sexta-feira, 23 de outubro de 2015

45) Dor e Tristeza 46) Edificação

45) DOR E TRISTEZA

ÍNDICE

1 - Salmo 119.28 – Por Thomas Manton
2 - Afasta de Mim o Meu Opróbrio
3 - A Alegria Morre na Tristeza?
4 - Da Tristeza para a Alegria


1 - Salmo 119.28 – Por Thomas Manton

“A minha alma se consome de tristeza; fortalece-me segundo a tua palavra.” (Salmo 119.28)

Tradução e adaptação elaboradas pelo Pr Silvio Dutra, de citações extraídas do comentário de autoria de Thomas Manton, sobre o Salmo 119.28.

Um cristão nunca deveria ficar entristecido até o grau de desânimo, nem confiante até o grau de segurança; e assim ele deve ter um olhar duplo, sobre Deus e sobre si mesmo, sobre as suas próprias necessidades e a todo-suficiência de Deus. Você tem ambos representados neste verso 28 (e frequentemente neste salmo), a sua condição e a sua petição.
1. A sua condição está representada em: “a minha alma se consome de tristeza”.
2. A sua petição a Deus: “fortalece-me segundo a tua palavra.”
Vejamos então em primeiro lugar, a sua condição, "a minha alma se consome de tristeza." A citação “se consome” foi traduzida do original hebraico “dalaph” que significa "verter lágrimas”, “chorar”. É a mesma palavra usada em Jó 16.20. Relaciona-se com definhar de tristeza a ponto de sentir o coração derreter.
Doutrina extraída do texto: Os filhos de Deus, frequentemente, se encontram sob a ação de uma profunda e esmagadora tristeza que não é experimentada por outros homens.
Davi se expressa aqui como estando numa condição de debilidade que não é comum, "Minha alma goteja ou se derrete de tristeza."
São três as razões disto:
1. Seus fardos são muito grandes.
2. Eles têm uma sensibilidade maior do que outros.
3. Sua ação é maior, porque a sua recompensa e conforto são também grandes.
1. Seus fardos são maiores do que outros - como a tentação, a deserção, o problema do pecado. O bem e o mal da vida espiritual é maior do que o bem e o mal de qualquer outra vida qualquer. Como as suas alegrias são indizíveis e gloriosas, assim seus sofrimentos são, por vezes equivalentes à expressão: "Um espírito abatido quem o pode suportar?" (Pv 18.14).
A coragem natural comum levará um homem a outras aflições, oh! mas quando as flechas do Todo-Poderoso perfuram seu coração, Jó 6.3, isto é um peso insuportável.
O homem, que tem uma vida maior do que os animais, é mais capaz de ter prazeres e tristezas do que eles, e assim um cristão que vive a vida da fé está mais capacitado para uma maior carga.
Considere que aqueles que vivem uma vida espiritual lidam imediatamente com o Deus infinito e eterno, e, portanto, quando ele gera alegria no coração, oh, que alegria é isso! E quando Deus estende a sua mão contra eles, quão grande é o seu problema!
O pecado é um fardo mais pesado do que a aflição, e a ira de Deus do que o descontentamento do homem. Males de uma influência eterna são mais do que temporais, portanto, devem ser, necessariamente, maiores e mais pesados.
2. Eles têm uma sensibilidade maior do que os outros - os seus corações estão enternecidos pela fé que professam em Cristo. Ninguém tem um sentimento despertado tão rápido como os filhos de Deus. Por quê? Porque eles têm uma compreensão mais clara, e as afeições mais ternas e sensíveis.
[1] Porque eles têm uma compreensão e visão mais clara sobre a natureza das coisas do que aqueles que estão afogados em prazeres carnais.
Os homens carnais não sabem como valorizar a perda do favor de Deus, mas os santos o preferem mais do que a própria vida: "A graça de Deus é melhor do que a vida", Sl 63.3. Portanto, se o Senhor suspende as manifestações habituais da sua graça e favor, quão perturbados ficam os seus  corações! “Tu escondeste o teu rosto, e fiquei perturbado,” Sl 30.7.
Um filho de Deus, que vive em Seu favor, não pode suportar Sua falta; e portanto, quando perde o sentido doce de Seu favor e reconciliação com ele, oh, isto é um  problema para as suas almas! Outros homens não se dão conta de tudo isto. E assim, por causa do pecado, os espíritos comuns valorizam apenas o dano que possam sofrer em seus interesses mundanos, e quando isso lhes custa caro, eles podem curvar a cerviz: Jer 2.9: “Agora sei quão amarga coisa é abandonar o Senhor." Um homem mundano pode saber algo sobre o mal do pecado nos seus efeitos, mas um filho de Deus vê a natureza dele, eles valorizam isto pelo mal, pela ofensa que se faz a Deus, e por isso ficam mais entristecidos pelo mal no pecado, do que pelo mal que é consequente do pecado. Assim, em razão da ira de Deus, os homens carnais têm pensamentos rudes quanto à mesma, e podem uivar nas suas camas quando as suas coisas agradáveis são tomadas deles, mas os filhos de Deus ficam entristecidos porque seu Pai está irado.
 [2] Eles têm afeições delicadas e suaves. A graça, que nos dá um novo coração, também nos dá um coração de carne: Ez 36.26: “Vou colocar um coração novo neles.” Que tipo de coração? "Um coração de carne", porque o velho coração que é removido é um coração de pedra. Um novo coração sensível recebe mais rápido a impressão de terror divino do que outros corações. Um selo é mais facilmente deixado sobre a cera, ou uma coisa mole, do que em cima de uma pedra. O ímpio tem mais motivos para ficar incomodado com a ira de Deus do que um homem piedoso, mas ele não é alguém de bom senso, ele tem um coração de pedra, e, portanto, não é tão afetado com as relações de Deus para com ele, ou suas relações com Deus. Veja, como não deve ser considerado apenas o peso dos golpes, mas a delicadeza da constituição, e assim, porque seus corações são de uma constituição mais suave, sendo um coração de carne, e receptivo a uma impressão mais profunda, portanto suas tristezas ultrapassam as tristezas de outros homens.
3. O bem que eles esperam é grandíssimo. Os homens ímpios, nada esperam do mundo por vir, senão que lhes aguardam horrores e dores, e eles agora chafurdam em facilidade e abundância: Lucas 16.25: “Filho, em tua vida tu recebeste os teus bens.” Mas, agora, os homens de bem,  esperam por outra felicidade, que deve ser a coisa a ser buscada e exercida, para que possam ser preparados para o gozo dessa felicidade.
Aplicação 1. Então, os homens carnais não estão aptos a julgar os santos quando eles relatam suas experiências.
Davi era um homem valente, que tinha "um coração como o coração de um filho", 2 Sam 17.10. Ele era um homem alegre, chamado "o mavioso salmista de Israel", 2 Sam 23.1. Ele não era tolo, mas um homem sábio como um anjo de Deus; e ainda assim você vê que sentimento amargo  ele tinha de sua condição espiritual. E quando um homem tão forte e valente, tão alegre, tão sábio, queixa-se tão fortemente, você vai achar que este  abatimento e melancolia eram uma tolice? Mas, infelizmente um homem que nunca soube qual é o peso do pecado não pode concebê-lo, pois  nunca esteve familiarizado com a infinitude de Deus, nem com o poder da Sua ira, e não tem o devido senso de eternidade, e por isso pensa tão baixo sobre estes assuntos da vida espiritual.
Aplicação 2. Não esteja tão seguro de alegrias espirituais. Nós lhes alertamos muitas vezes sobre segurança, ou sobre o cair no adormecimento em confortos temporais, e devemos avisá-lo desse tipo de segurança também no que se refere ao espiritual. Todas as coisas mudam. Você pode encontrar Davi neste salmo numa condição diferente de espírito, algumas vezes se regozijando na palavra de Deus acima de todas as riquezas, e em outras vezes a sua alma derrete em lágrimas  em razão do muito peso sentido. O próprio povo de Deus está sujeito a grande dificuldade de espírito, portanto, você não deve estar seguro quanto a esses gozos espirituais, que vêm e vão conforme a vontade de Deus. Os homens que constroem muito sobre êxtases espirituais ou sensíveis consolações estão preparando uma armadilha para suas próprias almas, em parte porque estão menos atentos para o presente (como marinheiros que foram ao mar, e quando entram na calmaria, ficam felizes e pensam que nunca mais verão tempestades), e também por causa de sua negligência e descuido em seu conforto espiritual que se foi. E há outro dano - a perda é mais pesada, porque nunca pensaram sobre a possibilidade da mesma. E, portanto, na preparação do coração, devemos estar prontos a perder os nossos confortos interiores, bem como as propriedades e conveniências externas. Somente no céu temos um dia contínuo sem nuvens ou noite, mas aqui sempre haverá mudanças.
Não vamos julgar a nossa condição se for este o nosso caso, ou seja, se devemos estar debaixo de  problemas presentes, nem sequer quebrar nossos espíritos. Este foi o caso do Filho de Deus, a sua alma se perturbou, e ele não sabia o que dizer: João 12.27: “A minha alma está perturbada, o que direi eu?” E muitos de seus servos escolhidos foram extremamente experimentados nisto. Nosso negócio, nesse caso, não é examinar e julgar, mas confiar. Nem para determinar nossa condição de um lado ou outro, mas ficar com o nosso coração em Deus, e descansar em suas promessas. Devemos confiar o nosso coração à misericórdia de Deus.
Vejamos agora, em segundo lugar, a petição de Davi dirigida a Deus, “fortalece-me segundo a tua palavra.” Onde temos:
1. O próprio pedido.
2. Um argumento para aplicá-lo.
Em primeiro lugar, o pedido em si, "Fortalece-me”, que é o benefício solicitado.
Doutrina 1. Observe que o que ele faz agora é abandonar a visão de um pedido de segurança temporal, mas em todo o tempo o seu principal desejo é por graça e por apoio ao invés de libertação.
Para os filhos de Deus, a principal coisa que o seu coração busca é sustentação e apoio espiritual ao invés de libertação: Sl 138.3, “No dia em que eu clamei, tu me acudiste e alentaste a força de minha alma.” Veja que Davi buscava uma audiência, para ser ouvido em oração; ele não pensava em libertação, e ainda assim ele tinha a experiência de conforto interior, era isso que o sustentava.
Os filhos de Deus se avaliam pelo homem interior, ao invés do exterior. Davi aqui ora por si mesmo, Paulo ora por outros: Ef 3.16, “para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior;”. Sim, eles estão contentes com os decaimentos do homem exterior, a fim de que o homem interior possa aumentar em força: 2 Coríntios 4.16, "Embora o nosso homem exterior se corrompa, contudo o homem interior se renova de dia em dia." O homem exterior na linguagem de Paulo é o corpo, com todas as  suas conveniências e propriedades, como saúde, beleza, força, riqueza, tudo isso é o homem exterior. Agora, isso não é o desejo de um cristão, prosperar no mundo, ou  fazer um show de boa aparência na carne, não, mas seu coração está voltado para crescer mais forte no espírito, para que a alma, como que adornada com as graças do Espírito Santo, possa prosperar, este é o homem interior.
Insistamos um pouco mais sobre este ponto:
1. É o homem interior, que é estimado por Deus, e, portanto, é dele que os santos, principalmente, cuidam. Deus não olha para os homens de acordo com sua condição externa, pompa e aparências do mundo, mas de acordo com os dons interiores do coração: 1 Sam 16.7, "Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração.”.  Do homem interior é dito em 1 Pe 3.4, que é “de grande valor diante de Deus”. Deus considera os homens pela alma, quando  está fortalecida com graça.
2. O bem-estar eterno de toda pessoa depende do florescimento do homem interior. Quando jogamos fora a vestimenta superior, a pobre alma ficará desamparada, nua e sem porto, se não fizermos qualquer provisão para isto, 2 Coríntios 5.3, e então, o corpo e a alma são desfeitos para sempre.
Para onde irá a alma que é lançada fora, se ela não tiver uma morada eterna no céu para recebê-la?
3. A perda do homem exterior pode ser recompensada e isto é feito pela força da graça que é colocada no homem interior, mas a perda do homem interior não pode ser compensada pelas perfeições do homem exterior. Um homem que sofre em sua condição exterior, pode ser elevado por Deus em graça; se ele é rico na fé, e os filhos de Deus podem achar consolo no fato de o seu homem interior ser fortalecido e renovado dia após dia, 2 Coríntios 4.16, de modo que um homem pode ser feliz apesar das rupturas da paz feitas no seu homem exterior.
A vida espiritual interior é chamada de a vida de Deus, Ef 4.18. A vida interior é o início de nossa vida no céu. Tanto vivem a vida de Deus, um santo glorificado no céu e um santo militante sobre a Terra; e a vida da graça é o mesmo tipo de vida, mas não em grau; e o que é glorificado e o que se encontra aqui na Terra são diferentes, assim como uma criança difere de um adulto.
Aplicação. O uso disto é verificar o nosso absurdo cuidado carnal para com o homem exterior, em detrimento do interior. Quando não somos tão cuidadosos em provermos a alma com graça, e sermos fortalecidos e renovados pelas influências contínuas de Cristo.
Você pode conhecer a desproporção de seu cuidado para com as coisas exteriores e para o homem interior, por essas razões que apresentamos a seguir:
1. Quanto você preza do dia do Senhor, os meios da graça, as oportunidades de culto, que são para o homem interior? O dia de domingo é um dia de festa para as almas. Agora, quando os homens estão cansados disso, é o dia mais pesado de toda a semana. É um sinal de que são carnais, quando os homens pensam que o domingo consagrado a Deus   é um dia perdido para eles, e eles olham para o domingo como uma interrupção melancólica de seus assuntos e negócios.
2. Que cuidados você tem para com o homem interior, para adornar a alma, para embelezá-la com graça, que é de grande valor para Deus, ou para fortificá-la com graça? Agora, quando toda a nossa força e trabalho são utilizados para não nos conduzir à vida interior, Isaías 55.2, e empregamos todo  o nosso dinheiro naquilo que não é pão para o espírito, é um sinal de que somos totalmente carnais.
3. Você tem um refrigério espiritual, mesmo quando as aflições abundam? 2 Coríntios 1.5, “Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo.”, então você demonstra ser como os filhos de Deus, cujo coração e cuidado estão focados no homem interior.
Doutrina 2. Em segundo lugar, mais especialmente, observe que Davi recorre a Deus para ser fortalecido. Deixe-me mostrar:
1. O que é essa força espiritual.
2. Como ela é dada.
3. Como Deus está presente na mesma. Davi vai a Deus: “Senhor, fortalece-me.”
Primeiro, então, o que é essa força espiritual. Ela é o  aperfeiçoamento de Deus da sua obra. A força pressupõe vida, portanto, em geral, ela é a renovada influência de Deus; quando ele tem plantado hábitos de graça, ele vem e fortalece. Em primeiro lugar Deus infunde a graça e depois a confirma. Em primeiro lugar, somos objeto de seu trabalho, em seguida, instrumentos, para mostrar onde reside a força da alma.
1. Os hábitos da graça são plantados na alma. Não são apenas altas operações da graça, mas os hábitos permanentes e fixos, a semente de Deus, que permanece dentro de nós, 1 João 3.9 - isto não é a habitação do Espírito Santo propriamente dita, ou seja, o próprio Espírito Santo com sendo a semente de Deus que permanece em nós, pois esta semente é alguma coisa criada: Sl 51.10, "Cria em mim um coração puro, oh Deus”, e é alguma coisa que cresce: 2 Pedro 3.6, "crescei na graça". E, portanto, é evidente que há hábitos da graça plantados na alma, um bom estoque que temos de Deus em primeiro lugar, chamado de "o bom tesouro do coração", Mateus 12. Estes hábitos da graça são chamados de “armadura de Deus”, “o escudo da fé”, “o capacete da salvação”. Esta é a força da alma.
2. Mas, além disso, há uma continuidade e um aumento dessas graças, quando o Senhor confirma o seu trabalho, e aperfeiçoa o que ele tem começado, Fp 1.16. O apóstolo o define principalmente em 1 Pedro 5.10, "Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar, fortificar e fundamentar.” Todas estas palavras dizem respeito ao hábito, ou à semente da graça na alma; e para mostrar a participação de Deus para nossa preservação no estado espiritual, ele se serve destas palavras: “aperfeiçoar”, que significa a adição de graus que ainda estão faltando; "confirmar", que indica a defesa da graça que já está plantada no coração, da tentação e de perigos; "fortificar", isto é, dar-lhe o poder de ação ou capacidade para o trabalho, e "fundamentar”, que é para fazer a raiz crescer e se fixar mais e mais.
3. Há uma participação de Deus no ato. A graça em hábito não é suficiente, mas deve ser aumentada e dirigida. Sobre o ato, há duas coisas: o Espírito Santo opera a graça que é implantada, e a coloca em exercício, por isso, se diz em Fp 2.13: "É Deus que opera em vós tanto o querer como o realizar", ou seja, ele aplica a graça em nosso coração, e a põe em operação, e, então, há um direcionamento ou regulação da alma para a ação: 2 Ts 3.5, “O Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus" etc.
Em segundo lugar, vejamos os usos para os quais nós temos essa força de Deus. Ela serve para três usos - para a ação, para o sofrimento, e para superação de conflitos; porque assim como as nossas necessidades são muitas, assim também deve ser a nossa força.
1. Força para desempenhar deveres. O cansaço e o desconforto logo cairão em nossos corações, e vamos nos afastar de Deus, se o Senhor não colocar uma nova força e uma nova vivificação em nossos corações.
Se quisermos ser operosos com fervor e em qualquer movimento em direção a Deus, devemos ir adiante na força de Deus. A alma é uma coisa tenra, e logo se desconcerta. Portanto, a obra de Deus deve sempre ser feita na força de Deus.
2. Força para suportar os fardos com paciência, para que não desmaiemos sob eles: Col 1.11, "fortalecidos com todo o poder, segundo a sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo." Para que não desmaiemos em nossa aflição: Prov 24.10: "Se te mostrares fraco no dia da angústia, a tua força é pequena." Filhos de Deus, antes de irem para o céu, terão suas provas, eles terão muitos fardos sobre eles: Heb 6.12, "Sede imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas." É preciso não somente a fé, mas paciência. Agora, um fardo pesado precisa ter bons ombros. Oramos para ter força, para que possamos romper as dificuldades e aflições que encontraremos em nossa jornada para o céu.
3. Força para os conflitos, para que possamos enfrentar as tentações. Um cristão não deve apenas usar a colher de pedreiro, mas a espada. Não podemos pensar em cumprir deveres ou suportar aflições sem uma batalha e conflito; por isso precisamos da força da graça do Senhor para nos sustentar. Satanás é o grande inimigo com o qual lutamos, ele é o gerente da tentação. Este é o curso disto; o mundo é a isca; a carne é o traidor que funciona dentro dos homens, o qual dá vantagem a Satanás; o mal jaz escondido, e procura por coisas mundanas para afastar o nosso coração de Deus. Agora, somos assaltados por todos os lados, às vezes, pelos prazeres do mundo, às vezes pelas cruzes do mesmo, de modo que um cristão precisa estar apto para todas as condições: Fp 4.13, “Tudo posso em Cristo que me fortalece”, porque por todos os meios o diabo tentará nos levar a pecar.
Agora, esses conflitos são, em qualquer caso, ou solicitações para o pecado, ou eles tendem a enfraquecer o nosso consolo; e em ambos os casos é preciso ter força de Deus.
Vejamos agora, em terceiro lugar, como Deus está interessado nisto. Davi vai a Deus para receber este benefício: "Senhor, dá-me força." Do primeiro ao último é ele que faz tudo. Não ficamos de pé pela estabilidade de nossas próprias resoluções, nem pela estabilidade dos hábitos da graça plantados em nós mesmos, a menos que o Senhor nos dê nova força.
Nossas próprias resoluções estão prestes a falhar, porque Davi estava resolvido em se manter perto de Deus, mas ele diz: "Meus pés tinham quase escorregado.” O que o manteve? "A tua destra me sustentou.”
Nem é a estabilidade dos hábitos da graça em si, por si só, porque são coisas que se desvanecem; a fé, o amor e o temor de Deus de si mesmos logo desaparecem: Apocalipse 3.2, “Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer.” Estes que estão prontos para morrer, portanto, só são mantidos por uma força renovada de Deus. É o poder de Deus, que está envolvido em nossa preservação. Eu poderia mostrar em que ordem, temos isto da parte de Deus; não somos somente guardados, em geral, "pelo poder de Deus mediante a fé para a salvação", 1 Pedro 1.5, mas todas as pessoas da Trindade trabalham nisto. O Pai, o seu ato é judicial: Ef 3.14-16, “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra,  para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior;”. Ele decreta a concessão, que as almas que vêm em nome de Cristo, e pedindo salvação, deverão obtê-la. E Deus Filho tem comprado essa força para nós, e ele intercede por fornecimento constante e, por isso se diz em Fp 4.13, “Poso todas as coisas por meio de Cristo”. E o Espírito Santo aplica a força que necessitamos ao nosso coração, porque assim é dito, Ef 3.16, “Para que sejais fortalecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior."
Aplicação. Para nos incentivarmos a buscar em Deus por esta força. O que devemos fazer?
1. Seja fraco em seu próprio senso e sentimento. A maneira de ser forte é ser fraco: 2 Coríntios 12.10: "Quando sou fraco, então é que sou forte." O balde, se quisermos enchê-lo com água, deve primeiro ser esvaziado.
Deus fortalece os que são fracos em seu próprio senso quanto à sua insignificância: Heb 11.34, “da fraqueza tiraram força”, da fraqueza sentida e apreendida.
2. Deve haver uma plena confiança somente na força de Deus: Sl 71.16: “Sinto-me na força do Senhor Deus”; Ef 6.10, “Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder”, e 2 Tim 2.1, “Fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus."
3. Use o poder que você tem, e então ele será aumentado. "Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância;", Mat 13.12. Quanto mais exercitamos a graça mais teremos dela.
4. Utilize os meios, pelos quais "os que esperam no Senhor renovam as suas forças”, Isa 40.31.
5. Evite o pecado; que drena a sua força, assim como o sangramento solta o espírito do corpo. Quando você entristece o Espírito de Cristo, que lhe é dado para lhe fortalecer, você joga fora a sua força. Vamos, então, esperar em Deus por ajuda, pois quando todas as coisas falham, Deus não falha.
Vejamos agora a segunda parte do texto: "fortalece-me segundo a tua palavra." Pela sua palavra Deus se compromete em aliviar o seu povo em perigo. Há duas promessas: 1 Coríntios 10.13: "Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças”.  Um bom homem não sobrecarregará seu animal, certamente o Deus gracioso não vai permitir que a tentação venha sobre nós acima da medida. Outra promessa é a de Is 57.15-17, “para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos." Ele tem prometido consolo e alívio para os pobres pecadores com o coração partido; você é chamado por nome na promessa, isto é dito a pessoas no seu caso.
Mais uma vez, Davi orou baseado numa palavra e promessa de Deus. A oração fundamentada sobre a promessa é a maneira de prevalecer; você pode fazer um desafio humilde a Deus, invocando a Sua Palavra para ele. Isto é fogo  estranho somente quando você coloca no incensário, um pedido a Deus em relação ao qual ele nunca se comprometeu a conceder. Davi, muitas vezes diz: "segundo a tua palavra." Mais uma vez, a palavra de Deus é a única cura e alívio para a alma desfalecida. Quando Davi estava debilitado sob profunda tristeza, então, o Senhor, lhe trouxe força segundo a Sua Palavra.
(1) Isto é a cura apropriada. Meios naturais não podem ser um remédio para a enfermidade espiritual, não mais do que um belo terno de vestuário para um homem doente, ou um ramalhete de flores para um homem condenado. Confortos naturais não têm qualquer relação com uma doença espiritual; nada além da graça, perdão, força e aceitação de Deus pode removê-la.
Os que buscam saciar suas tristezas em excessos e com alegre companhia tomam um remédio brutal para doenças da alma.
(2) Isto é uma cura universal; temos a partir da palavra  viva, consolo e força. É a palavra que deve nos guiar e nos guardar de desmaios de alma, ela nos vivifica e nos guarda da morte. A palavra é um remédio completo em conjunção com o poder de Deus, e torna a dor em alegria no meio de problemas externos: Sl 56.10, “Em Deus, cuja palavra eu louvo".
Por último, esta palavra deve ser aplicada à consciência pelo próprio Deus, “fortalece-me segundo a tua palavra." Davi se dirigiu a Deus para que ele pudesse aplicar sua palavra, que poderia ser a sua força; pois não podemos nem apreender nem aplicá-la mais do que recebemos a graça de Deus. A palavra é o instrumento de Deus, e não opera sem o Seu principal Agente.







2 - Afasta de Mim o Meu Opróbrio

Tradução e adaptação elaboradas pelo Pr Silvio Dutra, de citações extraídas do comentário de autoria de Thomas Manton, sobre o Salmo 119.39.

“Afasta de mim o meu opróbrio, que temo, porque os teus juízos são bons.” (Salmo 119.39)

Nessas palavras você tem:
1. Um pedido, “Afasta de mim o meu opróbrio”.
2. A razão para o pedido, “porque os teus juízos são bons”.
Vejamos em primeiro lugar, o pedido:
Ele estava vestido com opróbrio. Alguns pensam que isto significa sentença condenatória de Deus, que se tornaria o seu opróbrio, ou alguma repreensão de Deus por causa do seu pecado. Além disso, eu penso, que isto se refere às calúnias dos seus inimigos, e ele chama de "meu opróbrio", quer por tê-las produzido por si mesmo, ou por terem vindo sobre ele, o opróbrio que era para ser a sua porção neste mundo, através da malícia dos seus inimigos: "o opróbrio que temo", isto é, que eu tenho motivos para esperar, e que estou sensato das suas tristes consequências.
Em segundo lugar, vejamos a razão para o pedido, “porque os teus juízos são bons.” Há opiniões diferentes sobre esse argumento. Alguns raciocinam assim: Não me deixe sofrer opróbrio porque estou apegado à tua palavra, a tua palavra, que é tão boa. Mas Davi não falou aqui de estar sofrendo opróbrio por causa de justiça, mas tal opróbrio era causado provavelmente por suas próprias transgressões e fraquezas. Censuras por causa de um testemunho de justiça e amor são recebidas com regozijo interior. Mas ele disse: Isto "eu temo”, e, portanto, suponho que isso não bate com este motivo anterior, nem em outro sentido. Por que eu deveria ser encarado como um malfeitor, enquanto tenho guardado a tua lei e observado os teus estatutos? outros julgam mal de mim, mas eu apelo ao teu bom juízo.
Outros, o compreendem, por julgamentos relativos ao tratar Deus conosco: tu não lidas com os homens de acordo com suas deserções, tuas dispensações são gentis e graciosas. Então, vejamos assim: julgamentos divinos significam os caminhos, estatutos e ordenanças de Deus, são chamados julgamentos, porque todas as nossas palavras, obras, pensamentos, devem ser julgados de acordo com a sentença da palavra. Agora, coitados daqueles que sofrerão por causa do meu opróbrio e ignomínia, e isto é o que eu mais temo do que qualquer outra coisa que possa acontecer comigo.
Eu acho que o motivo será melhor compreendido assim: Senhor, há na tua lei, palavra, aliança, muitas promessas para incentivarem o teu povo, e, portanto, as regras para proverem a devida honra e crédito ao teu povo.
Devo, no que diz respeito às necessidades do povo de Deus, insistir um pouco sobre a cláusula anterior, e observar este ponto:
Que os opróbrios são costumeiros, mas ainda uma grande e grave aflição para os filhos de Deus. Eles são comuns, por que Davi diz: “meu opróbrio”. Mesmo este homem santo não poderia escapar das censuras de seus inimigos; e eles são temíveis, porque ele disse, "que eu temo."
Primeiro, que são costumeiros. Davi frequentemente reclama disto neste salmo 119, e o menciona como um grande mal a Deus, verso 22, "Afasta de mim o opróbrio e o desprezo, por que eu tenho guardado os teus testemunhos”, e mais uma vez, verso 42, “Assim terei que responder ao que me afronta, pois confio na tua palavra”, e verso 69, “Os soberbos forjaram mentiras contra mim." Deus soltou um Simei latindo sobre um santo Davi, e portanto, ele se queixou muitas vezes dos opróbrios. Assim, em outro lugar: Sl 31.13, “Pois tenho ouvido a difamação de muitos." Diversos tipos de pessoas fizeram-no bater sua cabeça contra a parede, sobre a qual eles passaram e fizeram voar as setas de censura e reprovação: Sl 35.15, “Quando, porém, tropecei, eles se alegraram e se reuniram; reuniram-se contra mim; os abjetos, que eu não conhecia, dilaceraram-me sem tréguas;". Dilaceraram-me, ou seja, significando o seu nome, que foi rasgado em pedaços com suas censuras; os homens abjetos se ​reuniram etc. A poeira do chão irá muitas vezes estar voando nos rostos dos filhos de Deus, e Jeremias nos diz: "Eu ouvi a difamação de muitos”, e Jó e outros servos de Deus, sim, o próprio Senhor foi insultado, ele “suportou a contradição dos pecadores,” muitas eram censuras amargas, mesmo dos maiores crimes contra os mandamentos da lei. Ele foi objeto de blasfêmia e sedição. O Filho de Deus, que era tão manso, inocente, justo, e que só fez o bem em todos os lugares, mesmo assim se deparou com calúnias odiosas e, portanto, não podemos dizer que os seus servos são falhos porque são maliciosos, uma vez que esta tem sido a porção das pessoas piedosas mais eminentes. E depois isto nos é dito, Sl 64.3,4, “os quais afiam a língua como espada e apontam, quais flechas, palavras amargas, para, às ocultas, atingirem o íntegro; contra ele disparam repentinamente e não temem.”
A integridade sempre se encontra com a inveja, e a inveja se manifesta em detração; e quando os homens não podem alcançar a altura dos outros, por uma imitação santa, então por imputações odiosas buscam torná-los tão vis e baixos como eles próprios. Assim, isto é uma aflição comum.
Em segundo lugar, é uma doença grave, porque o homem de Deus, que era segundo o coração de Deus, disse. “O opróbrio que eu temo". Isto é chamado de perseguição, Gál 4.29: compare com Gên 21.9, e você verá isto sob a forma de  zombaria e censura. O flagelo da língua é uma das perseguições mais vis que os filhos de Deus têm experimentado, além disso, isto é chamado de "escárnio", Heb 11.36. Há muita crueldade que é profunda como uma ferida que são muitas vezes produzidas tanto pela língua de reprovação como pelo punho da maldade.
O opróbrio deve ser necessariamente doloroso, porque é contra a natureza e contra a graça.
1. É contra a natureza. Desprezo é uma coisa difícil de suportar, e como a honra é mais grata para algumas pessoas, o opróbrio é mais grave do que muitas cruzes comuns. Muitos poderiam perder os seus bens com alegria, mas ficariam  entristecidos com a desonra de seus nomes. É de acordo com a constituição e estrutura dos espíritos dos homens que eles são afetados, alguns mais com vergonha do que com medo. Parece haver excelência e galhardia nos sofrimentos que são honoráveis, e muitos podem suportar isso; mas os melhores espíritos são profundamente afetados com vergonha e castigo vergonhoso. Jesus Cristo, que tinha todas as afeições inocentes da natureza humana, e mostrou isto em várias ocasiões, ele foi alvo de escárnios e censuras: Sl 22.7 “Todos os que me veem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça:”
Um bom nome é mais precioso para alguns do que a própria vida, e, possivelmente, esta é a razão por que esses dois estão acoplados, Ec 7.1: "Melhor é  o bom nome do que o unguento precioso, e o dia da morte, melhor do que o dia do nascimento.” O acoplamento destas duas frases parece insinuar isso, que os homens preferem morrer do que perder seus nomes. Se um homem morre, sua memória pode ser perfumada, ele pode deixar o nome por trás dele, porque é mais odioso ter seus nomes e crédito mutilados do que sua carne com espadas afiadas. Agora, isto  é doloroso para a natureza; há corrupção nela. Ora, Deus sabe como atacar diretamente na veia. Os piedosos, muitas vezes, não estão mortificados para o crédito deles no mundo, tanto quanto deveriam. E, portanto, Deus tem que julgá-los desta forma, e exercitá-los na graça, para que possam ser humilhados e mais adequados para o seu próprio uso.
2. É necessário que isto seja grave porque a graça opera tanto mais quanto o dilúvio for mais violento.
A graça concorda com o sentido de nossa tribulação, porque ao lado de uma boa consciência, não há uma bênção maior do que um bom nome santo.
 A graça nos ensina a valorizar um bom nome, em parte porque é um dom de Deus, uma bênção constante da aliança.
Um bom nome é prometido como "a recompensa dos justos”. Um bom nome é uma sombra da eternidade. Quando um homem morre, ele deixa seu nome atrás de si, que é o penhor da nossa vida após a morte.
E em parte também outra razão pela qual a graça nos ensina a valorizá-lo, é por causa dos grandes inconvenientes que acompanham a perda de um bom nome, e a deturpação do povo de Deus pelo mundo. A glória de Deus está muito interessada no crédito de seus servos. Quando eles se contaminam e são causa de vergonha, o Senhor fica profanado neles: Ez 13.19, “Vós me profanastes entre o meu povo”, e Jer 34.16, “Eles profanaram o meu nome.” Cristo, voltará aqui depois de ser admirado nos seus santos, e será agora  glorificado neles. A vergonha dos nossos erros, real ou suposta, reflete em Deus e na religião que professamos. E, portanto, quando as pessoas estão cheias de preconceitos contra as pessoas religiosas, eles estão também cheios de preconceitos contra a vontade de Deus e os interesses inquestionáveis ​​de Cristo Jesus; e o mundo, que odeia a Deus, Cristo e a religião cristã, vai dizer com ironia: estes são seus mestres, e essa é a sua profissão de fé! Portanto, uma vez que o crédito da religião jaz nisto, a graça nos ensina a valorizá-lo.
Além disso, também, a sua segurança repousa nisto; porque por difamarem os adoradores de Cristo, eles abrem caminho para maiores perseguições, e Satanás é geralmente primeiro mentiroso, e, em seguida, um assassino, João 8.44, e quando as suas calúnias abundam, os problemas não ficarão muito tempo do lado de fora.
O homem natural deseja um bom nome, mas para suas próprias conveniências. Mas os filhos de Deus, se eles desejam um bom nome, é para honrar a Deus, e nisto está a diferença entre a vaidade ou o desejo da boa opinião dos outros.
Um instrumento manchado será de pouco uso. A maioria se recusa a tomar a sua carne a partir de uma mão leprosa. É política de Satanás, quando ele não pode desencorajar os instrumentos da obra de Deus, então ele procura manchá-los.
O apóstolo nos diz que aqueles que são chamados a um encargo ministerial público, devem ter muito cuidado com o seu crédito, para que possam promover o seu trabalho, pois ele põe isto como uma de suas qualificações: 1 Tim 3.7: “Ele deve ter um bom testemunho dos que são de fora, para que não caia em opróbrio, e no laço do diabo.”
Intérpretes diferem um pouco como διαβολος, que traduzem como diabo ou então como caluniador; ambos os sentidos são bons - para que não caia na armadilha do diabo, ou o laço do caluniador. O diabo tem seus espiões que vigiam sobre nós, e colocam as suas armadilhas, de modo que o serviço pode ser manchado, e o evangelho obstruído e impedido. Bem, então, a graça preza por um bom nome por causa das consequências, e porque a glória do Senhor e nossa segurança e serviço estão envolvidos nisto.
Certamente existe alguma razão especial quando o Senhor permite isso, quando uma saraivada de acusações seguirão uma após outra, e portanto, ele usa outros para julgá-lo, e despertá-lo para um auto exame do seu interior. Para entrar em seu próprio coração e vasculhá-lo completamente, para ver o que é que Deus tem por objetivo, se há qualquer forma de maldade em você que até agora você ainda não descobriu, e quando você chegar a ver este poço de pecado, então seus inimigos lhe ajudarão a vê-lo melhor ao lhe humilharem. Muitas vezes, a voz de um caluniador pode fazer o que a voz de um pregador não pode fazer.
Há muitos pecados para os quais este tipo agudo de aflição é adequado. Vou lhes dizer alguns destes pecados.
1. Orgulho. Há um duplo orgulho - orgulho na mente, que é chamado de auto-convencimento, e orgulho de afetos, que é chamado de vanglória. Agora não existe cura eficaz como censuras para qualquer um destes.
[1] Falemos do orgulho na mente, auto-conceito. O orgulho é um pecado que cresce independentemente da mortificação de outros pecados; ele vive em nós enquanto vivermos no corpo e, portanto, em 1 João 2.16, é chamado de "soberba da vida". Ele é o que está mais intimamente próximo da alma. Agora, se temos sido muito auto-convencidos, o Senhor vai nos humilhar, por permitir que caiamos em tais escândalos como para nos lembrar da nossa fragilidade, e que indignas criaturas fracas somos.
Austin é ousado em afirmar que é proveitoso para os homens orgulhosos caírem algumas vezes em pecado aberto, para que possam conhecer e compreender a si mesmos.
Deus permite por vezes que a língua solta dos homens virulentos nos diminuam em nossa opinião e na opinião do mundo.
Portanto, um senso de nossa pecaminosidade deve nos tornar mais submissos à mão corretiva do Senhor. Temos que ver a mão de Deus, pois se não olharmos para ela, seremos atraídos para o pecado, em injúria sobre injúria, e exasperação sobre exasperação.
 [2] A vanglória, o outro tipo de orgulho, consiste em valorizar e estimar muito, o nosso crédito no mundo, e agradar a nós mesmos, quanto à opinião que os outros têm de nós. Gostaríamos de usurpar o trono e reinar nos corações dos homens de Deus. Depois de atribuir um valor alto a nós mesmos, ficamos perturbados quando os outros não atingem o grau de espiritualidade ou valor que julgamos ter. O orgulho é um dos inimigos mais antigos que nasceu no céu no seio dos anjos caídos, mas Deus os derrubou do céu, logo que lhes penetrou o coração. Agora, quando seus filhos o carregam, o Senhor tem uma contenda com eles, e, portanto, para tratar com o orgulho, ele vai rebaixá-los bastante: 2 Cor 12.7, “para que não me exaltasse, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás para me esbofetear.” Paulo era muito apto para se orgulhar. O Senhor fez dele um instrumento eminente; pela sua fé ele tinha abundância de revelações. Mas Deus vai furar o balão de orgulho, ele faz isso com espinhos.
Para não ficarmos inchados pela vaidade, o Senhor nos humilha com enfermidades, necessidades, injúrias.
2. Outro pecado para o qual Deus nos humilha é o andar descuidado. Quando somos negligentes e não tomamos conhecimento da carnalidade que cresce em nós, e esta condição irrompe em nossas vidas, o Senhor  usa outros para a nossa repreensão; então, eles se reúnem à nossa sujeira, para que possamos ver qual é a razão pela qual temos assumido esta forma de coração. Quão ignorante um homem seria de si mesmo, caso outros não lhe trouxessem à mente,  por vezes, as suas falhas! Por isso, Deus faz uso de pessoas virulentas do mundo como uma vara para bater a poeira das nossas vestes.
Em segundo lugar, o SENHOR nos humilha com o propósito de nos provar.
1. A primeira coisa que ele faz para lhe provar por uma enfermidade grave e por saraivadas de acusações é a sua fé, quando o mundo inteiro está pronto para lhe condenar.
Que fé?
[1] Nossa fé no grande dia do ajuste de contas, o que é um grande objeto da fé, e quando o mundo está pronto para nos condenar, a nossa fé é testada, para ver se podemos descansar com a vindicação que teremos no dia de nosso Senhor. Isto você pode ver em 1 Coríntios 4.3-5: "Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor.  Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus.”. Todo homem que observa isto, e que está qualificado para isto, terá o louvor de Deus. Assim, quando somos vistos, por sermos cristãos, como as pragas da humanidade, ainda  podemos nos consolar, quando chegar o dia da manifestação dos filhos de Deus, isto é o suficiente, o grande dia do julgamento está à mão, de modo que este irá definir tudo corretamente.
[2] Para provar a nossa fé em mais promessas particulares. O Senhor tem prometido prover para  a saúde e crédito de seu povo, até agora tem ele provido para a sua segurança, e o seu pão de cada dia para a sua manutenção, e qualquer bênção terrena que for boa para nós. Ora, o Senhor vai ver se podemos confiar nele com o nosso crédito, bem como para outras coisas: Sl 119.42, “Assim terei que responder ao que me afronta, pois confio na tua palavra." Eu digo que o Senhor tem se comprometido em sua aliança a preservar um cristão em todos os seus interesses e necessidades, tanto quanto será para a sua glória e para o nosso bem, e até agora nós temos recebido isto. E um cristão, quando ele dá a si mesmo a Deus, dá-se tudo o que ele tem para Deus de uma forma de consagração para o uso de Deus. Deus é o guardião do meu corpo e alma, eu desisto da minha propriedade e vida para que ele possa cuidar de mim noite e dia, e eu lhe dou o meu nome e crédito.
Sl 37.5-7: "Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará.  Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia.” É a fé que é requerida. Oh! Muitas vezes parecemos perder a nossa estima entre os homens, e somos como que enterrados em calúnias e injúrias, mas não será por muito tempo. Sua pessoa e causa podem ser obscurecidas, isto pode ser uma noite de inverno de problemas, mas uma manhã de ressurreição, tanto de suas pessoas e nomes, virá; e isto será conduzido adiante como o meio-dia. O Senhor é capaz de fazer isto; a integridade do seu coração virá a ser conhecida, e você será libertado por Deus. Nosso Senhor Jesus foi um padrão para nós quanto a isto. Cristo, quando injuriado por seus caluniadores, que o tinham acusado em acordo com Satanás, com blasfêmia e sedição, o que foi que Ele fez? O apóstolo disse: 1 Pedro 2.23: “Ele se entregava àquele que julga com justiça." Há fé em Cristo, e por isso Deus iria provar esta fé. Se em qualquer circunstâncias podemos com confiança e vontade entregar-nos à vontade de nosso Pai celestial e justo Juiz, se podemos nos resignar a Ele, para sermos humilhados ou louvados. Quando nos submetemos e nos entregamos à vontade de Deus, confiando na sua justiça e fidelidade em Cristo, então nos comportamos como cristãos.
3. Outra coisa que Deus vai provar é a nossa paciência e longanimidade. Devemos evitar opróbrios, tanto quanto pudermos, mas por uma conversação santa podemos suportá-los quando não pudermos evitá-los: Sl 109.4, "Em paga do meu amor, me hostilizam; eu, porém, oro.”  Esse foi o exercício de Davi, na vingança que ele recebia deles, ele orava a Deus por eles. O Senhor vai provar se temos essa paciência humilde e mansa.
Um cão raivoso que morde outro faz com que este fique tão raivoso quanto ele mesmo. Agora, isso não deve ser assim com os cristãos, a saber, que eles mordam uns aos outros, porque o Mestre nos ordena possuirmos as nossas almas com paciência. Isto é um momento de reprovação e censura, um tempo no qual Deus humilhará seu povo; por isso devemos expor o caso com o Senhor, e nos humilharmos diante dele, e ver qual é o problema que Deus tem colocado por sua providência. Gostaríamos de nos vingar daqueles que nos reprovam se isto estivesse em nosso poder, mas Davi tinha mansidão e paciência que não permitiria isso. E assim agiu como agiu em relação a Simei. Deus vai descobrir a paciência de seus servos, disse o apóstolo: 1 Coríntios 4.13, “quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.”, a palavra aqui significa, o lixo da cidade, que estão aptos a lançar fora da mesma, para ser varrido, incapaz de viver entre os homens em sociedades civis. Cristãos, deve haver um tempo para o julgamento de nossas graças. Agora Deus usa esta época para a provação da paciência. Tal tempo como este descobre a força da graça.
4. Outra coisa que Deus deve provar é a nossa retidão, para que possamos nos manter em nosso caminho, “por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros;”como o apóstolo fala em 2 Coríntios 6.8; ainda para nos aprovar como servos fiéis de Cristo.
Se você procurar nos registros da história, você encontrará muitos que foram desencorajados no cristianismo por causa de acusações que foram lançadas sobre eles, porque o diabo trabalha muito sobre o estômago e o baço. Agora Deus vai provar a nosso retidão. Veja que, quando a lua brilha os lobos uivam, por isso, devemos nos manter em nosso curso. Deixe que os homens falem conforme lhes agrade, e ainda assim permaneçamos fiéis a Deus: Sl 109.22, "Afasta de mim opróbrio e desprezo, porque eu tenho guardado os teus testemunhos.” Davi não ficava perturbado com desprezo e reprovação, e ainda mantinha os testemunhos de Deus e respeitava os seus caminhos. Alguns podem ser religiosos desde que sejam honrados. Quando as censuras chegam, quando os seus interesses seculares estão em perigo, então eles caem, questionando os caminhos de Deus, e inquietam seus corações, isto é, como para se vingarem contra o próprio Deus, julgando que não cuidou deles o tanto quanto deveria.
Em terceiro lugar, o Senhor não faz isto para lhe fazer bom, mas para torná-lo melhor. Censuras são como sabão, que parecem contaminar a roupa, e no entanto a limpam. Não há nada tão ruim, mas podemos fazer um bom uso dela, e um cristão pode ganhar alguma vantagem com isso. Então censuras (opróbrios)  são uma ajuda necessária para nos tornar mais humildes e santos – para nos fazer caminhar com um santo temor. O caminho é, não para disputar estima, mas para crescer melhor, mais sério, mais fiel em nossas vidas, pois este é o caminho, para calar a boca dos adversários, como a boca de um cão ou animal selvagem, 1 Pedro 2.15.






3 - A Alegria Morre na Tristeza?

Artigo de Por John Piper, traduzido pelo Pr Silvio Dutra.

Quero sublinhar a grande verdade que a alegria cristã não morre quando as tristezas abundam. Alegria e tristeza na vida cristã não são sequenciais, mas simultâneas. Somos chamados a nos alegrar sempre, e ainda que sofrimentos rompam como ondas sobre nossas vidas.
O Salmo 30.5 diz: "O choro pode durar toda uma noite, mas a alegria vem pela manhã", a qual é sequencial. Estou ciente disso. Eu não acho que isso é uma contradição, no entanto, porque há uma espécie de alegria que é livre de dor, livre de sofrimento, e sem lágrimas. Deus faz isso o tempo todo para nós. Nós não estamos experimentando a dor porque algo aconteceu para tirar essa dor na parte da manhã. Mas isso nem sempre acontece dessa forma. Mesmo na noite anterior, quando o choro é abundante, a alegria não passou. Ela não morreu.
Paulo nos ordena: "Finalmente, irmãos, regozijai-vos no Senhor. Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós. Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão;” (Filipenses 3.1,2). Ele não disse: "Alegrem-se, e, em seguida, parem de se alegrar e lidem com o conflito." Não. "Alegrai-vos no Senhor... e guardai-vos dos cães." Isto é simultâneo.
Em Filipenses 3.18, Paulo descreve essas pessoas novamente: Eles são inimigos da cruz aos quais me referi antes e agora vos digo novamente com lágrimas. Paulo está chorando por causa dos cães e maus obreiros, mesmo quando ele nos ordena a regozijar-nos no meio do conflito. Apenas alguns versículos depois, no capítulo 4, ele diz (e repete, para que não percamos o ponto), "Alegrai-vos sempre, e mais uma vez eu digo alegrai-vos" (Filipenses 4.4). A repetição diz: Sim, eu tinha a intenção de dizer sempre, porque eu já afirmei para vocês como vocês se alegram e choram ao mesmo tempo.
E a chave para este tipo de alegria nas circunstâncias em que estamos propensos a murmurar ou reclamar ou chorar é encontrado na soberania de Cristo e na doçura de Cristo.
Mesmo em Provações, Você Exulta
Talvez seria útil se eu lhe desse um par de outros exemplos da Bíblia que sustentam esta experiência simultânea de tristeza e alegria - não sequencialmente, mas simultaneamente:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações,” (1 Pedro 1: 3-6).
Não há nenhuma sequência lá. "Nisto você se alegra, se você está triste" são experiências simultâneas. Essa é a natureza da vida cristã. II Coríntios 6.10 diz simplesmente, "entristecidos, mas sempre alegres." Estes são eventos simultâneos para os seguidores de Jesus. Portanto, quando tristezas vêm sobre nossas vidas enquanto cristãos, os quais agem e pensam regularmente sob o cuidado providencial e disciplinador do nosso Pai, nossa alegria não morre.

O Dia em que Minha Mãe Morreu
Quando eu tinha 28 anos, minha mãe morreu. Lembro-me exatamente onde eu estava de pé quando o telefone tocou. Meu cunhado disse: "Johnny, eu tenho más notícias. Sua mãe morreu em um acidente de ônibus." Eu caí para trás e me ajoelhei no quarto, na minha cama, e chorei por duas horas.
E, como eu chorei pela perda de uma das pessoas mais importantes na minha vida, eu estava cheio de alegria. Fiquei impressionado com a alegria que ela foi uma ótima mãe. Em segundo lugar, Deus lhe tinha dado para mim por vinte e oito anos. Em terceiro lugar, nós tínhamos sido maravilhosamente conciliados pela maneira que eu a tratava como um filho. Em quarto lugar, ela não sofreu por um longo tempo. Foi instantâneo, em um momento. Por último, eu estava cheio de alegria, porque ela estava com Jesus.
Juntamente com a perda, pesada - dolorosa, de cortar o coração, de lágrimas sendo derramadas – havia alegria, alegria, alegria. A alegria cristã não é para ser morta pelas dores.

Tristeza e Doçura
Para outro exemplo, cerca de três semanas atrás eu falei com a minha irmã mais velha. Deus tem sido bom para conosco ao longo dos últimos anos por nos dar um renovado, mais doce, relacionamento mais profundo. Eu só a via uma vez por ano mais ou menos. Ela vive há 1.100 milhas de distância. Nós estávamos no telefone e falávamos principalmente sobre tristezas em nossas vidas. Nós estávamos compartilhando nossas tristezas e ambos fomos tomados totalmente pelas emoções daqueles momentos. Quando desliguei, eu disse à minha esposa: "Essa foi a melhor conversa que já tive com minha irmã."
O que foi aquilo? A conversa foi totalmente dominada por lágrimas - com tristeza - mas alguma outra coisa estava acontecendo. Havia uma doçura emocional e vínculo entre nós. Meu ponto é que a alegria cristã em Cristo não está morta na tristeza. Ela não morre quando as tristezas abundam.
Uma Chamada à Alegria
Permita-me deixá-lo com esta exortação pessoal de Filipenses. Receba-a como se o inspirado apóstolo Paulo, e até mesmo o próprio Cristo, estivessem falando para você.
“Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.
Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor. Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.” (Filipenses 4: 4-7)








4 - Da Tristeza para a Alegria

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

“A sua tristeza se converterá em alegria." (João 16:20)
Nosso Senhor era muito honesto com os Seus seguidores quando se alistavam sob Sua bandeira. Ele não professa que eles iriam encontrar um serviço fácil se o tivessem por seu líder. Certa ocasião Ele parou alguns espíritos entusiasmados por ordenar-lhes que calculassem o custo; e, quando alguns disseram que iriam segui-lo onde quer que fosse, lembrou-lhes que, embora as raposas tivessem tocas e as aves do céu ninhos, Ele não tinha onde reclinar a cabeça. Ele nunca enganou qualquer homem. Ele contou toda a verdade a eles, e poderia honestamente dizer-lhes: "Se não fosse assim, eu vos teria dito."
Neste versículo Ele lembra o Seu povo que eles terão tristezas. A tristeza é uma parte designada para toda a humanidade, e há uma tristeza que é a bênção especial dos santos. Eles terão pesar se nenhum outro tiver.
Oh, espírito jovem, você acaba de encontrar um Salvador, e seu coração está muito contente. Seja feliz enquanto você pode, mas não espere que o sol sempre brilhará. Conte com os dias de chuva e dias de geada e de tempestade, porque eles virão.
Nosso Salvador, no verso diante de nós, não somente diz a Seus discípulos que eles terão tristezas, mas Ele os adverte que, por vezes, teriam uma tristeza peculiar. Quando o mundo se regozijasse, estariam aflitos.
"O mundo se alegrará", diz ele, "mas você deve chorar e lamentar." Agora isso às vezes é difícil para a carne e o sangue aceitar. Não podemos entender esse enigma - o povo de Deus suspirando e os inimigos de Deus rindo - um santo no monturo com os cães lambendo suas feridas e um pecador vestido de escarlata e saindo suntuosamente todos os dias - um filho de Deus suspirando e gemendo, castigado cada manhã, e um herdeiro do Inferno desfilando no mundo com sua alegria! Essas coisas podem ser assim? Sim, elas são assim, e se lermos este enigma pelo olho da fé, devemos entendê-lo. No entanto, veremos a Deus trabalhando mesmo nestas circunstâncias misteriosas.
Agora, nosso Senhor, a fim de sustentar os Seus servos sob as notícias de tristeza e de sofrimento especial, deu-lhes dois pensamentos. Primeira Ele o colocou nestas palavras - "um pouco de tempo." E há toda uma hortelã da consolação de ouro aqui - "um pouco de tempo." Quando as aflições são apenas temporárias, nós as suportamos.
Uma operação dolorosa tem que ser realizada, mas, quando o cirurgião nos diz que somente irá ocupar um minuto ou dois, nós nos submetemos a ele. "Um pouco" - que leva para fora da borda da tristeza. Se for senão um minuto, e em seguida, haverá interminável bênção que vem de fora, oh, então nos gloriamos na tribulação, e não a consideramos digna de ser comparada com a glória que há de ser revelada em nós. Aflitos filhos de Deus, confio a vocês essas palavras, "um pouco de tempo." Rogo-lhes para terem-nas em sua boca como um doce bocado quando sua boca estiver cheia do absinto da tristeza.
A outra reflexão que Ele lhes deu para o seu conforto é a que é feita por nosso texto, "a vossa tristeza se converterá em alegria." Que Deus o Espírito nos console enquanto pensamos sobre estas palavras.
O Senhor tinha falado sobre a Sua morte aos discípulos, quando estavam sentados em torno da mesa, e lhes tinha revelado o fato de que estava prestes a ser entregue nas mãos de homens ímpios e seria crucificado, e que isso iria fazê-los chorar e lamentar; mas referente a isto Ele diz: "a vossa tristeza se converterá em alegria." Temos também uma outra tristeza saindo dessa, ou seja, a tristeza que nosso Senhor ressuscitado tem ido longe de nós, subido o Monte das Oliveiras e deixado a Sua Igreja viúva; e ainda aqui a tristeza, também, é transformada em alegria. Falemos, então, sobre essas duas coisas.
Em breve verão diante de vocês, irmãos, um banquete sagrado. Estamos nos preparando para vir esta noite ao redor da mesa sobre a qual temos o pão e o vinho que celebra a morte de nosso Salvador. Agora, é um pensamento muito agradável que para celebrar a morte de Cristo não temos uma celebração que está cheia de tristeza. Não há nenhum mandamento que nos diga que devemos ir vestidos de luto, que devemos nos unir como a um funeral. Pelo contrário, o mandamento que comemora e manifesta a morte de Cristo é de alegria, se usado corretamente
Irmãos, não há motivo para tristeza quando olhamos para a cruz, pois Jesus está novamente vivo; Ele tem a glória sobre Ele que não teria, e não poderia ter tido, se Ele não tivesse se inclinado para vencer e inclinado a cabeça até a morte. O homem Jesus Cristo agora está assentado à destra do Pai exaltado muito acima dos principados e potestades, e de todo nome que é nomeado. Ele vê o fruto do trabalho de Sua alma, e ele está satisfeito, e em vez de lamentações tristes nos alegramos e o louvamos.
Além disso, irmãos, somos vencedores agora. É verdade - o nosso pecado está crucificado e extinto. Nosso pecado foi repudiado pela morte de Cristo. E agora o príncipe deste mundo foi expulso. Glória a Deus, chegamos ao memorial da morte de Cristo como a uma festa. Nossa tristeza é transformada em alegria.
É um grande ganho para nós não ter o Salvador aqui, pois Ele disse: "Se eu não for, o Consolador não virá para vós outros." Agora, é uma coisa mais nobre ter o Espírito de Deus habitando em nós do que ter Jesus Cristo habitando na terra. Pois, como já deu a entender, se estivesse na terra nem todos poderiam chegar a Ele; pois só podia estar em um lugar de cada vez. Mas agora o Espírito Santo está aqui. O Espírito Santo está sempre onde os crentes estão. "Não sabeis que Ele habita em nós para sempre?" E que não vemos nada, tudo isso é o melhor para nós. Uma vida de vista é para bebês; a vida com sensação é para crianças pobres, mas a vida de fé é para os homens em Cristo Jesus, e nos enobrece, tirando tudo o que é para ser visto e dando-nos poder para andar com o invisível. "Embora tenhamos conhecido Cristo segundo a carne", diz o apóstolo, "mas agora já não o conhecemos deste modo." Nós não temos Cristo entre nós segundo a carne, e estamos contentes de que assim seja, para que agora a nossa fé seja exercida e Deus ama a fé, e a fé torna os homens em verdadeiros homens aos olhos de Deus, e os enobrece tornando-os amigos de Deus.
Talvez eu esteja falando a algumas pessoas que estão sob muito graves aflições . Amado irmão, se o Senhor se manifestar em suas aflições, você ficará muito triste em se livrar delas; pois vai sentir que elas estão mesmo agora se transformando em alegria.
Eu também sei que a dor pode vir sobre você e graça pode vir com a dor, de modo que se sente grato por isso. Tenho ouvido santos de Deus dizerem que tiveram grandes perdas, mas que o amor de Deus foi derramado em suas almas, para que as suas perdas fossem contadas como ganhos. Temos ouvido falar de alguém que disse: "Deixe-me voltar à minha cama novamente, deixe-me ir para a minha dor de novo, porque eu tinha tanto de Cristo lá que eu, sinceramente, preferia estar sempre doente do que perder a doença e perder o amor do meu Senhor. "
Sim, amados, Ele pode, neste momento, transformar suas tristezas em alegrias. Se você tem uma grande porção de tristeza, você vai ter uma grande porção de alegria, pois Ele transforma tudo em alegria.
Leva um pouco de tempo para as nossas tristezas florescerem em doçura, mas elas irão.
E, marque isto, se não neste mundo, mas no País abençoado celestial a sua tristeza se converterá em alegria. Você estará entre os prazeres do céu, eu não duvido, para olhar para trás as tristezas da vida e ver como elas ministraram a nossa aptidão para uma pátria melhor.
Não vamos fazer canções de nossos suspiros e músicas de nossos lutos; somente esperemos e sejamos pacientes.












46) EDIFICAÇÃO

ÍNDICE

1 - Edificando Sobre o Fundamento Firme e Inabalável – Parte 1
2 - Edificando Sobre o Fundamento Firme e Inabalável – Parte 2
3 - Edificando Sobre o Fundamento Firme e Inabalável – Parte 3
4 - Edificando Sobre o Fundamento Firme e Inabalável – Parte 4


1 - Edificando Sobre o Fundamento  Firme  e Inabalável – Parte 1

“Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.”  (Tiago 1.6-8)

O pedir a Deus do texto se refere à sabedoria para viver a vida cristã, notadamente no que se refere à necessidade de perseverança, constância, paciência, em meio às aflições.
Aquele que duvida do poder, da bondade e misericórdia de Deus para realizar uma profunda obra de transformação da sua vida, até a plena maturidade, não o receberá da parte do Senhor, porque isto deve ser buscado com fé constante, diária, no carregar da cruz e seguir a Cristo e a Sua vontade.
A inconstância no viver cristão é comparada por Tiago ao movimento irregular e inconstante das ondas do mar, que é determinado pelo vento, e não pela própria água que ela contém.
Assim também o crente inconstante em seu caminhar é movido pelos ventos de falsas doutrinas, pelo seu próprio querer, e pela ação de espíritos malignos e a atração do mundo, porque não está firmemente edificado no fundamento da salvação que é o próprio Cristo, fundamento este que está revelado nos escritos dos profetas e apóstolos.
A ação de cavar do homem sábio e prudente para edificar a sua casa sobre a rocha, configura o esforço e trabalho que são necessários para se achar o alicerce, que é Cristo, e iniciar a construção do edifício espiritual em sua própria vida, mediante prática da Palavra de Deus.
No “pedir” citado por Tiago em nosso texto está implícita além da necessidade da oração, a de se buscar o conhecimento da vontade de Deus em Sua Palavra, com vistas à sua prática.
E isto deve ser traduzido no caminhar em direção à busca da constância e confirmação da fé, em graus cada vez maiores, conforme isto é concedido pela operação do Espírito Santo.
É evidente que aqueles que não forem achados neste trabalho, são os “inconstantes em todos os seus caminhos” referidos no texto, porque dão com isto uma prova flagrante de falta de fé em Deus.
A fé é ativa e conduz à nossa transformação e ao culto e serviço a Deus.
As graças de Deus serão aumentadas em nós à medida que nos dedicarmos a isto com diligência. E o próprio Espírito infundirá em nós um aumento crescente de nossa plena confiança nas promessas de Deus, e no conhecimento da pessoa e vontade de Jesus Cristo.




2 - Edificando Sobre o Fundamento Firme e Inabalável – Parte 2

É possível ser despertado espiritualmente várias vezes, quer no culto público ou doméstico e particular, e ainda assim não se firmar na constância e perseverança na fé e na verdade, requerida por Cristo de todos os seus discípulos.
A razão disto está atrelada ao fato de se negligenciar a prática da Palavra de Deus no viver diário, na prática diária da vida. Por não se dar a devida atenção e respeito às ordenanças de Deus, e não ter reverência a Ele como o Rei que é de fato, e que nos impõe regras absolutas para nos mantermos na comunhão com Ele.
Assim, não é apenas o seu poder que deve ser glorificado, mas o seu amor, que além de glorificado deve ser honrado, por santificarmos o seu nome por um correto testemunho de vida, que seja segundo a Palavra.  
Enquanto a alma não estiver submissa à vontade do Senhor ela não poderá experimentar a vida estável que está em Cristo, e assim, sempre estará sendo agitada pelo vento que a afastará cada vez mais longe do Senhor e da Sua santa vontade.
Uma edificação firme e inabalável não pode ser feita de adorações ocasionais, de êxtases momentâneos, mas de uma caminhada sóbria, num comportamento santo, debaixo da influência e direção cotidiana do Espírito Santo.
Daí Jesus afirmar a necessidade de se carregar a cruz para a negação do ego carnal, não apenas por uma hora ou por um período determinado, mas diariamente, até que tenhamos completado a nossa jornada neste mundo.
Alguém que tenha uma fé pequena não está excluído disto, porque uma fé assim pode ser sincera e pegar algo da vontade de Deus com constância e firmeza.
Deus firmará e apoiará o fraco que se submeter a Ele com sinceridade.  
Mas o hipócrita, aquele que dúvida, nada receberá do Senhor, ainda que simule ter uma fé forte.
As ondas do mar estão numa forma num momento, e em outra, em seguida, e sempre se apresentam assim, de modo que não podem ser definidas.
Decididamente, não é este tipo de comportamento em nós, que agradaria a Deus. 





3 - Edificando Sobre o Fundamento Firme e Inabalável – Parte 3

Sem fé é impossível agradar a Deus, porque tal agrado decorre de um viver constante na Sua Palavra.
O que não incluir esta obediência real à Palavra, nem que seja no esforço sincero demonstrado em cumpri-la, não pode ser chamado de fé.
Daí afirmar o apóstolo Paulo que tudo o que não provém de fé é pecado (Rom 14.23).
Onde faltar esta verdadeira piedade haverá sempre este sinal evidente de falta de fé.
Chamamos todo o nosso caminhar com Cristo, de vida da fé ou pela fé. De se caminhar por fé e não por vista.
A fé verdadeira sempre é acompanhada por obras de fé, em sinal patente da real e progressiva transformação de nossas vidas.
A graça chama por mais graça, e ela sempre crescerá pelo exercício da fé. Desta vida consagrada nas mãos do Senhor.
A fé imporá graciosamente e por constrangimento a renúncia ao ego carnal, ao pecado, ao fascínio do mundo, e se oporá firmemente às tentações do diabo, e nos habilitará a suportar as provações, perseverando na prática do nosso dever para com Deus.
Pela fé confirmaremos a Lei do Senhor. Amaremos seus mandamentos, seus estatutos, seus juízos, suas promessas, e tudo faremos para não transgredi-los.      
Assim, uma pessoa pode ser um cristão autêntico, ser um fiel que compõe o rebanho de Cristo, e todavia ainda estar vivendo de modo infiel ao Seu Deus.
No dizer de Tiago, a falta de fé e a consequente falta de sabedoria recebida de Deus que conduz a uma vida cristã correta, será sempre vista num homem de coração dobre, que é inconstante em todos os seus caminhos.
Ser de “coração dobre” – dpsuchos, como está no original grego, que literalmente significa “de duas almas” - não que ele tenha duas almas, mas é aquilo que chamamos de pessoa de duas caras, um hipócrita.
Na congregação ele mostra a falsa face piedosa, e na vida cotidiana manifesta a sua real condição carnal e que resiste a Deus e à Sua vontade.
Daí a ordenança do apóstolo:
“Tg 4:7 Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
Tg 4:8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração.
Tg 4:9 Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza.
Tg 4:10 Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.”
Podemos ver a atualidade e urgência da necessidade de aplicação destas palavras em todas as congregações cristãs. E não é sem motivo que ela se encontra registrada na Palavra por inspiração do Espírito Santo, para alertar aos cristãos quanto a esta crucial necessidade.
Temos uma natureza terrena pecaminosa, ao lado da nova natureza espiritual recebida pela fé, e sempre haverá portanto, esta necessidade de mortificação do pecado, e aproximação  do Senhor  para sermos revestidos da Sua própria vida.
A negligência desta necessidade sempre conduzirá a um viver afastado dos caminhos de Deus, não importando quão assíduos sejamos aos trabalhos de nossas congregações.   





4 - Edificando Sobre o Fundamento Firme e Inabalável – Parte 4

A pessoa de coração dobre é aquela cujo coração está dividido entre aquilo que é de Deus e o que não é dEle.
Ela ama a Deus em sua mente, mas ama o mundo e o pecado em suas ações, e até mesmo em seus pensamentos.
Ela não pode servir ao Senhor e estar em comunhão com Ele, porque Ele não aceita um coração dividido.
Um coração quebrantado é agradável ao Senhor, mas nunca o será um coração dividido.
Então quando o apóstolo nos ordena a purificação de nossos corações, mais do que a purificação do pecado cotidiano, está em vista a necessidade de nos definirmos somente pelo Senhor, e sermos íntegros e constantes em nossa adoração e serviço a Deus, livrando-nos de tudo aquilo que está em inimizade contra Ele e à Sua vontade.
Isto é um trabalho que será operado pelo Espírito Santo, mas não sem a nossa participação determinada e efetiva, notadamente no que se refere a nos sujeitarmos à disciplina de Deus, e a toda a Sua vontade.
Enquanto houver qualquer indisposição neste sentido, jamais veremos o propósito de Deus se cumprindo em nós neste mundo.
Uma vida de vitória espiritual está intimamente atrelada à nossa obediência ao Senhor, porque é Ele quem realiza tudo em nós.
Não podemos ser submetidos ao trabalho do Grande Oleiro, enquanto estivermos fugindo de suas mãos.
Ninguém será constante na profissão de qualquer verdade, enquanto não estiver convencido em seus motivos para abraçá-la e seguI-la.
Os que são de coração dobre devem fazer um exame sincero de sua condição diante do Senhor, para que possam ser convencidos do quanto são instáveis em sua caminhada cristã.
Se o que está firme, corre o constante perigo de decair de sua firmeza por não continuar crescendo na graça e conhecimento de Jesus (II Pe 3.17,18), o que se dirá daquele que é permanentemente de coração dobre?
Como dissemos, isto não será curado com a simples ministração de poder e graça em nossos cultos, com imposição de mãos para que sejam cheios do Espírito, porque enquanto não houver tal disposição de se estar alicerçado de modo firme e constante no  fundamento da verdade, não poderá haver uma vitória que atenda ao propósito divino, senão breves e intermitentes alívios de uma consciência duvidosa, inconstante e insensível ou culpada diante de um Deus temível e inteiramente santo. 





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