sexta-feira, 23 de outubro de 2015

80) Igreja

80) IGREJA

ÍNDICE

1 - Ovelha Fora do Aprisco
2 - Analisando as Ênfases do Movimento de Crescimento de Igrejas
3  - Pragmatismo: Modernismo Reciclado?
4 - Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão) – Parte 1
5 - Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão) – Parte 2
6 - Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão) – Parte 3
7 - Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão) – Parte 4
8 - As Imperfeições da Igreja aqui neste Mundo
9 - Um "Cristianismo Puro e Simples" Significa Eliminação das Denominações?
10 - Uma Igreja Sem Santidade
11 - Analisando as ênfases do movimento de Crescimento de Igrejas
12 - A Igreja Cristã


1 - Ovelha Fora do Aprisco

“Heb 10:25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.”

Quando alguém se converte a Cristo, o Espírito Santo move o seu coração e o direciona a um determinado grupo de irmãos na fé, para que, por pelo menos uma vez por semana, se reúnam regularmente para o culto de adoração a Deus, e para que possa cumprir as ordenanças de Cristo relativas, especialmente, ao batismo, à santa ceia, à oração, ao estudo da Palavra, à ministração dos dons espirituais, à evangelização, e a prática do amor e das boas obras.
Desde os dias da Igreja Primitiva, isto é feito sobretudo aos domingos.
O autor de Hebreus, cuja epístola foi escrita quando a Igreja contava com apenas cerca de 30 anos de existência, registra o mau costume de alguns cristãos que não congregavam com regularidade, e que, portanto, o faziam, com prejuízo da sua fé e crescimento espiritual.
Se o ato de se reunir é uma bênção e uma alegria para os que congregam, a falta às reuniões da igreja, se não for um motivo de tristeza para os que assim procedem, com certeza é para o Espírito Santo de Deus, cujo mover e direção estão sendo negligenciados com o referido procedimento.
Especialmente quando a razão de tais ausências é devida por se escolher e priorizar outras atividades paralelas aos horários de culto, como entretenimentos os mais diversos, ou execução de atividades profissionais que poderiam ser dispensadas em tais dias ou horários; ou ainda por preguiça e descuido com os deveres espirituais ordenados por Deus, dentre tantos outros motivos.
Que possamos despertar do nosso sono, ou de um mau hábito ou ideia incorreta quanto a se pensar que não é necessária a comunhão com nossos irmãos em Cristo, e sigamos o exemplo dos cristãos dos primeiros dias do Evangelho, como vemos no livro de Atos.

“Atos 2:46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração,”






2 - Analisando as Ênfases do Movimento de Crescimento de Igrejas

Por Phil Newton

Há pouco tempo, um amigo ouviu este admirável comentário de um membro de uma grande igreja evangélica que está crescendo rapidamente: “Temos um pastor maravilhoso! Ele realmente prega a Palavra; fala contra o pecado, chamando-o pelo seu nome”. Quando meu amigo perguntou sobre o conteúdo doutrinário das mensagens (“O pastor fala sobre doutrinas como regeneração, justificação, redenção, santificação e outras semelhantes?”), a enfática resposta foi: “Não, ele não prega a respeito desse tipo de coisas!”
Como podemos harmonizar uma igreja crescente com a falta de ensino doutrinário na pregação? Se doutrinas não estão sendo ensinadas, qualquer igreja pode considerar que está em harmonia com o padrão do Novo Testamento? Esta era a situação em que eu me encontrava há alguns anos passados.
Retornando à Escola
Em meu terceiro pastorado, senti-me desanimado diante da falta de crescimento numérico em nossa igreja. Havia participado de conferências e seminários que promoviam crescimento, crescimento, crescimento como o objetivo final para os pastores. Ouvi pastores respeitados em nossa denominação e, com freqüência, desejava que a minha igreja tivesse o mesmo tipo de crescimento que as igrejas deles haviam experimentado. Por fim, meu desânimo levou-me a agir. Após algumas mudanças radicais na organização de nossa própria igreja, vi o número de membros aumentar. Estava satisfeito e motivado para buscar mais crescimento. Não sou muito a favor de realizar as coisas pela metade; por isso, conclui que a melhor mudança a fazer seria estudar o crescimento de igreja, em sua fonte, o Seminário Teológico Fuller, em Passadena (Califórnia).
O primeiro seminário, de duas semanas, incluso no programa de Bacharel em Ministério, no Fuller, foi ministrado por C. Peter Wagner, o principal porta-voz do Movimento de Crescimento de Igrejas. Este havia sido missionário na América do Sul e retornou à universidade em que estudara para ensinar juntamente com o falecido Donald McGavran. Enquanto McGavran, que fora missionário na Índia, é bem conhecido como o “pai do Movimento de Crescimento de Igrejas”, Peter Wagner certamente possui o título de ser o melhor proponente desse Movimento. Em preparação para este seminário, li diversas obras escritas por Wagner e por outros autores do Movimento. Achei Wagner um professor interessante que se apresentava bem, alguém capaz de produzir animadas discussões em sala de aula. Munido de transparências e grande quantidade de anotações, Wagner começou a esclarecer aos alunos os princípios básicos do Movimento.
Percebi que estava aceitando cada palavra falada na aula, embora, às vezes, ficasse apreensivo diante de algumas afirmativas. Wagner jamais recuava quando, na classe, era confrontado por causa de discordâncias, ainda que estas fossem freqüentes. Ele afirmava que as críticas e a correção eram bem-vindas para o Movimento de Crescimento de Igrejas, pois constituíam a melhor maneira de aprimorá-lo.
Continuei meus estudos, no Fuller, com grande ênfase em crescimento e implantação de igrejas. Mais da metade do tempo de nossa aula dedicava-se a estudar o crescimento de igreja. Wagner ministrava as principais aulas; o outro professor era John Wimber, o fundador das igrejas Vineyard. Este ensinava sobre o controverso assunto de “sinais e maravilhas” e sua relação fundamental no crescimento de igreja. Por ocasião de minha formatura, estava completamente encharcado com a “filosofia do Movimento de Crescimento de Igrejas” e a ampla influência deste sobre o evangelicalismo.
Muito do que aprendera era simplesmente trivial. Detalhes acerca do estacionamento, preparo de equipe adequada, localização, otimização no uso de equipamentos, treinamento de liderança leiga, utilização de dons espirituais e diagnóstico de fraquezas de igrejas constituem assuntos que podem ser facilmente encontrados em livros sobre crescimento de igrejas. Este ensino pode tornar-se útil a qualquer líder de igreja. As igrejas devem ter sabedoria para avaliarem por si mesmas. O Movimento de Crescimento de Igrejas também fornece uma boa análise sobre a fraqueza das cruzadas evangelísticas e sobre a grande eficácia do evangelismo pessoal. Coloca ênfase sobre alcançar os “campos que estão brancos para a ceifa”, em esforços para atingir os perdidos e fazer as igrejas crescerem. Uma intensa ênfase sobre “fazer discípulos”, em contraste com o simples “evangelizar”, ajuda a corrigir a atitude de inchar o rol de membros da igreja com pessoas não-convertidas. As estatísticas fornecidas pelos líderes do Movimento podem dar às igrejas uma melhor assimilação da necessidade espiritual dos povos.
Embora tenha encontrado muitas idéias úteis ao estudar sobre o Movimento de Crescimento de Igrejas, também percebi que estava envolvido em uma “mentalidade” cujo preço comprovou-se elevado. Edificar uma igreja seguindo os “princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas” significava anuência ao pragmatismo, ao invés de ao cristianismo bíblico. O pragmatismo pode resultar em crescimento numérico, mas não pode regenerar um homem incrédulo. Na qualidade de pragmatista, estava interessado em descobrir métodos e artifícios que produziriam crescimento e em utilizá-los plenamente em nossa igreja. Mesmo acreditando na pregação expositiva, diminui a exposição da Palavra e segui com intensidade o apelar às necessidades sentidas da comunidade. Isto era justificável (ou assim eu pensava), pois estaria construindo uma grande igreja.
Reconsiderando os Princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas
Lembro-me de, em certa noite, ter visitado um estudante de teologia que estivera em nosso culto. Ele perguntou qual era a minha teologia. Respondi: “Tenho uma teologia pragmática. Quero uma teologia que funciona”. Mais tarde, fiquei bravo quando um amigo contavame que aquele estudante lhe dissera após minha visita: “Phil não possui uma teologia”. Infelizmente, ele estava correto e isto mostrava de que maneira eu estava “realizando o ministério”. Pouco a pouco, comecei a perceber as falhas em meu próprio ministério e em todo o Movimento de Crescimento de Igrejas.
No cerne do ensino de Wagner e do Movimento de Crescimento de Igrejas encontram-se princípios relacionados ao evangelismo. Wagner tem promovido de modo admirável o trabalho de evangelismo como sendo um dos mais importantes na igreja local. Quando a maneira de pensar de Wagner sobre evangelismo é examinada à luz das Escrituras, surgem algumas questões sérias. Ele divide o evangelismo nas seguintes categorias (Church Growth: State of the Art, editado por C. Peter Wagner, com Win Arn e Elmer Towns, Wheaton, Tyndale House Publishers, 1988, pp. 296-297):
1. Evangelismo de Presença. Aproximar-se das pessoas e ajudálas, fazendo o bem no mundo. Designado evangelismo “l-P”.
2. Evangelismo de Proclamação. Apresentar o evangelho; a morte e a ressurreição de Cristo é proclamada; as pessoas ouvem e podem responder. Designado evangelismo “2-P”.
3. Evangelismo de Persuasão. Fazer discípulos; enfatiza a importância de não fazer separação entre o evangelismo e o acompanhamento, integrando a pessoa ao Corpo de Cristo. Designado evangelismo “3-P”.
Wagner ressalta que todos os três tipos de evangelismo são importantes, mas o objetivo tem de ser a realização do evangelismo “3- P”. Poucos discordariam do fato que o evangelismo “1-P” não pode adequadamente anunciar o evangelho ao incrédulo; e que sem a presença visível daqueles que foram despertados pelo evangelho, todo o outro evangelismo seria anulado.
O maior problema surge no entendimento de Wagner referente ao evangelismo “2-P”. De acordo com a definição, parece ser mais do que uma pregação ou um testemunho verbal dos fatos do evangelho. Por conseguinte, o incrédulo pode determinar se os fatos apresentados são dignos de sua decisão de aceitar o evangelho.
O evangelismo “3-P” constitui o ponto central dos proponentes do Movimento de Crescimento de Igrejas. Realmente envolve tanto a presença quanto a proclamação, mas isto não é tudo. O evangelista precisa usar todos os meios à sua disposição para persuadir o incrédulo a converter-se de seu pecado e crer em Jesus, de modo que torne-se um discípulo. Em suas aulas, Wagner serve-se da palavra grega peitho e seu emprego no livro de Atos. Ele cita Atos 13.43; 17.4; 18.4; 26.28 e 28.23-24, onde peitho é utilizada como uma referência ao apelo evangelístico. Wagner constantemente retrata esta palavra com o significado de “persuadir”. Portanto, o evangelismo adequado é o evangelismo de persuasão.
Existem vários problemas na dedução de Wagner extraída destas passagens do livro de Atos. Em primeiro lugar, não é sábio elaborar uma teologia sobre uma parte histórica das Escrituras, a menos que não haja quaisquer passagens didáticas ou instrutivas falando sobre aquele assunto. O Novo Testamento está repleto de passagens referindo-se ao trabalho de evangelismo. A mais notável é a evidente explicação do apóstolo Paulo sobre o seu método de evangelizar: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O JUSTO VIVERÁ POR FÉ” (Rm 1.16-17). Paulo declarou que o evangelho é bastante adequado por meio da obra do Espírito Santo em trazer o homem a um salvífico conhecimento de Cristo.
Em 1 Coríntios 2.4-5, Paulo destacou que procurava anunciar o evangelho no poder do Espírito Santo, ao invés de utilizar as técnicas comuns que os gregos empregavam para controlar a mente — “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva [peitho, no grego] de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus”. Paulo também argumentou que os cristãos devem viver de tal modo a realidade do evangelho, que parecerão como “luzeiros no mundo”, isto corresponde ao evangelismo “1-P”, de acordo com a definição de Wagner. Logo em seguida, o apóstolo mostra o apropriado método de evangelismo — “preservando a palavra da vida”, que mostra o crente na posição de alguém que apresenta (isto é, “proclama”) aos homens incrédulos a verdade da Palavra de Deus, a qual outorga vida (Fp 1.15-16).
Em segundo, o fato de Wagner utilizar peitho como base para o evangelismo de persuasão é extremamente fraco. Limitar esta palavra a apenas um significado demonstra uma falta de entendimento da amplitude da língua grega. Embora peitho seja traduzida “persuadir”, em diversas passagens, também pode ser melhor traduzida por “instigar”, “convencer”, “seduzir”, “suplicar” e, ainda, “subornar”, em outros casos. O contexto determina a melhor tradução da palavra.
Lucas, o escritor de Atos, utilizou peitho para referir-se a certo tipo de metodologia persuasiva usada por Paulo ou outros dos primeiros discípulos? Obviamente, Lucas jamais desejaria empregar manipulação, artimanha ou engano na obra de evangelismo (ver o uso de peitho em Atos 12.20, 14.19 e 19.26, onde as idéias de “seduzir” e “subornar” são transmitidas no texto grego desses versículos). Fazer isto seria negar a necessidade da obra do Espírito Santo, a qual precisa estar no centro do verdadeiro trabalho de evangelismo (Rm 8.9, 12-17; 1 Ts 1.4-5).
Em Atos 13.43, a Bíblia Revista e Corrigida traduz corretamente peitho pelo vocábulo “exortar”, mostrando que Paulo e Barnabé utilizaram os melhores poderes de argumentação e seu amor pela verdade, a fim de exortar os ouvintes a “perseverar na graça de Deus”. Em Atos 17.4, “persuadidos” implica em que os tessalonicenses foram convencidos das coisas que Paulo e Silas haviam proclamado. Lucas já havia afirmado que Paulo “arrazoou com eles, acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos” (17.2-3). Essas palavras descritivas demonstram que ocorreu um intenso intercâmbio intelectual, quando os mensageiros utilizaram as provas das Escrituras, uma série de perguntas e respostas (“arrazoou”, no grego, dialegomai), e toda a sua capacidade de questionamento, para convencê-los da verdade. Paulo e seu companheiro, com muito ardor, anunciaram a Palavra de Deus àquelas pessoas incrédulas, apelando, com a verdade, às suas mentes (ver também Atos 18.4 e 28.23, onde peitho é mais naturalmente traduzida por “persuadir”).
Em terceiro, a idéia do evangelismo “3-P” sugere que a proclamação no evangelismo “2-P” carece do poder de persuasão. Os primeiros discípulos jamais anunciaram insensivelmente o evangelho! Eles eram apaixonados pela verdade que havia transformado suas vidas. A sua apresentação do evangelho continha uma argumentação consistente e lógica. Eles apelavam à mente dos incrédulos, ao invés de procurarem manipular uma “decisão por Cristo”, recorrendo, em primeiro lugar, à vontade e às emoções. A passagem de Atos 17 mostra isso de maneira conclusiva, assim como toda a narrativa do livro.
No século 19, Charles Haddon Spurgeon foi conhecido como o supremo exemplo de um verdadeiro evangelista. O alcance de seu evangelismo tornou-se mais amplo do que o de qualquer outro em seus dias. Ele poderia ter sido acusado de usar de manipulação ou métodos emocionais de evangelismo centralizados no homem. Todavia, ninguém o acusaria de proclamar o evangelho sem amor e persuasão. O próprio evangelho, ao ser anunciado de maneira correta, é persuasivo! E este evangelho, quando crido para a salvação, devido à obra de regeneração realizada pelo Espírito Santo, produz verdadeiros discípulos.
Finalmente, ao mesmo tempo em que concordo com Wagner, ao afirmar que temos de ser persuasivos ao apresentar o evangelho, a ênfase dele coloca indevida confiança na habilidade do evangelista para realizar conversões. Tal confiança não corresponde ao ensino das Escrituras (ver 1 Co 2.1- 16; cf. também a excelente discussão de Iain Murray sobre este assunto, em Revival and Reavivalism [Avivamento e Avivalismo], Banner of Truth Trust, 1994, pp. 161, ss.). O apóstolo Paulo estava tão dominado pela certeza do julgamento divino, que afirmou: “Conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens” (2 Co 5.11). O significado natural deste versículo é este: Paulo compreendia que os pecadores compareceriam diante do Deus justo e santo, por isso se esforçava para “conquistar os homens para Cristo”. Ele procurava os perdidos, anunciava-lhes com intenso amor o evangelho, mas dependia do poder do Espírito Santo para salvá-los. Aqueles que o Espírito salvasse inevitavelmente se tornariam parte da igreja visível. O verdadeiro evangelismo se esforça por anunciar, com amor e clareza, todo o evangelho de Cristo, na dependência do Espírito para salvá-los. Esse evangelismo resultará na obra de integrar o novo crente à igreja. A disparidade ocorre quando o evangelista considera a si mesmo e aos seus métodos como chaves para a salvação dos homens, ao invés da obra regeneradora da parte do Espírito Santo.
Wagner fundamenta sua classificação de evangelismo na “Escala de Engel” , que é um “modelo do processo de decisão espiritual” desenvolvido por James Engel. A escala tem uma série de números negativos e positivos que descreve o processo de evangelismo:
-8 Consciência de um Ser Supremo, mas não um conhecimento eficaz do evangelho.
-7 Conhecimento inicial do evangelho.
-6 Conhecimento dos fundamentos do evangelho.
-5 Assimilação das implicações do evangelho. -4 Atitude positiva para com o evangelho.
-3 Reconhecimento do problema pessoal.
-2 DECISÃO DE FAZER ALGO.
-1 Arrependimento e fé em Cristo. REGENERAÇÃO — UMA “NOVA CRIATURA”
+1 Avaliação após a decisão.
+2 Integração no Corpo
+3 Início do crescimento informativo e comportamental.
O problema básico na “Escala de Engel” é a reversão da ordem bíblica referente ao arrependimento e fé em Cristo e à Regeneração — uma “Nova Criatura”. Seguindo a lógica desta escala, alguém poderia imaginar que um pecador precisa apenas começar a entender as implicações fundamentais do evangelho, reconhecer seu “problema pessoal” (uma maneira amena de se transmitir a idéia de “pecado”) e tomar a decisão de ser salvo. Aquilo que Wagner admite concernente à regeneração implica em que um pecador não tem de ser totalmente depravado ou morto em seus delitos e pecados. Ao contrário disso, a regeneração antecede o arrependimento e a fé, conforme está claramente ensinado nas Escrituras, em muitas passagens que falam sobre a regeneração (observe os seguintes versículos que a ela se referem: Tito 3.5, onde o vocábulo grego paliggenesia significa “um novo nascimento”; Efésios 2.5 e Colossenses 2.13, sunezoopoisen significa “vivificar juntamente com”; João 3.3 e 5, gennao significa “ser nascido, gerado”; Tiago 1.18 apekuasen significa “dar à luz”, “gerar”).
A grande premissa de Wagner é esta: se o incrédulo for persuadido a tomar a decisão de se arrepender e crer, então será regenerado. A atitude do pecador, por conseguinte, causa a sua própria regeneração. Ele tem a capacidade de fazer uma escolha voluntária e apropriada em relação ao evangelho, se receber evangelismo de persuasão ou “3-P”. De que maneira a natureza do pecado o torna bastante capaz de arrepender-se e crer? Se o problema espiritual do pecado resulta não somente de seu comportamento pecaminoso mas também de sua natureza corrupta, concluímos: até que sua natureza seja mudada, ele não haverá de arrepender-se e crer; fazer isto será contrário à sua própria natureza. Alem disso, como pode um morto vivificar a si mesmo (o que ocorre na regeneração)? Isto é apresentado com clareza em Efésios 2.1-5, onde Paulo afirma duas vezes que a pessoa não-regenerada está morta.
C. R. Vaughan, em The Gifts of the Holy Spirit (Os Dons do Espírito Santo), explica a incapacidade do homem em libertar-se de sua natureza pecaminosa e seguir a fé, o arrependimento e a santidade: “Nenhum rio pode, de si mesmo, correr em uma direção mais elevada do que sua nascente; nenhuma natureza pode transcender a si mesma na manifestação de suas energias. Se o homem está realmente morto em delitos e pecados, ele é incapaz de manifestar qualquer virtude que contenha, em si mesma, o elemento da verdadeira santidade ou vida espiritual” (Banner of Truth Trust, 1984, p. 175).
Contudo, no paradigma de Wagner, o evangelista tenta convencer um pecador a fazer algo que não deseja. Sua natureza exige que ele se rebele contra o evangelho, ao invés de aceitá-lo. Somente por meio do ato regenerador proveniente do Espírito Santo, o pecador realmente pode ter uma mudança de natureza; isto o leva a perceber que está separado de Deus, por causa do pecado, e, em seguida, a apropriar-se da obra propiciatória de Cristo em favor dele, de modo que, com alegria, ele se arrepende e crê em Cristo. Assim como no vale de ossos secos contemplado por Ezequiel, o pecador está morto para as coisas de Deus, até ser despertado pelo Espírito, que outorga a vida, no novo nascimento (compare João 3.1-7 com Ezequiel 37, onde “o Espírito” e “o vento” referem-se à mesma Pessoa divina e sua obra).
A prioridade no evangelismo “3-P”, do Movimento de Crescimento de Igrejas, demonstra que o evangelismo “2-P” não é capaz de realizar a obra. O evangelismo de proclamação apenas abre a porta para fazer a luz do evangelho entrar, de modo que o incrédulo possa ouvi-lo bem, mas fica aquém de se tornar um discípulo. O evangelista tem de utilizar os métodos, as abordagens e as técnicas corretas para realmente fazer um discípulo. Precisa apelar às necessidades sentidas do pecador, para que este se interesse pelo evangelho. Neste ponto, o Movimento apresenta um amplo conjunto de princípios e axiomas que, empregados corretamente, podem quase garantir os resultados.
O Movimento de Crescimento de Igrejas prosperou fundamentado nesse ponto de vista extremamente arminiano acerca do evangelismo. Seminários, conferências, palestras, livros, módulos com esse tipo de abordagem inundaram o cristianismo evangélico. Os crentes de todas as denominações estão utilizando os princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas para conquistar grandes números e estabelecerem igrejas enormes. A proclamação da Palavra de Deus não possui mais o lugar central nessas igrejas. O ensino da sã doutrina é considerado algo desnecessário e antiquado. Em seu lugar, métodos e grandes realizações se tornaram o atrativo para as pessoas freqüentarem as igrejas e decidirem tornar-se membros delas. Enquanto estas igrejas falam sobre a obra do Espírito Santo, negligenciam sua dependência da obra regeneradora proveniente dEle.
Revolução Teológica
Após concordar com a teologia bíblica dos fundadores de nossa denominação, comecei a duvidar dos princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas, os quais eu havia aprendido. Enquanto estudava e pregava expositivamente sobre Efésios, todo o meu conceito acerca daquele Movimento foi estilhaçado pela verdade da Palavra de Deus. Estudando, com intensa meditação, Efésios 1.1-14, durante um período de dois meses, tive de concordar com algumas doutrinas que, durante alguns anos, eu evitara cuidadosamente. Pensei muito sobre a soberania de Deus e a depravação do homem, crendo nessas verdades tanto quanto podia entendê-las. Porém, deixara de perceber que, se acreditava no ensino bíblico a respeito da soberania de Deus e da total depravação do homem, a conclusão lógica a que eu deveria chegar era o equilíbrio das “Doutrinas da Graça”, que Edwards, Whitefield, Spurgeon, Boyce e outros ensinaram. Qualquer coisa inferior a isso retrataria Deus como alguém não completamente soberano, e o homem, não totalmente depravado.
Por conseguinte, deparei-me com a pergunta: se a conversão é totalmente uma obra da graça divina, então quem sou eu para imaginar que minhas técnicas e métodos podem converter uma alma sequer? Compreendi que minha teologia precisava determinar minha atitude no ministério e vida diária ou seria um hipócrita em ambos. Comecei a abandonar a maioria dos ensinos que havia recebido em meus anos de estudo no Movimento de Crescimento de Igrejas (exceto os princípios de bom senso e aqueles apresentados claramente nas Escrituras). Procurei concentrar-me em ensinar a Palavra de Deus, com clareza, pureza e amor, abordando as doutrinas encontradas nos textos dos sermões de cada semana.
Essa radical mudança na teologia aconteceu no outono de 1990. Precisava participar de dois seminários para meu diploma de bacharel, mas alegremente eu os dispensei em troca da bênção de passar quinze meses estudando Efésios. A cada semana examinando o texto grego, lendo Martin Lloyd-Jones, John Mac- Arthur, Leon Morris, John Stott e outros forneceu-me um claro entendimento de toda a gloriosa mensagem de redenção. Voltei à minha tarefa de pregação com uma nova convicção de pregar “todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Sabia que nem todos receberiam com satisfação aquilo que eu estava pregando, mas tinha a responsabilidade de, paciente e transparentemente, anunciar a Palavra, deixando o Espírito fazer a obra necessária.
Esta mudança aconteceu com a aprovação de todos em nossa igreja? Absolutamente, não! Na verdade, descobri uma disposição em muitos que sentiam intenso desejo para que a verdade de Deus fosse proclamada sem apologia ou temor dos homens. Alguns adquiriram uma maravilhosa liberdade de andar na verdade de Deus. Outros lutaram contra a Palavra de Deus, perseverando com firmeza em crenças que haviam sido danificadas pela experiência e pelas tradições.
Descobri que afastar-me das práticas do Movimento de Crescimento de Igrejas, para realizar um ministério de acordo com o legado dos fundadores de nossa denominação, poderia não alcançar as massas (embora esteja orando e esperando para ver muitos virem a Cristo e serem trazidos à igreja). Em alguns casos, realmente enfrentamos oposição. Todavia, a grande motivação do meu coração e mente é que um dia terei de responder ao soberano Senhor pela maneira como realizei minha chamada. Minha observação é que muito freqüentemente os pastores conduzem seus ministérios de acordo com as expectativas de outros. A pressão exercida sobre os ministros, para que edifiquem igrejas enormes, conquistem grandes números de ouvintes e produzam uma multidão de convertidos constrange alguns a beberem tudo que procede das fontes do Movimento de Crescimento de Igrejas. Quando isso acontece, o ministro inevitavelmente compromete sua responsabilidade de pregar a Palavra e depender da obra do Espírito Santo. Ele corre de uma técnica para outra, agarrando cada nova idéia vinda dos proponentes do Movimento. Qual é a motivação do ministro do evangelho para fazer tudo o que ele faz? É realmente a glória de Deus e o amor pelo seu reino?
Alguns podem admirar-se de mim e perguntar: “Você acredita em crescimento de igreja?” Com certeza, eu acredito. Desejo muito ver o crescimento realizado pela obra do Espírito Santo e a proclamação fiel da Palavra de Deus. Porém, se a Palavra e o Espírito não podem realizá-lo, não o quero! De fato, um dia, eu creio, nosso Senhor se deleitará em agir sobre nossa congregação e comunidade com poder, e esse poder despertará os homens. Então, eles saberão que a salvação dos pecadores não vem por meio de nossas técnicas perspicazes, nem por implementarmos os princípios de crescimento de igreja, e sim pela soberana graça do todo-glorioso Deus.
Deus não pode enviar a uma nação ou a um povo maior bênção do que dar-lhes ministros fiéis, sinceros e retos, assim como o maior anátema que Deus possa dar ao povo deste mundo é dar-lhes guias cegos, não-regenerados, carnais, mornos e ineptos.
George Whitefield
O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e ordenanças. Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao menos, prevenir os homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela. Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice.







3  - Pragmatismo: Modernismo Reciclado?

Por John MacArthur

O pragmatismo é realmente uma séria ameaça?

Estou convencido de que o pragmatismo apresenta precisamente a mesma sutil ameaça para a igreja em nosso tempo que o modernismo representou há quase um século.
O Modernismo foi um movimento que abraçou a chamada alta crítica e a teologia liberal enquanto negava quase todos os aspectos sobrenaturais do Cristianismo. Mas o modernismo não se apresentou primeiramente como um ataque evidente à doutrina ortodoxa. Os modernistas mais antigos pareciam preocupados principalmente com a unidade interdenominacional. Eles estavam dispostos a subestimar a doutrina em prol daquela meta, porque eles acreditavam que a doutrina era inerentemente divisionista e que uma igreja fragmentada seria irrelevante nos tempos modernos. Para aumentar a relevância do Cristianismo, os modernistas procuraram sintetizar ensinos cristãos com os mais recentes insights da ciência, filosofia, e crítica literária.
"É freqüentemente esquecido que o alvo dos primeiros modernistas simplesmente era tornar a igreja mais "moderna", mais unificada, mais relevante, e mais aceitável para uma cética era moderna."
Modernistas viam a doutrina como um assunto secundário. Eles enfatizavam a fraternidade e a experiência e minimizavam as ênfases nas diferenças doutrinárias. Doutrina, eles acreditavam, deveria ser fluida e adaptável - certamente não alguma coisa pela qual valha e pena lutar. Em 1935 John Murray fez esta avaliação do modernista típico:
"O modernista muito freqüentemente orgulha-se na suposição de que ele se preocupa com a vida, com os princípios de conduta e com a colocação em prática dos princípios de Jesus em todas as áreas da vida: individual, social, eclesiástica, trabalhista e política. Seu slogan tem sido que o Cristianismo é vida, não doutrina, e ele pensa que a ortodoxia Cristão ou fundamentalista, como ele gosta de chamar, simplesmente está preocupada com a conservação e perpetuação de dogmas desgastados de convicção doutrinária, uma preocupação que faz da ortodoxia, na opinião dele, uma petrificação fria e inanimada do cristianismo. ["A Santidade da Lei Moral", Escritos Selecionados de John Murray 4 vols. (Edimburgo: Banner of Truth, 1976), 1:193.]
Quando os precursores do modernismo começaram a surgir no fim do século XIX, poucos cristãos ficaram preocupados. As controvérsias mais quentes naqueles dias eram reações relativamente pequenas contra homens como Charles Spurgeon - homens que estavam tentando advertir a igreja sobre a ameaça que pairava sobre ela. A maioria dos cristãos - particularmente líderes das igrejas - não estavam nem um pouco abertos para tais advertências. Afinal de contas, não era como se estranhos estivessem impondo ensinos novos na igreja; estas eram pessoas de dentro das denominações - e grandes estudiosos do assunto. Certamente eles não tinham nenhum plano para arruinar o núcleo da teologia ortodoxa ou atacar o próprio coração do cristianismo. Divisionismo e cisma pareciam perigos muito maiores que a apostasia.
Mas quaisquer que tenham sido os motivos dos modernistas no princípio, as idéias deles representaram uma ameaça séria à ortodoxia, como a história provou. O movimento gerou ensinos que dizimaram praticamente todas as principais denominações na primeira metade do século XX. Subestimando a importância da doutrina, o modernismo abriu a porta para o liberalismo teológico, o relativismo moral, e a acentuada incredulidade . A maioria dos evangélicos hoje tende a comparar a palavra "modernismo" com a negação completa da fé. É freqüentemente esquecido que o alvo dos primeiros modernistas simplesmente era tornar a igreja mais "moderna", mais unificada, mais relevante, e mais aceitável para uma cética era moderna.
"No entanto, se a história de igreja nos ensina alguma coisa, ela ensina que as agressões mais devastadoras contra a fé sempre começaram com erros sutis que surgem de dentro."
O alvo é o mesmo dos pragmatistas de hoje.
Como a igreja de cem anos atrás, nós moramos em um mundo de mudanças rápidas - grandes avanços na ciência, na tecnologia, na política mundial, e na educação. Como os irmãos daquela geração, os cristãos hoje estão abertos, até mesmo ansiosos, por mudanças na igreja. Como eles, nós ansiamos por unidade entre os crentes. E como eles, somos sensíveis à hostilidade de um mundo incrédulo.
Infelizmente, há pelo menos um outro paralelo entre a igreja de hoje e a igreja do fim do século dezenove: muitos cristãos parecem completamente inconscientes - se não pouco dispostos a enxergar -  que sérios perigos ameaçam a igreja, vindo de dentro. No entanto, se a história de igreja nos ensina alguma coisa, ela ensina que as agressões mais devastadoras contra a fé sempre começaram com erros sutis que surgem de dentro.
Vivendo em uma era instável, a igreja não pode se dar ao luxo de ficar vacilando. Ministramos a pessoas desesperadas por respostas, e  não podemos minimizar a importância da verdade ou atenuar o Evangelho. Se nos tornamos amigos do mundo, posicionamo-nos como inimigos de Deus. Se confiamos em dispositivos mundanos, automaticamente renunciamos ao poder do Espírito Santo.
Essas verdades são repetidamente afirmadas na Bíblia: "Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade com Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." (Tg 4:4). "Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." (1 Jo. 2:15).
"Não há rei que se salve com a grandeza de um exército; não há valente que se livre pela muita força. O cavalo é vão para a segurança; não livra a ninguém com a sua grande força." (Ps. 33:16, 17). "Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro, que se estribam em cavalos, e têm confiança em carros, porque são muitos, e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao Senhor." (Is 31:1). "Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." (Zc. 4:6).
O mundanismo ainda é um pecado?

Mundanismo é até mesmo raramente mencionado hoje, muito menos identificado pelo que realmente é. A própria palavra está começando a soar esquisita. Mundanismo é o pecado da pessoa permitir que seus apetites, ambições, ou conduta sejam moldados de acordo com valores terrestres. "Pois tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." (1 Jo. 2:16, 17).
Entretanto hoje nós vemos o extraordinário espetáculo dos programas de igreja projetados explicitamente para suprir o desejo carnal, apetites sensuais, e o orgulho humano; " a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida." Para alcançar esse apelo mundano, as atividades da igreja vão freqüentemente além do meramente frívolo. Durante vários anos um colega meu tem colecionado um "arquivo de horrores" com recortes que informam como igrejas estão empregando inovações para impedir que os cultos de adoração tornem-se tediosos. Na última meia década, algumas das maiores igrejas evangélicas dos Estados Unidos empregaram esquemas mundanos como comédias "pastelão", shows de variedades, exibições de luta livre, e até mesmo strip-tease simulado, para apimentar as suas reuniões de domingo. Nenhum tipo de grosseria, ao que parece, é ultrajante demais para ser trazido ao santuário. O entretenimento está rapidamente se tornando a liturgia da igreja pragmática.
"Pregar a Palavra e corajosamente confrontar o pecado são vistos como meios arcaicos, ineficazes de ganhar o mundo. Afinal de contas, essas coisas na verdade afugentam a maioria das pessoas."
Além disso, muitos na igreja acreditam que este é o único meio de alcançarmos o mundo. Se as multidões de sem-igreja não querem hinos tradicionais e pregação bíblica, dizem-nos, temos que lhes dar o que eles querem. Centenas de igrejas seguiram precisamente essa teoria, chegando ao ponto de promover pesquisas entre os incrédulos para aprender o que os levaria a comparecerem.
Sutilmente o alvo maior vem se tornando a freqüência à igreja e a aceitação por parte do mundo em vez de uma vida transformada. Pregar a Palavra e corajosamente confrontar o pecado são vistos como meios arcaicos, ineficazes de ganhar o mundo. Afinal de contas, essas coisas na verdade afugentam a maioria das pessoas. Por que não atraí-las ao aprisco oferecendo o que elas querem, criando um ambiente amigável, confortável, e suprindo exatamente aqueles desejos que são os mais prementes? Como se pudéssemos fazer com que eles aceitem Jesus tornando-O de alguma forma mais agradável ou fazendo a mensagem dEle menos ofensiva.
Esse tipo de pensamento provoca um grave desvio na missão da igreja. A Grande Comissão não é um manifesto de marketing. Evangelismo não requer vendedores, mas profetas. É a Palavra de Deus, não alguma sedução terrena, que planta a semente para o novo nascimento (1 Pe 1:23). Nós ganhamos nada mais que o desprazer de Deus se buscamos remover a ofensa da cruz (Gl 5:11).
Toda inovação é errada?

Por favor não entendam mal minha preocupação. Não é à inovação em si que eu me oponho. Eu reconheço que estilos de adoração estão
sempre em transformação. Também percebo que se o Puritano típico do décimo sétimo século entrasse na Grace Community Church (onde eu sou o pastor) ele poderia ficar chocado com nossa música, provavelmente espantado por ver homens e mulheres sentados juntos, e muito possivelmente perturbado por nós usarmos um sistema de alto-falantes para falar à igreja. O próprio Spurgeon não apreciaria nosso órgão. Mas eu não sou a favor de uma igreja estagnada. Não estou preso a nenhum estilo musical ou litúrgico em particular. Essas coisas por si só são assuntos que as Escrituras sequer abordam. Também não penso que minhas preferências pessoais em tais assuntos são necessariamente superiores às preferências de outros. Não tenho nenhum desejo de fabricar algumas regras arbitrárias que governam o que é aceitável ou não em cultos da igreja. Fazer assim seria a essência do legalismo.
"Eu creio que é anti-bíblico elevar o entretenimento acima da pregação e da adoração no culto da igreja. E eu me oponho àqueles que acreditam que técnicas de vendas podem trazer as pessoas ao reino mais efetivamente do que um Deus soberano."
Minha queixa é quanto a uma filosofia que relega a Palavra de Deus a um papel secundário na igreja. Eu creio que é anti-bíblico elevar o entretenimento acima da pregação e da adoração no culto da igreja. E eu me oponho àqueles que acreditam que técnicas de vendas podem trazer as pessoas ao reino mais efetivamente do que um Deus soberano. Essa filosofia abriu a porta para o mundanismo na igreja.
"Não me envergonho do evangelho", escreveu o apóstolo Paulo (Rom. 1:16). Infelizmente, "envergonhado do evangelho" parece cada vez mais uma hábil descrição de algumas das igrejas mais visíveis e influentes do nosso tempo.
Eu vejo impressionantes paralelos entre o que está acontecendo na igreja hoje e o que aconteceu cem anos atrás. Quanto mais eu leio sobre aquela época, mais a minha convicção é reforçada de que estamos vendo a história se repetir.







4 - Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão) – Parte 1

Tradução e adaptação de Citações do Tratado de John Owen sobre cisma feitas pelo Pr Silvio Dutra, com comentários e notas inseridos pelo tradutor.

(Não são poucos os casos presentes em que vários cristãos genuínos, nascidos de novo do Espírito, se encontrem em perplexidade e dor quanto à dificuldade que têm experimentado quanto a encontrarem uma igreja que se empenhe em preservar o culto de adoração a Deus conforme ele se encontra instituído nas Escrituras.
E à medida que avança no tempo a apostasia dos princípios bíblicos a tendência desse quadro é a de ser cada vez mais agravado.
Seria então importante, pelo menos, para alívio de nossas consciências, conhecer as condições em que não somos considerados culpados de divisão do corpo de Cristo, segundo Deus e a Bíblia, quando deixamos uma Igreja que não quer e  que não pode ser trazida àquela forma que foi instituída por Jesus e seus apóstolos.
Assim, tomamos algumas citações do tratado que John Owen escreveu sobre o assunto, no intuito de acharmos respostas adequadas para esta importante questão.
OBS.: 1 - A palavra cisma, usada no texto está restringida ao significado de divisão, separação, pela ação deliberada de cristãos que agem contra a unidade de uma igreja verdadeira e fiel. É uma transliteração da palavra usada no original grego, schisma, como em I Cor 11.18: “Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões  (schisma) entre vós quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio.”, e em I Cor 12.25:  “para que não haja divisão (schisma) no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.”
2 - Em razão de serem abundantes as citações que faremos dos textos de Owen, estamos dispensando o uso de aspas para marcá-las, e todas as notas do tradutor se encontram entre parêntesis. – nota do tradutor.)

O término das diferenças entre cristãos é como abrir os selos citados no livro de Apocalipse; não há ninguém capaz ou digno de fazê-lo no céu ou na terra, mas somente o Cordeiro; quando usará a grandeza do seu poder para isto, e então será realizado, e não antes.
Nesse meio tempo, buscar uma reconciliação entre todos os verdadeiros cristãos é nosso dever... Quando os homens estiverem trabalhado tanto no melhoramento do princípio da tolerância, tanto quanto têm feito para subjugar outros homens de opiniões diferentes das suas, a religião de Cristo terá um outro aspecto no mundo.

(Pode parecer um paradoxo afirmar que não se verá neste mundo o término das diferenças entre os cristãos, mas que é nosso dever buscar a união entre todos os cristãos. Todavia não se trata de um paradoxo, porque aqui se expõe o mesmo princípio do dever da perfeição que nos é imposto por Cristo, e que nunca alcançaremos de modo absoluto neste mundo. O Espírito Santo que habita nos cristãos é quem os leva a buscarem esta perfeição em santificação, e é também quem faz com que amem a todos os demais que também nasceram de novo pelo mesmo Espírito.
Portanto, nosso Senhor orou pela unidade de todos os cristãos como vemos no 17º capítulo de João, e o apóstolo Paulo enfoca repetidamente que somos muitos membros de um só corpo, e que é o amor de Deus em nossos corações o vínculo, o cimento, que nos mantém unidos em espírito.
Nosso Senhor afirma ser o Pastor de um só rebanho, e que ele deve ser e será um único rebanho, e daí decorre o nosso dever de estarmos abertos para a unidade com todos aqueles que se encontram debaixo do senhorio de Cristo, não apenas em palavra, mas de fato e em verdade, por não viver na prática do pecado e por buscar preservar a comunhão na fé, no Espírito e na doutrina.
Unidade pressupõe concordância, de modo que onde não houver acordo na doutrina, ou falta de submissão à influência, direção e instrução do Espírito Santo, e a fé que é sobretudo confiança absoluta em Cristo e nas suas promessas e advertências, como poderá ser promovida a unidade pela qual ele orou? – nota do tradutor).

A natureza do cisma deve ser determinada apenas a partir das Escrituras.
O cisma é um transtorno na adoração de Deus instituída nas Escrituras. A sua descoberta e descrição é feita a partir das Escrituras, e é somente nelas que o cisma deve ser estimado, porque há outras coisas que são da mesma natureza e assim chamadas, mas que não são cisma se não têm nas Escrituras nem o nome e nem a sua natureza atribuídos por elas.

(Nota: nenhuma instituição religiosa da cristandade pode atribuir a si a primazia de unidade pelo critério da tradição ou antiguidade da sua organização, e nem considerar todas as demais instituições ou congregações cristãs que não estejam a elas associadas, como sendo cismáticas. Divisões (cisma) reais contra a unidade do corpo de Cristo estão exemplificadas na Bíblia, no comportamento de alguns membros da Igreja de Corinto, e ali se dá testemunho sobre qual era o caráter da referida divisão – nota do tradutor).

As diferentes opiniões sobre os assuntos da Igreja, levaram os cristãos coríntios à confusão das disputas e formação de partidos, e Paulo lhes disse que não convinha que fosse assim, a saber, que houvesse divisões entre eles, que consistiam em tais diferenças, “mas que estivessem unidos na mesma mente e que tivessem o mesmo parecer”. Eles não deveriam apenas estar unidos na mesma ordem e companheirismo na mesma igreja, mas também deveriam ter unidade de mente e de julgamento; porque se não procedessem desse modo, embora continuassem juntos em sua igreja, ainda haveria cismas entre eles.
Este era o estado daquela igreja, este era o quadro e procedimento de seus membros, esta era a falta e o mal a respeito dos quais o apóstolo os acusou de cisma, e da culpa em razão da mesma.
Os motivos, pelos quais ele os reprovou são fundamentados, no interesse comum em Cristo, I Cor 1.13; na nulidade  dos instrumentos (pessoas) usados por Deus na propagação do evangelho que ele pregou, I Cor 1.14; 3.4,5; na ordem na Igreja instituída por Deus, I Cor 12.13.
Assim sendo, como eu disse, a base principal de tudo que é ensinado na Escritura sobre cisma, temos aqui, ou quase tudo para aprender o que ela é, e em que ele  consiste. Quanto às definições arbitrárias dos homens, com suas invenções e inferências sobre isto, não estamos preocupados.

Para mim não há outra reforma de qualquer igreja, nem qualquer coisa numa igreja, que não seja restituí-la à sua primitiva instituição e à ordem a ela determinada por Jesus Cristo. Se alguém pleitear qualquer outra reforma das Igrejas, deverá ser censurado. E quando qualquer sociedade ou agremiação de homens não for capaz de fazer tal restituição e renovação, suponho que não provocarei nenhuma pessoa sábia e sóbria, se declarar que não posso considerar essa sociedade como uma igreja de Cristo. Uma igreja que não consegue reformar-se daquela maneira, não é uma igreja de Cristo, e por isso aconselho aqueles que nela estão e que têm direito aos privilégios obtidos por Cristo para eles, quanto às ministrações do evangelho, a tomarem alguma outra medida pacífica para se tornarem participantes desses privilégios.
Alguns estão dispostos a pensar que todos os que não se juntam a eles são cismáticos, e que o são porque não os acompanham; e outra razão não têm, sendo incapazes de oferecer algum sólido fundamento daquilo que eles professam. Não é fácil expressar o que a causa da unidade do povo de Deus sofreu às mãos destes tipos de homens.
Enquanto eu tiver uma consoladora convicção firmada numa base infalível, de que estou unido à cabeça e de que, pela fé, sou um membro do corpo místico de Cristo, enquanto eu fizer profissão de todas as necessárias verdades salvadoras do evangelho; enquanto eu não perturbar a paz da igreja particular da qual, com meu consentimento pessoal, sou membro, nem levantar diferenças sem causa, nem nelas permanecer, com aqueles ou com alguns daqueles com quem ando na comunhão e ordem do evangelho, enquanto eu me esforçar para exercer a fé para com o Senhor Jesus Cristo e o amor para com todos os santos – eu manterei a unidade que é da determinação de Cristo. E, com base em princípios totalmente alheios ao evangelho, digam os homens o que quiserem ou puderem em contrário, não sou cismático.
 Eu trato, como disse, com os que são reformados; e agora suponho que a igreja, da qual se supõe que um homem é membro, não queira ser reformada – neste caso pergunto se se trata de cisma certo número de homens reformar-se, voltando à prática do serviço divino na forma como fora instituída, embora seja uma parte mínima dos pertencentes à jurisdição paroquial, ou se juntarem alguns deles a outros com esse fim e propósito, deixando de viver sob aquela jurisdição? Direi ousadamente que esse cisma é ordenado pelo Espírito Santo – I Tim 6.5; II Tim 3.5; Os 4.15 etc. Terá sido lançado por Cristo sobre mim este jugo, que, para ir ao lado da multidão entre a qual eu vivo, que odeia ser reformada, devo abandonar o meu dever e desprezar os privilégios que Ele adquiriu para mim com o Seu precioso sangue? Será esta uma unidade da instituição de Cristo, que eu deva associar-me para sempre com homens ímpios e profanos no serviço de Deus, para o indescritível detrimento e desvantagem da minha alma? Suponho que não haja nada que seja mais irrazoável do que imaginar de antemão tal coisa.
(Owen afirma que o caráter da unidade da Igreja é espiritual e daí a ordem apostólica para se manter a unidade da fé pelo vínculo da paz. O conhecimento disto é de suma importância para que saibamos distinguir desvio da verdade de prática diferenciada de ordem de culto, normas ou disciplina nas igrejas que não devem ser motivo para que alguém se separe delas. Mas, como são extra-bíblicas ninguém pode afirmar também que a unidade da igreja deve consistir na prática destas coisas referidas, como é comum ocorrer. Por exemplo, nenhum pastor pode pretextar que haja falta de unidade na igreja que dirige porque os cristãos não comparecem às festividades que é hábito da congregação comemorar, ou que seja um ato autoritativo da parte dele. E isto se aplica às formas de adoração pública e a todos os demais serviços prescritos, inventados ou ordenados pelo homem e não constantes das Escrituras. – nota do tradutor)



5 - Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão) – Parte 2

Tradução e adaptação de Citações do Tratado de John Owen sobre cisma feitas pelo Pr Silvio Dutra, com comentários e notas inseridos pelo tradutor.

Negamos que os apóstolos tenham feito ou dado quaisquer regras para as igrejas dos seus dias, ou para uso das igrejas das eras futuras, a fim de indicarem e determinarem modos externos de culto, com a observância das cerimônias, das festas e jejuns estabelecidos, além do que é de divina instituição, liturgias ou formas de oração, ou disciplina a serem exercidas nos tribunais subservientes a um governo eclesiástico nacional. Então, de que utilidade elas são ou podem ser, que benefício ou vantagem pode advir à Igreja por meio delas, qual a autoridade dos magistrados superiores com respeito a elas, não podemos pesquisar ou determinar agora. Só dizemos que nenhuma regra para estes fins jamais foi prescrita pelos apóstolos, pois:
1. Não há a mínima insinuação de que alguma regra desse tipo foi dada por eles nas Escrituras.
2. As primeiras igrejas depois do tempo deles, nada sabiam de qualquer regra dessas dadas por eles; e, portanto, depois que elas começaram a afastar-se da simplicidade em coisas como o culto, a ordem e as normas ou a disciplina, elas se entregaram a uma grande variedade de observâncias externas, ordens e cerimônias, quase todas as igrejas diferindo numa ou noutra coisa umas das outras, nalgumas dessas observâncias, não obstante todas “mantendo a unidade da fé pelo vínculo da paz”. Elas não teriam feito isso, se os apóstolos tivessem prescrito certa regra à qual todas deveriam adaptar-se, especialmente considerando quão escrupulosamente elas aderiam a tudo quanto era relatado como tendo sido feito ou dito por qualquer dos apóstolos, fosse o relato falso ou verdadeiro.
 Primeiro, a unidade que nos é recomendada no evangelho é espiritual.
Segundo, para este fundamento da unidade do evangelho entre os cristãos, pelo seu melhoramento e para este, requer–se uma unidade de fé.
Terceiro, há uma unidade de amor.
Quarto, Cristo Senhor, por Sua autoridade como Rei, instituiu ordens para o governo, e ordenanças para o culto (Mat 28.19,20. Ef 4.8-13) para serem observadas em todas as Suas Igrejas.
Essa é a natureza da união. Em seguida surge a questão: como se deve preservar essa união? Aqui ele tem algumas coisas excelentes para dizer.
Ora, para que esta união seja preservada, requer-se que todas aquelas grandes e necessárias verdades do evangelho, sem cujo conhecimento ninguém pode ser salvo por Jesus Cristo, sejam cridas e igualmente sejam externas e visivelmente professadas, naquela variedade de modos pelos quais eles são ou podem ser chamados para isso”  - Aqui Owen está contemplando principalmente as doutrinas da graça (eleição, justificação pela graça mediante a fé, regeneração etc) muito mais do que os mandamentos da lei de Moisés, porque uma Igreja deve primar pela graça e verdade reveladas em Cristo mais do que pela Lei que foi dada através de Moisés.
 Não haverá união, se não houver acordo sobre as verdades do evangelho. É uma união espiritual, porém é também uma união de fé. Se houver desacordo acerca da fé, não haverá união entre o evangélico e o homem que nega os pontos essenciais da fé evangélica. É impossível.
Por exemplo, um pastor pelagiano que afirme a salvação pelas obras, como pode ter a direção sobre um rebanho que afirme a verdade de que a salvação é pela graça somente mediante a fé, sem as obras? Como pode haver reconciliação neste caso? A separação já está determinada pela própria negação da verdade bíblica.
Não somente é preciso que não haja desacordo aberto, explícito; também é preciso que não haja nenhum desacordo implícito.
Que nada seja opinião, erro ou falsa doutrina, que perverta ou desfaça qualquer das verdades necessárias e salvadoras professadas nos termos acima referidos, seja acrescentado a essa profissão, ou nela incluído, ou deliberadamente professado também.
Não há, em relação à igreja de Corinto, nenhuma menção de qualquer homem em particular, ou qualquer número de homens que se separaram das reuniões de adoração de suas respectivas igrejas, nem discorre o apóstolo sobre qualquer coisa a seu cargo, mas claramente declara que todos os coríntios continuaram na participação da adoração e obrando juntos os serviços da Igreja, sem causar diferenças entre si, como vou mostrar depois. Todas as divisões de uma igreja em relação a outra, ou de outras, em relação a uma qualquer, ou pessoas de qualquer igreja ou igrejas, são coisas de outra natureza, podem ser boas ou más dependendo das circunstâncias, e nem tudo o que há no relato das  Escrituras sobre isto não pode ser chamado pelo nome de cisma, e por isso elas não se referem a estas divisões pelo citado nome, como por exemplo as muitas seitas do antigo judaísmo, que eram apóstatas, mas não cismáticos, e nisto podem ser incluídos os próprios samaritanos que adoravam o que eles não conheciam, João 4.22.

(De igrejas em relação a igrejas podemos citar o exemplo da igreja da circuncisão e a da incircuncisão, entregues respectivamente ao cuidado dos apóstolos em Jerusalém, e a Paulo para a igreja dos gentios, e no entanto não se fala e não deve ser falado que a igreja dos gentios era cismática em relação à que havia em Jerusalém. – nota do tradutor).

Para que haja o pecado de cisma, quanto a todos os que estiverem debaixo desta culpa, é necessário:
1. Que sejam membros, ou pertençam a alguma igreja, que é assim instituída e nomeada por Jesus Cristo.
2. Que levantem, entretenham e persistam em diferenças sem causa com outros daquela igreja, para interromper o exercício do amor que deve existir entre eles, em todos os seus frutos, e a perturbação do  devido exercício das funções necessárias da igreja, na adoração de Deus.
3. Que essas diferenças sejam ocasionadas por coisas que sejam contrárias à adoração de Deus.
O cisma não é contado como algo contra as pessoas dos demais cristãos ou mesmo dos oficiais da Igreja, mas sempre é um desprezo da autoridade de Jesus Cristo, o grande soberano Senhor e cabeça da Igreja. Quantas vezes ele nos mandou suportarmos uns aos outros, e para nos perdoarmos mutuamente, para que tendo paz entre nós, possamos ser conhecidos como seus discípulos.

(Não podem ser considerados como cismas as eventuais discórdias entre cristãos, porque estas podem e devem ser tratadas pelo exercício da longanimidade e do perdão, conforme somos ordenados pelo Senhor em sua Palavra – nota do tradutor).

A sabedoria pela qual nosso Senhor tem ordenado todas as coisas em sua igreja, com o propósito definido, de prevenir cisma - divisão, não deve ser desprezada. Cristo, que é a sabedoria do Pai, 1 Coríntios 1.24, a pedra sobre a qual estão sete olhos, Zac 3.9, sobre cujos ombros está posto o governo, Isa.9.6,7, tem em sua infinita sabedoria assim ordenado que todas as funções, ordens, dons, e administrações de, e em sua igreja, de tal maneira que o mal não possa ter qualquer lugar. Manifestar isto, é o desígnio do Espírito Santo, Rom 12.3-9; 1 Coríntios 12; Ef 4.8-14. A consideração em particular desta sabedoria de Cristo, adequando os oficiais de sua igreja, em relação aos lugares que ocupam, da autoridade com que são investidos por ele, a forma em que eles são inseridos em sua função, distribuindo os dons de seu Espírito em variedade maravilhosa, em vários tipos de utilidade, e em tal distância e dessemelhança dos membros particulares, conforme a devida e correspondente proporção dando formosura e beleza ao todo, dispondo a ordem de sua adoração, e as ordenanças diversas em especial, para serem expressivas do maior amor e união, direcionando  todos eles contra essas divisões sem causa, e para que possam ser usados com este propósito.
A graça e a bondade de Cristo, pelas quais ele tem prometido nos dar um só coração e um só caminho, para nos dar a paz, que o mundo não pode dar, com inúmeras outras promessas de semelhante  importância, são desconsiderados portanto, quando há cisma.
Até que ponto o exercício do amor é obstruído por isso, que tem sido declarado. A consideração da natureza, excelência, propriedade, efeitos e a utilidade desta graça do amor em todos os santos em todas as suas formas, a sua designação especial por nosso Senhor e Mestre, para ser o elo de união e perfeição, na forma e ordem instituídas para a celebração graciosa das ordenanças do evangelho, irá adicionar peso a esta agravação, a saber, ao cisma.
O seu constante crescimento (do cisma) para um mal ainda maior, e, em alguns a apostasia de si mesmos, implica seu término normal em contendas, debates, más suspeitas, iras, confusão, distúrbios públicos e privados, também são estabelecidos à sua porta.

(Temos visto até aqui que o cisma é algo que é inerente ao comportamento humano, e como não há em qualquer igreja, o poder implícito para ter domínio sobre a fé dos fiéis, e moldá-los àquela perfeição espiritual que agrada a Deus, e como não há também a necessidade de que as pessoas devam renunciar aos seus respectivos interesses civis para serem membros de uma igreja, então, não se pode determinar pela análise do conjunto de membros se uma igreja é cismática ou não, até mesmo porque sempre haverá o joio em qualquer congregação local. Se aqueles que estão encarregados em dirigir os assuntos da igreja, e os demais membros que se mantêm fiéis à Palavra, mantêm o padrão bíblico das sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e dos seus apóstolos, inclusive pelo testemunho de prática de suas próprias vidas, suas igrejas não podem ser chamadas de cismáticas, e muito menos de apóstatas, caso haja nela membros ou pessoas na citada condição, as quais a propósito devem ser submetidas à disciplina prescrita por Cristo, tão logo chegue ao conhecimento público o procedimento de tais pessoas insubordinadas à regra de Cristo.

Os protestantes são acusados pela igreja Romana de cismáticos; os puritanos independentes e não conformistas eram acusados pela Igreja Nacional da Inglaterra – Anglicana, também de cismáticos, e o argumento sempre foi e será este de não estarem simplesmente compondo os seus quadros. E o mesmo critério é usado por denominações cristãs quando há a migração de crentes ou mesmo congregações para outras denominações ou para a forma independente de reunião, conforme era a da maioria dos puritanos dos séculos XVI a XVIII  – nota do tradutor).



6 - Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão) – Parte 3

Tradução e adaptação de Citações do Tratado de John Owen sobre cisma feitas pelo Pr Silvio Dutra, com comentários e notas inseridos pelo tradutor.

“Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” (Hebreus 10.25)

A separação e o abandono da comunhão daquela igreja, ou daquelas igrejas, pela parte de homens que tinham se reunido para a adoração de Deus, é a culpa aqui colocada sobre alguns pelo apóstolo. Aos que assim se apartaram é declarado no verso 26: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados;”.
Tendo retirado os seus pescoços de debaixo do jugo de Cristo, verso 28, e "recuando para a perdição", verso 39, isto é, eles partiram para o judaísmo. Eu muito me pergunto, se alguém pensaria em chamar essas pessoas de cismáticas, ou se nós assim as julgamos, ou assim falamos em relação a qualquer pessoa, que nestes dias, tenha abandonado nossas igrejas, e que voltaram para o mundo - tais partidas tornam os homens apóstatas e não cismáticos. Deste tipo são mencionados muitos nas Escrituras. Também não são nem um pouco contados como cismáticos, não porque o crime menor é engolido e afogado no maior, mas porque o seu pecado é totalmente de outra natureza.
De alguns, que abandonaram a comunhão da igreja, pelo menos por um tempo, por seu caminhar desordenado e irregular, temos também mencionado. O apóstolo chama, de “rebelde”, ou pessoas “desordenadas”, ou seja, que não seguem em obediência à ordem  prescrita por Cristo para suas igrejas, como vemos em 2 Tes 3.6:
“Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes;”.
Dessas pessoas desordenadas temos muitas em nossos dias, em que vivemos, cujo comportamento não classificamos por cisma, mas vaidade, insensatez, desobediência aos preceitos de Cristo em geral.
Os homens também se separam das igrejas de Cristo por conta de sensualidade, quando livremente cedem aos seus desejos e vivem em todos os tipos de prazer carnal por todos os seus dias; Judas 19. “Estes são os que produzem divisões, homens sensuais, que não têm o Espírito." Quem são estes? Aqueles que transformam a graça de Deus em lascívia e que negam o Senhor Deus e nosso Salvador Jesus Cristo.", verso 4. "Que contaminam a sua carne, à maneira de Sodoma e Gomorra - versos 7 e 8. "Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas coisas se corrompem.”, verso 10; estes são os que causam divisões, diz o apóstolo.
Agora, que os homens que praticam estas abominações e outras citadas por Judas em sua epístola, são cismáticos, não é difícil de se julgar.
Mas nenhum desses casos abrangem o caso indagado, de modo que eu digo, que quando uma pessoa se retira da comunhão externa e visível de qualquer igreja ou igrejas, seja ela verdadeira ou não, nas quais o culto, doutrina e disciplina, instituídos por Cristo estão corrompidos entre eles, corrupção com a qual tal pessoa não se atreve a se contaminar, ele não está em cisma, e nem a Escritura assim o define.
O que pode regularmente, por outro lado, ser deduzido das ordens dadas para nos afastarmos daqueles que têm apenas uma forma de piedade, 2 Tim 3.5; também daqueles que andam desordenadamente, 2 Tes 3.6; e ainda de não termos comunhão com homens de princípios corruptos, e vidas perversas, Apo 2.14; a sairmos de uma igreja apóstata, Apo 18.4, para que possamos adorar a Cristo de acordo com a sua mente e designação, que é a força desses mandamentos citados.
Só há cisma, quando a separação quebra o vínculo de união instituído por Cristo.
Agora esta união sendo instituída na igreja, de acordo com as várias acepções desta palavra, é distinta. Portanto, para uma descoberta da natureza disso que é particularmente falado, e também o seu contrário,
devo mostrar,
1. As várias considerações da igreja, onde, e com o que, a união deve ser preservada.
2. O que a união é, e no que consiste de acordo com a mente de Cristo que devemos guardar e observar junto com a igreja.
3. E como esta união é quebrada, e qual é o pecado através do qual isto é feito.
A Igreja de Cristo vive neste mundo de três maneiras.
1. Pelo corpo místico de Cristo, seus escolhidos, redimidos, justificados, santificados e de todo o mundo, comumente chamados de igreja católica militante.
2. Pela universalidade dos homens no mundo inteiro, chamados pela pregação da palavra, visivelmente professando e rendendo obediência ao evangelho; chamados por alguns de igreja católica visível.
3. Por uma igreja particular de algum lugar, onde o culto instituído por Deus em Cristo é celebrado de acordo com a Sua vontade.
Etimologicamente, a palavra igreja, é vertida do grego ekklesia, que significa uma sociedade de homens chamados para fora do mundo; Rom 8.28. A Igreja deve ser distinguida de acordo com a sua resposta e obediência a essa chamada de Deus.
No primeiro sentido, a palavra é usada em Mat 16.28. "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." Esta é a igreja dos eleitos, reconciliados, justificados, santificados, que são edificados em Cristo; e estes somente, e todos estes estão interessados na promessa feita à igreja, não há promessa feita à igreja como tal, em qualquer sentido, mas é  particularmente feita nEle, a todo aquele que é verdadeira e propriamente uma parte e membro desta igreja, João 6.40; 10.28,29; 17.20,24. Aqueles que vão aplicar isso à igreja em qualquer outro sentido, devem saber que cabe a eles cumprir a promessa feita a ela a cada um que for um verdadeiro membro da igreja. Neste senso devem cumprir Ef 5.25-27: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.”
Ele fala apenas daqueles a quem Cristo amou antecedentemente à sua morte por eles, da qual o seu amor por eles foi a causa, e quem são eles é declarado em João 10.15; 17.17. E para quem, por sua morte, ele operou os efeitos mencionados, lavando, limpando, e santificando, trazendo-os para a condição prometida em Apo 19.8; 21.2; Col 1.18.
Cristo é a cabeça do corpo da igreja,  e não é cabeça apenas para governo, para dar-lhe regras e leis , mas como se fosse uma cabeça natural do corpo, que é influenciado por ela, com uma nova vida espiritual.

(Cristo, sendo a cabeça da Igreja, jamais transferiria a autoridade da sua cabeça, para Pedro, Paulo ou para qualquer outro que viesse depois deles, e nem mesmo à Igreja como um todo, porque é fato patente que a cabeça (cérebro) não pode transferir os seus comandos para qualquer outro membro do corpo. E sendo a Igreja o corpo de Cristo, ela deve permanecer para sempre nesta condição, até mesmo na eternidade. – nota do tradutor)

Agora eu passarei à ultima consideração de uma igreja, à acepção mais comum desse nome no Novo Testamento, isto é, de uma determinada igreja instituída. Uma igreja, neste sentido, eu considero ser uma sociedade de homens, chamados pela palavra à obediência da fé em Cristo, e à atuação conjunta do culto de Deus, nas mesmas ordenanças individuais, de acordo com a ordem prescrita de Cristo.
Esta descrição geral exibe sua natureza. Esta era como a da igreja em Jerusalém, que foi perseguida, Atos 8.1. Esta foi a igreja que Saulo assolava, verso 3, a igreja que foi atormentada por Herodes, Atos 12.1 . Assim era a igreja em Antioquia, que se "reunia em um só lugar ", Atos 12.14, onde havia diversos profetas, Atos 13.1. Como a de Jerusalém tinha os anciãos e os irmãos, Atos 15.22. Os apóstolos ou alguns dos seus enviados, estiveram lá presentes. Então, não necessitamos adicionar qualquer outra consideração à igreja da qual estamos falando.
Temos também a igreja de Cesareia, Atos 18.22; Éfeso, Atos 20.14,28; Corinto, 1 Coríntios 1.2; 6.4,11,12; 14.4,5; 2 Coríntios 1.1 e todas as demais que Paulo chama de as igrejas do Gentios, Rom 16.4, em contraste com as dos Judeus, e as chama indistintamente de as igrejas de Deus ou de Cristo, Rom 16.16; 1 Coríntios 7.17; 2 Coríntios 8.18,19,23; 2 Tessalonicenses 1.4, e em diversos outros lugares. Assim, lemos também de muitas igrejas em um país, como na Judeia, Atos 9.1; na Ásia, 1 Coríntios 16.19; na Macedônia, 2 Coríntios 8.1; na Galácia, Gál 1. 2; as sete igrejas da Ásia, Apo 1.11.
Suponho que nesta descrição de uma igreja particular eu tenho não somente o consentimento delas para fazê-lo quanto a todos os tipos de igrejas, como também o seu reconhecimento de que estes eram os únicos tipos de igrejas dos primeiros dias do Cristianismo.
O número de crentes, mesmo em grandes cidades era tão pequeno, que podiam se reunir num mesmo lugar, e estes eram chamados de a igreja da cidade, e o modelo era congregacional e não diocesano.
E é este o estado que uma determinada igreja particular instituída deve pleitear. No decorrer do tempo, com os crentes se multiplicando, aqueles que tinham sido de uma só congregação se reuniram em várias assembleias, por uma distribuição decidida entre eles, para celebrar as mesmas ordenanças, e não houve uma disputa dos anciãos da igreja de onde eram originários, com aqueles aos quais estavam ligados agora numa nova região.
De acordo com o curso do procedimento até agora apresentado, dizemos que a unidade da Igreja neste sentido, não foi rompida ou violada, conforme podemos ver depois de eu ter apresentado como premissa algumas poucas coisas para comprová-lo:
1. Um homem pode ser membro da Igreja Católica de Cristo, estar unido a ela pela habitação do seu Espírito, e participar da vida dele, que em razão de algum obstáculo Providencial, nunca se una a qualquer congregação particular, para a participar das ordenanças, por todos os seus dias.
2. De igual forma, ele pode ser membro da igreja considerada como professante visivelmente, vendo que ele possa fazer tudo que é requerido dele, sem qualquer conjunção a uma determinada igreja visível, mas ainda,
3. Eu entendo, que todo crente está obrigado, como sendo uma parte de seu dever, se unir a alguma daquelas Igrejas de Cristo, para que nela ele possa cumprir a doutrina, e ter comunhão no "partir do pão e nas orações", de acordo com a ordem do evangelho, se ele tem a oportunidade para fazer isto. Pois,
1. Há alguns deveres que nos são impostos, e que não podem ser realizados, senão pela suposição desse dever anteriormente requerido, e ao qual estamos sujeitos, Mat 18.15-17.
2. Há algumas ordenanças de Cristo, designadas para o bem e o benefício daqueles que creem, das quais nunca podem ser feitos participantes se não estiverem unidos a alguma igreja, como por exemplo o exercício da disciplina, e a participação da Ceia do Senhor.
3. O cuidado que Jesus Cristo tem tomado para que todas as coisas sejam bem ordenadas nestas igrejas, dando a condição de cumprimento de qualquer dever de adoração apenas e puramente por sua instituição e operação soberana, mas somente neles e por eles, Apo 2.7.11,29; 3.6,7,12; 1 Coríntios 11.
4 . A reunião e fundação de tais igrejas pelos apóstolos, com o cuidado que tiveram em trazê-las à perfeição, Atos 14.23; Tito 1.5.
5. Instituição de Cristo de oficiais para elas, Ef 4.11; 1 Coríntios 11.28, chamando tal igreja de seu corpo, e atribuindo a cada um o seu dever em tais sociedades.
6. O julgamento e condenação deles pelo Espírito Santo, como pessoas  desordenadas, que devem ser evitadas, porque não andam de acordo com as regras e ordem nomeadas nestas igrejas.
Que há um culto instituído por Deus para ser continuado sob o Novo Testamento até a segunda vinda de Cristo, acho que não precisa de muita prova.
Deus tem determinado o modo de ser cultuado, e não vai permitir que a vontade e prudência do homem seja a medida e regra de sua honra e glória.
Cristo tem prometido, que onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome, ele vai estar no meio deles, Mat 18.20. Agora é suposto, com alguma esperança de ter ele concedido, que a Escritura é o poder de Deus para a salvação, Rom 1.16, que haja uma eficácia e energia suficientes em si mesma, para a conversão das almas.
Apesar de todo o seu estado a igreja não cessará em qualquer lugar, e ainda a Escritura, pela providência de Deus, estará lá na mão de indivíduos preservados, ainda que sejam dois ou três, convertidos e regenerados.
Eu pergunto se essas pessoas convertidas não podem possivelmente se reunir em nome de Jesus?
Zac 3.10: “Naquele dia, diz o SENHOR dos Exércitos, cada um de vós convidará ao seu próximo para debaixo da vide e para debaixo da figueira.” Esta promessa está atrelada ao dia da manifestação do evangelho no mundo. Não seria de se supor que haveria tanto espaço para muitos se reunirem debaixo da figueira. Não é certo?
 Em circunstâncias extremas, excepcionais onde não seja possível preservar a Igreja senão por se reunir em tão pequeno grupo, está aqui declarado por Cristo, que ainda assim terá a sua igreja na forma referida.
Algumas coisas existem, sobre o que tem sido falado, que eu suponho, em tese,  como concedidas, até que eu veja prova em contrário do que tenho falado.
Destas, a primeira é:
1. A partida ou divisão de qualquer pessoa ou grupo de pessoas, de qualquer igreja particular, não é chamada de cisma, nem é isto a  natureza mesma da coisa (como o significado geral da palavra é insinuado pelo seu uso na Escritura), mas é algo para ser julgado, e receber uma definição de acordo com as suas causas e circunstâncias.
2. Uma igreja se recusa a realizar a comunhão com outra que exista entre elas, não é cisma, como propriamente chamado.
3. A partida de qualquer homem ou homens da sociedade ou comunhão de uma igreja qualquer, quando isto é feito com contenda, e julgamento e condenação de outros , porque de acordo com a luz de suas  consciências eles não podem comungar em todas as coisas como eles adoram a Deus, de acordo com a sua mente, não pode ser considerado mal, mas devem ser avaliadas as  circunstâncias e as pessoas que o fizeram.
A estes eu acrescento que, se qualquer um pode mostrar e evidenciar que já havia partido e deixado a comunhão, de qualquer igreja particular de Cristo, com a qual devemos caminhar em conformidade com a ordem acima mencionada, ou que tenha perturbado e quebrado a ordem e a união instituída por Cristo, na qual estamos incluídos, colocamo-nos à mercê de nossos juízes.
1. Nenhum homem pode ser membro de uma igreja nacional neste senso, mas em virtude de ele ser membro de alguma Igreja particular do país, o que concorre para a formação da igreja nacional.
2. Nenhum homem pode se separar desta suposta e imaginada igreja nacional ou mundial, mas se afastar de alguma igreja em particular.
3. Para fazer com que os homens sejam membros de qualquer igreja particular é necessário o seu próprio consentimento. Todos os homens devem escolher livremente qual será o lugar da sua habitação.

4. É impossível que alguém seja considerado culpado de uma ofensa contra aquilo que não existe. Como por exemplo se separar da Igreja Nacional Presbiteriana.



7 - Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão) – Parte 4

Tradução e adaptação de Citações do Tratado de John Owen sobre cisma feitas pelo Pr Silvio Dutra, com comentários e notas inseridos pelo tradutor.

(A Igreja sempre necessitou de reforma, porque isto significa a necessidade de sempre se zelar para trazê-la e mantê-la na sua pureza original primitiva, quando instituída por Cristo e seus apóstolos. Nota do tradutor).

Mas agora suponha que esta congregação da qual alguém é supostamente um membro, que não é reformada, não vai nem pode reformar-se, porque não se importam com este princípio da reforma , pois eles não reconhecem nenhuma necessidade disto. O foco deles está voltado para outros interesses. Qualquer separação havida nestas congregações não pode ser condenada.
Neste caso, eu pergunto, se é cisma ou não, para qualquer número de homens reformarem a si mesmos, por buscarem a prática de adoração na sua instituição de origem, ou por qualquer um deles se unir com outras pessoas para esse efeito e propósito? Corajosamente dizemos: Este cisma é ordenado pelo Espírito Santo, 1 Tim 6.5; 2 Tim 3.5; Os 4.15.
Nesse meio tempo, acho que o povo de Deus não está em qualquer sujeição. Não falo isso como o colocando como um princípio, que é o dever de todo homem se separar da igreja, onde homens maus e perversos são tolerados, mas digo isso somente me referindo à condição onde qualquer igreja seja dominada por uma multidão de homens ímpios e profanos, que não podem ser reformados, ou que não caminham de acordo com a mente de Cristo, o crente tem a liberdade, que ele pode abandonar a comunhão daquela congregação sem a menor culpa de cisma. (Conforme está autorizado por várias ordenanças das Escrituras. - Nota do tradutor).
Costuma-se objetar sobre a igreja de Corinto, que havia nela muitas desordens e enormes erros, divisões, e brechas no amor; bebedeiras em  suas reuniões; pecados graves de pessoas incestuosas tolerados; falsas doutrina abraçadas; a ressurreição negada; e ainda Paulo não aconselha ninguém a se separar da igreja, mas que todos cumprissem o seu dever nela. (Com exceção do jovem incestuoso que não havia se arrependido por ocasião da escrita de I Coríntios, que ficou sujeito à excomunhão, mas ao que parece se arrependeu depois e foi reconciliado, conforme se vê em II Coríntios. - Nota do tradutor).
1. A igreja de Corinto era, sem dúvida, uma verdadeira igreja, recentemente fundada de acordo com a mente de Cristo, e não caiu deste privilégio por qualquer má gestão, nem tinha sofrido qualquer coisa destrutiva para a sua existência. Confessamos os abusos e males mencionados surgidos na igreja, e que aumentaram, aqueles muitos abusos que podem ocorrer em qualquer uma das melhores das igrejas de Deus. Nem venha a entrar no coração de qualquer pessoa, pensar que, tão logo cesse qualquer distúrbio, que os abusos acabem com ele, é portanto, dever de qualquer um, fugir disso, como os marinheiros de Paulo fugiram do navio, quando a tempestade ficou perigosa. Este é o dever de todos os membros dessa igreja, não manchados com os males e corrupções da mesma, mediante muitas exortações para tentar ministrar o remédio para essas desordens, e para expulsar esses abusos extremos, e foi isso que Paulo aconselhou aos Coríntios que não haviam se contaminado, e assim, em obediência a eles, os demais foram recuperados.
Mas ainda digo isto, que a igreja de Corinto continuou na condição anterior, com pecados escandalosos que tinham ficado impunes, sem reprovação, a bebedeira continuou e era praticada nos cultos, os homens negando a ressurreição, então arruinaram todo o evangelho, e a igreja (os membros e os líderes que preservaram a são doutrina em suas vidas) se recusava a fazer o seu dever, e a exercer sua autoridade para expulsar todas as pessoas desordenadas com a sua obstinação de agirem contra a comunhão, tinha sido o dever de cada um dos santos de Deus naquela igreja, ter se retirado dela, para sair do meio deles, e para não se tornarem participantes dos seus pecados, a não ser que eles estivessem também dispostos a participar da sua praga; porque uma apostasia certamente ocorreria.

Em resumo,

1 . Eu não conheço nenhuma outra reforma de qualquer igreja, senão  a de trazê-la à sua primitiva instituição, e à ordem atribuída a ela por Jesus Cristo.
E quando qualquer congregação ou reunião de homens não é capaz de tal renovação, não posso olhar para tal sociedade como uma igreja de Cristo.
2. Alguns pontos que devem ser sempre dignos da nossa atenção:
1. A verdadeira natureza de uma igreja instituída sob o evangelho, quanto à matéria, forma e todos as demais causas constitutivas, deve ser investigada e descoberta.
2. A natureza e a forma de tal igreja deve ser tomada da Escritura, e da história das primeiras igrejas, antes de terem sido sensivelmente contaminadas com o veneno da apostasia que se seguiu.
3. A extensão da apostasia sob o anticristo, em relação à ruína das igrejas instituídas, transformando-as na Babilônia espiritual, e sua prostituída adoração, deve ser cuidadosamente examinada.
4. Por qual caminho e meios Deus começou a renovação, e manteve vivos os seus eleitos, em suas várias gerações, quando as trevas cobriram a terra, deve ser devidamente considerado.

(Vivemos numa época em que é muito comum se ver vários genuínos cristãos, nascidos do Espírito, sem estarem congregando em razão de serem avessos à ideia de estarem vinculados a uma determinada congregação local; ou por terem sido decepcionados em sua experiência quanto à Igreja em que congregaram e nas quais não encontraram uma unidade de caráter verdadeiramente bíblico; outros por terem sido submetidos à disciplina por motivo de um viver desordenado contrário às ordenanças do Senhor, e ainda, talvez, seja este um dos piores casos, em que se encontra a grande maioria, a saber, aqueles que se acomodaram a um estilo de vida chamado cristão ou evangélico, mas que todavia nada ou pouco tem a ver com o propósito divino em relação aos cristãos individualmente e como igreja. Estes, muitas vezes são enganados ou se auto-enganam por pensarem que o modo de unidade que tanto lhes agrada no ajuntamento dos santos reflete aquela comunhão que é de fato real e que se baseia em unidade de fé, de amor e da sã doutrina bíblica.
Como os cônjuges que consentem estar sob o mesmo teto mas que não vivem na comunhão conjugal designada por Deus, de igual modo é muito comum se viver na mesma congregação sem que haja a comunhão verdadeira que identifica o verdadeiro corpo de Cristo.
(Há um trabalho da graça de Jesus nos cristãos no sentido de lhes educar a renunciarem à impiedade e às paixões mundanas, e a viverem de modo sóbrio, justo e piedoso (Tito 2.12).
E este modo de vida está muito além do mero campo da moralidade ensinada pelos filósofos e educadores seculares. E também, extrapola e pouco se identifica com o misticismo baseado numa suposta posse de poder para operar sinais e maravilhas, que esteja dissociado da referida vida piedosa produzida pela graça.
Quão ineficaz é incentivar as pessoas a estarem debaixo deste suposto poder de Deus para serem abençoadas, e na verdade pode mimá-las e incentivá-las a se tornarem  dependentes da procura de atendimento de desejos quase sempre carnais, interesseiros, egoístas, quer em suas orações, quer nas expectativas que criam em torno do que lhes poderá fornecer o culto público.
É comum que se faça imposição de mãos para este propósito e outras práticas, todavia a expectativa dos que buscam a “bênção” nunca se refere a uma maior busca de santidade, de amor, de longanimidade, domínio próprio, de misericórdia, bondade, benignidade e todas as demais virtudes que estão ocultas em Cristo e que não podem ser recebidas por nós em forma de graça amadurecida, numa ministração momentânea, senão na árdua diligência do caminho progressivo da santificação, pela operação da cruz na aprendizagem da perseverança nas tribulações, que produz experiência e esperança (Rom 5.3,4).
A imposição de mãos pode ser eficaz para a recepção dos dons sobrenaturais do Espírito que são citados em I Coríntios 12 e 14, para a ordenação ministerial, para a cura de enfermidades, para a conversão, entre outras operações, mas jamais para produzir a vida do varão perfeito, pelo amadurecimento do fruto do Espírito, no processo progressivo da santificação. Se é progressivo, como pode ser obtido numa ou em algumas ministrações por imposição de mãos ou por quaisquer outros meios de aplicação instantânea?
Dificilmente se verá a realização de apelos nos cultos públicos para as pessoas se consagrarem à prática santa referida, mormente porque suas expectativas estão normalmente relacionadas à busca de melhoria financeira, cura de enfermidades físicas, e também busca de trabalho, de cônjuge, e todo tipo de  busca do que é temporal e não espiritual.
Ainda que seja lícito este tipo de busca, e por ter amparo bíblico, todavia, a ordem apresentada é buscar o reino espiritual de Deus e a sua justiça, em primeiro lugar, e então, se tem a promessa de receber o que for temporal e de fato necessário a nós, por acréscimo.  
Se focamos o objetivo de nosso Senhor ter vindo a este mundo para que pudéssemos alcançar prioritariamente o que é secular e temporal, nos desviamos inteiramente do alvo proposto por Ele e conforme podemos aprendê-lo em toda a Bíblia e especialmente no Evangelho, porque se afirma qual é a missão do cristão neste mundo, a saber, proclamar as virtudes de Jesus (I Pe 2.9), e isto não é feito apenas pela pregação e ensino do evangelho, mas pelo testemunho de uma vida deveras santa e piedosa, que manifesta ao mundo o poder da graça de Deus para a transformação das vidas daqueles que antes andavam nas trevas, e que agora vivem na sua maravilhosa luz.
Quando, no culto e na adoração que prestamos a Deus, nos contentamos com mera moralidade, que é algo externo, e nem sempre procedente do coração, ou com práticas místicas, ascéticas ou de qualquer outro caráter, que pouco ou nada têm a ver com aquela vida espiritual, fruto da operação das virtudes de Cristo pela graça, podemos estar certos de estarmos trabalhando para o vento, uma vez que o que Deus sempre requererá de nós é adoração e santificação baseadas na verdade, ou seja, naquilo que nos é ensinado e ordenado na Sua Palavra, como aquilo que deve ser obtido por nós (João 4.23,24; 7.17).
São inumeráveis os textos bíblicos que nos apontam o dever da santificação e que nos explicam qual é o caráter desta santificação.
Então, jamais poderemos ser desculpados por Deus em razão de usarmos o nosso zelo, fervor ou sinceridade como justificativa para as práticas de culto e adoração que adotamos e que não encontram respaldo naquilo que Ele nos ordena na Sua Palavra.
Ele pode, neste caso, até mesmo tolerar e usar de longanimidade com a nossa ignorância, mas não pode nos aprovar e nos considerar agradáveis a Ele, se agimos diretamente contra a Sua vontade; e certamente, a graça se empenhará em nos ensinar, no tempo oportuno o modo pelo qual importa glorificá-lo, deixando nós as coisas de menino.
A face amada do Senhor será vista pela nossa santificação, que está baseada na Sua Palavra (Hb 12.14).
Ele tem declarado a quem aceitará e aprovará, em textos como os seguintes:

Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.

2 Co 7:1 Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.

1Ts 5:23 O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

2 Pe 3:11 Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade,

2 Pe 3:14 Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis,

1 Jo 3:3 E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro.

Não é da vontade de Deus que nenhum de seus filhos venha a errar o alvo da sua vocação, afinal foram chamados para a santificação do Espírito, I Pe 1.2, e há portanto uma convocação a todos eles para crescerem na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, II Pe 3.17,18.
Que o Senhor portanto, nos ajude a não errarmos o alvo do modo pelo qual importa ser servido e adorado. Que ele nos livre da falta de zelo, da falta de fervor de espírito, e também de uma ortodoxia morta, que não tenha a unção do Espírito Santo, e ainda de todo tipo de prática com aparência de ser piedosa e poderosa e que não passa muitas vezes senão de coisa de meninos, ainda sem entendimento do tipo de maturidade espiritual que nos é ensinado na Bíblia, para ser buscado por nós com toda a diligência, para o agrado e para a glória de Deus.

Para tanto, temos recebido o Espírito Santo, para nos conduzir ao conhecimento e prática de toda a verdade, e portanto, Ele sempre agirá com base nos princípios revelados na Bíblia, e nunca por nossa imaginação, emoção e sentimento do que seja uma vida poderosa em Deus. – nota do tradutor)







8 - As Imperfeições da Igreja aqui neste Mundo

“Eu estou morena e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu estar morena, porque o sol me queimou. Os filhos de minha mãe se indignaram contra mim e me puseram por guarda de vinhas; a vinha, porém, que me pertence, não a guardei.” (Cantares 1.5,6)

O melhor dos santos de Deus, por mais alvo que esteja aqui embaixo, encontra-se num estado imperfeito; mas,
apesar do estado de imperfeição dos cristãos, eles não devem ficar desanimados.
Há uma glória e excelência nos santos de Deus, no meio de todas as suas imperfeições e decaimentos.
Nos primeiros versículos do 5º capítulo de Cantares, a igreja tendo mostrado seu fervoroso amor e afeição por Cristo e anseio por uma comunhão mais próxima com ele, tendo também confessado e professado sua própria fraqueza e incapacidade de chegar até ele, por cuja causa ela diz, "Leva-me após ti, apressemo-nos.", ela apresenta uma queixa contra aqueles que tentam desacreditá-la, aos quais chama de “filhas de Jerusalém”.
Estas filhas às quais a igreja se dirige são como quem não possui a graça santificante ainda nelas, ou que ao menos esta seja muito pequena).
Ela (a igreja) se rendeu ao que foi dito:"Eu sou morena por que o sol me queimou”, isto é, minha condição aqui é imperfeita, sujeita ao pecado, à aflição; não bela, portanto, aos olhos e julgamentos carnais.
Ela, nega o argumento, de ser portanto, desprezada pelos homens e rejeitada por Cristo como alguém que não tinha nada nele, ou melhor, os que se encontram extremamente queimados pelo sol podem ser belos e atraentes, e por isso ela diz no início do versículo que se via assim, interiormente rica e encantadora, como as tendas de Quedar e as cortinas de Salomão, e sabendo que podia estar sendo julgada de forma incorreta, se apressou em dizer: “não olheis para o eu estar morena”, ou seja, não me julguem de modo precipitado pelo que veem em mim.
Temos então aqui a confissão da igreja que apesar de sua riqueza interior pela habitação que possui do Espírito de Deus, todavia ainda há imperfeições no homem exterior, no velho homem, em contraposição à perfeição da nova criatura em Cristo Jesus.
Paulo revela em 1 Coríntios 13.9 esta condição de não existir uma perfeição completa da igreja enquanto neste mundo. Pois a promessa da sua plena perfeição será cumprida somente na volta daquele que é perfeito, a saber, Jesus, o Cabeça da igreja.
O apóstolo João também o confirma em I João 1.8, onde é dito que "se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.”
Então, até que chegue o dia da sua ressurreição, a igreja está com a pele ressecada pelo sol ardente do pecado e das aflições, e apresenta diversas imperfeições no seu exterior que leva muitos a criticá-la, até mesmo alguns que dela participam por desconhecerem a sua própria imperfeição e a verdade de que esta nos acompanhará  todos até o dia da nossa morte.
Os santos estão sujeitos a dores, vergonhas, seus corpos são vis, corruptíveis; em suas almas há muitos conflitos, corrupções em sua velha natureza, tentações, temores, tristezas; há falhas nos seus serviços, no seu arrependimento, fé, oração, etc.
A igreja sabe então que é imperfeita, mas sabe também que Cristo a ama embora seja aqui imperfeita, porque há de completar a obra da qual tem se encarregado de apresentá-la a si mesmo no dia das bodas do Cordeiro no céu, sem mancha, ruga ou coisa semelhante.
Então devemos olhar nossos pecados e falhas com tristeza, mas não devemos ser desencorajados por isto, deixando de prosseguir na busca da perfeição que nos está prometida e proposta por Deus.
Temos um grande e poderoso libertador que ama seus filhos em meio a todas as suas deformidades.
Na continuidade do versículo 6 a igreja diz: “Os filhos de minha mãe se indignaram contra mim e me puseram por guarda de vinhas”; eles a injuriaram, e procuraram levá-la a cuidar dos interesses deles, de suas vinhas, de modo que ela diz que não pôde cuidar da sua própria vinha, ou seja, aquela que lhe fora designada pelo Senhor Jesus: “a vinha, porém, que me pertence, não a guardei.” Estes seus irmãos, filhos de sua mãe, têm o nome de irmãos, porque se passam por tais, mas são falsos, hipócritas, mestres orgulhosos do erro que se apoderam do rebanho de Cristo para desviar o coração de suas ovelhas da comunhão com Ele.
Mas eles não logram êxito por muito tempo em seu intento, porque não é possível enganar os escolhidos do Senhor. Eles o conhecem e são por ele conhecidos, e ouvem a sua voz e o seguem, e não aos estranhos.

Então, a igreja se expressa no versículo 7 afirmando o seu amor e cuidado pelos interesses do seu Senhor: “Dize-me, ó amado de minha alma: onde apascentas o teu rebanho, onde o fazes repousar pelo meio-dia, para que não ande eu vagando junto ao rebanho dos teus companheiros.”








9 - Um "Cristianismo Puro e Simples" Significa Eliminação das Denominações?

Por John Piper

Durante muitos anos minha convicção tem sido que a unidade cristã e a verdade cristã são melhores servidas não pela eliminação das cercas, mas pelo amor aos que estão do outro lado e pelos portões de boas-vindas. Eu não digo que faço isso perfeitamente. Eu quero fazê-lo melhor.
A questão é que minimizar a verdade, polir as arestas, mesclar tudo em uma massa indistinguível, focar em oração, serviço e missão em vez da verdade — nada disso produz unidade que honra a verdade, que cria comunidades robustas ou que resiste durante gerações.
Isto acontece melhor quando vivemos bem em nossas comunidades de convicção e amamos bem mesmo entre as linhas de convicção.

Lewis concordaria?

Será que C.S.Lewis concordaria com isso? Não foi ele quem escreveu "Cristianismo Puro e Simples"? Isso não implica que deveríamos deixar de lado nossas diferenças denominacionais e viver na unidade visível do "Cristianismo Puro e Simples"?
Você pode se surpreender com o que Lewis quer dizer nessa frase. Mas ele nos fala claramente. O que segue é um trecho (em itálico) da introdução a "Cristianismo Puro e Simples" (1943, xi-xii) dividida em seções com os meus comentários.

Não é uma Alternativa aos Credos

Espero que nenhum leitor suponha que "Cristianismo Puro e Simples" se apresenta aqui como uma alternativa aos credos das distintas confissões, como se um homem pudesse adotá-la em preferência ao Congregacionalismo ou à Ortodoxia Grega ou a qualquer outra coisa.
Quando Lewis escreve sobre o cristianismo puro e simples ele não está criticando denominações cristãs. Na verdade, ele diz não é como se uma pessoa "pudesse" fazer do cristianismo puro e simples um lugar para se posicionar. Seria como dizer que a camisa que visto não é uma camisa sem mangas, com mangas curtas ou mangas longas. É apenas uma camisa.

O Saguão de Entrada

(O cristianismo "puro e simples") é como um saguão de entrada que se comunica com as diversas peças da casa. Se eu conseguir trazer alguém até esse saguão, terei cumprido o objetivo a que me propus. Porém, é nos cômodos da casa, e não no saguão, que estão a lareira e as cadeiras e são servidas as refeições.
Lewis amava a Igreja da Inglaterra. Era a sua casa denominacional. Mas ele não via a sua chamada como sendo uma advocacia do Anglicanismo. Sua chamada era levar pessoas a entrar na sala de estar do Cristianismo. E ele sabia que o saguão não era um lugar no qual deveríamos viver.
Esse é o equívoco que muitos cometem a respeito de Lewis. Ele não era ecumênico no sentido de liderar as pessoas na saída dos quartos denominacionais em direção a sala de unidade. Seu espírito ecumênico consistia, como veremos mais adiante, no amor entre os quartos e não no esvaziamento dos quartos em direção ao saguão de entrada.
Os quartos denominacionais são onde estão a chaminé, as cadeiras e as refeições. Em outras palavras, se você tentar viver no saguão de entrada, você vai ficar sem aquecimento, descanso e comida. Cristianismo Puro e Simples não é um Cristianismo vivido. Tentar fazer dele uma vida é como tentar comer mera comida sem comer verduras, frutas nem carne.

Não Fique no Saguão

O saguão é uma sala de espera, um lugar a partir do qual se podem abrir as várias portas, e não um lugar de moradia. Para morar, segundo creio, o pior dos cômodos (seja lá qual for) será preferível.
Ele é tão claro a respeito da impropriedade do Cristianismo Puro e Simples que ele diz que viver o melhor que puder na pior denominação cristã é melhor do que viver no saguão.

Entre em um Quarto

É verdade que algumas pessoas podem ter de esperar na sala de entrada por um tempo considerável... Você deve seguir orando para pedir luz: e, é claro, até no saguão você deve tentar obedecer às regras que são comuns à casa inteira. Acima de tudo, deve se perguntar continuamente qual das portas é a verdadeira; não qual delas tem a pintura mais bonita ou possui os melhores ornamentos. Em linguagem clara, a pergunta a ser feita não deve ser: "Será que eu gosto desses rituais?", mas sim: "São essas doutrinas verdadeiras? O sagrado mora aqui? A minha consciência me move nessa direção"?
Essa é uma das razões pelas quais eu amo Lewis. Não há desordem dizendo que todos os quartos são iguais. Ou que todos os quartos têm a mesma verdade de ângulos diferentes. Ou que a experiência pessoal é a coisa principal, enquanto afirmações da verdade são consideradas uma presunção humana. Ou que é impróprio aos santos fazer julgamentos sobre qual denominação tem a verdade. Nada disso.
Não. Em vez disso há uma afirmação direta de que há de se realizar um movimento crucial a partir do saguão do Cristianismo Puro e Simples para a especificidade doutrinária de um quarto. Com esse objetivo, nossa tarefa primária, uma vez que estamos na sala de entrada, é descobrir o quarto mais próximo da verdade. Assim ele nos incentiva a "continuar orando para pedir luz." E a "perguntar qual quarto é o verdadeiro." E pesquisar, não se gostamos dos serviços, mas sim: "São essas doutrinas verdadeiras?"

Do Que o Mundo Necessita

Quando você chegar ao seu cômodo, seja bondoso com as pessoas que escolheram outras portas, bem como com as que ainda estão no saguão. Se elas estão no erro, precisam ainda mais de suas preces; e, se forem suas inimigas, você, como cristão, tem o dever de orar por elas. Esta é uma das regras comuns à casa inteira.
Esse é o ecumenismo de Lewis. Faça o seu melhor para escolher um quarto denominacional de acordo com a verdade bíblica. Em seguida, ame aqueles que escolhem diferentemente, mesmo se eles se tornarem seus inimigos.
O que o mundo necessita da grande casa do Cristianismo não é que todas as paredes entre os quartos sejam quebradas, mas que nos amemos em todos os modos que a Bíblia diz, incluindo a defesa e a confirmação da verdade das Escrituras como nós a vemos (Efésios 4:15).








10 - Uma Igreja Sem Santidade

Por Charles Haddon Spurgeon

“Livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo.” (2 Pedro 1.4)

Rejeite para sempre todos os pensamentos de satisfazer a carne, se você deseja viver no poder de seu Senhor ressuscitado. Habitar na corrupção do pecado é trágico para um homem que está vivo em Cristo. "Por que buscais entre os mortos ao que vive?" (Lucas 24.5.)

Os vivos devem viver em um sepulcro? A vida divina dever ser sepultada no túmulo da concupiscência carnal? Como podemos participar do cálice do Senhor e, ao mesmo tempo, beber o cálice de Satanás? Certamente, você foi liberto de concupiscências e pecados visíveis. Você também escapou das armadilhas ocultas e ilusórias de Satanás?

Você já escapou da indolência? Já está livre da segurança carnal? Está procurando, dia após dia, viver acima do mundanismo, da avareza e da soberba da vida? Lembre-se de que foi por esse motivo que você foi enriquecido com todas os tesouros de Deus. Não permita que todo o abundante tesouro da graça seja desperdiçado por você mesmo.

Siga a santidade; ela é a coroa e a glória do crente. Uma igreja sem santidade é inútil para o mundo e não recebe apreciação da parte dos homens; é uma abominação, uma alegria para o inferno e um aborrecimento para o céu.

Os piores males que foram trazidos ao mundo surgiram por intermédio de uma igreja sem santidade. Você é um sacerdote de Deus — viva de acordo com essa posição. Você é um eleito de Deus — não se associe com o pecado. O céu é a sua herança. Viva como um ser celestial e você comprovará que possui a fé verdadeira em Jesus. Não pode haver fé no coração, a menos que exista santidade no viver.







11 - Analisando as ênfases do movimento de Crescimento de Igrejas

Phil Newton

Há pouco tempo, um amigo ouviu este admirável comentário de um membro de uma grande igreja evangélica que está crescendo rapidamente: “Temos um pastor maravilhoso! Ele realmente prega a Palavra; fala contra o pecado, chamando-o pelo seu nome”. Quando meu amigo perguntou sobre o conteúdo doutrinário das mensagens (“O pastor fala sobre doutrinas como regeneração, justificação, redenção, santificação e outras semelhantes?”), a enfática resposta foi: “Não, ele não prega a respeito desse tipo de coisas!”
Como podemos harmonizar uma igreja crescente com a falta de ensino doutrinário na pregação? Se doutrinas não estão sendo ensinadas, qualquer igreja pode considerar que está em harmonia com o padrão do Novo Testamento? Esta era a situação em que eu me encontrava há alguns anos passados.
Retornando à Escola
Em meu terceiro pastorado, senti-me desanimado diante da falta de crescimento numérico em nossa igreja. Havia participado de conferências e seminários que promoviam crescimento, crescimento, crescimento como o objetivo final para os pastores. Ouvi pastores respeitados em nossa denominação e, com frequência, desejava que a minha igreja tivesse o mesmo tipo de crescimento que as igrejas deles haviam experimentado. Por fim, meu desânimo levou-me a agir. Após algumas mudanças radicais na organização de nossa própria igreja, vi o número de membros aumentar. Estava satisfeito e motivado para buscar mais crescimento. Não sou muito a favor de realizar as coisas pela metade; por isso, conclui que a melhor mudança a fazer seria estudar o crescimento de igreja, em sua fonte, o Seminário Teológico Fuller, em Passadena (Califórnia).
O primeiro seminário, de duas semanas, incluso no programa de Bacharel em Ministério, no Fuller, foi ministrado por C. Peter Wagner, o principal porta-voz do Movimento de Crescimento de Igrejas. Este havia sido missionário na América do Sul e retornou à universidade em que estudara para ensinar juntamente com o falecido Donald McGavran. Enquanto McGavran, que fora missionário na Índia, é bem conhecido como o “pai do Movimento de Crescimento de Igrejas”, Peter Wagner certamente possui o título de ser o melhor proponente desse Movimento. Em preparação para este seminário, li diversas obras escritas por Wagner e por outros autores do Movimento. Achei Wagner um professor interessante que se apresentava bem, alguém capaz de produzir animadas discussões em sala de aula. Munido de transparências e grande quantidade de anotações, Wagner começou a esclarecer aos alunos os princípios básicos do Movimento.
Percebi que estava aceitando cada palavra falada na aula, embora, às vezes, ficasse apreensivo diante de algumas afirmativas. Wagner jamais recuava quando, na classe, era confrontado por causa de discordâncias, ainda que estas fossem frequentes. Ele afirmava que as críticas e a correção eram bem-vindas para o Movimento de Crescimento de Igrejas, pois constituíam a melhor maneira de aprimorá-lo.
Continuei meus estudos, no Fuller, com grande ênfase em crescimento e implantação de igrejas. Mais da metade do tempo de nossa aula dedicava-se a estudar o crescimento de igreja. Wagner ministrava as principais aulas; o outro professor era John Wimber, o fundador das igrejas Vineyard. Este ensinava sobre o controverso assunto de “sinais e maravilhas” e sua relação fundamental no crescimento de igreja. Por ocasião de minha formatura, estava completamente encharcado com a “filosofia do Movimento de Crescimento de Igrejas” e a ampla influência deste sobre o evangelicalismo.
Muito do que aprendera era simplesmente trivial. Detalhes acerca do estacionamento, preparo de equipe adequada, localização, otimização no uso de equipamentos, treinamento de liderança leiga, utilização de dons espirituais e diagnóstico de fraquezas de igrejas constituem assuntos que podem ser facilmente encontrados em livros sobre crescimento de igrejas. Este ensino pode tornar-se útil a qualquer líder de igreja. As igrejas devem ter sabedoria para avaliarem por si mesmas. O Movimento de Crescimento de Igrejas também fornece uma boa análise sobre a fraqueza das cruzadas evangelísticas e sobre a grande eficácia do evangelismo pessoal. Coloca ênfase sobre alcançar os “campos que estão brancos para a ceifa”, em esforços para atingir os perdidos e fazer as igrejas crescerem. Uma intensa ênfase sobre “fazer discípulos”, em contraste com o simples “evangelizar”, ajuda a corrigir a atitude de inchar o rol de membros da igreja com pessoas não-convertidas. As estatísticas fornecidas pelos líderes do Movimento podem dar às igrejas uma melhor assimilação da necessidade espiritual dos povos.
Embora tenha encontrado muitas idéias úteis ao estudar sobre o Movimento de Crescimento de Igrejas, também percebi que estava envolvido em uma “mentalidade” cujo preço comprovou-se elevado. Edificar uma igreja seguindo os “princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas” significava anuência ao pragmatismo, ao invés de ao cristianismo bíblico. O pragmatismo pode resultar em crescimento numérico, mas não pode regenerar um homem incrédulo. Na qualidade de pragmatista, estava interessado em descobrir métodos e artifícios que produziriam crescimento e em utilizá-los plenamente em nossa igreja. Mesmo acreditando na pregação expositiva, diminui a exposição da Palavra e segui com intensidade o apelar às necessidades sentidas da comunidade. Isto era justificável (ou assim eu pensava), pois estaria construindo uma grande igreja.
Reconsiderando os Princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas
Lembro-me de, em certa noite, ter visitado um estudante de teologia que estivera em nosso culto. Ele perguntou qual era a minha teologia. Respondi: “Tenho uma teologia pragmática. Quero uma teologia que funciona”. Mais tarde, fiquei bravo quando um amigo contavame que aquele estudante lhe dissera após minha visita: “Phil não possui uma teologia”. Infelizmente, ele estava correto e isto mostrava de que maneira eu estava “realizando o ministério”. Pouco a pouco, comecei a perceber as falhas em meu próprio ministério e em todo o Movimento de Crescimento de Igrejas.
No cerne do ensino de Wagner e do Movimento de Crescimento de Igrejas encontram-se princípios relacionados ao evangelismo. Wagner tem promovido de modo admirável o trabalho de evangelismo como sendo um dos mais importantes na igreja local. Quando a maneira de pensar de Wagner sobre evangelismo é examinada à luz das Escrituras, surgem algumas questões sérias. Ele divide o evangelismo nas seguintes categorias (Church Growth: State of the Art, editado por C. Peter Wagner, com Win Arn e Elmer Towns, Wheaton, Tyndale House Publishers, 1988, pp. 296-297):
1. Evangelismo de Presença. Aproximar-se das pessoas e ajudálas, fazendo o bem no mundo. Designado evangelismo “l-P”.
2. Evangelismo de Proclamação. Apresentar o evangelho; a morte e a ressurreição de Cristo é proclamada; as pessoas ouvem e podem responder. Designado evangelismo “2-P”.
3. Evangelismo de Persuasão. Fazer discípulos; enfatiza a importância de não fazer separação entre o evangelismo e o acompanhamento, integrando a pessoa ao Corpo de Cristo. Designado evangelismo “3-P”.
Wagner ressalta que todos os três tipos de evangelismo são importantes, mas o objetivo tem de ser a realização do evangelismo “3- P”. Poucos discordariam do fato que o evangelismo “1-P” não pode adequadamente anunciar o evangelho ao incrédulo; e que sem a presença visível daqueles que foram despertados pelo evangelho, todo o outro evangelismo seria anulado.
O maior problema surge no entendimento de Wagner referente ao evangelismo “2-P”. De acordo com a definição, parece ser mais do que uma pregação ou um testemunho verbal dos fatos do evangelho. Por conseguinte, o incrédulo pode determinar se os fatos apresentados são dignos de sua decisão de aceitar o evangelho.
O evangelismo “3-P” constitui o ponto central dos proponentes do Movimento de Crescimento de Igrejas. Realmente envolve tanto a presença quanto a proclamação, mas isto não é tudo. O evangelista precisa usar todos os meios à sua disposição para persuadir o incrédulo a converter-se de seu pecado e crer em Jesus, de modo que torne-se um discípulo. Em suas aulas, Wagner serve-se da palavra grega peitho e seu emprego no livro de Atos. Ele cita Atos 13.43; 17.4; 18.4; 26.28 e 28.23-24, onde peitho é utilizada como uma referência ao apelo evangelístico. Wagner constantemente retrata esta palavra com o significado de “persuadir”. Portanto, o evangelismo adequado é o evangelismo de persuasão.
Existem vários problemas na dedução de Wagner extraída destas passagens do livro de Atos. Em primeiro lugar, não é sábio elaborar uma teologia sobre uma parte histórica das Escrituras, a menos que não haja quaisquer passagens didáticas ou instrutivas falando sobre aquele assunto. O Novo Testamento está repleto de passagens referindo-se ao trabalho de evangelismo. A mais notável é a evidente explicação do apóstolo Paulo sobre o seu método de evangelizar: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O JUSTO VIVERÁ POR FÉ” (Rm 1.16-17). Paulo declarou que o evangelho é bastante adequado por meio da obra do Espírito Santo em trazer o homem a um salvífico conhecimento de Cristo.
Em 1 Coríntios 2.4-5, Paulo destacou que procurava anunciar o evangelho no poder do Espírito Santo, ao invés de utilizar as técnicas comuns que os gregos empregavam para controlar a mente — “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva [peitho, no grego] de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus”. Paulo também argumentou que os cristãos devem viver de tal modo a realidade do evangelho, que parecerão como “luzeiros no mundo”, isto corresponde ao evangelismo “1-P”, de acordo com a definição de Wagner. Logo em seguida, o apóstolo mostra o apropriado método de evangelismo — “preservando a palavra da vida”, que mostra o crente na posição de alguém que apresenta (isto é, “proclama”) aos homens incrédulos a verdade da Palavra de Deus, a qual outorga vida (Fp 1.15-16).
Em segundo, o fato de Wagner utilizar peitho como base para o evangelismo de persuasão é extremamente fraco. Limitar esta palavra a apenas um significado demonstra uma falta de entendimento da amplitude da língua grega. Embora peitho seja traduzida “persuadir”, em diversas passagens, também pode ser melhor traduzida por “instigar”, “convencer”, “seduzir”, “suplicar” e, ainda, “subornar”, em outros casos. O contexto determina a melhor tradução da palavra.
Lucas, o escritor de Atos, utilizou peitho para referir-se a certo tipo de metodologia persuasiva usada por Paulo ou outros dos primeiros discípulos? Obviamente, Lucas jamais desejaria empregar manipulação, artimanha ou engano na obra de evangelismo (ver o uso de peitho em Atos 12.20, 14.19 e 19.26, onde as idéias de “seduzir” e “subornar” são transmitidas no texto grego desses versículos). Fazer isto seria negar a necessidade da obra do Espírito Santo, a qual precisa estar no centro do verdadeiro trabalho de evangelismo (Rm 8.9, 12-17; 1 Ts 1.4-5).
Em Atos 13.43, a Bíblia Revista e Corrigida traduz corretamente peitho pelo vocábulo “exortar”, mostrando que Paulo e Barnabé utilizaram os melhores poderes de argumentação e seu amor pela verdade, a fim de exortar os ouvintes a “perseverar na graça de Deus”. Em Atos 17.4, “persuadidos” implica em que os tessalonicenses foram convencidos das coisas que Paulo e Silas haviam proclamado. Lucas já havia afirmado que Paulo “arrazoou com eles, acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos” (17.2-3). Essas palavras descritivas demonstram que ocorreu um intenso intercâmbio intelectual, quando os mensageiros utilizaram as provas das Escrituras, uma série de perguntas e respostas (“arrazoou”, no grego, dialegomai), e toda a sua capacidade de questionamento, para convencê-los da verdade. Paulo e seu companheiro, com muito ardor, anunciaram a Palavra de Deus àquelas pessoas incrédulas, apelando, com a verdade, às suas mentes (ver também Atos 18.4 e 28.23, onde peitho é mais naturalmente traduzida por “persuadir”).
Em terceiro, a idéia do evangelismo “3-P” sugere que a proclamação no evangelismo “2-P” carece do poder de persuasão. Os primeiros discípulos jamais anunciaram insensivelmente o evangelho! Eles eram apaixonados pela verdade que havia transformado suas vidas. A sua apresentação do evangelho continha uma argumentação consistente e lógica. Eles apelavam à mente dos incrédulos, ao invés de procurarem manipular uma “decisão por Cristo”, recorrendo, em primeiro lugar, à vontade e às emoções. A passagem de Atos 17 mostra isso de maneira conclusiva, assim como toda a narrativa do livro.
No século 19, Charles Haddon Spurgeon foi conhecido como o supremo exemplo de um verdadeiro evangelista. O alcance de seu evangelismo tornou-se mais amplo do que o de qualquer outro em seus dias. Ele poderia ter sido acusado de usar de manipulação ou métodos emocionais de evangelismo centralizados no homem. Todavia, ninguém o acusaria de proclamar o evangelho sem amor e persuasão. O próprio evangelho, ao ser anunciado de maneira correta, é persuasivo! E este evangelho, quando crido para a salvação, devido à obra de regeneração realizada pelo Espírito Santo, produz verdadeiros discípulos.
Finalmente, ao mesmo tempo em que concordo com Wagner, ao afirmar que temos de ser persuasivos ao apresentar o evangelho, a ênfase dele coloca indevida confiança na habilidade do evangelista para realizar conversões. Tal confiança não corresponde ao ensino das Escrituras (ver 1 Co 2.1- 16; cf. também a excelente discussão de Iain Murray sobre este assunto, em Revival and Reavivalism [Avivamento e Avivalismo], Banner of Truth Trust, 1994, pp. 161, ss.). O apóstolo Paulo estava tão dominado pela certeza do julgamento divino, que afirmou: “Conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens” (2 Co 5.11). O significado natural deste versículo é este: Paulo compreendia que os pecadores compareceriam diante do Deus justo e santo, por isso se esforçava para “conquistar os homens para Cristo”. Ele procurava os perdidos, anunciava-lhes com intenso amor o evangelho, mas dependia do poder do Espírito Santo para salvá-los. Aqueles que o Espírito salvasse inevitavelmente se tornariam parte da igreja visível. O verdadeiro evangelismo se esforça por anunciar, com amor e clareza, todo o evangelho de Cristo, na dependência do Espírito para salvá-los. Esse evangelismo resultará na obra de integrar o novo crente à igreja. A disparidade ocorre quando o evangelista considera a si mesmo e aos seus métodos como chaves para a salvação dos homens, ao invés da obra regeneradora da parte do Espírito Santo.
Wagner fundamenta sua classificação de evangelismo na “Escala de Engel” , que é um “modelo do processo de decisão espiritual” desenvolvido por James Engel. A escala tem uma série de números negativos e positivos que descreve o processo de evangelismo:
-8 Consciência de um Ser Supremo, mas não um conhecimento eficaz do evangelho.
-7 Conhecimento inicial do evangelho.
-6 Conhecimento dos fundamentos do evangelho.
-5 Assimilação das implicações do evangelho. -4 Atitude positiva para com o evangelho.
-3 Reconhecimento do problema pessoal.
-2 DECISÃO DE FAZER ALGO.
-1 Arrependimento e fé em Cristo. REGENERAÇÃO — UMA “NOVA CRIATURA”
+1 Avaliação após a decisão.
+2 Integração no Corpo
+3 Início do crescimento informativo e comportamental.
O problema básico na “Escala de Engel” é a reversão da ordem bíblica referente ao arrependimento e fé em Cristo e à Regeneração — uma “Nova Criatura”. Seguindo a lógica desta escala, alguém poderia imaginar que um pecador precisa apenas começar a entender as implicações fundamentais do evangelho, reconhecer seu “problema pessoal” (uma maneira amena de se transmitir a idéia de “pecado”) e tomar a decisão de ser salvo. Aquilo que Wagner admite concernente à regeneração implica em que um pecador não tem de ser totalmente depravado ou morto em seus delitos e pecados. Ao contrário disso, a regeneração antecede o arrependimento e a fé, conforme está claramente ensinado nas Escrituras, em muitas passagens que falam sobre a regeneração (observe os seguintes versículos que a ela se referem: Tito 3.5, onde o vocábulo grego paliggenesia significa “um novo nascimento”; Efésios 2.5 e Colossenses 2.13, sunezoopoisen significa “vivificar juntamente com”; João 3.3 e 5, gennao significa “ser nascido, gerado”; Tiago 1.18 apekuasen significa “dar à luz”, “gerar”).
A grande premissa de Wagner é esta: se o incrédulo for persuadido a tomar a decisão de se arrepender e crer, então será regenerado. A atitude do pecador, por conseguinte, causa a sua própria regeneração. Ele tem a capacidade de fazer uma escolha voluntária e apropriada em relação ao evangelho, se receber evangelismo de persuasão ou “3-P”. De que maneira a natureza do pecado o torna bastante capaz de arrepender-se e crer? Se o problema espiritual do pecado resulta não somente de seu comportamento pecaminoso mas também de sua natureza corrupta, concluímos: até que sua natureza seja mudada, ele não haverá de arrepender-se e crer; fazer isto será contrário à sua própria natureza. Alem disso, como pode um morto vivificar a si mesmo (o que ocorre na regeneração)? Isto é apresentado com clareza em Efésios 2.1-5, onde Paulo afirma duas vezes que a pessoa não-regenerada está morta.
C. R. Vaughan, em The Gifts of the Holy Spirit (Os Dons do Espírito Santo), explica a incapacidade do homem em libertar-se de sua natureza pecaminosa e seguir a fé, o arrependimento e a santidade: “Nenhum rio pode, de si mesmo, correr em uma direção mais elevada do que sua nascente; nenhuma natureza pode transcender a si mesma na manifestação de suas energias. Se o homem está realmente morto em delitos e pecados, ele é incapaz de manifestar qualquer virtude que contenha, em si mesma, o elemento da verdadeira santidade ou vida espiritual” (Banner of Truth Trust, 1984, p. 175).
Contudo, no paradigma de Wagner, o evangelista tenta convencer um pecador a fazer algo que não deseja. Sua natureza exige que ele se rebele contra o evangelho, ao invés de aceitá-lo. Somente por meio do ato regenerador proveniente do Espírito Santo, o pecador realmente pode ter uma mudança de natureza; isto o leva a perceber que está separado de Deus, por causa do pecado, e, em seguida, a apropriar-se da obra propiciatória de Cristo em favor dele, de modo que, com alegria, ele se arrepende e crê em Cristo. Assim como no vale de ossos secos contemplado por Ezequiel, o pecador está morto para as coisas de Deus, até ser despertado pelo Espírito, que outorga a vida, no novo nascimento (compare João 3.1-7 com Ezequiel 37, onde “o Espírito” e “o vento” referem-se à mesma Pessoa divina e sua obra).
A prioridade no evangelismo “3-P”, do Movimento de Crescimento de Igrejas, demonstra que o evangelismo “2-P” não é capaz de realizar a obra. O evangelismo de proclamação apenas abre a porta para fazer a luz do evangelho entrar, de modo que o incrédulo possa ouvi-lo bem, mas fica aquém de se tornar um discípulo. O evangelista tem de utilizar os métodos, as abordagens e as técnicas corretas para realmente fazer um discípulo. Precisa apelar às necessidades sentidas do pecador, para que este se interesse pelo evangelho. Neste ponto, o Movimento apresenta um amplo conjunto de princípios e axiomas que, empregados corretamente, podem quase garantir os resultados.
O Movimento de Crescimento de Igrejas prosperou fundamentado nesse ponto de vista extremamente arminiano acerca do evangelismo. Seminários, conferências, palestras, livros, módulos com esse tipo de abordagem inundaram o cristianismo evangélico. Os crentes de todas as denominações estão utilizando os princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas para conquistar grandes números e estabelecerem igrejas enormes. A proclamação da Palavra de Deus não possui mais o lugar central nessas igrejas. O ensino da sã doutrina é considerado algo desnecessário e antiquado. Em seu lugar, métodos e grandes realizações se tornaram o atrativo para as pessoas frequentarem as igrejas e decidirem tornar-se membros delas. Enquanto estas igrejas falam sobre a obra do Espírito Santo, negligenciam sua dependência da obra regeneradora proveniente dEle.
Revolução Teológica
Após concordar com a teologia bíblica dos fundadores de nossa denominação, comecei a duvidar dos princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas, os quais eu havia aprendido. Enquanto estudava e pregava expositivamente sobre Efésios, todo o meu conceito acerca daquele Movimento foi estilhaçado pela verdade da Palavra de Deus. Estudando, com intensa meditação, Efésios 1.1-14, durante um período de dois meses, tive de concordar com algumas doutrinas que, durante alguns anos, eu evitara cuidadosamente. Pensei muito sobre a soberania de Deus e a depravação do homem, crendo nessas verdades tanto quanto podia entendê-las. Porém, deixara de perceber que, se acreditava no ensino bíblico a respeito da soberania de Deus e da total depravação do homem, a conclusão lógica a que eu deveria chegar era o equilíbrio das “Doutrinas da Graça”, que Edwards, Whitefield, Spurgeon, Boyce e outros ensinaram. Qualquer coisa inferior a isso retrataria Deus como alguém não completamente soberano, e o homem, não totalmente depravado.
Por conseguinte, deparei-me com a pergunta: se a conversão é totalmente uma obra da graça divina, então quem sou eu para imaginar que minhas técnicas e métodos podem converter uma alma sequer? Compreendi que minha teologia precisava determinar minha atitude no ministério e vida diária ou seria um hipócrita em ambos. Comecei a abandonar a maioria dos ensinos que havia recebido em meus anos de estudo no Movimento de Crescimento de Igrejas (exceto os princípios de bom senso e aqueles apresentados claramente nas Escrituras). Procurei concentrar-me em ensinar a Palavra de Deus, com clareza, pureza e amor, abordando as doutrinas encontradas nos textos dos sermões de cada semana.
Essa radical mudança na teologia aconteceu no outono de 1990. Precisava participar de dois seminários para meu diploma de bacharel, mas alegremente eu os dispensei em troca da bênção de passar quinze meses estudando Efésios. A cada semana examinando o texto grego, lendo Martin Lloyd-Jones, John Mac- Arthur, Leon Morris, John Stott e outros forneceu-me um claro entendimento de toda a gloriosa mensagem de redenção. Voltei à minha tarefa de pregação com uma nova convicção de pregar “todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Sabia que nem todos receberiam com satisfação aquilo que eu estava pregando, mas tinha a responsabilidade de, paciente e transparentemente, anunciar a Palavra, deixando o Espírito fazer a obra necessária.
Esta mudança aconteceu com a aprovação de todos em nossa igreja? Absolutamente, não! Na verdade, descobri uma disposição em muitos que sentiam intenso desejo para que a verdade de Deus fosse proclamada sem apologia ou temor dos homens. Alguns adquiriram uma maravilhosa liberdade de andar na verdade de Deus. Outros lutaram contra a Palavra de Deus, perseverando com firmeza em crenças que haviam sido danificadas pela experiência e pelas tradições.
Descobri que afastar-me das práticas do Movimento de Crescimento de Igrejas, para realizar um ministério de acordo com o legado dos fundadores de nossa denominação, poderia não alcançar as massas (embora esteja orando e esperando para ver muitos virem a Cristo e serem trazidos à igreja). Em alguns casos, realmente enfrentamos oposição. Todavia, a grande motivação do meu coração e mente é que um dia terei de responder ao soberano Senhor pela maneira como realizei minha chamada. Minha observação é que muito frequentemente os pastores conduzem seus ministérios de acordo com as expectativas de outros. A pressão exercida sobre os ministros, para que edifiquem igrejas enormes, conquistem grandes números de ouvintes e produzam uma multidão de convertidos constrange alguns a beberem tudo que procede das fontes do Movimento de Crescimento de Igrejas. Quando isso acontece, o ministro inevitavelmente compromete sua responsabilidade de pregar a Palavra e depender da obra do Espírito Santo. Ele corre de uma técnica para outra, agarrando cada nova idéia vinda dos proponentes do Movimento. Qual é a motivação do ministro do evangelho para fazer tudo o que ele faz? É realmente a glória de Deus e o amor pelo seu reino?
Alguns podem admirar-se de mim e perguntar: “Você acredita em crescimento de igreja?” Com certeza, eu acredito. Desejo muito ver o crescimento realizado pela obra do Espírito Santo e a proclamação fiel da Palavra de Deus. Porém, se a Palavra e o Espírito não podem realizá-lo, não o quero! De fato, um dia, eu creio, nosso Senhor se deleitará em agir sobre nossa congregação e comunidade com poder, e esse poder despertará os homens. Então, eles saberão que a salvação dos pecadores não vem por meio de nossas técnicas perspicazes, nem por implementarmos os princípios de crescimento de igreja, e sim pela soberana graça do todo-glorioso Deus.
Deus não pode enviar a uma nação ou a um povo maior bênção do que dar-lhes ministros fiéis, sinceros e retos, assim como o maior anátema que Deus possa dar ao povo deste mundo é dar-lhes guias cegos, não-regenerados, carnais, mornos e ineptos.
George Whitefield
O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e ordenanças. Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao menos, prevenir os homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela. Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice.
De: 13/01/2012
Por: www.editorafiel.com.br












12 - A Igreja Cristã

Por Charles Haddon Spurgeon

A Igreja de Deus é um jardim, assim chamada no livro de Cantares de Salomão; portanto, sei que não estamos errados em usar esta ilustração. Mas o que representa um jardim? Em primeiro lugar, ele implica separação. Um jardim não é uma terra não cultivada, um matagal, uma terra pública, nem tão pouco um deserto. Ele é cercado ao redor; está encerrado ali. Ah, cristãos! quando vocês se unem a Igreja, lembrem-se, também, que se tornam, por profissão, guardados nela, para o Rei Jesus. Eu desejo, sinceramente, ver a parede de separação entre a Igreja e o mundo tornar-se mais ampla e forte. Creiam-me, nada me entristece mais do que quando ouço membros da Igreja dizendo: "Bem, não há nenhum mal nisto; não há mal naquilo", e vão se aproximando do mundo tanto quanto possível. Não importa o que você pense disto, mas estou certo que você está decaindo da graça até mesmo quando você levanta a questão de quão longe você pode ir na conformidade mundana. Devemos evitar a aparência do mal, e especialmente nesta época festiva do ano, este natal, quando tantos de vocês estão tendo suas festas, suas brincadeiras de crianças e todo aquele tipo de coisa. Eu queria vocês duplamente zelosos e recordados, membros de igreja, de que vocês são cristãos sempre, se de fato o são. Não podemos conceder dispensações ao pecado, como a Igreja Católica fez nos dias de Lutero. Vocês devem estar sempre vestidos com suas fardas, como soldados de Cristo, e nunca, em tempo algum, dizer: "Bem, eu vou fazer isto só agora; é somente uma vez no ano; farei como o mundo faz; não posso ficar fora de moda" . Você deve estar fora de moda, ou fora da Igreja verdadeira, lembre-se disto, porque o lugar da Igreja de Cristo é inteiramente fora dos costumes do mundo. Vocês são chamados para ir avante sem o regimento, suportando sua reprovação. Se você quer ficar no acampamento, você não pode ser um discípulo de Cristo, pois o amor do mundo é inimizade com Cristo. Você deve ser separado ou ser perdido. Se você quer ser comum, você não pode ser jardim; e se você está desejoso e ansioso para ser jardim, ora, então, não procure ser o comum. Mantenha as cercas levantadas; mantenha os portões bem trancados; os jardins do rei não devem ser deixados abertos para ladrões e salteadores. Não se conforme com o mundo, mas seja transformado pela renovação da sua mente. O jardim do Rei é um lugar separado - guarde isto. O jardim do rei é um lugar de ordem. Quando você vai para o seu jardim, você não encontra as flores todas espalhadas de qualquer modo, mas o jardineiro sábio as dispõe de acordo com suas matizes e colorações, de modo que no meio do verão o jardim pareça com um arco-íris que tenha sido quebrado em pedaços e deixado sobre a terra, prazeroso de se contemplar. Todos os cercados são regulares, os canteiros proporcionais, e as plantas bem arrumadas, como deveriam ser. Tal deveria ser a Igreja cristã - pastores, diáconos, presbíteros, membros, todos em seus devidos lugares. Nós não somos um monte de tijolos, mas uma casa. A Igreja não é um mero montão, mas é para ser um palácio construído para Deus, um templo onde Ele se manifesta. Vamos todos tentar manter ordem na casa de Cristo, e acima de tudo, detestar discórdia e confusão. Sejamos homens que sabem como manter a dignidade, mantendo uma ordem apropriada e regularidade em todas as coisas. Nós buscamos não uma ordem que consista em todas as pessoas dormindo em seus lugares, como corpos em catacumbas, mas desejamos a ordem que encontre todos trabalhando em seus lugares para a causa comum do Senhor Jesus. Que nós nunca sejamos uma Igreja desordenada, desunida, irregular. Que possa haver ordem no jardim, preservada pelo poder do amor e graça. O jardim é um lugar de beleza. Tal deveria a Igreja de Cristo ser. Você colhe as mais belas flores de todas as terras, e coloca-as no seu jardim, e se não há beleza nas ruas, você espera que haja nos canteiros do floricultor. Então, se não existe santidade, amor, zelo, nem devoção fora, no mundo, que possamos ver estas coisas na Igreja. Não devemos tomar o mundo como nosso guia, mas devemos excedê-lo. Devemos fazer mais do que outros. O Senhor Jesus Cristo disse a seus discípulos que a justiça deles deveria exceder, em muito, a dos escribas e fariseus, ou eles não poderiam entrar no reino; e o genuíno cristão deve buscar ser mais excelente em sua vida do que o melhor dos moralistas, porque o jardim de Cristo deve ter as mais belas flores de todo mundo. Mesmo o melhor é pouco comparado com os méritos de Cristo; não O coloquemos com plantas murchas e secas. Os lírios e rosas mais raros, valioso e finos devem florir no lugar que Jesus chama de seu. O jardim do rei é um lugar de crescimento, também. Não acho que o floricultor pudesse pensar que o solo no qual suas plantas não crescem, é próprio para ser um jardim. Seria um desperdício total para ele, se as mudas continuassem mudas e os botões nunca se tornassem flores. Assim na Igreja de Deus. Não somos introduzidos na comunhão para sermos sempre os mesmos, sempre crianças e bebês na graça. Devemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Reuniões de oração deveriam ser escolas de educação prática para nossos amados jovens membros; um lugar onde os pequenos pássaros tentem alçar vôo. Se eles tentarem orar, talvez no princípio possam quase falhar, mas se não derem espaço para uma timidez tola, eles logo a superarão e se acharão úteis, não só nas orações públicas, mas em milhares de deveres úteis, também. O crescimento deve ser rápido onde Jesus é o lavrador e o Espírito Santo o orvalho do alto. Mais uma vez, um jardim é um lugar de retiro. Quando um homem está em seu jardim, ele não espera ver todos seus clientes andando entre os canteiros para fazer negócios com ele. "Não", ele diz, "estou andando no meu jardim e espero estar só". Assim o Senhor Jesus Cristo nos reservou a Igreja para ser um lugar onde Ele pode manifestar-se a nós, do modo como Ele não o faz ao mundo. Ó, eu desejo que os cristãos sejam mais quedados, e mantivessem seus corações mais calados para ouvir a Cristo!
Receio que freqüentemente nos preocupamos e agitamos, como Marta, com muito serviço, de tal modo que não temos um tempo para Cristo como o que Maria teve, e não nos sentamos aos Seus pés como deveríamos fazer. O Senhor nos conceda graça para manter nossos corações como jardins isolados para que Cristo ande neles.Esta, então, é uma pobre descrição do que a Igreja é; e a partir de agora, muito resumidamente, trataremos de quem ela é. A Igreja é um jardim, mas é o jardim do Rei. A Igreja não é minha, nem de vocês, mas do Rei. É o jardim do Rei, porque Ele a escolheu para Si. "Somos um jardim, ao redor protegido,propriedade particular, escolhido;Um pequeno lugar pela graça cercado,Fora do mundo, este deserto descerrado." Somos do Rei, porque Ele nos comprou. Nabote disse que não entregaria sua vinha porque a tinha herdado. Assim também, Cristo nos recebeu por herança através de um título irrevogável. Somos Sua herança, e Ele tão ternamente nos comprou com Seu próprio sangue, que nunca nos entregaria, abençoado seja Seu nome! Somos dEle, porque nos conquistou. Ele nos ganhou numa justa batalha e agora nós reconhecemos a validade da Sua escritura, e confessamos, cada um de nós, como membros da Igreja, que somos dEle e que Ele é nosso. Que nobreza isto confere à Igreja de Cristo! Algumas vezes escuto pessoas falando afrontosamente das reuniões de igreja; podem estar presentes poucas pessoas, algumas delas podem ser jovens membros, outras muito idosas, ainda assim, eu me ofendo quando ouço pessoas menosprezarem tal encontro, pois Cristo não o desprezaria. Sempre que a Igreja se reúne, tanto como um todo, ou representativamente, há uma dignidade solene sobre aquela assembléia que não é encontrada num parlamento de reis e príncipes. Se Napoleão pudesse formar um senado com todos os potentados deste mundo, em Paris, e tivesse um congresso lá, todos eles juntos não se comparariam com uma meia dúzia de mulheres idosas piedosas que estivessem juntas, como Igreja, no nome de Cristo, em obediência ao mandamento do Senhor; pois Deus não estaria com os potentados, mas estaria com o mais humilde e desprezado do seu povo que reúne-se como Igreja no nome de Jesus. "Eu estou com vocês até o fim do mundo" é mais glorioso do que arminho, ou púrpura, ou coroa. Fazer parte da Igreja no nome de Cristo, e reunir-se como tal, suplanta qualquer assembléia sobre a face da terra, e até mesmo a assembléia celeste dos nascidos primeiros, é somente uma parte do grande todo no qual as assembléias da Igreja na Terra, são parte essencial. A Igreja é o jardim do Rei. Agora pergunto: "Se a Igreja é um jardim, de que ela precisa?" Uma coisa que certamente requer, é trabalho. Você não pode manter um jardim em ordem sem trabalho. Precisamos de mais trabalhadores nesta Igreja, especialmente de uma espécie. Precisamos de alguns para ser agricultores. Eu recebi uma carta semana passada, de uma moça; eu não a conheço, mas ela disse que tem vindo aqui por dois anos; que anseia por sua alma, e freqüentemente tem desejado que alguém falasse com ela, mas ninguém o faz. Se eu soubesse onde ela senta, eu diria para os amigos que sentam lá, que me envergonho deles! Não sei como vocês deixam uma pessoa vir a este Tabernáculo por dois anos sem nunca falar com ela! Alguém tem sido negligente, muito negligente. Não digo que vocês devam falar sobre as melhores coisas na primeira vez que os virem, apesar de tentarem fazer isto a qualquer custo; mas como estar em silêncio por dois anos? Vocês vêm duas vezes no domingo, e aquela jovem também; bem, houve duzentas oportunidades que você perdeu; duzentas vezes que vocês deixaram aquela pobre alma ir embora, queimando, sem falar com ela! Eu quero trabalhadores, reais e esforçados ganhadores de alma. Eu quero agricultores que coloquem a muda onde ela crescerá. Eu quero ajudantes que apanhem o cordeirinho, assim que nasçam, e o carreguem em seu peito por algum tempo; enfermeiros espirituais que dêem conforto aos de coração quebrantado e que coloquem o óleo da consolação nas feridas dos pobres pecadores vacilantes. Em cada igreja deve haver quem olhe por aqueles que foram plantados. Quando recebemos membros, devemos olhar por eles, e como uma só pessoa não pode fazê-lo totalmente, e mesmo os presbíteros e diáconos dificilmente serão em número suficiente para tão grande trabalho, deveria ser o propósito e dever de todo cristão experiente na igreja cuidar, atenciosamente, dos inexperientes. Creio que muitos de vocês fazem isto, e sou muito agradecido aos amigos zelosos que não tem ofício na igreja, mas que fazem um grande trabalho na visitação dos enfermos e no cuidado com os neófitos. Só o que eu quero é que todos vocês façam o mesmo. Ó! se todos nós estivéssemos devidamente preocupados em manter este jardim em ordem, quão bem tratado toda a bordadura seria, e quão poucas ervas-daninhas encontraríamos brotando nos canteiros! Posso lhes perguntar, membros de igreja, se vocês estão fazendo seus deveres pelo jardim de Deus? Vocês são seus escolhidos e Ele trabalhou por vocês de forma que não precisam fazer nada para obter a salvação; mesmo assim, você não deve ser inativo, pois o seu Senhor disse para você: "Vá, trabalhe hoje na minha vinha". Você está fazendo isto? Agradeço-lhe se estiver. Se não, acusem-se. Deveria existir uma pequena laçada em cada igreja, para recolher os espalhados.
Nossas videiras crescerão desordenadamente se lhes for permitido, mas devemos lidar sabiamente com elas, e fixá-las em seus lugares. Devemos estar alertas onde vemos apostasia começar. Quanto pode ser feito por cristãos maduros, na tentativa de deter a apostasia entre os mais novos! Creio que metade dos casos de declínio, podiam ter sido detidos através de uma pequena providência judiciosa, se os crentes a tivessem tomado em tempo. Eu digo outra vez, o que nós, que somos os oficiais desta igreja, podemos fazer com tantos? Ora, nós somos mais do que três mil e quinhentos membros; mas, se vocês zelarem uns pelos outros, e procurarem, sempre que verem um pequeno declínio, uma pequena frieza, trazer de volta o seu irmão, o jardim do Rei será bem cuidado. O jardim do Rei necessita de trabalhadores; que todos vocês trabalhem e esta necessidade será satisfeita. Algumas vezes, irmãos, precisamos queimar o entulho e varrer as folhas. Na melhor da igrejas sempre haverá folhas caindo. Nenhum de nós é perfeito. Sempre há algumas folhas em redor e não pouco cisco para ser colocado num canto e queimado. Posso pedir a um irmão, sempre que ele vir algum erro, para varrê-lo e não comentar nada com ninguém. Sempre que vocês acharem que aquele tal irmão está se portando inconvenientemente, falem com ele sobre isto com quietude; não espalhe por toda a igreja e produza desconfiança e suspeita. Pegue a folha e a destrua. Quando um irmão o ofender, de forma que o aborreça, perdoe-o; porque, eu ouso dizer, você necessitará de perdão um pouco mais tarde. Nenhum de nós, talvez, tenha o mais doce dos temperamento, mas, se o temos, a forma de prová-lo é perdoando aqueles que não o tem. Se todos nós buscarmos fazer a paz, nunca haverá discórdia no jardim do Rei que O possa incomodar; mas quando Ele andasse no seu jardim, o acharia bonito e em ordem, e todas as flores brotando encantadoramente, e Ele encontraria prazeres com os filhos dos homens. Eu disse que a igreja necessita de trabalhadores, mas, queridos amigos, ela necessita de algo mais. Necessita de novas plantas. Desejo achar algumas hoje a noite. Nosso Rei encontra plantas para seu jardim fora do muro. Ele toma os galhos da oliveira selvagem e os enxerta na boa oliveira, e então, a seiva faz a mudança. Que coisa estranha! Não é assim em nossos jardins, mas maravilhas são feitas no jardim do Rei. Ele transporta ervas-daninhas do monturo e as faz crescer como lírios no meio do seu belo jardim. Vocês serão tal planta? Que o amor do Mestre possa constrangê-los a desejar ser uma delas, e, se quiserem, vocês conseguirão. Confie no Senhor Jesus Cristo e você será dEle. Descanse somente nEle, e você será uma planta que foi plantada por Sua mão direita e nunca será arrancada . Deus conceda que vocês floresçam nos céus. Mas, queridos amigos, todos os trabalhadores e todas as plantas novas, não serão o que a igreja requer, se ela não tiver alguma coisa mais, pois todo jardim necessita de chuva e sol. Esta igreja nunca prosperaria sem o orvalho do Espírito Santo e o sol do favor divino. Temos tido esta bênção grandemente. Devemos orar para que tenhamos mais. Gostaria de saber de vocês quanto tempo faz que não vem a uma reunião de oração? Bem, vocês não tem vindo ultimamente porque é época de natal. Muito bem, não esperava vê-los; e, se esperasse, teria sido desapontado. Mas não era época de natal até outubro, e vocês não estavam aqui também. Alguns de vocês muito raramente vem. Se vocês são legitimamente impedidos em casa, eu nunca pediria que viessem, ou os repreenderia por dedicarem-se aos seus deveres domésticos, pois vocês não tem o direito de deixar negócios legítimos, que devem ser feitos, para estar aqui. Mas, estou certo que alguns de vocês são desocupados, e poderiam vir se quisessem. Eu oro ao Senhor para mandar-lhes um chicote na forma de peso em suas consciências, até que venham, pois quando nosso número declina, nos enfraquecemos em nossas orações; e sempre que desprezamos os cultos da noite, no meio da semana, estejam certos de que o poder da piedade se vai, pois os cultos do meio da semana distinguem, bem, um homem. Qualquer hipócrita virá no domingo, mas um homem precisa ter algum interesse no culto religioso para ser encontrado no meio do povo de Deus em oração. Devo crer que alguns de vocês não se interessam se almas são ou não salvas? Devo crer que alguns de vocês não se interessam se seu pastor é ou não abençoado? Devo crer que vocês continuam membros de uma igreja na qual não tem interesse? Devo crer que não significa nada para vocês se Cristo é desprezado ou exaltado? Eu não acreditarei nisto, e contudo suas ausências das reuniões de oração tendam a me fazer temer que seja assim. Eu imploro a vocês: corrijam-se nesta questão, e assim como o jardim do Rei precisa de chuva e sol, e não podemos esperar ter isto sem oração, não nos esqueçamos de nos congregarmos, como é costume de alguns. Ó, mais orações e mais pessoas que orem! e por aqueles que oram, orar com mais fervor e mais constância na súplica! Um favor eu pediria. Se vocês não vem às reuniões de oração, e muitos, eu sei, não podem, e eu não estou falando com vocês, nem os culpando, orem em família, orem em secreto por nós. Não nos deixe ser escasso em oração. É muito ruim vir a ser pobre financeiramente, porque nós necessitamos disto para mil causas e não podemos continuar sem ele. Mas podemos fazer melhor sem dinheiro do que sem oração. Devemos ter suas orações. Eu quase digo que se não nos derem suas orações diárias, desistam de sua comunhão, pois não é proveitosa para vocês e não pode ser útil para nós. O mínimo que um membro de igreja pode fazer é suplicar a Deus que derrame suas bênçãos. é o jardim do Rei, e vocês não orarão por ele? É o jardim onde Ele sente prazer em estar, e o qual Ele adquiriu com Seu sangue; suas orações não subirão em favor do florescimento desta igreja e para que Seu reino venha? Por último, o que este jardim produz? Algumas vezes em nosso jardim temos uma árvore que está tão carregada de frutos que temos que colocar escoras em seus galhos; existem um ou dois deste tipo nesta igreja, que carregam muito fruto para Deus e são tão fracos, fisicamente, que sua própria frutificação no zelo e dedicação parece que os quebrarão. Eu oro a Deus que com Sua promessa graciosa possa sustentá-los. Temo, porém, que este não seja o retrato da maioria de nós.
As vezes você diz ao jardineiro: "Aquela árvore dará frutos nesta estação? Já era hora deles aparecerem". Ele olha, olha e olha de novo, e por fim o bom homem diz: "Acho que estou vendo um pequenino lá no topo, senhor, mas não sei se dará muito". Este, receio, é a fotografia de muitos professos. Há fruto, ou então eles não seriam salvos, mas é "um pequenino". ...  Que sua oração seja, não somente por fruto, mas por muito fruto e que Deus possa enviá-los. Lembre-se, se existir algum fruto, ele pertencerá ao Rei. Se uma alma é salva, Ele deve ter a glória por isso. Se algum avanço é feito na grande causa da verdade. 158 Aliança por Charles Haddon Spurgeon No capítulo 31 de Jeremias, versículo 31, essa aliança é chamada "nova aliança". Isso contrasta com a aliança anterior que o Senhor fez com Israel quando o trouxe para fora do Egito. É nova no que diz respeito ao principio em que se baseia. o Senhor havia dito aos Seus que se guardassem as Suas leis e andassem nos Seus estatutos., Ele os abençoaria. Ele colocou diante deles uma longa lista de bênçãos, ricas e cheias; todas elas seriam a sua porção se escutassem o Senhor e obedecessem à Sua lei. Mas nos dias presentes o Senhor, em Cristo Jesus, tem feito com a verdadeira descendência de Abraão, com todos os crentes verdadeiros, um nova aliança; não segundo o teor da antiga, nem passível de ser quebrada, como aquela. Irmãos, tomem o cuidado de distinguirem entre a velha aliança e a nova aliança, porque nunca deverá haver confusão entre elas. Muitos nunca percebem a verdadeira natureza da aliança da graça; não entendem um concerto de pura promessa. Falam a respeito da graça, mas consideram que ela depende do mérito. Falam da misericórdia de Deus, porém a misturam com condições que fazem com que seja mais justiça do que graça. Irmãos, façam distinção entre coisas diferentes. Se a salvação é por graça, não é por obras, senão, a graça já não seria graça; e se é por obras, não é por graça, senão as obras já não seriam obras. (conforme Romanos 11:6). A nova aliança é toda pela graça, desde a primeira letra até à sua palavra final. No entanto, é uma aliança "eterna". E é nesse aspecto que o texto em Jeremias 32:40 insiste. A velha aliança foi de duração muito curta; mas esta é uma aliança "eterna". A despeito de alguns pensadores modernos, espero que tenha licença para crer que a palavra "eterna" significa que dura para sempre. A primeira razão porque é uma aliança eterna é que foi feita conosco em Jesus Cristo. A aliança das obras foi feita com a raça humana, no primeiro Adão; mas o primeiro Adão era falho, e fracassou bem rapidamente; ele não conseguiu suportar a tensão da sua responsabilidade, de modo que aquela aliança foi quebrada. Mas o Fiador da nova aliança é Jesus Cristo, e Ele não tem falhas; é perfeito. O Senhor Jesus é o cabeça federal dos Seus escolhidos, e Ele os representa; são considerados membros do Seu corpo, e Ele é seu cabeça, seu porta-voz, seu representante. Sendo que o 159 Senhor Jesus representa todo o Seu povo fiel na aliança, é eterna essa aliança. A segunda razão porque a aliança não pode falhar é devido o lado humano dela ter sido cumprido. O lado humano poderia ser considerado o lado fraco; no entanto quando Jesus Se tornou o representante do homem, esse lado ficou firme Até este momento Ele tem cumprido integralmente todas as exigências daquela parte da aliança em que Ele é o Fiador. Visto, portanto, que foi cumprida aquela parte da aliança que pertence ao homem, só falta ser cumprida a parte de Deus, que consiste em promessas (promessas incondicionais, cheias de graça e verdade) tais como estas: Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei. Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis." (Ezequiel 36:25-27). Porventura Deus não cumprirá Seu compromisso? Sim, certamente. Além disso, a aliança forçosamente é eterna, porque é fundamentada na livre graça de Deus. A primeira aliança dependia da condição da obediência dos homens. Se guardassem a lei, Deus os abençoaria; mas fracassaram pela desobediência, e herdaram a maldição. Demais disso, na aliança está fornecido tudo quanto se pode supor como condição prévia. É necessário que o homem, para ser perdoado, se arrependa; porém o Senhor Jesus está exaltado nas alturas para dar arrependimento e remissão de pecados. (conforme Atos 5:31). É necessário que o homem, a fim de ser salvo, tenha fé no Senhor Jesus Cristo; mas a fé é operada por Deus, e o Espírito Santo opera em nós esse fruto do Espírito (Paulo disse aos Efésios que a fé é dom de Deus). É necessário, antes de entrarmos no céu, que sejamos santos; mas o Senhor nos santifica mediante a Palavra, e opera em nós para desejarmos e praticarmos Seu próprio beneplácito (Jesus em João 17:17 orou:Pai, santifica-os na verdade, a Tua palavra é a verdade). Se houver, em qualquer parte da Palavra de Deus, qualquer ato ou graça mencionado como se fosse a condição prévia da salvação, noutro trecho bíblico isso é descrito como um dom da aliança que Jesus Cristo dará aos herdeiros da salvação. Isso é salvação pela graça, e não por obras!!! Finalmente, a aliança é eterna porque não pode ser ultrapassada por algo mais glorioso. Na ordem de Suas operações, Deus sempre avança do bom para o melhor. A antiga lei foi deixada de lado porque Ele achou nela falhas, e, portanto, a nova aliança deve durar até que seja achada nela uma falha; o que nunca acontecerá. Quero repetir aquelas palavras: "Para que nunca se apartem de mim". Se houvesse apenas esse texto na Bíblia a respeito do assunto, bastaria para comprovar a perseverança final dos santos: "Para que NUNCA SE APARTEM de mim". A promessa não é cumprida por meio de alterar o efeito da apostasia. Se eles se apartassem de Deus, isto seria fatal. Suponhamos que um filho de Deus se afastasse totalmente de Deus, e perdesse totalmente a vida de Deus: o que seria dele então? Seria salvo da mesma forma? Respondo: sua salvação se acha no fato de que ele nunca perderá totalmente a vida de Deus. Por que devemos perguntar o que aconteceria num caso que nunca poderá ocorrer? Mas se devemos supor tal coisa, não hesitaremos em dizer que se o crente fosse totalmente separado de Cristo, teria, sem dúvida, que perecer eternamente. Se alguém não permanece em Cristo, é lançado fora como um sarmento, e secará. Se o Espírito Santo realmente regenerou uma alma, porém aquela regeneração não a salvar da apostasia total, o que mais poderá ser feito? Existe o "nascer de novo"; mas não existe o nascer e renascer várias vezes.
A regeneração é de uma vez por todas: não pode ser repetida. As Escrituras não contêm nenhuma palavra ou indicação nesse sentido. Se os homens foram lavados no sangue de Jesus, e renovados pelo Espírito Santo, e esse processo sagrado fracassou, então não sobra outra alternativa. Que ninguém diga, portanto: "Embora volte para meus velhos pecados, e cesse de orar, de me arrepender, ou de crer, ou de ter algo da vida de Deus em mim, ainda assim serei salvo porque tempo houve quando eu era crente". Não, não, falador profano; o texto não diz: "Serão salvos embora se apartem de mim" ele diz "para que nunca se apartem de mim", que é assunto bem diferente. Ai daqueles que se apartam do Deus vivo! Essa perseverança dos santos não entra, tampouco, mediante a remoção da tentação. Podem ser tentados; no entanto nunca serão vencidos. Embora pequem em certa medida, não pecarão de tal maneira que se apartarão de Deus. Ainda se apegarão a Ele, e viverão em Cristo mediante a habitação neles do Espírito Santo. Como pois são preservados ? Ora, não conforme alguns dizem falsamente, como se pregássemos "que o homem convertido pode viver como quiser". Nunca dissemos isso; nunca sequer pensamos assim. O homem convertido não pode viver como quer; ou melhor, é tão transformado pelo Espírito Santo, que se pudesse viver como quer, nunca pecaria, mas viveria uma vida absolutamente perfeita. Alguns pregam uma doutrina que tem uma porta bem larga, porém é só porta, e quem entra por ela, não recebe nada; não está mais seguro do que quando estava fora. As ovelhas não se apressam para entrar onde não há pastagem. Alguns têm pensado que esta doutrina é estreita, embora eu tenha certeza de que não é; contudo, se uma porta parecer estreita, e se há algo que valha a pensa ser recebido por quem entrar, muitos procurarão a admissão. "Oh", diz alguém, "se a salvação é uma coisa permanente, se essa regeneração importa numa mudança da natureza de tal tipo que nunca poderá ser desfeita, quero tê-la. Se a salvação é meramente um artigo banhado a prata, que perderá seu brilho, não a quero; todavia se é prata de lei maciça, desejo recebê-la". Muitas pessoas têm crido em Deus para salvá-las, mas só por algum tempo; enquanto são fiéis, ou enquanto são sinceros. Amados, creiam em Deus para Ele mantê-los fiéis e sinceros durante toda a sua vida: comprem uma passagem até o ponto final. Obtenham um salvação que cubra todos os riscos. Aqueles que não pode guardar vocês para sempre, não poderá guardá-los por um dia sequer. Se o poder da regeneração não perdurar por toda a vida, talvez nem dure uma hora. A fé na aliança eterna agita o sangue do meu coração, enche-me de confiança, inspira-me de entusiasmo. Nunca posso abrir mão daquilo que o Senhor tem dito: "Farei com eles aliança eterna segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim" (Jeremias 32:40).

Fonte: Trecho retirado do livro A Perseverança na santidade de C. H. Spurgeon.  Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes? por Charles H. Spurgeon Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no mundo, e no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões. Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Mc 16.15) " isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado: "E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho", assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na Bíblia. Sequer ocorreram à mente do Senhor Jesus. E mais: "Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres" (Ef 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires. Novamente, prover entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? "Vós sois o sal", não o "docinho", algo que o mundo desprezará. Pungente e curta foi a afirmação de nosso Senhor: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos" (Lc 9.60). Ele estava falando com terrível seriedade! Se Cristo houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério, teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores. Não O vejo dizendo: "Pedro, vá atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza realizaremos esse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma maneira!" Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca procurou diverti-los. Em vão, pesquisaremos as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é: "Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos!" Qualquer coisa que tinha a aparência de brincadeira evidentemente foi deixado fora das cartas. Os apóstolos tinham confiança irrestrita no evangelho e não utilizavam outros instrumentos. Depois que Pedro e João foram encarcerados por pregarem o evangelho, a igreja se reuniu para orar, mas não suplicaram: "Senhor, concede aos teus servos que, por meio do prudente e discriminado uso da recreação legítima, mostremos a essas pessoas quão felizes nós somos". Eles não pararam de pregar a Cristo, por isso não tinham tempo para arranjar entretenimento para seus ouvintes. Espalhados por causa da perseguição, foram a muitos lugares pregando o evangelho. Eles "transtornaram o mundo". Essa é a única diferença! Senhor, limpe a igreja de todo o lixo e baboseira que o diabo impôs sobre ela e traga-nos de volta aos métodos dos apóstolos. Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.




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