sexta-feira, 23 de outubro de 2015

57) Evangelização e Pregação 58) Experiência

57) EVANGELIZAÇÃO e PREGAÇÃO

ÍNDICE

1 - Não Devo Represar a Fonte
2 - Ai de Nós se Não Pregarmos o Evangelho
3 - “Nós vivemos para o Senhor." (Romanos 14.8)
4 - Pregação ou Entretenimento?
5 - Um Resumo do Evangelho para Ajudar Você a Desfrutá-lo e Compartilhá-lo
6 - Cristãos Deveriam Dizer Que o Objetivo Deles é Converter Outros à Fé em Cristo?
7 - A Pregação da Fé
8 - A Pregação da Cruz
9 - O ATALAIA
10 - Ministração Carnal e Ministração Espiritual
11 - O perigo da Pregação Superficial
12 - Está Faltando o Ingrediente do Evangelho na Salada Mista da Mensagem Atual
13 - O Poder transformador da pregação dos Puritanos


1 - Não Devo Represar a Fonte

“Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência:  tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne.” (Romanos 9.1-3)

Ah minha alma!
Quão profundo e misterioso é este sentimento expressado pelo apóstolo!
Acaso não sentes o mesmo, especialmente  em relação àqueles, que de Deus são tementes, assim como eram os judeus a quem ele havia se referido?
Há no coração de Deus um amor imenso, que sequer pode ser medido, porque é amor infinito.
Todavia, este amor padece, sofre, morre, onde reina o pecado.
Quando digo pecado, não me refiro, necessariamente, a erros grosseiros, a torpezas inomináveis, mas ao simples estado em que se encontram naturalmente, todos os seres humanos.
Mas quão difícil é enxergar e aceitar isto, que estamos sem a cobertura da justiça de Cristo, completamente perdidos.
Complica-se mais ainda o quadro, porque a natureza terrena humana é muito sensível e se melindra facilmente com palavras, que possam ser mal interpretadas.
Então a nossa alma dói de tristeza, por esta nossa quase completa insuficiência, para revelar este amor divino aos outros, para que a Ele sejam atraídos.
Querendo ajudar, quantas vezes atrapalhamos o divino plano.
Falamos a verdade, mas sem sabedoria, não tendo a palavra bem temperada, para que seja apetecível ao paladar humano.
Aí bradamos um cântico dorido juntamente com Paulo: “Ah, quisera ser de Deus maldito, se isto resultasse em salvação ao mundo.”
Todavia não há nisto qualquer proveito e sentido, porque Alguém já se fez maldito por nós, carregando os nossos pecados na cruz do Calvário.
Na verdade, era o Único que poderia fazê-lo, para que tal Sacrifico fosse por Deus Pai aceito.
Corramos então todos juntos à Fonte, que foi aberta, para termos os nossos pecados lavados pelo precioso Sangue, que por amor foi derramado.






2 - Ai de Nós se Não Pregarmos o Evangelho

“E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (II Cor 5.15)

Se um morreu por todos, e para que tenham vida aqueles que forem pela verdade, entre estes que estão mortos, e como este milagre de vivificação deve ser feito através da pregação do evangelho, então é dever de todos os que foram assim vivificados, não viverem mais para si mesmos, senão para o Senhor Jesus que deu sua vida por eles em Sua morte de cruz.
E este modo de viver para Ele implica em que se apliquem a resgatarem pelo Evangelho, outros que se encontram ainda mortos em delitos e pecados, tanto quanto eles haviam estado no passado.
É principalmente para este propósito de resgatar almas das garras da morte espiritual que ainda permanecem neste mundo dando testemunho da vida que há em Cristo.
Por isso o apóstolo disse: “Ai de mim se não pregar o Evangelho.”
E juntamente com ele dizemos: “Ai de nós se não o pregarmos.”
Este é o maior dever que pesa sobre nós enquanto estivermos neste mundo, porque Deus o amou de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito para que aqueles que nele creem não pereçam, mas tenham a vida eterna.
Se não proclamamos o Evangelho, se nada fazemos neste sentido, somos infiéis diante do Senhor, pelo descumprimento do grande dever que Ele incumbiu a todos os que nele têm crido.






3 - “Nós vivemos para o Senhor." (Romanos 14.8)

Se Deus quisesse, cada um de nós poderia ter entrado no céu no momento da conversão.
Não era absolutamente necessário para a nossa preparação para a imortalidade que devêssemos permanecer aqui.
É possível que um homem seja levado para o céu, e seja feito participante da herança dos santos na luz, por apenas crer em Jesus.
É verdade que a nossa santificação é um processo longo e contínuo, e não será completado até que deixemos os nossos corpos e entremos no interior do véu, mas, no entanto, se o Senhor assim o quisesse, ele poderia ter nos mudado da imperfeição para a perfeição e nos ter conduzido ao céu ao mesmo tempo.
Por que, então estamos aqui? Desejaria Deus manter seus filhos fora do paraíso um único momento a mais do que o necessário? Por que o exército do Deus vivo ainda se encontra no campo de batalha, quando poderia lhe dar a vitória de modo definitivo?
Por que seus filhos ainda vagueiam aqui e ali através de um labirinto, quando uma única palavra de seus lábios iria trazê-los para o centro de suas esperanças no céu?
A resposta é, eles estão aqui para que possam "viver para o Senhor ", e poderem levar outros a conhecerem o seu amor.
Continuamos na terra como semeadores para espalhar a boa semente, como lavradores para quebrar o solo em pousio, assim como para proclamar a salvação.
Estamos aqui como o "sal da terra", para ser uma bênção para o mundo. Estamos aqui para glorificar a Cristo em nossa vida diária. Estamos aqui como trabalhadores para ele, e como "seus cooperadores, juntamente com ele."
Que nossas vidas respondam a este propósito. Vivamos vidas santas, úteis, sinceras, para "o louvor da glória de sua graça."

Nota do tradutor: O ladrão na cruz e muitos outros em leitos de enfermidade terminal e em variadas condições são conduzidos ao céu no momento mesmo da sua conversão. Mas importa, além de todos os argumentos apresentados por Spurgeon, que nós e os próprios anjos eleitos aprendamos sobre o modo como Deus usa de misericórdia para com os pecadores e como os transforma à Sua própria imagem e semelhança, sobretudo em santidade e amor, revelando assim a nossa completa dependência da graça e da obra de Jesus Cristo para o nosso benefício. E isto não poderia ser feito, se a grande maioria dos salvos não permanecesse aqui neste mundo vivendo para o Senhor, para dar testemunho da Sua via e obra.

Texto de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.






4 - Pregação ou Entretenimento?

John MacArthur

John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master’s College and Seminary e do ministério “Grace to You”; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e quatorze netos.

A igreja pode enfrentar a apatia e o materialismo satisfazendo o apetite das pessoas por entretenimento? Evidentemente, muitas pessoas das igrejas pensam assim, enquanto uma igreja após outra salta para o vagão dos cultos de entretenimento.
Uma tendência inquietante está levando muitas igrejas ortodoxas a se afastarem das prioridades bíblicas.
O que eles querem
Os templos das igrejas estão sendo construídos no estilo de teatros. Ao invés de no púlpito, a ênfase se concentra no palco. Alguns templos possuem grandes plataformas, que giram ou sobem e descem, com luzes coloridas e poderosas mesas de som.
Os pastores espirituais estão dando lugar aos especialistas em comunicação, aos consultores de programação, aos diretores de palco, aos peritos em efeitos especiais e aos coreógrafos.
O objetivo é dar ao auditório aquilo que eles desejam. Moldar o culto da igreja aos desejos dos freqüentadores atrai muitas pessoas.
Como resultado disso, os pastores se tornam mais parecidos com políticos do que com verdadeiros pastores, mais preocupados em atrair as pessoas do que em guiar e edificar o rebanho que Deus lhes confiou.
A congregação recebe um entretenimento profissional, em que a dramatização, os ritmos populares e, talvez, um sermão de sugestões sutis e de aceitação imediata constituem o culto de adoração. Mas a ênfase concentra-se no entretenimento e não na adoração.
A ideia fundamental
O que fundamenta esta tendência é a ideia de que a igreja tem de “vender” o evangelho aos incrédulos — a igreja compete por consumidores, no mesmo nível dos grandes produtos.
Mais e mais igrejas estão dependendo de técnicas de vendas para se oferecerem ao mundo.
Essa filosofia resulta de péssima teologia. Presume que, se você colocar o evangelho na embalagem cor-reta, as pessoas serão salvas. Essa maneira de lidar com o evangelho se fundamenta na teologia arminiana. Vê a conversão como nada mais do que um ato da vontade humana. Seu objetivo é uma decisão instantânea, ao invés de uma mudança radical do coração.
Além disso, toda esta corrupção do evangelho, nos moldes da Avenida Madison, presume que os cultos da igreja têm o objetivo primário de recrutar os incrédulos. Algumas igrejas abandonaram a adoração no sentido bíblico.
Outras relegaram a pregação convencional aos cultos de grupos pequenos em uma noite da semana. Mas isso se afasta do principal ensino de Hebreus 10.24-25: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos”.
O verdadeiro padrão
Atos 2.42 nos mostra o padrão que a igreja primitiva seguia, quando os crentes se reuniam: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”.
Devemos observar que as prioridades da igreja eram adorar a Deus e edificar os irmãos. A igreja se reunia para adoração e edificação — e se espalhava para evangelizar o mundo.
Nosso Senhor comissionou seus discípulos a evangelizar, utilizando as seguintes palavras: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19). Ele deixou claro que sua igreja não tem de ficar esperando (ou convidando) o mundo para vir às suas reuniões, e sim que ela tem de ir ao mundo.
Essa é uma responsabilidade de todo crente. Receio que uma abordagem cuja ênfase se concentra em uma apresentação agradável do evangelho, no templo da igreja, absolve muitos crentes de sua obrigação pessoal de ser luz no mundo (Mateus 5.16).
Estilo de vida
A sociedade está repleta de pessoas que querem o que querem quando o querem. Elas vivem em seu próprio estilo de vida, recreação e entretenimento. Quando as igrejas apelam a esses desejos egoístas, elas simplesmente põem lenha nesse fogo e ocultam a verdadeira piedade.
Algumas dessas igrejas estão crescendo em expoentes elevados, enquanto outras que não utilizam o entretenimento estão lutando. Muitos líderes de igrejas desejam crescimento numérico em suas igrejas, por isso, estão abraçando a filosofia de “entretenimento em primeiro lugar”.
Considere o que esta filosofia causa à própria mensagem do evangelho. Alguns afirmam que, se os princípios bíblicos são apresentados, não devemos nos preocupar com os meios pelos quais eles são apresentados. Isto é ilógico.
Por que não realizarmos um verdadeiro show de entretenimento? Um atirador de facas tatuado fazendo malabarismo com serras de aço se apresentaria, enquanto alguém gritaria versículos bíblicos. Isso atrairia uma multidão, você não acha?
É um cenário bizarro, mas é um cenário que ilustra como os meios podem baratear e corromper a mensagem.
Tornando vulgar
Infelizmente, este cenário não é muito diferente do que algumas igrejas estão fazendo. Roqueiros punk, ventríloquos, palhaços e artistas famosos têm ocupado o lugar do pregador — e estão degradando o evangelho.
Creio que podemos ser inovadores e criativos na maneira como apresentamos o evangelho, mas temos de ser cuidadosos em harmonizar nossos métodos com a profunda verdade espiritual que procuramos transmitir. É muito fácil vulgarizarmos a mensagem sagrada.
Não se apresse em abraçar as tendências das super-igrejas de alta tecnologia. E não zombe da adoração e da pregação convencionais. Não precisamos de abordagens astuciosas para que tenhamos pessoas salvas (1 Coríntios 1.21).
Precisamos tão-somente retornar à pregação da verdade e plantar a semente. Se formos fiéis nisso, o solo que Deus preparou frutificará.






5 - Um Resumo do Evangelho para Ajudar Você a Desfrutá-lo e Compartilhá-lo

Por John Piper

Deus Nos Criou para a Sua Glória

"Trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra, todos que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória" (Isaías 43:6-7).

Deus fez todos nós à sua própria imagem, para que possamos passar adiante, ou refletir, a imagem de seu caráter e beleza moral.

Todo Ser Humano Deve Viver para a Glória de Deus

"Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" (1 Coríntios 10:31). A maneira de viver para a glória de Deus é amá-lo (Mateus 22:37), confiar nele (Romanos 4:20), ser-lhe grato (Salmo 50:3) e obedecê-lo (Mateus 5:16). Quando fazemos essas coisas passamos adiante a imagem da glória de Deus.

Todos Nós Pecamos e Destituídos Estamos da Glória de Deus

"Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus" (Romanos 3:23). "Embora tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças ... mas mudaram a glória do Deus incorruptível por imagens ..." (Romanos 1:21-23). Nenhum de nós tem amado ou confiado ou agradecido ou obedecido a Deus como deveria.

Todos Nós Merecemos Punição Eterna

"O salário do pecado é a morte (eterna), mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 6:23). Aqueles que não obedecerem ao Senhor Jesus "Sofrerão o castigo da eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder" (2 Tessalonicenses 1:9). "Eles irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna" (Mateus 25:46).

Em Sua Grande Misericórdia Deus Enviou Seu Único Filho Jesus Cristo para Providenciar para Pecadores o Caminho da Vida Eterna

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16). "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós" (Gálatas 3:13). "Pois também Cristo morreu uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus" (1 Pe 3:18).

Vida Eterna É um Dom Gratuito a Todos os Que Confiarão em Cristo como Senhor e Salvador

"Crê no Senhor Jesus e serás salvo" (Atos 16:31). "Se com a tua boca confessares, que Jesus é o Senhor e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo" (Romanos 10:9). "Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós é dom de Deus, não de obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8). "Estou crucificado com Cristo, já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim, e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim "(Gálatas 2:20).

Buscando o poder de Atos 1:8 com você,

Pastor John






6 - Cristãos Deveriam Dizer Que o Objetivo Deles é Converter Outros à Fé em Cristo?

Por John Piper

Primeiramente, por que estou fazendo esta pergunta? Três motivos:
1.   Porque em nosso delicado e perigoso cenário de pluralismo religioso global, a maneira como falamos sobre nossas metas pode nos colocar para fora de um país ou coisa pior.
2.   Porque nós queremos seguir o padrão de honestidade de Paulo: "Rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade" (2 Coríntios 4:2).
3.   Porque nós precisamos de clareza bíblica sobre nosso papel na conversão de outras pessoas a Cristo, a fim de não rejeitarmos o alvo da conversão por motivos equivocados.

Vamos começar com uma definição.
A conversão cristã é o ato ou processo de ser mudado (sem coerção, mas através de nossa própria volição) em uma nova pessoa que crê e valoriza Jesus Cristo, sua obra salvadora, e suas promessas acima de tudo, incluindo tudo o que nós acreditávamos ou valorizávamos antes da conversão.
Dada a definição, minha resposta para a pergunta é: Sim, todos os cristãos deveriam almejar converter pessoas para a fé em Jesus Cristo. Este é um de nossos alvos em tudo o que dizemos e fazemos. Esperamos e oramos para que tudo o que dissermos e fizermos tenha este efeito. Em outras palavras, nosso alvo é não dizer coisas e fazer coisas que sejam ineficazes. Nós desejamos — nós esperamos, nós ansiamos, nós oramos — que o que nós dissermos e fizermos tenha este efeito: que pessoas valorizem Cristo acima de tudo. Não querer isso é ter incredulidade ou desamor.
Mas dizer que a conversão cristã é nosso alvo ainda não define qual é nosso papel em fazer a conversão acontecer. Isso é o que carece de explicação bíblica.
E aqui eu quero apenas trazer um esclarecimento: O fato de que Deus seja a causa última e decisiva na conversão não quer dizer que não somos agentes ativos na conversão. Nós somos. E, como agentes de Deus na conversão nós a visamos — escolhemos o que fazer e dizer, na esperança de que isso seja usado por Deus para realizar a conversão.
O fato de que Jesus disse, "ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido" (João 6:65), não significa que nós não sejamos instrumentos para trazer pessoas até Cristo. "O Espírito e a noiva [a Igreja] dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem!" (Apocalipse 22:17).
A Bíblia não sugere que porque Deus causa as pessoas a virem, não devemos dizer: "Vem." Nosso objetivo e esforço são para que eles venham. E Deus é quem decide se eles vêm. Dizer que não estamos almejando que eles venham contradiz o mandamento de Jesus (Lucas 14:23), contradiz a instrumentalidade humana do Evangelho (Romanos 10:13-15), e contradiz o amor.
Considere outras cinco maneiras com que a Bíblia fala sobre nosso papel na conversão de outros.
1. Conversão cristã envolve pessoas espiritualmente cegas poderem ver a glória de Cristo. Embora seja Deus quem abra os olhos dos cegos espiritualmente (2 Coríntios 4:6), Jesus envia Paulo para abrir os olhos deles.
“Livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim.” (Atos 26:17-18)
Se Paulo dissesse que seu objetivo não é abrir os olhos deles, seria desobediência à missão que Jesus lhe deu.
2. Conversão cristã envolve ganhar pessoas que valorizam qualquer coisa acima de Cristo para a plena devoção a Cristo. Embora Deus seja decisivo na mudança de afetos das pessoas (Jeremias 24:7), Paulo diz que seu objetivo é conquistar as pessoas.
Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. (1 Coríntios 9:22)
Se Paulo dissesse que seu objetivo não é ganhar pessoas para Cristo, estaria contrariando sua missão.
3. Conversão cristã envolve trazer as pessoas de volta do caminho do pecado e da destruição. Embora Deus seja quem decisivamente nos traz de volta a si mesmo (Jeremias 31:18, Isaías 57:18), a Bíblia fala de nós trazendo pessoas de volta do pecado e da morte.
“Sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados.” (Tiago 5:20)
Dizer que não almejamos trazer as pessoas de volta do pecado e da morte nos colocaria fora de sintonia com este texto e implicaria que não nos preocupamos com a morte de incrédulos.
4. Conversão cristã envolve mover o coração em direção ao verdadeiro Deus, longe de ideias erradas sobre Deus e as afeições erradas para o que não é Deus. Embora Deus seja decisivo no mover do coração do homem para si mesmo (2 Tessalonicenses 3:5), João Batista foi comissionado para mover os corações de Israel a Deus.
"E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado." (Lucas 1:16-17)
Se João Batista dissesse que ele não almejava mover os corações do povo a Deus, ele seria desobediente ao seu chamado.
5. Conversão cristã envolve nascer de novo. Embora o Espírito de Deus seja a causa soberana do novo nascimento, soprando onde quer (João 3:8), mesmo assim, Pedro explica que isso acontece por meio da pregação do evangelho pelos seres humanos.
"Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente... Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada." (1 Pedro 1:23-25)
Se o pregador do evangelho dissesse que ele não está visando o novo nascimento em sua pregação, isso iria colocá-lo fora de sintonia com o Espírito e iria contradizer o projeto de Deus na forma como as pessoas nascem de novo.
Portanto, concluo que não é bíblico dizer que não estamos visando à conversão porque Deus é a causa final e decisiva da conversão. Ele é. Mas nós somos os seus agentes, e Ele nos chama para acompanhá-lo neste objetivo. Não almejar isso é colocar-nos fora de sintonia com o seu comando e seu Espírito.
Pela causa de Deus e da verdade,
Pastor John







7 - A Pregação da Fé

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?" (Gálatas 3.2)

Uma grande ilusão repousa sobre o coração do homem assim como a sua salvação. Seus caminhos são perversos. Ele não ama a lei de Deus, não, sua mente se opõe a ela e ele ainda se apresenta como seu defensor. Quando ele entende a espiritualidade e a severidade da Lei, ele acha que seja um fardo doloroso e ainda, quando o evangelho é pregado e estabelecido como o dom da graça soberana e ele lhe é oferecido, para simplesmente aceitá-lo por um ato de fé em Cristo Jesus, o homem professa grande preocupação com a Lei, a fim de que ela não seja anulada pela gratuidade da Graça! Ele toma as duas tábuas da Lei e as lança na cruz! Não é que o homem ame a lei de Deus, mas que ele não ama o Deus da Lei! Por isso, ele vai recorrer a qualquer pretensão de se opor a essa forma de salvação que Deus designou para ser somente por graça e mediante a fé.
Sem dúvida, se fosse possível, que o Senhor estabelecesse um outro caminho para a salvação, o homem teria se oposto a isso, também, pois ele está determinado a andar contrariamente a Deus. Seja como for, há uma animosidade constante nas mentes dos homens não regenerados contra o caminho da salvação pela fé em Cristo - e para se oporem a ele, eles montaram o pretexto da salvação pelas obras da lei. Irmãos e Irmãs, em todos os nossos corações há esta inimizade natural para com Deus e para com a soberania da Sua graça. Por isso é que os crentes têm muitas vezes se queixado das dificuldades da fé. A fé em si é, ou deveria ser, a coisa mais fácil do mundo, para uma criatura crer em seu Criador, porque para uma criança acreditar em seu pai, deveria ser a coisa mais simples e mais natural do mundo! Mas por causa da corrupção que permanece, mesmo, no regenerado, há sempre uma luta contra esta forma simples de fé.
Há momentos em que o melhor homem, quando reflete sobre os seus muitos pecados, a Consciência diz: "Como você pode acreditar que você está justificado e aceito por Deus enquanto tanto mal é encontrado em você?" A menos que nos apeguemos à promessa de Deus e à livre misericórdia em Cristo Jesus, isto irá então, se tornar duro para nós. A alma do homem mais sincero e reto pode ser levada ao desespero por uma visão de suas próprias imperfeições, a menos que ele se apegue a essa justiça pela qual os pecadores são justificados pela fé em Cristo Jesus. Amados, se esta guerra é descoberta, até mesmo, nas mentes daqueles que são nascidos de novo, não devemos admirar que ela grasse no não regenerado!
Alguém poderia ter pensado que no momento em que pregamos a salvação pela fé cada pecador teria saltado e se convertido. Isto é tão simples, tão fácil, que certamente todo homem gostaria que, desta forma, fosse perdoado e justificado! Em vez disso, todo o raciocínio, toda a atenção, sim, toda a astúcia da natureza humana não regenerada são agitados para lutar contra o método de libertação pela fé em Cristo Jesus. "É bom demais para ser verdade", diz um deles. Outros clamam: "Se isto for pregado, levará os homens a pensarem pouco sobre a excelência moral." Um terceiro encontra, nas Doutrinas da Graça, incentivos à inércia e assim por diante.
Parece que Deus não sabe a melhor maneira de salvar os homens e os homens são tão sábios que alteram Seus métodos! Isso não é uma refinada blasfêmia? É uma farsa hedionda ver um pecador rebelde de repente se tornar zeloso sobre boas obras e muito preocupado com a moralidade pública! A razão disso reside no fato de que o homem não é só pobre, mas orgulhoso. Ele não é somente culpado, mas vaidoso, de modo que ele não vai se humilhar para ser salvo em termos da graça Divina. Ele não vai consentir crer em Deus, ele prefere acreditar nas mentiras orgulhosas de seu próprio coração, que o iludem numa esperança lisonjeira para que ele possa merecer a vida eterna!
Contra esse espírito perverso nosso texto entra em luta. Vamos ver como ele conduz o combate. O argumento do texto é muito simples e poderoso. Paulo coloca, assim, "O Espírito Santo foi recebido por vocês Gálatas. Como vocês receberam o Espírito Santo, por obras da lei ou pela pregação da fé?" Eles foram obrigados a admitir, cada um para si mesmo, que eles receberam o Espírito Santo pela fé e por nenhum outro meio!
Agora, o Espírito Santo é o mais escolhido de todos os dons de Deus, que são recebidos na alma, é pelo Espírito que a obra do Senhor Jesus é conhecida e recebida! O Espírito Santo é, ele mesmo, o selo do favor divino e o sinal de que estamos em paz com Deus. Eu poderia até dizer que a recepção do Espírito Santo é a salvação, pois é quando Ele entra em nós, que somos salvos da morte no pecado, do amor ao pecado, do poder do pecado e do terror do pecado!
Quando Ele reina no coração, Ele se torna a fonte de vida, luz, amor e liberdade para nossas almas e Ele mesmo santifica nossos corpos. Não sabeis que os vossos corpos são templos de Deus, quando o Espírito Santo vem habitar neles? Para quem, então, o Espírito Santo é dado, a quem a salvação é dada no sentido mais elevado? Como é que o Espírito Santo é recebido? A pergunta é logo respondida. Ele não é recebido pelas obras da Lei, mas pela pregação da fé.
Vocês, queridos amigos, se estão, de fato, em Jesus Cristo, receberam o Espírito Santo! Mas como? Vamos passar por cima da lista de suas operações em suas mentes. Você recebeu iluminação por Seu intermédio, por que você foi levado a entender o caminho da salvação e a contemplar a glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Será que você alcançaria esta iluminação pelas obras da lei? Foi assim em qualquer caso? Tem sido meu privilégio conhecer muitos de vocês e lembrar de suas confissões de fé - você me disse que quando estava buscando a salvação por suas próprias obras que estava cego e não viu a Luz de Deus. Quanto mais você se esforçou e quanto mais você se esforçou, mais intensa a meia-noite cresceu com você até que você chegou ao ponto de ficar desesperado!
A Luz vem por um olhar para o Crucificado! Ela veio somente pela pregação da fé! Depois disso, você recebeu a paz, aquela paz, que eu confio, você desfruta agora. "A paz de Deus, que excede todo o entendimento." Mas você recebeu a paz, enquanto você estava confiando em cerimônias, no batismo, ou da Ceia do Senhor, ou em suas próprias obras? Eu sei que não, pois a verdadeira paz de consciência não chega por essa porta! Será que você obteve a paz, enquanto você tentava se arrepender muito, chorar muito, sentir muito, ou trabalhar muito? Não, irmãos e irmãs, e nem um átomo de paz jamais chegou ao seu espírito até que você contemplou o Senhor Jesus, de quem ouviu que Ele era capaz de salvar até mesmo o principal dos pecadores e em quem, por isso, pela graça de Deus, você agora crê! Quando veio a fé, a paz cresceu a partir dela como um fruto do Espírito Santo.
Desde então, você tem recebido o Espírito Santo para ajudá-lo em sua santificação. Se você procurar a santificação por seus próprios esforços, feitos na incredulidade, jamais a conseguirá. A incredulidade trabalha no sentido do pecado e nunca para a santificação! Nossas boas obras são frutos de santificação, não a causa dela, e se colocamos o fruto onde a raiz deve estar, erraremos grandemente. Se você tem ido lutar contra a tentação na sua própria força, você já retornou um vencedor? Está escrito sobre os crentes, "Eles venceram pelo sangue do Cordeiro", e isto é verdade para você, também. A Santificação não vem até nós por nossa auto-suficiência, mas como uma obra do Espírito Santo, recebida pela fé em Cristo. Creia nEle pois tem “sido feito para nós, sabedoria, justiça, santificação e redenção".
Você teve, além disso, querido amigo, outro dom do Espírito Santo, ou seja, o de comunhão com Deus. Mas você já teve comunhão com o Deus santo com base na sua própria bondade? Nunca!
Queridos amigos, não há comunhão com Deus exceto pela fé, sem a qual não podemos nunca agradar a Deus. Os favoritos do Céu são, em todos os casos, os homens que acreditam em Deus! A fé tem a chave de ouro dos palácios de marfim. A fé abre as câmaras secretas de comunhão com aqueles que a amam. As obras da lei não trazem proximidade a Deus, em sinal do que, ninguém poderia chegar perto do Sinai, e nem um animal poderia tocar o monte, pois seria apedrejado.
E vocês, queridos amigos, receberam o Espírito Santo, muitas vezes, como seu ajudante na oração "O Espírito ajuda a nossa fraqueza." E eu tenho certeza que ele nunca fez isto pelas obras da lei. Quando a enfermidade parou suas orações e você não podia clamar como faria, então você não tinha espaço para se vangloriar de boas obras e ainda então o Espírito tem "intercedido por você com gemidos inexprimíveis." Sua enfermidade fez você perceber que foi por graça e pela graça, sozinha, que foi ajudado na sua hora de necessidade.
Mantenha a sua fé em Cristo! Não pense que a grandeza de seu pecado excede o Seu mérito expiatório!
Trabalhos realizados para Deus pelos esforços de nossa própria força são coisas ruins, mas o trabalho da Graça de Deus em nosso espírito é precioso.
A salvação é do Senhor, sozinho, do início ao fim!
Então, se você se encontrar com um grande santo, diga para si mesmo: "Meu honrado irmão vai chegar ao céu através de Jesus Cristo. E eu, um pobre bebê na graça, devo chegar ao céu da mesma maneira."
A "pregação da fé", este é o caminho pelo qual o Espírito de Deus vem aos homens; pois, "a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus."
Essa última frase me faz lembrar que a audiência deve ser a audição do Evangelho. Eu gostaria que as pessoas fossem mais cuidadosas sobre esse ponto. Você não vai receber o Espírito Santo por apenas ouvir um homem falar. Ele pode ser eloquente, ele pode ser inteligente e ele pode ser piedoso, mas marque isto: o Evangelho, a fé salvadora não pode vir por ouvir o homem! Muitas pessoas vão para aquele lugar de culto que está mais próximo de suas casas e não importa o que se prega, desde que haja um culto atraente.
A fé que salva só vem por se ouvir o testemunho do Espírito sobre o Salvador!







8 - A Pregação da Cruz

A pregação da cruz põe por terra toda a soberba dos homens em se jactarem em sua própria sabedoria terrena, e nas coisas deste mundo.
Evangelho não é filosofia, nem psicologia, ou sociologia.
Evangelho é a palavra da cruz, que é motivo de escândalo para os judeus, e de loucura para os gentios, mas é, no entanto, a sabedoria de Deus, porque foi pela pregação do evangelho da cruz, que Deus determinou salvar os que creem.
Não há vida eterna em nenhuma outra semente que seja deste mundo (filosofia, ciências aplicadas etc), senão na única semente que é do céu, a saber, o evangelho da cruz.
Se o homem rejeitá-lo por causa da sua própria sabedoria, que o leve a recusar esta verdade, ele será aniquilado juntamente com a sua sabedoria mundana, porque não há outro modo pelo qual os homens possam ser salvos de suas transgressões, e da condição caída de suas almas, por causa do pecado original.
A chamada do evangelho é para os que se humilham, para os pobres de espírito, para os mansos, para os contritos e quebrantados de coração, para os que têm fome e sede de justiça, para os pacificadores, para os que choram por causa do pecado, e é notório que o mundo não valoriza nenhuma destas virtudes.
Deus não opera por outro caminho, senão exclusivamente pelo único que Ele determinou em Sua soberania; que é o de salvar pela pregação do evangelho, à qual o mundo considera loucura.  
Toda a filosofia e pregação do mundo pagão não poderia produzir a conversão e edificação de uma só alma na verdade divina, porque isto somente é possível na própria luz do evangelho, que prevalece sobre o mundo pela autoridade de Cristo, em demonstrações do Espírito e de poder, sem que haja qualquer ajuda humana para que Deus possa fazer o Seu trabalho no interior dos corações.
Há uma tendenciosa prática cultural chamada “evangélica” em nossos dias, que nada tem a ver com o verdadeiro evangelho.
Conquista de fama, bens matérias, status, poder e tudo o mais que o mundo busca, relativamente à criatura, à criação, e não a consagração da vida ao Criador, ao Senhor, e à Sua vontade soberana, para as nossas vidas, que é a santificação.
Assim, as bocas falam e os teclados escrevem não aquilo que procede do coração de Deus, mas do próprio coração humano, não regenerado ou não santificado.
Os homens podem considerar uma tolice, um absurdo, um escândalo, a idéia de que Deus tenha encarnado num corpo humano e morrido numa cruz para carregar os nossos pecados sobre Si, na pessoa de Seu Filho, mas esta é a pura verdade que se comprova na transformação das vidas daqueles que creem na mensagem da cruz.
Os que estão buscando glória terrena e o louvor dos homens, certamente desprezarão a cruz, porque ela é uma convocação à humilhação e mortificação do nosso ego, e o instrumento que nos leva a nos submetermos à vontade Deus, em obediência voluntária e amorosa de coração.  
O próprio Cristo em nós é o poder e a sabedoria de Deus, de forma que, se tivermos algum poder ou sabedoria relativa às coisas celestiais e divinas, isto não provém propriamente de nós mesmos, mas o temos recebido do alto pelo Espírito, por causa da nossa comunhão com Cristo.
Daí Paulo ter dito que foi o próprio Jesus que foi feito para os cristãos, da parte de Deus, a sua sabedoria, justiça, santificação e redenção (I Cor 1.30), de modo que nenhum cristão se glorie em si mesmo, senão unicamente no Senhor, ao verem existirem e operarem neles todas estas virtudes, porque tudo lhes é concedido pela exclusiva graça e misericórdia de Cristo.
Cuidado portanto com os pastores que se proclamam poderosos, sábios, justos, santificados, abençoados, gloriando-se em si mesmos, e não no poder do Senhor, para que vidas sejam salvas e abençoadas.
Muito mais do que ter cuidado, devemos nos desviar daqueles que se gloriam na sabedoria deste mundo (I Cor 1.19; Is 29.14), porque Deus prometeu aniquilar tal sabedoria, e todos aqueles que se gloriam nela, serão juntamente aniquilados no porvir, por terem confiado nela, e não na verdadeira sabedoria de Deus para o mundo que é Cristo crucificado, para nos remir dos nossos pecados.
O evangelho da cruz é portanto, o instrumento de aniquilação de toda a sabedoria mundana, que seja especulativa quanto à salvação.
Porque a simplicidade do evangelho e a humilhação que ele requer são rejeitadas pelos sábios segundo o mundo.
Eles pensam que é preciso algo mais elaborado, mais sofisticado, mais profundo (segundo os  homens) para a salvação.
Não nos deixemos iludir pela aparência do que seja grande e sofisticado aos olhos dos homens, ao contrário, estejamos sempre vigilantes e desconfiemos de tudo aquilo que não se conforme à simplicidade do evangelho da cruz, de forma que nós mesmos não sejamos separados da simplicidade e da pureza que há em Cristo, pela corrupção de nossas mentes, que em vez de serem renovadas pela verdade, serão desviadas da mesma, por darmos crédito àquilo que é fruto da própria imaginação humana (II Cor 11.3).







9 - O ATALAIA

Se o atalaia de Deus não pregar o evangelho e não der o sonido certo da trombeta para alertar os pecadores do juízo que lhes aguarda e caso não se convertam dos seus pecados para Deus, ele será considerado responsável pelo sangue dos que perecerem pela falta do atalaia no cumprimento do seu ministério.
Ainda que tais pessoas que se perdem não estivessem marcadas para a vida eterna, o atalaia será considerado culpado da perda delas caso pereçam sem terem ouvido a verdade que cabia a ele lhes anunciar. Certamente com isto, Deus quis deixar garantida a necessidade de esforço para a pregação do evangelho, porque é por meio disto que os eleitos são salvos. Se não houvesse este peso de responsabilidade de responder até mesmo pelas vidas daqueles que se perderiam ainda que debaixo da pregação, é possível que muitos cristãos se acomodassem na sua obrigação de pregar o evangelho a todos. Assim Deus lhes impôs este peso de responsabilidade, na consideração da culpa deles de se omitirem deste dever, de maneira, que tenham temor e se apliquem a cumprir a sua missão de atalaia no mundo.  
Em Atos 20.26,27 nós lemos:
“26 Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. 27 Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus.”
Crisóstomo disse que somente alguém como Paulo poderia fazer uma declaração como esta, e daí nós percebemos o peso da grande responsabilidade que está sobre os ombros dos servos de Deus em anunciar a verdade do evangelho a todos os homens.  
O sangue tipifica a vida nas Escrituras, e o fato de ser culpado do sangue seria então um modo de se referir à culpa pela perda da vida de alguém. A expressão em sentido evangélico aponta para o fato de se omitir no dever de dar testemunho do evangelho, condição esta que será considerada por Deus como sujeita ao Seu juízo quanto a ser atalaia infiel julgado como culpado por aqueles que se perdem sem que tivessem sido avisados por ele da necessidade de conversão para ser livrado da condenação eterna.
Paulo disse que não veria mais os efésios porque havia cumprido totalmente o trabalho de pregar o evangelho a eles, indo de casa em casa anunciando a Cristo, e que agora, ele sabia, pelo Espírito que deveria cumprir o mesmo dever em outras localidades porque já havia cumprido a sua missão em Éfeso, e nada mais tinha que fazer junto a eles, pessoalmente.
Nós devemos pensar frequentemente nisto, que aqueles que agora estão pregando para nós o  reino de Deus serão removidos brevemente e nós não veremos nunca mais as faces deles. Os profetas vivem para sempre? Ainda que por breve tempo a luz deles esteja conosco; nós devemos nos empenhar para melhorar aquilo que nós já possuímos e as graças e os dons espirituais que eles compartilharam conosco, de maneira que embora não os vejamos mais aqui na terra, nós podemos esperar contemplar as faces deles com conforto naquele grande dia em que todos estaremos reunidos com o Senhor na glória.
Que todo cristão portanto, e especialmente os ministros do evangelho sigam o exemplo de Paulo quanto a não serem achados culpados diante de Deus pela ruína de qualquer alma preciosa, de maneira que sejam achados limpos do sangue de todos os homens, ou seja, da vida das almas.
Este dever de dar testemunho da verdade foi imposto por Deus a todos os seus servos desde o princípio do mundo, conforme podemos ver nas palavras de Ezequiel 33.6:
“Mas, se quando o atalaia vir que vem a espada, e não tocar a trombeta, e não for avisado o povo, e a espada vier, e levar uma vida dentre eles, este tal foi levado na sua iniquidade, porém o seu sangue requererei da mão do atalaia.”  (Ez 33.6).
O atalaia fiel poderá dizer aos que se perderam debaixo do seu testemunho: “você se recusou a se converter, mas eu dei o aviso, de maneira que o sangue de qualquer homem não pode ser posto na minha conta.”.
Um ministro fiel do evangelho deve portanto se aplicar à pregação e ensino da genuína Palavra de Deus, de forma que esteja puro do sangue de todos os homens, por ter dado testemunho da verdade. Ele sabe que lhe está imposto o dever de pregar o evangelho, e sabe que o sangue daqueles que perecem cai sobre as próprias cabeças deles porque apesar de terem sido advertidos eles não lhe deram ouvidos.
Foi exatamente isto o que se deu com Paulo quando pregou aos judeus de Corinto que haviam rejeitado o evangelho. Ele lhes disse:
“ Mas, resistindo e blasfemando eles, sacudiu as vestes, e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora parto para os gentios.”  (At 18.6).
Paulo declarou a eles ter cumprido o seu dever para com eles e que os deixaria perecer na incredulidade deles. Paulo tinha sido impulsionado em seu espírito a pregar Cristo a eles (v.5), mas eles não somente O rejeitaram como também blasfemaram (v.6), motivo pelo qual Paulo lhes disse que se voltaria para os gentios.
Paulo tinha feito a sua parte e estava limpo do sangue das almas deles, porque tinha, como um atalaia fiel, advertido a todos eles, e assim, livrou a sua própria alma de qualquer juízo de Deus.
Os judeus não podem reclamar porque a oferta da graça do evangelho foi feita primeiramente a eles.  E de igual modo não podem reclamar todos aqueles que tanto entre judeus e gentios, ainda hoje recusam aceitar a salvação que está sendo pregada pelos atalaias fiéis do Senhor. Não importa quantos sejam os recusadores, porque estamos avisados que os últimos dias seriam como os dias de Noé, em que as pessoas se recusavam a dar ouvidos à verdade e se arrependerem de seus pecados, mas Noé cumpriu fielmente o seu ministério de pregoeiro da justiça, mesmo em face do endurecimento de toda aquela geração que pereceu no dilúvio.  Cumpramos portanto fielmente o nosso dever de atalaias de Deus e estaremos com isto livrando a nós mesmos de sermos achados culpados diante de Deus pelos que se perderam sem que ouvissem dos nossos lábios o testemunho da verdade.      








10 - Ministração Carnal e Ministração Espiritual

A verdadeira conversão que traz salvação é aquela que é do coração, que transforma o coração de pedra em coração de carne.
A mensagem do evangelho tem por objetivo central esta transformação citada.
Desta forma devemos nos acautelar daqueles que pregam um "evangelho" para satisfazer o ego e os desejos do velho homem, que barateia a graça de Cristo e esconde a ofensa e o trabalho da cruz.
A essência da verdadeira vida espiritual consiste em servir a Deus em espírito, porque é possível somente se comunicar com Deus em espírito, e não pela confiança na carne.
Assim, nenhum culto que comece na carne e termine na carne pode agradar a Deus, por mais religioso e reverente que seja, porque o que é nascido da carne é carne. A carne (velha natureza) só pode gerar o que é carnal, e não espiritual.
Deus é espírito e importa sempre que seja adorado em espírito e na verdade da Sua Palavra revelada na Bíblia.
Este culto em espírito leva o cristão a se gloriar em Cristo Jesus, porque fora de Cristo e do trabalho da cruz, não pode existir verdadeira comunhão com Deus, porque somente Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Sem Ele ninguém pode ir ao Pai.
Esta comunhão, em espírito com Deus, é promovida pelo que Cristo fez e faz por nós, e por permanecer em nós. Sem a Sua presença nada podemos fazer quanto a servir e agradar a Deus.
Paulo foi um excelente fariseu. Ele era israelita  da tribo de Benjamim, e também circuncidado no prepúcio. Ele era irrepreensível segundo a lei, no entanto  chegou até mesmo a ser perseguidor da Igreja, porque lhe faltava este conhecimento pessoal e íntimo de Jesus, como afirma em Fp 3.4-6.
Paulo poderia se gloriar no que fez, mas seria uma glória vã, porque seria uma glória no que fizera na carne, e não pelo espírito.
Quando conheceu a Jesus e se converteu de fato, passou a considerar como perda todas estas coisas que lhe pareceriam ser lucro, de maneira que abriu mão de tudo o que havia recebido por tradição religiosa para guardar, para que pudesse ganhar mais de Cristo.
E não somente estas coisas religiosas, mas tudo o que possa ser considerado excelente neste mundo, passou também a considerar como perda para alcançar a excelência do conhecimento de Jesus.
O que o mundo considera elevado, Paulo considerava como um refugo, como esterco, para que pudesse ganhar mais a Cristo. Ele estava desembaraçado de tudo e de todos, para poder servir livre e totalmente ao Seu Senhor.
Vemos assim que o exercício do ministério deve estar centrado em Cristo, porque é possível fazermos muitas coisas com a intenção de servir a Deus, e que não passem na verdade de meras expressões do exercício da nossa própria imaginação e vontade.
Mas onde houver a verdadeira graça atuando, ela nos conduzirá a um desejo de ter uma maior graça. Esta graça não vem de nós mesmos, mas de Jesus Cristo.
Os inimigos da cruz de Cristo negam a necessidade de todas estas coisas; inclusive aqueles que se entregam a um tipo de religião de base emocional, e que até choram para impressionar seus ouvintes.
Por maior aparência que haja de piedade na devoção deles, ela é falsa, porque não coopera para uma genuína conversão e santificação daqueles aos quais ministram na carne - coisas que não são espirituais, as quais podem ser discernidas somente espiritualmente, por aqueles que andam no Espírito Santo.
Como cuidam somente das coisas terrenas, e dos seus interesses carnais, não há verdadeira prática espiritual em sua religião, por maior que possa ser a aparência de piedade que tentem transmitir para conquistar os corações dos incautos.
Não é incomum portanto que se veja o verdadeiro evangelho da cruz sendo substituído por mensagens de mero caráter moral, social, psicológico, etc, que nada tem a ver com o que é relativo ao espírito, porque a boca fala daquilo que o coração está cheio - se da Palavra de Deus ou dos ensinos de homens e de demônios que não se baseiam no que é espiritual, celestial e divino.









11 - O perigo da Pregação Superficial

John MacArthur

John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master”s College and Seminary e do ministério “Grace to You”; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e quatorze netos.

Estou comprometido com a pregação expositiva. Tenho a convicção inabalável de que a proclamação da Palavra de Deus sempre deve ser o âmago e o foco do ministério da igreja (2 Timóteo 4.2). E a pregação bíblica correta deve ser sistemática, expositiva, teológica e teocêntrica.
Esse tipo de pregação está em falta nestes dias. Há abundância de comunicadores talentosos no movimento evangélico moderno, porém os sermões de hoje tendem a ser curtos, superficiais e tópicos. Fortalecem o ego das pessoas e centralizam-se em assuntos completamente insípidos como relacionamentos, vida de sucesso, problemas emocionais e outros temas práticos, mas seculares.
Assim como os púlpitos de materiais leves e transparentes dos quais as mensagens são apresentadas, esse tipo de pregação não tem peso nem consistência; é barata e sintética, deixando pouco mais do que uma impressão efêmera na mente dos ouvintes.
Há algum tempo realizei um seminário sobre pregação em nossa igreja. Ao preparar-me para as palestras, peguei um caderno de anotações, uma caneta e comecei a listar os efeitos negativos desse tipo superficial de pregação, tão predominante no evangelicalismo moderno.
Inicialmente, pensei que seria capaz de identificar pelo menos dez efeitos negativos, mas, no final, eu havia alistado sessenta e uma consequências devastadoras! Apresento aqui as mais importantes como um aviso contra a pregação superficial — tanto para os pastores, nos púlpitos, quanto para seus ouvintes, nos bancos das igrejas.
USURPA A AUTORIDADE DE DEUS
Quem possui o direito de falar à igreja? O pregador ou Deus? Sempre que a Palavra de Deus é substituída por qualquer outra coisa, a autoridade dEle é usurpada. Que atitude arrogante! Na verdade, substituir a Palavra de Deus pela sabedoria do homem é uma atitude insolente. DESAFIA O SENHORIO DE CRISTO
Quem é o cabeça da igreja? Cristo é realmente a autoridade dominante no ensino da igreja? Se isso é verdade, por que há tantas igrejas nas quais a Palavra dEle não está sendo proclamada com fidelidade?
Quando observamos o ministério contemporâneo, vemos programas e métodos que são fruto da invenção humana, resultado de pesquisa de opinião pública e avaliação da vizinhança da igreja, além de outros artifícios pragmáticos. Os especialistas em crescimento de igreja têm lutado para assumir o controle das atividades da igreja, tomando-o de seu verdadeiro Cabeça, o Senhor Jesus Cristo.
Quando Jesus Cristo é exaltado no meio de seu povo, seu poder é manifestado na igreja. Quando a igreja é controlada por comprometedores cuja única ambição é conformar-se à cultura, o evangelho é minimizado, o verdadeiro poder é perdido, uma energia artificial precisa ser fabricada, e a superficialidade toma o lugar da verdade.
OBSTRUI A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
Ele usa a Palavra de Deus para realizar a sua obra. Ele a usa como instrumento de regeneração (1 Pe 1.23; Tg 1.18) e de santificação (Jo 17.17). Na verdade, a Palavra de Deus é a única ferramenta que o Espírito Santo usa (Ef 6.17). Então, quando os pregadores negligenciam a Palavra de Deus, debilitam a obra do Espírito Santo, produzindo conversões superficiais e crentes aleijados em sua vida espiritual — e, talvez, completamente falsos.
Consequentemente, o púlpito perde o seu poder. “A palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes” (Hb 4.12). Qualquer outra coisa é impotente, oferecendo apenas uma ilusão de poder. A habilidade do homem em seduzir as pessoas não deve impressionar-nos mais do que a capacidade da Bíblia em transformar vidas.
DEMONSTRA FALTA DE SUBMISSÃO
Nas abordagens modernas de “ministério”, a Palavra de Deus é deliberadamente subestimada; o opróbrio de Cristo (Hb 11.26), repudiado com sagacidade; a ofensa do evangelho, removida com cuidado; e a “adoração”, moldada com o propósito de se ajustar às preferências dos incrédulos. Isto não é nada mais do que uma recusa em se submeter ao mandamento bíblico para a igreja. A insolência dos pastores que seguem um caminho como esse é assustadora para mim.
SEPARA O PREGADOR DA GRAÇA DE SANTIFICAÇÃO
O maior benefício pessoal que recebo da pregação é a obra que o Espírito de Deus realiza em minha própria alma, quando estudo e me preparo para duas mensagens expositivas a cada Dia do Senhor. Semana após semana, o dever da exposição cuidadosa mantém o próprio coração focalizado e fixo nas Escrituras; e a Palavra de Deus me alimenta, enquanto me preparo para alimentar o rebanho.
Deste modo, eu mesmo sou abençoado e fortalecido espiritualmente por meio deste empreendimento. Ainda que não houvesse qualquer outra razão, eu jamais abandonaria a pregação bíblica. O inimigo de nossa alma persegue os pregadores, e a graça santificadora da Palavra de Deus é essencial à nossa proteção.
OBSCURECE A TRANSCENDÊNCIA DE NOSSA MENSAGEM
Consequentemente, a pregação superficial enfraquece tanto a adoração congregacional como a adoração pessoal. O que hoje é recebido como pregação, em algumas igrejas, é tão superficial quanto as mensagens que os pregadores de gerações anteriores ministravam em cinco minutos às crianças. Isto não é exagero. Esse tipo de abordagem torna impossível a verdadeira adoração, porque a adoração é uma experiência transcendente que deveria nos elevar acima do que é mundano e simplista.
A verdadeira adoração é uma resposta do coração à verdade de Deus (Jo 4.23). O nosso povo não pode ter pensamentos sublimes a respeito de Deus, se não os fazemos mergulhar nas profundezas da auto-revelação de Deus. Mas a pregação de hoje não é profunda nem transcendente. Não se aprofunda nem se eleva às alturas. Almeja apenas entreter.
IMPEDE O PREGADOR DE DESENVOLVER A MENTE DE CRISTO
Os pastores devem viver em submissão a Cristo. Muitos pregadores modernos se mostram de tal modo determinados a compreender a cultura, que desenvolvem a mente da cultura, e não a mente de Cristo. Começam a pensar como o mundo, e não como o Salvador.
Sinceramente, as nuanças da cultura mundana são irrelevantes para mim. Quero conhecer a mente de Cristo e usá-la para influenciar a cultura, não importando qual seja a cultura em que ministro. Se tenho de subir ao púlpito e ser representante de Jesus Cristo, quero conhecer o que Ele pensa — e declarar isso ao seu povo.
DEPRECIA A PRIORIDADE DO ESTUDO BÍBLICO PESSOAL
O estudo bíblico pessoal é importante? Claro que sim! Mas, que exemplo o pregador oferece quando negligencia a Bíblia em sua própria pregação? Por que estudariam a Bíblia, se o próprio pregador não a estuda com seriedade, ao preparar seus sermões?
Alguns dos gurus do ministério “Sensível aos Interessados” nos aconselham a retirar do sermão todas as referências explícitas à Bíblia. Eles dizem: “Nunca peça à sua congregação que abra a Bíblia em uma passagem específica, porque esse tipo de coisa deixa os interessados desconfortáveis”.
Algumas igrejas “sensíveis aos interessados” desencorajam veementemente seus membros a trazerem Bíblias à igreja, com receio de que a visão de tantas Bíblias intimide os interessados. Como se fosse perigoso dar ao povo a impressão de que a Bíblia é importante!
SILENCIA A VOZ DE DEUS
Jeremias 8.9 diz: “Os sábios serão envergonhados, aterrorizados e presos; eis que rejeitaram a palavra do SENHOR; que sabedoria é essa que eles têm?”
Quando eu falo, quero ser o mensageiro de Deus. Não estou interessado em interpretar o que algum psicólogo, ou guru de negócios, ou professor universitário tem a dizer sobre qualquer assunto. O meu povo não precisa de minha opinião; precisa ouvir o que Deus tem a dizer. Se pregarmos como a Escritura nos ordena, não será difícil saber de quem é a mensagem que vem do púlpito.
PRODUZ INDIFERENÇA EM RELAÇÃO À GLÓRIA DE DEUS
A pregação “sensível aos interessados” nutre pessoas centralizadas em seu próprio bem-estar. Quando você diz às pessoas que o principal ministério da igreja é consertar para elas o que estiver errado nesta vida — suprir suas necessidades e ajudá-las a enfrentar seus desapontamentos neste mundo — a mensagem que você está enviando é que os problemas desta vida são mais importantes do que a glória de Deus e a majestade de Cristo. Novamente, isto corrompe a verdadeira adoração.
ROUBA ÀS PESSOAS A SUA ÚNICA FONTE DE AJUDA VERDADEIRA
As pessoas que vivem sob um ministério de pregação superficial tornam- se dependentes da habilidade e criatividade do orador. Assim, elas se tornam espiritualmente inativas e vão à igreja apenas para serem entretidas. Não têm interesse pessoal na Bíblia, porque os sermões que ouvem não emergem das Escrituras. São impressionadas pela criatividade do pregador e manipuladas pela música; e isso se torna toda a sua perspectiva de espiritualidade.
ENGANA AS PESSOAS QUANTO AO QUE ELAS REALMENTE PRECISAM
Em Jeremias 8.11, Deus condena os profetas que tratavam de modo superficial as feridas do povo. Este versículo se aplica poderosamente aos pregadores artificiais que ocupam muitos púlpitos evangélicos proeminentes, em nossos dias. Tais pregadores omitem as verdades mais severas sobre o pecado e o julgamento. Abrandam as partes ofensivas da mensagem de Cristo.
Enganam as pessoas sobre aquilo que elas realmente precisam, prometendo- lhes “satisfação” e bem-estar terreno, quando o que necessitam é de arrependimento, fé e uma visão exaltada de Cristo, bem como de um verdadeiro entendimento do esplendor da santidade de Deus.
Portanto, os pastores têm de pregar a Palavra, embora fazê-lo esteja fora de moda em nossos dias (2 Tm 4.2). Essa é a única maneira pela qual o ministério deles pode dar frutos. Além do mais, a pregação da Palavra assegura que os pastores serão frutíferos no ministério, porque a Palavra de Deus jamais volta vazia para Ele; ela sempre faz aquilo que Lhe apraz e prospera naquilo para o que foi designada (Is 55.11).








12 - Está Faltando o Ingrediente do Evangelho na Salada Mista da Mensagem Atual

“Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.” (João 1.17)

Jesus veio a este mundo trazer e revelar a graça e a verdade para que por ambas nossas vidas sejam transformadas à Sua própria imagem e semelhança.
O caráter e todas as características que compunham a graça e a verdade que nEle se encontram, foram profetizados nas Escrituras do Velho Testamento, e manifestados no Novo Testamento.
Esta graça e verdade puras e cristalinas fluem através da mensagem do Evangelho genuinamente bíblico, e biblicamente interpretado.
Como é por meio disso que se cumpre o propósito de Deus de gerar em nós a vida eterna espiritual e celestial, é óbvio que Satanás (conforme permitido por Deus para o nosso aperfeiçoamento) se levantaria para tentar ofuscar esta mensagem divina por todos os meios, porque em Seu desígnio eterno, Deus determinou que ela deveria ser transmitida por aqueles que fossem convertidos a Cristo por meio dela.
Por séculos, o diabo tem criado organizações com o nome de cristãs, mas que ocultam ou distorcem a mensagem genuinamente evangélica, e assim, consegue manter muitos e por muito tempo, senão por toda a vida, afastados da possibilidade da salvação de suas almas.
Além de organizações, estabeleceu também movimentos, especialmente nestes dias em que pode fazer um uso amplo das tecnologias disponíveis para desfigurar a mensagem através do chamado tele-evangelismo; literatura tanto convencional quanto eletrônica, para difundir os mais diversos temas religiosos, que abordam tudo, menos a mensagem central do evangelho, que quando citada superficialmente, está tão misturada com conceitos pagãos, que não pode ser identificada.
Com isto, as mentes estão confusas, pensando que o evangelho, a graça e a verdade que Jesus veio nos trazer para sermos salvos, não passa de um grosseiro ensino sobre formas de ter prosperidade material; de se obter fama e honra mundanas; de usar técnicas psicológicas para melhorar relacionamentos e se sentir mais feliz; e toda sorte de objetivos terrenos, que podem ser alcançados por outros caminhos até mais efetivos do que a religião.
E se no entendimento comum é somente isto o que Jesus tem para nos oferecer, então, “muito obrigado por nada”, muitos dizem com razão sobre este produto estragado e falso que lhes é oferecido.
Todavia, uma vez formado o preconceito contra Jesus por se pensar que a Sua graça e verdade é tudo isto que se oferece em seu nome por aqueles que se autoproclamam seus mensageiros,  cumpre-se o propósito do diabo de manter as pessoas escravizadas ao pecado, uma vez que essa libertação pode ser feita somente pelo poder de Jesus e mediante a prática do evangelho genuíno conforme revelado na Bíblia.
Ai de nós, se não fosse a misericórdia de Deus que abre os nossos olhos para discernir o verdadeiro do falso, e assim, sermos conduzidos à salvação.
A norma bíblica de tudo examinar e reter o que é bom está ficando cada vez mais difícil de ser cumprida, porque não é comum se observar algo bom, verdadeiro, precioso e útil para a nossa salvação e edificação nesta salada mista, na qual costuma estar sempre em falta o ingrediente do evangelho verdadeiro.
Hoje em dia, e como sempre, se alguém deseja conhecer Jesus é melhor ir diretamente às páginas da Bíblia, especialmente do Novo Testamento, e começar a fazer o seu próprio estudo da verdade diretamente na sua fonte, contando reverentemente com a ajuda do Espírito Santo, em espírito de oração, para ter o seu entendimento iluminado.    








13 - O Poder transformador da pregação dos Puritanos

Nós aprendemos dos puritanos que é através do ensino e da pregação que a verdadeira reforma virá. Já vimos anteriormente alguma coisa dos métodos exegéticos e expositivos dos puritanos. Agora vamos nos concentrar na perspectiva que eles tinham sobre a aplicação do sermão. É exatamente nesta área da aplicação que o sermão têm mais a nos oferecer.
A igreja de hoje é em geral muito fraca na área da pregação aplicativa. Basicamente existem três extremos que podem ser percebidos:
1) Em primeiro lugar vemos os ortodoxos, particularmente os reformados, com certa frequência dando uma palestra e, embora estejam dizendo a verdade e mesmo que seus sermões sejam bem verdadeiros, alguns deles não tratam muito com a questão da vida.
2) No evangelicalismo de hoje, geralmente dentro dos círculos carismáticos, existe o que eu chamo de um "blá-blá-blá" emocional que passa por cima das cabeças das pessoas, e a aplicação não brota da convicção que nasce da verdade, é mais emocional.
3) O que estamos vendo são sermões que apenas nos ensinam o que devemos fazer, são simplesmente guias do que devemos fazer: como ter um casamento bem sucedido, como usar o seu dinheiro de forma correta... e coisas assim.
Nenhum destes sermões que eu mencionei são tipos verdadeiramente bíblicos de pregação. Então vamos olhar para os puritanos e ver o que é um verdadeiro sermão aplicativo.
A) Importância da aplicação.
A aplicação era a segunda parte mais importante da pregação puritana. Já vimos o que nós chamamos de esquema triplo do sermão. Todo sermão puritano tinha três partes: (1) a doutrina que é o resumo das verdades encontradas no texto; (2) a demonstração que era o desenvolvimento daquela doutrina através de argumentos da Escritura e da persuasão; (3) e finalmente os usos. Quando os puritanos falavam sobre usos eles queriam se referir à forma prática pela qual estas verdades se aplicam na vida pessoal do indivíduo. Vocês lembram que a quinta marca do sermão puritano que nós já falamos anteriormente é que ele era transformador. Os puritanos nunca ficavam satisfeitos apenas em ensinar aquela verdade ao povo e deixar que ela ficasse ali pairando no ar. A paixão deles era que as pessoas sentadas nos bancos da igreja fossem transformadas pela verdade do Evangelho. No seu livro "O Surgimento do Puritanismo", o escritor Haller diz: "A tarefa do pastor puritano era examinar profundamente a consciência do pecador que estava abatido para sanar e curar os males da sua alma e enviá-lo, então, fortalecido e encorajado para que pudesse continuar sua batalha que dura toda a vida contra o pecado e Satanás".
Os puritanos, com esta perspectiva de pregação, não estavam dizendo nada novo. Não somente na sua teologia, mas também na sua pregação, eles estavam apenas desenvolvendo a obra de João Calvino. Calvino foi um grande teólogo, mas ele também foi um mestre e expositor. Ele mesmo disse que o sermão não seria verdadeiro se não aplicasse a verdade ao povo de Deus. Em certo sentido, Calvino se antecipa aos puritanos utilizando a palavra usos para se referir à parte aplicativa do sermão.
Existem dois livros sobre pregação calvinista que eu gostaria de recomendar a vocês. Um já não está mais sendo publicado em inglês e foi escrito por um teólogo francês, Pierre Marcel: "A Relevância da Pregação". É um livro pequeno, mas é o livro mais profundo que já li
sobre pregação. O segundo é escrito por T.H.L. Packer e também fala sobre a pregação de Calvino.
A ênfase puritana na aplicação do sermão se encontra no Diretório de Culto de Westminster, quando fala sobre a obra do pregador. Ele não deve ficar apenas em expor doutrinas gerais, mesmo que o faça de forma clara e bem demonstrada, mas deve aplicá-las de forma especial aos seus ouvintes. Mesmo que isto seja um trabalho de muita dificuldade e que exija muita prudência, zelo e meditação; mesmo que esta obra seja muito desagradável para o homem natural e corrupto, mesmo assim ele deve desenvolvê-la de tal maneira que os seus ouvintes sintam que a Palavra de Deus é viva e poderosa e pode discernir as intenções e os desejos do coração.
B) Tipos de aplicação.
Partindo da Escritura, os puritanos cuidadosamente distinguiam entre os tipos de aplicação a serem feitas. William Perkins desenvolveu algo importante partindo de II Tm. 3:16-17: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para repreensão, para correção, para educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra". Baseado nesta passagem William Perkins ensinava que havia dois tipos básicos de aplicação: a aplicação intelectual e a aplicação prática. A aplicação intelectual tinha dois aspectos: positivo e negativo. O lado positivo seria informar às pessoas acerca das verdades que elas deveriam crer. A isto ele chamava de doutrina, apesar de estar usando doutrina aqui de uma forma diferente. E em segundo lugar, o negativo, seria a refutação do erro. A aplicação prática também tinha dois aspectos: o positivo e o negativo. Instrução (positivo), que consistia em conforto e encorajamento e correção (negativo), que consistia na admoestação. De acordo com Perkins, de cada passagem da Escritura poderíamos derivar estes tipos de aplicação, e que era o objetivo do pregador aplicar o texto destas diversas formas e de acordo com a intenção do Espírito Santo naquela passagem.
Os autores da Confissão de Fé de Westminster desenvolveram estes tipos de aplicações de forma mais detalhada, e no Diretório de Culto eles desenvolvem seis tipos de aplicação. Quero me referir a cada um deles dando exemplos da Escritura, porque os pastores precisam estar fazendo tudo isso nos sermões que pregam.
1) O primeiro tipo de aplicação mencionado no manual de culto de Westminster é informar.
Ou seja, aplicar alguma verdade do texto para que seja entendida pelas pessoas. À medida que o pastor está pregando em uma determinada passagem ele vai chamar a atenção dos seus ouvintes para uma doutrina que deve ser aceita e crida baseada naquela passagem da Escritura. Por exemplo, em João 4, quando Jesus conversa com a mulher samaritana. Ela pergunta no verso 20 onde deveria adorar. E a resposta do Senhor, no verso 21 é: "Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adoraram o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores". Quando você prega nesta passagem, uma das aplicações que pode ser feita é aquilo que Deus revela a respeito do culto verdadeiro. E o que Deus deseja é que as pessoas creiam que o verdadeiro culto tem que ser simples, espiritual, e controlado pela Palavra de Deus. Então você aplica esta verdade à sua compreensão, à sua mente, ao seu intelecto. Esta é a aplicação da informação.
2) A segunda era a aplicação em termos de refutação. Que consistia em corrigir pensamentos errôneos, ou a maneira errada de pensar.
Temos um exemplo em Dt. 18. No fim deste capítulo Moisés dá as características do verdadeiro profeta, partindo do verso 19 de Deuteronômio 18: "De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, lhe pedirei contas. Porém o profeta que presumir falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe mandei falar, ou que falar em nome de outros deuses, este profeta será morto. Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? sabe que quando este profeta falar, em nome do Senhor, e a palavra dele não se cumprir nem suceder, como profetizou, esta é a palavra que o Senhor não disse; com soberba a falou o tal profeta: não tenhas temor dele". Aqui Deus nos ensina que tudo o que o verdadeiro profeta fala, acontece. Portanto, aqui vemos que a maneira de julgar a profecia é que se ela não se cumpre, o profeta é falso. E como é que nós aplicamos esta verdade em termos de refutação? Existem muitos hoje nas igrejas que reivindicam ser profetas; eles reivindicam receber palavras especiais da parte de Deus, e predizem coisas, mas nenhum deles é infalível e nenhum deles teve tudo o que já falou cumprido. Portanto, a aplicação aqui em termo de refutação é que pessoas desta natureza são falsos profetas. E nós precisamos aplicar esta passagem para ajudar o nosso povo a compreender isto.
3) O terceiro tipo de aplicação é exortação, que consiste em exortar o povo a obedecer ou cumprir os deveres requeridos em uma passagem.
Exemplo: Romanos 15:30-33: "Rogo-vos, pois irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judeia, e que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos; a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria, e possa recrear-me convosco. E o Deus da paz seja com todos vós. Amém!" A aplicação tipo exortação baseada nesta passagem seria desafiar os seus ouvinte a se dedicarem à oração particular e à oração corporativa. Eles estarão pecando se não o fizerem e devem servir a Deus fielmente desta forma, pela oração.
4) O quarto tipo de aplicação é admoestação ou repreensão pública.
O propósito deste tipo de aplicação é sondar o coração dos ouvintes para trazê-los ao arrependimento e levá-los a se afastar do erro, do pecado. I Cor. 6:9-11 – "Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus". Pregando nesta passagem você terá de advertir os seus ouvintes do perigo em viver neste tipo de vida, nestes pecados. Você deverá impressioná-los com esta verdade: que se eles vivem em pecados como estes, estarão caminhando para a condenação; que devem odiar o pecado e abandoná-lo. Esta é a aplicação em termos de reprovação, de censura e admoestação pública.
5) O quinto tipo de aplicação é conforto ou consolação.
E o propósito dessa aplicação é reanimar aqueles que estão abatidos com tristeza através da verdade da Escritura. Pode haver pessoas na sua igreja que não têm certeza de salvação, eles acham que talvez pecaram demais, e que Deus não os salvará. Mas você pode mostrar-lhes partindo de I Co. 6:11, que Paulo disse, "Tais fostes alguns de vós, mas vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados" e você então mostra ao seu povo que Deus salva todo tipo de pecador, que não existe ninguém que peque além da possibilidade de salvação. Mas talvez haja aqueles que estejam sofrendo debaixo de grande tristeza e angústia. Para estes você aplica por exemplo aquela promessa de I Tess. 4:13: "Não queremos, porém, irmãos que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança." E no verso 18: "Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras." Pregue sobre a segunda vinda de Cristo e você aplica esta passagem àqueles que perderam os seus entes queridos para que possam desfrutar o conforto da esperança da ressurreição.
6) O sexto tipo de aplicação mencionado no manual de culto de Westminster é o exame.
Os puritanos davam ao seu povo na igreja marcas e padrões concretos da Escritura pelos quais ele deveriam se medir e se analisar, se examinar. Eles então chamavam as pessoas para se examinarem a si mesmas para ver se estavam realmente em Cristo, e para isto eles lhes forneciam as marcas características daquelas pessoas que verdadeiramente estão em Cristo. Você tem prazer em Cristo? Você deseja ser salvo do pecado? Você ama a Palavra de Deus? Você ama os irmãos? Se a resposta é sim, então você está em Cristo, porque só um crente experimenta estas coisas. Ou talvez você esteja pregando sobre o quarto mandamento, sobre o santificar o Dia do Senhor, e então faz a pergunta: Você está santificando o Dia do Senhor? Você vai a Is. 58:13, por exemplo, e lhes dá as marcas ou padrões pelos quais eles podem examinar o seu comportamento. Deve ler o versículo 13: "Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs". Aqui o puritano colocaria diante da congregação, marcas ou um padrão objetivo pelo qual o crente poderia se auto-examinar se de fato está cumprindo o quarto mandamento. Se ele parou de trabalhar normalmente com exceção dos trabalhos de misericórdia. O puritano repetia aplicações em cada sermão que pregava.
O que devemos fazer é decidir o que nosso povo precisa e usar três ou quatro tipos de aplicações no sermão que confrontem e que supram as necessidades da nossa congregação, mas assegurando-nos de que através do período normal da pregação você esteja utilizando no sermão alguns destes seis tipos de aplicação.
C) Descrição analítica da congregação.

Finalmente nós chegamos à terceira parte. Já falamos sobre a importância da aplicação e falamos sobre os tipos de aplicação. A terceira coisa que os puritanos faziam era uma descrição analítica dos tipos de pessoas presentes na sua audiência. Geralmente a nossa aplicação é ineficaz porque nós não estamos conscientes das diversas categorias de pessoas que estão presentes na nossa audiência. E os puritanos eram mestres em usar aqueles tipos de aplicação que foram mencionados para determinadas categorias de pessoas presentes na audiência.
Categorias dos ouvintes.
William Perkins, por exemplo, classifica os ouvintes em sete categorias. As quatro primeiras categorias se referem a não convertidos. E na evangelização, quer seja no púlpito ou pessoalmente, você deve ter sempre em mente estes quatro tipos de pessoas não convertidas.
1. O primeiro é aquele que é absolutamente ignorante e incapaz de ser ensinado. Dentro dessa categoria se encaixam aqueles que nada sabem ou sabem muito pouco a respeito de Deus e da Sua Palavra. Mas apesar disso ele é orgulhoso e está endurecido no seu pecado. Esta pessoa precisa passar por um período de preparação antes de poder receber a Palavra de Deus. Essa preparação se inicia quando o pregador faz com que a lei de Deus venha sobre a sua vida reprovando alguns dos pecados que possivelmente ele poderá estar cometendo. E, se então, começa a demonstrar que está agora numa posição que já pode ser ensinado, você começa de uma forma geral, a explicar a verdade da Escritura para ele. Se ele continua a demonstrar interesse, você então explica de forma bem clara e detalhada sobre Cristo e o Evangelho. Mas se permanece sem nenhuma vontade de aprender, "bata o pó dos pés", não jogue as Suas pérolas aos porcos.
2. O segundo tipo de descrente é aquele que é completamente ignorante, que não sabe de nada, mas pode ser instruído. Esta pessoa manifesta um certo quebrantamento, ela não está conscientemente e propositalmente se rebelando contra Deus, mas não conhece nada do cristianismo bíblico. Ela precisa ser instruída no ABC da Bíblia. Os puritanos acreditavam que o pecador tem que saber quem é Deus, quem Cristo é e o que Ele fez. É tolice chegar para uma pessoa, na nossa cultura, e dizer: "Deus lhe ama!" Ou perguntar: "Quem é Deus?" Ela irá dizer: "Eu não sei." Você precisa explicar para esta pessoa quem é Deus, e que se ela persistir nos seus pecados não estará sob o amor de Deus, mas sob a ira de Deus. Assim, colocamos diante dela as verdades básicas da religião bíblica e mostramos o caminho do Evangelho.
3. O terceiro tipo de descrente é aquele que teve algum conhecimento, mas não foi humilhado, quebrantado. Esse é um hipócrita que sabe tanto a respeito da Bíblia, mas o seu coração é altivo diante de Deus. A lei tem de ser trazida e aplicada sobre o coração desta pessoa. É necessário que se aplique a lei de Deus especificamente contra seus pecados para que ele venha a ficar entristecido pelo pecado. E em vez da tristeza geral do mundo ele deve ser levado àquela tristeza que vem de Deus em vista dos seus pecados. O que produz este tipo de sentimento é a lei de Deus quando nós a pregamos especificamente. Mas a pregação da cruz também pode quebrantar o coração de um pecador endurecido, pois fala do grande amor de Deus em dar o Seu único Filho para pagar os pecados do povo e mostra Cristo pendurado na cruz, condenado, julgado e sofrendo pelos pecados do Seu povo. E então você lhe pergunta: "Por que teve de ser assim? Por que Deus destruiria o seu próprio Filho? Por causa do horror do pecado!" Uma pessoa pode se quebrantar diante destas verdades. Nós devemos fazer a pessoa consciente da maldição da lei sobre o pecador: aquele que pecar certamente morrerá.
Jonathan Edwards era mestre em demonstrar às pessoas as realidades da ira de Deus e da condenação do inferno para que seus corações fossem quebrantados, para que eles pudessem correr e refugiar-se em Cristo. À medida que você percebe que o coração daquele que é endurecido, está começando a se quebrantar com profunda tristeza por causa do pecado, então, você traz para ele a consolação do Evangelho.
4. Isso nos leva ao quarto tipo de ouvinte não convertido. Aquele que está quebrantado, o pecador no pó e na cinza. Primeiro o pregador deve se certificar que ali está uma pessoa que está quebrantada pelo motivo certo, ou seja, tristeza pelo pecado. Aplicar ou oferecer o
Evangelho a uma pessoa que não está quebrantada pelo motivo certo e só contribuir para que ela fique ainda mais endurecida. Mas quando eles demonstram possuir o verdadeiro quebrantamento, então eles podem e devem ser assegurados da verdade, do conforto e das promessas do Evangelho.
Nas nossas congregações, domingo após domingo, sempre teremos na nossa audiência pessoas que se enquadram nestes quatro tipos mencionados. E as flechas do Evangelho que nós desferimos nos nossos sermões não devem ser atiradas por cima das cabeças como os soldados sírios. Estejamos sempre conscientes destes tipos de ouvintes nas igrejas. E você dirija as suas palavras a cada um deles como classes definidas de pessoas.
5. O quinto tipo de ouvinte é aquele que crê, é o crente novo, o novo convertido, que precisa ser instruído nas verdades básicas, fundamentais: justificação, santificação, perseverança, a lei de Deus como regra de conduta, e que periodicamente precisa também ser lembrado da ira de Deus contra o pecado. Porque em cada um de nós ainda permanece os resíduos do pecado. E é bom meditar sobre o ódio que Deus tem ao pecado, para que possamos fugir dele e procurar o Senhor Jesus para nossa santificação.
6. O sexto tipo de ouvinte é aquele que havia apostatado, decaído. Perkins dizia que a pessoa pode decair não somente na fé, mas também na prática. Aqueles que decaíram nas questões de fé são os que se deixaram envolver por doutrinas erradas. E, então, fazemos aquele tipo de aplicação tipo refutação para corrigir a sua forma errônea de pensar. E um dos efeitos de decair da fé, da doutrina correta, é perder a certeza de salvação. E quando pregamos devemos sempre lembrar que há pessoas no nosso auditório que perderam a certeza. Então lhes dirigimos o conforto do Evangelho, e mencionamos as características daqueles que são verdadeiramente regenerados. A segunda categoria daqueles que decaíram na prática, ou seja, aquelas pessoas que incorreram na quebra de algum mandamento ou estão cometendo algum pecado. Eu hoje em dia não me escandalizo mais quando descubro o que alguém na minha congregação está fazendo. O diabo é um inimigo poderoso e inteligente e ele pode fazer com que o justo caia em pecados hediondos, horríveis. Os pastores não devem ficar pensando que estas pessoas queridas que você ama e que sabe que andam com Deus, são isentas do pecado. Nos meus vinte e sete anos de ministério eu já vi presbíteros caírem em adultério, crianças serem violentadas; pessoas com pecados na área dos negócios, outros envolvidos com pornografia, pecados terríveis. Mesmo um santo homem como Davi pôde cair em pecados terríveis, e devemos no púlpito avisar e exortar estas pessoas e chamá-las ao arrependimento.
7. E a última categoria é a daqueles que Perkins chama de "misturados". I Jo. 2.12-14: "Filhinhos, eu vos escrevo porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome. Pais, eu vos escrevo porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens eu vos escrevo porque tendes vencido o maligno. Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens eu vos escrevi porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o maligno." Eu acredito que com esta classificação, "misturados", Perkins queria dizer que na nossa congregação nós vamos ter pessoas que são desde crianças na fé até aqueles que são já adultos em Cristo, maduros. Há aqueles que são crianças, bebês espirituais e há aqueles que são como jovens, fortes e corajosos, e aqueles mais antigos, que já andaram com Deus por um longo período. Na nossa pregação devemos levar em conta este tipo de audiência diversificada.
Falando agora sobre os tipos de ouvintes, vejamos a abordagem dos puritanos sobre a análise que o pastor fazia desses tipos na sua audiência. No Diretório de Culto de Westminster vemos que o pastor não precisa, toda vez que está pregando, ir até o fim para achar cada doutrina que está no seu texto, mas ele deve selecionar aquelas aplicações que acha que são mais apropriadas (através do convívio) para o seu rebanho. Em outras palavras, a forma pela qual o pastor puritano conhece e analisa a sua congregação é através do ministério pastoral de visitação, através do qual ele vem a conhecer as diversas necessidades da sua congregação. Estou convencido que ninguém pode ser um pregador eficaz sem um trabalho regular de visitação e convívio com o seu rebanho.
Agora vamos concluir falando alguma coisa sobre método e ajudas para o processo de aplicação.
1) Em primeiro lugar a aplicação tem de ser direta. Lemos no Diretório de Culto que o pastor deve fazer a aplicação de tal maneira que os seus ouvintes percebam que a Palavra de Deus é viva e poderosa; que é capaz de descobrir os intentos e desejos do coração, e que se
houver qualquer pessoa presente que seja descrente e sem conhecimento, os segredos do seu coração serão manifestos e aquela pessoa dará glória a Deus. Portanto, quando nós estamos pregando devemos fazer a aplicação de forma direta usando o pronome "você". Você
não pode deixar a sua aplicação simplesmente em termos gerais, você tem que ser específico, direto. E você também pode ser direto chamando ou nomeando os diversos tipos de ouvintes. Por exemplo você pode dizer: "Alguns de vocês aqui nesta manhã estão endurecidos nos seus pecados, vocês são altivos e arrogantes, e a Palavra de Deus condena você. Talvez haja alguns que estão com o coração quebrantado; você que está com o seu coração quebrantado, que está vendo a luz da santidade de Deus. Meus queridos amigos, vejam como Cristo abre os seus braços; Ele diz: venha a mim." É isso que eu quero dizer com aplicação direta.
2)Você precisa usar o contato com os olhos; você não pode ficar preso a um sermão escrito, ao seu esboço. Quando está pregando, você deve olhar a sua audiência nos olhos de tal forma que cada um pense que você está falando diretamente para ele. Você deve se esforçar
para ser direto na sua aplicação e faça uso eficaz de perguntas retóricas. Entendem o que eu quero dizer por pergunta retórica? É uma pergunta que faz com que o ouvinte responda a si mesmo, na sua própria cabeça. E alguma vez você pode fazer esta pergunta tão bem feita que até alguém vai abrir a boca e falar na igreja, mas a pergunta retórica faz com que o coração se envolva diretamente com a aplicação. Por exemplo: "Será que alguém que ama a Cristo faria um negócio deste? Você pensa que pode amar a Cristo e ao mesmo tempo deixar de vir ao culto?" Veja, então, como estas perguntas retóricas se apoderam da mente e do coração dos ouvintes e extrai deles uma resposta, uma reação.
2) Em terceiro lugar, na sua aplicação seja bem específico, não fique apenas em argumentos ou aplicações gerais. Quando se está aplicando a Palavra contra pecados específicos você vai fazer com que cada ouvinte pense especificamente a respeito da sua própria vida. Pode ser que ele ainda não esteja praticando os pecados que você está censurando, mas você vai fazê-los pensar sobre as suas próprias vidas. Frequentemente quando eu prego e a pessoas vêm e me dizem: "Pastor, de fato Deus me mostrou essa ou aquela coisa errada na minha vida." E eu nem mencionei aquele tipo de coisa particular que o ouvinte citou, mas, porque eu fui específico na minha aplicação, eles foram específicos com o seu próprio coração.
4) Em quarto lugar a nossa aplicação deve fazer uso de argumentações com o propósito de dar às pessoas as razões pelas quais elas devem fazer aquilo que têm de fazer. Nós mencionamos as ameaças de Deus e as promessas de Deus para motivá-los. Jonathan Edwards era um mestre nesta área de dar às pessoas as motivações certas para levá-las à obediência. Relacionado com isto nós usamos argumentos, demonstrações que vêm reforçar o que estamos dizendo, e as razões pelas quais eles deviam cumprir seu dever ou abandonar determinado pecado. E, além disto, nós devíamos dedicar algum tempo para responder às possíveis objeções ou perguntas, antecipando assim as dúvidas que aqueles duvidosos teriam em seus corações. Use perguntas retóricas. Talvez alguns de vocês seja um exemplo. Poderia estar pensando alguma coisa, e o pregador continua e trata daquela possível pergunta ou objeção. Portanto, somos na aplicação, diretos; usamos perguntas retóricas, específicas; usamos argumentos; e finalmente em quinto lugar:
5) Devemos dar-lhes auxílio, ajuda. Não somente dizemos para eles que devem orar, mas dizemos como eles podem adquirir o hábito da oração. Não somente dizer que deixem de praticar tal pecado, mas devemos mostrar como fazê-lo.
6) Em sexto lugar, agora, devemos dar os padrões, marcas e sinais pelos quais os ouvintes podem se auto-analisar para que vejam se estão realmente em Cristo, se estão obedecendo a Deus como deveriam. Quando nós aplicamos a Palavra de Deus desta forma ela se torna poderosa e eficaz. É um trabalho difícil, vai exigir muito trabalho da parte do pastor, vai despertar muito ódio e oposição da parte da congregação, mas é o tipo de pregação determinado por Deus para transformar as pessoas. Eu quero exortar e encorajar a cada um dos pastores e pregadores. Que tomem o propósito que irão pregar a Palavra de Deus de tal maneira que venham a tratar diretamente com as pessoas da sua congregação. Amém!















58) EXPERIÊNCIA

ÍNDICE

1 - A Experiência e Esperança do Cristão
2 - Coisas Que Aprendi
3 - Entre a Resignação e o Triunfalismo


1 - A Experiência e Esperança do Cristão

“Quando o coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença. Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória.” (Sl 73.21-24)

Há, nas Sagradas Escrituras muitas expressões que são difíceis de serem conciliadas mutuamente. Por exemplo, o salmista, nas próprias palavras do nosso texto, diz: "eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença." No entanto, eis que no mesmo texto ele fala como estando na mais sublime comunhão com o seu Deus, e possuindo uma maior confiança expectante do seu favor. Agora, como isso pode ser explicado? O fato é que ele tinha sido tentado a invejar o mundo ímpio, quando ele viu quão prósperos eles eram, em comparação com muitos dos servos mais fiéis de Deus. Mas quando ele refletiu sobre o fim  que os aguardava, ele condenou seus antigos pensamentos, como sendo algo mais pertencente a um ser irracional do que ao julgamento de um verdadeiro santo; e, então, ele percebeu que se encontrava numa posição elevada, muito acima do mais próspero dos homens ímpios, porque qualquer que fosse a necessidade que ele tivesse neste mundo, ele possuía a Deus por seu amigo, seu conselheiro, sua porção eterna.
Inúmeras são as dificuldades com que o cristão se depara, enquanto que em si mesmo não tem poder para vencer a menor delas. Na verdade, ele tem que lutar não somente com a carne e o sangue, mas com todos os principados e poderes do próprio inferno. O que, então, ele deve fazer? Como pode entreter a esperança de ter sucesso? Ele poderia se assentar em franco desespero, mas ele se lembra de que tem com ele, em todos os momentos, um amigo que é todo-poderoso e todo-suficiente para ele.
Ele foi ensinado a olhar para Deus como seu Pai, em Cristo Jesus; ele tinha a plena certeza que desde que ele tinha se refugiado em Cristo, e buscado a reconciliação com Deus através dele, que passou a ter o direito de considerar Deus como um amigo, e confiar às suas mãos todas as suas preocupações. Por isso, ele volta a se compor no meio de todas as suas provações, e se conforta com esta reflexão: “estou sempre com o meu Deus; eu o vejo sempre presente comigo; confiando nele, eu não tenho medo; é um pequeno problema que muitos se levantem contra mim; tendo o Senhor à minha mão direita, eu não preciso de outra ajuda; portanto, faço repousar toda a minha confiança nele, e lanço sobre ele todos os meus cuidados.”
Para melhor entendermos essa ideia, imagine uma criança passando sobre rochas onde há espaço apenas para os seus pés, e onde o caminho é tão escorregadio, que é quase impossível para ela ficar de pé, e onde há precipícios, que por um único passo em falso será feita em pedaços. Imagine agora um pai conduzindo o seu filho amado por todo esse  caminho, segurando-o pela mão direita, de modo que ele não pode cair, e levantando-o, se em algum momento ele tropeçar, e preservando-o de todos os perigos aos quais se encontra exposto. Aqui você vê o nosso Deus junto com a alma que confia nele. Nem por um momento ele deixa o santo temeroso; e é completamente em conseqüência dessa ajuda eficaz que qualquer santo no universo está habilitado para prosseguir o seu caminho. Por isso, cada filho de Deus atribui sua segurança Àquele que tem, assim, lhe confirmado.
Conhecendo aquele em quem ele confiava, ele espera orientação em todos os seus caminhos. Ele tem uma noção geral do seu caminho; mas uma infinita variedade de circunstâncias ocorrem de tempos em tempos, tornando difícil discernir qual é o melhor e mais seguro caminho a seguir. Ele está cônscio de que um único passo pode levar a  consequências importantes. José foi enviado para visitar seus irmãos. A jornada foi boa, mas oh! a que diversidade de tribulações isto lhe conduziu! Davi também foi enviado para visitar seus irmãos; aqui também a jornada foi boa, e dela resultou a vitória sobre Golias, e a libertação de Israel de seus opressores.
Com a consciência de que somente Deus pode guiá-lo, ele pede conselho ao Senhor a cada passo que dá, e Deus guia seus passos no caminho da paz. Há diversos meios que Deus tem o prazer de usar para dirigir o seu povo; às vezes ele orienta por sua Palavra, às vezes, pelo seu Espírito, às vezes por sua providência, abre ou fecha uma porta, quão seja do seu agrado.
Deus nunca cessará o seu ofício de amor, até que ele tenha concluído todos os seus propósitos graciosos, e cumprido até o máximo os desejos daqueles que esperam nele. É pela Glória que cada alma aguarda, como a consumação de sua bem-aventurança; que é a alegria que está diante de nós, o prêmio da soberana vocação, e Deus irá cumprir para o seu povo todo beneplácito de sua bondade, até que o trabalho que foi iniciado pela graça seja consumado na glória.
As pessoas do mundo pensam que é uma coisa fácil obter o céu, mas o verdadeiro santo pensa muito diferentemente disto. Ele tem que lutar contra a corrente da natureza corrompida pelo pecado, e nadar contra a maré de um mundo voluptuoso. Se fosse uma coisa tão fácil servir ao Senhor, isto nunca teria sido caracterizado por expressões na Bíblia que transmitem uma ideia muito diferente.
Nosso Senhor diz: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." A incrédula ansiedade é sem dúvida, para ser posta de lado; mas vigilância e santo temor nunca devem ser interrompidos por um só momento. Pedro sabia, por amarga experiência, quão necessário era este cuidado: “Sede sóbrios , vigiai, porque o vosso adversário, o diabo, como um leão que ruge, anda em derredor, buscando a quem possa tragar."
A ansiedade é inconsistente com a felicidade. E seria assim, se não soubéssemos onde buscar a graça que é necessária para nós. E até mesmo as tribulações que nos ajudam a sermos conduzidos ao nosso Deus, são os meios que trazem o socorro que Deus prometeu, e de trazer Deus em união mais estreita conosco. Na verdade, é desta descoberta do caráter divino, e destas comunicações da graça celestial, que o crente obtém seus prazeres sublimes, e ele é, então, mais verdadeiramente feliz, quando sua amizade fica mais íntima com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon, em domínio público.









2 - Coisas Que Aprendi

Por John Piper

Desde que meu pai faleceu, no dia 6 de março, tenho lido seus escritos. Encontrei uma pequena folha de papel com os seguintes quinze conselhos, intitulada "Coisas Que Aprendi". Ele não criou a maioria deles. Alguns vêm da época em que ele estava na faculdade enquanto ele absorvia a vigorosa sabedoria de Bob Jones "Pai". Eles confirmaram mais uma vez o óbvio: eu devo ao meu pai mais do que posso lembrar. O comentário após cada conselho é meu.

Coisas Que Aprendi

O caminho certo sempre leva ao lugar certo; assim, siga o caminho certo e vá tão longe quanto puder nele.
Meu pai era totalmente convencido de que meios errados não levam a fins certos. Ou, mais categoricamente, ele era convencido de que viver do jeito certo — ou seja, fazendo as coisas certas — é o meio que inevitavelmente leva aonde Deus quer que cheguemos. Por isso ele me disse, quando perguntei sobre a direção de Deus na minha vida, "Filho, mantenha limpo o aposento onde estiver e, no tempo de Deus, a porta para o próximo aposento irá se abrir".

Há apenas uma coisa a se fazer quanto a qualquer questão; a coisa certa. Faça o que é certo.
Isso é o que alguém poderia dizer para uma pessoa que está perplexa por causa uma situação difícil, da qual a consequência seja desconhecida. A pessoa pode dizer, "Eu não sei o que fazer quanto a isso". Não é inútil ouvir: Faça a coisa certa. Isso pode não lhe dizer exatamente qual a coisa boa a se fazer, mas clareia sua mente e descarta algumas más idéias.

Felicidade não é encontrada ao procurar por ela. Você se depara com ela no caminho do cumprimento de seus deveres.
Ai, ai. Como pode John Piper ter nascido desse homem? Eu nunca diria isso. A principal razão é que a Bíblia nos ordena a buscar a alegria repetidas vezes. "Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos". "Deleita-te também no Senhor". Eu creio que o que ele quis dizer foi: 1) A alegria está sempre em algo. A alegria em si não é o algo. Então nós buscamos alegria em Cristo. Não apenas alegria no geral. 2) Quando o dever é difícil e nós não sentimos alegria ao fazê-lo, devemos mesmo assim fazê-lo, e orar para que ao fazê-lo a alegria nos seja dada. Mas o que devemos deixar claro é que o dever não pode contrastar com a alegria, porque a alegria é um dever bíblico.

A porta para o sucesso oscila nas dobradiças da oposição.
Notavelmente, esse ditado implica que a oposição não é apenas um acessório ou antecedente do sucesso, mas que é um meio para que a porta se abra. Podem-se pensar em vários exemplos bíblicos. A oposição dos irmãos de José abriu a porta para sua liderança no Egito. A tributação do império abriu a porta para que o Messias nascesse em Belém, não Nazaré, cumprindo assim a profecia. A traição de Judas abriu a porta para a salvação do mundo.

Deus no lugar certo em minha vida conserta qualquer outro relacionamento da vida (Mateus 6:33).
Eu imagino se isso estava escondido na minha mente para que, sem perceber, eu criasse minha analogia do sistema solar com nossas vidas multifacetadas. Se Deus for o esplendoroso centro do sistema solar de nossas vidas, então todos os planetas se manterão em suas devidas órbitas. Se não, tudo sai do lugar.

Nunca é certo conseguir a coisa certa do jeito errado — como boas notas, riqueza, poder, posição. Não sacrifique seus princípios.
Novamente, ele bate na mesma tecla sobre não usar meios ruins para fins bons. Tenha princípios, não seja uma pessoa pragmática. Ó, como precisamos ouvir isso hoje em dia. Igrejas precisam ter princípios, não ficar interminavelmente se adaptando à cultura. As pessoas precisam fazer promessas e cumprí-las, não importa o quanto doa.

É pecado fazer menos do que o seu melhor. É errado fazer [meramente] o satisfatório.
"Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças" (Eclesiastes 9:10). Mas tome cuidado. Às vezes o "melhor" é um sermão nota 9 e passar um tempo com seu filho. Em outras palavras, o "melhor" sempre envolve mais decisões do que a que você está tomando no momento. Isso significa que muitas outras coisas estão sendo deixadas por fazer. Então o "melhor" é sempre o todo, não só o detalhe daquele momento.

É errado se colocar sob o mesmo jugo de quem recusa o jugo de Cristo.
Não se case com um incrédulo (1 Coríntios 7:39). Nem todos os relacionamentos com incrédulos devem ser descartados. Caso contrário nós não poderíamos obedecer a ordem de Jesus para amá-los e abençoá-los. Mas "jugo" implica uma conexão que, ou governa nosso ir e vir, ou obriga ir e vir do outro E você não pode obrigar a fé em Jesus, ela é livre.

A parte do seu caráter que está deficiente é a parte que precisa de atenção.
Esse é o contraponto do conselho: Siga seus pontos fortes. Há verdade nos dois. Sim, seja encorajado por toda evidência da graça de Deus na sua vida e use seus dons e graças para Sua glória. Mas você se tornará presunçoso e infrutífero se não buscar em si mesmo suas deficiências e trabalhar nelas.

Não desista. Termine o trabalho. Deus não pode usar desistentes.
Aviso: "Quem perseverar até ao fim, esse será salvo" (Marcos 13:13). Promessa: "Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo" (Filipenses 1:6).

Qualquer coisa que você faça que impeça seu progresso em Deus é errado.
Oh, como sou grato que esse tenha sido o jeito que meu pai usou para me pressionar a buscar minha santificação. Ele não somente impôs a mim listas do que não fazer, apesar de que as tinhamos e eram bem claras. Sobretudo, ele disse: Maximize seu progresso em conhecer e servir a Deus. Isso já descartou centenas de comportamentos tolos, alguns maus e outros inultilmente inocentes.

Tenha cuidado com qualquer sociedade onde você se sinta obrigado a calar seu testemunho.
Isto implica que você pode entrar em um grupo de pessoas más se você estiver disposto a abrir sua boca e defender a Jesus e a justiça. Ainda assim, 1 Coríntios 15:33 diz: "Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes".

Não é o suficiente ser bom. Seja bom por um motivo. A essência do Cristianismo não é purificação sem paixão.
Isso é o que quis dizer quando falei sobre uma ética de meramente "evitar". Não pense apenas em retidão ou santidade em termos do que você evita, mas do que você faz. Como meu pai disse em outra ocasião: Não seja aquele que se nega; mas aquele que faz.

Viver de forma positiva produz efeito(s) negativos.
Esse é um sábio conselho, de que afirmar o que é bom sempre implica em negar o que é mau. Se você acha que pode viver a vida sem negar nada, você perdeu contato com a realidade. "Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem" (Romanos 12:9). Você não pode amar sem odiar o que fere seu amado.

Aprenda a ser docemente firme.
Isso foi o que ele disse à minha mãe por telefone quando ela estava irritada com seu filho desobediente: Seja doce e firme. Eu acho que ela foi bem sucedida.

Com contínua e profunda gratidão à sabedoria de meu pai,

Pastor John








3 - Entre a Resignação e o Triunfalismo

Achando o lugar seguro entre a presunção e a paralisia

Por John Piper

Na segunda-feira de manhã, eu estava me deleitando, por alguns minutos, com a leitura de Santidade, Sem a Qual Ninguém Verá o Senhor... escrito por J. C. Ryle.1 Li estas palavras:

Todas as coisas estão envelhecendo. O mundo está envelhecendo. Nós mesmos estamos envelhecendo. Mais alguns invernos, mais alguns verões, mais algumas enfermidades, mais algumas aflições, mais alguns casamentos, mais alguns falecimentos, e... o que acontecerá? A grama crescerá sobre os nossos túmulos!

Às vezes, isto é um grande consolo; às vezes, uma grande ameaça. Depende muito da maneira como somos dominados pelas inquietações da vida ou como somos revigorados com os desafios da vida.

Oscilamos entre dois erros: a resignação e o triunfalismo. A resignação possui em si mesma uma verdade, mas não é o caminho de Deus. A brevidade da vida, a obscuridade de nossos labores, a insignificância de nossa influência, a fraqueza de nossas capacidades, os desapontamentos de sonhos frustrados, o deboche incessante de nossa cultura — todas essas coisas nos fazem anelar pelo céu e pelo fim de nossa milícia. Por isso, nos damos à resignação e perdemos as energias para a obra que temos às mãos.

O triunfalismo também possui em si mesmo uma verdade, mas tam bém não é o caminho de Deus. Alguns sucessos de nossos labores, ou um encorajamento oportuno de uma pessoa respeitada, ou o surgimento de um movimento correto em algum lugar do mundo, ou a absolvição de um famoso líder cristão, ou a boa avaliação da saúde por parte de um médico, ou uma linda manhã de primavera, ou uma nova amizade — tudo isso pode nos encher com um senso tão grande das possibilidades, desafios e estímulos da vida, que caímos num esquecimento triunfalista de que somos pó. Nossa perspectiva é profundamente limitada; nossa importância no mundo é relativamente pequena; nosso tempo é breve; e a igreja, missões e o reino de Deus são todos capazes de sobreviver, quando morrermos e formos esquecidos.

Nem a resignação nem o triunfalismo é um lugar seguro para vivermos e ministrarmos. Minha oração em favor dos cristãos ao redor do mundo e de minha própria igreja é que Deus nos mostre com clareza em que ponto estamos nesta oscilação e que Ele nos mova ao lugar em que devemos estar. E onde é esse lugar? Um lugar de fé profunda em duas verdades bíblicas que se completam:

Verdade 1. “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso [quando nosso coração presume grandes planos para o futuro], devíeis dizer [humildemente]: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tiago 4.14-15).

Verdade 2. “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos... E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28.18-20). “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gálatas 6.9).

Entre a presunção e a paralisia — é neste ponto que precisamos aprender a viver. Todos nós tendemos a uma ou a outra destas atitudes. E, em épocas diferentes de nossa vida, tendemos a extremos diferentes. Os jovens possuem uma tendência, os velhos, outra. Uma cultura se inclina para um lado, e outra cultura, para outro lado. Conheça os seus excessos naturais e exerça pressão para o lado oposto. Deus o ajudará. Ele dá forças e descanso. Ele dá paixão e quietude de alma. “Entrega o teu caminho ao senhor, confia nele, e o mais ele fará” (Salmos 37.5).

1 Ryle, J. C., Santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor. Editora Fiel, São José dos
Campos, SP., 1997.





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