sexta-feira, 23 de outubro de 2015

7) Amor

7) AMOR

ÍNDICE

1 - Amor Espiritual e Amor Natural
2 - Deus é Amor Porque é Puro Espírito
3 - O Amor não é Ciumento
4 - Como Amar o Cristo Invisível
5 - Sem Amar Não Somos Reais
6 - Amados, Ainda que Imperfeitos
7 - Amor Perfeitamente Bom e Gentil
8 - Transformando o Amor
9 - “Nos lembraremos do teu amor, mais do que do vinho” (Cant 1.4)
10 - Vede quão grande amor o Pai nos concedeu
11 - "Atraí-os com cordas humanas com laços de amor". (Oseias 11.4)
12 - Amai-vos uns aos Outros como eu Vos Amei
13 - Alerta para Permanecer no Amor e na Verdade
14 - Amor
15 - É Agora ou Nunca: Amai os vossos inimigos
16 - Quem Ama mais a Cristo?
17 - I Coríntios 13.1 – Comentado por Lutero
18 - A Grande Prova do Amor
19 - Deus Não me Ama!!!
20 - A Grande Razão do Amor 
21 - Não Há Amor a Deus Sem Obediência
22 - Nada Poderá nos Separar do Amor de Deus
23 - Amor sem Medida : um sermão em João 3:16
24 - O Amor do Senhor - Oseias 3:1
25 - “Eu voluntariamente os amarei” (Oseias 14.4)
26 - Amor Abundante
27 - Um Pai Amoroso
28 - A Grandeza do Amor de Cristo
29 - Citações do livro O Amor de Deus


1 - Amor Espiritual e Amor Natural

Nosso Senhor Jesus Cristo disse que o maior mandamento da Lei é o amor a Deus, e que um segundo mandamento semelhante a este é o amor ao próximo.
E acrescentou ainda um outro mandamento para seus discípulos, que é o próprio amor dEle entre os irmãos na fé.
Seguramente, este amor que nos deu como um novo mandamento, ou seja, algo para ser vivido pelos cristãos, é o amor ágape que existe somente na natureza de Deus, e do qual podemos compartilhar quando somos feitos coparticipantes da natureza divina.
Os apóstolos bem compreenderam e viveram a grande relação que há entre o amor ágape divino e a essência do Espírito Santo, do qual, quanto mais cheio estiver o espírito do cristão, mais cheio estará por conseguinte do referido amor.
É por isso que o apóstolo Paulo diz que o cumprimento da Lei é o amor.
O apóstolo Tiago chama este amor espiritual que procede de Deus, de Lei régia.
O apóstolo João afirma não apenas que Deus é amor, como também que aquele que ama impulsionado pelo amor divino, dará a sua vida pelos irmãos, tal como nosso Senhor Jesus Cristo deu e tem dado a Sua vida por nós, não apenas no sentido de ter morrido na cruz em nosso lugar, mas por compartilhar os dons e a essência da Sua própria vida divina conosco, pela comunhão que temos com Ele em espírito.
Paulo diz que o amor de Deus é derramado abundantemente em nossos corações pelo Espírito Santo, como que querendo ensinar que não há outra fonte na qual possamos achar o amor divino, senão apenas na nossa comunhão com o Espírito Santo, e submissão à transformação e disciplina que Ele aplica em nós na regeneração (novo nascimento) e na santificação.
Então se diz antes de tudo que o fruto do Espírito Santo é o amor, e deste amor se destacam particularidades que não se encontrarão no mero afeto natural da alma humana.
Há portanto uma aplicação aos nossos espíritos, pelo mover e poder do Espírito Santo, que derrama o amor de Deus nos nossos corações, tornando-os aptos a também a amarem tal como Jesus nos ama.
E muitas destas particularidades são destacadas pelo apóstolo Paulo no texto de I Coríntios 13.
O amor de Cristo em nossos corações não carrega consigo qualquer sombra de injustiça, ou de comportamento inconveniente, e está completamente despojado de qualquer forma de egoísmo.
O amor com o qual Cristo nos amou e com o qual devemos amar, por buscarmos estar cheios do Espírito Santo em nosso próprio espírito, pode suportar ofensas, como também até mesmo amar seus inimigos, enquanto lhes dá testemunho da completa longanimidade que há em Cristo, em benefício de suas próprias almas, para que tenham a oportunidade de acharem o arrependimento pelo qual possam encontrar a salvação ou a reconciliação com Deus.  
O amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, nos torna cheios de esperança  e confiança no Senhor, e faz com que  nosso espírito seja inabalável e pronto para toda a boa obra, inclusive ao serviço mais humilde e incansável em favor do nosso próximo.
Como é pelo amor que se dá a plena comunhão dos nossos espíritos com Deus, que é espírito, por isso, o amor jamais acabará, diferentemente de todas as demais coisas que estão sujeitas a terminarem um dia, como os próprios dons sobrenaturais do Espírito Santo relacionados nos capítulos 12 e 14 de I aos Coríntios.
Por isso se afirma na Bíblia que todos os nossos atos devem ser feitos com amor, e não meramente por amor às pessoas, mas como ao próprio Cristo.
Por isso nosso Senhor afirma que tudo o que tivermos feito com tal amor, até aos pequeninos entre seus irmãos, está sendo feito a Ele próprio.
Não erremos portanto, o alvo e o vínculo da perfeição espiritual, que é apenas o amor espiritual de Jesus que é implantado em nós pelo Espírito Santo.





2 - Deus é Amor Porque é Puro Espírito

O amor divino é marcado sobretudo pela faculdade do espírito que é chamada de comunhão.
Isto significa dizer que se pode ter somente comunhão em espírito, e a fonte desta comunhão é o próprio Deus em nós, o qual é espírito.
Comunhão é ligação. É um cimento que liga seres morais numa verdadeira união de querer, sentir e realizar. É o compartilhar de vidas que se fundem numa grande unidade.
A expiação do pecado pela morte de Jesus na cruz objetivava principalmente este resultado relativo à promoção da comunhão entre Deus e o homem.
Por isso o apóstolo Paulo destaca em I Cor 13 o modo de manifestação deste amor, ou seja, desta comunhão entre aqueles que se amam em espírito no Senhor, dizendo que tal comunhão é estabelecida em suportar com paciência especialmente a debilidade dos que são fracos; e que não se manifesta de modo invejoso ou orgulhoso, nada fazendo que seja inconveniente, e ainda que tal comunhão não é egoísta, e não se fundamenta em iras, suspeitas ou injustiças, e que sempre se alegra com a verdade e a justiça.
Assim, o amor tem o seu modo, porque a verdadeira comunhão do espírito, e que sempre procede de Deus, também tem o seu próprio modo ou caminho para se manifestar.
Trocando em miúdos: se todas as virtudes (benignidade, longanimidade, alegria, paz etc) que promovem o amor são espirituais; então a conclusão lógica é de somente em espírito, e em espíritos purificados, podem abundar tais virtudes, e por conseguinte, existir o amor divino.
Daí o nosso título: Deus é amor porque é puro espírito.
Daí também, nosso Senhor ter afirmado que importa que Deus seja adorado sempre em espírito e em verdade.
O principal significado de tal afirmação é que importa termos comunhão com Deus e uns com os outros em espírito, porque o amor celestial, eterno, divino, sempre emana do espírito, e nunca da alma ou do corpo. Pode se manifestar através de ambos, mas nunca terá neles a sua origem.
Foi por este motivo, que nosso Senhor relacionou no discurso que proferiu a Nicodemos, o amor de Deus à necessidade de se nascer de novo do Espírito Santo, ou seja, de se ser gerado pelo Seu poder em ser espiritual.
“1 Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.
2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.
3 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
7 Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo.
8 O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto?
10 Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel, e não entendes estas coisas?
11 Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testemunhamos o que temos visto; e não aceitais o nosso testemunho!
12 Se vos falei de coisas terrestres, e não credes, como crereis, se vos falar das celestiais?
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem.
14 E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
15 para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna.
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18 Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
19 E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.” (Jo 3.1-21)
Veja o modo como nosso Senhor relacionou e pôs em interdependência, no texto de João 3, estas realidades celestiais, que nos vêm da parte de Deus aqui embaixo na terra: espírito, amor, reino de Deus, fé, luz e verdade. Ele fez isto porque na verdade elas não podem existir separadamente.
A fé abre a porta para o reino de Deus, que se manifesta em amor, ou seja, naqueles que nascem do Espírito, para terem uma vida espiritual, e para a comunhão com Deus e mutuamente com os demais que têm também nascido do Espírito Santo, para um caminhar na luz e na verdade.






3 - O Amor não é Ciumento

“Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?” (I Cor 3.3)

“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,”
(I Cor 13.4)

Não foi sem motivo que o apóstolo Paulo discorreu sobre o detalhamento do amor ágape que procede de Deus, na mesma epístola que escreveu aos coríntios também lhes admoestando severamente por causa dos ciúmes que havia entre eles e que eram a principal causa das suas contendas.
Eles manifestavam preferências não somente pelos próprios apóstolos, como entre eles mesmos, e com isto, viviam em ruins suspeitas e rancores, que se manifestavam externamente na forma de contendas e de expressões de ressentimentos que impediam que vivessem na unidade de amor no Espírito.
A palavra grega “zelou” usada para ciúme nos textos de I Cor 3.4 e 13.4, tanto possuía o significado de estar cheio de raiva, ódio ou ciúme, em sentido negativo, como também possuía o sentido positivo de ser o objeto do zelo de outros para o nosso próprio bem, como é o caso da referência que se faz ao amor do Espírito Santo pelos cristãos em Tg 4.5.
Então há um ciúme que é gerador de divisões e contendas, que não procede do Espírito Santo de Deus, e é contra este tipo de ciúme que devemos nos guardar.
Tal espírito ciumento é marcante especialmente naqueles que são inseguros e que têm medo de perder para outros a atenção de pessoas do seu círculo de relacionamento.
Então o ciúme se instala no coração humano como um tipo de ferrugem que corroerá aos poucos a própria pessoa ciumenta, fazendo com que se torne amarga e ressentida, ao mesmo tempo em que produz grande desconforto naqueles que são o alvo do seu ciúme, quer seja aquele que diz amar, quer seja aquele que julga estar roubando o amor ou a amizade da pessoa que ama.
Tão corrosivo é o espírito ciumento que em não raros casos levará a pessoa que se deixa dominar por ele, a enfermar até mesmo física e emocionalmente.
Por isso, um cristão verdadeiro acabará vendo que, por ser contrário ao espírito de Deus, que o espírito de ciúme é um espírito odioso que deve ser evitado.
E então, sempre que ele perceber que suas emoções estão subindo dentro dele em qualquer ocasião, ou em relação a qualquer pessoa, se ele for  influenciado por um espírito cristão, ele ficará alarmado com isto, e lutará contra isto.
Quem tem o amor do Espírito Santo derramado em seu coração, e que portanto, tem amado com o amor de Deus, não se sente inseguro em relação ao objeto do seu amor. Não sufocará ninguém por temor de perdê-lo para outra pessoa.
Como poderão todos os membros de uma congregação viver em unidade amorosa, quando alguns se permitem dominar por um espírito tão perverso como o de ciúme?
É necessário lutar contra isto, porque senão, muitos serão contaminados e até mesmo poderá dissolver a congregação.
Por isso não são raras as passagens bíblicas que alertam e advertem contra o perigo de haver ciúme, inveja e contendas entre os cristãos.
  Rom 13:13 “Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e invejas.”.
II Cor 12.20 “Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na forma em que vos quero, e que também vós me acheis diferentes do que esperáveis, e que haja entre vós contendas, invejas, iras, porfias,detrações, intrigas, orgulho e tumultos.”.
Gál 5.19-21 “inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas...”.
I Tim 6.4: “é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas,”.
Tito 3.3 “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja. Odiosos e odiando-nos uns aos outros.”.
Tiago 3.14-16 “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal, e demoníaca. Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de cousas ruins.”
Mandemos embora, portanto, o ciúme de nossas vidas.
No amor de Deus não há qualquer temor, inclusive este de temer não ser amado, e ser abandonado, preterido, por causa de outros.
Não permitamos que o ciúme habite no seu coração, porque é um hóspede cuja intenção é a de destruir a sua vida e amargar a de muitos outros.
Não devemos dar acolhida a este hóspede perverso, porque ele nos disporá à pratica de muitos outros pecados, como por exemplo o da difamação, porque o ciúme procurará fazer acusações graves contra a reputação das pessoas das quais sentimos ciúme, para desmerece-las ou diminuí-las na estima que recebem da parte daqueles que supostamente amamos.
Dizemos supostamente porque o amor verdadeiro não é ciumento, e não produzirá este terrível mal naqueles que dizemos amar, lhes impedindo de se relacionarem livremente com outros, por causa do nosso ciúme.
Assim, devemos libertar a nós mesmos e libertar também aqueles que são o objeto do nosso ciúme.
Lembremos sempre que uma pessoa ciumenta não pode crescer na admiração e estima daqueles dos quais sente ciúme, porque sempre verão o ciúme como uma atitude de fraqueza e insegurança que carrega consigo muitos outros males, e isto não é de fato algo para ser admirado ou estimado.
Busquemos então ser conhecidos não como alguém fraco e inseguro que não permite que os laços de amor e amizade sejam estendidos entre muitos, mas como alguém que promove a realização e manutenção de tais laços.
Não será o ciúme que manterá o nosso cônjuge ao nosso lado.
Não será o ciúme que preservará a companhia de um amigo.
Não é tornando alguém inimigo daqueles que julgamos serem nossos inimigos, que tornará este alguém nosso amigo.
O amor é voluntário e necessita de liberdade de expressão para continuar vivo.
Sufoquemos o amor, limitemos o amor, e ainda que ele não morra, é certo que não poderá se expressar com alegria, admiração e liberdade.






4 - Como Amar o Cristo Invisível

Nunca será demais sempre recordarmos que o Deus único e verdadeiro que servimos é invisível, e que todas as realidades espirituais relativas ao seu reino são também invisíveis.
A fé não necessita de qualquer apoio visível para ser firmada e aumentada, ao contrário, as coisas visíveis em relação à fé tendem à idolatria, e por conseguinte, a extingui-la.
Amamos o Cristo invisível, disse o apóstolo Pedro, I Pe 1.7,8.
Moisés declarou expressamente que o povo de Israel não havia visto qualquer aparência de Deus quando ele entrou em aliança com eles no Monte Sinai, de modo a desencorajá-los de qualquer adoração que não fosse dirigida exclusivamente à Sua pessoa, Deut 4.12,15.
Nosso Senhor deu a seguinte ordenança à sua Igreja:
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado.” (Mat 28.19,20a)
O discipulado é para Cristo e não para os próprios ministros. Ninguém deve fazer discípulos para si mesmo, e nem lhes ensinar para a própria conveniência e interesse, senão fazer discípulos para Cristo em relação a tudo o que ele nos tem ordenado na Sua  Palavra para ser guardado por nós.
É portanto lamentável que tantos incentivem pessoas a serem suas seguidoras, por saberem dessa fraqueza da natureza carnal humana de buscar apoio no que é visível para o exercício de sua devoção religiosa.
É um triste engano pensar que é mais conveniente firmar a fé em pessoas, porque são visíveis, do que em Cristo, que não vemos com os olhos da carne, e que pode ser somente conhecido em espírito com os olhos da fé.
Por isso os próprios apóstolos de Cristo se afadigavam no ensino da Palavra de Deus, porque sabiam o quão danoso seria para os cristãos tornarem-se, eles próprios, o fundamento da sua fé. O que eles fizeram deve ser imitado por todos os ministros do Senhor, que têm o dever de se afadigarem na Palavra para apresentarem ao povo somente a Cristo, e este crucificado.
Não é nossa missão apresentarmo-nos a nós mesmos, senão somente Aquele que morreu e ressuscitou por nós.





5 - Sem Amar Não Somos Reais

 “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte.” (1 João 3:14)

“Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.” (1 Coríntios 13:2)

O que se afirma nestes dois textos é que sem amar não somos reais.
Sem o amor em nós nada somos.
Por que isto?
Porque fomos criados para sermos como Deus em santidade e em amor. Deus é o eterno Eu Sou porque é amor.
Então é o amor de Deus em nós que nos torna reais, porque é somente assim que podemos existir em conformidade com o seu propósito eterno em relação a nós. Sem este amor somos apenas uma pálida e evanescente imagem daquilo que deveríamos ser.
Não é muito difícil aceitar ou entender esta verdade, porque onde o amor não reina, o que reina é a morte e a destruição -  destruição de bons sentimentos, de bons pensamentos, de bons propósitos, de relacionamentos harmônicos, enfim de tudo o que é verdadeiramente bom e permanente.
Então afirma o apóstolo João que aquele que não ama permanece morto espiritualmente - morto para Deus, morto para a possibilidade de viver em união com todos os demais que também amam.






6 - Amados, Ainda que Imperfeitos

A fé é a fortaleza inexpugnável na qual a consciência pode repousar segura e tranquila.
Isto porque a fé em Cristo nos assegura que apesar de todas as nossas imperfeições e fraquezas, há abundante graça nele para nos perdoar todas as nossas ofensas contra a justiça de Deus, passadas ou presentes, por conta da natureza pecaminosa que sempre teremos enquanto estivermos neste mundo.
Em Cristo, não somos mais inimigos de Deus, nós o amamos mais do que tudo, e até do que a nós mesmos, todavia não podemos ter aqui, a perfeição absoluta que teremos no céu.
Detestamos toda forma de pecado, e toda transgressão dos mandamentos de Deus, mas a nossa natureza terrena pecaminosa, por mais mortificada que seja pelo poder do Espírito Santo, não pode ser removida totalmente.
Contudo, nossas falhas, ainda que lamentáveis, nos auxiliam a ser humildes e a reconhecermos que não podemos de fato fazer qualquer coisa relativa ao reino de Deus, sem a ajuda da graça de nosso Senhor Jesus Cristo, e assim, aprendemos o quanto dependemos dele para viver de modo santo e aprovado; crescendo mais e mais na graça e no conhecimento de Cristo.
Caminhemos então, ousadamente pela fé, nunca desejando desapontar o nosso amado Senhor e Rei. Se pecarmos, confessemos as nossas transgressões e procuremos diligentemente abandoná-las, porque um alto e terrível preço de morte de cruz teve que ser pago para a nossa redenção eterna.






7 - Amor Perfeitamente Bom e Gentil

Deus não tem prazer em condenar ninguém.
Ele é tão puro, bom, amoroso e terno, que não seria possível guardar qualquer indisposição perversa em seu interior.
Pensamos muito mal sobre Deus quando pensamos que ele está cheio de amargura, rancor ou sentimentos semelhantes contra aqueles que vivem no pecado.
Estes sentimentos são inerentes a criaturas caídas, como nós, mas jamais poderiam ser imputados à Majestade Santíssima do céu.
Nós que nos reprovamos, nós que nos condenamos, nós que nos destruímos, nós que estamos cheios de amarguras ressentidas que necessitam ser expurgadas pela graça divina.
Apesar disso, o Senhor, em sua infinita bondade e longanimidade, se compadece de nós, e nos estende a mão para fazer sempre o que é bom para nós.
Agora, não será de se admirar que Ele nada possa fazer por aqueles que teimam de modo voluntário e obstinado em viver na prática constante do mal; em não consentirem em sequer investigar a causa do bem e da justiça; que odeiam o amor e os que amam o bem; que reprovam e condenam a si mesmos, escolhendo o sofrimento eterno nestas cadeias de ira, impureza, violência, malícia, indiferença, e em tudo o que é negativo em que vivem.
Mas de tal ordem é a bondade de Deus, que ele estenderá a mão e mudará a sorte, mesmo destes, ainda que seja  no final de suas vidas, quando se voltarem para ele arrependidos em busca de perdão e transformação.
Não é portanto por qualquer tipo de maldade que exista em Deus que muitos serão achados afastados para sempre dele e do seu amor. Não foi afinal, Deus que assim o desejou, mas eles que assim decidiram.

João 8.15: Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo.

João 12.47: Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o  julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.

Mateus 12.36: Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo;
Mateus 12.37 porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado.






8 - Transformando o Amor

Por Jerry Bridges

Um pai extremamente angustiado sentou-se durante duas semanas na UTI pediátrica, assistindo a morte lenta de seu filho de 3 anos. Durante aquelas duas semanas ele teve surpreendentemente a oportunidade de ler um dos artigos no Novo Testamento. Posteriormente ele me escreveu dizendo, “Quero dizer que vocês do Novo Testamento são realmente importantes na vida real.”
Eu não compreendi inicialmente o seu testemunho. Como um artigo no Novo Testamento serviu de ajuda a esse pai em um momento de tragédia tão dolorosa? Eu teria pensado que um artigo sobre confiar em Deus nas horas de adversidade poderia ter sido de boa ajuda. Mas um artigo no site Novo Testamento? Como poderia ajudar em tal momento? Eu ponderei tal questão por várias semanas. Então um dia estava preparando uma mensagem sobre o amor de Deus, a resposta me veio. No Novo Testamento, esse pai viu o amor de Deus.
O apóstolo João escreveu: “Foi assim que Deus manifestou o seu amor entre nós, Ele enviou o seu filho Unigênito ao mundo, para que pudéssemos viver por meio Dele. Nisto consiste o amor: não em que tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 John 4:9–10).
Sempre digo, “Se deseja ver o amor de Deus, olhe primeiro para a cruz”, pois essa é a mostra extraordinária de Seu amor. Foi para a cruz que Deus enviou o Seu Filho para ser propiciação de nossos pecados. Propiciação, apesar de ser uma boa palavra Bíblica, é raramente compreendida pelos Cristãos atuais. Talvez a melhor maneira de pensar nisto seja que é o ato da atitude de Jesus na cruz, a força total da justiça e da fúria sagrada de Deus pela qual nós devíamos ter nascido.
Todos nós merecemos a fúria de Deus por causa de nossos pecados — não apenas pelos pecados de nossos tempos como incrédulos, mas também o pecado que cometemos todos os dias como crédulos. Mas se nós acreditamos em Cristo, nós nunca experimentaremos uma gota da fúria do copo de Deus. Jesus bebeu o copo em nosso lugar como nosso substituto. E João nos diz que Deus, em Seu amor, nos enviou Jesus para fazer isso em nosso lugar.
Existem primeiramente duas ocasiões quando cristãos comprometidos tendem a duvidar do amor de Deus. A situação mais comum é quando nós, por alguma razão, imensamente consciente de nossa falta de moralismo. Talvez seja algum padrão persistente de pecado em nossas vidas ou talvez uma falta de moralismo total de nosso ser total. Nessas horas nós temos a tendência de pensar, “Como Deus pode amar alguém tão pecaminoso como eu?”
Em ambos os instantes devemos olhar novamente para a Cruz e ver Jesus carregando aqueles pecados todos que nos faz sentir tão culpados. E depois devemos nos lembrar que “Por nós [Deus] fez com que Ele se fizesse pecador sem nunca ter pecado, então nele talvez nós possamos nos tornar corretos para Deus” (2 Cor. 5:21). Deus tomou o nosso pecado — até mesmo aquele que causa sofrimento imediato — e cobrou isso de Cristo, e Ele tomou a sua perfeição e creditou a nós. Deus fez isso não porque nós éramos agradáveis, mas devido ao seu próprio amor. Como João disse no texto acima, “não foi devido ao nosso amor por Deus, mas o Seu amor por nós.”
A segunda ocasião comum que temos a tendência de duvidar do amor de Deus é em momentos de adversidade. Podemos pensar: “Se Deus realmente me amasse, Ele não permitiria que isso acontecesse.” Nessas horas de dúvida, precisamos olhar novamente para a cruz e ver Deus entregando Seu filho para morrer em nosso lugar (Rom. 8:32). Depois disso, foi neste contexto que Paulo perguntou, “Quem pode nos separar do amor de Cristo?” E algumas sentenças posteriores ele próprio responde a sua pergunta com uma afirmação estonteante “nada será capaz de nos separar do amor de Deus em Jesus Cristo nosso Senhor” (Rom. 8:35–39).
O grande Puritano John Owen certa vez escreveu, “A maior dor e aflição que pode abater o Pai, a maior crueldade que você pode fazer com Ele é não acreditar que Ele te ama.” Podemos esperar que Owen dissesse que a maior dor que poderia abater o Pai é omitir alguns pecados escandalosos que desonre o nome Dele. Certamente o pecado não faz com que Deus sofra, mas Owen nos diz que duvidar do Seu amor faz com que Ele sofra ainda mais. Então quando tentar duvidar do amor de Deus ou por cause de seu pecado ou por suas circunstâncias difíceis, olhe para a Cruz, e lembre-se que na Cruz Deus provou Seu amor acima de qualquer dúvida. Na realidade, não espere por tempos difíceis. Olhe para a Cruz todos os dias para se fortificar contra aqueles tempos de dúvida e desencorajamento. Porém, tão glorioso quanto a verdade sobre o amor de Deus por nós, o apóstolo João não nos deixa apenas para deleitarmo-nos neste amor por nosso mero prazer. Ao invés disso, ele faz uma observação bem reforçada:“Amados, se Deus nos ama, nós também devemos amar uns aos outros” (1 João 4:11). A implicação não é que apenas devemos amar uns aos outros porque Deus nos amou, mas também que devemos amar aos outros da mesma maneira com que Deus nos ama. Isto é, porque Deus nos ama apesar de nosso pecado e da falta de amor geral, nós devemos amar uns aos outros — contando toda a verdade. Isso não significa que nós ignoramos o pecado da vida de outra pessoa, mas isso significa que o pecado está direcionado para nós, Nós perdoamos como Deus em Cristo nos perdoou (Efésios 4:32).Acredito que a maior demonstração de nosso amor pelos outros é a prontidão de perdoar uns aos outros baseado no perdão de Deus por nós. A parábola de Jesus do criado sem perdão (Mateus 18:21–35) é muito instrutiva sobre isso. O primeiro criado devia ao seu patrão 10.000 talentos — o equivalente a 200.000 anos de trabalho de um trabalhador ordinário — uma quantia impossível de ser retribuída. O segundo criado devia ao primeiro criado 100 denários — o equivalente a um terço de salários de um ano. Em si próprio não era uma quantia significativa. Não muitos de nós estaríamos dispostos a perdoar a dívida igual a um terço de salários de um ano, mas comparados com os 200.000 anos, um terço de um ano era insignificante.
O ponto principal da parábola é que cada um de nós é o primeiro criado. A nossa dívida com Deus, devido ao nosso próprio pecado, é uma dívida incrível – uma quantia impossível de ser paga. Mas em contrapartida, a dívida de pecado de outra pessoa para comigo, também pode ser significante por si só, não é nada comparado com a dívida para com Deus. Assim, quando alguém peca em relação a mim,  eu tento pensar: “Mas Pai, eu sou um criado que deve 10.000 talentos.” Isso me ajuda a colocar o pecado da outra pessoa em uma perspectiva correta, e isso me capacita a perdoar voluntariamente da mesma maneira que Deus tem me perdoado.
Cada leitor de Tabletalk (pequenos textos com diálogos) está familiarizado de alguma maneira com 1 Coríntios 13 — a passagem clássica sobre o amor. Mas você já notou quantos termos descritivos de amor nos versos 4–7 têm relação com perdão ou tolerância? Amor é, primeiramente, paciente, o qual se expressa em tolerância e perdão (ver Cor. 3:12–13). Ele não é irritável ou guarda rancor. Assim, o amor tolera todas as coisas e resiste a tudo. Essas são maneiras diferentes de expressar a mesma ideia — perdão e tolerância. E nós devemos perdoar como Deus nos perdoou através de Cristo.
Certamente, existe mais para se amar — seja o amor de Deus ou o nosso — do que o perdão. Deus prometeu nunca nos abandonar (Hebreus 13:5), e suprir todas as nossas necessidades (Filipenses 4:19), e faz que todos os eventos aconteçam para nosso próprio bem (Romanos 8:28). Ele até mesmo disse sobre a disciplina que Ele impõe a nós de tempos em tempos, pois isso faz com que compartilhemos mais e mais da Sua Santidade (Hebreus 12:5–11).
Da mesma maneira, devemos amar uns aos outros no Corpo de Cristo com afeto de irmãos (Romanos 12:10). Isso significa que devemos tomar conta uns dos outros, encorajando um ao outro, rezando um pelo outro, e quando apropriado, ajudar um ao outro materialmente(1 João 3:16–18).


Obviamente, nunca poderemos amar um ao outro exatamente da mesma maneira, ou com a mesma intensidade com que Deus nos ama. Podemos perdoar, mas nunca podemos reparar o pecado do outro. E Deus é soberano em seu amor. Ele tem o poder de expressar o Seu amor de maneira total relacionada com Sua razão. Nós não podemos fazer isso. Nosso desejo sempre  excede nossa habilidade de expressar nosso amor de maneira tangível. Mas nunca podemos perder de vista o Seu amor por nós, ou em relação à nossa base para com Ele ou com o próximo. João disse, “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 João 4:19). Note que o objeto de nosso amor é indefinido. João quis dizer que amamos a Deus ou ao próximo? O contexto sugere um ao outro. Mas acho que parece que o Espírito Santo conduziu João a deixar o objeto de nosso amor ambíguo, pois ambos são verdadeiros. Podemos apenas amar a Deus enquanto nós nos deleitamos no Seu amor por nós. E podemos apenas amar ao próximo enquanto ponderamos continuamente o infinito amor de Deus por nós. Amados, amemo-nos uns aos outros pois esse é o amor de Deus.





9 - “Nos lembraremos do teu amor, mais do que do vinho” (Cant 1.4)

Jesus não vai deixar seu povo esquecer do amor dele. Se todo o amor que eles têm desfrutado for esquecido, ele os visitará com amor renovado. "Vocês esqueceram da minha cruz?", diz ele, "Eu farei com que vocês se lembrem dela, pois à minha mesa eu me manifestarei a vocês outra vez. Vocês esqueceram do que eu fiz por vocês na câmara do conselho da eternidade? Lembrá-los-ei disto, porque precisarão de um conselheiro e me  encontrarão pronto à sua chamada."
As mães não deixam seus filhos esquecê-las. Se o menino partiu para a Austrália e não escreve, sua mãe escreve - "João, esqueceu de sua mãe?" Então, chega de volta uma doce epístola, o que prova que o lembrete não foi em vão. Assim é com Jesus, ele nos diz: "Lembrem-se de mim", e nossa resposta é: "Nos lembraremos do teu amor." Nós nos lembraremos do teu amor e de sua incomparável história. Ela é tão antiga quanto a glória que tinhas com o Pai antes que o mundo existisse. Lembramo-nos, ó Jesus, do teu amor eterno quando te tornaste nosso Fiador, e nos abraçaste como tua noiva. Lembramo-nos do amor que propôs o sacrifício de ti mesmo, o amor que, até a plenitude do tempo, refletiu sobre esse sacrifício, e esperou pela hora na qual, no volume do livro, foi escrito sobre ti "Eis que eu venho.” Nos lembramos do teu amor, ó Jesus, uma vez que ele se manifestou  a nós em tua vida santa, desde a manjedoura de Belém até o jardim do Getsêmani. Te acompanhamos desde o berço até o túmulo – pois cada palavra e ação tua foi de amor e regozijamo-nos em teu amor, que a morte não esgotou; teu amor que brilhou resplandecente em tua ressurreição. Nos lembramos do fogo ardente daquele amor que nunca deixará que te cales até que os teus escolhidos sejam abrigados com segurança, até que Sião seja glorificada, e Jerusalém seja assentada em seus fundamentos eternos de luz e amor, no céu.

Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido por Iza Rainbow





10 - Vede quão grande amor o Pai nos concedeu

"Vede quão grande amor o Pai nos concedeu, que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece , porque não  conheceu a ele. Amados, agora somos filhos de Deus." ( 1 Jo 3.1,2a )

"Vede quão grande amor o Pai nos concedeu."
Considere quem éramos e o que nos sentimos ser mesmo agora, quando a corrupção é poderosa em nós, e você se maravilhará com a nossa adoção. Agora somos chamados de "filhos de Deus."
Que elevado relacionamento é o de um filho, e que privilégios isto traz!
Que cuidado e carinho o filho espera de seu pai, e que amor o pai sente para com o filho! Mas tudo isso, e ainda mais, temos agora através de Cristo.
Quanto à desvantagem temporária de sofrer com o irmão mais velho, aceitamos isto como uma honra:
"Por isso o mundo não nos conhece, porque não conheceu a ele." Estamos contentes em ser desconhecidos com ele em sua humilhação, pois seremos  exaltado com ele.
"Amados, agora somos filhos de Deus." Isso é fácil de ler, mas não é tão fácil de sentir.
Como está o seu coração nesta manhã? Você está na mais profunda tristeza? A corrupção da natureza terrena pecaminosa cresce dentro do seu espírito e a graça parece uma pobre centelha pisada sob os pés? A sua fé quase lhe falta? Não tenha medo, não é pelas suas graças e nem pelos seus sentimentos que você deve viver: você deve viver simplesmente pela fé em Cristo.
Com todas estas coisas contra nós, agora - nas profundezas do nosso sofrimento, onde quer que estejamos  -  agora, tanto no vale como na montanha: "Amados, agora somos filhos de Deus."
"Ah, mas," você diz, "veja como estou vestido! minhas graças não são brilhantes; minha justiça não brilha com uma glória facilmente visível." Mas leia o que o texto diz a seguir: "... e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.” O Espírito Santo purificará nossas mentes, e o poder divino também purificará nossos corpos;  então nós o veremos como ele é.

Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido e adaptado por Iza Rainbow






11 - "Atraí-os com cordas humanas com laços de amor". (Oseias 11.4)

 Nosso Pai celestial muitas vezes nos atrai com cordas de amor; mas ah! como voltamos para trás quando corremos em direção a ele! Quão vagarosamente respondemos a seus impulsos suaves! Ele nos atrai para exercer a mais simples fé nele;, mas ainda não alcançamos a confiança de Abraão, não deixamos nossas preocupações terrenas com Deus, mas, como Marta, nos distraímos com muitas ocupações. A nossa pouca fé traz magreza às nossas almas; não abrimos amplamente nossas bocas, embora Deus tenha prometido enchê-las. Será que ele não nos levará hoje a confiar nele? Não podemos ouvi-lo dizer: "Vem, meu filho, e confia em mim. O véu está rasgado; entra em minha presença, e se aproxime com confiança do trono da minha graça. Eu sou digno da tua plena confiança, lance os teus cuidados sobre mim. Sacuda o pó dos teus cuidados, e coloque as tuas belas vestes de alegria."
Mas, infelizmente! embora chamados com tons de amor para o exercício abençoado desta graça reconfortante, não viremos.
Em outra ocasião, ele nos chama à comunhão mais íntima com ele próprio. Nós estamos sentados na soleira da porta da casa de Deus, e ele nos manda avançar para o salão de banquetes para cear com ele, mas recusamos a honra. Há salas secretas ainda não abertas para nós, Jesus nos convida a entrar nelas, mas não entramos. Vergonha para nossos corações frios! Somos senão pobres amantes do nosso doce Senhor Jesus, não aptos para ser seus servos, e muito menos para ser suas noivas, e ainda assim ele nos exaltou para sermos osso de seus ossos e carne de sua carne, casados com ele por um casamento de gloriosa aliança. Nisto consiste o amor! Mas isto é o amor que não carrega qualquernegação.
Se não obedecemos os contornos delicados de seu amor, ele enviará a  aflição para nos conduzir a uma maior intimidade com ele. Ele nos terá mais próximos. Que filhos insensatos somos  por recusar esses laços de amor, e assim trazer sobre nossas costas este azorrague de cordas de amor, que Jesus sabe como usar!

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.





12 - Amai-vos uns aos Outros como eu Vos Amei

Por John Piper

João 13:31-38:

31  Quando ele saiu, disse Jesus: Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele;
32 se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará nele mesmo; e glorificá-lo-á imediatamente.
33 Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco; buscar-me-eis, e o que eu disse aos judeus também agora vos digo a vós outros: para onde eu vou, vós não podeis ir.
34 Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.
35 Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.
36 Perguntou-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Respondeu Jesus: Para onde vou, não me podes seguir agora; mais tarde, porém, me seguirás.
37 Replicou Pedro: Senhor, por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a própria vida.
38 Respondeu Jesus: Darás a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo que jamais cantará o galo antes que me negues três vezes.

Isto ocorreu na noite antes de Jesus ser crucificado. Os doze apóstolos estão comendo com Jesus a mais importante de todas as refeições. Jesus tinha acabado de dizer em João 13:21: "Em verdade, em verdade vos digo, um de vós me há de trair." João estava reclinado ao lado de Jesus e lhe perguntou (no verso 25): "Senhor, quem é?" Jesus respondeu, provavelmente, em voz baixa, de modo que somente João pudesse ouvir (desde quando Judas saiu os demais não tinham ideia do que estava acontecendo - verso 29). “É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado." (v. 26). Então, ele mergulhou o pão e o deu a Judas. E disse: "O que você vai fazer, faze-o depressa" (v. 27). E no versículo 30 Judas os deixou.
E a próxima coisa que Jesus diz (verso 31) é: "Agora o Filho do Homem foi glorificado, e Deus é glorificado nele." No momento em que a traição final foi colocada em movimento - naquele momento, Jesus diz: "Agora o Filho do Homem foi glorificado." Agora. Agora que o processo final de ser entregue para ser morto está em movimento, agora o Filho do Homem, Jesus, vai brilhar com maior glória. E Deus vai brilhar gloriosamente nele.

João Sentiu o Espanto

De todos os discípulos, somente João poderia, neste momento, sentir o espanto completo por isto. João tinha ouvido Jesus dizer que Judas era o único - o traidor. Naquele momento, ele deve ter ficado completamente atordoado. Judas. Aquele no qual tínhamos confiança em relação ao dinheiro nesses três anos (v. 29). De repente, num piscar de olhos, todo um conjunto de comportamentos peculiares de Judas assume um significado totalmente novo. Então é por isso que ele deu a Maria um momento difícil por ter ela ungido Jesus com um perfume caro ( João 12:3-6 ). Ele queria que ela o desse a Jesus, para que ele pudesse ter acesso ao mesmo.
João viu Judas saindo, e ele não pôde acreditar no que ele estava assistindo. E enquanto a mente de João está produzindo a incrível notícia de que Judas é um traidor, e pode estar fazendo seu trabalho sujo, neste exato momento, ele ouve Jesus dizer: "Agora o Filho do Homem foi glorificado." E outra pedra é lançada para agitar as águas da sua mente. Glória! Agora! Judas. Traição. Glória. E no que deve ter sido um dos momentos mais emocionalmente carregados da vida de João, a próxima palavra que ele ouviu foi: "Filhinhos" ( teknia, no grego, verso 33a).
“Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vocês irão me procurar, e como eu disse aos judeus, então agora eu também vos digo: 'Para onde eu vou vós não podeis ir". (V.33). “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.” (v.34) “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.” (v.35).
Filhinhos, eu vou para onde vocês não podem vir. Eu estou deixando vocês. Até agora todo mundo sabe que são meus discípulos, porque eles veem vocês me seguindo na Judeia e na Galileia. Vocês colocaram suas vidas em risco por apenas terem se identificado comigo. Mas agora eu não vou estar aqui por mais tempo para vocês me seguirem. A minha presença física não será mais a evidência do seu discipulado. Então, eu estou lhes dando uma nova evidência. Um novo mandamento. Amai-vos uns aos outros filhinhos.

Chamados de "Filhinhos"

Então aqui está João com o coração repleto de emoções conflitantes: A traição foi colocada em movimento. A glória de Deus está prestes a ser vista. Jesus vai deixá-los. E, na sua ausência, o amor de uns pelos outros deve uni-los e vinculá-los a ele. E em um momento de conflito e intensificada emoção, Jesus lhes dirige uma palavra de carinho singular e chama a todos de "filhinhos" (v. 33).
Isso nos diz alguma coisa? Eu acho que nos diz que este momento na vida do apóstolo João era tão profundo e tão comovente e tão memorável que deixou suas marcas anos mais tarde, não só na escrita dessa história, mas em toda a sua primeira epístola (1 João). E, portanto, 1 João torna-se nosso comentário mais antigo e de maior autoridade sobre o novo mandamento de Jesus.

Um Comentário Apostólico
Considere umas poucas coisas. Esta palavra "filhinhos" (teknia) ocorre somente aqui no Evangelho de João. Havia outros lugares em que poderia ter sido utilizada, como quando Jesus chamou os discípulos em João 21:05: "Filhos, vocês têm algum peixe?". Mas esta é uma palavra diferente (paidia). Só aqui, que ele chama seus amigos de "filhinhos".
Não somente isso, é o único lugar onde esta palavra é usada em João. É o único lugar onde ela é usada em todo o Novo Testamento - com exceção de um livro. A primeira carta de João. E lá é usada sete vezes em cinco capítulos. Assim como Jesus chamou os seus amigos "filhinhos" a palavra torna-se o nome favorito de João para o seu rebanho, "filhinhos". Uma coincidência? Talvez.
Mas considere isto. Em nenhum outro lugar no Novo Testamento, a expressão "novo mandamento" ocorre fora desta estória - exceto na primeira e segunda carta de João. De todos os escritores do Novo Testamento apenas João usou este termo.
“Amados, não vos escrevo mandamento novo, mas um mandamento antigo, que tendes desde o princípio. Este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. Ao mesmo tempo, é um novo mandamento que vos escrevo, o qual é verdadeiro nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando e a verdadeira luz já brilha.” ( 1 João 2:7-8 ).
Então eu me sinto obrigado a acreditar que João estava profundamente comovido e moldado por este momento na última ceia. E as conexões com sua primeira carta me inclinam a pensar que o comentário mais antigo e de maior autoridade sobre o novo mandamento novo em João 13:34 -35 é o que João diz sobre isso em sua primeira carta.
Aqui estão duas coisas impressionantes sobre a forma como João lida com o novo mandamento de Jesus.
O Amor de Deus - Nosso Modelo
Em primeiro lugar, em nenhum lugar, em qualquer de suas cartas João se refere diretamente ao amor de Jesus por  seus discípulos. Assim, ele nunca diz: "Amai uns aos outros como Jesus amou." Ele sempre fala sobre o amor de Deus por seus filhos. O amor do Pai. Quando Jesus entra em cena, o ponto é: Deus nos amou, dando Jesus por nós. E quando se trata daquele em quem devemos modelar nosso amor, João não diz ame como Jesus. Ele diz: Ame como Deus:
“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. ( 1 João 4:10-11 ).
O que devemos fazer com isto? O que eu faço de tudo isto é aquilo que é exatamente o modo que eu esperaria que o escritor do Evangelho de João diz. Como João se lembrou naquele momento com a traição em movimento, a glória de Deus a brilhar, Jesus partindo, e o amor de união, que lhe traz o pensamento: Eu estava reclinado no ombro de Deus. Deus colocou Judas em movimento. Deus estava prestes a ser glorificado na cruz. Deus nos disse para amar uns aos outros como Jesus - isto é, como Deus.
Assim, em sua primeira carta, João não está minimizando Jesus quando ele coloca todo o foco sobre o amor de Deus em Jesus. Ele está maximizando Jesus. Este Jesus, que nos deu o novo mandamento e nos disse para nos amar uns aos outros como ele nos amou - este Jesus é Deus encarnado. E João não conseguia esconder a verdade: Deus estava nos amando lá naquela noite. Deus estava nos amando na manhã seguinte. Cada ato de Jesus, o Filho, foi um ato de Deus Pai. João não está dizendo que o amor de Jesus não é importante, ele está dizendo que o amor de Jesus é o amor de Deus. Assim, quando o novo mandamento diz: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei a vós, isto significa: como Deus vos amou.
Isso é como você vai saber
E aqui está a segunda coisa impressionante sobre a forma como João lida com o novo mandamento. Jesus disse no versículo 35: "Nisto todos saberão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros." João ponderou profundamente a frase "meus discípulos" e o que deve acontecer para que seja conhecido. E o que ele concluiu que era que ser um discípulo significa ser verdadeiramente nascido de novo. Ser um discípulo não signfica estar publicamente vinculado a uma igreja cristã ou a um movimento cristão ou com um nome cristão, mas ser milagrosamente transformado pelo Espírito numa pessoa com um coração novo de amor pelo Pai e por Jesus e por seus seguidores (e, é claro, pelos seus inimigos, mas a ênfase de João cai no amor aos irmãos, assim como Jesus fez aqui em João 13:34 - que vos ameis uns aos outros). E amar é como você pode conhecer o que tem acontecido.
Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. (1 João 4:7)
Sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. (1 João 3:14 )
Nisto são conhecidos os filhos de Deus, e quem são os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão. (1 João 3:10 )
Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. (1 João 4:8 )
Quem diz que está na luz e odeia seu irmão ainda está nas trevas. Quem ama seu irmão permanece na luz. "(1 João 2:9-10 ).
Ou, como Jesus diz em João 13:35 : "Nisto todos saberão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros." Todas as pessoas terão uma boa prova de que você é nascido de Deus e conhece a Deus e que é um filho de Deus e está na luz e não nas trevas. As pessoas vão saber que você é um verdadeiro discípulo de Jesus pelo fato de lhe ter sido dado um novo coração de confiança em Jesus e amor para com seus seguidores.
Incorporado na Chamada
E eu não coloco a palavra "confiança" somente porque isso seja a coisa certa a fazer. Eu a incluí porque quando João pensou sobre o mandamento novo, ele sabia que o mandamento novo não era um preceito isolado para o amor, mas um mandamento incorporado na chamado de Jesus para confiar nele como o Cordeiro de Deus que carregou o pecado para tudo o que precisamos. E nós sabemos isto, porque João disse em 1 João 3:23: "E este é o seu mandamento [singular], que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e que nos amemos uns aos outros, como ele nos ordenou."
Em outras palavras, na mente de João, o mandamento de Jesus para crer nele, e seu mandamento para amar uns aos outros são inseparáveis. Então, juntos, ele os chama de um mandamento: "Este é o seu mandamento [singular], que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e amemos uns aos outros, como ele nos ordenou. "As pessoas não sabem que você é um discípulo de Jesus, se você não tiver feito uma  profissão de fé em Jesus. Mas se você se declarar abertamente ser um discípulo de Jesus - o Salvador, o Senhor, o seu Tesouro - então, o seu amor para os outros será decisivo para mostrar o que você é realmente. Você é um verdadeiro crente? Você realmente é um discípulo? Ele é realmente o seu tesouro? Você foi realmente mudado por Jesus? Todos eles vão saber "se tiverdes amor uns aos outros" (João 13:35). Então, quando Jesus diz em João 13:35: "Nisto todos saberão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros", ele quis dizer, o amor confirma que a sua profissão de fé em mim é real.
O que Torna Isto Novo?
Por que é que o amor prova o discipulado? Por que é que quando os discípulos se amam há como uma boa evidência de que são de fato verdadeiros discípulos de Jesus? Por que este amor um pelo outro é tão atraente? A resposta vem quando ponderamos por que Jesus chama este mandamento de novo. Se formos ver o que faz o mandamento novo, vamos ver o que faz com que ele tenha tal poder convincente para provar o verdadeiro discipulado, a verdadeira fé em Jesus.
O mandamento de amar uns aos outros não é novo em si. Levítico 19:18 disse: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." O que parece ser novo é o caminho que devemos amar, ou seja, "como Jesus nos amou" Verso 34b: "Assim como Eu vos amei, deveis também amar uns aos outros”. Nunca antes o Filho de Deus veio ao mundo e deu a sua vida para o seu povo. Isso nunca tinha acontecido antes. Este grau de grandeza fazendo esse grau de sacrifício, nunca tinha acontecido. Isso é novo.
Assim Jesus está simplesmente dizendo: Se você imitar este tipo de sacrifício em amor uns aos outros, você estará cumprindo a novidade deste mandamento?
Mais que Imitação
Se ouvirmos o que João diz em sua primeira carta sobre o que faz este novo mandamento, vemos que há mais acontecendo do que imitação. Aqui está a forma como João o coloca em 1 João 2.8:
“É um novo mandamento que eu estou escrevendo para vocês, que é verdadeiro nele e em vós [é verdadeiramente novo em Jesus, e é realmente novo em você], porque a escuridão está passando, e a verdadeira luz já brilha.”
Em outras palavras, o que torna este amor novo é que ele é a chegada da glória do Senhor - a Luz do mundo - que um dia encherá a terra como as águas cobrem o mar. Quando o Messias vem e traz o seu reino, "a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor como as águas cobrem o mar" ( Habacuque 2:14 ). E Jesus é o Messias. Sua vinda foi o início do reino de Deus. Ele era a Luz do mundo. E ele disse (versículo 31) que esta noite o Filho do Homem será glorificado e Deus nele. Esta noite, a luz iria brilhar com mais intensidade quando ele desse a sua vida pelos seus amigos.
E então João diz no versículo seguinte (1 João 2:9-10 ), "Quem diz que está na luz e odeia seu irmão ainda está nas trevas. Quem ama seu irmão permanece na luz". Em outras palavras, o que faz os discípulos – novo amor uns pelos outros - e esse mandamento para isto que é novo - é que eles não estão apenas imitando a luz, eles estão nesta luz. Eles estão no amor de Jesus. É assim que João vê a novidade deste amor.
Jesus disse: "Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos" (João 15:13 ). Foi o que aconteceu naquela noite e na manhã seguinte. E João diz  o que faz isto novo - e que faz com que o mandamento seja novo - é este amor que foi a chegada da Luz de Deus - a glória de Deus - no final das eras para encher a terra. E o mandamento de nos amarmos uns aos outros assim como Jesus amou, não foi essencialmente um mandamento para imitação, mas para participação. João diz: "Quem ama seu irmão permanece na luz." Quando amamos uns aos outros em obediência ao mandamento novo, estamos amando uns aos outros com o amor de Jesus. Seu amor está sendo aperfeiçoado no nosso amor. Esta não principalmente imitação, mas manifestação. Nossas vidas estão em Jesus, na Luz, e nosso amor é seu amor.
Amar com o Seu Amor
Jesus volta a isto em João 15 e faz com que o significado se torne claro: "Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos “ (João 15:12-13 ). Sim. E como podemos amar assim? João 15:9 : "Como o Pai me amou, assim também Eu vos amei. Permanecei no meu amor."
Essa é a nossa novidade. Este é o novo mandamento. "Assim como eu vos amei, vocês também devem se amar uns aos outros." Sim. Mas não copiando o meu fruto, mas por se  conectarem à minha vinha. Você não de imitar, principalmente. Você participa. Seu amor de uns pelos outros não é uma simulação do meu, mas uma manifestação dele. Vós sois os ramos. Eu sou a videira. Se vós permanecerdes em mim, vocês podem dar fruto, e vir a ser meus discípulos (João 15:8). Isto é como todas as pessoas conhecerão que  vocês são verdadeiramente meus discípulos.
Assim, a razão do amor que temos uns pelos outros mostra que somos verdadeiramente discípulos de Jesus, é que isto somente é possível porque estamos enxertados na vida e no amor de Cristo. Nós amamos como ele amou, porque amamos com o seu amor.
Assim, "meus filhinhos!" - Nestes dias cruciais, nesses dias históricos na vida de nossa igreja, é isso que Jesus está pedindo entre nós. "Assim como eu vos amei a vós, que vocês amem uns aos outros." Abaixe-se como no serviço do lava-pés, uns para com os outros. Abaixem suas vidas, os seus privilégios, uns para com os outros. Amai os vossos irmãos e irmãs em todas as linhas raciais e étnicas. Ame o mais fraco, o mais velho e o mais novo. Ame a pessoas com deficiência. Ame os solitários e os atribulados. É certo que quando você ama que você não pode expiar o pecado de ninguém. Mas você pode fazer algo parecido, porque "o amor cobre uma multidão de pecados" (1 Pedro 4:8). Quão abençoada é a igreja - especialmente a igreja em transição - que ama assim!





13 - Alerta para Permanecer no Amor e na Verdade

Desde que Deus criou o primeiro homem, séculos e séculos se passaram.
Quão diferentes foram as gerações em sua própria época quanto às artes, à tecnologia; aos processos de produção, etc.
Todavia, a necessidade essencial básica do ser humano, perante Deus, tem permanecido inalterada.
Muito desta necessidade se refere a afetos, intenções, e ao tipo de caráter que o homem deve possuir.
Mais do que capacidade operativa, trabalho, serviços, obras, espera-se o amor ao Senhor, o qual se traduz muito mais nos pontos destacados anteriormente, do que em qualquer outra coisa.
Esta verdade está claramente declarada na palavra de repreensão dirigida por Jesus Cristo à Igreja de Éfeso, em Apocalipse 2.4,5.
Ele também definiu o amor como sendo o guardar os Seus mandamentos.
Note que a grande maioria destes mandamentos pouco tem a ver com ações, e por isso, apesar de terem sido numerosas as obras de Éfeso, Jesus mostrou que eram dignos de repreensão porque falhavam justamente no essencial.
Em outra passagem das Escrituras Jesus apontou o valor do viver pela fé, quando disse aos judeus que a obra que se esperava deles era que cressem nEle.
E que somente aqueles que permanecessem na Sua Palavra seriam identificados como Seus discípulos.
Jesus nos foi enviado pelo Pai para nos ensinar e aplicar em nossas vidas a fé, o arrependimento, a adoração, a oração, o louvor, a paciência, a longanimidade, a alegria, a misericórdia, a paz, o perdão, a justiça, a mansidão, o amor..., coisas estas que têm muito mais a ver com a necessidade da nossa transformação individual, do que com as nossas ações e obras, as quais a par de serem importantes, nenhum valor terão diante de Deus, se não forem acompanhadas por estas virtudes citadas, que são possíveis de serem obtidas somente pela graça, mediante a fé e santificação do Espírito Santo.
Obras, conhecimento, política, investigação científica e filosófica, tecnologia, e tudo o mais que se relacione a este mundo e ao plano temporal, e mesmo concílios religiosos, debates apologéticos, processos para crescimento numérico de igrejas, e outros assuntos correlatos, por si só, em nada contribuem para o propósito de formar o homem interior que é segundo o coração de Deus, pois isto só é possível por meio da santificação na verdade, a antiga verdade revelada na Bíblia conforme o próprio Jesus afirmou em João 17.17: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.”
Fujamos portanto, da tentação de desprezar a meditação e prática bíblica em prol de contextualizações modernas que nos afastam dos princípios e mandamentos imutáveis da Palavra de Deus, a bem de nossas próprias almas.
Examinemos tudo e retenhamos o que é bom, porque afinal somente uma coisa é necessária, e de nada aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e por fim perder a sua alma.
“Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos.” (Hebreus 2.1)





14 - Amor

Não há coisa no mundo sobre a qual tanto se  fale quanto o amor. Cantado em prosa e verso. Dito por muitos, como sendo a coisa mais importante desta vida, e, no entanto, tão pouco se conhece por experiência o significado do amor, conforme se encontra na pessoa de Deus, e que é comunicado àqueles que Lhe pertencem.
Paulo se refere a este amor, que é designado na Bíblia, no original grego, pela palavra ágape, como sendo o dom mais duradouro, precioso e importante que é concedido por Deus aos homens.
De forma que ainda que tivéssemos toda a fé, todo o conhecimento, todas as riquezas, e até mesmo todos os dons sobrenaturais extraordinários do Espírito Santo, e não tivéssemos este tipo de amor, nada nos aproveitaria; nada teríamos de fato e nada seriamos para Deus.
Deus é espirito e definido em Sua natureza como sendo o próprio amor ágape. Assim, se não somos participantes deste amor, estamos separados da vida de Deus, e, por conseguinte, mortos espiritualmente (I João 3.14).
Somos convocados a obter e a fazer aumentar mais e mais este amor em nós, pela justa cooperação e união com todos os demais membros do corpo de Cristo, porque é nisto que se cumpre o propósito eterno de Deus em nossa criação.
Não fomos criados para a individualidade e para gastarmos a vida com nossos próprios interesses, mas com os de Deus e o de muitos. Este amor ágape não é então, mero gostar ou sentimento, mas, sobretudo ações direcionadas a servir a Deus e ao próximo, especialmente aos domésticos da fé.
Amor que impõe renúncias, trabalhos, sofrimentos, indo-se à fonte de onde procede – Jesus – para buscar renovados suprimentos da Sua graça, pela qual possamos servir uns aos outros. Amor sobrenatural, que nos é concedido como resposta às orações; nossas e da Igreja.
É este amor ágape que devemos obter e nele crescer, porque não é algo propriamente de nossa natureza, mas um dom celestial, sobrenatural, e espiritual. Na verdade, o primeiro e grande fruto do Espírito Santo relacionado por Paulo, na epístola aos Gálatas.
Como poderíamos amar os nossos inimigos, conforme é necessário para que sejamos imitadores de Cristo, sem estarmos revestidos do amor ágape, a saber, do próprio amor de Deus? O amor que é fruto do afeto natural (fileo) seria suficiente para isto?
Sendo um amor de edificação, de construção do caráter divino em nós, o amor ágape sempre é impelido para instruir, corrigir, repreender e disciplinar mutuamente a todos os que o possuem, e daí vemos nosso Senhor afirmar que Ele repreende e disciplina a todos que ama.
Em consequência disso, o amor ágape é santificador, pois nos conduz a batalhar para que a vontade de Deus seja feita, não somente em nossa própria vida, mas também nas daqueles aos quais amamos com este mesmo amor – o amor do novo mandamento de Jesus, com o qual devemos nos amar mutuamente.
Nisto compreendemos, porque Jesus disse que O amamos se guardarmos os Seus mandamentos. O simples amor fileo, de afeto natural pode não ser santificado e até mesmo se opor ao amor de Deus, como por exemplo, uma mãe que a pretexto de amar o filho, não permite que o pai o discipline nos caminhos do Senhor.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras:
1 – agapao (grego) – amor divino espiritual;
2 – phileo (grego) – amor de amizade natural, gostar; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128358






15 - É Agora ou Nunca: Amai os vossos inimigos

Por John Piper

Tenho ouvido pregadores dizerem que a única coisa que nós fazemos nesta terra e que não iremos fazer no tempo que virá, é testemunhar aos incrédulos. Então, tenha força e coragem. Esta é a sua única chance. É agora ou nunca.
Bem, é agora ou nunca. E nós deveríamos ter força e coragem. O ponto está bem claro.
Mas, há outro agora-ou-nunca.
Jesus disse, "Amem seus inimigos" (Mateus 5:44). Ele claramente amou seus inimigos: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo" (Lucas 23:34). Deus amou a sua declaração: "Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho" (Romanos 5:10).
Mas no tempo que virá, não haverá inimigos para amar. Eles irão todos se tornar amigos (Lucas 16:9), ou eles serão lançados nas trevas exteriores (Mateus 8:12). Nem nós, nem Cristo, nem Deus o Pai, nem o Espírito Santo, nem os anjos amarão mais nossos inimigos.
À medida em que estivermos conscientes daqueles que estarão no inferno, a visão não vai ser de amor, mas de repúdio (Isaías 66:24).
Hoje é o dia em que Deus designou para amar os nossos inimigos. Ou iremos fazê-lo nesta vida, ou nós nunca o faremos. Mas Jesus ordena que isso seja feito. É uma revelação de sua glória neste mundo. Amar nossos inimigos é uma das boas ações que as pessoas veem e dão glória a Deus (Mateus 5:16). É um eco de sua cruz (Efésios 4:32). Este é o único mundo onde essa demonstração da glória de Deus pode acontecer.
E ela será lembrada para sempre. "As suas obras os seguem" (Apocalipse 14:13). O amor de Jesus por seus inimigos será cantado para sempre - o cântico do cordeiro (Apocalipse 15:3). E o seu eco, em nosso amor, ressoará por toda a eternidade nas histórias de nossos sacrifícios.
Não desperdice sua vida. Ela é um dom de Deus. Ele nos deu para que você pudesse se juntar a Ele na exibição de Sua Glória. Algumas dessas exibições podem ocorrer apenas agora. Agora ou nunca. Amai os seus inimigos.






16 - Quem Ama mais a Cristo?

Parte de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

   "Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários, e outro cinquenta.
E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais?
E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem." (Lucas 7.41-43)

   Quando começamos a vida cristã é muito natural que digamos para nós mesmos: "Não quero ser um cristão de segunda categoria, ou um cristão comum - muito menos viver como os crentes de Laodicéia, nem frio nem quente, ou, como aqueles de quem o apóstolo João escreveu: "Saíram de nós, mas não eram dos nossos." Eu gosto de ver a santa ambição do jovem convertido que deseja dar muito fruto para a glória de Deus - amar a Cristo muito e manifestar o amor em cada possível ato de devoção a Ele.
Todos nós devemos ser salvos da mesma maneira. Por maiores que sejam os nossos desejos de nos destacarmos mais do que outros na corrida cristã, devemos começar a carreira sendo salvos exatamente da mesma maneira como os outros são.
Então, em segundo lugar, vou tentar mostrar que Cristo vai nos ajudar a aumentar o nosso amor se tivermos um profundo sentimento de nossa própria pecaminosidade.
   Há a mesma porta de entrada para nós como aquela que foi aberta para o principal dos pecadores, pois não há diferença entre um    pecador e outro aos olhos de Deus, quanto ao plano de salvação. Pode haver muitas diferenças em outras questões, mas, na questão da salvação, não há nada que coloque um homem em uma posição diferente de outro, ou o que lhe permita ser salvo em qualquer   outra forma que não a de uma mesma maneira que Deus estabeleceu para salvar os pecadores.
   Você percebe, na parábola diante de nós, que ambas as partes estavam em dívida - "um devia-lhe quinhentos denários e o outro, cinquenta" – mas estavam ambos em dívida. Então, se alguns homens mergulharam na imundícia e se contaminaram, e poluíram suas vidas, eles estão certamente em dívida de quinhentos denários. Mas se os outros foram mantidos livres de atos explícitos de transgressão, ainda assim, seus corações se desviaram de Deus e    uma vez que, com os seus desejos, e com os seus lábios, e em muitos aspectos mesmo em suas ações, quebraram sua santa Lei, eles também estão em dívida. Ainda que sejam cinquenta e não quinhentos, eles estão em dívida.
Não há ninguém entre nós que possa estar diante do Altíssimo, e dizer-lhe: "Nada devo à sua justiça porque nunca violei suas justas Leis." Qualquer homem que o dissesse seria um mentiroso, e a verdade não estaria nele.
   Nós também aprendemos com a parábola que, embora ambas as partes estivessem em dívida, nenhum deles tinha alguma coisa com a qual pudesse responder à sua responsabilidade - "eles não tinham nada para pagar." Se tivesse apenas que pagar cinquenta, todavia não tinha sequer um centavo dos cinquenta necessários para saldar a quanta devida.
Este é o nosso caso meus amados irmãos – nada temos para pagar. Tudo o que tivéssemos já seria devido a Deus. Se houvesse quaisquer ativos, eles não iriam pertencer a nós e não há nada em reserva - nada que possamos esperar, que venha a surgir, no fim da vida, com a qual todas as nossas antigas dívidas possam ser eliminadas.
Nos termos da Lei de Deus, não há nada para nós, senão uma dívida! E mesmo se tivéssemos o poder de pagar as nossas dívidas antigas, outras novas em breve iriam engolir todo o nosso capital. Mas nada temos com que saldar as nossas dívidas antigas, pois: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, e de toda a tua alma e com toda tua força, e com toda tua mente; e ao próximo como a ti mesmo," continua sendo a demanda diária de Deus sobre nós.
   E aqui está a glória da misericórdia de Deus em lidar com os pecadores que creem em Jesus. Na parábola dos dois devedores, somos informados de que o credor perdoou livremente a ambos, tanto que Ele não disse a nenhum deles, "Eu vou definir um certo tempo e você me pagará." Oh, não, ele perdoou a ambos - limpou a conta por completo! Ele nada lhes pediu, porque sabia que não tinham como lhe pagar. Ele lhes perdoou, diz o texto, francamente, isto é, livremente.
Ele não olhou para qualquer dignidade em qualquer um deles, ou esperou qualquer coisa da sua parte, senão que agiu com um ato de puro favor gratuito, porque tinha prazer na benevolência para com seus devedores pobres.
É como se lhes dissesse: "Vão para casa. Eu nunca vou apresentar o montante de suas dívidas novamente. Eu as tenho riscado do meu livro contábil para sempre.”
Agora, isso é o que o Senhor, em Sua infinita misericórdia, faz em relação a todos os pobres pecadores que vêm e confiar em seu Filho Jesus Cristo. Ele lhes dá um recibo completo, pois há Aquele que pagou a dívida para eles! Glória a Seu nome - foi paga na íntegra!
Mas, na medida em que estamos preocupados, o Senhor não nos dá o perdão por causa de nossas lágrimas, ou orações, ou arrependimentos, ou até mesmo por causa de qualquer mérito da nossa crença - mas Ele nos perdoa livremente. E Ele não nos perdoa, porque Ele acha que, no futuro, deveremos melhorar em relação ao passado, durante nossa jornada aqui embaixo. Mas Ele nos perdoa livremente, "segundo as riquezas da sua graça", passando pela iniquidade, pela transgressão e pelo pecado, e não se lembrando da maldade do Seu povo, "porque tem prazer na misericórdia."
Agora, em segundo lugar, quero mostrar-lhe como nossas vidas podem se tornar mais intensas do que a vida de muitos outros cristãos professos através de um amor mais fervoroso do que o deles. Para atingir esse fim, devemos ter um sentido profundo do nosso próprio pecado. "Qual deles o amará mais?" "Suponho que aquele a quem mais perdoou."
Suponha que o homem que devia quinhentos denários pensava que devia somente cinquenta. Ele não amaria o credor que o perdoou mais do que aquele que realmente devia cinquenta. Não foi o montante perdoado, como você vai facilmente observar, que foi a causa do maior ou menor amor - foi a consciência do montante - a realização de sua grandeza, que seria a causa do maior amor! Eu não tenho dúvida de que existem alguns muito grandes pecadores que foram perdoados, que ainda não amam a Cristo muito e, por outro lado, há alguns que, no julgamento dos homens e, talvez, no julgamento de Deus, que não sejam grandes pecadores, que, no entanto, amam mais a Cristo - a razão de ser disso é que esses maiores pecadores nunca tiveram um profundo senso da enormidade do pecado como estes, comparativamente falando, menores pecadores tiveram.
   É, queridos amigos, um profundo senso de nossa pecaminosidade, juntamente com a consciência perfeita de nosso perdão, irá trabalhar em nós um intenso amor a Cristo.
   Permitam-me ainda dizer que qualquer pessoa que tenha sido perdoada muito deveria, certamente, ter o maior e mais forte motivo para amar a Cristo. Você não pode sempre dizer como o amor vem para o coração. Eu não nego o dever do amor, mas o amor não vem apenas como um dever. Você ama sua mãe, ou você ama sua esposa e é seu dever fazê-lo, mas você não poderia amá-las simplesmente por ser isso um dever! Você faz isso por causa do impulso natural    dentro do seu coração que o move a amar. De modo semelhante, o amor ao nosso Pai Celestial e a Cristo é, sem dúvida, um dever, mas é muito mais do que uma mera questão de dever. Isso é uma esfera fria para o amor viver e ela logo fica longe das regiões de clima tropical do Jardim do Getsêmani e do lugar chamado Calvário.






17 - I Coríntios 13.1 – Comentado por Lutero

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o címbalo que retine.”

Que todos somos filhos da ira e que foi por pura graça e bondade que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, vejo que vocês sabem muito bem e são mais instruídos do que eu.
Mas temos que ter o amor, e em amor agir uns para com os outros, como Deus agiu conosco através da fé; sem esse amor, a fé é nada, como diz Paulo aos Coríntios (I Cor 13.1ss.).
Este ponto, caros amigos, está praticamente ausente em nossa cidade. Estou vendo e dou-me conta de que vocês podem e sabem falar muito bem acerca da doutrina que lhes foi pregada a respeito da fé e também do amor.
Entretanto, caros amigos, o reino de Deus não consiste de fala ou de palavras, mas de força e de ação. Pois Deus não quer ter apenas ouvintes e repetidores, mas seguidores e praticantes, que cumprem a Palavra, exercitam a fé, que têm sua força no amor.
Porque a fé sem amor nada vale, sim, nem é fé, mas apenas aparência de fé, assim como um rosto visto no espelho não é um rosto real, mas apenas a aparência de rosto.






18 - A Grande Prova do Amor

Uma das grandes provas da existência de Deus e do Seu grande amor e poder, é o fato de que pessoas tão fracas, incapazes, que mal conseguem se ocupar dos seus próprios problemas e necessidades, se dediquem de modo tão diligente e incansável em buscar a salvação das almas e o bem eterno de seus semelhantes; empenhando nisto todo o seu tempo e vida.
Esquecidos de si mesmos são impulsionados pelo poder de Deus e pelo infinito amor que Ele derrama nos seus corações pela presença e ação do Espírito Santo - gastam-se inteiramente como velas que queimam para o único propósito de servirem de luz, da luz de Jesus que neles brilha, para tirarem os seus semelhantes das trevas e da escravidão ao pecado.
Bendito seja Deus pelo Seu inefável amor.
Bendito seja Deus que dá sentido às nossas pobres vidas, enriquecendo-as com a Sua graça para que cumpramos o Seu propósito de amar a humanidade através de instrumentos tão fracos e imperfeitos como nós.
A maior prova desse amor nos foi dada por Jesus, ao derramar a Sua vida por nós na morte de cruz, carregando sobre Si todos os nossos pecados, e para que pudéssemos continuar recebendo esta vida celestial e divina que alimenta e vivifica o nosso espírito, para que possamos ter comunhão em amor com Deus e com todos aqueles que o amam.
É de fato muito comprobatório da existência do Seu amor, o fato de que morreu por pecadores, sem que houvesse um único justo - alguém que fosse dotado de uma natureza que não o inclinasse continuamente para o mal e que não fosse seduzido pelas paixões carnais que guerreiam contra a alma.
Nisto se comprova o amor, pois morreu por nós, encontrando-nos na condição de pecadores, de modo que pudéssemos viver pela Sua própria vida e graça santificadora.
Em nenhuma religião e em nenhum outro Nome será achada esta provisão de graça divina que faz morrer a nossa velha natureza e que nos dota de uma nova natureza, para que por esta possamos viver de maneira vitoriosa sobre o pecado, o diabo e o mundo de trevas.
Quando me sinto enfraquecido e inclinado a viver segundo a carne e não segundo o Espírito, eu clamo ao Senhor, pois sei que posso contar com a assistência da sua poderosa graça, de modo que digo juntamente com o salmista ao concluir o Salmo 119:

"Ando errante como ovelha desgarrada; procura o teu servo, pois não me esqueço dos teus mandamentos." (Salmo 119.176)







19 - Deus Não me Ama!!!

Esta é a queixa de muitos, ainda que seja apenas no recôndito de seus pensamentos.
E ela pode ser vista até mesmo, temporariamente, em dados momentos da vida dos santos mais eminentes, quando submetidos a circunstâncias destinadas a provar a sua fé.
Todavia, esta queixa é uma constante naqueles que não amam a Deus, quando as coisas não caminham na direção que eles desejavam.
Apressadamente concluem: “posso comprovar isto pelas minhas presentes condições de vida.”
“Por acaso é ser amado e assistido por Deus quando se vive na pobreza em que tenho vivido?”
“Quando não se tem as qualificações, dons e habilidades que tantas pessoas possuem e que lhes faz pessoas prósperas neste mundo?”
“Por acaso é ser amado com esta enfermidade que carrego por anos sucessivos?”
A esta lista de argumentos, muitos outros poderiam ser acrescentados, mas estes poucos nos bastam para ilustrarem o ponto que pretendemos enfocar.
Nesta noite de 10-05-2015 tive um sonho muito revelador no qual vi pessoas que tinham profissões que não demandavam qualificações empreendedoras, e nem mesmo capacitação para resolver situações desafiadoras, uma vez que não teriam a mínima possibilidade de atender a tais requisitos. Caso fossem necessários, certamente não permaneceriam empregadas.  
Então ouvi uma voz que dizia alto e bom som: “Nisto se comprova o amor e cuidado divino para com tais pessoas.”
E isto se aplicava também aos que eram qualificados para tais desempenhos, pois se não fosse pelos dons e capacitações recebidas de Deus, jamais poderiam cumprir as funções para as quais foram designadas a desempenhar neste mundo.
Assim, soa muito estranha ao ouvido divino a queixa de que não somos amados por Ele em razão de não sermos habilitados, ou prósperos em bens terrenos etc.
A declaração de Jesus relativa à viúva pobre destaca muito mais o Seu amor e cuidado por ela, do que propriamente um elogio ao fato de ter ofertado do modo que é esperado por Deus.
Por acaso esta única passagem das Escrituras não é bastante suficiente para exemplificar o amor de Deus pelos que são pobres neste mundo?
E quanto ao que se queixa de sua enfermidade prolongada... este não possui um grande motivo para louvar a graça divina que o mantêm em vida?
Não lhe é dada a oportunidade de aumentar o seu galardão pelo testemunho de uma boa consciência para com Deus, e de paciência na tribulação?
Não podemos medir de fato o tamanho do amor e cuidado de Deus por nós, pela régua curta e estreita da nossa razão natural, quanto àquilo que somos ou que possamos fazer, uma vez que é Ele que a tudo e a todos governa, e dá a cada um segundo a medida da sua própria capacidade.
Contentemo-nos portanto com a porção que Ele nos tem designado neste mundo, e exaltemos em todas as circunstâncias, o Seu grande, amoroso  e poderoso Nome.






20 - A Grande Razão do Amor 

"Nós amamos porque Ele nos amou primeiro." 1 João 4:19

Este é o ponto onde todos os cristãos genuínos se encontram. Todos eles podem dizer, sem exceção, "Nós amamos."
Eles não concordam em doutrina, é uma pena, mas eu suponho que, enquanto estamos neste corpo,  nenhum de nós, entenderá todas as verdades de Deus de uma vez, e cada homem, vendo apenas uma parte da verdade, é mais provável que pense que o que ele não vê não é verdade, e no entanto pode ser tão importante quanto o que ele é capaz de perceber.
Há grande diversidade de experiência, bem como da doutrina. Talvez a minha experiência seja diferente da sua, mas se estamos em Cristo, podemos dizer, cada um de nós, com igual verdade e intensidade: "Nós O amamos."
E você vai notar, também, neste curto espaço de expressão que existe uma força, uma energia nela, principalmente derivada do fato da Pessoa deste amor. "Nós O amamos."
Podemos amar o bem-aventurado Filho de Deus, Aquele que condescendeu, o Cordeiro que foi sacrificado, morreu, que ascendeu ao céu, e que reina.
"Nós O amamos." Dependemos dele. Devemos ter mais pregação sobre a Pessoa de Cristo e os nossos corações devem assumir cada vez mais a confiança e afeto para com ele.
Uma religião meramente doutrinal certamente há de se degenerar em fanatismo. Uma religião experimental, mais cedo ou mais tarde afundará em tristeza. Entenda o que eu quero dizer. Não estou falando contra a doutrina ou experiência. Pelo contrário, eu diria tudo o que pudesse em favor de ambas, porque entram na vida de todos os que vivem perto de Cristo, mas fazer a um ou a outro o grande mestre do pensamento, meditar sobre qualquer um deles, lutar por eles, viver para eles, empenhar toda a sua força para eles pode fazer com que você degenere!
Mas quando você vive para Ele. Quando Ele é a Verdade que você crê no coração. Quando Ele é o Caminho que você pisa. Quando Ele é a Vida que você experimenta e quando a doutrina e prática e experiência de todos se encontram nele como linhas em um centro, então você não será degenerado, mas se levantará! Você  irá de glória em glória, sendo transformado pela presença do Senhor. Então, "Nós o amamos".
Mas devo fazer uma observação antes que eu mergulhe no texto, ou seja, que a fim de se amar essa pessoa bendita, por ser uma pessoa deve-se, antes de tudo, ter tido alguma familiaridade com Ele. E, em seguida, alguma convicção profunda a respeito de Sua Excelência. Não podemos amar a quem não se conhece ou que se estime. Se nós não sabemos nada a respeito de Cristo, se não temos a devida compreensão dele, e não ocuparmos, em qualquer grau, nossas mentes com Ele, podemos falar de amor a Ele, mas será mera conversa.
Faço esta observação porque eu tenho notado que, às vezes, ao abordar as crianças da escola dominical, não é incomum dizer-lhes que o caminho para ser salvo é amar a Jesus, o que não é verdade. A maneira de ser salvo para o homem, mulher ou criança é crer em Jesus para o perdão dos pecados e, em seguida, confiando em Jesus, o amor vem como um fruto!
O amor não é de nenhuma maneira a raiz. A Fé, sozinha, ocupa esse lugar.
E eu acho que eu ouvi de pessoas mais jovens, também, falando sempre sobre a questão, "Eu amo o Senhor, ou não?", Uma pergunta muito boa, mas não é a primeira, mas a segunda! A pergunta que deve sempre vir em primeiro lugar é: "Eu confio no Senhor, ou não? Eu descanso inteiramente no que Ele tem feito por mim? Estou dependendo Dele para a vida eterna e a salvação?" Se a primeira pergunta é respondida, a segunda não vai permanecer por muito tempo uma questão de dúvida! Mas se você começar com a segunda, e negligenciar a primeira, você pode se envolver em consequências muito graves. O grande preceito do Evangelho não é "Ame a Cristo", mas, "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo", e não porque o amor seja menos do que a fé, mas que o amor, embora, talvez, seja o primeiro em excelência, em alguns aspectos, vem em segundo lugar em questão de ordem, e que a fé é a primeira a ser vista na alma e então o amor, inevitavelmente, e necessariamente se seguirá.

I. A confissão geral ótima: "nós o amamos."

Agora, se você é um filho de Deus, você dirá: "Nós o amamos." Tão certo como você passou das trevas para a luz, se você é um episcopal, ou um presbiteriano, ou batista, ou o que quer que você seja, você vai concordar com esta expressão da boca de uma só Igreja: Todos nós, sem exceção, que cremos nele, e o amamos.
Mas como podemos amá-Lo? Em primeiro lugar, nós O amamos, nem todos, como devemos amá-Lo.  Nossa concepção do que é devido a Cristo é, sem dúvida, muito aquém do que é devido a ele, mas estamos aquém mesmo da nossa própria concepção!
Agora, lembre-se, que nunca amaremos mais a Cristo pelo simples dever de amá-lo, pois o amor e o dever, de alguma forma ou de outra, não funcionam bem juntos.
Se você quiser amar mais  a Cristo, pense mais nEle, estude mais sobre o Seu caráter na Palavra de Deus. Permaneça mais vezes perto dEle em oração. Viva mais em comunhão santa com ele. Este é o combustível secreto que fará nossa alma se incendiar no fogo do amor a Jesus! Nós não o amamos como deveríamos, nem como  desejamos.
Mas apesar de tudo isso, veremos em segundo lugar, que realmente o amamos. O diabo nos diz que não, mas podemos recorrer a Alguém que sabe melhor do que o diabo, e podemos dizer: "Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que te amo". Que misericórdia é que Jesus Cristo não pesa as nossas ações, pois elas muitas vezes dizem: "Jesus, não te amo." Mas ele lê os nossos corações e os nossos corações ainda batem sentindo: "Oh, meu Deus! Em minha alma eu amo a Cristo, e se fosse possível eu nunca iria pecar contra o Senhor! Oh, miserável homem que eu sou, que devo viver de modo contrário à minha verdadeira vida e que a única coisa que eu deveria fazer, eu não faço, e o que não quero, é o que faço, porque eu encontro essa lei nos meus membros, me levando cativo. Porque eu gosto de liberdade e sou, de fato, livre, e não serei escravo de ninguém, mas a esposa livre de Cristo Jesus, meu Senhor". Sim, nós realmente o amamos!
E também, se somos santos em tudo, nos o amamos na prática. Temos prazer em seu serviço, em sua companhia, em seus amigos.
Não amamos Jesus Cristo somente de modo prático, mas o amamos supremamente. Esse ponto tem muitas vezes atormentado bons corações. Eles afirmam: "Eu não posso dizer que eu amo Jesus Cristo mais do que o pai, ou mãe, ou marido, ou esposa, ou um filho." Não, você não pode dizer isso, e há muitas coisas que não podemos dizer que seria melhor não dizermos, porque seria vergonhoso para nós dizê-las.
"Nós o amamos", também, sempre. O amor de um cristão a Cristo, não é uma coisa de domingo, nem de reuniões públicas e reuniões de oração. "Nós o amamos", é a pronunciação do homem sentado à mesa escrevendo uma carta, ou em pé no seu trabalho. "Nós O amamos." Nosso amor não é um espasmo. Não é uma mera emoção, uma coisa de excitação.
"Nós o amamos", sobriamente, constantemente, persistentemente. "Nós o amamos com a nossa vida diária! É parte do nosso ser mais íntimo!
Nós o amamos cada vez mais. Nem sempre penso assim, mas é verdade, se estamos bem com Deus. Nós O amamos mais do que nunca. O amor superficial  desaparece.
No início da conversão há muita emoção, muita novidade, mas depois há o constante calor, e a calma de uma alma brilhante!
Quanto mais se conhece a Cristo, mais o amamos. Quanto maior for a sua experiência da Sua fidelidade, Sua plenitude, Sua franqueza, Sua bondade e grandeza, mais profundo, e mais largo será o seu amor por  Ele! E eu confio que é assim.
E outra coisa, nós o amamos e não temos vergonha de amá-Lo e não temos vergonha de confessá-lo.
Enquanto outros amores morrem como lírios, o nosso amor a Cristo deve continuar para sempre e sempre aumentando! E quando o céu e a Terra passarem, o amor imortal, eterno, deve ainda permanecer!

II.  A RAZÃO gloriosa para o nosso amor.

"Nós O amamos, porque Ele nos amou primeiro." Nós não amamos a Cristo, porque ouvimos o pastor pregar, ou recebemos suas doutrinas, ou porque pudemos entender que tais e tais coisas são  ensinamentos de nosso Senhor. A razão para o nosso amor é que Ele fez algo. "Nós amamos porque Ele primeiro nos amou". O amor é a causa do amor! Nós amamos depois porque Ele ama em primeiro lugar e antes de nós. Basta olhar para trás a sua vida antes da conversão. Ele amou você, então. O que te fez amá-lo em tudo? Foi porque lhe foi dito que Ele amou você e você creu. A Lei e os seus terrores nunca te fizeram amá-Lo, eles endureceram você.
Jesus te amava quando você vivia em segurança, quando você negligenciou a Sua Palavra, quando o joelho estava dobrado em oração. Ah, amou alguns de vocês quando estavam no salão de dança, quando você estava no teatro profano, sim, mesmo quando você estava no bordel! Ele amou você, quando estava no portão do inferno e bebendo a condenação! Ele lhe amou  quando você não poderia ter sido pior do que já era! Maravilhoso, ó Cristo, é o seu estranho amor! Que amor é esse que brilhava sobre nós quando éramos  servos de Satanás? E ainda assim Ele nos amou! E havia outros de nós que estavam cheios de orgulho, se gabando da própria justiça, tão orgulhosos como Lúcifer, quando não havia nem mesmo uma coisa boa em nós, e ainda assim fomos amados com o Seu grande amor com que nos amou, quando ainda estávamos mortos em transgressões e pecados! Bendito seja o Seu nome!
Agora, isto é uma questão de experiência, e é também um assunto da nossa convicção de alegria e confiança que Jesus nos amou naquele dia em que o sol se obscureceu e ainda, pela primeira vez começou a brilhar, naquele dia em que fazia tremer a Terra e o Céu foi criado, naquele dia em que os mortos se levantaram e os pensamentos dos homens foram descobertos, naquele dia em que Ele, o substituto designado, subiu ao Calvário, com todos os pecados de todo o Seu povo sobre ele, empilhados como um enorme mundo, quando, como outro Atlas, Ele levou essa carga esmagadora sobre os Seus ombros e depois soltou todo o peso infinito no esquecimento! Naquele dia, Ele deu a prova suprema do seu amor por nós. Olhe para os olhos vermelhos de tanto chorar, veja como Ele ama! Olhe para aquela face ferida com os espinhos sujos e com as marcas dos punhos dos   escarnecedores que o esbofetearam! Veja como Ele amou!  Olhe para a sua língua tão ressecada. Olhe para o rosto todo, tão desfigurado quanto uma morada de tristeza. Olhe para todo o corpo tão completamente agonizante, torturado e lânguido. Sim, olhe para o lado dele, cortado aberto pela lança do soldado, que precioso fluxo de sangue e água, declara, com força indiscutível que Jesus ama! E nós não havíamos ainda nascido. Então, se não estávamos aqui! Ele nos amou primeiro.
Ele nos amou quando, no jardim, nossos primeiros pais nos arruinaram a todos e uma promessa foi dada de que Ele esmagaria a cabeça da serpente.
Bem, se isso não é uma boa razão para amá-Lo, onde poderia tal razão ser encontrada? Ele nos amou primeiro. Oh, corações frios! Oh, lajes de mármore! Oh, blocos de granito! Oh, icebergs! Se não derreterem agora,
Era um amor tão condescendente que Ele se inclinou do céu para chegar até nós, deixou de lado as realezas da Glória e tomou sobre Si as fraquezas da Terra! Era um amor tão duradouro que as dez mil provocações de nossa incredulidade e do nosso pecado nunca o apagariam! As muitas águas não podem apagá-lo, nem podem os rios afogá-lo. Era um amor tão generoso que Jesus deu a todos nós! Ele nos deu mesmo seu Pai e seu Deus, porque Ele não diz: "Meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus"? Ele se nos deu e Ele nos dá neste dia a ele mesmo! Ele nos dá a comunhão consigo mesmo. Ele nos dá o Seu sangue para nos lavar. Ele nos dá a Sua justiça para nos vestir. Ele nos dá a Sua vida para o nosso exemplo, o seu trono para o nosso descanso.
Era um amor bastante desinteressado. Jesus não tinha nada a ganhar. O ganho era nosso. Seus sofrimentos, quão terríveis! E tudo por Seu doce amor por nós que éramos seus inimigos!
Este oceano do amor de Cristo não pode ser medido. Mergulhe nele! Peça que possa ser engolido por ele! Ore para que ele possa batizar você, e que, doravante, para você o viver seja Cristo, e o morrer seja ganho!
Irmãos e irmãs, o amor do Senhor está sobre vocês, e em vocês, e que possam viver mais uma semana na força do Seu Espírito vivificador! E quando estivermos juntos de novo, que nossos corações mantenham algo do brilho do afeto que eu creio que nós sentimos queimando dentro de nossos corações nesta noite. Para o Seu nome seja o louvor! Amém.

Adaptação e redução do sermão de nº 3398 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.






21 - Não Há Amor a Deus Sem Obediência

A verdade relativa ao que Deus é em pessoa, e o que Ele opera na humanidade, não é boa e agradável somente ao próprio Deus como também a nós.
Na realidade, não podemos estar em comunhão amorosa com Deus sem estarmos santificados na citada verdade,
à qual Jesus se referiu em sua oração em favor daqueles que nele cressem, pedindo ao Pai que lhes santificasse na verdade da Sua Palavra divina (João 17.17).
Por isso Ele define o amor não como mero sentimento, mas sobretudo como prática dos seus mandamentos (João 14.15,21; 15.10), conforme se encontram registrados na Bíblia, porque são eles, e somente eles, que definem a natureza celestial que nos convém obter, e o padrão de comportamento que dela decorre.
Antes de conhecer ao Senhor Jesus Cristo, pelas Escrituras Sagradas, eu cria e havia criado um Jesus a quem eu pensava amar, apesar de agir contrariamente a tudo o que Ele nos tem ordenado.

Hoje, eu sei que estava enganado, porque Ele é o mesmo para todos os que nele creem do modo pelo qual convém crermos, e que somente podemos chegar a este conhecimento por meio da conversão, pelo arrependimento e pela fé nEle, e segundo a instrução que recebemos do Espírito Santo, não somente para conhecermos a sua vontade, como também para ter o poder espiritual necessário para cumpri-la, porque isto é possível somente pela operação da sua graça que nos é concedida.






22 - Nada Poderá nos Separar do Amor de Deus

Satanás trabalha para que o cristão não saiba  ou duvide que se encontra firme para sempre nas mãos de Deus, como se afirma em Romanos 5.2 e em muitas outras passagens bíblicas.
É impressionante como ele consegue cegar o cristão para as afirmações feitas pelo próprio Jesus, como esta que encontramos em Jo 10.27-29: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão.
Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.”.
Ah, como isso fere ao diabo, saber que Ele não poderá ter no inferno a nenhum dos que Jesus genuinamente justificou e regenerou.
Por isso ele trabalha para infundir a dúvida no cristão, de que pertence realmente a Deus para sempre, e que Deus o aceita completamente como filho, apesar de suas imperfeições e limitações.
O diabo deseja que você creia que de alguma forma, você pode perder sua redenção e ele soprará sobre você para que se sinta inseguro e intimidado.
Por isso você deve colocar o capacete da esperança da salvação.
Esta esperança significa que você pode aguardá-la como coisa segura e certa, porque Deus é fiel para cumprir a promessa de salvá-lo eternamente e de que ninguém tirará você das mãos de Jesus e das mãos do Pai, como se lê em João 10.27-29 e Romanos 8.32-39:

“João 10:27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.
João 10:28 Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.
João 10:29 Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.”

 “Rom 8:31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Rom 8:32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?
Rom 8:33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.
Rom 8:34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós.
Rom 8:35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?
Rom 8:36 Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
Rom 8:37 Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.
Rom 8:38 Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes,
Rom 8:39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.”






23 - Amor sem Medida : um sermão em João 3:16

Por Charles Haddon Spurgeon

 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna.” João 3:16.

Fiquei muito surpreso noutro dia quando, ao repassar a lista de textos sobre os quais preguei, descobri que não há nenhum rastro de já ter pregado em outra oportunidade acerca deste versículo. Isto chama muito a minha atenção, pois posso dizer verdadeiramente que este texto pode encabeçar todos os volumes dos meus sermões como o único tema tratado ao longo do meu ministério. O único trabalho da minha vida tem sido proclamar o amor de Deus pelos homens em Cristo Jesus.
Há pouco tempo atrás escutei um comentário sobre um ministro ancião, de quem se dizia: “Independentemente de qual tenha sido o texto, ele nunca deixava de pregar a Deus como amor, e a Cristo como a expiação pelo pecado.”  Eu queria que pudessem dizer o mesmo de mim. O desejo do meu coração tem sido lançar ao vento, como se fosse uma trombeta, as boas novas de que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
 Em breve nos sentaremos ao redor da mesa da comunhão e não posso pregar acerca deste texto nada além de um simples sermão evangélico. Podem desejar uma preparação melhor para a comunhão? Temos comunhão com Deus e com nossos irmãos sobre a base do infinito amor que é manifestado em Jesus Cristo nosso Senhor. O Evangelho é a bela toalha de linho branco que cobre a mesa na qual se celebra a Festa da Comunhão.
 As verdades mais elevadas, que pertencem a uma experiência de maior luz, verdades mais ricas que apregoam a comunhão com a vida mais elevada: todas são de muita ajuda para a santa comunhão; porém, estou certo que não mais que essas verdades essenciais e fundamentais que foram os meio pelos quais entramos pela primeira vez no reino de Deus.
 Tanto os bebês em Cristo como os homens em Cristo se alimentam aqui com o mesmo alimento. Vamos, vocês que são santos entrados em anos, sejam crianças de novo; e vocês que conhecem o Senhor por um longo tempo, tomem seu primeiro abecedário, e repassem o ABC novamente, ao aprender que Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho para que morrera, afim de que o homem pudesse viver por meio dEle. Não estou convido-lhes para uma lição elementar porque vocês esqueceram as primeiras letras, mas sim porque é uma boa coisa refrescar a memória, e é uma benção sentir-se jovem de novo. O que sempre se conheceu como o abecedário, não contém mais que letras; contudo todos os livros no nosso idioma se escrevem utilizando essa fileira de letras: por isso eu os convido a irem outra vez até a cruz, a irem a Ele que sangrou na cruz.
É bom que todos nós regressemos, ocasionalmente, ao nosso ponto de partida, de modo a nos assegurar que estamos indo bem pelo caminho eterno. É mais provável que o amor de nossos cônjuges continue se, uma e outra vez, retornamos ao ponto onde Deus começou conosco e onde nós começamos com Deus pela primeira vez. É bom que venhamos a Ele outra vez, como viemos naquele primeiro dia quando, desvalidos, necessitados, carregados, estivemos chorando ao pé da cruz, e deixamos nossa carga junto a Seus pés traspassados. Ali aprendemos a olhar, a viver e a amar; e ali queremos repetir a lição até que possamos nos apresentar de maneira perfeita na glória.
Hoje temos que falar acerca do amor de Deus: “Deus amou o mundo de tal maneira”. Esse amor de Deus é uma coisa muito maravilhosa, especialmente quando o vemos derramado sobre um mundo perdido, arruinado, culpado. O que havia no mundo para que Deus o amasse dessa maneira? Não havia nada amável nele. Nenhuma flor perfumada crescia neste árido deserto. Inimizade contra Ele, ódio pela Sua verdade, desprezo pela Sua lei, rebelião contra Seus mandamentos; esses eram os espinhos e sarças que cobriam a terra baldia; nenhuma coisa desejável florescia ali.
Entretanto, o texto nos diz que: “Deus amou o mundo.” O amou “de tal maneira” que nem mesmo o escritor do livro de João poderia quantificá-lo; mas o amou de uma maneira tão grande, tão divina, que deu o Seu Filho, Seu único Filho, para que redimisse o mundo de perecer, e para que juntasse do mundo um povo para Seu louvor.
De onde veio esse amor? Não de nada externo ao próprio Deus. O amor de Deus surge dEle mesmo. Ele ama porque fazê-lo é a Sua natureza. “Deus é amor”. Conforme mencionei, nada sobre a face da terra pode ter merecido o Seu amor. Ao contrário, havia muito que merecia Seu desagrado. Esta corrente de amor flui de Sua própria fonte secreta na Deidade eterna, e não deve nada a nenhuma chuva procedente da terra, nem a nenhum riacho; brota de debaixo do trono eterno, e se abastece das fontes do infinito. Deus amou porque Ele quis amar. Quando nos perguntamos por que Deus amou esse ou aquele homem, temos que regressar à resposta de nosso Salvador a essa pergunta: “Sim, Pai, porque assim lhe agradou”
Deus tem tal amor em Sua natureza que precisa deixá-lo fluir em direção a um mundo que está perecendo por causa de seu próprio pecado voluntário. E quando fluiu era tão profundo, tão largo, tão forte, que nem sequer a inspiração podia calcular sua medida e, portanto, o Espírito Santo nos deu essas grandiosas palavras, DE TAL MANEIRA, deixando que intentemos medi-lo, conforme vamos percebendo mais e mais esse amor divino.
Agora, houve uma ocasião na qual o grandioso Deus quis manifestar Seu amor sem medida. O mundo tristemente havia se extraviado, havia perdido a si mesmo; o mundo foi julgado e condenado; foi entregue a perecer, por causa de suas ofensas; e tinha necessidade de ajuda. A queda de Adão e a destruição da humanidade abriram um amplo espaço, assim como suficiente margem para o amor Todo Poderoso. Em meio às ruínas da humanidade, tinha espaço para mostrar quanto Jeová amava os filhos dos homens; pois o alcance do Seu amor abarcava o mundo, o objeto desse amor era precisamente resgatar os homens para que não caíssem no abismo, e o resultado desse amor foi encontrar um resgate para eles.
O propósito específico desse amor era tanto negativo quanto positivo; era que, crendo em Jesus, os homens não perecessem, mas que alcançassem a vida eterna. A desesperada enfermidade do homem foi o motivo da introdução desse remédio divino que unicamente Deus poderia ter planejado e ministrado. Por meio do plano de misericórdia, e do grandioso dom que se requeria para levar a cabo esse plano, o Senhor encontrou o meio para manifestar seu amor sem limite aos homens culpados.
Se não houvesse existido nenhuma queda, e nenhuma morte, Deus poderia nos mostrar o Seu amor da mesma maneira que faz com os espíritos puros e perfeitos que rodeiam Seu trono. Entretanto, jamais poderia mostrar Seu amor a nós de tal maneira especial como agora o faz. Na dádiva de Seu Filho unigênito, Deus revela Seu amor para conosco, na medida em que, sendo nós ainda pecadores, a seu tempo morreu Cristo pelos ímpios.
O fundo negro do pecado faz ressaltar muito mais claramente o fulgor da linha do amor. Quando o relâmpago escreve com dedos de fogo o nome do Senhor na amplidão da escura face da tempestade, nos achamos forçados a vê-Lo; assim também o quando o amor inscreve a cruz sobre as negras tábuas de nosso pecado, ainda os olhos que não podem ver estão obrigados a ver que “Nisto consiste o amor.”
Poderia tratar meu texto de mil maneiras diferentes no dia de hoje. Mas em favor da simplicidade, e para apegar-me ao único ponto de proclamar o amor de Deus, quero fazer-lhes ver quão grande é esse amor por meio de cinco considerações.

I. A primeira consideração é o DOM: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira,  que deu o Seu Filho unigênito.” Os homens que amam muito estão prontos a dar muito, e usualmente podem medir a verdade deste amor através de seus sacrifícios e renúncias. Esse amor que não guarda nada para si, mas se esgota em ajudar e abençoar o seu objeto, e o verdadeiro amor, e não apenas um amor de nome. O pouco amor se esquece de trazer água para lavar os pés, mas o grande amor quebra o vaso de alabastro e derrama seu valioso perfume.

Então considerem qual foi o dom que Deus deu. Não poderia encontrar a expressão correta se tentasse explicar completamente o que é esta bênção que não tem preço; e não vou arriscar-me a fracassar ao tentar o impossível. Unicamente vou convidá-los a pensar na sagrada Pessoa que foi dada pelo Pai para demonstrar Seu amor para com os homens. Tratava-se do Seu unigênito Filho: Seu Filho amado, em quem tinha Sua complacência.

Nenhum de nós teve um filho assim para dá-lo. Nossos filhos são filhos de homens;
o dEle era Filho de Deus. O Pai deu parte de Si mesmo, Ele que era Um com Ele. Quando o grandioso Deus deu a Seu Filho estava dando a Si próprio, pois Jesus, em sua natureza eterna não é menos que Deus. Quando Deus deu a Deus por nossa causa, estava se dando a Si mesmo.  Quem pode medir este amor?
 Vocês que são pais, julguem o quanto amam a seus filhos: poderiam entregá-los à morte por causa de seus inimigos? Vocês que têm um filho único, julguem quão entrelaçados estão seus corações ao seu primogênito, ao seu unigênito filho. Não houve uma maior prova do amor de Abraão a Deus do que quando não vacilou em entregar-Lhe seu filho, seu único filho, seu Isaque amado; e certamente não pode haver uma maior manifestação de amor que a do Eterno Pai, ao entregar o Seu unigênito Filho à morte por nós.

Nenhum ser vivente está disposto a perder a sua prole; o homem sofre uma dor muito aguda quando perde um filho. Acaso Deus não o sofre ainda mais? Há uma história muito popular relativa ao carinho de uns certos pais para com seus filhos. A história relata que houve fome na terra, no Leste, e que um pai e uma mãe se viram sem absolutamente nada para comer, e a única possibilidade de preservar a vida da família seria vender um dos filhos para que fosse escravo. Então os pais consideraram o assunto. O tormento de fome se tornou intolerável, e as súplicas de seus filhos pedindo pão puxavam dolorosamente as cordas de seus corações de tal maneira, que tiveram que retomar seriamente a idéia de vender a um deles, para salvar a vida de todos os demais. Tinham quatro filhos. Qual deles deveria ser vendido? Certamente não devia ser o maior: como poderiam desfazer-se de seu primogênito? O segundo, era tão parecido com seu pai que parecia uma miniatura dele, e a mãe disse que ela nunca se separaria dele. O terceiro era tão singularmente como sua mãe que o pai disse que preferiria morrer antes que este querido filho se convertesse em um escravo; e com relação ao quarto filho, ele era o Benjamim, seu caçula, seu amado filho, e não podiam separar-se dele. Finalmente concluíram que seria melhor morrerem todos juntos para não terem que separar-se voluntariamente de algum de seus filhos.
Vocês não simpatizam com esses pais? Vejo que simpatizam sim. Contudo, Deus nos amou de tal maneira que, para dizê-lo com muita ênfase, pareceria que nos amou mais que a Seu único Filho e não livrou a Ele, para perdoar-nos. Deus permitiu que entre todos os homens, Seu filho perecesse “para que todo aquele que nEle crê, não pereça, mas tenha vida eterna.”
Se desejarem ver o amor de Deus neste grande procedimento, devem considerar como Ele deu a Seu Filho. Ele não entregou a Seu Filho, como tu poderias fazer, a alguma profissão que teria como consequência desfrutar de sua companhia; senão que mandou o Seu Filho ao exílio entre os homens. O enviou à terra naquele presépio, unido em uma perfeita humanidade, que no princípio estava contida na forma de uma criança. Ali dormia, onde se alimentava um boi com longos chifres! O Senhor Deus enviou o herdeiro de todas as coisas para que trabalhasse na oficina de um carpinteiro: martelando pregos, usando o serrote, empunhando o pincel. O enviou no meio de  escribas e fariseus, cujos olhos astutos O vigiavam e cujas línguas ferinas O açoitavam com calúnias vis. O enviou para a terra a fim de que passasse fome e sede, em meio a uma pobreza tão terrível que não tinha um lugar onde apoiar Sua cabeça. O enviou à terra para que O açoitassem e O coroassem de espinhos, e batessem nEle e O esbofeteassem. No fim, O entregou à morte: a morte de um criminoso, a morte do crucificado.
Contemplem essa cruz e vejam a angústia de Quem morre nela, e observem de que maneira o Pai O entregou e escondeu Seu rosto dEle, e pareceria que Ele não O reconhece! “Lamá Sabactâni” nos revela de que forma tão completa Deus entregou a Seu Filho para resgatar as almas dos pecadores. O entregou para que fosse feito maldição por nós; O entregou para que morresse  “o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus”.
Queridos amigos, eu posso entender que vocês se separem de seus filhos para que se dirigiram à Índia a serviço de Sua Majestade, ou vão como missionários para Camarões ou Congo, a serviço de nosso Senhor Jesus. Posso entender muito bem que os entreguem apesar da expectativa diante de vocês de peste, pois se morrerem, teriam morrido com honra por uma gloriosa causa. No entanto, acaso poderiam pensar em uma separação que os conduzirá à morte de um criminoso, sobre um patíbulo, execrados pelas mesmas pessoas a quem buscavam abençoar, despojados das roupas de seu corpo e abandonados completamente em sua mente?
Não seria tudo isso demasiado? Acaso não exclamariam “Não posso separar-me de meu filho por causa de uns canalhas como estes? Por que haveria de morrer uma morte cruel, por seres tão abomináveis, que têm o descaramento de lavar suas mãos no sangue de seu melhor amigo”?
Recordem que nosso Senhor Jesus Cristo morreu uma morte que seus concidadãos consideravam como uma morte maldita. Para os romanos, era a morte de um escravo condenado, que continha todos os elementos de dor, desonra e escárnio, mesclados ao limite máximo. “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.”
Oh, que maravilhoso o alcance desse amor, que Jesus Cristo necessitasse morrer!
Todavia, não posso deixar este ponto até fazê-los ver o preciso momento em que Deus deu a Seu Filho, pois esse momento revela amor. ”Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito”. Porem, quando Ele fez isso? Em Seu propósito eterno, Ele fez isso desde antes da criação do mundo. As palavras utilizadas aqui, “deu o seu Filho unigênito”, não podem referir-se exclusivamente à morte de Cristo, pois Cristo não estava morto no momento em que foram ditas as palavras deste terceiro capítulo de João. Nosso Senhor acabara de falar com Nicodemos, e essa conversa teve lugar no início de Seu ministério.
O fato é que Jesus sempre foi o dom de Deus. A promessa de Jesus foi feita no jardim do Éden, quase no mesmo momento em que Adão caiu. No ponto onde se realizou nossa ruína, um  Libertador foi providenciado cujo calcanhar deveria ser ferido, mas que destroçaria a cabeça da serpente debaixo do Seu pé.
Ao longo de todos os séculos, o Pai grandioso manteve Seu dom. Ele sempre viu a seu Unigênito como a esperança do homem, a herança da semente escolhida, que nEle possuiria todas as coisas. Em cada sacrifício Deus renovava Seu dom de graça, reafirmando que Ele havia providenciado o dom e que nunca retiraria Sua promessa. Todo o sistema de tipos nos termos da lei apontava que o cumprimento do tempo em que o Senhor verdadeiramente entregaria Seu Filho para que nascendo de uma mulher, carregasse as iniquidades de Seu povo e morresse no lugar deles.
Eu admiro grandemente a persistência deste amor. Porque muitos homens, num momento de generosa excitação, podem levar a cabo um ato supremo de benevolência, e, contudo, não poderiam suportar olhar este ato com toda calma, e considerá-lo ano após ano. O fogo lento da antecipação teria sido intolerável. Se o Senhor quisesse levar  aquele menino para longe de sua mãe, ela suportaria o golpe com certa paciência, ainda que fosse algo terrível para seu coração sensível; mas suponham que ela é informada de maneira fidedigna que no dia tal e tal, seu filho deve morrer, e ter que vê-lo assim, ano após ano, como um morto, acaso não traria nuvens muito escuras para cada hora de sua vida futura? Suponham também que ela sabe que o filho será pendurado no madeiro para que morra, como um condenado, isto não amargaria sua existência? Se ela pudesse escapar dessa calamidade, não o faria? Certamente que sim!
Contudo o Senhor Deus não poupou a Seu próprio Filho, senão que  voluntariamente o entregou por todos nós, entregando-O em Seu coração através dos anos. Nisto se demonstra o amor: um amor que muitas águas não podem apagar: amor eterno, inconcebível, infinito!
Então, como este dom se refere não somente à morte de nosso Senhor, mas sim a todas as eras que a precederam, d mesma forma também inclui todas as idades posteriores. Deus “amou o mundo de tal maneira, que deu” e ainda dá “o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna”. O Senhor está entregando a Cristo no dia de hoje. Oh, que milhares de vocês aceitem com alegria o dom indizível! Alguém o rejeitará? Este dom bondoso, este dom perfeito, vocês dirão que não o querem receber? Oh, que vocês pudessem ter fé para apegar-se a Jesus, pois Ele será de vocês. Ele é o dom gratuito para os que O recebem gratuitamente: um Cristo com toda Sua abundância para encher a todos os pecadores vazios.
Se vocês simplesmente podem estender sua vazia, mas decidida mão, o Senhor lhes dará a Cristo neste mesmo momento. Nada é mais gratuito que um dom. Nada é mais digno de ter-se que um dom que nos vem diretamente da mão de Deus, tão cheio de poder efetivo como sempre o foi. A fonte é eterna, mas a corrente que flui dela é tão fresca como quando a fonte se abre pela primeira vez. Este dom não pode extinguir-se.
“Amado Cordeiro moribundo, Teu sangue precioso
Nunca perderá Seu poder
Até que toda a igreja de Deus resgatada
Seja salva para não mais pecar”.
Vejam, então, qual é o amor de Deus, que deu o Seu Filho desde o princípio, e nunca revogou seu dom. Ele cumpre com a dádiva do Seu dom e ainda continua dando Seu querido Filho a todos aqueles que querem aceitá-lO. Das riquezas de Sua graça Ele deu, está dando, e dará o Senhor Jesus Cristo e todos os dons inestimáveis que nEle estão contidos, a todos os pecadores necessitados que queiram simplesmente confiar nEle.
Com base neste primeiro ponto os exorto a admirar o amor de Deus, devido à grandiosa transcendência de Seu dom para com o mundo, o dom de Seu unigênito Filho.
II. Em segundo lugar, observemos neste momento, e penso que posso dizer que o fazemos com igual admiração, o amor de Deus NO PLANO DE SALVAÇÃO. Ele o expressou assim: “para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna.” O caminho da salvação é extremamente simples de entender, e extremamente fácil de praticar, tão logo o coração seja levado a querer e a obedecer. O método do pacto da graça dista tanto do método do pacto de obras como a luz dista das trevas.
Não se diz que Deus deu Seu Filho a todos aqueles que guardam Sua lei, pois não podemos guardá-la e, portanto, o dom não estaria disponível para nenhum de nós. Nem tampouco se diz que Ele deu Seu Filho a todos aqueles que experimentam um desespero terrível e um remorso amargo, porque isso não é sentido por muitos que, no entanto formam o próprio povo do Senhor. Mas o grandioso Deus deu a Seu Filho para que “todo aquele que nele crê” não pereça. A fé, sem importar quão fraca seja, salva a alma. A confiança em Cristo é o caminho seguro da felicidade eterna.
Agora, que significa crer em Jesus? É simplesmente isto: que vocês se confiem a Ele. Se seus corações estão prontos, ainda que nunca antes tenham crido em Jesus, eu espero que vocês creiam nEle agora. Oh Espírito Santo, por Tua graça concede-nos isto.
O que significa crer em Jesus?
É, em primeiro lugar, que vocês concordem firmemente e de coração com esta verdade: que Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, para que se pusesse no lugar dos homens culpados, e que Deus derramou nEle todas as nossas iniquidades, para que Ele recebesse o castigo merecido por nossas transgressões, havendo sido feito maldição por nossa causa. Devemos crer de todo coração na Escritura que diz: “o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e por suas pisaduras fomos sarados.”
Peço-lhes que concordem com a grandiosa doutrina da substituição, que é a medula do Evangelho. Oh, que o Espírito Santo os leve a entender de todo coração essa doutrina de imediato; pois sendo tão maravilhosa, é um fato que Deus estava reconciliando o mundo Consigo mesmo em Cristo, não lhes imputando seus pecados. Oh, desejo que vocês possam sentir a alegria de que isto é verdade, e possam estar agradecidos que um fato tão bendito seja revelado pelo próprio Deus. Creiam que o sacrifício substitutivo do Filho de Deus é certo; não coloquem objeções ao plano, não questionem sua validade ou sua eficácia, como muitas pessoas fazem. Ai, eles pisoteiam o grandioso sacrifício de Deus, e o consideram um triste invento.
Quanto a mim, posto que Deus ordenou salvar o homem por meio de um sacrifício substitutivo, alegremente estou de acordo com Seu método, e não vejo nenhuma necessidade de fazer algo mais, a não ser admirar esse plano e adorar o Seu Autor. Eu me regozijo e me alegro que se tenha pensado em um plano assim, pelo qual a justiça de Deus é reivindicada, e Sua misericórdia fica em liberdade de fazer tudo o que Ele deseja. O pecado é castigado na pessoa de Cristo, e a misericórdia é outorgada ao culpado. Em Cristo a misericórdia é sustentada pela justiça, e a justiça é satisfeita por um ato de misericórdia.
O sábio segundo o mundo diz coisas duras acerca deste plano da sabedoria infinita; porem quanto a mim, amo o simples nome da cruz, e o considero como o centro da sabedoria, o ponto central do amor, o coração da justiça. Este é o ponto central da fé: concordar de coração com o fato de que Jesus foi entregue para que sofresse em nosso lugar, estar de acordo com toda nossa alma com esta forma de salvação.
O ponto seguinte é que tu aceites isto para ti mesmo. No pecado de Adão, tu não pecaste pessoalmente, porque ainda não existias; contudo tu caíste; e não podes te queixar disso agora, pois voluntariamente endossaste e adotaste o pecado de Adão, ao cometer transgressões pessoais. Puseste tuas mãos, por assim dizer, sobre o pecado de Adão, e te apropriaste dele, ao cometer pecados pessoais e reais. Assim, pereceste pelo pecado de outro, que tu adotaste e endossaste; e da mesma maneira deves ser salvo pela justiça de outro, justiça esta que deves aceitar e apropriar-te dela. Jesus ofereceu uma expiação, e a expiação se converte em tua quando a aceitas e põe tua confiança nEle. Quero que agora digas:
“Minha fé agora põe sua mão
Em Tua amada cabeça,
Entretanto, como penitente me levanto,
E aqui confesso meu pecado.”
Certamente este não é um assunto muito difícil. Dizer que Cristo que foi pendurado na cruz será meu Cristo, minha garantia, não necessita nenhum esforço intelectual nem caráter sólido; contudo é o ato que traz a salvação da alma.
Uma coisa mais é necessária: a confiança pessoal. Primeiro vem o estar de acordo com a verdade, e em seguida a aceitação dessa verdade aplicada a cada um; e logo um simples confiar-se inteiramente a Cristo, como um substituto. A essência da fé é a confiança, a dependência, a segurança. Joguem longe qualquer outra confiança de qualquer tipo, exceto a confiança Jesus. Não permitam nem a menor sombra de confiança em qualquer coisa que vocês possam fazer ou ser. Olhem unicamente para Ele, que Deus estabeleceu como a propiciação pelo pecado. Estou fazendo isto neste momento; vocês não farão o mesmo? Oh, que o doce Espírito de Deus os guie agora a confiar em Jesus!
Vejam então o amor de Deus ao colocar isto em termos tão simples e tão facéis. Oh, tu, pecador, que estás quebrantado, esmagado e sem esperança, tu não podes fazer nada, porem, por acaso não pode crer nisso que é verdade? Não pode suspirar; não pode gritar; não pode derreter seu coração de pedra; porem, não podes crer que Jesus morreu por ti, e que Ele pode mudar teu coração e converter-te em uma nova criatura? Se tu podes crer nisto, então confia que Jesus o fará, e serás salvo; pois quem crê nEle é justificado. “para que todo aquele que nele crê tenha vida eterna.” És um homem salvo. Seus pecados te são perdoados. Podes ir-te em paz, e não pecar mais.
Eu admiro, em primeiro lugar, o amor de Deus no grandioso dom, e logo o grandioso plano por meio do qual esse dom está disponível para o homem culpado.
III. Em terceiro lugar, o amor de Deus brilha com um brilho transcendente, quer dizer, nas PESSOAS PARA QUAIS ESTE PLANO ESTÁ DISPONIVEL. Eles são descritos com estas palavras: “todo aquele que nele crê.”  No texto há uma palavra que não tem limites: “Deus amou o mundo de tal maneira”; mas logo vem o limite descritivo, que lhes peço que analisem com cuidado: “que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não  pereça.”
Deus não amou ao mundo de tal maneira que qualquer homem que não creia em Cristo seja salvo; nem tampouco deu Seu Filho para que qualquer homem que O rejeite seja salvo. Vejam como está expressado:”Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça.” Aqui está o limite do amor: enquanto cada incrédulo está excluído, cada crente está incluído - “todo aquele que nele crê.” Suponham que exista um homem que é culpado de todos os prazeres da carne até um grau infame, suponham que é tão detestável que somente o podem tratar como a um leproso moral, e deve ser encerrado em uma casa afastada pelo temor de que contamine aos que o escutam ou vejam; mas se este homem crê em Jesus Cristo, será limpo de imediato de sua corrupção, e não perecerá por causa de seu pecado.
E suponham que há outro homem que, ao perseguir motivos egoístas, oprimiu o pobre, roubou seus clientes, e inclusive foi tão longe a ponto de cometer um crime real do qual a lei tomou conhecimento, e contudo, se crê no Senhor Jesus Cristo será levado a restituir, e seus pecados lhe serão perdoados.
Uma vez escutei a história de um pregador que falava a um grupo de prisioneiros, condenados a morte por homicídio e por outros crimes. Eles eram uma manada tal de animais selvagens segundos aparências exteriores, que parecia um empreendimento sem sucesso pregar a eles; contudo, se eu fosse o capelão dessa companhia de homens degradados, não teria dúvidas em dizer-lhes que “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna”. Oh, homem, se crês em Jesus como o Cristo, não importa quão horríveis tenham sido teus pecados do passado, serão apagados; serás salvo do poder que exercem sobre ti os teus maus hábitos; e começarás de novo como um recém nascido, com uma vida nova e verdadeira, que Deus te dará. “Todo aquele que nele crê”. Isso te inclui, amigo ancião, que estás a somente a alguns vacilantes passos da tumba. Oh, pecador de cabelos grisalhos, se tu crês nEle, não perecerás. O texto também te inclui a ti, meu jovem amigo, que escassamente entrou na adolescência: se crês nEle, não perecerás. Isto te inclui a ti, formosa jovem, e te dá esperança e alegria quando ainda és jovem. Isso nos inclui a todos nós, sempre e quando creiamos no Senhor Jesus Cristo.
Nem mesmo os diabos no inferno podem encontrar alguma razão para que o homem que crê em  Cristo se perca, pois está escrito: “e o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora”. Se acaso comentam: “Senhor, foi tão demorado vir a Ti,” o Senhor responde: “Veio? Então não o lançarei fora por sua demora.” Mas Senhor, ele caiu depois de fazer profissão de fé. “Ele veio  finalmente? Então não o lançarei fora devido a todas suas quedas.” Mas, Senhor, ele é um blasfemo de boca muito suja. “Veio a Mim? Então não o lançarei fora apesar de todas suas blasfêmias.” Mas, alguém poderá dizer: “Eu não creio na salvação deste homem malvado. Se comportou de maneira tão abominável que com toda justiça deve ser enviado ao inferno”. Correto. Mas se ele se arrepende de seu pecado e crê no Senhor Jesus Cristo, não importa quem seja, não será enviado ao inferno. Seu caráter será mudado, de tal maneira que não perecerá jamais, mas  terá vida eterna.
Agora, observem, que esta expressão “todo aquele” tem um grande alcance; pois inclui a todos os diferentes graus de fé. “Todo aquele que nele crê”. Pode ser que ele não esteja completamente seguro; pode ser que ele não esteja seguro de todo; mas se tem fé que seja verdadeira e seja como a fé de uma criança, por meio dessa fé será salvo. Ainda que sua fé seja tão diminuta que eu tenha que colocar meus óculos para vê-la, contudo Cristo a verá e a recompensará. Sua fé pode ser como o minúsculo grão de mostarda de tal forma que eu a procuro e a procuro de novo mas tenho dificuldade em discerni-la. Contudo, essa fé lhe traz vida eterna, e é em si mesma uma coisa viva. O Senhor pode ver dentro desse minúsculo grão de mostarda, uma árvore em cujos ramos as aves do céu farão seus ninhos —
“Minha fé é fraca, eu confesso,
Apenas confio em Tua Palavra;
Mas, por isso terás menos misericórdia?
Longe de Ti está isso Senhor!
Oh, Senhor Jesus, se eu não posso tomá-lo nos braços como fez Simeão, ao menos vou tocar a borda de tuas vestes como a pobre enferma o fez e de ti saiu virtude para salvar. Está escrito: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna”. Eu estou incluído ali. Não posso pregar indefinidamente hoje; mas quisera pregar com poder. Oh, que esta verdade encharque vossas almas. Oh, vocês que se sentem culpados; e vocês que se sentem culpados porque não se sentem culpados; vocês que têm um coração quebrantado porque seu coração não pode  quebrantar-se; vocês que sentem que não podem sentir; é a todos vocês que eu quero pregar a salvação em Cristo pela fé. Vocês que gemem porque não podem gemer; mas sem importar quem sejam vocês, ainda estão dentro do alcance desta poderosa palavra, que “todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna”.
Assim eu lhes mostrei o amor de Deus em três pontos: o dom divino, o método divino de salvação, e a divina eleição das pessoas a quem chega a salvação.
IV. Agora, em quarto lugar, se pode ver outro raio de amor divino na bênção negativa enunciada aqui, ou seja, NA LIBERAÇÃO que está implicada nas palavras, “todo aquele que nele crê, não pereça”.
Eu entendo que essa palavra significa que todo aquele que crê no Senhor Jesus Cristo não perecerá, ainda que esteja a ponto de perecer. Seus pecados o levarão a perecer, mas não perecerá jamais. No princípio ele tem uma pequena esperança em Cristo, mas sua existência é fraca. Logo morrerá, não é mesmo? Não, sua fé não perecerá, pois esta promessa cobre isso: “todo aquele que nele crê, não pereça”.
O penitente creu em Jesus e, portanto, começou a ser um cristão. “Oh,” exclama um inimigo, “não se preocupem: logo virá a nós outra vez; logo voltará a ser tão descuidado como antes”.
Escutem: “Todo aquele que nele crê, não pereça”, e, portanto, ele não vai regressar a seu estado anterior. Isto demonstra a perseverança final dos santos; pois se o crente deixasse de ser crente, pereceria; e como não pode perecer, é claro que ele continuará sendo um crente. Se tu crês em Jesus, nunca deixarás de crer nEle, pois isso seria perecer. Se tu crês nEle, nunca te deleitarás em teus velhos pecados; pois isso seria perecer. Se tu crês nEle, nunca perderás a vida espiritual. Como podes perder isso que é eterno? Se fosses perdê-la, isso demonstraria que não era eterna, e tu perecerias; e assim esta palavra em ti não teria efeito.
Qualquer que crer em Cristo com seu coração, é um homem salvo, não somente no dia de hoje, mas por todos os dias em que viver, e no terrível dia da morte, e durante toda essa solene eternidade que se aproxima. “Todo aquele que nele crê, não pereça”. Terá uma vida que não pode morrer, uma justificação que não pode ser discutida, uma aceitação que não cessará nunca.
O que é perecer? É perder toda esperança em Cristo, toda confiança em Deus, toda luz na vida, toda paz na morte, todo gozo, toda bênção, toda união com Deus. Isto nunca te passará a ti, se tu crês em Cristo. Se tu crês, serás disciplinado quando fazes o mal, pois todo filho de Deus está sujeito à disciplina; e, a que filho o Pai não disciplina? Se tu crês, pode ser que duvides e tenha receios sobre o teu estado, da mesma maneira que um homem a bordo de um barco pode ser sacudido de um lado a outro; mas tu subiste a um barco que jamais afundará.
Quem tem união com Cristo tem união com a perfeição, com a onipotência e com a glória. O crente é um membro de Cristo: por acaso Cristo perderá algum de seus membros? Como poderia Cristo ser perfeito se perdesse seu dedo mindinho? Podem os membros de Cristo se extraviarem ou se desprenderem? Impossível. Se tu tens fé em Cristo, então és participante da vida de Cristo, e tu não podes perecer.
Se algumas pessoas estivessem tentando afogar-me, não poderiam fazê-lo afundando meu pé na água, estando minha cabeça sobre o nível da água; e conquanto nossa Cabeça esteja por sobre o nível da água, lá em cima na luz do sol eterno, o menor dos membros do Seu corpo não pode ser destruído jamais. Quem crê em Jesus está unido a Ele, e deve viver porque Jesus vive.
Oh, que palavra é esta: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna; e nunca hão de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai que mas deu, é maior do que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”. Eu sinto que tenho um glorioso Evangelho para pregar a vocês quando leio que todo o que crê em Jesus não perecerá. Eu não daria nem um centavo por esse disparate, a salvação temporária que alguns proclamam, e faz a alma flutuar por um tempo, mas que logo a afunda na apostasia.
Eu não creio que o homem que uma vez está em Cristo possa viver em pecado e deleitar-se nele, e ainda assim ser salvo. Esse é um ensino abominável, que absolutamente não compartilho. Mas eu creio que o homem que está em Cristo não viverá em pecado, pois foi salvo do pecado; nem tampouco regressará a seus antigos pecados para viver neles, pois a graça de Deus continuará salvando-o de seus pecados. Uma mudança de tal magnitude é conseguida pela regeneração, o homem regenerado não pode viver em pecado, senão que ama a santificação e progride nela. O etíope pode trocar sua pele, e o leopardo suas manchas, mas somente a graça divina pode atuar na transformação; e quando a graça divina houver feito a mudança, o homem de pele negra será branco, e as manchas do leopardo nunca voltarão. Seria um milagre tão grandioso desfazer a obra de Deus como fazê-la; e destruir a nova criação necessitaria de tanto poder como para criá-la. Como somente Deus pode criar, assim somente Deus pode destruir; e Ele nunca destruirá a obra
de Suas próprias mãos. Acaso Deus poderia começar a construir e não terminar? Começaria Ele uma guerra  para terminá-la antes de alcançar a vitória? Que diria o diabo se Cristo começasse a  salvar uma alma e falhasse em Seu intento? Se houvesse almas no inferno que foram crentes em  Cristo, e ainda assim, pereceram. Isso jogaria uma mancha sobre o diadema de nosso exaltado Senhor. Não pode ser, não será assim. Deus amou o mundo de tal maneira, que todo aquele que creia em Seu amado Filho não perecerá: com esta certeza nos alegramos grandemente.
V. A última mostra de Seu amor é apresentada de maneira positiva: NA POSSE. Em certo momento terei que regressar ao mesmo terreno outra vez. Portanto, serei breve. Deus dá a todos aqueles que crêem em Cristo a vida eterna. No instante em que tu crês, treme em teu peito uma chispa vital do fogo celestial, que nunca se apagará. Nesse mesmo momento em que tu te lanças sobre Cristo, Cristo vem a ti na Palavra viva e incorruptível que vive e permanece para sempre. Ainda que somente uma gota da água celestial de vida caia em teu coração, lembra isto: são palavras pronunciadas por Quem não pode mentir: “A água que eu darei será nele uma fonte de água que salta para a vida eterna.”
Quando eu recebi pela primeira vez a vida eterna, não tinha a menor idéia do tesouro que havia recebido. Eu sabia que tinha obtido algo muito extraordinário, mas não estava consciente de seu valor superlativo. Somente pus meus olhos em Cristo naquela pequena capela, e recebi a vida eterna. Olhei para Jesus e Ele me olhou; e nos tornamos um para sempre. Nesse momento minha alegria ultrapassou todas as fronteiras, da mesma maneira que minha pena anterior me tinha  conduzido a uma dor extrema. Havia encontrado o perfeito descanso em Cristo, estava satisfeito com Ele, e o meu coração estava cheio de gozo; mas eu não sabia que esta graça era a vida eterna até que comecei a ler nas Escrituras, e a conhecer mais plenamente o valor da jóia que Deus tinha me dado. No domingo seguinte regressei à mesma capela, como era natural que eu o fizesse. Mas depois desse outro domingo nunca voltei, por esta razão: durante minha primeira semana, a nova vida que havia em mim havia sido forçada a lutar por sua existência, e um conflito com a velha natureza estava tendo lugar. Isto era, eu o sabia, um sinal especial da graça que habitava agora em minha alma; mas nessa mesma capela escutei um sermão que se baseava em “Miserável de mim! quem me livrará do corpo dessa morte?” E o pregador declarou que Paulo não era um cristão quando teve essa experiência. Sendo um bebê como era, eu sabia que essa era uma afirmação  totalmente absurda. Que outra coisa que não a graça divina pode produzir esses suspiros e essas súplicas pedindo a libertação do pecado que habita em nós? Senti que a pessoa que podia pregar tais bobagens conhecia muito pouco sobre a vida do verdadeiro crente. Eu falei comigo mesmo “Como! acaso não estou vivo por causa do conflito que sinto dentro de mim? Nunca experimentei esta luta quando eu era um incrédulo. Quando não era cristão nunca gemi para ser libertado do pecado.
Este conflito é uma das evidências mais seguras do meu novo nascimento, e, no entanto, este homem não pode ver assim. Pode ser um excelente exortador para pecadores, mas não tem alimento para os crentes”.  Resolvi não voltar ali para alimentar-me, pois não havia nenhum alimento nesse  lugar. Eu me dei conta que a luta se torna cada vez mais intensa; cada vitória sobre o pecado revela outro exército de tendências ao mal, e nunca posso embainhar minha espada, nem deixar de orar nem de vigiar.
Não posso avançar nem um centímetro no caminho sem orar por isso, nem manter o centímetro ganho sem estar vigilante e manter-me firme. Unicamente a graça pode preservar-me e aperfeiçoar-me. A velha natureza mataria a nova natureza se pudesse; e até este momento a única razão porque minha nova natureza não está morta é esta: porque não pode morrer. Se pudesse morrer, teria sido assassinada há muito tempo; mas Jesus disse: “Eu lhes dou a vida eterna”; “Quem crê em mim, tem vida eterna” e, portanto, o crente não pode morrer. A única religião que te salvará é uma que tu não podes abandonar, porque te possuiu, e jamais te abandonará. Se tu manténs uma doutrina a qual podes renunciar, renuncia a ela; mas se as doutrinas estão gravadas com fogo em ti enquanto vives, deves mantê-las, de tal maneira que se fosses queimado, cada cinza tua levaria essa mesma verdade, porque estás impregnado dessa verdade. Então encontraste a doutrina correta.
Não és um homem salvo a menos que Cristo tenha te salvado para sempre. Mas isso que te agarrou de tal maneira que sua pressão é sentida no centro de teu ser é o poder de Deus. Ter a Cristo vivendo em ti, e a verdade incrustada na tua natureza, oh, senhores, esta é a coisa que salva a alma, nada mais e nada menos. Está escrito no texto: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna”.
O que é esta vida senão uma vida que durará por setenta anos; uma vida que durará, se vives, mais de cem anos; uma vida que ainda florescerá quando descanses na boca da tumba; uma vida que permanecerá quando tenhas abandonado teu corpo, e esteja apodrecendo no túmulo, uma vida que continuará quando teu corpo seja levantado novamente, e estejas ante o trono do juízo de Cristo; uma vida que brilhará mais que essas estrelas e que aquele sol e a lua; uma vida que será da mesma duração que a vida do Pai Eterno?
Enquanto haja um Deus, o crente não somente existirá, senão que viverá. Enquanto exista um céu, tu o gozarás; enquanto Cristo exista, viverás em Seu amor; enquanto permaneça a eternidade, tu continuarás enchendo-a com deleite. Deus os abençoe e os ajude a crer em Jesus.
Amém





24 - O Amor do Senhor - Oseias 3:1

Servo de Deus, olha para todas as tuas experiências passadas e lembra-te da maneira como o Senhor teu Deus te guiou pelo deserto, como te alimentou e te vestiu a cada dia - como suportou os teus maus costumes -  como aguentou as tuas murmurações e todos os teus anseios pelas panelas de carne do Egito - como fendeu a rocha para te suprir, e te alimentou com o maná que veio do céu.
Lembra-te do quanto a graça do Senhor foi suficiente para ti em todas as tuas tribulações - de como o Seu sangue te perdoou de todos os teus pecados - de como a Sua vara e o Seu cajado te consolaram.
Quando assim tiveres te lembrado do amor do Senhor, deixa, então, que a tua fé sonde esse amor em relação ao futuro, para te lembrares de que a aliança e o sangue de Cristo possuem algo mais do que coisas passadas.
Aquele que te amou e te perdoou, jamais cessará de te amar e perdoar.
Ele é o Alfa e também será o Ômega: Ele é o primeiro e será o último. Por isso, quando passares pelo vale da sombra da morte, lembra-te de que não precisas temer o mal, pois Ele está contigo.
Quando atravessares as frias águas do Jordão, não precisas temer, pois a morte não te pode separar do amor do Senhor; e quando adentrares nos mistérios da eternidade, não precisas tremer, "Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor."
Ora, minh’alma, não está o teu amor revigorado? Isso não te faz amar a Jesus? Será que um vôo pelas campinas etéreas do amor não inflamam teu coração e não te constrangem a te deleitares no Senhor teu Deus?
Certamente, ao meditarmos no "amor do Senhor", nosso coração arde dentro de nós e nós ansiamos por amá-lO cada vez mais.

Charles Haddon Spurgeon






25 - “Eu voluntariamente os amarei” (Oseias 14.4)

Esta frase é um resumo da essência da teologia. Quem entende o seu significado é um teólogo, e quem consegue sondar a sua plenitude é um verdadeiro mestre em Israel.
Ela é uma condensação da maravilhosa mensagem da salvação que nos foi dada em Jesus Cristo, nosso Redentor.
O sentido repousa na palavra “voluntariamente”. Essa é a forma gloriosa, justa e divina pela qual o amor flui dos céus para a terra, um amor espontâneo jorrando sobre aqueles que não o mereceram, não o compraram e não o buscaram.
 Essa é, de fato, a única maneira pela qual Deus pode nos amar como nós somos.
O texto é um golpe mortal em todo tipo de adequação: “Eu voluntariamente os amarei”. Ora, se houvesse necessidade de alguma adequação em nós, então Ele não nos amaria voluntariamente; isso seria, no mínimo, minimizar e desvalorizar a gratuidade desse amor. Mas a afirmação permanece “Eu voluntariamente os amarei”.
Nós nos queixamos: “Senhor, meu coração é tão duro.” “Eu voluntariamente os amarei.” “Mas não sinto necessidade de Cristo como gostaria.” “Não o amarei porque você sente necessidade; Eu voluntariamente o amarei.” “Mas não consigo sentir aquele quebrantamento da alma que gostaria.” Lembre-se, o quebrantamento da alma não é uma condição, pois não há condições; a aliança da graça não tem qualquer condição, a fim de que, sem nenhum tipo de adequação, possamos nos aventurar nas promessas que  Deus nos fez em Cristo Jesus quando disse: “Aquele que nEle crer não será condenado.”
É uma bênção saber que a graça de Deus é livre para nós em todos os momentos, sem preparação, sem adequação, sem dinheiro e sem preço! “Eu voluntariamente os amarei”.
Estas palavras são um convite para os  infiéis: na realidade, o texto foi escrito especialmente para eles: “Eu curarei sua infidelidade; Eu voluntariamente os amarei.” Infiel! Certamente a generosidade da promessa quebrantará de uma vez por todas o seu coração, e você retornará, e buscará a face magoada do Pai.

Charles Haddon Spurgeon






26 - Amor Abundante

Por R C Sproul

Amor de Complacência

Eu sua magnífica biografia de Jonathan Edwards, George Marsden cita um trecho da Narrativa Pessoal, de Edwards: “Desde que cheguei a esta cidade [Northampton], eu tenho experimentado frequentemente uma doce complacência em Deus, em vista das suas gloriosas perfeições, e da excelência de Jesus Cristo. Deus têm se mostrado para mim um ser glorioso e fascinante, por conta de sua santidade. A santidade de Deus sempre me pareceu ser o mais adorável de todos os seus atributos” (p. 112).
Se nós considerarmos a linguagem de Edwards e a sua escolha das palavras para descrever seu deleite arrebatador na glória de Deus, observaremos sua ênfase na doçura, na graça e na excelência de Deus. Ele relata desfrutar de uma “doce complacência” em Deus. O que ele quer dizer? O termo complacência não é uma palavra que usamos para descrever certa presunção, um comodismo autoconfiante, um tipo de inércia indolente que resulta de um tipo superficial de satisfação? Talvez. Mas vemos aqui um exemplo claro de como as palavras mudam de significado com o passar do tempo.
O que Edwards queria expressar com uma “doce complacência” não tinha nada a ver com uma dose contemporânea de presunção, e sim com uma sensação de prazer. Esse “prazer” não deve ser entendido como uma crassa sensação hedonista ou sensual, mas um deleite naquilo que é supremamente agradável à alma.
As raízes desse significado de “complacência” têm origem no Oxford English Dictionary (vol. 3), onde o sentido principal é “o fato ou o estado de se agradar de alguma coisa ou pessoa; o plácido prazer ou a satisfação em algo ou alguém”. As referências citadas para esse uso vêm de John Milton, Richard Baxter, e J. Mason. Este último é citado: “Deus não pode ter complacência verdadeira em ninguém senão naqueles que são como ele”.
Eu insisto no uso mais antigo do inglês para a palavra complacência por ser ela usada de forma crucial na linguagem da teologia histórica e ortodoxa. Quando falamos do amor de Deus, fazemos uma distinção entre as três categorias desse amor: o amor de benevolência, o amor de beneficência e o amor de complacência. O motivo da distinção é atentarmos para as diferentes formas pelas quais Deus ama a todas as pessoas, em um sentido, e de forma especial a seu povo, os remidos.


O Amor de Benevolência

Benevolência é uma palavra derivada do prefixo latino bene, que significa “bem,” ou “bom,” e é a raiz da palavra vontade. As criaturas que exercitam a faculdade da vontade pela tomada de decisões são chamadas de criaturas volitivas. Ainda que Deus não seja uma criatura, ele é um ser volitivo à medida que tem também a capacidade de decisão.
Todos nós conhecemos bem o relato de Lucas do nascimento de Jesus, no qual o exército celestial louva a Deus, declarando: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens” (Lc 2.8-14, ARC). Ainda que se argumente que a bênção é dada aos homens de boa vontade, o significado principal é o mesmo. O amor de benevolência é a qualidade da boa vontade para com as pessoas. O Novo Testamento está repleto de referências da boa vontade de Deus para com toda a humanidade, mesmo em nossa condição caída. Apesar de satanás ser um ser malévolo (que fomenta má vontade para conosco e para com Deus), nunca se pode dizer devidamente de Deus que Ele é malévolo. Ele não tem malícia em sua pureza, nem malignidade em suas ações. Deus não se “deleita” na morte do ímpio — ainda que a decrete. Seus julgamentos sobre o mal estão fundamentados em Sua justiça, e não em alguma malícia distorcida em Seu caráter. Como um juiz terreno lamenta ao mandar o culpado para o castigo, Deus se alegra na justiça desse ato, mas não tem prazer nenhum na dor dos que são merecidamente punidos.
Esse amor de benevolência, ou boa vontade, se estende a todas as pessoas, sem distinção. Nesse sentido, Deus é amoroso até para com os condenados ao inferno.

O Amor de Beneficência

Este tipo de amor, o amor de beneficência, está intimamente relacionado ao amor de benevolência. A diferença entre benevolência e beneficência é a mesma que há entre a disposição e a ação. Eu posso me sentir favorável a alguém, mas a minha boa vontade continuará desconhecida até ou a menos que eu a manifeste por alguma ação. Nós frequentemente associamos beneficência com atos de bondade ou caridade. Notamos aqui que a própria palavra “caridade” é freqüentemente usada como sinônimo de amor. No sentido de beneficência, atos de bondade são atos do amor de beneficência.
Jesus enfatizou esse aspecto do amor de Deus no ensino a respeito daqueles que se beneficiam da providência de Deus: “Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão havereis?” (Mt 5.43ss. ARC).
Nessa passagem, Jesus prescreve a prática do amor para com os inimigos. Percebamos que esse amor não é definido em termos de sentimentos ardentes, vagos ou sanguíneos, mas em termos de comportamento. Neste contexto, amor é mais um verbo que um substantivo. Amar nossos inimigos é sermos amorosos para com eles. E isso envolve fazer-lhes o bem.
Sob esse aspecto, o amor que devemos demonstrar é um reflexo do amor de Deus para com seus inimigos. Àqueles que o odeiam e o maldizem, Ele mostra o amor de beneficência. A benevolência (boa vontade) de Deus é demonstrada em sua beneficência (ações benignas). Seu sol e chuva são concedidos igualmente ao justo e ao injusto.
Vemos então que o amor benevolente e o amor beneficente de Deus são universais. Eles se estendem a toda a humanidade.
Aqui, porém, está a principal diferença entre esses tipos de amor e o amor de complacência de Deus. Seu amor de complacência não é universal, nem incondicional. Tristemente, em nossos dias, o caráter glorioso desse tipo de amor divino é geralmente negado ou obscurecido por uma universalização coletiva do amor de Deus. Declarar indiscriminadamente às pessoas que Deus as ama “incondicionalmente” (sem distinguir com cuidado os tipos diferentes de amor divino) é promover uma falsa sensação de segurança nos ouvintes.
O amor de complacência de Deus é o deleite e o prazer especiais que Deus tem primeiramente em seu Filho unigênito. É Cristo o amado do Pai, acima de todos; Ele é o Filho em quem o Pai “se compraz.”
Pela adoção em Cristo, cada cristão participa desse divino amor de complacência. Esse é o amor desfrutado por Jacó, mas não por Esaú. Esse amor é reservado para os remidos em quem Deus se deleita – não porque haja algo inerentemente amável ou prazeroso em nós – mas porque estamos tão unidos a Cristo, o Amado do Pai, que o amor que o Pai tem pelo Filho é derramado sobre nós. O amor de Deus por nós é agradável e doce para Ele e para nós, como Jonathan Edwards compreendeu tão bem.






27 - Um Pai Amoroso

"15 Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na  eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o  espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.
16 Porque não contenderei para sempre, nem continuamente  me  indignarei; porque o espírito perante a minha face se desfaleceria, e as almas que eu fiz.
17 Pela iniqüidade da sua avareza me indignei, e o  feri;  escondi-me, e indignei-me; contudo, rebelde, seguiu o caminho  do  seu coração.
18 Eu vejo os seus caminhos, e o sararei, e o guiarei, e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que dentre eles choram.".

O propósito de Deus é o de reavivar o espírito do humilde,  e  o coração do arrependido (verso 15), e Ele apresenta a razão disto, a saber que se Ele não agisse com amor infinito e condescendência em relação a eles, mas lidasse com eles lhes dando a justa retribuição às suas transgressões, eles seriam totalmente  consumidos (verso 16).
Porém, na realização deste trabalho de cura, Ele tem que usar alguns remédios amargos para a recuperação  espiritual  deles.
Por causa da iniquidade da cobiça deles (verso 17)  que  era  a  sua principal doença, eles foram feridos pelo Senhor e Ele escondeu a Sua face deles, porque isto seria necessário para que fossem curados.
Mas como eles se comportaram debaixo deste procedimento de Deus em relação a eles?
Rebelaram-se  e  continuaram  seguindo  a perversidade do seu coração.
Então como faz este Consolador Santo para lidar agora com eles?
Ele os deixa entregues à sua enfermidade?
Ele os abandona?
Não, porque um pai amoroso não lidará assim com os seus filhos.
E a promessa feita por Deus é que Ele agiria conosco tal com um pai consolando seus filhos.
Ele  realizará  o Seu trabalho com tal amor infinito, ternura e compaixão, que isso superará todas as transgressões, e não cessará até que Ele  tenha efetivamente administrado a necessária consolação a eles  (verso 18).
Ele agirá nos termos da aliança que fez com eles por meio de Jesus Cristo de ser o Deus e Pai deles para sempre.
Então os corrigirá em amor para participarem da Sua santidade.
Ele  os  aperfeiçoará no Seu amor. E tudo fará para conduzi-los a isto.







28 - A Grandeza do Amor de Cristo

Por João Calvino

Sejais capazes de compreender (Ef 3.18,19).  Os efésios deveriam perceber a grandeza do amor de Cristo pelos homens. Tal apreensão ou entendimento emana da fé. Ao fazer de todos os santos seus companheiros, o apóstolo mostra que esse fato é a mais excelente bênção que se pode obter na presente vida, o que constitui a mais elevada sabedoria, a qual todos os filhos de Deus aspiram. O que vem a seguir é em si mesmo suficientemente claro, mas que até agora tem sido obscurecido por uma variada gama de interpretações. Agostinho é muito agradável com sua sutileza, a qual não tem nada a ver com o tema. Pois aqui ele busca não sei que mistério na figura da cruz - ele faz a largura ser o amor, a altura ser a esperança, o comprimento ser a paciência e a profundidade, a humildade. Toda essa sutileza nos agrada, mas o que tem isso a ver com o significado de Paulo? Não mais, certamente, do que a opinião de Ambrosio, que denota a forma de uma esfera. Pondo à parte os pontos de vista de outros, direi que todos haverão de reconhecer que tudo é simples e procedente.

Por essas dimensões, Paulo não quer dizer outra coisa senão o amor de Cristo, do qual fala mais adiante. O significado consiste nisto: aquele que conhece [o amor de Cristo] verdadeira e perfeitamente é, em todos os aspectos, um homem sábio. E como se dissesse: "Qualquer que seja a direção em que os homens olhem, nada encontrarão na doutrina da salvação que não esteja relacionado com o amor de Cristo." Ele possui em seu conteúdo todos os aspectos da sabedoria. O significado ficará ainda mais claro se o parafrasearmos assim: "Para que sejais capazes de compreender o amor que é o comprimento, a largura, a profundidade e a altura, isto é, a completa perfeição de nossa sabedoria." A metáfora é extraída da matemática, que das partes denota o todo. Quase todos os homens são contaminados com a doença mórbida que busca ansiosamente o conhecimento sem proveito. Portanto, a presente admoestação é muitíssimo oportuna: o que nos é indispensável saber, e o que o Senhor quer que contemplemos, acima e abaixo, à direita e à esquerda, adiante e atrás. O amor de Cristo persiste para que meditemos nele dia e noite e para que vivamos completamente imersos nele. Aquele que retém somente isso possui o suficiente. Além desse amor não existe nada sólido, nada proveitoso; em suma, nada que seja de fato justo ou saudável. Vagueie pelo céu, pela terra e pelo mar, e você jamais irá além disso sem ultrapassar os limites lícitos da sabedoria.

O qual excede todo o conhecimento. E assim que lemos alhures: "E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus" [Fp 4.7]. Para que o ser humano se aproxime de Deus, deve antes elevar-se acima de si próprio e do mundo. Eis a razão por que os sofistas recusam admitir que podemos sentir-nos seguros na graça de Deus. Pois eles avaliam a fé pela percepção [=apprehensione] dos sentidos humanos. Mas Paulo sustenta que esse conhecimento [=scientia] é superior a todo e qualquer conhecimento [=notitia], e com razão; pois, se as faculdades humanas pudessem alcançá-lo, a oração de Paulo, para que Deus o concedesse, teria sido dispensável. Lembremo-nos, pois, de que a certeza [proveniente] da fé é conhecimento [=scientia], mas que o mesmo é adquirido pelo ensinamento do Espírito Santo, e não pela acuidade de nosso próprio intelecto. Se o leitor deseja saber mais sobre essa questão, então consulte as Institutas [IIIii, parágrafos 14-16, 33-37].

Para que sejais cheios. Ele agora expressa, em uma só palavra, o que quis dizer através de diversas dimensões, ou seja: aquele que possui a Cristo, na verdade possui tudo quanto lhe seja necessário para a perfeição em Deus; pois é precisamente isso que a expressão - "a plenitude de Deus" - significa. O ser humano imagina que é em si mesmo completo, mas só porque se intumesce com matéria inútil ou com vento. Há alguns desvairados, perversos e ímpios, que interpretam "a plenitude de Deus" como sendo "plena divindade", como se o ser humano pudesse tornar-se igual a Deus.







29 - Citações do livro O Amor de Deus

Por John Gill

“O principal objeto do amor de Deus é Ele próprio. O amor-próprio está em todos os seres inteligentes; nem é desaconselhável, quando não é levado a um excesso criminal, e em detrimento dos outros; ninguém é obrigado a amar os outros mais do que a si mesmo, mas como a si mesmos (Mateus 22:39). Deus em primeiro lugar e principalmente, ama a Si mesmo; e, portanto, ele tem feito a Si mesmo, isto é, a Sua glória, o fim último de tudo que ele faz na natureza, providência e na graça (Provérbios 16:4; Romanos 11:36; Apocalipse 4:11; Efésios 1: 6) e sua felicidade está em contemplar a Si mesmo, Sua Natureza e Perfeições; e neste amor, a complacência e deleite que Ele tem em Si mesmo; Ele não precisa nem pode haver qualquer coisa fora de Si mesmo que possa adicionar algo à Sua felicidade essencial.”

“As três Pessoas Divinas na Divindade mutuamente se amam; o Pai ama o Filho e o Espírito, o Filho ama o Pai e o Espírito, e o Espírito ama o Pai e o Filho.”

“[...] ele tem um amor geral a todos os homens, pois eles são as Suas criaturas, a Sua descendência, e a obra de Suas mãos; Ele os auxilia, preserva-os, e dá as graças de Sua providência comum sobre eles, (Atos 17:28, 14:17, Mateus 5:45), mas ele tem um amor especial pelos homens eleitos em Cristo; que é chamado de seu “grande amor” (Efésios 2:4) que Ele escolheu e abençoou com todas as bênçãos espirituais nEle, (Efésios 1:3, 4), e este o amor é distinguidor e diferenciador (Malaquias 1:1-2; Romanos 9:11-12).”

“O amor do Filho de Deus aparece ao esposar as pessoas dos eleitos, esses filhos dos homens, em quem seus deleites estavam antes que o mundo existisse, (Provérbios 8:31; Oséias 2:19) em tornar-se a Sua garantia para o bem, assumindo a sua causa, se engajando em fazer a vontade de Deus com a alegria que ele fez; que era realizar a sua Salvação, (Salmo 40:6-8; Hebreus 7:22) em assumir sua natureza, na plenitude dos tempos, para redimi-los, operar uma justiça, e fazer sua reconciliação, (Gálatas 4:4-5; Romanos 8:3-4 ; Hebreus 2:14, 17), dando a Si mesmo em Sacrifício por eles; entregando a Sua vida por causa deles; e derramando seu sangue para a purificação de suas almas, e a remissão de seus pecados (Efésios 5:2, 25; Tito 2:14, 1 João 3:16, Apocalipse 1:5).”

“[...] amabilidade ou a beleza que está nos santos, é devida à justiça de Cristo, imputada a eles; esta é a beleza que é colocada sobre eles, na qual eles são feitos perfeitamente formosos; e com a Graça santificadora do Espírito, pela qual eles são todos gloriosos interiormente, e aparecem nas belezas da santidade; portanto tudo isso é fruto do amor de Deus, e não a causa disso.”

“Nem são as boas obras a causa deste amor; pois isso, pelo menos, em uma instância disto, foi antes do bem ou o mal ser feito, (Romanos 9:11, 12) e em outros casos, irrompeu em direção a eles, e veio sobre eles enquanto eles ainda estavam em seus pecados, e antes que eles fossem capazes de realizar boas obras, (Romanos 5:8, Tito 3:3-4; Efésios 2:2-4) e como pode isto ser pensado, que, das melhores obras dos homens que são tão impuras e imperfeitas chegando a ser consideradas como trapo da imundícia, que estas devem ser a causa do amor de Deus aos homens? Não, até mesmo a própria fé não é; isto „é dom de Deus‟, e flui do amor eletivo, e é um fruto e evidência dele (Efésios 2:8; Atos 13:48, Tito 1:1).”

“Deus ama os homens, e não porque eles têm fé; mas eles têm fé dada a eles, porque Deus os ama; é verdade, de fato, que sem fé é impossível agradar a Deus‟; isto é, fazer as coisas que são agradáveis à Sua vista; mas, então, as pessoas dos eleitos de Deus, podem ser, e são, agradáveis a Deus, em Cristo, antes da fé, e sem ela.”

“O amor de Deus é eterno, ele não começa no tempo, é sem começo, é desde a eternidade: isso é evidente a partir do amor de Deus a Cristo, que era, antes da fundação do mundo; e com o mesmo amor que ele O amava, ele amava o Seu povo também, e bem antes, (João 17:23-24) e de vários atos de amor a eles na eternidade; como a Eleição deles em Cristo, o que supõe Seu amor a eles, (Efésios 1:4) a Aliança da Graça feita com eles, na qual, as concessões da Graça e promessas de glória, foram feitas antes dos tempos dos séculos; e Cristo foi estabelecido como o Mediador da mesma desde a eternidade. Todas estas são fortes provas de amor a eles (2 Timóteo 1:9, Tito 1:2; Provérbios 8:22, 23.).”

“O amor de Deus é imutável, inalterável e invariável; é como ele, o mesmo hoje, ontem e para sempre‟, e, de fato, Deus é amor; e esta é a sua natureza; é o próprio; e, portanto, deve ser, sem qualquer variação, ou sombra de mudança.”

“[...] o dom do próprio Deus, na Aliança Eterna; o dom do Seu Filho para morrer por eles, quando em seus pecados; e o dom do Espírito Santo a eles, a fim de regenerar, vivificar e convertê-los; o próprio céu, a vida eterna, não é um dom maior do que estes; e ainda assim eles foram todos dados antes da conversão.”

“A conversão é uma mudança neles; os traz do poder de Satanás a Deus, das trevas à luz, da escravidão para a liberdade; da comunhão com homens maus para a comunhão com Deus, mas não faz mudança no amor de Deus; Deus muda suas dispensas e relacionamentos com eles, mas nunca muda o Seu Amor; às vezes ele repreende e os castiga, mas ainda assim Ele os ama; Ele às vezes esconde o rosto deles, mas seu amor continua o mesmo, (Salmo 89:29-33; Isaías 54:7-10) as manifestações de Seu Amor são várias; para alguns são maiores, para outros menores; e, assim, para as mesmas pessoas, em momentos diferentes; mas o amor em Seu próprio coração é invariável e imutável.”

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