sexta-feira, 23 de outubro de 2015

103) Palavra 104) Parábolas

103) PALAVRA

ÍNDICE

1 - Entendendo as Palavras de João
2 - Nenhuma Palavra de Cristo Jamais Falhará
3 - Como e Com Que o Jovem Purifica o Seu Caminho
4 - Uma Fonte Segura e Autenticada
5 - Nossa Relação com a Palavra
6 - Penetrado Pela Palavra de Deus
7 - A Única Palavra Viva
8 - A Espada do Espírito Santo
9 - A Palavra de Deus é Viva e Eficaz
10 - Palavra
11 - Estas Palavras que Hoje te Ordeno
12 - A Palavra de Deus é Viva e Eficaz
13 - COMO A PALAVRA PRODUZ A FÉ


1 - Entendendo as Palavras de João

Leia o texto relativo ao início do evangelho de João, e tente interpretá-lo. Qual é o seu significado? Pelo menos, o que podemos aprender sobre a verdade, com estas palavras do apóstolo?

“1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com Deus.
3 Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5 E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.”. (João 1.1-5)

A palavra “Verbo” do primeiro versículo, foi vertida da palavra “Logos”, no original grego do Novo Testamento, e por isso as versões das Bíblias inglesas trazem “Palavra”, em vez de Verbo.
Mas como verbo é palavra indicadora de ação, a maior parte das traduções da língua portuguesa trazem Verbo em vez de Palavra.
Tanto um uso quanto outro estão corretos, mas Palavra define melhor o pensamento de João ao usar esta palavra para se referir à Pessoa de Jesus, porque certamente ele tinha em mente demonstrar que Jesus foi quem tomou parte na criação ao lado de Deus e do Espírito Santo, sendo a Palavra que tudo criou, porque é dito que o mundo foi feito pela Palavra de Deus, uma vez que Ele disse em cada ato da criação: “faça-se”.
Foi portanto pelo uso da palavra, pelo uso do verbo, que é a classe de palavra que é indicadora de ações e operações, que Deus trouxe todas as coisas à existência.    
“Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo sopro da sua boca.” (Sl 33.6).
“Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê.”  (Hb 11.3).
“Pois eles de propósito ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste;”  (II Pe 3.5).
Ao fazer uso da palavra Verbo, João a associou aos atos da criação dos céus e da terra, conforme se vê no verso 3.
Mas ao identificar Jesus como sendo o Logos, a Palavra, ou Verbo eterno, podemos também considerar que a mente eterna de Deus foi revelada a nós por meio dEle.
Os pensamentos puros, perfeitos e conhecedores de tudo o que há em Deus, são inerentes a Cristo e Ele os revelou a nós.
É somente por meio dEle que os selos do livro da vida são removidos para que os mistérios da verdade sejam revelados a nós.
Se Ele não tivesse se manifestado ao mundo, permaneceríamos nas trevas quanto a esta vida do Espírito Santo que se manifesta nos cristãos, pela fé nEle.
(Quando falo “cristão” não estou contemplando nenhuma igreja ou denominação religiosa específica, mas aqueles que professam o nome de Jesus Cristo, como Senhor e Salvador de suas vidas).
Vida de poder espiritual e de comunhão em amor celestial.
Vida de frutos e dons espirituais que são comunicados entre aqueles que têm sido vivificados pela luz de Cristo, a qual, quando permanecemos nela, faz com que a vida de Cristo se manifeste em nós.
Como a luz do sol garante a existência da vida física na terra, de igual modo, Cristo é o único sol que sustenta a vida do espírito.  
Neste sentido, pode-se dizer então que Cristo é a fonte mesma da qual procede toda a Palavra que sai da boca de Deus, sendo que Ele mesmo é Aquele por quem se expressa esta Palavra.
Daí ter dito que a Palavra que Ele proferia não provinha dEle próprio, mas do Pai, isto é, tudo o que o Pai expressa pela Palavra, Ele o faz por meio do Filho, de maneira que João havia apreendido este ensino e verdade comunicado por Jesus aos apóstolos em Seu ministério terreno, e pôde aprender que o mundo foi feito pela Palavra liberada pelo próprio Cristo, daí dizer que Ele é a Palavra (Verbo) pela qual todas as coisas foram feitas, e que sem Ele nada do que foi feito se fez (v. 3); isto é, o Pai nada fez sem a participação de Cristo.
Somente Jesus tem as palavras de vida eterna. Pedro teve este reconhecimento que é dEle que emana a palavra que dá vida aos pecadores (Jo 6.68), e a experiência comprova isto em todos os testemunhos de conversão.
“Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.”  (Tg 1.18).
“tendo renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece.” (I Pe 1.23).
Os textos destacados acima de Tiago e Pedro revelam o ato da nova criação pela Palavra.
E João diz que esta palavra criativa é o Logos, e a identifica imediatamente com Cristo e afirma que Ele próprio é esta ação criativa que traz todas as coisas à existência, e sabemos, inclusive esta nova vida celestial que é dada aos cristãos.
Esta Palavra é a verdade, e Jesus disse também ser esta verdade, a qual liberta e dá vida.    
Há então poder e ação envolvidos nesta Palavra aqui referida pelo apóstolo, e a que é citada em todas as passagens bíblicas que se referem a ações de criação, de salvação, de santificação, e de tudo o mais que dependa da liberação do poder pela Palavra de Cristo.
Por isso Jesus havia dito que as suas palavras são espírito e vida (Jo 6.63). E também que o homem não vive somente de pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus (Mt 4.4), porque é pela palavra de ação poderosa, que novas criaturas com a vida que procede do céu são geradas.
E que é a prática da Sua palavra, isto é, tê-la em devida consideração e vivendo segundo o seu poder, que se tem a vida solidamente firmada num fundamento inabalável (Mt 7.24).
Era com a Sua palavra de ordem que Jesus expulsava demônios e curava enfermos, e que ainda o faz através da Igreja (M 8.16).
É por isso que as palavras de Jesus jamais passarão porque são eternas assim como Ele é eterno (Mt 24.35).
Desta forma, crer de fato em Jesus é permanecer nEle, e permanecer nEle é permanecer portanto na Sua palavra; e como esta palavra é a vida eterna, aquele que a guarda jamais morrerá eternamente  (Jo 8.31; 51; 14.24).
Como Jesus é santo, é a sua Palavra que nos santifica (Jo 15.3; 17.17).
Foi por isso que a Igreja Primitiva tinha poder para pregar o evangelho, porque eles viviam e pregavam somente a Palavra (At 4.29, 31; 5.20; 6.2, 7; 8.4, 25;10.44; 11.14; 12.24; 13.5, 44, 48, 49; 14.3, 25; 15.35, 36; 16.32; 17.11; 18.5, 11; 19.10, 20; 20.32).
A fé é gerada por se ouvir a Palavra (Rom 10.17).
Nós vemos nas palavras de Paulo em I Cor 1.17; 2.1, 4, 13; I Tes 1.5 que a pregação desta Palavra viva é muito mais do que simplesmente exposição verbal de conceitos teológicos, ou de meras citações bíblicas, mas a liberação da porção da verdade, conforme está revelada nas Escrituras, em exposição com palavras ensinadas pelo Espírito e no poder do Espírito, conforme esta é revelada pelo mesmo Espírito ao coração e mente do pregador (Ef 6.19):
“Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo.”  (I Cor 1.17).
“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.”  (I Cor 2.1).
“A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder;”  (I Cor 2.4).
“as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais.”  (I Cor 2.13).
“porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo e em plena convicção, como bem sabeis quais fomos entre vós por amor de vós.”  (I Tes 1.5).
 “no qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa,”  (Ef 1.13).
Assim, aqueles que têm a plenitude de Cristo são aqueles que têm também a plenitude da Sua Palavra habitando neles ricamente (Col 3.16). São estes que, segundo Cristo, podem comprovar que a doutrina que Ele pregou é realmente do céu, provinda do Pai (Jo 7.17).
Então Jesus é esta Palavra eterna que criou o mundo e cria a vida eterna naqueles que recebem dEle esta Palavra viva e poderosa, que gera vida e vida em abundância.
Aquele que permanecer nesta Palavra, conforme Ele ensinou e os apóstolos o confirmam nas Escrituras, haverão de ter a atestação desta verdade em suas próprias vidas pela transformação que será operada nelas por causa de permanecerem na Palavra, uma vez que o Espírito atuará neles por estarem permanecendo na verdade, porque o Espírito é Espírito da verdade (João 14.17; 15.26; 16.13).
Esta Palavra já existia antes que houvesse mundo, antes da existência do tempo cronológico, ao que João chama de “no princípio” mostrando que era, que é e sempre será.
Não que tivesse começado com princípio de existência, mas por ter sempre existido sem começo, nem fim, sendo ao mesmo tempo o Alfa e o Ômega (a primeira e a última letras do alfabeto grego) de maneira que início e fim se confundem por fazerem parte de um todo indissolúvel e eterno (Apo 1.8; 21.6; 22.13).
Cristo sempre esteve em co-existência com o Pai. Ele estava, está e sempre estará com Deus.
De maneira que crer em Cristo é crer em Deus Pai porque o Pai e o Filho co-existem em perfeita unidade e são inseparáveis.
Temos visto então, nesta primeira parte do nosso comentário sobre as palavra místicas de João em seu evangelho, o significado do Verbo divino, e tentaremos descortinar na segunda parte, a referência que ele faz à luz.

Somente Jesus estava qualificado para efetuar a nossa redenção porque Ele conhece perfeitamente a nossa constituição total, de espírito alma e corpo porque Ele nos criou, assim como todas as coisas.
Somente Ele conhece também a nossa situação, relativa à nossa constituição natural, que é totalmente de trevas espirituais. De densas trevas produzidas pelo pecado que nos impedem de ver a Deus, compreendê-Lo, à sua vontade, e as coisas relativas ao reino dos céus.
João afirma no verso 4 que a vida estava em Cristo, e que esta vida era a luz dos homens.
Jesus é então o sol da justiça que permite que os nossos olhos espirituais sejam curados e vejam o mundo espiritual da verdade, celestial e divino.
Fora dEle, em relação ao entendimento das coisas do espírito, tudo é trevas.
Ele é o Deus vivo, que não é Deus de mortos, mas de vivos, porque tudo o que vive tem a sua origem em Deus, por meio de quem tudo subsiste.
Todo espírito que está ligado a Deus vive e viverá eternamente.
Mas fora de Deus tudo é morte.
O fato de ser a vida de Cristo a luz dos homens, isto está restringido no verso 5 àqueles que são de Cristo, porque aqueles que amam as trevas não podem compreender esta luz, espiritual, celestial e divina.
E estas trevas espirituais significam morte espiritual. Assim como as trevas totais permanentes significam morte para a existência física.
Precisamos portanto, de luz espiritual para ter vida espiritual.
E esta vida está somente em Jesus.
É dele somente que a podemos receber.
Por isso é necessário que aqueles que foram alcançados por essa maravilhosa luz, que andem continuamente na luz, porque ela lhes é necessária e vital.
Deus criou a humanidade para ser uma lâmpada que brilhe com a Sua luz, queimando com o óleo do Espírito Santo.
João diz que a vida de Cristo é a luz dos homens, porque os cristãos devem ser como lâmpadas que emitem a luz de Cristo.
É a Palavra eterna na lâmpada que é o cristão, que o faz brilhar com o brilho que procede de Deus.
 Sem a Palavra que acende esta lâmpada, ela permanece apagada.
Por isso se ordena aos cristãos que não apaguem o Espírito Santo, para não terem as suas próprias lâmpadas, que são suas vidas, apagadas.
Para que tenha luz, o cristão depende inteiramente de Deus, e portanto da Sua Palavra e do fogo do Espírito Santo.
Deus uniu a ambos para que o cristão possa brilhar, e assim manifeste a vida eterna de Deus para iluminar este mundo de trevas.
A luz condenará as obras infrutíferas das trevas naqueles que permanecem no pecado, porque fará a exposição do que se ocultava nas trevas:
“Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se manifestam pela luz, pois tudo o que se manifesta é luz.”  (Ef 5.13).
É pela luz da revelação divina que o pecado pode ser condenado ou extirpado.
E João nos diz que a vida está em Jesus, e que esta vida era a luz dos homens; isto é, somente quando a vida poderosa de Jesus se manifesta em alguém, que tal pessoa poderá vir para a luz de Deus e conhecer a Deus e compreender as coisas espirituais e divinas.
Assim, fora de Cristo, não há tal possibilidade, porque vida e luz para os homens procedem dEle.
A vida eterna que nós necessitamos para escapar da morte eterna está somente em Cristo Jesus, e é nEle portanto que devemos buscá-la, e João nos indica o meio de obtê-la, a saber, por meio da Palavra e pelo andar na luz.  
É a luz de Cristo que ilumina o nosso entendimento e espírito para compreendermos as Escrituras.
Elas permanecem como um livro fechado para nós até que Cristo abra o nosso entendimento e se revele ao nosso espírito para que possamos compreendê-las; tal como fizera com os dois discípulos no caminho de Emaús, aos quais lhes abriu o entendimento para compreenderem tudo o que estava escrito acerca dEle nas Escrituras.
Não foi João quem conceituou Jesus como luz, pois Ele próprio fizera tal afirmação acerca de Si mesmo durante o Seu ministério terreno, confirmando aquilo que as Escrituras do Velho Testamento afirmam sobre Ele, especialmente de que Ele seria luz para os gentios.
“o povo que estava sentado em trevas viu uma grande luz; sim, aos que estavam sentados na região da sombra da morte, a estes a luz raiou.”  (Mt 4.16).
“E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.” (Jo 3.19).
“Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida.”  (Jo 8.12).
Veja que foi Jesus quem disse que é a luz que dá vida aos homens, de maneira que aquele que não está na luz e que não é luz por ter recebido tal luz de Jesus, continua morto em seus pecados. A vida eterna consiste portanto na manifestação desta luz no nosso viver.
“pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a luz.”  (Sl 36.9).
Jesus é a luz que nos tira das trevas da ignorância para a luz do conhecimento pessoal de Deus, e é neste conhecimento de Deus e do Filho de Deus que consiste a vida eterna, conforme afirmação do próprio Senhor Jesus Cristo.







2 - Nenhuma Palavra de Cristo Jamais Falhará

"Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão." (Mateus 24.35)

Jesus Cristo aqui afirma que suas palavras são mais estáveis e duradouras do que o céu ou a terra; que quando o céu e a tiverem passado, Sua Palavra não passará.
Se estas palavras têm provado ser verdadeiras há tantos séculos, então Jesus é divino, como Ele afirmava. O próprio céu e a terra são obra de Deus, e se as palavras de Cristo são mais estáveis do que eles, então, ele é divino.
As palavras de Jesus têm resistido ao teste de amarga oposição por mais de vinte séculos. Elas têm sido odiadas desde que foram faladas; mas todo esse ódio tem sido ineficaz para apagá-las. Elas foram preservadas mesmo com o sangue dos mártires sendo derramado.
As palavras do Senhor nunca se tornaram obsoletas, em nenhum lugar e em nenhuma época. Quantas teorias filosóficas, psicológicas, científicas caíram em desuso ou se tornaram anacrônicas, todavia as palavras do Senhor crescem em importância à medida que o tempo passa.
Não há uma única falha nas palavras de Jesus e elas são fidedignas totalmente em cumprirem nas vidas daqueles que têm fé nele e praticam estas palavras, em realizar neles tudo o que por elas se afirma.
Há profundidades inesgotáveis de sabedoria e de poder nas palavras de Jesus comprovando que são infinitas e eternas, e portanto de proveniência espiritual e divina. O que é espiritual permanecerá, mas tudo o que é natural, como o universo e a terra, haverá de passar um dia, conforme o decreto eterno de Deus, como pena prevista para a morte de tudo o que foi criado, em razão do pecado. Novo céu e nova terra serão recriados, mas não haverão outras palavras que substituam as que foram proferidas por Jesus e que estão registradas na Bíblia.
Assim, quem rejeita as palavras de Jesus também o rejeita.
Quem se envergonha destas palavras e não as proclama de cima dos eirados, também dele se envergonhará o Senhor em sua segunda vinda (Marcos 8.38; Mateus 10.32,33).
E quem não tem estas palavras habitando em seu coração há de perecer eternamente, porque é somente nelas que há a semente da vida eterna.
Não são apenas palavras, mas espírito e vida, conforme afirma o próprio Cristo (João 6.63).






3 - Como e Com Que o Jovem Purifica o Seu Caminho

Tradução e adaptação de citações extraídas do sermão de Thomas Manton, baseadas no Salmo 119.9, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.

“Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra” (Salmo 119.9)

Na primeira parte do texto o salmista falou que a palavra de Deus aponta o único e verdadeiro caminho para a felicidade. Agora, a principal coisa que a palavra opera é a santidade. Este é o caminho que devemos tomar, se pretendemos chegar ao fim da nossa jornada. Isto Davi aplicou ao jovem no texto, "Com que purificará o jovem," etc.
Nas palavras há:
Uma pergunta,
Uma resposta dada.
Na pergunta há uma pessoa em foco - um jovem. Qual é o seu trabalho, com o qual ele deve limpar o seu caminho? Nesta pergunta, há várias coisas supostas.
1. Que somos desde o nascimento poluídos pelo pecado, pois temos que ser purificados. Não é, “dirigir o seu caminho”,  mas “limpar o seu caminho".
2. Que devemos ser sensatos muito cedo e no tempo apropriado, desse mal, pois a pergunta é proposta em relação ao jovem.
3. Que devemos sinceramente buscar um remédio para secar este fluxo do pecado que corre em nós. Tudo isso pode ser suposto.
O que se deve indagar depois é: qual remédio é contra isso? Que  curso deve ser seguido? De modo que a soma da questão é esta: como o homem que é impuro, e naturalmente contaminado com o pecado, será feito capaz, tão logo que ele chegue ao uso da razão, para purgar a corrupção natural e viver uma vida santa e pura para Deus? A resposta é: "Observando-o segundo a tua palavra." Quando duas coisas devem ser observadas:
(1) O remédio,
(2) A maneira como ele é aplicado e usado.
1. O remédio é a palavra - por meio do endereçamento de Deus, chamado a tua palavra, porque se Deus não tivesse dado direção sobre isso, estaríamos totalmente perdidos.
2. A maneira como ela é aplicada e usada, observando-o, etc, estudando e procurando um acordo sagrado com a vontade de Deus.
[1] Começo com a pergunta; porque, o modo negligente como o mundo aborda o assunto, parece muito impertinente e ridículo. Eles dizem: O que tem a juventude e a infância a ver com um trabalho tão sério? Quando a velhice tiver nevado sobre as suas cabeças, e a experiência inteligente de mais anos no mundo tiver lhes amadurecido para tão severa disciplina, então é a hora de pensar em limpar o seu caminho, ou de entrar num curso de arrependimento e submissão a Deus. Para o presente – o jovem deve ser um pouco indulgente, pois eles crescerão mais sábios à medida em que crescerem mais em anos. Oh! Não; Deus demanda a sua justiça, logo que sejamos capazes de compreendê-lo. E isto concerne a cada um, tão logo chegue ao uso da razão, e tenha em mente o seu dever, tanto no que diz respeito a Deus e a si mesmo.
(1) No que diz respeito a Deus - que não pode ser mantido fora da sua justiça por muito tempo: Ec 12.1, “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade.” Ele é o nosso criador, não temos nada, mas o que ele nos deu, e que é para seu próprio uso e serviço. E, portanto, o vaso deve ser limpo tanto quanto possa ser, para que esteja "apto para o uso do Senhor.” Isto é um tipo de restituição espiritual para as negligências da infância e o esquecimento da infância, quando não tínhamos capacidade de conhecer o nosso criador, muito menos para servi-lo. E, portanto, tão logo cheguemos ao uso da razão, devemos restaurar a sua justiça, com proveito.
(2) No que diz respeito a si mesmo. O primeiro preparo do vaso é muito considerável: Prov 22.6, "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele." Quando se é bem preparado na juventude,  a palavra será absorvida por eles, antes que o pecado e as concupiscências mundanas tenham obtido um enraizamento mais profundo. Se a observação de Salomão é verdadeira, a infância e a juventude de um homem são um notável presságio do que ele evidenciará mais tarde: Prov 20.11, “Até uma criança é conhecida pelas suas ações, se a sua obra é pura e  reta." Muito pode ser conhecido por nossas inclinações juvenis. Mas, infelizmente! isto não encerra por completo o caso. O vaso já está preparado, mas "com que o jovem purificará o seu caminho?” o que pressupõe uma contaminação. Na criança é como um vaso recém saído da loja do oleiro, indiferente a boas ou más infusões. O vaso já está contaminado, e tem a natureza do velho homem e as corrupções da carne: Sl 51.5, “Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe." Chegamos poluídos no mundo, o nosso trabalho é parar o crescimento do pecado. Como a criança chafurdava na sua imundície, assim chafurdamos também espiritualmente em nosso sangue: Ez 16.4,5, “Quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste, não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água para te limpar, nem esfregada com sal, nem envolta em faixas. Não se apiedou de ti olho algum, para te fazer alguma destas coisas, compadecido de ti; antes, foste lançada em pleno campo, no dia em que nasceste, porque tiveram nojo de ti.”
Portanto, a questão é muito pertinente, "Com que o jovem purificará,” etc
Mas por que somente o jovem é especificado?
Eu respondo - Todos os homens estão envolvidos neste trabalho. Velhos não são deixados a si mesmos, nem totalmente entregues à desesperança; mas os jovens  precisam mais disto, sendo inclinados a libertinagens e a prazeres carnais, e mais aptos a serem conduzidos para além da maneira correta pelas concupiscências da carne e, sendo teimosos em suas paixões e vontade própria, precisam ter seus fervores abatidos pelas doutrinas do arrependimento e conversão a Deus. E, por isso, embora outros não sejam excluídos, o jovem é expressamente referido: potros indomáveis necessitam de freios mais fortes. A palavra é de uso para todos, mas especialmente para os jovens, para refreá-los e reduzi-los à razão.
[2] A resposta - "Observando-o segundo a tua palavra." A palavra, como um remédio contra a impureza natural é considerada de duas maneiras, como uma regra, e como um instrumento.
(1) Como a única regra daquela santidade que Deus aceitará. Todas as outras formas são apenas atalhos.
Nada é a santidade na conta de Deus, a não ser a que está de acordo com a palavra. A palavra mostra o único caminho de reconciliação com Deus, ou para ser purificado da culpa do pecado, e a única maneira de santificação sólida e verdadeira e submissão a Deus, que é a nossa purificação da imundícia do pecado.
Não há paz verdadeira sem a palavra, nem há verdadeira santidade. O primeiro é assinalado em Jer 6.16 "Assim diz o SENHOR: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele e achareis descanso para as vossas almas." O segundo está indicado em João 17.17, "Santifica-os na tua verdade, a tua palavra é a verdade."
(1) Ela é a única regra para nos ensinar como obter a verdadeira paz de consciência. O mundo inteiro está se tornando desagradável a Deus, e mantido sob o temor da justiça divina. Esta escravidão é natural, e a grande pergunta é como a sua ira será aplacada: Miqueias 6.6,7, “Com que me apresentarei diante do Senhor, e me prostrarei perante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Será que o Senhor ficará satisfeito com milhares de carneiros, ou com dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo pelo pecado da minha alma?" Agora, aqui não é citada a satisfação oferecida, nem o remédio para as feridas da consciência, nem o modo de remover a controvérsia entre nós e Deus; mas é pela propiciação do evangelho que é pregado, que tudo isso é efetuado.
Oh! então, o jovem para limpar sua consciência e acalmar o seu próprio espírito, tem necessidade de se apegar à palavra.
(2) A palavra é considerada com um instrumento que Deus faz uso para purificar o coração do homem. Não será errado nos estendermos pouco para mostrar a instrumentalidade da palavra para este propósito abençoado. É o espelho que revela o pecado, e a água que lava e o remove. A palavra é tanto o espelho quanto a água.
(1) É o espelho onde vemos a nossa corrupção. O primeiro passo para a cura é o conhecimento da doença, isto é um espelho onde aparecerá a nossa cara natural: Tg 1.23, “Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante a um homem que contempla seu rosto natural em um espelho," etc. Na palavra vemos a imagem de Deus e a nossa própria. É a cópia da santidade de Deus, e a representação de nossos rostos naturais, Rom 7.9. Que bons conceitos temos da nossa própria beleza espiritual! mas não podemos ver as manchas leprosas que estão sobre nós.
(2) Isto nos coloca num trabalho para vê-las removidas; isto é a água para lavá-las. A palavra de ordem forceja o dever, que é indispensavelmente requerido. O que é comandado em nossos ouvidos, senão "Lave-se, torne-se limpo."? Isto é indispensavelmente necessário: 1 João 3.3: "E todo aquele que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro”, e Heb 12.14, "Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor." Algumas coisas Deus pode dispensar, mas isso nunca é dispensado. Muitas coisas são ornamentais que não são absolutamente necessárias, como a riqueza: "Sabedoria com uma herança é bom,". Muitos têm ido para o céu, que nunca têm aprendido, mas nunca sem qualquer santidade.
(3) A palavra da promessa encoraja isto: 2 Coríntios 7.1, "Amados, tendo pois, tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus”, e 2 Pedro 1.4, "Pelas quais nos têm sido doadas suas mui grandes e preciosas  promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção que há no mundo pela concupiscência que nele há.”
Deus poderia ter exigido isto nas bases da sua soberania, mas Deus não nos governaria com mão de ferro, mas lida com criaturas racionais de forma racional, por promessas e ameaças. Por um lado, ele nos falou de um poço sem fundo; por outro lado, das bem-aventuradas e gloriosas promessas, coisas "que o olho não viu, e o ouvido não ouviu falar, nem penetrou no coração do homem para conceber." Portanto, a palavra tem uma instrumentalidade notável dessa forma.
(3.) A doutrina da escritura tem o remédio e o meio de limpeza – o sangue Cristo, que não é apenas um argumento ou motivo para nos mover a isto. Portanto, é instado em 1 Pedro 1.8, “quem, não havendo visto, amais; no qual, sem agora ver, mas crendo, exultais com alegria indizível”, etc. Isto impele à santidade sobre este argumento. Por quê? Tem sido um grande custo para Deus realizá-lo, por isso não devemos nos contentar com alguma moralidade superficial. Mais uma vez, a palavra propõe como uma compra, na qual a graça é adquirido por nós, por isso se diz, em 1 João 1.7, ele tem derramado o seu Espírito para nos abençoar e nos resgatar de nossos pecados. E isso excita a fé para aplicar este remédio, e assim experimentar o poder de Deus na alma: Atos 15.9, “purificando os seus corações pela fé."
2. A maneira como a palavra é aplicada e feito uso dela: “Se ele tomar cuidado para isso, segundo a tua palavra." Isto implica um estudo da palavra, e a tendência e importância disto, o que é necessário, se o jovem deve ser beneficiado por isto. Davi aplicou os estatutos de Deus aos homens do seu conselho. Os jovens que são encontrados com outros livros, se eles negligenciam a palavra de Deus, o livro que deve fazer a cura do seu coração e mente, eles são, com todo o seu conhecimento, miseráveis: Sl 1.2, “o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” Se os homens quiserem crescer sábios para a salvação, e obter qualquer habilidade na prática da piedade, eles devem estar muito ocupados com este livro abençoado por Deus, que nos é dado para nos dirigir: 1 João 2.14, "Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e já vencestes o maligno." Não será uma ligeira familiaridade com a palavra que fará um jovem ser bem sucedido em derrotar as tentações de Satanás, e será muito difícil vencer a sua própria concupiscência; não será por um pouco de irradiação nocional, mas por ter a palavra habitando em você, e permanecendo em você abundantemente. O caminho para destruir as ervas daninhas é plantar boas ervas que lhes sejam antagônicas. Nós sugamos princípios carnais como sendo nosso leite e, portanto, é dito que "falam mentiras desde o ventre." Isto é um tipo de mistério; antes de sermos capazes de falar, falamos mentiras, ou seja, somos propensos a erros e toda sorte de fantasias carnais pelo temperamento natural e estrutura dos nossos corações, Isa 58.2, e, portanto, desde a nossa mais tenra idade, devemos estar familiarizados com a palavra de Deus: 2 Tim 3.15: "E que desde a infância sabes as Sagradas Escrituras." Mesmo que não se ganhe nada, quando crianças, através da leitura da palavra, senão um pouco de conhecimento memorizado, mas ainda  é bom  plantar na lavoura da memória, com o tempo a memorização penetrará na razão e na consciência, e daí para o coração e os afetos.
3. Isto implica um cuidado e vigilância sobre nossos corações e comportamento, para que a nossa vontade e as ações sejam conformadas à palavra. Esta deve ser a oração diária do jovem e cuidado, que haja um acordo entre sua vontade e a palavra, que ele possa ser uma Bíblia caminhante, uma carta viva de Cristo, uma cópia da palavra em sua vida, para que as verdades possam fluir claramente em sua conversação.
Tudo o que eu tenho dito pode ser dividido em três pontos:
1. Que o grande dever da juventude, é inquirir e estudar como eles podem limpar seus corações e seus caminhos para o pecado.
2. Que a palavra de Deus é a única regra suficiente e eficaz para realizar este trabalho.
3. Se queremos ter essa eficácia, é requerido muito cuidado e vigilância, para que cheguemos à direção da palavra em cada til, não uma reflexão solta e desatenta com a palavra, desconsideração negligente, mas tendo cuidado para isso.
Agora, por que na juventude, e assim que chegamos ao uso da razão, devemos mentalizar o trabalho de limpeza do nosso caminho?
1. Pense em como isso é razoável. Está claro que Deus deve ter o nosso primeiro e nosso melhor. Está claro que ele deve ter o nosso primeiro, porque ele nos viu antes mesmo de nascermos. Seu amor por nós é eterno; e deveríamos deixar Deus do lado de fora de nossas vidas  até a velhice? vamos empurrá-lo para um canto? Certamente Deus, que nos amou tão cedo, isto é motivo para que ele tenha o nosso primeiro, e também o nosso melhor, pois todos nós somos dele. Sob a lei das primícias que eram de Deus, ele nos ensina que o  primeiro e o melhor são a Sua porção. Todos os sacrifícios que foram oferecidos a ele, estavam em sua força e juventude – eram novilhos, sem doença ou defeito, e o mesmo princípio se aplicava a todas as demais ofertas: Lev 2.14: "Se trouxeres ao SENHOR oferta de manjares das primícias, farás a oferta de manjares das tuas primícias de espigas verdes, tostadas ao fogo, isto é, os grãos esmagados de espigas verdes.”  Deus não iria ficar esperando por muito tempo até que amadurecessem. Deus não será mantido por muito tempo sem a Sua porção. A juventude é o nosso melhor momento. Mal 1.13, quando eles trouxeram uma oferta fraca e doente, “Devo aceitar isso de tua mão? diz o Senhor." A saúde, força, rapidez de espírito e vigor estão na juventude. Será a nossa saúde, e força para o uso do diabo, e vamos nos apresentar a Deus com a escória do tempo? Satanás deve se banquetear com a flor de nossa juventude, e Deus tem somente os restos e fragmentos da mesa do diabo? Quando a inteligência está entorpecida, os ouvidos, o corpo fraco, e os afetos gastos, isso é um presente adequado para Deus?
2. Considere a necessidade disto.
(1) Por causa do calor da juventude, as paixões e concupiscências são muito fortes: 2 Tim 2.22, “Fuja também das paixões da mocidade". Os homens estão mais inclinados nesta idade de orgulho e vaidade, a paixões fortes, desordenada e excessivo amor à libertinagem: 1 Tim 3.6  “não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo.” Um homem pode domesticar criaturas selvagens, os leões e tigres, e a fúria da juventude precisa ser temperada e freada pela palavra. Há muita glória para a graça de Cristo que o calor e a violência sejam quebrados quando a pessoa  é muito menos disposta e preparada.
(2) Porque ninguém é tentado tanto quanto eles. As crianças não podem ser de serventia ao diabo, e os velhos estão senis e têm escolhido e definido os seus caminhos, mas os jovens, que têm uma fraqueza de entendimento, e os espíritos mais intrépidos e mais agitação, o diabo ama fazer uso deles: 1 João 2.13 : 'Eu vos escrevi, jovens, porque tendes vencido o maligno." Eles são mais agredidos, mas é para a honra da graça quando saem vencedores, quando é empregado o seu fervor e força, não para satisfazer concupiscências, mas no serviço de Deus e luta contra Satanás. Portanto, é muito necessário que sejam temperados com a palavra desde cedo.
3. Considere os muitos inconvenientes que se seguirão, se atualmente não se importarem com este trabalho.
(1) A morte é incerta, e, portanto, um negócio tão importante como este não admite atraso. Deus nem sempre dará o aviso. Nadabe e Abiú, dois jovens irreverentes, foram levados em seus pecados, e os ursos da floresta devoraram as crianças que zombaram do profeta Eliseu. O perigo é tão grande, que assim que estejamos conscientes disto, devemos fugir dele. Quando as crianças chegam à plenitude da razão, elas ficam em sua própria conta; antes, elas estavam sob a conta de seus pais. Oh, ai de você se você morrer em seus pecados! Certamente, assim que um homem está sobre a sua própria conta pessoal, ele deveria olhar por si mesmo, para que Deus o quebre, para que ele faça a sua paz com ele.
Aplicação 1. É para se lamentar que tão poucos jovens trilhem nos caminhos de Deus. É uma coisa rara  encontrar um José, ou um Samuel, ou um Josias, que buscam a Deus desde cedo. Vá às universidades, e você vai descobrir que aqueles que deveriam ser tão nazireus consagrados a Deus, vivem como aqueles que se consagraram a Satanás: Amós 2.11, “Dentre os vossos filhos, suscitei profetas e, dentre os vossos jovens, nazireus.”  Os filhos dos profetas em sua juventude  criados para uma disciplina mais rigorosa na sua santa vocação, separados de prazeres mundanos, para serem um estoque de um ministério bem sucedido. Mas, infelizmente eles gastaram seu tempo na vaidade, nada trazendo senão apenas os pecados do lugar, e seguiram os costumes pecaminosa do seu país. Quão poucos consideram a educação de sua juventude em conhecimento ou prática religiosa! Famílias são sociedades para serem santificadas por Deus, bem como igrejas. Os seus governantes têm verdadeiramente um encargo para com as almas assim como os pastores em relação às igrejas. Eles oferecem seus filhos a Deus no batismo, mas educam-nos para o mundo e para a carne. Eles lamentam qualquer defeito físico neles, mas não a falta da graça.
Aplicação 2. Uma exortação para os jovens. Você que está começando a sua jornada, comece com Deus, você não tem experiência, mas você tem uma regra; você tem concupiscências poderosas, mas um espírito forte. Nenhuma faixa etária está excluída da promessa do Espírito: Joel 2.28,29, “E será que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões, e também sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias."
De João Batista é dito em Lucas 1.15: "Ele será cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe”, e lemos em Marcos 10.14 “Deixai vir a mim os pequeninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus." Há poder para iluminá-lo, apesar de todos os seus preconceitos, para subjugar suas paixões, apesar do poder da nossa natureza corrompida pelo pecado: 1 João 2.13,14: "Eu vos escrevi, jovens, porque tendes vencido o maligno. Eu vos escrevo, filhinhos, porque conheceis o Pai.", etc, e veja Gên 39.9. Será um grande conforto para você, quando você morrer, que seu grande trabalho foi concluído. Oh, que coisa triste é que, quando o corpo vai para a sepultura, e a alma não tem ainda  aprendido a conversar com Deus! Oseias 8.12, “Embora eu lhe escreva a minha lei em dez mil preceitos, estes seriam tidos como coisa estranha.”. Deus tem escrito uma carta para nós, e nós não iremos lê-la, nem meditá-la? Seremos então estranhos inteiramente a ela. Mas agora, quando conhecerem a Deus, não será tão cansativo ir ter com ele.







4 - Uma Fonte Segura e Autenticada

“Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.” (João 7.17)

“Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.” (João 8.51)

Dentre as muitas passagens do evangelho nas quais nosso Senhor Jesus Cristo fala do efeito da Palavra revelada de Deus em nossas vidas, destacamos as duas acima.
Na primeira vemos que a prática da Palavra não somente leva-nos a fazer a vontade de Deus, como testifica em nosso espírito e entendimento quanto à veracidade da mesma como sendo de procedência divina, uma vez que tudo o que se refere à vida celestial e espiritual, conforme registrado na Bíblia, é conhecido e vivido somente mediante a fé em Cristo e em Sua Palavra.
Na segunda passagem nosso Senhor nos assegura que somente aqueles que guardam a Sua Palavra podem obter a vida eterna, e consequentemente vencer a morte espiritual e eterna.
Isto não é um privilégio para poucos, conforme suas habilidades, capacitações e méritos, mas para toda e qualquer pessoa, em qualquer condição, conforme se depreende da condicional usada por Jesus, “se alguém...”, de modo que a porta está aberta para qualquer que queira sinceramente conhecer e fazer a vontade de Deus.
Jesus designou a fonte para este conhecimento e conversão, apenas como sendo a Palavra da verdade revelada.

Graças a Deus que inspirou servos previamente escolhidos e que foram capacitados por Ele para que registrassem a Palavra do evangelho, revelado na pessoa de Jesus Cristo, de modo que não fôssemos enganados por qualquer outra palavra suposta como de Sua procedência, e que não o fosse de fato, senão uma palavra falsa ou adulterada, que jamais poderia operar a nossa salvação e transformação em novas criaturas renascidas do Espírito Santo.







5 - Nossa Relação com a Palavra

Quando afirmamos a necessidade essencial de se amar e observar a Palavra de Deus, o que está em foco não é propriamente sacralizar o texto bíblico, numa forma de meramente honrar a palavra escrita, como se fora um tipo de talismã.
Não foi para este propósito que Deus revelou a Sua Palavra em forma escrita.

Foi para que aprendêssemos sobretudo acerca da Sua pessoa e caráter divino, e do modo como somos redimidos do pecado por Cristo, e como devemos amá-lo com todo o nosso coração, força e mente, através de um procedimento e comportamento que estejam ajustados ao que nos é ordenado na Palavra.







6 - Penetrado Pela Palavra de Deus

Por John Piper

“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração.” (Hebreus 4:12)

O termo "palavra de Deus" pode significar uma palavra dita por Deus que não tenha saído da boca de uma pessoa. Mas no Novo Testamento, geralmente, significa uma palavra ou uma mensagem que uma pessoa fale em nome de Deus. Por exemplo, Hebreus 13:7 diz, "Lembrem-se dos seus líderes, que lhes falaram a palavra de Deus. Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé". Portanto a "palavra de Deus" em Hebreus 4:12 provavelmente se refere à verdade de Deus revelada na Escritura que as pessoas falam umas para as outras com a confiança no auxílio de Deus para que elas a entendam e a apliquem.

"Viva e eficaz".
A palavra de Deus não é uma palavra morta ou ineficaz. Ela possui vida. E por ter vida nela mesma, ela produz efeitos. Há algo sobre a Verdade, conforme Deus a revelou, que a conecta com Deus como sendo a fonte de toda vida e poder. Ele toma partido de Sua palavra. Ele honra a Sua palavra com Sua presença e poder. Se você quer que seu ensinamento ou testemunho tenha poder e produza efeitos, fique próximo à palavra revelada de Deus.
Mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas.
O que essa palavra viva e eficaz faz? Ela penetra. Com que propósito? Para dividir. Dividir o que? Alma e espírito. O que isso quer dizer?
O autor faz uma analogia: é como dividir juntas e medulas. Juntas são a parte espessa, dura e externa do osso. Medula é a parte suave, frágil, interna do osso. Essa é uma analogia a "alma e espírito". A palavra de Deus é como uma espada que é afiada o suficiente para cortar bem entre a parte externa, dura e resistente, e a parte interna suave e viva do osso. Algumas espadas, menos afiadas, podem atingir o osso, resvalar e não penetrar. Algumas outras espadas podem penetrar parcialmente até a junta resistente e espessa de um osso. Mas uma espada de dois gumes, muito afiada (dos dois lados) e poderosa penetrará a junta e chegará direto na medula.
"Alma e espírito" são como "juntas e medulas". A "alma" é aquela dimensão invisível de nossa vida que somos por natureza. O "espírito" é o que somos através do novo nascimento sobrenatural. Jesus disse: "O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito". (João 3:6). Sem a obra avivadora, criativa, regeneradora do Espírito de Deus em nós, somos simplesmente "naturais" ao invés de "espirituais" (1 Coríntios 2:14-15). Portanto, o "espírito" é aquela dimensão invisível de nossa vida que somos através da obra regeneradora do Espírito.
Então qual é o objetivo em dizer que a "palavra de Deus" penetra a ponto de "dividir alma e espírito"? O objetivo é que a palavra de Deus nos revele a verdade sobre nós mesmos. Somos espirituais ou naturais? Somos nascidos de Deus e espiritualmente vivos, ou estamos nos enganando e mortos espiritualmente? Os "pensamentos e intenções de nossos corações" são pensamentos e intenções espirituais ou apenas pensamentos e intenções naturais. Apenas a "palavra de Deus" pode "julgar os pensamentos e intenções do coração" conforme diz Hebreus 4:12.
Falando de forma prática, quando lemos ou ouvimos a "palavra de Deus", nos sentimos penetrados. O efeito dessa penetração é revelar se há espírito ou não. Há medula e vida em nossos ossos? Ou somos apenas um "esqueleto" sem vida na medula? Há um "espírito" ou apenas "alma"? A palavra de Deus penetra fundo o suficiente para nos mostrar a verdade de nossos pensamentos e motivações, e do nosso ser.
Entregue-se à palavra de Deus na Bíblia. Use-a para conhecer a si mesmo e confirmar sua própria vida espiritual. Se houver vida, haverá amor e alegria e um coração disposto a obedecer a palavra. Entregue-se à essa palavra para que suas palavras se tornem a palavra de Deus para os outros e revele a eles a própria condição deles. Assim, derrame o bálsamo da palavra na ferida feita pela palavra.

Com vocês em busca da penetrante palavra de Deus,

Pastor John







7 - A Única Palavra Viva

O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. (Jo 6.63)

Estas profundas palavras foram proferidas no Espírito, pelo próprio Jesus Cristo
Quando disse que é o espírito o que vivifica, ele apontou o caminho pelo qual esta vida eterna é recebida, a saber, as suas palavras registradas na Bíblia, porque não são meras palavras, mas espírito e vida.
Elas transmitem a vida do céu a todo aquele que a receber com fé.
Por isso importa que a palavra do Evangelho seja anunciada com a unção do Espírito Santo, para que opere o efeito esperado por Deus no coração dos seus ouvintes, ou leitores.
A vida está no espírito e não na carne.
A carne morre a cada dia e passa, mas o espírito se renova e permanece para sempre.
Mas, como todos temos um espírito morto, afastado naturalmente da vida de Deus, necessitamos que ele seja revivificado pelo Espírito Santo, através da instrumentalidade da Palavra de Deus, por meio da qual somos salvos e santificados.
A Palavra viva sempre falará conosco e transmitirá a vida espiritual e celestial, quando nela meditarmos, seja ouvindo-a, ou lendo-a com humildade de espírito.








8 - A Espada do Espírito Santo

Por D. M. Lloyd Jones

É unicamente o Espírito que nos capacita a "interpretar" a Palavra de Deus. É inteiramente obra do Espírito. Tudo quanto está ligado a esta Palavra é sempre resultado da operação do Espírito, do princípio ao fim. Por mais capaz que um homem seja no sentido natural, essa capacidade não o ajuda a interpretar as Escrituras. Ele pode ser um gênio, ou um grande erudito, mas isso não o ajudará aqui. A verdade "se discerne espiritualmente". Deve ser interpretada de maneira espiritual. E nada pode habilitar-nos a fazê-lo independentemente do Espírito de Deus-e nem pessoa alguma. Assim, ao longo de toda a linha, vemos que a nossa arma é "a espada do Espírito".

Finalmente – e esta é, talvez, a consideração predominante na mente do apóstolo quando ele escreveu as palavras - é unicamente o Espírito Santo que nos capacita a usar apropriadamente esta Palavra. E, como o apóstolo está preocupado com a maneira prática de combater o inimigo, repeli-lo e fazê-lo fugir, evidentemente é isso que ocupa lugar predominante em sua mente. Uma coisa é conhecer o conteúdo deste livro; é coisa muito diferente saber usá-lo direito. Somente o Espírito Santo pode capacitar-nos a fazê-lo.

A relação entre o Espírito e a Palavra é da maior importância. O não reconhecimento disso explica a ocorrência de tantas dificuldades na longa história da Igreja Cristã. A tendência geral é sempre dar ênfase exclusivamente a um ou ao outro lado. No momento em que vocês separarem o Espírito e a Palavra, terão problema. Há alguns que dizem que, tendo a iluminação do Espírito, você não tem nenhuma necessidade da Palavra. Essa foi a tragédia dos quacres. George Fox começou com o equilíbrio certo, porém com o tempo foi se inclinando a dar cada vez menos atenção à Palavra, e cada vez mais à "luz interior", à iluminação do Espírito, à mensagem recebida direta, imediatamente. Por isso a tradução da Nova Bíblia Inglesa, assim chamada, é tão perigosa. Ela substitui "que é a palavra de Deus" por "palavras que vêm de Deus", exatamente aquilo que os fanáticos sempre afirmaram. Os "entusiastas", os fanáticos, sempre basearam toda a sua posição nisso.

Mas depois existe a outra tendência, no outro extremo, de desacreditar o Espírito e dizer que, desde que tenhamos a Bíblia aberta e a Palavra diante de nós, e desde que a conheçamos num sentido mecânico, não precisaremos de mais nada. Assim o Espírito é esquecido, e se pode ter uma ortodoxia morta, ou um conhecimento meramente intelectual e mecânico das Escrituras, que não capacita ninguém a pelejar no combate contra o diabo, os principados e as potestades. O Espírito e a Palavra têm que ser mantidos sempre juntos. O Espírito nos muniu da instrução que se acha na Palavra, porém não podemos usá-la sem Ele. Ela pode ser letra morta para nós: "a letra mata e o espírito vivifica" (2 Coríntios 3:6). O que é necessário é o Espírito abrir a Palavra, abrir a minha mente e abrir o meu coração. Desde que vocês mantenham os dois juntos, como o apóstolo faz aqui, vocês não terão como errar; entretanto, se os separarem, o diabo já terá "dividido para poder vencer", por assim dizer. E, como digo, ele fez isso muitas vezes na longa história da Igreja Cristã.

O erro entra de muitas maneiras, mas agora estamos particularmente interessados no ataque geral contra a "verdade". Já consideramos ataques específicos sob outros títulos. O inimigo faz este ataque geral de muitas maneiras. Ele o faz por meio da filosofia, que sempre foi inimiga da verdade, desde o princípio. Uma das primeiras batalhas que a Igreja Cristã teve que travar foi contra a filosofia grega. Quando o evangelho veio para a Europa, primeiro veio para a Grécia, onde havia uma grande tradição filosófica, a perspectiva segundo a qual o homem, buscando a Deus, poderá encontrá-lo, o homem pode chegar à verdade graças à meditação e ao efetivo desenvolvimento das suas teorias. Houve um grande combate nos primeiros séculos entre a Igreja Cristã e o sutil ataque oriundo da filosofia. Continuamos tendo esse combate, é claro, e talvez mais do que nunca.

Fazendo parelha com a filosofia, há o que geralmente chamam "conhecimento" - qualquer conhecimento que o homem tenha. O conhecimento "científico" em particular. E em termos do conhecimento moderno, dos últimos avanços do conhecimento, especialmente do conhecimento científico, que muitos rejeitam o cristianismo. O único modo pelo qual podemos repelir este ataque particular é empunhar e brandir "a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus". Não há outro meio de defesa. Foi o que o nosso Senhor fez. Devemos seguir os Seus passos em todas as questões; e nas páginas dos quatro Evangelhos vocês verão que o nosso Senhor fez isso repetidamente. Aqueles homens inteligentes, fariseus, escribas, doutores da lei, vinham com as suas perguntas capciosas, dizendo a si mesmos: "Quem é este sujeito? Ele nunca foi instruído como fariseu, é um simples carpinteiro, nunca foi às escolas, que é que Ele sabe?" E assim traziam as suas perguntas espertas. Eles eram peritos nos pormenores e minúcias da lei. Eram grandes eruditos, e assim vinham com toda a sua erudição, e pensavam que podiam apanhá-lo e pôr um fim no Seu ministério. Ele sempre os enfrentou da maneira que já O vimos fazer na tentação no deserto.

Vejam um exemplo, tomado do Evangelho de Lucas: "E eis que se levantou um certo doutor da lei"- um homem inteligente, instruído, um perito na lei judaica- "tentando-o (ao Senhor), e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" Certamente ele esperava que o nosso Senhor desse uma opinião pessoal, Sua, que ele, advogado, provaria que não era coerente com o ensino da lei. Mas nosso Senhor replicou-lhe perguntando: "Que está escrito na lei? Como lês?" (Lucas 10:25-26). Noutras palavras, Ele tomou "a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus". Foi assim que o nosso Senhor lidou com aquele homem. "Que está escrito na lei? O que você lê, o que você vê nas Escrituras?" Há um exemplo parecido no Evangelho de João: "Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar. Respondeu-lhes Jesus: tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais? Os judeus responderam-lhe, dizendo: não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo". Um ataque verdadeiramente astuto! Jesus respondeu-lhes: "Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada), àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?" (João 10:31-36). Notem a arma! Ele tomou "a espada do Espírito" e os feriu com ela. Não somente Se defendeu, derrotou-os. E Ele constantemente agia dessa maneira.







9 - A Palavra de Deus é Viva e Eficaz

Por João Calvino

“A palavra de Deus é viva e eficaz.” (Hebreus 4.12)

Tudo o que ele diz aqui com relação à eficácia da Palavra é com o propósito de que soubessem que não poderiam desmerecê-la impunemente. É como se dissesse: Sempre que o Senhor se nos acerca com sua Palavra, ele está tratando conosco da forma mais séria, com o fim de mover todos os nossos sentidos mais profundos. Portanto, não há parte de nossa alma que não receba sua influência. Entretanto, antes de darmos um passo adiante, carece que consideremos se o apóstolo está falando da Palavra em termos gerais, ou se ele está fazendo, aqui, uma referência particular àqueles que creem. E geralmente aceito que a Palavra de Deus não é igualmente eficaz em todos. Ela aplica seu poder nos eleitos, com o fim de humilhá-los através de um genuíno reconhecimento do que na verdade são, para que fujam e se escondam na graça de Cristo. Isso jamais aconteceria, se a Palavra não penetrasse as profundezas do coração. A hipocrisia, que se acha presente nos admiráveis e infinitamente tortuosos recantos dos corações humanos, deve ser erradicada. Devemos estar não só humildemente dispostos a espicaçar-nos e a afligir-nos, mas também a ser profundamente feridos, para que, prostrados pelo senso da morte eterna, aprendamos a morrer para nós mesmos. Jamais seremos renovados em toda a nossa mente (como Paulo requer em Efésios 4.23) até que nosso velho homem haja sido morto pelo gume dessa espada do Espírito. Eis a razão por que Paulo diz em outro lugar [Fp 2.17] que aqueles que creem são oferecidos em sacrifício a Deus, visto que não podem ser trazidos à obediência a Deus senão pela morte de seus próprios desejos, bem como não podem ver a luz da sabedoria divina senão pela destruição de sua sabedoria carnal. Tudo isso não pode aplicar-se no caso dos incrédulos. Ou displicentemente desconsideram a Deus quando lhes fala, e dessa forma motejam dele, ou bradam contra sua doutrina e se levantam insidiosamente contra ela. Sendo a Palavra de Deus semelhante a um martelo, o coração deles é semelhante a uma bigorna, de modo que sua dureza repele os golpes por mais fortes que sejam. Eles se acham muito longe para que a Palavra de Deus penetre neles, até ao ponto de dividir alma e espírito. Desse modo parece que essa cláusula deve restringir-se somente àqueles que creem, visto que unicamente eles podem ser examinados no mais profundo de seu ser.
Em contrapartida, o contexto do apóstolo revela que este é um princípio geral que se aplica também aos incrédulos. Embora se oponham à Palavra de Deus com um coração de ferro ou de aço, não obstante devem necessariamente ser refreados por seu próprio sentimento de culpa. Riem, é verdade, mas é um riso sardônico, porque sentem como se estivessem sendo sufocados interiormente, e forjam toda espécie de evasivas com o intuito de evitar a aproximação do tribunal de Deus. Por mais indispostos que eles sejam, são arrastados para a presença dessa mesma Palavra que tão veementemente ridicularizam, para que sejam comparados apropriadamente com cães furiosos, que mordem e esganam a corrente a que se acham presos, embora sem qualquer efeito, porque ainda permanecem firmemente acorrentados. Além disso, embora o efeito dessa Palavra talvez não se revele imediatamente, no mesmo dia, contudo o resultado será inevitável, e aquele que a prega descobrirá que a ninguém a pregou em vão. Cristo certamente falou em termos de aplicação geral quando afirmou: "Quando ele vier convencerá o mundo..." [Jo 16.8]. O Espírito exerce esse juízo através da pregação do evangelho.
Finalmente, ainda quando a Palavra de Deus nem sempre manifeste esse poder nos homens, todavia ela, em alguma medida, o possui em si mesma. O apóstolo está discutindo, aqui, acerca da natureza e da função própria da Palavra para o propósito único, a fim de que saibamos que assim que ela soa em nossos ouvidos, nossas consciências são citadas acusativamente diante do tribunal de Deus. É como se dissesse: Se porventura alguém presume que a Palavra de Deus ecoa no vazio, ao ser proclamada, esse tal está fazendo uma grande confusão. Essa Palavra é algo vivo e cheio de poder secreto, a qual não deixa nada no homem que não seja tocado. A suma de tudo isso é que tão logo Deus abra seus santos lábios, todos os nossos sentidos também devem abrir-se para receber sua Palavra, porque não faz parte de sua vontade permitir que suas palavras sejam semeadas em vão, nem tampouco feneçam ou desapareçam no solo da vida, senão que desafiem eficazmente as consciências humanas, até que as tragam jungidas ao seu domínio. Ele, pois, dotou sua Palavra com tal poder, para que a mesma perscrute cada área de nossa alma, para revelar os escrutínios dos pensamentos, para decidir entre as afeições e para manifestar-se como juiz.
Aqui surge uma nova questão, se essa Palavra deve ser considerada como sendo a lei ou o evangelho. Os que entendem que o apóstolo está falando da lei, evocam estes testemunhos paulinos: que é um ministério de morte; que é a letra que mata [2 Co 3.6-7]; que não opera outra coisa senão ira [Rm 4.15], e outros da mesma natureza. Mas aqui o apóstolo realça seus efeitos divergentes. E, por assim dizer, um gênero de matança que faz viva a alma, e que se dá através do evangelho. Devemos entender, pois, que quando o apóstolo diz que ela é viva e eficaz, ele está a referir-se à doutrina geral de Deus. Paulo dá testemunho de tal efeito [2 Co 2.16], dizendo que de sua pregação exala um odor de morte para a morte daqueles que não creem, bem como de vida para a vida dos fiéis, de modo que jamais fala em vão, sem que conduza alguns à salvação, compelindo outros à destruição. Esse é o poder de atar e desatar que o Senhor conferiu a seus apóstolos [Mt 18.18]. Esse é o poder do Espírito no qual Paulo se gloria [2 Co 10.4]. Aliás, ele jamais nos promete salvação em Cristo sem, em contrapartida, pronunciar vingança sobre os incrédulos que, ao rejeitarem a Cristo, trazem morte sobre si próprios.
Além do mais, é mister que observemos que o apóstolo, aqui, está a discutir a Palavra de Deus que nos é comunicada pelo ministério dos homens. São dementes e mesmo danosas todas as noções de que, não obstante a Palavra interna ser certamente eficaz, aquela que emana dos lábios humanos é morta e carente de qualquer efeito. Admito que a eficácia certamente não flui da língua humana, nem consiste em seu próprio som, senão que deve ser atribuída totalmente ao Espírito Santo; no entanto não impede o Espírito de manifestar seu poder na Palavra que é proclamada. Porque Deus mesmo não fala senão através dos homens; ele toma grande cuidado para que sua doutrina não seja recebida com descaso por seus ministros serem homens. E assim, quando Paulo diz que o evangelho é o poder de Deus [Rm 1.16], deliberadamente distinguiu sua própria pregação com tal honra, a qual o apóstolo percebeu ser aprovada por alguns e rejeitada por outros. Ao ensinar-nos em outro lugar [Rm 10.8-10] que a salvação nos é conferida pelo ensinamento proveniente da fé, ele expressamente diz que essa é a doutrina que é anunciada. Vemos que Deus sempre recomenda publicamente a doutrina que nos é ministrada pelo esforço humano, com o propósito de induzir-nos a recebê-la com reverência.
Ao dizer que a Palavra é viva, é preciso entender tal expressão "em ralação aos homens". Isso se faz ainda mais evidente à luz do segundo adjetivo. Ele mostra que espécie de vida ela possui ao prosseguir chamando-a eficaz. O objetivo do apóstolo era ensinar-nos o gênero de utilidade que a Palavra tem para nós. A Escritura faz uso da metáfora da espada em outras passagens, o apóstolo, porém, não se contenta com uma simples comparação. Ele diz que a Palavra de Deus é mais cortante que qualquer espada; aliás, uma espada de dois gumes, porque em sua época era frequente o caso de espadas que só cortavam de um lado, e do outro não.
Penetra até... etc. O substantivo alma amiúde significa o mesmo que espírito, mas quando são ambos associados, a primeira inclui todas as afeições, enquanto que o último indica a faculdade a que chamam intelectual. Assim também em 1 Tessalonicenses 5.23, quando Paulo ora a Deus para que guardasse o espírito, a alma e o corpo deles incorruptíveis até à vinda de Cristo, ele quer dizer simplesmente que permanecessem puros e santos em sua mente e vontade e ações exteriores. Semelhantemente, quando Isaías diz [26.9]; "Com minha alma suspiro de noite por ti, e com o meu espírito dentro em mim", certamente que sua intenção era que seu esforço em buscar a Deus era tão profundo, que aplicava sua mente tanto quanto seu coração a tal intento. Estou consciente de que há aqueles que apresentam uma interpretação diferenciada. Mas espero que toda pessoa sensível esteja disposta a concordar comigo.
Voltemos à passagem que ora estamos a considerar. A Palavra de Deus penetra ao ponto de dividir alma e espírito. Significa que ela testa toda a alma de uma pessoa. Ela explora seus pensamentos e sonda sua vontade e todos os seus desejos. O mesmo significado se acha implícito na frase juntas e medulas. Significa que não há nada tão difícil ou sólido numa pessoa, nada tão profundamente oculto que a eficácia da Palavra não penetre até lá. Isso é o que Paulo diz em 1 Coríntios 14.24, ou seja: que a profecia tem o poder de convencer e julgar os homens, a fim de que os segredos do coração se manifestem. Visto que a função de Cristo é descobrir e trazer a lume os pensamentos que fluem dos recessos mais profundos do coração, em grande medida ele o faz através do evangelho.
A Palavra de Deus, portanto, é Kpitikóç (=discernidora), porque traz à mente humana a luz do conhecimento, como se a tirasse de um labirinto onde jazia outrora enredada. Não há trevas mais densas do que a incredulidade, e a hipocrisia nos cega de uma forma terrificante. A Palavra de Deus dissipa tais trevas e faz a hipocrisia bater em retirada. É daqui que emana o discernimento e o juízo que o apóstolo menciona, visto que os vícios que se ocultam sob a falsa fachada de virtudes começam agora a descortinar-se e sua aparência se desvanece. Ainda quando os réprobos fiquem por algum tempo ocultos em seus covis, descobrirão que até mesmo ali a luz da Palavra finalmente penetrou, de modo que não podem escapar do juízo divino. Daqui se ergue seu lamento e deveras seu furor, porquanto se não forem estremecidos pela Palavra, jamais perceberiam sua loucura. Tentam escapar ou evadir-se e evitar seu poder, ou ainda procedem como se não a tenham notado. Mas Deus não permite que logrem sucesso. Portanto, enquanto caluniam ou injuriam a Palavra de Deus, admitem, embora a contra gosto ou relutantemente, que sentem seu poder em seu íntimo.








10 - Palavra

“Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.” (Mateus 4.4)
Por que o nosso espírito vive de toda palavra que sai da boca de Deus?
Porque assim como o pão é alimento para a vida do corpo, a palavra de Deus é o alimento da vida do espírito.
Em relação a Deus, a Sua palavra é muito mais do que simples definição de objetos e realidades, pois somos informados que tudo foi criado por Ele mediante a expedição de Sua palavra de ordem.
Ele ordenou: “haja luz” e a luz foi criada. E assim se fez em todos os atos da criação. Vemos então, que a palavra é a expressão operativa da Sua vontade e poder.
Isto foi visto no ministério terreno de Jesus quando operou milagres, expulsou demônios, e acalmou a fúria do mar, pelo simples uso da sua palavra de ordem. Deus possui, portanto o poder de dar à Sua palavra uma faculdade operativa e criativa.
Por isso, Jesus afirma que Suas palavras são espírito e vida, e o apóstolo Pedro reconheceu que eram de fato, palavras de vida eterna.
Se lermos a Bíblia ou a ouvirmos sendo pregada e ensinada, com espirito de reverência e devoção, com certeza a fé será despertada e tornará a palavra lida ou ouvida, em espírito e vida para nós, pela ação do Espírito Santo em nossas mentes e corações. Isto ocorre, porque as Escrituras foram produzidas pela inspiração do Espírito Santo. Elas possuem a vida que nelas foi insuflada pelas verdades ensinadas e reveladas pelo Espírito.
Essas verdades enchem a alma de vigor, paz e alegria. Elas renovam a mente e santificam a vida. Elas elevam o espírito à presença de Deus e o modelam à semelhança do caráter de Cristo.
São palavras puras, poderosas, celestiais, espirituais e divinas. Elas inspiram bons sentimentos e propósitos. Inclinam o espírito a amar a Deus e ao próximo.
A elas, assim se expressou o salmista:
A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos simples.
Os preceitos do Senhor são retos, e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e alumia os olhos.
O temor do Senhor é limpo, e permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros e inteiramente justos.
Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o que goteja dos favos.
Também por eles o teu servo é advertido; e em os guardar há grande recompensa.” (Salmo 19.7-11)
Ele havia aprendido e reconhecido a qualidade de vida que é achada na Palavra de Deus, quando observada e praticada por nós.
Quando a nossa conversação se afasta do padrão divino estamos em sério perigo, pois é por nossas palavras que somos condenados ou justificados.
A boca fala do que está cheio o coração. Nossa conversação revela o que somos de fato em nosso interior. Palavras fúteis procedem de um coração fútil. Palavras amargas, de um coração amargo. Palavras impuras, de um coração impuro.
Então, pela torpeza do falar se conhece a torpeza do nosso interior. Precisamos da lavagem de purificação pela Palavra de Deus, para que o nosso coração seja feito uma fonte da qual procedam palavras abençoadoras e edificadoras.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras:
1 – rhema (grego) – palavra;
2 – logos (grego) – palavra; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:


Você pode ler toda a Bíblia (Velho e Novo Testamento) com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:

http://interpretabiblia.blogspot.com.br/








11 - Estas Palavras que Hoje te Ordeno

"Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração;  tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.." (Deuteronômio 6:6-9)
É bom quando a Palavra de Deus governa a minha vida pessoal.
Ela deve controlar o meu corpo com seus membros e paixões.
Ela deve resolver as questões intrigantes do meu intelecto.
Ela Deve responder à acusação, e acalmar os temores da  minha consciência.
Ela deve encher minha imaginação com imagens puras e inspiradoras.
Ela deve fazer da minha vontade um feliz servo de Cristo.
Ela deve satisfazer os desejos do meu coração pelo amor perfeito e eterno.
E é bom quando a Palavra de Deus governa a minha casa.
Quando eu a ensino aos meus filhos, quando falo dela sentado em casa e andando pelo caminho, deitado e levantando-me - eu estou lhes dando. . .
o tema mais sublime para a meditação,
a melhor regra de conduta,
a salvaguarda mais forte contra o mal,
o passaporte para a família do Senhor e para a cidade do Rei eterno.
Eu estou lhes prestando o mais nobre serviço concebível!
E é bom quando a Palavra de Deus governa minha vida social. Que seja escrita sobre as vergas da minha casa e nos seus portais. Então, meus vizinhos saberão onde estou, e a quem eu sirvo. Eles não virão a mim para falar fofocas e escândalos, e sussurrar o bom nome dos outros em línguas ociosas. Eles não vão me desejar para ser um parceiro com eles em qualquer trabalho mau. Em vez disso, eles serão atraídos para a Bíblia e para o Senhor.
Na minha história pessoal,
nas relações de minha casa,
na minha comunhão social –
que Deus governe através de Sua Palavra, com um cetro indiscutível e uma autoridade graciosa!

Texto de Alexander Smellie, traduzido por Silvio Dutra.








12 - A Palavra de Deus é Viva e Eficaz

Por João Calvino

A palavra de Deus é viva e eficaz - (Hb 4.12). Tudo o que ele diz aqui com relação à eficácia da Palavra é com o propósito de que soubessem que não poderiam desmerecê-la impunemente. É como se dissesse: Sempre que o Senhor se nos acerca com sua Palavra, ele está tratando conosco da forma mais séria, com o fim de mover todos os nossos sentidos mais profundos. Portanto, não há parte de nossa alma que não receba sua influência. Entretanto, antes de darmos um passo adiante, carece que consideremos se o apóstolo está falando da Palavra em termos gerais, ou se ele está fazendo, aqui, uma referência particular àqueles que crêem. E geralmente aceito que a Palavra de Deus não é igualmente eficaz em todos. Ela aplica seu poder nos eleitos, com o fim de humilhá-los através de um genuíno reconhecimento do que na verdade são, para que fujam e se escondam na graça de Cristo. Isso jamais aconteceria, se a Palavra não penetrasse as profundezas do coração. A hipocrisia, que se acha presente nos admiráveis e infinitamente tortuosos recantos dos corações humanos, deve ser erradicada. Devemos estar não só humildemente dispostos a espicaçar-nos e a afligir-nos, mas também a ser profundamente feridos, para que, prostrados pelo senso da morte eterna, aprendamos a morrer para nós mesmos. Jamais seremos renovados em toda a nossa mente (como Paulo requer em Efésios 4.23) até que nosso velho homem haja sido morto pelo gume dessa espada do Espírito. Eis a razão por que Paulo diz em outro lugar [Fp 2.17] que aqueles que crêem são oferecidos em sacrifício a Deus, visto que não podem ser trazidos à obediência a Deus senão pela morte de seus próprios desejos, bem como não podem ver a luz da sabedoria divina senão pela destruição de sua sabedoria carnal. Tudo isso não pode aplicar-se no caso dos incrédulos. Ou displicentemente desconsideram a Deus quando lhes fala, e dessa forma motejam dele, ou bradam contra sua doutrina e se levantam insidiosamente contra ela. Sendo a Palavra de Deus semelhante a um martelo, o coração deles é semelhante a uma bigorna, de modo que sua dureza repele os golpes por mais fortes que sejam. Eles se acham muito longe para que a Palavra de Deus penetre neles, até ao ponto de dividir alma e espírito. Desse modo parece que essa cláusula deve restringir-se somente àqueles que crêem, visto que unicamente eles podem ser examinados no mais profundo de seu ser.
Em contrapartida, o contexto do apóstolo revela que este é um princípio geral que se aplica também aos incrédulos. Embora se oponham à Palavra de Deus com um coração de ferro ou de aço, não obstante devem necessariamente ser refreados por seu próprio sentimento de culpa. Riem, é verdade, mas é um riso sardônico, porque sentem como se estivessem sendo sufocados interiormente, e forjam toda espécie de evasivas com o intuito de evitar a aproximação do tribunal de Deus. Por mais indispostos que eles sejam, são arrastados para a presença dessa mesma Palavra que tão veementemente ridicularizam, para que sejam comparados apropriadamente com cães furiosos, que mordem e esganam a corrente a que se acham presos, embora sem qualquer efeito, porque ainda permanecem firmemente acorrentados. Além disso, embora o efeito dessa Palavra talvez não se revele imediatamente, no mesmo dia, contudo o resultado será inevitável, e aquele que a prega descobrirá que a ninguém a pregou em vão. Cristo certamente falou em termos de aplicação geral quando afirmou: "Quando ele vier convencerá o mundo..." [Jo 16.8]. O Espírito exerce esse juízo através da pregação do evangelho.
Finalmente, ainda quando a Palavra de Deus nem sempre manifeste esse poder nos homens, todavia ela, em alguma medida, o possui em si mesma. O apóstolo está discutindo, aqui, acerca da natureza e da função própria da Palavra para o propósito único, a fim de que saibamos que assim que ela soa em nossos ouvidos, nossas consciências são citadas como acusadas diante do tribunal de Deus. É como se dissesse: Se porventura alguém presume que a Palavra de Deus ecoa no vazio, ao ser proclamada, esse tal está fazendo uma grande confusão. Essa Palavra é algo vivo e cheio de poder secreto, a qual não deixa nada no homem que não seja tocado. A suma de tudo isso é que tão logo Deus abra seus santos lábios, todos os nossos sentidos também devem abrir-se para receber sua Palavra, porque não faz parte de sua vontade permitir que suas palavras sejam semeadas em vão, nem tampouco feneçam ou desapareçam no solo da vida, senão que desafiem eficazmente as consciências humanas, até que as tragam jungidas ao seu domínio. Ele, pois, dotou sua Palavra com tal poder, para que a mesma perscrute cada área de nossa alma, para revelar os escrutínios dos pensamentos, para decidir entre as afeições e para manifestar-se como juiz.
Aqui surge uma nova questão, se essa Palavra deve ser considerada como sendo a lei ou o evangelho. Os que entendem que o apóstolo está falando da lei, evocam estes testemunhos paulinos: que é um ministério de morte; que é a letra que mata [2 Co 3.6-7]; que não opera outra coisa senão ira [Rm 4.15], e outros da mesma natureza. Mas aqui o apóstolo realça seus efeitos divergentes. E, por assim dizer, um gênero de matança que faz viva a alma, e que se dá através do evangelho. Devemos entender, pois, que quando o apóstolo diz que ela é viva e eficaz, ele está a referir-se à doutrina geral de Deus. Paulo dá testemunho de tal efeito [2 Co 2.16], dizendo que de sua pregação exala um odor de morte para a morte daqueles que não crêem, bem como de vida para a vida dos fiéis, de modo que jamais fala em vão, sem que conduza alguns à salvação, compelindo outros à destruição. Esse é o poder de atar e desatar que o Senhor conferiu a seus apóstolos [Mt 18.18]. Esse é o poder do Espírito no qual Paulo se gloria [2 Co 10.4]. Aliás, ele jamais nos promete salvação em Cristo sem, em contrapartida, pronunciar vingança sobre os incrédulos que, ao rejeitarem a Cristo, trazem morte sobre si próprios.
Além do mais, é mister que observemos que o apóstolo, aqui, está a discutir a Palavra de Deus que nos é comunicada pelo ministério dos homens. São dementes e mesmo danosas todas as noções de que, não obstante a Palavra interna ser certamente eficaz, aquela que emana dos lábios humanos é morta e carente de qualquer efeito. Admito que a eficácia certamente não flui da língua humana, nem consiste em seu próprio som, senão que deve ser atribuída totalmente ao Espírito Santo; no entanto não impede o Espírito de manifestar seu poder na Palavra que é proclamada. Porque Deus mesmo não fala senão através dos homens; ele toma grande cuidado para que sua doutrina não seja recebida com descaso por seus ministros serem homens. E assim, quando Paulo diz que o evangelho é o poder de Deus [Rm 1.16], deliberadamente distinguiu sua própria pregação com tal honra, a qual o apóstolo percebeu ser aprovada por alguns e rejeitada por outros. Ao ensinar-nos em outro lugar [Rm 10.8-10] que a salvação nos é conferida pelo ensinamento proveniente da fé, ele expressamente diz que essa é a doutrina que é anunciada. Vemos que Deus sempre recomenda publicamente a doutrina que nos é ministrada pelo esforço humano, com o propósito de induzir-nos a recebê-la com reverência.
Ao dizer que a Palavra é viva, é preciso entender tal expressão "em ralação aos homens". Isso se faz ainda mais evidente à luz do segundo adjetivo. Ele mostra que espécie de vida ela possui ao prosseguir chamando-a eficaz. O objetivo do apóstolo era ensinar-nos o gênero de utilidade que a Palavra tem para nós. A Escritura faz uso da metáfora da espada em outras passagens, o apóstolo, porém, não se contenta com uma simples comparação. Ele diz que a Palavra de Deus é mais cortante que qualquer espada; aliás, uma espada de dois gumes, porque em sua época era freqüente o caso de espadas que só cortavam de um lado, e do outro não.
Penetra até... etc. O substantivo alma amiúde significa o mesmo que espírito, mas quando são ambos associados, a primeira inclui todas as afeições, enquanto que o último indica a faculdade a que chamam intelectual. Assim também em 1 Tessalonicenses 5.23, quando Paulo ora a Deus para que guardasse o espírito, a alma e o corpo deles incorruptíveis até à vinda de Cristo, ele quer dizer simplesmente que permanecessem puros e santos em sua mente e vontade e ações exteriores. Semelhantemente, quando Isaías diz [26.9]; "Com minha alma suspiro de noite por ti, e com o meu espírito dentro em mim", certamente que sua intenção era que seu esforço em buscar a Deus era tão profundo, que aplicava sua mente tanto quanto seu coração a tal intento. Estou consciente de que há aqueles que apresentam uma interpretação diferenciada. Mas espero que toda pessoa sensível esteja disposta a concordar comigo.
Voltemos à passagem que ora estamos a considerar. A Palavra de Deus penetra ao ponto de dividir alma e espírito. Significa que ela testa toda a alma de uma pessoa. Ela explora seus pensamentos e sonda sua vontade e todos os seus desejos. O mesmo significado se acha implícito na frase juntas e medulas. Significa que não há nada tão difícil ou sólido numa pessoa, nada tão profundamente oculto que a eficácia da Palavra não penetre até lá. Isso é o que Paulo diz em 1 Coríntios 14.24, ou seja: que a profecia tem o poder de convencer e julgar os homens, a fim de que os segredos do coração se manifestem. Visto que a função de Cristo é descobrir e trazer a lume os pensamentos que fluem dos recessos mais profundos do coração, em grande medida ele o faz através do evangelho.

A Palavra de Deus, portanto, é Kpitikós (=discernidora), porque traz à mente humana a luz do conhecimento, como se a tirasse de um labirinto onde jazia outrora enredada. Não há trevas mais densas do que a incredulidade, e a hipocrisia nos cega de uma forma terrificante. A Palavra de Deus dissipa tais trevas e faz a hipocrisia bater em retirada. É daqui que emana o discernimento e o juízo que o apóstolo menciona, visto que os vícios que se ocultam sob a falsa fachada de virtudes começam agora a descortinar-se e sua aparência se desvanece. Ainda quando os réprobos fiquem por algum tempo ocultos em seus covis, descobrirão que até mesmo ali a luz da Palavra finalmente penetrou, de modo que não podem escapar do juízo divino. Daqui se ergue seu lamento e deveras seu furor, porquanto se não forem estremecidos pela Palavra, jamais perceberiam sua loucura. Tentam escapar ou evadir-se e evitar seu poder, ou ainda procedem como se não a tenham notado. Mas Deus não permite que logrem sucesso. Portanto, enquanto caluniam ou injuriam a Palavra de Deus, admitem, embora a contra gosto ou relutantemente, que sentem seu poder em seu íntimo.









13 - COMO A PALAVRA PRODUZ A FÉ

Luc 16:29 “... Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.”

Na parábola do rico e do mendigo, Jesus usou esta expressão Moisés e os Profetas, que era uma das formas de se referir a todo o conjunto das Escrituras do Antigo Testamento, que foram produzidas por revelação e inspiração de Deus.
Não é nosso propósito neste momento comentar toda a parábola, mas destacar um dos seus pontos muito importantes, para que possamos entender o modo designado por Deus para a salvação das nossas almas.
O rico, estando no inferno, pensava erroneamente que poderia ter sido salvo por um sinal poderoso que lhe fosse enviado do céu, como o envio do mendigo Lázaro a seus cinco irmãos que ainda viviam na terra, para lhes servir de testemunho, vendo o estado de glória em que ele se encontrava, pois o haviam conhecido muito bem em sua miséria quando vivia na terra, e no entender do rico, isto lhes convenceria de que havia de fato um céu.
Foi dado como resposta ao seu pedido, simplesmente que seus irmãos deveriam ouvir Moisés e os profetas, ou seja, as Escrituras, para que fossem salvos.
Ou seja, eles deveriam dar atenção ao testemunho que as Escrituras dão relativamente à santidade de Deus e de Cristo, como também da ruína completa dos homens em face da sua natureza pecaminosa, mas que Deus, em Sua misericórdia afirma que o justo viverá pela fé, ou seja ele terá vida eterna, pela fé na Palavra do Senhor.
Este é o significado interior de se ouvir Moisés e os profetas.
È o de nos arrependermos de nossa condição caída e buscar refúgio na graça do Senhor Jesus que nos está sendo oferecida gratuitamente por darmos crédito à Sua Palavra.
O firme fundamento repousa nisto, a saber, em se honrar a Palavra do Senhor, porque Ele dá muita honra à mesma.
Por isso nos deu a revelação da Sua pessoa e vontade nas Escrituras, para que mesmo sem um sinal visível do céu, sem qualquer coisa extraordinária que nos seja enviada por Ele para ser testemunhada pela nossa visão natural, creiamos em tudo o que Ele afirma na Sua Palavra escrita, de modo que demonstramos com isso que damos de fato crédito ao que Ele tem dito.
Não foi justamente o oposto disto que aconteceu na queda do jardim do Éden?
O homem e a mulher deram crédito à palavra da serpente e desconsideram aquilo que Deus lhes havia falado.
Então não seria por nenhum sinal enviado do céu, como o rico da parábola insistiu pedindo que outras pessoas que haviam morrido e ressuscitado, fossem enviadas a seus irmãos para que eles cressem.
Mas esta foi a resposta que lhe foi dada:

“Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.”

Não porque fossem duros o bastante para não reconhecer o poder de Deus em ressuscitar, mas porque não foi este o método designado por Deus para a salvação, que é o de ter fé na Sua palavra revelada, de modo que a fé vem pelo ouvir a Palavra.
Não será pela visão do arcanjo Miguel, de um Serafim, dos querubins, do próprio Cristo, que alguém será salvo.
A salvação sempre ocorrerá somente quando acolhermos com mansidão e fé a Palavra do Senhor.

Hoje, temos mais do que Moisés e os profetas, porque por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, temos também as Escrituras do Novo Testamento.
Então temos uma maior e melhor razão para cremos, lendo, amando, acolhendo e praticando a Palavra de Deus. Pela fé em tudo o que nos tem sido revelado por Ele, para que crendo em Sua Palavra, que nos aponta Cristo, como nossa única esperança, sejamos salvos.
Ouvir com fé. Esta é a chave que nos conduz para o céu e para a vida do céu.
Lembremos sempre desta afirmação solene, que é a fórmula da salvação:
“...Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.”













104) PARÁBOLAS

ÍNDICE

Nota: As parábolas contadas por Jesus encontram-se comentadas nos evangelhos e podem ser vistas no seguinte link: http://interpretabiblia.blogspot.com.br/

1 - As Parábolas e a Igreja de Cristo
2 - Mau Temperamento
3 - Verdades Ocultas na Parábola do Filho Pródigo


1 - As Parábolas e a Igreja de Cristo

Nas parábolas sobre o Reino do Céu são apresentados vários aspectos da Igreja de Cristo desde o seu estabelecimento até a sua consumação.
Nas parábolas do "Semeador" e do “Joio" Cristo ensina o lugar e a importância da verdade em Sua Igreja. Isto não ocorre quando a verdade ganha acesso ao coração, quando é ouvida na fé de que o Reino de Cristo começa em tal coração? Então, a Igreja tem uma missão sagrada, através da qual ela deve espalhar a preciosa semente, transmitindo-a com fé, sem saber onde ela irá germinar.
Quem pode estimar o poder da Palavra de Deus? "Ela é viva e eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração." Nenhuma palavra de sabedoria do homem ou de fervorosa eloquência será suficiente, pois Cristo é honrado e os melhores interesses da sua Igreja servidos quando a verdade é altamente valorizada e quando é sábia e livremente utilizada.
Estas duas parábolas também resumem os obstáculos ao desenvolvimento da Igreja. Eles são de dois tipos: aqueles que partem do interior dos corações dos homens, e os de procedência externa. "Um inimigo foi quem fez isso."
Relativamente aos primeiros, eles são muito prevalentes e poderosos. Eles podem ser caracterizados como os corações endurecidos, superficiais e preconceituosos. Tão fortes e tão persistentes são estes obstáculos que nada, senão o Espírito Santo pode fazer a preparação necessária, a fim de que a verdade possa ser recebida nos bons e honestos corações e frutificar abundantemente.
Grande parte do mal existente na Igreja nos dias de hoje é identificada quando se diz: "Um inimigo é quem fez isso." Isto sucede por que há aqueles que são identificados como sendo parte da Igreja, que têm nome de estarem vivos, mas estão mortos. "Um inimigo é quem fez isso."
Donde procedem as doutrinas errôneas na Igreja de tempos em tempos? Nós respondemos novamente: "Um inimigo é quem fez isso."
Como explicar divisão, contenda e discórdia nas fileiras da
Igreja? "Um inimigo é quem fez isto" também. Satanás se empenha em verificar o crescimento e minimizar a influência e frutificação da Igreja de modo persistente e sutil. Quando o mal tiver sido uma vez feito, no entanto, a paciência é uma virtude muito necessária, tanto porque o trigo e o joio devem crescer juntos até a colheita.
Nas parábolas da "Semente de Mostarda" e do "Fermento" temos claramente estabelecido a extensão e a natureza do  desenvolvimento da Igreja de Cristo.
Os cristãos não devem ser desencorajados por obstáculos internos ou externos, porque o desenvolvimento do Reino será rápido e notável. Isto não tem sido assim? Como resultado da pregação de Pedro, somos informados de que três mil almas foram acrescentadas à Igreja em um único dia. Em meados do segundo século, temos o seguinte testemunho de Justino Mártir para o muito rápido desenvolvimento do Cristianismo, quando escreveu: "Não há pessoas, gregas ou bárbaras, ou de qualquer outra raça, embora ignorantes das artes ou da agricultura, se eles habitam em tendas ou vagueiam em vagões cobertos, entre os quais orações e ações de graças não sejam oferecidas no nome do crucificado Salvador ao Pai e Criador de todas as coisas."
Cerca de meio século depois, temos um testemunho semelhante de Tertuliano, que diz: "Nós somos senão de ontem, e ainda  assim já enchemos suas cidades, ilhas , acampamentos, seus palácios, senado, fórum, temos deixado para você apenas os seus templos."
Dados suficientes também podem ser dados para mostrar o desenvolvimento notável  nos últimos anos. Por exemplo, na China 50 anos atrás, estima-se que havia apenas trezentos cristãos; em 1890 cerca de quarenta mil, e ainda, em 1900, eram cerca de cento e treze mil. Quando consideramos que quase todo convertido torna-se um centro de influência cristã, podemos saber quão rapidamente o fermento dos princípios do evangelho  se espalharão até que todos conhecerão a Cristo.
Enquanto a parábola do "Fermento" ilustra o secreto, mas certeiro trabalho da Graça de Deus, a parábola da "Semente de Mostarda" aponta para a verdade que têm sido dadas à Igreja manifestações inconfundíveis de seu constante crescimento.
A Igreja de hoje não é uma fraca que precisa ser apoiada pelo argumento e apologia. Em vez de exigir o apoio de homens, ela os convida a vir sob seu abrigo para desfrutarem da sua proteção. “Venha a nós”, ela diz, “e te faremos bem."
Nas parábolas do "Tesouro Escondido" e da "Pérola de Grande Valor”, Cristo indica as diferentes atitudes dos indivíduos em relação à Sua Graça oferecida por meio da Igreja.
Ela leva a Graça de Deus aos homens. Nesse sentido, eles a encontram sem procurá-la, por que quem esperaria que os pagãos empreendessem uma peregrinação a uma Terra cristã em busca da Graça que eles tanto precisam? Mas quando esta é levada a eles e quando pela fé eles se apropriam da mesma, eles realmente se alegram no tesouro que possuem.
Ainda, isto é também verdadeiro que muitos, tendo ouvido falar de Cristo e de Sua Graça, sincera e diligentemente buscam a Pérola de Grande Valor. Isto não é para eles uma inesperada e pequena descoberta repentina, mas depois de cuidadoso auto-exame, após estudo reverente da Palavra de Deus, depois de muito conscienciosa meditação, e depois de uma longa procura em incertezas, eles finalmente encontram o objeto de sua pesquisa.
Em ambos os casos, no entanto, o tesouro inestimável; é tão precioso que nunca hesitam "em vender tudo o que eles possuem", a fim de possuí-lo.
Isso nos leva a perguntar: o que deve a Igreja oferecer aos homens? Um tesouro, uma possessão, uma pérola! Sim, ela lhes oferece graça, amor e perdão; ela lhes oferece Cristo, o dom inefável; ela oferece santidade de caráter, ela oferece aos  homens restauração à imagem gloriosa que têm perdido.
Por outro lado, o que ela lhes pede da sua parte? seu orgulho de coração, seu amor egoísta, suas práticas mundanas, numa  palavra, tudo o que eles possuem.
Qual é então o princípio que Cristo tem dado à Sua Igreja? É o seguinte: Quando os homens são levados a conhecer o valor do tesouro que a Igreja lhes oferece eles irão voluntariamente  desistir das insignificantes posses do mundo.
Mais uma parábola deve completar esta série sobre o Reino. Enquanto as seis já referidas, naturalmente se agrupam em pares, esta se destaca para revelar a consumação definitiva do seu Reino, para o encorajamento de todos os que com ele se identificam.
A Igreja do por vir, estamos seguros, será totalmente livre do mal em todas as formas, e será composta daqueles que se separaram em santidade para Deus. sendo totalmente purificados em si mesmos e isentos de qualquer contaminação de fora, ela será elevada a um lugar de honra e entrará na sua missão eterna.
Que Igreja! Cada faculdade, cada dom, cada coração totalmente consagrado a Deus e dedicado a seu serviço, cada membro em perfeita unidade com todos os outros membros; uma inumerável companhia unida de todos os quadrantes da Terra; sem épocas de declínio ou períodos de indiferença ou dúvida, ela habitará na pura luz do Céu, possuindo uma constância e santidade de caráter que nunca conhecerá qualquer mudança.
"Quando serão essas coisas?" perguntaram os discípulos. "Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade;", é a repreensão suave de Cristo, mas, o que é mais importante no presente: "mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra."
A Igreja de Cristo, então, pode somente ser verdadeiramente estabelecida, desenvolvida e consumada quando o Espírito Santo é recebido, e quando o poder concedido é usado no testemunho  de Cristo no mundo. Isto é a sua presente preocupação, por isso oramos:
“Oh faça da Tua Igreja, querido Salvador,
Uma lâmpada de ouro polido,
Para brilhar perante as nações
Tua verdadeira luz como no passado."
Assim, quando oramos "Venha o Teu Reino", que todo aquele que é chamado pelo nome de Cristo responda ao comando: "Vai trabalhar hoje na minha vinha", pois aquele que tem uma participação no plantio e no desenvolvimento deve ter uma participação na gloriosa consumação para todo o sempre.

"Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça com que o seu rosto brilhe sobre nós, que o teu caminho possa ser  conhecido sobre a terra, a tua salvação entre todas as nações."

Texto de T. A. Watson, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







2 - Mau Temperamento

Extraído do livro intitulado Vida Ideal

Por Henry Drummond

" Ele se indignou e não queria entrar " (Lucas 15.28)

Devemos lembrar que a Parábola do Filho Pródigo, juntamente com a da Ovelha Perdida e a da Moeda Perdida foram proferidas por Jesus em face de estar sendo criticado pelos escribas e fariseus pelo motivo dele receber pecadores e comer com eles. (Lc 15.1,2) - Nota do tradutor.

Parte Inicial

O irmão mais velho

Aqueles que estudaram as pinturas de Sir Noel Paton devem ter observado que parte de sua beleza peculiar reside, por um truque de arte, em sua feiúra parcial. Há flores e pássaros, cavaleiros e damas e crianças de beleza seráfica, mas no canto da tela, em sua base, aparece alguma rude e repugnante forma, um sapo, um lagarto, um caracol viscoso para emprestar, pelo contraste, com a sua repulsa, uma beleza maior para o resto. Assim, em esculturas antigas o monstro mitológico está junto ao anjo na frente da catedral, aumentando a beleza circundante pela sua deformidade.
Muitas das situações registradas no Novo Testamento apresentam poderosamente este tipo de contraste. Os doze discípulos - um deles é um demônio. Jesus na cruz, puro e majestoso - em ambos os lados um ladrão. E aqui, visivelmente, neste décimo quinto capítulo de Lucas, a pintura mais requintada na Bíblia tocou na nuvem tempestuosa do irmão mais velho – de modo perfeito, como uma mera situação dramática.
Mas este conjunto, é claro, é mais do que artístico. Para além da sua referência aos fariseus, a associação desses dois personagens, o filho pródigo e seu irmão, lado a lado tem um significado moral profundo.
Quando olhamos para o pecado, e não em seus aspectos teológicos, mas em suas roupagens cotidianas, nós vemos que ele se divide em dois tipos. Nós vemos que há pecados do corpo e pecados da disposição. Ou mais especificamente, os pecados das paixões, incluindo todas as formas de luxúria e egoísmo, e os pecados do temperamento. O filho pródigo é o exemplo no Novo Testamento de pecados da paixão, e o irmão mais velho, dos pecados de temperamento.
Alguém poderia dizer, à primeira vista, que era o irmão mais novo que era, na pintura, a nuvem de tempestade. Foi ele quem havia esmaecido todas as virtudes, e que cobriu a sua casa com vergonha. E os homens sempre apontaram para o filho fugitivo em contraste com seu irmão doméstico, como o tipo de tudo o que há de pior no caráter humano. Possivelmente, a estimativa está errada. Possivelmente, o irmão mais velho é o pior. Julgamos os pecados como nós julgamos a maioria das coisas, por sua forma exterior. Nós classificamos os vícios de nossos vizinhos de acordo com uma escala que a sociedade tem adotado tacitamente, colocando os mais brutos na base, o menos bruto no topo, e, então, por algum processo estranho a escala se torna obliterada. Finalmente, isto desaparece no espaço, deixando partes de si inexploradas, os seus pecados sem nome e ignorados. Todavia, não temos nenhuma balança para pesar pecados. Grosseiros e leves são apenas palavras de nossa própria lavra. As chances são, no mínimo, que o mais leve seja o mais pesado. O próprio fato de que o mundo vê com bons olhos os mais grosseiros pecados é contra a crença de que eles sejam os piores. O pecado sutil e invisível, este pecado da parte da natureza mais perto do espiritual, deveria ser mais degradante do que qualquer outro. No entanto, para muitas das formas mais refinadas de pecados da sociedade ainda não há qualquer escala de medida.  Este pecado do irmão mais velho é uma ninharia, apenas um pouco de temperamento, e pouco digno de registro. ÉW o que se costuma pensar.
Agora, o que era este pouco de temperamento? Por que Cristo o viu digno de ser registrado. O irmão mais velho, trabalhador, paciente, respeitoso – deixe-lhe todo o crédito por suas virtudes que vêm do seu longo dia de trabalho nos campos. Todas as noites, durante anos ele voltava para casa, com as pernas cansadas, mas alegre, porque tinha cumprido o seu dever. Mas o senso do homem de responsabilidade por seu caráter termina muitas vezes com o trabalho do dia. E nós sempre ficamos expostos à tentação quando menos esperamos. À noite, quando ele se aproximava da velha casa, ele ouviu o som de alegria e música. Ele considerou a ambos uma coisa aborrecida. "Veio teu irmão", o o servo disse, "e eles mataram o novilho cevado." Uma Happy hour! Quanto tempo eles lamentaram por causa dele! Quão feliz estaria o velho homem! Como a oração em família encontrou-o afinal e trouxe o jovem errante para o teto de seus pais! Mas não, não há alegria naquele rosto, senão a nuvem de tempestade. "Irmão, na verdade," ele murmura, "o patife! matou o novilho gordo, não é? Mais do que jamais fez por mim. Eu posso lhes ensinar o que penso da sua festa. E falarei da recompensa da virtude! Aqui eu estive todos esses anos desonrado e ignorado, e este jovem perdulário e libertino vindo da pocilga reúne todos da região para lhe render homenagem”. “Ele se indignou e não queria entrar;“.
"Oh, quão infantil ele foi!”. Alguém se inclina a dizer isto a princípio, mas é mais do que isso. É uma nuvem de tempestade, uma nuvem de tempestade que foi se formando em todas as suas virtudes durante toda a sua vida. É a nuvem de tempestade da justiça própria. Os fluidos sutis de uma dúzia de pecados se uniram pela primeira vez, e agora eles estão queimando sua alma. O ciúme, orgulho, raiva, falta de caridade, crueldade, hipocrisia, mau humor, irritabilidade, teimosia, todos misturados em um mau temperamento. Esta é uma análise imparcial. Ciúme, orgulho, raiva, falta de caridade, crueldade, hipocrisia, mau humor, irritabilidade, teimosia - estes são os ingredientes básicos do mau temperamento. E, no entanto, os homens riem sobre ele. "Só temperamento", que eles chamam ser apenas um pouco de cabeça quente, uma explosão momentânea na superfície, uma mera nuvem passageira. Mas a nuvem que passa é composta de gotas, e cai aqui formando um oceano, sujo e rancoroso, fervendo em algum lugar dentro da vida de um oceano feito de ciúme, orgulho, raiva, falta de caridade, crueldade, hipocrisia, mau humor, irritabilidade, teimosia, presos a uma tempestade furiosa.
É por isso que o temperamento é significativo. Não é no que ele é que a sua importância reside, mas o que ele revela. Por isso é digno de nota. É a febre intermitente que fala da doença não intermitente, a bolha ocasional escapa para a superfície, indicando que há podridão por baixo, uma amostra preparada rapidamente com os produtos escondidos na alma, caiu involuntariamente quando você esteve fora de guarda. Numa palavra, é a descarga elétrica  de uma dúzia de pecados hediondos e anticristãos.

Parte Final

Em última instância o mau temperamento é um pecado contra o amor. E, por mais impossível que seja para que seja percebido agora, no entanto, podemos desculpá-lo como uma fraqueza perdoável ou pequena enfermidade, e que não é nenhum pecado maior. Um pecado contra o amor é um pecado contra Deus, pois Deus é amor. Aquele que pecou contra o amor, pecou contra Deus.
Esta condução do pecado à sua raiz sugere agora mais este tópico, a sua cura. O Cristianismo professa curar qualquer coisa. O processo pode ser lento, a disciplina pode ser severa, mas isso pode ser feito. Mas não é o temperamento uma coisa constitucional? Não é hereditária, e pode ser curada? Sim, se há alguma coisa no cristianismo. Se não há nenhuma disposição para isso, então o cristianismo está condenado por ser incompatível às necessidades humanas. Qual foi a direção que o pai tomou, em seguida, no caso diante de nós, para pacificar as paixões iracundas de seu filho mal-humorado? Veja que ele não fez nenhuma tentativa em primeira instância, de arrazoar com ele para fazê-lo ver que estava errado, porque isto é totalmente inútil tanto com nós mesmos quanto com os outros. Estamos perfeitamente convencidos da puerilidade de tudo isto, mas isto não nos ajuda o mínimo para consertá-lo. A doença tem a sua sede nas afeições, e, portanto, o pai foi lá ao mesmo tempo. A razão tomou o seu lugar, e o filho foi provido com argumentos válidos – conforme afirmado no último versículo do capítulo - contra sua conduta, mas ele foi tratado primeiramente com o amor.
"Filho", disse o pai, "tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu." Analise estas palavras, e debaixo delas você vai encontrar os gritos de guerra de todas as grandes comunidades. Liberdade, Igualdade e Fraternidade - os símbolos felizes com que os homens têm procurado para manter os governos e estabelecer reinos. "Filho" - há Liberdade. "Tu estás sempre comigo", há unidade, fraternidade. "Tudo o que é meu é teu". Há igualdade. Se qualquer apelo pudesse despertar um homem a desistir de si mesmo, a abandonar fins egoístas, sob o forte pulsar de uma simpatia comum, é esta fórmula da República Cristã. Pegue o último, Igualdade, sozinho, "Tudo o que é meu é teu." É absurdo falar de seus direitos aqui e os seus direitos lá. Você tem todos os direitos. "Tudo o que é meu é teu." Não há espaço para o egoísmo, se não há mais nada que se possa possuir. E Deus fez a igualdade. Deus nos deu a todos, e se a memória de sua grande bondade, a Sua bondade especial para conosco, uma vez movida no nosso interior, o coração deve se derreter a Ele, e fluir para toda a humanidade.
É bastante improdutivo tentar, pela força de vontade, esvaziar as paixões iracundas para fora de nossas vidas. Quem não fez milhares de resoluções nesse sentido, somente para com mortificação indizível contemplá-los em pedaços com a primeira tentação? A alma é para ser feita doce não tomando fluidos ácidos, mas por se colocar nela um grande amor - o grande amor de Deus. Este é o trabalhar de uma mudança química sobre eles, para renová-los e regenerá-los, para dissolvê-los em sua própria substância rica perfumada. Se um homem deixar isso acontecer em sua vida, sua cura é completa; se não, é impossível.
O personagem mais difícil de se compreender no Novo Testamento é o servo impiedoso. Por causa de sua extravagância sua esposa e filhos seriam vendidos, e ele próprio preso. Ele clama por misericórdia de joelhos, e os 10.000 talentos, dívida enorme e sem esperança, é livremente cancelada. Ele sai da amável presença do seu senhor, e, atendendo a um pobre desgraçado que lhe devia cem denários, agarra-o pela garganta e o envia para a prisão, da qual ele mesmo havia acabado de escapar. Como um homem pode subir de joelhos, onde, já fora muito perdoado, e depois ir direto a partir da sala de audiências do seu Deus para falar palavras duras e fazer coisas terríveis?  Isto é muito incrível.
Sendo muito perdoado, ele deve amar muito, não como uma obrigação, mas como uma consequência necessária, ele deve se  tornar um  homem humilde, generoso e fraterno. Arraigado e alicerçado em amor, seu amor vai crescer até que abrace a Terra. Só então ele mal começa a entender o dom de seu pai. O mundo é seu "Tudo o que é meu é teu.": Ele não pode ferir a si mesmo. A base da benevolência é unipessoal. E todos os que amam a Deus são os proprietários do mundo. Os mansos herdarão a terra, tudo o que Ele tem é deles. Tudo o que Deus tem, o que é isso? Montanha e campo, árvores e céu, castelo e choupana, o homem branco, o homem negro, o gênio e o tolo, o prisioneiro e o pobre, os doentes e idosos, todos estes são meus. Se nobre e feliz, eu preciso apreciá-los, se grande e bonito, devo deliciar-me com eles, se pobres e famintos, devo vesti-los, se doente e na prisão, devo visitá-los. Porque todos eles são meus, todos estes, e tudo o que Deus tem ao seu lado, e eu devo amar a todos e me dar a todos.

Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, da porção inicial e final do texto intitulado Mau Temperamento de autoria de Henry Drummond.







3 - Verdades Ocultas na Parábola do Filho Pródigo

A Parábola do Filho Pródigo é realmente uma bela e profunda parábola, mas Jesus não a apresentou para ser uma espécie de resumo do que seja a vida cristã, mas para ilustrar uma parte do que significa esta vida.
Por exemplo: ela não faz qualquer alusão à expiação do pecado pelo sangue de Cristo, mas sabemos que foi esta expiação que possibilitou que o pai, que representa Deus na parábola, corresse para o filho e pudesse perdoá-lo e recebê-lo para estar reconciliado com ele, apesar de toda a sua dívida de faltas e pecados cometidos contra o seu pai.
Fazer portanto, desta parábola um resumo de todo o cristianismo é incorrer em grande erro, porque o amor de Deus pelos pecadores perdidos não se fundamenta em mero sentimento ou emoção.
Seu amor se funda na eleição incondicional na qual não conta qualquer mérito da nossa parte.
O pai não recebeu o filho pelo fato de reconhecer que havia algo de valor no rapaz, ou então porque houvesse da sua parte bons atos praticados no passado que deveriam ser recompensados com o seu acolhimento.
Ele fora filho no coração do pai antes mesmo de ter sido criado, mas importava que esta filiação se confirmasse pelo arrependimento e busca do pai para compartilhar da sua intimidade.
Isto a parábola revela, ainda que não de modo direto.
Esta verdade está ali nela contida, sublinhada com a declaração do pai de que o pródigo se achava morto e perdido, antes de retornar ao lar.
E o que permitiu o seu acolhimento foi o arrependimento e fé na bondade e misericórdia do seu pai.
Outro ponto essencial do cristianismo que não é citado nesta parábola é a ação do Espírito Santo na nossa conversão e transformação, e o esforço empreendido por Deus na sua busca incansável dos perdidos.
Por isso, temos nas duas outras parábolas que nosso Senhor apresentou na mesma ocasião (Ovelha Perdida e Dracma Perdida), o esforço anteriormente citado.
Sem o todo da revelação que temos em outras partes das Escrituras, e caso nosso Senhor tivesse contado a Parábola do Filho Pródigo para ser um resumo do cristianismo, o que não é o caso, nós poderíamos afirmar que se alguém está afastado de Deus, por sua própria iniciativa, como foi o caso do pródigo, então estaríamos autorizados a não fazer qualquer esforço com nossas orações intercessórias, e outros meios, para trazer o perdido de volta à vida.
Todavia, sabemos claramente que não temos nenhuma autorização das Escrituras para adotarmos  este tipo de comportamento.
Por isso o propósito da parábola é exatamente o de demonstrar que há grande alegria no céu pela conversão dos pecadores, e que Deus está plenamente disposto a receber todos os perdidos que vierem a Ele em busca de reconciliação.
A parábola tem este grande objetivo de incentivar os pecadores a buscarem refúgio em Deus, com plena confiança de que não serão rejeitados.
Nosso Senhor havia afirmado em outra ocasião que não rejeitaria a qualquer pessoa que viesse a Ele em busca de salvação, e que jamais a lançaria fora.
Nada e ninguém poderá impedir que o pai receba o filho no lar celestial, nem mesmo os que tentarem impedi-lo sob a alegação de estarem servindo a Deus fielmente, como se destaca na parábola no procedimento do irmão mais velho do pródigo.
Um pecador pode ser muito vil para toda e qualquer outra coisa, mas ele não pode ser muito vil para a salvação.
Estas verdades podem ser vistas de modo muito claro na Parábola do Filho Pródigo.

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