sexta-feira, 23 de outubro de 2015

30) Conversão 31) Coração

30) CONVERSÃO

ÍNDICE

1 - A Conversão de Saulo de Tarso
2 - Conversões Superficiais, Religião Superficial
3 - “Cujo coração o Senhor abriu." (Atos 16.14)
4 - Conversões Superficiais, Religião Superficial
5 - Porque Necessitamos Converter o Nosso Coração
6 - Por Conversão do Coração e Não por Imposição
7 - Nossa Conversão a Cristo (salvação) é Instantânea


1 - A Conversão de Saulo de Tarso

Por Charles Haddon Spurgeon

“E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.” Atos 26:14.

Quão maravilhosa é a condescendia que levou o Salvador a fixar os olhos em um ser desprezível como Saulo! Entronizado nos altos céus, em meio às melodias eternas dos remidos, e dos sonetos seráficos dos querubins e de todas as hostes angélicas, é estranho que o Salvador se inclinasse de Sua dignidade para falhar com um perseguidor. Ocupado como está, tanto de dia como de noite, em argumentar a causa de Sua própria igreja diante do trono de Seu Pai, unicamente a benignidade o levou, por assim dizer, a suspender Sua intercessão para falar pessoalmente com alguém que havia jurado ser Seu inimigo. E, que graça admirável moveu o coração do Salvador para buscar um homem como Saulo, que havia proferido ameaças contra Sua igreja!
Não havia ele homens e mulheres presos na prisão? Saulo não havia forçado os cristãos a blasfemarem o nome de Jesus em cada sinagoga? E agora o próprio Jesus intervém para que Saulo caia na razão! Ah, se tivesse sido uma faísca que vibrasse em sua pressa para alcançar o coração do homem, não nos surpreenderíamos. Oh se os lábios franzidos do Salvador tivessem pronunciado uma maldição, não nos assombraríamos. Por acaso Ele mesmo não havia amaldiçoado em vida o perseguidor? Não havia dito: “Qualquer que fizer tropeçar uns destes pequeninos que creem em mim, melhor seria que amarasse ao pescoço uma pedra de moinho, e que fosse lançado nas profundezas do mar”?
Mas agora o homem que foi amaldiçoado com essa linguagem, seria abençoado pelo mesmo que havia perseguido; e ainda que suas mãos estavam manchadas com sangue, e agora levava a permissão em suas mãos para encerrar os outros na prisão, e ainda que havia cuidado das roupas daqueles que apedrejaram Estevão, apesar de tudo isso, o Senhor, o Rei do céu, dignou-se de falar pessoalmente dos mais altos céus para levá-lo a sentir a necessidade de um Salvador, e para fazê-lo participante da fé preciosa.
Eu afirmo que está é uma maravilhosa condescendência e uma graça incomparável. Mas, amados, quando recordamos o caráter do Salvador, não deveríamos ficar surpresos que Ele fez isso, pois fez coisas maiores. Acaso Ele não abandonou os tronos estrelados do céu, e desceu a terra para sofrer, sangrar e morrer? Quando penso no casebre de Belém, no cruel jardim do Getsêmani, e no mais vergonhoso Calvário, não me surpreende que o Salvador faça qualquer ato de graça ou condescendência. Havendo feito isto, o que poderia ser maior? Se Ele desceu do céu ao Hades, que maior condescendência poderia realizar? Se Seu próprio trono permaneceu vazio, se Ele despojou-se de Sua própria coroa, se Sua Deidade devia ser revelada pela carne, e os esplendores de Sua Deidade foram vestidos com os trapos da humanidade, o que nos surpreende, pergunto, que Ele tenha consentido em falar com Saulo de Tarso, para atrair seu coração a Ele?
Amados, alguns de nós não estamos surpresos tão pouco, pois ainda que não recebemos maior graça que o próprio Apóstolo, tão pouco temos recebido menor que graça que ele. O Salvador não falou conosco do céu com uma voz audível, mas falou com uma voz que nossa consciência escutou. Não estávamos sedentos de sangue, pode até ser, contra os Seus filhos, mas havíamos cometido pecados atrozes e sombrios.
Contudo, Ele nos deteve. Não se contentou em cortejar-nos, nem com ameaçar-nos, nem se contentou em enviar Seus ministros para que nos dessem Sua palavra de advertência sobre nossos deveres, mas Ele mesmo quis vir até nós. E vocês e eu, amados, que temos experimentado esta graça, podemos dizer que foi um amor incomparável o que salvou Paulo, mas não um amor único; pois Ele também nos salvou, e nos tem feito participantes da mesma graça.
Hoje tenho a intenção de dirigir-me especialmente aqueles que não têm temor do Senhor Jesus Cristo, mas que ao contrário, se opõem a Ele. Estou muito seguro que não há ninguém aqui que chegue ao ponto de desejar reviver a velha perseguição da igreja. Não creio que há algum inglês, independentemente de quanto possa odiar a religião, que deseje ver outra vez a fogueira de Smithfield, com sua pira consumindo os santos. Pode haver alguns que nos odeiam com igual intensidade, mas ainda assim, não daquela maneira; o sentido comum de nossa época se opõe a forca, a espada e o calabouço. Os filhos de Deus, pelo menos neste país, estão livres de qualquer perseguição política desse tipo; mas é altamente provável que haja algumas pessoas aqui presentes, que fazem todo o possível, e se esforçam ao máximo para provocar a ira do Senhor, opondo-se a Sua causa. Talvez vocês possam se reconhecer se eu descrever. Raras vezes vêm à casa de Deus; de fato sentem desprezo por todas as reuniões dos justos; tem um conceito que todos os santos são uns hipócritas, que todos que professam a fé são falsos, e não se envergonham de falar isso. No entanto, tem uma esposa, e essa sua esposa sente-se impressionada pelas vozes do ministério; ela adora casa de Deus, e só Deus e seu coração sabem quanta dor e quanta agonia mental tem causado a ela. Quantas vezes têm zombado e feito piada com ela por causa de sua profissão de fé! Não podem negar que se tornou uma mulher melhor por sua fé; se veem obrigados a confessar que ainda que ela não possa acompanhá-los em todas as suas diversões e jogos, até onde é possível, é uma esposa amorosa e afetiva com eles. Se alguém pretendesse encontrar falhas, vocês defenderiam seu caráter com hombridade; mas odeiam sua religião e recentemente ameaçaram-na trancá-la em casa no dia de Domingo. Dizem que é impossível morarem juntos na mesma casa se ela visita a Casa de Deus. Eles também têm uma filha pequena; não se opuseram que a menina participasse da escola dominical, pois isso colocava ela fora de casa no dia de Domingo, para fumarem seu cachimbo; diziam que não queriam que seus filhos os molestassem, e portanto se alegravam de enviá-los para escola dominical; mas o coração dessa garotinha foi tocado, e não podem evitar comprovar que a religião de Cristo está em seu coração, e disso não gostam de modo algum. Amam a menina, mas dariam qualquer coisa para que essa menina não fosse o que é; fariam tudo para apagar qualquer faísca de religião nela.
Talvez posso descrevê-los com outro caso. Você é um patrão. Ocupa uma posição respeitável. Tem muitos homens sob seu cargo, e não pode suportar que algum deles faça uma profissão de religião. Outros patrões que você conhece têm dito a seus homens: “Faça como quiser, contanto que seja um bom servo, não me interessam suas convicções religiosas.” Mas, talvez, você seja o oposto; ainda que não mandasse embora alguém por causa de sua religião, de vez em quando faz de seu obreiro objeto de seu escárnio, e se descobre alguma pequena falha nele diz: “Ah! Isso é culpa da tua religião. Eu suponho que você aprendeu isso na Igreja”.E afliges a alma do pobre homem, enquanto ele se esforça o máximo possível para cumprir seus deveres para contigo.
Ou talvez você seja um jovem empregado de um armazém ou oficina, e um de seus colegas recentemente se entregou a religião, e se você o encontra orando de joelhos, como você se diverte com ele, não é certo? Você e outros amigos se juntam como uma matilha de cães atrás de uma pobre lebre, e sendo ele uma pessoa bem mais tímida, talvez não responda nada, o se fala, as lágrimas correm pelos seus olhos, porque feririam seu espírito.
Agora, este é exatamente o mesmo espírito que acendeu as brasas de antigamente. Que torturou o santo sobre a poste do tormento. Que picou seu corpo e o enviou errante, vestido com peles de ovelhas e com peles de cabras. Se não descrevi com precisão seu caráter ainda, poderia fazê-lo antes de haver concluído. Desejo dirigir-me em particular a aqueles que, de palavra ou de obra ou de qualquer outra maneira, perseguem os filhos de Deus; ou se não gostam de uma palavra tão dura como “perseguir”, então que se ria deles, que se lhes oponham, e que se esforcem para por fim a boa obra que está se desenvolvendo em seus corações.
Em nome de Cristo, em primeiro lugar, vou lhes fazer a pergunta: “Saulo, Saulo, por que você me persegues?” Em segundo lugar, em nome de Cristo, vou repreendê-los: “Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões;” e logo, se Deus abençoar o que é dito para comover os corações, pode ser que o Senhor lhes de algumas palavras de consolo,como fez com o apóstolo Paulo, quando lhe disse: “Mas levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda.”
 I.             Então, em primeiro lugar, vamos considerar a PERGUNTA QUE JESUS CRISTO FEZ A PAULO DESDE O CÉU, tem sido feita para cada um de vocês hoje.

Primeiro, notem que pessoal foi à pergunta: “Saulo, Saulo, por que tu me persegues?”. Quando eu lhes prego, estou obrigado a dirigir-me a todos vocês como uma assembleia. Não é possível que eu, exceto em raras exceções, me dirija a alguém em particular, e que descreva seu caráter, ainda que debaixo da mão do Espírito, isso até pode acontecer às vezes; mas no geral, estou obrigado a descrever o caráter como um todo, e tratar com ele em grupo. Mas não sucede assim com nosso Senhor. Ele não disse do céu: “Saulo, por que a sinagoga me persegue? Por que os judeus odeiam minha religião?” Não; foi mais pessoal que isso: “Saulo, Saulo, por que você me persegues?” Se houvesse sido feita em termos gerais, desviaria o coração do apóstolo; seria como uma flecha que não atingiu seu alvo, tocando apenas a pele do homem cujo coração queria enterrar: mas quando ouviu pessoalmente: “por que você está me perseguindo?”não havia forma de escapar-se dela. Peço ao Senhor que faça pessoalmente essa pergunta a alguns de vocês.
Há muitas pessoas aqui presentes que tem experimentado uma ministração pessoal em suas almas. Por acaso não recorda, querido irmão em Cristo, quando foi a primeira vez que seu coração se compungiu, quão pessoal foi o pregador? Eu o recordo muito bem. Parecia-me que eu era a única pessoa em toda a capela, como si uma parede negra me rodeasse e eu estivesse trancado ali com o pregador, algo semelhante aos prisioneiros na penitenciária, quando cada um se senta em um cubículo e não pode ver ninguém, mas somente o capelão. Eu pensei que tudo o que ele dizia era dirigido para mim; estava persuadido que alguém conhecia meu caráter, e o havia descrito ao pregador e lhe havia contado tudo, e que me havia escolhido pessoalmente. Vamos, pensei que havia fixado seus olhos em mim, e tenho razões para crer que assim o fez, mas ainda assim, ele disse que não sabia nada de mim. Oh, que os homens ouvissem a palavra pregada, e que Deus os abençoasse de tal maneira enquanto eles ouvem, que eles sentissem que a palavra tem uma aplicação pessoal para seus corações.
Mas note novamente, o apóstolo havia recebido somente alguma informação sobre os perseguidos. Se lhe houvesse perguntado a quem perseguia, haveria respondido “alguns pobres pescadores, que estão proclamando um impostor. Tenho a determinação de repreendê-los. Por que, quem são eles? São os mais pobres do mundo. A própria escória e desperdício da sociedade. Se fossem príncipes ou reis, talvez permitissem conservar suas opiniões; mas estes pobres, miseráveis e ignorantes indivíduos, eu não sei por que eles ainda são autorizados a continuar com suas paixões. Devem ser perseguidos. Mas ainda, a maioria dos que estive perseguindo são mulheres: umas pobres criaturas ignorantes. Que direito tem essas pessoas de porem seus critérios acima do juízo dos sacerdotes? Não tem direito para uma opinião própria, e por tanto é muito correto que eu os desvie de seus tolos erros.”
Mas vejam sob uma luz diferente a pergunta de Jesus. Ele não pergunta: “Saulo, Saulo, por que perseguistes a Estevão?” Ou, “por que está a ponto de encerrar na prisão a gente de Damasco?” Não. “Saulo, Saulo, por que você está me perseguindo?” Alguma vez você já pensou sobre este assunto dessa nova luz? Vocês tem um pobre homem que lhes presta serviço, usando um pano de saco comum. Ele é zé ninguém. Poderiam rir dele. Não lhe diria nada, ou se o dissesse, não seriam obrigados a dar conta do incidente, pois ele é um ninguém. Não se atreveriam rir assim de um duque ou de um conde. Cuidariam muito do seu comportamento se estivessem na companhia de gente nobre; mas devido este ser um homem pobre, se sentem com liberdade para rir de sua religião. Aquele individuo que se veste de pano de saco é Jesus Cristo mesmo! Como o fizerem para um de Seus pequeninos, o têm feito a Ele. Se já lhes ocorreu alguma vez o pensamento que quando riem de alguém, que não estão rindo dessa pessoa, mas sim de seu Senhor? Se você já pensou ou não, é uma grande verdade, que Jesus Cristo recebe todas as injúrias que são feitas a Seu povo, como se fossem feitas contra Ele mesmo.
Você trancou sua esposa outra noite porque ela frequenta a casa de Deus, não é certo? Quando estava ali trancada, tremendo pelo ar frio da meia-noite, suplicando que a deixasse entrar, se teus olhos estivessem muito abertos, teriam visto o Senhor de vida e glória tremendo ali, e poderia te falar: “Saulo, Saulo, por que você está me perseguindo?” E então teria compreendido que é um pecado muito mais grave do que você imaginou que era. Você riu da menina outro dia porque cantava um hino simples e evidentemente o cantava do fundo do coração. Você sabia – ou se não sabia, deveria saber agora – que você estava rindo de Cristo? Sabia que quando se divertia com ela, você estava tirando sarro de seu Senhor, e que Jesus Cristo registrou esse riso em Seu grande livro, como uma ofensa feita a Sua pessoa? “Por que me segues?” Se pudesse ver Cristo entronizado no céu, reinando ali nos esplendores de Sua majestade, riria DEle? Se pudesse vê-lo sentado em Seu grandioso trono vindo para julgar o mundo, você riria DEle? Oh, assim como todos os rios vão para o mar, assim todos os riachos das igrejas que sofrem correm para Cristo. Se as nuvens estão cheias de chuva, derramam-se sobre a terra; e se o coração do cristão está cheio de dores ele se inclina no peito de Jesus, Jesus é o grandioso depósito de todas as aflições de Seu povo, e quando você ri de Seu povo, ajuda a preencher esse depósito até a borda; e um dia explodirá na fúria de seu poder e as águas te levarão, e o fundamento de areia na qual sua casa está construída cederá, e logo, o que você fará quando estiver diante do rosto Daquele que você tem escarnecido, e cujo nome tem depreciado?
Vamos fazer a pergunta de outra perspectiva. É muito razoável, e requer uma resposta. “Saulo, Saulo, por que tu me persegues?”. Saulo pode ter perguntado ao Senhor, “o que eu fiz que te molestou? Quando estava na terra, disse alguma palavra contra teu caráter, estraguei sua reputação, feri sua pessoa, alguma vez te afligi, disse alguma palavra contra ti? Que dano te causei? Por que tem tanto rancor contra Mim? Se tivesse sido seu pior inimigo, e cuspido em tua face, não poderia estar mais zangado comigo do que agora. Mas, por que homem, estaria irado com alguém que não te fez nenhum dano, que não tem te causado nenhum desgosto?” “Oh, por que me persegues? Talvez haja algo em meu caráter que mereça? Não fui puro, e santo, e diferente dos pecadores? Não andei fazendo o bem? Ressuscitei os mortos, sarei os leprosos. Dei de comer as famintos. Vesti os desnudos. Por qual de todas estas obras me odeia? Por que me persegues?”
A pergunta está igualmente dirigida a você no dia de hoje. Ah, homem, por que persegue a Cristo? Ele te faz a pergunta. Que mal lhe fez feito? Cristo o despojou alguma vez, o roubou, te feriu de alguma maneira?  Será que Seu evangelho o deixou desamparado, de algum modo, sem o conforto da vida ou lhe causou algum dano? Não te atreveria a dizer isso. Se fosse o mormonismo de Joseph Smith, não me surpreenderia que o perseguisse, ainda que não tenha o direito de fazer até isso, pois ele poderia tirá-lo de sua querida esposa. Se fosse um sistema imundo e lascivo que minasse os fundamentos da sociedade, poderia considerar o direito de persegui-lo. Mas, ensinou Cristo alguma vez a seus discípulos que o roubassem, que o enganassem, ou que lhe maldissessem?
 Será que Sua doutrina não ensina precisamente o oposto, e eles não são os seus seguidores, quando são fiéis a seu Senhor e a eles mesmos, exatamente o contrário disso? Por que odiar um homem que não lhe fez mal algum? Por que odiar uma religião que não interfere contigo? Se você mesmo não segue a Cristo, em que o afeta se os outros seguem? Você diz que afeta sua família; mostra-me amigo. Tem afetado sua esposa? Por acaso ela o ama menos do que antes? Ou é menos obediente? Não se atreveria a dizer isso. Tem afetado seu filho? Ele é menos reverente contigo porque agora teme a Deus? É menos amoroso com você porque ama a Seu Redentor mais do que ninguém? Como Cristo tem lhe causado algum dano? Ele tem lhes alimentado com as misericórdias de Sua providência. As roupas que o vestem hoje são o dom de Sua generosidade. Ele tem preservado o ar que vocês respiram e, vocês o maldizem por isso?
Não foi recentemente que um anjo vingador tomou o machado para cortar a figueira e Deus disse: “Corte-a, para que inutilize também a terra?” E veio Jesus e segurou o braço do anjo e disse: “Deixa-a, deixa-a ainda este ano, até que eu cave ao redor dela, e a salve.” Ele salvou tua vida, e você o maldiz por isso. Você blasfema contra Ele porque Ele salvou tua vida, e gasta sua respiração que é uma dádiva Dele, maldizendo o Deus que tem lhe dado o fôlego da vida. Não tem ideias de quantos perigos Cristo o guardou em Sua providência. Não poderia calcular as inumeráveis misericórdias que são derramadas em seu regaço a cada momento, mas você não vê. E, contudo, maldizes o Salvador por misericórdias infinitas, pela graça que tua iniquidade não poderia deter, por um amor que não pode ser vencido por injúrias. Por tudo isso você o maldiz? Quanta vã ingratidão! De verdade você tem odiado e perseguido ao Senhor, ainda que Ele tenha te amado, e não te acusou de nenhum dano.
Agora, permitam-me apresentar uma vez mais um quadro do Senhor, creio que nunca, nunca o perseguiriam outra vez, se só pudessem ver. Oh, se só vissem ao Senhor Jesus, lhe amariam. Se só conhecessem Seu valor, não poderiam odiá-lo! Ele foi mais belo que todos os filhos dos homens. A persuasão morava em Seus lábios, como se todas as abelhas da eloquência trouxessem seu mel ai, e fizessem de Sua boca um favo de mel. Ele falou e falou de tal maneira falou que se um leão pudesse escutá-lo, teria se deitado e lamberia Seus pés. Oh! Quão amável Ele foi em Sua ternura! Lembrem-se da Sua oração quando os pregos atravessavam suas mãos: “Pai, perdoa-os.” Ao longo de toda Sua vida nunca ouviram-lhe disse sequer uma palavra contra aqueles que o perseguiam. Ele foi insultado, mas não devolveu a injúria. Mesmo quando foi levado como ovelha ao matadouro, ficou calado diante de Seus tosquiadores, e não abriu Sua boca. Embora tenha sido mais belo que todos os filhos dos homens, tanto em Sua pessoa como em Seu caráter, no entanto, foi Varão de Dores. A aflição lavrou Seu rosto com seus mais profundos sulcos. Suas bochechas afundaram por causa de Sua  agonia. Ele jejuava muitos dias, e sempre sofria de sede. Trabalhava arduamente de manhã até a noite: depois passava a noite inteira em oração; e logo se levantava de novo para trabalhar – e tudo isso sem receber recompensa –  sem esperar ou obter alguma coisa de ninguém. Não tinha uma casa, nem abrigo, nem ouro, nem prata. “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas Ele, o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”.
Ele foi um homem perseguido, levado por Seus inimigos de um lugar para outro, sem algum amigo para ajudá-lo. Oh, se o tivessem visto; se tivessem visto Sua beleza e Sua miséria unidas, se tivessem visto Sua amabilidade frente à crueldade de Seus inimigos, seus corações se derreteriam. Vocês teriam dito: “Não, Jesus, eu não posso te persegui-lo! Não, me ponho entre Tu e a luz queimante do Sol. Se não posso ser Seu discípulo, de todas as maneiras não serei Seu oponente. Se este manto pode abrigar-lhe em Suas lutas no meio da noite, aqui está ele; e se este balde pode tirar água para Você, eu vou descer até o fundo do poço, e terás água suficiente; pois se não o amo, visto que Tu és tão pobre, tão triste, e tão bom, não posso te odiar. Não, não vou lhe perseguir!”. Embora ainda tenha a segurança de que, se vierem a Cristo, diriam isso, no entanto, vocês realmente o têm perseguido em Seus discípulos, nos membros de Seu corpo espiritual, e por tanto, lhes faço esta pergunta: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Que Deus lhe ajude a responder essa pergunta, e a resposta será vergonha e embaraço.
II. Isso me leva ao segundo ponto: A REPREENSÃO CONTRA O OFENSOR. “Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.” Há uma ilustração aqui. Há uma alusão ao aguilhão usado com os bois. Quando o boi é atrelado ao arado, se não mover-se com a rapidez desejada, o lavrador lhe espeta com uma vara comprida que tem uma ponta de ferro. Muitas vezes, logo que o boi sente a aguilhada, ao invés de continuar, ele dá coices tão fortes quanto é possível. Desfere coices contra o aguilhão, fazendo que o ferro se crave em sua própria pata. É claro que o lavrador que o guia mantém sua aguilhada no mesmo lugar, e quanto mais frequentemente o boi dá coice, mas se fere. Mas deve continuar. Está nas mãos do homem a missão de governar a besta e ele o fará. É a própria opção do animal de desferir coices quantas vezes quiser, mas não faz dano algum ao seu condutor, senão somente a si mesmo. Verão que há muita beleza nesta ilustração, se eu a esmiuço e lhes fazer uma pergunta ou duas.
Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões, pois, em primeiro lugar, não cumpre seu propósito. Quando o boi desfere coices contra o aguilhão, é para mostrar ressentimento ao labrador por tê-lo incitado a seguir adiante; mas ao invés de machucar o lavrador, fere-se a si mesmo. E você que tem perseguido a Cristo para deter o progresso de Seu Evangelho, deixe-me perguntar, tem sido bem sucedido nisso? Não, nem dez mil como você seriam capazes de deter o poderoso impulso das hostes espirituais dos eleitos de Deus. Se você pensa, oh homem, que pode deter o progresso da Igreja de Cristo, primeiro vá e encerre as doces influências das Plêiades, e ordena ao globo terrestre que se aquiete e não gire ao redor das belas estrelas! Vá e pare diante dos ventos e ordena que cessem de ulular, e para na ponta de algum precipício remoto e comande o mar revolto que retroceda quando a maré está indo em direção à costa; e quando tiver detido o universo, quando o sol, a lua e as estrelas tiverem obedecido a sua ordem, se o oceano lhe ouviu e obedeceu, então pode sair e deter o progresso onipotente da igreja de Cristo. Mas você poderá fazê-lo. “Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o SENHOR e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.” Mas, o que dirá o Onipotente? Nem sequer se levantará para combater seus oponentes. “Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os turbará. Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião.” Para a Igreja não importa todo o ruído do mundo. “Deus é nosso refugio e fortaleza, nosso socorro bem presente nas tribulações”. Por isso não temeremos, embora a terra trema e os montes afundem no coração do mar, embora estrondem as suas águas turbulentas e os montes sejam sacudidos pela sua fúria.
Ah, se nem os maiores exércitos prevaleceram, por acaso você pensa, oh homem insignificante, que em um combate corpo-a-corpo, será capaz de conquistar? Seu desejo pode ser suficientemente forte, mas esse desejo não se cumprirá nunca. Pode desejar ansiosamente, mas jamais logrará êxito. Mas mesmo considerando esta uma questão pessoal: você já obteve êxito alguma vez em deter a obra da graça no coração de alguém? Você riu de sua esposa para que ela renuncie sua profissão, mas se ela é realmente convertida, nunca rirá o suficiente para fazê-la desistir.
Talvez tenha tratado de aborrecer seu filho pequeno; mas se a graça está nesse garoto, eu desafio você e seu senhor diabo que afugentem essa graça. Ah, jovenzinho, você pode rir de seu companheiro de trabalho, mas ele te vencerá a longo prazo. Algumas vezes pode ficar envergonhado, mas não o fará mudar. Se fosse um hipócrita, iria fazer isso, e não se teria uma grande perda, mas se ele é realmente um verdadeiro soldado de Cristo, pode suportar muito mais que os risos de um cabeça oca como você. Não deve nem por um momento se vangloriar supondo que ele terá medo. Ele terá que suportar um batismo de sofrimento maior que esse, e não se acovardará pela primeira chuva de tua pobre insensatez maliciosa e digna de compaixão.
Em relação a você, amigo comerciante, pode perseguir seu empregado, mas comprova que não o obrigará a ceder. Vamos, conheço um homem cujo chefe havia intentando arduamente obrigá-lo a que agisse contra sua consciência; mas ele disse: “não, senhor”. E o chefe pensou: “bem, ele é um servo muito valioso; mas vou obrigá-lo se puder.” Assim que o ameaçou dizendo que se não fizesse o que queria, iria despedi-lo do trabalho. O homem dependia desse trabalho, e não sabia o que faria para ganhar seu sustento diário. Mas respondeu de imediato com honestidade ao seu chefe: “senhor, eu não tenho nenhuma outra opção; lamentaria muito ter que deixá-lo, pois estou muito contente com você, mas se chegamos a esse ponto, senhor, prefiro morrer de fome que ao invés de submeter minha consciência a qualquer pessoa.” O empregado se foi, e o chefe teve que sair correndo atrás dele para trazê-lo de volta. E o mesmo sucederá em cada caso. Basta que os cristãos sejam fiéis, e se sairão bem em qualquer situação. Dura coisa é dar coices contra eles, pois não pode lhes fazer dano. Eles vencerão, serão conquistadores por meio Daquele que os tem amado.
Mas há outra maneira de expressá-lo. Quando o boi desfere coices contra o aguilhão, não obtém nenhum bem com isso. Pode chutar o quanto queira, mas não se beneficiará com tal atitude. Se o boi para e começa a arranca um pouco de erva, ou um pouco de feno, vamos, então seria sábio, talvez, ficar quieto, mas ficar quieto para receber socos e pontapés, simplesmente para que o ferro entre em sua carne, é algo bem mais insensato.
Agora eu te pergunto, qual é o ganho em se opor a Cristo? Suponha que você diz não gostar de religião. Que ganhará ao odiá-la? Eu te direi qual a sua recompensa. Ganhará esses olhos roxos com que amanhece às vezes na segunda de manha, depois de uma noite no domingo de bebedeira. Direi sua retribuição, jovenzinho. Você ganhou essa constituição quebrantada, que, ainda que agora tenha te orientado aos caminhos da virtude, permanecerá contigo até o caixão. Qual é o seu ganho? Vamos, alguns de vocês que poderiam ter sido membros respeitáveis da sociedade, mas que agora possuem esse chapéu gasto, esse velho terno esfarrapado e essa descuidada expressão de bêbado, e esse caráter que você gostaria de abandonar e despojar-se, pois não lhe traz benefício algum. Isso é tudo o que você tem ganhado opondo-se a Cristo.
O que você tem ganhado opondo-se a Ele? Pois, bem, uma casa sem móveis, pois por sua embriaguez teve que vender tudo de valor que possuía. Seus filhos vestem trapos, e sua esposa vive na miséria, e sua filha maior, talvez, se entregou a vergonha, e teu filho se levanta para maldizer o Salvador, exatamente como você tem feito. Qual é o prêmio de se opor a Cristo? Qual é o homem no mundo que alguma vez obteve recompensa por se opor a Ele?  Há uma grande perda experimentada, mas quanto a algum lucro, não existe nada parecido com isso.
Mas você afirma que, ainda que tenha se oposto a Cristo, todavia é alguém moral. Outra vez lhe pergunto: Tem ganhado algo, ainda assim, por se opor a Cristo? Acha que a sua família é mais feliz por isso? Tem lhe feito um pouco mais feliz? Sente que depois de rir de sua esposa, ou seu filho, ou de seu empregado, pode dormir mais tranquilamente? Considera que isso será algo que aquietará sua consciência quando se aproxime a hora da sua morte? Lembre-se que morrerás, e, pensas que quando estiver agonizando, pensar que fizeste o melhor que pode para destruir as almas das outras pessoas lhe proporcionará algum consolo? Não, deves confessar que é um pobre jogo. Você não está se beneficiando por isso, mas está prejudicando a si próprio. Ah, beberrão, continue com sua bebedeira, e lembre-se que cada episódio alcoólico deixa para trás de você uma praga, a qual um dia terá que ressentir. É prazeroso pecar hoje, mas não será prazeroso perder a colheita amanhã; as sementes do pecado são doces quando as semeamos, mas o fruto é aterrorizantemente amargo quando o armazenamos no final. O vinho do pecado tem sabor doce quando bebemos, mas é fel e vinagre nas entranhas. Tenham cuidado, vocês que odeiam a Cristo e se opõem ao Seu Evangelho, pois tão certamente como o Senhor Jesus Cristo é o Filho de Deus, e Sua religião é verdadeira, vocês estão empilhando sobre vossas cabeças uma carga de males, ao invés de obter algum bem. “Saulo, Saulo, por que tu me persegues, Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões”.
Mas independentemente dos coices que desfere, o boi tem que seguir adiante. Temos visto um cavalo que se encontra quieto na rua, e o condutor, que não tinha muita paciência, tem lhe batido tanto, que nos perguntamos como o pobre cavalo pode permanecer quieto debaixo de tal chuva de golpes; mas observamos que no fim, o cavalo é obrigado a continuar, e nos perguntamos: o que ganhou ficando parado? O mesmo sucede com vocês. Se o Senhor quer converter-lhe em um cristão, pode dar coices contra o cristianismo, Ele o terá finalmente. Se Jesus Cristo quer sua salvação, pode maldizê-lo, mas Ele fará que pregue Seu Evangelho algum dia, se quer que você o faça. Ah, se Cristo desejasse, Voltaire, que O difamou, poderia ter sido um segundo apóstolo Paulo. Não poderia resistir à graça soberana, se Cristo assim o tivesse determinasse. Se alguém houvesse dito ao apóstolo Paulo quando ia pelo caminho de Damasco, que um dia se converteria em um pregador do cristianismo, sem dúvida haveria rido disso como se isso fosse algo absurdo sem sentido; mas o Senhor tinha a chave de sua vontade, e Ele a manejou como quis. E assim sucederá contigo, se Ele decidiu que você será um de seus seguidores:
 “Se, como o eterno mandato reza,
A graça toda poderosa conquista esse homem,”
A graça toda poderosa te conquistará e o mais sangrento dos perseguidores será convertido no mais valoroso dos santos. Então, por que me persegues? Talvez esteja desprezando ao mesmo Salvador que um dia amarás; está tratando de derrubar a mesma casa que um dia há de edificar. Talvez esteja perseguindo os homens que chamará seus irmãos e irmãs. É sempre recomendável que um homem não vá tão longe, que logo não possa regressar respeitavelmente. Então, não vá tão longe a sua oposição a Cristo, pois em qualquer momento pode ser que se ache tão feliz em inclinar-se aos Seus pés.
Mas temos esta triste reflexão: se Cristo não te salva, você deve continuar. Você pode dar coices contra o aguilhão, mas não poderá ir dos Seus domínios; pode desferir coices contra Cristo, mas não pode tirá-lo de Seu trono; não pode arrastá-lo para fora do céu. Poderá dar coices contra Ele, mas não poderá impedir que lhe condene no final. Você poderá rir Dele, mas com suas risadas não poderá evitar o dia do juízo. Poderá mofar-se da religião, mas todas suas zombarias não poderão eliminá-la. Poderás escarnecer do céu, mas todas as seus insultos não silenciarão nenhuma nota sequer das harpas dos remidos. Não, é o mesmo que dar coices ou não, não há diferença exceto para ti mesmo. Oh, quão insensato deves ser, posto que persiste em uma rebelião que é prejudicial unicamente para sua própria alma. Essa rebelião não causa nenhum dano a Ele, a quem você odeia, mas, se Ele quisesse, poderia detê-la, e se não a detém, pode vingá-la e a vingará.
III. E agora concluo dirigindo-me a certas pessoas, cujos corações já têm sido tocados. Sente esta manhã sua necessidade de um Salvador? Estás consciente de sua culpa por haver se oposto a Ele, e o Espírito Santo tem te dado à vontade de confessar seus pecados? Estás clamando: “Deus, se propicio a mim, pecador”? Então tenho BOAS NOTÍCIAS para você. Paulo, que perseguia a Cristo, foi perdoado. Ele disse que era o principal dos pecadores, mas obteve misericórdia. Tu também a obterás. E mais, Paulo não só obteve misericórdia, também obteve honra. Foi chamado para ser um honroso ministro do Evangelho de Cristo, e você pode sê-lo também. Se, arrepender-se, Cristo pode lhe usar para atrair outros. Surpreende-me quando vejo quantos dos piores pecadores tem se convertido em homens utilizados pelo Senhor. Vê John Bunyan? Está maldizendo a Deus. Sobe ao campanário e toca a campainha no dia de domingo, porque gostava de fazê-lo, mas quando a igreja está aberta, ele está praticando o jogo de bolos sobre o pasto. Ali está no balcão do bar: ninguém ri mais forte do que John Bunyan. Algumas pessoas se dirigem para a igreja; ninguém lhes amaldiçoa tanto como John. Ele é o líder em todos os vícios. Se há um galinheiro para roubar, John é o homem. Se há alguma iniquidade para fazer, se foi feito algum mal na paróquia, não precisa adivinhar duas vezes, John Bunyan está por trás disso. Mas, quem é aquele que enfrenta um juízo perante o magistrado? Quem acabou de ouvir a poucos momentos atrás: “Se me permite sair da prisão hoje, vou pregar o Evangelho amanhã, com a ajuda de Deus”? Quem foi o que esteve encerrado doze anos na prisão, e quando lhe disseram que podia sair se prometesse que não iria pregar, replicou: “Não, vou ficar aqui até que mofo cresça sobre minhas pálpebras, mas devo pregar e vou pregar o Evangelho de Deus tão pronto como alcançar minha liberdade”? Pois esse é John Bunyan, o mesmo homem que maldisse a Cristo outro dia. Um líder do vício se converteu em um sonhador glorioso, no próprio líder dos exércitos de Deus. Observem o que Deus fez por ele, e o que Deus fez por ele, fará por ti, se te arrependeres agora e buscar a misericórdia de Deus em Cristo Jesus.

“Ele pode fazer, Ele quer fazê-lo, não duvides mais.”

Oh, confio que estou me dirigindo a pessoas que tem odiado a Deus, mas que são, sem apreensão, os eleitos de Deus; que têm depreciado o Senhor, mas que são comprados com sangue; que tem dado coices contra o aguilhão, mas que a graça toda poderosa arrebatará adiante. Há algumas pessoas, não duvido que tenham difamado a Deus em Sua face, mas que algum dia cantarão aleluias diante do Seu trono; alguns que se tem entregado a luxúrias repugnantes, que um dia vestirão suas roupas brancas, e correrão seus dedos pelas cordas das harpas de ouro dos espíritos glorificados no céu. Que felicidade é ter tal Evangelho para pregá-lo a tais pecadores! Cristo é pregado ao perseguidor. Venha a Jesus, a Quem você tem perseguido.
 “Venha, e seja bem-vindo, pecador, vem.”
E agora, aguente-me um momento para dirigir-me a vocês outra vez. Olhe-me no rosto a probabilidade de ter poucas oportunidades mais de dirigir-me a vocês sobre temas referentes as suas almas. Meu querido leitor, não irei atribuir a nada, senão somente isso: “Não tenho evitado anunciar todo o conselho de Deus,” e tenho por testemunha a Deus com quantos suspiros, e lágrimas, e orações tenho trabalhado para seu bem. Milhares têm sido chamados, assim creio eu, desse lugar; entre vocês, dos que estou vendo, há um grande número de pessoas convertidas; de acordo com seu próprio testemunho têm tido uma mudança completo, e já agora não são o que eram antes. Mas estou consciente disso, que há muitas de vocês que tem assistido aqui, já quase por dois anos, que seguem sendo os mesmos que eram. Há alguns de vocês cujos corações não foram tocados. Algumas vezes choram, entretanto, suas vidas não foram transformadas; ainda se encontram em “laço de iniquidade e fel de amargura”.
Bem, senhores, se não voltar a me dirigir a vocês novamente, há um favor que lhes peço. Se não se voltam para Deus, se estão resolvidos a se perderem, se não querem ouvir minha reprovação nem voltar-se para minha exortação, somente lhes peço esse favor; pelo menos me deixem saber, e permitam-me ter esta confiança, que estou livre do sangue de vocês. Creio que devem confessar isso. Não tenho evitado pregar sobre o inferno com todos os seus horrores, a tal ponto que riem de mim, como se sempre pregasse a respeito. Não tenho fugido de pregar sobre os temas mais doces e agradáveis do Evangelho, a tal ponto de dizerem que minha pregação se tornou afeminada, ao invés de conter o vigor masculino de um Boanerges. Não tenho me esquivado de pregar sobre a lei; esse grandioso mandamento tem feito eco em seus ouvidos: “Amarás o Senhor teu Deus, e ame a seu próximo como a si mesmo.” Nunca temi os grandes, nem buscado seus sorrisos, tenho repreendido a nobreza como repreenderia ao camponês, e cada um de vocês a tempos tenho dado alimento diário. Eu creio que pelo menos isto se pode dizer de mim: “Aqui está um que jamais temeu o rosto de um homem,” e espero não temê-lo nunca. Em meio das afrontas, das reprovações e das críticas, tenho buscado ser fiel a vocês e ao meu Deus. Se apesar disso são condenados, permitam-me ter isso como consolação por sua miséria, quando pense nesse pensamento aterrorizador: que não tem sido condenados por não haver sido chamados; não ter sido condenados por falta de alguém que chorasse por vocês, e não ter sido condenados, permitam-me acrescentar, por falta de orações por vocês.
No nome Daquele que julgará vivos e mortos de acordo com meu Evangelho, e que virá nas nuvens do céu, e por aquele temível dia quando os alicerces desta terra forem abalados, e quando os céus desabarem sobre vossas cabeças, por esse dia quando “Apartai-vos de mim malditos,” ou “Venham benditos,” deva ser a alternativa terrível, lhes exorto, guardem estas coisas em seus corações, e assim como eu vou enfrentar a face do meu Deus para prestar contas por minha honestidade para com vocês, e por minha fidelidade para com Ele, lembrem-se, vocês deverão comparecer em Seu tribunal, para prestar contas de como ouviram e como reagiram após ouvirem; e, ai de vocês se, tendo grandes privilégios como Cafarnaum, sejam abatidos como Sodoma e Gomorra, ou mais abaixo que elas, porque não se arrependeram.
Oh, Senhor! Torna estes pecadores para ti, por Jesus Cristo, nosso Senhor! Amém.






2 - Conversões Superficiais, Religião Superficial

Por Charles Haddon Spurgeon

Embora eu me regozije com conversões súbitas, eu tenho sérias suspeitas quanto a essas pessoas repentinamente felizes que nunca parecem ter se entristecido com o próprio pecado. Receio que esses que vêm tão facilmente à sua religião que frequentemente a perdem completamente com a mesma facilidade. Saulo de Tarso foi convertido subitamente, mas nenhum homem já passou por maior horror de escuridão do que ele, antes que Ananias viesse a ele com palavras de conforto.
Eu gosto do arado profundo. A raspagem superficial do solo é trabalho pobre. O corte profundo da terra sob a superfície é grandemente necessário. Afinal de contas, os cristãos mais duradouros parecem ser aqueles que viram que o mal interior que neles há é profundo e repugnante, e depois de algum tempo foram levados a ver a glória da mão curativa do Senhor Jesus conforme Ele a estende no Evangelho.
"Para pôr tudo em uma palavra, uma ausência do Espírito Santo é a grande causa da instabilidade religiosa."
Receio que em muito da religião moderna há uma carência de profundidade em todos os pontos. Eles não tremem profundamente nem se regozijam grandemente. Eles não se desesperam muito, nem acreditam muito. Oh, cuidado com um verniz piedoso! Proteja-se da religião que consiste em colocar uma fina camada de piedade sobre uma pesada massa de carnalidade. Nós precisamos de uma obra contínua no interior. A graça que alcança o centro e afeta o espírito mais interior é a única graça que vale a pena ter.
Para pôr tudo em uma palavra, uma ausência do Espírito Santo é a grande causa da instabilidade religiosa. Cuidado para não confundir excitação com o Espírito Santo ou as suas próprias resoluções com os profundos mecanismos do Espírito de Deus na alma. Tudo aquilo que a natureza pinta, Deus queimará com ferro quente. Qualquer coisa que a natureza põe em funcionamento, Ele fará parar e jogará fora com os trapos. Você precisa nascer de cima, você precisa ter uma nova natureza forjada em você pelo dedo do próprio Deus, já que de todos os seus santos está escrito, "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus."
Oh, mas, em todos os lugares eu temo que haja uma ausência do Espírito Santo! Há muita coisa vindo de uma moralidade espalhafatosa, superficial, muitos clamores de "Paz, Paz" onde não há nenhuma paz; e muito pouca ansiedade profunda advinda de um exame do coração para ser completamente purificado do pecado. Verdades bem conhecidas e facilmente lembradas são cridas sem serem acompanhadas da devida uma impressão do peso delas; esperanças sem consistência e confianças infundadas são formadas e é isso que faz com que os enganadores sejam tão abundantes e os espetáculos carnais tão comuns.






3 - “Cujo coração o Senhor abriu." (Atos 16.14)

Na conversão de Lídia, há muitos pontos interessantes. Foi provocada por circunstâncias providenciais. Ela era vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, mas apenas no momento certo para ouvir Paulo nós a encontramos em Filipos; a providência, que é serva da graça, levou-a para o lugar certo. Mais uma vez, a graça estava preparando a sua alma para a bênção - graça preparando para a graça. Ela não conhecia o Salvador, mas como uma judia, ela sabia muitas verdades que foram excelentes passos para o conhecimento de Jesus. A sua conversão ocorreu na utilização dos meios da graça. No sábado, quando ela foi orar no lugar costumado, a oração foi ouvida. Nunca negligencie os meios da graça, Deus pode nos abençoar quando não estamos no templo, mas temos uma maior expectativa de que o faça quando estamos em comunhão com os santos.
Observe as palavras: "cujo coração o Senhor abriu." Ela não abriu seu próprio coração. Suas orações não o fizeram, Paulo não o fez. O próprio Senhor deve abrir o coração para que receba as coisas que se relacionam à nossa paz. Só Ele pode colocar a chave na fechadura da porta e abri-la e obter acesso para si mesmo. Ele é o mestre do coração tanto quanto é o  criador do coração.
A primeira evidência externa do coração aberto foi a obediência . Assim que Lídia creu em Jesus, ela foi batizada. Isto é um doce sinal de um coração humilde e quebrantado, quando o filho de Deus está disposto a obedecer uma ordem que não é essencial para a sua salvação, que não é imposta a ele por um medo pessoal de condenação, mas um simples ato de obediência e de comunhão com o seu Mestre. A próxima prova é o amor, que se manifestou em atos de bondade grata aos apóstolos. Amor aos santos sempre foi uma marca do verdadeiro convertido. Aqueles que não fazem nada para Cristo ou sua Igreja, dão uma lamentável evidência de  um “coração aberto". Senhor, dá-me sempre um coração aberto.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.






4 - Conversões Superficiais, Religião Superficial

Por Charles Haddon Spurgeon

Embora eu me regozije com conversões súbitas, eu tenho sérias suspeitas quanto a essas pessoas repentinamente felizes que nunca parecem ter se entristecido com o próprio pecado. Receio que esses que vêm tão facilmente à sua religião que frequentemente a perdem completamente com a mesma facilidade. Saulo de Tarso foi convertido subitamente, mas nenhum homem já passou por maior horror de escuridão do que ele, antes que Ananias viesse a ele com palavras de conforto.
Eu gosto do arado profundo. A raspagem superficial do solo é trabalho pobre. O corte profundo da terra sob a superfície é grandemente necessário. Afinal de contas, os cristãos mais duradouros parecem ser aqueles que viram que o mal interior que neles há é profundo e repugnante, e depois de algum tempo foram levados a ver a glória da mão curativa do Senhor Jesus conforme Ele a estende no Evangelho.
"Para pôr tudo em uma palavra, uma ausência do Espírito Santo é a grande causa da instabilidade religiosa."
Receio que em muito da religião moderna há uma carência de profundidade em todos os pontos. Eles não tremem profundamente nem se regozijam grandemente. Eles não se desesperam muito, nem acreditam muito. Oh, cuidado com um verniz piedoso! Proteja-se da religião que consiste em colocar uma fina camada de piedade sobre uma pesada massa de carnalidade. Nós precisamos de uma obra contínua no interior. A graça que alcança o centro e afeta o espírito mais interior é a única graça que vale a pena ter.
Para pôr tudo em uma palavra, uma ausência do Espírito Santo é a grande causa da instabilidade religiosa. Cuidado para não confundir excitação com o Espírito Santo ou as suas próprias resoluções com os profundos mecanismos do Espírito de Deus na alma. Tudo aquilo que a natureza pinta, Deus queimará com ferro quente. Qualquer coisa que a natureza põe em funcionamento, Ele fará parar e jogará fora com os trapos. Você precisa nascer de cima, você precisa ter uma nova natureza forjada em você pelo dedo do próprio Deus, já que de todos os seus santos está escrito, "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus."
Oh, mas, em todos os lugares eu temo que haja uma ausência do Espírito Santo! Há muita coisa vindo de uma moralidade espalhafatosa, superficial, muitos clamores de "Paz, Paz" onde não há nenhuma paz; e muito pouca ansiedade profunda advinda de um exame do coração para ser completamente purificado do pecado. Verdades bem conhecidas e facilmente lembradas são cridas sem serem acompanhadas da devida uma impressão do peso delas; esperanças sem consistência e confianças infundadas são formadas e é isso que faz com que os enganadores sejam tão abundantes e os espetáculos carnais tão comuns.






5 - Porque Necessitamos Converter o Nosso Coração

Achei muito interessante a mensagem extraída de um suposto diálogo havido entre Moisés e seu sogro Jetro, num filme sobre a vida de Moisés.
Digo suposto, porque não há tal registro na Bíblia, apesar de a ideia ser bíblica.
Moisés estava exaurido em julgar todas as demandas que existiam entre os israelitas.
Então Jetro se aproximou dele, em sua tenda, e lhe perguntou porque não constituía homens sábios e tementes a Deus para lhe auxiliarem naquela tarefa (até aqui confere com o registro bíblico).
Ao que ele respondeu dizendo que temia que pecassem contra o Senhor, e que cabia a ele, como representante de Deus, assumir aquele encargo para lhes ensinar o caminho em que deveriam andar.
Jetro retrucou dizendo, que reconhecia que Moisés era uma homem sábio e temente ao Senhor, mas que o seu modo de agir jamais poderia levar os israelitas a obedecerem a Deus de coração, porque ao exigir obediência externa, apenas segundo a Lei, estava na verdade trocando um feitor do quilate de faraó, de cuja escravidão haviam se livrado, por outro, a saber, o próprio Jeová.
Por este caminho, segundo o Jetro do filme, eles jamais reconheceriam que Deus é um Senhor amoroso, bondoso, fiel e justo.
Eles teriam que aprender isto tendo a liberdade de escolherem entre o bem ou o mal.
É justamente isto o que sucede na dispensação da graça.
Jesus a ninguém impõe o seu jugo suave e o seu fardo leve da obediência que Lhe é devida, por força de argumento ou por obrigação.
Ou Lhe obedecemos de coração e por amor, ou então não haverá qualquer obediência real ocorrendo.  
Por isso necessitamos que o nosso coração de pedra seja convertido pela fé nEle, para que possamos amá-lo do modo que convém, ou seja, com a liberdade de verdadeiros filhos de Deus.







6 - Por Conversão do Coração e Não por Imposição

Desde suas origens o verdadeiro cristianismo tem crescido por conversionismo autêntico. Não é por tradição familiar, nacional, ou por imposição governamental ou religiosa que o evangelho se espalhou em todo o mundo desde a morte e ressurreição de Jesus, conforme o testemunho dos primeiros líderes cristãos que nos informam que em cada povo e nação havia pessoas convertidas ao Senhor.
Isto não se deu ao acaso ou como um fenômeno inexplicável, mas em razão da operação poderosa do Espírito Santo convertendo os corações de pecadores, e dando-lhes a partir de sua conversão a firme convicção de que Cristo é o único e verdadeiro Deus, Salvador e Senhor.
O Espírito não o faz somente pela testificação com o nosso espírito de que nos tornamos filhos de Deus em Cristo, como também abre o nosso entendimento para conhecer as muitas profecias que foram dadas por Deus no período do Velho Testamento acerca da pessoa e do ministério de Jesus, muitos séculos antes que Ele se manifestasse em carne ao mundo, para morrer no lugar dos pecadores, levando sobre Si mesmo a sua culpa, para que pudessem ser perdoados por Deus e reconciliados com Ele.

Em nenhum outro poderiam se cumprir as centenas de profecias relativas a Jesus, inclusive aquelas que falavam em figura na forma dos sacrifícios, dos utensílios sagrados do tabernáculo, e de todas as ordenanças cerimoniais que foram ordenadas por Deus a Israel para servirem de ensino tipológico dAquele que haveria de se manifestar no futuro para a salvação dos pecadores.







7 - Nossa Conversão a Cristo (salvação) é Instantânea

“39 Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim;
40 mas não quereis vir a mim para terdes vida!” (Jo 5.39,40)

A conversão é realmente instantânea e produzida pelo poder operante da graça de Jesus.
Enquanto os fariseus dos dias de nosso Senhor, examinavam as Escrituras procurando achar nelas a vida eterna, não a encontraram porque não conseguiam entender que  o conjunto delas apontava para a necessidade de fé no próprio Jesus, para que Ele, pelo Seu exclusivo poder sobrenatural, salve a todo aquele que O buscar com um coração sincero e arrependido, e cheio da verdadeira fé, que é concedida por Deus como um dom àqueles que Ele tem chamado à salvação.
É por isso que Jesus disse aos fariseus que eles não queriam vir a Ele para receberem a vida eterna, apesar de se aplicarem  a encontrá-la no exame que faziam das Escrituras do Velho Testamento.
Esta é a razão porque muitos não chegam a se converter, apesar de estudarem exaustivamente a Bíblia, procurando basear a sua salvação no estudo bíblico que realizam.
Não que o estudar a Bíblia não seja importante e necessário ao nosso crescimento espiritual em santificação, mas, realmente, por si só, não pode gerar em  nós a nova vida do céu, quando o assunto em pauta é o da nossa justificação e do novo nascimento do Espírito Santo, para que sejamos transformados em filhos de Deus.
Porque, para isto, é necessário poder, e somente a graça é o poder operante que pode realizar tudo o que se refere à salvação.
A lei é norma, mas a graça é poder, Daí ter dito o apóstolo João o seguinte: " Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo." (Jo 1.17)
Lembram do apóstolo Paulo impondo as suas mãos sobre os discípulos de João Batista, em Éfeso, para que recebessem o Espírito Santo?
Eles foram convertidos naquele mesmo instante.
E a mulher samaritana que se converteu logo no seu primeiro contato com o Senhor Jesus?
E o que diremos de Zaqueu, o publicano?
E do cego Bartimeu?
Todos não foram salvos instantaneamente quando depositaram a sua confiança em Jesus?
É  preciso pois apelar aos corações em plena convicção de fé, na certeza de que Jesus pode salvar no momento mesmo em que estivermos apelando para que os pecadores se convertam a Ele.
Evidentemente, é necessário ser convencido do pecado pelo Espírito Santo para que nosso Senhor tenha sentido e significado para nós, como nosso Salvador.
A exposição das Escrituras, sobretudo da Lei de Deus, da Sua justiça e juízos, muitos podem contribuir para este trabalho de convicção operado pelo Espírito, para que sejamos conduzidos ao arrependimento e à fé.
Neste ponto, necessitamos olhar somente para o Senhor Jesus com os olhos da fé, na expectativa de que Ele nos conceda a salvação, pela nossa justificação por Deus e pela regeneração do Espírito Santo (novo nascimento).
Afinal Ele próprio diz que devemos olhar para Ele para sermos salvos.
Além disso, podemos orar com a pessoa sob convicção de pecado, para que ela confesse a Jesus  como Seu Salvador e Senhor.
Parece tudo muito simples e fácil, não é verdade?
Todavia, estão implicadas neste ato poderoso e celestial, operações cheias de complexidade e sobrenaturalidade, que somente podem ser operadas pelo próprio Senhor Jesus Cristo, através do Espírito Santo. Pois não se trata apenas de dizer que se crê no Senhor Jesus, mas ser justificado, regenerado e santificado (recebimento da nova vida do céu, ainda que em embrião, de santidade, embora ela seja totalmente santa e perfeita).
Vocês sabem que o próprio Senhor Jesus Cristo crescia em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens, pelo total e perfeito amadurecimento das virtudes do Espírito Santo, que nEle operavam.
Ele havia de fato, se esvaziado completamente, para depender do poder do Espírito, para se tornar um modelo, um exemplo, para nós, os que cremos no Seu santo nome.
Então, é somente depois de convertida, que uma pessoa poderá  entender adequadamente o ensino da Bíblia sobre quem é Jesus, o Espírito Santo, e o modo pelo qual convém vivermos para Deus.
A razão de a salvação ser dada por Deus de modo instantâneo e somente por fé, é certamente para que ninguém se glorie, nem mesmo no seu conhecimento bíblico, senão somente na pessoa de Jesus Cristo, pois importa que em tudo, somente Ele seja exaltado e glorificado, pela manifestação do Seu grande poder para transformar os nossos corações.











31) CORAÇÃO

ÍNDICE

1 - O Coração Quebrado É Precioso
2 - Como Guardar o Coração
3 - Preservando a Ternura de Coração
4 - O CORAÇÃO TERNO
5 - TERNURA
6 - Coração
7 - O Coração – Um Presente para Deus
8 - Não Deixe Seu Coração Ficar Turbado
9 - Os Males Do Coração do Homem


1 - O Coração Quebrado É Precioso

Um coração quebrado não é precisamente um coração preocupado, ou meramente triste, mas um coração que foi pisoteado, ferido. E maior será este quebrantamento, caso tenha sido produzido por pessoas amadas e queridas.
Posso encontrar-me triste pelas preocupações que tenha em relação ao comportamento de uma pessoa amada que esteja vivendo de modo contrário à vontade de Deus, todavia, tal pessoa, ainda que me entristeça, não chega a quebrar o meu coração, porque não há, neste caso, a intenção de me ferir ou prejudicar.
Então, não temos nisto um exemplo de um coração quebrantado ou quebrado, mas de um coração simplesmente entristecido.
Mas, quando as atitudes ou ações de tal pessoa têm o propósito deliberado de me ferir, por palavras,  atos ou omissões que me são dirigidos com a intenção de machucar, humilhar e magoar, então o coração poderá ser partido em centenas de pedaços que somente o amor e o poder de Deus poderão juntar e sarar.
Todavia, um coração quebrantado é de grande utilidade para Deus, conforme afirmado pela própria Bíblia, e, talvez daí, seja permitido por Ele que experimentemos tantas frustrações, desilusões e dissabores neste mundo.

Isaías 61:1  O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados;

Salmos 51:17  Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.

Salmos 34:18  Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido.

Salmos 147:3  sara os de coração quebrantado e lhes pensa as feridas.

Para nos curar de um ego orgulhoso, egoísta e inchado, Deus permite que primeiro sejamos quebrados, para que Ele possa realizar a cura que nos libertará do nosso endurecimento natural, que nos impede de perdoar e amar aqueles que nos têm ferido, até mesmo com atos de maldade, voluntários ou inconscientes, inspirados ou não por demônios.
Como ajudaríamos ou compreenderíamos a grande massa de pessoas feridas que se encontra vencida por mágoas, amarguras, tristezas e ressentimentos, caso nós mesmos não tivéssemos o nosso coração quebrado especialmente por aqueles a quem amamos?
Como saberíamos quão duro e difícil é permanecer numa atitude de paz, alegria e amor, uma vez que tenhamos sido feridos de maneira injusta e maldosa?
Como saberíamos que na verdade é impossível ser libertados por nossa própria capacidade e poder de tais sentimentos de amargura, tristeza e ressentimento?
Como aprenderíamos que a vitória é alcançada, somente quando recorremos à graça de Deus, nos humilhando debaixo da Sua vontade, e lhe pedindo que nos dê um coração amoroso e verdadeiramente perdoador tal como o dEle, para que sejamos sarados das profundas feridas que quebraram o nosso coração?
Nosso Senhor em seu grande amor pela humanidade, conheceu no mais alto grau, o que é sofrer ingratidão, perseguição e até mesmo a maldade dos homens, e isto da própria nação de Israel que Ele tanto amava.
O apóstolo Paulo também experimentou este quebrantamento, conforme ele mesmo expressou em suas epístolas, e como podemos observar no relato do livro de Atos.
Todavia, eles não se deixaram vencer por amarguras, mágoas e ressentimentos. Ao contrário, permitiram que Deus lhes desse graça para suportarem muitas tristezas, ao mesmo tempo que lhes revestia de poder para amarem ainda mais aqueles que os feriam.
Um coração que foi realmente quebrado poderá receber graça da parte de Deus para ser sarado. E melhor ainda, ser convertido a Ele, porque o ego inchado terá dado lugar a uma cerviz amolecida e a um espírito quebrantado que buscará e aceitará o socorro divino.
Não se deve desprezar portanto as muitas feridas que se tenha sofrido ao longo da vida. Estas feridas são preciosas para Deus, porque por meio delas pode fazer uma nova pessoa, transformada pelo Seu amor, e cheia de bondade e perdão, tal como eles existem no próprio coração de Deus.
Oremos então pelo bem dos que nos amaldiçoam e perseguem. Amemos os nossos inimigos e aqueles que sendo amigos agem no entanto, em relação a nós como se fossem nossos inimigos. Porque é assim fazendo que Deus nos concede a Sua graça para que possamos viver de fato sempre alegres no espírito, com paz em nossos corações, em nossas mentes e almas, e cheios do Seu próprio amor divino.





2 - Como Guardar o Coração

"A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e mentes, por meio de Cristo Jesus." (Filipenses 4.7)

Vamos usar para a compreensão deste texto a figura de uma fortaleza, que deve ser mantida. E a promessa afirma que ele será  guardada pela "paz de Deus, que excede todo o entendimento, por meio de Cristo Jesus."
Na medida em que o coração é a parte mais importante do homem, pois dele procedem as fontes da vida, seria natural esperar que Satanás, quando ele pretende fazer mal à humanidade, que ele o faça com ataques mais fortes e constantes ao coração. O que podemos inferir pelo raciocínio, é certamente verdade na experiência, pois apesar de Satanás nos tentar de todas as formas, apesar de todos os portões da cidade da Alma Humana poderem ser atingidos, no entanto, contra todas as partes dos muros da mesma, ele se certificará de trazer suas grandes armas, para os pontos mais vulneráveis à sua mortal malícia, e sua força mais furiosa, é contra o coração. No coração, em que, já de si mesmo, o mal é suficiente, ele empurra as sementes de toda espécie de males.
Assim, mais uma vez, surge a segunda necessidade de que devemos ser duplamente cautelosos em guardar o coração com toda a diligência, pois se, por um lado, ele é o mais importante, por outro lado, Satanás, sabendo disso, faz seus ataques mais furiosamente e de modo  determinado contra ele - então, a exortação vem com dupla força: "Mantenha o teu coração, com toda a diligência." E a promessa também se torna duplamente doce, desde que o perigo é duplo, a promessa diz: "A paz de Deus guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus nosso Senhor."

I. Vejamos primeiro, então, amados, que a preservação que Deus confere aos santos nesta santa promessa, é: "a paz de Deus que excede todo o entendimento", para lhes guardar por meio de Jesus Cristo. Isto é chamado PAZ, e devemos entendê-la em um duplo sentido. Há uma paz de Deus, que existe entre o filho de Deus, e Deus o seu Juiz, uma paz da qual pode ser verdadeiramente dito que ultrapassa todo o entendimento. Jesus Cristo se ofereceu com uma satisfação todo-suficiente para todas as reivindicações da Justiça ofendida, de modo que agora Deus não encontra culpa em seus filhos. "Ele não vê nenhum pecado em Jacó, nem iniqüidade em Israel," nem está irado com eles por causa de seus pecados - uma paz ininterrupta e indizível sendo estabelecida pela expiação que Cristo tem feito em seu benefício.
Assim flui a paz experimentada na consciência, que é a segunda parte da paz de Deus, pois, quando a consciência vê que Deus está satisfeito, e não está mais em guerra com a mesma, então torna-se também satisfeita com o homem; e a consciência, que estava acostumada a ser um grande perturbador da paz do coração, agora dá o seu veredicto de absolvição, e o coração descansa nos braços da consciência. Contra o filho de Deus a consciência não traz nenhuma acusação, ou se ela traz alguma acusação, isto é senão uma suave e gentil repreensão de um amigo amoroso, que aponta o que temos feito de errado; para que possamos nos corrigir, mas não o faz com trovões em nossos ouvidos e com a ameaça de uma punição. A consciência sabe muito bem que a paz é feita entre a alma e Deus, e, portanto, não sugere que haja mais alguma coisa, senão a alegria e a paz para ser buscada pelo crente.
Entendemos algo desta dupla paz? Façamos uma pausa aqui, e nos perguntemos acerca dessa parte doutrinal – façamos disto uma  pergunta experimental aos nossos corações: "Vem, minha alma, tu estás em paz com Deus? Viste o teu perdão assinado e selado com o sangue do Redentor? Vem, responda a isso, meu coração, tu tens os teus pecados lançados sobre a cabeça de Cristo, e viste todos eles lavados nos rios vermelhos de seu sangue? Podes sentir que agora há uma paz duradoura entre ti e Deus, de modo que, aconteça o que acontecer, Deus não estará irado contigo – que não te condenará e que não irá te consumir em sua ira, nem te esmagará em seu furor? Se é assim, então, meu coração, tu precisas apenas responder à segunda pergunta -  Está a minha consciência em paz? Pois, se o meu coração não me condena, Deus é maior do que o meu coração, e tem conhecimento de todas as coisas, e se a minha consciência dá testemunho comigo, que sou um participante da preciosa graça da salvação, então eu sou feliz! Eu sou um daqueles a quem Deus deu a paz que excede todo o entendimento.”
 Agora, porque isto é chamado de "a paz de Deus?" Supomos que é porque ela vem de Deus, porque foi planejada por Deus, porque Deus deu o seu Filho para fazer a paz, porque Deus dá o seu Espírito para dar a paz na consciência, porque, na verdade, é o próprio Deus na alma, reconciliado com o homem, de quem procede a paz. E portanto é verdade que este homem terá a paz – a paz do próprio Cristo, isto porque sabemos que ele próprio é a nossa paz. E, portanto, podemos perceber claramente como Deus se confunde com a paz que temos com o nosso Criador, e com a nossa consciência.
Então nos é dito que ela é "a paz de Deus que excede todo o entendimento." O que ele quer dizer com isso? Ele quer dizer de tal paz, que o entendimento não pode compreendê-la, nunca pode atingi-la. O entendimento do mero homem carnal não pode compreender esta paz. Aquele que tiver um olhar filosófico para descobrir o segredo da paz do cristão, se encontrará em um labirinto. "Eu não sei como é, nem por que ela é", diz ele, "Eu vejo esses homens caçados pela terra, eu viro as páginas da história, e os encontro sendo caçados para a sepultura. Eles andaram em peles de ovelhas e peles de cabra, necessitados, aflitos e maltratados, no entanto, também vejo na face do cristão uma serenidade calma. Eu não consigo entender isso, eu não sei o que é. Eu sei que eu, mesmo em meus momentos mais alegres, estou perturbado, que quando meus prazeres são mais elevados, ainda há ondas de dúvida e medo em toda a minha mente. Então, por que é isso? Como é que o cristão pode alcançar um descanso tão calmo - tão calmo e tão sossegado?" O entendimento nunca poderá chegar a essa paz que o cristão tem atingido. O filósofo pode nos ensinar muito, mas ele nunca poderá nos dar as regras  para alcançar a paz que os cristãos têm em sua consciência.
E dessa paz é dito também que "guardará a mente em Cristo Jesus." Sem Cristo Jesus esta paz não existiria; sem Cristo Jesus esta paz, mesmo quando existe, não pode ser mantida. Visitas diárias do Salvador, buscas contínuas com os olhos da fé dAquele que sangrou na cruz, farão com que essa paz seja longa e duradoura. Mas mantenha Jesus Cristo, o canal de nossa paz, à distância, e ela desaparece e morre. Um cristão não tem paz com Deus, exceto por meio da expiação de nosso Senhor Jesus Cristo.

II. Assim, apresentamos o primeiro ponto, quanto ao que é essa paz. Agora, o segundo é: como essa paz é obtida? Você vai notar que embora esta seja uma promessa, ela tem preceitos anteriores, e é somente pela prática dos preceitos que podemos obter a promessa. Volte agora para o quarto versículo, e você vai ver a primeira regra e regulação para a obtenção da paz. Cristão, você desejaria desfrutar "a paz de Deus, que excede todo o entendimento?"
A primeira coisa que você tem que fazer é "regozijai-vos sempre." O homem que nunca se alegra, mas que está sempre triste, e gemendo e chorando, que esquece o seu Deus, que esquece a plenitude do Senhor, e está sempre murmurando quanto às provas do caminho e às fraquezas da carne, este homem perderá a possibilidade de desfrutar de uma paz que excede todo o entendimento. Cultivem, meus amigos, uma disposição alegre; se esforcem, tanto quanto depender de vocês, para sempre terem um sorriso no rosto, lembrem que isto é tanto um mandamento de Deus como aquele que diz: "Amarás o Senhor com todo o teu coração" - "Regozijai-vos sempre", é um dos mandamentos divinos, e que é seu dever, bem como o seu privilégio, tentar praticá-lo. Não se alegrar, lembre-se, é um pecado. Alegrar-se é um dever, e um dever ao qual os frutos mais ricos e as melhores recompensas estão anexados a ele. Regozijai-vos sempre, e, em seguida, a paz de Deus guardará os vossos corações e mentes.
O próximo preceito é: "Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens." Se você quiser ter paz de espírito, seja moderado. Jovem, você não pode ser tão rápido na tentativa de subir na vida, e ainda ter a paz de Deus, que excede todo o entendimento. Você deve ser moderado, e quando você tem uma moderação em seus desejos, então você terá paz. Senhor, com o rosto vermelho, você deve ser moderado em sua ira;  porque o homem irado não pode ter paz em sua consciência. Seja moderado nisto, seja moderado em todas as coisas que você realiza, seja moderado em suas expectativas. Bem-aventurado aquele que espera pouco, pois ele terá poucas frustrações. Lembre-se de nunca definir os seus desejos de modo muito elevado. Aquele que tem aspirações para a lua, vai ficar desapontado se ele somente atingir metade da altura. Tenha moderação, em tudo o que você faz, em todas as coisas, e assim você obedecerá o segundo preceito, e obterá o vislumbre dessa promessa: "A paz de Deus guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus."
O último preceito que você tem que obedecer é, "Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.”Você não pode ter paz a menos que você supere seus problemas. Você não tem nenhum lugar para despejar seus problemas, exceto no ouvido de Deus. Nunca deixe um problema por meia hora em sua própria mente antes que você o diga a Deus. Assim que o problema vem, a primeira coisa a fazer rapidamente é dizê-lo ao seu Pai. Lembre-se que quanto mais tempo você levar para contar o seu problema a Deus, mais a sua paz será prejudicada.
Estes, então, são os preceitos. Que Deus Espírito Santo nos permita cumpri-los, e então teremos a paz contínua de Deus.

III. Agora, veremos como essa paz guarda o coração. Você vai ver claramente como esta paz vai guardar o coração cheio. O homem que tem paz contínua com Deus, não terá um coração vazio. Ele sente que Deus tem feito tanto por ele que ele deve amar o seu Deus. A base eterna da sua paz está estabelecida na divina eleição, os sólidos pilares da sua paz, a encarnação de Cristo, sua justiça, sua morte - o clímax da sua paz, o céu, a seguir, onde a sua alegria e a sua paz serão consumadas.
Guarda a tua paz com Deus. Isto irá manter o teu coração puro. Dirás se a tentação vier: "O que tu me ofereces? Tu me ofereces prazer; eu tenho isso. Tu me ofereces ouro; eu tenho isso, todas as coisas são minhas, o dom de Deus, eu tenho uma cidade não feita por mãos, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. Eu não vou trocar isso pelo seu pobre ouro.” “Eu vou lhe dar honra”, diz Satanás. "Eu tenho honra suficiente", diz o coração tranquilo: "Deus vai me honrar no último grande dia de seu juízo." "Eu te darei tudo o que possas desejar", diz Satanás. "Eu tenho tudo que eu posso desejar", diz o cristão.
Arreda-te Satanás! Suas tentações e lisonjas são perdidas em quem tem paz com Deus.
Esta paz, também, manterá o coração não dividido. Quem tem paz com Deus irá colocar todo o seu coração em Deus. "Oh!", Diz ele, "por que eu deveria ir procurar outra coisa na terra, agora que eu encontrei o meu descanso em Deus? Eu encontrei uma fonte, por que eu deveria ir e beber na cisterna rota que ficará sem água? Eu me inclino sobre o braço do meu amado, por que eu deveria descansar no braço de outro?”
Ainda, essa paz manterá o coração rico. O homem que duvida e está angustiado tem um coração pobre, é um coração que não tem nada nele. Mas quando um homem tem paz com Deus, seu coração é rico. Se eu estou em paz com Deus, estou habilitado para ir ao lugar onde eu posso obter riquezas. O trono é o lugar onde Deus dá riquezas. Se eu estou em paz com ele, então eu posso ter acesso com ousadia.
Quando meu coração está em paz com Deus, então eu posso apreciar a meditação, mas se não tenho paz com Deus, então eu não posso meditar de modo eficaz, porque "os pássaros descem sobre o sacrifício", e eu não posso afastá-los, salvo se a minha alma estiver em paz com Deus.
Se minha mente está perturbada eu não posso ouvir a Palavra de Deus com proveito.
Não preciso dizer que a paz de Deus mantém o coração sempre pacífico. Claro, a paz o torna cheio de paz.
Agora, então, irmão e irmã, é da maior importância que você guarde o seu coração corretamente. Você não conseguirá manter seu coração correto, senão por uma única maneira. Essa maneira é obter, guardar e desfrutar a paz de Deus para a sua própria consciência.

Tradução, redução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do sermão de nº 180, de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público.







3 - Preservando a Ternura de Coração

Para preservar a ternura de coração é necessário tomar cuidado com o mínimo pecado contra a consciência, porque o mínimo pecado deste tipo abre caminho para a dureza de coração.
Pecados que são cometidos contra a consciência fazem obscurecer o entendimento, matam a afeição, e sugam a vida da nova criatura, de modo que ela não tenha força para resistir à menor tentação.
E desses que pecam contra a consciência Deus tira o seu Espírito, e é nisto que consiste o apagar ou entristecer o Espírito que a Palavra tanto recomenda que tenhamos o cuidado de não fazer.
O pecado contra a consciência nos levará de um grau de dureza de coração para outro maior, e isto fará então com que sejamos insensíveis, inflexíveis e não moldáveis, porque ficamos alijados das operações da graça de Deus.
O coração dantes sensível ao peso do menor pecado, agora, estando endurecido suportará em graus sucessivos o peso de pecados abomináveis sem sentir qualquer tristeza ou arrependimento por isto.
O coração sensível não suporta o peso de qualquer pecado, por menor que ele seja.
Assim, deveríamos examinar nossos corações diariamente por meio deste critério de verificação, para que nos voltemos para Deus pedindo-lhe humildemente que nos perdoe e restaure ao primeiro amor.
Pecados contra a consciência a cauterizam de tal forma que ela fica insensível até mesmo às ameaças dos juízos de Deus constantes da Sua Palavra.

1Tm 1:5 Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia.

1Tm 1:19 mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé.

1Tm 3:9 conservando o mistério da fé com a consciência limpa.

1Tm 4:2 pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência,

Heb 10:22 aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má  consciência e lavado o corpo com água pura.

1Pe 3:21 a qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo;






4 - O CORAÇÃO TERNO

“Porém ao rei de Judá, que vos enviou a consultar o Senhor, assim lhe direis: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel, acerca das palavras que ouviste:  Porquanto o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante Deus, quando ouviste as suas ameaças contra este lugar e contra os seus moradores, e te humilhaste perante mim, e rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim, também eu te ouvi, diz o Senhor” (II Crônicas 34.26,27)

Estas palavras são uma parte da mensagem que a profetisa Hulda enviou ao bom rei Josias, pois, como a mensagem foi sobre ele e seu povo, por isso a resposta dela é exata, tanto para ele quanto para o povo, conforme está registrada nos versos anteriores.
Vemos o prefácio à sua mensagem, fortalecido com a autoridade de Deus, "Assim diz o Senhor Deus de Israel”, de modo que as palavras carregam em si a força e poder da majestade do autor.
Aqui está a sua sabedoria, portanto, pois deixa de lado a sua própria autoridade, e fala em nome do Senhor.
Lemos sobre Josias, que ele era um homem de coração reto, e que fez o que era reto aos olhos do Senhor, por isso mandou consultar Hulda, pois desejava conhecer que juízos o Senhor traria contra o povo de Judá em razão de seus grandes pecados contra Ele.
Desse relato das Escrituras podemos aprender que Deus envia  profetas portadores da Sua palavra àqueles que são de coração reto, e onde há um verdadeiro desejo de conhecer a sua vontade.
Esta é a misericórdia de Deus para com aqueles que são verdadeiros de coração.
Ele irá dar-lhes mestres adequados aos seus desejos, mas aqueles que são de corações falsos terão mestres adequados, que irão instruí-los de acordo com as suas concupiscências, 2 Tes 2.11. Se forem como Acabe, terão quatrocentos falsos profetas para ensinar a falsidade, para agradar seus desejos, 1 Reis 22.6, mas se forem como Davi, terão Natãs. Se forem como Josias, devem ter Huldas e Jeremias.
Isso deve nos ensinar a trabalhar para a sinceridade, para que nossos corações se encaminhem de modo correto em direção a Deus, e então ele vai enviar pessoas de um espírito reto para nos ensinar em conformidade com o seu próprio coração, Jer 3.15.
Israel se voltou para os ídolos e por isso teve muitos falsos profetas.
Eles não podiam suportar a palavra de Deus porque a julgavam algo muito simples, e desejavam ter mais sacrifícios, mais cerimônias, e um governo mais glorioso, segundo o julgamento carnal e terreno.
Mas, foquemos agora o título de nossa mensagem: “O Coração Terno” que extraímos da citação do texto: “Porquanto o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante Deus”. Esta foi a causa apresentada através de Hulda de que Josias seria poupado e não veria as misérias que deveriam acontecer ao seu povo, em razão do Juízo do Senhor.
A ternura de coração pode ser uma causa da remoção de juízos; mas a grande e primeira causa sempre será a misericórdia de Deus.
A ternura de coração, ou quebrantamento de coração tem sido posta por Deus como uma condição para a libertação do juízo e da condenação.
De modo que um arrependimento que não for acompanhado por isto não será um verdadeiro arrependimento.
Esta condição colocada por Deus não significa que contenha em si algum mérito da nossa parte quando nos quebrantamos, porque tudo é feito por causa do exclusivo mérito de Jesus e em razão da sua graça e misericórdia.
Um "coração terno" possui três propriedades concorrentes:
1. É sensível; 2. É flexível; 3. É moldável.
Em primeiro lugar, um coração terno é sempre um coração sensível. Ele tem a nova vida, e portanto é sensível. É um sinal de vida num cristão quando ele é sensível a inconveniências. Por isso, Deus plantou afeições no homem, como que para poder preservar a sua vida, como o temor e o amor. O temor que faz um homem evitar muitos perigos. Por isso, Deus nos deu temor para nos levar a fazer as pazes com ele, para que possamos ser livres de inconvenientes; e do maior deles que é o fogo do inferno.
E um coração terno é flexível e moldável. Agora, o que significa isto? Um coração que se rende ao toque de qualquer coisa que é colocada diante dele, e que não se comporta como uma pedra que retorna de volta quando é jogada contra uma parede.
Então, o que queremos dizer com sensiblidade, flexiblidade e modabilidade, pode ser comparado à cera que se rende e é flexível e moldável para receber a impressão que é aplicada à mesma.
Em um coração terno não há resistência, e é moldado por cada verdade, e tem uma maleabilidade e aptidão para receber qualquer impressão, e para executar qualquer desempenho; é de uma têmpera de fato capaz de ser um coração para ser moldado pelo Espírito Santo.
Deus deve primeiro nos tornar aptos, para em seguida, usar-nos na sua obra. Como uma roda deve ser feita primeiro para poder rodar, assim o coração deve ser mudado em primeiro lugar, e, em seguida, ser usado de uma maneira nova.
Um coração terno, tão logo que a Palavra é dita, rende-se a ela. Ele treme diante das ameaças da Palavra, obedece seus preceitos, se deleita com as promessas, e as promessas adoçam o coração.
Para todos os deveres relativos a Deus, e todos os ofícios de   amor aos homens, um coração terno está, portanto, qualificado.
Mas a dureza do coração é bastante oposta a isto. Pois, assim como coisas mortas são insensíveis, não cederá ao toque, mas rejeitará e lançará de volta tudo o que for lançado sobre ele.
Tal coração pode ser quebrado em pedaços, mas não vai receber qualquer impressão, como uma pedra pode ser quebrada, mas não será maleável.
Um coração duro é realmente apenas como cera para o pecado e o diabo, mas é como uma pedra para Deus ou para a bondade. Por isso é comparado na Escritura a uma pedra.
Mas do filho de Deus se diz ter um coração de carne.
Todas as pessoas, por natureza têm um coração de pedra, e este somente pode ser transformado em coração de carne por meio da fé em Jesus Cristo, senão sempre será um coração de pedra insensível para com Deus e a Sua Palavra.
Um coração terno é feito terno por Aquele que o fez ser assim, porque não há criatura no mundo que possa suavizar e converter o coração. Somente Deus pode e deve transformá-lo, pois todos estamos, pela nossa natureza terrena, mortos e endurecidos em delitos e pecados.
Por isso Deus faz a promessa de Ezequiel 11.19,20:
“Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.”
É especialmente por se ouvir a Palavra de Deus que o coração é quebrantado, porque ela é como um martelo para quebrar e um fogo para derreter o coração endurecido, Jeremias 23.9.
Mas não é somente por este meio que o coração de pedra é quebrado, porque um pote pode ser partido em pedaços, e ainda continuar a não ter qualquer utilidade, e é isso que pode ocorrer ao coração de alguém que se enche de temores quanto ao senso de um julgamento de Deus contra os seus pecados, e ainda não ser como a cera maleável.
Então há necessidade também que o Espírito Santo opere revelando o conforto da Palavra, e que pelo seu poder, regenere e renove o coração.
Assim o trabalho de Deus em quebrar o coração tem apenas por alvo prepará-lo para se tornar terno.
O coração é feito terno pelo sangue de Cristo. Somente o sangue de Jesus, a paixão de nosso amado Salvador pode derreter o coração duro do homem, quando este considera o amor que Deus revelou ao nos enviar o seu Filho para morrer em nosso lugar, para que a sua justiça pudesse ser satisfeita, de modo a sermos libertados do inferno, de Satanás e da morte espiritual e eterna.
Esta é a forma de se receber um coração terno, e a forma de preservá-lo, ou seja, de mantê-lo terno pelo trabalho renovador diário do Espírito Santo sobre ele, pelo aperfeiçoamento e aumento da graça que foi implantada em nós na nossa conversão, permanecendo nós sensíveis à vontade de Deus e à Sua Palavra, pelo exercício cotidiano e constante da vigilância, da oração, tendo paciência nas provações e permitindo com mansidão a mortificação dos nossos pecados e a implantação e crescimento das virtudes de Cristo operados pelo Espírito.

NOTA: Este texto é uma releitura feita pelo Pr Silvio Dutra, com a tradução e redução do original em inglês de um sermão, em domínio público, de autoria de  Richard Sibbes.






5 - TERNURA

Para que a vida seja o que deve ser, ela deve fluir de um coração cheio de ternura. Esta é aquela qualidade da alma que nos permite dar atenção amável aos outros, estando dispostos e ansiosos para fazer o bem, e a termos grande cuidado para não praticar qualquer ofensa, e para sermos mansos e gentis em cada expressão nossa.
Como todas as outras boas qualidades, esta é encontrada em perfeição no caráter de Deus. "O Senhor é muito misericordioso e piedoso." Por causa de sua compaixão ele nunca coloca sobre seu filho confiante uma carga maior do que ele possa suportar, e na sua misericórdia, ele sempre dá a cada tribulação um final feliz.
Será útil estudar por alguns minutos o princípio da ternura como um atributo da natureza de Deus. "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem." É o pai que vê seu pequeno filho em profunda dor que sabe o que é a compaixão. É esse sentimento que faz com que o pai seja desejoso de suportar toda a dor. Foi a piedade ou compaixão de Deus pelos perdidos no pecado que o levou a dar o seu único Filho para sofrer e morrer por eles. Quando Deus viu a miséria dos homens, ele teve esse sentimento em seu coração de que ele não poderia encontrar alívio de nenhuma outra maneira, senão em dar o único meio para o resgate dos pecadores.
Oh, pense nisto! O filho de Deus nunca tem uma dor ou uma tristeza, sem que Deus tenha um sentimento de compaixão. O conhecimento de que alguém tem piedade de nós e que simpatiza com o nosso sofrimento irá aliviar muito as nossas dores.
Recentemente, enquanto eu estava em profundo sofrimento de alma, eu recebi uma carta com estas palavras: "Nós sofremos com você sem espírito." Isto foi um grande alívio. Se num momento de aflição pudéssemos saber como Deus estava sofrendo conosco, isto seria um grande consolo.
Novamente, lemos: "Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei, e vós sereis consolados em Jerusalém". Quem é que não conhece o conforto de uma mãe?
Quando ouvimos falar de um jovem sofrendo um triste acidente longe de casa, temos pena; mas quando sabemos que sua mãe foi ter com ele, nos sentimos melhor. Ah, o conforto de uma mãe é superado apenas pelo conforto de Jesus. "Se minha mãe estivesse aqui!" diz a filha  atribulada. Nada representa tão dignamente a natureza do consolo que Deus dá como o consolo de uma mãe.
Oh filho de Deus, você nunca terá uma tristeza nem dor, em que a ternura de Deus não o leve a vir até você e consolá-lo. Elevemos os nossos corações e o louvemos pela sua misericórdia e amor reconfortante.
Uma mãe pode esquecer de consolar seu filho, mas Deus nunca esquecerá.
A ternura de Deus é revelada nestas palavras tocantes: "Quantas vezes eu quis ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas". A imagem é caseira, mas oh! Tão impressionante e sublime. Eu não posso fazer melhor do que usar aqui as palavras de um outro:
"Quando se viu imagem tão familiarmente colocada com tanta  graça e sublimidade como esta apresentada pelo Senhor? E ainda quão bela é a própria figura de proteção, repouso, calor e todos os tipos de bem-estar consciente para aquelas pobres, indefesas, dependentes e pequenas criaturas, que se abrigam e se sentem protegidas sob a asa  espaçosa e gentil da ave mãe. Se vagando além de poderem ouvir o chamado peculiar dela, eles são surpreendidos por uma tempestade ou atacados por um inimigo, o que eles podem fazer, senão no primeiro caso, cair e morrer, e no segundo, se submeter e ser despedaçados? Mas, se eles puderem chegar a tempo ao seu local de segurança sob a asa da mãe, em vão será qualquer inimigo tentar arrastá-los dali. Porque subindo em força, acendendo em ira, e esquecendo de si mesma por amor à sua ninhada, ela deixará que a última gota de seu sangue seja derramada para morrer em defesa de sua preciosa ninhada, em vez de lha ceder às garras do inimigo. Quão significante é tudo isto que Jesus faz por seu filho indefeso!"
Sob a sua grande asa ele reúne com ternura e com amor seus pequeninos e ali eles estão seguros. Ele é um refúgio seguro.
Do cântico de Moisés, aprendemos ainda mais o terno cuidado de Deus. "Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre os seus filhotes, estende as asas e, tomando-os, os leva sobre elas, assim, só o SENHOR o guiou, e não havia com ele deus estranho." (Deut 32.11,12). Esta metáfora bem expressa o cuidado e a ternura de Deus para com seus filhos. A águia é conhecida por sua grande ligação com seus filhotes. Seu cuidado é extraordinário. Quando as águias pequeninas têm atingido a idade e a força para deixar o ninho e aprendem a voar, o pássaro mãe as carrega, quando cansadas, em cima de sua asa.
Tudo isto expressa aos nossos corações a maravilhosa ternura de Deus para com seus filhos. Mas não há nada no mundo material que possa apresentar uma analogia completa e perfeita para as coisas do mundo espiritual. Estas são demasiado elevadas.
Se não temos a ternura de Deus em nossos corações, nossa vida estará longe de ser uma vida plena e verdadeira. A Bíblia nos diz "sede uns para com os outros benignos, compassivos,." Não há verdadeira santidade de vida sem ternura. À medida que nos aprofundamos em Deus, tornamo-nos mais ternos de coração.
Há algumas coisas que impedirão estar ternura de coração. Basta um pouco de sentimento de ressentimento, um pouco de desejo de vingança, ou um desejo secreto que algo acontecerá com aqueles que nos têm feito uma injúria e isto  endurecerá o coração e as afeições. Quando temos sido desprezados por alguém ou julgados mal, oh, como Satanás se esforça para nos levar a pensar muito sobre isso, e para trabalhar um sentimento de "mágoa" em nosso coração. Mesmo pensando sobre a maldade dos outros isto nos trará uma dureza e frieza na vida interior. Aquilo que condenamos nos outros irá, se pensarmos e falarmos muito sobre isso, influenciar os nossos próprios corações.
Você diz que é salvo e santificado. Agradeço a Deus por uma tal experiência abençoada, mas você ainda tem muito a ganhar. Você ainda não tem atingido a profundidade plena de nada. Há ainda a ternura de coração que você pode alcançar apenas através de muitas e variadas experiências. Há a ternura da voz, a ternura dos modos, a ternura de sentimentos, ternura de pensamento, que você alcançará apenas através de muita e profunda comunhão com Deus.
É através daquelas conversas íntimas e familiares com Jesus que somos transformados à Sua imagem gloriosa. Um ministro irmão me contou alguns dias atrás sobre a sua experiência da noite anterior. Ficou acordado, segundo ele, por um longo tempo e teve uma conversa doce com o Senhor. Tão íntima foi a comunhão que, virando para ir dormir, ele disse, meio sem pensar, "Boa noite", como se despedindo de um amigo querido. Essa união íntima com Jesus nos dá visões mais claras de seu caráter e de sua beleza em nossas almas.
Você não tem visto aqueles que são duros, ásperos, e insensíveis em suas conversações e modos? Ninguém quer ser como eles. Nós estamos contentes por ficar longe deles. Eles medem uma pessoa pelo seu padrão, e se ela não é o que eles acham que deve ser, eles falam sobre ela de uma maneira sem amor e sem sentimentos. Sentimos que algo grosseiro e insensível precisa ser retirado de sua natureza. Nós não dizemos que não são santificados, mas que eles são muito amargos e rudes. Eles precisam ser banhados no amor de Deus, eles precisam ser imersos no mar de sua gentileza. Vimos, por outro lado, aqueles que foram tão sensíveis, tão calmos e gentis, que a sua presença era como o respirar de uma manhã de doce primavera. Havia uma ternura em seus olhos, uma suavidade em sua voz, uma simpatia em seu sentimento, que lançou sobre a nossa alma uma sensação de prazer.
Há muito para nós ganharmos. Mas somente podemos ganhar isto na ponta da baioneta. Se quisermos ganhar, temos que lutar. Não há vitória sem batalha. Um irmão, depois de ganhar uma vitória decisiva, disse: "O diabo está morto". Ele foi tão vitorioso e livre que pensou que o diabo devia estar morto. Num curto espaço de tempo, no entanto, o irmão aprendeu com o erro. O príncipe da potestade do ar ainda vive, e ainda temos a nossa humanidade. Se não estamos em oração e vigilantes, nos tornamos dispostos a lutar ao nosso modo;  sentindo-nos um pouco amargos, se formos espezinhados.
Jesus nos diz: "não resistais ao mal". Nós não devemos apenas não resistir ao mal exteriormente, mas não tendo qualquer sentimento de resistência em nossos corações.
Se quisermos ter santidade de vida, temos que ter sensibilidade de espírito.
Se você deseja que sua vida seja como o oásis no deserto, onde o viajante cansado é refrigerado, seja terno de coração, seja compassivo, suporte todas as provações com paciência, suporte todos os sofrimentos sem murmurar, tenha muita comunhão com Deus, e ele fará com que seja trazida a você aquela ternura de alma que fará com que a sua vida, aonde quer que vá, seja como a atmosfera do céu.

Extraído do livro como viver uma vida santa, de James Orr – traduzido pelo Pr Silvio Dutra






6 - Coração

A Bíblia ensina claramente que a verdadeira religião é aquela que procede do coração - mas de um coração purificado e renovado por Deus.
Na grande maioria das passagens bíblicas o termo coração é usado em sentido metafórico para representar o mais profundo do nosso ser, ou a fonte da qual procedem todas as nossas energias, desejos, pensamentos e motivações vitais.
A Palavra de Deus apresenta o coração enquanto assim considerado como estando corrompido, e a ele se refere como a coisa mais corrompida em toda a criação, uma vez que o pecado passou a residir no coração humano desde a queda original.
Nenhum poder é capaz de restaurar o nosso coração corrompido pelo pecado, senão somente o da graça de nosso Senhor Jesus Cristo; pela mortificação progressiva do pecado, mediante o poder operante do Espírito Santo.
Nosso Senhor ensinou expressamente a necessidade de purificação do nosso coração para que possamos ter comunhão com Deus (Mateus 5.8).
Não admira portanto que Deus esteja perto dos que têm o coração quebrantado, por saberem que possuem naturalmente um coração corrompido, que necessita ser transformado por Ele.
Podemos observar nas muitas passagens bíblicas relativas ao coração , que elas reportam muito além do que meramente a sentimentos e emoções, e até mesmo à própria mente, conforme a palavra original é tradicionalmente vertida em algumas traduções, pois o que se tem em vista é a totalidade do nosso ser, especialmente do nosso espírito, que é a parte que mantém efetivamente a comunhão com Deus, porque Ele é espirito.
Assim, portanto, quando temos em algumas passagens a citação conjunta de coração, alma e mente, o que se pretende é fazer um realce às faculdades da alma e da mente, caso  não sejam percebidas na simples referência ao coração em sentido metafórico, que na verdade, inclui a ambas.
A única forma aceitável de culto por Deus é aquela que procede do coração, ou seja, um culto cujo exterior flui do nosso interior, e a esse respeito Moisés já havia se pronunciado dizendo que muito mais do que a circuncisão do prepúcio, os israelitas deveriam circuncidar o prepúcio do coração, ou seja, remover toda forma de impureza não somente do corpo, mas sobretudo da mente e do espírito.
Segundo a Bíblia, um coração puro é portanto um coração cheio da graça e da fé em Jesus Cristo, pois quanto maiores forem a nossa fé e as nossa graças, maior será a pureza dos nossos corações, porque é pela participação efetiva da vida espiritual e divina que somos purificados.
Por isso Deus pede que lhe consagremos o nosso coração, para que Ele possa operar nele o trabalho da santificação que tanto necessitamos.
Deus não quer os nossos talentos, os nossos bens, mas o nosso próprio ser. Ele pouco se importa com a pompa e a externalidade de nossos cultos, pois os Seus olhos estão continuamente voltados para no nosso coração; conforme revelou ao profeta Samuel que não vê somente o exterior como o faz o homem, mas vê o coração.
Enfim, ao falar do coração a Palavra se refere ao que somos e desejamos ser e fazer de fato e não aquilo que outros nos obrigam a ser ou a fazer, ou ainda o que façamos mecanicamente, ou por interesse político ou por qualquer outra motivação que não brote realmente do nosso próprio interior e vontade.
Um procedimento exterior em um comportamento considerado como limpo deve estar em conformidade com um interior também limpo, para que não incorramos no erro da hipocrisia dos fariseus.
Como nossos poderes e inclinações interiores (coração) se voltam para aquilo que reputamos precioso para nós, e será sempre nisto que estaremos concentrados, então nosso Senhor nos adverte quanto à necessidade de redirecionarmos nossas prioridades e afetos para aquilo que que não é terreno, visível e passageiro, senão para o que é invisível, espiritual, celestial e eterno.
Um fator indicativo de onde se acha o nosso principal interesse, segundo nosso Senhor, é a nossa conversação, porque a boca fala daquilo a que está ligado o nosso interior – se ao que é terreno  ou ao que é celestial.
Você pode ler alguns versículos bíblicos com as seguintes palavras destacadas do texto original:
1 – kardia (grego) – coração, mente, ser interior;
2 – lebab (hebraico) – coração, mente;
3 – leb (hebraico) – coração, mente, entendimento, ser interior; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.escrita.com.br/escrita/leitura.asp?Texto_ID=33565






7 - O Coração – Um Presente para Deus

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Meu filho, dá-me o teu coração." (Provérbios 23:26)

Estas são as palavras de Salomão, falando em nome da Sabedoria, que é apenas outro nome para o Senhor Jesus Cristo, que é feito da parte de Deus para nós Sabedoria. Se você perguntar: "Qual é a maior sabedoria sobre a terra?" - é crer em Jesus Cristo, a quem Deus enviou para sermos seus seguidores e discípulos - para confiarmos nEle e imitá-lo. É Deus, na Pessoa do Seu Filho amado, que diz a cada um de nós: "Meu filho, dá-me o teu coração." Podemos responder: "Senhor, eu te dei meu coração"? Então, nós somos Seus filhos! Vamos clamar: "Abba, Pai", e bendizer ao Senhor pelo alto privilégio de sermos Seus filhos. "Eis que tipo de amor que o Pai nos concedeu, a ponto de sermos chamados filhos de Deus."
Só o amor procura pelo amor. Se eu desejo o amor de outra pessoa, isto pode certamente ser apenas porque eu, eu mesmo, tenho amor por ela. Não nos importamos de ser amados por aqueles a quem não amamos. Seria uma vergonha, em vez de uma vantagem receber amor a quem nós não iríamos devolvê-lo. Quando Deus pede o amor humano, é porque Deus é Amor. É um exemplo de condescendência infinita que Deus tenha dito: "Meu filho, dá-me o teu coração."
Mais uma vez, só pode ser amor supremo que leva a Sabedoria a buscar o coração de coisas tão pobres como nós somos. Quão lentos somos para aprender! A sabedoria nos procura para sermos estudantes? Então sabedoria deve ser de um tipo mais condescendente. Nós somos tão culpados também. Vamos sim desgraçar em vez de honrar os tribunais da Sabedoria, se ela nos admitir na sua escola. No entanto, ela diz a cada um de nós, "Dê-me seu coração. Vinde e aprendei de Mim". Somente o amor pode convidar estudantes como nós! Nossa posição é obscura. No entanto, apesar das pessoas que somos, Deus diz a cada um de nós: "Meu filho, dá-me o teu coração." Só o Amor infinito viria cortejar a tais corações miseráveis ​​como os nossos!
Pois o que Deus tem a ganhar? Irmãos e irmãs, se fizermos tudo para dar os nossos corações a Ele, em que sentido Ele seria mais rico? Se nós lhe dermos tudo o que temos, ele seria mais rico? "A prata e o ouro são meus", diz Ele, "e o gado sobre milhares de montanhas. Se eu tivesse fome, não diria a você."
Então, quando Ele vier clamando: "Dá-me o teu coração", isto deve ser para o nosso benefício e não para o seu próprio! Certamente é mais abençoado para nós dar do que Ele receber!
Vemos a semelhança do Grande Pai na história do retorno do filho pródigo. Oh, eu lhes digo, a vocês que não conhecem o Senhor, que se vocês derem os seus corações a Ele vocês o farão feliz! O Pai Eterno ficará feliz com a volta do Seu filho perdido.
Vocês que são filhos de Deus podem tomar o meu texto como uma chamada a dar a Deus o seu coração de novo.
Vocês que ensinam a Palavra, vocês que trabalham para Deus, de alguma forma, façam-no completamente bem! "Dê-me seu coração, meu filho", diz Deus. É uma das primeiras e últimas qualificações de um bom trabalhador para Deus que ele deve colocar seu coração em seu trabalho.
A sabedoria nos pede o nosso coração, porque primeiro, muitos outros desejam os nossos corações e os nossos corações certamente lhes serão dados de um jeito ou de outro. Vamos fazer então com que eles não vão onde serão arruinados. Muitos homens têm perdido seus corações e almas eternamente pelos desejos da carne.
"Por isso, meu filho", diz a Sabedoria, "Dê-me seu coração. Todo mundo vai tentar roubar o seu coração, por isso deixe-o sob o meu comando. Então, você não precisa temer os fascínios da mulher estranha, porque eu tenho o seu coração e eu o manterei seguro até o dia da minha vinda. " É mais sensato dar a Jesus o nosso coração, porque sedutores vão procurá-lo.
É bom guardar o seu coração, com todo o aparato que a sabedoria pode proporcionar. É totalmente bom abster-se daquilo que pode se tornar uma armadilha para vocês, mas, conjuro-vos, a não dependerem de abstinência, mas darem o seu coração para Jesus, porque nada menos do que a verdadeira piedade lhes guardará do pecado, para que vocês sejam apresentados irrepreensíveis diante dele com grande alegria!
A Sabedoria insta à decisão imediata, porque é bom ter um coração de uma só vez ocupado e tomado por Cristo. É num coração vazio que o diabo entra. Você sabe como os meninos sempre quebram as janelas das casas vazias, bem, o diabo joga pedras onde o coração está vazio!
Aviso, mais uma vez, que, se você não lhe der o seu coração, você não pode agradar a Deus em tudo. Você pode dar a Deus o que você quiser, mas sem o seu coração é tudo uma abominação para Ele! Orar sem o seu coração é uma zombaria solene. Louvar sem o seu coração é um som vazio. Dar, ensinar, trabalhar sem o seu coração é tudo um insulto ao Altíssimo! Você não pode fazer qualquer serviço de Deus até que você Lhe dê o seu coração!
E Ele não merece isto? Eu não vou usar esse argumento, porque, de alguma forma, se você pressionar um homem a dar uma coisa, afinal se trata não de um presente, mas de uma imposição. Nossa consagração a Deus deve ser inquestionável em sua voluntariedade.
"Meu filho, dá-me o teu coração." Faça isto completamente. Você não pode dar a Cristo um pedaço de um coração, porque um coração que está pela metade é morto. O diabo não se importa de ter metade do seu coração. Ele está muito satisfeito com isso, porque ele é como a mulher a quem o filho não pertencia, ela não se importava se ele fosse cortado ao meio. A verdadeira mãe da criança disse: "Oh, poupe a criança! Não a corte!" E assim Cristo, que é o verdadeiro amante dos corações, não terá o coração dividido.







8 - Não Deixe Seu Coração Ficar Turbado

"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar.
E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.
E vós sabeis o caminho para onde eu vou.” (João 14.1-4)

Podemos muito bem ficar felizes com o povo de Deus, cujas vidas estão registradas no Antigo e no Novo Testamento, que tinha as mesmas paixões que nós. Conheço muitos pecadores que ficam esperançosos pelo que observam nos pecados e lutas daqueles que foram salvos pela graça. E eu conheço muitos dos herdeiros do Céu que encontraram consolo quando constataram que pessoas  imperfeitas como eles próprios têm prevalecido com Deus em oração e foram livrados em seu tempo de aflição. Estou muito contente que os Apóstolos não tivessem sido homens perfeitos, porque teriam então compreendido tudo o que Jesus lhes dissera, e nós teríamos perdido explicações instrutivas do nosso Senhor. Eles também poderiam ter vivido acima de todos os problema da mente e, então, o Mestre não lhes teria dito estas palavras de ouro: "Não se turbe o vosso coração."
Isto é, ainda, mais evidente no nosso texto, que não está de acordo com a mente do Senhor que qualquer um de Seus servos esteja turbado de  coração. Ele não tem prazer na dúvida e inquietude de seu povo. Quando ele viu que por causa do que ele tinha dito a eles, a tristeza encheu os corações dos seus apóstolos, Ele insistiu com eles com grande amor e para que fossem consolados. Como quando uma mãe consola seu filho, Ele disse: "Não se perturbe o vosso coração." Jesus diz a mesma coisa para você, meu amigo, se você é um dos Seus abatidos. Ele não quer que você seja vencido pela tristeza. " Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém,," é mandamento mesmo na antiga dispensação, e estou certo de que, sob essa revelação mais clara, o Senhor deseja que o seu povo seja livrado do coração desgostoso.
Não tem o Espírito Santo, especialmente realizado o trabalho de conforto, a fim de que ele possa ser efetivamente feito? Tribulações deprimem os corações dos filhos de Deus, porque o ministro mais terno falha em fornecer consolo - e então é melhor que o consolador falível se lembre do Consolador infalível - para encomendar o espírito entristecido às mãos divinas. Vendo que uma Pessoa da Santíssima Trindade se comprometeu a ser o Consolador, vemos o quanto é importante que os nossos corações sejam enchidos com consolo. Feliz a Religião na qual o nosso dever é sermos felizes! Bendito Evangelho pelo qual somos proibidos de ficar turbados no coração! Não é uma coisa admirável que  o Senhor Jesus pensa nos seus amigos em tais circunstâncias?
Grandes tristezas pessoais podem muito bem ser uma desculpa para se esquecer as dores dos outros. Mas Jesus estava indo para sua última agonia amarga e até a morte, e ainda assim Ele se encheu de compaixão por seus seguidores. Se fosse eu ou você, teríamos pedido simpatia para nós mesmos. Nosso grito teria sido: "Tenham piedade de mim, ó meus amigos, porque a mão de Deus me tocou!" Mas, ao invés disso, nosso Senhor lançou suas próprias dores esmagadoras no fundo e inclinou a cabeça para o trabalho de firmar Seus escolhidos sob suas mágoas muito inferiores às dEle. Ele sabia que estava prestes a ser "profundamente angustiado até à morte". Ele sabia que logo estaria em agonia por suportar "o castigo da nossa paz." Mas antes que ele mergulhasse no fundo, ele deveria secar as lágrimas daqueles que ele tanto amava e, por isso, Ele disse mais comoventemente: "Não se turbe o vosso coração."
Embora eu admire essa ternura condescendente de amor, ao mesmo tempo, não posso deixar de adorar a maravilhosa confiança de nosso bendito Senhor, que, embora soubesse que estava prestes a ser colocado numa morte vergonhosa, mas não sentia medo, antes, mandou seus discípulos confiarem nele implicitamente. A escuridão da terrível meia-noite estava começando a envolvê-lo, mas quão valentes foram Suas palavras: "crede também em mim." Ele sabia, naquela hora ameaçadora, que Ele tinha vindo do Pai e que Ele estava no Pai e o Pai nEle e por isso Ele diz: "Vocês acreditam em Deus, creiam também em mim." A calma firmeza de seu Mestre deve ter contribuído muito para confirmar os seus servos na fé. Enquanto vemos aqui a sua confiança como homem, também sentimos que este não é um discurso que um mero homem teria proferido, mesmo que ele tivesse sido um bom homem – porque nenhuma mera criatura pode ser comparada a Deus.
Que Jesus é um homem bom, está fora de questão. Que ele deve ser Deus é, portanto, comprovado por essas palavras. Será que Jesus nos manda confiar em um braço de carne? Não está escrito: "Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço?" No entanto, o Santo Jesus diz: "Você acredita em Deus, creia também em mim." Esta associação de si mesmo com Deus, como o objeto da confiança humana no tempo da angústia, denota uma consciência de seu próprio poder divino - e isto é um mistério em cujas dificuldades a fé tem prazer - de ver em nosso Senhor Jesus Cristo, a fé de um Homem em Si mesmo - e da fidelidade de Deus para os outros.
Venham então, queridos amigos, entreguem-se ao texto e que o Espírito de Deus esteja com vocês!  Vamos, portanto, orar para que possamos conhecer a glória das palavras de nosso Senhor, e ouvi-las falar em nossa alma pelo Espírito Santo. "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. E vós sabeis o caminho para onde eu vou.”.
Estas palavras são, em si mesmas, muito melhor do que qualquer sermão. O que pode ser o nosso discurso, senão uma diluição do espírito essencial de consolação que está contido nas palavras do Senhor Jesus?

I. Vejamos em primeiro lugar o gosto das águas amargas. "Porque eu vos disse estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração." Eu não restringiria o conforto para qualquer uma das formas de aflição, pois é um bálsamo para todas as feridas. Mas, ainda assim, seria bom saber o que era o problema em particular dos discípulos? Pode ser que alguns de nós estejam passando por isso, agora, ou poderemos ser mergulhados nisto no futuro. Foi por isso – que Jesus  morreu - o seu Senhor, a quem eles amavam sinceramente, estava prestes a ter diante deles uma vergonhosa e dolorosa morte. Qual coração sensível poderia suportar pensar nisso? No entanto, Ele lhes havia dito que seria assim e eles começaram a se lembrar das  palavras que ele havia dito que o Filho do homem seria entregue nas mãos dos homens ímpios e seria açoitado e condenado à morte.
Eles passariam agora  por toda a amargura de vê-lo acusado, condenado e crucificado. Em pouco tempo ele seria preso, amarrado, e seria conduzido à casa do Sumo Sacerdote, em seguida a Pilatos, a Herodes, e então, de volta a Pilatos, seria despido, açoitado, escarnecido, insultado. Eles o viram sendo conduzido pelas ruas de Jerusalém, carregando a cruz. Eles o viram pendurado na cruz entre dois ladrões e ouviram-no clamar: "Meu Deus, Meu Deus, por que me desamparaste?" A bebida amarga era esta! Na proporção em que eles amavam seu Senhor, eles deveriam ser profundamente entristecidos por causa dele, e eles precisavam que ele lhes dissesse: "Não se turbe o vosso coração."
Em adição a isto, os apóstolos tinham uma expectativa de que o seu Senhor iria para longe deles. Eles não entenderam quando ele disse: "Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e me vereis, porque eu vou para o Pai". Agora ficou claro para eles que estavam para serem deixados como ovelhas sem pastor, por seu Mestre e Cabeça, que se retiraria deles. Isto foi, para eles, uma fonte de medo e desânimo, pois disseram a si mesmos: "O que faremos sem Ele? Somos um pequeno rebanho; como seremos defendidos quando Ele se for, e o lobo estiver rondando? Quando os escribas e fariseus se reunirem contra nós, como deveremos lhes responder? Quanto à causa de nosso Senhor e do Seu reino, como poderão estar seguros em mãos trêmulas como as nossas? Ai do Evangelho da salvação quando Jesus não está conosco!"
Esta foi uma tristeza amarga - e algo deste tipo de sentimento, muitas vezes atravessa nossos corações - como nós trememos diante da arca do Senhor.

II. Agora nesta segunda divisão do sermão,  bebamos as águas doces e refrigeremos nossas almas. Em primeiro lugar, neste texto maravilhoso nosso Mestre nos indica os verdadeiros meios de conforto em todo o tipo de inquietação. Como é que Ele o colocou? "Não deixe seu coração ser turbado", acredite! Por favor, olhe em sua Bíblia e você verá que essa ordem é repetida. Ele diz, na abertura do versículo 11: "Creia-me." E então, de novo, "creia em mim." Eu pensei, enquanto eu tentava entrar no significado desta expressão sagrada, que eu ouvi Jesus ao meu lado dizendo três vezes para mim ", acredite! Acredite em mim! Acredite em mim!"
Poderia qualquer um dos 11 que estavam com ele desacreditarem em seu Senhor presente? Ele diz: "Acredite em mim! Acredite em mim! Acredite em mim!" como se houvesse grande necessidade de exortá-los a terem fé nEle. Não há outro remédio, então, para um coração perturbado? Nenhum outro é  necessário! Este é todo suficiente através de Deus. Se crendo em Jesus, você ainda está perturbado, continue crendo nele, ainda mais profundamente e de coração. Se mesmo assim a inquietação não desaparecer de sua mente, creia nele num terceiro grau e continue a fazê-lo com o aumento da simplicidade e força. Considere este como o primeiro e único medicamento para a doença do medo e problemas! Jesus prescreve: "Acredite, acredite, acredite em mim!" Acredite não só em certas doutrinas, mas no próprio Jesus, nEle como capaz de realizar todas as promessas que Ele fez! Creia nEle assim como você crê em Deus!
"Ninguém jamais viu a Deus em qualquer momento", mas você ainda acredita no Deus invisível trabalhando todas as coisas, sustentando todas as coisas! Da mesma forma creia no Cristo invisível, que Ele ainda é tão poderoso como se você pudesse vê-lo andando sobre as ondas, ou multiplicando os pães, ou curando os enfermos, ou ressuscitando os mortos! Creia Nele e a tristeza e os suspiros fugirão!
No céu Deus pode dizer ter a sua habitação e Jesus estava indo para lá para ser recebido em seu retorno com toda a honra que aguardava o seu trabalho consumado. Ele foi, de fato, para casa, como um filho que está voltando para a casa de seu pai, da qual ele tinha saído a serviço do seu pai. Ele estava indo para reassumir a glória que tinha com o Pai antes que o mundo existisse! Oh, se tivessem compreendido perfeitamente isto, eles teriam entendido as palavras do Salvador: "Se você me amasse, você iria se alegrar, porque eu disse, que eu vou para o Pai".
"Ele foi visto dos anjos". Eles viram a abertura das portas eternas para o Rei da glória e o triunfo pelas ruas celestes dAquele que levou cativo o cativeiro dos homens. Eles viram a entronização de Jesus que fora feito um pouco menor que os anjos por causa da paixão da sua morte, mas que foi então coroado de glória e honra!
"Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus todo joelho se dobre". Não deixe seu coração ficar turbado pelo burburinho de controvérsia e blasfêmias de uma geração perversa! Embora haja confusão quando o mar ruge, e o ímpio derrame a espuma de sua raiva contra o Senhor e contra o seu ungido, o Senhor está assentado sobre a inundação! O Senhor é Rei para sempre. Mais uma vez, digamos, "Aleluia!" O príncipe chegou ao Seu próprio lar novamente! Ele entrou no palácio de Seu Pai! Os céus o têm recebido! Por que devemos ficar turbados?
Em terceiro lugar, nosso Senhor deu a Seus servos conforto de outra maneira, Ele lhes deu a entender implicitamente que um grande número iria segui-lo até a casa de seu pai. Ele não apenas lhes assegurou que Ele estava indo para a casa de Seu Pai, mas Ele disse: "Na casa de meu Pai há muitas moradas". Essas mansões não são construídas para permanecerem desocupadas! Deus não faz nada em vão e, por isso, é natural concluir que uma multidão inumerável de espíritos, subirá no devido tempo para ocupar as muitas moradas na casa do Pai! Agora, eu vejo nisto grande conforto para eles, porque temiam que, sem dúvida, se o Senhor estivesse ausente, o seu reino poderia falhar. Como haveria convertidos se Ele fosse crucificado? Como se poderia esperar de pobres criaturas como eles o estabelecimento de um reino de justiça na terra? Como eles poderiam virar o mundo de cabeça para baixo e levar multidões aos seus pés - aqueles que Ele comprou com o seu sangue?
O Senhor Jesus, com efeito disse: "Eu vou, mas vou abrir o caminho para uma grande multidão que virá para as moradas preparadas. Tal como o grão de trigo que é lançado na terra para morrer, e que produzirá muito fruto.”
Esta é uma parte do nosso conforto nesta hora. Pouco importa como os homens lutam contra o Evangelho, pois o Senhor conhece os que são seus, e ele vai resgatar, com poder, os redimidos pelo Seu sangue! Ele tem uma multidão em conformidade com a eleição da graça, que Ele conduzirá à glória - embora eles pareçam, hoje, ser um pequeno remanescente, mas Ele irá preencher as muitas moradas! Isto permanece firme como uma rocha: "Todo o que o Pai me deu virá a mim;. e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora".
Jesus foi para o céu para atuar como nosso intercessor diante do Trono de Deus e, portanto, é poderoso para salvar perfeitamente a todos os que vêm a Deus por ele. Ele foi para lá para assumir as rédeas da Providência, com todas as coisas sujeitas a Seus pés, e ter todo o poder dado a ele no céu e na terra para que possa abençoar Seu povo em abundância. Por estar no céu, o Senhor ocupa um terreno privilegiado para a realização dos Seus propósitos de amor. Como José desceu ao Egito para armazenar nos celeiros, para preparar para Israel uma casa em Gósen, e sentar-se no trono para a sua proteção, por isso tem o nosso Senhor ido para a Glória para o nosso bem, e ele está fazendo por nós, acima em Seu Trono, o que não poderia ter sido feito por nós aqui.
O próximo consolo foi a promessa da certeza do seu retorno "Se eu for para preparar um lugar para vocês, eu voltarei." Ouça, então! Jesus está voltando! Da mesma forma como subiu, Ele voltará, isto é, realmente, literalmente, e em forma corpórea! Ele não fez nenhum jogo de palavras quando disse tão claramente, sem parábolas: "Eu voltarei", ou mais docemente, ainda, "eu irei embora e voltarei a vós." Esta é a nossa mais alta nota de alegria: "Eis que Ele vem!" Este é o nosso conforto que nunca falha! Observe que o Salvador, neste lugar, não diz nada sobre a morte, nada sobre a paz e descanso dos crentes até que Ele venha, pois Ele olha para o fim.
Ele não vai enviar um anjo, nem mesmo uma série de querubins para nos buscar em nosso estado eterno, mas o Senhor, Ele mesmo, descerá do céu. Será o dia do nosso casamento e nosso glorioso Noivo virá em pessoa! Quando a noiva estiver preparada para o seu marido, não há de vir buscá-la para sua casa?
"Não deixe seu coração ficar turbado. "Os inimigos do Senhor podem odiá-lo, mas eles não podem impedi-lo. Eles não podem impedir o seu retorno glorioso, nem por um piscar de olhos! Que grande resposta será a Sua vinda para cada adversário! Como eles vão chorar e lamentar por causa dele! Tão certo como Ele vive, Ele virá.
Este, amados, é o caminho para nós, assim como foi para o nosso Senhor. Ele não podia alcançar a Sua coroa, exceto pela Cruz, nem a Sua glória de Mediador exceto pela morte! E que desta maneira, uma vez feita em sua própria pessoa o caminho está aberto para todos os que creem nEle. Assim, você sabe para onde o Senhor foi e você conhece o caminho - portanto, tenha ânimo!, pois Ele não está longe - ele não é inacessível! Você deve em breve estar com ele. "Não deixe seu coração ser turbado." Oh, valente Mestre, Você deve ser seguido por uma tribo de covardes? Não, não vamos turbar o coração através das provações do dia. Oh, santo Mestre, você encarou a sua morte com a canção, pois, "depois do jantar, eles cantaram um hino!" Não devemos passar através de nossas tristezas com confiança alegre? Oh, confiável Senhor, faze-nos crer em ti como em Deus, em ti mesmo, nós cremos em ti, por tua Graça, também seremos confiáveis!
Oh, meu Mestre, sua serenidade imperturbável de fé inspira nossas almas e nos tornamos fortes! Quando lhe ouvimos falando corajosamente de sua morte, que teve que ser cumprida em Jerusalém, e depois da glória que se seguiu a ela, nós, também, teremos esperança a par de toda a oposição dos homens ímpios e, aguardando a Tua volta, nos consolaremos com esta bendita esperança! Não te detenhas, ó Senhor! Venha depressa! Amém.

Tradução, adaptação e redução do sermão de nº 1741 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.






9 - Os Males Do Coração do Homem

Por John Newton

Para que tenhamos uma ideia correta da natureza do coração humano, devemos perguntar a nós mesmos se conseguiríamos suportar a imposição de declararmos sem restrições, em voz alta, na presença de muitas pessoas, todos os pensamentos e desejos que se encontram em nosso coração. Estou convicto de que algumas pessoas, se fossem colocadas diante de tal prova, prefeririam morrer a concordar com tal imposição. Elas perceberiam que, em tal provocação, existem coisas para as quais dificilmente encontrariam palavras capazes de expressá-las.
O Senhor, em sua misericórdia, nos tem guardado de conhecer o coração dos outros, até ao ponto em que estamos dispostos a revelar a nós mesmos. Se todas as pessoas fossem obrigadas a falar tudo o que pensam, isto seria o fim de nossa sociedade, e as pessoas nunca mais se arriscariam a morar com outros seres humanos; em vez disso, morariam com tigres e ursos.
Todos sabemos que danos uma língua desgovernada pode causar em algumas ocasiões. Mas a língua não causará nenhum dano enquanto não for um instrumento de revelação das coisas ocultas do coração; é somente uma parte dessas coisas que a pior língua é capaz de revelar. O que aconteceria, então, se todos os corações fossem abertos e todos os nossos pensamentos, conhecidos para os outros? Que mistura de confusão, vergonha, retraimento, medo e desonra encheria todos os rostos...
E todos nós estamos expostos à perscrutação de um Deus puro e santo!

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