sexta-feira, 23 de outubro de 2015

37) Dever 38) Devoção 39) Diligência

37) DEVER

ÍNDICE

1 - O Dever Completo do Homem
2 - O Dever de em Tudo Ser Criteriosos
3 - Quando o Querer e o Dever Não se Harmonizam



1 - O Dever Completo do Homem

“Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.” (I Pedro 2.4,5).


Quaisquer que sejam as disputas que possam ter sido levantadas em relação à natureza da fé salvadora, isto é aceito por todos os mais virtuosos cristãos, e é essencial para o caráter de um cristão. Estou pronto para professar, em conformidade com os grandes santos da igreja primitiva, de nossa própria igreja, e todos os protestantes, da Reforma e de muito tempo depois, que eu entendo por a dependência sobre a justiça e a morte de Cristo, como a plena satisfação da justiça de Deus para o pecado do mundo, na violação da sua lei, e o único fundamento de nossa aceitação para a recompensa da vida eterna. E se qualquer explicação sobre este ponto, agora tão ofensivo para muitos, deve ser exigida, a seguinte é humildemente submetida à consideração. O pecado é a transgressão da lei do Deus Altíssimo; e a lei, no momento em que é quebrada, nos sujeita à sua pena. Disto, a punição do primeiro pecado cometido pelo primeiro homem é o mais memorável exemplo, e está registrado no início da Bíblia como a perpétua e mais importante lição para instruir a humanidade, em um ponto do qual, de outra forma, teriam sido ignorantes, e que, não obstante a  forma solene em que ele está registrado, muitos estão aptos para ignorá-lo. Este fato deve ser particularmente observado, como projetado para nos dar uma visão clara da natureza de Deus e da natureza do pecado; e como sendo a chave para todas as descobertas posteriores das Escrituras. Porque, se o pecado de comer o fruto proibido não pôde ser perdoado, apesar de sua punição ter sido tão grande e em suas consequências, ter envolvido nele toda a descendência de Adão, podemos razoavelmente presumir que o pecado deve, em todos os casos, ter o mesmo aspecto aos olhos de um Deus imutável. "Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre". Todo o pecado, portanto, como um ato de desobediência e rebelião contra ele, deve ser o objeto de seu descontentamento em todos os momentos, e será para sempre separada dele toda a alma do homem, no qual ela se achar não perdoada. Se você não está disposto a admitir isso em relação à natureza do pecado e da natureza de Deus, como sendo contrário à idéia que você tem feito dele, e depreciando como você supõe a sua perfeição, então  é sua incumbência provar, em que época, ou período do mundo, em que dispensação, ou nova descoberta relativa à vontade de Deus, e em que parte da Bíblia você achou isto registrado: que Deus tenha revogado o decreto contra o pecado, e fez uma mudança na lei dada ao homem em sua criação, da vida para a obediência, e da morte em caso de transgressão. A Escritura, ao contrário, em perfeita harmonia em todos os seus livros, nos revela que na segunda promulgação da lei, Deus apareceu na mesma majestade e santidade, e com a mesma denúncia de ira contra os pecadores, como ele fizera no início: “Maldito é todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las." Nisto, deve ser observado que mais do que a morte física ficou necessariamente implícita a ameaça e maldição feita pela lei aos israelitas - porque isso era inevitavelmente a condenação de toda a humanidade; se eles obedecessem ou não - por isso, naturalmente, nos sugere que a primeira ameaça: "No dia em que tu comeres certamente morrerás ", era da mesma extensão, da segunda, e o seu significado foi precisamente determinado por isto. Nesta segunda frase, então, não há relaxamento da primeira. Não há qualquer declaração oposta sobre o caso de criminosos, nem a menor insinuação de qualquer mudança na vontade de Deus com respeito ao pecado. Na verdade, seria estranho se houvesse alguma; tal variação ou inconsistência no caráter de Deus declarada por si mesmo, seria um argumento de força muito maior contra a verdade da Bíblia do que qualquer outro que tenha sido alegado. O fato, então é certo: "O salário do pecado é a morte" e sempre será assim, enquanto Deus continuar o mesmo. O que ele publicou e declarou na doação de seu primeiro pacto universal para toda a humanidade, na pessoa de Adão, ele renovou e confirmou pela entrega da lei a Moisés, que, como Paulo observa, "foi adicionada por causa das transgressões" (Gál 3.19), para que a apostasia deles possa ser conhecida, e “para que a ofensa abundasse” (Rom 5.20), em sua pena e maldição para a morte, agora mais uma vez solenemente concedida contra qualquer ofensor e cada ofensa. Estas duas grandes manifestações da natureza e vontade de Deus, da hediondez e do grande mal do pecado, e da forma em que isto é tratado, é fartamente exemplificado nos julgamentos sobre os pecadores conforme registrado nas Escrituras. Muito impressionante e terrível verdade elas são, e aqui devemos cessar todo debate para sempre, a menos que quiséssemos carregar sobre nós, como muitos costumam presunçosamente fazer, a culpa do pecado das nossas próprias falsas noções nas quais, prescrevemos uma nova lei no lugar de Deus, para o alijarmos de sua soberania divina, para contestamos a sua sabedoria, e para destronamos a sua justiça. Mas deixe a razão do homem, curta como ela é, ser o juiz nesta causa. O decreto é somente um que procede do Todo-Poderoso, e não foi revogada a revelação que ele fez de si mesmo: "Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da lei, para fazê-las." Suponha agora por um momento que nós temos a  liberdade de alterar este decreto em questão, ou suprimir sua ameaça, fazendo provisão para um pecado. O que é este pecado? E, se para um, porque não para dois ou mais, e onde você vai parar? Se depois de tomar o direito de julgar a vontade de Deus, não haverá limite para você transgredir, não haverá temor disto, nenhum senso de bem ou de mal, nenhuma submissão ao governo e à autoridade de Deus, nenhuma obediência sobre a terra. A conclusão é evidente, se todos pecaram, todos serão levantados para a sentença de um Deus justo. A conveniência da aliança de reparação do evangelho da graça, em que a misericórdia e a verdade se reúnem, a justiça e a paz se beijam, e Deus é justo e justificador daquele que tem fé em Jesus, está aqui evidente: e a necessidade de dependência da justiça e morte de Cristo é demonstrada a partir do relato anterior sobre a justiça inalterável de Deus, e da culpa do pecado, sendo o mesmo em todas as épocas do mundo. Uma coisa é necessária: nós devemos ser declarados livres de culpa, e investidos com uma justiça que nos levantará perante a lei da perfeição sem pecado, e nos dará o direito ao reino do céu. E se não tivermos isto em nós mesmos, onde acharemos isto, senão apenas,  como existe na pessoa de Jesus Cristo? Dependemos portanto, desta justiça, como feita por ele para os crentes, e designada por Deus para os pecadores para nela confiarem, é a fé preciosa do Evangelho pela qual a alma é justificada diante de Deus. Como nenhum outro vai conciliar os atributos divinos, ou responder às exigências da humanidade, encerrada sob o pecado, e sempre pecadora; assim nada mais deve ser o fundamento da nossa esperança em Deus. Nenhuma obra. Ai de mim! Não temos nenhuma - Não que suporte ser pesada na balança de Deus, ou que responda às exigências de sua justiça. Olhe, para o que você considera ser a melhor ação de sua vida, ou a mais excelente graça de sua alma; faça disto a sua pedra de toque; examine isto pela regra justa dos mandamentos, considerados em toda a sua extensão espiritual e como afeta o coração e todos os seus movimentos. Na matéria ou forma, no princípio ou fim, esteja certo de que você encontrará alguma falha grave, e condenação, em vez de recompensa. Deixe o judicioso e piedoso Hooker ser ouvido sobre este assunto: "Se Deus (diz ele) deveria nos fazer uma oferta assim tão grande, pesquise em todas as gerações de homens, desde a queda do nosso primeiro pai Adão, encontre um homem que tenha feito uma ação, que tenha sido pura, sem qualquer mancha ou defeito em tudo; e se para esta única ação de um homem, nenhum homem ou anjo deixará de sentir os tormentos preparados para ambos: você acha que esta libertação de homens e anjos poderia ser encontrada entre os filhos dos homens?" Não, sinceramente. Isto foi recentemente adotado em nossa divindade, como se fosse a condição da graça da nova aliança, em oposição à lei da perfeita obediência. Mas isto não é mencionado como tal nas Escrituras. Assim, uma notável variação, em questão da maior importância, a partir de outras revelações  que Deus fez de si mesmo e dos termos de nossa aceitação por ele, tinha necessidade de ser distinta e expressamente apontada. Não é a nossa fé que justifica, (somos salvos pela graça, a nossa fé é imperfeita e não pode haver imperfeição na obra da justificação. Assim, a fé é apenas o meio e não o fim da justificação – nota do tradutor)  e muito menos as nossas obras, e nem mesmo consideradas em conjunto para a nossa justificação, podem ambas fazer uma reivindicação de aceitação; as obras porque, são confessadas terem a natureza do pecado, por aqueles que chamam a ajuda da fé para se livrarem da sua imperfeição, não pode ser admitida qualquer participação em nossa justificação, e devem ser excluídas da ideia disto, porque o assunto deve ser tratado inteiramente em outro ponto, e a grande dificuldade ainda deve ser removida. A justiça deve ser satisfeita, a lei deve ser cumprida, e em todos os nossos deveres o pecado se encontra misturado; e, a menos que se pudesse supor que a nova aliança é um relaxamento de cada exigência anterior, no que diz respeito ao julgamento de Deus do pecado, e que agora, nesta última era do mundo ele tem exibido a si mesmo com atuando sob uma dispensação de poder, e removendo o pecado de sua culpa, o nosso caso fica desesperado. Mas ainda é um perigoso expediente, injustificado pela razão ou pelas Escrituras; e nós , portanto, cremos que "Sendo justificados pela fé, temos paz com Deus através de Jesus Cristo nosso Senhor.", e que  por meio disto seremos libertados da maldição da lei, porque a justiça de Cristo satisfez a justiça divina pela sua obediência até à morte, e, para o louvor da glória de sua graça, é imputada aos pecadores para a salvação. Esta é a âncora da alma, segura e firme, a nossa segurança total contra todos os medos, nossa primeira e única justificação. A noção de uma segunda justificação está em oposição contra a verdade de Deus. Aqueles que adotam esta forma de pensamento não  consideram que a justiça de Deus ainda existe em todo o seu rigor, porque a natureza de Deus e a natureza do pecado permanecem  sempre o mesmo e, consequentemente, estaríamos perdidos para sempre, se a misericórdia do evangelho não se estendesse mais longe do que o primeiro benefício da remissão dos pecados, quando somos admitidos na aliança cristã. A fé não deve ser suspensa após o início da conversão, como uma coisa de nenhuma utilização posterior. "Somos justificados mediante a fé", sua utilidade não é para ser experimentada apenas uma vez, mas sempre; em cada passo de nosso progresso, na hora da morte, e no dia do julgamento; na esperança, conforto, obediência aqui, e no céu para sempre. Isto não significa que a fé tenha qualquer efeito em si mesma, ou que justifique meramente por uma obra ou nossa justiça própria. Não, ela consiste na negação do mérito de todas as obras, qualificações ou hábitos inerentes ao homem, e a essência do que é uma humilde submissão não fingida para como a justiça de Deus, como responsável ou dada a nós, e isto não vem de dívida, mas de graça. Isso pode fornecer uma resposta para aqueles que perguntam: Por que obras imperfeitas não podem justificar, bem como a fé imperfeita? Tenha como certo que uma não pode ser mais perfeita do que a outra. A razão disso é que a condição indispensável da justificação pelas obras, é a sua perfeição e, consequentemente uma reivindicação fundada sobre isto, ou deve ser compensada por uma obediência inteiramente sem pecado, ou então a esperança da salvação deve ser totalmente abandonada. Considerando que a fé, embora possa ser fraca e imperfeita, em vez de se exaltar contra a justiça de Deus, e se levantar diante dele com uma confiança de mentira, coloca tudo de si mesma, e atribui a Deus toda a glória pela nossa salvação. Parte inicial do prefácio do tratado escrito por Henry Venn sob o título: O Dever Completo do Homem, em domínio público, traduzida pelo Pr Silvio Dutra.







2 - O Dever de em Tudo Ser Criteriosos

“Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente.” (Rom 14.5)

Quanto a este conselho do apóstolo, muitos têm erroneamente pensado que aqui se trata de doutrina clara, diretamente definida na Palavra revelada de Deus.

Jamais, Paulo teria ousado proferir tal blasfêmia, a saber, que cada um definisse segundo sua própria interpretação da Bíblia, qual é a doutrina que lhe convém.

A doutrina revelada é absoluta e imutável.

O que está claramente em foco no contexto desta citação do apóstolo em Romanos 14, era a questão de preferências por hábitos não pecaminosos, para os quais cada um tem a liberdade de escolher o seu, sem que seja julgado por alguém de pensamento diferente.

Mas quando não se trata de doutrina revelada, ou de prática de coisas que ainda que não definidas na Bíblia como sendo pecaminosas, todavia, caso não estejam de acordo com o tom das Escrituras, e que não trazem consigo a aprovação do senso comum daqueles que estão santificados, e sobretudo da testificação do Espírito Santo, é evidente que estas coisas não são lícitas e deveriam ser abandonadas.

Acrescente-se a isto que ainda que fossem lícitas, todavia há que se considerar que nem tudo nos convém.

Há coisas que podem parecer inocentes na superfície trazem nelas o pecado subliminarmente embutido, e faríamos bem em nos preservar delas.

Neste particular, quanto cuidado se deve ter com a mídia secular, não somente impura em si mesma em quase sua totalidade, como também é engenhosamente planejada para explorar e incentivar o que há de pior na humanidade.

E quando estas coisas estão habitando juntamente conosco na casa do nosso coração, dificilmente nosso Senhor Jesus Cristo poderá achar boa acolhida em tais condições.    







3 - Quando o Querer e o Dever Não se Harmonizam

Por John Piper

Se o seu “querer” não se conforma com o “dever” estabelecido por Deus, o que você pode fazer para ter paz? Vejo pelo menos cinco estratégias possíveis.

Você pode evitar pensamentos sobre o “dever”. Esta é a estratégia mais comum no mundo. Muitas pessoas simplesmente não dedicam energia para considerar o que deveriam estar fazendo e não o estão fazendo. É mais fácil apenas deixar o rádio tocando.
Você pode reinterpretar o “dever”, para que este se pareça com o seu “querer”. Isto é um pouco mais sofisticado; portanto, não é muito comum. Geralmente exige uma educação especializada, para ser feito com credibilidade; ou, a graduação em um seminário pode fazer isso com requinte. (Eu acredito firmemente tanto na educação especializada como no seminário!)
Você pode reunir os poderes da sua vontade para realizar uma forma de “dever”, embora não tenha o “querer” em seu coração. Isso parece muito bom e, freqüentemente, é mal interpretado como uma virtude, até por aqueles que o fazem. De fato, há uma filosofia que diz: “O dever sem o querer é a essência da verdadeira virtude”. O problema desta filosofia é que Paulo disse: “Deus ama a quem dá com alegria” (2 Coríntios 9.7). Isso coloca os que contribuem por “dever” em uma situação precária.
Você pode sentir contrição pelo fato de que o seu “querer” é muito pequeno e frágil — como um grão de mostarda. Depois, se você tiver a capacidade, cumpre o “dever” pelo esforço da vontade, enquanto lamenta que seu “querer” seja fraco e ora para que este logo seja restaurado. Talvez este até seja restaurado enquanto você realiza o “dever”. Isto não é hipocrisia. A hipocrisia oculta a ausência do “querer” e finge que ele existe. A virtude confessa o desejo deficiente na esperança de que a graça perdoará e restaurará.
Por meio da graça, você pode buscar a Deus, para que Ele lhe dê o “querer”, de modo que, chegando o momento de cumprir o “dever”, você terá o “querer”. Em última instância, o “querer” é um dom de Deus. “A mente da carne é hostil para com Deus... e não é capaz de submeter-se à lei de Deus” (Romanos 8.7 — tradução do autor). “O homem natural não pode entender as coisas do Espírito de Deus... por que elas são apreciadas espiritualmente” (1 Coríntios 2.14 — tradução do autor). “Na expectativa de que Deus lhes conceda... o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade” (2 Timóteo 2.25).
A doutrina bíblica do pecado original se resume nisto (emprestado de Agostinho): Somos livres para fazer o que gostamos, mas não somos livres para gostar do que deveríamos gostar. “Pela desobediência de um só homem [Adão], muitos se tornaram pecadores” (Romanos 5.19). Esta é a nossa condição. E sabemos, com base em nosso próprio coração e nas Escrituras, que somos responsáveis pela corrupção de nosso “querer”. De fato, quanto melhor nos tornamos, tanto mais nos envergonhamos de sermos maus, e não apenas de fazermos o mal. Como disse N. P. Williams: “O homem comum pode sentir-se envergonhado de praticar o que é errado, mas o santo, capacitado com o aprimoramento superior de uma sensibilidade moral e poderes perspicazes de introspecção, se envergonha de ser o tipo de pessoa que está sujeito a praticar o que é errado” (citado em Edward Oakes, “Original Sin: A Disputation”, First Things, no 87, novembro de 1998, p. 24).
A obra soberana e espontânea de Deus em mudar o coração é a nossa única esperança. Portanto, temos de pedir-Lhe um novo coração. Temos de orar para que Ele nos dê o “querer” — “Inclina-me o coração aos teus testemunhos e não à cobiça” (Salmos 119.36). “Alegra a alma do teu servo, porque a ti, Senhor, elevo a minha alma” (Salmos 86.4). Deus prometeu fazer isto: “Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos” (Ezequiel 36.27). Isto é a nova aliança comprada com o sangue de Jesus (ver Hebreus 8.8-13; 9.15). “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4.16).















38) DEVOÇÃO

ÍNDICE

1 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap XI
2 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap V
3 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap IV
4 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap I
5 - A Melhor Escolha
6 - Os Que Agradam a Deus


1 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap XI

Mostrando como uma grande devoção encherá nossas vidas com a maior paz e felicidade que podem ser desfrutadas neste mundo.

Algumas pessoas talvez objetem que todas essas regras de vida santa diante de Deus em tudo o que fazemos, são uma grande restrição sobre a vida humana; e que também produzirão um estado ansioso,  por introduzirmos esta relação com Deus em todas as nossas ações. E que, por nos privar de tantos prazeres aparentemente inocentes, transformarão nossas vidas em algo sem graça, inquieto, e melancólico. A isso pode ser respondido:
Em primeiro lugar, que estas regras são prescritas para uma finalidade muito contrária a isto. Que em vez de tornar as nossas vidas maçantes e melancólicas, elas vão torná-las cheias de conteúdo e fortes satisfações. Que por essas regras, somente trocamos os nossos contentamentos infantis de nossas paixões vãs e doentias, por alegrias sólidas, e verdadeira felicidade de uma mente sã.
Em segundo lugar, que, assim como não há fundamento para o conforto nos prazeres da vida, mas na certeza de que um sábio e bom Deus governa o mundo, portanto, quanto mais descobrimos Deus em tudo, quanto mais nos aplicamos a ele em todos os lugares, mais nós olhamos para ele em todas as nossas ações, mais nos conformamos à sua vontade, mais agimos de acordo com a sua sabedoria, e imitamos a sua bondade, pois quanto mais podemos desfrutar de Deus, participamos da sua natureza divina, e aumentamos tudo o que é feliz e confortável na vida humana, porque acharemos na pessoa do próprio Deus o nosso consolo e alegria, que são imutáveis, porque Deus é imutável, diferentemente das alegrias mundanas.
Em terceiro lugar, aquele que está se esforçando para dominar, e erradicar de sua mente todas aquelas paixões de orgulho, inveja e ambição, às quais a religião se opõe, está fazendo mais para se fazer feliz, mesmo nesta vida, do que aqueles que estão maquinando meios para saciá-los.
Porque essas paixões são as causas de todas as inquietações e vexações da vida humana: são os edemas e febres de nossas mentes, que nos vexam com falsos apetites, e inquietam com ânsias por coisas que não necessitamos, e estragam o nosso gosto pelas coisas que nos são adequadas.
Imagine que você viu em algum lugar ou outro, um homem que propôs a razão como a regra de todas as suas ações, que não  tinha desejos senão pelas coisas como a natureza da religião requer e aprova, que era tão puro de todos os impulsos de orgulho, inveja e cobiça, assim como de pensamentos mórbidos, que nesta liberdade das paixões mundanas, ele tinha uma alma cheia de amor divino, desejando e orando para que todos os homens possam ter atendidas as suas necessidades das coisas do mundo, e ser participantes da glória eterna na vida por vir.
Imagine um homem que vive desta maneira, e sua própria consciência vai imediatamente lhe dizer que ele é o homem mais feliz no mundo, e que não está no poder da mais rica imaginação, inventar  alguma felicidade maior no presente estado de vida.
E, por outro lado, se você imaginar que ele seja em qualquer grau menos perfeito, se você supor que ele está se sujeitando a uma afeição tola ou paixão vã, sua própria consciência voltará a lhe dizer, que ele diminuiu sua própria felicidade, e se furtou da verdadeira alegria das suas demais virtudes. Tanto isto é verdade, que quanto mais vivemos pelas regras da religião, mais pacífica e feliz tornaremos nossas vidas.
Ainda, assim como isto aparece, a verdadeira felicidade está apenas em ser obtida de maiores graus de piedade, de maiores  negações de nossas paixões, e das regras mais rígidas da religião, de modo que a mesma verdade será vista em consideração à miséria humana, porque, se olharmos para o mundo, e visualizarmos as inquietações e angústias da vida do ser humano, veremos que todas elas são devido às nossas paixões violentas e irreligiosas.
Agora todos os problemas e mal-estar se baseiam na falta de uma coisa ou outra; que nós, portanto, para conhecermos a verdadeira causa de nossos problemas e inquietações, precisamos descobrir a causa do nossa necessidade, porque o que cria e multiplica nossas necessidades,  no mesmo grau cria e aumenta nossas preocupações e inquietações.
O Deus Todo-Poderoso nos enviou ao mundo com muito poucas necessidades; comida, bebida, e vestuário, são as únicas coisas  essenciais e necessárias para a manutenção da vida, e como estas são apenas as nossas necessidades atuais, assim o presente mundo está muito bem equipado para suprir essas necessidades.
Mas se a tudo isto se acrescentar, que esta vida curta, assim provida com tudo o que necessitamos na mesma, é apenas uma curta passagem para a eterna glória, em que seremos vestidos com o brilho dos anjos, e entraremos no gozo de Deus, poderíamos ainda mais razoavelmente esperar, que a vida humana deve ser de um estado de paz, e alegria, e prazer em Deus. Assim, certamente seria, se a boa razão tivesse seu poder total sobre nós.
Mas, infelizmente! se Deus, a natureza, e a razão, fazem portanto a vida  humana, livre de necessidades, e tão cheia de felicidade, ainda assim nossas paixões, em rebelião contra Deus, contra a natureza e a razão, criaram um novo mundo de males, e preencheram a vida humana com necessidades imaginárias, e inquietações vãs.
O homem orgulhoso tem mil necessidades, que somente o seu próprio orgulho criou, e estas o tornam tão cheio de problemas, como se Deus lhe houvesse criado com mil apetites, sem criar tudo o que fosse apropriado para satisfazê-los. Inveja e ambição têm também as suas necessidades sem fim, que inquietam as almas dos homens, e por seus impulsos contraditórios, os tornam tão estupidamente miseráveis, como aqueles que querem voar e rastejar ao mesmo tempo.
Se a humildade é a paz e descanso da alma, então ninguém tem tanta felicidade provinda da humildade, como aquele que é o mais humilde. Se a inveja excessiva é um tormento da alma, aquele que mais se livra deste tormento é o que mais perfeitamente extingue cada centelha de inveja. Se há alguma paz e alegria, em fazer qualquer ação de acordo com a vontade de Deus, aquele que traz a maior parte de suas ações para essa regra, mais do que todos aumenta a paz e a alegria de sua vida.
E assim se dá em relação a todas as virtudes, se você agir de acordo com cada grau da mesma, mais felicidade você terá a partir dela. E assim, de cada vício, se você apenas diminuir seus excessos, você faz, senão pouco por si mesmo,  mas se rejeitá-lo em todos os graus, então você sentirá a verdadeira leveza e alegria de uma mente reformada.
Como por exemplo: se a religião somente restringe os excessos de vingança, mas permite que o espírito de vingança ainda viva dentro de você, na melhor das hipóteses, a sua religião pode ter feito a sua vida um pouco mais decente exteriormente, mas não o fez em tudo mais feliz.
Mas se você tem uma vez sacrificado todos os pensamentos de vingança, em obediência a Deus, e está determinado em tornar o bem por todo o mal que tiver recebido, em todos os momentos, para poder se tornar mais semelhante a Deus, e para manifestar a sua misericórdia no reino de amor e glória, esta é uma elevada virtude, que fará você se sentir feliz.
Em segundo lugar, essas satisfações e prazeres, que uma piedade exaltada requer de nós por negarmos a nós mesmos, não nos privam de nenhum conforto real da vida.
Porque, primeiro, a Piedade não requer que renunciemos a qualquer modo de vida, onde podemos agir razoavelmente, e oferecer o que podemos fazer para a glória de Deus.
Todos os modos de vida, todas as satisfações e prazeres, que estão dentro destes limites, não nos são de modo algum negados pelas regras mais rigorosas da piedade. Tudo o que você pode fazer ou desfrutar, como na presença de Deus, como seu servo, como sua criatura racional, que tem recebido razão e do conhecimento dele, tudo o que você pode realizar em conformidade com a natureza racional, e com a vontade de Deus, tudo isso é permitido pelas leis da piedade. E você acha que a sua vida vai ser desconfortável, a menos que você possa desagradar a  Deus, sendo um tolo, e louco, e agindo de forma contrária à da razão e da sabedoria que ele implantou em você?
E quanto àquelas satisfações, que não se atrevem a oferecer um Deus santo, que somente são inventadas pela loucura e corrupção do mundo, que inflamam as paixões, e afundam as nossas almas em grosseria e sensualidade, e nos tornam incapazes do favor divino, seja aqui ou no futuro, certamente não pode ser nenhum estado desconfortável de vida que possa ser resgatado pela religião de tal suicida, e para ser tornado capaz da felicidade eterna.
Se a religião proíbe todas as formas de vingança, sem qualquer exceção, é porque toda vingança é da natureza do veneno, e embora não tomemos tanto a ponto de por fim à vida, ainda se tomamos algum, ele corrompe todo o sangue, e faz com que seja difícil sermos restaurados à nossa saúde anterior.
Se a religião ordena uma caridade universal, amar o nosso próximo como a nós mesmos, para perdoar e orar por todos os nossos inimigos sem qualquer reserva, é porque todos os graus de amor são graus de felicidade, que fortalecem e sustentam a vida divina da alma e são tão necessários à sua saúde e felicidade, como o alimento é apropriado e necessário para a saúde e felicidade do corpo.
Se a religião tem leis contra ajuntar tesouros na terra, e nos ordena a nos contentarmos com alimento e vestuário, é porque cada outro uso do mundo, está abusando disto para nossa própria vexação, e para transformar todas as suas conveniências em laços e armadilhas para nos destruir. É porque esta clareza e simplicidade de vida, nos protege das preocupações e dores de orgulho inquieto e de inveja, nos torna mais mansos para manter a estrada em linha reta, que vai nos levar para a vida eterna.
Se a religião nos chama a uma vida de vigilância e oração, é em razão de vivermos entre uma multidão de inimigos, e estamos sempre necessitados da ajuda de Deus. Se devemos confessar e lamentar nossos pecados, é porque tais confissões aliviam a mente e a restauram, como fardos e pesos que são retirados dos nossos ombros.
Se devemos ser constantes e fervorosos em petições santas, é para nos manter constantes na visão de nosso verdadeiro bem, e que nunca possa faltar a alegria de uma fé viva, uma esperança de regozijo, e uma bem fundamentada confiança em Deus.
Se a religião nos ordena a viver totalmente para Deus e para fazer tudo para a sua glória, é porque todos os outros modos de viver, estão totalmente contra nós mesmos, e terminarão em nossa própria vergonha e confusão de rosto.
Como tudo é escuro se Deus não iluminar, como todas as coisas são sem sentido, quanto não têm sua parcela de conhecimento dele; como nada vive, senão participando da vida dele, como nada existe, senão porque ele ordena que seja, por isso, não há glória, ou grandeza, senão o que é para a glória ou grandeza de Deus.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do décimo primeiro capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.






2 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap V

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do quinto capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, Geogre Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.

Pessoas que estão livres da necessidade de trabalhar em empregos específicos devem se considerar como devotadas a Deus em maior grau.

Grande parte do mundo está livre das necessidades de trabalhar em empregos, e têm o seu tempo e dinheiro à sua própria disposição.
Mas, como ninguém deve viver em seu trabalho de acordo com a sua própria vontade, ou para fins como o de agradar suas próprias extravagâncias, senão fazer todos os seus negócios de tal forma, como se fizesse um serviço para Deus, por isso aqueles que não têm emprego especial, estão muito longe de serem deixados em maior liberdade para viver para si mesmos, para satisfazer suas próprias vontades, e gastarem seu tempo e dinheiro no que quiserem, eles estão sob uma maior obrigação de viver totalmente para Deus em todas as suas ações.
A liberdade de sua condição os coloca numa maior necessidade de sempre escolher, e fazer as melhores coisas.
São aqueles, de quem muito será exigido, porque muito lhes é dado.
Um escravo só pode viver para Deus, de uma forma particular, isto é, pela paciência e submissão religiosa em seu estado de escravidão.
Mas todas as formas de vida santa, todas as instâncias, e todos os tipos de virtude, estão abertos para aqueles que são mestres de si mesmos, de seu tempo e dinheiro.
É portanto, o dever dessas pessoas, fazerem um uso sábio de sua liberdade, para se dedicarem a todos os tipos de virtudes, aspirarem a tudo o que é santo e piedoso, se esforçarem para serem eminentes em todas as boas obras, e para agradarem a Deus na forma mais elevada e mais perfeita; isto é seu dever, tanto serem sábias na condução de si mesmos, quanto ampliarem seus esforços por santidade, como é dever de um escravo se resignar a Deus em seu estado de escravidão.
Você não é um trabalhador, comerciante, nem soldado, considere-se, portanto, como sendo colocado numa condição, guardadas as devidas proporções, como a dos anjos bons, que são enviados para o mundo como espíritos ministradores, para o bem geral da humanidade, para ajudar, proteger e servir em favor daqueles que hão de herdar a salvação.
Como você está mais livre das necessidades comuns dos homens,  você deve imitar as perfeições mais elevadas de anjos.
Fosse você Serena, sendo obrigada pelas necessidades da vida, a lavar roupas para fora, para a sua manutenção, ou servir algum patrão que exigisse todo o seu trabalho, isto seria, então, o seu dever de servir e glorificar a Deus, por essa humildade, obediência e fidelidade, como para poder adornar essa condição de vida.
Deveria então ser recomendado ao seu cuidado, melhorar esse talento à sua maior altura. Para que quando chegasse a hora, que a humanidade deveria ser recompensada ​​por seu trabalho pelo grande Juiz dos vivos e dos mortos, você pudesse ser recebido com um “muito bem servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor.”
Mas, como Deus lhe deu cinco talentos, como ele colocou você acima das necessidades da vida, como ele o deixou nas mãos de si mesmo, na liberdade de escolher os meios mais exaltados e felizes da virtude, como ele lhe enriqueceu com muitos dons da fortuna, e não deixou nada para você fazer, senão  fazer o melhor uso da variedade de bênçãos, para tirar o máximo de uma vida curta, para operar a sua própria perfeição, para a honra de Deus, e para o bem do seu próximo; por isso agora é seu dever imitar os maiores servos de Deus, e saber como os santos mais eminentes viveram, e estudar todas as artes e métodos para a perfeição, e não estabelecer limites para o seu amor e gratidão ao Autor generoso de tantas bênçãos.
Agora, é seu dever transformar seus cinco talentos, em mais cinco, e considerar como o seu tempo, e lazer, e saúde, e dinheiro,  podem ser feitos meios felizes de purificar sua própria alma, melhorando seus semelhantes nos caminhos da virtude, e lhe conduzindo finalmente para as maiores alturas da glória eterna.
Deleite-se com o seu serviço, e implore a Deus para adorná-lo com cada graça e perfeição.
Alimente isto com boas obras, tenha paz na solidão, obtenha forças na oração, torne-se sábio com a leitura, ilumine-se por meditação, torne-se terno com amor, adoçado com humildade, humilhando-se com penitência, animando-se com salmos e hinos, e se confortando com reflexões frequentes sobre a glória futura. Mantenha-se na presença de Deus e aprendendo a imitar aqueles anjos guardiões, que apesar de participarem em assuntos humanos, bem como com os mais baixos da humanidade, sempre veem a face de  nosso Pai que está nos céus.
Isto, Serena, é a sua profissão. Porque tão certo como Deus é um só Deus, tão certo é que ele tem apenas um comando para toda a humanidade, sejam eles escravos ou livres, ricos ou pobres, e que devem atuar até a excelência da nova natureza que ele lhes deu, para viver pela razão, para andar na luz da religião, para usar tudo com sabedoria, para glorificar a Deus em todos os seus dons e dedicar todas as condições de vida a seu serviço.
Este é um comando único e comum de Deus para toda a humanidade. Se você tem um emprego, você deve ser, portanto, razoável, e piedoso, e santo, no exercício do mesmo, se você tiver tempo e dinheiro, você é obrigado a ser assim razoável, e santo, e piedoso, no uso de todo o seu tempo, e todo o seu dinheiro.
O uso religioso correto de tudo e de todos os talentos, é o dever indispensável de todo o ser, que é capaz de conhecer o certo e o errado.
Porque a razão pela qual devemos fazer alguma coisa, como que para Deus e no que diz respeito ao nosso dever, e sua relação com ele, é a mesma razão pela qual devemos fazer tudo para Deus, e tendo em conta o nosso dever, e sua relação com ele.
Esta que é uma razão para o nosso viver sábio e santo, no cumprimento de todos os nossos negócios, é a mesma razão de nosso viver sábio e santo no uso de todo o nosso dinheiro.
Como temos sempre as mesmas naturezas, e somos em todos os lugares servos do mesmo Deus, e como tudo é igualmente o seu dom, por isso devemos sempre agir de acordo com a razão de nossa natureza, devemos fazer todos as coisas como servos de Deus,  devemos viver em qualquer lugar, como em sua presença, devemos usar tudo, como deve ser usado como pertencente a Deus.
Se, portanto, algumas pessoas imaginam, que devem ser sérias e solenes na igreja, mas podem ser tolas e frenéticas em casa, que eles devem viver de acordo com alguma regra no domingo, mas podem gastar os outros dias ao acaso; que eles devem ter alguns momentos de oração, mas podem gastar o resto de seu tempo como bem entenderem, que eles devem dar algum dinheiro na caridade, mas podem desperdiçar o restante conforme lhes der na mente, essas pessoas não têm considerado adequadamente a natureza da religião, ou as verdadeiras razões da Piedade .
Porque aquilo que nos princípios da razão pode ser dito que é bom ser sábio e santo de espírito na Igreja, pode ser dito também que é sempre desejável ter a mesma condição em todos os outros locais.
Aquele que verdadeiramente sabe por que ele deveria gastar todo o tempo bem, sabe, que nunca é permissível jogar fora qualquer momento. Aquele que acertadamente entende a razoabilidade e  excelência da Caridade, saberá, que nunca pode ser desculpável perder qualquer parte do nosso dinheiro no orgulho e insensatez, ou em quaisquer despesas desnecessárias.
Porque cada argumento que mostra a sabedoria e excelência da Caridade, prova também a sabedoria de gastar todo o resto do nosso dinheiro. Todo argumento que comprova a sabedoria e razoabilidade de ter momentos de oração, mostra a sabedoria e a razoabilidade de não perder nenhuma parte do nosso tempo.
Se alguém pudesse provar que não precisamos sempre agir como na presença divina, que não precisamos considerar e usar tudo, como dom de Deus, que não precisamos viver sempre pela razão e fazer da Religião o fundamento de todas as nossas ações, os mesmos argumentos provariam, que nunca precisamos agir como que na presença de Deus, nem fazer da religião e da razão a medida de qualquer de nossas ações.
Se, portanto, temos que viver para Deus, em qualquer momento ou em qualquer lugar, devemos viver para ele em todos os momentos e em todos os lugares. Se devemos usar qualquer coisa como um dom de Deus, devemos usar tudo como seu dom. Se devemos fazer qualquer coisa por regras estritas da razão e piedade, devemos fazer tudo da mesma maneira. Porque razão, e sabedoria, e piedade, são as melhores coisas em todos os momentos e em todos os lugares, porque são as melhores coisas, em qualquer momento, ou em qualquer lugar.
Se é a nossa glória e felicidade ter uma natureza racional, que é dotada de sabedoria e razão, que é capaz de imitar a natureza divina, então deve ser a nossa glória e felicidade, melhorar a nossa razão e sabedoria, para atuar até a excelência da nossa natureza racional, e para imitar a Deus em todas as nossas ações, até o máximo do nosso poder. E os que confinam a Religião a tempos e lugares, e a algumas pequenas regras de reclusão, pensam que isto é muito estrito e rigoroso para trazer a religião à vida comum, e fazem disto leis para todas as suas ações e formas de vida, aqueles que pensam assim, não somente erram, mas confundem toda a natureza da religião. Porque, certamente, eles confundem toda a natureza da Religião, porque pensam que podem fazer qualquer parte de sua vida mais fácil, por ser livre dela. Deles pode muito bem ser dito que confundem a natureza de toda a sabedoria, porque não pensam que é desejável, ser sempre sábios. Aquele que não aprendeu a natureza da piedade, pensa muito pouco em ser piedoso em todas as suas ações. Aquele que não entende suficientemente qual é o motivo, não pode desejar sinceramente viver em tudo de acordo com isto.
Se tivéssemos uma religião que consistisse em superstições absurdas, que não levasse em conta a perfeição de nossa nova natureza, as pessoas poderiam bem estar contentes de ter alguma parte de sua vida para ser excluída da mesma.
Mas, como a Religião do Evangelho é o refinamento e elevação exaltação das nossas melhores faculdades, pela operação regeneradora e renovadora do Espírito Santo; uma vez que requer uma vida de maior razão, uma vez que somente nos obriga a usar deste mundo, pela razão pela qual deve ser usado, a viver em tal comportamento digno da glória de seres inteligentes, para andar em  sabedoria para a prática da piedade.
Além disso, como Deus é um só e o mesmo ser, sempre agindo como em si mesmo, em conformidade com a sua própria natureza, por isso é o dever de todo ser que ele criou à sua imagem e semelhança,  viver de acordo com a nova natureza que ele lhe deu, e sempre agir de acordo com a mesma.
Portanto, é uma lei imutável de Deus, que todo ser racional deve agir razoavelmente em todas as suas ações, não em determinado tempo ou lugar, mas em todas as ocasiões e em todos os lugares (Tanto que os que se opuserem a isto serão condenados por Deus a uma perdição eterna – nota do tradutor).
Esta é uma lei que é como a imutabilidade de Deus, e que nunca pode deixar de existir, tanto quanto Deus não pode deixar de ser o Deus de sabedoria e ordem.
Quando, pois, qualquer ser que é dotado de razão, faz uma coisa irrazoável, em qualquer momento, ou em qualquer lugar, ou na utilização de qualquer coisa, ele peca contra a grande lei da sua natureza, abusa de si mesmo, e peca contra Deus , o criador dessa natureza.
(Isto demonstra a condição de profunda miséria em que nos encontramos, naturalmente falando, em razão do pecado original, quando o homem deixou de fazer um uso adequado da razão, e do qual pode ser resgatado para a renovação da sua mente, apenas e exclusivamente pela graça de Jesus Cristo – nota do tradutor).
Aqueles, portanto, que defendem as indulgências ao pecado e vaidades, para qualquer modas tolas, costumes e comportamentos do mundo, se rebelam contra a própria natureza para a qual foram criados  (a de serem santos e perfeitos) e se rebelam portanto contra Deus, que nos deu razão para nenhum outro fim, senão a de fazê-la a regra e a medida de todos os nossos modos de vida.
Quando, pois, você é culpado de qualquer tolice ou extravagância, ou de qualquer comportamento vão, não o considere como uma questão pequena, porque pode parecer assim, se comparado a alguns outros pecados, mas o considere, como uma ação contrária à sua natureza, conforme o propósito de Deus relativo à mesma, e então você vai ver que não há nada pequeno, que não é razoável. Porque todas as formas irracionais são contrárias à natureza de todo ser racional, sejam homens ou anjos. Nenhum deles pode ser agradável a Deus, a menos que ajam de acordo com a a razão e a excelência de suas naturezas.
(O autor usa simplesmente a palavra natureza, mas temos usado a expressão nova natureza, em algumas partes, uma vez que é um claro ensino bíblico que a velha natureza está corrompida pelo pecado, e necessitamos de uma nova natureza, adquirida na conversão, pela fé em Cristo, e por ação do Espírito Santo, e esta sim, está perfeita em todas as suas partes, e necessita apenas ser desenvolvida, amadurecida – nota do tradutor).
Nosso bendito Salvador tem claramente voltado nossos pensamentos para este caminho, por fazer esta petição uma parte constante de todas as nossas orações: “Seja feita a tua vontade assim na terra como ela é feita no céu. Uma clara prova, que a obediência dos homens é imitar a obediência dos anjos, e que os seres racionais na Terra, devem viver para Deus, como os seres racionais no Céu que habitam com ele.
Quando, portanto, você imaginasse em sua mente, como os cristãos devem viver para Deus, e em que graus de sabedoria e santidade eles devem usar as coisas desta vida, você não deve olhar para o mundo, mas você deve olhar para Deus, e para a sociedade dos anjos, e pense que sabedoria e santidade se destinam a prepará-lo para tal estado de glória. Você deve olhar para os mais elevados preceitos do Evangelho, você deve examinar a si mesmo pelo espírito de Cristo, você deve pensar como os homens mais sábios no mundo viveram, você deve pensar como almas que partiram viveram, você deve pensar nos graus de sabedoria e santidade que você desejará ter quando você estiver saindo do mundo.
Ora, tudo isso não é alongar o assunto, ou propor a nós mesmos, qualquer perfeição desnecessária. É, senão quase o cumprimento do conselho do apóstolo, onde ele diz: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco.”, Fil 4.8,9.

Porque ninguém pode chegar perto da doutrina desta passagem, senão aquele que se propõe a si mesmo fazer tudo nesta vida como um servo de Deus, para viver pela razão, em tudo o que ele fizer, e para fazer da sabedoria e da santidade do Evangelho, a regra e a medida de seus desejos e ações, e de cada dom de Deus.







3 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap IV

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do quarto capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, Geogre Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.

Nós não podemos agradar a Deus em nenhum estado ou empenho de vida, senão por intenção e devoção de tudo fazer para sua honra e glória.

Tendo declarado no primeiro capítulo a natureza geral da devoção, e mostrado, que não implica qualquer forma de oração, mas uma certa forma de vida, que é oferecida a Deus, não em quaisquer  momentos ou lugares determinados, mas onde e em tudo que eu vou descer agora descer a alguns detalhes, e mostrar como devemos dedicar nosso labor, emprego, tempo e dinheiro para Deus.
Como um bom cristão deveria considerar todos os lugares como santos, por ser propriedade de Deus, então ele deve olhar para cada parte de sua vida como uma questão de santidade, porque é para ser oferecida a Deus.
A profissão de um clérigo, é uma profissão sagrada, porque é um ministério em coisas sagradas, para atender ao altar.
Mas o negócio do mundo deve ser feito santo ao Senhor, por ser feito como um serviço para ele, e em conformidade com a sua vontade divina.
Porque, assim como todos os homens e todas as coisas do mundo, pertencem de fato a Deus, como quaisquer lugares, coisas ou pessoas que se dedicam ao serviço divino, assim todas as coisas são para serem usadas​​, e todas as pessoas são para atuarem em seus diversos estados e empregos para a glória de Deus.
Os homens de negócios do mundo, portanto, não devem olhar para si como tendo liberdade de viver para si mesmos,  porque o seu trabalho é de uma natureza mundana. Mas deve-se considerar que, assim como o mundo e todas as profissões do mundo, pertencem a Deus, assim pessoas e coisas que são dedicados ao altar, e por isso é tanto o dever dos homens em negócios do mundo viver totalmente para Deus, como é o dever daqueles que se dedicam ao serviço divino.
Assim o mundo inteiro é de Deus, de modo que o mundo inteiro deve agir para Deus. Assim todos os homens têm a mesma relação com Deus, como todos os homens têm todos os seus poderes e faculdades de Deus, assim todos os homens são obrigados a agir para Deus, com todos os seus poderes e faculdades, e todos serão julgados pelo uso que deles fizerem.
Assim todas as coisas são de Deus, de modo que todas as coisas devem ser utilizadas e consideradas como pertencentes a Deus. Porque abusarem os homens das coisas na terra, e viverem para si próprios, é a mesma rebelião contra Deus, como os anjos abusaram das coisas no céu, porque Deus é o mesmo Senhor de todos na terra, como ele é o Senhor de todos no céu.
As coisas podem, e devem diferir no seu uso, mas ainda assim elas todas devem ser usadas de acordo com a vontade de Deus.
Os homens podem , e devem diferir em seus empregos, mas ainda assim todos eles devem agir para os mesmos fins, como servos obedientes de Deus, no desempenho correto e piedoso de seus diversos chamados.
Os clérigos devem viver totalmente para Deus, de uma forma particular, isto é, no exercício de cargos santos, no ministério da oração e da Palavra, e na ministração zelosa de boas obras espirituais.
Mas os homens de outros empregos, estão também em suas maneiras particulares obrigados a agir como servos de Deus, e viverem totalmente para ele em seus diversos chamados.
Esta é a única diferença entre clérigos e pessoas de outros chamados.
Quando isto puder ser visto, que os homens possam ser vaidosos, avarentos, sensuais, mundanos, ou orgulhosos, no exercício de seus negócios do mundo, então será permitido aos clérigos serem também indulgentes com o mesmo comportamento em sua profissão sagrada. Porque embora esse comportamento seja mais odioso e criminoso em clérigos, que além do seu voto batismal, têm se dedicado uma segunda vez a Deus, para serem seus servos, e não nos serviços comuns da vida humana, mas no serviço espiritual da maioria das coisas sagradas e santas, e que são, portanto, para manterem os mesmos como separados e diferentes da vida comum de outros homens, ainda que todos os cristãos são, por seu batismo dedicados a Deus, e professores de santidade, de modo que são todos eles chamados a viverem como pessoas santas; fazendo tudo na sua vida comum apenas em tal forma, para que isto possa ser recebido por Deus, como um serviço feito a ele. Porque as coisas espirituais e temporais, sagradas e  comuns, devem, tanto para homens quanto para anjos, tanto para o céu e para a terra, serem todas para a Glória de Deus.
Como há um só Deus e Pai de todos, cuja Glória dá luz e vida a tudo o que vive, cuja presença preenche todos os lugares, cujo poder suporta todos os seres, cuja providência domina todos os  acontecimentos, por isso tudo o que vive, seja no céu ou na terra, sejam tronos ou principados, homens ou anjos, devem todos com um só espírito, viver totalmente para o louvor e glória deste único Deus e Pai de todos. Anjos como anjos, em suas ministrações celestes, mas os homens como homens, as mulheres como mulheres, pastores como pastores, diáconos como diáconos; alguns com as coisas espirituais, e alguns com coisas temporais, oferecendo a Deus o sacrifício diário de uma vida sensata, com ações sábias, em corações purificados, e com afetos santos.
Este é o negócio comum de todas as pessoas neste mundo. Isto é não deixar que todas as mulheres do mundo gastem seu tempo nas loucuras e impertinências de uma vida moderna, nem a quaisquer homens se entregarem a preocupações mundanas. Isto é não deixar os ricos satisfazerem as suas paixões nas indulgências e na soberba da vida, nem quanto aos pobres,  para maltratar e atormentar seus corações com a pobreza de seu estado, mas homens e mulheres, ricos e pobres, devem, com os pastores e diáconos, andarem diante de Deus no mesmo espírito sábio e santo, na mesma negação de todos os temperamentos vãos, e na mesma disciplina e cuidado das almas, não somente porque todos eles têm a mesma natureza racional, e são servos do mesmo Deus, mas porque necessitam da mesma santidade, para lhes fazer aptos para a mesma felicidade, a que todos são chamados.
Por isso, é absolutamente necessário para todos os cristãos, quer homens ou mulheres, se considerarem como pessoas que são dedicadas à santidade, e assim ordenarem suas formas comuns de vida, por tais regras da razão e piedade, e assim possam transformar isto em contínuo serviço ao Deus Todo-Poderoso.
Agora, para fazer o nosso trabalho, ou empenho, um serviço aceitável a Deus, devemos conduzi-lo com o mesmo espírito e disposição, que são necessários para a doação de esmolas, ou qualquer obra de piedade, porque, quer comamos ou bebamos, ou façamos qualquer outra coisa, devemos fazer tudo para a glória de Deus, se quisermos usar este mundo como se não usássemos; se quisermos apresentar os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; se formos viver pela fé, e não por vista, e ter uma conversação santa, então é necessário, que a maneira comum de nossa vida em todos os estados, seja para glorificar a Deus. Porque, se nós somos de mente mundana em nossos empenhos, se eles forem realizados com desejos vãos, e avareza, apenas para nos satisfazer, não pode ser dito de nós que vivemos para a glória de Deus, mais do que os glutões e bêbados podem dizer, que comem e bebem para a glória de Deus.
Como a glória de Deus é uma e a mesma coisa, assim o que nós fazemos para ele, deve ser feito com um e o mesmo espírito.
Esse mesmo estado e temperamento de espírito, que torna nossa esmola e devoções aceitáveis​​, deve também fazer o nosso trabalho, ou empenhos, uma oferta adequada para Deus.
A maior parte dos empregos da vida são em sua própria natureza lícitos, e todos aqueles que são assim, podem ser feitos uma parte substancial do nosso dever para com Deus, se nos engajarmos neles somente para os fins apropriados para aqueles que devem viver acima do mundo, por todo o tempo que viverem nele. Esta é a única medida da nossa aplicação em qualquer negócio mundano, seja ele qual for, ou onde for, ele não deve ter mais de nossas mãos, de nossos corações, ou do nosso tempo, do que seja consistente com uma fervorosa preparação diária, cuidadosa de nós mesmos para uma outra vida. Porque, assim como todos os cristãos, como tais, têm renunciado a este mundo, para prepará-los por devoção diariamente, e santidade universal, para um eterno estado de outra natureza, eles devem olhar para os empenhos mundanos, como para necessidades mundanas, e enfermidades físicas; coisas não desejáveis, mas apenas para serem suportadas e sofridas, até que a morte e a ressurreição no conduzam a um estado eterno de real felicidade.
Ora, daquele que não olha para as coisas desta vida neste grau de pequenez, não pode ser dito quer sinta ou creia nas maiores verdades do cristianismo. Porque, se ele pensa que qualquer coisa é grande ou importante nos negócios humanos, não pode ser dito dele, que sinta ou creia naquelas Escrituras que representam esta vida, e as melhores coisas da vida, como bolhas, vapores, sonhos e sombras.
Se ele pensa que fama e glória mundana, são adequadas para a felicidade de um cristão, como pode ser dito dele que creia nesta doutrina: “Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, e quando vos expulsarem da sua companhia, e vos injuriarem, e  rejeitarem o vosso nome como mau por causa do Filho do Homem.”? Porque, certamente, se houvesse qualquer verdadeira felicidade na fama e glória mundana, se estas coisas merecessem nossos pensamentos e cuidado, não poderia ser assunto da mais alta alegria, quando somos arrancados deles por perseguições e sofrimentos? Se, portanto, um homem vai viver assim, como pode ser visto que ele crê nas doutrinas fundamentais do cristianismo, de que ele deve viver acima do mundo?
O lavrador que lavra a terra, é empregado em um negócio honesto, o qual é necessário à vida, e muito capaz de ser feito um serviço agradável a Deus.
Visões orgulhosas e desejos vãos, em nossas atividades seculares, são tão verdadeiros vícios e corrupções, quanto a hipocrisia na oração, ou orgulho nas esmolas.
 Aquele que trabalha e serve a um chamado, para que possa ser visto pelo mundo, e deslumbrar o olhar das pessoas com o esplendor de sua condição, está tão longe da humildade de um cristão piedoso, como aquele que dá esmolas para que possa ser visto pelos homens. Pela razão de que o orgulho e a vaidade em nossas orações e esmolas, as tornam um serviço inaceitável a Deus, não é porque haja alguma coisa especial em orações e esmolas, que não possam permitir o orgulho, mas porque o orgulho é, em nenhum aspecto, nem em nada, feito para o homem; ele destrói a piedade de nossas orações e esmolas, porque destrói a piedade de tudo o que ele toca, e torna cada ação que ele governa, incapaz de ser oferecida a Deus.
Assim que, se pudéssemos nos dividir deste modo, sendo humildes em alguns aspectos, e orgulhoso em outros, a humildade seria de nenhum serviço para nós, porque Deus exige que sejamos verdadeiramente humildes em todas as nossas ações e propósitos, como devemos ser verdadeiros e honestos em todas as nossas ações e propósitos.
E assim como um homem não é honesto e verdadeiro, porque ele é assim em relação a um grande número de pessoas, ou em várias ocasiões, mas porque a verdade e a honestidade é a medida de todas as suas relações com todos; de modo que o processo é o mesmo em relação à humildade, ou qualquer outra virtude, que deve ser o hábito norteador geral de nossas mentes, e estender-se a todos as nossas ações e projetos, antes que isto possa ser imputado a nós.
Nós, na verdade, por vezes, falamos, como se um homem pudesse ser humilde em algumas coisas, e orgulhoso em outras; humilde em suas vestes, mas orgulhoso de sua aprendizagem; humilde em sua pessoa, mas orgulhoso em seus pontos de vista e desígnios. Mas embora isso possa passar no discurso comum, onde poucas coisas são ditas de acordo com a verdade estrita, não pode ser permitido, quando examinamos a natureza de nossas ações.
É muito possível que um homem que vive de enganos, seja muito pontual em pagar o que ele compra, mas, então, todos percebem que não o faz por qualquer princípio de honestidade.
Portanto, assim como todos os tipos de desonestidade destroem nossas pretensões de um princípio honesto da mente, assim todos os tipos de orgulho destroem nossa pretensão de um espírito humilde.
Ninguém se surpreende que essas orações e esmolas, que procedem do orgulho e ostentação, são odiosas a Deus, mas ainda assim quão fácil é ver, que o orgulho é assim perdoado lá como em qualquer outro lugar, por pessoas que não fazem uma avaliação segundo a verdade.
Se pudéssemos supor que Deus rejeita o orgulho em nossas orações e esmolas, mas suportá-lo orgulho em nosso modo de vestir,  em nossas pessoas, ou posses, seria a mesma coisa que supor que Deus condena a falsidade em algumas ações, mas a permite em outras.
Ainda, se o orgulho e ostentação são tão odiosos, que destroem o mérito e valor das ações mais razoáveis​​, certamente devem ser igualmente odiosos nessas ações, que somente são fundadas na fraqueza e enfermidade de nossa natureza. Assim como esmolas são ordenadas por Deus, como excelentes em si mesmas, como verdadeiros casos de uma disposição santa, mas as roupas são permitidas somente para cobrir nossa vergonha, certamente, portanto, deve pelo menos ser tão odioso um grau de orgulho, de ser vaidoso em nossas roupas, como ser vaidoso em nossas esmolas.
Ainda, somos ordenados a orar sem cessar, como um meio de tornar nossas almas mais elevadas e santas, mas estamos empenhados em juntar tesouros sobre a terra, e podemos pensar que não é tão ruim, ser vaidoso desses tesouros, que juntamos, que consideramos  inúteis essas orações, que somos ordenados a fazer.
Todos estes casos são apenas para nos mostrar a grande necessidade de uma piedade regular e uniforme, se estendendo a todas as ações de nossa vida comum.
Agora, a única maneira de chegar a esta devoção de espírito, é trazer todas as suas ações para a mesma regra que as suas devoções e esmolas.

Você sabe muito bem o que é, que faz a piedade de suas esmolas ou devoções; agora as mesmas regras, a mesma relação a Deus, deve tornar tudo o mais que você faz, um serviço aceitável a ele.







4 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap I

Devoção não é nem oração privada nem pública, mas ambas são partes da devoção. Devoção significa uma vida consagrada, ou dedicada a Deus.
Devotado, portanto, é o homem que não vive para fazer a sua própria vontade, ou tendo a forma e o espírito do mundo, mas somente para a vontade de Deus, e que considera Deus em tudo, que o serve em tudo e que faz com que todas as partes de sua vida, sejam parte da piedade, por fazer tudo em nome de Deus, e sob as regras que são conformadas à Sua glória.
Nós prontamente reconhecemos que apenas Deus é a regra e a medida das nossas orações; para que nelas estejamos olhando completamente para ele, e agindo totalmente para ele, e de modo que tudo pelo que orarmos seja apropriado para a Sua glória.
Agora deixe que qualquer um descubra a razão pela qual ele  deve ser assim estritamente piedoso em suas orações, e ele vai encontrar a mesma e forte razão, para ser tão estritamente piedoso em todas as outras partes de sua vida.
Porque não há a menor razão, pela qual deveríamos fazer de Deus a regra e a medida de nossas orações, e orar de acordo com a sua vontade, e não fazer dele a regra e a medida de todas as outras ações de nossas vidas. Porque quaisquer formas de vida, e quaisquer empregos de nossos talentos, tempo, ou dinheiro, que não sejam estritamente concordes com a vontade de Deus, que não sejam para tais fins voltados para sua glória, são tão grandes absurdos e erros, como orações que não estão de acordo com a Sua vontade. Pois não há outra razão, pela qual nossas orações devem ser de acordo com a vontade de Deus, porque elas não devem ter nada em si, senão o que é sábio, e santo e celestial, não há outro motivo para isso, senão que as nossas vidas possam ser da mesma natureza, cheias da mesma sabedoria, santidade e ânimos celestiais, para que possamos viver para Deus no mesmo espírito com o qual oramos a ele. Se não fosse o nosso dever estrito viver pela razão, para se devotar todos os atos de nossas vidas a Deus, se não fosse absolutamente necessário andar diante dele em sabedoria e santidade e em conversação celestial, fazendo tudo em seu nome, e para a sua glória, não haveria excelência ou sabedoria nas orações mais celestiais. Não, tais orações seriam absurdas.
Tão certo, portanto, que haja alguma sabedoria na oração no Espírito de Deus, tão certo é que estamos fazendo com que o Espírito seja a regra de todas as nossas ações; assim como é nosso dever olhar totalmente para Deus em nossas orações, assim também é o nosso dever viver totalmente para Deus em nossas vidas. Mas não podemos dizer que vivemos para Deus, a menos que vivamos com ele em todas as ações ordinárias da nossa vida, a menos que ele seja a regra e a medida de todos os nossos caminhos. Assim como um modo de vida é incorreto, seja no trabalho ou na diversão, quando consome o nosso tempo e o nosso dinheiro, assim são descabidas e absurdas da mesma forma as orações que são verdadeiramente uma ofensa a Deus.
Por falta de conhecimento, ou pelo menos de considerar isso, é que nós vemos essa mistura de incoerência nas vidas de muitas pessoas. Você as verá participativas, algumas vezes nos lugares de devoção, mas quando o culto da Igreja termina, eles são, senão como aqueles que raramente ou nunca estiveram lá. Em seu modo de vida, sua maneira de gastar seu tempo e dinheiro, em seus cuidados e medos, em seus prazeres e indulgências, em seu trabalho e divertimentos, eles são como o resto do mundo. Isso faz com que boa parte do mundo, geralmente, faça uma pilhéria com aqueles que se dizem devotos, porque vêm que sua devoção não vai muito além de suas orações.
Júlio tem medo de faltar às reuniões de oração, e muitos pensam que ele ficaria doente caso não fosse à igreja. Mas se você lhe perguntasse por que ele passa o resto de seu tempo com chocarrices? por que ele é um companheiro de pessoas que em sua maioria são amantes de prazeres tolos? Por que ele está sempre pronto para cada entretenimento e diversão impertinentes? por que ele se dá a conversações de fofoca ociosa? por que ele se permite ter tolos ódios e ressentimentos contra as pessoas, sem considerar que deve amar a todos como a si mesmo? Se você perguntar por que ele nunca conversa sobre as verdades da Palavra de Deus, Júlio não terá o que responder, tanto quanto qualquer pessoa que viva impiamente. Porque todo o teor da Escritura repousa diretamente contra tal tipo vida, contra a luxúria e a intemperança: aquele que vive em tal curso de ociosidade e insensatez, não mais vive de acordo com a religião de Jesus Cristo, do que aquele que vive em glutonaria e intemperança.
Se alguém dissesse a Júlio que não havia razão para ser tão constante nas reuniões de oração, e que ele poderia, sem qualquer dano maior para si mesmo, abandonar o culto da Igreja, enquanto mantivesse tal comportamento, Júlio pensaria que tal pessoa não é cristã, e que ele deveria evitar sua companhia. Mas se uma pessoa somente lhe dissesse, que ele poderia viver como a maior parte das pessoas do mundo costumam fazer, satisfazendo seus desejos e paixões, Júlio nunca suspeitaria que tal pessoa não fosse cristã, ou que estivesse fazendo o trabalho do diabo.
E se Júlio fosse ler todo o Novo Testamento desde o início até ao fim, ele iria encontrar o seu modo de vida condenado em todas as páginas do mesmo.
E, de fato , não pode nem ser imaginado nada mais absurdo em si mesmo, do que orações sábias e sublimes e celestiais, somadas a uma vida de vaidade e loucura, onde nem trabalho, nem entretenimentos, nem tempo, nem dinheiro, estão sob a direção da sabedoria e dos ânimos celestes de nossas orações.
Se estivéssemos vendo um homem fingindo agir totalmente em conformidade com Deus em tudo o que fizesse, e ainda, ao mesmo tempo negligenciando totalmente a oração, tanto pública, quanto privada, não deveríamos estar espantados com tal homem, e nos maravilharmos de como ele podia ter tanto insensatez com tanta religião ao mesmo tempo?
No entanto, isto é assim razoável, como para qualquer pessoa que finja ser estrita em devoção, ter o cuidado de observar os tempos e lugares de oração, e ainda deixar o resto de sua vida, seu tempo e trabalho, seus talentos e dinheiro, serem eliminados sem qualquer respeito a uma rigorosa regra de piedade e devoção. Por isso é tão grande absurdo tais supostas orações santas e petições divinas sem santidade de vida que seja adequada a elas, como supor uma vida santa e divina sem orações.
O ponto da questão é este, tanto a Razão e a Religião prescrevem regras e propósitos para todas as ações ordinárias da nossa vida, ou então ambas não existem em nosso viver; mas se existirem, então é necessário governar todas as nossas ações por essas regras, assim como para adorarmos a Deus. Porque se a religião nos ensina alguma coisa a respeito de comer e beber, ou gastar nosso tempo e dinheiro, se ela nos ensina como devemos usar e desprezar o mundo, se ela nos diz qual o tipo de ânimo que devemos ter na vida comum, como devemos nos relacionar com todas as pessoas, como devemos nos comportar em relação aos enfermos, aos pobres, aos velhos e necessitados​​, se ela nos diz que como devemos tratar com nossos superiores, aos quais devemos  considerar com uma estima especial, se ela nos diz como devemos tratar nossos inimigos, e como devemos mortificar o pecado e negar a nós mesmos, deve ser muito fraco aquele que pode pensar que estas partes da religião não são para ser observadas com tanta exatidão, como quaisquer doutrinas que se relacionam às orações.
É muito observável , que não há um mandamento em todo o Evangelho para o Culto Público, e, talvez, este é um dever que é o menos insistido na Escritura do que qualquer outro. (Há uma citação em Hebreus quanto a não se ter o costume de não congregar, apesar de ser omitido o como e o quando – nota do tradutor). Enquanto que a Religião ou Devoção, que deve governar todas as ações ordinárias da nossa vida, pode ser encontrada em quase todos os versículo da Bíblia. Nosso bendito Salvador e seus apóstolos são totalmente absorvidos em doutrinas que se relacionam com a vida comum. Eles nos chamam a renunciar ao mundo, e diferem em toda a sua forma de vida, do espírito e do caminho do mundo.
Esta é a devoção comum que nosso Salvador ensina, a fim de torná-la a vida comum de todos os cristãos. Não é portanto, muito estranho, que as pessoas devam colocar tanta piedade no atendimento ao culto público, a respeito do qual não há um preceito preciso de nosso Senhor a seu respeito, e ainda negligenciarem esses deveres da nossa vida comum, que são ordenados em cada página do Evangelho? Eu chamo esses deveres de devoção de nossa vida comum, porque se eles devem ser praticados, devem ser feitos partes da nossa vida comum, pois eles não podem ser praticados em qualquer outro lugar, senão em nós mesmos.
Se o  desprezo do mundo e o afeto pela vida celestial, é uma condição necessária para o caráter cristão, é necessário que esse caráter apareça em todo o curso de suas vidas, em sua maneira de usar o mundo, porque ele não pode se manifestar em qualquer outro lugar.
Se a auto-negação deve ser uma condição da salvação, tudo o que deve ser salvo, deve tomar parte de sua vida comum. Se a humildade deve ser um dever cristão, então a vida comum de um cristão, é um curso  de constante humildade, em todos os seus tipos. Se a pobreza de espírito é necessária, este deve ser o espírito de cada dia de nossa vida. Se atender ao necessitado deve ser a caridade comum de nossas vidas, tanto quanto pudermos devemos nos tornar capazes de realizá-lo. Se devemos amar os nossos inimigos, nós temos que fazer a nossa vida comum ser de um exercício visível e demonstração desse amor. Se quisermos ser sábios e santos, como recém-nascidos filhos de Deus, não podemos ser assim sábios, senão renunciando a tudo o que é tolo e vão em todas as partes da nossa vida comum. Se devemos ser novas criaturas em Cristo, temos que mostrar que somos assim, por ter novas maneiras de viver no mundo. Se quisermos seguir a Cristo, isto deve ser nossa maneira comum de gastar todos os dias.
Mas ainda que seja assim, claro, que isso, e isso por si só é Cristianismo, uma prática uniforme aberta e visível de todas estas virtudes, ainda é muito claro, que há pouco ou nada disto para ser encontrado, mesmo entre o melhor tipo de pessoas. Você as vê muitas vezes na Igreja, e satisfeitas com pregadores refinados, mas olhe para suas vidas, e você as vê apenas como sendo o mesmo tipo de pessoas que as demais são, que não fazem nenhuma pretensa devoção. A diferença que você encontra entre eles, é apenas a diferença de seus temperamentos naturais. Eles têm o mesmo gosto do mundo, as mesmas preocupações mundanas e medos e alegrias, pois eles têm o mesmo tipo de mente, igualmente nulos em seus próprios desejos.
Você vê o mesmo orgulho e vaidade no modo de se vestir, o mesmo amor-próprio e indulgência, as mesmas amizades insensatas, e ódios infundados, a mesma superficialidade de espírito, o mesmo gosto por entretenimentos, as mesmas disposições ociosas e maneiras de gastar seu tempo em visitas e conversações vãs, como o resto do mundo, que não se interessa por qualquer tipo de devoção santa.
Não me refiro nesta comparação a pessoas aparentemente boas, e convictamente ímpias, mas entre pessoas de vidas sóbrias.
Tomemos um exemplo de duas mulheres modestas: suponhamos que uma delas é cuidadosa com os momentos de devoção, e que os observa  através de um senso de dever, e que a outra não tem qualquer preocupação saudável sobre isso, mas que frequenta a Igreja rara ou frequentemente. Agora é uma coisa muito fácil de ver qual é a diferença entre essas pessoas. Mas quando você tem visto isso, você pode encontrar qualquer outra diferença entre elas? você consegue achar que a sua vida comum é de um tipo diferente? Não são seus comportamentos e costumes diferentes? Elas vivem como se pertencessem a diferentes mundos, tendo pontos de vista diferentes em suas cabeças, e diferentes regras e medidas em todas as suas ações? Será que uma parece ser deste mundo, olhando para as coisas que são temporais, e a outra ser de outro mundo, olhando totalmente para as coisas que são eternas? Será que uma vive em prazeres, deleitando-se com as coisas mundanas, sem renunciar ao ego e sem mortificar o pecado? e que a outra considere a sua fortuna como um talento dado a ela por Deus, que deve ser melhorado religiosamente, e que não deve viver mais de modo vão.
Para o que você deve olhar, para encontrar uma pessoa religiosa diferindo, desta forma, de uma outra que não o seja? E, ainda, se elas não diferem nessas coisas que estão aqui relacionadas, pode ser afirmado em qualquer sentido, que um é um bom cristão, e o outro não?
Agora, ter noções e procedimentos corretos em relação a este mundo, é tão essencial para a religião, como ter noções corretas a respeito de Deus. E assim como é possível que um homem adore um crocodilo, e ainda ser um homem piedoso, a ponto de ter seus afetos definidos por este mundo, e ainda ser considerado um bom cristão. No entanto, se o cristianismo não tem mudou a mente e o temperamento de um homem com relação a essas coisas, o que podemos dizer que ele tem feito por ele?
Porque, se as doutrinas do Cristianismo fossem praticadas, eles iriam fazer um homem tão diferente das outras pessoas como de todos  os que são de disposições mundanas, e que vivem em prazeres sensuais, e na soberba da vida, como um homem sábio é diferente de um natural; seria algo muito fácil conhecer um cristão por seu modo de vida, como agora é tão difícil de encontrar alguém que viva assim. Pois é notório, que os cristãos são agora não apenas como os outros homens em suas  fraquezas, isso pode ser em algum grau desculpável, mas a queixa é, que eles são como pagãos em todas parte principais de suas vidas. Eles gostam do mundo, e vivem cada dia nas mesmas disposições, nos mesmos projetos, e indulgências, como fazem aqueles que não conhecem a Deus, nem esperam qualquer felicidade em outra vida.
Todos que são capazes de alguma reflexão, devem ter observado, que este é geralmente o estado mesmo de pessoas devotas, sejam homens ou mulheres. Você pode vê-los como sendo diferentes das outras pessoas, quanto aos momentos e lugares de oração, mas, geralmente, vivem como o resto do mundo, em todas as outras partes das suas vidas. Ou seja, com a adição de devoção cristã a uma vida pagã. Eu tenho a autoridade de nosso bendito Salvador pela sua observação, na qual ele diz: Não andeis ansiosos, se referindo ao que devemos comer, beber, ou vestir. Porque os gentios procuram todas estas coisas. Mas se estar preocupado até mesmo com as coisas necessárias à vida, mostra que ainda não somos de um espírito cristão, mas somos como os pagãos, certamente desfrutar da vaidade e loucura do mundo como eles fizeram,  como sendo os princípios governantes de nossas vidas, em amor ao ego e indulgência, em prazeres sensuais e diversões vãs, ou em quaisquer outras distinções mundanas, é um sinal muito grande de termos uma disposição pagã. E, conseqüentemente, aqueles que adicionam a devoção a uma vida assim, deve ser dito deles que oram como cristãos, mas vivem como pagãos.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do primeiro capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota.








5 - A Melhor Escolha

“Lucas 10:38  Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa.
Lucas 10:39 Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos.
Lucas 10:40 Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.”

Essa história é completa em si mesma. Cristo tinha feito o bem por todos os lugares que passava, sendo isto todo o seu objetivo e ofício. E agora a providência e o santo amor divino o direcionaram a estas duas mulheres, que lhe haviam recebido antes em seus corações, e agora em sua casa; e ele lhes preparou um banquete mais gracioso do que elas poderiam lhe dar.
Maria sentou-se aos pés de Jesus, sabendo que como de costume dos seus lábios sempre gotejava mirra preciosa em suas palavras graciosas, Cantares 5.13, e, portanto, ela se esqueceu de todas as demais coisas.
A partir da ida de Cristo a essas mulheres observe que onde Deus tem começado um trabalho da graça, ele não irá interrompê-lo, mas o aperfeiçoará até o dia do Senhor; e enviará os seus servos, os profetas, para efetuá-lo.
Isto deve nos encorajar a nos esforçarmos para crescer na comunhão uns com os outros, se professamos ser guiados pelo mesmo Espírito pelo qual Cristo foi guiado.
Os lábios do justo são agradáveis, e suas línguas são prata refinada. Às vezes, o pecado do homem faz com que a instrução seja inoportuna, e é lamentável lançar pérolas aos suínos, Mat 7.6.
Assim, para não priorizarmos outros interesses em relação à instrução que devemos buscar em Cristo, devemos aprender a escolher esta melhor parte, assim como Maria fizera no passado.
Para tanto, devemos lamentar a nossa apatia e pedir a Deus a influência espiritual, que pode nos tornar dispostos.
Não devemos impedir que os nossos afazeres cotidianos nos impeçam de ouvir a Cristo, tal como Marta fizera naquela ocasião.
Ela estava preocupado em servir, mas não estava disposta a dar atenção a Cristo, porque considerou mais importante continuar preparando a refeição.
"E Jesus, respondendo, disse-lhe: “Marta, Marta".
Estas e as palavras que se seguiram contêm uma reprovação a Marta. O Senhor a chamou gentilmente pelo seu próprio nome. Cristo viu nela uma mistura do bem com o mal, e portanto, repetiu o nome dela, antes de lhe dizer: “Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Luc 10.41,42).
É provável que Marta tenha se sobrecarregado com um peso maior do que ela poderia suportar. Ninguém lhe havia imposto aquele fardo, e muito menos Deus o faria, mas ela o tomou por sua própria escolha.
Então movida pelo orgulho teve a ousadia de repreender o próprio Senhor por julgá-lo como indiferente à sua aflição e não ter, segundo ela, sido sensível o bastante para repreender sua irmã Maria por estar Lhe ouvindo, para que ela o deixasse e fosse ajudá-la nos afazeres domésticos.
Ainda hoje, quantos irmãos em Cristo, especialmente irmãs, são tentados a se queixarem de Cristo por não terem tempo de ouvi-lo por causa de suas muitas tarefas domésticas e outros tipos de afazeres?
É preciso estar vigilante contra isto, porque Cristo não nos impede de darmos conta de nossas ocupações, ao contrário nos ordena isto, e nos fortalece e capacita para a sua realização, mas a Sua lei jamais mudará de que Deus e o Seu reino devem vir em primeiro lugar, em relação a tudo o mais.
A ansiedade apaga a fé, e sem fé é impossível agradar a Deus.
Por isso nosso Senhor primeiro repreendeu Marta para que pudesse depois instruí-la, dizendo-lhe que ela deveria como sua irmã Maria se esforçar para estar a Seus pés, porque somente uma coisa é necessária para agradarmos a Deus, que é esta de estarmos sempre ao seu dispor, amando-o acima de todas as demais coisas.
Se fizermos tudo neste mundo e se viermos a faltar nisto que é vital, somos a mais miserável de todas as criaturas, porque somente o ser humano tem uma alma para ganhar ou perder.
O que dará o homem em troca da sua alma?
De que vale ganhar o mundo inteiro e vir por fim a perder a alma?
Por isso nosso Senhor mostrou a Marta qual era a sua doença e por amor lhe ministrou o remédio adequado.
Antes de escrever este texto, ainda ontem eu meditava sobre o imenso valor que há em se ter o privilégio de se estar debaixo da instrução de ministros fiéis que pregam o verdadeiro evangelho de Jesus e que mantêm permanente comunhão com Deus. Eles são os portadores da riqueza de inestimável valor que é a Palavra pela qual somos gerados novas criaturas.
Eles nos dão acesso de graça e pela graça à maior graça que pode e deve ser alcançada para se ter vida eterna.
É portanto uma bem-aventurança poder frequentar as reuniões de oração e adoração onde Cristo é realmente exaltado, porque se tem ao alcance da mão o maior tesouro de todo o universo, o único capaz de enriquecer para sempre o nosso espírito, ressuscitando-o de entre os mortos para provar da vida do próprio Deus.
E enquanto Maria estava debaixo desta experiência, Marta estava ainda sem experimentá-la ou então se afastando da mesma por conta de sua visão que era carnal naquela ocasião.
Lembremos que todas as coisas pertencentes a este mundo e à vida que temos em nossa relação com ele, nos serão tiradas um dia, mas todas as coisas que temos recebido por meio da nossa fé em Jesus Cristo jamais poderão ser tiradas de nós, seja até mesmo pela morte, ou por poderes do inferno, ou por tribulações, angústias ou pelo que for, conforme nos ensina Paulo em Romanos 8.

“Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lucas 10.42)








6 - Os Que Agradam a Deus

Enquanto não conhecemos e não praticamos o modo de vida que Deus exige de nós, conforme se encontra revelado na Bíblia, não se pode dizer de nós que O amamos e que fazemos a Sua vontade.
Devemos lembrar que para se conhecer e se fazer a vontade de Deus é necessário que haja arrependimento e conversão a Jesus Cristo, porque sem o poder operante da Sua graça nada do que somos ou fazemos terá qualquer valor para Deus.
Necessitamos do Seu perdão da justificação e santificação que procedem unicamente da nossa fé e comunhão espiritual com Ele.
Um caminhar agradável a Deus demanda sobretudo um viver pelo poder da graça de Jesus quebrantando, instruindo, fortalecendo e purificando o nosso coração.
Sem a operação da graça é impossível cumprir os mandamentos de Deus e viver do modo que Lhe seja agradável.

Por isso Jesus afirma nas Escrituras que somente os que creem nEle e fazem parte do Seu rebanho, ouvem e entendem as Suas Palavras; que os Seus verdadeiros amigos são reconhecidos por guardarem os Seus mandamentos, e que é somente a estes que se revela por meio do Espírito Santo que neles habita.



39) DILIGÊNCIA

ÍNDICE

1 - Fazer Acordar em Vez de Dormir
2 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap III
3 - O Principal Objetivo em Nossa Vida
4 - Afasta de mim a falsidade e a mentira
5 - Esforço, Diligência e Empenho
6 - Não se Acomodando ao Mal
7 - Remindo o Tempo
8 - A Vida Cristã Deve Ser Ativa
9 - Abusando da Misericórdia de Cristo
10 - Manter a Chama Acesa
11 - Recebemos pela Graça mas Deve Ser Buscado
12 - Nem Ociosos e Nem Infrutíferos


1 - Fazer Acordar em Vez de Dormir

O fim vem.
E eu entreteria as pessoas com cantigas de ninar?
Fazendo cócegas em seus egos, dizendo-lhes que tudo vai bem com suas almas?
Que podem sentar, descansar e sossegar?
Certamente, se o fizesse, seria muito estimado.
Quem não gosta de elogio e de aplauso?
Todavia que falta de amor seria a minha, na verdade, uma grande crueldade, não alertar com as palavras da Bíblia o que Deus tem dito o que fará ao mundo por causa do pecado.
Ainda que me desprezem e fiquem contrariados, não posso deixar de dizer aquilo que é verdadeiro.
Não é fácil entender a Bíblia.
Conhecer realmente o que nela está contido.
Por isso, por amor, o Deus bendito, levanta muitos servos, servos mesmo, porque os escraviza para viverem para pregar a Bíblia.
Não sermões moralistas, e de conveniência pessoal, mas as promessas de justiça, de salvação, de juízo e de condenação que estão nela contidas.
Justiça e salvação para os que crerem.
Juízo de condenação para os que não crerem.
Mas crer em que ou em quem afinal?
Esta é a razão de não darmos descanso às nossas pálpebras, à nossa boca, e às nossas mãos, para semear esta Palavra bendita, que é a única na qual devemos crer e confiar, quando o assunto em pauta, se refere à salvação das nossas almas.







2 - Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap III

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do terceiro capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, Geogre Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.

Do grande erro e insensatez, de não tencionarmos ser mais eminentes e exemplares quanto possamos, na prática de todas as virtudes cristãs.

Apesar de a bondade de Deus e as suas ricas misericórdias em Cristo Jesus, serem uma garantia suficiente para nós, que ele será misericordioso para com as nossas inevitáveis fraquezas ​​e enfermidades, quando estas são causadas por ignorância ou por algo inesperado, no entanto, não temos nenhuma razão para esperar a mesma misericórdia para com aqueles pecados nos quais temos vivido, por falta de intenção de evitá-los.
Por exemplo, o caso de um blasfemo, que morre nessa culpa, parece não ter direito à misericórdia divina, porque ele não pode mais alegar qualquer fraqueza ou enfermidade como desculpa, do que o homem que escondeu o seu talento na terra, poderia se desculpar por sua falta de força para mantê-lo fora da terra.
Mas agora, se isto é o raciocínio certo, no caso de um blasfemo, que seu pecado não é para ser contado como uma fraqueza perdoável, porque ele não tem como desculpar tal fraqueza, por que então não levar esta forma de raciocínio para sua verdadeira dimensão? Por que não temos condenado tanto todos os outros erros da vida, para os quais não temos desculpas como no caso da blasfêmia?
Porque, se isto é uma coisa ruim, que pode ser evitada, se tivermos uma sincera intenção em fazê-lo, não devem, então, todos os demais modos de vida serem considerados culpados, se vivermos neles, não por meio de fraqueza e inabilidade, mas porque nunca sinceramente tencionamos evitá-los?
Por exemplo, você talvez não tenha feito nenhum progresso nas mais importantes virtudes cristãs, por ter parado no meio do caminho em humildade e caridade, agora se o seu fracasso nessas tarefas é puramente devido à sua falta de intenção de realizá-las em qualquer grau verdadeiro, você não está tanto sem desculpa quanto o blasfemo?
Por que, então, você não inculca essas coisas em sua consciência? Por que não pensa nisso como sendo perigoso para você viver em tais defeitos, assim como está em seu poder evitá-los, tanto quanto é perigoso para um blasfemo viver na violação desse dever, que está em seu poder observar? Não é a negligência, e a falta de uma intenção sincera em agradar a Deus, tão condenável em um caso, como no outro?
Você, pode estar, tão longe da perfeição cristã, como o blasfemo em relação a guardar o terceiro mandamento; você não está, portanto, tão  condenado pelas doutrinas do Evangelho, quanto o blasfemo pelo terceiro mandamento?
Você talvez dirá que todas as pessoas ficam aquém da perfeição do Evangelho, e, portanto, você está satisfeito com as suas falhas. Mas isso não responde ao propósito. Porque a questão não é se a perfeição do Evangelho pode ser plenamente alcançada, mas se você procura se aproximar dela, com uma intenção sincera, e inteligência cuidadosa para fazê-lo.
Se você está fazendo progresso na vida cristã, tanto quanto os seus melhores esforços possam lhe permitir, então você pode justamente esperar, que as suas imperfeições não serão lançadas em sua conta, mas se os seus defeitos em piedade, humildade e caridade, são devidos à sua negligência, e falta de intenção sincera, para ser mais eminente quanto possa nestas virtudes, então você se acha sem desculpa, como aquele que vive no pecado de blasfêmia, por causa da falta de uma intenção sincera de se afastar dele.
A salvação de nossas almas é apresentada nas Escrituras como uma coisa difícil, que exige toda a diligência, que deve ser trabalhada com temor e tremor.
Nos é dito que a porta é estreita, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. Que muitos são chamados, mas poucos escolhidos. E que muitos não acharão a salvação por não se esforçarem para entrar pela porta estreita.
Aqui nosso bendito Senhor nos ordena a nos esforçarmos para entrar, porque muitos irão falhar, porque somente procuram entrar mas não se esforçam para entrar. Por que nós somos claramente ensinados que a religião é um estado de trabalho e esforço, e que muitos não se salvarão porque eles não se esforçam e se importam o suficiente, pois somente procuram, mas não se esforçam para entrar.
Cada cristão, portanto, deve também analisar a sua vida por estas doutrinas, como pelos Mandamentos. Porque estas doutrinas são as marcas claras de nossa condição, assim como os mandamentos são as marcas claras do nosso dever.
Porque, se a salvação somente é dada para aqueles que se esforçam para isso, então é razoável considerar, se o meu curso de vida é um curso de luta para obtê-la, como considerar se eu tenho guardado  qualquer um dos mandamentos.
Se a minha religião é apenas um cumprimento formal daqueles modos de adoração, que estão na moda onde eu moro, se ela não me custa dores e tribulações, se ela não me coloca sob regras e restrições, se não tenho pensamentos cuidadosos e reflexões sóbrias sobre isto, não é grande fraqueza pensar que eu estou lutando para entrar pela porta estreita?
Se eu estou procurando tudo o que pode agradar os meus sentidos, e os meus apetites; gastar meu tempo e dinheiro em prazeres, em diversões e alegrias mundanas, e ser um estranho para vigílias, jejuns, orações e mortificações do pecado, como pode ser dito que eu estou trabalhando a minha salvação com temor e tremor?
Se não há nada na minha vida e conversação, que me mostre ser diferente dos pagãos, se eu uso o mundo, e os prazeres mundanos, como a maioria das pessoas fazem agora, e têm feito em todas as épocas, por que eu deveria pensar que eu estou entre aqueles poucos, que estão andando no caminho estreito para o céu?
E, ainda, se o caminho é estreito, se ninguém pode andar por ele, mas aqueles  que se esforçam, não é assim necessário para mim considerar, se o caminho em que eu estou é estreito o suficiente?
A soma desta questão é a seguinte: A partir do mencionado acima, e muitas outras passagens das Escrituras, parece claro, que a nossa salvação depende da sinceridade e da perfeição de nossos esforços para ser obtida e mantida. (A salvação é de fato obtida somente pela graça, mediante a fé, e não por nossas boas obras, mas é por um efetivo exercício na piedade que mantemos o nosso estado equivalente ao de todos aqueles que estão vivendo na condição que corresponde às características dos que estão desfrutando as virtudes do reino dos céus – nota do tradutor.)
Homens fracos e imperfeitos podem, apesar de suas fraquezas e defeitos, serem considerados, como tendo agradado a Deus, se eles têm feito o máximo para agradá-lo. (É reputado como tendo um coração puro neste mundo todos aqueles que se esforçam sinceramente em viver do modo que é ordenado por Deus nas Escrituras, porque estes, quando falham são cobertos por suas misericórdias e perdão – se confessarmos e deixarmos nos nossos pecados então o Senhor nos acolherá em comunhão com ele, mas se não andamos na luz não podemos ter tal comunhão com Deus e com os demais crentes que andam na luz – nota do tradutor).
As recompensas de caridade, piedade e humildade, serão dadas àqueles, cujas vidas têm tido um trabalho cuidadoso de exercer as virtudes num tão alto grau quanto possam.
Não podemos oferecer a Deus o serviço dos Anjos, não podemos lhe obedecer como o homem em um estado de perfeição poderia fazê-lo, mas os homens caídos podem fazer o seu melhor, e esta é a perfeição que se exige de nós; é apenas a perfeição dos nossos melhores  esforços, um trabalho cuidadoso para ser o mais perfeito possível.
Mas se pararmos aquém disto, por qualquer coisa que nós conhecemos, nós nos excluímos da misericórdia de Deus, e nada temos para pleitear nos termos do evangelho. Porque Deus não fez nenhuma promessa de misericórdia para o preguiçoso e negligente. Sua misericórdia é apenas oferecida para as nossas fraquezas e imperfeições, caso nos esforçamos para praticar todos os tipos de justiça.
A medida do nosso amor a Deus, na justiça parece ser a medida de nosso amor por todas as virtudes. Devemos amá-las e praticá-las com todo o nosso coração, com toda a alma, com toda a nossa mente, e com toda a nossa força. E quando deixamos de viver com essa observância à virtude, vivemos abaixo da nossa nova natureza, e em vez de sermos capazes de pleitear o perdão de nossas fraquezas, ficamos sujeitos à cobrança da nossa negligência.
É por esta razão que somos exortados a trabalhar a nossa salvação com temor e tremor; porque a menos que o nosso coração e paixões estejam ansiosamente inclinados para a obra da nossa salvação, a não ser que em nossos temores sejamos animados por  nossos esforços, e guardemos nossas consciências estritas e ternas sobre cada parte de nosso dever, constantemente examinando o modo como vivemos, há toda uma probabilidade de cairmos num estado de negligência, e nos acomodarmos em tal curso de vida, o qual nunca nos conduzirá às recompensas do céu.
E aquele que considera, que um Deus justo só pode fazer tais exigências como sendo adequadas à sua justiça, que todas as nossas obras devem ser examinadas por um fogo santo, achará o temor e o tremor que são apropriados para aqueles que estão perto de um  tão grande julgamento.
E, de fato, não há probabilidade de que alguém possa fazer todo o dever que se espera dele, ou faça progresso na piedade, na santidade e justiça que Deus requer dele, senão aquele que está constantemente com temor de ficar aquém disso.
Agora, não se pretende com isso, manter as mentes das pessoas com uma ansiedade escrupulosa, e descontentamento no serviço de Deus, mas para enchê-los apenas com um temor de viverem em preguiça e ócio, e na negligência de tais virtudes, pois eles irão faltar no dia do Juízo.
Isto é para estimulá-los a um exame sincero de suas vidas, para tal zelo, cuidado, e preocupação com a perfeição cristã, como eles usam em qualquer assunto que ganhou seu coração e afeições. (Nosso Senhor ordenou que devemos ser perfeitos assim como o Pai é perfeito – nota do tradutor)
Isto é apenas por desejar que eles sejam tão apreensivos quanto ao seu estado, sendo humildes na opinião de si mesmos, de modo sincero, tencionando atingir maiores graus de piedade, e assim virem a temer ficarem aquém da bem-aventurança, como o grande apóstolo Paulo, quando assim escreveu aos filipenses:
“Fil 3.12 Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.
Flp 3:13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,
Flp 3:14 prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
Flp 3:15 Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá.”
Mas agora, se o apóstolo considerou isto necessário para aqueles que estavam em seu estado de perfeição, a serem assim, de mente, isto é, aspirando por maiores graus de santidade, aos quais eles não haviam ainda chegado, com certeza é muito mais necessário para nós, que nascemos nos fins do tempo, e que trabalhamos sob grandes imperfeições, que nos esforcemos para atingir esses graus de uma vida santa e divina, que ainda não tenhamos alcançado.
A melhor maneira para que alguém saiba, o quanto ele deve aspirar pela santidade, é considerar, não o quanto ela vai tornar a sua vida presente fácil, mas indagar a si mesmo, o quanto ela  vai tornar fácil, a hora da morte.
Agora, qualquer homem que ousar ser tão sério, a ponto de colocar esta questão para si mesmo, será forçado a responder, que no momento da morte, todo mundo desejará que tivesse sido tão perfeito quanto pudesse ser.
Não é isto, portanto, suficiente, para nos fazer não somente desejosos, mas também trabalhar para a perfeição, de cuja falta lamentaremos? Não é excessivamente insensato, se contentar com tal curso de piedade, do qual já sabemos que não podemos nos contentar com ele, no momento em que necessitaremos dele, nada mais tendo para nos consolar? Como podemos trazer uma condenação mais severa contra nós mesmos, do que crer, que na hora da morte, nós teremos para nos assistir as virtudes dos Santos, e daqueles que foram servos de Deus, antes de nós, e ainda assim não nos empenharmos para chegarmos ao  auge da piedade deles, enquanto estamos vivos?
Embora seja um absurdo que podemos facilmente passar isto por alto no presente, enquanto a saúde de nossos corpos, as paixões de nossas mentes, o barulho, a pressa, e prazeres, e os negócios do mundo, nos levam a ter olhos que não veem, e ouvidos que não ouvem, no momento mesmo da morte, isto será fixado diante de nós numa magnitude terrível, e irá nos assombrar como um fantasma santo, e nossa consciência nunca permitirá que desviemos os nossos olhos dele.
Quando consideramos a morte como uma desgraça, somente pensamos na mesma como uma separação miserável dos prazeres desta vida. Nós raramente choramos por um homem velho que morre rico, mas lamentamos a perda dos jovens, que são levados quando progrediam em fazer fortuna.
Esta é a sabedoria de nossos principais pensamentos. E que loucura das crianças mais tolas é tão grande como esta?
Porque o que há de miserável ou terrível na morte, senão a consequência da mesma? Quando um homem está morto, o que pode qualquer coisa significar para ele, senão o estado no qual ele se encontra então?
Se eu estou indo agora para a alegria de Deus, poderia haver qualquer razão para lamentar, que isso aconteceu comigo antes que eu tivesse atingido quarenta anos de idade? Poderia ser uma coisa triste ir para o céu, antes que eu tivesse mais algumas pechinchas?
E se eu fosse contado entre os espíritos perdidos, poderia haver  alguma razão para estar contente, que isso não aconteceu comigo até que estivesse velho e cheio de riquezas?
Se os bons anjos estavam prontos para receberem a minha alma, poderia ser qualquer tristeza para mim, que eu estava morrendo em cima de uma cama de pobre num sótão?
E se Deus me entregou para os maus espíritos, para ser arrastado por eles para locais de tormentos, poderia haver qualquer conforto para mim, que eles me encontraram em cima de uma cama de ouro?
Quando você está tão perto da morte como eu estou, você sabe, que todos os diferentes estados da vida, seja da juventude ou da idade avançada, da riqueza ou da pobreza, da grandeza ou pequenez, nada mais significam para você, do que se você morresse em um apartamento pobre, ou imponente.
A grandeza das coisas que seguem a morte, faz tudo o que veio antes se afundar em nada.
Agora este julgamento é a próxima coisa que eu procuro, e sempre que a felicidade última, ou miséria é chegada tão perto de mim, todas as alegrias e prosperidades da vida parecem tão vazias e insignificantes, e nada mais têm a ver com a minha felicidade, do que as roupas que eu usava antes que eu pudesse falar.
Mas, meus amigos, como estou surpreso, que eu nem sempre tenho tido esses pensamentos? Porque o que há nos terrores da morte, nas vaidades da vida, ou nas necessidades da piedade, senão o que eu posso ter fácil e totalmente visto em qualquer parte da minha vida?
Que coisa estranha é, que um pouco de saúde, ou os pobres negócios de uma loja, deveriam nos manter tão insensíveis destas grandes coisas, que estão vindo rapidamente sobre nós!
Ó meus amigos! bendigam a Deus por vocês não serem desse número, que vocês tenham tempo e força para se empenharem em tais obras de piedade, que possam lhes trazer paz no final.
E guarde isso com você, que não há nada além de uma vida de grande piedade, ou uma morte de grande estupidez, que possa mantê-lo fora destas apreensões.
Nos negócios desta vida terrena eu usei de prudência e reflexão. Eu tenho feito tudo por regras e métodos. Eu tenho tido prazer em conversar com os homens de experiência e julgamento, para encontrar as razões pelas quais alguns fracassam, e outros têm sucesso em qualquer negócio. Eu não dei nenhum passo no comércio, senão com muito cuidado e prudência, considerando todas as vantagens ou os perigos envolvidos.
Eu sempre tive meu olho sobre o fim principal do negócio, e estudava  todas as formas e meios para ser um ganhador em tudo que empreendi.
Mas qual é a razão de não ter trazido nenhuma destas disposições para a religião? Qual é a razão que eu, que tenho até muitas vezes falado da necessidade de regras e métodos, e diligência nos negócios do mundo, nunca tenha pensado em todo esse tempo em quaisquer regras ou métodos, ou gerências, para me conduzirem numa vida de Piedade?
Você acha que qualquer coisa pode surpreender e confundir um homem como este na hora da morte? Que dor que você acha que um homem deve sentir, quando sua consciência coloca toda essa insensatez em sua conta, quando deveria ter se mostrado  regular, exato, e sábio, como tem sido em pequenas coisas, que já passaram como um sonho, e quão estúpida e insensivelmente ele tem vivido, sem reflexão, sem quaisquer regras, em coisas relativas à eternidade, como nenhum coração pode suficientemente concebê-las?
Se eu tivesse apenas minhas fragilidades e imperfeições para lamentar  neste momento da morte, eu deveria estar aqui humildemente confiando na misericórdia de Deus. Mas, infelizmente! Como posso chamar um desrespeito geral, e uma completa negligência de toda melhoria religiosa, de fragilidade ou imperfeição; quando estivera ao máximo ao meu alcance ter sido exato, prudente, e diligente num curso de piedade, como fui no negócio do meu comércio.
Eu poderia ter procurado ajuda, ter praticado o maior número de regras, e ser ensinado em tantos métodos corretos para uma vida santa, como fiz para prosperar em meu negócio do mundo, mas eu não  pretendi e desejei isso.
Oh meus amigos! uma vida descuidada, despreocupada e desatenta aos deveres da religião, é tão sem qualquer desculpa, tão indigna da misericórdia de Deus, como uma vergonha para o sentido e a razão de nossas mentes, que mal posso conceber uma punição maior, do que um homem ser lançado no estado em que eu estou, para refletir sobre ele.
Um penitente estava partindo aqui, mas tinha a boca paralisada por uma convulsão, que não permitiu que nada mais falasse. Ele convulsionou por cerca de doze horas, e, em seguida, entregou o espírito.
Agora, se cada leitor, imaginasse este penitente tendo algum conhecimento específico em relação à sua condição, e imaginasse que ele viu e ouviu tudo o que está aqui descrito, que estivera junto da sua cabeceira, quando seu pobre amigo estava em tal aflição e agonia, lamentando a insensatez de sua vida passada, iria, com toda a probabilidade,  ensinar-lhe tal sabedoria como nunca estivera antes em seu coração. Se para isso, ele considerasse quantas vezes ele próprio pode ter sido surpreendido no mesmo estado de negligência, e feito um exemplo para o resto do mundo, esta reflexão dupla, tanto sobre o sofrimento de seu amigo, e da bondade de Deus que, lhes tinha preservado disto, teria, muito provavelmente amolecido seu coração em santas disposições, e teria transformado o restante de sua vida em um curso regular de piedade.

Isto, portanto, sendo tão útil para a meditação, vou deixar o leitor aqui, como espero, seriamente engajado na mesma.






3 - O Principal Objetivo em Nossa Vida

“Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem;  mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa.” (I Cor 7.29-31)

O apóstolo Paulo chama a nossa atenção para o que é principal: “Irmãos, o tempo é curto", e, portanto, se ocupem com estas coisas como se vocês não as tivessem porque a aparência deste mundo passa. Esta é a razão pela qual ninguém, senão um verdadeiro cristão pode relacionar-se moderadamente com as coisas deste mundo. Por quê? Porque ninguém, senão um cristão fiel tem um objetivo principal que permeia toda a sua vida; ele busca o céu e a felicidade, porque isto estará com ele mais tarde e para toda a eternidade.
Por isso a sua fé permeia todos os assuntos: o casamento,  compras, o mundo. E não deve se importar com se entristecer ou se alegrar, porque há um grande e principal objetivo em vista.
Ele não será negligente na execução dos seus deveres, relativos ao casamento, ao uso do dinheiro, às suas funções neste mundo, procurando sempre, em tudo, fazer o melhor com a ajuda e a direção do Espírito Santo, todavia, sempre terá este sentimento de que o Reino de Deus e a sua justiça, sempre deve ocupar o lugar principal em sua mente, coração e ações.
Assim, não concentrará o principal de seus esforços em objetivos terrenos e passageiros, mas naqueles que se referem a Deus e às coisas espirituais e eternas, porque é isto o que lhe ordena o seu Senhor.
Ele sabe que o tempo é curto, e portanto, deve ser moderado em todas as coisas deste mundo.
O envolver-se em demasia com tudo o que respeita à vida que temos aqui embaixo conquista totalmente as nossas afeições por estas coisas, e não poderemos ter e manter o nosso amor a Deus acima de tudo e de todos, conforme é ordenado por Ele.
Se temos um afeto desmedido por qualquer coisa desta vida, faremos todo o empenho para não perdê-la, e ficaremos fatalmente imobilizados e desmotivados caso aconteça a perda, o que é de se supor, que aconteça mais cedo ou mais tarde.
Daí nosso Senhor ter afirmado tão categórica e expressamente: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14.33);  “Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preserva-la-á para a vida eterna.” (João 12.25);  “Quem ama  seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; (Mat 10.37).
Deus não consentirá que nosso afeto por Ele esteja em competição com qualquer outra coisa ou pessoa deste mundo.
Nada e ninguém deve ser motivo para que Ele não seja servido em primeiro lugar por nós. Nem bens terrenos, ou cônjuges, ou filhos, ou carreira, nem nossas tristezas, nem nossas alegrias, enfim, nada é nada.
De tudo cuidaremos com zelo e amor, mas não deixaremos de tributar a honra, o culto, o serviço que são devidos ao Senhor, antes de tudo o mais.
Sem este sentimento e prática de renúncia jamais poderemos servi-lo e amá-lo do modo pelo qual importa fazê-lo.
E há uma urgência no uso que fazemos de nossa vida aqui embaixo porque a vida é curta, e o tempo do nosso encontro com o Senhor é certo, e ele julgará todas as nossas obras.
E o que tivermos deixado de fazer para o Senhor não poderá ser recuperado, porque não poderemos voltar atrás e começar tudo de novo.








4 - Afasta de mim a falsidade e a mentira

 “Afasta de mim a falsidade e a mentira." (Provérbios 30.8)

" Não me desampares, SENHOR; Deus meu, não te ausentes de mim." (Salmo 38.21)

Aqui temos duas grandes lições – o que desaprovar e o que suplicar. O estado mais feliz de um cristão é o estado mais santificado. Assim como há maior calor quanto mais perto do sol, assim também há mais felicidade quanto mais próximo de Cristo. Nenhum cristão desfruta de conforto quando seus olhos estão fixados na vaidade - ele não encontra satisfação, a menos que sua alma seja vivificada nos caminhos de Deus. O mundo pode ganhar a felicidade em outro lugar, mas ele não pode. Eu não culpo os ímpios por correrem para os seus prazeres. Por que eu deveria? Deixe-os ter o seu prazer preenchido. Isso é tudo o que eles têm para desfrutar.
Os cristãos devem buscar os seus prazeres em uma esfera mais elevada do que as frivolidades insípidas ou prazeres pecaminosos do mundo. Atividades vãs são perigosas para as almas renovadas.
Temos ouvido falar de um filósofo que, enquanto olhava para as estrelas, caiu em um buraco; mas quão profundamente caem aqueles que olham para baixo. Sua queda é fatal.
Nenhum cristão está seguro quando a sua alma é preguiçosa ou indolente, e seu Deus está longe dele. Cada cristão está sempre seguro quanto à grande questão de sua posição em Cristo, mas ele não está seguro no que diz respeito à sua experiência em santidade, e comunhão com Jesus nesta vida.
Satanás não costuma atacar um cristão que está vivendo perto de Deus. Isto ocorre quando o cristão se afasta do seu Deus, torna-se espiritualmente faminto, e se esforça para se alimentar com vaidades, no que o diabo encontra a sua hora de vantagem. Ele às vezes pode se levantar pé a pé, com o filho de Deus que está ativo no serviço de seu Mestre, mas a batalha é geralmente curta: quem desliza como quem desce para o Vale da Humilhação, cada vez que ele dá um passo em falso, ele convida Apolion para atacá-lo. Ore por graça para caminhar humildemente com o nosso Deus!

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.








5 - Esforço, Diligência e Empenho

O Senhor é a força do seu povo porque é por se estar em comunhão com ele que recebemos graça sobre graça para sermos fortalecidos em Cristo Jesus.
É por se viver de modo agradável a Deus que somos fortificados por ele, de modo que se diz que a sua alegria é a nossa força.
Por natureza somos fracos para fazermos a vontade de Deus, de modo que devemos ser diligentes e nos esforçarmos para ser fortalecidos pela sua graça.
A vida cristã é uma guerra contínua e constituída de muitas batalhas contra o pecado, o diabo e o fascínio do mundo. As tentações se multiplicam ao nosso redor e no nosso próprio interior, através de nossos desejos pecaminosos, de modo que necessitamos estar continuamente revestidos pela graça para que possamos viver de modo vitorioso.
Isso não pode ser alcançado sem muita diligência em vigilância, oração, meditação na Palavra e busca da comunhão com aqueles aos quais fomos unidos pelo Espírito Santo para congregar e fazer a obra de Deus.
Em inúmeras passagens bíblicas observamos que a graça é concedida em conformidade com o nosso esforço, com o nosso empenho na obra de Deus.
Receberemos mais graça para que sejamos usados pelo Senhor.
E como a graça de hoje já não nos servirá amanhã, tal como o maná, necessitamos de renovados suprimentos diários de graça, e para tanto devemos buscá-la no Senhor cotidianamente através dos meios ordenados pela Palavra.
Temos da parte de Jesus o encargo de proclamar o evangelho em palavras ou através do testemunho pessoal de nossa vida santificada, e não podemos fazê-lo caso não estejamos fortificados na e pela graça.
Acrescente-se a isto que o testemunho e o conhecimento da Palavra são obtidos em graus cada vez maiores, pela nossa plena diligência, conforme dizer do apóstolo em II Pedro 1.5-7.
Como a nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra espíritos malignos chefiados por Satanás não teríamos força em nós mesmos para enfrentar as investidas que eles fazem contra nós, especialmente em razão de estarmos envolvidos com os interesses do reino de Deus.
Devemos sempre lembrar que não será jamais por qualquer boa obra nossa, nem sequer por uma miríade delas, que alcançamos o reino dos céus, uma vez que ele é obtido somente por graça e mediante a fé. Todavia, ao mesmo tempo, devemos lembrar que sem esforço de nossa parte não há conversão, nem santificação. Os que ficam apenas no desejo de serem salvos ou santificados e que não buscam diligentemente atender às condições necessárias para tanto (arrependimento, oração, quebrantamento, busca de Deus, confiança em Jesus, renúncia ao ego, a tradições vãs, a maus hábitos etc) jamais verão o seu simples desejo ser atendido por Deus.
O reino de Deus é para ser tomado e experimentado a partir da nossa vida aqui embaixo, e isto sempre ocorrerá por meio do nosso esforço em atender às condições estabelecidas na Palavra - quer para entrar nele pela conversão, quer para permanecer nele em vitória.
“Esforça-te; tem bom ânimo; persevera; fortifica-te; seja corajoso”; são notas dominantes nas Escrituras, e faríamos bem em atendê-las para termos sucesso na vida cristã.
Lembremos também que a maior evidência da nossa salvação é a perseverança (veja: a evidência, e não a causa). A graça verdadeira é ativa e nos manterá, portanto, em constante atividade espiritual na busca de santificação para sermos úteis na causa do Evangelho. Onde faltar portanto a diligência e a perseverança, pode ser devido à falta da verdadeira graça que salva, seja por inexistência, seja por esfriamento em razão de um viver espiritual negligente.

Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras 1 – apoude (grego) – diligência;
2 – philotimeomai (grego) - esforçar-se, lutar;
3 – agonizomai (grego) - esforçar-se a ponto de agonizar;
4 – endunamoo (grego) – fortalecer-se, fortificar-se;
5 – chazaq (hebraico) – esforçar-se, ser forte;
6 – oze (hebraico) – força; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/5391592








6 - Não se Acomodando ao Mal

Quando a Bíblia fala da condição caída do homem, e da impiedade que impera no mundo, não há nisto, em uma linha sequer das Escrituras, qualquer insinuação de que esta seja uma condição para ser acatada, de modo que nos justifiquemos ou descansemos em nossas más ações, que são a consequência da má natureza que temos, por ser decaída no pecado. Ao contrário, o registro é feito em forma de instrução e alerta, para que nos arrependamos e busquemos em Deus, pela fé em Cristo, um novo coração regenerado e renovado pelo poder do Espírito Santo, bem como um caminhar segundo as virtudes de Cristo em real novidade de vida.
O registro relativo ao pecado nas Escrituras é para que nos envergonhemos, nos entristeçamos e nos arrependamos desta nossa condição de miséria e morte espiritual, para que por meio da graça de Jesus possamos vencer tanto uma quanto outra, despojando-nos do velho homem pela mortificação contínua do pecado, pela Palavra e pelo poder do Espírito.
Deus fortalecerá os corações dos que praticam e amam a justiça, e os abençoará ricamente com toda a sorte de bênçãos espirituais, nas quais verão a Sua poderosa mão conduzindo-os em vitória sobre todas as investidas do Maligno, e lhes aperfeiçoando o caráter em graus cada vez maiores, de graça em graça e de fé em fé.

Você pode ler toda a Bíblia (Velho e Novo Testamento) com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:

E sermões, mensagens e estudos bíblicos, relacionados por ordem de assuntos em:


Pr Silvio Dutra








7 - Remindo o Tempo

Por Jonathan Edwards

Remindo tem mais relação com alguma coisa que tanto está perdida, ou que de alguma forma perdemos, ou que no mínimo está pronta para ser perdida, ou tomada de nós.
“Remindo o tempo porque os dias são maus”. Os dias sendo maus, vemos outros desperdiçando seu precioso tempo; mas você se esforçará para remi-lo?
O verso pode ter relação também com o desperdício de tempo no passado... ou pode dizer respeito ao grande perigo do tempo ser perdido, em razão do fato de os dias serem tão maus... se eles não tivessem um grande cuidado, o tempo se deslizaria de suas mãos, e eles não tirariam nenhum benefício dele... ou finalmente pode dizer respeito quanto à necessidade de remirmos o tempo dessas terríveis calamidades que Deus trará sobre os ímpios... o tempo pode ser remido como se ele fosse salvo da terrível destruição que quando vier, colocaria um fim à paciência de Deus.
O tempo é uma coisa que deveríamos ter em alto valor.

DOUTRINA: O TEMPO É UMA COISA EXCESSIVAMENTE PRECIOSA

Pelas seguinte razões:
1. Porque a eternidade depende do aproveitamento do tempo. As coisas são preciosas na proporção da sua importância, ou em razão do nível de relação com o nosso bem-estar. Isso faz com que o tempo seja um bem imensamente precioso, porque o interesse pelo nosso bem-estar, depende do aproveitamento do tempo. Ele é precioso porque o nosso bem-estar nesse mundo depende do seu aproveitamento. Ele é precioso porque se não o aproveitarmos, nós correremos o risco de atrairmos pobreza e desgraça... mas acima de tudo é importante porque a eternidade depende dele... de acordo com o nosso aproveitamento ou perda do nosso tempo, seremos felizes ou miseráveis na eternidade.
2. O tempo é muito curto, o que o torna muito precioso: a escassez de algum bem faz com que o homem coloque um grande valor sobre ele, especialmente se é uma coisa necessária de ser tida e sem a qual não pode viver... o tempo é tão curto, e o trabalho que temos a fazer é tão grande, que não podemos desperdiçar nenhuma parte dele. O trabalho que temos que fazer para nos prepararmos para a  eternidade deve ser feito no tempo, ou nunca será feito; e esta é um obra que envolve grande dificuldade e labor.
3. O tempo dever ser visto por nós como algo muito precioso... porque sua continuidade é incerta. Nós sabemos que ele é muito curto, mas não sabemos quão curto ele é. Nós não sabemos o quão pouco nos resta, se um ano, ou muitos anos, ou apenas um mês, ou uma semana, ou um dia. Não há nenhuma experiência que possa ser mais bem verificada do que essa.
Quanto mais muitos homens valorizariam seu tempo, se eles soubessem que tinham apenas uns poucos meses, ou uns poucos dias a mais nesse mundo; e certamente um homem sábio valorizaria seu tempo ainda mais... essa é a condição de milhares agora no mundo que agora gozam de saúde, e não vêem nenhum sinal do avanço da morte. Muitos, sem dúvida alguma, estão para morrer no próximo mês, e muitos morrerão essa semana, muitos morrerão amanhã e não sabem nada disso, e não pensam sobre isso. Quantos morreram fora dessa cidade num tempo ou outro, quando nem eles nem seus vizinhos viam nenhum sinal de morte uma semana antes. E provavelmente existem muitas pessoas agora aqui presentes, ouvindo o que eu digo agora, que vão morrer dentro de pouco tempo, e que não tem nenhuma percepção disso.
4. O tempo é precioso porque quando ele passa não pode ser recuperado... o que é bem aproveitado não é perdido; embora o tempo por si mesmo se vá, o seu benefício permanece conosco... cada parte do nosso tempo é como se fosse sucessivamente oferecida a nós, a fim de que possamos escolher se o faremos nosso o não. Mas se o recusamos, ele imediatamente é tomado, e nunca mais oferecido.
A eternidade depende do aproveitamento do tempo; mas quando o tempo de vida se vai, uma vez que a morte venha, nós não temos mais o que fazer com o tempo.

APROVEITAMENTO

Aplicação I. Auto-exame. Para levar as pessoas a considerarem o que fizeram com tempo. Quando Deus criou você e lhe deu uma alma racional, ele o fez para a eternidade; e lhe deu o tempo aqui a fim de prepará-lo para a eternidade. Considere o que você fez com o tempo passado. Existem muitos de vocês que podem muito bem concluir que metade do seu tempo já se foi... o seu sol já passou o meridiano... quando você olha para o passado da sua vida percebe que foi numa grande medida vazio...? Quanto pode ser feito em um ano? Para que propósito você gastou o seu tempo?
Aplicação II. Reprovação, para aqueles que desperdiçaram o seu tempo. A raça humana age como se o tempo fosse uma coisa que tivesse em grande quantidade, e tivesse mais do que precisa, e não sabe o que fazer com ele. Há muitas pessoas que deverão ser reprovadas com essa doutrina que eu agora vou particularmente mencionar:
Primeiro. Aquelas que gastaram grande quantidade do seu tempo em ociosidade... suas mãos recusam-se trabalhar; e em vez de trabalhar, eles deixam sua família sofrer e eles próprios sofrerão... muitos gastam grande parte do seu tempo... em ociosidade e conversa não proveitosa.
Segundo. São reprovados pela doutrina aqueles que gastam o seu tempo em trabalhos ímpios, que não apenas gastam o seu tempo fazendo nada para nenhum propósito bom, mas gastam o seu tempo em propósitos maus... eles ferem e matam a si mesmo com isso. Por isso, esses que tiveram a oportunidade de obter a vida, trabalham para a sua própria morte. Eles gastaram o seu tempo corrompendo e infectando as cidades e locais onde vivem... alguns gastaram muito do seu tempo em contendas... isso não é apenas perda de tempo, é a pior forma de abusar do tempo do que meramente desperdiçá-lo... eles não apenas desperdiçam o seu tempo, mas consomem o tempo de outros... eles contraíram aqueles hábitos pecaminosos que tomarão tempo deles para serem mortificados... o pecado é um grande devorador de tempo.
Terceiro. São reprovados por essa doutrina, aqueles que gastam seu tempo em apenas propósitos mundanos, negligenciando suas almas.
O tempo foi dado para a vida na eternidade. Foi designado como um tempo de provação para a eternidade... se os homens não aproveitam seu tempo para os propósitos da eternidade, eles o perdem.
Aplicação III. É uma exortação para aproveitarmos o tempo ao máximo.
Primeiro. Você é responsável diante de Deus pelo seu tempo. Tempo é um talento de Deus dado a nós. Ele estabeleceu o nosso dia, e esse dia não nos foi dado para nada – foi designado para algum trabalho.
Segundo. Considere quanto tempo você já perdeu... você deve aplicar a si mesmo o mais diligentemente possível para o aproveitamento da parte de tempo que lhe resta, para que você possa viver como se fosse para remir o tempo perdido.
1. Sua oportunidade agora é menor. O seu tempo por mais longo que seja é muito pequeno... e se o todo da sua vida é tão pequeno, quão pequeno é o que lhe resta.
2. Você tem o mesmo tipo de trabalho que tinha para fazer primeiro, e isso sob maiores dificuldades... não apenas o seu tempo para trabalhar se tornou menor, o seu trabalho se tornou maior.
3. Você perdeu o melhor do seu tempo. Não apenas se foi o melhor, e ainda assim todo o seu trabalho permanece; e não apenas isso, mas com mais dificuldades do que nunca. Que loucura é uma pessoa se entregar ao desencorajamento, assim como negligenciar o seu trabalho porque o seu tempo é muito curto? Deus o chama para se levantar, e se aplicar ao seu trabalho
Terceiro. Considere como muitos valorizam o tempo quando estão perto do fim da vida.
Quarto. Considere... aqueles que desperdiçaram todas as oportunidades para obterem a vida eterna, e foram para o inferno, que pensamentos você pensa que eles tem sobre a preciosidade do tempo?
Eu concluirei fazendo três advertências em particular.
1. Aproveite o seu tempo sem de nenhuma maneira atrasar.
2. Seja especialmente cuidadoso para aproveitar aquelas partes do tempo que são mais preciosas... o tempo santo é mais precioso do que o tempo comum. Esse tempo é mais precioso para o nosso eterno bem-estar. Portanto, acima de tudo, aproveite os seus domingos; e especialmente aproveite o tempo de adoração pública, que é a parte mais preciosa do tempo santo... o tempo de operações do Espírito de Deus é mais precioso do que qualquer outro tempo... esse é o tempo quando Deus está próximo... é o dia da salvação.
3. Aproveite seu tempo de lazer dos negócios mundanos... você pode proveitosamente gastar o seu tempo em conversação com pessoas santas sobre coisas das mais alta importância, em oração e meditação, e lendo livros proveitosos. Você precisa melhorar cada talento... e oportunidade ao máximo, enquanto o tempo ainda perdura.








8 - A Vida Cristã Deve Ser Ativa

Por João Calvino

Paulo diz: “Na diligência, não sejais remissos” – (Rm 12.11). Este preceito nos é comunicado não só porque a vida cristã deve ser ativa, mas também porque é próprio que às vezes desconsideremos nossas próprias vantagens e dediquemos nossos labores em prol de nossos irmãos; e nem sempre em prol daqueles que são bons, mas também em prol daqueles que se nos revelam ingratos e indignos. Em resumo, visto que devemos esquecer de nós mesmos na execução de muitos de nossos deveres, jamais estaremos adequadamente preparados para a obediência a Cristo, a menos que instemos conosco mesmos, esforçando-nos diligentemente por desprender-nos de toda a nossa indolência.

Ao acrescentar “fervoroso de espírito”, ele nos mostra como devemos firmar-nos ao preceito anterior. Nossa carne, à semelhança dos asnos, é perenemente indolente, e por isso carecemos de ser esporeados. Não há outro corretivo mais eficaz para nossa indolência do que o fervor do espírito. Portanto, a diligência em fazer o bem requer aquele zelo que o Espírito de Deus acendeu um nossos corações. Por que, pois, diria alguém, Paulo nos exorta a cultivar este fervor? Eis minha resposta: embora este zelo seja um do divino, estes deveres são destinados aos crentes a fim de que destruam sua indiferença e fomentem aquela chama que Deus lhes acendeu. Pois geralmente sucede que, ou abafamos, ou mesmos extinguimos o Espírito em razão de nossas próprias mazelas.

O terceiro conselho, “servindo ao tempo”, tem a mesma referência. Visto que o curso de nossa vida é por demais breve, nossa chance de fazer o bem tão logo passa. Devemos, pois, ser mais solícitos na realização de nossos deveres. Assim, Paulo, em outra passagem, nos convida a “remir o tempo”, visto que os dias são maus (Ef 5.16). O significado pode ser também que devemos saber como administrar nosso tempo, porquanto há grande necessidade de assim fazermos. Não obstante, Paulo, creio eu, está contrastando seu preceito entre servir o tempo e (servir) o ócio. A tradução em muitos manuscritos antigos é (kvpíw) – Hesito em rejeitar esta tradução completamente, embora à primeira vista não pareça relacionar-se ao contexto. Contudo, se ela é aceitável, creio que Paulo desejava relacionar o culto divino com os deveres que desempenhamos em favor de nossos irmãos e tudo quanto serve para fortalecer o amor, a fim de transmitir maior encorajamento aos crentes.








9 - Abusando da Misericórdia de Cristo

Por Richard Sibbes

E os melhores dentre nós podem cometer escândalo contra essa disposição misericordiosa, caso não estejamos vigilantes contra aquela liberdade que nossa disposição carnal estará pronta para dela tirar. Desse modo, arrazoamos, se Cristo não apagará o pavio que fumega, que necessidade temos de recear que qualquer negligência de nossa parte possa nos trazer para uma condição sem conforto? Se Cristo não apagará, o que poderá fazê-lo?

Tu conheces a interdição do apóstolo, qual seja, “não extingais o Espírito” (1 Tes 5.19). Tais cautelas para não apagar são santificadas pelo Espírito como meio de não apagar. Cristo desempenha seu ofício de não apagar excitando adequados esforços em nós; e ninguém há mais solícito no uso dos meios do que aqueles que estão mais certos de seu bom êxito.

A razão é esta: os meios que Deus reservou para o efetuar de qualquer coisa estão inclusos no propósito que ele tem de fazer aquilo se suceder. E isso é um princípio tido por certo, mesmo nas matérias civis; pois quem, se de  antemão soubesse que este seria um ano frutífero, penduraria pois seu arado e descuidaria da lavoura?

Por isso, o apóstolo estimula-nos a partir da expectativa certa de uma bênção (1 Co 15.57,58), e tal encorajamento, que parte do bom desfecho da vitória, é pensado para nos incitar, e não para nos dissuadir. Se formos negligentes no exercício da graça recebida e do uso dos meios prescritos, permitindo que nossos espíritos sejam oprimidos com muitos e variados cuidados desta vida, e não tivermos cuidado com os desencorajamentos momentâneos, em razão desse tipo de descuido, Deus, em seu sábio cuidado, permite que frequentemente caiamos em uma condição pior em nossos sentimentos do que aqueles que nunca foram tão iluminados. Todavia, em misericórdia ele não tolerará que sejamos tão inimigos de nós mesmos a ponto de inteiramente negligenciar essas faíscas uma vez acendidas. Caso fosse possível que devêssemos abandonar todo esforço em absoluto, então poderíamos procurar por não outro resultado senão apagar; porém, Cristo tomará o cuidado dessa fagulha e nutrirá essa sementinha, para que ele sempre preserve na alma algum grau de cuidado.

Se fizermos um confortador uso disso, devemos considerar todos aqueles meios pelos quais Cristo preserva a graça iniciada; tais como, primeiro, a santa comunhão, pela qual um cristão aquece outro. “Melhor é serem dois do que um” (Ec 4.9). “Não ardia em nós o nosso coração?”, disse os discípulos (Lucas 24.32). Em segundo lugar, muito mais comunhão com Deus nos santos deveres, tais como meditação e oração, que não apenas acende como agrega um lustre à alma. Em terceiro lugar, sentimos por experiência o sopro do Espírito ir junto com o de seus ministros. Por essa razão o apóstolo entrelaça esses dois versículos em um: “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias” (1 Ts 5.19,20). Natã, por poucas palavras, assoprou as centelhas que definhavam em Davi. Em vez de Deus aceitar que seu fogo em nós se extinga, ele enviará algum Natã ou outro, e algo é sempre deixado em nós para juntar com a Palavra, desde que da mesma natureza dela; como um carvão que tem fogo em si rapidamente ajunta mais fogo para si. O pavio que fumega facilmente pegará fogo.

Em  quarto lugar, a graça é fortalecida pelo seu exercício: “Levanta-te, pois, e faze a obra, e o Senhor seja contigo” (1 Cr 22.16), disse Davi a seu filho Salomão. Estimula a graça que está em ti, pois desse modo santas moções viram resoluções, resoluções, prática, e prática, uma preparada prontidão para toda boa obra.

Não obstante, que lembremos que a graça é aumentada, no seu exercício, não em virtude do exercício em si, mas por Cristo, que, pelo seu Espírito, flui na alma e nos traz mais próximos de si próprio, a fonte, assim instilando tal conforto que o coração é mais adiante dilatado. O coração de um cristão é o jardim de Cristo, e suas graças são como tantas doces especiarias e flores as quais, quando seu Espírito sopra sobre elas, emitem um aroma agradável. Portanto, mantenha a alma aberta para acolher o  Espírito Santo, pois ele introduzirá continuamente forças adicionais para vencer a corrupção, e isso, sobretudo, no dia do Senhor. João estava no Espírito no dia do Senhor, precisamente em Patmos, o lugar de seu banimento (Ap 1.10). Então, os golpes de vento do Espírito soprarão de modo mais forte e meigo.

Como vimos, portanto, para o consolo dessa doutrina, que não favoreçamos nossa preguiça natural, mas antes nos exercitemos na piedade (1 Tm 4.7), e labutemos para manter esse fogo sempre queimando sobre o altar de nossos corações. Que preparemos nossas lâmpadas diariamente, e ponhamos dentro óleo novo, e alcemos nossas almas mais e mais alto ainda.

Descansar em uma boa condição é contrário à graça, que não pode senão promover a si para uma medida ainda maior. Que ninguém torne essa graça “em lascívia” (Judas 4). As fraquezas são uma razão de humildade, não uma justificativa à negligência nem um encorajamento à presunção. Longe estejamos de sermos maus, pois que Cristo é bom para que aquelas brasas de amor nos derretam. Logo, aqueles em quem a consideração de tal ternura de Cristo não opera dessa forma bem podem suspeitar de si próprios. Certamente, onde a graça está, a corrupção é “como vinagre para os dentes, como fumo para os olhos” (Pv 10.26). E, por conseguinte, eles labutarão, considerando o seu próprio conforto e, da mesma forma, o mérito da religião e a glória de Deus, para que a luz deles possa irromper. Se uma centelha de fé e amor é tão preciosa, que honra será ser rico em fé! Quem não prefere antes andar na luz, e nos confortos do Espírito Santo, a viver em um estado sombrio, confuso? E a velejar a todo pano para o céu a ser agitado sempre com medos e dúvidas? A presente dificuldade no conflito contra um pecado não é tanta quanto aquela perturbação que qualquer corrupção favorecida trará sobre nós posteriormente. A paz verdadeira está em conquistar, não em se entregar. O conforto tencionado neste texto é para aqueles que querem fazer melhor, porém, descobrem que suas corrupções os obstruem; que estão em uma tal bruma, que amiúde não podem dizer o que pensar de si mesmos; que querem acreditar e, todavia, com frequência temem que não acreditam; e que pensam que não pode ser que Deus seja tão bom para miseráveis tais como eles, e, contudo, não permitem tais receios e dúvidas em si próprios.








10 - Manter a Chama Acesa

Quando a dispensação da Lei - ou Velho Testamento, foi inaugurada nos dias de Moisés, os serviços de culto no tabernáculo começaram depois que veio fogo diretamente do céu, e acendeu a lenha que se encontrava sobre o altar dos holocaustos, cabendo dali por diante, aos sacerdotes, manterem aquele fogo aceso continuamente.
De igual modo, quando a dispensação da Graça - ou Novo Testamento, foi inaugurada por nosso Senhor Jesus Cristo, veio o fogo do Espírito Santo, desde o céu, não para queimar alguma lenha, senão para purificar e encher de poder os próprios discípulos do Senhor, que estariam encarregados, dali por diante, em propagar a mensagem do evangelho.
A incumbência de manter este fogo do Espírito aceso na Terra, mais especificamente nos corações dos servos do Senhor, não foi dada aos anjos, mas aos próprios crentes.
Eles não devem permitir que o fogo do Espírito Santo seja apagado em suas vidas e na Igreja, e a "lenha", o combustível, que o manterá aceso é a meditação e prática da Palavra de Deus, aplicada às suas vidas pelo Espírito Santo.
A Palavra do evangelho não foi produzida na Terra, mas nos veio diretamente por uma revelação do céu, por meio do Senhor Jesus Cristo.
Assim a vida espiritual que há nos discípulos do Senhor, se move neles pelo Espírito Santo, em conformidade com a prática desta palavra revelada.
Por isso diz o apóstolo que não devemos procurar esta nossa nova vida espiritual buscando as coisas que são terrenas, senão as que são celestiais e divinas (Col 3.1-4).
É nas coisas celestiais e espirituais que deve estar concentrado o nosso pensamento, para que possamos receber o crescimento na graça que procede de Deus.
Como a nossa mente estava naturalmente inclinada para as coisas deste mundo, antes da nossa conversão, e não podia entender as coisas espirituais que são discernidas espiritualmente, há portanto uma necessidade de que ela seja renovada pelo Espírito, segundo a Palavra da verdade.
Nós morremos para os rudimentos do mundo, quando nós cremos em Cristo, e a nova natureza celestial que nós recebemos está escondida em Cristo, em Quem nós devemos buscar o crescimento desta nova natureza espiritual.









11 - Recebemos pela Graça mas Deve Ser Buscado

Nenhuma santificação, nenhum crescimento espiritual, nenhum aumento no conhecimento de Jesus nos virá sem que seja buscado com diligência, através dos meios de graça estabelecidos por Deus para este propósito: orar, vigiar, jejuar, meditar e praticar a Palavra, congregar regularmente com outros irmãos na fé etc.
Devemos ter um conhecimento pleno da vontade de Deus, em toda sabedoria e entendimento espiritual.
Não um mero conhecimento intelectual, mas um conhecimento espiritual e pessoal de intimidade com o Senhor, no qual devemos progredir em graus cada vez maiores.
Crescer na graça e no conhecimento de Jesus é um dever que está imposto aos seus discípulos, para durar por toda a vida.
Para tanto é necessário estar confirmados na força da graça que Deus supre de acordo com o poder da Sua glória, para que possamos perseverar na fé e ser longânimos com alegria (Col 1.10,11).
A longanimidade é a graça necessária para nos tornar pacientes e tardios em nos irarmos em razão das ofensas que recebemos e de todo o mal que testemunhamos no mundo.
A verdadeira longanimidade guardará o nosso coração em paz, e livres de julgarmos pessoas e situações com juízo ácido e hipercrítico
Deus está sendo completamente longânimo para com todos nesta dispensação do Evangelho - a da graça.
Ele não está imputando aos homens as suas ofensas enquanto eles vivem no mundo, na expectativa de que se arrependam do pecado e se convertam a Cristo, para serem perdoados e salvos.
Importa que todos os cristãos sejam imitadores de Deus neste e em muitos outros sentidos evangélicos, de modo que não atuem como juízes de um mundo que se encontra em trevas, senão como sacerdotes que intercedem junto a Deus em favor dos pecadores, sendo luz para os que se encontram perdidos, de maneira que possam ter um encontro pessoal com Jesus.
Foi nele que “foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele.”.
O Cristo que nos salva é o Senhor de tudo e de todos.
Ele exerce domínio sobre todas as coisas porque é o Criador e tudo foi criado não somente por Ele, mas para pertencer a Ele.
Desde toda a eternidade o Pai constituiu o Filho herdeiro de todas as coisas.
Por isso, a Jesus foi dada toda autoridade tanto nos céus quanto na terra.
O Pai lhe constituiu Senhor de tudo e de todos para que exerça o domínio através do qual Ele é honrado, porque importa que o Filho seja honrado tanto quanto o Pai é honrado.
De maneira que aquele que não honrar o Filho não estará honrando o Pai, como se lê em Jo 5.23.

“para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.”

Foi do agrado do Pai que toda a plenitude estivesse no Filho e por isso O deu como Senhor de todas as coisas e cabeça da Igreja.
Quando a Bíblia se refere à Igreja, o que está em foco não é nenhum templo, instituição, denominação religiosa, mas todos aqueles que se convertem a Cristo.
Por ser Seu corpo, toda vida espiritual verdadeira que houver na Igreja terá procedido dEle como Cabeça deste corpo.
É por isso que se não permanecermos nEle, a vida divina não fluirá em nós e seremos achados como mortos, espiritualmente falando.

Esta permanência deve ser buscada com diligência. Caso contrário, a mínima tentação ou qualquer outro tipo de provação nos afastará dEle.








12 - Nem Ociosos e Nem Infrutíferos

"5 E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude o conhecimento,
6 e ao conhecimento o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade,
7 e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor.
8 Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo." (II Pedro 1.5-8)

Deus nos criou para a ação proveitosa, especialmente em relação a se fazer o bem ao nosso próximo, promovendo e desenvolvendo sobretudo as sua vida espiritual no que tange à comunhão com Deus, e também para que nós mesmos demos o fruto espiritual esperado por Ele, relativo à transformação do nosso caráter à semelhança ao de Cristo.
É a isto que o apóstolo Pedro está se referindo com as palavras do nosso texto.
Ele diz que é necessário empregar toda a nossa diligência, ou seja, o nosso esforço continuado e bem definido para que este objetivo divino seja concretizado em nossas vidas.
Ele não fala sobre mero conhecimento ou compreensão intelectual destas virtudes, mas de existência delas na nossa vida, por um conhecimento de experiência íntima, pessoal e sobretudo espiritual da realidade delas implantadas no nosso ser.
À fé e à virtude deve ser acrescentado o conhecimento, não meramente conhecimento intelectual da Palavra, mas um conhecimento vivo da vontade de Deus pela Palavra e pelo Espírito. Conhecimento do próprio Deus e do Seu caráter. Conhecimento da fraqueza e corrupção da nossa natureza terrena e de como o pecado opera nela, para que nos despojemos dela pelo conhecimento das coisas que alimentam e dão crescimento à nossa nova natureza em Cristo Jesus.
A estas graças deve ser acrescentado o domínio próprio que é fruto do Espírito Santo. E este domínio próprio deve ser traduzido principalmente num viver quieto e tranquilo, no Espírito, cultivando-se a virtude da mansidão e da gratidão e contentamento em toda e qualquer circunstância.
A fé, a virtude, o conhecimento e o domínio próprio devem ser seguidos pela perseverança na fé. A perseverança que está associada à evidência da nossa salvação de irmos até ao fim sendo fiéis a Cristo e à Sua vontade.  
Com a perseverança deve seguir a piedade, que é um viver santo e justo diante de Deus e dos homens.
Viver piedosamente é viver de modo totalmente consagrado a Deus.
À piedade deve ser juntada a fraternidade ou comunhão com os irmãos na fé, no ajuntamento santo da congregação (Igreja), para o culto de adoração a Deus e serviço a Ele e ao próximo.
Finalmente, à fraternidade ou comunhão espiritual em unidade na Igreja, deve ser juntado o amor ágape, ou seja, o mesmo tipo de amor espiritual com o qual Cristo nos ama, o qual é o vínculo da perfeição, e sem o qual nada do que somos ou temos será de qualquer valor para Deus.
Então a melhor maneira de confirmarmos a nossa eleição, conforme o apóstolo diz no verso 10, isto é, de termos certeza da nossa salvação, é por percebermos que as graças aqui citadas por Pedro estão aumentando em nossa vida. porque é um princípio vital da fé e da graça verdadeiras, aumentarem em nós.
É este crescimento nestas virtudes, que configura o nosso amadurecimento espiritual, e é ele que fará com que Deus não nos deixe ociosos e nem infrutíferos no que concerne ao pleno conhecimento de Jesus, e de uma vida confirmada em boas palavras e obras, pois Ele nos fará úteis no Seu serviço.











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