sexta-feira, 23 de outubro de 2015

49) Encorajamento 50) Ensino

49) ENCORAJAMENTO

ÍNDICE

1 - Para Quem se Sente Enfraquecido e Abatido
2 - Força e Coragem Vêm do Senhor
3 - Esperança para Arruinados e Fracassados
4 - Revestindo-se do Pensamento de Tudo Vencer
5 - “Eu roguei por ti." (Lucas 22.32
6 - Recuperando-se do Desânimo
7 - Para o Cristão Tímido e para o que Sofre
8 - "Aquietai-vos e Sabei Que Eu Sou Deus"
9 - Bom Ânimo para Muitos que Temem
10 - Bom Ânimo Para os Excluídos
11 - A Cura para Alimentos sem Sabor, ou, Sal para a Clara de um Ovo
12 - Ribeiro Ilusório e Águas Inconstantes?
13 - ADIANTE!


1 - Para Quem se Sente Enfraquecido e Abatido

Para o fortalecimento da alma e do espírito, não há fórmulas mágicas, e tudo o que se propõe fora da fortificação que há em Cristo, é engodo ou algo passageiro e ineficaz.
É evidente que na hora em que os laços do inferno de nós se apoderam, e as angústias de morte nos abatem, a ponto de parecer que estamos de fato sem esperança e mortos para a vida.
Quando o vigor da alma foge.
O apetite some, a cabeça se transtorna, e o coração se estremece.
E o calafrio sobe sem que se possa exercer qualquer controle, porque é involuntário e nos tira até a pouca força que temos.
Não há remédio no mundo que vença tal abatimento, de modo seguro, restaurador, competente, duradouro.
Somente a oração ajuda nessas horas.
E não somente a nossa, e principalmente as intercessões de outros em nosso auxílio.
Deus ouvindo e vendo o nosso estado terrível, se compadece e envia o socorro, ou diretamente pelo Espírito Santo, ou pela ajuda de anjos.
Uma batalha espiritual tremenda se estabelece.
Os olhos do corpo não veem.
Mas os do coração sentem e percebem quando os poderes malignos são expulsos e vão embora.
E passa a reinar uma paz absoluta em nossa alma.
A paz de Jesus que excede todo o nosso entendimento prevalece, e vence qualquer tipo de tormento.

“Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus.” (II Timóteo 2.1)

“invoca-me  no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” (Salmo 50.15)

Deus tem prazer em nos dar tal força e livramento, porque isto comprova o quanto Ele cuida de nós e nos ama.
Ninguém deve ter vergonha de reconhecer a sua necessidade de amparo e recorrer a Ele pedindo ajuda e alívio.
Afinal, quem é sensível, e que investiga a causa do bem, sempre estará sujeito a tais ataques que são desferidos pelos poderes do inferno.
E não há quem possa de si mesmo, vencer a tais espíritos, senão somente nosso Senhor Jesus Cristo.
Recorramos a Ele, com firme confiança, aguardando com paciência pelo Seu socorro, e veremos o quanto Ele é poderoso e fiel, para nos livrar, e nos encher do Seu poder e consolo.






2 - Força e Coragem Vêm do Senhor

Salmos 29:11  O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR abençoa com paz ao seu povo.
Salmos 118:14  O SENHOR é a minha força e o meu cântico, porque ele me salvou.
Isaías 12:2  Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o SENHOR Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação.
Jeremias 16:19  Ó SENHOR, força minha, e fortaleza minha, e refúgio meu no dia da angústia
De onde vinha a força e a coragem de Davi, Isaías e Jeremias para enfrentarem toda a sorte de inimigos que deram contra suas vidas?
Onde acharam paz e ousadia na enfermidade?
Onde acharam ânimo para prosseguirem em sua caminhada com os terrores demoníacos que investiam constantemente sobre suas almas?
Na determinação deles de serem vencedores?
Somente isto lhes teria dado força e bom ânimo na aflição?
Porventura não foi o próprio Senhor a força e a coragem deles?
Certamente que sim.
De onde procedem a força e o bom ânimo do cristão quando terríveis poderes do inferno investem contra o seu corpo, seu espírito e sua alma?
 Por isso vemos o apóstolo Paulo recomendando aos seus cooperadores na obra do evangelho que  se fortalecessem no Senhor e na força do Seu poder. Que se fortalecessem na graça de Jesus.
Isto correspondia também a lhes dizer que nunca esquecessem qual era a fonte da alegria, da força e do bom ânimo deles nas tribulações e em todas as lutas que tinham que enfrentar em prol do evangelho.
Sempre é o Senhor a nossa própria força.
Ai de nós se Ele não fortalecer o nosso coração!
Desfalecemos, enfraquecemos, desanimamos.
Basta que por um só instante Ele retire a Sua mão fortalecedora de sobre nós, e logo nos vemos entregues a sentimentos de angústia e de morte.
Isto porque o diabo não nos poupará, porque sempre anda à espreita esperando o momento em que o Senhor permitirá que caminhemos sem a Sua força, em alguns momentos de nossas vidas, para a prova da nossa fé, e para que saibamos sempre, quando estivermos fortes e alegres, que é Ele próprio a fonte desta alegria e força.
Por isso devemos orar por nós mesmos e uns pelos outros, para que sejamos revestidos do Senhor e da força do Seu poder.
Não será portanto no nosso programa de disciplina quanto aos bons hábitos de vida, ainda que isto seja importante, ou em qualquer outra coisa de proceda de nós mesmos, que encontraremos a alegria e a força de viver.
É preciso praticar o bem, fazer o que é certo, adquirir sabedoria no viver. Tudo isto é importante e necessário para um viver abençoado. Mas nunca será no fruto do nosso próprio trabalho que se achará a força e alegria, porque isto sempre nos virá da parte do Senhor.
Sempre será no Senhor mesmo e no poder da Sua graça que poderemos nos achar com bom ânimo em todas as circunstâncias.
Se Deus permitir que sejamos entregues a nós mesmos, logo nos acharemos deprimidos e abatidos. E nenhuma força ou poder deste mundo poderá nos arrancar das mãos de tais sentimentos arrasadores que dominam a nossa mente, o nosso corpo e o nosso espírito.
Palavras consoladoras para nada adiantarão nestas horas.
A própria força da vontade nada poderá fazer, por mais que nos empenhemos em nos levantar de tal abatimento.
É do céu que nos virá o socorro.
Nenhuma esperança genuinamente verdadeira poderá nos chegar de qualquer outra parte.
E não somente seremos livrados do nosso abatimento como de tudo que possa ter dado causa ao mesmo, quando o Senhor começar a agir em nosso favor.
Lembremos que Jesus é poderoso para nos curar de toda e qualquer enfermidade.
Não há nenhum diagnóstico de doença incurável atestado pelos homens, que não possa ser revertido por Ele e pela força do Seu poder.
Não há nenhuma dificuldade, por maior que seja, que não possa ser contornada por Ele, dando-nos a força e a coragem necessárias para enfrentá-la.
Não fiquemos portanto alegres pelo mero pensamento de que Ele pode nos ajudar em todas as coisas, mas que efetiva e certamente tornará a alegrar e a fortificar todos aqueles que nEle esperam e confiam tão somente nEle para serem fortificados, alegrados e curados.
Não é portanto o nosso esforço para evitar pensamentos de morte, temores, inquietações, ansiedades, que poderá nos livrar efetivamente de tudo isto, mas somente o poderoso braço do Senhor.
Por isso devemos dar toda glória e honra tão somente ao Seu grande nome, e nunca esquecermos, tal como o apóstolo Paulo que é o próprio Senhor a fonte da nossa força e alegria, conforme podemos vê-lo fazendo tal citação em textos como os seguintes:
Em Colossenses 1:11:  sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria,
Em Efésios 1:16-19:
16  não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações,
17  para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele,
18  iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos
19  e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder;
Em Efésios 6:10:  Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.
Pastores nunca conseguirão congregações fortes, animadas e alegres espiritualmente, por simplesmente  exortarem os cristãos no sentido de que sejam sempre alegres no Senhor e que evitem toda forma de pensamento negativo.
Alegrar-se no Senhor é um mandamento.
Pensar no que é bom e agradável é também outro mandamento.
Todavia, até mesmo os próprios pastores poderão ser entregues por Deus a profundos sentimentos de depressão, enquanto continuam pregando aos cristãos debaixo do seu cuidado, que eles devem estar sempre de bom ânimo e alegres. Que devem estar de bem com a vida, sempre trazendo um grande sorriso em seus lábios.
Quem prega deste modo olhando somente para a congregação, e sem olhar para o alto esperando que tal força e alegria de viver nos venham diretamente de Deus e do céu, pode estar certo que terá seus esforços frustrados, por maiores e melhores que sejam suas intenções.
Afinal, demônios não são vencidos com argumentos.
As forças do inferno não recuam com o simples exercício de pensamento positivo.
É pela fé no poderoso nome de Jesus que todos os nossos inimigos espirituais batem em retirada, conforme podemos aprender fartamente em tantas passagens da Bíblia.
Em nossos abatimentos, em nossos sofrimentos, olhemos tão somente para o Senhor, na expectativa de que a Seu tempo, conforme o poder da Sua graça,  tornará a nos alegrar e a fortificar o nosso coração.






3 - Esperança para Arruinados e Fracassados

A Bíblia revela como Deus trabalha com aqueles que falharam.

Deus trabalha para salvar nossas vidas das  conseqüências de nossos próprios fracassos e pecados.

Os fracassos tendem a fazer com que nos depreciemos ou então que nos justifiquemos. Quando nos depreciamos. este sentimento tende a nos colocar numa espiral descendente à medida que focalizamos os nossos fracassos. Quando nos justificamos permanecemos cegos e endurecidos pelos nossos pecados, e não conseguimos experimentar o amor e a misericórdia de Deus.
Frequentemente o sentimento de culpa pelos nossos fracassos interfere com a habilidade de Deus para nos trazer restauração espiritual. A dificuldade para a restauração espiritual ocorre porque Satanás nos tenta a pecar e busca nos envergonhar em esconder nosso pecado e culpa diante de Deus, tal como fizera com Adão e Eva no jardim do Éden.
Satanás dirá que não temos o direito de orar por causa dos nossos pecados, e que é melhor esconder nossos pecados do que ter uma atitude descarada de dizermos a Deus quais têm sido os nossos erros e fracassos.
  A culpa que acompanha frequentemente o fracasso nos leva a sentir que Deus não ouvirá nossas orações. Quando ficamos convencidos que Deus estará somente preocupado em nos ferir quando falharmos, podemos estar seguros que estes sentimentos são incitados pelo Diabo.
Deus busca nos vestir com a retidão de Jesus Cristo. Ele quer que saibamos que permitirá que nos levantemos na Sua presença, apesar dos nossos fracassos.
 Todavia, a coisa mais fácil para se fazer se torna a coisa mais dura para ser feita, a saber, a de buscar a misericórdia de Deus quando nós falhamos espiritualmente.
A razão da dificuldade de entoarmos louvores a Deus reside no fato de a natureza do pecado ser tal que encobre quem nós realmente somos. O pecado é também de uma tal natureza que nos oculta a própria natureza de Deus, que busca nos redimir, justificar em Cristo, e habitar em cada um de nós.
Deus deseja olhar além de nossos fracassos. Ele deseja nos limpar e nos vestir com a justiça de Jesus Cristo.
Assim, em vez de tentarmos esconder nossos fracassos, necessitamos confessá-los a Deus, e reconhecer a nossa real condição de pecadores diante dEle, se desejamos ser perdoados, justificados e salvos pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Todavia, a presença santa e real de Deus não se manifestará em nossas vidas enquanto não reconhecermos a necessidade que temos de permitir que Ele governe nossas vidas.
E como poderá o Senhor assumir o governo de nossas vidas se agirmos tal como fizeram Adão e Eva tentando esconder a sua culpa e vergonha atrás das árvores do jardim, e cobrindo-se com folhas de figueira?
Se não aceitarmos a vestimenta de peles de animais feita pelo próprio Deus para cobrir a nossa culpa, vergonha e fracassos, não poderemos estar de pé diante dEle. E tal vestimenta de peles que Ele fez para Adão e Eva representava em figura a veste da justiça de Cristo que nos está sendo oferecida pela Sua graça e misericórdia.  
Todavia, o Senhor não poderá cobrir a nossa nudez até que reconheçamos que estamos nus, espiritualmente falando. Porque sem a veste da justiça de Cristo, os nossos pecados continuarão à mostra diante dos seus olhos, tornando-nos dignos da Sua condenação.
A Bíblia está repleta de histórias relativas à redenção do homem, mas Satanás busca ocultar tal história de redenção e nos leva a focalizar os maus desejos de nossos próprios corações.
Os filhos de Deus devem entender a luta que deve ser travada para estarmos diante de Deus, mas devem entender também o amor misericordioso de Deus, orando tal como o salmista:
 “21 Mas tu, ó Deus, meu Senhor age em meu favor por amor do teu nome; pois que é boa a tua benignidade, livra-me;
22 pois sou pobre e necessitado, e dentro de mim está ferido o meu coração.”(Sl 109.21,22)

Quando nós confessamos nossos pecados Deus nos perdoa e nos purifica de toda a injustiça porque nosso Senhor Jesus Cristo é a  compensação para todos os nossos pecados.
“1 Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.
2 E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.
3 E nisto sabemos que o conhecemos; se guardamos os seus mandamentos.
4 Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade;
5 mas qualquer que guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E nisto sabemos que estamos nele;” (I Jo 2.1-5)






4 - Revestindo-se do Pensamento de Tudo Vencer

Na vida cristã sempre nos depararemos com muitas tentações para ficarmos desanimados, quer sejam de natureza exterior, quer interior, e assim, se pretendemos perseverar na fé em nossa jornada, devemos nos revestir do pensamento que não permitiremos que nenhum temor nos paralise, de modo que não  sejamos impedidos de cumprir nossos deveres para com Deus. Que seremos pacientes e esperaremos nele em todas as circunstâncias, porque sabemos que é somente por meio da sua graça que podemos triunfar sobre tudo o que se levanta contra nós, até mesmo no nosso interior.

“Heb 10:23 Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel.”

“Heb 12.1 Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que
Heb 12:2 olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.”

Importa que não desfaleçamos por falta de fé no Senhor; e consequentemente pela falta de sua graça em nós. Porque o que fez a promessa da colheita é fiel, e ceifaremos certamente todo o bem que tivermos semeado em nossa diligência e perseverança.

“Gál 6:8 Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna.

Gál 6:9 E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.”







5 - “Eu roguei por ti." (Lucas 22.32)

Quão encorajador é o pensamento sobre a intercessão incessante do Redentor por nós. Quando oramos, ele intercede por nós, e quando não estamos orando, ele está defendendo a nossa causa, e pelas suas súplicas nos protege dos perigos invisíveis.
Observe a palavra de conforto dirigida a Pedro: "Simão, Simão, Satanás pediu para te peneirar como trigo, mas" o quê? "Mas eu roguei por ti." Isso seria um bom conselho, mas não é assim que está escrito. Nem ele disse: "Mas eu vou mantê-lo atento, e por isso você deve ser preservado." O que seria uma grande bênção. Não, não é, "Mas eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça."
Temos pouco conhecimento do que devemos às orações de nosso Salvador. Quando chegarmos aos cumes do céu e olharmos para trás, veremos todo o caminho pelo qual o Senhor nosso Deus nos tem conduzido, e quanto deveremos louvá-lo, diante do trono eterno, por desfazer o mal que Satanás estava fazendo sobre a Terra.
Quanto  lhe devemos agradecer porque ele nunca se calou, mas dia e noite apontou para as feridas sobre as suas mãos, e carregou os nossos nomes em seu peitoral!
Mesmo antes de Satanás ter começado a tentar, Jesus se antecipou a ele e enviou um apelo ao céu. Ele não disse que quando Satanás pediu para peneirar Pedro, que ele iria orar então pelo apóstolo. Não, ele havia se antecipado, e disse que já havia orado por ele. Havia apelado ao tribunal antes mesmo da acusação ser feita.
"O Jesus, que consolo é isto, que pleiteies a nossa causa contra nossos inimigos invisíveis; frustrando suas intenções, e desmascarado suas emboscadas. Aqui está algo que é um motivo para alegria, gratidão, esperança e confiança.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







6 - Recuperando-se do Desânimo

“Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” (Salmo 43.5)

Este salmo foi escrito por Davi, o qual mostra as paixões de sua alma; porque os filhos de Deus conhecem o estado de suas próprias almas para o fortalecimento de sua confiança e melhoria de sua obediência.
Agora, esta é a diferença entre os salmos e outros partes da Escritura. Outras escrituras falam principalmente de Deus para nós, mas nos Salmos, é este santo homem quem fala principalmente a Deus e à sua própria alma, de modo que este salmo é uma admoestação de Davi à sua própria alma atribulada, quando se achava ausente da casa de Deus, ele expõe o assunto à sua alma: "Por que estás abatida, ó minha alma? e por que te perturbas dentro de mim?” As palavras contêm:

1. O estado de perplexidade de Davi; e
2. Sua recuperação do mesmo.

Sua perplexidade é estabelecida com estas palavras: "Por que estás abatida minha alma?” etc. Sua recuperação disto reside primeiro no  questionamento que fizera consigo mesmo. E, então, por uma admoestação à sua alma: "Confia em Deus”, e essa confiança é amplificada pela razão pela qual a sua alma deve confiar em Deus: "pois, ainda o louvarei," isto é, eu deverei ser livrado, para que com um coração libertado eu possa lhe dar graças. Porque este é o meu Deus, a minha salvação, e minha ajuda, o fundamento da minha fé e confiança.

 Consideremos primeiro a sua perplexidade, quanto ao caminho que ele seguiu para ser achado assim tão perplexo.

(1) Ele estava em grandes problemas e aflições. Assim, vemos por isto, que Deus permite que seus filhos cheguem ao limite, por muitas e longas aflições e problemas, antes de lhes prover livramento. Eles são mais sensatos das cruzes espirituais, em razão da vida da graça que há neles; e portanto, isto é o que os deprime mais do que todas as demais coisas. A necessidade de meios espirituais os tornam mais sedentos do que o cervo que brama pelos de ribeiros de águas, Sl 42.1. A sede espiritual é forte, e a vida da graça deve ser mantida. Agora o desejo pelos meios que possam fazer isto, lhe interessará mais do que tudo o mais.
A alma que está vivendo na graça não pode suportar viver sob pequenos meios de salvação, muito menos para suportar censuras blasfemas. Portanto, as pessoas que podem se contentar com pequenos ou quaisquer meios, com pequenos confortos, sem trabalhar e se esforçar por uma mais doce e íntima comunhão com Deus, têm motivos para temer as suas próprias condições. Uma criança, tão logo nasça, chora e procura o peito, que coloca fora de toda questão que há vida nela, embora seja tão fraca. Assim, a vida da graça que começou em nós é conhecida pelos nossos apetites espirituais e desejos pelos meios da graça.
(2) A segunda coisa que perturbou este homem santo, foram as palavras  blasfemas de homens ímpios. Portanto, se nós vamos tentar manter uma condição boa, devemos ver como podemos levar a sério tudo o que é feito contra a religião. Pode um filho ser paciente quando ele vê seu pai sendo abusado? Quando um homem vê o evangelho de Deus sendo pisado, se ele ficar indiferente, ele mostra que seu coração está morto. Em tal caso, é melhor se irar do que ser indiferente, porque isto revela vida, ainda que com muito destempero. Deus irá dar a luz de sua salvação a quem se importa com a Sua honra. O inimigo disse:  “Onde está o teu Deus?” Sl 42.10. Isto penetrou no coração de Davi. Agora, o que é que o inimigo nos diz neste dia? Onde está o seu Deus? Sua religião reformada? Seu Cristo? Bem, eles não são afetados com isso que é um estado ruim e perigoso; deixe que julguem por si mesmos o que eles farão. Os filhos de Deus são sensíveis a tais coisas, eles são homens, e não pedras. Carne, e não ferro. Portanto, não é à toa que eles são tão sensíveis em nossa época, e por a levarem tão a sério quanto possam; esquecendo as suas feridas, e misturando seus sentimentos com suas aflições, que deixam suas mentes perplexas.
Assim Davi se perturbou, e se entristeceu muito, pois afirma: "Por que estás abatida, minha alma?" De fato, por natureza, não temos limites em nossas afeições; se nos alegramos, nos alegramos demais; se nos entristecemos, nos entristecemos demais. A Graça somente faz qualificar todas as nossas ações e afeições, e onde não há a graça, há alegria ou tristeza total. Nabal, quando começou a se alegrar, alegrou-se muito em sua bebida, e quando começou a se entristecer, ele se excedeu nisto, 1 Sam 25​​ 36,37.
O filho de Deus é mantido de pé por aquilo que é forjado em seu coração, no qual a sua tristeza e alegria são misturadas.
"Por que estás abatida, ó minha alma?" O ponto é este:
É um pecado para um filho de Deus ficar muito desanimado e deprimido nas aflições, ou melhor, eu acrescento mais, embora a causa seja boa, como era aqui no caso de Davi.
Mas como saberemos quando um homem está abatido demais? Porque isto é uma coisa pecaminosa alguém não ser sensato do que está sobre ele.
A alma está abatida demais, quando nosso luto e tristeza não nos trazem a Deus, mas nos levam para longe de Deus.
Dor, tristeza e humildade são bons, mas o desânimo é mau. Daí nosso Senhor nos ordenar que tenhamos bom ânimo em todas as nossas aflições, por ser um testemunho da nossa confiança em Deus para nos livrar ou fortalecer em meio às nossas tribulações.
O excesso de desânimo foi o motivo de os filhos de Israel não terem dado ouvido a Moisés quando lhes falou, porque estavam em angústia de espírito, Êx 6.9.
O permitir-se ficar desanimado por causa da aflição é um pecado porque isto coloca uma reprovação no próprio Deus, como se não houvesse força nas promessas de Deus para manter a alma no tempo de angústia e inquietação.
Porque ficar tão afundado sob aflições nunca produz qualquer bom fruto.
Sim, o próprio diabo, em tal caso , dirá: Deus te esqueceu, e assim ele junta suas tentações às tuas tribulações. E, por isso, peço que você considere que nosso Pai não negligenciará seus próprios filhos, para que eles fiquem abatidos.
Ficar debaixo do desânimo, sem buscar força em Deus, é um pecado porque nos atrapalha na execução de nossos deveres sagrados. Porque onde a alma está abatida, ou não desempenha seus deveres completamente, ou então o faz fracamente, de modo que a alma perturbada não pode fazer o bem, e nem receber o bem.
É a alma tranquila e em paz que tanto recebe quanto faz o bem como deveria ser feito, pois a quietude é a condição da alma, seja para fazer ou receber. As coisas santas são somente aceitas por Deus, pela vontade e alegria em fazê-las.
Deus habita no alto e santo lugar. É o Deus Altíssimo. Por isso nos deu um espírito que está habilitado a subir às alturas celestiais; ainda que no nosso corpo natural esteja ligado ao pó, a esta terra.
Assim, é próprio da natureza terrena decaída no pecado trazer juntamente consigo o nosso espírito para baixo.
A tristeza e o pecado concordam tanto nisso, porque eles não vêm do alto, mas de baixo, então trazem a alma para baixo. O diabo, desde que ele foi precipitado do céu para as profundezas, se esforça para lançar tudo na mesma condição. Sua voz é, desce, desce até o chão.
A nova criatura criada pelo Espírito de Deus é o oposto, pois busca totalmente o que é do alto. Onde a esperança está, aí a alma gosta de estar em pensamento e meditação, e tudo o que ela faz ou pode fazer é subir.
"Por que estás abatida, ó minha alma? e Por que te perturbas?”
O que se entende por abatimento? E por que Davi se queixa disto?
Porque gera inquietação. Lança para baixo, quando não é com humildade, mas com desânimo.
Deus nos lança para baixo para nos humilhar, senão com o propósito de nos exaltar com a mais doce consolação, porque tanto a alma está abatida por Deus, quanto é levantada por Deus. Mas a pessoa que está abatida por Satanás ou pelo pecado não descansa em Deus, mas está preocupada.
Assim, um homem pode saber, quando suas murmurações da alma, são contra o próprio Deus, ou contra o instrumento do desânimo pecaminoso de sua alma. Aqui não há verdadeira humilhação, senão abundância de  corrupção, que traz aflição e desânimo.
Qual foi a razão pela qual a alma de Davi ficou assim tão abatida?
Ao examinar sua alma ele verificou que não havia nenhum bom motivo para ficar assim desanimado. Por isso ele procurou indagar qual foi a causa que o conduziu àquele estado: “Por que te perturbas dentro de mim?”
Não há desânimo em qualquer aflição ou problema, mas isto é por falta de conhecimento da razão pela qual Deus permitiu que fôssemos afligidos ou atribulados. Primeiro, por vezes, para o exercício de nossas graças, bem como por causa dos nossos pecados. Ainda, o esquecimento do modo de Deus lidar conosco nos corrigindo, Heb 12.5; e também porque não examinamos a causa de maneira correta com as nossas próprias almas.
Rogo-vos, vamos ser mais sábios. Há algumas pessoas que fazem o problema por si mesmas, buscando seu conforto apenas em sua santificação, quando deveria ser procurado em sua justificação, e alguns há que se afligem sobre a questão de coisas para o tempo por vir,  quando temos o mandamento de não ficarmos ansiosos com o amanhã, Mat 6.34, e no tempo presente negligenciam o seu dever no uso dos meios da graça, e na confiança em Deus. Novamente, a falta de confiança em Deus, pois quando não confiamos em Deus, então temos uma confiança falsa na criatura, ou em qualquer outra coisa.
Então, isto se segue: a vaidade trará aflição de espírito. Assim, quando a vaidade vai adiante, a vexação virá em seguida. Portanto, quando os homens decidem fazer qualquer bem ou sofrimento para o bem, por sua própria força, e não confiando em Deus para um suprimento constante, isto fará com que Deus remova o seu apoio, e então eles caem mais vergonhosamente. Sem dúvida, quando um homem que confia em si mesmo e no seu dom de graça, mais do que em Deus, ele pode ter a certeza que cairá, pois devemos confiar em Deus para o tempo por vir, por uma graça renovada, e orar para que Deus renove as nossas graças, para nos fortalecer em todos os problemas e aflições.
A razão pela qual os filhos de Deus fracassam em momentos de dificuldade é porque eles se preocupam e não confiam em Deus para uma nova oferta de graça. Nós não podemos realizar novas funções, e nos submetermos a novos sofrimentos, que nos sobrevirão na obra de Cristo, com as graças antigas. Então agora você tem algumas causas por que os homens ficam assim abatidos e inquietos; falsa confiança, ou então não confiança em Deus, como o profeta tinha dito: “Por que estás abatida, minha alma?" A razão é esta, tu não confias em Deus como tu deves fazer e foi por isso que o nosso Salvador repreendeu Pedro, quando ele temia, dizendo: “Homem de pouca fé,” Mat 14.81. Não foi o tamanho das ondas, mas a fraqueza de sua fé, que o fez afundar. Na verdade, a causa dos nossos problemas e inquietações é necessidade de fé, sem a qual não podemos confiar em Deus em nossos problemas e aflições; porque a alma sendo fraca de si mesma, tem necessidade de alguma coisa para confiar, como uma planta fraca tem necessidade de um amparo. Ora, o que nos dá força é a nossa confiança em Deus. Quando falta isto, então há inquietações e desânimos em nossas almas.
Então, os filhos de Deus, quando estão em tribulações, podem se recuperar e achar consolo. E, na verdade, a Sagrada Escritura mostra isso; porque esta confiança e dependência de Deus em situações extremas, é o que difere o filho de Deus do ímpio.
Uma pequena cruz não tentará as graças dos homens assim como as grandes. Veja o que fez Saul, que em grandes problemas, procurou uma feiticeira, 1 Sam 28.7. Mas o filho de Deus, em seus maiores problemas,  tem o Espírito de Deus para fortalecê-lo, ele descansa em Deus, como se vê em Rom 8.26.
Agora, o Espírito opera por fé, que nos habilita a enviar orações e fortes clamores ao ouvido de Deus. O filho de Deus pode clamar, chorar, e conversar, esforçando-se contra a apatia, e contra a sua infidelidade, e  por isso, quando eles se encontram, ainda que na angústia mais profunda, eles podem se recuperar.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, da parte inicial do texto de Richard Sibbes, intitulado Recuperando-se do Desânimo, em domínio publico.







7 - Para o Cristão Tímido e para o que Sofre

1. O cristão tímido

"Quem és tu, que tu deverias ter medo do homem que é mortal, ou o filho do homem, que deve ser como a erva, e te esqueces do Senhor, teu Criador?" Ó! "não temas o opressor, como se ele fosse capaz de destruir; porque onde está a fúria do opressor"? Olhe para Faraó e todo o seu exército; o que eles poderiam fazer contra o Deus de Israel? Olhe para Herodes, quando ele "estendeu a mão para afligir a Igreja". "ele foi comido pelos vermes” enquanto ainda falava, At 12.13,23.
Saiba que a criatura não é mais que "um machado ou um serrote nas mãos do Pai“, e que ela nada pode fazer, senão aquilo em que o Pai desejar empregá-la para o seu bem, Is 10.7,11,15. Em tudo o que ela tenta, ela é limitada e controlada, e na efetuará que não esteja subordinado ao Seu interesse eterno, I Pe 1.7. Seja forte, então, e tenha bom ânimo, e qualquer que seja a cruz que esteja em seu caminho, carregue-a com alegria, e suporte-a seguindo o seu Senhor e Salvado, porque certamente o seu Salvador merece isto ricamente de suas mãos.

2. O cristão que sofre.

Devo ter pena de você? Não, em vez disso, deixe-me felicitá-lo por estar sendo conformado ao seu Senhor e Salvador. Tiago afirma que os sofrimentos por amor a Cristo são mais um motivo para alegria do que para tristeza. Consideramos bem-aventurados os que perseveram, e que suportam a tentação, porque, quando for provado, ele receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam. Receba então as provações como parte daquilo que Deus designou para você, e espere que, se suas aflições abundam por amor a Deus, assim também abundarão as suas consolações por meio de Cristo, e tudo o que você pode perder por causa dele, você deve, mesmo na vida presente, receber cem vezes mais do que aquilo que você perdeu. Mc 20.28-30, e, no mundo por vir, um peso de felicidade e de glória para toda a eternidade. E quando você tiver chegado ao reino da glória, não mais haverá qualquer dor, porque então, o seu Salvador o levará às fontes de vida da bem-aventurança, e o próprio Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos.

Tradução e adaptação de um texto de Charles Simeon, em domínio público.







8 - "Aquietai-vos e Sabei Que Eu Sou Deus"

Por John Piper

Volto das férias tremendo. Primeiro, porque eu receio ter esquecido como fazer as coisas. Segundo, porque há mais coisa em jogo nesse ministério do que em uma cirurgia cerebral.

Você não se lembra de como era voltar às aulas depois de um longo verão de diversão? De repente lhe ocorre no fim do verão: "Eu não escrevi nada o verão inteiro. Talvez não me lembre como se escreve. Minha mão pode se atrapalhar. Posso não ser capaz de soletrar. Posso ter esquecido toda minha tabuada de multiplicação. E sobretudo, como vou lembrar o nome de todo mundo?" Então você sente esse nó na barriga e quer fugir.

Bem, não ria, mas minha barriga deu um nó esta semana. O que um pastor faz afinal? Por onde começarei na segunda, 19 de julho? Vamos ver, há pelo menos três pessoas no hospital que eu deveria visitar; há uma pilha de correspondência; há uma reunião de equipe e uma reunião com estagiários; há um casamento no sábado e um ensaio na sexta; há um casal recém-noivado para ver na segunda; há a situação com o voluntário das crianças para pôr em dia; há alguns avisos para enviar sobre a ordenação de Tom Steller. Ó sim, e eu vou lecionar um curso de três semanas no programa de Doutor de Ministério e o Bethel Seminary, começando na segunda todas as manhãs, por duas horas e meia; tenho que me preparar para isso. E os sermões precisam estar prontos. Fico nervoso só de pensar.

Mas eu não fujo. Corro para o porão e fecho a porta. E leio o Salmo 46, "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus." Quietude. Posso ouvir alguns passos no andar de cima e o barulho do desumidificador no cômodo ao lado. Mas vai ter que funcionar. Aquieta, alma! Pare de ensaiar. Relaxe. Respire fundo. Pronto. Agora, saiba disto: Deus é Deus. Deus é Deus. Apenas fique quieta e perceba. Deixe isso crescer. Deixe isso encher o cômodo e o porão, a casa, Elliot Park, Minnesota, os Estados Unidos, a Terra, o sistema solar, a Via Láctea, o universo e além. Deus é Deus! Ó, que eu saiba do fundo da minha alma. Ó, que eu leve essa quietude comigo por estes dias agitados. Deus é Deus! Ó, que eu viva estes dias de modo que alguém diga no meu funeral: ele era um indivíduo que verdadeiramente buscava a Deus.
         
Mas quanto mais você carrega de Deus em sua alma, mais você percebe que cirurgia cerebral é brincadeira de criança comparado ao ministério pastoral. Eles trafegam no tempo, nós trafegamos na eternidade. Se eles falham, perdem para a morte. Se nós falhamos, perdemos para o inferno. Esse trabalho não é trivial. Se minhas férias, com todo o lazer, com todo o caminho livre para a mente, com todas as fugas para o mar e as noites estreladas - se minhas férias fizeram alguma coisa por mim, foi colocar sobre mim o peso do meu chamado. Se eu me sair bem, salvo a mim mesmo e aos santos (1 Timóteo 4:16). Se eu falhar...

"Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus... O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio."

Tremendo no jugo,

Pastor John







9 - Bom Ânimo para Muitos que Temem

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Dizei aos temerosos de coração: Sede fortes, não temais." (Isaías 35.4 a) .

Essa é uma exortação que é dirigida, não a uma pessoa, mas a várias. No terceiro verso, você pode ver a seguinte mensagem: "Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos vacilantes."
Somos um povo de vontade obstinada e de um coração perverso, ó Deus. Muitas vezes podemos nos desviar dos teus caminhos! É bom, portanto, que Deus tenha falado assim, e não apenas a um de seus servos, mas para todos aqueles que amam a sua vinda e se alegram com a certeza de suas promessas.
Deixe-me observar que, no original, a palavra para "temerosos", é "precipitados". Agora, um homem apressado nunca é um homem sábio. E também é verdade que um homem "com medo" nunca é prudente. Homens medrosos são sempre apressados em tirar conclusões. Eles dizem que, com Jacó, "Todas estas coisas estão contra mim", porque eles não podem ver ao final a dispensação do Senhor. Esquecem-se de que Ele é cheio de piedade e cheio de compaixão. Eles procuram seguir a pista dos meteoros que voam aqui e ali, em todo o céu da meia-noite, eles esquecem a estrela polar da Verdade e da Fidelidade de Deus. Eles vão para o mar sem uma bússola e são levados para trás e para a frente por ventos contrários! E mesmo quando não há vento, eles não sabem como dirigir o navio.
Como você sabe, até mesmo nos assuntos deste mundo, um homem apressado está sempre se metendo em encrenca. Assim sucede às almas temerosas - estão sempre fazendo isso ou aquilo sob o impulso de uma conclusão apressada mal orientada. Assim, estão constantemente julgando mal o seu Deus, abusando de Sua Palavra, redirecionando seus próprios passos, trazendo um mundo de problemas em si mesmos e desonra sobre o nome do seu Deus!
Almas temerosas são almas precipitadas. Eles julgam o Senhor com débil entendimento. Eles julgam pelas nuvens da manhã, esquecendo-se que as nuvens em breve poderão ser dissipadas e que o sol brilhará intensamente novamente. Para aqueles, então, que são de um apressado coração, para aqueles que se condenam injustamente, que pensam que todas as coisas são contra eles e assim tornam-se extremamente temerosos, diga: "Seja forte, não tenha medo."
Quantos há, bebês na graça, que ficam incomodados sobre a eleição. "Estamos entre os escolhidos do Senhor?" É uma questão que muitas vezes levantam. Eles ficariam felizes o suficiente se um anjo pudesse lhes fazer a declaração solene de que ele havia lido os seus nomes escritos na página de ouro do Livro da Vida do Cordeiro, mas, uma vez que eles não podem ter essa certeza, questionam, e perguntam mais uma vez! "Suponha que eu não tenha sido escolhido para a vida eterna? E se o meu nome nunca foi gravado nas mãos ou sobre o coração de Cristo? A suposição me enche de pavor e desespero! "
Agora, para vocês que estão confiando em Jesus, mas que têm receios sobre a sua eleição, deixe-me dizer, em nome de Deus: "Seja forte, não tenha medo."
Aquela mesma Doutrina da Eleição que agora lhe parece como um leão em seu caminho, deverá comprovar, aos poucos, de fato, ser um leão sobre o qual você deve andar em triunfo glorioso! Não é nenhum inimigo. Venha e olhe-o no rosto e você deve encontrá-lo como o seu mais rico, mais querido amigo. Se você crer no Senhor Jesus Cristo, você sempre estará tão certo de ter sido eleito como Pedro e Paulo eram!
Na medida em que você tem a bênção dos eleitos de Deus e da fé que é a marca comum de todos eles, não tema por mais tempo por causa sua eleição, mas seja ousado para entrar neste mistério solene!
Você é de Cristo e tem o direito claro e justo para compartilhar a eficácia do Seu sangue e o poder de Sua Expiação. Portanto, eu lhes digo que são de um coração temeroso: "Seja forte, não tenha medo."
Oh filho de Deus, acabe com todos esses temores! Você não poderia ter vindo a Cristo, a menos que Ele viesse primeiro a você! Você pode até mesmo nunca saber exatamente quando foi primeiramente convencido de pecado, nem como você foi vivificado pelo Espírito Santo, mas se você realmente vir a Cristo, isto é o suficiente. A prova de que você foi chamado por Cristo é que você veio a Ele!
Tenho frequentemente observado que pessoas que pensam que eles tiveram algum tipo de chamada especial e particular, não têm sido melhores, no que diz respeito às suas evidências e, às vezes, eles têm sido muito piores do que aqueles que vieram a Cristo na forma mais comum. Eu não diria isso para o descrédito da conversão de qualquer homem, pois Deus trabalha como quer.
Eu bem sei que há a tentação de olharmos para trás para o dia e a hora em que tivemos alguma manifestação especial, ao invés de olharmos apenas para a Cruz e para o sangue, e não julgarmos a nossa conversão porque sentimos essa ou aquela emoção extraordinária, em vez de vir, como sempre deveríamos vir, clamando ao nosso querido Senhor e Salvador: "Nada em minha mão eu trago, senão simplesmente Sua CruzI”
Outro medo, é decorrente da grande e preciosa doutrina da perseverança final, que tem incomodado muitos crentes verdadeiros no Senhor Jesus Cristo. “Como hei de perseverar até o fim?" É uma questão que muitas vezes provoca grande ansiedade até mesmo a um genuíno filho de Deus. A melhor das coisas, quando corrompida, se torna a mais corrupta. O mais doce conforto, quando desacreditado, torna-se o mais amargo desconforto. Acho que a doutrina da perseverança final dos santos é uma daquelas que são mais claramente ensinadas nas Escrituras.
É estranho que tantos do povo do Senhor fiquem incomodados sobre esta doutrina preciosa que é tão claramente revelada na Palavra de Deus. "Como vou perseverar até o fim? Como devo permanecer firme na hora da provação? Se as minhas tentações se multiplicarem, se minhas dores forem aumentadas, se as minhas tristezas se seguirão uma após outra, se for chamado para uma posição de grande responsabilidade, ou se for lançado nas profundezas da adversidade, como poderei suportar isso? Como eu devo ser mantido constante, ano após ano, e levados em segurança para minha casa no céu no final?”
Oh crente, se você foi realmente chamado por Graça, você certamente perseverará até o final! Aquele que colocou seus pés em Seus caminhos nunca lhe deixará parar até que chegue ao final de sua jornada! A promessa de Cristo a todo o Seu povo é: "Porque eu vivo, vós também vivereis." Sua perseverança não repousa com você, caso contrário seria realmente um infeliz derrotado! Isto cabe ao seu Senhor e Salvador e Ele te guardará até o fim! “Como os seus dias, assim será a sua força.” Com a tentação, Ele fará um caminho de fuga para\que você seja capaz de suportá-la. Então, novamente, eu lhes digo, a vocês que estão preocupados com a sua salvação final": Seja forte, não tema." Aquele que começou a boa obra em você, vai continuá-la e terminá-la na Justiça de Cristo! Ele nunca irá deixá-lo, pois a Sua promessa para todo aquele que nEle crê é, “Eu nunca te deixarei, nem te desampararei."
Multidões de crentes têm o coração com medo, porque eles não têm as alegrias e confortos com que alguns cristãos são favorecidos. Deus tem alguns do Seu povo, que vivem muito perto de Si mesmo e que, portanto, participam das coisas mais ricas sobre Sua mesa de banquete. Estes santos privilegiados contam suas alegrias, mas alguns cristãos desanimados que têm se desviado de Deus e que, portanto, não têm provado dessas iguarias, clamam: "Nós não podemos ser do povo do Senhor, pois não temos tais alegrias como estes ". Mas como pode uma pequena árvore na floresta dizer que não vive porque não se eleva, como um poderoso cedro do Líbano! Porque eu não sou a rosa mais bela, mas apenas uma violeta humilde escondida entre as folhas verdes, devo concluir que eu não sou uma flor afinal? Oh, não, não! Nós não somos salvos por nossos confortos! Eles nos são dados depois de sermos salvos, mas somos salvos sem eles. Muitas almas têm ido para o inferno cantando, enquanto outros foram para o céu suspirando.  Não é por que não temos todos os confortos que alguns cristãos possuem, que vamos viver inquietos, pois esta é a maneira de impedir-nos de tê-los.
Há muitos também, que ficam abatidos por causa do conflito interior. Se não houvesse conflitos seria uma evidência de que havia somente um poder interior - o poder do maligno! Não conclua a partir de seus conflitos internos, por causa da tentação que lhe assalta e a força com que ela age contra o seu interior, que você é um náufrago de Deus! Esta é mais uma razão pela qual você deve clamar, “Quem me livrará do corpo desta morte?" E, pela fé deve dizer: "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! "
Muitos, também, têm o coração com medo, porque eles têm tão pouca fé e temem que sua pouca fé não será suficiente. Ah, crente, suas verdadeiras riquezas não dependem da quantidade de seu dinheiro para gastar! O Senhor, por vezes, mantém seus filhos com muito pouco dinheiro no bolso, mas, ainda assim, toda a sua riqueza pertence a eles o tempo todo. As insondáveis ​​riquezas de Cristo são a medida de nossa riqueza, e não a parte que conseguirmos alcançar pela mão da fé. Se eu tiver na minha mão, senão um centavo da riqueza da fé, isto é uma prova de que todas as riquezas de Cristo pertencem a mim. Se eu tenho, senão a fé como um grão de mostarda - uma semente tão pequena que parece que o primeiro pássaro do ar que vier em meu caminho pode levá-la embora, mas, na medida em que há vida escondida dentro dessa pequena semente de mostarda, uma vida que só precisa da graça de Deus para eclodir e se desenvolver - estou salvo, apesar de minha fé ser tão pequena!
Agora, se algum de vocês fica perturbado por acusações similares do Inimigo, lembro-lhe que uma vez que Cristo não te ama por suas boas obras, eles não são a causa do Seu amor por você, e se Ele não te amou por suas boas obras até agora, elas jamais serão a causa de continuar a lhe amar!








10 - Bom Ânimo Para os Excluídos

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"O Senhor reúne... os dispersos de Israel." (Salmo 147.2).

Isso não nos mostra a grande gentileza e misericórdia infinita de Deus? E como conhecemos a maior parte de Deus na Pessoa de nosso Senhor, Jesus Cristo, isto deveria nos lembrar que quando Ele veio à terra, não foi para visitar reis e príncipes, mas que Ele veio para o povo humilde e simples? Ele não procura fariseus, envoltos em sua suposta justiça própria, mas Ele procura o culpado, pois disse: "Os sãos não precisam de médico, mas sim os doentes."
O Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido! Teria parecido natural que quando nosso Senhor Jesus Cristo veio aqui, deveria, antes de tudo, ter abordado as pessoas mais respeitáveis ​​que pudesse encontrar e deveria ter enviado a sua mensagem para os rabinos de Jerusalém, aos senadores em Roma, aos filósofos da Grécia. Mas ao invés disso, as pessoas comuns lhe ouviam com prazer e se regozijaram em espírito quando Ele disse: "Eu te agradeço, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos; porque assim pareceu bem aos teus olhos."
Eu acho que você pode julgar o caráter de um homem pelas pessoas cuja afeição ele procura. Se você encontrar um homem que procura apenas o afeto daqueles que são grandes, por depender deles, é porque é ambicioso e egoísta. Mas quando você observa que um homem procura o afeto daqueles que não podem fazer nada por ele, mas para os quais ele deve fazer tudo, você saberá que o seu coração oscila para pura benevolência. Quando eu li no texto que o Senhor reúne os dispersos de Israel - vejo que o texto é realmente aplicável ao Senhor Jesus Cristo, porque isto é apenas o que ele disse em outra passagem que ilustra a doçura de seu coração: "Tomai meu jugo sobre vós, porque eu sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas."
Estejam felizes hoje, queridos amigos, porque nos reunimos em torno de um tal Salvador como este, de quem todo o orgulho e egoísmo estão ausentes e que, descendo entre nós em mansidão e humildade, vem para reunir aqueles com os quais ninguém se importa - aqueles que são considerados inúteis e irrecuperáveis! Ele vem para reunir os dispersos de Israel! Aplicando este texto a nosso Senhor Jesus Cristo, não somente vemos a Sua bondade, mas também vemos claramente uma ilustração do Seu amor aos homens, como homens. Se você procurar somente os homens ricos, surge a suspeita que você procura a sua riqueza, em vez de eles próprios.
Mas o Senhor Jesus Cristo não ama os homens por causa de quaisquer vantagens favoráveis, ou por quaisquer circunstâncias louváveis ​​de sua condição. Seu amor foi pela humanidade. Ele amou o Seu povo escolhido como homens, não como este ou aquele entre os homens. Ele não tem nenhum respeito pela hierarquia, nem interesse em riqueza. Um homem é um homem com Cristo se o "status" está presente ou não. Ele não morreu por títulos e dignidades, mas por homens. "Não pelo que é seu, mas por você", nosso Senhor Jesus Cristo poderia realmente dizer. Que onde Ele vê um homem, embora ele seja um pária, um bandido ou um condenado pela lei de seu próprio país - ele vê um ser humano - uma criatura capaz de praticar horríveis pecados, mas ainda assim, renovada pela Graça, capaz de trazer glória maravilhosa ao Altíssimo.
Outra coisa também está clara. Se Jesus reúne os dispersos de Israel, isso prova o Seu poder sobre o coração dos homens. Há uma certa classe de homens que seguem o que é moralmente bom, porque o Senhor lhes deu uma disposição nobre. Graças a Deus, Ele tem, em misericórdia, o prazer de dar a alguns homens um desejo pelo que é belo e verdadeiro.
Mas eis aqui um cabo de guerra - há homens que ainda se encontram debaixo da culpa e impureza da natureza humana, que não têm nenhum desejo pelo que bom - mas cujo anseio completo é pelo mal – somente pelo mal, e isto continuamente. Eles não têm olhos para tudo o que é elevado e nobre. Os ministros de Cristo podem recorrer a eles com o Evangelho, mas eles irão apelar em vão. A Providência pode avisá-los, com as mortes dos outros e por doenças pessoais, mas eles não devem ser separados da terra à qual estão agarrados. No entanto, nosso Senhor Jesus Cristo pode reunir até mesmo estes - os desterrados de Israel! Tal é o Seu poder que Ele não para até que Ele veja bons desejos nos homens Ele dá esses desejos para aqueles que não os possuem! Tais são os encantos da Sua cruz, que os olhos dos cegos são abertos para enxergar a Sua beleza! Tal é a música da Sua voz, que os ouvidos surdos são abertos por Ele! Essa é a majestade da Sua vida, que os mortos ouçam a sua voz e os que a ouvem tornam a viver!
No terreno da bondade é solicitado ou esperado de algum homem que Cristo possa vir e agir sobre ele - Ele leva o homem à sua ruína e ao extremo de sua depravação e começa com ele ali mesmo. Quando o bom samaritano veio para o homem ferido, ele não esperou por ele para fazer primeiro o pagamento. Ele foi ao ferido, onde ele estava, e derramou em suas feridas o azeite e o vinho. Assim, o Senhor vem, onde a natureza está ferida, por pior que seja a sua condição, e Ele se inclina para reunir os dispersos de Israel! Oh, é uma coisa maravilhosa, isso, que deve haver atrações sobre o Senhor Jesus Cristo, que pode atrair a Si aqueles que nos quais nada de bom pode ser encontrado!
Você pode pregar a virtude para o pecador, mas ele praticamente não cederá aos seus encantos. Você pode pregar para o bêbado, para os devassos, para os imorais, as belezas e excelências da honestidade e de todas as virtudes e graças, mas pouco de bom resultará disto. Você pode encantar muito sabiamente sobre esses assuntos, mas estas víboras surdas não ligam para o encantador. Temos ouvido falar de um pastor, que disse que ele havia pregado a honestidade até que ele não tinha uma pessoa sequer honesta na igreja! Nada vale a pena a pregação, quando Cristo não é o tema!
Você pode pregar a Lei e os homens ficarão assustados com isso. No entanto, se Jesus Cristo é pregado, Ele atrai todos os homens a Si. O mais ímpio vai ouvir a notícia de que ele é capaz de salvar até o extremo os que vêm a Deus por Ele. O mais teimoso será levado a chorar quando ouvir a história da Sua dor e do Seu amor! O mais orgulhoso será achado de repente se humilhando a Seus pés.
Então, a quem este texto se aplica - "Ele reúne os dispersos de Israel”? Refere-se a várias classes de diferentes maneiras. Em primeiro lugar, é um fato que nosso Senhor reuniu alguns dos mais pobres e mais desprezado entre os homens, aqueles que podem, sob alguns aspectos, serem considerados como párias. E é certo que, até hoje, o Evangelho vem em maior medida de poder aos pobres deste mundo. Muitas vezes, também, ele vem com poder incrível para aqueles que são desprezados por outros, ou são considerados como sendo de grau inferior.
E oh, que lugar de encontro abençoado é este onde há limpeza para sua imundícia, saúde para a doença, roupas para sua nudez e suprimentos suficientes para todas as suas necessidades! Jesus os reúne a si mesmo, para congrega-los para Deus - para reuni-los para a bem-aventurança e paz através da reconciliação com o Pai. Como está escrito: "A Ele se congregarão os povos."
Quando ele tem feito isso, Ele os reúne na família divina. Ele toma os desterrados e os torna filhos de Deus, herdeiros com Ele mesmo. Tira-os do monturo e os levanta e os assenta entre príncipes! Jesus Cristo, como o bom Pastor, reúne as ovelhas perdidas, os coxos, os mancos, os doentes e os alimenta.







11 - A Cura para Alimentos sem Sabor, ou, Sal para a Clara de um Ovo

Tradução e adaptação de partes de um Sermão de Charles Haddon Spurgeon feitas pelo Pr Silvio Dutra.

"Pode o que é insípido se comer sem sal? Ou há gosto na clara do ovo?" (Jó 6.6)
 Esta é uma pergunta que Jó fez a seus amigos, que lhe haviam sido tão hostis. Assim, ele debate com aqueles "consoladores molestos" que inflamaram suas feridas derramando nelas sal e vinagre em vez de azeite e vinho. O primeiro deles tinha acabado de abrir fogo sobre ele e Jó, por meio desta pergunta, disparou um tiro em retorno. Ele queria que os três observadores superficiais entendessem que ele não se queixava sem motivo. Se ele tinha falado amargamente, foi porque ele sofreu gravemente. Ele estava com muita dor física, ele estava suportando grande depressão mental e, ao mesmo tempo, ele havia sido ferido com a pobreza e luto. Ele tinha, portanto, motivo para sua tristeza. Ele não tinha nenhum conforto e cada seta de tristeza estava perfurando sua carne. Se ele gemeu, ele tinha razão para gemer.
O entusiasmo da sua vida se foi. Nenhuma alegria ficou para tornar a existência valer a pena. Era como alguém que não encontra sabor em sua comida e detesta o bocado que ele engole. O que lhe restava era insípido como a clara do ovo, que não lhe rendia qualquer tipo de conforto. Na verdade, era repugnante para ele. Ele disse: "As coisas que a minha alma recusa tocar, pois são para mim qual comida repugnante." Por isso, ele praticamente pede aos seus amigos: "Como vocês podem esperar que eu coma uma carne como esta, sem suspiros e lágrimas? Pode o que é insípido ser comido sem sal? Há gosto na clara do ovo?"
Aqui ele diz que Elifaz tinha administrado a ele carne repugnante sem sal - meras claras de ovos sem gosto. Nem uma palavra de amor, piedade, ou sentimento amigável tinha sido proferido pelo temanita. Ele havia falado tão duramente e severamente, como se fosse um juiz abordando um criminoso que estava sofrendo mais do que ele merecia.
"Pode o que é insípido se comer sem sal? Ou há gosto na clara do ovo?"
Dá-se exatamente o mesmo com relação ao alimento de nossas almas. É uma grande falta quando não existe sabor num sermão. É uma falha fatal para o povo de Deus, quando um livro contém uma boa parte do que pode ser verdade, mas ainda carece de santo sabor ou o que, em outras palavras, chamamos de "unção". Alguém diz: "Diga-nos o que é a unção." Eu posso dizer mais facilmente o que não é! Você sabe quando um sermão tem sabor nele e você também sabe quando um sermão é seco, sem seiva, sem sabor.
Mas que tipo de sabor esperamos em um sermão? Eu respondo, em primeiro lugar, é um aroma do Senhor Jesus Cristo. Anos atrás, antes dos ministros ficarem tão sábios a ponto de questionar a inspiração divina da Escritura e renunciar à Doutrina da Expiação, costumava haver homens no paÍs, cujo ministério estava cheio de sabor para o povo de Deus. Havia inúmeros cristãos em Londres que iriam para o norte, ou ir para o sul, ou ir para o leste, ou ir para o oeste para ouvir tais pregadores e era um grande banquete ouvi-los! O que havia neles?
Eles eram profundos intelectuais? Certamente não! Irmãos profundamente letrados estavam pregando em igrejas e capelas, onde havia mais aranhas do que pessoas! Aqueles que mostravam a sua aprendizagem e retórica tinham lugares vazios, mas estes homens foram seguidos por multidões! Onde quer que eles falaram, os lugares eram pequenos demais para eles.
O que atraiu o povo do Senhor de tal forma? O que provocou tal entusiasmo? Ora, era que o pregador falava de seu Senhor e nunca se desviava da cruz! Quando éramos crianças, aprendemos o Catecismo da Bíblia do Dr. Watts, e eu me lembro de uma pergunta: "Quem foi Isaías?" e a resposta era: "foi o profeta que falava mais de Jesus Cristo do que todo o resto."
Quem eram estes homens, então, que foram seguidos pelo povo de Deus tão intensamente? Eles eram homens que falavam mais de Jesus Cristo do que todo o resto!
Cristo crucificado era o seu tudo em tudo. Seu querido Senhor e Mestre nunca ficou muito tempo ausente de seus discursos. Se eles pregaram a doutrina, que era "a verdade de Deus como está em Jesus." Se eles pregaram experiência, foi " conhecê-Lo e a comunhão do Seu sofrimento." E, se eles faziam aplicações práticas, como eles fizeram, a sua ideia de santidade era para ser como Jesus e segui-lo para fora do arraial, levando o seu vitupério. Agora, eu não acredito que um sermão pode ter cheiro nele, a menos que tenha Cristo nele.
Eles pregaram o Evangelho da Graça, como homens que o conheciam, amavam-no e o, e o viviam! Não  era tarefa penosa para eles falar de Cristo e da graça, e do perdão e fidelidade à aliança. Você nem sempre podia ver os traços de elaboração ou mesmo de preparação sobre suas declarações, você poderia ver algo melhor, o sal espumante da Graça Divina! Se o óleo da meia-noite não tinha sido derramado em seus sermões, a unção do Espírito os tinha ungido!
Quando um homem tem estado evidentemente com Deus para aprender a Sua Verdade e foi batizado no espírito eterno dessa verdade ele, portanto, fala o que sabe e testemunha o que ele viu no temor do Deus vivo, há um aroma sobre seu testemunho e os santos o discernem de bom grado. Este santo sabor não pode ser imitado ou emprestado! É uma coisa sagrada e a sua composição é conhecida apenas pelo grande Doador de todos os dons espirituais, o Senhor, Ele Mesmo. É um óleo de santa unção que não vem da carne do homem e está muito longe de toda carnalidade. Ele nunca vem em qualquer homem, exceto à medida que desce da parte daquele que é o "Cabeça", e assim cai ainda pelas bordas de suas vestes. De Cristo, somente, a verdadeira unção vem, e bendito é aquele que é feito participante com Ele.
Agora, o que é isso? De onde vem esse aroma? Em uma palavra, vem do Espírito Santo. O Espírito Santo testifica com a Palavra de Deus no coração vivificando a consciência do povo de Deus, e a Palavra de Deus torna-se vida, luz e poder para eles. Nós precisamos muito de tudo isso!
Há uma grande quantidade de conversação neste mundo que é insípida pela falta de sal. Quero dizer, uma conversa comum. Infelizmente, é fácil de se encontrar em  pessoas cuja conversa não tem uma partícula de sal cristão nela. Nada que tende à edificação é falado por eles. A conversa tem uma abundância de alegria, mas nenhuma graça nela. Eles exibem qualquer quantidade de frivolidade, mas nenhuma piedade.
"Pode o que é insípido se comer sem sal? Ou há gosto na clara do ovo?"
Há muitas coisas neste mundo que não podemos tolerar por si mesmas - elas precisam de tempero. Uma das primeiras destas pode ser lida por nós como uma lição de prudência, ou seja, a repreensão. É um dever cristão reprovar um irmão que está em pecado, devemos falar com ele com toda gentileza e tranquilidade - para que possamos evitar sua ida ainda mais para o mal e conduzi-lo de volta ao caminho certo.
Mas você lembrará, por favor, irmãos e irmãs, que a reprovação é um trabalho delicado e precisa de uma mão delicada. Neste caso, é preciso mais amor do que vigor, mais prudência do que fervor, mais graça do que energia. Algumas pessoas têm um olhar muito rápido para os defeitos dos outros e eles têm uma língua pronta para dissertar sobre eles quando percebem que outros tendem a adicionar um  exagero à importância da culpa.
Agora, esses irmãos sempre reprovam de uma maneira errada. Ouça. Um deles grita-"Vem cá, irmão! Venha aqui. Deixe-me tirar aquela viga do seu olho." O referido "problema" é realmente apenas um mosquito e o irmão reprovador fica indignado. Por que destruir a sua própria influência com tal insensatez? Se o mosquito pode ser removido, muito bem. Mas se você vai estragar o olho no processo, não seria melhor deixá-lo sozinho? Nós conhecemos pessoas que, para espalhar a Verdade de Deus, mataram o amor, que é a Verdade da vida de Deus. Eles querem confirmar bem um irmão na doutrina e, a fim de que sua visão possa ficar mais clara, batem-lhe nos olhos.
Uma coisa é ser "valente para a verdade", e outra coisa ser amargo para a sua própria opinião. Fale com muita deferência a seu amigo errado e use muita ternura, porque você mesmo não é impecável. Fale reconhecendo todas as excelências e virtudes do seu irmão, que podem, afinal, ser maiores do que as suas próprias. E tente, se você puder, temperar com sal o que você tem a dizer em palavras suaves de louvor para outra coisa em que o amigo se destaca. Expresse a censura como sentenças do Seu Mestre. Dê a seu paciente a pílula de prata revestida com gentileza - isto será recebido mais de boa vontade e sem qualquer menor eficácia.







12 - Ribeiro Ilusório e Águas Inconstantes?

O sentimento de pastores fiéis, que amam ao Senhor e à Sua Igreja, pode ser vislumbrado em muitas ocasiões de suas vidas,
no que sentiu o profeta Jeremias, no que descreve no 15º capítulo do seu livro, especialmente na frustração derramada em forma de queixa no 18º versículo.

“Por que é perpétua a minha dor, e incurável a minha ferida, que se recusa a ser curada? Serás tu para mim como ribeiro ilusório e como águas inconstantes?”

O profeta amava o povo de Israel, assim como os pastores amam a Sua Igreja, composta por aqueles que tiveram suas vestes lavadas no sangue de Jesus. Jeremias se sentia um com o povo e alimentava a esperança de ver Israel santificado, andando nos caminhos do Senhor e glorificando o Seu nome.
Assim, orava para que eles se arrependessem de seus pecados e do modo carnal de vida que possuíam. Sonhava, por assim dizer, com um avivamento que alcançasse toda a nação de Judá, para que não lhe sucedesse o mesmo que havia ocorrido com o Reino do Norte, que foi conduzido ao cativeiro pelos assírios.
Suas orações intercessórias, suas lágrimas, suas profecias e exortações, não encontraram eco naqueles corações endurecidos, e então, ele sente uma frustração em seu ministério, e uma certa decepção para com o próprio Deus, pois considerava que Ele era poderoso o bastante para mudar a sorte de Judá, e no entanto, parecia estar indiferente a isto, e então derramou a sua queixa: “Serás tu para mim como ribeiro ilusório e como águas inconstantes?”.
Como poderia Deus iludir a quem comissionou? Como poderia ser inconstante em suas deliberações?
Jeremias tanto quanto nós, sabia que isto é impossível, mas não pôde conter o dito precipitado dos seus lábios, que eram a mais verdadeira expressão dos seus sentimentos naquela hora em que considerava ter trabalhado e sofrido em vão pelo Senhor.
Ele esperava que os judeus fossem perdoados e avivados pelo Senhor, e, no entanto, Ele proferiu duros juízos contra eles, e não voltaria atrás na execução deles.
Jeremias não levou em conta que aqueles dias não eram de avivamento, mas de juízo, tal como sucede em nossa época, na qual se avizinha os juízos do Senhor em razão da impiedade das nações e da apostasia do Seu próprio povo.
Mas, para aqueles que se arrependem e que amam sinceramente ao Senhor, como era o caso do profeta e dos pastores fiéis que sofrem no meio de uma geração perversa, lhes é dirigida uma boa palavra da parte do Senhor, para que continuem se santificando, porque não lhes sobrevirá nenhum juízo caso se levantem do seu abatimento e continuem exercendo o ministério para o qual foram chamados, conforme se vê em Jer 15.19-21:

“19 Portanto assim diz o Senhor: Se tu voltares, então te restaurarei, para estares diante de mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles a ti, mas não voltes tu a eles.
20 E eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; eles pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te salvar, para te livrar, diz o Senhor.
21 E arrebatar-te-ei da mão dos iníquos, e livrar-te-ei da mão dos cruéis.”.

Devemos atender, em nossos abatimentos em razão do que sentimos pela apostasia que prevalece ao nosso redor, à exortação dirigida por Deus a Jeremias, para que nos voltemos destes sentimentos de queixa e de tristeza, para os de alegria, gratidão e louvor no Senhor, pois tem prometido nos restaurar -  que se continuarmos a apartar o que é precioso destas coisas que são vis, Ele nos fará úteis para o Seu serviço – seremos como a Sua boca na pregação do evangelho.
Convém que os que são de sentimentos contrários ao Senhor, que se arrependam e tornem para Ele pelo exemplo que observarem em nós – e de modo algum, devemos permitir um retorno aos que procedem mal e às suas práticas, por causa de vivermos em dias em que o testemunho de vidas santas não seja abundante, e pareça indicar de que não vale a pena guardar o coração incontaminado e as mãos lavadas na inocência.
E quanto àqueles que tentarem deter a nossa boa caminhada em Cristo, e tentarem anular a pregação do verdadeiro evangelho, é feita a promessa de sermos livrados deles e de todo o mal que intentarem contra nós.
Portanto, se há mau testemunho e desânimo ao nosso redor, não fiquemos desanimados com isso, porque Deus não muda, e jamais mudará em Sua natureza e propósitos, e bem irá a todos aqueles que trilham pelos caminho da Sua justiça e santidade.








13 - ADIANTE!

Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)

Irmãos, o tema básico deste nosso sermão se encontra nas palavras de Deus a seu servo Moisés: “Diga aos filhos de Israel que marchem.”. Adiante, eleitos de Deus! A vitória está diante de vós; vossa própria segurança está nesta direção. Retroceder é perecer. Pela ajuda de Deus temos aberto caminho até certas posições de serviço, e descer significa a morte. Para nós adiante é até acima, e portanto, vamos adiante e até acima. Enquanto orávamos esta manhã, nos temos comprometido irrevogavelmente. Dissemos isso de todo o coração quando pela primeira vez pregamos o Evangelho e declaramos publicamente: “Sou do Senhor, e Ele é meu”. Então pusemos a mão no arado, graças a Deus, ainda não temos olhado para trás, e nunca devemos fazê-lo. O único caminho aberto para nós é arar em linha reta até terminar o sulco, e não pensar jamais em abandonar o campo até que o Senhor nos chame à Sua presença. Mas esta manhã vos haveis dedicado novamente ao trabalho do Senhor; não confrontastes com carne e com sangue, mas que sem vacilação renunciastes a tudo por Jesus, e, a menos sejais reprovados, vos haveis alistado em Seu serviço para o resto de vossas vidas. Sois os servos selados de Cristo, e levais em vossos corpos as Suas marcas. Não sois livres para servir a outro: sois soldados juramentados do Crucificado. Adiante em vosso único caminho; estais obrigados a percorrê-lo. Não tendes armadura para vossos ombros e qualquer que seja o perigo com que vos enfrenteis, por detrás de vós tereis dez mil outros. Trata-se de avançar – ou ser desonrados, avançar ou morrer.
É preciso que vocês avancem quanto a atitudes pessoais, crescendo em dons e na graça, na capacidade para a obra de Deus, e em semelhança à imagem de Jesus. Os pontos dos quais falarei começam de baixo para cima.
I. Primeiramente, amados irmãos, creio que é necessário avançar em nossas aquisições intelectuais.
Nunca será bom que nós nos apresentemos continuamente diante de Deus indignamente. E ainda que nos apresentemos com nossas melhores obras, não merecemos que Ele nos ouça; porém, de todos os modos, que a oferenda não seja mutilada e manchada por nossa ociosidade. “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração” é, talvez, mais fácil de obedecer que amá-lo com toda nossa mente; sem dúvida, devemos dar-lhe nossa mente tanto quanto nossos afetos, e essa mente deve estar bem equipada, para que não lhe ofereçamos um frasco vazio. Nosso ministério exige intelecto. Não insistirei naquela frase tão ouvida em nossos dias: “o iluminismo da época”; porém, é bem certo que há muito progresso educacional em todas as classes, e que haverá muito mais além disso. Passou a época em que era suficiente que o pregador soubesse falar, embora fosse com uma sofrível gramática. Mesmo entre o povo “que nada sabe”, o mestre costuma sair de casa, e a falta de preparação porá impedimentos, que dantes não existiam, no serviço do pregador pois, quando o orador deseja que seus ouvintes recordem o evangelho, eles, por outro lado, recordarão suas expressões pouco gramaticais, e as repetirão como motivo de zombaria, quando tudo que desejávamos é que houvessem repetido o evangelho de Jesus Cristo uns aos outros com solene fervor.
Queridos irmãos, é preciso que nos cultivemos até onde seja possível, e que o façamos, primeiramente adquirindo conhecimentos para que possamos encher o celeiro; logo adquirindo discriminação para joeirar o que foi recolhido, e finalmente, exercendo firme retenção na memória que preserve o grão ajuntado no armazém. Estes três pontos talvez não tenham exatamente a mesma importância, porém são necessários para um homem preparado.  
É preciso que façamos grandes esforços para adquirir informação especialmente do tipo bíblico. Não devemos limitar-nos a um só tópico de estudo, pois não exercitaríamos toda nossa plenitude mental. Deus fez o mundo para o homem, e fez o homem com uma mente destinada a ocupar e usar todo o mundo; se o homem é o arrendatário, e a natureza é por um tempo a sua casa; por que abster-se de entrar em algumas de suas habitações ? Por que negar-se a saborear alguns dos manjares que o grande Pai tem colocado sobre a mesa ? Nosso negócio principal segue sendo estudar as Escrituras. O negócio principal do ferreiro é ferrar cavalos, e que procure fazê-lo bem, pois embora pudesse cingir um anjo com um cinto de ouro, fracassaria como ferreiro se não soubesse forjar e fixar ferraduras. Pouco importa que saibam escrever as mais brilhantes poesias, se não podem pregar um bom sermão convincente, que tenha o efeito de consolar os santos e convencer os pecadores. Queridos irmãos, estudem a Bíblia a fundo, com todas as ajudas que possam obter. Recordem que os meios que agora estão ao alcance dos crentes comuns são muito mais extensos que nos tempos de nossos pais, e portanto é preciso que sejam eruditos bíblicos se pretendem enfrentar devidamente seus ouvintes. Familiarizem-se com toda sorte de conhecimentos, porém, acima de tudo, meditem dia e noite na lei de Jeová.
Sejam bem instruídos em teologia, e não façam caso do desprezo dos que escarnecem dela porque a ignoram. Muitos pregadores não são teólogos, e disso procedem os erros que cometem. Em nada pode prejudicar o mais dinâmico evangelista o ser também um teólogo são, e freqüentemente pode ser o meio que o salve de cometer enormes disparates. Hoje em dia ouvimos os homens arrancarem de seu contexto, uma frase tirada da Bíblia e clamarem: “Eureka! Eureka!” como se tivessem achado uma nova verdade, e, sem dúvida, não têm descoberto um diamante, mas tão somente um  caco de vidro. Se fossem capazes de comparar o espiritual com espiritual, se houvessem entendido a analogia da fé, e se  estivessem familiarizados com a erudição santa dos grandes estudantes da Bíblia de épocas passadas, não se teriam apressado tanto em jactar-se de seus maravilhosos conhecimentos. Estudemos as grandes doutrinas da Palavra de Deus, e sejamos poderosos na exposição das Escrituras. Estou seguro de que nenhuma pregação durará tanto tempo ou edificará uma igreja de modo tão excelente como a expositiva. Renunciar inteiramente aos discursos exortatórios para limitar-se aos expositivos seria ir a extremos descabidos, porém posso assegurar-lhes sem excessivo fervor que se o seu ministério tem de ser útil durante longo tempo, terão que ser expositivos. Para isso, terão que entender pessoalmente a Palavra, e assim poder comentá-la de modo que o povo possa ser edificado por ela. Irmãos, dominem suas Bíblias, sejam quais sejam as demais obras que não tenham esquadrinhado, familiarizem-se completamente com os escritos dos profetas e dos apóstolos. “A palavra de Cristo habite em vós ricamente”.
Tendo tido esta prioridade, não descuidem de nenhum campo do conhecimento. A presença de Jesus na terra tem santificado a natureza; e o que Deus limpou, não chameis imundo. Tudo o que o vosso Pai tem feito é vosso, e deveis aprender disso. Podem ler o diário de um naturalista, ou a narração que um viajante faz de suas expedições, e achar proveito nisso. Há pérolas nas ostras, e frutos doces nas matas de espinhos. Os luzeiros da verdadeira ciência, especialmente a história natural e a botânica, destilam gordura. A geologia até onde se ocupa dos fatos, e não de ficção, está cheia de tesouros. A história, com as maravilhosas visões que faz desfilar ante vós, é eminentemente instrutiva; certamente, todas as porções dos domínios de Deus na natureza repousam com preciosos ensinos. Familiarizem-se com toda sorte de conhecimentos, segundo o tempo, a oportunidade e as faculdades peculiares de que disponham; e não vacilem em fazê-lo por apreensão de que possam educá-los demasiadamente. Quando a graça abunda, a erudição não os inchará, nem prejudicará sua simplicidade no evangelho. Sirvam a Deus com a educação que possuem, e dêem-lhe graças por soprar através de vocês sendo um rústico chifre, e porém se há a possibilidade de que cheguem a ser uma trombeta de prata, escolham o segundo.  
Dizia que, mesmo assim, é preciso aprender a discernir sempre entre as coisas que diferem, e neste tempo particularmente, é necessário insistir muito enfaticamente neste ponto. Muitos correm atrás de novidades, encantados com todas as coisas novas, aprendam a julgar entre a verdade e as falsificações da mesma, e não serão levados a se extraviarem. Outros se apegam aos antigos ensinos, como as ostras se agarram na rocha, mas pode tratar-se somente de erros antigos, pelo que “examinem tudo” e “retenham o que é bom”. O homem que tem pedido ao Senhor que lhe dê visão clara por meio da qual veja a verdade e discirna seu sentido, e que pelo constante exercício de suas faculdades tem obtido um discernimento exato, é apto para ser líder no exército do Senhor, porém nem todos os ministros estão qualificados até este ponto. É lamentável observar quantos abraçam qualquer causa se esta lhes é apresentada fervorosamente. Tragam os medicamentos de qualquer charlatão espiritual que têm suficiente desfaçatez para parecer sincero. Lhes digo, com Paulo escreveu aos coríntios: “Irmãos não sejam crianças no juízo”; ponham à prova tudo que solicita a fé de vocês. Peçam ao Espírito Santo que lhes dê a faculdade de discernir entre o bem e o mal, de modo que conduzam seus rebanhos longe dos prados venenosos e os levem a pastos que estejam protegidos de perigos.
Mas se não têm o poder de adquirir conhecimentos, e também de discernir, busquem a continuação da capacidade de reter e preservar firmemente o que têm aprendido. É uma lástima que nestes tempos certos homens se gloriem em serem cisternas rotas que não sustêm nada; de fato, não têm nada que valha a pena reter.  Creram no passado, porém não o creem hoje, no que crerão amanhã; e o que fosse capaz de dizer no que creram para a próxima lua cheia, seria maior profeta que Isaías, pois estão mudando constantemente, e parecem haver nascido sob a égide da mencionada lua, e participam de suas vocações. Estes homens podem ser tão sinceros como afirmam ser, porém, qual é sua utilidade ? À semelhança das boas árvores que se transplantam freqüentemente, talvez sejam de natureza nobre, porém não produzem nada; sua fortaleza se gasta em lançar raízes repetidamente, não lhes sobra força para frutificar. Asseguram-se de que possuem a verdade, e então retenham-na. Sejam abertos para receber mais verdade, porém sejam muito cautelosos em subscrever a crença de que tem sido descoberta numa luz melhor que a do sol. Os que apregoam uma verdade nova pela rua, como fazem os vendedores com uma nova edição do periódico vespertino, não costumam ser melhores do que deveriam. A formosa donzela da verdade não pinta o rosto e nem põe diademas na cabeça como Jezabel, seguindo todas as novas modas filosóficas; contenta-se com sua própria beleza natural, e em seu aspecto é a mesma ontem, hoje e por todos os séculos.            
Quando os homens mudam freqüentemente, o que necessitam é serem mudados no sentido mais enfático. Nosso “pensamento moderno” é apresentado por pessoas que estão fazendo danos incalculáveis nas almas dos homens. As almas imortais estão sendo condenadas, e estes homens seguem apresentando teorias. O inferno abre suas bocas e traga a milhares e milhares, e os que deveriam pregar as novas da salvação estão apresentando novas linhas de pensamento. Os refinados assassinos de almas descobrirão que sua pretendida “cultura” não servirá de desculpa no dia do Juízo. Pelo amor de Deus, saibamos como têm de ser salvos os homens e ponhamos mãos à obra; ficar sempre deliberando sobre a melhor maneira de fazer pão quando uma nação está morrendo de fome, é uma burla detestável. É hora de que saibamos o que devemos ensinar, ou de outra maneira, que renunciemos ao nosso ofício. “Sempre aprendem, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade” é o lema dos piores, e não o dos melhores entre os homens. Serão estes os nossos modelos ? “A cada semana dou forma ao meu credo”, foi a confissão que me fez um destes teólogos. A que compararei tais inconstantes ? Não é certo que são com aquelas aves que frequentam o Cabo de Ouro, no estreito de Bósforo, e que se vêm desde Constantinopla, das quais se diz que sempre estão voando, e nunca pousam ? Ninguém nunca as viu pousar na água ou na terra, estão perpetuamente no ar. Os nativos as chamam de almas perdidas, buscando descanso sem achá-lo, e isto me lembra os homens que não têm descanso pessoal n a verdade, se são salvos, é pelo menos improvável que sejam eles meio de salvação para outros. O que não tem uma verdade segura para contar não deve se estranhar que seus ouvintes concedam pouca importância ao que diz. É necessário que conheçamos a verdade, que a compreendamos, e que não nos fuja da mão, pois do contrário não podemos ser úteis aos filhos dos homens. Irmãos, lhes exorto a que procurem saber, e sabendo, que discirnam, e havendo discernido, lhes exorto a que “retenhais o bom”. Trabalhem constantemente nos três processos de encher o celeiro, joeirar o grão e armazená-lo nos silos. Deste modo avançarão intelectualmente.
II. Também devemos avançar em aptidões oratórias.
Estou começando por baixo; porém todas estas coisas são importantes, pois é uma lástima se os pés desta imagem são ainda de barro. Nada é de pouca importância se pode ser de utilidade para nossa grandiosa meta. Somente pela falta de um prego o cavalo perdeu sua ferradura, ficando assim inútil para a batalha. Um homem pode cair irremissivelmente arruinado quanto à utilidade espiritual, não pela falta de caráter ou de espírito, mas por uma queda mental na oratória, e portanto, insisto novamente em que devemos melhorar a maneira de nos expressar.
Nem todos podemos falar como alguns, e ainda estes poucos não podem falar conforme o seu próprio ideal. Por mais perfeições que se possam alcançar, estou seguro que o que crê ter alcançado a perfeição na oratória confunde a voluptuosidade com a eloquência, e a verborragia com a argumentação. Saibam o que saibam, não podem ser verdadeiramente ministros eficazes se não são “aptos para ensinar”. Todos provavelmente conhecem ministros que têm errado em sua vocação, e que evidentemente não têm dons para a pregação; assegurem-se de que ninguém pense o mesmo de vocês. Há irmãos no ministério cujo falar é intolerável, ou melhor, que importunam até a morte, ou que fazem dormir. Nenhuma droga pode ser comparada com seus discursos quanto a propriedades suporíferas. Nenhum ser humano, a menos que esteja dotado de paciência infinita, poderia suportar por muito tempo escutar-lhes, e a natureza faz bem em libertas suas vítimas por meio do sono. Se alguns homens fossem sentenciados a ouvir seus próprios sermões, pela boca de outros semelhantes a eles, seria um justo juízo para os mesmos; porém logo clamariam como Caim: “Grande é a minha iniquidade para que seja perdoada”. Não caiamos em semelhante condenação por algum defeito de nossa pregação que não possamos corrigir.
Irmãos, temos de cultivar um estilo claro. Quando um homem não me faz entender o que quer dizer, é porque o mesmo não sabe o que quer dizer. O ouvinte mediano, que não pode seguir o curso dos pensamentos do pregador, não deve se preocupar, mas lançar a culpa no pregador, que tem a responsabilidade de apresentar as coisas claramente. Se olham para um poço, e está vazio, parecerá muito profundo; porém se houver água, verão o seu brilho. Creio que se muitos pregadores são “profundos”, é sinceramente porque são como poços nos quais não há nada exceto folhas secas, umas quantas pedras, e talvez uns gatos mortos. Se há água da vida em sua pregação, poderá ser muito profunda, porém a luz da verdade lhe dará claridade. Seja como for, se esforcem em ser sinceros, de modo que as verdades que ensinam possam ser facilmente recebidas por seus ouvintes.
É preciso que desenvolvamos um estilo convincente e ao mesmo tempo claro; é preciso que sejamos poderosos. Alguns imaginam que isto consiste em falar com voz forte, porém posso assegurar-lhes que estão equivocados. As tolices não são corrigidas vociferando. Deus não exige que gritemos com se estivéssemos falando a três milhões de pessoas quando somente nos estamos dirigindo a trezentas. Sejamos impetuosos devido à excelência do nosso assunto, e da energia de espírito que aplicamos ao pronunciá-lo. Em outras palavras, que nosso falar seja natural e vívido. Espero que tenhamos abandonado os truques dos oradores profissionais, o esforço em alcançar efeitos, o clímax estudado, a pausa premeditada, o trejeito teatral, o falar afetado, e tantas outras coisas, que soam artificialmente, e que costumamos ver em alguns pregadores pomposos. Oxalá que tais pregadores cheguem a ser espécimes extintas em breve tempo, e que todos aprendamos uma maneira viva, natural, sincera e simples de pregar o evangelho, pois estou persuadido de que é provável que Deus abençoe semelhante estilo.    
Entre muitas outras coisas, temos que cultivar a persuasão. Alguns de nossos irmãos têm grande influência sobre as pessoas, e contudo, outros, com maiores dons, carecem dela. Não parecem se aproximar das pessoas, não podem influenciá-las e sentir algo. Há pregadores que, em seus sermões, parecem como se tomassem a seus ouvintes pela gola e lhes metessem a verdade em suas almas, enquanto outros generalizam tanto, e são tão frios, que se diria que estão falando aos habitantes de algum planeta longínquo, cujos assuntos não lhes importam muito. Aprendam a arte de argüir com os homens. Isto farão bem se vêm ao Senhor freqüentemente. Quando vemos o Senhor crucificado pelo pecado, é bem provável que a nossa língua se desprenda e falemos fervorosamente. Se houver palavras em nós, isto as despertará. O conhecimento do “temor de Jeová” deve também animar-nos a persuadir os homens. Não podemos fazer outra coisa que argüir com eles para que se reconciliem com Deus. Irmãos, mirem-se naqueles que ganham os pecadores para Jesus, procurem seu segredo, e não descansem até que alcancem o mesmo poder. Se os vêem realmente úteis, digam a si mesmos: “esse método me servirá”, porém, por outro lado, escutam um pregador muito admirado, e ao perguntarem descobrem que não há almas convertidas para salvação sob a influência do seu ministério, digam a si mesmos: “este estilo não é para mim, pois não busco ser grande, mas ser verdadeiramente útil.”.
Que sua oratória, portanto, melhore constantemente em clareza, força, lógica, naturalidade e persuasão. Queridos irmãos, tratem de conseguir um estilo de oratória que se adapte a seus ouvintes. É muito o que disso depende. O pregador que se dirigir a uma congregação educada, com a linguagem que usaria para falar a um grupo de vendedores ambulantes, demonstraria ser um néscio, e, por outro lado, o que vai pregar a mineiros, e usa termos teológicos técnicos e frases de salão, opera como um idiota. A confusão de línguas e, Babel foi mais completa do que imaginamos. Não deu meramente diferentes idiomas às grandes nações, mas fez com que a linguagem de cada classe variasse das demais. Assim, já que o vendedor ambulante não pode aprender a linguagem da universidade, que o universitário aprenda a linguagem do vendedor ambulante. “Usamos a linguagem do mercado”, dizia, Whitefield, e isto o honrava muito, sem dúvida, quando estava no salão da Condessa de Huntingdon, e seu discurso fascinava aos nobres infiéis que ela trazia para que o ouvissem, adotava outro estilo. Sua linguagem era igualmente cheia em ambos os casos, porque era igualmente adequada a seus ouvintes; porém não usava as mesmas palavras exatamente, pois do contrário seus discursos haveriam perdido sua franqueza num e noutro caso e haveriam sido, no melhor, brega para a nobreza e grego para o vulgo. Em nossa maneira de falar, devemos aspirar por ser “tudo para todos”. O maior mestre de oratória é o que pode se dirigir a qualquer classe de pessoas de maneira adequada à sua condição, e de modo que seja provável que seus corações sejam alcançados.
Irmãos, que ninguém nos supere quanto à capacidade de oratória, que ninguém nos sobreponha no domínio de nossa língua materna. Amados companheiros de armas: nossas línguas são as espadas que Deus nos tem dado para usá-las para Ele, como se diz de nosso Senhor: “De sai boca saía uma espada aguda de dois gumes”. Que estas espadas sejam verdadeiramente afiadas. Cultivem seu poder de oratória, e estejam na primeira fila no campo da expressão falada não lhes exorto a isso porque sejam especialmente deficientes; longe disso, pois todos me dizem: “Conhecemos aos homens de seu seminário por sua forma de falar, clara e ousada”. Isto me leva a crer que têm em grande medida este dom em vocês, e lhes rogo que se esforcem em aperfeiçoá-lo.
III. Irmãos, devemos ser ainda mais fervorosos para avançar em qualidades morais.
Desejamos elevar-nos até o tipo de ministério mais sublime; porém ainda que obtenhamos as aptidões mentais e oratórias que tenho mencionado, fracassaremos a menos que possuamos também qualidades morais elevadas. Há males dos quais devemos desprender-nos energicamente, como Paulo sacudiu a víbora da mão, e há virtudes que devemos conquistar a qualquer preço. A auto complacência tem ferido a milhares. Mais vale que tremamos e não pereçamos às mãos desta Dalila, Que nossas paixões e nossos hábitos estejam sob o devido controle, se não somos donos de nós mesmos não estamos aptos para ser líderes na igreja de Cristo.
É preciso que também rechacemos toda noção de nossa própria importância. Deus não abençoará o homem que se crê grande. Gloriar-se ainda que seja na obra de Deus Espírito Santo é em si mesmo, acercar-se perigosamente da auto adulação. “Louve-te o estranho e não a tua boca”, e dê-se por satisfeito quando esse estranho tenha o sentido comum suficiente para calar.
Devemos também controlar devidamente nosso temperamento. Um caráter violento não é de todo um mal. Estes homens que são tão acomodatícios, valem geralmente pouco. Eu não lhes diria nunca: “Irmãos amados, sejam homens de caráter”, porém se digo “se o têm controlem-no cuidadosamente”. Dou graças a Deus quando vejo que um pastor tem o suficiente gênio para indignar-se diante da injustiça, e para ser firme em favor da justiça, porém, sem dúvida, o gênio é uma ferramenta de dois gumes, e freqüentemente corta aquele que a maneja. Devemos preferir suportar o mal do que infligi-lo, este deve ser nosso espírito. Se algum irmão aqui tem a tendência de indignar-se com demasiada rapidez, pense que quando o faz não vai obter nenhum benefício disso.
É preciso que, especialmente alguns de nós, dominemos nossa tendência à leviandade. Há uma grande diferença entre a alegria santa, que é uma virtude, e a leviandade geral, que é um vício. Há uma leviandade que não tem a suficiente cordialidade para rir, porém brinca com tudo, é caprichosa, vã e pouco real. Uma boa risada não é mais leviandade que o pranto do coração. Estou falando daquelas expressões religiosas com muita pretensão porém fracas, superficiais, poucos sinceras no tocante às coisas de maior importâncias. A piedade não é uma  burla, nem tampouco mera aparência. Cuidado com a representação de comédias. Nunca dêem às pessoas sérias a impressão de que não falam sério, e que são meros profissionais. Ter lábios ardentes e alma gelada é um sinal de reprovação. Deus nos livre de ser excessivamente finos ou superficiais, que nunca sejamos as mariposas do jardim de Deus.
Ao mesmo tempo, devemos evitar tudo o que se pareça com a ferocidade do fanatismo. Há em torno de nós pessoas religiosas que sem dúvida nasceram de mulher, porém parecem haver sido amamentadas por uma loba. Não lhe faço nenhuma desonra com esta comparação, pois não foram Rômulo e Remo, fundadores de Roma, alimentados assim ? Alguns homens guerreiros desta ordem têm tido poder para fundar dinastias do pensamento; porém a bondade humana e o amor fraternal harmonizam melhor com o Reino de Cristo. Não temos de estar sempre indo pelo mundo em busca de heresias, como as corujas procuram os ratos, nem estar sempre tão confiados em nossa própria infalibilidade, que montemos fogueiras eclesiásticas nas quais queimemos os que diferem de nós, utilizando carvões consistentes em prejuízos extremados e suspeitas cruéis.
Além de tudo isto, há maneirismos e atitudes, que agora não posso descrever, contra os quais devemos lutar, pois os pequenos defeitos podem muitas vezes ser a fonte do fracasso, e livrar-nos deles talvez seja o segredo da eficácia. Não tenham por pequena uma coisa que os faça ainda que seja somente um pouquinho mais úteis; limpem o tempo de sua alma dos bancos dos que vendem pombas, assim como de traficantes de ovelhas e bois.
E, queridos irmãos, devemos adquirir certas faculdades e hábitos morais, ao mesmo tempo que rechaçamos o que é o contrário. O que não tenha integridade de espírito nunca fará muito para Deus. Se somos dirigidos pela política própria, se há algum tipo de ação para nó que não seja o que é reto, naufragaremos logo. Resolvam, queridos irmãos, a pensar que podem ser pobres, que podem ser desprezados, que podem perder mesmo a própria vida, porém que não podem fazer nada desonesto. Que a única política para vocês seja a honradez.
Quem também possuam a grande característica moral do valor. Com isto não quero dizer a impertinência ou insolência, ou a presunção, mas o valor verdadeiro para fazer e dizer tranqüilamente o mais apropriado, e para ir ao encontro de todos os perigos, ainda que não haja ninguém que lhes dirija uma boa palavra. Assombra-me o número de crentes que temem dizer a verdade a seus irmãos. Dou graças a Deus de poder dizer que não há nenhum membro de minha igreja, nenhum oficial eclesiástico, e nenhum homem no mundo a quem tema dizer em sua cara o que dia às suas costas. Graças a Deus, e com sua ajuda, devo minha posição em minha própria igreja à ausência de toda política, e ao hábito de dizer sempre o que penso. O plano que consiste em faze que todas as coisas sejam sempre agradáveis e para todos, é perigoso e ao mesmo tempo malígno. Se você diz algo a um homem, e outra coisa a outro, um dia compararão as falas e então você será desprezado. O homem que tem duas caras será, mais tarde ou mais cedo, objeto de desprezo dos demais, e com justiça. Assim pois, sobre todas as coisas, evitem isto. Se têm algo que crêem deveriam dizer de alguém, que a medida do que digam seja esta: “Quanto me atreveria a dizer em sua presença ?”. É preciso que não nos permitamos nem uma palavra além disso, ao censurar a qualquer um. Se têm esta regar, seu valor lhes salvará de mil dificuldades e lhes adquirirá um respeito duradouro.    
Tendo a integridade e o valor, desejaria que fossem dotados com zelo invencível. Que é o zelo ? Como o descreverei ? Possuam-no e saberão o que é. Consumam-se de amor por Cristo, e que a chama arda continuamente, não ardendo nas reuniões pública e apagando-se no trabalho rotineiro cotidiano. Necessitamos de perseverança indomável, zelo obstinado, e uma combinação de tenacidade santificada, de abnegação, de mansidão sagrada e de valor invencível.
Destaquem-se também naquele poder que é tanto mental quanto moral, a saber, o poder de concentrarem todas as suas forças no trabalho a que são chamados. Reunam seus pensamentos, unam todas as suas faculdades, amontoem suas energias, e orientem suas capacidades. Dirijam todos os poderes de sua alma até um canal, fazendo que flua adiante em forma de corrente unificada. Alguns homens carecem desta qualidade. Se espargem, e portanto fracassam. Convoquem seus batalhões e lancem-se contra o inimigo. Não tratem de ser grandes nisto e naquilo, de serem “tudo ao princípio e nada durante muito tempo”; mas permitam que sua natureza inteira seja levada em cativeiro por Jesus Cristo, e coloquem tudo aos seus amados pés, já que Ele sangrou e morreu por vocês.
IV. Acima de todas estas coisas, necessitamos avançar em aptidões espirituais, com as graças que devem ser operadas em nós pelo Espírito Santo em pessoa. Estou seguro de que isto é o principal. Outras cousas são preciosas, porém esta não tem preço.
Primeiramente, necessitamos conhecer a nós mesmos. O pregador deve familiarizar-se com a ciência do coração, a filosofia da experiência interna. Há duas escolas de experiência, e nenhuma delas tem prazer em aprender da outra;  mas disponhamo-nos, a aprender de ambas. Uma destas escolas fala do filho de Deus como daquele que conhece a profunda depravação de seu coração, que entende o repulsivo de sua natureza, e que diariamente vê que em sua carne não reside o bem. “Um homem não tem a vida de Deus em sua alma”, dizem os homens desta escola, “se não sabe e vê isto, se não o experimenta amarga e dolorosamente dia após dia”. È em vão falar-lhes de liberdade e de gozo no Espírito Santo; pois não querem tê-los. Sem dúvida, aprendamos da parcialidade destes. Sabem muito do que se deve saber, e ai do ministro que ignore seu sistema de verdades! Lutero costumava dizer que a tentação é o melhor mestre de um pastor. Este aspecto da questão contém sua parte de verdade.
Os crentes da outra escola têm em grande estima, o que é justo e abençoado, a gloriosa obra do Espírito de Deus. Crêem no Espírito de Deus como poder purificador, benéfico para a alma ao fazer dela um templo para Deus. Porém freqüentemente falam como se houvessem deixado de pecar, ou de se acossados pela tentação; gloriam-se como se a batalha estivesse já terminada e a vitória alcançada. Não obstante, aprendamos também o que possamos destes irmãos. Conheçamos toda a verdade que possam ensinar-nos. Familiarizemo-nos com os pontos principais da salvação e da glória que neles resplandece: Os Hermons e os Tabores, onde podemos ser transfigurados com nosso Senhor. Não temam chegar a ser demasiadamente santos, ou demasiadamente cheios do Espírito Santo.
Quisera que fossem sábios em tudo, e capazes de tratar com os homens tanto em seus conflitos como em suas alegrias, sendo experimentados em ambas as coisas. Conheçam onde lhes deixou Adão; e conheçam onde lhes tem colocado o Espírito de Deus. Não conheçam nenhuma desta duas coisas de modo tão exclusivo como que para esquecer a outra. Creio que, se há homens têm de clamar: “Miserável homem que sou, quem me livrará do corpo dessa morte ?” serão sempre os ministros do evangelho, porque nós necessitamos ser tentados em todas as coisas, para poder consolar a outros. Num vagão de ferrovia, na semana passada, vi um pobre homem com a perna apoiada sobre o assento. Um empregado que lhe viu naquela postura, observou: “Estes estofados não foram feitos para que você ponha as botas sujas sobre eles”. Tão logo o funcionário se retirou, o homem tornou a colocar a perna no assento, dizendo-me: “Estou seguro de que ele nunca fraturou a perna em dois lugares, ou não seria tão duro comigo.”. Quando ouço irmãos que têm vivido comodamente, com boa renda, condenar outros que têm passado por grandes provações, por não se regozijarem estes, como aqueles, percebo que nada sabem dos ossos quebrados que outros têm que arrastar durante toda a sua peregrinação.    
Conheçam o homem, em Cristo, e fora de Cristo. Estudem-no em seu melhor e em seu pior estado, e conheçam sua anatomia, os seus segredos e suas paixões. Não podem adquirir isso por meio de livros. É preciso que tenham contato pessoal com os homens se haverão de ajudá-los em sua multifacetada experiência espiritual. Somente Deus pode dar-lhes esta sabedoria que necessitarão para tratar prudentemente com eles, porém Ele a dará como resposta à oração da fé.
Dentre todas as aquisições espirituais, é necessário conhecer Aquele que é o remédio seguro para todas as enfermidades, está acima de qualquer outra coisa. Conheçam Jesus. Sentem-se a seus pés. Considerem sua natureza, sua obra, seus sofrimentos, sua glória. Regozijem-se em sua presença, tenham comunhão com Ele dia após dia. Conhecer a Cristo é compreender a ciência mais excelente. Não podem deixar de ser sábios se têm comunhão com a Sabedoria Encarnada. Não podem carecer de força se têm constante comunhão com Deus. Irmãos, residam em Deus; não se trata de ir a Ele às vezes, mas habitar nEle. Na Itália dizem que onde não entra o sol, tem que entrar o médico. Onde Jesus não resplandece, a alma está enferma. Banhem-se em seus raios, e serão vigorosos no serviço do Seu Senhor.
No Domingo passado, à noite, meditamos num texto que me havia dominado: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai”. Disse que os pobres pecadores que haviam vindo a Jesus e confiaram nEle, pensavam que o conheciam, porém somente conheciam um pouquinho dEle. Há santos com sessenta anos de experiência e que têm andado com Ele em cada dia que crêem conhecê-lo; porém não estão senão começando a conhecê-lo. Os espíritos perfeitos que estão diante do trono, que o têm adorado perpetuamente há mais de cinco mil anos, talvez creiam que o conhecem, porém não o conhecem plenamente. “Ninguém conhece o Filho senão o Pai.”. É tão glorioso que somente o Deus infinito tem pleno conhecimento dEle, e portanto não haverá limite para nossos estudos, nem pobreza em nossa linha de pensamento, se fazemos de nosso Senhor o grande objeto de todos os nossos pensamentos e investigações.
 Assim, temos que ser homens fortes, como resultado deste conhecimento, é preciso que sejamos feitos semelhantes ao nosso Senhor. Bendita aquela cruz em que sofrermos, se sofrermos por ter sido feitos à semelhança do Senhor Jesus. Se obtivermos esta semelhança, teremos uma unção maravilhosa em nosso ministério; e sem isso, que vale um ministério ? Em resumo, devemos esforçar-nos em ter santidade de caráter. Que é a santidade ? Não é inteireza de caráter ? Um estado equilibrado em que não sobra nem falta nada. Não é moralidade, a qual é uma estátua fria e sem vida; a santidade é vida. É preciso que tenham santidade; e contudo lhes faltem aptidões mentais (como espero que não), e caso tenham poucas faculdades oratórias (como creio que não), podem estar seguros de que uma vida santa é, em si mesma, um poder maravilhoso, e compensará muitas deficiências; é de fato, o melhor sermão que o melhor dos homens pode pregar. Resolvamos então ter toda a pureza que se possa ter, toda a santidade que se possa alcançar, e toda a semelhança a Cristo que seja possível neste mundo de pecado, confiando na obra eficaz do Espírito de Deus. Que o Senhor nos levante a todos, como Seminário, a uma plataforma mais elevada, e Ele terá a glória.
   V. É preciso avançar também trabalhando deveras. Por fim seremos conhecidos pelo que tivermos feitos mais do que pelo que temos dito. À semelhança dos apóstolos, espero que nosso monumento seja o dos nossos atos. Há no mundo muitos bons irmãos que são muito pouco práticos. A grande doutrina da segunda vinda lhes faz ficar com a boca aberta, olhando o céu, de tal maneira que estou disposto a dizer-lhes: “Varões de Plymouth, por que estais olhando para o céu ?”. O fato de que Jesus está para vir não é razão para ficar contemplando o firmamento, mas para trabalhar no poder do Espírito Santo. Não se deixem levar até tal ponto em especulações, que cheguem a preferir uma lição bíblica sobre uma obscura passagem de Apocalipse a ensinar numa escola dominical ou falar aos pobres sobre Jesus. É preciso que acabemos com os sonhos e ponhamos mãos à obra. Creio nos ovos, mas temos que fazem com que saiam frangos deles. Não importa o tamanho do ovo. Pode ser ovo de avestruz, se quiserem, mas se não houver nada nele, não fiquem entretidos com a casca. Se suas especulações produzem algo, que Deus os abençoe, e mesmo que vocês se aventurem ainda mais, indo um pouco além do que julgo sábio aventurar-se, ainda assim, se isso os tornar mais úteis, louvado seja Deus!
Queremos fatos: ações realizadas, almas salvas. Está bem que se escrevam ensaios; porém, que almas salvarão de ir para o inferno ? Interessa-me a administração excelente da sua escola, porém, quantas crianças têm sido levadas a tomar parte da igreja mediante tal administração ? Alegramo-nos em saber de certas reuniões especiais, porém, quantos têm realmente nascido de novo para Deus nelas ? Os santos são edificados ? Os pecadores se convertem ? Deus nos livre de viver na comodidade espiritual enquanto os pecadores afundam no inferno! Viajando pelas estradas da Suíça, vêem-se continuamente as marcas de perfuratrizes; e na vida de todo ministro deve haver as marcas do rude labor. Irmãos, façam algo. Enquanto as Comissões desperdiçam o tempo redigindo resoluções, façam algo. Enquanto as Sociedades e as Uniões estão preparando constituições, ganhemos almas. Com demasiada freqüência discutimos, consideramos e ponderamos, enquanto Satanás se ri dissimuladamente de nós. Rogo-lhes a todos que sejam homens de ação. Ponham mãos à obra, e se desenvolvam como homens. Compartilho a idéia que o velho Suvarov  tinha da guerra: “Adiante e ao ataque! Nada de teorias! Ataquem! Formem colunas! Fixem as baionetas, e ataquem diretamente contra o centro mesmo do inimigo!”.  Nosso único objetivo é salvar almas, e não temos de falar meramente sobre isto, mas efetuá-lo no poder de Deus.
VI. E finalmente, avancem na questão da escolha de sua esfera de ação.
 Hoje eu rogo por aqueles que não podem rogar por si mesmos, a saber, as grandes massas do exterior, do mundo pagão. Os púlpitos existentes estão já toleravelmente bem supridos, porém necessitamos de homens que queiram edificar em novos campos. Quem o fará ? Somos, como grupo de homens fiéis, limpos em nossas consciências quanto aos pagãos ? Há milhões que não têm ouvido jamais o nome de Jesus. Centenas de milhões têm visto um missionário somente uma vez em suas vidas, e nada sabem do nosso Rei. Deixaremos que pereçam ? Podemos ir para os nossos leitos e dormir, enquanto a China, a Índia, o Japão e outras nações estão sob condenação ? Estamos limpos do seu sangue ? Não têm eles nenhum direito sobre nós ? Deveríamos considerar isto desta forma: em vez de dizer: “Posso demonstrar que deveria ir ?”, digamos: “Posso provar que não deveria ir ?”. Quando alguém pode honradamente demonstrar que não deveria ir, então está limpo, porém não de outro modo. Meus irmãos, que resposta darão ? Eu lhes pergunto pessoa por pessoa. Não estou apresentando uma questão que não tenha apresentado honestamente a mim mesmo. Tenho considerado que se alguns de nossos principais ministros dessem o passo, haveria um grande efeito como estímulo em nossas igrejas, e tenho me perguntado sinceramente se deveria ir. Depois de pesar todos os pontos, senti-me levado a prosseguir no meu lugar, e creio que o discernimento da maioria dos crentes confirmaria a minha decisão; porém confio que iria ao estrangeiro, fácil, voluntária e alegremente se não visse que devo permanecer aqui. Irmãos, façam o mesmo experimento. Temos que converter os pagãos; Deus tem milhares de eleitos entre eles, é preciso que saiamos e os busquemos de um modo ou de outro. Agora têm desaparecido muitas dificuldades, todos os países nos estão abertos, e as distâncias têm sido quase suprimidas. É certo que não temos o dom de línguas do Pentecoste, porém os idiomas se aprendem hoje muito rapidamente. Os perigos próprios das missões não deveriam reter a nenhum homem sincero, embora fossem grandes perigos, porém agora estão reduzidos ao mínimo. Há centenas de lugares em que a cruz de Cristo é desconhecida, lugares aos quais podemos ir sem risco. Quem irá ? Devem ir os irmãos jovens, bem dotados, e que não tomaram ainda responsabilidade de família. Cada um dos estudantes que ingressam no Seminário deve considerar este assunto, e entregar-se à obra, a menos que haja razões concludentes para não fazer isso. É um fato que, mesmo para as colônias, é bem difícil encontrar homens, pois tenho tido oportunidades na Austrália que me tenho visto obrigado a abandonar. Não deveria ser assim. Seguramente deve haver entre nós algum espírito de sacrifício, e alguns de nós que estejam dispostos a ser exilados por Jesus. A Missão enfraquece por falta de homens. Se aparecessem os homens, a liberalidade da igreja ofereceria a provisão, mas, apesar disso não há homens que queiram ir.    
Irmãos, até que se veja nossos companheiros lutando por Jesus em todas as terras, na vanguarda do conflito, não pensarei que temos cumprido o nosso dever. Creio que se Deus os move a irem, serão os melhores missionários, porque farão a pregação do evangelho a grande característica do seu trabalho, e esta é a maneira segura em que Deus revela o seu poder.
Oxalá que nossas igrejas imitassem a do Pastor Harms na Alemanha, onde cada membro está consagrado ao Senhor de fato e de verdade. Os camponeses dão o produto de suas terras, os operários do seu trabalho. Um deles deu uma grande casa para o funcionar como escola da missão, e o Pastor Harms obteve dinheiro para adquirir um barco que equipou para fazer viagens à África, e então enviou missionários e pequenos grupos para formar comunidades cristãs entre os boximanes. Quando é que nossas igrejas serão assim abnegadas e ativas ? Vejam os morávios! Como cada homem e mulher se converteram em missionários, e quanto fizeram pelo Senhor como conseqüência. Captemos seu espírito. É um espírito correto ? Então é acertado que o tenhamos. Não basta dizer: “Esses Morávios são maravilhosos!”. Nós deveríamos ser também maravilhosos. Cristo não adquiriu aos morávios de maneira mais completa do que a nós; não tinham obrigação de se sacrificarem mais do que nós. Por que então a reticência ? Quando lemos acerca dos homens heróicos que tudo entregaram por Jesus, não somente devemos admirá-los, mas imitá-los. Quem os imitará agora ? Vêem a importância da questão ? Não há alguns de vocês que estão dispostos a se consagrarem ao Senhor ? “Avante” é a insígnia hoje! Não há espíritos audazes que tomem a vanguarda ? Orem todos para que, durante este Pentecoste, o Espírito diga: “Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra para a qual os tenha chamado.”.
Avancem! Em nome de Deus, AVANTE!
Subam e voem até adiante nas asas do amor. Amém.















50) ENSINO

ÍNDICE

1 - Ensinados na Própria Pessoa de Jesus Cristo
2 - Guia-me e Ensina--me
3 - Ensinando Doutrina a uma Criança de Seis Anos de Idade
4 - Ensinar e Educar
5 - Doutrina dos Apóstolos: Fundamento da Igreja
6 - Ensinem Bem aos seus Filhos
7 - O Que é Aprender a Cristo
8 - Aprender Exige Esforço
9 - Doutrina dos Apóstolos: Fundamento da Igreja


1 - Ensinados na Própria Pessoa de Jesus Cristo

“Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus,” (Efésios 4.20,21)

Faremos sempre bem em lembrar que o Cristianismo não é uma mera teoria especulativa, para informar a mente, mas uma grande lição prática, para renovar o coração, e nos trazer de volta para o estado de onde havíamos caído.
Os meios que ele prescreve para a realização de seu fim, são, sem dúvida, muito misteriosos; mas ainda, o final é aquele, para o qual os meios são ordenados, e a restauração de nossas almas à imagem divina deve ser a nossa única e constante busca e propósito na religião. Afinal todo o propósito de nossa devoção, segundo a vontade de Deus, tem em vista nos conduzir a uma verdadeira vida santa e piedosa.
E não podemos ter isto à parte de uma plena e íntima comunhão com Cristo e com a sua própria vida divina.
Paulo sempre teve isso em mente. Ele apresenta na visão mais clara, e nas mais brilhantes cores, as maravilhas do amor redentor: ele sempre chega a isto, que devemos afinal, ser santificados pela verdade, e que a verdade deve nos libertar de todos os nossos inimigos espirituais, especialmente aqueles que vivem em nós mesmos, na velha natureza corrompida pelo pecado.
O apóstolo nos diz: “vos suplico, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados.", e ainda: "Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos,”, Ef 4.17. Como se tivesse dito: “Vocês são melhor instruídos; não podem estar de acordo com as práticas dos gentios; porque não foi assim que  aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo a verdade em Jesus.
O  cristão tem sido instruído pelo próprio Senhor Jesus Cristo. Há um ensino que procede do próprio Cristo.
Há um aprendizado que temos na leitura das Escrituras, porque o próprio Senhor disse aos apóstolos: "Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou.”, Lucas 10.16.  Mas é evidente que muito mais do que isso está contido nas palavras diante de nós; na verdade, aqui há um contraste estabelecido entre aqueles que aprendem pela palavra, ou somente o ensino humano, e aqueles que aprendem do próprio Senhor Jesus Cristo. Este tipo de ensino direto por revelação e inspiração divina ao nosso espírito é, por vezes, atribuído na Escritura, ao Pai: "Todo homem que tem ouvido e aprendido do Pai, vem a mim”, João 6.45. Outras vezes é atribuído ao Filho: "Ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar”, Mat 11.27. E também é atribuído ao Espírito Santo: "O Consolador, que é o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas.”, João 14.26.
Mas a verdade é a mesma, uma vez que, seja o Pai ou o Filho, que nos instruam, é sempre pela atuação do Espírito Santo.
Dizer exatamente como Cristo nos ensina, está além do nosso poder, mas isto é feito por nos abrir as Escrituras, e por nos dar uma percepção espiritual das verdades nelas contidas; conforme o Espírito Santo exerce a sua influencia sobre o nosso espírito.
O apóstolo nos diz que esta educação do cristão não é como o estado do mundo gentio que é horrível ao extremo. Ainda que haja alguma boa conduta de uns poucos entre eles, a grande massa é alienada de todo o bem, e viciada em todos os males.
Quanto a Deus, eles não o conhecem, nem têm qualquer desejo de conhecê-lo. Suas mentes estão completamente alienadas de cada coisa que Deus aprovaria; eles não têm disposição, senão para as vaidades deste mundo corrompido.
Mas os verdadeiros cristãos são de espírito muito diferente, como diz o apóstolo: "Vós não aprendestes assim a Cristo." Não, de fato, o  verdadeiro cristão não tem aprendido assim a Cristo; ele não pode "correr na dissolução desenfreada" que os ímpios costumam fazer, nem irá estar conformado, em quaisquer daquelas vaidades do mundo ao seu redor. Ele "sai do mundo, e é separado, e não estaria disposto a tocar em coisas impuras"; muito menos deleitar-se em todo tipo de impureza.
O cristão, que realmente tem ouvido a Cristo, e foi ensinado por ele segundo a verdade que está em Jesus, vai aderir a esta verdade; e se esforçará com o fim de ver cumprida plenamente nele, o fim pelo qual Jesus encarnou, morreu e ressuscitou. Ele verá como a verdade foi exemplificada em Jesus, e se esforçará para andar assim como ele andou. Ele não se contentará com qualquer mudança em sua conduta exterior; e procurará ser uma nova criatura, andando na novidade de vida que há em Jesus, e da qual temos aprendido.





2 - Guia-me e Ensina--me

“Guia-me na tua verdade e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia.” (Salmos 25.5)

Quando o crente tem começado a tremer seus pés quando anda no caminho do Senhor, ele pede para ser ainda levado adiante como uma criança que é segura pela mão do seu pai, e ele anseia por ser mais instruído no alfabeto da verdade.
Ensino experimental é o peso desta oração. Davi sabia muito, mas ele sentiu a sua ignorância, e desejou permanecer ainda na escola do Senhor: quatro vezes mais em dois versos ele se aplica para uma bolsa de estudos no colégio da graça.
Seria bom para muitos professores, se em vez de seguirem os seus próprios esquemas e abrirem novos caminhos de pensamento para si mesmos, que eles voltassem aos bons velhos métodos da própria verdade de Deus, e pedissem ao Espírito Santo para lhes dar uma compreensão santificada e espíritos que pudessem ser ensinados.
"Pois tu és o Deus da minha salvação." O Deus triúno é o Autor e Consumador da salvação de seu povo.
Leitor, é ele o Deus da sua salvação? Você acha na eleição do Pai, na expiação do Filho, e na vivificação do Espírito Santo, todos os motivos de suas esperanças eternas? Se sim, você pode usar isso como um argumento para a obtenção de novas bênçãos, se o Senhor ordenou salvá-lo, com certeza ele não irá se recusar a instruí-lo em seus caminhos.
É uma coisa feliz quando podemos nos dirigir ao Senhor com a confiança que Davi manifesta aqui, isto nos dá um grande poder na oração e conforto na tribulação.
"Em quem eu espero todo o dia." A paciência é serva e filha da fé, nós alegremente esperamos quando estamos seguros de que não esperaremos em vão. É nosso dever e nosso privilégio esperar no Senhor em serviço, na adoração, na esperança, na confiança, todos os dias da nossa vida. A nossa fé será provada se é de fato fé, e se for do verdadeiro tipo, ela vai suportar e perseverar em meio às provações, sem ceder. Não vamos cansar por esperar em Deus, se nos lembrarmos por quanto tempo e quão graciosamente uma vez, ele esperou por nós.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







3 - Ensinando Doutrina a uma Criança de Seis Anos de Idade

Por John Piper

Acabei de escrever um pequeno livro sobre a Justificação. Querendo Deus, será publicado ainda este ano pela Crossway com o título Justificados em Cristo. Numa determinada secção dele eu pergunto: "Porque será que um pastor sob pressão, com uma família para cuidar... dedica tanto tempo e energia na controvérsia sobre a imputação da justiça de Cristo? Bom, é precisamente porque tenho uma família para cuidar da mesma maneira que centenas de pessoas do meu povo. "Eis parte da resposta que escrevi no primeiro capítulo do novo livro:
Sim, tenho uma família para cuidar. Quatro filhos já são crescidos e já não moram em casa. Todavia, eles não estão fora das nossas vidas. Pessoalmente e por telefone toda semana existem grandes questões pessoais, relacionais, profissionais e teológicas para lidar. Em todos os casos a raiz do problema resulta em: Quais são as grandes verdades reveladas nas Escrituras que podem, neste caso, dar estabilidade e orientação? A escuta e o afeto são fundamentais. Mas se lhes falta substância bíblica, então o meu conselho é oco. Uma afirmação melosa não o vai alterar. Muito está em jogo. Estes jovens querem rocha sob os seus pés.
A minha filha Talitha tem seis anos de idade. Recentemente, ela, a minha mulher e eu lemos o livro de Romanos. Foi a escolha dela após termos terminado o livro de Atos. Ela aprendeu agora a ler e eu punha o meu dedo em cada palavra. Ela parou-me no meio de uma frase no princípio do capítulo cinco e perguntou "o que significa justificado?" O que dirias a uma criança de seis anos de idade? Dir-lhe-ias que há coisas mais importantes para pensar, então confia em Jesus e sê uma boa menina? Ou que é um assunto tão complexo que mesmo os adultos não o compreendem totalmente e que podia esperar até ser adulta? Ou que apenas significa que Jesus morreu em nosso lugar a fim que todos os nossos pecados fossem perdoados?
Ou contamos uma história (o que eu fiz), improvisada, acerca de dois criminosos acusados, um culpado e o outro não culpado (um fez uma coisa má e o outro não)? O que não fez a coisa má é indicado, por todos aqueles que viram o crime, como inocente. Assim, o juiz "justifica-o", isto é, diz que ele é uma pessoa cumpridora da lei, que não cometeu o crime e pode ir em liberdade. Mas o outro criminoso acusado, o que realmente fez a coisa má, é exposto como culpado, pois todas as pessoas que viram o crime o viram a fazê-lo. Mas, então, imaginem! O juiz "justifica-o" também e diz, "considero-o como um cidadão cumpridor da lei, com plenos direitos no nosso país (e não apenas um criminoso perdoado que pode não ser confiável ou totalmente livre no país)." Neste momento Talitha fita-me intrigada.
Ela não sabe como colocar o dedo na ferida, mas sente que alguma coisa está errada. Então digo, É um problema, não é? Como é que uma pessoa que infringiu a lei e fez uma coisa má, pode ser notificado pelo juiz de que é uma pessoa cumpridora, justa, com pleno direito sobre as liberdades do país e não tem que ir para a prisão ou ser punida? Ela abana a cabeça. Então regresso a Romanos 4:5 e mostro-lhe que Deus "justifica o ímpio". Ela franze a testa. Mostro-lhe que ela pecou, que eu pequei e todos nós somos como este segundo criminoso. E quando Deus nos "justifica", Ele sabe que somos pecadores, "ímpios" e "infratores". Então pergunto-lhe. "O que é que Deus fez de modo a que seja certo para Ele dizer a nós, pecadores: não és culpado, és cumpridor da Lei diante de mim, és justo e estás livre para desfrutar tudo o que este país tem para oferecer?"
Ela sabe que tem a ver com Jesus, sua vinda e ter morrido em nosso lugar. Até aqui ela aprendeu. O que mais lhe posso dizer? A resposta a esta questão vai depender se a mãe e o pai a ensinaram fielmente sobre a imputação da justiça de Cristo. Será que vão dizer-lhe que Jesus era o perfeito cumpridor da Lei, que nunca pecou, mas fez tudo o que o juiz e seu país esperam dele? Vão dizer-lhe que quando ele viveu e morreu, ele não só tomou o seu lugar carregando a punição dela, mas também a substituiu como uma cumpridora da Lei? Será que lhe vão dizer que ele foi punido por ela e que por ela cumpriu a Lei? E que se ela confiar nele, o Juiz, Deus, deixará que a punição e a justiça Jesus contem como se dela fossem. Assim, quando Deus a "justifica" - diz que ela é perdoada e justa (mesmo que ela não tenha sido punida por não ter cumprido a Lei) - o faz por causa de Jesus. Jesus é a sua justiça e seu castigo. Confiar em Jesus faz Jesus ser tanto o seu Senhor e Salvador quanto sua perfeita bondade e sua perfeita punição.
No mundo há milhares de famílias cristãs que nunca tiveram conversas como esta. Nem com crianças de 6 anos, nem com jovens de 16. Não acho que tenhamos de remexer muito para compreender a fraqueza da igreja, a superficialidade da vocação festiva de muitos ministérios de juventude e a impressionante taxa de queda na frequência após o ensino secundário. Mas como poderão os pais ensinar os seus filhos se a mensagem que recebem do púlpito, semana após semana, é a que a doutrina não é importante? Sim, eu tenho uma família para cuidar. Logo, tenho de compreender as doutrinas centrais da minha fé – e compreendê-las de tal maneira que as possa traduzir para qualquer idade que os meus filhos tenham.






4 - Ensinar e Educar

“Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos, para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos no presente mundo sóbria, e justa, e piamente,” (Tito 2.11,12)
O que é ser crente em Jesus?
Para qual grande propósito Deus nos salvou?
Qual é o uso principal da fé e da graça que nos foram dadas em Cristo Jesus?
Certamente não é o que geralmente se costuma pensar, mesmo entre muitos crentes, que é para fazermos conquistas materiais, visíveis e temporais, sem se levar em conta o aspecto da eternidade.
Antes de tudo deve ser considerado, que o grande propósito de Deus é o de nos salvar de nós mesmos, da nossa condição decaída no pecado, que nos sujeita a juízo corretivo ou condenatório, e a sermos vencidos pelas potestades das trevas.
Deus tem por alvo, o Corpo de Cristo; a Igreja, pois apesar de sermos indivíduos não fomos criados para a individualidade, senão para uma perfeita união e comunhão que há de ser consumada na glória, mas deve começar a se exercitar aqui.
Temos um ego pecaminoso do qual devemos nos despojar; temos uma cruz para carregar, e um exemplo santo em Cristo para imitar. E para tanto, necessitamos de doutrina (ensino), educação e disciplina.
Há uma verdade na qual devemos andar. Alguém já disse com muita propriedade, que a verdade não é uma questão meramente de precisão verbal, mas de espírito essencial. A verdade cristã não é formal, mas vital; uma coisa espiritual, e, portanto, pessoal.
O foco de Deus está concentrado, portanto em nossa própria pessoa; Ele visa à transformação do nosso caráter, e não propriamente às nossas aquisições voltadas para as coisas deste mundo. Não existe um caminho curto e real para a formação do caráter. Isto é fruto da disciplina, e sua coroação é a qualidade de vida espiritual que é construída pela fé, paciência, esperança, e amor.
O caráter é formado através da disciplina. Uma longa estrada é necessária para criar as verdadeiras virtudes espirituais. Não há atalho também, para o poder espiritual ou para a comunhão, mais do que para a sabedoria ou para o caráter.
Tome a oração, por exemplo, o grande instrumento do nosso progresso espiritual. Ela não é um talismã que pode nos levar a um bom termo espiritual como se fosse um passe de mágica, mas ela é uma longa jornada pelo caminho do deserto desta vida. Nós devemos trilhá-lo com coragem, esforço, esperança e resistência.
Somos chamados a viver no mundo, para o mundo. Precisamos de sabedoria para fazer a obra de Deus. Precisamos de sabedoria para proteger nossa própria fé e simplicidade de coração, e salvar o nosso próprio caráter cristão. Se não tivermos algo da prudência da serpente, não vamos manter a simplicidade da pomba por muito tempo.
Por isso precisamos nos dedicar ao aprendizado da sã doutrina, e nos esforçar em nossa consagração a Deus para termos uma vida útil, e uma sabedoria em um caráter forte, o qual é altamente necessário; e nada pode desculpar a nossa negligência em procurá-lo.
A beleza da vida cristã não está em se ter êxtases espirituais, mas sim em se transitar pelo grande deserto deste mundo fazendo progressos em santificação, em toda perseverança, vigilância e diligência, com um crescimento espiritual progressivo em justa cooperação com a graça divina.
Foi para este grande propósito, da nossa transformação pessoal pela edificação na Palavra de Deus, que o Espírito Santo nos foi dado, para nos ensinar habitando em nós.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras do original grego,
1 – didaskalia – doutrina, ensino, correção;
2 – paideia – disciplina, correção, ensino;
3 – didasko – ensinar; relativas aos assunto, acessando o seguinte link:

http://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/5391853

Você pode ler toda a Bíblia com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:

http://interpretabiblia.blogspot.com.br/

Este blog contém todos os livros do Velho e do Novo Testamento e está sendo ativado em Outubro de 2015.

Sermões e mensagens :

http://retornoevangelho.blogspot.com.br/







5 - Doutrina dos Apóstolos: Fundamento da Igreja

Por D.M.Lloyd-Jones
Em Atos 2, para que os cristãos se reuniam? Ali estavam essas pessoas que tinham saído do mundo para se juntar ao grupo de pessoas chamado de discípulos, e eles formaram a primeira igreja, mas para que serve a igreja cristã? O que ela faz? O que ela provê? Pessoas Cristãs reúnem-se para reuniões sociais, danças, rifas, shows dramáticos, conferências políticas, literatura, e sociologia? Não havia nada desse tipo na igreja primitiva. Não é meu objetivo denunciar essas coisas. Mas eu quero deixar claro quão distante elas estão da igreja cristã. Você pode conseguir tudo isso no mundo, e você pode consegui-lo com muito mais qualidade. A igreja Cristã faz papel de boba quando tenta fazer essas coisas - ela as faz muito mal. Se você quer atividades assim, então vá e procure consegui-las profissionalmente organizadas. Mas isso não é a igreja de Cristo. Trata-se de uma caricatura.
"Eu quero apresentar diante de vocês o retrato da igreja do Novo Testamento. Essa é a única igreja que eu reconheço."
Eu não quero defender a cristandade ou defender qualquer seção particular da igreja ou qualquer igreja local em particular. Eu quero apresentar diante de vocês o retrato da igreja do Novo Testamento. Essa é a única igreja que eu reconheço. Aquelas pessoas não vieram para a igreja para fazer coisas como essas. E quando o verdadeiro reavivamento acontece, essas são as primeiras coisas que desaparecem; as pessoas perdem o interesse nelas. Uma igreja que só consegue existir recorrendo a coisas como essas é totalmente diferente da igreja do Novo Testamento.
"E perseveravam na doutrina dos apóstolos [ensino] e na comunhão, no partir do pão e nas orações." - atividades puramente espirituais. E esse é o padrão para a igreja em qualquer tempo.
Portanto, vamos atentar para isto. Primeiro, a doutrina. O ensino dos apóstolos é posto em primeiro lugar nessa lista - é por isso que nós temos que começar por ali, e é muito importante que assim seja, porque hoje há real oposição ao que nós lemos aqui. A primeira coisa que estes cristãos desejaram era mais ensino por parte dos apóstolos. Eles desejaram isso com o todo o seu ser. Antes de avançarmos sequer mais um passo, façamos as nós mesmos uma pergunta simples: Nós desejamos a "doutrina dos apóstolos”? Deus nos conceda que sim.
"Como, então, pode-se notar a diferença entre uma experiência que é cristã e uma que não é? Há uma só resposta, e esta é a causa da experiência."
Este desejo pela "doutrina dos apóstolos” nos diz algo tremendamente importante. Que o Cristianismo não é só uma experiência. Vejam bem, eu tenho enfatizado que é também uma experiência e não somente um ponto de vista intelectual. Quando homens e mulheres tornam-se cristãos, eles sofrem a mudança mais profunda que eles jamais poderiam imaginar; é realmente uma experiência profunda. Mas não é só isso, e eu tenho que enfatizar este ponto porque há outras instituições no mundo que podem dar experiências às pessoas.
Como se pode saber qual é a diferença entre tornar-se um cristão e alguma outra experiência, uma experiência emocional ou uma mudança como o resultado de psicoterapia ou algo do tipo? O ensino produzido pelas seitas pode produzir uma mudança. Adeptos de uma seita falam sobre as suas vidas sendo transformadas. Como, então, pode-se notar a diferença entre uma experiência que é cristã e uma que não é? Há uma só resposta, e esta é a causa da experiência. Cristãos experimentam mudança como resultado de acreditar na verdade sobre Jesus Cristo. Duas pessoas podem dizer, "eu estou muito feliz". Ambos podem dizer, "eu fazia isso e aquilo, mas não faço mais. Fui liberto de tudo". Mas isso não quer dizer que ambos são cristãos. Como, então, saberemos qual deles é? O único teste, eu repito, é a fonte da experiência.
"Por isso somos obrigados a enfatizar que o ensino deve vir primeiro porque foi ele que conduziu às conversões, à transformação. Foi a pregação de Pedro, o seu ensino, a sua doutrina, que uniu essas pessoas."
Como vimos, as pessoas em Atos estavam juntas porque elas tinham tido a mesma experiência. Mas o que nos impressiona imediatamente a respeito delas é que elas tinham tido a mesma experiência porque elas tinham acreditado no mesmo ensino, na mesma mensagem.
"Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas". Nunca teria havido uma igreja primitiva a não ser por este ensino específico. Por isso somos obrigados a enfatizar que o ensino deve vir primeiro porque foi ele que conduziu às conversões, à transformação. Foi a pregação de Pedro, o seu ensino, a sua doutrina, que uniu essas pessoas. Elas “aceitaram a palavra” e “foram batizados”. E somos informados no verso 44 que "todos os que creram estavam juntos". No que eles creram? No mesmo ensino.






6 - Ensinem Bem aos seus Filhos

C.H. Spurgeon

Se vocês desejam ficar firmes na verdade, busquem adquirir um entendimento dela. Um homem não pode ficar firme em alguma coisa, a menos que ele a tenha compreendido. Eu jamais quero que vocês tenham a fé daquele mineiro que certa vez foi indagado quanto ao que acreditava; ele disse que acreditava no que a Igreja acreditava. "Bem, mas no que a Igreja acredita?" Ele disse que a Igreja acredita no que ele acredita, e ele acredita no que a Igreja acredita, e assim forma-se um círculo interminável.
Nós não queremos que vocês tenham esse tipo de fé. Pode ser até ser uma fé muito pertinaz, muito obstinada, mas é uma fé muito tola. Nós queremos que vocês entendam as coisas; que adquiram um verdadeiro conhecimento delas.
A razão por que os homens abandonam a verdade em troca do erro é que eles não entenderam realmente aquela verdade. Em nove casos de cada dez eles não a abraçaram com mentes iluminadas.
"Deixem-me exortá-los, pais, naquilo que está ao alcance de vocês, a darem aos seus filhos instrução sólida nas grandes doutrinas do evangelho de Cristo."
Deixem-me exortá-los, pais, naquilo que está ao alcance de vocês, a darem aos seus filhos instrução sólida nas grandes doutrinas do evangelho de Cristo. Eu creio que o que Irving disse certa vez é uma grande verdade. Ele disse: "Nestes tempos modernos vocês se gabam e se gloriam, e vocês pensam que estão em uma condição elevada e honrada, porque vocês têm suas escolas dominicais, suas escolas públicas, e todo o tipo de escolas para ensinar os mais jovens. Eu lhes digo", disse ele, "que por mais filantrópicas e elevadas que estas coisas sejam, elas são símbolos da desgraça de vocês; elas mostram que a terra de vocês não é uma terra onde os pais ensinam os seus filhos em casa. Elas mostram que há uma ausência de instrução paterna; e apesar delas serem coisas boas em si, estas escolas dominicais são indicações de que há algo errado, porque se todos nós ensinássemos nossos filhos não haveria nenhuma necessidade de estranhos terem que dizer a nossos filhos: "Conheçam a Deus."
Espero que vocês nunca abandonem aquele excelente hábito puritano de catequizar seus filhos em casa. Qualquer pai ou mãe que renuncia completamente a ensinar um filho, em favor de outra pessoa, cometeu um erro. Não existe professor que queira liberar um pai daquilo que o pai deveria fazer! Ele é um assistente, mas nunca um substituto. Ensinem seus filhos; exponham novamente seus velhos catecismos, porque eles são, no final das contas, meios abençoados de instrução, e a próxima geração deve ultrapassar aqueles que a antecederam, uma vez que a razão porque muitos de você são fracos na fé é esta: que vocês não receberam instrução na sua juventude nas grandes coisas do evangelho de Cristo. Se tivessem recebido, vocês teriam sido tão bem fundamentados, e assentados, e firmados na fé que nada poderia, por quaisquer meios, movê-los.
Eu suplico-lhes então: Compreendam a verdade, e então será muito mais provável que vocês permaneçam firmes nela.





7 - O Que é Aprender a Cristo

Quase não há pecados em que a cobiça não seja o seu ingrediente principal.
E como pode ser que aqueles que aprenderam o que é pecado e suas consequências não aprenderam a abandonar o pecado?
Como pode alguém que sabe o que é uma víbora, brincar com ela em seu seio?
A lição de um cristão é aprender a Cristo (Ef 4.20).
O que é então aprender a Cristo?
1. Aprender a Cristo é ser como Cristo, tendo o caráter divino da Sua santidade gravada em nossos corações.
"Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.”(II Cor 3.18).
Um verdadeiro santo é um quadro de paisagem divino onde são retratadas vivamente todas as belezas raras de Cristo.
2. Aprender a Cristo, é crer nele.
 Quando não somente cremos em Deus mas que Ele aplica Cristo e o seu sangue a nós como um remédio sagrado em nossas almas.
3. Aprender a Cristo, é amar a Cristo.
Quando nós tivermos a nossa conversação centrada na Bíblia, nossas vidas como ricos diamantes brilhantes na igreja de Deus, vivendo segundo os Seus mandamentos.







8 - Aprender Exige Esforço

Paulo diz: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”.

Aprendizagem significa mudança permanente de comportamento.
Há duas coisas que nos impedem de aprender:
1. Desprezar o que nós ouvimos.
Quem tem aprendido a desprezar o evangelho, jamais aprenderá a obedecê-lo.
Quem aprenderá aquilo que ele pensa ser de muito pouco valor?
2. Esquecer o que nós ouvimos.
Por isso diz Tiago para prevenir este mal:
“aquele que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será bem-aventurado no que fizer.” (Tg 1.25).
Nós temos uma grande facilidade para recordar aquilo que é vão, mas as coisas espirituais demandam aplicação e esforço, porque não são deste mundo e não pertencem portanto à nossa natureza terrena.
Somos hábeis em esquecer nossas faltas, nossos amigos e nossas instruções.
Muitos cristãos podem reter a verdade apenas quando estão ouvindo um sermão, mas tão logo saiam da igreja, tudo terá sido esquecido e não aplicado.
Jesus disse aos apóstolos em Lc 9.44: "Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos;”. No original isto está dito de modo que um homem devesse esconder uma jóia dentro de si mesmo para que não fosse furtada.
A Palavra deve ser aprofundada como a semente que é semeada, e não somente cair como um orvalho sobre a terra.






9 - Doutrina dos Apóstolos: Fundamento da Igreja

D.M.Lloyd-Jones

Em Atos 2, para que os cristãos se reuniam? Ali estavam essas pessoas que tinham saído do mundo para se juntar ao grupo de pessoas chamado de discípulos, e eles formaram a primeira igreja, mas para que serve a igreja cristã? O que ela faz? O que ela provê? Pessoas Cristãs reúnem-se para reuniões sociais, danças, rifas, shows dramáticos, conferências políticas, literatura, e sociologia? Não havia nada desse tipo na igreja primitiva. Não é meu objetivo denunciar essas coisas. Mas eu quero deixar claro quão distante elas estão da igreja cristã. Você pode conseguir tudo isso no mundo, e você pode consegui-lo com muito mais qualidade. A igreja Cristã faz papel de boba quando tenta fazer essas coisas - ela as faz muito mal. Se você quer atividades assim, então vá e procure consegui-las profissionalmente organizadas. Mas isso não é a igreja de Cristo. Trata-se de uma caricatura.
"Eu quero apresentar diante de vocês o retrato da igreja do Novo Testamento. Essa é a única igreja que eu reconheço."
Eu não quero defender a cristandade ou defender qualquer seção particular da igreja ou qualquer igreja local em particular. Eu quero apresentar diante de vocês o retrato da igreja do Novo Testamento. Essa é a única igreja que eu reconheço. Aquelas pessoas não vieram para a igreja para fazer coisas como essas. E quando o verdadeiro reavivamento acontece, essas são as primeiras coisas que desaparecem; as pessoas perdem o interesse nelas. Uma igreja que só consegue existir recorrendo a coisas como essas é totalmente diferente da igreja do Novo Testamento.
"E perseveravam na doutrina dos apóstolos [ensino] e na comunhão, no partir do pão e nas orações." - atividades puramente espirituais. E esse é o padrão para a igreja em qualquer tempo.
Portanto, vamos atentar para isto. Primeiro, a doutrina. O ensino dos apóstolos é posto em primeiro lugar nessa lista - é por isso que nós temos que começar por ali, e é muito importante que assim seja, porque hoje há real oposição ao que nós lemos aqui. A primeira coisa que estes cristãos desejaram era mais ensino por parte dos apóstolos. Eles desejaram isso com o todo o seu ser. Antes de avançarmos sequer mais um passo, façamos as nós mesmos uma pergunta simples: Nós desejamos a "doutrina dos apóstolos”? Deus nos conceda que sim.
"Como, então, pode-se notar a diferença entre uma experiência que é cristã e uma que não é? Há uma só resposta, e esta é a causa da experiência."
Este desejo pela "doutrina dos apóstolos” nos diz algo tremendamente importante. Que o Cristianismo não é só uma experiência. Vejam bem, eu tenho enfatizado que é também uma experiência e não somente um ponto de vista intelectual. Quando homens e mulheres tornam-se cristãos, eles sofrem a mudança mais profunda que eles jamais poderiam imaginar; é realmente uma experiência profunda. Mas não é só isso, e eu tenho que enfatizar este ponto porque há outras instituições no mundo que podem dar experiências às pessoas.
Como se pode saber qual é a diferença entre tornar-se um cristão e alguma outra experiência, uma experiência emocional ou uma mudança como o resultado de psicoterapia ou algo do tipo? O ensino produzido pelas seitas pode produzir uma mudança. Adeptos de uma seita falam sobre as suas vidas sendo transformadas. Como, então, pode-se notar a diferença entre uma experiência que é cristã e uma que não é? Há uma só resposta, e esta é a causa da experiência. Cristãos experimentam mudança como resultado de acreditar na verdade sobre Jesus Cristo. Duas pessoas podem dizer, "eu estou muito feliz". Ambos podem dizer, "eu fazia isso e aquilo, mas não faço mais. Fui liberto de tudo". Mas isso não quer dizer que ambos são cristãos. Como, então, saberemos qual deles é? O único teste, eu repito, é a fonte da experiência.
"Por isso somos obrigados a enfatizar que o ensino deve vir primeiro porque foi ele que conduziu às conversões, à transformação. Foi a pregação de Pedro, o seu ensino, a sua doutrina, que uniu essas pessoas."
Como vimos, as pessoas em Atos estavam juntas porque elas tinham tido a mesma experiência. Mas o que nos impressiona imediatamente a respeito delas é que elas tinham tido a mesma experiência porque elas tinham acreditado no mesmo ensino, na mesma mensagem.


"Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas". Nunca teria havido uma igreja primitiva a não ser por este ensino específico. Por isso somos obrigados a enfatizar que o ensino deve vir primeiro porque foi ele que conduziu às conversões, à transformação. Foi a pregação de Pedro, o seu ensino, a sua doutrina, que uniu essas pessoas. Elas “aceitaram a palavra” e “foram batizados”. E somos informados no verso 44 que "todos os que creram estavam juntos". No que eles creram? No mesmo ensino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário