sexta-feira, 23 de outubro de 2015

18) Caráter 19) Carnalidade e Natureza Terrena

18) CARÁTER

ÍNDICE

1 - Caráter
2 - O Caráter e a Bem-Aventurança do Justo
3 - Caráter e Personalidade
4 - Desonestidade: Desvio de Caráter?
5 - Escrito na Mente e no Coração


1 - Caráter

A par de existirem várias formas de definição do que seja caráter, estaremos restringindo o uso do termo à sua forma de apresentação indireta na Bíblia como se referindo à própria essência da personalidade, a qual é identificada pelo bom nome da pessoa, como ocorre em Mateus 10.40, onde caráter foi vertido de onoma, no original grego, que significa nome.
Assim, podemos definir caráter como sendo o modo de viver segundo determinados valores específicos.
Teríamos assim um bom ou um mau caráter, dependendo destes valores.
Um bom caráter segundo o que é relativo ao mundo civil é portanto aquele que segue as regras e valores aprovados da sociedade em que se vive.
E um bom caráter segundo o que é relativo ao reino de Deus é aquele que segue as regras e os mandamentos de Deus.
Por conseguinte, todo o comportamento que sistematicamente viola estas regras, tanto num campo de abrangência, quanto noutro, pode ser dito pertencente a alguém de mau caráter.
A formação do caráter pode ser altamente influenciada pelo meio em que se vive, de modo que aqueles que andam com os sábios poderão vir a ser sábios, mas aquele que andar em má companhia poderá ter o seu caráter moldado por seus maus companheiros.
Do cristão se requer que seja um bom caráter tanto no chamado mundo civil, quanto no reino de Deus, porque lhe é imposto dar a César o que é de César e a Deus e o que é de Deus.
E, a propósito, não é possível ser um bom caráter segundo Deus, quando não se é um bom cidadão.
O Cristão carrega sobre si o bom nome de Cristo, e é seu dever portanto, moldar o seu caráter a este nome, porque importa que haja nele o mesmo caráter que há em Cristo, que em tudo é obediente ao Pai.
Um espírito santificado deve influenciar os hábitos de uma mente e de um corpo também santificados, porque tudo o que se pensa, se imagina, que se faz com o corpo, deve seguir o pendor do espírito e não o da carne (natureza pecaminosa).

“E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai.” (Fil 2.22)





2 - O Caráter e a Bem-Aventurança do Justo

“Mas regozijem-se todos os que confiam em ti; folguem de júbilo para sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome. Pois tu, Senhor, abençoas o justo e, como escudo, o cercas da tua benevolência.” (Sl 5.11,12)

I. O caráter do justo

Geralmente as pessoas se referem apenas às ações, e principalmente àquelas que dizem respeito aos homens. Mas isso daria uma visão muito parcial e inadequada do assunto.
A verdade é que, o caráter do homem é para ser estimado, não tanto por suas ações em relação aos homens, como pelo hábito de sua mente para com Deus. Não quero dizer que as ações não são necessárias para evidenciar a verdade e excelência do princípio interno, pois o princípio que é improdutivo de frutos santos, não tem valor, é um pretexto hipócrita, uma mera ilusão. Mas as ações, embora boas em si mesmas, como orações e doações, podem proceder de um princípio vicioso, e, em vez de serem aceitáveis a Deus, podem ser perfeitamente odiosas aos seus olhos. Assim, o justo é descrito pelos caracteres que não admitem qualquer dúvida:

1 . Eles confiam em Deus

Os justos têm uma visão de Deus como ordenando todas as coisas tanto no céu quanto na Terra. Eles sabem que, com certeza, nem mesmo um pardal cai por terra sem a sua permissão específica. Eles sabem que tanto homens e demônios são como instrumentos em suas mãos e que, no entanto inconscientes eles não podem ter qualquer poder governante, porque, de fato, cumprem a vontade do Deus Todo-Poderoso. Assim, qualquer ação que efetuem, eles a recebem como de Deus, e tudo o que seja planejado contra eles, eles se sentem protegidos em suas mãos. Eles sabem que, sem ele, "nenhuma arma forjada contra eles pode prosperar", e que , através de seu cuidado gracioso, "todas as coisas devem trabalhar juntamente para o seu bem."
Davi foi exposto aos maiores perigos através da malícia de Saul, mas "ele se fortaleceu no Senhor seu Deus", e confiou todos os seus problemas a ele. Portanto, o verdadeiro santo, seja ele quem for, foge para Deus como um refúgio seguro, e se esconde sob a sombra de suas asas; certo de que, quando protegido dessa forma, nenhum inimigo pode assaltá-lo, nenhum mal encontrará acesso a ele.
Eles confiam na graça de Deus, bem como em sua providência. Eles estão bem seguros, de que não há esperança para eles em si mesmos, especialmente no que diz respeito à obtenção de reconciliação com Deus, ou o cumprimento de sua santa vontade. Na misericórdia de Deus, portanto, e sobre os méritos de seu Salvador, eles dependem de perdão e aceitação, e no Senhor Jesus eles procuram por essas fontes de graça, conforme as suas necessidades o exijam.
Renunciando a toda confiança em si mesmos, eles vão para a frente, dizendo: " No Senhor há justiça e força."

2. Eles amam a Deus

Eles contemplam suas gloriosas perfeições, especialmente como são manifestadas no Filho do seu amor, que é o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa divina; e com santa admiração eles se prostram diante dele, dizendo: “Quão grande é a sua bondade! Quão grande é a sua formosura!" Eles também contemplam com admiração e gratidão o amor que ele tem lhes mostrado, em escolhê-los, desde antes da fundação do mundo, para serem os monumentos de sua graça, e, por lhes dar tais suprimentos do seu Espírito, para efetuar eficazmente a sua  salvação.
É também citado que "para aqueles que creem, Cristo é precioso." Sim, o seu próprio nome é como o unguento derramado; e ouvir e falar dele é o trabalho mais prazeroso de suas almas.
Agora, eu digo, estas são as virtudes características do justo; e estas são as graças que são de suprema excelência aos olhos de Deus. É evidente que, pelo exercício destas disposições Deus é mais honrado do que em todos os atos externos que possam ser executados, porque ele próprio é o objeto que eles têm por fim almejar, e cuja glória eles promovem.
Em ligação imediata com estas disposições está a,

II. Sua bem-aventurança

1. Quem é tão alegre como eles?

1. "Regozijem-se", diz o salmista, sim, "encham-se sempre de alegria”.  Este é o seu privilégio; este é o seu dever. O mandamento do próprio Deus é: "Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.", “Regozijai-vos sempre, porque esta é vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." É verdade que existem épocas de humilhação, bem  como para a alegria; mas é verdade também que, embora, na  experiência mundana, há uma oposição direta entre estes dois sentimentos, de modo que eles não podem co-existir, eles podem existir simultaneamente nos santos em funcionamento harmonioso. De fato, não há alegria mais sublime do que aquela que surge da tristeza do arrependimento, e que é temperada por contrição. A própria postura dos santos glorificados no céu, testemunha isto, porque eles se prostram sobre seus rostos diante do trono, e cantam em voz alta: "Àquele que nos ama, e, pelo seu  sangue, nos libertou dos nossos pecados,". Mas você vai particularmente perceber o que é dito: "Eles se alegram nele", e não em si mesmos, mas somente em Cristo, no qual todo o seu refrigério é achado.

2 . Quem tem tal motivo de alegria como eles ?

Eles já estão sob o cuidado e a proteção do seu Deus , “que os  defende" dos assaltos de todos os seus inimigos, e que prometeu a si mesmo ser o seu protetor até o fim; como diz Davi: “Pois tu, SENHOR, abençoas o justo e, como escudo, o cercas da tua benevolência." Há, em outro salmo, uma expressão marcante, que bem ilustra isso: "Tu os escondes no secreto da tua presença." O crente , quando sensato da presença de Deus com a sua alma, tem uma certeza da sua proteção, como se visse com seus olhos físicos, todo o céu cheio com carros de fogo, com cavalos de fogo, para a sua defesa. Ele então concebe em sua mente a ideia de que Deus é um muro de fogo em redor dele, e que quem pensar em escalá-lo não somente irá falhar, mas perecerá na tentativa. Na verdade, sentir-se assim, no próprio seio do nosso Deus é uma alegria indizível e cheia de glória.

APLICAÇÃO

Procure ser verdadeiramente justo. Não te esqueças em que este caráter consiste principalmente. Procure conhecer a Deus, confie nele, ame-o, conhecendo-o como ele se revelou em seu Evangelho, e confie nele como o Deus da Aliança e Salvador; e ame-o com todo o seu coração, e mente, e alma, e força. Deixe que um senso de sua presença contigo seja a tua principal alegria, e cada ação da tua vida seja realizada para a sua glória. Então você será preservado de todos os inimigos, e será abençoada a sua antecipação do céu.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon em domínio público.





3 - Caráter e Personalidade

Definições de caráter do dicionário Aurélio e da Wikipédia:
Caráter é o termo que designa o aspecto da personalidade responsável pela forma habitual e constante de agir peculiar a cada indivíduo; esta qualidade é inerente somente a uma pessoa, pois é o conjunto dos traços particulares, o modo de ser desta; sua índole, sua natureza e temperamento.
Caráter é o conjunto das qualidades, boas ou más, de um indivíduo lhe determinam a conduta e a concepção moral; seu gênio, humor, temperamento, este, sendo resultado de progressiva adaptação constitucional do sujeito às condições ambientais, familiares, pedagógicas e sociais.
Caráter é a qualidade inerente a uma pessoa; o que a distingue de outra pessoa. Traços psicológicos, o modo de ser, de agir de uma pessoa; Índole.
A verdade em que você acredita determina seu caráter.
Define-se a personalidade como tudo aquilo que distingue um indivíduo de outros indivíduos, ou seja, o conjunto de características psicológicas que determinam a sua individualidade pessoal e social.
A formação da personalidade é processo gradual, complexo e único a cada indivíduo. O termo deriva do grego persona, com significado de máscara, designava a "personagem" representada pelos atores teatrais no palco. O termo é também sinônimo de celebridade. Pode-se definir também personalidade por um conceito dinâmico que descreve o crescimento e o desenvolvimento de todo sistema psicológico de um indivíduo, outra definição seria: a organização dinâmica interna daqueles sistemas psicológicos do indivíduo que determinam o seu ajuste individual ao ambiente. Mais claramente, pode-se dizer que é a soma total de como o indivíduo interage e reage em relação aos demais.
Até aqui as definições encontradas na Internet.
Tanto o caráter quanto a personalidade por fazerem parte inerente do ser, não constam como palavras separadas no texto bíblico, tanto no original hebraico do VT, quando no grego do NT.
Assim, deve ser visto de modo subentendido quando os traços de caráter e personalidade são citados na Bíblia.
Por exemplo; em Provérbios 16.27-29, onde se lê:
27 O homem vil suscita o mal; e nos seus lábios há como que um fogo ardente.
28 O homem perverso espalha contendas; e o difamador separa amigos íntimos.
29 O homem violento alicia o seu vizinho, e guia-o por um caminho que não é bom.
Podemos ler:
27 O homem de caráter vil suscita o mal....
28 O homem de caráter perverso espalha contendas...
29 O homem de caráter violento alicia o seu vizinho...
Em Isaías 32.7, onde se lê:
7 Também as maquinações do fraudulento são más; ele maquina invenções malignas para destruir os mansos com palavras falsas, mesmo quando o pobre fala o que é reto.
Podemos ler:
7 Também as maquinações do homem de caráter fraudulento são más...
Em Atos 2.22, onde lemos:
22 Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis;
Podemos ler:
22 Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão de caráter aprovado por Deus...
Em Filipenses 2.22, onde lemos:
22 Mas sabeis que provas deu ele de si; que, como filho ao pai, serviu comigo a favor do evangelho.
Podemos ler:
22 Mas sabeis que provas deu ele de seu caráter...
Em 2 Timóteo 2.15, onde lemos:
15 Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
Podemos ler
15 Procura apresentar-te diante de Deus com caráter aprovado...
Vemos assim que tanto traços viciosos, quanto virtuosos podem compor o caráter de uma pessoa, e tanto mais puro e bom é o caráter quanto maior é o número de virtudes que se possui, e um comportamento que seja condizente com as referidas virtudes.
Não basta portanto crer num sistema de valores e aprová-lo, pois o caráter não é determinado somente pelo que se crê e se aprova, mas sobretudo pela prática de nossas crenças, estando nossa personalidade moldada e definida pelas mesmas.
A bem-aventurança, conforme podemos ver nas palavras de Jesus no Sermão do Monte, não depende das circunstâncias da vida de uma pessoa, mas dos traços do seu caráter conforme são destacados por ele especialmente no começo do quinto capítulo do evangelho de Mateus.
Este caráter é definido como um estado interno de ser.
Esse caráter cristão deve ser formado na própria estrutura da natureza moral.
Todas as formas de comportamento que Jesus destacou no Sermão do Monte revelam que o caráter deve ser forjado na estrutura da natureza moral – não de uma moralidade formal e externa, mas interna, vital e espiritual.
É a posse de tal tipo de caráter que vai determinar que nossas ações sejam feitas com base em motivos corretos.
O caráter aprovado é portanto um dom de Deus, concedido àqueles que se se consagram a Ele e ao Seu serviço, àqueles que buscam com toda a diligência conhecer e fazer a Sua vontade.
E como tudo o mais que cresce no Reino de Deus, o caráter cristão também se tornará cada vez mais puro e forte, à medida que fizermos progresso em santificação pela Palavra aplicada pelo Espírito Santo às nossas vidas.
Mas isto não é possível sem consagração.
A consagração é um ato da vontade de trazer nossas faculdades, especialmente da alma e do espírito, sob a influência de um santo propósito. Ela consiste sobretudo em nos submetermos à instrução, direção e poder do Espírito Santo.
O refino da fé pelas provações também é outro fator importante na formação do caráter cristão, porque o homem de coração dobre nada obterá do Senhor, de modo que aquele que confia no Senhor há de receber dele um caráter firme e inabalável que o manterá fiel à Sua Palavra em todas as circunstâncias.
O crente deve ter como o propósito supremo de sua vida, a obtenção de tal caráter. Para isto deverá se esforçar, buscar e orar sem cessar. É do agrado de Deus formar em nós progressivamente o caráter de Cristo, mas ele determinou que isto deve ser buscado com toda a diligência, e para tanto devemos pedir-lhe que o forje em nós.
O caráter se comprovará bom e forte à medida que resista às provações e tentações, ou seja, sem sombra de variação em nosso comportamento quando a elas submetidos.
Muito do nosso caráter e personalidade é fortemente impactado e reorientado quando nos convertemos a Cristo e nascemos de novo do Espírito Santo. Todavia, há de se completar, pelo mesmo processo de operação sobrenatural do Espírito, o trabalho do aperfeiçoamento da nossa personalidade e caráter, pela remoção progressiva dos hábitos e comportamentos inerentes ao velho modo de vida, e pela implantação também progressiva das virtudes de Cristo.
Convicções arraigadas, e ainda que coerentemente determinantes no nosso modo de proceder, e que nos tenham conferido um caráter firme, deverão ser desarraigadas caso não se conformem ao padrão bíblico e divino.
Veja que o caráter cristão não é própria e necessariamente o tipo de caráter que é aplaudido pelo mundo, pelo simples fato de alguém ser firme e coerente com suas convicções, ainda que aparentemente boas. Este era o caso típico dos fariseus dos dias de Jesus, que eram considerados como pessoas santas pela sociedade judaica de um modo geral, pela forma determinada com que defendiam suas tradições religiosas, e, no entanto, Jesus os denunciou como sendo hipócritas e adulteradores da Palavra de Deus. Eles não praticavam as coisas que eles ensinavam.
Os fariseus não podiam dar uma resposta favorável à demanda religiosa verdadeira porque não criam em Cristo – não tinham, por conseguinte, a habitação, direção e instrução do Espírito Santo, e estando mortos espiritualmente não podiam refletir a vida e o vigor da verdadeira espiritualidade.
O caráter do crente não é formado por um mero esforço unilateral da sua parte, mas sobretudo pela infusão de poder que recebe do Espírito Santo que nele opera implantando a lei de Deus em sua mente e coração (Jeremias 31.33).
Assim, o grande ponto de partida para a formação do caráter cristão se encontra na regeneração, ou seja, no novo nascimento pelo Espírito Santo.
O caráter cristão é determinado portanto pela constância em se andar no Espírito (Gálatas 5.16) de modo que se tenha a mente e o caráter de Cristo. Este caráter não se encontra propriamente em nós – ele é recebido e moldado a partir do céu – daí o apóstolo afirmar que já não vive mais o crente pelo seu ego, mas por Cristo que nele vive.
É de Deus que se recebe o aprendizado de se ter firmeza na verdade em face de oposições, sejam elas de qual natureza for. É dele que recebe o desapego ao mundo e à própria vida, e a não temer a face do homem quando importa obedecer à Sua vontade. Isto não nos vem da noite para o dia, mas na longa jornada da vida cristã, crescendo em estatura espiritual diante de Deus e dos homens.
Mas como vivemos em dias em que é comum a busca do prazer pelo prazer, conforme afirmação do apóstolo que nos últimos dias os homens seriam mais amantes dos prazeres do que de Deus, quando a filosofia reinante na sociedade é de caráter hedonista, devemos lembrar continuamente das palavras de nosso Senhor de que aquele que não renunciar a tudo o que tem, inclusive à sua própria vida, não pode ser seu discípulo, ou seja, não poderá aprender dele o que convém.
O alvo da vida cristã não é proporcionar prazer, não é o de aumentar nossos níveis de serotonina e dopamina, para que tenhamos a sensação de bem-estar, pois isto pode ou não estar presente em nossas vidas, nos combates que temos que travar contra a carne, o diabo e o fascínio do mundo.
Um crente pode ser melancólico, como era David Brainerd, e tantos outros, e no entanto, sustentar um caráter santo e justo admirável.
Veja que nas bem-aventuranças Jesus destaca como motivo de grande regozijo espiritual o fato de sofrermos perseguições por amor do Seu nome. Ele afirma que bem-aventurado é o que chora, e certamente o choro ali referido não é o de alegria, mas o de contrição pelo pecado e de arrependimento.
O que vale no caráter do cristão é o sim, sim, não, não, o que passa disso é de procedência maligna.
E este “sim” e este “não” são respectivamente, o sim para o que é verdadeiro santo e justo, e o não para o que é falso, ímpio e injusto, não apenas refletido em palavras, mas sobretudo na prática da vida; pois é pelo tipo de fruto que produz que o caráter da árvore é conhecido.





4 - Desonestidade: Desvio de Caráter?

Texto de autoria do Pr. Márcio Pereira de Andrade – Maringá - PR

Desonestidade: Desvio de caráter? Os desafios bíblicos para uma vida de integridade.

Texto: Amós 5:18-27

Introdução: Vamos estudar os ensinos bíblicos acerca da honestidade. Ela é um requisito fundamental para o nosso bem-estar.

Ainda que o indivíduo tenha todas as condições fundamentais para a sua subsistência, como as de alimentação, de saúde, instrução, etc, se lhe faltarem os requisitos de natureza moral, espiritual, relacionados ao caráter, nada irá bem.
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Haverá apenas sofrimentos, desprestígio e fracassos constantes. Por isso, vamos analisar o que a Bíblia ensina sobre o nosso caráter, no que diz respeito à honestidade.
I. Deus ama os honestos
As Escrituras Sagradas são repletas de ensinos em torno da honestidade, especialmente na vida dos crentes. O pecado de Adão foi ato de dolosa desonestidade. O primeiro homem falhou, não honrando ao seu Criador e Pai, e pecou, Gênesis 3:1-7. É fato que Deus sempre fez questão de que seus servos fossem honestos, decentes, corretos; homens justos, SaImo 101:6. Abraão foi escolhido como homem bom, amigo, honesto, Gênesis 12:1-9.
O Salmo 24 descreve o cidadão do Reino de Deus: é o homem de mãos limpas, de coração puro, sem subterfúgios ocos e que sabe cumprir a palavra empenhada, v. 3, 4. São pessoas que desfrutam de intimidade com Deus: Buscam a presença do Deus de Jacó " v. 5. Judas se arruinou antes de trair seu Mestre, sendo desonesto e falso no seu trato com os outros.
O Brasil precisa de homens de caráter e honrados. Alguém já escreveu na imprensa brasileira "que a crise da Nação não é outra senão crise de caráter, a falta de mais homens de bem, decentes e honrados''. E verdade, e devemos orar ao Senhor, rogando-lhe cidadãos desse tipo para o país. E nós mesmos devemos nos empenhar em sermos esse padrão de homens que o mundo espera ver no crente. Vejamos como isso é possível.
II. A honestidade pessoal - que é?
As palavras honestidade, honesto e derivados vêm de uma raiz latina que significa "aquilo que dá lustro, brilho, adorno, honra". Que sentido tem esse termo? De modo geral, a honestidade é qualidade do caráter, e se manifesta na conduta do homem. É a prática da retidão em tudo. Daí, significa aquilo que é decoroso, honrado, digno, decente. É a maneira de portar-se com honorabilidade, justiça, com irrepreensível modo de viver.
A Bíblia faz diversos comentários sobre o significado da honestidade. O texto de Filipenses 4:8-9 é uma boa fórmula da honestidade cristã: "Tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo. puro, amável, de boa fama, virtuoso e digno de louvor”. São oito ingredientes simples, claros, que toda a gente aprecia e louva.
Ser justo, em essência, é ser honesto. De acordo com o apóstolo Paulo, no texto de Efésios 4:24-32, isso é uma consequência da regeneração, v. 24. Todo o homem honesto anda em justiça e retidão que provém da verdade, v. 24; foge de qualquer malícia, v. 31; anda na luz, fugindo às trevas do erro, do mal, da falsidade e da hipocrisia. A honestidade pessoal é, sem dúvida, um efeito da nossa "santa vocação", pois fomos chamados por Deus a uma vida digna, mansa, humilde e boa, Efésios 4:1-2.
De acordo com os ensinos bíblicos, a honorabilidade consiste em viver de acordo com as coisas elevadas, Colossenses 3:1-2. Jesus afirmou que "são bem-aventurados os limpos de coração", Mateus 5:8. A comunhão com o Pai exige sinceridade, retidão, probidade espiritual. Probidade é a integridade de caráter, próprio do homem honrado e reto. Deus espera tais atitudes dos que o amam e afirmam ser seus servos.
III. Perigos da falta de caráter
Nos textos proféticos indicados para as leituras diárias, você pode observar alguns fatos chocantes na história de Israel. Entre eles a inexistência da honestidade, da retidão na vida e nos atos do povo e dos líderes. Veja Amós 8:4-7. São revelações terríveis. Deus teve que suscitar Amós, um pastor de ovelhas, acostumado ao serviço árduo do campo, como profeta, para despertar os que pecaram em Israel, e que agiam contra, a justiça. Vejamos as críticas que ele fez ao seu povo:
1. ". . . anelais o abatimento do necessitado, e destruís os miseráveis da terra", Amós 8:4 - Era o abuso praticado contra os que nada tinham, tornando a vida difícil e cara, oprimindo-se aos menos favorecidos. Havia gente aproveitando-se da situação para explorar os pobres, Amós 8:4-5. Tão grande era a avareza, a ganância e a vontade de fazer comércio, para obter maiores lucros, que desejavam que os dias santos e de cultos, bem como as festas religiosas e os sábados semanais, passassem depressa, pois nesses dias os negócios ficavam parados, II Reis 4:23; I Samuel 20:5, 18; Oséias 2:11.
2. ". . . diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganosas", Amós 8:5 Assim se originava a desonestidade. Nos dias de Amós já roubavam nas medidas e pesos. O efa era medida de sólidos, valendo cerca de 36 litros; e os siclos, peças de prata ou de ouro, que se trocavam por gêneros, grãos, hortaliças, etc. Também já estava em uso o sistema de balanças, fraudulentamente preparadas. Era a fraude, o engano na vida comercial. Pura desonestidade!
3. ". . . para comprarmos os pobres por dinheiro, e os necessitados por um par de sapato. E depois vendermos o refugo do trigo", Amós 8:6 - Era a opressão, o abuso da situação de necessidade dos menos favorecidos, dos pobres. Faziam-se empréstimos com juros extorsivos, e exigiam-se tremendas hipotecas, de modo que os pobres, não tendo com que pagar, então eram obrigados a entregar aquilo que haviam empenhado. Cobrava-se caríssimo até o que era mais barato no mercado: um par de sapato! Era a tirania, a falta de caridade, a desonesta transação carregada de ambições sem medida. Por outro lado, enganava-se o pobre, vendendo-se-lhe o gênero já depreciado, de má qualidade, como se fosse bom, de primeira e sadio, v. 6. Quanta gente há hoje que tem esse mesmo tipo de atitude em seus negócios.
Uma leitura de Efésios 4:24-32 revela como o apóstolo Paulo teve que reagir, no seu tempo, contra os males da improbidade, tão comuns na época e que não podiam ser admitidos na vida dos novos conversos ao Evangelho. O crente não pode continuar desonesto, como era no mundo, porque é "homem novo", Efésios 4:24. O apóstolo cita uma série de pecados: a mentira, 4:25; ira, 4:26; furto, 4:28; mau exemplo, desde as palavras até os costumes, 4:29, 30; a malícia e suas consequências, 4:31. Em nossos dias há muitos hábitos que mostram que vivemos uma crise de retidão, justiça e dignidade. Enumeraremos alguns deles. É muito comum hoje:
1. Tomar emprestado objetos, livros ou recursos e não devolvê-los e nem pagar.
2. Não honrar a palavra ou compromissos assumidos.
3. Faltar com a pontualidade e horário.
4. Mentir por "brincadeira" e por exagero, principalmente nos negócios.
5. "Colar" em estudos e exames.
6. Praticar lucros exagerados e usura criminosa.
7. Fazer negócio ou "arranjos", por linhas às avessas.
8. Lançar tropeços, fraudes para enganar outros.
9. Expor objetos à venda com nomes falsos: algodão por seda, mercadoria nacional por estrangeira, objetos frágeis como se fossem fortes; produtos misturados, como se fossem puros.
10. Falsificar remédios.
11. Empregados que fazem mau uso do tempo.
12. Fraudar o fisco, nos impostos, nas taxas.
13. Firmar namoro e noivado fictícios, isto é, sem o real propósito da concretização de lares.
14. Manter falsa espiritualidade na religião.
15. Iludir de qualquer forma a terceiros.

Conclusão: Que atitude você vai tomar? O crente tem que ser sal e luz, mesmo vivendo numa sociedade corrupta e corruptora.

Pr. Márcio Pereira de Andrade – Maringá - PR





5 - Escrito na Mente e no Coração

Quando lemos o Sermão do Monte, em Mateus 5 a 7, costumamos pensar que estamos diante de um novo código de leis, que nos foram dadas por Jesus Cristo para cumprirmos em complemento aos mandamentos da Lei de Moisés.
Todavia, a intenção de nosso Senhor Jesus Cristo não foi esta, mas a de revelar quais são as características pessoais e circunstâncias que acompanharão aqueles que foram tornados cidadãos do reino dos céus, por meio da fé nEle, e por terem nascido de novo do Espírito Santo.
Ali está descrito sobretudo, quais são as atitudes, pensamentos, ações e o programa de vida de um cristão amadurecido.
Dizemos amadurecido, porque ninguém amará seus inimigos, perdoará seus ofensores, orará pelo bem dos que lhe perseguem, e bendirá os que lhe amaldiçoam, ou ainda, não reclamará o que se considera seus direitos legítimos quando sofrer injustiças, caso não tenha feito progresso no crescimento na fé, na graça e no conhecimento pessoal de Jesus Cristo, sendo e agindo como o Seu Mestre.
A glória de Deus é ser amoroso, misericordioso, longânimo, bondoso, perdoador, para com todos, inclusive para com os piores pecadores.
E assim como Ele é, importa que sejam aqueles que se tornaram seus filhos amados, por meio da fé em Cristo.
Então o Senhor delineou no Sermão do Monte, quais são as características essenciais que estarão presentes naqueles que se converterem a Ele, como resultado do fruto do Espírito Santo, que operou neles a regeneração (novo nascimento espiritual) e a santificação (mortificação das obras da carne e revestimento das suas virtudes divinas). Cristãos amadurecidos não são dominados por amarguras, iras, contendas, gritarias, glutonarias, e todas as demais obras da carne que são nomeadas na Bíblia.
Cristãos amadurecidos são longânimos, como Deus é completamente longânimo. São amorosos, como Deus é amoroso. São misericordiosos, como Deus é misericordioso. Não são legalistas, moralistas, acusadores, mas promotores do amor, da paz, do perdão, da oferta da justiça de Cristo para a justificação dos que se encontram presos às amarras do pecado. São tardios para se irar e para falar, e prontos para ouvir, porque sabem que a ira do homem não promove a justiça de Deus, mesmo quando esta ira é motivada pela defesa dos princípios de Deus contra o pecado.
A propósito, era justamente isto o que Tiago queria ensinar quando escreveu a epístola que leva o Seu nome. Ele indicou a necessidade de se aprender a ser paciente e longânime, debaixo das mais variadas provações, porque estas visam ao aperfeiçoamento espiritual do cristão, para que seja conformado ao caráter amoroso, longânime, bondoso e paciente do próprio Deus. Não estava portanto escrevendo uma cartilha de bons modos, ou de procedimentos sociológicos e psicológicos para sermos bem sucedidos em possíveis demandas e disputas com o nosso próximo, por nos mantermos serenos e calados.
O que ele tinha em foco, tal como o Seu Senhor no Sermão do Monte, era muito mais profundo e significativo do que isto. A semelhança com Jesus Cristo em tudo. Este é o alvo principal. A vida de Cristo manifestada no comportamento do cristão. Este é o ponto central. E isto não é obtido por mero conhecimento intelectual da vontade revelada de Deus nas Escrituras. Tem a ver com experiências reais transformadoras da graça de Jesus, do poder do Espírito Santo, dando-nos um novo coração e um crescimento progressivo na obtenção das virtudes espirituais do próprio Deus.
Foi para esta exata imagem e semelhança com o caráter santo de Deus que o homem foi criado por Ele. De modo que saberemos que temos sido aperfeiçoados em tal caráter, quando virmos as realidades afirmadas no Novo Testamento, sendo implantadas no nosso viver diário, especialmente pela forma como agimos nas situações que nos são adversas. Então temos estas leis, se é assim que devemos considerá-las (porque são inscritas por Deus na nossa mente e coração, ou seja, farão parte da nova natureza recebida pela fé), como as leis principais que devemos observar e praticar: a do amor a Deus, à Sua Palavra e ao próximo; a da paciência na tribulação; a da longanimidade na provocação; a da fé e do ânimo constante nas aflições; a da mansidão, da paz de mente e coração nas perturbações.
Na verdade, nada disto se obtém por uma simples vontade de cumprir a lei ou o mandamento, mas por uma andar constante no Espírito Santo, debaixo de um temor e amor real a Cristo.
Gál 5:16-25:
Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.














19) CARNALIDADE E NATUREZA TERRENA


ÍNDICE

1 - A inclinação da carne é inimizade contra Deus
2 - O Governo Usurpador da Alma Sobre o Nosso Espírito
3 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap VII
4 - A REAL CONDIÇÃO DA NATUREZA HUMANA
5 - O HOMEM É INIMIGO DE DEUS
6 - A Carnalidade é Inimiga de Deus
7 - Andar Segundo a Carne
8 - As Dez Marcas do Homem Carnal 


1 - A inclinação da carne é inimizade contra Deus

Por Charles Haddon Spurgeon

(texto traduzido e com poucas adaptações feitas pelo Pr Silvio Dutra)

“Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus.”
Romanos 8:7

Esta é uma denúncia muito solene que o apóstolo Paulo formula contra a mente carnal. Ele a declara como inimiga de Deus. Quando relembramos o que o homem foi uma vez, considerado apenas um pouco menor do que os anjos; aquele companheiro que passeava com Deus no jardim do Éden durante o dia. Quando pensamos que o homem foi criado à imagem de seu Criador, puro, sem mancha e imaculado, não podemos nos sentir nada menos do que amargamente afligidos ao descobrir uma acusação como esta, proferida contra nós como raça. Devemos pendurar nossas harpas sobre os salgueiros ao ouvir a voz de Deus, quando fala solenemente à Sua criatura rebelde.

Sentimos-nos extremamente tristes quando contemplamos as ruínas de nossa raça. Como o cartaginês que ao pisar o lugar desolado de sua mui amada cidade, derramou lágrimas abundantes quando a viu convertida em escombros pelos exércitos romanos; ou como o judeu que perambulava pelas ruas desertas de Jerusalém, enquanto lamentava que a grade do arado tivesse desfigurado a beleza e a glória dessa cidade que era a alegria de toda a terra; assim deveria doer em nós, por nossa raça, quando contemplamos as ruínas dessa excelente estrutura que Deus formou, essa criatura sem rival em simetria, com um intelecto superado somente pelo intelecto dos anjos, esse poderoso ser, o homem, quando contemplamos como caiu, e caiu, e caiu de sua elevada condição, convertido em uma massa de destruição.

Há alguns anos atrás, podíamos observar uma estrela que resplandecia com um brilho inusitado, mas subitamente desapareceu; chegaram a fazer conjeturas de que se tratava de um mundo que ardia a bilhões de quilômetros de nós, mas ainda assim, os raios dessa conflagração chegaram até nós; o silencioso mensageiro de luz deu o alarme aos remotos habitantes deste globo: “um mundo arde!” Mas, que importância tem a conflagração de um planeta distante; o que é a destruição do elemento material do mundo mais gigantesco, comparada com esta queda da humanidade, com este naufrágio de tudo o que é santo e sagrado em nós?

Para nós, na verdade, as coisas dificilmente se podem comparar, pois estamos profundamente interessados em uma destruição, mas não na outra. A queda de Adão é NOSSA queda; caímos nele e com ele; sofremos da mesma maneira; lamentamos a ruína de nossa própria casa, deploramos a destruição de nossa própria cidade, quando nos detemos para captar estas palavras escritas de forma tão clara que não podem ser mal interpretadas: “A inclinação da carne” (esses mesmos desígnios que uma vez foram santos, e que passaram a ser carnais), “são inimizade contra Deus.” Que Deus me ajude nesta manhã a formular solenemente esta denúncia contra todos vocês! Oh, que o Espírito Santo nos convença de tal modo do pecado, que unanimemente nos declaremos “culpados” diante de Deus! Não há nenhuma dificuldade na interpretação do meu texto: mal necessita uma explicação. Todos nós sabemos que a palavra “carnal” aqui significa a natureza pecaminosa. Os antigos tradutores colocavam a passagem assim: “a mente posta na carne é inimiga de Deus”, ou seja, a mente não regenerada, essa alma que herdamos de nossos pais, essa natureza pecaminosa que nasceu em nós quando nossos corpos foram formados por Deus. A mente não regenerada, os desejos, as paixões da alma; isto é o que se separou de Deus e se converteu em Seu inimigo.

Antes que entremos em uma discussão da doutrina do texto, observem a forma vigorosa como o apóstolo se expressa: “A inclinação da carne,” diz, “é INIMIZADE contra Deus.” Ele usa um substantivo, e não um adjetivo. Não diz que simplesmente se opõe a Deus, mas sim que se trata de uma inimizade positiva. Não é o adjetivo negro, e sim o substantivo negrura; não é inimigo e sim a inimizade mesma; não é corrupto, mas sim a corrupção; não é rebelde, mas sim a rebelião; não é perverso, mas sim a perversão mesma. O coração ainda que seja enganoso, é engano positivo; é o mal concreto, pecado na sua essência; é a destilação, a quintessência de todas as coisas que são vis; não é ser invejoso de Deus, é a própria inveja; não é ser inimigo, é a inimizade real.

Não precisamos dizer uma palavra para explicar o que é “inimizade contra Deus.” Não acusa a natureza humana de ter simplesmente uma aversão ao domínio, às leis, ou às doutrinas de Deus; mas sim que atesta um golpe mais profundo e mais preciso. Não golpeia o homem na cabeça, mas penetra em seu coração; coloca o machado na raiz da árvore, e declara: “inimizade contra Deus,” contra a pessoa da Deidade, contra o Ser Supremo, contra o poderoso Criador deste mundo; não inimizade contra Sua Bíblia ou contra Seu Evangelho, ainda que isso seja verdade, mas sim contra Deus mesmo, contra Sua essência, Sua existência, e Sua pessoa. Analisemos então as palavras do texto, pois são palavras solenes. Estão muito bem expressadas por esse mestre da eloquência, Paulo e, além disso, foram ditadas pelo Espírito Santo, que ensina ao homem como se expressar corretamente. Que nos ajude a interpretar esta passagem, que nos deu previamente para Sua explicação.

O texto nos pede que tomemos nota, primeiro, da veracidade desta afirmação; em segundo lugar, da universalidade do mal que nos aflige; em terceiro lugar, vamos descer ainda mais às profundezas do tema com a intenção de que o gravem em seu coração, ao demonstrar a enormidade do mal; e depois disso, se o tempo alcança, vamos extrair uma doutrina ou duas do fato geral.

I. Primeiro, nos convida a falar sobre a veracidade desta grande declaração: “a inclinação da carne é inimizade contra Deus.” Não requer provas, pois como está escrito na palavra de Deus, nós, como cristãos, estamos obrigados a inclinar-nos diante dela. As palavras da Escritura são palavras de sabedoria infinita, e se a razão é incapaz de ver o fundamento de uma declaração desta revelação, está obrigada a crer nela mui reverentemente, pois estamos convencidos que ainda que esteja acima de nossa razão, não pode ser contrária a ela.

Aqui encontro que está escrito na Bíblia: “A inclinação da carne é inimizade contra Deus”; e isso, em si, me basta. Mas se fossem necessárias testemunhas, convocaria às nações da antiguidade; desenrolaria o volume de história antiga; comentaria-lhes os fatos terríveis da humanidade. Quem sabe comoveria suas almas até o aborrecimento, se lhes falasse da crueldade desta raça para consigo mesma, se lhes mostrasse como converteu a este mundo em Acéldama por suas guerras, e o inundou com sangue por suas lutas e assassinatos; se lhes enumerasse a negra lista de vícios em que caíram nações inteiras, ou lhes apresentasse as características de alguns dos mais eminentes filósofos, sentiria vergonha de falar deles e vocês se negariam a escutar. Sim, seria impossível que vocês, como refinados habitantes de um país civilizado, suportassem a menção dos crimes que foram cometidos por esses mesmos homens que hoje em dia são alçados como modelos de perfeição. Tenho medo de que se escrevêssemos toda a verdade, abandonaríamos a leitura das vidas dos mais poderosos heróis e dos sábios mais orgulhosos da terra, e diríamos de imediato de todos eles: “Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um.”

Quero lhes fazer ver os erros dos pagãos; quero falar-lhes das superstições de seus sacerdotes que submeteram as almas à superstição; quero que sejam testemunhas das horríveis obscenidades, dos ritos diabólicos que constituem as coisas mais sagradas para estes ofuscados indivíduos. Então, depois de terem ouvido o que constitui a religião natural do homem, eu pediria a vocês que me explicassem o que seria sua irreligião. Se esta é sua devoção, qual seria sua impiedade? Se este é seu ardente amor pela Deidade, qual seria seu ódio à mesma? Estou certo que vocês de imediato confessariam, se soubessem o que é na natureza humana, que a denúncia está sustentada e que o mundo deve exclamar sem reservas, sinceramente: “culpado”.

Posso encontrar um argumento adicional no fato de que as melhores pessoas têm sido sempre as mais dispostas a confessar sua depravação. Os homens mais santos, os que estão mais livres de impurezas, sempre sentiram com mais intensidade a sua depravação. O que tem suas vestes mais brancas, perceberá melhor as manchas que caíram nelas. O que possui a coroa mais reluzente, saberá quando perdeu uma pedra preciosa. O que dá mais luz ao mundo, sempre será capaz de descobrir sua própria escuridão. Os anjos do céu cobrem seus rostos; e os anjos de Deus na terra, Seu povo escolhido, sempre devem cobrir seus rostos com a humildade, quando se lembram do que foram.
Escutem a Davi: ele não era desses que se vangloriam de uma natureza santa e de uma disposição pura. Ele diz: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.”

Muitos desses santos homens escreveram aqui, neste volume inspirado, e encontraremos a todos confessando que não eram limpos, não, nem um sequer; e um deles exclamou: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?”

Além disso, chamarei a outra testemunha para que testifique a veracidade deste fato, e que decidirá a questão: será sua própria consciência. Consciência, te colocarei no banco das testemunhas para interrogar-te esta manhã! Consciência, diga a verdade! Não te drogues com o ópio da segurança em ti mesma! Testifica a verdade! Nunca ouviste dizer ao coração: “queria que Deus não existisse”? Por acaso todos os homens não desejaram, algumas vezes, que nossa religião não fosse verdadeira? Ainda que não puderam livrar suas almas inteiramente da idéia da Deidade, por acaso não desejaram que não existisse Deus? Não acariciaram o desejo de que todas estas realidades divinas fossem um engano, uma farsa e uma impostura? “Sim,” responde cada indivíduo, “isso me ocorreu algumas vezes; desejei poder entregar-me à insensatez. Desejei que não houvessem leis que me restringissem; desejei, como o insensato, que não houvesse Deus.”

Essa passagem dos Salmos que diz: “DISSE o néscio no seu coração: não há Deus,” está mal traduzida. A tradução correta deveria ser: “Diz o néscio no seu coração: não aceito a Deus. O néscio não diz em seu coração não há Deus, pois ele sabe que há um Deus; Ao contrário, afirma: “Não aceito a Deus, não preciso de nenhum Deus, queria que não existisse nenhum” E, quem de nós não foi tão insensato que não chegou a desejar que não houvesse Deus?

Agora, consciência, responde outra pergunta! Tu confessaste que algumas vezes desejaste que não existisse Deus; então, suponhamos que um homem desejasse a morte de outro. Acaso isso não demonstraria o seu ódio? Sim, demonstraria. E assim, meus amigos, o desejo de que Deus não exista, demonstra que temos aversão a Deus. Quando desejo a morte de outro e que apodreça no túmulo; quando desejo que seja um ser inexistente, devo odiar a esse homem; de outra forma não desejaria que fosse um ser extinto. Assim, esse desejo (e não creio que haja existido alguém no mundo que não o houvesse sentido), demonstra que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus.”

Mas, consciência, tenho outra pergunta! Acaso não desejaste alguma vez em teu coração, posto que há um Deus, que Ele fosse um pouco menos santo, um pouco menos puro, de tal maneira que essas coisas que agora são graves crimes, pudessem ser consideradas ofensas veniais, simples pecadinhos? Acaso não disseste nunca em teu coração: “Queria que estes pecados não fossem proibidos”. Queria que Ele fosse misericordioso para que os esquecesse sem requerer nenhuma expiação! Queria que não fosse tão severo, tão rigorosamente justo, tão severamente estrito na Sua integridade.” Coração meu, nunca disseste isso? A consciência deve responder: “Eu disse.” Bem, esse desejo de mudar a Deus, demonstra que não amas a Deus que é o Deus do céu e da terra; e ainda que fales de religião natural, e te glories de reverenciar ao Deus dos verdes campos, dos prados férteis, das águas abundantes, do retumbar do trovão, do céu azul, da noite estrelada, e do grandioso universo: ainda que tu ames o belo ideal poético da Deidade, não se trata do Deus da Escritura, pois tu desejaste mudar Sua natureza, e nisso demonstraste que estás inimizado com Ele. Mas, consciência, por que devo ficar fazendo rodeios? Tu podes ser uma testemunha fiel, se queres dizer a verdade, que cada pessoa aqui presente transgrediu de tal maneira contra Deus, quebrou tão continuamente Suas leis, violou Seu dia de repouso, espezinhou Seus estatutos, depreciou Seu Evangelho, que é muito certo, ai, sumamente certo que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus.”

II. Agora, em segundo lugar, tomemos nota da universalidade deste mal. Quão vasta é esta afirmação. Não é uma mente carnal singular, ou uma certa classe de características, senão “os desígnios da carne.” É uma afirmação sem restrições, que inclui a cada indivíduo. Qualquer mente que possa apropriadamente ser chamada carnal, se não foi espiritualizada pelo poder do Espírito Santo de Deus, é “inimizade contra Deus.”

Observem então, em primeiro lugar, a universalidade disto relativa a todas as pessoas. Toda mente carnal no mundo está inimizada com Deus. Isto não exclui nem sequer os bebês que se alimentam do peito da mãe. Nós os chamamos de inocentes, e na realidade são inocentes de transgressões reais, mas como diz o poeta: “no peito mais terno jaz uma pedra”. Na mente carnal de um bebê há inimizade contra Deus; não está desenvolvida, mas está ali. Alguns afirmam que as crianças aprendem a pecar por imitação. Mas não: Peguem uma criança, coloquem-na sob as influências mais piedosas, se assegurem que o próprio ar que respira seja purificado pela piedade, que saboreie santidade, que somente escute a voz da oração e do louvor; que seus ouvidos se mantenham afinados pelas notas do hino sagrado; e apesar de tudo isso, essa criança pode ainda se converter em um dos mais depravados transgressores; e ainda que na aparência esteja pronta em direção ao caminho do céu, descerá diretamente ao abismo se não é guiada pela graça divina.

Oh, quão certo é que alguns que tiveram os melhores pais, tenham se convertido nos piores filhos; que muitos que foram treinados sob a égide sagrada, em meio às mais favoráveis cenas de piedade, se converteram, contudo, em libertinos e dissolutos! Assim que não é por imitação, mas sim, pela natureza que a criança é má. Concordemos que a criança é carnal, pois meu texto diz: “a inclinação da carne é inimizade contra Deus”.

Escutei que um crocodilo recém-nascido, quando sai de sua casca, no mesmo instante se coloca em posição de ataque, abrindo sua mandíbula como se houvesse sido ensinado ou treinado. Sabemos que os jovens leões quando são domados e domesticados, conservam a natureza selvagem de seus semelhantes da selva, e se os colocassem em liberdade, caçariam tão ferozmente como os outros.

O mesmo acontece com a criança; podes amarrá-la com os verdes juncos da educação, podes fazer o que quiseres com ele, mas como não podes mudar seu coração, estes desígnios da carne estarão inimizados com Deus; e apesar do intelecto, do talento, e de tudo o que possam dar-lhe que seja proveitoso, será da mesma natureza pecaminosa como qualquer outra criança, ainda que na aparência sua natureza não seja tão má; pois “a inclinação da carne é inimizade contra Deus.” E se isto se aplica às crianças, igualmente inclui toda a classe de homens.

Há alguns homens que nasceram neste mundo dotados de espíritos superiores, que caminham por todos os lados como gigantes envoltos em mantos de luz e glória. Refiro-me aos poetas, homens que se destacam como colossos, mais poderosos que nós, que aparentam haver descido das esferas celestiais. Outros há, de intelecto afiado, que investigando os mistérios da ciência, descobrem coisas que estiveram ocultas desde a criação do mundo; homens de tenaz investigação e de vasta erudição; e, contudo, de cada um destes (poetas, filósofos, metafísicos e grandes descobridores), se dirá: “a inclinação da carne é inimizade contra Deus.”

Poderá treiná-lo, converter seu intelecto em algo quase angelical, fortalecer sua alma até que entenda o que constitui enigmas para nós, e os decifre com seus dedos num instante; poderás fazê-lo tão poderoso que possa entender os segredos ferrenhos dos montes eternos e pulverizá-los com seu punho; poderás dar-lhe um olho tão perspicaz que possa penetrar os mistérios das rochas e das montanhas; poderás agregar-lhe uma alma tão poderosa que possa matar a gigantesca Esfinge, que por muito tempo confundiu os sábios mais notáveis; mas mesmo que tenhas feito tudo isto, sua mente será depravada e seu coração carnal ainda estará em oposição a Deus.

E, ainda mais, podes levá-lo à casa de oração; podes expô-lo constantemente à pregação mais clara do mundo, onde escutará as doutrinas da graça em toda a sua pureza, e pregação acompanhada de santa unção; mas se essa santa unção não descansa nele, tudo haverá sido em vão: pode ser que assista com toda regularidade, mas, igual à piedosa porta da capela, que gira para dentro e para fora, ele seguirá sendo igual; poderá ter uma religião superficial externa, mas sua mente carnal estará inimizada com Deus.

Agora, esta não é uma afirmação minha, é a declaração da palavra de Deus, e podem colocá-la de lado se não acreditam nela; mas não discutam comigo, já que é a mensagem do meu Senhor; e é válida para cada um de vocês: homens, mulheres e crianças, e para mim também, que se não somos regenerados e convertidos, se não experimentamos uma mudança de coração, nossa mente carnal está inimizada contra Deus.

Além disso, tomem nota da universalidade disto em todo momento. A mente carnal está em todo momento inimizada com Deus. “Oh,” alguém dirá, “pode ser verdade que às vezes nos opomos a Deus, mas certamente nem sempre nos opomos.” “Há momentos,” dirá alguém, “quando sinto que me rebelo, algumas vezes minhas paixões me conduzem a desviar-me; mas certamente há outras ocasiões favoráveis quando realmente sou amigável com Deus, e lhe ofereço verdadeira devoção. Às vezes estive (continua o impugnador), no cume da montanha, até que toda minha alma se acendeu com a cena contemplada abaixo, e meus lábios pronunciaram o hino de louvor—

 “Estas são Tuas gloriosas obras, Pai de bondade,
Todo poderoso, Tua é esta estrutura universal,
Tão bela e maravilhosa: quão maravilhoso és Tu!”

Sim, mas preste atenção, o que é verdade hoje, não é falso amanhã; “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” todo o tempo. O lobo poderá estar adormecido, mas continua sendo lobo. A serpente, com seus tons camaleônicos, pode dormitar no meio das flores, e a criança pode acariciar seu dorso liso, mas continua sendo uma serpente; não muda sua natureza ainda que esteja adormecida. O mar é o albergue das tormentas, ainda que esteja plácido como um lago; o trovão continua sendo o trovão que retumba poderosamente, ainda que se encontre tão longe que não possamos escutá-lo. E o coração, ainda que não percebamos suas ebulições, ainda que não vomite sua lava, e não jogue as ferventes rochas de sua corrupção, continua sendo o mesmo temível vulcão. Em todo momento, a todas horas, a cada instante (digo isto segundo o que Deus diz), se vocês são carnais, cada um de vocês é inimizado contra Deus.
Temos outro pensamento relativo à universalidade deste enunciado. Todos os desígnios da carne são inimizade contra Deus. O texto diz: “A inclinação da carne é inimizade contra Deus”; isto é, todo o homem, cada parte dele: cada poder, cada paixão.

Seguidamente se perguntam: “Que parte do homem foi afetada pela queda?” pensam que a queda somente foi sentida pelos sentimentos, mas que o intelecto permaneceu incólume; eles argumentam isto sustentados na sabedoria do homem, e os impressionantes descobrimentos que foram feitos, tais como a lei da gravidade, a máquina a vapor e as ciências. Agora, eu considero estas coisas como uma exposição insignificante de sabedoria, quando as comparamos com o que se descobrirá dentro de cem anos, e diminutas quando comparadas com que o que se poderia descobrir caso o intelecto humano houvesse permanecido em sua condição original. Eu creio que a queda esmagou o homem completamente. Ainda que quando passou como uma avalanche sobre o poderoso templo da natureza humana, alguns elementos permaneceram intactos, e em meio às ruínas se pode encontrar por aqui e por ali, uma flauta, um pedestal, uma coroa, uma coluna, que não estão completamente quebrados, a estrutura inteira caiu, e suas relíquias mais gloriosas são coisas caídas, fundidas no pó.

O homem completo está estropiado. Olhem nossa memória; acaso não é verdade que a memória participa da queda? Eu posso recordar muito mais as coisas más que as coisas que tem cheiro de piedade. Se eu escuto uma canção lasciva, essa música do inferno ficará em meus ouvidos até que eu fique grisalho. Mas se escuto uma nota de santo louvor: ai!, me esqueço! Por que a memória aperta com mão de ferro as coisas más, mas sustém com dedos frágeis as coisas boas. A memória permite que o cedro glorioso dos bosques do Líbano flutue sobre a corrente do esquecimento, mas retém toda a imundície que chega flutuando da depravada cidade de Sodoma.

A memória recordará o mal, mas esquecerá o bem. A memória participa da queda. O mesmo ocorre com os afetos. Amamos as coisas terrenas mais do que deveríamos amá-las; rapidamente entregamos nosso coração a uma criatura, mas raras vezes o oferecemos ao nosso Criador; E quando o coração é entregue a Jesus, é propenso a se extraviar.

Olhem a nossa imaginação também. Oh! Como se deleita a imaginação quando o corpo se encontra em uma condição perniciosa. Somente deem ao homem algo que o leve a ponto de intoxicar-se; droguem-no com ópio; e como dançará sua imaginação cheia de alegria! Como pássaro liberto de sua jaula, como se renovará com asas mais vigorosas que as asas da águia! Vê coisas que nem sequer havia sonhado nas sombras da noite. Por que razão sua imaginação não trabalhou quando seu corpo se encontrava em um estado normal, quando era saudável? Simplesmente porque a imaginação é depravada; e enquanto não se introduziu um elemento imundo, enquanto o corpo não havia começado a estremecer-se com um tipo de intoxicação, a fantasia não pensava celebrar seu carnaval. Temos alguns esplêndidos exemplos do que o homem pode escrever, quando influenciado pela maldita aguardente. Pelo fato de que a mente é tão depravada, ela se encanta com tudo aquilo que põe o corpo em uma condição anormal; e aqui temos uma prova que a própria imaginação se extraviou.

O mesmo acontece com o juízo: posso demonstrar quão imperfeitamente decide. Também posso acusar a consciência, e dizer-lhe quão cega é ela, e como lhe cintila o olho ante os maiores desatinos. Posso examinar todos nossos poderes, e escrever na frente de cada um deles: “Traidor ao céu! Traidor ao céu!” Toda “a mente posta na carne é inimiga de Deus”.
Agora, meus queridos leitores, “somente a Bíblia é a religião dos protestantes”: mas sempre que reviso um certo livro tido em grande estima por nossos irmãos anglicanos, o encontro inteiramente ao meu lado, e invariavelmente sinto um grande deleite ao citá-lo. Vocês sabem que sou um dos melhores clérigos da Igreja da Inglaterra, o melhor, se me julgarem pelos Artigos, e o pior se me julgarem por qualquer outra norma?

Meçam-me pelos Artigos da Igreja da Inglaterra, e não ocuparia o segundo lugar ante ninguém abaixo do céu azul do firmamento, pregando o evangelho contido neles; pois se há um excelente epítome do Evangelho, se encontra nos Artigos da Igreja da Inglaterra. Permitam-me mostrar-lhes que não estiveram escutando uma doutrina estranha. Temos, por exemplo, o artigo nono, sobre o pecado de nascimento, o pecado original: “O pecado original não consiste em seguir a Adão (como o afirmam em vão os pelagianos), mas é a falha e a corrupção da natureza de cada indivíduo, que naturalmente é engendrada pela prole de Adão, pela qual o homem está sumamente distanciado da justiça original, e é por sua própria natureza propenso ao mal, de tal forma que o desejo da carne é contra o Espírito; e, portanto, toda pessoa vinda a este mundo merece a ira de Deus e a condenação.
E esta infecção da natureza efetivamente permanece, sim, nos que são regenerados; pelo qual a concupiscência da carne, chamada no grego: phronema sarkos, que alguns expõem como a sabedoria, a sensualidade, o afeto, o desejo da carne, não está sujeita à Lei de Deus. E ainda que não haja condenação para os que creem e são batizados, contudo o apóstolo confessa que a concupiscência e a lascívia têm em si a natureza do pecado. Não necessito mis nada. Acaso alguém que creia no Livro de Oração discordará da doutrina que “a mente posta na carne é inimiga de Deus”?

III. Eu disse que procuraria, em terceiro lugar, mostrar a grande enormidade desta culpa. Temo, meus irmãos, que seguidamente quando consideramos nosso estado, não pensamos tanto na culpa como pensamos na miséria. Algumas vezes tenho lido sermões sobre a inclinação do pecador ao mal, o que tem sido demonstrado com muito poder, e certamente o orgulho da natureza humana tem sido muito humilhado e abatido; mas me parece que há algo que deixamos fora, e que terá como resultado uma grande omissão, ou seja: a doutrina que o homem é culpado em todas estas coisas. Se seu coração está contra Deus, devemos dizer que o pecado é seu; e se não pode arrepender-se, devemos lhe mostrar que o pecado é a única causa da sua incapacidade para fazê-lo, (que toda sua separação de Deus é pecado), que o se manter afastado de Deus é pecado.
Temo que muitos dos que aqui estamos devemos reconhecer que não acusamos nossas próprias consciências desse pecado. Sim, dizemos, estamos cheios de corrupção. Oh, sim! Mas ficamos muito tranquilos.

Meus irmãos, não deveríamos fazer isto. Termos essas corrupções é nosso crime, que deve ser confessado como um mal enorme; e se eu, como um ministro do Evangelho, não enfatizasse o pecado envolvido nele, não teria encontrado seu próprio vírus. Teria deixado de fora a verdadeira essência, se não mostrasse que é um crime.
Agora, “a inclinação da carne é inimiga de Deus”. Quão grave é esse pecado! Isto se manifestará de duas formas. Considerem nosso relacionamento com Deus, e logo lembrem o que Deus é; e depois que eu houver falado destas duas coisas, vocês verão, espero, que é um pecado estar inimizados com Deus.

Que é Deus para nós? É o Criador dos céus e da terra; Ele sustenta os pilares do universo. Ele com Seu hálito, perfuma as flores. Com Seu lápis colore. Ele é o autor desta linda criação. “Somos ovelhas do seu pasto; Ele nos fez, e não nós a nós mesmos”. A relação que tem conosco é de Construtor e Criador; e por esse fato reclama ser nosso Rei. Ele é nosso Legislador, o autor da lei; e logo, para que nosso crime seja pior e mais grave, Ele governa a providência; pois é Ele quem nos guarda dia a dia. Ele supre nossas necessidades; Ele mantém o ar que nosso nariz respira. Ele ordena ao sangue que mantenha seu curso por todas nossas veias; Ele nos mantém com vida, e nos previne da morte; Ele está diante de nós como nosso Criador, nosso Rei, nosso Sustento, nosso Benfeitor; e eu pergunto: por acaso não é um crime de enorme magnitude, não é alta traição contra o imperador do céu, não é um pecado horrível, cuja profundidade não podemos medir com a sonda de todo nosso juízo, que nós, Suas criaturas, que dependemos dEle, estejamos inimizados com Ele?

Mas nós podemos ver que o crime é mais grave quando pensamos no que Deus é. Me permitam apelar pessoalmente a vocês em um estilo de interrogatório, pois isto tem muito peso. Pecador! Por que estás inimizado com Deus? Deus é o Deus de amor. Ele é amável com Suas criaturas. Ele te olha com Seu amor de benevolência, pois este mesmo dia Seu sol brilhou sobre ti, hoje tiveste alimento e roupas, e chegaste a esta capela com saúde e vigor. Odeias a Deus porque te ama? Essa é a razão? Considerem quantas misericórdias recebeste de Suas mãos durante tua vida! Não nasceste com um corpo disforme; tiveste uma tolerável medida de saúde; te recuperaste muitas vezes de doenças. Quando estavas no limiar da morte, Seu braço deteve tua alma do último passo de destruição. Odeias a Deus por tudo isto? O odeias porque salvou tua vida por Sua terna misericórdia? Contempla toda Sua bondade que estendeu diante de ti! Poderia ter te enviado ao inferno; mas estás aqui. Agora, odeias a Deus porque te conservou?

Oh, por que razão estás inimizado com Ele? Meu amigo, acaso não sabes que Deus enviou a Seu Filho procedente de Seu peito, e O pendurou na cruz, e ali permitiu que morresse pelos pecadores, o justo pelos injustos? E, odeias a Deus por isso? Oh, pecador, acaso é esta a causa de tua inimizade? Estás tão longe que agradeces com inimizade o amor? E quando te rodeou de favores, quando te cingiu com bênçãos, quando te cumulou de misericórdias, acaso O odeias por isso? Ele poderia dizer-te o mesmo que disse Jesus aos judeus: “Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?” Por quais destas obras odeiam a Deus? Se algum benfeitor terreno houvesse te alimentado, o odiarias? Se te houvesse vestido, o ultrajarias em sua face?

Se te houvesse dado talentos, tornarias contra ele estes poderes? Oh, fala! Forjarias o ferro de uma adaga e a cravarias no coração de teu melhor amigo? Odeias a tua mãe que te criou em seus joelhos? Acaso maldizes a teu pai que sabiamente velou por ti? Não, respondes, sentimos uma pequena gratidão por nossos parentes terrenos. Onde estão seus corações, então? Onde estão seus corações, que ainda podem depreciar a Deus, e estar inimizados com Ele? Oh, crime diabólico! Oh, atrocidade satânica! Oh, iniquidade indescritível! Odiar a Quem é todo amável, aborrecer ao que mostra misericórdia constante, desdenhar do que bendiz eternamente, escarnecer do bom, do cheio de graça; sobretudo, odiar a Deus que enviou a Seu Filho para que morresse pelo homem! Ah!, este pensamento: “A mente posta na carne é inimiga de Deus,” há algo que nos sacode; pois é um terrível pecado estar inimizados com Deus. Quisera poder falar com maior poder, mas somente meu Senhor pode fazê-los ver o enorme mal deste horrível estado do coração.

IV. Mas há uma ou duas doutrinas que procuraremos deduzir de tudo isto. Está a mente posta na carne “inimizada com Deus”? Então a salvação não pode ser por méritos; tem que ser por graça. Se estamos inimizados com Deus, que méritos poderíamos ter? Como podemos merecer algo do Ser que odiamos? Ainda que fôssemos puros como Adão, não poderíamos ter nenhum mérito; pois não creio que Adão tivesse algum merecimento diante de seu Criador. Quando tinha guardado toda a lei de seu Senhor, não era senão um servo inútil; não tinha feito mais do que tinha que fazer; não tinha um saldo a seu favor, não havia um excedente. Mas como nos tornamos inimigos, quanto menos podemos esperar ser salvos por obras! Oh, não; a Bíblia inteira nos diz, do principio ao fim, que a salvação não é pelas obras da lei, e sim pelos atos da graça.

Martinho Lutero declarava que ele pregava constantemente a justificação pela fé unicamente, “porque”, dizia, as pessoas tendem a se esquecer; de tal forma que me via obrigado a quase golpear suas cabeças com minha Bíblia, para que gravassem a mensagem em seus corações.” E é verdade que constantemente esquecemos que a salvação é somente pela graça. Sempre estamos tentando introduzir uma pequena partícula de nossa própria virtude; queremos cooperar com algo. Recordo um velho ditado do velho Matthew Wilkes: “Salvos por suas obras! É como se tentassem chegar a América em um barquinho de papel!” Salvos por suas obras! Isso é impossível! Oh, não; o pobre legalista é como um cavalo cego que dá voltas e voltas no moinho; ou como o prisioneiro que sobe os degraus da roda de moinho, e descobre que não subiu nada depois de todo o esforço que fez, não tem uma confiança sólida, não tem uma base firme onde possa apoiar-se. Não fez o suficiente: “nunca o suficiente”. A consciência sempre diz: “isto não é a perfeição; deveria ter sido melhor”. A salvação para os inimigos deve ser alcançada mediante um embaixador, por uma expiação, sim, por Cristo.

Outra doutrina que extraímos disto é: a necessidade de uma mudança completa de nossa natureza. É certo que desde que nascemos estamos inimizados com Deus. Quão necessário é, então, que nossa natureza tenha uma mudança! Há poucas pessoas que sinceramente crêem nisto. Eles pensam que se clamam: “Senhor, tem misericórdia de mim”, quando estão agonizando, irão ao céu diretamente. Permitam-me supor um caso impossível por um momento. Imaginemos um homem que está entrando no céu sem uma mudança em seu coração. Ele se aproxima das portas. Escuta um soneto. Ele se sobressalta! É um hino de louvor para o seu inimigo. Vê um trono, e nele está assentado Um que é glorioso; mas é seu inimigo. Caminha por ruas de ouro, mas essas ruas pertencem a seu inimigo. Vê hostes de anjos, mas essas hostes são os servos de seu inimigo. Ele se encontra na casa de um inimigo; pois ele está inimizado com Deus. Não pode unir-se aos cantos, pois desconhece a melodia. Ficaria ali parado, silencioso, imóvel, até que Cristo dissesse com uma voz mais potente que dez mil trovões: “Que fazes tu aqui? Inimigos no banquete das bodas? Inimigos na casa dos filhos? Inimigos no céu? Vá embora! Aparta-te, maldito, para o fogo eterno do inferno”!
Oh!, senhores, se os não regenerados pudessem entrar no céu. Trago uma vez mais à memória, o tão repetido ditado de Whitefield: seria tão infeliz no céu, que pediria a Deus que me permitisse precipitar-me ao inferno para buscar abrigo lá.
Deve haver uma mudança, se pensamos no estado futuro, pois, como poderiam os inimigos de Deus sentar-se no banquete das bodas do Cordeiro?
E para concluir, me permitam recordar-lhes (e depois de tudo está no texto), que esta mudança deve ser feita por um poder superior ao de vocês. Um inimigo pode possivelmente converter-se em amigo; mas não a inimizade. Se ser um inimigo fosse uma adição à sua natureza, ele poderia tornar-se um amigo; mas se é a essência mesma de sua existência ser inimizade, positiva inimizade, a inimizade não se pode mudar a si mesma. Não, devemos fazer algo mais do que podemos alcançar. Isto é precisamente o que se esquece nestes dias. Necessitamos mais pregação com a unção do Espírito Santo, se queremos ter mais obra de conversão. Eu digo a vocês, amigos, que se vocês operam a mudança em vocês mesmos, e se tornam melhores, e melhores, e melhores, mil vezes melhores, nunca serão o suficientemente bons para o céu. Enquanto o Espírito de Deus não haja posto Sua mão em vocês; enquanto não haja regenerado o coração, enquanto não haja purificado a alma, enquanto não haja mudado o espírito inteiro e não haja feito do homem uma nova criatura,
não poderão entrar no céu. Quão seriamente, então, deveriam fazer uma pausa e meditar. Eis-me aqui, uma criatura de um dia, um mortal nascido para morrer, contudo um ser imortal! Neste momento estou inimizado com Deus. Que farei? Acaso não é meu dever, assim como minha felicidade, perguntar se há uma maneira de ser reconciliado com Deus?
Oh!, esgotados escravos do pecado, acaso não são seus caminhos, sendas de insensatez? Acaso é sabedoria, oh meus amigos, é sabedoria odiar a seu Criador? É sábio estar em oposição a Ele? É prudente desprezar as riquezas da Sua graça? Se for sabedoria, é a sabedoria do inferno; se é sabedoria, é uma sabedoria que é insensatez para com Deus. Oh, que Deus nos conceda que possam voltar-se para Jesus com pleno propósito de coração! Ele é o embaixador; Ele é o único que pode estabelecer a paz por meio de Seu sangue; e ainda que vieram aqui como inimigos, é possível que atravessem essa porta como amigos, se não fazem senão olhar a Jesus Cristo, a serpente de bronze que foi alçada.
E agora, pode ser que alguns de vocês tenham sido convencidos do pecado, pelo Espírito Santo. Eu agora vou proclamar o caminho da salvação. “E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna.” Contempla, oh temeroso penitente, o instrumento de tua libertação. Volta teus olhos cheios de lágrimas para aquele Monte do Calvário! Olha a vítima da justiça, o sacrifício de expiação por tua transgressão. Olha para o Salvador em Suas agonias, comprando tua alma com torrentes de Seu sangue, e suportando teu castigo em meio às agonias mais intensas. Ele morreu por ti, se confessas tuas culpas agora. Oh, vem tu, homem condenado, auto condenado, e volta teus olhos a este caminho, pois um só olhar salvará. Pecador, tu foste mordido. Olha! Não necessitas nenhuma outra coisa senão “olhar!” É simplesmente “olhar!” Basta que olhes a Jesus e serás salvo. Ouves a voz do Redentor: “Olhem para mim e sedes salvos.” Olhem! Olhem! Olhem! Oh almas culpadas

“Confia nEle, confia plenamente,
Não permitas que outra confiança se intrometa;
Ninguém senão Jesus
Pode fazer bem ao pecador desvalido.”

Que meu bendito Senhor os ajude a vir a Ele, e lhes atraia a Seu Filho, por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém e Amém.




2 - O Governo Usurpador da Alma Sobre o Nosso Espírito

Nós lemos em Hebreus 4.12:
"...a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração".
Este texto fala de separação de alma e espírito pela Palavra de Deus.
Sabemos que o corpo, a alma e o espírito do homem formam uma grande unidade, e estão intimamente ligados, de modo que se pode dizer que são uma só coisa, assim como Deus é um, e no entanto são três pessoas: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Por isso, quando o espírito deixa este mundo, o corpo morre; se o corpo morre, sai o espírito e volta para Deus.
Quando o corpo e alma descansam no sono, também descansa o espírito.
Todavia, há diferenças marcantes entre os três.
Mas nos concentraremos neste artigo somente na alma e no espírito, porque a Bíblia fala de separação de alma e espírito, e o que se quer afirmar é a distinção das funções que  competem respectivamente ao espírito e à alma.
Com vistas a um  melhor entendimento de  tudo o que vai ser comentado, gostaríamos, antes, de explicar quais são as faculdades da alma, que não fazem parte do espírito humano.
Entre estas faculdades estão nossos sentimentos, nossa mente, nossa vontade, nossas emoções e pensamentos, até mesmo a nossa  razão.
Alma tem a ver com o cérebro, de onde procedem todas estas faculdades referidas.
Cérebro tem a ver com o que é natural, e não sobrenatural, como é o caso do espírito, que nos veio de Deus, e que volta para Ele, na nossa morte.
De maneira que ao falar em separação de alma e espírito, pela Palavra de Deus, a Bíblia quer nos mostrar que precisamos ser governados pelo espírito, e não meramente por nossos sentimentos, vontade, emoções, pensamentos e até mesmo pela nossa própria razão.
Somente quando estamos santificados pelo Espírito Santo, mediante aplicação da Palavra de Deus em nossas vidas, a nossa alma entra automaticamente debaixo do governo do nosso espírito e passa a ser uma serva do espírito, ficando este portanto, livre das suas paixões irregulares e desordenadas que nos levam a pecar.
Portanto, não é possível ser espiritual, conforme é do propósito de Deus na criação do homem, sem que se tenha a habitação do Espírito Santo.
Entretanto, como o pecado continua operando na carne, há necessidade do trabalho da cruz para que sejamos as pessoas espirituais que Deus planejou desde antes da fundação do mundo.
Nós lemos em Gênesis 6.3 o seguinte:
“Então disse o Senhor: O meu Espírito não permanecerá para sempre no homem, porquanto ele é carnal, mas os seus dias serão cento e vinte anos.”
O que podemos deduzir desta passagem das Escrituras, senão que Deus não havia criado o homem para que ele vivesse pelo governo da sua alma natural?
A palavra “carnal” no texto de Gên 6.3 reporta à inclinação da natureza decaída no pecado, e não propriamente ao fato de o homem também possuir um corpo físico.
Deus é espírito, e criou o homem para ter comunhão com Ele em espírito, porque é somente este o modo possível de tal comunhão.
Por isso Jesus destacou que não se pode adorar a Deus a não ser apenas em espírito e em verdade.
O propósito de Deus na criação do homem é que este fosse espiritual e não carnal, conforme veremos neste nosso estudo.
E quando Deus diz que o homem se tornou carnal por causa do pecado é a isto que Ele quer principalmente  se  referir,  porque não é governado pelo reino espiritual divino, mas pelo reino natural segundo a carne.
Por isso se impõe o trabalho da cruz sobre o ego carnal, para que o Espírito Santo possa assumir o pleno governo, conforme Deus havia planejado desde antes da criação do mundo.
Desde a Queda no Éden a alma deixou de estar  em  sujeição ao espírito e passou a assumir o governo do ser humano, tornando-se assim uma barreira para o conhecimento experimental da vida de Deus, que é espírito.
Se Cristo não estabelecer o Seu governo no nosso coração, o que haverá será o  governo usurpador da alma contra a vontade de Deus.
E este governo da alma é designado na Bíblia como um viver segundo a carne. Segundo o homem natural e não segundo o homem espiritual.
Vale lembrar que a palavra constante de I Cor 2.14 para “natural”, quando Paulo diz que o homem natural não aceita as coisas do Espírito, tal palavra é no original grego psiquikós, que significa  aquilo que é relativo à alma.
Quando o homem é governado pelas faculdades da alma, e não pelas faculdades do espírito, ele agirá segundo a natureza terrena,
Daí se afirmar que o homem natural, ou seja, aquele que é governado por um viver segundo a alma, e não segundo o espírito, não pode entender as coisas do Espírito Santo de Deus.
Os cristãos carnais a que Paulo se  refere  em  I Cor 3.1 em contraposição aos espirituais, são designados no original grego pela palavra sarkikós, para carnais, e os espirituais, pela palavra pneumatikós, que se refere ao espírito.
O trabalho da alma no cristão carnal é fazê-lo viver pela sua própria vida natural e tentar  trabalhar e servir a Deus  pela  sua própria habilidade natural.
Com isto, ele não chega a ter um conhecimento verdadeiro e progressivo de Deus, porque este conhecimento decorre de uma comunhão e de experiências reais com o Espírito Santo de Deus, em espírito.
A carne não pode ter tal comunhão e experiência com o Espírito Santo de Deus.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que a carne para nada aproveita, e que o que tudo é gerado pela carne é carnal.
Nossos pensamentos, emoções, sentimentos e vontade, e razão, que são faculdades que emanam do nosso cérebro, devem ser submetidos ao governo do Espírito Santo de Deus, e por conseguinte do nosso próprio espírito.
E a Bíblia afirma que isto é operado pela Palavra de Deus, em Hb 4.12.
Chegará o dia em que não haverá mais esta dependência do cérebro, ou da alma, quando sairmos deste mundo pela morte, porque somente o espírito subirá à presença do Senhor, libertado completamente dos desejos e das paixões da alma.
Então o espírito terá vida e expressão independentemente do nosso cérebro.
E não há nenhum outro modo para subjugar o governo usurpador da alma, senão somente pela crucificação do ego pela nossa cruz, que deve ser carregada voluntária e diariamente.    
Nos quatro Evangelhos, nós vemos que Jesus  chamou os seus discípulos para renunciarem ao modo de viver pelo governo das suas almas, submetendo-o à  morte na cruz, para que pudessem segui-lO.
O Senhor sabia que renunciar ao modo de viver pela  alma  é  uma exigência absolutamente indispensável, para que os cristãos  possam  segui-lO.
Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse: "38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. 39 Quem achar a sua vida  perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.".
Neste texto,  a  palavra para vida no original grego é psiquê, que significa alma.
Não se trata  propriamente de se matar a alma, mas o modo de viver pela alma, para que se possa viver pelo espírito. É isto que Jesus quis dizer com suas palavras.
Este modo de viver pela alma somente pode ser morto pela  cruz.
É por isso que em outras passagens do Evangelho, como  em  Lc  14.26,27  por exemplo, Jesus associou a perda da vida da alma ao ato voluntário de se carregar a cruz e de se auto negar, para poder segui-lO.
Estes versos nos chamam a perder o viver pela alma por causa do Senhor,  entregando este viver à cruz, para que seja crucificado, e Ele ensinou que isto deve ser feito diariamente.
De acordo com nosso viver pela alma, nós fazemos  a  vontade daqueles a quem amamos, ainda que isto contrarie a vontade de Deus,  por isso se impõe a morte deste viver pela alma.
Nada há de errado em demonstrar sentimentos e emoções, mas quando nossos sentimentos, emoções e vontade são irregulares e são a causa de não nos submetermos à Palavra e vontade de Deus, é porque estamos sendo pessoas carnais e não espirituais.
Quando Deus  está  em conflito com o desejo do homem, embora aquela pessoa seja  a  que  nós  mais amamos, importa antes amar mais a Deus.
Por isso nosso Senhor disse em Mt 10.37: "Quem ama o pai  ou  a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.".
Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "26 Se alguém vier a mim, e não  aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também  à  própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não leva a sua cruz e não  me  segue, não pode ser meu discípulo.".
É proibido pelo Senhor que eu ame somente aqueles a quem eu amo naturalmente.
O próprio Jesus nos deixou este exemplo quando definiu a  sua  família  como sendo a que é composta por aqueles que conhecem a Deus e fazem a Sua vontade.
O Senhor Jesus quer nos libertar deste tipo de domínio  do afeto natural, de modo que possamos ser cheios do seu amor  sobrenatural, que é um amor por todos os homens, e que não faz qualquer tipo de acepção de pessoas.
O afeto natural é muito importante, mas convém se dar um passo além e se amar com o amor ágape, sobrenatural de Deus.
O amor ágape nos vem do alto, e o amor filéo, de mera amizade, é terreno e inerente à nossa própria natureza.
Este amor ágape, que é o amor derramado pelo Espírito Santo nos nossos corações, é o amor de comunhão entre espíritos, que capacita a tudo sofrer, perdoar, suportar, e não ficarmos irados com as injustiças e ofensas que sofremos, de modo que é um amor que habilita a amar até mesmo inimigos.
A espada referida no texto de Hb 4.12 é uma alusão à que era usada pelo sumo sacerdote para dividir o holocausto em partes.
Esta espada representa a Palavra que é usada  por  Cristo  através  do trabalho do Espírito Santo para separar espírito e alma nos cristãos, de maneira que possam ser verdadeiramente espirituais.
A espada do Espírito é a Palavra de Deus. É portanto a palavra do evangelho de Cristo, que aplicada à mente e ao coração, traz à tona o viver na dimensão do que é espiritual e celestial, prevalecendo sobre tudo o que se refere ao homem exterior com suas cobiças e paixões.
Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta que existe permanentemente entre a carne e o Espírito, e vice- versa:
"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis." (Gál 5.17).
Observe que ele afirma que a carne e o Espírito se opõem mutuamente para que  não façamos o que seja do nosso querer.
O que ele quis dizer com isto?
É que  na verdade tanto a carne quanto o Espírito lutam contra a lei natural da  nossa mente, e contra as disposições da nossa alma. e, tanto um quanto o  outro pretendem ter o domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.
A  carne pretende nos levar a pecar ainda que não o queiramos;  e  o  Espírito Santo pretende nos santificar e nos levar a viver não pelo que é propriamente  da nossa vontade, mas por aquilo que é da vontade de Deus.
Então o Espírito não luta contra a carne para que seja feito o que seja do nosso querer, mas para que a vontade de Deus possa se cumprir em nós.
O Espírito procurará nos  levar portanto à cruz para que a carne possa ser crucificada com as suas  paixões e desejos (Gál 5.24).
Como estas paixões e desejos da carne operam principalmente na mente, então é fundamental que a mente seja renovada.
Uma mente renovada pelo Espírito coopera e muito para que tenhamos comunhão  com  Deus, porque ajudará o espírito nesta comunhão, porque a mente renovada e guiada não pela carne, mas pelo Espírito Santo.
E o Espírito poderá então comunicar à nossa mente renovada o conhecimento da vontade de Deus revelada na Sua Palavra.
Para entendermos melhor a distinção entre alma e espírito, podemos nos valer de  uma  análise  do que há no comportamento dos animais,  porque  sabidamente eles não são dotados de espírito como os  homens, senão somente de corpo  e alma.
Nós podemos, em certo  grau, entender o que é relativo à nossa alma pelo que observamos no comportamento dos animais, porque tudo o que eles sentem  se refere  aos poderes da alma, porque como já dissemos, eles não possuem espírito.
Há afeto mútuo entre eles, em suas próprias espécies.
Então o nosso afeto natural pertence à  alma animal,  e não propriamente ao espírito, porque animais irracionais  possuem  isto  evidentemente.
Especialmente quando os seus filhotes  estão num estado dependente  e  precisam do seu cuidado, exibem um afeto por eles, muito forte como o que é visto em pais humanos.
Podemos acrescentar também, a tristeza que os animais sentem quando são privados dos seus filhotes;  assim,  podemos  concluir que o amor paternal e filial como  existe  naturalmente no gênero humano, é um afeto, não da parte imortal ou espírito,  mas da alma, como algo instintivo, tal como o instinto de  sobrevivência que há tanto nos homens quanto nos animais.
Ninguém supõe que haja alguma bondade moral no afeto que os  animais sentem pelas suas crias.
O afeto que os pais e filhos humanos sentem mutuamente parece ser da mesma natureza.
Nós  não  amamos  nossos filhos naturalmente, porque Deus requer isto; nós não os  amamos com o objetivo de agradá-los; nós não os amamos porque é  um  dever; nosso afeto por eles parece ser um mero instinto animal  natural, que em si mesmo; nem é santo, nem  pecaminoso.
Mas estes  afetos, agora no homem caído no pecado, com toda a sua natureza corrompida, podem se tornar pecaminosos e conduzirem  a outros  pecados.
Por exemplo, fica pecaminoso  quando  nosso  afeto  por  qualquer criatura é maior do que o amor com que amamos a Deus, porque Ele requer o primeiro lugar sobre os nossos afetos, e nos proíbe que prefiramos qualquer objeto ou pessoa a Ele.
Quando os pais se ocupam em adquirir  riquezas  e  posições  para seus filhos, geralmente eles negligenciam muitos dos deveres mais importantes que Deus lhes exige que executem.
Quando instruímos nossos filhos de tal maneira que eles dão  mais preferência a seus corpos do que aos seus espíritos, nós  estamos também dirigindo nossos afetos numa direção irregular e pecaminosa, e esta necessita ser santificada.
Por isso o apostolo Pedro fala em I Pe 1.18 de um resgate em Cristo de uma vã maneira de  viver recebida deste afeto natural da parte de nossos pais.
Consequentemente é evidente, que o afeto da alma precisa ser santificado.
Se não for santificado, nós não podemos ser integralmente santos como o apóstolo fala em I Tes 5.23, que não apenas o espírito e o corpo devem ser santificados, como também a alma, ou seja, a alma deve fazer a vontade de Deus e não a sua própria vontade, ou seja do ego.
As Escrituras ensinam que sem santificação ninguém verá  a  Deus.
E não se deve confundir a santidade com temperamento amável, porque não há nada da natureza da santidade num temperamento naturalmente amável.
A santidade consiste em conformidade à  lei  de  Deus, mas há pessoas que possuem o temperamento do qual estamos  falando, que não têm nenhuma consideração pela lei de Deus.
Por isso  Jesus  não  faz nenhuma distinção entre temperamentos quanto à necessidade comum de arrependimento, regeneração e santificação.  Todos  necessitam igualmente de tudo isto.
Também, uma correta moralidade, considerada isoladamente, não é nenhuma santificação.
Veja o homem religioso sem Cristo gabando-se de sua  justiça própria  tal como o fariseu da parábola que Jesus ensinou.
Há algo de comunhão verdadeira com Deus em sua vida?
 Ele é movido pelo Espírito Santo?
A falta destas verdades essenciais indicam que  a sua moralidade não é a santidade evangélica, que o homem  alcança pela graça e mediante a fé e na união com Cristo, andando diariamente no Espírito, por se submeter voluntariamente ao trabalho da cruz.
Este assunto pode nos ajudar a entender a declaração de Cristo, de que "àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado" (Mt 13.12); pois vimos que toda coisa que parece ser naturalmente boa e amável nos pecadores como o afeto  paternal  e filial, compaixão, um temperamento amável, pertence à  alma, porém isto morre com o corpo.
Nada sobreviverá à morte, a não ser o espírito porque é imortal.
Com a morte, isto que parecia se  ter,  será tirado, e com ela toda esta bondade natural será perdida, porque não teve a marca da santificação operada por Deus, sem a qual ninguém o verá, conforme afirma a Bíblia (Hebreus 12.14).
Somente  a santidade que procede de Deus pode fazer com que esta bondade natural se torne permanente.
Assim, a divisão de alma e espírito, referida em  Hb 4.12, não é para a morte, mas para a vida ressurrecta de Cristo, no poder do Espírito Santo, que é encontrada somente do outro lado da cruz, depois que passamos por ela.
Assim, sem cruz, não há a verdadeira vida abundante que Jesus veio nos dar.
Jesus disse que veio para dar vida e vida abundante. Esta vida é espiritual e eterna.
Deste modo, teremos mais desta vida, quanto mais mortificarmos o nosso velho homem.
Muito mais a vida da nova criatura em Cristo Jesus florescerá, no terreno em que a vida do velho homem for mais mortificada.
E é nesta condição de ter a alma e espírito separados pela  Palavra de Deus, que o espírito é livrado dos embaraços  e  pesos  da alma que assediam juntamente com o pecado tão de perto a vida dos cristãos.
E então a alma é  levada  a compartilhar deste deleite, em vez de se sentir facilmente tentada e atraída pelos prazeres que são oferecidos pelo mundo.
Tendo as faculdades amadurecidas para discernir tanto o bem quanto o mal, o homem espiritual pode discernir e vencer toda e qualquer movimentação do velho homem para produzir as obras da carne, bem como resistir às tentações da carne, do diabo e do mundo, por uma vigilância e oração constante e perseverante, em plena sujeição, dependência e obediência à vontade de Deus (Hb  5.14), por colocar a sua mente voluntariamente a serviço da nova natureza, recebida na conversão, e não a serviço do velho homem.




3 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap VII

Como o uso imprudente de um estado corrompe todas as disposições da mente e enche o coração com paixões pobres e ridículas ao longo de todo o curso da vida, como representado no caráter de Flávia.
Já foi observado que um prudente e religioso cuidado deve ser usado, na forma de gastar o nosso dinheiro ou propriedade, porque a maneira de gastar nossas posses é uma grande parte da nossa vida comum, e é muito o negócio de cada dia, que, conforme sejamos sábios ou imprudentes, a este respeito, todo o curso de nossas vidas, será ou muito sábio, ou muito cheio de insensatez.
Pessoas que são afetadas de forma positiva com a religião, que recebem instruções de piedade com prazer e satisfação, muitas vezes se maravilham como pode ocorrer, que elas não façam maiores  progressos nessa Religião que eles tanto admiram.
Agora, a razão disso é esta, é porque a religião vive apenas em sua cabeça, mas algo mais tem a posse de seus corações áridos, portanto, eles continuam ano após ano como meros admiradores da piedade, sem nunca chegarem à realidade e perfeição de seus preceitos .
Se for perguntado, por que a religião não obtém a posse de seus corações, a razão é esta: não é porque eles vivam em grosseiros pecados, ou intemperanças, porque seu respeito à religião lhes preserva de tais desordens. Mas é porque seus corações estão constantemente empenhados,  equivocados, e mantidos em um estado errado, pelo uso indiscreto de coisas que são lícitas de serem usadas.
O uso e desfrute de suas posses é lícito, e portanto, nunca entra em suas cabeças, imaginarem qualquer grande perigo nisto. Eles nunca refletem, que existe um uso vão e imprudente de suas posses, que, apesar de não destruir como os pecados grosseiros, todavia desordenam o coração, e o conduzem a sensualidade, mornidão, orgulho e vaidade, como também o torna incapaz de receber a vida e o espírito da piedade.
Porque nossas almas podem receber uma mágoa infinita, e serem achadas incapazes de todas as virtudes, apenas pelo uso de coisas inocentes e lícitas.
O que é mais inocente do que o descanso e ainda o que é mais perigoso, do que a preguiça e ociosidade? O que é mais lícito do que comer e beber, e no entanto o que é mais destrutivo de toda a virtude, o que mais estimula todos os vícios de sensualidade e indulgência?
Quão legítimo e louvável é o cuidado de uma família? E no entanto, quão certamente são muitas pessoas tornadas incapazes de toda virtude, por um temperamento mundano e solícito?
Agora, é por falta de exatidão religiosa no uso destas coisas inocentes e lícitas, que a religião não pode tomar posse de nossos corações. E é no gerenciamento correto e prudente de nós mesmos, quanto a essas coisas, que todas as artes de uma vida santa consistem principalmente.
Pecados grosseiros são claramente vistos, e facilmente evitados por pessoas que professam religião. Mas o uso indiscreto e perigoso de coisas lícitas e inocentes, uma vez que não choque e ofenda nossas consciências, por isso é difícil fazer as pessoas de todo sensíveis ao perigo disto.
Um cavalheiro que gasta todo o seu dinheiro em esportes, e uma mulher que coloca todo o seu dinheiro em cima de si mesma,  dificilmente podem ser convencidos que o espírito da religião não pode subsistir em tal modo de vida.
Estas pessoas , como tem sido observado, podem viver livres de intemperanças, podem ser amigos da Religião cristã, até o ponto de louvá-la e falar bem dela, e admirá-la em sua imaginação; mas não podem governar seus corações, e ser o espírito de suas ações, até que mudem seu modo de vida, e deixem a Religião dar as leis para o uso e os gastos de suas posses.
Porque uma mulher que ama as vestes de forma abusiva, que não poupa custos para se adornar, não parará nisto; porque esta disposição atrai milhares de outras loucuras juntamente com ela, e tornará todo o curso de sua vida, seu negócio, sua conversa, suas esperanças, seus medos, seus gostos, seus prazeres, e lazeres, se adequarem a isso.
Flávia e Miranda são duas irmãs solteiras, que dispõem, respectivamente, de duzentas libras anuais. Elas sepultaram os seus pais, há vinte anos atrás, e desde então gastam as suas posses como lhes agrada.
Flávia tem surpreendido todos os seus amigos, pela sua excelente gestão, na forma moderada como usa o dinheiro. Várias senhoras que têm o dobro de suas posses, não são capazes de serem sempre tão gentis e constantes em todos os lugares de prazer e despesa. Ela tem tudo o que está na moda, e está em todo lugar onde haja qualquer entretenimento. Flávia é muito ortodoxa, ela fala calorosamente contra os hereges e cismáticos, está geralmente na igreja, certa vez elogiou um sermão que era contra o orgulho e a vaidade no vestir. Se alguém pedir a Flávia para fazer alguma coisa em caridade, se ela gosta da pessoa que fez a proposta, ela contribui. Mas passado algum tempo, ao ouvir um outro sermão sobre a necessidade de caridade, ela acha que a pregação foi boa, que é um assunto muito apropriado, mas ela nada aplicou a si mesma, porque se lembrou de quando deu esmolas algum tempo atrás, e se arrependeu depois porque poderia ter poupado o dinheiro.
Quanto às pessoas pobres, ela admitirá não ter nenhuma queixa da parte deles; ela é muito positiva que eles são todos falsos e mentirosos; e nada dirá para aliviá-los, e, portanto, deve ser um pecado encorajá-los em seus maus caminhos.
Você pensaria que Flávia tinha uma consciência terna no mundo, se você visse, quão escrupulosa e apreensivo ela é da culpa e perigo de errar.
Ela compra todos os livros sobre inteligência e temperamento, e fez um coleção cara de todos os nossos poetas ingleses. Porque ela diz, que não se pode ter um verdadeiro gosto por qualquer um deles, sem estar muito familiarizado com todos eles. Às vezes, ela lê um livro sobre Piedade, se for curto, ou muito elogiado por estilo e linguagem.
Flávia é muito ociosa, e ainda gosta muito de um fino trabalho, que a faz frequentemente se sentar  para trabalhar na cama até meio-dia, de modo que eu não preciso lhe dizer, que as suas manhãs de devoções nem sempre são corretamente executadas.
Flávia seria um milagre da Piedade, se assim fosse, mas não é tão cuidadosa de sua alma, quanto ela é de seu corpo. O surgimento de uma espinha em seu rosto, a picada de um mosquito, fará com que ela se mantenha em seu quarto dois ou três dias. Ela é tão ansiosa quanto à sua saúde, que ela nunca acha que está bem o suficiente, de modo que faz gastos excessivos com toda a sorte de medicamentos preventivos.
Se você visitar Flávia no domingo, você sempre a encontrará em boa companhia, você saberá o que está ocorrendo no mundo, ouvirá a última sátira, saberá quais são as peças de teatro da semana, qual é a canção mais refinada na ópera, e quais são os jogos que se encontram na moda.
Flávia pensa que são ateus os que jogam cartas no domingo, mas ela lhe dirá com minúcia sobre todos os jogos, que cartas ela segurou e como as jogou, e a história de tudo o que aconteceu no jogo, tão logo ela venha da Igreja.
Eu não afirmarei que é impossível que Flávia seja salva, mas, muito pode ser dito, que ela não tem fundamentos das Escrituras para pensar que está no caminho da salvação.
Porque toda a sua vida está em oposição direta a todos as disposições e práticas, que o Evangelho faz necessárias para a salvação.
Se você estivesse lhe ouvindo dizer, que ela tinha vivido toda a sua vida como Ana, a profetisa, que não se afastava do templo,  servindo a Deus em jejuns e orações, noite e dia, você olharia para ela como sendo muito extravagante, e ainda esta não seria uma extravagância maior, do que ela dizer que ela tem se esforçado por entrar pela porta estreita, ou fazer qualquer doutrina do Evangelho, a regra de sua vida.
Ela pode muito bem dizer, que ela viveu com o nosso Salvador, quando ele esteve sobre a terra, como ela tem vivido na imitação dele, ou que fez seu cuidado viver qualquer parte de tais disposições, como ele tem requerido de todos aqueles que são seus discípulos. Ela pode verdadeiramente dizer, que tem a cada dia lavado os pés dos santos, como ela tem vivido na humildade e pobreza de espírito cristão. Ela tem tanta razão para pensar, que ela tem sido uma sentinela em um exército, assim como ela tem vivido em vigilância e abnegação. E pode dizer que ela vivia com o trabalho de suas mãos, ao qual ela tinha dado toda a diligência para fazer a sua vocação e eleição.
E aqui isto pode ser bem observado, que a pobreza, a irreligião, a insensatez e a vaidade de toda esta vida de Flávia, é tudo devido à forma de utilizar suas posses. É isto o que tem formado seu espírito, que deu vida a cada disposição ociosa, que apoiou toda paixão insignificante, e que a privou de todos os pensamentos de uma vida prudente, útil e devota.
Quando seus pais morreram, ela não tinha pensado nas suas duzentas libras anuais, mas que não tinha tanto dinheiro para fazer o que ela faria com tal quantia, para gastar consigo mesma, e comprar os prazeres e gratificações de todas as suas paixões.
Ela poderia ter sido humilde, séria, devota, uma amante de bons livros, um admiradora da oração, remindo o seu tempo, sendo diligente em boas obras, cheia de caridade e do amor de Deus, mas o uso imprudente de suas posses forçou todo tipo de disposições contrárias sobre ela.
Agora, porém o espírito insignificante irregular desse personagem pertence, eu espero, senão a poucas pessoas, mas muitos podem aprender algumas instruções aqui, e talvez veja algo de seu próprio espírito nisto.
Se desejarmos portanto, fazer um progresso real na Religião cristã, devemos não somente abominar pecados graves e notórios, mas temos que regular as partes inocentes e lícitas do nosso  comportamento, e colocar as ações mais comuns e permitidas da vida, sob as regras da discrição e da piedade.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do sétimo capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.






4 - A REAL CONDIÇÃO DA NATUREZA HUMANA

Por que a inclinação da carne, isto é, da sua natureza humana decaída no pecado, conforme Deus afirma na Bíblia, é um estado permanente de inimizade contra Ele. Depois de ter criado o primeiro homem, Deus plantou um jardim para ele, e o colocou no jardim, onde havia também plantado bem em seu meio, duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da vida, e a segunda, a árvore do conhecimento do bem e do mal. Ambas representavam e significavam respectivamente para o homem, a vida e a morte.
E este significado não foi removido, até hoje, e jamais será removido, até que tudo se cumpra, porque Deus tem colocado diante de cada homem, tanto a possibilidade da vida quanto da morte.
O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom, à semelhança do próprio Deus, sendo um agente moral livre quanto ao exercício da sua vontade, tende, tal como Adão fizera, a se inclinar para buscar governar e não ser governado; a fazer valer a sua própria vontade e não a do Criador; a ser independente e não a criar laços eternos de amor; e assim agindo, se envereda por causa de suas atitudes e comportamento pelo caminho que conduz à morte. Deus não criou o homem para que ele viva para si mesmo, senão para o Seu Criador. Não o criou para fazer a sua própria vontade, senão a do seu Senhor.
Isto não é um capricho, mas uma demanda da vida, porque não pode haver vida eterna a não ser na comunhão do homem com Deus, participando da Sua natureza divina. Antes da queda no pecado, Adão era inocente, e onde há inocência não há imputação de pecado, porque a imputação do pecado demanda que haja consciência do pecado, que haja discernimento do que seja o mal e do que seja o bem, tornando o homem responsável perante o Seu Criador.
A inocência de Adão foi perdida quando Ele desobedeceu a Deus comendo o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
E se achando debaixo da sentença de morte produzida pelo pecado, o homem não pode lançar mão do fruto da árvore da vida, porque a vida eterna, a vida de Deus, não está reservada para aqueles que se encontram em estado de inimizade contra Ele, senão apenas para aqueles que são seus amigos, e o comprovam pelo fato de Lhe amar e obedecer. Como somente o próprio Deus pode gerar esta disposição e capacidade para ser obedecido e amado, então o homem, não poderá de si mesmo, viver de modo aprovado por Deus.
Ele concederá tal capacidade pela operação do Espírito Santo, somente àqueles que se arrependerem do estado ruim em que se encontram os seus espíritos, para que sejam capacitados e transformados pelo Espírito Santo para amarem e obedecerem ao Senhor.
O homem caído pode portanto ser levantado por Deus caso se disponha a buscar a vida eterna que há em Cristo, pelo simples arrependimento e fé na bondade e misericórdia de Deus que estende a mão para o pecador, para que seja livrado da morte e reviva.
Por isso a justiça própria ofende tanto a graça do Senhor. Porque por ela o homem insiste em não reconhecer que naturalmente encontra-se indisposto contra Deus e contra a Sua vontade e mandamentos. Que se encontra naturalmente condenado à morte eterna, por conta desta inclinação carnal.
Enquanto não reconhecer pelo convencimento operado pelo Espírito Santo que é um pecador condenado, por ser inimigo de Deus e da Sua vontade, não poderá jamais ser justificado pela fé e ser reconciliado com o Senhor. Agora, não é suficiente o reconhecimento da condição de ser pecador, é necessário também rejeitar o mal e buscar o bem; buscar a face do Senhor, confiar na sua bondade, perdão e misericórdia, dispor-se a servi-lo por amor, por todos os dias da nossa vida.
Concluímos assim, que a condição de inimizade contra Deus está intimamente relacionada à natureza caída no pecado. Ela reside no fato de estar o homem afastado de Deus. De não estar se alimentando do fruto da árvore da vida, que é Cristo. O único alimento espiritual que dá vida eterna a todo aquele que nEle crê.
Bendito seja o Senhor, que proveu, por sua graça e misericórdia, um escape da morte eterna para o homem que crê.
De modo que ninguém precisa permanecer irremediavelmente perdido e condenado, porque Jesus derramou o Seu sangue na cruz para que pudéssemos ser resgatados da morte para a vida. Bendito seja o Seu santo nome. Louvaremos para sempre a glória da Sua maravilhosa graça.






5 - O HOMEM É INIMIGO DE DEUS

Soa exagerado fazer a afirmação do nosso título.
Contudo, é isto que a Bíblia ensina quanto à condição de toda pessoa, quanto ao que se refere à sua natureza terrena.
Por que a inclinação da carne, isto  é, da natureza humana decaída no pecado, é um estado permanente de  inimizade contra Deus?
Depois de ter criado o primeiro homem, Deus plantou um jardim para ele, e o colocou no jardim, onde havia também plantado bem em seu meio, duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da vida, e a segunda, a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Ambas representavam respectivamente, para o homem, a vida e a morte.
E este significado não foi removido, e jamais será removido, até que tudo se cumpra, porque Deus tem colocado diante de cada homem, tanto a possibilidade da vida quanto a da morte.
O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom, à semelhança do próprio Deus, sendo um agente moral livre, tende, tal como Adão fizera, a se inclinar para buscar governar e não a ser governado; a fazer valer a sua própria vontade e não a do Criador; a ser independente e não a criar laços eternos de amor; e assim agindo, se envereda por causa de suas atitudes e comportamento pelo caminho que conduz à morte espiritual (separação de Deus) e ao sofrimento.
Deus não criou o homem para que ele viva para si mesmo, senão para o Seu Criador.
Não o criou para fazer a sua própria vontade, senão a do seu Senhor.
Isto não é um capricho, mas uma demanda da vida, porque não pode haver vida eterna a não ser na comunhão do homem com Deus, participando da Sua natureza divina.
Como pode o ramo viver separado do caule que deve sustentá-lo?
Somente em Cristo, poderá ser desfeito o nosso estado de inimizade latente contra Deus, conforme se ensina nas Escrituras, e comprovado na experiência real da nossa vida.

Rom 5:8 Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
Rom 5:9 Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
Rom 5:10 Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida;
Rom 5:11 e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação.

Tiago 4:4 Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.






6 - A Carnalidade é Inimiga de Deus

Por que a inclinação da carne, isto  é, da natureza humana decaída no pecado, conforme Deus afirma na Bíblia, é um estado permanente de  inimizade contra Ele.
Depois de ter criado o primeiro homem, Deus plantou um jardim para ele, e o colocou no jardim, onde havia também plantado bem em seu meio, duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da vida, e a segunda, a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Ambas representavam e significavam respectivamente para o homem, a vida e a morte.
 E este significado não foi removido, até hoje, e jamais será removido, até que tudo se cumpra, porque Deus tem colocado diante de cada homem, tanto a possibilidade da vida quanto da morte.
O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom, à semelhança do próprio Deus, sendo um agente moral livre quanto ao exercício da sua vontade, tende, tal como Adão fizera, a se inclinar para buscar governar e não ser governado; a fazer valer a sua própria vontade e não a do Criador; a ser independente e não a criar laços eternos de amor; e assim agindo, se envereda por causa de suas atitudes e comportamento pelo caminho que conduz à morte.
Deus não criou o homem para que ele viva para si mesmo, senão para o Seu Criador. Não o criou para fazer a sua própria vontade, senão a do seu Senhor.
Isto não é um capricho, mas uma demanda da vida, porque não pode haver vida eterna a não ser na comunhão do homem com Deus, participando da Sua natureza divina.
Antes da queda no pecado, Adão era inocente, e onde há inocência não há imputação de pecado, porque a imputação do pecado demanda que haja consciência do pecado, que haja discernimento do que seja o mal e do que seja o bem, tornando o homem responsável perante o Seu Criador.
A inocência de Adão foi perdida quando Ele desobedeceu a Deus comendo o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
E se achando debaixo da sentença de morte produzida pelo pecado, o homem não pode lançar mão do fruto da árvore da vida, porque a vida eterna, a vida de Deus, não está reservada para aqueles que se encontram em estado de inimizade contra Ele, senão apenas para aqueles que são seus amigos, e o comprovam pelo fato de Lhe amar e obedecer.
Como somente o próprio Deus pode gerar esta disposição e capacidade para ser obedecido e amado, então o homem, não poderá de si mesmo, viver de modo aprovado por Deus.
Ele concederá tal capacidade pela operação do Espírito Santo, somente àqueles que se arrependerem do estado ruim em que se encontram os seus espíritos, para que sejam capacitados e transformados pelo Espírito Santo para amarem e obedecerem ao Senhor.
O homem caído pode portanto ser levantado por Deus caso se disponha a buscar a vida eterna que há em Cristo, pelo simples arrependimento e fé na bondade e misericórdia de Deus que estende a mão para o pecador, para que seja livrado da morte e reviva.
Por isso a justiça própria ofende tanto a graça do Senhor.
Porque por ela o homem insiste em não reconhecer que naturalmente encontra-se indisposto contra Deus e contra a Sua vontade e mandamentos.
Que se encontra naturalmente condenado à morte eterna, por conta desta inclinação carnal.
Enquanto não reconhecer pelo convencimento operado pelo Espírito Santo que é um pecador condenado, por ser inimigo de Deus e da Sua vontade, não poderá jamais ser justificado pela fé e ser reconciliado com o Senhor.
Agora, não é suficiente o reconhecimento da condição de ser pecador, é necessário também rejeitar o mal e buscar o bem; buscar a face do Senhor, confiar na sua bondade, perdão e misericórdia, dispor-se a servi-lo por amor, por todos os dias da nossa vida.
Concluímos assim, que a condição de inimizade contra Deus está intimamente relacionada à natureza caída no pecado.
Ela reside no fato de estar o homem afastado de Deus. De não estar se alimentando do fruto da árvore da vida, que é Cristo. O único alimento espiritual que dá vida eterna a todo aquele que nEle crê.
Bendito seja o Senhor, que proveu, por sua graça e misericórdia, um escape da morte eterna para o homem que crê.
De modo que ninguém precisa permanecer irremediavelmente perdido e condenado, porque Jesus derramou o Seu sangue na cruz para que pudéssemos ser resgatados da morte para a vida.
Bendito seja o Seu santo nome. Louvaremos para sempre a glória da Sua maravilhosa graça.





7 - Andar Segundo a Carne

"Portanto, agora, nenhuma condenação há para  aqueles que estão em Cristo Jesus , que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito." (Romanos 8:1)

Andar segundo a carne traz consigo a ideia de a carne ir adiante de nós, como nosso líder, guia, e exemplo – e nós seguindo de perto seus passos, de modo que, para onde quer que ela se volte nós a acompanhamos como a agulha imantada segue o ímã na bússola.

Andar segundo a carne, então, é se mover passo a passo na  obediência implícita . . .
aos comandos da carne,
às paixões da carne ,
às inclinações da carne,
e aos desejos da carne,
qualquer que seja a forma que eles assumam,
qualquer que seja o traje que vistam,
qualquer que seja o nome que eles possam carregar.

Andar segundo a carne é estar sempre perseguindo, desejando, e fazendo as coisas que agradam à carne, qualquer aspecto que a carne possa usar ou qualquer que seja a vestimenta que ela possa assumir – seja no molde e formato dos caminhos mais grosseiros e flagrantes do mundo profano - ou a mais refinada e enganosa religião da igreja professante.

Mas são os mais grosseiros e mais manifestos pecadores as únicas pessoas das quais pode ser dito que andam segundo a carne?
Não estará  toda religião humana, em todas as suas formas e modas variadas, sob a varredura desta espada que tudo devora? Sim! Todo aquele que está aprisionado e que é conduzido por uma religião carnal, anda tanto na carne quanto aqueles que estão abandonados às suas indulgências mais grosseiras.

Isto é triste, mas não mais triste do que verdadeiro, que a falsa
religião matou seus milhares, se o pecado aberto tem morto seus dez milhares.

Andar segundo a carne, seja no sentido grosseiro do termo ou no mais refinado, é o mesmo aos olhos de Deus.

Texto de J.C. Philphot, traduzido por Silvio Dutra.






8 - As Dez Marcas do Homem Carnal   

por Richard Baxter

Os sinais de um homem carnal são estes:

1. Quando um homem em seu desejo de agradar seu apetite, não faz isto visando um objetivo mais elevado, ou seja, a sua preparação para o serviço de Deus, mas somente para seu próprio prazer (claro que ninguém faz tudo conscientemente visando o serviço de Deus. Entretanto, uma vida gasta no serviço de Deus é ausente do prazer carnal, de maneira geral).

2. Quando ele procura mais ansiosa e diligentemente a prosperidade do seu corpo do que de sua alma.

3.Quando ele não se abstêm de seus prazeres, mesmo quando Deus os proíbe ou quando ferem sua alma, ou quando as necessidades de sua alma clamam que os deixe. Mas ele tem que ter seu prazer, não importa o que lhe custe; e é tão persistente nisto, que não o pode negar.

4. Quando os prazeres da carne excedem os deleites em Deus, Sua Santa Palavra e caminhos, e as expectativas de prazer infinito. E isto não só na paixão, mas na estima, escolha e ação. Quando ele prefere estar em um jogo, ou festa, ou outro entretenimento, ou adquirindo boas pechinchas ou lucros do mundo, do que viver na vida de fé e amor, que seria um modo santo e divino de viver.

5. Quando os homens fixam suas mentes em planejar e estudar para fazer provisão para os prazeres da carne e isto ocupa o primeiro lugar em seus pensamentos e lhe é prazeroso.

6. Quando eles conversam, ou ouvem, ou leem mais coisas agradáveis à carne do que àquelas que deleitam o espírito.

7. Quando eles amam a companhia de pessoas carnais, mais do que a comunhão dos santos, nos quais eles poderiam ser exercitados no louvor ao Seu Criador.

8. Quando eles consideram que o melhor lugar para viver e trabalhar é onde eles podem satisfazer sua carne. Eles preferem estar onde têm coisas fáceis e onde nada falta para o corpo, do que em lugares onde têm muito melhor ajuda e provisão para a alma, apesar da carne ser atormentada por isso.

9. Quando ele está mais disposto a gastar dinheiro para agradar sua carne, do que para agradar a Deus.



10. Quando ele não acredita ou gosta de nenhuma doutrina exceto a “crença-fácil” (isto é, a fé que não requer obediência aos ensinos bíblicos) e odeia a mortificação, que classifica como “legalismo” muito rígido. Por estes sinais e outros semelhantes, podemos facilmente conhecer o homem carnal.










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