sexta-feira, 23 de outubro de 2015

11) Astenia e Fraqueza 12) Autoridade e Soberania

11) ASTENIA E FRAQUEZA

ÍNDICE

1 - A Cana Trilhada
2 - Ninguém se Sinta Excluído
3 - As Vacas Gordas e as Magras
4 - As Coisas Pequenas
5 - O Que Fazer Se Você Acorda Se Sentindo Frágil
6 - Cura de Deus para a Fraqueza do Homem
7 - Sempre Ainda Mais Uma Vez
8 - Decadências não Significam o Fim
 9 - Ai de mim !  Nada posso fazer!


1 - A Cana Trilhada

Citações extraídas do livro de autoria de Richard Sibbes, intitulado The Bruised Reed – A Cana Trilhada, ou o Caniço Ferido, em português.

1 – Os filhos de Deus são canas trilhadas antes da sua conversão, e com frequência, também depois. Todos, antes da conversão (exceto aqueles que tendo sido criados na Igreja, porque agradou a Deus se mostrar gracioso a eles desde a infância), e ainda que em diferentes graus, tal como Deus os encontrou. E, assim como há diferenças relativas a temperamento, dons e modo de vida, etc, assim também há no desígnio de Deus em usá-los para o tempo por vir; porque comumente ele os esvazia de si mesmos, e faz deles nada, antes de usá-los em quaisquer grandes serviços.

2 - Esta cana trilhada é um homem que na maioria das vezes está em alguma miséria, assim como estavam aqueles que vieram a Cristo em busca de ajuda, e que através da miséria foi levado a enxergar o pecado que a causou; porque sejam quais forem os pretextos que o pecado faça, ainda que ferido ou  quebrado é o fim destes pretextos; ele está sensível ao pecado e à miséria, mesmo à ferida; e não encontrando nenhuma ajuda em si próprio, é levado com incansável desejo a receber ajuda de um outro, com alguma esperança, que ainda que pequena, o eleve de si mesmo até Cristo, embora não ouse alegar qualquer direito presente à misericórdia. Esta fagulha de esperança, sendo atacada por dúvidas e temores que nascem da corrupção da sua natureza terrena, fazem dele um pavio fumegante; de maneira que ambos, a cana trilhada e o pavio que fumega, constituem o estado de um pobre pecador aflito. É a estes que nosso Salvador Jesus Cristo chama de pobre de espírito, Mt 5.3, aquele que vê sua necessidade, e que também vê a si mesmo como devedor da justiça divina, e que não encontrando meios para ser ajudado, em si mesmo ou em qualquer criatura, chora por isso, e por alguma esperança da misericórdia contida na promessa e nos exemplos daqueles que têm alcançado misericórdia, é incentivado a ter fome e sede da mesma.              

3 – Aqui aprendemos que não devemos ser rígidos em demasia ao julgarmos a nós e a outros quando Deus nos exercita com ferimento sobre ferimento. Deve haver uma conformidade com a nossa cabeça, Cristo, que “foi ferido” por nós, Is 53.5, para que possamos conhecer quanto estamos ligados a ele. Espíritos profanos ignorantes dos caminhos de Deus para levar seus filhos ao céu, reputam os cristãos de coração quebrantado como pessoas desesperadas, sendo que Deus está operando neles uma boa obra, graciosa. Não é uma coisa fácil trazer um homem da natureza terrena para a graça, e da graça à glória, de tão inflexíveis e intratáveis que são os nossos corações.  

Notas: 1 - Circula na Internet, uma tradução do citado livro, feita por Vanderson Moura da Silva.

2 – Nosso principal propósito não apenas com estas citações, como também com todas as demais publicações que temos feito de outros textos de autoria de Sibbes, tem por propósito despertar o interesse de muitos para a leitura deste piedoso e valoroso servo de Deus do passado, que recebeu, conforme bem lhe cabia o apelido de Heavenly Sibbes, ou seja, o Celestial Sibbes, porque trazia o céu estampado em sua face.





2 - Ninguém se Sinta Excluído

Deus demanda de nós a santidade, mas ao mesmo tempo fez a promessa de ser misericordioso para com todos os nossos pecados e iniquidades, e que não se lembrará deles e não os colocará em nossa conta para condenação, desde que nos voltemos para Ele por meio da fé em Jesus Cristo.
Desta forma, quando falamos sobre vida santificada, sobre a necessidade do crescimento espiritual em santificação, ninguém, por maior pecador que seja, deve se sentir excluído da possibilidade de ter todos os seus pecados perdoados e ser reconciliado com Deus para sempre, porque isto é obtido pelo simples arrependimento e fé em Jesus Cristo.
Porque foi para este propósito mesmo que ele veio a este mundo, para morrer em nosso lugar, de modo a satisfazer a exigência da justiça perfeita de Deus, de que não pode haver qualquer culpa naqueles que viverão em comunhão com ele para sempre.
Tendo Jesus removido a nossa culpa na sua morte na cruz, pela fé nele, somos considerados inculpáveis por Deus, que nos dá o selo desta promessa fazendo habitar em nós Espírito Santo para operar a nossa transformação e santificação.





3 - As Vacas Gordas e as Magras

"E as vacas feias à vista e magras de carne, comiam as sete vacas formosas à vista e gordas.” (Gên 41.4)

O sonho do Faraó tem sido muitas vezes a minha experiência acordado. Meus dias de preguiça desastrosamente arruinaram tudo o que eu tinha conseguido em tempos de trabalho zeloso; minhas temporadas de frieza congelaram  todo o brilho caloroso dos meus períodos de fervor e entusiasmo, e as minhas crises de mundanismo empurraram-me para trás fazendo-me retroceder no meu progresso na vida divina.
Eu preciso tomar cuidado com orações magras, louvores magros, deveres magros, e experiências magras, pois estes comerão a gordura do meu conforto e paz.
Se eu negligenciar a oração mesmo por pouco tempo, eu perco toda a espiritualidade que tinha alcançado; se eu não tiver suprimentos frescos do céu, o velho milho no meu celeiro é  logo consumido pela fome que devora minha alma.
Quando as lagartas da indiferença, os gafanhotos  do mundanismo, e os pulgões da  auto-indulgência deixam meu coração completamente desolado, e fazem a minha alma definhar, toda a minha ex-fecundidade e crescimento na graça, me servem de absolutamente nada.
Como  eu deveria estar ansioso em não ter dias de carnes magras, nem horas mal favorecidas!
Se eu tivesse caminhado  todos os dias na direção da meta dos meus desejos  eu deveria chegar em breve, mas os deslizes  me deixam ainda longe do prêmio da minha vocação, e me roubam os avanços que eu tinha tão laboriosamente feito.
A única maneira em que todos os meus dias podem ser como o de "vacas gordas", é alimentá-los no prado certo, passá-los com  o Senhor, em Seu serviço, em Sua companhia, em Seu temor, e em Seu caminho. Por que não deve cada ano ser mais rico do que o anterior, em amor, utilidade, e alegria? - Estou mais perto das montanhas celestiais, eu tenho experimentado mais do meu Senhor, e deveria ser mais parecido com ele.
Ó Senhor, mantenha-me longe da maldição da magreza de alma, não me deixe ter que lamentar: "minha magreza, minha magreza, ai de mim!", Mas que eu possa ser bem alimentado e nutrido em tua casa, para que eu possa louvar o teu nome.

Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido por Iza Rainbow






4 - As Coisas Pequenas

Por Charles H. Spurgeon

Somos incapazes de realizar o mais humilde ato da vida cristã, se não recebemos de Deus o vigor do Espírito Santo. Com certeza, meus irmãos, é nestas COISAS PEQUENAS que geralmente percebemos, acima de tudo, a nossa fraqueza. Pedro foi capaz de andar sobre a água, mas não pôde suportar a acusação de uma criada. Jó suportou a perda de todas as coisas, porém as palavras censuradoras de seus falsos amigos (embora fossem apenas palavras) fizeram-no falar mais amargamente do que todas as outras aflições juntas. Jonas disse que tinha razão em ficar irado, até à morte, por causa de  uma planta.

Você não tem ouvido, com certa frequência, que homens poderosos, sobreviventes de muitas batalhas, foram mortos por um acidente trivial? John Newton disse: “A graça de Deus é tão necessária para criar no cristão a atitude correta diante da quebra de uma louça valiosa como diante da morte de um parente querido”. Estes pequenos vazamentos precisam dos mais cuidadosos tampões. Nas coisas pequenas, bem como nas coisas grandes, o justo tem que viver pela fé!

Cristão, você não é suficiente para nada! Sem a graça de Deus, não pode fazer coisa alguma. Nossa força é fraqueza — fraqueza até para as coisas pequenas; fraqueza para as situações fáceis, bem como para as complexas; fraqueza nas gotas de tristeza, como também nos oceanos de aflição. Aprenda bem o que nosso Senhor disse aos seus discípulos: “Sem mim nada podeis fazer” (João 15.5)






5 - O Que Fazer Se Você Acorda Se Sentindo Frágil

Por John Piper

Há manhãs nas quais eu acordo me sentindo frágil. Vulnerável. É geralmente vago. Nenhuma ameaça específica. Sem uma fraqueza explícita. Apenas um senso sem forma de que alguma coisa vai dar errado e eu serei responsável. É comumente depois de um tanto de criticismo. Muitas expectativas que possuem prazos e que parecem muito grandes e muito numerosas.
Enquanto olho para os 50 anos passados de tais manhãs que ocorreram com periodicidade, eu estou maravilhado de como o Senhor Jesus preservou minha vida. E meu ministério. As tentações de fugir das pressões nunca obtiveram vitória - não ainda pelo menos. Isto é maravilhoso. Eu adoro ele por isso.
Como ele tem feito isso? Através de orações desesperadas e promessas particulares. Eu concordo com Spurgeon: Eu amo os "Eu serei" e "Eu irei" de Deus.
Em vez de me deixar afundar em uma paralisia de medo, ou correr para uma miragem de gramas mais verdes, ele despertou um clamor por ajuda e então respondeu com uma promessa concreta.
Aqui está um exemplo. Isto é recente. Eu acordei me sentindo emocionalmente frágil. Fraco. Vulnerável. Eu orei: "Senhor me ajude. Eu não estou nem ao menos certo de como orar."
Uma hora depois eu estava lendo Zacarias, buscando a ajuda pela qual eu clamei. Ela veio. O profeta ouviu grandiosas notícias de um anjo sobre Jerusalém:
Jerusalém será habitada como as aldeias sem muros, por causa da multidão, nela, dos homens e dos animais. E eu, diz o Senhor, serei para ela um muro de fogo em redor e eu mesmo serei, no meio dela, a sua glória. (Zacarias 2:4-5)
Haverá tal prosperidade e crescimento para o povo de Deus que Jerusalém não poderá mais ser murada. "A multidão, nela, dos homens e dos animais" será tão numerosa que Jerusalém será como muitas vilas espalhando-se sem muros pela terra.
Mas muros são necessários! Eles são a segurança contra hordas de bárbaros e exércitos inimigos. Vilas são frágeis, fracas, vulneráveis. Prosperidade é bom, mas e quanto a proteção?
Para tal questionamento Deus diz em Zacarias 2:5, "E eu, diz o Senhor, serei para ela um muro de fogo em redor." Sim. É isso. Esta é a promessa. O "Eu irei" de Deus. Isto é o que eu preciso. E se isto é verdade para as vilas vulneráveis de Jerusalém, é verdade para mim, um filho de Deus. Deus será como uma "muralha de fogo em redor de mim." Sim. Ele será. Ele tem sido. E ele será.
E fica melhor. Dentro desta muralha flamejante de proteção ele diz, "e eu mesmo serei, no meio dela, a sua glória." Deus nunca está contente em nos dar a proteção do seu fogo; ele nos dará o prazer de sua presença.
Isto foi doce para mim. Isto me carregou por dias. Eu levei isto comigo para o púlpito. Eu levei isto comigo para os encontros de família. Eu levei isto comigo para as reuniões de trabalho. Eu levei isto comigo para as ligações de telefone e e-mails.
Esta tem sido minha libertação toda vez desde quando eu marquei a minha Bíblia King James - tradicional tradução inglesa da Bíblia - nos meus 15 anos. Deus tem me resgatado com clamores por ajuda e promessas concretas. Desta vez ele disse: "E eu, diz o Senhor, serei para ela um muro de fogo em redor e eu mesmo serei, no meio dela, a sua glória."
Clame a ele. Então vasculhe a Bíblia pela sua promessa designada. Nós somos frágeis. Mas ele não.






6 - Cura de Deus para a Fraqueza do Homem

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

   (Nota do tradutor: Ainda não li e traduzi o sermão, enquanto escrevo esta nota, porque procurei um título, que se adequasse ao meu intento de discorrer sobre o poder e a força da graça de Jesus para vencer toda sorte de tentação para o pecado, e para suplantar qualquer tipo de fraqueza latente de nossa natureza terrena. O ponto que pretendo enfocar é o de que somente por um andar no Espírito, que conduz, pela graça, nossa alma ao bom almejado estado de santificação, que podemos viver em paz com nossas consciências e livrados dos terrores produzidos pelo viver segundo a carne e não segundo o Espírito. Há paz para o coração santificado, e o livramento da condição de miséria espiritual de sujeição ao poder do pecado para todo aquele que é guiado diariamente pela Lei do Espírito de vida em Cristo Jesus, mediante a fé.)

   "Da fraqueza tiraram forças." (Hebreus 11.34)

   Há alguns tipos de fraqueza que não são pecaminosos. Em referência a esses pontos fracos pode ser, depois de suplicar ao Senhor até três vezes para removê-los - que para o nosso bem, eles devem permanecer por algum tempo. Em seguida, será nosso Deus gracioso em nos dar, em vez de remover a fraqueza, esta resposta: "Minha graça é suficiente para você."
    Este é um caso de, em se tirar força da fraqueza, e há muitos dos santos de Deus que a experimentam diariamente por um abençoado privilégio. Eles são fracos, e continuam fracos. Eles têm enfermidades que uma vez quiseram ver removidas, mas que agora eles se contentam em ter, porque são da mesma mente do Apóstolo - eles se gloriam em suas fraquezas, porque quando são fracos então é que são fortes.
   Mas, queridos amigos, há um outro tipo de fraqueza que é pecaminoso – uma fraqueza que não brota da natureza, mas da natureza decaída - não pelo desígnio de Deus, mas de nossa pecaminosidade. E disso deveríamos ter o desejo de nos livrar. Não podemos orar pedindo força na fraqueza pecaminosa, mas devemos sinceramente suplicar por forças para sair dela e de sermos feitos    fortes pela graça para poder vencê-la. Isto parece-me ser a bênção especial relativa à fé é citada no texto, "da fraqueza tiraram forças."
   É o privilégio inestimável de muitos cristãos serem fortes na   fraqueza, quando o ponto fraco é apenas uma enfermidade, mas é um dom precioso igualmente serem feitos fortes na fraqueza quando esta fraqueza é de um tipo pecaminoso, que nos torna suscetíveis à inclinação para determinados tipos de pecados, quer pelo desejo, quer pela sua prática.
   Olhando em volta da Igreja em geral, com um olho tão imparcial quanto pudermos, tememos que a maior parte é hoje comparável a uma enorme enfermaria, em vez de um campo preenchido com bravos soldados. Tanto pastores e membros privados da Igreja são muito geralmente fracos em uma maneira ou outra. Eles estão vivendo, mas são doentes. Eles estão trabalhando para Deus, mas eles estão trabalhando de forma fraca, ineficiente, na energia da carne.
   Eu desejo neste dia falar com aqueles que são fracos – fracos onde eles não deveriam ser - e que sentem uma tendência crescente para se contentar com essa fraqueza. Gostaria de incitar aqueles que estão começando a imaginar que fraqueza é o estado normal e adequada de um cristão - que, ser incrédulo, desalentado, nervoso, tímido, covarde, inativo, sem coração, na pior das hipóteses é uma coisa muito desculpável. Eu quero, se Deus quiser, mostrar aos pecaminosamente fracos que sua condição não é boa em todos os aspectos. Eu quero mostrar que é necessária uma operação da fé para nos tirar disso – de modo a nos livrarmos da nossa fraqueza e sermos tornados fortes pela graça, invertendo nossa condição atual, de modo a permitir-nos que sejamos poderosos na obra de Deus.
   Uma vez que o texto ensina que a fé é a grande cura para a fraqueza espiritual, eu devo, em primeiro lugar, citar alguns casos de cura. Depois analisar o remédio. E em terceiro lugar me esforçarei para administrá-lo, e em quarto lugar, direi uma palavra de louvor ao Médico que o prescreveu.
   Nos tempos apostólicos foi pela fé que muitas doenças foram curadas pelo toque de cura dos Apóstolos. Esse poder de cura, provavelmente, tornou-se extinto, ou jaz adormecido na Igreja - mas ainda existem indicações de que a fé tem poder nessa direção. Não posso deixar de pensar que, quando John Wickliffe, erguendo-se no seu leito de enfermidade, disse aos monges que o cercaram, esperando que ele morresse e tentando-o a se retratar, "eu não morrerei, mas viverei para declarar os atos perversos dos monges" -   não podemos deixar de pensar que sua fé teve muito a ver com sua cura.
   Esses casos maravilhosos gravados na vida de Dorothea Trudel de Zurique indicam o poder singular da fé para ajudar na cura do corpo por sua influência calmante sobre a mente.
   Que mulher admirável, que se tornou a fundadora de um hospital em que curas foram operadas principalmente pelos meios da oração e da fé.
   Que a fé fortalece os homens cristãos foi provado muitas vezes na história da Igreja de Deus. A fraqueza da Igreja brota   principalmente a partir de uma falta de fé no seu Deus e na revelação que Deus lhe confiou.
   Quando os homens acreditam intensamente e agem vigorosamente. E quando os seus princípios penetram suas próprias almas e tornam-se preciosos para eles como a própria vida, então nenhum sofrimento é muito grave, nenhuma tarefa é muito trabalhosa, e nenhum conflito muito heroico. Eles vão enfrentar   impossibilidades – rir-se-ão delas e as superarão - uma vez que sabem com certeza que os princípios nos quais eles se fundamentam são certamente de Deus.
   Esta parece-me ser a grande obra que Lutero fez em seus dias sob o poder do Espírito Santo de Deus. Ele trouxe de volta a Igreja à sua força espiritual.
   Veja um homem como ele entrando em Worms, desafiando uma série de demônios, embora eles fossem tantos quanto as telhas nos telhados das casas! Veja-o levantando-se na Dieta de Worms e alegando que ele não podia se retratar em relação à verdade evangélica que havia pregado e ensinado!
   Veja como Deus usou Whitfield e Wesley para restauração da fé em seus dias. Eles estavam tão cheios do Espírito de Deus, e poderiam vê-Lo tão claramente em todos os lugares no trabalho, que eles não sentiam necessidade de provar o que outros homens   estavam discutindo sobre se as Escrituras eram divinamente inspiradas ou não.
     Os seguidores de Whitfield e Wesley, em vez de provarem com desconfiança e pedindo desculpas pelo Evangelho com tibieza, vinham adiante afirmando, "assim e assim disse o Senhor."
     Irmãos, nossas Igrejas devem voltar para a antiga fé e se vocês não acreditam nos artigos de sua fé, rejeitem-nos e não sejam crentes falsos. Se as doutrinas que vocês professam são, de fato, verdadeiras, peguem-nas gravem-nas em suas almas e consciências. Tenham fé em Deus e na Verdade - que a verdade de Deus não pode ser destruída, nem Deus derrotado.
   O que foi provado ser verdadeiro em maior escala tem sido verdade em todas as demais instâncias. Por exemplo, a fraqueza da natureza humana depravada sempre ocupa lugar antes que a energia da fé do Espírito opere em nós.
   O pecador, despertado em sua fraqueza, suspira dolentemente:
   "Eu gostaria, mas não posso louvar,
   Eu gostaria, mas não posso orar.
   Eu gostaria, mas não posso romper os laços do pecado.
   Eu gostaria, mas não posso quebrantar o meu coração
   e suavizá-lo em penitência.”
   Quando o pecador é dirigido para a Cruz e trata de confiar a si mesmo a Jesus - vendo o sangue aspergido e a justiça operando - então o homem pode orar, pode cantar, pode se quebrantar em penitência ou pode se elevar em chamas de amor!
   A incapacidade da natureza humana é instrumentalmente removida pela energia da fé. Foi por crer que você se tornou forte. Se você tivesse continuado confiando em sua própria capacidade de vencer a tentação, ou confiando em suas obras, permaneceria se sentindo fraco para sempre - mas quando você olhou para fora de si mesmo para Cristo e confiou nele então a Sua força veio para você! O mesmo é verdade em relação à fraqueza espiritual posterior que ocorre após a conversão. Cristãos que estão vivos para Deus, e são dotados com um pouco de força Divina, são atacados às vezes com um declínio espiritual universal. Assim como às vezes vemos uma pessoa forte e saudável empalidecendo e desmaiando, perder o apetite e cair na doença.
   Eles não perdem a vida, mas eles perdem toda a sua energia e tornam-se apáticos, sem vida e cheios de inquietações e temores. Em seguida, eles mal podem andar, e muito menos agir. Tais pessoas vão testemunhar que a única maneira de recuperar sua força é pela fé. Eles devem vir novamente para os primeiros princípios e confiar suas almas de novo a Jesus - acreditando mais uma vez com uma novidade de energia nas antigas doutrinas do Evangelho! Eles devem ir a Deus como a um verdadeiro Deus na oração de fé e, em seguida, eles não vão ficar por muito tempo fracos.
   Outra fraqueza comum entre os cristãos é a timidez. A modéstia é bonita, mas pode se degenerar em covardia. É bom ser   humilde – mas nunca é bom ser fraco e temeroso. Alguns estão sempre com medo. Não se atrevem a tentar isso e não se atrevem a tentar aquilo. E se acontecer de serem colocados num ofício no qual eles possam influenciar os outros por seus conselhos, eles são oficiais chocantemente ruins, porque eles estão sempre mantendo a Igreja debaixo de um espírito de medo da derrota. O que é uma cura certa para a timidez? Fé - a crença na Verdade de Deus, no Seu poder invisível.
   A impaciência, também – a murmuração impaciente - é outra forma de fraqueza cristã pela qual não devemos esperar que sejamos feitos fortes na graça divina, mas devemos implorar por graça para sair dela.
   Irmãos e irmãs, se tivéssemos mais fé em Deus que Ele faz tudo cooperar para o bem daqueles que O amam, não ficaríamos    tão impacientes!
   Consideremos agora o remédio da fé. Um dos primeiros ingredientes do remédio da fé é um sentimento de direito. Todo mundo admite que, quando um homem é certo que o direito está do seu lado, ele encontra força nessa crença. Há verdade no velho ditado que "uma boa consciência é a melhor armadura."
   Um homem que não pode argumentar, mas que sabe que ele está certo, de alguma forma ou de outra permanece firme. Ele diz: "meu adversário tem mais inteligência do que eu. Ele entende de lógica melhor do que eu, mas eu sei que eu estou certo." E saber que você está certo necessariamente lhe dá força. A fé é uma crença na justeza daquilo que Deus revela, uma confiança em Sua verdade. E quem não sabe que um homem que crê, por isso, torna-se forte?
   Um segundo ingrediente é a autoridade celestial. Todo mundo sabe que um homem que é naturalmente fraco frequentemente atuará muito bravamente quando ele tem autoridade para apoiá-lo.
   Um homem, portanto, consciente de que ele tem uma missão do Céu, não pode ser medroso! Ele deve ser poderoso! E quando a pessoa sente, além disso que o decreto de Deus o nomeia para realizar um determinado fim. Que a promessa declara que ele deve ter êxito. E que a partir da eterna natureza da verdade não pode sustentar a derrota - então certamente ele permanece inabalável no meio das ondas e ele não pode vacilar! Ele lança todos os pensamentos de medo aos ventos.
   Misturado com isso está a consciência da companhia celestial que faz o crente corajoso. O cristão sente que ele tem a companhia do seu Deus e Salvador. O nome de Jesus é "Emanuel, Deus conosco." O melhor de tudo é Deus estar conosco. Se nós sofremos, Jesus sofre em um de seus membros. Se somos caluniados e reprovados por causa de Jesus, é a Cruz de Cristo, que nós estamos carregando, e Jesus a carrega conosco.
   Além de tudo isso a fé tem uma expectativa de ajuda sobrenatural. A fé ouve as rodas da Providência que trabalham em seu nome. O cristão, não na imaginação, mas na verdade espiritual, pode ouvir as asas dos anjos voando para o resgate da Verdade Divina. Deus trabalha para o Seu povo. O mal Ele dificulta e restringe. O bem Ele vivifica e se multiplica.
   Eu não devo omitir um ingrediente poderoso no remédio da vida de fé - a perspectiva de recompensa final. A fé sussurra para si mesma, "Eu posso cair, mas eu ressuscitarei." Ela sabe que, no final, ela não pode, não deve, cair - que ela deve vencer! Quando um homem teme a derrota ele, provavelmente, a traz para si, porque o seu medo a pressagia. Mas quando um homem não sabe como ser derrotado, os pequenos desastres mesquinhos contribuem para a sua vitória final.
   A fé vê o invisível e contempla a substância daquilo que ainda está longe. A fé crê em Deus - um Deus presente poderoso pleno de amor e de sabedoria efetuando Seus decretos - realizando seus propósitos, cumprindo Suas promessas, glorificando o Seu Filho. A fé crê no sangue de Jesus, na redenção eficaz na cruz sangrenta. Ela   acredita no poder do Espírito Santo! A fé apreende a realidade da Bíblia - ela não olha para ela como um sepulcro com uma pedra colocado sobre a mesma - mas como templo no qual Cristo reina, como um palácio de marfim do qual ele vem cavalgando no seu carro, vencendo e para vencer.
   A fé não acredita que o Evangelho seja um pergaminho desgastado, para ser enrolado e guardado. Ela acredita que o Evangelho, em vez de estar na sua senilidade, está em sua juventude! A fé não faz fugir da luta - ela anseia por isso, porque ela prevê a vitória.






7 - Sempre Ainda Mais Uma Vez

Pior do que o sentimento de verdadeira inutilidade é o pensamento de que se é útil e descobrir por fim que se viveu praticando o que era inútil.
Todavia, todos nós, sem uma única exceção, flutuamos em graus variados entre estes dois pólos, ao longo de todo o curso da nossa existência terrena.
Mas somente aqueles que têm sido comissionados para algum encargo específico que se relacione a servir o próximo em amor haverão de sentir o peso da imensa frustração que se pode experimentar quando falham no desempenho que deveriam apresentar.
Aqueles que têm aprendido da parte de Deus sobre a verdadeira essência e profundidade da sua própria insuficiência acharão algum consolo nisto, mas não poderão achar descanso e paz para as suas almas atribuladas enquanto não forem reerguidos pela graça de Cristo para o devido cumprimento dos deveres para os quais foram encarregados por Ele.
Quantas lágrimas derramadas e suspiros de uma alma aflita serão achados ao longo da caminhada da estrada da vida!
Quantas dores e sofrimentos pela consciência atormentada pela ideia do fracasso.
Frustrações acumuladas que parecem nunca ter um fim.
Todavia persevera, pela exclusiva graça e poder do Espírito que volta a erguer o caído.
A alma responsável não acha sossego na ociosidade e por isso o apóstolo Pedro voltou a pescar, retornou ao seu antigo ofício, quando pensou que jamais voltaria ao exercício do apostolado por ter negado a Cristo.
Voltamos à prática das coisas de pouca ou nenhuma utilidade, pois a alma soçobrará caso fique parada.
Mas já não se tem mais alegria que se sentia antes nestas antigas atividades porque a consciência agora esclarecida e educada pela graça revela a profunda apostasia em que nos encontramos.
Tínhamos uma comissão, mas falhamos.
Entretanto, quando pensamos que a graça não pode suportar tantos extravios, ela se revela quantas vezes necessárias, que está disposta a nos conduzir a patamares mais elevados no divino serviço.
Por ela somos habilitados e animados, renovados em alegria, ao ver que mais uma vez, em tantas ao longo da vida, continuamos sendo usados pela exclusiva misericórdia, graça, amor e poder de Jesus Cristo.  






8 - Decadências não Significam o Fim

Pode ocorrer com muitos, que haja grandes decadências na graça e na santidade, e que a obra de santificação anterior neles, possa ser obstruída por uma longa época.
Muitas ações da graça serão perdidas em tais pessoas, por causa de suas rebeliões e negligências contumazes, e para as quais não se buscou arrependimento.
Então as poucas coisas relativas à sua santificação que permaneceram estão prontas para morrer e a Bíblia fala abundantemente sobre isto, conforme o exemplo que temos em Apo 3.2:
“Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus.” (Apo 3.2).
E quanto se tem visto disto em nossos dias, porque aqueles que caminhavam bem e que demonstravam uma grande santificação estão sendo achados em grande apostasia das verdades que eles tão tenazmente haviam defendido antes.
Isto porque se deixaram levar por ventos de doutrinas, por orgulho espiritual, amor às riquezas terrenas, e por tantas outras coisas que podem levar um cristão a decair da fé.
E mesmo nestes casos, não podemos passar um atestado final de que não há nenhuma santidade sincera onde achamos tais decadências.
Mas nós devemos indagar quais são as razões que conduzem a isto, porque elas são contrárias ao progresso gradual em santificação.
Estas decadências são ocasionais e contrárias à verdadeira natureza e constituição da nova criatura, e uma perturbação da obra da graça.
São doenças em nosso estado espiritual das quais nós seremos curados, e portanto, pelas quais o nosso estado espiritual não pode ser medido.
A enfermidade do espírito não deve ser justificada,  mas curada, e o Espírito Santo tem prescrito o remédio do arrependimento e da diligência para que possamos ser curados.
Enquanto isto não for feito, a cura não será processada.
E quanto mais cedo o fizermos será melhor para nós, porque a enfermidade poderá avançar e nos debilitar grandemente de modo que torne mais dificultosa a cura.  







 9 - Ai de mim !  Nada posso fazer!

Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)

Depois de haver aceitado a doutrina da reconciliação e compreendido a grande verdade da salvação mediante a fé no Senhor Jesus, o coração atribulado se inquieta muito freqüentemente por um sentimento de incapacidade relativa à prática do bem. Muitos suspiram, dizendo: Ai de mim, nada posso fazer! E não o dizem com o sentido de recusa, porém o sentem como uma carga pesada diária. Fariam o bem se pudessem. Cada um destes poderia dizer francamente: “Porque o querer o bem está em mim, porém não o fazê-lo.” (Rom 7.18).
Esta experiência parece fazer todo o evangelho nulo e sem efeito, pois, para que serve o alimento, se está fora do alcance do faminto ? Para que serve o rio de água viva, se o sedento não pode beber ? Nos recordamos aqui da anedota do médico e do filho de uma mãe pobre. O médico lhe disse que seu menino melhoraria rapidamente sob um tratamento apropriado para o caso, sendo absolutamente necessário que tomasse do melhor vinho do Porto e que passasse uma temporada nas termas Alemãs. Receita para o filho de uma mãe pobre que apenas tinha pão para levar à boca! Assim o evangelho não parece à alma ansiosa coisa tão sincera ao dizer: “Crê e viverás.” porque pede ao pobre pecador que faça o que pode fazer. Para o verdadeiramente esperto, porém pouco instruído, parece faltar um elo na cadeia. O remédio está lá, porém, como obtê-lo ? A alma se sente sem forças e não sabe o que fazer. Está próxima a vista da cidade de refúgio, porém não pode entrar pela porta.
Não se tem dado conta desta falta de força no plano de salvação ? Claro que sim ! A obra do Senhor é perfeita. Esta começa onde nos achamos, e nada nos pede para aperfeiçoá-la. Quando o bom samaritano viu o viajante ferido estendido no caminho, estando meio morto, não lhe pediu que se levantasse, que viesse e montasse seu jumento e assim se dirigiria à pousada. Não. Não. Ele se aproximou dele, vendo suas feridas e o colocou sobre o seu jumento e o levou à pousada. Assim nos trata Jesus em nosso estado lamentável do pecado.
 Temos visto que é Deus quem justifica os ímpios e que os justifica mediante a fé no precioso sangue de Jesus. Agora veja a condição na qual se acham estes ímpios quando Jesus começa a salvar-lhes. Muitas pessoas rápidas em ver sua condição, não somente se acham atribuladas em razão dos seus pecados como também pelo motivo de sua fraqueza moral. Carecem de forças para escapar do lodo em que têm caído e cuidar-se do mesmo no futuro. Não somente se lamentam pelo que têm feito, senão pelo que não podem fazer. Sentem-se sem forças, sem recursos, sem vida espiritual. Parece estranho dizer que se sentem mortos, e não obstante assim, em sua própria estima são incapazes de todo o bem. Não podem andar pelo caminho do céu por terem as pernas quebradas. Tanto que se sentem sem forças. Felizmente está escrito como recomendação do amor de Deus para conosco:  “Cristo, quando ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rom 5.6).
Aqui vemos a incapacidade consciente socorrida: socorrida pela intervenção do Senhor Jesus. Nossa nulidade é completa. Não está escrito: “Quando ainda éramos comparativamente fracos, Cristo morreu por nós,”, ou “quando somente tínhamos um pouco de força,” mas a afirmação é absoluta, sem limitação, “Quando ainda éramos fracos.”. Faltava-nos toda a força para ajudar-nos na obra da salvação. As palavras de nosso Senhor eram verdadeiras, “sem mim nada podeis fazer” (João 15.5). Poderia ir mais além do texto e recordar-lhes do grande amor com que o Senhor nos amou, “quando estávamos mortos em nossos pecados.”. O achar-se morto é ainda pior do que achar-se sem forças.
O grande fato em que o pobre pecador sem forças deve fixar sua mente e reter firmemente como único fundamento de esperança, é a afirmação divina que “a seu tempo morreu pelos ímpios.”. Crê nisto e toda incapacidade desaparecerá. Como diz a fábula do rei Midas, que tudo transformava em ouro por seu tato, assim se pode afirmar com verdade a respeito da fé que tudo o que toca torna bom. Nossas mesmas faltas e fraquezas se tornam bênçãos, quando a fé entra em contato com elas. Fixemo-nos em certas formas desta falta de força. Agora, alguém dirá: “Parece-me que não tenho força para concentrar meus pensamentos nos assuntos solenes relativos à minha salvação; quase não posso fazer uma breve oração. Acaso isto é assim, em parte devido à minha fraqueza física, em parte por haver-me prejudicado por algum vício, em parte também por minhas aflições nesta vida, de modo que me tenho incapacitado para os pensamentos elevados que se requerem para a salvação da alma.”.
Esta é uma forma de fraqueza pecaminosa muito comum. Atenção agora! Neste ponto você está equivocado, e há muitos como você. Muitos que seriam de todo incapazes de uma série de pensamentos consecutivos, por muito que se esforçassem. Muitas pessoas pobres de ambos os sexos carecem de educação, achando um trabalho muito difícil e de presunção ter pensamentos profundos. Outras pessoas são por natureza tão superficiais que um argumento de raciocínio amplo, lhes seria tão difícil como querer voar como uma ave. Não chegariam ao conhecimento de nenhum mistério profundo, ainda que gastassem toda sua vida em tal empresa. Portanto, você não necessita desesperar-se, o que se requer para a salvação não é um processo de pensamento contínuo, senão uma sincera confiança em Jesus. Una-se a este fato “Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios”. Esta verdade não requer da tua parte um exame profundo, raciocínio lógico, nem argumento convincente. Ali está, “Cristo, a seu tempo morreu pelos ímpios”. Fixa a tua mente nele e permanece ali.    
Tenha por alvo que este glorioso fato da graça permaneça em seu espírito até que perfume todos os seus pensamento e se regozije o coração, ainda que você se ache sem forças, tendo ao mesmo tempo presente que o Senhor Jesus veio para ser a sua fortaleza e canção, sim, tem vindo para ser a sua salvação. Segundo as Escrituras é um fato divinamente revelado que no tempo devido Cristo morreu pelos ímpios sendo eles ainda fracos, sem forças. Talvez haja ouvido estas palavras centenas de vezes, porém sem haver nunca compreendido o seu significado. São de sabor agradável não é verdade ? Jesus não morreu por nossa justiça senão por nossos pecados. Não veio para salvar-nos porque merecíamos ser salvos, senão porque éramos inteiramente indignos, arruinados, inúteis. Não veio ao mundo por alguma boa razão que houvesse em nós, senão exclusivamente pelas razões que achava nas profundidades do seu amor divino. A seu tempo morreu pelos que ele mesmo afirma não eram piedosos, senão ímpios. Ainda que você tenha somente pouca inteligência, fixa esta verdade tão apropriada à menor capacidade mental, e que, não obstante, pode alegrar o coração mais desconsolado. Este texto deve ocupar a sua mente como grata recordação até encantar o seu coração e dar colorido a todos os seus pensamentos, e então nada importará que estes estejam tão dispersos como as folhas que são dispersadas pelo vento de outono. Pessoas que nunca brilharam nas ciências, nem deram prova alguma de originalidade mental, têm sido muito capazes de aceitar a doutrina da cruz e têm sido salvas por ela. Por que não você ?      
Ouço outro lamentar-se: “minha falta de força consiste principalmente em não poder me arrepender o suficiente.”. Idéia singular que alguns têm do que é o arrependimento ! Muitos imaginam que se deve derramar muita lágrima, e exalar muito suspiro e sofrer bastante desespero. De onde nos vem idéia tão errônea ? A incredulidade e o desespero são pecados, e portanto não vejo como podem constituir parte de um arrependimento que Deus exija. Sem dúvida, há pessoas que os consideram parte da verdadeira experiência cristã. Porém nisto se equivocam grandemente. Não obstante, compreendo o que querem dizer, porque nos dias em que estava em trevas, eu sentia o mesmo. Desejava arrepender-me pensando que não poderia fazê-lo, e o certo é que todo esse tempo estava arrependido. Estranho como soa. Doía-me o que não podia sentir. Costumava enfiar-me em algum canto e chorar, porque não podia chorar, e sofria amargamente porque não podia sofrer a causa dos meus pecados. Quanta confusão! Quando em nosso estado de incredulidade começamos a jogar com nossa condição espiritual! Parecemo-nos com o cego olhando os seus próprios olhos. O coração se me derretia de temor, porque cria que meu coração era duro como uma pedra. Meu coração estava quebrantado ao pensar que não se quebrantava. Agora compreendo que então eu estava dando mostras de possuir precisamente as coisas que cria não possuir, mas não sabia onde me achava.
Oxalá que pudesse ajudar a outros a encontrarem a luz que hoje desfruto! Quanto gostaria de dizer uma palavra que abreviasse o temor de transtorno em que você se acha ! Desejaria dizer umas palavras sinceras pedindo ao Consolador para aplicá-las ao seu coração.
Saiba que o homem verdadeiramente arrependido nunca fica satisfeito com o seu arrependimento. Tampouco como não podemos viver perfeitamente, podemos arrepender-nos perfeitamente. Por puras que sejam nossas lágrimas, sempre há nelas alguma impureza; algo de que nos arrependemos em nosso arrependimento melhor. Porém escute. O arrepender-se significa mudar de mente sobre o pecado, acerca de Cristo e acerca de todas as grandes coisas de Deus. Nisto está incluído a dor, porém o ponto principal é volver o coração, do pecado a Cristo. Se existe em você este retorno, você tem a essência do arrependimento, ainda quando o desespero e sobressalto lancem qualquer sombra sobre a sua mente.
Se não pode arrepender-se como gostaria, achará auxílio no caso, se crê firmemente que “a seu tempo morreu pelos ímpios”. Pense repetidas vezes nisto: Como poderá continuar com o coração endurecido tendo presente que o Cristo de amor supremo, morreu pelo ímpio ? Permita-me convencer-lhe para que pense de si mesmo como “ímpio como sou, embora meu coração de pedra não se acalme, não obstante ele morreu pelos que são como eu, já que morreu pelos ímpios. Queira Deus que eu creia nisto e sinta seu poder em meu coração endurecido.”.  
Retira todo outro pensamento da sua mente e senta por horas inteiras meditando nesta única manifestação de amor sem par, imerecida e inesperada: “Cristo morreu pelos ímpios”. Leia cuidadosamente a narração da morte do Senhor, como consta nos quatro evangelhos. Se há algo capaz de abrandar o seu duro coração, será a contemplação dos sofrimentos de Jesus, considerando que tudo o que padeceu foi para o bem de seus inimigos.
Crucificado num madeiro,
Manso cordeiro, morres por mim;
Por isso a alma triste chorosa
Suspira ansiosa, Senhor, por ti.
Contemplo tua angústia já terminada,
Feita a oferenda da expiação,
Tua nobre fronte ferida, inclinada,
É consumada minha redenção.
Doces momentos, ricos em dons
De paz e graça, de vida e luz!
Somente há consolos e bênçãos
Perto de Cristo junto à cruz.
Certamente a cruz, é dizer o que simboliza, é o poder milagroso que faz brotar água da pedra. Se você entende bem o significado do sacrifício divino de Jesus, se arrependerá forçosamente de haver-se oposto alguma vez a um Salvador tão cheio de amor. Escrito está: “olharão para mim, a quem traspassaram; pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito, e chorarão por ele, como se chora amargamente pelo primogênito.” (Zac 12.10). O arrependimento não fará você ver a Cristo, porém o contemplar a Cristo fará que você se arrependa. Você não deve fazer de Cristo o produto do seu arrependimento, porém deve olhar para Cristo para que dele lhe venha o arrependimento. O Espírito Santo, volvendo-nos para a face de Cristo nos faz volver as costas ao pecado. Portanto, volve-se do efeito à causa, a saber do seu próprio arrependimento ao Senhor Jesus que foi “exaltado para dar arrependimento” (At 5.31).
Tenho ouvido outro dizer: “Me atormentam pensamentos terríveis. Onde quer que vá, me assaltam blasfêmias. Me acossam tentações malignas em meio ao trabalho e ainda sobre o leito me despertam inspirações do maligno. Não posso livrar-me desta tentação espantosa.”. Amigo, compreendo o que quer dizer, porque o mesmo lobo me tem perseguido. Mais fácil seria vencer a  um exército de moscas com um sabre do que dominar os pensamentos capitaneados pelo demônio. A alma tentada, pelas sugestões satânicas, se parece ao viajante, cuja cabeça, orelhas e corpo inteiro foram atacados por um enxame de abelhas. Não as pode tirar de si, nem pode fugir delas. Elas o picaram por todas as partes, ameaçando deixá-lo morto. Não me maravilho de ouvir que você se acha sem forças para por fim a esses pensamentos horríveis e abomináveis, com os quais o diabo inunda a sua alma. Não obstante queria recordar-lhe o texto em vista: “Cristo, quando ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.” (Rom 5.6).
Jesus sabia em que estado nos achávamos e em que estado deveríamos estar, via que não poderíamos vencer o príncipe das potestades do ar; sabia que nos molestaria terrivelmente, porém precisamente então, vendo-nos nessa condição, morreu pelos ímpios. Lança a âncora da sua fé sobre este fato. O mesmo demônio não poderá dizer-lhe que você não era ímpio, creia, pois, que Cristo morreu por você. Recorda como Martinho Lutero feriu a cabeça da serpente com a sua própria espada. Ah! Satanás lhe disse, “você é pecador”. “Certo”, respondeu Lutero, “Cristo morreu para salvar os pecadores.”. Assim ele venceu com sua própria espada. Esconda-se neste refúgio e permanece nele. “Cristo, a seu tempo, morreu pelos ímpios.”. Se você se refugiar nesta verdade, os pensamentos blasfemos que você não pode afugentar, a causa da sua fraqueza, se afastarão de você por si mesmos, porque Satanás verá que não pode vencer atormentando você com eles.
Se você odeia tais pensamentos, não são seus senão inspirações do diabo pelos quais ele é responsável e não você. Se você lutar contra eles, são tampouco seus como as blasfêmias e mentiras dos alvoroçadores das ruas.. Por meio desses pensamentos o demônio intenta levar-lhe ao desespero, ou quando menos quer impedir que você confie em Jesus. A pobre mulher enferma não pôde aproximar-se de Jesus por causa da multidão, e você está em condição semelhante por causa da multidão de pensamentos maus que lhe oprimem. Sem dúvida, ela estendeu a mão e tocou o vestido do Senhor, e ficou sã. Faze o mesmo.
Jesus morreu pelos culpados “de toda classe de pecado e blasfêmia” e pelo mesmo estou seguro de que não lançará fora os que sem desejá-lo são acusados pelos maus pensamentos. Lance-se confiante sobre ele, com pensamentos e tudo, e verá como é poderoso para salvar-lhe. Ele porá fim a essas inspirações do maligno e lhe fará vê-las em sua verdadeira luz, para que não lhe atormentem mais. Ele quer e pode salvar do seu modo, de maneira que por fim você desfrute de perfeita paz. Somente confie nele tanto quanto a isto como em relação a tudo o mais.
Desconcerto doloroso é a forma de incapacidade que consiste na suposta falta de poder para crer. Não nos é estranha a queixa que diz:
Com tal que crer pudera,
Mui grato de todo seria,
Não posso, se bem quisera,
É tal a miséria minha.
Muitos ficam às escuras por anos e por falta, como dizem, de poder fazer o que na realidade não podem fazer, senão o abandono de todo poder para entregar-se ao poder de outro, ao Senhor Jesus mesmo. É verdade que todo este assunto de crer é coisa muito singular, porque as pessoas que se esforçam no sentido de tentar crer, não acham auxílio nessa empresa. A fé não vem por tratar ou procurar crer. Se alguém me relatasse algo que ocorreu esta manha, não lhe diria que procuraria crê-lo. Se não o achasse uma pessoa confiável, não creria naturalmente, porém em nenhum outro caso haveria lugar para tal coisa como procurar crer. Agora, bem, declarando Deus mesmo que em Cristo Jesus há salvação, forçosamente devo crê-lo em seguida, ou o chamarei de mentiroso. Por certo que você não duvidará a respeito do que seja o reto proceder neste caso. O testemunho de Deus deve ser verdadeiro, e sendo assim nos achamos sob a obrigação de crer sem demora.
Porém talvez você tenha procurado crer demasiadamente. Não aspire a cousas exorbitantes. Contente-se com uma fé que repousa sobre esta única verdade “Cristo, quando ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.”. Ele deu sua vida pelos homens quando ainda não criam nele, nem eram capazes de crer nele. Morreu pelos homens não como crentes senão como pecadores. Ele veio para fazer a estes pecadores crentes e santos; porém ao morrer por eles lhes contemplava como de todo sem forças. Se você afirma para si mesmo a verdade que Cristo morreu pelos ímpios e crê nisto, a sua fé lhe salvará e poderá ir em paz. Se quer confiar sua alma ao Senhor Jesus que morreu pelos ímpios, você é salvo, ainda quando todavia não possa crer em todas as coisas, nem mover as montanhas, nem fazer outras coisas maravilhosas. Não é a grande fé que salva senão a verdadeira fé; e a salvação não está na fé, senão no Cristo, em quem a fé confia. Uma fé tão pequena como um grão de mostarda basta para trazer-nos a salvação. Não é a medida de fé o que se tem em conta, senão a sinceridade da fé. Certamente o homem pode crer o que sabe que é a verdade; e como você sabe que Jesus é verdadeiro, você amigo, pode crer nele.  
A cruz que é o objeto da fé é também, pelo poder do Espírito Santo, a fonte da mesma. Senta e contempla em espírito ao Salvador moribundo até que brote a fé espontaneamente do coração. Não há melhor lugar que o Calvário para produzir a confiança. Quem põe seu olha no significado deste monte, lhe é proporcionado vigor à sua fé. Muitos que ali têm contemplado ao Redentor, têm dito:
Contemplando-te querido moribundo
No vil madeiro como delinqüente.
A fé em ti, Senhor no profundo
Do coração nascer se sente.
“Ai de mim!” diz outro. “Minha falta de força consiste em que não posso abandonar o pecado e bem sei que não posso ir para o céu carregado de pecados.”. Me alegro de que saiba isto, porque é a pura verdade. È preciso divorciar-se do pecado para casar-se com Cristo. Lembra a pergunta que penetrou na mente de John Bunyan ocupado em seus jogos no dia de domingo ? Queres guardar teus pecados e ir para o inferno ou abandonar teus pecados e ir para o céu ? Isto o deixou confuso. Esta é uma pergunta que todo homem terá que responder, porque continuar no pecado e ir para o céu é impossível. É preciso abandonar o pecado ou abandonar a esperança.
Se respondes: “Sim, a vontade não me falta. Tenho o querer, mas fazer o que desejo não consigo. O pecado me domina e não tenho forças,”. Vem, pois, se não tens forças, ainda há remédio neste texto. “Cristo, quando ainda éramos fracos, morreu pelos ímpios”. Podes crer nisto todavia ? Por muito que outras coisas, na aparência, o contradigam, queres crê-lo ? Deus o tem dito, é um fato, e portanto acolhe ao mesmo por amor da tua alma, porque ali está a tua única esperança. Crê nisto e confia em Jesus, e prontamente acharás poder para aniquilar o teu pecado; porém separado de Cristo, o “homem forte armado” te tratará para sempre como escravo. Pessoalmente nunca poderia haver vencido minha natureza pecaminosa. Procurava, porém fracassei. Minhas más inclinações me eram demasiadamente numerosas, até que, crendo que Cristo morreu por mim, abandonei minha culpa em seus braços, e então recebi poder para vencer meu próprio eu pecaminoso. A doutrina da cruz pode ser usada para combater o pecado como os guerreiros antigos usavam as espadas formidáveis de dois gumes para dizimar o inimigo a cada golpe. Nada há como a fé no amigo dos pecadores, esta vence todo o mal. Se Cristo morreu por mim, ímpio como sou, sem força como me encontro, conseqüentemente não posso viver no pecado, senão que devo crescer em amor e serviço daquele que me tem redimido. Não posso jogar com o mal que matou o meu melhor Amigo. Devo ser santo por amor a ele mesmo. Como posso viver em pecado sendo assim que ele morreu para salvar-me do pecado ?  
Contempla quão glorioso remédio isto é para você que carece de forças, saber e crer que a seu tempo Cristo morreu pelos ímpios como você. O tem compreendido agora ? É tão difícil para muitas mentes obscurecidas, pervertidas e incrédulas ver a essência do evangelho. Às vezes tenho pensado em acabar a pregação que tão claramente tem declarado o evangelho que os mais torpes o deveriam ter compreendido, contudo, tenho notado que ainda que os ouvintes não têm compreendido o que ele é: “Olhem para mim e sejam salvos” (Is 45.22). Os convertidos dizem geralmente que até tal dia não têm compreendido o evangelho. E isto apesar de tê-lo ouvido, não por falta de explicação, mas por falta de revelação pessoal. O Espírito Santo está disposto a concedê-la aos que lho peçam. Porém, ainda depois de concedida, a suma total do que foi revelado está contida nas palavras: “Cristo morreu pelos ímpios.”.
Ouço outro queixar-se deste modo: “Ai, ai! Minha fraqueza consiste em não poder permanecer firme. No domingo ouço a palavra e me impressiona; porém durante a semana dou com um mau companheiro e desaparecem minhas boas intenções. Meus companheiros de trabalho não crêem em nada e dizem muitas barbaridades. Eu não sei como lhes responder, e assim fico derrotado. Eu o compreendo; porém ao mesmo tempo, se você é sincero, eu lhe direi que há remédio para a sua fraqueza na graça divina. O Espírito Santo, tem poder para lançar fora o espírito de temor. Ele pode fazer valente ao covarde.
Lembre amigo que você não deve ficar nesse estado. Não convém de nenhum modo que sejas falso para consigo mesmo. Aqui não se trata simplesmente de um assunto espiritual, senão de uma resolução comum. Muitas coisas faria para agradar a meus amigos, porém ir para o inferno para dar-lhes gosto, isso sim que não faria. Bom é fazer algumas coisas para conservar a amizade, porém muito mal se paga para manter a amizade com o mundo à custa da amizade com Deus. “Isto eu sei”, você diz, porém apesar de sabê-lo me falta ânimo. Desfraldar a bandeira, a isso não me atrevo. Falta-me força para viver firme. Agora, bem, lhe trago o mesmo texto: “Cristo ainda quando éramos fracos, a seu tempo, morreu pelos ímpios.”.  
Se o apóstolo Pedro estivesse aqui nos diria, “O Senhor Jesus morreu por mim, ainda quando eu era tão fraco que pelas palavras de uma criada comecei a mentir e a jurar que não conhecia o Senhor.”. Sim, Jesus morreu por aqueles fracos que o abandonaram fugindo. Fica firme nesta verdade, “Cristo, quando ainda éramos fracos, morreu pelos ímpios”. Grava isto na tua alma “Cristo morreu por mim” e prontamente você estará em condições  de morrer por Ele. Creia que ele sofreu no seu lugar, oferecendo por você um sacrifício expiatório, pleno, verdadeiro e satisfatório. Se crê neste fato,  você terá forçosamente que sentir. Não posso me envergonhar dele que morreu por mim, a convicção plena desta verdade, lhe infundirá valor irresistível.
Recorde-se dos santos da época dos mártires. Nos tempos primitivos do cristianismo, quando este pensamento do grande amor de Cristo brilhava com fulgor infinito na igreja, não somente estavam prontos para morrer os crentes, como desejavam sofrer apresentando-se espontaneamente às centenas diante dos tribunais dos governantes perseguidores confessando a Cristo. Não digo que seja prudência convidar assim a morte cruel, porém o caso prova que um sentimento de amor a Cristo eleva o homem sobre todo o temor do dano que o homem seja capaz de fazer ao crente. Por que não fará tal sentimento o mesmo em você? Oxalá que lhe inspire agora a determinação valente de colar-se ao lado do Senhor e ser seu fiel seguidor até o fim!

Que o Espírito Santo nos ajude a chegar a este ponto pela fé no Senhor Jesus, e tudo será para o nosso bem e para a sua glória!







12) AUTORIDADE E SOBERANIA

ÍNDICE

1 - A Quem Pertence o Direito ao Domínio
2 - A Soberania de Deus: Uma Doutrina Prática e Preciosa
3 - A Soberania Absoluta de Deus: De Que se Trata Romanos 9?

4 - A Cabeça da Igreja
5 - “Mui grande é o seu arraial." (Joel 2.11)
6 - Autoridade e Poder
7 - Pensamentos do Homem e os Pensamentos de Deus
8 - A Soberania de Deus e Oração
9 - Como Tratar com a Autoridade Civil 
10 - Citações do Livro A Soberania de Deus na Salvação dos Homens
11 - A Autoridade que É Reconhecida Espiritualmente


1 - A Quem Pertence o Direito ao Domínio

O pecado é um poder usurpador que governa nas almas dos homens. Os homens não deveriam dar ao pecado o poder de lhes governar. Eles podem voluntariamente, se deixarem escravizar por ele; mas isso não dá ao pecado qualquer direito ou título de propriedade. E de igual natureza é o governo de Satanás e dos demônios sobre as almas dos homens. Eles não o fazem por um direito que lhes tenha sido outorgado por Deus, mas por uma concessão que lhes é feita pelo próprio homem. Tanto isto é verdade que tão logo alguém se volte para Cristo e lhe consagre a sua vida, isto faz com que seja decretado o fim do domínio do pecado e do diabo sobre a sua vida. Portanto, nem o pecado e nem o diabo têm o direito de reclamar diante de Deus sobre qualquer prejuízo que lhes tenha sido feito por Cristo, quando são assim despojados das almas que antes dominavam.
É somente a Deus Pai, a Cristo e ao Espírito Santo que os homens devem obediência em tudo, e nenhum poder pode desobrigá-los disto.
Falar portanto, de que através do pecado o diabo conquistou um direito legal sobre as almas dos homens, é atribuir-lhe algo que ele jamais possuiu ou virá a possuir, pois até mesmo as almas que entram em condenação e se encontram no inferno não lhe pertencem, mas a Deus, que as sujeitou a este juízo condenatório, por resistirem e se rebelarem à Sua vontade e mandamentos, e especialmente por terem recusado a redenção que está sendo oferecida gratuitamente em Cristo.
Satanás não é juiz de ninguém, pois jamais lhe foi conferida autoridade para tal, senão a Jesus Cristo a quem o Pai deu o poder de tudo julgar.

“João 5:26 Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo.
João 5:27 E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem.”

“2Tim 4:1 Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino:”

“1Pe 4:5 os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos;”

Vemos assim que é somente pelo poder da graça de Jesus que o poder usurpador do pecado e do diabo podem ser quebrados em todo aqueles que nEle confiam.





2 - A Soberania de Deus: Uma Doutrina Prática e Preciosa

Por John Piper

Usufruindo da soberania de Deus na vida de George Müller
Um dos grandes deleites de ministrar em uma igreja durante vinte anos é que você pode ver as pessoas atravessarem as épocas obscuras da vida, dependendo da bondade soberana de Deus e chegando ao outro lado com fé e gozo inabaláveis. A soberania de Deus é uma doutrina muito preciosa. É o caule vigoroso da árvore que impede que a nossa vida seja abalada pelos ventos da adversidade. É a rocha que se ergue para nós em meio ao dilúvio de incerteza e confusão. É o olho do furacão no qual permanecemos firmes com Deus, olhando para o céu azul de sua maestria, quando tudo está sendo destruído. Conheço um hino que diz: “Quando tudo ao redor de minha alma desaparece”, isto é a minha esperança e firmeza.
A palavra “soberania”, tal como a palavra “trindade”, não ocorre na Bíblia. Estou usando-a para referir a esta verdade: Deus está no controle do mundo, desde o conflito internacional mais amplo até à queda de um pequeno pássaro na floresta. Eis como a Bíblia apresenta a soberania de Deus: “Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Isaías 46.9-10). “E, segundo a sua vontade, ele [Deus] opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Daniel 4.35) “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai” (Mateus 10.29) “O que ele deseja, isso fará. Pois ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito e muitas coisas como estas ainda tem consigo” (Jó 23.13-14). “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Salmos 115.3). “Aquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Efésios 1.11). “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Romanos 9.15). “Devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tiago 4.15).
Uma das razões por que esta doutrina é tão preciosa para os crentes é o fato de sabermos que o grande desejo de Deus é mostrar misericórdia e bondade para aqueles que confiam nEle. “Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim. Alegrar-me-ei por causa deles e lhes farei bem... de todo o meu coração e de toda a minha alma” (Jeremias 32.40-41). A soberania de Deus significa que o desígnio dEle a nosso respeito não pode ser frustrado. Nada, absolutamente nada, acontecerá àqueles que Deus ama e que são chamados segundo o seu propósito, exceto o que lhes for profundo e altamente bom. (Romanos 8.28; Salmos 84.11).
Por isso, a misericórdia e a bondade de Deus são os dois pilares de minha vida. São a esperança de meu futuro, a energia de meu serviço, o centro de minha teologia, o vínculo de meu casamento, o melhor remédio para todas as minhas enfermidades, o fortificante de todos os meus desencorajamentos. E, quando eu morrer (em breve ou não), essas duas verdades estarão à minha cabeceira e, com mãos infinitamente fortes e carinhosas, me erguerão à presença de Deus.
George Müller tem sido admirado por cento e cinqüenta anos como um grande homem de fé, por causa das obras que realizou, especialmente os orfanatos em Londres. Nem todos sabem que ele viveu de um modo maravilhoso, em completa dependência da preciosa verdade da soberania de Deus. Quando faleceu a sua esposa, com a qual estava casado havia trinta e nove anos, Müller pregou o sermão do funeral com base no texto de Salmos 119.68: “Tu és bom e fazes o bem”. Ele conta como orou quando descobriu que ela estava com febre reumática:
Sim, meu Pai celestial, os dias de minha querida esposa estão em tuas mãos. Tu farás o que é melhor para ela e para mim, quer seja a vida, quer seja a morte. Se quiseres, restaura a saúde de minha preciosa esposa. Tu és capaz de fazer isso, embora ela esteja tão doente. Mas o que fizeres comigo somente me ajudará a continuar a ser perfeitamente satisfeito com tua santa vontade (Autobiography of George Müller, London: J. Nisbet and Co., 1906, p. 442).
A vontade de Deus foi levá-la. Portanto, com grande confiança na soberana misericórdia de Deus, Müller disse:
Eu aceito. Estou satisfeito com a vontade de meu Pai celestial. Busco perfeita submissão à sua vontade santa, para glorificá-Lo. Honro constantemente Aquele que me afligiu... Sem qualquer esforço, minha alma se regozija na felicidade da amada que partiu. A felicidade dela me dá regozijo... Deus mesmo o fez; estou satisfeito com Ele (Autobiography, p. 444, 440).
Isto expressa a preciosidade da doutrina da soberania de Deus.






3 - A Soberania Absoluta de Deus: De Que se Trata Romanos 9?

Por John Piper

Romanos 9:1–5:
“ Digo a verdade em Cristo, não minto; minha consciência o confirma no Espírito Santo: 2 tenho grande tristeza e constante angústia em meu coração. 3 Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça, 4 o povo de Israel. Deles é a adoção de filhos; deles é a glória divina, as alianças, e a concessão da Lei, a adoração no templo e as promessas. 5 Deles são os patriarcas, e a partir deles se traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para sempre! Amém.”
Há duas experiências em minha vida que fazem de Romanos 9 um dos capítulos mais importantes  no processo de formação da forma como penso e vejo todas as coisas, e também da forma como fui levado ao ministério. A primeira delas aconteceu quando eu estava no seminário e virou minha mente de cabeça para baixo. A outra aconteceu no outono de 1979 e me levou a servir nesta igreja.
Eu acreditava no meu livre arbítrio quando entrei no seminário, no sentido de que eu tinha o controle supremo sob minhas decisões. Não aprendi isso na Bíblia; absolvi essa idéia do ar independente, auto-suficiente, que se auto-estima, se auto-exalta que respiramos todos os dias. A soberania de Deus significava que Ele podia fazer qualquer coisa comigo desde que eu O desse permissão para tal. Com esse tipo de mentalidade me matriculei na classe sobre o livro de Filipenses com Daniel Fuller e na classe sobre Doutrina da Salvação com James Morgan.
Em Filipenses fui confrontado com a intratável cláusula do capítulo 2 verso 13: “ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, 13 pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.” Isso faz de Deus a vontade por detrás de minha vontade; aquele que realiza por detrás do meu realizar. A pergunta não era se tenho ou não vontade própria; a pergunta era por que escolho o que escolho. E a resposta, não a única, porém a definitiva é Deus.
Na classe sobre salvação lidamos logo de cara com doutrinas de eleição incondicional e graça irresistível. Romanos 9 foi o texto chave e aquele que mudou minha vida para sempre. Romanos 9:11-12 diz, “Todavia, antes que os gêmeos (Jacó e Esaú) nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má – a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, 12 não por obras, mas por aquele que chama – foi dito a ela: “O mais velho servirá ao mais novo.” Quando Paulo levanta a pergunta no verso 14, “Acaso Deus é injusto?” Ele responde que não e cita Moisés (no verso 15) : “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão.” E quando ele levanta a questão no verso 19, “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?” Ele responde no verso 21, “O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?”
Emoções afloram quando você sente que seu mundo auto-suficiente começa a se desmoronar ao seu redor. Encontrei o Dr. Morgan no corredor um dia. Depois de alguns minutos de uma discussão acalorada a respeito do livre arbítrio, segurei uma caneta bem na frente do rosto dele e a deixei cair no chão. Então eu disse, meio que faltando com o respeito que como aluno eu deveria ter: “EU [!] a deixei cair no chão!” De alguma forma aquilo era para se provar que foi minha escolha deixar a caneta cair e isso não tinha sido controlado por nada, apenas por minha própria soberania.
Mas graças à misericórdia e paciência de Deus, ao final do semestre escrevi no meu livro de meditações para o exame final, “Romanos 9 é como um tigre que sai por aí devorando defensores do livre arbítrio como eu.” Aquele foi o fim do meu caso de amor com a autonomia humana e a absoluta auto-determinação da minha vontade. Minha visão de mundo simplesmente não podia mais se levantar contra as escrituras, especialmente Romanos 9. Foi o começo de uma paixão para vida inteira em ver e experimentar a supremacia de Deus em absolutamente todas as coisas.
O Outono de 1979

Então, dez anos mais tarde, veio o outono de 1979. Eu tinha tirado uma licença do meu cargo de professor na Faculdade Betel. Meu único propósito para essa licença era para estudar Romanos 9 e escrever um livro que definiria, em minha própria mente, o significado desses versos. Depois de seis anos lecionando e me deparando com alunos prontos a disputar por uma razão ou por outra minha interpretação desse capítulo, decidi que precisava dedicar oito meses para isso. O resultado da minha licença foi o livro, A Justificação de Deus. Tentei responder a cada objeção em relação à interpretação bíblica da soberania absoluta de Deus em Romanos 9.
Mas o resultado final daquela licença foi completamente inesperado – ao menos por mim. Meu propósito era de analisar a palavra de Deus tão de perto e interpretá-la com tanto cuidado que eu poderia escrever um livro que seria convincente e duraria o teste do tempo. O que eu não esperava era que seis meses dentro dessa análise de Romanos 9 o próprio Deus falaria comigo tão poderosamente que eu renunciaria meu cargo na Faculdade Betel e me poria à disposição da Conferência Batista de Minnesota se caso houvesse uma igreja que me aceitasse como pastor.
Em suma tudo aconteceu assim: eu tinha 34 anos de idade. Pai dois filhos e um terceiro a caminho. À medida que fui estudando Romanos 9 dia após dia, comecei a ver um Deus tão majestoso e tão livre e tão absolutamente soberano que minha análise resultou em adoração e o Senhor me disse, "Não serei apenas analisado mas serei adorado. Não serei apenas estudado, serei proclamado. Minha soberania não é simplesmente para ser escrutinizada, mas sim para ser um sinal do que há por vir. Ela não é para ser usada para espalhar controvérsias, ela é o Evangelho para os pecadores cuja única esperança é o triunfo soberano da graça de Deus sobre a vontade rebelde deles." Foi quando a Igreja Batista de Belém entrou em contato comigo no fim de 1979. Não hesito em dizer que por causa de Romanos 9 deixei de ser professor de seminário  para ser pastor. O Deus de Romanos 9 tem sido a fundação sólida de tudo que tenho dito e feito nos últimos 22 anos.
O Testemunho de Jonathan Edwards a Respeito da Soberania Absoluta de Deus

Sinto-me assim como Jonathan Edwards sentia a respeito da verdade da soberania absoluta de Deus sobre minha vontade, sobre essa igreja, sobre as nações – mesmo não tendo a capacidade  dele de ver e experimentar a verdade de Deus. Lerei a seguinte história porque ela deve ser a história de muitos nessa igreja, e talvez ainda seja, eu oro, a história de muitos outros:
Desde minha infância, minha mente era cheia de objeções contra a doutrina da Soberania de Deus, que escolhe quem teria vida eterna e rejeita quem Ele bem quisesse; deixando-os perecer eternamente e para sempre atormentados no inferno. Isso parecia para mim uma doutrina horrível. Mas me lembro muito bem do tempo quando comecei a me sentir convencido e totalmente satisfeito com essa soberania de Deus, e Sua justiça em assim se desfazer (ou lidar) eternamente com o homem, de acordo com Sua vontade soberana. Mas nunca pude determinar como, ou por quais meios, eu fui assim convencido, nem sequer podia imaginar então, nem muito tempo depois, que houve uma influencia extraordinária do Espírito de Deus em mim que me permitiu ver mais além, e minha razão compreendeu a justiça e quão razoável isso era. Então, minha mente descansou nisso, pondo um ponto final em todas minhas objeções e picuinhas. Houve também uma maravilhosa alteração em minha mente, a respeito da doutrina da soberania de Deus, desde aquele dia até hoje; que quase nunca tenho encontrado algo que se levante como uma objeção contra ela, em Deus mostrando misericórdia a quem Ele quer mostrar misericórdia, e endurecendo aqueles que Ele quiser. A soberania absoluta e a justiça de Deus, com respeito à salvação e condenação, é no que minha mente parece descansar, assim como algo que se possa ver com meu próprios olhos, pelo menos assim o é em ocasiões. A doutrina, frequentemente, tem se apresentado prazerosa, clara e doce. Soberania absoluta é o atributo de Deus que mais amo. (Jonathan Edwards, Selections [New York: Hill and Wang, 1962], pp. 58-59).
Um Breve Resumo de Romanos 9

Tudo isso parece ser uma ilusória introdução a Romanos 9. Mas é somente o começo. Pode ter dado a impressão de que Romanos 9 é uma dissertação a respeito da soberania de Deus. Mas não é. Romanos 9 é uma explicação por quê a Palavra de Deus não falhou apesar do fato de que o povo escolhido de Deus, Israel, como um todo, não ter se voltado para Cristo para serem salvos. A soberania da graça de Deus é apresentada como a peça chave da fidelidade de Deus apesar do fracasso de Israel, e, por conseguinte, como o mais profundo alicerce para as preciosas promessas de Romanos 8. Porque se Deus não é fiel à sua Palavra, não podemos contar com Romanos 8 também.
Considere esse breve resumo. Verso 3 nos mostra que Israel, como um todo, é amaldiçoado e separado de Cristo: “Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça.” Iremos lidar com esse raciocínio de Paulo na próxima semana. Apenas perceba agora que este é o grande dilema de Israel: “amaldiçoado e separado de Cristo.” Isso levanta um grande problema! O que dizer então da Palavra de Deus – a palavra da promessa a Israel e da aliança: “Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo!” (Jeremias 31:33)
Então Paulo responde a essa pergunta no versículo 6: “Não pensemos que a palavra de Deus falhou.” Você pode ver o que estava em jogo aqui. Parece que a Palavra de Deus tinha falhado! Mas Paulo diz que não. Então ele dá uma explicação que o leva para dentro das doutrinas de eleição incondicional e soberania divina sobre a vontade humana. A explicação dele no verso 6b é: “Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel.” Nem todo descendente físico de Israel é Israel. Em outras palavras, a Palavra de Deus não falhou porque as promessas não foram feitas a todos da descendência étnica de Israel de tal forma que garantiria a salvação de todo e qualquer indivíduo israelita.
O verso 8 diz isso novamente: “não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão.” Em outras palavras, nem todo o descendente físico de Abraão é beneficiário das promessas da Aliança. Então, quem é? Aqui Paulo vai ao fundo da explicação. Ele diz que os beneficiários da promessa são os filhos da promessa. Mas, perguntamos, quem são eles? Quais são as condições que eles têm que cumprir para serem “filhos da promessa”?
Paulo responde a essa pergunta no verso 11, com a ilustração de Jacó e Esaú, nos confrontando  com a suprema soberania de Deus em escolher quem seria o beneficiário da promessa. Em se referindo a Jacó (quem se tornaria o herdeiro) e Esaú (quem não foi) Paulo diz: “Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má [aí está a incondicionalidade, e aqui a razão para tal] — a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, [eis aqui a explicação mais profunda que as condições humanas – o propósito soberano de Deus], não por obras, mas por aquele que chama [perceba: ele não contrasta obras com fé, mas com “Aquele que chama” – nem sequer a fé está em questão aqui como uma condição] — foi dito a ela: “O mais velho servirá ao mais novo.”
Tudo isso levanta a questão a respeito da justiça de Deus. Paulo não está escondendo nada aqui. Ele está abrindo o jogo, trazendo tudo à luz. No verso 14 ele diz, “E então, que diremos? Acaso Deus é injusto?” A resposta de Paulo é não. Depois de citar Moisés a respeito da liberdade de Deus em ter misericórdia de quem Ele quiser ter misericórdia (vers. 15) ele repete a respeito da absoluta incondicionalidade de ser escolhido por Deus para ser um filho da promessa. Verso 16: “Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus.”
O que nos leva então, à questão no versículo 19, “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?” Essas são as questões que nos confrontam neste capítulo. Todo o Israel são “filhos da promessa” ou apenas alguns o são? Se somente alguns são, o que faz de uma pessoa um filho da promessa e outra não? Se é acima de tudo a misericordiosa eleição incondicional, livre e soberana de Deus, então Ele é injusto? Se Ele que é livre para ter misericórdia de quem Ele quiser e endurecer a quem Ele quiser (vers. 18), e se isso não depende do homem desejar ou efetuar (vers. 16) então, por que Ele ainda acha culpa em nós?
O Ponto-Chave de Romanos 9: Uma Explicação e Defesa Que a Palavra de Deus Não Falhou

Então você pode ver que o assunto da eleição divina, da vontade humana, da justiça de Deus, da culpa do homem e da soberania de Deus estão todos contidos nesse capítulo. Mas não estão aí só por estar. Eles estão aqui para explicar essa questão que não quer calar: Como pode o povo eleito de Deus, Israel, ser amaldiçoado e separado de Cristo se a Palavra de Deus é confiável? Como pode o versículo 6a ser verdadeiro: “Não pensemos que a palavra de Deus falhou.” Essa é a questão desse capítulo.
As Promessas de Romanos 8 Prevalecerão?

E isso é absolutamente crucial para nós à medida que nos aproximamos da mesa do Senhor. As promessas de Romanos 8 prevalecerão? As promessas compradas pelo sangue que nós, gentios e judeus, confiamos nossas vidas irão prevalecer? Deus irá honrar seus compromissos, selados com o sangue de seu Filho? Ele irá fazer com que todas as coisas cooperem para o nosso bem? Os predestinados serão chamados e os chamados serão justificados e os justificados serão glorificados? Ele nos dará todas as coisas juntamente com Ele? Nada nos separará do amor de Deus que está em Cristo? Será que hoje realmente não há nenhuma condenação? E assim será amanhã e depois também?
Romanos 9 vem depois de Romanos 8 exatamente por essa razão crucial: nos mostrar que a palavra da aliança de Deus com Israel não falhou, porque ela está fundamentada na soberania de Deus e em sua eleição misericordiosa. Portanto, as promessas para o verdadeiro Israel e as promessas de Romanos 8 prevalecerão! Esse é o evangelho, as boas-novas, de Romanos 9. As promessas compradas pelo sangue de Cristo serão realizadas pelo poder soberano de Deus.
Oh! Quão gratos, quão humildes e quão confiantes devemos ser quando adoramos ao Senhor em Sua mesa!






4 - A Cabeça da Igreja

Por Charles Haddon Spurgeon

“Ele é a Cabeça do corpo, da igreja” (Colossenses 1.18)

Para nos mostrar que o título de “Cabeça da Igreja” é para ser considerado na mais alta estima, ele é apresentado aqui vinculado às mais elevadas honras do nosso Senhor Jesus.  Simultaneamente, o Filho de Deus é designado “a imagem do Deus invisível”, “o primogênito de toda criatura”, o Criador de toda a existência, e então, “a Cabeça do corpo, da igreja.” Não ousemos, portanto, menosprezar este título, nem hesitemos em afirmar que qualquer atitude leviana em relação a ele seria tão vergonhosa quanto o uso profano de qualquer outro nome do nosso Divino Senhor. Pois se qualquer mortal pressupuser para si esta designação, conceberíamos ser a mesma blasfêmia que aceitar arbitrariamente o ofício mediador – e não deveríamos ficar mais perplexos ao ouvir um homem afirmar ser “o Criador de todas as coisas” do que estamos agora quando um mortal é nomeado “Cabeça da Igreja”.
O que é a Igreja? A palavra significa uma assembleia. A igreja de Jesus Cristo é uma assembleia de homens fiéis, o grupo dos escolhidos de Deus, Seus convocados, toda a comunidade dos Seus verdadeiros seguidores. Onde estiverem os verdadeiros Crentes, aí está uma parte da Igreja. Onde não estiverem estes homens, qualquer que seja a organização em existência, ali não está a Igreja de Jesus Cristo.  Esta não é uma corporação de padres, nem de pastores, nem uma associação de não-convertidos – é a reunião daqueles cujos nomes estão escritos nos Céus. Qualquer reunião de homens fiéis é a Igreja.
O conjunto de todas estas assembleias de homens fiéis constitui a única Igreja que Jesus Cristo redimiu com seu mais precioso sangue, e da qual somente Ele é a Cabeça. Uma parte desta Igreja está no Céu, triunfante! Outra parte na terra, militante – mas essas diferenças de lugar não causam nenhuma divisão na unidade verdadeira. Existe somente uma Igreja no céu e na terra.  O tempo não causa separação, a Igreja é sempre uma – a dos Apóstolos, a dos Reformadores, a do primeiro século, a dos últimos tempos, e desta Igreja, que se constitui uma só, Jesus Cristo é a única Cabeça.
I. O QUE SIGNIFICA A LIDERANÇA DO SENHOR JESUS SOBRE A IGREJA? Este é o tópico sobre o qual, de maneira rápida, meditaremos primeiro. Entendemos que esta liderança é a representação da Igreja como um corpo. Falamos de soma de cabeças, significando deste modo pessoas – a Cabeça representa todo o corpo. Aprouve a Deus relacionar-se com a humanidade como uma comunidade e seu grande Pacto foi feito com homens num corpo, não com indivíduos separados. Ou seja, na primeira Criação, Deus não lidou tanto com cada pessoa em particular da mesma maneira que o fez com a raça humana como um todo representada em um só homem, o primeiro Adão.
Foi veementemente ordenado que a raça estivesse fortemente ligada a ele, que ficasse de pé se ele ficasse e que caísse se ele caísse.  Daí então, meus Irmãos, a Queda, o pecado original, e as amarguras desta vida. Para que houvesse salvação, a qual talvez só foi possível porque não caímos individualmente (pois os demônios, por terem caído individualmente e separadamente, estão reservados sem esperança de misericórdia para o fogo eterno), Deus instituiu uma segunda federação, da qual Jesus Cristo é a Cabeça. O Apóstolo O chama de o segundo Adão. Ele é a Cabeça daquela parte da humanidade que são os Seus escolhidos—Seus redimidos, os quais são conhecidos neste mundo por serem levados a crer Nele e, no final de todas as coisas, serem reunidos no Seu descanso.
Ora, Jesus Cristo coloca-se, em relação à Sua Igreja, na mesma posição que Adão se colocou em relação à sua posteridade. São eleitos Nele, aceitos Nele e protegidos Nele – “Salvos pelo Senhor com salvação eterna.” Como Suas próprias palavras declaram: “Porque eu vivo, vós vivereis.” Nos próximos capítulos desta Epístola, o Apóstolo nos mostra que os santos são enterrados, ressuscitados e vivificados com Jesus. É ainda mais explícito em Romanos 5, onde a liderança de Adão e a de Jesus são comparadas e contrastadas.
Nosso Senhor é Cabeça no sentido espiritual, explicado em Colossenses 2.19: “a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus.” A Cabeça é indispensável para a vida do corpo: é a base da vida mental, o templo da alma. E assim Jesus Cristo é a Cabeça que a todos vivifica. “Ele é a nossa vida.” “ Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.” A vida de cada membro do corpo espiritual depende da vida da Cabeça espiritual. Todo filho vivente obtém sua vida espiritual através de Jesus Cristo. Nenhum membro verdadeiro da Igreja tem vida em si mesmo. “Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.” Separação de Cristo significa morte do espírito: “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará.”
A Cabeça, espiritualmente, não é simplesmente a fonte da vida e a base dos sentimentos, mas é o trono do governo supremo. É o cérebro que envia o decreto de levantar a mão ou a ordem para que esta se coloque de lado. O homem caminha, fala, dorme ou se levanta de acordo com o ditame daquele algo real e misterioso que se encontra dentro da cabeça. Deste modo, na verdadeira Igreja de Deus, Jesus Cristo é a grande Cabeça direcionadora. As únicas ordens obrigatórias se originam. A Ele os verdadeiros religiosos rendem alegres homenagens. Seus membros se deleitam em fazer a vontade da sua Cabeça.
Todo o corpo da Igreja, motivado por Sua vida e cheio do Seu Espírito, o mais prontamente reconhece Sua primazia sobre todas as coisas. Os Cristãos são perfeitamente governados por Jesus na medida em que estão, em verdade, unidos a Ele, e é somente por causa da velha natureza que habita na separação de Cristo que os Crentes praticam ofensas e transgressões. Jesus os governa como a Cabeça governa todos os membros do corpo, até o limite da sua espiritualidade. A Cabeça é também a glória do corpo. Ali habita a principal maravilha da humanidade. A imagem Divina é mais bem vista no semblante – a face é que caracteriza a glória do homem.
O homem mantém sua cabeça erguida – seu semblante não está voltado para a terra – irradia inteligência intensamente. É a evidência de uma mente imortal. A beleza escolhe o semblante como seu lugar favorito. Majestade e ternura, sabedoria e amor, coragem e compaixão aí exibem seus emblemas – todas as Graças escolhem a cabeça como seu lugar favorito de habitação. Neste sentido, nosso Senhor é sabiamente saudado como a “Cabeça”. Ele é mais justo que os filhos do homem – a Graça Divina está derramada nos Seus lábios. Toda a beleza da Igreja está centralizada em Jesus Cristo. O que seria Sua Igreja sem Ele? Uma carcaça, um cadáver medonho desprovido de toda sua glória por estar separado da sua Cabeça.
O que foram todos os homens bons, grandes e excelentes que já viveram sem Cristo? Muitas cifras sobre uma mesa – eles não valem nada até que o seu Senhor, como a grande Unidade, é colocado diante deles para dar-lhes poder e valor! Assim, efetivamente, formam uma grande soma - mas sem Ele, são menos do que nada e pura vaidade! A Igreja de Deus seria indecorosa se não agisse com graça diante de toda a beleza que Jesus partilha com ela!  Sua cabeça é como o ouro mais puro! Seu Semblante é como o Líbano, excelente como os cedros! É o principal entre 10.000 e totalmente desejável – glorioso é aquele corpo do qual Ele é a coroa e a excelência! A Igreja pode ser corretamente chamada de a mais formosa entre as mulheres quando sua Cabeça deste modo sobrepuja todas as belezas da terra e dos Céus!
Outra imagem usada para descrever a Liderança de Cristo sobre a Igreja é a conjugal. Assim como o Senhor formou Eva da costela de Adão, também formou a Igreja do lado de Cristo Jesus, e ela pertence e Ele assim como Eva pertencia a Adão – a Igreja é formada de Sua carne e de Seus ossos. Uma união misteriosa foi estabelecida entre Cristo e ela, união esta constantemente comparada à instituição do casamento: “Porque o marido é a Cabeça da mulher, como também Cristo é a Cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador do corpo.” Jesus é o Noivo e Sua Igreja é a Sua Noiva. São desposados, um com o outro. Estão comprometidos para sempre nos vínculos do amor e possuem a mesma expectativa sagrada, esperando o dia do casamento, quando será alcançado o propósito eterno de Deus e o desejo do Redentor.
Jesus reina em Sua Igreja como o marido exerce a liderança em seu lar, de nenhuma maneira (quando o relacionamento é conduzido de modo correto) despótica ou pedante, mas um governo edificado na lei da natureza e endossado pelo consentimento do amor. Não como um tirano, obrigando e constrangendo Sua noiva submissa contra a vontade dela, mas como um marido amado, recebendo obediência voluntária do coração da sua amada, sendo em todas as coisas tão admirado e apreciado como para obter uma indisputável primazia! Esta liderança conjugal é ilustrada pela Palavra de Deus na antiga profecia: “Ela me chamará: Meu marido e já não me chamará: Meu Baal.” Baal e Marido significam senhor, porém diferem no significado. Um é um simples governante, e o outro um marido amado.
No reino de Cristo não existe despotismo! Seu cetro não é feito de ferro. Ele não governa com golpes, ofensas e ameaças, mas seu cetro é de prata e Sua regra é o amor. As únicas correntes usadas por Ele são as da Sua Graça constrangedora. Seu domínio é espiritual e se estende sobre corações dispostos que se deleitam em se curvar diante dele e prestar a honra que é devida ao Seu nome. Acredito que estes são os sentidos em que a palavra “liderança” é usada. No entanto resta outro, e todos os anteriores qualificam este último, no qual pretendo concentrar-me por mais um tempo.  Cristo é a Cabeça da Sua Igreja como é Rei em Sião. No centro da Igreja de Deus o governo supremo é investido na pessoa de Cristo. “Porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos.”
A Igreja é o Reino de Deus entre os homens. É puramente espiritual – abrangendo somente homens espirituais – e existindo somente para objetivos espirituais. E quem é o seu Rei? Ninguém exceto Jesus! Em verdade podemos dizer como eles disseram dos antigos que proclamaram o Reinado do Crucificado: “Há outro rei, Jesus.” A Ele as assembleias dos santos prestam toda a majestosa honra e diante do Seu Trono toda a Igreja se curva, saudando-o como Mestre e Senhor. Não prestamos reverência espiritual a nenhum outro. Somente Cristo é Rei sobre o monte Sião, ali posto por decreto eterno, mantido nesta posição por poder infinito e designado para ficar no Trono até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés.
Quem dera houvesse em mim eloquência para que pudesse dar um testemunho digno dos direitos à coroa do rei Jesus Cristo em Sua Igreja! Não conheço nenhum assunto sobre o qual seja mais necessário insistir nestes tempos agitados. Deixe Jesus ser reconhecido como a única Cabeça da Igreja e a saída para o atual debate político que incita nossa nação será clara o suficiente. A falta de conhecimento da Verdade de Deus cega muitos! Faz com que laborem de todo o coração por uma causa má, pensando que o estão fazendo para Deus. Conhecer esta Verdade significa ter a posse de uma responsabilidade muito importante com a qual não devemos brincar.
Mártires derramaram seu sangue por Ela! Urzes da Escócia foram manchadas em 10.000 lugares, e suas águas foram tingidas de rubro em defesa desta importante doutrina. Que não nos refreemos da coragem inabalável para declarar, uma vez mais, que reis e governantes e parlamentos não possuem jurisdição legal sobre a Igreja de Jesus Cristo, que não convém ao melhor dos monarcas reivindicar estas prerrogativas reais as quais Deus deu ao Seu Filho unigênito. Somente Jesus é a Cabeça do Seu reino espiritual, a Igreja!
E todos os outros que entram nos seus limites para exercer poder são usurpadores e Anticristos, não devendo, em nenhum momento, ser respeitados pela Igreja do Deus vivo quanto à sua autoridade usurpadora! Algumas Igrejas não aprenderam esta lição, e estão dominadas como cachorros por seus senhores. Ajoelham-se aos pés do Estado para comer as migalhas que caem da mesa de Mamon!  E se forem algemadas e espancadas pelas autoridades, será por merecimento – e eu quase oraria para que o chicote as atingisse ainda com mais peso até que aprendessem a apreciar a liberdade e estivessem dispostas a remover a coleira do Estado e serem libertadas da dominação humana!
Se perderem um pouco de riqueza ganharão o ouro genuíno do favor de Deus e o poder permanente do Seu Espírito, que não podem esperar receber enquanto forem traidores do Rei Jesus e não reconhecerem a única e exclusiva Liderança do Emanuel sobre a Igreja.
II. Portanto, iremos agora, em segundo lugar, olhar um pouco para esta Liderança de Jesus Cristo num sentido régio, no que se refere às SUAS IMPLICAÇÕES. Desde que Cristo é a Cabeça do Seu corpo, a Igreja, somente Ele pode determinar doutrinas para ela. Nada deve ser aceito como Divinamente garantido, exceto se vier com Seu selo. Meus irmãos, não significa nada para o servo fiel de Jesus Cristo que certo dogma surja com a marca dos tempos antigos para torná-lo venerável. O cristão, como uma pessoa sensata, respeita a antiguidade, mas como servo leal ao seu Rei não se curva perante estes de maneira a permitir que governem em Sião ao invés do Cristo vivo!
Uma multidão de bons homens pode ajuntar-se, e, em seu julgamento, propor um dogma e declará-lo essencial e indubitável. E podem ainda ameaçar com grandes perigos àqueles que não acatam seu veredicto! Mas se o dogma não foi autorizado muito antes de decidirem – se não estiver escrito na Bíblia – a determinação do versado conselho se reduz a nada! Todos os padres e doutores e teólogos protestantes e confessores juntos não podem adicionar uma palavra à fé uma vez transmitida aos santos! Sim, aventuro-me a afirmar que nem o consentimento unânime de todos os santos no Céu e na terra seria suficiente para vincular uma única doutrina à consciência, a menos que Jesus assim tenha determinado!
Em vão dizem os homens: “A Igreja primitiva agiu assim” – a Igreja primitiva não tem supremacia sobre nós! Não existe propósito em citar Orígenes ou Agostinho! Cite os Apóstolos Inspirados e a doutrina está estabelecida, mas não ao contrário! Na Igreja de Cristo nunca é suficiente dizer: “Assim pensa Martinho Lutero.” Quem foi Martinho Lutero? Um servo de Jesus Cristo e nada mais! Não é suficiente afirmar: “Assim ensina João Calvino”, porque quem é João Calvino? Derramou ele seu sangue por você, ou é ele o seu mestre? Sua opinião deve ser respeitada como a de um conservo, mas em nenhum aspecto como a de um doutor ou mestre impositivo na Igreja – porque somente Jesus é Mestre, e nenhum homem na face da terra deve ser chamado assim!
Suponha que eu tenha recebido uma Verdade de Deus pelo próprio homem que foi o instrumento de minha conversão. Estou limitado, em sinceridade e afeto, a ter-lhe todo o respeito devido à relação existente entre nós. Devo, no entanto, tomar cuidado para que isto não caia em idolatria, e eu mesmo me torne nada mais do que um recebedor da Verdade de Deus como palavra do homem, ao invés de aceitá-la como a Palavra de Deus.
Devo, portanto, da forma mais honesta e não menos atenciosa, testar toda a Verdade de Deus que tenho recebido – seja do meu pai ou mãe ou ministro ou de alguns grandes homens do passado cujos nomes aprendi a respeitar – buscando toda a iluminação de cima para conduzir-me corretamente.
Na Igreja de Deus só é considerada doutrina o que está ensinado nas Escrituras. Para os Cristãos não significa nada afirmar que certas doutrinas são ensinadas em livros de oração comum, de conferências sobre disciplina ou de teologia sistemática. Não é importante que tanto o Presbitério, ou o Episcopado ou a Independência tenham deixado suas marcas sobre certa forma de ensino. A autoridade não é nada mais que um estalar de dedos, a menos que a Verdade, deste modo sugerida, produza segurança com base no testemunho do próprio Jesus Cristo, que é a Cabeça do Seu corpo, a Igreja!
Então, visto que Ele é a Cabeça, só Ele pode legislar no tocante à Igreja. Em um Estado, se um grupo de pessoas declarasse fazer leis para a região, seriam ridicularizados. E se, por um momento, tentassem impingir seus próprios costumes e regulamentações a despeito das leis do país, ficariam passíveis de punições. Ora, a Igreja de Deus não tem nenhum poder para fazer leis para si mesma, posto que não é sua própria Cabeça – e ninguém tem nenhum direito de fazê-lo para ela, pois somente Cristo é o seu Cabeça. Cristo sozinho é o Legislador da Igreja e nenhum costume ou regulamentação na Igreja Cristã possui significado, a menos que em seu espírito haja, no mínimo, a mente de Jesus para sustentar e dar respaldo.
Uma e outra coisa têm sido consideradas certas na Igreja, e, portanto, foram estabelecidas e normatizadas – a tradição dos pais estipulou certos costumes. E então?  Ora – se podemos ver claramente que o costume e a norma não estão de acordo com a essência da Sagrada Escritura e do Espírito Santo, uma e outra coisa não tem valor para nós!  Mas e se o costume é apoiado por todos os homens bons de todas as épocas? Declaro que nada importa se o Senhor não ensinou! Nossa consciência não deve ser prisioneira! Se uma lei fosse respaldada por 50.000 vezes o número de todos os santos, não teria nenhuma autoridade sobre a consciência mesmo do mais fraco dos cristãos se não fosse estabelecida pelo nosso próprio Rei! E a violação de tal mandamento humano não seria pecado, mas poderia, de fato, tornar-se uma carga para permitir que os homens enxergassem que não são servos dos homens, mas de Jesus Cristo o Senhor!
Nos assuntos espirituais é de extrema importância deixar claro este fato – que a não conformidade só é pecaminosa quando se recusa a obedecer à vontade de Cristo – e a conformidade é, em si mesma, um grande pecado quando obedece uma norma que não provém da ordenação do Senhor! Quando nos reunimos nas Assembleias da Igreja, não podemos elaborar leis para o reino do Senhor! Nem ousemos tentar! Aquelas regras necessárias, na medida em que são feitas para cumprir as ordens do nosso Senhor – como reunir-se para adorar e proclamar o Evangelho – são recomendáveis por serem práticas indispensáveis à obediência das Suas mais elevadas leis. Mas mesmo estes pormenores são intoleráveis se violam, de maneira clara, o espírito e a mente de Jesus Cristo.
Ele nos deu orientações espirituais ao invés de instruções legais e liturgias restritivas! E nos deixou livres para seguir as direções do Seu próprio Espírito libertador. Porém, se criamos uma regra considerando-a muito sábia – mas é contrária ao Espírito do nosso Senhor – ela será perversa em si mesma e não deverá ser tolerada! Neste caso, a Igreja colocou limites nos direito da sua Cabeça, e agiu incorretamente. Em efeito, arrancou o cetro da Sua mão e gerou uma divisão. A criação de leis na Igreja terminou naquele dia em que a maldição foi pronunciada sobre o único que deve tirar ou adicionar à Palavra de Deus! Cristo e somente Cristo é o legislador da Sua Igreja—ninguém mais além Dele!
Mas vou um pouco mais longe e arrisco-me a dizer que Jesus não é só o Legislador da Igreja, deixando-nos Seus Estatutos, suficientes para guiar-nos em todos os dilemas, mas também é o Administrador vivo da Igreja. É verdade, Ele não está aqui, mas como monarcas que administram através de tenentes, assim o Senhor Jesus administra através do seu eterno Espírito, o qual habita no coração do seu povo. Não devemos pensar em Cristo como alguém que está morto e enterrado. Se estivesse aqui na terra, creio que somente Ele reivindicaria ser a Cabeça da Igreja, ninguém mais. Sua presença intimidaria todos os impostores de imediato – e embora não esteja aqui em Pessoa, mesmo assim não está morto!
Ele vive! Está sentado no Trono preparado para Ele à direita do Pai! Está aqui em Espírito! Veja! “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” E o que deve pensar a verdadeira Cabeça da Igreja quando vê outro colocado em Seu Trono e, de maneira herética, designado por Seu título? O que a Cabeça vivente que se move no meio da Igreja deve sentir com respeito a uma invasão tão blasfematória como esta? Ele, o Espírito Santo, é o Vice-Gerente de Cristo, o Representante do Filho do Homem ausente!
E como este Espírito administra as Leis de Deus? Minha resposta é: através do Seu povo, pois o Espírito Santo habita nos verdadeiros crentes! E quando se reunirem como servos do Senhor e humildemente clamarem por Sua orientação, podem esperar recebê-la. E se abrirem o Livro de Estatutos e observarem suas normas claras no tocante a que rumo tomar, podem ficar bem seguros de que suas ações terão a aprovação do seu Senhor! Se, primeiramente, procurarem pela instrução no Livro da Lei do seu Senhor e depois buscarem entendê-la através do Espírito Santo – embora sejam várias mentes – serão conduzidos como um só homem a escolher seu caminho, o qual será segundo a mente de Cristo.
Agindo com humildade e obediência – baseados não em sua autoridade, mas na de Cristo, que ainda reina na Igreja através do Seu Espírito – os crentes de fato testemunharão que Cristo é até hoje a Única Cabeça da Sua Igreja no que se refere à verdadeira administração e também à legislação. A autoridade exclusiva de Jesus Cristo deve ser mantida rigorosamente em todos os aspectos; no entanto, as Igrejas tendem a ser guiadas por coisas diversas. Alguns nos guiam pelos resultados. Temos escutado uma discussão sobre a questão se devemos ou não continuar com a obra missionária, posto que há tão poucos convertidos. Como esta pergunta pode jamais ser levantada enquanto as ordens do Mestre funcionam assim: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”?
Articulado pela boca de Jesus, nosso Governador, aquele comando permanece válido, e os resultados das missões não podem ter efeito sobre as mentes leais de maneira alguma no que se refere ao seu prosseguimento! Se daqui a 10.000 anos nenhuma alma fosse convertida a Deus através de missões estrangeiras – se neste tempo ainda restasse a Igreja de Cristo, seria sua obrigação, com vigor crescente, impulsionar seus filhos ao campo de missões porque sua obrigação não é medida pelo resultado, mas pela majestosa autoridade de Cristo!
Assim que, igualmente, a Igreja não deve ser regulada pelos tempos. Alguns nos dizem que esta era exige um tipo de pregação diferente daquela de cem anos atrás, e que doutrinas consideradas adequadas há 200 anos, nos tempos dos Puritanos, não o são mais. Dizem-nos que o ministro deve manter-se atualizado – este é um período de reflexão e filosofia e o pregador deve, portanto, filosofar e produzir seu próprio pensamento ao invés de “mera declamação”- a qual é o nome culto para o claro anúncio do Evangelho de Jesus Cristo! Mas, Senhores, não é assim! Nosso Rei é o mesmo e as doutrinas que Ele nos deu não foram mudadas por Sua autoridade, nem as regras que Ele estabeleceu foram revogadas por Sua proclamação!
Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre! Deixe que os tempos sejam polidos ou rudes.  Que se tornem filosóficos ou se afundem no barbarismo – nossa obrigação ainda é a mesma, em solene lealdade a Jesus Cristo, “porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” Mas as descobertas da ciência, nos dizem, têm afetado materialmente a fé, e por isso devemos mudar nossos estilos de acordo com as mudanças da filosofia. Não, não deve ser assim! Esta é uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo que deve ser quebrada contra aquele que tropeça. Ainda temos o mesmo Rei, as mesmas leis e o mesmo ensinamento da Palavra – e devemos passar este ensinamento da mesma maneira e no mesmo espírito!
Semper idem deve ser nosso lema—sempre o mesmo, sempre perto de Jesus e glorificando-O – porque Ele, e não os tempos, nem a filosofia e nem a sagacidade do homem deve governar e administrar a Igreja de Deus! Se fizermos isto, se alguma Igreja fizer isto – em outras palavras, tirar sua Verdade dos lábios de Jesus, viver de acordo com Sua Palavra e avançar em Seu nome – esta Igreja não pode, em nenhuma possibilidade, falhar, porque o fracasso de tal Igreja seria o fracasso da própria autoridade do Mestre!  Irmãos e irmãs, Ele nos afirmou que se guardássemos os Seus mandamentos, permaneceríamos no Seu amor!
Ele estará sempre conosco, até a consumação dos tempos! E deu à Sua Igreja Seu Santo Espírito de acordo com a plenitude daquelas palavras que pronunciou quando soprou em Seus Apóstolos: “Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e aqueles a quem os retiverdes lhes são retidos.” Então, uma Igreja atuando por Cristo, proclamando os julgamentos de Deus sobre o pecado com Sua autoridade, encontrará estes julgamentos cumpridos. E ao se abrir as câmaras da casa do tesouro da misericórdia de Deus àqueles que buscam Jesus Cristo pela fé, estes tesouros serão dados livremente de acordo com o anúncio da Igreja, o qual foi feito em nome do seu Mestre.
Vá em nome dela própria, e ela fracassa! Vá em nome do Senhor, e ela vence! Leve com ela o Seu livro de instruções, ande em obediência aos Seus Estatutos, fique livre do senhorio dos homens – e a história da Igreja será escrita em algumas linhas como estas: “Formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército com bandeiras.” Receio que, através destas palavras, tenha exposto de maneira não tão clara minha crença sobre o que as Escrituras ensinam a respeito da liderança de Cristo, ou seja, que Ele é o único mestre da doutrina, o único fazedor de leis espirituais. Que Ele é o Administrador vivo das leis do Seu próprio reino espiritual, e, por isso, a Igreja não deve possuir nenhuma autoridade diferente da de Cristo – e quando possuímos esta autoridade, a obedecemos – sem acalentar nenhum medo concernente ao resultado.
III. Terceiro, ONDE ESTA LIDERANÇA SE FUNDAMENTA? De maneira muito resumida, se fundamenta na natural supremacia da Natureza de Cristo. Quem deve ser a Cabeça, senão Jesus? Ele é um homem perfeito, coisa que não somos. Ele é o primogênito entre muitos Irmãos, e nós somos os mais jovens e mais fracos. Ele é Deus sobre todas as coisas, abençoado para todo o sempre. Por certo, ninguém, exceto Ele, deve ser Rei sobre Sião, pois não existe nenhuma parte da Igreja que seja Divina senão sua Cabeça!
A liderança Dele é o resultado inevitável e essencial da Sua obra. Ouça como Seus membros cantam –
“O Senhor nos remiu com Seu sangue,
Libertou os prisioneiros.
Nos fez reis e sacerdotes para Deus,
E reinaremos com o Senhor.”
Quem poderia ser a Cabeça a não ser Aquele a quem tal louvor pode ser outorgado? Ele nos lavou em Seu sangue – Ele deve ser a Cabeça! Ele nos amou desde antes da fundação do mundo – Ele deve ser o Comandante. Sua mão direita e Seu braço santo lhe deram a vitória – que seja coroado Rei dos reis e Senhor dos senhores! Aquele lagar de uvas onde pisoteou Seus inimigos, até que Suas vestes fossem tingidas com sangue, foi a garantia de que se sentaria no trono do Seu Pai e reinaria para todo o sempre!
Além disso, o decreto de Deus decidiu isto de maneira indisputável. Leia o Salmo 2 e aprenda que quando os reis da terra se levantaram e os príncipes conspiraram contra o Senhor e contra o seu Ungido,  Aquele que  habita nos céus ria-se de sua conspiração e zombava dos Seus inimigos! “Mesmo assim,” diz Ele, “ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião.” “ Proclamarei o decreto: “O SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei.” Quão gloriosamente diz a promessa: “Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão. Tu os esmigalharás com uma vara de ferro. Tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.” É parte do eterno propósito de Deus a respeito da Igreja que Cristo fosse constituído sua Cabeça. E se existe uma Igreja do Deus vivo, é também inevitável que desta Igreja Cristo fosse a única Cabeça .
Além disso, Irmãos, e, no entanto, uma vez mais – não é nosso Senhor a Cabeça da Igreja através da aclamação universal e consentimento de todos os membros desta Igreja? Nunca criamos um candidato a rival! Nenhum coração renovado por Sua graça consegue desejar um rei diferente! –
“Glória e majestade puseste sobre ele
Que inclinou Sua Cabeça para a morte!
E sejam reverenciados os Seus atributos
Por todo o ser que respira.”
Rivais dentro do território comprado com Seu sangue? Rivais contra o Filho de Davi?! Que desapareçam como a fumaça! Que sejam como pragana arrebatada pelo vento ao seu arco!
Rei Jesus! Aclamem todos! Vida longa ao Rei! Tragam o diadema real! Não veem como os anjos O coroam? Não ouvem as canções do querubim e do serafim: “Digno és, digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos”? Não ouvem o cântico eterno dos que venceram através do Seu sangue: “Digno és, digno és, porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste para Deus”? Enquanto a igreja na terra se une em um hino solene “E coroai-o, coroai-o, coroai-o Senhor de tudo, pois digno é o Cordeiro, que foi morto.”
Pela supremacia da Sua Natureza. Pela necessidade da Sua obra consumada. Pelo decreto do Pai. Pelo consentimento universal de todos os que foram lavados pelo Seu sangue, Ele é a única Cabeça da Sua própria Igreja!

IV. O que então, irmãos, O QUE ENTÃO ISTO CONDENA? O que isto condena? Condena a abominável pretensão de uma única liderança humana universal da igreja!
Para quê? Por que Cristo delegaria autoridade que Ele mesmo pode exercer? “Mas precisamos de uma representação, porque Cristo está ausente”. Mas o Espírito Santo é esta representação, e está aqui.
A verdadeira Cabeça vive sempre e a Igreja vive sempre através dela! Mas é afirmado que deve necessariamente existir uma liderança visível, e agora mesmo nos dizem todos os dias que devemos escolher, no que se refere à igreja, entre a liderança do monarca da Inglaterra e a liderança do papa em Roma. Perdão senhores – não temos tal escolha, porque quando somos perguntados qual delas escolheremos para nos guiar nos assuntos espirituais, dizemos: “Nenhuma, nenhuma nem por um momento!” Falamos abertamente sobre o assunto, reis e rainhas não são Cabeças da Igreja para nós.
Não toleraremos dominação espiritual proveniente de um primeiro-ministro inglês mais do que de alguém que se afirme líder mundial da igreja! Somos igualmente contrários aos dois – toda liderança humana deve fracassar! Para a nossa bem-amada rainha toda a honra e reverência como uma das melhores governantes em assuntos civis. Mas nos assuntos espirituais na Igreja de Cristo ela não tem poder de decisão – o que ela pode ter na Igreja da Inglaterra é uma outra questão. Não faz diferença se é mulher ou homem – se é príncipe ou padre – não aceitaremos czar, imperador, rainha, papa, sacerdote, pastor, serafim ou anjo para reinar na Igreja de Jesus Cristo!
A Igreja não possui governador legal ou Senhor supremo, exceto o próprio Jesus Cristo. Nosso Senhor, ao que me parece, aborda esta questão de maneira tão direta na palavra de Deus a ponto de me surpreender que homens que acreditam na Bíblia pensem que o Estado possa estar na liderança da Igreja! O partido da Igreja Estatal colocou a Bíblia com uma coroa e um cetro em seus anúncios! É sugestivo que a Bíblia esteja fechada – pois se ingleses fossem lê-la alguma vez, seria fatal para a causa de agora – visto que uma das Verdades de Deus que leriam seria esta: “Meu reino não é deste mundo.” E escutariam Cristo dizer: “Dai pois a César o que é de César” – ou seja, prestem toda a obediência civil à autoridade civil, “mas a Deus o que é de Deus.”
Deixe o Senhor governar no reino da mente e do espírito, e César no reino do governo civil! Permita que o Estado faça seu trabalho e nunca interfira com a Igreja! E permita que a Igreja faça o seu e nunca interfira no Estado, e nem sofra interferência dele! Os dois reinos são separados e distintos. Longas linhas de demarcação sempre são traçadas entre os poderes espirituais e temporais ao longo de todo o Novo Testamento – e o dano ocorre quando os homens não as enxergam.
Cristo é a Cabeça da Igreja, e não ninguém que represente o Estado. Irmãos, pensem só por um minuto sobre os danos que esta doutrina da liderança do Estado tem causado. Existiu um tempo em que os homens dificilmente poderiam ser diáconos sem tomar o Sacramento na Igreja Estabelecida. Oh, as múltiplas hipocrisias que foram perpetradas todos os dias por homens destituídos da graça, os quais vieram a se qualificar para o ministério adotando símbolos da nossa fé sagrada quando não conheciam Cristo! Estes fatos são mais ou menos inevitáveis ao sistema. Pense de novo em quais perseguições surgiram como resultado deste erro. Não se pode colocar um grupo religioso em posição de ascendência, senão cai em perseguição – todos eles têm perseguido, em contrapartida, quando assim tentados.
Não há o que escolher entre um e outro, exceto, como às vezes digo, os Batistas nunca perseguiram porque nunca tiveram a oportunidade. Mas não insistirei nem mesmo nisto. É parte da natureza humana fazer o mal quando a artilharia civil está pronta para esmagar a consciência, e portanto Cristo removeu a tentação do caminho e a colocou fora do alcance do Seu povo, se estes se mantiverem atentos às suas regras no que se refere as armas carnais. Ele lhes afirma que suas armas de batalha não são carnais, mas espirituais, e, por isso, poderosas em Deus para destruir fortalezas. Que humilhação para a Igreja de Cristo o pensamento de possuir qualquer outra Cabeça diferente dele!
Ah, Irmãos e irmãs, se o monarca fosse a pessoa mais santa e devota que já viveu, ficaria extremamente preocupado por ele se recebesse, em algum sentido, a designação de Cabeça da Igreja! Como tal pessoa oraria? Como poderia um pobre pecador – e tal como o melhor homem ainda o é – achegar-se diante de Cristo, orar a Ele e dizer: “Senhor, sabe que sou a Cabeça da Sua Igreja?” Parece-me ser um clamor detestável, uma blasfêmia horrível! Não tocaria neste título por prêmio nenhum, nem com a ponta do meu dedo se tivesse esperança de ser salvo! Não ousaria expor meu amigo, nem mesmo meu inimigo, ao terrível risco que correria adotando um título como este!
Não julgo ninguém, Deus me proíbe de fazê-lo! Mas se visse neste mundo um homem absolutamente perfeito, cheio de luz e do conhecimento Divino, e este me perguntasse: “Devo adotar este título?” Eu me ajoelharia e diria: “Por amor a Deus, por amor à sua alma, não toque nisto, porque como poderia, com sua iluminação, e conhecimento e amor por Cristo, tirar Dele um dos Seus mais sublimes nomes”? Mas o que devo dizer quando o monarca é o oposto? E tais casos tem ocorrido. Não preciso levá-lo muito atrás na história. O nome Jorge IV não possui nenhum cheiro de santidade notável – e o mesmo pode ser dito de Carlos II – nunca ouvi historiadores se referirem a ele como eminente em piedade.
Mesmo assim estes homens foram cabeças da Igreja! Estremeço ao ser obrigado a relembrar um fato tão deplorável. Homens, cujo caráter não deve ser lembrado sem corar as bochechas foram cabeças da Igreja de Jesus Cristo! Deus tenha misericórdia desta terra por ter decaído a este ponto, porque não tenho conhecimento de países pagãos que tenham blasfemado contra Deus mais do que nós ao permitirmos corruptores cruéis levarem sobre si o título de “Cabeça da Igreja de Cristo”! Não, meus Irmãos, isto não pode ser tolerado em nenhuma Igreja com a qual tenhamos comunhão! Repudiamos esta situação! Sacudimos a abominação da mesma maneira que Paulo sacudiu a víbora que se agarrou à sua mão no fogo!
A mesma repreensão é apropriada para algo que tem sido tolerado em muitas Igrejas, ou seja, a liderança de grandes mestres religiosos. Estes, às vezes, enquanto ainda vivos, tem sido praticamente considerados seus supremos árbitros. A vontade deles era lei, sem considerar a Bíblia. Seu decreto permaneceu, sem considerar a Escritura.  Tudo isto era perverso! Algumas Igrejas nos dias de hoje reverenciam de modo extremo nomes de homens mortos. Os Pais – não deveriam ser, de alguma maneira, tão notáveis quanto os Apóstolos? Temo que os nomes de John Wesley, João Calvino e outros não raro ocupam o lugar que pertence a Jesus Cristo. Que cada Igreja Cristã declare agora que não segue homens, mas obedece somente ao seu Senhor.
Percebam vocês, irmãos e irmãs, a verdade que revelei de certa forma, e com veemência, refere-se igualmente à própria Igreja, pois esta não é a sua própria Cabeça - Ela não tem direito de agir baseada no próprio julgamento, à parte dos estatutos do seu Rei! Ela deve recorrer à Bíblia—todo o necessário está contido neste livro. Não tem o direito de fazer uso do seu próprio julgamento, desconsiderando seu Mestre. Deve ir a Ele. É uma serva cujo Senhor é supremo. O poder da Igreja é duplo. É um poder para testemunhar ao mundo a revelação de Cristo. É posta como testemunha e deve agir como tal. Também, possui um poder ministerial através do qual cumpre a vontade e as ordens de Cristo como sua serva e ministra.
Certo número de servos se reúnem no auditório — possuem uma ordem para fazer tal trabalho — e também ordens de como realizá-lo. Então fazem considerações entre si quanto aos pormenores – como podem melhor observar as regras do Mestre e cumprir Sua ordem. Estão agindo perfeitamente. Mas suponha que comecem a considerar se os alvos propostos pelo Senhor eram bons, ou se as regras dadas por Ele não deveriam ser alteradas! Se tornariam imediatamente revoltosos e correndo o risco de exoneração. Então, uma Igreja reunida para considerar como aplicar a vontade do Mestre e como fazer valer Suas leis age de modo correto.
Mas uma Igreja reunida para criar novas leis ou governar de acordo com o próprio julgamento e opinião – pensando que esta decisão terá peso – cometeu um erro e se colocou em uma posição ilusória. A única doutrina a qual busquei apresentar é esta: que Aquele, e somente Aquele, que é o comprador e salvador da Igreja é quem deve governá-la.

 V. Porém, se assim é, QUAL É A LIÇÃO ENSINADA A CADA UM AQUI? Não os leva a perguntar, “Se toda a Igreja deve assim render obediência a Cristo, e a ninguém mais, eu estou agindo de modo conforme? Professo ser cristão, mas sou eu daquele tipo parcial que segue aquilo que foi ensinado no início, e então reconhece as regras dos pais e mães em lugar das de Cristo? Tenho trazido o que confesso ser a Verdade de Deus à luz das Escrituras? Já gastei 15 minutos avaliando minhas preciosas opiniões?” Temo a enorme massa de cristãos que nunca agiu assim; mas tem sugado sua religião como o leite da sua mãe e nada mais.
De novo, se sou um Cristão, eu tenho o hábito de julgar meus atos baseado nos meus próprios caprichos e desejos, ou os julgo baseado nos Estatutos do Rei? Muitos dizem que isto ou aquilo os desagrada – como se fosse importante! Quais são suas preferências e antipatias? Você é um servo limitado a entregar sua vontade ao Senhor! Se Cristo lhe dá uma ordem que você pensa ser difícil porque não combina com seu amor à comodidade – meus Irmãos e Irmãs, não irão vocês, como servos do Senhor, colocar de lado seus caprichos e se esforçarem para segui-Lo? Oh, esta é uma vida abençoada para se viver – não ser mais servo do homem nem de si mesmo – mas ir ao Senhor todos os dias em oração e dizer: “Senhor, o que eu não sei, ensina-me.”
Então poderá rir da ira de Satanás e enfrentar o desdém do mundo, porque o Senhor nunca irá abandonar os que se apegam a Ele! Se um homem ama os testemunhos e mandamentos do Todo-Poderoso, Deus será sua armadura, seu escudo e sua torre forte. Mas se ele se esquiva para suas próprias suposições, sua queda será certa! Que o Senhor guarde a Igreja neste assunto, e seu dia de vitória logo chegará. Que Cristo seja sua única Cabeça e que seu triunfo se aproxime! Posso enxergar o romper da manhã – naquela direção estão os primeiros raios de luz no céu – o Senhor está vindo porque a Igreja começa a reconhecê-lo – e então seus dias de alegria começarão e seus dias de lamentação nunca mais existirão.

Adaptado pelo Pr Silvio Dutra





5 - “Mui grande é o seu arraial." (Joel 2.11)

Considere, minha alma, a grandeza do Senhor, que é a tua glória e defesa. Ele é um homem de guerra, Jeová é o seu nome. Todas as forças do céu estão à sua disposição, legiões aguardam em sua porta, querubins e serafins; santos, principados e potestades, estão todos atentos à sua vontade.
Se os nossos olhos não estiverem cegos pela oftalmia da carne, devemos ver cavalos e carruagens de fogo em redor do Senhor amado.
Os poderes da natureza estão sujeitos ao controle absoluto do Criador: ventos e tempestades, raios, chuva, neve e granizo, e os orvalhos suaves e o calor da luz do sol, vêm e vão segundo o seu decreto.
Terra, mar e ar, e os lugares debaixo da terra, são as tendas dos grandes exércitos de Jeová; o espaço é seu parque de campismo, a luz é a sua bandeira, e a chama é a sua espada. Quando se levanta para a guerra, a fome devasta a terra, a peste fere as nações, o furacão varre o mar, o tornado abala os montes, e o terremoto faz com que o mundo sólido trema.
Quanto às criaturas animadas , todas elas possuem o seu domínio, e desde o grande peixe que engoliu o profeta, até "todos os tipos de moscas", que atormentaram o campo de Zoã, todos são seus servos, e como o verme, a lagarta, e o gafanhoto, são esquadrões de seu grande exército, porque seu acampamento é muito grande.
Minha alma, faze com que estejas em paz com este poderoso Rei, sim, e ainda, não se esqueça de se alistar sob sua bandeira, porque a guerra contra ele é uma loucura, e servi-lo é a glória.
Jesus, Emanuel, Deus conosco, está pronto para receber os recrutas para o exército do Senhor: se ainda não estou alistado, deixe-me ir ter com ele antes que eu durma, e implore para ser aceito por seus méritos; e se eu já sou, como eu espero que seja, um soldado da cruz, deixe-me ter bom ânimo, porque o inimigo é impotente em comparação com o meu Senhor, cujo arraial é muito grande.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.






6 - Autoridade e Poder

No mundo secular há uma distinção clara, quanto à noção de força e poder, pois os agentes regulares armados têm a força para executar as ordens daqueles que detêm o poder político e jurídico.
Trocando isto em miúdos, a polícia e as forças armadas (força) cumprem as ordens dos poderes executivo e judiciário (poder).
Observadas as devidas proporções e distinções podemos transferir isto para compreendermos o que seja a força e o poder espirituais.
Em princípio, devemos considerar que Jesus ensinou que o caráter do exercício da autoridade no reino de Deus não deve seguir o modelo dos reinos deste mundo, a saber, que a autoridade não repousa sobre aquele que é o mais servido e tem a maior força a seu dispor, mas sobre aqueles que mais servem e se sentem fracos e pobres para fazer a vontade de Deus, pois é quando se é fraco, que Deus nos faz forte, espiritualmente falando.
Há um dito ilusório no mundo, de que todo o poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido. Na verdade, todo o poder emana de Deus; é Ele quem institui as autoridades para que exerçam o poder secular ou temporal em Seu nome.
Se os que governam são leais ou não a este princípio verdadeiro, isto é outra estória, mas disto todos darão contas no dia do juízo.
Aos magistrados (juízes) de Israel, Deus os chamou de elohim (deuses) – Salmo 82 - porque lhes havia outorgado poder de decidirem sobre a vida ou a morte daqueles que se encontravam debaixo da sua autoridade. No entanto, Ele os repreende severamente, e lhes diz que eram indignos de usarem este título, em face das iniquidades e injustiças que praticavam.
Deus permitiu que pela obstinação do povo de Israel, eles tivessem reis que não fossem segundo o Seu coração, e isto começou com Saul, que foi ungido por Deus não por Sua escolha consentida, mas para dar ao povo um rei que era segundo o coração deles, para que soubessem quão grande mal há nisto.
Mas, em todo o caso, o Senhor declara que Ele detém todo o poder sobre as nações, e controla o exercício do poder, para que a este cheguem, para fins diversos somente por Ele conhecidos, apenas aqueles a quem Ele o tem permitido.
“... o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer.” (Daniel 4.25b)
“Toda a alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus.” (Romanos 13.1)
Porém, nosso escopo não é o de discorrer sobre autoridade e poder seculares, mas sobre os que são espirituais, e devem ser vistos na Igreja de Cristo.
Antes de tudo, deve ser dito, que não há poder espiritual genuíno que não proceda e seja inspirado pelo Espírito Santo. Quando deixamos de seguir o governo do Espírito, a nossa autoridade e poder são apenas humanos, ainda que tenhamos sido ungidos para ocupar determinada posição de liderança.
Importa que na Igreja, todo o trabalho seja executado por Deus e em Seu nome. Nenhuma deliberação carnal será reconhecida por Ele como sendo de fato autoritativa. De forma que, a verdadeira autoridade espiritual não será vista por imposição, mas por reconhecimento dos liderados, de que o líder está de fato sendo dirigido por Deus para exercer autoridade em Seu nome.
Outro ponto importante a ser considerado é que ainda que aspiremos à liderança, esta deve ser confirmada por um chamado de Deus. Sem que haja tal chamada, nenhuma autoridade espiritual real nos será concedida por Ele para liderarmos, e seremos perante todos como uma árvore sem frutos.
Outro aspecto importante quanto ao poder de Deus é que este existe, mormente para edificação, para promover a salvação e edificação da Igreja, e não para destruição, como podemos ver o apóstolo afirmando isto em II Coríntios 13.10.
É poder para salvar e não para condenar, sobretudo nesta dispensação da graça.
É poder, conforme dizer de Jesus, para: “pisar serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; e nada vos fará dano algum.” (Lucas 10.19).
O poder não é propriamente dos crentes, mas de Deus, conforme vemos no dito do apóstolo Pedro que disse a verdade quanto à fonte de cura do coxo à porta do templo (Atos 3.12).
Como é Deus quem escolhe; quem chama, por princípio, deveríamos entender que não cabem disputas para o exercício de liderança na Igreja. Foi nisto que os apóstolos haviam errado no início, e nosso Senhor usou a ilustração de uma criança para demovê-los de suas aspirações de  grandeza mundana em Seu Reino. Ele lhes ensinou que quem há de ser grande ou pequeno no Reino já está determinado pelo Pai.
Glória a Deus por isso, pois é o melhor antídoto contra a natural busca de posições elevadas por parte dos homens, à custa de se pisotear e desprezar a outros.
Há uma medida de fé repartida a cada crente, e todos devem ser zelosos e labutar na esfera que lhes foi demarcada pelo Senhor, de modo a não invadirem a seara de outros.
Outro aspecto importante a ser observado quanto a este assunto, é que o poder na Igreja não está limitado à liderança, mas é distribuído pelo Espírito Santo a todo o corpo de crentes para que deem testemunho de Cristo.
O poder dado para pisar serpentes e escorpiões não é exclusivo para pastores, mas para todos os crentes. E de igual modo, para vencerem o pecado e serem santificados.
A propósito, não foi dado aos pastores domínio sobre a fé dos crentes, conforme vemos o próprio apóstolo Pedro discorrendo a respeito disso em I Pedro 5.1-4.
Somente a Jesus foi dado domínio sobre todas as ovelhas do Seu rebanho, mas Ele o faz como o bom pastor que dá Sua vida por elas e as apascenta com amor e mansidão.
Por isso cabe a todos que têm recebido autoridade como pais, como pastores, professores, ou líderes em qualquer outra esfera, seguir o Seu exemplo.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras
1 – epitage (grego) – autoridade, mandado;
2 – exousia (grego) – autoridade, poder;
3 – dinamis (grego) – poder; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128384






7 - Pensamentos do Homem e os Pensamentos de Deus

Citações de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

   "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos do que os vossos pensamentos." (Isaías   55.8,9)

   O texto fala de pensamentos. Menciona os pensamentos do homem e os pensamentos de Deus. O poder do pensamento é um ponto no qual o homem é feito à imagem de Deus. Outras criaturas animadas que são colocadas em sujeição ao pensamento do homem, não têm comunhão com Deus em pensamento – porque não podem entrar no Seu mundo de puro espírito.
   Mas o Senhor está falando a uma criatura de outro molde que Ele dotou do espírito, capaz de comunhão com o invisível, o espiritual, e o divino.
Quando os homens não pensam, e especialmente quando não pensam dos assuntos mais elevados e dos mais importantes, eles se   degradam da verdadeira posição e ocupação de mentes imortais.
   O pensamento é o que nos compara a Deus. Os poderes da mente, quando justamente exercidos sobre as coisas eternas, são os meios de elevar-nos ao ponto mais alto da natureza humana.
  Os pensamentos de Deus são declarados por Ele mesmo como sendo extremamente acima do homem. E, no entanto, se alguma vez o homem desejar habitar com Deus, ele deve pensar como Deus pensa. "Como podem andar dois juntos, se são estiverem de acordo?" Se meus pensamentos seguem uma direção, e os pensamentos de Deus estão em uma direção oposta, eu não posso ter qualquer comunhão com Ele. Meus pensamentos devem conformar-se com os pensamentos de Deus ou eu não posso ser como Ele e caminhar com Ele.
   No entanto, Ele me diz que os Seus pensamentos não são os meus pensamentos, mas estão tão elevados acima dos meus como os céus estão acima da terra! O que, então, eu posso fazer para   subir até Ele? Pense o quanto eu quiser, mas isso ainda me deixa na terra, e Deus está muito acima de mim! Meus pensamentos não podem alcança-lo, mais do que uma criança pode tocar as estrelas com o seu dedo. Ainda assim, é um conforto para mim - se estou pensando sinceramente em Deus - que Ele está pensando em mim – porque, se meus pensamentos não podem levar-me a Ele - Seus pensamentos podem trazê-Lo a mim! E quando Ele estabeleceu uma conexão entre o céu que está acima de mim e a terra que está debaixo de Si mesmo, em seguida, eu, tomando posse de seus pensamentos, e crendo que Ele tem pensado em mim, isto me conduzirá a ser elevado e a ter Seus pensamentos, e assim, estar em comunhão com o Altíssimo.
   Vou tentar em primeiro lugar, contrastar seus pensamentos com a possibilidade de perdão segundo os pensamentos de Deus.   Vocês, naturalmente, formam suas ideias sobre os caminhos de Deus daquilo que concebem como seria se vocês estivessem em Sua posição.
   Vamos supor que alguma pessoa perversa tenha lhe ferido - e que a questão do seu perdão está agora diante de você. Vamos supor que você seja de uma disposição generosa, franca, e perdoadora e de um estado de calma e criterioso de espírito.
   Você está pronto para agir mais brandamente, mas ainda assim, o caso em questão não é uma bagatela e requer consideração. Depois de ponderar bem e considerando o assunto, você se sente obrigado a dizer: "Eu poderia perdoar essa pessoa, mas sua ofensa é de um tipo grave peculiar. Se ele tivesse roubado a minha bolsa ou a minha propriedade eu poderia ter esquecido. Mas ele tem despojado a minha pessoa. Ele tocou a minha pessoa, na sua parte mais terna e me feriu na medida mais alta possível. Eu poderia perdoar dez mil outras formas de transgressão, mas a forma de mal que ele me fez    sofrer é ofensiva e prejudicial para mim. A pessoa sob consideração exerceu a pior forma imaginável de erro contra mim. Com o desejo mais sincero de passar por alto sobre isso, eu sinto que não devo, senão deixar a lei seguir seu curso."
   Houve muitas ocasiões em que pessoas prejudicadas têm falado assim e quando nenhuma pessoa razoável poderia culpá-los. Tal, ó despertado pecador, é o seu caso perante o Senhor! E se Ele deve pensar de você como um homem poderia pensar de outro, você tem que admitir que Ele é justo. Isto é certo, querido amigo, que você tem ofendido a Deus no ponto mais sensível – que tem negado o seu direito sobre, uma vez que é Sua criatura.
   Você negou o direito do seu Criador porque tem dito: "Quem é o Senhor para que eu obedeça a Sua voz?"
   Apesar de ter sido um pensionista de Sua graça diariamente, você tem constantemente insistido em ser o seu próprio mestre e ter o direito de agir exatamente conforme lhe apraz. Assim, tem invadido os direitos da coroa do Rei dos reis, e cometido traição contra Sua soberania. E o pior de todos os pecados você cometeu  contra o Seu unigênito e mais amado Filho, o Senhor Jesus. Você pode não perseguir Seu povo, ou falar contra a Sua divindade - mas tem menosprezado o precioso sangue e considerado o crucificado    Salvador e a Sua Expiação como sendo nada para você.
Assim, você tem perpetrado o delito mais provocativo contra Deus e tocado na menina dos seus olhos. Se fosse o caso, você pode   não perdoar - mas ser surpreendido em saber que seus pensamentos não são os pensamentos de Deus - e seus caminhos de perdão estão tão elevados acima de seus caminhos, assim como os céus estão acima da terra! Se você confia no Senhor Jesus, sua iniquidade, embora seja a mais hedionda e detestável, será anulado para sempre!
É suposto que quando você está pesando o caso de um ofensor que pense sobre ele assim: "Eu poderia perdoá-lo, mas a ofensa foi intencional, maliciosa, e arbitrária e, portanto, eu não posso fazê-lo."
   Naturalmente você transferiu esse seu pensamento ao Senhor do Céu, e você diz: "Ele nunca vai me perdoar por eu ter transgredido deliberadamente. Eu sabia o que era o certo, mas eu escolhi o errado.”
   Meu caro amigo, uma linguagem como esta convém à língua de um penitente, mas desde que você tem Jeová em Cristo Jesus, não se desespere!
   Os homens não podem perdoar seus companheiros quando eles percebem a malícia em seus crimes, mas Deus pode perdoá-lo!
   Nós, por vezes, apresentamos uma desculpa para não perdoar um criminoso por causa de sua falta de humildade, mas Deus não o faz - Ele diz: "Eu vou lançar fora o coração de pedra e lhes darei um coração de carne."
   "Ainda assim", exclama a parte prejudicada, "Eu acho que o homem deve fazer alguma compensação. Ele fala de perdão, mas, em seguida, olha para o mal que ele me fez todos estes últimos anos. Ele deveria propor algo por meio do qual deveria fazer as pazes comigo em relação ao mal que ele me fez."
   Este princípio é muito devidamente reconhecido em tribunais de justiça. Isto é esperado de um homem que tenha praticado uma ofensa à lei, que ele deve fazer uma compensação.
   Agora, pecador, você sente que não pode trazer qualquer indenização. E se conhece a si mesmo corretamente, percebe que não pode fazer nada para desfazer o que fez. Você desonrou a Lei de Deus de tal maneira que não há nenhuma esperança de remover a afronta. Mas nosso amoroso Deus não lhe pede qualquer compensação! Ele diz: "Somente retorne para mim." "Somente confesse a iniquidade que você cometeu."
   Aquele que confessa e deixa seu pecado alcançará misericórdia. Não é necessária uma compensação, pois Cristo já a fez por nós, quando tomou o nosso lugar na cruz. E o pecado é perdoado livremente por amor de Jesus.






8 - A Soberania de Deus e Oração

Por John Piper

Constantemente me perguntam: “Se você crê que Deus faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade (Efésios 1:11) e que seu conhecimento de todas as coisas, passadas, presentes e futuras, é infalível, então qual é o sentido de orar para que qualquer coisa aconteça?” Normalmente, essa pergunta é feita com relação a decisões humanas: “Se Deus predestinou alguns para serem seus filhos e os escolheu antes da fundação do mundo (Efésios 1:4,5), então qual o sentido de orar pela conversão de alguém?”
O argumento implícito aqui é que, para que a oração seja possível, o homem deve ter o poder da autodeterminação. Ou seja, todas as decisões do homem devem em última instância pertencer a ele mesmo, não a Deus. Pois, de outro modo, ele é determinado por Deus e todas as suas decisões estão, na verdade, estabelecidas no propósito eterno de Deus. Vamos examinar a razoabilidade desse argumento, refletindo a respeito do exemplo citado acima.

Deus Decide Quem Será Salvo

1. “Por que orar pela conversão de alguém se Deus escolheu antes da fundação do mundo quem serão seus filhos?” Uma pessoa precisando de conversão está “morta em suas transgressões e pecados” (Efésios 2:1); ela é “escrava do pecado” (Romanos 6:17; João 8:34); “O deus desta era cegou seu entendimento, para que não veja a luz do evangelho da glória de Cristo” (2 Coríntios 4:4); seu coração está endurecido para Deus (Efésios 4:18), de forma que ela é hostil a Deus e está rebelde em relação à vontade de Deus (Romanos 8:7).
Agora, eu gostaria de devolver a pergunta ao meu inquiridor: Se você insiste que esse homem deve ter o poder da autodeterminação em última instância, qual é o ponto de orar por ele? O que você quer que Deus faça por ele? Você não pode pedir a Deus que supere a rebelião do homem, pois a rebelião é precisamente o que o homem está escolhendo agora, e isso significaria que Deus supera a escolha dele e tira seu poder de autodeterminação. Mas como Deus pode salvar esse homem, a menos que aja de forma a mudar o coração do homem da dura hostilidade para a terna confiança?
Você vai orar para que Deus ilumine o entendimento dele para que ele verdadeiramente enxergue a beleza de Cristo e creia? Se você orar assim, está de fato pedindo a Deus que não mais deixe a determinação da vontade do homem em suas próprias mãos. Você está pedindo a Deus que faça algo no entendimento (ou no coração) do homem, de forma que ele certamente irá enxergar e crer. Isto é, você está admitindo que a determinação última da decisão do homem por crer em Cristo pertence a Deus, não meramente ao homem.

A Soberania de Deus Possibilita a Oração

O que estou dizendo é que não é a doutrina da soberania de Deus que frustra a oração pela conversão de pecadores. Pelo contrário, é a noção, em desacordo com a Bíblia, da autodeterminação, que iria consistentemente por um fim em todas as orações pelos perdidos. Oração é um pedido para que Deus faça alguma coisa. Mas a única coisa que Deus pode fazer para salvar um pecador perdido é superar sua resistência a Deus. Se você insistir que o homem conserve sua autodeterminação, então está insistindo que ele permaneça sem Cristo. Pois, “ninguém pode vir a Cristo, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai” (João 6:65, 44).
Somente a pessoa que rejeita a autodeterminação do homem pode orar consistentemente para que Deus salve os perdidos. Minha oração pelos descrentes é que Deus faça por eles o que fez por Lídia: Ele abriu seu coração para atender à mensagem de Paulo. (Atos 16:14). Eu oro para que Deus, que uma vez disse, “Haja luz!”, pelo mesmo poder criativo, faça “brilhar em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo. (2 Coríntios 4:6). Eu oro para que Ele “tire seus corações de pedra e lhes dê corações de carne.” (Ezequiel 36:26). Eu oro para que eles nasçam não da vontade da carne nem da vontade do homem, mas da vontade de Deus (João 1:13). E junto com toda a minha oração, tentarei “ser amável para com todos, para ensinar e corrigir com mansidão e paciência, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e escape da armadilha do diabo.” (2 Timóteo 2:24-26).
Em resumo, não peço a Deus que sente e espere que meu vizinho decida mudar. Não sugiro a Deus que Ele mantenha sua distância, para que Sua beleza não se torne irresistível e viole o poder de autodeterminação do meu vizinho. Não! Eu oro para que Ele assalte meu vizinho descrente com Sua beleza, que Ele desamarre a vontade escravizada, que Ele faça o morto viver e que Ele não sofra resistência para impedi-lo, para que meu vizinho não pereça.

A Relação entre Oração e Evangelismo

2. Se alguém agora diz, “O.K., mesmo que a conversão de uma pessoa seja determinada em última instância por Deus, ainda não vejo o sentido da sua oração. Se Deus escolheu antes da criação do mundo quem seria convertido, qual a função da sua oração?” Minha resposta é que sua função é como a da pregação: “Como os perdidos crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” (Romanos 10:14-15) Crer em Cristo é dom de Deus (João 6:65; 2 Timóteo 2:25; Efésios 2:8), mas Deus determinou que o meio pelo qual os homens creem em Jesus é a pregação dos homens.
É simplesmente ingênuo dizer que se ninguém difundir o evangelho, todos os predestinados para serem filhos de Deus (Efésios 1:5) serão convertidos de qualquer maneira. Isso é ingênuo, porque ignora o fato de que a pregação do evangelho é tão predestinada quanto a fé no evangelho: Paulo foi separado para seu ministério de pregação antes de seu nascimento (Gálatas 1:15), como também Jeremias (Jeremias 1:5). Portanto, perguntar, “Se não evangelizarmos, os eleitos serão salvos?” é como perguntar, “Se não há predestinação, os predestinados serão salvos?” Deus conhece aqueles que são seus e Ele irá levantar mensageiros para ganha-los. Se alguém se recusar a fazer parte desse plano, porque não gosta da ideia de ter sido violado antes do nascimento, então ele será o perdedor, não Deus ou os eleitos. “Você irá certamente realizar o propósito de Deus, de qualquer forma que possa agir, mas fará diferença em sua vida se servi-lo como Judas ou como João.” (O Problema do Sofrimento capítulo 7, Antologia, p 910, cf. p 80).

Deus Usa Meios

Oração é como pregação pelo fato de ser também um ato do homem. É um ato do homem determinado por Deus e no qual Ele se deleita, porque reflete a dependência de suas criaturas em relação a Ele. Ele prometeu responder à oração, e sua resposta é tão contingente quanto é nossa oração de acordo com Sua vontade. “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve.” (1 João 5:14). Quando não sabemos como orar de acordo com a vontade de Deus, mas desejamos avidamente, “o Espírito intercede por nós de acordo com a vontade de Deus.” (Romanos 8:27).
Em outras palavras, assim como Deus assegurará que Sua Palavra seja pregada como meio de salvar os eleitos, assim também Ele assegurará que todas aquelas orações sejam feitas de acordo com as que Ele prometeu responder. Acho que as palavras de Paulo em Romanos 15:18 se aplicariam igualmente bem ao seu ministério de pregação e de oração: “Não me atrevo a falar de nada, exceto daquilo que Cristo realizou por meu intermédio em palavra e em ação, a fim de levar os gentios a obedecerem a Deus.” Mesmo as nossas orações são um dom daquele que “nos aperfeiçoa em todo o bem para fazermos a vontade dele” (Hebreus 13:21). Ó, quão gratos deveríamos ser por Ele ter nos escolhido para sermos empregados nesse alto serviço! Quão ávidos deveríamos ser para gastar muito tempo em oração!






9 - Como Tratar com a Autoridade Civil 

Notas: 1 - O uso da palavra “igreja” neste texto nunca se refere a instituições ou denominações religiosas, mas ao número daqueles que amam a Jesus Cristo.
2 – Este texto é uma tradução e adaptação do Pr Silvio Dutra, do texto em inglês, em domínio público, de autoria de John Macarthur.

Certamente se o apóstolo Pedro estivesse visitando a nossa igreja para nos ministrar a Palavra de Deus, ele não estaria falando e fazendo o que muitos têm falado e feito na igreja dos nossos dias.
Ele estaria falando aquela mesma verdade que lhe foi ensinada pessoalmente pelo Senhor Jesus, aquela verdade imutável, que jamais passará.
As filosofias humanas que não se conformam à Palavra têm passado e passarão.
Até mesmo o ensino direto de demônios que intenta desacreditar a verdade divina também passará, mas a Palavra do Senhor permanece para sempre, e é por isso que Pedro não alteraria um só jota ou til para agradar a quem quer que fosse, e estaria pregando em nossa igreja o mesmo evangelho que ele pregou todos os dias da sua vida, até a hora da sua morte.
Pedro escreveu em sua primeira epístola, em 2.13-17: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor; quer seja ao rei, como soberano; quer às autoridades como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores, como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. Tratai a todos com honra, amai aos irmãos, temei a Deus, honrai ao rei.”.
Provavelmente o rei que estava perseguindo a igreja quando Pedro escreveu esta epístola, era Nero, sob quem o próprio apóstolo, assim como Paulo, padeceram o martírio, segundo a tradição cristã.
E ele diz: “honrai ao rei”. Mesmo um Nero, enquanto estiver no trono deve ser honrado ainda que não quanto à pessoa que é, mas quanto à autoridade de que está investido.
Há um grande movimento até mesmo entre os cristãos de todo o mundo, presentemente, para não darem honra aos maus governantes, antes, devem se envolver em atividades que tenham em vista retirá-los da posição que ocupam.
Isto é rebelião civil. Isto é levante. Isto é motim.
Ainda que caiba ao cristão denunciar o mal, não lhe cabe se envolver em atividades que tenham em vista a tomada do poder.
Cabe-lhe sim orar pelas autoridades, para apresentá-las na presença de Deus, e ao Senhor cabe acionar ou permitir as ações que partem do mundo espiritual, para que cheguem ao poder, em cada nação aqueles que lá devem estar, segundo o Seu propósito.
Quer seja para praticarem o bem, quer seja para praticarem o mal, para aquele resultado, que no final contribuirá para o bem de todos aqueles que O amam.
Há um senhor da história, e este não é Satanás e nem o homem, mas o Senhor Deus, monarca não apenas da terra, mas de todo o universo e céus.
O cristão tem assim, como cidadão no mundo, não a missão de estabelecer governos terrenos, mas a de ser testemunha de Deus na terra, daquelas coisas eternas e melhores do Reino do Senhor, para que através do seu testemunho ocorra o que é dito no verso 15 do texto de I Pe 2.13-17, que destaca o propósito de tudo o que se diz nesta porção bíblica: “Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos;”. Isto é, pelo testemunho de Deus daquilo que é correto você pode silenciar a ignorância dos homens tolos.
O ponto da seção inteira da exortação é que nós como cristãos devemos viver de tal modo que por nossas vidas exemplares nós calemos as bocas desses que criticam nossa fé.
Nós devemos viver uma vida que esteja acima da crítica, uma vida que esteja acima da repreensão, uma vida que esteja acima da vergonha.
Na verdade, o que fica em foco quando se vive desta forma, é o poder transformador do evangelho.
Realmente não há nenhuma outra maneira melhor e maior para as pessoas verem o poder transformador do evangelho do que ver a vida de uma pessoa transformada.
É o fundamento de todo o nosso testemunho.
O testemunho poderoso que ocorre quando uma pessoa dá a alguém o evangelho que ela tem já posto como o fundamento da sua vida  transformada.
Pedro então está dizendo aqui que é essencial que vocês vivam suas vidas de tal modo, que seu testemunho se torna crível.
Que o poder transformador de Cristo não seja evidente pelo que você diz mas pelo que você é.
Agora, quanto ao modo como nós devemos nos esforçar para viver nossas vidas no mundo, há três perspectivas que Pedro nos dá aqui.
Ele diz que você tem que ver sua vida de três maneiras.
Primeiro, você tem que se ver como um estrangeiro para esta sociedade. Nos versos 11 e 12 ele afirma que nós somos peregrinos e estrangeiros neste mundo e nós temos que nos ver deste modo.
Então nos versos 13 a 17 ele diz que embora sejam estrangeiros, ainda são cidadãos, embora vivam em outra dimensão, ainda estão aqui neste mundo e têm que se comportar com o modo  próprio de um cidadão.
Em terceiro lugar, nos versos 18 a 20, ele discute o assunto que nós somos servos, e não servos genericamente falando, mas em relação àqueles que são nossos chefes.
Assim Pedro vê o cristão como um estrangeiro, como um cidadão e como um servo.
E cada uma dessas perspectivas está relacionada com o modo com que o mundo nos vê. Ou seja, como estrangeiros, como cidadãos, e como servos.
O pano de fundo é que o modo que você vive determinará se você conduz alguém a Cristo ou se você abastece os fogos da crítica.
Mas, há pessoas que obviamente não estão vivendo de modo espiritual e que têm pregado que  "Cristo transforma", mas não têm uma vida transformada e assim colocam por terra o seu testemunho.
Agora, o perigo disto é óbvio. A verdade passa por um caminho estreito quanto às nossas relações com este mundo em que vivemos.
Ao mesmo tempo que estamos crucificados para ele e ele para nós, em que não somos dele, nós ainda estamos nele, e vivemos nele.
Daí ser descabida a afirmação de qualquer cristão, que morreu para o pecado mas não para o mundo, como que a justificar a busca dos prazeres terrenos como um dos objetivos principais da vida.
Mas ao mesmo tempo, o próprio cristão necessita de sadia recreação.
Necessita exercitar o seu corpo físico para ser saudável.
Necessita trabalhar com as próprias mãos para obter o sustento que é necessário, não somente para si, mas para os que dele dependem.
 O perigo inerente a isso é óbvio porque se nós temos nossa identidade de estrangeiros no mundo, nós podemos ficar totalmente indiferentes para o mundo no qual nós temos que viver.
E assim nossa alienação do sistema é equilibrada pela demanda da própria cidadania.
Sim, nós vivemos uma vida sobrenatural. Sim, nós vivemos uma disciplina que é interior e privada, operada pelo Espírito Santo.
Sim, nós nos dirigimos com um comportamento que é externo e público e também operado pelo Espírito Santo, de forma que somos diferentes do mundo ao redor de nós.
Nossa alienação se manifestou pelo fato que nós nos privamos de luxúrias carnais, de acordo com o verso 11. E que nós praticamos boas obras de acordo com o verso 12.
Assim, o caráter das nossas vidas revela a nossa alienação.
Nós somos diferentes do mundo.
Nós estamos no mundo, não somos do mundo.
Mas o resultado disso poderia ser uma indiferença à sociedade ao redor de nós, um descuido absoluto para a autoridade ao redor de nós.
E assim Pedro é rápido em acrescentar imediatamente no verso 13:
“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor;”.
O fato de que você é um cidadão do céu, que você vive num nível diferente que o  mantém num plano mais elevado, que você responde a uma autoridade mais alta, não significa que você pode tratar com indiferença as instituições que estão aqui na terra.
Nós que sentimos que estamos acima do sistema necessitamos aprender a viver dentro do sistema.
De forma a sermos conduzidos ao que  Pedro apresenta nos versos 13 a 17, quanto à forma como devemos nos conduzir como cidadãos.
Agora é urgente o estudo deste assunto nestes nossos dias porque temos testemunhado um grande número de pessoas cristãs que desafiaram o direito civil.
Eles violaram os padrões de cidadania. Eles violaram a civilidade da lei e eles não honraram a autoridade que está acima deles.
Nós assistimos isso acontecer. Eles fizeram isso no nome de Deus. Eles fizeram isso no nome do Cristianismo.
E assim nós precisamos olhar cuidadosamente para este assunto de  modo especial e ver o que precisamente a Palavra de Deus tem a dizer.
As pessoas às quais Pedro dirigiu originalmente sua epístola estavam sendo criticadas. É difícil ser espiritual, como cidadão do céu. É difícil também ser um bom cidadão neste mundo. E isto se torna mais difícil ainda quando esta autoridade lhe é hostil.
E este era o caso daqueles a quem Pedro tinha escrito.
Na realidade, era uma coisa bastante comum chamá-los malfeitores, como eles são assim identificados no verso 12, eles são caluniados como malfeitores.
Nos dois primeiros séculos da história da igreja era muito comum para eles não apenas viverem numa sociedade terrena mas em uma sociedade muito hostil que era flagrantemente anti-cristã.
Eu li, como você talvez também tenha lido, alguns dos registros da história da Igreja Primitiva, alguns dos ataques e algumas das acusações contra a Igreja que são representativos da forma como eles foram tratados.
Em primeiro lugar, havia um anti-semitismo básico no mundo antigo.
Eles se ressentiram contra os judeus. Eles odiaram os judeus. E os cristãos foram vistos como simplesmente uma seita dos judeus.
E assim eles receberam uma carga bastante grande de hostilidade anti-semítica.
Havia um tipo de visão repulsiva dos judeus e os cristãos entre eles.
Eles também foram acusados de insurreição.
Eles foram acusados de se rebelarem contra Roma e toda autoridade humana.
Literalmente isso era a razão básica por que os romanos se ocuparam da crucificação do próprio Jesus Cristo, porque foi trazido a eles o fato que Ele representava uma grande ameaça contra Roma que, claro que, não era verdade.
E durante os primeiros dois séculos da vida da igreja, essas acusações de hostilidade contra governos terrenos continuaram crescendo, embora elas não fossem verdade.
A Igreja Primitiva também foi acusada de ateísmo e havia uma grande hostilidade contra eles em razão disso.
É duro imaginar, não é, que a igreja pudesse ser acusada de ateísmo?
Mas era verdade porque qualquer um que se recusasse adorar os muitos deuses das nações pagãs, inclusive César no Império romano era considerado um ateu.
Assim se você não adorasse César, não importa quem mais você adorasse, você era considerado um ateu.
A Igreja Primitiva também foi acusada de canibalismo. Era suposto que eles estavam fazendo banquetes. Na realidade, um dos escritores pagãos, Thiestes disse que a iguaria do banquete era carne humana. E assim quando eles os acusaram de banquetes de Thiestes, eles estavam acusando a igreja cristã de praticar o canibalismo. E eles retiraram isto das palavras de Jesus, que o cristão devia comer a Sua carne e beber o Seu sangue.
Eles também acusaram os cristãos de matarem e comerem os seus filhos em seus banquetes.
Além disso, eles os acusaram de imoralidade e até mesmo de incesto.
Eles foram acusados de relacionamento de Édipo. Todos nós sabemos que Édipo foi  adotado quando criança, e quando cresceu ele viu uma senhora encantadora, e se casou com ela e descobriu eventualmente que ele tinha se casado com a sua mãe.
Freud deu a ambos muita publicidade quando ele propagou as suas teorias sobre o desenvolvimento sexual com referência particular às tendências incestuosas.
Mas um longo tempo antes de Freud as pessoas estavam tendo dificuldade nesta área e os pagãos estavam acusando os cristãos de comportamento incestuoso.
Os cristãos chamavam as mulheres de  "irmãs", e os homens da igreja tinham muita intimidade com estas irmãs, assim os pagãos, em sua  ignorância sobre a comunhão que há em Cristo no mundo espiritual, somaram dois com dois e acharam seis.
Eles os acusaram de nutrir rebelião de escravos porque quando um escravo chegava ao conhecimento de Jesus Cristo, ele tinha uma vida nova, ele tinha uma dignidade nova em Cristo. E eles pensavam que era uma coisa hostil manter os escravos no lugar que lhes cabia na sociedade.
Eles os acusaram de odiarem os homens porque eles eram contrários ao sistema do mundo. Eles os acusaram novamente de infidelidade aos governantes e a César porque eles adorariam somente a Jesus Cristo e nunca se dobrariam em submissão a qualquer outro ser.
A Igreja nos primeiros anos não estava apenas no mundo mas na hostilidade de um mundo muito odioso.
E a Pedro havia um só modo para negar as acusações. O único modo para negá-las era viver uma vida piedosa, viver uma vida virtuosa que basicamente fecharia as bocas dos críticos afastando qualquer acusação legítima.
Eles desejavam viver uma vida que era tão rica em qualidades espirituais que não haveria nada que eles pudessem usar para caluniar os cristãos.
Agora, façamos um pequeno parêntesis aqui. Satanás não abandonou de todo esta estratégia de fazer um confronto direto dos que estão no mundo contra a Igreja, assim como fez na Igreja Primitiva, nos países da cortina de ferro, nos países de cultura muçulmana e de diversos modos e épocas diferentes.
Entretanto, é muito corrente em nossos dias, no mundo ocidental, a estratégia que tem usado de misturar o joio com o trigo.
De fazer o cristianismo ser aceito pelo mundo de ímpios, desde que o cristianismo faça certas concessões ao mundo, pelo menos aceitando em seu meio, e afirmando como membros de Cristo, pessoas que não são verdadeiramente cristãs, mas que se dizem cristãs, e que são não de reputação duvidosa, mas certamente pecaminosa, porque exibem uma vida completamente distinta do que é exigido na Palavra.
Isto confunde os cristãos verdadeiros, que passam a seguir aquele padrão de vida errado, contrário à verdade da Palavra.
A hostilidade do diabo não é assim direta, mas destrói a vida da Igreja por dentro, com aquilo que é hostil à verdade revelada sendo aceito pelos cristãos.
Isto é terrível, porque a “aceitação” da Igreja pelo mundo, pode garantir a retirada da perseguição e das acusações, mas não há como conciliar de maneira alguma luz e trevas, nunca existirá comunhão entre a luz e as trevas, nunca o joio será recolhido juntamente com o trigo.
A hostilidade permanece, ainda que de forma velada, e o testemunho de Cristo é anulado, e vidas deixam de ser salvas, cristãos têm o seu testemunho arruinado, e assim Satanás consegue o seu intento.
Eu posso dizer a você que o mundo ainda é hostil contra o Cristianismo?
Homens ainda odeiam a Deus. Eles ainda rejeitam a Jesus Cristo. Eles podem ser um pouco mais tolerantes para com o sistema religioso do Cristianismo mas eles não são mais tolerantes em relação à verdade da retidão do que eles alguma vez já tenham sido antes.
E o desafio para o cristão ainda é ser estrangeiro e ainda ser cidadão, ser diferente, quer dizer, deve viver uma vida acima da que está no mundo, e ainda morar no mundo, e amar todos os que são do mundo.
E esse desafio é grande. Nós devemos viver de tal modo que apesar de todas as falsas acusações e todo ódio e hostilidade, nós poderemos ainda trazer os corações das pessoas a Cristo pela transformação evidente das nossas vidas.
Assim o que Pedro realmente tem em mente aqui é um propósito  evangelístico, porque a ordem de Jesus para a Igreja foi a de que fizessem discípulos em todas as nações, pregando-lhes o arrependimento e a fé nEle para a remissão dos pecados.
Agora, quando somos atacados por acusadores irresponsáveis, ignorantes, infundados, a reação natural é se levantar em autodefesa e talvez até mesmo retaliar, ou pensar que já que eu não tenho nenhuma parte neste mundo e este mundo não tem nenhuma parte comigo, eu ignorarei com indiferença tudo de seus sistemas.
Mas Deus não quer tal comportamento de nós.
Ele não quer que pensemos que podemos agir de qualquer maneira que desejemos porque nós não somos responsáveis perante as instituições humanas. Na realidade, Ele deseja que demonstremos autodomínio, virtude, uma preocupação com a comunidade, buscar a paz na comunidade, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para prevenir problemas, viver de tal maneira em paz e com boa vontade que nós privemos os inimigos de Cristo e do evangelho, de todas as suas falsas acusações.
O modo cristão de silenciar os críticos é obedecer todas as leis e respeitar todas as autoridades.
Se você quer uma ilustração clássica disso, leia o diário de John Wesley. E leia como John Wesley, através da oração e da proclamação da Palavra de Deus nas ruas trouxe à fé cristã a muitos que a ouviram.
Havia todos os tipos de abusos nos dias de John Wesley, todos os tipos de pecados dentro da sociedade.
O protesto de John Wesley contra isso sempre era espiritual, enquanto usava a Palavra de Deus e a oração.
O mandamento é simples: “sujeitai-vos”, da palavra hupotasso, do original grego do Novo Testamento, que é literalmente um termo militar que designa a situação do exército sob o  seu comandante.
Está falando sobre ser submisso.
A melhor tradução seria, "Coloquem-se a si mesmos numa atitude de submissão”.
A propósito, isso é distintamente cristão, porque atitudes de submissão e humildade eram olhadas no passado como  coisas que caracterizavam os covardes e fracos. E nenhum homem forte pensaria em se submeter ou ser humilde.
Assim os filhos de Deus deveriam viver de um modo humilde, submisso no meio de uma sociedade hostil, irreligiosa, sem Cristo, pecadora, má, acusadora, caluniadora.
Na realidade, os filhos de Deus tinham sido acusados frequentemente de insurreição, continuariam sendo acusados de insurreição mas nunca foram chamados por Deus para se engajarem nisto, nunca.
Em Pv 24.21, lemos:
“Teme ao Senhor; filho meu, e ao rei e não te associes com os revoltosos.”.
E escute isto, no verso seguinte (22):
“Porque de repente levantará a sua perdição, e  a ruína que virá daqueles dois, quem a conhecerá?”.
Repare que a ruína dos revoltosos virá tanto da parte do rei, quanto da parte do Senhor.
Vale a pena ler a mensagem que Deus enviou ao povo de Judá quando estava em cativeiro na Babilônia.
Eles estavam em uma terra pagã.
Eles estavam debaixo de uma regra pagã.
Eles estavam sob Nabucodonozor, rei de Babilônia, ele era um pagão até à raiz.
Mas olhe o que Deus diz:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomais esposas para vossos filhos e daí vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.”.
Agora se lembre, eles estão numa sociedade hostil, pagã.
“Procurai a paz da cidade”.
E a próxima declaração é muito interessante, e assume que há problemas e diz:
“orai por ela ao Senhor”.
Você já se sentiu como num exílio na cidade do Rio de Janeiro?
As decisões que são tomadas nesta cidade pelas autoridades desta cidade o irritam?
Você está em exílio aqui?
O que deveríamos fazer?
Adquira uma casa, viva nela, plante um jardim, coma o produto, case seus filhos e busque o bem-estar da cidade... e ore ao Senhor para que haja paz onde você mora, porque na paz da cidade você terá paz.
Torne-se o agente da insurreição e você receberá os efeitos da insurreição. Esta é a implicação. Por isso foram aconselhados pelo próprio Deus a não se insurgirem contra as autoridades que os mantinham em cativeiro.
Nos versículos seguintes do texto de Jeremias 29.4-7, o povo é alertado a não dar ouvido aos falsos profetas, aos adivinhos e sonhadores que estavam no meio deles no cativeiro, e que sempre lhes falavam em nome do Senhor falsamente, falando sempre o que agradava ao povo ouvir.
Eles ficariam por setenta anos em cativeiro, e somente depois daquele período de tempo o próprio Senhor os traria de volta à  Palestina.
É no meio de tais declarações que o Senhor disse o que está no verso 11: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais.”.
Ora, a maioria daquela gente morreria em Babilônia.
Setenta anos seria o tempo do cativeiro.
Por isso lhes é ordenado que não deixassem que o povo diminuísse deixando de se multiplicarem através do casamento de seus filhos.
A paz que eles buscariam para si mesmos seria experimentada num solo pagão. Numa terra estranha. O Senhor lhes visitaria lá enquanto orassem e o buscassem de todo o coração (29.13).
Não é nesta mesma condição que os cristãos vivem como povo de Deus nesta grande Babilônia que é o mundo?
Somos peregrinos e forasteiros.
Somos estranhos para a forma de vida do mundo sem Deus.
Mas podemos ter a paz do Senhor enquanto estivermos vivendo nele, até que chegue o dia da nossa redenção, quando o Senhor vier buscar a Sua igreja para estar para sempre com Ele na Canaã celestial.
Esta porção do livro de Jeremias apresenta esta analogia maravilhosa. O princípio é este... você está em uma terra estrangeira, faça tudo você pode para buscar o bem-estar daquela terra para seu próprio benefício, enquanto percebe que Deus tem um plano para você que ainda está distante, depois que se cumprir o prazo de tempo que está determinado por ele para que a Igreja esteja neste mundo.
Você é o cidadão de outro lugar. Você é da terra do verdadeiro Israel. Não é de Babilônia. E contanto que você tenha que viver em Babilônia, compre uma casa, ou construa uma casa, plante um jardim, coma os seus frutos,  case seus filhos e faça tudo o que estiver ao seu alcance para buscar  o bem de sua cidade e ore por ela. E sabendo isto, que Deus tem um lugar melhor reservado para você, uma pátria para você, que é o local ao qual você pertence, no céu.
Tem havido muitos protestos, muitos atos de desobediência civil, muitas violações da lei, muitas revoluções, muitas insurreições, e muitas tentativas para subverter os governos, você está pronto para isto, em nome do Cristianismo? Isso é trágico. Nunca nos foi mandado por Deus fazer isso. O mandamento é simples: “sujeitai-vos”.
Em Rom 13.1,2 lemos: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.”.  
Você vê alguma exceção nesta palavra? O texto é bastante claro.
Paulo disse a mesma coisa que Pedro disse.
Você diz: "mas Paulo não morou num mundo como o nosso.". Ele morou sim. Ele morou num mundo dominado pela escravidão, e havia abusos terríveis.
Ele morou num mundo dominado pelo abuso de mulheres.
Ele morou num mundo onde havia o assassinato de crianças. Eles moraram num mundo onde o pecado sexual era excessivo.
Eles viveram numa sociedade miserável, podre, vil, incrédula, má, tal  como nós.
E ainda lhes foi dito que estivessem sujeitos às autoridades, às autoridades superiores porque elas foram instituídas por Deus.
E o próprio Jesus disse o que em Mt 22:21?
"Dai a César o que é de César.”.
O mandamento é muito simples.
Submetam-se.
Isto está colocado nas palavras de Deus através de Jeremias: "Busquem a paz da cidade". E na paz da cidade eles encontrariam a sua própria paz.
E lhes foi ordenado que orassem a Deus em tal sentido.
É por isso que Paulo diz em I Tim 2.1-3:
“Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.”.
Agora, voltemos ao texto de I Pedro 2 e deixe-me levá-lo a um segundo ponto.
O primeiro ponto é o mandamento, o segundo ponto é o motivo.
Em 2.13 Pedro coloca isto de maneira muito direta e clara: “por causa do Senhor”.
Pois diz: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor”.
É por causa da vontade do Senhor que devemos estar sujeitos aos que governam.
O modo de honrar a Deus é obedecendo aquilo que Ele tem ordenado.
E o mandamento diz: “sujeitai-vos a toda instituição humana”.
Sujeitai-vos porque Deus exige isto. Assim você está fazendo isto em obediência a Ele. Então desde que não há nenhuma autoridade a não ser que seja estabelecida por Deus e essas autoridades que existem foram estabelecidas por Ele,  então quando você responder de forma submissa à autoridade, você está fazendo isto por causa de Deus que instituiu a autoridade.
Quando um líder nesta sociedade diz faça isto... você faz isto. Quando a polícia diz se levante e saia daqui... você se levanta e sai de lá porque isso é o que a Bíblia diz que se deve fazer.
Por que você faz isto? Por causa de Deus.
Por causa de Deus por que?
Porque Deus nos ordenou obedecer as autoridades porque as autoridades são instituídas por Deus e é uma questão de obediência.
Leiamos Jeremias 24:4-7:
 “A mim me veio a palavra do Senhor, dizendo: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Do modo por que vejo estes bons figos, assim favorecerei os exilados de Judá, que eu enviei deste lugar para a terra dos caldeus. Porei sobre eles favoravelmente os olhos e os farei voltar para esta terra; edificá-los-ei e não os destruirei. Dar-lhes-ei coração para que me conheçam que eu sou o Senhor; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus; porque se voltarão para mim de todo o seu coração.”.
Em outras palavras, Deus diz que apesar de você estar na terra dos caldeus, onde eles enterravam os bebês vivos nas paredes das casas que construíam, naquele tipo de cultura pagã, o povo de Deus viveria todo o tipo de situações ruins, Ele diz que contanto você se volte para Ele de todo o coração Ele nunca o esquecerá, apesar de estar numa terra estranha. E no tempo conhecido por Ele você será conduzido para o seu verdadeiro lar, à sua própria terra.
Mas quando você viola o que Deus planejou para ser a sua conduta na sociedade, você deixa de ser útil nesta sociedade.
Isso é se inclinar à metodologia errada. E o fim nunca poderá ser atingido porque os meios estão incorretos.
Por isto é que Deus  está no controle. E é respondendo com submissão à autoridade que respondemos à regra ordenada por Deus.
Robert Culver escrevendo em seu livro, um livro muito útil sobre a visão bíblica do governo civil, diz: "Somente Deus tem direitos soberanos. A teoria democrática não é menos antibiblica do que a monarquia pelo direito divino. Por quaisquer meios que os homens cheguem às posições de governo, por dinastia hereditária, aristocracia dinástica, ou através de eleição democrática, não há nenhum poder mas de Deus. Além disso, governo civil é um instrumento, não um fim. Os homens buscam fins mas somente Deus é o fim último. O estado não possui nem seus cidadãos nem as propriedades deles, suas mentes, seus corpos ou filhos. Tudo isto pertence ao Criador deles, Deus, que nunca deu a ninguém direitos estatais de domínio permanente".
O que eu quero que você entenda é que Deus controla e possui tudo. E o que nós queremos fazer é reconhecer que Ele ordenou o governo para manter a paz na sociedade e Ele nos tem ordenado para nos submetermos a isso. E você não atinge, efetua, realiza o fim divino violando a lei divina.
Há uma segunda razão ou motivo porque eu creio que nós devemos nos submeter e isso é que não devemos apenas obedecer a Deus,  mas imitar a Deus. Não somente obedecê-lo, mas imitá-lo.
Em Ef 5.1 se diz direta e claramente que devemos ser imitadores de Deus como filhos amados.
E em I Pe 2.21 vemos que Cristo nos deixou um exemplo para que o seguíssemos, e no verso 23 lemos o que era este exemplo: quando insultado não insultava, quando ameaçado não ameaçava, mas entregava-se completamente nas mãos do Pai que julga retamente.
Jesus quando estava em seu ministério terreno foi assassinado por duas autoridades: a judaica e a romana.
Ele viveu debaixo da regra injusta deles, contudo Ele nunca atacou o governo.
Ele nunca atacou as regras.
Ele nunca atacou os que estavam em autoridade criticando o modo como governavam.
Ele nunca dirigiu um protesto. Ele nunca conduziu ninguém à desobediência civil.
Ele nunca efetuou um levante contra os abusos romanos.
Ele somente falou do Reino de Deus. Ele chamou os pecadores ao arrependimento, para virem a Ele e entrarem no Seu Reino.
E Ele confiava continuamente no Pai que julga retamente simplesmente porque Ele sabia que Deus é soberano e o mundo inteiro está sob o Seu controle.
Em terceiro lugar, nós queremos nos submeter às autoridades para glorificar a Deus, porque Ele é honrado quando é visto como a fonte de virtude, cortesia, paz que dá às pessoas. Isso Lhe honra.
Robert Haldain muitos anos atrás escreveu que o povo de Deus deveria considerar a resistência ao governo debaixo do qual eles vivem como um crime muito terrível. Porque diminui a glória de Cristo. Isto mostra cristãos com raiva, hostilidade, rebelião. Isso não está honrando a Deus. Estarmos em paz e graça, e em bondade honra a Deus. Estarmos em virtude, obediência, submissão, humildade, isso é o que honra nosso Cristo.
Francamente, eu creio que é triste ver cristãos que deram o exemplo de desobediência civil pública, cristãos que deram o exemplo da violação da lei, cristãos que desafiaram a polícia, porque se nós devemos ser justos então o que o injusto deveria fazer? Se nós devemos ser  virtuosos na sociedade, se nós devemos ser íntegros  servindo a Deus que instituiu o governo, como nós podemos desafiar o mesmo Deus e o mesmo governo que Ele instituiu?
Em Rom 13.5 lemos:
“É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência.”.
É necessário... isto não é opcional, é necessário.
Olhe para isto, "não só por causa do temor da punição".
Agora o que quer dizer que você não deve estar sujeito por causa da punição?
Porque regras não são uma causa de temor para um bom comportamento mas para o mau.
Você não quer ter nenhum medo da autoridade? Faça o que é o bom e você terá elogio da mesma, porque é ministro de Deus para o seu bem.
Mas se você faz o que é mau, tenha temor porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.
É sobre a polícia e o sistema judicial que ele está falando, esses que trazem a espada, que exercem a punição dos malfeitores na terra, como ministros de Deus, encarregados deste serviço.
Assim ele diz que é necessário estar em sujeição por causa da punição. Porque você pode sentir a vingança de uma instituição ordenada por Deus.
Quando a polícia fizer o que eles devem fazer para o cumprimento da lei e da ordem, eles são os ministros de Deus.
Não significa que eles às vezes não abusem disso, eles o fazem.
Não significa que eles são pessoalmente cristãos ou pessoalmente mais morais que quaisquer outras pessoas.
Significa que a função deles é como uma agência dentro da vida humana e da sociedade humana para cumprir um papel ordenado por Deus de manter a ordem.
E se uma pessoa lhes obedecer, faz o que é bom, e não terá nenhuma razão para temer. Mas caso se rebele e proteste, então já tem razão para temer por causa da punição, porque Deus lhes fez ministros para vingar a Deus, punindo aqueles que violam a ordem que Ele estabeleceu.
Então, em segundo lugar ele diz que é necessário estar sujeito às autoridades não apenas pelo temor de ser castigado, mas também por dever de consciência.
O que significa isso?
Só porque é certo. Assim a nossa submissão à autoridade não será apenas regulada pelo medo do castigo, mas porque é certo.
Assim, por causa de Deus nos submetemos para obedecê-lo, imitá-lo e honrá-lo.
Eu nunca esquecerei de George E. Vin que me disse quando conversávamos sobre isto.
O que fazem os cristãos russos para protestar contra o governo russo, quando fazem coisas que eles acham que não estão certas?
Ele disse que eles têm uma lei básica não escrita para todo mundo que congrega na Igreja da Rússia,  e se qualquer cristão for preso, ele somente será preso por proclamar o evangelho de Jesus Cristo, por nada mais além disso. Não por protestar contra qualquer outra coisa.
Mas você diz: “O que devemos fazer se sentimos que o governo está errado, contrariando a própria ordenança de Deus, como neste caso em que tentam proibir a pregação do evangelho? Quanto a isto nós temos uma palavra bastante clara na Bíblia. Lembram quando na Igreja Primitiva, as autoridades ordenaram aos apóstolos que parassem de pregar?
Eles disseram o que está em At 4.19,20:
“Mas  Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.”.
E eles não saíram dali para incitar a igreja para fazer um levante contra as autoridades judaicas.
Ao contrário, eles oraram pedindo a Deus que lhes revestisse de poder para continuarem pregando o nome de Jesus Cristo.
Quando o governo lhe pedir que faça o oposto do que Deus lhe pede que faça, você não tem nenhuma outra escolha a não ser violar a ordem do governo e então entregar-se a Deus e sujeitar-se ao castigo das autoridades, se isto for da vontade de Deus, que ocorra, para prova da sua fé, e glorificação do Seu nome.
Se eles viessem me prender eu não deitaria na rua, eu iria com eles.
Você percebe que Paulo nunca resistiu à prisão? Nunca.
Você vê que as armas de guerra dele não eram carnais? Ele nunca precisou mentir na sujeira. Ele sabia a quem ele servia e ele sabia como você deve lidar com esses assuntos no poder de Deus, não com a manipulação de homens.
Você diz, "Bem isso é fácil quando eles lhe mandam que faça algo que a Bíblia diz que não deve ser feito, ou vice-versa, então você faz o que Deus diz e você sofre as consequências." Isso é certo.
“Mas o que devemos fazer quando o governo permite coisas que nós sabemos que são erradas?".  E o que deve fazer a igreja? Nós protestamos? Nós saímos em passeata? Deixe-me levá-lo a II Cor 10.3: "Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne.”.  E no verso 4: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão.”.
Esta é uma guerra espiritual, nós não estamos lutando contra carne e sangue. Você entende isso? Nós estamos lutando em um nível espiritual. Os instrumentos de guerra, eu amo esta frase, os instrumentos de guerra não são da carne.
Nós não podemos usar meios humanos. Nós não podemos usar os mesmos meios que o mundo costuma usar.. Você quer saber algo? Eles são melhores nisto.
Quem se saiu melhor nos protestos recentes? As pessoas a favor do aborto ou as que são contra? As que são a favor. Nós não devemos lutar com as mesmas armas deles.
Mas as nossas armas, ele diz no verso 4, são poderosas em Deus. Poder de Deus para quê? Para destruir as fortalezas do pecado, as fortalezas de Satanás e seus demônios.
O que a palavra destruição significa? Significa colocar por terra.  As armas do nosso arsenal espiritual divino são fortes o bastante para destruir as fortalezas que foram construídas através do pecado.
Então ele diz que essas armas podem destruir sofismas, isto é, especulações. O que são especulações? São argumentos engendrados pela simples razão humana, sem estarem conformados à mente de Deus.
O mundo está repleto disto. E só existe uma maneira de destruir estes argumentos que são fruto da altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levar tais pessoas à obediência de Cristo.
É usando as armas espirituais poderosas de Deus. Isto ocorre na própria igreja, e Paulo diz, que uma vez completada a submissão dos coríntios pelo uso que ele fizera da Palavra, que é a espada do Espírito, a arma da nossa milícia, pela ação do próprio Deus dando-lhes entendimento da Palavra e lhes conduzindo ao arrependimento, então, uma vez completada a ação de Deus no meio da igreja, o próprio apóstolo, juntamente com a liderança da igreja puniria os desobedientes, isto é, os que se mantivessem em posição de desobediência.
Você nota? toda coisa elevada... todo pensamento. É uma guerra inclusiva e nós podemos fazê-los se curvar a Cristo. Nós podemos  levá-los cativos para a obediência de Cristo.
É por isso que nós precisamos pregar a Palavra de Deus com convicção.
Não podemos ter a mínima vergonha de qualquer palavra usada na Bíblia.
Não podemos nos envergonhar em confrontar o que os filósofos, os psicólogos, os antropólogos, os astrólogos, e quaisquer outros “ólogos” ou não estejam ensinando como verdade às pessoas contrariamente à Palavra de Deus revelada na Bíblia.
A honra devida à Palavra é ponto de honra para Deus e deve ser também para nós.
O Senhor vela sobre a Sua Palavra.
Jesus diz que Ele também se envergonharia daquele que se envergonhasse das suas palavras.
Satanás tem procurado intimidar os pregadores do evangelho, com o falso ensino daqueles que alegam conhecer a verdade, lhes silenciando.
Não convém que seja assim.
As armas poderosas de Deus devem ser usadas contra eles, para que sejam convencidos da verdade e assim se voltem para Cristo, e isto deve ser feito com oração e em paz.
Desde o Éden que Satanás tem agido assim, para desacreditar a Palavra de Deus. Ele disse a Eva que Deus havia mentido, com uma pergunta insinuante, e uma afirmação para conduzir à dúvida e ao descrédito quanto à veracidade da Palavra:
“Foi assim que Deus disse?”, “certamente não é assim”. Esta é a estratégia que ele sempre tem usado. “É isto que está escrito na Bíblia? É assim que você interpreta? Certamente não é bem esse o sentido.”.
E assim amolda a Palavra ao gosto do ouvinte. Amolda ao seu pecado. Mas o que está escrito é o que está escrito. O que está dito é o que está dito. E é isto o devemos pregar e ensinar. E é nisto que devemos crer e praticar. Cada palavra das Escrituras. Cada frase. Versículo. Capítulo. Livro.
Nós precisamos pregar a Palavra de Deus com poder e convicção.
Nós deveríamos chamar os pecadores ao arrependimento.
Nós devemos usar a Palavra que nunca voltará vazia.
Uma outra arma poderosa de Deus é a oração.  Precisamos orar para que a nossa pregação e ensino sejam no poder do Espírito, e para que Deus opere nos corações das pessoas. As armas são a Palavra e a oração.
Sim, nós precisamos demolir as fortalezas do pecado e do diabo, mas precisamos fazer isto do modo que Deus disse que deve ser feito.
E ao mesmo tempo, mantendo nossa piedade, nossa virtude, nosso caráter, como pessoas tranquilas, pacificadoras, misericordiosas, humildes, tementes a Deus, obedientes, enfim, que têm todas as virtudes que caracterizam um espírito submisso.
Postado por Pr Silvio Dutra às 09:40
A sociedade, especialmente do mundo ocidental, é uma sociedade pragmática.
Os governantes dos países ricos estão afirmando que só existe um deus no mundo, e este é o mercado.
Os países pobres são explorados pelos países ricos.
Mas no reino do anticristo haverá uma conjugação de países pobres e ricos, servindo a mesma causa comum: a do engano e da mentira.
Valendo-se de argumentos aparentemente justos como o da erradicação da miséria no mundo, do combate à violência, o mundo continuará sujeito ao príncipe das trevas e ao pecado, obedecendo o senhorio de ambos.
E vivemos como povo de Deus numa terra estrangeira, não somos deste mundo, mas estamos vivendo nele, e devemos ter o cuidado de ter a paz de Cristo em nossos corações, o espírito de moderação, mas também de ousadia para proclamar a Palavra de Deus em meio a uma geração perversa e má, lutando com as armas espirituais de Deus.
Dando o mais elevado exemplo de cidadania em relação a todas as cousas que devem ser obedecidas em relação à autoridade civil, mas tendo a ousadia com moderação para rejeitar tudo aquilo que contrariar os princípios claramente revelados na Palavra, assim como fizeram os cristãos da Igreja Primitiva, e todos aqueles que viveram e têm vivido dando o bom testemunho de Cristo, que é mediante a Sua Palavra.
Lembremos sempre que não recebemos de Deus a missão de consertar o mundo, de ser a sua palmatória, mas a de dar testemunho da verdade, de ser sal e luz num mundo de trevas.
E isto é feito com a pregação da Palavra e com oração.
Ainda que seja louvável a intenção daqueles que têm levantado as mais diferentes bandeiras para modificar a ordem social, procurando condições mais justas de vida pelo confronto das autoridades constituídas, saiba que isto não deve ser feito em nome de Cristo, porque não é esta a missão que Ele deu à Igreja.
Não foi este o exemplo que Ele deixou para nós, e nenhum dos seus apóstolos.
A nossa missão não é a de consertar o mundo, até porque ele nunca teve e jamais terá conserto, mas a de resgatar pessoas que estão no mundo, das trevas para a luz do Senhor.
Há muito o que fazer em testemunho de boas obras, mesmo para aqueles que são do mundo, e isto faremos sendo bons cidadãos e empregados, com o temor de Deus no coração, sendo obedientes e submissos àqueles que foram constituídos como autoridade acima de nós.
Em Atos 6.8 lemos que Estevão era cheio de graça e poder, e fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
Mas lemos nos versos seguintes que em razão de alguns judeus não terem podido resistir à sabedoria e ao Espírito, pelo qual ele falava, subornaram homens para dizerem que tinham ouvido ele proferir blasfêmias contra Moisés e contra Deus, e sublevaram o povo, os anciãos e os escribas o arrebatando e levando-o ao Sinédrio.
E ali usaram testemunhas falsas contra ele.
Mas os que estavam no Sinédrio viram o rosto de Estevão como se fosse rosto de anjo.
E você conhece bem o resto da história que culminou com sua morte por apedrejamento.
Ele pregou um sermão poderoso aos seus acusadores, antes de ser apedrejado, e foi um sermão cheio do poder do Espírito.
Todavia, segundo o juízo comum, ele foi derrotado porque com todo o poder de suas palavras, graça, sabedoria, fé, poder do Espírito, não logrou livrar-se dos seus falsos acusadores e encontrou a morte.
Mas, a causa de Deus e a Palavra de Deus triunfou através do testemunho da sua vida, porque tudo aquilo balançou as convicções de Saulo, lhe preparando para a sua futura conversão no caminho de Damasco, e certamente outros escribas e fariseus foram trazidos à fé pelo testemunho maravilhoso de Estevão.
Ele pregou uma mensagem evangelística confrontativa.
E Saulo jamais pôde esquecer a face angelical, o coração perdoador e o poder da pessoa de Estevão.
A Palavra de Deus diz que devemos estar sujeitos a toda instituição humana, não diz algumas, mas a toda e qualquer instituição.
Você diz:
“Mas temos juízes ruins em nossos tribunais. Respondemos a isto com uma ilustração tirada de Is 3.1,2, onde lemos:
“porque eis que o Senhor, o Senhor dos Exércitos, tira de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio, todo sustento de pão e todo sustento de água; o valente, o guerreiro e o juiz; o profeta, o adivinho e ancião; o capitão de cinquenta, o respeitável, o conselheiro, o hábil entre os artífices e o encantador perito.”.
Por que Deus vai fazer tudo isso?
Ele vai julgar o homem poderoso e o guerreiro,  Ele vai julgar o juiz e o profeta, o adivinho e o ancião.
Em outras palavras, Ele vai julgar todos.
Ele baixa uma lista longa.
Por que?
Verso 8: “Porque Jerusalém está arruinada, e Judá, caída; porquanto a sua língua e as suas obras são contra o Senhor, para desafiarem a sua gloriosa presença.”.
Esta não é a primeira vez que houve juízes ruins, esta não é a primeira vez que houve líderes ruins. Mas quem os julga? Quem os julga? Deus os julga.
Vemos isto também em Dn 9.11,12:
“Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se para não obedecer à tua voz; por isso, a maldição e as imprecações que estão escritas na Lei de Moisés, servo de Deus, se derramaram sobre nós, porque temos pecado contra ti. Ele confirmou a sua palavra, que falou contra nós e contra os nossos juízes que nos julgavam, e fez vir sobre nós grande mal, porquanto nunca, debaixo de todo o céu, aconteceu o que se deu em Jerusalém.”.
E novamente Daniel mostra o fato que havia juízes injustos, juízes injustos na sociedade na qual ele estava vivendo com as pessoas em cativeiro. Isto não é nada novo. Isto não é nada incomum.
Miqueias 7.2-4 diz:
“Pereceu da terra o piedoso, e não há entre os homens um que seja reto; todos espreitam para derramarem sangue; cada um caça a seu irmão com rede. As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos eles juntamente urdem a trama. O melhor deles é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe  de espinhos. É chegado o dia anunciado por tuas sentinelas, o dia do teu castigo; aí está a confusão deles.”.
Paulo viveu certamente em dias que os juízes eram ruins quando ele escreveu Rom 13.
Pedro também viveu certamente em dias que os juízes eram ruins quando ele escreveu I Pe 2, afinal os juízes estavam arrastando os cristãos aos tribunais, injustamente.
E o próprio Paulo e Pedro foram vítimas de uma execução injusta que lhes tirou a vida.
Mas não devemos resistir a toda esta realidade da vida humana, o foco da Bíblia está em ser sujeito às autoridades, porque foram instituídas por Deus.
Esta que é a ordenança bíblica.
Não é que você deva consertar o mundo através da revolução civil.
O trabalho de julgar as autoridades instituídas é um trabalho do próprio Deus, porque foram instituídas por Ele.
E você tem que  permitir que Deus seja soberano porque Ele está regendo como lhe apraz.
Robert Culver escreveu um livro muito importante chamado Para uma Visão Bíblica do Governo Civil.
E nele ele diz isto “Os homens da Igreja cujo ativismo Cristão levou principalmente a anunciar, enquanto marchavam, enquanto protestavam e gritavam poderiam  bem observar o autor destes versos... chamado Paulo... primeiro na oração, depois pregando com os seus amigos e depois disso pregando nas casas e nos lugares públicos. Quando  Paulo chegou a ser ouvido pelos poderosos, foi para defender a sua ação como pregador do caminho para o céu.".
Você vê, se nós seremos perseguidos e se nós seremos encarcerados, deve ser porque nós fomos pregadores da justiça, e não os desafiantes da lei.
É muito importante saber que o que dá a investidura à autoridade é a posição ocupada por ela, e não a qualidade do seu caráter.
Pedro tinha um caráter infinitamente superior ao daqueles que prenderam Jesus.
Mas o que foi que o Senhor lhe disse quanto tomou da espada e cortou a orelha do servo do sacerdote?
Ele disse que os que usassem a espada em vingança sem estarem na posição de autoridade que permite o uso da espada, morreriam  pela espada da autoridade, ministro de Deus para tal propósito.
Jesus mesmo reconheceu a autoridade terrena dos que o prenderam permitindo-se deixar ser preso por eles.
Na terra, nem ele, nem  Pedro, na ocasião ocupavam qualquer posição como magistrados reconhecidos pela sociedade.
Eles estavam assim sujeitos às autoridades constituídas.
E foi por isso que Jesus reconheceu que havia em Pilatos tal poder sobre a Sua pessoa, que fora dado por Deus.
Se Deus não tivesse instituído as autoridades civis, Pilatos não teria qualquer poder sobre Jesus, mas como era um dos chefes da administração romana, que governava o mundo de então, tinha o direito legal de fazer valer a autoridade de que estava instituído, ainda que por um governo que não era justo e imparcial, porque crucificaram o próprio Cristo que sequer tinha qualquer pecado e era Deus.
Aí está um bom exemplo então para meditarmos e entendermos que nenhum levante contra a autoridade constituída poderá ter a aprovação de Deus, ainda que seja por uma causa justa, ou em nome da justiça.
Não podemos exercer a lei com as próprias mãos. Isto é tarefa para os ministros de Deus que foram instituídos para serem autoridade mantendo a ordem civil e o cumprimento da lei.
Agora, a má autoridade responderá perante Deus, porque está designado um modo para que ela funcione.
Ela deve elogiar os que praticarem o bem e castigar os malfeitores.
Mas há cada vez mais uma troca disto no mundo em que vivemos.
Ao bem chamam mal, e ao mal chamam bem.
Autoridades que estão em conluio com criminosos. E que perseguem o povo de Deus pela simples condição de serem reconhecidos como contrários à prática da injustiça, do suborno, e de todo comportamento que é condenado pela Palavra de Deus.
Certamente prestarão contas a Deus dos seus atos.
Em Rom 13.6,7 lemos:
“Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.”.
Alguém diria... eu ouvi as pessoas dizerem isto... eu conheço várias pessoas que me disseram: "eu não pago meus impostos."
Eu disse, “porque não?"
"Eu não sou um cidadão deste mundo.".
Um homem me falou que ele não pagava impostos há 25 anos.
Por que?
"Eu não sou um cidadão deste mundo. Eu não tenho que pagar meus impostos. Eu não tenho que obedecer leis terrenas. Eu sou um cidadão do céu.".
Toda vez que eu vejo uma transgressão da vontade de Deus deste tipo, isto me irrita.
Não somos livres para sermos devedores, para dar mau testemunho, somos livres para servir a Deus, e é da vontade de Deus que sejamos cidadãos corretos neste mundo, que cumprem todas as suas obrigações de cidadania.
Nossa cidadania celestial, nossa liberdade em Cristo não nos permite abusar dos padrões que Deus estabeleceu para nós na terra.








10 - Citações do Livro A Soberania de Deus na Salvação dos Homens

Por Jonathan Edwards

“Quando Deus é mencionado aqui como endurecendo alguns dos filhos dos homens, não é preciso entender que Deus por qualquer eficiência positiva endurece o coração de qualquer homem. Não há ato positivo em Deus, como se opor a qualquer poder para endurecer o coração. Supor tal coisa seria fazer de Deus o autor imediato do pecado. É dito de Deus endurecendo o coração dos homens em duas formas: através da retenção das poderosas influências do seu Espírito, sem o qual seu coração permanecerá endurecido, e crescendo cada vez mais em dureza; neste sentido, ele os endurece, devido a deixá-los endurecer. E, novamente, ao ordenar as coisas na Sua Providência, que, por meio do abuso de Sua corrupção, tornam-se ocasião de seu endurecimento.”

“A vontade Divina não possui restrição, limitação ou obrigação.”

“Deus exerce Sua Soberania na salvação eterna dos homens. Ele não somente é Soberano e tem o direito soberano de dispor e ordenar cada acontecimento; e Ele não somente pode proceder de uma maneira Soberana, se quisesse, e ninguém poderia acusar este seu direito como excessivo; mas Ele realmente faz isso; Ele exerce o direito que Ele tem.”

“A Soberania de Deus é o Seu direito absoluto, independente de dispor de todas as criaturas de acordo com Seu próprio prazer.”

“Os santos fazem a vontade de Deus livremente. Eles optam por fazê-la; ela é sua comida e bebida. No entanto, eles não a fazem de seu mero prazer e vontade arbitrária; porque a sua vontade está sob a direção de uma Vontade Superior.”

“[...] a Soberania de Deus implica que Ele tem um direito absoluto, ilimitado e independente de dispor das suas criaturas como Ele quiser.”

“[...] quando o homem caiu, e diante disso Deus revelou o Seu eterno propósito e um plano para resgatar os homens por Jesus Cristo. Provavelmente era encarado pelos anjos como uma coisa totalmente inconsistente com os atributos de Deus salvar qualquer um dos filhos dos homens. Era totalmente inconsistente com a honra dos atributos Divinos salvar qualquer um dos filhos caídos dos homens, como eram em si mesmos. Isto não poderia ter sido feito se Deus não tivesse idealizado uma forma consistente com a honra de Sua Santidade, Majestade, Justiça e Verdade. Mas uma vez que Deus no Evangelho, revelou que nada é demasiado difícil para ele fazer, nada está além do alcance de Seu Poder, Sabedoria e Suficiência; e uma vez que Cristo operou a Obra da Redenção, e cumpriu a Lei, obedecendo-a, não há ninguém da humanidade a quem não possa salvar sem qualquer prejuízo de qualquer de Seus atributos, exceto aqueles que cometeram o pecado contra o Espírito Santo.”

“[...] não há pecador, mesmo que seja tão grande, que Deus não possa salvá-lo, sem prejuízo de qualquer atributo; se Ele tem sido um assassino, adúltero, ou perjuro, ou idólatra, ou blasfemo, Deus pode salvá-lo, se Ele quiser, e em nenhum aspecto prejudicar a Sua Glória. Embora as pessoas tenham pecado por muito tempo, tenham sido obstinadas, tenham cometido pecados hediondos mil vezes, até mesmo que eles envelheceram em pecado, e pecaram sob grandes agravos: deixar os agravos ser o que puderem; se eles pecaram mesmo sob tão grande luz; se eles se desviaram, e pecaram mesmo contra as numerosas e solenes advertências e esforços do Espírito, e misericórdias de Sua Providência Comum, embora o perigo dos tais seja muito maior do que o de outros pecadores, ainda assim Deus pode salvá-los se isto Lhe agrada, por causa de Cristo, sem qualquer prejuízo a qualquer um de Seus atributos. Ele pode ter misericórdia de quem tiver misericórdia.”

“Foi um testemunho suficiente da aversão de Deus mesmo contra a maior maldade que Cristo, o Filho Eterno de Deus, morreu por isso. Nada pode demonstrar a aversão infinita de Deus por qualquer maldade mais do que isso. Se o próprio homem ímpio deverá ser lançado no Inferno, e deverá suportar os tormentos mais extremos que serão sempre sofridos ali, isto não seria uma maior manifestação da aversão de Deus pelo pecado, do que os sofrimentos do Filho de Deus por causa do pecado.”

“Se os homens têm afrontado Deus, sempre e tanto; se lançaram sempre tanto desprezo em Sua autoridade; ainda assim, Deus pode salvá-los, se Ele quiser, e a honra de Sua Majestade não sofre o mínimo dano. Se Deus salvar aqueles que O têm ofendido, sem satisfação, a honra de Sua Majestade sofreria dano. Pois, quando o desprezo é lançado sobre Sua Infinita Majestade, Sua honra sofre dano, e o desprezo deixa uma obscuridade sobre a honra da Majestade Divina, se o dano não for reparado. Mas os sofrimentos de Cristo repararam integralmente o dano. Deixe o desprezo ser sempre tão grande, no entanto se tão honrável pessoa como Cristo se compromete a ser um Mediador para o ofensor, e na mediação sofrer em seu lugar, é totalmente reparado o dano causado pelo maior pecador à Majestade do Céu.”

“Os pecadores são, por vezes, prontos para lisonjearem-se que, embora possa não ser contrário à Justiça de Deus condená-los, mas isto não será consistente com a glória da Sua Misericórdia. Eles pensam que será desonroso para a misericórdia de Deus lançá-los no inferno, e não ter nenhuma piedade ou compaixão deles. Eles pensam que isso seria muito duro e severo, que não caberia a um Deus de infinita Graça e terna Compaixão. Mas Deus pode negar a salvação a qualquer pessoa natural, sem qualquer depreciação à Sua Misericórdia e Bondade. Aquilo, que não é contrário à Justiça de Deus, não é contrário à Sua Misericórdia.”

“Deuteronômio 7:7: “O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos”. Deuteronômio 9:6. “Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo obstinado”. Deus lhes dá a entender, que não era por nenhuma outra causa, senão o Seu Livre Amor Eletivo, que O levou a escolhê-los para ser Seu povo. Essa razão é dada: por que Deus os amava; foi porque Ele os amava (Deuteronômio 7:8). Que é o mesmo que dizer que foi agradável à Sua Vontade Soberana, colocar o Seu Amor sobre você.”

“Deus exerce Sua Soberania nas vantagens que Ele concede a pessoas particulares. Todos precisam de Salvação da mesma forma, e todos são, naturalmente, não merecedores dela; mas ele dá algumas maiores vantagens para a salvação a uns do que a outros.”

“Deus exerce Sua Soberania algumas vezes concedendo salvação aos pequenos e medíocres, e a nega aos sábios e grandes. Cristo em Sua Soberania passa pelas portas de príncipes e nobres, e entra em alguma casa e ali faz morada, e tem comunhão com os seus obscuros habitantes. Deus em Sua Soberania reteve a Salvação do homem rico, que se regalava esplendidamente todos os dias, e a concedeu ao pobre Lázaro, que estava sentado mendigando em seu portão.”

“Deus exerce Sua Soberania em chamar alguns para a Salvação, que têm sido muito horrendamente ímpios, e deixando outros, que foram pessoas morais e religiosas. Os Fariseus eram uma seita muito rigorosa entre os Judeus. Sua religião era extraordinária. Eles não eram como os demais homens, roubadores, injustos ou adúlteros (Lucas 18:11). Havia moralidade neles. Eles jejuavam duas vezes por semana, e davam o dízimo de tudo que possuíam. Eles eram religiosos. Mas ainda assim eles foram em sua maioria rejeitados, e os publicanos, e as meretrizes, e um tipo abertamente vicioso de pessoas entraram no reino de Deus adiante deles (Mateus 21:31).”

“O Desígnio de Deus na Criação foi o de glorificar a Si mesmo, ou fazer manifesta a glória essencial de Sua natureza. Foi ajustado que Sua Infinita Glória deveria brilhar; e era o desígnio original de Deus fazer uma manifestação de Sua Glória, como ela é. Não que era Seu desígnio manifestar toda a Sua glória para a apreensão das criaturas; pois é impossível que as mentes das criaturas possam compreendê-la. Mas foi o Seu Desígnio fazer uma verdadeira manifestação de Sua Glória, como representante de todos os Seus atributos.”

“Se todos os atributos de Deus não são manifestados, a glória de nenhum deles se manifesta como ela é; pois os atributos Divinos refletem a glória uns dos outros.”

“A glória de Deus eminentemente aparece em Sua Soberania absoluta sobre todas as criaturas, grandes e pequenas. Se a glória de um príncipe está em seu poder e domínio, então a glória de Deus é a Sua Soberania absoluta. Aqui aparece a infinita grandeza e majestade de Deus acima de todas as criaturas. Portanto, é da vontade de Deus manifestar a Sua Soberania. E a Sua Soberania, assim como seus outros atributos, é manifestada nos exercícios do mesmo. Ele glorifica o Seu Poder no exercício do Poder. Ele glorifica Sua Misericórdia no exercício da Misericórdia. Da mesma forma, Ele glorifica a Sua Soberania no exercício da Soberania.”

“Então a glória da Soberania de Deus aparece em que ele é Soberano sobre as almas dos homens, que são criaturas tão nobres e excelentes. Deus, portanto, vai exercer a Sua Soberania sobre eles.”

“[...] a Soberania de Deus sobre os homens se mostra gloriosa no que se estende a todas as coisas que lhes dizem respeito. Ele pode dispor delas em relação a tudo o que lhes diz respeito, de acordo com o Seu próprio prazer. Sua Soberania se mostra gloriosa no que abrange os seus assuntos mais importantes, até mesmo no estado eterno e condição das almas dos homens. Aqui vemos que a Soberania de Deus é sem obrigações ou limites, na medida em que abrange a um caso de tamanha importância infinita. Deus, portanto, assim como é o seu Desígnio manifestar a Sua própria Glória, irá exercer a Sua Soberania em relação aos homens, sobre as Suas almas e corpos, mesmo na mais importante questão de Sua Salvação eterna. Ele tem misericórdia de quem quer ter misericórdia, e endurece a quem quer.”

“[...] somos absolutamente dependentes de Deus nesta grande questão da Salvação eterna de nossas almas. Somos dependentes não só da Sua Sabedoria para planejar um maneira de realizá-la, e de Seu Poder para efetuá-la, mas nós somos dependentes de Sua mera vontade e prazer no caso. Nós dependemos da Vontade Soberana de Deus para todas as coisas que pertencem a ela, desde a fundação até à pedra do pináculo. Foi da Vontade Soberana de Deus, que Ele planejasse uma maneira de salvar qualquer um dentre a humanidade, e nos desse Jesus Cristo, Seu Filho unigênito, para ser o nosso Redentor. Por que Ele olhou para nós, e nos enviou um Salvador, e não aos anjos caídos? Foi por causa da Vontade Soberana de Deus.”

“Nosso Senhor Jesus Cristo louvou e glorificou o Pai pelo exercício de Sua Soberania na Salvação dos homens. Mateus 11:25-26: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve”. Vamos, portanto, dar a Deus a glória da Sua Soberania, assim como adorar Aquele, cuja soberana vontade ordena todas as coisas, vendo-nos como nada em comparação com Ele. Domínio e Soberania exigem reverência humilde e honra. A Soberania absoluta, universal e ilimitada de Deus requer, que devamos adorá-lo com toda a humildade possível e reverência.”

“Piedade não é motivo para se gloriar, a não ser em Deus. 1 Coríntios. 1:29-31: “Para que nenhuma carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: “Aquele que se gloria glorie-se no Senhor”. Tal não é, por qualquer meio, em qualquer grau atribuído à sua piedade, seu estado e condições seguras e felizes, a qualquer diferença natural entre eles e os outros homens, ou a qualquer força ou justiça própria. Eles não têm nenhum motivo para exaltar-se, no mínimo grau; mas Deus é o Ser a quem eles devem exaltar. Eles devem exaltar a Deus, o Pai, que os escolheu em Cristo, que pôs o Seu Amor sobre eles, e deu-lhes a salvação, antes deles nascerem e mesmo antes que o mundo existisse.”

“Se perguntarem, por que Deus colocou Seu Amor sobre eles, e os escolheu, em vez de outros, se eles pensam que podem ver qualquer causa fora de Deus estão muito enganados. Eles devem exaltar a Deus o Filho, que levou seus nomes em Seu coração, quando Ele veio ao mundo, e foi pendurado na Cruz, e no qual somente eles possuem justiça e força. Eles devem exaltar a Deus, o Espírito Santo, que por Graça Soberana os chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz; que por Sua própria operação imediata e livre, levou-os a uma compreensão do mal e do perigo do pecado, e os resgatou de sua própria justiça, e abriu-lhes os olhos para descobrirem a Glória de Deus, e as maravilhosas riquezas de Deus em Jesus Cristo, e os santificou, e os fez novas criaturas.”

“O povo de Deus tem o maior motivo de gratidão, maior razões para amar a Deus, que tem lhes concedido tal grande e inefável Misericórdia por Sua mera Vontade Soberana.”

“Deus insiste, que a Sua Soberania seja reconhecida por nós mesmo neste grande assunto, um assunto que tão de perto e infinitamente nos interessa, como a nossa própria Salvação eterna. Esta é a pedra de tropeço na qual milhares caem e perecem; e se continuarmos discutindo com Deus sobre a Sua Soberania, isto será nossa ruína eterna. É absolutamente necessário que nós devamos nos submeter a Deus, como nosso Soberano absoluto, e o Soberano sobre as nossas almas; como alguém que pode ter misericórdia de quem quer ter misericórdia, e endurecer a quem Ele quiser.”

“Muitos ouvem que a misericórdia de Deus é infinita, e, portanto, acham que, se eles demorarem a procurar a Salvação para o presente, busca-la-ão no futuro, pois assim Deus concederá Sua Graça a eles. Mas considero que, embora a Graça de Deus seja suficiente, no entanto, ele é Soberano, e agirá por Seu próprio prazer se Ele irá salvar ou não. Se você adiar a Salvação até daqui por diante, a Salvação não estará em Seu poder. Será como um Deus soberano se agradar, se você deverá obtê-la ou não. Vendo, pois, que neste caso você está tão absolutamente dependente de Deus, é melhor seguir sua direção na busca, isto é, ouvir a sua voz hoje: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais seu coração”.”

“Deixe você ser o que você puder, pecador, Deus pode, se Ele quiser, glorificar grandemente a Si mesmo na Sua salvação.”

Nota do Pr Silvio Dutra: Assim como não nos foi dado escolher nascermos ou não, quanto ao nascimento natural, pois foi pela vontade de Deus que chegamos à existência neste mundo, quanto mais não se encontra na Sua própria esfera de Soberania divina conceder-nos o novo nascimento espiritual e celestial pelo poder do Espírito Santo.





11 - A Autoridade que É Reconhecida Espiritualmente

“23 Tendo Jesus entrado no templo, e estando a ensinar, aproximaram-se dele os principais sacerdotes e os anciãos do povo, e perguntaram: Com que autoridade fazes tu estas coisas? e quem te deu tal autoridade?
24 Respondeu-lhes Jesus: Eu também vos perguntarei uma coisa; se ma disserdes, eu de igual modo vos direi com que autoridade faço estas coisas.
25 O batismo de João, donde era? do céu ou dos homens? Ao que eles arrazoavam entre si: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Então por que não o crestes?
26 Mas, se dissermos: Dos homens, tememos o povo; porque todos consideram João como profeta.
27 Responderam, pois, a Jesus: Não sabemos. Disse-lhe ele: Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.” (Mateus 21.23-27)

Não foi acidentalmente que Mateus havia registrado em seu evangelho esta passagem em que a autoridade divina de Jesus estava sendo questionada pelas autoridades judaicas, sendo antecedida pela da figueira estéril, na qual o ensino é justamente relativo à plena autoridade e poder que Jesus possui como Criador de tudo que há no universo.
Não podendo enxergar e entender a divindade de Jesus que estava sendo velada em sua humanidade - pois importava que morresse como homem em nosso lugar para a justificação do pecado - os principais sacerdotes e anciãos de Israel lhe perguntaram com que autoridade fazia todas aquelas coisas, especialmente a de ter expulsado os vendilhões do templo.
Perguntaram com ironia porque bem sabiam que Ele não estava comissionado nem pelas autoridades civis romanas, que mantinham a Judeia sob dominação, nem pelas autoridades religiosas de Israel, especialmente os sacerdotes que compunham o Sinédrio, que era a mais alta corte religiosa de Israel para decidir sobre assuntos religiosos, inclusive com poderes para prenderem e condenarem à morte os israelitas, que segundo eles, fossem hereges, quanto a não cumprirem a Lei de Moisés, quando eles próprios eram os principais transgressores da referida lei.
A autoridade que havia comissionado nosso Senhor foi a mesma que havia comissionado a João, o Batista, a saber, Deus Pai, e dera testemunho desta comissão nas próprias Escrituras do Velho Testamento, que cabia especialmente aos sacerdotes e escribas defenderem. Então eles deveriam defender e não questionar a autoridade do ministério de João, o Batista, e de nosso Senhor, porque não somente eram de proveniência divina, como também, estavam registrado nas Escrituras.
Por isso, Jesus não lhes disse de onde provinha a Sua própria autoridade, porque se tivessem reconhecido de onde vinha a autoridade com a qual João ministrava,  também teriam reconhecido que a de nosso Senhor era da mesma procedência.
Por causa de inveja, e do endurecimento no pecado do orgulho religioso deles, não poderiam reconhecer nem a João, nem a Jesus, como enviados de Deus para fazerem tudo o que estavam fazendo, e então jamais diriam, conforme Jesus lhes perguntara se reconheciam se a autoridade de João vinha de Deus, e nem mesmo poderiam mentir, dizendo que criam que era de Deus, porque sabiam que Jesus lhes perguntaria em seguida por que então não haviam crido nele.
Tampouco poderiam dizer que o batismo com que João batizava não era em obediência a uma comissão divina, senão dos homens, porque sabiam que todo o povo tinha João na conta de profeta, e não queriam cair no desagrado do povo.
Logo, responderam de forma sagaz, raposas que eram, dizendo simplesmente que não sabiam.
Com isso, responderam exatamente conforme nosso Senhor esperava que respondessem, uma vez que se negando a dizer de onde provinha a autoridade com que João batizava, por não terem reconhecido a mesma, então de nada adiantaria nosso Senhor responder diretamente a eles de onde provinha a Sua própria autoridade, e por conseguinte, negou-se também a responder a pergunta que eles Lhe fizeram.
Ninguém conhecerá a autoridade de Jesus e da Sua doutrina, se não se submeter a ambos, porque é assim que se reconhece que a Sua autoridade é a mesma que está também sobre aqueles que O seguem, e que se submetem ao Seu ensino, e eles reconhecerão que procede efetivamente de Deus, sendo uma doutrina e uma autoridade do céu, e não deste mundo (Jo 7.17), porque, por meio dela, suas vidas serão transformadas. 


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