sexta-feira, 23 de outubro de 2015

134) Salvação

134) SALVAÇÃO

ÍNDICE

1 - Jesus Não Veio Condenar mas Salvar
2 - A Ilustração da Salvação em Cristo na Cura de Naamã
3 - A Serpente de Bronze Levantada
4 - Focalizando o Ponto Correto, Principal e Vital
5 - “A salvação é do Senhor." (Jonas 2.9)
6 - O Ladrão Que Creu
7 - O Caminho da Salvação
8 - Uma Cura Tríplice para um Mal Tríplice
9 - Como as pessoas serão salvas? (1)
10 - Como as pessoas serão salvas? (2)
11 - O Livro sem Palavras
12 - Por que é Difícil a Entrada dos Ricos no Reino de Deus?
13 - Apenas um Caminho
14 - Salvação
15 - Pode Até Mesmo o Pior Pecador Ser Salvo?
16 - Mais que Vencedores
17 - Sem Fé não Há Salvação
18 - O Poder do Espírito Santo
19 - Pode mesmo o pior pecador ser salvo?
20 - “Poderoso para salvar” (Isaías 63:1)
21 - Salvos sem Merecimento
22 - A Salvação Impossível


1 - Jesus Não Veio Condenar mas Salvar

Marcos 2:17  Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores.

João 12:47  Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.

Dê a devida atenção a estas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo.
Até que Ele volte, a porta da salvação estará aberta para todo aquele que se arrepender dos seus pecados e buscar viver para Ele.
Amados leitores, nosso Senhor mesmo definiu a Sua principal missão em ter vindo a este mundo há cerca de 2.000 anos atrás, como sendo a de salvar e não a de condenar pecadores.
Então, enquanto perdurar esse tempo de graça  até que Ele volte, Deus está abrindo uma grande oportunidade para todas as pessoas que queiram ser livradas da manifestação da ira vindoura, em forma de juízo de uma condenação eterna, que há de vir sobre todos os que viveram neste mundo, sem terem se convertido a Cristo.
Por isso, queremos ser muito claros, sinceros e diretos em todas as mensagens transmitidas aos amados leitores, mantendo o foco do evangelho que aponta somente para Jesus Cristo para que sejamos salvos de tal condenação em razão do pecado.
É bom lembrar que um único pecado praticado ao longo de toda a vida já sujeita o seu praticante à condenação eterna.
Portanto, não há um único justo, de si mesmo, pela sua própria justiça, diante de Deus.
Por isso Jesus morreu em nosso lugar na cruz, carregando sobre si toda a culpa dos nossos pecados.
Em suma, tudo o que se refere à necessidade de um viver reto, do dever de se guardar os mandamentos de Deus, e tudo o mais que se refira à santificação de nossas vidas, somente pode ser praticado e vivido caso sejamos convertidos a Cristo, e estando em comunhão com Ele, por meio do Espírito Santo.
Assim, se a Lei santa de Deus lhe condena justamente por causa do pecado, lembre que pela fé em Jesus, nos está sendo oferecida gratuitamente a libertação de tal condenação, ao mesmo tempo que somos por Ele capacitados a viver de modo aprovado pela justiça divina, pelo poder da graça de Jesus, mediante o trabalho do Espírito Santo em nossos corações.
Não há qualquer condenação no evangelho, porque Jesus, pelo evangelho que nos trouxe, ou seja, por esta maravilhosa notícia, que é o significado desta palavra no original grego do Novo Testamento, tem se oferecido para ser a nossa justiça, de modo que Deus possa se agradar de nós e se reconciliar conosco.
A rejeição do evangelho. Desta oferta de justiça da pessoa de Jesus, tão graciosa, é que traz condenação.








2 - A Ilustração da Salvação em Cristo na Cura de Naamã

Nós aprendemos do relato de II Reis 5, que os dons de Deus não podem ser comprados pelo homem.

A Sua graça não pode ser vendida pelos Seus ministros, porque eles têm recebido de graça da parte do Senhor os dons com os quais devem servir aos homens.

O que foi recebido pela graça deve ser ministrado pela mesma graça.

É basicamente este ensino que nos é dado  em quase tudo o que é narrado no quinto capítulo de II Reis.

“Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.” (Mt 10.8).

Não é dito qual era o rei de Israel na época em que Naamã foi curado da sua lepra, e não podemos fazer qualquer afirmação neste sentido, porque o ministério de Eliseu foi extenso e durou cerca de cinqüenta anos, abrangendo os reinados de Jorão, Jeú e Jeoacaz, e nenhum destes reis andou nos caminhos do Senhor, de modo que não ficassem sujeitados ao juízo determinado do Senhor de entregá-los nas mãos da Síria, por causa do pecado de Israel, que nunca se desviou do pecado de adoração dos bezerros de ouro que havia sido introduzido por Jeroboão desde a inauguração do Reino do Norte.

E nós vemos no primeiro versículo deste capitulo que fora pela graça de Deus que Naamã, general da Síria obteve vitória sobre o próprio povo de Israel, em razão de ter sido o instrumento escolhido do Senhor para castigar o pecado de Israel. Na expressão que lemos no referido verso: “porque por ele o Senhor dera livramento aos sírios”, a palavra usada para livramento no original hebraico é teshuah, que significa vitória, livramento, socorro, salvação.

Sendo ele general do exército da Síria veio a obter com isto a reputação de ser um grande homem diante do seu rei, e era muito respeitado por todos.
Apesar de ser leproso o Senhor fizera dele um valente na guerra (v 1b).
E do verso 2 nós depreendemos que havia sido feito por Naamã mais do que uma investida sobre o território de Israel, e alguns israelitas haviam sido tomados para serem escravos na Síria, e dentre estes Naamã colocou uma jovem israelita a serviço de sua esposa.

A preocupação desta jovem com a saúde de Naamã dá testemunho do tratamento humano e bondoso que ela recebia na sua casa, pois não somente se preocupou pelo bem estar dele como disse à sua senhora que se ele procurasse o profeta que estava em Samaria, fazendo referência a Eliseu, certamente seria curado da sua lepra (v. 2, 3).
 Naamã reportou ao rei da Síria todas as palavras da sua serva (v. 4), tendo obtido não apenas permissão do rei para ir a Israel como também se dispôs a escrever uma carta ao rei de Israel (v. 5), na suposição de que ele saberia o que fazer em relação à cura da sua lepra.

Os reis de Israel não tinham em alta estima o ministério dos profetas porque estes protestavam contra os seus pecados, e do povo, mas seria de se esperar o contrário, porque aqueles que falam da parte de Deus para o Seu próprio povo deveriam ser não apenas estimados como também ouvidos e obedecidos.

Naamã estava tão esperançoso da sua cura, que levou consigo, como forma de demonstrar sua gratidão ao profeta, ao qual esperava ser enviado pelo rei de Israel, dez talentos de prata, e seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa (v. 5).

Para que se tenha uma idéia da riqueza que ele pretendia dar ao profeta, um talento pesava cerca de 35 kg, então ele levava nada menos do que o valor em moedas que correspondiam a 350 kg de prata.

Como o siclo correspondia aproximadamente a 12 g, o valor em ouro que Naamã daria a Eliseu seria equivalente a cerca de 72 kg de ouro.

Além disto lhe daria ainda dez mudas de roupa novas.

Quando o rei de Israel leu a carta que lhe enviara o rei da Síria, que dizia: “Logo, em chegando a ti esta carta, saberás que eu te enviei Naamã, meu servo, para que o cures da sua lepra.”, ele rasgou as suas vestes e pensou que ele estava procurando um pretexto para guerrear contra ele.

Ele declarou que não era Deus para que pudesse fazê-lo, mas não havia nenhuma verdadeira humildade e reconhecimento da parte dele nisto, da glória que é devida ao Senhor, porque se tivesse de fato o verdadeiro temor de Deus ele saberia a quem deveria recorrer para que a cura fosse efetuada.

Todavia, alguém na corte sabia o que fazer, apesar de o rei ímpio não sabê-lo, e o fato chegou ao conhecimento de Eliseu, e não seria de se estranhar que ele tivesse enviado uma mensagem ao rei de Israel repreendendo-o por ter rasgado as suas vestes, em vez de ter enviado Naamã a ele para que soubesse que os verdadeiros profetas de Deus viviam em Israel (v. 8).

Iniciamos o comentário do quinto capítulo de II Reis afirmando que os dons de Deus são gratuitos mas a concessão deles raramente deixa de colocar à prova a nossa fé.
O Senhor faz com isto que valorizemos estes dons, que façamos aquilo que muitas vezes contraria a própria natureza como prova de demonstração da nossa completa confiança nas Suas promessas.

E com Naamã a bênção seguiria a regra da provação da fé, e não a exceção, do recebimento do dom e da misericórdia sem a necessidade do concurso da fé.

Aquela cura ilustraria o modo da salvação espiritual. Porque é por simplesmente confiar na Palavra de Deus no evangelho, e recebê-la por graça e mediante a fé, que a cura do nosso espírito que se encontra morto, é efetuada, e por nada mais.

O nome do Deus de Israel seria glorificado naquela cura, a ponto de vir a ser referida no futuro pelo próprio Jesus, como prova da fé que se espera daqueles que se aproximam de Deus (Lc 4.27).

E não somente a fé de Naamã seria provada, como ele seria curado ao mesmo tempo de uma religiosidade falsa, de orgulho, de presunção e de outras atitudes pecaminosas, quando tivesse que reagir ao método que Eliseu lhe apresentou para ser curado, e a maneira como recepcionou o general sírio, uma vez que este viera ter com profeta já com toda uma idéia preconcebida quanto ao modo como seria recebido e curado.

Jamais passou pela sua mente a possibilidade de sequer o profeta vir à sua presença, e ainda lhe enviar um mensageiro lhe ordenando que mergulhasse sete vezes no rio Jordão para que fosse purificado da sua lepra (v. 9 11).

A fé de Naamã não foi destruída com esta dura prova, mas ela foi detida pela sua perplexidade e indignação.

Questionar os métodos de Deus nunca é bom para a nossa fé.
E de igual modo, o orgulho, a ira e a indignação nos impedem de desfrutar das bênçãos do Senhor.

Mandar um leproso mergulhar num rio, e não apenas uma vez, mas sete, não é um caminho lógico e natural para curar a lepra de alguém, porque a água em vez de ajudar na cura, poderia, naquelas condições, até mesmo agravar a doença pelo amolecimento das feridas.

Por outro lado, Naamã esperava ser recebido como um general, mas na presença dos ministros de Deus, quando estes estão a Seu serviço, todos os homens não são apenas iguais, como aquele que deve ter a precedência da honra é aquele que está ministrando na presença do Senhor, e não aquele que está buscando a bênção de Deus, através dos Seus ministros.

Naamã chegou até mesmo a desprezar por um momento o país que o abençoaria, porque desdenhou as águas do Jordão comparando a inferioridade da qualidade delas às dos rios da Síria.

Ele se deixou levar pela lógica e não pela fé, porque se a cura demandaria um mergulho em um rio, porque não lhe foi pedido que o fizesse em sua própria terra e em águas melhores?

Entretanto, o caminho da fé não é o caminho da lógica.

A vida será sempre dura e difícil para aquele que não se submeter ao caminho estreito da obediência que nos é exigida pelo Senhor, para um viver abençoado.

Na verdade há um grande perigo até mesmo de perdição eterna para aqueles que em vez de se submeterem ao caminho de se obter a justiça de Deus, que é pela graça, mediante a fé, acabam nunca alcançando a salvação de suas almas por tentarem estabelecer o seu próprio caminho ou aquele que receberam por tradição de seus pais, e que seja diferente daquele que é estabelecido pelo Senhor na Sua Palavra.

A luta com Naamã era exatamente esta de abandonar o caminho da cura que ele havia elaborado pela sua própria imaginação para acatar o que estava sendo proposto pelo profeta.

Ele havia inclusive decidido não se submeter à palavra do profeta e retornar à sua terra, quando a Providência usou os próprios servos de Naamã para considerar que nenhuma coisa difícil havia sido pedida a ele.

Era exatamente por não ter sido difícil que ele a estava rejeitando.

Muitos deixam de ser abençoados pelo Senhor porque não admitem que seja realmente tão fácil o caminho que Deus estabeleceu para recebermos coisas tão preciosas infinitas, como a própria salvação das nossas almas, a saber, o único caminho da fé, e realmente da fé somente.

Nada além da fé, porque o que passa da fé naquilo que é pedido por Deus para a nossa justificação e regeneração (novo nascimento) já é desobediência e rebelião.

A nós cumpre somente fazer o que Ele determinou e o resto Ele fará, para honrar a nossa fé naquilo que a Sua boca tem proferido.

Deus tem afirmado na Bíblia que é o evangelho, a fé do evangelho, o Seu poder para a salvação de todo aquele que nele crer.

Todavia, há passos a serem cumpridos por nós para a confirmação dessa fé salvadora. Primeiro arrependimento, depois confiança total no Senhor Jesus, e ainda um caminhar perseverante de degrau a degrau, no processo da santificação.

Veja o caso de Naamã, que não poderia ter mergulhado menos do que sete vezes seguidas no Jordão, porque seis vezes apesar de ser um número muito próximo de sete, não era ainda o cumprimento do que fora ordenado.

É bem provável e quase certo que cada mergulho dado por ele não lhe trouxe nenhuma evidência de melhora até que desse o sétimo.

É possível que tenha havido uma grande luta entre a sua mente racional e a obediência da fé, porque não podemos descartar a possibilidade de ter pensado até mesmo que poderia estar sendo zombado e ludibriado à medida que mergulhava e não obtinha qualquer evidência de cura.

Isto pode parecer um método cruel, mas o Senhor sabe muito bem o que cada um de nós precisa para ser curado da lepra da incredulidade e do orgulho, de modo que venhamos a andar humilde e obedientemente na Sua presença.
 
Tendo sido curado, Naamã voltou à presença de Eliseu e pôs-se diante dele afirmando que agora sabia que o único e verdadeiro Deus era o de Israel (v. 15) e instou que Eliseu recebesse como expressão da sua gratidão todos os presentes que havia trazido consigo da Síria, mas o profeta recusou recebê-los e permaneceu firme na sua decisão apesar de Naamã ter insistido com ele para que os recebesse (v. 15, 16).

Este testemunho da graça divina manifestado na recusa do profeta de receber algo em troca pela cura, ainda que fosse em forma de gratidão, reforçou em Naamã a certeza que havia somente um Deus verdadeiro, e que as nações que têm muitos deuses, não servem a nenhum Deus verdadeiro.

Ele veio então a fazer uma outra declaração na presença de Eliseu que atestava a genuidade da sua fé e conversão, porque se dispôs a levar da terra de Israel para a Síria, certamente para construir um altar no qual pudesse oferecer sacrifícios Àquele que  reconheceu como sendo o único que era digno de recebê-los, porque estava determinado a nunca mais oferecer holocausto nem sacrifico a outros deuses, senão somente ao Senhor (v. 17).

Ele foi sincero ainda diante de Eliseu ao lhe dizer, não para justificar o que teria que continuar fazendo na Síria, mas para que fosse apresentado pelo profeta por ele em intercessão ao Deus de Israel, o fato de ter que acompanhar o rei da Síria, na qualidade de um oficial do reino, e não de um religioso devotado, nas ocasiões oficiais que ele tinha que comparecer ao templo do deus sírio, Rimom.

Ele disse isto para demonstrar que não o faria para honrar o falso deus, pois sabia que só há um único e verdadeiro Deus, a saber, o de Israel, mas faria por conta de sua obrigação de honrar o rei de sua terra.

Assim, Naamã disse a Eliseu que esperava ser perdoado pelo Senhor quanto a este constrangimento ao qual ele estaria obrigado a fazer por conta do seu ofício.
O profeta, em sua sabedoria, não lhe impôs qualquer carga, nenhum tropeço àquele novo convertido, dizendo-lhe apenas “vai em paz”, como a dizer, a paz do Senhor será contigo apesar disto, pois, em sua experiência sabia a quantos constrangimentos muitos servos de Deus estão expostos neste mundo.

Nós pensamos por exemplo nos policiais que são obrigados a fazer segurança de casas noturnas, sendo verdadeiros crentes.

Eles devem cumprir a sua função enquanto se guardam de se contaminar com o pecado do ambiente, que por força das circunstâncias, são obrigados a vigiarem.
   
Como em toda conversão genuína o diabo nunca se dá por satisfeito, enquanto não conseguir desviar o novo convertido da fé, quer pelos ataques diretos que faz contra eles em relação aos mandamentos de Deus, arrazoando que os que servem ao Senhor não são em nada diferentes dos que são do mundo, despertou a cobiça de Geazi, o moço de Eliseu.

Mas é possível Naamã tenha tido conhecimento posteriormente que Geazi ficara leproso, e que fora dito por Deus pelo Seu profeta, que aquela lepra de Geazi era a mesma que estava anteriormente nele, e que não estaria somente em Geazi, mas em toda a sua descendência, de modo que o testemunho do profeta permaneceria verdadeiro, pelo fato de ter dito a Naamã que não receberia nenhum dos seus presentes porque esta era a vontade de Deus naquele caso.

Geazi mentiu em nome do próprio Eliseu, dizendo que por força das circunstâncias de uma visita inesperada havia pedido a Naamã uma parte daqueles presentes que havia trazido com ele.

Ele somente não pediu tudo, provavelmente, para não levantar qualquer tipo de desconfiança no general sírio.

Mas cobiçando herdar um dinheiro que o próprio Deus havia recusado porque estava em jogo um bem muito mais precioso que era a alma do próprio Naamã, Geazi acabou herdando a lepra de Naamã e é bem possível que tenha ficado até mesmo sem os bens, porque certamente Eliseu deve ter determinado que tudo fosse devolvido ao seu legítimo dono.

“Ajuntar tesouros com língua falsa é uma vaidade fugitiva; aqueles que os buscam, buscam a morte.” (Pv 21.6).

Geazi cometeu o mesmo pecado de Ananias e Safira, que foi o de mentir em assuntos envolvendo o nome de Deus, para obter vantagem pessoal, escondendo a sua própria cobiça, e achou com isto um juízo de morte.








3 - A Serpente de Bronze Levantada

Por Charles Haddon Spurgeon

traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra

Porções das Escrituras lidas antes do Sermão: Números 21:4-9; João 3: 1-18.

Eu pensei que a melhor maneira que eu poderia expressar a minha gratidão a Deus, pelo sermão de número 1.500 a que chegamos, seria pregar novamente Jesus Cristo, e apresentá-lo em um sermão no qual o simples evangelho é exposto tão simples como o alfabeto de uma criança. Espero completar a lista de 1500 sermões, com este que lhes prego agora, o Senhor me dará uma palavra que vai ser mais abençoada do que qualquer outra que a precedeu, para a conversão daqueles que a ouçam ou a leiam. Que aqueles que estão mergulhados nas trevas, porque eles não entendem a gratuidade da salvação e o método fácil pelo qual pode ser obtida, são trazidos à luz pela descoberta do caminho da paz por meio da fé em Cristo Jesus. Desculpe este prelúdio, minha gratidão não iria deixar-me abster de expressá-la.

Passemos agora ao nosso texto e à serpente de bronze. Se você procurar no Evangelho de João, você vai notar que seu início contém uma espécie de lista ordenada de tipos tomados a partir da Sagrada Escritura. Começa com a criação. Deus disse: "Haja luz", e João começa por afirmar que Jesus, o Verbo eterno, é "a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem ao mundo." Antes de concluir seu primeiro capítulo, João introduziu um tipo proporcionado por Abel, porque quando o Batista viu que Jesus  vinha para ele, disse: ". Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" E ele não terminou o primeiro capítulo antes de nos lembrar da escada de Jacó, pois descobrimos que nosso Senhor disse a Natanael: "vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem". Quando chegamos ao terceiro capítulo, já temos avançado tão longe como o fez Israel no deserto, e lemos as palavras de alegria, "E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. "

Vamos falar hoje sobre este ato de Moisés, para que todos nós, possamos contemplar a serpente de bronze e comprovar que a promessa é verdadeira, "Qualquer um que for mordido e olhar para ela, viverá." Pode ser que vocês, que a tenham olhado antes, obtenham um novo benefício ao olharem para ela novamente, enquanto alguns que nunca voltaram seus olhos nessa direção, possam olhar firmemente o Salvador levantado, e poderem ser salvos do veneno abrasador da serpente neste dia, desse  veneno mortal do pecado que agora se esconde em sua natureza, e que gera morte em suas almas. Que o Espírito Santo faça que esta palavra seja eficaz para esse fim misericordioso.

I. Lhes convido para analisarem o tema, primeiro, vendo a PESSOA em perigo mortal, para o qual a serpente de bronze foi feita e levantada. Nosso texto diz: "E quando alguma serpente mordia alguém, olhava para a serpente de bronze, e vivia."

Notemos em primeiro lugar, que as serpentes abrasadoras chegaram em meio do povo,  porque esse povo tinha desprezado o caminho de Deus e do pão de Deus. "E o povo ficou desanimado pelo caminho." Era o caminho de Deus, Ele o tinha escolhido para eles, e tinha escolhido em sabedoria e misericórdia, mas eles murmuraram contra o caminho. Como afirma um velho teólogo, "Era longo e solitário", mas mesmo assim, era o caminho de Deus e, portanto, não era para ser desagradável: Sua  coluna de fogo e de nuvem ia adiante deles, e seus servos Moisés e Arão os levou como um rebanho, e deveriam haver-lhes seguido alegremente. Cada passo de sua jornada tinha sido previa e corretamente ordenado, e deveriam ter estado extremamente seguros de que esse desvio da terra de Edom, foi também ordenado corretamente.

Mas não, eles brigaram com o caminho de Deus e queriam seguir o seu próprio caminho.Esta é uma das loucuras permanentes dos homens: não podem simplesmente esperar no Senhor e seguirem o seu caminho, mas preferem uma vontade e um caminho próprios.

O povo também discutiu com o alimento de Deus. Ele lhes forneceu o melhor dos melhores, porque "pão de nobres comeu o homem", mas se referiram ao maná com um título infamante, que em hebraico contém um sentido de ridículo, e até mesmo em nossa tradução transmite a idéia de desprezo. Eles disseram: "Nossa alma abomina este pão vil" como o considerando inútil e útil apenas para inflá-los, porque era de fácil digestão, e não produzia neles esse calor do sangue e a tendência às doenças que uma dieta mais pesada teria produzido.

Estando insatisfeitos com o seu Deus, eles discutiram com o pão que ele colocou em sua mesa, embora superasse qualquer outro que o  mortal, houvesse comido, antes ou depois. Esta é a obra da insensatez do homem, seu coração se recusa a se alimentar da palavra de Deus ou crer na verdade de Deus. O homem aprecia o alimento da carne e da razão carnal, os alhos da tradição supersticiosa, e os pepinos da especulação. E não pode tolerar que sua mente se rebaixe para crer na Palavra de Deus, ou aceitar uma verdade tão simples, tão adequada à capacidade de uma criança.

Muitas pessoas exigem algo mais profundo que o divino, mais profundo do que o infinito, mais liberal do que a graça imerecida. Brigam com o caminho de Deus, e com o pão de Deus, e por isso se apresentam entre eles as serpentes ardentes da concupiscência maligna, e da soberba do pecado.

Eu poderia estar me dirigindo a algumas pessoas que até agora têm brigado com os preceitos e doutrinas do Senhor, e eu afetuosamente quisera lhes advertir que sua desobediência e presunção levarão ao pecado e ao desespero. Os rebelde contra Deus são propensos a se tornarem cada vez piores. As modas e correntes do pensamento encorajam os vícios e os crimes do mundo. Se desejamos os frutos do Egito, em breve teremos de enfrentar as cobras do Egito. A conseqüência natural de nos voltarmos contra Deus, como  serpentes, é encontrar serpentes que aparecem no nosso caminho. Se abandonamos o Senhor em espírito ou na doutrina, a tentação porá uma emboscada em nosso caminho e o pecado morderá nossos pés.

Eu lhes peço que observem cuidadosamente que aqueles para quem a serpente de bronze foi levantada especialmente, já haviam sido mordidas pelas serpentes. O Senhor enviou serpentes abrasadoras àquelas pessoas, porém não foi porque as serpentes estavam entre eles que ordenou o levantamento de uma serpente de bronze, mas porque as cobras realmente lhes haviam mordido, o que O levou a prescrever um remédio. "E quem foi mordido e olhar para ela, viverá." As únicas pessoas que realmente olharam e tiveram o beneficio da cura maravilhosa levantado no meio  do acampamento foram aqueles que haviam sido mordidos pelas serpentes.

A noção comum é que a salvação é que a salvação é para pessoas boas, que a salvação é para aqueles que lutam com a tentação, que a salvação é para aqueles que estão espiritualmente saudáveis, mas quão diferente é a palavra de Deus. O remédio de Deus para os enfermos e Sua saúde é para aqueles que sofrem doenças. A graça de Deus dada por meio da expiação de nosso Senhor Jesus Cristo, é para os homens que são efetiva e realmente culpados.

Não pregamos uma salvação sentimental de uma culpa imaginária, mas um perdão real e verdadeiro de ofensas reais. Eu não me importo nada com supostos pecadores, que nunca fizeram nada de errado, que são tão bons interiormente que estão perfeitamente bem, não tenho nada a ver com vocês, porque eu sou enviado para pregar Cristo para aqueles que estão cheios de pecado, e são dignos da ira eterna. A serpente de bronze era um remédio para aqueles indivíduos que tinham sido realmente mordidos.

Que coisa terrível é ser mordido por uma cobra peçonhenta! Ouso dizer que alguns de vocês se lembram do caso de Gurling, um dos guardiões dos répteis do zoológico. O incidente ocorreu em outubro de 1852, e, portanto, alguns de vocês podem lembrar. Este homem infeliz estava prestes a dizer adeus a um amigo que estava viajando para a Austrália, segundo o costume de muitos, tinha de beber com o amigo. Ele bebia grandes quantidades de gin, mas provavelmente teria ficado muito bravo se alguém tivesse dito que ele estava bêbado, no entanto, razão e bom senso, obviamente, tinham sido submetidos. Ele retornou ao seu posto no zoológico num estado de excitação. Alguns meses antes tinha visto uma exibição de encantadores de serpentes, que ainda permaneciam em seu pobre cérebro  estupefato. Devia imitar os egípcios, e brincar com cobras. Primeiro tirou da sua gaiola uma cobra venenosa de Marrocos, que colocou em volta do pescoço, e deixou-a enroscar-se em  seu corpo. Felizmente para ele, não acordou o suficiente para mordê-lo. O guarda assistente  gritou: "Por Deus, solte a cobra", mas o tolo respondeu: "Eu estou inspirado." Esta serpente  letal estava um pouco  letárgica por causa do  frio da noite anterior e, portanto, o imprudente a colocou em seu peito até que ela se reanimou,  e deslizou para baixo e sua cabeça saiu na parte traseira do seu colete. Ele tentou segurá-la pela cauda para girá-la em torno de sua cabeça. Ele a segurou por um instante contra a sua face, e como o relâmpago, a cobra o mordeu no meio dos olhos. O sangue correu em torrentes pelo seu rosto, e pediu ajuda, mas seu companheiro fugiu horrorizado e, segundo declarou ao júri,  não sabia quanto tempo esteve ausente, porque ficou 'perplexo'.Quando a ajuda chegou, Gurling estava sentado numa cadeira, depois de ter colocado a serpente na gaiola. Ele disse: "Sou um homem morto". Eles o colocaram numa carruagem e o levaram para o hospital. Primeiro perdeu a fala e só podia gemer, então a visão lhe falhou, e perdeu a audição. Sua taxa de pulso diminuía gradualmente, e dentro de uma hora a partir do momento que ele tinha sido mordido, era um cadáver. Só havia uma pequena marca na ponta do seu nariz, mas o veneno se espalhara pelo seu corpo, e morreu.

Conto essa história para usá-la como uma parábola e aprendam a não brincarem com o pecado, e também para apresentar vividamente para vocês no que consiste ser mordido por uma cobra. Suponham que Gurling pudesse ter sido curado se ele tivesse olhado para uma peça de bronze, não teria sido uma boa notícia para ele? Não havia nenhum remédio para essa  pobre criatura orgulhosa, porém há um remédio para vocês. Jesus Cristo foi levantado na cruz  para que os homens que foram mordidos pelas serpentes venenosas do pecado: não somente para vocês que ainda estão brincando com a serpente, não somente para vocês que a têm abrigado em seus peitos, sentindo-a deslizar sobre a sua pele, mas para vocês que foram realmente mordidos e estão mortalmente feridos. Se alguém é mordido de tal forma, que se enferme pelo pecado, e sente o mortífero   veneno em seu sangue, Jesus está exposto hoje para ele. A graça soberana fornece um remédio, mesmo para os casos considerados extremos.

A mordida da serpente era dolorosa. O texto bíblico nos informa que essas cobras eram "abrasadoras", que pode se referir, talvez, à sua cor, mas mais provavelmente se refere aos efeitos de queima de seu veneno. Esquentava e acendia o sangue de tal forma que cada veia se tornava um rio fervente e crescido pela angústia. Em alguns homens o veneno de víboras que chamamos de pecado, tem inflamado suas mentes. Eles estão inquietos, insatisfeitos e cheios de medo e de ansiedade. Escrevem sua própria condenação, eles têm certeza de que estão perdidos, e recusam todas as boas notícias de esperança. Não conseguimos que prestem uma atenção calma e sóbria para a mensagem da graça. O pecado produz neles tal terror, e eles se dão como mortos. Em sua própria compreensão são, como disse David, "Deixados entre os mortos, como os mortos à espada que jazem no sepulcro, dos quais você não se lembra agora." A serpente de bronze foi levantada para os homens mordidos pelas serpentes ardentes, e Jesus é pregado aos homens envenenados de fato pelo pecado. Jesus morreu por aqueles que se encontram totalmente desesperados: por aqueles que não conseguem pensar retamente, por aqueles cujas mentes são agitadas de cima para baixo, por aqueles que já estão condenados. Foi pelos tais que o Filho do homem foi levantado na cruz. Que coisa tão confortável é que possamos dizer-lhes isso.

A picada dessas serpentes era, como eu lhes disse, mortal. Os israelitas não poderiam ter qualquer dúvida sobre isso, porque em sua própria presença "muita gente de Israel morreu." Viram morrer pelas picadas das cobras, seus próprios amigos e até ajudaram a enterrá-los. Eles sabiam por que eles morreram e tinham certeza de que era porque o veneno das cobras ardentes corria pelas suas veias. Eles não tinham nenhuma desculpa para imaginarem que poderiam ser mordidos e ainda viverem.

Agora, sabemos que muitos têm perecido como resultado do pecado. Nós não temos nenhuma dúvida sobre o que o pecado vai fazer, pois a palavra infalível nos ensina que "o salário do pecado é a morte", e também que "o pecado, sendo consumado, gera a morte." Sabemos também que esta morte é uma miséria sem fim, pois a Escritura descreve os perdidos como sendo lançados nas trevas exteriores ", onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga". Nosso Senhor fala dos condenados que irão para o castigo eterno, onde haverá choro e ranger de dentes. Nós não temos nenhuma dúvida sobre isso, e a maioria daqueles que duvidam disso, são aqueles que temem que  será a sua própria porção, eles sabem vão descer  à dor eterna e, portanto, tentam fechar os olhos para a sua condenação inevitável.

Oh, quão terrível é encontrar bajuladores no púlpito para incentivar o seu amor ao pecado tocando a mesma melodia. Nós não estamos em sua classe. Acreditamos no que o Senhor tem dito com toda a solenidade de terror, e, conhecendo os terrores do Senhor, procuramos persuadir os homens a fugirem disso.

Todavia era para os homens que tinham experimentado a mordida mortal, para os homens sobre cujos rostos pálidos a morte começou a colocar o seu selo, para os homens cujas veias estavam queimando com esse terrível veneno da serpente. Foi para eles que Deus disse a Moisés, "Faça uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste, e qualquer que tenha sido mordido e olhar para ela, viverá."

Não há nenhum limite fixado para o grau de envenenamento, não importa o quanto ele tenha avançado, o remédio ainda teria poder. Se uma pessoa tivesse sido mordida um instante antes, e ainda que tenha visto apenas  algumas gotas brotando, e somente sentiu um pouco de dor, poderia olhar e viver, e se tivesse esperado, infelizmente esperado, ainda por meia hora, e fala lhe faltasse, e o  pulso ficasse enfraquecido, mas se pudesse olhar, viveria imediatamente. Não havia limites para o poder deste remédio divinamente ordenado.
A promessa não continha uma cláusula condicional: "Qualquer um que for mordido e olhar para ela, viverá", e nosso texto nos diz que a promessa de Deus foi aplicada em cada caso, sem exceção, pois lemos: "E quando uma serpente mordia alguém, olhava para a serpente de bronze, e vivia ". Assim, então, eu descrevi a pessoa que estava em perigo mortal.

II. Em segundo lugar, consideremos o remédio fornecido para essa pessoa. Este era tão singular com efetivo. Foi puramente de origem divina, e é claro que a sua invenção, e capacitação foram inteiramente de Deus.

Não havia remédio algum para as picadas das serpentes de fogo no deserto, exceto aquele que Deus havia fornecido, e à primeira vista, esse remédio deve ter parecido loucura. Um simples olhar sobre a figura de uma serpente sobre uma haste! Quão improvável era que funcionasse!
Como e por que meios poderia se efetuar uma cura por simplesmente olhar para uma peça de bronze retorcida? Parecia, de fato, que era quase uma piada convidar os homens a olharem aquilo que tinha causado a sua desgraça. Por acaso se poderia curar a mordida de uma cobra, olhando para uma serpente?  Traria vida aquilo que causou a morte? Porém, é nisto que residia a excelência do remédio, que era de origem divina, pois quando Deus ordena uma cura, está obrigado, por esse mesmo fato, a colocar uma força nela. Ele não conceberia um fracasso, ou prescreveria um escárnio. A nós sempre nos bastará saber que Deus ordena um modo de bênção para nós, pois se Ele ordena, tem que se cumprir o resultado prometido. Não  necessitamos saber como funcionará, basta-nos que a poderosa graça de Deus esteja empenhada em fazer o bem às nossas almas.

Este remédio particular de uma serpente levantada numa haste era muito instrutivo, embora eu não ache que Israel teria entendido. Nós temos recebido o ensinamento de nosso Senhor e sabemos o seu significado. Se tratava de uma serpente enrolada numa haste. E assim como tomarias uma haste pontiaguda para perfurar a cabeça de uma cobra para matá-la, de igual modo a serpente de bronze foi mostrado como estando morta e pendurada sem vida à vista de todos. Era a imagem de uma cobra morta.

É a maravilha das maravilhas que o nosso Senhor Jesus Cristo se rebaixou ao ser simbolizado por uma cobra morta. A instrução para nós, depois de ler o Evangelho de João, é esta: o nosso Senhor Jesus Cristo, em humilhação infinita, se dignou a vir ao mundo, e concordou em se fazer maldição para nós. A serpente de bronze não teria veneno em si, mas tomou a forma de uma serpente ardente. Cristo não é um pecador, e não há pecado nele, mas a serpente de bronze tinha a forma de uma serpente, e da mesma maneira, Jesus foi enviado por Deus "à semelhança da carne do pecado". Ele veio sob a lei, e o pecado Lhe foi imputado, e, portanto, caiu sob a ira e maldição de Deus por nossa causa. Em Cristo Jesus, se você olhar para a cruz, você vai ver que o pecado é mortalmente ferido e pendurado como uma cobra morta, também ali a morte é vencida, porque "Jesus Cristo ... aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade" : e ali também a maldição é para sempre cancelada porque Ele a carregou, sendo "feito maldição por nós (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro)." Então, estas serpentes são pendurados na cruz como um espetáculo para todos os espectadores, todas mortas por nosso Salvador agonizante. O pecado, a morte e a maldição agora são como serpentes mortas.

Oh, que visão! Se pudessem vê-lo, que prazer lhes proporcionaria. Se os hebreus tivessem compreendido o significado desta cobra morta pendurada numa haste, lhes haveria  profetizado o quadro glorioso a nossa fé contempla neste dia: Jesus sacrificado, e o pecado, a morte e o inferno mortos nEle. Então o remédio que devia ser contemplado era sumamente instrutivo, e sabemos que a instrução foi concebido para nos ser comunicada.

E não se tratava apenas de se olhar para uma serpente de bronze, porque era necessário ter fé que aquele remédio estranho provido por Deus, seria realmente o suficiente para livrar da morte da picada mortal. Os que desconfiassem da eficácia do remédio, pela sua simplicidade, e não olhassem para a serpente de bronze, morreriam. E assim, também morrerão eternamente, todos aqueles, que estando feridos pela picada mortal do diabo e do pecado, se recusam a olhar para o Cristo crucificado.
Assim, a instrução a ser comunicada aos pecadores, pela figura da serpente de bronze, é a de  que Deus os livra da morte por se ter fé, que simplesmente olharem para o Cristo que foi levantado e morto na cruz, os salva da própria morte eterna deles, porque Ele destruiu o veneno do pecado, a maldição e perfurou a cabeça da velha serpente, o diabo, quando morreu por nós na cruz.

Lembre-se que em todo o acampamento de Israel não havia senão apenas um remédio para a picada de cobra, e que remédio era a serpente de bronze, e só havia uma serpente de bronze, não duas. Israel não podia fazer outra. Se eles fizessem uma segunda serpente, não teria nenhum efeito: havia uma cobra, e apenas uma, a que foi erguida no centro do acampamento, de modo que se alguém foi mordido por uma cobra poderia olhá-la e viver.

Há um Salvador e somente um. Não há outro nome debaixo do céu dado entre os homens pelo qual possamos ser salvos. Toda a graça está concentrada em Jesus, de quem, lemos: "aprouve ao Pai que, nele, residisse toda a plenitude." Cristo suportou a maldição e acabou com a maldição, Cristo foi ferido no calcanhar pela velha serpente, mas esmagou a cabeça da serpente: é somente Cristo que devemos olhar, se queremos viver. Oh pecador, olha para Jesus na cruz, pois Ele é o único remédio para todas as formas de feridas envenenadas de pecado.

Havia apenas uma serpente curadora, e esta era resplandecente e brilhante. Era uma serpente de bronze, e bronze é um metal brilhante. Foi um bronze forjado e, portanto, não estava obscurecido, e sempre que o sol brilhava, refletia um brilho que vinha da serpente. Poderia ter sido uma cobra feita de madeira ou qualquer outro metal, se Deus tivesse ordenado isso, mas ele ordenou que ela deveria ser de bronze, para que estivesse cheia  de brilho.

Que grande brilho há em nosso Senhor Jesus Cristo! Se simplesmente o expusermos em seu próprio metal verdadeiro,  é brilhante aos olhos dos homens. Se pregamos simplesmente o evangelho, e não pensamos em decorá-lo com nosso pensamento filosófico, veremos que há suficiente brilho em Cristo para captar o olho do pecador, e realmente chama a atenção de milhares de pessoas. O Evangelho Eterno brilha de longe, na pessoa de Cristo. Assim como o estandarte de bronze refletia a luz solar, assim também Jesus reflete o amor de Deus pelos pecadores, e vendo-O, olham pela fé e vivem.
Além disso, este remédio era duradouro. Era uma serpente de bronze, e suponho que permaneceu no meio do acampamento desde aquele dia. Foi inútil depois que Israel entrou em Canaã, mas enquanto no deserto, provavelmente foi exibida no centro do acampamento, perto da porta do tabernáculo, sobre um estandarte elevado. No alto e aberta a todos os olhos, pendia essa imagem de uma serpente morta: a cura perpétua para o veneno de serpentes. Se tivesse sido feita a partir de outros materiais, poderia ter-se quebrado, ou poderia ter sido destruída, mas uma serpente de bronze duraria enquanto as serpentes abrasadoras importunassem o acampamento no deserto. Quando um era mordido, ali estava a serpente de bronze para curá-lo.

Que conforto é este, que Jesus ainda salva perpetuamente a todos os que por Ele se aproximam de Deus, vivendo sempre para interceder por eles. O ladrão moribundo viu o brilho da serpente de bronze, quando ele olhou para Jesus pendurado ao seu lado, e foi salvo, e assim como você e eu podemos olhar e viver, porque "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e pelos séculos dos séculos. "

"Minha cabeça desfalecida e meu coração fraco doente,
Ferido, todo machucado,
Eu sinto o aguilhão ardente de Satanás
Envenenado com o orgulho do inferno:
Mas se à beira da morte,
Dirijo meus olhos para o alto,
Eu vejo Jesus levantado,
E eu vivo por Ele, que morreu por mim. "

Espero que não obscurecer o meu tema com estas figuras. Eu não quero fazer isso, mas  apresentá-los claramente. Para todos os que sejam realmente culpados, para todos os que foram mordidos pela serpente, o remédio certo é olhar para Jesus Cristo, que tomou sobre si os nossos pecados e morreu no lugar do pecador ", “Aquele que não conheceu pecado, se fez pecado por nós, para que fôssemos feitos  justiça de Deus nele. " O único remédio de vocês  está em Cristo e em nenhum outro lugar. Olhem para Ele e sejam salvo.

III. Somos levados a considerar agora, em terceiro lugar, a aplicação do remédio ou o elo entre o homem mordido pela serpente e a serpente de bronze iria curá-lo. Qual era o vínculo? Era o tipo mais simples imaginável. A serpente de bronze poderia ser levada pela ordem de Deus, aonde estava o enfermo pela picada, mas não foi assim.
O remédio poderia ter sido aplicado por fricção: poderia se esperar que o mordido fizesse alguma forma de oração repetitiva, ou que o sacerdote realizasse uma cerimônia, porém não havia nada disso, o enfermo somente deveria olhar.

Foi bom que a cura fosse tão simples, porque o perigo era generalizado. As picadas de cobras foram dadas de diversas maneiras: um homem poderia estar recolhendo madeira, ou apenas caminhando nos arredores, e era mordido. Mesmo agora, no deserto, as cobras são perigosas. O Sr. Sibree comentou que uma ocasião ele viu o que parecia ser uma pedra redonda, muito bem marcada. Ele estendeu a mão para pegá-la,  quando, para seu horror, descobriu que era uma serpente viva que estava enrolada.

Durante todo o dia, quando as serpentes abrasadoras foram enviadas entre eles, os israelitas deviam ter estado em perigo. Em suas camas e quando comiam em suas tendas e quando saíam, eles foram expostos ao perigo. Essas cobras são chamadas por Isaías "serpentes voadoras", não porque elas realmente voem, mas porque eles se enrolam e, de repente, saltam até alcançarem uma altura considerável, e um homem pode ser surpreendido e atacado a perna enquanto ele ainda está além do alcance destes répteis malignos.

O que um homem deveria fazer? Não teria nada a fazer, senão ficar de fora da porta da sua tenda, e olhar onde brilhava longe, o fulgor da serpente de bronze, e no momento que ele olhava ficava curado. Não teria que fazer nada, senão apenas olhar, não era necessário nenhum sacerdote ou água santa ou de um abracadraba ou livro de oração, ou qualquer outra coisa, exceto uma olhada.

Um bispo da Igreja Romana disse a um dos primeiros reformadores, quando ele pregou a salvação pela fé simples: "Oh senhor abra este portão para o povo e nós estaremos arruinados." E arruinados, estão, de fato, pois o negócio e o comércio do sacerdócio estariam acabados para sempre, se os homens simplesmente confiassem em Jesus para viverem.

E é assim. Creiam nEle, pecadores, pois este é o significado espiritual de olhar, e imediatamente o seu pecado é perdoado, e ainda mais, o seu poder mortal deixa de operar dentro do seu espírito. Há vida em olhar para Jesus. Não é tão simples?

Mas, por favor, note como era estritamente pessoal. Um homem não poderia ser curado por qualquer coisa que alguém fizesse por ele. Se ele foi mordido por uma cobra e se recusou a olhar para a serpente de bronze, e havia se recolhido para a cama, nenhum médico poderia ajudá-lo. Uma piedosa mãe poderia se ajoelhar e orar por ele, mas não adiantaria. As irmãs poderiam vir e implorar-lhe, pastores poderiam ser chamados para orarem para que o homem pudesse viver, mas morreria, apesar de suas orações, se não olhasse para a serpente de bronze.
Havia somente uma esperança para sua vida: deveria olhar a serpente de bronze. É exatamente o mesmo com você. Alguns me escreveram me pedindo para orar por eles: assim o tenho feito, porém não seria de nenhum uso a não ser que você mesmo creia em Jesus Cristo. Não há sob as abóbadas do céu, nem no céu, nenhuma esperança para qualquer um de vocês, a menos que você creia em Jesus Cristo.

Seja você quem for, por mais mordido que esteja pela serpente, e por mais que esteja  próximo da morte, se olhar para o Salvador, viverá,  mas se não fizer isso, você deve ser condenado, tão certo como você vive. No último grande dia, vou testemunhar contra você, porque lhe disse direta e claramente. "Aquele que crer e for batizado será salvo, mas o que não crer será condenado." Não há nenhuma outra ajuda para isso, você pode fazer o que quiser: unir-se à igreja que você escolher; tomar a Ceia do Senhor, se batizar, aplicar-se severas penitências, ou entregar todos os seus bens para sustento dos pobres, todavia você é um homem perdido a menos que você olhe para Jesus, pois Ele é o único remédio, e até mesmo o próprio Jesus Cristo não pode salvá-lo, a menos que você olhe para Ele. Não há nada em Sua morte que lhe salve, nada em sua vida que lhe salve, a menos que você confie nEle. Se resume a isto: você deve olhar, e olhar para si mesmo.

Então, também, é muito instrutivo. O que significa esse olhar? Isso significa o seguinte: a auto-ajuda deve ser abandonada e tem que se confiar em Deus. O homem ferido diria:.! "Eu não devo ficar aqui olhando a minha ferida, porque isso não me salvaria.
Vejo onde a cobra me atacou, o sangue está fluindo, tingido de negro  pelo veneno. Como arde e incha. Meu coração desfalece. Mas todas essas considerações não me aliviarão. Devo olhar para longe, a serpente de bronze que foi levantada. " É inútil olhar qualquer outro lugar, exceto ao único remédio ordenado por Deus.

Os israelitas devem ter compreendido isto: que Deus requer que confiemos nele, e que utilizemos este instrumento de salvação. Devemos fazer conforme o que nos  ordene, e confiar que Ele vai operar a nossa cura, e se não fizermos isso, nós morremos eternamente.

Esta forma de cura tinha a intenção de que magnificassem o amor de Deus, e atribuíssem a sua saúde inteiramente à graça divina. A serpente de bronze não foi apenas uma figura, como já comentei, que mostra que Deus tira o pecado ao aplicar a Sua ira em Seu Filho, senão que foi uma demonstração do amor divino. E eu sei disso porque o próprio Jesus disse: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado ... Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito"; afirmando claramente que a morte de Cristo na cruz foi uma demonstração do amor de Deus aos homens, e qualquer que olhar para esta exposição muito grande do amor de Deus ao homem, isto é, Sua entrega de seu Filho unigênito para se tornar uma maldição, certamente viverá.

Agora, quando um homem era curado ao olhar para a serpente, não poderia dizer que ele tinha  curado a si mesmo, pois ele apenas olhou e não havia qualquer poder no seu próprio olhar. Um crente não pode reivindicar qualquer mérito ou honra, por causa de sua fé. A fé é uma graça  nega o ego, de maneira que nunca venha a jactar-se. Onde está o grandioso crédito de crer simplesmente na verdade, e humildemente confiar em Cristo para nos salvar? A fé glorifica a Deus, e assim nosso Senhor a tem escolhido como o instrumento da nossa salvação.

Se um sacerdote tivesse se aproximado e tocado o homem mordido, este poderia atribuir alguma honra ao sacerdote, mas como não havia nenhum sacerdote envolvido no caso, como não havia necessidade de qualquer coisa exceto olhar para a serpente de bronze, o homem era levado à conclusão de que o amor e o poder de Deus lhe haviam curado.

Eu não sou salvo por qualquer coisa que tenha feito, senão pelo que o Senhor fez. Deus quer que todos nós cheguemos a essa conclusão, todos temos que confessar que se somos salvos, é pela graça gratuita, rica, soberana e imerecida, mostrada na pessoa de Seu Filho amado.

IV. Dê-me um momento quanto ao quarto tópico, que é A CURA EFETUADA. O texto nos informa que "quando uma serpente mordia alguém, olhava para a serpente de bronze, e vivia", ou seja, era curado imediatamente. Não teria que esperar cinco minutos ou cinco segundos.

Caro ouvinte, você já ouviu isso antes? Se não tinha ouvido falar, poderia ficar surpreendido, mas é verdade. Se você tem vivido no pecado mais negro possível, até este momento, mas se você agora crer em Jesus Cristo será salvo antes de o relógio bater o seu próximo tic-tac. Isto é realizado com a velocidade de um relâmpago, o perdão não é um trabalho de tempo. A santificação requer uma vida inteira, mas a justificação não precisa mais do que de um instante. Se você crê, você vive. Se você confiar em Cristo, seus pecados desaparecem, e você é um homem salvo no instante em que crê.

"Oh", dirá alguém - "isso é uma maravilha." É uma maravilha, e continuará sendo uma maravilha por toda a eternidade. Os milagres de nosso Senhor quando estava na terra, foram em sua maioria instantâneos. Ele os tocava e os que padeciam de febre eram capazes de se levantar e servirem-no. Nenhum médico poderia curar uma febre dessa maneira, pois gera uma fraqueza quando o calor da febre  diminuiu. Jesus opera curas perfeitas, e quem nele crê, ainda que tenha crido um só minuto, é justificado de todos os seus pecados. Oh, a graça incomparável de Deus!

Este remédio curava uma e outra vez. Muito possivelmente, depois que um homem tinha sido curado, poderia voltar ao trabalho, e ser atacado por uma segunda serpente, pois havia  ninhadas delas em todos os lugares. O que deveria fazer? Bem, olhar novamente, e se ele fosse ferido mil vezes, tinha que olhar mil vezes.

Você, querido filho de Deus, se tem pecado  contra a sua consciência, olhe para Jesus. A maneira mais saudável de viver onde abundam as serpentes, é nunca tirar o olho da serpente de bronze. Ah, vocês víboras, podem morder se  quiserem, pois enquanto que meu olho estiver pregado na serpente de bronze, eu desafio suas presas e seus sacos de veneno, pois tenho um remédio permanente operando dentro de mim. A tentação é vencida pelo sangue de Jesus. "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé."

Esta cura era universalmente eficaz para todos os que a usaram. Não houve nenhum caso em todo o acampamento de Israel, de um homem que tivesse olhado a serpente de bronze e tivesse morrido, e nunca haverá qualquer caso de um homem que olhe para Jesus, e permaneça sob condenação. O crente deve ser salvo. Algumas das pessoas devem ter olhado  a uma longa distância. A haste com a serpente de bronze não poderia estar à mesma distância de todos, todavia, desde que pudessem vê-la, curava a todos, tanto os que estavam perto quanto os que estavam longe.
Tampouco importava se os seus olhos eram fracos. Nem todos os olhos teriam a mesma capacidade de visão, mas se olharam, viveram.
Talvez o homem não podia discernir a forma da cobra quando olhava. "Ah", disse para si mesmo: "Eu não posso discernir os contornos da serpente de bronze, mas eu posso ver o brilho do metal", e viveu.

Oh, pobre alma, talvez não possas ver totalmente a Cristo, nem todas as suas belezas e riquezas de Sua graça, mas se você pode ver que Ele se fez pecado por nós, viverás. Se você disser: "Senhor, eu creio, ajuda minha incredulidade:" Sua fé lhe salvará, um pouco de fé vai lhe proporcionará um grande Cristo, e você encontrará a vida eterna nEle.

Assim, tentei descrever a cura. Oh, que o Senhor possa opera essa cura em cada pecador que nos ouve agora. Peço-lhe que o faça.

É um pensamento agradável que se olhassem aquela serpente de bronze, sob qualquer tipo de luz, viviam. Muitos a contemplaram no brilho do meio dia, e viam seus contornos reluzentes, e viviam, mas não me surpreenderia que alguns foram mordidos durante a noite, e a luz da lua apareceu e olhavam para cima e viviam. Talvez fosse uma noite escura e tempestuosa, e não havia nenhuma estrela visível. A tempestade ribombava nas alturas, e das nuvens se desprendiam os relâmpagos. Pelo brilho desta luz repentina, o moribundo via a serpente de bronze, e pelo único instante em que a viu, vivia.Da mesma forma, um pecador, se sua alma está envolvida na tempestade, e se a nuvem mostra um único raio de luz, olhe para Jesus Cristo com a ajuda dos raios e viva.

V. Concluo com este último ponto de reflexão: Há aqui uma lição para aqueles que amam o seu Senhor. O que devemos fazer? Devemos imitamos Moisés, cuja responsabilidade era colocar a serpente de bronze em uma haste. É, portanto, sua responsabilidade como a minha levantar o Evangelho de Jesus Cristo para que todos possam vê-Lo. Tudo o que Moisés teria que fazer era colocar a serpente de bronze à vista de todos. Ele não disse: "Aarão, traga o seu incensário, e traz contigo muitos sacerdotes, e formem uma nuvem de incenso."Ele não disse "Eu mesmo vou usar o meu traje de legislador, e eu estarei lá." Não, Moisés não tinha nada a ver com o que era pomposo e cerimonial. Somente tinha que mostrar a serpente de bronze e deixá-la descoberta e disponível ao olhar de todos. Ele não disse: "Aarão traga aqui um manto de ouro e envolve a serpente em linho fino azul e escarlate." Um ato assim teria sido, certamente contrário às suas ordens. Ele deveria manter a serpente descoberta. Seu poder estava em si, e não o que a rodeava. O Senhor não lhe disse para pintar a haste e decorá-la com as cores do arco-íris. Oh, não. Qualquer haste serviria. Os moribundos não necessitavam ver a haste, eles precisavam apenas de ver a serpente. Eu diria que ele fez uma haste nítida, porque a obra de Deus deve ser feito com decência, mas ainda assim, a serpente era tudo que eu tinha para ser olhado.

Isso é o que temos que fazer com nosso Senhor. Temos que pregamos a Cristo, ensiná-lo, e torná-lo visível para todos. Não devemos Lhe ocultar com os nossos intentos de envolvê-lO com a eloqüência e o conhecimento. Temos que acabar com a haste polida da eloqüência, e  aqueles pedaços de carmesim e azul, na forma de frases grandiosas e estrofes poéticas. Tudo deve ser feito para que Cristo possa ser visto, e não deve ser tolerado nada que o oculte.

Moisés pode ir para casa e se deitar uma vez que a serpente está levantada. Tudo o que é necessário é que a serpente de bronze esteja visível tanto de dia como de noite. O pregador pode se ocultar a tal ponto que ninguém saiba quem ele é, pois, se expuser a Cristo, é melhor que não se interponha.

Agora, vocês, mestres, ensinem a Jesus a seus filhos. Mostrem a eles a Cristo crucificado. Mantenham a Cristo diante deles. Vocês que são jovens e intentam pregar, não tentem faze-Lo de maneira grandiosa. A verdadeira grandeza da pregação consiste em que Cristo seja grandiosamente exibido nela. Não é necessária qualquer outra grandeza. Mantenham o ego em segundo plano, porém coloquem Jesus Cristo no meio do povo, evidentemente crucificado entre eles. Ninguém, senão Jesus. Ele deve ser a suma e a substância de todos os seus ensinamentos.

Alguns de vocês têm olhado a serpente de bronze, eu sei, e têm sido curados, porém, o que têm feito com a serpente de bronze desde então? Não têm vindo à frente para confessarem a sua fé e se juntar à igreja. Não têm falado com ninguém sobre a sua alma. Colocaram a serpente de bronze em um baú e a esconderam. Isso é correto? Tirem-na e a coloquem numa haste. Preguem a Cristo e Sua salvação. A intenção nunca foi que fosse tratado como uma curiosidade de museu, o objetivo é que seja exibido nas ruas para que aqueles que têm sido mordidos possam olhar para Ele.

"Mas eu não tenho uma haste adequada", diz alguém. O melhor tipo de haste para mostrar Cristo, é a que seja muito alta, para que possam vê-lO de longe. Exaltem a Jesus. Falem bem do Seu nome. Não conheço nenhuma outra virtude que possa estar na haste, senão a sua altura. Quanto mais puderem falar em louvor do seu Senhor, quanto mais alto possam levantá-Lo, será melhor. Levantem a Cristo de verdade.

"Oh", diz alguém: "mas eu não tenho uma haste longa." Então você tem que levantá-lo com o que tiver, pois existem pessoas ao seu redor de baixa estatura que seriam capaz de vê-Lo através de você.

Creio que lhes tenha falado uma vez do quadro que vi da serpente de bronze. Quero que os professores da escola dominical ouçam isso. O artista representou todos os tipos de pessoas reunidas em torno da haste, e quando olhavam, as horríveis serpentes se desprendiam de seus braços, e viviam.
Havia tal multidão em torno da haste que uma mãe não pôde se aproximar dela. Ela estava carregando um bebê que tinha sido mordido por uma cobra. Você pode ver os sinais azul do veneno. Desde que não poderia chegar mais perto, a mãe segurava a criança no alto, e virou a cabeça para que ele pudesse ver com seus olhos infantis a serpente de bronze e poderia viver.

Façam isso com as crianças pequenas a seu cuidado, vocês que são professores de escolas dominicais. Mesmo que ainda sejam muito pequenos, orem para que olhem para Jesus Cristo e vivam, pois não há um limite de idade estabelecido. Idosos mordidos por serpentes viriam cambaleando sobre suas muletas. "Eu tenho 80 anos de idade", disse alguém, "mas eu olhei para a serpente de bronze, e estou curado." Crianças pequenas foram levadas por suas mães, mas ainda não podiam falar claramente, e gritavam em sua linguagem infantil: ". Eu olho a grande serpente e sou abençoado”

Todos as classes e gêneros, e personalidades e e disposições olharam e viveram.Quem quer olhar para Jesus nesta boa hora? Oh almas queridas, querem ter vida ou não? Desprezarão a Cristo e perecerão? Se assim for, seu sangue caia sobre as suas próprias vestes. Eu lhs tenho falado do caminho da salvação de Deus, e vocês têm que se apegar a ele. Olhem para Jesus imediatamente. Que Seu Espírito os conduza gentilmente a fazê-lo. Amém.

Quanto a este sermão disse Spurgeon:

"Eu apreciaria muito se este sermão pudesse ser amplamente distribuído. Eu pedi aos impressores, os Srs. Passmore e Alabaster, que o publiquem em forma de livro. Pode ser obtido a um preço altamente adequado". Charles Haddon Spurgeon.








4 - Focalizando o Ponto Correto, Principal e Vital

O apóstolo João destacou em seu evangelho nem tanto os milagres de cura de nosso Senhor Jesus Cristo, conforme estes se acham registrados nos chamados evangelhos sinópticos, mas concentrou sua narrativa especialmente naquelas coisas essenciais e indispensáveis à nossa salvação, porque foi nisto também que nosso Senhor concentrou em Seu ministério terreno todos os Seus esforços, porque afinal viera a este mundo com a missão de salvar pecadores.
Daí lermos estas suas seguintes palavras em Jo 3.17 e 12.47:
“Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (Jo 3.17)
“E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.” (Jo 12.47)
É importante se frisar que as passagens de Jo 3.1-21 e Jo 12.20-36 estão intimamente relacionadas, porque na primeira, João destaca o ensino de Jesus sobre a salvação no discurso que fizera a Nicodemos, e em Jo 12.20-36 temos, a reafirmação do ensino de Jo 3.1-21, quando ele estava em Jerusalém às portas da Sua crucificação, que seria o ponto de partida para a salvação de pessoas em todas as partes do mundo.
Nestas duas passagens citadas nosso Senhor destacou o modo pelo qual ocorreria tal salvação e o que seria necessário fazer para alcançá-la, e além disso Ele citou qual é o propósito de Deus na referida salvação, e no que ela consiste realmente.
Ora, se nosso Senhor definiu o que é e qual é o propósito e o modo da salvação, conforme isto se encontra relacionado à Sua missão em relação a nós pecadores, faríamos bem, então, em prol do destino eterno de nossas almas, concentrarmos a nossa atenção e esforços, justamente em compreender tais palavras.
Veja que na passagem de João 3.1-21, Nicodemos falou de Deus, dos milagres realizados por Jesus, e que entendia que por isso Ele era Mestre vindo da parte de Deus, e que Deus era com Ele, Jesus, mas recebeu da parte de nosso Senhor a afirmação de que ele, Nicodemos, não conhecia nem a Ele, nem ao Pai, nem ao reino de Deus, apesar de tudo quanto havia afirmado, que poderia dar a impressão de que ele havia se convertido de fato.
Então nosso Senhor passou a instruir Nicodemos lhe dizendo que toda a possibilidade de se conhecer de fato a Deus e entrar no Seu reino, decorre de uma experiência transformadora de vida com o Espírito Santo.
E que o motivo de tal operação transformadora é o de revivificar nossos espíritos, para que possamos responder ao amor de comunhão com Deus.
Assim, quando nosso Senhor disse que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16) tencionava nos ensinar que não é possível ter qualquer comunhão com Deus sem que se tenha fé em Seu Filho Jesus Cristo.
E que o objetivo principal desta fé é nos gerar novas criaturas, com um espírito vivificado pelo Espírito Santo, o qual possa responder ao amor de Deus, que se traduz principalmente em comunhão, porque a comunhão é uma das partes principais da expressão do espírito divino.
Somente no Espírito de Deus, que é um espírito vivo, residem em plenitude e perfeição todas as faculdades essenciais do espírito, como as da comunhão, da intuição e da consciência, e estas faculdades somente podem ser experimentadas por aqueles que tiverem seus espíritos revivificados pelo Espírito Santo, e daí ter nosso Senhor proferido a Nicodemos que nos importa a nós pecadores, nascermos do Espírito Santo, para que possamos entrar no reino de Deus.
Na passagem de Jo 12.24-26, nosso Senhor definiu o resultado da salvação com as seguintes palavras:
“24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.
25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.
26 Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.” (Jo 12.24-26)
Ele deixou claro que esta vida divina, que procede do céu, decorre de um processo de morte e ressurreição, e que demanda portanto a morte do nosso ego pecaminoso, para vivermos pela vida do próprio Cristo.
E ainda, que tal renascimento espiritual tem por alvo nos conduzir a viver não mais solitariamente, quanto a não termos comunhão real no espírito com Deus e com os que são nascidos do Espírito, mas a vivermos num corpo do qual o próprio Cristo é a cabeça, a saber, a Sua Igreja.
Sem esta morte referida do ego, que Jesus chamou de “odiar a vida”, nada mais é do que o ato de se aborrecer a própria vontade para que se possa fazer a de Deus, porque a palavra “vida” no citado texto vem do original grego “psique”, que significa alma. Está em vista então não vivermos pela alma mas pelo espírito revivificado pelo Espírito Santo.
Em suma, nosso Senhor quer nos ensinar que não é possível ter comunhão, intuição e consciência espirituais plenas, divinas e verdadeiras, sem esta vida do Espírito Santo no nosso espírito, e que não poderemos ter isto sem esta disposição de morrermos para a nossa própria vontade pecaminosa, para praticarmos a vontade de Deus revelada na Sua Palavra.








5 - “A salvação é do Senhor." (Jonas 2.9)

A salvação é obra de Deus. É somente ele que vivifica a alma "morta em delitos e pecados", e é ele também que mantém a alma em sua vida espiritual.
Ele é tanto "Alfa e Ômega". "A salvação é do Senhor". Se eu estou em oração, Deus me faz orar; se eu tenho graças, elas são dons de Deus para mim, se eu mantenho uma vida coerente, é porque ele me sustenta com sua mão.
Eu não faço nada para a minha própria preservação, exceto o que Deus fez primeiro em mim. Qualquer bem que eu tenha, vem somente do Senhor. Se eu peco, isto procede de mim, mas quando ajo corretamente, isto vem de Deus, total e completamente.
Se eu tenho repelido um inimigo espiritual, é a força do Senhor que sustenta meu braço. Eu vivo diante dos homens uma vida consagrada? Não sou eu, é Cristo que vive em mim.
Estou santificado? Eu não purifico a mim mesmo; é o Espírito Santo de Deus que me santifica. Estou desmamado do mundo? Eu sou desmamado por Deus com aflições santificadas para o meu bem.
Eu cresço em conhecimento? O grande Instrutor me ensina. Todas as minhas joias foram formadas pela arte celeste. Acho em Deus tudo o que eu necessito, mas acho em mim mesmo nada além de pecado e miséria. "Somente ele é a minha rocha e a minha salvação."
Eu me alimento da Palavra? Essa Palavra não seria comida para mim a menos que o Senhor a fizesse alimento para a minha alma, e me ajudasse a alimentar-me dela. Eu vivo do maná que cai do céu? O que é o maná, senão o próprio Jesus Cristo encarnado, cujo corpo e cujo sangue eu como e bebo? Estou continuamente recebendo aumento de forças renovadas? Onde eu reúno minhas forças? O meu socorro vem das colinas do céu: sem Jesus nada posso fazer. Como o ramo não pode dar fruto se não permanecer na videira, não mais posso eu, se não permanecer nele. O que Jonas aprendeu no grande abismo, deixe-me aprender em oração no meu quarto: "A salvação é do Senhor."

Texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.









6 - O Ladrão Que Creu

Por Charles Haddon Spurgeon

 “Então disse: Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:42, 43).

Faz algum tempo que preguei sobre a história completa do ladrão moribundo. Não me proponho a fazer o mesmo no dia de hoje, somente quero vê-lo desde um ponto de vista específico. A história da salvação do ladrão agonizante é um exemplo notável do poder de salvação de Cristo, e de sua abundante disposição para receber a todos que vêm a Ele, em qualquer condição em que possam estar. Não posso considerar este ato de graça como um exemplo solitário, como tampouco a salvação de Zaqueu, a restauração de Pedro, ou o chamado de Saulo, o perseguidor.
Em certo sentido, toda conversão é única: não há duas iguais, e contudo, qualquer conversão é um modelos de outras. O caso do ladrão moribundo é muito mais semelhante à nossa conversão, do que diferente; de fato, seu caso se pode considerar mais como típico do que como um fato extraordinário, e assim o considerarei neste momento. Que o Espírito Santo fale por ele para alentar aqueles que estão à beira do desespero!
Recordem, amados amigos, que nosso Senhor Jesus, no momento que salvou a esse malfeitor, estava em seu ponto mais baixo. Sua glória havia minguado no Getsêmani, e diante de Caifás, Herodes e Pilatos; mas agora havia alcançado seu nível mais baixo. Despido de sua túnica, e cravado na cruz, a atrevida multidão zombava de nosso Senhor que, agonizante, estava morrendo; então Ele “foi contado entre os transgressores” e foi feito como escória de todas as coisas. Contudo, ainda nessa condição, concluiu esse maravilhoso ato de graça. Vejam a maravilha produzida pelo Salvador despojado de toda Sua glória, e pregado no madeiro em um espetáculo de vergonha, à beira da morte! Quão certo é que pode fazer grandes maravilhas de misericórdia agora, visto que regressou a Sua glória, e está assentado no trono de luz! “Pode salvar por completo aos que por meio dele se achegam a Deus, posto que vive para sempre para interceder por eles”.
Se um Salvador agonizante salvou o ladrão, meu argumento é que Ele pode fazer ainda mais agora que vive e reina. Todo poder no céu e na terra Lhe foi dado; pode algo no momento presente se sobrepor ao poder de Sua graça? Não é somente a debilidade de nosso Salvador que faz memorável a salvação do ladrão penitente; é o fato de que o malfeitor moribundo o viu diante de seus próprios olhos. Você pode se pôr em seu lugar, e imaginar a alguém que está suspenso em agonia de uma cruz? Poderia facilmente crer que era o Senhor da glória, e que logo iria a seu reino?
Não seria pouca a fé para que, em um momento assim, cresse em Jesus como Senhor e Rei. Se o apóstolo Paulo estivesse aqui, e quisesse agregar um versiculo ao Novo Testamento, ao capítulo onze do Livro de Hebreus, começaria certamente seus exemplos de fé admirável com a fé deste ladrão, que creu em um Cristo crucificado, ridicularizado e agonizante, e clamou a Ele como a alguém cujo reino viria com certeza. A fé do ladrão foi ainda mais notável porque estava sob uma terrível dor, e condenado a morrer. Não é fácil exercitar a paciência quando se é torturado por uma angústia mortal. Nosso próprio descanso mental às vezes se vê perturbado pela dor do corpo quando somos sujeitados por um sofrimento agudo, não é fácil mostrar essa fé que cremos possuir em outras situações. Este homem, sofrendo como estava, e vendo ao Salvador em um estado tão triste, contudo, ainda assim creu para a vida eterna. Fala aqui uma fé que raramente se vê.
Recordem, também, que estava rodeado de zombadores. É fácil nadar com a corrente, mas é duro ir contra ela. Este homem ouviu os sacerdotes orgulhosos, quando ridicularizavam ao Senhor, e a grande multidão do povo, todos a uma só voz, unirem-se no escárnio; seu companheiro captou o espírito da hora e também zombou, e ele talvez tenha feito o mesmo por um breve momento; mas pela graça de Deus foi transformado, e creu no Senhor Jesus apesar de todo seu desprezo. Sua fé não foi afetada pelo que o cercava;  ele, pelo contrário, ladrão agonizante como era, se reafirmou em sua confiança. Como uma rocha saliente, colocada no meio da torrente de águas, declarou a inocência do Cristo, de quem outros blasfemavam. Sua fé é digna de que a imitemos em seus frutos. Nenhum outro membro de seu corpo estava livre exceto sua língua, e a utilizou sabiamente para repreender a seu irmão malfeitor, e defender ao Seu Senhor. Sua fé tornou manifesto um valente testemunho e uma confissão ousada. Não vou elogiar o ladrão, ou a sua fé, mas a exaltar a glória dessa graça divina que deu ao ladrão uma fé assim, e logo imerecidamente o salvou por seu meio. Estou ansioso de mostrar quão glorioso é o Salvador, esse Salvador que salva de maneira completa, aquele que em um momento assim, pôde salvar a esse homem, e dar-lhe uma fé tão grande, e tão perfeita e rapidamente prepará-lo para a felicidade eterna. Vejam o poder desse Espírito que podia produzir tal fé em um solo tão pouco promissor, e em um clima tão pouco propício. Entremos de imediato no centro do nosso sermão.
Primeiro, observem ao homem que foi o último companheiro de nosso Senhor na terra; segundo, observem que esse mesmo homem foi o primeiro companheiro de nosso Senhor na porta do paraíso; e terceiro, vejamos o sermão que nosso Senhor nos prega neste ato de graça. Oh, que o Espírito Santo abençoe este sermão do princípio ao fim!

I. Com muito cuidado OBSERVEMOS QUE O LADRÃO CRUCIFICADO FOI O ÚLTIMO COMPANHEIRO DE NOSSO SENHOR NA TERRA. Que triste companhia nosso Senhor selecionou quando esteve aqui. Não se juntou com os religiosos fariseus nem com os filosóficos saduceus, senão que era conhecido como o “amigo de publicanos e de pecadores”. Como me regozijo nisto! Me dá a segurança de que Ele não recusará associar-se comigo. Quando o Senhor Jesus me fez seu amigo, seguramente que não fez uma seleção que lhe trouxesse crédito. Crês que ganhou alguma honra quando te fez seu amigo? Acaso ganhou algo por causa de nós alguma vez? Não, irmãos meus; se Jesus não tivesse se inclinado tão baixo, talvez não teria vindo a mim; e se não tivesse procurado ao mais indigno, não teria vindo a ti. Assim o sentes, e estás agradecido pois Ele veio “não para chamar a justos, senão pecadores”. Como o Grande Médico, nosso Senhor passava muito tempo com os enfermos: se dirigia para onde podia exercitar sua arte de curar.
Os sãos não necessitam de um médico: não podem apreciá-lo, nem oferecem a oportunidade para que ele exercite sua habilidade; por conseguinte, Ele não frequentou suas moradas. Sim, depois de tudo, nosso Senhor fez uma boa escolha quando te salvou e quando me salvou; em nós encontrou abundante campo para a sua misericórdia e graça. Houve suficiente espaço para que Seu amor pudesse trabalhar dentro dos terríveis vazios de nossas necessidades e pecados; e ali Ele fez grandes coisas por nós, pelas quais nos alegramos.
Para que não haja aqui alguém que se desespere e diga: “nunca se dignará a olhar para mim,” quero que estejam advertidos que o último companheiro de Cristo na terra foi um pecador, e não um pecador comum. Havia transgredido as leis do homem, pois era um ladrão. Alguém que se chama “bandido”; e suponho que provavelmente esse era o caso. Os bandidos desses dias mesclam o assassinato com seus roubos: era provavelmente um pirata armado contra o governo romano, fazendo disto um pretexto para saquear se a ele fosse apresentada a oportunidade. Ao fim, foi feito prisioneiro e foi condenado por um tribunal romano, que de forma geral, era usualmente justo, e neste caso, certamente o foi; pois o mesmo confessa a justiça de sua condenação. O malfeitor que creu na cruz era um ladrão convicto, que havia permanecido na cela dos condenados e logo sofreria a pena capital por seus crimes. Um criminoso convicto era a última pessoa com a qual nosso Senhor teve que tratar nesta terra. Que amante das almas dos culpados é Ele! Como se inclina até o mais baixo da humanidade! À este homem tão indigno, antes que deixasse a vida, o Senhor da glória falou com graça incomparável, falou-lhe com palavras tão maravilhosas como nunca se poderão superar ainda que procures em todas as Escrituras: “Hoje estarás comigo no paraíso.”
Não creio que em nenhuma parte deste Tabernáculo se encontre alguém que tenha sido convencido diante da lei, que nem sequer se possa culpar de uma transgressão contra a honestidade comum; mas se houvesse uma pessoa assim entre os meus ouvintes, a convidaria a que encontrar perdão e transformação em seu coração por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Podes chegar a Ele, quem quer que sejas; este homem o fez. Aqui há um exemplo de alguém que havia chegado ao fundo da culpa, e que o reconheceu; não procurou desculpas, nem buscou um manto para tapar seu pecado; estava nas mãos da justiça, enfrentando sua sentença de morte, e contudo creu em Jesus, e disse uma humilde oração para Ele, e ali mesmo foi salvo. Como é a amostra assim é o todo. Jesus salva a outros do mesmo tipo. Por isso, deixem-me expor de forma muito simples, de maneira que ninguém me interprete mal, nenhum de vocês está excluído da infinita misericórdia de Cristo, por maior que seja a iniquidade de vocês: se crêem em Jesus, Ele os salvará.
Este homem não somente era um pecador; era um pecador que apenas havia despertado. Não creio que antes tivesse pensado seriamente no Senhor Jesus. De acordo com os outros evangelistas, parece que se tinha unido com seu companheiro ladrão para zombar de Jesus: se em realidade não utilizou palavras de opróbrio, no mínimo chegou a consentir com elas, de maneira que o evangelista não lhe fez injustiça quando disse, “também os ladrões que estavam crucificados com ele lhe injuriavam da mesma maneira”. Contudo, repentinamente, se desperta a convicção de que o homem que está agonizando ao seu lado é algo mais que um homem. Lê o título sobre a sua cabeça, e acertadamente crê: “Este é Jesus, o rei dos judeus”. Ao crer-lhe assim, fez sua petição ao Messias, que havia encontrado havia pouco tempo, e se encomenda em suas mãos. Querido eitor, vês esta verdade, que no momento em que um homem sabe que Jesus é o Cristo de Deus pode pôr de imediato confiança Nele e ser salvo? Um certo pregador, cujo evangelho era muito duvidoso, dizia: “vocês, que viveram no pecado por cinquenta anos, creem que em um instante podem ser limpos pelo sangue de Jesus?” Respondo: “Sim, certamente cremos que em um instante, por meio do precioso sangue de Jesus, a alma mais negra pode se tornar branca. Certamente cremos que em um simples instante podem ser absolutamente perdoados os pecados de sessenta ou setenta anos, e que a velha natureza, que ia se tornando cada vez pior, pode receber sua ferida de morte em um instante, enquanto a vida eterna pode ser implantada de imediato na alma.” Assim foi com este homem. Havia tocado no fundo, mas em um momento, se despertou a convicção de que o Messias estava junto a ele, e crendo, o viu e viveu.
Assim que, meus irmãos, se vocês nunca tiveram uma convicção religiosa em suas vidas, se viveram até agora uma vida totalmente ímpia, ainda assim, se neste exato momento creem que o amado Filho de Deus veio ao mundo para salvar aos homens do pecado, e sinceramente reconhecem seus pecados e confiam Nele, imediatamente serão salvos. Sim, enquanto digo estas palavras, a obra da graça pode ser consumada pelo Ser glorioso que foi ao céu com poder onipotente para salvar.
Desejo expor este caso de forma muito simples: este homem que foi o último companheiro de Cristo sobre a terra, era um pecador na miséria. Seus pecados lhe haviam encurralado: agora tinha a recompensa por suas obras. Constantemente encontro pessoas nesta condição: viveram uma vida de libertinagem, excessos e descuidos, e começam a sentir que caem em seus corpos as chamas de fogo da tempestade da ira; vivem em um inferno terreno, um prelúdio da condenação eterna. O remorso como uma áspide os picou, convertendo seu sangue em fogo. Este homem estava neste terrível estado, e mais, estava no extremo. Já não podia viver muito: a crucificação era inevitavelmente fatal; em pouco tempo as pernas lhe romperiam para pôr fim a sua existência infeliz. Ele, pobre alma, não tinha de vida senão um curto espaço do meio-dia ao pôr-do-sol; mas esse era o tempo suficiente para o Salvador, que é poderoso para salvar. Alguns têm muito medo que as pessoas adiem o momento de vir a Cristo se afirmamos isto. Não posso impedir o que os homens de má fé façam com a verdade, mas eu vou proclamá-la de todas as maneiras. Se estão a uma hora de morrer, creiam no Senhor Jesus Cristo, e serão salvos. Se não chegarem jamais a seus lares, porque poderão morrer no caminho, se agora creem no Senhor, serão salvos de imediato. Olhando para Jesus e confiando nele, Ele lhes dará um coração novo e um espírito reto, e tirará a mancha dos vossos pecados. Esta é a glória da graça de Cristo. Como gostaria de enaltecer sua graça com uma linguagem adequada! A última vez que foi visto na terra antes de morrer foi em companhia de um criminoso convicto, a quem falou da maneira mais amorosa. Venham, oh culpados, e Ele os receberá com abundante graça!
Mais ainda, este homem a quem Cristo salvou no último momento era um homem que já não podia realizar boas obras. Se a salvação fosse pelas boas obras, não poderia ter sido salvo; posto que estava atado de pés e mãos ao madeiro de seu destino funesto. Tudo havia terminado para ele quanto a qualquer ato ou obra de justiça. Poderia dizer uma ou duas boas palavras, mas isso era tudo; não podia executar nada bom; se sua salvação tivesse dependido de uma vida ativa de serviço, certamente que nunca poderia ter sido salvo. Como pecador que era, não podia exibir um arrependimento duradouro do pecado, pois tinha curtíssimo tempo para viver. Não podia ter experimentado uma amarga convicção de seus atos, que tivesse durado meses e anos, pois seu tempo estava medido em instantes, e estava à beira da sepultura. Seu fim estava muito perto, e contudo, o Salvador o pôde salvar, e o salvou tão perfeitamente que antes do pôr-do-sol, estava no paraíso com Cristo.
Este pecador, que não pude descrever com cores demasiadamente negras, foi um que creu em Jesus, e confessou sua fé. Confiou no Senhor. Jesus era um homem, e assim ele lhe chamou; mas também soube que era o Senhor, e assim lhe chamou e disse: “Senhor, lembra-te de mim”. Tinha tal confiança em Jesus que se tão somente o Senhor pensasse nele, se tão-somente o recordasse quando chegasse ao seu reino, isso seria o que pediria dele. Ah, meus queridos leitores! A inquietude que sinto por alguns de vocês é que sabem tudo acerca do Senhor, e contudo não confiam nele. A confiança é o ato salvador. Há alguns anos estavam no ponto de confiar realmente em Jesus, mas agora seguem tão distantes dele como estavam então. Este homem não titubeou: se agarrou a essa única esperança. Não guardou em sua mente a segurança no Senhor como Messias como uma crença seca, morta, senão que a transformou em confiança e oração, “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Oh, que muitos de vocês possam confiar neste dia, na infinita misericórdia do Senhor! Seriam salvos, estou seguro que seriam: se vocês, ao confiarem Nele não são salvos, eu mesmo teria que renunciar a toda esperança. Isto é tudo o que nós temos feito: temos visto, e temos vivido, e continuamos vivendo porque vemos ao Salvador vivente; oh, que esta manhã, ao sentir o pecado, vejam a Jesus, confiando nele, e confessando essa confiança! Reconhecendo que Ele é Senhor para a glória de Deus Pai, vocês devem e serão salvos.
Como consequência de ter esta fé que o salvou, este pobre homem disse uma oração humilde porém apropriada, “Senhor, lembra-te de mim”. Isto não parece que seja pedir muito, mas como ele o compreendeu, é tudo o que um coração ansioso poderia desejar. Ao pensar no reino, tinha uma tão clara idéia da glória do Salvador, que sentiu que se o Senhor tão somente pensasse nele, seu estado seria salvo. José na prisão, pediu ao copeiro do rei que se lembrasse dele quando o rei restaurasse seu posto; porém o copeiro o esqueceu. Nosso José nunca esquece um pecador que clama a Ele dentro do mais profundo calabouço; em seu reino recorda os lamentos e queixas dos pobres pecadores oprimidos pelo sentimento de seu pecado. Não podes orar nesta manhã, e desta maneira assegurar-te um lugar na memória do Senhor Jesus?
Assim intentei descrever ao homem, e depois de ter feito o melhor que pude, falharei em meu propósito a menos que os faça ver que qualquer coisa que este ladrão tenha sido, não é senão uma descrição do que vocês são. Especialmente se foram grandes pecadores, e se viveram muito tempo sem se preocuparem pelas coisas eternas, são como este malfeitor; e contudo, vocês, sim, vocês, podem fazer o que o ladrão fez; podem crer que Jesus é o Cristo e encomendar suas almas em suas mãos, e Ele os salvará tão seguramente como salvou ao bandido condenado. Jesus com graça abundante disse: “Ao que vem a mim, de maneira alguma o lançarei fora”. Isto significa que se vocês vêm e confiam Nele, não importa o que sejam, Ele, por nenhuma razão, e sob nenhum fundamento, nem circunstância, os lançará fora. Compreendem esse pensamento? Sentem que lhes pertence, e que, se vão a Ele, encontrarão vida eterna? Me regozijo se já percebem esta verdade.
Há poucas pessoas que tenham tanto trato com almas abatidas e desesperadas como eu. Pobres rejeitados me escrevem continuamente. Apenas sei o motivo. Não tenho um dom especial para consolar, mas com gosto me inclino a reconfortar aos afligidos, e parece que eles sabem. Que alegria tenho quando vejo a um desalentado que encontrou a paz! Tive esta alegria várias vezes durante a semana que acaba de terminar. Quanto desejo que alguns de vocês, que têm o coração destroçado, porque não podem encontrar perdão, quisessem vir ao meu Senhor, e confiar Nele, e descansar! Ele não disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu os aliviarei”? Venham e o ponham à prova, e o descanso será de vocês.

II. Em segundo lugar, OBSERVEM QUE ESTE HOMEM FOI O COMPANHEIRO DE NOSSO SENHOR NA PORTA DO PARAÍSO. Não vou especular quanto ao lugar para onde foi nosso Senhor quando abandonou o corpo que estava pregado na cruz. Por algumas Escrituras parece que desceu ao centro da terra, para que pudesse cumprir todas as coisas. Mas Ele atravessou rapidamente as regiões dos mortos. Recordem que Ele morreu, talvez uma hora ou duas antes do ladrão, e durante esse tempo a glória eterna brilhou através do mundo subterrâneo, e estava fulgurando através das portas do paraíso justo quando o ladrão perdoado entrava no mundo eterno. Quem é este que entra pela porta de pérolas ao mesmo tempo que o Rei da glória? Quem é este favorecido companheiro pelo Redentor? É um mártir digno de honra? É um fiel apóstolo? É um patriarca, como Abraão; ou um príncipe, como Davi? Não, nenhum deles. Vejam, e assombrem-se com a graça soberana! O que entra pela porta do paraíso, com o Rei da glória, é um ladrão, que foi salvo em um decreto de morte. Não é salvo de uma maneira inferior, nem é recebido na beatitude de um modo secundário. Verdadeiramente, há últimos que serão primeiros!
Aqui gostaria que notassem a condescendência da eleição de nosso Senhor. O camarada do Senhor da glória, por quem o querubim deixa des lado sua espada de fogo, não é uma grande pessoa, senão um malfeitor recentemente convertido. E por quê? Penso que o Salvador o tomou com Ele como um exemplo do que Ele queria realizar. Parecia dizer a todos os poderes celestiais: “Trago um pecador comigo; é uma amostra do restante”.
Vocês não ouviram  daquele que sonhou que estava em frente das portas do céu e enquanto estava ali, ouviu uma música doce de um grupo de veneráveis pessoas que seguiam seu caminho até a glória? Entraram pelas portas celestiais, e houve grande regozijo e exclamações. Ao perguntar: “quem são estes?”, lhe foi dito que eles eram a boa companhia dos profetas. Suspirou e disse: “Ai! Não sou um deles”. Esperou um pouco, e outro grupo de seres brilhantes se aproximou, e adentraram ao céu com aleluias, e quando perguntou: “Quem são estes e de onde vêm?”, a resposta foi: “Este é o glorioso grupo dos apóstolos”. Outra vez suspirou e disse: “Não posso entrar com eles”. Então veio outro grupo de homens com túnicas brancas e levando palmas em suas mãos, esses homens andaram em meio de grandes aclamações dentro da cidade dourada. Soube então que era o nobre exército dos mártires; e outra vez chorou, e disse: “não posso entrar com estes”. Ao final ouviu as vozes de muita gente, e viu uma multidão maior que avançava, entre os quais percebeu a Raabe e Maria Madalena, Davi e Pedro, Manassés e Saulo de Tarso, e observou especialmente ao ladrão, o que morreu à destra de Jesus. E foram se aproximando das portas celestiais. Então ansiosamente perguntou: “quem são estes?” E lhe responderam: “esta é a hoste de pecadores salvos pela graça”. Então se pôs extremamente contente, e disse: “eu posso entrar com estes”. Ainda que pensou que não haveria aclamações quando esta multidão chegasse ante as portas e que entrariam no céu sem cânticos; contudo, pareceu que se levantava um louvor sete vezes maior com aleluias para o Senhor do amor; porque há alegria entre os anjos de Deus pelos pecadores que se arrependem. Eu convido a qualquer pobre alma que não aspira servir a Cristo, nem sofrer por Ele todavia, que no entanto, venha à companhia de Jesus com outros pecadores crentes, pois Ele nos abre uma porta diante de nós.
Enquanto analisamos este texto, observem bem o bendito lugar ao qual o Senhor chamou a este penitente. Jesus disse: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Paraíso significa jardim, um jardim cheio de deleites. O jardim do Éden é o tipo do céu. Sabemos que paraíso significa céu, pois o apóstolo nos fala de um homem que foi arrebatado ao paraíso, e em seguida lhe chama o terceiro céu. Nosso Salvador levou este ladrão agonizante ao paraíso de deleite infinito, e é para ai onde levará a todos nós, pecadores que cremos nele. Se confiarmos nele, ao final estaremos com Ele no paraíso.
A seguinte palavra é ainda melhor. Notem a glória da sociedade na qual é introduzido este pecador: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Sim o Senhor disse, “Hoje estarás comigo,” não necessitamos que se agregue outra palavra; porque onde Ele está, é o céu para nós. Agregou a palavra “paraíso” para que ninguém se perguntasse para onde iria. Pensa nele, alma desprovida de graça; vais a habitar com o Todo Desejável para sempre. Vocês, pobres e necessitados, estarão com Ele em sua glória, em sua felicidade, em sua perfeição. Onde Ele está, e como Ele é, ai estarão e serão vocês. O Senhor olha esta manhã para os seus olhos chorosos, e diz: “Pobre pecador, tu estarás comigo um dia”. Penso ouvi-los dizer: “Senhor, essa é uma felicidade demasiadamente grande para um pecador como eu”; porém responde: “Te amei com um amor eterno, por conseguinte com misericórdia vou te atrair a mim, até que estejas onde eu estou”. A ênfase do texto está na rapidez de tudo isto. “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. “Hoje”. Não permanecerás no purgatório por gerações, nem dormirás no limbo por tantos anos; senão que estarás pronto de imediato para a alegria, e de imediato irá desfrutá-la. O pecador já estava quase ante às portas do inferno, mas a misericórdia todo poderosa o levantou, e o Senhor disse, “Hoje estarás comigo no paraíso”. Que mudança da cruz à coroa, da angústia do Calvário à glória da Nova Jerusalém! Nessas poucas horas o mendigo foi levado do esterco e foi posto entre príncipes. “Hoje estarás comigo no paraíso”. Podem medir a mudança desse pecador, abominável em sua iniquidade quando o sol estava no alto do meio-dia, a esse mesmo pecador, vestido de branco puro, e aceito no Amado, no paraíso de Deus, ao pôr-do-sol? Oh, Salvador glorioso, que maravilhas podes fazer! Quão rapidamente podes realizá-las!
Por favor, estejam advertidos também, sobre a majestade da graça do Senhor neste texto. O Salvador lhe disse? “em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. Nosso Senhor dá sua própria vontade como razão para salvar este homem. “Te digo”. O disse quem reclama o direito de falar assim. É Ele quem terá misericórdia de quem Ele quiser ter misericórdia, e terá compaixão de quem Ele quiser ter compaixão. Fala com majestade, “Em verdade te digo”. Acaso não são palavras imperiais? O Senhor é um Rei em cuja palavra há poder. O que Ele diz ninguém pode contradizer. Ele, que tem as chaves do inferno e da morte te diz, “Te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. Quem impedirá o cumprimento de Sua Palavra?
Vejam a certeza disto. Diz: “em verdade”. Nosso bendito Senhor na cruz retomou sua antiga maneira majestosa, quando dolorosamente volveu sua cabeça, e viu ao seu ladrão convertido. Ele sempre inicia sua prédica com, “Em verdade, em verdade”; e agora que está agonizando utiliza sua maneira favorita, e diz, “Em verdade”. Nosso Senhor não jurava; sua mais forte asseveração era, “Em verdade, em verdade”. Para dar ao penitente a mais simples segurança, disse, “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. Nisto tinha uma segurança absolutamente indisputável que ainda que tivesse que morrer, contudo viveria e se encontraria no paraíso com seu Senhor.
Desta maneira lhes mostrei que nosso Senhor passou pela porta de pérolas em companhia de um a quem Ele mesmo havia garantido a entrada. Por que você e eu não haveríamos de passar através dessa porta de pérolas a seu devido tempo, vestidos com Seu mérito, lavados em Seu sangue, descansando em Seu poder? Em um destes dias os anjos dirão de ti e de mim, “Quem é este que vem do deserto apoiando-se no Amado?” Os luminosos se assombrarão ao ver a alguns de nós indo. Se viveste uma vida de pecado até agora, e contudo te arrependes e entras no céu, que assombro haverá em cada rua dourada ao pensar que chegaste ali! Nos primeiros anos da Igreja Cristã, Caio Mário Vitorino[1] se converteu; porém havia alcançado uma idade tão avançada, e havia sido um tão grande pecador, que o pastor e a igreja duvidaram dele. Deu contudo uma clara prova de haver experimentado a transformação divina, e então houve grandes aclamações e muitos gritos de “Vitorino se converteu em cristão!” Oh, que alguns de vocês grandes pecadores possam ser salvos! Com quanto gosto me regozijaria por vocês! Por que não? Não seria para a glória de Deus? A salvação deste convicto assaltante de caminhos fez nosso Senhor ilustre por Sua misericórdia ainda neste dia; Não faria o mesmo caso de vocês? Não exclamariam os santos: “Aleluia! Aleluia!”, se ouvissem que alguns de vocês saíram da escuridão para a luz admirável? Por que não seria assim? Creiam em Jesus e assim será.
III. Agora chego a meu terceiro e mais prático ponto: NOTEM DE TUDO ISTO, O SERMÃO DO SENHOR PARA NÓS.
O demônio quer pregar um pouco nesta manhã. Sim, Satanás pede para passar à frente e pregar-lhes; mas não se pode permitir-lhe. Vai-te enganador! Contudo não me assombraria se ele se aproximasse de alguns de vós quando termine o sermão, e lhes diga em voz baixa: “Vejam que podem ser salvos no último momento. Adiem o arrependimento e a fé; podem ser perdoados em seu leito de morte”. Senhores, vocês sabem quem é o que quer arruinar-vos com esta sugestão. Aborreçam seu ensino enganador. Não sejam ingratos porque Deus é bondoso. Não provoquem ao Senhor porque é paciente. Uma conduta assim seria indigna e ingrata. Não corram um risco terrível simplesmente porque alguém escapou ao perigo tremendo. O Senhor aceitará a todos os que se arrependam; mas como sabem vocês que vão se arrepender? É verdade que um ladrão foi salvo, mas o outro se perdeu. Um é salvo, e portanto não podemos nos desesperar; o outro está perdido, e portanto não podemos nos vangloriar. Queridos amigos, confio que vocês não estão feitos de tão diabólica substância como para tirar da misericórdia de Deus um argumento para continuar no pecado. Se vocês o fazem, somente lhes posso dizer que a vossa perdição será justa; a haverão atraído sobre vocês mesmos.
Considerem agora o ensino de nosso Senhor; vejam a glória de Cristo na salvação. Está pronto para salvar no último momento. Já estava morrendo; seu pé estava no umbral da casa do Pai. Então chega este pobre pecador, ao final da noite, na undécima hora, e o Salvador sorri e manifesta que não entrará se não for com este tardio vagabundo. Aí mesmo na porta declara que esta alma que o busca entrará com Ele. Houve muito tempo para que Ele tivesse vindo antes: vocês sabem como podemos dizer: “Esperaste até o último momento. Já me vou, e não posso atender-te agora”. Nosso Senhor tinha as angústias da morte sobre Ele, e contudo atende ao criminoso que perece, e lhe permite passar através do portal celestial em Sua companhia. Jesus salva com muita facilidade aos pecadores pelos quais Ele morreu com tanta dor. Jesus ama resgatar aos pecadores de sua queda no poço. Estarás muito feliz se fores salvo, mas não estarás nem na metade de felicidade como Ele estará quando te salvar. Vejam quão terno Ele é!

“Sua mão nos leva ao trono,
Nenhum terror vistes à sua frente;
Nem raios para lançar nossas almas culpadas
Às ferozes chamas do inferno”.
Se achega a nós cheio de ternura, com lágrimas em seus olhos, misericórdia em suas mãos, e amor em seu coração. Creiam que é um grande Salvador de grandes pecadores. Ouvi de alguém que havia recebido grande misericórdia que dizia: “Ele é um grande perdoador;” e gostaria que vocês dissessem o mesmo. Vocês verão suas transgressões apagadas, e os vossos pecados perdoados de uma vez para sempre, se vocês confiam nele.
A seguinte doutrina que Cristo prega desta maravilhosa história é a fé que se apropria da promessa. Este homem creu que Jesus era o Cristo. O que fez a seguir foi apropriar-se desse Cristo. O ladrão lhe disse: “Senhor, lembra-te de mim”. Jesus poderia ter dito: “O que tenho eu que ver contigo, e o que tens tu a ver comigo? O que tem que ver um ladrão com o Ser perfeito?” Muitos de vocês, boas pessoas, tratam de afastarem-se tanto quanto possam dos que erram e dos caídos. Poderiam contaminar sua inocência! A sociedade nos exige que não estejamos em términos de familiaridade com as pessoas que ofenderam suas leis.
Não devemos ser vistos associados com eles, porque cairíamos no descrédito. Bobagens infames! O que nos pode desacreditar, pecadores como somos, tanto por natureza como pela prática? Se nos conhecemos diante de Deus, não estamos suficientemente degradados em nós mesmos e por causa de nós mesmos? Depois de tudo, há alguém no mundo que seja pior do que nós quando nos vemos no espelho fiel da Palavra?
Tão pronto como um homem crê que Jesus é o Cristo, que se firme Nele. No momento que creias que Jesus é o Salvador, agarra-te a Ele como teu Salvador. Se me lembro bem, Agostinho chamou a este ladrão “Latro Laudabilis et Mirabilis,” um ladrão para ser louvado e admirado, que se atreveu, por assim dizer, a tomar para si ao Salvador como seu. Nisto deve ser imitado. Toma ao Senhor para que seja teu, e o terás. Jesus é propriedade comum de todos os pecadores que se atrevem a tomá-lo. Todo pecador que tem o desejo de fazê-lo pode levar para sua casa ao Senhor. Ele veio ao mundo para salvar aos pecadores. Tomem-no pela força, como os que roubam tomam seu despojo;porque o reino do céu sofre a violência da fé que se atreve. Agarre-o, e Ele nunca se separará de ti. Se confias Nele, deve te salvar. Estejam advertidos sobre a doutrina da fé em seu poder imediato.

“No momento que um pecador crê,
E confia em seu Deus crucificado,
Recebe de imediato seu perdão,
Redenção completa por Seu sangue”.

“Hoje estarás comigo no paraíso”. Assim que crê, Cristo sela sua fé com a segurança completa de que estará com Ele para sempre em sua glória. Oh, queridos corações, se vocês creem nesta manhã, serão salvos nesta manhã! Que Deus lhes conceda, por sua rica graça, que venha a salvação aqui, neste lugar, e de imediato!
O seguinte é, a proximidade das coisas eternas. Pensem nisto por um minuto. O céu e o inferno não são lugares distantes. Podem estar no céu antes de outro “tic” do relógio, está tão perto. Que possamos rasgar esse véu que nos separa do desconhecido! Tudo está ali, e tudo perto. “Hoje,” disse o Senhor; no máximo de três ou quatro horas, “estarás comigo no paraíso;” está tão perto. Um estadista nos deu a expressão de estar “em uma distância medível”. Todos estamos dentro de uma distância medível do céu e do inferno; se há alguma dificuldade em medir a distância, descanse em sua brevidade mais que em sua longitude.

“Um suave suspiro rompe as cadeias,
Apenas podemos dizer, se foi,
Antes que o espírito redimido,
Tome sua mansão próximo ao trono”.
Oh, que nós, no lugar de aceitar com leviandade estas coisas, porque parecem tão distantes, as tomassemos solenemente em conta, pois estão tão próximas! Este mesmo dia, antes que se ponha o sol, algum ouvinte, sentado neste lugar, pode ver em seu próprio espírito as realidades do céu e do inferno. Tem ocorrido frequentemente nesta congregação tão grande, que alguém de nossa audiência tenha morrido antes que chegasse o seguinte Domingo; pode ocorrer esta semana. Pensem nisto, e que as coisas eternas lhes impressionem ainda mais devido a sua proximidade.
Mais ainda, saibam que se creram em Jesus estão preparados para o céu. Pode ser que tenham que viver na terra por vinte, ou trinta, ou quarenta anos para glorificar a Cristo; e, se assim é, agradeçam o privilégio; mas se não vivem uma hora a mais, essa morte instantânea não alteraria o fato de que quem crê no Filho de Deus está pronto para o céu. Seguramente se algo fosse necessário além da fé para nos tornarmos dignos do paraíso, o ladrão teria sido retido um pouco mais de tempo aqui; mas não, ele está na manhã em sua natureza, ao meio-dia entra no estado de graça, e ao anoitecer está no estado de glória. A pergunta nunca é, se um arrependimento no leito de morte é aceito se é sincero. A pergunta é: É sincero? Se assim é, se o homem morre cinco minutos depois de seu primeiro ato de fé, está tão seguro como se houvesse servido ao Senhor por cinquenta anos. Se tua fé é verdadeira, se morres um momento depois que creste em Cristo, serás admitido no paraíso, ainda que não tenha desfrutado de tempo para produzir boas obras e outras evidências da graça. Ele que lê o coração lerá tua fé escrita nas tábuas de carne, e te aceitará por meio de Jesus Cristo, ainda que nenhum ato de graça se tenha feito visível aos olhos dos homens.
Concluo dizendo outra vez que este não é um caso excepcional. Comecei com isso, e com isso quero terminar, por haver tantos falsos pregadores do evangelho, terrivelmente temerosos de pregar a graça imerecida com plenitude. Li em algum lugar, e creio que é verdadeiro, que alguns ministros pregam o evangelho da mesma maneira que os asnos comem espinhos, ou seja, muito, mas muito cuidadosamente. Pelo contrário, eu pregarei atrevidamente. Não tenho a menor apreensão acerca deste assunto. Se alguém de vocês faz mau uso do ensino da graça gratuita, não o posso impedir. Aquele que será condenado pode arruinar-se por perverter o evangelho como por outra coisa qualquer. Não posso impedir o que os corações baixos possam inventar; mas o meu intuito é pregar o evangelho em toda a sua plenitude de graça, e assim o farei.
Se o ladrão foi um caso excepcional, e nosso Senhor não atua usualmente desta maneira, haveria uma indicação de um fato tão importante. Teria sido posto um cerco de proteção para esta exceção a todas as regras. Não teria dito o Salvador tranquilamente ao moribundo: “És o único a quem tratarei desta maneira”? “Não o menciones, pois senão terei muitos me assediando”. Se o Salvador quisesse que fosse um caso solitário, lhe teria dito em baixa voz: “Não deixes que ninguém saiba; mas hoje estarás no reino comigo”. Não, nosso Senhor falou abertamente, e os que estavam ao redor ouviram o que disse. Ademais, o inspirado escritor o assentou assim. Se fosse um caso excepcional, não teria sido escrito na Palavra de Deus. Os homens não publicam suas ações nos periódicos se sentem que ao registrá-las podem conduzir outros a esperar o que não podem dar. O Salvador fez que esta maravilha da graça se reportasse nas notícias diárias do evangelho, porque Ele quer repetir essa maravilha a cada dia. O todo será igual a amostra, e por isto lhes põe frente à amostra a cada um de vocês. Ele é capaz de salvar por completo, pois salvou ao ladrão que agonizava. O caso não teria sido exposto para alentar esperanças que Ele não poderia cumprir. Todas as coisas escritas então, foram escritas para que aprendêssemos e não para que nos desalentássemos. Por isso, lhes rogo, se alguns de vós todavia não estão confirmados no meu Senhor Jesus, venham e confiem Nele agora. E então cantarão comigo:

“O ladrão agonizante se regozijou ao ver,
Essa fonte em seu dia,
E ali eu também, tão vil como ele,

Lavei todos os meus pecados.









7 - O Caminho da Salvação

Por Charles Haddon Spurgeon

“Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” Atos 4.12

É uma circunstância muito feliz, quando os servos de Deus estão preparados a transformar tudo por conta de seus ministérios. Neste momento o Apóstolo Pedro foi chamado, perante os sacerdotes e Saduceus – Os chefes dessa nação – para respondê-los por ter curado um homem que era coxo de nascença. Enquanto considerava esse caso de cura, ou se eu posso usar a expressão, esse caso de salvação temporal, o Apóstolo Pedro teve esse pensamento sugerido a ele. “Enquanto eu estou levando em consideração a salvação desse homem da condição de coxo, Eu tenho uma ótima oportunidade para mostrar a essas pessoas o caminho de salvação da alma, que de outra forma não nos ouviriam”.  Então ele prosseguiu do menor para o maior, da cura do membro do homem para a cura da alma do homem. E tendo os informado uma vez que foi pelo nome de Jesus Cristo que aquele homem impotente foi feito um homem inteiro, ele agora anuncia aquela salvação – a grande salvação, deve ser trabalhada do mesmo modo.  – “Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”.
Que grande palavra é essa, a palavra salvação. Ela inclui a limpeza de nossa consciência de toda culpa do passado e a libertação da nossa alma de toda aquela propensão ao mal que tão fortemente predominava em nós. Ela se entende, na verdade, para a destruição de tudo o que Adão fez. Salvação é a total restauração do homem de seu estado de caído. E ainda é algo a mais que isso, a Salvação de Deus determina uma condição mais segura do que nós sentíamos antes – ela nos encontra quebrados em pedaços pelos pecados do nosso primeiro pai – contaminados, sujos e amaldiçoados. Ela primeiro cura nossas feridas, ela remove nossas doenças, ela leva embora nossa maldição; ela coloca nossos pés sobre a Rocha, Jesus Cristo, e tendo feito isso, ela levanta nossa cabeça bem mais alto sobre todos os principados e potestades, para sermos coroados para sempre com Cristo, o Rei dos Céus! Algumas pessoas, quando elas usam a palavra, “salvação” não entendem nada mais que livramento do Inferno e admissão no Céu. Agora, isso não é salvação – essas duas coisas são efeitos da salvação! Nós fomos redimidos do inferno porque fomos salvos e entramos no céu porque antecipadamente fomos salvos. Nosso estado eterno é o efeito da salvação em nossas vidas. Salvação, é verdade, inclui tudo isso porque a salvação na verdade é a mãe dessas coisas e as carrega no interior do seu coração, mas ainda assim é errado para nós pensar que essas coisas são todo o significado da palavra. A Salvação começa com as pessoas vagueando como ovelhas. Ela nos acompanha nesse caminho complexo. Ela coloca-nos nos ombros do pastor. Ela leva-nos para o aprisco. Ela reúne os amigos e vizinhos. Ela se regozija conosco. Ela preserva-nos no aprisco por meio da vida! E então por último ela nos traz para os pastos verdes do Paraíso – ao lado das águas tranquilas da felicidade – onde descansamos para sempre na presença do Pastor Chefe, nunca mais seremos perturbados.
Agora nosso texto nos fala que só há um único caminho de salvação. “Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4.12). Antes de tudo, eu introduzirei a Verdade negativa que Deus ensina aqui, em outras palavras, não há salvação fora de Cristo.  E então, secundariamente, a verdade positiva que Deus infere, em outras palavras, há salvação em Jesus Cristo pelo qual importa que sejamos salvos.

I. Primeiro, então, UM FATO NEGATIVO, “Não há salvação em nenhum outro”. Você percebeu a intolerância da Religião de Deus? Em tempos antigos o gentio, que tinha deuses diferentes, respeitava os deuses do seu vizinho. Por exemplo, o rei do Egito confessaria que os deuses de Nínive eram deuses verdadeiros e reais e o príncipe da Babilônia reconheceria que os deuses dos filisteus eram reais e verdadeiros.  Mas Jeová, o Deus de Israel, colocou como um de seus primeiros Mandamentos, “Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20.3).  E ele não permitiria a eles prestar o mais leve respeito a deuses de outras nações. “Mas derribareis os seus altares, quebrareis as suas colunas e cortareis os seus postes-ídolos” (Êxodo 34.13). Todas as outras nações eram tolerantes – uma com as outras – mas os judeus não poderiam ser. Uma parte de sua religião era: “Ouve, Israel, O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Deuteronômio 6.4). E a consequência dessa crença, de que havia só um Deus, e que esse Deus único era Jeová era que eles sentiam a obrigação de chamar todos os outros deuses por apelidos, para cuspir em cima deles, para tratá-los com ofensa e desprezo. Se você aplicar a um Bramam o conhecimento de um caminho para a salvação, ele provavelmente te dirá que uma vez que as pessoas seguirem suas religiões com convicções sinceras, serão indubitavelmente salvas. “Há”, ele diz, “ Os Muçulmanos – se eles obedecerem Maomé e sinceramente acreditarem no que ele ensinou sem dúvidas – Alá ira glorificá-los no final”. Então, o Bramam volta-se para o missionário Cristão e diz – “Qual a finalidade, de você trazer seu cristianismo aqui para nos perturbar? Eu digo que nossa religião é totalmente capaz de nos levar para o paraíso se nós formos fiéis a ela”. Agora só ouçam o texto – Quão intolerante é a religião Cristã – “Não há salvação em nenhum outro”. O Bramam pode admitir que existe salvação em 50 religiões junto a sua, mas nós não admitimos coisa semelhante! Não há salvação verdadeira fora de Jesus Cristo! Os deuses dos gentios podem nos aproximar com falsa caridade e dizer-nos que todo homem pode seguir as convicções da própria consciência e ser salvo. Nós respondemos – “Nada disso! Não há salvação em nenhum outro – porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.”
Agora, o que vocês supõem ser a causa para essa intolerância – se eu posso usar essa palavra novamente? Eu acredito que é porque só existe a verdade de Deus tanto para o Judeu como para o Cristão. Uns mil erros podem viver em paz uns com outros, mas a verdade de Deus é o martelo que quebra todos esses erros em pedaços! Milhares de religiões mentirosas podem dormir pacificamente em uma cama – mas em todo lugar a religião cristã chega como a verdade de Deus. É como um tição e não tolera nada que é mais substancial que a madeira, como o feno e a palha do erro carnal. Todos os deuses dos gentios e das outras religiões são nascidos no inferno e, então, são filhos do mesmo pai, pareceria errado que eles deveriam cair, reprovar e lutar! Mas a religião de Cristo é criatura de Deus – seu pedigree vem do alto e, então, uma vez que ela é empurrada em meio a essa geração incrédula e rebelde, não há nenhuma paz, nem discussão, nem tratado – pois é a Verdade de Deus, que não se pode permitir ser emparelhada com erro – ela ergue-se sobre seus próprios direitos e declara ao erro que nele não há salvação – mas na verdade de Deus, e na verdade de Deus somente, a salvação pode ser encontrada.
Novamente – e é porque nós temos o castigo de Deus. Seria impróprio para qualquer homem que tivesse declarado um credo de si próprio declarar que todos os outros que não acreditam nisso devessem ser condenados. Seria uma impressionante disposição de condenar e inveja cega que nos permitiria sorrir. Mas desde que a religião de Cristo é revelada dos próprios céus – Deus que é o autor da própria Verdade – tem o direito de anexar a essa verdade a terrível condição que, quem quer que seja rejeitar, irá perecer sem misericórdia! E ele pode proclamar que separado de Cristo nenhum homem pode ser salvo. Nós realmente não somos intolerantes com nós mesmos, mas ecoamos as Palavras dEle que fala dos Céus e que declara que amaldiçoado é o homem que rejeita essa religião de Cristo, visto que não há salvação fora dEle. “Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”
Agora, eu ouço uma ou duas pessoas dizendo, “Você imagina então, que ninguém pode ser salvo separado de Cristo?” Eu respondo, eu não imagino, mas eu tenho aqui em meu texto claramente ensinado! “Bem mas,” diz um, “Em relação a morte de crianças? Não morrem as crianças sem um pecado real? Elas são salvas? E se são, como?” Eu respondo, elas são salvas, sem dúvidas – todas as crianças morrendo na infância são levadas para o Terceiro Céu de glória eternamente!  Mas anote isso – nenhuma criança foi salva separada da morte de Cristo. Jesus Cristo comprou com seu sangue todos os que morreram na infância. Elas são todas regeneradas, não em pequena quantia, mas provavelmente no momento de suas mortes uma maravilhosa mudança passa por suas vidas pela respiração do Espírito Santo. O sangue de Jesus é aplicado, e eles são lavados de toda corrupção original que herdaram dos seus pais – e dessa forma, lavados e purificados, eles entram no reino dos Céus. De outra forma, amados, não estariam aptas a participar da canção eterna. Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados” (Ap 1.5c) Se as crianças não forem lavadas no sangue de Cristo, elas não podem participar da canção universal que perpetuamente circunda o Trono de Deus! Nós acreditamos que elas todas são salvas – cada uma delas sem exceção – mas não separadas do grande Sacrifício do Senhor Jesus Cristo.
Outros dizem, “Mas e os gentios? Eles não conhecem Cristo – alguns dos gentios são salvos?” Anotem, as Santas Escrituras dizem alguma coisa concernente à salvação dos gentios, mas pouco. Há muitos textos nas escrituras que nos levam a inferir que todos os gentios irão perecer. Mas há alguns outros textos, que de outro modo, levam-nos a acreditar que alguns dos gentios, conduzidos pelo Espírito secreto de Deus, estão procurando Ele no escuro.  Pelo Seu Espírito eles se esforçam a descobrir uma coisa que eles não poderiam descobrir na natureza.  E pode ser que o Deus de infinita Misericórdia que ama suas criaturas, esteja contente em fazer essas revelações em seus próprios corações. Revelações misteriosas e secretas em relação às propriedades do Céu – então mesmo eles podem ser feitos participantes do sangue de Jesus Cristo – sem ter uma visão tão aberta como a que nós recebemos – sem comtemplar a Cruz visivelmente elevada e Cristo exposto entre eles. Foi observado que em muitas ilhas pagãs antes dos missionários estarem lá, havia um forte desejo pela religião de Cristo. Nas Ilhas Sandwich, antes de nossos missionários irem para lá, havia uma estranha comoção na mente daqueles pobres bárbaros. Eles não sabiam o que era isso, mas eles tiveram um súbito descontentamento com a sua idolatria e depois tiveram um profundo desejo de algo maior, melhor e mais puro do que qualquer coisa que eles tinham descoberto até então. E tão logo, quando Jesus foi pregado eles com vontade largaram toda a sua idolatria e se colocaram sobre Ele, para Ele ser a sua força e salvação deles! Agora nós acreditamos que isso foi o trabalho do Espírito de Deus secretamente inclinando essas pobres criaturas a buscá-lo. E nós não podemos dizer que em alguns locais isolados onde nós pensamos que o evangelho nunca foi pregado, não pode haver algum panfleto isolado, algum capítulo da Bíblia, algum verso solitário do Escrito sagrado lembrado o qual pode servir suficiente para abrir olhos cegos e guiar esses pobres corações ignorantes aos pés da cruz de Cristo! Mas uma coisa é certa – nenhum gentio, de qualquer forma moral – seja na velha filosofia ou no tempo presente de seu barbarismo – jamais entrou ou poderia entrar no Reino dos Céus separado do nome de Jesus Cristo “Não há salvação em nenhum outro” Um homem pode procurá-lo e trabalhar de sua própria maneira, mas não é possível encontrá-lo, “porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.”
Mas depois de tudo, meus queridos amigos, é muito melhor – quando estamos lidando com esses assuntos – não falar de maneira especulativa, mas falar pessoalmente a nós mesmos. E deixe-me agora te perguntar essa questão – Você já provou por experiência a verdade desse grande fato negativo, que não há salvação em nenhum outro? Eu posso falar o que eu sei e testificar o que eu tenho visto quando eu declaro solenemente na presença dessa congregação que é mesmo assim! Uma vez eu pensei que havia salvação em boas obras e eu trabalhei duro e diligentemente me esforcei para preservar um caráter de integridade e sinceridade. Mas quando o espírito de Deus veio ao meu coração “reviveu o pecado, e eu morri.”(Rm 7.9c) O que eu pensava ser bom, provou ser mal – De maneira que eu pensava ser santo – eu me descobri como não santo. Eu descobri que minhas melhores ações eram pecaminosas. Que minhas lágrimas a serem choradas e minhas muitas orações precisavam do perdão de Deus! Eu descobri que eu estava buscando salvação pelas obras da lei – que eu estava fazendo todas as minhas boas obras por um motivo egoísta – em outras palavras salvar a mim mesmo e, então, elas não poderiam ser aceitáveis a Deus. Eu descobri que eu não poderia ser salvo por boas obras por duas razões muito boas. Primeiro, eu não tinha nenhuma, e segundo, se eu tivesse, elas não poderiam me salvar! Foi depois disso que eu entendi que a salvação poderia ser obtida de uma certa forma por reforma e de uma certa forma por confiar em Cristo. Então eu trabalhei duro novamente e pensei que se eu adicionasse umas poucas orações aqui e ali, algumas lágrimas de penitência e algumas promessas de melhora, tudo estaria bem. Mas depois de trabalhar por muitos dias enfadados, como um cavalo cego trabalhando em um moinho, eu achei que não havia mais, mas ainda estava lá, a maldição de Deus, pairando sobre mim. “Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las.” (Gl 3.10b). E ainda havia um vazio doloroso em meu coração, que o mundo não poderia preencher – um vazio de agonia e preocupação – em mim que estava dolorosamente perturbado porque eu não conseguia alcançar o descanso que minha alma desejava! Você tentou desses dois modos chegar ao Céu? Se você tentou, eu confio no Senhor, no Espírito Santo, que fez seu coração doente, porque você nunca entraria no Reino do Céu pela porta correta até você primeiramente ser levado a confessar que todas as outras portas estão barradas em seus dentes! Nenhum homem virá até Deus pelo caminho estreito e apertado até que ele tenha tentado todos os outros caminhos – e quando nós nos descobrimos gastos, frustrados e derrotados – então pressionados por uma necessidade dolorosa, nós nos entregamos à fonte aberta e nós nos lavamos e nos tornamos limpos.
Talvez tenhamos aqui alguns que estão tentando ganhar a salvação por cerimônias. Você foi batizado na infância. Você toma regularmente a Ceia do Senhor. Você está presente em sua igreja ou capela. E se você ficar sabendo de outras cerimônias você estará presente nelas. Ah, meus queridos amigos, todas essas coisas são palha diante do vento na questão da salvação! Elas não podem te ajudar a dar um passo em direção a aceitar a Pessoa de Cristo. Construir sua casa com água é como construir sua salvação com pobres coisas como essas. Elas são boas o bastante para você quando você é salvo, mas se você procura salvação nelas, elas serão para você como poços sem água, nuvens sem chuva, árvores secas, duas vezes mortas, arrancadas pelas raízes! Qualquer que seja seu caminho de salvação – porque há milhares de invenções do homem pelas quais eles procuram se salvar! Qualquer que seja ele, ouça a sentença de morte dela a partir desse versículo “Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”
II. Agora, isso me leva ao FATO POSITIVO o qual é inferido no texto, em outras palavras, há salvação em Jesus Cristo, certamente, quando eu faço esse enunciado, eu posso exclamar em seguida a canção dos anjos e dizer “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem.”(Lucas 2.14) Aqui há milhares de misericórdias unidas em uma, nesse doce, doce fato – que há salvação em Jesus Cristo! Eu me esforçaria agora para dividir com qualquer alma aqui presente que mantém uma dúvida em relação a sua salvação em Jesus Cristo. Eu queria destacar e dirigir a você carinhosamente e seriamente, eu quero me esforçar para mostrar-lhe que você ainda pode ser salvo e que em Cristo há salvação para você!
Eu conheço você pecador! Você tentou encontrar o caminho para o Céu e o perdeu. Você realizou milhares de truques deslumbrantes para enganar-se, e mesmo assim, nunca conseguiu uma base sólida de conforto para os seus pobres pés cansados. E agora, cercados pelos seus pecados você não é capaz de erguer os olhos. A culpa está como um fardo pesado em suas costas, e seus dedos estão em seu lábios para você não ousar gritar por perdão. Você tem medo de falar sob pena de sua própria boca que você deve ser condenado! Satanás murmura em seus ouvidos “Tudo está sobre você – não há misericórdia para quem é como você – você está condenado e condenado você deve ser! Cristo é capaz de salvar muitos, mas não de salvar você.” Pobre alma! O que eu devo lhe dizer, além disso – venha comigo a cruz de Cristo e você verá lá uma coisa que ira remover sua incredulidade! Você vê aquele Homem pregado naquele madeiro? Você conhece Essa Personalidade? Ele está sem mancha, ou defeito ou qualquer coisa assim. Ele não era ladrão para ter morrido uma morte criminosa – Ele não era um assassino nem um criminoso para ele ter sido crucificado entre dois malfeitores. Não – Sua origem era pura, sem um pecado. E Sua vida era Santa, sem uma falha! Da Sua boca procediam somente bênçãos. Suas mãos eram cheias de boas ações e Seus pés eram rápidos em relação a atos de misericórdia. Seu coração era branco, com Santidade! Não havia nada Nele que um homem poderia culpar. Mesmo Seus inimigos, quando procuraram acusá-Lo, encontraram falsas testemunhas, e mesmo delas “os depoimentos não eram coerentes”(Mc 14.56b). Você O vê morrendo? Pecador, deve haver mérito na morte de um Homem como Aquele! Sem um pecado próprio, quando ele é colocado para sofrer – deve ser pelos pecados de outros homens! Deus não iria afligi-Lo e fazê-Lo sofrer se Ele não merecesse isso. Deus não é o tirano que esmagaria o inocente! Ele não é alguém não Santo que puniria um homem justo. Ele sofreu, então, pelos pecados de outros-
“por pecados não os seus,
ele morreu para expiação”
Pense na pureza de Cristo e então veja se não há salvação Nele. Olhe agora para si mesmo, com toda a escuridão, e olhe para a Sua Brancura. Olhe para si mesmo com toda a sua contaminação e olhe para a Sua Pureza. E você olha para a Sua pureza como o Lírio e você vê o vermelho de Seu sangue transbordando, deixe esse murmúrio ser ouvido em seus ouvidos – Ele é capaz de te salvar, pecador, na medida em que ele foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança” ainda Ele esteve “sem pecado” (Hb 4.15). Então o mérito de seu sangue deve ser grande. Oh, que Deus nos ajude a crermos nEle!
Mas essa não é a coisa magnífica que deveria recomendá-lO a você. Lembre, Ele que morreu naquela cruz é nada menos que o eterno Filho de Deus! Você vê Ele lá? Venha, torne seus olhos mais uma vez para Ele. Você vê suas mãos e pés gotejando fluxos de sangue? Aquele Homem é o Deus todo-poderoso. Aquelas mãos que estão pregadas na madeira são mãos que podem balançar o mundo! Naqueles pés que estão furados, se Ele tiver vontade de colocá-los adiante, tem uma potência de força que pode fazer as montanhas derreter abaixo de seus passos. Aquela cabeça, agora oprimida em angústia e fraqueza, tem a sabedoria da Cabeça de Deus que com seu aceno pode fazer o universo tremer. Ele que está pendurado naquela cruz é Ele sem o qual nada do que foi feito existiria – por Ele todas as coisas consistem – Produtor, Criador, Protetor, Deus da providência e Deus da Graça – Ele que morreu por você é Deus sobre tudo, santificado para sempre. E agora, pecador, em um Salvador com Esse há algum poder para salvar? Se ele fosse um mero homem, um Cristo Sociniano ou Ariano, eu não ofereceria minha confiança Nele. Mas como Ele não é nenhum outro senão Deus, Ele mesmo, Encarnado em carne humana, eu te suplico, lance-se nele -
“Ele é capaz, ele está disposto, sem mais dúvidas”
Ele é capaz de salvar totalmente, então venha a Deus por Ele.
Você lembrará, novamente, como uma consolação a mais na sua fé, você pode acreditar que Deus o Pai aceitou o Sacrifício de Cristo? È a fúria do Pai a maior causa que você tem para tremer – o Pai está irado contra você, porque você pecou e ele prometeu com uma maldição que Ele iria puni-lo por suas ofensas! Agora Jesus morreu em lugar de cada pecador que se arrependeu ou mesmo irá se arrepender. Jesus Cristo foi colocado como seu substituto e seu bode expiatório. Deus, o Pai, aceitou o Cristo em lugar de pecadores! Oh, isso não deveria levá-lo a aceitá-lo. Se o Juiz aceitou o sacrifício, certamente você pode aceitá-lo também! E se Ele está satisfeito – certamente você também pode estar contente. Se o Credor escreveu um perdão da dívida livre e completo – você o pobre devedor pode regozijar-se e acreditar que esse perdão da dívida é lhe satisfatório para porque é satisfatório para Deus. Mas você pode me perguntar como eu sei que Deus aceitou a expiação de Cristo. Eu lembro a você que Jesus ressuscitou dos mortos. Cristo foi colocado na prisão do túmulo depois que ele morreu, e lá Ele esperou até Deus aceitar a expiação.
“Se Jesus nunca tivesse pagado a dívida Ele nunca teria sido libertado”
Cristo estaria no túmulo esse mesmo dia se Deus não tivesse aceitado Sua expiação para nossa justificação! Mas o Senhor olhou do Céu e Ele avaliou o trabalho de Cristo e disse consigo Mesmo, “Muito Bom. É o suficiente.” E virando-se para um anjo disse “Anjo, meu filho está confinado em uma prisão, um refém para meus eleitos. Ele pagou o preço. Eu sei que ele não quebrará a prisão por si Mesmo – vá anjo, vá e role aquela pedra da porta do sepulcro e O liberte.” Voou  abaixo o anjo e rolou a pedra pesada. E levantando das sombras da morte o Salvador viveu! “Ele morreu e ressuscitou para nossa justificação.” Agora, pobre Alma, você entende que Deus aceitou a Cristo – Então certamente, você pode aceitá-lo e crer nele!
Um outro argumento que talvez possa se aproximar de sua própria alma é esse – muitos que foram salvos são tão desprezíveis como você,  então, há salvação! “Não,” você diz, “ninguém é tão desprezível como eu.” È uma misericórdia da qual você pensa desse modo, no entanto é quase certo que outros que foram salvos foram tão imundos como você. Você foi um perseguidor? Sim, mas você não teve mais sede de sangue do que Saul! E ainda aquele chefe de pecadores se tornou o chefe dos santos! Você foi um praguejador? Você amaldiçoou o Todo-poderoso em Sua Face? Sim. E tais foram alguns de nós que levantamos nossas vozes em oração e nos aproximamos de Seu trono com aceitação. Você foi um bêbado? Sim, assim como muitos do povo de Deus foram por muitos dias ou por muitos anos – mas eles abandonaram sua podridão e se voltaram ao Senhor com pleno propósito de coração. No entanto é grande o seu pecado, eu te digo, homem, mulher, alguns tão afundados no pecado como você foram salvos! E se ninguém que foi salvo foi tão grande pecador como você, então uma razão muito maior porque Deus deve te salvar – Ele pode ir além de tudo aquilo que ele mesmo já fez! O Senhor sempre se alegra em fazer maravilhas. E se você permanece o chefe dos pecadores, um pouco a frente de todo o resto, eu creio que Ele irá se alegrar em salvar você – que as maravilhas de Seu amor e de Sua Graça podem ser mais notoriamente conhecidas! Você ainda diz que é o chefe dos pecadores? Eu te digo que eu não acho isso. O chefe dos pecadores foi salvo anos atrás – esse foi o Apóstolo Paulo – mas mesmo se você excedesse-o – ainda aquela palavra vai um pouco além de você! “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus” (Hb 7.25a) Lembre, Pecador, se você não encontrar salvação em Cristo, será porque você não procurou-o, porque ela certamente está lá. Se você irá perecer sem ser salvo pelo sangue de Jesus Cristo, não será por ausência de poder no sangue para te salvar, mas completamente por ausência de vontade de sua parte – que você não crerá nele, mas de forma libertina e intencional rejeitou Seu sangue para sua própria destruição! Tome cuidado consigo mesmo, porque certamente como não há salvação em nenhum outro, tão certamente há salvação Nele.
Eu posso voltar-me a mim mesmo e lhe dizer que certamente deve haver salvação em Cristo para você assim como eu encontrei salvação em Cristo para mim. Frequentemente eu tenho dito que eu nunca vou duvidar da salvação de ninguém, enquanto eu posso, somente sabendo que Cristo me aceitou. Oh, quão escuro era o meu desespero quando pela primeira vez eu procurei seu Propiciatório! Eu pensava que se ele tivesse misericórdia do mundo todo, Ele ainda nunca teria misericórdia de mim! Os pecados da minha infância e adolescência me assombravam. Eu procurei me livrar deles um por um, mas eu fui pego em uma rede de ferro de maus hábitos e eu não podia pôr fim neles. Mesmo quando eu renunciava meu pecado a culpa ainda aderia em minhas roupas. Eu não poderia tornar a mim mesmo limpo! Eu orei por três longos anos. Eu dobrei meus joelhos em vão, e procurei, mas não encontrei misericórdia. Mas, no fim, abençoado por Seu nome, quando eu tinha desistido de toda esperança e pensava que sua fúria rapidamente me destruiria e que a sepultura do inferno abriria sua boca e me engoliria, no tempo em que eu cheguei ao meu limite Ele se manifestou e me ensinou a me lançar simplesmente e completamente a Ele! Assim será com você – somente confie Nele, porque há salvação Nele – descanse assegurado disso. Todavia, para apressar sua diligência, Termino referindo que, se você não encontrar a salvação em Cristo, lembre-se que você nunca irá encontrá-la em outro lugar. Que terrível coisa será se você perder a salvação provida por Cristo. “como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb 2.3a) Hoje, muito provavelmente, eu não estou falando para muito dos mais rudes pecadores, ainda eu sei que estou falando para alguns dessa classe. Mas sejamos nós rudes pecadores ou não – quão terrível coisa será para nós morrermos sem primeiro ter encontrado interesse no Salvador.
Oh Pecador! Isso deveria te apressar em ir ao propiciatório. Lembre que se você não encontrar misericórdia em Jesus você não encontrará em nenhum lugar mais. Se os portões do céu nunca se abrirem para você, lembre que não há nenhum outro portão que possa ser aberto para sua salvação! Se Cristo recusar você, você é recusado! Se seu sangue não for borrifado em você, você está perdido, sem dúvida. Oh, se ele mantém você esperando um pouco, continue em oração. É digno esperar por – especialmente quando você tem este pensamento mantendo-o esperando, ou seja que não há esperança em nenhum outro, nenhum outro caminho, nenhuma outra esperança, nenhuma outras base de confiança, nenhum outro refúgio. Lá eu vejo os portões do céu, e se eu devo entrar, eu devo rastejar em minhas mãos e joelhos porque é um portão baixo. Lá eu vejo, é estreito e apertado, eu devo deixar atrás de mim meus pecados, minha justiça e meu orgulho e devo rastejar por aquela portinhola. Venha pecador, o que você diz? Você vai além por esse portão apertado e estreito, ou você vai desprezar a vida eterna e arriscar a felicidade eterna? Ou você vai passar humildemente esperando aquele que deu a si mesmo por você, te aceitou e te salvou agora e eternamente.
Tomara que essas poucas palavras tenham poder para atrair alguns para Cristo e assim fico contente. “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (At 16.31b)  “porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” Amém.  Amém!









8 - Uma Cura Tríplice para um Mal Tríplice

Existem três principais defeitos no homem desde a queda:

Há ignorância e cegueira.

Há rebelião na vontade e afeições.

E no que diz respeito à sua condição, em razão dos pecados da natureza e da vida, há a sujeição a um estado amaldiçoado, sob a ira de Deus e à condenação eterna.

Agora, para responder a estes três grandes males, aquele que deve ser ordenado Salvador deve fornecer remédios adequados para os mesmos. Por isso há um tríplice ofício em Cristo, que é ordenado para salvar o homem, para curar esses três males citados.

Como somos ignorantes e cegos, ele é um profeta para nos instruir, para nos convencer do mau estado em que estamos, e, então, para nos convencer do bem que ele designou para nós, e que tem feito por nós, para nos instruir em todas as coisas para o nosso  conforto eterno. Ele é um profeta que não somente nos ensina externamente, mas o nosso homem interior. Ele abre o coração, ele ensina a fazer as coisas que ele ensina. Os homens ensinam o que devemos fazer, mas não podem nos capacitar interiormente a fazê-las. Ele é um profeta que tanto nos ensina o que fazer, como também a amar e obedecer,etc.

E responde à rebelião e pecaminosidade de nossas disposições, ele é um rei para dominar tudo o que está mal em nós, e também para subjugar todos os poderes que se opõem em nós. Pouco a pouco ele vai subjugando todos os inimigos debaixo de seus pés, e sob os nossos pés, também, dentro de pouco tempo.

Agora, como nós fomos amaldiçoados por causa de nossa condição pecaminosa, por isso ele é um sacerdote para satisfazer à ira de Deus contra nós. Ele foi feito maldição por nós, Gál 3.13. Ele se tornou um servo, para que, sendo assim, ele pudesse morrer, e se submeter à morte de maldição na cruz, não somente uma morte, mas uma morte amaldiçoada, e por isso o seu sangue pode ser uma expiação, e ele um sacerdote. Assim, respondendo ao tríplice mal em nos, você pode ver aqui um tríplice ofício em Cristo.

Tradução feita pelo Pr Silvio Dutra de parte de um texto de Richard Sibbes, em domínio público.









9 - Como as pessoas serão salvas? (1)

Por John Piper

Romanos 10.13–21:

"Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação, com gente insensata eu vos provocarei à ira. E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim. Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente."

A relevância deste texto é imensa para a compreensão de como podemos ser salvos da ira de Deus e do domínio do pecado, tendo esperança de eterna alegria em Deus. É enorme para a compreensão de como seus filhos ou pais ou irmãos e irmãs ou vizinhos ou colegas ou povos não alcançados do mundo serão salvos. O processo de vir à fé e à salvação é aqui exposto como em nenhum outro lugar. Hoje enfocamos uma parte dos versos 14-17.

Antes de ler, lembre o que Paulo acabara de dizer. Ele enfatizou que não há distinção entre judeu e gentio no gozo das riquezas da glória de Deus. Ambos, sem distinção, desfrutarão a plenitude da salvação de Deus se invocarem o nome do Senhor. Romanos 10.12-13, “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.

O problema que Paulo está enfrentando em Romanos 9 e 10 é principalmente a incredulidade de Israel, por que aconteceu e por que isso não diminui a fidelidade e confiabilidade de Deus. O que Paulo faz nos últimos versículos do capítulo 10 de Romanos é dizer que a razão que a maior parte de Israel não partilha da salvação é que não crê na vinda do Messias, Jesus. É o que Paulo dirá nos versículos 16 e 21.

Será bom ler esses dois versículos. No versículo 16b, lemos: “Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação?” Noutras palavras, ele chama a Isaías como testemunha, do capítulo 53 verso 1, de que muito poucos há que crêem naquilo que ele proclamou – e o que proclamou, visto naquele capítulo, é a vinda de Cristo e seus sofrimentos e ressurreição, bem como a doutrina da justificação. Assim, seu destaque no verso 16b é que muito poucos judeus creram. Semelhantemente, no verso 21, Paulo cita Isaías 65.2 onde Deus diz: “Estendi as mãos todo dia a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, seguindo os seus próprios pensamentos”.

No próximo capítulo, falaremos mais a respeito da incredulidade de Israel em vista da soberania de Deus e doutrina da eleição ensinada por Paulo no capítulo nove. Mas, para agora, observe apenas que o ponto principal de Romanos 10.14-21 é ressaltar novamente a incredulidade de Israel como sendo a razão por que eles não estão usufruindo as bênçãos da salvação.

Talvez alguém faça a objeção de que Deus não tivesse deixado claro os pré-requisitos da salvação. Quem sabe Israel (e implicitamente, também os gentios) não creram porque não possuem o que necessitam para se responsabilizarem por crer. Paulo remove essa objeção dando os passos de salvação que se aplicam aos judeus como também a qualquer outra pessoa. Argumenta ele que esses passos realmente estavam colocados diante de Israel.

Hoje, contudo, enfocamos os passos em si, a fim de saber o que é necessário para nos tornar parte do plano de Deus para nossa salvação, e a de nossos familiares e amigos, bem como as nações que não têm o evangelho.

Vejamos novamente os versículos 14-17.

Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anun-ciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.

Quando Paulo diz, “Como são bonitos os pés dos que anunciam a paz,” ele cita Isaías 52.7. O ponto tem dois aspectos.

Os portadores das Boas Novas são Preciosos e Belos

Primeiro, os pregadores do evangelho – portadores das boas novas de Deus – são tão preciosos que vemos até mesmo seus pés sujos e sangrentos como sendo bonitos. Pés formosos não são os macios, de pedicuro feito, bem-cuidados, bronzeados. Lindos pés são aqueles pés sujos, cansados, enrugados, duros como couro, cheios de cicatrizes de caminhar muitos quilômetros em lugares remotos com as boas novas que de outra forma não seriam ouvidas. O primeiro ponto na citação de Isaías 52.7 é este: os anunciadores de boas novas são pessoas preciosas – das quais o mundo não é digno – belos por seus corpos desgastados no serviço do Rei Jesus. Paul Brand, médico missionário na Índia, disse que sua mãe missionária tirou todos os espelhos da casa quando ele falou que por volta dos 70 anos de idade ela tinha uma aparência envelhecida. Nos últimos 20 anos de sua vida missionária (quando ela estava na casa dos noventa) ela nunca mais teve um espelho em sua casa nas montanhas da Índia. Quando ela morreu, as pessoas de vilarejos por toda aquela região montanhosa se juntaram para enterrar uma mulher belíssima.

Deus enviou pessoas com as boas novas

Outro ponto, quando dizemos “Quão formosos são os pés daqueles que pregam boas novas,” é que realmente Deus tem enviado pessoas com as boas novas. As condições foram cumpridas para responsabilizar Israel por crer e clamar ao Senhor pela salvação.

Vejamos quais são essas condições dadas a Israel, que deverão ser cumpridas onde quer que alguém seja salvo. Paulo menciona cinco passos. Vamos tomá-los em ordem reversa da que ele usa nos versos 14-15, mencionando-os na ordem em que ocorrem:

O pregador tem de ser enviado;
O pregador enviado tem de pregar as boas novas;
As boas novas pregadas têm de ser ouvidas;
As boas novas ouvidas têm de ser cridas;
A crença tem de ser uma fé que clame a Deus pela salvação.
Enviar, pregar, ouvir, crer, chamar por Deus – é disso que falam os versículos 14 e 15, mas o verso 17 acrescenta uma coisa mais específica. Depois de citar Isaías 53.1 no versículo 16 (“Senhor, quem creu em nossa pregação?”), Paulo repete três dos cinco passos da salvação, tornando um deles mais explícito: “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”.

Temos, portanto a repetição de três passos: crer (fé), ouvir, pregar. Mas aqui a pregação é definida: “da palavra de Cristo.” Entendo que isso signifique a palavra de Cristo. É o mesmo evangelho que Paulo pregou em todo o livro de Romanos. É a palavra de Romanos 10.9: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.

Temos então: 1) enviar para pregar, 2) pregar o evangelho de Jesus Cristo, 3) ouvir o evangelho de Cristo, 4) crer neste Cristo, 5) chamar o Senhor Cristo para a salvação. Tomemos um de cada vez, aplicando-os a nossa situação se pudermos. Vamos para trás na ordem dada por Paulo. Neste ponto cobriremos dois aspectos.

Invocar o Senhor

“Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Romanos 10.13). Por que Paulo menciona clamar pelo Senhor como algo que precisa acontecer após crer no Senhor? Não somos justificados pela fé tão-somente?

Penso que a razão pela qual Paulo menciona “invocar o Senhor”, somado ao “crer no Senhor” é porque tem em mente uma salvação maior do que a simples justificação. Penso que inclui toda a experiência de libertação, não somente da culpa do pecado, mas também do poder do pecado e das muitas tentações e provações, bem como do inferno e da ira de Deus no último dia. Deus ordenou que fôssemos justificados pela fé, mas que expressássemos essa fé repetidamente por toda nossa vida, de mil maneiras clamando ao Senhor por libertação e ajuda.

Vemos isso repetido muitas vezes nos salmos e nos evangelhos. Salmo 50.15: “Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” Salmo 91.15: “Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livrá-lo-ei e o glorificarei”. Salmo 145.18: “Perto está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade”. Deixo ainda um exemplo da vida de Jesus. O cego Bartimeu ouviu dizer que Jesus estava vindo e começou a clamar: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” E Jesus lhe disse: “O que você quer que eu faça?” O cego respondeu: “Rabi, que eu veja.” Ao que Jesus disse: “Vai a tua fé te salvou” (Marcos 10.46-52). Jesus viu a invocação de Bartimeu como evidência de sua fé e até mesmo aponta essa fé como tendo sido decisiva.

Paulo vê a questão da salvação aqui como as bênçãos totais provenientes de ter Jesus como Senhor por toda sua vida e pela eternidade. É a salvação de Romanos 8.28 – todas as coisas contribuem juntamente para o nosso bem – para sempre. Diz ele ainda que essa bênção vem quando invocamos o Senhor. É assim que devemos viver nossa vida. Temos de clamar ao Senhor continuamente.

Na verdade, em 1 Coríntios 1.2 , Paulo define o cristão desse modo. Escreve “à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”. É o que define ser cristão: “os que invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. Você o invoca? Às vezes, as pessoas perguntam se podemos orar a Jesus. Bem, Paulo define o cristão como uma pessoa quê ora continuamente a Jesus: “Senhor Jesus, estou fraquejando. Ajuda-me”! “Senhor Jesus, estou perdido e confuso, guia-me”. “Senhor Jesus, estou preso numa teia de tentação e pecado – liberta-me”. É o que significa ser cristão.

Isso nos leva ao segundo dos cinco passos que Paulo indica em direção da salvação – indo para trás…

Crer no Senhor

Versículo 14: “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” Talvez você responda: “Muitas pessoas invocam o Senhor nas emergências mas não crêem nele. As horas mais comuns de ouvir nome de Deus ou de Jesus Cristo fora da comunidade religiosa é quando a pessoa bate o martelo no dedo ou tem um acidente de carro. Tais “chamados” não são de fé. São de ira e de emergências. Não existe neles verdadeiro amor por Cristo. Cristo é apenas um paramédico habilidoso. Bem que poderá desaparecer na noite depois de ter feito meu curativo.

Mas tal ambigüidade fica esclarecida muito rapidamente por Paulo. Na verdade, já esclareceu. O chamado que tem em mente é um chamado a Jesus Cristo como Senhor – nosso Senhor, não o estranho que aparece para nos tirar de uma enrascada e desaparece na noite. Romanos 10.9 deixa isso bem claro: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. O chamado que salva é invocar a Jesus como Senhor. Por isso que Paulo pergunta: “Como invocarão aquele em que não creram?” Até que tenhamos crido em Jesus como Senhor, não poderemos invocá-lo como Senhor.

Aqui fica bem fazer quatro observações sobre a fé – sobre crer – para então salvar o restante do texto para a próxima semana.

A primeira observação que acabamos de ver, muito relevante quanto ao modo errado como muitos aprenderam a descrever sua conversão e crescimento na vida cristã, é:

1) A fé salvadora crê em Jesus como Senhor e o chama Senhor desde o começo.

Vemos isso principalmente em Romanos 10.9: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. Se você não confessa Jesus como Senhor, você não está salvo. Romanos 10.9 deixa claro que o “Senhor” a quem invocamos nos versos 12 e 13 é o Senhor Jesus. É isso que a fé salvadora faz. Invoca a Jesus como Senhor.

Algumas pessoas foram ensinadas que sua experiência deva ser interpretada desta maneira: aceitei Jesus como meu Salvador, e não mudou muita coisa. Mais tarde, eu me entreguei a ele como Senhor, e aconteceram mais mudanças. Essa não é uma descrição bíblica do que realmente aconteceu. Mais bíblico seria dizer: confiei em Cristo, mas entendia muito pouco sobre sua grande salvação e reinado soberano em minha vida. Era imaturo na fé e em meus afetos por Cristo. Mais tarde, tive experiências que abriram meu coração cada vez mais às riquezas de Cristo como poderoso Senhor e belo Salvador, e cada vez mais de minha vida se conformou a ele.

Para alguns, isso ocorre em uma série de eventos de crise; para outros, acontece aos poucos e sem grandes crises. Mas será errado afirmar que exista fé salvadora onde não houver submissão a Jesus como Senhor. A fé salvadora é fé no “Senhor Jesus Cristo,” mesmo se no começo entendemos muito pouco.

2) A segunda observação quanto à fé salvadora é que ela crê nos fatos. É mais que crer nos fatos, mas não é menos que isso.

Isto também fica claro por Romanos 10.9: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. A ressurreição de Jesus dos mortos é um fato histórico. Realmente aconteceu no tempo e no espaço históricos. A fé salvadora crê nisso. Essa é a razão pela qual a fé em Jesus como Senhor e Salvador é fraca em tantas pessoas. A fé tem suas raízes nos fatos, e para muitos os fatos são desconhecidos. Os evangelhos estão aí para nos dar os preciosos fatos com todo seu significado pessoal e poderoso. Mas os fatos são básicos e essenciais. A fé salvadora crê nos fatos, vendo-os como fatos que revelam a glória de Deus.

3) A fé salvadora é mais do que acreditar em fatos – é também confiança pessoal no que esses fatos significam: que Cristo me salvou e cumprirá em mim todas as promessas salvadoras de Deus, incluindo a alegria eterna junto dele.

Tiago 2.19 diz: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem”. Os demônios crêem que o Filho de Deus encarnou, viveu uma vida perfeita como Cordeiro imaculado de Deus, que morreu pelos pecadores, ressurgiu dos mortos, reina e um dia os lançará a todos no lago de fogo. Tal crença não lhes adianta nada, pois são inimigos de Jesus. Eles crêem e tremem.

A fé salvadora repousa sobre os fatos. Descansa! Repousa. Sente segura e “em casa”. A fé salvadora experimenta na alma confiança de que tais fatos pagaram minha dívida e providenciaram minha justiça, abrindo para mim o paraíso. A fé salvadora é um repouso confiante no fato de Deus me salva.

No próximo capítulo, falaremos sobre como ocorre essa confiança. Fica claro aqui que acontece mediante a palavra. Versículo 17: “A fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Cristo.” Se você estiver em lutas, coloque-se dentro da palavra – o caminho de ouvir a mensagem da cruz. Ouvir o evangelho de Cristo crucificado e ressurreto é o meio que Deus usa para nos dar confiança de que somos salvos por essa palavra.

4) Finalmente, a fé salvadora inclui uma satisfação espiritual por tudo que Deus fez por nós em Jesus.

Pode chamar isso de elemento emocional, ou afetivo, ou uma prova espiritual que deleite seu coração com Cristo. Ou pode chamar esse aspecto da fé de valorização ou entesouramento de Cristo. Não importa o nome que dá. É uma parte essencial da fé.

Poderia levá-lo a vários lugares para ver isso mais claramente. Por exemplo, Filipenses 3.7-9 onde Paulo diz que considera todas as coisas como lixo em comparação com o valor insuperável do conhecimento de Jesus como seu Senhor. Isso é ver Cristo como tesouro. É estimar sua beleza e seu valor. Faz parte dessa fé que salva. Certamente temos de crescer nisso. Mas sempre existe uma semente disso na fé salvadora.

Ou podemos ver João 6.35 onde Jesus declara: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”. Isso significa que crer em Jesus é encontrar nele o pão da vida e a água viva que satisfaz os mais profundos anseios de minha alma.

Portanto, a fé salvadora não é apenas crer nos fatos, nem somente confiança de que tudo vai sempre contribuir para o meu bem, mas também um senso espiritual de que esse “bem” é o próprio Jesus Cristo, e possuí-lo é melhor do que a vida.







10 - Como as pessoas serão salvas? (2)

Por John Piper

Romanos 10:13–21:

"Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação, com gente insensata eu vos provocarei à ira. E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim. Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente."(Romanos 10.13-21)

Neste capítulo vamos prosseguir no estudo de Romanos 10.13-21 tendo em visto o meio que Deus usa para operar a salvação. Ressaltei no capítulo anterior que após a morte e ressurreição de Jesus por nossos pecados, existem cinco coisas que Deus começa a colocar no lugar para que as pessoas sejam salvas. Paulo as men- ciona nos versículos 13-15: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?”

Portanto, a salvação vem de: 1) invocar a Cristo, 2) crer nele 3) ouvir o evangelho a seu respeito, 4) alguém que pregue a Cristo, 5) e Deus enviar o pregador.

No capítulo anterior, eu descrevi o que significa crer e invocar o Senhor. Voltarei a esse assunto adiante quando tratar dos três últimos entre esses cinco passos. Mas primeiro, há mais duas questões que este texto traz à frente. Uma é a incredulidade do povo de Israel, e a outra é a soberania de Deus em relação à responsabilidade humana. Trataremos destes antes de voltar ao assunto de ouvir, pregar e enviar.

A Incredulidade de Israel

Este tem sido o tema sofrido, de coração quebrantado, de Romanos 9 e 10 desde que começamos em Romanos 9.3, onde Paulo disse: “eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne”. É uma terrível realidade com a qual Paulo luta nos capítulos 9 e 10 de Romanos. Como entender, como explicar, como sentir e como responder à incredulidade e condição perdida do povo escolhido de Deus – Israel. Porque rejeitaram a Jesus como Salvador, Messias, Senhor e Tesouro – eles são anátema, cortados da vida eterna.

Paulo volta ao assunto muitas vezes. Romanos 9:27: “Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo”. Romanos 10.1-2, “Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos. Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento” Romanos 10.16: “Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação?” E o verso 21: “Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente”.

Este é o peso de Paulo até o final do capítulo 11. Observe esse capítulo começa: “Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim”. Noutras palavras, a presente descrença e rebeldia de Israel não é toda a história, nem é o final da história. Veja o aviso para nós cristãos gentios em Romanos 11.25: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios”.

Do começo até o final no trecho de Romanos 9-11 o peso de Paulo é: O que significa Israel ser incrédulo, rebelde contra seu Messias, amaldiçoado e separado de Cristo?

Uma das principais coisas que Paulo quer dizer nestes capítulos é que a incredulidade e perdição de Israel não significam que a palavra de Deus tenha falhado! Romanos 9:6 faz ressoar o sino central: “Não pensemos que a palavra de Deus haja falhado”. O primeiro argumento para esta verdade central está edificado sobre a doutrina da eleição soberana, gratuita, incondicional do capítulo 9. Noutras palavras, a condição perdida e de incredulidade de Israel não solapa os planos de Deus, porque ele é soberano sobre essa descrença, tendo-a incluído em seus planos desde o princípio. “Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão”. Assim, pois, não depende do esforço humano de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia (Romanos 9:15-16).

Alguns de nós temos sido abalados até as bases, no decorrer da vida, por essa verdade sobre a soberania de Deus acima da fé e da incredulidade do homem. Fugimos dela, fingimos que não está aí, argumentamos contra ela, choramos por ela, e finalmente, curvamos as cabeças e os corações diante dela, descobrimos que essa verdade é uma das pedras fundamentais mais firmes e profundas de nossa frágil fé. Vemos agora, tremendo de alegria, que sem ela não teríamos crido e não permaneceríamos até o fim para sermos salvos. Vemos isto de maneira especial no capítulo 9 de Romanos.

A Soberania de Deus em Relação à Responsabilidade do Homem

Hoje, aqui neste texto, sem perder de vista aquilo que ele voltará a tratar imediatamente no capítulo 11, Paulo diz algo crucial e muito diferente para equilibrar nosso modo de pensar quanto à soberania de Deus diante da incredulidade de Israel. Estou passando aqui para o segundo ponto deste estudo. O primeiro foi da incredulidade de Israel. O segundo é a soberania de Deus em relação à responsabilidade humana. Paulo diz que a incredulidade de Israel não é devida à ausência do que ela necessita para ser responsável por crer.

É este o ponto importante dos cinco passos dos versículos 14-15. Para ser salvo é preciso invocar a Cristo. Para invocá-lo, é preciso crer nele. Para crer, é necessário ouvir a palavra de Cristo. Para ouvir, é preciso que alguém proclame a mensagem de Cristo. E para proclamar com autoridade divina, o pregador tem de ser enviado por Deus. A razão de dizer tudo isso é enfatizar o seguinte ponto: isso aconteceu com Israel! Sendo assim, a sua incredulidade não é devida à ausência de qualquer coisa de que precise para ser responsável.

Veja o versículo 18: “Mas pergunto: Porventura, não ouviram?” Noutras palavras, “Tais condições de enviar e pregar e ouvir já não foram cumpridas?” Paulo responde: “Sim, por certo” e em seguida usa as palavras do Salmo 19.4 para enfatizar isso. “No entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo”.

Não tenho certeza se Paulo quer que entendamos essas palavras no contexto do Salmo (revelação geral na natureza) ou se apenas está usando as palavras (sem dizer que as está citando dentro do contexto) para enfatizar a ampla extensão do evangelho no mundo para que todo Israel ouça. Mas o ponto principal está bem claro: A mensagem de Cristo foi pregada a Israel, que a ouviu, po tanto Israel é responsável por sua incredulidade.

Paulo destaca isso nos versículos 19-20: “Eu pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação, com gente insensata eu vos provocarei à ira. E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim”. O fato de que gentios pagãos, incircuncisos, imundos, sem instrução, estavam crendo no Messias e herdando as promessas feitas a Israel ter sido predito por Moisés, e estar acontecendo ao redor deles deveria fazê-los despertar para a verdade do evangelho que estão rejeitando. Sua responsabilidade é maior em razão da resposta gentílica.

Ele o diz novamente no versículo 20: “E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim”. Noutras palavras, os gentios estão encontrando a salvação em Jesus Cristo, o Messias judaico, do jeito que Isaías profetizou. Estão sendo salvos somente pela fé, não por obras da lei. Isso tudo foi como um megafone tornando a mensagem da graça gratuita mediante o Messias Jesus compreensível a Israel.

Paulo mostra o triste resultado no verso 21: “Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente”. Ou seja, todas as profecias e tudo que deveria ser cumprido, bem como todo o evangelho que Israel ouviu não foi acreditado pela maioria deles.

Note, contudo, como Paulo descreve sua incredulidade. É muito diferente de Romanos 9. Ali ele disse: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (v. 15). Deus demonstra com absoluta soberania sobre a vontade e a incredulidade humana. Mas olhe e indague como Romanos 10.21 descreve a relação de Deus para com a incredulidade de Israel – e a nossa. Deus diz, “Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente”. Temos aqui um retrato de Deus instando, chamando, convidando, persuadindo mediante seus profetas e pregadores. Mas os ouvintes não creram – são rebeldes e contradizentes.

Minha meta neste capítulo não é analisar como isso acontece, mas insistir que todos nós acatemos o paradoxo da soberania de Deus e da responsabilidade do homem. O que é triste é que algumas pessoas acatam a soberania de Deus sobre a vontade humana e dizem: “É errado apresentar Deus de braços estendidos, convidando, chamando”. Outros abraçam a responsabilidade humana dizendo: “Se Deus convida, chama e conclama, então na verdade ele não pode ser soberano sobre a von- tade do homem, e em última instância o homem é que controla e determina para si o que quer, e Deus, na verdade, não controla todas as coisas”.

Ambas essas ideais são tristemente erradas. É triste porque um grupo rejeita algo profundo e precioso que Deus revelou sobre si para nosso fortalecimento, nossa esperança e alegria e amor – ou seja, sua absoluta soberania. Oh, como é doce quando tudo em nossa alma cede e precisamos da rocha confiável e firme num mundo que às vezes parece completamente sem controle, sem significado, totalmente cruel. Oh, como é suave nessas horas saber que Deus não é bom e incapaz, mas bom e soberano. O outro grupo (que abraça a soberania de Deus) às vezes deixa de ver como devemos instar com as pessoas e persuadi-las, convidá-las e “cortejá-las” com lágrimas, a Cristo, e em favor de Cristo.

Minha meta aqui não é explicar esse paradoxo mas simplesmente ressaltá-lo com três outros exemplos (existem ainda muito mais exemplos), com a esperança de que Deus abra a sua mente para submeter-se à palavra de Deus, quer consiga explicar isso, quer não.

Em Mateus 11.25, Jesus diz: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos”. E no versículo 28, diz ele: Ele escondeu essa verdade de alguns,e convida a todos.

Em João 6.35 diz ainda Jesus: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”. Mais adiante, ele ainda declara: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”.

Todos são convidados a vir a Cristo. O Pai dá alguns destes a Cristo.

Em Atos 13.38 Paulo disse na sinagoga de Antioquia: “Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos anuncia remissão de pecados por intermédio deste [Jesus]”...

E no verso 48. Lucas diz: “e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”. Todos que foram destinados para a vida eterna creram.” Todos são convidados a crer e receber o perdão dos pecados. Os que foram escolhidos para a vida realmente creram.

Deus é Deus. O homem não é o soberano final e ultimo sobre sua própria vida, Deus é. Deus é oleiro, nós somos o barro. “Mas por outro lado, Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”. (1Timóteo 2.4). Ele estende as mãos o dia todo aos judeus e gentios. Ele chama, conv da, insta.

Enviar, Pregar, Ouvir

Isso nos leva ao ponto final. Eu disse que terminaria voltando para os três passos dos cinco nos versículos 14-15 que não vimos no capítulo anterior. “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!”

Os primeiros dois pontos que vimos aqui se juntam para produzir o terceiro ponto. Primeiro, existe a incredulidade e a condição perdida de Israel – e do mundo sem Cristo. Segundo, existe o fato de que, embora Deus seja soberano sobre a alma humana, seja essa crente ou descrente, ele estende as mãos todo o tempo e para todos, quer crentes, quer descrentes – a seu povo judaico e gentílico, aos seus estudantes, seus idosos e seus jovens, solteiros ou casados, e a todos os grupos étnicos de perto e de longe.

Esses dois pontos se juntam, forçando a pergunta: como é ouvida a voz de Deus? Como as suas mãos estendidas são vistas? Como a sua paciência se torna conhecida? A resposta está no terceiro ponto: Ele envia os seus mensageiros e confia-lhes a mensagem da reconciliação (2 Coríntios 5.19), os quais abrem sua boca para proclamar: “ Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2 Coríntios 5.20). As pessoas ouvem o evangelho. E no evangelho, elas ouvem a Cristo chamando, convidando e atraindo.

Os mensageiros efetivos do evangelho são enviados por Deus. Falar sobre Cristo não é mero impulso humano. Deus abençoa mensageiros do evangelho que foram enviados por Deus. Tome cuidado aqui! Não diga: “Eu não fui enviado, portanto eu não falo”. Em vez disso, diga: “Eis-me aqui, Senhor, envia-me. Envia-me aos não alcançados. Envia-me às vizinhanças urbanas de minha cidade. Envia-me a atravessar a rua em meu bairro residencial que perece. Envia-me aos do escritório. Envia-me ao telefone hoje. Envia-me!”

Sim existe um chamado divino e um envio mais oficial e vocacional – é o que tenho como pastor vocacionado por minha igreja. Alguns de vocês têm ou terão essa espécie de chamado. Mas existem chamados e envios mais espontâneos, e ocasionais. Se Cristo habita em você, você experimentará isso. Vamos orar para que isso aconteça conosco cada vez mais:

Senhor, estou aqui, envia-me a mim. Abra minha boca com o evangelho. Que muitos ouçam, creiam, clamem pelo nome de Jesus e sejam salvos. Oh! como são belos sobre os montes os pés dos que anunciam as boas novas!








11 - O Livro sem Palavras

Por Charles Haddon Spurgeon

 “Lava-me, e ficarei mais branco do que a neve.” Salmo 51:7

Atrevo-me a dizer que a maioria de vocês já tomou conhecimento de um livreto que um velho teólogo sempre usava para estudar, e quando seus amigos se perguntaram sobre qual era o conteúdo do mesmo, ele lhes disse que esperava que todos o conhecessem e o entendessem, mas que não continha nem uma só palavra. Quando o revisaram, descobriram que só constava de três páginas: a primeira, que era negra, a segunda, que era vermelha, e a terceira que era completamente branca. O velho ministro sempre contemplava fixamente a folha negra para lembrar a si mesmo sua condição pecadora por natureza. Depois, contemplava a folha vermelha para trazer à memória o sangue precioso de Cristo. E depois olhava a folha branca que representava a perfeita justiça que Deus deu aos crentes, mediante o sacrifício expiatório de Seu filho Jesus Cristo.
Queridos amigos, quero que vocês leiam esse livro essa noite, e eu mesmo desejo lê-lo também. Que Deus o Espírito Santo, por misericórdia, nos ajude a fazê-lo para nosso proveito!

I. Primeiro, COMTEMPLEMOS A FOLHA NEGRA.
Há algo sobre isso no texto, pois a pessoa que usou essa oração disse: “Lava-me” – então, estava negro, e necessitava de limpeza – e a negrura era de um tipo peculiar, que necessitava de um milagre para ser limpa, de forma que se alguém que tinha estado negro se voltasse branco, o fosse de tal maneira que ficasse “Mais branco que a neve”.

Se considerarmos o caso de Davi, quando escreveu esse Salmo, veremos que estava muito enegrecido. Tinha cometido o horrível pecado de adultério, que é um pecado tão vergonhoso que só podemos nos referir a ele contendo a respiração. É um pecado que envolve muita infelicidade para outras pessoas, além também das que o comentem. É um pecado que, ainda que os culpados se arrependam, não se pode reverter. É um crime sobremaneira repugnante e atroz contra Deus e contra o homem, e aqueles que o tem cometido, verdadeiramente precisam ser lavados.
Porém, o pecado de Davi era ainda muito mais grave devido ás circunstâncias nas que ele se encontrava. Ele era como o proprietário de um grande rebanho, que não tinha nenhuma necessidade de tomar a única cordeirinha de seu vizinho, já que tinha muitas ovelhas. Em seu caso, o pecado era completamente inescusável, pois Davi sabia muito bem qual grande era esse mal. Ele era um homem que tinha se deleitado na lei de Deus, e meditava nela dia e noite. Portanto, conhecia o mandamento que expressamente proibia esse pecado. Assim que, quando pecou dessa forma, pecou como quem toma um gole de veneno, não por erro, mas sabendo muito bem quais seriam as consequências ao bebê-lo. Tratava-se de uma maldade intencionada por parte de Davi, para a qual não podia ter nem o mais mínimo atenuante.
Há, todavia, algo pior – Davi não só conhecia a natureza do pecado, também conhecia a doçura da comunhão com Deus, e deve de ter tido um claro sentido do que significaria para ele perdê-la. Sua comunhão com o Altíssimo tinha sido tão estreita, que ele era chamado “Um varão conforme o próprio coração de Deus”. Como cantou docemente de seu deleite no Senhor! Vocês sabem que, em seus momentos mais felizes, quando vocês querem louvar ao Senhor com todos seus corações, não podem usar melhores expressões do que as que Davi lhes deixou em seus Salmos. Quão horrível é que o homem que esteve no terceiro céu da comunhão com Deus, tenha pecado dessa forma tão detestável.
Mais ainda, Davi tinha recebido das mãos do Senhor muitas misericórdias providenciais. Não era mais que um pastorzinho que alimentava o rebanho de seu pai, como quando Deus o tomou e o fez rei sobre Israel. O Senhor também o livrou das garras do leão e do urso – capacitou-lhe para vencer e matar o gigante Golias, e para escapar da maldade de Saul, quando esse lhe caçava como a uma perdiz nos montes. O Senhor o preservou de muitos perigos e, ao fim o estabeleceu firme no trono. No entanto, depois dessas libertações e misericórdias, esse homem tão grandemente favorecido pelo Senhor caiu nesse tão vil pecado.
Também  constituía um agravo adicional que o pecado de Davi fosse cometido contra Urias. Se vocês lerem a lista dos valentes de Davi encontrarão ao fim, o nome de Urias, o heteu – ele esteve com Davi quando esse foi proscrito por Saul, e acompanhou a seu líder em suas fugas, participou em seus perigos e privações. Assim que, foi uma vergonhosa retribuição da parte do rei que roubasse a esposa de seu fiel seguidor, que estava naquele preciso momento, combatendo contra os inimigos do rei. Pesquisando ao longo de toda a Escritura, ou pelo menos em todo o Antigo Testamento, não sei onde exista algum registro de um pior pecado cometido por alguém que foi, não obstante, um verdadeiro filho de Deus. Assim, Davi tinha uma boa razão para implorar ao Senhor “lava-me”, pois de verdade estava negro com uma negrura especial e peculiar.
Porém, agora, deixemos Davi, e consideremos nossa própria negridão aos olhos de Deus. Será que não existe, meu querido amigo, alguma negridão peculiar em torno de seu caso como pecador diante de Deus? Eu poderia esboçar essa negrura, mas eu lhe peço que a relembre agora para que sua alma possa ser humilhada devido à lembrança. Talvez você seja filho de pais cristão, ou tenha sido alvo de jovens impressões religiosas, ou, quem sabe, que tenha sido favorecido especialmente por Deus de outras formas. No entanto, pecou contra Ele, tem pecado contra a luz e o conhecimento, pecou contra as lágrimas de uma mãe e as orações de um pai; pecou contras as admoestações e advertências de um pastor. Uma vez, esteve muito doente, e pensou que ia morrer, mas o Senhor perdoou sua vida, e lhe restaurou a saúde e o vigor – porém, você voltou outra vez para seus pecados, como o cão volta a seu vômito, ou a porca lavada a revolver-se em seu lamaçal. Possivelmente, se alarmou com um súbito sentido de culpa, de tal maneira que não pode desfrutar de seus pecados, mas, no entanto, não pode romper com eles. Gastou seu dinheiro naquilo que não era pão, e gastou seu esforço no que não lhe satisfaz, e, ainda assim, prosseguiu desperdiçando seu dinheiro em uma vida desenfreada até chegar à mendicância; porém, mesmo nessa condição, não detestou seu pecado. Na casa de Deus, recebeu muitas solenes advertências, e uma e outra vez regressou para casa resoluto a arrepender-se, mas suas resoluções logo se desvaneceram, assim como a névoa da manhã e o orvalho da alva, deixando-lhe mais endurecido que nunca
Eu me lembro de John B. Gough, no Exerter Hall, descrevendo-se em seus dias de embriaguez, como montou num cavalo selvagem que o levava apressadamente à sua destruição, até que uma mão mais poderosa que a sua tomou as rédeas, fez o cavalo se assentar sobre suas ancas, e resgatou o temerário cavalheiro. Era um quadro terrível, mas era uma representação fiel da conversão de alguns de nós. Como espancávamos esse selvagem cavalo, e o colocávamos a uma maior velocidade em sua louca corrida até que parecesse como se fossemos cavalgar por cima desse Ser clemente que tinha resolvido nos salvar! Isso era pecado, em verdade, não só contra os ditados de uma consciência iluminada, e contra as advertências que nos eram dadas de contínuo, mas antes, era o que o apóstolo chama de “pisotear ao filho de Deus, considerar o sangue do pacto como uma coisa profana, e desprezar ao Espírito de graça.”
Irmãos, antes que passem dessa página negra, permita-me exortá-los que a estudem diligentemente, e que tratem de compreender a negridão de seus corações e a depravação de suas vidas. Essa falsa paz que vem de considerar ligeiramente o pecado, é a obra de Satanás – desfaçam dela já, se ela infundiu-se em vocês. Não tenham medo de olhar para seus pecados – não fechem seus olhos ante eles, pois ocultar seus rostos para não vê-los poderia ser sua ruína, mas Deus ocultando Sua face deles, será sua salvação. Olhem para seus pecados e meditem neles, até que os conduzam até mesmo ao desespero.
“Como?” dizem alguns, “até que me conduzam a desesperar?” Sim – eu não me refiro a essa desesperação que brota da incredulidade, mas sim a essa que é quase semelhante à confiança em Cristo. Quanto mais Deus os capacite para ver o vazio de vocês, mais ávidos estarão de se valerem da plenitude de Cristo. Eu sempre comprovei que, conforme cresceu minha confiança em mim mesmo, minha confiança em Cristo diminuiu – e conforme minha confiança em mim mesmo diminuiu, minha confiança em Cristo aumentou. Então, eu exorto-lhes a que tenham uma visão honesta de sua própria escuridão de coração e de suas vidas, pois isso lhes fará que orem com Davi: “Lava-me, e serei mais branco que a neve.” Pesem-se nas balanças do santuário que nunca erram nem no mais mínimo grau. Não precisam exagerar nem um só elemento de suas culpas, pois tal como são, encontrarão mais pecado dentro de vocês se o Espírito Santo os capacite para se verem como vocês são realmente.

II. Porém, agora, temos de passar para segunda folha, A FOLHA DE COR VERMELHA-SANGUE DO LIVRO SEM PALAVRAS, que traz as nossas lembranças ao precioso sangue de Cristo.
Quando o pecador clama “Lava-me”, tem que existir alguma fonte de limpeza aonde possa ser lavado e ficar “mais branco que a neve.” E sim, existe, mas é somente o sangue carmesim de Jesus o que pode lavar a mancha carmesim do pecado. O que é o que existe sobre Jesus que o faz capaz de salvar a todos os que vêm a Deus por Ele? Esse é um assunto sobre o que os cristãos precisam meditar muito, e devem fazê-lo com frequência.
Tratem de entender, queridos amigos, a grandeza da expiação. Vivam muito tempo debaixo da sombra da cruz. Aprendam a –
“Contemplar o fluir
Do precioso sangue do Salvador,
Sabendo pela divina certeza
Que Ele tem feito sua paz com Deus.”
Sintam que o sangue de Cristo foi derramado por vocês, inclusive por vocês. Não estejam jamais satisfeitos até que aprendam o mistério das cinco chagas – jamais estejam contentes enquanto não “poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento .(Efésios 3:18)”
O poder de Jesus Cristo para limpar do pecado reside primeiro, na grandeza de Sua pessoa. Não é concebível que os sofrimentos de um simples homem, não importando qual santo ou grande poderá ter sido, expiasse os pecados da multidão inteira do povo escolhido do Senhor. Foi devido a que Jesus Cristo era uma das pessoas da Divina Trindade, devido que o Filho de Maria era nada menos que o Filho de Deus, devido que Aquele que viveu, trabalhou, sofreu e morreu, era o grandioso Criador, sem quem nada do que foi criado, foi feito, que Seu sangue tem tal eficácia que pode lavar e deixar tão limpos aos mais negros pecados, quem ficam “mais brancos que a neve.” A morte do melhor homem que tenha existido jamais poderia fazer uma expiação sequer por seus próprios pecados, muito menos poderia expiar a culpa de outros – mas quando Deus mesmo “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; (Filipenses 2.7)” e “achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.(v.8) ”, Não se pode colocar nenhum limite ao valor da expiação realizada por Ele.
Nós sustentamos firmemente a doutrina da redenção particular: que Cristo amou a Igreja, e se entregou a si mesmo por ela; mas nós não sustentamos a doutrina do valor ilimitado de Seu precioso sangue. Não pode haver nenhum limite para a Deidade; tem que existir um valor infinito na expiação que foi oferecida por Aquele que é divino. O único limite da expiação está em seu desígnio, e esse desígnio foi que Cristo desse a vida a todos quantos lhe foram dados pelo Pai; porém, em si mesma, a expiação seria suficiente para a salvação do mundo inteiro, e se a raça inteira da humanidade fora conduzida a crer em Jesus, haveria suficiente eficácia em Seu sangue precioso para limpar todo aquele nascido de mulher, de todo pecado que todo o conjunto deles jamais houvesse cometido.
Mas o poder do sangue limpador de Jesus radica também nos intensos sofrimentos que suportou a fazer expiação por Seu povo. Não houve jamais um caso como o do nosso precioso Salvador. No que consiste a Seus sofrimentos físicos, pode ter existido alguns que tenham suportado tanto como Ele, pois o corpo humano só é capaz de certa quantidade de dor e agonia, e outras pessoas junto com nosso Senhor alcançaram esse limite – porém, houve um elemento em Seus sofrimentos que nunca esteve presente em nenhum outro caso. O fato de que Sua morte foi no lugar, posição e em substituição de Seu povo, o único grande sacrifício pela totalidade de Seus redimidos, faz que Sua morte seja inteiramente única, de tal maneira que nem mesmo o mais nobre do exército de mártires pode participar da glória com Ele. Seus sofrimentos mentais também constituíram uma parte vital da expiação: os sofrimentos de Sua alma foram a essência mesma de Seus sofrimentos. Se você pode compreender a amargura da traição que Ele sofreu por um que tinha sido seu seguidor e amigo, e o abandono que experimentou por parte de todos os Seus discípulos, a acusação formal de sedição e blasfêmia diante das criaturas que Ele mesmo tinha criado – se puderem compreender o que foi para Ele, que não cometeu pecado, ser feito pecado por nós, e que fosse colocada sobre Ele a iniquidade de todos nós – se pudessem ter uma ideia de quanto aborrecia o pecado e se apartava dele, poderiam formar uma ligeira ideia do que Sua natureza pura sofreu por nossa culpa.
Nós não nos apartamos do pecado como Cristo o fazia, porque estamos acostumados a ele – uma vez foi o elemento no qual vivíamos, movíamos e existíamos – mas Sua natureza santa rejeita o mal assim como uma planta sensível se recolhe quando é tocada. Porém, Seus piores sofrimentos devem ter sido quando a ira de Seu Pai foi derramada sobre Ele, ao suportar o que Seu povo merecia suportar, mas agora jamais terá que suportar –
“As ondas da crescente dor
Batem contra Seu peito,
Montanhas de ira onipotente
Pesavam sobre Sua alma”
O fato que Seu Pai tenha escondido Seu rosto Dele te tal forma que clamasse em Sua agonia: “Deus meu, Deus meu, por quê me desamparaste?”, deve ter sido um autêntico inferno para Ele. Esse foi o tremendo gole de ira que nosso Salvador bebeu por nós até suas ultimas gotas, para que nosso copo não pudesse jamais ter nem um restinho de ira sequer sobrando. Deve de ter sido uma grande expiação, essa que foi comprada a um preço tão grande.
Podemos pensar na grandeza da expiação de Cristo de outra forma. Tem que ter sido uma grande expiação essa que tem transportado de forma segura a multidões de pecadores ao céu, e que tem salvado a tantos grandes pecadores e os tem transformado em refulgentes santos. Tem que ser uma grande expiação essa que há de levar ainda inumeráveis miríades à unidade da fé e a glória da igreja dos primogênitos, que estão inscritos no céu.
É uma expiação tão grande, pecador, que, se você confia nela, será salvo por ela sem importar quantos e quão graves poderiam ter sido seus pecados. Você tem medo de que o sangue de Cristo não seja potente o suficiente para limpar-lhe? Por acaso teme que Sua expiação não possa suportar o peso de um pecador como você?
Fiquei sabendo, outro dia, sobre uma mulher néscia de Plymouth, que durante um bom tempo não queria passar sobre a ponte de Saltash porque não a considerava segura. Quando, depois de ver o enorme tráfego que passava com segurança sobre a ponte, foi induzida a ter confiança nela, tremia muito por todo o tempo em que passava sobre nela, e não teve tranquilidade mental até que a deixou para trás. Claro que todo mundo riu dessa mulher, por pensar que essa estrutura tão sólida não pudesse suportar seu levíssimo peso.
Poderia ser que exista hoje nesse prédio algum pecador que tenha medo de que a grande ponte que a eterna misericórdia construiu a um custo infinito, através do abismo que nos separa de Deus, não seja suficientemente forte para suportar seu peso. Se for assim, permita-me lhe assegurar que através dessa ponte do sacrifício expiatório de Cristo, já cruzaram milhões de pecadores tão vis e corruptos como esse tal, e a ponte nem mesmo trepidou sob tal peso, e nenhuma de suas partes ao menos trincou ou jamais descolou.
Meu pobre amigo temeroso, sua ansiedade de que a grande ponte da misericórdia não seja capaz de suportar seu peso, me faz lembrar a fábula do pernilongo que pousou sobre a orelha de um touro, e depois estava preocupado porque o forte animal poderia se incomodar com seu “enorme” peso. É bom que você tenha uma vivida compreensão do peso de seus pecados, mas ao mesmo tempo, deve também entender que Jesus Cristo, em virtude de Sua grande expiação, não só é capaz de suportar o peso de seus pecados, mas também pode levar, e verdadeiramente já levou sobre seus ombros, os pecados de todos os que crerão Nele até o próprio fim dos tempos: levou-os à terra do esquecimento, onde jamais serão recordados ou recuperados. O sangue do pacto eterno é tão eficiente que mesmo você, assim sujo como está, pode orar como Davi: “Lava-me, e serei mais branco que a neve.”

III. Isso me leva à PÁGINA BRANCA DO LIVRO SEM PALAVRAS. “Lava-me, e serei mais branco que a neve.”
Que lindo espetáculo foi nessa manhã, quando olhamos para fora, e vimos o terreno todo coberto de neve! Todas as árvores estavam vestidas de prata; no entanto, é quase um insulto para a neve compará-la com a prata, pois a prata em seu nível mais brilhante não é digna de ser comparada com o maravilhoso esplendor que se podia ver em qualquer lugar em que as árvores pareciam adornadas com formosos festões, sobre a terra que estava vestida de seu puro manto branco. Se tivéssemos tomado um pedaço daquilo que chamamos de “papel branco” e o colocássemos sobre a superfície da neve recém caída, se teria descoberto repleto de sujeira ao comparar a folha com a neve imaculada. A cena dessa manhã trás imediatamente a minha mente o texto: “Lava-me, e serei mais branco que a neve.”
Oh, negro pecador, se você crê em Jesus, não só será limpo em Seu sangue precioso até converter-se em algo toleravelmente limpo, mas sim ficará branco, sim, você será: “mais branco que a neve.”
Quando contemplamos o puro branco da neve antes que fique suja, pareceu-nos como se não pudesse existir nada mais branco. Eu sei que quando estive nos Alpes, contemplei durante horas o deslumbrante branco da neve, e quase fui cegado por ela. Se a neve ficasse largo tempo sobre o terreno, e se toda a terra fosse coberta dela, prontamente todos nós ficaríamos cegos. Os olhos do homem sofreram também com sua alma através do pecado, e tal como nossa alma seria incapaz de suportar uma visão da pureza de Deus ao descoberto, assim nossos olhos não poderiam suportar contemplar a poderosa pureza da neve. No entanto, o pecador, negro por causa do pecado, ao ser lavado sob o poder limpador do sangue de Jesus, se volta “mais branco que a neve.”
Agora, como pode um pecador ser lavado para ficar “mais branco que a neve?” Bem, antes que nada, há uma durabilidade na brancura de um pecador lavado com sangue que não existe quanto à neve. Muito da neve que caiu essa manhã não tinha nada de branca à tarde. Lá onde a neve havia começado a derreter, se mostrava amarela, mesmos nos lugares onde nenhum pé de homem a tinha pisado – e, quanto à neve das ruas de Londres, vocês sabem como rapidamente sua brancura some. Porém, não existe temor de que a brancura que Deus dá a um pecador algum dia desapareça dele – o vestido da justiça de Cristo que é colocado sobre ele, é permanentemente branco –
“Essa veste sem mancha se vê igual,
Quando a natureza deteriorada de anos se acumula;
Nenhuma idade pode mudar sua gloriosa tonalidade;
O manto de Cristo é sempre novo”
Sempre é “mais branco que a neve.” Alguns de vocês precisam viver em Londres, um lugar esfumaçado e sujo, mas a fumaça e a sujeira não podem desbotar o vestido imaculado da justiça de Cristo. Vocês mesmos estão manchados pelo pecado – porém, quando estão vestidos com a justiça de Cristo diante de Deus, as manchas do pecado desaparecem. Davi, em si mesmo, estava negro e sujo quando fez a oração de nosso texto, porém, vestido na justiça de Cristo, estava branco e limpo. O crente em Cristo é tão puro aos olhos de Deus na mesma hora, como também o é em outra. O Senhor não olha a pureza variável de nossa santificação como nossa base de aceitação com Ele; antes, olha a pureza imutável e incomparável da pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo, e nos aceita em Cristo, e não pelo que somos em nós mesmos. Por essa razão, uma vez que somos aceitos Nele, somos “mais branco que a neve.”
Mais ainda, o branco da neve é, depois de tudo, só um branco criado. É algo que Deus fez, mas não têm a pureza que pertence a Deus mesmo – porém, a justiça que Deus dá ao crente, é uma justiça divina, como diz Paulo: “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. (2 Coríntios 5:21).” E lembrem que isso é certo no que toca ao próprio pecados, antes tão negro que tinha que clamar a Deus: “mais branco que a neve.”
Poderia existir uma pessoa que entrou nesse edifício, negra como a noite devido ao pecado – mas, se agora é capacitada pela graça a confiar em Jesus, Seu sangue precioso a limparia imediatamente, tão completamente, que seria “mais branco que a neve.” A justificação não é uma obra que avança de grau em grau – não progride de uma etapa para outra, antes, é uma obra de um momento, e é concluída instantaneamente. O grandioso dom de Deus da vida eterna é concedido em um instante, e você poderia ser incapaz mesmo de discernir o momento exato em que é concedido. No entanto, poderia saber mesmo isso, pois, tão logo como crê no Senhor Jesus Cristo, é nascido de Deus e passou da morte para vida – é salvo, e salvo por toda eternidade. O ato de fé é algo muito simples, porém é o ato que possa ser feito por um homem que mais glorifica a Deus. Ainda que não exista nenhum mérito na fé, a fé é uma graça sumamente enobrecedora, e Cristo dá-lhe uma alta honra quando diz: “Tua fé te salvou, vai em paz (Marcos 5:34).” Cristo coloca a coroa da salvação sobre a cabeça da fé – no entanto, a fé mesma nunca levará essa coroa, antes a coloca aos pés de Jesus, e dá a Ele toda honra e toda glória.
Poderia existir alguma pessoa nesse lugar que tenha medo de pensar que Cristo a salvará. Meu querido amigo, faz-lhe a meu Mestre a honra de crer que não existe profundidade de pecado no que poderia ter caído, que esteja alem do Seu alcance. Deves crer que não existe pecado que seja muito negro para que não possa ser limpo completamente pelo sangue precioso de Cristo, pois Ele há dito: “Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens” (Mateus 12:31) , e “todo pecado,” tem que incluir o teu. A própria grandeza da misericórdia de Deus é o que às vezes deixa um pecador perplexo.
Permita-me usar uma figura familiar para ilustrar o que quero dizer. Suponham que vocês estão sentados à mesa de sua casa, cortando um pedaço de carne para o jantar, e suponham que seu bicho de estimação está debaixo da mesa, esperando conseguir um osso ou um pedaço de cartilagem como sua porção. Agora, se vocês colocassem o prato com todo o pedaço de carne no chão, provavelmente o cãozinho teria medo de tocar nele, porque poderia receber um chute – ele saberia que um cachorro não merece uma comida como essa – e essa é justamente sua dificuldade, pobre pecador. Você sabe que não merece essa graça que Deus se deleita em dar-lhe. Porém, o fato de que seja de graça, deixa completamente de fora o tema do merecimento. “Pela graça sois salvos, por meio da fé: isso não vem de vós, é dom de Deus. (Efésios 2) ” Os dons de Deus são como Ele mesmo: imensuravelmente grandes.
Talvez alguns de vocês pensem que estariam contentes com migalhas ou ossos da mesa de Deus. Bem, se Ele me fosse dar umas quantas migalhas ou um punhado de carne, eu estaria agradecido, inclusive por isso, mas não me satisfaria – mas quando ele me diz: “Tu és meu filho. Eu te adotei e tens entrado em minha família, e já não sairás jamais fora,” eu não estou de acordo contigo em que seja bom demais para ser verdade. Poderia ser muito bom para você, mas não é demasiadamente bom para Deus – Ele dá como só Ele pode dar. Se eu tivesse uma grande necessidade, e conseguisse acesso a Rainha Vitória, e depois de expor meu caso a ela, me dissera: “Sinto um profundo interesse em seu caso – aqui tem um centavo para você,” eu estaria certo de que realmente não vi a Rainha, mas sim alguma donzela ou empregada de alguma dama que estava gozando de minha cara. Oh, não, a Rainha dá como uma rainha, e Deus dá como Deus! De tal forma que a grandeza de Seu dom, em vez de nos deixar atônitos, só deveria nos assegurar de que é genuíno, e que provêm de Deus.
Richard Baxter disse sabiamente: “O Senhor, tem que ser uma grande misericórdia ou nenhuma misericórdia, pois pouca misericórdia não me serve de nada!” Então, pecador, apele ao grande Deus com seu grande pecado e peça uma grande misericórdia para que sejas lavado na grande fonte cheia do sangue do grande sacrifício, e receberás uma grande salvação que Cristo obteve, e por isso atribuirás um grande louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, por sempre e para sempre. Que Deus nos conceda que assim seja por Jesus Cristo nosso Senhor! Amém.









12 - Por que é Difícil a Entrada dos Ricos no Reino de Deus?

“Lucas 18:24 E Jesus, vendo-o assim triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!
Lucas 18:25 Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.”

Nosso Senhor Jesus Cristo se referiu à riqueza de bens deste mundo como um fator não impeditivo, mas gerador de grande dificuldade para a conversão que garante a  entrada dos pecadores no reino de Deus.
Percebemos que suas palavras não se referem à dificuldade de permanência dos ricos no reino, mas à própria admissão deles.
E por que é difícil para eles tal ingresso, conforme pode ser constatado na experiência real de suas vidas ao longo destes dois mil anos de Cristianismo?
Deus não ama aos ricos tanto quanto aos pobres de bens mundanos?
Deus fez uma prioridade pelos pobres, de modo a excluir a grande maioria dos ricos?
De modo nenhum!
O bom senso não o permita!
A dificuldade não está em Deus e nem sequer em sua boa vontade para salvar a qualquer que vier a Cristo, mas nos próprios ricos.
A conversão requer arrependimento, humildade de espírito, confiança total em Cristo e dependência total de Sua graça salvífica.
Reconhecimento da condição de miséria da nossa natureza terrena, que está morta em delitos e em pecados, e que está naturalmente indisposta contra Deus, e em real estado de inimizade contra Ele.
Confessar a Jesus como Senhor e Salvador de sua vida, e suplicar-lhe humildemente que lhe salve da condenação eterna.
Entristecer-se pelos pecados e buscar um viver santificado no Espírito Santo para a purificação da consciência e do coração, pela entrega total de si mesmo à prática da justiça e das boas obras.
E uma vez convertido pelo Espírito, negar-se a si mesmo, carregar a cruz cotidianamente e dispor-se como uma criança a obedecer fielmente todos os mandamentos de nosso Senhor Jesus Cristo, conforme se encontram registrados na Bíblia.
É nisto tudo, basicamente, que reside a dificuldade dos que são ricos para serem salvos, e nem tanto pelo fato propriamente dito de serem detentores de grandes riquezas.  








13 - Apenas um Caminho

Por J. C. Ryle

“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu
nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual
devamos ser salvos” (Atos 4: 12)

Essas palavras são impressionantes, mas conseguem ser ainda mais, depois
de considerarmos quando e por quem foram pronunciadas.
Foi um cristão pobre e desamparado quem as falou, no meio de um
perseguidor conselho judaico. Essa foi uma verdadeira confissão a Cristo.
Tais palavras foram balbuciadas pelos lábios do apóstolo Pedro. Algumas
semanas antes disso, esse mesmo homem abandonou Jesus e fugiu; além
de negá-lo três vezes. Há um novo espírito nele, agora. Ele se levanta
corajosamente diante de sacerdotes e saduceus, dizendo-lhes a verdade,
“Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por
cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.

I. Primeiro, deixe-me apresentar a doutrina do texto.
Vamos nos certificar de que entendemos corretamente o que o apóstolo
Pedro quis dizer. Sobre Cristo, ele fala: “E em nenhum outro há salvação,
porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os
homens, pelo qual devamos ser salvos”. O que significa isso?
Ele quer dizer que ninguém pode ser salvo do pecado e da sua culpa, nem
do poder e das consequências que ele acarreta, a não ser por Jesus Cristo.
Ele quer dizer que ninguém pode ter paz com Deus Pai e obter perdão nesse
mundo, a fim de escapar da ira que virá no porvir, o inferno, a não ser
através do resgate e da intercessão de Jesus Cristo.
A rica provisão de Deus para a salvação dos pecadores está em Cristo – e
nele somente; assim como também apenas em Cristo as misericórdias de
Deus descem dos céus à Terra.
Apenas o sangue de Cristo pode nos limpar; apenas sua retidão pode nos
prover e é mérito apenas dele termos um lugar no céu. Judeus e gentios,
educados ou não, reis e pobres, todos devem ou ser salvos por Jesus ou
caminhar para a perdição eterna.
O apóstolo afirma enfaticamente: "porque também debaixo do céu nenhum
outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”. Não há nenhuma outra pessoa comissionada, selada e designada por Deus Pai para ser o Salvador dos pecadores, apenas Cristo. As chaves para a vida e para a morte foram confiadas em Suas mãos, então todos os que querem ser salvos, devem ir a Ele.
No dia em que veio o dilúvio sobre a terra, havia apenas um lugar seguro: a
arca de Noé. Todos os outros lugares ou dependências – montanhas, torres,
árvores, jangadas, barcos – eram inúteis. Da mesma forma, há apenas um
esconderijo para onde o pecador que deseja escapar da fúria de Deus deve
ir: Cristo.
Havia apenas um homem para quem os egípcios poderiam recorrer nos
tempos de escassez: José. Era perda de tempo buscar qualquer outra
pessoa. Assim, também há apenas um para quem as almas famintas devem
se dirigir, se não quiserem ir para o inferno: Cristo.
Essa é a doutrina do texto. “Não há salvação, senão por Jesus Cristo. Nele
há abundância salvífica de tal forma que até para o pior dos pecadores há
salvação, entretanto, fora dele, não há salvação alguma”. Ela está em
perfeita harmonia com as próprias palavras de nosso Senhor em João, “Eu
sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.”
(João 14: 6). Paulo afirma o mesmo aos coríntios: "Porque ninguém pode colocar outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo." (I Co 3:11). João também afirma o mesmo em sua primeira epístola: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho.
Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida” (I João 5: 11,12).
Todos esses textos chegam à mesma conclusão: não há salvação, a não ser por Jesus Cristo.
Lembre-se de que você deve entregar a salvação de sua alma a Cristo e
apenas a Ele. Você deve se desfazer completamente de qualquer outra
esperança ou fé, você não pode descansar parcialmente nEle, fazer parcialmente o que estiver ao seu alcance, frequentar parcialmente a igreja e parcialmente receber os sacramentos. Para que você seja justificado,
Cristo deve ser tudo e único. Essa é a doutrina do texto.
Lembre-se de que o céu está à sua frente e que Cristo é a única porta pela
qual você pode entrar. O inferno está sob você e apenas Cristo pode libertá-
lo dele, o diabo está a sua procura e Cristo é o único refúgio contra sua ira e
acusações. A lei está contra você e apenas Cristo pode redimi-lo, o pecado
lhe oprime e Cristo é o único que pode derrubá-lo. Essa é a doutrina do
texto.

II. Deixe-me mostrar, agora, algumas razões por que a doutrina desse texto
é correta.
Posso encurtar a segunda parte desse tratado com um simples argumento:
“Deus diz assim”. “Um texto claro”, disse um antigo sacerdote, “é tão bom
quanto mil motivos”.
Mas não farei isso. Gostaria de me opor às objeções que estão dispostas a
crescer em seus corações contra essa doutrina, mostrando os firmes
fundamentos nos quais ela se sustenta.
(1) Permita-me, então, dizer que a doutrina desse tratado é correta, porque
homem é o que o homem é.
O que o homem é? Existe uma resposta clara e devastadora, que envolve
toda a raça humana: o homem é um ser pecador. Todos os filhos de Adão,
nascidos nesse mundo, seja lá qual for seu nome ou nação, estão corrompidos, são maus e contaminados aos olhos de Deus. Seus pensamentos, suas palavras, seus caminhos, suas ações, são sempre defeituosas e imperfeitas.
Não há nenhum país sequer na face da Terra, onde o pecado não reine? Não
há um vale feliz ou uma ilha isolada onde a inocência possa ser vista? Não
há tribo alguma na terra onde, distante da civilização, do comércio, do
dinheiro, das armas, do luxo e dos livros, possamos encontrar ostentadas a
decência e a pureza? Não, leitor, não há. Examine todas as viagens que
possa lembrar, de Colombo a Cook, e você verá a verdade no que estou
dizendo. As mais isoladas ilhas do oceano Pacífico - ilhas afastadas de todo
o resto do mundo, ilhas cujos habitantes desconheciam Roma e Paris,
Londres e Jerusalém – foram encontradas cheias de impurezas, crueldades
de idolatrias. As pegadas do diabo foram rastreadas em todas as costas. A
veracidade do terceiro capítulo de Gênesis pode ser vista em todos os
lugares. Os bárbaros podiam ser ignorantes em tudo, mas nunca o foram
quando o assunto em questão era o pecado.
Há, entretanto, homens e mulheres no mundo que estão livres dessa
natureza corrupta? Não houve almas aqui e acolá que viverem vidas sem
defeitos? Não houve alguns, alguns poucos, que fizeram tudo o que Deus
ordenou e, portanto, provaram que a perfeição é possível? Não, leitor, não
houve alma alguma assim. Observe todas as biografias e vidas dos cristãos
mais santos, perceba como os mais brilhantes dos filhos de Deus sempre
tiveram uma noção profunda de seus próprios defeitos e de sua natureza
corrupta. Eles gemem, lamentam, suspiram e choram pelas suas fraquezas,
esse é o ponto comum entre eles. Patriarcas e apóstolos, pais e reformadores, episcopais e presbiterianos, Lutero e Calvino, Knox e Bradford,
Rutherford e Bispo Hall, Wesley e Whitefield, Martyn e M’Cheyne, todos
sofreram com seus próprios pecados. Quanto mais conhecimento eles
tinham, mais humildes e simples eram; quanto mais santos eram, mais
pareciam se desmerecer e glorificar-se em Cristo.
O que tudo isso pode provar? A meu ver, prova que a natureza humana é
tão suja e corrupta que se dependesse dela, nenhum homem seria salvo. A
história da humanidade não tem esperança alguma sem um Salvador. É
necessário um Mediador, um redentor, um advogado, a fim de transformar
tão pobres pecadores em seres aceitáveis a Deus, e isso não podemos
encontrar em lugar algum, exceto em Jesus Cristo. O céu para o homem
que não tem um Redentor, paz com Deus para o homem sem um Intercessor, vida eterna para o homem sem um Salvador - resumindo, salvação sem Cristo - tudo isso me parece completamente impossível.
Coloco esses pensamentos diante de vocês e peço-lhes para que os
considerem. Sei que é dificílimo compreender a pecaminosidade do pecado.
Dizer que somos todos pecadores, é uma coisa, mas ter uma ideia de como o pecado é visto por Deus, é outra bem diferente. O pecado já está tão
presente em nossa vida, que não nos permite vê-lo como é, não sentimos
nossa própria deformidade moral. Somos como aqueles animais em criação,
vis e asquerosos a nosso ver, mas não para eles mesmos. É da natureza
deles serem repugnantes, por isso nem sequer percebem. Nossa corrupção é
uma parcela de nós mesmos e, quando muito, temos uma vaga compreensão de sua intensidade.
Entretanto, disso podem estar certos, se pudessem observar suas vidas com
os olhos dos anjos que nunca caíram, jamais duvidariam, em momento
algum, do que falo agora. Não é possível que alguém, conhecendo a natureza corruptível do homem, não veja que a doutrina aqui exposta é correta e verdadeira. Não há salvação, se não por Cristo.
(2) Deixe-me dizer algo mais: a doutrina do nosso texto é correta, porque
Deus é o que é.
E o que é Deus? Essa é uma pergunta interessante. Sabemos algo de Seus
atributos: Ele não teve testemunha na criação e com misericórdia nos
revelou muito a seu respeito nas Escrituras. Sabemos que Deus é espírito –
eterno, invisível e todo poderoso - o criador de todas as coisas e preservador
de tudo; ele é santo, justo e onisciente, infinito em misericórdia, em
sabedoria e em pureza.
Entretanto, como são baixas e simplórias nossas ideias, quando tentamos
descrever a forma com que acreditamos que Ele seja! Quantas palavras e
expressões usamos, mas nem sequer conseguimos descrevê-lo! Quantas
coisas nossa língua fala sobre Ele, mas que nossa mente não consegue
compreender!
Vemos tão pouco nEele e conhecemos tão pouco dEle. Nossas palavras são
tão vis e torpes, que não conseguimos transmitir ideia alguma sobre Deus,
que fez esse mundo grandioso do nada e para quem um dia é o mesmo que
mil anos, e mil anos, um dia! Nosso intelecto é tão fraco e inadequado para
entendê-lo, porque Ele é perfeito em todas as suas obras, perfeito no muito e no pouco, perfeito em dizer os dias e as horas em que Júpiter, com todos os seus satélites, viajará ao redor do sol e perfeito ao criar o menor dos insetos que se arrasta no nosso globo. Estamos tão ocupados que não compreendemos o Ser que comanda tudo, no céu e na Terra, através da providência universal, ordenando ascensão e queda de nações e dinastias, como Nínive e Cartago; ordenando a extensão exata com a qual homens como Alexandre, Tarmelão e Napoleão poderiam expandir suas conquistas; ordenando os últimos passos na vida do mais humilde cristão entre os povos; tudo isso ao mesmo tempo, sem parar, perfeitamente. Tudo isso por Sua glória.
O cego não pode julgar as pinturas de Rubens ou Ticiano; o surdo não pode
escutar as lindas melodias de Handel; o groenlandês tem apenas uma noção
do que é o clima nos trópicos; o australiano selvagem tem uma concepção
distante de locomotiva, logo, seja como for a sua descrição, não há lugar na
mente dos humanos para absorver essas coisas, eles não têm inclinação
para compreendê-las, não possuem dedos imaginários para agarrá-las. De
igual modo, as melhores e mais brilhantes ideias que o homem pode formar
a respeito de Deus, comparadas à realidade que um dia presenciaremos, são
fracas e fantasiosas.
Entretanto, leitor, isto, acredito, está muito claro: quanto mais calmamente
um homem pensa no que Deus realmente é, mais ele deve perceber a
distância imensurável entre ele e Deus; quanto mais ele medita, mais ele
deve ver que há um abismo profundo entre ambos. Sua consciência lhe dirá,
caso ele a deixe falar, que Deus é perfeito, mas ele, não; que Deus é alto, ele, baixo; que Deus é majestade gloriosa, ele, um verme; e que se ele quiser apresentar-se diante de Deus no julgamento confortavelmente, ele precisará de uma ajuda poderosa, caso contrário, não será salvo.
O que seria isso, senão a própria doutrina desse texto? O que seria isso,
senão chegar à conclusão que lhes tenho lançado insistentemente? Se
temos que prestar contas com alguém como Deus, é melhor termos um
salvador poderoso! Para sermos entregues a um ser tão glorioso como Deus,
devemos ter um advogado e um amigo todo-poderoso ao nosso lado, que
poderá nos defender de todas as acusações a que nos submetam e advogar
nossa causa com Deus em termos justos. Queremos isso, nada mais que
isso. Noções vagas de misericórdia jamais nos darão a verdadeira paz. Um
salvador, amigo e advogado como esse, não pode ser encontrado em mais
ninguém, senão em Jesus Cristo.
(3) Em terceiro lugar, deixe-me dizer-lhes que essa doutrina é correta,
porque a Bíblia é o que ela é.
Na Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, há apenas uma descrição sobre a forma
com que o homem pode ser salvo. Ela é sempre a mesma: apenas pelo amor de nosso Senhor Jesus Cristo, pela fé e não por boas obras ou merecimentos.
Primeiro você a vê revelada vagamente, ela aparece meio enturvada em
algumas promessa, mas lá está.
Depois, ela aparecerá com mais clareza, é ensinada pelos figuras e símbolos
da lei de Moisés, o professor da antiga dispensação.
Você a terá ainda mais claramente depois. Os profetas viram por meio de
visões o Redentor que estava por vir.
No final, você a tem de forma óbvia, na clareza do Novo Testamento: Cristo
encarnado, crucificado, ressuscitado e pregado pelo mundo.
Entretanto, uma corrente de ouro corre através de todo o livro: nenhuma
salvação existe, exceto por Jesus Cristo. As feridas na cabeça da
serpente no dia da queda, as vestimentas de nossos primeiros pais com
peles, os sacrifícios de Noé, Abraão, Isaque e Jacó, a páscoa e todas as
particularidades das leis judaicas, o sumo sacerdote, o altar, a oferta diária
do cordeiro, o Santo dos santos onde só se entrava pelo sangue, o bode
expiatório, as cidades de refúgio, tudo isso prova a verdade descrita no
texto, todos pregam alto e em bom som que a salvação só acontece através
de Jesus Cristo.
Essa verdade, de fato, parece-me ser o grande objetivo da Bíblia e todas as
outras partes e porções das Escrituras servem justamente para ilustrá-la.
Não consigo ver o perdão de Deus nessas ideias, a não ser por meio de uma
conexão com essa verdade. Se soubesse de alguma alma que foi salva sem
ter tido fé no Salvador, talvez deixasse de falar com tanta certeza, mas
quando vejo que a fé em Cristo – no Cristo crucificado – era um dos
distintivos na religião de todos os que foram para o céu; quando vejo Abel
ganhando a Cristo com seu sacrifício numa parte da Bíblia; os santos em
glória numa visão de João se regozijando em Cristo; um homem como
Cornélio, devoto e temente a Deus, dava esmolas e orava (não digo que por
isso ele foi salvo, mas ordenou o envio de Pedro a fim de escutar a respeito
de Cristo); quando vejo todas essas coisas, sinto-me compelido a crer
que a doutrina desse texto é bíblica. Não há salvação, não há um caminho
para o céu, exceto através de Cristo Jesus.
Leitor, não sei como você utiliza a Bíblia, se você a lê ou não, se a lê por
completo ou apenas algumas partes, mas isso é certo: se você lê e acredita
na Bíblia, você terá dificuldades em escapar dessa doutrina.
Cristo é o caminho, o único caminho; Cristo é a verdade, a única verdade; Cristo é a vida, a única vida.
Essas são as razões que confirmam a veracidade do que está escrito nesse
texto. O que o homem é, o que Deus é, o que a Bíblia é, tudo isso nos leva à
mesma conclusão: não há salvação sem Cristo. Agora deixo essas razões
com você e passo adiante.

III. Em terceiro e último lugar, deixe-me mostrar as consequências que
surgem junto com a doutrina.
Poucas partes desse assunto são mais importantes do que esta. A verdade
que venho dizendo nesse texto pesa tanto sobre a humanidade que seria
muita presunção de minha parte não comentá-la. Se Cristo é o único
caminho para a salvação, como devemos nos sentir em relação a tantas
pessoas nesse mundo? Esse é o ponto sobre o qual agora falarei.
A verdadeira caridade, para mim, é contar o máximo de verdades que
pudermos. Não acredito ser caridade esconder as consequências de um
texto como esse e fechar nossos olhos contra elas. Chamo seriamente todos
àqueles que acreditam que a salvação acontece apenas por meio de Cristo, o
único nome debaixo do céu pelo qual podemos ser salvos. Chamo todos
vocês e peço-lhes para que me escutem enquanto exponho todas as
consequências que aparecem junto a esse texto.
De uma coisa estou certo, não temos mérito nenhum na salvação. Minha opinião é que o mais alto arcanjo – num grau bem distinto do nosso, claro – deverá sua posição a Cristo e que tudo no céu, assim como tudo na terra, estará em débito com o nome de Jesus.
Os Socinianos5 dizem que Cristo foi meramente um homem e que seu sangue teve tanto valor quanto o de qualquer outro, que sua morte na cruz não redimiu os pecados humanos e que fazer acontecer é o caminho para o céu, e não crer. Essa crença é ruína para a alma humana. Parece-me atacar a raiz de todo o plano da salvação que Deus revelou na Bíblia e praticamente anula a melhor e maior parte das Escrituras. Ela destrói o sacerdócio do Senhor Jesus e tira-o de seu ofício, ela converte a lei de Moisés e as ordenanças em algo sem valor algum. Faz parecer que o sacrifício de Caim era tão bom quanto o de Abel e deixa o homem à deriva num mar de incerteza, ao tirar-lhe a obra já terminada do nosso divino Mediador.
Se você ama sua vida, tenha cuidado com a menor das tentativas em depreciar a Cristo, o Seu ofício e Suas obras. O único nome pelo qual
você pode ser salvo é o nome acima de todos os nomes, portanto, qualquer
ataque contra Ele, é um insulto ao Rei dos reis. A salvação da sua alma foi
colocada em Cristo por Deus Pai, e em nenhum outro. Se ele não fosse
realmente Deus, jamais teria conseguido executá-la e não haveria salvação
alguma.
Outra consequência a ser aprendida do nosso texto é o grande erro cometido por aqueles que adicionam qualquer característica a Cristo, como necessária à salvação.
É fácil professarmos nossa crença na Trindade e reverenciar nosso Senhor
Jesus Cristo e, ainda assim, adicionar algo a Ele, deixando de lado toda a
doutrina do texto e negando-a de forma tão branda.
Todos que agem dessa forma me parecem declarar que a salvação não é encontrada simples e unicamente em Cristo, parecem adicionar outros nomes ao nome de Jesus, pelos quais homens devem ser salvos. Até mesmo o nome de suas denominações, tudo isso me parece querer responder à pergunta, “O que devo fazer para ser salvo?”, não apenas com “Acredite no Senhor Jesus Cristo”, mas também “venha e junte-se a nós”.
Peço para que os cristãos verdadeiros tomem cuidado com tal extremismo,
não importa a forma com que ele apareça. Dizendo isso, não serei mal
interpretado. Quero que todos sejam firmes em suas visões eclesiásticas e
que estejam certos de sua precisão. Tudo o que peço é que não ponham
essas coisas no lugar de Cristo ou as coloque perto dEle ou fale delas como
algo necessário para a salvação. Por mais doce que nossas visões nos
possam parecer, devemos tomar cuidado para não colocá-las entre o
pecador e o Salvador. Resumindo, tomemos cuidado para não adicionar algo
à doutrina do texto. No tocante aos assuntos da Palavra de Deus, é um
grande pecado tanto adicionarmos quanto retirarmos algo dela.
A última consequência a ser aprendida desse texto é o absurdo em supor que devemos nos satisfazer com o estado da alma humana, se ele é apenas
sincero.
Essa é uma heresia bem comum, na verdade, e uma contra a qual sempre
devemos estar de guarda. Há muitos que dizem, "não temos nada a ver com
a opinião de terceiros. Eles podem estar enganados, mas também é possível
que estejam certos e nós, errados. Tudo isso soa liberal e muito caridoso,
da forma como as pessoas gostam de fantasiar suas visões.
Entretanto, visões como essas são completamente contraditórias à Bíblia,
não importa o que defendam. Não vejo na Bíblia nenhuma história sequer
falando que alguém foi ao céu simplesmente por ser sincero, ou foi aceito
por Deus apenas pela sua determinação em manter suas visões. Os
sacerdotes de Baal eram sinceros quando se cortavam com facas e lancetas
até seu sangue jorrar, ainda assim, Elias ordenou que fossem tratados como
idólatras. Manassés, rei de Judá, foi, sem dúvida alguma, sincero quando
queimou seus filhos no fogo de Moloque, mas quem não sabe o quanto ele
se culpou por isso? O apóstolo Paulo, quando fariseu, era sincero ao
destruir igrejas, mas quando abriu os olhos, lamentou tudo o que havia
feito.
Tenhamos cuidado ao aceitar que a sinceridade seja o indispensável e que
não temos direito algum de falar do estado espiritual do homem, simplesmente porque as opiniões defendidas por ele são sinceras. Se é esse o nosso pensamento, então os sacrifícios Druídicos, o Carro do Krishna, o costume hindu de queimar a viúva com os restos mortais de seu marido, os
assassinatos sistemáticos dos malfeitores Thugs indianos e as fogueiras de
Smithfield poderiam ser defendidos, mas um pensamento assim não
vingará, ele não suportará os testes das Escrituras. Caso você concorde com
esses pensamentos, então aproveite para jogar fora sua Bíblia. Sinceridade
não é Cristo, portanto, sinceridade não pode perdoar os pecados.
Tenho certeza de que essas consequências podem parecer desagradáveis
para muitos de vocês que me lêem. Entretanto, digo-as de forma ponderada
e deliberada. Afirmo enfaticamente que uma religião sem Cristo, uma
religião que O deixa de lado, uma religião que adiciona algo a Ele, uma
religião que coloca sinceridade no lugar dEle, é uma religião perigosa e deve
ser evitada, porque é contrária à doutrina de nosso texto.
Você pode até não gostar disso e sinto muito se esse for o caso. Você pode
me considerar severo, avaro, cabeça-dura, intolerante e por aí vai, mas não
me importo, porque você não poderá dizer que a minha doutrina não é a da
Palavra de Deus. Essa doutrina é a crença de que Cristo é o único necessário para nossa salvação e, sem Ele, não há salvação alguma.
É minha obrigação prestar depoimento contra o espírito dos dias em que
vivemos e adverti-lo contra essa doença. Atualmente, não temo o ateísmo
tanto quanto temo o panteísmo. Não é o sistema que diz que nada é
verdade, mas o que diz que tudo é verdade; não é o sistema que diz que não há um salvador, mas o que diz que há vários salvadores e muitos caminhos para obter a paz. É o sistema que é tão liberal, que não ousa dizer que algo é falso, é o sistema que é tão caridoso, que aceitará a veracidade de tudo, é o sistema que parece pronto a honrar outros tanto quanto o nosso Senhor Jesus Cristo, classificá-los todos iguais e esperar o bem de todos. É um sistema tão escrupuloso quanto o sentimento dos outros, que nunca podemos dizer que está errado; é um sistema tão liberal, que chama um homem de fanático, se ele disser "Sei que minhas visões são corretas”. Esse é o sistema que tenho pavor hoje em dia. Esse é o sistema que desejo enfaticamente testificar contra e denunciá-lo.
Que sistema é esse, senão o ato de curvar-se perante um ídolo chamado
liberalismo? Que sistema é esse, senão o sacrifício da verdade a fim de dar
lugar à caridade? Tome cuidado com isso, leitor, cuide para que a tórrida
corrente da opinião pública não o leve embora. Se você acredita na Bíblia
ou for um consistente cristão, tome cuidado. Deus falou ou não conosco na Bíblia? Ele nos mostrou o caminho para a salvação plena na Bíblia ou não? Ele nos explicou o perigo de não andar por esse caminho ou não? Preparem suas mentes, encarem essas perguntas e respondam-nas honestamente. Diga-nos que há outro livro inspirado, fora a Bíblia, e assim entenderemos o que você quer dizer; diga-nos que a Bíblia não foi inspirada, e assim saberemos onde lhe encontrar, mas admita que a Bíblia, por completa, e nada mais que a Bíblia, é a palavra de Deus, e então não saberei dizer como você pode escapar da doutrina desse texto. Que o Senhor o livre do liberalismo que afirma que todos estão corretos, da caridade que proíbe dizermos que alguém está errado e da paz que é trazida às custas da verdade.
Falo por mim mesmo, não encontro descanso entre um cristianismo
categórico e uma infidelidade categórica, seja lá o que outros pensem. Não
encontro refúgio algum entre eles, nem mesmo casas capazes de abrigar
minha alma cansada. Posso ver consistência num infiel, mesmo tendo pena
dele, assim como também posso ver consistência no apoio à verdade
evangélica, entre entretanto, não consigo enxergar um meio-termo entre
eles. E isso eu digo sem receio algum. Que eu seja chamado de conservador
e severo, mas não consigo escutar a voz de Deus fora da Bíblia e não consigo ver salvação para pecadores nela, senão por meio de Jesus Cristo. No nosso Senhor, vejo abundância, mas fora dele, não. E para aqueles que confessam uma religião em que Cristo não é tudo, tenho um palpite muito desconfortável sobre sua segurança. Não digo, em momento algum, que nenhum deles está salvo, mas afirmo que os que são salvos, assim o são pelas suas discordâncias quanto a seus próprios princípios e apesar de seu sistema.
O homem que escreveu a famosa frase:
“Não pode estar errado, aquele cuja vida está na retidão”, foi um grande poeta, sem dúvida alguma, mas também um grande infeliz.
Deixe-me concluir com algumas palavras para nosso uso.
Primeiro de tudo, se não há salvação, senão por Jesus Cristo, certifique-se
de que você se interessa por ela. Não se contente em ouvir, aprovar,
consentir com a verdade, mas parar por aí. Busque ter um interesse pessoal nessa salvação, agarre-a na fé, pelo bem de sua alma; não descanse
até que você sinta a paz com Deus, oferecida por Jesus; não pare até que
você seja de Cristo e Cristo seja seu. Se houvesse duas, três ou até mais
formas de se chegar ao céu, não haveria necessidade de pressionar tudo isso sobre você. Entretanto, se há apenas um caminho, então você não deve ficar surpreso quando digo, "certifique-se de que você está nele”.
Segundo, se não há salvação, exceto por meio de Cristo, pregue isso a todas
as almas que ainda não o conhecem como seu Salvador. Há milhares nessa
condição miserável, milhares em terras estranhas, milhares no seu próprio
país, milhares que ainda não confiam em Cristo Jesus. Se você for um
verdadeiro cristão, você se entristecerá por elas, você orará por elas, você
trabalhará por elas, enquanto ainda há tempo. Você realmente acredita que
Cristo é o único caminho para o céu? Então viva conforme sua crença! Olhe para o seu círculo familiar e de amizade, conte um por um e veja quantos ainda não estão em Cristo. Faça o bem para eles de alguma forma, aja como agiria um homem que acredita que seus amigos estão em perigo.
Não se contente com o fato de serem dóceis e amáveis, gentis e bem-humorados, de boa conduta moral e corteses, seja desprezível para com
eles, até que se voltem a Cristo e confiem Nele, porque é isso o que você deve fazer. Não deixe sozinho alguém que não tenha Cristo, caso você tenha
oportunidades de alcançá-lo. Sei que tudo isso pode parecer entusiástico e
fanático, quem dera houvesse mais disso no mundo, porque qualquer ação é
melhor do que uma indiferença silenciosa para com as almas alheias, como
se todas estivessem no caminho para o céu. Não vejo nada que prove tanto
o quanto a nossa fé é fraca, quanto nossa despreocupação com a condição
espiritual daqueles que nos rodeiam.
Terceiro, se não há salvação, senão por Cristo, então amemos todos aqueles
que verdadeiramente amam o Senhor Jesus e o exaltam como seu Salvador.
Não se afaste ou olhe as pessoas com desprezo, simplesmente porque não
concordam com tudo o que dizem. O homem pode ser um presbiteriano
escocês livre, ou independente, wesleyano, ou batista, ainda assim, amemo-los, caso eles amem a Cristo e colocam-no no lugar merecido. Estamos a
caminho de um lugar onde denominações, formas e estilos de igrejas já não
serão mais nada, porque Cristo será tudo; preparemo-nos logo para esse
lugar, amando a todos os que estão nesse mesmo caminho conosco.
Esta é a verdadeira caridade: acreditar em todas as coisas e ter esperança,
contanto que estejam conforme as doutrinas bíblicas e Cristo seja exaltado.
Cristo deve ser o único padrão pelo qual todas as opiniões são medidas.
Honremos todos os que o honram, mas não nos esqueçamos que o mesmo
apóstolo Paulo que escreveu sobre caridade, também disse, “Se alguém não
ama o Senhor Jesus Cristo, seja anátema.”. Se nossa caridade e generosidade são maiores do que aquela exposta na Bíblia, então não valem nada.
Amor indiscriminado não é amor e uma aprovação indiscriminada a todas
as religiões não passa de outro nome para infidelidade. Estendamos nossa
mão a todos aqueles que amam o Senhor Jesus, mas tomemos cuidado ao
irmos além dessa condição.
Por último, se não há salvação por outro meio, senão por Cristo, você não
deve se surpreender se ministros do evangelho pregam muito sobre Ele. Não
podemos dizer-lhe muito sobre o nome que está acima de todos os nomes,
você não escuta sobre Ele em demasia. Talvez você escute muito sobre
controvérsia em nossos sermões – pode ser que você escute muito sobre
homens e livros, obras e deveres, formas e cerimônias, sacramentos e
ordenanças – mas há um assunto que nunca é demais explorar, e esse
assunto é Cristo.
Se estivermos cansados de pregar sobre Ele, então somos falsos ministros,
se você está cansado de ouvir sobre Ele, então sua alma está num estado
péssimo de saúde. Quando pregamos sobre Cristo durante toda a nossa
vida, ainda assim parte de Sua excelência não terá sido dita! Quando você o
vir face a face, no dia de Sua segunda vinda, você verá que Ele é extraordinariamente mais do que o que seu coração poderia imaginar.
Termino com as palavras de um escritor antigo, as quais subscrevo:
“Não conheço nenhuma religião verdadeira, a não ser o cristianismo, e
nenhum cristianismo verdadeiro, a não ser a doutrina de Cristo. A doutrina de Sua pessoa divina, de Sua obra divina, de Sua retidão divina, de Seu espírito divino. Doutrina aceita apenas pelos que são verdadeiramente Dele. Não conheço nenhum ministro fiel a Cristo, a não ser aqueles que fazem dEle o seu motivo para viver, o seu chamado e sua razão para louvar, por causa de Sua graça e glória salvífica por amor aos homens. Da mesma forma, não conheço nenhum cristão verdadeiro, que não seja aquele unido a Cristo pela fé e pelo amor, para a glorificação do nome de Jesus Cristo, na beleza da santidade evangélica. Ministros e cristãos com esse espírito foram, por muitos anos, meus irmãos e companheiros, e espero que seja sempre assim, onde quer que a mão de Deus me guie".

(Texto original reduzido e adaptado por Silvio Dutra)








14 - Salvação

Quando a Bíblia fala na salvação do pecador o que está em foco é muito mais do que simples livramento de perigos iminentes, pois é sobretudo a restauração do pecador caído para que nele se cumpra o propósito eterno de Deus de ter muitos filhos semelhantes a Jesus Cristo.
Somos a rigor salvos de nós mesmos, de nossa condição de miséria e de morte espiritual e eterna.
Somos livrados de uma inclinação constante para o mal para nos inclinarmos para o bem e para tudo o que se encontra na natureza de Deus.
Jesus nos livra do pecado; do consequente estado de morte espiritual que se transforma em morte eterna quando morre o corpo; e da também consequente ira, da condenação , e do juízo eternos de Deus; da servidão ao diabo; das enfermidades do corpo e da alma; da maldição da Lei – mas além disso Ele nos purifica, santifica, nos reveste de Suas próprias virtudes, nos reconcilia com Deus e nos torna seus filhos amados, e nos faz herdeiros juntamente com Ele de toda a glória que Ele possui no céu.
Para este propósito, desde que houve a queda do primeiro casal no pecado, Deus sujeitou a criação à vaidade, ao vazio, à maldição de ter que enfrentar tantos males e tribulações. Pode parecer um paradoxo, mas se não fosse por isto, jamais seríamos resgatados de nossa condição de orgulho e rebelião contra a justiça e a santidade.
Necessitamos das tribulações para sermos tornados humildes e vermos o quanto dependemos da graça e da misericórdia de Deus.
Para além das tribulações há os braços estendidos de um grande Pai de amor, que deseja que estejamos conscientes de nossa plena aceitação por Ele, apesar de sermos pecadores, por causa da visitação em juízo dos nossos pecados em Jesus.
Ele nos amou tanto que nos deu o Seu próprio Filho Unigênito, sem qualquer mancha ou pecado, cheio de glória e majestade, para que pudesse morrer a nossa morte, e assim tivéssemos acesso a tudo o que havíamos perdido por causa do pecado, e que Ele havia planejado para nós, para toda a eternidade.
Daí ter sido anunciado pelo anjo à virgem Maria que aquele que nela seria gerado pelo Espírito Santo era o eterno Yeshua (em hebraico), que significa o Salvador, ou Aquele que salva. No texto original grego esta palavra foi transliterada para iesous, de onde também por transliteração vem o nosso Jesus em português.
Ele, que é o Grande Eu Sou (YWHW – hebraico) juntamente com o Pai e o Espírito Santo, tomou este nome por causa do trabalho de livramento e restauração que Ele operaria em favor da humanidade, pois a salvação inclui tanto uma coisa quanto outra.
Muitas são as operações que estão vinculadas à salvação que Jesus veio consumar. Antes de tudo a eleição, depois a chamada, o convencimento do Espírito, a justificação, a regeneração, a santificação e por fim a glorificação.
Que grande trabalho de paciência e sabedoria eterna está envolvido em tudo isto.
Quem seria suficiente para tanto – algum homem ou anjo?
A resposta óbvia é não. Senão somente Deus de Deus, feito perfeito homem, nascido em corpo de homem, poderia realizar uma obra tão maravilhosa, celestial e espiritual.
Não temos um Salvador que foi estabelecido na hora da nossa emergência, mas Alguém que foi designado para tal antes mesmo da fundação do mundo. Alguém que foi anunciado por muitas profecias no Velho Testamento, e até mesmo nos dias anteriores a Moisés, como a promessa feita a Adão do descendente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente, e a feita a Abraão de abençoar no Seu descendente (Cristo) todas as nações da Terra.
Outro ponto importante a ser considerado na salvação é que ela é segura e firme. Nada pode apagá-la ou destruí-la. É uma obra de caráter eterno para adentrar a eternidade, assim como é eterno o nosso Salvador e Senhor.
O crente está firmemente seguro na graça que lhe foi concedida em Jesus para nunca mais ser daí removido de uma forma final. Ainda que caia será levantado pelo poder do Senhor, porque tem prometido não lançar fora por motivo algum a qualquer que tenha sido salvo por Ele.
E de tantas que são as profecias que temos em relação a esta salvação no Velho Testamento, não teríamos espaço suficiente para aqui enumerá-las, senão citar apenas algumas no anexo em que apresentamos vários textos relativos a este assunto.
Cabe lembrar que todo o mobiliário do tabernáculo, o ofício dos sacerdotes, profetas e reis, os sacrifícios de animais do Velho Testamento, tudo isto era uma figura, um tipo, do grande Salvador que se manifestaria ao mundo na plenitude dos tempos.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as seguintes palavras do texto original:
1 – soterion (grego) – salvação;
2 – soteria (grego) – salvar;
3 – soter (grego) – salvador; e
4 – alguns textos do Velho Testamento sobre a salvação em Jesus; relativos ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128478








15 - Pode Até Mesmo o Pior Pecador Ser Salvo?

Por John Piper

Uma das coisas maravilhosas sobre as Escrituras é que elas são tão honestas sobre quem é salvo e sobre quem pode ser salvo.
O apóstolo Paulo, que escreveu treze dos nossos livros do Novo Testamento, usou sua própria vida para dizer, “Porque eu sou salvo, você sabe que Deus é paciente com o maior dos pecadores, porque eu sou o principal dos pecadores”.
Ele apontou para o fato de ele ter perseguido a igreja. Ele jogou os cristãos na prisão. Ele respirava assassinatos e ameaças e depois ele disse especificamente em 1 Timóteo ”Deus mostrou paciência para comigo para que aqueles que ainda viriam à fé sentissem que Deus teria paciência com eles”.
Então minha resposta é: Sim! Com certeza, sim! O mais vil, o mais corrupto, e mais constante pecador pode achar na Cruz de Jesus Cristo o sacrifício suficiente para cobrir todos os seus pecados e a justiça suficiente para repor toda a sua injustiça. Isto é assim, para que quando chegarem a Deus, eles não venham com a sua própria justiça, mas na justiça de Cristo; e que não cheguem com seus próprios pecados, mas com os pecados que foram perdoados por Jesus Cristo.
O pior dos pecadores pode ser salvo pela suficiência total de Cristo.










16 - Mais que Vencedores

Por Charles Haddon Spurgeon

“Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.” (Romanos 8:37)

É de Cristo que nós recebemos o perdão, mas, com frequência, procuramos forças na lei para combater os nossos pecados. Paulo nos repreende:
“Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?”
Leve os seus pecados à cruz de Cristo, pois é só lá que o velho homem pode ser crucificado: fomos crucificados com Ele. A única arma que pode lutar contra o pecado é a lança que perfurou o lado de Jesus.
Só para ilustrar: você quer controlar um temperamento explosivo; como faz? É bem possível que você nunca tenha tentado levar o problema a Jesus da maneira certa.
Como você foi salvo? Entreguei-me a Jesus do jeito que estava e confiei na Sua salvação. É dessa forma que devo controlar o meu temperamento. Esse é o único jeito de dominá-lo. Preciso ir à cruz de Cristo e dizer: “Senhor, confio em Ti para livrar-me disto.” Essa é a única maneira de dar um golpe mortal no pecado.
Você é avarento? Sente que está sendo enredado pelo mundo? Você pode lutar contra esse mal o quanto quiser, mas se for um pecado que constantemente o assedie, de forma alguma você irá se livrar dele, a não ser pelo sangue de Jesus. Leve-o a Cristo. Diga-Lhe: “Senhor, confio em Ti, Teu nome é Jesus, Tu salvaste o Teu povo dos pecados deles: Senhor, este é um dos meus pecados; livra-me dele!”

Ordenanças nada são sem Cristo como meio de mortificação. Orações, arrependimentos e lágrimas – todos juntos – não têm valor sem Ele. “Ninguém, a não ser Jesus, pode transformar pecadores incapazes”, tampouco santos incapazes. Você deve ser vencedor por meio dAquele que o amou, se quiser mesmo ser vencedor. Nossos louros devem crescer entre as Suas oliveiras no Jardim do Getsêmani.









17 - Sem Fé não Há Salvação

Por Charles Haddon Spurgeon

ALGUNS PENSAM QUE É DIFÍCIL que não haja nada para eles senão ruína caso não creiam em Jesus Cristo; mas se você pensar nisso por um minuto verá que é justo e razoável. Eu suponho não haver outra forma de manter um homem com suas forças exceto por comer. Se você dissesse, “Eu não vou comer novamente, eu desprezo tal animalismo”, você poderia ir para a Ilha da Madeira, ou viajar por todas as terras (supondo que você viva o suficiente!), mas verificaria que nenhum clima e nenhum exercício conseguiriam manter você vivo se você recusasse comida. Você então reclamaria, “É uma dura coisa que eu tenha de morrer porque eu não acredito em comer”? Não é uma coisa injusta que, se você for tão tolo a ponto de não comer, você morra. É precisamente assim com a fé. “Creia e serás salvo”. Se tu não creres, não é uma coisa dura que tu tenhas de se perder. Seria estranho, na verdade, que não fosse assim.
Um homem com sede está diante de uma fonte. “Não”, ele diz, “eu não vou tocar em uma gota de umidade enquanto eu viver. Eu não posso ter minha sede saciada de outra forma?” Dizemos a ele, não; ele deve beber ou morrer. Ele diz, “Eu nunca vou beber; mas é algo duro que por isso eu tenha de morrer. É fanatismo, crueldade dizer isso para mim”. Ele está errado. Sua sede é o resultado inevitável de negligenciar as leis da natureza. Você também deve crer ou morrer; porque se recusar a obedecer ao mandamento? Beba, homem, beba!
Tome a Cristo e viva. Aí está o caminho da salvação, e para entrar você tem de confiar em Cristo; mas não há nada de duro no fato de que você perecerá se não confiar no Salvador. Eis um homem no mar; ele tem um mapa que indica a posição das estrelas, e aquele mapa, se bem estudado, irá, com a ajuda da bússola, guiá-lo pela sua jornada até o fim. A estrela polar brilha além das nuvens, e isso também o ajudará. “Não”, diz ele, “Eu não terei nada que ver com as estrelas; eu não creio no pólo norte. Eu não vou prestar atenção naquela coisa dentro daquela caixa; uma agulha é igual a qualquer outra. Eu não tenho fé no seu mapa, e não lhe darei atenção. A arte de navegação é totalmente sem sentido, e foi criada por pessoas cuja intenção era ganhar dinheiro, e eu não serei enganado por ela”. Então Jesus diz, “Quem não crer já está condenado”. “Isso é muito duro”, diz você. Mas não é. Não é mais duro do que o fato de que se você rejeitar a bússola e a estrela polar você não chegará ao porto. Não há como mudar isso; tem de ser assim.
Você diz que não terá nada com Jesus e Seu sangue, e você se esquiva de toda religião. Você achará difícil rir desses assuntos quando você morrer, quando o suor frio for limpo de sua testa, e seu coração bater no peito como se quisesse saltar e voar para longe de Deus. Pobre alma! Você descobrirá então, que aqueles domingos, e aqueles serviços, e este velho Livro, são algo mais e melhor que você pensou que eram, e você perceberá que você era muito ingênuo para ter negligenciado qualquer ajuda real de salvação. E além de tudo, que infortúnio ter desprezado a Cristo, a estrela-polar que por si só pode guiar o marinheiro para o ancoradouro de descanso!
Aonde você vive?
Você talvez viva do outro lado do rio, e você tem de cruzar uma ponte antes de chegar em casa. Você tem sido tão idiota se perceber que você não acredita em pontes, barcos ou mesmo na existência de algo como a água. Você diz, “Eu não vou passar por nenhuma das suas pontes, e nem entrar em nenhum dos seus barcos. Eu não creio que haja um rio, ou que haja algo como a água”. Você está indo para casa, e logo chega à velha ponte; você não a atravessará. Na margem há um barco; mas você está determinado a não entrar nele. Há ali um rio, e você resolve não cruzá-lo da maneira habitual; e ainda assim você pensa ser algo muito duro que você não consiga chegar em casa. Certamente alguma coisa destruiu sua capacidade de raciocínio, pois você não pensaria ser isso duro se estivesse plenamente consciente. Se um homem não fizer o que é necessário para determinado objetivo, como ele espera alcançá-lo? Você tomou veneno, e o médico traz o antídoto, e diz, “Tome rápido, ou você morrerá, mas se você tomar logo, posso garantir que o veneno será neutralizado”. Mas, diz você, Não doutor, eu não acredito em antídotos. Deixe que tudo aconteça como deve, como a água segue o seu devido curso; Eu não terei nada que ver com o seu remédio. Além do mais, eu não creio que haja nenhum remédio para o veneno que eu tomei; e, ainda, eu não me importo se há ou não.
Bem, meu caro, você irá morrer; e quando o inquérito do legista for realizado em seu corpo, o veredicto será, “Serve-o bem!” Assim será com você se, tendo ouvido o evangelho de Jesus Cristo, disser, “Eu sou um homem muito avançado para me meter com aquela noção antiquada de substituição. Eu não atenderei ao discurso do pregador sobre sacrifício e aspersão de sangue”. E, quando você perecer, o veredicto finalmente dado por sua consciência, que vai se sentar lá em cima junto com o Rei, será, “Suicídio: ele destruiu a própria alma”.
Assim diz o velho Livro – “A tua ruína, ó Israel, vem de ti”. Leitor, eu lhe imploro, não faça isso.








18 - O Poder do Espírito Santo

Por J.C.Ryle

Há esperança no Evangelho a qualquer homem, enquanto ele viver.
Há infinita boa vontade em Cristo para perdoar pecados. Há infinito
poder no Espírito Santo para transformar corações.
Existem muitas doenças do corpo que são incuráveis. Os doutores
mais sábios não podem curá-las. Mas, graças a Deus! Não existem
doenças incuráveis da alma. Todas as espécies e quantidades de pecados
podem ser lavados por Cristo. O mais difícil e perverso dos corações pode
ser mudado.
Leitor, eu digo novamente, enquanto há vida, há esperança. O mais
velho, mais vil, o pior dos pecadores pode ser salvo. Apenas deixe-o vir
a Cristo, confessar seus pecados, e clamar por perdão – apenas deixe-o
lançar sua alma em Cristo, e ele será curado. O Espírito Santo será
enviado ao seu coração, conforme a promessa de Cristo, e ele será
transformado pelo seu grandioso poder, em uma nova criatura.
Eu nunca me preocupo com qualquer que se torne um cristão, o que
quer que esta pessoa tenha sido em tempos passados. Eu sei quão
grandiosa é a mudança da morte para a vida; Eu sei que montanhas
de divisão parecem ficar entre alguns homens e o Céu; Eu sei das
dificuldades, dos prejuízos, da pecaminosidade desesperadora do coração
natural; mas eu lembro que Deus o Pai fez este glorioso mundo do nada.
Eu lembro da voz do Senhor Jesus que pôde alcançar Lázaro
quando este tinha quatro dias de morto, e o chamou de volta, mesmo
da sepultura; Eu lembro das incríveis que o Espírito de Deus venceu
em cada nação debaixo do Céu; Eu me lembro disso tudo e sinto que
nunca devo me desesperar. Sim! Estas mesmas pessoas que agora parecem
mais completamente mortas em pecados, podem ainda ser tornadas nova
criatura e andar diante de Deus em novidade de vida.
Por que não deveria ser assim? O Espírito Santo é um Espírito poderoso,
misericordioso e amoroso. Ele não se volta de ninguém por causa de sua vileza.
Ele não deixa de visitar porque seus pecados são preto e escarlate.
Não havia nada nos coríntios para que ele viesse e os vivificasse. Paulo
relata que eles eram, “fornicadores, idólatras, adúlteros, efeminados,
ladrões, cobiçosos, beberrões, maldizentes, roubadores.” “Tais como”,
ele diz, “eram alguns de vocês.” No entanto, mesmo a eles o Espírito
vivificou. “Fostes lavados,” ele escreve, “fostes santificados, fostes justificados,
no nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus.” (1 Co, 6.9-11)
Não havia nada nos colossenses para que Ele visitasse seus corações.
Paulo nos fala que eles andavam em “fornicação, impureza, afeiçoes
desordenadas, concupiscências malignas e avareza que é idolatria.”
No entanto, a eles também o Espírito vivificou. Ele os fez, “despir-se
do velho homem e seus feitos, e vestir-se do novo homem que é renovado em
conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou.” (Cl 3.5-10).
Não havia nada em Maria Madalena para que o Espírito devesse tornar viva sua
alma. Ela esteve possuída por 07 demônios. Tempo houve, se o relato é verdadeiro,
que ela foi uma mulher proverbial para a vileza e iniquidade. No entanto, mesmo
ela o Espírito fez uma nova criatura, - separou-a de seus pecados – trouxe-a a
Cristo – a fez a última na cruz e a primeira na tumba.
Nunca, nunca o Espírito Santo se volta de uma alma por causa de sua
corrupção. Ele nunca fez isso; Ele nunca fará. É Sua glória que ele
tem purificado a mente dos mais impuros, e feito deles templos para
sua própria morada. Ele pode ainda pegar o pior dos que leram este
folheto e fazer dele um receptor da Graça.
Por que não deveria ser assim? O Espírito é um Todo-Poderoso Espírito.
Ele pode mudar um coração de pedra em um coração de carne. Ele
pode destruir os maus-hábitos mais fortes, como uma estopa no
fogo. Ele pode fazer as coisas mais difíceis parecerem fáceis e as mais
poderosas objeções derreterem como neve na primavera. Ele pode cortar as
barras de metal e arrebentar os portões do prejuízo. Ele pode
encher cada vale e fazer cada lugar árduo, suave. Ele tem feito isto
regularmente, e pode fazer novamente.
O Espírito pode usar um judeu – o mais amargo inimigo da cristandade, o mais
feroz perseguidor dos verdadeiros crentes, o mais forte defensor das noções
farisaicas, o opositor mais prejudicial da Doutrina
Evangélica – e transformar este homem em um pregador zeloso da
mesma fé que uma vez ele tentou destruir. Ele já fez isso – Ele fez isso
com o Apóstolo Paulo.
O Espírito pode usar um monge católico romano, criado no meio da
superstição romana - treinado desde sua infância para crer na falsa
doutrina, e obedecer o Papa – mergulhado com seus olhos no erro –
fazer deste homem o mais claro defensor da justificação pela fé que o
mundo já viu; Ele já fez isso – Ele fez com Martinho Lutero.
O Espírito pode usar um funileiro inglês, sem estudo, patronagem ou
dinheiro, - um homem uma vez conhecido por nada menos que blasfemar e
praguejar, - e fazer este homem escrever um livro religioso, o qual permanece
sem rival e inigualado em seu modo, por qualquer um desde o tempo dos Apóstolos.
Ele já fez isto – Ele fez com John Bunyan, o autor de “O Peregrino.”
O Espírito pode usar um marinheiro, afundado em mundanismo e pecado – um

depravado capitão de um navio negreiro, - e fazer deste
homem um dos mais bem-sucedidos ministros do Evangelho; um escritor de cartas
que são o celeiro da religião experimental; e de hinos que são conhecidos e
cantados em qualquer lugar onde a língua inglesa é falada. Ele já fez isto. Ele fez
com John Newton.
Tudo isto o Espírito tem feito, e muito mais, do qual eu não posso falar em particular.
E o braço do Espírito não está encolhido; Seu poder
não está deteriorado. Ele é como o Senhor Jesus – o mesmo ontem,
hoje e para sempre. Ele ainda faz maravilhas e fará até o fim dos tempos.
Eu não ficarei surpreso em ouvir, mesmo nesta vida, que o homem
mais severo que eu conheço, tenha se tornado quebrantado, e o mais
orgulhoso, tenha tomado lugar aos pés de Jesus como uma criança.
Eu não ficarei surpreso de encontrar muitos à mão direita no dia do
Juízo, os quais eu deixei, quando morrer, viajando pelo caminho largo.
Eu nunca me desespero porque eu creio no poder do Espírito Santo.
Nós, ministros, podemos bem nos desesperar, mas ao olharmos nosso
próprio desempenho. Estamos frequentemente doentes de nós mesmos. Podemos
nos desesperar quando olhamos para algumas pessoas
que pertencem as nossas congregações; parecem tão duras e insensí-
veis quanto uma pedra de moinho. Mas nos lembramos do Espírito
Santo e do que Ele já fez. Nos lembramos do Espírito Santo e refletimos que Ele
não mudou. Ele pode descer como fogo e derreter os mais
duros corações; Ele pode converter os piores homens ou mulheres entre nossos

ouvintes, moldar todo seu caráter em uma nova forma. E assim nós pregamos.
Temos esperança por causa do Espírito Santo.
Oh, que nossos corações possam entender que o progresso da verdadeira religião

depende não de nossa força ou poder, mas do Espírito
do Senhor! Oh que muitos deles possa aprender a depender menos de
seus ministros e a orar mais pelo Espírito Santo! Oh, que todos possamos aprender
a esperar menos de escolas, folhetos e aparatos eclesiásticos, e, ao mesmo tempo
usando todos os meios diligentemente, buscarmos mais intensamente um
derramamento do Espírito.
Leitor, você se sente menor se aproximando de Deus? A menor inquietação sobre
sua alma imortal? Sua consciência lhe diz neste dia, que você ainda não sentiu o
poder do Espírito, e que você quer saber o que é isso? Ouça, e eu lhe direi.
Por um lado, você deve ir imediatamente ao Senhor Jesus Cristo em oração, e
rogar-Lhe que tenha misericórdia de você, e lhe envie o Espírito. Você deve ir
diretamente aquela fonte de águas vivas, o Senhor Jesus Cristo, e receberá o
Espírito Santo (João, 6.39). Comece imediatamente à orar pelo Espírito Santo.
Não pense que está emudecido e sem esperança: O Espírito Santo é prometido aos
que lhe pedirem.
Seu nome é Espírito da Promessa e Espírito de Vida. Não Lhe dê descanso até que
Ele venha e lhe faça um novo coração. Clamai vigorosamente ao Senhor – dize-Lhe,
“Abençoa-me, mesmo também a mim:
vivifica-me, e faze-me vivo.”
De minha parte, eu não ouso enviar almas ansiosas a ninguém senão
a Cristo. Eu não apoio aqueles que dizem aos homens para orar para
o Espírito Santo em primeiro lugar, a fim de que eles possam ir a Cristo em segundo
lugar. Eu não vejo fundamento nas Escrituras para dizer isto. Eu vejo somente que
se os homens se sentem necessitados, pecadores perecendo, eles devem se aplicar,
em primeiro lugar e principalmente, direta e unicamente à Jesus Cristo. Eu vejo que
Ele mesmo diz, “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba” (João 7.37). Eu sei que
está escrito “recebeste dons dentre os homens, e até dentre os rebeldes, para que
o Senhor Deus habitasse entre eles” (Salmos 68.18).
Eu sei que é seu ofício especial batizar com o Espírito Santo, e que “Nele habita
toda plenitude.” Não ouso tentar ser mais sistemático que a Bíblia.
Eu creio que Cristo é o ponto de encontro entre Deus e a alma: e meu primeiro
conselho a qualquer um que queira o Espírito, deve sempre ser, “vá a Jesus, e
conte suas necessidades a Ele.”
Por outro lado, se você ainda não sentiu o poder conversor do Espírito, você precisa
ser diligente em observar os meios de graça através do qual o Espírito opera.
Você deve ouvir regularmente a Palavra que é Sua espada; você deve
habitualmente comparecer aquelas assembleias onde Sua presença é prometida;
você deve, em suma, ser encontrado no caminho do Espírito, se você quer que o
Espírito lhe faça bem.
O cego Bartimeu jamais teria recebido a visão, se tivesse ficado sentado
preguiçosamente em casa, e não tivesse saído afora, para se sentar
a beira do caminho. Zaqueu poderia nunca ter visto Jesus, e se tornado um filho de
Abraão, se ele não tivesse corrido adiante e subido no pé de sicômoro.
O Espírito é um Espírito amoroso e bom. Mas aquele que despreza os meios
de graça, resiste ao Espírito Santo.
Leitor, lembre-se destas duas coisas. Eu creio firmemente que nenhum homem
jamais agiu com honestidade e perseverança nestes dois conselhos, que não,
mais cedo ou mais tarde, tem o Espírito, e descobre, por experiência própria que Ele
é “poderoso pra salvar”.








19 - Pode mesmo o pior pecador ser salvo?

Por John Piper

Uma das coisas maravilhosas sobre as Escrituras é que elas são tão honestas sobre quem é salvo e sobre quem pode ser salvo.
O apóstolo Paulo, que escreveu treze dos nossos livros do Novo Testamento, usou sua própria vida para dizer, “Porque eu sou salvo, você sabe que Deus é paciente com o maior dos pecadores, porque eu sou o maior dos pecadores”.
Ele apontou para o fato de ele ter perseguido a igreja. Ele jogou os cristãos na prisão. Ele respirava assassinatos e ameaças e depois ele disse especificamente em 1 Timóteo ”Deus mostrou paciência para comigo para que aqueles que ainda viriam à fé sentissem que Deus teria paciência com eles”.
Então minha resposta é: Sim! Com certeza, sim! O mais vil, o mais corrupto, e mais constante pecador pode achar na Cruz de Jesus Cristo o sacrifício suficiente para cobrir todos os seus pecados e a justiça suficiente para repor toda a sua injustiça. Isto é assim, para que quando chegarem a Deus, eles não venham com a sua própria justiça, mas na justiça de Cristo; e que não cheguem com seus próprios pecados, mas com os pecados que foram perdoados por Jesus Cristo.
O pior dos pecadores pode ser salvo pela suficiência total de Cristo.









20 - “Poderoso para salvar” (Isaías 63:1)

Charles Haddon Spurgeon

Pela palavra "salvar" compreende-se toda a grandiosa obra da salvação, desde o primeiro desejo santo até a completa santificação.
Na verdade, eis aqui toda misericórdia em uma só palavra.
Cristo não é somente "poderoso para salvar" aqueles que se arrependem, mas Ele também é capaz de fazer com que os homens se arrependam.
Ele conduzirá ao céu todos os que creem; além disso, Ele também é poderoso para dar aos homens um novo coração e operar dentro deles a fé.
Ele é poderoso para fazer o homem que odeia a santidade, amá-la, e para constranger aos que desprezam o Seu nome, a dobrar os joelhos diante dEle.
E isso não é tudo, pois o poder divino é igualmente visto depois da conversão.
A vida do cristão é uma série de milagres operados pelo "Poderoso Deus".
A sarça arde, mas não se consome.
Ele é poderoso para manter o Seu povo em santidade de vida após tê-lo tornado santo, e para preservá-los em temor e amor até consumar sua existência espiritual no céu.
O poder de Cristo não está em tornar uma pessoa crente e depois deixar que ela mude por si mesma; mas
Aquele que começa a boa obra continua o Seu trabalho; Aquele que dá o primeiro sopro de vida na alma morta prolonga a existência divina e fortalece-a até que ela rompa todos os laços do pecado e a alma salte da terra, aperfeiçoada em glória.
Cristão, eis aqui o teu alento.
Estás orando por um ente querido?
Oh, não desistas das tuas orações, pois Cristo é "poderoso para salvar".
Tu és impotente para recuperar o rebelde, mas o teu Senhor é Todo-Poderoso.
Agarra-te nesse braço poderoso e usa-o para que te dê da Sua força.
São os teus próprios problemas que te atormentam?
Não temas, pois a força dEle é suficiente para ti.
Começando com os outros ou continuando a obra em ti, Jesus é "poderoso para salvar"; a melhor prova disso reside no fato de que Ele te salvou.
Quantas misericórdias não tens encontrado nAquele que é poderoso para salvar!








21 - Salvos sem Merecimento

Deus justifica por eleição e misericórdia.
“Terei misericórdia de quem quiser ter misericórdia”.
É preciso ter muito cuidado para não colocarmos o assunto da justificação em termos de méritos pessoais ou da justiça própria.
Assim fazendo não incorreremos no erro do fariseu em relação ao publicano, na parábola citada por Jesus, o qual se considerava justo diante de Deus, pelas obras que praticava.
Ao seu lado, um desprezado publicano, reconhecia-se pecador, e sequer ousava erguer os olhos para o céu, em arrependimento dos seus pecados. Este foi justificado e não o outro.
A parábola dos trabalhadores na vinha também exemplifica a concessão da graça na mesma medida salvadora, para todos os homens, independentemente dos seus méritos.
Pois todos receberam o mesmo salário, tanto os que trabalharam muitas horas quanto os que trabalharam uma só hora.
A razão porque o Senhor “não desamparará o seu povo” como está afirmado em I Sm 12.22 está expressada aqui mais explicitamente, tanto quanto a declaração do Seu imutável amor.
Não é porque eles fossem menos pecadores do que os outros, quer em natureza quer por praticá-lo; ou por causa de alguma qualidade moral que se encontrasse neles; mas “porque aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo.”, e “por causa do Seu grande nome”.
É da natureza terrena nos compararmos com outros e pensarmos que somos mais justos do que eles.
Mas aos olhos de Deus todos somos transgressores da sua lei e culpados.
Somente em Cristo e por meio de Cristo e por causa de Cristo, que podemos ser aceitos, porque a nossa natureza terrena, seja ela qual for, a de um sincero Nicodemos, ou a de um terrível malfeitor, está separada de Deus, em sua morte espiritual, e necessita de um novo nascimento, que só pode ter aquele que for justificado pela fé.
A graça somente opera para o nosso bem porque é de fato um favor imerecido. De outra forma não operaria para nenhum de nós. Bem faríamos em fazer sempre como o publicano, por maior que seja o grau de  nossa santificação: “Oh Deus sê compassivo a mim mísero pecador”, e também a dizer juntamente com Paulo, “Miserável homem que sou. Quem me livrará do corpo desta morte ? Graças a Deus por Jesus Cristo.”.









22 - A Salvação Impossível

"E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível." [Mateus 19:26].

Em Mateus 19:16-26, vemos que quando um homem jovem veio até Jesus Cristo e perguntou o que teria de fazer para obter a vida eterna, a resposta que recebeu testou sua sinceridade! Depois de uma rápida conversa, ele ouviu que para possuir um tesouro no céu, teria de vender tudo o que tinha e dar aos pobres. Mas aquilo arruinou seu dia, e ele "ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades". [Mateus 19: 22].

Então, como um aparte aos seus discípulos, o Senhor teve isto a dizer:

"Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus. E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." [Mateus 19:23-24].

O próximo verso nos diz como os discípulos reagiram ao ensino:

"Os seus discípulos, ouvindo isto, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá pois salvar-se?" [Mateus 19:25].

Eles perceberam corretamente que a analogia envolvendo camelos e agulhas tinha a intenção de ensinar o princípio da impossibilidade e aquilo os deixou atordoados, porque os judeus acreditavam que as riquezas eram uma clara indicação da aprovação e das bençãos de Deus sobre um indivíduo. Portanto, se um homem rico não pudesse ser salvo, quem poderia?

No verso 26 (citado no subtítulo), foi dito aos discípulos que a salvação era impossível aos homens, mas possível a Deus.

Sendo este o caso, vamos manter a palavra “impossível” gravada em nossa mente enquanto voltamos a atenção para a doutrina da salvação e consideremos algumas coisas que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto.

"Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser." [Romanos 8:6-7].

Em seguida, vemos o tema que o apóstolo Paulo iniciou nos versos 4-7 resumidos nos versos 8 e 9:

"Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele." [Romanos 8:8-9].

Portanto, é na realidade impossível para "o homem natural" (o termo que Paulo usa para referenciar um indivíduo não regenerado) agradar, satisfazer ou ser aceitável a Deus. Esse princípio carrega enormes implicações teológicas.

Então, para tornar uma situação ruim ainda pior, encontramos outro aspecto do ensino de Paulo no seguinte verso:

"Ora o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." [1 Coríntios 2:14].

Há também aqui uma conotação de impossibilidade, porque o indivíduo não regenerado não compreende as coisas (os dons, ensinos e revelações) do Espírito de Deus. A Bíblia é incompreensível e sem qualquer sentido para ele — algo que os cristãos que tentam discutir coisas espirituais com incrédulos descobrem bem depressa.

Por que é impossível para eles entenderem? A Palavra de Deus diz que eles estão espiritualmente mortos e são escravos de Satanás:

"Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa aos mortos sepultar os seus mortos." [Mateus 8:22].

"E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência." [Efésios 2:1-2].

O comentário do Senhor Jesus no livro de Mateus refere-se àqueles que estavam espiritualmente mortos e, na segunda passagem, o apóstolo Paulo diz aos crentes de Éfeso qual tinha sido a condição anterior deles. Observe também que Deus fez aqueles crentes reverterem seu estado de morte espiritual — a ressurreição da morte que é referida como nascer de novo.

Há também algo no livro de Romanos que está intimamente relacionado:

"Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só." [Romanos 3:10-12].

Qual foi a primeira coisa que Adão e Eva fizeram depois que provaram o fruto proibido? Eles tentaram se esconder de Deus e todas as almas perdidas daquele dia em diante tentam fazer o mesmo, porque o gênero humano como um todo herdou a natureza caída e depravada deles!

Em seguida, descobrimos que é impossível para qualquer indivíduo vir a Cristo, a não ser que o Espírito Santo forneça o ímpeto e o arraste até Ele:

"Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou o não trouxer: e eu o ressuscitarei no último dia." [João 6:44].

Arrastar?? Sim, de acordo com a Concordância de Strong, a palavra grega helkyo traduzida como "trouxer" significa arrastar, literal ou figurativamente. A natureza humana pecaminosa é forte e continuará resistindo a Deus até que finalmente seja deixada para trás, quando nós, como crentes, recebermos nossos corpos glorificados no arrebatamento da igreja. Enquanto permanecermos nestes corpos caídos e depravados, o Espírito Santo continuará a nos arrastar para a meta da maturidade espiritual; pois seria impossível obter progresso sem a ajuda Dele.

Assim, para resumir o que vimos até aqui, o homem perdido — o homem não regenerado — vive em um estado em que é impossível para ele reconhecer, e muito menos fazer qualquer coisa a respeito, pois:

Está morto espiritualmente.
É um escravo de Satanás.
Não pode fazer nada para agradar a Deus.
Não pode compreender a palavra de Deus.
Não busca a Deus.
O único modo de sua condição espiritual piorar ainda mais é morrer, como aconteceu com o homem rico de Lucas 16, e entrar nos tormentos do inferno!

De algumas formas, a condição do homem natural me lembra a que Helen Keller (1880-1969) experimentou logo no início de sua vida. Uma enfermidade a deixou cega e surda aos 19 meses de idade, contudo ela se transformou em uma notável autora, ativista política e conferencista. A história de como sua professora, Annie Sullivan conseguiu quebrar o isolamento imposto a ela por uma quase completa carência de linguagem ficou conhecido mundialmente por meio do filme O Milagre de Helen Keller (The Miracle Worker).

Alguns anos atrás visitei a casa dela em Tuscumbia, no Alabama, para assistir a peça teatral The Miracle Worker, encenada por atores locais — e uma coisa que imediatamente me surpreendeu foi como ela era uma criança ativa e incontrolável! Suas ações imitavam aquelas de uma pessoa insana, mas é claro que as extremas incapacidades físicas a tinham reduzido a uma busca centrada em si mesma para satisfazer às necessidades mais básicas de um ser humano.

Vamos tentar nos colocar no lugar dela e imaginar como seria crescer sem poder ver ou ouvir qualquer coisa. Se houve qualquer lembrança de fala, deve ter sido mínima, tornando o processo de pensar extremamente vago e difícil. E se ela não tivesse recebido ajuda, o resultado teria sido indubitavelmente uma vida com pouquíssima mudança para melhor, porque era humanamente impossível para ela fazer qualquer progresso significativo sozinha.

Todavia, a situação espiritual que todos os serem humanos enfrentam ao nascer é infinitamente mais pavorosa, porque nenhuma "Annie Sullivan" pode intervir a favor deles e ajudá-los a sair de sua condição. Eles estão espiritualmente mortos e não podem ser alcançados pela ajuda de meros mortais – não importa o quão amorosos e preocupados eles possam ser em suas intenções! Para a salvação ser obtida, Deus terá de concedê-la, pois de outro modo é impossível.

Isto nos traz a um melindroso ponto da doutrina que ainda evoca um caloroso debate entre o povo de Deus: uma pessoa perdida pode tomar a decisão de se arrepender dos seus pecados e "aceitar" a Jesus Cristo? A opinião da maioria hoje é um impróprio "sim", mas não deveríamos perguntar para nós mesmos como isso é possível, levando-se em conta a morte espiritual e a servidão a Satanás? A princípio, os homens naturais estão em um estado muito pior do que o de Helen Keller, no sentido que não são apenas "cegos e surdos" em sua condição espiritual, mas não têm nenhum senso de "tato, paladar ou olfato"! Eles estão espiritualmente mortos e até mesmo sua esperança se foi:

"... que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo." [Efésios 2:12; ênfase adicionada].

Não parece razoável concluir que Deus estaria satisfeito se eles escolhessem se arrepender e receber a Cristo? Mas como isso é possível, se Romanos 8:8-9 inequivocamente define o fato que eles não podem agradar a Deus enquanto estiverem na condição de homem não regenerado e, portanto, desprovidos do Espírito Santo?

Helen Keller unilateralmente escolheu erguer-se por iniciativa própria e sem a ajuda de ninguém? Não, porque naquele momento ela era totalmente incapaz de tomar essa decisão e sua “salvação” requereu ajuda externa. E eu respeitosamente digo que tal é o caso com um pecador perdido. Arrependimento e fé são impossíveis, a não ser que Deus primeiro anule a maldição de morte espiritual regenerando o indivíduo. É claro que sei que essa sequência é uma contradição completa daquilo que a maioria dos cristãos professos acredita hoje (na maior parte de minha vida também acreditei nisso, porque é o que me foi ensinado), mas uma análise mais atenta e cuidadosa das Escrituras revela que a ordem está na realidade correta.

"E os gentios ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna." [Atos 13:48].

Observe que os que estavam "ordenados" é que creram; o texto não diz: "Todos os que creram foram ordenados para a vida eterna" — a sequência comumente ensinada hoje. Em outras palavras, (1) "Se você fizer algo (aceitar a Cristo) (2) receberá a salvação de Deus. Mas não podemos ver que “aceitar” é um verbo? Verbos indicam ação e ação indica obras — algo que a Palavra de Deus sonoramente refuta como sendo um meio de se obter a salvação!

"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie." [Efésios 2:8-9].

Portanto, para concluir, preciso salientar que existe uma sugestão no mínimo estranha quando se diz que alguém precisa “aceitar” a Cristo para ser salvo. Isto é como dizer para um criminoso na fila para receber a pena de morte que para ser perdoado pelo governador, ele precisa aceitar o perdão! A salvação, como um perdão, é um ato de graça (favor imerecido) do Doador e a permissão do recebedor condenado nem é requerida nem buscada. Na realidade, fazer isso seria um absurdo completo por causa da enormidade do gesto! Isso também daria a um indivíduo orgulhoso a oportunidade de se vangloriar de ter a palavra final: "Não quis permitir que eles colocassem aquele perdão na minha goela abaixo, de modo que os fiz esperar enquanto pensava sobre o assunto!".

Antes de você levantar a objeção quase automática sobre isso ser uma violação da liberdade do arbítrio da pessoa, há uma questão lógica que precisamos considerar: uma vez que uma pessoa não regenerada não pode agradar a Deus, como o arbítrio (a vontade) dela pode ser verdadeiramente livre? Liberdade e limitação não são mutuamente exclusivas?

Além disso, por que o Espírito Santo usa a palavra "morto" (do grego nekros) para descrever a condição espiritual do não-regenerado — a mesma palavra usada para descrever a condição física terminal de Jesus Cristo na cruz — a menos que ambos estivessem em um estado de existência que fosse além do ponto em que, humanamente falando, "tomando uma decisão" eles poderiam mudar sua condição? Eu digo a você que somente o milagre da ressurreição pode realizar isso para aqueles que estão mortos.

Quando Deus ressuscita o morto, Ele regenera uma alma e recebe um filho! Então, e somente então, o homem pecador é capaz de compreender o milagre espiritual que foi feito por ele, de modo que, sem primeiro passar "da morte para vida" (João 5:24), crer é impossível. Sendo esse o caso, a crença é de fato o resultado da salvação e não a causa!

O que há de mais nisso? Você pergunta. O importante é ser salvo, indiferente de como chegamos lá, certo? Bem… não realmente! Considere as seguintes afirmações e então pergunte a si mesmo qual das duas opções traz maior honra para Deus:

Deus me salvou.
Permiti que Deus me salvasse.

Se você nunca colocou sua confiança em Jesus Cristo como Salvador, mas entendeu que ele é real e que o fim dos tempos está próximo, e quer receber o Dom Gratuito da Vida Eterna, pode fazer isso agora, na privacidade do seu lar. Após confiar em Jesus Cristo como seu Salvador, você nasce de novo espiritualmente e passa a ter a certeza da vida eterna nos céus, como se já estivesse lá. Assim, pode ter a certeza de que o Reino do Anticristo não o tocará espiritualmente. Se quiser saber como nascer de novo, vá para nossa Página da Salvação agora.

Esperamos que este ministério seja uma bênção em sua vida. Nosso propósito é educar e advertir as pessoas, para que vejam a vindoura Nova Ordem Mundial, o Reino do Anticristo, nas notícias do dia a dia.

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Que Deus o abençoe.
Autor: Pr. Ron Riffe
Tradução: M. M. Miranda
Data da publicação: 19/7/2009
Revisão: http://www.TextoExato.com
A Espada do Espírito:

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