maldições.
Ambas são introduzidas, respectivamente, pelas seguintes fórmulas em Deuteronômio 28:
a) Bênçãos:
“Se ouvires atentamente a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra; e todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, se ouvires a voz do Senhor teu Deus: “(v. 1;2).
b) Maldições:
“Se, porém, não ouvires a voz do Senhor teu Deus, se não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que eu hoje te ordeno, virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão:” (v. 15).
É importante observar, que na dispensação da Lei, as ameaças de maldições eram bem maiores do que as promessas de bênçãos.
Na Nova Aliança os cristãos são resgatados não apenas das ameaças e maldições da Lei, como também têm recebido maiores e superiores promessas, relativamente à Antiga Aliança, conforme afirma o autor de Hebreus:
“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor pacto, o qual está firmado sobre melhores promessas.” (Hb 8.6).
O que se aprende por princípio destas promessas de bênçãos e de maldições da Antiga Aliança, é que, na prática, um viver abençoado realmente demanda obediência a Deus e aos Seus mandamentos, com todas as nossas imperfeições e limitações, pois como já comentamos anteriormente, o que se exige para plena aceitação não é perfeição de cumprimento de todos os mandamentos, mas o desejo de ser aperfeiçoado na prática do amor, da santidade, da justiça, por um sincero caminhar com Deus.
Ele considerará os nossos esforços por causa dos méritos de Cristo e da Sua justiça, que nos foram imputados.
A graça de Deus e o Seu favor é a primeira de todas as bênçãos, e a ira de Deus é a primeira de todas as maldições, e obtivemos o primeiro, e fomos livrados da segunda, unicamente pela redenção de Jesus.
As bênçãos prometidas aos israelitas sob a Antiga Aliança, nos versos 1 a 14 de Deuteronômio 28 podem ser resumidas na promessa de Deus de fazê-los prosperar pela Sua providência, contra todas as suas preocupações exteriores.
Deste modo, são enumeradas várias coisas nas quais, Deus pela Sua providência os abençoaria.
Caso fossem obedientes à Sua voz guardando os Seus mandamentos, Ele os guardaria em segurança e em paz quer no campo, quer na cidade (v. 3).
Deus abençoaria os filhos deles e toda a produção da sua lavoura bem como dos seus animais (v. 4, 11), e todas as suas provisões (v. 5). Eles seriam guardados em paz e em segurança em suas viagens, tanto na ida quanto na volta (v. 6).
Isto é uma dependência necessária e constante que precisamos de Deus para a continuidade e conforto desta vida.
Se o Senhor retirasse a Sua proteção de sobre nós, estaríamos perdidos, não somente pela ação dos homens maus como também dos demônios e perigos que nos rodeiam em todo o tempo.
Como o caráter da Antiga Aliança era, sobretudo nacional, vemos também promessas dirigidas à nação de Israel como um todo, como a do verso 7, em que é prometido vitória sobre os povos inimigos, e a confirmação da nação israelita como povo santo do Senhor, pela abastança que enviaria aos seus celeiros (v. 8, 9); o que faria com que todos os povos da terra chegassem ao reconhecimento de que o Senhor era com eles, e assim passariam a temê-los (v. 10).
De tal modo Deus lhes faria prosperar que eles seriam os credores de muitas nações, e não necessitariam tomar empréstimos para tocar os negócios de Israel (v. 12).
Como consequência disto, seriam distinguidos pelo Senhor para estarem à dianteira das demais nações quanto à sua posição de destaque no cenário mundial (v. 13).
Embora as promessas de bênçãos temporais não ocupem tanto espaço nas páginas do Novo Testamento, quanto nas do Velho, relativamente à Nova Aliança, Jesus nos tem afiançado pela Sua Palavra que se buscarmos primeiro o reino de Deus e a sua justiça, todas as demais coisas serão acrescentadas (Mt 6.33).
Examinando agora as maldições da Lei, devemos destacar antes que é dito claramente como já destacamos anteriormente, que estas maldições são direcionadas àqueles que se colocam em posição confrontativa à vontade de Deus, que se rebelam contra Ele e os Seus mandamentos e não demonstram interesse em submeter-se ao Seu governo divino. Certamente este não é o caso de um cristão autêntico.
Este estado; como vemos nas páginas do Velho Testamento, foi uma realidade não apenas para uns poucos israelitas, mas até mesmo para a quase totalidade da nação, que não raras vezes se desviou do caminho de Deus para seguir adorando falsos deuses, e foi a estes que se dirigiram e se aplicaram as maldições previstas nos versos 15 a 44 deste capítulo 28.
Na verdade os que estão debaixo da maldição da Lei são aqueles que não estão em Cristo, por não terem sido resgatados da maldição pela nova vida e o conhecimento de Deus e da Sua vontade, que alcançaram por meio da fé nEle.
Os que não eram da fé, na Antiga Aliança, estavam nesta condição porque a carne não está sujeita à Lei de Deus e nem mesmo pode estar.
Agora, veja então que não é apropriado chamar ou considerar maldito de Deus a qualquer cristão autêntico porque eles conhecem ao Senhor e a Sua vontade, e não são contrários a Ele, por desejarem viver fazendo aquilo que sabem provocar a Sua ira justa e santa contra o pecado.
Um cristão autêntico, quando peca eventualmente, ou mesmo quando está enfraquecido vivendo de tal modo que chega a aparentar que ainda está escravizado ao pecado, apesar de ter sido libertado do seu senhorio por Jesus, não é, no entanto inimigo de Deus que está debaixo da Sua ira, por não estar debaixo da graça.
A maldição da Lei revela, portanto, mesmo aos israelitas sob o antigo pacto, que não é o fato de ser descendente de Abraão segundo a carne que garante a bênção de Deus, senão um conhecimento de Deus e um caminhar em conformidade com a Sua vontade.
Por exemplo, o simples cumprimento externo do mandamento, sem este conhecimento, e o temor devido ao Senhor pelo desejo de se fazer a Sua vontade não seria uma garantia para livramento de pessoas e até mesmo da nação, das maldições previstas na Lei.
Veja o que aconteceu nos dias do profeta Isaías em que os israelitas foram repreendidos por isto, pois eles apresentavam os sacrifícios exigidos pela Lei e compareciam às festividades religiosas também previstas na Lei, sem que, no entanto tivessem um verdadeiro desejo de fazerem a vontade do Senhor.
Desta forma, as maldições, são em si mesmas auto-explicativas e elas são descritas em resumo, como sendo o oposto das bênçãos prometidas.
Desta forma, em vez de saúde, paz, prosperidade, honra e segurança; são prometidas enfermidades, pragas e pestes, terrores, penúria, desonra e insegurança.
É prescrito particularmente o domínio e opressão que os israelitas sofreriam da parte de outras nações, inclusive o cativeiro, pela expulsão do território de Canaã.
A história tem testemunhado o cumprimento fiel destas ameaças de maldições sobre os israelitas em razão da transgressão deles da Aliança que fora feita com eles.
O livro de Juízes foi pontilhado de longos períodos de opressão por causa do desvio dos israelitas em ouvirem a Deus e cumprirem os Seus mandamentos.
Muito sofrimento e dor sobrevieram aos judeus ao longo de toda a sua história, com massacres indescritíveis, por serem uma nação eleita por Deus, na qual Ele tem revelado que vela sobre a Sua Palavra para a cumprir conforme tem prometido.            
Especialmente no período em que vigorava a Antiga Aliança os israelitas foram sujeitados aos castigos previstos para a desobediência deles.
Tudo está registrado na Bíblia, inclusive a dispersão deles por todas as nações, o que ocorreu conforme fora predito desde os dias de Moisés,  e conforme vemos neste capítulo e em outras passagens deste e outros livros da Bíblia.
Entretanto o cumprimento destas maldições sobre Israel não se limita ao período de vigência da Antiga Aliança, mas a todas as gerações de Israel, como se lê no verso 45 e 46:
“Todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído, por não haveres dado ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te ordenou. Estarão sobre ti por sinal e por maravilha, como também sobre a tua descendência para sempre.”
 As coisas ruins que sobrevêm a Israel servem para indicar o seu afastamento de Deus.
Assim  como determinadas tribulações servem para indicar aos cristãos o desagrado de Deus em relação à caminhada desordenada deles.
O maior pecado cometido pelos israelitas foi a rejeição de Cristo por eles, uma vez que na própria Lei Deus disse que pediria contas de todo aquele que não ouvisse o Profeta que seria levantado em Israel, depois dos dias de Moisés (Dt 18.15-19).
Eles têm sofrido as consequências desta rejeição, e a principal delas se dará quando forem perseguidos pelo Anticristo.




10 - A Importância das Bênçãos Espirituais

As bênçãos espirituais (Ef 1.3) não são deste mundo, e dizem respeito à vida eterna, porque elas são eternas em sua própria natureza.
Elas são recebidas a partir do céu e por um ato doador e específico de Deus para aqueles que as buscam pela fé.
Aquele que busca acha e o que pede recebe. De modo que as bênçãos espirituais devem ser buscadas por meio da oração e prática da Palavra, pois têm a ver notadamente com o recebimento e amadurecimento da nova natureza celestial e divina que temos por meio da fé em Cristo, especialmente quanto à transformação e santificação do nosso caráter por meio do pleno desenvolvimento das virtudes espirituais que fazem parte do caráter do próprio Jesus Cristo.
Então estas bênçãos são recebidas na nossa união com Jesus.
Por isso somos incentivados por Jesus a buscar não o alimento que perece, mas aquele que subsiste para a vida eterna, e que podemos achar somente nEle.
Ninguém deve ser insensato a ponto de pensar que não precisa de bens materiais, especialmente os necessários ao sustento do corpo. O próprio Jesus afirmou que o Pai sabe que necessitamos destas coisas materiais, mas Ele também disse que são aqueles que não conhecem a Deus que têm os seus corações naturalmente dispostos somente para estas coisas.
O cristão não deve portanto se deixar dominar por nenhuma delas, e fazer de quaisquer delas o seu objetivo de vida, senão somente o reino de Deus e a sua justiça; sabendo que o Senhor acrescentará estas coisas àqueles que Lhe forem fiéis enquanto eles se empenham em trabalhar exaustivamente no que tiverem sido chamados por Deus a fazerem neste mundo, em novidade de vida.
É dito pelo apóstolo Paulo que as bênçãos espirituais são obtidas nas regiões celestiais em Cristo Jesus,  a saber, elas nos vêm a partir do céu e elas nos vêm de nosso Senhor Jesus Cristo, em quem se encontram, e de quem procedem todas estas bênçãos.
Por isso estas bênçãos são exclusivas para aqueles que creem em Cristo e que se encontram unidos a Ele. São bênçãos para os Seus santos.
As bênçãos espirituais são dadas aos homens por causa do ato de Deus em Jesus Cristo, conforme planejado no conselho eterno da Sua própria vontade divina, e são concretizadas pela operação do Espírito Santo na própria vida dos cristãos.

"3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo;
4 assim como nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;
5 e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade," (Ef 1.3-5)

Paulo bendiz a Deus por nos ter abençoado com a concessão de toda a sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo, não por nossos méritos ou escolha, mas por Sua própria vontade, pela qual nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis diante dEle em amor.
Não é portanto, possível sermos santificados, conforme é do propósito de Deus, sem estas bênçãos espirituais que devem ser buscadas pela fé.
Elas estão projetadas por Deus para preparar os cristãos para o céu, conforme Ele havia planejado desde antes da fundação do mundo.

Por isso não devemos permitir que a nossa atenção e afetos estejam focados nas coisas terrenas, mas naquelas coisas pelas quais nós somos santificados em Cristo.






11 - A Bênção da Velhice

Baseado em Eclesiastes 12

A fase da terceira idade não necessita ser vista como Salomão a via e a chamou, ou seja de “maus dias nos quais não se tem prazer”, como  se os bons dias fossem ditados somente pelo fato de se ter vigor e prazer.
Não é de modo nenhum este ensino que nós encontramos nos profetas e nas Escrituras de  um modo geral, porque é afirmado que “os velhos terão sonhos”, que “ainda darão frutos na velhice”, e que até mesmo a morte dos santos é algo bem-aventurado, porque as suas obras feitas em Deus lhes seguirão para efeito de galardão.
E é certo que quanto maior tempo de vida tivermos, tanto maior poderá ser o nosso galardão, em razão de se ter um tempo maior para praticar o bem, fazendo o que é agradável a Deus.
Salomão estava falando da sua própria experiência de vida quando chegou à velhice, e não do modo como esta deve ser encarada por todos.
Este modo, é na verdade visto somente por aqueles que esfriaram na comunhão com Deus, ou então, que sendo ímpios não conhecem ao Senhor, porque para estes, a velhice é de fato algo que eles acharão algo ruim e penoso, porque lhes privará não somente de muitos prazeres, como também lhes poderá trazer muitas limitações tanto físicas quanto mentais, ainda que não se possa fazer disto uma regra geral.
Salomão descreve a velhice até a morte, dos versos 2 a 7, usando metáforas, para se referir à condição em que serão achados nesta fase da vida, algumas partes do corpo.
Então ele afirma que: neste período da vida, o sol e a lua perderão o seu brilho e haverá escuridão, referindo-se ao enfraquecimento da visão e obscurecimento das faculdades intelectuais e o enfraquecimento da memória (v. 2); que os guardas da casa tremerão, ou seja, haverá tremores nos braços e nas mãos, dificultando que sejam usados para a proteção pessoal de ataques físicos que nos sejam dirigidos por outros; que os homens fortes se curvarão, a saber, a firmeza das pernas já não será a mesma; que os moedores cessarão, uma referência à perda e enfraquecimento dos dentes; que os que olham pelas janelas se escurecerão, novamente uma referência ao enfraquecimento da visão; que as portas da rua se fecharão, ou seja, quando se é velho já não se tem mais prazer em entretenimentos e passeios, e é comum que se permaneça muito mais tempo em casa; que o ruído da moedura será baixo, ou seja, uma voz fraca pela dificuldade de se mover os lábios; que o simples cantar das aves nos fará levantar, porque já não haverá mais a tolerância a ruídos como têm os jovens, e o sono pode ser perturbado pelo menor ruído quando se é idoso; que todas as filhas da música ficarão abatidas, ou seja não se terá mais o prazer de ouvir músicas, como Salomão tinha com os muitos cantores que havia em sua corte; que temerão o que é alto, porque os idosos temem lugares altos por causa de possíveis quedas; que terão espantos no caminho, a saber, o evitar passeios pelo temor de cair e quebrar os ossos fracos do corpo; que a amendoeira florescerá, ou seja os cabelos ficarão brancos; que o gafanhoto será um peso, e consequentemente o desejo falhará,  isto é, o membro viril não responderá mais ao desejo sexual; e finalmente chegará o dia da morte que é o último estágio da velhice avançada quando o homem vai para a sua casa eterna, ou seja, quando o seu espírito atingirá o estado de eternidade.
E a morte será uma ocasião de tristeza para os nossos amigos e aqueles que nos amam.
Todavia a morte prestará um bom serviço ao cristão porque desfará o seu tabernáculo terreno para que possa ser revestido daquele que é celestial e eterno.
 Então, como se afirma no verso 6, será rompida a corda de prata que unia firmemente o espírito ao corpo.
Este nó que os unia será desatado pela morte e estes velhos amigos serão forçados a se separarem.
Então o copo de ouro que retinha a vida do espírito, que é o nosso corpo, será quebrado para que o espírito seja liberado, e assim o cântaro com o qual nós buscávamos a água da fonte da vida, será quebrado junto à mesma; e a roda (os membros que nos permitiam nos movimentarmos e nos nutrimos) serão desfeitos na sepultura, à qual Salomão chama de cisterna.
O coração parou de bater, o sangue também parou de circular.
Todas as fontes vitais do corpo cessaram na morte e ele será desfeito no pó do qual fora tirado no princípio para a formação do primeiro homem, porque deve ser cumprida a maldição de Deus sobre o corpo para que volte ao pó na morte, por causa do pecado original, todavia tal maldição não foi dada ao espírito, que retornará ao domínio de Deus, e portanto, não será dissolvido (v. 7).
Então, quanto às coisas deste mundo natural, de fato pode-se dizer que tudo é vaidade (v. 8), porque nada subsistirá porque será desfeito pelo uso ou destruído pela morte.

















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