sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Santificação - cont.

ÍNDICE

1 - Uma Vida Verdadeiramente Santa
2 - A Santidade de Deus em seus Eleitos
3 - Há Somente uma Fonte para a Santificação
4 - Empecilhos à Santidade
5 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 1
6 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 2
7 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 2
8- Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 4
9 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 5
10 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 6
11 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 7
12 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 8


1 - Uma Vida Verdadeiramente Santa

Quando estudamos de forma adequada e entendemos a mensagem dos oito primeiros capítulos da epístola de Paulo aos Romanos, quanto ao significado de Jesus para nós, e da obra que Ele realizou em nosso favor para que pudéssemos ser santos assim com Deus é santo, é que podemos entender o caráter da santificação à qual somos chamados a viver, em diversas passagens bíblicas, como as destacadas a seguir, dentre tantas outras.

I Jo 3:3 E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro.

2Co 7:1 Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.

1Ts 5:23 O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

Mat 5:48 Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.

Heb 12:1  Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta.

Efs 5:1 Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;

1Pe 1:14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância;
1Pe 1:15 pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento,
1Pe 1:16 porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.

Quando fazemos de nós mesmos o referencial do que seja um viver vitorioso sobre o pecado, e do significado bíblico de uma vida santa, corremos o risco de ficar muito aquém da verdade, uma vez que podemos julgar que há espaço para um viver negligente em relação ao pecado, por aquilo que vemos e que existe em nossa própria experiência, salvo se puder ser dito de nós o que se viu no testemunho de todos os apóstolos, a ponto de Paulo dizer aos crentes de seus dias que imitassem o seu exemplo, assim como ele era imitador de Cristo.
O que ele quis dizer com isto é que ele havia sido confirmado em toda boa palavra e obra, e havia sido aperfeiçoado em maturidade espiritual a ponto de ter chegado a ser um exemplo de santidade de vida para todos os fiéis.
Mas quão raramente isto tem sido visto em nossos dias, e daí decorre principalmente a grande dificuldade que os crentes têm para se santificarem, porque não têm na maioria dos seus líderes exemplos vivos para serem imitados e que lhes aponte qual é o caminho em que devem andar.
Nos dias dos Reformadores do século XVI; dos puritanos históricos que viveram principalmente nos séculos XVII e XVIII; nos de Wesley, George Whitefield e Jonathan Edwards em fins do século XVIII; e no testemunho de Charles Haddon Spurgeon, J. C. Ryle, D. L. Moody, e muitos outros no século XIX, abundaram os exemplos daqueles que foram imitadores dos apóstolos no que tange a um viver verdadeiramente santo, e isto explica o sucesso ministerial deles ao serem usados por Deus para despertamentos e  avivamentos espirituais de muitos.
Todavia, com o liberalismo do século XX, começaram a se escassear os exemplos de homens santos e com isto, o vigor do cristianismo começou também a decair, até chegar ao ponto em que se encontra em nossos dias.
Há uma concessão para o pecado nas mais variadas formas, até porque o número de fontes de tentação aumentou consideravelmente com o advento do desenvolvimento tecnológico.
Quanta concessão é feita com entretenimentos  mundanos de toda a sorte, como se fosse isto o grande objetivo da vida!
Quanta prática impura decorrente de concessões a baixarias e cenas grotescas em programas de TV, e em outros veículos de comunicação!            
Quanto comportamento inadequado para uma vida de verdadeira santidade, como irreverência, rebeldia, iras, palavras torpes, chocarrices, difamação de autoridades e tudo o mais que é condenado no comportamento de um autêntico cristão!
Mas não encontramos na Bíblia espaço para se fazer concessão a tudo isto e a muitas outras formas de comportamento que têm prevalecido em nossos dias.
Por isso necessitamos permanecer em Jesus e em Sua Palavra, de maneira que Ele mesmo nos revele quais são as práticas e hábitos que Lhe desagradam e que impedem o nosso avanço na santificação, e isto propiciará o aumento do grau da intimidade da nossa comunhão com Ele.
Geralmente isto é feito não por atacado, mas avançando na renúncia aos hábitos mais grosseiros no início, depois para aqueles que não consideramos pecaminosos, mas que na verdade são, e finalmente para aqueles que nem conhecíamos em nossa experiência porque se encontravam ocultos aos nossos olhos.
O Senhor nos pedirá gentilmente e constrangendo o nosso coração a deixá-los por amor a Ele, e podemos dizer que isto não é fácil em relação a algumas coisas que se encontram incorporadas à nossa vida, mas o Espírito nos ajuda na nossa fraqueza e nos dá a autoridade necessária para abandoná-los definitivamente, quando nos dispomos a obedecer ao comando do Senhor, que visa à nossa maior intimidade com Ele em santidade, de modo a sermos realmente úteis em Seu serviço.
É importante que se diga que isto nunca ocorrerá caso não nos disponhamos em certo ponto de nossa vida em viver exclusivamente devotados a Deus e para honrá-lo em todas as coisas. Quando assim procedemos o Senhor cativa o nosso coração de tal forma que já não conseguiremos viver de outra maneira, que não seja para honrá-lo e glorificá-lo.  
Somente Jesus pode atestar e nos revelar qual é a nossa real condição espiritual, e quais são as coisas das quais devemos nos despojar, para que não sejamos achados no estado em que se encontram os crentes de Laodiceia: pobres, cegos, miseráveis e nus.
Quando a nossa comunhão com Ele anda prejudicada ficamos cegos quanto às coisas que deveríamos evitar e quanto às que deveríamos praticar. Ficamos por conseguinte pobres da Sua graça que é a única coisa que pode nos enriquecer espiritualmente. Ficamos nus por falta da cobertura da veste pura e branca da santidade que somente Ele pode nos dar. E finalmente, pode se dizer de nós que o nosso estado em tal condição é de real miséria espiritual, quando deveríamos, na condição de filhos amados de Deus, estar abundando em toda boa obra do Espírito Santo.
Se um membro do corpo de Cristo consente em viver de modo debilitado em razão do pecado, quem paga o preço é toda a Igreja; e é portanto por causa do Senhor e do seu corpo que devemos nos empenhar em sermos achados santos e irrepreensíveis, e nem tanto por nossa própria causa.

1Pe 4:1  Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado,
1Pe 4:2 para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus.
1Pe 4:3 Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias.

João 17:16 Eles não são do mundo, como também eu não sou.
João 17:17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
João 17:18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
João 17:19 E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade.

 Como o mal foi banalizado, fica a impressão para muitos líderes, e por conseguinte, para o corpo geral de crentes, que o próprio Deus já não leva mais os comportamentos mundanos em conta, e que é possível se viver de modo agradável a Ele enquanto assim procedemos.
Qual é o resultado? Uma vida vazia de poder, não propriamente de poder dos dons sobrenaturais do Espírito Santo, porque deles até mesmo Balaão, Saul, Judas e tantos outros participaram e têm participado até hoje, e de nada lhes aproveitou ou aproveitará, antes agravou a situação deles diante de Deus.
Mas o que está em foco é a falta de poder real de um viver santo. De uma vida que verdadeiramente não negue o poder da piedade e que seja cheia da plenitude de Jesus Cristo, em aumento progressivo de graus de íntima comunhão com Ele.
É esta vida que traz a verdadeira paz e alegria à Igreja, na comunhão dos crentes, quando eles andam em verdadeira santidade de vida.
Coisa que pouco se vê hoje em dia, porque muitos têm ficado satisfeitos com um substitutivo de alegria e paz carnal resultante de programações festivas e campanhas as mais diversas para tentar reunir e entreter os crentes de cada congregação local.
Com isto brechas estão sendo abertas para o ecumenismo mundial, porque já não há mais tanto zelo pela verdade revelada nas Escrituras, sendo vista vivida em vidas realmente santificadas na verdade, e sabemos que isto somente pode vir junto com a vida que está realmente sendo santificada.
Como esta santificação é trabalhosa e demanda diligência e disciplina na prática dos deveres ordenados da Palavra de Deus, muitos desconhecem até mesmo quais são estes deveres, porque se requer estudo e oração para serem adequadamente conhecidos, e outros se iludem pensando que os conhecem e têm praticado, e não raros se apresentam como líderes carismáticos, pessoas especiais e místicas que afirmam ter sido santificados e enchidos de poder no dia mesmo da sua conversão a Cristo ou imediatamente após a mesma, e nisto são seguidos por muitos de modo tão negligente quanto eles quanto à sua santificação, só que isto que afirmam e ensinam é uma inverdade, algo que não tem base no testemunho das Escrituras e na experiência de todos aqueles que se santificaram pagando o alto preço da consagração e renúncia.
Assim como o corpo físico e tudo o que tem vida natural cresce gradualmente, de igual forma a nova criatura espiritual recebida do Alto pela fé, também cresce em graus, e em conformidade com as experiências providas pelo Senhor na vida cotidiana para que este crescimento seja produzido em nós.
Isto foi testemunhado na vida dos apóstolos e continua sendo testemunhado até hoje na vida de todos aqueles que têm comprado de Cristo a veste alva e pura da santidade com a qual têm se revestido mais e mais para que sejam de fato agradáveis e úteis a Deus para serem levantados como exemplos para o Seu povo.
Nosso Senhor veio a este mundo para nos levantar de uma vida subjugada pelo pecado, para que pudéssemos estar de pé na presença de Deus, santos, imaculados e sem qualquer ruga. Se não é isto o que estamos buscando, estamos errando o alvo, por mais ativistas que sejamos em nossas congregações, porque muito mais do que nossas obras Deus quer os nossos corações purificados de todo pecado, porque é nisto que se comprova a nossa real comunhão com Cristo, uma vez que sem Ele nada podemos fazer. Importa que Ele faça as Suas obras através de nós.
Esta é a nossa grande luta, e é nisto que reside a nossa grande vitória, que é afinal a vitória de Cristo, por meio de quem somos mais do que vencedores.

 “Apo 22:11 Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.
Apo 22:12 E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras.
Apo 22:13 Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.
Apo 22:14 Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas.
Apo 22:15 Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira.”

UMA BREVE DEFINIÇÃO DE PECADO: Pecado é não sermos aquilo que Deus é em Sua natureza espiritual e santa.







2 - A Santidade de Deus em seus Eleitos

Por Thomas Watson

O que é a santidade dos eleitos

Esta aplicação nos leva a uma pergunta: Se devemos ser como Deus em santidade, em que consiste nossa santidade? Em duas coisas: em nossa adequação em relação à natureza de Deus e em nossa sujeição à sua vontade.

Nossa santidade consiste em nossa adequação para com a natureza de Deus. Pois os santos são participantes da natureza divina, o que não significa ser participante de sua essência, mas de sua imagem (2Pe 1.4). Nisto está a santidade dos santos, quando são a imagem viva de Deus. Eles carregam a imagem da humildade divina em Cristo, de sua misericórdia, de sua celestialidade; de sua apreciação dos valores celestiais, de sua disposição para Deus e de amar o que Deus ama e odiar o que ele odeia.

Nossa santidade consiste também em nossa sujeição à vontade de Deus. Assim como a natureza de Deus é o padrão de santidade, assim sua vontade é a regra de santidade. A nossa santidade tem relevo quando fazemos sua vontade (At 13.22) e quando suportamos sua vontade (Mq 7.9); ou seja, quando o que ele sabiamente nos inflige, de bom grado, nós o sofremos. Nossa grande perspectiva deveria ser nos assemelhar a Deus em santidade. Nossa santidade deveria ser qualificada como a santidade de Deus; assim como sua santidade é real, a nossa também deveria ser. "Justiça e retidão procedentes da verdade" (Ef 4.24). Não deveria ser uma imagem de santidade, mas vida; não como os templos egípcios, embelezados, mas sem pureza. Deveria ser como o templo de Salomão, dourado por dentro: "Toda formosura é a filha do Rei no interior do palácio; a sua vestidura é recamada de ouro" (SI 45.13).

         O valor da santidade dos eleitos

A fim de fazer você se assemelhar a Deus em santidade, gostaria que considerasse o valor da santidade dos eleitos:

i.  A dignidade que se aplica aos santos. Quão ilustre cada pessoa santa é. É como um vidro limpo em que alguns dos raios da santidade de Deus brilham. Lemos que Arão vestiu suas roupas para glória e beleza (Êx 28.2). Quando vestimos a roupa bordada de santidade é para glória e beleza. Um bom cristão é avermelhado, pois foi aspergido com o sangue de Cristo; e branco, pois foi adornado com santidade. Assim como o diamante está para um anel, está a santidade para a alma; a qual, como Crisóstomo diz, "aqueles que a opõem só podem admirá-la".


ii.      A grandeza do propósito da santificação. É um grande propósito que Deus executa no mundo fazer uma pessoa à sua semelhança em santidade. O que são os respingos das ordenanças senão gotejos de justiça sobre nós para nos fazer santos? Para quê servem as promessas senão para encorajar à santidade? Para que o Espírito foi enviado ao mundo senão para nos ungir com a santa unção? (Uo 2.20). Para que servem todas as aflições senão para nos fazer participantes da santidade de Deus? (Hb 12.10). Para que servem as misericórdias senão para nos atrair à santidade? Qual é a finalidade da morte de Cristo senão que seu sangue pudesse nos purificar em nossa falta de santidade? "O qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu" (Tt 2.14). Assim, se não somos santos, crucificamos o grande propósito de Deus no mundo.

iii.     Nossa santidade atrai o coração de Deus. A santidade é a imagem de Deus e ele não pode fazer outra coisa senão amar sua imagem onde a vê. Um rei ama ver sua efígie sobre uma moeda. "Amas a justiça" (SI 45.7). E onde a justiça cresce, senão em um coração santo? "Chamar-te-ão Minha-Delícia ... porque o SENHOR se delicia em ti" (Is 62.4). Foi sua santidade que atraiu o amor de Deus a ela. "Chamar-vos-ão Povo Santo" (Is 62.12). Deus valoriza alguém não pelo nascimento rico, mas pela santidade pessoal.

iv.     A santidade distingue os cristãos no mundo. A santidade é a única coisa que nos distingue dos ímpios. O povo de Deus tem seu selo sobre si. "Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor" (2Tm 2.19). O povo de Deus é selado com um selo duplo: a eleição: "O Senhor conhece aqueles que são seus" e a santificação: "Afaste-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor". Como um nobre é reconhecido por outra pessoa pela sua estrela prateada; como uma mulher virtuosa é diferenciada de uma prostituta por sua castidade; assim a santidade é reconhecida entre os homens. Todos os que são de Deus têm Cristo por seu capitão e a santidade é a cor branca que vestem (Hb 2.10).

v.      A santidade é a honra dos cristãos. A santidade e a honra são colocadas juntas (lTs 4.4). A dignidade caminha com a santificação. "Àquele que nos ama e, pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai" (Ap 1.5). Quando somos lavados e feitos santos, então somos reino e sacerdotes para Deus. Os santos são chamados vasos de honra; são chamados jóias pelo brilho de sua santidade, pelo enchimento com o vinho do Espírito. Isso faz deles anjos terrenos.

vi.     A santidade nos dá ousadia diante de Deus. "Se afastares a injustiça da tua tenda... levantarás o teu rosto para Deus" (Jó 22.23 e 26). Levantar a face é um símbolo de ousadia. Nada pode nos envergonhar tanto ao nos aproximar de Deus quanto o pecado. Um homem ímpio pode levantar suas mãos na oração, mas não pode levantar sua face. Quando Adão perdeu sua santidade, perdeu sua confiança, escondeu-se. Porém, a pessoa santa vai até Deus como uma criança vai até seu pai; sua consciência não o censura com a possibilidade de qualquer pecado, portanto pode ir ousadamente ao trono da graça e ter a misericórdia para ajudá-lo em tempo de necessidade (Hb 4.16).

vii.    A santidade traz paz aos cristãos. O pecado levanta uma tempestade na consciência: onde há pecado, há tumulto. "Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz" (Is 57.21). Justiça e paz são colocadas juntas. A santidade é a raiz que sustenta esse doce fruto da paz. A retidão e a paz se beijam.

viii.   A santidade conduz o cristão ao céu. Ela é a estrada do céu do Rei. "E ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o Caminho Santo" (Is 35.8). Havia em Roma o templo da virtude e o da honra, e todos deveriam passar pelo templo da virtude para chegar ao templo da honra; assim, devemos ir do templo da santidade para o templo do céu. A glória começa na virtude. "Nos chamou para a sua própria glória e virtude" (2Pe 1.3). A felicidade não é nada mais que a essência da santidade; a santidade é a glória militante e a felicidade a santidade triunfante.

Como os eleitos devem buscar santidade

O que devemos fazer para nos assemelharmos a Deus em santidade? Ou como devemos buscar nossa santidade?

i.       Buscando refúgio em Cristo. Busque socorro no sangue de Cristo pela fé. Isso é o lavar da alma. As purificações da lei eram tipos e emblemas disso (1 Jo 1.7). A Palavra é o espelho que mostra nossas manchas e o sangue de Cristo é uma fonte para lavá-las.

ii.      Pedindo um coração santo. Orando a Deus lhe pedindo um coração santo. "Cria em mim, ó Deus, um coração puro" (SI 51.10). Derramem o coração diante de Deus e digam: "Senhor, meu coração está cheio de lepra, contamina tudo que toca. Senhor, eu não posso viver com tal coração, pois não posso te honrar; nem morrer com tal coração, pois não poderei te ver. Cria em mim um coração puro, envia-me o teu Espírito, refina-me e purifica-me, para que eu possa ser um templo apropriado para ti, ó santo Deus, habitar".







3 - Há Somente uma Fonte para a Santificação

“João 17:17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
João 17:18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
João 17:19 E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade.”

Eis apresentado por nosso Senhor Jesus Cristo, em tão poucas palavras, a única forma de não se errar o alvo da vida: não há santificação verdadeira que não seja operada pela Palavra de Deus.
A santificação requerida, sem a qual ninguém verá o Senhor, é obtida somente por meio da Palavra de Deus – a palavra que nos foi revelada somente na Bíblia, conforme o próprio Senhor Jesus Cristo o confirma em diversas passagens dos Evangelhos.
Assim, se alguém não mantém um contato permanente com a Bíblia, com o fim de viver em conformidade com os seus preceitos, certamente não poderá ser santificado pelo poder do Espírito Santo.
Jesus define a Palavra de Deus como sendo a única verdade que nos salva e santifica.
Portanto, buscar a salvação e a santificação em outras fontes será um terrível engano, porque isto nos manterá afastados de Deus e impedidos de cumprir a missão que ele nos tem designado de ser proclamadores da salvação ao mundo.
Assim, mesmo aqueles que professam amar a Cristo e que no entanto não guardam a Sua Palavra, estão vivendo em engano quanto a estarem lhe servindo de fato.
Por isso nosso Senhor afirmou o seguinte em João 8.31:

“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na  minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos;”









4 - Empecilhos à Santidade

Por Joel Beek

EGOCENTRISMO

A nossa atitude para com o pecado e a própria vida tende a ser egocêntrica e não teocêntrica. Frequentemente, estamos mais preocupados com as consequências do pecado ou com a vitória sobre ele do que com a maneira como nossos pecados entristecem a Deus. Para cultivarmos a santidade, temos de odiar o pecado do modo como Deus o odeia. Aqueles que amam a Deus abominam o pecado (Pv 8.36). Temos de cultivar uma atitude que reputa o pecado como algo cometido principalmente contra Deus (SI 51.4).

Opiniões distorcidas sobre o pecado resultam em opiniões distorcidas sobre a santidade. "Pontos de vistas errados sobre a santidade têm a sua origem em pontos de vistas errados sobre a corrupção humana", afirmou J. C. Ryle. "Se um homem não compreende a perigosa natureza da enfermidade de sua alma, você não deve se admirar quando ele se satisfaz com remédios falsos ou imperfeitos." O cultivo da santidade exige a rejeição da soberba da vida e da concupiscência da carne. Também exige que oremos: "Dá-me olhos puros, para que glorifique o teu nome" (Saltério, 236, estrofe 2).

Erramos quando não vivemos conscientemente com nossas prioridades centradas na Palavra, na vontade e na glória de Deus. Nas palavras do teólogo escocês John Brown: "A santidade não consiste em especulações místicas, fervores entusiastas ou austeridades pessoais. A santidade consiste em pensar como Deus pensa e querer o que Ele quer.

NEGLIGENCIAR O ESFORÇO

Nosso progresso é obstruído quando entendemos erroneamente o viver pela fé (Gál 2.20), no sentido de que nenhum esforço por santificação é exigido de nós. Às vezes, somos até inclinados a considerar pecaminoso ou "carnal" o esforço humano. Nas seguintes palavras, J. C. Ryle nos oferece um corretivo:

É sábio proclamar, de maneira franca, grotesca e inadequada, que a santidade de um convertido acontece somente pela fé, e não por esforço pessoal? Isso está de acordo com o ensino da Palavra de Deus? Duvido. Nenhum crente bem instruído negará que a fé em Cristo é a raiz de toda a santidade. Contudo, as Escrituras ensinam, com certeza, que, para seguir a santidade, o crente precisa de trabalho e empenho pessoal, bem como de fé.

Somos responsáveis por santidade. Se não somos santos, de quem é a culpa, se não de nós mesmos? Conforme aconselha Ralph Erskine, precisamos implementar a atitude de "lutar ou lutar" em relação às tentações pecaminosas. Às vezes, precisamos apenas atentar à exortação clara do apóstolo Pedro: "Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma" (1 Pe 2.11). Abster-se — frequentemente, precisamos fazer apenas isso.
Se você já se despojou do velho homem e se revestiu do novo (Ef 4.22-32), viva de acordo com isso (Cl 3.9-10). Mortifique os seus membros (ou seja, hábitos impuros) e siga as coisas do alto (Cl 3.1-5) — não como uma forma de legalismo, e sim como uma repercussão da bênção de Deus (Cl 2.9-23).5 Faça uma aliança com seus olhos, pés e mãos, para abandonar a iniquidade (Jo 3.1). Considere o outro caminho e ande nele. Jogue fora a ira descontrolada, a fofoca e a amargura. Mortifique o pecado (Rm 8.13) pelo sangue de Cristo. "Exercite a sua fé em Cristo para mortificar o pecado", escreveu John Owen, "e você... viverá para contemplar as concupiscências mortas aos seus pés".

DEPENDÊNCIA DE SEUS PRÓPRIOS ESFORÇOS

Por outro lado, erramos miseravelmente quando nos orgulhamos de nossa santidade e achamos que nossos esforços podem, de algum modo, produzir santidade, sem a fé. Do começo ao fim, a santidade é obra de Deus e de sua livre graça (Catecismo de Westminster, cap. 3). Como Richard Sibbes sustentava: "Pela graça, somos o que somos na justificação e fazemos o que fazemos na santificação". A santidade não é uma obra realizada, em parte, por Deus e, em parte, por nós. A santidade produzida por nosso próprio coração não está em harmonia com o coração de Deus. Todos os frutos da vida cristã em nós são resultado da obra de Deus em e por nós. "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, mui¬to mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2.12-13).

"Os regenerados têm uma natureza espiritual que os capacita para o viver santo; de outro modo, não haveria qualquer diferença entre eles e os não-regenerados", escreveu A. W. Pink. No entanto, falando do modo restrito, a auto-santificação não existe. "Fazemos boas obras, mas não para obtermos mérito por meio delas (pois que mérito poderíamos ter?); antes, somos devedores a Deus pelas boas obras que fazemos, e não Ele a nós" (Confissão Belga de Fé, Artigo 24). Conforme Calvino explicou: "A santidade não é um mérito pelo qual atingimos a comunhão com Deus, e sim um dom de Cristo que nos capacita a nos apegarmos a Ele e segui-Lo". John Murray o expressou assim: "O agir de Deus em nós não cessa porque nós agimos, nem o nosso agir é suspenso por causa do agir dEle. Tampouco há uma relação de cooperação estrita, em que Deus faz a parte dEle e nós, a nossa... Deus age em nós, e nós também agimos". Mas a relação é esta: "Porque Deus age, nós agimos também".

Toda virtude que possuímos, Toda conquista que obtemos, Todo pensamento de santidade Pertence somente a Ele.

Kenneth Prior escreveu: "Há um perigo sutil em falar sobre a santificação como algo que resulta essencialmente de nosso próprio esforço ou iniciativa. Podemos fazer isso inconscientemente, até reconhecendo nossa necessidade do poder do Espírito Santo, tornando a atividade desse poder dependente de nossa entrega e consagração".

Nossa dependência de Deus, quanto à santidade, tem de nos humilhar. A santidade e a humildade são inseparáveis. Elas têm em comum o fato de que nenhuma delas reconhece-se a si mesma. Os cristãos mais santos lamentam a sua impureza; os mais humildes, o seu orgulho. Aqueles que de nós que são chamados a ser mestres e exemplos de santidade têm de acautelar-se do orgulho sutil e insidioso agindo em nossa suposta santidade.

A santidade é bastante impedida por qualquer opinião errada sobre ela mesma e sua relação com a humildade. Por exemplo:

Quando pensamos, falamos e agimos como se a nossa santidade nos fosse, de algum modo, suficiente, sem nos vestirmos da humildade de Cristo, já estamos envolvidos em orgulho espiritual. Quando começamos a nos sentir complacentes quanto à nossa santidade, estamos longe da santidade, bem como da humildade. Quando a mortificação pessoal está ausente, a santidade também está ausente.

Quando a mortificação pessoal não nos faz buscar refúgio em Cristo e em sua santidade, nesse caso não há santidade. Sem uma vida de dependência de Cristo, não possuímos santidade.

OPINIÕES ERRÔNEAS A RESPEITO DA SANTIDADE

Aceitar opiniões erradas e contrárias à Bíblia pode impedir nossa santidade. A necessidade de experimentar "a segunda bênção", uma busca intensa por nosso dom especial do Espírito (ou o desejo de exercer um dom carismático, como o dom de falar em línguas ou de fé curadora) e a aceitação de Jesus como Senhor, mas não como Salvador — essas são apenas algumas das muitas interpretações erradas da Bíblia que podem distorcer o entendimento correto da santidade bíblica em nosso viver.

Embora a abordagem desses assuntos esteja fora do escopo deste capítulo, permita-me fazer um resumo em três afirmações. No que diz respeito ao primeiro erro mencionado no parágrafo anterior, não é apenas a segunda bênção que o crente necessita — ele necessita da segunda, bem como da terceira, da quarta, da quinta — sim, ele precisa da bênção contínua do Espírito Santo, a fim de progredir em santidade, para que Cristo cresça, e ele, crente, diminua (Jo 3.30). No que concerne ao segundo erro, alguém comentou sabiamente: "Quando Paulo escreveu aos crentes de Corinto, dizendo-lhes que não deviam ter falta de nenhum dom (1 Co 1.7), ele deixou claro que a evidência da plenitude do Espírito não é o exercício de seus dons (dos quais aqueles crentes tinham muitos), e sim a colheita de seu fruto (do qual eles tinham pouco)". E, no que diz respeito ao terceiro erro, de separar o Salvador de seu senhorio, o Catecismo de Heidelberg nos proporciona um resumo corretivo na Pergunta 30: "Uma destas duas coisas tem de ser verdade: ou Jesus não é um Salvador completo, ou aqueles que, por fé verdadeira, recebem este Salvador têm de encontrar nEle tudo que é necessário para a sua salvação".

EVITANDO O CONFLITO

Somos propensos a esquivar-nos de nossa batalha espiritual cotidiana. Ninguém gosta de guerra. Além disso, o crente é cego quanto aos seus reais inimigos — um Satanás astuto, um mundo tentador e, especialmente, a realidade de sua própria corrupção, que Paulo descreveu de modo tão penetrante em Romanos 7.14-25. Ser santo entre os santos exige graça; ser santo entre os impuros significa grande graça. Manter a santidade pessoal em um mundo ímpio, com um coração inclinado a desviar-se, necessita de luta perene. Envolve um conflito, uma guerra santa, uma batalha contra Satanás, uma luta entre a carne e o Espírito (Gl 5.17). Um crente não somente tem paz na consciência, mas também guerra no seu íntimo (Rm 7.24-8.1). Como asseverou Samuel Rutherford: "A guerra do diabo é melhor do que a paz do diabo". Portanto, os remédios da santidade de Cristo (Hb 7.25-28) e da armadura cristã suprida pelo seu Espírito (Ef 6.10-20) são ignorados ao nosso próprio risco. A verdadeira santidade tem de ser buscada no contexto de uma profunda consciência do pecado, que continua a habitar em nosso coração e a enganar nosso entendimento. O homem santo, diferentemente dos outros, não está em paz com o pecado, que habita nele. Embora ele venha a cair, ele se sentirá humilhado e envergonhado por causa de seu pecado.









5 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 1

O pecador é transformado em santo quando nasce de novo pelo Espírito.
Na sua conversão ele é santificado ao ser transformado em uma nova criatura.
Ele recebe um novo coração, uma nova natureza, a natureza divina, e assim tem acesso à santidade que o faz aceitável a Deus.
Esta é a razão pela qual o apóstolo Paulo se refere aos cristãos em todas as suas epístolas, chamando-os de santos,  apesar de muitos deles serem ainda carnais, como, por exemplo, eram muitos dos  cristãos coríntios  (I Cor 1.2; 6.11; 14.33; II Cor 1.1; 13.12; Ef 1.1; 2.19; Fp 1.1; Col 1.2; Jd 3) que eram santos, separados para Deus, apesar de não serem ainda cristãos espirituais.
 Entretanto, aquele que foi santificado pelo Espírito, é chamado a prosseguir em santidade, através do processo de santificação, que não deve cessar ao longo de toda a sua vida (Jo 17.17,19; Ef 4.12;I Tes  5.23; Apo 22.11).
Este processo consiste basicamente no despojamento das obras da  carne (natureza terrena) e do revestimento das virtudes de Cristo.
O texto de Hebreus 12.14 diz, “segui a paz com todos e a santificação” – ambas as coisas, tanto a paz quanto a santificação devem ser seguidas de forma prática.
Se a santificação tivesse sido obtida em sua forma plena e final na regeneração (novo nascimento), não haveria necessidade de se mandar segui-la, ordenança que não se aplica à justificação, por ter sido obtida de uma vez para sempre na conversão.
Santificação é conformidade à vontade de Deus, e obediência aos mandamentos do Senhor. Isto é o trabalho do Espírito na alma, pelo qual o homem é feito semelhante a Deus, e torna-se participante da natureza divina, sendo livrado da corrupção que há no mundo através da cobiça.
 Não é dito em Heb 12.14 “perfeição de santificação”, mas, “santificação”.
A santificação é uma coisa que cresce.
Ela pode ser na alma como o grão de mostarda, e ainda não estar desenvolvida; ela pode ser uma vontade e um desejo no coração, um suspiro, uma aspiração.
Com as águas do Espírito de Deus, ela crescerá como o grão de mostarda até se tornar uma árvore.
A santificação, no coração regenerado, é como criança, não está madura – está perfeita em todas as suas partes, mas não perfeita no seu desenvolvimento.
Uma criança é um ser perfeito, mas não quanto ao desenvolvimento que ainda terá até ser uma pessoa madura.
Por conseguinte, quando nós achamos muitas imperfeições e muitas falhas em nós mesmos, não devemos concluir que isto significa que não temos interesse na graça de Deus.
A santificação requer que o coração esteja em Deus, e que pulse de amor por Ele.
“Sem santificação ninguém verá o Senhor”.
Isto quer dizer, nenhum homem pode ter comunhão com Deus nesta vida, e na vida por vir, sem santidade.
“Podem dois caminharem juntos se não houver entre eles acordo?”.
Santificação é uma palavra que significa mais do que purificação, porque ela inclui mais do que a ideia de sermos limpos, ela inclui também a necessidade de estarmos adornados com todas as virtudes de Cristo.
“Por causa deles eu me santifico a mim mesmo”. Estas são palavras que foram proferidas por Jesus em Jo 17.
No caso do Senhor não pode significar purificação do pecado, porque ele não tinha pecado.
A santificação do Senhor era sua consagração ao completo propósito divino, sua absorção na vontade do Pai.
Assim, nossa própria santificação também significa a nossa consagração à vontade de Deus, além da nossa purificação, já que somos pecadores.
“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Ninguém pode santificar uma alma mas somente o Todo Poderoso Deus, o grande Pai dos espíritos.
Somente aquele que nos fez pode fazer-nos santos.
A regeneração é onde a santificação começa, é totalmente o trabalho do Espírito de Deus.
Cada pensamento sobre santidade, e cada desejo posterior por pureza, vêm somente do Senhor, porque nós, por natureza, somos inclinados ao pecado.
Assim que a última vitória sobre o pecado em nós, e sermos feitos perfeitamente como o nosso Senhor, deve ser inteiramente o trabalho do Senhor Deus, que faz novas todas as coisas, desde que  não temos nenhum poder para realizar tão grande trabalho em nós mesmos.
Isto é uma criação (Tg 1.18). Nós podemos criar esta nova vida?
Isto é uma ressurreição. Nós podemos levantar da morte, pelo nosso próprio poder?
Nossa natureza degenerada (terrena) pode estar rumando em direção à putrefação, mas não pode jamais retornar à pureza ou à perfeição por si mesma; por isto está sentenciada à morte, pela nossa identificação com a crucificação de Jesus, e temos recebido uma nova natureza de Deus pela fé, que está realizando em nosso espírito um trabalho de santificação, e isto é de Deus, e de Deus somente.
Uma santificação real é inteiramente do início ao fim o trabalho do Espírito do Deus bendito.
Veja então que grande coisa é a santificação, e como é necessário para isto que o nosso Senhor orasse ao seu Pai: “Santifica-os na verdade”.  
Todavia, somente a verdade não santifica o homem.
Ele pode permanecer num credo ortodoxo, mas se isto não tocar o nosso coração e influenciar o nosso caráter, qual é o valor da nossa ortodoxia?
Não é a doutrina que, de si mesma, nos santifica, mas o Pai santifica usando a doutrina como meio.
A verdade é o elemento em que nós devemos viver para sermos santos.
A falsidade (mentira) conduz  ao pecado; a verdade conduz à santidade; mas há o espírito mentiroso, e há também o Espírito da verdade, e  por estes o erro e a verdade são usados como meios para se atingir o fim, respectivamente.
A verdade deve ser aplicada com poder espiritual à mente, à consciência, ao coração, senão o homem pode receber a verdade, e ainda permanecer na injustiça.
Eu creio que isto é a coroação do trabalho de Deus no homem, que seu povo seja perfeitamente livre do mal.
Ele os escolheu para que sejam seu  povo particular, zeloso de boas obras; Ele os redimiu para que fossem livres de toda a iniquidade, e purificados; ele os chamou efetivamente para uma elevada e santa vocação, a saber para a verdadeira santidade.
Todo o trabalho do Espírito de Deus na nova natureza tem em mira a purificação, a consagração, o aperfeiçoamento de todos aqueles que Deus, em amor, tomou para Si.





6 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 2

Tudo o que nos sucede na caminhada para o céu tem o propósito de nos preparar para o fim último da nossa jornada.
Nosso caminho através do deserto tem por objetivo nos  provar, para que possamos conhecer quem realmente somos, e para que nossos males possam ser descobertos, e nos arrependermos, e assim, para que nos apresentemos a Deus, no fim, sem máculas, diante do Seu trono.
Nós estamos sendo educados pelos céus, para o encontro na assembleia dos perfeitos.
Ainda não se manifestou o que seremos, mas seremos como Ele, porque o veremos assim como Ele é.
Nós estamos sendo levantados: através de um duro combate, longa vigilância, e paciente espera,  estamos sendo levantados em santidade.
Estas tribulações que trilham o nosso trigo e que lançam a palha para longe, estas aflições que consomem nossas escórias, e que tornam nosso ouro mais puro, têm um objetivo glorioso em vista.
Todas as coisas cooperam juntamente para o bem daqueles que amam a Deus; e o resultado esperado de tudo isso será a apresentação dos escolhidos a Deus, não tendo mancha ou ruga ou qualquer coisa semelhante.
Não devemos pensar que a santificação ocorre instantaneamente, quando se ouve um pregador sincero.
Este não é o trabalho de um momento, de alguns dias, ou da habilidade humana, mas é o próprio Deus que deve trabalhar em nós.
Devemos, antes de tudo, ter a habitação do Espírito Santo.

É pela fé em Cristo que se é renascido pelo Espírito. É também pela mesma fé que somos santificados, assim como temos crido para o seu perdão e justificação.
Como a santificação é forjada nos cristãos? Jesus disse em João 17: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.”.
Observem como Deus tem juntado a verdade e a santificação.
Tem havido uma tendência recentemente para se dividir a verdade da doutrina; a verdade do preceito.
Nenhuma vida santa será produzida em nós por crer na falsidade.
A santificação em seu caráter visível vem da edificação em fé no interior do coração, ou de outra forma é uma mera casca.
Boas obras são o fruto da verdadeira fé, e a verdadeira fé é uma sincera crença na verdade.
Cada verdade conduz à santificação, cada erro de doutrina, direta ou indiretamente conduz ao pecado. 
E não estamos falando de mero conhecimento intelectual, mas de conhecimento espiritual, por experiência pessoal, na implantação das virtudes de Cristo em nossa nova natureza, recebida pela fé nEle (longanimidade, amor, benignidade, paciência, domínio próprio, alegria etc).
Por isso, somente o ensino que é segundo a  Palavra de Deus revelada, nos santificará.
A matemática é uma verdade, mas ninguém é santificado por ela.
O erro pode soprar sobre você, ele pode mesmo levar você a pensar que você está santificado, mas há uma grande e séria diferença entre ostentar santificação e estar santificado de fato, uma grave diferença entre se sentir mais purificado que outros, e estar sendo realmente aceito por Deus.
A verdade nunca é a sua opinião, nem minha; sua mensagem, nem minha.
Jesus disse, “a tua Palavra é a verdade”.
O que santifica os homens não é apenas a verdade, mas a verdade que está revelada na Palavra de Deus.
É uma bênção que toda a verdade que é necessária para nos santificar esteja revelada na Palavra de Deus, tanto que nós não temos que gastar nossas energias tentando descobrir a verdade, mas podemos, para nosso maior proveito, usar a verdade revelada nas Escrituras.
Não haverá mais revelações da verdade, não são mais necessárias.
O cânon está fixado e completo, e por isso se diz que nada deve ser retirado ou acrescentado à Palavra, sob a pena de lhe serem acrescentadas as pragas descritas em Apo 22.18,19.
O Senhor nunca reescreveu ou reeditou Sua Palavra e certamente nunca o fará, porque ela, verdade que é, permanece para sempre.
Nosso ensino pode estar cheio de erros, mas o Espírito não erra.
A fé foi entregue de uma vez por todas aos santos.
A Escritura sozinha é a verdade absoluta e eterna.
É por isso que nos é ordenado que a Palavra de Deus habite ricamente em nosso coração, e para tanto, será necessário que a leiamos e que meditemos nela dia e noite.
É pela leitura e meditação das Escrituras que se chega ao conhecimento do caráter de Deus, e a termos temor e tremor em nossa caminhada diante dEle e da Sua justiça.  
Quando a verdade for totalmente usada, ela destruirá o pecado diariamente, nutrirá a graça, inspirará nobres desejos, e produzirá ações santas.  
Agora, ninguém espere ter uma verdadeira santificação sem isto.   






7 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 3

Quando o Senhor diz “sede santos por que eu sou santo” o que está em foco é uma convocação direta a ser imitado.
Jesus é o nosso exemplo de vida que devemos seguir, se desejamos de fato ser santificados.
Por isso há várias convocações diretas na Palavra neste sentido em Mt 10.25; Fil 2.5; I Cor 11.1; Ef 5.1; I Ts 1.6;  I Pe 2.21;  I Jo 2.6; 4.17, entre outras.
A imitação de Cristo está embutida na ordenança bíblica que nos manda nos revestirmos de Cristo ou do novo homem, o que é a mesma coisa (Rom 13.14; Ef 4.24; Col 3.10).
Cabe ressaltar que na regeneração já ocorreu um revestimento do novo homem, e um despojamento do velho homem, mas tanto uma coisa quanto outra (revestimento e despojamento) devem prosseguir na santificação.
Quando encontramos na Palavra de Deus, citações ao fato de já termos sido lavados, santificados, revestidos do novo homem e despojados do velho, a referência se aplica no caso à REGENERAÇÃO (novo nascimento), e quando há uma exortação no sentido de se prosseguir com o trabalho de purificação da alma, de despojamento da carne, mortificação da natureza terrena e revestimento de Cristo ou do novo homem, a referência então se aplica ao processo da SANTIFICAÇÃO, que deve prosseguir por toda a vida, até que sejamos recebidos na glória.
A santificação consiste basicamente na ordenança de Rom 13.14: revestir-se de Cristo e nada dispor para a carne quanto às suas concupiscências.
E para revestir-se externamente de Cristo é necessário primeiro conhecê-lo interiormente.
Jesus deve ser recebido no coração por fé, antes de poder se manifestar na vida pela santidade.
Para que a luz apareça e ilumine é preciso primeiro acender a lâmpada.
É assim que a luz do cristão brilha no mundo, pelo testemunho de sua própria vida, pelas virtudes visíveis de Cristo que se manifestam na mesma.
Esta luz pode brilhar mais em uns do que em outros, conforme o nível de sua consagração, e consequentemente, da sua santificação.
Assim, o exterior e visível deve ser precedido e  inspirado pelo interior e invisível, para que o mundo não possa negar que somos filhos da luz e do dia (I Tes 5.5,8).
Não basta que Cristo seja o alimento que sustém o homem interior, é também necessário que seja o vestido que cobre o homem exterior, e que deve ser visto pelo mundo, através do seu testemunho.
O cristão deve estar vestido de Cristo em todo o tempo, e deve estar de tal maneira vestido do Senhor, que se confunda com Ele.
Na conversão, quando é regenerado pelo Espírito esta exortação é cumprida num sentido parcial, pois o cristão se reveste de Cristo como um manto de justiça.
A justiça de Cristo que é imputada ao cristão na justificação, passa a ser dele, porque Cristo agora lhe pertence e ele a Cristo.
Embora injusto por natureza, o cristão passa a ser justo.
Mas a ordenança de Rom 13.14 não se refere à justificação, mas à santificação.
Entretanto o ato de se revestir de Cristo só pode ser cumprido por aqueles que já foram justificados e regenerados.
Devemos nos revestir de Cristo, continuamente, para que a santidade de Cristo seja reproduzida em nossa conduta diária.
Se é a Cristo que devemos ir para obter o perdão e a justificação, não devemos ir a outro para obter a santificação (I Cor 1.30).
Havendo começado com Jesus, devemos seguir com Ele até o fim.
O ato de se revestir de Cristo consiste em imitá-lo.
Ele é o modelo, o único modelo que deve ser seguido pelos cristãos.
Devemos andar no mundo como Cristo andava.
Uma pergunta deve acompanhar o cristão em todas as áreas de atividades e situações de sua vida:
“o que faria Jesus em meu lugar?”, e sua ação deve ser norteada pela resposta a tal pergunta.
É pela vida de Jesus que devemos modelar a nossa.
O motivo ativo e potente que nos encoraja a imitar Jesus como nosso modelo é a santificação das nossas almas.
Acheguemo-nos ao Senhor e Ele nos dará o vigor que nos falta.
Sem a graça que está em Cristo Jesus não é possível ter a verdadeira santidade.
O próprio Moisés e todos os que agradaram a Deus na dispensação da lei foram assistidos e fortificados pela graça, que também operou mediante a fé.
A fonte da verdadeira santidade está em que “o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim, da graça.”.
Todos os que agradam a Deus não são os que se deixam constranger pela força dos Seus mandamentos, como quem serve a um rude patrão, mas, são os que O servem como filhos que estimam e amam a seu Pai.
A motivação do cristão deve repousar na gratidão pela graça e redenção de Jesus, que lhe trouxe a salvação.
Não é no Sinai que deve buscar o estímulo à sua santidade, mas no Calvário.
Inflamado de amor pelo Salvador, que morreu por ele, será a sua felicidade estar pronto para viver ou para morrer, para trabalhar ou para sofrer pelo seu Senhor.
O desejo de ser louvado e o temor de ser censurado não são motivos para a santidade, são indignos de quem pertence a Cristo.
O servo do Senhor não pode se fazer servo dos homens, agindo como que para agradar a homens.
Antes, a glória do seu Mestre é sua paixão, e tudo o mais é sem importância.
Dizer “revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” é o mesmo que dizer, “revesti-vos da perfeição”.
Assim, o cristão deve se revestir das virtudes que fazem parte do caráter de Jesus.
Não de parte destas virtudes, mas de todas elas.
Não é somente sua humildade ou doçura, ou amor, ou zelo o que devemos imitar, mas a sua completa santidade.
A nossa comunhão com Cristo deve ser tão íntima, que a sua personalidade possa ser reproduzida em nós.
A nossa vontade deve ser conformada à dEle.
É a vontade de Deus que sejamos cada vez mais semelhantes a Jesus (Rom 8.29).





8 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 4

Lendo o texto de Col 3.12-14 vemos que Paulo está descrevendo o traje do cristão.
As vestes que ali são descritas devem ser usadas permanentemente.
Nenhuma delas deve ser deixada de lado.
Todas devem ser vestidas.
Não apenas no domingo, mas durante todos os dias da semana.
As primeiras vestes citadas são a misericórdia e a bondade.
Somos tão misericordiosos, benignos, ternos e compassivos com os nossos semelhantes como é o próprio Cristo?
Pela santificação, obtivemos este traje, e estamos com ele vestidos?
Esforçamo-nos para alcançá-lo?
Se não, a nossa alegada santidade está nua em parte.
Longe de nós a presunção da igreja de Laodiceia que lhe custou a reprimenda de Apo 3.17.
Em seguida são citadas como parte do vestuário de Cristo, a mansidão e a humildade.
Jesus não oprime nem tiraniza a ninguém.
Ele foi sempre humilde, manso e cheio de graça, sendo o Mestre de todos, e o Senhor dos senhores.
Somos arrogantes e duros de coração por natureza. É somente pelo trabalho de quebrantamento do Espírito Santo que deixamos de sê-lo.
Há também os vestidos da longanimidade e da paciência, no trato com os semelhantes.
Há cristãos que se não fazem tudo a seu gosto, logo se encolerizam.
São egoístas, obstinados, iracundos e suscetíveis.
Não se sujeitam à disciplina do Espírito Santo, e nem à autoridade da Palavra de Deus.
A verdade que servem é a própria, engendrada por sua imaginação e sentimentos carnais.
Estas vestes da velha natureza devem ser trocadas pelas vestes de Jesus, da longanimidade (tardio em se irar) e da paciência.
Devemos ser pacientes ainda quando tenhamos sido vítimas de grandes injustiças: mais vale sofrer do que devolver mal por mal (Rom 12.17-21; I Pe 2.19-23; 4.12-14).
O apóstolo segue dizendo:
“Perdoai-vos mutuamente...”.
Não é evidente que tal ensino não é da terra, mas que nos veio do céu? T
Tratemos pois de colocá-lo em ação.
Vesti-vos do Espírito de Cristo, e sua língua não soltará palavras tão amargas.
Vesti-vos do seu amor, e seu coração não abrigará sentimentos tão ásperos.
Que suas almas se encham de sua santidade, e de boa vontade perdoarão, não sete, mas setenta vezes sete.
Agora, o cinturão que mantém em seu lugar cada peça deste vestuário espiritual é:
“Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.”.
Este cinturão é divino: o amor.
Tudo o que temos feito tem muito pouco valor se nossas animosidades não têm sido sepultadas com o velho homem.
Ainda que tenhamos muitos defeitos, que não nos falte o amor pelo Senhor e por nossos semelhantes.
E finalmente:
“a paz de Deus governe os seus corações e sejam agradecidos.”.
A gratidão deve ser achada entre os discípulos de Jesus.
Bem-aventurada a alma que está em plena possessão de si mesma, sempre tranquila e descansada.
Se desejamos ser semelhantes a Jesus devemos estar vestidos da Sua paz.





9 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 5

Uma pessoa santa, além das virtudes destacadas em Col 3.12-14 também possui: submissão, domínio próprio, auto negação, amor fraternal por seus irmãos em Cristo, pureza de coração, temor de Deus, fidelidade em todos os deveres e relacionamentos, e todas as demais virtudes que caracterizam o cristão fiel, segundo o que está revelado na Bíblia. 
Apesar de estarmos revestidos de Jesus, temos necessidade ainda de lutar contra a carne como se diz em Rom 13.14.
Não devemos ser indulgentes com a carne, nem desculpá-la.
Nunca digamos: “Cristo me tem perdoado porque tenho mau gênio, e não posso livrar-me dele.”.
Nunca justifiquemos aquilo que em nós não se encontra na natureza de Cristo.
Alguém pode dizer: “Sou muito alegre por natureza e assim, um pouco de prazer mundano me é necessário.”.
Jogo perigoso é este!
Está fazendo o que a Palavra proíbe.
Está adulando a carne para satisfazer os seus desejos.
Cuidado!
Não se deve dar trégua ao pecado, nem por um dia, uma hora, um minuto, um segundo.
Nossa obediência deve ser sem interrupção.
Não devemos consentir que a carne levante a cabeça, pois não se pode saber até onde é capaz de nos arrastar.
A carne é voraz e nunca se sacia.
Não devemos lhe dar nem ainda as migalhas que caem da mesa.
Revesti-vos do Senhor Jesus e já não haverá lugar para as concupiscências da carne.
O pecado está onde Cristo não está.
Qual é o vestido de casamento que nos fará dignos de ir ao encontro de Cristo e participar do Seu triunfo? É o próprio Cristo.
Se aqui neste mundo Ele é meu adorno, e minha formosura, posso estar seguro de que Ele será minha glória durante a eternidade.    
A carne é tão ardilosa que os próprios mandamentos de Deus, que nos são dados para vida (Rom 7.10), ela os utiliza para reviver o pecado (a carne gosta do que é proibido – Rom 7.9), e assim, o pecado, se prevalecendo do mandamento, pelo próprio mandamento nos engana e mata (Rom 7.11).
Diante de um inimigo tão ardiloso, que ainda opera na natureza terrena do cristão, toda vigilância e cuidado são poucos.
Por é necessário estar sempre alerta quanto à presunção espiritual, sobre a qual somos exortados em I Cor 10.12:
“Aquele, pois que pensa estar de pé tome cuidado para não cair.”.
O diabo e a nossa própria carne (natureza terrena) podem nos enganar imitando com o vício da presunção, a virtude da completa segurança da fé, que é uma das bênçãos que é obtida com o verdadeiro progresso na santificação, quando a salvação pela graça, mediante a fé, caminha rumo à perfeição, pelo amadurecimento na confiança no Senhor, e no trabalho que Sua graça tem realizado em nós.
Temos o grande direito de crer que estamos de pé, se cremos que o estamos através do poder de Deus.
Pois, quando cremos que estamos de pé, sem que haja comunhão real com o Senhor, quando damos acolhida a pequenos pecados que sejam, quando não há mais um trabalho de santificação na vida, porque não o buscamos, e vivemos segundo o mundo, então se aplica a nós o que o texto afirma: “aquele que pensa”.
Pensamos que estamos de pé, mas de fato não estamos.
Estamos sim, rumo a uma queda, que ainda que não seja final, há de nos manter afastados da comunhão com o Senhor, por apagarmos o Espírito Santo (I Tes 5.19; Tg 4.4, 8-10).
Assim, não estamos falando contra a fé poderosa que alguém alega possuir.
Quem dera todos a possuíssemos.
Mas estamos falando contra esta presunção não santa.
Há muitos que se aventuram no meio da tentação, frequentando companhias, locais, situações que são fontes de tentação, e que se gabam dizendo: “você pensa que eu sou fraco para pecar ?”. “Não, eu estarei de pé!”. “Dê-me um copo de bebida; eu nunca serei um alcoólatra.”. “Dê-me a pornografia em suas variadas formas (TV, vídeos, internet, casas de má fama etc) e eu me manterei puro em meu corpo e espírito.”. Assim são as pessoas presunçosas.
Não é preciso ir muito longe para achá-los.
A própria igreja está repleta deles.
Há em cada igreja homens que pensam estar de pé; homens que se gabam em si mesmos, por imaginarem ter força e poder, mas não vivem a vida dos filhos de Deus, eles não têm sido humilhados ou quebrados em espírito, ou se têm sido, adotam uma segurança carnal até que se transformem em gigantes que pisam a flor da humildade sob os seus pés.
Qualquer cristão está sujeito a ser presunçoso, cedendo a uma falsa segurança carnal.
É um mal contra o qual devemos sempre vigiar, daí a exortação do Espírito pela boca de Paulo em I Cor 10.12.
São fatores que, dentre outros, podem favorecer a presunção:
1 – Prosperidade mundana – “eu estou de pé, e a minha prosperidade prova isto”, é o que diz o presunçoso.
2 – Pensamentos leves sobre o pecado – perde-se o temor de pecar que se sentia quando era novo convertido. “Não é um pequeno pecado?” – diz o presunçoso, e ainda: “Nós tropeçamos um pouco, falamos e fazemos umas poucas cousas não santas, mas no tocante à maior parte da nossa vida espiritual temos sido perseverantes.”.
3 – Fracos pensamentos sobre o valor da fé. Nenhum de nós valoriza a fé o suficiente. Baixos pensamentos acerca de Cristo, significa baixos pensamentos acerca do estado eterno das nossas almas e do valor da fé que nos salva e santifica. Isto nos conduz a sermos descuidados com a segurança da nossa salvação. Tomemos cuidado com as fracas e baixas ideias sobre o evangelho, para que não sejamos apanhados repentinamente pelo mal.
A palavra do evangelho é o poder para a salvação de todo o que crê.
É uma palavra mais do que preciosa, de valor inestimável.
E é assim que nos convém estimar a Palavra de Deus.
4 – Ignorância sobre o que somos e sobre onde somos firmados.
Muitos cristãos não têm aprendido ainda o que eles são.
O primeiro ensino de Deus é revelar qual é a condição real da nossa natureza terrena, que devemos mortificar continuamente pelo Espírito (Col 3.5).
Mas não chegamos a conhecer isto perfeitamente, mesmo depois de muitos anos de termos conhecido Jesus.
A corrupção dos nossos corações não é desenvolvida em apenas uma hora. Há cristãos que pensam que têm um bom coração. Jeremias tinha um coração melhor do que o deles e mesmo assim disse: “o coração é enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá ?” (Jer 17.9).
Na verdade, sem Cristo o nosso espírito está morto, completamente destituído da vida de Deus, e da comunhão com Ele.
É preciso estar consciente na constante luta entre a velha natureza e a nova, que se trava no coração de qualquer cristão, para que, em vigilância e oração constantes, possamos estar de pé diante do trono.
5 – O orgulho é a mais grave causa da presunção.
O verdadeiro cristão, ainda que não tenha a possibilidade de sofrer uma queda final, está muito propenso a cair. Qualquer cristão pode se desviar do caminho, e quando se desvia, se acometerá a si mesmo com muitas tristezas.
O cristão que pensa estar de pé definitivamente, e que não depende da graça diariamente, buscando santificar-se mais e mais, está muito mais exposto ao perigo de cair mais do que outros, porque será descuidado em meio à tentação.
Ele pensa que é muito forte, e em meio aos ataques do inimigo mantém sua espada na bainha, e nem sequer se dá-se conta da luta espiritual, e assim, não ora, não medita na Palavra para aplicá-la à vida, não tem compromisso real com Cristo, não frequenta a igreja com assiduidade, confia em sua prosperidade material e financeira, e considera a falta de tribulações como sinal da aprovação e bênção de Deus.
Vale lembrar que o Espírito Santo abandona os corações onde habita o orgulho.
Ele não se demorará em tal companhia. A graça é dada a quem se humilha e é negada a quem se exalta.





10 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 6

Nunca podemos dizer que a santificação chega ao amadurecimento e perfeição total, ou que todas as virtudes citadas até aqui, especialmente as de Col 3.12-14, sejam achadas em total florescimento e força, para que possamos dizer que a pessoa é santa.
Não, longe disto.
A santificação é sempre um trabalho progressivo, e consoante a concessão da graça do evangelho, que trabalha muito mais com a nossa consagração a Deus e à Sua Palavra, do que com a nossa perfeição presente, quanto aos nossos pensamentos, motivações, sentimentos e ações.  
As virtudes ou graças de algumas pessoas são como plantas em germinação, em outras, como plantas crescidas, e ainda em outras como plantas maduras com frutos.
Mas todas elas tiveram um começo.
Nós nunca devemos desprezar “o dia dos humildes começos” (Zac 4.10).
E a santificação neste mundo, no melhor dos snaos, é um trabalho imperfeito.
A história dos maiores santos que já viveram contem muitos “poréns”, “todavias” e “emboras”.
O ouro nunca será sem algumas escórias e nós nunca brilharemos sem algumas nuvens, até que alcancemos a Jerusalém celestial.
Os homens e mulheres mais santificados têm tido muitas manchas e defeitos, quando comparados com o padrão elevado e santo da Palavra de Deus.
Suas vidas estão continuamente em guerra com o pecado, e o diabo; e algumas vezes vocês os verão não submetendo o Inimigo e a carne, mas sendo submetidos.
Assim, não é pelo tanto que ainda haja de imperfeições e fraquezas em nós, que estaremos impedindo ou desacelerando o processo de santificação, mas o quanto não nos arrependemos do nosso procedimento contrário à vontade de Deus.
Enquanto tivermos o temor do Senhor e da Sua Palavra, enquanto confessarmos os nossos pecados, e nos arrependermos de nossas más obras, buscando andar do modo que Deus aprova, sempre haverá esperança para o nosso caso, quanto a fazermos progresso em santificação. 
Afinal, a carne está sempre lutando contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, e “todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tg 3.2; Gál 5.17).        
Mas todo verdadeiro cristão, renascido do Espírito, perseguirá o alvo da santificação.
E corajosa e confiantemente eu digo, que a verdadeira santificação é uma grande realidade.
Ela é algo que pode ser visto nos homens e mulheres, e mesmo em crianças, e que pode ser sentido por todos ao seu redor.
Eu sei que o caminho pode ir de um ponto a outro, e ter muitas curvas e deformações, e a pessoa pode ser verdadeiramente santa, e ainda ser rodeada por muitas fraquezas.
O ouro não é menos ouro porque está misturado com algum liga metálica; nem a luz é menos luz porque é fraca e turva; nem a graça é menos graça porque é jovem e fraca.
Mas depois de todas estas considerações eu não posso dizer que uma pessoa mereça ser chamada “santificada”, que deliberadamente se permite continuar habitualmente nos seus pecados, e que não se sente envergonhada por causa deles.
Eu não ousaria chamar de “santo” quem faz um hábito deliberado negligenciar os deveres conhecidos, e que pratica aquilo que sabe que Deus tem claramente proibido em Sua Palavra.
John Owen se expressou muito bem quanto a isto: “Eu não entendo como um homem pode ser um cristão verdadeiro sem que o seu pecado não lhe seja a maior aflição, tristeza e problema.”.




11 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 7

Estamos Santificados?
Esta é a pergunta de maior importância para as nossas almas.
Se a Bíblia é a verdade, e é certo que é, a menos que nós sejamos santificados, nós não seremos salvos.
Há três coisas que de acordo com a Bíblia, são absolutamente necessárias à salvação de cada homem e mulher cristão.
Estas três coisas são a justificação,  a regeneração e a santificação.
Aquele em quem falte alguma destas três coisas, não poderá ir para o céu quando morrer.
Onde, então está o dano em perguntar, “estamos santificados ?”.
Onde está o bom senso de rejeitar a inquirição?
Esta é uma questão muito apropriada para ser tratada nos dias atuais.
Estranhas doutrinas têm se levantado ultimamente sobre todo o assunto da santificação.
Alguns parecem confundi-la com a justificação. Outros a fragmentam em nada, sob o pretenso zelo pela livre graça.
Outros levantam um erro de uma santificação padrão diante dos seus olhos, e falham ao tentar alcançá-la em suas vidas através de repetidas mudanças de igreja a igreja, na vã esperança que eles acharão o que eles desejam.
Num dia como este, o calmo exame da pergunta em título, pode ser de grande utilidade para nossas almas.  
Em primeiro lugar, nós temos que considerar a natureza da santificação. A que se refere a Bíblia quando fala de um homem “santificado”?
Santificação é o trabalho espiritual interior que o Senhor Jesus Cristo opera no homem pelo Espírito Santo, quando Ele o chama para ser um autêntico cristão, separando-o do seu natural amor ao pecado e ao mundo, e põe um novo princípio em seu coração, e o torna praticamente devoto em sua vida.
O instrumento pelo qual o Espírito efetua este trabalho é geralmente a Palavra de Deus, embora algumas vezes Ele utilize as aflições e visitações providencias.
O sujeito deste trabalho de Cristo pelo seu Espírito, é chamado na Escritura de homem santificado. 
Aquele que supõe que Jesus Cristo somente viveu e morreu e ascendeu ao céu para prover justificação e perdão dos pecados do Seu povo, tem ainda muito que aprender.
Enquanto ele não sabe isto,  está desonrando o nosso bendito Senhor, e fazendo-lhe somente um Salvador pela metade.
O Senhor Jesus tem se responsabilizado por tudo que as almas do seu povo necessitam; não somente em livrá-las da culpa de seus pecados, através da Sua morte expiatória, mas pelo domínio dos seus pecados, pela habitação do Espírito Santo em seus corações; lhes santificando.
Ele é, assim, não somente sua justiça, mas também sua santificação (I Cor 1.30).
Ouça o que a Bíblia diz em Jo 17.19; Ef 5.25-27; Tt 2.13,14; I Pe 2.24  e Col 1.22.
Deixe-me apresentar o significado destes cinco textos cuidadosamente considerados. 
Se palavras significam algo, elas ensinam que Cristo toma para si a responsabilidade pela nossa santificação, não menos do que pela justificação.
Ambas são igualmente providas porque neste pacto eterno está ordenado em todas as coisas e certamente, que o Mediador é Cristo.
De fato, Cristo em Heb 2.11 é chamado “o que santifica”, e Seu povo, “os que são santificados”.
O assunto diante de nós é tão profundo e de vasta importância, que requer, para que seja devidamente entendido, que seja  avaliado, clareado e marcado em todos os seus lados.
A santificação, então, é o resultado invariável desta vital união com Cristo que a verdadeira fé dá ao cristão.
“Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5).
O ramo que não produz fruto não é um ramo vivo da videira.
A união com Cristo que não produz efeito no coração e na vida é uma mera união formal, que é sem valor diante de Deus.
A fé que não tem uma influência santificadora sobre o caráter não é melhor do que a fé dos demônios.
Ela é uma “fé morta, porque é somente isto”.
Isto não é o dom de Deus, a fé dos eleitos de Deus.
Em resumo, se não há santificação de vida, não há fé real em Cristo.
A verdadeira fé opera pelo amor.
Ela constrange o cristão a viver no Senhor com um profundo senso de gratidão pela redenção.
Isto o faz sentir que ele nunca pode fazer muito por Ele, que morreu no seu lugar.
Sendo muito perdoado ele ama muito.
Aquele que é lavado pelo sangue caminha na luz.
Aquele que tem uma real e viva esperança em Cristo, purifica-se a si mesmo assim como Ele é puro (Tg 2.17.20; Tt 1.1; Gál 5.6; I Jo 1.7; 3.3). 
Quanto maior a santificação, maior a consciência espiritual de que se estava morto, separado da vida de Deus, e da comunhão com Ele, porque o oposto disto, ou seja, vida e comunhão, crescem à medida que a santificação aumenta em graus. 
A santificação, também, é a inseparável consequência da regeneração.
Aquele que é nascido de novo do Espírito, que foi feito nova criatura, recebe uma nova natureza e um novo princípio, e sempre vive uma nova vida.
A regeneração que um homem pode ter, e ainda viver descuidadamente no pecado ou de forma mundana, é uma regeneração que nunca é mencionada na Escritura.
Ao contrário, João expressivamente diz que aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado, mas pratica a justiça, ama os irmãos, guarda-se a si mesmo e vence o mundo (I Jo 2.29; 3.8-14; 5.4-18).
Numa palavra, onde não há santificação, não há regeneração, e onde não há vida santa não há novo nascimento.
Isto é, sem dúvida, uma dura coisa para se dizer a muitas almas; mas, dura ou não, isto é simplesmente a verdade bíblica.
De modo que ninguém dê descanso à sua alma enquanto não tiver obtido isto. Porque caso se satisfaça com uma mera confissão religiosa, corre o grande perigo de permanecer ainda sujeito à condenação eterna, por nunca ter sido redimido por Cristo, ainda que pense que o tenha sido. 
Por isso, em Sua misericórdia, Deus nos dá evidências seguras na Bíblia, para que possamos saber se fomos ou não regenerados, e por conseguinte, se estamos sendo santificados, porque esta sempre se seguirá em todos os que nasceram de novo do Espírito, por terem crido em Cristo.
Assim o engano ou o auto engano poderão ser evitados, a bem do futuro eterno de nossas almas.   
Isto está escrito claramente, que aquele que é nascido de Deus é um cuja “semente permanece nele, e ele não pode viver pecando porque ele é nascido de Deus.” (I Jo 3.9).
A santificação, ainda, é a única e certa evidência da habitação do Espírito Santo que é essencial à salvação.
“Se alguém não tem o Espírito de Cristo esse tal não é dEle.” (Rm 8.9).
Muitos se iludem por sentimentos, dizendo que sentem algo lhes dizendo no seu interior que são salvos.
Apesar de o Espírito Santo testificar com o nosso espírito que fomos salvos, não se pode ter por seguro que toda voz ouvida no coração seja do Espírito, porque a carne ou o Inimigo poderão nos enganar.
Então essa testificação do Espírito Santo, aumenta em graus, naqueles que se santificam.
E é especialmente pela constatação pessoal do aumento das suas graças transformadoras em nós, que podemos ter a plena certeza que somos de fato de Cristo (pelo aumento da longanimidade, do amor aos irmãos e a Deus, da benignidade, paciência etc). 
O Espírito nunca permanece adormecido e ocioso na alma: Ele sempre faz Sua presença conhecida pelo fruto que Ele produz no coração, no caráter e na vida.
“O fruto do Espírito”, diz Paulo, “é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio,” (Gál 5.22,23).
Quando estas coisas são encontradas, há o Espírito: quando estas coisas não existem, os homens estão mortos diante de Deus.
O Espírito é comparado ao vento, e, como o vento, Ele não pode ser visto pelos nossos olhos de carne.
Mas assim como nós conhecemos o efeito que o vento produz nas ondas, nas árvores, na fumaça, assim nós podemos saber que o Espírito está no homem pelos efeitos que Ele produz na conduta dos homens.
É possível supor que nós temos o Espírito, se nós também “andarmos no Espírito” (Gál 5.25), produzindo o fruto que é consequente dessa santa 
Assim, os que são realmente “guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus.” (Rom 8.14).




12 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 8

A santificação, ainda, é a única e clara marca da eleição de Deus.
Os nomes e números dos eleitos são uma coisa secreta, sem dúvida, que Deus tinha sabiamente guardado em Seu próprio poder, e não revelou ao homem.
Não é dado a nós neste mundo estudar as páginas do livro da vida, e ver se nós estamos inscritos nele.
Mas se há uma coisa claramente estabelecida sobre a eleição, é esta, que os homens e mulheres eleitos podem ser conhecidos e distinguidos pelas suas vidas santas.
Isto está expressamente escrito que eles são “eleitos através da santificação do Espírito (I Pe 1.2); predestinados para serem conformes à imagem do Filho de Deus (Rom 8.29); escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo para serem santos e irrepreensíveis (Ef 1.4).
Portanto, quando Paulo viu a operosidade da fé, a abnegação do amor, e a firmeza da esperança dos cristãos  tessalonicenses (I Tes 1.3), ele disse, que reconhecia através disso a eleição deles por Deus (I Tes 1.4).
Aquele que se vangloria em ser eleito de Deus, enquanto ele está deliberada e habitualmente vivendo no pecado, está somente enganando a si mesmo, e dizendo uma perversa blasfêmia, porque com isso desonra a santidade de Deus, pois não há qualquer sombra de pecado em Deus.
Mas onde não há, pelo menos, alguma aparência de santificação, nós podemos estar completamente certos de que não há eleição.
A verdade da Palavra é que o Espírito Santo santifica todos os eleitos de Deus.   
A santificação, ainda, é uma coisa que sempre será vista, assim como a Grande Cabeça da Igreja, de quem isto procede, não pode ser escondida.
Cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto (Lc 6.44).
Uma pessoa verdadeiramente santificada pode ser tão vestida de humildade, que ela pode ver em si mesma, nada além de fraquezas e defeitos.
Como Moisés, quando ele veio ao monte, ele pode não ter tido consciência que sua face brilhava.
Como os justos na importante parábola das ovelhas e dos bodes, que não podiam ver que eles tinham feito algo para o seu Mestre quando o fizeram a outros (Mt 25.37). 
Mas ainda que não vejam isto em si mesmos ou não, outros sempre verão neles, um tom, um caráter e uma forma de vida não vista em outros homens.
A luz pode ser muito turva, mas se houver somente uma centelha num quarto escuro, ela será vista.
A vida pode estar muito débil, mas se houver pulsação, ainda que fraca, isto será percebido.
É exatamente o mesmo que ocorre com o homem santificado: sua santificação será algo sentido e visto, embora ele mesmo não possa compreender isto.
Um santo em quem nada pode ser visto mas mundanismo ou pecado, é um tipo de monstro não reconhecido pela Bíblia.
A santificação, ainda, é uma coisa pela qual cada cristão é responsável.
Cada homem na terra é responsável diante de Deus, e todos os perdidos estarão mudos e sem desculpas no último dia.
Cada homem tem poder para “perder sua própria alma” (Mt 16.26).
Deus tem dado aos cristãos graça e um novo coração, e uma nova natureza, de modo que tem negado a eles toda a desculpa, caso não vivam para o Seu louvor.
Este é um ponto que é muito esquecido.
Um homem que professa ser um verdadeiro cristão, enquanto se assenta ainda, contente com um muito baixo grau de santificação (se de fato ele tem alguma), e friamente diz que ele “nada pode fazer quanto a isto”, é de fato uma muito lamentável visão, de um homem muito ignorante.
Contra esta ilusão deixem-nos vigiar e estar em guarda.
Se o Salvador de pecadores nos der uma graça renovadora, e nos chamar, pelo Seu Espírito, nós podemos estar certos que Ele espera que usemos a nossa graça, e que não venhamos a dormir como os demais.
É o esquecimento disto a causa de muitos cristãos entristecerem o Espírito Santo, e se tornarem inúteis.       
A santificação, ainda, é uma coisa que permite o crescimento e o progresso.
Um homem pode escalar um degrau após outro em santidade, e ser mais santificado num período de sua vida do que em outro.
Mais perdoado e mais justificado do que era quando creu no princípio ele não pode ser, embora ele possa sentir isto com mais intensidade.
Mais santificado ele certamente pode ser, porque cada graça em seu novo caráter pode ser fortalecida, ampliada e aprofundada.
Este é o evidente significado da última oração de  nosso Senhor por seus discípulos, quando ele usou as palavras, “santifica-os” (Jo 17.17), e Paulo orou pelos tessalonicenses “o mesmo Deus da paz vos santifique em tudo” (I Tes 5.23).
Em ambos os casos a expressão claramente implica a possibilidade de aumento da santificação; enquanto que uma expressão paralela como “justifica-os” nunca é encontrada uma só vez nas Escrituras, aplicada aos cristãos, porque eles não podem ser mais justificados do que eles já estão.
A justificação é recebida de uma vez para sempre na conversão e não é portanto um processo.
Já a santificação é um processo que dura toda a vida.
A ideia de uma “santificação imputada” numa experiência de poder em avivamento do Espírito não tem respaldo bíblico e contraria a verdade da Palavra e da própria experiência prática, porque não existe uma santificação completa que se receba de uma vez para sempre em determinado momento da vida.
O que pode ocorrer é um renovo espiritual que desperte a santidade que estava adormecida, mas esta necessitará ser sempre mantida e renovada e aumentada. 
A ordem de Cristo em Apocalipse é que o que é santo, santifique-se mais ainda.
Isto denota a necessidade de exercício espiritual, de disciplina, de esforço, de vigilância constante, perseverança e diligência.
Há necessidade de formação progressiva de um hábito de santidade na vida, em todas as suas áreas.
Se há um ponto em que os santos mais consagrados a Deus concordam, é este que eles veem mais, e conhecem mais, e sentem mais, e fazem mais, e se arrependem mais, e creem mais, à medida que avançam na vida espiritual, e em proporção à intimidade da sua caminhada com Deus.
Em resumo, eles crescem na graça, como Pedro exorta os cristãos a fazerem (II Pe 3.18), e progridem cada vez mais, conforme as palavras de Paulo em I Tes 4.1.      
A santificação, ainda, é uma coisa que depende grandemente do diligente uso dos meios das Escrituras.
Quando eu falo “meios” eu me refiro à leitura da Bíblia, à sua prática na vida, à presença regular à adoração pública, a regular escuta da Palavra de Deus, a constância na oração, e a regular recepção da Ceia do Senhor.
Eu não posso achar qualquer exemplo de algum santo eminente que sempre tenha negligenciado tais coisas.
Elas são apontadas como canais através dos quais o Espírito Santo conduz novos suprimentos da graça à alma, e fortalece a obra que ele tem começado no homem interior (nova criatura, nova natureza).
Deixem os homens chamarem isto de deveres legalistas. Que o façam se lhes agrada, mas eu nunca recuarei em declarar minha crença de que não há ganhos espirituais sem esforço ou sofrimento. Eu seria como um agricultor que espera prosperar em seu negócio, se contentando em semear seu campo e nunca cuidar dele até a colheita.
Assim é o cristão que espera alcançar muita santidade mas que nunca foi diligente na leitura da sua Bíblia, em suas orações, e no uso do dia do Senhor, para a adoração e serviço.

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