sexta-feira, 23 de outubro de 2015

143) Tentação 144) Testemunho

143) TENTAÇÃO

ÍNDICE

1 - PERIGOS DA JUVENTUDE
2 - Vencendo a Tentação
3 - “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal." (Lucas 11.4)
4 - Conforto para o Tentado
5 - Não nos Deixe Cair em Tentação
6 - Como Lidar com as Tentações
7 - Tentação


1 - PERIGOS DA JUVENTUDE

“Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.” (2 Timóteo 2.22)

As paixões naturais da mocidade não são para serem seguidas, mas contidas, ao que o apóstolo chama de “fugir das paixões”.
Como a época da juventude é indizivelmente importante, por isso está exposta a perigos peculiares. De fato, cada período da vida tem suas próprias provações e tentações. E como este é um mundo de provação, seria estranho se não houvesse tentações adequadas para cada idade e condição de vida. Pois as virtudes são forjadas em nós especialmente pelo meio de se vencer as tentações e suportar as provações. O soldado é provado e aperfeiçoado no campo de batalha. E assim, os jovens cristãos o são de igual forma através das vitórias que obtêm sobretudo sobre as próprias tentações e provações.
O modo indicado pelo apóstolo para que o jovem se mantenha guardado das paixões naturais a esta faixa de idade, é seguindo a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.
O mal do pecado é como um veneno mortal que age independentemente de termos consciência ou não de que o estamos tomando.
E quão comum é se tomar tal veneno na fase da juventude, por não ter ainda o jovem todas as suas faculdades exercitadas e amadurecidas para discernir tanto o mal, quanto o bem, da maneira adequada.
A explosão de sentimentos e de emoções, e a grande energia pertinente a esta fase da vida, apresentam-se como grandes dificultadores para se ser sóbrio e moderado conforme exigido de todos por Deus, independentemente da faixa etária, uma vez atingida a idade da consciência.
Deus tem regido o universo e deve reger nossas vidas por meio de suas leis fixas. Sobretudo, o nosso comportamento deve ser regido por suas leis espirituais e morais, mantendo-nos nós em nossas respectivas órbitas. Todavia, há em todos uma predisposição natural para violar estas leis, seja por negligência, ignorância ou voluntariamente.
O descuido e negligência quanto ao dever de se seguir estas leis divinas conduz ao desperdício da graça que nos está sendo oferecida em Cristo para nos capacitar ao cumprimento do dever referido.
De certo modo os jovens são também reféns de sua própria época, porque quando se multiplicam os maus exemplos, eles se espelham naqueles que elegeram como ídolos para serem imitados, e na falta de modelos apropriados, seguem aqueles que mais excitem suas emoções e seus sentimentos.
E assim somente a determinação de nadar contra a correnteza de suas disposições naturais, poderá lhes dar a vitória, por seguir, de modo prático, a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.
Seguir bons exemplos demanda então estar em companhia de quem invoca o Senhor com um coração puro, e não em más companhias.
Não há força natural em nós, para nos dispor a estarmos satisfeitos na companhia de outras pessoas que buscam se santificar e adorar a Deus com um coração puro, mas a nossa sinceridade em buscar este objetivo em oração fará com que a graça de Cristo nos seja disponibilizada para nos dar a força necessária para isto.  
Temos visto em linhas gerais que tudo o que é bom e agradável a Deus deve ser obtido mediante esforço, sim, com grande diligência, e sem uma mente e espíritos exercitados na disciplina do Espírito Santo e na Palavra do Senhor, será impossível acertar o grande alvo da vida, que temos dele recebido.
Não é de se admirar portanto que especialmente os jovens estejam tão mais predispostos a serem dominados por vícios, porque estes se instalam onde falta diligência para um viver correto, que é sempre trabalhoso e exigente de todo o empenho de nossa atenção e faculdades, quer da corpo, da alma ou do espírito.
Os vícios chamam ao que é repetitivo e fácil, ainda que cause a nossa destruição pessoal, não somente por ocuparem a maior parte do nosso tempo, como também por nos desviarem daquele comportamento aprovado que deveria ser visto em nós, bem como por nos incapacitarem a um viver diligente, sóbrio, disciplinado, e reto.
O padrão da medida de comportamento que devemos seguir não se encontra no mundo, em outros, nem em nós mesmos, mas somente em Cristo e na Sua Palavra.
Tudo deve ser medido por este padrão, e não por nossos sentimentos, por mais sinceros e agradáveis que possam nos parecer. Se não estivermos conformados à vontade de Cristo, o fruto de nossos pensamentos e ações não podem ser bons e aprovados.
Sem a justiça, a fé, o amor e a paz do evangelho de Cristo, existindo e crescendo em nossos corações, jamais poderemos ver vencidas as paixões da  mocidade, ou quaisquer outras.
O mal somente pode ser vencido com o bem. Votos e compromissos assumidos de forma verbal quanto a uma melhoria dos nossos modos não serão eficazes por si só, e durarão pouco tempo, enquanto estivermos sob o domínio das paixões que nos têm governado.
Se não nos entregarmos ao trabalho progressivo da graça na destruição destas paixões nunca poderemos ver um bom fruto sendo produzido em nós, no lugar dos maus hábitos, tentações e influências que nos prendem.
Somente quando a Palavra de Cristo estiver habitando ricamente em nossos corações poderemos estar certos da vitória.

“Sl 119:9 De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra.
Sl 119:10 De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos.

Sl 119:11 Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti.”







2 - Vencendo a Tentação

“Adiante deles enviou um homem, José, vendido como escravo;” (Salmo 105.17

Uma marca do herói de Deus é que ele é capaz de vencer a tentação. Ele tem que passar por várias tentações sujas, mas ele se mantém limpo. Ele tem que peregrinar num  mundo mau, mas ele guarda a si mesmo da corrupção do mundo. Ele tem que enfrentar terríveis e fortes tentações exteriores e interiores, mas o Senhor o livra de todas. Assim fez José nos velhos tempos, e assim qualquer um de vocês hoje.
A primeira lição que eu retiro da vida de José é que a pessoa que tentar fazer o que é certo a qualquer custo não será popular entre os seus irmãos.
Tal é a perversidade da natureza humana, que os homens têm ciúme e inveja daqueles que são mais puros, mais santos, mais sábios do que eles. Todo homem tem que fazer a escolha solene entre a amizade de Deus e a amizade do mundo. Nós não podemos ter ambas. O povo de Deus se ama mutuamente, mas os ímpios são sempre inimigos da santidade e da verdade. Se um homem quer ser popular com todos os tipos de pessoas, ele deve desistir de seu dever para com o seu Deus.
"Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vocês; sereis odiados de todos por causa do meu nome." O homem de mente pura não pode ser popular com o maldizente e o homem de vida impura. O homem sóbrio não pode escolher o viciado por companheiro. O homem religioso nunca deve fazer amizade com aquele, cujo lema é: "Eu não sei, e eu não me importo, e nada significa." Todo homem que escolhe deliberadamente a Deus, que escolhe o caminho estreito do dever, encontrar-se-á com algum ódio, abuso e desprezo da parte de seus irmãos descuidados. Tem sido sempre assim desde que o mundo começou, Noé e Ló foram alvo de zombaria e escárnio. Os profetas que falavam da vinda do Salvador sempre foram desconsiderados, e muitas vezes mortos. Quando o Filho de Deus veio ao mundo para trazer luz e verdade, eles disseram que ele tinha um demônio, e o penduraram num madeiro. Aqueles que primeiro seguiram seus passos santos ou eram ridicularizados como loucos, ou cruelmente torturados e mortos.
Assim tem sido com quase todos os verdadeiros reformadores na religião, ou da ciência, ou da moral pública. Eles foram chamados de ateus, ou sonhadores, e sua porção tem sido, por vezes, a prisão.
A retidão de José lhe custou o ódio de seus irmãos, custou-lhe perseguição, prisão, escravidão, mas o Senhor estava com ele. Então, se você tentar fazer o certo, você deve esperar se encontrar com a oposição, com o ridículo, talvez insultos. Alguns o chamarão de hipócrita, ou servo de ocasião, ou estraga-prazeres, porque você evita o caminho da impiedade, e busca a Igreja do seu Deus. O que importa isso? Se você tem o testemunho de uma boa consciência para com Deus, se você pode sentir que o Senhor está com você no caminho pelo qual você está indo, você saberá que é melhor sofrer perseguição com o povo de Deus do que desfrutar o salário do pecado por um certo tempo.
Eu também aprendo da história de José, que nossos problemas e desgraças muitas vezes são bênçãos disfarçadas. Deus nos leva para Si mesmo e para o Céu por caminhos diferentes. Um homem é provado pelas tentações da riqueza, outro pelas provações da pobreza. Mas, para cada cristão o caminho da fé é um caminho difícil, cheio de dificuldades e provações e obstáculos, mas sempre nos leva mais alto, mais perto de Deus. Antes que Moisés pudesse olhar as belezas da Terra Prometida, ele teve que escalar a íngreme subida do Monte Pisga, e antes que possamos ver claramente as coisas concernentes à nossa paz, e as coisas boas que Deus tem preparado para nós, devemos viajar na estrada pedregosa, e suportar as dificuldades como bons soldados de Cristo.
Em José, vemos um tipo de cada cristão. Ele foi odiado por seus irmãos porque ele amava o seu pai, e abominava a iniquidade. Então, se nós amamos o nosso Pai Celestial, haverá uma abundância de nossos irmãos na terra que irão nos odiar por isso. Para José houve a inveja de seus irmãos, o poço significava a sua própria destruição, escravidão, terrível tentação, uma falsa acusação, uma prisão. No entanto, este caminho de sofrimento, de provação, de decepção, de cativeiro, levou-o a um trono, e fez dele governador do Egito; aquele calabouço foi o trampolim para o palácio, os grilhões de ferro estavam levando José para a cadeia de ouro, e para o sinete da mão de faraó. Se José nunca tivesse sido lançado na cova ou vendido aos ismaelitas, ou preso no Egito, ele nunca poderia ter sentado à direita de faraó, e seu pai e irmãos teriam perecido pela fome. Mas essas mesmas dores abriram o caminho para a sua grandeza, e fez dele o salvador, não somente do Egito, mas da casa de seu pai.
Meus irmãos, não murmurem, porque a forma pela qual Deus lhe conduz é uma maneira áspera. O caminho de cada homem verdadeiro através da vida está manchado com sangue e marcado por lágrimas. Deus nos traz em baixas condições, como ele fez com José para ser lançado numa cova. Devemos nos encontrar com as tentações de fogo, para que a nossa fé possa ser provada como num forno, é preciso às vezes sofrer a prisão de homens e falso julgamento, ou a ignorância, ou a injustiça, mas enquanto o Senhor estiver conosco, como foi com José, não precisamos temer nenhum mal. O Senhor, que liberta os homens da prisão nos libertará, se não nesta vida, pelo menos quando a Morte, o Amigo, abrir a porta da prisão, passaremos, como Jesus, nosso Mestre, pelo caminho da tribulação para a glória que será revelada.
"Doces são os usos da adversidade;
Que, como um sapo, feio e venenoso,
não obstante usa uma jóia preciosa em sua cabeça.”
E ainda, eu aprendo da história de José, que uma mudança de fortuna muitas vezes traz uma nova tentação.
José, quando era um simples pastor entre as planícies de Canaã, e habitando entre o seu próprio povo, não foi colocado face a face com a terrível tentação que o esperava na luxuosa casa do egípcio Potifar. José nunca estivera sob tal perigo antes. Quando ele foi lançado na cova ele corria o risco de perder sua vida, mas agora ele estava em perigo de perder a sua alma; quando ele foi levado por seus irmãos para o ismaelitas ele foi vendido como escravo a inimigos, agora ele estava em perigo de ser vendido para ser escravo de maus desejos e paixões e perder a liberdade de inocência que ele nunca poderia recuperar.
Todo jovem quando sai para o mundo, deixando um silêncio, numa boa casa, talvez, para um grande cidade, e na companhia de pessoas, boas, ruins, e indiferentes, se encontrará com uma nova e mais feroz tentação do que ele jamais encontrou antes. Deixe o exemplo de José ajudá-lo a se manter impecável, imaculado pela carne, invicto pelo diabo. O Senhor estava com José em sua hora de provação, Ele estará com você também. José gritou: "Como vou fazer isso, e pecar contra Deus? "
Ah, lembrem-se disto, meus irmãos. Quando você peca, você não somente faz o mal para si mesmo e para outros, mas você peca contra Deus. José fugiu para longe da tentação; na hora da provação devemos fazer o mesmo. Fugir da má companhia, da conversa suja, da bebida forte, dos vícios de toda sorte, da visão impura, do livro e dos entretenimentos vis, afastemo-nos destas coisas como Ló fugiu das ruas da condenada e amaldiçoada Sodoma. Não se permitam procurar lugares de má fama; ou ouvir maledicências; muitos têm morrido como viciados arruinados, sem esperança, que começaram suas carreiras com um olhar sobre as fontes de suas tentações. Você não pode tocar o campo do pecado mesmo com a ponta do seu dedo, sem ser contaminado, você não pode ouvir uma palavra ruim, ou olhar para uma coisa má, sem perder algo de sua pureza. Por isso, eu digo, quando você puder, fuja da tentação, quando isso é impossível, mostrem-se heróis lutadores de Deus, na força de Deus, contra o pensamento mau e o desejo indigno.

"Bravos conquistadores! É para vocês,
essa guerra contra seus próprios afetos,
e o enorme exército dos desejos do mundo."

Ainda, a história de José nos ensina que a riqueza  e prosperidade não fazem um bom homem esquecer seus amigos dos dias menos prósperos. José era um bom filho e um bom irmão, quando ele vivia a simples vida de pastor em Canaã. Ele ainda era um bom filho e irmão, quando ele se sentou no seu trono no lindo palácio egípcio, a altura vertiginosa que ele tinha galgado não tinha virado a sua cabeça, ou fez com que não se importasse com a família de onde ele viera. Ele pensou em seu pai, o velho Jacó, que estava de luto por ele entre as tendas de Canaã. Ele se lembrou e perdoou seus irmãos que haviam conspirado contra a sua vida, e lhe vendido como escravo.
Agora, irmãos, poucas pessoas podem experimentar prosperidade súbita e inesperada no caminho certo. Muitos que levavam uma boa vida numa condição humilde, foram estragados por serem transplantados para uma posição de riqueza e influência. A prosperidade tenta um homem muito duramente. Se ele é um bom homem, se o Senhor sempre estiver com ele, como foi com José, está tudo bem, senão, riqueza, posição, poder, geralmente estragam um homem, e o tornam orgulhoso, ocioso, egoísta, injusto. É uma coisa ruim para um homem quando ele se torna muito próspero e não se lembra de onde ele veio, e quando ele se envergonha de seu pai e amigos dos dias anteriores.
José, o grande governante do Egito, não teve vergonha de enviar provisões para o simples velho de cabelos brancos morador em tendas, a quem ele amou e honrou como seu pai. José, que viveu em meio aos luxos da coorte de faraó, enviou alimentos para a família faminta de sua casa.
Finalmente, aprendemos com a história da beleza e da bem-aventurança do perdão. Que imagem no Velho Testamento é mais bonita em sua comovente simplicidade do que a de José chorando pelos seus culpados, mas arrependidos irmãos, e lhes dando as boas coisas do Egito em troca das coisas más que lhe haviam dado? Nós nunca poderemos ser felizes, nós nunca poderemos estar em paz, não poderemos ser prósperos  no verdadeiro sentido, a menos que perdoemos livremente todos aqueles quem nos têm ofendido.
Ao longo desta história de José, vemos a sombra de Jesus, o tipo desta compaixão divina que o levou a orar por seus assassinos, que o fez enviar as coisas boas do céu a seus irmãos que passavam fome num mundo de pecado, o que proporciona para nós, que tantas vezes pecamos contra Ele, contra a boa terra de Gósen, Sua Igreja na terra, e o melhor da terra além do "mais querido país que ansiosamente nossos corações esperam."

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra,de um sermão em domínio publico de Harry John Wilmot - Buxton








3 - “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal." (Lucas 11.4)

O que somos ensinados a buscar ou a evitar na oração, devemos também buscar ou evitar em ação.
Por isso devemos evitar muito seriamente a tentação, procurando andar tão cautelosamente no caminho da obediência, que nunca venhamos a tentar o diabo para nos tentar.
Nós não devemos entrar na mata em busca do leão. Poderíamos pagar muito caro por tal presunção. Este leão pode cruzar nosso caminho ou saltar sobre nós a partir do matagal, mas não temos nada a ver com caçá-lo. Aquele que se encontrou com ele, mesmo que tenha ganho o dia, verá que é uma luta séria. Que o cristão ore para que ele possa ser poupado do encontro. Portanto, nosso Salvador, que tinha experiência do que a tentação significava, admoestou seriamente seus discípulos: "Orai para que não entreis em tentação."
Mas façamos o que façamos, seremos tentados; daí a oração: "livrai-nos do mal." Deus teve um único Filho sem pecado, mas ele não tem um filho sem tentação. O homem natural nasce para a tribulação, como as faíscas voam para cima, e o homem cristão nasce para a tentação.
Devemos estar sempre em vigilância contra Satanás, pois, como um ladrão, ele não dá nenhuma indicação de sua abordagem. Os crentes que têm tido experiência dos ardis de Satanás, sabem que há determinadas épocas quando ele provavelmente irá atacar, assim como em certas épocas do ano os ventos podem ser esperados; portanto, o cristão se coloca em dupla guarda dupla por temor do perigo, e o perigo é evitado por nos prepararmos para encontrá-lo. É melhor prevenir do que remediar: é melhor estar tão bem armado que o diabo não irá atacá-lo, do que suportar os perigos da luta, mesmo que você saia da mesma como um vencedor. Por isso o Senhor nos ensinou a orar: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal." Ore esta noite, primeiro para que você não possa ser tentado, e depois, caso a tentação seja permitida, para que você seja livrado do mal.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







4 - Conforto para o Tentado

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Não vos sobreveio tentação que não fosse humana, mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação dará também o meio de saída, para que a possais suportar "(I Coríntios 10.13)

(Ao dizer “tentação que não fosse humana” o apóstolo não está se referindo à fonte da tentação, pois sabemos que há tentações que são originadas do diabo, mas à nossa capacidade de suportá-las humanamente se falando; ou seja, por exemplo, não são tentações cuja natureza somente os anjos poderiam suportar – nota do tradutor)

Os filhos de Deus estão sujeitos à tentação, alguns deles são tentados mais do que outros. Se alguém pudesse ter escapado, certamente teria sido "o primogênito entre muitos irmãos", mas você vai se lembrar como Jesus foi guiado pelo Espírito, diretamente das águas do batismo, ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E o apóstolo Paulo nos informa que Ele "em tudo foi tentado como nós somos, mas sem pecado." Verdadeiramente, o Senhor Jesus pode dizer para nós que somos Seus seguidores: "Se eu, vosso Mestre e Senhor, tenho sido tentado, você não deve esperar escapar à tentação, porque o discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo acima do seu Senhor."
O fato de que somos tentados deveria humilhar-nos, pois é a triste evidência de que há pecado ainda permanecendo em nós.
O homem que acredita que é perfeito nunca pode orar a Oração do Senhor - ele deve oferecer uma de sua própria criação, pois nunca estará disposto a dizer: "Não nos deixeis cair em tentação." Mas, amados, porque o diabo acha que valeria a pena tentar-nos, podemos concluir que há algo em nós que é sujeito à tentação - que o pecado ainda habita lá, apesar de que a Graça de Deus tenha renovado os nossos corações.
A razão para a apresentação da petição: "Não nos deixeis cair em tentação." deve ser porque nós somos muito fracos e frágeis. Pedimos para que não possamos ser sobrecarregados, para que a nossa carga não seja forte, e rogamos que não tenhamos o pecado colocado diante de nós, em quaisquer de suas formas atraentes, pois, muitas vezes, a carne empresta força do mundo e até mesmo do diabo! E essas potências aliadas seriam demais para nós, a menos que a Onipotência de Deus, seja exercida em nosso nome para nos segurar para não cairmos.
Alguns filhos de Deus, a quem eu conheço, ficam muito perturbados, porque eles são tentados. Eles acham que poderiam suportar a provação se ela fosse dissociada do pecado, embora eu não vejo como possamos, como regra geral, ter a provação separada da tentação, porque cada provação que vem a nós tem em si algum tipo de tentação.
Nós somos tentados pelas nossas misericórdias e somos tentados pela nossa miséria, isto é, tentado no sentido de sermos provados por elas, mas, para o filho de Deus, a coisa mais grave é que, às vezes, ele é tentado a fazer ou dizer coisas que ele absolutamente odeia.
Sim, até mesmo quando você está em oração, pode ter pensamentos que sejam exatamente o oposto do que é devocional, vindo misturados em seu cérebro.
Essas tentações são terrivelmente dolorosas para um filho de Deus. Ele não pode suportar o sopro envenenado do pecado e quando ele descobre que o pecado está batendo à sua porta, gritando sob a sua janela, perturbando-o dia e noite, então ele fica extrema e gravemente perturbado.
Uma pessoa deve se lembrar que não há pecado em ser tentado. O pecado é do tentador, não do tentado.
Você não é, evidentemente, condenável por pensamentos que lhe entristecem - eles podem provar que o pecado ainda permanece em você, mas não há nenhum pecado em ser tentado. O pecado está em você ceder à tentação, mas será bem-aventurado se você pode levantar-se contra ele. Se você pode vencê-lo, se o seu espírito não se rende a ele, você deve mesmo ser abençoado através deste processo! "Bem-aventurado o homem que suporta a provação". Há uma bem-aventurança, mesmo na tentação e embora por enquanto não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza, no entanto, mais tarde, produz fruto abençoado para aqueles que são exercitados.
Além disso, há coisas piores no mundo do que ser tentado com tentações dolorosas. É muito pior ser tentado com uma agradável tentação e ser sugado para dentro da boca do destruidor - ser conduzido ao longo da corrente suave, e depois ser arremessado sobre a catarata.
Isso é terrível, mas lutar contra a tentação, isso é bom. Digo mais uma vez que há muitas coisas piores do que ser provado com uma tentação que desperta toda a indignação de seu espírito.
A força para vencer a tentação vem de Deus, sozinho, e o nome do vencedor é o nome de Jesus Cristo! Portanto, vá em frente nessa força e nesse nome contra todas as suas tentações.

Oh, o que palavra abençoada é esta: "Deus é fiel!" Portanto, Ele é fiel à sua promessa. Uma das promessas de Deus é: "Eu nunca te deixarei, nem te desampararei." "Deus é fiel", assim ele vai cumprir a promessa! Aqui está uma das promessas de Cristo, e Cristo é de Deus. "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem, e eu lhes dou a vida eterna, e nunca hão de perecer, nem qualquer homem as arrancará da minha mão." "Deus é fiel", porque a promessa será cumprida! Você tem ouvido muitas vezes essa promessa, "como os teus dias, assim será a tua força." Você acredita nisso, ou você vai fazer de Deus um mentiroso? Se você acredita, então expulse de sua mente todos os pressentimentos sombrios com esta pequena frase abençoada, "Deus é fiel".
Observe, a seguir, que Deus não é somente fiel, mas Ele é o dono da situação, de modo que possa manter sua promessa. Observe o que diz o texto. "não permitirá que sejais tentados além das vossas forças." Então você não poderia ter sido tentado se Deus não tivesse permitido que isso acontecesse com você. Deus é infinitamente muito mais poderoso do que Satanás. O diabo não pode tocar Jó, exceto com permissão divina, nem pode tentá-lo, exceto com o que Deus lhe permite. Ele deve ter uma autorização do Rei dos reis, antes que ele possa tentar um único santo!
E sem a permissão de Deus, o cão do inferno não pode sequer abrir a boca para latir para um filho de Deus, e muito menos que ele possa vir e se lançar sobre qualquer das ovelhas que o Senhor chamou pela sua graça em Seu aprisco! Assim, então, Amado, você tem uma grande causa para conforto no fato de que a tentação que lhe tenta ainda está sob o controle do fiel Criador "que não permitirá que seja tentado além do que você é capaz de suportar."
Há também grande bondade da parte de Deus na continuidade de uma provação. Se algumas das nossas aflições durassem muito mais tempo, elas seriam muito pesadas para nós suportarmos.
Um outro conforto que encontramos no nosso texto relaciona-se com a ajuda que o Senhor dá ao tentado "Deus é fiel, que ... com a tentação dará também o meio de escapar."
O original grego diz, “que com a tentação dará também o meio de escapar", pois há mais de vinte maneiras impróprias para escapar e ai do homem que faz uso de alguma delas! Mas só há uma maneira correta de escapar de uma tentação e esse é o caminho reto, o caminho que Deus fez para Seu povo viajar. Deus fez através de todos as tentações o caminho pelo qual Seus servos possam justamente sair delas.
Quando os jovens judeus foram julgados por Nabucodonosor, havia um caminho pelo qual eles poderiam ter se mantido fora da fornalha de fogo ardente. Eles tinham apenas que curvar os joelhos diante da grande imagem. Essa maneira de escapar nunca teria sido uma solução, pois não era o caminho certo! O caminho para eles era serem jogados na fornalha e lá tiveram o Filho de Deus, que passeava com eles no meio do fogo que não poderia queimá-los! Da mesma maneira, quando você está exposto a qualquer tentação, vigie para que você não tente fugir dela de uma maneira errada.
Observe especialmente que o caminho certo é sempre o de Deus e, portanto, qualquer um de vocês que agora estão expostos à tentação ou tribulação não tentem criar a sua própria maneira de escapar delas. Deus, e somente Deus, tem que fazer isso para você, então não tente fazê-lo por si mesmo.
"Fique parado, e vede o livramento do Senhor."
Mantenha-se afastado do pecado, da tentação e você não precisa temer o sofrimento da tentação.








5 - Não nos Deixe Cair em Tentação

"Não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mal." Lucas 11:4

 As coisas que aprendemos a pedir ou a renunciar em oração, devemos, igualmente, buscar ou rejeitar em ação.
Assim, precisamos fugir com toda sinceridade da tentação, procurando andar cuidadosamente no caminho da obediência, a fim de que o diabo jamais tenha oportunidade de nos tentar.
Não devemos entrar no bosque à procura do leão. Podemos pagar muito caro por essa ousadia. O leão pode cruzar nosso caminho ou sair da mata para nos atacar, mas não temos de sair à sua caça.
Aquele que o encontrar, mesmo que o vença, enfrentará uma árdua batalha.
Cristão, ore para ser poupado desse encontro.
Nosso Salvador conhecia o significado da tentação, por isso, admoestou Seus discípulos: "Orai para que não entreis em tentação."
 Contudo, se fizermos a nossa vontade, certamente seremos tentados; daí a súplica "livra-nos do mal".
Deus teve um Filho sem pecado, mas não teve um filho sem tentação.
O homem natural corre em direção aos problemas da mesma forma que as centelhas correm em direção ao céu; e o cristão, com certeza, em direção às tentações.
É preciso estar sempre alerta contra Satanás, pois, como um ladrão, ele não avisa da sua chegada.
Cristãos que conhecem a maneira de agir de Satanás sabem que há ocasiões em que se pode esperar seus ataques da mesma forma que há ocasiões em que se pode esperar o sopro dos ventos gelados; por isso, o cristão deve redobrar a guarda, temendo o perigo; e afastar o perigo, preparando-se para enfrentá-lo.
Prevenir é melhor do que remediar: é preferível estar tão armado que o diabo não possa atacar, do que enfrentar os perigos da luta, ainda que se possa vencer. Oremos nesta noite para que não entremos em tentação e, se entrarmos, que sejamos livres do mal.

Por Charles Haddon Spurgeon








6 - Como Lidar com as Tentações

Por Mathew Henry

Não devemos orar pedindo que a aflição seja eliminada, tanto quanto pedindo sabedoria para usá-la corretamente. E quem não quer sabedoria para por ela ser guiado nas provas, regulando seu próprio espírito e administrando seus assuntos? Aqui há algo que serve como resposta a cada pensamento triste, quando vamos a Deus experimentando a nossa própria fraqueza e viver néscio. Depois de tudo, alguém pode dizer que essa promessa não é para si próprio, e que não há de triunfar; porém, a promessa é: a todo aquele que pedir, lhe será dado.
Uma mente que se ocupa em considerar o seu interesse espiritual eterno de maneira única e dominante, e que se mantém firme em seus propósitos para com Deus, crescerá sábia pelas aflições, continuará fervorosa em suas devoções e se levantará por sobre as provas e oposições. Quando a nossa fé e espírito se levantam e caem por causas secundárias, nossas palavras e ações serão instáveis. Isto nem sempre expõe os homens ao desprezo do mundo, e são caminhos que não agradam a Deus. Nenhuma situação da vida é tal a ponto de impedir que nos regozijemos em Deus. Os crentes mais fracos podem se regozijar se forem exaltados a serem ricos em fé e herdeiros do reino de Deus; e os ricos podem se regozijar com as providências humilhantes que os levam a uma disposição mental humilde e modesta. A riqueza do mundo é algo que se esgota. Então, que aquele que é rico se regozije na graça de Deus, que o faz e o mantém humilde; e nas provas e exercícios que lhes ensinam a buscar a felicidade em Deus e dEle, e não nos prazeres que perecem.
Nem todo homem que sofre é abençoado, e sim aquele que com paciência e constância vai pelo caminho do dever, através de todas as dificuldades. As aflições não podem nos tornar miseráveis se não forem ocasionadas por nossas próprias faltas. O cristão provado será um cristão coroado. A coroa da vida é prometida a todos os que têm o amor de Deus reinando em seus corações. Toda a alma que verdadeiramente ama a Deus terá suas provas neste mundo passageiro plenamente recompensadas no mundo eterno por vir, onde o amor é perfeito.
Os mandamentos de Deus e os tratos de sua providência provam os corações dos homens, e mostram a disposição que prevalece neles. Porém, nada pecaminoso do coração e da conduta pode ser atribuído a Deus. Ele não é o autor da escória, ainda que a sua prova de fogo a deixa descoberta. Aqueles que culpam o pecado por sua constituição ou a sua situação no mundo, ou fingem que não o podem evitar, procuram culpar a Deus como se Ele fosse o autor do pecado. As aflições, como enviados de Deus, foram concebidas para fazer com que as nossas virtudes reluzam, e não as nossas corrupções. A origem do mal e das tentações está em nossos próprios corações.
Detenha os princípios de pecado, ou todos os males que sobrevierem depois serão totalmente atribuídos a você. Deus não se agrada na morte dos homens, como aquele que não tem nada a ver com os pecados deles, mas os pecados e a miséria devem-se a eles mesmos. Assim como o sol é o mesmo na natureza e influência, mesmo que muitas vezes a terra e as nuvens se interponham, fazendo com que a nós pareça variável, assim Deus é imutável e nossas mudanças e sombras não são mudanças nem alterações nEle. O que o sol é na natureza, Deus é em graça, providência e glória, e infinitamente mais. Como toda a boa dádiva é de Deus, assim, em particular, é que tenhamos nascido de novo, e todas as nossas conseqüências santas e felizes vêm dEle. Um cristão verdadeiro passa a ser uma pessoa tão diferente da que era antes das influências renovadoras da graça divina, que é como se fosse formado de novo. Devemos dedicar todas as nossas habilidades ao serviço de Deus, para que possamos ser uma espécie de primícias das suas criaturas.
Ao invés de culpar a Deus quando estamos submetidos a provas, abramos os nossos ouvidos e corações para aprender o que Ele está nos ensinando por elas. Se os homens desejam governar as suas línguas, devem governar as suas paixões. A pior coisa que podemos acrescentar a uma disputa é a ira.
Aqui há uma exortação a se separar e a se lançar fora, como uma roupa suja, todas as práticas pecaminosas. Isto deve alcançar também os pecados do pensamento e do afeto, e os pecados do falar e do agir, a toda coisa pecaminosa e corrupta. Devemos nos render à Palavra de Deus com mentes humildes e dóceis ao ensino. Devemos estar dispostos a ouvir sobre os nossos defeitos e fazê-lo não só com paciência, mas também com gratidão. O objetivo da Palavra de Deus é nos tornar sábios para a salvação; e aqueles que se propõem a qualquer finalidade má ou baixa ao prestar-lhe atenção, desonram o Evangelho e tiram as esperanças de suas próprias almas.







7 - Tentação

“Não vos sobreveio tentação que não fosse humana” (1Co 10.13).

Outros podem contentar-se com suas interpretações pessoais. Quanto a mim, penso que isto foi escrito para encorajar os coríntios, para que, após ouvirem esses terríveis exemplos da ira divina, mencionados por Paulo, não ficassem perturbados, nem assombrados, nem sucumbidos. Consequentemente, a fim de que sua exortação viesse a ter algum efeito, ele acrescenta que há oportunidade para arrependimento. Ele poderia ter posto nestes termos: "Não há necessidade de desespero, e eu mesmo não tive a intenção de deixar-vos desanimados. Naturalmente, o que vos sobreveio não vai além do que usualmente sucede aos homens." Outros são mais inclinados a crer que ele está, aqui, recriminando a pusilanimidade dos coríntios em entregar-se quando leve tentação os atingia; e não há dúvida de que o termo humanus, traduzido por humana, às vezes significa “moderado”. Portanto, o significado, segundo eles, é o seguinte: "É correto que vos deixeis sucumbir diante de uma leve tentação?". Porém, visto que adequa-se melhor ao contexto olharmos este versículo em termos de consolação, então sinto-me mais inclinado a adotar este ponto de vista.

Mas Deus é fiel. Assim como lhes disse que tivessem bom ânimo com relação ao passado, com o fim de movê-los ao arrependimento, também os encoraja com uma esperança definida para o futuro, pois Deus não permitiria que fossem tentados além de suas forças. Porém os adverte a que atentassem bem para o Senhor, porque, se pusermos nosso coração em nossos próprios recursos, a tentação, não importa quão suave seja, levará a melhor sobre nós, e nos subjugará. Ele chama o Senhor de fiel. A sua intenção vai além da ideia de Deus ser verdadeiro em Suas promessas. Ele poderia ter posto nestes termos: "O Senhor é o Protetor comprovado de seu povo, e em sua proteção estais seguros, porque jamais deixa o seu povo entregue à sua própria sorte. Por isso, tendo-vos uma vez tomado sob sua fidedignidade pessoal (=in suamfidem), não tendes necessidade alguma de temer, desde que dependais inteiramente dele. Pois certamente que estaria procedendo falsamente para conosco caso viesse a revogar o seu apoio no momento em que necessitássemos dele; ou, ao nos ver lutando em meio às fraquezas, arqueados sob pesado fardo, permitisse se prolongassem nossas lutas (=tentações) por tempo indefinido."

No entanto, Deus nos socorre de duas formas para que não venhamos, porventura, a sucumbir em meio às tentações: ele nos supre com os recursos de que necessitamos e estabelece um limite à tentação. O apóstolo focaliza principalmente o segundo socorro. Não obstante, ele não ignora o primeiro, ou seja: que Deus mitiga as tentações para impedir que nos esmaguem sob seu peso. Pois sabemos até onde vai nossa capacidade, e foi Ele mesmo quem no-la deu, e é Ele quem adequa nossas tentações a esse grau de capacidade. Tomo a palavra “tentação”, aqui, num sentido geral, como sendo tudo quanto nos provoca sedução.

Por João Calvino










144) TESTEMUNHO


ÍNDICE

1 - João Batista Testemunhou que a Graça e a Verdade Vieram por Jesus
2 - As testemunhas de Cristo testificam que Ele é a luz do espírito
3 - “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo” (Filipenses 1.27)
4 - “Assim andai nele." (Colossenses 2.6)
5 - Mortos, Mas Ainda Falam
6 - Por que Precisamos dos Puritanos
7 - O Martírio de Hugh Latimer
8 - "Vós sois de Cristo." (I Cor 3.23)
9 - Lutero, Bunyan, a Bíblia e o Sofrimento
10 - O Risco Radical e Frutífero de Charles Wesley
11 - Sal para o Sacrifício
12 - Lutando Pela Causa Certa
13 - O Que é Não Negar o Senhor?
14 - A Estranha Tarefa de Testificar a Respeito da Luz
15 - Aprendendo do Exemplo de Charles Simeon
16 - Testemunho


1 - João Batista Testemunhou que a Graça e a Verdade Vieram por Jesus

João batista, deu um testemunho maravilhoso, pertencendo ele, ainda, à dispensação do antigo testamento, tendo morrido pouco antes de Jesus instituir o novo testamento (nova aliança) com o Seu sangue derramado na cruz.
O maravilhoso testemunho de João Batista, demonstra o quanto havia sido separado por Deus, para preanunciar o ministério do Messias.
Ele distinguiu perfeitamente, pela revelação que lhe fora feita por Deus, que a antiga aliança que havia sido instituída com a mediação de Moisés, baseada na Lei, seria revogada para dar lugar à Nova Aliança em Jesus Cristo, baseada no poder da graça, e na revelação da verdade relativa à salvação que é segundo a referida graça.
São suas palavras, as que lemos João 1.15-18:

“15 João testificou dele, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.
16 E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça sobre graça.
17 Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.
18 Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.”.

João Batista, disse que Jesus viria após ele, mas que já existia antes dele ter vindo ao mundo, e que era dEle que nós recebemos da sua plenitude e graça sobre graça (v. 15, 16), e a razão disto é que Ele não veio nos trazer a Lei tal como ela fora dada a Moisés, mas a graça e a verdade do evangelho, pelas quais somos salvos e transformados em novas criaturas (v. 17).
Jesus é a expressa imagem de Deus Pai, porque é da mesma essência que Ele, de maneira que o Deus invisível que ninguém nunca havia visto, foi revelado por meio do Seu Filho unigênito (v. 18).
Jesus se manifestou cheio de graça e de verdade para poder repartir da Sua plenitude dando-os como dons aos homens de fé.
Ele tem toda a suficiência de graça e de verdade para salvar os pecadores e torná-los semelhantes a Ele próprio.  
Nós devemos então olhar para Jesus com os olhos da fé, da maneira que convém ser olhado, isto é, como alguém que está completamente cheio de toda graça, virtude, verdade, dons, enfim, tudo o que for necessário para o nosso aperfeiçoamento espiritual, e para que tenhamos um viver em verdadeira vitória perante Ele, recebendo dEle toda a provisão que necessitamos.
Ele está cheio de graça e de verdade e os que esperam nEle não terão falta alguma.
Ele é uma fonte inesgotável, e o Espírito que nos tem dado é um rio de águas vivas que flui para a eternidade e cujas águas jamais se esgotarão.
Nunca devemos portanto, ficar satisfeitos e imóveis com a medida de graça que tivermos no presente, porque somos chamados a avançar de medida de graça sobre graça até à perfeita maturidade em Cristo Jesus.
O apóstolo Paulo havia experimentado abundantemente desta fonte e viu que sempre havia muito mais para ser experimentado, e assim ele falou de uma graça superabundante, de uma suprema riqueza da graça inescrutável de Cristo (Rom 5.20; Ef 1.7; 2.7; 3.8).
É graça sobre graça para fazer avançar a própria graça na nossa vida, e não propriamente para atender a desejos caprichosos terrenos.
Das nossas necessidades terrenas Deus cuidará, mas elas não podem nos melhorar e aperfeiçoar um só milímetro, por isto a graça é concedida para que sejamos revestidos da plenitude de Deus em nosso próprio ser.
Uma graça é para melhorar, confirmar e aperfeiçoar outra graça.
Nós somos transformados à imagem divina de glória em glória. De um grau de graça glorioso para outro (II Cor 3.18).
Por isso se diz que àquele que tem, ser-lhe-á dado mais, porque onde há a verdadeira graça ela será aumentada por Deus, e tanto mais, quando for mais abundante (Lc 8.18; Tg 4.6).
Muitos seminários teológicos têm partido do pressuposto errado de que é necessário colocar a filosofia como o fundamento do todo do ensino teológico. No entanto, onde há espaço na filosofia secular para definir o que é espiritual e divino?
Onde há espaço por exemplo, para falar sobre esta graça sobre graça?
É preciso vigiar nestes dias difíceis para que não sejamos desviados da verdade, conforme está revelada nas Escrituras e confirmada na experiência daqueles que têm feito a vontade de Deus e que assim têm conhecido que a doutrina de Cristo veio do céu, da parte de Deus Pai para nós (Jo 7.17).







2 - As testemunhas de Cristo testificam que Ele é a luz do espírito

Jesus é a luz do mundo, mais especificamente a luz que dá vida e entendimento aos nossos espíritos que se encontram mortos por causa do pecado, enquanto não somos iluminados pela sua maravilhosa Luz.

Nós lemos o seguinte em João 1.6-14:

“6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7 Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.
8 Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.
9 Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.
10 Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;
13 Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”

A luz é essencial para que possamos enxergar.
Então, sem Jesus, que é a luz do espírito, não podemos enxergar as realidades espirituais celestiais e divinas.
E isto não apenas num sentido místico, sobrenatural, mas também, pela revelação da verdade e da graça que nos liberta da escravidão ao pecado, que ele nos transmitiu em seu ensino em palavras, ensino este, que o apóstolo João registrou em seu evangelho, e também todos os demais que foram inspirados por Ele na produção das Escrituras.
Por isso, o apóstolo diz que João Batista havia sido enviado por Deus para dar testemunho da luz, não sendo ele a fonte desta luz maravilhosa, mas da fonte da verdadeira luz que é Cristo.
João Batista veio para testificar da luz, clamando no deserto para que todos cressem nAquele que é a luz e que é a única que pode iluminar a todo homem que chega à existência neste mundo.
Fora dEle há somente trevas e morte. Mas os que estão nEle encontram luz e conseqüentemente a vida.
Jesus criou o mundo, e se manifestou ao mundo, mas o mundo não pode conhecê-lo, senão aqueles que vêm para a Sua luz, para serem iluminados, de modo a entenderem para viverem as realidades espirituais do céu (v. 10).
Este testemunho de João que ele havia aprendido diretamente do próprio Cristo de ser Ele o criador do mundo, acaba com todo o debate acerca da divindade de Jesus, porque ninguém, a não ser somente um ser divino poderia ter criado o mundo.
João usa o verbo no passado “estava no mundo”, ao se referir ao Senhor, porque vários anos já haviam se passado desde que Ele havia ressuscitado e subido ao céu, quando João escreveu este seu evangelho.
Então ele está dizendo do que havia visto acerca do ministério terreno de Jesus, e especialmente da sua rejeição pelos judeus, rejeição esta que continuaria ocorrendo por causa do endurecimento deles, até que o Senhor volte para resgatar o remanescente de Israel, conforme profetizado pelo profeta Isaías.
Estes que não receberam a Jesus, e aos quais João se refere dizendo que Ele “veio para o que era seu”, não são portanto propriamente os eleitos de Deus, mas o Israel segundo a carne, configurado na nação israelita, tanto da Judéia, quanto da dispersão, porque Deus lhes havia escolhido para se revelar ao mundo através deles, dando-lhes o privilégio de evangelizarem o mundo, no entanto eles o recusarem porque não reconheceram que Jesus é o Messias. Não permitiram ser iluminados pela Sua luz, e assim, permaneceram nas trevas (v. 11).
A nação de Israel se recusou em receber ao Senhor, mas todos aqueles que dentre os judeus, e todos os gentios, que O têm recebido, a estes Ele tem dado o poder de se tornarem  filhos de Deus, pela simples fé nEle, pela qual alcançam o arrependimento, a justificação, a regeneração, a santificação e a glorificação que são por meio dEle (v. 12).
Estes que são tornados filhos de Deus, foram regenerados pelo Espírito Santo, conforme a vontade de Deus em relação a eles, e não por nascimento natural (laços de sangue), nem da vontade da carne, nem da vontade do homem.
Não foi por um planejamento dos desejos e nem da vontade da alma do homem que alguém é transformado em filho de Deus, mas pelo Seu exclusivo poder e vontade (v. 12, 13).
O novo nascimento não ocorre através de geração natural de nossos pais.
Não é do sangue nem da vontade da carne, mas de semente incorruptível (I Pe 1.23), a saber, pelo Logos, pela Palavra da Verdade, a Palavra de Deus.
A graça não corre no sangue, mas nas veias de Emanuel, de quem recebemos esta vida que é pela graça.
Leis escritas pelos homens não podem regenerar e santificar uma alma.
Caso pudessem, o novo nascimento seria pela vontade do homem.
Foi para este propósito que Jesus (o Verbo) encarnou e veio a este mundo tendo habitado entre os homens, e manifestado aos seus discípulos a sua glória como Filho unigênito de Deus Pai, estando cheio de graça e de verdade.
Jesus não deixou de ser o Verbo e luz quando encarnou.
E a sua grande humilhação não consistiu somente em ter deixado a glória celestial para encarnar neste mundo, e nem mesmo o fato de ter sido rejeitado pelos judeus e por aqueles que não são eleitos de Deus, mas sobretudo por ter deixado a perfeição do céu para vir habitar neste mundo de trevas.
Isto é muito duro para Alguém que é completamente elevado, santo e perfeito.
Mas Ele se humilhou até o ponto de ter descido da glória celestial para habitar com míseros pecadores, para poder conduzir a muitos deles à mesma glória celestial.
Que grande e maravilhoso exemplo de humildade e condescendência o Senhor nos deu na Sua encarnação, de maneira que devemos seguir-Lhe os passos quanto a isto, não no sentido de termos alguma própria glória de nós mesmos que devemos deixar, mas de sermos condescendentes com todas as pessoas, não fazendo acepção de qualquer pessoa, julgando-nos superiores a elas por conta do grau da nossa santificação em Deus, porque não houve e jamais haverá maior santo que o próprio Senhor, e Ele consentiu receber os pecadores, e não os julgou e condenou pela miséria espiritual em que eles se encontravam.
De maneira que todo aquele que estiver sendo instruído verdadeiramente por Cristo, agirá tal como Ele, seguindo o exemplo que Ele nos deixou.
Ele não habitou entre nós por apenas uns poucos dias, mas por um longo tempo, e não em circunstâncias agradáveis, mas difíceis, nem tendo onde reclinar a Sua cabeça.
Ele renunciou a qualquer tipo de conforto para nos deixar o exemplo de que não devemos deixar de ser gratos e obedientes a Deus por causa de alguma circunstância difícil que estejamos vivendo.
Mas é somente nEle, em íntima comunhão com Ele que podemos achar o mesmo poder desta vida cheia da graça e da verdade de Deus.
Muitos haviam permanecido no batismo de João e não avançaram além disto, e assim não chegaram a conhecer a verdadeira luz da qual o próprio João veio dar testemunho, como a luz da fonte que é Cristo que ardeu no próprio João por um breve tempo, no seu curto ministério no deserto.
João não era o Noivo, mas o amigo do Noivo. Não era o Príncipe, mas o seu precursor. Não era a luz, mas o reflexo da luz. O próprio João reconheceu que não era ele que deveria ser seguido, mas o Cristo do qual ele dava testemunho.
De igual maneira, nós não devemos ser seguidores e adoradores dos ministros do evangelho, mas somente dAquele para o qual eles devem apontar, que é Cristo.
Eles não são nossos senhores, e nem têm domínio sobre a nossa fé, mas são apenas ministros por meio de quem nós cremos porque deram testemunho da luz como mordomos na casa de Deus.
Ninguém deve se deixar conduzir por uma fé cega nos homens, por mais santos que eles sejam, porque não são eles aquela luz que veio ao mundo e pela qual os homens recebem uma nova vida de Deus, mas temos que dar atenção e receber o testemunho deles porque são enviados pelo próprio Deus como testemunhas da luz que dá vida aos homens.
Se João Batista tivesse fingido ser ele próprio a luz, ele não teria sido uma testemunha fiel da luz de Jesus.
Assim, aqueles que usurpam a honra e a glória de Cristo terão que prestar contas a Deus do mau uso que fazem da mordomia deles.








3 - “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo” (Filipenses 1.27)

A palavra "vivei” do texto é vertida do original grego politeúomai, que tem o significado de viver a vida de um cidadão, cumpridor dos deveres de sua cidadania, e no caso do evangelho, de uma maneira digna da pátria celeste de cujo corpo de cidadãos somos membros. Esta palavra carrega portanto um significado relativo a todo o curso de nossa vida e comportamento no mundo. A palavra grega significa as ações e os privilégios da cidadania, e, portanto, nos é ordenado que nossas ações, como cidadãos da Nova Jerusalém, sejam dignas do evangelho de Cristo.
Que tipo de vida é essa? Em primeiro lugar, o evangelho é muito simples . Assim, os cristãos devem ser simples e claros em seus hábitos. Deve haver em nossos modos, nossa fala, nossas vestes, todo o nosso comportamento, aquela simplicidade que é a alma da beleza.
O evangelho é eminentemente verdadeiro, é ouro sem escória, e a vida do cristão será sem brilho e sem valor, sem a joia da verdade. O evangelho é um evangelho ousado, sem temor, ele proclama a verdade, se os homens gostam ou não; temos que ser igualmente firmes e fiéis.
Mas o evangelho é também muito gentil . Tem este espírito marcado em seu Fundador: "uma cana trilhada não será quebrada". Alguns ministros do evangelho são mais  cortantes do que uma sebe de espinhos; tais homens não são como Jesus. Procuremos ganhar os outros pela gentileza de nossas palavras e atos.
O evangelho é muito amoroso. É a mensagem do Deus de amor a uma raça perdida e caída. A última ordem de Cristo aos seus discípulos foi: "Amai-vos uns aos outros." Oh, para uma mais real união de coração e por amor a todos os santos, para uma mais terna compaixão para com as almas dos piores e mais vis dos homens!
Não devemos esquecer que o evangelho de Cristo é santo . Ele nunca desculpa o pecado: ele o perdoa, mas somente através de uma expiação. Se a nossa vida deve se assemelhar ao evangelho, devemos então evitar, não apenas os vícios mais grosseiros, mas tudo o que possa dificultar a nossa perfeita conformidade com Cristo. Por causa dele, para o nosso próprio bem e por amor aos outros, devemos nos esforçar a cada dia para que nossa conversação e comportamento sejam mais de acordo com o seu evangelho.

Texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.








4 - “Assim andai nele." (Colossenses 2.6)

Se recebemos o próprio Cristo em nossos corações, a nossa nova vida se manifestará em íntima familiaridade com ele por uma caminhada de fé nele .
Andar implica ação . Nossa religião não deve ser confinada ao nosso quarto, é preciso haver um efeito prático no que cremos. Se uma pessoa caminha em Cristo, então ela  agirá do mesmo modo como Cristo agiria, porque Cristo é nela, a sua esperança, o seu amor, a sua alegria, a sua vida, ela é o reflexo da imagem de Jesus, e os homens dizem a seu respeito: “Ele é como o seu Mestre; ele vive como Jesus Cristo".
Andar significa progresso. "Assim, andai nele"; agindo de graça em graça, correndo para a frente até chegar ao limite do grau de conhecimento que o homem possa alcançar sobre o nosso Amado.
Andar implica continuidade. Deve haver uma perpétua permanência em Cristo. Quantos cristãos pensam que devem estar na companhia de Jesus, somente pela manhã e à noite, e que podem, então, dar o seu coração para o mundo todo o dia; mas isso é um viver pobre; devemos sempre estar com ele, pisando em seus passos e fazendo a sua vontade.
Andar também implica hábito. Quando falamos do caminhar e da conversação de um homem, queremos nos referir aos seus hábitos, o teor constante de sua vida. Agora, se, algumas vezes, desfrutamos de Cristo, e depois o esquecemos; se às vezes o chamamos de nosso, e logo perdemos a sua companhia; isto não é um hábito, nós não andamos nele. Temos que permanecer nele, agarrarmo-nos a ele, nunca deixá-lo ir, mas vivermos e termos o nosso ser nele.
"Como recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nele"; perseverando da mesma forma como você havia começado, e, como no início Jesus Cristo era a confiança de sua fé, a fonte de sua vida, o princípio de sua ação, e a alegria de seu espírito, de igual modo ele deve ser até o final da sua vida, mesmo quando você andar pelo vale da sombra da morte, e celebrar a alegria e o descanso que permanecem para o povo de Deus. Que o Espírito Santo nos permita obedecer a esse preceito divino.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.








5 - Mortos, Mas Ainda Falam

Hebreus 13.7: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram.”

Aqueles aos quais somos ordenados pela Palavra a lembrar de tudo o que foram e ensinaram são chamados de guias, do grego hegouménon, palavra usada para governo, regência, liderança, principais oradores, líderes principais. Aqui se diz também que a fé que tiveram (indicando que já haviam morrido) deveria ser imitada.
Disto concluímos pelo menos três coisas:
Primeiro que estes modelos são de caráter espiritual. Sua liderança é espiritual e aponta para as verdades do reino de Deus.
Segundo, eles não são tantos, comparados com o grande número daqueles que compõem o rebanho de Cristo.
Terceiro: apesar de já terem morrido, devem ser imitados e seguidos em sua liderança espiritual por tudo o que fizeram e escreveram, inspirados pelo Espírito Santo, para a instrução e direção dos cristãos na verdade.
Vejam as vidas piedosas e úteis para o evangelho, de John Piper, Paul Washer, Augusto Nicodemus, John MacArthur, D. M. Lloyd Jones, John Stott, David Wilkerson, Leonard Ravenill, homens deste nosso século e do século XX, entre tantos outros servos valorosos de Deus, que tiveram seus caracteres transformados e moldados pelo Espírito de Deus pela influência que haviam recebido especialmente pela leitura dos escritos de outros grandes homens de Deus do passado, como por exemplo, Charles Haddon Spurgeon, George Whitefield, Jonathan Edwards, entre outros; que por sua vez haviam sido influenciados por outros que haviam vivido antes deles, como Mattew Henry, John Owen, Richard Baxter, Thomas Watson, e muitos outros. No caso dos irmãos Wesley, John e Charles, tiveram suas vidas influenciadas por Martin Law, Henry Venn, por Zinzerdoff, e outros. Todos estes haviam bebido na fonte de Wiliam Perkins, Wiliam Tyndale, e antes destes, de John Wiclyff, John Huss, dos chamados pais da Igreja, dos apóstolos de Jesus, do próprio Cristo, dos profetas e das vida de todos os homens de Deus registradas nas Escrituras.
A graça cristalina do evangelho não flui em fontes contaminadas pelo erro. Ela tem os seus canais consagrados por onde continua sendo transmitida àqueles que são dirigidos pelo Espírito Santo a beber das mesmas.
Bem-aventurados são todos aqueles cujos corações se inclinam para a verdade, e que têm fome e sede de justiça, porque haverão de ser conduzidos pelo Espírito Santo a serem saciados nestes muitos oásis onde achamos a verdade celestial não contaminada e cheia daquele vigor espiritual transformador de vidas, porque todos estes que viveram e morreram pela verdade do evangelho, estavam cheios de doçura e do poder do Espírito para continuarem falando através das sucessivas gerações.      

Heb 2:1  Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos.








6 - Por que Precisamos dos Puritanos

Por J. I. Packer

O hipismo é conhecido como esporte de reis. O esporte do “atiralama”, porém, possui mais ampla adesão. Ridicularizar os Puritanos,em particular, há muito é passatempo popular nos dois lados do Atlântico,e a imagem que a maioria das pessoas tem do Puritanismo ainda contém bastante da deformadora sujeira que necessita ser raspada. “Puritano”, como um nome, era, de fato, lama desde o começo. Cunhado cedo, nos anos 1560, sempre foi um palavra satírica e ofensiva, subentendendo mau humor, censura, presunção e certa medida de hipocrisia, acima e além da sua implicação básica de descontentamento, motivado pela religião, para com aquilo que era visto como a laodicense e comprometedora Igreja da Inglaterra, de Elizabeth. Mais tarde, a palavra ganhou a conotação política adicional de ser contra a monarquia Stuart e a favor de algum tipo de republicanismo; sua primeira referência, no entanto, ainda era ao que se via como um forma estranha, furiosa e feia de religião protestante. Na Inglaterra, o sentimento antipuritano disparou no tempo da Restauração e tem fluído livremente desde então; na América do Norte edificou-se lentamente, após os dias de Jonathan Edwards, para atingir seu zênite há cem anos atrás na Nova Inglaterra pós-Puritana. No último meio século, porém, estudiosos têm limpado a lama meticulosamente.
E, como os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina têm cores pouco familiares depois que os restauradores removeram o verniz escuro, assim a imagem convencional dos Puritanos foi radicalmente recuperada, ao menos para os informados. (Aliás, o conhecimento hoje viaja devagar em certas regiões.) Ensinados por Perry Miller, William Haller, Marshall Knappen, Percy Scholes, Edmund Morgan e uma série de pesquisadores mais recentes, pessoas bem informadas agora reconhecem que os Puritanos típicos não eram homens selvagens, ferozes e monstruosos fanáticos religiosos, e extremistas sociais, mas sóbrios, conscienciosos, cidadãos de cultura, pessoas de princípio, decididas e disciplinadas, excepcionais nas virtudes domésticas e sem grandes defeitos, exceto a tendência de usar muitas palavras ao dizer qualquer coisa importante, a Deus ou ao homem. Afinal está sendo consertado o engano.
Mas, mesmo assim, a sugestão de que necessitamos dos Puritanos — nós, ocidentais do final do século vinte, com toda nossa sofisticação e maestria de técnica tanto no campo secular como no sagrado — poderá erguer algumas sobrancelhas. Resiste a crença de que os Puritanos, mesmo se fossem de fato cidadãos responsáveis, eram ao mesmo tempo cômicos e patéticos, sendo ingênuos e supersticiosos, super-escrupulosos, mestres em detalhes e incapazes ou relutantes em relaxarem. Pergunta-se: O que estes zelotes nos poderiam dar do que precisamos? A resposta é, em uma palavra, maturidade.
A maturidade é uma composição de sabedoria, boa vontade, maleabilidade e criatividade. Os Puritanos exemplificavam a maturidade; nós não. Um líder bem viajado, um americano nativo, declarou que o protestantismo norte-americano— centrado no homem, manipulativo, orientado pelo sucesso, auto-indulgente e sentimental como é, patentemente — mede cinco mil quilômetros de largura e um centímetro de profundidade. Somos anões espirituais. Os Puritanos, em contraste, como um corpo eram gigantes. Eram grandes almas servindo a um grande Deus.
Neles, a paixão sóbria e a terna compaixão combinavam. Visionários e práticos, idealistas e também realistas, dirigidos por objetivos e metódicos, eram grandes crentes, grandes esperançosos, grandes realizadores e grandes sofredores. Mas seus sofrimentos, de ambos os lados do oceano (na velha Inglaterra pelas autoridades e na Nova Inglaterra pelo clima), os temperaram e amadureceram até que ganharam uma estatura nada menos do que heróica. Conforto e luxo, tais como nossa afluência hoje nos traz, não levam à maturidade; dureza e luta, sim, e as batalhas dos Puritanos contra os desertos evangélico e climático onde Deus os colocou produziram uma virilidade de caráter, inviolável e invencível, erguendo-se acima de desânimo e temores, para os quais os verdadeiros precedentes e modelos são homens como Moisés e Neemias, Pedro, depois do Pentecoste, e o apóstolo Paulo.
A guerra espiritual fez dos Puritanos o que eles foram. Eles aceitaram o antagonismo como seu chamado, vendo a si mesmos como os soldados peregrinos do seu Senhor, exatamente como na alegoria de Bunyan, sem esperarem poder avançar um só passo sem oposição de uma espécie ou outra. John Geree, no seu folheto “O Caráter de um Velho Puritano Inglês ou Inconformista” (1646), afirma: “Toda sua vida ele a tinha como uma guerra onde Cristo era seu capitão; suas armas: orações e lágrimas. A cruz, seu estandarte; e sua palavra [lema], Vincit qui patitur [o que sofre, conquista]”.
Os Puritanos perderam, em certa medida, toda batalha pública em que lutaram. Aqueles que ficaram na Inglaterra não mudaram a igreja da Inglaterra como esperavam fazer, nem reavivaram mais do que uma minoria dos seus partidários e eventualmente foram conduzidos para fora do anglicanismo por meio de calculada pressão sobre suas consciências. Aqueles que atravessaram o Atlântico falharam em estabelecer Nova Jerusalém na Nova Inglaterra; durante os primeiros cinqüenta anos suas pequenas colônias mal sobreviveram, segurando-se por um fio. Mas a vitória moral e a espiritual que os Puritanos conquistaram permanecendo dóceis, pacíficos, pacientes, obedientes e esperançosos sob contínuas e aparentemente intoleráveis pressões e frustrações, dão-lhes lugar de alta honra no “hall” de fama dos crentes, onde Hebreus 11 é a primeira galeria. Foi desta constante experiência de forno que forjou-se sua maturidade, e sua sabedoria relativa ao discipulado foi refinada. George Whitefield, o evangelista, escreveu sobre eles como se segue:
Ministros nunca escrevem ou pregam tão bem como quando debaixo da cruz; o Espírito de Cristo e de glória paira então sobre eles. Foi isto sem dúvida que fez dos Puritanos... as lâmpadas ardentes e brilhantes. Quando expulsos pelo sombrio Ato Bartolomeu (o Ato de Uniformidade de 1662) e removidos dos seus respectivos cargos para irem pregar em celeiros e nos campos, nas rodovias e sebes, eles escreveram e pregaram como homens de autoridade. Embora mortos, pelos seus escritos eles ainda falam; uma unção peculiar lhes atende nesta mesma hora... Estas palavras vêm do prefácio de uma reedição dos trabalhos de Bunyan que surgiu em 1767; mas a unção continua, a autoridade ainda é sentida, e a amadurecida sabedoria permanece empolgante, como todos os modernos leitores do Puritanismo cedo descobrem por si mesmos. Através do legado desta literatura, os Puritanos podem nos ajudar hoje na direção da maturidade que eles conheceram e que precisamos. De que maneiras podemos fazer isto? Deixe-me sugerir alguns pontos específicos. Primeiro, há lições para nós na integração das suas vidas diárias. Como seu cristianismo era totalmente abrangente, assim o seu viver era uma unidade. Hoje, chamaríamos o seu estilo de vida de “holístico”: toda conscientização, atividade e prazer, todo “emprego das criaturas” e desenvolvimento de poderes pessoais e criatividade, integravam- se na única finalidade de honrar a Deus, apreciando todos os seus dons e tomando tudo em “santidade ao Senhor’’. Para eles não havia disjunção entre o sagrado e o secular; toda a criação, até onde conheciam, era sagrada, e todas as atividades, de qualquer tipo, deviam ser santificadas, ou seja, feitas para a glória de Deus. Assim, no seu ardor elevado aos céus, os Puritanos tornaram- se homens e mulheres de ordem, sóbrios e simples, de oração, decididos, práticos. Viam a vida como um todo, integravam a contemplação com a ação, culto com trabalho, labor com descanso, amor a Deus com amor ao próximo e a si mesmo, a identidade pessoal com a social e um amplo espectro de responsabilidades relacionadas umas com as outras, de forma totalmente consciente e pensada.
Nessa minuciosidade eram extremos, diga-se, muito mais rigorosos do que somos, mas ao misturar toda a variedade de deveres cristãos expostos na Escritura eram extremamente equilibrados. Viviam com “método” (diríamos, com uma regra de vida), planejando e dividindo seu tempo com cuidado, nem tanto para afastar as coisas ruins como para ter certeza de incluir todas as coisas boas e importantes — sabedoria necessária, tanto naquela época como agora, para pessoas ocupadas! Nós hoje que tendemos a viver vidas sem planejamento, ao acaso, em uma série de compartimentos incomunicantes e que, portanto, nos sentimos sufocados e distraídos a maior parte do tempo, poderíamos aprender muito com os Puritanos nesse ponto. Em segundo lugar, há lições para nós na qualidade de sua experiência espiritual. Na comunhão dos Puritanos com Deus, assim como Jesus era central, a Sagrada Escritura era suprema. Pela Escritura, como a Palavra de instrução de Deus sobre relacionamento divino-humano, buscavam viver, e aqui também eram conscienciosamente metódicos. Reconhecendo- se como criaturas de pensamento, afeição e vontade, e sabendo que o caminho de Deus até o coração (a vontade) é via cabeça humana (a mente), os Puritanos praticavam meditação, discursiva e sistemática, em toda a amplitude da verdade bíblica, conforme a viam aplicando- se a eles mesmos. A meditação Puritana na Escritura se modelava pelo sermão Puritano; na meditação o Puritano buscaria sondar e desafiar seu coração, guiar suas afeições para odiar o pecado, amar a justiça e encorajar a si mesmo com as promessas de Deus, assim como pregadores Puritanos o fariam do púlpito.
Esta piedade racional, resoluta e apaixonada era consciente sem tomar- se obsessiva, dirigida pela lei sem cair no legalismo, e expressiva da liberdade cristã sem vergonhosos deslizes para a licenciosidade. Os Puritanos sabiam que a Escritura é a regra inalterada da santidade, e eles nunca se permitiram esquecer disto. Conhecendo também a desonestidade e a falsidade dos corações humanos decaídos, cultivavam humildade e auto-suspeita como atitudes constantes, examinando-se regularmente em busca dos pontos ocultos e males internos furtivos. Por isso não poderiam ser chamados de mórbidos ou introspectivos; pelo contrário, descobriram a disciplina do autoexame pela Escritura (não é o mesmo que introspecção, notemos), seguida da disciplina da confissão e do abandono do pecado e renovação da gratidão a Cristo pela sua misericórdia perdoadora como fonte de grande gozo e paz interiores. Hoje nós que sabemos à nossa custa que temos mentes não esclarecidas, afeições incontroladas e vontades instáveis no que se refere a servir a Deus e que freqüentemente nos vemos subjugados por um romanticismo emocional, irracional, disfarçado de superespiritualidade, nos beneficiaríamos muito do exemplo dos Puritanos neste ponto também. Em terceiro lugar, há lições para nós na sua paixão pela ação eficaz. Embora os Puritanos, como o resto da raça humana, tivessem seus sonhos do que poderiam e deveriam ser, não eram definitivamente o tipo de gente que denominaríamos “sonhadores”! Não tinham tempo para o ócio do preguiçoso ou da pessoa passiva que deixa para os outros o mudar o mundo. Foram homens de ação no modelo puro reformado — ativistas de cruzada sem qualquer autoconfiança; trabalhadores para Deus que dependiam sumamente de que Deus trabalhasse neles e através deles e que sempre davam a Deus a glória por qualquer coisa que faziam, e que em retrospecto lhes parecia correta; homens bem dotados que oravam com afinco para que Deus os capacitasse a usar seus poderes, não para a auto-exibição, mas para a glória dEle. Nenhum deles queria ser revolucionário na igreja ou no Estado, embora alguns relutantemente tenham-se tornado tal; todos eles, entretanto, desejavam ser agentes eficazes de mudança para Deus onde quer que se exigisse mudança. Assim Cromwell e seu exército fizeram longas e fortes orações antes de cada batalha, e pregadores pronunciaram extensas e fortes orações particulares sempre antes de se aventurarem no púlpito, e leigos proferiram longas e fortes orações antes de enfrentarem qualquer assunto de importância (casamento, negócios, investimentos maiores ou qualquer outra coisa).
Hoje, porém, os cristãos ocidentais se vêem em geral sem paixão, passivos, e, teme-se, sem oração. Cultivando um sistema que envolve a piedade pessoal num casulo pietista, deixam os assuntos públicos seguirem seu próprio curso e nem esperam, nem, na maioria, buscam influenciar além do seu próprio círculo cristão. Enquanto os Puritanos oraram e lutaram por uma Inglaterra e uma Nova Inglaterra santas — sentindo que onde o privilégio é negligenciado e a infidelidade reina, o juízo nacional está sob ameaça — os cristãos modernos alegremente se acomodam com a convencional respeitabilidade social e, tendo feito assim, não olham além. Claro, é óbvio que a esta altura também os Puritanos têm muita coisa para nos ensinar. Em quarto lugar, há lições para nós no seu programa para a estabilidade da família. Não seria demais dizer que os Puritanos criaram a família cristã no mundo de língua inglesa. A ética Puritana do casamento consistia em primeiro se procurar um parceiro não por quem se fosse perdidamente apaixonado no momento, mas a quem se pudesse amar continuamente como seu melhor amigo por toda a vida e proceder com a ajuda de Deus a fazer exatamente isso. A ética Puritana de criação de filhos era treinar as crianças no caminho em que deveriam seguir, cuidar dos seus corpos e almas juntos e educá-los para a vida adulta sóbria, santa e socialmente útil. A ética Puritana da vida no lar baseava-se em manter a ordem, a cortesia e o culto em família. Boa vontade, paciência, consistência e uma atitude encorajadora eram vistas como as virtudes domésticas essenciais. Numa era de desconfortos rotineiros, medicina rudimentar sem anestésicos, freqüentes lutos (a maioria das famílias perdia tantos filhos quantos criava), uma média de longevidade um pouco abaixo dos trinta e dificuldade econômica para quase todos, salvo príncipes mercantes e pequenos proprietários fidalgos, a vida familiar era uma escola para o caráter em todos os sentidos.
A fortaleza com que os Puritanos resistiam à bem conhecida tentação de aliviar a pressão do mundo através da violência no lar e lutavam para honrar a Deus apesar de tudo, merece grande elogio. Em casa os Puritanos mostravam-se maduros, aceitando as dificuldades e decepções realisticamente como vindas de Deus e recusando-se a desanimar ou amargurar- se com qualquer uma delas. Também era em casa, em primeira instância, que o leigo Puritano praticava o evangelismo e ministério. “Ele esforçou-se para tornar sua família numa igreja”, escreveu Geree, “.. .lutando para que os que nascessem nela, pudessem nascer novamente em Deus.” Numa era em que a vida em família tornou-se árida mesmo entre os cristãos, com cônjuges covardes tomando o curso da separação em vez do trabalho no seu relacionamento, e pais narcisistas estragando seus filhos materialmente enquanto os negligenciam espiritualmente, há, mais uma vez, muito o que se aprender com os caminhos bem diferentes dos Puritanos.
Em quinto lugar, há lições para se aprender com o seu senso de valor humano. Crendo num grande Deus (o Deus da Escritura, não diminuído nem domesticado), eles ganharam um vívido senso da grandeza das questões morais, da eternidade e da alma humana. O sentimento de Hamlet “Que obra é o homem!” é um sentimento muito Puritano; a maravilha da individualidade humana era algo que sentiam pungentemente. Embora, sob a influência da sua herança medieval, que lhes dizia que o erro não tem direitos, não conseguissem em todos os casos respeitar aqueles que se diferenciavam deles publicamente, sua apreciação pela dignidade humana como criatura feita para ser amiga de Deus era intensa, e também o era seu senso da beleza e nobreza da santidade humana. Atualmente, no formigueiro urbano coletivo onde vive a maioria de nós, o senso da significação eterna individual se acha muito desgastado, e o espírito Puritano é neste ponto um corretivo do qual podemos nos beneficiar imensamente.
Em sexto lugar, há lições para se aprender com o ideal de renovação da igreja com os Puritanos. Na verdade, “renovação” não era uma palavra que eles usavam; eles falavam apenas de “reformação” e “reforma”, palavras que sugerem às nossas mentes do século vinte uma preocupação que se limita ao aspecto exterior da ortodoxia, ordem, formas de culto e códigos disciplinares da igreja. Mas quando os Puritanos pregaram publicaram e oraram pela “reformação”, tinham em mente nada menos do que isso, mas de fato muito mais. Na página de título da edição original de The Reformed Pastor (traduzido para o português sob o título “O Pastor Aprovado” — PES) de Richard Baxter, a palavra “Reformado” foi impressa com um tipo de letra bem maior do que as outras; e não se precisa ler muito para descobrir que, para Baxter, um pastor “Reformado” não era alguém que fazia campanha pelo calvinismo, mas alguém cujo ministério como pregador, professor, catequista e modelo para o seu povo demonstrasse ser ele, como se diria, “reavivado” ou “renovado”.
A essência deste tipo de “reforma” era um enriquecimento da compreensão da verdade de Deus, um despertar das afeições dirigidas a Deus, um aumento do ardor da devoção e mais amor, alegria e firmeza de objetivo cristão no chamado e na vida de cada um. Nesta mesma linha, o ideal para a igreja era que através de clérigos “reformados” cada congregação na sua totalidade viesse a tornar-se “reformada” — trazida, sim, pela graça de Deus a um estado que chamaríamos de reavivamento sem desordem, de forma a tornar-se verdadeira e completamente convertida, teologicamente ortodoxa e saudável, espiritualmente alerta e esperançosa, em termos de caráter, sábia e madura, eticamente empreendedora e obediente, humilde mas alegremente certa de sua salvação. Este era em geral o alvo que o ministério pastoral Puritano visava, tanto em paróquias inglesas quanto nas igrejas “reunidas” do tipo congregacional que se multiplicaram em meados do século dezessete. A preocupação dos Puritanos pelo despertamento espiritual em comunidades se nos escapa até certo ponto por seu institucionalismo. Tendemos a pensar no ardor de reavivamento como sempre impondo-se sobre a ordem estabelecida, enquanto os Puritanos visualizavam a “reforma” a nível congregacional vindo em estilo disciplinado através de pregação, catequismo e fiel trabalho espiritual da parte do pastor. O clericalismo, com sua supressão da iniciativa leiga, era sem dúvida uma limitação Puritana, que voltou-se contra eles quando o ciúme leigo finalmente veio à tona com o exército de Cromwell, no quacrismo e no vasto submundo sectarista dos tempos da Comunidade Britânica. O outro lado da moeda, porém, era a nobreza do perfil do pastor que os Puritanos desenvolveram — pregador do evangelho e professor da Bíblia, pastor e médico de almas, catequista e conselheiro, treinador e disciplinador, tudo em um só. Dos ideais e objetivos Puritanos para a vida da igreja, os quais eram inquestionável e permanentemente certos, e dos seus padrões para o clero, os quais eram desafiadora e inquisitivamente elevados, ainda há muito que os cristãos modernos podem e devem levar a sério. Estas são apenas algumas das maneiras mais óbvias como os Puritanos nos podem ajudar nestes dias. Em conclusão, elogiaria os capítulos do Professor Ryken [autor de Santos no Mundo], que estas observações introduzem, como uma detalhada apresentação da perspectiva Puritana. Tendo lido vastamente a recente erudição Puritana, ele sabe o que está dizendo. Ele sabe, como o sabem a maioria dos estudantes modernos, que o Puritanismo como uma atitude distinguidora começou com William Tyndale, contemporâneo de Lutero, uma geração antes de ser cunhada a palavra “Puritano”, e foi até o final do século dezessete, várias décadas depois que o termo “Puritano” havia caído do uso comum. Ele sabe que na formação do Puritanismo entrou o biblicismo reformador de Tyndale, a piedade de coração que rompeu a superfície com John Bradford, a paixão pela competência pastoral exemplificada por John Hooper, Edward Dering, e Richard Greenham, entre outros, a visão da Escritura como o “princípio regulador” de culto e ordem ministerial que incendiou Thomas Cartwright, o abrangente interesse ético que atingiu seu apogeu na monumental Christian Directory, de Richard Baxter, e a preocupação em popularizar e tomar prático, sem perder a profundidade, tão evidente em William Perkins e que tão poderosamente influenciou seus sucessores. O Dr. Ryken também sabe que, além de ser um movimento pela reforma da igreja, renovação pastoral, e reavivamento espiritual, o Puritanismo era uma visão de mundo, uma filosofia cristã total, em termos intelectuais, um medievalismo protestantizado e atualizado, e em termos de espiritualidade um tipo de monasticismo fora do claustro e dos votos monásticos. Sua apresentação da visão e do estilo de vida Puritanos é perspicaz e exata. Esta obra [Santos no Mundo] deveria conquistar novo respeito pelos Puritanos e criar um novo interesse em explorar a grande massa de literatura teológica e devocional que eles nos deixaram, para descobrir as profundidades da sua percepção bíblica e espiritual. Se tiver este efeito, eu pessoalmente, que devo mais aos escritos Puritanos do que a qualquer outra teologia que tenha lido, ficarei transbordante de alegria.






7 - O Martírio de Hugh Latimer

No ano de 1539, Gardiner e outros eclesiásticos romanistas ganharam uma influência considerável sobre a mente do rei, e o ato de seis artigos foi aprovado, que restaurou alguns dos pontos principais do papado. Em razão disso Latimer renunciou ao seu bispado, e com muita alegria voltou à vida privada; no entanto,  foi conduzido à Torre por instigação do bispo Gardiner, e embora o rei não permitisse a seus inimigos darem contra ele em toda a extensão que desejassem, ele foi mantido prisioneiro durante os seis anos restantes daquele reinado.
Com a ascensão de Eduardo VI, Latimer foi libertado. Ele foi pressionado a reassumir seu bispado, mas recusou mais uma vez o encargo, por conta de sua idade e enfermidades que, no entanto, não o impediram de prosseguir com diligência os seus estudos, e para este propósito era seu costume levantar-se às duas horas da madrugada. Ele também sempre pregou o evangelho, tanto na corte e em várias partes do país.
Sua residência principal durante este período foi a Cranmer Lambeth, onde muitos vieram ter com ele para aconselhamento quanto aos seus sofrimentos e erros de natureza temporal, bem como para aconselhamento espiritual.
Um exemplo notável disto temos no caso de John Bradford, que, em suas cartas ao Padre Traves, repetidamente, mencionava ter recorrido a Latimer em busca de conselho, e isto foi citado também por ele em um de seus sermões perante o rei e a corte.
"Eu não posso me dedicar ao meu livro", disse ele, "porque pessoas pobres vêm a mim, para falar a respeito de seus problemas." O estado deplorável da administração da justiça naqueles tempos, é muitas vezes severamente advertida em  seus sermões.
Fox o historiador dos mártires da igreja cristã, descreve, da seguinte forma, os trabalhos de Latimer durante este reinado:
"Assim como a diligência deste homem de Deus nunca cessou, durante todo o tempo do Rei Eduardo, para o lucro da igreja, tanto publica quanto privadamente, assim, entre outras ações em que ele foi observado, isto não pode deixar de ser considerado, mas é digno de ser observado, porque Deus não somente lhe deu o seu Espírito de forma plena e consoladora para pregar a sua palavra à sua igreja, mas também pelo mesmo Espírito ele mostrou de forma evidente e profetizou acerca de todos os tipos de pragas que aconteceriam depois. E, no tocante a si mesmo, ele sempre afirmou que a pregação do evangelho custaria a sua vida, para o que ele alegremente se preparou, e se sentiu certamente convencido de que Winchester (bispo Gardiner)  foi mantido na Torre por este motivo, como o caso também verdadeiramente provou."
Quando a rainha Maria, a sanguinária, subiu ao trono, Latimer foi ao bairro de Coventry, e o concílio enviou uma citação para que ele comparecesse diante deles. O objetivo daquela intimação era evidente, e John Careless, um tecelão protestante daquela cidade, que depois morreu na prisão por causa da verdade do evangelho, apressou-se em informar a Latimer sobre a aproximação do oficial. O venerável mártir, foi assim, avisado com seis horas de antecedência, durante as quais ele poderia ter escapado, e mesmo depois, ele teve ainda mais oportunidades, porque o oficial somente deixou a citação e foi embora, sem fazer qualquer contato com a pessoa de Latimer. É provável que os conselheiros da rainha, tivessem desejado conduzir o velho Latimer à rainha, do que  exibi-lo ao povo como um sofredor pela verdade.
Como Fox observa: "Eles sabiam muito bem que  a sua constância e firmeza o levariam ao papado, e que confirmaria a santidade na verdade."
Mas Latimer sentiu que, depois do público e decidido testemunho que ele havia dado das verdades do evangelho, que era seu dever não se encolher e fugir do sofrimento por causa delas, e sua idade e enfermidades não lhe davam oportunidade de servir o seu Senhor e Mestre em qualquer outra forma que fosse provavelmente tão rentável para as almas dos outros.
Ele estava plenamente consciente do destino preparado para ele, e como ele passou por Smithfield, em sua chegada a Londres, ele disse:
"Aquele lugar há muito tempo gemia por mim", à espera de ser conduzido às chamas onde tantos haviam sido queimados em anos anteriores. Com a mesma constância e alegria de espírito, quando novamente preso na Torre, e quando chegava o inverno, disse ao tenente, que "a menos que eles permitissem que ele fosse queimado, ele iria decepcioná-los, porque eles tinham intentado fazer dele um miserável ardendo no fogo, mas ele deveria morrer de frio."
Como o número de presos aumentou, Cranmer, Ridley e Bradford foram confinados na mesma cela com Latimer.
Em abril de 1554, os três bispos foram removidos para Oxford, onde eles foram designados para argumentarem em  público contra o sacramento.
Um relato completo do que se passou foi elaborado pelo bispo Ridley.
Quando os romanistas pressionavam com suas distinções acadêmicas e argumentos dos padres sobre Latimer, ele imediatamente lhes disse que tais alegações não tinham nenhum efeito sobre ele, que os padres muitas vezes foram enganados, e ele não via nenhuma razão para depender deles, exceto quando eles dependiam da Escritura. Depois destas disputas, Cranmer, Ridley e Latimer foram condenados, e mantidos na prisão por muitos meses, tempo durante o qual se ocuparam em conferências sobre assuntos religiosos, em fervorosa oração, ou por escrito, para a instrução e apoio de seus irmãos. Fox diz: "Latimer, por razão da debilidade de sua idade, foi o que menos escreveu de todos eles neste último momento de sua prisão; ainda em oração, ele estava fervorosamente ocupado, onde, muitas vezes, ele continuou assim por muito tempo de joelhos, porque ele não era capaz de se levantar sem ajuda." Os principais assuntos de suas orações estão relacionados por Fox, e foram como se segue:
“Em primeiro lugar, que, assim como Deus lhe havia designado para ser um pregador de sua palavra, assim também ele lhe daria graça para sustentar a sua doutrina até a sua morte, e  ele poderia dar o sangue de seu coração para isto. Em  segundo lugar, para que Deus por sua misericórdia restaurasse o evangelho novamente na Inglaterra, e acrescentou estas palavras, "mais uma vez , uma vez novamente," ele fez isso repetidamente como se tivesse visto a Deus diante dele, e falado face a face com ele. Em terceiro lugar orou para a preservação da majestade da rainha, que agora era a Rainha Elizabeth, de quem em suas orações ele estava acostumado a citar, e por quem pedia a Deus sinceramente que pudesse ser feita um conforto para a o reino da Inglaterra." Estas eram orações de fé e, como tal, não foram oferecidas em vão.
No dia 30 de setembro de 1555, Ridley e Latimer foram perante os comissários nomeados pelo papa examiná-los e condená-los. A aparição de Latimer é assim descrita: "Ele segurava o chapéu na mão, tendo um lenço na sua cabeça, e sobre ele um boné, e uma grande capa, como era comum o uso dos citadinos.”
Na manhã do dia 16 de outubro de 1555, Latimer e Ridley foram levados para o local preparado para a sua queima, na parte da frente do Baliol College, em Oxford. Eles se ajoelharam e oraram separadamente, e depois conversaram juntos. Um sermão foi pregado em seguida, em que suas doutrinas e seus caracteres foram difamados, mas eles foram impedidos de responder. "Bem", disse Latimer, "não há nada escondido, mas isto será aberto."
O carcereiro, em seguida, tirou as roupas superiores, para prepará-los para a estaca, quando foi visto que Latimer tinha colocado uma mortalha como roupa de baixo, e, embora ele tivesse a aparência de um velho enrugado, e seu corpo curvado sob o peso do anos, ele agora "ficou de pé, como um pai gracioso e com um poder que qualquer um poderia contemplar."
Tudo estava preparado, uma tocha acesa foi trazida e  colocada aos pés de Ridley. Latimer, então, se virou e se dirigiu aos seu companheiros de sofrimento, com estas palavras memoráveis ​​e enfáticas: "Tende bom conforto, Mestre Ridley, e seja homem; nós seremos neste dia como uma vela, pela graça de Deus, na Inglaterra, assim como eu creio que jamais se apagará.” O fogo queimava ferozmente; Ridley sofreu muito com grande firmeza e constância, mas Latimer foi logo entregue. Ele exclamou em voz alta : "Ó Pai do céu, recebe a minha alma." Curvado sob as chamas ele parecia abraçá-las, e banhava as mãos nelas, e rapidamente partiu. Quando o fogo queimava baixo,  e os espectadores lotavam em volta das brasas mortais, eles viram que o seu coração não fora consumido, e uma quantidade de sangue jorrou dele, lhes lembrando da sua oração já mencionada. Ele tinha realmente derramado o sangue do seu coração como um testemunho da verdade das doutrinas que ele havia pregado.
Este terrível testemunho da verdade não foi inútil. Julius Palmer, um companheiro do Magdalen College, estava  presente, ele tinha sido um papista fanático, mas sua mente estava animada para examinar as doutrinas sustentadas por aqueles que sofreram o martírio, para que pudesse verificar o que lhes permitiu passar por tão cruéis tormentos impassivelmente. Ele esteve presente nos exames e na queima de Ridley e Latimer, e a firmeza cristã deles foi o meio de dissipar seus preconceitos. Ele mesmo, pouco depois, sofreu por causa da verdade, mas tinha sido ensinado a calcular o custo, e antes da hora do sofrimento chegar, ele declarou:
"Na verdade, é uma questão difícil para eles queimarem aquilo que está ligado na mente, na alma e no corpo, assim como o pé do ladrão é amarrado em um par de grilhões; mas se um homem é capaz, pela ajuda do Espírito de Deus, de separar e dividir a alma do corpo, porque para ele não é mais difícil   queimar, do que para mim, o ato de comer este pedaço de pão." Há também uma razão para crermos que os sofrimentos de Latimer e Ridley, e de outros mártires, foram úteis para pelo menos um dos eclesiásticos espanhóis que estavam naquele tempo na Inglaterra.
A característica distintiva de Latimer era a sinceridade, ou zelo fiel à verdade; - em um seguidor de Cristo estas qualidades são inseparáveis. Elas foram especialmente apresentadas nos seus sermões, e a atenção de seus ouvintes foi fixada pelo animado estilo alegre em que ele entregou as verdades do evangelho, e pela reprovação das más práticas dos homens. Quando pregava, frequentemente apresentava histórias e depoimentos detalhados, numa forma que parece singular em um pregador moderno; mas isso é para ser contabilizado pelos costumes dos tempos em que viveu, e sua ansiedade para se valer das oportunidades de utilidade tão peculiarmente apresentada por ele. Muitas destas ilustrações parecem duras aos ouvidos modernos, mas eram bem adequadas para fazer uma boa impressão sobre as mentes quase totalmente não familiarizadas com as Escrituras, e essa ignorância era tão geral, naqueles dias, que era suficientemente responsável por seu excepcional detalhamento dos acontecimentos da história sagrada.
A pregação de Latimer foi assim descrita: "O método e curso de sua doutrina era, para definir a lei de Moisés diante dos olhos das pessoas em todas as severidades e maldições que, assim, as colocava em temor de pecar, e para colocar por terra a confiança deles em suas próprias realizações, e, assim, levá-los a Cristo, convencendo-lhes da sua necessidade dele, e de fugirem para ele por meio da fé evangélica. Ele falou contra a opinião de obtenção de perdão do pecado e salvação, através de cerimônias religiosas. Ele ensinou, pelo contrário, que somente Cristo foi o autor da salvação, e que ele, por uma só oblação de seu corpo, santificou para sempre todos aqueles que acreditam nele - que era a chave de Davi, e que ele abria, e ninguém podia fechar, e que aquilo que ele fechou, ninguém podia abrir. Ele pregou que Deus amou o mundo, e o amou  entregando o seu Filho único para ser morto, para que todos os que daí em diante acreditarem nele não pereçam, mas tenham a vida eterna; que ele foi um propiciação por nossos pecados e, portanto, somente sobre ele devemos lançar toda a nossa esperança, e que, embora, os homens estivessem carregados de pecados, eles nunca pereceriam por causa dAquele que não conheceu o pecado, e que nenhum deles deixaria de crer nele." Estes foram os tons espirituais contidos nos sermões de Latimer, e este é o relato do homem culto,  Sir R. Morryson, que viveu naqueles dias, e afirma: "Jamais alguém floresceu, eu digo, não somente na Inglaterra, mas em qualquer país do mundo, desde os apóstolos, que tenha pregado o evangelho mais sincera, pura e honestamente do que Hugh Latimer, bispo de Worcester.”

Nota do tradutor: nosso principal objetivo com este breve relato do testemunho de um mártir do evangelho não é o de reacender o sentimento abominável e reprovável que vingou muito em dias passados em ressentimentos mútuos, por motivo de disputas religiosas, mas deixar registrado que quando se ama a Cristo e o evangelho isto é feito acima do amor que temos por nossa própria segurança e vida, conforme ficou patentemente demonstrado no testemunho de Hugh Latimer.

Apocalipse 12.11: “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida.”







8 - "Vós sois de Cristo." (I Cor 3.23)

 "Vós sois de Cristo." Vós sois dele por doação, pois o Pai vos deu ao Filho; sois dele, comprados com seu sangue, pois se lhe foi imputado o preço da vossa redenção; sois dele por dedicação, pois fostes consagrados a ele;  dele por parentesco, pois sois chamados pelo seu nome e feitos um de seus irmãos e co-herdeiros.
Trabalhai de modo prático para mostrar ao mundo que sois o servo, o amigo, a noiva de Jesus. Quando tentados a pecar dizei: "Eu não posso fazer tamanha perversidade, porque eu sou de Cristo.” Princípios imortais proíbem um amigo de Cristo pecar. Quando a riqueza estiver diante de vós para ser ganha através do pecado dizei que sois de Cristo, e não a toqueis. Estais expostos a dificuldades e perigos? Permanecei firmes no dia mau, lembrando-vos que sois de Cristo. Estais entre os ociosos que sentam-se de braços cruzados, sem fazer nada? Levantai-vos para o trabalho com todas as vossas forças, e quando o suor cair pela vossa testa, e fordes tentados a parar, dizei, "Não, eu não posso parar, porque eu sou de Cristo. Se eu não tivesse sido comprado com o seu sangue, eu poderia ser como Issacar, agachado entre dois fardos; mas eu sou de Cristo, e não posso demorar-me.” Quando o canto de prazer da sereia vos tentar a sair do caminho certo, respondei. "a tua música não pode encantar-me; eu sou de Cristo". Quando a causa de Deus vos convidar, dai os vossos bens e entregai-vos vós mesmos, porque sois de Cristo. Nunca negueis a vossa profissão. Sede sempre um daqueles cujas maneiras são cristãs, cujo discurso é como o do Nazareno, cuja conduta e conversa são tão impregnadas do céu, que todos que vos verem saberão que sois do Salvador, reconhecendo em vós as feições do amor dele e seu semblante de santidade. Dizer "Eu sou um romano!" era antigamente uma razão para integridade; muito mais, então, seja o vosso argumento para a santidade: "Eu sou de Cristo!"

Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido por Iza Rainbow








9 - Lutero, Bunyan, a Bíblia e o Sofrimento

Por John Piper

Salmo 119.71: "Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos."

De 1660 a 1672, John Bunyan, o pregador batista da Inglaterra e autor de O Peregrino, esteve na prisão de Bedford. Ele poderia ter sido solto se houvesse concordado em não pregar. Ele não sabia o que era pior - o sofrimento de sua condição ou o tormento de tê-la escolhido livremente tendo em vista o que isso custaria à sua esposa e quatro filhos. Sua filha Mary era cega. Ela tinha 10 anos quando ele foi preso em 1660.

Estar separado da minha esposa e dos meus pobres filhos tem sido frequentemente para mim neste lugar como se minha carne estivesse sendo puxada de meus ossos... não apenas porque eu amo demais essas grandes Misericórdias, mas também porque... frequentemente vêm à minha mente as muitas dificuldades, misérias e necessidades que minha pobre família provavelmente está enfrentando considerando que eu fui retirado deles, especialmente minha pobre filha cega, com quem me preocupo ainda mais que com os outros; Oh, os pensamentos das dificuldades que imaginei minha filha cega estar passando, despedaçam meu coração. (Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, Evangelical Press, 1978, p. 123)

Mas, por causa do sofrimento, esse Bunyan despedaçado passou a ver na Palavra de Deus tesouros que provavelmente não veria de qualquer outra maneira. Ele estava descobrindo o sentido de Salmos 119:71: "Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos."

Em toda a minha vida, nunca desfrutei de tão grande aprofundamento na Palavra de Deus como agora [na prisão]. As Escrituras nas quais eu nada via agora estão resplandecendo sobre mim neste lugar. Jesus Cristo também nunca foi tão real e evidente para mim como agora. Aqui eu O tenho visto e sentido de fato... tenho visto [tamanhas coisas] acerca das quais estou convencido de que jamais poderei expressar enquanto estiver neste mundo (...) Sendo amável para comigo, [Deus] não me tem permitido ser molestado, mas com uma passagem ou outra das Escrituras Ele me tem fortalecido contra tudo; de tal modo que tenho dito frequentemente: se me fosse lícito oraria por mais problemas, para que recebesse mais consolação. (Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, Evangelical Press, 1978, p. 123)

Em outras palavras, uma das dádivas de Deus para nós no sofrimento é que nós temos a garantia de que veremos e experimentaremos as profundezas de Sua Palavra de uma forma que uma vida de sossego nunca permitiria.

Martinho Lutero descobriu o mesmo "método" para ver Deus em Sua Palavra. Ele disse que há três regras para se entender as Escrituras: orar, meditar e passar por provações. As "provações", ele disse, são extremamente valiosas: elas "te ensinam não apenas a conhecer e entender mas também a experimentar quão correta, quão verdadeira, quão doce, quão amável, quão poderosa e quão consoladora a Palavra de Deus é: ela é sabedoria suprema." Portanto o próprio diabo se torna um professor involuntário da Palavra de Deus: "o diabo o afligirá [e] fará de você um autêntico doutor, e o ensinará, por meio de suas tentações, a buscar e a amar a Palavra de Deus. Quanto a mim mesmo (...) devo aos papistas muitos agradecimentos por tanto me espancarem, pressionarem e ameaçarem, motivados pela fúria de Satanás, de tal modo que me tornaram um teólogo razoavelmente bom, levando-me a um objetivo que eu nunca teria atingido." (What Luther Says, Vol. 3, Concordia Publishing House, 1959, p. 1360).

Testifico por minha pouca experiência que isso é verdade. Decepções, perda, doença e medo levam-me a um nível mais profundo em Deus e em sua Palavra do que antes. Nuvens de frivolidade são sopradas para longe e a glória das coisas que não se veem brilham nos olhos do coração. Que Bunyan e Lutero nos encorajem a depender da Palavra de Deus como nunca antes em tempos de aflição. Sei que há épocas em que o sofrimento é muito grande e não conseguimos ler ou pensar. Mas Deus nos garante alguns espaços de alívio em meio a esses tempos terríveis. Volte os seus olhos à Palavra e comprove a verdade de Salmos 119.71: "Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos."

Ansioso por aprender de Deus com você,

Pastor John






10 - O Risco Radical e Frutífero de Charles Wesley

Por John Piper

Em 18 de julho de 1738, dois meses depois de sua conversão, Charles Wesley fez uma coisa incrível. Ele passou a semana testemunhando a presos na prisão de Newgate com um amigo chamado "Bray", que ele descreveu como "um mecânico pobre e ignorante." Um dos homens com quem falaram foi "um escravo negro que havia roubado o seu mestre." Ele estava doente com febre e condenado a morrer.

Wesley e Bray perguntaram se eles poderiam ser trancados naquela noite com os presos que iriam ser executados no dia seguinte. Naquela noite, eles falaram do evangelho. Eles contaram aos homens "de alguém que desceu do céu para salvar os pecadores perdidos." Eles descreveram os sofrimentos do Filho de Deus, as suas tristezas, agonia e morte.

No dia seguinte, os homens foram carregados num carro e levados para Tyburn. Charles foi com eles. Cordas foram atadas em torno de seus pescoços para que o carro fosse embora e os deixasse sacudindo no ar para asfixiar até a morte.

O fruto do trabalho de Wesley e Bray, que durou toda a noite, foi surpreendente. Aqui está o que Wesley escreveu:

Eles estavam todos alegres; cheios de conforto, paz e triunfo; certamente seguros de que Cristo morreu por eles, e esperando para recebê-los no paraíso. . . . O negro. . . me chamou a atenção com o seu modo. As vezes que seus olhos encontraram os meus, ele sorria com o mais composto e agradável semblante que eu já vi.

Nós os deixamos indo de encontro ao seu Senhor, prontos para o noivo. Quando o carro partiu, ninguém se moveu, ou lutou pela vida, mas humildemente cederam seus espíritos. Exatamente ao meio dia foram "apagados". Falei algumas palavras apropriadas para a multidão; e voltei, cheio de paz e confiança na felicidade dos nossos amigos. Aquela hora, ali sob a forca foi a hora mais abençoada da minha vida. (Journal, vol 1, 120-123)

Duas coisas surpreenderam-me e inspiraram-me nessa história. Um deles é o poder surpreendente da mensagem de Wesley sobre a verdade e o amor de Cristo. Todos os presos condenados foram convertidos.E eles foram tão profundamente convertidos em uma noite que eles puderam encarar a morte de frente (sem qualquer longo período de "acompanhamento" ou "discipulado") e entregaram seus espíritos com a confiança de que Cristo iria recebê-los. Oh, por tal poder e testemunho!

Outra coisa que me espanta é o simples fato de que Wesley foi para a prisão e pediu para ser preso a noite toda com criminosos condenados. Foi um risco enorme. Aqueles homens não tinham mais nada a perder se matassem outra pessoa. Wesley não tinha um supervisor dizendo-lhe que este era o seu trabalho. Ele não era um ministro profissional de prisões . Teria sido confortável e agradável passar a noite em casa conversando com amigos. Então, por que ele foi?

Deus colocou em seu coração para ir. E Wesley se rendeu.

Eu acredito que há centenas de tarefas estranhas e radicais que Deus nos chamará para fazer neste outono. Nem todo mundo vai ouvir o mesmo convite. O chamado será único. Pode ser algo que você nunca sonhou em fazer. Pode ser algo que você apenas sonhou em fazer. Minha oração é que você seja corajoso e renda-se.

Receptível as novas obras de Deus,

Pastor John







11 - Sal para o Sacrifício

   Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

   "E todas as tuas ofertas dos teus alimentos temperarás com sal; e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal.” (Levítico 2.13)

   Os verdadeiros israelitas traziam muitas oblações e ofertas de diferentes tipos a Deus. E estou convicto de que, se o Senhor tem incendiado nossos corações em chamas com o Seu próprio amor, que, também, estaremos frequentemente dizendo: "Que darei eu ao Senhor por todos os Seus benefícios? "Será o hábito do cristão, como era o hábito do devoto israelita, estar trazendo continuamente oblações ao seu Deus.
   Como isso pode ser feito? Esse é o ponto. Nós precisamos, cada um de nós, dizer com Paulo: "Senhor, o que queres que eu faça?" E podemos acrescentar outra pergunta: "Como queres que eu faça?" Porque o culto voluntário não é agradável a Deus se Lhe trouxermos o que Ele não pedir, e que certamente não será recebido. Nós só devemos apresentar a Ele o que Ele requer de nós e devemos apresentá-lo à Sua própria maneira, pois é um Deus zeloso.
   Eu chamo a sua atenção para o fato de que, nesse versículo, o Senhor três vezes ordena expressamente que, as ofertas de cereais e todas as demais ofertas deveriam ser oferecidas com sal. Será que o grande Deus que fez o céu e a terra tem interesse no sal? Será que Ele condescende com esses detalhes minuciosos em Seu serviço como para decretar que a ausência de um punhado de sal fosse a causa de um sacrifício inaceitável - e que a presença do mesmo seria absolutamente necessária para a oblação ser recebida por Ele? Então, meus irmãos, nada no serviço de Deus é insignificante! Uma pitada de sal pode parecer a nós que não seja importante, mas diante do Senhor não pode ser assim. No serviço de Deus, a alteração de uma prescrição de Cristo pode parecer ser uma questão de indiferença, e ainda em que a alteração não possa destruir os pontos vitais da prescrição, ocorrerá uma destruição total de seu significado. Isto é seu e é meu - manter a letra da Palavra de Deus, bem como o espírito dela, lembrando que está escrito: "Aquele que violar um destes mais pequeninos    mandamentos e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos Céus.”
   Se você ler todo o segundo capítulo de Levítico, vai notar que outras coisas eram necessárias em conexão com os sacrifícios dos israelitas. Seus sacrifícios eram como símbolos e emblemas e precisavam de incenso quando eram oferecidos a Deus. Deus não sentiria o cheiro suave no novilho, carneiro, ou cordeiro, a menos que fossem adicionadas especiarias aromáticas. O que isso nos ensina, senão que as melhores performances de nossas mãos não devem    aparecer diante do Seu trono sem o mérito de Cristo misturado a elas?
   Deve haver aquela mistura de mirra, aloés e cássia com a qual as vestes de nosso Príncipe são perfumadas para fazer o nosso sacrifício ser um doce aroma para o Altíssimo! Tome cuidado em seus sacrifícios para que você traga o incenso sagrado.
   Outra coisa que era acrescentada era o azeite – o óleo é sempre o tipo do bendito Espírito de Deus. Qual é a utilidade de uma pregação se não houver unção nela? O que é unção, senão o Espírito Santo? O que é a oração sem a unção que vem do Espírito Santo? O que é louvor a menos que o Espírito de Deus esteja nele para dar aquela vida que o faz subir para o céu? O que vai para Deus deve primeiro vir de Deus. Precisamos do azeite - não podemos ministrar sem ele.
   Então havia um terceiro requisito, ou seja, o sal. Se você ler o versículo 11, você verá que o Senhor proibiu os israelitas de apresentarem qualquer mel. "Nenhuma oferta de alimentos, que oferecerdes ao Senhor, se fará com fermento; porque de nenhum fermento, nem de mel algum, oferecereis oferta queimada ao Senhor.”
O mel está cheio de doçura - e Deus não pede doçura, Ele pede sal.
   Qual é o significado de tudo isso? Nós não podemos pronunciar qualquer significado tipológico com certeza a menos que tenhamos a Escritura para nos dirigir, mas ainda, usando o nosso melhor julgamento, o que vemos, em primeiro lugar, é que o texto é autoexplicativo. Observe, "e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus".
   Parece, então, que o sal era o símbolo da Aliança. Quando Deus fez um pacto com Davi, está escrito: "O Senhor deu o reino a Davi para sempre por um Pacto de sal "- o que significava que era uma Aliança imutável, incorruptível, que duraria como o sal faz uma coisa ser preservada, de modo que não é susceptível de apodrecer ou se corromper.
"O sal da Aliança" significa que sempre que você e eu estamos trazendo qualquer oferta ao Senhor, devemos tomar cuidado para que nos lembramos da Aliança. Parados no altar com a nossa oferta, servindo a Deus com o nosso serviço diário, ofereçamos sempre o sal da aliança em todos os nossos sacrifícios.
Aqui está um homem que está fazendo boas obras, a fim de ser salvo. Você está sob o Pacto errado, meu amigo, você está sob o   Pacto de Obras e tudo o que vai ganhar dessa forma é uma maldição, porque, "Maldito é todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no Livro da Lei, para fazê-las." "Portanto", diz o Apóstolo, "todos quantos são das obras da lei estão debaixo da maldição."
   Chegue-se a esse outro Pacto que tem sal nele, a saber, o Pacto da Graça, a Nova Aliança do qual Cristo é a Cabeça! Não podemos chegar a Deus sem o sal da fé em Cristo, ou nossas ofertas serão uma espécie de anticristo. Um homem que está tentando salvar a si mesmo está em oposição com o Salvador. O que pensa do mérito das suas próprias boas obras, despreza o mérito da obra consumada de Cristo!
   Ele está oferecendo a Deus aquilo que não tem sal e não pode ser recebido.
   Precisamos desse sal da Aliança em tudo o que fazemos, em primeiro lugar, para nos preservar de cair na legalidade. Aquele que serve a Deus por salários esquece a palavra - "O dom de Deus é a vida eterna." Isto não é salário, mas um dom, um presente, pelo qual você viverá. Se você se esquecer que está sob um pacto de pura graça, no qual Deus dá aos indignos e salva aqueles que não têm nenhum mérito para qualquer bênção da Aliança, você vai viver numa base legalista. E, uma vez em terreno legal, Deus não pode aceitar o seu sacrifício, pois determinou salvar e abençoar somente por graça.
Com todas as tuas ofertas ofereça o sal do Pacto da Graça, para que não seja culpado de legalismo em sua oferta.
Devemos também lembrar de exercer gratidão no Pacto.
Sempre que penso em Deus entrando em Aliança comigo, a qual nunca será desfeita, meu amor por Ele cresce. Oh, aquela gratidão sentida por tudo o que vem a nós pelo Pacto da Graça
Oh, isso torna a vida muito doce – receber tudo das mãos de um Deus do Pacto e ver em cada misericórdia uma nova promessa da Aliança de fidelidade! Isto torna a vida feliz e também inspira um crente a fazer grandes coisas pelo seu Deus gracioso.
   Isso tende a despertar a nossa devoção a Deus. Quando nos lembramos de que Deus tem entrado em aliança conosco, então não fazemos o nosso trabalho para Ele de uma maneira fria, morta – mas dizemos: "Eu sou um dos amados da aliança de Deus." Ele tem feito uma aliança eterna comigo, em tudo bem ordenada e segura;    portanto, minha alma vai buscá-lo, embora seja só para cantar um hino, ou ficar de joelhos em oração, isto deve ser feito intensamente, como por aquele que está em aliança com Deus, que está, portanto, obrigado a servir de todo o coração e com toda a sua alma, e com toda a sua força.
Onde você está se estiver fora da Aliança com Deus? Você está sob a maldição da Antiga Aliança, se você não está sob a bênção da Nova! Mas se o Senhor Jesus Cristo tem sido um Fiador em seu nome e feito uma Aliança contigo, você vai servir a Deus com entusiasmo e prazer – e Ele aceitará o seu serviço como uma oferta de cheiro suave em Cristo Jesus.
   Esse é o primeiro significado do texto. Mas, em segundo lugar, o sal é o sinal da comunhão. No Oriente, especialmente, é o símbolo de comunhão. Quando um oriental tem uma vez comido sal de um homem, ele não lhe fará mal algum.
   Sempre que você estiver tentando servir a Deus, tome cuidado para que o faça em espírito de comunhão com Deus. Tome cuidado para que não deixe este sal faltar à sua oferta de cereais. Ofereça-o em comunhão com Deus.

   Amados, nós nunca servimos a Deus alegremente, se    sairmos da comunhão com Ele. "Seus servos o servirão e eles verão a Sua face." Não há como servir a Deus agradavelmente, a menos que você veja Seu rosto. Uma vez que você sentir seu amor a Deus morrendo e a Presença de Deus retirada, você pode viver pela fé, mas você não pode trabalhar com conforto. Você deve sentir uma doce amizade com Deus, ou então não terá tanto gosto em entregar-se ao serviço de Deus como os santos devem fazer.
O sal é também o emblema da SINCERIDADE. "Com todas as tuas ofertas oferecerás sal." Deve haver uma sinceridade intensa sobre tudo o que fazemos para Deus.
A isto se contrapõe o mel. Há uma espécie de uma piedade melosa que eu nunca poderia tolerar. É sempre, "Querida isso", e, "Querido aquilo". É uma espécie de conversa melada em que uma pessoa nunca fala a pura verdade. Ele fala como familiarmente como se soubesse tudo sobre você e daria sua vida por você, embora nunca tenha colocado os olhos em você antes e nunca iria dar um tostão para salvar a sua vida! Essas pessoas evitam repreender o pecado, porque para elas isto é "cruel". Evitam denunciar erros. Eles dizem: "Esta visão querido irmão difere ligeiramente da minha.”
   Quando o mel vem ao fogo, ele azeda. Toda esta doçura fingida, quando testada no fogo, azeda - não há amor verdadeiro   nisso. Mas o sal, que é afiado e quando chega à ferida gera formigamento, no entanto, faz um bom serviço.
   Sempre que você vier diante de Deus com as suas ofertas, não venha com a pretensão de um amor que você não sente, mas venha diante do Senhor de forma sóbria, sincera e verdadeira.
   E quando trouxermos o nosso coração e aplicá-lo intensamente no serviço de Deus, que é uma forma de sal, vamos tomar cuidado para que tudo o que fizermos seja espiritualmente realizado - não feito com a mão externa, ou lábios, ou olhos, mas feito com a alma, com o mais íntimo do nosso ser!
   Caso contrário, será simples carne e, sem sal, ela será vista como corrupta e rejeitada no altar de Deus.
   Quando você tenta orar e de joelhos tem a sensação de que não orou, então não deixe o propiciatório, mas ore até que esteja orando de fato!
   Nós comemos nossas devoções desagradáveis ​​sem sal – e o Senhor as rejeita. Nós tivemos alguns minutos em oração na manhã e, talvez, apenas alguns minutos cansados ​​à noite. Percorremos um capítulo da Bíblia, mas sem qualquer vida. Ou temos pregado, mas tem sido uma mera exposição de palavras - não houve vida ou vigor na mesma.
   Oh, não o faça! Não traga a Deus seus sacrifícios sem sal, mas deixe o sal de sinceridade saborear tudo. É melhor dizer: "Eu não orei", do que dizer: "Eu orei" e apenas ter cumprido uma formalidade.
   Por último, o sal é o tipo de purificação de todos os nossos sacrifícios.
O sal na carne afasta a corrupção. Ele a preserva.
Há certos homens dos quais pode-se dizer que é um santo no exterior e um diabo em casa. Deus irá estimá-lo pelo que ele é em casa - e não pelo que faz no exterior. Ele pode trazer o sacrifício sobre o altar, mas se for levado para lá com as mãos sujas e com um coração profano, Deus não terá nada a ver com isso! "Sem santidade nenhum homem verá o Senhor" e, certamente, sem santidade ninguém pode servir o Senhor. Temos as nossas imperfeições, mas o pecado conhecido e intencional, nos afasta de Deus.
   Lembre-se que a Graça de Deus traz santificação com ela e que o dom de Deus é a libertação do pecado - e se permanecermos em pecado não podemos ser filhos de Deus!
Precisamos, queridos amigos, trazer com todas as nossas oblações o sal em nós mesmos, que deve purificar nossos corações de corrupção interior.
Não sabeis que os santos são o sal da terra? E se nós somos o sal para os outros, temos de ter sal em nós mesmos. Como podemos vencer o pecado nos outros, se o pecado está invicto em nós mesmos? Como podemos dar uma luz que nunca vimos?
Irmãos e irmãs, precisamos ser santos! Devemos ser santos, ou senão deixaremos de ser o que somos. Deus nos traga isto - que a cada oblação possamos oferecer enormes punhados de sal! Que possamos sempre ser aceitos em Cristo, aceitos com um sabor santo e agradável a Deus porque o Seu Espírito nos fez santos e nos mantém diante dEle. O Senhor te abençoe sempre! Amém.








12 - Lutando Pela Causa Certa

Defender e até mesmo morrer pela fé e verdade do Evangelho que professamos, para sustentar especialmente a doutrina da salvação por Jesus Cristo pela graça, mediante a fé somente, e não pelas obras da Lei, é um dever que está imposto por Deus sobre todo verdadeiro cristão.
O cristão deve manter uma firme posição na afirmação de todos os valores morais e mandamentos divinos revelados na Bíblia, para a presente dispensação da graça, procurando inclusive sensibilizar aqueles que detêm o poder político, especialmente nos países que se denominam tradicionalmente cristãos, para a importância de fazerem constar das leis promulgadas por cada nação o que seja condizente com a citada sadia moralidade, sem que isto implique necessariamente em se tentar impor à sociedade como um todo, que esta professe a fé cristã, ou mesmo que se dê ao Estado a atribuição de tornar Cristo e o Evangelho conhecidos, pois isto é uma tarefa que foi atribuída por Deus exclusivamente à Igreja.
Agora, é algo muito diferente disto a que nos temos referido, abrigar e lutar pela visão utópica de tentar reconciliar o mundo como um todo com Cristo – pois o mundo odeia o crente fiel, como afirma o próprio Cristo, e isto não mudou e jamais mudará.
Seria pelos ditames de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa de 1789, que procuraríamos o mesmo para a nossa nação nestes presentes dias? Aquela “liberdade” política serviu para acelerar a ridicularização e esfriamento do Evangelho em todo o território francês e em todas as nações que abraçaram o ideal proclamado pela referida Revolução. Veja a diferença do que ocorreu na Inglaterra no mesmo período, onde em vez da reviravolta política francesa, ocorreram avivamentos com Wesley, Whitefield e outros, e nos EUA com Jonathan Edwards. Cabe destacar que o Evangelho não foi espalhado a partir da França, mas da Inglaterra e dos Estados Unidos. Os crentes nestas nações não estavam envolvidos prioritariamente com política, mas com os interesses eternos do Reino de Deus, diferentemente da maioria dos crentes da França.
É possível que mesmo nos dias da Igreja Primitiva, que alguns crentes judeus incautos seguiam o exemplo de Barrabás para tentar livrar Israel do jugo Romano, mas, certamente, outros crentes sábios seguiam a Pedro, João e os demais apóstolos na pregação do Evangelho para libertar pessoas do jugo do pecado; e foi por meio destes que Cristo seria proclamado às gerações seguintes.
Por oportuno, lembremos que há poderes satânicos operando o mistério da iniquidade na Terra em sua fase final, e isto seguirá adiante independentemente de nossa ação em tentar barrá-lo, pois importa que antes que Cristo volte, se manifeste o Anticristo, os escândalos, a apostasia, e tudo isto tem sido observado presentemente por nós.
Um partido político como o PT tem inegavelmente uma orientação socialista/comunista, e é bem sabido que Deus e os valores divinos não são acatados sobretudo pelos que são de inclinação comunista.
Mas, por outro lado, não podemos ter da parte de qualquer Partido de orientação liberal puramente capitalista, como é o caso do PSDB, qualquer indicativo de que não estará ligado cumprindo a cartilha da ONU e da UNESCO, do Grupo Bildberg, do FED, que capitaneados pelos Rockfellers, Rotchilds, J.P.Morgans etc, configuram os grandes agentes que levarão o mundo à Nova Ordem Mundial.
É noticiado e conhecido amplamente na Internet que Fernando Henrique Cardoso teve sua campanha política financiada pelo mega investidor, especulador financeiro, George Soros, e o indicado por Aécio Neves para assumir a Fazenda – Armínio Fraga, goza de prestígio na comunidade financeira internacional, por ter sido Diretor Gerente de George Soros por cerca de seis anos.
Então se levanta a questão tão propalada no momento: Faça o exercício correto do seu direito de escolher pelo voto o melhor governante. Muito bem! A situação foi colocada em linhas gerais e cada um tire suas conclusões. Já escolhi o meu Governante há muitos anos – Cristo, e dei-lhe o voto de coração, porque não está ligado a nenhum interesse satânico, e não veio trazer paz a este mundo, mas uma espada, pela qual serão distinguidos os que são pela verdade e os que são contrários a ela.
Há um Poder Maior que está acima de todo poder terreno, inclusive o de Satanás e seus demônios, e tudo está sob o Seu perfeito controle, e nada impedirá que seus propósitos se cumpram na Terra, assim como previu no passado através de Daniel o levantamento futuro dos Impérios da Pérsia, da Grécia e de Roma, quando Babilônia era o Império dominante em seus dias. Ele rege sobre os governantes da Terra e dá o poder de governar a quem quer.
Tenhamos então o cuidado de não estarmos como crentes, empenhados numa batalha errada, que não seja o bom combate da fé, no poder do Espírito Santo, na proclamação do evangelho da verdade.

“É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus;” (João 17.9)

“14 Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou.
 15 Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.
 16 Eles não são do mundo, como também eu não sou.
17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.

19 E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade.” (João 17.14-19)






13 - O Que é Não Negar o Senhor?

O testemunho do evangelho é a fé irrestrita no Cristo crucificado e ressuscitado para a nossa justificação.
Jesus é a Pedra de Esquina do edifício espiritual que Deus está erigindo com pedras vivas (os que creem), pelo poder do Espírito Santo.
O que fica aquém disso é negar o Nome do Senhor e a Sua Palavra.
Dizer que cremos na Bíblia, que cremos em Deus, e no final das contas afirmarmos que temos dúvidas quanto ao fato de que Jesus seja o único e suficiente Salvador, nos leva a errar totalmente o alvo quanto ao fundamento da nossa salvação que foi colocado por Deus Pai inteiramente ao cuidado do Seu Filho Unigênito.
A eleição se confirma não por mero procedimento religioso, mas por nossa ligação real ao Salvador.
Sem Cristo não há reconciliação com Deus. Não há perdão de pecados. Não há o recebimento do Espírito Santo como um dom de Deus a nós.
Não afirmar em nosso testemunho de modo aberto e com todas as letras que Jesus é o Senhor e o Salvador, e o Único Mediador entre nós e Deus, equivale a nos envergonharmos do Seu nome.
Por isso Ele mesmo diz na Bíblia:

Mateus 10:32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus;
Mateus 10:33 mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.

Marcos 8:38 Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem  se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.

Apo 3:8 Conheço as tuas obras—eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar—que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.
Apo 3:9 Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei.
Apo 3:10 Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.







14 - A Estranha Tarefa de Testificar a Respeito da Luz

Por John Piper

Testificar a respeito da luz é uma tarefa estranha se seu objetivo é que as pessoas vejam a luz e acreditem nela. A luz é iluminada por si própria. Quando você quer que alguém veja uma luz, você não testemunha sobre ela, você a mostra. Se você tem uma tocha em sua mão, e quer que alguém veja essa tocha, você não diz: "Isso é uma tocha." Você mostra a tocha.

Mas João 1:7 diz que João Batista "veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz." Então por mais estranha que seja essa tarefa, era a missão de João. E é a nossa também.

Então o que aprendemos sobre nossa tarefa quando ela é descrita como testificar a respeito da luz?

1. Nós aprendemos que Cristo, a Luz do mundo (João 8:12), não brilha como uma tocha física diante dos olhos físicos, mas como uma glória espiritual diante dos olhos espirituais. Essa é a razão pela qual Jesus disse "porque vendo, não veem" (Mateus 13:13). E foi por isso que Paulo orou em Efésios 1:18 para que tivessem "iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento." Temos uma visão para a qual usamos os "olhos do coração", não apenas os olhos da cabeça.

2. Nós aprendemos que a luz de Cristo, esta glória espiritual que nós vemos com os olhos do coração, brilha sobretudo através do evangelho. Isto é, ela brilha principalmente através do testemunho de seres humanos sobre o que Jesus realizou quando ele morreu e ressuscitou. Isso é estranho. A luz brilha através de palavras. Paulo diz em 2 Coríntios 4:4-6:

"O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. . . . Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo."

A glória de Cristo é Sua luz. Essa glória, diz Paulo, brilha como "a luz do evangelho". Isso quer dizer que ela brilha através de uma testemunha. Quando testemunhamos sobre o que Cristo realizou por nós em Sua morte, nós estamos "testificando a respeito da luz". É assim que a luz de Cristo brilha nesse mundo. Obras de amor são cruciais para esse brilho (Mateus 5:14-16). Mas apenas obras não podem testificar efetivamente da grande glória de Cristo, especificamente, sua conquista na cruz. Essa luz brilha através do evangelho na boca de testemunhas.

3. Nós aprendemos que as pessoas precisam ter os olhos de seus corações abertos para ver a luz de Cristo no evangelho. Jesus disse para Paulo que fosse testemunha da luz: "agora te envio para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados" (Atos 26:17-18)

Deus realiza esse trabalho de abrir dos olhos através do testemunho humano. Lucas nos conta como Lídia viu a luz: "o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia" (Atos 16:14). Paulo testemunhou. Deus abriu o coração dela. Então Paulo roga que isto aconteça: "não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, [para que sejam] iluminados os olhos do vosso coração" (Efésios 1:16,18). Deus responde aquela oração descrita em 2 Coríntios 4:6 "[Deus] resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo".

Portanto, nós testemunhamos sobre a luz, mesmo sabendo que as pessoas estão cegas para essa luz. Mas isso não nos desanima, porque nós sabemos que o poder de Deus de abrir os olhos acompanha o testemunho a respeito de Seu FIlho.

4. Nós aprendemos que o milagre da visão espiritual através do evangelho acontece quando testemunhas dizem à pessoas cegas que olhem para Cristo e então descrevem o que elas verão quando olharem pra Ele. Existe uma analogia mental para esta realidade espiritual. Considere uma ilusão óptica como esta:

Ilusão ótica que pode ser tanto um tocador de saxofone quanto uma mulher.

Suponha que uma pessoa veja apenas uma figura nessa ilustração. Ela está "cega" para a outra. Então você "testemunha" para ela: "veja isto, aqui existem duas figuras: o rosto de uma menina e um homem tocando saxofone". É exatamente esse testemunho que abre os olhos dela para ambas as figuras.

É apenas uma analogia, porque na área espiritual o processo não é meramente mental ou natural. É espiritual e sobrenatural. Mas nós podemos ter uma ideia de como é possível estar espiritualmente cego e ainda assim Deus pode usar uma testemunha para abrir nossos olhos.

Portanto, não deixe que a estranha tarefa de testificar a respeito da luz te paralise. Ela é gloriosamente estranha. É estranha de uma forma que nos dá a esperança de que realmente podemos ajudar os cegos a ver. É estranha de uma forma que dá toda glória a Deus—tanto no evangelho em si quanto no modo como as pessoas veem a glória de Cristo no evangelho.

Vendo e falando sobre a Luz com você,

Pastor John







15 - Aprendendo do Exemplo de Charles Simeon

Nos seus primeiros anos de ministério, o pastor da Igreja Anglicana, Charles Simeon (24 de setembro de 1759 - 13 de novembro de 1836) era um homem rude e agressivo. Certo dia, foi visitar um pastor amigo numa povoação próxima da sua casa. Após a visita, as filhas do amigo queixaram-se ao pai sobre o comportamento de Simeon. O pai, então levou as suas filhas para o quintal, e disse-lhes: “Apanhai um daqueles pêssegos para mim.” Era o início do verão e os pêssegos estavam verdes. As meninas perguntaram-lhe por que é ele queria fruta verde, que ainda não estava madura. Ele respondeu-lhes: “Bem, minhas queridas, agora ele está verde e nós precisamos esperar; um pouco mais de Sol, um pouco mais de chuva e o pêssego estará maduro e doce. É assim com o Senhor Simeon.”

Charles Simeon no tempo devido realmente mudou. O calor do amor de Deus, as “chuvas” dos mal-entendidos e as decepções foram os meios pelos quais ele se tornou num homem gentil e humilde.

Charles Simeon foi pastor da Igreja Anglicana, na Trinity Church, em Cambridge, na Inglaterra de 1782 a 1836. Ele foi nomeado para lá por um dos bispos da Igreja Anglicana, contra a vontade dos seus paroquianos, que se opuseram a ele, não por que ele fosse mau pregador ou exercesse mal o seu “húmus partoral”, mas porque Charles Simeon era “evangélico.” Isto é, Charles Simeon cria na Bíblia como a Palavra de Deus e regra de fé, desafiava as pessoas para a necessidade da conversão ao Novo Nascimento espiritual, e aos crentes nascidos de novo desafiava-os para a santidade pessoal e apelava às “Igrejas” e aos crentes individualmente para o desafio da evangelização do mundo e a terem amor pelas almas dos não convertidos ao SENHOR Jesus.

Durante 12 anos os seus paroquianos não permitiram que ele pregasse o sermão de domingo, à tarde. E, durante todo esse tempo, também eles boicotaram o culto dominical matinal e bloquearam os bancos da Igreja para que ninguém pudesse se sentar neles. Deste modo Charles Simeon viu-se obrigado a pregar ao seu rebanho durante 12 anos nos corredores do templo!

«Nesse estado das coisas, eu não vi outro remédio, a não ser ter fé e paciência. O trecho das Escrituras que dominava e controlava a minha mente era este: “Ao servo do Senhor não convém contender.” (2 Tim 2:24) Era doloroso ver o templo da igreja, com exceção dos corredores, quase abandonado; porém, eu pensava que se apenas Deus concedesse uma bênção dobrada à Congregação que ali estava, no todo haveria tanto bem como se a congregação fosse o dobro e a bênção limitada apenas à metade dessa porção. Isso confortou-me muitas e muitas vezes, quando, sem essa reflexão eu teria sucumbido sob o meu pesado fardo.»

De onde obteve Charles Simeon a garantia, de que seguindo o caminho da paciência ele o conduziria à bênção sobre o seu trabalho, que compensaria a frustração de ter todos os bancos da “Igreja” bloqueados? Ele a obteve de versículos da Bíblia que prometiam a graça futura, do versículo da Palavra de Deus: “Como são felizes todos os que nEle esperam!” (Isa 30:18). A Palavra de Deus venceu a incredulidade e a fé na Graça futura venceu a impaciência.

Cinquenta e quatro anos depois destes tristes acontecimentos, Charles Simeon estava às Portas da Eternidade. As semanas se arrastavam, como tem ocorrido com muitos santos moribundos. Aprendemos, ao lado de muitos crentes às portas da morte, que a batalha contra a impaciência pode ser muito intensa no leito de morte.

Em 21 de outubro de 1836, os crentes e familiares que estavam ao lado da sua cama, ouviram-no dizer as seguintes palavras, muito lentamente e com longas pausas:

“A infinita sabedoria dispôs tudo com infinito amor; e o infinito poder capacita-me a descansar nesse amor. Estou nas mãos do Pai amado, tudo está seguro. Quando olho para Ele, não vejo nada a não ser fidelidade, e imutabilidade, e verdade; e tenho a paz mais doce, não posso ter mais paz do que a que tenho!»

A razão para Simeon morrer assim foi a disciplina que exerceu durante 54 anos indo amiúde às Escrituras e nelas se apropriando das promessas da graça futura e de usá-las para vencer a incredulidade da impaciência.

Ele aprendeu a usar a espada do Espírito para batalhar o combate da fé na graça futura. Pela fé, na graça futura, aprendeu a esperar com Deus no lugar não planeado da obediência, e a andar com Deus no passo não planeado da obediência. Com o salmista, Charles Simeon disse: “Espero no Senhor com todo o meu ser, e na sua palavra ponho a minha esperança.” (Slm 130:5)

Tanto na vida como na morte, Charles Simeon tornou clara e com impacto a promessa: “O Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam.” (Lam 3:25)

Qual o segredo espiritual de Charles Simeon, que suportou imensas dificuldades no seu poderoso pastorado de cinquenta e quatro anos, na “Trinity Church”, em Cambridge, na Inglaterra?

A profunda influência espiritual para o bem dos pecadores e para a glória de Deus procede de homens e mulheres que se dedicam à oração e à meditação.

R. Housman, um dos amigos de Charles Simeon, que viveu com ele na mesma casa durante alguns meses diz alguma coisa sobre a sua devoção, sobre o seu grande fervor de piedade, sobre o seu grande zelo e amor.

“Invariavelmente, Charles Simeon levantava-se cada manhã, mesmo no Inverno, às quatro horas da madrugada. E depois de acender o fogo, dedicava as primeiras quatro horas do dia à oração particular e ao estudo devocional das Escrituras.”

Este era o segredo da sua grande graça e do seu vigor espiritual. Ao receber instrução dessa fonte e ao procurá-la com diligência, Charles Simeon era confortado em todas as suas provações e obtinha preparação para todos os seus deveres.

Isto é verdade tanto para os crentes individualmente como para as “Igrejas”. Sem oração persistente não temos qualquer ofensiva na batalha contra o mal. Tanto individualmente e como “Igrejas” estamos destinados a invadir e a despojar as fortalezas de Satanás.

Que o exemplo de Charles Simeon nos impulsione tanto individualmente como “Igrejas” não somente às orações ocasionais, mas a uma vida de oração, como disse Housman, com “consistência e à realidade da devoção.”







16 - Testemunho

A arca da aliança era chamada de arca do testemunho (Êx 39.35), porque continha as duas tábuas de pedra nas quais Deus havia escrito os 10 mandamentos.
O testemunho não era a arca, mas as tábuas, porque continham a escrita do próprio Deus relativa à Sua vontade. Disto aprendemos que o testemunho é a própria Palavra revelada de Deus a nós, nas Escrituras, tanto do Velho quanto do Novo Testamento.
No Novo Testamento temos o testemunho de Jesus e do Espírito Santo, escrito pelos apóstolos. Os apóstolos e os discípulos de Jesus eram suas testemunhas, porque foram incumbidos de dar o seu testemunho ao mundo. Cabe à testemunha testificar a verdade.
Assim, o próprio Jesus foi testemunha da verdade do Pai testificando dela em Seu ministério terreno; o Espírito Santo continua sendo testemunha da verdade, e com ele são testemunhas todos os crentes porque têm sido feitos participantes da verdade por meio da regeneração e santificação do Espírito.
A garantia que temos de que a Palavra de Deus é a verdade, nos vem do testemunho interno do Espírito Santo em nossos corações, especialmente pela aplicação da Palavra em nossas próprias vidas.
É-nos dado pelo Espírito, como crentes, não somente crermos que a Palavra é a verdade, como também participarmos das coisas em que cremos, pois são traduzidas como realidades na nossa fé em Cristo.
Por exemplo, a Palavra afirma que se nos arrependermos e crermos em Cristo somos transformados em novas criaturas, e isto de fato ocorre quando nos convertemos. Assim, a verdade vivida dá testemunho da verdade prometida.
E todas as demais promessas da Palavra passam pelo mesmo teste de veracidade, comprovando a completa fidelidade de Deus em cumprir tudo o que tem prometido.
De tal forma o testemunho está ajustado à nossa própria vida, que é comum se dizer que devemos dar testemunho de Cristo com nossas vidas exemplares.
Vidas santificadas é o melhor testemunho de que servimos de fato a um Deus que é santo, e nos santifica.
Por que o crente deve ser testemunha de Jesus e da Sua Palavra?
Não somente porque este dever lhe é imposto por Deus, mas porque o testemunho de Jesus é o espírito da profecia (Apo 19.10), ou seja, o Espírito Santo que habita no crente move-o a falar do evangelho, pois este é também o ministério do próprio Espirito Santo nesta dispensação da graça.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras:
1 – marturia (grego) – testemunho, testemunha;
2 – martureo (grego) – testemunhar, tetificar;
– martus (grego) – mártir, testemunha; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:



Você pode ler toda a Bíblia (Velho e Novo Testamento) com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:

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