sexta-feira, 23 de outubro de 2015

20) Comunhão e Unidade 22) Confirmação e Constância 23) Confissão e Sinceridade 24) Consagração

20) COMUNHÃO E UNIDADE

ÍNDICE

1 - Harmonia com Deus, Consigo Mesmo e com o Próximo
2 - O Propósito da Criação da Humanidade
3 - O Critério da Comunhão Bem-Aventurada
4 - “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3.3)
5 - Comunhão com Cristo
6 - Unidade e Comunhão
7 - Prazer de Andar com Deus
8 - A Unidade Entre os Cristãos é Obtida por Esforço
9 - Alegria e Paz na Comunhão com Jesus
10 - Vencer o Egoísmo para Viver em Unidade
11 - A União Indissolúvel do Crente com Cristo


1 - Harmonia com Deus, Consigo Mesmo e com o Próximo

Somente a verdadeira harmonia com Deus, pode nos trazer também uma verdadeira harmonia para nós mesmos e para o relacionamento com o nosso próximo.
Então, quando não estamos em paz conosco, ou com aqueles a quem amamos, isto é um sinal de que a nossa comunhão com Deus foi interrompida e necessita ser restaurada, pela limpeza dos canais que obstruíram tal comunicação com Deus, no espírito.
Quando o pecado nos domina, é porque nos tem faltado uma verdadeira comunhão com Deus, porque quando isto nos falta, costumamos nos entregar a práticas e a excessos destrutivos e pecaminosos, que de nenhum modo poderiam nos dominar caso estivéssemos vivendo numa relação abençoada com o Senhor, da qual decorre sempre equilibro, segurança, harmonia e paz.
Uso abusivo das faculdades do corpo, da alma e do espírito é um  sinal de se estar sendo vencido pelo que a Bíblia chama de natureza decaída no pecado, ou carne, ou velha criatura, ou velho homem, ou simplesmente pecado.
É preciso crucificar as paixões da carne, como ordenado em Gálatas 5, e por um sincero arrependimento, se abandonando as convicções carnais, para que os princípios divinos possam ser implantados pelo Espírito Santo, em nossas mentes e corações.
Para tanto, é necessário que estejamos decididos quanto às coisas que devemos abandonar, especialmente tais convicções pessoais, cheias de justiça própria, que sejam contrárias aos princípios revelados na Palavra de Deus. E estarmos bem esclarecidos que isto não poderá ser feito a  não ser pelo trabalho do Espírito Santo em nos convencer do nosso pecado.
Assim, é somente quando ocorre tal operação espiritual em nosso ser, e quando somos transportados para aquela atmosfera que procede de Deus, e que se traduz em amor, alegria, esperança e paz, que temos inclusive o nosso próprio afeto natural regulado, que poderemos ser achados vivendo em harmonia com aquilo que é bom, aprovado, espiritual, celestial e divino.
Os sentimentos de derrota, de temor do futuro, das circunstâncias adversas, de enfermidades, enfim, de tudo aquilo que costuma nos deprimir, vão embora, quando Deus nos toma pela Sua mão e nos põe de pé na Sua presença, manifestando o Seu agrado para conosco, por estarmos vivendo na fé em Seu Filho Jesus Cristo, a quem recorremos para busca de auxílio, para um viver à altura da nossa vocação (chamada), a saber, de sermos santos assim como Ele é santo.
Os ataques do inferno não cessarão mas não poderão produzir mais em nós, qualquer dano ou afastamento do nosso coração de Deus, ou daqueles aos quais amamos, porque o Senhor mesmo pelejará por nós e nos manterá em paz e segurança, conforme a promessa que nos faz em Sua Palavra, em Is 32.15-19, no qual lemos o seguinte:

“15 até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto; então, o deserto se tornará em pomar, e o pomar será tido por bosque;
16 o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no pomar.
17 O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre.
18 O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranqüilos,
19 ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a cidade inteiramente abatida.” (Is 32.15-19)
A habitação em moradas de paz e bem seguras, e em locais quietos e tranquilos, mesmo em meio à saraivada e à destruição de bosques e cidades, consiste na nossa permanência em espírito na pessoa do próprio Senhor Jesus Cristo, em toda e qualquer circunstância, seja ela de honra ou de humilhação.
É somente na nossa real comunhão com Ele que podemos ter tal fruto de paz, segurança, sossego e tranquilidade.
Não há coração que se espante, no qual Cristo esteja de fato reinando.
Daí a importância de um sincero arrependimento, de uma verdadeira busca de perdão em Deus, quando percebemos que nos está faltando a paz, a segurança, o sossego e a tranquilidade de mente e espírito, que procedem de nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando não estamos praticando o que nos é ordenado pela Palavra de Deus, é sinal que nos afastamos da fonte de onde procede o poder para vivermos em conformidade com a referida Palavra.      
Se não somos, da Parábola do Semeador, o solo endurecido à beira do caminho, ou o solo rochoso, ou ainda o solo rodeado de espinhos, que não podem sustentar o crescimento da Palavra de Deus, mas se somos o solo fértil que dá frutos espirituais para o Senhor, segundo a capacidade concedida por Ele a nós, para que produzamos a cem, a sessenta ou a trinta por um, então podemos estar certos de que Deus completará o Seu trabalho de crescimento espiritual em nós, iniciado na nossa justificação e regeneração, e o concluirá através do processo da santificação.
Deste modo, se alguém está se sentindo derrotado, deprimido, impuro, descontrolado, e com falta de paz em seu coração, que lhe impede consequentemente de viver em paz com Deus e com o seu próximo, não deve ficar se acusando e nem permitir que o diabo lhe mantenha debaixo de uma acusação condenatória, que o leve a olhar para si mesmo em busca de algo bom que lhe recomende a Deus.
Não devemos cair nesta armadilha, que tem paralisado a muitos na sua busca de justiça própria.
Antes, olhemos somente para Cristo e para a Sua misericórdia, perdão e salvação.
Somente Aquele que é Forte pode nos livrar da mão do valente que é o pecado e o diabo.
Somente nosso Senhor pode nos colocar de pé na Sua presença, depois de termos nos humilhado debaixo da Sua potente mão, reconhecendo que nós mesmos falhamos ao cairmos em tentação, por falta de vigilância e de oração incessantes.
Uma vez restaurados pelo Senhor, devemos continuar regando diariamente o bosque do nosso coração renovado pelo Espírito Santo, com o regador da fé, da vigilância e da oração, permanecendo firmes em toda e qualquer tribulação, sabendo que Aquele que nos conduziu à segurança e à paz, é poderoso para nos manter firmes e inabaláveis enquanto estivermos caminhando fielmente com Ele, não dando lugar ao diabo e à carne, por uma firme disposição de mente e de espírito de não mais cedermos a estes nossos inimigos citados, um palmo sequer que seja, no território do nosso coração.
Assim, vivamos segundo as seguintes ordenanças bíblicas:
“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.” (Gál 5.13)      
“Ora, o Senhor conduza o vosso coração ao amor de Deus e à constância de Cristo.” (II Tes 3.5)





2 - O Propósito da Criação da Humanidade

Como se afirma no primeiro verso do Salmo 19, de fato: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.”.
Todavia, nem os céus, nem o firmamento, proclamam qual foi o propósito de Deus na criação, e especialmente na criação do homem.
Tal propósito não está proclamado em nenhuma criatura, senão somente na revelação especial escrita que Deus fez na Bíblia.
E a revelação de tal propósito divino na criação do homem, e o modo da sua redenção do pecado, foi revelado somente na Bíblia, e daí ela ser chamada de Palavra de Deus, ou Palavra da verdade.
E todo cristão é chamado a guardar esta verdade, através do testemunho da sua própria vida transformada, e pela sua proclamação, tal como ela se encontra revelada na Bíblia.
A maior parte desta verdade revelada tem a ver com o destino eterno do homem, e com o modo pelo qual tal destino é alcançado ainda neste mundo, através da conversão a Cristo pela graça, mediante a fé.
A história da nossa redenção é o que há na Bíblia.
Tudo ali aponta para este objetivo, e tudo o mais que seja circunstancial está atrelado ao mesmo.
Ela não se propõe portanto a descrever geografia, ciência, matemática, história natural ou qualquer ramos do conhecimento meramente epistemológico e filosófico.
Assim, quando empenhados na tarefa de pregar e ensinar o evangelho de Cristo, nos ocupamos de outros assuntos e enfoques que vão além da revelação das Escrituras, em vez de contribuir em tornar a verdade conhecida, estaremos obstruindo ou enevoando a clara mensagem da verdade evangélica, tal como se encontra registrada na Bíblia.
Deve haver então uma aplicação de aprendizagem da Palavra e de esforço, para que não suceda que ainda que em sinceridade e bem intencionados, sejamos achados nós mesmos como mais um dos grandes opositores da mensagem genuína do evangelho.
Devemos lembrar em todo o tempo que há um propósito central específico, da parte de Deus, na criação da humanidade, porque isto nos ajudará a nunca sairmos do rumo que deve apontar para o farol que é Cristo e o evangelho, oferecendo a justiça do Senhor para a cobertura e perdão dos pecados, de modo que haja conversões e reconciliações, por parte dos que caminham afastados de Deus.
A Bíblia tem este grande objetivo de converter e reconciliar o pecador com Deus; porque afinal, o homem foi criado para ter comunhão em amor espiritual com o Seu Criador.
Fazendo isto, estaremos encaixados no propósito eterno de Deus relativo à criação, e somente isto poderá nos manter em paz com as nossas consciências, durante a nossa peregrinação neste mundo de trevas.
Não vivamos portanto tentando reconciliar, apaziguar, coisas que são irreconciliáveis, como luz e trevas, mentira e verdade, Deus e o diabo, em prol de uma falsa paz ou unidade.
Nunca haverá comunhão entre o erro e a verdade, e por isso somos convocados por Deus a assumir uma posição definida pelos valores verdadeiros e eternos que devem ser achados em nós para que alcancemos a vida eterna.






3 - O Critério da Comunhão Bem-Aventurada

“Companheiro sou de todos os que te temem, e dos que guardam os teus preceitos.” (Salmo 119.63)

Pelo princípio geral de que duas pessoas não poderão caminhar juntas na mesma direção nos assuntos da vida se não houver acordo entre elas, se estabelece o critério do companheirismo.
No campo moral e espiritual este acordo será então visto quer entre aqueles que seguem o bem, ou entre aqueles que seguem o mal.
De modo que não se pode dizer que haja um companheirismo real quando alguém faz parte de um grupo de pessoas de orientação diferente da sua, apesar de pensar que assim o seja, por motivo de ingenuidade ou ignorância da condição em que se encontra.
Este não era o caso do salmista porque estava bem definido quanto àqueles com os quais compartilharia o seu coração em íntima comunhão fraterna. Ele afirma em nosso texto que tinha por companheiros somente aqueles que temessem de fato a Deus, e que comprovassem tal temor por guardarem os Seus mandamentos.
Na verdade, esta não foi uma decisão isolada do salmista, porque temos da parte de Deus o mandamento de não entrarmos em jugo desigual, porque não é possível e nem desejável que haja comunhão entre luz e trevas.
Os que buscam o mal andam em trevas, e os que buscam o bem, andam na luz.
De modo que é por este princípio divino que todo cristão deve nortear a sua comunhão, pois o salmista diz que daria sua destra de companhia a todos, veja bem, todos, que tivessem o temor do Senhor, ou seja que fossem genuinamente pessoas dirigidas por Deus, tal como ele. Não seria por critérios interesseiros de busca de favor, honra, ou quaisquer outros que ele se relacionaria em íntima comunhão com as pessoas, mas fosse qual fosse a condição delas, se pobres ou ricas, sábias ou ignorantes, de condição social privilegiada ou não, enfim, fosse ela qual fosse, teria comunhão indistintamente com todos aqueles que amassem ao Senhor com um coração puro e sincero como o dele. Afinal, não  há outra forma de se ter comunhão real na luz, a não por esta única via de mão também única.
Verdadeiros santos amam a Igreja de Cristo, amam todos os demais santos, independentemente de suas denominações religiosas, países, costumes, ou seja o que for. Oram pelo avanço do reino de Cristo na terra. Vivem para servir zelosamente à Igreja do Senhor onde quer que ela se encontre, ou como se encontre. Intercedem por todos seus irmãos em Cristo e não apenas por aqueles com os quais prive de um relacionamento direto, porque está perfeitamente instruído pelo Espírito Santo que este é o desejo do coração de Cristo, a saber, o da unidade da sua Igreja, na mesma fé, na mesma doutrina, no mesmo amor, no mesmo espírito.
Quem quiser ser proselitista que o seja, mas para sua própria perda e dano, porque efetivamente não é este o desejo de Jesus para os seus servos.
O verdadeiro temor a Deus ao qual se refere o salmista é de caráter servil e filial. Tememos ao Senhor por conhecer o nosso dever de servi-lo com fervor de espírito, com sabedoria e diligência, sob o poder e direção do Espírito Santo; pois sabemos que Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, que deve receber a devida honra e adoração de todos os seus servos.
Em segundo lugar, este temor é de caráter filial porque o cristão é como uma criança diante de Deus que teme ofender ou desapontar o seu pai amado. E ele sabe que isto não pode ser feito senão pela santificação operada pelo Espírito Santo pela aplicação da Palavra de Deus à sua vida. Por isso o salmista define aqueles que têm o temor de Deus como sendo os que guardam os Seus mandamentos. Veja bem, não apenas aqueles que reconhecem que a Palavra de Deus é a verdade, mas que a praticam de fato, buscando amoldar suas vidas às ordenanças de Deus, de modo que sejam elas o guia de todo o seu comportamento.






4 - “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3.3)

O alvo de Deus na criação do homem é o de que este tenha comunhão amorosa com Ele.
Agora, como é possível haver comunhão de espíritos onde Deus quer uma coisa e o homem outra, em relação ao mesmo assunto?
O argumento liberalista aponta a importância de a vontade do homem ser respeitada por Deus, ainda que vá na contramão da Sua vontade divina.
Não é necessário muito esforço para entendermos que é justamente nisto que reside o pecado.
Não foi isto que Satanás e os anjos caídos fizeram e que foi a causa da sua queda?
Não foi isto que Adão e Eva fizeram no Éden, e que trouxe a maldição de Deus a toda a criação?
Pode haver paz na casa quando os seus habitantes andam em desacordo?
E é importante lembrar que dependemos inteiramente da graça de Deus para ter harmonia em nossos lares, porque podemos ficar à mercê do ataque de demônios que podem causar terríveis ruídos em nossas comunicações e indisposições  em nossos corações para com aqueles aos quais amamos.
Ai de nós se não fossem repreendidos pelo poder de Cristo! Se não fosse por isto poderíamos estar permanentemente com nossos corações turbados e magoados.
Então importa estarmos em paz com Deus e sujeitos à Sua vontade, Palavra e poder, de modo que possamos contar não apenas com os Seus livramentos, mas sobretudo com o deleite da comunhão com Ele, que se estenderá a todos os Seus filhos.
Nunca devemos esquecer que temos um estado latente ruim em nossa alma, decaída no pecado, o velho homem do qual devemos nos despojar continuamente pela mortificação do pecado.
E como faremos isto sem o poder da graça de Cristo? Sem o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo?
Deus não deve estar apenas em nossa casa espiritual, a saber, no nosso corpo, que é templo do Espírito, mas deve deter o pleno governo sobre a mesma.
Este é o único modo de vivermos para a Sua exclusiva glória, e para o louvor da glória da Sua graça (Ef 1.6).
Importa caminhar com Deus, especialmente pela razão exposta pelo apóstolo em Gálatas 5.17:
“Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.” (Gál 5.17)






5 - Comunhão com Cristo

Tradução e adaptação de citações extraídas do sermão de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.

 “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” Amós 3:3.

A expressão, “andar juntos”, é comumente usada nas Escrituras como uma representação de comunhão. “Enoque andou com Deus: e já não era; pois Deus o tomou para si.”
Comunhão, em seu sentido completo, implica em atividade.  Não é meramente contemplação, é ação, e, portanto, na medida em que andar é um exercício ativo, e andar com um homem é ter comunhão com Ele, comunhão ativa com Ele, vemos como andar vem a ser a imagem da verdadeira comunhão com Cristo.
Um velho puritano, certa vez disse, “Não dizem que Enoque retornou a Deus e depois O deixou, mas que Ele andou com Deus”.
Através de toda essa jornada, Ele teve Deus como companheiro e viveu em perpétua amizade com seu criador.
Há, também, outra ideia contida no termo “andar junto”. Não é apenas atividade, mas continuidade. Logo, a verdadeira comunhão com Cristo não é um mero êxtase, mas é o trabalho do Espírito Santo, e se é desfrutada pela alma saudável, será algo contínuo.
Isso também leva ao progresso, pois, ao andar junto, nós não levantamos nossos pés e os abaixamos no mesmo lugar, mas seguimos adiante cada vez mais próximos do fim da nossa jornada. E aquele que tem verdadeira comunhão com Cristo progride. É verdade que Cristo pôde seguir em direção à excelência, pois Ele já atingiu a perfeição, mas quanto mais próximo chegarmos dessa perfeição, mais amizade temos com Jesus – e a menos que progridamos, a menos que busquemos ser mais semelhantes a uma criança na fé, mais instruídos em sabedoria e mais aplicados em servir – a menos que busquemos ter mais zelo e fervor, perceberemos que, em tal momento de inércia,  perdemos a presença do Mestre, pois é somente seguindo ao Senhor que prosseguimos em andar com Ele. Isso, portanto, irá abrir seus olhos para ver como andar com uma pessoa é uma excelente imagem para comunhão com Ele e como o termo, “andar com Deus”, é a melhor expressão para a amizade com Deus.
Consequentemente, nosso texto implica pela sua própria forma, na ideia de que dois não podem andar juntos a menos que concordem. E isso nos ensina, portanto, que a menos que estejamos em concordância com Cristo, não podemos nos ater ao doce estado de comunhão com Ele.
Nós devemos, antes de mais nada, notar o acordo aqui mencionado. Devemos, em segundo lugar, tentar notar a necessidade desse acordo. E então, em terceiro, devemos convidar todos os Cristãos a buscarem esse acordo com Cristo para que possam ter completa comunhão com Ele.
Eu não estou me dirigindo tanto ao mundo exterior quanto ao interior da Igreja. Quando pregamos o evangelho da Salvação, o pregamos ao mundo. Mas a comunhão é com o Santo dos Santos! A salvação, por si só, parece ser o Santo Lugar, mas a comunhão é o Lugar Interior, que é onde há o véu, e em que ninguém a não ser os cristãos tem permissão para entrar.

I. Primeiro, então, vejamos QUAL É O ACORDO que deve existir entre o seu Senhor e você antes que possa andar com Ele. Vamos manter a figura e  ver que há certas coisas necessárias para que uma pessoa possa andar com outra.
Primeiro, é certo que se quisermos andar com Cristo, devemos andar no mesmo caminho que Ele. Dois homens não podem caminhar juntos se um segue uma direção e o outro segue o caminho oposto. Se um vai para a direita e o outro para a esquerda, eles não podem andar juntos, embora eles possam alcançar o mesmo fim. Por seguir diferentes estradas, Eles não podem caminhar juntos a não ser que andem juntos na mesma estrada.
É fato que Eles podem conversar mesmo estando a jardas de distância, mas se um caminhar de um do lados da estrada, e o outro em outro lado, pensaríamos que a comunhão entre Eles era um tanto distante e o amor um tanto frio. Mas, quanto mais próximo eles caminharem precisamente na mesma estrada, mais Eles serão capazes de manter amizade um com o outro.
Agora, filho de Deus, embora você não possa ser salvo por suas boas obras, e sua salvação não depende de suas obras, lembre-se do que a sua comunhão depende! É impossível ser amigo de Cristo sem ser obediente a Seus mandamentos. Deixe um Cristão errar e Ele será invadido por muitas aflições. Deixe um filho de Deus abandonar o caminho de Deus, permita-lhe, como, ai de nós, muitas vezes fazemos, pulamos a cerca para o prado do Caminho Errado, e ele não terá seu Senhor para pular com ele a cerca para o prado do Caminho Errado!
Se formos obstinados e escolhermos nosso próprio caminho, devemos ir por ele sozinhos. Se, por algum prazer aparente, ou algum ganho fantasioso, ao invés de seguirmos a Coluna de fogo, seguirmos a vontade incerta dos nossos próprios desejos, teremos que ir sós, e nas trevas, também! Cristo irá conosco em qualquer lugar que o dever nos chamar. Se o dever nos chamar à fornalha de fogo, o Filho do Homem estará lá. Se nos levar ao covil dos leões, Ele fechará as bocas dos leões. Ele não teria ido lá com Daniel, se ele tivesse buscado, por negligência do dever, evitar a destruição ameaçadora. O Senhor não teria ido com Sadraque, Mesaque e Abdenego dentro da chama da fornalha feroz, se Eles tivessem se ajoelhado à imagem, Ele não teria ido com eles. “Se você andar contrário à mim”, diz o Senhor, “Eu andarei contrário a você”.
Aqui eu devo ressaltar o que disse, antes que seja mal compreendido. Não disse que Cristo abandona Seu povo a fim de destruí-lo – mas Ele os deixa de modo a tirar sua comunhão com Ele. Pois, novamente, eu repito que, apesar de a salvação não depender de boas obras, a comunhão possui essa dependência – e não pode ser desfrutada entre Cristo e uma alma que está cheia de pecado. Um homem pode ter muitos pecados contra Ele e ainda assim ser salvo. E muitas vezes a fragilidade e a imperfeição fragmentam-nos. Mas se estivermos vivendo em pecado; se estivermos, de qualquer forma, violando os mandamentos de Deus – o âmbito do nosso pecado será o âmbito da separação entre nossas almas e Cristo. O pecado pode não nos matar, mas nos fará doentes. Tirará a mão direita de Cristo de cima de nossas cabeças. Tome cuidado, portanto, cristão, em andar nos passos do seu Mestre. Empenhe-se em ser obediente à Sua Lei. Viva de forma justa, sóbria e piedosa em meio à uma torta e perversa geração. Seja como Calebe, que seguiu plenamente ao Senhor. Esforce-se em todas as formas para aprender Sua vontade e então fazê-la. Em todos os caminhos apontados pelo Senhor, prossiga em sua jornada. Lembre-se de todas as Suas ordenanças, e pratique todos os Seus preceitos. Não seja o cavalo ou a mula que não tem nenhum entendimento, cuja boca deve ser presa com freios e rédeas para que não chegue próximo a você – mas seja guiado pelo próprio olho do Senhor. Corra no caminhos de Seus mandamentos e encontrará uma estrada de alegria! Esse é o primeiro ponto – aqueles que andam juntos têm que ir pelo mesmo caminho.
Além disso, ao ir pela mesma direção, Eles têm que ir pelo mesmo motivo. Duas pessoas podem estar indo no mesmo caminho, mas suponha-se que estejam indo por razões opostas? Há um advogado andando lado a lado com um homem que vai assaltá-lo. Deixe o pobre homem saber que vai ser roubado no fim da jornada e não haverá nenhuma comunhão entre os dois! Suponha que Eles lutarão entre si – não haverá comunhão alguma entre Eles. Imagine os dois indo à mesma eleição, pretendendo votar em candidatos opostos – Eles não estarão propensos a manter um diálogo amigável um com o outro, apesar de estarem indo no mesmo sentido. Então, é necessário que não devamos ir apenas pela mesma estrada, mas com o mesmo motivo.
Talvez você possa perguntar: “É possível que eu vá com Cristo pela mesma estrada, mas ainda assim não com o mesmo motivo?”. Certamente, é. Pense num homem que aparenta ser tão santo como um cristão. Ele parece ser tão obediente ao Senhor como alguém que realmente O segue. Nas cerimônias, ele é o primeiro a observá-las. Nas ações de moralidade, ele as atende da forma mais escrupulosa. Mas pergunte-lhe o porquê de fazer tudo isso, e ele responde que é porque deseja salvar sua alma através disso. Imediatamente, ele e Cristo estão em desacordo! Cristo compara tal pessoa a um anticristo e eles são inimigos jurados. Você está tentando salvar a si próprio? Então, você quer ser um salvador, enquanto Cristo é o Salvador? Então você e Ele estão em inimizade! Mas se você está viajando na estrada para ser salvo pela graça, desejando manifestar sua gratidão com seus lábios e em sua vida, então você não deseja roubar a função de Rei ou Sacerdote de Cristo de qualquer dignidade. Você não deseja se colocar como outro rei em Sião. Mas se você está andando nessa estrada com uma causa contrária à de Cristo, você não pode manter comunhão com Ele.
Há muita abençoada comunhão com Cristo a ser desfrutada no Banquete do Senhor, mas se alguém vem à Sua mesa meramente com o pensamento de que isso o tornará bom e salvará sua alma, não existe comunhão com Cristo para Ele porque esse não é o objetivo de Cristo. E ocorre o mesmo com o batismo. Essa ordenança é um abençoado meio de comunhão com Cristo em Sua morte e sepultamento, mas se alguém deseja ser batizado, supondo que a observância da ordenança salvará sua alma, então não há comunhão alguma! Se alguém atribui mais valor ao ato (de se batizar) do que Cristo ordenou e, portanto, faz dEle um dever a cumprirmos – o momento em que o homem supõe alguma eficácia na água e no corpo sendo submergido nesse lugar – então a comunhão cessa, pois a menos que venhamos a algo com a causa de Cristo, ou com uma razão que é agradável ao Seu coração, não somos capazes de caminhar com Ele. Dois não podem andar juntos a menos que estejam em concordância, não somente na direção em que andam, mas também no objetivo por que andam nessa direção.
Novamente, duas pessoas podem andar na mesma estrada, elas podem andar com o mesmo propósito e ainda assim não serem capazes de se comunicarem a menos que andem no mesmo ritmo. Se uma pessoa viajar muito rápido, e outra que vive na mesma casa, ir para casa rastejando muito lentamente, talvez elas passem pelas mesmas ruas, contudo não dirão nada uma para a outra porque uma estará em casa bem antes da outra. Então devemos concordar no passo em que viajamos. Por que é que muitos cristãos não possuem amizade alguma com Jesus? É porque Eles viajam para o Céu tão devagar que o Senhor Jesus os deixa para trás! Eles são tão desinteressados, tão frios, tão indiferentes – têm tão pouco zelo, tão pouco amor – têm tão pouco desejo em glorificar a Deus que o coração veloz de Jesus não pode se conter para permanecer com eles.
“Oh” – alguém diz – “eu viajo o mais rápido que eu posso, mas eu só sou uma fraca criatura! Eu geralmente vou devagar quando vejo os outros correndo e, quando eu corro, eu vejo os outros voando”. Amados, Cristo não mede sua caminhada pela velocidade com que você vai. Se o seu desejo é sem interesse, o Senhor Jesus o deixará e viajará na sua frente – e você provavelmente irá sentir o chicote da aflição atrás de você incomodando sua alma para viajar mais rápido! John Bunyan tem um bom exemplo. Ele diz, “Se você enviar um servo para encontrar remédios e Ele for o mais rápido que puder, talvez ele conduza um cavalo ruim que não pode fazê-lo ir mais rápido. Mas se o mestre não medir o passo pelo ritmo em que o cavalo vai, mas por aquele que o servo quer que o cavalo vá, ele dirá: aquele homem iria mais rápido se tivesse um cavalo melhor, e já estaria de volta com os medicamentos.”
Também é assim com nossa pobre carne e sangue. É um ritmo de aflição em que não podemos ir montados sem algo tão triste de ser conduzido – mas o Senhor Jesus mede nosso andar, não pela verdadeira distância percorrida, mas pelos nossos desejos! Quando Ele nos vê  esforçando e estimulando, como se fosse, em oração, puxando a rédea, e trabalhando para tornar nossa pobre carne e sangue em algo elevado com devoção e zelo, Ele aceita a vontade pela ação e continua nos acompanhando, mesmo conosco que somos tão pobres discípulos. Mas deixe nossos desejos serem frios, nos tornarmos preguiçosos, não fazemos nada por Cristo – que maravilhoso se o Senhor Jesus disser: “esse homem não observa às minhas Palavras e não pratica o que eu digo. Eu não vou cear com ele e nem Ele comigo. Eu vou dar conforto suficiente para mantê-lo vivo. Eu lhe darei alimento espiritual suficiente para salvar sua alma da verdadeira fome, mas o porei numa dieta pobre até que ele torne a Mim com pleno propósito de coração. E então o trarei para perto de Mim e lhe mostrarei Meu amor.”
Há mais uma coisa. Imagine duas pessoas viajando em uma mesma estrada, com as mesmas intenções e na mesma passada, mas se ainda assim, não andam juntas para manter amizade uma com a outra porque não gostam uma da outra. Onde não há amor (e que, talvez, seja o sentido completo do texto), não pode haver comunhão. A não ser que dois concordem com o coração, Eles não podem andar juntos. Você conhece alguns dos nossos excelentes amigos hiper-calvinistas. Agora, suponha que um Deles se depare com um arminiano – não se pode pensar por um instante que haverá um diálogo entre os dois sem que um irrite e abuse do outro. Suponha que um bom irmão Batista estrito fale conosco, que temos princípios mais amplos. Ele nos combaterá com armas pesadas e nos restringirão por nos conduzir ao pecado ao pecado de não estar em comunhão, tanto quanto deveríamos, todos que amam o Senhor Jesus Cristo e dar as boas vindas à mesa do Senhor a todos os que cremos que o Senhor aceitou. Mas, até onde a comunhão é exigida, o nosso irmão seria obrigado a ir para o outro lado da estrada. Deve haver, ele acha, uma pequena distinção e uma pequena diferença mantidas, para a honra de sua própria visão. E sabemos que há alguns irmãos que possuem uma peculiar grosseria de temperamento – eles parecem estar cobertos com cardos e espinhos afiados para furar e incomodar qualquer pessoa que apareça em seu caminho. Você não pode ter comunhão com eles. É impossível andar na mesma estrada com eles - para você seria melhor manter a paz de qualquer forma porque eles dariam má interpretação ao que você diz. É preciso que haja um acordo no coração, um acordo na opinião, de outra forma dois não podem andar juntos.
Oh, cristão, você tem concordância de coração com o Senhor Jesus? Você ama a Cristo e você O considera como algo bom? Você já buscou exaltar e falar bem de Seu nome? Você o considera o chefe de dez mil e totalmente desejável? Acha que Ele também tem uma opinião a seu respeito? Ele já te disse, “você é completamente justo; não há mancha em você”? Ele já falou palavras suaves ao seu coração que te fizeram pensar que Seu coração compassivo te conquistou? Ah, então, a comunhão é fácil entre você e seu Senhor, pois duas almas estão ligadas ao mesmo feixe de vida, e, portanto, é possível para você e Cristo caminharem juntos! Você e Ele têm a mesma opinião? As palavras de Cristo são sua doutrina? Você já foi ensinado a desistir de toda divindade que não venha de Cristo? Você pode dizer dEle, “Ele é meu único Mestre, meu único Professor na Lei e no Evangelho. Aos pés dele, como fez Maria, eu poderia sentar e receber essas palavras e crer que tudo que Ele proferiu é a Verdade de Deus”? Se sim, a comunhão entre você e Cristo é fácil, pois, quando dois concordam em pensamento, intenção, direção e afeição, podem andar juntos.

II. O segundo ponto deveria ser A NECESSIDADE DO ACORDO.
Primeiro, Cristo não andará conosco a menos que estejamos em concordância com Ele por que se Ele o fizesse, seria um insulto à Sua própria honra. Não, mais que isso, seria uma negação de Sua própria Natureza! Cristo concordaria com o maligno? Deveria Ele fazer-se mais livre e comunicativo com aqueles que se entregam aos desejos da carne e desobedecem Seus mandamentos? Seria um desgosto se o Filho do Rei andasse de braço dado com traidores! Não deveríamos ver como um bom sinal se víssemos o mais exaltado na terra andando com o mais rebaixado. Cristo mantém boa companhia, mas se não tivermos nossos corações purificados pelo Espírito Santo, Ele absolutamente não virá a nós. Ele não permanecerá nem mesmo com Seus próprios filhos, enquanto Eles abrigarem o pecado. Convide o diabo para a sala de estar do seu coração, e Cristo não virá. Não, seria uma diminuição de Sua própria dignidade, um insulto ao Seu próprio caráter. Entregue o seu coração ao vício de algum desejo ambicioso, e então não poderá insultar o Salvador convidando-O para vir a você. Em nossas casas não convidamos duas pessoas que estão em inimizade, e não seria bem isso se Cristo viesse onde o pecado está reinando, ou sendo mimado, ou satisfeito? Não, irmãos e irmãs, Ele sabe que há pecado no melhor coração humano, mas, à medida que Ele é reprimido e conforme Ele vê que nosso desejo é o de nos desfazermos do pecado, Ele virá. Mas quando Ele vê o pecado sendo estimado e alimentado no lugar que deveria ser Seu próprio palácio; quando Ele vê orgulho e auto-segurança abrigados lá, Ele diz: “não retornarei até que eles tenham se arrependido de seus pecados.”
Existe outra razão pela qual você não pode ter comunhão com Cristo a menos que esteja em acordo com Ele, e é porque você mesmos são incapazes disso. A não ser que sua alma esteja em concordância com Cristo. A menos que, em motivo, objetivo e vontade, você esteja, da forma mais possível, como seu Mestre, você não pode se elevar à dignidade de amizade com Ele! Amizade com Cristo é um grande privilégio – nenhum homem pode alcançá-la enquanto satisfizer propósitos maus, ou desejos baixos. O coração deve ser assimilado à semelhança de Cristo. Deve ser purificado e renovado pelo Espírito Santo, ou Ele perde suas asas e fica incapacitado de subir aos lugares altos da terra onde Cristo mostra a Seu povo o Seu amor.
Cristo não pode e não irá manter doce amizade com Seu povo a menos que estejam em harmonia com Ele. Se os cristãos se desviassem do caminho de Cristo e decaíssem de seus caminhos – e Cristo ainda lhes satisfizesse com festas de amor – eles não perceberiam seus pecados e continuariam neles. Deixe um pai tolerar o filho desviado com toda a ostentação de sua afeição. Deixe-o pôr de lado a correção. Deixe-o nunca usar uma palavra severa, mas tratar o pecador com o mesmo amor  para com outro que é respeitador e obediente – como esperar que o filho abandone seus erros? Se Cristo desse o mesmo amor, as mesmas bênçãos no pecado e depois do pecado, como Ele dá no cumprimento do dever, Seu povo dificilmente reconheceria seus pecados e iria continuar neles. Mas da mesma forma que o Senhor se agrada em causar dor pelos sintomas de doença, assim como uma dor no corpo torna-se um indicador de algo errado conosco, Ele faz da ausência da sua própria amizade o sintoma pelo qual podemos saber que há algo errado com a nossa alma que é hostil a Ele – algo que precisa ser expulso antes que a santa Pomba venha, com asas de conforto, para habitar nos nossos corações. “Podem dois caminhar juntos, sem concordância?”. Não. Isso é impossível.

III. Agora, em terceiro lugar, Eu gostaria de convencer todos os cristãos a BUSCAREM ESSE ACORDO COM CRISTO.
Amados, para que vocês possam estar em acordo com Cristo, devo primeiro lhes lembrar que a perpétua habitação do Espírito Santo deve estar com vocês. A menos que o mesmo Espírito que habita em Cristo habite em vocês, seu acordo não poderá jamais alcançar uma altura de forma a admitir profundidade ou proximidade de união. Tenham cuidado em continuamente buscar a unção que vem do alto, na habitação do Santo de Israel! Na medida em que seu coração for revestido pela influência Divina e batizado pelo santo fogo do Espírito – nessa proporção sua alma estará em concordância com Cristo e sua união será verdadeira, íntima e permanente. Tenham cuidado nisso.
E então, prosseguindo, sob essa Divina influência, observe bem todos os seus motivos. Não procure ter algum objetivo para conseguir glória para si próprio, ou honra para os seus companheiros. Cuide para que tudo que você fizer, seja feito com uma única visão da honra de seu Mestre, pois, a não ser que Sua visão seja única, seu corpo será cheio de trevas. Se você verá o brilho da face de seu Senhor, você deve buscar a glória dEle e somente dEle.
Então, se você vai ter união com Cristo, tome cuidado, por conseguinte, em fazer tudo em dependência dEle, pois se, nos afazeres da sua alma, você trabalhar para si próprio, Cristo estará em inimizade com você. Não busque somente voltar-se para a Ele por direção, mas também por ajuda. E olhe para Ele em suas orações, em sua pregação, no seu ouvir e em tudo, pois então Cristo e sua alma concordarão e você terá amizade com Ele.
E, por último, esteja continuamente querendo mais santidade. Nunca se contente com o que você é. Busque crescimento. Busque ser mais e mais como Cristo! E então, quando esse desejo por santidade for o mais forte, você terá o mesmo desejo que Cristo, pois o desejo dEle é que você seja santo, assim como Ele é. E seu mandamento é, “seja, portanto, perfeito, como seu Pai que está nos Céus é perfeito.” E quando seus desejos forem os de Cristo, então será possível andar com Ele, mas não até então!
Eu desejo ter uma igreja em completo acordo com o Senhor Jesus Cristo, pois essa seria uma igreja contra a qual as portas do inferno não prevaleceriam! Se uma igreja é meramente fundada por um homem, o homem irá morrer e a igreja perecerá. Se uma doutrina é apenas ensinada por um homem e você a receber em sua própria autoridade, a autoridade dele passará como todas as coisas terrenas. Mas, se for de Deus, ai de quem combatê-la, porque nunca poderão prevalecer contra Ele!  Ai daquele que se lançar contra essa pedra, pois será feito em pedaços! E se for rolada sobre ele, o reduzirá a pó! Sejamos claros que uma igreja deve ser uma igreja de Deus em suas doutrinas, em suas ordenanças, em oração e louvor – e nós devemos saber que ela deve ser como a rocha que lemos em Daniel, “cortada do monte sem auxílio das mãos.” Ninguém será capaz de quebrá-la, mas ela fará todos os seus opositores em pedaços e encherá a terra!
Agora há alguns amigos que estão prestes a andar com Cristo rumo ao batistério. Podem dois andar juntos a menos que concordem? Você pode entrar nesse tanque, mas não pode trazer Cristo com você a menos que esteja em acordo com Ele. Se você vier sem acordo com Cristo, estará cometendo um grande erro a respeito disso em sua vida, ou então não andará mais com Ele e estará ofendido com Ele.
Lembrem, irmãos e irmãs, a menos que dois corações estejam em concordância, a menos que Cristo e seu coração sejam feitos um, vocês terminarão a amizade um com outro antes do tempo! Cristo não mais ficará em paz com você, nem você estará em paz com Cristo. Sua profissão de fé não terá duração, afinal, a menos que seja verdadeira e real – a expressão do íntimo do coração. Eu oro para que sua profissão possa ser sincera hoje, que você possa testificar ao mundo um verdadeiro e completo Salvador de acordo com seu Senhor e Mestre. E se você não estiver em acordo com Cristo, eu te faço uma súplica, que apesar de ter ido tão longe, não vá mais longe! Não entre nesse tanque de batismo até que você verdadeiramente esteja em concordância com Cristo! Eu te ordeno, em nome do Deus vivo, que assim como você terá que permanecer perante Seu tribunal no fim, não seja hipócrita! Seja sincero, pois, se você se entregar de forma não completa a Cristo, você está fazendo como aqueles que vêm indignamente à Ceia do Senhor – que comem e bebem condenação para suas próprias almas – porque aquele que é mergulhado no tanque batismal como um hipócrita, é imerso na sua própria condenação!
Mas, humildes seguidores de Jesus, vocês têm nos testificado sua amizade na fé! Não tenham medo, agora, de confessá-la diante dos homens – e que Deus possa confirmar seus nomes, afinal, entre os seguidores do Cordeiro, pela causa de Seu querido Filho! Amém.







6 - Unidade e Comunhão

Comunhão e unidade é muito mais do que simplesmente amizade, conforme se costuma pensar geralmente.
A unidade e comunhão dos crentes entre si, e com Deus é produzida pelo Espírito Santo quando caminham na mesma fé, doutrina e amor. Onde isto faltar, o Espírito não pode produzir a unidade e comunhão esperadas por Deus.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo, quando orou em favor da unidade dos crentes em João 17, Ele pediu ao Pai que os santificasse na verdade, a saber, na Sua Palavra, para tal propósito. Somente este vínculo, este laço de união, é durável e inquebrantável.
Uma suposta unidade na Igreja que seja baseada em mera concordância em pontos relativos a estratégias ou deliberações tomadas em convenções e assembleias, não podem ser eficazes ou duradouras, e pouco ou nada poderão refletir daquela verdadeira união que é promovida pelo Espírito Santo.
O amor aqui citado não é o simples amor fraternal de amizade, ou fileo, mas o amor ágape divino que é sacrificial e sobrenatural, cujas características são destacadas no décimo terceiro capítulo de I Coríntios.
Atitudes carnais que são normalmente usadas para se promover a unidade dos crentes nas congregações locais, como exortações a que vistam a mesma camisa de determinado líder, ou sigam as diretrizes assentadas que sejam contrárias ao conteúdo e tom das Escrituras, não podem de modo algum, gerar a verdade, unidade e comunhão na Igreja.
Jesus orou por isto. E sem que o busquemos também pela oração, e sem perseverar na doutrina dos apóstolos como ocorria na Igreja Primitiva, jamais poderemos desfrutar de uma comunhão espiritual e verdadeira em nossas igrejas.
O apóstolo João que experimentou bem de perto a comunhão com Cristo, nos alerta que sem andarmos na luz em verdadeira santidade de vida, estaremos mentindo se dissermos que temos tido comunhão com Deus e uns com os outros:
I João 1.6 Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade;
I João 1.7 mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado.
Os crentes devem estar unidos no mesmo edifício espiritual que está sendo erigido por Deus, em Jesus Cristo.
Finalmente, neste assunto sobre a unidade e comunhão dos crentes entre si e Deus, deve ser levado principalmente em consideração, a verdade de que em Cristo todos são membros de um só corpo espiritual que foi planejado por Deus antes da fundação do mundo, do qual nosso Senhor é a Cabeça. Há de se ver então, uma justa e íntima cooperação entre os membros, cada qual cumprindo sua função para o benefício do todo, de forma que se cumpra o propósito de Deus, e Ele seja glorificado.
“Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.” 1 Coríntios 12:12

Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras:
1 – henotes (grego) – unidade;
2 – koinonia (grego) – comunhão; e
3 – textos sobre profetizar; relativos ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128357

Você pode ler toda a Bíblia com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:

http://interpretabiblia.blogspot.com.br/

E Sermões e mensagens  em:

http://retornoevangelho.blogspot.com.br/






7 - Prazer de Andar com Deus

Por John Flavel

O prazer e o proveito obtidos por contemplar o que Deus faz na providência.

Eu devo agora apresentar-lhes o grande prazer de andar com Deus e ver de perto diariamente Suas providências.

1. Desse modo podem desfrutar de uma íntima comunhão diária com Deus

O Salmo 104 constitui uma meditação sobre as obras da providência. O salmista diz: "A minha meditação a seu respeito será suave" (versículo 34). A comunhão consiste em duas coisas: Deus Se revelando à alma, e a alma respondendo a Deus. O efeito dessa comunhão sobre nós é visto de quatro modos:

(I) Como no caso de Jacó e outros santos do passado, nós somos levados a sentir que não merecemos nem sequer a mínima das misericórdias de Deus e nem a verdade que Ele tem nos manifestado. Somos levados a dizer: "Não sou digno da menor de todas as tuas beneficências, e de toda a fidelidade que tens usado para com teu servo" (Gênesis 32:10).

(II) Nosso amor por Deus é engrandecido quando nos lembramos de Suas misericórdias. Todo homem ama as bênçãos de Deus, mas um santo ama o Deus das bênçãos.

(III) Comunhão com Deus, fruto de meditação nas Suas providências, faz com que a alma vigie rigorosamente contra o pecado.

(IV) A comunhão nos facilita obedecer e servir ao Senhor. Davi e Josafá também tiveram essa experiência (Salmo 116:12; 11 Crônicas 17:5-6).

Assim, vemos quão maravilhosa é a comunhão que uma alma pode ter com Deus através do estudo de Suas providências. Oxalá vocês andassem dessa maneira com Ele! Quando tais efeitos forem produzidos nos seus corações o Senhor dirá: "Os favores pelos quais vocês foram beneficiados, não foram dados em vão!" Ele Se alegrará em lhes fazer o bem, para sempre.
2. Grande parte do prazer da vida cristã provém de contemplar o que Deus faz na providência. "Grandes são as obras do Senhor, procuradas por todos os que nelas tomam prazer" (Salmo 111:2)

(I) Vejam como diferentes partes do caráter de Deus cooperam juntas na providência. Às vezes parece que uma se opõe a outra, mas, no fim, elas se harmonizam. "A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram" (Salmo 85:10). Essas palavras se referem a volta de Israel do cativeiro na Babilônia. A verdade e a justiça de Deus contidas na promessa que Ele havia feito 70 anos antes, pareciam distantes da experiência de graça e paz com que Israel agora se deparava saindo do cativeiro! A promessa, feita tantos anos antes, e o cumprimento setenta anos depois, são descritas como dois amigos que riem e se beijam ao se encontrarem depois de longa ausência. Sempre que as promessas de Deus e as coisas prometidas se encontram, elas são alegremente aceitas por aqueles que creem.

(II) Vocês frequentemente veem suas próprias orações e esperanças ressuscitando-se da morte, por assim dizer, quando meditam nas obras da providência. Deus tarda em responder nossas orações e nós dizemos: "Já pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor" (Lamentações 3:18). Por outro lado, ficamos cheios de conforto quando essas orações são atendidas, posto que havíamos perdido toda esperança de receber qualquer resposta a elas. As vidas de Jó, Jacó e Davi mostram como às vezes eles perderam toda esperança de sobreviver, mas após uma estranha e inesperada obra da providência, suas esperanças e confortos retor naram e receberam "vida vinda da morte".

(III) Que grandes bênçãos a providência nos traz daquelas coisas que pensávamos capazes de nos trazer ruína ou miséria. José jamais imaginou, ao ser vendido ao Egito, que isso lhe traria algum benefício; todavia, ele viveu para ver um grande propósito em tudo aquilo (Gênesis 45:5). Quantas vezes nós somos levados a dizer como o salmista: "Foi-me bom ter sido afligido" (Salmo 119:71). A princípio recebemos nossos problemas com lamentos e lágrimas, porém mais tarde os contemplamos com alegria e louva mos a Deus por eles!

(IV) Que conforto imenso é para uma pessoa — que só vê o pecado em sua vida — ver como Deus a tem em alta estima. Enquanto a providência cuida dela, essa pessoa vê bondade e misericórdia lhe acompanharem todos os dias de sua vida (Salmo 23:6). Outros homens procuram o bem e este foge deles! Mas bondade e misericórdia seguem os filhos de Deus e eles não podem evitar de serem seguidos, embora às vezes eles pequem e saiam do caminho certo. Não há dúvida, o povo de Deus é Seu tesouro e "ele não tira os olhos do justo" (Jó 36:7).

O que mais poderia nos dar tanto conforto e alegria neste mundo como o conhecimento de quê tudo que nos acontece ajuda-nos na caminhada para o céu? Apesar dos ventos e marés da providência muitas vezes parecerem estar contra nós, nada é mais certo de que eles estão nos trazendo mais perto de Deus e nos preparando para a glória.

3. Um estudo do que Deus faz pela providência corrigirá .a incredulidade natural dos nossos corações Há uma impiedade natural nos melhores corações, e essa é fortalecida quando nós pensamos erroneamente sobre as obras da providência. Nós somos tentados a dizer como Asafe, "Eis que estes são ímpios; e, todavia, estão sempre em segurança, e se lhes aumentam as riquezas" (Salmo 73:12). Mas se observarmos cuidadosamente o modo pelo qual Deus castiga homens ímpios, alguns neste mundo, e todos eles no mundo vindouro, nossa fé será plena mente confirmada. As providências que revelam a sabedoria, poder, amor e fidelidade de Deus em guardar e livrar Seu povo de todos os perigos, tristezas e dificuldades que lhe sobrevêm, são muito evidentes! O Senhor mostra-Se ao Seu povo nessas coisas (Salmo 94:1). Pensem em suas próprias experiências e perguntem-se quem supriu todas as suas necessidades nos tempos difíceis. Foi o Senhor, não foi? "Deu mantimento aos que o temem; lembrar-se-á sempre do seu concerto" (Salmo 111:5). Como é que vocês têm sobrevivido a tantos perigos, doenças e acidentes? Não há dúvida de que Deus estava nessas coisas, e que somente pelo Seu cuidado têm sido preservados. A mão de Deus também é vista claramente nas respostas às suas orações. "Busquei ao Senhor, e ele me respondeu, livrou-me de todos os meus temores. Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias" (Salmo 34:4-6). Porventura não descobriram, também a mão de Deus guiando e dirigindo seus passos, de forma que bênçãos nunca imaginadas lhes foram dadas? O povo de Deus Lhe é muito querido. Ele executa todas as coisas para Seus filhos (Salmo 57:2).

4. Fazer anotações do que a providência nos tem feito, será um apoio para a fé em tempos difíceis no futuro

É muito mais fácil para a fé percorrer uma vereda bem conhecida do que trilhar uma nova, onde não se pode ver um passo à frente. Quando começamos a crer em Cristo, o mais difícil era o exercer a fé, Todos os atos posteriores de fé se tornaram mais fáceis devido nossas primeiras experiências. Quando nos sobrevêm uma série de problemas, é um grande auxílio poder dizer: "não é a primeira vez que passo por tais provações, mas sempre saí vitorioso". Quando os discípulos se acharam desprovidos de pão, Cristo teve que lembrá-los dos milagres que Ele já fizera anterior mente (Mateus 16:8-11). Ele chamou-os de homens de "pouca fé" porque eles deveriam ter confiado em Deus, depois de terem visto tanto do Seu poder no passado. Há duas maneiras pelas quais mostramos nossa incredulidade: duvidamos do poder de Deus e duvidamos da Sua disposição para nos ajudar. Os filhos de Israel julgaram que algumas coisas eram impossíveis para Deus. "Poderá Deus porventura preparar-nos uma mesa no deserto? Poderá também dar-nos pão, ou preparar carne para o seu povo?" (Salmo 78:19-20). Visto que não entendemos o caminho pelo qual o auxílio possa vir, achamos que nenhum pode ser esperado. Mas todos esses raciocínios da incredulidade são superados se lembrarmos as nossas experiências anteriores. Deus tem nos ajudado, portanto pode nos ajudar. Ele tem tanto poder e capacidade agora quanto teve no passado.

A incredulidade sempre questiona se Deus será tão bondoso agora quanto foi no passado. Davi e Paulo raciocinaram baseados naquilo que Deus fez no passado, para afirmarem o que Ele faria no presente (I Samuel 17:36; II Coríntios 1:10). Que dúvida pode haver, após tantas provas da bondade de Deus no passado?

Talvez o incrédulo pergunte: como pode uma criatura má e pecadora como eu, esperar que Deus faça isso ou aquilo por mim? Você pode responder que a graça de Deus veio a mim quando eu era pior do que sou agora; portanto esperarei que Sua bondade para mim continue, embora eu não a mereça. "Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida" (Romanos 5:10).

5. Lembrarmos de providências passadas será uma motivação para louvor e agradecimento contínuos, os quais são a tarefa dos anjos no céu, e a mais aprazível ocupação de nossas vidas na terra

O salmista disse do povo de Deus no passado: "Cedo, porém, se esqueceram das suas obras (Salmo 106:13). Apesar da providência os ter alimentado de maneira marcante no deserto, eles não deram a Deus o devido louvor (Números 11:6). Mas Davi reuniu todas as suas forças para louvar e agradecer a Deus pelas misericórdias recebidas dEle. "Bendize, ó minha alma ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome" (Salmo 103:1). Não é tanto as bênçãos que a providência nos dá que faz uma pessoa grata ocupar-se em louvar a Deus, e sim a graça e a bondade dEle em dá-las. Como Davi diz: "Porque a tua benignidade é melhor do que a vida; os meus lábios te louvarão" (Salmo 63:3). Doar a vida e preservá-la, são preciosos atos da providência; mas a graça que leva Deus a fazer tudo isso é muito melhor do que os atos em si. Nós recebemos bênçãos diariamente, e elas são um bom motivo para sermos gratos. "Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos cumula de benefícios" (Salmo 68:19). A ternura da graça de Deus é vista em Suas providências. "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem (Salmo 103:13). Seus profundos sentimentos, demonstrados enquanto conforta o Seu povo, são como os que uma mãe tem por seu filho (Isaías 49:15). Então, prostrar-nos aos Seus pés em santo louvor pelo modo que Ele graciosamente Se inclina ao nosso baixo plano nos Seus procedimentos, é uma coisa muito agradável.

6. A observação cuidadosa da providência fará com que Jesus Cristo Se torne mais e mais precioso para as suas almas.

Através de Cristo a bondade de Deus chega a nós, e todo louvor volta a Deus por nós. Toda as coisas são nossas, porque nós somos dEle (I Coríntios 3:21-23).







8 - A Unidade Entre os Cristãos é Obtida por Esforço

Os cristãos devem se esforçar para preservar, pelo Espírito, a unidade da fé, no vínculo paz, de maneira prática em suas vidas.
Para este propósito nosso Senhor nos impõe a renúncia ao ego e a tudo quanto temos (Lc 14.26,33), porque sem isto não é possível vermos os nossos irmãos como partes muito importantes não somente para as nossas vidas, como para a Igreja como um todo.
O primeiro passo para a unidade é a humildade; pois sem ela não haverá nenhuma mansidão, nenhuma paciência, longanimidade; e sem estas não será possível qualquer unidade.
Quando prevalece o orgulho, a justiça própria, a vanglória, não pode existir comunhão no espírito.
O orgulho quebra a paz, e produz toda sorte de dano.
A humildade e  a mansidão restabelecem a paz, e a preservam.
Pelo orgulho vem a dissensão e a contenda; mas pela humildade vem o amor.
Agora, como dissemos antes, isto deve provir do Espírito. Estas virtudes são celestiais e não se encontram na nossa velha natureza.
Elas fazem parte da nova natureza que recebemos do alto pelo Espírito Santo, mas devem ser buscadas e exercitadas para que se manifestem no nosso viver.
Daí decorre a necessidade que temos de andar continuamente no Espírito, porque é dEle que provêm estas virtudes, porque fazem parte do Seu fruto.
Por conseguinte, se os cristãos não estiverem andando no Espírito eles não podem ter esta unidade e paz. Eles não serão achados num só querer e sentir quando se reunirem para adorar a Deus, senão ainda ocupados com as coisas terrenas que dominam a sua mente carnal.
Por isso somos convocados a nos esforçar para manter a unidade do Espírito no vínculo da paz. Este esforço indica que teremos que agir contra a inclinação natural de nossa velha natureza. Teremos que renunciar à nossa própria vontade, ao nosso ego, de maneira que sejamos dirigidos pelo Espírito.
Daí se entende a razão de Jesus ter dito que deveríamos tomar a nossa cruz, negar-nos a nós mesmos para poder segui-lO.
Cristãos que vão para os locais de adoração não estando dispostos a renunciar ao ego, jamais poderão contribuir portanto para que se promova esta unidade espiritual que é tão desejada por Deus e que dá à Igreja poder para fazer a Sua obra e vontade.
É onde há unidade espiritual entre os irmãos que Deus derrama o óleo da unção do Espírito, e é ali que Ele decreta a Sua bênção.
Outro fator muito importante para esta unidade espiritual é que se conheça a sã doutrina e que esta seja efetivamente praticada, e quando muito seja aceita por todos, e que seja reconhecido em que temos sido faltosos, para confessá-lo e buscar corrigi-lo com sinceridade, no Senhor, para que sejamos confirmados em toda boa palavra e obra.
Agir contra a doutrina é o que caracteriza o verdadeiro espírito de divisão no corpo de Cristo, pois isto impede a sua unidade.
Sempre haverá aquele sentimento de quebra, de vazio espiritual, por causa dos cristãos carnais que não admitem submeter suas vontades à do Espírito Santo e à Palavra de Deus.
Eles continuarão resistindo ao Senhor e à Sua Palavra por causa das suas próprias imaginações que eles geraram por suas próprias convicções, e pela falta de revelação da verdade aos seus espíritos pelo Espírito Santo, por causa da rebeldia deles, pois o Senhor não pode instruir o coração rebelde, e assim isto trará juízos não somente a eles próprios, como ao avanço do reino de Deus, através da unidade da Igreja.
Estas resistências devem ser demolidas, e todo pensamento deve ser trazido cativo à obediência de Cristo, para que se possa ver uma obra de Deus sendo efetivamente realizada na nossa congregação (reunião, ajuntamento).
Lutero disse que gastou quinze anos para conduzir a congregação que dirigia à unidade da fé e da doutrina do evangelho, quebrando as resistências que existiam, pacientemente, ao longo dos anos, mas reconhecia, que por falta de vigilância e cuidado, isto poderia ser perdido em pouco tempo, por se acatar algum tipo de ensino contrário às ordenanças de Cristo.







9 - Alegria e Paz na Comunhão com Jesus

Quando descobrimos quem é de fato o Senhor Jesus e o quanto Ele nos ama e cuida de nós, a consequência natural é que nos regozijaremos sempre nEle, e manifestaremos isto com a nossa adoração e louvor voluntários, com alegria de coração.
Quando crescemos no conhecimento da graça e de Jesus, e passamos a conhecer cada vez melhor, qual é o caráter, amoroso, justo e bondoso do nosso Rei, nada deste mundo poderá nos tornar insatisfeitos.
Tudo suportaremos por amor a Ele com alegria em nossos corações, não somente como expressão de nossa gratidão, mas, sobretudo, porque será impossível viver de outro modo, estando permanentemente em espírito diante da Sua Grandeza e Majestade.
Ainda que sejamos contristados por breve tempo com muitas aflições, estas não podem roubar a alegria que temos na nossa comunhão com o Senhor.
Podemos dizer juntamente com o apóstolo Paulo, as seguintes palavras:

"2Co 4:8 Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados;
2Co 4:9 perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos;
2Co 4:10 levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo."

Esta alegria sobrenatural, que é fruto do Espírito, habita em nosso coração de tal maneira que podemos ser achados contentes em toda e qualquer circunstância.
Nós podemos aprender isto, assim como Paulo havia aprendido (Fp 4.11).
A alegria e coroa dos ministros do evangelho é ver que seus amados irmãos, que estão sob o seu cuidado permanecem firmes no Senhor, perseverando na fé em meio às tribulações que têm que enfrentar neste mundo, com a plena convicção de que por maiores e duradouras que sejam estas tribulações, pode ser dito delas que são leves e passageiras, comparadas com o peso de glória a ser revelado àqueles que perseveram (2 Cor 4.16,17).
Agora, esta alegria que os crentes têm em Cristo não é uma alegria carnal, ou seja, oriunda da carne, que tenha seus motivos na carne. É alegria puramente espiritual.
Nem mesmo as nossas presentes necessidades neste mundo são motivo para nos roubar esta alegria espiritual no Senhor, porque devemos aprender a não andar ansiosos por coisa alguma; ao mesmo tempo em que devemos fazer conhecidos os nossos pedidos diante de Deus por meio da oração e da súplica, sendo-Lhe gratos pelas respostas que nos der, ainda que seja um “não”, ou um “espere”; porque é somente assim, reconhecendo Sua soberania, que a Sua paz poderá guardar nosso coração e nosso pensamento, em nossa comunhão com Cristo Jesus (Fp 4.6).
Como esta alegria é fruto da graça, onde ela estiver presente também será achada a paz espiritual que é outro fruto da graça. Esta paz não significa ausência de problemas ou a realização de todas as nossas aspirações.
A paz que Deus nos dá é sobrenatural. Ela não pode ser explicada pela razão, porque excede todo o entendimento.
É paz comunicada diretamente ao nosso espírito, pelo Espírito de Deus.
Ela não é o fruto dos nossos pensamentos.
É paz no meio do conflito, a qual nos visita muitas vezes inesperadamente; vinda do alto, como resposta à nossa oração e comunhão com o Senhor, e permanece em nós ao lado da gratidão, da alegria e do amor, enquanto permanecermos nesta comunhão.
Deste modo, é requerida uma real santificação de nossas vidas para a preservação desta alegria, paz e comunhão com Deus.
Sem santificação não podemos ter o nosso pensamento fixado naquilo que é verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, de boa fama e que possua virtude e louvor (Fp 4.8).
Não admira portanto que aqueles que vivem em comunhão mental com coisas que sejam abomináveis ao Senhor, se queixem de terem falta de alegria e paz espiritual.
Eles poderão até mesmo exibir um comportamento alegre, mas será uma alegria oriunda da carne, e não do Espírito Santo, cujo fruto é também alegria.
Deus é inteiramente santo e justo.
Ele é luz perfeita. Ele é perfeito amor e bondade.
Então, que comunhão poderíamos ter com Ele, nos agradando das coisas que são das trevas e rejeitando aquelas que são da luz?
A nossa mente corrompida pelo pecado original deve ser renovada pelo Espírito Santo, com a Palavra de Deus e as coisas que são aprovadas, a saber, que são verdadeiras, honestas, justas, puras, amáveis, e que possuam boa fama, virtude e louvor.
Por isso não é possível amar o mundo, as coisas reprovadas que há no mundo, e ter ao mesmo tempo, o amor e a aprovação de Deus.
Não há um caminho fácil para a paz.
Não há um caminho fácil para a consolação do Espírito Santo, porque Ele sempre santificará primeiro, e depois consolará.
Não se pode contar com Sua consolação enquanto permanecemos deliberadamente na prática do pecado, amando as trevas, em vez da luz.
Mas todo aquele que se consagrar ao Senhor, sujeitando-se à disciplina do Espírito Santo, poderá dizer junto com o apóstolo: “posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Fp 4.13).







10 - Vencer o Egoísmo para Viver em Unidade

Nenhum cristão deve buscar o que é somente do seu interesse, mas, sobretudo o que é do interesse dos outros.
Se não agimos deste modo, ficamos privados da graça, porque Deus somente a concede, à Igreja que vive em unidade. Sem a graça não podemos ficar de pé, permanecendo na presença de Deus.
O amor em unidade é um dever.
E esta unidade não é de caráter carnal, mas espiritual, segundo a fé e a sã doutrina.
Cristo ordena aos Seus discípulos, que eles devem se amar com o mesmo amor com o qual Ele os tem amado.
As características deste amor estão destacadas em I Cor 13. Ali podemos ver que não é um amor que busca o seu interesse, que não se irrita facilmente, que é paciente, benigno, sofredor, longânimo, que não se alegra com a injustiça, mas com a verdade. Enfim, é um amor sobrenatural, o amor conforme ele se encontra na essência de Deus, e que nos é comunicado pela ação da graça e poder do Espírito Santo em nossa mente e coração.
E, quão difícil é manter o amor fraternal na unidade do Espírito Santo,  porque demanda completa diligência da parte dos cristãos na luta contra a natureza carnal pecaminosa, o diabo e o fascínio do mundo.
Se alguém pretende fazer a vontade de Deus terá obrigatoriamente que renunciar ao que o mundo lhe oferece, e que é contrário ao modo de vida que nos foi determinado por Cristo.
Nós temos que amar o nosso próximo como a nós mesmos, sabendo que nós, tanto quanto eles estávamos destituídos da graça de Jesus, em completa situação de miséria e debaixo de uma condenação eterna.
Importa fazer valer, sobretudo a misericórdia e a humildade em nosso testemunho de vida.
Jesus nos deixou o exemplo supremo disto, para que seguíssemos Seus passos. Se o fizermos, somos bem-aventurados e temos a aprovação de Deus.
Os que são de Cristo devem viver como Cristo viveu neste mundo, deixando-nos Seu exemplo para ser seguido.
Cristo era totalmente manso e humilde de coração, como Ele próprio afirma em Mt 11.29.
Em tudo o que fez nunca estava buscando ser servido, mas servir; nunca estava buscando o que era do Seu interesse, mas veio buscar e salvar o que se havia perdido, como se vê em Lc 19.10. Tão intenso foi Seu serviço em favor dos homens, que não tinha sequer onde reclinar Sua cabeça, e raramente tirava tempo para descansar.
Ele se gastou completamente por amor aos pecadores, até à morte na cruz.
E estando nós crucificados juntamente com Ele, é exigido de nós que vivamos com o mesmo amor.







11 - A União Indissolúvel do Crente com Cristo

"1 Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.
2 Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte." (Romanos 8.1,2)

A libertação encontrada pelo crente em Jesus, em relação à condenação, ao pecado e à morte, é afirmada pelo apóstolo como uma verdade absoluta e final na vida de todos aqueles que foram justificados pela fé e que por conseguinte foram regenerados pelo Espírito Santo, ou seja, tornados novas criaturas.
Não é particularmente Paulo que vê o crente nesta condição, mas o próprio Deus que revelou a ele esta condição firme e segura na qual todo cristão autêntico se encontra em sua união vital com Jesus Cristo.
Muitos indagam entretanto, por que teria então o apóstolo citado a condição de desventura citada por ele na parte final do sétimo capítulo?
Não podemos esquecer que a condição ali apontada por ele não se refere a qualquer tipo de instabilidade no edifício espiritual que está sendo erigido com os cristãos como sendo pedras vivas sobre o alicerce que é Jesus Cristo. Até mesmo o conflito interior da luta contra o pecado não pode mais separar o crente do Senhor que o resgatou e o tornou participante da  Sua própria vida, e, na verdade, esta luta está polindo o crente como pedra do edifício.
Nós vimos o apóstolo afirmando esta firmeza do crente em Jesus ao longo de toda esta epístola, e a título de recordação, leiamos as suas palavras em Rom 6.17-22, onde ele reafirma esta plena condição de liberdade alcançada pelo crente por meio da simples fé em Jesus.

"Rom 6:17 Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;
Rom 6:18 e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.
Rom 6:19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação.
Rom 6:20 Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça.
Rom 6:21 Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte.
Rom 6:22 Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna;"

Veja que é destacada uma condição presente de liberdade total do crente, por estar em Cristo, contrastada com a de escravidão ao pecado no passado.
Não há qualquer sombra de dúvida no apóstolo e muito menos nos Senhor Jesus, quanto ao fato de que os crentes já não são mais escravos do pecado, e nem de Satanás, porque Jesus os livrou perfeita e completamente.
Mas alguém indagará: "Por que então se vê tanto mau testemunho mesmo nas vidas de crentes autênticos - pessoas que foram justificadas e regeneradas pelo Espírito?"
Isto decorre não por que perderam a filiação a Deus, ou por que deixaram de ter o Espírito, ou ainda por que voltaram à sua velha condição anterior de pessoas inteiramente carnais, deixando de ser novas criaturas em Cristo.
O que sucede é que deixaram de andar do modo digno da sua vocação, abandonaram a comunhão com o Senhor, negligenciaram os deveres espirituais da vigilância, da oração e da meditação da Palavra e do empenho na obra de Deus.
Voltaram a ser, caso nunca tenham deixado de ser, pavios fumegantes e canas rachadas, mas mesmo assim não serão lançados fora pelo Seu Senhor, que há de completar a boa obra neles, ainda que seja no céu.
Ele os corrigirá, disciplinará, mas não os rejeitará.
Afinal, não foram escolhidos por Deus por algum mérito que houvesse neles, ou algo que Lhe agradasse, mas simplesmente o Senhor lhes escolheu porque lhes amou primeiro antes mesmo da fundação do mundo.
Todavia, uma vez tendo sido feitos filhos de Deus não poderão agradá-Lo caso não vivam do modo digno da sua eleição, que foi para a santificação no Espírito (I Pedro 1.2).
O justo (aquele que foi justificado) recebeu a vida de Jesus pela fé, e agora importa que continue caminhando por fé e não por vista.
Deve se despojar das obras da carne, uma vez que o velho homem recebeu a sentença de morte na cruz do Calvário, quando morreu juntamente com Cristo.
Uma pessoa que foi libertada não deve viver mais como um escravo do seu antigo senhor, a saber, do pecado e do diabo.
Quando Jesus disse que somente Ele poderia nos libertar dessa escravidão, ele enfatizou com um "verdadeiramente" - "verdadeiramente sereis livres", ou seja, uma liberdade efetiva, real, consumada, para um casamento com Cristo que é de caráter indissolúvel, e que nem mesmo a morte pode separar.
Nosso Senhor também afirmou em João 3.6: "O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito."
E foi daqui que o apóstolo Paulo retirou o seu ensino que encontramos neste oitavo capítulo de Romanos, quando diz que aos olhos de Deus os crentes são vistos como espirituais, e não mais como carnais, ou seja, eles nasceram da carne, de seus pais, mas em Cristo, nasceram do Espírito, e são espírito vivificado, pronto para responder à demanda de Deus em ser adorado em espírito e em verdade. Todavia, não podem manifestar esta vida separados da comunhão com Jesus. É nEle, que todo o propósito de Deus é cumprido, de modo que sem Ele, nada podemos fazer.
Tudo isto está declarado pelo apóstolo em Rom 8.4-17. Releia este texto, e note como ele se refere ao fato inconteste de que o crente não anda segundo a carne, como aqueles que não foram justificados (v.4), e estes últimos caminham sem Deus no mundo porque podem somente se inclinar para as coisas da carne, e não para as que são do Espírito (v.5) - e o resultado desta inclinação que o ímpio tem para carne é inimizade contra Deus e morte espiritual, mas a que o crente tem no Espírito é para a vida eterna e para a paz, reconciliação com Deus (v.6).
Deus criou o homem para ser espiritual e não carnal - leia Gên 6.3. Mas é somente em Cristo que alguém pode se tornar espiritual, e como todos os crentes estão em Cristo, e todos são de Cristo e têm a habitação do Espírito Santo, eles têm o seu espírito vivificado porque foram justificados com a justiça de Jesus (v. 7-11).
Como toda a nossa vida espiritual tanto em crescimento e manifestação depende inteiramente do nosso caminhar no Espírito, é evidente que quando fazemos concessão ao pecado e andamos segundo o mundo, não há de se ver um espírito cheio da vida abundante de Jesus, senão um espírito que, ainda que tenha sido vivificado no dia da conversão, encontra-se agora como morto, insensível e incapacitado para manifestar a vida que é do céu, condição esta, entretanto, que pode ser revertida pela confissão e pelo arrependimento, ainda que repetidamente.
Mas ainda que isto seja verdadeiro, nem sequer é a isto que Paulo se refere em primeira mão no verso 13, no qual afirma que se vivermos segundo a carne, morreremos, mas se pelo Espírito, mortificarmos as obras do corpo, viveremos. Ora, o argumento segue também aqui neste ponto tudo o que ele disse anteriormente e que continuará afirmando, até culminar com o brado de triunfo e louvor do final deste capítulo quando diz que nada mais poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, e o motivo disto é porque fomos justificados e unidos a Ele para sempre, como membros do Seu corpo, sendo participantes da Sua própria vida.
Então estes que tiveram o seu velho homem crucificado, e que pelo Espírito tiveram os feitos do corpo mortificados na regeneração, são indubitavelmente todos aqueles que creram em Jesus e que pela fé nEle se tornaram filhos de Deus.
De modo que logo a seguir, a partir do verso 14 até o 17, o apóstolo confirma o que acabamos de expor.
Até mesmo a citação dos versículos 18 a 28, que pode parecer à primeira vista estar fora do contexto dos argumentos que Paulo apresentou anteriormente, na verdade é uma confirmação de tudo o que havia dito, porque nem mesmo as aflições presentes, nem o gemido da criação existem como uma forma de oposição ao plano de Deus de ter muitos filhos semelhantes a Cristo. Tudo o que há de tribulação e aflição no mundo coopera para a consumação deste Seu propósito eterno, porque é justamente por estas provações que somos aperfeiçoados para sermos à imagem e semelhança de Jesus.
E para suportar e vencer estas provações temos a ajuda do Espírito Santo que nos fortalece para mantermos uma vida de vigilância e oração, de modo que possamos viver de modo agradável a Deus crescendo na graça e no conhecimento de Jesus.
Daí Paulo ter dito:

"28 E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."

Paulo chamou os crentes de Corinto de carnais, porque eram bebês em Cristo que não se desenvolviam em seu crescimento espiritual. Não devemos portanto entender essa forma dele se expressar naquela epístola como algum tipo de indicação que eles não eram de Cristo, ou que não tinham o Espírito.
Eles foram assim chamados porque estavam andando de modo desordenado, mas daquele mal foram curados pelo mesmo remédio que nós também somos, porque se arrependeram e retomaram a caminhada da vida cristã do modo pelo qual deve ser retomada, a saber por um andar no Espírito, em comunhão com Cristo, observando e guardando os Seus mandamentos, por meio da fé e graça que Ele concede àqueles que se aproximam dEle com um coração sincero.
Assim, ao chamar, em certa ocasião, os crentes coríntios de carnais, o que Paulo queria dizer era que eles estavam no Espírito, mas viviam como os que vivem exclusivamente na carne, a saber, aqueles que não conhecem a Jesus.
E como sucedeu a eles, ocorre com muitos na Igreja, em razão da luta constante entre o Espírito e a carne, pois há em todo crente duas naturezas, uma terrena e outra celestial, uma velha e outra nova, uma carnal e outra espiritual, daí a existência do conflito.
Então, para o propósito de aperfeiçoamento dos santos Deus concedeu dons e ministérios pelo Espírito Santo, à Igreja, como se vê em I Cor 12, 14 e Ef 4.
Se o cristão permanecer vivendo de modo carnal Ele não poderá manifestar a vida e paz do Espírito Santo, a qual só pode ser conhecida e experimentada, caso se ande no Espírito.
Entretanto, por ter a habitação do Espírito ele já alcançou a condição de vida e paz, e foi livrado para sempre da condenação de morte que pairava sobre ele antes da sua conversão.
John Owen escreveu um tratado intitulado A Graça e o Dever de Ser Espiritual. O título é muito apropriado porque esta condição de ser espiritual é recebida exclusivamente pela graça e será mantida para sempre, todavia a sua manifestação na nossa viva cotidiana é dependente da nossa obediência ao Senhor e aos Seus mandamentos, por se viver na fé e andando no Espírito.
Foi para isto mesmo que fomos predestinados por Deus. De modo que nos chamou, pelo Espírito Santo, para nos convertermos e sermos adotados como Seus filhos, por meio da justificação, com vistas à nossa glorificação futura.
Deus não poupou ao seu próprio Filho para que Ele morresse por nós. Então como haveria nEle alguma possível intenção de vir a anular tudo o que nos tem prometido dar juntamente com Cristo, por causa da nossa união com Ele?
Como dissemos anteriormente fomos feitos co-herdeiros com Ele e isto significa que tudo o que é de Cristo é também nosso por direito concedido, prometido e jurado pelo Pai.
Então quem poderá ser contra o cristão de maneira a impedir que se cumpra nele o propósito de Deus?
Por que então viverá o cristão de modo diferente deste propósito glorioso que lhe foi concedido pela graça do Senhor?
Ele não deve dar ouvido à carne, voltaria Paulo a dizer no desenvolvimento destes argumentos verdadeiros que está apresentando desde o verso 30; mas seguir sempre a direção e instrução do Espírito Santo.
Ainda que esteja num corpo carnal que enferma e morrerá, contudo vive pelo espírito e no Espírito.
Paulo começou este oitavo capítulo dizendo que já não há nenhuma condenação para os que são de Jesus, e que andam segundo o Espírito Santo, e agora ele afirmou nos versos 33 e 34, que por causa desta justificação pela graça, mediante a fé, ninguém pode sustentar qualquer tipo de acusação contra os escolhidos de Deus que prevaleça no juízo vindouro contra eles, porque foram justificados.
Já não há de fato nenhuma condenação eterna para os cristãos, e nem o próprio Deus os condenará, porque Cristo carregou sobre Si os pecados daqueles aos quais justificou.
E é Ele mesmo que intercede pelos santos à direita de Deus, para que continue operando eficazmente naqueles que foram transformados em Seus filhos, para que sejam santificados.
É por causa desta intercessão de Cristo que o cristão persevera, porque se fosse deixado entregue a si mesmo, não poderia prosseguir adiante por causa do pecado que ainda opera na carne.
De maneira que necessita do Espírito Santo e da intercessão de Cristo para que o pecado seja vencido, e seja capacitado com poder, para viver segundo o homem interior, no espírito, e não segundo a carne.
O nosso Grande Sumo Sacerdote, nosso Senhor Jesus Cristo, intercede por nós dia e noite e tem cumprido a promessa de estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos, e é esta a razão de não desfalecermos no meio da nossa jornada rumo à nossa pátria celestial.
De tal ordem é a força deste poder operante da graça de Jesus no cristão que nada poderá separá-lo do Seu amor.
Nenhuma tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada poderão consegui-lo, porque o caráter desta união é indissolúvel; porque tem o mesmo caráter matrimonial.
A fé vence o mundo, e todas as coisas que se levantam contra o conhecimento de Deus, em Cristo. A fé que salvou o cristão é um dom de Deus, e sendo assim é algo indestrutível.
Ela não pode ser vencida por nenhuma tribulação, seja interna ou externa.
Nada do que sentimos ou sofremos poderá nos separar de Cristo se pertencemos de fato a Ele, por termos sido, justificados e regenerados.
Deus trabalhará em nós através de todas estas coisas que no presente nos parecem adversas, mas que no fundo estão contribuindo para o nosso bem, de maneira que sejamos aperfeiçoados em santificação e amor; o que nos fará experimentar graus cada vez maiores da plenitude que há em Cristo.
É portanto por meio de todas estas coisas que os cristãos são mais do que vencedores por meio do amor de Jesus.














22) CONFIRMAÇÃO E CONSTÂNCIA

ÍNDICE

1 - Confirmado e Vacilante 
2 - Confirmado e Vacilante
3 - FIRMEZA

4 - O Aprovado
5 - O Que é Ser Confirmado em Toda Boa Obra e Palavra
6 - Como Confirmar o Seu Chamado e Eleição
7 - Permanecei Firmes
8 - Confirmação e Aprovação
9 - Firmeza e Constância
10 - Um Chamado à Firmeza
11 - “Permanecemos nEle” - João 4:13
12 - Aprovados em Santificação


1 - Confirmado e Vacilante

Diante de Deus e de sua Palavra, todas as pessoas, segundo a Bíblia, possuem nomes qualificativos, que podem variar de pior para melhor, e vice-versa, dependendo do modo em que são encontradas quanto ao seu caráter e comportamento.
Veja o caso de Cefas (caniço agitado), a quem Jesus deu o nome de Petros (pedra); indicando a mudança de um caráter que possuía a fraqueza do caniço, para um que possuía a firmeza da pedra.
Daqui em diante, estaremos apresentando o diálogo entre dois personagens a quem chamamos, respectivamente, de Vacilante e Confirmado, através do qual poderemos entender muitas coisas relativas a este assunto:

Vacilante: Você não acha que é uma grande presunção da sua parte usar este nome de Confirmado?

Confirmado: De modo algum. Afinal já usei o nome de Vacilante, e muitos outros qualificativos negativos, apesar de estar sujeito, se possível fora, a perder o meu nome atual e voltar a ter o de Vacilante, caso venha a apostatar da fé. Este nome recebi e a ele tenho feito jus porque me encontro agora firmado juntamente com a graça na Rocha que é Jesus, e me comporto segundo a Sua vontade e Palavra, que cheguei a conhecer a duras provas, ao longo de minha vida.

Vacilante: Eu continuo achando que é mesmo presunção, porque afinal todo mundo é igual. Todo mundo erra e acerta. Não há quem não peque. E como pode alguém dizer que se chama Confirmado?

Confirmado: Você encontra base bíblica para isto em várias passagens, como por exemplo em 2 Tes 2.17 e em I Pe 5.10. Afinal não somos nós que nos confirmamos, especialmente em toda boa obra e na Palavra, mas é Deus quem faz isto pelo seu Espírito em nós. Esta confirmação é um hábito quando a graça é mais estável e aumentada em nós pela ação real de Deus.

Vacilante: Ora, grande vantagem! Eu também conheço a Palavra de Deus. Eu leio a Bíblia diariamente. Eu frequento os cultos públicos de adoração. E apesar de ter este nome de Vacilante, eu creio muito em Deus.

Confirmado: A questão prezado Vacilante não tem muito a ver com o quanto conhecemos da verdade, e se de fato conhecemos a verdade e sua pureza, mas sim, em quanto nós a temos arraigada ao nosso viver. É daí que decorre recebermos estes nomes qualificativos. É pelo que somos realmente como pessoas em nosso caráter e comportamento, pela justa avaliação do Espírito Santo de Deus, e nem tanto pelo que pensamos que somos.

Vacilante: Mas como isto se aplica na prática ao viver das pessoas? pois como eu já disse antes, não há quem não erre. Todos somos pecadores.

Confirmado: Sim, isto é verdade, mas há quem ame o erro e o pecado, e quem os deteste. Enquanto neste mundo, a nossa condição de pureza de coração não é determinada por nossa perfeição, mas pelo quanto honramos toda a Palavra de Deus, e buscamos de fato aplicá-la às nossas vidas, pelo arrependimento e pela oração. É isto que determina a diferença. Daí decorrem os nomes qualitativos que Deus nos atribui, como podemos ver nos seguintes pares, o primeiro, positivo, e o segundo, negativo: crente/descrente; fiel/infiel; verdadeiro/falso; sincero/hipócrita; confirmado/vacilante; benigno/maligno; obediente/desobediente; manso/rebelde; humilde/orgulhoso; puro/impuro; moderado/imoderado; sensato/insensato; sábio/estulto; gentil/grosseiro; generoso/egoísta; alegre/deprimido; liberto/escravo; e a lista parece não ter fim.

Vacilante: Ah! Está ainda muito difícil de entender certas coisas. Por exemplo: independentemente do grau que esta adjetivação possa ter, de ser pouca, média ou muita; não há quem se encontre livre de ser achado, ainda que eventualmente, em alguns destes aspectos negativos considerados. E então, como é que alguém pode ter a certeza de que é aceito por Deus e que irá para o céu depois da morte, já que estamos sujeitos a errar em vários pontos enquanto estivermos neste mundo?

Confirmado: Por isso que é muito importante que tenhamos um conhecimento correto do plano da salvação. Se chegamos a ser confirmados na Rocha, que é Cristo, na Sua Palavra, dificilmente sofreremos com dores de consciência, em dúvidas em relação a estas coisas. É certo que erramos em muitas coisas. Mas como eu já disse, não é aí que reside o âmago da questão que estamos tratando. O grande fato é que há pessoas que não permitem um trabalho da graça em suas vidas. Não querem ser transformadas e santificadas para terem a semelhança de Cristo. Outras há que não somente permitem, como querem mais do que tudo que este trabalho seja realizado em suas vidas. Elas querem a perfeição de santidade que terão no céu. Elas lutam para alcançarem o máximo de perfeição que lhes seja possível aqui na Terra. E é portanto, neste esperança de perfeição pela qual elas lutam, e da qual obtêm porções consideráveis ainda neste mundo, que elas podem ter a certeza de que são salvas; porque isto testifica para si mesmas que elas têm de fato o penhor do Espírito Santo trabalhando em seus corações, porque sabem, que de outra forma, não poderiam ser mudadas da maneira que foram.

Vacilante: Mas quem não tiver este conhecimento e convicção de mudança não será salvo?

Confirmado: Eu não disse isso. Esta certeza da salvação está disponível para os que se salvam, porque Deus determinou que assim deveria ser. Não seríamos salvos na dúvida, na escuridão, na incerteza, mas teríamos a testificação do Espírito Santo, com o nosso espírito, que passamos a ser filhos de Deus, por meio da fé em Jesus.

Se conhecermos o plano de salvação, melhor ainda. Mas Deus, em sua infinita misericórdia e bondade, salva até mesmo aqueles que cuja compreensão não lhes permita entender adequadamente os fundamentos deste plano, todavia, os salva porque conhece profundamente o coração de cada pessoa, e sabe quem deseja e se submeterá de fato ao seu trabalho de santificação de seu espírito, alma e corpo. E assim, dá também a estes a testificação de seu Espírito de que foram também salvos, por terem crido em Jesus.




2 - Confirmado e Vacilante 

Confirmado: Você sabia Vacilante, que aos olhos de Deus todas as pessoas que não têm a Cristo estão mortas?

Vacilante: Como pode ser isto? Você quer dizer que quem está comendo, bebendo, andando, pensando, trabalhando, está morto? Como pode ser isto?

Confirmado: Não sou eu que estou inventando tal coisa. É ensinado claramente na Bíblia. Você nunca leu o que Jesus disse a alguém que queria segui-lo, que deixasse aos mortos o sepultarem os seus mortos?

Vacilante: Mas a definição mesma de vida não é porventura aquilo que existe e que se movimenta, cresce, se reproduz?

Confirmado: Sim, no sentido biológico, mas não no espiritual e divino. Para Deus, estão vivos somente aqueles que o conhecem de fato e que são transformados pelo seu poder em novas criaturas. E além disso, diz-se destes que estão vivos, porque ninguém mais viverá em Sua presença eternamente sem esta condição.

Vacilante: Se é assim, então seria insensato viver neste mundo, por não se ter a Jesus, ainda que se ocupando de trabalhos úteis, e até mesmo em procurar ter um bom procedimento na sociedade?

Confirmado: A Bíblia não ensina que é insensato viver desta forma, ao contrário, ela o recomenda, todavia, todo os nossos melhores esforços terão sido inúteis, caso a morte física nos alcance, sem que tenhamos sido justificados de nossos pecados por Cristo, por não estarmos unidos a ele espiritualmente.

Vacilante: Mas esta pessoa não procurou fazer o bem? E como pode então ser condenada eternamente por Deus?

Confirmado: A questão não se refere ao nosso mérito, porque, na verdade, não temos méritos diante de Deus, ainda quando estamos em Cristo, porque estávamos mortos em delitos e pecados quando ele nos deu vida eterna. O que um morto espiritual pode fazer de bom e agradável para o Deus vivo? Na verdade ele pode até se agradar do nosso esforço para fazer o que é bom e correto, como fizera o centurião Cornélio no passado, antes da sua conversão, mas enquanto não houver a nossa conversão, ele não pode estar inteiramente agradado de nós, porque é somente por ela, que podemos nos tornar de fato seus filhos.

Vacilante: Mas, me dê um exemplo prático, um único que seja, do motivo por que não podemos agradar a Deus quando não o conhecemos por meio de Cristo.

Confirmado: Está bem! Há muitos exemplos práticos, mas vou lhe dar somente um que pode fechar este nosso assunto. Não se trata de um argumento, mas de um fato: quem pode perseverar na tribulação, regozijando-se com paciência em suas aflições, dando glórias a Deus e sendo-lhe grato por tudo, não permitindo em nada que o seu amor por Ele diminua por causa destas tribulações, ao contrário, que este amor aumente, senão somente aquele que tem o Espírito Santo habitando nele? E sabemos, pelo testemunho das Escrituras que somente aqueles que são convertidos a Cristo, têm o Espírito Santo habitando neles, Rom 8.9.






3 - FIRMEZA

"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor.", 1 Coríntios 15.58. Firmeza é um princípio essencial no caráter cristão. Não pode haver sucesso nem prosperidade na vida cristã, quando este princípio está faltando.
O salmista disse: "Meu coração está firme, confiando no Senhor." Isto é a verdadeira firmeza. Isto é apegar-se a Deus, deixar as tempestades rugirem quanto possam. Isto é descansar e permanecer em Jesus, embora as provações da vida possam ser as mais severas possíveis. Isto é uma firme, líquida e determinada decisão de guardar as doutrinas da Bíblia. Isto é descansar confiantemente nas promessas das Escrituras Sagradas. Assim como um homem se deita com confiança para descansar em sua cama, assim um cristão, em sua firmeza, descansa confiantemente, descansa sem medo, sobre a imutável Palavra de Deus.
Através de Jesus Cristo, os cristãos são feitos participantes da natureza divina. Eles recebem a marca do caráter divino em suas almas. Entre os diferentes princípios do caráter de Deus é encontrada a firmeza. Quando Deus livrou Daniel dos leões, o rei Dario disse: "Eu faço um decreto que, em todo o domínio do meu reino os homens tremam e temam perante o Deus de Daniel. Porque ele é o Deus vivo, e permanece para sempre" Dn 6.26. Como a fortaleza cristã é nobre, viril, e agradável a Deus, por isso a falta de firmeza é ignóbil, não viril e altamente desagradável a Deus.
Alguns (que podem ser muitos) são conduzidos por seus sentimentos. Nós, como filhos de Deus, devemos ser guiados pelo Espírito de Deus, mas nem todos compreendem totalmente o que se entende por "ser guiado pelo Espírito." Eu prefiro ser liderado por um senso de dever do que por meus sentimentos. Eu não entendo que, a fim de ser conduzido pelo Espírito, precisamos sempre ter uma forte impressão interior ou a voz quase inaudível falando conosco. O Espírito de Deus tem iluminado a Palavra e iluminado a sua mente para saber o que é seu dever cristão, daí quando você vai para a frente e cumpre seus deveres fielmente, você está realmente sendo conduzido pelo Espírito. Você sabe que é o seu dever ajudar os pobres, apoiar os fracos, consolar os tristes,participar de serviços de culto de adoração, testemunhar de Jesus, estudar as Escrituras, orar e diligentemente seguir toda boa obra.
Às vezes você pode sentir uma forte impulsão para orar, mas você não precisa ter esse sentimento sempre, a fim de que seja o dever de orar. É seu dever orar, porque muitas vezes  você não se sentirá compelido a fazê-lo quando tem fortes impressões interiores. Você não precisa esperar por tais impressões antes de agir, porque o conhecimento de seu dever o torna responsável.
Não pode ter verdadeira firmeza aquele que é influenciado por suas emoções ou impressões. O homem que é firme, inabalável na Palavra, vai para a frente para cumprir seus deveres conhecidos, não importa o que possam ser seus sentimentos. Quaisquer que sejam as suas impressões para fazer uma determinada coisa, se não for consistente com a Palavra e com o Espírito, e seu conhecimento do que é reto, você persistentemente se recusará a obedecer.
O verdadeiro princípio da firmeza que permanece na vontade de Deus e nas doutrinas de Cristo foi ensinado por Barnabé à igreja em Antioquia. Houve alguma controvérsias na igreja sobre a circuncisão, e perseguições pesadas ​​a partir dos de fora, e muitos foram movidos da verdadeira fé. Barnabé exortava que, com firme propósito de coração se apegassem ao Senhor. A firmeza é um objetivo fixado no coração para se apegar a Deus, para atender estreita e prontamente a cada dever cristão. É uma decisão, um propósito inabalável  e imutável do coração para obedecer implicitamente os ensinamentos do Salvador, independentemente dos sentimentos.
Você vai descobrir que, se você observar todos os deveres cristãos, muitas vezes você vai ter que ir contra os seus sentimentos. Quantas vezes o inimigo de sua alma, se puder, lançará sentimentos de indiferença sobre você a respeito da oração. Essa é a hora de mostrar a sua coragem e firmeza cristã. É fraqueza e preguiça negligenciar a oração simplesmente porque não nos sentimos inclinados a orar. Ceder a sentimentos indiferentes é incentivá-los, e eles vão crescer mais e mais fortes, de modo que se  sentirá menos e menos inclinado a orar. Quanto mais oramos, mais plenos na oração nos sentimos, de igual modo, a recíproca é verdadeira. Quando tivermos nos rendido aos sentimentos de indiferença por algum tempo e tristemente negligenciado a oração, temos uma luta difícil para chegar até a luz gloriosa, vitória e doçura. Mas você tem que sair, para onde as bênçãos caem, você deve chegar onde você tem o gosto doce do amor e as bênçãos gratificantes da presença de Deus. Você deve ser corajoso, viril e decidido. A maneira de desfrutar o servir a Deus e fazer o nosso dever cristão com plenitude é sempre fazer o nosso dever e, especialmente, naqueles momentos em que fazê-lo parece ser o menos agradável.
Resista firmemente a Satanás e a todo sentimento de indiferença, e faça o seu dever a qualquer custo. Lembre-se, não é aquele que sente que deve fazer o bem e não o faz, mas "aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando." (Tg 4.17)






4 - O Aprovado

“Bem-aventurado o homem que suporta a provação, porque, aprovado, receberá a coroa da vida, a qual  (Deus) prometeu aos que o amam.”

Bem-aventurado – Makários, no grego – feliz, bendito.
Suporta – upomenei, no grego, que significa suportar, perseverar – verbo na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo ativo, da mesma raiz do substantivo upomoné - perseverança, paciência, constância.
Provação – do grego peirasmóv – tentação, provação, substantivo masculino, objeto direto.
Aprovado – do adjetivo grego dókimos – digno, aprovado. Há portanto indicação de qualidade, qualificação, e não de ação verbal no particípio. Seria melhor traduzido: “o aprovado”, em vez de “tendo sido aprovado”. O sentido é o do metal que foi provado pelo fogo e passou no teste, revelando a sua boa qualidade.
Receberá – do verbo grego lémpsetai, 3ª pessoa do singular do futuro do indicativo médio do verbo lambánw, significando receberá para si, tomará para si, achará para si.
 Prometeu – do verbo grego epangélomai – 3ª pessoa do singular do aoristo indicativo médio – se prometeu, no sentido de se comprometeu a fazer. Deus prometeu a Si mesmo para fazer a alguém. Como no caso de Deus ter jurado por si mesmo quando nos fez a promessa da Nova Aliança em Jesus Cristo. Deve ser entendido então, como o cumprimento de uma promessa feita no caráter irrevogável da referida aliança.
  Receberemos a coroa não por causa dos nossos méritos, mas porque Deus prometeu a todos aqueles que o amam.
O amor é a maior indicação da nossa filiação e obediência a Deus. E este amor é demonstrado por guardarmos a Sua Palavra em todas as circunstâncias.
O aprovado no texto é aquele que tendo suas afeições e escolhas reveladas pelas provações, direcionou toda a sua força, mente e afetos para fazer a vontade de Deus, por amor a Ele.
Assim como Moisés, eles valorizam mais o deserto com Deus do que todos os tesouros do Egito.
Suas esperanças não estão focadas em nada deste mundo, mas somente no Senhor.
Eles buscam por mais graça em Cristo para poderem discernir todas as coisas à luz da Sua Palavra.
Eles renunciam a toda forma de mal, e até mesmo ao que for bom e aprovado, se isto não for a vontade de Deus para eles.
Sabem que as correções divinas visam à mortificação do pecado, e por isso se submetem de bom grado sob a Sua potente mão.
Sofrem com a paciência que recebem do Espírito Santo nas batalhas que têm que empreender em favor do evangelho e do avanço do reino de Cristo na Terra.






5 - O Que é Ser Confirmado em Toda Boa Obra e Palavra

Tradução e adaptação elaboradas pelo Pr Silvio Dutra, de citações extraídas do comentário de autoria de Thomas Manton, sobre o verso 17 do segundo capítulo da epístola de 2 Tessalonicenses.

"vos confirmem em toda boa obra e palavra" (2 Tes 2.17)

A sã doutrina é aqui designada por "toda boa palavra” e a santidade da vida por “toda boa obra".
A confirmação na fé e santidade é uma bênção necessária, e deve ser sinceramente buscada em Deus.
1. O que é esta confirmação?
2. Quanto é necessária?
3. Por que deve ser buscada em Deus?

I. O que é esta confirmação?
Resposta: Confirmação na graça que temos recebido. Agora essa confirmação deve ser distinguida:
1. Em relação ao poder com o qual estamos assistidos;  há confirmação habitual, e confirmação real.
[1] A confirmação habitual é quando os hábitos da graça são mais estáveis e aumentados: 1 Pedro 5.10, "Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar, fortificar e fundamentar.”
Deus lhes chamou eficazmente e lhes converteu, e ele começou o fortalecimento da graça que haviam recebido. Agora, portanto, estamos confirmados, quando a fé, o amor e a esperança são aumentados em nós, pois estes são os princípios de todas as operações espirituais, e quando eles têm obtido boa força em nós, um cristão está mais confirmado.
A fé é necessária, pois estamos em pé pela fé: Rom  11.20, “Por causa da incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé." Nós não apenas vivemos por ela, mas estamos de pé por ela, e somos mantidos por ela: 1 Pedro 1.5: “Que são mantidos pelo poder de Deus mediante a fé para a salvação." Aquele que é forte, é o que é forte na fé, como Abraão, que creu no evangelho.
O aumento e a estabilidade do amor são também necessários. O amor é forte. Somos informados em Cant 8.6,7, “Que o amor é forte como a morte, as muitas águas não podem apagá-lo: se um homem lhe desse todos os bens de sua casa, seria de todo desprezado." Não será subornado ou saciado. Nosso desviar-se vem de se perder a nossa complacência ou o desejo de Deus: há uma aversão ao pecado e de zelo contra ele, enquanto nós temos um senso de nossas obrigações para com Deus, e uma estima ao valor de sua graça em Cristo, então nós continuamos na agradável obediência a ele, e no direcionamento de nossas ações para a sua glória.
A esperança é também necessária para o confirmação da alma, com a promessa da vida eterna, pois esta é a âncora segura e firme da alma: Heb 6.19, "a qual temos como âncora da alma, segura e firme". Se a esperança for forte e viva, as coisas atuais não nos moverão muito.
[2] A Confirmação Real, quando esses hábitos, estão fortalecidos e aumentados pela influência real de Deus. Como Deus faz para confirmar por esses princípios habituais, pelas operações reais de seu Espírito, pois caso contrário nem a estabilidade de nossas resoluções nem dos hábitos da graça irão nos manter.
Não estabilidade de resoluções – Sl 73.2, “Quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram, os meus passos quase escorregaram.”
Não hábito – Apo 3.2, “Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus.”
Isto é verdade, Deus comumente opera mais fortemente com as graças mais fortes, porque seus corações estão mais preparados, mas às vezes os cristãos fracos passaram por grandes tentações quando os fortes falharam: Apo 3.8, “que tens pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome." Às vezes, o cristão forte tropeça e cai quando o  fraco permanece de pé. Deus pode em um instante confirmar uma pessoa fraca em alguma tentação particular, por sua assistência livre, mas normalmente concorre com a graça mais forte. Assim, no que diz respeito ao poder com o qual somos assistidos.
2. Com relação à estabilidade na doutrina da fé e prática da piedade.
[1] Na doutrina da fé. É uma grande vantagem na vida espiritual ter bom senso. Alguns homens nunca estão bem firmados na verdade e na natureza e motivos da religião que eles professam, e, em seguida, são sempre deixados numa incerteza errante, porque não são resolutos de modo evidente; como os homens normalmente não param no local para o qual eles foram movidos por uma tempestade, ou pela correnteza das marés: 1 Tes 5.21, "provai todas as coisas, retende o que é bom." Certamente a religião no geral deve ser tomada por escolha e não por acaso, não porque não conhecemos outra, mas porque sabemos que não há melhor: como Jer 6.16 “Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele." E o mesmo é verdade quanto às opiniões particulares e controvérsias sobre religião, até que tenhamos ἰδιον στηριγμα, “vossa própria firmeza", 2 Pedro 3.17.
Quando estamos de pé com a firmeza dos outros, quando nós professamos a verdade apenas por causa da companhia deles, quando a corrente é quebrada, todos nós caímos aos pedaços.
Enquanto clamamos por constância, não devemos acalentar preconceito teimoso, que fecha a porta sobre a verdade. No entanto, para evitar a opinião superficial, antes de as pessoas religiosas professarem alguma coisa, sua garantia precisa estar muito clara, tanto para o bem do mundo e o seu próprio, para que não criem problemas desnecessários, e depois mudem de ideia, e escandalizem outros, e a sua própria causa: ἀνὴρ δίψυχος, Tg 1.8 "o homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos."
E nós temos necessidade de ter o cuidado de estar certos, porque cada erro tem uma influência sobre o coração e a prática: sobre o coração, pois enfraquece a fé e o amor; e a prática: algumas opiniões não têm maldade em si, mas a profissão delas pode dividir a igreja, e nos fazer, por causa de contendas, inimigos do crescimento e progresso do reino de Cristo.
Agora, se desejamos ser confirmados na verdade, temos que ver o que influencia cada verdade relativa à nova natureza, ou como isto opera em direção a Deus pela fé, para acompanhar nosso respeito a ele, ou aos homens, por amor.
Um homem não deixará ir facilmente a verdade com a qual está acostumado a transformá-la em prática, e o modo de viver como ele crê. Mais uma vez, precisamos ser confirmados na presente verdade; isto não é zelo para lutar com os fantasmas e erros antigos, mas para participar de Deus em nossa própria época.
[2] Em toda boa obra, ou em santidade de vida. Aqui se necessita de maior confirmação, para que possamos nos manter em nossa jornada para o céu.
Isto fica doente, quando a mente está contaminada, mas é pior quando o coração está alienado de Deus, e geralmente é a perversa inclinação da vontade que macula a mente. Portanto, a grande confirmação deve ser estabelecida num curso de piedade: 1 Tes 3.13, “que os vosso corações sejam confirmados irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos." Agora, esta confirmação é muito difícil.
Primeiro, por causa da contrariedade dos princípios que residem dentro de nós: Gál 5.17, “Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, e estes são contrários um ao outro, para que não façais o que quereis." A guarnição não está livre de perigo porque tem um inimigo dentro do quartel. O amor do mundo e da carne estavam no coração antes do amor de Deus e da santidade, e este não é totalmente erradicado. Sim, isto é natural para nós, ao passo que a graça é uma planta plantada em nós, contrária à natureza; e à terra que produz as ervas daninhas e cardos de sua própria vontade, mas as flores e boas ervas com muito preparo e cultivo, se houver negligência, as ervas daninhas em breve crescerão demais.
Em segundo lugar, porque é mais difícil continuar na conversão do que nos convertermos pela primeira vez. Em nossa primeira conversão somos mais passivos; é Deus que nos converte, colhendo-nos a si mesmo, e nos planta em Cristo, mas na perseverança e cumprindo nosso dever, estamos mais ativos, é o nosso trabalho, apesar de fazemos isso pela graça de Deus. Uma criança no ventre da mãe é alimentada pela alimentação da mãe, mas depois ela deve mamar e buscar seu próprio alimento, e quanto mais envelhecer, estará mais entregue a si mesma no que tange ao cuidado com a sua vida. Agora, aquilo que é o nosso trabalho, é mais difícil. É verdade que Deus, concluirá a boa obra que começou em nós, mas, a aperfeiçoará, não sem o nosso cuidado, Fp 1.6, daí se dizer “desenvolvei... com temor e tremor”.
Quando estamos prontos e preparados para as boas obras, Deus o espera de nós para que possamos andar nelas. Deus nos confirma na palavra, mas isto está em toda boa obra. Além disso, na conversão, fazemos aliança com Deus, mas pela perseverança podemos manter nossa aliança com ele. Agora é mais fácil concordar com as condições do que  cumpri-las; as cerimônias, num primeiro momento da celebração do casamento, não são tão difíceis quanto o exercício das funções da aliança do casamento propriamente dito. É mais fácil construir um castelo num tempo de paz do que mantê-lo num tempo de guerra. Pedro mais facilmente consentiu em vir a Cristo sobre a água, mas quando ele começou a experimentá-lo, seus pés estavam prontos para afundar, Mat 14.29,30. Quando os ventos e as ondas são contra nós, ai!, quão rapidamente falhamos! Portanto, uma boa primavera não é sempre garantia de uma colheita proveitosa, nem de abundância de flores na floricultura. Estamos vivendo com sinceridade seguindo a Cristo em determinada época, mas quando nos deparamos com dificuldades imprevistas, ficamos desfalecidos e desencorajados.
3. Com respeito ao assunto em que isto está assentado, o qual é a alma com as suas faculdades. A força do corpo é conhecida por experiência e não por descrição, mas a força da alma deve ser determinada por sua constituição para o bem e o mal. As faculdades da alma são o entendimento, a vontade e os afetos ou emoções.
 [1] A mente (ou entendimento) é confirmada quando temos uma clara, correta e plena apreensão da verdade do evangelho; isto é chamado de conhecimento; a certeza, e a saudável apreensão disso é chamado de fé, ou assentimento intelectual, ou "a plena certeza do entendimento" Col 2.2, quando há um devido conhecimento do que Deus tem revelado, com uma correta persuasão da verdade disto,  operada em nós pelo Espírito Santo. Agora, nós conhecemos certamente essas coisas, e quanto mais poderosamente elas afetem o coração, somos mais confirmados. Aquele que tem pouco conhecimento e pouca certeza é chamado fraco na fé: Rom 14.1,e aqueles que têm uma compreensão mais clara são chamados fortes, como se vê em Rom 15.1: "Nós que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos," significando aqui forte no conhecimento. Assim também pela certeza de persuasão, se diz em Rom 4.20, Abraão foi "forte na fé, dando glória a Deus," quando em todos as suas aflições as suportou com confiança na palavra e na promessa de Deus. Bem, então, a mente é confirmada quando temos um bom estoque de conhecimento, e cremos firmemente no que conhecemos de Deus, de Cristo e da salvação eterna.
[2] Falemos agora sobre a vontade, que é outra faculdade da alma. Agora, a confirmação da vontade é conhecida quando ela está completamente firme e resoluta  para Deus e contra o pecado. Para Deus: como em Atos 11. 23 – Barnabé - “Tendo ele chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor.” A vontade, primeiro escolhe, depois se apega a seus princípios, e isso com propósito completo, quando a vontade está tão fixada no conhecimento e na fé do evangelho que ela resolve respeitar a sua escolha: Sl 27.4, "Uma coisa pedi ao Senhor, o que eu vou buscar.”. Quando a resolução espiritual coloca a força e autoridade de um princípio na alma, e nada pode quebrá-lo: 1 Pedro 4.1 “armai-vos também vós do mesmo pensamento." Assim como Cristo perseverou constantemente no trabalho de mediação, assim também você no trabalho de obediência, não obstante as suas dificuldades. Tenha esta poderosa vontade, que se opõe às tentações, e aos maiores impedimentos no caminho para o céu, de modo que você preferiria tirar vantagem da oposição do que ficar desanimado por ela, quando o que é sensual ou carnal exerce pouca força sobre você, e você pode desprezar as mais agradáveis​​iscas do pecado.
[3] As afeições ou emoções da alma, nos excitam e nos estimulam a fazer o que a mente está convencida e a vontade deliberada quanto às funções necessárias do evangelho, tendo em vista a felicidade eterna. Nós nunca funcionamos melhor do que quando trabalhamos com a força de alguma afeição eminente, quando o coração está dilatado: Sl 119.32, “eu vou percorrer o caminho dos teus mandamentos, se tu alegrares o meu coração."
Amor ou esperança. O amor nos enche de alegria, vencendo a nossa indolência e lentidão natural nos caminhos de Deus: Sl 40.8, "Agrada-me fazer a tua vontade, meu Deus, sim, o teu amor está dentro do meu coração," 1 João 5.3, “pois este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos, e os seus mandamentos não são penosos”, Sl 112.1, "Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor, que tem grande prazer nos seus mandamentos."
A esperança nos dá testemunho em desprezo às concupiscências e terrores dos sentidos: Heb 3.6, “a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança.”,de modo que servimos a Deus com vigor e entusiasmo. Quando nossos afetos são amortecidos, a graça cai e definha, se você perder o seu sabor, sua prática irá definhar também, e o serviço de Deus não será tão uniforme. É uma grande parte da nossa confirmação manter o vigor e fervor de nossas afeições.
4. Com relação aos usos para os quais a confirmação serve, quanto aos deveres, sofrimentos, conflitos.
[1] Fazer a vontade de Deus, ou realizarmos nossas obras com prazer, alegria e constância, porque toda força é para  realizar um trabalho: Ef 3.16, “para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior;”. Para que possamos fazer o nosso trabalho com prontidão de espírito torna-se necessária a fé em Cristo e o amor a Deus. Isso é muitas vezes mencionado nas escrituras: Fp 2.13, “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade".
A omissão frequente de boas obras, ou o exercício raro da graça, produz necessariamente uma decadência, como o ferrugem na chave que raramente é usada na fechadura, assim, perdemos a vida e o conforto da religião, e finalmente a lançamos fora como algo desnecessário e inútil.
[2] A confirmação é necessária para suportarmos as aflições, e passarmos por todas as condições com honra para Deus e segurança para nós mesmos: Fp 4.13, “posso fazer todas as coisas através de Cristo, que me fortalece”; - são as palavras do apóstolo que estava confirmado na palavra e nas boas obras. Col 1.11, "sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria,”. O grande uso da confirmação é para nos fortalecer contra todos os males e inconvenientes da vida presente, para que possamos cumprir nossa jornada para o céu no caminho justo e estreito, e não por sermos grandemente movidos por tudo o que nos suceda em nossa caminhada.
[3] A confirmação é necessária para os conflitos com as tentações do diabo, do mundo e da carne. O diabo procura  trabalhar em cima de nossas afeições e inclinações, e a carne nos inclina para satisfazê-las. Como, então, o cristão pode vencê-las? Sendo confirmado por Deus: Ef 6.10, "Finalmente, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder." Um cristão está aqui embaixo num estado militar, mas, de nós mesmos, somos como canas agitadas por qualquer vento, temos necessidade de confirmação no que diz respeito à nossa própria fraqueza, e à força de nossos inimigos. Devemos ser confirmados contra tudo o que o diabo solicita; contra o mundo, com o seu argumento silencioso pelo qual ele nos solicita a nos afastarmos de Deus e do céu; contra a carne, o princípio de rebelião que está na nossa velha natureza terrena. Bem, então, esta confirmação é para que a graça nos capacite a realizar as funções da religião (nossa fé cristã) com constância, frequência e prazer, para cumprirmos todos os inconvenientes da religião com paciência e fortaleza, e para sermos mais surdos e resolutos contra todas as sugestões do diabo, ou as maquinações da carne, provocadas pelo mundo.
5. Para evitar os escândalos e os atalhos: 1 Coríntios 15. 58, “Sejam firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor”, e Ef 3.17, “para que sejais arraigados e alicerçados em amor", e Col 1.23: "Se  permanecerdes na fé, fundados e firmes, não vos deixando apartar da esperança do evangelho." Se não olharmos para o grau da nossa confirmação, a nossa fraqueza e instabilidade crescerão em  nós e teremos uma mente inquieta: Ef 4.14, “levados ao redor por todo vento de doutrina". Eles nunca foram bem fundamentados na verdade, e, portanto, pela sua própria fraqueza e em razão da astúcia e diligência dos sedutores, são atraídos para o erro.
Em matéria de prática, se nós consentirmos com os nossos primeiros declínios, o mal irá crescer e prevalecerá sobre nós, quando o nosso julgamento condescende mais com pecado do que antes, e a vontade se opõe a ele com menor resolução, ou com maior fraqueza e indiferença, ou quando a oposição mais nos desencoraja. Não; deve haver uma vitória resoluta sobre as tentações que lhe pervertem; e isto nos ajudará neste propósito: Heb 12.3 “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma.”. Quando nosso primeiro amor se for, nossas primeiras obras  em grande medida cessarão: Apo 2.4,5, 'No entanto, tenho  contra ti, que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, portanto, de onde caíste, e arrepende-te, e faz as tuas primeiras obras.” Bem, então, o grau deve ser lembrado; porque um homem pode ser firme no principal, e ainda ser um pouco movido e abalado, mas um cristão não deve apenas ser firme, mas inabalável, caso contrário seremos muito incertos em nosso posicionamento.
Como a Providência é a continuação da criação, de igual modo a confirmação na graça é a continuação da nova criação. A mesma graça que nos coloca no estado da nova criação, é a que nos confirma.
Mesmo em estado de graça, somos como um copo sem fundo, quebrado, e, portanto, somente Deus é capaz de nos fazer ficar de pé, e perseverar nesta graça que recebemos: 2 Coríntios 1.21, “Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus,”.Depois que estivermos em Cristo, a nossa estabilidade estará somente em Deus.
2. Devemos considerar a indisposição de nossa natureza, tanto para toda boa obra quanto para toda boa palavra.
(1) Para toda boa palavra. As verdades do evangelho são sobrenaturais. Agora, as coisas que são plantadas em nós contra a natureza dificilmente podem subsistir e serem mantidas. O evangelho depende de revelação, por isso há tantas heresias contra o evangelho, mas nenhuma contra a lei. Portanto, como o conhecimento das verdades do evangelho dependem de uma revelação divina, devem ser aplicadas em nossos corações por um poder divino, e por um poder divino que as preserve ali. A fé é um dom de Deus: Ef 2.8 , "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus;", tanto quanto ao seu início, quanto para a sua preservação e aumento.
(2) Para toda boa obra. Não há somente lentidão e atraso de coração para os deveres do evangelho, mas um pouco da velha inimizade e aversão da natureza terrena que ainda remanesce em nós. Nossos corações não são apenas inconstante e instáveis, mas muito rebeldes: Jer 14.10, "Assim diz o Senhor a este povo: Pois que tanto gostam de andar errantes”, Sl 95.10: "É um povo que erra de coração." Moisés havia ido mais cedo para o lado de Deus no monte, mas os israelitas, depois de seu pacto solene, caíram na idolatria. Antes de que a lei fosse escrita, eles a quebraram.
Agora, temos que ter um princípio guerreando dentro de nós como devemos ter, a menos que Deus nos confirme?
III. Por que deve ser buscado de Deus?
1. Somente ele é capaz de nos confirmar: Rom 14.25, "Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo,". Deus é capaz de derrotar o poder dos inimigos, e de preservar os seus filhos em meio às tentações. Então, Judas 24, "Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória,”. Os santos acham nisto um alívio para os seus pensamentos contra a oposição terrível e poderosa do mundo, eles não têm nenhuma razão para duvidar do amor de seu Pai.
2. Deus não nos abandou, quando demos as costas para ele e estávamos prontos para abandoná-lo, mas nos guardou de perigos e riscos, sim, ele chamou a sua graça, e nos confirmou até agora. Por que teríamos que duvidar de sua graça para o futuro? 2 Coríntios 1.10 : "Quem nos livrou de tão horrível morte, e livrará; em quem nós confiamos que ele ainda nos livrará," 2 Tim 4.17,18: "Não obstante, o Senhor esteve ao meu lado e me fortaleceu, para que por mim a pregação fosse totalmente conhecida, e que todos os gentios a ouvissem, e fui libertado da boca do leão. E o Senhor me livrará de toda má obra, e me levará salvo para o seu reino celestial, ao qual seja glória para todo o sempre. Amém ".
3. Ele fez promessas de sustentação e preservação: Sl 73.23, “Todavia estou de contínuo contigo; tu me sustentaste pela minha mão direita." Ainda que caia, não ficará prostrado, porque Deus o sustém com a sua mão. Se Deus tem prometido preservar essa graça que ele tem uma vez nos dado, não deveríamos orar para a sua continuação com maior encorajamento?
Aplicação. Isto deve nos pressionar em todos os momentos para olharmos para Deus em busca de confirmação, e especialmente em duas ocasiões:
1. Quando começamos a declinar, e a ficar mais omissos e indiferentes na prática da piedade. Se a graça está em você, você deve buscar fortalecê-la. Quando você fica mais ousado ​​na prática do pecado, e mais estranho para Deus e Jesus Cristo, e tem pouco conversado com ele no Espírito, oh! é hora de instar com seriedade com Deus, para que ele lhe restaure. Embora você tenha desviado a sua força, você tem tratado com um Deus misericordioso; vá até ele para ajuda: Sl 17.5, "Os meus passos se afizeram às tuas veredas, os meus pés não resvalaram.” Você tem perdido os socorros mais abundantes da graça, mas peço-lhe que não a abandone completamente. Você deve confessar o pecado, mas Deus deve remediar o mal: Sl 119.133: "Ordena os meus passos na tua palavra, e não deixe qualquer iniquidade ter domínio sobre mim." Senhor, estou apto a ser levado por seduções mundanas; meu gosto espiritual está destemperado com vaidades carnais, mas: “não deixe a iniquidade ter domínio sobre mim."
2. Devemos também buscar a Deus em tempos incertos, quando estamos cheios de temores, e achamos que nunca conseguiremos nos manter no caminho da santidade. Deus, que nos guarda em tempos de paz, vai nos guardar em  momentos de dificuldade: Sl 16.8 “Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim, porque ele está à minha mão direita, não serei abalado."





6 - Como Confirmar o Seu Chamado e Eleição

Por John Piper

Domingo passado eu apresentei um teste prático de seis questões. Era um teste para sua vida. Um teste para descobrir se Deus habita em você e se você é nascido de novo. Um teste para confirmar seu chamado e eleição.

Eu o baseei no teste duplo que João dá em sua primeira carta--o teste do amor (1 João 2:10; 3:14; 4:7-13) e o teste da fé (1 João 2:23-25; 4:6; 4:15; 5:13). Os dois testes estão resumidos em 1 João 3:23f: "E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento."

Se nós cremos e amamos então nós podemos ter certeza de que Deus habita em nós. Aqui estão as perguntas que eu usaria para testar a genuinidade da minha fé e do meu amor.

1. O Teste da Fé

1.1 O seu coração te inclina a testemunhar dos apóstolos e profetas? Isso é, você tem um desejo persistente para ler a Bíblia?

A pergunta não é: Você nunca tem tempos secos de indiferença? A pergunta é: O desejo permanente e habitual do seu coração é de se juntar a Maria aos pés de Jesus e fazer a única coisa necessária, ou seja, escutar (Lucas 10:42)? "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem." (João 10:27; cf. 10:16; 18:37). "...aquele que conhece a Deus ouve-nos [os apóstolos]" (1 João 4:6).

1.2 Quando seu coração esfria e você começa a se afastar da palavra de Deus, você sente uma culpa divina que te faz humilde e te traz quebrantado a cruz para receber perdão e renovação?

1.3 Quando você ouve o testemunho das Escrituras de que Jesus é o Filho de Deus e o Salvador do Mundo, o seu coração confessa a verdade? Isso é, você alegremente afirma a grandeza divina de Cristo e quão digno Ele é de confiança, admiração, lealdade e obediência? O seu coração exalta a Cristo como sendo o maior de todos?

2. O Teste do Amor

2.1 Quando você ouve uma descrição de amor como a de 1 Corintios 13 ou contempla o exemplo da vida de amor de Cristo, o seu coração se enche com desejo de ser assim, e você toma decisões firmes para vencer atitudes e comportamentos desamorosos?

2.2 Quando você falha numa decisão de amar, isso te entristece e te traz quebrantado diante da cruz suplicando por perdão e buscando nova força para amar de novo?

2.3 O atual padrão da sua vida é viver para o bem eterno de outras pessoas, ou os seus pensamentos e sonhos e escolhas diárias estão geralmente focados a simplesmente te fazer confortável e ter seu nome estimado?

Se você não tem respostas favoráveis para essas seis perguntas então o que você tem que fazer de mais urgente na sua vida é resolver algo sério com Deus em oração. Buscai ao Senhor enquanto se pode achar. Invocai-o enquanto está perto. Ele te ajudará a se virar contra os desejos enganosos.

Procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição! (2 Pedro 1:10)

Para o bem da sua verdadeira garantia,

Pastor John






7 - Permanecei Firmes

"não vos deixando afastar da esperança do Evangelho." (Colossenses 1.23)

Muitas almas têm uma grande luta para alcançar a esperança do Evangelho. Não é sem uma luta corpo a corpo que muitos corações se prendem a Cristo e à vida eterna. A consciência muitas vezes cria um escudo de cavalaria ao redor do Monte Calvário e, assim, impede o pecador condenado de se aproximar de seu Salvador. Dúvidas e temores, o Regimento do mal, conduzem de volta aqueles que estão vindo e preocupam quem de bom grado se esconderia na Rocha Eterna. Satanás convoca todos os seus exércitos para empurrar os homens de volta da Cruz para que não possam vir a Cristo e viver.
Mas, irmãos e irmãs, a batalha não termina quando, por uma corrida desesperada, um homem vem a Cristo. Muitas vezes isto assume uma nova forma - o inimigo tenta agora arrastar o temeroso de seu refúgio e expulsá-lo de sua fortaleza! É difícil chegar à esperança do Evangelho, e quanto é difícil manter-se de modo a não ser movido para longe dele. Se Satanás gasta grande poder para nos manter afastados da esperança, ele usa a mesma força se aplicando para nos arrastar para longe dela - e igual astúcia no esforço que faz para nos seduzir com isso. Por este motivo, o apóstolo nos diz para que não permitamos ser afastados da esperança do Evangelho. A exortação é necessária na presença de um perigo iminente. Não pense que no momento em que você crê em Cristo, que o conflito acabou, porque você vai ficar muito desapontado! Porque é então que a batalha se renova em cada polegada da estrada que está cheia de inimigos.
Entre aqui e o céu você sempre terá que lutar, e muitas vezes a luta mais severa será num momento em que você está menos preparado para ela. Pode haver ocasiões tranquilas em sua jornada e você pode, por um tempo, ser como seu Salvador no deserto, de quem se diz: "Então, o diabo se afastou dele, e anjos vieram e o serviram." Mas você talvez não possa dizer: "Minha montanha permanece firme, eu nunca serei abalado", porque o bom tempo pode não durar mais do que um único dia! Não cresça seguro, ou carnalmente presunçoso. Há apenas um pequeno intervalo entre uma batalha e outra neste mundo. Há uma série de escaramuças, mesmo quando ela não assume a forma de uma batalha campal. Aquele que ganhará o céu deve lutar por ele!  "O Reino dos Céus sofre violência e os violentos o tomam pela força."

I. Em primeiro lugar, vejamos em que consiste esta esperança da qual não devemos nos afastar.
Primeiro, é a esperança da plena salvação -  a esperança de que, na medida em que você creu em Jesus Cristo, você está livre de toda condenação, no momento presente e deve estar livre de toda condenação, no futuro, a par de todos os seus pecados. E que, além disso, Aquele que tira a condenação do pecado também destrói o seu poder sobre você. Você tem essa esperança - que tendo sido feito para amar a justiça, deve estar habilitado a andar em obediência e "para aperfeiçoar a santidade no temor do Senhor."
Sua esperança é que um dia será apresentado santo, sem culpa e irrepreensível à vista do grande Pai. Você deve, um dia, ser apresentado "sem mancha nem ruga, nem coisa semelhante," limpo de toda a culpa e purificado de toda a tendência ao pecado e à corrupção - e feito criatura perfeita de Deus, quando pela primeira vez isto vem de Suas mãos. Oh, esta é uma bendita esperança! "Aquele que tem esta esperança purifica-se a si mesmo assim como Cristo é puro." Esperamos que seremos semelhantes a Cristo, e que a glória da Sua santidade deve ser a nossa glória e veremos seu rosto e seu nome estará em nossas frontes e seremos irrepreensíveis diante do trono de Deus.
Agora, nunca desista disso!
Nunca permita que uma partícula disto seja diminuída. Deus significa tudo o que Ele tem dito.
A primeira parte disto – agarre-se a isto, que o Senhor Jesus Cristo o limpou de toda a culpa e pena do pecado, de modo que não resta um pontinho sequer para acusar ou condenar você. Segure isto, além disso, que, uma vez que Ele lhe limpou, você não precisa se lavar novamente nesta fonte cheia do sangue de Cristo, pois "Aquele que está lavado não necessita lavar senão seus pés." E que esta lavagem deve ser dada pelas mãos condescendentes de Cristo. A água será uma segunda cura daquilo que o sangue já tem purificado e removido. A lavagem do sangue removeu toda a culpa e impede qualquer possibilidade de que o pecado venha a ter domínio sobre você. A remissão completa e a plena justificação são provas de que, pela dura pena de morte do Seu Senhor, você não está mais debaixo da Lei, mas debaixo da graça.
A minha alma se alegra no perdão perfeito! Eu não vou tirar um único grânulo disto, de modo a permitir que a menor carga possa ser contra nós! Estamos completos em Cristo! Aquele que crê é justificado de todas as coisas.
“Aqui está o perdão por transgressões passadas, não importa quão negras  elas sejam! E, oh, minha alma, veja com admiração – porque há também perdão para os pecados vindouros!"  Agora, cada tendência pecaminosa em sua natureza deve ser totalmente destruída. Não deve permanecer em você nenhuma raiz de amargura, nenhuma cicatriz do mal, nenhuma pegada de iniquidade!
Em conexão com isso, há a esperança da perseverança final. Confesso que para mim é uma das doutrinas mais atraentes da Palavra de Deus, que "o justo prosseguirá no seu caminho, e aquele que tem as mãos limpas será mais forte e mais forte. "Porque estou plenamente certo de que Aquele que começou a boa obra em vocês, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus." "Dou às minhas ovelhas a vida eterna, e nunca haverão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos." "Aquele que crê nEle não é condenado." "Aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá." Há muitas garantias para esse efeito e, se alguma coisa definida é ensinada nas Escrituras, estou confiante de que este é um dos mais claros de tais ensinamentos!
Nós temos uma esperança além desta, pois acreditamos que vamos experimentar a Ressurreição. Os nossos corpos ressuscitarão. A Graça de Deus protege os corpos, assim como as almas dos santos. Cristo não comprou a metade de um homem, mas toda a trindade de nossa humanidade é Sua herança redimida - espírito, alma e corpo habitarão para sempre com Ele, pois Ele redimiu nossa humanidade indivisível!
Nunca desista dessa esperança, também, em relação a si mesmos ou seus amigos. Não deixe nada abalar a sua confiança na ressurreição! Nenhum outro fato histórico é tão bem atestado como a ressurreição de Cristo, que é a pedra angular da nossa confiança.
Muitas vezes, e frequentemente, quando estou extremamente envolvido com as tentações diabólicas e insinuações quanto à esperança eterna da minha alma e do corpo, eu voo para isto - Jesus Cristo que ressuscitou da morte. Ele veio de volta para nos dizer que existe um outro mundo, e que não apenas nossas almas, mas nossos corpos herdarão uma condição muito mais abençoada do que a presente! Segure-se nesta esperança do Evangelho, e nunca permita que ela se vá.

"O Senhor ressuscitou! Ele vive!
O primogênito de entre os mortos,
A ele, o Pai dá
Para ser a Cabeça da criação.
Acima de tudo para sempre reinante,
Da morte Ele possui as chaves;
E o inferno - Seu poder restringiu -
Obedeça aos Seus alto decretos.
Voa agora a sombra da escuridão
O vale da morte para mim;
Os terrores que invadiram
São perdidos, ó Cristo, em Ti!
O túmulo, não mais aterroriza,
Me convida ao repouso;
Adormecido em Jesus,
Para ressuscitar assim como Jesus ressuscitou. "

Então lembre-se, você tem a esperança do Segundo Advento. Se Jesus vier antes de você morrer, você vai se encontrar com Ele – terá o prazer de conhecer e acolher o Filho de Deus sobre a Terra! Você será transformado de modo que esteja apto para herdar as glórias incorruptíveis dos céus.
E, ainda, nós temos esta esperança, que quando passarmos por tudo o que se refere ao tempo e estivermos na eternidade, não restará nenhum  temor ou receio, porque haveremos de estar "para sempre com o Senhor.

II. Mas agora, em segundo lugar, Conjuro-vos, amados, diante de Deus, para que não se afastem da esperança do Evangelho como do fundamento desta esperança. E qual é o fundamento dessa esperança? Em primeiro lugar, a rica, livre, soberana Graça de Deus, porque Ele disse: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão." O Senhor reivindica para si a prerrogativa da misericórdia e, como ele pode exercê-la sem a violação de sua justiça através do sacrifício expiatório de Cristo, nos alegramos e nos regozijarmos no fato de que os homens não são salvos por causa de qualquer disposição natural de bondade, ou por causa de tudo o que têm feito, ou que sempre farão!
Se Ele salvou o ladrão da cruz - se Ele salvou o adúltero - se Ele salvou mesmo o assassino, por que Ele não me salvaria? Ele pode, se Ele quiser, e Ele é extremamente gracioso, infinito em compaixão e não tem prazer na morte de qualquer pessoa, mas deseja que todos venham a se arrepender! É na misericórdia de nosso Deus, que todas as nossas esperanças começam.
O fundamento de nossa salvação é, em segundo lugar, o mérito de Cristo – o que Cristo é, o que Cristo fez - o que Cristo sofreu. Este é o fundamento sobre o qual Deus salva os filhos dos homens.
Foi somente a Cristo que Deus propôs para propiciação pelos pecados, e não somente pelos nossos, mas pelos pecados de todo o mundo, temos então, algo sólido no qual podemos descansar!
Outro fundamento da nossa esperança é este - que Deus nos prometeu solenemente que "todo aquele que crê em Cristo não perecerá, mas terá a vida eterna." Se, então, nós realmente cremos em Jesus Cristo e descansamos nEle, não podemos perecer, pois Deus não pode contradizer a Si mesmo! Assim está escrito – ouça e aceite isto - "Aquele que crer e for batizado será salvo."  "Aquele que crê tem a vida eterna," e não se afastou dessa esperança do Evangelho, que Deus, que não pode mentir, colocou diante de nós,

“Subsistirá para sempre com certeza!
Sob a sombra de suas asas
Seus santos repousam seguros.”

Outro fundamento da nossa esperança é a imutabilidade de Deus. Deus não muda e, portanto, os filhos de Jacó, não são consumidos. A imutabilidade de Cristo também confirma a nossa esperança, pois Ele é "o mesmo ontem, e hoje, e eternamente." O poder imutável de Seu sangue é uma torre forte para a nossa fé.
Se Deus é imutável, então aqueles que creem nEle têm uma esperança imutável – esteja certo de que você nunca será lançado fora! E, uma vez mais, a nossa esperança do Evangelho está fundamentada na infalibilidade das Escrituras.

III.  Agora vamos considerar como poderemos ser afastados da esperança do evangelho, a menos que a graça nos seja dada para nos impedir.
Podemos ser movidos da esperança do Evangelho das seguintes maneiras. Às vezes, por um conceito de nós mesmos. Você pode sair do fundamento de confiança na Graça Livre por pensar: "Agora eu sou alguém. Não tenho orado na reunião de oração? Não têm meus amigos dito que eles foram edificados com isso? Não tenho eu pregado um sermão maravilhoso? Não sou eu generoso? Já não tenho dado grandes somas à Igreja e aos pobres? Não sou alguém?"
Ah, você e o diabo, juntos, podem fazer um grande alarido sobre isso e não tenho dúvida de que tudo o que ele lhe diz, você vai sugar muito avidamente, porque nós gostamos de ser elogiados e, embora o elogio venha do próprio Satanás, é bem-vindo pela nossa carne orgulhosa! Bem, quando nós começamos a pensar que somos alguém, somos movidos a nos afastarmos da esperança do Evangelho. Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores.
Alguém diz: "Mas eu não sou um pecador". Ah, então Ele não veio para salvá-lo! Você diz: "Eu era um pecador, mas eu cresci tão perfeito que eu já não peco"? Você pensa assim? Então você está removido da esperança que pertence àqueles que confessam e lamentam seus pecados! Você deixa de ser cristão logo que você mesmo  coloca o seu nome fora da lista dos pecadores que são salvos pela graça do Salvador! Você é um pecador, e Cristo morreu para salvá-lo, mas não se afaste da esperança do Evangelho por uma noção vã de que você não peca mais! Cristo não veio para curar todos, mas somente aqueles que estão doentes.
Não se afaste, por outro lado, da esperança do evangelho, por causa de desânimo. Satanás não se importa de que maneira você sairá da  Rocha - se  por saltar para cima ou para baixo: é tudo a mesma coisa para ele, desde que você deixe a Rocha da sua salvação. Muitos há que sobem em um balão de vaidade, enquanto outros estão prontos para caírem nas falésias do desânimo e desespero. Mas não permita ser afastado da esperança do Evangelho, quer de uma forma ou de outra! O mínimo pecado deveria fazê-lo humilde, mas o maior pecado não deve fazer com que você se desespere.
Você pode ser afastado da esperança do Evangelho, também, por falso ensino. Se, por exemplo, você não acredita que Cristo seja "Luz da luz, Deus de verdadeiro Deus", você tem se afastado da nossa esperança, que depende da Sua divindade. Se você acha que o pastor pode salvá-lo, você está afastado do único Sacerdote diante do qual todos os outros sacerdotes devem deixar seus incensários morrerem na escuridão! Somente Jesus Cristo pode salvá-lo! Se você ouvir qualquer ensino que coloque as suas obras no lugar de Cristo, você está bebendo em erro e será removido da esperança da sua vocação, que é a Livre Graça, recebida pela fé, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.
Você pode ser retirado da esperança da sua vocação com a esperança de viver pelos sentimentos. Ah, existem muitos cristãos que ficam tentados dessa maneira! Sentem-se tão felizes e essa é a razão pela qual eles acreditam que eles são salvos. Essa não é a razão pela qual eu acredito que eu estou salvo. Estou salvo, porque eu confio em Cristo - e se eu fosse tão miserável como a própria miséria, eu deveria ser tão verdadeiramente salvo como se eu fosse tão feliz quanto o próprio céu! É a fé que faz isso, e não se sentindo! A fé é preciosa, o sentimento é inconstante. O verdadeiro sentimento segue a fé e, como tal, é valioso, mas a fé é a raiz e a vida da árvore, não os ramos e folhas, que pode ser tirados, e ainda a árvore sobreviverá.
Alguns têm sentimentos muito alegres. Eles nadam em transes e delírios e ainda assim estão todos errados. Descanse em Cristo, se para você é dia brilhante ou noite escura, embora Ele lhe mate, confie nEle!
Muitos estão se afastando da esperança de seu chamado por um deslumbramento intelectual.
Finalmente, não seja afastado da esperança do evangelho por causa de  perseguição, ou por zombarias. A perseguição de nossos dias é uma coisa pequena em comparação com a que nossos antepassados ​​sofreram.

III. Em último lugar, vejamos: por que não podemos ser afastados da esperança do Evangelho? O que aconteceria se fôssemos? Bem, em primeiro lugar, não vamos ser afastados da esperança do nosso chamado, pois não há nada melhor para tomar o seu lugar! Um homem não pensaria em ir para a Austrália, se soubesse que os salários são menores do que aqui, o custo de vida maior e se as pessoas fossem mais pobres. "Não", ele diria: "Não vou saltar da frigideira para o fogo. Hei de ficar onde estou, ao invés de ir mais longe e ficar pior."
Nós não vemos como podemos melhorar a nós mesmos. Jonathan Edwards, em um de seus tratados, fala um pouco nesse sentido: "Se um homem pode provar que esta forma de Evangelho é falsa e um mero sonho, a melhor coisa que ele pode fazer é sentar e chorar porque penso que ele teria refutado a mais brilhante esperança que jamais brilhou sobre os olhos dos homens." E isso é assim. Ter esta gloriosa esperança que, crendo em Cristo, somos salvos, é uma bênção e uma alegria que nada pode ser comparado a ela!
Onde estão os campos que podem seduzir as ovelhas de Cristo? Onde está o pastor que pode competir com ele? Onde está a luz que é mais brilhante que este dom eterno? Oh, você nos tenta com seus chocalhos, como crianças, mas, tendo se tornado homens, nós os desprezamos! O que você tem a oferecer de verdade, de esperança, de conforto, de alegria, igual ao que nós possuímos? Vamos, cada um, cantar a nossa resposta ao tentador:

“Apenas Tu, Soberano do meu coração,
Meu refúgio, meu poderoso amigo,
E pode a minha alma se afastar de Ti,
Em quem, sozinho, minhas esperanças repousam?
Deixem as alegrias sedutoras da Terra conspirarem,
Enquanto você estiver perto, em vão elas chamarão!
Um único sorriso de felicidade Seu,
Meu querido Senhor, supera a todas elas!
Seu nome, os meus poderes íntimos adoram,
Você é minha vida, minha alegria, o meu protetor.
Afastar-se de ti? Isto é morte – mais que isto.”

Lembre-se, também, que, se estivermos afastados da esperança do nosso chamado, logo estaremos em cativeiro. Um homem pode ser tão alegre como uma cotovia, se ele crê em Cristo para a salvação. Mas deixe-o se afastar disto, e em pouco tempo, ele será tão sem graça quanto uma coruja! O que é que pode nos dar alegria à parte de Cristo? Não estamos presos em cadeias de dúvida, quando deixamos o caminho da graça soberana através da fé em Cristo? Se estamos afastados da esperança de nosso chamado, não podemos crescer. Uma árvore que é frequentemente movida geralmente morre! E o mesmo sucede com o homem que começa no espírito e espera ser aperfeiçoados pela carne. Um homem que começa em Graça Livre e, em seguida, começa a confiar em suas próprias obras. Um homem que começa por confiar em Cristo e, em seguida, põe a sua confiança num sacerdote, esperando encontrar a salvação nisto - nunca pode crescer na graça!
Segure rápido, com todo o seu poder, reta e solenemente a grande e antiga fé, pois se não o fizer, ao rejeitar esse caminho da salvação, você rejeita a si mesmo! Por que Cristo morreria, se pudéssemos ser salvos de alguma outra forma? Por que Ele derramaria o Seu sangue se houvesse um meio mais barato para ganhar os céus?
Que você mantenha a fé, de modo que Deus possa abençoá-lo e enriquecê-lo. Que com um coração simples você caminhe ao longo da estrada que conduz ao céu pela justiça do Filho de Deus, que o Senhor esteja com você e lhe conforte. Mas se voltar, ai de vós! A maldição cairá sobre você, naquele dia de vergonha e culpa! O Senhor lhe guarde, para que possa manter a fé. Amém.

Tradução, adaptação e redução do sermão de nº 1688 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.






8 - Confirmação e Aprovação

Assim como é firme e segura a Nova Aliança (Atos 13.32-34; Hb 6.17-19); que Deus fez com os crentes em Jesus Cristo, então estes devem ser também confirmados e aprovados segundo o caráter da citada aliança.
A Antiga Aliança que fora estabelecida com a mediação de Moisés era de caráter passageiro, e estava destinada a desaparecer ao ser substituída pela Nova, que foi instituída com a mediação de nosso Senhor Jesus Cristo, para durar para sempre.
Um judeu que era considerado aliançado na Antiga Aliança - pois esta abrangia todos os israelitas – poderia perder a condição de aliançado por sua infidelidade ou incredulidade, mas isto não pode ocorrer com um crente aliançado com Cristo na Nova Aliança, porque os que estão nesta Nova Aliança, firmada com base no sangue de Jesus, estarão aliançados com Deus para sempre.
Em Cristo o crente é de fato uma nova criatura, que é designada por Deus a ser firme como o é o seu próprio Salvador e Senhor. Paulo diz em Rom 5.2 que o crente está firme na graça, e isto significa que dela jamais poderá ser apartado, nem mesmo por sua própria vontade.
Deus o colocou em Cristo para ali permanecer para sempre, logo, importa que se veja na vida do crente esta firmeza para a qual ele foi destinado.
Todavia, vemos o mesmo apóstolo Paulo (Gál 5.1; Fp 4.1), como o apóstolo Pedro (I Pe 5.12) exortando os crentes a permanecerem firmes na fé, sem que isto signifique que a condição deles em Cristo seja incerta, insegura, abalável. Ao contrário, é por ser firme e segura, tanto a sua chamada quanto a sua união com o Senhor, que eles são incentivados a permanecerem na condição em que devem sempre ser achados, a saber, firmes na fé, nunca duvidando da sua filiação a Deus e sua aceitação por Ele. Daí a necessidade do trabalho da confirmação da nossa fé, depois que nos convertemos a Cristo.
Precisamos receber o carimbo espiritual de Confirmado e Aprovado depois de passarmos pelos vários testes e provações da fé, aos quais seremos submetidos pela providência divina. Nisto se evidencia a eficácia real que há no trabalho de crescimento espiritual que é operado em nós pelo Espírito Santo.
Deus é glorificado por revelar aos anjos e aos homens o Seu grande poder restaurador, e toda a Sua paciência, amor e misericórdia, em conduzir pecadores a serem transformados em verdadeiros santos.
Somos, portanto confirmados na fé para a glória de Deus, e também para sermos úteis em Sua obra de expandir Seu reino na Terra.
Diz-se firmeza de fé, porque necessitamos estar convictos desta estabilidade e firmeza da obra do Senhor em nossas vidas. Ela não falhará. Ela não deve e não pode falhar. Será concluída perfeitamente dando Deus cumprimento ao Seu desígnio e poder.
“tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus,” (Filipenses 1.6).
Conscientes disso em espírito, jamais titubearemos na fé, por temer que venhamos a falhar em nossa perseverança em seguir e servir ao Senhor.
Nem o pecado, o diabo e o mundo podem nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus. Nem mesmo a morte pode fazê-lo.
A vida que temos recebido pela fé é eterna, e como tal deve durar para sempre. Não é vida para alguma temporada ou que possa ser interrompida.
Foi com esta confiança que os apóstolos cumpriram seu ministério, e com igual confiança devemos cumprir o nosso. Em nada duvidando, porque o Deus que fez a promessa de nos firmar para sempre em Cristo é fiel.
Vemos, portanto que é um imperativo do propósito eterno de Deus que sejamos confirmados na nova vida celestial e divina que recebemos pela fé em Jesus Cristo. Foi para isto que Ele nos predestinou, chamou e justificou, a saber, para que sejamos achados em perfeição gloriosa no porvir. E Ele certamente o fará pelo Seu próprio poder.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as seguintes palavras do texto original:
1 – bebaioo (grego) – confirmar, estabelecer;
2 – bebaios (grego) – estável, firme;
3 – bebaiosis (grego) – confirmação, estabelecimento;
4 – steko (grego) – firme;
5 – sterizo (grego) – firmado, estabelecido, fortalecido;
6 – dokimos (grego) – aprovado, aceito;
7 – histemi (grego) – firme, estabelecido;  relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128460






9 - Firmeza e Constância

"Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego... fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses..." (Dn. 3:16, 18)

A narrativa da varonilidade e do livramento maravilhoso destes três jovens santos, ou melhor, destes três heróis, tem o propósito de suscitar na mente dos cristãos a firmeza e a constância necessárias para defender a verdade diante da tirania e até mesmo das garras da morte.
Que principalmente os jovens cristãos aprendam com este exemplo, tanto nas questões de fé quanto nas de probidade nos negócios, a jamais sacrificar sua consciência.
Percam tudo sem jamais perder a integridade e, quando tudo o mais se for, continuem mantendo a consciência pura, como a joia mais extraordinária que pode adornar o peito de um mortal.
Não sejam guiados pelo brilho ilusório da política, mas pela estrela polar da autoridade divina. Sigam o que é certo seja qual for a circunstância.
Quando não virem nenhum benefício imediato, andem por fé e não por vista. Glorifiquem a Deus, confiando nEle, quando se tratar de perda por causa das suas convicções.
Vejam se Ele não se tornará seu devedor! Vejam se Ele não prova, mesmo nesta vida, que "de fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento" e que, para aqueles que "buscam em primeiro lugar  o seu reino e a sua justiça, todas estas coisas lhes serão acrescentadas".
Se acontecer de, na providência de Deus, vocês se tornarem perdedores devido à  sua consciência, irão descobrir que, se o Senhor não lhes devolver em prata de prosperidade terrena, Ele irá cumprir Sua promessa em ouro de regozijo espiritual.
Lembrem-se de que a vida de um homem não consiste na abundância de suas posses.
Revestir-se de um espírito sincero, ter um coração inculpável e possuir a graça e o favor de Deus são riquezas maiores do que as minas de Ofir poderiam produzir, ou que o comércio de Tiro poderia obter.
"Melhor é um prato de hortaliças onde há amor do que o boi cevado e, com ele, o ódio."
Uma pitada de paz de espírito vale mais que uma tonelada de ouro.

Charles Haddon Spurgeon







10 - Um Chamado à Firmeza

Por D.M.Lloyd-Jones

Se você estiver empenhado num conflito mortal com um adversário poderoso, astuto, esperto, deve estar alerta para não cair, para não deslizar e escorregar, certificando-se de que os seus pés estão bem calçados. Isso é importante em todas as espécies de conflito físico; e é ainda mais importante na esfera espiritual. Você precisa estar bem seguro de que sabe o que está fazendo e onde está se firmando. É preciso que se cuide para não ver, de repente, tudo fugir de debaixo dos seus pés porque esses não têm como se firmar bem.
Isso quer dizer que você deve ser resoluto; que você tem de resolver ser "um bom soldado de Jesus Cristo", venha o que vier. Você tem que resolver apegar-se a este evangelho, não importa que hostes de inimigos estejam armados contra você. Você tem que ter firmeza. Não deve entrar na vida cristã e continuar nela com coração dividido, estando meio dentro, meio fora, desejando benefícios mas se opondo a deveres, querendo privilégios porém rejeitando responsabilidades. Para começar, você tem que ser firme, sólido, resoluto e confiante. A menção que Paulo faz das sandálias traz essa noção. Se você quer "estar firme", assegure-se de que pode e quer "estar firme". Não se precipite, por assim dizer, com os pés descalços, mas calce as sandálias guarnecidas de tachões. Preste atenção nesse requisito.
O apóstolo ensina a mesma verdade em 1 Coríntios, capítulo 16, na ordem: "Estai firmes na fé"! (versículo 13). Quando olho para a Igreja hoje, vejo muitos cujos pés não estão calçados com a preparação do evangelho da paz. Eu os vejo escorregando e deslizando - evangélicos, bem como outros! Os homens não são mais firmes, não são mais resolutos, não sabem mais no que crêem, e não se apegam ao que crêem venha o que vier. As concessões são muito comuns. Seja agradável, seja bom, seja afável, são as máximas atuais. Muitos protestantes parecem estar prontos para voltar para Roma a qualquer momento! É porque não têm os pés calçados com o equipamento do evangelho da paz. Eles estão deslizando, escorregando, oscilando e mudando, sem saber onde estão, e nesse meio tempo o diabo se regozija. Isso é aplicável tanto a igrejas como a indivíduos.
"Se você quer "estar firme", assegure-se de que pode e quer estar firme."
Vocês sabem em que crer? Existe algo pelo que vocês estão prontos para "estar firmes"? Não me desculpo por fazer tais perguntas. Parece¬-me que hoje as pessoas estão prontas para fazer concessões em todas as coisas. Porventura vocês crêem realmente que a Bíblia é a Palavra de Deus, divina e singularmente inspirada, e inerrante? Vocês estão prontos para ficar firmes nessa verdade? É isso que significa pôr as sandálias.
Vocês estão prontos para permanecer firmes em prol da deidade de Cristo? Do Seu nascimento virginal? Dos milagres? Vocês estão prontos para permanecer firmes em prol da morte expiatória, sacrificial, substitutiva do nosso Senhor? Vocês estão prontos para permanecer firmes em prol da ressurreição de Cristo como um fato literal, físico? Vocês estão prontos para permanecer firmes em prol da Pessoa do Espírito Santo? Sabem onde querem estar firmes, conhecem a sua posição? Como poderão combater o inimigo, se não conhecem a sua posição? Ás vezes penso que a leitura sobre as artes bélicas deveria ser obrigatória, que deveríamos ler sobre os grandes comandantes de exércitos como Alexandre, Cromwell, Napoleão e outros. Eles sempre escolhiam o seu lugar e a sua posição; sabiam onde iam estar firmes. E nós não devemos deixar a decisão com o inimigo: Tome a sua posição e diga: "Aqui estou firme!" Tome posição com Martinho Lutero, que não se perturbou com o fato de que tinha contra si doze séculos de catolicismo romano e de tradição. "Aqui estou firme; não posso fazer outra coisa, disse ele; e nós também temos que aprender a estar firmes. Temos de saber o que cremos, ser resolutos e estar determinados a permanecer firmes por isso, venha o que vier.
Vocês têm uma posição definida? Estão dispostos a permanecer firmes nela, e a dizer: "Nunca me renderei, nunca sairei daqui"? No momento em que vocês começarem a ceder quanto à Palavra de Deus, Iogo estarão escorregando e deslizando, tanto na doutrina como na prática. Alguns estão constantemente se contradizendo; elogiam os protestantes e os pais não conformistas na primeira metade do seu discurso ou artigo; depois os criticam na segunda metade. Isso não é "ficar firme"; é escorregar. Eles não sabem onde estão, e ninguém sabe.
Como o apóstolo Paulo diz em 2 Coríntios 1:19, o evangelho de Cristo não é sim e não ao mesmo tempo. Essa é a verdade quanto à política, quanto ao eclesiasticismo, quanto ao "mundo"; contudo não é verdade quanto a Cristo. O evangelho do Filho de Deus, Jesus Cristo, nunca é "sim e não". O ensino de Paulo não concorda com o credo atual- "dialética" lhe chamam - que ensina "sim e não" ao mesmo tempo. No entanto, diz Paulo, o evangelho não é "sim e não", mas "nele (em Cristo) houve sim. Porque todas quantas promessas há em Deus, são nele sim, e por ele o amém, para glória de Deus por nós". E isso significa, segundo alguns intérpretes, que eu e vocês devemos somar o nosso Amém ao Seu Amém, ao Seu grande sim. Permaneçam firmes nisso, custe o que custar.
A nossa firmeza, porém, não se aplica somente à doutrina; aplica-se à totalidade da vida. Uma vez que você entrou nesta vida, tem que tomar a sua posição e permanecer firme, sem vacilar, do lado do Senhor. Quando você se encontrar com os seus velhos amigos do mundo, e eles propuserem a você que continue fazendo o que costumava fazer com eles, você sabe que não pode, e recusará fazê-lo. Permaneça firme resolutamente. Não escorregue para o lado deles. Não! Você tem os seus pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Uma vez que você entrou nesta vida e percebeu que ela é inteiramente diferente da sua vida anterior, você deve dizer: "Aqui estou firme!" Alguém de quem você gosta muito poderá tentá-lo, todavia você terá que dizer: "Não posso trair o meu Senhor; comprometi-me em obedecer aos Seus mandamentos. Os meus pés estão calçados, não estou vacilando". Não fomos destinados a portar-nos ridiculamente, é claro; mas a permanecer firmes nos princípios, e a aplicar esses princípios. Isto se aplica intelectual e doutrinariamente, e à conduta e ao comportamento. Aplica-se a todos os departamentos da vida.
"Deus sempre realizou as Suas maiores obras com um remanescente. Livre-se da idéia de números. O que Deus quer é um homem ou uma mulher que esteja em prontidão para 'ficar firme', cujos pés estejam 'calçados com o equipamento do evangelho da paz'."
Os seus pés estão calçados? Essa é a grande necessidade desta hora; é o chamado de Deus, creio eu, à Igreja e a todo cristão no presente. Deus está à procura dos que permanecerão firmes! Acredito que Ele está dizendo nos dias atuais o que fez nos dias de Gideão. As "hostes de Midiã" tinham subido, e um grande exército de 32.000 foi reunido por Israel. Dos 32.000 houve somente 300 em que Deus pôde confiar. Ele sabia que estes permaneceriam firmes, que nunca desistiriam, que nunca cederiam. Por isso Ele despachou os restantes, e com os poucos 300, o remanescente, Ele derrotou e desbaratou as hostes de Midiã. Deus sempre realizou as Suas maiores obras com um remanescente. Livre-se da idéia de números. O que Deus quer é um homem ou uma mulher que esteja em prontidão para "ficar firme", cujos pés estejam "calçados com o equipamento do evangelho da paz". Ele sabe que pode confiar em tais pessoas; sabe que elas permanecerão firmes, não importa o que aconteça com elas e em torno delas.
Você está firme? Está disposto a permanecer firme? Está pronto para ficar firme? Você entrou de fato na vida cristã, ou está com um pé no mundo e um pé na Igreja? Qual será a situação? "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Talvez você pense que pode; logo verá que não pode. Será derrotado, e se sentirá miseravelmente mal e, quando enfrentar a Deus no juízo, você terá vergonha de si mesmo. Tenha os seus pés calçados com a prontidão, com a firmeza, com o equipamento do evangelho da paz. "Firmes!" "Vós, que sois homens, agora servi ao Senhor."





11 - “Permanecemos nEle” - João 4:13

Por Charles Haddon Spurgeon

 Você quer uma morada para a sua alma?
“Quanto custa?”, você pergunta.
É bem menos do que o orgulho humano gostaria de pagar.
É sem dinheiro e sem preço.
Ah! mas você quer pagar um valor justo!
Gostaria de fazer algo para ter a Cristo?
Mas não pode, pois a morada é "sem preço".
Será que você ficará na casa do Mestre por toda a eternidade, sem pagar nada por ela, nada exceto a taxa de amá-lO e servi-lO para sempre?
Será que você aceitará a Jesus e "permanecerá Nele"?
Veja, esta casa tem tudo o que você quer, tem muito mais riquezas do que você poderá gastar enquanto estiver vivo.
Nela, você pode ter íntima comunhão com Cristo e regozijar-se em Seu amor; nela, as mesas têm alimento suficiente para você viver para sempre; nela, quando estiver cansado, você pode encontrar descanso em Jesus; e dela, você pode olhar para fora e ver o próprio céu.
Você quer tê-la?
Ah! se for um sem-teto, você dirá:
“Eu gostaria, mas será que posso?”
Sim; eis a chave - a chave é "Venha para Jesus".
"Mas", você diz, "Estou maltrapilho demais para entrar nela."
Não se preocupe; há roupas lá dentro.
Se você se sente culpado e condenado, venha; e ainda que a casa seja boa demais para você, Cristo em breve irá torná-lo adequado para ela.
Ele irá lavá-lo e purificá-lo, e então você será capaz de cantar: "Permaneço Nele".
Cristão, és muito feliz por teres tal lugar de habitação!
És mui privilegiado, pois tens uma "rocha habitável" onde estarás seguro para sempre.
E, "permanecendo Nele", não só terás uma casa segura e perfeita, mas uma casa eterna.
Quando este mundo tiver se desvanecido como um sonho, nossa casa estará lá e será mais resistente que o mármore, mais sólida que o granito, autoexistente como Deus, pois ela é o próprio Deus - "Permanecemos Nele".







12 - Aprovados em Santificação

Era de tal ordem a resistência de alguns cristãos coríntios que Paulo disse, no 13º capítulo  da 2ª epístola que lhes escreveu, que se valeria do testemunho de duas ou três pessoas, conforme a norma da disciplina evangélica, que confirmariam o modo desordenado de vida dos que deveriam ser confrontados quando ele fosse ter com eles, e que desta vez, não lhes perdoaria, e seriam submetidos à disciplina da aliança que tinham com o Senhor.
Eles estavam lhe tentando a demonstrar que Cristo falava realmente por seu intermédio, apesar de terem visto a forma poderosa como Ele havia operado entre eles através do seu ministério.
O próprio Cristo foi crucificado por meio de sofrimentos suportados pacientemente em fraqueza, no entanto vive agora pelo poder de Deus.
De igual modo os seus ministros, ainda que fracos, vivem manifestando por toda parte o poder de Deus, o qual opera nos seus ouvintes.
Todo cristão deve portanto fazer um auto exame diário, e colocarem à prova não os outros, mas a si mesmos, para verem se têm permanecido na fé.
Os que são de Cristo têm a habitação de Cristo. Caso contrário, é porque já estão condenados.
No entanto, os cristãos verdadeiros não são reprovados para condenação eterna (v. 6).
Mas nenhum cristão deve se gloriar simplesmente nesta verdade, mas fazer valer e manter a vocação para a qual foi chamado por Deus de praticar o bem segundo Cristo, e não viver mais na prática do mal.
Porque se existe uma aprovação por Deus que é incondicional, por pura graça, relativa à nossa filiação e aceitação, no entanto, há uma outra aprovação quanto ao nosso modo de viver, que deve ser segundo a verdade e a justiça.
Viver portanto no pecado é viver de modo reprovado quanto à santificação, ainda que não sejamos reprovados quanto à nossa justificação, porque esta não foi dependente de nossas boas obras, senão dos méritos exclusivos de Cristo, da fé e da pura graça, sem o concurso das nossas obras (v. 7).
Então nenhum cristão terá o seu comportamento aprovado por Deus caso não esteja andando na verdade, porque não se pode ir contra a verdade quando se é de Cristo, senão viver pela verdade.
Paulo não se importava portanto com o que dizia respeito à sua fraqueza humana, ao contrário, se regozijava nisto, porque era por meio dela que se manifestava a graça e o poder do Senhor, que fortalecia os cristãos coríntios, e que lhes aperfeiçoava.
O intuito de tantas admoestações, exortações e repreensões tinham em vista conduzir os coríntios ao retorno à santificação de suas vidas, de modo que o apóstolo não necessitasse usar de rigor quando estivesse com eles, porque afinal, o poder que os ministros receberam de Cristo visa à edificação e não à destruição do Seu rebanho.
Deste modo, Paulo se despediu dos coríntios com palavras de incentivo, de consolação, de votos que vivessem na alegria do Senhor, aperfeiçoando-se nEle, e sendo de um mesmo parecer, também vivessem em paz; porque fazendo assim o Deus de amor e de paz seria com eles.
E finalmente, enviou-lhes saudações de todos os santos, e que se saudassem mutuamente com ósculo santo.
Ele encerra a epístola com a conhecida bênção apostólica, que comumente é impetrada pela maioria dos ministros das igrejas evangélicas, ao final dos cultos de adoração: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém.” (v. 14).



















23) CONFISSÃO E SINCERIDADE

ÍNDICE

1 - Sinceridade Requerida para o Perdão
2 - Sinceridade e Duplicidade
3 - Duas Coberturas e Duas Consequências
4 - Confissão
5 - A Oração de Confissão
6 - Confissão de Pecado


1 - Sinceridade Requerida para o Perdão

“Heb 10:19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus,
Heb 10:20 pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne,
Heb 10:21 e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus,
Heb 10:22 aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura.
Heb 10:23 Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel.”

Consideremos o que é bom, agradável e aceitável diante dAquele que nos criou. Olhemos fixamente para o sangue de Cristo, e vejamos quão precioso aos olhos de Deus é o seu sangue, que tendo sido derramado para a nossa salvação, trouxe ao mundo inteiro a graça do arrependimento.
Voltemo-nos ao testemunho das gerações passadas, para aprendermos a achar o arrependimento, no exemplo que nos foi deixado por todos aqueles que entenderam a necessidade de se reconhecerem pecadores diante de Deus, e que lhe confessavam diariamente os seus pecados para obterem o favor do seu perdão; quer quando se converteram e foram justificados pela fé em Cristo, quer ao longo de toda sua jornada terrena.
Não podemos ter a verdadeira paz e vida, se permanecemos endurecidos, por não confessarmos os nossos pecados e não nos perdoarmos mutuamente, porque necessitamos perdoar o nosso próximo para que sejamos perdoados por Deus; pois necessitamos do Seu perdão constantemente para ter a verdadeira paz no nosso viver.
Deus prometeu perdoar os nossos pecados caso os confessemos e os abandonemos. E ele fez esta promessa juntando a ela o juramento que fizera por si mesmo, de nunca voltar atrás na decisão de nos perdoar e abençoar.
Sejamos então sinceros e honestos quanto às nossas falhas, diante dAquele cujos olhos percorrem toda a Terra e que tudo vê. Se dissermos que não temos pecado ou caso pensemos que somos bons e justos de nós mesmos, chamamos a Deus de mentiroso, e não podemos estar em paz com Ele e nem mesmo com nossas próprias consciências, porque tanto um quanto outro testificam claramente a nossa condição de pessoas falhas e imperfeitas, necessitadas de graça e de perdão.





2 - Sinceridade e Duplicidade

“Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos.  Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade.” (1 João 2.3,4)

Com uma discriminação sábia João traça um contraste entre aquele que sabe que conhece a Cristo, e aquele que diz que o conhece. A um ele reconhece, mas o outro ele marca com essa palavra dura: "um mentiroso".
Não somente nesse caso, mas em todas as suas epístolas, João continua a desvendar o emaranhado da hipocrisia. No primeiro capítulo desta epistola, no sexto versículo, ele se refere àqueles que andam na luz e têm comunhão com Deus, e ele acrescenta: "Se dissermos que temos comunhão com Ele, e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade."
No nono versículo do segundo capítulo ele afirma: "Aquele que diz que está na luz, e odeia seu irmão, está nas trevas até agora."
Há uma notável citação no quarto capítulo, versículo vinte, "Se um homem diz que ama a Deus, e odiar a seu irmão, é um mentiroso: pois aquele que não ama seu irmão, a quem ele tem visto, como pode amar a Deus, a quem não viu?"

I. A questão a ser considerada e julgada por cada de per si é o conhecimento de Cristo. O que, então, é conhecer a Cristo? É claro que nunca o vimos. Muitos anos atrás ele deixou este mundo e subiu para seu Pai. Ainda podemos conhecê-lo. É possível. Houve milhares, e até milhões, que tiveram uma relação pessoal com Ele, pois, embora eles não tenham visto, quem eles amaram, e em quem eles se alegraram com alegria indizível e cheia de glória.
"Conhecer" é uma palavra usada na Bíblia em vários sentidos. Às vezes, isso significa reconhecer. Como quando lemos sobre um determinado Faraó, que "ele não conhecia José." Ou seja, ele não reconhecia qualquer obrigação do Estado ou reino do Egito para com José. Ele não se lembrou do que havia sido feito por esse grande homem. Assim, também, Cristo diz que Suas ovelhas "conhecem" a sua voz. Elas reconhecem a sua voz como a voz de seu pastor, e alegremente seguem o seu Pastor. Agora, é uma questão de primeira necessidade reconhecer a Cristo - que Ele é Deus, que Ele é o Filho de Deus Pai, que Ele é o Salvador do Seu povo, e o legítimo monarca do mundo – reconhecer ainda mais - para você aceitá-Lo como seu Salvador, como seu Rei, como seu Profeta, como o seu Sacerdote.
Isto é, em certo sentido, conhecer a Cristo. Ou seja, confessar em seu coração que Ele é Deus, na glória de Deus Pai. Que Ele é o seu Redentor. Que Seu sangue o tem lavado, e Sua justiça lhe cobre. Que Ele é a sua salvação, sua única esperança, e seu mais querido desejo.
A palavra "conhecer" significa, no próximo lugar, “crer”. Como nessa passagem de Is 53.11: "o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos", onde é evidente o significado que pelo conhecimento dele, isto é, pela fé em Cristo Jesus, Ele justificará a muitos. Não o conhecimento que tinha Jesus, mas pelo conhecimento dele, pela fé nele, muitos serão justificados. "Conhecer" e "crer" são por vezes usados ​​nas Escrituras como termos conversíveis. Agora, neste sentido, devemos conhecer a Cristo. Devemos crer nele, devemos confiar nele, devemos aceitar os testemunhos dos profetas e apóstolos a respeito dele. E devemos subscrevê-los, de modo prático, com todo o nosso coração e alma, e força, e devemos descansar todo o peso do nosso destino eterno em Sua obra consumada. Conhecê-lo, então, é reconhecê-lo e crer nele.
Isso não é tudo. A palavra "conhecer" muitas vezes significa experiência. Diz-se de nosso Senhor que: "Aquele que não conheceu pecado". Ou seja, ele nunca experimentou o pecado. Ele nunca se tornou um pecador. Para conhecer a Cristo, então, devemos sentir e provar Seu poder, o Seu poder perdoador, Seu poder de amor sobre o coração, o Seu poder reinante em subjugar nossas paixões, Seu poder consolador, Seu poder esclarecedor, Seu poder exaltador, e todos as demais abençoadas influências que, por meio do Espírito Santo, procedem de Cristo. Isto é experimentá-lo. E mais, "conhecer" na Escritura frequentemente significa comungar. Elifaz diz: "Familiarize-se com Deus, esteja em paz com ele." Isso quer dizer, em comunhão com Ele, entre em amizade e companheirismo com ele.
Por isso, é necessário que cada crente deva conhecer a Cristo por ter uma familiaridade com Ele, falando com Ele em oração e louvor – por fazer do nosso coração um só coração com Ele -recebendo dele o segredo divino, e lhe fazendo a confissão completa de todos os nossos pecados e tristezas. Em uma palavra, queridos irmãos, conhecer a Cristo é o mesmo que conhecer qualquer outra pessoa. Quando você conhece um homem, se ele é seu amigo íntimo, você confia nele, você o ama, você o estima, você está em condições de falar com ele. Em alguns momentos você se aconselha com ele, ou você pede sua ajuda. E ele chega à sua casa, e você tem uma associação familiar recíproca. Há um bom entendimento entre você e a pessoa de quem eu disse que você conhece.
Nas mesmas condições deve estar a alma com Cristo. Ele não deve ser meramente um personagem histórico sobre quem lemos nas páginas das Escrituras. Mas ele deve ser uma pessoa real com quem podemos falar em espírito, ter comunhão de coração, e estar unidos pelos laços do amor. Precisamos conhecê-lo, sua própria pessoa, de modo a amar e confiar nele como um verdadeiro Senhor para nós. Julguem, então, cada um de vocês, se realmente e de fato, nesse sentido, "conhecem" a Cristo.
Distinga, no entanto, entre conhecer a respeito de Cristo e conhecer a Cristo. Podemos saber muito sobre muitos de nossos grandes homens, apesar de não conhecê-los. Agora, isto nunca salvará uma alma, a saber, conhecer a respeito de Cristo. O único conhecimento que salva é  conhecê-lo, a Si próprio, e confiar nele, o Salvador vivo, que agora está à mão direita de Deus.
 Você pode ser tão fluente como Whitefield. Sim, você pode ser eloquente e poderoso nas Escrituras como era Apolo. Mas se você não conhece a Cristo por seu próprio conhecimento pessoal individual, tendo familiaridade com Sua pessoa, com a Sua justiça, e com o Seu sangue, você não será salvo por todos as suas belas afirmações relativas a Ele. Ao contrário, você está em perigo iminente, porque pelo que sair de  sua própria boca, você será condenado.
Tal conhecimento é por isso incomparável. Ele mergulha profundamente na mina do propósito eterno de Deus. Ele voa alto no céu do amor eterno de Deus. Ele amplia a alma, preenchendo-a com a plenitude inesgotável de Cristo - Cristo a sabedoria de Deus.
Você o conhece, e você é conhecido dele", e eles serão meus, diz o Senhor, no dia em que eu reunir minhas joias." "O Senhor conhece os que são seus". Ele confessará que estes são sua propriedade no dia em que vier na glória de seu Pai, e todos os seus anjos com ele.

II. Tendo estabelecido o assunto que é proposto, vamos avançar para falar dos dois caracteres que são retratados no texto. Com relação ao primeiro - aqueles que sabem que o conhecem. Nos é dito o modo pelo qual eles sabem que o conhecem: "sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos."
Alguns cristãos que não conhecem a Cristo estão em grande dúvida quanto a saber se eles o conhecem. Isso não deveria ser assim. É algo muito solene, para ser uma questão deixada ao acaso ou conjectura. Eu acredito que há salvos que não sabem com certeza que eles são salvos. Eles estão levantando a questão, muitas vezes, que nunca deveria ser uma pergunta. Nenhum homem deveria estar disposto a deixar isto na incerteza, pois marque isto, se você não é um homem salvo, você é um homem condenado. Se você não for perdoado, seus pecados permanecem sobre você. Você está agora em perigo do inferno se você não está agora seguro do Céu, pois não há lugar entre estes dois. Ou você é um filho de Deus, ou não. Por que você diz: "Eu espero que eu seja um filho de Deus, mas eu não sei. Espero, no entanto, eu não sei se estou perdoado?" Você não deveria estar nesse suspense. Você é uma coisa ou o outra - ou é um santo ou um pecador - salvo ou perdido, ou andando na luz ou caminhando nas trevas.
Oh, é muito urgente isto que deveríamos saber que nós conhecemos a Jesus! Embora, como eu já disse, conhecê-Lo é o assunto fundamental – além disso não há nada tão importante quanto saber que nós o conhecemos.
Não é somente alegria que você iria encontrar a partir deste conhecimento. Seria também confiança. Quando um homem sabe que ele conhece a Cristo, que confiança que ele tem ao enfrentar tentações! "Um homem como eu fugiria?" Que confiança ele tem na oração! Ele pede com fé, como filhos amados pedem a um pai generoso. E que ar confiante esta confiança diante de Deus nos daria em relação aos filhos dos homens! Nós não devemos gaguejar na presença de seus filósofos, ou olhar envergonhados na presença de seus nobres. Mas sabendo que nós o conhecemos, sabendo que temos a vida eterna, não devemos nos importar se eles nos chamam de ignorantes, ou fracos, ignóbeis e presunçosos. Não devemos nos envergonhar de confessar a nossa fé com uma posse elevada que temos.
E esta certeza que você conhece Cristo faria acender em você o mais alto grau de amor. Sabendo que eu estou salvo, sabendo que eu sou dele, e ele é meu, não posso deixar de sentir as chamas de afeto para com Ele. Que o amor me leve à obediência, e que a obediência desenvolva em mim fervor e zelo. Sabendo que você o conhece, você estará pronto para dizer com uma paixão santa: "Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?"
Oro para que o Mestre possa dizer para muitos de vocês que estão sendo inclinados com um espírito de enfermidade: "Levante-se." E para outros que há muito tempo têm permanecido nesta cama de dúvidas e medos: "Toma o teu leito e anda."
Você deseja este doce bálsamo para uma consciência pesada? Observe a prescrição, "Nisto sabemos que nós o conhecemos, se guardarmos os seus mandamentos." É na guarda de seus mandamentos que este estado saudável da alma é mantido. Guardar seus mandamentos significa guardá-los em nossas mentes, e mantê-los  em nossa memória com reverência devota. Deveria ser o objetivo de cada cristão descobrir o que é o mandamento de Cristo. E, feito isto, recebê-lo com mansidão, e meditar nele e venerá-lo como a Lei da Casa do Senhor.
Mas para mantê-los em nossos corações, devemos sinceramente desejar cumpri-los. Por causa da queda (pecado original), não podemos manter perfeitamente os mandamentos de Cristo, mas o coração os guarda como o padrão de pureza. O cristão somente deseja ser exatamente como Cristo. Dói-lhe que ele esteja aquém de Sua imagem. Dá-lhe grande alegria se ele pode sentir que o Espírito Santo está trabalhando nele qualquer coisa como a conformidade com a vontade Divina.
Seu coração é reto para com Deus, e é sincero nisto. Isso não é suficiente se não houver um objetivo constante e perseverante para cumprir Seus mandamentos em nossas vidas. Reflitam nisto, irmãos, que a falta de obediência prática a Cristo é a raiz de 999 em cada 1.000 de nossas dúvidas e medos. As raízes de nossos medos estão em nossos pecados. Procure lá, e você deve encontrar a causa do problema da alma. Acredito que há muitos filhos de Deus andando na escuridão, porque eles não obedecem à palavra do Senhor.
"Aquele que conhece a vontade de seu mestre e que não a faz, será castigado com muitos açoites." O mandamento que devemos amar uns aos outros é muito desprezado por muitos. Agora, se você não ama seus irmãos cristãos fervorosamente com um coração puro, você pode pensar que você cairá em dúvidas? É natural que assim seja. Somente na proporção em que a Graça Divina o faz obediente a Graça Divina faz com que você seja um cristão convicto.

III. Chegamos agora à última consideração, que lança uma acusação grave contra os dissimuladores. Contra quem afirma que conhece a Cristo, mas não guarda os seus mandamentos.
João afirma que dizer que se conhece a Cristo, e não guardar os seus mandamentos é uma mentira. É uma mentira verbal. O homem que profere isto fala uma mentira. Ele diz: "Eu conheço Cristo". Mas é uma mentira. Ele não conhece. Ele conhece coisas sobre ele, mas seu coração não sabe nada sobre Jesus. É uma mentira doutrinária, pois seria uma terrível heresia dizer que um homem que viveu em pecado conheceu a Cristo. Será que Cristo mantém tal companhia? Que ele chama essas pessoas de Seus amigos? Aqueles que vivem nos vícios e na lascívia são amigos de Cristo? Ele é santo, inocente, imaculado e separado dos pecadores. Portanto, tal afirmação é uma mentira contra as doutrinas do Evangelho.
E isso é também uma mentira prática. O homem que diz: "Eu o conheço", e depois vai e quebra os mandamentos de Cristo, cada vez que ele peca diz uma mentira.
E ainda, é uma mentira condenável. O homem que diz: "Eu conheço a Cristo", e não guarda os seus mandamentos, está fazendo certa a sua própria condenação. Por sua profissão de ser um seguidor de Cristo, ele confessa que ele sabe o que deveria ser, mas por suas ações, ele prova que ele não é o que deveria ser. E assim ele está testemunhando contra si mesmo, julgando-se, condenando sua própria alma, e desafiando a sentença da perdição eterna. Deus nos livre de tal atitude como esta!
Agora, um de Seus mandamentos é: "Amarás o teu próximo como a si mesmo", e outro é: "Não furtarás." E em não mantê-los provaram a si mesmos serem mentirosos, mas eles se chamavam de cristãos. Alguns que têm professado fé em Cristo têm vivido sem domínio próprio e entregues a diversos vícios que os afastam de Deus.
Alguém pode ser respeitável aos olhos de seus companheiros, mas é um hipócrita vergonhoso e escandaloso aos olhos do céu.
Se você não consegue manter uma boa companhia e evitar o círculo de dissipação, não professe ser seguidor de Cristo! Ele manda você sair do meio deles! Se você pode encontrar prazer em sociedade lasciva e em canções lascivas, que direito você tem de conviver com a comunhão dos santos, ou se juntar ao canto dos Salmos? Você não guarda os mandamentos, você os viola. A verdade não está portanto em você, quando afirma que conhece a Cristo.
Eu conheço alguns dos discípulos do Senhor, como eles nos querem fazer crer que o são, que têm sido implacáveis. Eles chamavam a si mesmos de cristãos, mas que não poderiam perdoar uma ofensa, ainda que fosse  de seus próprios filhos! Um cristão ressentido, malicioso é uma anomalia!
Eu lhe digo, se você não ama seus irmãos, se você não ama o seu próprio filho, se você não consegue perdoar o seu filho, não há nada mais certo no livro de Deus do que isso, que você nunca vai entrar no céu. Um espírito que não perdoa é um espírito não perdoado. Primeiro, vá e perdoe o seu irmão antes que você traga o seu sacrifício, ou Deus não vai aceitá-lo nem a sua oferta. Não somos ensinados a orar: "Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles que nos têm ofendido"?
Tem sido um trabalho difícil para mim, portanto, mencionar estas incoerências. Eu não posso arriscar mais, embora eu pudesse ter declarado mais. O trabalho dos meus lábios é um fardo para o meu coração. Se fere a consciência de qualquer homem, bem, deixe que seja ferida, até que ele considere o seu pecado e caia aos pés de Jesus, suplicando-lhe por perdão.
Se você deseja ser lavado do pecado, evite o pecado. Se você professa conhecer a Cristo, não tem nada a ver com um mundo pecaminoso. Sacuda a víbora do pecado no fogo, pois vai envenená-lo e destruí-lo. Queira Deus que você possa renunciar ao pecado, se você professa, deveras, ser servo de Cristo.
Minha última palavra é esta. Se alguém agora se sente incomodado por causa do pecado, deixe-me ler estas palavras para ele. Ouça com fé. São palavras que vêm antes do nosso texto. "E, se alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo." Ó venham, vocês culpados, que foram falsos para com o seu Senhor e ao Seu amor! Venham a Ele, não obstante todas as suas provocações amargas. “E Ele é o Propiciatório: Propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo."
Olhem, então para Ele, olhem e vivam! Sejam santos ou pecadores, independentemente do que suas vidas passadas possam ter sido, olhem para o sacrifício propiciatório oferecido no madeiro do Calvário! Olhem e vivam! O Senhor lhes conceda isto, por amor do seu querido Filho. Amém.

Tradução, adaptação e redução feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público.






3 - Duas Coberturas e Duas Consequências

   Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

   "O que encobre as suas transgressões nunca prosperará." - Provérbios 38.13.

   "Perdoaste a iniquidade de teu povo, encobriste todos os seus pecados." - Salmo 85.2.

   Nestes dois textos nós temos a cobertura do homem, a qual é inútil e culposa, e a cobertura de Deus, que é rentável, e digna de toda aceitação.
Assim que o homem desobedeceu a vontade de seu Criador no jardim do Éden então ele descobriu, para sua surpresa e consternação, que estava nu, e ele começou ao mesmo tempo a fazer para si uma cobertura. Isto foi uma pobre tentativa que nossos primeiros pais fizeram, e ela provou ser uma miserável falha. "Eles costuraram folhas de figueira juntos." Depois que Deus veio e lhes revelou ainda mais plenamente a sua nudez, fez com que confessassem seu pecado, e então está escrito que o Senhor Deus fez túnicas de pele. Provavelmente as vestes foram feitas de peles de animais que tinham sido oferecidos em sacrifício, e, se assim foi, eles eram um tipo da provisão que tinha sido feita para nós como uma oferta pelo pecado e um manto de justiça perfeita. Todo homem desde os dias de Adão tem passado pela mesma experiência, mais ou menos, confiando em sua própria criatividade para esconder sua própria confusão de rosto. Ele tem descoberto que o pecado o tornou nu, e ele começou a trabalhar para vestir-se.
 Como eu lhes mostrarei presentemente, ele nunca tem conseguido. Mas Deus tem prazer em lidar com o seu próprio povo, segundo as riquezas da sua graça; ele tem coberto a sua vergonha e expulsado os seus pecados para que que eles não sejam mais lembrados.
   Deixe-me agora direcionar sua atenção, em primeiro lugar, à cobertura do homem, e sua falha; e, em seguida, à cobertura de Deus, e sua perfeição.
   Há muitas maneiras em que os homens tentam cobrir seu pecado. Alguns o fazem por negarem que eles pecaram, ou, admitindo a verdade, eles negam a culpa; ou então, francamente reconhecendo tanto o pecado e a culpa, eles se justificam.
Alguém aqui pode estar dizendo consigo: "Pode ser que eu tenha quebrado a lei de Deus, mas nem tanto. Como guardar uma lei tão perfeita? eu a tenho violado, pois é natural estar sujeito a tentações, e ceder ao fascínio.”
 Mas, na verdade, você está humilhando Deus, você está injuriando o Todo-Poderoso. Você está impugnando a lei para vindicar-se ao quebrá-la. A lei é santa, justa e boa. Você está jogando o ônus de seus pecados a Deus. Você acha que isso vai ser tolerado?
Rogo-te a não recorrer a uma tal cobertura como esta, porque, ao mesmo tempo que é totalmente inútil, acrescenta pecado a pecado, e te expõe à vergonha.
(Antes de prosseguirmos com o texto de Spurgeon, gostaríamos de ressaltar que as Escrituras foram produzidas por uma nação que se encontrava debaixo do governo teocrático, a saber, Israel, de modo que eles tinham conhecimento da lei de Deus, e a Inglaterra desde os puritanos até os dias de Spurgeon era uma nação eminentemente cristã, tendo havido inclusive a obrigatoriedade de cumprir a ordenação dos reis de que cada cidadão inglês comparecesse aos cultos na Igreja Anglicana, de modo que era também uma sociedade com um conhecimento geral da Palavra de Deus. Mas em nossos dias, na grande maioria das nações da Terra quando a iniquidade tem se multiplicado, e não somente quando os mandamentos de Deus não são conhecidos ou respeitados e quando até a própria existência de Deus é questionada ou negada, principalmente pela aceitação de argumentos evolucionistas e seculares, torna-se quase ausente qualquer consciência de se estar transgredindo os mandamentos de Deus. Consciências cauterizadas não podem conhecer, entender e muito menos praticar a vontade de Deus – nota do tradutor).
   Em muitos casos, pessoas que violam a lei de Deus têm esperado cobrir sua transgressão pelo sigilo. Você não sabe que a Providência é um detetive maravilhoso? Cada pecado deixa um rastro. Deus conhece os segredos dos corações de todos, conhece suas mentes e ações.
Essas coisas que você tem escondido serão trazidas à luz, porque Deus é o grande descobridor do pecado. É inútil pensar que podem esconder suas transgressões. O que encobre o seu pecado desta maneira não prosperará.
   Ainda, muitos pecadores têm tentado encobrir seu pecado com falsidade. Na verdade, este é o hábito costumeiro. O pecado de Ananias e Safira, em mentir, a fim de esconder o seu pecado, a rapidez com que foi descoberto, e quão terrível foi a retribuição!
   Há alguns que tentam cobrir seu pecado por prevaricação. Com astuta sutileza se esforçam para fugir à responsabilidade pessoal. Memorável é o caso de Davi. Não vou me alongar sobre o seu flagrante crime; mas devo lembrá-lo de seu subterfúgio, quando ele tentou esconder a baixeza de sua luxúria por conspirar para causar a morte de Urias. Há aqueles que planejam jogar a culpa nos outros, mesmo em prejuízo de sua reputação, para escapar à odiosidade de suas próprias práticas ilícitas.
Quem sabe, nesta congregação possa haver alguém que ocupe uma alta posição social, apoiada por uma profunda imoralidade mercantil? Que se apresentam orgulhosamente diante do público como homens de riqueza, enquanto falsificam suas contas, furtando dinheiro, rolando em luxo e vivendo em perigo (coisa muito comum no mundo atual e especialmente no Brasil – nota do tradutor). Eles têm prosperado? Eles devem ser invejados? A eles se aplica a sentença bíblica de que não prosperarão. Os cães de caça da justiça divina estão no seu rastro. Eles serão descobertos. Vocês podem escapar da devida recompensa nesta vida, mas certamente sua culpa é conhecida no céu, e serão julgados e condenados no grande dia que decidirá seu destino eterno.
   Quando a trombeta da ressurreição tocar, haverá uma ressurreição de caracteres. O homem que tem caminhado na justiça do evangelho se alegrará na luz que reflete sua pureza. Mas o homem cujos vícios latentes foram habilmente forjados será trazido também para a luz. Seus atos e motivos serão igualmente expostos. Assim ele mesmo verá a ressurreição de seus crimes, e com que horror ele irá enfrentar aquele dia do juízo!
"Ai, ai!" ele diz, "Eu tinha esquecido deles. Estes são os pecados da minha infância, os pecados da minha juventude, os pecados de minha maturidade, e os pecados de minha velhice. Eu pensei que eles estavam mortos e enterrados, mas eles começam a se levantar de seus túmulos. Minha memória foi vivificada. Lá estão todos eles, e, como muitos lobos em torno de mim, parecem sedentos de minha destruição. "Cuidado, Oh! Homens que têm enterrado seus pecados, pois eles se levantarão de seus túmulos e lhes acusarão diante de    Deus. O tempo não pode cobri-los.
   A tarefa mais alegre recai sobre mim agora, enquanto eu chamo a atenção para meu segundo texto, "Cobriste todos os seus pecados."
A Cobertura de Deus é afirmada a respeito do Seu povo. Todos os que têm confiança no sacrifício expiatório que foi apresentado pelo Senhor Jesus Cristo no Calvário podem aceitar essa garantia de boas-vindas, "Deus tem coberto todos os seus pecados."
Eu vou lhe dizer como isto ocorre.
   Antes que Deus cubra os pecados de um homem Ele os desvenda. Você já viu seus pecados revelados? Alguma vez lhe pareceu como se o Senhor colocasse a mão em cima de você, e lhe dissesse: "Olhe, olhe para eles"? Você foi levado a ver seus pecados como você nunca viu antes? Você sentiu seus agravos aptos para levá-lo ao desespero? Você já descobriu neles uma profundidade de culpa, e iniquidade, e inferno?
E se Deus faz assim, e você vê o seu pecado à luz do Seu rosto, Ele tem seus propósitos de misericórdia para com você. Quando você vê e confessa, Ele vai apagá-lo. Então, logo que Deus, em infinita benignidade, faz com que o pecador conheça a verdade que ele é um pecador, e retira-lhe os trapos de sua justiça própria, Ele lhe concede perdão e roupas para cobrir sua nudez. Enquanto ele está tremendo diante do olhar do Todo-Poderoso, condenado, a culpa é extraída da sua consciência.
Todo aquele que reconhecer a si mesmo como culpado, e que vier e colocar a sua confiança em Jesus Cristo, terá seus pecados cobertos.
Somente Deus pode cobrir o pecado. É contra ele que o pecado foi cometido. É a pessoa ofendida que deve perdoar o agressor. Ninguém mais pode. Ele é o Rei. Ele tem o direito de perdoar. Ele é o   Soberano Senhor, e ele pode apagar o pecado. Além disso, ele pode cobri-lo legalmente, porque o Senhor Jesus Cristo, a fim de que a justiça de Deus pudesse ser vindicada, sofreu em nosso lugar, pagando a pena relativa ao nosso pecado. Agora, o sacrifício de Deus cobre o pecado - cobre por cima; e ele mais do que o cobre, ele   deixa de ser. Além disso, o Senhor Jesus guardou a lei de Deus, e a sua obediência significa, a nossa obediência; Deus aceita a Ele e a Sua justiça em nosso nome, imputando os Seus méritos às nossas almas.
   A expiação foi feita antes do pecado ter sido cometido. A justiça foi apresentada antes mesmo que tivéssemos nascido. É afirmado nas Escrituras que o Cordeiro de Deus, que foi morto desde antes da fundação do mundo, teve no propósito de Deus, desde a fundação do mundo, abrangido todos os pecados de Seu povo. Portanto, somos aceitos no Amado, e queridos ao coração do Pai. Oh! que alegria há quando você pode sentir pelo poder interior e testemunho do Espírito Santo que seus pecados são cobertos.
   Amado, a cobertura é tão ampla quanto o pecado. Cobrindo-o completamente, para sempre cobre; porque Deus vê sem pecado aqueles que são lavados no sangue de Jesus.






4 - Confissão

É mais do que falarmos dos nossos pecados para Deus. Falamos de confissão de fé, de confissão religiosa, significando o compromisso que temos feito com Deus segundo a Sua Palavra.
Confissão vem do grego homologia, onde homo significa igual, o mesmo, semelhante; e logospalavra, fala, dizer.
Assim, entendemos que confissão em relação a Deus, significa falar o mesmo que Deus fala, ou seja, estar concorde com tudo o que Ele tem proferido a nosso respeito.
Daí, que chamamos de confissão o ato de alguém dizer a Deus tudo o que fez de errado, porque está sendo verdadeiro em concordar com Ele, e reconhecer tudo que tem definido como pecado, por ser contrário à Sua vontade.
Considere-se, entretanto, que não poderíamos chamar de confissão, o simples ato de se dizer o mal que praticamos, porque também deve ser levado em conta o motivo e o sentimento com que o fazemos, pois alguém poderia dizer-Lhe o mal que tem feito até mesmo como forma de afronta.
Espera-se então que, para que seja verdadeira confissão, ela seja acompanhada do sentimento de contrição, arrependimento, culpa, humildade, e o desejo de ser perdoado, pois é isto que corresponde à verdade do que devemos sentir e expressar do ponto de vista de Deus, quanto aos erros que praticamos.
Afinal o próprio Espírito Santo se entristece quando pecamos; logo, concordar com Deus significa que se ache em nós o mesmo sentimento de tristeza quando pecamos, porque nisto há concordância.
Somente o que é justo e verdadeiro deve ser motivo para honra e alegria, mas tudo o que é falso e maligno deve ser motivo para tristeza, vergonha, e arrependimento.
Então, indo além com o conceito relativo à palavra, como nos expressamos no início, a confissão deve englobar também nossos motivos de alegria pelas boas obras que praticamos e pelos avanços que fazemos em santificação, sobretudo pelos benefícios que recebemos da parte de Deus, e nossa alegria por sermos aceitos por Ele em Jesus Cristo.
Qual pai prefere que o filho lhe procure somente para expressar a vergonha que sente perante ele pelos males que tem praticado? Antes, não é todo o seu prazer que o filho converse com sobre aquilo que tem feito de bom?
Assim também se dá em relação ao nosso Pai divino, pois tem grande prazer na justiça e na verdade.
Afinal, a palavra homologar, de onde vem confissão, possui dentre outros os seguintes significados: concordar, confirmar, legitimar, ratificar, aprovar, aceitar, admitir, aplaudir, apoiar, assentir, autorizar, consentir, gostar, outorgar, permitir, sancionar, simpatizar, subscrever, assegurar e certificar.
Trata-se, portanto de estar em concordância com Deus, em ser confirmado por Ele, legitimado, ratificado, aprovado, aceito, admitido, aplaudido, apoiado, etc.
Veja que é muito mais do que dizer-Lhe o que temos feito de errado. Não está em foco o mero ato de se abrir a boca e falar algo, mas a busca de uma posição em que estejamos concordes com Ele, não apenas aceitando tudo o que tem dito sobre o comportamento que nos convém ter perante Ele e todos os homens, mas buscando colocá-lo em prática.
Assim, há também este elemento dinâmico na confissão que nos conduzirá a buscar a posição em que devemos ser achados, para termos por assim dizer, a homologação desejada; como quem pleiteia por algo e se esforça por atender aos termos propostos pela outra parte para que seja sancionado, legitimado, ratificado, aprovado e aceito o seu pleito.
Com isto, podemos chamar de boa confissão, o testemunho que damos da verdade com nossas vidas, pela aceitação e prática da sã doutrina, conforme pode ser visto em várias passagens bíblicas, como as que destacamos a seguir.

1 – homologeo (grego) – confessar, homologar, concordar, reconhecer
Mateus 7.23 Então lhes direi (homologeo) claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.
Mateus 10.32 Portanto, todo aquele que me confessar (homologeo) diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.
Mateus 14.7 pelo que este prometeu (homologeo) com juramento dar-lhe tudo o que pedisse.
Lucas 12.8 E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus;
João 1.20 Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo.
João 9.22 Isso disseram seus pais, porque temiam os judeus, porquanto já tinham estes combinado que se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga.
João 12.42 Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele; mas por causa dos fariseus não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga;
Atos 23.8 Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem (homogeo) uma e outra coisa.
Atos 24.14 Mas confesso-te isto: que, seguindo o caminho a que eles chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas,
Romanos 10.9 Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo;
Romanos 10.10 pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.
I Timóteo 6.12 Peleja a boa peleja da fé, apodera-te da vida eterna, para a qual foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.
Tito 1.16 Afirmam (homologeo) que conhecem a Deus, mas pelas suas obras o negam, sendo abomináveis, e desobedientes, e réprobos para toda boa obra.
Hebreus 11.13 Todos estes morreram na fé, sem terem alcançado as promessas; mas tendo-as visto e saudado, de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra.
Hebreus 13.15 Por ele, pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.
I João 1.9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
I João 2.23 Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; aquele que confessa o Filho, tem também o Pai.
I João 4.2 Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus;
I João 4.3 e todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo.
I João 4.15 Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus.
II João 1.7 Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo.

2 – homologia (grego) – profissão, confissão, reconhecimento
II Coríntios 9.13 visto como, na prova desta ministração, eles glorificam a Deus pela submissão que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade da vossa contribuição para eles, e para todos;
I Timóteo 6.12 Peleja a boa peleja da fé, apodera-te da vida eterna, para a qual foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.
I Timóteo 6.13 Diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que perante Pôncio Pilatos deu o testemunho da boa confissão, exorto-te
Hebreus 3.1 Pelo que, santos irmãos, participantes da vocação celestial, considerai o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus,
Hebreus 4.14 Tendo, portanto, um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou os céus, retenhamos firmemente a nossa confissão.
Hebreus 10.23 retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa;

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Pr Silvio Dutra





5 - A Oração de Confissão

Que Deus nos dê sempre o entendimento e a lembrança de um princípio espiritual vital do qual depende a nossa permanente comunhão com Ele.
Este princípio é o da oração de confissão dos nossos pecados presentes, com a firme confiança de que Ele nos perdoará se o fizermos, simplesmente pela fé de que seremos ouvidos por causa dos méritos de Jesus.
É muito difícil para o coração turbado e enfraquecido por impurezas e toda forma de males praticados ou pensados, enquanto permanece neste estado, levantar-se do pó em oração, crendo no perdão de Deus e que Ele é poderoso para nos levantar da nossa triste e miserável condição espiritual.
Entretanto Ele sempre o fará por Sua exclusiva graça e pelo nosso posicionamento na fé.
Não importa quantos sejam os argumentos que a nossa razão apresente contra esta verdade, levantemo-nos do monturo, ainda que nos arrastando no pó, e elevemos ainda que seja uma oração em pensamento ao Senhor, nos humilhando e lhe pedindo que seja mais uma vez misericordioso para conosco, nos purificando de toda injustiça e perdoando todos os nossos pecados.
Sobrenaturalmente, por um modo que a razão não pode explicar, o Seu poder nos visitará e fará com que nos sintamos limpos e novamente admitidos à Sua santa presença, e bem dispostos a louvar o Seu santo nome e a dar o bom testemunho do evangelho a outros.
Precisaremos sempre aplicar este princípio espiritual porque o pecado nos assedia de perto e sempre haverá ocasiões em que poderá ter vantagem sobre nós. Por isso precisamos exercitar a fé no perdão e na graça de Jesus para que possamos buscar a devida restauração, através da oração de confissão, tão logo tenhamos sido convencidos de que aquilo que fizemos nos afastou da comunhão com Deus.
Oremos portanto, e retornemos imediatamente à comunhão, confiantes de que este é o desejo do coração de Deus para conosco.

“1Jo 1:5  Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma.
1Jo 1:6 Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.
1Jo 1:7 Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.
1Jo 1:8 Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.
1Jo 1:9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
1Jo 1:10 Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.
1Jo 2:1 Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo;
1Jo 2:2 e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.”






6 - Confissão de Pecado

por Charles Haddon Spurgeon

Meu sermão esta manhã terá sete textos e minha pregação será centrada em apenas duas palavras de cada um, porque os sete textos são todos semelhantes e ocorrem em sete porções diferentes da santa Palavra de Deus. Porém, eu usarei o contexto de todos eles para exemplificar casos diferentes; e peço a vocês que trouxeram suas Bíblias que os acompanhem a medida que forem mencionados. O tema desta manhã será - CONFISSÃO DE PECADO. Nós sabemos que isto é absolutamente necessário à salvação. A menos que haja uma verdadeira e sincera confissão de nossos pecados a Deus, não temos nenhuma promessa que nós acharemos clemência no sangue do Redentor. "Todo aquele que confessar seus pecados e os abandonar achará misericórdia" . Mas não há nenhuma promessa na Bíblia para o homem que não confessar seus pecados . Há muitos que fazem uma confissão, e uma confissão diante de Deus, e não recebem nenhuma bênção, porque a confissão deles não tem certas marcas que são requeridas por Deus, que provariam sua genuinidade e sinceridade e que demonstrariam terem sido fruto do trabalho do Espírito Santo. Meu texto esta manhã consiste em duas palavras: "eu pequei". E você verá como estas palavras, nos lábios de homens diferentes, indicam sentimentos muito diferentes. Enquanto uma pessoa diz "eu pequei" e recebe perdão, outro diz o mesmo, porém segue seu caminho para se enegrecer com pecados piores que antes e mergulha em profundezas maiores de pecado do que antes ele tinha experimentado. O Pecador Endurecido. Faraó: "eu pequei". Êxodo 9:27. O primeiro caso que eu apresentarei a vocês é o do PECADOR ENDURECIDO que, quando experimenta terror, diz "eu pequei". E você achará o texto no livro de Êxodo 9:27 - "Então Faraó mandou chamar Moisés e Arão, e disse-lhes: Esta vez pequei; o Senhor é justo, mas eu e o meu povo somos ímpios". Mas porque esta 139 confissão nos lábios deste altivo tirano? Ele não se humilhava perante Jeová. Então porque aquele orgulhoso se curvou? Você julgará o valor da sua confissão quando você ouvir as circunstâncias debaixo das quais foi feita: "E Moisés estendeu a sua vara para o céu, e o Senhor enviou trovões e saraiva, e fogo desceu à terra; e o Senhor fez chover saraiva sobre a terra do Egito. Havia, pois, saraiva misturada com fogo, saraiva tão grave qual nunca houvera em toda a terra do Egito, desde que veio a ser uma nação". Agora, diz Faraó, enquanto o trovão estava rolando no céu, enquanto o fogo então incendiava o solo e enquanto o granizo descia em grande quantidade, ele diz, "eu pequei". Ele é somente um exemplo de multidões da mesma categoria. Quantos rebeldes endurecidos a bordo de navios, quando as madeiras estão deformadas e rangendo, quando o mastro está quebrado e o navio está vagando ao sabor do vento forte, quando as ondas famintas estão abrindo suas bocas para tragar o navio tão rapidamente como aqueles que entram na cova, quantos marinheiros cujos corações se encontram endurecidos pelo pecado, curvam seus joelhos com lágrimas nos olhos, e clamam "eu pequei!". Mas que proveito e que valor tem a confissão deles? O arrependimento que nasceu na tempestade morreu na calmaria; aquele arrependimento criado entre trovões e raios, cessou tão logo tudo foi silenciado e o marinheiro que era piedoso quando a bordo do navio, se tornou um dos piores e mais abomináveis entre os marinheiros quando colocou seu pé em terra firme. Também, com que freqüência nós vemos isto em uma tempestade com abundância de raios e trovões? Muitos homem empalidecem quando ouvem o trovão ressoando; as lágrimas enchem seus olhos, e eles clamam "Ó Deus, eu pequei!"; enquanto as vigas da sua casa são balançadas e o solo embaixo deles oscila diante da voz de Deus em Sua majestade. Mas ai de tal arrependimento! Quando o sol novamente brilha e as negras nuvens passam, o pecado vem novamente sobre o homem e ele se torna pior que antes. Quantas confissões do mesmo tipo, nós também vemos em tempos de epidemias fatais! Então nossas igrejas ficam cheias de ouvintes que, por verem tantos enterros passarem por suas portas, ou porque tantos morreram na sua rua, não podem se abster de ir à casa de Deus para confessar seus pecados. E debaixo daquela visitação, quando um, dois e três caem mortos em sua casa, ou na porta ao lado, quantos pensaram que realmente volveriam-se a Deus! Mas, ai! quando a pestilência acaba seu trabalho, a convicção cessa; e quando o sino toca pela última vez por uma morte causada por uma epidemia, então seus corações deixam de bater em penitência e suas lágrimas deixam de fluir. Tenho alguém aqui assim nesta manhã? Se há tais pessoas aqui esta manhã, me deixe solenemente dizer-lhes: "Senhores, vocês esqueceram os sentimentos que tiveram nas suas horas de angústia; mas, se lembrem, Deus não esqueceu dos votos que vocês fizeram". Marinheiro, você disse se Deus o poupasse para ver a terra novamente, você seria Seu servo; mas você não é; você mentiu a Deus, você Lhe fez uma falsa promessa, porque você nunca manteve o voto que seus lábios fizeram. Você disse, em um leito de doença, que se ele poupasse sua vida você nunca pecaria novamente como antes; mas aqui está você e seus pecados 140 desta semana falarão por mim. Você não é melhor do que você era antes da sua doença. Você poderia mentir para Deus e não ser reprovado? E você pode pensar em mentir para Deus e não ser punido? Não! o voto, por mais precipitadamente que tenha sido feito, é registrado no céu; e apesar de ser um voto que o homem não pode cumprir, contudo, como é um voto que ele próprio fez, e o fez voluntariamente também, ele será castigado pelo não cumprimento dele; e Deus executará vingança afinal, porque ele disse que abandonaria seus caminhos de pecado, porém, quando o infortúnio é removido ele não faz isto. O anjo vingador poderá dizer: "Ó Deus, estes homens disseram que se eles fossem poupados seriam melhores; porém são piores. Como eles violaram suas promessas, e como eles atraíram a ira divina sobre si mesmos!". Este é o primeiro estilo de arrependimento; e é um estilo que eu espero que nenhum de vocês imitem, porque é totalmente sem valor. É inútil você dizer "eu pequei" somente debaixo da influência do terror, e então esquecer disto depois. O Homem Dúbio BALAÃO: "eu pequei". Nm. 22:34.

Agora vamos ao segundo texto. Apresentarei a vocês um outro caráter - O HOMEM DÚBIO, que diz "eu pequei" e sente que ele realmente o fez, e sente de maneira profunda, mas é tão mundano que ele "ama a injustiça". O caráter que eu escolhi para ilustrar isto, foi o de Balaão. Abra o livro de Números 22:34: "Respondeu Balaão ao anjo do Senhor: eu pequei". "Eu pequei", disse Balaão; mas, apesar disto, ele se foi com seu pecado. Um dos caracteres mais estranhos do mundo inteiro é o de Balaão. Eu freqüentemente tenho me surpreendido com aquele homem; ele realmente parece, em outro sentido, ter surgido das linhas de Ralph Erskine: "Para o bem e para o mal igualmente se curva, E para ambos: o diabo e O Santo ". Porque ele parecia ser assim. Algumas vezes falava com tamanha eloquência e triunfo, que não poderia se igualar a nenhum outro homem; e outras vezes ele exibia a pior e mais sórdida cobiça que pode desgraçar a natureza humana. Pense. Você vê Balaão; ele está no cume da colina, e lá embaixo está o povo de Israel; ele é ordenado a os amaldiçoar, e ele diz: "Como amaldiçoarei a quem Deus não amaldiçoou? e como denunciarei a quem o Senhor não denunciou?" E Deus abre seus olhos, e ele começa a falar até mesmo sobre a vinda de Cristo, e ele diz: "Eu o vejo, mas não no presente; eu o contemplo, mas não de perto". E então ele apresenta sua oração dizendo: "Que eu morra a morte dos justos, e  seja o meu fim como o deles!". E vocês acharão que aquele homem tem esperança. Espere até que ele desça da colina, e vocês lhe ouvirão dar o mais diabólico conselho ao rei de Moabe, tão diabólico que era até mesmo possível ser sugerido pelo próprio Satanás. Disse ele ao rei: "Você não pode vencer este povo na batalha, porque Deus está com eles; tente instigá-los contra Deus". E vocês sabem como, com luxúrias temerárias, os Moabitas tentaram seduzir os filhos de Israel a serem infiéis a Jeová; de forma que este homem parecia ter a voz de um anjo, às vezes, mas também a alma de um diabo no seu íntimo. Ele era um caráter terrível; era um homem de duas mentes, um homem que foi por todo o caminho com duas disposições. Eu sei que a Escritura diz "Ninguém pode servir a dois senhores". Hoje em dia isto é freqüentemente mal entendido. Alguns lêem assim "Ninguém pode servir a dois senhores". Sim ele pode; ele pode servir três ou quatro. O jeito de ler esta passagem é "Ninguém pode servir a dois senhores". Ambos não podem ser senhores. Ele pode servir dois, mas os dois não podem ser seus senhores. Um homem pode servir a dois que não são seus mestres, ou mesmo vinte; ele pode viver por vinte propósitos diferentes, mas ele não pode viver para mais de um propósito principal; somente pode haver um propósito principal em sua alma. Mas Balaão laborou em servir a dois; era igual as pessoas de quem foi dito "Eles temeram o Senhor, e serviram outros deuses". Ou como Rufus que era parecido com Balaão; porque você tem conhecimento que nosso velho rei Rufus pintou Deus em um lado do seu escudo e o diabo no outro, e abaixo, o lema: "Pronto para ambos; pegue quem puder". Há muitos, que de igual modo, estão prontos para ambos. Eles encontram o pastor, e quão piedosos e santos eles são; no dia do Senhor eles são as pessoas mais respeitáveis e justas do mundo; eles falam pausadamente por pensarem ser isto algo eminentemente religioso. Mas em um dia de semana, se você quer encontrar os maiores desonestos e fraudadores, eles são alguns destes homens que são tão hipócritas na sua devoção. Meus ouvintes, nenhuma confissão de pecado pode ser genuína, a menos que seja feita de todo o coração. É inútil você dizer: "eu pequei" e então continuar pecando. Alguns homens parecem nascer com dois caracteres. Eu observei na livraria da Trinity College, Cambridge, uma bonita estátua do Lord Byron. O bibliotecário me disse, "Olhe daqui, senhor". eu olhei, e disse: "que semblante intelectual!". "Que gênio ele era!". Então ele disse: "Venha para o outro lado!". "Ah! que demônio! Aqui está um homem que poderia desafiar Deus". Ele tinha um desagrado e um semblante terrível em sua face; tal como Milton poderia ter pintado a Satanás quando ele disse: "Melhor reinar no inferno do que servir no céu!". Eu me virei e disse ao bibliotecário: "você pensa que o artista planejou isto?". "Sim!" ele disse: "ele desejou retratar os dois caracteres: o grande, o esplêndido e o gênio quase super-humano que ele possuia, e também a enorme massa de pecado que existia em sua alma". 142 Existem alguns homens aqui do mesmo tipo. Eu ouso dizer que, como Balaão, eles poderiam operar milagres; e ao mesmo tempo há algo neles que revela um caráter repugnante de pecado, tão grande quanto pareceria ser o caráter deles para a retidão. Balaão, você sabe, ofereceu sacrifícios a Deus no altar de Baal; isso era típico do seu caráter. E assim muitos fazem; eles oferecem sacrifícios a Deus no santuário de Mamon; e enquanto eles ofertam a uma igreja e distribuem ao pobre, eles na outra porta do seu escritório contábil, oprimem o pobre e espremem até a última gota de sangue da viúva, para ficarem ricos. Ah! é infrutífero e inútil para você dizer "eu pequei", a menos que você o diga de todo seu coração. A confissão daquele homem dúbio não tem nenhum proveito. O Homem Insincero. SAUL : "eu pequei". 1 Samuel 15:24.

E agora um terceiro caráter, e um terceiro texto. No primeiro livro de Samuel 15:24, lemos: "Então disse Saul a Samuel: "eu pequei". Aqui está o HOMEM INSINCERO - o homem que não é como Balaão, até certo ponto sincero sobre duas coisas; mas um homem que é justamente o oposto - que não tem nenhum ponto proeminente em seu caráter, mas que é sempre modelado pelas circunstâncias que passam pela sua cabeça. Saul era assim. Samuel o reprovou e ele disse: "eu pequei". Mas ele não queria realmente dizer aquilo, porque se você ler o verso inteiro, vai vê-lo dizendo: "porque eu temi o povo" , o que era uma desculpa mentirosa. Saul nunca temeu ninguém; ele sempre estava bastante pronto para fazer sua própria vontade; ele era um déspota. Um pouco depois, ele sustentou outra desculpa, ao afirmar que havia trazido bois e cordeiros para oferecer a Jeová, portanto, ambas desculpas não podiam ser verdadeiras. A característica mais proeminente no caráter de Saul era sua insinceridade. Um dia ele manda buscar a Davi da cama dele, para o matar. Outra vez ele declara "tão certo como vive o Senhor, ele (Davi) não morrerá". Um outro dia, porque Davi salvou sua vida, ele disse "Mais justo és do que eu; não tornarei a fazer-te mal". Isso ele disse após o perseguir, com o objetivo de matá-lo. Às vezes Saul se encontrava entre os profetas e profetizava; logo depois entre as bruxas; às vezes em um lugar, outras em outro, e insincero em tudo. Quantas pessoas como ele encontramos em toda assembléia cristã; homens que são muito facilmente modelados! Diga o que quiser a eles, e eles sempre concordarão com você. Eles têm disposições afetuosas, e uma consciência sensível; tão sensível que parece ceder quando impressionada, mas tememos sondá-la mais profundamente; ela se cura tão rapidamente quanto se machuca. Já usei uma comparação muito singular antes, a qual tenho que usar novamente: alguns homens parecem ter corações de borracha. Se você apenas os tocar, é feita uma impressão imediatamente; entretanto é inútil, pois logo retorna ao seu estado original. Você pode os apertar de qualquer modo que desejar, eles são tão elásticos que você sempre alcançará seu propósito; entretanto eles não tem firmeza de caráter e logo voltam a ser o que eram antes. Ó senhores, muitos de vocês fazem o mesmo; curvam suas cabeças na Igreja e dizem: "Temos errado e nos desviado do caminho" mas você não pretendia, verdadeiramente, dizer isto. Você veio ao seu pastor e disse "eu me arrependo dos meus pecados", mas você não se sentia um pecador; você só disse aquilo para agradá-lo. E agora você freqüenta a casa de Deus; ninguém mais impressionado que você; lágrimas correrão facilmente da sua face; mas, apesar disto, a lágrima se secará tão depressa quanto foi produzida, e você permanece, em todos seus intentos e propósitos, igual ao que era antes. Dizer "eu pequei" de uma maneira sem significado ou sentido, é pior do que desprezível, porque é um escárnio a Deus confessar com insinceridade de coração. Eu fui breve neste caráter; porque parece se relaciona com o de Balaão; entretanto, podemos ver claramente que há um real contraste entre Saul e Balaão, embora haja uma afinidade entre os dois. Balaão era um grande homem mau, grande em tudo que fez; Saul era pequeno em tudo, exceto em estatura, pequeno em bondade e pequeno em maldade; enquanto Balaão era grande em ambos: o homem que às vezes poderia desafiar Jeová, e em outro momento dizia "se Balaque me desse sua casa cheia de prata e ouro, eu não poderia ir além da palavra do Senhor meu Deus, para fazer mais ou menos".

Agora quero apresentar a você um caso muito interessante; é o caso do PENITENTE DUVIDOSO, o caso de Acã, no livro de Josué 7:20 "Respondeu Acã a Josué: Verdadeiramente pequei contra o Senhor Deus de Israel". Você sabe que Acã roubou despojos da cidade de Jericó - que ele foi descoberto através de sorte, e levado a morte. Cito este caso como o representante daqueles cujo caráter é questionável em seu leito de morte; aqueles que se arrependem aparentemente, mas de quem a maioria de nós só pode dizer que nós esperamos que suas almas estejam salvas afinal, mas verdadeiramente nós não podemos assegurar. Acã, você está lembrado, foi apedrejado, por desonrar Israel. Mas eu achei no Mishna, uma antiga exposição judia da Bíblia, estas palavras, "Josué disse a Acã , hoje o Senhor te perturbará a ti". E uma nota sobre este texto que diz: "Ele disse este dia, o que implica que ele só seria perturbado nesta vida, sendo apedrejado até a morte, mas que Deus teria misericórdia da sua alma por ter ele feito uma confissão completa do seu pecado". E eu, também, sou propenso, ao ler o capítulo, a concordar com a idéia de meu venerável e agora glorificado predecessor, Dr. Gill, que acreditava que Acã realmente foi salvo, embora tenha sido condenado à morte pelo seu crime, como um exemplo. Observe como Josué falou de forma compassiva com ele. Ele disse: "Filho meu, dá, peço-te, glória ao Senhor Deus de Israel, e faze confissão perante ele. Declara-me agora o que fizeste; não mo ocultes". E você encontra Acã fazendo uma confissão completa. Ele diz: "Verdadeiramente pequei contra o Senhor Deus de Israel, e eis o que fiz: quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma cunha de ouro do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata debaixo da capa". Esta confissão parece ser tão satisfatória que se me fosse permitido julgar, eu diria: "espero encontrar Acã o pecador, diante do trono de Deus". Mas Matthew Henry não tem a mesma opinião; e muitos outros expositores consideram que assim como seu corpo foi destruído, assim também foi sua alma. Por este motivo, eu selecionei o caso dele como sendo o de um arrependimento duvidoso. Ah! queridos amigos, já me encontrei muitas vezes em leitos de morte e pude ver muitos com arrependimentos como este. Eu vi um homem, reduzido a um esqueleto, sustentado por travesseiros em sua cama; e ele disse, quando lhe falei sobre o julgamento vindouro: "Senhor, eu sinto que fui culpado, mas Cristo é bom; eu confio nEle". E eu disse pra mim mesmo: "eu acredito que a alma deste homem está salva". Mas fui embora com a reflexão melancólica de que não tive nenhuma prova disto, além das suas próprias palavras; porque preciso de prova através de atos e da vida posterior ao arrependimento, para sustentar uma convicção firme da salvação de um homem. Você conhece aquela história de um médico que manteve um registro de mil pessoas que uma vez pensaram que estavam morrendo, e de quem ele pensou que eram penitentes; ele escreveu seus nomes em um livro, como aqueles que, se tivessem morrido, iriam para o céu; eles não morreram, eles viveram; e ele diz que entre estas mil pessoas, nem mesmo três mudaram verdadeiramente seu modo de vida, pois voltaram novamente aos seus pecados e continuaram como antes. Ah! queridos amigos, eu espero que nenhum de vocês tenha um arrependimento de leito de morte, como este; eu espero que seu pastor ou seus pais não tenham que estar ao seu lado da cama, dizendo consigo mesmo: "Pobre companheiro, espero que ele seja salvo". Mas ai! arrependimentos de leito de morte são coisas tão frágeis, cujos fundamentos de esperança são tão triviais e tão pobres, que eu tenho medo, depois de tudo, que esta alma possa estar perdida". Ó! morrer com toda segurança; ó! morrer com uma entrada abundante, deixando um testemunho que nós partimos desta vida em paz! Este é um modo muito mais feliz de morrer do que de uma maneira duvidosa, cambaleando entre dois mundos, e nem nós, nem nossos amigos sabendo para qual dos dois mundos estamos indo. Que Deus possa nos conceder a graça de dar evidências, nas nossas vidas, da verdadeira conversão, que nosso caso possa não ser duvidoso!

Não o deterei por mais tempo, mas tenho de lhe mostrar outro caso; o pior de todos. É o ARREPENDIMENTO DE DESESPERO. Examine Mt. 27:4. Lá você tem um caso terrível do arrependimento de desespero. Você reconhecerá o personagem no momento que eu ler o verso: "E Judas disse, eu pequei". Sim, Judas o traidor; aquele que traiu seu Mestre, quando viu que seu Mestre foi condenado, "devolveu, compungido, as trinta moedas de prata aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente ... E tendo ele atirado para dentro do santuário as moedas de prata, retirou-se, e foi enforcar-se". Aqui está o pior tipo de arrependimento de todos; de fato, não sei se é justo chamar isto de arrependimento; isto deve ser chamado remorso de consciência. Mas Judas confessou seu pecado, e então saiu e enforcou-se. Ó! aquela horrível, aquela terrível, aquela horrorosa confissão de desespero. Você nunca viu isto? Se você nunca viu, então agradeça a Deus pelo fato de que você nunca foi chamado para presenciar tal visão. Eu vi isto uma vez em minha vida, e peço a Deus que nunca veja de novo - o arrependimento do homem que vê a morte face a face e que diz, "eu pequei ". Você lhe fala que Cristo morreu pelos pecadores; e ele responde, "não há nenhuma esperança para mim; Eu blasfemei contra Deus na Sua face; eu O desafiei; meu dia de graça eu sei que é passado; minha consciência está cauterizada com ferro quente; eu estou morrendo, e eu sei que estou perdido!" Ó! meus ouvintes, alguns de vocês tem tal arrependimento? Se você tem, será um sinal futuro para todas as pessoas que pecam; se você tem tal arrependimento, servirá como advertência a gerações futuras. Na vida de Benjamim Keach - e ele também foi um de meus predecessores - eu encontrei o caso de um homem que tinha sido crente professo, mas tinha se apartado da confissão, e tinha cometido pecados terríveis. Quando ele estava para morrer, Keach, com muitos outros amigos, foi vê-lo, mas eles nunca podiam ficar com ele mais do que cinco minutos por visita, porque ele dizia: "Vão embora; é inútil sua visita para mim; eu pequei à parte do Espírito Santo; Eu sou igual a Esaú; eu vendi meu direito de nascimento, e apesar de buscá-lo diligentemente com lágrimas, eu nunca o acharei novamente". E então ele repetia palavras terríveis, como estas: "minha boca está cheia de pedrinhas, e eu bebo absinto dia e noite. Não me fale, não me fale de Cristo! Eu sei que Ele é o Salvador, mas eu O odeio e Ele me odeia. Eu sei que tenho que morrer; eu sei que tenho que perecer!". E então seguiam-se gritos dolorosos, e ruídos horrorosos, que ninguém poderia agüentar. Eles voltaram novamente nos seus momentos de calma, mas só o agitavam mais uma vez, e lhe faziam chorar de desespero: "eu estou perdido! Eu estou perdido! É inútil me falarem qualquer 146 coisa sobre isto!". Ah! Pode haver um homem aqui que pode ter uma morte como esta; deixe-me adverti-lo, antes disto; e Deus, Espírito Santo, possa permitir que este homem possa se voltar para Deus, e fazer uma verdadeira penitência, e então ele não precisará mais ter nenhum medo; porque ele, que teve seus pecados lavados no sangue do Salvador, não precisará ter nenhum remorso por seus pecados, porque foram perdoados pelo Redentor.

Agora eu entro na luz do dia. Eu o tenho levado por confissões tristes e escuras; eu não o deterei por mais tempo lá, mas o trarei para as duas boas confissões que lerei para você. A primeira é a de Jó 7:20 - "Eu pequei; que te farei, ó Preservador dos homens?" Este é O ARREPENDIMENTO DO SANTO. Jó era um santo, mas ele pecou. Este é o arrependimento de um homem que já é filho de Deus, um arrependimento aceitável diante de Deus. Mas como eu pretendo enfatizar isto à noite, eu deixarei este caso por agora, por medo de cansar vocês. Davi era um espécime deste tipo de arrependimento, e seria proveitoso se estudassem cuidadosamente seus salmos de contrição; a linguagem que utiliza é sempre cheia de pranto de humilhação e arrependimento sincero.

Agora tratarei do último exemplo; é o caso do pródigo. Em Lc. 15:18, nós encontramos o pródigo dizendo: "Pai eu pequei". Ó!, aqui está uma CONFISSÃO ABENÇOADA! Aqui está o que prova que um homem tem um caráter regenerado - " Pai, eu pequei ". Deixe-me pintar a cena. Lá está o pródigo; ele fugiu de uma boa casa e de um pai amoroso, e gastou todo seu dinheiro com prostitutas, e agora ele não tem mais nada. Ele vai para seus antigos companheiros e lhes pede ajuda. Eles riem dele com desprezo. "Ó", diz ele, " vocês beberam meu vinho muitas vezes; eu sempre paguei para vocês nas nossas festas; vocês não vão me ajudar?" Mas eles dizem: "Vá embora!" e o expulsam dali. Ele procura todos seus amigos com quem tinha se associado, mas nenhum deles lhe dá qualquer coisa. Por fim alguém lhe diz: "Você quer um emprego? então vá e alimente meus porcos". O pobre pródigo, o filho de um rico proprietário de terras, que teve uma grande fortuna, tem que sair para alimentar porcos; e ele era judeu também! O pior emprego (na sua cabeça) para o qual ele podia ser contratado. 147 Veja-o lá, em trapos sujos, alimentando porcos; e qual era seu salário? Tão pouco que ele "desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada". Veja, lá está ele, no seu lamaçal e imundície equivalentes aos dos seus companheiros de chiqueiro. De repente um pensamento posto lá pelo Espírito Santo, surge em sua mente: "meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados". E ele volta. Ele mendiga por todo seu caminho, de cidade em cidade. Às vezes ele consegue carona em uma carruagem, talvez, mas em outros momentos ele vai na sua marcha resoluta por colinas estéreis e vales desolados, sozinho. E agora afinal ele chega à colina fora da aldeia, e vê a casa do seu pai lá embaixo. Lá está; a velha árvore de álamo em frente dela, e lá estão as pilhas de feno nas quais ele e seu irmão corriam e brincavam; e à vista da sua velha casa todos os sentimentos e lembranças da sua vida vieram a sua mente, e lágrimas correram de seus olhos e ele quase foge novamente. Ele pensa: "será que meu pai morreu? Como tive coragem de magoar tanto minha mãe? E se os dois estiverem vivos, eles nunca me receberão novamente; eles fecharão a porta na minha cara. O que estou fazendo? Eu não posso regressar e tenho medo de ir adiante". E enquanto ele estava decidindo, seu pai estava andando pela varanda superior, olhando para fora, para seu filho; e apesar dele não poder ver seu pai, seu pai podia vê-lo. Bem, seu pai desce as escadas com toda sua força, corre até ele, e enquanto ele ainda está pensando em fugir, os braços do seu pai estão ao redor do seu pescoço, e ele o beija, como um pai amoroso, e então o filho começa - "Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho" e quando ele ia dizer "trata-me como um dos teus empregados" seu pai pôs a mão na sua boca. "Pare com isso", diz ele; " Eu o perdôo; não diga nada sobre ser um criado. Venha", diz ele, "entre, pobre pródigo. Ó!", diz ele para seus criados, "trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés; trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se". Ó! Que recepção preciosa para o principal dos pecadores! Matthew Henry disse: "seu pai o viu, havia olhos de misericórdia; ele correu para o encontrar, havia pernas de misericórdia; ele pôs seus braços ao redor do seu pescoço, havia braços de misericórdia; ele o beijou, havia beijos de misericórdia; ele lhe disse, havia palavras de misericórdia - tragam a melhor roupa, havia atos de misericórdia, maravilhosa graça - tudo graça. Ó, que Deus gracioso Ele é". Agora, pródigo, faça o mesmo. Deus pôs isto em seu coração? Há muitos que têm fugido por muito tempo. Deus diz "retorne?" Ó, eu apelo a você que volte, então, pois tão certo quanto sempre, os que retornam Ele os acolherá. Nunca houve um pobre pecador que viesse a Cristo, que Cristo o mandasse embora. Se ele lhe mandasse embora, você seria o primeiro. Ó, se você pudesse ao menos experimentá-lO! "Ah, senhor, eu sou tão sujo, tão corrupto, tão vil ". Bem, você não pode ser mais vil que o pródigo. Venha para a casa do seu Pai, e tão certo 148 quanto Ele é Deus, Ele manterá sua palavra: "o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora". Ó, se eu pudesse ouvir que alguns foram a Cristo esta manhã...eu bendiria a Deus! Você se lembra daquela manhã em que eu mencionei o caso de um infiel que tinha sido um escarnecedor, mas que, através da leitura de um de meus sermões impressos, foi trazido para a casa de Deus e então para os pés de Deus. Bem, no Natal passado, o mesmo infiel reuniu todos os seus livros, e foi ao mercado em Norwich, e lá fez uma pública retratação de todos os seus erros, e confessou a Cristo, e depois, tomando todos os livros que havia escrito que estavam em sua casa, os queimou à vista do povo. Eu glorifiquei a Deus por esta maravilhosa graça, e orei para que houvessem mais como este infiel, que, apesar de terem nascido pródigo, voltou para sua casa dizendo: "eu pequei".















24) CONSAGRAÇÃO


ÍNDICE

1 - O ALVO DA CONSAGRAÇÃO
2 - Memórias e Visões do Cárcere Hospitalar
3 - Consagração


1 - O ALVO DA CONSAGRAÇÃO

Caso falte ao cristão uma real e sincera consagração à vontade de Deus, por se colocar voluntariamente sob a disciplina do Espírito Santo, sabendo que isto implicará muitas vezes não somente em que a sua própria vontade seja contrariada, mas sobretudo crucificada, para que se cumpra em Sua vida o que é ordenado pelo Senhor em Sua Palavra, tal cristão, não poderá viver a verdadeira vida cristã.
Isto pode ser resumido simplesmente nas poucas palavras do apóstolo: “Já não vivo eu, Cristo vive em mim”. É Cristo vivendo em nós e por nós, no que consiste a vida cristã.
Isto explica porque tantas promessas e votos de fidelidade e obediência a Deus não duram mais do que breves momentos ou dias.
Muitos cristãos pensam que o ato da consagração é um ato de mera deliberação de vontade. De expressão de um desejo de se consagrar.
A consagração será medida por uma renúncia diária e cada vez maior a tudo e a todos, para que se possa ter mais da vida de Cristo em nós.
Por isso necessitamos da disciplina do Espírito Santo, que mortifica o nosso ego, pelas tribulações, e triunfando nós sobre elas pelo seu poder divino, para que não estejamos mais ocupando o centro das nossas vidas, mas o próprio Cristo.
Enquanto a nossa vida estiver nas nossas mãos pouco ou nada poderá o Senhor fazer por nós. Mas se a colocarmos nas Suas mãos divinas, Ele nos modelará tal como faz o oleiro em relação ao barro.
É de crucial importância, para todo cristão, saber esta verdade, e mais do que conhecê-la, praticá-la, para que não viva a se iludir e a viver uma espécie de vida cristã falsa e romântica, que não passa de expressões de meros desejos de obedecer a Deus.
Simples deliberações nunca poderão nos conduzir a uma real santificação, porque não haverá em nós o poder celestial e espiritual para mortificarmos as paixões da carne e os desejos do ego contrários à Palavra de Deus, quanto mais permitirmos que nossa alma seja governada pelo Espírito Santo, mediante os mandamentos de Deus.
É uma ilusão portanto, pensar que meros votos de fidelidade e obediência poderão produzir por si sós, uma verdadeira consagração.
É preciso ter real temor do Senhor e da Sua Palavra.
É preciso ter fé em tudo o que a Bíblia afirma.
E muito mais do que concordar com o que afirma o texto bíblico, é necessário ter humildade para pedir e depender do Espírito Santo para ter o entendimento iluminado e renovado, para que possa compreender e viver tudo o que Deus nos tem ordenado em Sua Palavra.
Isto não é algo fácil. É muito difícil, e demanda constância, vigilância, exercício do espírito, fidelidade, oração, perseverança, para que o Espírito Santo possa nos disciplinar segundo não a nossa própria vontade, mas segundo a vontade de Deus e a mente de Cristo.
Por isso o apóstolo indaga quem é suficiente para tais coisas, ou seja, quem teria poder para alcançá-lo por si mesmo, pela sua própria capacidade e poder, caso não fosse assistido pela graça de Deus?
Assim, o próprio ato de consagração, ainda que verdadeiro e permanente, não é um fim em si mesmo, mas o meio necessário para que Deus possa operar em nós a Sua vontade, pelo poder do Espírito.
Quem de si mesmo é apto para suportar ofensas?
Quem pode discernir suas próprias faltas, e as necessidades espirituais de outros?
Quem sabe quais palavras conduzirão alguém à conversão a Cristo?
Quem pode ser submisso de coração a quem convém, pelo seu próprio poder e vontade?
Quem dará honra a quem é devido honra, mesmo quando for humilhado?
Quem caminhará a segunda milha? Quem dará a outra face que não foi ferida? Quem perdoará até setenta vezes sete?
O que simplesmente afirma que reconhece que necessita aprender obedecer a Deus?
Não! Pois muitos têm afirmado isto e têm falhado repetidas vezes.
Somente um vencerá, e é aquele que se deixou vencer pelo poder do Espírito Santo, e que portanto, aprendeu a negar a si mesmo e a carregar diariamente a sua cruz, seguindo as mesmas pegadas de nosso Senhor Jesus Cristo.
Não é o que diz que reconhece que necessita ser obediente que virá a obedecer de fato a Deus. Jesus ilustrou isto de modo muito claro na parábola dos dois filhos.    
Não é pelo que dizemos que se conhece aquilo que faremos de fato.
Isto não é uma mera questão de palavras, mas de vida.
Não se trata de dor de consciência, ou de mero remorso, porque isto esteve presente até mesmo no próprio Judas.
É possível beijar a Cristo para negá-lo e traí-lo.
Por isso o nosso coração de pedra não deve ser melhorado, mas trocado. Ele não deve ser curado, mas crucificado. E isto é tarefa para todos os dias das nossas vidas. Por um constante recorrer à graça de Deus para que sejamos despojados do velho homem com os seus feitos carnais, para sermos revestidos do novo homem que é criado segundo a imagem de  Deus em Cristo Jesus.





2 - Memórias e Visões do Cárcere Hospitalar

Este livreto foi escrito enquanto me encontrava internado num hospital público municipal do Rio de Janeiro -RJ nos meses de maio e junho de 2015.
Tudo estava escrito diante de Deus, mas os acontecimentos na Terra começaram a ter lugar na primeira quinzena de maio de 2015, quando em meu escritório, de manhã, abria o coração com minha esposa e compartilhava com ela, o quanto me doía verificar depois de anos a fio de orações e aplicações, as mais exatas possíveis da Palavra de Deus, o quanto havia ainda no povo certo envolvimento com as coisas do mundo, e uma grande frieza para com as coisas de Deus.
Pedimos misericórdia ao Senhor, e que de uma forma miraculosa, que somente Ele poderia fazer pelo Seu Espírito, fizesse uma reversão naquele quadro tão triste. Tão logo nos levantamos da oração, me veio ao pensamento a ideia de pedir a cada membro da congregação que escrevesse em poucas linhas qual era a visão que eles tinham do relacionamento do crente com as coisas do mundo, e que cada um relatasse qual era sua posição a respeito.
Uma das minhas ovelhinhas queridas não fez por esperar, e nas próximas duas horas seguintes me enviou um email no qual rasgara seu coração perante Deus em completa sinceridade, confirmando o quanto vinha Lhe negligenciando nos últimos meses e que a qualidade se sua vida espiritual havia caído muito, apesar do grande sucesso que vinha obtendo em sua vida secular.
Ao ser visitada por minha esposa encontrava-se quebrantada, clamando pela misericórdia de Deus. Sua irmã que a visitava e se encontra desviada juntou-se a ambas, também em lágrimas e grande quebrantamento.
Poucos dias depois, ainda na mesma semana, comecei a sentir dores no peito e um grande desconforto, vindo a enfartar na noite de sábado (16/05). Levado às pressas para a emergência do Hospital Salgado Filho apresentei duas paradas cardíacas, das quais fui restaurado pelo braço do Senhor, pois os procedimentos de reanimação não haviam sido iniciados, fato que causou grande admiração na equipe médica presente, que a uma voz afirmavam nunca terem visto algo parecido.
Desde então, pude perceber algumas mudanças importantes que haviam ocorrido em meu espírito.
1º Perdi completamente o medo da morte, ou seja, o apego à minha vida.
2º Ganhei uma ousadia até então desconhecida, para confrontar a impiedade dos homens – grandes ou pequenos – sem temer a face do homem, ou para me prevenir de qualquer retaliação da parte deles.
Descobri em mim o mesmo espírito que estava no Senhor Jesus, nos apóstolos e nos profetas quando confrontaram as autoridades religiosas de Israel. E, nada disso por motivo de imoderação ou desaforo, mas simplesmente por amor à Palavra do Senhor.

Há um túnel secreto no qual o espírito do homem pode e deve se encontrar com o de Deus. Quando oramos e louvamos, mas se permanecermos na entrada do túnel e não encontrarmos a Deus, então nossas orações e louvores são vazios, nós permanecemos vazios e nada especial acontece.
Mas, se buscamos encontrá-Lo, Ele vem ao nosso encontro no túnel secreto da comunhão, e tudo se torna diferente; nossos louvores e orações ficam cheios de vida, a presença do Senhor nos reveste da Sua plenitude, e tudo passa a ter significado em nosso viver.
Esta seria uma melhor forma de dizermos que você deve orar e louvar a Deus todos os dias, mas isto soa muito mecânico e dogmático, e não raro pode nos desestimular da tarefa antes mesmo de começá-la. Porém, quando pensamos na doçura, na paz e alegria em nosso espírito com Deus, nossa alma e espírito se elevam na busca dAquele que preenche todas as coisas, e é o bem mais precioso que teremos nesta vida e no porvir.
É no encontro do túnel que novas canções de louvor, novas formas de oração, novas revelações espirituais e celestiais acontecem. E, nada disto é feito por obrigação, porque o próprio Senhor nos atrai como um ímã para junto do Seu coração; ali somos inspirados e sequer conseguimos parar de exaltar o Seu grande nome.

Multidões caminham diariamente pelo vale da indecisão; muitos que pensam até estar muito envolvidos com o servir a Deus. Mas qual a garantia que podemos ter de estarmos caminhando efetivamente com Ele, em serviço e em comunhão amorosa?
Sabedor que em sua grande maioria o Seu povo não é capacitado para lhe prestar, por si mesmo, grandes serviços, o Senhor pouco mais exige do que culto de adoração e louvor. E mesmo nisto muitos falham, porque pensando nada mais terem a oferecer a Deus, ocupam-se apenas com seus assuntos mundanos. Com isto perdem o rumo da presença de Deus, e com aquela doce sensação de paz, alegria e louvor de espírito.
E, isto pode ser vivenciado num hospital em que os interesses dos assuntos sobre o corpo sobrepujam em muito os relacionados à alma e ao espírito. Para a grande maioria da equipe do hospital não passamos apenas de um corpo, sendo esquecido que espírito, alma e corpo estão inter-relacionados, que um não pode viver sem o outro, enquanto estivermos aqui nesse mundo.
No afã de curarmos o corpo podemos negligenciar o espírito e a alma, ou seja, literalmente todas as faculdades das quais são dotados; por exemplo, na alma: a vontade, a razão, a emoção, a imaginação etc.; no espírito: a consciência, a intuição, a direção própria etc.
Jesus foi inteiramente direto e sincero quanto a tudo que se refere à nossa real constituição, a tudo que nós somos; sendo considerados responsáveis perante Deus em razão de termos sidos criados à Sua imagem e semelhança.
Imagem e semelhança das quais muitos duvidam, quando olham ao nosso redor e verificam ali muito mais o espelho das atitudes que são pertinentes ao diabo, do que aquelas que são propriamente inerentes à divindade.
Sem o conhecimento da causa e efeito destas coisas, e em razão de um juízo precipitado do que afinal o mundo de Deus deve ser, ficamos acomodados numa falsa teologia de que Deus provê afinal, tanto o bem quanto mal.
Todavia, para que este tipo de juízo não ficasse à mercê de homens sem esclarecimentos e de mentalidade corrompida, temos no Senhor uma revelação real de Seus atributos e caráter, e tudo que ordenou na Bíblia para testemunho das diversas gerações; que o bem é algo que Lhe pertence inerentemente, e o mal foi o resultado do afastamento da Sua presença e Seus atributos morais. Lembremos que o gênero humano foi criado no início por Deus na terra, sem qualquer pecado.
Por que o Deus que é todo poderoso permitiu a entrada do mal na Sua criação perfeita, bondosa e amorosa; onde o desejo e felicidade inicial de cada um se encontravam justamente em fazer o bem ao seu próximo?
Sabemos inclusive, que desde então este fazer o bem ocorrerá no meio de grandes lutas espirituais para subjugar os poderes do mal, sem o que não será possível praticar o bem em face de tal interposição maligna.
A Bíblia está repleta de exemplos destas resistências de satanás que tiveram que ser removidas para que finalmente a causa do bem triunfasse. Vimos, portanto, quão preponderante é o enfrentamento e subjugação destas forças malignas para que se cumpra a obra de Deus.
E, muito disto é atingido quando por amarmos ao Senhor e ao evangelho, já não temos mais a nossa vida como preciosa aos nossos olhos, e somos tomados da coragem que habitou nos apóstolos e em todos os mártires da Igreja, porque para eles era mais importante dar testemunho da verdade contra o erro satânico, do que preservarem a própria integridade física.
Aqui repousa o brilho e o triunfo do evangelho, que por amor a Deus, aos irmãos e ao evangelho se pregue e faça tudo o que seja relativo à verdade, sem importar o que ganharemos ou perderemos, desde que o grande nome do Senhor seja glorificado.
Tive uma visão na qual o Senhor me mostrava um enorme cone de bronze; brilhante, multifacetado, e formado por elos, o qual se elevava muito acima da Terra, e uma voz poderosa me dizia:
“Esta é a minha Lei, que por fim hei de estabelecer em toda a Terra!”
Imediatamente compreendi em espírito o significado daquela visão que será cumprida no tempo do fim.
A Lei santa e perfeita do Senhor foi dada por Ele para que os homens se amassem e se respeitassem pelo devido temor a Deus e, por conseguinte por receberem graça da Sua parte, para o cumprimento de todos os testemunhos fiéis dados através de Moisés e dos profetas, até a revelação completa em Jesus Cristo. Mas sabemos o quanto esta Lei celestial foi pisada, desprezada e transgredida pelos homens. O que deveria ser o elo da sua unidade foi transformado em um meio de disputas e maquinações políticas. Acrescente-se a isto que os judeus corromperam totalmente o propósito e o significado da Lei do Senhor.
Daí então, a visão nos falar de uma restauração futura da Lei, para um povo que seja digno de recebê-la e vivê-la, a saber, os que teriam a Lei inscrita em suas mentes e corações por terem sido lavados no sangue de Jesus; pois aqueles que não são dignos dela voltariam a calcá-la sob seus pés, e por não viverem segundo a Lei, serão destruídos pela maldição da Lei contra aqueles que a transgridem.
É de suma importância entender, que logo ao pronunciar aquele que tinha sido o Seu primeiro discurso público diante das multidões de Israel, que nosso Senhor Jesus Cristo não se apresentou a eles como alguém cujo propósito e missão principal seria curar enfermos físicos, expulsar demônios ou efetuar muitos milagres e maravilhas no mundo físico, para que ficassem extasiados com a bondade e misericórdia de Deus em lhes ter enviado um rei tão poderoso, que certamente, segundo eles, poria um fim à longa dominação dos romanos.
Entrementes, para a perplexidade de muitos, não foi isso que Ele fez a princípio; ao contrário, tratou de restabelecer o lugar de honra da Palavra de Deus entre eles. De dar o devido valor aos mandamentos que por séculos eles vinham adulterando. Principalmente os líderes religiosos, a quem cabia a guarda sagrada da Lei por Israel, e que foram os primeiros a misturá-la, inclusive com os ensinos ocultistas de Zoroastro, enquanto estiveram no cativeiro em Babilônia, para a formação da Cabala, que muito judeus tinham em tanta estima.
Acrescente-se a isto, os interesses comerciais que por influência deles passou a dominar em Israel, sob o disfarce de um templo majestoso edificado por Herodes, por mais de 40 anos, que de fins piedosos e cultuais nada tinha, senão aumentar o séquito anual de peregrinos para visitar as majestosas edificações do templo, e assim, tanto o reino dos judeus quanto dos romanos lucrava exorbitantemente com os impostos cobrados e serviços que eram realizados no templo e suas imediações.
Séculos de rapinagem se passaram até que se manifestou o Filho de Deus para a restauração da honra e do culto de Israel que haviam sido instituídos desde os dias de Moisés, cerca de 1500 anos antes.
Então, multidões seguiram Jesus ao monte, porque haviam visto as muitas curas e milagres que Ele havia realizado. Talvez, com muitos tendo a expectativa de receberem a sua parte de milagres e curas, aproximaram-se dEle, e deve ter sido com não muito pouco desgosto o que ouviram.
Primeiro, nas bem-aventuranças Ele destacou que as bênçãos eternas do Reino de Deus não eram para todos que as desejassem, mas para aqueles cujas qualificações espirituais Ele tratou de enumerar em seguida.
- Humildade de espírito;
- Os que choram por causa de seus pecados e natureza terrena pecaminosa;
- Os mansos de espírito, ou seja, os que se submetem à vontade de Deus;
- Os que são famintos e sedentos pela justiça de Deus;
- Os que usam de misericórdia para com o seu próximo;
- Os que são limpos de coração;
- Os pacificadores que lutam e oram para que a paz de Deus prevaleça na Terra;
- E, finalmente aqueles que dentre estes comprovam que foram tais pessoas, porque foram duramente perseguidos pelos ímpios.
É bem possível que nesta altura do discurso, muitos estivessem se retirando ou se queixando contra Ele.
Eles esperavam grandezas, benesses, e teriam que ouvir este tipo de coisas?
Todavia, nosso Senhor nada lhes falou de novo, porque tudo isto estava contido na Lei e nos profetas, ou seja, nas Escrituras do Velho Testamento.
Mas tal era o desprezo deles pela Lei, que não poderiam então reagir de outra forma senão desprezar o que lhes estava sendo dito. Ele continuou arrazoando nos seguintes termos: Ora, se os guardiões da Lei de Deus eram o sal da Terra, porque é pela aplicação e amor à Lei que se evita a corrupção pecaminosa; de que lhes adiantaria carregarem o nome de povo de Deus, se faltava em seus corações o sal e a ousadia da Lei para enfrentarem a putrefação espiritual e moral do mundo?
Israel havia sido acendido como o luzeiro de Deus para iluminar e ensinar o caminho do amor, da verdade e da justiça, especialmente às nações pagãs, mas como eles se envergonharam desta missão, e em vez de elevar bem alto os preceitos da Lei para iluminar o seu entendimento, acharam conveniente esconder a luz debaixo do alqueire, de modo que ninguém, nem eles próprios fossem iluminados.
Assim, antes de destacar os pontos importantes da Lei, o Senhor repreendeu Israel pela prevaricação e covardia, de modo a que pudessem entender melhor, no que e porque haviam falhado tão horrivelmente no compromisso que tinham para com o seu Deus.
Cansados dos preceitos legais e rituais da Lei sonhavam que alguém viesse e lhes dissesse finalmente:
-“Vocês estão livres de todas estas obrigações legais.”
-“Vim da parte de Deus para lhes dizer que são livres para estabelecer o seu próprio modo de vida feliz.”
Ou ainda:
-“Eu vim para satisfazer todos os seus desejos.”
Todavia, foi algo bem diferente o que ouviram dos lábios de Jesus:
“Parem de pensar que Eu vim com o propósito de destruir a Lei, ou então para profetizar que algum dia Deus lhes dará um líder para realizar este propósito. Muito ao contrário, vim para restabelecer a Lei e restaurá-la à sua antiga honra. Vim para que cada preceito ou mandamento, por menor que seja, venha a ser ensinado e cumprido por vocês. Sem isto, o que terão é uma justiça aparente, falsa, enganosa, com a maldade da que possuem os escribas e fariseus.”
Deus não quer religiosos espiritualistas interesseiros, mas pessoas que O amem e sejam verdadeiramente convertidas a Ele. Há um sentido espiritual, um significado interior na Lei que os corações não santos jamais conseguirão enxergar.
Como Jesus disse que não veio revogar a Lei e os Profetas, incorrem, portanto, em grande erro aqueles que passaram a ter a Lei em pouca conta, sob o falso argumento que ela foi anulada pela graça. Paulo afirma expressamente, que não se anulam as obras da Lei por causa da fé; pelo contrário, antes são confirmadas pela fé, pois somente uma fé genuína pode testificar acerca da perfeição da Lei de Deus.
Até mesmo os mandamentos civis e cerimoniais da Lei continuam atestando de forma perfeita acerca do caráter e da obra de Cristo. Assim, ao cumprir a Lei e morrer em nosso lugar em cumprimento à exigência perfeita da Lei, Cristo não revogou ou anulou a Lei, mas se interpôs por um ato de infinita misericórdia, recebendo em Si mesmo tudo o que a Lei exigia que fosse feito em relação à punição do pecador.
Ora, Cristo não é, portanto contra a Lei, mas contra a ideia de que alguém possa ser salvo por ela, uma vez que somos fracos, imperfeitos e jamais poderíamos atender integralmente às suas santas exigências.
Então, há de permanecer a Lei em sua santidade, majestade, e perfeição, lembrando-nos da nossa completa miséria diante de Deus, porém do nosso lado temos a Cristo, perfeito, mais elevado que os céus e a própria Lei, como nosso advogado e guardador. Compadecido de nossas misérias e imperfeições, Ele mesmo pela Sua graça vai completando aquilo que nos falta, até que venhamos a atingir a perfeição da santidade de Deus. E assim, a Lei estará satisfeita, Cristo estará satisfeito, Deus estará satisfeito, e nós juntamente com Eles.
Bendito seja o pai de sabedoria e misericórdia, que sabe tirar de coisas imperfeitas a completa perfeição. O Deus que fez a vara morta de Arão florescer é o mesmo Deus que ressuscita novas vidas onde ocorreu a morte.
Lázaro ressuscitou certamente, um novo homem para uma nova vida. Não mais para os mesmos objetivos de vida. Tendo morrido perdeu o medo da morte e o encontramos dando testemunho com Jesus junto daqueles que procuravam de novo tirar-lhe a vida.
Qual foi o segredo do poder dos puritanos em viverem o genuíno evangelho?
Eles haviam sido rejeitados pela Igreja Estatal Inglesa que serviam, bem como suas famílias. Tinham uma convicção que nada há de firme e de valor permanente neste mundo, e assim se sacrificaram por uma Pátria imensamente superior.
Daniel jamais temeria qualquer inimigo depois de ter passado pela cova dos leões.
Quando aprendemos quão frágil é a nossa vida, já não ficamos tão apegados a ela. Deus quer nos ensinar isto para que sejamos verdadeiramente livres, ousados no testemunho da verdade e não mais tementes de homens ou demônios.
Ninguém estaria disposto a oferecer a vida em martírio, salvo por uma firme convicção de fé, da importância de lutar o bom combate da fé numa sociedade corrompida em defesa dos princípios evangélicos.
Eles não estavam o mínimo ocupados, pela luta de liberdade e igualdade civis; não queriam os mesmos direitos para todas as categorias de trabalhadores etc., pois sabiam que não era em nada disso que residia a verdadeira justiça social, mas em respeitarem a todos como iguais, do rei ao jardineiro; e todos procuravam dar o melhor no que faziam em prol uns dos outros, e nisto eram estimados.
Os puritanos costumavam dizer que tanto o rei em seu trono, e o copeiro na cozinha eram igualmente importantes para Deus.
Agora, quando se funda uma sociedade com valores baseados em cultura, posses de bens terrenos, poder etc., que tipo de fraternidade amiga pode ser esperada entre os homens?
Nada adiantará promulgar leis de direitos de igualdade, porque o veneno do racismo e discriminação social estarão com suas raízes bem fincadas nos corações pecadores. E, uma vez exteriorizado o desprezo e o ódio de classes, como se vê em todo o mundo, quem se moverá de coração a dar amor e um lar a um menino de rua?
Nenhuma medida governamental poderá modificar este quadro, porque é bem notório que nos próprios quadros da sociedade têm faltado especialmente, as virtudes de humildade, gentileza, generosidade e amor.
Aí sofremos! Aí gememos! Como uma sociedade enferma sem qualquer possibilidade de cura.
O nome de Deus é usado por denominações e igrejas para o fim de cumulação de gigantescas fortunas e poder; ações comunitárias globais são realizadas com o mero fim de investimento pela exploração da pobreza e da miséria, com fins de enriquecimento futuro; ONGs, instituições beneficentes e tantos outros organismos financiados por sociedades ocultistas, como tantos outros alegam o mesmo fim, de estar promovendo o bem estar da sociedade mundial. Quais têm sido os resultados?
Desenvolvimento no mundo moderno se tornou sinônimo de desenvolvimento econômico e financeiro. E isto tem sido tocado a todo vapor. Mas fala-se em desenvolvimento moral? Educacional? Formacional, entre tantos outros?
Não admira que nosso Senhor tenha afirmado categoricamente, que à medida que o tempo passasse haveria um grande aumento da iniquidade.
Cabe lembrar que a palavra iniquidade significa literalmente ”sem lei”, ou seja, não tem tanto a ver com seu sentido comumente entendido como falta de moralidade, de frouxidão moral, pois ainda que este esteja incluso, o seu significado mais amplo diz respeito a um mundo que é governado sem se levar em conta as Leis de Deus.
Tanto isto é verdadeiro, que chega a causar espanto ouvir o próprio Papa afirmando dogmas que contrariam frontalmente a Lei divina, e o pior de tudo - falando em nome do próprio Deus. Não ficando atrás, famosos líderes protestantes fazem ousadas asseverações contrariando os princípios básicos da Palavra de Deus.
E qual é a razão disso tudo?
Eles querem agradar as massas.
A sociedade em geral considera ultrapassados os mandamentos do Senhor, afirmando que são incompatíveis com um mundo de mentalidade pós-moderna.
Então, estes líderes arrumam o seu “jeitinho” dando uma interpretação relativa e contextualizada aos mandamentos que são absolutos.
“Ai daqueles que ao mal chamam bem, e que ao bem chamam mal.”
Assim, dentro e fora das igrejas multidões se formam caminhando na direção do Vale da destruição, pois lhes falta não apenas o entendimento da verdade como o conhecimento do poder real da graça de Jesus.
E sem Deus, sem Cristo, sem o Espírito Santo, sem a Palavra de Deus em seus corações, marcham ininterruptamente para a boca do inferno, sem que ninguém possa lhes despertar, tal a obstinação de seus corações.
Deus simplesmente lhes pede que considerem o seu caminho, que se arrependam, que se voltem para Ele, mas não lhe dão ouvido. Olham para toda a iniquidade que opera em redor e em seus próprios  corações e logo concluem: “Deus não existe; Deus não se importa.” “Quem manda de fato é o diabo.”
E assim, ficam incapazes de conhecer em seu rancor e endurecimento, que foi o próprio pecado de desprezarem as leis de Deus; de amarem o pecado e não estarem dispostos a renunciar a ele, que lhes conduziu a tal estado de endurecimento e miséria espiritual.
Incapazes em sua cegueira de enxergar as chagas de Cristo, por cujo sangue seriam curados, seguirão no mundo sem um Salvador até o dia da sua morte física, quando será inapelavelmente pronunciada a sua condenação eterna ao inferno.
Por isso são ditos bem aventurados, todos aqueles cujos ouvidos espirituais foram abertos para aprender de Deus, e seus olhos para poderem contemplar a Cristo.
Esta é a razão de não serem tantos na humanidade que viveram para cumprir os elevados propósitos de Deus para suas vidas.
Quanto ao mais, a par de terem sido criados à imagem do elevado e sublime Criador, ocupam-se com coisas de nenhum valor, com conversação e hábitos fúteis e profanos, e tudo o mais que não reflete o mínimo a glória da Majestade das alturas, senão a do verme que rasteja no pó. Eis em resumo a condição do que serve e do que não serve a Deus. Um almeja atingir as alturas – o outro resvala o seu pé na direção dos abismos negros e lodosos.
Por isso o salmista exalta a excelência da Lei de Deus e a sua determinação de jamais abandonar os caminhos do Senhor. Ele sabia que era somente andando no caminho da Lei que o seu semblante refulgia. E tão logo permitiu se afastar de algum dos preceitos do Senhor tornava-se como as bestas-feras da Terra.
Não é sem motivo que a própria Bíblia, de capa a capa, coloca em realce a excelência e importância da Lei de Deus.
Ela é luz para os pés.
Alimento para a alma.
Estrada segura na qual não se desviarão os nossos pés.
É o meio de santificação dos salvos.
É a arma pela qual vencemos as tentações e Satanás.
É a fortaleza do nosso coração no dia da angústia.
É a âncora firme que nos manterá aportados ao céu.
Enfim, tal é a sua excelência e importância que Jesus definiu Seus verdadeiros seguidores como sendo somente aqueles que guardam a Sua Palavra; e Seus amigos, aqueles que guardam os Seus mandamentos.
Por isso, ao se manifestar ao mundo, Jesus foi designado por LOGOS, a saber, A PALAVRA.
Quem ama o Senhor, ama todos os mandamentos de Deus, inclusive os do Velho Testamento, mesmo os cerimoniais que foram abolidos desde que Jesus se manifestou, pois se tratavam de figuras da Sua pessoa, e continuamos prezando, honrando e amando a figura que Deus nos deu para que pudéssemos conhecer melhor o Seu Filho Amado e a obra que Ele faria em nosso favor.
Jesus é o Supremo Rei, Juiz, Legislador, Sacerdote e Profeta.
Por isso somos proibidos de julgar contra os Seus juízos divinos, uma vez que com isto cometeríamos a grande afronta de rejeitar o Legislador e Juiz de todos os homens. Mesmo os que conhecem a Bíblia podem incorrer neste erro, enganados por seus próprios sentimentos e imaginação.
E quão dura coisa é cair nas mãos do Deus vivo! Por uma obstinada resistência aos Seus preceitos e juízos, por não renunciarmos aos nossos, com vistas a honrarmos os Seus.
De quantos males nos pouparíamos por darmos mais ouvido à Palavra e ao Espírito Santo, do que às nossas próprias convicções com aparência de justiça, mas que não passam de abominação e trapo de imundícia diante de Deus.
Esta é a razão de vermos o extremo vigor das repreensões e juízos dos profetas e dos apóstolos de Jesus, e os do próprio Senhor contra a impiedade dos homens; especialmente contra aqueles que conhecendo a Sua vontade vieram a transgredi-la com dolo.
Os escribas e fariseus representam um grupo destacado entre estes, tantas foram as adulterações que haviam feito da Palavra de Deus. Por exemplo, quando você pensa que não matou alguém, você cumpriu o mandamento “não matarás”, mas eu lhe digo que quando o Pai deu esta Lei a Moisés, Ele visava ao princípio nobre do amor ao próximo e de tudo se fazer para preservar a sua vida; ou seja, a motivação aqui nesta Lei é o respeito e o amor devido a cada pessoa.
Por isso, é dito que toda ira injustificada, toda ofensa e insulto desprezador sujeita o seu praticante ao juízo de Deus. Daí ser tão importante na condição de pecadores falhos, imperfeitos, sujeitos a estas coisas, que tratem logo de entrar em acordo com os que têm ofendido, e se retratarem, porque além de todo o serviço religioso não possuir qualquer valor para Deus, vocês serão entregues nas mãos de demônios opressores até que venham a se arrepender.
Os mandamentos morais eram considerados um verdadeiro fardo insuportável pelos judeus, porque eles jamais haviam atinado com o caráter santo, bom, justo e compassivo do seu Criador.
Nada havia de inflexível e arrogante no caráter do Deus de Israel, mas eles assim interpretavam tanto a Ele, quanto aos Seus mandamentos, em razão da dureza obstinada de seus próprios corações.
Regulamentos humanos são inflexíveis, sejam emanados de quaisquer instituições, quer públicas ou privadas; não pode isso, não pode aquilo, e quem desobedece é punido. Todavia, nada disto há nos mandamentos do nosso Deus.
Quantas aberturas havia na Lei, de modo que não fosse aplicada inflexivelmente. Para isto foram constituídos juízes para julgarem as demandas do povo, não segundo a letra fria da Lei, mas para que a justiça fosse verdadeiramente cumprida, de modo que o culpado não fosse inocentado, nem o inocente condenado.
E, quando vemos o próprio Deus tratando com as infidelidades de Israel em relação à Lei; quem jamais deixaria de punir um rei perverso como Acabe, como havia determinado fazê-lo, mas que retrocedeu na execução da pena simplesmente por tê-lo visto chorando e arrependido diante da promulgação da sentença que havia ouvido através do profeta Elias?
Qual juiz terreno cumpriu com a perfeição de Deus, a de ser pai dos órfãos e juiz das viúvas?
Quem teria dado como réu expiatório o próprio Filho Amado para morrer no lugar de vis pecadores, para que muitos deles pudessem ser livrados da condenação eterna?
Como podemos entender então, este ódio mundial contra os mandamentos do Senhor?
Só podemos achar uma resposta para isto, a saber, na própria natureza corrompida pelo pecado dos homens, e por instigação de espíritos demoníacos, cujo propósito é trazer descrédito e ridículo a tudo que procede do Senhor.
Para quem quer viver de modo infiel e profano, sem levar em conta os sentimentos daqueles aos quais trai, certamente é muito importuna uma Lei como “Não adulterarás.”
Como haveria um mínimo de estabilidade na sociedade, e que caráter seria formado em gerações sucessivas de pais adúlteros e profanos, onde a relação de um homem com mulheres e vice-versa não ultrapasse os interesses de se dar liberdade a todas as formas de paixões e práticas pervertidas e abomináveis?
Qual seria a atmosfera existente para o ensino das coisas que são boas e que devem fazer parte de uma boa educação?
Então, Deus interpôs a Lei e Jesus foi além, ao definir o caráter interior daquela Lei de Adultério antiga, dizendo que o simples olhar lascivo constitui o próprio adultério em si.
Assim revelou a profunda gravidade deste fato ao ensinar que quem fosse dado à uma vida sexual impura, melhor seria para tal pessoa, caso fosse a única forma de se livrar do mau hábito, sofrer a perda e dor de cortar o próprio braço direito e arrancar o olho direito, mas por fim, conseguir com isso, salvar a sua alma do fogo eterno do inferno.
Veja que é a boca de Deus que o tem proferido, do Juiz dos juízes, do Grande Legislador do universo, e não a boca de meros juristas e filósofos humanos. Negligenciar tal alerta por parecer duro demais e ir para o inferno por tal negligência, valeria o risco?
Como Deus justificaria o meu mau olhar, quando poderia ser curado deste mal pelo sangue e graça de Jesus, e, todavia, o tenho recusado?
Que Juiz e Legislador inigualável nós temos, pois não é apenas misericordioso para com a multidão de nossas transgressões, como também fez a provisão necessária no sangue de Cristo para que fôssemos curados.
E assim, pedra sobre pedra espiritual, nosso Senhor continuou reerguendo o edifício espiritual da Lei, que os próprios judeus haviam derrubado com suas próprias mãos.
Há evidentemente, particularidades no texto do Sermão do Monte, cujo sentido interior, hoje nos escapa, por se tratar de assuntos eminentemente judaicos, como por exemplo, no caso apresentado por Jesus quanto à proibição dos juramentos.
É possível que isto tenha se tornado uma prática comum e vazia entre eles, em que se evidenciava o pouco valor à palavra de compromisso dada. Então, o Senhor se apressa em ensinar que deve haver verdade e confiabilidade em tudo que fizermos em nossos relacionamentos.
Numa época de grande endurecimento como a dos dias de Moisés, nada mais natural que a Lei permitisse atos de vingança para reparação de danos e perdas sofridos injustamente. Daí o “olho por olho”, e “dente por dente”, de forma que a medida de reparação não fosse além, nem ficasse aquém, da ofensa sofrida. Era portanto uma medida justa para aqueles tempos, mas já inadequada para a dispensação da graça, na qual o Senhor tem transferido todos os juízos retributivos por Ele mesmo, para o dia do grande ajuste de contas do juízo final.
Logo, aqui a vingança de todo tipo é proibida, porque Deus tem prometido ser o nosso vingador e retribuidor. E, mais do que não se vingar deve ser achada no crente aquela total confiança no exercício do juízo divino, de modo que além de sofrer o dano, deve estar armado em seu espírito para suportar muito mais com paciência e fé no Senhor.
De tal forma é o caráter do mandamento de promover a paz e o amor entre os homens, que é ordenado aos crentes que amem inclusive os seus inimigos e façam o bem aos que lhes perseguem.
O povo de Deus deve ser manso e não deve tentar prevalecer pela força como costumam fazer aqueles que não conhecem ao Senhor. É para gente pacífica, mansa e amorosa que a Terra será dada como herança eterna, pois não foi criada por Ele para ser o palco de sucessivas conflagrações e guerras mundiais. Este foi o seu intento desde o início da criação, até que o pecado entrou no mundo, efetuando um divisor de águas entre aqueles que amam a Deus e os que O odeiam.
Uma das grandes razões desta aversão do coração humano em guardar sinceramente os mandamentos de Deus é resumida pelo Senhor no texto de Marcos 7.6,7:
“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.”
Sabemos que muitas dessas doutrinas que são preceitos de homens são forjadas por inspiração de demônios. E assim, por maior que seja a aparência piedosa e religiosa delas, qual parte podem ter de fato com os verdadeiros mandamentos de Deus?
Todos falam de Deus; de adorar a Deus; de amar e temer a Deus, mas a maioria serve a deuses falsos ou criados pela própria imaginação, pois o que tem a ver o deus deles com o único Deus verdadeiro criador dos céus e da terra, que se revelou a nós em Seus perfeitos e santos mandamentos na Bíblia?
Fora dessa Palavra verdadeira não há salvação, porque a alma, o corpo e o espírito estarão servindo a coisas vãs, e não obedecendo e servindo efetivamente o Único Senhor da Glória que se revelou a nós nas Escrituras do Velho e do Novo Testamento.
Uma objeção muito comum e que é levantada para tentar negar que a Bíblia seja realmente de inspiração divina, parte sempre daqueles que buscam um argumento para não se renderem a um viver justo e santo, pois todos os que têm acolhido a Bíblia como sendo a Palavra da verdade têm experimentado que suas doutrinas são fiéis e verdadeiras, poderosas para transformar-lhes em novas criaturas com uma nova natureza celestial.
Tal foi o esforço de nosso Senhor Jesus Cristo em Seu ministério terreno junto aos judeus, de reconduzi-los à verdadeira adoração baseada na guarda dos mandamentos, que quase todas as páginas dos Evangelhos apresentam-no em grandes debates com os judeus, especialmente como religiosos hipócritas (sacerdotes, escribas, fariseus e saduceus).
Jesus não falhou de modo algum em Sua missão de nos reconduzir à Lei de Deus, isto pode ser visto principalmente na maior parte do mundo ocidental cuja formação é judaico-cristã graças ao trabalho de nosso Senhor.
Mas como sempre há um esforço satânico de adulterar a genuína Palavra de Deus, o grande fato é que a maior parte dos pecadores pouco ou nada aprendeu com Seu grande Legislador e Benfeitor, pois o Reino de Deus só pode ser tomado por esforço e disciplina, e o de Satanás nenhum esforço exige de nós, pois está plenamente ajustado com nossa natureza decaída no pecado.
Em grande dilema se encontra, portanto a alma humana neste mundo. Não pode de si mesma colocar o modelo de Deus em prática, e por outro lado, viver segundo os homens em geral, é pecar contra o amor e a bondade devida a Deus e ao próximo.
Todavia, Deus não isenta qualquer pessoa de um viver justo, digno e bondoso, mesmo deste outro lado do céu, pois é justamente nisto que a nossa fidelidade a Ele é provada.
Muitos navegaram nestas águas turbulentas e não naufragaram. Estamos cheios de exemplos nas páginas da Bíblia e na história da Igreja, de uma miríade que negociou com este mundo sem arredar pé nos princípios divinos. Seu caráter foi marcado pela falta de egoísmo e de amor ao dinheiro, que é a raiz de todos os males.
Não foram indolentes buscando prazeres e folguedos que tornassem suas almas desatentas ou imprestáveis para com sua obrigação com Deus e o próximo. Gastaram-se ao máximo no atingimento do foco que haviam determinado: tudo fazer para a exclusiva glória de Deus e por amor não a si mesmos, mas ao próximo; por isso figuram como vencedores na galeria dos heróis da fé, pelo testemunho de vida que tiveram.
Agora, dos que amam o mundo e vivem segundo o mundo, nada podemos dizer a respeito deles senão que são grandes perdedores, por maior que seja sua fama, riqueza ou poder, uma vez que vivem não segundo o que é aprovado por Deus; não O temem, e não se aplicam em cumprir os Seus mandamentos. E, que tipo de vitoriosos poderiam ser senão para si mesmos, naquelas coisas que são abomináveis, passageiras e que logo serão desfeitas pelo fogo eterno do juízo divino?
Gente verdadeiramente pobre e infeliz é esta, cujo deus é fama, dinheiro e poder. Quando menos esperam são daqui arrancados, sem levar consigo sequer a roupa do corpo, e são apresentados diretamente a um juízo tormentoso e horrível de fogo.
Por isso se diz que bem aventurados são os que se dispõem em dar e servir ao próximo, por amor, sem esperar nada receberem em troca, porque será Deus e não o homem o seu Fiador.
Deus não ficará satisfeito com ofertas e meros ritos cerimoniais e religiosos, porque não são capazes de transformar o coração do ofertante por inteiro, pois não são apropriados para gerar uma nova criatura no lugar de um velho homem subjugado pela natureza terrena pecaminosa de Adão.
Deus criou o homem para se prover na humanidade, de filhos santos e amados, semelhantes ao caráter de Jesus Cristo, e filhos que jamais negociariam com o mal ou apoiariam as obras das trevas. Conhecendo-lhes a fraqueza moral e decaída, interpôs a confissão baseada no sangue derramado pelo Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ao tê-lo derramado em nosso favor na cruz.
Se foi dada a confissão, com ela veio a falta de perdão por insistirmos em viver endurecidos no pecado, sem confessá-los e nos arrependermos diante de Deus. Além disso, as obras infrutíferas das trevas devem ser repreendidas e confrontadas em todas as circunstâncias, mesmo quando carreguem o nome de boas obras ou obras de justiça, mas de fato não são.  
Os homens são meros mordomos, sacerdotes e serviçais de Deus nas coisas que têm sido encarregados por Ele para serem realizadas neste mundo.
No ensino da parábola dos Talentos e dos Servos Infiéis (Lucas 12, e em tantas outras fontes de ensino claro e direto de Jesus) está bastante claro o horrível castigo eterno que aguarda por todos aqueles que fizeram um mau uso ou negligente dos bens e vocações que haviam recebido de Deus, para servir ao próximo.
Um emprego de mordomia muito cômodo, de pouco ou real serviço para o próximo pode ser chamado de Bênção Real de Deus?
Médicos que vivem à custa das enfermidades de seus pacientes, sem se esforçarem por curá-los têm algum motivo real para se gloriarem na sua esperteza mundana e malandra?
O Olho que tudo vê e julga o terá como despercebido?
Pastores que lotam suas igrejas com apelativos carnais e não ensinam o povo a andar na verdade terão algum motivo para se gloriarem no dia do juízo final?
E dos que exercem profissões ou atividades que em vez de amar e edificar o próximo, mas antes visa corrompê-los, torná-los indolentes e imprestáveis deve senão esperar o terrível juízo que lhes aguarda.
Mais uma vez repetimos:
O homem foi criado para ser responsável, a fim de manifestar amor ao seu próximo na área de eficácia em que foi colocado por Deus. Pobre, miserável, cego e infeliz será se permitir ao diabo que seu entendimento seja fechado e possa fazer de uma atividade, uma mera condição de ganho pessoal.
O homem que juntou em celeiros, mas sem fazê-lo senão preocupado apenas com a própria riqueza, e não com o próximo e menos com a glória de Deus, perdeu a sua alma e resvalou seus pés para um lugar de sofrimento eterno.
A batalha para ganhar a nossa alma é de fato renhida. A essa altura alguém poderá indagar como sendo um fator de maior impedimento para praticarmos o bem que se deseja de nós, o de ser satanás o príncipe deste mundo que opera em todas as áreas de atividade humana, gerando as mais terríveis complicações e obstáculos para que possam proceder de modo digno, honrado e honesto. Entretanto, isto jamais servirá para justificar a nossa indolência diante de Deus, uma vez que na prática do bem e no exercício da nossa fé todos os demônios são subjugados aos nossos pés pelo nome poderoso de Jesus.
Estes avanços sobre o reino das trevas são contados também em nosso favor, porque para o exercício deste bem, também fomos comissionados por Deus. Evidentemente, muitos destes principados foram instalados de forma sob a base de sistemas corruptos, de troca de favores ignóbeis, etc., que a luta direta contra os mesmos se revelará infrutífera, uma vez que por certo tempo o Senhor lhes permitirá a ocupação indevida do lugar de “autoridade” em que se encontram, para o atingimento de certos fins específicos somente por Ele conhecidos. Mas, podemos sossegar o coração por sabermos que Ele não permitirá que um Herodes, um Pilatos, um Nero, um Calígula e tantos outros da mesma estirpe corrupta permaneçam tanto tempo no poder.
Por quanto tempo Jesus ficou debaixo dos perversos Herodes e Pilatos?
Quanto tempo Paulo ficou sob Porcio Festos?
E Pedro e João sob o Sinédrio?
Esteja certo de que se você Lhe for fiel, não ficará à mercê dos poderes profanos senão pelo tempo exato determinado pelo Senhor, para bons testemunhos. Mas, se somos achados pecadores naquelas coisas que ofendem tremendamente a vontade de Deus, que boa esperança poderíamos guardar?
Houve uma época em que era muito mais fácil defender a causa do amor e da bondade; na verdade, pelo menos para o povo em geral era esta regra que prevaleceu por muitos anos, todavia, nestes anos de globalização, apostasia e iniquidade, em que as atividades produtivas são conduzidas pelos homens de Wall Street, e por um sistema amplamente corruptor para a geração de dinheiro, como podemos ter para nós mesmos, a certeza de estarmos trabalhando em algo que seja efetivamente útil, bom e honesto para a sociedade?
Veja o sucateamento de hospitais e escolas públicas tidos antes como referência de ensino e prática para o povo. Quantos desvios para beneficiar os tubarões públicos!
O sistema em si, se público ou privado, não é onde reside o “X” da questão, mas nas intenções daqueles que capitaneiam o sistema.

Muitos objetam a existência de Deus, porque alegam que Ele não se apresenta de modo visível e palpável. Então, como se pode crer no que não se vê?
Bem, em primeiro lugar, não é comum que se veja a rainha da Inglaterra longe do palácio, que é o centro do domínio se sua majestade; todavia para Deus, este argumento não vale, pois está em todos os lugares operando milagres, salvação, livramentos e manifestando de forma real a Sua santa presença, que é percebida em espírito por aqueles que O adoram em espírito e em verdade.
Este é senão apenas mais um dos ângulos sobrenaturais da Pessoa Amada de Jesus, que a propósito, é tanto O que cura, quanto O que enferma; que exalta e que abate; que faz morrer ou viver. Enfim, é nEle que tudo subsiste e que todo este universo visível e invisível são sustentados.

Ainda ontem estava muito abatido pelo diagnóstico que o cardiologista me dera pela manhã, dizendo da possível extensão da lesão de minha artéria coronária, que poderia inclusive, impossibilitar a execução de uma angioplastia.
Deitado ao meu lado o evangelista Luiz, do alto da sabedoria de seus cabelos brancos procurava confortar-me dizendo: “Não fique abatido, porque o poder e o domínio não pertencem ao homem, mas ao Senhor.”
Estas simples palavras, com a sinceridade que foram expressadas me reanimaram e encheram meu coração de fé. Com a sua natural humildade e simplicidade, ainda me dirigiu as seguintes palavras: “Olha pastor, ainda esta noite vou orar pelo senhor pedindo a Jesus por sua vida.”
Minha esperança na provisão de Deus estava plenamente restaurada. Lembrei-me de Paulo sendo visitado por Ananias a mando do Senhor, para que recobrasse a visão e confirmação da sua vocação para o apostolado.
Aquela oração simples do Sr. Luiz encheu o quarto do hospital com a presença da glória e unção de Jesus. Então, o que é isso? Crendices tolas? Atos religiosos?
Não. Chamo a isto, de o poder vivo de Jesus, que já vi operando de forma miraculosa, tanto na minha vida quanto na de muitos outros. Eu creio que aquela oração que o Senhor tinha marcado tinha também o propósito de abençoá-lo.
Não podemos desprezar a unção de Jesus, porque podemos ficar apenas cheios com a letra do evangelho, o que será de pouco valor para nós e para o avanço do Seu reino. Mas, quando a Palavra se mistura ao poder, cumpre-se o papel de Deus aqui na Terra; por isso, Jesus não se limitou a ensinar a Lei, mas a operar muitos sinais e prodígios para demonstrar potentemente que Sua vinda a este mundo foi para glorificar o nome do Pai, como também para o benefício de muitos.
Corremos o perigo de tomarmos apenas um destes multifacetados ângulos da Pessoa de Jesus e formarmos com ele toda uma nova teologia, pois correremos o risco de vê-Lo apenas como um curandeiro, um professor, ou qualquer outro; quando na verdade, todas as coisas são possíveis nEle, e para cada caso Ele possui um propósito específico.
Muitos são os ofícios e funções de nosso Senhor Jesus Cristo, e ai de nós se eles não existissem. Antes de tudo Ele é o Rei da Verdade. É Rei desde que chegou a este mundo e recebeu a adoração dos reis magos, que passaram a tê-lo como seu Senhor.
Desde então, em cada pessoa que a Ele se converte, estabelece o Seu reino de justiça, poder, paz e amor em seu coração. Estes serão Seus súditos por toda a eternidade. Nunca houve e jamais haverá sobre a Terra um rei como Este, que governa diretamente sobre o coração.
Outro ofício de grande importância para nós é o de sacerdote, porque estes são constituídos como mediadores entre Deus e os homens, para que sirvam aos homens, especialmente naquelas coisas concernentes a Deus. Sem este ofício de Jesus nenhuma oração, nenhuma oferta, nenhum serviço nosso a Deus poderia ser aceito por Ele.
Ele somente nos aceita no Amado. E é em nosso favor que Ele oferece dons  e intercessões para o nosso benefício, intercedendo sempre à direita do Pai.

Pr Silvio Dutra

Fiz a revisão do texto hoje, 10-06-2015. Continuo internado no hospital, mas aguardando na bondade e misericórdia do Senhor – o Amado da minha vida.






3 - Consagração

Não fomos salvos por Cristo para vivermos para nós mesmos, senão para Ele, para fazer a Sua vontade, mas não poderemos fazer isto caso não nos neguemos a nós mesmos pela permissão voluntária do trabalho da cruz sobre as nossas vontades, sentimentos, emoções e tudo o mais que se refira às faculdades da alma.
Se não houver consagração da vida ao Senhor, pouco ou nada adiantará conhecer estas verdades, porque elas são descobertas e vividas somente quando decidimos viver inteiramente para o agrado do Senhor, fazendo a Sua vontade.
O Senhor jamais revelará a beleza da Sua santidade, e as coisas maravilhosas que existem no Seu tesouro espiritual escondido, àqueles que vivam contrariamente às Suas ordenanças.
Alguém que nunca almejou ser santificado, purificado, impulsionado pelo Espírito ao serviço do Senhor, jamais sentirá sequer o cheiro destas coisas celestiais, espirituais e divinas.
O mistério do Senhor é revelado àqueles que andam segundo o Espírito, e não segundo a carne.
Os que andam no Espírito farão proezas em Deus, verão as coisas invisíveis do Seu reino, e alcançarão bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo, e serão capacitados a fazer a Sua obra da maneira correta, ainda que debaixo das maiores fraquezas e aflições.
Onde os valentes deste mundo teriam desistido e parado, o cristão fiel prosseguirá com firmeza e poder até mesmo em face da morte, porque não é na sua própria força e capacidade que fará o que lhe for determinado por Deus, mas na força que o Espírito supre aos que colocaram suas vidas no altar do Senhor.
Então, crescer e amadurecer, espiritualmente, é um imperativo necessário para todos os cristãos que pretendam serem achados vivendo de modo agradável a Deus.







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