sexta-feira, 23 de outubro de 2015

53) Escrituras 54) Esperança

53) ESCRITURAS

ÍNDICE

1 - Conteúdo Geral da Bíblia – O Período do Novo Testamento
2 - Conteúdo Geral da Bíblia – De Moisés ao Período Interbíblico
3 - Conteúdo Geral da Bíblia – De Adão a Moisés

4 - Período de Produção dos Livros da Bíblia
5 - O Espírito Santo: Autor da Escritura
6 - Onde Podemos Achar Algo que Seja...
7 - A Bíblia Provada e Comprovada – Parte 1
8 - A Bíblia Provada e Comprovada – Parte 2
9 - A Bíblia Provada e Comprovada – Parte 3
10 - Prefácio da Epístola aos Romanos por Lutero
11 - Não Ignore o Livro
12 - Pensamentos sobre a suficiência das Escrituras
13 - As Escrituras São Dadas a Você


1 - Conteúdo Geral da Bíblia – O Período do Novo Testamento

Mas para o povo que andava nas trevas, brilhou a luz de Jesus, conforme havia sido preanunciado pelo profeta Isaías.
Jesus deu de novo à Palavra de Deus o seu devido lugar.
Mais do que dar o devido lugar à Palavra, Ele é o cumprimento de todo o propósito fixado pela Trindade Divina antes mesmo da fundação do mundo. O Pacto feito entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo de ter muitos filhos semelhantes a Cristo, provendo-se destes entre pecadores que descenderiam do primeiro casal criado, e que seriam tão numerosos, que não seria possível contá-los, é firmado (o Pacto) e selado com o sangue de Jesus e com tudo o que Ele realizou em relação à humanidade.
É com base no Seu sacrifício eterno e todo suficiente que os pecadores são chamados por Deus para serem justificados, regenerados, santificados e glorificados, recebendo assim, vida eterna, filiação e aceitação plena por Deus em Sua família, herança eterna juntamente com Cristo e participação na glória divina no porvir, por toda a eternidade. Já não podem mais ser condenados e separados do Seu amor em razão da sua união vital com Cristo, sendo integrantes do Seu corpo, e pedras vivas do edifício de Deus. Ali são colocados para nunca mais serem retirados.    
Além disso, é por meio de Cristo que os principados e potestades são julgados e condenados. Lembram que estudamos isso anteriormente, desde a promessa feita no Gênesis de que Ele esmagaria a cabeça da serpente, e que abençoaria todas as nações da terra ?
Jesus triunfou sobre Satanás e seus demônios, na cruz, expondo-os publicamente ao desprezo (Col 2.15).
Se o argumento do diabo para manter as almas cativas era o de que Deus não seria justo em livrar de suas mãos aqueles que não eram livres, por serem escravos do pecado, agora já não mais poderia sustentar sua acusação contra os eleitos do Senhor porque eles foram livres de tal escravidão pela sua associação com Ele, em Sua morte na cruz. Estando livre do pecado, o crente está consequentemente livre da escravidão ao diabo.
Estando agora não mais na defensiva, mas na ofensiva, pois o poder de Jesus sobre todo o império de Satanás, é agora também dado por Ele aos que libertou pelo Seu sangue.
Por isso, quando estava se aproximando o momento de Jesus morrer na cruz, Ele disse aos discípulos o seguinte: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso.” (Jo 12.31).
E quando se referiu ao ministério do Espírito Santo no mundo, afirmou que Ele daria o convencimento aos crentes de que Satanás já estava julgado (Jo 16.11).
“do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.” (Jo 16.11).
Em seu ministério terreno Jesus comprovou que de fato era Sua a autoridade sobre toda a força do inimigo, quando expulsou milhares de demônios de um incontável número de pessoas, e aos seus discípulos dera o mesmo poder.
“Então regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Mas ele lhes disse: Eu via a Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada absolutamente vos causará dano.” (Lc 10.17,18).
A força do inimigo só pode ser vencida por Aquele que é mais forte do  que  Ele,  e  que  conferiu   aos   Seus servos todo o poder legal e espiritual para também fazê-lo.
O reino de Deus prometido, isto é, o Seu governo sobre tudo o que há nos céus e na terra, começava a ser estabelecido através de Jesus, conforme fora preanunciado aos profetas. O reino que jamais acabará, e que submeterá todos os reinos do mundo, começava a Sua obra com Jesus e avançaria com a igreja, através da operação do Espírito Santo.
Por isso o Senhor respondeu à blasfêmia dos que afirmavam que Ele expulsava os demônios por Belzebu com as  palavras de Lc 11.17b-22.
Mas Jesus estava plenamente cônscio de que a Sua obra não era a de simplesmente expulsar os demônios, mas tirar pessoas do reino das trevas e transportá-las para o reino da Sua luz.
Daí ter lembrado aos discípulos quando estes voltaram alegres dizendo-lhe que os próprios demônios se lhes submetiam pelo nome do Senhor, que não deviam alegrar-se simplesmente por isto, mas porque os seus nomes estavam arrolados nos céus, isto é, registrados no livro da vida (Lc 10.20).
Tanto que, aqueles de quem demônios eram expulsos mas que não se voltavam para Deus e que não se convertiam, ficavam expostos a novas possessões, conforme o Senhor ensinou em Lc 11.24-26.
A igreja tem prosseguido, através dos séculos na realização da obra, pelo poder do Espírito, e isto comprova historicamente que Jesus é de fato aquele que pisa a cabeça da serpente.
Aleluia ! Glórias ao seu santo nome !
O diabo já não pode exercer qualquer domínio sobre nós. Ao contrário. As portas do inferno não podem prevalecer contra as investidas que a igreja faz sobre elas no poder do Espírito Santo. Satanás não tem outra alternativa senão a de fugir do crente que permanece em comunhão com o Senhor, porque o Seu poder não somente livra o crente de suas ciladas, como também dá-lhes poder para vencê-lo e permanecerem inabaláveis (Ef 6.10-13).
Nunca devemos esquecer que é com o escudo da fé que apagamos todos os dardos inflamados do maligno (Ef 6.16). Satanás despeja constantemente sua setas inflamadas com o fogo do inferno, mas firmes na fé no nome de Jesus apagamos todas elas, e golpeando-o com a espada do Espírito Santo, que é a Palavra de Deus, não lhe resta outra alternativa, senão a de bater em retirada.
Sentimos este poder que nos é dado quando somos ungidos pelo Espírito. Percebemos que de fato o Senhor nos dá autoridade sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente pode nos fazer mal.
A missão de pregar o evangelho em todo o mundo, a partir de Jerusalém, Judeia e Samaria, começou depois de a igreja ter sido revestida do poder do Espírito Santo no dia de Pentecoste. O derramamento do Espírito era o sinal do início do cumprimento da promessa feita  a Abraão, e das promessas feitas aos profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel e Joel, dentre outros.
A confirmação da Palavra de que Deus estava salvando através da fé em Jesus, e transformando vidas pela habitação do Espírito Santo, era feita através da realização de muitos sinais e prodígios através dos discípulos, e especialmente dos apóstolos.
O Espírito Santo estava chamando alguns dentre os discípulos para serem pastores, mestres, profetas e evangelistas. O rebanho necessitava de uma direção e organização, assim como se deu nos dias de Moisés, e continua chamando líderes até aos dias de hoje para o mesmo propósito de edificar a igreja e aperfeiçoar os santos para o desempenho do seu serviço (Ef 4.11,12).
As igrejas deveriam ser organizadas sob a supervisão de um bispo ou presbítero, que eram palavras usadas para indicar o ofício do pastor.
Estes, eram auxiliados por homens cheios do Espírito e de sabedoria, que eram escolhidos pelos mesmos juntamente com a igreja, para exercerem o diaconato.
Mas a missão de pregar o evangelho era de todos os crentes, aos quais o Espírito Santo estava distribuindo dons e serviços, a cada um, conforme Sua vontade e para um fim proveitoso, como o de curar, de falar em outras línguas, capacidade para interpretá-las, de profetizar, discernimento de espíritos, de conhecimento e de sabedoria, de fé e operações de milagres.
Como a igreja estava muito concentrada na pregação do evangelho apenas na Judeia, Deus permitiu que fosse perseguida pelo rei Herodes, tendo eles levado a Palavra  para Samaria, Antioquia da Síria, e a outras partes do mundo, inclusive Roma, pois, segundo consta, a igreja em Roma não foi fundada por nenhum dos apóstolos do Senhor.
Inicialmente, Pedro, Tiago e João, ficaram como os principais responsáveis pela igreja em Israel (daí serem chamados de ministros da circuncisão), e Paulo e outros pela igreja que seria formada fora dos termos de Israel, isto é, pela igreja dos gentios.
O ministério de Pedro e de Paulo duraria até 64 d.C., quando, segundo a tradição, foram martirizados pelo imperador romano Nero.
João, e os demais apóstolos dirigiram-se para outras partes do mundo, especialmente depois dos judeus terem sido expulsos de sua terra pelos romanos em 70 d.C.
João, por exemplo, teve as visões do Apocalipse, quando estava na Ilha de Patmos, que fica no sudoeste de Éfeso, na Ásia Menor.
Os quatro evangelhos narram os eventos relacionados ao ministério terreno de Jesus, e contêm também as profecias que Ele proferiu a respeito do tempo do fim.
Os três primeiros são chamados de sinópticos, porque foram escritos dentro de uma mesma visão, tendo provavelmente o evangelho de Marcos por base, pois teria sido o primeiro evangelho a ser escrito. Mateus escreveu dentro de uma perspectiva judaica para convencer aos judeus de que Jesus era o Messias que deu cumprimento às predições dos profetas; e Lucas, dentro de uma perspectiva gentílica, revelando que o amor do Senhor também estava destinado aos mesmos. Mateus era judeu, e Lucas era um médico grego, que acompanhou o ministério do apóstolo Paulo.
O evangelho de João contém mais discursos de Jesus do que o relato de milagres e de parábolas, como os demais. João pretendeu enfocar tudo aquilo que o Senhor fez e ensinou, que comprovava que Ele de fato era Deus. A Palavra viva que se fez carne por amor de nós.
O livro de Atos narra como o evangelho se expandiu na Judeia, Samaria, Síria, Ásia Menor, Macedônia, Acaia e Grécia, até Paulo sofrer o seu primeiro aprisionamento em Roma.
A maior parte do livro se refere ao ministério de Paulo na Síria, Ásia Menor, Macedônia, Acaia e Grécia.
Os nomes Efésios e Gálatas, que intitulam duas cartas escritas por Paulo, são referentes aos crentes aos quais endereçou-as, que habitavam nas cidades de Éfeso e na região da Galácia, respectivamente, que ficavam na Ásia Menor. Toda esta região está ocupada atualmente pela Turquia.
Filipenses e Tessalonicenses, por seu turno, são referentes aos crentes de Filipos e de Tessalônica, cidades que ficavam situadas na Macedônia.
Coríntios, aos crentes de Corinto, cidade da Grécia.
Romanos, aos de Roma.
Colossenses, aos de Colossos. Paulo não foi o fundador desta igreja, provavelmente,  Epafras  foi  o  seu fundador.
Timóteo, Tito e Filemom, não são referências a cidades, mas a pessoas a quem Paulo escreveu tais epístolas. Os dois primeiros eram seus cooperadores no ministério de estabelecer igrejas, e Filemom era um crente de Colossos, em cuja casa se reunia a igreja.
As epístolas de Pedro, João, Tiago e Judas, foram escritas, respectivamente, pelos citados apóstolos. Sendo que o autor da epístola de Tiago era um dos irmãos de Jesus, bem como Judas. Não faziam parte do grupo dos doze.
A epístola aos Hebreus cujo autor é desconhecido foi escrita para exortar uma comunidade de crentes judeus que estavam recuando na fé e retornando às práticas da Antiga Aliança. Tanto no caso da epístola aos Gálatas, quanto na de Hebreus, o problema maior não era tanto a observância dos ritos da lei mosaica, mas o fato de estarem rejeitando Jesus.
O primeiro documento do Novo Testamento a ser escrito foi provavelmente a epístola de Paulo aos gálatas, por volta de 49 d.C. Esta carta foi escrita para combater o ensino dos judaizantes que afirmavam que a salvação só era possível mediante o cumprimento de toda a lei de Moisés, independentemente da fé em Cristo. Como a salvação é somente por graça e mediante a fé‚ Paulo combateu vigorosamente tal falso ensino nesta carta que dirigiu aos crentes da Galácia.
Por ordem de antiguidade seguiram-se à  escrita  de Gálatas, as duas epístolas aos Tessalonicenses, que foram escritas por Paulo durante sua segunda viagem missionária, quando se encontrava em Corinto. Como ele havia fugido de Tessalônica para Corinto, em razão de uma perseguição que havia sofrido dos judeus. Como não teve muito tempo para ministrar àqueles que haviam se convertido em Tessalônica, escreveu estas duas cartas para firmá-los na fé e dissipar algumas dúvidas que eles haviam manifestado sobre a volta de Jesus e sobre o destino dos crentes que estavam morrendo antes do Seu retorno.
Paulo escreveria posteriormente I Coríntios, durante a sua terceira viagem missionária, quando se encontrava em Éfeso, por volta de 54 d.C., e II Coríntios foi escrita cerca de um ano após, quando se encontrava na Macedônia, ainda em sua terceira viagem missionária.
Estas epístolas foram escritas com vistas à disciplina da igreja de Corinto. A primeira para combater divisões e a imoralidade que havia na igreja, e para responder questões levantadas pelos próprios coríntios quanto ao casamento, a comer carnes sacrificadas a ídolos, uso do véu na igreja, dons espirituais e quanto à ressurreição. A segunda epístola, foi escrita para congratular-se com os coríntios, pelo arrependimento demonstrado por eles, resultante do acatamento das exortações do apóstolo, através de uma chamada carta triste (II Cor 7.8-13), que lhes havia dirigido para confirmar sua autoridade  apostólica  junto  aos  mesmos, que estava sendo contestada por um opositor de Paulo aos quais os coríntios estavam seguindo.
A epístola de Paulo aos Romanos foi escrita no final de sua terceira viagem missionária, de Corinto, por volta de 55 d.C. Na ocasião ele já se encontrava de posse da grande oferta (Rom 15.25-27) que havia sido levantada pela Macedônia e Acaia em favor dos crentes pobres da Judeia, citada em I Cor 16.1-3 e II Cor 9.2.
Como já  dissemos Paulo não havia fundado a igreja de Roma, e estava lhes escrevendo para preparar uma futura visita que tencionava fazer àquela igreja (Rom 15.22-26). O tema central desta epístola é a justificação e santificação pela fé.
Quando concluiu sua terceira viagem missionária Paulo foi preso em Jerusalém, acusado pelos judeus de estar pregando contra a lei de Moisés.
Paulo não pregava contra a lei, mas afirmava corretamente que ninguém pode ser salvo mediante a lei. A lei a ninguém pode salvar. Somente a graça de Deus pode fazer este trabalho mediante a fé. Isto também se deu nos dias do Antigo Testamento.
De Jerusalém foi transferido para a cidade de Cesareia onde ficou na prisão por dois anos, e de onde apelou para César, para ser julgado em Roma. Ele iria visitar os romanos, não da forma como tinha imaginado: quando estivesse a caminho da Espanha para evangelizá-la.
Na prisão em Roma que é relatada no final do livro de Atos, escreveu quatro epístolas que são chamadas de epístolas da prisão: Efésios, Filemom, Colossenses e Filipenses.
As três primeiras foram escritas por volta de 60 d.C. e Filipenses, em 61 d.C.
Paulo dirigiu na mesma ocasião, pelas mãos de Tíquico as cartas aos efésios e aos colossenses, sendo que das dirigidas a Colossos, uma era de caráter mais geral (Col) e outra mais pessoal (Fm).
Filipenses foi escrita posteriormente por Paulo para expressar sua gratidão por uma oferta que lhe foi enviada pelos filipenses, e para consolá-los, quanto a não se entristecerem com o fato de ele estar preso, pois a pregação do evangelho estava progredindo apesar de suas cadeias, pois estava dando ensejo para que ele pudesse evangelizar toda a guarda pretoriana do imperador romano, e muitos crentes estavam pregando o evangelho com mais ousadia, mirando o seu exemplo de paciência na tribulação.
Paulo  sabia que a volta de Jesus estava conciliada à pregação do evangelho em todo o mundo, e por isso não lhe importava se o evangelho era pregado por amor, inveja ou por porfia. Sua satisfação decorria do fato deste objetivo estar sendo cumprido. Desde que o reino de Deus estivesse sendo pregado não lhe importava se estava sendo honrado ou humilhado, se tinha fartura ou escassez de bens, pois havia aprendido a viver contente em toda e qualquer situação,  na  doce  comunhão  com  o Senhor.
As últimas epístolas escritas por Paulo foram as chamadas Pastorais (I e II Timóteo e Tito).
Foram escritas no final de sua vida para instruir os pastores sobre o cuidado com a igreja de Deus, estabelecendo critérios para a ordenação de ministros, tanto de pastores quanto de diáconos, bem como recomendar padrões de conduta para todos os crentes, e determinar, especialmente, o necessário empenho para a preservação da sã doutrina.
A primeira epístola de Pedro foi escrita principalmente para consolar os crentes que estavam sendo perseguidos na região da Ásia Menor. A epístola é basicamente uma recomendação a se ter paciência na tribulação, para que a doutrina de Cristo fosse ornada, e a igreja tivesse o poder do Espírito para proclamar o nome de Jesus.
Sua segunda epístola (II Pe), bem como as epístolas de João e de Judas foram escritas para combater os falso mestres que estavam introduzindo heresias na igreja, e que o faziam por torpe ganância. Ao mesmo tempo é uma convocação da igreja à maturidade, de maneira a não incorrer com facilidade nas garras do falso ensino, sabendo que é pela comunhão com o Senhor que somos preservados das heresias arruinadoras da fé, pois é o próprio Espírito que nos dá  o discernimento e poder para rejeitá-las.
A epístola de Tiago foi escrita para enfatizar  a importância da perseverança cristã, mediante a prática da Palavra, para a preservação da justificação pela fé. Ele cita como Deus abençoou Jó depois de ter passado pela provação. E convoca os crentes a seguirem o mesmo exemplo de perseverança na fé em face da tribulação.
O ensino de escatologia é encontrado em vários livros da Bíblia como os dos profetas, no livro de Salmos, em I e II Tes, e especialmente no livro de Apocalipse. Desta forma, apresentamos a seguir, um breve resumo escatológico:
A palavra escatologia significa "estudo das últimas coisas".
Biblicamente falando, estas últimas coisas se referem aos eventos relacionados ao estabelecimento do reino de Deus em sua forma final.
Na introdução e no epílogo do livro de Apocalipse afirma-se que são bem-aventurados aqueles que leem e ouvem as palavras da profecia e guardam as cousas nela escritas, pois o tempo está  próximo (Apo 1.3; 22.7).
Tal afirmação dirige-se não apenas aos que leem as palavras da profecia, mas aos que as guardam. Isto significa portanto, principalmente, a vigilância e santidade de vida exigidas para o retorno do Senhor, como se vê, especialmente, nas sua exortações e advertências constantes das cartas dirigidas às sete igrejas (Apo 2.1-3.22).
 Isto está  plenamente de acordo com a exortação à vigilância e santidade feita por Jesus na conclusão do Seu sermão profético, constante dos evangelhos (Mt 24.13,32-51; Mc 13.13,28-37; Lc 12.35-48,21.17-19,29-36).
A profecia escatológica tem portanto muito mais o propósito de incentivar os crentes à vigilância e santidade permanentes, com vistas ao retorno do Senhor, do que o de estimulá-los ao desvendamento dos personagens e eventos enigmáticos nela contidos; bem como à determinação do tempo exato da sua respectiva ocorrência.
Foi ordenado a Daniel que selasse a palavra da profecia do seu livro (Dn 12.4,9), mas a João foi ordenado o contrário: "Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo." (Apo 22.10). Apesar de Deus, em Sua sabedoria, ter guardado para Si o conhecimento do dia e hora exatos da volta de Jesus, Ele revelou ao Seu povo as coisas que devem acontecer, sem no entanto, indicar-lhes precisamente a época da sua ocorrência, de maneira que, pudesse manter, em cada geração de crentes, acesa a expectativa pelo retorno do Senhor, o que tem, sem dúvida, contribuído para se manterem vigilantes e em santidade, ao longo desses quase dois mil anos.
  Quando citou guerras, revoluções, grandes terremotos, epidemias, e fome, como eventos que ocorreriam antes da Sua vinda, Jesus foi bastante claro ao afirmar que estes, não eram ainda, sinais que indicariam a proximidade da Sua volta (Lc 21.9). De fato, já  há  cerca de dois mil anos desde a ascensão do Senhor, e o mundo ainda não testemunhou o Seu retorno, apesar de as predições de Jesus continuarem ocorrendo ao longo de toda a história. Ele classificou tais eventos como princípio das dores.
 Ora, as dores do parto se intensificam com o passar do tempo. Se tudo isto‚ é o princípio, como não será  no fim ?
     O Senhor fixou como sinais seguros da Sua volta:
 - a aparição do abominável da desolação ou abominação desoladora (Mt 24.15) citado na profecia de Daniel 9.26,27. Provavelmente‚ uma referência à besta de Apo 13.1-8 - o anticristo. (Em II Tes 2.3-12, Paulo também coloca a manifestação do anticristo como um dos marcos da proximidade da volta do Senhor, e acrescenta a este, a apostasia, como um segundo sinal – II Tes 2.3).
- sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas; homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das cousas que sobrevirão ao mundo; porque os poderes dos céus serão abalados (Lc 21.25,26).
Tais eventos são descritos no livro de Apocalipse como flagelos que sobrevirão à Terra quando os sete anjos tocarem as suas trombetas.
Muitos consideram que a segunda vinda do Senhor dar-se-á  em duas fases: na primeira arrebatará  a igreja, e na segunda, todo olho o verá  vindo para estabelecer juízos contra o anticristo. No entanto, não  determinam  o tempo que separaria ambos os eventos.
A Bíblia não faz tal distinção. Paulo coloca o arrebatamento da igreja como uma das ocorrências que se darão por ocasião da volta de Jesus (I Tes 4.14-17; II Tes 2.1,2).
A colocação do arrebatamento antes da vinda para julgar a Besta tem em vista retirar a igreja do chamado período da Grande Tribulação, que ocorrerá  durante a segunda metade do governo do anticristo.
Todavia, não há  nenhuma base segura para se afirmar que a igreja não passará  por tal período, muito pelo contrário, as profecias indicam que o anticristo perseguirá os santos (Dn 7.25,27; 8.24-26; 11.31-36; 12.1,7; Mt 24.15,21,22,29-31; II Tes 2.4; Apo 13.7). É importante destacar que o próprio Jesus, afirmou que os seus escolhidos seriam reunidos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus pelos anjos (Mt 24.31), após a grande tribulação (Mt 24.29).
A palavra de consolação dirigida pelo Senhor à igreja de Filadélfia de que seria guardada da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, em razão de sua fidelidade em guardar a palavra da  Sua perseverança (Apo 3.10) não pode ser aplicada a toda a igreja de Cristo que estiver sobre a Terra próximo do período da Grande Tribulação, porque depois dela, há ainda a igreja de Laodiceia, que o Senhor repreende severamente, chamando ao arrependimento. E, ainda, se considerarmos que todas as sete igrejas são representativas dos tipos de igrejas existentes em todas as épocas, a promessa de livramento de Apo 3.10 aplicar-se-ia especificamente à igreja fiel de Filadélfia.
“Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.” (Apo 3.10).
De fato, nunca a história do cristianismo experimentou tanto avanço, fidelidade e avivamentos, como no chamado período missionário dos séculos XVIII e XIX. Os homens de Deus desta época ainda nos falam através do testemunho de suas vidas.
Como viveram antes dos últimos dias, foram guardados das provas da Grande Tribulação. Entretanto, se interpretarmos desta forma, as igrejas de Éfeso, Pérgamo, Tiatira e Sardes, que não receberam inteira aprovação do Senhor, também se beneficiaram da promessa de livramento, porque, no tempo, são anteriores a Filadélfia, como se vê, no quadro a seguir, correspondente à divisão que se costuma atribuir às sete igrejas do Apocalipse:
Éfeso – era apostólica.
Esmirna – igreja perseguida até Constantino (316)
Pérgamo – de Constantino ao papado (316-500)
Tiatira – Idade Média (500-1505)
Sardes – Reforma (1500-1700)
Filadélfia – período missionário (1700-1900)
Laodiceia – igreja apóstata (1900 - ...).
Entretanto, isto não anula a propriedade da promessa distintiva da bênção do livramento que lhe foi dirigida em face da sua fidelidade. Com isso, o Senhor estaria marcando que havia Se agradado da  obediência  e do serviço que lhe foram prestados pela igreja de Filadélfia.  
Independentemente de qualquer dificuldade para a determinação de uma correspondência cronológica entre o arrebatamento e o governo do anticristo, é importante frisar-se que:
- A tribulação referida não consistirá  apenas nos atos de perseguição do anticristo, mas sobretudo nos flagelos que sobrevirão à Terra, da parte de Deus.
- No arrebatamento, os corpos dos mortos em Cristo (eleitos) serão ressuscitados e logo após, os eleitos que estiverem vivendo na terra terão os seus corpos transformados. Tal ocorrerá  num abrir e fechar de olhos (I Cor 15.52).
- A chamada batalha do Armagedom (Apo 16.16;19.11-21) terá  ocasião quando da volta de Jesus, sendo a  besta e o falso profeta aprisionados e lançados vivos no lago de fogo (Apo 19.20), e Satanás será  subjugado para permanecer em prisão durante o período do milênio (Apo 20.1-3).
- Os salvos governarão as nações da Terra, juntamente com Cristo, durante tal período (Apo 20.4-6).
- Ao final do milênio Satanás será  solto, e levantará  os ímpios das nações para agirem contra o governo de Cristo, mas serão juntamente destruídos e Satanás será  lançado no lago de fogo, onde ficará  por toda a eternidade (Apo 20.7-10).
- A ressurreição dos ímpios, em face deste último levante, que a Palavra descreve como a batalha de Gogue e Magogue (Apo 20.8; Ez 38.1-23), só ocorrerá  depois do milênio. Esta ressurreição corresponde à chamada  segunda morte, porque  os não eleitos serão ressuscitados para serem condenados eternamente (Apo 20.11-14).
- Também, somente depois do milênio serão criados novo céu e nova terra, e estabelecida a Nova Jerusalém como morada eterna dos salvos (Apo21.1-7).
- As nações e os reis da terra trarão a sua glória e honra à Nova Jerusalém (Apo 21.4-26). Somente os inscritos no livro da vida do Cordeiro, a saber, os eleitos,  poderão entrar na cidade (Apo 21.27).






2 - Conteúdo Geral da Bíblia – De Moisés ao Período Interbíblico

Os israelitas levaram três meses na jornada do Egito até o Monte Sinai, quando deixaram o cativeiro com Moisés.
Três dias depois de terem chegado ao citado monte o Senhor lhes falou audivelmente os dez mandamentos (Dt 5.22-24) que Ele mesmo iria registrar nas duas tábuas de pedra que daria a Moisés no cume do monte. Durante os quarenta dias e noites que Moisés lá  permaneceu, recebeu também outras leis que registrou num livro, chamado de livro da lei, inclusive, leis que descreviam o tabernáculo, que deveria ser construído segundo o modelo que lhe fora exibido (Hb 8.5; Êx 25.40), que era uma figura do verdadeiro tabernáculo que existe no céu (Hb 9.23,24).
As primeiras tábuas da lei foram quebradas por Moisés por causa do pecado do povo, que havia feito um bezerro de ouro para adorar, julgando que ele permaneceria no monte, pois demorava a retornar.
Ainda que os israelitas não o soubessem, o culto que se oficiaria no tabernáculo era também uma figura daquilo que Cristo viria a fazer no futuro, não com o sangue de animais, mas com o Seu próprio sangue, entrando no tabernáculo celestial para efetuar a purificação do pecado do povo que compraria para Deus com o Seu sangue  (Hb 9.23-26).
Aquele santuário terrestre falava intensamente acerca da santidade do Senhor. Nenhum templo das diversas religiões do mundo nada tinham de parecido com o tipo de culto que Deus havia instituído para os israelitas cumprirem no tabernáculo. E o ofício sacerdotal com a apresentação de sacrifícios no tabernáculo, foi instituído por Deus para que fosse feita expiação pelo pecado do seu povo de Israel. Era isto que aplacava a Sua ira divina e os tornava aceitáveis a Ele. De igual modo, os crentes são aceitos por Deus somente e exclusivamente por causa do sacrifício e sacerdócio de Jesus. É por ser o nosso Sumo Sacerdote que podemos estar de pé na presença de Deus e ter firme confiança para nos aproximarmos dEle, através do caminho que foi aberto pelo sacrifício de Jesus (Hb 10.19-22).
Exatamente um ano após a saída de Israel do Egito, o tabernáculo foi concluído e levantado (Êx 40.17), consumindo a sua construção cerca de nove meses, pois como vimos, três meses haviam sido gastos na jornada do Egito até o Sinai. A primeira vez que foi levantado, foi ao sopé do referido monte, e  como  era  um santuário portátil, foi desmontado cinquenta dias após (Núm 10.11) porque a nuvem que permanecia sobre ele havia se  movimentado para o deserto de Parã, indicando que o povo deveria levantar acampamento e dirigir-se para aquele local (Havia uma nuvem durante o dia e uma coluna de fogo durante a noite, sobre o tabernáculo).
As jornadas dos israelitas eram determinadas pelo Senhor de acordo com a movimentação da nuvem ou do fogo que permaneciam sobre o tabernáculo.
Isto indicava em figura que a vida do crente deve ser dirigida segundo o mover do Espírito Santo.
Desde que haviam saído do Egito, cerca de quarenta e cinco dias após, o povo teve saudade da comida e do tempero da terra da escravidão, e passou a murmurar contra Moisés e Arão pela falta da fartura de comida. Sem que o soubessem, Deus estava colocando a obediência deles à prova, em face das dificuldades. Eles falharam porque murmuraram. Mas, mesmo assim o Senhor lhes deu codornizes e o maná, que passou a cair do céu todos os dias, exceto aos sábados, e isto, por um período de quarenta anos, até entrarem em Canaã. Pelo maná o Senhor pôs também à prova e exercitou a obediência dos israelitas, posto que era dado na quantidade exata para todo o povo. Se alguém recolhesse demais faltaria para outros, e não poderia ser guardado de um dia para o outro pois estragava.
O pão nosso de cada dia, não apenas material, mas sobretudo o espiritual, pois nem só de pão material vive o homem, deve ser buscado em cada dia. As bênçãos e misericórdias do Senhor são renovadas em cada manhã. Devemos orar pelas nossas necessidades presentes, confiantes na providência do Deus bondoso, onipotente e misericordioso, que é nosso Pai.
Na marcha rumo ao Sinai, murmuraram também pela falta de  água em Refidim. E mais uma vez reclamaram por terem deixado o Egito para sofrerem no deserto.
O livro de Números está  repleto de passagens em que são relatadas as murmurações e os pecados dos israelitas, enquanto caminhavam no deserto, e a forma como o Senhor os visitou com Seus juízos. Paulo diz que tudo o que foi escrito foi para advertência dos crentes na igreja de Jesus, de modo a não cairmos no mesmo erro (I Cor 10.1-13). É digno de nota que as pragas cessavam quando os sacerdotes faziam expiação pelo povo com seus incensários e apresentação de sacrifícios de animais (Núm 8.19; 16.46-48; 18.1,5). É com tal eficácia do sacrifício e do sacerdócio, em favor do povo de Deus,  que a pessoa de Jesus é exaltada e deve ser completamente reverenciada pela sua igreja, uma vez que é exclusivamente em razão do Seu sacrifício e sacerdócio que somos livrados da ira de Deus, e podemos estar na Sua presença.
Desde que saiu do Egito e peregrinou no deserto, por quarenta anos, juntamente com os israelitas, rumo a Canaã, Moisés pôs-se a escrever, por inspiração e revelação divinas, o Pentateuco (penta = cinco, e teuco = tomos), isto é, os cinco livros da lei (Gên, Êx, Lev, Núm e Dt).
Quando Moisés escreveu o livro de Deuteronômio no último ano da sua vida, os israelitas estavam se preparando para entrarem em Canaã com Josué. Ele fez uma recordação das coisas que haviam acontecido para exortar o povo à obediência, lembrando-lhes que foram resgatados do Egito para servirem ao Senhor, amá-Lo e cumprirem Seus mandamentos. Caso fossem obedientes à  aliança  que o Senhor fizera com eles, seriam abençoados com as bênçãos que Ele havia prometido e que estão registradas nos livros de Levítico e Deuteronômio. E caso transgredissem os mandamentos, descumprindo a aliança, seriam amaldiçoados com as maldições previstas nos citados livros.
Daí se aprende por princípio que a vida do crente é abençoada por Deus quando ele cumpre os mandamentos de Cristo. E do mesmo modo, deixa de ser abençoado quando não pratica a Palavra. No caso da igreja, deve ser considerado que Cristo resgatou o crente da maldição da lei, fazendo-se Ele próprio maldição no nosso lugar (Gl 3.13,14). Mas, o crente rebelde será sujeito à disciplina, podendo até mesmo ser entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor (I Cor 5.3-5).
Entretanto é dever dos crentes fiéis que estiverem firmes na fé no Senhor, que sejam longânimos para com todos os seus irmãos em Cristo. Que saibam discernir entre aqueles que são insubmissos, desanimados ou fracos na fé; de modo que admoeste somente os insubmissos, pois os desanimados devem ser alvo da sua consolação, e os fracos do seu amparo, mas é sua obrigação serem longânimos para com todos, até mesmo com os insubmissos, na expectativa de que se arrependam e retornem à comunhão, porque são filhos de Deus, comprados para Ele pelo sangue de Cristo.
Estes são ensinos típicos da Nova Aliança, respaldados nas palavras e no exemplo do próprio Jesus que havia instruído os apóstolos a exercerem na igreja a disciplina de exclusão apenas nos casos de insubmissão revelada na resistência de determinados crentes à admoestação da liderança da igreja relativa aos pecados contra o corpo de Cristo (Mt 18.17),  e a perdoarem os pecados daqueles em que se percebesse evidências de genuíno arrependimento (Lc 17.3,4).
Mesmo os excluídos devem ser alvo da longanimidade dos que estiverem firmes, pois caso venham a se arrepender e a se consertarem, posteriormente, deverão ser perdoados (Mt 18.21,22).
Moisés alertou o povo, e esta palavra valeria para todas as gerações de israelitas, que o Senhor levantaria ainda um profeta (Dt 18.15-19) que faria conhecida a Sua vontade final. E quem não O ouvisse seria julgado. Trata-se de uma clara referência a Jesus, pois o que nele crê não é julgado, e o que não crê já está julgado (Jo 3.18).
Afinal, quase tudo na lei apontava para Jesus: os   sacrifícios, os utensílios do tabernáculo, o ofício dos sacerdotes. A finalidade da própria formação da nação de Israel e da lei dada por meio de Moisés, tinham em vista ensinar que devemos entregar nossas vidas a Jesus e viver para Ele, de acordo com a Sua vontade, expressada nos Seus mandamentos.
Ainda que fossem oferecidos sacrifícios de animais no Velho Testamento e exigido o derramamento de sangue para a expiação do pecado, a Bíblia ensina acerca da impossibilidade da remoção do pecado com tais sacrifícios (Hb 10.4,11). Não há  justificação e remissão nas bases de Hb 10.16-18, fora de Cristo (Hb 9.11,12). Deste modo, tanto os que viveram na dispensação da Lei (de Moisés até a morte de Jesus), e mesmo os que  viveram  antes dela (de Adão até Moisés), e que obtiveram justificação pela fé‚ e remissão dos pecados, alcançaram-no também com base no sangue de Jesus, que Se ofereceu por todos os homens na cruz.
Jesus é o único e suficiente e aceitável sacrifício, capaz de satisfazer à justiça divina, tanto para os que viveram nos dias do Antigo Testamento, quanto para os que têm vivido na presente dispensação da graça. Lembremos que o véu do templo foi rasgado (Mt 27.51) indicando a terminação de uma aliança, de um ministério, cuja forma de culto tinha por base os serviços do tabernáculo, e posteriormente, do templo, dando lugar ao início de um novo ministério de muito maior glória (II Cor 3.3-11), e baseado em superiores promessas (Hb 8.6,7).
Entretanto, podemos aprender muito acerca do culto que devemos prestar ao Senhor, através dos princípios que estão revelados no tabernáculo e no ofício dos sacerdotes. O tabernáculo fala assim em figura tanto a respeito de Jesus, quanto do seu corpo, que é a igreja. Os sacerdotes deveriam ministrar em santidade no tabernáculo terrestre. Jesus é o sacerdote perfeito e santo que intercede continuamente por nós à direita do Pai. De igual modo, todos os crentes devem servir ao Senhor em santidade de vida.
No Lugar Santo do tabernáculo  havia  três  objetos de ouro: Um altar para queima de incenso; um candelabro de sete hastes e uma mesa para os pães. As sete lâmpadas do candelabro deviam ser alimentadas com azeite, e serem acesas à tarde, e apagadas pela manhã (Êx 30.8; I Sam 3.3), e isto todos os dias. Isto além de indicar que Jesus é a luz, ensina-nos que sendo também nós luz no Senhor, devemos andar na Sua luz todos os dias, e devemos andar também como filhos da luz, mantendo a chama do Espírito Santo acesa em nossas vidas, enchendo-nos diariamente da Sua presença, o que está  representado pelo azeite com o qual eram acesas as lâmpadas. O incenso devia ser queimado à tarde e de manhã, diariamente, quando se acendia e se apagava as lâmpadas do candelabro (Êx 30.8). As orações dos santos são apresentadas continuamente, no altar que existe no tabernáculo celestial (Apo 8.3,4), e mais do que as orações dos santos, isto representa a própria intercessão ininterrupta de Cristo em favor de sua igreja, como sumo sacerdote à direita do Pai.
Na mesa eram colocados doze pães em duas fileiras de seis, sendo trocados todos os sábados (Lev 24.5-9). Eles representavam que Jesus é o pão da vida do qual devemos nos alimentar.
No Santo dos Santos estava a arca com o propiciatório (tampa), tudo  em ouro, com os dois querubins alados, um em cada extremidade, com suas asas estendidas sobre o propiciatório. No seu interior estavam guardados: as duas tábuas com os dez mandamentos, um pote de maná  e a vara de Arão que havia florescido e dado  amêndoas. Ao  lado  da  arca  era guardado o livro da lei (o Pentateuco). A arca era de madeira de acácia, revestida de ouro por dentro e por fora. Isto indicava tanto a humanidade (madeira), quanto a divindade (ouro) de Jesus. Ensina também em figura que o seu povo deve ser puro assim como Ele é puro e refletir a sua glória tanto interna, quanto externamente (o que era simbolizado pelo ouro).
Um grosso véu separava o Lugar Santo, do cômodo mais interior, o Santo dos Santos, e somente o sumo-sacerdote podia entrar no Lugar Santíssimo, como também era chamado, uma única vez por ano, para fazer expiação por si e por todo o povo, aspergindo o sangue de animais sobre o propiciatório.
Este véu foi rasgado de alto a baixo, quando Jesus morreu na cruz, indicando que a morte do Senhor é o único caminho que permite ao pecador achegar-se à presença de Deus.
Tudo o que havia no Santo dos Santos ensinava em figura que a entrada na presença do Senhor exige reverência, com um coração sincero, em plena certeza de fé, e os corações purificados de má  consciência e tendo o corpo santificado de qualquer impureza da carne, assim como nos ensina a Palavra de Deus na epístola aos Hebreus (10.1-22).
Através do tabernáculo o Senhor visava ensinar ao seu povo que  Ele é santo, e os seus servos devem também ser como Ele é. O conceito de  santidade  inclui  a  ideia  de  pureza absoluta. Este estado não pode ser produzido pelo homem, e por isso o Senhor declara que  é Ele mesmo que nos santifica e é a sua operação na nossa vida que nos vai santificando mais e mais. A santificação é um longo processo que dura toda a vida e consiste no despojamento das obras da carne e do revestimento das virtudes de Cristo, para que sejamos úteis e operosos no serviço de Deus.
Como o pecado entristece o coração de Deus, era exigido do ofertante que apresentasse um animal para ser sacrificado para cobertura do seu pecado, e que afligisse sua alma, isto é, que também sentisse tristeza e arrependimento pela falta cometida.
Uma vez tratado o problema do pecado (ainda que em figura, e para purificação da consciência), deveria ofertar também um holocausto e uma oferta pacífica.
O holocausto representava a consagração a Deus daquele que teve o pecado perdoado, pela apresentação anterior da oferta pelo pecado. Ninguém estava dispensado de apresentar tal oferta, e mesmo em caso de pobreza que não permitisse a compra de um cordeiro ou cabrito (Lev 5.6), deveria ser oferecido um par de rolas ou de pombos (Lev 5.7), e caso a pobreza fosse extrema,  deveria oferecer a décima parte de um efa de farinha (Lev 5.11).
Ninguém em pecado pode consagrar-se ao Senhor. E muito menos ter comunhão com Ele, o que era representado pela oferta pacífica, que deveria ser apresentada depois do holocausto, da qual o ofertante podia comer partes da oferta, alegre e juntamente com familiares e amigos.
Ao instituir a Nova Aliança, Jesus revogou as prescrições cerimoniais da lei. Eram inúmeras as situações em que uma pessoa era considerada imunda, sendo impedida de entrar no santuário, como por  exemplo,  quem  tinha  fluxo,  lepra, quem  tivesse tocado em algum cadáver,  ou tocado ou se alimentado de algum animal imundo, e permanecia em tal condição de acordo com os diversos períodos fixados pela lei.
Deus, que tudo sabe, preanunciou a Moisés que Israel se afastaria tanto da Sua presença, por causa do pecado, que seria levado em cativeiro para outras nações, saindo portanto da terra prometida, mas, caso confessassem a sua iniquidade, que cometeram contra o Senhor,  Ele  se  lembraria  deles no seu estado de humilhação a que foram sujeitos pelo castigo da Aliança, mas, Ele também se lembraria da aliança que havia feito com Abraão, Isaque e Jacó de ser para sempre o Deus de Israel, e abençoaria aqueles que se arrependessem  (Lev 26.44,45).
Quão grandioso é o Senhor e a Sua misericórdia.
Em quem confiaremos ? Em Sua promessa ou na acusação de Satanás ?
Se o crente cai no pecado, deve voltar-se para o Senhor que é rico em perdoar. É na promessa que Ele fez a Abraão de que nos abençoaria por sermos de Jesus, é que devemos confiar, e não nas acusações da nossa consciência ou do diabo.
Se algum crente tem andado em território do Inimigo, deve buscar lugar de arrependimento diante do Senhor lamentando as suas faltas, pois assim como Ele procedeu em relação a Israel, muito mais procederá em relação a nós, que nos temos aliançado com Ele através de Jesus (Tg 4.7-10).
Toda uma geração de israelitas foi impedida de entrar em Canaã por causa da incredulidade. Dos doze espias apenas Josué e Calebe foram poupados por Deus e receberam herança na terra, porque apesar das dificuldades creram na promessa do Senhor e não foram rebeldes contra Ele como os demais. Não podemos nos deixar intimidar pelas ameaças do inimigo de nossas almas. Devemos olhar para o Senhor e prosseguir adiante, assim como fizeram Josué e Calebe.
Mesmo mantendo sob juízo aqueles que não creram nEle, o Senhor nem por isso deixou de ser bondoso para com a nação de Israel, por amor à promessa que fizera aos patriarcas de ser o Deus de Israel. A sandália e a roupa deles não se gastou enquanto peregrinaram no deserto. Nenhum juízo teria vindo sobre eles se tivessem andado em obediência, e caso se arrependessem dos seus pecados.
Entretanto, ainda que aqueles que se arrependessem pudessem retornar à comunhão com o Senhor, dependendo da falta que praticassem, teriam  que dar contas da mesma em juízo, perante as autoridades de Israel, já  que se encontravam debaixo da Antiga Aliança, que prescrevia a pena do olho por olho, dente por dente, como retribuição legal das ofensas cometidas contra o próximo (Êx 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21).
Ao instituir a Nova Aliança no Seu sangue, Jesus excluiu tal penalidade da Aliança (Mt 5.38), retirando da esfera do poder eclesiástico (da igreja) a autoridade para o julgamento de questões civis, passando esta para a esfera do governo civil de cada nação, que tem liberdade para legislar sobre o assunto. E ordenou à igreja, o princípio de não fazer justiça pelas próprias mãos, de estar pronta para suportar injustiças, sem guardar rancor (Mt 5.39-42).
Jesus modificou outros preceitos da Antiga Aliança, além do citado, os quais foram substituídos por novos preceitos, conforme podemos observar no capítulo quinto do evangelho de Mateus.
Não podemos esquecer que muitos preceitos da Antiga Aliança foram dados como normas para regular as relações da sociedade civil da nação de Israel. Eram, por assim dizer, a Constituição daquele país.
Como a Antiga Aliança foi feita exclusivamente com aquela nação, e a Nova Aliança a partir de Jesus, que a substituiu, é estabelecida com pessoas de todas as nações, assim como Deus havia prometido a Abraão, que em Seu descendente (Cristo) seriam abençoadas todas as nações  do  mundo,  então,  seria de se esperar que tal Constituição fosse alterada, inclusive para Israel.
Sempre houve, em todas as nações, mesmo em Israel, aqueles que são de Deus e aqueles que não Lhe pertencem. Os que amam ao Senhor importam-se em cumprir Seus mandamentos e fazer Sua vontade. Isto já não ocorrerá jamais com os que não O amam. Por isso, já  era de se esperar que numa Aliança feita com todas as pessoas de uma nação, como era o caso da Antiga, que foi celebrada no Sinai pela mediação de Moisés, quando o povo saiu do Egito, que a maioria deles a violasse, como de fato ocorreu em todas as gerações de Israel  (Jer 11.1-17; 31.31,32). Pois, mais são os que se perdem do que os que se salvam. São poucos os que dão com a porta estreita da salvação e entram por ela.
É incorreto julgar que a aliança era quebrada ou violada, quando alguém transgredia qualquer mandamento da lei. É bom lembrar que Deus havia feito provisão de meios para o perdão e restauração do transgressor arrependido, especialmente nos ofícios do tabernáculo. Qual foi a resposta que Deus deu à oração de Salomão, consagratória do templo de Jerusalém, quando este conclamou ao Senhor para ser misericordioso com as faltas do povo de Israel, quando entrassem no templo, ou orassem voltados para ele ? Não está  em II Crôn 7.14 ? O perdão era também um mandamento da Lei. A restauração do pecador arrependido era também um dos seus preceitos.
Deus não age portanto em relação àqueles que O temem de modo frio e legalista, quando estes transgridem a Sua Lei, já  que contempla o que está nos seus corações.  Se ali vislumbra uma tênue tristeza pelo pecado, e uma pequena fagulha de arrependimento, move-se de íntima compaixão e assiste e restaura o faltoso pela Sua graça.
A Bíblia está  repleta de exemplos que confirmam esta verdade. Até os assírios da cidade de Nínive foram perdoados nos dias de Jonas, porque se arrependeram de seus pecados. O rei Manassés, que agiu tão perversamente em Judá, foi também perdoado, quando se humilhou perante o Senhor, quando ouviu o pesado juízo que lhe estava reservado caso não se arrependesse.
As maldições previstas na Lei contra a infidelidade de Israel, na Antiga Aliança, eram terríveis, mas não poderiam ser de outro modo, porque Deus lidaria em quase todo o tempo com pessoas ímpias, transgressoras voluntárias da Sua vontade, e que tinham prazer nisso. Não se promulgam tais leis senão para malfeitores (I Tim 1.8-11). Para estes a lei é terrível e pesada. Mas, ela é boa para aqueles que se utilizam dela de modo legítimo, isto é, para aqueles que temem ao Senhor, porque estes, são beneficiados pela Sua misericórdia.
A falta de fé impediu toda uma geração de israelitas de entrar em Canaã. Deus já  havia suportado com paciência muitas murmurações deles, e até mesmo quando fizeram o bezerro de ouro, não lhes sentenciou que toda a nação deixaria de entrar na terra. Mas, quando lhe voltaram as costas desejando voltar para o Egito, aí então receberam a sentença de que não entrariam na terra prometida (Núm 14.1-38). Isto ensina em figura, que a entrada na Canaã celestial não é por obras ou pelos méritos dos homens, mas pela fé em Jesus. Todo o que nEle crê e persevera na fé, confiando em Deus, tem a sua entrada no céu garantida e assegurada.
Moisés organizou o povo, e designou a ordem das tribos ao redor do tabernáculo, três de cada um dos quatro lados. Isto ensinava que o nosso Deus é o centro da vida do Seu povo, e ninguém mais. Ao mesmo tempo ensina-nos que Ele exige ordem e decência na Sua presença. Esta ordem ao redor do tabernáculo seria desfeita quando eles conquistassem Canaã com Josué, pois cada tribo ocuparia o território que lhe foi designado, exceto a tribo de Levi, que foi separada pelo Senhor para o serviço do santuário e para ensinar a Lei em todo o território de Israel.
O tabernáculo permaneceu em Silo até os dias de Davi, quando foi transferido para Jerusalém, que havia sido conquistada por Davi, dos jebuseus.
As batalhas contra as nações pagãs de Canaã, evidenciavam que os israelitas obtinham vitórias quando obedeciam ao Senhor e marchavam com fé em Suas promessas. Mas eram vencidos quando lhe eram desobedientes. O Senhor mesmo lhes havia advertido através da Lei que isto sempre ocorreria: vitória sobre os inimigos quando guardassem a aliança cumprindo os mandamentos do Senhor, e o contrário, em caso de desobediência.
Isto sempre ocorreu em relação a Israel enquanto vigorou a Antiga Aliança, nos seus quase mil e quinhentos anos, de Moisés a Jesus.
O livro de Josúe narra a conquista e a distribuição da terra de Canaã pelas tribos de Israel.
Jericó era uma cidade de guerreiros e fortificada, com muralhas tão largas que havia até residências sobre elas, como a da prostituta Raabe, que havia acolhido os espias que foram enviados por Josué. Mas as suas muralhas ruíram pelo poder do Senhor enquanto o povo rodeava a cidade e louvava o Seu nome.
Entretanto, uma cidade muito menor em importância, chamada Ai, venceu os israelitas, por causa da desobediência de um único homem chamado Acã, que transgrediu a vontade do Senhor, que havia ordenado que nada do despojo da cidade de Jericó deveria ser tomado pelos israelitas.
Acã e tudo quanto possuía foram apedrejados até a morte, sendo queimados a fogo posteriormente.
Enquanto vivia Moisés, a terra havia se rompido e engolido a Datã, Coré e Abirão, que haviam contestado o governo de Moisés sobre Israel, e principalmente o sacerdócio de Arão. O argumento deles parecia até razoável: Ora, se toda a  nação era abençoada, e todos eram servos do Senhor, porque Moisés e Arão teriam a primazia na liderança da nação ? Estavam esquecidos que Israel não era uma democracia, mas uma teocracia. Deus mesmo havia escolhido Moisés e Arão, e ponto final. Rejeitá-los era o mesmo que rejeitar o Senhor. Era como afirmar indiretamente  que  Ele  havia  errado  na  escolha que fez.
Eles erraram ao incitar o povo contra Moisés e Arão. Foi nesta ocasião que o Senhor confirmou o sacerdócio de Arão trazendo uma peste sobre o povo que só cessou quando Arão intercedeu em favor deles usando o seu incensário. Fogo saiu da parte do Senhor e consumiu os revoltosos, juntamente com outros duzentos e cinquenta príncipes de Israel, que lhes haviam seguido na tentativa de conspiração.
E para dissipar qualquer dúvida sobre a Sua vontade em relação a Arão ordenou que fossem colocadas varas diante da arca representando cada tribo de Israel, sendo que o nome de Arão deveria ser registrado na vara de Levi, tribo à qual pertencia. De todas as varas somente a de Arão floresceu e dava amêndoas.
Estes acontecimentos produziram um grande e saudável temor na geração que conquistaria Canaã com Josué.
Acã ficou sendo um nome equivalente a perturbação. E o lugar onde foi apedrejado ficou sendo conhecido por vale de Acor, que significa perturbação grave e em excesso (Js 7.24,26, Is 65.10).
Mas, como o tempo se encarrega de tudo apagar em nossa memória (daí a importância de estarmos sempre lendo a Bíblia para nada esquecermos) tais incidentes foram esquecidos ou não receberam a devida atenção das gerações posteriores, ao ponto de terem ocorrido sucessivas opressões de povos inimigos no período narrado no livro de Juízes, e que durou cerca de trezentos anos.
Os israelitas transgrediam os mandamentos, idolatravam, então eram subjugados pelas nações inimigas até quando, não suportando mais a opressão, clamavam ao Senhor por livramento, então Ele levantava um juiz (como Gideão e Sansão por exemplo), que os livravam. Experimentando a bênção  da  liberdade, com o passar dos anos, especialmente a geração subsequente voltava a pecar, e aí o ciclo citado se repetia. Isto durou até o Senhor levantar o profeta Samuel, que era reconhecido como homem de Deus por todas as tribos de Israel. Samuel era extremamente fiel à Palavra do Senhor e tinha grande intimidade com Ele. Fundou uma escola de profetas para aprendizado da Palavra e sua disseminação por Israel.
Conclamou o povo a abandonar a idolatria e voltar-se para o Senhor.
Tendo realizado uma profunda reforma na vida religiosa da nação.
A este tempo o povo pediu um rei como o tinham todas as demais nações.
Deus lhes levantou Saul, que era um rei segundo  o coração do povo, isto é, segundo aquilo que eles tinham em mente do padrão ideal para um rei. Mas, como contemporâneo de Saul já  vivia um jovem, segundo o coração de Deus, apesar de sua aparência comum, ser franzino e um pastor de ovelhas. O povo se antecipou pedindo um rei, pois o Senhor já  estava preparando Davi para tal propósito.
Houve guerra entre os seguidores de Saul, depois de sua morte, e os homens de Davi, para que este pudesse assumir o trono. Tudo isto poderia ter sido evitado se o povo soubesse esperar o tempo de Deus.
Davi assumiu o trono cerca de mil anos antes de Cristo, e fez de Jerusalém a capital do reino. Com isto, deu início ao cumprimento da bênção profética de Jacó acerca do seu filho Judá, registrada no livro de Gênesis, cerca de novecentos anos antes, pois afirmou que o cetro jamais se arredaria de Judá (Gên 49.10).
Ora, esta profecia terá  o seu cumprimento final em Jesus, que é descendente de Davi, que era também da cidade de Belém de Judá  (II Sm 7.16).
O rei eterno de Jerusalém será  Jesus, de quem o reinado de Davi foi tipo.
A humildade, a obediência de Davi, e especialmente a sua dependência de Deus são além de inspiradoras, um bom exemplo para ser seguido principalmente por aqueles que têm sido chamados por Deus para serem líderes na igreja.
As vitórias sobre os inimigos eram obtidas porque Ele orava e reconhecia  que  o  Senhor  era  quem  dava  a vitória a Israel sobre as nações inimigas.
Ele era homem de oração e de louvor, como podemos verificar nos Salmos, que são na quase totalidade, de sua autoria. Seu fervor de espírito foi revelado quando dançou com todas as suas forças diante do Senhor, quando trouxe a arca para Jerusalém (II Sm 6.14).
Quando se descuidou da vigilância espiritual e caiu no pecado de adultério com Bate-Seba, veio a arrepender-se profundamente, mais tarde.
Quando fez o censo de Israel sem consultar a vontade do Senhor a respeito, e quando um anjo enviado por Ele já  havia dizimado a população de Jerusalém e se preparava para destruir a cidade, Davi se humilhou na presença do Senhor, e com isto foi ordenado ao anjo que tornasse a colocar a sua espada na bainha.
Este pecado poderia ser perdoado em qualquer outro, mas não em Davi, que estava se deixando mover na ocasião muito mais por interesses políticos do que pelos relativos ao reino de Deus. Ele queria ter a exata noção do tamanho do exército que estava a seu serviço, pensando possivelmente em executar um plano de domínio sobre todas as nações. No entanto, a praga que veio sobre a população dizimou certamente a muitos do exército de Israel. Era Deus quem dava a vitória sobre os inimigos e não o poderio militar da nação. Davi estava se esquecendo disso, mas o castigo do Senhor trouxe-o de volta à visão da fé, de modo a não mais esquecer a quem de fato pertence o poder.
O reinado de Davi foi levantado pelo Senhor para ser tipo do reinado de Jesus, e por isso dissemos que o seu pecado poderia ter sido perdoado na pessoa de um outro rei. Afinal, muito se pede a quem muito é dado.
Não foi este o mesmo caso que se deu com  Moisés quando foi impedido de entrar na terra de Canaã pelo Senhor, em razão da contenda das águas de Meribá ? Ele bateu na rocha em vez de falar à mesma. Indagou ao povo, se porventura o Senhor daria água a pessoas rebeldes como eles. No entanto, Ele havia dito a Moisés que daria água ao povo, como de fato deu, independente das circunstâncias que estavam ocorrendo.
Moisés era tipo de Jesus como profeta (Dt 18.15), e por isso dizemos que este seu pecado poderia ter sido relevado em um outro qualquer, mas não nele.
Por isso a igreja de Cristo deve orar muito em favor daqueles que são investidos pelo Senhor em posições de liderança, especialmente pelos pastores, pois estão expostos a um maior juízo em relação ao pecado.
Davi desde pequenino enfrentou várias tribulações com firmeza de fé no Senhor, como a vitória que Deus lhe deu por causa da sua fé, sobre o gigante Golias. Mas, foi exatamente por isso que o seu nome é lembrado e reverenciado pelos israelitas até os dias de hoje. E sua vida é uma inspiração para a igreja de Cristo, porque nos revela que Deus de fato exalta àquele que se humilha, e que aperfeiçoa o caráter dos seus filhos por meio de muitas provações.
Deste modo, todos os reis que viveram em obediência ao Senhor e não se importaram em serem populares agradando a homens, não somente foram abençoados como abençoaram a nação.
E por outro lado, aqueles que consentiram em manter os altares espalhados pela nação para adoração de outros deuses, e que não governaram pela Palavra do Senhor, foram mal sucedidos, como também sujeitaram a nação aos juízos de Deus, que culminariam com a expulsão dos israelitas do seu território, sendo espalhados pelas nações, através dos cativeiros assírio e babilônico. Tudo isto está  registrado nos livros dos Reis e de Crônicas.
A nação de Israel, através dos juízos que recebeu da parte de Deus em razão do pecado, tendo sido até expulsa da terra prometida, tornou-se exemplo para a igreja de Cristo, no sentido de nos ensinar que o pecado é o que pode efetivamente afastar-nos da presença de Deus, e que devemos zelar para não viver pecando, pois fomos libertados da escravidão do pecado, por meio da morte de Cristo, tendo sido batizados na Sua própria morte, para que a Sua vida ressurrecta seja a nova vida na qual devemos viver, pois somente ela pode garantir a vitória sobre o pecado que tão de perto nos assedia por todos os dias da nossa vida (Rom 6).
Salomão recebeu sabedoria e riqueza como nenhum outro homem teve antes dele ou terá  depois, conforme lhe fora  prometido  pelo  Senhor.  A  prova  da sabedoria que recebeu está nos livros de Eclesiastes e Cantares, que são de sua autoria, e na maioria das citações do livro de Provérbios que são também de sua autoria. Mas, a sua riqueza acabou ofuscando a sua sabedoria, uma vez que chegou a perder o temor do Senhor, vindo a permitir que em Israel fossem erigidos altares a divindades de outras nações, por atender ao pedido de suas esposas, com as quais casou para estabelecer alianças políticas e estender as fronteiras e o domínio do seu reino.
Por isso Jesus afirma que não podemos servir a Deus e ao dinheiro. E o Espírito Santo nos adverte através do apóstolo Paulo que o amor do dinheiro é a raiz de todos os males (I Tim 6.9,10).
Quando o que nos move na obra do Senhor já não são exclusivamente os interesses do reino de Deus, mas o alvo de ter sucesso ou dinheiro, poderemos até a vir a nos desviar da fé, como ocorreu com Salomão, que havia, dantes, sido poderosamente usado pelo Senhor.
Em razão da idolatria de Salomão, o reino que era  um  só para todas as tribos, daí ser chamado de Reino Unido (Saul, Davi e Salomão), foi dividido por Deus em dois segmentos: dez tribos ao norte, que passaram a ter sua capital em Samaria, a partir do rei Onri, que foram designadas como Israel ou Reino do Norte; e a tribo de Judá, ao Sul, onde estava o templo em Jerusalém, chamada de Reino do Sul ou Judá, em que se perpetuaria no trono a descendência de Davi até ao tempo do cativeiro babilônico.
Ambos os reinos foram para o cativeiro por terem transgredido a aliança e especialmente em razão da idolatria que foi introduzida como religião oficial do Reino do Norte com o seu primeiro rei, chamado Jeroboão I, que estabeleceu o culto ao bezerro, tendo feito dois bezerros de ouro, colocando um em Dã e outro em Betel, movido pelo interesse político de manter os israelitas no seu próprio território, evitando que fossem adorar a Deus no templo que ficava no Reino do Sul.
A idolatria se expandiu muito em Israel a partir dos dias do rei Acabe, que começou a reinar em 874 a.C. Para protestar contra tal avanço do culto a Baal, Deus levantou os profetas Elias e Eliseu para principalmente convencer àquela geração que somente Ele é Deus e não Baal.
A fidelidade de Davi devia ter sido esquecida pois quando Acabe começou a reinar Ele já  havia morrido há  cerca de cem anos.
Israel foi levado em cativeiro pela Assíria em 722 a.C., e Judá para Babilônia, em 586 a.C. Estas são as datas das levas finais de cativos.
A maior parte dos profetas escritores, com exceção de Ageu, Zacarias e Malaquias, realizou o seu ministério durante o período do Reino Dividido (931 a.C. a 586 a.C.). Alguns no Reino do Sul, e outros no Reino do Norte, ou em ambos. (Consulte sua tabela cronológica para obter maiores informações sobre isto).
Enquanto o Senhor protestava através deles contra o pecado de Israel ou de Judá, e das nações dos seus dias, revelava-lhes também visões referentes ao ministério de Jesus e do tempo do fim. Ao mesmo tempo que repreendia a infidelidade da nação pelo ministério dos profetas, o Senhor lhes infundia esperança pelas promessas de restauração futura, de modo que isto lhes serviria de consolação durante o período que permaneceriam no cativeiro, de forma a saberem que não haviam sido abandonados definitivamente por Ele, mesmo em face de estarem sendo submetidos à disciplina da aliança.
Lembre-se que era a Antiga Aliança que ainda estava em vigor. Esta só seria substituída pela Nova a partir da morte de Jesus.
O templo de Jerusalém, que havia sido construído por Salomão, foi destruído pelos babilônios, quando Judá  foi levado para o cativeiro.
Mas quando os babilônios foram vencidos pelos medo-persas, estes decretaram o retorno dos judeus para a sua própria terra, sendo iniciadas imediatamente as obras de reconstrução do templo em 536 a.C. Mas, por oposição dos samaritanos estas  foram  paralisadas, e  isto permaneceu até 520 a.C., quando foram reiniciadas, tendo Deus levantado os profetas Ageu e Zacarias para animar e incentivar o povo na reconstrução, tendo o templo sido concluído em 516 a.C.
Era bem mais humilde, comparado ao templo de Salomão, tendo sido ampliado pelo rei Herodes, próximo dos dias de Jesus, passando a ter o esplendor que encantou todo o mundo de então, pois Herodes, sendo Idumeu, querendo agradar politicamente os judeus, começou tal remodelação do templo.
Voltemos a 516 a.C. O templo fora reconstruído, mas os muros de Jerusalém permaneciam destruídos, e o renovado interesse pela Palavra de Deus, que havia surgido no retorno à Palestina, tendo os judeus sido convencidos que o motivo do cativeiro foi a idolatria dos seus antepassados, necessitava ser reforçado.
Para tanto, o Senhor moveu o coração de Esdras para lhes ensinar a Palavra e preparar homens para o mesmo propósito, tendo daí surgido os escribas, que faziam cópias das Escrituras e as interpretavam para o povo. Este veio para Jerusalém em 458 a.C.
Outro que foi movido pelo Senhor na mesma época foi Neemias, que veio para governar a cidade e reconstruir os seus muros, por volta de  444 a.C.
Como o pecado tão de perto assedia o homem, mesmo com toda a ação de Esdras, Neemias e dos profetas Ageu e Zacarias, o povo voltaria a se  afastar  do Senhor, e por isso Malaquias foi levantado como o último profeta deste chamado Período da Restauração, para protestar contra a infidelidade do povo.
Pertence também a tal período a narrativa do livro de Ester que revela como os judeus foram livrados do extermínio que havia sido planejado pelo general persa Hamã.

O Período Interbíblico                                                                                                                                                
Desde Malaquias nenhum profeta foi levantado por Deus em Israel, por cerca de quatrocentos anos, até que viesse João Batista como precursor de Jesus, conforme havia sido predito pelo Espírito através do profeta Isaías. João é o último profeta da Antiga Aliança que veio revelar Aquele que seria o Mediador da Nova Aliança. Mas como precursor de Jesus ele pregou o evangelho, pelo arrependimento e fé em Jesus para a remissão dos pecados.
Nestes quatrocentos anos entre Malaquias e João Batista, Deus estava preparando o mundo para que Jesus viesse e o evangelho pudesse ser espalhado por todas as nações da terra, dando assim, cumprimento à promessa feita a Abraão, que era também uma revelação do Seu propósito eterno de fazer convergir todas as coisas em Jesus Cristo.
No Período Interbíblico, como são conhecidos os quatrocentos anos em que nenhum profeta se levantou em Israel, os dois reinos que preparariam o caminho para a pregação do evangelho foram os impérios grego e romano. O primeiro dando a língua grega ao mundo, na qual foi escrito o evangelho, e que também por ordem de Alexandre, o Grande, o Velho Testamento foi vertido para o grego em Alexandria, depois da sua morte, formando a versão  chamada  Septuaginta;  tudo  isto já estava determinado por Deus para disseminar a Sua Palavra em todo o mundo, pois estavam se aproximando os dias em que a Antiga Aliança seria substituída pela Nova.
Os romanos teriam também grande importância criando estradas ligando todo o mundo conhecido de então para que por elas passassem suas legiões de soldados. Jesus viria portanto na plenitude dos tempos, quando as condições facilitassem a propagação do evangelho no mundo. Vale lembrar também que os cativeiros que espalharam os israelitas pelo mundo fez com que estes formassem sinagogas por toda a parte para cultuarem a Deus, tendo o evangelho sido pregado nas mesmas, e ao povo gentio, que através delas havia tomado conhecimento da lei do Deus de Israel.
Os escribas que se levantaram nas gerações posteriores aos escribas dos dias de Esdras, que eram sinceros e tementes a Deus e que interpretavam fielmente a Sua Palavra, não foram, em sua maioria movidos pelos mesmos sentimentos que havia nos primeiros escribas, e começaram a acrescentar ensinamentos em suas interpretações que eram totalmente estranhos à verdade revelada. Por  exemplo, eles  ensinavam  que  o próximo deveria ser amado, mas os inimigos odiados. Nada há  na lei de Moisés, nos livros históricos e poéticos e nos profetas, qualquer afirmação para se odiar os inimigos. Por isso Jesus corrigiu tal ensino no sermão do monte, pregando o dever de se amar os inimigos e não odiá-los.
Além dos escribas, surgiu no Período Interbíblico uma seita formada por religiosos que incorreram no mesmo erro legalista dos escribas. Estes se consideravam os santos de Israel, os separados, como  designava  o  seu nome: os fariseus. Na verdade eram homens de grande ambição, pois o seu real desejo não era servir ao Senhor, mas ter influência no Sinédrio, que era o tribunal que tinha poder sobre todos os judeus, mesmo os espalhados pelo mundo, no tocante às questões religiosas. As civis e políticas eram da competência dos romanos, aos quais estava sujeita a nação. Os reis de Israel eram escolhidos por eles, como os Herodes, que sequer eram judeus.
Não passavam de representantes do poder romano, que designavam procuradores e cônsules para todas as províncias sob o seu domínio. A estes cabia verificar se os interesses do império romano estavam sendo observados pelas nações subjugadas.
Os romanos não se intrometiam nas questões religiosas, mas regiam as nações com mãos de ferro, no que tangia às questões civis.
O Sinédrio era presidido pelos sacerdotes de Israel, assistidos pelos fariseus e também por outro grupo, os saduceus, cuja influência se fazia mais presente no templo, e que eram movidos mais pelo interesse político do que pelo religioso. Daí o grande comércio que era feito nas instalações do templo, que Jesus condenou veementemente.
Ele confrontou também a visão carnal que os judeus passaram a ter do reino de Deus, tanto os líderes religiosos quanto o povo em geral.
Haviam perdido a fé, e com ela a justiça, o amor  e a misericórdia. Davam mais importância ao ritualismo que haviam elaborado para a guarda do sábado, do que ao próprio homem. O sábado foi estabelecido como dia de descanso para o homem, como indicava a própria palavra “Sabath”, e não o homem para o sábado.
Jejuavam para parecerem espirituais aos homens, e não para intensificarem a comunhão com Deus.
O sistema religioso que haviam elaborado depois de Esdras, durante os quatrocentos anos do Período Interbíblico, havia desfigurado de tal forma a verdade da Palavra de Deus, que Jesus afirmou que eles a invalidaram substituindo-a por mandamentos de homens, que haviam desenvolvido ao longo dos anos através da tradição rabínica, que formou o sistema que até hoje é conhecido como judaísmo.
O judaísmo é portanto uma invenção dos homens. Não é sequer a prática da Antiga Aliança conforme fora dada por Deus a Moisés.
O legalismo do judaísmo não estava fundado portanto na Palavra do Senhor, mas na tradição rabínica.
O Senhor havia declarado aos líderes de Israel, nos dias do Seu ministério terreno, que eles erravam por não conhecerem as Escrituras e o poder de Deus. Mas importava que aquela geração não reconhecesse   o Senhor, como a respeito deles estava escrito, para que sendo rejeitado pelos judeus, pudesse o evangelho ser oferecido aos gentios.
“De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos, e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados.” (Mt 13.14,15).






3 - Conteúdo Geral da Bíblia – De Adão a Moisés

A Bíblia não é um livro de história como outro qualquer. O propósito de Deus na inspiração da sua escrita não foi o de contar a história de determinados homens, mas sim, o de revelar a Sua pessoa e vontade ao homem que Ele criou.
Nela temos o registro de fatos antes mesmo da criação do mundo; do passado, do presente e até do futuro. A história da redenção e da glorificação do homem e dos atos de Deus nessa história estão nela contidos.
Há fatos bíblicos portanto que ainda estão tendo cumprimento em nossos dias e que continuarão a serem cumpridos até a criação dos novos céu e terra prometidos.
É por isso que no meio da narrativa do livro de Gênesis, de fatos que já  haviam acontecido, como a forma como o pecado entrou no mundo através de Adão,  temos também no mesmo livro de Gênesis a citação de fatos que ainda viriam a ocorrer num futuro distante, como o esmagamento da cabeça da serpente pelo descendente da mulher, que é Cristo.
A promessa de Deus feita a Abraão de abençoar no seu descendente todas as nações  da terra, é também uma referência a Jesus (Gl 3.16), que começou a ter cumprimento desde o primeiro homem, e  mais  especificamente  há  cerca   de dois mil anos, ainda está tendo cumprimento, e terá  até que se complete o número dos salvos que estão destinados à vida eterna, e cujos nomes estão escritos no livro da vida.
Assim, quando Moisés começou a escrever o livro de Gênesis no período provável de 1.440 a.C. a 1.400 a.C., sequer poderia imaginar a amplitude da promessa que foi feita a Abraão.
Qual é portanto o período a que se refere a narrativa de Gênesis ?
Assim, a rigor, não poderíamos afirmar que o conteúdo total de Gênesis se refere a um período já conhecido e acabado. Em vez de dizermos, portanto, que a narrativa de Gênesis se refere ou cobre o período que vai da criação dos céus e da terra até a fixação da família de Jacó no Egito, cerca de 1885 a.C., fechando-se a narrativa com a morte  de José;  é  melhor dizer que o livro contém a revelação de Deus que fora  feita  no  citado  período,  e  cujos fatos considerados por Ele como relevantes  para serem registrados, foram escritos por Moisés, cerca de 450 anos depois da entrada de Jacó com sua família no Egito, para que ali fosse formada a nação de Israel, da descendência dos seus filhos, a partir dos quais se formariam as doze tribos de Israel, conforme planejado por Deus.
A escrita do livro de Gênesis, em resumo, descreve que o homem foi criado com  um corpo formado do pó da terra, que para lá  retorna na morte, mas também com um espírito, no qual, pela obediência e comunhão com o Senhor, é marcada, progressivamente, a imagem e semelhança com Deus.
A entrada do pecado no mundo privou Adão e toda a sua descendência de experimentar o fruto da árvore da vida. Isto significa que todos quantos permanecessem no mesmo estado de desobediência de Adão, ficariam impedidos de ter vida eterna e ser semelhantes ao Criador, conforme era do Seu eterno propósito.
Mas, mesmo sendo pecadores, todos aqueles que se voltassem para o Senhor, pela fé, dispondo-se a amá-Lo e servi-Lo, seriam aceitos pela Sua graça, porque elegeu para a vida eterna a todos que Lhe entregassem suas vidas pela fé, como foi o caso de Abel, Enoque, Noé, Abraão, Ló, Isaque, Jacó, José, entre outros. Todos estes têm seus nomes registrados no livro de Gênesis, tendo recebido testemunho de terem agradado a Deus.
Mas, os que não forem justificados pela fé,  permanecendo assim, na prática do pecado e vivendo contrariamente à vontade do Senhor, serão condenados, como o comprova os Seus juízos sobre Caim, sobre os que pereceram no dilúvio e em Sodoma e Gomorra.
Apesar da eleição e justificação serem pela graça, como comprovado na vida daqueles que o Senhor escolheu para Si, haveria necessidade de uma base para tal eleição e justificação, para que Deus pudesse permanecer Justo ao justificar o pecador: a morte e ressurreição de Jesus.
Para tanto, antes que Ele se manifestasse em carne, haveria necessidade de se formar um povo (Israel) através do qual o Senhor pudesse revelar o conhecimento da Sua vontade, e qual era a real condição do homem perante Ele desde que o pecado entrou no mundo.
Gênesis relata a maneira como Deus formou a nação de Israel a partir de Abraão, e para qual principal propósito: o de abençoar todas as nações da terra.
A recusa de Deus das vestimentas de folhas de figueira feitas por Adão e Eva para cobrir a sua nudez, depois do pecado, tendo feito Ele próprio vestimenta de peles para eles, que demandou o sacrifício de animais, revelava em figura, que uma vítima inocente teria que morrer para que a nudez produzida pelo pecado pudesse ser coberta. O pecado não pode ser coberto pelos meios do próprio homem, mas pelo único meio provido por Deus: o sacrifício de Jesus.
Aquela vestimenta, como dissemos, foi apenas uma forma tipológica de se ensinar que o pecado para ser coberto, demandaria o derramamento de sangue alheio.
Os altares que Abraão e os demais patriarcas levantavam para oferecer sacrifícios ao Senhor, também falavam em figura que os ofertantes eram aceitos por Ele, não em razão de sua própria justiça, mas com base na dAquele que morreria em favor deles.
Para revelar que a descendência abençoada de Abraão seria a nascida segundo a promessa e não segundo a carne, o Senhor confirmou a decisão de Sara de expulsar o filho da escrava Hagar (Ismael) com Abraão, para não ser herdeiro juntamente com Isaque, que era filho natural de Sara, livre e nascido segundo promessa de Deus a ela e a Abraão (Gl 4.21-31).
O crente é recebido portanto como filho de Deus simplesmente em razão do cumprimento da promessa que Ele fez a Abraão, e não por qualquer mérito pessoal. Não podemos confundir entretanto, a questão do mérito com o conceito de valor. Porque os escolhidos, apesar de não terem realmente nenhum mérito diante de Deus, têm no entanto, grande valor para Ele.
Isaque nasceu a Abraão porque lhe fora prometido pelo Senhor. Nem Abraão, nem Sara tinham mais condições, biologicamente falando, para gerá-lo. Deus operou um milagre naquele nascimento. Assim se dá  com  todos  os  que  nascem do Espírito pela fé. São gerados por meio de um milagre do Espírito Santo, e em razão da promessa que foi feita a Abraão. Por isso os crentes são  também chamados na Bíblia por filhos da promessa ou filhos de Abraão.
Noé era homem justo porque andava com Deus. É isto o que a Palavra nos ensina a tal respeito. Ninguém pode ter o fruto do Espírito sem andar com o Senhor. É na nossa comunhão com Ele que nos é infundida pelo Espírito a justiça e todas as demais virtudes de Cristo.
A eleição de Jacó, filho de Isaque, neto de Abraão, cujo nome o Senhor mudaria para Israel, que significa Príncipe de Deus, já comprovava que a própria nação de Israel também seria formada por meio da mesma eleição segundo a graça, e não por qualquer mérito de Abraão, de seus filhos ou daqueles que chegariam à existência depois dele. O Senhor mesmo viria a declarar através de Moisés que havia escolhido Israel, quando já era uma nação formada no Egito, para ser Seu povo,  entre  todas  as  demais  nações   que  existiam   na  terra,  não   pelo   fato de ser o povo mais numeroso, pois era o menor, mas porque os amava e para cumprir o juramento que fizera aos patriarcas (Dt 7.6-8).
Aí está declarada a eleição pela graça da própria nação israelita.
De igual forma, pela mesma eleição, está sendo formado o Israel espiritual, por meio da chamada daqueles que têm sido justificados, regenerados e santificados pelo Espírito.
São contados como filhos de Deus apenas os que creem em Cristo (Jo 1.12), isto é, aqueles que são da fé.
Gênesis é portanto o início do relato da história da criação de um povo (eleitos), que estaria ligado pela fé, para sempre, ao descendente de Abraão (Jesus). Deus fez um Pacto (aliança) eterno com eles através do sangue de Jesus (Lc 19.20).  É somente pelo fato de estarem nEle é que são abençoados com a salvação e a vida eterna.
Vemos assim que quando a Bíblia fala que os salvos são somente os que creem em Cristo, não está se referindo a uma simples afirmação de crença na existência de Deus. A este respeito, Tiago diz que até os demônios creem e tremem, mas nem por isso são ou poderão ser salvos do estado de perdição em que se encontram. Jesus mesmo ensinou que muitos dizem Senhor, Senhor, mas não serão salvos. Outros até profetizam e expulsam demônios em seu nome, e no entanto, Ele não os conhece. A verdadeira fé é aquela que une o crente a Cristo. Há uma união que não poderá ser desfeita (Rom 8.35-39).
Jesus afirmou que a forma de reconhecimento daqueles que pertencem à família celestial é pela sua obediência à Palavra de Deus. Os que são de Cristo apresentam as evidências da sua salvação, pelos frutos dignos de um verdadeiro arrependimento, isto é, pela santificação operada pelo Espírito Santo em suas vidas.
Se alguém diz que pertence a Jesus porque crê nEle, mas não cumpre os Seus mandamentos, então é bem provável que não seja um verdadeiro filho de Deus.
A Nova Aliança em Cristo foi feita antes dos tempos eternos, mas foi revelada inicialmente a Abraão, porque Ele foi designado pelo Senhor como o pai dos que creem em Cristo (Rom 4.16,17).
Abraão provou de muitas maneiras que não vivia para fazer a sua própria vontade, mas a do Senhor. Algumas já  comentamos. Mas também é digno de nota o fato de ter deixado a sua parentela e ter peregrinado pela terra que o Senhor lhe mostrou, e que daria à sua descendência.
O Senhor deu ao próprio  Adão uns poucos mandamentos, revelando assim que a vontade do homem não é soberana. A vontade de Deus deve imperar sobre a do homem.
Adão não tinha cometido ainda qualquer pecado. Era inocente. E recebeu mandamentos para cumprir. Os mandamentos não foram dados portanto em razão do pecado, mas para revelar que o nosso Deus é amado quando fazemos a Sua vontade.
Importa portanto que em todo o modo e circunstância seja Deus obedecido.
O homem foi criado para amar ao Senhor, e amá-Lo é cumprir Seus mandamentos (Jo 14.21). Mas para cumprir seus mandamentos é preciso que o homem nasça de novo do Espírito Santo, e isto só é possível por meio da fé em Jesus.
Deus revelou a Abraão que o povo que formaria a partir dele para habitar em Canaã seria peregrino numa terra alheia, e  reduzido à escravidão por quatrocentos anos, mas seriam depois libertados e sairiam com grandes riquezas. Esta terra alheia seria o Egito, para onde Jacó foi com seus familiares (setenta pessoas - Gên 46.27), para fixar residência juntamente com José, um dos seus filhos que se tornou governante sobre toda a terra do Egito.
José não sabia o preço que deveria pagar para que o propósito de Deus pudesse ser cumprido, através dele. Enciumados, seus irmãos tentaram tirar-lhe a vida, tendo sido salvo por um deles, Rúben, e por proposta de um outro, Judá,  foi vendido como escravo aos ismaelitas por vinte siclos de prata, que o levaram para o Egito, e que por sua vez o venderam ao comandante da guarda de Faraó, chamado Potifar.
José foi aperfeiçoado na perseverança através da disciplina que lhe estava sendo imposta pela tribulação, e no momento apropriado sairia da posição de encarcerado e escravo, para a de livre e governador.
Faraó investiu José de autoridade sobre toda a terra do Egito, e tendo este perdoado seus irmãos, que o haviam vendido como escravo, apresentou-os a faraó, bem como toda sua família que viera de Canaã para o Egito, tendo sido instalados na terra de Gósen com grande honra, por causa de José.
A grande honra que tinham no início no Egito viria a transformar-se em dura escravidão, conforme está  relatado no livro de Êxodo. Mas isto também estava fixado nos conselhos de Deus, pois como o próprio José havia predito ainda em vida, Ele visitaria o povo e o faria subir do Egito para a terra que havia jurado dar a Abraão, Isaque e Jacó.
Enquanto o povo de Israel ia se multiplicando no Egito, os povos de Canaã iam também crescendo em número e principalmente na prática da iniquidade. O Senhor revelou a Abraão que Israel só sairia do cativeiro para a terra prometida quando estivesse cheia a medida da iniquidade dos amorreus, que era um dos povos que habitavam em Canaã (Gên 15.16).
Israel estava sendo formado também para ser a espada do Senhor contra a impiedade dos cananeus, cujo culto idolátrico, conforme tem sido resgatado pela arqueologia, era dos mais bárbaros e horrendos, ao ponto de sacrificarem seus filhos na fogueira a divindades demoníacas.
A terra prometida seria então tomada por esforço mediante muitas batalhas; tal como ocorre com os crentes, na igreja de Cristo, que estão a caminho da Canaã celestial. Devem se empenhar em permanecer em santidade vencendo a guerra de muitas batalhas contra o pecado e os poderes das trevas, que será  travada até o último dia da sua vida de peregrinação neste mundo de trevas.
As chamadas doze tribos que compunham a nação de Israel eram  formadas pelos descendentes dos filhos de Jacó, sendo que José, estava representado por seus dois filhos Efraim e Manassés. É por isso que a Bíblia não fala na tribo de José, pois tanto as tribos de Efraim quanto a de Manassés eram compostas pelos descendentes destes dois  filhos de José.
Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulom, Benjamin, Dã, Naftali, Gade e Aser, demais filhos de Jacó, cujo nome Deus mudou para Israel, eram os nomes que passaram a ter as demais tribos, porque estes eram os patriarcas do povo que se formou a partir deles, e que saiu do Egito e passou a habitar em Canaã, quando a terra começou a ser conquistada quatrocentos anos depois, nos dias de Moisés e Josué.
Israel não foi formado para ser servo de Faraó, mas do Senhor. Era povo de propriedade exclusiva de Deus, a partir do qual Ele se revelaria ao mundo.
O tempo estava completado. O bebê que havia sido livrado da matança do faraó que intentava exterminar os israelitas contava agora com oitenta anos de idade. E foi preparado no deserto por quarenta anos, para aprender que a obra do Senhor é feita por Ele mesmo através de nós, e não pela nossa própria força e sabedoria. A humilhação imposta a Moisés nos quarenta anos que passou no deserto de Midiã, permitiu a Deus transformá-lo num varão mui manso e obediente. Agora ele é chamado depois de ter visto o poder sobrenatural do Senhor na sarça que ardia em fogo mas não se consumia, a ir aos filhos de Israel no Egito para libertá-los da escravidão. Os falsos deuses do Egito seriam humilhados pelas manifestações de poder do único e verdadeiro Deus. Os israelitas aprenderiam a quem pertencem o domínio e o poder. Aprenderiam também como o Senhor distingue aqueles que são Seus daqueles que não Lhe pertencem, pois nenhuma das pragas que sobrevieram aos egípcios atingiram a qualquer israelita ou mesmo suas posses.
Assim também o Senhor fará  nos dias do tempo do fim, quando despejar Seus juízos sobre a terra. Ele guardará  do mal aqueles que O amam e que são Seus, pois sabe livrar da provação os piedosos,  e reservar, sob castigo, os injustos para o dia de juízo (II Pe 2.9).







4 - Período de Produção dos Livros da Bíblia

1 - Do Velho Testamento

Os 39 livros do Velho Testamento se apresentam na seguinte ordem de apresentação e classificação, em nossas Bíblias:
Livros da Lei ou Pentateuco:  Gênesis, Êxodo, Levitivo, Números, Deuteronômio
Livros Históricos:  Josúe, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester
Livros Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares
Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel
Profetas Menores: Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
Consulte sua tabela cronológica para verificar o período em que se deu a escrita de cada um dos livros da Bíblia e os principais personagens relacionados aos mesmos.
 O Velho  Testamento  foi  formado  num   período superior a  mil  anos  (cerca de 1040 anos)    de  Moisés  a Esdras. Moisés escreveu as primeiras palavras do Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) por volta de 1.440 a.C.
Esdras não foi o último escritor na formação do Velho Testamento. Os últimos foram Neemias e Malaquias, porém, de acordo com os escritos históricos, foi ele quem, na qualidade de escriba e sacerdote, reuniu os rolos de todos os livros do V.T., ficando este encerrado em seu tempo.
Jó é tido como o livro mais antigo da Bíblia.  
Começando por Moisés, à medida que os livros iam sendo escritos, eram postos no tabernáculo, junto ao grupo de livros sagrados.
Esdras, após o cativeiro, reuniu os diversos livros e os colocou em ordem, como coleção completa. Destes originais eram feitas cópias para as sinagogas largamente disseminadas pelo mundo.
Foi em 90 d.C., em Jâmnia, perto de Jope,  em Israel, num concílio, que os  rabinos  reconheceram  e fixaram o cânon do Velho Testamento. Note-se que o trabalho desse concílio foi apenas ratificar aquilo que  já  era aceito por todos os judeus através dos séculos.

2 - Do Novo Testamento

 Os 27 livros do Novo Testamento se apresentam na seguinte ordem de apresentação e classificação, em nossas Bíblias:
Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas, João
Livro Histórico: Atos
Epístolas de Paulo: Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito, Filemom
Epístolas Gerais: Hebreus (autor desconhecido, possivelmente Paulo), Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João, Judas
Livro Escatológico: Apocalipse
Os livros do Novo Testamento foram escritos num período aproximado de setenta anos.
Em 100 d.C. todos os livros do N.T. estavam escritos.
A maior parte das epístolas de Paulo foram os primeiros escritos do N.T., sendo Gálatas o primeiro documento a ser escrito, cerca de 49 d.C.
Foi no concílio de Cartago, em 397 d.C. que houve o reconhecimento e fixação final do cânon do N.T., com os 27 livros que se encontram em nossa Bíblia.
Como no caso do V.T., não foram os concílios que deram aos livros sua autoridade divina, apenas reconheceram que eles a possuíam.







5 - O Espírito Santo: Autor da Escritura

Por John Piper

2 Pedro 1:20–21: “Sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.”
Em 27 de Junho de 1819, Adoniram Judson batizou seu primeiro convertido em Burma. Sua esposa, Ann Hasseltine, descreveu como Moung Nau respondeu à Escritura: “Poucos dias antes eu estava lendo com ele as palavras de Cristo no Sermão do Monte. Ele estava profundamente impressionado e dotado de uma solenidade incomum. “Estas palavras,” disse ele, “tomaram-me as entranhas; fizeram-me tremer.” Deus falara através do profeta Isaías, 2.700 anos atrás e disse, “… mas, para esse olharei, para o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra…Ouvi a palavra do SENHOR, vós, os que a temeis” (Isaías 66:2, 5).
O Impacto da Bíblia na História
Por dois mil anos, a Bíblia tem se entranhado em diversos homens e os feito tremer—primeiro, de medo, porque revela nossos pecados, então com fé, porque revela a Graça de Deus. Um único versículo, Romanos 13:13, convenceu e converteu o imoral Agostinho. Para Martinho Lutero, um monge miserável, a luz irrompeu através de Romanos 1:17. Diz ele,
Noite e dia ponderei até ver a conexão entre a justiça de Deus e a declaração de que “o justo viverá da fé”. Então eu tomei para mim que a justiça de Deus é essa retidão pela qual, através da graça e pura misericórdia, Deus justifica-nos pela fé. Daí em diante senti que havia renascido e partido por portas abertas para o paraíso. (Here I Stand, p. 49)
Para Jonathan Edwards, foi 1 Timóteo 1:17. Ele disse,
O primeiro exemplo, do qual me recordo, deste tipo de doce deleite interior em Deus e nas coisas divinas, que desde então muito vivenciei, foi na leitura dessas palavras, 1 Tim 1.17: “Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!” Ao ler essas palavras, veio à minha alma … uma impressão da glória do Ser Divino; uma nova sensação diferente de qualquer coisa que eu, antes, experimentara. Nunca quaisquer palavras da Escritura me pareceram como essas. (Works, vol. 1, p. xii)
De século a século, do Egito à Alemanha, da Alemanha à Nova Inglaterra, a Bíblia vem trazendo pessoas a Cristo, renovando-as.
A Bíblia como a Palavra do Homem e a Palavra de Deus
Por quê? Por que a Bíblia tem esta relevância e poder contínuos? Acredito achar a resposta em nosso texto - 2 Pedro 1:20–21: “Sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” Esta passagem ensina que, quando você lê a Escritura, o que você está lendo não vem somente de um homem, mas também de Deus. A Bíblia é uma obra de muitos homens diferentes. Mas também é muito mais que isto. Sim, homens falaram. Eles falaram com sua própria linguagem e estilo. Contudo, Pedro menciona duas outras dimensões do seu falar.
Falar da parte de Deus, Movido pelo Espírito Santo
Primeiro, eles falaram da parte de Deus. O que tinham a dizer não era meramente vindo de suas limitadas perspectivas. Eles não são a origem da verdade que falam; eles são o canal. A verdade é a verdade de Deus. Seu significado é o significado de Deus.
Segundo, não é apenas o que eles falaram da parte de Deus, mas como eles falaram isto, controlados pelo Espírito Santo. “Homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”. Deus não revelou simplesmente a verdade aos autores da Escritura e então partiu, esperando que eles a comunicassem corretamente. Pedro diz que, ao comunicarem-na, eles foram conduzidos pelo Espírito Santo. A confecção da Bíblia não foi deixada às habilidades de comunicação meramente humanas; o próprio Espírito Santo levou o processo à sua completude.
Um livro recente de três ex-professores meus (LaSor, Hubbard, and Bush, Old Testament Survey, p. 15) expressa-o da seguinte maneira,
Para assegurar precisão verbal, Deus, na comunicação de sua revelação, tem de ser verbalmente preciso e a inspiração tem de se estender às próprias palavras. Isto não significa que Deus ditou todas as palavras. Em vez disso, seu Espírito penetrou tanto a mente do escritor, que ele escolheu de seu próprio vocabulário e experiência precisamente aquelas palavras, pensamentos e expressões que exprimiam a mensagem de Deus com precisão. Neste sentido, as palavras dos autores humanos da Escritura podem ser vistas como a Palavra de Deus.
Não apenas Profecias, mas Toda a Escritura
Alguém poderia dizer que 2 Pedro 1:20–21 só tem a ver com profecia, e não com toda a Escritura do Antigo Testamento. Mas observe atentamente como ele argumenta. No verso 19, Pedro diz que uma palavra profética cresceu em sua certeza por sua experiência com Jesus no monte da transfiguração. Então, nos versículos 20–21, ele dá suporte à autoridade dessa palavra profética dizendo que ela é parte da Escritura. Versículo 20: “Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.” Pedro não está dizendo que só as partes proféticas da Escritura são inspiradas por Deus. Ele está dizendo, nós sabemos, que a palavra profética é inspirada precisamente porque é “profecia da Escritura”. A afirmação de Pedro é que tudo quanto está na Escritura é de Deus, escrito por homens que foram conduzidos pelo Espírito Santo.
Ele ensina o mesmo que Paulo em 2 Timóteo 3:16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”. Nenhuma das Escrituras do Antigo Testamento veio de um impulso humano. Toda ela é verdade vinda de Deus, pois homens movidos pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus.
E quanto aos escritos do Novo Testamento?
Mas e quanto ao Novo Testamento? Experimentaram os apóstolos e seus associados próximos (Marcos, Lucas, Tiago, Judas, e o escritor de Hebreus) inspiração divina ao escreverem? Foram eles “conduzidos” pelo Espírito Santo para falarem da parte de Deus? A Igreja cristã sempre disse que sim. Jesus disse aos seus apóstolos em João 16:12–13: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir”. Então o apóstolo Paulo confirma isso quando diz, do seu próprio ensino apostólico, em 1 Coríntios 2:12–13: “Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais”. Em 2 Coríntios 13:3 disse que Cristo falava através dele. E em Gálatas 1:12 ele disse : “Porque eu não o recebi [o evangelho], nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.” Se tomarmos Paulo para nosso modelo sobre o que significa ser apóstolo de Cristo, então seria justo dizer que o Novo Testamento, como o Antigo, não veio meramente de homens mas também de Deus. Os escritores do Antigo e Testamento falaram ao serem movidos pelo Espírito Santo.
O Espírito Santo é o Autor Divino da Escritura
A doutrina que emerge é esta: O Espírito Santo é o autor divino de toda a Escritura. Se esta doutrina é verdadeira, então as implicações são tão profundas e de tão longo alcance que cada parte de nossas vidas deveria ser afetada. Eu quero falar sobre essas implicações nesta manhã. Contudo, para nosso próprio fortalecimento e para aqueles ainda hesitantes às voltas de comprometerem-se com a doutrina, deixe-me primeiro esboçar a base de nossa persuasão.
Chegando a uma Fé Racional nas Escrituras
A maioria das pessoas chega a uma confiança racional na Bíblia como Palavra de Deus de uma maneira semelhante a essa. Isso acontece em três estágios.
1. Nós Somos Culpados Diante de Deus
Primeiro, o testemunho de nossa consciência, a realidade de Deus sob a natureza e a mensagem da Escritura vêm juntas ao nosso coração para nos dar a inescapável convicção de que somos culpados diante de nosso Criador. Essa é uma convicção racional porque a persuasão de que há um Criador sobre este mundo, e a persuasão de que somos culpados por não honrá-lo e agradecê-lo como devemos, não são saltos irracionais no escuro; elas são forçadas sobre nós pela nossa experiência e pensamento sincero sobre o mundo.
2. Jesus Ganha Nossa Confiança
O segundo passo em direção de uma convicção racional de que a Bíblia é a Palavra de Deus, é que Jesus Cristo é mostrado a nós. Alguém lê, ou nos conta a história desse homem incomparável que falou e agiu de modo tão maior que o de um homem. Vemos a autoridade que ele reivindicou para perdoar pecados, e comandar demônios, e controlar a natureza, vemos a pureza de seu ensino moral, sua rendição completa à vontade de Deus, sua calma brilhante sob interrogatório, sua fúria justa contra hipócritas, sua ternura com as crianças pequenas, sua paciência com os humildes que o buscavam, sua submissão inocente à tortura, e ouvimos dos seus lábios as palavras mais doces, mais imprescindíveis, jamais pronunciadas: “Eu dou a minha vida em resgate por muitos.” E então pela força auto-autenticada de seu caráter e poder incomparáveis, Jesus ganha nossa confiança e segurança, e nós o tomamos como Salvador de nosso pecado e Senhor de nossa vida. E isso não é uma convicção irracional. É a maneira como todos vocês tomam decisões racionais sobre a quem vocês vão confiar sua vida. É naquela babá que vocês vão confiar para cuidar de suas crianças, ou naquele advogado para dar bons conselhos, ou naquele amigo para guardar seu segredo? Você olha, escuta, e finalmente é persuadido (ou não) de que aquela pessoa é um terreno firme para sua confiança.
3. Seguimos o Ensino e o Espírito de Jesus
Uma vez que o caráter e o poder de Jesus capturaram nossa confiança, então ele se torna o guia e a autoridade para todas nossas futuras decisões e convicções. Então, o terceiro passo no caminho de uma convicção racional de que a Bíblia é a Palavra de Deus, é deixar o ensino e o espírito de Jesus controlar como nós avaliamos a Bíblia. Isso acontece de pelo menos duas maneiras. Uma é que aceitamos o que Jesus ensina sobre o Antigo e o Novo Testamento. Quando ele diz que a Escritura não pode falhar (João 10:35) e que nem uma letra, ou um ponto, passará da lei até que tudo seja cumprido (Mateus 5:18), concordamos com ele e baseamos nossa confiança no pelo Testamento sobre sua confiabilidade. E quando ele escolheu doze apóstolos para fundar sua igreja, dando-lhes sua autoridade para ensinar, e prometeu enviar seu Espírito para guiá-los na verdade, concordamos com ele e creditamos os escritos desses homens com a autoridade de Cristo.
A outra maneira que o ensino e o espírito de Jesus controlam nossa avaliação da Bíblia, é que reconhecemos, nos ensinamentos da Bíblia, os multi-coloridos raios de luz, refratados através do prisma de Cristo, em quem chegamos a confiar. E assim como Cristo nos capacitou a extrair sentido da nossa relação com Deus e trazer harmonia a esta, também os muitos raios da sua verdade, em toda parte da Bíblia, nos capacitam a extrair sentido de centenas de nossas experiências de vida, e ver o caminho para a harmonia. Nossa confiança na Escritura cresce à medida que compreendemos que Jesus afirmou isto e à medida que compreendemos que os ensinos ali contidos são tão incomparáveis quanto Jesus mesmo. Progressivamente, eles nos ajudam a decifrar os quebra-cabeças da vida: casamentos em falência, crianças rebeldes, vício em drogas, nações em guerra, o retorno das folhas na primavera, as insaciáveis petições do nosso coração, o medo da morte, o nascimento de crianças, a universalidade do louvor e da culpa, o predomínio do orgulho, e a admiração da auto-negação. A Bíblia confirma sua origem divina repetidamente ao nos fazer compreender nossa experiência no mundo real e ao apontar o caminho para a harmonia.
Espero, daqui por diante, que uma das doutrinas que nós nutramos em na Igreja Batista Bethlehem, com força suficiente para morrer por ela (e viver por ela!) é a de que o Espírito Santo é o autor divino de toda a Escritura. A Bíblia é a Palavra de Deus, não meramente a palavra de homens.
Implicações para Tudo na Vida
Ah, se tivéssemos o dia todo para falar sobre as implicações maravilhosas dessa doutrina! O Espírito Santo é o autor da Escritura. Portanto, ela é verdadeira (Salmo 119:142) e totalmente confiável (Hebreus 6:18). É poderosa, operando seu propósito em nossos corações (1 Tessalonicenses 2:13) e não retornando vazia para Aquele que a enviou (Isaías 55:10–11). É pura, como prata refinada na fornalha sete vezes (Salmo 12:6). É santificadora (João 17:17). Dá vida (Salmo 119:37, 50, 93, 107; João 6:63; Mateus 4:4). Torna sábio (Salmo 19:7; 119:99–100). Dá prazer (Salmo 19:8; 119:16, 92, 111, 143, 174) e promete grande recompensa (Salmo 19:11). Dá força aos fracos (Salmo 119:28) e conforto aos perturbados (Salmo 119:76), guia aos perplexos (Salmo 119:105) e dá salvação aos perdidos (Salmo 119:155; 2 Timóteo 3:15). A sabedoria de Deus nas Escrituras é inexaurível.
Quão preciosos para mim são teus pensamentos, ó Deus! Quão vasta é a soma deles! Se eu fosse contá-los, seriam mais que os grãos de areia.








6 - Onde Podemos Achar Algo que Seja...

Por John Piper

1. Verdadeiro e Confiável – "Os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente" (Salmos 19:9). "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (João 17:17; cf. Salmos 119:142; Hebreus 6:17-18).

2. Poderoso – "Não é a minha palavra fogo, diz o SENHOR, e martelo que esmiúça a penha?" (Jeremias 23:29; Isaías 55:10-11).

3. Puro – "As palavras do SENHOR são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes" (Salmos 12:6).

4. Eterno – "A palavra do Senhor permanece para sempre" (1 Pedro 1:25; Salmos 119:160).

5. Vivificador - "A lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma" (Salmos 19:7; Salmos 119:50, 37, 93, 107; Mateus 4:4; João 6:63).

6. Prazeroso – "Tribulação e angústia se apoderaram de mim; mas os teus mandamentos são o meu prazer" (Salmos 119:143, 16, 92, 111, 174; 19:8).

7. Fortalecedor – “A minha alma consome-se de tristeza; fortalece-me segundo a tua palavra" (Salmos 119:28).

8. Esperançoso – “Antecipei-me à alva da manhã e clamei; esperei na tua palavra" (Salmos 119:147, 43, 74, 81).

9. Consolador – “Isto é a minha consolação na minha angústia, que a tua promessa me vivifica" (Salmos 119:50).

10. Conselheiro – “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho" (Salmos 119:105).

11. Salvador – "A salvação está longe dos ímpios, pois não buscam os teus estatutos" (Salmos 119:155).

Portanto, recebamos a palavra de Deus e...

1. Tremamos – “Eis para quem olharei: para o humilde e contrito de espírito,
que treme da minha palavra" (Isaías 66:2).

2. Confiemos – “Confio na tua palavra" (Salmos 119:42).

3. Meditemos – “Bem-aventurado o homem... [que] tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite" (Salmos 1:1-2).

4. Memorizemos – “Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti" (Salmos
119:11).

5. Obedeçamos – “Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos" (Salmos 119:2; Lucas 6:46-49).

6. Cantemos – “Os teus estatutos têm sido os meus cânticos na casa da minha peregrinação" (Salmos 119:54).

7. Compartilhemos – “Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido" (Atos 4:20).

Junto com vocês,
Apaixonado pela palavra de Deus,

Pastor John







7 - A Bíblia Provada e Comprovada – Parte 1

Por Charles Haddon Spurgeon

 “As palavras do SENHOR são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes.” Salmo 12:6

Nesse Salmo, nosso texto é contrastado com o mal da época. O Salmista se queixa “porque se acabaram os piedosos – porque desapareceram os fiéis dentre os filhos dos homens”. Era uma grande aflição para ele, e não encontrou consolo exceto nas palavras do Senhor. Que importa que os homens falhem? A Palavra de Deus permanece! Que alivio é abandonar a areia da controvérsia para ir aos verdes pastos da revelação! Tal pessoa sente o que Noé sentiu, quando, fechado na arca, já não viu mais a morte e desolação que reinava fora.  Viva em comunhão com a Palavra de Deus, e então, ainda que não tenha amigos cristãos, não te faltará companhia.
E mais, o versículo apresenta ainda um contraste maior com as palavras dos iníquos quando se rebelam contra Deus e oprimem Seu povo. Eles diziam: “Por nossa língua prevaleceremos – nossos lábios são nossos – quem é senhor de nós?” se jactavam, tiranizavam, ameaçavam. O Salmista se afastou da voz do jactancioso e acudiu às palavras do Senhor. Viu a promessa, o preceito, e a doutrina da verdade pura, e esses lhe consolaram, enquanto os demais falavam pura vaidade cada um com seu vizinho. Ele não tinha tantas palavras do Senhor como as que possuímos agora: porém, o que ele tinha feito seu por meio da meditação, o valorizava acima de ouro mais valioso. Na boa companhia daqueles que tinham falado sob a direção divina, era capaz de suportar as ameaças dos que o rodeavam.
Assim, querido amigo, se em algum momento lhe corresponde estar em um lugar onde as verdades que você tanto ama são desprezadas, regresse aos profetas e aos apóstolos, escute através deles o que o Senhor Deus falará. As vozes da terra estão repletas de falsidade, mas a palavra do céu é limpíssima. Há uma boa lição prática na posição do texto – aprendam-na bem. Façam da Palavra de Deus sua companhia diária, e então, qualquer coisa que pudesse prejudicá-los na falsa doutrina da hora, não os conduzirá a um abatimento muito profundo; pois as palavras do Senhor sustentarão o espírito.
Olhando o texto, não lhes impacta como uma maravilhosa condescendência que Jeová, o Infinito, decida utilizar palavras? Em Sua sabedoria, Ele estabeleceu essa maneira de comunicação de uns com os outros – porém, quanto a Ele mesmo, que é O espírito puro e ilimitado, comprimirá Seus gloriosos pensamentos em um estreito canal de som, ouvido e nervo? Deve a mente eterna usar palavras humanas? O glorioso Jeová falou mundos. Os céus e terra foram expressões de Seus lábios. Quanto a Ele, parece mais de acordo com Sua natureza falar tempestades e trovões do que inclinar-se às humildes vogais e consoantes de uma criatura do pó. Ele se comunicará verdadeiramente com o homem à própria maneira do homem? Sim, O condescendente a falar-nos utilizando palavras!
Nós bendizemos ao Senhor pela inspiração verbal, da que podemos dizer: “Guardei as palavras de sua boca mais que minha comida.” Não conheço nenhuma outra inspiração, nem sou capaz de conceber alguma que possa ser de verdadeiro serviço para nós. Necessitamos de uma revelação clara sobre a que possamos exercitar a fé. Se o Senhor nos houvera falado por um método cujo significado fosse infalível, mas Suas palavras fossem questionáveis, não teríamos sido edificados, mas antes, confundidos – pois certamente é uma árdua tarefa extrair o verdadeiro sentido de palavras ambíguas. Teríamos sempre o temor de que o profeta ou o apóstolo não nos tivesse dado, depois de tudo, o sentido divino: é fácil ouvir e repetir palavras – porém, não é fácil expressar o que outro quer dizer, com palavras próprias perfeitamente independentes: o significado se evapora com facilidade.
Porém, nós cremos que os homens santos de outrora, ainda que usaram sua própria linguagem, eram guiados pelo Espírito Santo para usar palavras que também eram palavras de Deus. O Espírito divino operava de tal forma no espírito do escritor inspirado, que ele escrevia as palavras do Senhor, portanto, apreciava cada uma delas. Para nós “toda Palavras de Deus é pura”, e também cheia de nutrição para a alma. “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavras que sai da boca de Deus.” (Mateus 4:4) Nós podemos declarar de todo coração com o Salmista, “eu disse que observaria as tuas palavras. (Salmos 119:57)”
Nosso condescendente Deus se agrada tanto de comunicar-se conosco com palavras, que se dignou em chamar a Seu Unigênito de “O Verbo” (João 1:1) “E aquele Verbo foi feito carne, e habitou entre nós.” (João 1:14)  O Senhor usa palavras, não com repugnância, mas sim com prazer – e quer que nós as tenhamos também em alto conceito, como foi dito a Israel por meio de Moisés “Portanto, colocarei essas minhas palavras em vosso coração e em vossa alma.” (Deuteronômio 11:18)
Cremos que temos as palavras de Deus preservadas para nós nas Escrituras. Estamos sumamente agradecidos de que isso seja assim. Se não tivéssemos as palavras do Senhor assim registradas, teríamos sentido que vivíamos em um tempo mal, pois nem voz nem oráculo se escutam hoje. Repito que teríamos caído em dias maus se as palavras que Deus falou desde tempos antigos não se tivessem sido registradas sob Sua supervisão. Com esse Livro diante de nós, o que o Senhor falou faz dois mil anos, virtualmente o fala agora: pois “não retirará Suas palavras” (Isaias 31:2).
Sua palavra permanece para sempre, pois foi falada, não para uma ocasião, mas sim para todas as eras. A Palavra do Senhor é tão afinada com a vida e a frescura eterna, que é muito vocal e poderosa no coração do santo de hoje como foi para o ouvido de Abraão quando a escutou em Canaã – ou para a mente de Moisés no deserto – ou quando Davi a cantava acompanhado de sua harpa.
Dou graças a Deus porque muitos de nós sabemos o que é ouvir a palavra divina falada de novo em nossas almas! Pelo Espírito Santo, as palavras da Escritura veem a nós com uma inspiração presente: o Livro não somente foi inspirado, é inspirado. Esse Livro é mais que tinta e papel; fala conosco. Acaso não foi essa a promessa: “Falarão contigo quando despertes”?
Abrimos o Livro com essa oração, “Fala Senhor, porque teu servo ouve”, e frequentemente o fechamos com esse sentimento: “Eis me aqui, para que me hás chamado?” Sentimos como se a promessa não tivesse sido feita em tempos antigos, antes que está sendo agora mesmo pronunciada pela primeira vez desde a glória excelsa. O Senhor fez que a Santa Escritura fosse Sua palavra direta para nosso coração e para nossa consciência. Não digo isso por todos, porém posso falar com certeza de muitas pessoas aqui presentes. Que o Espírito Santo lhes fale outra vez nesse momento!
Ao tratar de explicar meu texto, consideraremos três pontos. Primeiro, a qualidade das palavras de Deus: “As palavras do SENHOR são palavras puras” – em segundo lugar, as provas das palavras de Deus: “Como prata refinada em forno de terra, purificada sete vezes” – e depois, em terceiro lugar, as demandas dessas palavras derivadas de sua limpeza e de todas as provas que elas experimentaram. Espírito eterno, ajude-me a falar corretamente no consoante a tua própria palavra, e ajuda-nos a sentir corretamente enquanto escutamos.

I. Primeiro, queridos amigos, considerem A QUALIDADE DAS PALAVRAS DE DEUS: “As palavras do SENHOR são palavras puras.”
Desse enunciado eu deduzo, primeiro, a uniformidade de seu caráter. Não se faz nenhuma exceção a nenhuma das palavras de Deus, mas sim que todas elas são descritas como “palavras puras.” Não todas são do mesmo caráter – algumas são para ensino, outras são para consolar, e outras para corrigir – porém, por certo são de um caráter uniforme de tal maneira que todas são “palavras puras.”
Eu concebo que é um mau hábito ter preferências em relação à Sagrada Escritura. Devemos preservar esse volume como um todo. Aqueles que se deleitam com textos doutrinários, mas omitem a consideração de passagens práticas, pecam contra a Escritura. Se pregamos doutrina, eles clamam: “Que doce!” Querem escutar sobre o amor eterno, a graça imerecida, e o propósito divino; e me alegra que assim o queiram. A tais eu lhes digo: comam da grossura e bebam da doçura; e se alegrem porque há ossos cheios de medula nesse Livro. Porém, recordem que homens de Deus, em tempos antigos, se deleitavam grandemente nos mandamentos do Senhor. Sentiam muito respeito pelos preceitos de Jeová, e amavam Sua lei. Se alguém dá as costas e recusa a ouvir sobre os deveres e ordenanças, temo que ela não ama a Palavra de Deus em seu todo. Quem não ama em sua totalidade, não a ama de todo.
Por outro lado, os que se deleitam com a pregação de deveres, mas não dão importância às doutrinas da graça, estão igualmente equivocados. Eles dizem: “valeu a pena escutar esse sermão, pois tem que ver com a vida diária.” Me agrada muito que pensem assim – porém, se, ao mesmo tempo, rejeitam outros ensinos do Senhor, vocês possuem serias falhas. Jesus disse: “O que é de Deus, ouve as palavras de Deus.” Temo que, se consideram que uma porção das palavras do Senhor são indignas de sua consideração, não são de Deus. Amados irmãos, nós valorizamos as palavras do Senhor em toda sua extensão. Não deixamos de lado as histórias, como tampouco as promessas.
“Vou ler as histórias de Teu amor,
E guardar Tuas leis à vista,
Entanto irei recorrer todas as promessas
Com um deleite sempre repleto de frescor.”
Sobre tudo, não caia na blasfêmia de alguns, que consideram o Novo Testamento grandemente superior ao Antigo. Não desejaria errar afirmando que no Antigo Testamento encontrarão maiores barras de ouro que no Novo, pois dessa maneira cairia eu mesmo no mal que condeno – porém, isso direi: que são de igual autoridade, e que projetam tal luz um ao outro, que não poderíamos passar por alto a nenhum dos dois. “Portanto, o que Deus juntou, não o separe o homem.” Em todo o Livro, desde Gênesis até o Apocalipse, encontram-se as palavras de Jeová e sempre serão palavras puras.
Tampouco, é correto que alguém diga: “Assim falou o próprio Cristo; porém tal e tal ensino é de Paulo.” Não, não é de Paulo; se está registrada aqui, é do Espírito Santo. Seja que o Espírito tenha falado por Isaías, ou Jeremias, ou João, ou Tiago, ou Paulo, a autoridade é sempre a mesma. Ainda no relativo a Jesus Cristo nosso Senhor, isso é certo – pois Ele mesmo diz de Si: “A palavra que ouviram não é minha, mas sim do Pai que me enviou.” Nesse assunto, Ele se coloca no mesmo nível de outros que atuaram como a boca de Deus. Além disso, diz: “Porque eu não falei por minha própria conta; o Pai que me enviou, Ele me deu mandamento de o que hei de dizer, e do que hei de falar.”
Nós aceitamos as palavras dos apóstolos como palavras do Senhor, recordando o que João disse: “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.” (1 João 4:6) Assim, um juízo solene é pronunciado sobre os que querem colocar o Espírito de Jesus contra o Espírito que habitou nos apóstolos. As palavras do Senhor não se percebem afetadas em seu valor pelo meio através das quais vieram. Toda a verdade revelada é da mesma qualidade, ainda quando algumas de suas porções não possuem o mesmo peso metálico.
Guiando-nos pelo texto, em continuação observamos a pureza das palavras do Senhor: “as palavras do Senhor são palavras puras”. No comércio existem diferentes tipos de prata, como vocês sabem: prata impura e prata livre de metais inferiores. A Palavra de Deus é prata sem escória; é como prata que foi purificada sete vezes em um crisol de terra no forno, até ter sido despojada de toda partícula sem valor: é prata absolutamente limpa.  Jesus disse: “Tua palavra é a verdade.” (João 17)
É verdade revestida de bondade, sem mescla de mal. Os mandamentos do Senhor são justos e retos. Temos escutado ocasionalmente alguns oponentes que censuram certas expressões toscas utilizadas na tradução que possuímos do Antigo Testamento – porém, a rudeza dos tradutores não deve ser atribuída ao Espírito Santo, mas sim ao fato de que a força do idioma inglês mudou, e algumas expressões que eram muito utilizadas em um determinado período se converteram muito grosseiras em outros períodos. No entanto, irei afirmar isso: que jamais conheci uma só pessoa a quem as palavras de Deus, por si mesmas, lhe sugeriram algo mau. Escutei que se disseram muitas coisas terríveis, mas nunca me encontrei com nenhum caso no que alguém tenha sido conduzido a pecar por uma passagem da Escritura.
As perversões são possíveis e prováveis; porém, o Livro mesmo é eminentemente puro. Detalham-se atos de crassa criminalidade, mas não deixam na mente uma impressão que a lesione. A mais triste história da Santa Escritura é um farol, e jamais uma armadilha. Esse é o Livro mais limpo, mais claro, mais puro, que existe entre os homens – e mais, não se deve listar juntamente com os fabulosos registros que passam por livros santos. Vem de Deus e cada palavra é limpa.
É também um livro puro no sentido de verdade, sendo sem mistura de erro. Não duvido em dizer que eu creio que não há nenhum erro no original das Sagradas Escrituras, de princípio a fim. Pode ter, e há, erros nas traduções, pois os tradutores não são inspirados;  mas, inclusive nos fatos históricos estão corretos. A dúvida foi lançada sobre elas aqui e ali, e algumas vezes com grande demonstração de razão: dúvida que foi impossível de responder por algum tempo, porém tão somente deem suficiente espaço, e suficiente investigação, e as pedras sepultadas na terra gritarão para confirmar cada letra da Escritura.
Velhos manuscritos, moedas e inscrições, estão do lado do Livro, e contra ele não há nada, somente teorias, e o fato de que muitos eventos na história não possuem outro registro fora do que a própria Bíblia nos ministra. O Livro esteve recentemente no forno da crítica – pois, muito desse forno se esfriou devido que a mesma critica é depreciada. “As palavras do Senhor são palavras puras”: não há nenhum erro de nenhum tipo em toda sua extensão. Essas palavras proveem Daquele que não pode cometer erros, e que não pode ter o desejo de enganar a Suas criaturas.
Se eu não cresse na infalibilidade do Livro, preferiria não contar com ele. Se eu fosse julgar o Livro, ele não seria meu juiz. Se fosse a cirandá-lo, como o monte de grãos a ser sacudido, e fizesse isso de um lado e somente aceitasse aquilo outro, de conformidade a meu próprio juízo, então não teria nenhum guia, a menos que fosse o suficientemente arrogante para confiar em meu próprio coração.
A nova teoria nega infalibilidade às palavras de Deus, porém praticamente a concede aos juízos dos homens: pelo menos, essa é toda a infalibilidade que podem conceber. Eu protesto que prefiro arriscar minha alma com uma guia inspirada do céu, do que com lideres que discutem e que se levantam ao chamado do “pensamento moderno.”
Além disso, esse Livro é puro no sentido de confiabilidade: não possui em suas promessas nenhuma mistura de falhas. Observem isso. Nenhuma pregação da Escritura tem falhado. Nenhuma promessa que Deus tenha dado, resultará ser mero falatório. “Ele disse, e não fará?” Tomem a promessa como o Senhor a deu, e a encontrarão fiel a cada jota e til dela. Alguns de nós não temos o direito de sermos chamados “velhos e de cabelos grisalhos”, ainda que os grisalhos sejam bastante notáveis em nossas cabeças – porém até esse ponto temos crido nas promessas de Deus, as provamos e comprovamos; e, qual é nosso veredicto? Dou solene testemunho que não vi uma só palavra do Senhor cair em terra.
O cumprimento de uma promessa foi algumas vezes demorado mais que o período que minha impaciência teria desejado – porém, a promessa se cumpriu no momento preciso, não unicamente ao ouvido, mas também em obra e em verdade. Você pode apoiar todo seu peso sobre qualquer das palavras de Deus, e elas lhe sustentarão. Em sua hora mais escura, você pode estar desprovido de velas, mas se contar com uma só promessa, no entanto, essa luz solitária converterá sua meia-noite em um brilhante meio-dia. Glória seja dada a Seu nome, as palavras do Senhor são sem maldade, sem erro e sem falhas.
Ainda mais, sob esse primeiro ponto, o texto não fala unicamente do caráter uniforme das palavras de Deus, e de sua pureza, mas sim de sua preciosidade. Davi as compara com prata refinada, e a prata é um metal precioso: em outros lugares ele comparou essas palavras com ouro puro. As palavras do Senhor poderiam ter parecido comparáveis ao papel moeda, tais como nossos cheques – mas não, são o metal mesmo. Eu me lembro da época quando um amigo nosso sempre ia aos condados ocidentais, de uma fazenda para outra, para comprar queijo, e tinha o hábito de carregar muitas moedas, pois tinha descoberto que os granjeiros desse período não aceitavam cheques, e nem mesmo queria olhar para eles – porém, estavam propícios em vender o produto quando viam que lhes seria pago em metal, até o último centavo.
Nas palavras de Deus você possui o sólido dinheiro da verdade: não é ficção, mas sim a substância da verdade. As palavras de Deus são como barras de ouro. Quando você as possui manejadas pela fé, possui a substância das coisas esperadas. A fé encontra na promessa de Deus a realidade do que busca: a promessa de Deus é tão boa como seu próprio cumprimento. As palavras de Deus, sejam elas de doutrinas, ou de prática, ou de consolo, são de sólido metal para o homem de Deus que sabe como colocá-las no bolso pela fé pessoal.
Da mesma maneira que nós usamos a prata em muitos artigos de nossos lares, assim usamos a Palavra de Deus na vida diária; tem mil usos. Da mesma forma que a prata é a moeda corrente do comerciante, assim são as promessas de Deus moeda corrente tanto para o céu como na terra: nós tratamos com Deus por Suas promessas, e assim Ele trata conosco.
Como os homens e as mulheres se enfeitam com prata como um ornamento, assim são as palavras do Senhor nossas jóias e nossa glória. As promessas são coisas belas que são um gozo para sempre. Quando amamos a Palavra de Deus, e a guardamos, a beleza da santidade está em nós. Essa é um verdadeiro ornamento do caráter e da vida, e a recebemos com um dom de amor do Esposo de nossas almas.
Amados irmãos, não preciso engrandecer em sua presença a preciosidade da Palavra de Deus. Muitos de vocês a valorizaram por longo tempo, e provaram seu valor. Li recentemente sobre uma cristã alemã que estava acostumada a marcar sua Bíblia sempre que encontrava uma passagem que era especialmente preciosa para ela – porém, aproximando-se do final de sua vida, deixou de fazer isso, pois disse: “eu acho sem necessidade – pois as Escrituras inteiras se converteram agora em algo muito precioso para mim.” Para alguns de nós o inapreciável volume está marcado de principio à fim por nossa experiência. É todo precioso, totalmente precioso:
“Não há tesouros que enriqueçam assim a mente,
Nem Tua palavra será vendida
Por carregamentos de prata bem refinada,
Nem por montanhas do ouro mais escolhido.”
Ainda, esse texto nos apresenta, são somente a pureza e a preciosidade das palavras do Senhor, mas também a permanência delas. São como prata que suportou as chamas mais ferventes. Verdadeiramente, a Palavra de Deus tem suportado o fogo por longas eras – e o fogo aplicado em suas formas mais ferinas: “refinada em forno de terra,” quer dizer, nesse forno que os refinadores consideram        como seu último recurso. Se o diabo tivesse tido a possibilidade de destruir a Bíblia, teria trago os mais incandescentes carvões do inferno. Ele não foi capaz de destruir uma só linha: a prata era colocada em um crisol de terra, para que o fogo pudesse alcançá-la completamente. O refinador está muito seguro de empregar seu calor da melhor maneira conhecida por ele, com o objetivo de derreter a escória – de igual maneira, homens com habilidade diabólica se esforçam por destruir as palavras de Deus, mediante a mais astuta censura. O objetivo deles não é a purificação; e a pureza das Escrituras que os incomoda, e têm por meta destruir o testemunho divino. Seu trabalho é em vão; pois o Livro sagrado todavia permanece como sempre foi, as palavras puras do Senhor; porém, algumas de nossas falsas concepções de seu significado felizmente pereceram em suas chamas.
As palavras do Senhor foram provadas frequentemente, ai, e foram provadas perfeitamente: “Purificada sete vezes.” Quanto falta ainda, não posso adivinhar, mas certamente os processos já foram muitos e severos. Porém, permanece sem mudanças. O consolo de nossos pais é nosso consolo. As palavras que animaram nossa juventude são nosso apoio na idade adulta. “Seca-se a erva, murcha a flor; mas a palavra de nosso Deus permanece para sempre.”
Essas palavras de Deus são um fundamento firme, e nossas esperanças eternas estão sabiamente construídas sobre ele. Não podemos permitir que ninguém nos despoje dessa base de esperança. Em tempos antigos, os homens eram queimados antes que deixassem de ler suas Bíblias; nós suportamos oposições menos brutais, mas que são muito mais sutis e difíceis de resistir. Deixemos-nos guiar sempre por essas palavras eternas, porque elas sempre estarão conosco.
As palavras do Sempre Bendito são sem mudanças e invariáveis. São como prata sem escória, que permanecerá de era em era. Isso é o que cremos, e nisso nos regozijamos. E não é uma carga sobre nossa fé crer na permanência da Santa Escritura, pois essas palavras foram faladas por aquele que é o Onisciente, e tudo o sabe; portanto, não pode haver erros nelas. Foram ditas por quem é Onipotente, e pode fazer tudo; portanto, Suas palavras se cumprirão. Foram pronunciadas por quem é Imutável, e, portanto, essas palavras não sofrerão jamais alteração alguma. As palavras que Deus falou a milhares de anos são verdades nessa hora, pois procedem de quem é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Quem falou essas palavras é infalível, portanto, as palavras são infalíveis. Quando Ele errou alguma vez? Poderia cometer erros e, no entanto, ser Deus? “Ele disse, e não o fará? Falou, e não executará?” Estejam seguros disso: “As palavras do Senhor são palavras puras.”
Porém, o tempo me pressiona para passar para o seguinte ponto.








8 - A Bíblia Provada e Comprovada – Parte 2

Por Charles Haddon Spurgeon

 “As palavras do SENHOR são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes.” Salmo 12:6

II. Em segundo lugar, e muito cuidadosamente, considerem AS PROVAS DAS PALAVRAS DE DEUS.  É dito que são como prata, que foi refinada em um forno. As palavras de Deus foram provadas pela blasfêmia, pelo ridículo, pela perseguição, pela crítica, e por observações ingênuas. Não tentarei elevar-me em oratória ao descrever as provas histórias do precioso metal da revelação divina, mas mencionarei provas de uma ordem comum que observei, e que provavelmente vocês também já o viram. Isso talvez seja mais simples, porém será mais edificante. Que o Senhor nos ajude!
Ao tratar com a obstinação do pecado, temos provado as palavras do Senhor. Existem homens que não podem ser convertidos nem persuadidos – duvidam de tudo, e cerrando os dentes, resolvem não crer, ainda que alguém lhes declare essas palavras. Estão encerrados na armadura do prejuízo, e não podem ser feridos sequer com as mais agudas flechas do argumento, ainda que professem grande abertura à convicção. Que se fará com o numeroso clã aparentado com o Sr. Obstinado? Poderiam muito bem argumentam com um trem expresso que do que com o Sr. Obstinado: ele continua , não de detêm, ainda que milhares se interponham em seu caminho. As palavras de Deus o convencerão?
Há algumas pessoas aqui, das quais eu teria dito, se os tivesse conhecido antes de sua conversão, que era uma tarefa vã pregar-lhes o Evangelho – amavam tanto o pecado, e desprezavam completamente as coisas de Deus. Estranhamente, foram dos primeiros em receber a Palavra de Deus quando escutaram seu som. Veio a eles em sua original majestade, no poder do Espírito Santo; falou com um tom de comando no mais íntimo de seus corações – abriu de par em par as portas que tinham estado fechadas por longo tempo, enferrujadas em suas dobradiças, e Jesus entrou para salvar e reinar. Esses, que tinham desafiadoramente brandido suas armas, as lançaram em terra e se renderam incondicionalmente ao amor todo poderoso, crentes dispostos no Senhor Jesus.
Irmãos, somente devemos ter fé na Palavra de Deus, pregá-la com claridade e precisão, e veremos como os rebeldes orgulhos se submetem. Nenhuma mente está tão desesperadamente pousada na maldade, tão resolutamente oposta a Cristo, que não possa ser guiada a se inclinar diante do poder das palavras de Deus. Oh, que nós usássemos mais a desnuda espada do Espírito! Temo que mantemos essa espada de dois fios em uma funda, e de alguma maneira nos orgulhamos porque a bainha dela está elaboradamente adornada. Para que serve a bainha? A espada deve desembainhar-se, e devemos pelejar com ela, sem que tentemos guarnecê-la. Proclamem as palavras de Deus. Não omitam nem os terrores do Sinai, nem as notas de amor do Calvário. Exponham a palavra com toda fidelidade, segundo seu conhecimento, e clamem pelo poder do Altíssimo, e o mais obstinado pecador fora do inferno será rendido por seu intermédio.
O Espírito Santo usa a palavra de Deus: esse é Seu único aríete com o qual derruba as fortalezas do pecado e do ego naqueles corações com que trata eficazmente. A Palavra de Deus suportará as provas que a dureza do coração natural apresentem, e demonstrará seu origem divina por meio de suas operações.
Aqui começa outra prova. Quando um homem está o suficientemente quebrantado, só percorreu uma parte do caminho. Uma nova dificuldade se levanta.  As palavras do Senhor superarão à desesperação do penitente? O homem se percebe cheio de terror por causa do pecado, e o inferno começou a arder dentro de seu peito. Podem falar-lhe com amor, porém sua alma se recusa a ser consolada, até que lhes apresente as palavras do Senhor para que se confronte com elas: “Sua alma abominou ao alimento.” Diga-lhe de um Salvador agonizante: fique por um instante no tema da graça imerecida e o perdão total – diga-lhe do recebimento do filho pródigo, e do amor imutável do Pai. Ajudado pelo poder do Espírito, essas verdades devem trazer luz aos que estão assentados em trevas.
As piores formas de depressão são curadas quando se crê nas Santas Escrituras. Muitas vezes fico desconcertado, quando estou lutando com uma alma convicta de pecado, incapaz de ver a Jesus – porém, jamais abriguei nenhuma dúvida que, ao fim, as palavras do Senhor se converterão em uma copa de consolação para o coração desfalecido. Podemos estar desconcertados por um tempo, porém com as palavras do Senhor como nossas armas, o Gigante Desesperação não nos derrotará.
Oh, vocês que estão em servidão sob o temor do castigo, vocês alcançarão a liberdade: suas cadeias se romperão se aceitam as palavras de Deus. A palavra de meu Senhor pode abrir amplamente as portas da prisão: Ele rompeu as portas de bronze, e despedaçou as barras de ferro.
Deve ser uma maravilhosa palavra essa que, com uma faca de combate, esmaga o elmo da presunção, e ao mesmo tempo, como dedo de amor, toca a delicada ferida sangrante e a sara instantaneamente. As palavras do Senhor, tanto para quebrantar como para exaltar, são igualmente efetivas.
Em certas circunstâncias, as palavras do Senhor são provadas pela particularidade do que busca. Quão frequentemente algumas pessoas disseram que estavam seguras que não existia ninguém como elas em todo o mundo! Eram homens encurralados: peixes estranhos que nenhum mar podia conter. Agora, se essas palavras são certamente de Deus, serão capazes de tocar qualquer caso: de outra maneira, não. As palavras de Deus foram submetidas a essa prova, e estamos surpreendidos pela sua adaptação universal. Sempre existe um texto que se pode aplicar a cada caso, ainda que seja notável e excepcional. Em algumas circunstâncias, temos escutado de um texto estranho, relativo ao que não podíamos ver antes por que razão tinha sido escrito – no entanto, evidentemente possui uma adequação para alguma pessoa em particular, para quem veio com divina autoridade.
A Bíblia pode ser comparada com o manuseio de chaves de um chaveiro. O chaveiro usa uma a uma, e diz de alguma: “essa é uma chave estranha, certamente não se adequará a nenhuma fechadura existente!” Porém, algum dia o chaveiro será chamado para abrir uma fechadura muito peculiar. Nenhuma de suas chaves funciona. Finalmente, ele escolhe esse espécime singular. Vejam! Entra na ranhura, tira o ferrolho e permite o acesso ao tesouro. Está demonstrado que as palavras desse livro são as palavras de Deus, porque possuem uma infinita adaptação às diversas mentes que o Senhor criou. Com que coleção de chaves contamos aqui no dia de hoje. Não lhes poderia descrever todas que existem: Bramah e Chubb, e todos os demais, não poderiam ter projetado tal variedade: no entanto, estou certo que nesse volume inspirado, há uma chave que em todos os sentidos é adequada para cada fechadura.
Pessoalmente, quando tive problemas, li a Bíblia até que algum texto me pareceu sobressaír do Livro, e me saudasse, dizendo: “Fui escrito especialmente para você.” Me olhou como se a história houvesse estado na mente do escritor quando escreveu essa passagem; e de fato estava na mente desse Autor divino que está por detrás de todas essas páginas inspiradas. Assim, as palavras do Senhor aguentaram a prova de adaptação às singularidades dos homens como indivíduos.
Frequentemente nos encontramos com gente de Deus que provou as palavras de Deusem tempos de tremendas aflições. Aqui faço um apelo à experiência do povo de Deus. Perdeu ao filho amado. Por acaso não houve uma palavra do Senhor para alentá-lo? Perdeu sua propriedade: não houve uma passagem das Escrituras que o permitiu enfrentar o desastre? Tem sido caluniado: não houve uma palavra para consolá-lo? Estava enfermo e ao mesmo tempo deprimido: o Senhor não te proveu de consolo nessas circunstâncias? Não multiplicarei as perguntas: o fato é que você jamais esteve por cima sem que a Palavra de Deus não estivesse ali contigo; e jamais esteve por baixo, sem que a Escritura não estivesse ali contigo.
Nenhum filho de Deus encontrou-se alguma vez em uma vala, um buraco, uma cova ou um abismo, sem que as palavras de Deus não o encontrassem. Que frequente as promessas cheias de graça estão emboscadas para nos surpreender com suas misericórdias! Eu adoro a infinitude da bondade de Deus, segundo vejo refletida no espelho da Escritura.
A Palavra de Deus está provada e comprovada como uma guia na perplexidade. Algumas vezes não nos percebemos forçados a fazer uma pausa e declara: “Não sei o que pensar disso”? Ou: “qual é a opinião adequada?” Esse livro é um oráculo para o homem de sincero coração em sua perplexidade mental, moral e espiritual. Oh, que o usássemos mais! Tenham por certo que nunca se encontrarão em meio de um labirinto tão complicado de onde esse livro, abençoado pelo Espírito, não os possa ajudar a sair. Essa é a bússola para todos os marinheiros que navegam no mar da vida: usando ela, saberão onde encontrar o pólo. Guiem-se pelas palavras do Senhor, e terão o caminho livre.
Amados, as palavras de Deus aquentam outra prova; são nossa defesa nos tempos de tentação. Você pode escrever um livro que ajude um homem quando é tentado em certa direção; mas, por acaso, o mesmo volume o fortalecerá quando é atraído na direção oposta? Podem conceber um livro que se constitua em uma cerca que rodeie o homem em todas as direções? Que o guarde daquele abismo, e do golfo que está do outro lado? Não, no entanto, esse Livro assim o é.
O próprio diabo não pode inventar uma tentação que não possa ser enfrentada com essas páginas; e todos os diabos juntos que estão no inferno, se sustentassem um congresso, e chamassem em sua ajuda todos os homens perversos, não poderiam inventar um ardil que não se possa enfrentar com essa biblioteca de verdade sem igual. Alcança ao crente em cada condição e posição, e o preserva do mal. “Com que o jovem purificará seu caminho? Guardando Tua palavra.”
Finalmente, sobre esse ponto, aqui encontramos uma grandiosa prova do Livro: ajuda aos homens em sua morte. Creiam-me, morrer não é uma brincadeira de crianças! Vocês e eu nos encontraremos nessa solene situação antes que demos conta, e então necessitaremos de um poderoso consolo. Nada na terra me dá tanto sustento na fé, como visitar a membros dessa igreja quando estão no umbral da morte. É muito triste ver como se consomem ou como a dor os tortura – no entanto, o principal efeito que se produz no visitante é mais bem alegre do que triste.
Essa semana, vi uma irmã muito conhecida por muitos de vocês, que sofre de câncer na face, e pode, muito provavelmente, estar muito logo com seu Senhor. É uma aflição terrível, e uma pessoa não sabe o que pode ainda implicar – porém, essa paciente cheia de graça, nem murmura nem sente temor. Ninguém nesse lugar, ainda que desfrute de perfeita saúde, poderia estar mais calmo, mais tranquilo, que nossa irmã. Ela me disse com plena confiança, que viva ou morta, ela pertence ao Senhor, e que tinha radiantes desejos de estar para sempre com o Senhor. O pouco que podia dizer com sua voz era completado com toda a abundância que expressava com seus olhos, e com todo seu comportamento. Ali não havia nem excitação, nem fanatismo, nem ação alguma de medicamentos no cérebro – o que havia era uma quieta esperança do gozo eterno, docemente razoável e segura.
Irmãos, não é difícil partir desse mundo quando descansamos nesse velho e seguro Evangelho que lhes preguei durante todos esses anos. Pessoalmente eu posso, quer seja viver ou morrer, nessas verdades que lhes proclamei – e essa segurança me dá valentia quando prego.

Não faz muito tempo, eu estava sentado junto de um irmão que se aproximava de seu fim. Eu lhe perguntei: “Não tem medo da morte?” Ele me respondeu com alegria: “Me envergonharia de mim mesmo se o tivesse, depois de tudo o que aprendi de seus lábios sobre o evangelho glorioso durante todos esses anos. É  uma alegria partir e estar com Cristo, o que é muito melhor.” Agora, se esse volume inspirado, com todo seu maravilhoso registro das palavras de Deus, nos ajuda nas provas da vida, nos dirige em nosso caminhar diário, e nos capacita para superar a ultima grande tormenta, certamente é precioso mais alem de toda descrição, “como prata refinada em forno de terra, purificada sete vezes.”






9 - A Bíblia Provada e Comprovada – Parte 3

Por Charles Haddon Spurgeon

 “As palavras do SENHOR são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes.” Salmo 12:6

III. Agora, em terceiro lugar, O QUE AS PALAVRAS DO SENHOR EXIGEM?
As exigências dessas palavras são muitas. Primeiro, merecem ser estudadas. Amados, posso suplicar-lhes que pesquisem constantemente a Escritura inspirada? Você diz: “aqui tenho a ultima novela que saiu! O que devo fazer com ela?” Jogue-a fora. “Aqui tenho outra peça de ficção que se converteu sumamente popular. Que farei com ela?” Deixa-a de lado, ou deixe-a cair entre as barras da grade onde você se encontra. Esse sagrado volume é a mais recente das novelas. Para alguns de vocês será um livro eternamente novo.
Nós contamos com um grupo que ministra Bíblias à leitores, porém necessitamos em grande medida de leitores da Bíblia. Lamento que inclusive entre algumas pessoas que levam o nome de ‘cristão’, a Escritura Sagrada é o livro menos lido de suas bibliotecas. Alguém perguntou sobre um pregador, outro dia: “Como você mantêm sua congregação? Dá sempre algo novo para o povo?”. “Sim” o outro respondeu, “ele lhes fornece o Evangelho; nesses dias, isso é o mais novo que saiu.” Certamente assim é; o velho, velho Evangelho é algo sempre novo. A doutrina moderna é somente nova de nome; não é nada, depois de tudo, senão uma confusa mescla de rançosas heresias e de mofadas especulações.
Se o Senhor registrou Suas palavras em um Livro, esquadrinhem suas páginas com um coração crente. Se não o aceitam como palavra inspirada de Deus, não posso convidá-los a prestar-lhe uma atenção particular; porém, se o consideram como o Livro de Deus, os exorto, assim como irei encontrá-los no trono de juízo de Cristo, para que estudem a Bíblia diariamente. Não tratem ao Eterno Deus sem o devido respeito, mas sim se deleitem na Sua Palavra.
Vocês a leem? Então, creiam nela. Oh, anelem crer intensamente em cada palavra que Deus falou! Não a considerem como um credo morto, mas sim deixem que os sustente com sua mão todo-poderosa. Não sustentem nenhuma controvérsia com alguma das palavras do Senhor. Creiam sem nenhuma mistura de dúvida. Ao irmão do famoso Unitário, o Dr. Priestly, se permitiu pregar em lugar de seu irmão, em sua capela de Birmingham; porém, lhe foi solicitado que não escolhesse nenhum tema controverso. Ele obedeceu suas instruções ao pé da letra, mas foi rebelde contra seu espírito, vendo que adotou o texto: “E indiscutivelmente grande é o mistério da piedade: Deus foi manifestado em carne.”
Certamente não há nenhuma controvérsia entre os homens espirituais em relação à gloriosa verdade da encarnação de nosso Senhor Jesus. Assim também, todas as palavras do Senhor estão fora da região de debate: para nós são certezas absolutas. Enquanto uma doutrina não se converta em certeza absoluta para um homem, jamais poderá conhecer sua doçura: a verdade tem pouca influência na alma enquanto não seja crida com plenitude.
Continuando, obedeçam ao Livro. Façam como liberdade, façam de todo coração, façam constantemente. Não se apartem do mandamento de Deus. Que o Senhor os fala perfeitos em toda boa obra, para fazer Sua vontade! “Fazei tudo o que os disser.” Vocês que não são convertidos, obedeçam a palavra do Evangelho: “O que crer e for batizado, será salvo.” O arrependimento e a fé são  por sua vez os mandamentos e os dons de Deus; não descuide deles.
Alem disso, essas palavras de Deus devem ser preservadas. Não renunciem a uma só linha da revelação de Deus. Talvez não saibam a particular importância do texto assediado, porém não lhes corresponde a vocês calcular o valor proporcional das palavras de Deus: se o Senhor falou, estejam preparados a morrer pelo que Ele disse. Sempre me perguntei se, de acordo com os conceitos de algumas pessoas, existe alguma verdade pela qual valha a pena que um homem morra na fogueira. Eu diria que não, pois não estamos seguros de nada, de acordo aos conceitos modernos. Valeria à pena morrer por uma doutrina que pode ser mentira na semana seguinte? As descobertas recentes podem mostrar que temos sido vítimas de uma opinião antiquada: Não seria melhor que esperássemos para ver o que passa? Seria uma desgraça morrer na fogueira muito logo, ou ficar preso por um dogma que, em poucos anos, será substituído.
Irmãos, não podemos suportar essa teologia volúvel. Que Deus nos envie uma raça de homens que tenham firmeza! Homens que creiam em algo, e que estejam dispostos a morrer por suas crenças. Esse Livro merece o sacrifício de todo nosso ser, para manter cada uma de suas linhas.
Crendo e defendendo a Palavra de Deus, então, a proclamemos. Saiam essa tarde, nesse primeiro domingo de verão, e preguem nas ruas as palavras de vida. Saiam para alguma reunião em alguma casa, ou a um escritório, algum albergue, e declarem as palavras divinas. “A verdade é poderosa e prevalecerá,” afirmam: porém, não prevalecerá se não se dá a conhecer. A própria Bíblia não faz maravilhas a menos que suas verdades sejam publicadas por onde quer que seja. Preguem entre os pagãos que o Senhor reina desde a cruz. Preguem, em meio das multidões que o Filho de Deus veio para salvar aos perdidos, e que qualquer que creia Nele terá vida eterna. Falam saber a todos os homens que “De tal maneira Deus amou o mundo, que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele creia, não se perda, mas tenha a vida eterna.” Isso não se fez em algum canto escondido: não o guardem como um segredo. Vão por todo o mundo, e preguem o Evangelho a toda criatura – e que o Senhor lhes abençoe! Amém.
Porções da Escritura lidas antes do sermão: Salmo 12 e Salmo 119: 137-152.








10 - Prefácio da Epístola aos Romanos por Lutero

Esta Epístola é realmente a parte principal do Novo Testamento e o mais puro Evangelho, sendo digna não apenas que todo cristão a conheça, de coração, palavra por palavra, mas que se ocupem diariamente com ela, como o puro pão diário da alma. Seu conteúdo jamais pode ser esgotado, e quanto mais nos dedicamos ao seu estudo, mais preciosa se torna, e mais saborosa fica.
E assim, na medida em que Deus me der o seu poder para abrir caminho com este prefácio, eu farei o melhor que posso a fim de ser compreendido por todos. Pois, até então, esta Epístola tem sido maldosamente obscurecida com comentários sem utilidade, mas ela é, em si mesma, uma luz brilhante quase suficiente para iluminar toda a Escritura.
Primeiramente devemos ter conhecimento de sua linguagem e saber o que Paulo pretendia dizer com palavras como lei, pecado, graça, fé, justiça, carne, espírito e etc., pois, do contrário, a leitura não terá o menor valor.
Pelo simples termo “lei”, você não deve ter em mente aqui o seu entendimento comum, como o que deve ou não ser feito, pois este seria o padrão humano da lei, ou seja, aquilo que deve ser cumprido, mesmo que o coração não esteja envolvido no processo.
Porém Deus julga de acordo com o que está no profundo do coração, e por essa razão sua lei estabelece exigências sobre o mais íntimo do coração, as quais não podem ser satisfeitas com obras. Por outro lado, Sua lei pune as obras que não são realizadas do mais profundo do coração, como a hipocrisia e a mentira. Em razão disso, todos os homens são chamados mentirosos (Salmo 116) pela fato de que ninguém guarda ou não pode guardar a lei de Deus do fundo do coração, pois todos encontram em si mesmos desgosto por aquilo que é bom e prazer naquilo que é mau. Logo, se não há disposição prazerosa naquilo que é bom, então, interiormente, não há cumprimento da lei de Deus, pois ali certamente há pecado, e a ira de Deus é merecida mesmo que externamente seja apresentada uma vida honrada e com boas obras.
Desta forma, no capítulo 2, Paulo conclui que todos os judeus são pecadores, e diz que os que cumprem a lei são justos diante de Deus. Isso significa que ninguém por suas obras é um cumpridor da lei; mas contrariamente lhes diz: “Ensinas a não cometer adultério, mas tu o cometes,” e “No que julgas o outro, a ti mesmo te condenas, pois praticas as próprias coisas que condenas”; como se diz, “Externamente vives bem a lei, e julgas aqueles que não a vivem, e sabes como ensinar a cada um; tu vês o cisco no olho dos outros, mas não vês a trave no teu.”
Pois mesmo que com tuas obras cumpras a lei motivado por medo da punição ou amor à recompensa, contudo, farás tudo isso sem disposição e prazer, sem amor para com a lei, mas sim de má vontade, sob compulsão; se a lei não estivesse lá, você preferiria fazer outra coisa. A conclusão é que no fundo do seu coração odeias a lei. O que importa, então, se você ensina os outros a não roubar se você é um ladrão no coração, que gostaria de ser também um externamente caso pudesse? Embora, com certeza, a obra externa não está muito atrás de tais hipócritas! Assim ensinas os outros, mas não ensinas a ti mesmo; e tu mesmo não sabes o que ensinar, e nunca tiveste um entendimento correto da lei. Não, a lei aumenta o pecado, como diz o capítulo 5, pelo fato que quanto mais a lei exige o que o homem não pode fazer, mas eles a odeiam.
Por essa razão ele diz no capítulo 7: “A lei é espiritual.” O que é isso? Se a lei fosse para o corpo, ela poderia ser satisfeita com obras; mas desde que ela é espiritual, ninguém pode satisfazê-la dessa forma, a menos que tudo o que se faz seja feito do fundo do coração. No entanto, somente o Espírito de Deus pode dar um novo coração capaz de fazer o homem andar de conformidade com a lei, levando-o a desejá-la no seu coração, e assim levando-o a não fazer mais nada por medo ou constrangimento, e sem a devida disposição de coração. É assim que a lei é espiritual, a qual será amada e cumprida por um coração espiritual habitado pelo Espírito. Se o Espírito não está no coração, ali o pecado permanece, juntamente com a inimizade e o desprazer para com a lei; apesar de ser a lei boa, justa e santa.
Habitue-se, então, com esta linguagem e você perceberá que fazer o trabalho da lei e cumprir a lei são duas coisas muito diferentes. A obra da lei é tudo o que se faz ou que pode ser feito voluntariamente para com as próprias forças guardar a lei. Porém, uma vez que todas essas obras são realizadas sem o devido prazer ou não provém de correta compulsão para guardar a lei, todas elas são perdidas e não possuem valor. Isso é o que Paulo quer dizer no capítulo 3, quando diz: “Por obras da lei ninguém será justificado diante de Deus.” Nisso você pode ver que os argumentadores e sofistas são enganadores quando ensinam que os homens devem se preparar para a graça por meio das obras. Como pode um homem se preparar para o bem por meio das obras, se ele não faz boas obras sem desgosto e indisposição de coração? Como poderá agradar a Deus com um coração relutante e resistente?
Para cumprir a lei, no entanto, é preciso viver com prazer, amor e, sem a obrigatoriedade da lei, ser livremente piedoso. É o Espírito Santo quem põe este prazer e amor pela lei no coração, como ele diz no capítulo 5: Mas o Espírito Santo não é dado, exceto em, com e pela fé em Jesus Cristo, como ele diz na introdução; e fé não vem, senão somente pela Palavra de Deus ou pelo Evangelho que prega a Cristo como homem e Filho de Deus, que morreu e ressuscitou por nossa causa, como ele diz nos capítulos 3, 4 e 10.
Daí vem que somente a fé aplica a justiça e completa a lei; o que jamais ocorreria fora dos méritos de Cristo, os quais são trazidos pelo Espírito que faz com que o coração se alegre livremente como deseja a lei. Dessa forma, as boas obras provêm da fé. Isto é o que ele quer dizer no capítulo 3, após ter rejeitado as obras da lei, de modo que soa como se fosse abolir a lei pela fé; “Não”, ele diz, “nós estabelecemos a lei pela fé”, isto é, nós a cumprimos pela fé.
Pecado, na Escritura, não se relaciona apenas com obras externas do corpo, mas com toda a atividade interna, do íntimo do coração, que leva o homem com todas as suas forças a praticar essas obras. Assim, o breve termo “fazer” deve significar que um homem cai no pecado e anda no pecado. A princípio, isso não tem a ver apenas com obras pecaminosas externas, a menos que um homem se entregue de corpo e alma ao pecado. As Escrituras olham especialmente para o coração e tem em conta a raiz e a fonte de todo pecado que é a incredulidade no intimo do coração. Como, portanto, somente pela fé alguém se torna justo através da obra do Espírito, o qual gera prazer para com as coisas boas e eternas, assim também a incredulidade proporciona tal pecado, que trazido à carne, produz prazer em más obras tal como aconteceu com Adão e Eva no Paraíso.
Assim Cristo chama a incredulidade de único pecado quando diz em João 16: “O Espírito repreenderá o mundo por pecar, porque eles não creem em mim.” Por esta razão, também, antes das obras boas ou más serem feitas, ou seja, dos frutos, primeiramente existe no coração a fé ou a incredulidade, que é a raiz, a seiva proveniente do chefe do poder de todos os pecados. E este é nas Escrituras conhecido como o cabeça da Serpente e o velho dragão que pela semente da mulher, Cristo, será pisado como foi prometido a Adão em Gênesis 3.
Entre graça e dom há uma diferença. Graça significa propriamente o favor de Deus ou a boa vontade de Deus para conosco, no qual Ele se dispõe a nos dar Cristo e a derramar seu Espírito Santo e seus dons sobre nós. Isto fica claro no capítulo 5 que fala da “graça e dádiva em Cristo.” Os dons e o Espírito aumentam em nós diariamente, embora ainda não sejam perfeitos, e ainda que em nós permaneça a presença do mal e do pecado que guerreia contra o Espírito, como Paulo menciona em Romanos 7 e Gálatas 5, e na disputa entre a semente da mulher e a semente da serpente conforme predito em Gênesis 3. Contudo, a graça faz muito mais a ponto de sermos achados completamente justos diante de Deus. Pois sua graça não está dividida ou fragmentada, como acontece com os dons, mas por causa de Cristo nosso intercessor e mediador e daquelas dádivas que já foram iniciadas em nós, a graça nos toma inteiramente no seu favor.
Neste sentido, então, você pode entender porque Paulo, no capítulo 7, refere-se a si mesmo como um pecador, apesar da falta de completude dos dons e do Espírito, ele diz ainda, no capítulo 8, que nenhuma condenação há para os que estão em Cristo. Por não estar a carne definitivamente morta, nós ainda somos pecadores; porém por crermos e termos as primícias do Espírito, Deus nos é tão favorável e gracioso que não nos imputa pecado, nem nos julga por isso, mas, até a destruição final do pecado, lida conosco segundo a fé que temos em Cristo.
Fé não tem a ver com uma noção humana puramente imaginativa como alguns sustentam, pois isto não é seguido por aperfeiçoamento de vida e boas obras. E ainda que possam ouvir muitas coisas sobre a fé, contudo caem no erro quando dizem: “A fé não é suficiente, é preciso fazer obras, a fim de ser justificado e salvo”. Esta é a razão porque ao ouvirem o Evangelho criam para si mesmos uma compreensão que lhes faz dizer: “Eu creio”. Apesar de terem isso por fé verdadeira, todavia não passa de mera imaginação que jamais alcança o coração e nunca produz bem algum.
No entanto, fé é uma obra divina operada pelo Espírito em nós. Ela nos transforma e nos faz nascer de novo (João 1); ela mata o velho Adão e nos faz homens completamente diferentes de coração, no espírito, na mente e nas forças. Essa vida na fé é completa, ativa e poderosa; e por isso é impossível não estar completamente envolvido com boas obras. Ela não questiona se há boas obras para serem feitas, mas antes que se pense nisso, já as fez e está sempre a fazer. Aquele que não faz estas obras é um homem sem fé. Ele tateia e olha, porém nunca sabe o que é fé e boas obras, embora fale muito sobre isso.
Fé é uma confiança tão viva na graça de Deus que de modo certo e seguro o homem seria capaz de arriscar sua vida mil vezes nisso. Esta confiança na graça e no conhecimento de Deus gera homens felizes e confiantes no que concerne as coisas de Deus e de toda a criação; este é o trabalho do Espírito Santo através da fé. Assim um homem está pronto e feliz, não precisando ser pressionado para servir ou fazer o bem a alguém, ou para sofrer todas as coisas por amor e louvor ao Deus que tem lhe mostrado a sua graça. Assim, é impossível separar as obras da fé, tanto quanto é impossível separar o calor das chamas. Cuidado, portanto, com suas noções falsas e com os faladores inativos que se consideram sábios o suficiente para definirem o que querem em termos de fé e boas obras. Estes são os maiores tolos. Ore a Deus para produzir fé em você, pois, do contrário, sempre permanecerá sem fé em seus pensamentos e obras.
A “Justiça de Deus” ou “a justiça que provém de Deus” é dada ao pecador que pode contá-la como sua por causa de Cristo, nosso Mediador. Por meio da fé o homem se torna sem pecado, passando a ter prazer nos mandamentos de Deus; assim, ele dá a Deus a honra que lhe é devida e lhe tributa o que deve, inclusive servindo de boa vontade o seu próximo. Dessa forma, ele não deve nada a ninguém. Essa justiça, a natureza, nossa vontade e todas as nossas forças não podem produzir nada. Ninguém pode por força própria produzir fé ou arrancar a sua própria incredulidade; como, então, alguém poderia expiar um único pecado, mesmo o menor? É assim que tudo o que é feito sem fé é falso; é hipocrisia e pecado, não importando quão bom tenham sido os seus feitos (Romanos 14).
Então, você não deve achar que a carne tem a ver apenas com as coisas impuras e o espírito apenas com as coisas interiores do coração. Tanto Paulo quanto Cristo em João 3 chamam a “carne” de coisas nascidas da carne, pois referem-se ao homem como um todo com corpo e alma, mente e sentidos, pois todo o seu ser anseia pela carne. Assim vocês devem tratar como carnal quem pensa, ensina e fala sobre grandes assuntos espirituais sem possuir a graça de Deus. Sobre as obras da carne de Gálatas 5, você pode observar que Paulo chama de heresia e odeia as obras da carne; e em Romanos 8 ele diz que a lei se tornou enferma pela carne, e isto não se refere à falta de castidade, mas a todos os pecados, sobretudo a incredulidade, que é o mais espiritual de todos os vícios. Por outro lado, ele chama de espiritual alguém ocupado com os trabalhos mais externos da vida como Cristo que lavou os pés dos discípulos e Pedro que conduziu seu barco para uma pescaria. Assim o termo “carne” pode se referir a um homem que vive e trabalha, interna ou externamente, no serviço temporal; e o termo “espírito” ao homem que, interna ou externamente, vive e trabalha a serviço do Espírito e da vida futura.
Sem a compreensão destas palavras, você não entenderá esta carta de Paulo e nenhum livro das Sagradas Escrituras. Portanto, cuidado com todos os mestres que usam estas palavras num sentido diferente, não importando se esses professores sejam até mesmo Jerônimo, Agostinho, Ambrósio, Orígenes ou quaisquer outros como ou maiores que esses. Agora já podemos abrir a Epístola.
Primeiramente, é justo que um pregador do Evangelho, por uma revelação da lei e do pecado, reprove e mostre que o pecado não é o fruto vivo do Espírito e da fé em Cristo a fim de que os homens sejam levados a conhecerem a si mesmos, percebendo as suas próprias misérias e tornando-se humildes a ponto de clamarem por socorro. Isto é o que Paulo faz! Logo no início, no Capítulo 1, ele reprova os graves pecados e a incredulidade que foram e ainda são, claramente, evidenciados como os pecados dos pagãos que vivem sem a graça de Deus.
Ele diz: “A ira de Deus é revelada do céu pelo Evangelho, sobre todos os homens por causa de suas impiedades e injustiças. Porque ainda que saibam e diariamente reconheçam que há um Deus, no entanto, a própria natureza, sem a graça de Deus, é tão má que não são capazes de lhe agradecer e nem honrá-lo. É assim que indo de mal a pior caem numa idolatria cega que os leva a cometerem os pecados mais vergonhosos, com todos os vícios, e nem mesmo se envergonham disso, mas, pelo contrário, ainda incentivam outros a fazerem coisas tão vis e repreensíveis quanto as suas.
No capítulo 2, Paulo estende esta repreensão ainda mais longe, direciona-a para aqueles que exteriormente parecem ser justos, mas pecam em secreto. Tais eram os judeus e tais são todos os hipócritas que, sem o desejo ou amor pela lei de Deus, levam uma boa vida, mas odeiam a lei de Deus em seus corações, e ainda são propensos a julgarem outras pessoas. É esta a natureza de todos os hipócritas que apesar de se julgarem puros, estão cheios de cobiça, ódio, orgulho e toda imundícia (Mateus 23). Estes são os que desprezam a bondade de Deus e pela sua dureza acumulam para si mesmos ira. Assim, Paulo, como um fiel intérprete da lei, não permite que ninguém se considere sem pecado, mas proclama a ira de Deus sobre todos os que vivem pela sua própria natureza e vontade, fazendo-os se perceberem como pecadores. Na verdade, Paulo os reputa como endurecidos e impenitentes.
No capítulo 3, ele põe todos juntos e diz que um é como o outro. Todos são pecadores perante Deus, exceto que os judeus tiveram a Palavra de Deus. Com certeza, muitos não creram nela, mas isso não significa que a fé e a verdade de Deus perderam seu valor. Paulo ainda cita uma parte do Salmo 51 que diz que Deus permanece justo em suas palavras. Depois disso, Paulo volta novamente ao tema para provar pelas Escrituras que todos são pecadores e que por obras da lei ninguém é justificado, pois a lei foi somente dada para que o pecado pudesse ser conhecido.
Então, Paulo começa a ensinar a maneira correta pela qual os homens devem ser justificados e salvos. Ele diz que todos são pecadores e sem louvor algum da parte de Deus, mas que devem ser justificados, sem méritos, mediante a fé em Cristo, que, pelo seu sangue, comprou isso para nós, sendo oferecido como propiciação a Deus por todos os nossos pecados, provando assim que fomos ajudados somente por sua justiça, que nos concede a fé revelada no Evangelho “anteriormente testemunhado pela lei e pelos profetas”. Assim, a lei é estabelecida pela fé, embora, por isso, as obras da lei tenham caído juntamente com toda a reputação que concediam.
Após os primeiros três capítulos, no qual o pecado é revelado e o caminho da fé para a justificação é ensinado, no capítulo 4, Paulo começa a levantar algumas objeções. Primeiro, ele aponta o que todos os homens normalmente fazem quando ouvem falar de uma fé que justifica sem obras. Eles dizem: “Então os homens não fazem boas obras?” Dessa forma, ele toma o caso de Abraão e pergunta: “Então, o que alcançou Abraão com as suas boas obras? Foram todas em vão? Ele conclui que Abraão foi justificado pela fé, sem obras, e mais que isso, as próprias Escrituras, em Gênesis 15, declaram que ele foi justificado pela fé somente, mesmo antes da circuncisão. Mas se o trabalho da circuncisão em nada contribuiu para a sua justiça, embora tenha sido ordenada por Deus, sendo uma boa obra de obediência, então, certamente, nada mais poderá contribuir para a justiça. Por outro lado, se a circuncisão de Abraão foi um sinal externo pela qual ele mostrou a justiça que já era sua pela fé, então todas as boas obras são apenas sinais externos que por seus frutos mostram que o homem já foi interiormente justificado diante de Deus.
Com esta poderosa ilustração das Escrituras, Paulo estabelece a doutrina da fé que ele já havia ensinado no capítulo 3. Ele também apresenta outra testemunha, Davi, que no Salmo 32 diz que o homem é justificado sem obras, embora ele não permaneça sem obras após ter sido justificado. Assim ele dá uma ilustração mais ampla e conclui que os judeus não podem ser herdeiros de Abraão somente por questões de sangue, nem ainda por cumprirem a lei, mas, caso sejam verdadeiros herdeiros, o serão pela fé. Porque antes da lei – a de Moisés ou a da circuncisão – Abraão foi justificado pela fé e chamado o pai dos que creem; além disso, a lei opera ira em vez de graça, pois ninguém a guarda com prazer e amor, de modo que o que vem pelas obras da lei é desgraça ao invés de graça. Por isso, somente pela fé se obtém a graça prometida a Abraão, pois estes exemplos foram registrados por nossa causa a fim de que também viéssemos a crer.
No capítulo 5, Paulo trata dos frutos e das obras da fé, tais como paz, alegria, amor a Deus e a todos os homens, confiança, ousadia, coragem, esperança na tribulação e sofrimento. Porque quando há fé verdadeira todas estas coisas acompanham o crente, devido a superabundante bondade que Deus nos mostra em Cristo, de modo que ele o entregou à morte por nós antes que pudéssemos lhe pedir isso, ou melhor, quando ainda éramos seus inimigos. Assim, temos uma fé que justifica sem obras, e isso não significa que estamos isentos da prática de boas obras, mas sim que elas nos acompanharão. Destas justas obras dos santos não sabemos nada, mas, certamente, nos seguirão paz, alegria, confiança, amor, esperança, ousadia e as qualidades da verdadeira fé e obra cristã.
Depois disso, Paulo faz um agradável passeio e comenta sobre a procedência do pecado e da injustiça, da morte e da vida, fazendo uma comparação entre Adão e Cristo. Ele diz que Cristo tinha que vir como segundo Adão para nos legar sua justiça através do novo nascimento mediante a fé, tal como o primeiro Adão nos legou o pecado através do antigo nascimento carnal. Assim, ele declara, e confirma isso, que o primeiro por suas próprias obras poderia ajudar a sair do pecado apenas se impedisse o nascimento do seu próprio corpo. Isso é provado pelo fato de que a lei divina que deveria contribuir para a justiça, se alguma coisa pode, não só não ajudou como também aumentou o pecado, pois quanto mais a lei proíbe, mais nossa natureza má a odeia, e mais quer dar asas à sua própria concupiscência. Assim, a lei de Cristo faz-se ainda mais necessária e mais a graça é indispensável para ajudar a nossa natureza.
No capítulo 6, Paulo retoma o assunto da obra especial da fé, do conflito entre a carne e o espírito, visando ao completo assassinato do pecado e da luxúria que ainda permanecem mesmo depois de sermos justificados. Ele nos ensina que pela fé nós não somos tão livres do pecado que podemos viver ociosa e descuidadamente como se o pecado não residisse em nós. Há pecado, mas esse já não é mais contado para a condenação por causa da fé que está em oposição. Portanto, temos o suficiente para ao longo de nossa vida domesticarmos o corpo, aniquilarmos suas concupiscências e compelirmos os seus membros à obediência ao espírito, e não à luxúria, de forma que nossa vida se torne como a morte e ressurreição de Cristo, completando o nosso batismo que significa a morte para o pecado e a vida nova na graça até que sejamos completamente livres do pecado, e até que os nossos corpos sejam ressuscitados com Cristo e vivam eternamente.
É o que podemos fazer, diz Paulo, porque estamos na graça e não na lei. Ele mesmo explica que ficar sem a lei não é a mesma coisa que não ter lei e ser capaz de fazer aquilo que agrada; mas nós estamos debaixo da lei quando, sem a graça, nos ocupamos no trabalho da lei. Então o pecado certamente governa pela lei, pois ninguém ama a lei por natureza, o que é grande pecado. A graça, porém, torna a lei querida para nós, e assim não há mais pecado, pois a lei passa a estar do nosso lado, e não contra nós.
Esta é a verdadeira liberdade do pecado e da lei, da qual ele escreve, até o final deste capítulo, que é apenas uma liberdade para viver e cumprir prazerosamente a lei, e não mais sendo compelido por ela. Por isso, esta liberdade é espiritual, que não abole a lei, mas cumpre o que a lei exige, ou seja, prazer e amor. Assim, a lei se aquieta e não mais pressiona com suas exigências. É como se você tivesse uma dívida para com seu credor e não pudesse pagá-la. Há duas maneiras pela qual você poderia se livrar da dívida: ou ele não tomaria nada de você e rasgasse a nota promissória; ou algum homem bom pagasse sua dívida. É esta última alternativa que Cristo nos forneceu para nos tornar livres da lei. Nossa liberdade, portanto, não é carnal, como se estivéssemos desobrigados a cumprir a lei, mas uma liberdade que realiza muitas obras de todos os tipos, mas que não é impulsionada pelas demandas e dívidas da lei.
No capítulo 7, Paulo ilustra isso com uma parábola da vida matrimonial. Quando um homem morre, sua esposa fica livre para casar novamente; o ponto não é que ela pode ou não fazer isso, mas que agora está realmente livre para isso, algo que era inconcebível enquanto vivia seu marido. Assim, nossa consciência está ligada à lei pelo velho marido, porém, pelo Espírito, ao morrer o marido, sendo liberto um do outro, nossa consciência torna-se livre. Não significa que a consciência não faz mais nada, mas que agora está realmente livre para se unir a Cristo, o segundo marido, e produzir fruto de vida.
Então Paulo traz um quadro geral sobre a natureza do pecado e da lei, mostrando como, através da lei, o pecado agora age poderosamente. O velho homem odeia a lei porque ele não pode cumprir o que ela exige, pois sua natureza é pecaminosa e por si mesmo não pode fazer nada além de pecar; por isso a lei é morte e tormento para ele. Não que a lei é má, mas sua natureza má não pode suportar o bem, e a lei exige o bem dele. Tal como uma pessoa doente não pode suportar quando lhe exigem que corra, pule e faça coisas como alguém saudável.
Por isso Paulo conclui aqui que a lei, corretamente entendida e devidamente aplicada, não faz nada mais do que lembrar-nos de nossos pecados e nos levar a morte, fazendo-nos susceptíveis a ira eterna. Tudo isso é ensinado e vivenciado pela nossa consciência, quando está realmente presa à lei. Por isso um homem deve ter algo mais do que a lei para torná-lo justo e salvá-lo. Mas os que não entendem corretamente a lei são cegos. Eles, presunçosamente, vão à frente e acham que podem satisfazer a lei com suas obras, não sabendo o que a lei exige, ou seja, um coração disposto e feliz. Por isso, eles não veem claramente a Moisés, pois há um véu colocado entre eles, que os cobre e os impede de ver Moisés.
Depois disso, Paulo mostra como ocorre a luta do espírito contra a carne no homem. Ele mesmo se coloca como um exemplo a fim de podermos compreender como funciona o trabalho da escravidão do pecado dentro de nós. Ele chama ambos, o espírito e a carne, de “leis”, pois assim como é a natureza da lei divina para conduzir os homens e fazer exigências a eles, assim também a carne conduz os homens e de seu próprio modo faz exigências a eles, enfurecendo-se contra o espírito que igualmente faz suas exigências. Este embate dura por toda a vida, embora para alguns o calor da batalha possa ser maior ou menor dependendo da forca ou fraqueza da carne. No entanto, o todo do ser do homem é espírito e carne, os quais lutam com ele até torná-lo completamente espiritual.
No capítulo 8, Paulo encoraja estes lutadores, dizendo-lhes que esta carne não pode lhes trazer condenação. Ele mostra ainda como é a natureza da carne e do espírito e como o espírito procede de Cristo, o qual nos tem dado o seu Espírito Santo para nos tornar espirituais e subjugar a carne. Ele nos assegura ainda que somos filhos de Deus, no entanto a dureza do pecado pode se enraivecer dentro de nós, sendo guiados pelo Espírito, a lhe resistimos e o matamos. No entanto, nada é tão bom para a mortificação da carne como a cruz e o sofrimento, pois ele nos conforta nesses momentos através da provisão do Espírito de amor e de toda a criação. Pois tanto os gemidos do Espírito dentro de nós quanto o anseio da criação clamam para que sejamos livrados da carne e do pecado. Assim, vemos que estes três capítulos (6 a 8) abordam o tema do trabalho da fé que tem por finalidade matar o velho Adão e subjugar a carne.
Nos capítulos 9, 10 e 11, Paulo ensina sobre a predestinação que Deus estabeleceu desde a eternidade, à qual originalmente relaciona-se com o seu livramento ou não do pecado. Dessa forma é acentuado que a capacidade de tornar-se justo está totalmente fora do alcance humano, pois procede inteiramente das mãos de Deus. E isso é o mais altamente necessário, pois somos tão fracos e incertos que, caso estivesse isso em nosso poder, certamente nenhum homem poderia ser salvo, pois, fatalmente, o diabo nos dominaria. Porém, uma vez que em Deus isso é certo, sua predestinação não pode falhar e ninguém pode lhe resistir, temos, assim, esperança contra o pecado.
E aqui temos que estabelecer um limite para os espíritos audazes e de alta escala que trazem o seu próprio pensamento para essa questão. Eles estão no topo procurando o abismo da predestinação divina e preocupam-se em vão com sua predestinação. Eles cairão ou entrarão em desespero, pois estão se arriscando demais.
Mas, você tem seguido a ordem desta epístola? Preocupe-se primeiro com Cristo e o Evangelho, pois poderá reconhecer o seu pecado e a graça de Cristo. Então, lute contra seus pecados como tem ensinado os primeiros capítulos. Assim, quando alcançar os primeiros oito capítulos e estiver sob a cruz e o sofrimento, será confortado com o aprendizado da correta doutrina da predestinação nos capítulos nono, décimo e décimo primeiro. Pois sem sofrimento, cruz e perigo de morte não é possível falar sobre predestinação sem acarretar danos e ira divina. O velho Adão deve morrer antes que possa suportar este assunto e beber o seu forte vinho. Por isso, esteja consciente de que enquanto se está no aleitamento deve ser evitado o beber vinho. Há um limite, um tempo e uma idade para cada doutrina.
No capítulo 12, Paulo ensina, e faz todos os sacerdotes cristãos saberem, que a verdadeira adoração tem a ver não com a oferta de dinheiro ou gado, como nos termos da lei, mas com a oferta de seus próprios corpos como uma legítima mortificação da luxúria. Em seguida, ele passa a descrever a conduta externa dos cristãos, sob o governo espiritual, dizendo como eles devem ensinar, pregar, governar, servir, doar, sofrer, amar, viver e assistir os amigos, inimigos e todos os homens. Estas são as obras que fazem os cristãos, pois, como já foi dito, a fé não tira férias.
No capítulo 13, Paulo ensina honra e obediência aos governantes do mundo, que realizam muito, embora incapazes de fazerem seu povo justo diante de Deus. Eles foram instituídos a fim de que os bons possam se sentir em paz externa e em proteção, e que os maus não possam se sentir sem medo, ou em paz e tranquilidade ao fazerem o mal.
Portanto, o justo é honrado por isso, embora não necessite disso. No fim, ele compreende todas as coisas no amor, e está incluído no exemplo de Cristo, o qual tem feito por nós o que também devemos fazer ao seguir seus passos.
No capítulo 14, Paulo ensina que as consciências fracas devem ser poupadas e levadas suavemente na fé, por isso os cristãos não deveriam usar a sua liberdade para fazerem o mal, mas para apoiarem os fracos. E se isso não fosse feito, então a discórdia e o desprezo ao Evangelho se seguiriam, porém o mais importante é o Evangelho. Assim, é melhor fornecer as condições para que o fraco na fé cresça mais forte, do que ver a doutrina do Evangelho resultando em nada. Este é um trabalho peculiar de amor, no qual ainda hoje há uma grande necessidade, pois no que se refere a estas questões de liberdade, muitos, agindo grosseiramente, estão sacudindo consciências fracas que ainda não conhecem a verdade. No capítulo 15, ele apresenta o exemplo de Cristo para mostrar que devemos sofrer por aqueles que são fracos de outras maneiras, tais como aqueles cuja fraqueza reside em pecados públicos ou mesmo em hábitos desagradáveis​​. Estes homens não devem ser abandonados, mas cuidados até que atinjam uma estatura. Por isso Cristo fez tudo, e ainda faz todos os dias. Ele nos suporta constantemente apesar das muitas faltas, maus hábitos e todas as nossas imperfeições.
Finalmente, então, Paulo ora por eles, os louva e os recomenda a Deus. Ele fala de sua missão e dos desafios da pregação do Evangelho, e pede que os romanos gentilmente ajudem e ofertem aos pobres de Jerusalém. E assim, tudo, seja por palavras ou obras, deveria ser conduzido com puro amor.
O último capítulo é dedicado aos cumprimentos finais, mas junto dele há também uma importante advertência contra as doutrinas de homens, que se tornam ofensivas quando postas ao lado da doutrina do Evangelho. É como se tivesse previsto que de Roma e pelos romanos viriam os sedutores e ofensivos cânones e decretos que enredando toda a massa das leis humanas e mandamentos acabariam por afogar o mundo inteiro, anulando esta epístola e todos os santos das Escrituras, juntamente com o Espírito e a fé, não permitindo que nada permanecesse, exceto a adoração do próprio ventre, cujos agentes são por Paulo aqui repreendidos. Amém.
Assim, nesta epístola encontramos mais ricamente as coisas que um cristão deve saber, ou seja, o que é lei, Evangelho, pecado, castigo, graça, fé, justiça, Cristo, Deus, boas obras, amor, esperança, a cruz, e também como devemos nos comportar para com todos, quer justos ou pecadores, fracos ou fortes, amigos ou inimigos. Tudo isso é habilmente fundamentado pelas Sagradas Escrituras e provado pelo seu próprio exemplo e o dos profetas. Dessa forma, parece que Paulo queria incluir sinteticamente nesta epístola o Cristianismo completo e a doutrina evangélica preparando-nos uma introdução para todo o Antigo Testamento; pois, sem dúvida, aquele que tem esta epístola bem firmada no seu coração, tem com ele a luz e o poder do Antigo Testamento. Portanto, permita que cada cristão se exercite continuamente nessa epístola a fim de que Deus possa derramar a Sua graça. Amém.

MARTIN LUTHER







11 - Não Ignore o Livro

Texto de John Piper, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

O que se segue é uma transcrição ligeiramente editada.
Isto é Atos 26.17-18.  “Livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados pela fé em mim.”
Isto é incrível para mim. Isto é tão marcante. Isto é Jesus falando com Paulo quando ele o comissionou para ir pregar o evangelho.
"Eu te envio para lhes abrires os olhos"- “Tu” - finito, falível ser humano não sobrenatural - "Eu te envio, para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus". Vá fazer isso, Paulo. Para o que, evidentemente, Paulo diria, "Eu não posso fazer isso."
E Jesus sabe disso e, portanto, o ponto deste comando é que a sobrenatural, regeneradora obra de Deus é sempre feita através da agência humana. Sempre!
Você tem que ouvir ou ler, uma produção humana, a Palavra de Deus, a fim de ser nascido de Deus. Deus não vai abrir os olhos dos cegos para nada verem. Ele abre os olhos para verem Cristo.
Ele disse: "Haja luz em seu coração." E você viu a luz do evangelho da glória de Deus, na face de Cristo (2 Coríntios 4.4-6).
A segunda coisa que tem que acontecer se nós estamos buscando glorificar a Deus é que nós temos que olhar para o livro. Não é o suficiente simplesmente sair e orar para ter iluminação: "Oh, Espírito Santo, me diga o que eu preciso saber sobre Deus agora."
Isso é um insulto ao Espírito Santo porque a sua resposta vai ser, "eu escrevi um livro." Não ignore o meu livro. Não tente fazê-lo de outra maneira. Não tome atalhos em mim. Eu não preservei este livro através do sangue dos mártires para você brincar comigo. Tenha diante de sua face o meu livro e ore.








12 - Pensamentos sobre a suficiência das Escrituras

O que significa e o que não significa

Por John Piper

A minha mensagem biographical message na conferência de pastores deste ano foi sobre Atanásio, nascido no ano de 298. Assim, passei algum tempo a estudar as querelas doutrinárias do século IV. A principal era sobre a divindade de Cristo. Ário (e os Arianos) diziam que o Filho de Deus era uma criatura e que nem sempre teria existido. Atanásio defendeu a eterna divindade do Filho e ajudou a ganhar essa batalha com a redacção do Concílio de Nicéia: "Nós acreditamos... no Filho de Deus... da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial com o Pai ".

Um facto surpreendente, que eu não esperava encontrar, era que os hereges protestavam muito mais em relação à linguagem não-bíblica do credo ortodoxo. Eles argumentavam que as frases "de uma essência com o Pai" e "uma substância com o Pai" não se encontravam na Bíblia. Os hereges exigiam "Credo não, Bíblia sim", precisamente para que pudessem usar a linguagem bíblica a fim de fugir à verdade bíblica. Por exemplo, eles voluntariamente chamariam a Cristo "Filho de Deus" para então argumentar que, como todos os filhos, Ele deveria ter tido um começo. Então, para minha surpresa, uma forma da doutrina da "Suficiência das Escrituras" foi usada para minar a verdade da Escritura.

Esta estratégia de ludibriar a verdade bíblica usando somente a linguagem bíblica tem sido usado por demais na história da Igreja. Por exemplo, em 1719 mais de uma centena de ministros Presbiterianos, Congregacionais e Batistas reuniram-se em Londres para lidar com o problema de alguns ministros que, depois de lerem Samuel Clark, recusaram-se a assinar os credos trinitários das suas denominações. Eles tinham-se tornado essencialmente Arianos. Qual foi a questão-chave? "A questão técnica foi saber se era suficiente que os ministros prometessem apenas seguir as Escrituras" (Mark Noll, The Rise of Evangelicalism; [Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 2003]., P 43 ). Os arianos insistiam no refrão "nenhum credo a não ser a Bíblia", ou nenhuma linguagem sem ser a linguagem da Bíblia. A votação foi de 57-53 contra trinitários tradicionais. Mais uma vez uma forma de "suficiência das Escrituras" havia sido utilizada para enfraquecer a verdade das Escrituras.

Hoje em dia existem muitos que exigiriam "nenhum credo a não ser a Bíblia" da mesma maneira que os Arianos exigiram. Mas a História ensina-nos que a linguagem bíblica não é suficiente quando se trata de defender o significado da linguagem bíblica. R. P. C. Hanson explicou assim o processo: "Os teólogos da Igreja Cristã foram lentamente levados para uma percepção de que as questões mais profundas que o Cristianismo enfrenta não podem ser respondidas numa linguagem puramente bíblica, porque as perguntas são sobre o significado da linguagem bíblica em si mesma; " (RPC Hanson, The Search for the Christian Doctrine of God; The Arian Controversy; [Edinburgh: T. e T. Clark, 1988]., p xxi ).

Quais são as implicações disto na doutrina da suficiência das Escrituras? Esta doutrina é principalmente baseada em 2 Timóteo 3:15-17 e Judas 1:3.

As sagradas Escrituras... podem fazer-te sábio para a salvação;, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura divinamente inspirada e proveitosa ara ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito, equipado para toda boa obra ... Batalhar pela fé que foi uma vez por todas entregue aos santos

Por outras palavras, as Escrituras são suficientes no sentido em que elas são as únicas ("uma vez por todas") divinamente inspiradas e (portanto) as palavras inerrantes de Deus de que precisamos a fim de conhecer o caminho da salvação (" tornar-te sábio para a salvação") e o caminho da obediência ("equipado para toda boa obra").

A suficiência das Escrituras não significa que a Escritura é tudo que precisamos para viver em obediência. Para se ser obediente em ciências naturais precisamos ler ciência e estudar a Natureza. Para se ser obediente em economia precisamos ler economia e observar o mundo dos negócios. Para ser obediente no desporto, precisamos saber as regras do jogo. Para se ser obediente no casamento, precisamos conhecer a personalidade do nosso cônjuge. Para se ser obediente como piloto, precisamos saber como pilotar um avião. Por outras palavras, a Bíblia não nos diz tudo o que precisamos de saber para podermos ser mordomos obedientes deste mundo.

A suficiência das Escrituras significa que não precisamos de mais nenhuma revelação especial. Não precisamos de mais palavras inspiradas, infalíveis. Deus no-las deu na Bíblia, temos o perfeito padrão para ajuizar sobre todos os outros tipos de conhecimento. Todos os outros conhecimentos estão sob o julgamento da Bíblia, mesmo quando eles lhe prestam serviço. Por exemplo, o idioma Inglês presta serviço à Bíblia, tornando-a acessível a leitores anglófonos. Mas, mesmo o inglês prestando este serviço, ele está sob a Bíblia e por ela é regido. Assim, a palavra Inglês "sim" não pode traduzir a palavra grega para "não." A Bíblia é suficiente para impedir o mau uso do Inglês.

Desta forma, e de muitas maneiras, a Bíblia é servida pelo nosso conhecimento extra bíblico. Por exemplo, a palavra "formiga" aparece duas vezes na Bíblia (Provérbios 6:6 e 30:25). Ela nunca é definida. A Bíblia espera que saibamos pela nossa experiência o que é uma formiga. Mas se afirmarmos que a lição da formiga é que todos devemos ser preguiçosos, a Bíblia é suficiente para evitar esse erro.

O mesmo se passa com a linguagem em disputas doutrinárias. A linguagem não-bíblica serve a Bíblia por exclusão de alguns significados e inclusão de outros. A palavra "Trindade" e a frase “uma substância com o Pai" são termos extra-bíblicos. Mas contêm verdades bíblicas essenciais. Afirmar com uma linguagem extra-bíblica que Deus é "uma essência em três pessoas" (=Trindade) e que o Filho é "uma substância com o Pai" é mais bíblico do que usar a linguagem bíblica para chamar a Cristo criatura de Deus. A suficiência das Escrituras não dita a linguagem que usamos para interpretar a Bíblia, mas administra o significado da linguagem que usamos. Para isso, é totalmente suficiente.

Completamente submetido às Escrituras contigo,

Pastor John







13 - As Escrituras São Dadas a Você

Por D. M. Lloyd Jones

As Escrituras são "dadas" a você. Você já experimentou isto? É uma boa maneira de provar o seu estado e condição, na vida cristã. De repente as Escrituras vêm à sua mente para você poder responder ao diabo. Vocês recordam como o nosso Senhor lhe respondeu em Suas tentações. Cada vez, nas três tentações, quando o diabo veio com a sua astúcia e fez a sua sugestão, ao nosso Senhor foi dada a passagem apropriada e perfeita das Escrituras. Isso aconteceu com o nosso Senhor imediatamente após a "unção" de que Pedro falou na casa de Cornélio. O nosso Senhor estava dando início ao Seu ministério público. Sendo Ele o Filho de Deus, era cheio do Espírito. Entretanto, para realizar a Sua obra, Ele necessitava de uma unção especial, e a recebeu em Seu batismo no rio Jordão, ministrado por João Batista. O Espírito Santo desceu então sobre Ele, e Ele recebeu este poder especial. Ele era Deus; mas como homem teve necessidade deste "batismo", desta "unção" com o Espírito Santo. E agora, cheio do Espírito, Ele é levado ao deserto para ser tentado pelo diabo. O diabo vem com a sua astúcia, porém o nosso Senhor tem a resposta, a passagem bíblica apropriada; e o diabo é posto em confusão e rechaçado.

Pois bem, esta experiência é oferecida a todos quantos pertencem ao povo de Deus; é algo que eles têm testificado através dos séculos. Eles. ficavam cientes de algo muito incomum, eram elevados acima de si mesmos, as passagens das Escrituras que eles tinham esquecido voltavam a eles e eles sabiam aplicá-las. Era-lhes dado este discernimento e entendimento, e o resultado era que eles podiam ficar firmes, mesmo no "dia mau".

São esses, parece-me, os principais meios pelos quais nos é dada esta graça especial. Não sabemos o que virá sobre nós, não sabemos o que o dia nos trará, e tampouco sabemos, como cristãos, pelo que teremos que passar. Aqui está algo que nos conforta. O que quer que aconteça, lembrem-se disto: "Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder". Lembrem-se de que existem promessas, de que elas são absolutas e de que Deus as cumprirá. Há esta unção especial que nos é dada para habilitar-nos a ir adiante e ficar firmes no dia mau.

Vejamos agora o segundo aspecto deste assunto. O nosso Senhor nos dá esta ajuda especial, não somente de maneira indireta, como eu diria, mas também o faz de maneira direta. Ele nos faz sentir Sua presença real. Quanto sabemos sobre isto? Lembro-lhes que isto não é comum, não é a norma, não é habitual. É excepcional. Que é que significa? Comecemos de novo pelo Velho Testamento. "O Senhor Deus", diz o salmista no Salmo 84:11, "é um sol e escudo". "O Senhor Deus é um sol", que dá vida, saúde, vigor e energia. Isso é o normal, é constante, é algo que continua dia após dia. Mas Ele é também um "escudo", uma proteção. Ele nos dá cobertura, por assim dizer, nestes tempos incomuns, e nos escuda e nos guarda. Isto significa uma intervenção direta de Deus a nosso favor; e é interessante observar alguns exemplos disto.

Vou ao livro de Josué em busca da minha primeira ilustração. No fim do capítulo 5 vemos Josué enfrentar a primeira grande crise depois que assumiu a liderança como sucessor de Moisés. Ele está parado diante de Jerico, cidade extraordinariamente fortificada. Ele tem todas as promessas, tudo o que Moisés lhe dissera; todavia aqui ele enfrenta um tremendo problema. Eis o que aconteceu: "E sucedeu que, estando Josué ao pé de Jerico, levantou os seus olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a ele, e disse-lhe: és tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?" Observem aí o tom de tensa coragem. "És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?" "E disse ele: não, mas venho agora como príncipe do exército do Senhor. Então Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e o adorou, e disse-lhe: que diz meu Senhor ao seu servo? Então disse o príncipe do exército do Senhor a Josué: descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim". O que aconteceu ali foi uma intervenção. O Senhor, na pessoa de um poderoso anjo aparece a Josué; é uma das teofanias. O Senhor Jesus Cristo, naquela forma particular, aparece a ele para confortá-lo e fortalecê-lo, e diz: "Eu estou com você, sou o príncipe ou o capitão do seu exército e da batalha, não tenha medo".

Outra ilustração pode-se ver no Segundo Livro de Reis, capítulo 6, versículos 11-17, na vida do profeta Eliseu. Um grande ataque estava sendo levado a efeito pelo rei da Síria. Mas ouçam a história: "Não me fareis saber quem dos nossos é pelo rei de Israel?", perguntou o rei da Síria. "E disse um dos seus servos: não, ó rei meu senhor; mas o profeta Eliseu, que está em Israel, faz saber ao rei de Israel as palavras que tu falas na tua câmara de dormir." Disse então o rei: "Vai, e vê onde ele está, para que envie, e mande trazê-lo. E fizeram-lhe saber, dizendo: eis que está em Dota. Então enviou para lá cavalos e carros e um grande exército, os quais vieram de noite, e cercaram a cidade. E o moço do homem de Deus," isto é, o servo de Eliseu - "se levantou muito cedo, e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu moço lhe disse: ai, meu senhor! Que faremos?" O pobre servo levanta-se e vê o lugar literalmente cercado de soldados, carros e cavalos, e fica completamente alarmado e aterrorizado - "Ai, meu senhor! Que faremos?" "E ele disse: não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles".

O que Eliseu disse parecia totalmente ridículo, é claro. Lá estavam eles, o profeta e o seu servo, virtualmente sós, cercados por aquelas tropas do rei da Síria, cavalos, carros e homens que literalmente os cercavam; porém, ele diz: "Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles". "E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu."

Esse é o tipo de coisa de que estou falando. O servo não podia vê-los; mas Eliseu podia. Eliseu era homem de fé, o servo era jovem, inexperiente, ignorava estas coisas e só via os obstáculos, o inimigo, a dificuldade e o apuro. Por isso ficou alarmado, aterrorizado e cheio de pavor. Está tudo bem, diz Eliseu, pois são mais os que estão do nosso lado do que os que estão do lado deles. Mas, onde estão eles?, pergunta o homem, não vejo nada. Eliseu orou: "Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja". O resultado foi: "E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu: e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu". As hostes invisíveis, o exército do Deus vivo, estavam presentes para proteger o profeta de Deus e livrá-lo, como nos diz a seqüência da narrativa. Este é o ensino escriturístico sobre o que acontece com os que pertencem a Deus quando eles realmente creem e têm fé, e "se fortalecem no Senhor e na força do seu poder."













54) ESPERANÇA


ÍNDICE

1 - "Tu és a minha esperança no dia do mal." (Jeremias 17.17)
2 - “Espera no Senhor" (Salmo 27.14)
3 - Esperança
4 - Esperança contra a Esperança e Sem Esperança Quando Há Esperança
5 - A Esperança que Nunca Morre
6 - Uma Esperança Segura e Eterna
7 - A Única Esperança que Não Pode Ser Frustrada



1 - "Tu és a minha esperança no dia do mal." (Jeremias 17.17)

O caminho do cristão nem sempre brilha com a luz do sol; ele tem as suas épocas de trevas e de tempestades.
É verdade que está escrito na Palavra de Deus, "Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas são paz", e é uma grande verdade, que a fé que professamos é projetada  para dar ao homem a felicidade abaixo, bem como a bem-aventurança acima, mas a experiência nos diz que, o caminho do justo é "como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito", mas, por vezes, a luz é eclipsada.
Em certos períodos as nuvens cobrem o sol do cristão, e ele caminha nas trevas e não vê a luz.
Há muitas pessoas que se alegram na presença de Deus por uma temporada, eles têm se aquecido ao sol nos primeiros estágios de sua carreira cristã; têm andado ao longo dos "verdes pastos", junto das "águas tranquilas", mas de repente, eles constatam que o céu glorioso está nublado; em vez da Terra de Gósen eles têm que trilhar o deserto arenoso; no lugar de água doce, eles encontram fluxos de tribulação, amargos para o seu gosto, e dizem: "Certamente, se eu fosse um filho de Deus, isso não estaria acontecendo." Oh! Não fale assim, você não está andando nas trevas. O melhor dos santos de Deus deve beber o absinto, o mais querido de seus filhos deve carregar a cruz. Nenhum cristão tem desfrutado de prosperidade perpétua, nenhum crente tem sempre guardado a sua harpa dos salgueiros. Talvez o Senhor lhe tenha designado em primeiro lugar um caminho suave e sem nuvens, porque você era fraco e tímido. Ele abrandou o vento para o cordeiro tosquiado, mas agora que você está mais forte na vida espiritual, você deve ter a experiência mais áspera dos filhos maduros de Deus. Precisamos de ventos e tempestades para exercitar nossa fé, para arrancar o galho podre da auto-dependência e nos enraizarmos mais firmemente em Cristo. O dia do mal nos revela o valor da nossa gloriosa esperança.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







2 - “Espera no Senhor" (Salmo 27.14)

Esperar pode parecer uma coisa fácil, mas é uma das posturas que um soldado cristão não aprende sem anos de ensino. Marchar e correr é muito mais fácil para os guerreiros de Deus do que permanecer parados. Há momentos de perplexidade, em que o espírito mais disposto, ansiosamente desejoso de servir ao Senhor, não sabe que decisão tomar. Então o que se faz? Ficar agitado pelo desespero? Voar de volta por covardia, virar à direita por medo, ou correr adiante por presunção? Não, mas simplesmente esperar. Entretanto, esperar em oração. Clame a Deus, e exponha o caso diante dele, diga-lhe sua dificuldade, e pleiteie a sua promessa de ajuda.
Em dilemas entre um dever e outro, é doce ser humilde como uma criança, e esperar com simplicidade de alma no Senhor. É certo que tudo está bem conosco quando sentimos e conhecemos nossa própria insensatez, e estamos sinceramente dispostos a ser guiados pela vontade de Deus.
Mas espere com fé. Expresse sua confiança inabalável nele, porque o infiel, espera desconfiando, e isto é um insulto ao Senhor.
Creio que se ele mantiver você esperando até à meia-noite, ainda assim  ele virá no momento certo; a visão virá, e não tardará. Espere com paciência tranquila, não se rebelando porque está sob a aflição, mas bendiga a Deus por isso.
Nunca murmure contra a tribulação, como os filhos de Israel fizeram contra Moisés, nunca deseje voltar ao mundo novamente, mas aceite o caso como é, e o apresente de forma simples e com todo o seu coração, sem qualquer vontade própria, nas mãos do seu Deus da aliança, dizendo: "Agora, Senhor, não seja feita a minha vontade, mas a tua. Eu não sei o que fazer; eu cheguei ao limite, mas vou esperar até que tu desfaças as tempestades, ou que afugentes os meus inimigos. Eu vou esperar por muitos dias, se tu me guardares, porque meu coração está firme somente em ti, oh Deus, e meu espírito anseia por ti na plena convicção de que tu ainda serás a minha alegria e a minha salvação, o meu refúgio e a minha torre forte ".

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







3 - Esperança

Juntamente com a fé e o amor, a esperança é citada pelo apóstolo Paulo como sendo os dons de Deus que permanecem e que são maiores do que todos os demais.
A esperança é no que se fundamenta a fé, pois esta é a firme certeza do que esperamos, conforme nos é prometido por Deus.
Já entramos na posse imediata e presente de muitas promessas que nos foram feitas por Deus em sua Palavra, como a nossa justificação, a regeneração, a operação do trabalho de santificação, tudo isto, realizado pelo Espírito Santo que habita em nós como um cumprimento da principal promessa, por termos crido em Cristo.
Todavia ainda aguardamos por nossa herança na pátria celestial e a glorificação de nossos corpos para reinarmos juntamente com Cristo. Mas disto nos apropriamos também pela fé, por meio da esperança que é gerada pelo Espírito Santo em nossos corações.
Temos por certo de que tudo aquilo que ainda não vemos, certamente se cumprirá no tempo determinado por Deus, porque fiel é o que fez a promessa.
O que ele disse que cumpriria antes de sermos arrebatados e que foi integralmente cumprido, especialmente pela vinda do Messias prometido, também cumprirá a seu tempo, todas as demais coisas que completarão o seu propósito eterno.
Por exemplo, sabemos que todo aquele que crê em Cristo já não pode mais morrer eternamente, porque foi levantado dentre os mortos espirituais para a vida eterna.
Sabemos que seremos perfeitos assim com Ele é perfeito e que o veremos do mesmo modo pelo qual ele nos vê.
Sabemos que estaremos em comunhão eterna e perfeita tanto com Deus quanto com todos os santos, inclusive os que viveram no período do Velho Testamento.
Sabemos que seremos arrebatados e que este nosso corpo físico será transformado em um corpo celestial que já não mais enferma ou morre.
E é a esperança cristã aperfeiçoada progressivamente pela fé, que nos faz estar cada vez mais convictos quanto à fidelidade de Deus em cumprir tudo isto.
Por isso se diz que somos salvos na esperança do que haveremos de ser, ou seja, perfeitos em santidade assim como Deus é perfeito.
Esperamos não somente a ressurreição futura de nossos corpos, mas também a execução da condenação eterna de Satanás e de todos os demônios; a bem-aventurança do nosso governo com Cristo no milênio; a glória dos novos céus e da nova terra; a nova Jerusalém e tudo o mais que se refira ao nosso estado eterno.
Temos uma esperança que não é incerta. Não se trata de algo que aguardamos com a possibilidade de falhar. Mas é esperança no sentido de certeza de cumprimento pleno de tudo o que é prometido e que por ela aguardarmos em Deus.
Não é também uma esperança passiva de quem se resigna diante de tudo o que se lhe opõe e recua, mas é esperança ativa que nos leva a seguir adiante com fé que o nosso trabalho no Senhor não é vão e que ele é galardoador dos que o buscam e o servem em fidelidade.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas a palavra  elpis (grego) – esperança; e outros textos bíblicos sobre esperar em Deus; relativos ao assunto, acessando o seguinte link:
http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128353








4 - Esperança contra a Esperança e Sem Esperança Quando Há Esperança

   Citações de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

   "Na tua comprida viagem te cansaste; porém não disseste: Não há esperança; achaste novo vigor na tua mão; por isso não adoeceste.” (Isaías 57.10)

   "Mas eles dizem: Não há esperança, porque andaremos segundo as nossas imaginações; e cada um fará segundo o propósito do seu mau coração.” (Jeremias 18.12)

   Quem pode entender a sutileza do coração humano? Bem disse o Profeta, "Enganoso é o coração acima de todas as coisas e desesperadamente corrupto." O médico do corpo precisa ser habilidoso para rastrear a doença até a sua origem. Mas aquele que tem que lidar com almas tem uma tarefa muito mais difícil, na medida em que o pecado é mais sutil do que o vírus da doença mais incurável, e a maneira pela qual se entrelaça com todo o poder na humanidade é ainda maior do que as influências da peste e da praga sobre o corpo humano.
   Aqueles cujo ofício é lidar com almas doentes têm como seu grande objetivo serem instrumentos nas mãos de Deus para trazer almas enfermas a confiarem na grande salvação que Deus providenciou na Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.
   Toda a sutileza do coração humano se exercita ao máximo para evitar que o coração venha a confiar no Salvador. Pela Cruz, como disse o Salvador, os pensamentos de muitos corações são revelados.
      Existem duas fases na vida espiritual, que bem ilustram o engano do coração. O primeiro é descrito no meu primeiro texto, em que o homem, embora cansado em suas muitas provações, não é e não pode ser convencido da inutilidade de autossalvação, mas ainda   se agarra à ilusão de que ele será capaz, de alguma forma – embora ele não saiba como - a livrar-se da ruína. E há uma segunda dificuldade que é descrita no segundo texto. Vendo que não há esperança em si mesmo, o homem tira a conclusão injustificável que não há nenhuma esperança para ele em Deus. E, uma vez que você teve que lutar com a sua autoconfiança, agora você tem que lutar com seu desespero.
   Isso é autojustiça em ambos os casos. No primeiro caso, a alma busca a salvação com a autojustiça. Em segundo lugar temos o homem que prefere morrer em vez de receber a justiça de Cristo.
   Considerando o primeiro texto, temos que falar de uma esperança que não é ESPERANÇA. "Na tua comprida viagem te cansaste; porém não disseste: Não há esperança; achaste novo vigor na tua mão; por isso não adoeceste.” Está bem retratada aqui a busca dos homens pela satisfação em coisas terrenas. Eles vão caçar riquezas. Eles vão percorrer os caminhos da fama. Eles vão cavar as minas de conhecimento. Eles vão se esgotar nos deleites fraudulentos de pecados, e ao encontrá-los todos como sendo vaidade e vazio, ficarão dolorosamente perplexos e desapontados. Mas eles ainda vão continuar a sua busca infrutífera. Mesmo cansados com o comprimento da sua forma, eles ainda vão seguir adiante sob a influência de insensatez espiritual! E, embora não haja resultado para ser alcançado exceto desapontamento eterno, ainda prosseguirão com o máximo ardor como se uma plena certeza do sucesso sustentasse seus espíritos.
   Os ímpios parecem muito mais determinados a morrer do que alguns cristãos estão a viver. Eles estão mais desesperados na busca de sua própria destruição do que os crentes estão em gozar a vida espiritual. Na verdade, eles se contentam porque encontraram novo vigor em suas mãos. Viver de mão e boca é suficiente para eles; pois ainda estão vivos e possuem confortos e prazeres presentes.
   Quanto ao futuro, dizem, "Deixe-o cuidar de si mesmo." Quanto à eternidade, eles deixam aos outros cuidarem de sua realidade - a vida que está à mão é o suficiente para eles. Seu lema é: "Vamos comer e beber, porque amanhã morreremos." Eles não têm previsão para seu estado eterno e a hora presente os absorve completamente. Mentes carnais com todas as suas forças prosseguem na busca das vaidades da terra, e quando estão cansados em sua busca ainda não dizem: "Não há esperança", mas mudam a direção, e continuam na perseguição infrutífera!
   Isso, porém, não é o assunto desta manhã. O texto aplica-se muito mais eminentemente àqueles que estão buscando a salvação por meio de cerimônias. Esta é uma classe muito numerosa e em expansão. Isto está começando a ser a crença atual e elegante que devemos ser salvos, frequentando lugares santos, recebendo o batismo sacerdotal, a confirmação episcopal, comendo pão consagrado, bebendo vinho santificado, e repetindo expressões de devoção.
   Pode haver algum leitor que esteja buscando a salvação por meio de cerimónias. Seu caminho é certamente muito tedioso e isso vai acabar em decepção.
      É somente a Graça Divina que pode permitir-nos seguir o exemplo de Lutero, que, depois de subir e descer a escada de Pilatos, de joelhos, murmurando muitos Padres Nossos e Ave Marias, lembrou-se do texto antigo, "sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus." Ele saltou dos seus joelhos e abandonou de uma vez e para sempre qualquer dependência de formalidades externas e saiu da célula de clausura e deixou toda a sua austeridade para viver a vida de um crente, sabendo que pelas obras da Lei nenhuma carne viverá.
   No entanto, queridos amigos, ainda que eu saiba que somente a Graça Divina pode desviá-lo do caminho ilusório de cerimônias vãs, eu gostaria de sugerir uma dúvida ou duas para você que pode ser útil em um destes dias para fazê-lo escolher um caminho mais sábio.
      Muitas pessoas estão à procura de salvação por outra forma de autoengano, ou seja, o caminho do arrependimento e da reforma. Isto é considerado por alguns que se orarem um certo número de orações e se arrependerem até um certo grau, então eles vão ser salvos como resultado de suas orações e arrependimento. Isso é uma outra maneira de se ganhar a salvação que não é falada nas Escrituras. Esta é uma maneira pela qual nem a Lei ou o Evangelho recebem honra. Arrepender-se é o dever de um cristão, mas esperar a salvação em virtude disso, por si só, é uma ilusão do tipo mais temível! A razão para a salvação não está no meu arrependimento, mas no sofrimento de Cristo em meu lugar - não em minha renúncia ao pecado, mas em Cristo ter carregado o meu pecado em Seu próprio corpo no madeiro. Oh, que pela graça de Deus eu possa ser levado a não confiar em qualquer coisa que venha de mim mesmo!
   Vamos agora voltar-nos para o segundo texto. "Mas eles dizem: Não há esperança, porque andaremos segundo as nossas imaginações; e cada um fará segundo o propósito do seu mau coração.” Aqui não temos esperança - e ainda assim há ESPERANÇA.    Quando o pecador tem alcançado o ápice da estrada de sua própria confiança, então ele voa para o porto da tristeza e desespero. Ele agora está convencido de que não há esperança em si mesmo, e como um simplório ele vai para o outro extremo, e conclui: "Então, eu não posso ser salvo."
   Ele age como se não houvesse ninguém no mundo, senão ele mesmo, e começa a medir o poder de Deus e da graça de Deus por seu próprio mérito e poder. Alguns diante de mim nesta hora, estão convencidos de sua própria impotência, e estão prontos para deitar-se num acesso de desespero e morrer. "O pregador tem nos dito que não há nenhuma esperança, então vamos desistir disso." Meu caro amigo, eu sei qual será o resultado se você for embora com essa impressão - você vai sair para o seu pecado – porque o desespero é a mãe de todos os tipos de mal. Quando um homem diz, "Não há nenhuma esperança no Céu para mim", então ele lança a corda sobre o pescoço de suas paixões e vai de mal a pior.
   Você vai me entender mal completamente se você for embora com essa impressão. Não há esperança para você em si mesmo, mas há esperança para você nAquele que Deus providenciou para ser o seu Salvador!
   À desesperança em si mesma é ao que nós queremos trazê-lo, mas à desesperança em si mesmo, e, especialmente, em conexão com Deus, seria um pecado do qual devo exortá-lo a escapar. Se você está sentado em desespero, eu quero falar com você, em primeiro lugar, do Deus da Esperança.
   Você está dizendo: "Eu estou cheio de pecados". Isso é verdade - você está muito mais cheio de pecados do que você pensa que está.
   "Mas eu não sinto meu pecado como deveria sentir." Isso é muito provável - e você nunca vai senti-lo. Nenhum homem na terra   já sentiu o pecado em toda a sua culpa, porque só Deus conhece a profundidade e escuridão do pecado.
   Agora pense na bondade de Deus Pai. Você se lembra como Ele Se revelou na parábola do filho pródigo? O filho pródigo tinha sido ingrato, mau - muito mau. Ele passou a vida em todos os tipos de vício e tornou-se imundo e repugnante em sua pessoa. Ele era todo o pecado, mas tinha um pai de toda a misericórdia. Ele era todo injustiça, mas seu pai era toda a bondade amorosa. Agora você não pode ver, que se o filho pródigo estivesse aqui, poderíamos dizer-lhe: "Não há esperança para você em si mesmo. Esses trapos não podem recomendá-lo."
   Mas, então, isso não seria um motivo para ele parar onde estivesse, porque "há esperança para você em seu pai. Ele é tão bom, tão suave. Ele se regozija em receber seus filhos que retornam." E, pecador, há esperança em Deus para você.







5 - A Esperança que Nunca Morre

Há um dito popular que afirma que há solução para tudo, menos para a morte.
Entretanto, a maior solução que existe é justamente a para a morte, porque foi preparada por Deus desde antes da fundação do mundo.
Antes que houvesse o sol, a lua, as estrelas, o homem, esta solução havia sido adrede preparada.
A única solução eficaz para a morte é simplesmente ouvir a voz de Cristo, como Ele mesmo o tem afirmado:

“João 5:25 Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão.
João 5:26 Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo.
João 5:27 E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem.
João 5:28 Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão:
João 5:29 os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.”

É portanto algo muito esperançoso que mortos ouçam a voz do Senhor e se tornem vivos.
Isto é feito pela pregação do evangelho.
Esteja morto em delitos e pecados, nas trevas da incredulidade, ou então morto espiritualmente, por ter se afastado de Deus depois de ter recebido a vida de Cristo, não importa, é o mesmo poder do Espírito Santo que vivificará tanto a um quanto ao outro, pela simples fé no senhorio de Cristo.
Foi muita misericórdia da parte de Deus, ter dado ao homem a possibilidade de ouvir a voz de Cristo para a salvação,  apesar de toda a humanidade que está sem Cristo, se encontrar naturalmente morta em espírito, corrompida na alma e com um corpo físico que caminha para a morte e que está sujeito a tantas fraquezas e enfermidades.
Como podem os mortos ouvirem a mensagem do evangelho pregada no poder do Espírito, e responderem ao convite da salvação, ninguém sabe, mas sabemos que isto é certamente concedido pelo poder do Deus Altíssimo.
 “Ef 2:1 Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,
Ef 2:2 nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência;
Ef 2:3 entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.
Ef 2:4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou,
Ef 2:5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos,” (Efésios 2.1-5)








6 - Uma Esperança Segura e Eterna

O apóstolo Paulo afirma no 15º capítulo de I Coríntios que caso ele não tivesse esperança na vida futura porque estaria se expondo a perigos a toda hora para pregar o evangelho?
Por que estaria enfrentando a morte bem de perto por todos os dias da sua vida, por causa da perseguição que estava sofrendo por causa do evangelho?
Por que se exporia a ser perseguido por aqueles que haviam se levantado contra ele em Éfeso, por causa da defesa deles do culto da deusa Diana?
De que lhe valeriam todas estas coisas se não houvesse ressurreição?
Se não houvesse uma recompensa futura a ser dada aos que vencerem pelo Senhor?
Seria melhor se acomodar ao dito da filosofia dos epicuristas de que se aproveitasse o mais possível as coisas desta vida, uma vez que um dia todos haveremos de morrer.
E segundo eles, uma das melhores coisas deste mundo era beber e comer.
Entretanto, Paulo havia sido arrebatado ao terceiro céu, ao paraíso, ainda próximo da sua conversão, conforme afirma no décimo segundo capítulo de II Coríntios, de modo que tinha muita autoridade e segurança, quanto à nossa esperança futura em Cristo de irmos para este lugar maravilhoso, o céu, que é a habitação eterna não somente de Deus, como também nossa.
Mas, quantas renúncias os cristãos não devem fazer em favor do evangelho, inclusive nesta área de comer e beber, para que sejam em tudo achados aprovados pelo Senhor, não sendo causa de escândalo para nenhuma pessoa, de modo que possam alcançar a salvação em Cristo Jesus.
Esta nossa vida que temos neste mundo é como uma semente, que haverá de revelar uma vida gloriosa, depois que a casca que é o nosso corpo, na qual está preso o nosso espírito, morrer.
Porque foi planejado por Deus primeiro nos plantar como homens naturais, para poder colher homens espirituais.
Por isso trouxemos conosco a imagem do primeiro homem cujo corpo foi feito do pó da terra, para sabermos que no mundo natural há vários tipos de carnes, e que há uma grande diferença entre a glória dos corpos terrestres e a daqueles que são celestiais.
Assim como as glórias do sol, da lua e das estrelas são diferentes, de igual modo é diferente a glória dos corpos deste mundo e a daqueles que são do céu.
Os nossos corpos neste mundo experimentam da corrupção, porque envelhecem e morrem, mas nossos corpos serão incorruptíveis e não mais morrerão depois que formos ressuscitados.








7 - A Única Esperança que Não Pode Ser Frustrada

A esperança da nossa salvação é referida pelo autor de Hebreus  como sendo uma âncora da nossa alma (Heb 6.9,10), que a manterá segura e firme por toda a eternidade, porque esta âncora (esperança) está firmada no Santo dos Santos, além do véu, onde Jesus entrou, e nos mantém ancorados como o grande sumo sacerdote da nossa fé,  de maneira que não podemos ser movidos da nossa união com Ele.
A firmeza da eternidade da nossa união com Cristo está devidamente explicada pelo apóstolo Paulo nos capítulos 4 a 8 de Romanos.
A nossa salvação não  é baseada num pacto ou aliança da Lei ou obras, mas num pacto, ou seja, numa aliança de pura graça, do Espírito Santo.
É  bom lembrarmos sempre que em Hebreus 6.13-30 é afirmada a imutabilidade da promessa da salvação, que Deus fez a Abraão quando lhe preanunciou o evangelho, dizendo que no seu descendente que é Cristo seriam abençoadas todas as nações da terra (Gál 3.8,16), e para confirmar tal imutabilidade do Seu propósito de salvar com segurança eterna os aliançados com Cristo pela fé, o fez jurando por Si mesmo (Hebreus 6.13,17).

“Heb 6:17 Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento,
Heb 6:18 para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta;

Heb 6:19 a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu,”

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