sexta-feira, 23 de outubro de 2015

122) Reconciliação e Restauração 123) Redenção

122) RECONCILIAÇÃO E RESTAURAÇÃO

ÍNDICE

1 - A Queda e a Restauração de Pedro
2 - Meu Restaurador
3 - Reconciliados pela Justificação
4 - Restaurando Almas Quebradas
5 - A Maravilhosa Restauração Operada pela Luz de Jesus


1 - A Queda e a Restauração de Pedro

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo. Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente.” (Lucas 22.61,62)

Não há, em qualquer um dos registros dos evangelhos, uma única palavra dita por meio de tratamento paliativo da grande culpa de Pedro.
Por que, você acha que é esta triste recordação, dada assim, por três vezes? Não é, de modo que devemos ter uma atenção triplicada? Isto merece esta menção especial, em primeiro lugar, porque deve ter aumentado bastante o sofrimento do Senhor Jesus Cristo por saber que, enquanto ele estava suportando humilhações indizíveis em nome do Seu povo, o seu mais proeminente discípulo estava negando-o com juramentos e imprecações. Eu não posso imaginar que qualquer das torturas que Ele sofreu de seus inimigos poderia ter-lhe causado tanta dor como essa negação ímpia por um de seus amigos mais próximos.
Mas, também, eu acho que a queda e restauração de Pedro estão, portanto, totalmente gravadas para expor a grandeza de nossa salvação. Não é maravilhoso pensar que, antes de morrer, Jesus restaurou a este grande apóstata, eu quase digo, "este apóstata aberto", que ele foi, de acordo com sua própria língua? Eu posso, na imaginação, ver o pobre Pedro dobrar-se diante da cruz do Calvário e olhando para cima, em meio a lágrimas de tristeza e alegria, como ele lamenta a sua grande culpa e vê tudo perdoado!
Em seguida, vem o ladrão morrendo, para representar uma outra classe de pessoas que trazem grande glória ao nosso Senhor morrendo. Pedro é o desviado restaurado - o ladrão moribundo é o pecador salvo às 11 horas. Ele estava à beira do inferno, mas o Mestre estendeu a mão para salvá-lo, dizendo: "Hoje estarás comigo no Paraíso". Eu não posso imaginar dois incidentes revelarem maior Graça Divina do que estes dois, que tão ricamente adornam e embelezam a cruz!
Além disso, você não acha que há, nesta negação tripla, uma lição instrutiva para nós sobre a fragilidade do melhor dos homens? A Sagrada Escritura não nos diz muito sobre os melhores dos homens que viveram nos velhos tempos, sua história dos santos é um pouco escassa, mas é especial na gravação de suas falhas, como se o seu propósito especial fosse o de nos lembrar que o melhor dos homens é ainda pecador!
A queda de Pedro parece dizer a cada um de nós: "Você também é fraco. Você, também, vai cair se você é deixado a si mesmo. Portanto confie inteiramente em seu Mestre, mas nunca confie em si mesmo. Olhe sempre para Ele e não confie em sua própria experiência, ou na firmeza de sua própria resolução, porque você certamente cairá, como Pedro, a não ser que a mão onipotente de Cristo o segure.”
A queda de Pedro foi uma queda muito triste, porque era a queda de um dos mais favorecidos dos discípulos de Cristo.
Nosso Senhor tinha muitos discípulos, mas Ele disse aos Apóstolos: "Eu vos escolhi a vós doze." Desses doze, ele havia evidentemente escolhido três - Pedro, Tiago e João, que tiveram o privilégio de estar com ele em várias ocasiões, quando todos os outros foram expulsos.
Pedro tinha sido especialmente favorecido, de modo que, provavelmente, nem mesmo João o superou na honra que o seu Mestre tinha colocado sobre ele. Depois de sua declaração relativa à messianidade e divindade de Cristo, Jesus disse-lhe: "Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, a carne e o sangue não o revelou a ti, mas meu Pai que está nos céus." Então você vê que Pedro era um homem altamente favorecido e para ele, negar seu Mestre era um pecado muito terrível. Quanto maior for o nosso privilégio, queridos amigos, maior é a nossa responsabilidade! Quanto mais nobre é a nossa vocação, mais horrível é o nosso pecado quando caímos nela.
Em segundo lugar, a queda de Pedro foi especialmente triste porque ele tinha sido fielmente avisado sobre isso. Nosso Senhor tinha dito aos onze, "Todos vocês se escandalizarão de mim esta noite." E então, quando Pedro declarou que ele não o faria, nosso Senhor claramente predisse sua tripla negação. Quando Jesus, após a primeira parte de sua agonia no jardim, voltou para os três discípulos especialmente favorecidos e encontrou-os dormindo, disse a Pedro: "Simão, você dorme? Não pudeste vigiar uma hora? Vigie e ore para que não entre em tentação." Assim, Pedro sabia a qual perigo ele estava exposto. Ele não era, como algumas pessoas inexperientes são, surpreendidas de repente, deslocadas de seus pés por um tornado feroz da tentação. Se ele não vigiasse e orasse - ele deveria ter feito isso, pois tinha sido expressamente advertido, sim, e dito que naquela mesma noite, não somente estaria em perigo, mas que ele realmente iria cair na armadilha que Satanás, o grande caçador, estava montando para ele! Após esse aviso, ele não seria como um pássaro preso em uma armadilha que não tivesse visto, mas como aquele que voa corajosamente na direção da armadilha. Isso fez com que o seu pecado fosse ainda maior!
Além disso, a culpa do pecado de Pedro é reforçada pelo fato de que ele retrucou a advertência de Seu Mestre dizendo que ainda que todos se escandalizassem, ele não o faria. Agora, note que essa declaração foi feita durante a noite e o sol não tinha ainda nascido, o galo não havia cantado antes de ele ter negado três vezes o seu Mestre!
Há outro agravante do pecado de Pedro, que devo mencionar que é que tudo isto foi feito muito perto de onde seu Senhor e Mestre estava sofrendo naquele momento. E para você e para mim - pecar na presença da Majestade do Céu, (e todo o pecado faz isso), é um crime enorme.
Qual foi a razão pela qual Pedro pecou de tal forma - eu respondo, em primeiro lugar, por causa de seu medo do homem. O ousado Pedro tornou-se um covarde delirante! E, ah, como muitos têm negado seu Mestre, porque eles têm medo de uma brincadeira ou uma zombaria! Foi apenas uma empregada e outra fofoqueira com ela, e algumas mulheres e homens ociosos ao redor do fogo ao ar livre, mas Pedro estava com medo deles e, portanto, ele não teve medo de negar seu Mestre.
Talvez a principal razão para a negação de seu Senhor era a sua confiança em si mesmo. Se Pedro se sentisse mais fraco, ele realmente teria sido mais forte. Mas, porque se sentia tão forte em si mesmo, portanto, provou ser fraco como a água e por isso negou o seu Mestre.
Sabemos, também, que a negação foi causada pela falta de vigilância e oração por parte de Pedro. Ele estava fora de sua guarda, quando estava sentado ou em pé confortavelmente junto ao fogo e, portanto, ele caiu tão tristemente. Sua queda foi causada, espero, por uma falta geral de firmeza em seu caráter. Ele era impetuoso, impulsivo, rápido, pronto, bravo, corajoso, mas, ao mesmo tempo, ele não tinha domínio próprio. Mesmo depois disso, faltou-lhe esse elemento essencial de um caráter forte, pois Paulo teve de "resistir-lhe na cara, porque era repreensível." Mas, neste momento do teste, ele manifestou uma triste falta de solidez de caráter. Ele foi levado por circunstâncias e, mesmo quando passou a ser contra o seu Senhor e Mestre, ele ainda foi levado com eles!
Agora, em segundo lugar, observe os MEIOS DA RECUPERAÇÃO de Pedro. Eles valem de aviso prévio para nós.
O primeiro meio foi o cantar do galo. Isso aconteceu depois que Pedro havia negado seu Mestre. Oh, aquele canto tocou o coração de Pedro! Sua mensagem forçou seu caminho para a consciência de Pedro! Deus tem muitas maneiras de atingir a consciência do homem.
Mas isso não era suficiente, nem era a metade do suficiente para trazê-lo ao arrependimento.
A próxima coisa que tocou Pedro, a principal, foi o olhar de Cristo. Não é possível para qualquer um de nós dar um olhar assim. Era um olhar como o Senhor deu à escuridão primitiva, quando disse: "Haja luz", e a escuridão foi dissipada por uma vista de olhos de Jeová. Assim, a escuridão, que o diabo tinha lançado sobre a alma de Pedro, foi expulsa por um lampejo dos olhos de Jesus!
Havia volumes de significado naquele olhar. Não somente lembrou-lhe da dor profunda que causara a sua negação, mas foi  também um olhar de ternura inexprimível, como se o Mestre dissesse: "eu ainda te amo, Pedro, então volte para mim e eu ainda o restaurarei!" Acho que foi um olhar de coração partido e ferido - um olhar que revelou a Pedro a escuridão do pecado e também a ternura do coração do Seu mestre em sua direção.
Aquele olhar foi o grande meio de recuperação de Pedro.
Então, o que veio em seguida foi a lembrança das palavras de Cristo, para que o olhar despertasse sua memória e lembrasse de tudo o que Seu mestre lhe dissera, e de toda a comunhão feliz que tivera com Ele, e das maravilhas que ele tinha visto Jesus fazer. Eu ouso dizer que Pedro se lembrou de como ele uma vez caminhou sobre a água e como começou a afundar até que Jesus estendeu a mão para salvá-lo. De qualquer forma, a memória fez o seu trabalho, porque, "Pedro lembrou-se das palavras que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante, você me negará três vezes. E quando ele pensava sobre isso, ele chorou." Então, essas três coisas cooperaram na produção da recuperação de Pedro.
Mas havia uma coisa que, na parte de trás de tudo isso, que nunca devemos esquecer, isto é, a oração de Cristo por Pedro. Ele lhe disse: "Eu orei por você", e o efeito daquela oração foi feito evidente na restauração do Apóstolo. Aquele olhar era eficaz para Pedro, porque o Senhor Jesus teve, em particular, intercedido por ele. Assim, sua fé não falharia e ele sairia da peneira do diabo.
Esse foi o grande meio que Cristo utilizou para a recuperação de Pedro e eu lhes peço, queridos amigos, a imitarem o exemplo de seu Salvador a este respeito. Orem pelos caídos, olhem com amor para os caídos, porque o seu próprio olhar pode fazer-lhes bem. Falem com o caído, procurem orientá-lo a voltar para Cristo e quem sabe quantos deles você pode ajudar a restaurar?







2 - Meu Restaurador

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Ele restaura a minha alma." (Salmo 23.3)

Este mais doce dos Salmos canta as muitas misericórdias que a alma feliz do crente recebe - e destaca todos aqueles benefícios que procedem de uma fonte, ou seja, do próprio Bom Pastor. "Nada me faltará". Por que? Porque o Senhor é o meu Pastor. Eu descanso em deleitoso repouso em pastos verdejantes. Por que? Porque "Ele me faz descansar." Eu marcho adiante em santo progresso junto das águas tranquilas. Por que? Porque "Ele me conduz." Na perspectiva da morte eu permaneço calmo e livre do medo. Por que? Porque Ele está comigo, sua vara e o seu cajado me consolam.
A coroa é composta de coisas muito caras - ouro, pérolas e joias raras estão todos misturados em um diadema – e este diadema é, sem dúvida, colocado com alegria sobre a cabeça do Grande Pastor de Israel. O poeta laureado da Escritura canta supremamente neste Salmo, e cada linha é dedicada ao Amado de sua alma, no qual estavam todas as suas fontes refrigerantes.
O texto é cheio de lições e lembretes, e lembra-nos, em primeiro lugar da nossa verdadeira posição como crentes. Qual é a verdadeira posição de cada crente? Ela é a de uma ovelha que permanece próxima do seu Pastor. O texto sugere que a ovelha se extraviou e o Pastor a traz de volta, a fim de colocá-la na posição da qual nunca deveria ter saído. A condição mais forte para um crente estar é em comunhão com Cristo. Isto não deve ser um privilégio desfrutado ocasionalmente - deve ser a vida cotidiana da alma. Devemos permanecer em Jesus, andar com Ele e viver Nele.
Paulo disse: "Para mim o viver é Cristo". Cristo é o nosso pão diário, a água da rocha, bem como o vinho. Para nós, o Seu nome é a palavra de ordem da terra bem como esperamos que seja o nosso passaporte para o céu. "Permanecei em Mim" é a Sua Palavra para nós, para todas as épocas, e devemos nos esforçar para cumpri-la.
Cristo não é apenas um porto de refúgio, mas uma porta para todos os tempos. Não pensem, amados, que estou criando um padrão muito elevado quando eu digo isso, pois se tivéssemos sido questionados sobre como devemos agir no futuro para o nosso Senhor, devemos fazê-lo num padrão muito alto.
Ele morreu por mim, carregando todos os meus pecados em Seu próprio corpo? Então eu vou ver a Sua morte como o mais grandioso milagre de amor! E meu coração grato deve ter comunhão com Ele através do amor e louvor. Será que Jesus realmente me perdoou? Estou limpo por ser lavado em Seu preciosíssimo sangue, totalmente limpo, e tornado um filho de Deus, e aceito no Amado? Oh, então, eu o louvarei, bendirei e viverei para Ele todos os meus dias!
O Senhor tem o prazer de nos chamar de membros do Seu corpo. Agora, cada membro do corpo deve estar em comunhão vital com a cabeça. Deve haver inevitável comunhão, embora nem sempre consciente, a comunhão no corpo espiritual deve ser apreciada conscientemente em todos os momentos. Deve tornar-se indiferente a mão em relação à cabeça, ou o pé ao cérebro? Se estamos em boas condições de saúde, tal divisão no corpo nunca ocorrerá. Podemos suspeitar de paralisia se a vida deixar de fluir por todo o corpo, e assim a comunhão estará suspensa. Está claro para todos que são ensinados por Deus que nossos relacionamentos certamente requerem de nós que permaneçamos no Senhor Jesus.
Quando fora da comunhão com Cristo, os nossos perigos são infinitos. Quando infiéis ao Seu amor somos facilmente seduzidos por todo tipo de tentação. Sem o seu amor em nossos corações, nos tornamos vítimas de outros amores que nos levam à idolatria, mergulham-nos em paixões dolorosas e envenenam as fontes de nossa alegria. Se não estivermos encantados com o amor vencedor de Jesus, seremos fascinados pelos enganos do mundo. Um dos dois mestres deve governar-nos, ou o príncipe do poder do ar, ou o Rei dos reis! Quando Cristo está conosco, estamos seguros, porque qual lobo pode arrebatar uma ovelha quando está perto da mão do Pastor? Quando estamos longe de Jesus, estamos não somente em perigo, mas já estamos despojados -  perder a comunhão com Jesus é uma perda suficiente, por si só, mesmo que nenhuma outra calamidade ocorra.
Nada podemos fazer sem Jesus. Sansão sem os seus cabelos é um tipo triste de um crente fora da comunhão. Como ousamos sair para o trabalho em qualquer dia, sem a presença do Senhor? Como pode o guerreiro ir para a batalha, sem escudo e broquel? Será que não devemos orar diariamente: "Se sua presença não vai comigo, não me leves para lá"? Como podemos ir para nossas camas sem que Ele nos tenha beijado com os beijos da Sua boca?
Os benefícios da comunhão com Cristo devem restringir-nos a permanecermos nEle. Se alguém quer crescer na graça. Se quer ser cheio do Espírito Santo. Se quer conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento. Especialmente se quer ser feito um com Ele em todas as coisas, que é a Cabeça, deve permanecer então em Cristo.
Nosso texto, em segundo lugar, nos lembra do nosso pecado frequente. "Ele restaura a minha alma" - Ele sempre faz isso. Ele está fazendo isso agora. Agora, o Senhor não faria o que é desnecessário e, portanto, isso me mostra que muitas vezes nos desviamos dEle, ou então eu não precisaria ser trazido de volta.
Devo confessar a minha incapacidade de compreender a vida cristã de muitos que são chamados cristãos. Não cabe a nós julgar sua verdadeira condição diante de Deus, nem vamos tentar fazê-lo, mas não podemos deixar de observar a incoerência de seus atos.
Eles creram em Cristo, esperamos. Esperamos, também, que a sua fé produza boas obras suficientes para provar a si mesmos que possuem uma fé viva. Mas a sua religião é fria, sem alegria, sem paixão. Há milhares de pessoas cuja religião cristã parece estar inteiramente em assistir aos cultos no domingo, e, ocasionalmente. Para eles, a oração é uma formalidade, o louvor é esquecido, a leitura da Bíblia é um trabalho penoso. Com eles, a acusação de que estão fora da comunhão com Jesus é substituída pela pergunta: "Será que eles estiveram alguma vez nela?"
Oh, queridos irmãos e irmãs, se vocês são, de fato, o Seu povo, que o Espírito Santo lhes salve da religião maçante em que vocês vivem e lhes traga para aquela condição em que vocês devem ver o seu Senhor, permanecendo nEle, e se gloriando nEle!
Cristo tem prazer em nos conhecer em termos de Graça. Ele deve ter a plenitude e nós nos esvaziarmos! Ele é o poderoso Ajudador e nós fracos pecadores. Ele é o Salvador e nós os perdidos. Enquanto dizemos que somos ricos, Ele sabe que mentimos e Ele nos deixa. Mas quando vemos que Ele tem o ouro e as vestes brancas, e o que a nossa nudez e miséria são, então, chegamos a bons termos em relação a Ele tanto quanto a nós.
A Ele deve ser atribuída toda a honra. Aqueles que Lhe honram, Ele honrará. A humildade fica aos pés de Jesus, pois este é o local escolhido da comunhão amorosa.
Podemos perder a presença de Cristo pelo esquecimento do dever, ou de Sua Verdade. Podemos, por outro lado, perdê-la por maus pensamentos e por ficarmos absorvidos em cuidados fugazes. Podemos perder a companhia de Cristo por ações inconsistentes ou por conversas ociosas. Se entristecermos o Senhor Ele nos fará sofrer. Um caminhar frio, sem amor, irreverente, em breve fará com que os raios do Sol da Justiça não repousem mais sobre nós. Bendito seja o nome do nosso Amado, pois Ele volta antes do tempo, e diz: "Por um breve momento te deixei, mas com grande misericórdia te recolherei." Mas mesmo os pequenos momentos de sua ausência são todos muito tempo! Um pouco de sua ausência é doloroso para ser suportado por um verdadeiro espírito.
Mas deixo este ponto triste por algo mais consolador. O texto nos lembra, também, do amor fiel de nosso Senhor. "Ele restaura a minha alma." Ele não faria isto se fosse mutável como nós somos. Há alguns que ensinam que Jesus deixa as Suas ovelhas perecerem. Como castigo por seus descaminhos Ele as dá para o lobo. Espero que muito poucos acreditem nesta doutrina – ela é muito desonrosa para o Bom Pastor.
O salmista coloca o texto no tempo presente, como se o Senhor tivesse o hábito de nos restaurar. Filho de Deus, tão numerosos quanto foram os seus pecados, tão numerosas foram as Suas restaurações!
A mãe não se esquece de amamentar o seu filho, embora este esteja muitas vezes rabugento e mal-humorado. Ela ainda tem compaixão do filho do seu ventre e o mesmo sucede em relação a Jesus. Estamos muito profundamente gravados nas palmas das Suas mãos para ser, finalmente, deixados para morrer. Nós temos Lhe custado muito caro para que Ele nos abandone. Depois de restaurar nossa alma cem vezes, ele ainda a restaurará. É a maneira dEle - é o hábito de Seu amor. O texto carinhosamente insinua que Ele está pronto para nos restaurar agora. Ele está em seu antigo trabalho novamente. Mesmo agora, "Ele restaura a minha alma."
Como você está, querido irmão? Você tem ficado frio? Jesus está esperando para fazer seu coração arder dentro de ti. Você se sente meio morto espiritualmente? Seu Senhor e Mestre está ainda agora pronto para vivificá-lo através da Sua Palavra e para restaurar a alegria da sua salvação!






3 - Reconciliados pela Justificação

Em Romanos 5 Paulo apresenta grandes elos da corrente que ligam o cristão ao Salvador.
Se estudamos e compreendemos realmente estes elos, percebemos que estamos ligados a Jesus para sempre. Isto é uma coisa maravilhosa para se saber. Deus não nos chamou para vivermos em eterna insegurança, pois se tememos perder a salvação na terra, pelo argumento do livre arbítrio, continuaríamos a temer então, para sempre também no céu.
O amor lança fora o medo. Somos chamados à certeza, à convicção, de outro modo, a paz com Deus referida em Romanos 5.1, que obtivemos pela justificação não poderia ser perfeita. Por isso, a justificação é uma obra acabada e perfeita. A nossa santificação sempre será uma obra inacabada neste mundo.
É por ela que estamos sendo tornados semelhantes a Cristo. É um contínuo caminhar.
É um progresso em despojar-se do velho homem e revestir-se do novo.
Não há portanto, um padrão definido de santificação estabelecido por Deus para que em sendo atingido, poderíamos dizer que estamos salvos.
Por isso que se diz que a reconciliação com Deus foi obtida e será mantida pela nossa justificação, e não pela santificação (Romanos 5.1).    
Uma das coisas que Satanás costuma atacar no cristão é este ponto da segurança da sua salvação.
Satanás adora lançar dúvidas sobre nossa redenção. É por isso que se diz em Efésios 6, que se coloque o capacete da salvação, e em I Tessalonicenses 5.8 refere-se à couraça da fé e como capacete a esperança da salvação, e no verso 9 afirma a razão disto: porque o cristão não foi destinado por Deus para a ira, mas para alcançar a salvação por meio de Jesus.
Em outras palavras, o cristão não será condenado, mas salvo por Deus.
Não está mais sujeito à ira de Deus, por causa de Jesus.
A esperança da salvação não é incerta, mas segura.
É algo em que o cristão deve confiar inteiramente, qual capacete que protege sua cabeça dos dardos inflamados de dúvidas que lhes são lançados por Satanás.







4 - Restaurando Almas Quebradas

Quando se diz que estamos vivendo na dispensação da graça, ou da paciência de Deus, isto não significa somente que Deus esteja sendo longânimo para com os pecadores, não trazendo os seus pecados imediatamente sob juízo, como também, e sobretudo, que Ele está fazendo um trabalho paciente de restauração de pecadores, para transformá-los em pessoas santas, amorosas e justas.
Isto não é um trabalho que somente Deus executa, mas todos os que têm tido um encontro pessoal com Cristo, devem aprender a realizá-lo com a mesma paciência, misericórdia e atitude perdoadora do Senhor.
Trata-se de pegar os ossos quebrados das almas dos que se arrependem, e juntá-los pacientemente num trabalho longo e minucioso, que exige de nós toda paciência em amor e tolerância, e disposição para suportar tristezas, agressões, ingratidões, por parte destes que estão sendo ajudados, até vermos Cristo sendo formado neles, por uma mudança significativa do seu comportamento anterior.







5 - A Maravilhosa Restauração Operada pela Luz de Jesus

A luz condenará as obras infrutíferas das trevas naqueles que permanecem no pecado, porque fará a exposição do que se ocultava nas trevas:

“Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se manifestam pela luz, pois tudo o que se manifesta é luz.”  (Ef 5.13).

É pela luz da revelação divina que o pecado pode ser condenado ou extirpado.
E João nos diz que a vida está em Jesus, e que esta vida era a luz dos homens; isto é, somente quando a vida poderosa de Jesus se manifesta em alguém, é que tal pessoa poderá vir para a luz de Deus e conhecer a Deus e compreender as coisas espirituais e divinas.
Assim, fora de Cristo, não há esta possibilidade, porque vida e luz para os homens procedem dEle, e ambas são inseparáveis.
A vida eterna que nós necessitamos para escapar da morte eterna está somente em Cristo Jesus, e é nEle portanto que devemos buscá-la, e João nos indica o meio de obtê-la, a saber, por meio da Palavra e pelo andar na luz.  
É a luz de Cristo que ilumina o nosso entendimento e espírito para compreendermos as Escrituras.
Elas permanecem como um livro fechado para nós até que Cristo abra o nosso entendimento e se revele ao nosso espírito para que possamos compreendê-las; como fizera com os dois discípulos no caminho de Emaús, aos quais lhes abriu o entendimento para compreenderem tudo o que estava escrito acerca dEle nas Escrituras.
Não foi João quem conceituou Jesus como luz, pois Ele próprio fizera tal afirmação acerca de Si mesmo durante o Seu ministério terreno, confirmando aquilo que as Escrituras do Velho Testamento afirmam sobre Ele, especialmente de que Ele seria luz para os gentios. (Mt 4.16; Jo 3.19; Jo 8.12)
Quando estamos dominados pelas trevas do pecado não desejamos vir para a Luz de Jesus.
Nossa consciência nos acusa e nos sentimos sujos nas sombras frias das masmorras do pecado, de modo que nossa natureza fraca e terrena teme vir para a Luz com o temor de ser reprovada por ela.
Todavia, somos convocados a andar por fé na bondade, no amor, na graça e misericórdia do Senhor, e não com base em nossa própria justiça e capacidade para não pecar.
Se dermos o passo de fé é certo que seremos perdoados e lavados de nossas impurezas e toda a sorte de transgressões que possamos ter cometido.
Se nos humilharmos, orarmos, e nos arrependermos e nos convertermos de nossos pecados, o Senhor nos acolherá e fará com que sintamos de novo prazer em andar em Sua presença, na Luz e somente na Luz.
É dEle que procede o detestarmos toda forma de mal e de trevas, quando restaura a nossa comunhão em espírito.
















123) REDENÇÃO

ÍNDICE

1 - A Morte da Nossa Morte Espiritual na Morte De Jesus Cristo
2 - Por quem Jesus provou a morte?
3 - Significado de Ser Redimido
4 - Sem Sangue, Sem Remissão
5 - Resgatados da Ira e da Maldição
6 - Redenção
7 - O RESGATE DA MALDIÇÃO


1 - A Morte da Nossa Morte Espiritual na Morte De Jesus Cristo

“Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos.” (Lucas 9.60)
Quem é o morto que sepulta outro morto?
Por que Jesus disse isto?
Vejamos o Por quê:

Observe o uso da palavra natureza, nos dois textos bíblicos a seguir:

Primeiro se referindo a toda a humanidade, lemos em  Efésios 2:3:

“entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.”

E no segundo texto de 2 Pe 1.4 lemos:

“pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo,”

Em ambos os textos citados a palavra natureza, vem do original grego, fúsis (pronúncia físis), que significa condição de origem, de nascimento.
No texto de Efésios 2.3, temos a indicação da natureza terrena, herdada de Adão.
E no de 2 Pe 1.4, a natureza divina, que é obtida pelo novo nascimento ou como também é designado, a regeneração do Espírito Santo.
Assim, por nascimento natural, o homem não possui a natureza de Deus.
Ele está desprovido de tal natureza, e por isso está impossibilitado de ter comunhão com Deus enquanto permanece em tal condição simplesmente natural, ou como é também designada na Bíblia, por carnal.
Por isso nosso Senhor disse a Nicodemos que o que é nascido da carne é carne, ou seja, o homem natural não pode gerar, de modo nenhum o homem espiritual, que é o que possui a natureza de Deus.
Daí a necessidade do homem nascer de novo do Espírito Santo, para que possa ter gerada nele a natureza divina, pela qual poderá então agradar a Deus e ter comunhão com Ele.
Enquanto na carne, por mais esforçada, correta, simpática, amiga, dedicada, carinhosa, religiosa, paciente, alegre, que uma pessoa seja, ela não pode dar prazer e contentamento a Deus, porque para tanto, é necessário haver comunhão no Espírito, e quem está na carne, ou seja, tendo apenas a natureza terrena, não pode de modo algum se sujeitar a Deus ou agradá-lO.
Isto é fácil de ser comprovado até mesmo na experiência de cristãos autênticos, espirituais, que não podem ter comunhão e nem prazer e satisfação,  com a testificação do Espírito Santo, com pessoas que vivam na carne, e até mesmo com outros cristãos carnais.
Isto comprova que o princípio espiritual é o mesmo relativo ao natural, no que diz respeito à natureza, e por isto se vê companheirismo e aceitação somente entre naturezas iguais, e daí se afirmar que águia não voa com urubu.
Ou será visto, em regra geral, bom entendimento entre zebras e leões ou cães e gatos?
E por que isto?
Por uma simples questão de natureza.
Sendo que em relação ao homem, que apesar de no princípio da criação, não possuir qualquer pecado, não tinha no entanto a mente de Deus... ele não havia comido do fruto da árvore da vida, que simbolizava a vida de Cristo em nós.
Tinha, antes da queda, uma natureza terrena, natural, não possuía a habitação do Espírito Santo, e por conseguinte, não possuía a natureza divina.
O próprio Adão, sem pecado, necessitaria da habitação do Espírito Santo, para galgar da posição de criatura de Deus, para a de filho de Deus. Necessitava, ainda que sem pecado, da adoção de filho de Deus.
Se Adão não houvesse pecado, se sua natureza não tivesse sido corrompida, nosso Senhor Jesus Cristo não necessitaria se oferecer como sacrifício para lhe conceder a natureza divina.
Mas Adão pecou, e o pecado entrou no mundo. Toda a sua descendência ficou sujeita ao pecado.
O homem passou a ter então uma natureza terrena decaída,  culpada, condenada à destruição eterna, que é a morte espiritual eterna.
Não temos assim, não apenas uma situação a ser revertida, a saber, que o homem volte para a condição inicial sem pecado de Adão no jardim do Éden, do estado de pecado para o de natureza terrena sem pecado, porque o alvo de Deus na criação do homem, sempre foi, desde antes dos tempos eternos, que ele fosse um com Jesus Cristo em espírito.
Que o homem vivesse pela vida de Cristo nEle, tendo ao Senhor Jesus como sua cabeça eterna.
Por isso a árvore da vida estava no centro do Jardim do Éden, indicando tal propósito.
Porque é em Cristo que o homem deve se abrigar e se alimentar. Ele é a única árvore que foi designada para tal propósito, de modo que sem Cristo o homem não pode viver eternamente na presença de Deus.
Mas para lançar mão da árvore da vida, que é Cristo, o homem precisa antes ter resolvido o problema da corrupção da sua natureza, da sua dívida eterna para com Deus, por se encontrar em estado de rebelião contra Ele, de odiar a Sua santa e perfeita vontade, em razão do pecado.
O homem necessita antes ser perdoado e justificado do pecado. A justiça perfeita de Deus exige isto.
Tal é a condição de oposição, de inimizade da natureza decaída do homem, contra Deus, em razão do pecado que passou a habitar nela, que o homem odeia a ideia de tudo o que se refere à palavra santidade, porque foi principalmente para este propósito que foi criado por Deus, a saber o de ser completamente santo, assim como o próprio Deus é santo.

Qual é a expectativa de Deus em relação àqueles que têm sido designados para a salvação em Cristo Jesus?
Simplesmente a de que sejam convencidos do pecado pelo Espírito Santo, isto é,  que saibam que eles possuem uma natureza pecaminosa decaída no pecado, que necessita ser crucificada, para o recebimento instantâneo da nova natureza divina, e também despojada, para o crescimento em graus da divina. E que eles tenham humildade de espírito para reconhecerem e confessarem isto. Que tenham um coração quebrantado e contrito que chore e clame diante de Deus aspirando e Lhe pedindo que os livre de tal natureza decaída, e que lhes dê uma nova natureza divina, pela habitação e senhorio de Cristo nos seus corações.
 Vemos assim, que o problema básico do homem sem salvação, não é simplesmente o fato de cometer atos falhos e de transgredir as leis de Deus, porque a causa básica de suas negligências e maus pensamentos e ações, coisas, que a propósito deve detestar e abandonar, é a natureza carnal que todo homem possui por condição de nascimento natural, herdada de Adão, que faz com que sejamos concebidos em  pecado, ou sujeitos à escravidão do pecado.
Seu espírito está morto, isto é, separado de Deus, e separação é morte, tal como sucede com o nosso espírito e o nosso corpo, que quando separados, o corpo morre.
Por analogia, Deus é espírito, e o homem é carne.
Se Deus se afasta, então a carne morre, ou seja, metaforicamente falando, o homem.
Deus disse que no dia em que o homem comesse o fruto proibido ele morreria. Veja bem, no dia em que o fizesse.
E Adão realmente morreu em espírito quando desobedeceu a Deus.
E seu estado de morto espiritual foi passado para toda a sua descendência, a saber, toda a humanidade, porque todos descendemos do primeiro homem criado por Deus.
É errôneo pensar por isso que criancinhas que morram, herdam o reino dos céus por causa da sua inocência. Não é por isto. É sempre por causa da cobertura do sangue de Cristo, oferecido para nos justificar do pecado e para nos dar acesso à natureza divina. Deus fez a promessa de que o reino dos céus é das criancinhas. E é por isso que elas vão para o céu, se vêm a morrer sem terem consciência do pecado. Eram eleitas de Deus, e o Senhor permitiu que elas fossem bem cedo para o seu seio, do mesmo modo como irão todos aqueles que forem redimidos pelo sangue de Cristo, sejam jovens ou velhos.
Quando nosso Senhor disse que o Espírito Santo nos seria enviado por Ele com o propósito de convencer do pecado, da justiça e do juízo, o que Ele queria destacar era muito mais o fato de que o homem só pode chegar ao reconhecimento desta condição carnal, de ter uma natureza caída, pelo trabalho do Espírito Santo em sua mente e coração; do que simplesmente nos levar a reconhecer atos pecaminosos que cometamos.
  E isto deve ser feito por graça, porque o homem não teria como pagar a Deus o preço correspondente à própria eternidade e ao sacrifício e o sangue oferecidos por Jesus para a sua libertação.
E para que seja por graça, deve ser também feito por fé, o dom dado por Deus ao homem, para crer, aceitar, confiar, agradecer a graça que lhe está sendo oferecida em Cristo para a sua redenção, ressurreição, santificação e glorificação.
Como já dissemos, a transação aqui não é apenas a de livrar o homem de atos falhos, de transgressões da Lei e da vontade de Deus, mas sobretudo da natureza decaída e corrompida que ele possui.
Foi por isso que Jesus morreu na cruz. Para que considerados por Deus, pela fé Nele, crucificados juntamente com Ele, pudéssemos receber a sentença de crucificação e mortificação de tal natureza carnal.
Assim, no cristão, a carne está morta para Deus, e agora ele vive em novidade de vida, ou seja, pela nova natureza recebida na conversão.
Ele agora conhece a Deus em espírito. É filho de Deus pelo poder que lhe foi concedido por Jesus Cristo. Ele ama a lei de Deus ainda que haja resquícios da velha natureza operando em sua carne.
  Deus o ama e aceita plenamente porque é filho e não bastardo. E começa a trabalhar nele o crescimento em graça que o conduzirá à glória celestial.
Tendo em si a natureza divina, o cristão pode responder aos movimentos e vontade do Espírito Santo que nele habita, sendo conduzido à oração, à meditação na Palavra e à prática das boas obras de fé, produzidas através dele pelo mesmo Espírito.
Deus está satisfeito com o cristão por causa de Cristo e da obra que foi consumada por Ele.
E o cristão está também contente com o seu Deus, ainda que em meio às tribulações, se regozijando nelas, porque elas o têm levado para mais junto do Senhor e ao Seu conhecimento.
Assim a vida de Adão em nós vai ficando cada vez mais fraca e desaparecendo, e a de Cristo vai aumento em graus, de glória em glória e de fé em fé.
Louvado seja Deus pelo seu dom inefável em Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém


Votemos ao nosso texto de  Efs 2:3:

“entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.”

Veja que é dito que todos nós, a saber os cristãos, andamos também na mesma condição e obras dos filhos da ira divina, ou seja, éramos por causa da nossa natureza decaída no pecado, tanto filhos da ira como os demais homens.
Foi Cristo quem nos resgatou de tal condição.
Assim, podemos entender que ninguém verá o reino de Deus e será considerado digno de herdar tal reino, porque era uma pessoa boa, distinta, diferente dos demais pecadores.
Não. Nada disso. Porque mesmo depois de redimidos não deixamos de ser pecadores enquanto estivermos neste mundo.
Então o que foi que fez a diferença? Porque os pecados eventuais dos cristãos não os sujeitam mais à condenação eterna, à ira e à maldição de Deus?
Quem dentre eles não clamará junto com Paulo: Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
Bem educado e disciplinado pela graça, todo cristão dirá também juntamente com o apóstolo: Mas graças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, que  nos livrou desta lei do pecado que opera na nossa natureza.
Que nos considerou justificados do pecado, não para pecarmos, para continuarmos na prática do pecado, mas do fato de termos ainda uma natureza que é um corpo de pecado já  sentenciado, crucificado, morto, por causa de nosso Senhor Jesus Cristo que morreu a nossa morte, e que foi condenado no nosso lugar, para que fôssemos libertados da escravidão a que estávamos sujeitos por causa da nossa velha natureza.
  Este é o cerne do evangelho exposto em poucas palavras.
O evangelho não nos foi dado para nossa apreciação e consideração filosóficas, mas para que creiamos nele, e crendo sejamos salvos e tenhamos vida eterna.
Ao ter ouvido a verdade, não será de qualquer proveito que você se sinta apenas despertado para a realidade da nossa condição neste mundo, tal como o fora no passado o jovem rico que veio ter com Cristo, agitado em sua consciência, mas não disposto a renunciar a tudo para ter a vida eterna e o reino dos céus.
Dê mais um passo adiante do coração despertado, e peça a Deus um coração quebrantado, humilde e contrito, que sinta a dor pelo fato de estar debaixo do pecado, da maldição da Lei e da ira de Deus.
Clame, não dê sossego a si mesmo e nem a Deus, enquanto não sentir que houve o recebimento de uma nova natureza do céu, da natureza divina prometida para os que cressem em Cristo.
Que o Espírito Santo lhe conceda esta bênção, por não ter olhado para si mesmo buscando algo de bom que  pudesse agradar a Deus e torná-lo digno do céu, mas por simplesmente olhar para Cristo, considerando o desespero total do seu caso, que é o de ter uma natureza que nem você nem qualquer outro poder deste mundo ou fora dele, é capaz de mudar, senão somente Aquele que nos foi dado por Deus para operar tal mudança em nós, a saber nosso Senhor Jesus Cristo, de modo que toda a honra, glória e louvor sejam dados somente a Ele e para sempre e sempre. Amém.







2 - Por quem Jesus provou a morte?

Por John Piper

 “vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” (Hebreus 2:9)
Para aqueles a quem Ele veio salvar

Ontem marchei para Jesus, juntamente com milhares de pessoas nas cidades gêmeas (Minneapolis and Saint Paul) e com milhões ao redor do mundo. Quando fiz a curva do Nicollet Mall em direção à Sexta rua, estávamos cantando a segunda estrofe de "Oh, venham coroar Jesus o Salvador". Eu provavelmente era o único que já estava pensando na mensagem desta manhã. E o título desta mensagem é: "Por quem Jesus provou a morte?" A estrofe de " Oh, venham coroar Jesus o Salvador " é mais ou menos assim:
Coroe o Senhor da Vida
Que triunfou sobre o túmulo
E levantou-se vitorioso na contenda
Para aqueles a quem Ele veio salvar
Sua glória agora nós cantamos
Quem morreu e subiu às alturas
Quem morreu para trazer a vida eterna
E vive para morte exterminar
Ele triunfou sobre a morte e ressurgiu vitorioso da luta por aqueles a quem veio salvar. “Para aqueles a quem Ele veio salvar." Estas palavras parecem indicar que o escritor deste hino acredita que Jesus Cristo tinha um projeto para realmente salvar um determinado grupo de pessoas pela Sua morte. Ele triunfou sobre a morte para aqueles a quem Ele veio salvar. Parece haver alguns que ele veio salvar, e que para estes a morte foi derrotada e a vida eterna é dada.
Para Todos?

Minha questão nesta manhã é a seguinte: “Por quem Cristo provou a morte?”. Pergunte a 100 pessoas cristãs evangélicas na América e 95 provavelmente dirão: “Todos”. E há algo muito positivo nesta resposta – e algo negativo. O lado positivo é que não é faccioso ou elitista ou sectário. Olha-se para o mundo, querendo que outros desfrutem do perdão dos pecados que os crentes desfrutam. Não é restrito e limitado em suas afeições.
Ele tenta expressar a verdade bíblica de que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho único para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). É saudável e correto acreditar que todo aquele que tem fé - não importa a raça, ou o grau de instrução, ou a inteligência, ou a classe social, ou a religião – todo aquele que coloca a fé em Jesus Cristo é justificado e aceito por Deus, com base no sangue derramado de Jesus. É saudável e correto acreditar que ninguém pode dizer: "Eu realmente quero ser salvo por Jesus acreditando, mas eu não posso ser porque Ele não morreu por mim." Ninguém pode dizer isso. Não há quem tenha verdadeira fé por quem Jesus não morreu.
Há muitas razões pelas quais esta resposta (que Jesus provou a morte por todos) é um sinal de boa saúde espiritual. Uma das razões mais óbvias está aqui, no nosso texto, Hebreus 2:9:
“vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.”
A resposta que 95% dos evangélicos dariam é um sinal da existencia da vontade de dizer o que a Bíblia diz.
Mas dizer o que a Bíblia diz e dizer o que ela significa não são necessariamente a mesma coisa. É por isso que eu disse que há algo de negativo em  responder à pergunta "Por quem Jesus provou a morte?" simplesmente dizendo "todo mundo". O que é negativo, não significa, em primeiro lugar, que seja errado. Pode não estar errado. Depende do que você quer dizer com isso. O que é negativo é que este argumento não se aprofunda no que Jesus realmente cumpriu quando morreu. Ele presume que todos sabemos o que Ele fez, e que realizou seu sacrifício por todos da mesma maneira. Isso não é saudável, porque não é verdade. Meu palpite é que a maioria desses 95% que dizem que Jesus morreu por todos teriam dificuldade em explicar exatamente o que é que a morte de Jesus realizou para todos - especialmente o que é que foi feito para aqueles que se recusam a acreditar e irão para o inferno.
Então por que nem todos são salvos?

Em outras palavras, não é saudável dizer que Jesus provou a morte por todos e não saber o que Jesus realmente cumpriu ao morrer. Suponha que você me diga: "Eu creio que Jesus morreu por todos," e eu respondo: "Então por que nem todos são salvos?" Sua resposta provavelmente seria: "Porque você tem que receber o dom da salvação, você tem que crer em Cristo para que a morte dEle possa valer para você." Eu concordo, mas então eu digo: "Então você acredita que Cristo morreu por pessoas que o rejeitam e vão para o inferno da mesma forma que ele morreu por aqueles que o aceitam e vão para o céu?" Você diz: "Sim, a diferença é a fé daqueles que vão para o céu. A fé conecta você aos benefícios da morte de Jesus."
Há vários problemas nessa resposta. Vou mencionar apenas um. E eu me debruço sobre isso porque, se é isso que você acredita, então você está perdendo as profundas riquezas da aliança de amor que Deus tem para você, em Cristo, por causa desse entendimento de que o amor dele é o mesmo tanto para os que creem quanto para os que O rejeitam. E você está seriamente “negligenciando a sua grande salvação", que vimos em Hebreus 2:3 que não devemos fazer. Se você acredita que aqueles que foram para o inferno foram amados e que a morte de Cristo vale tanto quanto pra você,  você nunca chegará a conhecer a total grandeza do amor do Calvário.
Seria como se uma esposa insistisse para que seu marido a amasse e se sacrificasse por ela da mesma forma  ele ama e se sacrifica por todas as mulheres do mundo. Mas, na verdade, o apóstolo Paulo diz em Efésios
“Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.“
É isso que nós queremos dizer quando nos referimos que Ele morreu pela Igreja, Sua noiva. Em outras palavras, há uma preciosa e incomensurável aliança entre Cristo e Sua noiva, o que O levou a morrer por ela. A morte de Jesus é pela noiva de Cristo de maneira diferente que por aqueles que perecem.
Aqui temos um problema em dizer que Cristo morreu por todos da mesma forma que morreu pela Sua noiva. Se Cristo morreu pelos pecadores que ao final se perderão do mesmo modo que morreu pelos que serão salvos, então por qual motivo os perdidos serão punidos? Os pecados deles  foram ou não cobertos pelo sangue de Jesus? Nós Cristãos dizemos: “Cristo morreu pelos nossos pecados” (I Coríntios 15:3). E nós queremos dizer que ele morreu para pagar a dívida que esses pecados gerou. A morte dEle removeu a ira de Deus de sobre mim. A morte dEle retirou a maldição da lei de sobre mim. A morte dEle comprou o céu para mim. Essas coisas realmente se cumpriram na morte dEle!
Mas o que significaria dizer que Cristo morreu pelos pecados de um incrédulo que irá para o inferno? Será que significaria que os pecados deste homem foram pagos? Se foram, então porque ele está pagando novamente no inferno? Significaria que a ira de Deus foi removida? Se sim, porque a ira de Deus foi derramada em punição pelos seus pecados? Significaria que a maldição da lei foi retirada? Se sim, porque ele está tendo que suportar a maldição no lago de fogo?
Uma possível resposta é essa: Alguém pode dizer que a única razão porque as pessoas vão para o inferno é o pecado de rejeitar a Jesus, e não por todos os pecados de suas vidas. Mas isso não é verdade. A Bíblia ensina que a ira de Deus virá sobre o mundo, não somente por rejeitarem a Jesus, mas por causa dos seus muitos pecados não perdoados. Por exemplo, em Colossenses 3:5-6, Paulo se refere à imoralidade, impureza, paixões do mundo, concupiscência e avareza, e diz que “por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência”. Então as pessoas que rejeitam a Jesus realmente serão punidas por seus pecados específicos, e não somente por rejeitarem a Ele.
Em que sentido Jesus provou a morte por uma pessoa no inferno?

Então, voltamos ao problema: em que sentido Cristo provou a morte pelos pecados deles? Se eles ainda são culpados pelos seus pecados e ainda sofrem punição por causa de seus pecados, o que aconteceu na cruz pelos seus pecados? Talvez alguém use uma analogia. Você poderia dizer que Cristo comprou o ticket deles para o céu e ofereceu isso a eles gratuitamente, mas eles recusaram-se a receber, e por isso estão no inferno. E você estaria parcialmente correto: Cristo realmente oferece o perdão dEle livremente a todos, e qualquer que recebê-lo como o tesouro que é, será salvo por Sua morte. Mas o problema com a analogia é que a compra do ticket para o céu é, na verdade, o cancelamento de pecados. Mas o que nós vimos é que aqueles que recusam o ticket são punidos pelos seus pecados, não pode apenas recusarem o ticket. Logo, que significado há em se dizer que os pecados deles foram cancelados? Esses pecados deles trarão destruição a eles e os manterão foram do paraíso; portanto seus pecados não foram realmente cancelados na cruz e, assim, o ticket não foi comprado.
O ticket para o céu que Jesus obteve para mim pelo seu sangue é limpeza de todos os meus pecados, cobrindo-os, suportando-os em seu próprio corpo para que eles nunca me levassem à ruína – nunca poderão ser colocados sobre mim novamente – nunca. Foi isso que aconteceu quando ele morreu por mim. Hebreus 10:14 diz: “Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados”. Aperfeiçoados perante Deus para sempre, pela oferta da vida dele! É isso que significa que ele morreu por mim. Hebreus 9:28 diz: “Cristo, oferecendo-se uma só vez para levar os pecados de muitos”. Ele suportou meus pecados. Ele realmente os suportou (veja Isaías 53:4-6). Ele realmente sofreu por causa deles. Eles não podem e não recairão sobre minha cabeça no julgamento.
Se você me diz que, na cruz, Cristo apenas cumpriu por mim o que ele cumpriu para aqueles que sofrerão no inferno por causa do pecados deles, então você esvazia a morte de Jesus em seus efetivos cumprimentos por mim, e me deixa com o que? – uma aliança que perdeu seu precioso poder de assegurar que meus pecados foram realmente cobertos e que a maldição foi verdadeiramente retirada e a ira de Deus removida. Esse é um alto preço a se pagar por dizer que Cristo morreu por todas as pessoas no mesmo sentido.
Eu não creio que a Bíblia nos mande ou, de fato, nos permita dizer que Cristo morreu por todos da mesma maneira. O contexto de Hebreus 2:9 é um bom lugar para mostrar que a morte de Cristo teve um plano ou objetivo especial para os escolhidos de Deus, diferentemente do que para outros.
O Que “todos” significa?

No final do verso 9, o autor diz: “pela graça de Deus, (Cristo) provasse a morte por todos”. A questão aqui é se “todos” refere-se a todos os seres humanos sem distinção, ou se refere a todos dentro de um certo grupo. Quanto digo “Todos estão presentes?” eu não quero dizer todos os seres humanos do mundo. Eu quero dizer todos do grupo que tenho em mente. Qual é o grupo que o escritor tem em mente: toda a humanidade sem distinção ou algum outro grupo?
Vamos deixá-lo responder ao averiguar seu pensamento no verso seguinte. Verso 10 é fundamento do 9: Cristo provou a morte por todos “porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e por meio de quem tudo existe, em trazendo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse pelos sofrimentos o autor da salvação deles”. Em outras palavras, imediatamente após dizer que pela graça de Deus Cristo provou a morte por todos, o autor explica que o plano de Deus para o sofrimento de Cristo foi “trazer muitos filhos à glória”. Então os versos 9 e 10 se juntam assim: Cristo provou a morte por todos, porque convinha a Deus que o caminho para levar seus filhos à glória foi através do sofrimento e morte de Cristo.
Isso significa que “todos” do verso 9 provavelmente refere-se a todos os filhos levados à glória no verso 10. Em outros termos, o plano de Deus – o objetivo e propósito de Deus – ao enviar Cristo para morrer foi especialmente para levar seus filho desde o pecado, morte e inferno, para a glória. Ele tinha um olhar especial aos seus próprios filhos eleitos. É exatamente o que o evangelho de João diz em 11:52 – que Jesus morreria “congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos”. Esses “filhos de Deus” que Cristo morreu para congregar são os “filhos” que Deus está levando à glória através da morte de Cristo em Hebreus 2:10.
Você pode observar isso nos versos 11 e 12 também:
“Pois tanto o que santifica (Cristo) como os que são santificados (os filhos que ele leva à glória), vêm todos de um só; por esta causa ele não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo (Salmo 22:22): ANUNCIAREI O TEU NOME A MEUS IRMÃOS, CANTAR-TE-EI LOUVORES NO MEIO DA CONGREGAÇÃO.”
Os filhos que Deus leva à glória pela morte de Cristo são agora chamados de irmãos de Cristo. Foi por todos estes que Cristo provou a morte.
O versículo 13 chama-os agora não somente  de irmãos, mas em outro sentido de filhos de Cristo:
“E outra vez: POREI NELE A MINHA CONFIANÇA (A própria confissão de fé de Cristo em seu Pai, junto com seus irmãos). E ainda: EIS-ME AQUI, E OS FILHOS QUE DEUS ME DEU.”
Note que os filhos que estão sendo levados à glória pela morte de Cristo agora são chamados de filhos que Deus deu a Cristo. Eles não somente se tornaram filhos por escolherem a Cristo. Deus agiu em favor deles e os trouxe a Cristo – os deu a Cristo. E por todos estes ele provou a morte e leva-os à glória. Esse é exatamente o modo que Jesus falou sobre seus discípulos na oração de João 17:6: “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus, e tu mos deste”. O cenário que temos é um povo escolhido que o Pai livremente e graciosamente deu ao Filho como seus filhos.
Agora note como os versos 14 e 15 ligam o objetivo da encarnação e da morte de Cristo com seu grupo escolhido de filhos:
“Portanto, visto como os filhos são participantes comuns de carne e sangue(visto que aqueles que o Pai deu ao Filho tem natureza humana), também ele semelhantemente participou das mesmas coisas (natureza humana), para que pela morte derrotasse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o Diabo; e livrasse todos aqueles que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão (pelo nome, todos os filhos e irmãos que Deus deu ao Filho para levar à glória por sua morte).”
A razão aqui explicada para a encarnação e morte de Jesus (no verso 14) é que os “filhos” compartilham da carne e do sangue. É por isso que Cristo veio em carne e sangue. E os “filhos”, conforme o verso 13, não são humanos comuns, mas filhos de Deus dados a Jesus. E, assim, todo o plano e objetivo da encarnação e morte de Jesus foi levar  os filhos, os irmãos, dados por Deus a Jesus, à glória.
Sua fé foi comprada pela morte de Cristo

Vou para por aqui no nosso texto, mesmo podendo expor pelo resto do capítulo que o objetivo de Deus em enviar Jesus para morrer foi cumprir algo definitivo pelos seus irmãos, seus filhos, dados por Deus a Ele, retirados do mundo. Mas encerrarei e farei uma aplicação para concluir.
Eu não estou nem um pouco interessado em privar o valor infinito da morte de Jesus de ninguém. Que seja conhecido e ouvido muito claramente: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê”, eu digo novamente: “todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Cristo morreu para que todo aquele que (aqui nesta manhã) acredita não pereça, mas viva.
E quando você crê como deve crer, descobrirá que a sua fé, como todas as outras bênçãos espirituais, foi comprada pela morte de Cristo. O seu pecado da descrença foi coberto pelo sangue, e, portanto, o poder da misericórdia de Deus foi derramado através da cruz para reprimir sua rebelião e trazê-lo para o Filho. Você não fez a cruz efetiva em sua vida pela fé. A cruz tornou-se eficaz em sua vida ao comprar a sua fé.
Quanta glória há nisso, irmãos! Glória que seus pecados foram realmente cobertos quando Jesus provou a morte por você. Glória que a culpa realmente foi removida quando Jesus provou a morte por você. Glória que a maldição da lei foi realmente retirada e que a ira de Deus foi realmente removida, e que a preciosa fé que une todos vocês a este tesouro, em Cristo, foi um presente comprado pelo sangue de Jesus.
Jesus provou a morte por todo aquele que tem fé. Porque a fé de todo o que crê foi comprada pela morte de Cristo.
Para maiores reflexões veja:
1 Timóteo 4:10
Efésios 5:25–27
Tito 2:14
João 10:15; 11:52; 17:6, 9, 19
Atos 20:28
Apocalipse 1:5; 3:9; 5:9
Romanos 8:28–32
1 João 2:2 (compare João 11:52)
2 Pedro 2:1






3 - Significado de Ser Redimido

É muito usado o título de Redentor sendo aplicado a nosso Senhor Jesus Cristo, mas poucos conhecem qual é o significado de tal adjetivo, e como ele define uma parte muito importante da Sua obra em relação a nós.
No assunto da nossa redenção, nada há mais de descabido do que a falsa noção de que o preço que Jesus pagou com o Seu precioso sangue para nos redimir (comprar para Deus) teria sido feito a Satanás em razão de Adão ter transferido para ele a autoridade que havia recebido de Deus.
Nada há para ser pago ao diabo, até mesmo porque ele nada possui de seu por um ato legítimo e reconhecido por Deus. Ele nada criou e nada governa legalmente com o consentimento do único e verdadeiro Criador de tudo e de todos. Ele é o grande rebelde e usurpador cujo pagamento que receberá é de uma condenação eterna.
A compreensão do real significado da redenção, remissão, resgate, compra que Jesus efetuou, é muito ajudada pelo conhecimento da lei de resgate de propriedades que foi prescrita por Deus à nação de Israel nos dias do Velho Testamento.
Quando alguém perdesse uma herdade e não tivesse posses suficientes para reaver o bem perdido, este poderia ser resgatado pelo parente mais próximo da pessoa em seu nome.
Nós vemos isto por exemplo no livro de Rute, quando Boaz resgatou a herança do marido de Noemi, que havia morrido na terra de Moabe, em favor de Noemi.
“E eu resolvi informar-te disso e dizer-te: Compra-a diante dos habitantes, e diante dos anciãos do meu povo; se a hás de redimir, redime-a, e se não a houveres de redimir, declara-mo, para que o saiba, pois outro não há senão tu que a redima, e eu depois de ti. Então disse ele: Eu a redimirei.” (Rute 4.4)
Como este resgate era realizado por meio de um ato de compra, então a redenção por Cristo é também comparada a uma compra.
Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso parente mais próximo, apresentou-se como resgatador, tal como Boaz, para resgatar o nosso direito de propriedade que havíamos perdido em razão do pecado, de modo que podemos herdar a vida eterna, e tudo o que se relaciona àquilo que temos da parte de Deus por direito adquirido em Jesus Cristo.
Boaz resgatou a propriedade para Noemi.
Jesus nos resgatou como propriedade para Deus.
Jesus pagou o preço total da nossa redenção, de modo que nada temos que pagar para a nossa salvação, até mesmo porque não tínhamos como liquidar o alto preço exigido pela justiça e santidade de Deus para a nossa redenção. Esta é a razão de ser gratuita para nós, porque custou para Jesus um alto preço.
Afinal não nos pertencíamos, antes mesmo da queda no pecado, porque o homem foi criado para ser propriedade de Jesus Cristo e de Deus Pai.
Deus não poderia jamais ser frustrado em Seu propósito eterno de ter muitos filhos semelhantes a Cristo, então o óbice do pecado deveria ser vencido pelo resgate efetuado pelo Senhor para que tal propósito pudesse ser cumprido.
Não fomos vendidos por Deus a ninguém quando pecamos. Simplesmente perdemos a posse de nossa herança eterna por causa do pecado, mas em Jesus Cristo, pelo preço que Ele pagou com o Seu sacrifício, fomos resgatados da maldição da Lei, da condenação eterna, da miséria eterna, e fomos reintroduzidos, pela esperança e pela fé, à posse de tudo o que Deus planejou conceder àqueles que o amam.
O fim da redenção, ou seja, o seu propósito, segundo Deus, é o de libertar os que estavam aprisionados para que pudessem usufruir da liberdade de verdadeiros filhos de Deus.
A causa de perda da nossa herança não foi Satanás, mas o nosso próprio pecado. E este pecado não poderia ser coberto com prata ou ouro, senão somente com o sangue de Jesus.
Assim, Satanás não tem parte nesta transação que é realizada entre Deus Pai, nosso Senhor Jesus Cristo, e nós pecadores.
Deus não tem que dar qualquer satisfação ao diabo para libertar qualquer alma que esteja debaixo da sua influência maligna.
Lembremos que o próprio diabo e todos os demônios são também criaturas de Deus e já se encontram condenados por Ele para um sofrimento eterno no lago de fogo e enxofre.
Mas os que foram redimidos por Cristo, aguardam a redenção final com a ressurreição de seus corpos por ocasião do arrebatamento da Igreja, quando o Senhor virá para reunir todo o Seu rebanho, de todas as épocas, no aprisco celestial.

1 – apolutrosis - resgatar, libertar

Lucas 21.28 Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima.

Romanos 3.24 Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção (apolutrosis) que há em Cristo Jesus.

Romanos  8.23 E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção (apolutrosis) do nosso corpo.

I Corintios 1.30 Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção (apolutrosis);

Efésios 1.7 Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão (apolutrosis) das ofensas, segundo as riquezas da sua graça,

Efésios  1.14 O qual é o penhor da nossa herança, para redenção (apolutrosis) da possessão adquirida, para louvor da sua glória.

Efésios 4.30 E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção (apolutrosis).

Colossenses 1.14 Em quem temos a redenção (apolutrosis) pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados;

Hebreus 9.15 E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para redenção (apolutrosis) das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.


2 – exagorazo – resgatar, redimir

Gálatas 3.13 Cristo nos resgatou (exagorazo) da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;

Gálatas  4.5 Para remir (exagorazo) os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.

3 – lutroo - redimir

Lucas  1.68 Bendito o Senhor Deus de Israel, Porque visitou e remiu (lutroo) o seu povo,

Lucas  2.38 E sobrevindo na mesma hora, ela dava graças a Deus, e falava dele a todos os que esperavam a redenção (lutroo) em Jerusalém.

Lucas  24.21 E nós esperávamos que fosse ele o que remisse (lutroo) Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.

Tito 2.14 O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir (lutroo) de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.

I Pedro 1.18 Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados (lutroo) da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais,

Hebreus 9.12 Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção (lutroo).

4 – agorazo – comprar, redimir

I Corintios 6.20 Porque fostes comprados (agorazo) por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.

I Corintios 7.23 Fostes comprados (agorazo) por bom preço; não vos façais servos dos homens.

II Pedro 2.1 E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou (agorazo), trazendo sobre si mesmos repentina perdição.

Apocalipse 5.9 E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste (agorazo) para Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação;

Apocalipse 14.3 E cantavam um como cântico novo diante do trono, e diante dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados (agorazo) da terra.

Apocalipse 14.4 Estes são os que não estão contaminados com mulheres; porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá. Estes são os que dentre os homens foram comprados (agorazo) como primícias para Deus e para o Cordeiro.







4 - Sem Sangue, Sem Remissão

Por Charles Haddon Spurgeon

 “Sem derramamento de sangue não há remissão.” Hebreus 9:22

Sob a antiga dispensação figurativa, do Velho Testamento, era certo de que seus olhos topariam em qualquer canto com o sangue. O sangue era o mais proeminente sob a economia judaica. Era raro que se observasse alguma cerimônia sem ele. Não era possível adentrar em nenhuma parte do tabernáculo sem que fossem visto os rastros de sangue ao pé do altar. O lugar era tão semelhante a um matadouro que visitá-lo não deve ter sido nada atrativo para o gosto natural, e para deleitar-se nele, o homem precisava de um entendimento espiritual e de uma fé viva. O sacrifício de animais constituía a maneira de adorar: a efusão de sangue era o rito estabelecido e a difusão desse sangue sobre o piso, sobre as cortinas e sobre as vestes dos sacerdotes, era constante memorial.
Quando Paulo diz que, sob a lei, quase todas as coisas eram purificadas com sangue, alude a algumas coisas que estavam isentas. Assim encontrarão em diversas passagens que o povo era exortado a lavar seus vestidos, e a certas pessoas que haviam ficado imundas por causas físicas, lhes era ordenado que lavassem seus vestidos com água.
As roupas que os homens usavam eram sempre purificadas com água. Depois da derrota dos midianitas, que pode ser lida no livro de Números, o despojo que havia sido contaminado teve que ser purificado antes que fosse reclamado pelos vitoriosos israelitas. De acordo com a ordenança da lei que o Senhor prescreveu a Moisés, alguns dos bens, tais como idumentárias e artigos confeccionados com peles de cabras, eram purificados com água, enquanto que outros objetos, que eram de metais resistentes ao fogo, eram purificados com fogo. Contudo, o apóstolo se refere a um ato literal quando diz que quase todas as coisas – só à exceção das roupas – eram purificadas com sangue sob a Lei. Logo, se refere a ela como uma verdade geral sob a antiga dispensação legal, dizendo que não havia jamais nenhum perdão de pecado, exceto pelo sangue. Unicamente em um caso havia uma aparente exceção, e ainda nesse caso servia para demonstrar a universalidade da regra, porque a razão para a exceção está plenamente explicada. O sacrifício pela culpa é mencionado como uma alternativa no versículo 11 de Levitico 5, e podia ser uma oferta incruenta em casos de extrema pobreza. Se um homem era muito pobre para trazer uma oferenda do rebanho, deveria trazer duas rolinhas ou dois pombinhos – porém se era extremamente necessitado até mesmo para isso, poderia oferecer a décima parte de um efa de flor de farinha como sacrifício pela culpa, sem azeite nem incenso, a qual era lançada sobre o fogo. Essa é a única exceção solitária através de todos os tipos. Em cada lugar, em cada momento e em cada caso em que o pecado tinha que ser tirado, o sangue deveria fluir e a vida tinha que ser ofertada. A única exceção  que temos notado, recalca o estatuto que estabelece que “sem derramamento de sangue não há remissão.”
Sob o Evangelho não há nenhuma exceção, não existe nenhuma isolada exceção, como existia na Lei – não, nem mesmo para o mais indigente. Todos nós somos extremamente necessitados espiritualmente. Como nenhum de nós deve apresentar uma oferenda, nem tampouco dispomos de uma, todos temos que apresentar a oferenda que já foi ofertada e temos que aceitar o sacrifício que Cristo fez de Si mesmo em nosso lugar – não existe agora nenhum motivo nem base para isentar a nenhum homem nem nenhuma mulher, nem mesmo o haverá jamais, seja nesse mundo ou no futuro: “sem derramamento de sangue não há remissão.”
Com grande simplicidade, então, já que concerne à nossa salvação, peço amavelmente a atenção de cada um dos presentes para esse grande assunto que tem muito a ver com nossos interesses eternos. Eu deduzo do texto, antes de tudo, o fato animador de que:
I. EXISTE UMA REMISSÃO, quer dizer, uma remissão dos pecados. “sem derramamento de sangue não há remissão.” O sangue foi derramado, e há, portanto, esperança no tocante à remissão. Apesar dos severos requerimentos da Lei, a remissão não deve ser abandonada em absoluta desesperação. A palavra remissão quer dizer: saldar dívidas. Assim como o pecado pode ser considerado uma dívida contraída com Deus, assim também essa dívida pode ser apagada, cancelada e suprimida. O pecador, o devedor de Deus, pode deixar de estar em dívida por compensação, por uma plena quitação, e pode ficar livre em virtude dessa remissão. Tal coisa é possível. Glória seja dada a Deus porque é possível obter a remissão de todos os pecados para os que tenham arrependimento. Sem importar qual possa ser a transgressão de qualquer indivíduo, o perdão é possível para ele se é possível que tal se arrependa. Um pecado incontrito é um pecado imperdoável. Se o homem confessa seu pecado e o abandona, então encontrará misericórdia. Deus tem declarado assim, e Ele nunca será infiel à Sua palavra. “Porém”, alguém pergunta: “Não existe um pecado que é para morte?” Sim, certamente, ainda que eu não saiba qual seja – nem tampouco cremos que alguém que tenha pesquisado esse tema tenha sido capaz de descobrir qual seja esse pecado – o que parece claro é que o pecado é praticamente imperdoável porque não houve arrependimento a respeito dele. O homem que o comete fica morto no pecado, para todos os fins e propósitos, em um sentido mais profundo e permanente até mesmo do que a raça humana o está como um todo, e é entregue a um coração endurecido, sua consciência é cauterizada, por assim dizê-lo, com um ferro em brasa, e a partir dali não buscará nenhuma misericórdia. Porém, todo tipo de pecado e de blasfêmia serão perdoados aos homens. Para a lascívia, para o roubo, para o adultério, sim, para o assassinato, há perdão de Deus, para que seja reverenciado. Ele é o Senhor Deus misericordioso e clemente, que esquece a transgressão, a iniquidade e o pecado.
E esse perdão, que é possível, é completo, de acordo às Escrituras – quer dizer, quando Deus perdoa a um homem seu pecado, o faz sem reservas. Ele apaga a dívida sem nenhuma revisão dos cálculos. Ele não suprime uma parte do pecado do homem, porém o faz responsável do resto – antes, no momento em que um pecado é perdoado, é como se sua iniquidade nunca houvesse sido cometida; o pecador é recebido na casa do Pai e é abraçado com o amor do Pai como se nunca houvesse se desviado; é levado a ser aceito diante de Deus, e desfruta da mesma condição como se nunca tivesse transgredido.
Cristão, bendito seja o Senhor porque no Livro de Deus não existe pecado nenhum contra sua pessoa. Se você crê, é perdoado, e não é perdoado parcialmente, mas sim plenamente. O escrito de dívida que havia contra você é apagado e é cravado na cruz de Cristo, e nunca mais poderá ser usado contra ti. O perdão é completo.
Ainda mais, trata-se de um perdão no ato. Alguns imaginam (e isso é algo muito depreciativo para o Evangelho) que não podem alcançar o perdão a não ser até que morram, e talvez, de alguma forma então muito misteriosa, nos últimos instantes, possam ser absolvidos – porém nós pregamos, em nome de Jesus, um perdão imediato e instantâneo para todas as transgressões – um perdão dado em um instante – no momento em que um pecador crê em Jesus. Não é como se uma enfermidade fosse sarada gradualmente e depois fosse requerido meses e largos anos de progresso até o restabelecimento total. É certo que a corrupção de nossa natureza é uma enfermidade assim, e o pecado que mora em nós tem que ser mortificado diariamente e a cada hora; porém quanto à culpa de nossas transgressões diante de Deus e à dívida incorrida para com Sua justiça, sua remissão não é uma coisa progressiva e gradual. O perdão de um pecador é concedido de imediato – será dado a qualquer um de vocês que o aceite essa noite, sim, e lhe será dado de tal maneira que não o perderá nunca. Uma vez perdoado, será perdoado para sempre, e não sofrerá nenhuma das consequências do pecado. Você será absolvido eternamente e sem reservas, de tal forma que quando os céus estiverem ardendo em chamas, e o grande trono branco seja levantado, e tenha lugar o juízo final, você possa se apresentar com determinação diante do tribunal sem temer qualquer acusação, pois Deus nunca revogará o perdão que Ele mesmo concede.
Irei acrescentar mais um comentário. O homem que alcança esse perdão pode dar-se conta de que o possui. Se simplesmente esperasse tê-lo, essa esperança lutaria frequentemente com o medo. Se simplesmente confiasse tê-lo, muitos remorsos de consciência poderiam alarmá-lo – porém, saber que o possui é um firme fundamento de paz para o coração. Glória seja dada a Deus porque os privilégios do pacto da graça, da Nova Aliança feita no sangue de Cristo, não são só assuntos de esperança e de conjecturas, mas sim assuntos de fé, convicção e de segurança. Não considerem uma presunção que um homem creia na Palavra de Deus. É a própria Palavra de Deus que diz: “O que Nele crê não é condenado”. Se eu creio em Jesus Cristo, então não sou condenado. Que direito tenho de pensar que o sou? Se Deus diz que não sou condenado, seria uma presunção de minha parte pensar que sou condenado. Não pode ser presunção receber a Palavra de Deus tal como Ele ma dá.
“Ó!” – diz alguém – “que feliz seria se esse fosse meu caso”. Falaste bem, pois escrito está: “bem-aventurado aquele cuja transgressão foi perdoada, e cujo pecado foi coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não culpa de iniquidade”.
“Mas” – dirá alguém mais – “eu dificilmente pensaria que algo tão grande poderia ser possível para alguém como eu”. Você raciocina à maneira dos filhos dos homens. Deve saber então que como são mais altos os céus do que a terra, assim são os caminhos de Deus mais altos que seus caminhos, e Seus pensamentos mais que seus pensamentos. Teu é o errar, mas de Deus é o perdoar. Você se extravia como um homem, porém Deus não perdoa como um homem: Ele perdoa como um Deus, de tal forma que rompemos em exclamações de assombro e cantamos: “Que Deus como tu, que perdoa a maldade, e esquece o pecado do remanescente de sua herança?” Quando você faz algo, trata-se de alguma pequena obra adaptada às suas habilidades, porém nosso Deus fez os céus. Quando você perdoa, concede um perdão adaptado à sua natureza e suas circunstâncias – porém, quando Ele perdoa, mostra as riquezas de Sua graça em uma escala maior do que sua mente finita poderia captar. Ele apaga em um instante mil pecados do mais negro timbre, pecados de uma tonalidade infernal, porque se deleita na misericórdia, e o juízo é Sua estranha obra. “Porque não quero a morte do que morre, diz O SENHOR; convertei-vos, pois, e vivereis.” Meu texto proporciona-me essa nota feliz. Não há remissão, exceto com sangue; mas como o sangue foi derramado, sim, há remissão.
Adentremos mais no texto, temos que insistir agora em sua grande lição que é:
 II. AINDA QUE HAJA PERDÃO DE PECADO, NUNCA SE CONCEDE SEM DERRAMAMENTO DE SANGUE.
Essa é uma frase atropeladora, pois existem alguns seres nesse mundo que confiam em seu arrependimento para o perdão do pecado. Mais além de toda dúvida, é seu dever arrepender-se de seu pecado. Se tiver desobedecido a Deus, deve lamentar isso. Deixar de pecar não é senão o dever da criatura, pois do contrário, o pecado não seria a violação da santa lei de Deus. Porém, deve saber que todo o arrependimento do mundo não pode apagar o menor pecado. Se só um pensamento pecaminoso atravessasse sua mente, e você se afligisse por ele todos os dias de sua vida, a mancha desse pecado não poderia ser tirada nem sequer pela angústia que lhe provoca. O arrependimento é a obra do Espírito de Deus, e é um dom muito precioso e um sinal de graça – porém não há nenhum poder expiatório no arrependimento. Em um mar repleto de lágrimas penitenciais não existe nem o poder nem a capacidade para lavar uma só mancha dessa espantosa imundície. Sem derramamento de sangue não há remissão.
Porém, outros supõem, de qualquer maneira, que a reforma ativa que resulta do arrependimento pode executar a tarefa. Que importa que se renuncie à bebedeira e que a abstinência se converta na regra? Que importa que se abandone a libertinagem e a castidade adorne o caráter? Que importa que se renuncie aos tratos desonestos e a integridade seja escrupulosamente guardada em cada ação? Eu digo: isso está muito bem, queira Deus que tal reforma tenha lugar por onde quer que seja; contudo, apesar de tudo isso, as dívidas já contraídas não são pagas pelo gesto de que já não nos endividamos mais, e as antigas dívidas em mora não são perdoadas pelo bom comportamento posterior. Então, o pecado não é remido pela reforma. Ainda que subitamente você se convertesse imaculado como os anjos (não que algo assim seja possível para você, pois o etíope não pode mudar sua pele, nem o leopardo suas manchas), suas reformas não poderiam fazer nenhuma expiação a Deus pelos pecados antes cometidos nos dias que transgrediste contra Ele. “Então, que devo fazer?” pergunta o homem. Há os que pensam que agora suas orações e suas humilhações de alma poderiam, talvez, lhes conseguir algo. Eu não lhe pediria que fizesse cessar suas orações se elas são sinceras, antes eu esperaria que fossem tais orações que pressagiariam uma vida espiritual. Porém, querido leitor, não existe eficácia na oração para apagar o pecado. Irei expressar isso enfaticamente. Todas as orações de todos os santos da terra, e se pudessem agregar-se todos os santos do céu, todas suas orações não poderiam apagar através de sua própria eficácia natural o pecado de uma só má palavra. Não, não há nenhum poder persuasivo na oração. Deus não lhe deu o papel de produto de limpeza. Possuem certamente seus usos, seus valiosos usos. Um dos privilégios do homem que ora é que ora aceitavelmente, porém as orações mesmas sem sangue, não podem apagar nunca o pecado. “Sem derramamento de sangue não há remissão.”, por mais que ores.
Existem pessoas que pensaram que a renúncia e as mortificações de um tipo extraordinário poderiam livrar-lhes de sua culpa. Não nos encontramos com frequência com gente assim em nosso círculo – no entanto, existe tais que para purificarem a si mesmos do pecado, flagelam seus corpos, observam jejuns prolongados, usam cinzas e camisas de saco pegadas a peles, e até mesmo alguns foram tão longe para imaginarem que refrear-se de banhos e permitir que seus corpos sejam cobertos de imundice, é a forma mais fácil de purificar suas almas. Certamente é uma estranha tolice! No entanto, na Índia, hoje se encontram faquires que sujeitam seus corpos a surpreendentes sofrimentos e distorções com a esperança de se desfazerem do pecado. Qual é o propósito de tudo isso? Parece-me escutar o Senhor dizer: “O que tem que ver comigo que inclines a cabeça como junco e que se cubras de cilício, e comas cinzas com teu pão e mistures absinto com tua bebida? Tu tens quebrantado minha lei, essas coisas não podem restaurá-la; tu tens lesionado minha honra com teu pecado, porém, onde, está a justiça que reflete honra sobre meu nome?” O velho clamor nos tempos antigos era: “Com que me apresentarei diante de Jeová?”, e diziam: “Daremos nosso primogênito por nossa rebelião, o fruto de nossas entranhas pelo pecado de nossa alma?” Ai! Tudo foi em vão. Aqui está a sentença. Aqui deve  estar para sempre: “Sem derramamento de sangue não há remissão.” Deus exige a vida como castigo devido pelo pecado, e nada exceto a vida indicada no derramamento de sangue lhe satisfará jamais.
Observem, ainda, como esse texto rejeita toda confiança nas cerimônias, inclusive nas cerimônias da própria ordenança de Deus. Existem alguns que supõem que o pecado pode ser lavado no batismo. Isto é uma fútil suposição! A expressão onde é usada uma vez na Escritura não implica nada desse tipo – não tem esse significado que alguns lhe atribuem, pois esse mesmo apóstolo que afirmava isso, se gloriava de que não havia batizado a muitas pessoas para que não se chegasse a especular que havia alguma eficácia em sua administração desse rito. O batismo é uma ordenança admirável na qual o cristão tem comunhão com Cristo em Sua morte. É um símbolo – porém não é nada mais que isso. Dezenas de milhares de milhares foram batizados e morreram em seus pecados.
Prosseguirei para fazer uma distinção que irá mais profundo ainda. Jesus Cristo mesmo não pode nos salvar, aparte de Seu sangue. É uma suposição que só a tolice alguma vez o fez quando afirma que o exemplo de Cristo pode tirar o pecado humano, que a vida santa de Jesus Cristo colocou a raça humana em uma base tão boa com Deus que agora Ele pode perdoar suas faltas e suas transgressões. Não é assim – nem a santidade de Jesus, nem a vida de Jesus, nem a morte de Jesus podem nos salvar, senão unicamente o sangue de Jesus – pois “Sem derramamento de sangue não há remissão.”
Encontrei-me com alguns que pensam tanto na segunda vinda de Cristo, que parecem ter fixado sua plena fé sobre Cristo em Sua glória. Eu creio que isso é culpa do “Irvingismo” que expõe demasiadamente a Cristo no trono diante do olho do pecador; ainda que Cristo no trono é sempre o amado e adorável, contudo, devemos ver a Cristo na cruz, ou não poderemos jamais ser salvos. Sua fé não deve ser posta meramente em Cristo glorificado, mas sim em Cristo crucificado. “Longe de mim gloriar-se, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.” “Nós pregamos a Cristo crucificado, para judeus certamente tropeço, e para os gregos loucura.”
Eu me lembro de um membro dessa igreja (a amada irmã poderia estar presente agora), que havia sido durante alguns anos uma professante, porém nunca havia desfrutado de paz com Deus, nem tinha produzido nenhum dos frutos do Espírito. Ela dizia: “Tenho estado em uma igreja onde me ensinaram que me apoiasse em Cristo glorificado, e sucedeu que eu fixei de tal maneira minha confiança Nele glorificado, que não tinha nenhum sentido de pecado, nem um sentido do perdão de Cristo crucificado! Eu não sabia, e até que O vi derramando Seu sangue e fazendo uma propiciação, nunca entrei no repouso”.
Sim, lhe diremos de novo, pois o texto é vitalmente importante: “Sem derramamento de sangue há remissão”, nem sequer com o próprio Cristo. O meio de quitar nosso pecado é o sacrifício que Ele ofereceu por nós – só isso, e nenhuma outra coisa. Sigamos adiante com a mesma verdade:


III. ESSA REMISSÃO DO PECADO DEVE DE SER ACHADA AO PÉ DA CRUZ.
Há remissão e se pode obter de Jesus Cristo, cujo sangue foi derramado. O hino que cantamos no princípio de nosso culto proporcionou-lhes o miolo da doutrina. Devemos a Deus uma dívida de castigo pelo pecado. Estava pendente essa dívida ou não? Se a lei estava na verdade, o castigo deveria ser executado. Se o castigo era demasiadamente severo, e a lei era imprecisa, então Deus havia cometido um erro. Porém, supor isso é uma blasfêmia. Então, sendo a Lei certa e sendo justo o castigo, faria Deus algo injusto?
Seria algo injusto de Sua parte que não executasse o castigo. Desejaria que fosse injusto? Ele havia declarado que a alma que pecasse deveria morrer – desejaria que Deus fosse um mentiroso? Deveria engolir Suas palavras para salvar a Suas criaturas? “Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso.” A sentença da lei tem que ser executada. Era inevitável que se Deus mantinha a prerrogativa de Sua santidade, devia castigar os pecados que os homens haviam cometido, então, como Ele havia de nos salvar? Contemplem o plano! Seu amado Filho, o Senhor da glória, assume a natureza humana, toma o lugar de todos aqueles que o Pai lhe deu, ocupa seu lugar, e quando a sentença da justiça é proclamada e a espada salta de sua bainha, eis aqui, o glorioso Substituto que desnuda Seu braço e diz “Golpeia, Ó espada, porém golpeia-me a mim, e deixa ir a meu povo”. A espada da Lei se introduziu na alma mesma de Jesus, e Seu sangue foi derramado, sangue não de alguém que era meramente homem, mas sim de Um que, sendo um Espírito eterno, era capaz de se oferecer sem mancha para Deus de uma maneira que proporcionava uma eficácia infinita a Seus sofrimentos. Por meio do Espírito Eterno nos é informado que Ele se ofereceu sem mancha a Deus. Sendo em Sua própria natureza infinitamente além da natureza do homem, abarcando todas as naturezas humanas, por assim dizê-lo, dentro de Si, em razão da majestade de Sua pessoa, foi capaz de oferecer uma expiação a Deus de uma suficiência infinita, ilimitada e inconcebível.
Nenhum de nós poderia dizer o que nosso Senhor sofreu. Estou certo disso: que eu não menosprezaria sem subestimaria Seus sofrimentos físicos- as torturas que suportou em Seu corpo – porém estou igualmente certo de que nenhum de nós poderia exagerar ou supervalorizar os sofrimentos de uma alma como a Sua, pois estão mais alem de toda concepção. Ele era tão puro e tão perfeito, tão sutilmente sensível e tão imaculavelmente santo, que ser contado entre os transgressores, ser golpeado por Seu Pai, ter que morrer (devo de dizê-lo?) a morte de um incircunciso por mãos de estrangeiros, era a própria essência da amargura, a consumação da angústia. “Com tudo isso, quis o Senhor quebrantá-lo, sujeitando-o a padecimento”. Suas aflições, em si mesmas, eram o que a liturgia grega bem chama: “sofrimentos desconhecidos, grandes dores”. De aqui, também, que sua eficácia seja sem fronteiras, sem limites. Portanto, Deus é capaz agora de perdoar o pecado. Ele castigou o pecado em Cristo; convém à justiça, assim como à misericórdia, que Deus suprima essas dívidas que foram pagas. Seria injusto – falo com reverência, porém, no entanto, com santa ousadia – seria injusto da parte da Majestade divina culpar-me de um só pecado que já foi cobrado de meu Substituto. Se minha Fiança assumiu meu pecado, Ele me liberou, e eu estou livre. Quem reavivará o juízo contra mim quando já fui condenado na pessoa de meu Salvador? Quem me enviará para as chamas do Geenna, quando Cristo, meu Substituto, sofreu o equivalente do inferno por mim? Quem me acusaria de algo quando Cristo assumiu já todos meus crimes, e respondeu por eles, os expiou, e recebeu o sinal da absolvição deles, posto que ressuscitou dos mortos para poder vindicar abertamente essa justificação, a qual por graça sou chamado e na que tenho o privilégio de participar? Tudo isso é muito simples, está contido em poucas palavras, porém, o temos recebido todos – o temos aceitado todos?
Ó, meus queridos ouvintes! O texto está cheio de advertências para alguns de vocês. Vocês poderiam ter uma disposição amigável, um excelente caráter e uma índole madura, porém possuem escrúpulos de aceitar a Cristo – vocês tropeçam com essa pedra de tropeço – se despedaçam nessa rocha. Como posso responder a seu desventurado caso? Não irei raciocinar com vocês. Abstenho-me de entrar em alguma discussão, porém lhes faço uma pergunta: creem que a Bíblia é inspirada por Deus? Olhem, então, aquela passagem que diz: “Sem derramamento de sangue não há remissão”. O que dizem? Não é claro, absoluto, definitivo? Permitam-me tirar a conclusão. Se não possuem um interesse no derramamento de sangue que me esforcei por descrever brevemente existe alguma remissão para vocês? Poderia existir? Seus próprios pecados estão agora sobre suas próprias cabeças. De suas mãos serão demandados na vinda do grandioso Juiz. Podem fazer, podem trabalhar arduamente, podem ser sinceros em suas convicções e estar tranquilos em suas consciências, ou podem ser sacudidos de um lado a outro por seus escrúpulos – porém, vive o Senhor, que não há perdão para vocês, exceto através desse derramamento de sangue. Por acaso o rejeitam? Sobre sua própria cabeça seja o perigo! Deus tem falado. Não pode se dizer que a ruína de vocês está desenhada por Ele quando o próprio remédio para vocês é revelado por Ele mesmo.
Ele lhe pede que siga o caminho por Ele estabelecido, e se você o rejeita, deve morrer. Sua morte é um suicídio, seja deliberado, acidental ou por conta de um erro de juízo. Seu sangue seja sobre sua cabeça. Está advertido.
Por outro lado, que consolação tão transcendente o texto nos proporciona! “Sem derramamento de sangue não há remissão”, porém onde existe derramamento, existe remissão. Se você veio a Cristo, é salvo. Se você pode dizer isso do profundo de seu coração:
“Minha fé coloca em verdade sua mão
Sobre essa amada cabeça Tua,
No caso que como penitente me apresento,
E aqui confesso meu pecado.”

Então, seu pecado desapareceu. Onde está esse jovem? Onde está essa jovem? Onde estão esses ansiosos corações que estiveram dizendo: “quereríamos ser perdoados agora?” Olhem, olhem, olhem, olhem ao Salvador crucificado, e são perdoados! Podem seguir seu caminho, desde que tenham aceitado a expiação de Deus. Filha, tenha ânimo, pois seus pecados, que são muitos, lhe são perdoados. Filho, regozije, pois suas transgressões são apagadas.
Minha última palavra será essa: Vocês que são mestres de outros e tratam de fazer o bem, aferrem-se firmemente a essa doutrina. Isso deve ser a frente, o centro, a medula e o tutano de tudo o que têm que testificar. Eu o prego com frequência, porém não há jamais um domingo no que me retire a meu leito com tanto contentamento no mais íntimo como quando preguei o sacrifício substitutivo de Cristo. Então sinto que: “Se os pecadores se perdem, não tenho nada de seu sangue sobre mim”. Essa é a doutrina que salva a alma – apeguem-se a ela e terão possuído a vida eterna – se a rejeitam, o haverão rejeitado para sua confusão. Ó, apeguem-se a isso! Martinho Lutero sempre dizia que cada sermão deveria conter também a doutrina da expiação. Lutero diz que não podia meter a doutrina da justificação pela fé nas cabeças dos habitantes de Winttenberg, e se sentia meio inclinado a levar seu livro ao púlpito para arrebentá-lo em suas cabeças, para conseguir que se introduzisse nelas essa doutrina. Temo que não teria tido êxito se o tivesse feito. Porém, sim, como eu trataria de martelar uma, e outra, e outra vez sobre esse prego. “A vida da carne no sangue está.” “E verei o sangue e passarei de vós.”
Cristo entrega Sua vida derramando Seu sangue: é isso o que lhes proporciona o perdão e a paz a cada um de vocês, se olham para Ele. Perdão agora, perdão completo, perdão para sempre. Tirem o olhar de todas as outras confianças e descansem nos sofrimentos e na morte do Deus Encarnado, que foi aos céus e que vive hoje para interceder diante do trono de Seu Pai, pelo mérito do sangue que derramou no Calvário pelos pecadores. Como irei ver a todos vocês naquele grande dia, quando o Crucificado venha como Rei e Senhor de tudo, dia que está se apressando com presteza, como eu lhes irei ver então, lhes peço que deem testemunho de que me esforcei por falar-lhes com toda simplicidade qual era o caminho da salvação – e se o rejeitarem, façam-me o favor de declarar que ao menos lhes proclamei esse Seu Evangelho em nome de Jeová, e que os exortei sinceramente a aceitá-lo para que fossem salvos. Porém eu preferiria que agradasse a Deus que os encontrasse ali a todos cobertos com a única expiação, vestidos com a única justiça, e aceitos no único Salvador, e então cantaríamos juntos: “O Cordeiro que foi imolado e que nos redimiu para Deus é digno de tomar o poder, as riquezas, a sabedoria, a fortaleza, a honra, a glória e o louvor pelos séculos dos séculos”. Amém.







5 - Resgatados da Ira e da Maldição

Lemos em Ef 2.14: “Porque ele é a nossa paz”.
Jesus mesmo é a nossa paz.
Enquanto Ele viver, Ele manterá este relacionamento de paz.
Deus ficou satisfeito com o sacrifício de Cristo pelos nossos pecados.
Sua ira em relação aos justificados se foi, eles têm paz e nada pode mudar este relacionamento.
Lemos em Hb 8.12: “Pois, para com as suas iniquidades usarei de misericórdia, e dos seus pecados jamais me lembrarei.”.
E por quanto tempo isto durará? Para sempre. Por que? Porque Cristo satisfez a ira de Deus.
  Dizer a qualquer cristão verdadeiro que ele pode perder sua salvação é dizer uma de duas coisas ou ambas: o trabalho de Cristo na cruz não foi suficiente ou o presente sumo sacerdócio de Cristo também não é suficiente.
Todavia não há nada de maior suficiência em todo o universo, porque é por meio de Cristo que tudo o que existe permanece sustentado pela palavra do Seu poder, que jamais passará.
A salvação não vem de nós, ela é um dom gratuito e imerecido que recebemos por causa de Cristo. É por meio dEle, e dEle somente que tivemos acesso a essa graça maravilhosa e profunda que nos salva (Rom 5.17).







6 - Redenção

A causa da nossa salvação é a eleição amorosa de Deus, e a redenção é a execução necessária para a sua efetiva realização, ou seja, ainda que houvesse eleição, não poderia haver salvação sem o ato remissório, redentor de nosso Senhor Jesus Cristo. De forma que podemos afirmar, que a salvação é o ato de Deus por nós em Jesus Cristo. Sem a obra de Jesus não haveria qualquer salvação, qualquer céu e vida gloriosa futura.
Há uma culpa e uma prisão das quais devemos primeiro, ser perdoados e libertados, para que possamos ser recebidos como filhos de Deus.
O espírito de um servo de Deus não pode ser encontrado escravizado por qualquer outro senhor, especialmente se este for o pecado e o diabo.
E, aquele que não tiver sua dívida de pecados para com Deus quitada, não pode permanecer na Sua presença na condição de filho aceito e amado. Todavia, como vemos em Lucas 24.47, Atos 2.38, e em outras passagens bíblicas, o arrependimento e a fé são necessários para sermos beneficiados pela remissão. E uma vez redimidos continuarão sendo necessários para que o sangue de Jesus nos beneficie em nossa purificação.
Lembremos sempre disso: o sangue de Jesus sempre se mostrará eficaz somente onde houver arrependimento e fé.
No Antigo Testamento a remissão era efetuada geralmente, por um ato de compra em dinheiro, não para se resgatar a propriedade em nome daquele que já se encontrava na sua posse, mas daquele a quem a propriedade pertencia originalmente e por direito. Temos nisto, uma figura da nossa redenção por Jesus Cristo, o qual nos comprou não com dinheiro, mas com o Seu sangue, para que voltássemos à posse total de Deus – nosso Criador, Aquele que tem plenos direitos sobre nós. Somos assim uma propriedade de Deus, redimida, e resgatada para Ele, por Jesus (Apo 5.9).
Jesus pagou o preço total da nossa redenção, de modo que nada temos que pagar pela nossa salvação, até mesmo porque não tínhamos como liquidar o alto preço exigido pela justiça e santidade de Deus, para a nossa redenção. Esta é a razão de ser gratuita para nós, porque custou para Jesus um alto preço.
Afinal não nos pertencíamos, antes mesmo da queda no pecado, porque o homem foi criado para ser propriedade de Jesus Cristo e de Deus Pai.
Deus não poderia jamais ser frustrado em Seu propósito eterno de ter muitos filhos semelhantes a Cristo, então o óbice do pecado deveria ser vencido pelo resgate efetuado pelo Senhor, para que tal propósito pudesse ser cumprido.
Não fomos vendidos por Deus a ninguém, quando pecamos. Simplesmente perdemos a posse de nossa herança eterna por causa do pecado, mas em Jesus Cristo, pelo preço que pagou com Seu sacrifício, fomos resgatados da maldição da Lei, da condenação eterna, da miséria eterna, e fomos reintroduzidos pela esperança e pela fé, à posse de tudo o que Deus planejou conceder àqueles que O amam.
O fim da redenção, ou seja, o seu propósito, segundo Deus, é o de libertar os que estavam aprisionados para que pudessem usufruir da liberdade de verdadeiros filhos de Deus.
A causa da perda da nossa herança não foi Satanás, mas o nosso próprio pecado. E este pecado não poderia ser coberto com prata ou ouro, senão somente com o sangue de Jesus.
Assim, Satanás não tem parte nesta transação que é realizada entre Deus Pai, nosso Senhor Jesus Cristo, e nós pecadores. Deus não tem que dar qualquer satisfação ao diabo para libertar qualquer alma que esteja debaixo da sua influência maligna.
Lembremos que o próprio diabo e todos os demônios são também criaturas de Deus, e já se encontram condenados por Ele a um sofrimento eterno no lago de fogo e enxofre.
Mas, os que foram redimidos por Cristo aguardam a redenção final com a ressurreição de seus corpos por ocasião do arrebatamento da Igreja, quando o Senhor virá para reunir todo o Seu rebanho, de todas as épocas, no aprisco celestial.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras:
1 – apolutrosis (grego) – redenção;
2 – aphesis (grego) – remissão, libertação, perdão;
3 – shemittah (hebraico) – remissão, libertação;
4 – peduth (hebraico) – redenção;
5 – pidyom (hebraico) – resgatar, redimir;
6 – gaal (hebraico) – redimir, livrar;
7 – ghehullah (hebraico) – redimir;
8 – padah (hebraico) – redimir; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:



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7 - O RESGATE DA MALDIÇÃO

Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: maldito todo aquele que for pendurado em madeiro;” (Gál 3.13)

A lei de Deus é uma lei divina, santa, celestial, perfeita.
Os que encontram falta na lei, ou que a depreciam em absoluto, não compreendem seu desígnio, e não têm uma idéia justa do que seja a lei em si mesma.
Paulo disse: “A lei é santa, porém eu sou carnal, vendido ao pecado.”.
Em tudo o que digamos sobre a justificação pela fé, nunca teremos a intenção de rebaixar a opinião que nossos leitores têm da lei, porque a lei é uma das obras mais sublimes de Deus.
Não há nem um mandamento a mais, nem um de menos, é tão incomparável que sua perfeição é prova de sua origem divina.
Nenhum legislador humano teria podido dar uma lei como a que temos no decálogo.
É uma lei perfeita, porque todas as leis humanas justas se encontram naquele breve compêndio de tudo o que é bom e excelente para com Deus, ou entre o homem e seus semelhantes.
Porém apesar de a lei ser gloriosa, nunca é aplicada pior do que quando é empregada como meio de salvação.
Deus nunca teve a intenção de que os homens fossem salvos pela lei.
Quando a proclamou no Sinai, foi com trovões, fogo e fumarada, como se quisesse dizer: “Oh homem, escuta minha lei, porém tremerás enquanto a escutas.”.
Escutem-na! É uma lei que tem o toque de uma terrível trombeta,  no dia da destruição tocada pelo mensageiro se a quebras, e não encontrarás ninguém que possa levar a pena por ti.
Foi escrita sobre a pedra, como que para nos ensinar que se tratava de uma lei dura, fria, pétrea – que não teria misericórdia de nós, senão que, se a quebrássemos, cairia sobre nós e nos faria em mil pedaços.
Oh, vocês que confiam na lei, para sua salvação! Têm errado quanto à fé, não compreendem os desígnios de Deus, ignoram cada uma das verdades de Deus.
A lei foi dada por Moisés para levar os homens a sentirem sua condenação, porém nunca para salvá-los, sua mesma intenção era “encerrar-nos a todos sob a desobediência, e condenar-nos a todos nós, para poder ter misericórdia de todos.”.
Teria a intenção de que seus trovões afastassem toda esperança de justiça própria, e desbaratar e demolir com seus raios toda torre de nossas próprias obras, para que pudéssemos ser levados humilde e sinceramente a aceitar  a salvação acabada por meio de um poderoso Mediador que tem “cumprido a lei, e a tem feito honrada, e introduziu a justiça eterna”, justiça na qual permanecemos completos finalmente diante de nosso Criador, se estamos em Cristo.
Tudo o que a lei faz, como observarão, é maldizer, não pode bendizer o pecador.
Em todas as páginas da revelação não encontrarão nunca bênçãos que a lei jamais dera a ninguém que a infringira.
Havia bênçãos, e estas eram relativamente pequenas, das que poderiam ser alcançadas por aqueles que a guardassem totalmente.

Consideraremos brevemente, primeiro, a maldição da lei; segundo, o resgate da maldição; terceiro, o grande Substituto que nos resgatou da maldição – “havendo-se feito maldição por nós”. E finalmente, perguntaremos uns aos outros se estamos incluídos no grande número daqueles por quem Cristo levou suas iniqUidades e pelos quais “foi feito maldição”.

I. Primeiramente, então temos A MALDIÇÃO DA LEI.
Todos os que pecam contra a lei ficam debaixo da maldição da lei, todos os que se rebelam contra seus mandamentos são malditos – malditos no ato, malditos de uma maneira terrível.
1. Consideraremos esta maldição, primeiro, como maldição universal, repousando sobre todos os descendentes de Adão.
Talvez haja alguém aqui inclinado a dizer: “Naturalmente, a lei de Deus maldiz a todos os que são de vida dissoluta, ou de conversação profana. Todos podemos imaginar que o blasfemo é um homem maldito, amaldiçoado por Deus. Podemos supor que a ira de Deus repousa sobre a cabeça daquele que é de vida suja, e cuja conversação não é reta, sobre o homem degradado, sob o proscrito pela sociedade.”.
Porém, ah meu amigo ! não é tão fácil chegar à realidade, que é esta: que a maldição de Deus repousa sobre cada um de nós tal como somos por natureza diante dele.
Pode ser que sejas a pessoa mais moral do mundo, porém a maldição de Deus repousa sobre ti.
Pode ser que sejas encantador em tua vida, quase semelhante a Cristo em tua conduta, porém se não tens nascido de novo e não tens sido regenerado pela graça soberana, a maldição de Deus permanece repousando sobre a tua cabeça.
Se tens cometido tão somente um pecado em toda a tua vida, a justiça de Deus é tão inexorável que condena o homem por uma só transgressão praticada, e ainda que a tua vida fosse desde agora em diante uma carreira contínua de santidade, se tens pecado por uma única vez, a não ser que estejas refugiado sob o sangue de Cristo, os trovões do Sinai rugem sobre ti, e os raios da terrível vingança são despejados sobre ti.
Ah meus leitores! Quão humilhante é esta doutrina para o nosso orgulho, que a maldição de Deus está sobre cada homem da semente de Adão, que cada filho nascido neste mundo tem nascido sob a maldição, porquanto tem nascido sob a lei, e que no momento em que tem pecado, ainda que transgrida uma só vez, está desde aquele momento condenado; porque a lei diz: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da lei, para praticá-las” – maldito sem uma única esperança de misericórdia, a não ser que ache esta misericórdia no Substituto “feito por nós maldição”, nosso Senhor Jesus Cristo.
É um pensamento terrível, que o rastro da serpente está por toda a terra; que o veneno está na fonte de cada coração; que a corrente do sangue em todas as nossas veias está corrompida; que todos estamos condenados; que cada um de nós, sem exceção, seja filantropo, senador, filósofo, teólogo, príncipe, monarca, está sob maldição, a não ser que recorramos a Cristo, e tenhamos sido absolvidos por meio dele.

2. Além  de observar que a maldição, além de ser universal, é justa.
Aí temos a grande dificuldade.
Há muitas pessoas que crêem que a maldição de Deus sobre os que são inegavelmente maus é, naturalmente, justa; porém que, a maldição de Deus sobre aqueles que parecem excelentes, e que podem ter pecado pouquíssimas vezes, é um ato de injustiça.
Respondemos: “Não, senão que quando Deus pronuncia a maldição, o faz com justiça; ele é um Deus de justiça; “ele é justo e reto”.
E observe isto: se estás condenado, será uma estrita justiça, e se tens pecado somente uma vez, a maldição é justa quando cai sobre a tua cabeça.
Perguntas-me como pode ser   assim?
Eu respondo: tu dizes que teu pecado é pequeno, então, se o pecado é pequeno, quão pouco te custaria tê-lo evitado!
Se tua transgressão é uma coisa pequena, quão pequeno seria o esforço para evitá-la! E no entanto, não o fizeste.
Há os que dizem: “Certamente, o pecado de Adão foi pequeno, somente comeu um fruto.”. Sim, porém em sua pequenez estava a sua grandeza.
Se era uma coisa pequena tomar o fruto, com que facilidade se poderia não ter pecado. E já que era um ato tão insignificante, estava envolvido numa maior malignidade de culpa.
Assim, pode ser que tu tampouco tenhas blasfemado contra Deus, contudo, porquanto tens cometido um pequeno pecado, és condenado com justiça, porque um pecado pequeno tem em seu seio a essência de todo o pecado; e não posso deixar de ver que o que chamamos pecados pequenos podem ser maiores aos olhos de Deus do que aqueles que o mundo condena universalmente.
Digo que Deus é justo, ainda que de seus lábios saiam trovões para fazer tremer todo o universo.
Deus é justo ainda que amaldiçoe a todos.
Tremam homens e “beijem o Filho, para que não se irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira.” (Sl 2.12).
A maldição é universal, a maldição é justa.
3. Porém observemos, a continuação, que a maldição é terrível. Há os que crêem que é pouca coisa ser amaldiçoado por Deus, porém, oh! Se conhecessem as terríveis conseqüências da maldição, a considerariam verdadeiramente terrível.
Seria suficiente para fazer que nossos joelhos tremessem, que nosso sangue congelasse se tão somente soubéssemos o que é estar sob a maldição de Deus.
O que inclui esta maldição?
Envolve a morte, a morte deste corpo: não é absolutamente uma parte insignificante da sentença.
Inclui a morte espiritual, a morte da vida interior que somente pode ser restaurada pelo Espírito Santo, que “dá vida a quem quer”.
E inclui, finalmente, o pior de tudo, a morte eterna, o morar para sempre no lugar onde há profundos lamentos e gemidos e onde os espíritos são atormentados.
A morte eterna inclui tudo o que se pode resumir naquela palavra terrível: “inferno”.
Esta é uma maldição que descansa por natureza sobre cada homem.
Não fazemos qualquer exceção de raça ou de grau, porque Deus não tem feito qualquer distinção.
Não oferecemos qualquer esperança de exceção de caráter ou de reputação, porque Deus não o tem feito nunca.
Todos nós estamos incluídos nisto, que (no que concerne à lei) temos que morrer – morrer aqui e no mundo vindouro, e, morrer uma morte que nunca morre; sentir um verme que nunca morrer, e um fogo que nunca se extinguirá, nem por um dilúvio de lágrimas de penitência futura.
Ali haveremos de estar para sempre, oh, para sempre perdidos!
Se pudéssemos valorizar esta maldição, lhes digo outra vez, os tormentos que os tiranos possam infligir poderiam bem ser ridicularizados, os males que este corpo tivesse que resistir bem poderiam ser menosprezados, em comparação com aquela terrível ameaça que é despejada com uma força terrível desde o monte da verdade de Deus.
A condenação – aquela maldição de Deus – repousa sobre todos nós.                                
4. A maldição que sobrevém aos pecadores é uma maldição presente.
Oh meus queridos leitores, se eu pudesse segurar as suas mãos, se não são convertidos, trabalharia com lágrimas e gemidos para conseguir que compreendessem este pensamento!
Se, sentado como estás aí, se estás sem Cristo, estás condenado agora; tua condenação está selada, tua sentença de morte tem sido selada com o grande selo da Majestade no céu; a espada da vingança do anjo já está desembainhada e pende esta tarde sobre a tua cabeça.
Sejas quem fores, se estás sem Cristo, uma espada pende sobre ti, uma espada suspensa por um fio de cabelo, que a morte cortará; e então descerá esta espada, separando a alma do teu corpo, e enviando ambos a sofrimentos eternos.
Ah! Alguns de vocês saltariam atemorizados de seus assentos se somente conhecessem isto.
Vocês têm boa reputação, são respeitáveis, são honoráveis, e contudo são homens condenados, mulheres condenadas.
Nas muralhas do céu estão proscritos, escritos ali como deicidas, que deram causa à morte do Salvador – como rebeldes contra o governo de Deus, havendo cometido alta traição contra ele; e talvez já agora o negro e alado anjo da morte, está estendendo suas asas sobre o abismo, apressando a precipitação e a destruição.
Não digas, pecador, que quero te assustar, antes quero te levar ao Salvador, porque tanto se ouves isto ou não, se o crês ou não, não podes alterar a verdade – que agora estás, se não tens te entregado a Cristo, “já condenado”, e seja onde quer que estejas, caminhas como numa prisão, porque toda esta terra é um enorme cárcere em que cada condenado vai avançando lentamente pelo corredor dos condenados, até que a morte os leve ao cadafalso, onde será executada a terrível sentença do horrendo castigo.
Condenado agora, e condenado para sempre: escuta esta palavra: “a maldição da lei”.

II. Agora posso falar, em segundo lugar, do RESGATE DESTA MALDIÇÃO.
Este é um dever doce e prazeroso. Alguns de vocês, meus queridos amigos, poderão me seguir em sua experiência, enquanto somente lhes recordo como foi que Cristo, para sua salvação, lhes resgatou da maldição.
1. Primeiro, estarão de acordo comigo em que a retirada da maldição de sobre nós foi feita num instante.
É algo instantâneo.
Eu posso me encontrar aqui em um momento determinado sob a maldição, e se o Espírito me contempla, e eu lanço uma oração ao céu – se por fé recorro a Jesus – num só segundo, antes que o relógio dê seu tic-tac, meus pecados podem ser todos perdoados.
Hart cantou com verdade quando disse: “O momento em que um pecador crê, e confia em seu Deus crucificado, Seu perdão no ato recebe, salvação plena, por seu sangue.”.
    Lembrem-se da maioria das curas que Cristo realizou em sua vida – sim, creio que todas foram curas instantâneas.
Contemplem! Ali temos um homem morrendo em sua cama, da qual não se levantava durante anos.
“Toma teu leito, e anda”, disse-lhe Cristo com majestade.
O homem tomou a sua cama, e sem a necessidade de semanas de convalescença se levantou no ato, saltando como um cervo.
Há outro. Um mudo. Cristo toca seus lábios. “Efatá, abre-te” e se põe a louvar no ato.
Sim, e inclusive há os casos em que quando Cristo curou a própria morte, o fez instantaneamente. Quando aquela formosa criatura jazia dormindo o sono da morte, Jesus lhe acudiu, e tão somente tomando sua mão fria, lhe disse: “Talita cumi, menina te digo, levanta-te”, e imediatamente como lhe havia dito, ela se sentou e abriu os olhos, e para mostrar que não estava somente meio viva, ou meio restaurada, ela se levantou e comeu.
Não dizemos que a grande obra da conversão é instantânea, pode ser que precise de um certo tempo, porque Cristo começa uma obra num coração, que tem que ser continuada através da vida em santificação, porém a justificação, a remoção da maldição ocorre num só momento.
“Desfaz a maldição”, disse Deus.
Feito está.
A absolvição é firmada e selada, não precisa mais do que de um instante.
“Estou totalmente absolvido por Cristo. Da terrível maldição e culpa do pecado.”.
Posso me encontrar aqui neste momento, e posso ter crido em Cristo faz somente cinco minutos; contudo, se tenho crido em Cristo somente neste curto espaço de tempo, estou tão justificado, diante de Deus, como estarei se viver até que estes cabelos fiquem brancos sob o sol do céu, ou como estarei quando caminhar nas ruas douradas do céu.
Deus justifica o seu povo no ato, a maldição é removida de sobre eles em um só momento.
Pecador, escuta isto! Pode ser que agora estejas sob condenação, porém antes que possas dizer “agora” outra vez, pode ser que sejas capaz de dizer “agora pois, nenhuma condenação há para mim, porque estou em Cristo Jesus.”.
Podemos ser completamente absolvidos num só momento, e para todo o sempre.
2. Observem, amados, que esta remoção da maldição de sobre nós, quando tem lugar, é uma total remoção.
Não é uma parte da maldição que é retirada.
Cristo não se põe no pé do Sinai para dizer: “Trovões, diminuam sua força!”.
Não detém um raio aqui ou acolá, não, mas quando vem termina com toda a grande nuvem de fumaça, retira todos os trovões, apaga todos os raios, retira tudo.
Quando Cristo perdoa,  perdoa todo pecado, perdoa num momento os pecados de duas vezes dez mil anos.
Pode ser que sejas velho e que estejas necessitado até aqui, de perdão, porém ainda que teus pecados excedam em quantidade as estrelas do céu, num instante ele remove todos eles.
Fixa bem “todos”.
Aquele pecado que te tem assediado toda a tua vida, aquele crime abominável, aquele ato negro desconhecido que tem sujado o teu caráter, aquela terrível mancha sobre a tua consciência – todos serão retirados.
E ainda que tenhas uma mancha nesta mão – mancha que tens lavado freqüentemente com todas as misturas que Moisés pode te dar – descobrirás, quando fores lavado no sangue de Jesus, que então poderás dizer: “Todo limpo, meu Senhor, todo limpo estou, tudo tens eliminado, estou totalmente lavado dos pés à cabeça, todas as manchas se foram.”.
É na glória desta remoção da maldição que toda ela é removida; não fica nem um átomo.
Ficam apagados os trovões da maldição, a sentença fica totalmente sem efeito, e não fica qualquer temor.    
3. Temos que dizer de novo sobre esta questão que quando Cristo remove a maldição, se trata de uma remoção irreversível.
Uma vez que tenho sido absolvido, quem é que me condena ?
Há alguns em nossos tempos modernos que dizem que Deus justifica e que, contudo, depois disto condena a mesma pessoa a que tem justificado.
Temos ouvido isto ser dito de maneira muito aberta, que um homem pode ser hoje um filho de Deus – ouvi óh céus e assombrai-vos! – e amanhã ser um filho do diabo; nós os temos ouvido dizer, porém sabemos que isto é falso, porque não encontramos nada nas Escrituras que o justifique.
Muitas vezes nos temos perguntado a nós mesmos: Podem os homens crer verdadeiramente que, depois de haver sido “gerados para uma viva esperança”, que este nascimento em Deus, por meio de Cristo, e de seu Espírito, possa falhar?
Nos temos perguntado: Podemos imaginar que, depois que Deus tenha quebrado nossas cadeias, e nos tenha posto em liberdade, que nos chamará de novo, e voltará a nos prender?
Apagará uma vez o escrito que era contra nós, e logo voltará a reescrever a acusação?
Uma vez perdoado, e logo depois condenado?
Não parece que se Paulo houvesse cruzado o caminho deste homens lhes teria respondido: “Quem acusará os eleitos de Deus?”.
Não há condenação para nós, estando em Cristo Jesus.
“Não andamos segundo a carne, senão segundo o Espírito”. Não estamos na carne, mas no Espírito porque somos de Cristo.
É um pensamento doce, que o mesmo Satanás não pode roubar meu perdão.
Posso perder minha cópia do mesmo, e perder minha consolação, porém o perdão original está arquivado no céu.
Pode ser que surjam sombrias dúvidas, e posso temer crer que tenho sido perdoado, porém: “Resplandeceu Jesus uma vez sobre mim ? Então Jesus para sempre é meu.”.
 Encanta-me, em certas ocasiões, voltar à hora em que fui perdoado pelo sangue do Salvador.
Há muita consolação em recordar aquela bendita hora em que no princípio conhecemos ao Senhor.
Talvez sim, talvez possas volver teu olhar para o lugar exato onde Jesus te disse que eras seu.
Podes fazê-lo?
Ah, quanto consolo te dará isto!
Porque lembra, uma vez absolvido, sempre absolvido.
Assim o diz a Palavra de Deus.
Uma vez perdoado, estás livre, uma vez libertado nunca voltarás a ser um escravo, uma vez que o Sinai tenha sido aplacado, nunca voltará a trovejar.
Bendito seja o nome de Deus!
Somos levados ao Calvário, e seremos também levados a Sião. No final estaremos diante de Deus, e então poderemos dizer: “Grande Deus! Limpo estou,  pelo sangue de Jesus, limpo estou.”.

III. E agora somos trazidos, em terceiro lugar, a contemplar O GRANDE SUBSTITUTO por meio de quem é removida a maldição.
A maldição de Deus não é removida facilmente, de fato, somente haveria um modo pelo qual poderia ser removida.
Os raios estavam nas mãos de Deus, teriam que ser lançados; havia dito que o seriam.
A espada estava desembainhada; teria que retornar satisfeita, Deus havia feito voto que o faria.
A vingança estava pronta, a vingança haveria de cair, Deus havia dito na Lei que deveria fazê-lo.
Como, pois, poderia ser salvo o pecador?
A única resposta era esta. O Filho de Deus aparece, e diz: “Pai, lança sobre mim os teus raios, aqui está meu peito, encrava em mim aquela espada, aqui estão meus ombros, que o látego da vingança venha sobre eles.”; e Cristo, o substituto, veio e se colocou em nosso lugar, “o justo pelos injustos para nos levar a Deus”.
É nosso deleite ensinar a doutrina da substituição, porque estamos totalmente persuadidos de que não se prega o evangelho quando se omite a substituição.
A não ser que se explique aos homens de maneira clara que Cristo se pôs no lugar deles, para levar a sua culpa e sofrer suas dores, nunca poderiam ver como Deus pode ser “justo, e que ele justifica os ímpios”.
Temos ouvido alguns pregarem um evangelho que vai mais ou menos nesta ordem: Que ainda que Deus esteja irado com os homens, contudo, por sua grande misericórdia, por causa do que Cristo fez, não lhes castiga, senão que lhes anistia da punição.
Agora, bem, nós sustentamos que isto não é o evangelho de Deus, porque não é nem justo para Deus nem seguro para o homem.
Cremos que Deus nunca abolveu a pena, que não perdoou o pecado sem castigá-lo, senão que houve sangue por sangue; açoite por açoite, morte por morte, e castigo por castigo, sem ceder a um só jota ou til, que Jesus Cristo, o Salvador, bebeu a verdadeira taça da nossa redenção até a última gota; que sofreu sob as terríveis ações da vingança divina, as mesmíssimas penas e os mesmíssimos sofrimentos que nós deveríamos ter suportado.
Oh, a gloriosa doutrina da substituição!
Quando é pregada plena e corretamente, quão atrativa é, quanto poder tem!
Quão doce é dizer aos pecadores que ainda que Deus tenha dito “Deves morrer”, o Criador deles abaixa a sua cabeça para morrer por suas criaturas, e o Cristo encarnado expira num madeiro, para que Deus execute sua vingança e possa assim, perdoar os ímpios!
Deus teria que castigar o pecado, se não o fizesse deixaria de ser Deus, porém se ele tem castigado o pecado na pessoa de Cristo por ti, tu ficas plenamente absolvido, estás totalmente livre, Cristo tem sofrido o que tu deverias ter sofrido, e tu podes te alegrar nele.
Todo o castigo, toda a maldição foram lançados sobre Ele.
A vingança da justiça de Deus foi satisfeita, tudo tem sido removido, removido para sempre, porém não removido sem haver sido quitado por um Salvador.
Os trovões não foram retirados, senão que foram lançados contra ele, e a vingança ficou satisfeita, porquanto Cristo sofreu a pena.
Agora cabe-nos responder à última pergunta: Quantos entre nós podem dizer que “Cristo os redimiu da maldição da lei, havendo-se feito maldição por nós”?
A maioria dos crentes em nossas igrejas se achegaram a Cristo muito antes que Deus o tivesse feito.
Fazem uma profissão de religião, levam o nome de crente, comportam-se como crentes, tomam um assento na igreja e pensam que já são crentes autênticos, mas enquanto a metade das pessoas em nossas igrejas imaginam que são crentes cometem um grande erro, nunca estiveram mais longe de qualquer coisa do que serem verdadeiros crentes.
Deixem que lhes rogue que não suponham que são crentes porque o foram os seus pais ou porque pertencem a uma igreja ortodoxa.
A religião é algo que temos que ter por nós mesmos, e é uma pergunta que todos deveríamos nos fazer, se estamos absolutamente interessados na expiação de Cristo e se temos uma parte dos méritos de suas agonias.
Venha então, e te farei uma pergunta. Primeiro, deixa que lhe pergunte isto meu amigo: “Nunca te sentiste condenado pela lei em tua própria consciência?”.
“Não!”, dizes tu, “não sei do que me estás falando”.
Claro que não o sabes; e por isso não tens certeza de estar salvo.
Porém voltarei a te perguntar: “Tens sido condenado pela lei em tua consciência? Não tens nunca ouvido a palavra de Deus dizendo em tua própria alma: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da lei para fazê-las”? E não tens sentido que estavas amaldiçoado? Não tens nunca comparecido diante do tribunal de Deus, como um pobre criminoso condenado diante do teu juiz, pronto para ser condenado? Não tens visto nunca, tal como lhe descrevera, uma corda em torno do teu pescoço? Nunca tens pensado em ti mesmo como a ponto de ser colocado na forca? Não te tens sentido nunca como um pecador indigno, arruinado, condenado por teu pecado, condenado pela lei, condenado por tua consciência? Não te tens prostrado nunca diante de Deus, e dito: “Senhor, tu és justo; ainda que me mates, direi que és justo, porque eu sou pecador e mereço tua ira.”.
Vive o Senhor que se nunca tens sentido isto, és estranho à sua graça, porque aquele que a si mesmo se absolve, mas se sentes que Deus lhe condena, e que a lei, te condena, então Deus te absolverá.
Embora tenhas te sentido condenado, podes saber que Cristo morreu pelos condenados, e que derramou seu sangue pelos pecadores, porém se tu dobras os braços em tua própria segurança, e se dizes: “Sou bom, sou justo, sou honrado”, fica advertido disto: tua armadura está cheia de buracos, será despedaçada, as vestes da tua justiça são tão finas como uma gaze, e serão lançadas fora pelo sopro do Eterno, naquele dia em que detestará o que a natureza tenha chegado a ser.
Se te chamo para escutar, se nunca tens sido condenado pela lei, nunca tens sido absolvido pela graça.    
Ouço alguém dizer: “que devo fazer para ser salvo, porque me sinto condenado”?
Escuta as próprias palavras de Cristo: “O que crer e for batizado será salvo, mas o que não crer será condenado.”.
Me perguntas o que significa crer?
Ouve pois a resposta. Crer é olhar para Jesus. Esta pequena palavra “olhar” expressa de maneira formosa o que o pecador deve fazer.
Há pouco em sua aparência porém muito em seu significado.
Crer é deixar que as mãos descansem, e voltar o olhar para Cristo.
Não podemos ser salvos por nossas mãos, somos salvos por meio de nossos olhos, quando olhamos a Jesus com o olho interior que é aberto pelo Espírito Santo, para que possamos ver.
Pecador! de nada te serve que tentes te salvar a ti mesmo, porém crer em Cristo é o único caminho da salvação, e isto significa lançar o teu eu sobre ele.
Crer é flutuar sobre a corrente da graça.
Eu o admito, trabalharás depois, porém deves viver antes de poder trabalhar.
O evangelho é o inverso da lei.
A lei diz: “Faze isto e viverás”. O evangelho diz: “vive primeiro e logo farás”.
A maneira de fazer, pobre pecador é dizer: “Aqui estou Jesus, aqui estou, a ti me dou”.
Crer é dar tudo o que temos para Cristo, e tomar tudo o que Cristo tem para nós.
É mudar de casa com Cristo, mudar de roupas com Cristo, mudar nossa injustiça por sua justiça, mudar nossos pecados por seus méritos.
 Faz a transferência pecador, ou melhor, que a graça de Deus o faça, e tenha fé nisto, e logo a lei não será mais tua condenação, senão que te absolverá.
Que Cristo acrescente sua benção! Que o Espírito Santo repouse sobre nós! E que nos encontremos no final no céu! Então “cantaremos para o louvor da glória da sua graça, com a que nos fez aceitos no Amado”.          

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