sexta-feira, 23 de outubro de 2015

55) Espiritual e Nova Criatura 56) Eternidade

55) ESPIRITUAL E NOVA CRIATURA

ÍNDICE

1 - Como Podemos Saber Que Deus é Amor?
2 - O Espírito Em Nós
3 - A Natureza da Nova Criatura em Cristo Jesus
4 - Natural e Espiritual
5 - Salmo 119.36 – Por Thomas Manton
6 - Vivendo de Forma Sobrenatural Como a Igreja de Cristo
7 - Espiritual
8 - A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo
9 - A natureza Ativa da Nova Criatura
10 - A Espiritualidade Provada na Materialidade
11 - Criado para Ser Espiritual e não Carnal
12 - Não mais na Carne mas no Espírito
13 - Não Mais na Carne
14 - Como ser Cheio do Espírito Santo?
15 - Nossa Necessidade do Espírito Santo
16 - Não estais na Carne
17 - Hábitos são Ditados Pelo Tipo de Natureza que se Possui
18 - A Fonte de Água que Salta para a Vida Eterna
19 - Como nos Tornamos Cheios do Espírito Santo
20 - Despindo-se do Velho e Revestindo-se do Novo
21 - COMO E PORQUE SER ESPIRITUAL E NÃO CARNAL


1 - Como Podemos Saber Que Deus é Amor?

“Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.” (Romanos 5.5)

Como saber que Deus existe?
Melhor ainda: como saber que Deus é amor?
Isto não nos vem por nenhum conhecimento ou testificação fora de nós mesmos, mas no nosso próprio coração, ou seja, no nosso espírito, no homem interior.
Não se trata de mero sentimento, quando se fala em amor, mas num agir conforme Deus, por um mover de forças e influências espirituais que operam em nosso interior nos impulsionando a nos gastarmos pelo bem do nosso próximo, especialmente nas situações de serviço e locais, que por Deus nos forem determinados, pelo amor que Ele derrama e que se apodera do nosso coração.
Sabemos então que Deus é amor, por causa deste amor sobrenatural que nos toma de tal modo, que passa ser a própria atmosfera sem a qual não viveríamos ou não acharíamos qualquer sentido na vida.
Oh, quão grande, profundo e inefável é este amor de Jesus Cristo.
Depois de ter-me dedicado a servir o próximo, em congregações, em seminários, e em toda parte, o amor do Senhor tem presentemente me inclinado a escrever e a divulgar o que havia escrito, sobretudo pela Internet.
E nisso tenho gastado todo o meu vigor, o meu tempo, que na verdade não sinto como se me pertencesse, senão àqueles que tenho amado em espírito, e por quem tenho orado, para que sejam abençoados pelo Jesus bendito.






2 - O Espírito Em Nós

Por Horatius Bonar

Em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da Divindade. Cristo tem o Espírito Santo, o qual Ele nos outorga espontânea e abundantemente, pois o que recebemos é “a graça.... segundo a proporção do dom de Cristo”. Os primeiros crentes “transbordavam de alegria e do Espírito Santo” (At 13.52). Nós temos de ser cheios do Espírito Santo (Ef 5.18), pois o que Cristo nos dá é o próprio Espírito Santo (Rm 5.5), e não algumas influências. O Espírito Santo desce sobre nós (At 8.16, 11.15); é derramado sobre nós (At 2.33, 10.45, Ez 39.29); somos batizados com Ele (At 11.16). O Espírito Santo é o penhor de nossa herança (Ef 1.14); Ele nos sela (Ef 1.13), imprimindo em nós a imagem e semelhança de Deus. O Espírito Santo ensina (1 Co 2.13), revela (1 Co 2.10), convence (Jo 16.8), fortalece (Ef 3.16) e nos torna frutíferos (Gl 5.22). Ele perscruta (1 Co 2.10), age (Gn 6.3), santifica (1 Co 6.11), guia (Rm 8.14, Sl 143.10), ensina (Ne 9.20), fala (1 Tm 4.1, Ap 2.7), demonstra ou prova (1 Co 2.4). O Espírito Santo intercede (Rm 8.26), vivifica (Rm 8.11), cria (Sl 104.30), conforta (Jo 14.26), derrama o amor de Deus em nosso coração (Rm 5.5) e regenera (Tt 3.5). Ele é o Espírito de santidade (Rm 1.4), de sabedoria e de entendimento (Is 11.2, Ef 1.17); o Espírito da verdade (Jo 14.17), de conhecimento (Is 11.2), da graça (Hb 10.29), da glória (1 Pe 4.14), do nosso Deus (1 Co 6.11), do Deus vivente (2 Co 3.3). O Espírito Santo é o bom Espírito (Ne 9.20), o Espírito de Cristo (1 Pe 1.11), o Espírito de adoção (Rm 8.15), o Espírito de vida (Ap 11.11) e o Espírito do Filho de Deus (Gl 4.6).

Este é o Espírito Santo, por meio de quem somos santificados (2 Ts 2.13); o “Espírito eterno”, pelo qual Cristo se ofereceu sem mácula a Deus (Hb 9.14). Este é o Espírito Santo, por quem somos “selados para o dia da redenção” (Ef 4.30); o Espírito que nos torna sua habitação (Ef 2.22) e vive em nós (2 Tm 1.14), através de quem somos preservados a olhar para e a ansiar por Cristo e que nos torna “ricos de esperança” (Rm 5.13).

A vida de santidade depende muito de recebermos e nos apropriarmos deste Hóspede celeste. Digamos-Lhe nosso “bem-vindo”, procurando não envergonhá-Lo, não resisti-Lo, não entristecê-Lo, não apagá-Lo, e sim amá-Lo e nos deleitarmos no seu amor (“o amor do Espírito” – Rm 15.30); de modo que nossa vida seja um viver no Espírito (Gl 5.25), um andar no Espírito (Gl 5.16), um orar no Espírito (Jd 20). Ao mesmo tempo que fazemos distinção entre a obra de Cristo por nós e a obra do Espírito em nós, a fim de preservar inalterável a nossa consciência do perdão, não devemos separar de maneira alguma estas duas obras. Mas, permitindo que ambas cumpram o seu serviço, devemos seguir “a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14), mantendo nosso coração na “comunhão do Espírito” (Fp 2.1) e deleitando-nos nesta comunhão (2 Co 13.13).

A dupla forma de expressão que ressalta a habitação recíproca ou mútua de Cristo e do Espírito Santo em nós é digna de observação. Cristo em nós(Cl 1.27) é um dos lados; nós em Cristo é o outro lado(2 Co 5.17, Gl 2.20). O Espírito Santo em nós(Rm 8.9) é um aspecto; nós vivemos no Espírito(Gl 5.25) é o outro aspecto. Esta dupla forma de expressão também é utilizada em referência à Divindade, nestas admiráveis palavras: “Aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele, em Deus” (1 Jo 4.15).

Parece que nenhuma figura seria plenamente adequada para expressar a intimidade de contato, a proximidade de relacionamento e a completa unidade em que somos colocados, ao receber o testemunho divino sobre a pessoa e a obra do Filho de Deus. Sendo possuidores de todos os recursos necessários a uma vida de santidade, não somos, por conseguinte, mais fortemente comprometidos a vivê-la? Se temos uma vida e recursos tão abundantes à nossa disposição, quão grande é a nossa responsabilidade! Devemos ser “tais como os que vivem em santo procedimento e piedade!” E, se acrescentarmos a tudo isso as perspectivas da esperança da segunda vinda, do reino e da glória, nos sentiremos rodeados, em todos os lados, por motivos, assuntos e instrumentos adequados para nos tornarem aquilo que devemos ser — “sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pe 2.9), “zeloso de boas obras” neste mundo (Tt 2.14) e possuidores de “glória, honra e incorruptibilidade” no porvir (Rm 2.7).








3 - A Natureza da Nova Criatura em Cristo Jesus

Por mais repetitivos que sejamos em relação a este assunto da natureza da nova criatura em Cristo, na qual somos transformados na conversão, nunca será demais, em face da importância de termos isto devidamente gravado e lembrado em nossas mentes.

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” (Rom 5.12)

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,” (Ef 2.1).

Estas e outras passagens bíblicas se referem à condição de morte, perante Deus, de toda a humanidade em razão do pecado, tal como ele havia dito ao primeiro homem que ele morreria e nele toda a sua descendência, caso lhe fosse desobediente.
Então Jesus nos foi dado para nos transportar da morte para a vida.

“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5.24)

“Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte.” (I João 3.14)

Vejamos então como passamos da morte para a vida, por sermos agora novas criaturas, por meio da fé em Jesus.
Isto não significa que recebemos um novo espírito para ocupar o lugar do nosso espírito.
Não significa também o recebimento de uma nova personalidade para substituir a que tínhamos até a nossa conversão, uma vez que esta permanece em nós.
Não encontramos amparo para este tipo de ensino nas páginas de toda a Bíblia, mas lá encontramos que passamos a ter um novo princípio de vida espiritual, divina e celestial que é implantado em nós, quando temos o nosso primeiro encontro pessoal com Cristo, como uma semente, destinada a germinar, e a crescer e a produzir frutos de justiça, consoante as virtudes da própria pessoa de Jesus, I Pe 1.23; Tg 1.21; 1 João 3.9.
É pela habitação do Espírito Santo no crente, e por esta nova disposição de vida nele implantada, que todas as faculdades e disposições do nosso corpo, alma e espírito são vivificados e renovados, para o que se chama de novidade de vida.
Por fazer aumentar e crescer em nós estas graças referidas, mortificamos o princípio operante do pecado, e adquirimos mais das virtudes do próprio Cristo, em operações progressivas renovadoras do Espírito Santo.
Assim, lemos em Romanos 8.6-13 o seguinte:

“Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.
Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.
Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça.
Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita.
Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne.
Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.”

A qualidade da vida de Deus somente pode ser vista portanto, naqueles que foram  e que têm sido vivificados pelo Espírito Santo.
É destes e somente destes que Deus declara nas Escrituras que vivem. Seguramente, a qualidade de vida que se tem fora da comunhão com Deus não pode ser chamada propriamente de vida, senão de morte, por causa da impossibilidade da citada condição de nos habilitar a amarmos a Deus e a ter prazer na sua vontade e mandamentos, provando este amor, por permitir que Sua Palavra seja aplicada às nossas próprias vontades e vidas.







4 - Natural e Espiritual

“O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.” (João 3.6)

Nosso Senhor nos dá em poucas palavras qual é a condição real da natureza humana, ao afirmar que “o que é nascido da carne, é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito."
Ele se refere a dois tipos de nascimentos distintos por reprodução. O primeiro em relação à carne, ou ao que é natural, que somente pode gerar algo à sua própria semelhança, ou seja, natural. O segundo em relação ao Espírito Santo que gera nascimentos sobrenaturais, ou seja, espirituais.
Apesar de existir aquilo que poderíamos chamar de algo assombroso relativamente à formação de um ser natural como o humano, que é gerado a partir de uma única célula formada da união de um espermatozoide com um óvulo, e que por reproduções sucessivas chega a formar o complexo de órgãos, sistemas, processos físico-químicos, e tudo o mais que mantém a vida em funcionamento, com comandos involuntários criados e programados por Deus de modo sobrenatural, para a constituição plena das funções do ser humano, todavia, ele dispôs este processo natural de tal forma, que toda geração natural será processada espontaneamente a partir dos princípios que ele estabeleceu previamente para tal propósito.
Daí nosso Senhor afirmar que o que é nascido da carne é carne.
Entretanto, quanto ao nascimento espiritual operado pelo Espírito Santo, nestes que chegaram à existência através da geração natural, este é de outro caráter, porque não pode ocorrer espontaneamente pela vontade e controle do homem, como o primeiro, e nem a nova vida espiritual gerada pode ser mantida por processos naturais, senão somente pelas operações sobrenaturais do Espírito Santo.
No contexto desta passagem de João 3.6 nós encontramos o diálogo de Jesus com Nicodemos, no qual ele destacou a necessidade de um novo nascimento do alto, do Espírito Santo, para que possamos ver o reino de Deus. Assim ele apontou que permanecemos alijados da vida espiritual de Deus, que é espírito, enquanto não nascemos de novo do Espírito Santo.
Nosso Senhor também ensinou no contexto desta passagem que este novo nascimento somente pode ser obtido pela fé nele.
Daí se dizer nas Escrituras que se alguém está em Cristo é uma nova criatura, ou novo homem, o que é designado pelo Senhor no texto de João 3.6 simplesmente pela palavra espírito.
Esta nova criatura gerada pelo Espírito Santo não é algo de outra substância que é acrescentada ao espírito da pessoa que nasceu de novo na conversão a Cristo.
Fala-se na Escritura de algo que é colocado, como uma nova disposição, como vemos em Col 4.10.
Embora seja algo distinto do espírito do homem; no entanto, é uma coisa mais intimamente inerente a ele, e que é mais estreitamente unida a ele, e que nos renova, Ef 4.23; Sl 51.10. E este trabalho de renovação é feito no homem interior, ou seja, no mais profundo do nosso ser, em nossas disposições interiores que nos definem como a pessoa que realmente deveríamos ser, conforme projetado por Deus, e não no homem exterior, que se corrompe com o avançar do tempo, ou mesmo em manifestações superficiais de nossas faculdades que se revelam em conversações e ações vazias e infrutíferas relativamente aos desígnios de Deus.
É impossível para a mente comum conceber que haja uma outra dimensão de vida (a espiritual que nos vem do alto) além desta já tão complexa vida natural com todo o seu aparato de possibilidades de desenvolvimento de habilidades e conhecimentos, conforme foi programado por Deus, e daí não serem poucos os que negligenciam esta necessidade vital de um novo nascimento do espírito, por não crerem que seja de fato necessário ou mesmo possível, uma vez que a própria vida natural é assim tão cheia de mistérios que o homem vem desvendando ao longo das eras.
Mas como Deus não projetou o que é natural para a eternidade, senão somente o que é espiritual, e que possua o mesmo caráter da divindade, em seus atributos e virtudes espirituais, então, torna-se crucial atingir este propósito eterno, uma vez que tudo o que é natural se desfaz pelo uso e com o tempo.
A vida natural por mais plena e pura que fosse, ainda assim, não poderia adentrar a eternidade, porque isto é concedido somente ao que é espiritual. Espiritual, não simplesmente por possuirmos um espírito, porque disto todas as pessoas são dotadas, mas espiritual no sentido de possuir a vida que é produzida pelo Espírito Santo naqueles que têm a Cristo.
Deve ser levado em conta, sobretudo, que Deus não pode habitar senão naqueles que são assim nascidos de novo do Espírito Santo, porque é nestes que há o consentimento voluntário do trabalho que Ele operará da transformação deles à sua própria imagem e semelhança. Daí o apóstolo chamar a isto de coparticipação da natureza divina, 2 Pe  1.4, indicando que esta harmoniosa cooperação da vontade do homem, submetendo-se à vontade de Deus, uma vez que nele agora habita esta nova disposição espiritual que é nele produzida pela habitação do Espírito Santo.
Há necessidade desta justa cooperação porque na criatura natural tudo está disposto para crescer espontaneamente sem a influência direta do exercício da nossa vontade para o seu funcionamento e crescimento. Mas tal já não sucede em relação à nova criatura onde tudo exige esforço, diligência, escolha, segundo o querer e o efetuar de Deus. Ou seja, a nova criação espiritual demanda um contínuo andar no Espírito Santo e obediência às ordenanças de Deus constantes de Sua Palavra. Sem isto não há crescimento e nem a manutenção das graças recebidas por meio da fé em Cristo.
A criatura natural pode viver sem Deus no mundo. Mas a nova criatura não somente existe sem Deus, como também não pode subsistir afastada dele.
Daí o apóstolo ter afirmado: “já não vivo eu, mas Cristo vive em mim” Gál 2.20.
A nova criatura garante a permanente presença diante de Deus, porque é nascida do Espírito, e assim, não pode morrer, e nunca deixará de viver aquela vida sobrenatural e superior que se encontra em Jesus Cristo.
Esta nova vida foi gerada da semente incorruptível, que não comete pecado, e que foi colocada por Deus na alma de todo o que crê em Jesus, 1 João 3.6.

É pela germinação e crescimento progressivo desta semente que o pecado será mortificado mais e mais para que possamos produzir os frutos espirituais de justiça esperados por Deus, Rom 8.6-14.







5 - Salmo 119.36 – Por Thomas Manton


“Inclina o meu coração para os teus testemunhos, e não à cobiça.” (Salmo 119.36).

Tradução e adaptação elaboradas pelo Pr Silvio Dutra, de citações extraídas do comentário de autoria de Thomas Manton, sobre o Salmo 119.36.

Nos versículos anteriores Davi pediu compreensão e direção para conhecer a vontade do Senhor, agora ele pede  uma inclinação do seu coração para fazer a Sua vontade.
Não somente o entendimento deve ser esclarecido, mas a vontade deve ser movida e mudada.
O coração do homem é, por sua própria vontade avesso a Deus e à santidade, mesmo quando a inteligência é mais refinada, e o entendimento é abastecido com altas noções sobre o assunto, por isso, Davi não disse apenas: “Dá-me entendimento”, mas "Inclina o meu coração".
Podemos ser mundanos de nós mesmos, mas não podemos ser santos e espirituais de nós mesmos; isto deve ser pedido àquele que é "o Pai das luzes, do qual procede toda dádiva boa e perfeita.”
Aqueles que pleiteiam o poder da natureza como apto para produzir a retidão,  excluem o uso da oração; pois se, por natureza, podemos determinar para nós mesmos o que é bom, não haveria necessidade de graça; e se não houvesse necessidade da graça, não haveria qualquer utilidade na oração.
Assim fez Davi, e assim fará todo cristão com o coração partido que tenha tido uma experiência das inclinações de sua própria alma; ele virá a Deus e dirá: "Inclina o meu coração para os teus testemunhos, e não à cobiça."
Nestas palavras há algo implícito e expressado. O que está implícito é uma confissão, o que se expressa é uma súplica. Aquilo que ele confessa é a inclinação natural do seu coração para as coisas do mundo e, por conseguinte para todos os males, porque todos os pecados recebem vida e força de inclinações mundanas. O que ele implora é que a inclinação total e o  consentimento de seu coração possam conduzi-lo aos testemunhos de Deus. Ou, resumidamente, temos aqui:
1. A coisa pedida - inclina meu coração.
2. O objeto desta inclinação, expressada de forma positiva - para os teus testemunhos; e negativamente - e não para a cobiça.
"Inclina o meu coração”,  a palavra implica:
1. Nossa obstinação natural e desobediência à lei de Deus, pois se o coração do homem fosse naturalmente propenso, e voluntariamente pronto para a obediência, seria em vão dizer a Deus: "Inclina o meu coração." Ai! mas até que Deus nos incline para o outro lado permanecemos avessos aos seus mandamentos. Há uma vontade corrompida que pende para trás, e deseja algo, em vez daquilo que é certo. Precisamos ser conduzidos e inclinados novamente como uma vara torta para o outro lado, para que possa ser endireitada.
2. Isto implica o ato gracioso e poderoso de Deus na alma, onde o coração é fixado e dirigido para o que é bom, quando há uma propensão para o que é contrário a isto; este é o fruto da graça eficaz.
1. Quando é dito que o coração está inclinado para os testemunhos de Deus? Eu respondo - Quando a tendência habitual de nossas afeições é mais para a santidade do que para as coisas do mundo (porque o poder do pecado está no amor ao mundo), e assim  faz com que sejamos aptos para a graça e ao amor por ela.
Então, nós estamos inclinados para os testemunhos de Deus, quando os nossos afetos têm uma propensão para o que é bom. Agora, esses afetos devem ser mais para a santidade do que para as coisas mundanas; porque é pela prevalência que a graça é determinada, se a parte preponderante da alma se inclina para Deus. Isto não é uma postura permanente; pois estamos sempre nos levantando entre as duas partes. Há Deus e o mundo; um senso bom pendendo de um modo, e há um bem espiritual que nos pende de outra maneira. Agora, a graça prevalece quando o prato da balança pende para o lado da graça. Eu digo que isto é a inclinação habitual, não uma sensação súbita; o coração deve ser dirigido a buscar o Senhor: 1 Crônicas 22.19, “Disponde, pois, agora o coração e a alma para buscardes ao Senhor, vosso Deus”; e no curso de nossos esforços, a força e o fluxo de nossas almas operam desta forma; então é disso que é dito que o coração está inclinado aos testemunhos de Deus.
2. Como é que Deus age para conduzir e enquadrar os nossos corações à obediência de sua vontade? Há duas maneiras que Deus usa, pela Palavra e pelo seu Espírito, pela persuasão e pelo poder; eles devem ser "ensinados por Deus”, e eles são “atraídos por Deus”: João 6.44. "O Senhor engrandecerá Jafé” Gên 9.27, então ele trabalha com persuasão, e em seguida, pelo poder, Ez 36.26,27, “Eu farei com que andeis nos meus caminhos”, etc. Deus atrai com uma força irresistível e com  doçura juntamente. Ele opera como Deus, pois ele trabalha forte e invencivelmente, mas ele convence homens como homens, por isso ele propõe razões e argumentos, trabalhando por meio de persuasão; fortemente de acordo com sua própria natureza, docemente segundo a do homem, por persuasões acompanhadas pela eficácia secreta de sua própria graça. Primeiro ele dá razões pesadas, ele lança peso após peso até que o prato da balança seja mudado de posição; então ele faz tudo eficazmente pelo seu Espírito. Ele trabalha moralmente, porque Deus preservará a natureza do homem e portanto os seus princípios, e assim ele não trabalha pela violência, mas por uma doce inclinação fascinante, e falando confortavelmente a nós: Oséias 11.4, "Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor". Deus conhece todas as divisões do coração do homem, e que tipo de chaves vão abrir as trancas, por isso ele adapta esses argumentos para que possam trabalhar em nós, e nos trazer a ele no nosso tempo apropriado (este tempo é diferente para cada pessoa), e então para que o efeito que se seguirá possa realmente prevalecer.
Deus inclina o coração para o que é bom, e o convence pela sua graça. Deus sabe como alterar o curso de nossas afeições pelo seu poder secreto.
Para os teus testemunhos – assim a palavra de Deus é chamada, pois testifica de sua vontade. Temos uma prova clara e o testemunho como Deus fica afetado por cada homem, que tipo de afeição Deus tem para com ele.
E não para a cobiça - Marque esta frase: não me incline para a cobiça. Porventura Deus nos inclina para a cobiça? Não, mas ele nos permite as inclinações de nossos próprios corações, justamente por negar a sua graça àqueles que o ofendem, e após a suspensão da sua graça, a  natureza é deixada ao seu próprio domínio: a presença do comandante ou piloto salva o navio, a sua ausência é a causa dos destroços. E assim, os escolásticos dizem, Deus se inclina para uma boa eficiência, trabalhando em nós, e para uma má deficiência, retirando a sua graça de nós. Você tem uma expressão parecida no Sl 141.4 “Não permitas que meu coração se incline para o mal.” Deus pode, como um senhor fazer o que lhe agrada com o que lhe pertence; e como um justo juiz pode deixar nossos corações entregues à sua própria inclinação perversa natural.
“Não para a cobiça". Isto é mencionado porque o nosso amor demasiado às coisas mundanas é o obstáculo especial para a obediência; isto tira os nossos corações do amor e cuidado pela submissão à vontade de Deus. E então, quando ele diz "não para a cobiça", ele demonstra a sua própria estima e escolha, como preferindo os testemunhos de Deus acima de todas as riquezas, e, possivelmente, sugere a sinceridade de seus objetivos, de que não iria servir a Deus por vantagens temporais e honrarias mundanas. Satanás acusou Jó a respeito disto de um modo muito perverso: Jó 1.9, "Porventura Jó serve a Deus em vão?" Davi, para evitar tal suposição, e que ele não foi levado por qualquer pensamento de ganho interesseiro por desejar a piedade, disse: “Para os teus testemunhos, e não à cobiça.".
Estas palavras nos oferecem duas observações:
1. Que somente Deus pode conduzir os nossos corações ao que é reto, ou incliná-los de seu pendor carnal para os  Seus testemunhos.
2. Que a cobiça ou o desejo flagrante das coisas mundanas, é um grande impedimento para se cumprir  os testemunhos de Deus.
Analisemos a primeira observação com as seguintes considerações:
Primeiro, o coração do homem deve ter um objeto para o qual esteja inclinado ou então se decompõe, pois ele é como uma esponja, que tem sede em si mesma, suga a umidade de outras coisas; é um caos de desejos, buscando ser preenchido com algo de fora. Fomos feitos um para o outro, para sermos felizes na alegria de um ser fora de nós; por isso o homem deve ter algo para amar, pois os afetos da alma não podem permanecer ociosos e sem um objeto amado: Sl 4.6, “Há muitos que dizem: Quem nos dará a conhecer o bem?”. Todos nós buscamos por algo para satisfazer os nossos afetos.
Em segundo lugar, o coração que é destituído de graça, é totalmente conduzido pelas coisas temporais. Por quê? Porque elas estão próximas da mão, e se adequam melhor com a nossa natureza carnal.
Há duas razões adicionais que inclinam o coração do homem ao que é temporal  - (1) Inclinação natural, e (2) Costume inveterado.
1. Inclinação natural. Que há uma maior propensão em nós para o mal do que para o bem está claro, não somente pela Escritura, mas pela experiência comum. Agora porque somos assim tão viciosamente dispostos? A alma que foi criada por Deus, não recebeu dele qualquer infusão de mal, porque isto não está de acordo com a santidade da sua natureza divina. Eu respondo - Apesar de a alma ter sido criada por Deus, todavia está destituída de graça ou justiça original e, sendo destituída da imagem de Deus, ou da justiça original, só pode estar envolvida com as coisas presentes e conhecidas, não tendo outra fonte de luz e princípio para guiá-la.
Agora as coisas conhecidas e as coisas presentes, elas são os prazeres do corpo, do homem exterior, riqueza, honra e tudo o que é natural. Agora, quando isto ocupa totalmente a nossa mente, nos afasta do amor e estudo das coisas sobrenaturais. É verdade que estas coisas são boas em si mesmas, mas apesar de serem naturalmente boas, elas se mostram moralmente más quando o amor dessas coisas destrói o amor de Deus, o que deve acontecer se estivermos destituídos da graça. O amor de nós mesmos e pelas coisas exteriores cresce necessariamente excessivo, quando não é guiado e dirigido pela graça.
Tire a luz do ar, e ficará escuro, e quando o sol está baixo, deve ser noite. Assim ocorre se a graça é tirada. A grande obra da graça é fazer de Deus o nosso fim e nosso bom Senhor. Agora, este fim último sendo trocado, todas as coisas devem funcionar necessariamente em desordem com o homem. Por quê? Porque o fim último é o princípio mais universal do qual todas perfeições morais dependem. Veja, como Adão e Eva, depois de terem comido o fruto proibido, perderam a imagem de Deus, e foram poluídos, assim também nós. Por quê? Será que Deus infundiu poluição e imundícia neles? ou tinha o fruto proibido tal qualidade venenosa? Não, o seu fim último foi alterado, que é o grande princípio que atravessa todas as nossas ações, e quando o nosso fim é alterado, então tudo fica em desordem. Eles caíram de  Deus, com inveja, falsidade, e desejando o mal para eles, e por instigação do diabo viraram-se para a criação para encontrar a felicidade nela, contra a vontade e ordem expressa de Deus. Assim como o primeiro homem foi completamente pervertido, assim estão todos os homens também totalmente pervertidos, pois o pecado ainda consiste numa conversão de Deus para a criatura, Jer 2.13, 2 Tim 3.4.
Pela troca do nosso fim último toda a bondade moral está perdida, pois todos os meios estão subordinados ao fim último, e são determinados por ele. Agora necessariamente isto estará sem a graça; haverá uma conversão do homem para a criatura e para o corpo, com as conveniências e confortos dos mesmos, o interesse e tudo o que concerne ao corpo será seguido em vez de Deus. Porque quando a alma desce do mundo superior, logo se esquece de sua origem divina, e por estar no corpo, ela se conforma com o corpo, e apenas adere a objetos visíveis e corporais. Como a água, que sendo colocada em um recipiente quadrado, tem uma forma quadrada, em um vaso redondo, tem uma forma redonda, de modo que a alma, sendo infundida no corpo, é liderada por ele, e acomoda todas as suas faculdades e operações para o bem-estar do corpo. E daí vem a nossa ignorância e aversão da alma à santidade, o desregramento de apetite, e inclinação para as coisas sensuais. Em suma, sem a graça, a mente de um homem se precipita às vaidades mundanas. Como a água corre, onde ela encontra uma passagem, por isso a alma do homem, sendo destituída da imagem de Deus, encontra uma passagem para as coisas temporais, e assim funciona dessa maneira.
2. Assim como o homem está, portanto, corrompido e propenso a objetos mundanos por inclinação natural, assim também, pelo costume inveterado.
Assim que nascemos, o nosso apetite sensual, e os primeiros anos da vida do homem são apenas regidos pelos sentidos; e os próprios prazeres são nascidos e criados conosco, e profundamente gravados na nossa natureza; e pela constante vivência no mundo, conversando com objetos corpóreos, a mancha vai crescendo em nós, e por isso estamos mais profundamente pintados e confirmados num quadro mundano, e vivemos em busca de honra, ganho e prazer, de acordo com o temperamento particular de nossos corpos e curso de nossos interesses que atuam em nossas deliberações: Jer 13.23, "Pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? então podereis também vós fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal." O costume é como uma outra natureza. Nós a achamos pela experiência, quanto mais estamos acostumados a qualquer curso de vida, mais nos deleitamos nele, e somos desmamados dele com uma dificuldade muito grande. Todo ato dispõe a alma ao hábito, e depois que o hábito ou costume é produzido, então cada novo ato deliberado acrescenta uma rigidez ou influência duplicada na faculdade em que o costume está assentado; e quanto mais tempo este mau costume continuar mais facilmente somos levados com as tentações que a ele se ajustam, e mais dificilmente somos influenciados pelo que lhe seja contrário. Agora, esta rigidez de vontade num curso carnal é o que a Escritura chama de dureza de coração e um coração de pedra, porque um homem é seduzido por esses costumes, e de todos os costumes, a cobiça ou o mundanismo é o mais perigoso. Por quê? Porque este é um pecado de mais crédito e de menos infâmia no mundo, e isso vai multiplicar ainda mais seus atos na alma, e operará incessantemente: "têm o coração exercitado na avareza," 2 Pedro 2.14.
Bem, então, essas paixões (cobiças) sendo nascidas e criadas conosco desde a nossa infância, se estabelecem como uma regra. A fé em Cristo, que vem depois, e nos encontra tendenciosos e predispostos a outras inclinações, que, em razão do uso prolongado não são facilmente quebradas e lançadas fora; assim como nas tentações, às quais seremos chamados, ou que começaremos a nos aplicar nos caminhos da vida, estaremos facilmente sensíveis quanto a esta rigidez do coração e obstinação que nos conduzem por um outro caminho.
Em terceiro lugar, o coração estando, portanto, profundamente comprometido com as coisas temporais, ou coisas terrenas, não pode ser guiado por aquilo que é espiritual e celestial, pois Davi propõe essas coisas aqui como sendo inconsistentes, “para os teus testemunhos Senhor, e não para a cobiça.”. Se o coração estiver viciado em coisas mundanas, estará necessariamente avesso a Deus e aos seus testemunhos, pois a tendência habitual do coração para qualquer pecado é incompatível com a graça ou a obediência completa à vontade de Deus. Aquilo para o que o coração estiver inclinado terá o seu trono. Agora, quando indagamos pela graça; temos ou não a graça? tenho a obra de Deus em meu coração? a questão não é o que há de Deus no coração, mas se Deus tem o trono. Algo de Deus está no coração do homem mais perverso que existe, e algo do pecado no melhor coração que existe; por isso qual caminho é a tendência, a inclinação habitual e predominante da alma? Quem que tem o domínio? “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.”  Rom 6.14. O que tem a prevalência do coração? Embora a consciência tome partido de Deus, como pode tomar fortemente em um homem mau, ainda qual é o caminho para o qual se inclinam as nossas almas? E, assim como todo pecado, em seu reinado é inconsistente com a graça, assim muito mais são as afeições mundanas: Mat 6.24, "Ninguém pode servir a dois senhores".
Você não pode estar inclinado a Deus e ao dinheiro: 1 João 2.15: "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele."
Em quarto lugar, este quadro de coração não pode ser alterado até ser mudado pela graça de Deus. Por quê? Porque não há qualquer princípio remanescente em nós, que possa alterar este quadro, ou nos tornar insatisfeitos com nosso estado presente, assim como para cuidar de outras coisas, que possam quebrar a força de nossas inclinações naturais e habituais. Há três coisas que se posicionam contra a mudança do coração para Deus.
1. Há a nossa natureza, que nos leva totalmente a favor da carne, e desordenadamente para buscar o bem do corpo. Agora, a natureza não pode subir mais alto do que si mesma, e se aplicar a coisas que estão acima de sua esfera; como a água, que não pode subir mais alto do que a sua fonte. Nossas ações não podem exceder o seu princípio, que é o amor próprio. Mas, além disso,
2. Há o costume adicionado à natureza, que a torna mais endurecida e obstinada; de modo que se pode supor que a consciência é sensível de nosso erro e escolha errada, e algumas considerações de peso devem ser propostas para nós, pois é fácil mostrar que as coisas eternas são muito melhores do que as coisas temporais, e as coisas espirituais do que as carnais - se a consciência, eu digo, deve entrar, e representar o estado doentio no qual nos encontramos, e ainda, porque a postura de nossos corações nos conduz habitualmente de outro modo, estamos não inclinados a Deus ou ao que concerne à vida eterna; porque não será o mero argumento que fará isto.
Com toda a razão um bem menor não deve ser preferido a um maior; e os prazeres mundanos, que não são apenas inferiores e turvos, mas também passageiros, e que dão ocasião a muitos males para nós, estes não devem ser preferidos antes que a felicidade eterna. Mas aqui reside a nossa miséria, embora os prazeres que nos afetam sejam de menor valor em si mesmos, mas a nossa propensão habitual e inclinação habitual para eles é maior.
3. Há a maldição de Deus, ou duras penas. Porque assim como a natureza cresce em costume, pelos nossos pecados costumeiros Deus é provocado, e retira essas influências comuns da graça pelas quais nossa condição poderia ser melhorada, e na aplicação da Sua justiça ele deixa os nossos corações entregues a si mesmos; Oseias 4.17, "Efraim está entregue aos seus ídolos, deixa-o”, Sl 81.12, “Assim, deixei-o andar na teimosia do seu coração; siga os seus próprios conselhos.” Assim deixamos de ter  aqueles avisos frequentes e dores de consciência, e os bons pensamentos como antes. "Deixe-o sozinho"; a Providência o deixou só, a consciência, o deixou sozinho, e o pecador é deixado à sua própria vontade. Portanto, de todo o trabalho o que restou foi ser deixado sozinho por Deus, o único que tem poder para perdoar, e para curar a têmpera de nossos corações, ele tem autoridade para tirar essa dura sentença judicial que como um juízo pode continuar sobre nós, e em razão do que os santos se  expressam com estas palavras: "Inclina o meu coração para os teus testemunhos,". E vemos assim que Deus tem poder para tirar a dureza natural e habitual que está em nós: "Porque o coração do homem está na sua mão, como os rios de água", Prov 21.1, e pode tão facilmente nos chamar para o bem, assim como a água segue o curso que foi cavado para ela.
Davi diz aqui: “Senhor, incline o meu coração”, e em 1 Reis 8.58: " a fim de que a si incline o nosso coração, para andarmos em todos os seus caminhos e guardarmos os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, que ordenou a nossos pais." Somente a operação de Deus pode dobrar a vara torta para o outro lado. Mas você vai dizer que este trabalho às vezes é atribuído ao homem, por exemplo, no verso 112 deste salmo: “Eu inclinei o meu coração para guardar os teus estatutos, para sempre, até o fim”, e Josué 24.23 “Inclinai o vosso coração ao Senhor Deus de Israel."
Eu respondo - Estas passagens apenas enfocam a nossa operação subordinada, ou o movimento voluntário e resoluto de nossa parte. Quando Deus nos dobrar e inclinar para fazer a sua vontade, quando Deus colocar o nosso amor para agir, e nos posicionar no que é espiritual e bom, então vamos nos inclinar, e dobrar nossos corações desta maneira. De modo que todas essas expressões não implicam uma cooperação, mas a operação subordinada por parte do homem.
(Há um dito popular não bíblico: “faça a tua parte que Deus fará a dele”. Nossa parte é permitir sermos dobrados e movidos por Ele, e não fazer algo específico e diferente do que Ele faz. Nossa parte é crer e obedecer, conforme somos capacitados pela graça – nota do tradutor)
Em quinto lugar, nesta mudança há um enfraquecimento da antiga inclinação para as vaidades carnais, e há um novo pendor de coração derramado sobre nós. O coração é retirado do amor aos objetos terrenos, e então é fixado naquilo que é bom e eterno: Deut 30.6: "O SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas.”. Em primeiro lugar, há uma circuncisão, a poda da carnalidade do coração e, depois, um amor sincero a Deus. Assim lemos em Ezequiel 36.26,27, “tirarei o coração de pedra da vossa carne, e porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos.” Primeiro, a indocilidade da vontade e dos afetos é removida e, em seguida, um coração nos é dado, que é  capacitado e maleável para os propósitos da graça. Primeiro, as ervas daninhas são arrancadas, então é plantada em nós a santa semente. Ou então nós “tiramos o velho”, e então “colocamos o novo”, Ef 4.22,23. A corrupção inata natural, que diariamente cresce cada vez pior, é cada vez mais removida, assim com nos despimos da roupa velha para vestirmos a nova.
Em sexto lugar, quando nossos corações são assim mudados, eles estão sempre prontos para retornarem às suas antigas inclinações. Porque Davi, sendo um homem renovado,  falou assim com Deus: "Ó Senhor, incline o meu coração para os teus testemunhos, e não para a cobiça." Ele viu o seu coração se entortando novamente, e sendo sensível à infecção, recorreu a Deus. A inclinação que há neles para o mal não está tão perdida para o melhor dos filhos de Deus, e ela retornará, a menos que Deus ainda nos atraia a Si. A esposa de Cristo, aqueles que já se encontram em comunhão com ele, dizem: "Atrai-me”. Este não é um trabalho para ser feito uma única vez e não mais, mas deve ser renovado muitas vezes e repetido na alma, pois existem alguns resquícios de nossa aversão natural, para com Deus, e inimizade para com o jugo da sua palavra, ainda deixados no coração: Gál 5.17, "a carne luta contra o espírito”. Existem dois princípios ativos dentro de nós, e eles estão sempre em guerra um contra o outro. Portanto, há necessidade não somente de estarmos inclinados em primeiro lugar, e atraídos para Deus, mas temos de ir a ele de novo e de novo, e orar a ele diariamente para que ele continue mantendo a tendência de nossos corações na retidão, e enfraqueça as afeições carnais.







6 - Vivendo de Forma Sobrenatural Como a Igreja de Cristo

Por John Piper

A vida Cristã é sobrenatural ou não é nada. A igreja é feita de "pedras vivas edificando uma casa espiritual" (1 Pedro 2:5). "Espiritual" é o oposto de meramente "natural". Significa habitada, guiada e habilitada pelo sobrenatural Espírito de Cristo.
Paulo fez diferença entre uma "pessoa natural" e uma "pessoa espiritual" (1 Coríntios 2:14-15). E ele descreveu aqueles que agem como pessoas "naturais" como: "carnais" (1 Coríntios 3:4). Cristãos não são "carnais". Eles são "homens espirituais". Deus habita neles (1 Coríntios 6:19). Eles têm uma nova vida sobrenatural fluindo através deles. Eles vivem com poder que não é meramente deles mesmos.
Não há como sermos a igreja sem essa experiência. O chamado para negar a nós mesmos pelo amor, para pagar o mal com o bem, para perdoar setenta vezes sete, para suportar uns aos outros e para continuar fazendo isso com alegria por 50, 60 ou 80 anos não é possível ao homem natural. Só é possível sobrenaturalmente.
Para sermos a igreja precisamos viver em Deus. "Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer" (João 15:5). É necessário um poder sobrenatural para suportar pacientemente com o tipo de amor que nos define como igreja de Cristo. Por isso Paulo suplica que possamos ser "corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da sua glória [de Deus], em toda a paciência e longanimidade, com gozo" (Colossenses 1:11). É necessário poder em concordância com a divina glória para que, alegremente e pacientemente, suportemos com amor até a nossa morte.
Portanto devemos procurar viver em Deus. Devemos buscar viver o poder sobrenatural diariamente para que possamos ser a igreja. Ore em cima desses versos. Peça a Deus para fazê-los verdade para você.
2 Timóteo 1:8 - "Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor. . . antes, participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus."
Colossenses 1:29 - "E para isto também trabalho (para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo), combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente.
Filipenses 4:13 - "Posso todas as coisas naquele que me fortalece."
Filipenses 2:12-13 - "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade".
Efésios 6:10 - "Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder".
2 Coríntios 12:9 - "De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo".
1 Coríntios 15:10 - "Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo".
Romanos 15:18 - "Porque não ousaria dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para obediência dos gentios, por palavra e por obras".
Permanecendo em Cristo com vocês,
Pastor John








7 - Espiritual

A palavra “carne” (sarx, no grego) é usada no texto do Novo Testamento, tanto para designar o corpo físico natural, no qual não há inerentemente qualquer mal moral, senão o mau uso que se pode fazer do mesmo, e também, a condição da natureza terrena decaída no pecado que se opõe a Deus e à Sua vontade.
A revelação bíblica apresenta um contraste entre o que é espiritual e o que é natural e carnal, e não propriamente material, como costumeiramente ocorre ao modo de se pensar em geral.
Sendo que o carnal e o natural aqui referidos reportam, respectivamente, o primeiro ao que é pecaminoso, e o segundo ao que é pertencente à vida moral, que não é espiritual, celestial, sobrenatural e divina.
O conceito de espiritual, conforme o encontramos especialmente no Novo Testamento, transcende o de espírito, porque os anjos caídos e o espírito de pessoas ímpias não são ditos espirituais, pois esta palavra indica a condição de espíritos que são conduzidos pelo Espírito Santo de Deus, que se encontram a Ele voluntariamente sujeitos, a saber, os anjos eleitos e as pessoas que foram regeneradas pelo Espírito.
A condição do espírito pode ser tanto de luz ou de trevas. A de luz identifica os que são espirituais, e a de trevas, os que são carnais, ou seja, os que não são de Cristo e não têm, por conseguinte o Espírito.
Como a geração que viveu nos dias de Noé não atendia ao propósito da criação do homem por Deus, ou seja, viviam como carnais e não permitiam o trabalho do Espírito Santo em seus corações, então foi determinada a destruição pelas águas do dilúvio (Gênesis 6.3), como um sinal e aviso do que há de suceder a todos os que viverem como carnais, resistindo ao Espírito.
Ao homem natural não ocorre o pensamento de ter sido criado para viver no e pelo Espírito Santo. Se Deus não abrir o seu entendimento para as coisas que são espirituais e celestiais, ele jamais poderá topar com o propósito da criação da humanidade por Deus. E, não há nenhum jogo de esconde-esconde nisto; nenhuma vontade caprichosa de Deus envolvida nisto, senão a manifestação da vida eterna que está oculta em Cristo, e à qual Ele dá acesso somente àqueles que têm escolhido, e obedecem à Sua vontade.
Evidentemente, para muitos propósitos úteis e convenientes à Sua exclusiva soberania e autoridade, bem como a nós próprios, fomos criados por Deus sendo espíritos dotados de um corpo natural, colocados a viver num mundo também natural.
Por nossa relação com as realidades naturais, o nosso espírito pode ser exercitado em cuidados providenciais visíveis, que de outra forma, não poderiam ser manifestados, e importava que Deus manifestasse, segundo Seu propósito eterno, toda a Sua glória, em demonstrações de Seu amor, Sua bondade, misericórdia e justiça para com pecadores.
O homem deve se interessar em saber o que fazer, para que seja encontrado como espiritual e não como carnal, pois temos este dever da parte de Deus para que possamos agradá-Lo.
O apóstolo Paulo afirma na parte final do quinto capítulo da epístola aos Gálatas, que devemos andar no Espírito Santo de modo a não satisfazer às cobiças da carne – carne aqui considerada, como na maior parte das passagens do Novo Testamento, como sendo a nossa natureza terrena decaída no pecado, da qual devemos nos despojar pelo trabalho de mortificação do pecado, pelo Espírito Santo.
Essa vida espiritual, como já foi dito antes, não é pertencente à nossa natureza terrena, ela nos vem do Alto, descendo do Pai das luzes, e por isso, assim nos exorta o apóstolo Paulo:
“Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” (Colossenses 3.1-3)
O oitavo capítulo de Romanos e o segundo de I Coríntios discorrem sobre a verdade, de que o homem natural não tem o pendor do Espírito Santo, porque a carne (aqui também com o significado de natureza terrena corrompida pelo pecado), não pode estar sujeita a Deus. Nisto se evidencia e cumpre a seguinte palavra de nosso Senhor Jesus Cristo: “o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.” (João 14.17).
Sem conversão, permanecendo carnal, o homem não pode receber o Espírito Santo para nele habitar. Então, o que nos torna espirituais é a habitação do Espírito Santo.
Sendo feitos espirituais importa vivermos como espirituais, andando continuamente no Espírito, e não mais como carnais.
Você pode ler alguns versículos bíblicos com as seguintes palavras destacadas do texto original:
1 – pneumatikos (grego) – espiritual;
2 – sarkikos (grego) – carnal;
3 – sarx (grego) – carne;
4 – pneuma (grego) – espírito; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128551

Você pode ler toda a Bíblia com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:

http://interpretabiblia.blogspot.com.br/

Sermões e mensagens:

http://retornoevangelho.blogspot.com.br/ 







8 - A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo

“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida.” (João 6.63)

Observe atentamente o seguinte relato, baseado em fatos reais:
Um homem pacífico, justo, piedoso e temente a Deus sofreu um infarto agudo do miocárdio que o conduziu ao internamento numa Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), e como a grave insuficiência cardíaca produziu um edema pulmonar, não diagnosticado e identificado pela UTI, o mesmo passou a ter séria dificuldade para respirar, e num estado de semiconsciência gemia intermitentemente para conseguir aspirar e expirar um pouco de ar. Pessoas do grupo de enfermagem mandavam-lhe asperamente que calasse a boca, achando que estava fazendo aquilo de propósito. Então um psiquiatra foi convocado a dar o seu parecer, e este entendeu que o melhor seria ministrar-lhe uma forte dose de drogas tranquilizantes (que ele veio a saber posteriormente tratar-se da chamada “boa noite Cinderela”, e também medicação para esquizofrenia) que vieram a fazer um efeito reverso, pois em vez de ser tranquilizado, veio a saber que no período que esteve inconsciente passou a ter um comportamento descompassado proferindo palavras desconexas. Então um psicólogo foi convocado para dar o seu parecer e este chegou à conclusão que se tratava de um paciente mais psiquiátrico do que cardiológico, tendo feito constar em seu diagnóstico que se tratava de pessoa descontrolada e agressiva. Com isto o mesmo foi amarrado firmemente na maca em que se encontrava, tendo suas mãos e pés imobilizados. Quando voltou horas depois ao estado de consciência, sua insuficiência respiratória e cardíaca se agravou porque se viu naquelas condições, estando com o corpo nu em um ambiente cuja temperatura nunca ultrapassava os 18 graus centígrados. Seu estado que era crítico e de debilidade extrema por causa do infarto se agravou ainda mais quando se viu naquela condição humilhante de desproporcional ao que de fato necessitava. Os médicos cardiologistas limitaram-se simplesmente a lhe ministrar os medicamentos vasodilatadores que haviam sido prescritos na unidade de emergência, sem que lhe fosse prescrito o uso de qualquer diurético para fazer o edema pulmonar recuar. Sequer tivera seus pulmões auscultados ou radiografados, bem como nenhum eletrocardiograma ou ecocardiograma havia sido realizado naqueles primeiros dez dias de internação. Não fosse a graça de Jesus que fortalecia o seu espírito enfraquecido, para sustentar a sua alma abatida e o seu corpo amortecido pela enfermidade, certamente não teria suportado todo aquele tipo de atendimento que estava recebendo.
Ninguém... quer na equipe de médicos, quer na de enfermagem, demonstrou amor, compaixão ou empatia pelo estado em que se encontrava, nem sequer houve até aquele momento um só samaritano entre eles que se sensibilizasse pela sua condição de sofrimento, pois em suas consciências todos estavam desculpados e justificados pela ideia ilusória de que estavam realizando competentemente as funções técnicas para as quais haviam sido adrede preparados.
Eles estavam trabalhando com um pedaço de carne que viera ter às suas mãos, assim como o açougueiro trabalha fria e insensivelmente em cada pedaço de corte com o seu facão, e não propriamente com um ser humano dotado de razão, vontade, intelecto, sentimentos, e emoções.
Quer para onde nos voltemos na rede hospitalar, será este o quadro que encontraremos, e as raízes desse comportamento se encontram nos seguintes motivos, dentre outros:
É impressionante a extensão da ignorância que existe sobre as faculdades da alma e do espírito humano por parte da prática científica, uma vez que de há muito as universidades, no afã de separarem a ciência da religião, acabaram por eliminarem também a subjetividade atrelada à religiosidade, por considerar que a pesquisa científica deveria se ater apenas à objetividade, de forma que tem sido este o modo de pensar universitário, que mais e mais se expande com um foco eminentemente materialista, esquecendo-se que a parte nobre do homem não se refere à biológica, mas à sua alma e ao seu espírito.
Como a noção de espírito e alma canaliza para a divindade, uma vez que Deus é espírito, o humanismo, contradiz-se a si mesmo, ao negar a participação de ambos na prática científica, porque reduz a humanidade ao objeto, pela negação da parte imaterial, tendo em vista deixar do lado de fora a influência e realidade de Deus no ser humano total.
A secularização da universidade excluiu dos programas de ensino toda e qualquer abordagem de caráter subjetivo, porque as emoções, os sentimentos, a vontade, a imaginação, a intuição, a consciência, e todas as demais faculdades da alma e do espírito do homem não contam onde o que se persegue e estuda é apenas a compreensão objetiva da matéria, a saber, do universo material que nos cerca, aí incluído o nosso próprio corpo.
A própria práxis psicológica e psiquiátrica, das quais se deveria esperar uma maior pesquisa das faculdades psicológicas e espirituais, no âmbito da subjetividade em que elas existem, é eminentemente acadêmica e empírica, focada na objetividade, voltada simplesmente para a busca de resultados aplicados às áreas terapêutica, profissional, pedagógica dentre outras, e não propriamente à compreensão para a elevação e edificação do próprio espírito e alma humanos.
O grande paradoxo nisto tudo é que o corpo e a matéria passam, mas o espírito é eterno, de modo que se prioriza não o que permanece, senão o que é temporário. E que sabedoria real há nisto?
Todo o esforço da sociedade secular se concentra portanto não na edificação do ser humano, quanto à sua necessidade de crescimento pessoal pelo amadurecimento e aperfeiçoamento de suas faculdades psicológicas, espirituais e morais, no que poderíamos chamar de busca do homem total, pleno da vida e da consciência de Deus, mas o esforço se concentra meramente na formação acadêmica secular pela obtenção de conhecimentos e habilidades para a atuação na produção de bens e serviços materiais, visando-se não ao sujeito, mas ao objeto. O homem nada mais deve ser do que um mero consumidor e executor das práticas em que foi formado através dos programas de ensino seculares.
Um ser espiritual sendo reduzido à matéria! A parte nobre da alma sendo negligenciada em prol do corpo – que é o invólucro temporário do espírito!
Ainda assim, gaba-se o cientista de viver de modo objetivo, ignorando que a subjetividade que conduz à religiosidade é inerente ao espírito humano, ali instalada pelo próprio Deus, para que fosse buscado pelo homem para ser adorado por ele. Ora, negar tal realidade é negar a Deus o direito que Ele detém sobre a criatura! E, por conseguinte, nega-se também a própria humanidade, porque esta não pode existir na verdadeira acepção da palavra, caso esteja alijada da vida divina.
A adoração é uma das faculdades que pertencem exclusivamente ao espírito humano, pois é notório que mesmo nos animais que são dotados de alma, a mesma não existe em razão de não serem dotados de um espírito, que é a parte que distingue o ser humano de tudo o mais que existe na criação.
Assim, Deus não poderia ter errado o grande alvo ao nos dar a revelação da verdade na Bíblia, uma vez que ela tem em vista o resgate e a restauração da humanidade, sobretudo da alma e do espírito, conforme podemos verificar em inúmeras passagens bíblicas, das quais destacamos algumas do Novo Testamento, em que figuram citações diretas ao espírito e à alma, as quais podem ser acessadas através do seguinte link:
http://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/5383851
São faculdades do espírito: Consciência, comunhão, adoração, intuição, amor ágape, fé, revelação, e tudo o mais que faz parte do Espírito Santo, que pode ser gerado no espírito humano: paz, alegria, domínio próprio, bondade, fidelidade, mansidão etc.
São faculdades da alma: emoção, vontade, razão, sentimento, e tudo o mais que se refere às funções cerebrais tanto em humanos quanto em animais.
Mas, na apreciação das faculdades da alma e do espírito, não devemos nos limitar às que foram anteriormente citadas, sem levar em conta a grande gama de realidades invisíveis que operam em ambas, e que são traduzidas em nosso comportamento, e em especial em nossos relacionamentos interpessoais.
Sem que entremos no mérito do que é pertinente exclusivamente ou não à alma ou ao espírito, destacaremos algumas destas realidades que podem ser classificadas como virtudes (quando correspondem ao que existe no caráter de Deus), tendo ao seu lado a designação da realidade negativa que lhe corresponde, por pertencer à natureza caída terrena.

Humildade – arrogância, soberba,
Misericórdia – implacabilidade, crueldade
Perdão – mágoa, rancor, juízo condenatório
Pureza – fornicação, impureza
Fidelidade – adultério, traição
Gratidão – ingratidão
Hospitalidade – inveja, ciúme
Gentileza – rudeza, vileza
Afabilidade – desafeição
Coragem – covardia
Altruísmo – ganância
Veracidade, sinceridade – hipocrisia, falsidade, mentira
Justiça – injustiça
Amizade – inimizade, ira, porfia
Generosidade – egoísmo

A lista é extensa e aplicável sobretudo às virtudes ou erros do espírito humano que podem ser melhoradas (virtudes) ou agravados (erros), quando respectivamente nos aproximamos ou nos afastamos da operação da graça de Deus.
Daí sermos exortados como crentes, em II Coríntios 7.1: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.”
Ora se tais virtudes destacadas, dificilmente são achadas em plenitude nos próprios crentes que têm o Espírito Santo de Deus, por serem de Cristo, quanto mais se poderia esperar achá-las como virtudes genuínas e não o fruto de hipocrisia, em pessoas que não amam a Cristo e os Seus mandamentos?
Quem esperaria colher maçãs em um espinheiro?
Podemos observar nas passagens bíblicas do Novo Testamento que a palavra psique – alma, (da qual se origina a palavra psicologia)  é várias vezes empregada para designar não o corpo físico humano, mas a parte imaterial animada, de modo que é costumeiramente traduzida por vida, para melhor expressar o significado a que se refere. De modo que, por exemplo, quando nosso Senhor afirma que veio para dar a sua vida em resgate de muitos, ele não está se referindo apenas à morte física, mas muito mais do que isso, a saber, que Ele entregou todo o seu ser com todos os poderes e faculdades animados e inteligentes da alma, do espírito, e não apenas do corpo, ou seja, ele entregou-se totalmente por nós.
Concluímos, pois, quão iludidos e enganados estão todos aqueles que julgam a Bíblia como sendo um livro ultrapassado e que não trata com profundidade as questões relativas às necessidades da natureza humana. Nada há mais distante da verdade do que isto, porque se Deus não nos tivesse revelado a verdade, jamais poderíamos chegar ao conhecimento da nossa real condição corrompida e decaída, e que pode ser restaurada somente pelo remédio que também nos é revelado por Deus na Sua Palavra. Tudo o que a chamada prática científica tem afirmado em relação a este campo é fumaça e não propriamente a substância real do mundo espiritual que pode ser discernido somente por meio da fé, a qual é um dom de Deus para aqueles que o amam.
Na simplicidade da revelação nós encontramos um castelo de ouro e pedras preciosas, e em todo o emaranhado das teorias e postulados humanos nada mais há do que um castelo de madeira e palha que não poderá resistir à prova do fogo, e se desfará.
Melhor então que os currículos universitários não abordem as questões relativas à real condição de nossos espíritos, porque se tentassem fazê-lo, pelas mentes de homens incrédulos, o que teríamos seria um grande amontoado de teorias enganosas, conforme costuma suceder aos que se aventuram a fazê-lo. E se não o fazem, é porque nada têm realmente a dizer a respeito, porque coisas espirituais só podem ser discernidas espiritualmente por meio da operação do Espírito Santo (I Cor 2.9-16)
Em suma, de tudo o que se aprende na Bíblia, tanto no Velho quanto no Novo Testamento é que tanto a alma quanto o espírito, afastados de Deus, estão não apenas arruinados e em trevas, mas mortos, e o corpo caminha para a destruição sem a esperança da ressurreição em glória.
Se são de muita ajuda nos assuntos relativos à cura de enfermidades físicas e psicossomáticas, o que podem, no entanto, fazer os médicos, psicólogos, psiquiatras e psicanalistas e qualquer cientista, quanto ao resgate e restauração do homem como um todo (espírito, alma e corpo) para a obtenção da vida eterna que está somente em Cristo Jesus, nosso Senhor, e não somente isto, como também em relação à nossa educação e edificação espiritual para que cheguemos à plena medida da varonilidade de Cristo?
Esta total dependência do espírito humano do Espírito de Deus, pode ser vista claramente na abundância de referências ao Espírito Santo, no texto bíblico, em conexão com o espírito humano.






9 - A natureza Ativa da Nova Criatura

Citações extraídas do tratado de Stephen Charnock sobre a natureza da Regeneração, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

(Nota do tradutor: Alguém disse com propriedade que a vida cristã é pró-ativa, e de fato o é, em razão da natureza da nova natureza espiritual e celestial que recebemos pela fé em Cristo, a qual é sempre ativa e não passiva, e, portanto se reflete em toda uma dinâmica quanto às nossas transformações pessoais bem como quanto à toda nossa nova forma de pensar e de agir. Todavia, esta atividade espiritual promovida e operada pelo Espírito Santo não deve ser confundida com o mero ativismo que geralmente está fundado nas volições de nossa antiga natureza terrena, a qual é decaída no pecado. Assim, os tratados e sermões escritos por Stephen Charnock sobre a regeneração pelo Espírito Santo, muito nos ajudam a compreender todos os detalhes que abrangem o referido assunto.)

“Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2 Coríntios 5.17)

A nova criatura em Cristo está sempre em atividade de movimento. Uma vez que é uma vida infundida por atividade infinita, uma vez que é um hábito que carrega a impressão de Deus, e mantido por uma união com ele, é impossível que ela possa ser sonolenta e sem brilho de uma forma constante. Toda vida tem movimento próprio para o princípio que a rege: a vida racional é atendida com ações racionais; a vida sensível, com os atos apropriados aos sentidos. É tão impossível, então, que uma vida espiritual deveria existir sem atuar consoante a isto, assim como que o sol deveria aparecer no firmamento sem lançar adiante seus raios de luz.
Toda vida é acompanhada de calor natural, para que o corpo seja ativado por um movimento vigoroso. A nova criatura não é uma estátua de mármore ou uma peça de cristal transparente, que tem pureza, mas não a vida. Isto é um espírito vivo e, portanto, ativo; um espírito puro, e, portanto, puramente ativo, de acordo com o grau desta pureza.
Isto é o mesmo hábito, em parte renovado, que Adão tinha pela criação, o qual não era um princípio lento e pesado; e deveria, portanto, ter uma atividade, e não poderia mais ser um princípio adequado para conflitar com o princípio contrário, o qual é ativo como o mar, expulsando lama e sujeira. Desde que o velho Adão transmitiu um princípio tão vigoroso de corrupção, o novo Adão – Cristo – transmite-nos um princípio muito mais vigoroso para exterminar a corrupção e gerar santidade. A graça abunda em seu vigor, assim como o pecado abundou no seu gênero, Romanos 5.20. Após a chamada de Cristo, Mateus deixou seu antigo costume; os outros apóstolos as suas redes - movimento sempre segue uma chamada vivificante de Deus. É primeiro um hábito, em seguida, um ato; primeiro um "espírito de graça e de súplicas", então um “olhar para aquele, a quem traspassaram", por um ato de sua compreensão. Primeiro, uma "santificação do espírito", em seguida, uma "crença na verdade," para a obtenção de glória, 2 Tessalonicenses 2.13.
O princípio que rege a nova criatura é naturalmente ativo. Todos os movimentos vitais são naturais ao tipo de natureza que corresponde aos mesmos. É tão natural para este novo hábito produzir novas ações, como para qualquer coisa para gerar de acordo com sua própria imagem e espécie, como para uma árvore viva dar folhas e frutos. Um homem renovado, cuja semente está dentro de si mesmo, produz fruto segundo a sua espécie, bem como as ervas e as árvores, Gênesis 1.12. O espinheiro, não mais naturalmente produzirá espinhos, do que um hábito do pecado produzirá ações pecaminosas.
Por que deveria a obra de Deus ser mais inapta para o seu fim adequado, do que a mão de obra do diabo, uma vez que as boas obras são o fim da nossa nova criação por Deus, para que andássemos nelas? Andar é um movimento natural: Efésios 2.10. “Nós somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras." Uma videira não mais naturalmente produz uvas, do que uma alma enraizada em Cristo produz os frutos do espírito; nem o sol mais naturalmente ilumina o mundo com os seus raios de luz, do que a nova criatura aponta seus desejos e afetos para Deus; uma vez que este hábito deve tender para ele, uma vez que é plantado por ele.
Os serviços da nova criatura são a sua comida e bebida, não a sua obra; isto é tão natural para ele fazê-lo, como para uma criatura desejar e tomar seu próprio alimento.
A nova criatura, por possuir uma natureza reta, não pode deixar de fazer as coisas justas; nada pode agir contra a sua natureza, enquanto a natureza é ordenada, e não perturbada por alguma doença ou frenesi. Como Deus, cuja imagem um homem regenerado carrega, não pode deixar de fazer o bem, porque a sua natureza é bondade: Romanos 5.2, "Como pode você que está morto para o pecado, ainda viver nele?" Ele não pode mais naturalmente fazer isso do que um homem morto pode andar. Não, mas existem alguns erros, por vezes, que não procedem da natureza, mas de algum temperamento obstrutor. A natureza não erra em seu curso correto, a menos que seja impedida por algum adversário; os erros de homens renovados estão sujeitos a prosseguir não do princípio da regeneração em si, mas a partir daqueles resquícios de corrupção que por graus são enfraquecidos por outro, e, finalmente, totalmente removidos.
O princípio que opera na nova natureza é voluntariamente ativo. Há uma espécie de necessidade natural de movimento de vida e hábito, mas também uma escolha voluntária, é um poder que constrange e inclina a vontade: Salmo 110.8. O apóstolo nos diz que havia uma "necessidade colocada sobre ele para pregar o evangelho," 1 Coríntios 9.16, e isto não era uma compulsão, mas um ato voluntário, após sua vontade ter sido transformada. A nova criatura não é restringida de fora, mas flui livremente, não é forçada; o principal trabalho é sobre a vontade, o efeito adequado de qualquer trabalho sobre a vontade é voluntariedade. O Espírito trabalha para torná-lo disposto; seu mover, então, não é por obrigação: há uma necessidade doce da nova natureza, e uma escolha graciosa de vontade, que se encontram e se beijam; isto é uma necessidade natural, e não coercitiva. Quão livremente a alma, voando com graça, move-se para Deus e por Deus, como um pássaro no ar! Com que espírito livre e pronto nova criatura vai para a oração, leitura e audição da Palavra! Quão livremente ela respira o ar do céu, assim como o nosso corpo respira o ar atmosférico!
Assim que é muito difícil para a alma, tendo este espírito real, omitir as coisas adequadas a este quadro, como é para um legalista o praticá-las. Portanto onde há omissões frequentes de dever, ou um embotamento constante nele, isto mostra a ausência deste quadro real em consequência de não sermos lavados de nossos pecados no sangue de Cristo. Há tal natureza e tal escolha, que, é como diz o apóstolo, 2 Coríntios 13.8: “Não podemos fazer nada contra a verdade, senão a favor da verdade.” Assim, a nova criatura não pode deixar de fazer as coisas que são santas, justas e boas.
A nova natureza é também fervorosamente ativa. Quanto mais espiritual a qualidade, mais vigoroso é o efeito. Tanto a espiritualidade do princípio, a excelência do objeto, e o afeto dirigido ao fim, conspiram juntos para aumentar esta atividade. O princípio é espiritualmente vital; por conseguinte, a operação é vigorosa: o objeto é Deus como amável; então o zelo é o mais fervoroso, e os atos são movidos por se amar a Deus e confiar nele e depender dele, promovendo o seu reino no coração, agindo para o fim da glória de Deus.
Há um princípio inato em tudo para preservar a sua própria felicidade; isto é tão natural como a própria vida. Há na nova criatura um impulso e vigor instalados na alma para fazer o bem.
Isto é um batismo de fogo e com água. O Espírito é primeiro como a água, lavando-nos de nossa imundície; em seguida, como o fogo, vivificando-nos com graça: "Eu vos batizo com água, ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo".
A nova criatura é chamada espírito: João 3.6, "O que é nascido do Espírito é espírito”.
A nova criatura não é limitada – ela não conhece limites. Ela não é limitada em seus afetos por Deus, assim como Ele não é limitado em Seu afeto por ela. Os desejos desta nova criatura são tão grandes quanto a sua natureza. A atividade natural da alma transborda, como um rio transborda em todas as suas margens, uma vez que é possuída por um hábito espiritual.
A nova criatura resiste às tentações da carne e do mundo, para fazer do seu caminho para o seio de Deus, o centro de seu descanso, e as margens sem limites de sua alma.
A nova natureza é poderosamente ativa. Não existe apenas uma afeição sem limites, mas há um poder inerente a este hábito para permitir que a alma atue em todos os hábitos de santidade. Por isso é chamado de “fortalecido no homem interior", Efésios 3.16; e um "espírito de poder”, 2 Timóteo 1.7. O poder em relação à nova natureza é implantado por uma causa maior do que todos os hábitos morais, pelo próprio Espírito de Deus, para que seja capaz de fazer mais do que qualquer natureza moral seja capaz de fazer; e sendo mais excelente do que a natureza moral, deve produzir mais excelentes operações. Jesus Cristo foi designado para ser um Espírito vivificador, para transmitir uma vida poderosa, para nos permitir viver para Deus. "O reino de Deus” no coração, bem como no mundo, "não consiste em palavras, mas em poder", 2 Coríntios 1.20.
Por natureza somos "sem força", Romanos 5.6, pela falta da vida celestial e espiritual, Efésios 2.1. Mas na renovação há força transmitida em conjunto com a vida, uma capacidade de andar nos estatutos de Deus; a fraqueza da alma é feita forte; e a graça interior, em concordância com as fontes do Espírito, é suficiente para isso.
A nova natureza possui uma atividade permanente. Há nela uma fonte de movimento perpétuo. O princípio é permanente, por uma unção operante, I João 2.27, que é apoiada e assegurada pelo penhor do Espírito no coração, onde este habita.
É uma fonte de água viva que salta para a vida eterna, João 4.14; é perpetuamente ativa até que seja absorvida na glória, como os rios no mar.







10 - A Espiritualidade Provada na Materialidade

O conceito de espiritualidade não é antagônico ao de materialidade.
Ao contrário, Deus, em sua sabedoria, nos dotou de um corpo físico e de todo um aparato material destinado à nossa sobrevivência, justamente com o fim de nos provar em nossa espiritualidade.
É pelo modo de usar as coisas materiais que comprovamos o quanto somos conduzidos pela carne, ou pelo espírito.
Um viver espiritual chama à generosidade, à pureza, à sobriedade, ao amor, à moderação, e à rejeição de tudo o que se refira ao abuso de todas as coisas que Deus dispôs na criação para o nosso aprazimento.
Além disso, nos chama a priorizarmos a adoração e o serviço a Deus em relação a tudo o mais, pela renúncia voluntária e prazerosa operada pelo governo do Espírito Santo em nossos corações.
Quem é espiritual não ama a fama, a cobiça, o dinheiro, porque está plenamente satisfeito em Deus, em toda e qualquer circunstância.
Deus é o todo da sua vida, e tudo faz para a sua exclusiva glória.
Em todas as coisas procura ter uma boa consciência para com Deus e para com todos os homens, segundo os preceitos contidos nas Sagradas Escrituras.








11 - Criado para Ser Espiritual e não Carnal

Está declarada de modo muito claro e direto na Bíblia, desde o seu primeiro livro de Gênesis, a verdade relativa à condição natural de todo ser humano de se inclinar para a sua natureza terrena carnal pecaminosa, e por ela ser dirigido, em vez de se inclinar para a natureza celestial e espiritual divina, para a qual fora criado, para viver por meio dela eternamente.
O próprio Deus expôs esta verdade no motivo declarado do dilúvio que traria sobre toda a Terra:

“Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.” (Gênesis 6.3)

Veja a comprovação desta verdade, porque no meio de toda uma geração que se inclinava e se movia apenas pelo que era carnal, somente um homem (Noé) havia se voltado para Deus, pela fé, e obtido pela justificação, a coparticipação da natureza divina, pela qual recebeu o testemunho de ser homem justo, temente a Deus e que se desviava do mal.
Viver na carne, segundo a lição que nos foi deixada no dilúvio, opera a morte e a destruição.
E deste viver todos compartilham, em razão da natureza que possuímos, até que sejamos libertados e justificados pela fé em Cristo, para recebermos uma nova natureza, na qual se cumpre o propósito eterno de Deus na nossa criação.
Afinal, Deus é espírito, e importa que também o sejamos para termos comunhão com Ele e participação da sua vida divina.







12 - Não mais na Carne mas no Espírito

Palavras proferidas por Jesus Cristo:

João 3:5 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.
João 3:6 O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.

Palavras proferidas por Paulo:

Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.

Nós percebemos que foi do ensino de nosso Senhor Jesus Cristo em João 3.5,6, que o apóstolo Paulo baseou a sua afirmação no texto de Romanos 8.9 de que o cristão não está na carne mas no Espírito.
Ora, por que ele fez tal afirmação, uma vez que apesar de ter nascido de novo do Espírito, o cristão permanece, enquanto neste mundo, sob a influência da carne (natureza terrena pecaminosa) que ele ainda possui?
Só podemos entendê-lo a partir do ensino de Jesus que disse que o que é nascido do Espírito é espírito.
Não se diz que será, mas que já é espírito.
Ou seja: seu espírito que se encontrava morto em delitos e pecados foi revivificado. É agora um ser espiritual aos olhos de Deus. Sua natureza carnal recebeu a sentença de morte na cruz juntamente com Cristo, e está sendo despojada pela nova natureza espiritual e celestial, que também habita no cristão.
O Espírito Santo não produz naturezas pecaminosas, mas santas. Daí se dizer que todo o que é nascido do Espírito é espírito.
Mas o que não é nascido do espírito não pode agradar a Deus, porque tudo quanto pode gerar é a mesma natureza terrena pecaminosa que possui, ou seja, o que a Bíblia chama de carne. Este é o único legado e marca que pode deixar para outros.
Além disso, deve ser considerado, conforme o apóstolo expressara anteriormente em Romanos 7,  que o que é nascido do espírito possui uma mente e uma nova natureza que se inclinam para Deus e para os Seus mandamentos. Por ter sido feito espírito e por ter  sido crucificada a carne, por causa da fé em Jesus, não ama o que é carnal, mas o que é espiritual e celestial.
  







13 - Não Mais na Carne

“Rom 8:1  Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
Rom 8:2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
Rom 8:3 Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,
Rom 8:4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
Rom 8:5 Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito.
Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.
Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.
Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça.
Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita.
Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne.
Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.
Rom 8:14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.”

A força e o foco do argumento do apóstolo Paulo, nesta seção do oitavo capítulo da epístola aos Romanos repousa na verdade espiritual de que em Cristo nenhum servo autêntico de Deus, nascido de novo do Espírito Santo, encontra-se em estado de inimizade com Deus, por não estar reconciliado com Ele.
Todos, sem uma única exceção, são filhos amados, por meio da sua união com Cristo.
Foram resgatados de um viver exclusivamente pela energia da natureza terrena, porque encontram-se agora também dotados de uma nova natureza, pela habitação do Espírito Santo, que está destinada a destruir e a despojá-los da antiga natureza terrena pecaminosa.
Já são assim considerados, embora ainda neles remanesça o velho homem com suas paixões terrenas, de modo que deles se diz que não estão mais na carne, caso tenham de fato a habitação do Espírito Santo.
Deus os vê na nova natureza que lhes deu por causa da fé em Cristo.
E os chama a mortificarem os feitos da velha pelo poder da nova, de modo que tenham toda a plenitude da vida espiritual que se encontra em Jesus Cristo.
Já se encontram na posse da vida eterna, mas necessitam crescer na graça e no conhecimento de Jesus, pela mortificação do pecado e por um andar no Espírito Santo.
É evidente que, quando o cristão faz provisão para as obras da carne, que ele não está agradando a Deus, mas ele possui, pelo Espírito que nele habita, a condição de reverter este quadro pela confissão e abandono do pecado, com a devida consagração ao Senhor.
Mas, não é ao cristão que Paulo está se referindo, quando diz:
“Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.”
Porque, seu propósito, quando faz esta afirmação no contexto desta epístola aos Romanos, é o de demonstrar que não ter a Cristo significa não ter consequentemente a nova natureza celestial e divina, senão apenas a terrena, que é designada na Bíblia pela palavra “carne”.
Assim, não é possível se agradar a Deus, por qualquer obra religiosa ou de caráter de benemerência, com vistas à salvação ou à comunhão, porque a carne não está sujeita a Deus, não lhe ama, nem os seus mandamentos, e não está habilitada a fazer a sua vontade, porque isto é possível somente quando somos transformados e dirigidos pelo Espírito Santo.
Como o cristão possui a referida habitação do Espírito ele pode realizar o trabalho de mortificação do pecado, pela operação do Espírito.
E como este trabalho é realizado pelo Espírito, podemos concluir consequentemente que não se pode ver isto sendo feito naqueles que não são de Cristo.







14 - Como ser Cheio do Espírito Santo?

Como beber o vinho de Deus?

Por John Piper

Efésios 5.18 diz: “E não vos  embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”.
Há, pelo menos, quatro efeitos de ser cheio do Espírito. Primeiramente, o  versículo 19 mostra que o efeito é musical: “...falando entre vós com salmos,  entoando e louvando de coração ao Senhor”. É evidente que a alegria em Cristo é  a característica peculiar de ser cheio do Espírito.
Mas não somente alegria. No versículo 20, encontramos a  gratidão: “Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso  Senhor Jesus Cristo”. Gratidão perpétua, gratidão por tudo resulta de ser cheio  do Espírito — e essa gratidão tem como alvo o vencer a murmuração, o  descontentamento, a autocompaixão, a amargura, o queixume, a carranca, a  depressão, a inquietação, o desânimo, a melancolia e o pessimismo!
 Mas os efeitos não são apenas alegria musical e gratidão por  tudo; há também a submissão de amor às necessidades uns dos outros —  “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Alegria, gratidão e amor  humilde — essas são algumas das marcas de ser cheio do Espírito.
 Poderíamos acrescentar um quarto efeito: ousadia no testemunho  cristão. Podemos ver isto com mais clareza em Atos 4.31: “Tendo eles orado,  tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e,  com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus”. Nenhum crente deixará de ser  ousado e zeloso no testemunho, se o Espírito Santo estiver produzindo nele  alegria transbordante, gratidão perpétua e amor humilde. Oh! Como precisamos  ser cheios do Espírito! Procuremos esse enchimento! Busquemo-lo!
 No entanto, há uma pergunta crucial: como podemos buscá-lo?  Comecemos com a analogia mais próxima: “Não vos embriagueis com vinho... mas  enchei-vos do Espírito” (v. 18). Como você se embriaga com o vinho? Você o  bebe... em grande quantidade. Então, como ficaremos embriagados (cheios) com o  Espírito? Bebamos dEle! Bebamos em profusão. Paulo disse: “A todos nós foi dado  beber de um só Espírito” (1 Coríntios 12.13). Jesus disse: “Se alguém tem sede,  venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior  fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito” (João  7.37-39).
 Como podemos beber do Espírito Santo? Paulo disse: “Porque os  que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se  inclinam para o Espírito, [cogitam] das coisas do Espírito” (Romanos 8.5).  Bebemos do Espírito cogitando das coisas do Espírito. O que significa “cogitar”  das coisas do Espírito”? Colossenses 3.1-2 afirma: “Buscai as coisas lá do  alto... Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra”. “Pensar”  significa “procurar, dirigir a atenção para, preocupar-se com”. Significa  “ser dedicado a” e “absorvido com”. Portanto, beber do Espírito significa  buscar as coisas do Espírito, dirigir a atenção às coisas do Espírito,  dedicar-se às coisas do Espírito.
 Quais são “as coisas do Espírito”? Quando Paulo disse: “Ora, o  homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus” (1 Coríntios  2.14), estava se referindo aos seus próprios ensinos inspirados pelo Espírito (1  Coríntios 2.13) — especialmente seus ensinos a respeito dos pensamentos, planos  e caminhos de Deus (1 Coríntios 2.8-10). Então, “as coisas do Espírito” são os  ensinos dos apóstolos a respeito de Deus. Jesus também disse: “As palavras que  eu vos tenho dito são espírito e são vida” (João 6.63). Logo, os ensinos de  Jesus também são “as coisas do Espírito”.
 Portanto, beber do Espírito significa cogitar das coisas do  Espírito. E cogitar das coisas do Espírito significa dirigir nossa atenção aos  ensinos dos apóstolos a respeito de Deus e às palavras de Jesus. Se fizermos  isso por bastante tempo, ficaremos embriagados com o Espírito. De fato,  ficaremos viciados no Espírito. Em vez de dependência química,  desenvolveremos uma maravilhosa dependência do Espírito Santo.
 Mais uma coisa: o Espírito Santo não é como o vinho, porque Ele  é uma pessoa e livre para ir e vir aonde quer que deseje (João 3.8). Por isso,  temos de acrescentar Lucas 11.13. Jesus disse aos seus discípulos: “Ora, se  vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o  Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” Se queremos ser  cheios do Espírito, temos de pedir isso ao nosso Pai celestial. E foi isso que  Paulo fez pelos cristãos de Éfeso. Ele pediu ao Pai celestial que eles fossem “tomados [cheios] de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3.19).  Beba do Espírito e ore. Beba do Espírito e ore. Beba do Espírito e ore.







15 - Nossa Necessidade do Espírito Santo

“Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.
Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais;do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado. (Jo 16.7-11)

Quão difícil, na verdade impossível, que reconheçamos o que seja de fato o pecado
Por isso, o trabalho de convencimento do pecado, da justiça e do juízo, só pode ser  realizado exclusivamente pelo Espírito Santo, conforme nosso Senhor Jesus Cristo havia ensinado aos apóstolois.
Sem tal trabalho do Espírito, o homem não pode entender o verdadeiro significado do pecado, e da justiça e do juízo de Deus.
O verbo convencer do texto, que designa o trabalho do Espírito, é elégko, no original grego, e este verbo possui vários sentidos correlatos, como se pode ver em outras passagens do NT, como por exemplo, o de: Arguir, acusar, convencer, reprovar e repreender.
Vemos assim que nosso Senhor poderia ter dito que o Espírito Santo convenceria, arguiria, acusaria, reprovaria e repreenderia o mundo por causa do pecado, e da justiça e do juízo de Deus.
De fato, qualquer pessoa somente pode se sentir reprovada, repreendida, arguida, acusada, e convencida do que é o pecado, ou seja, da sua natureza pecaminosa decaída, que é inimiga de Deus, quando o Espírito Santo a conduz a isto.
É pela rejeição da justiça de Cristo que está sendo gratuitamente oferecida que se cumpre o juízo de Deus.
Mas é pela recepção dela que se sobe para o céu tal como nosso Senhor foi para lá.
Por isso nosso Senhor define a nossa natureza pecaminosa como sendo uma condição de incredulidade nEle.
Pois o pecador resiste Em razão de sua natureza, ao trabalho do Espírito.
Não quer vir a Cristo para ser salvo de tal condição e receber uma nova natureza divina.
E aqueles que não forem resgatados por nosso Senhor Jesus Cristo das garras de Satanás, e do pecado, permanecerão tanto quanto o diabo, debaixo da condenação de Deus, e sujeitos a tormentos eternos.
Por isso, Deus em Sua grande e infinita misericórdia e bondade, tem enchido toda a terra com o testemunho do Espírito Santo, através das vidas de cristãos fiéis à verdade do evangelho, para que muitas vidas sejam resgatadas da condenação eterna, pelo trabalho de convencimento do pecado, e justificação dos pecadores, para que sejam salvos para uma herança eterna juntamente com nosso Senhor Jesus Cristo.







16 - Não estais na Carne

“Vós, porém, não estais na carne” (Rm 8.9,10).

O apóstolo aplica, hipoteticamente, uma verdade geral àqueles a quem está escrevendo, não meramente com o intuito de influenciá-los mais poderosamente, dirigindo seu discurso particularmente a eles, mas também visando a que sua definição, a eles apresentada, os conduzisse à inabalável conclusão de que de fato pertenciam ao número daqueles de quem Cristo removera a maldição procedente da lei. Ao mesmo tempo, contudo, ele os exorta a que cultivassem uma nova vida, explicando que o poder do Espírito de Deus está presente nos eleitos, e que esse poder produz seus frutos.

“Se de fato o Espírito de Deus habita em vós.” O apóstolo adiciona uma correção apropriada a fim de despertá-los para um exame mais detido de si mesmos, para que não se deixassem levar por falsas pretensões em nome de Cristo. A marca mais garantida pela qual os filhos de Deus devem distinguir-se dos filhos deste mundo é a regeneração operada neles pelo Espírito de Deus para sua inocência e santidade. Seu propósito, contudo, não é tanto corrigir a hipocrisia quanto sugerir as razões para gloriar-se contra os absurdos daqueles que são conhecidos como zelosos pela lei, que consideravam a letra morta como sendo de mais importância do que o poder interno do Espírito, o mesmo que comunica vida à lei.

Esta passagem também nos ensina que, pelo termo espírito Paulo não chegou ainda ao ponto de significar a mente ou o entendimento que os advogados do livre-arbítrio denominam como sendo a parte superior da alma, mas, sim, o dom celestial. Ele explica que aqueles a quem Deus governa pelo seu Espírito é que são espirituais, e não aqueles que obedecem à razão seguindo seus próprios impulsos. Não significa, contudo, que vivem eles “segundo o Espírito” por se acharem plenificados com o Espírito de Deus (o que hoje não sucede a ninguém), mas porque possuem o Espírito como habitante neles, mesmo que sejam encontrados neles ainda alguns resíduos da carne. O Espírito, contudo, não pode habitá-los sem exercer soberania sobre suas faculdades. Deve-se notar que o homem é designado desde a parte principal de sua natureza.

“E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.” Ele adiciona este elemento com o fim de mostrar quão necessário é que os cristãos neguem a carne. O domínio do Espírito consiste na abolição da carne. Aqueles em quem o Espírito não reina não pertencem a Cristo; portanto, aqueles que servem à carne não são cristãos, pois os que separam Cristo de seu Espírito fazem dele uma imagem morta, ou um cadáver. Devemos ter sempre em mente o conselho do apóstolo, ou seja: que a graciosa remissão de pecados não pode ser desmembrada do Espírito de regeneração. Tal coisa seria o mesmo que fazer Cristo em pedaços.

Se tal coisa é verdadeira, então é estranho que sejamos acusados pelos adversários do evangelho como sendo arrogantes, visto que ousamos confessar que o Espírito de Cristo habita em nós. Na verdade devemos, ou negar a Cristo, ou então confessar que fomos feitos cristãos por intermédio de seu Espírito. É deveras espantoso ouvir que os homens tenham se apartado tanto da Palavra do Senhor, que não só se vangloriam de ser cristãos sem o Espírito de Deus, mas também ridicularizam a fé daqueles que o têm. E a despeito de tudo, esta é precisamente a filosofia dos papistas.

Chamamos a atenção de nossos leitores para que observem aqui o fato de que o Espírito é às vezes referido como o Espírito de Deus o Pai e às vezes como o Espírito de Cristo, sem qualquer distinção. Este fato não se deve apenas porque toda a sua plenitude foi derramada sobre Cristo como nosso Mediador e Cabeça, de maneira que cada um de nós pode agora receber dele sua própria porção, mas também porque o mesmo Espírito é comum ao Pai e ao Filho, o qual é com eles de uma só essência e possui a mesma Deidade eterna. Entretanto, visto não termos comunicação com Deus a não ser por meio de Cristo, o apóstolo sabiamente desce do Pai a Cristo, pelo fato de haver entre o Pai e nós uma grande distância.

“E se Cristo está em vós.” Ele agora aplica a Cristo suas prévias afirmações concernentes ao Espírito, com o fim de significar a maneira como Cristo habita em nós. Pois assim como pelo Espírito ele nos sacraliza como templos particularmente seus, também, pelo mesmo Espírito, ele nos habita. O apóstolo agora explica mais distintamente o que já aludimos, ou seja: que os filhos de Deus não são tidos como espirituais com base em uma perfeição plena e final, mas somente em razão da nova vida que teve início neles. Ele aqui antecipa uma dúvida, que de outra forma poderia causar-nos preocupação, ou seja: embora o Espírito possua parte de nós, não obstante vemos outra parte sendo ainda retida pela morte. Ele responde, dizendo que há no Espírito de Cristo o poder vivificante que é capaz de absorver nossa mortalidade. E conclui deste fato que devemos esperar com paciência até que os resíduos do pecado sejam por fim inteira e finalmente abolidos.

Que os leitores se lembrem de que mencionamos o fato de que o termo Espírito não significa a alma, e, sim, o Espírito de regeneração. O apóstolo diz que este Espírito de regeneração é vida, não só porque ele vive e esplende em nós, mas também porque nos vivifica pelo seu poder, até que destrua nossa carne mortal, e por fim nos renove em plena perfeição. Em contrapartida, também o termo corpo significa a massa bruta ainda não purificada pelo Espírito de Deus daquelas poluições terrenas, as quais satisfazem somente o que é bruto. De outra forma, seria absurdo atribuir ao corpo a culpa pelo pecado. Além disso, a alma está longe de ser vida, pois que nem por si mesma tem vida. Portanto, o que o apóstolo quer dizer é que, embora o pecado nos condene à morte, enquanto que a corrupção de nossa primeira natureza ainda permanece em nós, todavia o Espírito de Deus é vitorioso. Não constitui um obstáculo que apenas as primícias nos tenham sido concedidas, porquanto uma só fagulha do Espírito basta para ser uma semente de vida.

Por João Calvino









17 - Hábitos são Ditados Pelo Tipo de Natureza que se Possui

Os hábitos de um gato são ditados pelo tipo de natureza dos gatos; isto se aplica respectivamente a todas as demais espécies de animais.
Quanto ao homem, seus hábitos são ditados pela natureza humana, todavia como fora criado para ser à imagem e semelhança de Deus necessita para tanto, possuir também a natureza divina, para que possa atingir o propósito pleno da sua criação.
Assim, a natureza humana não pode responder por si só aos hábitos que são inerentes à natureza divina; pois não carrega consigo os hábitos de santidade que são exclusivos à natureza de Deus, ao contrário, em razão da queda no pecado carrega um princípio que é totalmente contrário ao citado hábito de santidade.
Acrescente-se a isso, que sem o arrependimento e a fé em Jesus Cristo é impossível ser participante da natureza divina.
Antes da Queda no pecado original a natureza humana se inclinava somente  para o que é bom.
Mas, com a Queda, passou a se inclinar também para o que é mau, e esta inclinação passou a ser o princípio dominante que opera na natureza humana, pois o homem é mais inclinado para o mal do que para o bem, conforme se vê na experiência prática, e sendo confirmado pelas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e dos apóstolos, de que temos um coração perverso do qual procedem todos os tipos de males, e os quais são referidos pelo apóstolo Paulo como sendo obras da carne.
Então “carne”, neste sentido bíblico, nada mais é do que  a inclinação pecaminosa que habita na natureza humana, ao lado da primitiva inclinação para o bem, e que pode ser sufocada agora por esta má inclinação em muitas ocasiões e modos.
Esta inclinação original da natureza humana disposta para o bem nada pode fazer contra esta inclinação para o mal que leva o homem a pecar; ou seja, não pode tratar com a raiz do pecado no que se refere a subjugar e remover a fonte dos desejos maus.
Somente a natureza divina, que é recebida na conversão, por meio da fé em Cristo, tem o poder que é capaz de subjugar a inclinação pecaminosa da natureza humana.
Daí se afirmar que o Espírito que em nós habita, e que ativa e opera esta natureza divina, se opõe à carne, ou seja, à má inclinação de nossa natureza, que nela penetrou desde a Queda no pecado original.
Então, se somos instruídos pelo Espírito, submissos ao Espírito, movidos e guiados pelo Espírito, especialmente em relação àquelas atitudes e comportamentos santos da Palavra de Deus, podemos subjugar a má inclinação da natureza humana que dá para a morte espiritual, e assim, podemos experimentar a vida de Deus e a paz que dela decorre (Rom 8.6).  
É nisto basicamente que consiste a nossa semelhança com Deus, ou seja, a nossa efetiva participação de sua natureza divina, traduzida nas operações progressivas do Espírito Santo para forjar em nós atitudes, comportamentos, atos e pensamentos que sejam cada vez mais condizentes com a nossa inclinação para aquela santidade que é inerente à natureza divina, e que existe somente naqueles que pertencem a Jesus Cristo.
Assim, perdemos muito desta semelhança com Deus quando não andamos no Espírito, ou seja, quando não somos instruídos, dirigidos e movidos por Ele, por causa de andarmos segundo a má inclinação que é para a carne (pecado), porque em vez de produzirmos o fruto do Espírito em nossas vidas, produzimos as obras da carne.
À luz destas verdades bíblicas podemos entender porque simples atos bons morais não configuram necessariamente aquela santidade divina à qual somos chamados, porque a  antiga inclinação para o bem da natureza humana pode responder a isto.
Assim, é possível praticar o bem e não ser participante da vida de Deus, porque é certo que em todas as pessoas, esta habilidade para o bem sempre é acompanhada de perto e subjugada por uma outra inclinação que é mais poderosa, ou seja, a que é para o mal, e sendo Deus, completamente santo e justo, não pode habitar onde o problema do pecado não tenha sido resolvido, pelo perdão e pela justificação que existem somente por meio da nossa fé no Senhor Jesus Cristo.







18 - A Fonte de Água que Salta para a Vida Eterna

Onde não existe o hábito da santidade pela presença da nova natureza recebida do Espírito Santo, não há qualquer dever de santidade, senão, onde somente haja uma disposição em um coração santificado voltado para isto.
Há um respeito a todos os mandamentos de Deus. Alguns deles podem ser mais contrários às nossas inclinações naturais do que outros, alguns mais avessos aos nossos interesses seculares, alguns são cumpridos com mais dificuldades e desvantagens do que os outros; e alguns podem ser ​​muito perigosos pelas circunstâncias de tempos e épocas em que vivamos. Todavia, se há um gracioso princípio em nossos corações, isto igualmente nos inclinará e disporá a cada um dos mandamentos em seu devido lugar e época.
E a razão disto é, porque sendo uma nova natureza, ela igualmente nos inclina a tudo o que pertence a ela, assim como a praticar todos os atos de santa obediência. Porque cada natureza tem uma igual propensão a todas as suas operações naturais. Daí o nosso Salvador provou o jovem rico, que fez um relato dos seus deveres e justiça, como alguém que estava ligado à satisfação dos seus interesses seculares e mundanos. Isto imediatamente o extraviou, e evidenciou que tudo o que ele tinha feito, não provinha de um princípio interno da vida espiritual divina. Qualquer outro princípio ou causa de deveres e obediência, dará lugar a uma reserva habitual de uma coisa ou outra que é contrária ao mesmo. Isto admitirá em qualquer caso a omissão de alguns deveres, ou a comissão de algum pecado, ou a retenção de alguma luxúria. Então Naamã, que jurou obediência em sua convicção do poder do Deus de Israel, não obstante, mediante a pressão de seu  interesse mundano, teve uma reserva para se encurvar na casa do falso deus Rimom. Assim, omissões de deveres que são perigosos, numa forma de profissão, ou reserva de alguns afetos corrompidos, o amor do mundo, a soberba da vida, serão admitidos em qualquer outro princípio de obediência, e isto habitualmente. Pois, mesmo aqueles que têm este princípio espiritual real da santidade, podem ser surpreendidos em omissão de deveres, comissão de pecados, e numa indulgência temporária aos afetos corrompidos. Mas habitualmente,  eles não podem ser assim. Uma reserva habitual para qualquer coisa que é pecaminosa ou moralmente má, é eternamente inconsistente com este princípio da santidade. Luz e escuridão, fogo e água não podem ser reconciliados. E nisto o princípio de santidade é diferenciado de todos os outros princípios, razões, ou causas, sobre as quais os homens podem exercer deveres de obediência em relação a Deus.
Assim, este princípio da nova natureza dispõe o coração aos deveres de santidade constante e uniformemente. Aquele em quem isto está sempre presente, terá sempre o temor do Senhor todos os dias. Em todos os casos, em todas as ocasiões, estará igualmente disposto aos atos e a uma mente de santa obediência. É verdade, que os atos da graça que procedem a partir dele, estão em nós, por vezes, mais intensos e vigorosos do que em outras épocas. É assim também, que somos às vezes mais vigilantes e diligentes  do que nós somos, em algumas outras ocasiões. Além disso, há épocas especiais em que nos reunimos com maiores dificuldades e obstáculos de nossas paixões e tentações que o normal, em que esta santa disposição é interceptada, e impedida, mas, não obstante, todas estas coisas, que são contrários a ela, e obstrutivas de suas operações, em si mesma e em sua própria natureza, isto estará atuando constante e uniformemente, inclinando a alma em todos os momentos e em todas as ocasiões, aos deveres de santidade. O que quer que falhe é acidental a ela. Esta disposição é como um fluxo que se levanta igualmente de uma fonte viva, assim como nosso Salvador o expressa em João 4.14. “fonte de água viva que salta para a vida eterna." Este fluxo passando em seu curso pode se encontrar com as oposições, que tanto podem pará-lo ou desviá-lo por uma temporada; mas suas águas ainda avançam continuamente. Com isto a alma sempre permanece diante de Deus, e caminha continuamente sob Sua visão.

Texto extraído do tratado de John Owen, intitulado A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







19 - Como nos Tornamos Cheios do Espírito Santo

"18 E não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito,
19 falando entre vós em salmos, hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração,
20 sempre dando graças por tudo a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
21 sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo." (Ef 5.18-21)

Necessitamos estar cheios do Espírito Santo, e não há medida para este enchimento, que deve ser renovado e aumentado em cada dia.
O caráter deste enchimento é sobrenatural e espiritual, mas não é algo místico e misterioso como alguns costumam pensar.
Há tomadas de posicionamento e deveres que devemos cumprir para que sejamos santificados pelo Espírito Santo com o Seu enchimento em nossas almas.
Isto é feito estando nós sóbrios, no domínio de todas as nossas faculdades, e não dispersivos ou com estados de consciência alterados como quem está, por exemplo, embriagado com vinho.
Não há uma medida de enchimento final, e nem tampouco ele deve ser ocasional, senão contínuo, pelo que somos transformados mais e mais à própria imagem do Senhor Jesus Cristo.
Este enchimento do Espírito é feito sobretudo na comunhão na Igreja, falando em salmos, hinos, e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor de coração, e sempre dando graças a Deus por tudo, em nome de Cristo, e sendo submissos mutuamente, por temor a Cristo, em todas as formas de relacionamento determinadas por Deus, que o apóstolo passou a descrever a partir do verso 22.
Assim, Paulo começou a descrever a submissão de coração que deve ser encontrada nos cristãos, a começar do seu próprio lar, com o dever de maridos e esposas, dizendo que a esposa deve ser achada em submissão ao seu marido, assim como este deve ser achado em submissão em relação  a Cristo, e estabeleceu um paralelo da união do marido com sua esposa, com a que existe entre Cristo e a Igreja.
Ao honrar seu marido e ao Senhor, a mulher cristã também será honrada pelo marido cristão e pelo próprio Deus.  
Cristo dever ser honrado por todos, porque Ele honra perfeitamente ao Pai. E de igual maneira a Igreja deve ser honrada por todos, quando ela é verdadeiramente submissa e honra a Sua cabeça que é Cristo.
Assim como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela para santificá-la, de igual modo os maridos devem amar suas mulheres como Cristo amou a Igreja, dando-lhes a provisão necessária tal como eles cuidam dos seus próprios corpos, como lemos em Ef 5.25-29.
Como marido e mulher formam uma unidade, assim como Cristo e a Igreja, o homem deve deixar o lar paterno para se unir à sua mulher formando  uma unidade e uma nova família, porque Deus planejou isto desde o princípio, para servir de ilustração da união que há entre Cristo e a Igreja, como lemos nos versos 30 a 33.
Lembremos que Paulo está falando da necessidade do cumprimento deste dever da submissão para que sejamos cheios do Espírito Santo; ou seja, de pouco adiantará entoar cânticos de louvor, orar, servir aos irmãos, e tudo o mais, se faltar esta submissão de coração em todos os tipos de relacionamentos que nos foram ordenados por Deus, e assim, não seremos achados cheios do Espírito Santo.
E o apóstolo prosseguiu falando deste assunto da submissão no sexto capítulo de Efésios, onde se destaca a submissão dos filhos aos pais, dos servos aos seus senhores, dos jovens aos mais velhos, dos cidadãos às autoridades constituídas, e por similaridade se aplica este princípio espiritual a todos os relacionamentos onde houver um líder e liderados.








20 - Despindo-se do Velho e Revestindo-se do Novo

São as paixões e desejos da alma que combatem contra a nova natureza celestial recebida do Espírito Santo.
Daí se dizer que a carne luta contra o Espírito e que o Espírito luta contra a carne.
Toda forma de inclinação carnal, prostituição, impureza, paixões, desejos vis e avareza devem ser mortificados pelo Espírito, para que a nova vida possa se manifestar no nosso caminhar, como se lê em Col 3.5.
Mas não é somente a prostituição, impureza, paixões, desejos vis e avareza que os cristãos devem mortificar, como tudo o mais que é relativo à carne, isto é, à natureza terrena decaída no pecado, e por isso devemos também nos despojar da  ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes e da mentira, porque tendo morrido juntamente com Cristo, o velho homem recebeu a sentença de morte e os crentes estão aos olhos de Deus, como tendo sido despidos do velho homem e das suas obras carnais; e vestidos do novo homem, que se renova para o pleno conhecimento de Deus e da Sua vontade, através do processo da santificação.
Esta santificação deve ser tanto do espírito, da alma, e do corpo, operando sobre a nossa razão, mente, vontade, sentimentos e emoções (I Tes 5.23).
E a meta desta santificação é nos transformar à imagem mesma de Cristo (Col 3.8-10).
A santificação não consiste somente no despojamento ou mortificação do pecado, das obras da carne, mas principalmente na prática das virtudes que estão em Cristo, que é o grande objetivo final da santificação.
O despojamento do velho homem se faz necessário para que possamos ser revestidos do novo.
O revestimento da nova criatura em Cristo consiste na prática da justiça evangélica e das graças e virtudes do Espírito, que chamamos de fruto do Espírito - amor, misericórdia, benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, domínio próprio, alegria, paz, fé - suportando-se e perdoando-se os crentes mutuamente, tendo por modelo o próprio Senhor que lhes perdoou.
Esta virtudes são decorrentes da habitação da Palavra de Deus nos nossos corações, fazendo nós, provisão para que sejamos enriquecidos por esta Palavra que nos santifica, em prol da comunhão com nossos irmãs na fé, e para o progresso do evangelho de Cristo na Terra.









21 - COMO E PORQUE SER ESPIRITUAL E NÃO CARNAL

Tudo o que se refira a conhecimento, liberdade, obediência, amor, poder e tudo o mais que for necessário para sermos efetivos na obra do Senhor, é de caráter espiritual, celestial e divino.
É algo que recebemos do alto, e que não se encontra em nossa natureza terrena.
Daí Jesus ter ordenado ao primeiro grupo de cristãos que permanecessem em oração unânime até que fossem revestidos do poder do alto.
O Espírito que recebemos não é deste mundo mas do céu, e tudo o que se refere à vida que devemos ter neste mesmo Espírito também é recebido do céu.
Não é terreno mas celestial.
Não é natural, mas espiritual.
O mundo antigo foi destruído pelas águas do dilúvio porque o homem era carnal e se recusava em se tornar em espiritual.
O propósito de Deus na criação do homem é que este fosse espiritual e não carnal, ou seja: não governado pela sua essência natural, por se submeter à direção e poder do Espírito Santo.
Converter-se a Cristo significa portanto, receber uma nova natureza celestial e espiritual, que habilita o convertido a ter comunhão com Deus, o qual é puro espírito.
Nos quatro Evangelhos, pelo menos quatro vezes, o Senhor  Jesus  chamou os seus discípulos para renunciarem à vida das suas almas, colocando-a à  morte para poderem segui-lO.
Mortificação da alma não é extermínio, mas renúncia ao ego, aos poderes e faculdades da alma (vontade, emoção, sentimento, razão, imaginação etc), para estarem sob o governo do espírito (intuição divina, comunhão espiritual, consciência, amor, poder, virtude e atributos santos e divinos).
 O Senhor Jesus colocou a renuncia à vida  da  alma  como uma exigência absolutamente indispensável para que os cristãos  possam  segui-lO, para poderem ser como Ele no serviço deles aos homens, e para serem aperfeiçoados em fazer a vontade de Deus.
Embora o Senhor Jesus tenha falado sobre a vida da alma em todas estas quatro chamadas dos Evangelhos,  Ele deu uma ênfase especial a cada uma delas.
Nós sabemos que a vida da alma, na verdade, tem várias manifestações.
Então, o Senhor falou sobre a vida da alma com ênfases diversas.
A chamada do Senhor é que o homem deve entregar  a vida da sua alma à cruz.
Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse:
"E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida  perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim acha-la-á.".
Neste texto,  a  palavra para vida no original grego é psiquê, que significa alma.
Não se trata  propriamente de se matar a alma, mas o modo de viver pela alma, para se viver pelo espírito.
Este modo de viver pela alma somente pode ser morto efetivamente pela  cruz.
 Em Lc  14.26,27, Jesus associou a perda da vida da alma ao ato voluntário de se carregar a cruz e de se auto negar para poder segui-lO.
Estes versos nos chamam a perder o viver pela alma por causa do Senhor,  entregando este viver à cruz para que seja crucificado, e Ele ensinou que isto deve ser feito diariamente.
Antes destes versos, o Senhor Jesus falou que os inimigos de um homem são aqueles da sua própria casa, e como um filho,  por causa do Senhor, pode vir a ficar alienado do seu pai, a filha da sua mãe, e a  nora  da sua sogra, e vice-versa.
Isto ocorre quando os familiares do cristão não conhecem ao Senhor ou não andam em conformidade com a Sua vontade.
De acordo com nosso viver pela alma, nós fazemos  a vontade daqueles a quem nós amamos, ainda que isto contrarie a vontade de Deus,  por isso se impõe a morte deste viver pela alma (sentimentos e emoções  sobretudo, que prevalecem sobre Deus, Sua vontade e Palavra).
Quando Deus  está  em conflito com o desejo do homem, embora aquela pessoa seja  a  que  nós  mais amamos, e até mesmo por imposição da própria Palavra de Deus que nos ordena amar os nossos cônjuges, pais e filhos, por exemplo, importa antes amar mais a Deus do que a eles, e fazer a vontade de Deus do que a deles,  porque  Ele deve ser amado acima de todos e de tudo.
Por isso nós necessitamos  da  cruz para matar a irregularidade dos nossos  afetos, não propriamente para acabar com eles, mas para que eles possam existir na ordenação certa e também  para que não sejamos governados por eles, mas pela vontade do Senhor.
 A chamada do Senhor Jesus é para nos libertar do poder de  nossos afetos naturais de maneira que não sejamos guiados por eles em nossas  decisões, mas pela Palavra.
Assim, Ele disse em Mt 10.37: "Quem ama o pai  ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.".
Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "Se alguém vier a mim, e não  aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também  à  própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não leva a sua cruz e não  me  segue, não pode ser meu discípulo.".
Em Mateus Ele mostra para o cristão a escolha que ele deveria fazer relativa ao  seu próprio afeto: ele deveria amar o Senhor mais do que à  sua  família.
Em Lucas mostra além disso, qual atitude que o cristão deveria ter em  relação  ao  seu próprio viver pela alma (porque aqui neste texto a palavra para vida é também psiquê no original grego, que significa alma), e  ele  deve  odiar  esta atitude de viver pela alma, pois Jesus diz que ele deve aborrecer a sua própria vida (Lc 14.26) de maneira a amar viver pelo espírito em  obediência  a Deus e à Sua vontade.
Este viver pela alma traz sérios problemas e até mesmo impede uma vida de comunhão com o Senhor e com o próximo, pois qualquer arranhão na comunicação, trará decisões não perdoadoras e não amáveis ´pr arte daqueles que são dirigidos por emoções e sentimentos.
 O cristão não deve apenas amar aqueles  que  lhe  são familiares e agradáveis e aos quais ele ama naturalmente, mas estender o seu amor a todas as pessoas.
É proibido pelo Senhor que eu ame somente aqueles a quem eu amo naturalmente.
O viver simplesmente debaixo do governo dos afetos naturais  tende  a  fazer com que a pessoa esteja ligada a outros aos quais ama, como também a  exigir o amor deles, enquanto exclui a outros que não pertencem ao seu  círculo de amizades.
A pessoa nesta condição não se conduz pela justiça e pela verdade, mas pela parcialidade sentimental, que a leva a apoiar os que ama, mesmo que estejam errados, e a rejeitar os que lhe tenham contrariado, por terem repreendido a estes que ama meramente com afeto natural, ainda que estejam certos, na repreensão que fizeram, e por amor à verdade, ao repreendido e ao Senhor.
Por isso o Senhor Jesus exige que este viver pela alma deve ser mortificado, pela negação do ego, porque sem isto, não se poderá viver de modo verdadeiramente santificado, agindo e pensando em suas decisões e escolhas segundo a vontade de Deus revelada na Bíblia.
A alma deve ser santificada, tornando-se dócil e obediente ao governo do espírito revivificado e também santificado. E o corpo responderá também em santificação, porque seus membros serão usados para servirem a justiça do evangelho e do reino de Deus.
Daí ser dito em I Tessalonicenses 5.23:
“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”
 O Senhor Jesus quer nos libertar do domínio  do afeto natural, de maneira que possamos ser cheios do seu amor sobrenatural, que é um amor por todas as pessoas, e que não faz qualquer tipo de acepção.
É somente por causa do Senhor, e por estarmos cheios do Seu  Espírito, que nós amamos de fato a outros que estejam fora do nosso círculo  de  amizades.
Não é por causa de nosso próprio amor por outros que nós amamos.
Nós amamos, porque recebemos o amor sobrenatural de Deus que nos possibilita amar o nosso próximo.
E somente entre aqueles que andam  no  Espírito cumpre-se  o mandamento de Cristo de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou, porque somente estes são espirituais, e o amor com que Cristo nos  amou  é espiritual.
É o amor de comunhão entre espíritos que é possível de ser visto e vivido somente entre aqueles que vivem e andam no Espírito.
Aqueles que amam com este amor espiritual são verdadeiramente livres  para amar e deixam também em liberdade aqueles aos quais ama,  porque  amando  a Deus acima de tudo, não terá nada e a ninguém na conta do seu "deus".
O  Senhor não quer que nós prendamos os nossos corações em qualquer lugar ou pessoa.
Ele quer que nós O sirvamos livremente.
 Deus  criou o homem para ser amado por ele acima de  todas as coisas.
Isto significa que o homem somente poderá ter saúde espiritual, emocional  e física caso viva em obediência a esta ordem normal estabelecida por Deus para o seu amor.
Se ele amar alguém ou qualquer outra coisa em primeiro lugar, ele sofrerá em sua própria constituição as consequências disto.
E de igual modo o  homem não deve desejar ter a primazia  em ser  amado em primeiro lugar por quem quer que seja, senão sofrerá de igual modo.
Jesus destacou o amor aos familiares porque geralmente é nas famílias que  se corre maior risco de se eleger alguém como um ídolo, como um tipo  de  deus, porque se amamos algo ou alguém, na prática, acima de Deus, este ídolo passa a ser automaticamente o nosso deus.
Veja como era diferente o caso de Abraão.
Deus o colocou à prova e  lhe  demandou o seu único filho para que fosse oferecido em sacrifício.
O  temor, obediência e o amor de Abraão a  Deus comprovaram-se  naquela  prova  serem maiores do que a tudo mais.
Por isso Deus lhe disse que cumpriria tudo o que havia prometido fazer através dele.
Nós aprendemos disto que uma pessoa não poderá ser útil na  obra  do  Senhor enquanto amar alguém ou algo acima dele.
Ele deve ser o primeiro em tudo, e isto deve ser de  fato, demonstrado  nas renúncias que porventura Ele venha a exigir de nós para que possamos  servi-lO.
Quando o fizermos, tudo irá bem conosco.
E o nosso amor pelos outros será um amor equilibrado.
Um amor sadio, um amor que nada cobra para que  possa  ser saudável.
Porque tudo estará de acordo com o plano e com a  ordem  que Deus estabeleceu quanto ao propósito da criação do ser humano.
Se Ele  for  amado de fato em primeiro lugar, em demonstrações práticas da  nossa  vida,  então tudo mais estará bem na nossa relação com as pessoas que amamos.
Amemos intensamente os nossos entes queridos, amemos fervorosamente,  e  amemos também o nosso próximo, conforme nos ordena a  Palavra,  mas em obediência à mesma Palavra, amemos a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todo a nossa mente.
 O amor a Deus não é um amor para ser expressado em relação a Ele com nossos afetos naturais, porque Deus é invisível e é espírito.
Então o amor com  o  qual  deve ser amado não é natural mas espiritual.
Deus não quer e nem mesmo  pode  ser conhecido pela carne.
O amor natural é da carne e não do espírito.
E sabemos que importa conhecer a Deus somente em espírito porque Ele é espírito.
E  na verdade não é somente Cristo que não deve ser conhecido segundo  o  conhecimento da carne (natural), mas até mesmo todas as demais  pessoas.
O  cristão deve discernir quem são os homens, não segundo a carne, mas segundo o  espírito (II Cor 5.16).
Por isso se faz necessária a separação de alma e espírito,  que  é  efetuada pela Palavra de Deus (Hb 4.12).
Mas a Palavra de Deus pode efetuar esta separação somente quando se  carrega voluntariamente a cada dia a nossa cruz.
Se não houver renúncia  ao  ego, a Palavra não poderá efetuar tal separação.
É preciso colocar a vida no  altar para que o nosso Sumo Sacerdote possa usar a faca da Palavra para nos  apresentar como sacrifícios vivos para Deus.
A visão animista que considera tudo e todos, inclusive os seres inanimados como dotados de um mesmo espírito, e sendo tudo uma grande unidade espiritual com Deus, e de igual modo o teísmo que ensina que Deus está presente em todos e de igual modo, não possibilitam a busca da separação de alma e espírito, que é ordenada na Bíblia, e que é necessária para a nossa santificação em crescimento espiritual.
Como buscaremos fazer aquilo em que não cremos?
Felizes são portanto aqueles que dão ouvido às palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e que renunciam ao modo de se viver pela energia da alma (mente), para se viver pelo espírito por Ele revivificado, renovado e santificado.
Com isto até mesmo o nosso afeto natural será melhorado extraordinariamente, e não apenas pelos nossos semelhantes, mas também por tudo o mais que pertence à criação natural.
 Se não houvesse necessidade da nossa cooperação com o trabalho do Espírito Santo, e do conhecimento  das  coisas que nos são necessárias, conforme reveladas na Bíblia, Jesus não teria ordenado que os cristãos  fossem ensinados  a guardarem tudo o que Ele ordenou aos apóstolos.
É por isso que se impõe a pobreza de espírito e de humildade (reconhecermos que dependemos inteiramente de Deus) e de submissão ao Senhor e à Sua  Palavra para que possamos receber a Sua graça, para que seja efetuado este trabalho de separação de alma e espírito, de maneira que não sejamos  mais  governados pela nossa alma com os seus afetos, mas, sim, pelo nosso espírito.
Assim, se o cristão for humilde, o Espírito Santo irá, na prática, separar a sua alma do seu espírito, ainda que ele possa nem mesmo ter conhecimento do modo como Deus processa esta operação verdadeira e real.
Mas ele perceberá até mesmo racionalmente, que está sendo transformado, de forma progressiva, numa nova criatura plena na aquisição das virtudes do Senhor (misericórdia, amor, longanimidade, etc), em sua própria vida, na medida em que caminha no Espírito, e se dedicando ao exercício espiritual da meditação da Palavra, da oração, da comunhão, e de todas as demais graças que nos aperfeiçoam espiritualmente.
A vida natural, o afeto natural, são muito importantes, mas quando se vive apenas nesta dimensão da natureza terrena, jamais se poderá adquirir ou se desenvolver as faculdades espirituais anteriormente referidas.
Muito pensam equivocadamente que ser santo é algo doentio e triste. Que os que buscam ser espirituais são pessoas que ficaram de algum modo frustradas com a vida.
Não há nada mais errado do que este modo de pensar, porque a santificação é o encontro da verdadeira vida, que é plena de significado e contentamento.
O que se santifica tudo ama, até mesmo inimigos.
Ama a natureza, os animais, é sensível, e se encanta com tudo o que Deus criou.
Deus tudo fez para o nosso aprazimento, mas jamais poderemos dar o devido valor e fazer uma justa apreciação de tudo o que há na vida, caso não vençamos o pendor da carne, tornando-nos espirituais.
Deus é amor e ama o que criou.
Deus é espírito perfeitamente santo.
Então quanto mais santificarmos o nosso espírito, mais amaremos, com o mesmo amor de Deus.
 O apóstolo nos ensina sobre a luta que existe permanentemente entre a carne e o Espírito, e vice- versa:
"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis." (Gál 5.17).
Observe que ele afirma que a carne e o Espírito se opõem mutuamente para que  não façamos o que seja do nosso querer.
O que ele quis dizer com isto?
É que tanto a carne quanto o Espírito lutam contra a lei natural da  nossa mente, e contra as disposições da nossa alma.
Isto é, tanto um quanto o  outro pretendem ter o domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.
A  carne (natureza decaída) pretende nos levar a pecar ainda que não o queiramos;  e  o  Espírito Santo pretende nos santificar e levar-nos a viver não pelo que é propriamente  da nossa vontade, mas por aquilo que é da vontade de Deus.
Então o Espírito não luta contra a carne para que seja feito o que seja do nosso querer, mas para que a vontade de Deus possa se cumprir em nós.
O Espírito procurará nos  levar portanto à cruz para que a carne possa ser crucificada com as suas  paixões e desejos (Gál 5.24).
Jesus disse que as Suas palavras são espírito e  são vida (João 6.63).
É a isto que o apóstolo Paulo se refere em todo o segundo capítulo de I  Coríntios, porque ali ele nos diz que a sua linguagem e pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito de poder (I Cor 2.1, 4).
E neste mesmo capítulo  ele explica o  motivo  de ter agido de tal maneira: ele sabia que devia pregar somente a Cristo, e este crucificado (o evangelho da cruz- v.2), e como não deveria  falar  de  si mesmo ou da sabedoria deste mundo, ele pregou e ensinou em fraqueza, temor e grande tremor (v.3).
Ele sabia que a sua missão não seria cumprida caso  ele somente instruísse as mentes dos seus ouvintes e não os conduzisse  à cruz.
Usar de métodos persuasivos e tentar conduzir alguém a Cristo pela força de argumentos não será produtivo, porque as realidades espirituais se cumprem pela operação do Espírito Santo nos corações, enquanto a verdade da Palavra de Deus é pregada ou ensinada.
A própria Palavra de Deus é vida, e produz vida.
Por isso o autor de Hebreus diz que ela é viva e eficaz.
O apóstolo Paulo sabia que a mente natural do homem não pode entender  as  coisas espirituais do reino de Deus, porque elas podem ser discernidas somente  espiritualmente pela revelação do Espírito Santo (I Cor 2. 10), e foi para este propósito de compreender as coisas de Deus que o Espírito Santo  foi  dado  aos cristãos (v. 12).
E Paulo diz que estas coisas espirituais que nos foram  dadas gratuitamente por Deus devem ser ensinadas não  com  palavras  ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais (v.13).
Isto implica que é necessário portanto ser um cristão espiritual para que se possa  aprender estas coisas que são ensinadas pelo Espírito.
É  necessário porque não é através da mente natural que Deus  manifesta e revela as realidades espirituais, celestiais e divinas, mas através da revelação do Espírito Santo ao nosso espírito.
A mentalidade natural não somente não entende as coisas espirituais como  não  as aceita, porque lhe parecem loucura (v. 14), isto é, aqueles que  tentam  entender a vontade de Deus sem que seja em espírito, mas pelo  mero  exercício da mente natural, rejeitarão a Palavra de Deus, especialmente as suas  exortações relativas à cruz, porque isto soará exagerado e como sendo uma loucura para a mente natural.
Veja que Paulo pregava somente Cristo e este crucificado. Isto significa que o cristão está também crucificado com Cristo e por isso deve carregar diariamente a sua cruz.
Então a mente natural não aceitará as coisas espirituais porque não pode entendê-las, e o ego resiste tenazmente para que não seja crucificado com  as suas paixões, e se opõe totalmente ao trabalho do Espírito Santo.
É necessário orar então a Deus, pedindo-Lhe que quebre esta resistência natural.
Para isto é necessário ter humildade diante de Deus para que Ele nos  conceda graça e misericórdia, revelando-nos estas coisas preciosas que Ele  preparou para aqueles que O amam, e que os olhos não viram, e que os ouvidos não ouviram, e que jamais penetraram no coração humano (v. 9); isto é, que não podem ser discernidas pelo homem natural ou carnal, porque nos são reveladas pelo  Espírito Santo com as palavras que Ele ensina, e não  com  palavras de sabedoria humana.
O apóstolo Paulo nos diz que se o homem natural não pode discernir  as realidades espirituais, no entanto somente o homem espiritual  pode  compreendê-las, porque ele discerne bem a tudo que nos tem sido dado gratuitamente  por Deus, por meio de Jesus Cristo, porque sendo espiritual ele terá a revelação destas coisas em sua  vida, pelo Espírito Santo (I Cor 2.15).
Somente o homem espiritual que tem a  mente de Cristo pode conhecer a mente do Senhor, porque não é propriamente a  sua mente natural que lhe propicia tal conhecimento, mas a revelação do Espírito Santo que é feita ao seu espírito revivificado (v. 16).
Portanto, é necessário vigiar para que  o nosso espírito não esteja inativo ao mesmo tempo que a nossa mente esteja muito ativa e até mesmo por um longo período, ocupada em entender a verdade revelada na Palavra.
Por isso a  própria Bíblia nos ordena que não sejamos meramente ouvintes  da  Palavra,  mas praticantes, isto é, que não devemos ficar satisfeitos apenas com entender a verdade com a mente, mas experimentar a verdade pelo poder do Espírito, para que possamos ter o conhecimento real e experimental das  coisas espirituais às quais a Palavra se refere.
E nós já vimos antes que este verdadeiro  conhecimento que é real e experimental não é adquirido meramente por aquilo que aprendemos com a nossa mente, mas aquilo que aprendemos por revelação do Espírito  em  experiências reais em nossa vida.
 Tudo o que está revelado na Palavra não é para  o  nosso próprio interesse pessoal, mas para que se cumpram os propósitos de Deus relativos ao Seu  povo.
Olhemos por um pouco para a história da Igreja antiga, o povo de Israel,  no período da restauração, quando Deus os trouxe de volta do cativeiro em Babilônia para a própria terra deles em Judá, e especialmente para a  cidade  de Jerusalém.
O que estava ocorrendo?
Qual era o propósito de Deus com aquela  restauração da vida espiritual de Israel?
Era simplesmente o  de  alegrar  alguns  fiéis dentre o povo?
Qual era o caráter das pessoas chaves que Ele usou para liderar Israel?
Qual era o pensamento delas quanto à necessidade de serem espirituais e consagradas ao Senhor?
Olhemos para a rainha Ester disposta a morrer se fosse necessário,  caso  o rei não lhe estendesse o seu cetro, quando ela decidiu que intercederia junto dele para o livramento do extermínio de Israel sob o ardil de Hamã.
Olhemos para a atitude do povo e de Mordecai, que jejuaram e choraram  amargamente por causa do decreto do extermínio do povo (Ester 4.1-3).
Olhemos para a atitude de Esdras, depois do povo ter  retornado para  Judá, mas não vivendo na santidade prescrita pelo Senhor na Sua Palavra.
Nós o vemos chorando diante do Senhor no templo, por causa do pecado deles, ao  mesmo tempo que se dispôs a tomar providências para que eles  fossem  santificados (Esdras 1.6).
E finalmente, qual foi a atitude de Neemias quando soube do estado de  miséria do povo que se encontrava em Jerusalém?
Porventura ele não  chorou,  lamentou por alguns dias e não jejuou e orou perante o Deus dos céus por causa daquela situação em que Israel se encontrava? (Neemias 1.3,4).
Tudo o que se encontrava em jogo para estas pessoas não era o que  fosse  do próprio interesse deles, mas a glória do nome do Senhor que não estava sendo santificado enquanto o Seu povo permanecia naquela condição de miséria espiritual.
Eles almejavam que a vontade de Deus fosse feita, conforme deve ser, na vida do Seu povo.
E por acaso o estado em que a Igreja de Cristo se encontra presentemente não é de necessidade de restauração em santidade, pela pregação da rude cruz?
E isto não é motivo para que choremos, lamentemos e jejuemos tal como Ester, Mordecai, Esdras e Neemias fizeram no passado?
Que o Senhor tenha misericórdia de nós, e que nos conceda um coração sempre contrito perante Ele, e nunca esquecido destas coisas, para que não venhamos a fixar o motivo da nossa consagração em nós mesmos, senão somente nEle e na Sua vontade.
 As sete igrejas citadas nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse representam todas as igrejas de todas as localidades do mundo em toda a história do Cristianismo.
No entanto, elas configuram as  igrejas  que  estarão predominando no mundo no tempo do fim, especialmente as três últimas citadas (Sardes, Laodiceia e Filadélfia). Lembremos também em reforço deste argumento que Apocalipse foi escrito para descrever as coisas  que acontecerão  no tempo do fim.
E é bem fácil de identificarmos estes três tipos de Igrejas em nossos  dias, e disto podemos concluir que a volta do Senhor está mais próxima do que imaginamos.
Nós vemos que uma das notas constantes para as igrejas que estão vivendo fora da vontade do Senhor, com exceção de Esmirna e Filadélfia, que permanecem fiéis à Sua vontade, é a chamada ao arrependimento. E que se ouça  o  que  o Espírito está dizendo às igrejas.
Nós entendemos então que uma das principais missões dos cristãos fiéis  neste tempo do fim é chamar ao arrependimento os cristãos que estão vivendo de  maneira contrária à vontade de Deus.
E esta chamada ao arrependimento deve ser feita por se proclamar a verdade no poder do Espírito.
Porque é o Espírito Santo que dá testemunho da verdade juntamente com o nosso espírito.
Para tanto é  necessário  viver  em santidade, porque é pela fidelidade de Filadélfia que muitos de Sardes e  de Laodiceia poderão chegar ao arrependimento, porque  numa igreja  corrompida fica quase impossível conhecer a mensagem do verdadeiro evangelho,  e  muito mais ainda o poder para praticá-la.
É nosso dever portanto, se desejamos ser fiéis ao Senhor, que santifiquemos nossas vidas para que sejamos cristãos espirituais e úteis no Seu serviço  em favor da restauração da Sua Igreja que se encontra em sua maior  parte  corrompida, conforme Ele próprio a descreve com as  palavras  que  dirigiu às Igrejas de Sardes e de Laodiceia.
Há uma grande recompensa e um grande fruto para o nosso trabalho no Senhor.
Ele próprio fortalecerá as nossas mãos para a batalha.
Sigamos portanto em frente, perseverando na fé, certos de que a vitória pertence ao Senhor, e Ele nos honrará porque nós O temos honrado.
A cruz nos impôs o abandono da confiança em nós mesmos e  a  inteira confiança no sangue de Jesus para que fôssemos salvos, e a mesma  cruz continuará nos impondo a necessidade de renúncia ao nosso ego e vontade para que haja a ação do poder do Espírito para a nossa santificação, e edificação da Igreja.
Ele fará o Seu trabalho se  formos  achados  submissos  e obedientes a Ele, não inativos, mas despertados em  nosso espírito,  e  não propriamente pela mera atividade das faculdades da nossa alma.
A  crucificação da carne com as suas paixões é realizada pelo Espírito com base na nossa escolha voluntária de renunciarmos ao modo de viver pela alma, para que possamos continuar sendo aperfeiçoados no espírito.
Este é o único modo de sermos frutíferos na obra de Deus, porque o trabalho  espiritual da nova criação em Cristo Jesus é realizado exclusivamente pelo Espírito, tal como Ele trouxe todas as coisas à existência na criação natural, sem necessitar do auxílio de mãos humanas.
Na verdade não somos propriamente nós que somos os agentes ativos deste processo, porque o que nos cabe é aceitar o trabalho de quebrantamento operado pelo Senhor em  nós,  de  maneira  que aprendamos a ser submissos à vontade de Deus, para que sejam implantadas em nós as virtudes de Cristo, que são designados como sendo o fruto do Espírito.
Assim, a chamada da cruz do Senhor Jesus é para nós odiarmos nosso viver pela alma de forma que nós achemos a oportunidade para perder isto e não preservá-lo.
Jesus disse que  quem  perder  a vida da alma achará a verdadeira vida do espírito.
É isto  que  significa a expressão "quem perder a sua vida por amor de mim vai  achá-la.".
O  Senhor falou do assunto de odiarmos a nossa própria vida (viver pela alma).
Assim não se  trata de prática religiosa, mas de uma assunto relacionado  à  essência mesma  da verdadeira vida. Por isso se fala de se achar ou de se perder a vida. De modo que "aquele que procurar salvar a sua vida perdê-la-á" (Mc 8.35); isto é, salvar este tipo de vida que é pelo viver pela alma  e  não  pelo  espírito.
Aqueles que vivem deste modo não poderão achar a verdadeira vida  espiritual que procede de Deus.
 Se nós não rejeitarmos nosso ego e  perdermos  nosso  viver pela alma, mas ao invés disso, seguirmos sua (da alma) ideia, opinião, e sugestão, e se nós constantemente não negarmos seu direito  incondicionalmente e sem qualquer reserva, levando-a às cinzas, sem almejar o que nós perderemos, nós não podemos esperar ter uma vida espiritual e trabalho que agradem a Deus.
A razão de nós termos tantos fracassos em nossa vida espiritual deve-se ao fato de que a morte desta vida da alma não foi tratada completamente.
Se o trabalho do Espírito Santo não recebe boa acolhida da  nossa parte,  a carne prevalece, e como está naturalmente em inimizade permanente contra Deus, isto apaga o Espírito.
O Senhor Jesus disse: "O espírito é o que vivifica, a carne para nada  aproveita;" (Jo 6:63).
As obras da carne são de nenhum proveito!
Tudo aquilo que nasce da carne, indiferentemente do que possa ser, é carne, e nunca  pode  se tornar espiritual.
Se a carne prega, se a carne ora, se a carne lê a Bíblia, se a carne oferta, se a carne canta hinos de louvor, ou se faz o bem, o  Senhor disse que nada disso tem qualquer proveito.
Não importa quanto os cristãos confiem na carne, Deus disse que é de nenhum proveito e não ajuda a vida espiritual. A carne não pode cumprir a justiça de Deus.
"Porque a inclinação da carne é morte" (Rom. 8:6).
Do  ponto  de vista  de Deus, há morte espiritual na carne. E realmente ela está morta, espiritualmente falando, porque o espírito do homem está morto em delitos e em pecados, e somente pode ser revivificado para a comunhão com Deus, caso renasça do Espírito, e seja continuamente renovada pelo Espírito Santo.
 Não há nenhum outro caminho para a carne senão ser levada à cruz.
Não importa quão capaz é a carne de fazer o bem, de pensar e planejar, e de ganhar o louvor dos  homens,  porque aos  olhos  de Deus, tudo aquilo que é originado da carne tem a inscrição em letras  maiúsculas: "MORTE".
"Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra  Deus,  pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser" (Rom. 8:6,7).
A carne está completamente contra Deus e não tem nenhuma possibilidade de ser entrosada com Deus.
Viver na carne significa viver pela própria energia independentemente de Deus, daí a incompatibilidade que há entre a carne  e  tudo aquilo que se refere a Deus,  que  é  espírito.
A alma daqueles que vivem  na carne está em rebelião contra o Senhor, contra a Sua vontade e Palavra, e  é fortalecida nesta sua resistência ao Espírito quando a pessoa não possui uma mente que tenha sido renovada.
Mas naqueles em que houve  um tratamento  da alma pela cruz, pela crucificação da carne com as suas paixões, e pelo hábito continuado deles de procurarem fazer a vontade do Senhor, a  alma  é  uma boa serva do espírito, e mesmo quando este está em silêncio, a alma e a mente continuarão se ocupando daquilo que é do interesse  de  Deus,  e  vigiará contra Satanás, contra o pecado e contra as investidas  do mundo  com  suas tentações, e o resultado disto é vida e paz.
E quando a pessoa se mover para exercitar o espírito em oração, louvor, pregação ou em qualquer outra forma de se exercitar o espírito, este logo entrará em atividade, pelo hábito formado da comunhão com Deus.
Não haverá resistência  da carne  porque  estará crucificada; nem oposição da alma e da mente, porque estão inclinadas  para Cristo e Sua vontade; e assim fazer a obra de Deus, a par de toda a oposição que se possa sofrer, será um prazer.
Por isso uma pessoa somente despertada pela Palavra de Deus, que queira servi-lo, temê-lo, amá-lo, sem ter sido nascida de novo do Espírito Santo, não poderá de modo algum ter no seu viver o fruto do Espírito, conforme descrito em Gálatas 5.
 O cristão espiritual buscará a  comunhão com o Senhor e com os irmãos na fé.
Ainda que o princípio do pecado continue operando na carne, todavia a mente terá prazer na lei de Deus e buscará servi-lO.
E por esta disposição de uma mente renovada o cristão espiritual  buscará auxílio em Cristo para que o Espírito Santo vença toda tentativa de manifestação do pecado na carne.
E ele terá sucesso nisto por causa da prática que tem em exercitar suas faculdades espirituais para discernir tanto o  bem quanto o mal (Hb 5.14).
Por isso se vê o espírito apagado nos cristãos carnais como que se o espírito deles estivesse de fato morto, exatamente porque caminham na carne e não  no Espírito, porque como vimos em Rom 8.6 a inclinação para a carne dá para  a morte das graças espirituais, mas a inclinação do Espírito dá para a vida e paz.
Assim,  concluímos que a vida poderosa de Deus não se manifesta na carne, mas  no  espírito.
 E quando o cristão anda na carne, ele mata a vida espiritual que  é  decorrente do Espírito.
"e os que estão na carne não podem agradar a Deus." (Rom. 8:8). Esta é a resolução final.
Não importa quanto possa ser boa a conduta do homem, caso tenha o ego como sua fonte, nunca poderá agradar a Deus.
Deus somente  pode  ser agradado pelo Seu Filho.
Aparte de Cristo e do Seu trabalho,  o  homem  e  as suas obras não podem agradar a Deus.
Embora nós, seres humanos façamos uma distinção entre bem e mal  baseando-nos apenas no comportamento, a distinção que Deus faz não está limitada ao  comportamento porque Ele pesa também as intenções e contempla os  nossos corações, e acima de tudo, especialmente na Sua obra na Igreja Ele leva em conta qual é a fonte das nossas ações, se a carne ou o Espírito.
E acima  de tudo lembremos que o homem foi criado por Deus para viver não  segundo  a carne, mas segundo o Espírito.
Assim a carne deve ser obrigatoriamente mortificada pela cruz se pretendemos viver de modo agradável a Deus.
Daí podemos afirmar que ser espiritual é um dever que nos é imposto por Deus, e devemos então nos empenhar em conhecer o como e o porque de ser espiritual e não carnal.
 O texto de Ef 4.20-24 fala da crucificação e despojamento do velho homem (carne, natureza terrena), para o revestimento do novo homem (nova criatura, nova natureza espiritual).
“Efs 4:20 Mas não foi assim que aprendestes a Cristo,
Efs 4:21 se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus,
Efs 4:22 no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano,
Efs 4:23 e vos renoveis no espírito do vosso entendimento,
Efs 4:24 e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.”
Somente a santificação pela aplicação deste fundamento que  nos é  ensinado pela Palavra nos tornará úteis na obra de Deus (II Tim 3.16,17).
Romanos 7:22 diz: "Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei  de Deus;".
Nosso homem interior (nova criatura) tem prazer na lei de Deus.
Então  quando  temos prazer em obedecer todos os mandamentos de Deus isto é sinal que temos sido despojados do velho homem, pelo trabalho progressivo de santificação do Espírito Santo, relativo à mortificação do pecado.
Efésios 3:16  também  nos  diz que sejamos fortalecidos com poder pelo Espírito no  homem  interior.
Paulo disse também em II Coríntios 4:16: "mas ainda que o nosso homem exterior  se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia.".
A nova criatura é pura, santa, celestial, espiritual e divina. Ela foi recebida do alto, porque somos feitos novas criaturas por um novo nascimento do Espírito, procedente das alturas.
Por isso nosso Senhor destacou nas bem-aventuranças, a pureza de coração como condição para se ver a Deus.
Esta pureza está justamente em não misturarmos as coisas relativas ao Espírito com as obras da carne, conforme mencionadas em Gálatas 5.
Quem ama a santidade odiará a impureza.
Não permitirá que a facilidade em se irar conviva ao lado da longanimidade; que indolência espiritual vença a diligência; e em tudo o mais, buscará o que é relativo à nova criatura, pela mortificação daquilo que pertence ao velho homem.
 Algumas pessoas pensam que contanto que eles recebam poder de Deus,  tudo  o que eles têm será purificado e será usado por Deus para o serviço dEle.
Mas isto nunca acontecerá, enquanto prevalecer um viver carnal, por se inclinar àquilo que é da carne, e não do espírito.
Não se obtém o fruto do Espírito Santo por imposição de mãos, ou declarações de recebimento de poder instantâneo, porque isto é feito progressivamente pela obra de santificação, que será tanto maior quanto maior for a nossa consagração a Deus e à prática da Sua Palavra.
 Quanto mais nós conhecemos a Deus,  mais  nós buscamos  pureza e santidade acima do poder.
Na verdade, sem pureza, sem santificação, não há um poder espiritual operante, porque este poder é sempre, em primeiro lugar, transformador e renovador, no que se refere à nossa própria vida.
Enquanto não despertamos para viver buscando o reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar, nunca conheceremos isto ou a sua profundidade, porque é concedido pelo Senhor somente àqueles que Lhe obedecem.
Nosso Senhor foi muito incisivo quando disse que se não guardarmos os seus mandamentos nós não O amamos, e que Ele e o Pai se manifestam apenas àqueles que guardam os Seus mandamentos.
Então é possível até mesmo ser de Jesus, conhecer a Jesus, e não prosseguir no conhecimento da graça e do Senhor, contra a ordenança apostólica de II Pedro 3.18.
E quando isto sucede, a consequência natural é ser carnal, e não espiritual.
Quando se é espiritual, disciplinamos nossos filhos e nossos irmãos em Cristo.
Há muito desgaste e trabalho envolvido nisto, mas o fazemos por amor ao Senhor e à Sua Palavra, independentemente do quanto isto possa nos contrariar ou a eles.
Nós também aceitamos de bom grado a palavra de repreensão e de disciplina, caso tenhamos dado ocasião a isto, porque sabemos, pela Palavra, que tem por finalidade, nos preservar do mal.
Nós lutamos bravamente contra as tentações carnais, e ficamos satisfeitos ao ver que elas vão ficando cada vez mais fracas, e as graças cada vez mais fortes, à medida da nossa perseverança na obediência e fidelidade ao Senhor e aos seus mandamentos.
Um viver segundo a carne já não nos atrairá com a mesma facilidade do passado, e passamos a ter real prazer numa vida santificada, e não ficamos satisfeitos com a medida presente das graças que possuímos, porque há um princípio vivo espiritual que é o de graça sobre graça, ou seja, ela sempre chama por maiores medidas e nos impulsiona a isto.
 Tudo devemos fazer para a exclusiva glória de Deus.
E quando assim procedemos, Deus em sua infinita bondade, faz com que nos sintamos plenamente satisfeitos, e Ele faz com que desfrutemos todas as coisas com contentamento e moderação.
Quando somos espirituais, até mesmo o nosso afeto natural é excepcionalmente melhorado, porque ele se estende a todas as pessoas, e não somente a pessoas, como a tudo o mais na criação.
Nossas mãos afagarão em vez de ferir, e se movimentarão pelos comandos de um coração santificado.
Daí dizer o apóstolo Pedro:
“1Pe 3:8 Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes,
1Pe 3:9 não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança.
1Pe 3:10 Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente;
1Pe 3:11 aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.
1Pe 3:12 Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males.”












56) ETERNIDADE

ÍNDICE

1 - “A voz de choro não será mais ouvida." (Isaías 65.19)
2 - Eternidade
3 - O Céu e o Inferno – Parte 1
4 - O Céu e o Inferno – Parte 2
5 - O que lembraremos no céu?
6 - Vivendo sem Focar a Eternidade


1 - “A voz de choro não será mais ouvida." (Isaías 65.19)

O glorificado já não chora mais, porque todas as causas externas de dores sumiram. Não há mais amizades rompidas, nem perspectivas arruinadas no céu. Pobreza, fome, perigo, perseguição e calúnia, são desconhecidos lá. Nenhum sofrimento de dor, nenhum pensamento de morte ou tristeza por luto.
Eles não choram mais, porque estão perfeitamente santificados. Nenhum "coração perverso de incredulidade" os leva a se afastar do Deus vivo; porque são irrepreensíveis diante do seu trono, e estão totalmente conformados à Sua imagem.
Eles podem deixar de lamentar porque deixaram de pecar. Eles não choram mais, pois todo o medo de mudança é passado. Eles sabem que estão eternamente seguros. O pecado foi expulso para sempre, e eles estão seguramente guardados. Eles habitam numa cidade que jamais será invadida, eles desfrutarão um sol que jamais se põe, porque bebem de um rio que nunca secará, e colhem o fruto de uma árvore que jamais murchará.
Incontáveis ciclos ​​podem girar, mas a eternidade não se esgota, e enquanto dura a eternidade, sua imortalidade e bem-aventurança deve coexistir com isto. Eles estão para sempre com o Senhor. Eles não choram mais, porque todo desejo é cumprido. Eles não podem desejar qualquer coisa que eles já não tenham em sua posse. Olhos e ouvidos, corações e mãos, julgamentos, imaginações, esperanças, desejos, vontades, todas as faculdades, estão completamente satisfeitas; e embora sejam imperfeitas nossas ideias presentes sobre as coisas que Deus preparou para os que o amam, todavia conhecemos o suficiente, pela revelação do Espírito Santo, que os santos na glória celestial são extremamente abençoados.
A alegria de Cristo, que é uma plenitude infinita de prazer, está neles. Eles se banham no mar sem limites e sem fundo, da beatitude infinita. Esse mesmo alegre descanso permanece para nós. Pode não estar muito distante. O choro triste anterior do salgueiro será trocado pela palma da vitória, e as gotas de orvalho da tristeza serão transformadas nas pérolas da bem-aventurança eterna. "Portanto consolai-vos uns aos outros com estas palavras."

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.






2 - Eternidade

Este é um assunto da mais alta importância, e lamentavelmente tão negligenciado, inclusive por aqueles que já alcançaram a vida eterna por meio da fé em Jesus Cristo.
Se todos nós tivéssemos o privilégio que tivera o apóstolo Paulo de ser arrebatado ao terceiro céu, o lugar da habitação de Deus e dos anjos, certamente a nossa visão de vida neste mundo seria mudada radicalmente.
Entretanto, não é necessário ser arrebatado no corpo ou fora do corpo até a morada celestial de Deus, dos anjos e dos santos desencarnados, para que possamos ter um melhor vislumbre da eternidade, porque isto nos é dado por fé, através do Espírito Santo, à medida que progredimos em nossa santificação.
Quanto maior se torna a nossa consciência espiritual da eternidade, mais ficamos desmamados deste mundo, e mais buscamos a qualidade desta vida eterna que será plena no porvir.
Agora, o que dizer daqueles que não se encontram já na posse desse feliz destino eterno, e que ainda se encontram escravizados ao pecado, caminhando para um destino de sofrimento eterno?
Como podem ser ajudados com a qualidade de pregação, que é tão comum nesta época, que aponta para os interesses imediatos neste mundo?
Como serão despertados do sono espiritual mortal em que se encontram, sob a ministração de um evangelho que não lhes alerta sobre o terrível juízo que aguarda por todos os que têm resistido a Cristo? E, quando se lhes oferece e se afirma que se encontram em paz, quando não há paz real entre eles e Deus?
Grande é a responsabilidade de todos os que já entraram na vida eterna, pois Deus lhes comissiona a tratar deste assunto tremendamente importante, que lida com questões de vida ou morte eterna!
Sendo sabedor profundo desta realidade, o apóstolo Paulo bradava: “rogo-vos que vos reconcilieis com Deus!”
Quão terrível é deixar que alguém passe deste mundo para um terror eterno, sem que esteja devidamente avisado, pelos atalaias de Deus, quanto às terríveis consequências do pecado não perdoado e justificado pela fé em Cristo.
Cem anos de existência neste mundo, ainda que sem tribulações, não podem compensar todo o sofrimento que estará presente por toda uma eternidade, que por ser eternidade, jamais terá fim.
O desprezo às coisas que são espirituais, celestiais e divinas, conforme reveladas na Bíblia, certamente é a causa do maior dano inimaginável que se pode ter, porque não há qualquer oportunidade de reparação ou minimização dos sofrimentos que ele causará ao desprezador.
Deus nos tem oferecido uma misericórdia e uma graça que são eternas, porque Jesus pagou completamente o preço exigido para a nossa libertação da condenação eterna, sob a qual nos encontrávamos antes de vir a Ele para sermos libertos.
Nada se pede de nós, senão que tão somente reconheçamos que somos pecadores, dados a nos desviar da vontade de Deus, e que nos arrependamos desta condição, recorrendo à graça que está em Jesus para que comecemos a viver de modo que Lhe seja agradável e aceitável. Tanto que é oferecido por tão pouco, ou quase nada do que nos é requerido.
Toda uma eternidade ao alcance da mão – uma eternidade de bem-aventuranças, de glórias e deleites inefáveis, não deveria ser ignorada durante todo o nosso curto tempo de peregrinação neste mundo de trevas.
Luz perfeita sem sombras e nuvens, coração puro sem qualquer pecado... Tudo ao alcance da mão, podendo ser perdido por ignorância ou descuido.
Mas, não precisamos esperar para entrar nesta vida maravilhosa, porque ela já começa aqui; o reino eterno de Deus está em nós, a vida do céu está em nós, a partir do momento mesmo que nos convertemos a Cristo. A fé nos leva a nos apoderar das coisas que ainda não são vistas e que esperamos. Ela nos permite viver na atmosfera espiritual e celestial ainda aqui neste mundo, e nos aponta a plenitude que teremos disto na glória.
Somos seres criados para a eternidade – lembremos sempre disso.
Você pode ler alguns versículos bíblicos com as seguintes palavras destacadas do texto original:
1 – aionios (grego) - eterno
2 – aion (grego) – eternidade, para sempre
3 – olam (hebraico) – eterno; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/index.php?cdPoesia=128428

Você pode ler toda a Bíblia com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:

http://interpretabiblia.blogspot.com.br/

E Sermões e mensagens  em:

http://retornoevangelho.blogspot.com.br/







3 - O Céu e o Inferno – Parte 1

Por Charles Haddon Spurgeon

(Um comentário de Spurgeon: “esse sermão foi regado com muitas orações dos fiéis de Sião. O pregador não pretendia que fosse publicado, mas agora vendo que o imprimiram, não se desculpará pela sua composição defeituosa nem pelo estilo difuso; em vez disso, o pregador suplica as orações de seus leitores, para que esse débil sermão possa exaltar a honra de Deus, pela salvação de muitas pessoas que o leiam. “ a excelência do poder é de Deus, não do homem.”)

“Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.” Mateus 8:11-12

Em nossa terra é permitido falar aberta e claramente, e seu povo está sempre pronto a prestar ouvidos atentos a qualquer um que possa dizer algo digno de atenção. Por isso tenho certeza que disporémos de um auditório atento, pois não existe nenhuma razão para supor o contrário. Esse campo, como todos vocês estão cientes, é de propriedade privada. E eu queria sugerir aos que saem para pregar ao ar livre, que é muito melhor ir a um campo ou a um terreno sem edificações, do que bloquear caminhos e interromper negócios; e é ainda muito melhor estar em um lugar que tenha proteção, para prevenir de imediato qualquer distúrbio.
Essa tarde pretendo animá-los para que busquem o caminho do céu. Terei que expressar também algumas coisas severas relativas ao fim dos homens que se perdem no abismo do inferno. Sobre esse dois temas irei pregar, com a ajuda de Deus. Porém, lhes suplico, por amor de suas almas, que discirnam o que é correto e o que não é; comprovem se o que eu lhes digo é a verdade de Deus. Se não é, rejeitem totalmente meu ensino e o joguem fora para bem longe – mas se é verdade, e o desprezam, será por sua conta e risco; pois como terão que responder diante de Deus, o grandioso Juiz de céus e terra, não lhes irá bem se desprezam as palavras desse servo e de Sua Escritura.
Meu texto consta de duas partes. A primeira é muito agradável para mim, e me dá grande prazer; a segunda é terrível; mas posto que ambas são verdades, ambas devem ser pregadas. A primeira parte de meu texto é: “Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus”. A frase que eu chamo de a parte negra, escura e ameaçadora é essa: “E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.”

I. Tomemos a primeira parte. Aqui existe uma PROMESSA EXTREMAMENTE GLORIOSA. Irei ler ela novamente: “Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus”. Gosto muito desse texto, porque me revela o que é o céu, e me apresenta um belo quadro dele. É dito que é um lugar onde me sentarei com Abraão, Isaque e Jacó. Oh, que pensamento mais doce é esse para o trabalhador. Muitas vezes ele limpa seu suor de sua fronte, e se pergunta se acaso existe uma terra onde não terá que afanar-se nunca mais. Muito raramente come uma casca de pão que não esteja úmida com seu suor. Diversas vezes vai para casa esgotado e se deixa cair numa cadeira, talvez desmaiado e cansado para poder dormir. Ele se pergunta: Ah, não existe uma terra onde eu possa descansar? Não existe um lugar onde eu possa ficar quieto?” Sim, você que é filho do trabalho árduo e estafante:

“Existe uma terra feliz
Longe, longe, muito longe”

Onde esse trabalho árduo e estafante é desconhecido. Além do firmamento azul, existe uma formosa cidade luminosa, cujos muros são de jaspe, e cuja luz brilha mais que o sol. Ali “os ímpios deixam de perturbar, e ali os de esgotadas forças descansam.” Ali estão os espíritos imortais que não precisam limpar o suor de suas frontes, pois “não semeiam nem segam”, nem estão submetidos a um trabalho árduo e cansativo –
“Ali em um monte verde e florido
Suas cansadas almas se sentarão:
E com gozos grandiosos farão
Uma conta das fadigas de seus pés”

Para minha mente, uma das melhores visões do céu é que ele é uma terra de repouso; especialmente para o trabalhador. Os que não têm que trabalhar duro, pensam que amarão o céu como um lugar de serviço. Isso é muito certo. Porém, para o trabalhador, para o homem que labora arduamente com seu cérebro ou com suas mãos, sempre será um doce pensamento que exista uma terra onde iremos descansar finalmente.
Pronto, essa voz não será forçada mais: logo, esses pulmões não terão que se exercitar além de seu poder; logo, esse cérebro não será atormentado pelo pensamento; mas eu me sentarei à mesa do banquete de Deus; sim, estarei reclinado no peito de Abraão, e estarei tranquilo para sempre; oh filhos e filhas de Adão que estão cansados, não terão que empurrar o arado em um ingrato solo no céu, não terão que se levantar para desempenhar árduos trabalhos antes que o sol nasça, e trabalhar ainda quando o sol tiver se posto já há um bom tempo; mas sim estarão tranquilos, estarão quietos, descansarão, pois todos são ricos no céu, todos são felizes lá, todos estão em paz. Trabalho duro, problemas, cansaços, esforços, são palavras que não podem ser soletradas no céu; não existem tais coisas ali, pois ali todos sempre repousam.
E notem com que boa companhia compartem. Eles “sentarão com Abraão, Isaque e Jacó.” Algumas pessoas pensam que não reconhecerão ninguém no céu. Mas nosso texto declara que nós nos sentaremos “com Abraão, Isaque e Jacó”. Então, tenho certeza que estaremos conscientes que eles são Abraão, Isaque e Jacó.  Eu escutei a história de uma mulher que perguntou  a seu marido, quando estava prestes a morrer: “meu querido, você crê que me conhecerá quando você e eu chegarmos ao céu?” Ele respondeu: “Se eu a reconhecerei? Vamos! sempre a conheci enquanto esteve aqui, e pensa que irei ser mais insensato quando chegue ao céu?” Penso eu que foi uma excelente resposta.
Se nós nos conhecemos aqui na terra, nos reconheceremos depois. Eu tenho queridos amigos que partiram para o além, e sempre é um pensamento  doce para mim que, quando pisar meu pé, como espero fazê-lo, no umbral no céu, verei minhas irmãs e irmão me tomarem pela mão, dizendo: “Sim, amado, já está aqui.” Parentes queridos que foram separados, se encontrarão novamente no céu. Alguns de vocês perderam uma mãe que se foi ao céu; e se você segue as pisadas de Jesus, você se encontrará com ela lá.
Em outro caso, parece-me que vejo a alguém que vem lhe receber à porta do paraíso; e ainda os laços de afeto natural possam ter sido esquecidos em certa medida – se me permitem usar uma figura – quão abençoado seria quando ele se voltasse para Deus e lhe dissesse: “Aqui estou eu, e os filhos que me tens dado.” Reconheceremos a nossos amigos: esposo, você reconhecerá sua esposa. Mãe, você reconhecerá a seus amados filhinhos; você via suas fotografias quando jaziam brancas, ficando sem alento. Você se lembra como se jogou sobre suas tumbas no momento de ser lançada à fria terra sobre eles, e disse: “A terra à terra, o pó ao pó, as cinzas às cinzas;” porém, você voltará a escutar suas amadas vozes de novo; você escutará essas doces vozes uma vez mais; você ainda saberá que as pessoas que você amou, foram amadas por Deus. Por acaso não seria um lúgubre céu para nossa habitação, um onde não pudéssemos conhecer a ninguém e ninguém nos reconhecesse? Não me interessaria ir a um céu assim.
Eu creio que o céu é a comunhão dos santos, e que nos reconheceremos uns aos outros ali. Muitas vezes pensei que terei muito gosto em ver a Isaias; e tão logo chegue ao céu, creio que irei perguntar por ele, porque ele falou mais sobre Jesus do que todos os demais profetas. Estou certo que vou querer encontrar George Whitefield, quem continuamente pregou ao povo, e se gastou com zelo mais que seráfico. Oh sim, teremos uma companhia eleita no céu, quando chegarmos. Não haverá distinção entre cultos e incultos, clero e leigos, mas sim caminharemos livremente entre todos; sentiremos que somos irmãos; nos sentaremos com “Abraão, Isaque e Jacó.”
Escutei outra vez sobre uma senhora que recebeu a visita de um ministro em seu leito de morte, e lhe disse: “quero fazer-lhe uma pergunta, agora que estou a ponto de morrer.” “Bem,” perguntou o ministro, “qual é a pergunta?” “Oh”, respondeu ela, muito afetada, “quero saber se existem dois lugares separados no céu, pois eu não poderia suportar que Beth, a cozinheira, estivesse no céu junto comigo. Ela é tão pouco refinada.” O ministro deu a volta e respondeu: “oh, não se preocupe por isso senhora, não há temor disso; enquanto não se despoje desse seu orgulho maldito, você jamais entrará no céu.” Todos nós devemos nos despojar de nosso orgulho. Devemos nos humilhar e estar sobre uma base de igualdade diante dos olhos de Deus, e ver em cada homem um irmão, antes de poder esperar ser recebido na glória.
Bendizemos a Deus, e lhe damos graças porque não preparará mesas separadas para uns e para outros. O judeu e o gentio se sentarão juntos. O grande e o pequeno se alimentarão dos mesmos pratos, e “nos sentaremos com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.”
Mas meu texto tem ainda uma doçura mais profunda, pois afirma que “muitos virão e se sentarão.” Alguns fanáticos de mente estreita pensam que o céu será um lugar muito pequeno, onde haverá pouquíssima gente que assistiu à sua capela ou à sua igreja. Eu confesso que não tenho nenhum desejo de um céu pequeno, e me dá muito gosto ler nas Escrituras que na casa de meu Pai há muitas mansões. Quão frequentemente escuto que o povo diz: “Ah, estreita é a porta e apertado o caminho, e poucos são os que acertam com ele. Haverá poucas pessoas no céu; a maioria se perderá.” Meu amigo, eu não estou de acordo contigo. Acaso você crê que Cristo permitirá que o diabo ganhe dele? Que permitirá que o diabo tenha mais pessoas no inferno das que Ele tenha no céu? Não, isso é impossível. Pois então Satanás se riria de Cristo. Haverá mais pessoas no céu do que haverá entre os que se perdem. Deus disse: “Eis aqui uma grande multidão, da qual ninguém pode contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que estavam diante do trono e na presença do Cordeiro;” mas Ele nunca disse que haverá uma multidão que ninguém pode contar que se perderá. Haverá hostes incontáveis que chegarão ao céu. Que boas notícias para você e para mim! Pois, se existem tantos que serão salvos, por que eu não haveria de ser salvo? Por que também aquele homem que está no meio da multidão, não pode dizer: “não poderia eu mesmo ser um desses da multidão?” E essa pobre mulher que está ali não poderia recobrar ânimo e dizer também: “Bom, se só se salvarão meia dúzia de pessoas, por que eu  haveria de ser salva?” Anime-se, você que está desconsolado! Alegre-se, filho da dor e da aflição, ainda há esperança para você!
Eu não posso crer que alguém esteja mais além do alcance da graça de Deus. Haverá uns quantos que cometeram esse pecado que é para morte e Deus lhes abandonou; mas a vasta maioria da humanidade está ainda dentro do alcance da misericórdia soberana: “E muitos virão do oriente e do ocidente, e se sentarão no reino dos céus.”
Olhem outra vez para meu texto, e vocês verão de onde vêm essas pessoas. Eles “virão do oriente e do ocidente.” Os judeus diziam que todos eles viriam da Palestina, cada um deles, cada homem, cada mulher e cada criança; que não haveria ninguém no céu que não fosse judeu. E os fariseus pensavam que se todos eles não eram fariseus, não poderiam ser salvos. Mas Jesus Cristo disse que virão muitos do oriente e do ocidente. Haverá uma multidão daquela terra muito distante, China, pois Deus está fazendo uma obra grandiosa ali, e nós esperamos que o Evangelho seja vitorioso nessa terra. Haverá uma multidão dessa terra ocidental da Inglaterra; e também do pais ocidental que está alem do mar, de América; e do sul, da Austrália; e do norte, do Canadá, Sibéria e Rússia. Desde os confins da terra virão muitos que se sentarão no reino de Deus.
Mas eu creio que esse texto não deve ser entendido tanto no sentido geográfico somente, tanto como no sentido espiritual. Quando diz que “muitos virão do oriente e do ocidente”, eu penso que não se refere particularmente às nações, mas sim a diferentes tipos de pessoas. Agora, “o oriente e o ocidente” quer dizer aqueles que se encontram mais longe da religião; no entanto, muitos deles serão salvos e chegarão ao céu. Existe uma classe de pessoas que será considerada sempre como desajuizada. Muitas vezes escutei, seja de um homem ou de uma mulher, um comentário sobre essas pessoas, “ele não pode ser salvo: é demasiadamente desleixado. Para que ele presta? Pedi-lhe que vá a um lugar de adoração: ele estava bêbado na noite de sábado. De que serviria argumentar com ele? Não existe esperança para ele. É um tipo endurecido. Olhe para o que ele fez durante todos esses anos. De que serviria falar com ele?”
Agora, escutem isso, vocês que pensam que seus companheiros são piores que vocês; que condenam aos outros quando vocês mesmos são tão culpados quanto eles: Jesus Cristo disse: “muitos virão do oriente e do ocidente.” Haverá muitos no céu que uma vez foram bêbados. Eu creio que, em meio dessa multidão comprada com sangue, haverá muitos que cambalearam entrando e saindo de uma taverna durante a metade de suas vidas. Mas pelo poder da graça divina eles foram capazes de lançar o copo de licor fora. Eles renunciaram ao desenfreio e à intoxicação – fugiram dela – e serviram a Deus. Sim! Haverá muitos no céu que foram beberrões na terra.
No céu haverá também muitas prostitutas: algumas das mais dissipadas serão achadas ali. Vocês recordam da história de Whitefield que uma vez disse que haverá pessoas no céu que foram “descartadas pelo diabo”; alguns que o diabo dificilmente pensaria que são bons o suficiente para ele, mas que Cristo salvará. Lady Huntingdon sugeriu-lhe uma vez com delicadeza que essa linguagem não era decorosa. Mas justo nesse momento se escutou a campainha e Whitefield desceu as escadas e se dirigiu à porta. Depois subiu e disse: “senhora, o que crê que acaba de me contar uma pobre mulher? Ela era uma triste perdida me disse ‘oh senhor Whitefield, quando você estava pregando nos disse que Cristo receberia os rejeitados do diabo e eu sou um deles.’”.  E esse foi o instrumento de sua salvação.
Alguma vez alguém nos impedirá que preguemos aos mais baixos dos baixos? Fui acusado de reunir toda a plebe de Londres a meu redor. Deus abençoe a plebe! Deus salve a plebe! Logo eu digo: suponhamos que eles são “a ralé”! Quem poderia necessitar do Evangelho mais que eles? Quem requer que Cristo seja pregado mais do que eles? Temos a muitos que pregam às damas e aos cavaleiros, mas precisamos que alguém pregue à ralé nesses dias degenerados.
Oh, aqui existe consolo para mim, pois muitos elementos do povo virão do oriente e do ocidente. Oh, que vocês pensariam se vissem a diferença que existe entre alguns que estão no céu e outros que estarão lá? Poderia ser encontrar alguém ali cujo cabelo estivesse emaranhado e descabelado em sua testa e em seus olhos, seus olhos vermelhos saltando para fora e rindo como um idiota, que bebeu até consumir seu cérebro de tal forma que a vida parece ter partido no que concerne ao sentido e ao ser; no entanto eu lhe diria: “esse homem é suscetível de salvação”, e em um poucos anos eu poderia dizer “olhe para lá: vê aquela estrela brilhante? Reconhece aquele homem com uma coroa de ouro fino sobre sua cabeça? Nota que está coberto com vestes de safira e roupas de luz? Esse é aquele mesmo homem que se sentava ali como um pobre ser desviado, quase idiotizado; no entanto, a graça soberana e a misericórdia o salvaram!
Não existe nada exceto esses que eu mencionei antes, que cometeram o pecado imperdoável, que esteja além da misericórdia de Deus. Tragam-me aos piores homens, e ainda assim eu pregarei para eles o Evangelho; tragam-me os mais vis, e eu lhes pregaria, porque recordo que o Senhor disse: “Vá pelos caminhos e pelos becos, e força-os a entrar, para que minha casa se encha.” “e lhes digo que virão muitos do oriente e do ocidente, e se sentarão com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.”
Existe uma palavra a mais que devo ressaltar antes de terminar com essa doce porção: essa é a palavra “irão vir (virão)”. Oh, eu amo os “eu farei” e, por consequência, os “eles farão”, de Deus! Não existe nada comparável a essas expressões. Se o homem diz: “Se fará”, que há com eles? “Eu vou a” diz um homem, porém, nunca o cumpre; “eu farei,” diz, mas quebra sua promessa. Porém não acontece o mesmo com os “eu farei” de Deus. Se Ele diz “será”, assim será; quando Ele diz “sucederá”, assim será. Agora Ele disse aqui “muitos virão, muitos irão vir.” O diabo diz “não virão”, mas “eles sim virão”. Seus pecados dizem: “vocês não podem vir”, mas Deus diz : “vocês irão vir”. Vocês mesmos dizem: “não viremos”; mas Deus diz “você virão”. Sim, existem algumas pessoas aqui que estão rindo da salvação, que se burlam de Cristo e ridicularizam o Evangelho; mas eu lhes digo que inclusive alguns de vocês virão!
“Como?” – perguntam – “pode Deus conduzir-me a ser cristão?” Lhes digo que sim, pois ali radica o poder do Evangelho. Ele não lhes pede seu consentimento; o consegue de fato. Ele não diz se “querem recebê-lo?” mas faz que vocês queiram no dia do poder de Deus. Não contra sua vontade, mas faz que vocês queiram. Ele lhes mostra seu valor, e logo vocês se encantam com ele, e correm diretamente atrás dele e o obtêm.
Muita gente disse: “não aceitamos nada que tenha que ver com a religião”, mas, no entanto,  foram convertidos. Eu ouvi a história de um homem que uma vez foi a uma capela para escutar os hinos, e tão logo que o ministro começou a pregar, esse tipo tapou os ouvidos com seus dedos, para não escutar a pregação. Porém, logo depois, um pequeno inseto posou em sua face, pelo qual se viu obrigado a tirar o dedo com que tapava o ouvido, para espantar esse bicho. Nesse preciso momento o ministro disse: “O que tem ouvidos para ouvir, ouça.” O homem ouviu, e Deus se encontrou com ele nesse instante para conversão de sua alma. Saiu convertido em um novo homem, com um caráter transformado. Ele, que tinha vindo para se divertir, se retirou para orar; quem veio para passar uma hora no ócio, regressou para casa para passar uma hora em devoção com seu Deus. O pecador se converteu num santo; o libertino se converteu em um penitente. Quem sabe se não haverá alguém assim aqui, essa noite. O Evangelho não precisa de seu consentimento, ele o obtêm. Tira a inimizade de seu coração. Vocês dizem: “não quero ser salvo”; Cristo diz que serão salvos. Ele faz que sua vontade dê um giro total, e em consequência você clama: “Senhor, salva-me, senão eu pereço!” Ah, então o céu exclama: “Eu sabia que faria e que diria isso”; e então, Ele se regozija por sua causa, porque mudou sua vontade e o conduziu a querer no dia do Seu poder.
Se Jesus Cristo subisse a essa plataforma essa tarde, o que muita gente faria com ele? “Oh”, alguém dirá, “o faríamos Rei.” Não creio nisso. O crucificariam de novo se tivessem a oportunidade. Se Ele viesse e dissesse: “aqui estou, e os amo, querem que Eu os salve?”. Nenhum de vocês daria seu consentimento se fossem deixados à sua vontade. Se Ele os olhasse com esses olhos ante cujo poder o leão teria se encolhido; se Ele falasse com essa voz que derramou cataratas de eloquência como um rio de néctar vertido desde os penhascos, nem uma só pessoa viria para ser Seu discípulo; não, o poder do Espírito para fazer com que os homens venham a Cristo é necessário. Ele mesmo disse: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer”. Ah! Precisamos disso; e aqui o temos.
Eles virão! Eles virão! Vocês poderiam rir disso, poderão desprezar-nos; mas Jesus Cristo não morreu em vão. Se alguns de vocês o rejeitam, haverá outros que não o rejeitarão. Se existem alguns que não são salvos, outros o serão. Cristo verá sua linhagem, viverá por largos dias, e a vontade do SENHOR prosperará em Sua mão. Alguns creem que Cristo morreu, mas que algumas das pessoas pelas quais morreu, se perderão. E jamais poderia entender essa doutrina. Se Jesus, minha garantia, levou minhas dores e carregou com minhas aflições, eu me considero tão seguro como os anjos no céu. Deus não pode pedir o pagamento duas vezes. Se Cristo pagou minha dívida, terei que pagá-la outra vez? Não –
“Livre do pecado eu caminho em liberdade,
O sangue do Salvador é minha completa absolvição;
Estou contente em Seus amados pés,
Sou um pecador salvo, e o louvo rindo.”

Virão! Virão! E nada no céu, nem na terra, nem no inferno, pode impedir que venham.
E agora, você que é o primeiro dos pecadores, escute por um instante enquanto lhe chamo para que venha a Jesus. Existe uma pessoa aqui essa noite, que se considera a pior alma que jamais tenha vivido. Existe alguém que se diz a si mesmo, “eu estou certo que não mereço ser chamado para vir a Cristo!” Alma, eu a chamo! Você que é o mais miserável perdido, essa noite, pela autoridade que Deus me deu, lhe exorto que venhas a meu Salvador.
Faz algum tempo, quando fui à corte de um condado, para ver o que faziam, ouvi que chamavam alguém por seu nome, e imediatamente o homem respondeu “abram espaço, abram espaço, estão me chamando”, e se aproximou com prontidão. Agora, essa tarde, eu chamo ao principal dos pecadores, e lhe peço que diga: “me deem licença, apartem-se dúvidas! Saiam temores! Fora, pecados! Cristo me chama! E se Cristo me chama, isso é o suficiente!” –
“Eu me aproximo a Seus pés cheios de graça,
Cujo cetro oferece misericórdia;
Talvez Ele me ordenasse que O toque!
E então o suplicante viverá

Eu poderia perecer se vou;
Mas estou resolvido a tentar;
Pois se fico longe, eu sei
Que devo morrer para sempre.

Porém, se morro com a misericórdia buscada,
Tendo provado ao Rei
Isso seria morrer (deleitável pensamento!)
Como um pecador jamais morreu!”

Venha e prove a meu Salvador! Vem e prova meu Salvador! Se te deixar fora depois que O tiver buscado, divulgue no Abismo que Cristo não quis lhe escutar! Porém, a você jamais será permitido fazer isso. Seria uma desonra para a misericórdia do pacto, que Deus deixe fora a um pecador penitente; e nunca ocorrerá isso enquanto esteja escrito:“e lhes digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e se sentarão com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.”





4 - O Céu e o Inferno – Parte 2

Por Charles Haddon Spurgeon

II. Na segunda parte, meu texto é penetrante, eu prego com grande deleite sobre a primeira parte, mas aqui existe uma triste tarefa para minha alma, porque encontramos palavras tenebrosas. No entanto, como lhes disse, o que está escrito na Bíblia deve ser pregado, seja tenebroso ou alegre. Existem alguns ministros que nunca mencionam nada sobre o inferno. Escutei de um ministro que uma vez disse para sua congregação: “Se vocês não amam ao Senhor Jesus Cristo, vocês serão enviados a esse lugar cujo nome não é cortês se mencionar.” A esse ministro não se lhe devia permitir que pregasse novamente, se era incapaz de usar palavras claras. Agora, se eu vejo que aquela casa está pegando fogo,  vocês acreditam que eu ficaria imóvel dizendo: “eu acho que ali está se desenvolvendo uma combustão”. Não, eu gritaria: “Fogo! Fogo!” e então todo mundo entenderia o que estou dizendo.
Assim, se a Bíblia disse: “os filhos do reino serão lançados às trevas exteriores”, devo me apresentar aqui e expor as coisas favoravelmente? Deus não queira! Devemos dizer a verdade, tal como ela está escrita. É uma terrível verdade, pois diz: “e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores” Agora, quem são esses filhos? Eu lhes direi. “Os filhos do reino” são essas pessoas que se fazem notar por suas amostras externas de piedade, mas que não possuem suas características interiores. Pessoas que vocês verão marchando para a igreja, tão religiosamente como é possível, com suas Bíblias e seus hinários, tão devotas e modestamente quanto possam, mostrando-se tão sóbrias e sérias como sacristãos paroquiais, imaginando-se que estão seguros de serem salvos, ainda que os corações deles não estejam ali de fato, além de somente seus corpos. Essas são as pessoas que são “os filhos do reino”. Não possuem graça, nem vida, nem a Cristo, e serão lançados às trevas exteriores.
Ademais, essas pessoas são filhas de pais e mães piedosos. Não existe nada que comove tanto o coração de um homem, notem bem, como o modo como fala sobre sua mãe. Eu ouvi a história de um marinheiro blasfemo, que ninguém podia controlar, nem sequer a polícia, que por onde passava causava distúrbios. Uma vez, ele foi a um lugar de adoração, e ninguém podia mantê-lo quieto; porém, um cavaleiro se aproximou e disse: “João, você teve uma mãe uma vez.” Com isso, as lágrimas rolaram por sua face. Ele disse: “Sim, já!” “bendito sejas amigo, é certo que a teve,” e o perturbador disse: “e eu levei com dor seus cabelos grisalhos à tumba, e sou um descarado ao estar aqui essa noite.” E logo, se assentou, muito quieto e submisso pela simples menção de sua mãe.
Ah, e existem alguns de vocês, “filhos do reino”, que podem se lembrar de suas mães. Sua mãe o sentou em seus joelhos e lhe ensinou logo cedo a orar: seu pai o instruiu nos caminhos da piedade. E, no entanto, você está aqui essa noite sem graça em seu coração: sem a esperança do céu. Está descendo até o inferno tão rápido quanto seus pés lhe permitem. Existem alguns de vocês que quebrantaram o coração de sua pobre mãe. Oh, se pudesse lhes dizer o que ela sofreu por vocês enquanto estavam se entregando ao pecado durante a noite. Se dão conta de qual era sua culpa, “filhos do reino”, depois que as orações e as lágrimas de uma mãe piedosa caíram sobre vocês? Não posso conceber que ninguém entre no inferno com uma pior graça que o homem que vai para lá com as gotas de lágrimas de sua mãe sobre sua cabeça, e com as orações de seu pai seguindo seus calcanhares.
Alguns de vocês suportariam inevitavelmente essa condenação; alguns jovens e mulheres despertarão um dia e se encontrarão nas trevas exteriores, enquanto seus pais estarão acima no céu, olhando até abaixo com olhos de reprovação, como que querendo dizer: “Como! Depois de tudo o que fizemos por você, tudo o que lhe dissemos, você chegou a isso?” “Filhos do reino!” não creiam que uma mãe piedosa possa salvá-los. Não pensem que porque seu pai foi um membro de tal e tal igreja, sua piedade lhes salvará. Posso supor alguém parado à porta do céu rogando, “deixem-me entrar! Deixem-me entrar!” “Por que?” perguntam. “Porque minha mãe está ali dentro.” Sua mãe não teve nada que ver contigo. Se foi santa, foi santa para ela; se foi perversa, foi perversa para ela. “Mas meu avô orou por mim.” Isso não lhe serve para nada agora. Você orou por você mesmo? “Não, não orei”. Então as orações do avô e da avó, e as orações do pai e da mãe, podem se amontoar umas sobre as outras até que alcancem as estrelas, mas nunca poderão formar uma escada que você possa usar para subir ao céu. Deves buscar a Deus por ti mesmo; ou melhor, Deus deve buscar-lhe. Você deve ter uma experiência vital de piedade em seu coração, pois do contrário está perdido, ainda que todos teus amigos estejam no céu.
Uma mãe piedosa sonhou um sonho terrível e o contou a seus filhos. Ela pensou que o dia do juízo tinha chegado. Os grandes livros foram abertos. Todos eles estavam diante de Deus. E Jesus Cristo disse: “Separem a palha do trigo; coloquem os cabritos à esquerda e as ovelhas à direita da grande assembleia. E o anjo veio, e disse: “tenho que levar a mãe: ela é uma ovelha, ela deve ir para direita. Os filhos são cabritos, e eles devem ir para esquerda.”  Ela sonhou que ao retirar-se, seus filhos a agarravam e lhe diziam: “Mãe, por acaso podemos nos separar? Devemos estar separados?”. Então, ela os abraçou enquanto lhes dizia: “meus filhos, se fosse possível, eu os levaria comigo.” Porém, em um instante o anjo a tocou: suas faces estavam secas, e agora, sobrepondo-se ao afeto natural, sendo transformada em um ser sobrenatural e sublime, rendida à vontade de Deus, ela disse: “meus filhos, eu lhes ensinei bem, eu lhes eduquei, e vocês abandonaram os caminhos de Deus, e agora tudo o que tenho que dizer é amém à sua condenação.” Então, nesse momento, eles foram arrebatados para longe, e ela os viu em tormento perpétuo, enquanto ascendia ao céu.
Jovem, o que você pensaria quando o último dia vier, e escutar o que Cristo diz: “Aparte-se de mim, maldito!”? E haverá uma voz justamente atrás Dele, dizendo, amém. E quando investigar de onde procede essa voz, descubra que foi a voz de sua própria mamãe nesse “amém”? Ou também, moça, quando fores lançada nas trevas externas, o que pensaria ao ouvir uma voz dizendo “Amém”, e quando olhar, veja ali sentado a seu papai, e seus lábios ainda se agitam com a solene maldição. “Ah, filhos do reino,” os réprobos penitentes entrarão no céu, muitos deles; publicanos e pecadores chegarão ali; bêbados arrependidos e blasfemos serão salvos, mas muitos dos filhos do reino serão deixados às trevas exteriores.
Oh, pensar que você que foi educado tão bem, se perca, enquanto que muitas das piores pessoas serão salvas. Será o inferno do inferno para você quando elevar o olhar e veja ali “ao pobre João,” o bêbado, reclinado no peito de Abraão, enquanto você que teve uma mãe piedosa é lançado ao inferno, simplesmente porque não creu no Senhor Jesus Cristo; apartou de você mesmo o Evangelho, e viveu e morreu sem ele! Isso será o pior aguilhão de todos, ver a si mesmo lançado fora nas trevas, quando o principal dos pecadores encontra a salvação!
Agora, escutem-me um momento – não os deterei por largo tempo – enquanto assumo a triste tarefa de dizer-lhes o que é que acontecerá a esses “filhos do reino”. Jesus Cristo diz que eles “serão lançados nas trevas exteriores, e ali haverá choro e ranger de dentes.”
Primeiro, observem, eles serão lançados. Não diz que vão ir, mas quando chegarem às portas do céu serão lançados. Tão logo o hipócrita suba às portas do céu, a Justiça dirá: “lá vem, lá vem! Menosprezou as orações de um pai, se burlou das lágrimas de uma mãe. Ele forçou seu caminho de caída contra todas as vantagens que a misericórdia lhe proveu. E agora vem. Gabriel, agarre esse homem”. Então, o anjo, o prendendo pelos pés e mãos, o pende por um instante sobre as bocas do abismo. Ele lhe ordena que olhe para baixo, para baixo, para baixo. Não existe fundo: e você ouve umas palavras que se elevam desde esse abismo: “gemidos, queixas profundas, e alaridos de espíritos torturados.” Você estremece, seus ossos se derretem como cera, e sua medula se abala dentro de você. Onde está agora seu poder, e, onde está sua jactância e fanfarronice? Dá um grito e chora, e pede misericórdia; mas o anjo, com seu tremendo punho, o sustenta firme, e logo lhe lança ao abismo, com o grito: “longe, longe!” e você cairia no buraco que não tem fundo, e se desce para sempre para baixo, sem achar jamais um lugar de descanso para a planta de seus pés. Será lançado fora.
E, onde será lançado? Deve ser lançado “nas trevas exteriores;” ser colocado no lugar onde não haverá esperança. Pois, por “luz”, nas Escrituras, nós entendemos “esperança”; e você será lançado “às trevas exteriores, onde não existe luz: não existe esperança. Existe algum homem aqui que não tenha esperança? Não posso imaginar a uma pessoa assim. Talvez, algum de vocês diga: “Tenho uma dívida de trinta libras esterlinas, e logo serei vendido; mas tenho a esperança de obter um empréstimo, e assim poderei escapar de minha dificuldade.”
Outro diz: “Meu negócio está na ruína, mas as coisas ainda podem mudar: tenho esperança.” Outro diz: “Eu estou submerso na angústia, mas espero que Deus me dê a provisão”. Outro diz: “eu devo cinquenta libras esterlinas; eu sinto muito, porém, irei colocar minhas fortes mãos a trabalhar e vou fazer um grande esforço para sair do problema.” Alguém pensa que seu amigo está morrendo – mas tem a esperança que talvez a febre regrida: espera que possa viver. Mas no inferno não existe esperança. Nem mesmo a esperança de morrer: a esperança de ser aniquilado. Eles estão perdidos para sempre, para sempre, para sempre! Em cada cadeia do inferno está escrito: “para sempre”. Nos fogos, ali, sobressaem as palavras: “para sempre”. Acima de suas cabeças, eles leem: “para sempre”. Seus olhos estão amargurados e seus corações estão doloridos pelo pensamento de que é para sempre. Oh, se eu pudesse dizer-lhes nessa noite que o inferno irá desaparecer queimando um dia, e que os que estavam perdidos poderiam ser salvos, haveria um júbilo no inferno motivado por um simples pensamento desses. Porém, não pode ser: é “para sempre” que “são lançados nas trevas exteriores”.
Mas eu gostaria de terminar com isso tão logo quanto possa, pois, quem pode suportar falar dessa forma a seus companheiros? O que é que os perdidos estão fazendo? Estão “chorando e rangendo seus dentes”. Você agora range os dentes? Não faria isso a menos que sentisse dor e estivesse em agonia. Bem, no inferno sempre existe um ranger de dentes. E, sabe por quê? Há alguém que range seus dentes para seu companheiro e murmura: “eu fui conduzido ao inferno por você, você me levou a me extraviar, você me ensinou a beber pela primeira vez”. E outro range os seus dentes também e lhe responde: “E daí se o fiz, você me fez mais mal do que eu fiz”.
Existe ali um filho que olha para sua mãe e diz para ela: “Mãe, você me treinou no vício”. E a mãe range os dentes de volta ao jovem, e lhe responde: “não sinto piedade por você, pois você me superou no vício e me conduziu ao profundo do pecado”. Os pais rangem seus dentes para seus filhos, e os filhos para os pais. E me parece que se existe alguns que terão que ranger os dentes mais que outros, serão os sedutores, quando virem àqueles que se desviaram dos caminhos de virtude, e lhes ouçam dizer: “ah, nos dá gosto que você esteja no inferno conosco, você merece, pois você nos trouxe aqui”.
Algum de vocês tem sobre sua consciência no dia de hoje o fato de que conduziu a outros ao abismo? Oh, que a graça soberana lhe perdoe. “eu andei errante como ovelha extraviada”, Davi disse. Agora, uma ovelha extraviada jamais se extravia sozinha se pertence ao rebanho. Recentemente li sobre uma ovelha que saltou sobre a varanda de uma ponte, e cada uma das ovelhas do rebanho a seguiu. Assim, se um homem se desvia, conduz a outros ao desvio com ele. Alguns de vocês terão que prestar contas pelos pecados de outros quando chegarem ao inferno, assim como pelos seus próprios pecados. Oh, que “choro e ranger de dentes” haverá nesse abismo!
Agora encerro o livro negro. Quem quer dizer algo mais sobre ele? Eu lhes adverti solenemente. Falei para vocês da ira vindoura! A tarde cai, e o sol está se pondo. Ah, e as tardes escurecem para alguns de vocês. Vejo aqui homens de cabelos grisalhos. Por acaso são seus cabelos grisalhos uma coroa de glória ou um gorro de um insensato? Vocês estão na própria borda do céu, ou estão cambaleando a beira da sua tumba, e se afundando para a perdição?
Permitam-me adverti-lhes, homens de cabelos grisalhos; seu entardecer se aproxima. Oh, pobre homem de cabelos brancos que vacila, você dará seu ultimo passo para o abismo? Deixe que um pequeno menino se interponha na sua frente e lhe suplique que reconsidere. Ali está seu cajado: não tem mais nenhum pedaço de terra sobre o qual descansar; e agora, antes que morra, recapitule essa noite – deixe que se levantem precipitadamente setenta anos de pecado; deixe que os fantasmas de suas esquecidas transgressões marchem sobre seus olhos. O que você fará com setenta anos desperdiçados pelos quais tem que responder, com setenta anos de crimes que irá trazer diante de Deus? Que Deus lhe dê nessa tarde graça para que se arrependa e que coloque sua confiança em Jesus.
E vocês, homens de meia idade, não estejam tão seguros: a tarde cai para vocês também; podem morrer logo. Faz uns quantos dias, fui levantado cedo de minha cama por conta de um pedido para que me apressasse a visitar um moribundo – porém, quando cheguei à casa, ele já estava morto: era um cadáver. Enquanto estava naquela casa, pensei: “ah, esse homem não tinha a menor ideia de que morreria tão rápido.” Ali estavam sua esposa e seus filhos e amigos; não pensaram que ia morrer, pois era um homem sadio, robusto, vigoroso somente há alguns dias atrás.
Nenhum de você tem uma apólice de seguro de sua vida. Se a têm, onde está? Vão e vejam se a possuem escondida nos baús de suas casas. Não! Vocês podem morrer amanhã. Portanto, permitam-me advertir-lhes pela misericórdia de Deus – deixem-me lhes falar como um irmão falaria com vocês; pois eu os amo, e vocês sabem que é assim, e eu gostaria que gravassem isso em seus corações. Oh, estar entre as muitas pessoas que serão aceitas em Cristo: que benção será! E Deus disse que todo aquele que invoque Seu nome será salvo: não rejeita a ninguém que venha a Ele por meio de Cristo.
E agora, moços e moças, uma palavra para vocês. Talvez pensem que a religião não é para vocês. “Sejamos felizes” dizem: “estejamos alegres e cheios de gozo”. Por quanto tempo, rapaz, por quanto tempo? “Até que eu cumpra vinte e um anos.” Você está seguro de que alcançará essa idade? Deixe-me dizer-lhe uma coisa. Se de fato você vive até essa data, e mesmo assim não tem um coração para Deus, tampouco terá um quando chegar nessa idade. Se os homens são deixados por si mesmos, não se fazem melhores. Sucede com eles o mesmo que acontece com um jardim; se o abandona e permite que cresça ervas daninhas nele, não espere encontrá-lo em melhor estado seis meses depois: estará pior! Ah, os homens falam como se pudessem se arrepender quando queiram. É obra de Deus nos dar arrependimento. Alguns, inclusive, chegam a dizer: “irei me voltar a Deus tal e tal dia.” Ah, se sentisse de maneira correta diria: “devo correr a Deus, e pedir-lhe que me dê o arrependimento agora, para que não morra antes de ter encontrado a Jesus Cristo meu Salvador”.
E agora, uma palavra para concluir essa mensagem. Falei-lhes do céu e do inferno, qual é o caminho, então, para escapar do inferno e para ser encontrado no céu? Não lhes irei repetir meu velho conto essa noite. Eu lembro quando lhes contei anteriormente, um bom amigo que se encontrava entre a multidão me disse: “Nos dê algo que seja fresco, velho amigo”. Agora, realmente quando se prega dez vezes pela semana, nem sempre podemos dizer coisas frescas. Já ouviram falar de John Gough, e você sabem que ele repete suas histórias uma e outra vez. Eu não tenho nada senão o velho Evangelho. “o que crer e for batizado, será salvo.” Aqui não existe nenhuma referência a obras. Não diz: “Aquele que for um bom homem será salvo.” Bem, que significa crer? Significa colocar inteiramente sua confiança em Jesus. O pobre Pedro uma vez creu, e Jesus lhe disse: “Vamos Pedro, caminhe até mim sobre a água.” Pedro foi, pisando as cristas das ondas, sem afundar; mas quando olhou as ondas, começou a temer, e afundou.
Agora, pobre pecador, Cristo lhe diz: “Vamos, caminhe sobre seus pecados; venha a Mim”; e se você faz isso, Ele lhe dará poder. Se você crê em Cristo, será capaz de caminhar sobre seus pecados, pisar sobre eles. E vencê-los. Eu posso recordar aquele tempo quando meus pecados me olharam pela primeira vez em minha cara. Eu me considerei o mais execrável de todos os homens. Eu não havia cometido grandes transgressões visíveis contra Deus; mas tinha presente que tinha sido educado e guiado muito bem, e por isso pensava que meus pecados eram piores que os de outras pessoas. Clamei a Deus por misericórdia, mas Ele não me ouviu, e eu não sabia o que era ser salvo. Algumas vezes estava tão cansado do mundo que desejava morrer: mas então me lembrava que existia um mundo pior depois desse, e que não seria bom me apressar em me apresentar diante de meu Senhor sem estar preparado. Às vezes, pensava perversamente que Deus era um tirano sem coração, porque não respondia minha oração; e logo, outras vezes, pensava: “eu mereço Seu desgosto; se Ele me enviar ao inferno será justo.” Porém, recordo da hora quando entrei num lugar de adoração, e vi um homem alto e magro subir ao púlpito: nunca voltei a lhe ver depois desse dia, e provavelmente nunca o veja novamente, até que nos encontremos no céu. Abriu a Bíblia, e leu, com uma voz frágil: “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus, e não há outro.” Ah, eu pensei, eu sou um dos confins da terra, e então, voltando-se, e fixando seu olhar em mim, como se ele me conhecesse, esse ministro disse: “olhe, olhe, olhe”. Vamos, eu pensava que havia muitas coisas que eu deveria fazer, mas descobri que só tinha que olhar. Eu pensava que eu mesmo tinha que tecer uma vestimenta: porém, descobri que se eu olhasse, Cristo me daria uma veste de justiça.
Olhe, pecador, isso é ser salvo. Olhe para Ele, todos os confins da terra, e sejam salvos. Isso é o que os judeus fizeram, quando Moises levantou a serpente de bronze. Ele disse: “olhem”, e eles olharam. As serpentes andavam a seu redor, e eles chegavam quase mortos; mas simplesmente olhavam, e no momento que olhavam, as serpentes caiam fulminadas, e eles eram sarados. Olhe para Jesus, pecador. “Ninguém exceto Jesus pode fazer bem aos pecadores desvalidos.” Existe um hino que cantamos sempre, que diz –
“Aventure-se Nele, aventure-se inteiramente;
Não deixes que nenhuma outra confiança se intrometa.”

Agora, não é uma presunção confiar em Cristo. O que confia em Cristo está muito seguro. Eu recordo que quando o querido John Hyatt estava morrendo, Matthew Wilks lhe disse: “Bem, John, pode confiar agora sua alma nas mãos de Jesus Cristo?” “Sim,” respondeu “um milhão, um milhão de vezes!” Estou certo que cada cristão que tenha confiado em Cristo pode dizer: “amém” a isso. Confia nele, nunca irá se enganar. Meu bendito Senhor nunca lhe lançará fora.

Devo terminar minha mensagem, e só me resta lhes agradecer sua amabilidade. Nunca vi tantas pessoas reunidas, que estejam tão tranqüilas e tão quietas. Realmente penso, depois de todas as duras coisas que foram ditas, que vocês saibam que Deus lhes ama. Dou graças a cada um de vocês, e sobre todas as coisas, lhes suplico, se existe razão ou sentido no que eu disse, reflitam sobre o que são, e que o bendito Espírito lhes revele sua verdadeira situação! Que lhes mostre que estão mortos, que estão perdidos, arruinados. Que lhes faça sentir que coisa tão terrível seria se afundar no inferno! Que lhes assinale o caminho ao céu! Que os tome, dizendo: “Fuja! Fuja! Fuja! Olhe para o monte; não olhe para trás de ti, não pare em toda a planície. “e que todos nos reunamos ao fim no céu; e ali seremos felizes para sempre.







5 - O que lembraremos no céu?

Por John Piper

Um amigo me escreveu e fez uma pergunta acerca de Isaías 65:17, que diz (na versão ACF), “Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão.”
Ele perguntou: “Você acha que este versículo significa que, quando formos para o céu, não haverá absolutamente nenhuma lembrança dos Céus e Terra passados? Se sim, você acha que também significaria que todas as lembranças desta vida desaparecerão?”
Aqui está o que eu respondi:
Não, este verso não significa que não haverá nenhuma lembrança no céu ou na era vindoura.
Duas razões:
1) Perceba o paralelo entre "coisas passadas" no versículo 17 e "angústias passadas" no versículo 16. O versículo 16 diz: “Assim que aquele que se bendisser na terra, se bendirá no Deus da verdade; e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade; porque já estão esquecidas as angústias passadas, e estão escondidas dos meus olhos.”
O estrito paralelo entre “angústias passadas” no versículo 16 e “coisas passadas” no versículo 17 leva-me a pensar que “coisas passadas” não significa todas as coisas, mas coisas que nos angustiariam se delas nos lembrássemos. E não nos angustiaremos na era vindoura. “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” (Apocalipse 21:4).
2) O livro de Apocalipse diz que no céu entoaremos a canção do Cordeiro e de Moisés (Apocalipse 15:3), que é uma canção sobre história passada. Logo, se vamos cantar sobre os grandes feitos de Deus na história, não podemos esquecê-los.
Mas aqui está uma dificuldade. A crucificação do Cordeiro foi uma das angústias do mundo. Foi horrível. Portanto parece estar no grupo das coisas que não deveriam ser mais lembradas - foi tão doloroso.
Então a minha conclusão é: O que esqueceremos e o que lembraremos não é uma simples classificação de bom ou ruim. Ao invés disso, esqueceremos e lembraremos das coisas de acordo com o que maximizará o nosso deleite em Deus. Se lembrar de algo intensifica a nossa adoração, nós nos lembraremos. Se atrapalha a nossa adoração, nós esqueceremos.
Como analogia, considere isto. Em Filipenses 3:13-14, Paulo diz: “mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” Então Paulo parece recomendar “esquecer” o passado. Mas em Efésios 2:11-12 ele diz: “Lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne... estáveis naquele tempo separados de Cristo.”
Desse modo, quando eu tento discernir o que deveria ser lembrado e o que deveria ser esquecido, eu respondo: Lembre-se de qualquer coisa que aprofunde o seu amor para com Cristo e o seu zelo em obedecer, e esqueça de tudo o que paralisaria o seu desejo de segui-Lo com alegria.







6 - Vivendo sem Focar a Eternidade

É alarmante o fato de haver não poucas pessoas que nunca se indagaram, senão teológica, ao menos ontologicamente, de onde vieram ou para onde irão depois da morte física.
O resultado da falta da referida indagação conduz geralmente a um modo de viver negligente e descompromissado com todas as assertivas bíblicas relativas ao propósito da nossa existência, e do modo de se acessar a vida do céu.
É no evangelho que temos não apenas todas as respostas satisfatórias, como também o convite que nos conduzirá à transformação de nossas vidas, tornando-as úteis para os objetivos do nosso Criador.
 Por que e para o que existimos?
Para onde podemos ir depois que sairmos do mundo pela morte?
Alguns afirmam: “para que se preocupar com isto, se nada existe depois da morte?”.
Contudo Deus afirma que não apenas existe, como também que não haveria qualquer sentido vivermos por apenas um tempo, tendo consciência de que existimos, e depois esta consciência ficar perdida para sempre, e é por isso que nos faz o convite do evangelho para a solução de todos os aspectos envolvidos na questão vida e morte.
Mas, há diferentes maneiras de responder ao convite do Evangelho quando você tem intenção de recusá-lo.
Elas são todas, na melhor das hipóteses, ruins.
Nós vemos isto na parábola das Bodas em Lucas 14.16-24:

Luc 14:16  Ele, porém, respondeu: Certo homem deu uma grande ceia e convidou muitos.
Luc 14:17 À hora da ceia, enviou o seu servo para avisar aos convidados: Vinde, porque tudo já está preparado.
Luc 14:18 Não obstante, todos, à uma, começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado.
Luc 14:19 Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado.
Luc 14:20 E outro disse: Casei-me e, por isso, não posso ir.
Luc 14:21 Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos.
Luc 14:22 Depois, lhe disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar.
Luc 14:23 Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa.
Luc 14:24 Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.

Deus chama todas as pessoas a se unirem espiritual a Jesus Cristo, mas muitos estão ocupados demais com seus próprios interesses para se preocuparem com isto, sem saberem que a rejeição do convite significa morte espiritual e eterna, porque é um convite para a vida eterna.

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