sexta-feira, 23 de outubro de 2015

25) Consciência 26) Consolo 27) Contendas e Divisões

25) CONSCIÊNCIA

ÍNDICE

1 - Consciência Cristã
2 - Casos de Consciência

3 - Sondando Sua Consciência
4 - Consciência Aperfeiçoada pela Liberdade
5 - A Consciência Descobrirá Tudo


1 - Consciência Cristã

A consciência é uma das faculdades do espírito humano – o tribunal instalado por Deus em todas as pessoas de modo a aprovarem o que é correto, e reprovarem o que é errado.
A consciência, entretanto, em razão do pecado original, foi corrompida como todas as demais faculdades do espirito e da alma.
Em razão desta corrupção, em vez de ser naturalmente uma boa consciência, ela tende a ser má, por funcionar aprovando o mal e reprovando o bem, e isto tanto mais, conforme a influência do meio em que se vive, e dos valores inculcados pela família, pela cultura e pela sociedade que são contrários à vontade divina.
Esta corrupção pode evoluir até o ponto de a consciência se tornar cauterizada, ou seja, insensível ou inexistente naqueles que perderam o sentido dos valores e padrões morais e espirituais bíblicos.
Mas, uma consciência, segundo Deus, de modo geral, foi perdida por todos por causa do pecado, e somente pela restauração em Jesus Cristo pode ser formada uma boa consciência que atue em nós conforme o padrão da Palavra de Deus.
Daí a importância da conversão e da meditação diária da Bíblia, e o progresso no conhecimento de Jesus e da Palavra, porque quanto maior for este progresso, mais condizente se tornará a nossa consciência com o caráter de Deus.
Literalmente, consciência significa conhecer juntamente, perceber juntamente, e no caso do nosso assunto significa um conhecimento conjunto com Deus, ou seja, entender como Deus entende, perceber como Deus percebe.
E o propósito da consciência se cumpre quando este conhecimento se reflete nos nossos pensamentos e ações.
De nada vale ter uma boa consciência que reprove o mal, e aprove o bem, e que no entanto, o seu possuidor não age de acordo com a própria consciência, agindo em sentido contrário daquilo que aprova ou reprova.
Agora, quando a Bíblia se refere a uma boa consciência o que está em foco é sobretudo a firme certeza e convicção da fé que se possui em Cristo, notadamente no fato de que já não há mais nenhuma condenação para todo aquele que nEle crê, e também a plena certeza e convicção da sua aceitação por Deus como filhos amados.
Daí a necessidade e importância de que o crente seja confirmado na fé e na Palavra imediata e posteriormente à sua conversão, e esta era a razão de o apóstolo Paulo revisitar as igrejas que fundara em suas viagens missionárias com o citado propósito, quanto a nunca duvidarem do cuidado e da provisão de Deus para com eles.
Um crente que esteja confirmado na fé e na Palavra também terá um viver vitorioso sobre o pecado, o diabo e o mundo – o que é mais um fator concorrente para que se tenha uma boa consciência.
Além de boa, tal consciência é tranquila e confiante porque os terrores da condenação eterna e o medo de uma possível separação de Deus são completamente extintos quando se possui uma firme confiança em Jesus Cristo e na obra que realizou em nosso favor.
Mas como permanecem em nós os resquícios da natureza pecaminosa, enquanto aqui vivermos, convém que sempre façamos um exame diário de nossa consciência, a saber, um auto-exame para que possamos saber se estamos sendo guiados na vereda da justiça divina ou não. Paulo fala em I Coríntios sobre o dever de cada crente examinar a si mesmo.
Para tanto necessitamos de uma consciência sensível ao Espírito Santo, de modo a evitarmos o que é mau e a escolher o que é bom.
Uma consciência endurecida ou cauterizada não pode ser de qualquer ajuda para que façamos progresso em crescimento espiritual, rumo ao amadurecimento que nos permitirá frutificar para Deus.
Assim, bem-aventurado é aquele que é humilde de espírito, ou seja, que está consciente do seu real estado – de ser possuidor de uma natureza decaída no pecado, e da sua completa necessidade e dependência da graça de Cristo para elevar-se do monturo de pó em que se encontra para os montes elevados do conhecimento do que é espiritual, celestial e divino.
Quanto maior fica a nossa consciência da eternidade maior se torna o nosso interesse pelas coisas relacionadas ao reino de Deus e a sua justiça; e o consequente desmame das coisas deste mundo que são visíveis e passageiras.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo a palavra suneidesis (consciência) do original grego, acessando o seguinte link:
http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128406




2 - Casos de Consciência

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Pois se elevam acima de minha cabeça as minhas iniquidades, como fardos pesados, excedem as minhas forças.” (Salmo 38.4) ​​

Proponho, em primeiro lugar, falar dos terrores que frequentemente acompanham a convicção de pecado. Em segundo lugar, descrever os casos de alguns que, embora realmente convencidos do pecado, são, no entanto, estranhos a esses terrores. E, em seguida, dirigir algumas palavras de conselho, tanto para aqueles que são extremamente quebrados por medos cruéis e aqueles que, por outro lado, que são mais gentilmente trazidos a Cristo
Há um grande e atroz TERROR DE MENTE frequentemente associado à convicção de pecado.  Normalmente, quando a Graça Divina entra no coração, uma das primeiras coisas que ocorre é uma espécie de medo indefinível. O homem não sabe como ou por que ele tem tanto medo. Ele se sentia seguro o suficiente antes, mas agora o próprio chão sob seus pés parece ser podre. Ele brincou com o pecado, pensando que era apenas uma coisa pequena, mas, de repente, ele começa a tremer por causa do pecado. Ele descobre que a serpente tem uma picada mortal e ele tem medo dela. Às vezes, de noite, ele vai ficar com medo com visões em seus sonhos e, de dia, algo mais vivo do que as visões aparecem diante dele. Agora, ele começa a acreditar que existe um inferno, que há um só Deus, que o pecado deve ser punido, que tem pecado e que, portanto, ele deve perecer! Ele não sabe o que deve fazer, mas sente que algo deve ser feito, seja por si ou por outra pessoa, porque sua alma está realmente temerosa. Em maior ou menor grau, ele tem pela primeira vez o medo da punição que virá - por meio da Graça de Deus, cresce nele um medo do pecado!
Então, quando esse medo aumenta, uma espécie de inquietação e desassossego se apodera do homem. Davi nos conta sua própria experiência e a sua oração quando ele estava em tal estado dizendo:  "Ó Senhor, não me repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor porque suas flechas se cravaram em mim, e sua mão me aperta dolorosamente. Não há coisa sã na minha carne, por causa da tua ira, nem há... descanso em meus ossos, por causa do meu pecado." Esse é o caso de um homem sob a convicção do pecado, ele fica inquieto e pouco à vontade. Aquelas coisas que ele considerava prazeres agora lhe parecem ser extremamente dolorosas. Se ele ainda procura os divertimentos nos quais uma vez havia se regozijado, eles somente o adoecem agora, ele não pode suportar sequer olhar para eles. Ele tem um coração tão triste dentro dele que ele não quer ter músicas cantadas para ele, pois elas parecem estar fora do lugar para um homem como ele se sente agora.
Os companheiros de tal homem não podem entender o que está acontecendo com ele! Eles pensam que ele está sofrendo de uma crise de melancolia. Ele, então, começa a buscar descanso em seu lar, mas, de alguma forma, até mesmo a sua própria família não pode dar-lhe a paz que ele experimentou uma vez. Sua esposa acha que algo estranho veio sobre ele, e deve ser algo bastante incompreensível para ela. Esta inquietação e desassossego de espírito vai crescer, pouco a pouco.
Com alguns homens este estado de espírito vai continuar até que eles vêm, enfim, a ter totalmente nojo de si mesmos. Eles podem até adotar a linguagem de Davi, no Salmo do qual eu tomei o meu texto. "Sinto-me encurvado e sobremodo abatido, ando de luto o dia todo. Ardem-me os lombos, e não há parte sã na minha carne. Estou aflito e mui quebrantado; dou gemidos por efeito do desassossego do meu coração.” (v. 6-8). Houve quem disse que ele gostaria de ter sido uma rã ou um sapo, nada melhor do que um homem, quando ele percebeu o quão pecaminoso ele tinha sido! Ele se sentia tão detestável à sua própria visão por ter pecado contra a luz, contra o amor, contra a longanimidade, por ter rejeitado a Cristo, entristecido o Espírito Santo e desprezado o sangue precioso que por si só pode purificar do pecado! Todas essas coisas vêm antes à mente do homem e ele acha que nenhum castigo é muito ruim para ele. "Não", ele diz, "eu pensava que era uma coisa injusta que um homem fosse lançado fora por toda a eternidade, mas agora eu sinto que o que você faz comigo, ó Deus, não é nada severo demais! Mereço tudo o que sua Justiça Infinita possa trazer sobre mim."
Mas se você tem tido esta experiência, agradeça a Deus por ela. Há milhares de pessoas que passaram por essa experiência e, ainda, através da espessa escuridão, vieram para a mais brilhante luz de Deus!
O homem forte de repente torna-se fraco como uma criança. O homem muito sábio, o crítico agudo, o juiz severo dos outros, de repente torna-se gentil, bondoso, manso no espírito. Ele não é agora uma provação sobre qualquer outro homem, pois ele tem o suficiente para estar de pé diante do tribunal da sua própria consciência - e ele teme que seja julgado e condenado por seu Deus! Ele costumava falar, em tempos idos, muito sobre a dignidade e a força do homem, mas agora ele sabe mais sobre a depravação e fraqueza humana. Ao mesmo tempo, ele costumava dizer: "Eu posso crer em Cristo, sempre que eu quiser. Posso ser salvo quando eu quiser!" A salvação parecia-lhe um assunto muito fácil naqueles dias, mas agora parece que a coisa mais difícil do mundo é crer em Cristo da maneira correta!
Caros amigos, todo o sofrimento que é sentido pela mente quando sob a convicção do pecado não é a obra do Espírito de Deus, embora algumas delas sejam. Sem dúvida, parte do horror que tenho descrito vem de Satanás. Ele não quer perder aqueles que foram seus súditos. Ele vê que aquele que já foi um escravo muito contente começa a sentir a sua cadeia cansativa e sonha em escapar da servidão cruel e, portanto, Satanás traz para fora o seu grande chicote para assustá-lo, diz que ele não deve tentar fugir, ou ele vai açoitá-lo por seus pecados passados. Assim, os pobres se agacham a seus pés e Satanás diz: "Agora é a minha única chance de impedi-lo de escapar. Servos dos poderes infernais o atacam e o atormentam e insinuam toda dúvida e todo o medo e toda blasfêmia que você possa imaginar! Não vamos deixar pedra sobre pedra para quebrar seu coração e arruiná-lo antes que ele chegue à paz através de Cristo."
Outra parte dessa agonia, sem dúvida, surge da ignorância da verdade da liberdade que há em Cristo. Se algumas dessas almas pobres soubessem mais, elas iriam sofrer menos.
No entanto é necessário lembrá-lo de que esses horrores e terrores, não são essenciais para a salvação, ou então eles teriam sido ordenados. Fé e arrependimento, é o que é essencial para a salvação, pois está escrito: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo." "Aquele que crer e for batizado será salvo." As coisas que são essenciais para a salvação são colocadas muito claramente nas Escrituras. Eu não leio em qualquer lugar da Palavra de Deus: "seja tentado pelo diabo, e você será salvo." Eu não leio, "Sinta um horror de grandes trevas e você será salvo." Eu não acho que o Senhor te designou ao desespero, a fim de que sejas salvo.
Duvidar, por exemplo, se Cristo pode me salvar é um pecado hediondo! E pensar que meu caso é tão ruim que Deus não pode apagar o meu pecado é a duvidar de Sua Onipotência e fazer-lhe uma desonra grave.
Você vê que aquela cruz? E você vê Jesus, o Filho de Deus feito carne, sangrando e morrendo lá? Olhe para Ele e você será salvo! Confie nEle e todos os seus pecados serão perdoados de uma só vez.  Esse é o verdadeiro Evangelho que dá paz aos corações perturbados. "Então, eu digo a você, pobre amigo com problemas, e você que não está incomodado, fuja para Cristo! Confie no Filho de Deus para salvá-lo e ele vai te salvar!
Confie nEle com a enorme carga de seu pecado e Ele vai levá-la em cima de seus ombros e lança-las no Mar Vermelho de Seu sangue expiatório!






3 - Sondando Sua Consciência

Por Jonathan Edwards

O Salmo 139 é uma meditação sobre a onisciência de Deus. Deus vê e sabe
perfeitamente todas as coisas. O salmista apresenta esse perfeito conhecimento
afirmando que Deus conhece todas as nossas ações (“Sabes quando me assento e
quando me levanto” v. 2a); todos os nossos pensamentos (“de longe penetras os meus
pensamentos” v. 2b); todas as nossas palavras (“Ainda a palavra me não chegou à
língua, e tu, Senhor, já a conhece toda” v. 4).
Depois ele ilustra a impossibilidade de fugir da presença divina:
“Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se
subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás
também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda
lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Se eu digo: as trevas,
com efeito, me encobrirão e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias
trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa” (vs. 7-12).
Em seguida, fala do conhecimento que Deus tinha dele até mesmo antes do seu
nascimento:
“Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe" Os meus
ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido
como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda
informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e
determinado, quando nem um deles havia ainda” (vs. 13,15,16).
Depois disso, o salmista observa o que deve ser inferido como uma consequência
necessária da onisciência de Deus: “Tomará, ó Deus, desses cabo do perverso” (v.19).
Finalmente, o salmista faz uma aplicação prática da sua meditação sobre a
onisciência de Deus: ele implora para que Deus o sonde e o examine e veja se há nele
algum caminho mau, e que o guie pelo caminho eterno.
Obviamente, o salmista não está implorando que Deus o sonde para que Deus possa
obter qualquer informação. O objetivo de todo o Salmo é a declaração de que Deus
sabe todas as coisas. Por essa razão, o salmista está orando para que Deus o sonde
a fim de que o próprio salmista possa ver e ser informado do pecado do seu próprio
coração.
Davi obviamente examinou seu próprio coração e seus caminhos, mas não confiou
nisso. Ele ainda temia que pudesse ter algum pecado desconhecido que tivesse
escapado de sua própria sondagem; então pediu para que Deus o examinasse.
Em outro lugar, Davi escreveu: “Quem há que possa discernir as próprias faltas?
Absolve-me das que me são ocultas” (Sl 19.12). Quando disse “faltas ocultas” ele quis
dizer que elas lhe eram “secretas”, mas não era consciente deles.
Todos nós deveríamos nos preocupar em saber se vivemos com algum tipo de pecado
que até nós mesmos desconhecemos. Se alimentamos algum desejo secreto ou

negligenciamos algum dever espiritual, nossos pecados escondidos são tão ofensivos
a Deus e o desonram tanto quanto os conhecidos, evidentes e os notórios. Desde que
somos tendentes ao pecado, e o nosso coração está cheio deles, devemos tomar um
cuidado especial para evitar aqueles que são insolentes, involuntários e cometidos na
ignorância.
Por que as pessoas vivem no pecado sem saber
Nosso problema em reconhecer se há em nós algum caminho mau não é por falta
da luz externa. Certamente Deus não falhou em nos dizer clara e abundantemente
quais são os maus caminhos. Ele nos deu mandamentos mais do que suficientes que
mostram o que deveríamos e o que não deveríamos fazer; e eles estão claramente
colocados diante de nós na sua Palavra. Então, nossa dificuldade em conhecer nosso
próprio coração não é pelo fato de nos faltarem normas adequadas.
Como é possível as pessoas viverem de maneira que desagradam a Deus e no entanto
parecerem completamente insensíveis a isso e seguirem em frente totalmente
esquecidas de seus pecados? Diversos fatores contribuem para essa tendência
maligna da humanidade:
A natureza cega e enganosa do pecado
O coração humano é cheio de pecado e corrupção; e a corrupção tem um efeito
espiritual de cegueira. O pecado sempre carrega um grau de obscuridade. Quanto
mais ele prevalece, mais ele obscurece e ilude a mente. Ele nos cega para a realidade
que está no nosso próprio coração. Assim, o problema não é, em absoluto, a falta da
luz da verdade de Deus. A luz brilha suficientemente ao nosso redor, mas a falha está
nos nossos olhos; estão obscurecidos e cegos pela incapacidade mortal que resulta do
pecado.
O pecado engana facilmente porque controla a vontade humana, e isso altera o
julgamento. Quando a concupiscência prevalece, predispõe a mente para aprová-
la. Quando o pecado influencia nossas preferências, ele parece agradável e bom.
A mente é naturalmente predisposta a pensar que tudo o que é agradável é
correto. Portanto, quando um desejo pecaminoso vence a vontade, também lesa o
entendimento. Quanto mais a pessoa anda no pecado, provavelmente, mais a sua
mente será obscurecida e cega. Assim é que o pecado assume o controle das pessoas.
Portanto, quando elas não estão conscientes do seu pecado, fica extremamente difícil
fazê-las enxergar o erro. Afinal de contas, o mesmo desejo maligno que as levou ao
pecado, as cegará. Quanto mais uma pessoa raivosa consente com a malícia ou com a
inveja, mais esses pecados cegarão seu entendimento para que ela os aprove. Quanto
mais um homem odeia o seu vizinho, mais ele tende a pensar que tem uma boa causa
para odiar, e que aquele vizinho é digno de ódio, que merece ser odiado, e que não
é seu dever amá-lo. Quanto mais prevalecem os desejos de um homem impuro, mais
doce e agradável o pecado lhe parecerá, e mais ele tenderá a pensar que não há mal
nisso.Semelhantemente, quanto mais uma pessoa deseja coisas materiais,

provavelmente
mais pensa que é desculpável por agir assim. Dirá a si mesma que precisa de certas
coisas, e que não pode viver sem elas. Se são necessárias, raciocina ela, não é pecado
desejá-las. E as concupiscências do coração podem assim ser justificadas . Quanto
mais prevalecem, mais cegam a mente e influenciam o julgamento que as aprova. Por
isso, a Bíblia denomina os apetites mundanos de “as concupiscências do engano” (Ef
4.22). Até pessoas piedosas podem por um tempo permanecer cegas e iludidas pela
concupiscência, e assim viverem de uma maneira que desagrada a Deus.
A concupiscência também incita a mente carnal a inventar desculpas para as práticas
do pecado. A natureza humana é muito sutil quanto se trata de racionalizar o pecado.
Alguns são tão devotados às suas maldades que quando a consciência os importuna,
torturam a mente a fim de encontrar argumentos que façam com que ela se cale e
que os convençam de que procederam licitamente quando pecaram.
O amor a si mesmo também predispõe as pessoas a desculparem o seu pecado. Elas
não gostam de se condenar. São naturalmente preconceituosas em seu próprio
favor. Procuram bons nomes para denominar suas tendências pecaminosas. Elas
as transformam em “virtudes” ou no mínimo em tendências inocentes. Rotulam
a avareza de “prudência”, ou então chamam a ganância de “negócio inteligente”.
Quando se alegram com as calamidades do próximo, fingem que é porque esperam
que isso trará algum bem à pessoa. Se bebem muito, é porque sua constituição física
o exige. Se caluniam , ou falam do vizinho, afirmam ser zelosos quanto ao pecado.
Se entram numa discussão, dizem ter uma consciência obstinada e consideram sua
discórdia mesquinha uma questão de princípios. E assim, encontram bons nomes
para todas as formas de mal.
As pessoas têm a tendência de adaptar os seus princípios à sua prática, e não o
contrário. Além de permitir que seu comportamento se conforme com a consciência,
despenderão uma energia tremenda tentando fazer com que sua consciência se
adapte ao seu comportamento.
Como o pecado é tão enganoso, e como temos muito pecado no coração, é difícil julgar
nossos próprios caminhos com justiça. Por causa disso, deveríamos fazer um autoexame

diligente e nos preocupar em descobrir se há em nós algum caminho mau.
“Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de
incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada
dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido
pelo engano do pecado” (Hb 3.12,13).
As pessoas vêem mais facilmente os erros dos outros do que os seus. Quando vêem
os outros errarem, imediatamente os condenam “até mesmo enquanto se desculpam
pelos mesmos pecados!” (cf. Rm 2.1) Todos vemos um argueiro nos olhos dos outros
e não a trave nos nossos olhos. “Todo caminho do homem é reto aos próprios olhos”
(Pv 21.2). “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente
corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9) Não podemos confiar em nosso coração nesta
questão. Em vez disso, devemos nos vigiar, interrogar nosso coração cuidadosamente, e

pedir a Deus que nos sonde completamente. “O que confia no seu próprio coração é
insensato” (Pv 28.26).
A sutileza de Satanás.
O demônio trabalha corpo a corpo com as nossas paixões enganosas. Ele labuta para
tornar-nos cegos às nossas faltas. Continuamente se esforça para nos levar ao pecado,
e então, trabalha com a nossa mente carnal nos bajulando com a idéia de que somos
melhores do que realmente somos. Assim, ele cega a consciência. É o príncipe das
trevas. Cegar e enganar têm sido seu trabalho desde os nossos primeiros pais.
A força do hábito
Algumas pessoas se esquecem dos pecados que lhe são habituais. Freqüentemente os
pecados habituais entorpecem a mente, e dessa maneira, tais pecados, que uma vez
afligiram a consciência, começam a parecer inofensivos.
O exemplo dos outros
Alguns se tornam insensíveis ao próprio pecado porque deixam a opinião popular
ditar o seu padrão. Observam o comportamento dos outros a fim de discernir o que
está certo ou errado. Porém, a sociedade é tão tolerante com o pecado que muitos
deles perderam seu estigma. As coisas que não agradam a Deus e são consideradas
abomináveis à sua vista parecem inocentes quando visualizadas através dos olhos da
opinião popular. Talvez as vejamos sendo praticadas por pessoas que estimamos, ou
nossos superiores, ou por aqueles que são considerados sábios. Isso tende a favorecer
essas coisas e a diminuir o sentido de sua pecaminosidade. É especialmente perigoso
quando homens piedosos, líderes cristãos respeitados são vistos comprometidos com
práticas pecaminosas. Isso especificamente tende a calejar o coração do observador e
a cegar a mente a respeito de qualquer hábito maligno.
Obediência incompleta.
Aqueles que obedecem a Deus indiferentemente ou pela metade correm o risco de
viverem em pecado encoberto. Alguns cristãos professos negligenciam parte de
seus deveres espirituais enquanto se concentram em outra parte. Seus pensamentos
talvez estejam completamente voltados à oração secreta, à leitura bíblica, à adoração
pública, à meditação e a outros deveres “religiosos” enquanto ignoram os deveres
morais: suas responsabilidades em relação à esposa, aos filhos ou aos vizinhos.
Sabem que não devem defraudar o seu vizinho, mentir ou fornicar. Mas parecem
não considerar quanto mal há em falar dos outros de modo leviano, censurar o
vizinho, contender e brigar com as pessoas, viver hipocritamente diante da família ou
negligenciar a instrução espiritual de seus filhos.Esse tipo de pessoa parece ser muito

consciente em algumas coisas “aquelas áreas de
sua obrigação sobre as quais se mantém vigilante” mas negligência completamente
outras áreas importantes.
Como descobrir o pecado desconhecido no íntimo
Como observamos, naturalmente, é muito difícil avaliar honestamente o nosso
próprio pecado. Mas, se estivermos realmente preocupados com isso, se formos
rígidos e sondarmos totalmente o nosso coração, podemos, na maioria das vezes,
descobrir o pecado no íntimo. As pessoas que querem agradar e obedecer a Deus,
com toda luz que desfrutamos, certamente não precisam continuar nos caminhos
pecaminosos por causa da ignorância.
É verdade que o nosso coração é muito enganoso. Mas Deus, em sua santa palavra,
nos deu luz suficiente para o estado de trevas em que nos encontramos. Por meio do
cuidado e da averiguação, podemos conhecer nossas responsabilidades espirituais e
saber se estamos vivendo em algum caminho mau. Todo aquele que tem algum amor
a Deus ficará grato pela ajuda bíblica nesta questão. Tais pessoas estão preocupadas
em andar em todas as coisas que Deus queria que andassem, como agradá-lo e honrá-
lo. Se a vida delas, de alguma maneira, ofende a Deus, terão prazer em saber disso e
de maneira nenhuma optam por ocultar de si mesmas o próprio pecado.
Também, aquele que pergunta com sinceridade, O que eu devo fazer para ser salvo?
irá querer identificar o pecado em sua vida, já que é o pecado o que o separa de
Cristo.
Há duas maneiras pelas quais chegamos ao conhecimento do nosso pecado:
Conhecimento da Lei de Deus
Se você deseja saber se vive em pecado desconhecido, deve familiarizar-se totalmente
com o que Deus quer de você. Na Bíblia, Deus nos deu normas perfeitas e verdadeiras
pelas quais devemos andar. Ele expressou seus preceitos clara e fartamente,
assim, somos capazes de saber “a despeito das nossas trevas e desvantagens
espirituais” exatamente o que ele requer de nós. Que revelação da mente divina
completa e abundante temos nas Escrituras! Quão clara é em nos instruir sobre
como nos comportar! Quão freqüentemente seus preceitos são repetidos! E quão
explicitamente são revelados, de várias maneiras, a fim de que pudéssemos entendê-
los completamente!
Mas que proveito há em tudo isso se negligenciamos a revelação de Deus e não nos
esforçamos em nos inteirar dela? Que proveito há em se ter princípios piedosos
se ainda não os conhecemos? Por que Deus revelaria a sua mente, se não nos
importamos em saber o que é ela?
No entanto, a única maneira pela qual podemos saber se estamos pecando é
conhecendo sua lei moral: “Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rm 3.20).

Entretanto, se não queremos continuar desagradando a Deus, devemos estudar
diligentemente os princípios do certo e do errado que ele revelou. Devemos ler e
pesquisar muito mais as santas Escrituras. E devemos fazer isso com a intenção de
conhecer todo o nosso dever, assim a Palavra de Deus pode ser “lâmpada para os
[nossos] pés e luz para os [nossos] caminhos” (Sl 119.105).
E, assim sendo, está claro que a maior parte das pessoas é muito mais culpada
simplesmente por causa da sua negligência aos deveres espirituais. Antes de tudo,
são culpáveis porque desprezam a Palavra de Deus e outras fontes que poderiam
informá-las. Agem como se o estudo fosse somente um trabalho dos pastores. Tal
ignorância é freqüentemente uma negligência proposital e deliberada. Se não são
conscientes do que Deus quer delas, é sua própria falta. Elas têm oportunidade
suficiente para saber, e poderiam saber se o quisessem. Além disso, se esforçam para
ter outros tipos de conhecimento. São bem treinadas em qualquer interesse mundano
que lhes agradam. Aprendem qualquer coisa que seja necessário para ganhar a vida
no mundo. Porém, não gastam nenhuma energia para buscar o que conta para a
eternidade.
O autoconhecimento
Segundo, se você deseja saber se está odiando o seu pecado secreto deve examinar
a si mesmo. Compare a sua vida com a lei de Deus, e veja se você se conforma com o
padrão divino. Este é o caminho primário que devemos tomar para descobrir nosso
próprio caráter. Esta é uma diferença importante entre o ser humano e os animais
irracionais: o homem é capaz da auto-reflexão, capaz de contemplar seus próprios
atos e avaliar a natureza e a qualidade deles. Sem dúvida nenhuma isso foi parte
do motivo pelo qual Deus nos deu o seu poder “a fim de que pudéssemos conhecer e
avaliar nossos próprios caminhos”.
Devemos nos examinar até descobrirmos se concordamos ou não com os princípios
da Bíblia. Isso requer a máxima atenção, a fim de não omitir os nossos próprios erros,
ou de não permitir que nenhum caminho mau se esconda de maneira dissimulada.
Como examinar a si mesmo
Você poderia pensar que já temos mais informação sobre nós mesmos do que
sobre qualquer outra coisa. Afinal de contas, estamos sempre junto de nós. Somos
totalmente conscientes dos nossos atos. Instantaneamente sabemos tudo o que
acontece conosco, e tudo o que fazemos.
Mas, em alguns aspectos, é mais difícil obter um conhecimento verdadeiro sobre
nós mesmos do que sobre quase qualquer outra coisa. Portanto, devemos investigar
diligentemente no segredo do nosso coração e examinar cuidadosamente todos
os nossos caminhos e condutas. Aqui estão algumas diretrizes para ajudar neste
processo:
Sempre una a auto-reflexão com a leitura e o ouvir da Palavra de DeusQuando você ler a

Bíblia ou ouvir sermões, reflita e compare os seus caminhos com o
que você leu ou ouviu. Pondere que harmonia ou desarmonia existe entre a Palavra
e os seus caminhos. A Bíblia testifica contra todo tipo de pecado e tem direções para
qualquer responsabilidade espiritual, como escreveu Paulo: “Toda a Escritura é
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, a fim de que o homem seja perfeito e perfeitamente habilitado

para
toda boa obra” (2Tm 3.16,17). Portanto, quando ler os mandamentos dados por Cristo
e seus apóstolos, pergunte-se: Vivo de acordo com essas regras? Ou vivo de maneira
contrária a elas?
Quando ler histórias da Bíblia sobre os pecados e sobre os culpados, faça uma

autoreflexão enquanto avança na leitura. Pergunte a si mesmo se é culpado de pecados
semelhantes. Quando ler como Deus reprovou o pecado de outros e executou
julgamentos por seus pecados, questione se você merece punição semelhante.
Quando ler os exemplos de Cristo e dos santos, questione se você vive de maneira
contrária aos seus exemplos. Quando ler sobre como Deus louvou e recompensou
seu povo pelas suas virtudes e boas obras, pergunte se você merece a mesma bênção.
Faça uso da Palavra como um espelho pelo qual você examina cuidadosamente a si
mesmo “e seja um praticante da palavra” (Tg 1.23-25).
Poucos são aqueles que fazem como deveriam! Enquanto o ministro testifica contra
o pecado, a maioria está ocupada pensando em como os outros falham em estar à
altura. Podem ouvir centenas de coisas em sermões que se aplicam adequadamente a
eles; mas nunca pensam que o que o pregador está falando lhes diz respeito. A mente
deles está fixa em outras pessoas para quem a mensagem parece se encaixar, mas
eles nunca julgam necessitar dessa pregação.
Se você faz coisas que geralmente são evitadas por pessoas perspicazes e
maduras, tenha um cuidado especial em questionar-se se tais atos poderiam ser
pecaminosos
Talvez você tenha argumentado consigo mesmo que tal ou tal prática é lícita; você
não vê mal algum nela. Porém, se a coisa é geralmente condenada por pessoas
piedosas, com certeza isso parece suspeito. Será prudente de sua parte considerar
conscientemente se isso desagrada a Deus. Se uma prática não é aprovada por
aqueles que em tais casos, em geral, provavelmente são mais corretos, você deveria
considerar, com o maior cuidado, se a coisa em questão é lícita ou ilícita.
Pergunte a si mesmo se no seu leito de morte terá lembranças agradáveis em
relação à maneira que viveu
Pessoas saudáveis freqüentemente aceitam o que não se aventurariam a fazer se
pensassem que logo estariam perante o Senhor. Pensam na morte como algo distante,
e assim acham muito mais fácil tranquilizar a consciência sobre o que estão fazendo
no presente. Porém, se pensassem que poderiam morrer logo, não achariam tão
confortável contemplar o Senhor com tais atos. A consciência não é facilmente cegada e

silenciada quando o fim da vida parece iminente.
Solenemente pergunte a si mesmo e veja se está fazendo algo agora que pode
trazer problemas quando você estiver no leito de morte. Pense nos seus caminhos e
examine-se a si mesmo com a expectativa sensata de logo partir deste mundo para a
eternidade. Empenhe-se com sinceridade para julgar imparcialmente as coisas com as
quais você terá “prazer no seu leito de morte" bem como as que você vai desaprovar e
desejar deixar.
Considere o que outros podem dizer sobre você
Embora as pessoas estejam cegas quanto às suas próprias faltas, facilmente
descobrem os “erros dos outros” e consideram-se aptas o suficiente para falar deles.
Algumas vezes, as pessoas vivem de maneiras que absolutamente não são adequadas,
porém estão cegas para si mesmas. Não vêem seus próprios fracassos, embora os
erros dos outros lhes sejam perfeitamente claros e evidentes. Elas mesmas não vêem
suas falhas; quanto às dos outros, não podem fechar os olhos ou evitar ver em que
falharam.
Alguns, por exemplo, são inconscientemente muito orgulhosos. Mas o problema
aparece notório aos outros. Alguns são muito mundanos ainda que não sejam
conscientes disso. Alguns são maliciosos e invejosos. Os outros vêem isso, e para
eles lhes parecem verdadeiramente dignos de ódio. Porém, aqueles que têm esses
problemas não refletem sobre eles. Não há verdade no seu coração e nem nos seus
olhos em tais casos. Assim devemos ouvir o que os outros dizem de nós, observar
sobre o que eles nos acusam, atentar para que erro encontram em nós, e com
diligência verificar se há algum fundamento nisso.
Se outros nos acusam de orgulhosos, mundanos, maus ou maliciosos ou nos acusam
de qualquer outra condição ou prática maldosa, deveríamos honestamente nos
questionar se isso é verdade. A acusação pode nos parecer completamente infundada,
e podemos pensar que os motivos ou o espírito do acusador está errado. Porém, a
pessoa perspicaz verá isso como uma ocasião para um auto-exame.
Deveríamos especialmente ouvir o que os nossos amigos dizem para nós e sobre nós.
É imprudente, bem como não-cristão, tomar isso como ofensa e se ressentir quando
os outros apontam nossas falhas. “Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os
beijos de quem odeia são enganosos” (Pv 27.6). Deveríamos nos alegrar que nossas
máculas foram identificadas.
Mas, também deveríamos atentar para as coisas sobre as quais os nossos inimigos nos
acusam. Se eles nos difamam e nos insultam descaradamente até mesmo com uma
atitude incorreta, deveríamos considerar isso como um motivo para uma reflexão
no íntimo, e nos perguntar se há alguma verdade no que está sendo dito. Mesmo se
o que for dito é revelado de modo reprovável e injurioso, ainda pode ser que haja
alguma verdade nisso. Quando as pessoas criticam outras, mesmo se seus motivos
forem errados, provavelmente têm como alvo verdadeiros erros. Na verdade, nossos

inimigos provavelmente nos atacam onde somos mais fracos e mais defeituosos; e
onde demos mais abertura para a crítica. Tendem a nos atacar onde menos podemos
nos defender. Aqueles que nos insultam “embora o façam com um espírito e modos
não-cristãos” geralmente identificarão as genuínas áreas onde mais podemos ser
achados culpados.
Assim, quando ouvirmos outros falando de nós nas nossas costas, não importa
o espírito de crítica, a resposta certa é a auto-reflexão e uma avaliação quanto
à verdade da culpa em relação aos erros de que nos acusam. Com certeza essa
resposta é mais piedosa do que ficar furioso, revidar ou desprezá-los por terem
falado maldosamente. Desse modo talvez tiremos o bem do mal, e esta é a maneira
mais certa de derrotar o plano dos nossos inimigos, que nos injuriam e caluniam.
Eles fazem isso com motivação errada, querendo nos injuriar. Mas, dessa maneira
converteremos isso em nosso próprio favor.
Quando vir os erros dos outros, verifique se você tem essas mesmas deficiências
Muitos estão prontos para falar dos erros dos outros, apesar de terem as mesmas
falhas. Nada é mais comum para orgulhosos do que acusar o orgulho de alguém.
Semelhantemente, é comum para o desonesto reclamar de ter sido enganado por
outra pessoa. As características ruins e os maus hábitos dos outros parecem muito
mais odiosos nos outros do que em nós mesmos. Facilmente podemos ver quão
desprezível é este ou aquele pecado em outra pessoa. Vemos muito prontamente
nos outros como o orgulho é detestável, ou quão má a malícia pode ser, ou quão
pernicioso é o erro dos outros. Mas, embora vejamos facilmente muitas imperfeições
nos outros, quando olhamos para nós mesmos essas coisas ficam obscurecidas por
um espelho de ilusão.
Entretanto, quando você vê o erro dos outros, quando percebe quão impróprios
são os atos de alguém, que atitudes rudes eles mostram, ou quão inadequado seu
comportamento é, quando ouve outros falarem sobre isso, ou quando vê erros no
tratamento deles em relação a você, reflita. Avalie se não há algum erro semelhante
na sua conduta ou atitude. Perceba que essas coisas são tão inconvenientes e
ofensivas em você como são nos outros. O orgulho, o espírito arrogante, e os
maneirismos são tão odiosos em você como são no seu vizinho. Seu espírito malicioso
e vingativo em relação ao seu vizinho é tão desprezível quanto o dele em relação a
você. É exatamente tão pecaminoso o seu erro ou o dolo do seu vizinho quanto isso é
para ele em relação a você. É tão indelicado e destrutivo você falar dos outros pelas
costas quanto os outros fazerem o mesmo em relação a você.
Avalie como os outros são cegos em relação aos próprios pecados, e pergunte a si
mesmo se você sofre do mesmo tipo de cegueira
Você sabe que as pessoas são cegas pelas próprias paixões. Os mesmos apetites
e paixões carnais da mente já o cegaram? Veja como os outros estão cegos pelo
mundanismo. Questione se sua ligação com este mundo pode estar lhe cegando de
tal forma que o leve a justificar coisas na sua vida que não estão certas. Você é tão

propenso à cegueira por causa dos desejos pecaminosos quanto os outros. Você tem
o mesmo coração enganoso e desesperadamente corrupto. “Como na água o rosto
corresponde ao rosto, assim, o coração do homem ao homem” (Pv 27.19).
Sonde sua consciência buscando os pecados secretos
Examine os segredos do seu coração. Você negligencia algum dever que somente você
e Deus conhecem? Você aceita alguma prática secreta que ofende os olhos de Deus
que tudo vêem? Examine-se a si mesmo em relação às responsabilidades básicas:
leitura da Bíblia, meditação, oração secreta. Você cumpre totalmente todos esses
deveres? Se sim, você os cumpre de uma maneira irregular e desatenta? Como é o seu
comportamento quando está escondido dos olhos do mundo “quando você não tem
limites” além da sua consciência? O que ela lhe diz?
Mencionarei duas questões em particular:
Pergunte a si mesmo se negligencia a leitura bíblica
Certamente a Bíblia foi escrita para ser lida não somente por ministros, mas também
pelas pessoas. As Escrituras nos foram dadas para estarem conosco continuamente,
para atuarem como regra da vida. Assim como o artesão precisa da medida padrão
e o cego do se guia, assim como aquele que caminha na escuridão carrega uma luz,
assim a Bíblia deve ser a “lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos”
(Sl 119.105).
Josué 1.8 diz: “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite,
para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito, então, farás
prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido”. Deuteronômio 6.6-9 ordenou aos
israelitas:
“Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a
teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao
deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão
por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas
portas.”
Da mesma maneira Cristo nos ordenou a buscar as Escrituras (Jo 5.39). São estas
as minas que temos que cavar a fim de alcançarmos os tesouros escondidos. Você
negligencia este dever?
Pergunte a si mesmo se secretamente você está entretendo alguma paixão
sensual
Há muitas maneiras e muitos graus de agradar a nossa concupiscência carnal, mas
cada um deles está provocando a um Deus que é santo. Você até mesmo se reprime
de um prazer indecente, mas, de vez em quando, de algum modo você gratifica suas
paixões e se permite testar a doçura de um prazer ilícito? Você percebe que ofende a

Deus, até mesmo quando faz isso apenas em pensamento e imaginação? Você é
culpado desse pecado?
O perigo do pecado não-abandonado
As instruções para você auto-examinar-se quanto a algum pecado do qual talvez você
não esteja crente já foram dadas. Como estão as coisas na sua vida? Você acha que
está vivendo em algum caminho mau? Não estou perguntando se você está livre de
pecado. Isso não é o esperado, pois não há quem não peque (1Rs 8.46). Mas há algum
tipo de pecado incorporado ao seu estilo de vida e prática? Sem dúvida alguns estão
limpos nessa questão, alguns “irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do
Senhor que guardam as suas prescrições, e o buscam de todo coração; não praticam a
iniqüidade e andam nos seus caminhos" (Sl 119.1-3).
Permita que sua consciência responda sobre como você vê sua própria vida. Você
pratica algum pecado pela força do hábito? Você se deu permissão para isso? Se esse
for o caso, considere o seguinte:
Se você tem procurado a salvação e ainda não a encontrou, a razão disso pode
ser algum tipo de pecado em sua vida
Talvez tenha se perguntado qual é o problema que o deixa tão preocupado em relação
à sua salvação “quando diligentemente você a tem buscado” e ainda não teve retorno.
Muitas vezes já implorou a Deus, e ele ainda não atentou para você. Outros recebem
conforto, mas você ainda permanece em trevas. Mas isso não deve surpreender, se
você se agarrou a algum pecado por muito tempo. Não é isso uma razão suficiente
para que todas as suas orações e todas as suas pretensões deixem de ser atendidas?
Se você tem tentado reter seu pecado enquanto busca o Salvador, você não está
buscando a salvação da maneira correta. O caminho certo é abandonar sua
perversidade. “Se você tem algum membro corrupto e não o corta fora, corre o risco de
ele o levar para o inferno” (Mt 5.29,30).
Se a graça parece estar definhando ao invés de florescer na sua alma, talvez a
causa disso seja algum tipo de pecado
A maneira de crescer na graça é andar em obediência, e ser muito determinado nisso.
A graça vai florescer no coração de todo aquele que vive dessa maneira. Se você vive
em algum caminho mau, ele será como uma doença incubada sugando sua vitalidade.
O pecado então o manterá pobre, fraco e desfalecido.
Basta que um pecado seja praticado habitualmente para anular sua prosperidade
espiritual e frear o crescimento e a força da graça em seu coração. Ele entristecerá o
Espírito Santo (Ef 4.30). Ele impedirá a boa influência da Palavra de Deus. O tempo
que ele permanecer será como uma úlcera, que o mantém fraco e deficiente, embora
você se alimente da melhor e mais proveitosa comida espiritual.Se você caiu em grande

pecado, talvez algum tipo de pecado na sua vida tenha
sido a raiz fundamental do seu grande fracasso
Uma pessoa que não evita o pecado e não é meticulosamente obediente, não pode ser
guardada dos grandes pecados. O pecado em que vive será sempre uma abertura,
uma porta aberta pela qual Satanás encontrará a entrada. É como uma brecha na
fortaleza, por onde o inimigo pode entrar e encontrar seu caminho. Se você caiu num
pecado terrível, talvez seja essa a razão.
Ou se você permite algum tipo de pecado como um escape para sua corrupção, ele
será como uma brecha numa represa que, se abandonada, se abrirá sempre mais até
que não seja mais possível contê-la.
Se você vive em trevas espirituais, sem sentir a presença de Deus, a razão disso
pode ser algum tipo de pecado
Se você lamenta não ter um pouco da doce comunhão com o Senhor; se sente
que Deus o desertou; se Deus parece ter lhe escondido sua face e raramente
lhe mostra evidências da sua glória e graça; ou se parece que você foi deixado
tateando e “vagueando no deserto” essa pode ser a razão. Talvez você clame a Deus
freqüentemente. Talvez você passe noites em claro e dias tristes. Se está vivendo
desta maneira, é muito provável que essa seja a causa, a raiz dos seus desenganos, o
seu Acã, o causador de problemas que ofende a Deus e traz tantas nuvens de trevas
sobre sua alma. Você está entristecendo o Espírito Santo, e por isso você não recebe o
seu conforto.
Cristo prometeu que se revelaria aos seus discípulos, mas com a condição de que
eles guardassem os seus mandamentos: “Aquele que tem os meus mandamentos e
os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu
também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21). Mas se você rotineiramente
vive em desobediência aos seus mandamentos, não é de se admirar que ele não se
manifeste a você. A maneira de receber o favor divino é andar perto dele.
Se você duvida da sua salvação, talvez algum tipo de pecado na sua vida tenha
levantado essas dúvidas
O melhor jeito de se ter a clara evidência da sua salvação é por meio de um
andar junto a Deus. Isso, como já notamos, é também a maneira de se ter a graça
florescendo na alma. E quanto mais graça vigorosa de Deus em nós, mais provável é
que seja vista. E quando Cristo se revela a nós, temos a certeza do seu amor e favor.
Mas se você vive com algum tipo de pecado, não é de surpreender que isso diminua
grandemente a sua certeza. Afinal de contas, isso subjuga o exercício da graça
e esconde a luz da face de Deus. E pode acontecer de você nunca saber se é um
verdadeiro cristão até que tenha abandonado totalmente o pecado no qual vive.
Se Deus o reprovou, talvez algum tipo de pecado em sua vida explique o

motivoProvavelmente a prática de um hábito pecaminoso ou o fato de tolerar um ato
maldoso tenha sido a razão de ter recebido uma reprovação e um castigo doloroso. Às
vezes, Deus é excessivamente severo no trato com seu povo pelos seus pecados neste
mundo. Deus não permitiu que Moisés e Arão entrassem na Terra Prometida porque
o haviam desobedecido e pecado com seus lábios nas águas de Meribá. E como Deus
foi terrível quando tratou com Davi! Que aflição levou para sua família! Um dos seus
filhos violentou sua irmã; outro matou o irmão e depois de expulsar seu pai do trono
na vista de todo Israel, deflorou a concubina de seu pai perante todos. O seu fim foi
terrível; machucou completamente o coração de seu pai (2Sm 18.33). Imediatamente
depois, aconteceu a rebelião de Seba (2Sm 20). No fim da vida, Davi viu seu outro filho
usurpar o trono.
Quão severamente Deus tratou Eli por ele ter vivido no pecado, não refreando seus
filhos da maldade! Os dois filhos foram mortos no mesmo dia, e o próprio Eli morreu
violentamente. A arca foi levada cativa (1Sm4). A casa de Eli foi amaldiçoada para
sempre; o próprio Deus jurou que a iniqüidade da casa de Eli nunca seria expiada por
meio de sacrifícios e ofertas (1Sm 3.13,14). O sacerdócio foi tirado de Eli e transferido
para outra linhagem. Nunca mais houve um sacerdote na família de Eli (2Sm 12.31).
O motivo das repreensões divinas que recebeu é algum tipo de pecado na sua vida?
Na verdade, no tocante aos acontecimentos da Providência, você não pode ser julgado
pelos seus vizinhos, porém com certeza você deveria se perguntar se Deus está
contendendo com você (Jó 10.2).
Se a morte lhe causa medo, talvez seja porque você está vivendo em algum tipo
de pecado
Quando pensa na morte, você se encolhe a esse pensamento? Quando tem uma
doença, ou quando alguma coisa ameaça sua vida, você sente medo? Os pensamentos
de morte e a eternidade alarmam você, embora seja um cristão?
Se você vive num caminho mau, provavelmente essa seja a razão de seus medos. O
pecado deixa a sua cabeça sensual e mundana e, portanto o impede de desfrutar de
uma alegria celestial. O pecado diminui a graça e impede o desfrute das antecipações
do conforto celestial que, de outra maneira, você desfrutaria. O pecado impede o
sentimento da presença e do favor divinos. Sem isso, não é de espantar que você não
veja a morte diante de si sem temor.
Não permaneça em qualquer tipo de pecado






4 - Consciência Aperfeiçoada pela Liberdade

Sem o devido conhecimento da justificação e da consequente liberdade cristã que dela decorre, não é possível ter uma boa consciência que não somente não nos acuse mais, e que também não hesite quanto às coisas que devem ser feitas sem hesitação e com constância, pela plena certeza de que somos aprovados por Deus, na liberdade que temos em Cristo Jesus.
É portanto crucial conhecer o que significa esta liberdade para que possamos adquirir a citada consciência por meio da educação recebida da graça.
Antes de tudo é necessário saber que há uma grande diferença entre justiça legal e justiça evangélica.
A justificação que recebemos em Cristo não é de caráter segundo a lei, mas segundo o perdão e misericórdia do evangelho.
Os cristãos devem observar a lei, mas não é dela que obtêm a sua liberdade, mas por simplesmente olharem para Cristo.
Porque o assunto em questão, quanto à liberdade que alcançamos pela fé, não é como podemos ser justos, mas como, embora indignos e injustos, podemos ser considerados justos.
Para o cristão a lei serve apenas para lembrá-lo do seu dever de ser santo e puro diante de Deus e dos homens.
Mas isso não lhe virá pelo mero esforço em cumprir os mandamentos, mas em andar com constância no Espírito Santo, em submissão ao poder da graça operante em seu coração.
A lei exige total perfeição e condena qualquer imperfeição, mas a graça nos liberta porque se baseia na promessa de Deus, na dispensação do evangelho, de nos perdoar e ser misericordioso para com todos os nossos pecados e iniquidades.
Não por nos dar licença para vivermos em pecado, mas por compreender que não há quem não peque, enquanto estiver neste mundo, porque o pecado está ligado à nossa velha natureza, e dali pode ser removido somente pelo poder de Cristo.
Por isso se afirma em Romanos 7, que em Cristo, morremos para a lei, porque não estamos mais debaixo das exigência da lei, para agradarmos a Deus, mas da graça.
Na lei, consideraríamos tudo o que somos e fazemos, como sendo uma transgressão, mas em Cristo, somos libertados das severas exigências da lei, e podemos alegremente responder ao chamado de Deus.






5 - A Consciência Descobrirá Tudo

Por Richard Sibbes

A Consciência controla o Tribunal.

Richard Sibbes imagina a consciência como um tribunal no conselho do coração humano. Na sua imaginação, a consciência assume o papel de cada integrante do drama do tribunal. É o ARQUIVO que grava com detalhes exatos tudo o que foi feito (Jr 17.1). É o ACUSADOR que apresenta uma denúncia contra o culpado, e o DEFENSOR que apóia o inocente (Rm 2.15). Ela também atua como uma TESTEMUNHA contra ou a favor (2Co 2.12). É o JUIZ, que condena ou absolve (1Jo 3.20). É o CARRASCO que castiga o culpado com tristeza quando a culpa é descoberta (1Sm 24.5). Sibbes compara a punição de uma consciência ofendida a um “lampejo do inferno”.

A consciência conhece todos os nossos motivos e pensamentos secretos. É o testemunho mais preciso e mais temível no julgamento da alma do que qualquer observador externo. Aqueles que evitam falar sobre uma consciência acusadora, preferindo confiam em um conselheiro, entraram num jogo perigoso. Pensamentos e motivos ruins podem se esconder dos olhos do conselheiro, mas não se esconderão dos olhos da consciência. Muito menos escaparão dos olhos do Deus onisciente. Quando tais pessoas forem convocadas para o julgamento final, a própria consciência delas estará ciente de cada transgressão e se apresentará como testemunha eterna de tortura contra elas.

Isso, Sibbes escreveu, deveria nos desencorajar de cometer pecados secretos.:

“Não deveríamos pecar na esperança de ocultar os pecados. Se os ocultarmos das pessoas, poderemos ocultá-los da nossa própria consciência? Como alguém já disse muito bem: O que vale para ti que ninguém saiba o que foi feito, quando tu és o que te conheces? Que proveito terá isso para quem tem uma consciência que o acusa, que nenhum homem o fará, mas sim ele mesmo? Ele é como milhares de testemunhas contra ele mesmo. A consciência não é uma testemunha secreta. Ela é como milhares dela. Portanto, nunca peque esperando ocultar o seu pecado. Seria melhor que todos os homens soubessem do seu pecado do que você mesmo. Um dia tudo será estampado na sua testa. A CONSCIÊNCIA IRÁ TRAÍ-LO. Se ela não puder falar a verdade agora, embora possa ser subornada nesta vida, terá poder e eficácia na vida por vir... Temos a testemunha dentro de nós; e Isaías disse: “Nossos pecados testemunham contra nós”. Tentar manter segredo será em vão.












26) CONSOLO

ÍNDICE

1 - Consolação Que Cura, Alivia e Dá Esperança
2 - “Deus que consola os que estão abatidos." ( 2 Coríntios 7.6)
3 - Confiança em Deus, Uma Fonte de Consolo
4 - O Lavrador Discreto
5 - “Eterna consolação". (2 Tes 2.16)
6 - Consolo para os Desesperados
7 - Consolo e Conforto
8 - A Minha Consolação na Aflição
9 - A Compaixão do Senhor, o Conforto dos Aflitos
10 - A Busca de Consolação
11 - Um Consolador Paciente, Incansável e Amoroso
12 - Não Recusar o Consolo Disponível
13 - Uma Palavra de Conforto


1 - Consolação Que Cura, Alivia e Dá Esperança

Que sejamos, nas mãos de Deus, instrumento de consolação, para aqueles que necessitam de conforto.
E que esta consolação não seja apenas de palavras de apoio e de conforto, mas acompanhadas pelo poder operante do Espírito Santo nas mentes e nos corações.
Não uma consolação passageira, que tal como a nuvem agora é, e de repente não mais existe, mas com a única consolação que é efetiva e duradoura, que é achada no próprio Senhor Jesus Cristo, juntamente com o testemunho das Escrituras, como vemos, por exemplo, em textos como o de Romanos 15.4:
“Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.”
Veja que se diz do que foi escrito desde há muito tempo para o nosso ensino, ou seja, esta verdade não é algo novo, inventado pela imaginação dos homens.
E também se diz que tem o propósito de acharmos a paciência e a consolação destas Escrituras Sagradas, para que tenhamos esperança.
Na Bíblia encontramos tudo o que é necessário para fortalecer o coração que se encontra abatido, pois ali achamos o registro dos grandes feitos miraculosos de Deus, a revelação da Sua misericórdia e dos Seus juízos.
Quando vemos quão grande, poderoso e amoroso é o Deus que servimos, então achamos paz e descanso para as nossas mentes e corações.
No texto de II Tessalonicenses 2.16 lemos que é o próprio Deus quem nos deu uma consolação eterna e uma boa esperança, pela graça.
“Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça,” (II Tes 2.16)
Não é nenhum anjo ou homem que nos dá tal consolação e esperança, senão o próprio Deus.
É achando a Cristo, convertendo-se a Ele, e andando com Ele e dando honra aos Seus mandamentos conforme estão revelados na Bíblia, que se acha também a verdadeira consolação e esperança, não somente para os momentos difíceis de nossas vidas, mas para todas as horas e para a eternidade.
Veja que o texto de II Tes 2.16 diz eterna consolação.
E uma tal consolação só pode ser achada num Consolador Eterno, a saber, em Deus mesmo.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo, o grande e primeiro Consolador que nos foi dado por Deus Pai, nos enviou outro Consolador, depois que subiu ressuscitado ao céu, e este outro Consolador é o Espírito Santo.
Assim, os que estão se sentindo fracos e abatidos, que possam ter suas forças renovadas, se fortificando na graça que está em nosso Senhor Jesus Cristo.
Que clamem a Deus nas horas de aflição, para que achem o conforto e a força, que procedem dEle, especialmente para suportarem as dores e injustiças que todos padecemos neste mundo.
É possível louvar ao Senhor e estar alegre em meio às aflições, porque o poder do Espírito Santo nos concede tal graça, para a glória e louvor de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso a tão grande consolação.
Ele é o Único e Grande e Infalível Consolador.






2 - “Deus que consola os que estão abatidos." ( 2 Coríntios 7.6)

E quem consola como ele?
Vá a algum pobre, melancólico, e angustiado filho de Deus, diga-lhe doces promessas, e sussurre em seu ouvido palavras de conforto escolhidas, ele é como um surdo, que não pode ouvir a palavra de consolo. Ele está bebendo veneno e fel, e consolá-lo, do modo que você pode, vai ser apenas uma ou duas notas de triste resignação que você vai propor a ele, você não lhe trará, ao interior de sua alma, nenhum salmo de louvor, nenhum aleluia, nenhum soneto alegre. Mas deixe Deus vir a seu filho, que ele levante o seu rosto e os olhos do enlutado brilham com esperança. Você vai ouvi-lo cantar:
“Isto é o paraíso, se tu estiveres aqui,
se tu te fores, é o inferno!”
Você não poderia animá-lo, mas o Senhor tem feito isso: "Ele é o Deus de toda consolação." Não há bálsamo em Gileade, mas há bálsamo em Deus. Não há  nenhum médico que possa produzir a cura entre as criaturas, mas o Criador é Jeová-Rafá.
É maravilhoso como uma doce palavra de Deus vai produzir todas as canções para os cristãos. Uma palavra de Deus é como um pedaço de ouro, e os cristãos são batedores de ouro, e podem martelar essa promessa por semanas inteiras. Assim, então, pobre cristão, tu não necessitas se sentar em desespero. Vá ao Consolador, e peça-lhe para te dar consolo. Tu és um pobre poço seco. Você já ouviu dizer que, quando uma bomba está seca, você deve derramar um pouco de água em primeiro lugar, e então você terá água, e assim, Cristão, quando estiveres seco, vá a Deus, pedir-lhe para derramar sua alegria no teu coração, e então a tua alegria será completa. Não vá para as amizades terrenas, pois você vai encontrar nelas os consoladores de Jó; mas vá em primeiro lugar ao teu "Deus, que consola os abatidos", e em breve você dirá: "Na multidão dos meus pensamentos interiores as tuas consolações recreiam a minha alma."

Nota do tradutor: Tenho experimentado em minha vida a verdade destas palavras, especialmente quando passei por um câncer e um infarto do miocárdio, e por diversas tribulações de todo o tipo neste mundo. E o mesmo Deus que me consolou no passado tem sido a minha força e alegria ainda nas tribulações presentes, e sei que sempre estará comigo nas futuras, até que vá ter com ele na glória do céu. E sei que isto não é um privilégio exclusivo para mim ou para poucos, mas para todos aqueles que esperam no Senhor, aguardando por seu socorro, livramento, consolo e misericórdia.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público.






3 - Confiança em Deus, Uma Fonte de Consolo

“porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia.” (2 Tim 1.2b)

O homem nasce para a tribulação, e isso é da maior importância para ele saber disto, para que saiba para onde deve recorrer no dia da adversidade. O Evangelho nos dirige para sermos reconciliados com Deus em Cristo Jesus, que tem se compromissado em ser o nosso apoio e conforto em todas as nossas aflições.
O cristão tem muitas provações peculiares, mas o Evangelho é totalmente adequado às suas necessidades. Seu poder para apoiá-lo pode ser visto na passagem diante de nós.
Paulo está exortando Timóteo à firmeza na causa de Cristo; e, para seu encorajamento, ele lhe diz o que foi o fundamento de suas próprias consolações sob as aflições pesadas que agora ele estava sofrendo por causa de Cristo. Ele lhe diz, que, não obstante ele estivesse encarcerado em um calabouço, e na expectativa diária de uma violenta e cruel morte, ele não estava nem envergonhado, nem temeroso; por que tinha uma firme persuasão da capacidade de Deus para guardá-lo; e que esta persuasão  lhe havia dado amplo suporte.
Para ilustrar o texto, podemos observar:
I. O cristão encomenda sua alma a Deus.
O apóstolo, sem dúvida, confiou a Deus os assuntos relativos à Igreja: mas é mais exatamente de sua alma que ele está falando com as palavras diante de nós. Da mesma maneira, todo cristão confia a sua alma a Deus.
Nós sabemos o que é confiar uma grande soma de dinheiro aos cuidados de um banqueiro; e daí podemos alcançar uma justa noção da conduta do cristão. Ele tem uma alma que é de muito maior valor do que o mundo inteiro, e ele sente uma grande ansiedade que deve ser preservado de forma segura "para aquele dia", quando Deus julgará o mundo. Mas, a quem ele deve confiar a sua alma? Ele não conhece nada senão apenas Deus, que pode guardá-lo, e por isso ele vai a Deus, e solenemente confia a sua alma em suas mãos, pedindo-lhe para colocar em ordem todas as suas preocupações, e, de que qualquer forma ele cuidará melhor dela, para ajustá-la para a glória.
Para isso, ele é solicitado a fazer múltiplas considerações.
Ele reflete sobre a queda do homem no Paraíso, e diz: Adão, quando perfeito, e possuidor de tudo o que podia desejar, tornou-se uma presa pelo tentador, quando a felicidade de toda a sua posteridade, bem como a sua própria, dependia de sua firmeza; e pode uma criatura tão corrupta como eu, rodeado como eu sou por inúmeras tentações, ter a esperança de me manter firme contra meu grande adversário? Ó meu Deus, não me deixe nem por um momento me perder; mas toma conta de mim, e deixe "a minha vida ser escondida com Cristo em  Deus", então, e só então, posso esperar, que na segunda vinda do meu Senhor eu vou aparecer com ele em glória.
Ele tem em mente também a sua própria fraqueza e ignorância. Ele está consciente de que ele não tem em si uma suficiência até mesmo para ter um bom pensamento, e que não está nele poder dirigir seu caminho corretamente. Daí ele deseja se valer da sabedoria e do poder de Deus, e clama: "Leva-me no caminho certo, por causa dos meus inimigos."; "Segura-me tu e então eu serei salvo."
Mas, mais especialmente ele considera os comandos da graça de Deus. Deus não somente permitiu, mas ordenou, esta entrega de nossas almas a ele, I Pe 4.19. Ó que privilégio tem o cristão por poder obedecer a essa ordem divina! Como ele é grato por ter Deus se dignado a aceitar este depósito, e tomar cuidado dele com esta sua obrigação! Por isso, ele  aproveita este privilégio, e diz: "Esconde-me à sombra das tuas asas!", "Oh salva-me por tua misericórdia!"
Enquanto ele age desta maneira,
II. Ele está convencido da capacidade de Deus para guardá-lo.
Ele não se limita a presumir a suficiência de Deus: ele está bem persuadido disto,
1. A partir do relatório dos outros,
Ele é informado pelos escritores inspirados da Bíblia, que Deus criou o mundo a partir do nada, e que ele defende e ordena cada coisa criada, de modo que nem um pardal cai no chão sem a sua autorização expressa. Daí então, ele argumenta: Deus criou minha alma, e ele não pode guardá-la? Será que ele criou meus inimigos também, e ele não pode contê-los? Ele tem contados até os cabelos da minha cabeça, e ele vai ignorar as preocupações da minha alma?
Ele é informado que Deus está sempre em busca de oportunidades, não somente para exercer, mas também para ampliar, o seu poder na causa do seu povo.
Deveria toda esta vigilância, então, ser exercida em vão? ou deveria  qualquer coisa ser capaz de prevalecer contra ele?
Ele está seguro também que Deus ainda não perdeu a qualquer daqueles com os quais ele se compromissou a guardar: ele nunca deixou "um de seus pequeninos perecer”, Mt 18.14; Jo 10.28,29; “Ninguém jamais foi arrancado de sua mão"; Não, ao menor dos grãos de trigo, embora agitado na peneira das aflições, nunca foi permitido cair sobre a terra. As portas do inferno nunca serão capazes de prevalecer contra a sua Igreja.
Então, o cristão diz: "Eu vou confiar, e não terei medo." Meu Salvador, nos dias de sua carne, não perdeu a nenhum daqueles que lhe foram dados pelo Pai, e a quem ele amava, ele amou até ao fim, João 13.1, e, portanto, estou certo de que ele vai conduzir a bom termo o que me concerne, e completar em mim a boa obra que ele tem iniciado.”
2 . A partir de sua própria experiência,
O cristão se lembra bem do que ele era por natureza; e sabe por experiência diária o que ele ainda seria, se a Onipotência não fosse exercida em seu apoio. E, portanto, ele argumenta, assim: tem Deus me criado de novo, e por um invisível, mas infinito poder, a influência virou a maré de minhas afeições, de modo que agora elas correm para cima para a fonte de onde surgiram, e ele não pode me impedir de voltar? Tem ele me guardado por muitos anos, como a sarça ardente, por assim dizer, com a chama de minhas corrupções, ainda não consumidas por ele, e qualquer coisa pode ser muito difícil para ele?
Estes argumentos são de fato de nenhum peso para a convicção de outros, mas para o cristão eles são uma fonte de forte convicção, e da mais rica consolação.
Mais do que qualquer outro, ele está habilitado a dizer: "Eu sei em quem tenho crido."
Além disso,
III. Esta persuasão é um forte apoio para ele em todas as suas provações,
Muitas são as dificuldades da guerra do cristão, mas a sua persuasão da capacidade de Deus para guardá-lo,
1 . O encoraja ao dever.
O caminho do dever é, por vezes, muito difícil e muitos já desmaiaram no mesmo, ou foram desviados dele. mas nós podemos ver nos jovens hebreus que a persuasão do poder de Deus terá efeito. Eles  enfrentaram a fornalha acesa, a partir da consideração que Deus poderia livrá-los, ou de lhes apoiar no meio dela, Dn 3.17,18. E, assim, todo cristão se encoraja em Deus, e se fortalece no Senhor e na força do seu poder.
2. O fortalece para a batalha.
Sob tentações de Satanás, ou da ocultação da face de Deus, o cristão mais experiente iria afundar, se ele não fosse amparado por esta esperança: "Eu teria desmaiado", diz Davi, "a menos que eu tivesse crido verdadeiramente em ver a bondade do Senhor na terra dos viventes." Mas o pensamento de que a graça de Cristo era suficiente para ele, transformaria todas as suas tristezas em alegria; ele iria repreender o espírito abatido, Sl 42.11, e voltar novamente para a batalha, sabendo que afinal, ele seria mais que vencedor por meio daquele que o amava.
3. Lhe capacita a suportar sofrimentos.
Muitos e grandes eram os sofrimentos de Paulo, no entanto, ele diz: "Porém em nada considero a minha vida preciosa para mim mesmo." Assim, cada cristão deve "passar por muitas tribulações no caminho para o reino," mas ele aprende, não somente a suportar, mas a se "gloriar na tribulação", porque lhe dá uma experiência mais ampla do poder e da graça de Deus, e, assim, confirma a sua esperança, que nunca deve envergonhá-lo.
4. Lhe assegura a vitória final.
Aqueles que não têm visões de Deus são deixados em doloroso suspense, mas aqueles que sabem em quem eles têm crido, são tão certos da vitória, como se todos os seus inimigos estivessem mortos a seus pés.
Vamos melhorar ainda mais o assunto,
1. Por convicção,
Todas as pessoas estão prontas a pensar que elas são dotadas da fé verdadeira e salvadora. Mas a fé não é um mero parecer favorável às verdades do Evangelho, ou até mesmo uma aprovação delas. Ela inclui três coisas: o confiar a alma a Cristo; uma persuasão de sua capacidade para nos salvar; e uma determinação para avançar na dependência dele, fazendo e sofrendo o que for a que sejamos chamados no caminho do dever.
Temos essa fé?
2. Para consolo.
Se houver alguém entre nós fraco e abatido, deixem-no voltar seus olhos para Deus como seu amigo Todo-Poderoso. Deixem-no saber que  “Ele é capaz para mantê-lo de pé"; "ele é capaz de fazer toda a graça abundar em direção a ele, para que, tendo sempre toda a suficiência em todas as coisas, abunde em toda boa obra.", 2 Cor 9.8. É o  próprio Deus que sugere à alma desmaiada estas mesmas considerações, e ele não exige nada, mas que esperemos nele, a fim de que possamos experimentar a sua verdade e eficácia.
"Ora, àquele que é poderoso para nos impedir de cair, e nos apresentar irrepreensíveis diante da presença de sua glória com júbilo, a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém."
Se este fosse o tema de um sermão fúnebre, as excelências do falecido poderiam ser aqui enumeradas, e os sobreviventes serão confortados pela consideração de que SEU GUARDADOR vive para sempre.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon, em domínio público.






4 - O Lavrador Discreto

“Isa 28:23 Inclinai os ouvidos e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso.
Isa 28:24 Porventura, lavra todo dia o lavrador, para semear? Ou todo dia sulca a sua terra e a esterroa?
Isa 28:25 Porventura, quando já tem nivelado a superfície, não lhe espalha o endro, não semeia o cominho, não lança nela o trigo em leiras, ou cevada, no devido lugar, ou a espelta, na margem?
Isa 28:26 Pois o seu Deus assim o instrui devidamente e o ensina.
Isa 28:27 Porque o endro não se trilha com instrumento de trilhar, nem sobre o cominho se passa roda de carro; mas com vara se sacode o endro, e o cominho, com pau.
Isa 28:28 Acaso, é esmiuçado o cereal? Não; o lavrador nem sempre o está debulhando, nem sempre está fazendo passar por cima dele a roda do seu carro e os seus cavalos.
Isa 28:29 Também isso procede do Senhor dos Exércitos; ele é maravilhoso em conselho e grande em sabedoria.”

O alvo dessas palavras é confortar os filhos de Deus nas suas aflições, e porque quando se está sob tais cruzes dolorosas, quando se está triste, enfraquecido, oprimido pela dor, então ficamos incapazes de receber instrução, a angústia do sofrimento destrói a nossa atenção, por isso, ele diz, por  quatro vezes em sequência:"Inclinai os ouvidos", “ouvi a minha voz”, "atendei bem” e “ouvi o meu discurso”, de onde se subentende: “preste muita atenção no que vou falar”.
Como se ele desejasse dizer: “Vocês devem ouvir por causa do mundo, da carne e do diabo e seus instrumentos, que têm levado você a se desviar; mas se você deseja ter paz e consolo, você deve ouvir esta palavra de Deus, porque esta é a sua voz, aquele que lhe ama e quer o seu bem, e que faz bem todas as coisas.
Então ele vem para consolo, de modo que ninguém se perdesse por causa das aflições de Deus. Isso ele demonstrou por uma comparação a partir de um agricultor, que quando tem semeado, nem sempre ara a terra, mas dará ao solo suficiente cultivo e adubação; e que semeará, cada semente na forma e medida adequada no tempo apropriado.  E então ele demonstrou que, quando Deus deu esta discrição aos lavradores, muito mais isto abunda nele, a quem em João 15.1 é chamado de agricultor; sim, ele é o melhor agricultor que conhece os tempos e as estações, quando deve começar e concluir o seu trabalho.
Então Deus é o mais sábio lavrador, que sabe quando e quanto deve nos afligir; quando começar e quando dar um fim à aflição, quando semear e como fazer frutificar.
Ele mostrou então o cuidado diferenciado do lavrador para com os diversos tipos de sementes, dando-lhes o tratamento correto especifico para cada uma delas, para não magoá-las com uma pressão além daquela que podem suportar, de modo a não ser perdido o seu trabalho.
Agora, ele conclui por este critério de sabedoria do agricultor, em favor do Senhor dos Exércitos, que é grande em sabedoria e maravilhoso em conselho.
Das palavras “Inclinai os ouvidos e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso.” Subentende-se que a única maneira de se achar calma e paz para os nossos corações em todas as angústias, é ouvir o que Deus diz.
Quando ouvimos a Deus não nos preocupamos mais do que precisamos nos preocupar, e não ficamos ansiosos por cousa alguma, conforme Ele nos tem ordenado.
Primeiro, porque a Palavra de Deus vai produzir a fé, que purifica o coração, vence o mundo, e apaga todos os dardos inflamados de Satanás.
Em segundo lugar, isto ensinará sabedoria à pessoa, para discernir de onde e por que a aflição lhe vem, e que lutar com Deus é em vão, e que ao fazê-lo, teremos o pior. A maior dor de nossas cruzes vem de paixões e fraquezas; porque se não colocarmos em nós mais cruzes do que as que Deus nos designa, tudo irá bem, mas se nos colocamos em outras coisas, a nossa própria impaciência, falsos temores, preocupações, e mentalidade carnal, farão com que esta boa purificação da providência do nosso Pai celestial, seja muito  amarga e pesada para nós. Devemos lutar por todos os meios contra isto, e fazer um bom uso da aflição, conforme Deus deseja que o façamos.
Em terceiro lugar, isto será uma forma de trabalhar a paciência no coração. Todas as Escrituras são escritas para trabalhar a paciência em nós, pois Deus deseja que sejamos submissos, mas nossos corações orgulhosos dificilmente podem ser conduzidos à submissão (mansidão e oibediência).
Este é o grande objetivo em tudo.
Em quarto lugar, se ouvirmos a Deus, isso nos fará ir a Deus e orar; e a oração trará conforto e facilidade para o coração se submeter, mas se ouvirmos a carne, mais nos afastaremos deste caminho e mergulharemos na miséria.
Deus , você sabe, nos convida a vir a ele , e diz: “Espere um pouco, e tudo estará bem”, ele virá voando com libertação quando for chegada a hora.
Assim, se alguém orar e esperar, terá o seu coração guardado rapidamente. O que diz o apóstolo sobre isto?
“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” (Fp 4.6,7).

NOTA: Este texto é uma releitura feita pelo Pr Silvio Dutra, com a tradução do original em inglês, da parte inicial de um sermão, em domínio público, de autoria de  Richard Sibbes.
De Sibbes é dito que tinha o céu estampado em sua face, e que antes de ter ido para o céu ele trouxe o céu à terra em sua própria vida. Assim, ao fazer esta releitura estamos procurando dar honra a quem é devido honra segundo a norma bíblica.







5 - “Eterna consolação". (2 Tes 2.16)

"Consolação." Há música na palavra: como a harpa de Davi, ela expulsa o espírito maligno de melancolia.
Foi uma honra distintiva para Barnabé ser chamado de "filho da consolação", ou melhor, é um dos nome mais ilustre do que Barnabé, pois o Senhor Jesus é "a consolação de Israel”. "Eterna consolação "- aqui está a nata de tudo, porque a eternidade de consolo é a coroa e a glória disto.
O que é esta "eterna consolação"? Ela inclui um senso de pecado perdoado. O cristão recebeu em seu coração o testemunho do Espírito de que suas iniquidades são afastadas como uma nuvem, e as suas transgressões, como uma nuvem espessa. Ser o pecado perdoado, não é uma eterna consolação?
Em seguida, o Senhor dá ao seu povo um sentimento permanente de aceitação em Cristo. O cristão sabe que Deus olha para ele como estando em união com Jesus. União com o Senhor ressuscitado é um consolo da ordem  mais permanente; isto é, de fato, eterno.
Deixe que a doença nos prostre, não temos vimos centenas de crentes tão felizes na fraqueza da doença, quanto eles teriam sido em pleno vigor?
Deixe que os dardos da morte nos perfurem o coração, nosso consolo não morre, porque não têm os nossos ouvidos ficado frequentemente cheios com as canções que ouvimos de santos que foram alegrados por causa do amor vivo de Deus que foi derramado em seus corações em seus momentos finais? Sim, um sentimento de aceitação no Amado é uma eterna consolação.
Além disso, o cristão tem a convicção de sua segurança. Deus prometeu salvar aqueles que confiam em Cristo, o cristão confia em Cristo, e ele crê que Deus será tão bom como sua Palavra, e irá salvá-lo. Ele sente que está salvo em virtude de sua união com a pessoa e a obra de Jesus.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







6 - Consolo para os Desesperados

Tradução, adaptação e redução do sermão de nº 1146 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.

"Eu disse na minha pressa: estou excluído da tua presença. Não obstante, ouviste a minha súplice voz, quando clamei por teu socorro." (Salmo 31.22)

Desejo falar neste momento com aqueles que estão muito deprimidos em espírito, os filhos do desânimo e as filhas do luto que habitam nos confins sombrios do desespero. Isto pode parecer  censurável que numa tão grande audiência eu dirija o meu discurso a uma classe comparativamente pequena, mas eu devo deixar isto à compaixão de vocês para que me desculpem. Não, eu acho que eu preciso fazer isso, mas devo apresentar  o meu pedido de desculpas em razão da natureza da minha vocação. Quando o pastor vem no início da manhã ao seu rebanho, não deve ter os olhos fixados apenas no doente, e ele precisa ser perdoado, se, por um tempo, ele dedica toda a sua habilidade e seu cuidado às ovelhas que precisam disto?
O cuidado do pastor para com todos do rebanho, é provado pelo seu interesse especial nos casos particulares que mais requeiram a sua ternura.
Eu sinto profundamente pelos que choram em Sião, e peço ao Senhor para operar pela Sua Palavra, através do meu ministério, para ser como o óleo de alegria para eles. Certamente podemos esperar a ajuda divina do Espírito Santo em nosso esforço para consolá-los, porque o ofício especial do Espírito Santo, sob a presente dispensação é o de ser "o Consolador", que  permanecerá conosco para sempre. Enquanto nós trazemos o azeite e o vinho do Espírito, podemos esperar que Ele irá derramá-lo nas feridas dos aflitos, pois este é seu ofício e seria blasfêmia imaginar que Ele irá negligenciá-lo. Ele conforta eficazmente de forma todo-suficiente e onipotente.
É nosso dever sagrado o de simpatizar com aqueles que estão sofrendo e falar com eles para o seu bem.

I. Note que há implícita no texto uma profunda e amarga tristeza interior. O homem que escreveu o versículo diante de nós estava triste em seu coração. Há muitas pessoas na mesma condição neste momento. Suas almas desmaiam com pesos e suas vidas são um fardo. Como eles vieram a ficar assim? Na verdade, existem muitas causas para a melancolia.Alguns têm o seu espírito constitucionalmente deprimido - sua música nunca pode alcançar as notas mais altas até que eles sejam ensinados a cantar o novo cântico em outro mundo. As janelas de sua casa são muito estreitas e não abrem para Jerusalém, mas em direção ao deserto. Algo está errado com sua estrutura corporal - as cordas se afrouxaram, e não podem sustentar o mastro - e o barco navega terrivelmente. Quando há um vazamento no barco, não é de se admirar que as águas venham até a alma.
Com os outros entristecidos a depressão começou através de uma grande prova. Como já ouvimos falar de alguns que seu cabelo ficou cinza em uma única noite por causa do sofrimento, e assim, sem dúvida, muitas almas entram em tristeza numa única hora de tentação. Um golpe feriu caule do lírio e  o fez murchar. Um toque de uma mão rude quebrou o vaso de cristal. Dias de sol ficaram sombreados no meio dos mais brilhantes dias de verão e uma manhã de alegria tem sido seguida por uma noite de lamentação. Em alguns casos, Deus sabe quantos  pecados secretos, não confessados ao Pai, têm gerado miséria. Pode ter havido presunção arbitrária, ou  orgulho de coração, ou descontentamento, ou rebelião interior contra a vontade de Deus. Pode ter havido negligência voluntária dos meios da graça, ou desprezo do valor da comunhão e alegria do Espírito Santo, e, portanto, o Senhor pode ter se escondido por um tempo em repreensão.
Ou pode ser que tenha havido uma gradual preocupação do espírito com vexações menores, longas, contínuas e cansativas, que têm abatido o coração, como o gotejamento constante que desgasta as pedras. Oposição incessante ou ser negligenciado por aqueles que amamos pode, enfim, fazer com que o espírito se renda. E quando isso acontece, a vida se torna uma escravidão. "O espírito de um homem o sustentará em sua enfermidade, mas o espírito abatido quem o pode suportar?" Eu também tenho conhecido um ministério imprudente que adiciona dores ao entristecido. Um ministério legalista vai fazer com que fique assim e, também, aqueles que ensinam que os homens devem olhar para o interior de si mesmos para acharem conforto - e criam uma experiência uniforme como o padrão para todo o povo de Deus.
As causas são diversas, mas o caso é sempre doloroso. Ó vocês que estão andando na luz, lidem cuidadosamente com seus irmãos e irmãs, cujos ossos estão quebrados, porque vocês também podem sofrer o mesmo! Disponham-se para consolar os enlutados do Senhor. Eles não são uma boa companhia e eles são muito aptos a torná-lo infeliz, bem como a si mesmos, mas por tudo isso, seja muito sensível em relação a eles, pois o Senhor Jesus tem agido assim com vocês. Lembre-se que Ezequiel pronuncia ais sobre o forte que rudemente empurra o mais fraco. Deus é muito zeloso de seus filhos pequenos, e se os membros mais vigorosos da família não são gentis com eles, Ele pode tirar a sua força e fazê-los, até mesmo, vir a invejar os mais pequenos, que uma vez eles desprezaram.
Vocês nunca errarão por serem sensíveis ao abatido. Disponham-se tanto quanto estiver em vocês a curar os quebrantados de coração e alegrar os fracos e vocês serão abençoados.
Se um homem é cristão, é muito natural que seus problemas assumam uma forma espiritual. As únicas sombras que podem efetivamente escurecer seu dia são aquelas que surgem de coisas sagradas. Os medos que lhe assombram não são os temores sobre seu pão de cada dia, mas os temores sobre o Pão da Vida e os temores quanto à sua entrada no Reino Eterno. A doença, pelo lado físico, é, no fundo, provavelmente, o mesmo tanto no cristão quanto no ímpio, mas, como seus principais pensamentos estão nas coisas divinas, você, em sua depressão, naturalmente se ocupa mais com os assuntos da sua alma.
Nessas ocasiões os espiritualmente aflitos estão cheios de apreensões horríveis. Agora, deixe-me perguntar-lhe, qual é a mais horrível apreensão que um cristão pode ter? Não será a do texto: "Estou cortado de diante dos teus olhos"? Nada aflige um cristão tanto quanto o medo de ser um náufrago de Deus. Você não deve encontrar qualquer cristão verdadeiro, em desespero, porque ele está se tornando pobre. Você não deve encontrá-lo prostrado porque os confortos mundanos lhe são retirados. Mas deixe seu Senhor esconder seu rosto e ele fica preocupado. Deixe-o duvidar de sua filiação e ele fica sobrecarregado. Deixe-o questionar seu interesse em Cristo e sua alegria foge. Deixe-o temer que a vida de Deus nunca esteve em sua alma e você o ouvirá lamentando como uma pomba.
Como ele pode viver sem o seu Deus? No entanto, essa tristeza amarga tem sido suportada não por poucos dos melhores homens. Se pode ser dito que apenas aqueles cristãos que andam distantes de Cristo, ou aqueles que são inconsistentes na vida, ou aqueles que pouco oram  que se sentem dessa forma, então, de fato, não haveria motivo para uma maior inquietação. Mas é um fato patente que alguns dos espíritos escolhidos entre os eleitos do Senhor passaram pelo Vale da Humilhação e até mesmo peregrinaram juntos ali por meses. Os santos que estão agora entre os mais brilhantes no céu, tinham, em seus dias, se sentado chorando às portas do desespero e pedindo as migalhas que os cachorrinhos comem debaixo da mesa do Mestre.
Leia sobre a vida de Martinho Lutero. Você poderia supor, a partir do que é comumente conhecido do reformador corajoso, que ele era um homem de ferro, inamovível e invulnerável. Assim, ele foi quando teve que lutar as batalhas de seu Mestre contra Roma. Mas em casa, em sua cama, e em seu quarto silencioso, ele era frequentemente objeto de lutas espirituais - como poucos já conheceram! Ele tinha tanta alegria em crer que, às vezes, ele era levado a uma grande exultação. Mas, em outras ocasiões ele afundava em profundezas e era difícil colocar isto acima de tudo. E isso aconteceu, também, mesmo em seus últimos momentos, de modo que a pior batalha de sua vida foi travada em cima desse país misterioso que se estende em direção aos portões da Cidade Celestial.
Não condene a si mesma, minha querida irmã. Não se afaste para longe, meu querido irmão, porque a sua fé suporta muitas lutas. O próprio Davi disse isto em sua pressa: "Estou cortado de diante dos teus olhos", ainda que Davi se sentasse no coro abençoado no céu! E mesmo aqui na terra ele era um homem segundo o coração de Deus. Há grandes benefícios para sair destas tentações e depressões severas. Há uma necessidade de que estejamos por um período em tribulações. Você não pode fazer grandes soldados sem guerra, ou treinar marinheiros hábeis em terra. Torna-se necessário que se um homem deve se tornar um grande crente, ele deve ser muito tentado. Se ele deve  ser um grande ajudador de outros, ele deve passar pelas tentações dos outros. Se ele deve ser muito instruído nas coisas do Reino, ele deve aprender pela experiência.
O diamante que não é lapidado tem pouco brilho. O milho que não foi moído não  alimenta ninguém por isso o professor não tentado é de pequena utilidade prática. Muitos têm um caminho relativamente suave ao longo da vida, mas a sua posição na Igreja, não é aquilo que o crente experiente ocupa, nem eles poderiam fazer seu trabalho entre os aflitos. O homem que é muito trabalhado e muitas vezes perturbado pode agradecer a Deus se o resultado é uma colheita maior para o louvor e glória de Deus por Jesus Cristo. O tempo deve ir com você, cujos rostos são cobertos com tristeza, quando vocês bendizerem a Deus por suas tristezas! Virá o dia em que você será confirmado por meio de suas perdas e cruzes, seus problemas e suas aflições, considerando felizes os que sofreram.

II. Eu não falarei mais nada sobre esse sofrimento interior, um punhado de ervas amargas é suficiente. Vou agora passar para  a expressão irrefletida do salmista de coração dolorido: "Eu disse na minha pressa.". Temos nos salmos outras situações em que Davi falou apressadamente. Ele teria feito melhor em ter mordido a língua. Podemos dizer, num dado momento, palavras que daríamos ao mundo para recordar. Oh, se alguns discursos irrefletidos pudessem não serem ditos! O preço seria muito caro para retirar o que disseram - indelicadezas, provocações, coisas cortantes para os homens - e os incrédulos, irritáveis, petulantes, palavras injuriosas para Deus. Melhor contar até 10 antes de falar, quando estamos em um estado de agitação da mente.
É um pecado comum para as pessoas cujos corações estão em cativeiro  permitir às suas línguas demasiada liberdade. Davi disse: "Estou cortado de diante dos teus olhos." E muitos não têm somente dito isso na pressa, mas continuaram a repeti-lo por um longo tempo, o que é muito pior. Alguns falaram desta forma por meses a fio, sim, e até mesmo alguns anos! Triste é que eles tenham feito isso, mas assim tem sido. Agora esse discurso irrefletido repousa totalmente em fundamentos suficientes. Por que um homem em desespero diz que Deus o lançou fora? Ele argumenta, em primeiro lugar, que as circunstâncias o demonstram. Ele está cercado com muita dificuldade e tribulação e, portanto, ele infere que Deus está zangado com ele.
Mas há alguma força nesse argumento? Você pode muito bem dizer que Deus havia rejeitado o seu próprio Filho amado quando Ele permitiu que Ele dissesse: "As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça." Você pode muito bem dizer que Deus tinha lançado fora os mártires quando Ele deixou que ficassem na prisão, ou por terem sofrido sendo queimados. Muitos dos mais queridos filhos do Senhor têm uma dura passagem para a Glória. Apesar de tudo, suas circunstâncias não são tão ruins como as de homens muito melhores. Seria muito injusto argumentar que você é, portanto, um náufrago. Isto não está escrito: "no mundo tereis aflições"? Vocês não sabem que a aflição é uma bênção da Aliança? Portanto, nenhum argumento derivado de circunstâncias vale a pena ser ouvido.
Mas outros argumentam com base nos seus sentimentos. Eles se sentem como se Deus lhes tivesse lançado fora. Pode haver algo mais incerto do que argumentar a partir dos nossos sentimentos? Eu poderia estar certo de que estou salvo para o céu hoje se eu julgasse por meus sentimentos. Amanhã pode ser tão certo que eu seria um réprobo, se eu julgasse pela mesma regra. Julgado por sentimentos mutáveis, alguém pode ser perdido e ser salvo uma dúzia de vezes por dia! O vento não mudará a sua direção mais periodicamente do que o estado atual de nossas emoções.  Você não sabe que muitas pessoas que estão cheias de sentimentos  de auto-confiança estão, no entanto, iludidas e enganadas? "Paz, paz, onde não há paz" é um grito muito comum. Essas pessoas se julgam por sentimentos, e consideram que são salvos para o Céu, mas suas vidas mostram o contrário. E, por outro lado, outros que se julgam sobreviventes, são verdadeiros cristãos.
Aplique estes fatos a seu próprio caso. Os sentimentos são um indicador muito incerto e errôneo, e não devem ser invocados. E para construir uma inferência tão terrível como a de se estar perdido em alguns sentimentos sombrios, ou mesmo num grande número deles, é absurdo até o último grau!
Encontrei certo dia, uma pessoa que insiste em que ela cometeu o pecado imperdoável. Agora, eu conheço tanto as Escrituras quanto tal pessoa, e,  no entanto, sobre o assunto do pecado imperdoável ele está plenamente informado e estou no escuro. Eu posso provar que, de acordo com as Escrituras, meu amigo desanimado não cometeu o pecado imperdoável. Mas ele sabe que cometeu e está tão certo disso como se ele pudesse prová-lo racionalmente. Ele se preocupa pouco com a prova bíblica, mas ele sempre diz repetidamente que  ele sabe, e está muito certo, e ninguém jamais o convencerá do contrário. Você pode muito bem argumentar com uma garrafa de vinagre, na esperança de transformá-la em vinho.
Agora, deixe-nos dizer que a declaração de que Deus nos abandonou, ou abandonou qualquer homem que o procura, é diametralmente oposta às Escrituras. Não há, em todas as páginas da Inspiração, um único texto que aconselhe qualquer homem a se desesperar quanto à misericórdia de Deus. Eu desafio o leitor mais diligente para encontrar uma única passagem bíblica em que qualquer alma que buscou crer, que não tenha havido misericórdia para ele. Vou até  mais longe e digo que não há uma só passagem da Escritura que autorize  qualquer pessoa a ficar em  desespero, não importa que possa ser uma forte passagem sobre eleição, ou uma terrível ameaça da ira divina contra o pecado! Não há nenhum texto, que autorize uma alma a dizer que não há misericórdia em Deus para ela.
Mais do que isso, não há um texto na Bíblia que dê uma justificativa para  qualquer homem ficar em desespero. Se Deus fosse aparecer e dizer ao desesperado: "Você se atreveu a duvidar da minha misericórdia, e se declarou estar finalmente perdido – traga-me uma só palavra do meu livro que possa servir de desculpa por ter dito isto" – um texto assim não poderia ser trazido. Na verdade, toda a Escritura condena a incredulidade. A fé é a Graça que a Escritura louva – e a fé nunca exorta os homens ao desespero. Ela está cheia de promessas para os maiores pecadores. Ela chega ao maior extremo da nossa necessidade e clama em amor generoso, "Ele é capaz de salvar perfeitamente os que vêm a Deus por ele." O Senhor Jesus declara: "Aquele que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora."
"Oh, mas ainda assim eu sei que não há nenhuma esperança para mim." Meu caro amigo, você não conhece nada sobre isto! Pensar desta maneira é um pesadelo horrível e não há verdade nele. Esta abençoada Escritura soa da cruz para você, como a música doce: "Vinde a mim todos vocês que estão cansados ​​e sobrecarregados, e eu vos aliviarei." Enquanto você respirar, a luz bendita da Graça ainda queima para iluminar a sua alegria! "O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado." E lembre-se, meu amigo desesperado, que a sua crença de que Deus o lançou fora é muito depreciativa para o próprio Deus. Você sabe o quanto Ele é misericordioso? Você vai pensar duramente dEle? Será que Ele não salva Manassés? Será que Ele não apaga os pecados de Saulo de Tarso?
Será que Ele não declarou: "Por minha vida, diz o Senhor, não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim, que ele se converta a mim e viva"? Você vai pegar a caneta da mão da Misericórdia e escrever a sua própria sentença de morte com ela? Por ser tão imprudente, você vai desonrar a Deus, em vez de receber a salvação através de Jesus Cristo? Por que você insensatamente cede ao desespero? Você não sabe o quanto você entristece o Espírito de Deus, e quanto, infelizmente, você desonra a Jesus? Nenhuma de todas as dores que Ele carregou sobre Si no Calvário daquele jeito pode ser comparada ao pensamento cruel e mesquinho que ele não está disposto a perdoar.

III. Em terceiro lugar consideremos o tópico interessante do clamor suplicante. Quando Davi temeu que ele fosse cortado de Deus, ele foi sábio o suficiente para clamar. Ele orou e clamou com uma palavra muito significativa. O choro é a linguagem da dor, a dor não pode ser obstruída com letras e sílabas e palavras. O choro traz grande alívio ao sofrimento.
Os olhos vermelhos muitas vezes aliviam corações quebrados. A loucura tem sido prevenida por se encontrar respiro para a alma. A oração é o sopro mais seguro e mais abençoado para a alma. Na oração o coração flui, como os olhos quando choram. Orar é tão simples como chorar. Eu não me lembro de ter visto na minha vida uma fórmula de chorar para uma mulher enlutada, uma fórmula para um bebê quando chora por estar com fome, e outra para uma criança chorar quando ela é colocada num lugar escuro.
Não, não! As fórmulas estão fora de questão quando choramos. Os homens e as mulheres e crianças, quando em apuros - clamam sem um livro. E assim, quando um homem realmente precisa do Salvador, ele não necessita de uma fórmula ou de um livro de orações. Nunca diga: "Oh, eu não posso orar!" Meu caro amigo, você pode chorar? Você precisa ser salvo - diga isto ao Senhor. Se você não pode dizer isso em palavras, diga com suas lágrimas, seus gemidos, seus suspiros, seus soluços.
Nenhuma criança precisa ser educada em grego e latim, a fim de saber como chorar. Nem é o aprendizado necessário para a oração eficaz. Deus ensina a todos os seus pequeninos a orarem assim que eles nascem de novo do Espírito. Nenhuma criança deixa de chorar porque está escuro. E você está no escuridão e em terrível dúvida e dificuldade? Então chore alto, meu caro amigo, chore alto, chore alto! Seu Pai vai ouvir e livrá-lo!
Há uma corda na natureza humana que responde ao choro de uma criança e há algo na natureza divina, que é igualmente tocado pela oração.
Davi pensou que o Senhor o tinha expulsado, e ele não clamou a ninguém mais. Ele achava que se Deus não o ajudasse, ninguém mais poderia. É importante observar que ele clamou ao Senhor, mesmo que ele se achasse cortado da esperança. "Estou cortado de diante dos teus olhos", ele disse, mas clamou a Deus!
Quanto maior for o desespero da alma, mais você deve orar e, então tudo estará bem com você. O salmista clamou a Deus a respeito de quem ele havia entretido incrédulos pensamentos. Clame você também, você que pensa que tem sido reprovado por Deus. Sua fé, se você tiver alguma, é como uma faísca latente num pavio que fumega. No entanto, ore! Eu estava prestes a dizer, quando sua fé parece morta, clame, "Senhor permita-me acreditar. Eu sou um pobre, morto, perdido, arruinado, pecador, mas tenha piedade de minha miséria."

IV. Este é o meu último ponto, o resultado alegre. Esta pobre alma em desespero continuava a clamar e o Senhor o ouviu. "Você ouviu a voz da minha súplica, quando clamei a ti." Esta bênção foi além da promessa. A promessa é que Deus ouve a oração da fé, mas o Senhor em misericórdia vai além de suas promessas, tal é a Soberania Infinita da Sua graça que Ele atende, ainda, aos incrédulos, e quando eles estão clamando em sua incredulidade Ele lhes dá fé e salva suas almas.
Agora, se isso não é garantido na promessa, todavia a ação é bastante coerente com o caráter divino. Na verdade, é como o Deus cujo nome é Amor por ouvir os clamores dos miseráveis! Somos como crianças perdidas na floresta, todas arranhadas pelos espinhos, cansadas de estarem perdidas e prestes a morrer de fome e frio. Tudo o que podemos fazer é chorar e Deus vai nos deixar morrer no escuro? Ah, não acredito! Não deixe o diabo te fazer acreditar, que Deus vai te ouvir chorar e ainda não enviará a tua ajuda! Eu nunca vou acreditar de Deus, o que eu não acreditaria do homem! Eu não posso desonrá-lo assim!
Deus lhe ensinou a chorar e Ele vai certamente responder às suas orações.
Não há honra para Cristo em lavar os pecadores que têm apenas algumas manchas claras sobre eles, isto se existem tais pessoas. Mas, ó tu, sujo e completamente poluído pecador, sua lavagem e limpeza irá trazer renome imortal a Ele!
Você não percebe que a maldade do seu caso, lhe dá uma oportunidade gloriosa para glorificar a Cristo por uma fé maior do que a dos outros homens.
Se você está nas trevas, a única luz para você é o Sol da Justiça. Se você está perdido, a única ajuda para você está em Jesus, o Senhor. Se você deseja ver o Salvador, onde a Sua luz é mais brilhante e mais clara e a Sua salvação, pense na Sua cruz! Olhe para aquelas queridas mãos e pés, e o seu lado sangrando com aqueles ferimentos que são janelas de esperança para os prisioneiros do desespero!
Não há esperança para você, quem quer que você seja, exceto em Jesus! Olhe para a Sua cabeça coroada de espinhos e Seu rosto mais transfigurado do que o de qualquer homem! Olhe para seu corpo emagrecido, e o corte da lança no seu lado! Olhe para Ele na agonia da morte, com vergonha e desprezo sobre Ele! Olhe até você ouvi-lo clamar: "Está consumado!" antes que Ele renda o espírito - e eu oro para que você creia que está consumado, de modo que não há nada para você fazer, uma vez que tudo está feito. Tudo o que é necessário para torná-lo agradável a Deus está plenamente realizado, não há nada para você fazer, mas para aceitar o que Cristo consumou.
Venha, você desesperado! O Senhor lhe ajude a vir e a encontrar a paz, nesta hora, por meio de Jesus Cristo seu Senhor. Amém.

Porção das Escrituras lida antes do sermão - Salmo 31.





7 - Consolo e Conforto

O consolo que Deus nos dá vai muito além do simples apoio moral quando estamos tristes e abatidos, pois é plenamente eficaz não somente renovando nossa esperança, fornecendo-nos alívio e paz reais, e suprindo nossas necessidades tanto materiais, quanto espirituais.
O maior de todos os consolos Ele já nos tem suprido ao nos ter dado a Jesus para ser o nosso Salvador e o Espírito Santo para ser o nosso Consolador.
Mas podemos contar com as suas consolações em meio a todas as tribulações que tivermos que enfrentar neste mundo, pois nos tem prometido livrar-nos de todo estado de aflição de alma se tão somente clamarmos pelo Seu nome.
É interessante observar que a mesma palavra hebraica nacham no texto do Velho Testamento, tanto é usada para confortar, quanto para se arrepender, e podemos entender com isto que há no ato de confortar uma mudança de direção, notadamente no que se refere a Deus, pois, ao nos confortar, Ele se desvia dos juízos que intentava ou que estava trazendo sobre nós por causa dos nossos pecados.
Sentíamos tristeza pela correção de Deus, mas quando nos arrependemos e nos humilhamos sob a Sua potente mão, Ele remove a aflição e nos conforta, como um pai que volta a afagar o filho depois de tê-lo corrigido.
Deus sempre consolará aqueles que se entristecerem e chorarem por causa do pecado, como vemos Jesus afirmando no Sermão do Monte que bem-aventurados são os que choram porque serão consolados.
Jesus é o consolador por excelência porque ninguém sofreu mais do que Ele a dor sob o ataque tanto de pecadores quanto dos espíritos das trevas, em sua humilhação neste mundo. Então pode socorrer com eficácia os que sofrem, sabendo por experiência própria o quanto necessitamos de conforto, assim como Ele também foi confortado pelo Pai e pelos anjos em seus sofrimentos.
Nós também aprendemos a ser consoladores de outros quando passamos pelas experiências de sofrimento acompanhadas das consolações que nós mesmos recebemos da parte de Deus.
Em Jesus aprendemos a ter um espirito de simpatia e compaixão pelos que sofrem, especialmente quando estes estão sofrendo por causa do seu amor ao evangelho.
Assim como são muitas as aflições que sofremos neste mundo de igual modo abundam as consolações que recebemos da parte de Deus para que não fiquemos paralisados e desanimados.
Bendito seja o seu grande nome pois não nos deixa desamparados em nossos sofrimentos, e nem sem correção quando dela necessitamos, pois somos corrigidos para sermos participantes da sua santidade.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras
1 – parakaleo (grego) – consolar, confortar, exortar, rogar;
2 – nacham (hebraico) – consolar, confortar, arrepender-se; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128422







8 - A Minha Consolação na Aflição

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"O que me consola na minha aflição é isto: que a Tua Palavra me vivifica." (Salmo 119.50)

É quase desnecessário dizer que, em alguns aspectos, os mesmos eventos acontecem a todos os homens igualmente - em matéria de aflições isto é certamente assim. Nenhum de nós pode esperar escapar da tribulação. Se você é ímpio, "muitas dores virão para os ímpios." Se você é piedoso, "muitas são as aflições do justo." Se você andar nos caminhos da santidade, você encontrará obstáculos lançados no caminho pelo inimigo. Se você andar nos caminhos da injustiça, você será apanhado em armadilhas e segurado lá até a morte. Não há como escapar de problemas! Nós nascemos para isso, como as faíscas voam para cima.
Quando nascemos de novo do Espírito, nós herdamos inúmeras misericórdias, porém temos certamente nascido para um outro conjunto de problemas, porque entraremos em tribulações espirituais, conflitos espirituais, dores espirituais e assim por diante, e, portanto, temos um conjunto duplo de angústias, bem como de mercês duplas.
Quem escreveu este Salmo 119 era um bom homem, mas certamente era um homem aflito. Muitas vezes Davi teve tristeza e muita tristeza. O homem segundo o coração de Deus foi um dos que sentiu a mão do próprio Deus em castigo. Davi era um rei e, por isso, seria tolice de nossa parte supor que os homens que são mais ricos e superiores a nós, são mais blindados para a aflição – mas muito ao contrário. Quanto mais no alto da montanha, mais turbulentos os ventos.
 Grandeza, proeminência, popularidade, nobreza, realeza não trazem alívio de tribulações, mas sim um aumento das mesmas.
Filho de Deus, lembre-se que nem bondade nem grandeza pode livrá-lo da aflição! Você tem que enfrentá-la, qualquer que seja sua posição na vida, portanto, enfrente-a com coragem destemida e extraia uma vitória dela.
No entanto, mesmo se você enfrentá-la, você não vai escapar dela. Mesmo se você clamar a Deus para ajudá-lo, ele irá ajudá-lo através do problema, mas Ele provavelmente não vai afastá-lo de você. Ele te livrará do mal, mas ainda pode levá-lo à provação. Ele prometeu que vai livrá-lo em seis problemas e que em sete não haverá nenhum toque do mal em você, mas Ele não promete que seis ou sete provações devem ser mantidas longe de você. Um semelhante ao Filho de Deus estava com os três amigos de Daniel, mas não para extinguir o fogo da fornalha, ou para impedir de serem lançados nela." Eu estou com você, Israel, ao passar pelo fogo", pode muito bem descrever a garantia da Aliança.
Que possamos experimentar o fogo se só assim podemos perceber a Presença Divina! Alegremente podemos aceitar o forno se podemos encontrar a companhia do Filho de Deus com a gente lá.
"Eu vi o quão feliz você estava, caro amigo, quando se encontrava em apuros. Eu te vi doente em outro dia e notei a sua paciência. Eu sabia que você foi caluniado e eu vi como você estava calmo. Você pode me dizer por que estava tão calmo e controlado?" É uma coisa muito venturosa se o cristão pode responder a essa pergunta totalmente. Eu gostaria de vê-lo pronto para dar uma razão para a esperança que está nele com mansidão e temor, dizendo: "Esta é a minha consolação na minha angústia." Eu quero que você, se você tem experimentado o conforto de Deus, que você possa passá-lo para um amigo! Que você possa dizer aos outros o que é, para que eles possam provar a consolação com que Deus o consolou. Esteja pronto para explicar aos jovens iniciantes - "Esta é a minha consolação na minha angústia."
Esse conforto vem de uma FONTE PECULIAR "Este é o meu conforto, porque a Tua Palavra me vivifica." O conforto, então, é em parte externo, vem da Palavra de Deus, mas é, principalmente, e eminentemente interior, pois é a Palavra de Deus a experiência necessária como o seu poder de vivificação dentro da alma.
Se é a Palavra de Deus que conforta, por que procurar em outro lugar em busca de consolo, senão na Palavra de Deus?
Todas as cisternas secam - somente a fonte permanece. Da próxima vez que você estiver com problemas, chegue até a Bíblia. Diga para a sua alma: "Alma, aquieta-te e ouça o que Deus, o Senhor vai falar, pois Ele falará de paz ao seu povo."
Agora para a parte interna da sua consolação. "Esta é a minha consolação na minha aflição, porque a Tua Palavra me vivifica." Oh, não é a letra, mas o Espírito Santo, que é o nosso verdadeiro conforto! Nós não olhamos para esse livro, que consiste de tanto papel e tanta tinta, mas com o testemunho de vida dentro do livro! O Espírito Santo incorpora Si mesmo nestas palavras abençoadas de Deus e trabalha em nossos corações a fim de que sejamos vivificados pela Palavra! É isso que é o verdadeiro conforto da alma.
Irmãos e irmãs, é uma coisa muito estranha que quando Deus quer fazer uma coisa, Ele sempre faz outra. Quando Ele quer nos confortar, o que ele faz? Ele nos conforta? Sim, e não. Ele nos vivifica e assim Ele nos conforta. Às vezes, a forma indireta é o caminho em linha reta. Deus não dá o conforto que pedimos por um ato distinto, mas Ele nos vivifica e assim obtemos conforto.
Então, queridos amigos, o seu conforto e o meu é a Palavra de Deus, aplicada por Deus, o Espírito Santo, em nossos corações, vivificando-nos para um aumento da vida espiritual! Não tente fugir de suas provações. Não se preocupe sob seus cuidados. Não espere que este mundo possa trazer rosas sem espinhos. Não espere evitar a eclosão de espinhos e cardos. Peça vivificação! Peça para que a vivificação venha, não por novas revelações, nem pela excitação fanática, mas pela própria Palavra de Deus aplicada em silêncio pelo Seu próprio Espírito! Então, você deve vencer todas aos suas tribulações, superar suas dificuldades e entrar no céu cantando aleluias à mão direita do Senhor e do santo braço que lhe tem dado a  vitória!








9 - A Compaixão do Senhor, o Conforto dos Aflitos

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Eis que temos por bem-aventurados os que perseveraram firmes. Ouvistes da paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.” (Tiago 5.11)

Nós somos muito aptos a entreter pensamentos rígidos a respeito de Deus. O ateísmo horrível da nossa natureza terrena continuamente decaída pelo pecado, contende com o Altíssimo e, quando estamos sob Sua mão afligidora e as coisas se tornam uma cruz para a nossa vontade, o mal da nossa natureza torna-se tristemente evidente. Quando muito aflitos, estamos muito inclinados a pensar e a falar como não deveríamos, sobre o Altíssimo.
Nunca nos esqueçamos de que nossos discursos duros foram todos falsos discursos e que as nossas suspeitas de nosso Deus sempre foram calúnias sobre ele. Quando não temos pensado e falado bem do Seu nome, temos pensado e falado errado!
Ao fazermos um levantamento de toda a nossa vida, veremos que a bondade e misericórdia de Deus nos seguiram todos os nossos dias, sempre nos perseguindo, mesmo quando temos perversamente fugido delas.
Mesmo os nossos males aparentes têm sido verdadeiras bênçãos. Eu não sei se bendigo mais a Deus por minhas tristezas ou por minhas alegrias. A melhor peça de mobiliário que eu já tive na minha casa é a cruz da aflição! A adversidade é o campo mais rico em toda a fazenda da vida. Nós nunca temos feito uma maior colheita de qualquer semente, senão daquela que caiu de nossas mãos enquanto as lágrimas caíam dos nossos olhos. Quando saímos chorando, semeando a preciosa semente, temos invariavelmente voltado, mais uma vez, cheios de júbilo, trazendo os feixes conosco!
Oh Sofredor, quando sua cama endureceu sob você e sua dor foi muito grande, pode ser que seus gemidos e reclamações não foram completamente aqueles de tristeza, mas uma medida de rebelião se misturou a eles! Por isso ficou envergonhado e confundido! Confesse essas rebeliões! Reconheça que seus pensamentos duros foram todos fundados em erro e peça a graça de estar sempre em harmonia com o seu Senhor.
"O Senhor é cheio de misericórdia e compassivo." O que quer que possa ser ou não ser, o Senhor deve ser bom! Defina o seu selo para com a Verdade de Deus. Levante a cabeça e sua mão como quem pode falar bem de seu nome e dizer: "Bendirei o Senhor em todos os momentos! Seu louvor estará continuamente na minha boca!"
Que cada homem restaurado possa dizer: "Ele cura todas as minhas enfermidades". Que cada um tente agora dizer: "Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas."
Nós nada temos realmente para reclamar - até mesmo nossas decepções ainda serão causas de louvor! Oh, que o Espírito de Deus agora faça-nos sábios para evitar tais erros precipitados no futuro e nos ensine a conhecer o Senhor tão bem que possamos a partir de agora estar em paz com Ele!
Note-se que quando Tiago está nos exortando à plena confiança em Deus na hora da provação, ele nos dá uma instância instrutiva. Ele cita a história de Jó.
"Tome, meus irmãos, os profetas, que falaram em nome do Senhor, para ver um exemplo de paciência no sofrimento e na aflição... Você já ouviu falar da paciência de Jó".
Observe que, quando este apóstolo apresenta Jó é com o objetivo de apontar a misericórdia de Deus em seu caso. Ele começa dizendo: "Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram." A compaixão e a misericórdia de Deus podem ser vistas na felicidade daqueles que são chamados a sofrer.
Bem-aventurados os que são considerados dignos de sofrer por amor de Cristo.
Como pode uma vida nobre ser edificada, se não há nenhuma dificuldade para vencer, nenhum sofrimento para suportar com paciência?
Quando olhamos para o fim da aflição, quando vemos todos os seus frutos pacíficos de justiça, quando marcamos o que ela corrige e observamos o que ela produz, julgamos que não é nenhuma bênção pequena! Feliz é o homem que foi habilitado a perseverar! Ele se levanta das profundezas da miséria como uma pérola rica do mar, rica além de toda comparação. Ele ganhou mais do que perdeu, apesar de ter perdido tudo, se ele ganhou o contentamento, a conformidade com a vontade de Deus, uma experiência profunda e uma esperança mais segura.
Nós nunca chegamos tão perto da fonte de toda a consolação celestial, como quando o conforto terrestre é removido para longe.
Está escrito: "Bem-aventurado é aquele que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor." Assim você vê como a tristeza nos obriga à confiança que faz com que sejamos abençoados, porque se diz que são “bem-aventurados os que sofreram."
A tristeza santificada é uma geada afiada que mata os germes da doença espiritual. Nossas dores, como uma tempestade de granizo, rompem os brotos dos ramos do pecado, para que eles não produzam o fruto maldito de transgressão real! Quanto devemos à faca que corta o cancro e a gangrena!
Vamos bendizer a Deus porque, embora, antes estivéssemos afligidos, mas agora, pelos processos de santificação de Sua providência e da graça, nós aprendemos a guardar a Sua Palavra!
Além disso, a aflição é enviada com vistas à Graça. Nossas graças repousam adormecidas dentro de nós, como soldados adormecidos até que a aflição bata o tambor terrível e as desperte.
Você considera-se rico, mas no fogo o seu ouro é provado. Você acha que sua casa é bem construída, mas as chamas revelam a madeira, o feno e a palha. Portanto, bem-aventurados os que sofrem porque eles são menos propensos a ser enganados. Deus seja louvado pela descoberta de nossas graças, porque assim a aflição torna-se uma bênção sem disfarce.
Amados, vocês não devem esquecer que "o fim do Senhor" ao enviar a provação ao seu povo é sempre o de dar-lhes maior felicidade como o resultado da mesma.
Ele irá restaurar a sua alma, mesmo nesta vida e dar-lhe alegria e descanso de sua tristeza!
Quanto à vida futura, os sofrimentos do tempo presente são, no máximo, uma mera picada de alfinete, ao contrastá-los com a alegria eterna! O que devemos pensar desses inconvenientes temporários quando alcançarmos a felicidade eterna?







10 - A Busca de Consolação

Todas as pessoas buscam naturalmente por consolação.
Consequentemente, a melhor e mais útil parte da  psicologia  consiste na prescrição de meios para confortar e apoiar as suas mentes contra coisas nocivas e dolorosas para a sua  natureza,  com as tristezas que resultam disso.
Assim,  não  há  qualquer  coisa mais útil neste mundo que descobrir qualquer consideração  racional que possa acalmar as tristezas ou aliviar as mentes dos  que estão desconsolados, porque as coisas que são realmente dolorosas para a maioria do gênero humano excedem toda real satisfação que este mundo possa proporcionar.
Mas quais são as  fontes da consolação racional? Qual é o tipo de  refrigério que ela pode gerar para os aflitos?
E como tudo isso pode ser comparado a este privilégio dos cristãos na provisão que é trazida sobrenaturalmente a eles pelo Espírito?
Este é um alívio que nunca penetrou no coração do homem quanto  a pensar nisto ou concebê-lo.
Nem pode ser entendido por  alguém  a não ser somente por aqueles por quem é desfrutado, porque o mundo, como testificou nosso Salvador, não conhece o Espírito e  nem mesmo pode recebê-lo; e então, para os que  são  do  mundo,  este trabalho do Espírito é considerado como uma fantasia ou um sonho dos cristãos.
Mas aqueles que são participantes  deste privilégio sabem em alguma medida o que eles desfrutam, embora eles não possam compreender isto em toda a sua extensão, nem avaliá-lo da  maneira devida, porque como pode o coração do homem,  ou nossa  pobre  e fraca compreensão conceber completamente este  mistério  glorioso do envio do Espírito Santo para ser um Consolador?
Então o que é falado deste trabalho do Espírito somente  aqueles que o recebem por fé, podem ter experiência disto em  seus  efeitos, e ainda, se permanecerem na fé, porque sem o exercício da fé não é possível se experimentar e receber a consolação.
A consolação não é o primeiro trabalho do Espírito Santo nas almas dos homens.
A regeneração e  a  santificação  sempre precedem a consolação.
Se os homens não são santificados primeiro  pelo Espírito,  eles nunca poderão ser confortados por Ele, porque esta consolação se refere principalmente aos ataques que são recebidos dos espíritos das trevas, pelo empenho na obra do evangelho.







11 - Um Consolador Paciente, Incansável e Amoroso

Nós lemos no texto de Is 57.19 o seguinte:

"Eu crio os frutos dos lábios: paz, paz,  para  o que está longe; e para o que está perto, diz o Senhor, e eu o sararei.".

Este é o método do Espírito Santo ao administrar consolação.
E sem este método nenhuma alma seria refrigerada  espiritualmente debaixo dos seus abatimentos, porque nós somos dados a  transgressões, ainda que sob o  trabalho do Espírito Santo por nós.
Mas Ele é um Consolador incansável, paciente, amoroso e perseverará até que sejamos sarados.
Somente amor e compaixão infinitos, trabalhando em  paciência  e longanimidade, podem continuar isto até a perfeição.
Sejamos  gratos ao Espírito Santo de todo o nosso coração por um tal trabalho de amor por pecadores imperfeitos como nós.
Mas se nós não somente somos transgressores em ocasiões e  tentações particulares, enquanto ficamos com  nossa visão presente nublada quanto ao trabalho do Espírito Santo, mas também somos habitualmente descuidados e negligentes sobre isto, e nunca  trabalhamos para ser achados numa condição adequada e satisfatória perante Deus, mas permanecemos indefinidamente em nosso mau procedimento até o ponto disto se tornar um vício e ficando  endurecidos em incredulidade, com um coração ingrato e  impuro,  é  certo que Deus não pode se agradar de uma tal condição.
Por isso  somos exortados a sermos cuidadosos em não entristecer o  Espírito  (Ef 4.30).
Mas nisto também se comprova o amor do Espírito  por  nós, porque somente aqueles que nos amam ficam  entristecidos  com  as nossas faltas.
Aqueles que não nos amam ficam  simplesmente  irados ou contrariados.
Um professor severo pode ser mais provocado com a  falta  do  seu aluno do que  o pai dele, mas o pai fica  entristecido  com  isto enquanto o professor não.
Então, considerando que o Espírito Santo fica entristecido conosco porque nos ama como um pai a seu filho, nós devemos nos acautelar em não entristecê-lo,  aprendendo com que amor e compaixão ele executa o Seu trabalho em nós e para nós.
Esta é a razão da promessa de Deus de consolar apenas  aqueles que choram, porque são estes que se entristecem com o fato de saberem que o Espírito fica triste com os seus pecados  e  transgressões.
E esta nossa tristeza pelo pecado, assim como a do Espírito, comprova em certa medida que de fato também  nós  amamos  a Deus.
E é nesta condição que a cura é prometida por Deus a nós.







12 - Não Recusar o Consolo Disponível

Problemas os temos aqui neste mundo, de sobra.
Mas poderemos contar muito mais dias de alegria do que de amargura e de tristeza.
Importante é não rejeitarmos o consolo eficaz que Jesus deseja nos dar, conforme podemos ver no exemplo do modo como ele lidou com as irmãs de Lázaro, antes de ressuscitá-lo.
Quando Jesus chegou em Betânia, o corpo de Lázaro se encontrava sepultado há quatro dias.
Sabendo que Ele havia chegado Marta se apressou em se encontrar com Ele, antes mesmo de entrar na aldeia onde ela morava.
Ali, ainda longe da sua casa onde as pessoas estavam ainda enlutadas pela morte de seu irmão, juntamente com sua irmã Maria, teve uma breve entrevista com Jesus e lhe disse que caso Ele estivesse presente, Lázaro não teria morrido; e que sabia que tudo que Jesus pedisse a Deus Ele lhe concederia.
Diante desta afirmação de fé, que ela certamente recebeu do alto, na convicção de que Jesus faria algo extraordinário, mas não cogitou tanto a ponto de que Ele iria ressuscitar seu irmão ainda naquele dia, porque quando Jesus lhe disse que Lázaro haveria de ressuscitar, ela afirmou que sabia que isto aconteceria na ressurreição do último dia, conforme está prometido a todos os cristãos que morrem no Senhor, de terem seus corpos ressuscitados no dia do arrebatamento da Igreja.
Ela havia dito uma verdade, e Jesus comprovaria esta verdade ressuscitando Lázaro, para mostrar que Ele tem de fato o poder de trazer os corpos que morreram de novo à vida.
Assim, disse a Marta que de fato, Ele é a ressurreição e a vida, e que aquele que nEle crê, ainda que esteja morto, viverá, e que todo aquele que vive, e que creia nEle, nunca morrerá.
Em seguida perguntou a Marta se ela cria nisto.
Ela respondeu sabiamente dizendo que cria que Ele é o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo.
Com esta sua declaração ela fez uma afirmação de fé de que tudo é possível ao Senhor, porque nada é impossível para o Messias, para o Filho de Deus que deveria vir ao mundo para restaurar todas as coisas.
Jesus queria falar também separadamente com Maria, e por isso permaneceu no lugar onde se encontrava, fora da aldeia, e pediu a Marta que chamasse Maria em segredo para vir ter com Ele.
Maria se apressou em ir ter com o Senhor, mas muitos que estavam na casa pensando que ela iria para o local do túmulo de Lázaro para chorar, saíram logo depois dela para confortá-la.
Quando Maria chegou ao lugar onde Jesus estava lançou-se aos seus pés dizendo que caso ele estivesse com eles, Lázaro não teria morrido.
Ela conhecia a virtude sobrenatural que Jesus possuía para curar toda sorte de enfermidades, e fez esta límpida declaração de fé, da plena confiança que ela tinha no Seu poder.
Não é de se estranhar porque é dito que Jesus amava aquela família.
O Senhor ama de um modo especial a todos que têm esta qualidade de fé na Sua pessoa, como a que Marta e Maria haviam demonstrado, e que certamente era o mesmo tipo de fé que habitava em Lázaro.
Eles honravam a Jesus com a sua fé, e não foi por acaso que Deus escolheu aquela família para também honrar a fé deles com o milagre da ressurreição de Lázaro.
Nós vemos então o Senhor compartilhando privadamente o que faria àquelas duas gigantes da fé.
Uma grande fé será também grandemente honrada pelo Senhor.
Ele nos fará saber disto de maneira íntima falando ao recôndito dos nossos corações.
O Senhor nos separará do meio da multidão e nos consolará em particular.
Ainda que saiba que expulsará os nossos problemas para bem longe de nós, Ele primeiro nos fortalecerá e consolará, para que saibamos que tudo quanto necessitamos é da força da Sua graça.








13 - Uma Palavra de Conforto

Que sejamos, nas mãos de Deus, instrumento de consolação, para aqueles que necessitam de conforto.
E que esta consolação não seja apenas de palavras de apoio e de conforto, mas acompanhadas pelo poder operante do Espírito Santo nas mentes e nos corações.
Não uma consolação passageira, que tal como a nuvem agora é, e de repente não mais existe, mas com a única consolação que é efetiva e duradoura, que é achada no próprio Senhor Jesus Cristo, juntamente com o testemunho das Escrituras, como vemos, por exemplo, em textos como o de Romanos 15.4:

“Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.”
 
Veja que se diz do que foi escrito desde há muito tempo para o nosso ensino, ou seja, esta verdade não é algo novo, inventado pela imaginação dos homens.
E também se diz que tem o propósito de acharmos a paciência e a consolação destas Escrituras Sagradas, para que tenhamos esperança.
Na Bíblia encontramos tudo o que é necessário para fortalecer o coração que se encontra abatido, pois ali achamos o registro dos grandes feitos miraculosos de Deus, a revelação da Sua misericórdia e dos Seus juízos.
Quando vemos quão grande, poderoso e amoroso é o Deus que servimos, então achamos paz e descanso para as nossas mentes e corações.

No texto de II Tessalonicenses 2.16 lemos que é o próprio Deus quem nos deu uma consolação eterna e uma boa esperança, pela graça.

“Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça,” (II Tes 2.16)

Veja querido leitor que não é nenhum anjo ou homem que nos dá tal consolação e esperança, senão o próprio Deus.
É achando a Cristo, convertendo-se a Ele, e andando com Ele pela obediência aos Seus mandamentos conforme estão revelados na Bíblia, que se acha também a verdadeira consolação e esperança não somente para os momentos difíceis de nossas vidas, mas para todas as horas e para a eternidade.
Veja que o texto de II Tes 2.16 diz eterna consolação.
E uma tal consolação só pode ser achada num Consolador Eterno, a saber, em Deus mesmo.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo, o grande e primeiro Consolador que nos foi dado por Deus Pai, enviou-nos outro Consolador depois que subiu ressuscitado ao céu, e este outro Consolador é o Espírito Santo.
Assim, os que estão se sentindo fracos e abatidos, que possam ter suas forças renovadas, fortificando-se na graça que está em nosso Senhor Jesus Cristo.
Que clamem a Deus nas horas de aflição, para que achem o conforto e a força, que procedem dEle.
É possível louvar ao Senhor e estar alegre em meio às aflições, porque o poder do Espírito Santo nos concede tal graça, para a glória e louvor de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso a tão grande bênção.











27) CONTENDAS E DIVISÕES

ÍNDICE

1 - “Evite Questões Tolas." (Tito 3.9)
2 - “Evita discussões insensatas” - Tito 3:9
3 - CISMA
4 - Os Que Causam Divisão no Corpo de Cristo


1 - “Evite Questões Tolas." (Tito 3.9)

Nossos dias são poucos, e são muito melhor gastos em fazer o bem, do que em disputas sobre assuntos que são, na melhor das hipóteses, de menor importância.
Os velhos escolásticos fizeram um mundo de discórdias pela sua incessante discussão de assuntos de nenhuma importância prática, e as nossas Igrejas sofrem muito com guerras mesquinhas sobre pontos obscuros e questões sem importância.
Depois de tudo o que foi dito que poderia ser dito, nenhuma das partes é a mais sábia, e, portanto, a discussão não mais promove conhecimento do que o amor, e é insensatez semear em um campo tão estéril.
Questões sobre pontos onde a Escritura é silenciosa; sobre mistérios que pertencem somente a Deus; sobre profecias de interpretação duvidosa, e sobre meros modos de observar cerimoniais humanos, são questões tolas, e os homens sábios as evitam. Nosso negócio não é nem perguntar nem responder a questões tolas, mas evitá-las completamente, e se observarmos o preceito do apóstolo em ter o cuidado de manter as boas obras (Tito 3.8), vamos nos encontrar bastante ocupados com algo lucrativo para nos acharmos muito  interessados com contendas inúteis, contenciosas e desnecessárias.
Há, no entanto, algumas questões que são o inverso da insensatez, que não podemos evitar, mas que devemos de modo justo e honesto enfrentar, como estas: Eu creio no Senhor Jesus Cristo? Estou renovado no espírito da minha mente? Estou andando não segundo a carne, mas segundo o Espírito? Estou crescendo na graça? A minha conversação ornamenta a doutrina de Deus, meu Salvador? Estou esperando pela volta do Senhor, e vigiando como deve fazer um servo que espera seu Mestre? O que mais eu posso fazer para Jesus? Tais perguntas como estas exigem urgentemente a nossa atenção, e se temos sido em tudo dados a falhas, voltemo-nos às nossas habilidades críticas para um serviço muito mais rentável. Sejamos pacificadores, e nos esforcemos para levar os outros pelo nosso critério e exemplo, para "evitar questões tolas."

Tradução feita pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público.

Textos e nota inseridos pelo tradutor:

2Tm 2.14:  Recomenda estas coisas. Dá testemunho solene a todos perante Deus, para que evitem contendas  de palavras que para nada aproveitam, exceto para a subversão dos ouvintes.

1Co 11.16: Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que nós não temos tal costume, nem as  igrejas de Deus.

Já vi obras de Deus terminarem por causa de  divisões de opiniões sobre o que vem primeiro na conversão, se o arrependimento ou a fé, e se a regeneração ocorre antes da fé ou se é a recíproca que é verdadeira, e por aí afora. Fico me indagando qual é o real proveito em gastar tempo com este tipo de posicionamento e fazer disto um ponto de honra, que separa cristãos sinceros e genuínos, de maneira que não podem mais caminhar juntos.





2 - “Evita discussões insensatas” - Tito 3:9

Nosso tempo é curto e será melhor empregado se fizermos coisas boas em vez de debatermos sobre questões que, na melhor das hipóteses, são de pouco valor.
Os antigos escolásticos causaram muitos danos com sua incessante discussão sobre assuntos de pouca importância prática; e nossas igrejas sofrem muito com discussões mesquinhas sobre temas obscuros e banais.
Depois de dizer tudo o que pode  ser dito, nenhum dos lados fica mais sábio, por isso, as discussões não acrescentam mais conhecimento do que o amor, e  é tolice semear em  campo tão estéril.
Questões sobre pontos onde há silêncio nas Escrituras, sobre mistérios que só pertencem a Deus, sobre profecias de interpretação duvidosa e sobre o modo de observar rituais humanos são pura tolice, e são evitadas pelos sábios.
Não nos compete fazer ou replicar tais questões, mas sim evitá-las; e se observarmos o preceito do apóstolo (Tito 3:8), sendo diligentes na prática das boas obras, ficaremos ocupados demais com coisas proveitosas para ter qualquer interesse em discussões inúteis, fúteis e insensatas.
Há, no entanto, algumas questões que são o reverso da insensatez, das quais não podemos nos esquivar, e que devemos responder sincera e honestamente, tais como: Será que eu creio no Senhor Jesus Cristo? Será que minha mente já foi renovada em espírito? Será que estou andando segundo a carne, ou segundo o Espírito? Será que estou crescendo na graça? Será que as minhas conversas ornam a doutrina de Deus, meu Salvador? Será que estou aguardando a vinda do Senhor, e vigiando como um servo à espera de seu amo? O que mais posso fazer por Jesus? Tais questões exigem nossa atenção imediata; e se somos dados a contestações, usemos nossa habilidade crítica para algo bem mais proveitoso.  Sejamos pacificadores e, pelo nosso exemplo e pelos nossos preceitos, esforcemo-nos para levar outros a “evitar questões insensatas”.

Charles Haddon Spurgeon







3 - CISMA

(Procedemos a uma abordagem do tema valendo-nos de citações do Pr puritano John Owen e D. M. Lloyd Jones, à luz do comentário do segundo capítulo de Neemias)

Quando Neemias fez uma exposição quanto ao modo como a boa mão do Senhor fora com ele, particularmente quanto à comissão que havia recebido do rei persa, os judeus se dispuseram a cooperar com ele na obra de reconstrução que deveria ser realizada em Judá e Jerusalém (Neemias 2.17,18).
Mas quando Sambalate, Tobias e Gesem o souberam, começaram a zombar deles e a desprezá-los lhes infamando e acusando de estarem se rebelando contra o rei.
Não é de se admirar que o diabo sempre use o argumento de insurreição contra a autoridade constituída quando Deus levanta alguém para fazer a Sua vontade. A mesma autoridade que os verdadeiros rebeldes costumam transgredir, especialmente a relativa à da própria Palavra de Deus que eles não amam e obedecem, é a que eles costumam invocar para tentarem desencorajar os servos fiéis de Deus a prosseguirem adiante na defesa da verdade (v. 20).
Satanás sempre projeta manter os cristãos e a Igreja em estado de miséria espiritual, e tudo faz para tentar impedir o avanço de uma verdadeira espiritualidade que seja baseada no amor e na prática da verdade. Ele tudo apoiará e não perturbará os cristãos, desde que eles se mantenham na sua carnalidade e não busquem santificar suas vidas na verdade da Palavra de Deus.
Se os cristãos deixarem os muros de suas vidas caídos em total ruína, Satanás não se levantará contra eles, mas ao menor movimento para tentarem reconstruí-los, ele logo se manifestará apresentando todo tipo de oposição a eles.
Todavia, em vez de deixarmos que ele nos intimide, devemos fazer como Neemias que respondeu o seguinte aos seus inimigos em face das acusações deles: “O Deus do céu é que nos fará prosperar; e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos: mas vós não tendes parte, nem direito, nem memorial em Jerusalém.” (v. 20).
Isto é o que deve estar sempre bem definido e fixado diante de nós: não podemos permitir que nossos opositores se coloquem ao nosso lado na realização da obra que Deus nos encarregou de fazer. E devemos ter a firme confiança somente nEle, que assim como Ele nos chamou, também é poderoso para nos fazer prosperar no que nos tem ordenado. Mas em vez de ficarmos esperando com os braços cruzados, devemos nos levantar e edificar as pedras vivas do edifício espiritual, que fomos chamados a construir como seus cooperadores.

“Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.”  (I Cor 3.9).

É preciso ter muita prudência e inteligência espiritual, quando estamos encarregados por Deus para uma obra específica, como a de Neemias, para não darmos munição ao Inimigo, de maneira que não leve vantagem sobre nós.
O diabo acompanha nossos passos e levanta seus instrumentos para espreitar a liberdade que temos em Cristo, de modo a barrar o nosso progresso, com infâmias, perseguições e acusações mentirosas contra nós. Se ele não conseguir nos deter de um modo tentará outros meios para alcançar os seus objetivos, que não são dirigidos propriamente contra as nossas pessoas, mas contra a obra que Deus designou fazer através de nós.
 Daí se recomendar aos cristãos, e especialmente àqueles que estão à frente de algum trabalho do Senhor, que vigiem e orem em todo o tempo, e que sejam perseverantes, a par de todas as perseguições que possam vir a sofrer.
Mas alguém dirá: “E se a perseguição vier exatamente da parte daqueles que foram levantados para liderarem a obra de Deus?”. “O que devem fazer os cristãos que se encontram debaixo da liderança deles?”.
Primeiro devem orar e jejuar para que saiam do laço do Inimigo com o qual foram encantados e amarrados. E se as coisas persistirem por longo tempo e se agravarem a ponto de a Igreja se desviar totalmente dos objetivos de Deus traçados para ela, notadamente o que se refere a andar na prática da verdade, então é hora de começar a orar para receber direção do Senhor para congregar numa Igreja que não tenha apostatado da verdade.
É importante lembrar que quando a Igreja Primitiva descambou para a Igreja Romana, não seria justificável que qualquer cristão autêntico permanecesse naquela Igreja apóstata dos dias dos reformadores sob o argumento de não desejar ser chamado de cismático (quem produz divisões).
E não é por pertencermos ao ramo protestante-evangélico que não estamos expostos ao mesmo perigo de virmos a nos encontrar congregando numa Igreja apóstata, e não seremos justificados por Deus se insistirmos em permanecer nela e nas suas práticas desviadas da verdade, permitindo até mesmo sermos afastados da nossa primitiva fidelidade, devoção e amor a Cristo e à Sua Palavra, pelo mesmo argumento citado anteriormente de não sermos acusados de promotores de divisões na Igreja.
Ao contrário, é ordenado a todo cristão fiel que se afaste daqueles que não andam segundo a doutrina revelada na Palavra.

“mandamo-vos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes.” (II Tes 3.6).

D. M. Lloyd Jones, já em 1963 nos alertava sobre o que ocorreria se o movimento ecumênico chegasse a desenvolver “a grande igreja mundial”, porque a palavra “cisma” seria usada contra todo aquele que se recusar a ser parte integrante desta organização gigantesca, que começava a ser costurada em seus dias, e que tem tomado uma maior dimensão em nossos dias.
Ele afirmava que devíamos ter clara percepção quanto a isso, e que deveríamos instruir o povo a que servimos sobre esta importantíssima questão, porque cisma é um grande pecado, uma coisa muito grave, da qual ninguém deveria fazer-se culpado, e por isso devemos compreender com clareza o que é exatamente cisma.
Muitos cristãos que se encontram exilados em suas próprias igrejas, seriam muito auxiliados se lessem o tratado que John Owen escreveu sobre cisma, do qual destacamos alguns pensamentos a seguir.
Owen sempre examinava todas as questões à luz da doutrina e do ensino geral da Bíblia.
Owen reconhecia que ninguém será capaz de encerrar as diferenças entre os cristãos, senão o próprio Senhor quando da manifestação da Sua segunda vinda. Mas reconhecia que é dever de todo cristão se empenhar pela unidade da Igreja, buscando uma reconciliação entre todos os protestantes.
Então temos definido aqui o nosso ponto de partida.
Como é próprio de todo grande homem, Owen foi suficientemente grande para mudar de opinião e para mudar de uma posição para outra, à medida que era melhor convencido acerca da exata vontade de Deus relativa a qualquer assunto, e assim nós temos um testemunho insuspeito e imparcial, da sua parte, quando fala sobre cisma.
Ele nos recomenda o seu método com as seguintes palavras:
“Este modo de examinar imparcialmente todas as coisas pela Palavra, comparando causas com causas e coisas com coisas, pondo de lado toda consideração preconceituosa para com pessoas ou tradições presentes, é um procedimento que eu admoestaria todos a evitarem, caso não queiram tornar-se independentes”.
Com isto ele queria afirmar que se fizermos um exame sincero do que nos é ensinado e ordenado na Bíblia, dificilmente nos permitiremos congregar com aqueles que vivem numa prática diversa da que é ordenada por Deus em Sua Palavra, e o resultado disto é que passaremos a ser independentes juntamente com aqueles que buscam a mesma pureza de doutrina e de vida, segundo uma estrita obediência à Palavra.
Ele definiu então o motivo porque os puritanos eram não conformistas e não congregavam na Igreja estatal Anglicana.  
Assim não pode ser considerado cisma qualquer distanciamento de posições fixas e rígidas que líderes assumem por sua própria conta e que lançam tal acusação contra todos que discordem deles.
As Escrituras não definem como cisma qualquer tipo de separação havida no corpo de Cristo, ao contrário, elas o recomendam em determinadas condições, conforme a que vemos no texto de II Tes 3.6.
Seria cisma o fato de tanto Neemias quanto Esdras, terem impedido que os samaritanos se juntassem aos judeus no trabalho de reconstrução da vida nacional religiosa dos israelitas? Ou não foi zelo apropriado e aprovado por Deus para a manutenção da pureza da prática da santidade do Seu povo?
Este argumento que o diabo usa frequentemente, classificando de cismático e ameaçando e intimidando todo cristão que queira se separar do erro para viver em santidade é uma das armas mais poderosas que ele tem no seu arsenal para manter cristãos amarrados a laços de idolatria, corrupção e carnalidade, que muitas vezes virá a desviá-los da firmeza que tinham em Cristo.
Por isso não são poucas as exortações apostólicas no sentido de que os cristãos se guardassem do ensino dos falsos pastores e mestres, saindo de debaixo da influência deles, porque conforme eles alertavam, Satanás se transfigura em anjo de luz e os seus ministros, em ministros da justiça bíblica, de modo a enlaçar os verdadeiros eleitos de Deus e impedi-los em sua caminhada rumo à perfeição cristã.
Assim, ao falar de cisma, Owen nos dá a seguinte classificação:
“Uma vez que aquilo de que tratamos é uma desordem no serviço de Deus instituído, e naquilo que é de pura revelação, suponho que é um pedido modesto desejar permanecer unicamente ao lado dessa descoberta e descrição que disso é feita nas Escrituras – que só deverá ser considerado cisma aquilo que ali for assim chamado, ou tiver a natureza de cisma. Outras coisas podem ser outros crimes, cismas não serão, se nas Escrituras elas não tiverem nem o nome nem a natureza de cisma, que eles lhes atribuem.”.
Owen lembra que as pessoas culpadas de cisma na Igreja de Corinto não haviam saído da Igreja de Corinto.
Mas nem Deus, nem Paulo haviam abandonado aquela igreja cismática porque era uma igreja jovem que ainda estava sendo instruída na verdade. Não devemos esquecer a longanimidade de Deus ao tratar com os cristãos e com as igrejas antes de decidir remover o seu castiçal.
Então a verdadeira definição de cisma é, conforme afirmado por Owen:
“Cisma significa desprezo pela autoridade de Jesus Cristo. É uma ofensa à Sua sabedoria, pela qual Ele ordenou todas as coisas na Igreja com o definido propósito de impedir cismas e divisões.”.
Os coríntios haviam desprezado isto e também a graça e a bondade de Cristo que foram ignoradas e ultrajadas.
Owen ainda nos diz o seguinte:
“Não se alega que toda e qualquer espécie de abandono ou deserção de alguma igreja ou de Igrejas é desde logo um cisma, mas unicamente a separação que rompa o laço da união instituída por Cristo.”.
Não podemos discernir o que é cisma se não discernimos primeiro qual é a natureza da Igreja.
Podem aqueles que não são uma Igreja acusar-nos de cismáticos?
Devemos lembrar que a Igreja foi feita para nós, e não nós para a Igreja, isto é, os seus diversos ministérios como se vê em Ef 4.11-16 têm em vista a edificação dos cristãos no amor. E quando este alvo é descumprido poderíamos afirmar que estamos congregando numa Igreja verdadeira? Não importa quantos cristãos autênticos estejam congregando nela, porque se ela frustra o desígnio de Deus na Sua missão de edificar os cristãos na verdade, e se desvia deste grande objetivo, ninguém que deixar uma tal congregação poderá ser acusado de cismático.
Owen nos diz sobre isto:
“O fim visado por Cristo na constituição das Suas igrejas foi, não amoldar os Seus discípulos a formas eclesiásticas tais que eles se tornassem subservientes ao poder, interesse, proveito e dignidade dos que nalguma ocasião viessem a estar sobre eles, porém constituir um método e ordem para dar-lhes oficiais que em todas as coisas lhes fossem úteis e subservientes, para a sua edificação, como se afirma expressamente em E 4.11-16.”.
Quando Neemias foi realizar uma reforma ordenada por Deus na igreja do antigo pacto ele não criou sínodos ou concílios para estabelecerem regras para o povo de Deus, mas foi afirmar única e somente a observância devida da Palavra. E de igual modo toda reforma que se faça necessária na Igreja de Cristo deve ser regida pelo mesmo princípio.
Assim, Owen se expressou nos seguintes termos acerca de reforma:
“Para mim não há outra reforma de qualquer igreja, nem qualquer coisa numa igreja, que não seja restituí-la à sua primitiva instituição e à ordem a ela determinada por Jesus Cristo. Se alguém pleitear qualquer outra reforma das Igrejas, deverá ser censurado. E quando qualquer sociedade ou agremiação de homens não for capaz de fazer tal restituição e renovação, suponho que não provocarei nenhuma pessoa sábia e sóbria, se declarar que não posso considerar essa sociedade como uma igreja de Cristo. Uma igreja que não consegue reformar-se daquela maneira, não é uma igreja de Cristo, e por isso aconselho aqueles que nela estão e que têm direito aos privilégios obtidos por Cristo para eles, quanto às ministrações do evangelho, a tomarem alguma outra medida pacífica para se tornarem participantes desses privilégios”.
“Alguns estão dispostos a pensar que todos os que não se juntam a eles são cismáticos, e que o são porque não os acompanham; e outra razão não têm, sendo incapazes de oferecer algum sólido fundamento daquilo que eles professam. Não é fácil expressar o que a causa da unidade do povo de Deus sofreu às mãos destes tipos de homens.”.
Deste modo quem define cisma não são os homens ou seus concílios, mas o espírito com que nos apresentamos diante de Deus, conforme Owen afirma:
“Enquanto eu tiver uma consoladora convicção firmada numa base infalível, de que estou unido à cabeça e de que, pela fé, sou um membro do corpo místico de Cristo, enquanto eu fizer profissão de todas as necessárias verdades salvadoras do evangelho; enquanto eu não perturbar a paz da igreja particular da qual, com meu consentimento pessoal, sou membro, nem levantar diferenças sem causa, nem nelas permanecer, com aqueles ou com alguns daqueles com quem ando na comunhão e ordem do evangelho, enquanto eu me esforçar para exercer a fé para com o Senhor Jesus Cristo e o amor para com todos os santos – eu manterei a unidade que é da determinação de Cristo. E, com base em princípios totalmente alheios ao evangelho, digam os homens o que quiserem ou puderem em contrário, não sou cismático.”.
Quão maravilhosamente Owen expressa a liberdade que todo cristão tem pela fé em Cristo. Lamentavelmente não são poucos aqueles que uma vez tendo sido libertados se encontram em jugo de servidão. Suas consciências fracas e pouco esclarecidas são manipuladas por homens desprovidos de verdadeiro temor ao Senhor e conhecimento da Sua vontade e Palavra, de maneira que até mesmo oficiais da Igreja são mantidos debaixo de servidão ao homem, não somente no meio católico romano, como também entre protestantes e evangélicos.
Mas bem aventurados são todos aqueles que não por motivo de rebelião ou de um espírito insubmisso a Cristo e à verdade, não permitem ser dominados por aqueles que se auto proclamam autores e donos da fé deles. E que os mantêm debaixo de ameaças e horrores caso venham a ser desobedecidos em suas vontades caprichosas, sob a alegação de que foram constituídos bispos das suas almas, só que não olham por si mesmos e muito menos pelo rebanho que dirigem, e por causa disso não podem também cuidar da sã doutrina, pela qual, caso a honrassem de fato, trariam o rebanho na unidade e  na liberdade que têm no Senhor.
Tão terrível é a natureza terrena que remanesce nos cristãos, mesmo nos pastores, que estes estão sempre debaixo da grande tentação de constituírem para si um Papa, de maneira, que seguir ao homem, quando se deseja viver na carne, é muito mais fácil e confortável do que viver no Espírito santificando-se na verdade da Palavra. Mas bem farão todos aqueles que permitirem que o Espírito vença esta luxúria carnal, tanto quanto as demais, para que vivam do modo pelo qual possam efetivamente agradar a Deus e fazer a Sua vontade.
Temos que ouvir o que Owen nos diz acerca disto:
“Eu trato, como disse, com os que são reformados; e agora suponho que a igreja, da qual se supõe que um homem é membro, não queira ser reformada – neste caso pergunto se se trata de cisma certo número de homens reformar-se, voltando à prática do serviço divino na forma como fora instituída, embora seja uma parte mínima dos pertencentes à jurisdição paroquial, ou se juntarem alguns deles a outros com esse fim e propósito, deixando de viver sob aquela jurisdição? Direi ousadamente que esse cisma é ordenado pelo Espírito Santo – I Tim 6.5; II Tim 3.5; Os 4.15 etc. Terá sido lançado por Cristo sobre mim este jugo, que, para ir ao lado da multidão entre a qual eu vivo, que odeia ser reformada, devo abandonar o meu dever e desprezar os privilégios que Ele adquiriu para mim com o Seu precioso sangue? Será esta uma unidade da instituição de Cristo, que eu deva associar-me para sempre com homens ímpios e profanos no serviço de Deus, para o indescritível detrimento e desvantagem da minha alma? Suponho que não haja nada que seja mais irrazoável do que imaginar de antemão tal coisa.”.
Owen afirma muitas coisas excelentes no seu tratado sobre Cisma, mas queremos destacar somente mais uma das muitas afirmações para não nos alongarmos demais neste assunto. Ele afirma que o caráter da unidade da Igreja é espiritual e daí a ordem apostólica para se manter a unidade da fé pelo vínculo da paz. O conhecimento disto é de suma importância para que saibamos distinguir desvio da verdade de prática diferenciada de ordem de culto, normas ou disciplina nas igrejas que não devem ser motivo para que alguém se separe delas. Mas, como são extra bíblicas ninguém pode afirmar também que a unidade da igreja deve consistir na prática destas coisas referidas, como é comum ocorrer. Por exemplo, nenhum pastor pode pretextar que haja falta de unidade na igreja que dirige porque os cristãos não comparecem às festividades que é hábito da congregação comemorar, ou que seja um ato autoritativo da parte dele. E isto se aplica às formas de adoração pública e a todos os demais serviços prescritos, inventados ou ordenados pelo homem e não constantes das Escrituras.
“Negamos que os apóstolos tenham feito ou dado quaisquer regras para as igrejas dos seus dias, ou para uso das igrejas das eras futuras, a fim de indicarem e determinarem modos externos de culto, com a observância das cerimônias, das festas e jejuns estabelecidos, além do que é de divina instituição, liturgias ou formas de oração, ou disciplina a exercer-se nos tribunais subservientes a um governo eclesiástico nacional. Então, de que utilidade elas são ou podem ser, que benefício ou vantagem pode advir à Igreja por meio delas, qual a autoridade dos magistrados superiores com respeito a elas, não podemos pesquisar ou determinar agora. Só dizemos que nenhuma regra para estes fins jamais foi prescrita pelos apóstolos, pois:
“1. Não há a mínima insinuação de que alguma regra desse tipo foi dada por eles nas Escrituras.
2. As primeiras igrejas depois do tempo deles, nada sabiam de qualquer regra dessas dada por eles; e, portanto, depois que elas começaram a afastar-se da simplicidade em coisas como o culto, a ordem e as normas ou a disciplina, elas se entregaram a uma grande variedade de observâncias externas, ordens e cerimônias, quase todas as igrejas diferindo numa ou noutra coisa umas das outras, nalgumas dessas observâncias, não obstante todas “mantendo a unidade da fé pelo vínculo da paz”. Elas não teriam feito isso, se os apóstolos tivessem prescrito certa regra à qual todas deveriam adaptar-se, especialmente considerando quão escrupulosamente elas aderiam a tudo quanto era relatado como tendo sido feito ou dito por qualquer dos apóstolos, fosse o relato falso ou verdadeiro.”.
Quanto à união da Igreja Owen disse:
“Primeiro, a unidade que nos é recomendada no evangelho é espiritual.
Segundo, para este fundamento da unidade do evangelho entre os cristãos, pelo seu melhoramento e para este, requer–se uma unidade de fé.
Terceiro, há uma unidade de amor.
Quarto, Cristo Senhor, por Sua autoridade como Rei, instituiu ordens para o governo, e ordenanças para o culto (Mt 28.19,20. Ef 4.8-13) para serem observadas em todas as Suas Igrejas.
Essa é a natureza da união. Em seguida surge a questão: como se deve preservar essa união? Aqui ele tem algumas coisas excelentes para dizer.
“Ora, para que esta união seja preservada, requer-se que todas aquelas grandes e necessárias verdades do evangelho, sem cujo conhecimento ninguém pode ser salvo por Jesus Cristo, sejam cridas e igualmente sejam externas e visivelmente professadas, naquela variedade de modos pelos quais eles são ou podem ser chamados para isso”  - Aqui Owen está contemplando principalmente as doutrinas da graça (eleição, justificação pela graça mediante a fé, regeneração etc) muito mais do que os mandamentos da lei de Moisés, porque uma Igreja deve primar pela graça e verdade reveladas em Cristo mais do que pela Lei que foi dada através de Moisés.”.
 “Não haverá união , se não houver acordo sobre as verdades do evangelho. É uma união espiritual, porém é também uma união de fé. Se houver desacordo acerca da fé, não haverá união entre o evangélico e o homem que nega os pontos essenciais da fé evangélica. É impossível.”
Por exemplo, um pastor pelagiano que afirme a salvação pelas obras, como pode ter a direção sobre um rebanho que afirme a verdade de que a salvação é pela graça somente mediante a fé, sem as obras? Como pode haver reconciliação neste caso? A separação já está determinada pela própria negação da verdade bíblica.
“Não somente é preciso que não haja desacordo aberto, explícito; também é preciso que não haja nenhum desacordo implícito.
Que nada seja opinião, erro ou falsa doutrina, que perverta ou desfaça qualquer das verdades necessárias e salvadoras professadas nos termos acima referidos, seja acrescentado a essa profissão, ou nela incluído, ou deliberadamente professado também.”.
Deste modo, ajudados pelas considerações de Owen podemos concluir que aqueles que devem ser classificados de cismáticos são exatamente aqueles que acusam os separatistas por causa do amor deles à verdade, porque são os que agem contra os princípios e mandamentos revelados na Bíblia, e que não trazem consigo, principalmente as doutrinas da graça, os que se afastam de Cristo e se separam dEle e da Sua verdadeira Igreja, porque ela é edificada neste fundamento dos profetas e dos apóstolos, do qual Ele é a pedra angular.    







4 - Os Que Causam Divisão no Corpo de Cristo

A unidade da Igreja pela qual nosso Senhor Jesus Cristo intercedeu com as palavras de João 17, é de santificação na verdade, verdade esta que Ele definiu como sendo a Palavra de Deus.
E na Palavra aprendemos que esta unidade é sobretudo de amor, de fé, do Espírito Santo, e de doutrina dos apóstolos (Ef 4.13-18).
Então quando se fala em divisões no Corpo de Cristo (Igreja), que unidade está sendo dividida do ponto de vista de Deus?
A de formação de novas denominações ou de congregações cristãs?
É evidente que não, porque o Cristianismo conta com milhares de denominações e congregações espalhadas em todo o mundo, e o seu caráter é expansionista, em obediência à ordem do Senhor de os cristãos fazerem discípulos em todas as nações.
A unidade de uma igreja mundial é possível, mas nas bases do modo como ela é definida pelo Senhor da Igreja, e não pela conveniência dos homens ou de instituições que atuem fora dos critérios bíblicos.
Dizemos que é possível uma unidade mundial, mas somente entre aqueles que estão unidos a Cristo e guardam os seus mandamentos, porque todos que seguem a norma bíblica, formam um só espírito entre si, e com o Senhor Jesus Cristo, num só corpo do qual Ele é a Cabeça.
Agora, unidade pela via institucional, organizacional, ou mesmo local, nunca foi e jamais será possível, porque, como dissemos, há milhões de congregações locais espalhadas por todo o mundo, e como poderia ser obtida uma unidade baseada em convivência com todos e em todas as partes? Nem mesmo de forma virtual pela Internet isto seria possível.
E isto não é possível até mesmo em cada denominação, uma vez que é formada por várias congregações.
A unidade da Igreja é de caráter de união na diversidade, e como se vê na Palavra: em bases espirituais (porque o espírito não está sujeito a tempo e a espaço), de amor, que é o cimento que nos une como membros de Cristo num só corpo; e é também de fé e de doutrina (por obediência aos mandamentos de Cristo, conforme revelados na Bíblia).
Os que são contra isto, estão divididos, e causam divisões no Corpo de Cristo, independentemente de estarem associados a uma congregação local ou por frequentarem regularmente as reuniões de culto público, seja em congregações institucionais, ou em lares, ou seja onde for, porque pecam contra a forma de unidade que foi estabelecida por Deus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário