sexta-feira, 23 de outubro de 2015

62) Fé e Confiança

62) FÉ E CONFIANÇA

ÍNDICE

1 - COMO A PALAVRA PRODUZ A FÉ
2 - Aprendendo com Tiago Sobre a Fé Verdadeira
3 - Porque Deus Não Aparece de Forma Visível
4 - Fé, Não é Fé na Nossa Fé
5 - O Filho da Luz Caminhando na Escuridão
6 - A Viúva Importuna
7 - O Passo da Fé
8 - “Eu não Temerei Mal Algum” (Sl 23.4)
9 - A ESPERA DA FÉ
10 - “Confie nele em todos os momentos." (Salmo 62.8)
11 - A Fé Que nos Vem de Deus
12 - “Volta. E assim por sete vezes.” (I Reis 18.43)
13 - “Tudo é possível ao que crê." (Marcos 9.23)
14 - O Modo Comum de Operação da Fé
15 - Fé, Crer e Confiar
16 - Alegria e Paz em Crer
17 - A Fé Atua Pelo Amor
18 - Como Vem a Fé
19 - A Corda e a Caçamba
20 - O Assunto da Fé que é Aprovada por Deus
21 - Aumento da Fé - a Força de Princípios de Paz
22 - Como Pode Haver a Fé Verdadeira Quando Não se Crê na Verdade?
23 - A Fé é uma Caminhada Constante
24 - Lutero - A Fé que Opera pelo Amor
25 - Fé muito simples – Parte 1
26 - Fé muito simples – Parte 2
27 - Fé na Pessoa do Senhor Jesus
28 - Necessitamos Sempre Aumentar a Fé
29 - Viver Pela Fé
30 - A DIFERENÇA ENTRE CAMINHAR ATRAVÉS DE VISTA, E CAMINHAR POR FÉ 
31 - A FÉ DE RAABE
32 - A Relação da Fé com a Bíblia
33 - Uma Razão Por que Deus Não se Comunica Visivelmente
34 - “Homem de pequena fé, por que duvidaste ?”


1 - COMO A PALAVRA PRODUZ A FÉ

Lucas 16:29 “... Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.”

Na parábola do rico e do mendigo, Jesus usou esta expressão Moisés e os Profetas, que era uma das formas de se referir a todo o conjunto das Escrituras do Antigo Testamento, que foram produzidas por revelação e inspiração de Deus.
Não é nosso propósito neste momento comentar toda a parábola, mas destacar um dos seus pontos muito importantes, para que possamos entender o modo designado por Deus para a salvação das nossas almas.
O rico, estando no inferno, pensava erroneamente que poderia ter sido salvo por um sinal poderoso que lhe fosse enviado do céu, como o envio do mendigo Lázaro a seus cinco irmãos que ainda viviam na terra, para lhes servir de testemunho, vendo o estado de glória em que ele se encontrava, pois o haviam conhecido muito bem em sua miséria quando vivia na terra, e no entender do rico, isto lhes convenceria de que havia de fato um céu.
Foi dado como resposta ao seu pedido, simplesmente que seus irmãos deveriam ouvir Moisés e os profetas, ou seja, as Escrituras, para que fossem salvos.
Ou seja, eles deveriam dar atenção ao testemunho que as Escrituras dão relativamente à santidade de Deus e de Cristo, como também da ruína completa dos homens em face da sua natureza pecaminosa, mas que Deus, em Sua misericórdia afirma que o justo viverá pela fé, ou seja ele terá vida eterna, pela fé na Palavra do Senhor.
Este é o significado interior de se ouvir Moisés e os profetas.
È o de nos arrependermos de nossa condição caída e buscar refúgio na graça do Senhor Jesus que nos está sendo oferecida gratuitamente por darmos crédito à Sua Palavra.
O firme fundamento repousa nisto, a saber, em se honrar a Palavra do Senhor, porque Ele dá muita honra à mesma.
Por isso nos deu a revelação da Sua pessoa e vontade nas Escrituras, para que mesmo sem um sinal visível do céu, sem qualquer coisa extraordinária que nos seja enviada por Ele para ser testemunhada pela nossa visão natural, creiamos em tudo o que Ele afirma na Sua Palavra escrita, de modo que demonstramos com isso que damos de fato crédito ao que Ele tem dito.
Não foi justamente o oposto disto que aconteceu na queda do jardim do Éden?
O homem e a mulher deram crédito à palavra da serpente e desconsideram aquilo que Deus lhes havia falado.
Então não seria por nenhum sinal enviado do céu, como o rico da parábola insistiu pedindo que outras pessoas que haviam morrido e ressuscitado, fossem enviadas a seus irmãos para que eles cressem.
Mas esta foi a resposta que lhe foi dada:
“Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.”
Não porque fossem duros o bastante para não reconhecer o poder de Deus em ressuscitar, mas porque não foi este o método designado por Deus para a salvação, que é o de ter fé na Sua palavra revelada, de modo que a fé vem pelo ouvir a Palavra.
Não será pela visão do arcanjo Miguel, de um Serafim, dos querubins, do próprio Cristo, que alguém será salvo.
A salvação sempre ocorrerá somente quando acolhermos com mansidão e fé a Palavra do Senhor.
Hoje, temos mais do que Moisés e os profetas, porque por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, temos também as Escrituras do Novo Testamento.
Então temos uma maior e melhor razão para cremos, lendo, amando, acolhendo e praticando a Palavra de Deus. Pela fé em tudo o que nos tem sido revelado por Ele, para que crendo em Sua Palavra, que nos aponta Cristo, como nossa única esperança, sejamos salvos.
Ouvir com fé. Esta é a chave que nos conduz para o céu e para a vida do céu.
Lembremos sempre desta afirmação solene, que é a fórmula da salvação:
“...Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.”






2 - Aprendendo com Tiago Sobre a Fé Verdadeira

O apóstolo Tiago diz o seguinte, no segundo capitulo de sua epístola:

“1 Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.
2 Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje,
3 E atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado,
4 Porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?
5 Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?
6 Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?
7 Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado?
8 Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis.
9 Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redargüidos pela lei como transgressores.
10 Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.
11 Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei.
12 Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade.
13 Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.
14 Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?
15 E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano,
16 E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
17 Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.
18 Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
19 Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.
20 Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?
21 Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
22 Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.
23 E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
24 Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.
25 E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho?
26 Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.”.

Tiago estava zelando pela manutenção da manifestação do poder e do amor de Deus na comunhão de todos os crentes reunidos na congregação para a adoração pública.
Ele advertiu para o grande perigo que há em se fazer acepção de pessoas, especialmente em razão da condição social delas.
Na igreja de Cristo caíram todas as barreiras ditadas por preconceitos raciais, sociais ou de qualquer outra natureza, de maneira que um escravo com o seu senhor, numa mesma congregação deveriam receber o mesmo tratamento em Cristo, e não permitirem que a comunhão deles na Igreja fosse prejudicada pela distância imposta pela condição social de ambos.    
Como não é próprio da natureza terrena lembrar dos pobres e dar atenção a eles, senão aos ricos e poderosos, Tiago advertiu a Igreja para evitar o grande pecado de se dar preeminência aos ricos em detrimento dos pobres.
É por isso que se ordena aos que são ricos segundo o mundo que se amoldem às coisas humildes e que dêem a devida atenção aos seus irmãos que vivem em baixas circunstâncias neste mundo, porque eles são agora ricos em Cristo, e não é raro, que o Senhor distribua a estes até maiores dons e graças espirituais para poderem servir com eles a todos, inclusive aos próprios ricos.  

A riqueza de bens terrenos não é necessariamente um sinal do favor de Deus, assim como a pobreza não é um sinal do Seu desagrado.
Então, os crentes não devem julgar segundo a aparência externa, mas segundo a reta justiça.
Não é pelo simples fato de alguém ser rico de bens materiais que deve ser digno de receber uma atenção especial e diferenciada da parte da Igreja.
Porque é até muito comum que pelo fato de serem ricos não tenham temor de Deus e sejam opressivos em relação aos pobres, tal como o Senhor Jesus havia padecido nas mãos dos abastados sacerdotes e fariseus de Jerusalém.
Além disso, por um mistério que somente Deus conhece, não são de fato muitos os que são de nobre nascimento e que são ricos segundo o mundo, que são os eleitos de Deus, porque aprouve a Ele fazer os Seus eleitos pobres em sua grande maioria, neste mundo, não somente para que ninguém se glorie na Sua presença, como também para abater a todo espírito exaltado.
  Não devemos desprezar a nenhum rico, antes, temos o dever de amá-los como a quaisquer outros, mas não devemos nos intimidar com a aparência deles, porque são afinal também pecadores necessitados de salvação.
Todos os homens, sejam ricos ou pobres, são mendigos da graça de Deus, porque tudo Lhe pertence e é dEle que todas coisas provêm. Como pode então o homem gloriar-se em si mesmo?
E se algum crente mostra uma deferência exagerada a um rico, ele está conseqüentemente diminuindo e tendo em pouca conta a única glória verdadeira e permanente, que é a de nosso Senhor Jesus Cristo.  
É preciso portanto vigiar constantemente contra este pecado odioso de dar honra ao rico, e menosprezar o pobre.
Devemos lembrar que nos dias do ministério terreno de Jesus, Deus não pôs em honra apostólica a nenhum rico sacerdote ou escriba, mas a homens iletrados, pescadores e publicanos.
Não devemos portanto nos deixar levar pela aparência exterior do traje, formação intelectual ou de qualquer outra coisa que o mundo considere elevada, senão avaliar o justo valor espiritual que cada pessoa tem diante de Deus.
  As riquezas terrenas passarão, e ao sairmos deste mundo nada poderemos levar conosco, de maneira que os ricos fariam bem em atenderem à ordenança que o apóstolo Paulo dirigiu a eles em I Tim 6.9,10:
“9 Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição.
10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”.
E, nos  versos 17 a 19:
“17 manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos concede abundantemente todas as coisas para delas desfrutarmos;
18 que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam liberais e generosos,
19 entesourando para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a verdadeira vida.”
Muitos andam pregando equivocadamente que o grande alvo do evangelho é nos tornar pessoas ricas de bens deste mundo, e que é este o segredo de uma fé vitoriosa.
Mas, ao contrário, a Bíblia ensina os muitos perigos, tentações e laços que há no desejo de querer ser rico, porque o grande centro das nossas atenções não será mais o tesouro celestial, senão o tesouro terreno, do qual Jesus ordenou que nos acautelássemos, de maneira que nosso coração não seja encontrado nele, senão no tesouro que é celestial.
Os que são ricos não sabem em sua grande maioria, por causa do endurecimento deles em seu egoísmo, que Deus lhes proveu de bens de forma abundante para que fossem generosos e liberais, cheios de boas obras, de modo que o nome do Senhor fosse glorificado pela disponibilidade deles em compartilhar com os necessitados.
Mais do que isso, deveriam ser ricos na fé, vivendo de modo agradável a Deus em obediência à Sua Palavra, reconhecendo que o maior e único bem duradouro que eles possuem são as suas próprias almas, as quais, como as de quaisquer outras pessoas, necessitam da salvação de Cristo.
Tiago mostra de modo muito claro que uma fé que não é comprovada pelas boas obras que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas, é na verdade uma fé morta.
Ela pode ser até mesmo uma fé genuína, que está pronta a ser vivificada pelo Espírito, mediante obediência do crente, mas se ele não anda no Espírito, a sua fé estará como se fosse uma fé morta, isto é, inoperante, que não pode produzir os efeitos esperados por Deus no nosso comportamento e vida.
Tiago nos ajuda a entender que a verdadeira fé que salva, a verdadeira e única fé genuína que nos é dada como um dom de Deus, não é uma simples questão de afirmar: Eu creio! Eu creio! Mas que ela se demonstra no modo de vida santa e obediente a Deus que ela produz em nós. E não é voltada apenas para nós mesmos mas se move em amor pelo próximo e especialmente pelos irmãos em Cristo.  Porque todo o que é nascido de Deus amará também aos demais que são por Ele gerados pelo Espírito Santo, a saber os crentes.
Sabemos que temos uma fé justificadora, tal como a de Abraão, quando fazemos as obras de Abraão.
Sabemos que temos sido justificados pela fé, quando vivemos cheios das obras de justiça do evangelho, e quando sustentamos o nosso testemunho de confiança total em Deus tal como fizera Raabe nos dias de Josué.
Quando Tiago diz que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé no verso 24, ele não quer dizer que Deus estabeleceu dois caminhos diferentes pelos quais podemos ser justificados; mas que a verdadeira fé nunca estará sozinha, porque se comprovará em evidência pelas boas obras da fé, em demonstração que de fato possuímos uma fé que é genuína e não morta, ou então como a fé dos demônios que creem em Deus, e tremem.
Contudo, qual boa obra os demônios podem fazer?
No entanto eles creem em Deus. Mas não possuem a verdadeira fé, e não possuem uma natureza justificada, regenerada e santificada, que possuem somente aqueles que amam a Deus e guardam os Seus mandamentos, por causa da fé que lhes foi dada como um dom pelo próprio Senhor, não para que somente creiam nEle como também possam viver do modo pelo qual importa viverem perante Ele, porque devemos viver não por vista, mas por fé.







3 - Porque Deus Não Aparece de Forma Visível

É uma grande acusação injusta afirmar que Deus criou o mundo e que deixou a todos entregues à própria sorte.
Uma terrível dúvida permeia as mentes mais esclarecidas quanto até mesmo sobre a existência de Deus, debaixo do seguinte raciocínio: “Se ele fosse real ele faria questão de aparecer em pessoa, para nos convencer de que é de fato uma pessoa real.”
Dizemos que há grande injustiça em tudo isto porque se Deus não se fizesse presente no mundo, especialmente pelas operações de Deus Espírito Santo, já não haveria qualquer criatura sobre a Terra, porque certamente o pecado e o diabo a tudo já teriam destruído há muito tempo.
Como a quase totalidade das operações do Espírito Santo são invisíveis, sobretudo nos corações, por conseguinte, somente aqueles que andam em comunhão com Ele em espírito podem discernir o Seu trabalho divino, para que tanto Deus Pai, quanto Deus Filho sejam glorificados.
Onde o coração não é convertido à verdade, o Espírito Santo realiza um trabalho de frear o avanço da iniquidade, especialmente naqueles que não têm amor a Deus.    
Não seria por aparições visíveis da pessoa de Deus que nossos corações seriam transformados segundo a Sua vontade. Tanto isto é verdadeiro, que quando o Filho Unigênito de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, andou neste mundo fazendo o bem por toda a parte, teve poucos que o seguiram, e homens ímpios acabaram por conduzi-lo à morte de cruz.
Cumprido o tempo determinado, Deus terá concluído o trabalho da formação de uma nova criação, especialmente pela reunião de todos aqueles, que em todas as gerações, se converteram a Ele e que o conheceram do modo pelo qual importa ser conhecido, a saber, em espírito, porque Ele é espírito.

  





4 - Fé, Não é Fé na Nossa Fé

Fé, biblicamente falando, não é meramente crer na existência de Deus, nem tampouco a capacidade de crer no cumprimento ou realização de qualquer coisa; porque é somente a fé verdadeiramente bíblica que pode nos levar ao conhecimento do único Deus verdadeiro, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
E esta fé é também um dom sobrenatural recebido exclusivamente de Deus, pois não se encontra em nossa natureza terrena.
Assim, ninguém pode possuir esta fé de modo natural, já que é um fruto da graça divina que nos é dado e amadurecido pela manutenção do próprio Deus, para ser aumentada, firmada e aperfeiçoada.
Então, quando dizemos: “tenha fé em Jesus”, o sentido real destas palavras é: “fixe o seu pensamento e coração em Jesus, em seu poder e em suas palavras, para que ele gere em você a fé que o ligará a ele em espírito, e assim, lhe capacite a ser, pensar, orar e a agir, conforme a Sua santa vontade.”








5 - O Filho da Luz Caminhando na Escuridão

“Quem há entre vós que tema ao SENHOR e que ouça a voz do seu Servo? Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie em o nome do SENHOR e se firme sobre o seu Deus.” (Isaías 50.10)

Veja como o Senhor pergunta em relação ao Seu povo? Em cada congregação Ele faz esta pergunta: "Quem dentre vós teme ao Senhor?" Estes são o trigo sobre a eira. "Que tem a palha com o trigo? Diz o Senhor." O coração do Senhor se volta para os corações que O temem, e Ele inquire sobre eles, porque Ele os ama, se preocupa com eles e os ajuda em seus dias de tribulação.
Observe quão claramente o Senhor descreve seu próprio povo. A descrição é breve, mas extremamente completa - "Quem entre vocês teme ao Senhor? Quem obedece a voz do Seu Servo?". Santa reverência no interior do coração e obediência cuidadosa manifestada na vida, estas são as duas marcas infalíveis do verdadeiro homem de Deus. Ele teme o seu Deus e, portanto, ele obedece Aquele mensageiro celestial que Deus enviou. Nenhum servo de Deus, exceto Um tem tanta autoridade sobre nós que somos obrigados a lhe obedecer em todas as coisas – este Servo dos servos - que também é Rei dos reis! Esta é a marca do filho de Deus, que tem um santo temor do Pai, e que tributa graciosa obediência ao Filho de Deus. O Senhor conhece os que são seus e com um conhecimento perfeito Ele apresenta esta curta, mas suficiente declaração sobre o caráter daqueles que lhe pertencem. Que nunca nos faltem santo temor e obediência constante!
Note que o Senhor não somente faz uma inquirição sobre essas pessoas, mas Ele repara a sua condição. Ele não é indiferente ao seu estado. Quando andam em trevas, Ele está com eles. E quando eles não têm luz, Ele ainda os contempla. O Senhor é muito sensível aos sofrimentos de Seus amados e é muito rápido para ajudá-los. Quando ele os encontra andando nas trevas, Ele graciosamente lhes acompanha e aconselha, para que Ele possa mais efetivamente ajudá-los. Assim diz o gracioso Senhor ao que é ignorante - " confie em o nome do SENHOR e se firme sobre o seu Deus." Esse mesmo Deus que diz de Sua vinha, "Eu, o SENHOR, a vigio e a cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia eu cuidarei dela.", Is 27.3. Também vigia os Seus filhos na escuridão e, olhando para eles com um olhar de terno amor, Ele dirige o seu caminhar. Esta é a Palavra de Sabedoria pela qual Ele dirige a cada um deles através da escuridão: "confie em o nome do SENHOR e se firme sobre o seu Deus."

I. Que condição é essa EM QUE UM FILHO DE DEUS PODE VIR A SER ENCONTRADO? A pessoa descrita é aquela que teme o Senhor e obedece à voz de Seu servo, mas ainda "anda nas trevas, e não tem luz."
Para muitos que nada conhecem da experiência cristã, esta condição pode parecer algo surpreendente. Pode o filho da luz caminhar na escuridão? A condição normal de um filho de Deus é a de andar na luz, como Deus está na luz, e ter comunhão com ele. Como ele vem, então, a não ter luz? Aquele que crê no Senhor Jesus Cristo passou das trevas para a luz e nunca entrará em condenação, como, então, vem a estar na escuridão? Na escuridão do pecado e da ignorância já não andará mais, mas, às vezes somos envolvidos com a escuridão da angústia e da perplexidade.
O Senhor é a nossa Luz e a nossa Salvação e, portanto, não andamos naquela escuridão na qual o Príncipe das trevas governa supremamente. Mas, ainda assim, às vezes estamos na escuridão da tristeza e não vemos luz de consolação. Não é sempre assim. Muitas pessoas cristãs continuam ano após ano, em ininterrupta luz - e eu não vejo por que não deveríamos todos almejarmos uma alegria contínua no Senhor quanto nos seja possível. Por que não deveria o nosso fluxo de paz ser como um rio cada vez maior? Aqueles de vocês que estão sempre brilhando, não precisam estar temerosos quanto à sua alegria. Ó Senhor, nós estamos vez por outra, na escuridão, mas não queremos que outros estejam assim! Escuridão espiritual de qualquer tipo deve ser evitada e não desejada e, ainda, por mais surpreendente que possa parecer, é um fato que alguns dos melhores do povo de Deus frequentemente andarão em trevas! Sim, alguns deles são envoltos em uma escuridão severa, por vezes, e, para eles, nem sol, nem lua, nem as estrelas aparecem.
Como pastor de uma grande igreja, eu tenho observado uma grande variedade de experiências e noto que alguns a quem eu muito amo e estimo, estão, na minha opinião, entre os mais escolhidos do povo de Deus, e no entanto, viajam mais no caminho para o céu à noite. Eles não se regozijam na luz da face de Deus, apesar de confiarem na sombra de Suas asas. Eles estão no caminho para a luz eterna e ainda andam nas trevas! Herdeiros de uma propriedade imensurável de felicidade, eles estão agora sem a menor mudança e gastam o dinheiro do conforto que tornaria a sua existência presente agradável. É inútil tentar julgar o verdadeiro caráter de um homem diante de Deus por seu atual estado de sentimentos. Você pode estar cheio de alegria e ainda pode ser o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, que é barulhento no momento, mas que logo passa.
Por outro lado, você pode ser inclinado para baixo com tristeza, e ainda isto pode ser aquela "leve tribulação que é apenas por um momento", que trabalha para você, "um eterno peso de glória." Nós poderíamos ter pensado, julgando à maneira dos homens, que seria melhor estar sempre feliz. Quando pela primeira vez chegamos à casa do nosso grande Pai, pensamos que, doravante, seria tudo música, dança e novilho cevado, para sempre! Mas não é assim - nós ouvimos a voz mesquinha do irmão mais velho, desde então, e descobrimos muitas coisas que  gostaríamos de poder esquecer. Pensamos que o ano seria de verão em todos os meses, o tempo do canto dos pássaros se foi - e reconhecemos isto ao longo de todo o ano. Lamentavelmente, as aves cessaram os seus cânticos! E em poucos dias estaremos caminhando entre as folhas que caem e preparando nossas roupas de inverno que nos permitam enfrentar as geadas cortantes. Não encontramos felicidade perfeita sob a lua.
Se, em vez de julgar pela visão de nossos olhos, nos fixássemos nos  registros sobre a família de Deus, teríamos há muito sido informados sobre o nosso Céu ideal. Está escrito: "porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe.", Hebreus 12.6. Entre o início  do caminho e a Cidade Celestial, a estrada é áspera e as noites são longas. Aqueles que vão em peregrinação nos falam das montanhas agradáveis  e das colinas brilhantes de glória que eles têm visto ao longe quando olham a partir do cume do Monte Claro, mas eles também nos advertem sobre o Monte da Dificuldade e, especialmente, sobre o Vale da Sombra da Morte - por meio dos quais devem forçar seu caminho todos aqueles que estão decididos a ir em peregrinação à Cidade de Deus. Não fique, portanto, surpreso, como se alguma coisa estranha estivesse  lhe acontecendo, caso se encontre na escuridão, porque este texto alerta sobre o que você pode esperar. Podemos temer a Deus e obedecer cuidadosamente Seu Servo, Jesus Cristo, e ainda assim podemos estar na escuridão diária das ruas enevoadas e escuras, tanto para nós como para os demais.
Esta condição é uma provação severa da Graça. Agora é que veremos quanto a coragem do homem é a do tipo certo. A escuridão é um mal que a nossa alma não ama e, por isso, todas as nossas faculdades são provadas. Se você estiver em sua própria casa, na escuridão, não importa, embora as crianças não gostem de ser colocadas na cama no escuro mesmo em seu próprio quarto. Mas se você estiver em uma viagem e chegar a um pântano selvagem, ou a uma vasta floresta, ou às montanhas terríveis, isto o assustará caso veja o sol declinando. A escuridão tem um terrível poder de causar medo, o seu mistério é uma influência para a criação de pavor. Não é o que vemos que tememos tanto como aquilo que não vemos e, portanto, desesperamos!
Quando a escuridão deprime a mente do crente, é uma grande prova para o seu coração. Ele clama: "Onde estou? Como cheguei aqui? Se eu sou um filho de Deus, por que eu estou assim? Eu realmente me arrependi e obtive luz, de modo a escapar da escuridão do pecado? Se assim for, por que eu estou consciente destas densas trevas? Teria eu me alegrado realmente em Cristo e crido que eu recebi de fato a Expiação? Por que, então, tem o dom da minha alegria descido tão desesperadamente? Onde estão, agora, as benignidades do Senhor?"
O bom homem começa a se questionar a respeito de todos os pontos de sua profissão, pois no escuro ele não pode sequer julgar a si mesmo. O que é pior, às vezes ele questiona a verdade de Deus, que ele recebeu e duvida do próprio terreno em que seus pés estão descansando! Satanás entrará com insinuações torpes questionando tudo, até mesmo como ele questionou a Palavra de Deus, quando ele arruinou a nossa raça no Jardim.
É possível, em tais ocasiões, até mesmo questionar a existência do Deus que amamos, embora ainda nos apeguemos a Ele com determinação desesperada! Passamos por uma luta de morte, enquanto nos seguramos às verdades divinas. Somos, às vezes, colocados nestas condições extremadas e pouco sabemos o que fazer. Oh, que possamos ter a certeza de que somos do Senhor! Oh, que possamos apreender as promessas de certeza do Senhor e da nossa porção nelas! Por um tempo, a escuridão é tudo o que nos rodeia e não percebemos nenhuma vela do Senhor, ou centelha de luz real com que quebrar a escuridão. Esta escuridão é muito tentadora para a fé, porque ela tenta o  amor, tenta a esperança, a paciência, e todas as graças do homem espiritual. Bem-aventurado é o homem que pode suportar esta tentação!
Enquanto isto está nos tentando assim, também é muito doloroso. É uma coisa agradável para os olhos ver o sol e uma coisa dolorosa ficar sem ele. Estamos em peso em tais ocasiões. A escuridão que é citada no texto inclui provação Providencial de muitos tipos. No presente momento, muitos do povo de Deus estão no escuro em relação às suas circunstâncias temporais. Os negócios prosperavam em outra ocasião, mas não agora. Eles não eram ambiciosos para acumular grandes riquezas, eles estavam perfeitamente satisfeitos caso tivessem pão para comer e vestes para vestir, mas agora até isso parece ser-lhes negado. Eles estão desempregados, ou o negócio está gradualmente desaparecendo e os seus meios de provisão irão desaparecer em breve. Isto é uma nova provação para aqueles que tiveram abundância e, naturalmente, os faz andar na escuridão. Oh, vocês que têm um excesso de bens deste mundo, vocês pouco conhecem a escuridão que vem sobre os corações dos servos de Deus quando não são capazes de prover as coisas honestas, perante todos os homens e têm medo de que o nome do Senhor seja mal falado, porque eles não podem cumprir os seus compromissos! Quando os pais olham para os seus filhos queridos e querem saber quando virá a próxima refeição, os tempos são escuros, de fato! Ainda assim, marque isto, esta não é a escuridão que pode ser sentida. Muitos do povo de Deus, em virtude de uma fé forte, são mais felizes em sua adversidade do que eram em sua prosperidade. Eu os tenho conhecido andando na crista da onda que ameaçou destruí-los. Eles também se alegraram nas tribulações, achando nelas as bênçãos do Senhor com favor especial.
A verdadeira escuridão tem vindo quando nossas evidências da Graça não são mais visíveis e a Consciência pronuncia um veredicto desfavorável. Como diz o Salmista: "Nós não vemos os nossos sinais." As marcas da Graça são ocultadas. O auto-exame não consegue revelar à consciência as marcas infalíveis do trabalho do Espírito Santo dentro da alma e, então, o filho de Deus sente que ele se encontra numa condição ruim. Enquanto eu sei que sou filho de Deus, sou inabalável - mas quando a minha filiação está em dúvida, fico angustiado, de fato. Se uma noção clara do amor de Deus também é retirada da alma, a escuridão se segue. Aquele que costumava se alegrar naquele amor que  excede todo entendimento agora sente o seu coração como sendo tão duro como uma pedra, sem mover de emoção e quase sem desejo de viver. Ser tedioso e morto  - estúpido e insensível - é triste, de fato, para aquele que, antes, podia dançar de alegria.
Ter a vida e energia da Graça declinando é uma grave questão - melhor ver o rebanho fora do aprisco do que a a graça fora do coração! Nesses momentos o Espírito Santo parece suspender Suas reconfortantes e renovadoras operações e, nesse caso, os meios exteriores são de pouca ajuda. Nós lemos a Bíblia e não somos contemplados pelas promessas. Atendemos aos cultos públicos e os sinos de prata do santuário parecem ter perdido sua música. A chuva não enche os potes e quando as cisternas estão vazias, qual é o bem que há nelas? O Espírito Santo está nos deixando um pouco para que possamos conhecer quão pobres somos sem ele e quão inúteis são as ordenanças sem a Sua Presença Divina nelas. Nessas ocasiões é certo que Satanás, covarde como ele é, se valerá da oportunidade. Quando ele nos encontrar na senda escura, ele cai em cima de nós como um assassino. Quando o Senhor é manifestamente conosco, ele fica de folga, mas quando ele vê que a escuridão nos envolve, ele procura nos afastar da nossa fé.
"Esta é a sua hora", disse Cristo, "e do poder das trevas" - e teremos que dizer o mesmo. Satanás faz uso sério da sua hora e não é por nenhuma falha dele que nós não morremos no escuro e perecemos no caminho. Que seja bem sabido que alguns de nós que podem, hoje, falar com plena certeza e confiança, foram, em tempos passados, duramente abalados e tiveram que clamar ao Senhor para saírem da masmorra! Cada partícula da fé que eu tenho, hoje, no Senhor, meu Deus, passou pelo fogo e pela água. Esta tocha flamejante de confiança que queima diante de você neste dia foi acesa para mim quando eu estava na escuridão! Apesar da alegria diante do Senhor como a alegria da colheita, nós olhamos para trás, para o momento em que saímos chorando, levando a semente preciosa! Certamente, em algum momento ou outro, todos os filhos de Deus andarão em trevas!
Talvez a pior característica desta escuridão é que ela é muito desconcertante. Você tem que andar embora o seu caminho esteja oculto aos seus olhos. Este é um trabalho árduo. Deus vai ajudar Seus filhos. Sim, Ele o fará, mas não podemos ver como! Nós olhamos para cima e não vemos qualquer estrela, e para baixo e não vemos sequer um vaga-lume. Certamente veremos uma vela em alguma janela! Mas não, estamos perdidos em uma floresta escura. Nós não vemos como Deus poderá nos dar um caminho de escape. Quão simplórios somos por imaginar que, como não vemos uma forma de libertação, que Deus não possa ver uma!
Pior, ainda, é a confusão que vem sobre nós na escuridão, quanto ao  que nós mesmos devemos fazer. Homens de Deus sabem, como princípio geral, que devem fazer o certo, mas a questão é, o que é certo? Qual dos muitos cursos devo tomar? Rogamos ao Senhor para fazer o nosso caminho em linha reta, mas não podemos descobrir a estrada. Nós olhamos para um poste de sinalização que tínhamos visto há muito tempo, mas ele se foi! Nós nos apressamos a um amigo, mas ele está tão perplexo como nós. Este suspense é a parte mais difícil da prova. Não ver o nosso caminho - não, não ver um ponto de apoio para o próximo passo é uma posição especialmente provadora! Se soubéssemos o que fazer, ou sobre o que nos prepararmos para enfrentar, teríamos cingido os nossos lombos para a ocasião. Mas não sabemos nada, estamos calados e não podemos ir adiante.
No entanto, você nota no texto que isso não nos exime do nosso dever diário. O texto diz: "Quem anda nas trevas e não tem luz." A caminhada tem que ser continuada, embora a luz tenha partido! Quando está bastante escuro, é seguro se sentar até que o dia amanheça. Se eu não consigo dormir, que eu possa descansar em silêncio até que o sol se levante. Esta foi uma grande palavra que o Senhor deu a Moisés: "Fique quieto e vede o livramento do Senhor." Mas e se você não pode ficar parado? E se você não pode permanecer onde está? Algo tem que ser feito, e feito de uma vez e, assim, você é obrigado a andar, mas não pode ver uma polegada adiante. O que senão uma fé divina pode fazer isso? Aqui reside o estresse da dificuldade – a inação pode ser simples, mas a atividade no escuro, isso deve vir da parte do Senhor e devemos clamar a Ele para realizar esta obra em nós!
Eu lhes tenho dado um retrato que alguns de vocês vão reconhecer como um retrato de si mesmos. Pessoalmente, tenho muitas vezes passado por este vale escuro - há um pântano à direita e um abismo profundo à esquerda - e ao longo do caminho escuro, os uivos dos cães do inferno e o assobio de espíritos malignos nunca estão fora dos ouvidos! E, o pior de tudo, os sussurros do demônio faz você pensar que suas sugestões vis são seus próprios pensamentos. A espada na mão se torna inútil, pois no escuro, você não sabe onde atacar. Nenhuma arma permanece exceto a da oração. Andar toda a noite e não ver um passo adiante de você é uma aflição e ainda assim milhares de peregrinos de Deus, que agora estão ali entre os seres resplandecentes, louvando e bendizendo o Seu santo nome, percorreram este caminho terrível. Senhor, ajuda-nos quando nós, também, penetramos a sua negridão!

II. Mas agora, em segundo lugar, eu vou voltar para a parte prática deste assunto - O QUE HÁ PARA CONFIAR QUANDO VOCÊ ESTÁ EM TAL CONDIÇÃO? O que há para confiar? Bem, o texto diz: "deixe que ele confie em o nome do Senhor", ou, como deveria ser lido, "em nome de Jeová."
O que há para confiar no nome do Senhor? Este é, “Eu Sou”, e significa a sua existência! Esta é uma base excelente para a confiança! Seu amigo está morto, mas o Senhor ainda está vivendo como o "EU SOU". Aqueles que poderiam ter socorrido você o abandonaram, mas Ele diz: "Eu estou com você." Confiai nEle, pois Ele é e sempre será. Ele diz a você: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus ".
O nome do Senhor, contém em si, imutabilidade. O Senhor chama a si mesmo: "Eu sou o que sou", o Deus imutável! Lembre-se como Ele disse: "Eu sou o Senhor, não mudo; portanto, filhos de Jacó, não sois consumidos". Quando você não pode ver uma polegada diante de você, confie nAquele, que é, que era e que há de vir. Ele é o nosso refúgio de geração em geração. Ele é o "mesmo ontem, hoje e sempre" e, portanto, a nossa confiança nele não deve diminuir. Aqui está uma rocha sob seus pés. Se você confia em um Deus imutável, cujo amor, fidelidade e poder não podem ser diminuídos, embora seja escuro o seu caminho, então você tem um objeto glorioso para a sua fé  descansar nele!
Mas entendemos pelo nome, o caráter de Deus revelado. Quando você não pode ver o seu caminho, então, abra a Bíblia e tente descobrir que tipo de Deus é Aquele em que você confia. Veja o que Ele fez nas épocas passadas. Veja o que Ele prometeu fazer em todos os tempos presentes. Eis Seu infinito amor, no dom do seu Filho amado. Pense em todas as imensuráveis ​​bênçãos que Ele tem preparado para aqueles que O amam, que ele tem estabelecido para os tempos dourados. Assim, quando você se lembra do que o Senhor é e como ele lida com o seu povo, você irá encontrar a luz surgindo no meio da escuridão! Que alegria deve ter sido para Moisés quando Deus proclamou diante dele o nome do Senhor! Moisés pediu para ver a glória de Deus e, lemos: "O Senhor passou diante dele e proclamou Senhor, Senhor Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e abundante em bondade e verdade, que guarda a misericórdia em milhares, que perdoa a iniquidade a transgressão e o pecado." Ao estudar o glorioso caráter do Senhor Deus, cuja misericórdia dura para sempre, eu acho que você vai encontrar o seu espírito se elevando acima das inundações de seus problemas e flutuando alegremente sobre as águas, assim como a arca de Noé, no dia do dilúvio! O nome do Senhor é uma torre forte. "Os que conhecem o teu nome confiam em ti."
Por "o nome do Senhor" se entende também Seu Filho amado, pois é em Jesus Cristo que o Senhor proclamou o seu nome. Jesus diz: "Aquele que me vê a mim, vê o Pai". Quando está escuro ao seu redor e dentro de você, então, se achegue ao seu Salvador e pense nele, e em todos os seus sofrimentos e vitória. Imagine-o diante de seus olhos sangrando Sua vida na cruz por você, oferecendo-se como um sacrifício glorioso pelo seu pecado. E, quando você ouvir seu clamor e perceber o fluir do Seu sangue, você achará conforto e alegria, e terá a sua escuridão transformada em dia!
Também é bom, quando você estiver pensando em o nome do Senhor, lembrar-se que, isto significa para você, ter visto a Deus em sua própria experiência. Este é o memorial do seu nome para você. É uma grande coisa, quando no momento você não tiver consolo, lembrar do consolo que tinha experimentado em anos passados. Oh, os dias em que Ele nos ajudou! Você se lembra quando o Senhor lhe trouxe para fora da cova. Você disse: "Bendito seja o seu nome glorioso! Que libertação eu tive! Jamais duvide dele de novo!" Oh pobre insensato, você está duvidando dele agora! Mas por quê? Você não acha que, se você reviver aquelas músicas do Mar Vermelho, quando cantaram: "Cantai ao Senhor, porque Ele triunfou gloriosamente", não teria vergonha, hoje, de duvidar do Senhor? Israel  não atravessou o mar a pé enxuto, mesmo na escuridão da noite, quando o faraó não podia ver o seu caminho? O Senhor Deus, Ele próprio, na coluna de fogo era a luz do Seu povo! Mas, além disso, eles não tinham outra fonte de luz. E é assim com você, toda outra luz se foi, mas o Senhor está com você, por isso não tenha medo.

III. Em terceiro lugar e com grande brevidade, POR QUE DEVERÍAMOS CONFIAR EM DEUS NESSES MOMENTOS? Se o Senhor tem tirado a luz e nos está tentando tão severamente, por que devemos confiar nele agora? Eu respondo: se você não confiar nele agora, você vai ter motivos para suspeitar que você nunca confiou nele afinal.
Você é obrigado a confiar agora no Senhor, no tempo das trevas, porque suas promessas foram feitas para os tempos sombrios. Quando um engenheiro naval constrói um navio, ele o constrói para mantê-lo nos portos?  Não. Ele o construiu para os mares e para as tempestades. Quando Deus lhe fez um crente, Ele pensou em prová-lo, e quando Ele lhe deu as promessas e mandou você confiar nelas, Ele deu promessas adequadas para momentos de tempestades.
Então você deve estar feliz porque seu coração está tranquilo. Confie em seu Deus, porque Ele ordena que assim seja. Não se atreva a duvidar!
Olhem, senhores, se vocês não confiam em Deus na escuridão, parece, afinal, que vocês não confiavam em Deus, mas estavam confiando na luz, ou estavam confiando em sua própria visão! Muitas vezes pensamos que cremos, mas ao mesmo tempo estamos a milhas de distância disto. A menos que confiemos somente em Deus, e em Deus totalmente, não confiamos nele afinal! A fé é o oposto da visão. Quando um homem vê, ele não tem necessidade de fé. Bem-aventurado aquele para quem o próprio Deus, é toda a luz que ele precisa.
Lembre-se de mais uma coisa, que você e eu, em tempos de escuridão, podemos muito bem confiar em Deus que Ele não nos faltará, porque nosso bendito Senhor e Mestre não foi poupado na meia-noite mais negra que já caiu sobre a mente humana. Ele também clamou: "O que posso dizer?" Também ele esteve triste até a morte. Você espera que você deve ser tratado melhor do que o chefe da casa, o "primogênito entre muitos irmãos"? Se Ele confiou em Deus e foi livrado, faça o mesmo e você seguirá os Seus passos para o brilho da luz, mesmo que você tenha seguido os passos para a escuridão e as trevas!

IV. Assim, eu termino com este último ponto -  O QUE VIRÁ SE NÓS CONFIARMOS EM DEUS NA ESCURIDÃO? Agora, se você é santo ou pecador, eu quero que você me empreste seus ouvidos por um minuto ou dois, enquanto eu tento mostrar o que virá da confiança em Deus quando você não tiver nada mais para confiar.
Em primeiro lugar, essa fé vai glorificar a Deus. Não o glorificará por confiar nEle quando você tem milhares de outros tipos de ajuda. Não, nós glorificamos quando nós temos somente a ele. Honramos a Deus, quando, na escuridão, no desânimo e desespero, podemos corajosamente dizer: "Ainda assim eu creio nele. Eu tomo posse de Sua força no meio da minha fraqueza. Se eu perecer, pereci. Mas sei que ele não vai me deixar morrer confiando nele. "Os querubins e serafins glorificam a Deus com suas canções intermináveis, mas não mais do que uma pobre alma abatida pode fazer quando, em sua aflição, ela se lança  apenas em Deus. Veja o que você pode fazer! não vai esse argumento movê-lo a confiar, confiar mesmo agora, quando todas as coisas parecem dar errado? Alguns de vocês podem dizer sinceramente: "Nós de bom grado faremos ou sofreremos qualquer coisa para glorificar a Deus." Bem, façam isso - creiam no Senhor e em Jesus Cristo, a quem Ele enviou!
No próximo lugar, é verdade que muito provavelmente através desta sua escuridão, você será humilhado. Andando na escuridão e não vendo a luz, você vai formar uma muito baixa opínião de si mesmo e isso vai ser uma abençoada escolha. Nós subestimamos a humildade, mas é uma das mais douradas das Graças. Talvez alguns de nós precisemos de mais humilhação do que qualquer outra operação do Espírito Santo. Acredito que aqueles que estão em desalento e desespero são mais abençoados quando a humildade tiver completado a sua obra perfeita neles. Somos tão grandes! Tão inchados! Talvez a nossa escuridão nos seja enviada  para derrubar o nosso orgulho pecaminoso. A libertação do orgulho será um ganho duradouro para nós! Ó meu amigo, você está ficando melhor pelo doloroso processo que lhe revela a sua pequenez! Não se preocupe, porque você vê agora a sua loucura, sua impotência, seu vazio, tudo isso será uma mina de riqueza para você.
Junto a isso, se você pode confiar em Deus em sua provação, você irá experimentar e apreciar o poder da oração. O homem que nunca precisou orar não pode dizer se existe ou não alguma coisa na oração. Você que sempre teve o seu pão todas as manhãs mal sabe o valor do pedido: "Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia." Mas há pessoas pobres aqui a esta hora para as quais a petição é peculiarmente doce. Aquele que tem orado pelo seu café da manhã valoriza a Providência que o enviou. Se você nunca esteve em sua vida, em qualquer tipo de provação, o que você sabe sobre a oração? Por que, então, você fala tão superficialmente daquilo que você nunca entendeu? Aquele que tem apresentado a sua necessidade ao Senhor, uma grande e urgente necessidade que não lhe poderia ter sido provida por mais ninguém, além dele, e obteve uma resposta, eu digo, que é alguém que pode testemunhar que, em verdade, há um Deus que ouve a oração!
Irmãos e irmãs, é a oração na escuridão que nos traz mais luz quando percebemos que ela é certamente ouvida! Se você nada tem pelo que orar, como pode comprovar a eficácia da oração?
Se na sua escuridão você vai a Deus e confia nele, você vai se tornar um cristão confirmado. Você não será como o junco que é curvado pelo vento, mas será arraigado e alicerçado na segurança da fé. Estas suas provações ajudarão a lhe enraizar firmemente na boa terra da confiança em Deus. Nos dias que virão você bendirá a Deus pelas nuvens e pelas trevas, uma vez que através delas a sua fé provada se transformou em forte fé e sua forte fé amadureceu em plena certeza! Sem dúvida, a fé irá fazer com que nossas noites sejam as mães férteis de dias melhores.
E deixe-me terminar dizendo, que vez por outra  e talvez, muito mais cedo do que pensemos, vamos sair para uma luz maior do que a que temos esperado. Talvez um meio quilômetro à frente você vai encontrar a luz surgindo, até mesmo a luz que tem sido há muito tempo semeada para o justo. Seu choro em breve acabará - a alegria vem pela manhã. Você deve se sentar e dizer: "Eu pensava que o dia iria terminar muito cedo, mas agora que o sol está surgindo eu percebo que mesmo na noite eu tenho sido preservado de mil perigos, e eu tenho passado de forma segura onde ninguém, senão somente o Senhor, poderia ter me segurado."
Irmãos e irmãs, vamos agora mesmo cantar ao Senhor um cântico novo, porque Ele fez maravilhas! Ele levou os cegos por um caminho que não conheciam. Ele nos deu tesouros das trevas. Ele transformou o nosso pranto em dança. Ele nos fez felizes em Seu nome! Louvem-no para sempre, sim, para sempre louvem!
Como em voz alta alguns de nós cantarão uma vez que tiverem chegado ao Céu! Como exaltaremos o Amor Onipotente, que nos guardou de 10.000 ondas devoradoras! Certamente, os seus coros celestiais atingirão as notas mais altas do que todos os outros, porque eles conhecem as alturas e profundidades do amor divino. Haverá uma plenitude e doçura nessas vozes que se tornarão notáveis ​​entre as celestiais, assim como Hemã, Asafe e Etã foram notáveis ​​entre os maviosos cantores de Israel no Templo antigo. Quem são estes e de onde eles vieram? Certamente a única resposta será: "Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro."
Portanto tenha bom ânimo, ó povo de Deus que caminha nas trevas, para que você obtenha uma plena recompensa!
E vocês, pobres atribulados que não têm, por enquanto, qualquer esperança, e têm medo de que Deus os lance fora para sempre, venham e descansem em Jesus Cristo! Confiem em Jesus e desafiem a escuridão e o diabo que governa sobre ela. E tão logo você ouse a confiar em Cristo Jesus, nosso Senhor, sua salvação é garantida! Faça, mas confie, e seu Salvador está compromissado em responder à sua confiança e lhe fazer o bem lhe salvando! O Senhor lhe abençoe por causa de Jesus! Amém.







6 - A Viúva Importuna

“Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18.6-8)

Não há dever mais fortemente enfocado na Escritura do que o da oração; nem há qualquer outro que necessite ser mais inculcado na consciência.
Para aqueles que nunca se envolveram nesta tarefa com espiritualidade real de mente, pode parecer ser de fácil realização, mas aqueles que são mais sérios no seu desempenho, encontram muitas dificuldades para  serem enfrentadas.
Para nos encorajar a perseverar na oração, a despeito de todas as dificuldades, nosso Senhor falou a parábola diante de nós.
Devemos considerar o que diz o juiz injusto.
Havia uma viúva laborando sob alguma pesada opressão.
O pecado tem universalmente armado os homens contra seus semelhantes. O mundo está cheio de roubo e opressão de todos os tipos, Sl 74.20, e os que são mais indefesos geralmente sofrem os maiores danos. Cada um está pronto para se aproveitar do órfão e da viúva. Então é o conforto deles, saber que a par de terem inimigos na Terra, que têm um amigo no céu.
A viúva foi a um magistrado para apresentar suas queixas.
A nomeação de magistrados é uma bênção rica para a comunidade, e eles deveriam ser considerados com muito respeito e gratidão. Nós não deveríamos de fato recorrer à lei por ninharias. Devemos sim resolver nossas disputas, se possível, por meio de arbitragem, mas nas circunstâncias da viúva, era correto solicitar a interferência do magistrado.
O juiz, por um longo tempo, não deu qualquer atenção ao seu pedido.
O juiz demonstrou não ser uma pessoa de caráter: ele não temia o santo, onisciente, onipotente Deus; e nem sequer considerava a boa opinião dos homens. Assim, ele não possuía qualquer regra de conduta, mas o seu próprio capricho ou interesse. Certamente, ao lado de um ministro vicioso, não pode haver maior maldição para um bairro do que um magistrado desleixado como este. Nós temos motivos para bendizer a Deus, no entanto, apesar de tais caracteres serem muito comuns, são raramente encontrados entre a magistratura.
Não é à toa que o tal juiz era surdo aos clamores da equidade e da compaixão.
Finalmente, ele agiu sob a importunação da viúva.
Ele se gloriava em seu desprezo a todas as leis humanas e divinas; mas não podia suportar os constantes apelos da viúva. Portanto, apenas para se livrar dela, atendeu à sua petição, e fez para sua própria comodidade, aquilo que deveria ter feito a partir de um melhor motivo. Assim, infelizmente! proclamou sua própria vergonha, mas declarou, de forma muito marcante, a eficácia da importunação.
Sua fala, ímpia como foi, pode ser vista como rentável para as nossas almas; conforme a aplicação feita por nosso Senhor.
Todos nós, do ponto de vista espiritual, nos se assemelhamos a esta viúva indefesa.
Estamos cercados de inimigos no nosso interior e também externamente: nossos conflitos com a corrupção do pecado que habita em nós são grandes e múltiplos. Temos, sobretudo, que lutar com todos os poderes das trevas; e não temos em nós mesmos qualquer força para resistir aos nossos adversários.
Mas Deus, o juiz de todos, nos ajudará se apelarmos a ele.
Deus tem prometido ouvir as súplicas de seu povo; ele tem declarado que ele não irá lançar fora a qualquer pessoa que vier a ele.
Ele pode, de fato, por razões sábias atrasar as respostas à oração; ele pode suportar tanto tempo com a gente, como para nos fazer pensar que ele não irá ouvir, mas ele nunca vai deixar de nos socorrer em qualquer época.
Isto pode ser fortemente deduzido a partir da citada parábola.
A viúva era uma estranha sem qualquer relacionamento com o juiz; mas nós somos eleitos de Deus, seu povo peculiar e favorito. O juiz injusto não estava interessado na concessão de seu pedido; mas a honra de Deus se preocupa em aliviar as necessidades das pessoas do seu povo. Podemos até tratá-lo na língua de Davi, Sl 74.22. Havia pouca esperança de prevalecer com tal juiz injusto e não misericordioso, mas nós tratamos com um compassivo Pai de amor. Além disso, a viúva não tinha ninguém para interceder por ela, mas temos um advogado justo e todo-suficiente.
Ela estava em perigo de irritar o juiz por suas súplicas; mas quanto mais importunos somos, mais Deus se agrada de nós, Isa 62.7. Ela, apesar de todas as suas dificuldades, obteve resposta ao seu pedido. Quanto mais, iremos nós, que em vez de suas dificuldades, temos esses incentivos abundantes! Certamente esta dedução é tão consoladora quanto simples e óbvia, e nosso Senhor, com sinceridade peculiar, o confirma: “Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça.“.
Há muito pouco de tal importunação para ser achada; nem é de se admirar, uma vez que há tão pouca "fé sobre a Terra".
A fé é o princípio de onde a oração sincera procede. Se nós cremos nas declarações de Deus, devemos nos sentir fracos e indefesos; se cremos nas suas promessas, vamos reconhecer a sua prontidão para nos ajudar, e se cremos na realidade e importância das coisas eternas, vamos fervorosamente buscar a ajuda de Deus; nem estaremos indispostos por esperar até que ele nos responda. Mas quão pouco há de tal fé no mundo! Quão poucos são fiéis às convicções de suas próprias consciências! Quão poucos mantêm essa constância santa e fervor na oração! Quão poucos podem ser realmente chamados de um povo íntimo de Deus!
Se Cristo viesse agora para juízo, iria encontrar esta fé em nós?
Alguns vivem sem qualquer reconhecimento de Deus na oração; eles parecem ter esquecido de que haverá um dia de julgamento; outros se envolvem com seus deveres habituais e ficam satisfeitos com um recital sem sentido de certas palavras. Há outros ainda que sob a pressão da aflição irão clamar a Deus, mas logo se cansarão de um serviço no qual eles não têm prazer. Poucos, muito poucos, é para ser lamentado, se assemelham à viúva importuna. Poucos oram, como se eles cressem completamente na eficácia da oração. Se Cristo viesse agora ele encontraria tal fé em nós? Ele certamente irá investigar o que diz respeito à nossa fé, como às nossas obras, e se nós não temos a fé que nos estimula à oração, ele lançará a nossa parte com os infiéis.

Tradução, adaptação e redução feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon, em domínio público







7 - O Passo da Fé

Por John Piper

Quando estamos à beira da morte, enxergamos boa parte da vida de forma diferente. Boa parte da euforia de antes agora parece tolice. Quando deitamos em nosso leito de morte, 99% da agitação de nossa vida se mostra ridícula.

Então, por que não aprender isso agora? Nas palavras de Isaías 28:16: "Aquele que crer não se apressará". Confiar em um Deus amoroso e soberano nos liberta do frenesi da vida. Tenho um amigo pastor que nunca aparenta estar com pressa, mas é capaz de realizar uma imensa quantidade de trabalho. Quando as pessoas estão atrasadas, ele não perde tempo andando de um lado para o outro. Quando um fusível queima no meio do culto, ele não se enerva ou se irrita. Quando as coisas não correm da maneira que ele gostaria na reunião do conselho, ele não fica tenso ou rói as unhas de nervosismo. A impressão distinta que ele passa é que rele sabe de alguma coisa que você não sabe. Mais ou menos como alguém que já leu um livro e conhece o final.

O segredo dele é Isaías 28:16: "Aquele que crer não se apressará" Aquele que crê em quê? Que Deus é Deus, e que ele está sempre trabalhando em favor daqueles que confiam nele. Se Deus está trabalhando por nós quando as pessoas se atrasam, quando os fusíveis queimam e quando as reuniões não transcorrem da maneira que gostaríamos—se Deus está sempre trabalhando em todas as coisas para o nosso bem, por que a agitação? Por que ficar tenso? Por que toda a pressa?

Quando Paulo diz, "A vida que vivo agora no corpo, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim", ele está querendo dizer: "A cada momento, sinto-me confiante de que o amor que levou Jesus à cruz por mim também está levando-o agora a agir em minhas circunstâncias para o meu bem." É por isso que Paulo podia dizer: "Aprendi a estar satisfeito em todas as circunstâncias" (Filipenses 4:11). Ele cria no poder e na bondade de Deus, por isso não estava apressado, nem agitado, nem tenso.

A pressa nos traz perda. Perda da paz. Perda da saúde. Perda da alegria. O Senhor nunca está com pressa, pois tem todas as coisas sob controle. Que poder estável deveria marcar o seu povo! Nós o desonramos com a nossa pressa impaciente. Os filhos do rei não entram em pânico quando perdem suas chaves.

Imagine um surgento do exército de Israel, à beira do Mar Vermelho, enquanto o Faraó se aproxima atrás. Ele está com muita pressa e extremamente inquieto, tentando preparar uma frota de jangadas, organizando equipes para buscarem madeira, corda, piche e ferramentas, ficando acordado até tarde, irritado com trabalhadores preguiçosos, reclamando do trabalho de má qualidade. Então, cedo em uma manhã uma forte dor atinge o seu peito, o seu braço esquerdo fica dormente e um sentimento de náusea o acomete. Seus trabalhadores levam-no à sua barraca no alto do morro. E a última coisa que ele vê são as águas do Mar Vermelho se abrindo através de um sussurro divino, e o povo atravessando rumo à segurança, deixando a sua frota de jangadas para trás.

Igreja, igreja! O seu Deus nunca dorme, nem fica sonolento. Não se inquietem, nem fiquem ansiosos. O seu Pai sabe o que vocês precisam antes mesmo de pedirem. Ele está trabalhando por vocês agora. Confiem nele. Reduzam o seu passo. Pois "aquele que crer não se apressará"

Andando no passo da fé,

Pastor John







8 - “Eu não Temerei Mal Algum” (Sl 23.4)

Seria presunçoso ao extremo para qualquer um usar uma expressão como essa, se ele olhasse apenas para o braço de carne; porque "não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa," 2 Cor 3.5, mas, tendo como protetor  nosso Senhor Jesus Cristo, nós podemos rir de todos os nossos inimigos com desprezo.
Sabemos quão poderoso, quão sutil, quão maligno é este "leão que ruge, que busca nos devorar", e sabemos que somos muito fracos e impotentes em nós mesmos como ovelhas, mas se Davi, um homem como nós, matou um leão e um urso que atacaram o rebanho de seu pai, o que Jesus não fará em nossa defesa?
Quem poderá escapar de seu olho, ou quem poderá suportar o seu braço? Ouça o que o próprio Senhor diz: "O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranquilos, ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a cidade inteiramente abatida.”, Is 32.18,19.  Deixe então o tímido lançar fora os seus temores, a partir de qualquer fonte que possa surgir. "Eu não temerei mal algum", disse o salmista; e nós, à vista de nossos inimigos, podemos adotar a mesma linguagem triunfante se sabemos em quem temos crido, podemos ter a certeza de que ele continuará nos guardando até aquele glorioso dia, quando todo o seu rebanho será reunido em um só rebanho com um só Pastor.
A minha felicidade não terá fim.
Eis como confiantemente o salmista fala sobre este assunto! "Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida." O quê! Tu não tens nenhuma dúvida sobre este grande assunto? Não. Certamente será assim. Não és presunçoso, portanto, em falar deste modo em  relação a ti mesmo? Não. Será assim comigo. Mas não seria suficiente dizer que a bondade e a misericórdia não devem se afastar de ti? Não. Elas me seguirão, e também "todos os dias da minha vida" elas me seguirão, assim como a minha sombra, onde quer que eu vá. Bondade, para suprir as minhas necessidades, e misericórdia, para cobrir os meus defeitos. E tu és corajoso o bastante para levar esta confiança além túmulo? Sim: "habitarei na casa do Senhor para sempre", não somente para servi-lo em sua casa aqui embaixo, mas para admirá-lo e glorificá-lo em sua casa lá em cima.
Eis aqui a felicidade dos santos. Todo o resto do mundo está procurando pela felicidade, e ela escapa de seu alcance; mas aqueles que creem em Jesus têm a felicidade lhes seguindo: "bondade e misericórdia "são os seus anjos atendentes, que nunca por um momento se desviam deles, ou que relaxam sua atenção sobre eles.
Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon em domínio público.







9 - A ESPERA DA FÉ

“Deus se lembrou de Noé" (Gênesis 8.1)

Existem heróis, cujo monumento de honra não é em nenhuma construção terrena, ao molde das que eram erigidas para os vencedores de batalhas no passado, que nunca receberam a uma medalha do tipo Vitória da Cruz, paciente, povo fiel, que tem aprendido a trabalhar ou a esperar, que teme a Deus e guarda os seus mandamentos, em meio às más línguas e dias maus; pessoas que amam a Deus e que procedem retamente, que veem seu dever diante deles, e partem diretamente para  a execução, que se sacrificam a si mesmos para o bem de outros, que passam fome para que possam dar o pão das crianças, que vestem trapos para que possam vestir mulheres indignas ou maridos bêbados: esses são heróis de Deus. Muitos deles são desprezados e desconhecidos. Seus nomes nunca serão escritos no noticiário do jornal, ou esculpidos em mármore, estão escritos no céu. Deus conhece os que são Seus. Eles viveram em todas as épocas e em todos os países. Eles foram encontrados nas fileiras dos reis e mendigos, profetas e servos, porque Deus não faz acepção de pessoas.
Vamos olhar para trás agora na distância cinza-escuro do velho mundo, e tomar Noé como nosso exemplo de paciência, na espera da fé. Eu chamo herói Noé de Deus porque ele foi corajoso o suficiente para acreditar que Deus disse para fazer o que Deus disse a ele, e esperar pacientemente pelo cumprimento da promessa de Deus, apesar do ridículo e da oposição de um mundo incrédulo.
Eu chamo qualquer homem de herói de Deus hoje a quem faz o mesmo. O homem que acredita que Deus quer tê-lo acreditando nEle, que obedece o que Deus lhe ordena obedecer, que confia em Deus para o futuro, e nunca perde a fé, apesar de ele ser julgado e tentado e afligido; o homem que não perde o coração e a coragem de fazer o bem apesar de todos os seus companheiros estarem contra ele, que se atreve a ler a Bíblia e faz suas orações, apesar de risos e perseguição, este homem é um dos heróis de Deus.
Eu aprendo com a história de Noé, que em todas as gerações Deus tem tido Seus heróis, suas testemunhas para a verdade.
No meio do deserto de um mundo que tinha perdido de vista a Deus, está Noé, o herói, a fiel testemunha, ele e sua família formando a pequena Igreja de Deus, cercado por um povo de idólatras.
No meio das abominações inomináveis de Sodoma se levanta Ló, o fiel que se afligia com a conversação suja dos ímpios. Na selvageria do pecado e da tristeza se levanta Moisés, a mansa e paciente testemunha de Deus. No corte de falsidade de Acabe está Elias, o tisbita. No meio de um mundo hostil estão aqueles poucos homens e mulheres fiéis que se reuniram no cenáculo em Jerusalém.
Quando, mais tarde, o mundo corria o risco de ser contra a verdade, se levanta Atanásio para responder, "Então eu estou contra o mundo." Embora homens pecaminosos possam ser achados em qualquer época, Deus tem sempre algum fiel, que não dobrou os joelhos diante do Baal da época, ou que não se ajoelhou para a imagem de ouro que a imaginação tem criado.
Eu aprendo também da história de Noé, que é uma coisa boa ter uma arca de salvação para fugir quando vem o dilúvio. Deus providenciou tal Arca de salvação para nós, a Sua Igreja é o nosso refúgio.
Jesus, a Cabeça da Igreja da qual somos os membros, é um lugar para nos escondermos, nossa fortaleza e o nosso Libertador, um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade. Há sempre uma enchente de um tipo ou de outro nos ameaçando neste mundo. Agora isto é um dilúvio de tristeza que parece mesmo cobrir a nossa alma. Ainda, é um dilúvio de tentação varrendo contra nós, e prometendo nos levar junto com ele. Logo se torna  um dilúvio de dúvidas e ansiedade que parece nos engolir.
Se queremos estar a salvo do dilúvio, devemos estar na Arca. Se quisermos aprender a suportar as nossas tristezas, nossas provações e lutos, pacientemente, se devemos vencer a tentação, se quisermos guardar a nossa fé forte e limpa, devemos buscar segurança em Cristo, devemos utilizar os meios da graça, devemos guardar a Arca da Igreja que é Cristo. As pessoas do velho mundo não iriam acreditar em Noé ou na arca. Eles duvidaram da promessa de Deus que a inundação viria, ou confiaram em seus próprios recursos para escapar caso ela viesse. Assim, nestes dias há muitos que se recusam a acreditar na Arca da  Igreja. Eles tentam passar através das ondas deste mundo problemático em alguma arca de sua própria elaboração. Um homem confia na sua filosofia e sua aprendizagem, ele pensa que sabe mais sobre o mundo e os homens do que Deus que o criou; ele é muito inteligente para entrar na Arca da Igreja, ou para acreditar nas palavras da Bíblia, então ele tenta atravessar as cheias de perigo, julgamento e tentação em seu pequeno barco, e orienta o seu curso por seu próprio conhecimento, em vez de fazê-lo pela Palavra de Deus. Outro faz para si mesmo uma pequena arca, e toma para ser seu lema: "Eu não sei." Se você lhe perguntar se existe um Deus, ou a vida após a morte, ou uma condição de céu ou inferno, ele responde: "Eu não sei.” E ele se recusa a crer que ele faz o que não sabe, e com um tipo de insensatez como esta ele espera passar pelo dilúvio. Outro tenta fazer a viagem em algum barco de sua própria concepção, e toma para o seu lema, "Eu não me importo." Ele não diz que descrê das promessas de Deus, ou de suas ameaças de punição, ele é simplesmente indiferente, ele não se importa. Estes naufragam na enchente de dúvidas, ou problemas, ou pecado.
Em seguida, eu aprendo com essa história que Noé não teve medo de ser ridicularizado. Podemos estar certos que as pessoas ímpias que viram Noé se movendo dia após dia, na construção da arca, e o ouvindo pregar sobre a justiça e o juízo vindouro, escarneciam dele, e riam de suas palavras. Agora, há algumas armas mais poderosas do que o ridículo. Muitos jovens que suportariam a dor real sem um grito, têm tanto medo do riso dos seus companheiros, que eles abandonam suas orações e suas Bíblias, e vão se arruinar na companhia de zombadores ímpios. Muitos jovens ao entrarem no exército ou marinha, ou em algum lugar grande de negócio, têm se determinado a levar uma vida boa, para orar, ler a Bíblia, para se manterem sóbrios e castos, mas não foram capazes de se levantar diante das vaias e risos de seus companheiros, e por isso caíram. Muitas almas têm sido ridicularizadas para a perdição. Conheço muitos casos de jovens que entraram na vida, que desejavam viver como parte do povo de Cristo, e que tinham medo de mostrar suas cores por causa da zombaria de seus vizinhos.
Sempre haverá pessoas más, insensatas e impensadas para rirem de alguém como Noé, que continua  fazendo o seu dever para com Deus. Algumas vezes os inimigos do homem são os da sua própria casa.
Os parentes de Ló zombaram de suas advertências e  não creram em suas palavras. Em muitas famílias, entre nós, as boas resoluções e zelo santo de um membro são desativadas e destruídas pelas zombarias dos outros. Se Noé tivesse medo do riso ele nunca teria terminado a arca e sido salvo. Se Colombo temesse o ridículo ele nunca teria perseverado, e descoberto o novo mundo. Se Stephenson tivesse temido a zombaria dos ignorantes ele nunca teria iniciado a fabricação de uma estrada de ferro.
Meu irmão, não deixe que ninguém zombe de você fora da Arca da Salvação, nem levá-lo de volta para buscar um lugar melhor, isto é algo Celestial. Jovens e donzelas, vocês que temem mais o ridículo do que qualquer outra coisa, orem para que vocês possam ser corajosos para fazer o que é justo a qualquer custo. Não sejam covardes, mas sejam como homens e mulheres maduros e lutem. Se outros lhes tentam para pecar, para seguir os maus caminhos deles, tome a firme decisão de ficar de pé e diga: "não", e aqueles que quiserem rir de você, deixe que o façam. Deus vai lhe dar a força necessária. Noé nunca poderia ter se mantido como ele fez, ano após ano, mas pôde pela graça de Deus. Tente ser como Noé, e o Deus de Noé, que lembrou dele vai se lembrar de você.
Também, eu aprendo com a história de Noé o dever de levar outros à salvação. Noé não pensava apenas em si mesmo e em sua própria segurança, ele teve o cuidado de obedecer ao mandamento de Deus "Vem tu e toda a tua casa na arca".
Irmãos, não sejam egoístas em sua religião, que não pode ser a verdadeira religião, se é egoísta. Se você está apenas ansioso para garantir um lugar para si mesmo na Arca da Salvação, e indiferente se os seus vizinhos e parentes perecerem no dilúvio, a sua religião é falsa. Alguns de vocês estão seguros na Arca da Igreja de Cristo, vocês obedecem aos mandamentos, vocês se professam cristãos, mas que será de sua família, ou seus amigos? Vocês estão contentes em estarem seguros na Arca, e os deixarão no terrível dilúvio do pecado do lado de fora?
Os pais, empregadores, maridos, esposas, você tenta conduzir outros na Arca? Você, como Noé, oferece um sacrifício ao Senhor, em que sua família pode participar? Não podemos esperar que nossa casa seja piedosa, se a oração e louvor e ação de graças nunca são ouvidos dentro delas. Uma criança, certa vez perguntou a seu pai: "Deus está morto?"
"Não", foi a resposta, "por que você pergunta?" "Porque, quando mamãe estava viva, costumava orar a Deus, agora nós nunca o fazemos, e eu pensei que, talvez, Deus estivesse morto, assim como a mamãe." Ó, irmãos, coloquem suas casas sem oração em ordem, reúnam suas famílias para a oração, "venha e toda a sua família na Arca," Deus se lembrou de Noé, Deus vai se lembrar de você.

Tradução e adaptação de um sermão de Harry John Wilmot - Buxton








10 - “Confie nele em todos os momentos." (Salmo 62.8)

A fé é quase como o governo tanto da vida temporal quanto da espiritual; devemos ter fé em Deus para os nossos assuntos terrenos, bem como para os celestiais.
É somente à medida que aprendemos a confiar em Deus para o provimento de toda a nossa necessidade diária que iremos viver acima do mundo.
Nós não devemos ser ociosos, porque isto revelaria que não confiamos em Deus, que trabalha até agora, mas no diabo, que é o pai da preguiça. Não devemos ser imprudentes ou precipitados; que confiam no acaso, e não no Deus vivo, que é Deus cuidadoso e ordeiro. Agindo com toda a prudência e honestidade, estamos confiando de forma simples e inteiramente no Senhor em todos os momentos.
Deixe-me recomendar a você uma vida de confiança em Deus nas coisas temporais. Confiando em Deus, você não será compelido a se entristecer porque você usou meios pecaminosos para enriquecer. Sirva a Deus com integridade, e se você não conseguir nenhum sucesso, pelo menos nenhum pecado irá residir sobre sua consciência.
Confiando em Deus, você não será culpado de contradizer a si mesmo. O que confia na tripulação, navega desta forma hoje, e também depois, como um navio sacudido pelo vento inconstante; mas aquele que confia no Senhor é como um navio movido a vapor, que corta as ondas, desafia o vento, e faz uma brilhante pista prateada atrás de si rumando para o seu porto de destino.
Seja uma pessoa que vive com princípios interiores; nunca se curve aos diferentes costumes da sabedoria mundana. Ande em seu caminho de integridade com passos firmes, e mostre que você é invencivelmente forte na força que a confiança somente em Deus pode conferir. Assim, você será livrado de cuidados ansiosos, você não será incomodado com a má notícia, o seu coração será firme, confiando no Senhor.
Como é agradável flutuar ao longo do córrego da Providência! Não há nenhuma maneira mais abençoada de vida do que uma vida de dependência de um Deus que guarda a aliança.
Nós não temos ansiedades, porque ele tem cuidado de nós; nós não temos nenhum problema, porque lançamos todos os nossos fardos sobre o Senhor.

Texto de Spurgeon traduzido por Silvio Dutra.







11 - A Fé Que nos Vem de Deus

A fé não consiste apenas no assentimento da mente para com a verdade das promessas de Deus. Sem isto, não há fé. Mas isto por si só não é a fé da qual a Bíblia fala.

Esta fé de mero assentimento é a fé que Satanás e os demônios possuem, porque eles sabem e creem que Deus é fiel em cumprir tudo o que tem prometido. E isto lhes causa dor porque não podem deixar de acreditar nisto.

A verdadeira fé além de demandar o assentimento da mente, também exige o consentimento da vontade com toda a palavra revelada de Deus.

O tipo de confiança em Cristo que a fé verdadeira possui é confiança em qualquer circunstância, tendo ou não tendo, sendo honrado ou humilhado, na saúde ou na enfermidade, nas perseguições sofridas por causa da prática ao evangelho e obediência à vontade de Deus.

A fé verdadeira habitando na alma não gera obediência mecânica a Deus, mas por amor a Ele e à sua Palavra, no poder do Espírito Santo.

A fé que nos vem como dom de Deus é purificada e aumentada nas experiências que temos com a fidelidade, amor e poder de Deus em nós, nas tribulações e tentações que sofremos.

Esta fé ilumina a nossa mente e espírito para entendermos a Palavra de Deus.

A fé genuína nos leva a conhecermos a nossa pecaminosidade e a nossa necessidade da aceitação de Cristo para ser a nossa justiça, que é o único meio de sermos livrados da maldição, da condenação eterna e da ira de Deus.

Por tudo o que foi afirmado até este ponto, podemos concluir que a fé não pode ser produzida pela vontade do homem, e por isso é necessário recebê-la como um dom de Deus, que não somente dá a fé, como também a mantém, aumenta e prova para que seja refinada.

Esta fé que é dom de Deus é a única que nos habilita a recebermos a Cristo da forma pela qual convém ser recebido por nós, em todos os aspectos relacionados à nossa justificação, regeneração, santificação, comunhão e tudo o mais que temos por estarmos unidos a Ele pela fé.

Todavia, ainda que uma pequena fé nos habilite a receber a justificação e a regeneração, somente pelo aumento da fé em graus podemos fazer progresso na santificação e no aumento da nossa comunhão com Deus.

Este aumento da fé em graus se refere ao seu fortalecimento, e isto não é obtido por meio de esforço mental para crer na fidelidade de Deus em suas promessas, especialmente em circunstâncias difíceis, mas no fechamento com a vontade Deus, sem recuar ou praticar o que seja do Seu desagrado em toda e qualquer circunstância, por ter sido aperfeiçoado no conhecimento íntimo e pessoal com Jesus Cristo, experimentando de Sua presença fortificadora e consoladora em todas as situações da vida.

Assim, o crescimento na graça, na fé e no conhecimento de Cristo depende de nossas experiências com a Palavra de Deus, sendo aplicada em nossas vidas pelo Espírito Santo, no decurso de nossa jornada terrena.

Portanto, a firmeza nas tentações será tanto maior quanto maior for a nossa fé. Uma fé fraca nos levará a cair até mesmo em pequenas tentações.  







12 - “Volta. E assim por sete vezes.” (I Reis 18.43)

O sucesso é certo quando o Senhor o tem prometido. Embora você possa ter suplicado mês após mês sem evidências de resposta, não é possível que o Senhor seja surdo quando seu povo é sincero numa questão que diz respeito à Sua glória.
O profeta no cume do Carmelo continuou a lutar com Deus, e nunca por um momento deu lugar ao medo de que ele fosse rejeitado nos átrios de Jeová.
Seis vezes o servo voltou, mas em cada ocasião, nenhuma palavra foi dita, apenas "Vá novamente."
Nós não devemos sonhar com incredulidade, mas manter a nossa fé até mesmo setenta vezes sete. A fé manda a esperança voltar e olhar, expectante, do cume do Carmelo, e se nada for visto, ela a envia outra vez. Assim, longe de ser esmagada pelo desapontamento repetido, a fé é animada para pleitear com mais fervor com seu Deus. Ela é mantida humilde, mas não é envergonhada: seus gemidos são mais profundos, e seus suspiros mais veementes, mas ela nunca relaxa nem retira sua mão.
Seria mais agradável à carne e ao sangue ter uma resposta rápida, mas as almas crentes aprenderam a ser submissas, e acham bom esperar pelo Senhor e no Senhor. Respostas adiadas, muitas vezes põem o coração a sondar a si mesmo, e assim levam à contrição e à reforma espiritual: golpes mortais são assim desferidos na corrupção de nossa natureza decaída no pecado, e as câmaras de imagens mentais são purificadas. O grande perigo é que os homens desfaleçam  e percam a bênção.
Leitor, não caia nesse pecado, mas continue em oração e vigie.
Por fim, a pequena nuvem foi vista, a indicação certa de torrentes de chuva, e assim  também com você - certamente será dado o sinal para o bem, e você subirá como um príncipe que prevalece para desfrutar a misericórdia que você buscou.
Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós: o seu poder com Deus não estava em seus próprios méritos. Se a sua oração da fé pôde tanto, por que não a sua? Suplique sob a cobertura do sangue precioso com insistência incessante, e lhe será feito de acordo com seu desejo.

Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido e adaptado por Iza Rainbow









13 - “Tudo é possível ao que crê." (Marcos 9.23)

Muitos cristãos professos estão sempre duvidando e temendo, e desalentados pensam que é esta, necessariamente, a condição dos  crentes.
Isso é um erro, pois "tudo é possível ao que crê", e é possível para nós, alcançarmos um estado no qual haverá a dúvida ou o medo, mas como um pássaro esvoaçando a alma, e nunca permanecendo na mesma.
Quando você lê sobre as elevadas e doces comunhões experimentadas por santos agraciados, você suspira e sussura no recôndito do seu coração: "Ai de mim! isto não é para mim."
Oh alpinista, se tu tens fé, tu porás o teu pé sobre o pináculo ensolarado do templo, porque "tudo é possível ao que crê."
Você ouve sobre proezas que homens santos têm feito para Jesus - pelo que alcançaram testemunho do tê-lo agradado; ouve sobre o quanto eles têm sido semelhantes a ele, como foram capazes de suportar grandes perseguições por causa dele, e você diz: "Ah! Quanto a mim, eu sou apenas um verme, nunca poderei alcançar isto." Mas não há nada que um santo tenha sido que você não possa ser. Não há nenhum crescimento na graça, nenhuma realização espiritual, nenhuma certeza de segurança, nenhuma atribuição de dever, que não estejam abertos para você caso tenha apenas o poder de crer. Deixe de lado a sua veste de saco e cinzas, e suba para a dignidade da sua posição verdadeira, você é pequeno em Israel, porque você se fez assim, não porque haja alguma necessidade para isso.
Não é bom que tu deverias ser achado rastejando no pó, ó filho de um Rei. Eleve-se! O trono de ouro da segurança está esperando por você! A coroa da comunhão com Jesus está pronta para ornamentar a tua fronte. Vista-se de finolinho escarlate, e caminhe suntuosamente todos os dias, porque se cresses, tu poderias comer do melhor; tua terra manaria leite e mel, e a tua alma se fartaria, como de tutano e de gordura.
Reúna feixes dourados da graça, pois eles esperam por ti no campo da fé. "Tudo é possível ao que crê."

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







14 - O Modo Comum de Operação da Fé

Nós temos fartamente exemplificado na Bíblia, em que consiste a vida prática de fé com Deus, notadamente nas muitas batalhas que a nação de Israel teve que travar no Velho Testamento.
Apesar de estarmos na dispensação da graça e nos ser vedado tomarmos da espada aqui, contudo o princípio de operação continua o mesmo, pois se exige de nós que também batalhemos para vermos o cumprimento das promessas de Deus em resposta às nossas orações.
É muito comum a ideia errônea de que basta orarmos, porque tudo o mais é por conta de Deus. Podemos dar vários exemplos sobre isto, porém é mais interessante que o façamos no sentido contrário, a saber, na demonstração prática da interação existente entre a ação sobrenatural do Senhor e os passos que devemos dar, para ver a realização do cumprimento das coisas que formos direcionados pelo Espírito Santo a fazer.
Primeiro, temos esta direção sobre o que deve ser feito. E oramos incessantemente para que Deus dirija os nossos passos e mova os corações daqueles que Ele levantará para solucionar nossos problemas.
Depois saímos em campo para tomar as providências práticas necessárias, sabendo antes de tudo que a nossa paciência, sabedoria e discernimento estarão sendo colocados à prova pelo Senhor, de modo que poderemos encontrar nas portas em que batermos; resistências, e aparentes frustrações, que em vez de nos demoverem de seguir adiante, devem nos estimular a buscar novas alternativas.
É possível que tenhamos a solução imediata logo de início, mas não é desta forma que Deus costuma agir para nos fazer vencer nas questões práticas da vida; senão, de outro modo, não aprenderíamos a ser perseverantes.
Caso Ele fizesse tudo por nós, e nossa parte fosse apenas a de pedir-Lhe, certamente ficaríamos mimados e inexperientes para lidar com os problemas que a vida nos apresenta, inclusive pela oposição que sofremos da parte de espíritos malignos.
Assim, vemos Davi se esforçando, lutando e sofrendo enquanto fugia de Saul, mesmo quando era rei sobre todo o Israel. Ele era um homem de fé, mas sabia que deveria agir e lutar para que as vitórias fossem alcançadas com a ajuda de Deus.
Não pensemos então, que a vida de fé seja cômoda e confortável, e tudo quanto se exige de nós é que apenas confiemos em Deus e fiquemos de braços cruzados esperando que Ele faça tudo por nós sem que precisemos mover sequer uma palha.
Portanto, não duvidemos de Seu cuidado, bondade e ajuda quando as coisas não estiverem acontecendo conforme pensávamos que elas ocorreriam, e por estarmos enfrentando mais resistências do que pensávamos que teríamos que enfrentar, ou dificuldades além do ponto que pensávamos que poderíamos suportar.
Em todo este processo a nossa fé está sendo refinada, e no final, para a nossa a nossa perplexidade e a glória de Deus, veremos que Ele fará muito mais, além do que possamos imaginar.

Você pode ler toda a Bíblia (Velho e Novo Testamento) com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:

http://interpretabiblia.blogspot.com.br/

E sermões, mensagens e estudos bíblicos, relacionados por ordem de assuntos em:

http://evangmenseserm.blogspot.com.br/

Pr Silvio Dutra








15 - Fé, Crer e Confiar

O texto de Habacuque 2.4, no qual se diz que o justo viverá pela sua fé, tem esta palavra “fé” vertida do hebraico emunah, que ocorre em outras 48 passagens do Velho Testamento com o significado de ofício ministerial ou fidelidade, e isto é muito instrutivo para entendermos que a qualidade de fé aludida pelo profeta, e que nos justifica para a vida eterna que está em Cristo Jesus, tem este caráter de fidelidade a Deus e de o servirmos ministerialmente conforme o ofício que tiver designado a nós.
A fé salvífica bíblica, que é um dom de Deus, tem sempre a propriedade de gerar em nós esta ligação com Deus para que o sirvamos em fidelidade.
Daí, etimologicamente, nossa palavra portuguesa fé vem do latim fides, raiz de fidelidade.
Mas no original grego do Novo Testamento temos pistis, cujo sentido é bem mais amplo, pois significa crer, confiar, assentir e concordar com algo como sendo verdadeiro, ficar firme e seguro
Então, sempre que pensarmos na fé, ou falarmos da fé que procede de Deus, devemos ter em conta que não estamos tratando com algo que seja simplesmente nocional, ou uma afirmação de crença em algo ou alguém que não opere eficazmente no nosso interior, e que não nos conduza a buscar um aumento progressivo desta fé, pois ela sempre tem este caráter de busca de crescimento, pois o crescimento na graça e no conhecimento de Jesus é proporcional ao crescimento na fé, porque ela é o instrumento de recepção das graças e da intimidade com Deus.
O povo de Israel nos dias do Velho Testamento, apesar de ser o povo da aliança, e ter recebido a revelação da Palavra de Deus, não chegou a alcançar em sua grande maioria, e em todas as gerações, o descanso de Deus, ou seja, a salvação da alma pela comunhão com Ele, pois segundo o autor de Hebreus, “a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram.”(Hebreus 4.2).
Quantas vezes se afirma no texto bíblico que eles creram em Deus e nos sinais que Ele fazia, e no entanto isto de nada lhes aproveitou porque tinham um fé morta, uma crença nocional, e não uma confiança e certeza interna na pessoa de Deus, que os levasse a observar os Seus mandamentos, a temê-lo e a Sua Palavra, por um firme impulso espiritual em seus corações.
Por isso Deus não se fiava a eles pois bem conhecia a incredulidade dos seus corações. Tinham uma fé de boca mas não de coração.
O apóstolo Paulo ensina em Romanos 10 que é por se crer em Cristo no coração que somos salvos, e não simplesmente por confessar com nossos lábios que Ele é o Salvador e Senhor.
Não é forçoso pois reconhecer que a vida de fé em toda a sua plenitude, em todas as nações da terra, e não apenas em Israel, estava reservada para a dispensação da graça - para a glória e honra de Jesus Cristo, por quem recebemos a bênção de habitação do Espírito que fora prometida desde os dias de Abraão (Gál 3.14).
Esta fé evangélica é fruto do Espírito Santo que habita nos crentes (Gál 4.  ), de modo que pode-se dizer que a rigor, a vida de fé dos crentes esperada por Deus haveria de ter cumprimento somente depois que o Espírito Santo fosse derramado para que o evangelho fosse anunciado em todas as nações. De modo que se afirma em Gálatas  3.23: “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar.”
Temos então a fé no Novo Testamento não apenas ligada à ideia de crer e confiar, pois ela é apresentada como algo que recebemos do alto, algo que não se encontrava inerentemente em nós, algo vivo e operante que realiza toda a dinâmica da vida espiritual e celestial em nós.
Tal é o caráter da fé no Novo Testamento que em muitas passagens bíblicas ela é citada como fé objetiva, a saber, como sendo o próprio sistema do evangelho em toda a sua totalidade, como incorporado à vida do crente, e não apenas como sendo o dom subjetivo que opera no interior do crente levando-o a experimentar o que é espiritual, celestial e divino.
Graças a Deus portanto por nos ter dado Jesus Cristo e esta fé que nos mantém firmemente ligados a Ele em espírito.
Graças a Deus por nos ter dado o Espírito Santo porque é Ele quem opera esta fé em nós. Sem a habitação do Espírito Santo não poderíamos ter esta qualidade de fé que nos desvenda e introduz aos mistérios da pessoa de Deus.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras
1 – pistis (grego) – fé;
2 – pisteuo (grego) – crer, confiar
3 – aman (hebraico) – ser fiel;
4 – emunah (hebraico) – fidelidade, verdade; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.escrita.com.br/escrita/leitura.asp?Texto_ID=33576







16 - Alegria e Paz em Crer

   Parte introdutória de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzida e adaptada pelo Pr Silvio Dutra.

   "O Deus de esperança vos encha de toda alegria e paz no vosso crer." (Romanos 15.13)

    A alegria e a paz são, embora eminentemente desejáveis, não são evidências infalíveis de segurança. Há muitas pessoas que têm grande alegria e muita paz que não são salvas. Sua alegria brota de um erro, e sua paz é a paz falsa que não descansa sobre a rocha da Verdade Divina, mas sobre a areia de sua própria imaginação.
   Eu não devo inferir porque o calor do sol está em tal e tal grau, que, portanto, devo necessariamente saltar de alegria. E, por outro lado, temos tido dias muito frios, e assim, a alegria e a paz são como dias bem ensolarados que vêm para aqueles que não têm fé e que estão no inverno de sua incredulidade, e dias estes que podem nem sempre visitar vocês que creem. Ou se tais dias ensolarados vêm, eles não podem perdurar, pois pode haver tempo frio em alguma tristeza e aflição de espírito, mesmo para uma verdadeira alma que crê em Cristo.
   Entenda que você não deve olhar para a posse da alegria e da paz como sendo uma consequência absolutamente necessária da sua salvação. Um homem pode estar no bote salva-vidas, mas este bote pode ser tão sacudido que ele ainda pode sentir-se extremamente angustiado e pensar que ainda se encontra em perigo. Não é o seu senso de segurança que o torna seguro – ele está seguro porque ele está no bote salva-vidas - se ele está sensato disto ou não. Entenda, então, que a alegria e a paz não são infalíveis ou evidências indispensáveis ​​de segurança, e que elas não são certamente evidências imutáveis.
   Os cristãos mais brilhantes perdem a sua alegria - e alguns daqueles que se destacam bem nas coisas de Deus, e que, no entanto, entretêm muitas suspeitas acerca de si mesmos.
   Alegria e paz são os elementos de um cristão, mas ele está, por vezes fora do seu elemento. Alegria e paz são o seu estado normal, mas há momentos quando, com lutas por dentro e guerras por fora, sua alegria se vai e a sua paz é quebrada. As folhas da árvore provar que a árvore está viva, mas a ausência de folhas não vai provar que a árvore está morta.
   A verdadeira alegria e paz podem ser evidências muito satisfatórios, mas a ausência de alegria e de paz, durante determinadas épocas do ano, muitas vezes pode ser contabilizada em   alguma outra hipótese do que a de não haver fé. E, mais uma vez, peço-vos, queridos amigos, para não buscarem a alegria e a paz como a primeira e principal coisa. Seja vossa oração: "Senhor, dá-me conforto, mas dá-me segurança em primeiro lugar. Impeça que eu ache conforto com exceção de Sua mão direita."
   Acredite que seria melhor para você seguir toda a sua vida na escuridão e terminar na vida eterna e na luz, do que desfrutar muito do que você pensava ser a alegria celeste aqui, e, em seguida, ir para as trevas exteriores, onde há pranto e ranger de dentes. Não andem ansiosos para serem felizes, mas sejam mais ansiosos para serem santos. Sejam desejosos da paz, mas sejam mais desejosos, ainda, de ter uma boa esperança através de Cristo - Aquele através do qual a paz pode fluir.

(Nota do tradutor: Entendemos, portanto, que a alegria e a paz que eram esperadas pelo apóstolo que fossem concedidas por Deus àqueles que creem em Cristo, são aquelas que são decorrentes da esperança que temos por meio da fé no Senhor, a qual é firme e segura (Hb 6.18,19); por conseguinte, são constantes e eternas, independentemente de nossas circunstâncias presentes – daí o apóstolo se referir a Deus no texto de Romanos 5.13, como sendo o Deus de esperança. Não se trata de uma alegria e paz que são geradas por nós mesmos, por nossos sentimentos e emoções, mas a certeza interior da bem-aventurança que recebemos da parte de Deus pela Sua graça e misericórdia, e mediante e simplesmente pela nossa fé em Cristo – alegria e paz que percebemos que possuímos quando andamos por fé e não por vista – daí o apóstolo afirmar que isto nos é concedido no nosso crer – alegria e paz que são fruto do Espírito Santo, e cuja evidência atestamos portanto, quando andamos no Espírito.)







17 - A Fé Atua Pelo Amor

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"A fé que atua pelo amor." (Gálatas 5.6)

Todas as formas de justificação pelas obras humanas e as formas exteriores são deixadas de lado pelo Apóstolo. Em uma única frase ele fecha cada estrada que é moldada pelo homem e abre o caminho do Senhor, o único caminho da salvação que é pela graça mediante a fé em Cristo Jesus.
Alguns esperam ser salvos pelo ritualismo, mas suas esperanças são quebradas com estas palavras: "nem a circuncisão para nada aproveita." Por outro lado, muitos estão confiando em sua liberdade de todas as cerimônias e colocam a sua confiança em uma espécie de anti-ritualismo, eles são atingidos pelas palavras, "nem a incircuncisão."
Se pensarmos que as coisas exteriores irão nos salvar porque elas são biblicamente simples, vamos errar tanto quanto aqueles que multiplicam os seus cultos lindos e procissões pomposas. Paulo diz: "nem a circuncisão para nada aproveita", mas ele não para por aí, pois acrescenta, "nem a incircuncisão." O exterior, seja decorado ou sem adornos, seja fixo ou livre, não pode salvar - a única coisa que pode nos salvar é a fé em Jesus Cristo, a quem Deus propôs como propiciação pelo pecado.
A fé nos põe em contato com a fonte de cura e por isso a nossa doença natural é removida. Ela se apropria, em nosso favor, do resultado do serviço e sacrifício do Redentor e por isso nos tornamos aceitos nEle. Mas qualquer coisa menos do que isso deve ser deixada - isto é o rompimento do vestuário, enquanto o coração está inquebrantável - a lavagem do exterior do copo e do prato, enquanto a parte interna está cheia de imundícia. O Apóstolo, no entanto, faz mais do que simplesmente condenar outros fundamentos além do da fé, pois distingue aqui entre a fé, em si, e suas muitas imitações. Não é todo o tipo de fé que vai salvar a alma.
A verdadeira fé, sem dúvida, salvará um homem ainda que ela seja como um grão de mostarda. Mas deve ser a verdadeira fé - a prata genuína e não um mero artigo banhado em prata. "O dinheiro responde a todas as coisas", diz o sábio, mas então deve ser a moeda corrente do reino, porque o dinheiro falso para nada servirá, exceto para condenar o homem que o tem em sua posse! A verdadeira fé nos salvará, mas falsificações irão aumentar a nossa conta e risco. A Segurança é de Deus, mas a presunção é do diabo. A prova da verdadeira fé é que ela trabalha - "a fé que atua", diz o texto. Para o efeito, deve, antes de tudo, ser viva, pois está claro que uma fé morta não pode trabalhar. Deve haver coração em nossa fé e o sopro do Espírito de Deus nela, ou não será a fé viva de um filho vivo de Deus.
Sendo viva, a verdadeira fé não dormirá, mas deve estar desperta, uma vez que o sono é um primo da morte. A fé torna-se ativa e vigilante, e em sua atividade encontra-se muito de sua prova. "Pelos seus frutos os conhecereis" é uma das próprias regras de Cristo para os homens – conhecemos a fé por aquilo que resulta dela - pelo que ela faz por nós e em nós e através de nós. Não vale a pena ter fé, se é infrutífera. Ela tem um nome de que vive mas está morta. Se ela não funciona não pode justificar a sua posse. Um deus morto pode ser servido por uma fé morta, mas apenas uma viva, despertada e atuante fé pode agradar ao sempre vivo e operante Jeová.
"Não foi somente por palavras que custou ao Senhor comprar o perdão para o seu povo. Tampouco será uma alma restaurada somente por palavras do Salvador.”
Uma outra distinção também é apresentada, ou seja, que a verdadeira fé "opera pelo amor." Há alguns que fazem muitas obras como o resultado de uma espécie de fé que, no entanto, não são justificados. Como por exemplo, Herodes, que acreditou em João e fez muitas coisas e ainda matou seu ministro. Sua fé funcionou, mas funcionou por medo e não por amor e ele temia a linguagem do segundo Elias e os julgamentos que viriam sobre ele se ele rejeitasse as suas advertências, e assim sua fé trabalhou através do medo.
O grande teste do funcionamento da fé salvadora é este: que "opera pelo amor." Se você é conduzido por sua fé em Jesus Cristo por amá-Lo e assim servi-Lo, então você tem a fé dos eleitos de Deus. Você é, então, sem dúvida, um homem salvo e pode seguir o seu caminho e se alegrar na liberdade com que Cristo o libertou.
Será uma alegria para você servir ao Senhor, porque o amor é a mola mestra do seu serviço.
Então, a FÉ sempre produz AMOR - "A fé que opera pelo amor."  As duas graças divinas são inseparáveis. Como Maria e Marta, elas são irmãs e permanecem juntas em sua casa. A fé, como Maria, senta-se aos pés de Jesus e ouve as Suas palavras e então o amor vai atuar diligentemente sobre a casa e alegrar-se em honrar o Senhor Divino. A fé é a luz, enquanto o amor é o calor e em cada feixe da Graça do Sol da Justiça, você vai encontrar uma medida de cada um. A verdadeira fé em Deus não pode existir sem o amor a Ele, nem o amor sincero, sem a fé. Eles estão unidos como gêmeos siameses, e onde você encontra um pode ter a certeza de que o outro está presente.
Isso acontece por uma necessidade da própria natureza da fé. No momento em que um homem crê em Jesus Cristo, ele o adora em consequência disto. Porque confiar no Cordeiro que sangrou por nós e não amá-lo é uma coisa que não se pode imaginar!
Assim, a fé recebe as promessas e o amor alimenta o fruto delas. Ela faz isso ainda mais docemente pela familiaridade com Deus que ela gera no coração, pois a fé é o hábito de ir a Deus com todas as suas carga e volta com a sua carga removida. A fé tem a prática diária de suplicar promessas junto a Deus, falar com Ele face a face como um homem fala com seu amigo e recebe favores da mão direita do Altíssimo! A fé começa com Deus pela manhã, como Abraão fez, e caminha com Ele no campo à noite, como Isaque. A fé abriga-se com Deus como a andorinha que construiu seu ninho sob o beiral do telhado do templo. A vida da fé está em Deus, assim como a vida de um peixe está no mar.
O seio de Jesus Cristo é o travesseiro da fé e o coração de Deus é o pavilhão da fé. Porque a fé assim nos mantém perto de Deus, que nos leva a amá-Lo. Oh, pobre alma cega, se você pudesse ver Jesus, você iria amá-Lo! Vocês que mais se opõem a Ele se tornariam Seus amigos! Não é possível para um crente estar na companhia de Cristo por uma hora que seja sem sentir seu coração aquecido.
Porque a fé, portanto, faz-nos familiarizados com o nosso Senhor Divino, deve inevitavelmente produzir amor na alma.
Assim, o santo e o Salvador crescem unidos depois de anos de convivência –crescemos nEle em todas as coisas, pois é a Cabeça. Oh que nossa semelhança a Cristo seja tão clara e completa como nossa semelhança com os nossos queridos companheiros aqui embaixo! Você vê como o amor é assim nutrido na alma por uma semelhança cada vez maior de disposição. Onde quer que haja simpatia de gosto, mente, visão, e espírito, o amor torna-se forte e bem estabelecido. E, assim, a fé, por gerar em nós semelhança a Cristo, leva-nos a amar a Cristo para se tornar um grande poder na alma!
O amor deve ser livre, ele não pode ser comprado ou forçado. Se você crê, você vai adorar. Se você não crê, nunca vai amar até que você creia. Vá à raiz da questão. Não tente fazer crescer o jacinto de amor sem o bulbo da fé.
Deixe-me agora fazer uma observação – o AMOR é totalmente dependente da FÉ. "A fé que atua pelo amor." O amor, então, não funciona por si só, exceto na força da fé. O amor é tão inteiramente dependente da fé que, como eu já disse, não pode existir sem ela! Pode haver uma admiração do caráter de Cristo, mas a emoção que a Escritura trata como "amor", só vem ao coração quando nós confiamos em Jesus. "Nós amamos porque Ele nos amou primeiro." O amor a Jesus não pode existir sem a fé nEle.
Certamente o amor não pode desabrochar exceto quando a fé floresce. Se você duvidar de seu Senhor, você vai pensar em coisas duras acerca dEle e deixará de amá-lo como deveria. Se você cair em apuros e você duvidar de Sua sabedoria, ou da Sua bondade, a próxima coisa que vai ocorrer é que seu coração vai ficar frio em relação a Ele - você vai começar a pensar que seu Senhor é tirânico e cruel contigo e lutará com Ele. As duas Graças devem diminuir ou aumentar juntas! Se você alcançar uma confiança simples e infantil que se apoia em Cristo como um bebê no colo de sua mãe repousa inteiramente no seu cuidado, então o seu amor será perfeito!
Como Jesus nos amou, assim também devemos amar uns aos outros. E como Ele amou o Pai e por amor do Pai, que Ele pudesse glorificá-Lo, cumprindo a Lei e fazendo-se um sacrifício por nós, assim também, devemos estar dispostos a dar nossa vida pelos irmãos e para a glória e honra do Pai.
 O amor é a essência de toda boa obra. Se há alguma virtude, zelo, consagração ou santa ousadia, sua essência é o amor. Todas as grandes obras que os heróis da Cruz apresentaram são compostas do metal sólido de amor a Jesus Cristo. Seja ela grande ou pequena, aquele que tem servido a Deus corretamente sempre trouxe para dentro do santuário uma oferenda de amor puro comparável ao ouro de Ofir.
A falta de confiança mútua na vida conjugal é a morte do amor, mas o amor expulsa qualquer suspeita relativa ao amado querido e fiel. Mesmo quando se supõe que há um erro, o amor o coloca para baixo e conclui que pode haver uma sensação de que ele está certo, pois o amor tudo crê, tudo suporta e não vai tolerar a desconfiança que sabe ser um verme no âmago do coração. Então você vê, onde há um grande amor de Cristo, que proíbe a dúvida e, assim, mata as raposas de desconfiança que estragam as vinhas da fé. O amor a Jesus sente que seria melhor desconfiar de todos os homens e anjos do que duvidar do querido Redentor, que derramou Seu sangue para provar o seu amor!  Além disso, o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo tem tormento e o perfeito amor lança fora o medo - a fé tem espaço para mostrar a sua força. O amor não aprendeu a ter medo, nem vai permitir que o trabalho da fé diminua e se torne o trabalho de um escravo.
O amor dá coragem e é ainda muito reverente – reverência familiar. Calafrios não são para os filhos de Deus – eles são chamados à íntima comunhão com o Pai celestial e o lugar de encontro deles não é no Sinai, mas no Calvário!
Oh Amado, esta é a alegria do amor, que nos traz a tão estreita comunhão pessoal com Deus em Jesus Cristo! Estamos familiarizados com Ele e confiamos nEle implicitamente. Oh, queridos amigos, confiem no seu Deus em tudo! Confiem nEle nas pequenas coisas! Confiem nEle em grandes coisas! Confiem nEle em suas alegrias para mantê-los sóbrios! Confiem nEle em suas tristezas para mantê-los livres de desespero!







18 - Como Vem a Fé

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra de testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito. Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam-lhe que permanecesse com eles; e ficou ali dois dias. Muitos outros creram nele por causa da sua palavra, e diziam à mulher: já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo. (João 4.39-42)

Onde existe fé, é dom de Deus. É uma planta que nunca brota espontaneamente do solo da natureza humana corrompida. Quer se trate de pouca fé ou uma grande fé, é igualmente de origem divina, e onde quer que seja encontrada: se no filho de pais piedosos que foi criado com o maior cuidado, ou em alguém que viveu toda a primeira parte de sua vida no mais vil pecado é igualmente o fruto do Espírito Santo, e o efeito da Graça de Deus.
Lançando os olhos sobre todo o mapa da Palestina, poderia ser dito que Samaria era provavelmente um lugar tão improvável como qualquer outro em todo o país no qual pudéssemos esperar encontrar seguidores do Senhor Jesus, pois, os samaritanos, por preconceito, não acreditariam em um judeu.
Eles nem sequer ouviam um judeu, pois, enquanto os judeus não se comunicavam com os samaritanos, os samaritanos retribuíam o sentimento e não tinham relações com eles. No entanto, foi entre os samaritanos, em que o judaísmo se deteriorou, que Cristo encontrou um grande número de seus seguidores!
O Senhor sabe que o solo onde a semente do Reino é semeada pode estar na melhor condição para a fecundidade, mesmo quando imaginamos que não pode nos dar qualquer retorno para o nosso trabalho. Se a fé é a obra de Deus, uma coisa sobrenatural, como certamente é, o que você tem e eu de julgarmos de acordo com as aparências naturais?
A fé genuína pode, por timidez, ficar escondida por um tempo, ou, possivelmente, o amor carnal pode levar alguns a esconderem a sua fé em Cristo. Mas é da própria natureza da fé que ela deve fazer a sua aparição conhecida e sentida.
Nosso Senhor sempre colocou, lado a lado com a fé que salva, o dever de confissão de fé. Suas palavras são: "Aquele que crer e for batizado será salvo." E Paulo, guiado pelo Espírito Santo, escreveu: "Se você confessar com a sua boca o Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se faz confissão para a salvação."
Então, esses samaritanos, quando vieram a crer em Jesus, confessaram sua fé e eles fizeram isso, dizendo: "Agora nós acreditamos."
Evidentemente, essas pessoas não receberam o testemunho da mulher, embora outros o fizeram. Eles a ouviram e foram suficientemente movidos por ela para sair e ver o Mestre de quem ela falava, mas eles não foram levados à fé por ela. Talvez eles até lutaram com ela e levantaram questões, mas, enfim, para sua grande alegria, disseram-lhe: "Agora nós acreditamos." Temos deixado a escuridão, a dúvida e a dificuldade. E “agora nós acreditamos."
Creio que havia lágrimas nos olhos daquela pobre mulher quando ela disse aos homens: "Você se lembra que tipo de pessoa   eu costumava ser, e você vê a mudança que foi trabalhada em mim. Você sabe que eu sempre falava diretamente o que eu acreditava, e este homem abençoado, que leu a minha própria alma, é o Cristo! Sei que Ele é. Então, por que você não acredita no que eu digo sobre ele?"
Neste anúncio de fé, eu quero que você observe, também, que foi muito rápido. O Senhor Jesus Cristo esteve naquele lugar, somente durante dois dias, de modo que aqueles que disseram: "Agora, nós acreditamos", devem ter testemunhado muito rapidamente depois que eles acreditaram.
De acordo com o claro ensino da Escritura: "A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus." Mas a fé não é sempre criada no coração do homem pelo mesmo tipo de instrumentalidade. Ela é sempre o fruto do Espírito de Deus, mas opera de maneiras diferentes. Alguns desses samaritanos creram por causa da palavra da mulher e, suponho que na Igreja cristã, um número muito grande deriva sua fé através do poder do Espírito de Deus, a partir do testemunho pessoal de outras pessoas que foram convertidas. Agora olhem, queridos amigos, todos vocês, para esta mulher, e sejam encorajados a usar o seu testemunho pessoal de Cristo! Ela era a mãe espiritual de muitos crentes Samaritanos, no entanto, ela fora uma mulher de mau caráter. Um mau cheiro estivera sobre seu nome, todo mundo em Sicar deve ter olhado para ela como uma pessoa perigosa, de amor inconstante e de falta de maneiras e ainda, depois de ter encontrado Cristo, ela não hesita em dizer a seus vizinhos sobre Ele e Deus não se recusou a abençoar o seu testemunho!
Aqui estava uma pobre mulher caída e ainda, depois de sua conversão, ela se tornou um missionário de Cristo para a cidade de Sicar!
Se você perguntar: "Qual será a minha mensagem?" Deixe sua mensagem ser o seu próprio testemunho pessoal, o que você tem, você mesmo, viu, ouviu, provou, manuseou e sentiu da boa Palavra de Deus. Eu não suponho que essa mulher arrumou um sermão com três divisões, ou que ela tinha uma introdução e uma conclusão e tudo o mais, mas ela só foi aos homens da cidade e disse: "Vinde ver um homem que me disse tudo que eu tenho feito –não é este o Cristo?" Esse era o seu pequeno sermão e quantas vezes ela repetiu uma e outra vez, ela falou e deu à luz o seu testemunho pessoal, e por isso ela trouxe os homens de Sicar a Cristo.
Você vai ter ouvintes atentos quando você falar sobre suas próprias relações com Cristo, as maravilhas que Cristo tem trabalhado em você e para você, e que você pode testemunhar, porque são a sua própria experiência!
 Entretanto, muitos não creram por este meio, senão por ouvirem a Palavra de Deus ungida pelo Espírito, como ocorreu com muitos em Samaria, ao ouvirem o Evangelho de dos próprios lábios de nosso Senhor Jesus Cristo, naqueles dois dias em que havia permanecido com eles.







19 - A Corda e a Caçamba

“Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento”. I Pe 1.15

É a fé que misturada com a boa nova na palavra do evangelho, que produz os efeitos esperados por Deus na transformação do nosso viver.

Portanto, estas duas coisas devem caminhar juntas, a saber: a fé e a Palavra, porque se ajudam mutuamente, porque não há fé sem ouvir a pregação da Palavra, e não há verdadeira pregação da Palavra que não seja acompanhada pela fé.

E esta mistura de fé com Palavra mistura-se também com a alma do crente transformando-se em graça e poder que santificam a sua vida.

Portanto, quando alguém não é santificado na Igreja, não é porque haja falta de poder inerente na própria Palavra, mas porque não há fé naquele que a ouve. Ou então não há nenhuma Palavra verdadeira sendo pregada com vida pela unção do Espírito.

E esta fé não se resume apenas ao ato de crer naquilo que está escrito, nas promessas do Senhor na Bíblia, mas incorporá-las à nossa vida, por uma santa disposição em se consagrar inteiramente
à vontade de Deus para honrá-lo e fazer a Sua vontade.

É requerida, uma união da mente com a verdade da Palavra, para que haja uma verdadeira santidade.

Onde isto não estiver presente as pessoas continuarão vivendo de acordo com suas próprias
imaginações e vontades, sem qualquer conhecimento, verdadeiro experiencial, da vontade de Deus na própria vida.

A mente natural não pode receber os dons de Deus porque se manifestam somente numa mente renovada pelo Espírito, que pode discernir as coisas espirituais.

Daí a necessidade da existência de uma fé viva, operante, ativa, para que se possa conhecer e praticar a vontade de Deus.

A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam. Estas coisas que são esperadas, são também aquelas que se esperam de nós conforme a verdade revelada.

Estão incluídas, também e principalmente, a plena certeza quanto às promessas contidas nas Escrituras, sobre o poder do Espírito que nos transformará e operará toda a vontade de Deus para a Sua Igreja através da nossa instrumentalidade pelo canal da fé.

Não se pode portanto, viver aquilo que Deus espera de nós, sem uma fé autêntica e que seja aumentada cada vez mais em graus.

Porque uma fé pequena não poderá nos conduzir a toda a plenitude de Deus, conforme é a Sua expectativa para todos os Seus filhos.

Devemos ter em consideração que uma fé que aumente em graus destruirá o pecado na mesma proporção do tamanho progressivo que esta fé alcance, e daí entendermos que à medida que avance o tamanho da fé, maior é a intensidade da comunhão com Deus e da santificação da vida.

À medida que ocorre o despojamento progressivo do velho homem, pelo aumento da fé, e pela renovação da mente pela Palavra da verdade, aumenta também a manifestação da nova vida recebida, a vida da nova criatura em Cristo, e isto se traduz em aumento da plenitude de Deus no nosso próprio ser.

Permanecer vivendo na carne, segundo o homem natural, que está em inimizade contra Deus,
impossibilita portanto, o aumento da fé e da santificação.

Pr Silvio Dutra






20 - O Assunto da Fé que é Aprovada por Deus

O assunto da fé verdadeiramente bíblica, que procede como um dom de Deus para nós, está relacionado intimamente ao nosso conhecimento do caráter de Deus e de confiarmos, aceitarmos e praticarmos em nossas próprias vidas a Sua Palavra, mormente no que se refere ao nosso comportamento sendo moldado à semelhança ao de Cristo.
Sem este tipo de fé é impossível agradar a Deus, e é dela que a Bíblia dá testemunho que Ele não tem prazer em todo aquele que não a manifesta em seu viver (Hebreus 10.38).
Temos um bom exemplo da fé de origem divina na pessoa de Abraão, o amigo de Deus e designado como pai da fé dos crentes por causa do seu procedimento modelar em relação à vontade do Senhor.  
Depois do encontro com Melquisedeque, Abraão teve uma visão na qual lhe veio a palavra do Senhor dizendo que não temesse, porque Ele era o seu escudo, isto é, a sua proteção, e, que seu galardão seria grandíssimo.
O Senhor reafirmou a promessa feita, trazendo Abraão para fora de sua tenda, e, mostrando-lhe as estrelas do céu disse que as contasse, caso pudesse; afirmando que sua descendência seria tão  numerosa como aquelas estrelas, de um herdeiro que seria gerado pelo próprio Abraão.
E, contra qualquer tipo de evidência que lhe fosse favorável, Abraão deu crédito às palavras do Senhor, e creu inteiramente no que Ele disse, apesar de nada ter diante de si, senão apenas a promessa que lhe fora feita. A Escritura registra que a fé de Abraão lhe foi imputada como justiça.
A fé de Abraão é, portanto uma fé que descansa nas promessas e no poder de Deus; e não nas evidências e própria capacidade. Este é o tipo de fé que se manifesta na perseverança e confiança, fazendo aquilo que lhe é agradável; é exatamente o tipo de fé viva que salva e justifica, e por isso se diz que isto foi imputado a Abraão como justiça. Daí se dizer que o justo viverá pela fé; e que a salvação é ela graça, mediante a fé.
Mas, observe que não é um tipo qualquer de fé que justifica, mas a mesma qualidade de fé que teve Abraão, cuja autenticidade era evidenciada por suas obras.  
Assim, o que justificou a Abraão não foi sua justiça própria, mas o próprio Deus, com base na fé dele, que permaneceu firme em confiar no Senhor e em Suas promessas, apesar de não ter nada além para crer senão na própria promessa.
Assim, todos os que creem em Cristo são salvos por crerem na promessa que Deus tem feito a Abraão, de abençoar a todos os que estiverem unidos pela fé ao seu descendente, que é Cristo.
Abraão foi justificado pela sua fé, assim como o são todos os verdadeiros cristãos; e é por isso que já não há nenhuma condenação para eles, como se lê em Rom 8.1, e conforme foi predito pelo salmista no Sl 34.22:

“O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam, nenhum será condenado.

Agora, esta fé que é justificadora, é também santificadora, e é por se santificar, em inteira confiança na Palavra do Senhor, em tudo o que a Sua boa tem proferido na Bíblia, para ser praticado voluntariamente, que a alma encontra descanso, paz e alegria.

Porque a incredulidade num único preceito conduzirá a alma as uma condição má de sofrer muitos tormentos e dores, por ter permitido desviar-se de uma completa inteireza de fé e uma boa consciência para com Deus.






21 - Aumento da Fé - a Força de Princípios de Paz

Citações de um sermão de C. H. Spurgeon, traduzidas e adaptadas por Silvio Dutra.

"Os apóstolos disseram ao Senhor, aumenta a nossa fé." (Lucas 17.5)

Nosso último sermão pregado – Vencer o Mal com o Bem - em que eu sinceramente me esforcei para inculcar a doutrina de vencer o mal com o bem e o franco e completo perdão de todas as injúrias que sofremos por causa de Cristo, tem levantado muita discussão. Eu sei que assustou muitos de vocês e que vocês têm muitas perguntas entre si mesmos, assim como se tais preceitos são praticáveis ​​por cristãos comuns. Pelo que eu não estou nada surpreso, porque quando o nosso Senhor pregou a mesma doutrina, seus discípulos ficaram tão espantados que os apóstolos exclamaram com surpresa: "Senhor, aumenta a nossa fé."
Isto é o mais importante neste caso para vermos a conexão do texto, ou você vai deixar de ver a sua importância. Não foi por causa de milagres que os apóstolos buscaram maior fé. Não foi para suportar as provações presentes ou futuras e nem foi para que lhes fosse concedido receber algum misterioso artigo da fé. Sua oração se refere a um dever cotidiano comum ordenado pelo Evangelho - o perdão daqueles que nos fazem o mal, conforme se infere dos versículos anteriores: "Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe." (Lucas 17.3,4).
E foi por ouvir isso que os apóstolos clamaram: "Aumenta a nossa fé." Se vocês, queridos amigos, têm ficado surpresos, com o alto padrão do dever cristão que meu Senhor estabeleceu para vocês, eu somente confio que esta surpresa possa conduzi-los ao mesmo ponto a que levou os primeiros servos do Senhor, e os obrigue a apelarem por ajuda Àquele que emitiu o comando. Ele não vai nos ajudar a andar nos Seus caminhos? Quando sentimos que os Seus mandamentos são extremamente amplos, para quem devemos apelar por ajuda, senão Àquele que é o nosso Líder em toda santa conversão e piedade? Ele não vai recusar a sua ajuda para realizá-lo!
Observe que os apóstolos não o fizeram, porque tinham pecado contra este preceito em ocasiões anteriores, e concluíram que eles não tinham fé. Eles não concluíram que o preceito estava muito acima deles e que, portanto, eles eram incrédulos. O desespero não ajuda o dever cristão! Duvidar de nosso discipulado não vai nos ajudar a obedecer nosso Senhor. Se algum de vocês se cortaram a si mesmos da família da fé, porque ficaram aquém das mais nobres formas de amor cristão, peço-lhe para começar de novo e, em vez de duvidar da existência da sua fé, peça para que seja aumentada. Há uma fonte aberta para o seu passado impuro e poder santificador para sua vida futura!
Nem os discípulos rejeitaram o preceito como totalmente impossível, nem se desculparam com base em suas circunstâncias peculiares que deveriam ser modificadas. Eles não se queixaram de que era esperar demais da natureza humana, nem consideraram o mandamento como única opção para os que habitam em Utopia. Não, eles respeitaram o preceito que os surpreendeu e admiraram a sua virtude. Como fiéis seguidores do Senhor Jesus, se sentiram obrigados a seguir onde Ele apontou o caminho, pois eles acreditavam que Ele era sábio demais para emitir um comando impossível, e também para ensinar um código impraticável de moral e honestidade, de padrão por demais elevado para que qualquer mortal pudesse, em qualquer medida, alcançar. Eles olharam para o Seu comando e eles sentiram tanta confiança nEle, que, em vez de recuarem, resolveram que deveria ser obedecido a todo custo.
Sua determinação era fazer a Sua vontade, mas com a sensação de que eles não poderiam alcançá-la em sua própria força, começaram a orar e a sua oração foi por fé. Eles sentiram que só a fé pode funcionar como uma maravilha do amor paciente! Isto estava muito fora da linha comum de ação e carne e sangue não poderiam realizá-lo - a mera determinação não o alcançaria – a fé deve fazê-lo e até mesmo a fé, em si mesma, necessitaria de reforço ou irá falhar na tentativa. Sentiram também, que o tipo de fé que poderia perdoar até setenta vezes sete deve ser sobrenatural e, portanto, eles disseram ao Senhor: "Aumenta a nossa fé." Eles precisavam de tanta fé quanto Ele poderia dar a fim de que pudessem desempenhar as funções que Ele ordenou.
Amados, imitem o exemplo destes apóstolos! Sempre que vocês sentirem que têm algo a fazer que está além de vocês, parem um momento e façam uma oração por mais força.
Nosso Mestre, em Seu ensino, continuamente conectou o perdão aos outros com o exercício da fé. Nosso Senhor também ensinou que é preciso haver fé na oração, pelo que Ele também insistiu em que a oração deve ser sempre ligada a um espírito de perdão. Na verdade, na oração-modelo, segundo a qual devemos sempre moldar nossas petições, Ele nos ensinou a dizer: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores", ou "Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos os que nos têm ofendido."
Ele nos tem permitido, por assim dizer, estabelecer para nós mesmos a medida do perdão que queremos receber, e que a medida deve ser exatamente aquilo que estamos preparados para dar aos outros. Deus vai nos perdoar na proporção em que estejamos dispostos a perdoar! Se você tem uma culpa que você não pode perdoar, Deus também tem um pecado imperdoável escrito em seu livro contra você. Quero dizer imperdoável, enquanto você permanecer implacável. Se você só vai perdoar lentamente, e depois de uma forma mesquinha, você não pode desfrutar da gratuidade e da generosidade da misericórdia ilimitada de Deus! Então você vê, como nosso Senhor tinha ligado o sucesso na oração, tanto com o perdão quanto com a fé, e Ele havia sugerido o aumento de um tendo em vista a realização do outro.
Nenhum homem pode orar com sucesso, enquanto ele estiver em um estado implacável (imperdoável) de mente. Portanto aquele que ora com sucesso é portanto, um crente que está pronto para perdoar. Quanto mais a fé aumenta mais nos tornamos capazes de ignorar as provocações que suportamos.
Afinal, as façanhas que a maioria de vocês devem realizar não são nem milagres, nem a manutenção de orfanatos, mas atos de amor na vida comum! Vocês não têm que fechar as bocas dos leões, mas vocês têm a tarefa igualmente difícil de fechar suas próprias bocas quando estão em um temperamento irritado! Você não é chamado para extinguir a violência do fogo, exceto quando se queima em sua própria ira! Você não tem que ferir nenhum filisteu, mas os seus próprios pecados, e nem derrubar paredes, mas seus próprios preconceitos!
Devemos crer que Jesus pode transformar nosso temperamento de leão em de cordeiro, e o nossos espírito de corvo em de pomba. E se não temos fé suficiente para isso, devemos orar por isso.
Portanto, ore hoje: "Senhor, aumenta a minha fé, restitui-me mais uma vez a alegria da tua salvação." Quando você retornar de sua apostasia e se alegrar no Senhor de todo o seu coração, você vai achar que é fácil o suficiente perdoar o seu pior inimigo.
O homem que crê, entra em descanso e se torna calmo de espírito. E isso o impede de buscar vinganças mesquinhas. Ele sabe que, aconteça o que acontecer, está tudo certo para sempre. Ele sabe em quem ele tem crido e caminha na integridade do seu coração e, portanto, ele não é um homem que é susceptível de ser irritado facilmente.







22 - Como Pode Haver a Fé Verdadeira Quando Não se Crê na Verdade?

Alguém quando criança, ou então até que tivesse chegado à idade do entendimento, costumava ouvir, na igreja que  costumava frequentar, que o evangelho consistia em que os homens não se dirigissem aos cultos sem usar terno, e que as mulheres não usassem vestidos modernos ou usassem batom, maquiagem, enfim, que não se adornassem, porque isto é um grave pecado diante de Deus.
Dizemos, com apoio nas Escrituras que isto,  e todo tipo de recomendação de igual teor, não é pecado e nem mesmo Evangelho.
O grande problema é que muitos ficam escandalizados, como não poderia ser de modo diferente, com tal tipo de ensino que nada tem a ver com o ensino de Jesus e dos apóstolos, e acabam tendo aversão ao que não chegaram a conhecer de fato, a saber, a genuína mensagem do evangelho e em que consiste a verdadeira vida cristã.
É preciso que cada um, de per si, faça um exame acurado, com espírito reverente, de tudo o que está contido nas Escrituras, e especialmente no Novo Testamento, para que, por meio da instrução do Espírito Santo, uma vez tendo nascido de novo, obtendo uma nova natureza celestial e divina, possa conhecer e viver o que é de fato o Evangelho de Jesus Cristo.
Outro grande impedimento para o acesso à verdadeira fé por parte de muitos, é que deram crédito à grande mentira de que a Bíblia foi inventada pela imaginação dos homens, e que portanto, sendo de autoria humana, está cheia de erros e não corresponde à verdade em relação às coisas que são efetivamente de Deus.
A isto respondemos em primeiro lugar com o próprio Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia (de Gênesis a Deuteronômio) que foram escritos por Moisés, e cuja autoria foi atestada pelo próprio Jesus Cristo, conforme vemos no Evangelho. E quem era este Moisés? Ele foi o escolhido de Deus para conduzir a nação de Israel do Egito para a terra de Canaã, e foi o instrumento ao qual revelou a Sua vontade e a história da criação da humanidade desde o primeiro homem, a queda no pecado, e a forma pela qual o pecador seria resgatado da condenação eterna decorrente do pecado.
Quando nos voltamos para o Novo Testamento, no qual o Velho tem o seu significado e razão, encontramos o próprio Deus, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, revelando-nos que Ele viera a este mundo para que pudéssemos ser livrados pela fé nEle, da condenação do pecado e do diabo, bem como para sermos santificados pelo Espírito Santo e pela Palavra revelada que seria registrada no Novo Testamento, como o temos ainda hoje há cerca de dois mil anos.
E o Novo Testamento foi escrito pelos apóstolos do Senhor, e estes registraram os Seus atos e palavras, e foram diretamente instruídos por Ele acerca do significado do Evangelho que deveriam pregar e ensinar para que os pecadores fossem salvos.
Ora, se rejeitamos portanto, este único ensino que corresponde à exata revelação de Deus, quer através de Moisés, dos profetas que falaram das coisas que se  cumpririam em Cristo, e ainda, do próprio Deus Filho, em pessoa, quando esteve na Terra, encarnando a Verdade e a Graça, que foram comunicadas aos apóstolos por palavras e pelo ensino do Espírito Santo, como poderemos ser salvos?
E ainda, que sentido Jesus faria para alguém que não crê que Ele veio ao mundo para que sejamos justificados, regenerados e santificados, por pensar que não há vida depois da morte, ou mesmo que voltará a reencarnar em outra pessoa no futuro para continuar sendo aperfeiçoado através de sucessivas reencarnações?
Ele veio para remover a nossa culpa no aqui e agora e para sempre. Ele veio para que comecemos a ser santificados desde o momento em que nos convertemos a Ele. Por isso morreu na cruz no nosso lugar e está se oferecendo a si mesmo para ser a nossa JUSTIÇA, para que sejamos justificados diante da santidade absoluta de Deus. É portanto, somente nEle que podemos achar a remissão e o perdão de todos os nossos pecados, e sermos feitos filhos e herdeiros de Deus.
Todos nós estaríamos em grandes trevas eternas, se o próprio Senhor Jesus não nos atraísse a Si, e removesse o nosso endurecimento e cegueira, para que possamos ver e participar das coisas espirituais que são relativas ao Reino de Deus. Graças eternas portanto, ao Seu grande Nome.        








23 - A Fé é uma Caminhada Constante

Dizer simplesmente que se crê ou não em Deus não é algo muito significativo.
Somente crer que Deus existe e não conhecê-lo, em nada muda a minha condição perante ele, e esta é igual às do que afirmam não crerem nele.
Por que isto?
A fé que salva não é mera crença intelectual mas o poderoso dom de Deus que nos converte a ele de todo o nosso coração, e que nos conduz ao seu conhecimento e ao desejo de viver para fazer a sua vontade conforme está revelada na Bíblia.
Sem esta fé salvadora é impossível ter prazer nas coisas divinas, porque elas combatem as paixões da nossa alma e nos conduzem ao processo da santificação operada pelo Espírito Santo.
Por outro lado, a expressão “crer em Deus” ou “crer em Jesus Cristo” foi banalizada e restringida em seu significado, podendo ser aplicada a vários usos generalizados de culto e de adoração.
De modo que uma fórmula mais específica seria a da confissão: “creio no Deus e Jesus da Bíblia”.
A fé no Deus da Bíblia demanda inclusivamente a fé em Cristo, porque ele afirma na mesma Bíblia que:

João 5:22 E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento,
João 5:23 a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou.

João 14:6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.

Concluímos assim que a genuína fé em Deus e em Cristo consiste em caminhar pelo único Caminho que conduz à vida eterna, que é o próprio Cristo, e saberemos que estamos no Caminho quando virmos sendo aplicadas pelo Espírito Santo às nossas vidas o procedimento santo que está revelado nas Escrituras.








24 - Lutero - A Fé que Opera pelo Amor

Por Charles Haddon Spurgeon

 “Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor.” (Gálatas 5.6)

Paulo faz uma varredura no ato de confiar no exterior da religião, que é a tentação comum de todos os tempos. A circuncisão foi algo grandioso para os judeus e, muitas vezes, eles confiavam nela. Mas Paulo declara que ela de nada aproveita. Poderia haver outras pessoas que estivessem contentes por não serem judeus, mas Paulo declara que sua incircuncisão não lhes aproveitaria mais do que o seu oposto! Determinadas questões relacionadas com a piedade são externas e, ainda assim, úteis, quando em seus devidos lugares, especialmente como no caso do Batismo e da Ceia do Senhor, como a reunião de nossa congregação, a leitura da Palavra de Deus, e oração e louvores públicos. Essas coisas são adequadas e proveitosas, mas nenhuma delas deve ser feita, em qualquer medida ou grau, como fundamento da nossa esperança de Salvação, pois este texto as descarta, e claramente descreve que elas de nada aproveitam, se são feitas de modo a serem os fundamentos de nossa fé.
Nos dias de Lutero, a confiança supersticiosa em observâncias externas havia suplantado a Fé no Evangelho. Cerimônias se multiplicaram excessivamente sob a autoridade do papa. Missas eram realizadas às almas no “purgatório”, e homens vendiam indulgências para o pecado em plena luz do dia! Quando Deus ergueu Martinho Lutero, que nasceu há quatro séculos, ele testemunhou enfaticamente contra a salvação por meios  externos e pelo poder do sacerdócio, afirmando que a Salvação se dá pela Fé, e esta sozinha, e que toda a Igreja de Deus é uma junção de sacerdotes, sendo cada crente um sacerdote diante de Deus.
Se Lutero assim não houvesse afirmado, tal doutrina teria sido tão verdadeira quanto, posto que a distinção entre clérigos e leigos não encontra qualquer amparo na Escritura, que chama aos santos de “kleros” de Deus – clérigos de Deus – ou herança de Deus. Novamente, lemos: “Vós sois sacerdócio real”. Cada um que crê no Senhor Jesus Cristo é ungido para exercer o sacerdócio cristão e, portanto, não precisa colocar sua confiança em outro sacerdote, sendo o suposto “padre” não mais que qualquer outro homem. Cada homem dará conta de si mesmo perante Deus. Cada um deve, individualmente, ler e pesquisar as Escrituras, e deve acreditar em proveito de si próprio – e, quando salvo, deve se oferecer como sacrifício vivo a Deus por Jesus Cristo, que é o único Sumo Sacerdote de nossa profissão.
Basta do aspecto negativo do texto, que é cheio de alertas para essa época ritualística. O principal testemunho de nosso grande reformador é de que a Justificação de um pecador, aos olhos de Deus, se dá pela Fé em Jesus Cristo, e nisso somente. Ele poderia perfeitamente ter feito disso o seu lema: “Em Jesus Cristo, nem a circuncisão se aproveita para nada, nem a incircuncisão, mas a fé que trabalha por amor.” Ele estava no mosteiro agostiniano de Wittenberg, sendo incomodado e perturbado pela sua consciência, e lá estava, em uma velha Bíblia latina, este texto: “O justo viverá pela fé.” Era uma idéia nova para ele, e por seus meios, a luz espiritual entrou em sua alma em certa medida. Mas foram tantos os preconceitos de sua educação, e tamanha escuridão que o cercava, que ele ainda esperava encontrar salvação por meios externos.
Assim, Lutero jejuou por muito tempo, até que foi encontrado desmaiado de fome. Ele era extremamente zeloso com a salvação pelas obras. Por fim, ele fez uma peregrinação a Roma, esperando encontrar, ali, tudo o que lhe fosse santo e útil. Ele ficou desapontado em sua busca, mas ainda assim, encontrou lá mais do que procurava. Na falsa Escadaria de Pilatos, enquanto a subia de joelhos, o texto de Wittenberg novamente soou em seus ouvidos como uma trovoada – “O justo viverá pela fé.” Então, ele começou a descer as escadas, para nunca mais rastejar sobre elas! As cadeias foram quebradas, sua alma fora liberta! Lutero havia encontrado a Luz de Deus e, a partir daquele dia, sua vida passou a ser direcionada a iluminar as nações, clamando sempre: “O justo viverá pela fé”.
A melhor homenagem que eu posso fazer para este homem é pregar a Doutrina que ele tanto estimava. E vocês, assim salvos, também podem me auxiliar, acreditando nesta doutrina, provando a verdade dela em suas próprias vidas. Que o Espírito Santo faça com que assim seja com centenas de pessoas!

I. Primeiro, vamos perguntar O QUE É ESTA FÉ? Nós sempre falamos dela, mas o que ela é? Sempre que eu tento explicá-la, eu tenho medo de confundir ainda mais, ao invés de explaná-la.
Há uma história contada a respeito de “O Peregrino”, de John Bunyan. O bom Thomas Scott, seu comentador, escreveu notas para este livro. Ele pensou que o “O Peregrino” era muito complicado, e ele o deixaria claro. Uma piedosa camponesa de sua paróquia possuía o livro, e ela o estava lendo quando seu ministro a chamou. Scott disse para ela: “oh, eu vejo que você está lendo ‘O Peregrino’, de Bunyan. Você consegue entendê-lo?” Ela respondeu, inocentemente: “Sim, senhor, eu entendo o Sr. Bunyan muito bem, mas espero que um dia seja capaz de entender suas explicações”. Tenho com medo de que você talvez diga, quando eu terminar, “eu entendo o que é a Fé da forma em que eu a encontro na Bíblia, e talvez um dia eu seja capaz de entender a explicação do pastor sobre ela”. Assim advertido, vou me expressar do modo mais simples que conseguir!
E, primeiro, preciso lembrar-lhes que a Fé não é simplesmente um credo. É muito bom dizer: “creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra”, e assim por diante. Mas você pode repetir tudo isso e não ser um “crente”, no sentido escriturístico do termo. Apesar de verdadeira, tal crença pode não sê-la para você – teria o mesmo efeito em você se o oposto fosse verdadeiro, para que você a pusesse de lado, num armário, e não fizesse efeito algum sobre você. “Uma doutrina muito adequada”, você diz, “uma doutrina muito boa”, e assim você a põe de lado, guardada. Não tem qualquer influência sobre o seu coração, nem afeta a sua vida.
Não imagine que professar um credo ortodoxo é o mesmo que ter Fé em Cristo! Um credo verdadeiro é desejado por muitos motivos, mas se for algo morto, inoperante, esse credo não pode trazer salvação. Ter Fé é crer nas verdades de Deus, e ainda mais. Novamente, a Fé não é a mera crença de que existe um Deus, apesar de que devemoster essa crença, pois não podemos chegar a Deus, exceto “crendo que Ele existe, e que Ele é galardoador daqueles que O buscam.” Devemos acreditar em Deus – que Ele é bom, abençoador, verdadeiro, justo e, portanto, confiável e louvável. No que quer que Ele faça, ou que Ele diga, não se deve questioná-lO, mas n’Ele acreditar.
Você sabe o que é confiar num homem, não sabe? Acreditar num homem, seguí-lo, nele confiar e aceitar seu conselho? Do mesmo modo, a Fé acredita em Deus – não só que Ele existe, mas encontra descanso em Seus atributos, Seu Filho, Sua Promessa, Sua Aliança, Sua Palavra, e tudo mais sobre Ele. A Fé, de forma animada e amorosa, confia em seu Deus acima de tudo! Especialmente, devemos acreditar no que Deus nos revelou nas Escrituras – que é verdadeira e, de fato, um testemunho certo e infalível a ser recebido, sem qualquer questionamento. Nós aceitamos o testemunho do Pai a respeito de Jesus e o tratamos “como a uma luz que brilha em lugar escuro.” A Fé deve especialmente acreditar n’Aquele que é a soma e substância de toda a Revelação, Jesus Cristo, que se tornou Deus em carne humana, a fim de redimir nossa natureza decaída de todos os males do pecado, e elevá-la à felicidade eterna.
Nós cremos em Cristo, por Cristo, e sobre Cristo – aceitando-o por causa do registro que Deus nos deu acerca de seu Filho – de que Ele é a propiciação pelos nossos pecados. Aceitamos a indizível dádiva de Deus, e recebemos Jesus como nosso tudo. Se eu quisesse descrever a Fé salvadora em uma só palavra, eu diria que é confiar. É crendo em Deus e, assim, acreditando em Cristo, que confiamos a nós mesmos, bem como nosso destino eterno, nas mãos de um Deus reconciliado. Como criaturas, erguemos nossas vistas ao grande Pai dos Espíritos. Como pecadores, confiamos, para o perdão de nossos pecados, à expiação de Jesus Cristo. Sendo fracos e frágeis, confiamos no poder do Espírito Santo para nos fazer santos e, assim, nos manter. Arriscamos nossos interesses eternos no barco da Graça, contentes em nadar ou afundar com ele. Nós confiamos em Deus por Cristo.
A palavra empregada para expor a Fé nas Escrituras, por vezes, significa inclinar-se. Nós nos inclinamos, com todo o nosso peso, em nosso Deus, por Jesus Cristo. Nós nos penduramos sobre Cristo tal qual um vaso suspenso por um prego. “Descanso” era um dos termos pelo qual os antigos puritanos descreviam a Fé – repousar, ou inclinar-se sobre algo que não nós mesmos. Culpado como sou, acredito na palavra de Deus, que diz que “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” Saber que, pelo Sangue, eu sei que estou limpo de todo pecado. Deus estabelece Cristo para ser uma propiciação – nós cremos que Ele é a propiciação e o tomamos para ser nossa propiciação. Por esta apropriação, nossos pecados são cobertos e nós somos libertos! A Fé é o apego, a apropriação, o recebimento para si mesmo do Senhor Jesus Cristo.
Às vezes eu ilustro isto por meio dessa passagem de Paulo, onde ele diz: “A palavra está perto de ti, na tua boca.” Quando um alimento está em sua boca, se você tiver vontade de possuí-lo de modo a nunca mais perdê-lo, qual é a melhor coisa a fazer? Engoli-lo! Deixe-o entrar em seu interior. Ora, a palavra que pregamos está, segundo o Apóstolo, “na boca”; devemos, então, pela graça de Deus, experimentá-la, para que ela vá para nosso coração, e descobriremos a Verdade, “com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.” Essa é a Fé que salva a alma.


II. Em segundo lugar, consideraremos POR QUE A FÉ FOI ESCOLHIDA COMO MEIO DE SALVAÇÃO. Gostaria de lembrar que, se não pudermos responder a essa pergunta, não há qualquer problema – desde que o Senhor escolheu o crer como meio de Graça, não cabe a nós contestarmos Sua escolha. Os mendigos não devem escolher! Confiemos, se assim ordena o Senhor. Mas de certo modo podemos responder a essa pergunta. Primeiro, é claro que nenhuma outra maneira é possível. Não nos é possível sermos salvos por nossos próprios méritos, já que violamos a Lei de Deus, e a obediência futura, sendo devida desde já, não pode compensar os defeitos do passado.

“Minhas lágrimas podem cair eternamente,
Meu zelo pode não conhecer descanso,
Tudo não poderia expiar o pecado
Você deve salvar, e você sozinho.”

O caminho das boas obras está bloqueado pelos nossos pecados passados, bem como a certeza de ser ainda mais obstruído pelos nossos futuros pecados – nós devemos, portanto, nos alegrar por Deus ter escolhido para nós a estrada aberta da Fé! Deus escolheu o caminho da Fé, que é a salvação pela Graça Divina. Se tivéssemos que fazer algo para salvar a nós mesmos, teríamos a certeza de imputar uma porção de virtudes para o nosso feito, ou ainda bons sentimentos, ou orações, ou atos de caridade e, assim, nós diminuiríamos a pura Graça de Deus. Mas a salvação vem de Deus como um puro ato de favor – uma imerecida generosidade e benevolência – e o Senhor, portanto, apenas a coloca na mão da Fé, porque esta nada arroga para si mesma. A Fé, na realidade, repudia toda a ideia de mérito, e o Senhor da Graça, portanto, opta por colocar o tesouro de Seu amor nas mãos da Fé.
Novamente, é pela Fé que não pode se jactanciar, porque se a nossa salvação está do nosso fazer ou em nosso sentir, temos a certeza da glória. Mas se é pela Fé, não podemos ter glória em nós mesmos. “Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? Das obras? Não; pelo contrário, pela lei da fé.” A Fé é humilde e atribui todo louvor a Deus. A Fé é verdadeira e confessa sua obrigação para com a Graça Soberana de Deus. Eu bendigo o Senhor por ter escolhido este caminho da Fé, por ser tão adequado para os pobres pecadores. Alguns entre nós, esta noite, nunca teriam sido salvos se a salvação só tivesse sido preparada para os que são bons e justos. Eu estou, diante do meu Deus, culpado e auto-condenado.
Nenhum jovem jamais teve um sentido de culpa mais aguçado do que eu tinha. Quando eu me reconheci culpado pelos meus pecados, eu vi os meus pensamentos e desejos do meu ego e do meu ser e querer ser vãos aos olhos de Deus – e eu também me tornei vil aos meus próprios olhos. Fui levado ao desespero, e eu sei que jamais poderia ter sido confortado por qualquer plano de salvação, exceto aquele da Fé. O Pacto de Obras, por causa da nossa fraqueza, não nos confere de forma alguma esperança, em qualquer momento, e em certas circunstâncias, vemos isso muito claramente. Suponha que você estivesse à beira da morte. Que boas obras você poderia fazer? Lá, morrendo, o ladrão descobriu aquilo de bom que, pela Fé, poderia confiar no Crucificado – e, antes do pôr do sol, poderia estar com Ele no Paraíso! A Fé é uma forma adequada para os pecadores, especialmente para os pecadores que estão prestes a morrer!
Em certo sentido, estamos todos nessa condição, e alguns de nós, talvez, estejam especialmente assim. Qual homem entre nós sabe se ele vai ver o amanhecer de amanhã? Louvo a Deus, mais uma vez, que o caminho da salvação seja pela Fé, porque é um caminho aberto até para o mais inculto. Nessa teologia que temos hoje – a de pensamentos profundos, eles a chamam, os homens descem tão profundamente em seus assuntos e, dessa forma, agitam a lama do fundo, de modo que nem você pode vê-los, nem eles podem ver a si mesmos! Eu receio que nem os professores dessa escola, eles próprios, sabem do que estão falando. Agora, se a salvação fosse apenas para ser aprendida pela leitura, através de páginas enormes, o que seria de multidões de pobres almas em Bow, Bethuel Green e Seven Dials? Se o Evangelho consistisse em uma massa de aprendizagem, como poderia o inculto ser salvo? Mas, agora, podemos ir a cada um deles e dizer: “Jesus morreu” –

“Há vida em olhar ao Crucificado!
Há vida, neste momento, para você!”

Mesmo sendo pouco o seu conhecimento, você sabe que tem pecado. Saiba, então, que Jesus veio para aniquilar o pecado, e que quem nele crê é imediatamente perdoado e entra para a vida eterna. Este breve e bendito Evangelho é adequado para qualquer pessoa, de príncipes a camponeses, e não me admira que a Fé foi escolhida como o caminho da salvação.

III. Nesse momento, essa noite, em terceiro lugar, quero dizer algo bom sobre uma outra questão – COMO A FÉ OPERA? Pois, de acordo com o nosso texto, é: “A fé que opera pelo amor”. É uma Fé que vive, trabalha, ama, e que, sozinha, salva a alma. Eu não posso lhe dizer das duras coisas que tenho ouvido falar sobre essa doutrina da salvação pela Fé. Eles dizem que é imoral. Tenho ouvido homens imorais dizerem isso e, certamente, eles têm propriedade no assunto! Dizem que essa doutrina leva ao pecado, e aqueles que assim afirmam estariam, a meu ver, bastante satisfeitos com isso por este motivo mesmo, se eles acreditassem nessa sua própria declaração. Eu nunca ouvi um santo condenar sua Fé por levá-lo ao pecado. Eu sei que em nenhum homem que segue a Deus, e vive perto dEle, que está sob Seu temor, a Fé em Deus vai tentá-lo ao pecado!
Na realidade, a Fé não faz nada disso! A Fé age fazendo justamente o inverso. Como a esposa prudente, em Provérbios, a Fé vai edificar um bom homem, e não o prejudicar todos os dias da sua vida. Primeiro, ela toca as engrenagens de nossa natureza, criando o amor dentro da alma. O que seria necessário, agora, para as classes degradadas de Londres? Regulamentos sanitários? Pode ser, se eles não forem só como que letras mortas para quem precisa deles na sua execução. Casas novas? De todos os tipos, por todos os meios – quanto mais, melhor. Aluguéis mais baixos? Com certeza, pois ninguém tem o direito de cobrar altos preços por acomodações insalubres. Salários mais altos? Certamente, poderíamos nos virar muito melhor com um pouco mais.
Outras coisas mais são necessárias. Enquanto num dado local existem palácios nas esquinas, você não vai progredir muito exaltando as massas, e eu acredito que os bares continuarão cheios enquanto ainda houver gosto pela bebida. Suponha que essas lojas, com licença para vender bebidas, fossem fechadas – isso bastaria? Acho que não. Há homens e mulheres em Londres, milhares deles, que, se fossem colocados em casas mais limpas, a quilômetros de distância de um bar, ainda beberiam e ainda transformariam suas casas em pocilgas! O que é necessário? Oh, se você pudesse fazer deles cristãos! Suponha que eles pudessem nascer de novo. Suponha que eles passassem a amar as coisas que agora odeiam, e a odiar as coisas que agora amam. Novos corações e espíritos retos são a necessidade dos párias de Londres!
Como tais coisas podem ser produzidas? Pela mão de Deus, com o Espírito Santo – é exatamente assim que a Fé opera no coração! Imaginemos que aqui está um relógio. “Ele precisa ser limpo.” Sim, limpe-o. “Ele não funciona; precisa de um novo cristal.” Bem, coloque-no um novo cristal. “Ainda assim, não funciona. Ele precisa de novos ponteiros.” Ache um jeito de dar-lhe novos ponteiros! Ainda assim, não funciona. Qual é o problema dele então? O fabricante diz que ele precisa de um novo motor. Há uma fonte para o mal – nada pode estar certo até que ele seja consertado. Conserte tudo o mais, mas não esqueça de que o motor é a parte mais importante! A Fé fornece à alma uma poderosa fonte de ação. Ela diz ao homem: “Você está perdoado pelo sangue de Cristo, que morreu por você – como você se sente em relação a Ele?”
O homem replica: “Eu amo o Senhor por ter me redimido”. Jesus amado, o homem tem, agora, dentro de sua alma, a semente de todo o bem. Ele vai se tornar uma criatura mais santa e melhor, pois ele começou a amar, e o amor é a mãe de santidade. Há algum serviço no mundo que se compare ao serviço do amor? Você tem um funcionário em sua casa, servil e obediente, mas se você reduzisse seu salário, ele iria lhe mostrar a aspereza de sua língua e buscar outro emprego! Você não espera dele nada mais que isso, e se você espera, não vai conseguí-lo. Quão diferente era um antigo funcionário de quem ouvi, que quando seu patrão foi à ruína no mundo, ficou contente com metade do salário que recebia! E quando ele foi tristemente avisado de que deveria partir, por seu patrão não teria mais como lhe comprar roupas, ele fez com que suas velhas vestes durassem mais, pois ele não deixaria seu patrão em sua velhice. Ele preferiria ter ganho o pão para o seu velho patrão, a tê-lo deixado! Ele era um servo apegado, que valia seu peso em ouro! Há poucos empregados como esse hoje em dia, pois não são muitos patrões como tal. Este tipo de serviço não pode ser adquirido, mas seu preço está acima do de rubis.
Quando o Senhor nos leva a crer em Jesus, nos tornamos, a partir de então, Seus amados servos, e não O servimos buscando recompensas, mas sim servimos por gratidão! Não estão mais conosco tanto trabalho e tanto pagamento – não tememos a ameaça do inferno pela desobediência, nem olhamos para o céu como se o tivéssemos conquistado por obras. Não, não, nossa salvação é um presente livre! Foi-nos fornecida através de infinito amor, de compaixão suprema e, portanto, retribuímos com o mais aquecido afeto de nossos coração. Nosso coração se prende a esse querido aspecto que nos foi aberto. Sentimos um terno amor àqueles amados pés perfurados. Nós poderíamos beijá-los todos os dias.
Aquelas abençoadas mãos do Crucificado! Se elas nos tocam, somos fortalecidos, honrados, consolados. Jesus é totalmente amável para conosco, nosso mui querido amigo e Senhor! A Fé, em vez de ser uma coisa pobre, miserável, como alguns imaginam, é a grandiosa causa do amor e, assim, de obediência e de santidade. Saiba, novamente, que a Fé nos coloca em uma nova relação. Estamos obrigados, pela natureza, a ser servos de Deus, mas a Fé sussurra em nosso ouvido: “Diga, ‘Pai Nosso’”, e quando o coração recebe o Espírito de adoção, o caráter de serviço é inteiramente modificado – o serviço de mercenário é transformado em obediência amorosa, e o nosso espírito é modificado! Se tornar herdeiro de Deus, co-herdeiro com Jesus, é transmutar o trabalho em prazer, serviço em comunhão com Deus! A Lei não é nenhum obstáculo aos filhos de Deus – antes, é seu prazer! A Fé remove do coração aquele egoísmo que, outrora, parecia ser necessário.
Então, você espera ser salvo pelo que você faz, não é? Posso perguntar-lhe, amigo, a quem você está servindo com isso? Vou lhe responder: você está servindo a você mesmo! Tudo o que você faz é para ganhar felicidade para si próprio. Como, então, você estaria servindo a Deus? Você está vivendo uma vida egoísta, apesar dela ser tingida nas cores da espiritualidade. O que é feito por você, em matéria de religião, não tem qualquer objetivo além de que você seja salvo e vá para o céu. Seu trabalho mais zeloso é para si próprio. Suponha que eu lhe diga: “eu
sei que estou salvo. Eu sei que Jesus levou embora meu pecado. Eu sei que Ele não me permite morrer”. Por isso, então, há espaço, em minha vida, para que eu sirva ao Senhor, por causa do que Ele fez por mim! Agora eu não tenho que me salvar – eu tenho que servir a Cristo!
A gratidão é a razão do Evangelho, e, unicamente sob Seu poder, a virtude altruísta é possível, não sobre o chão do serviço legal. Uma virtude pura, ao que me parece, é algo claramente impossível até que a Salvação de um homem ocorra, porque ele sempre deve ter tido, até aquele momento, uma visão torpe e degradante de buscar beneficiar-se por aquilo que faz. Uma vez que esta grande transição é feita, e você é salvo, então você é levantado a um nível mais nobre, e passa a dizer –
 “Então por que, ó Bendito Jesus Cristo,
Eu não deveria amá-Lo assim?
Não pela esperança de ganhar o Céu,
Nem de escapar do inferno!
Não com a esperança de ganhar alguma coisa,
Não buscar uma recompensa,
Mas como também amaste a mim,
Ó Senhor amado,
Então, eu te amo, meu querido Senhor,
E em teu louvor vou cantar
Unicamente porque Tu és o meu Deus,
E meu Rei Eterno “

Portanto, a Fé nos inspira com uma motivação bem maior que aquela que a Lei pode indicar. A Fé logo cria amor no homem, pois se o Senhor Jesus salvou vocês, meus irmãos e irmãs, vocês vão rapidamente desejar que os outros também sejam salvos. Vocês experimentaram deste mel, e a doçura dele, em sua própria língua, os leva a convidar outras pessoas para o banquete. Aquele que foi trazido para a liberdade da Graça Livre, tornaria livre todo pecador cativo, caso pudesse.
Quando bem trabalhada, a Fé significa harmonia com Deus. Ela cria um acordo com a Vontade de Deus, de modo que o que quer que agrade a Deus, também nos agradará. Se o Senhor pusesse o crente num monte com Jó, ainda assim esse crente bendiria o Seu Nome. A Fé vai ao encontro do Preceito Divino que ela deseja obedecer; com a Doutrina divina, que a Fé deseja conhecer e tornar pública. Sim, em tudo que é de Deus, a Fé diz: “é o Senhor, deixe-O comandar, ensinar, ou fazer o que parecer bem a Ele.” Eu tenho lhes mostrado que a Fé não é o princípio que insignificantes depreciadores descrevem como: “Apenas acredito”. Oh, quem dera esses homens soubessem o que é apenas acreditar! É libertar a mente de grilhões. É o amanhecer do próprio Dia Celestial. É uma luta que perdura por toda a vida, esse “só acredito”. É “obra de Deus, em que você acredita nAquele que Ele enviou”.
Irmãos e Irmãs, eu acredito que uma Fé humilde e perseverante em Deus é uma das maiores formas de adoração que chega ao Trono de Deus. Apesar de querubins e serafins saudarem ao Senhor com seu “Santo, santo, santo”, a despeito da série de seres resplandecentes que cercam o Trono de Deus com aleluias perpétuas, não há reverência mais saudável dada a Deus que aquela de um pobre pecador, negro como a noite, que chora, crendo, “Lava-me, e ficarei mais alvo que a neve”. Acreditar no perdão do pecado é uma maravilhosa adoração da misericórdia e do poder de Deus! Acreditar numa perene Providência é uma doce maneira de adorar a Deus em Seu poder e bondade!
Quando um pobre trabalhador, em sua casa, precisando de pão para seus filhos, se ajoelha e chora: “Senhor, está escrito: ‘O teu pão te será dado, e tua água é certa!’, eu acredito na Sua Palavra e, portanto, eu olho para Ti em minha necessidade”. Ele presta uma homenagem à Verdade e Fidelidade de Deus de uma forma que o arcanjo Gabriel não poderia fazer, porque Gabriel nunca saberá o que é o aperto da fome. Acreditar que Deus vai nos manter até o fim, e levantar-nos à Sua Glória, é mais honroso a Deus do que todos os hinos da glória! De nós, filhos mortais da terra, quando confiamos em Sua promessa, sobe aos Céus um Incenso de cheiro doce e agradável a Deus, por meio Jesus Cristo.
Para a minha mente, também há isto acerca da Fé – que ela tem um poder maravilhoso sobre Deus. Você quer que eu me retrate dessa expressão? Pois eu a mantenho! Vou explicá-la. A Fé supera o Altíssimo sobre o Seu trono. A Fé de um indivíduo inferior supera a de um superior. Há alguns anos, eu estava andando no jardim, e certa noite e vi um cão de rua sobre quem eu tomei conhecimento que tinha o hábito de visitar o meu terreno, e que ele, por assim dizer, não fez por onde para ajudar o jardineiro, e logo se tornou um visitante indesejado. Enquanto eu caminhava, em uma noite de sábado, meditando sobre um sermão meu, vi este cão ocupado fazendo travessuras. Eu joguei minha bengala nele, lhe dizendo para ir para casa. Mas o que você acha que ele fez? Em vez de mostrar os dentes para mim, ou correr fora, gritando, ele olhou para mim, de maneira muito agradável, pegou a minha bengala em sua boca e a trouxe para mim! E depois, abanando o rabo, ele a colocou sobre meus pés!
Lágrimas encheram meus olhos – o cachorro havia me esbofeteado. Eu disse, “Bom cachorro! Bom cachorro, você pode vir aqui quando quiser, depois disso”. Por que o cão me conquistou? Porque ele confiava em mim, e não acreditava que eu poderia significar-lhe qualquer mal. Voltar-se para coisas grandiosas – o próprio Senhor não pode resistir à humilde confiança. Você não vê como um pecador traz, por assim dizer, a vara da Justiça para o Senhor, e clama: “Se você me matar, eu mereço; eu me submeto a você”. O grande Deus não pode desprezar um coração confiante. É impossível! Ele não seria Deus, se Ele lançasse fora a alma que implicitamente confia nele! Então, este é o poder da Fé, e eu não me admiro por o Senhor assim ter escolhido, pois acredito que é a coisa mais agradável a Deus!
Vocês todos devem confiar nEle! Deus levanta Sua espada contra você – corra para Seus braços! Ele te ameaça – prenda-se à Sua promessa! Ele te persegue – voe para Seu Filho amado! Deposite sua confiança ao pé da cruz em Sua Expiação, e você será salvo!
IV. Agora, termino este memorial a Lutero de uma maneira adequada. Você muito já ouviu falar sobre Lutero pregar a salvação pela Fé. Agora, VAMOS NOS VOLTAR PARA A VIDA DE LUTERO, e ver o que o próprio Lutero queria dizer com isso. Que tipo de Fé o próprio Lutero mostrava quando ele foi justificado? Primeiro, no caso de Lutero, a Fé o levou a fazer uma confissão aberta do que ele acreditava. Lutero não queria subir ao Céu pelas escadas dos fundos, como muitos jovens tinham a esperança de fazer. Desejar ser cristão às escondidas, de modo a escapar do escândalo da Cruz. Lutero não se recusou a confessar a Cristo, e tomar a sua própria cruz para segui-Lo. Ele sabia que, já que cria com seu coração, também deveria confessar com sua boca – e ele assim fez, nobremente.
Ele começou a ensinar e pregar a Verdade de Deus que havia iluminado a sua própria alma. Um de seus sermões desagradou o Duque Jorge da Saxônia, mas como uma senhora do alto escalão fora salva, Lutero não se preocupou. Ele não era homem de esconder a Verdade de Deus por ser perigoso admiti-la. Tetzel veio com suas preciosas indulgências, com seus livramentos para as almas no “purgatório”. Milhares de bons católicos ficaram indignados, mas ninguém abriu a boca sobre o assunto. Lutero chamou Tetzel de “servo do Papa e do diabo”, e declarou: “Como ele veio entre nós abusando da credulidade do povo, eu não poderia me abster de protestar contra ele, me opondo à sua carreira odiosa”. Sem maquiar suas palavras, nem tentando falar polidamente, Lutero foi contra ele, sem temer as consequências. Ele acreditava nas bênçãos da Graça, “sem dinheiro e sem preço”, e não escondeu suas certezas! Ele pregou suas teses na porta da Igreja do Castelo de Wittemberg, onde todos podiam lê-las.
Quando os astrônomos acham uma nova constelação no céu, fazem tanto alarde quanto martelos batendo pregos. Ó, vós que não professais a Fé, deixai a Fé sincera vos repreender! Seu valor destemido pela Verdade de Deus o levou a ser grandemente odiado em seus dias, com uma ferocidade que ainda permanece. Lutero ainda é o homem mais odiado em certos locais. Vejam vocês mesmos os vis folhetos que foram produzidos, durante a última quinzena, para a desgraça da imprensa que os contamina! Não posso dizer nem o pior, nem o melhor deles, além de que eles são dignos da causa em cujo interesse militam. Mencione o nome de Lutero, e os seguidores de Roma rangem seus dentes! Este mal-estar intenso prova o poder de Lutero. Jovens, eu não sei qual pode ser a sua ambição, mas eu espero que vocês não desejem ser, neste mundo, como reles batatas, que nada acrescem ao sabor do mingau.
A minha ambição não é essa. Eu sei que se eu não tiver inimigos intensos, eu não poderei ter amantes intensos – e, pela Graça, eu estou preparado para ter a ambos. Quando um homem de coração reto vê o amor de um homem honesto pela Verdade de Deus, ele clama “ele é nosso irmão; que seja o nosso defensor!” Quando os de coração tolo reagem, bradando “acabem com ele!”, nós lhes agradecemos pela homenagem inconsciente que, dessa forma, prestam àquela honrada decisão. Nenhum filho de Deus deveria almejar a aprovação do mundo. Certamente, Lutero não o fez. Ele agradava a Deus, e isso lhe era suficiente. Sua Fé também era desta forma – e ela o levou a uma calorosa reverência àquilo que ele acreditava ser as Sagradas Escrituras. Lamento que ele nem sempre agiu sabiamente em seu julgamento do conteúdo da Bíblia, mas, para ele, a Escritura foi o último tribunal de apelação. Se alguma coisa tivesse convencido Lutero de que este livro estava errado, ele ficaria feliz em reconhecê-lo.
Mas isso não era seu plano – eles simplesmente diziam: “Ele é um herege. Condenem-no, ou o façam se retratar”. Nisso, ele nunca cedeu, nem por um instante! Infelizmente, atualmente, grande número de homens fazem de si mesmos seus próprios escritores inspirados. Disseram-me que todo homem que é advogado de si mesmo, tem um tolo por cliente, e eu estou inclinado a pensar que, quando um homem se estabelece como seu próprio salvador e sua própria revelação, a mesmíssima coisa acontece. Essa idéia vaidosa paira no ar neste presente tempo – cada homem deve imaginar ser sua própria bíblia. Mas não Lutero! Ele amava o Livro Sagrado! Ele lutou com sua ajuda. A Bíblia foi seu machado de batalha, sua arma de guerra. O que incendiou sua alma foi um texto da Escritura, e não as palavras da tradição que rejeitou. Ele não se submeteria a Melancton, ou a Zuínglio, ou a Calvino, ou a quem quer que fosse – quer sendo sábio ou piedoso. Ele tomou a sua própria Fé na Escritura e, de acordo com a sua luz, ele seguiu a Palavra do Senhor. Que muitos sejam um Lutero, aqui!
A próxima coisa a se ressaltar foi a intensa atividade de Fé de Lutero. Ele não acreditava que Deus estivesse fazendo seu trabalho, para que pudesse permanecer ocioso. Nem mesmo por um momento! Certa vez, um discípulo disse a Maomé: “eu vou deixar meu camelo solto e confiar na Providência”. “Não”, respondeu Maomé, “confie na Providência, mas amarre o seu camelo com cuidado”. Isto se parece com o preceito puritano de Oliver Cromwell: “confie em Deus, mas mantenha sua pólvora seca”. Lutero acreditava, mais que a maioria dos homens, em manter sua pólvora seca. Como ele trabalhou! Seja por meio da pena, por palavras faladas, ou com sua mão! Ele foi enérgico, de modo quase inacreditável. Ele, sozinho, trabalhava como vários homens. Lutero fez obras que teriam sido tributadas à força de centenas de pessoas mais modestas. Ele trabalhou como se tudo dependesse da sua própria atividade e, em seguida, caiu de volta na santa confiança em Deus, como se ele nada tivesse feito! Este é o tipo de Fé que salva um homem, tanto nesta vida quanto na que está por vir.
Novamente, a Fé de Lutero abundava na oração. Ó, que súplicas eram! Aqueles que as ouviram nos relatam de suas lágrimas, de sua luta, e de seus santos argumentos. Ele entrava em seus aposentos, com o coração pesaroso, e permanecia lá por uma ou duas horas, e, depois, saía cantando: “venci, eu venci!” “Ah”, ele disse um dia, “eu tenho tanta coisa para fazer hoje que não posso passar por isso tudo sem uma oração de menos de três horas”. Pensei que ele iria dizer: “eu não posso me dar ao luxo de orar nem mesmo por um quarto de hora” – mas ele aumentou sua oração, na medida em que seu trabalho aumentava. Esta é a Fé que salva – a Fé que se apodera de Deus, e prevalece com Ele em súplica privada.
A Fé de Lutero foi o que o salvou inteiramente do medo do homem. O duque Jorge estava indo detê-lo. “É esse?”, indagou Lutero. “Se chovessem duques Jorge, eu iria”. Ele é exortado a não ir a Worms, pois lá estaria em perigo. Se houvessem tantos demônios em Worms quanto haviam telhas nos telhados, lá Lutero estaria! E, de fato, lá ele esteve, como todos sabem, trazendo homens para o Evangelho e para seu Deus. Ele não se indispôs com nenhum homem, mas manteve sua Fé em Deus, pura e sem mistura! Papas, imperadores, doutores, eleitores, eram todos como nada para Lutero quando eles se colocaram contra o Senhor. Que assim seja conosco, também! Sua Fé era tal que o fez arriscar tudo para a Verdade de Deus. Parecia não haver esperança de pudesse voltar vivo de Worms. Lutero estava certo de que seria queimado como João Huss – e a maravilha é que ele escapou. Sua ousadia o trouxe seguro do perigo! Ele expressou seu pesar de que a coroa dos mártires, provavelmente, não lhe seria entregue, mas tinha Fé de que estava preparado para morrer, pois Jesus estava com ele. Ele, que em tal caso salvou sua vida, deve perdê-la, mas aquele que perde sua vida pelo amor de Cristo, a encontrará na vida eterna! Esta foi a Fé que fez de Lutero um homem acima dos demais, e o salvou das afetações sacerdotais.
Não sei se você admira o que se pensa ser a religião superior. É uma coisa bela, mas inútil. Deve sempre ser mantida numa redoma de vidro – é feita para grupos de estudos e encontros religiosos, mas não para lojas ou fazendas. Mas a religião de Lutero estava com ele em casa – tanto na mesa, quanto no púlpito. Sua religião era parte integrante de sua vida comum, livre, aberta, corajosa e irrestrita. É fácil encontrar defeitos nele do seu ponto de vista, pois ele viveu em um destemor honesto. Minha admiração se intensifica quando penso como este homem pôde abrir seu coração! Não me admira que, mesmo os descrentes alemães o reverenciavam, pois ele é todo alemão, e todo homem! Quando ele falava, ele não tomava as palavras da sua própria boca para admirá-las, nem para perguntar a Melancton o que fariam. Não: ele batia fortemente, e proferia uma dúzia de frases antes de pensar se elas eram polidas ou não!
Na verdade, Lutero é totalmente indiferente às críticas e falava o que pensava e sentia. Ele está à vontade, pois se sente em casa. Ele não está, em toda parte, na casa de seu Pai? Não tem ele a intenção pura e simples de falar a verdade de Deus, e de fazer o que é certo? Eu gosto de imaginar Lutero com sua esposa e seus filhos. Eu gosto de imaginá-lo com sua família próximo a uma árvore de Natal, compondo uma música, com o pequeno João Lutero em seu colo. Gosto de imaginá-lo cantando um pequeno hino com as crianças, falando ao seu filhinho dos cavalos no Céu, com freios de ouro e selas de prata. A Fé não retirou sua hombridade, mas a santificou para usos ainda mais nobres. Lutero não viveu nem andava como se fosse um reles clérigo, mas como um irmão de toda a humanidade!
Afinal, irmãos e irmãs, vocês devem saber que até mesmo o maior dos santos precisa comer pão e manteiga, como todas as outras pessoas. Eles fecham seus olhos ao dormir, e os abrem pela manhã, assim como nós! Isso é fato, embora alguns cavalheiros empolados queiram que disso duvidemos. Os santos sentem e pensam como os demais homens. Por que eles deveriam parecer como se assim não fossem? Não é uma boa coisa, comer e beber para a glória de Deus, mostrando às pessoas que as coisas comuns podem ser santificadas pela Palavra de Deus e pela oração? E se nós não usarmos aparatos para tal fim? O melhor aparato do mundo é a devoção completa à obra do Senhor! E se um homem vive corretamente, ele faz de toda roupa uma batina, de cada refeição um sacramento, e de cada casa, um templo! Todas as nossas horas são sagradas! Todos os nossos dias, santos! Cada respiração é como incenso, e cada pulsar, uma música para o Altíssimo!
Eles nos dizem que Lutero ignorou boas obras. É verdade que ele não permitiria que as boas obras fossem tidas como meio de salvação, mas daqueles que professavam sua Fé em Jesus ele exigia uma vida santa! Lutero abundava em oração e caridade. Que doador de esmolas foi Lutero! Temo que ele não tenha, em todo o tempo, resguardado, ainda que vagamente, os princípios da Charity Organization Society. Mas ao passo que ele prossegue em seu caminho, se haviam mendigos, ele esvazia seus bolsos para eles. Duzentas moedas que ele acabara de ganhar, e, embora ele tivesse uma família com ele, ele chorava, “duzentas moedas! Deus está me dando toda a minha porção nesta vida”. “Aqui”, ele disse a um pobre irmão ministro, “tome a metade! E onde estão os pobres? Busquem-nos! Eu devo  me livrar disso”. Eu temo que a sua esposa Catarina foi forçada, por vezes, a acenar com a cabeça para ele, pois, na verdade, ele nem sempre foi o mais econômico marido que poderia ser. No quesito das esmolas, ele foi inigualável, e em todos os deveres da vida, ele subiu muito além do padrão de sua idade. Como todos os homem, ele tinha seus defeitos, mas como as cordas da harpa de seus inimigos, que não iam além da verdade, eu não preciso me delongar sobre suas falhas. Eu gostaria que os detratores de Lutero tivessem a metade de sua bondade. Toda a glória da sua grande carreira foi direcionada ao Senhor, apenas!
Por último, a Fé de Lutero foi uma tal que o ajudou em lutas que raramente são citadas. Suponho que nenhum homem teve, em sua alma, maior conflito que Lutero. Ele era um homem de altos e baixos. Às vezes, ele subia ao céu e cantava suas aleluias. E, então, descia, novamente, para o abismo, com seu miserere. Temo que, a despeito do grande e vigoroso homem que ele era, Lutero tivesse um fígado ruim. Ele foi gravemente ferido no corpo de uma forma que eu não preciso mencionar. E ele foi às vezes deixado de lado por meses, sendo de tal forma atormentado e torturado que ele desejava morrer. Suas dores eram extremas, e nós queremos saber como ele as suportou tão bem. Mas sempre, entre os ataques da doença, Lutero seguia pregando a Palavra de Deus. Essas lutas desesperadas com o diabo o teriam esmagado, se não fosse a sua Fé. O diabo parece ter constantemente lhe atacado, e Lutero estava constantemente atacando o diabo.
Nesse duelo tremendo, ele se voltava ao Senhor e, confiando na Sua Onipotência, punha Satanás em derrota. Jovens, oro para que um Lutero surja de suas fileiras. Como os fiéis o receberiam de bom grado! Eu, que sou mais um seguidor de Calvino que de Lutero, e muito mais um seguidor de Jesus do que de qualquer um deles, ficaria encantado em ver outro Lutero sobre a Terra! Deus lhes abençoe, irmãos e irmãs, pelo amor de Cristo. Amém.






25 - Fé muito simples – Parte 1

Por Charles Haddon Spurgeon

Para muitos a fé parece ser algo difícil. A verdade é que, só é difícil porque é fácil.
Naamã achou difícil se lavar no Jordão; mas se fosse algo dificultoso, ele teria feito imediatamente com alegria.
As pessoas pensam que a salvação deve ser o resultado de um ato ou sentimento, muito misteriosos, e muito difíceis; mas os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos, nem os Seus caminhos como os nossos.
A fim de que o mais fraco e o mais ignorante possam ser salvos, ele fez o caminho da salvação tão fácil quanto o A, B, C.
Não há nada nele que confunda ninguém; somente que, como todo mundo espera ser confundido por ele, muitos ficam aturdidos quando descobrem-no grandemente simples. O fato é que nós não cremos quando Deus é sério quando diz; agimos como se não pudesse ser verdade.
Eu ouvi falar de um professor de escola dominical que realizou um experimento que não penso que eu mesmo tentaria com as crianças, pois parece ser bem caro. De fato, eu acredito que o resultado no meu caso seria muito diferente daquele que agora descrevo. Esse professor havia tentado ilustrar o que era fé, e, como não conseguia colocar nas mentes dos meninos, ele pegou seu relógio, e disse, “agora, eu vou lhe dar esse relógio, João. Você o aceita?” João começou a pensar o que o professor pretendia dizer, e não se apossou do relógio, nem deu resposta alguma. O professor falou ao próximo menino, “Henrique, aqui está o relógio. Você o aceita?” O garoto, com uma modéstia bem própria, respondeu, “Não, obrigado, senhor”. O professor tentou a vários meninos com o mesmo resultado; até que um mais novo, que não era tão sábio nem tão pensativo quanto os outros, mas muito mais crédulo, disse com a maior naturalidade, “Obrigado, senhor”, e pôs o relógio em seu bolso. Então os outros alunos despertaram para um fato instigante: seu colega recebeu um relógio que eles recusaram. Um dos garotos rapidamente perguntou ao professor, “ele pode ficar com ele?”, “claro que sim”, disse o professor, “eu ofereci a ele, e ele aceitou. Eu não daria algo e depois pegaria de volta; isso seria tolice. Eu pus o relógio diante de vocês, e eu disse que daria a vocês, mas nenhum de vocês o recebeu”. “Oh”, disse o garoto, “se eu soubesse que você falava sério, eu o teria recebido”. Claro que ele teria. Ele achou que era apenas uma representação, e nada mais. Todos os outros garotos estavam num triste estado de mente pensando que  haviam perdido o relógio. Cada um clamou, “professor, não achei que era sério, mas eu pensei” - Nenhum pegou o presente, mas todos pensaram. Cada um tinha sua teoria, exceto o menino de mente simples que acreditou no que lhe foi dito, e recebeu o relógio. Eu gostaria de ser sempre uma criança simples para acreditar literalmente no que o Senhor diz, e receber o que Ele põe diante de mim, descansando contente que Ele não está brincando comigo, e que eu não posso estar errado ao aceitar o que Ele põe diante de mim no evangelho.
Seríamos felizes se confiássemos, e não levantássemos nenhum tipo de questionamento. Mas, veja! Somos achados  pensando e duvidando. Quando o Senhor apresenta Seu Filho querido diante e um pecador, aquele pecador deveria recebê-lo sem nenhuma hesitação. Se você o receber, você o terá; e ninguém poderá tirá-lo de você. Estenda sua mão, homem, e o receba de uma vez!
Quando questionadores aceitam a Bíblia como literal e verdadeira, e vêm que Jesus é realmente dado a todo aquele que confia nele, todas as dificuldades para entender o caminho da salvação desaparecem como o orvalho da manhã ao nascer do sol.
Duas questionadoras vieram a mim em meu gabinete. Elas ouviram o evangelho de mim por apenas um curto período de tempo, mas ficaram muito impressionadas por ele. Elas expressaram seu arrependimento de que em breve se mudariam para bem longe, mas apresentaram sua gratidão pelo fato de poderem ter me ouvido. Eu fiquei animado pelos seus “muito obrigados” gentis, mas fiquei ansioso também de que um trabalho mais eficiente deveria lhes ser feito, e por isso perguntei a elas, “vocês de fato creram no Senhor Jesus Cristo? Vocês estão salvas?”. Uma delas respondeu, “eu tenho me esforçado para acreditar”. Eu já ouvi esse depoimento várias vezes, mas nunca o deixarei passar por mim sem ser desafiado. “Não”, eu disse, “Isso não é assim. Você já disse alguma vez a seu pai que você tentou crer nele?”. Depois que eu me demorei um pouco sobre o assunto, elas admitiram que tal linguagem seria ofensiva ao pai delas. Então eu apresentei todo o evangelho a elas na linguagem mais simples que eu consegui, e eu lhes pedi que cressem em Jesus, que é mais digno de fé que o melhor dos pais. Uma delas respondeu, “eu não consigo perceber isto; não consigo perceber que estou salva”. Então eu disse, “Deus dá testemunho de Seu Filho, que todo aquele que confia no Filho está salvo. Você o fará mentiroso agora, ou crerá na Sua palavra?”. Enquanto eu falava, uma delas ficou como que atônita, e nos surpreendeu quando começou a chorar, “Oh senhor, eu vejo claramente; Eu estou salva! Oh, Jesus me abençoou; Ele me mostrou o caminho, e Ele me salvou! Eu vejo tudo”. A estimada irmã que trouxe essas duas jovens para mim ajoelhou-se com elas, enquanto que, em nossos corações, nós louvávamos e engrandecíamos o Senhor, por mais uma alma que Ele trouxe à luz. Uma das duas irmãs, no entanto, não podia ver o evangelho como a outra, por mais que eu esteja seguro de que ela o fará depois de algum tempo. Não parece estranho que, ambas ouvindo as mesmas palavras, uma veio à luz, e outra permaneceu na escuridão?




26 - Fé muito simples – Parte 2

Por Charles Haddon Spurgeon

A mudança que há no coração quando o entendimento agarra o evangelho é normalmente refletida na face, e lá brilha como a luz do céu. Tal alma recentemente iluminada geralmente clama, “Porque, Senhor, é tão claro; como nunca havia percebido antes? Agora eu entendo tudo que leio na Bíblia, mas não podia fazê-lo antes. Tudo aconteceu em um minuto, e agora eu vejo aquilo que eu nunca entendia antes”. O fato é que a verdade era sempre clara, mas eles estavam procurando por sinais e sabedoria, e com isso não viam o que estava junto a eles.
O velho homem frequentemente procura seus espetáculos quando eles estão na sua testa; e observa-se comumente que falhamos de ver o que está logo diante de nós. Cristo Jesus está diante de nossos rostos, e precisamos apenas olhar para Ele, e viver; mas nós causamos toda sorte de embaraço disso, e criamos um labirinto daquilo que é simples e fácil de entender.
O pequeno incidente com as duas irmãs me lembra de outro. Uma amiga muito querida veio a mim no sábado de manhã depois do culto, para me cumprimentar, “por causa”, disse ela, “eu completei cinquenta anos no mesmo dia que você. Eu me pareço com você nisto; mas eu sou o oposto de você nas coisas excelentes”. Eu coloquei, “Então você deve ser uma ótima mulher; pois em muitas coisas eu desejo ser o oposto do que eu sou”. “Não, não”, disse ela, “não quis dizer nada disso: eu não estou totalmente endireitada”. “O quê!”, eu gritei, “você não é uma crente em Jesus?” “Bem”, ela disse, com muita emoção, “Eu, eu vou tentar ser”. Eu segurei suas mãos, e disse, “minha querida alma, não me diga que você vai tentar crer no meu Senhor Jesus! Eu não aguento ouvir isto de você. Significa ceticismo cego. O que Ele fez que lhe permite falar dEle desse jeito? Você me diria que tentaria acreditar em mim? Eu sei que você não me trataria de forma tão rude. Você me crê um homem confiável, e com isso você crê em mim de uma vez; e certamente, você não poderia fazer menos com meu Senhor Jesus?” Então com lágrimas ela exclamou, “Oh, senhor, ore por mim!” A isto respondi, “Não creio poder fazer nada disso. O que poderia pedir ao Senhor Jesus que fizesse por alguém que não confiaria nEle? Eu não vejo motivo de oração. Se você crer nEle, você será salva; se você não crer nEle, não posso pedir a Ele que invente uma nova forma pra agradar sua incredulidade”. Então ela disse de novo, “Eu tentarei crer”; mas eu lhe disse seriamente que não aceitaria nenhuma de suas tentativas; pois a mensagem do Senhor não menciona “tente”, mas disse, “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”.
Eu coloquei para ela a grande verdade, que “aquele que Nele crê terá a vida eterna”; e seu terrível oposto – “Aquele que não crê no Filho já está condenado, porque não creu no nome do único Filho de Deus”. Eu insisti com ela que depositasse toda sua fé naquele que fora crucificado, mas agora elevado Senhor, e o Espírito Santo ali e naquela hora a habilitou a crer. Ela muito ternamente disse, “Oh, senhor, eu estava buscando meus sentimentos, e isso foi um erro! Agora em confio minha alma a Jesus, e estou salva”. Ela achou paz imediata pela fé. Não há outro caminho.
Deus se agradou de fazer as necessidades da vida assuntos muito simples. Temos de comer; e mesmo um homem cego consegue achar sua própria boca. Temos de beber; e mesmo o menor bebê sabe como fazê-lo sem instrução.
Temos uma fonte no centro do Orfanato Stockwell, e quando estão correndo no tempo quente, os meninos vão lá naturalmente. Não temos aulas de “beber na fonte”. Muitos garotos pobres vieram ao orfanato, mas nenhum era tão ignorante a ponto de não saber beber. Agora a fé é, nas questões espirituais, o que comer e beber são entre as coisas temporais. Pela boca da fé recebemos as bênçãos da graça na nossa natureza espiritual, e elas são nossas.
Oh você que precisa crer, mas pensa que não pode, você não vê que, assim como alguém pode beber sem ter forças, e como alguém pode comer sem ter forças, e recebe forças para comer, assim devemos receber a Jesus sem esforço, e ao recebê-lo recebemos poder para todo o esforço posterior a que formos chamados?
Fé é um assunto tão simples que, toda vez que eu tento explicar, eu fico temeroso que talvez não consiga revelar sua simplicidade. Quando Thomas Scott publicou suas notas sobre “O Progresso do Peregrino”, ele perguntou a uma das suas paroquianas o que ela entendia do livro. “Ah sim, senhor”, disse ela, “Eu entendo o Sr. Bunyan muito bem, e eu espero que um dia, pela graça divina, eu possa entender suas explicações”.
Não deveria eu me sentir morto se meu leitor soubesse o que é fé, e então ficar confuso pela minha explicação? Eu vou tentar, no entanto, e orar ao Senhor que a torne clara.
Contaram-me que numa estrada de um monte havia uma disputa dos direitos sobre um caminho. O dono queria preservar sua supremacia, e ao mesmo tempo não queria ser inconveniente ao público: daí a solução que provocou o incidente a seguir. Vendo uma doce jovem do campo parada no portão, um turista foi até ela, e ofereceu a ela uma moeda para que lhe fosse permitido passar. “Não, não”, disse a menina, “eu não estou aqui para receber nada de você, mas você deve dizer, por favor, me deixe passar‟, e então você entrará e será bem-vindo”. A permissão era para ser pedida; e poderia ser obtida pelo pedir. Igualmente, a via eterna é gratuita; e pode ser recebida, sim, pode ser imediatamente recebida, ao confiar na palavra Daquele que não pode mentir. Confie em Cristo, e por essa confiança você agarra a salvação e a vida eterna. Não filosofe. Não sente, e incomode o seu pobre cérebro. Apenas creia em Jesus como você creria em seu pai. Confie Nele assim como você confia seu dinheiro a um banqueiro, ou a sua saúde a um médico.
A fé não lhe parecerá mais uma dificuldade para você; nem deve ser, pois é simples.
Fé é confiança, confiar totalmente na pessoa, trabalho, mérito, e poder do Filho de Deus. Alguns pensam que este confiar é uma coisa romântica, mas de fato é a coisa mais simples que pode haver. Para alguns de nós, verdades que antes eram difíceis de crer agora são fatos que acharíamos difícil duvidar. Se algum de nossos grandes antepassados se levantasse dos mortos, e visse as coisas como são hoje, quanta confiança ele teria que exercer! Ele diria pela manhã, “Onde estão a pedra e o aço? Eu quero fazer luz”, e lhe daríamos uma pequena caixa com pequenos pedaços de madeira dentro, e lhe diríamos para raspar uma delas no lado da caixa. Ele teria de confiar muito antes de acreditar que assim o fogo poderia ser produzido. A seguir diríamos a ele, “Agora que você tem fogo, gire aquela torneira, e acenda o gás”. Ele não vê nada. Como poderia existir luz através de um vapor invisível? E ainda assim isso acontece. “Venha conosco, vovô. Sente naquela cadeira. Olhe para aquela caixa diante de você. Você terá assim uma reprodução de si mesmo”. “Não, criança”, ele diria, “isso é ridículo. O sol fazer uma figura minha? Eu não posso crer nisso”. “Sim, e você irá andar a cinquenta milhas por hora em cavalos” Ele não o creria até que o colocássemos em um trem. “Meu caro senhor, você pode falar com seu filho em Nova Iorque, e ele lhe responderá em poucos minutos”. Não assustaríamos o velho cavalheiro? Isso não lhe exigiria toda a sua fé? Ainda assim essas coisas são cridas por nós sem esforço algum, pois a experiência nos fez familiarizados com elas. Fé é necessária em grande quantidade a vocês que são estranhos às coisas espirituais; vocês se sentem perdidos quando falamos sobre elas. Mas oh, quão simples são a nós que temos a vida nova, e temos comunhão com as realidades espirituais!
Nós temos nosso Pai com quem falamos, e Ele nos ouve, e um bendito Salvador que ouve os desejos do nosso coração, e nos ajuda nas lutas contra o pecado. Está tudo claro ao que entende. Que seja agora claro para você!







27 - Fé na Pessoa do Senhor Jesus

Por Charles Haddon Spurgeon

Há uma lamentável tendência entre as pessoas  de deixarem o próprio Cristo fora do evangelho. Eles provavelmente devem deixar a farinha fora do pão.
Os homens ouvem o caminho da salvação explicado, e consentem com ele como sendo originado nas Escrituras, e de todas as formas condiz com o caso deles; mas se esquecem que um plano não tem utilidade se não for levado a termo; é isso, em questão de salvação, sua própria fé pessoal no Senhor Jesus é essencial. Uma rua para York não me levará lá, eu devo, eu mesmo, andar por ela. Toda doutrina santa que foi crida nunca salvará um homem a não ser que ele ponha sua confiança no Senhor Jesus por si mesmo.
O Sr. MacDonald perguntou aos habitantes da ilha de St. Kilda como um homem poderia ser salvo. Um ancião respondeu, “Seremos salvos se nos arrependermos, e odiarmos nossos pecados, e nos voltarmos para Deus”. “Sim”, disse uma mulher de meia idade, “e com um coração verdadeiro também”. “Ah”, disse um terceiro, “e com oração”; e, adicionou um quarto, “deve ser a oração do coração”. “E devemos ser diligentes também”, disse um quinto, “em guardar os mandamentos”. Assim, cada um tendo contribuído com sua parte, sentindo que um credo bem decente tinha se formado - eles estavam buscando e esperando ouvir a aprovação do pregador - mas eles lhe suscitaram a maior pena: ele tinha de começar do começo, e pregar a Cristo para eles.
A mente carnal sempre busca para si mesma um caminho pelo qual pode trabalhar e se tornar grande; mas o caminho do Senhor é o oposto. O Senhor Jesus o apresenta de forma sucinta em Marcos 16:16: “Quem crer e for batizado será salvo”. Crer e ser batizado não são assunto de mérito ou de receber glória; eles são tão simples que o orgulho é excluído, e a graça gratuita segura o troféu.
Esse caminho de salvação foi escolhido para mostrar ser por graça somente.
Pode ser que o leitor não seja salvo: qual a razão? Você pensa ser duvidoso o caminho da salvação que citamos? Você teme não ser salvo se você o seguir? Como pode ser isso, se Deus jurou pela sua própria Palavra para sua certeza? Como pode falhar aquilo que Deus prescreve, de acordo com o que Ele promete? Você acha fácil demais? Por que, então, você não o atende? Sua facilidade deixa os que a negligenciam sem desculpa. Se você tivesse que fazer algo grande, não seria tão tolo a ponto de negligenciar as pequenas coisas. Crer é confiar, ou colocar sobre Cristo Jesus; em outras palavras, deixar de lado a confiança em si mesmo, e confiar no Senhor Jesus.
Ser batizado é se submeter à ordenança que nosso Senhor cumpriu no Jordão, à qual os convertidos se submeteram no Pentecostes, à qual o carcereiro ofereceu obediência na mesma noite da sua conversão. É a confissão externa que sempre deve acompanhar a fé interna. O símbolo exterior não salva; mas coloca diante de nós a nossa morte, enterro e ressurreição com Jesus, e como a ceia do Senhor, não deve ser negligenciado.
O grande ponto é crer em Jesus, e confessar sua fé. Você crê em Jesus? Então, querido amigo, mande embora seus medos; você será salvo. Você ainda é um incrédulo? Então se lembre, só há uma porta, e se você não entrar por ela, você perecerá em seus pecados. A porta está lá; mas a menos que você entre por ela, que uso ela tem pra você? É necessário que você obedeça ao mandamento do evangelho. Nada pode salvá-lo se você não ouvir a voz de Jesus, e obedecer Seu convite de fato e de verdade. Pensar e se propor não responderão ao propósito; você tem que fazer a coisa real; pois somente se você acreditar você realmente viverá para Deus.
Eu ouvi de um amigo que desejava profundamente levar à conversão um jovem, e alguém disse para ele, “Você pode ir até ele, e falar com ele, mas não lhe fará ir além; pois ele está muito familiarizado com o plano da salvação”. Era eminentemente o caso; e assim, quando nosso amigo começou a falar com o jovem, ele recebeu como resposta, “Eu lhe agradeço muito, mas eu não sei o que você pode me ensinar a mais, pois há muito tempo que eu sei e admiro o plano da salvação pelo sacrifício substitutivo de Cristo”. Erro! Ele estava descansando no plano, mas não havia crido na Pessoa. O plano da salvação é muito abençoado, mas de nada nos vale até que nós pessoalmente creiamos no próprio Senhor Jesus Cristo.
Qual é o conforto de uma planta de uma casa se você não entrar por si mesmo nela? O homem na figura, que está sentado na chuva, não está recebendo muito conforto das plantas que estão diante dele. Que bem há no plano de um vestido se você não tem sequer um trapo com que se vestir? Você nunca ouviu do chefe árabe do Cairo, que estava muito doente, e foi ao missionário, e o missionário lhe disse que poderia lhe dar uma receita? Ele o fez; e uma semana depois ele achou o árabe nada melhor. “Você tomou minha prescrição?”, ele perguntou. “Sim, eu comi cada pedaço do papel”. Ele achava que seria curado por devorar a escritura do médico, que devo chamar de o plano da medicina. Ele deveria ter obedecido à prescrição, e então isso lhe teria feito bem, se ele tivesse tomado a drágea: engolir a receita não poderia jamais ter-lhe feito bem.
É assim também com a salvação: não é o plano da salvação que pode salvar, é o levar a termo aquele plano da salvação pelo qual o Senhor Jesus morre por nós, e nós o aceitamos.
Debaixo da Lei dos judeus, o ofertante trazia um novilho, e punha suas mãos sobre ele: não era imaginação, teoria ou plano.
Na vítima do sacrifício ele achava algo substancial, que ele podia carregar e tocar: assim também confiamos no real e verdadeiro trabalho de Jesus, a coisa mais substancial debaixo dos céus.
Nós vamos ao Senhor Jesus pela fé, e dizemos, “Deus providenciou um sacrifício aqui, e eu o aceito. Eu acredito no fato completado na cruz; eu estou confiante que o pecado foi descartado por Cristo, e eu descanso n‟Ele”. Se você deverá ser salvo, você deve ir além da aceitação de planos e doutrinas para um descanso na pessoa divina e na obra completa do Senhor Jesus Cristo. Querido leitor, você terá a Cristo agora?
Jesus convida todos os cansados e sobrecarregados a virem a Ele, e Ele lhes dará descanso. Ele não faz tal promessa para que eles meramente pensem sobre Ele. Eles devem VIR; e devem vir a ELE, e não meramente à igreja, ao batismo, ou à fé ortodoxa, ou a qualquer coisa menos que Sua pessoa divina.
Quando a serpente de bronze foi levantada no deserto, as pessoas não deviam olhar para Moisés, nem para o tabernáculo, nem para a coluna de nuvem, mas para a própria serpente de bronze.
Olhar não era o suficiente até que olhassem para a coisa certa: e a coisa certa não era o suficiente até que eles olhassem. Não era suficiente que eles soubessem da serpente de bronze; cada um deles deveria olhar para ela por si mesmo.
Quando um homem fica doente, ele pode ter um ótimo conhecimento de medicina, e ainda assim morrer se ele não tomar o remédio.
Temos que receber Jesus; pois “todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem chamados filhos de Deus”. Deixe a ênfase em duas palavras: temos de receber ELE, e, temos de RECEBER ele. Temos de abrir totalmente a porta, e fazer a Cristo Jesus entrar; pois “Cristo em vós” é “a esperança da glória”. Cristo não pode ser um mito, um sonho, nem um fantasma para nós, mas um homem real e verdadeiramente Deus; e nosso recebê-lo não deve ser aceitação resignada e forçada; mas o consenso e aprovação feliz e de coração da alma na qual Ele deve ser tudo em tudo da nossa salvação. Não viremos de uma vez a Ele, e torná-lo nossa única confiança?
A pomba é caçada pelo falcão, e não acha segurança de seu inimigo incansável. Ela aprendeu, que há para ela um abrigo numa fissura de uma rocha, e voa para lá com voo agradável. Uma vez que esteja totalmente protegida em seu refúgio, não teme o predador. Mas se ela não se escondesse na rocha, seria dominada por seu adversário. A rocha seria inútil à pomba, se a pomba não entrasse em sua fissura. Todo o corpo deve estar escondido na rocha. Ainda que dez mil outros pássaros achassem lá um forte, este fato não salvaria a única pomba que é agora perseguida pelo falcão! Ela deve por a si mesma inteira dentro do abrigo, e se enterrar no refúgio, ou sua vida será ceifada e destruída.
Que figura de fé é esta! É entrando em Jesus, se escondendo nas Suas feridas.
“Rocha das Eras, fenda pra mim,
Deixe-me esconder-me em Ti”
A pomba está fora de visão: apenas a rocha se vê. Assim faz a alma culpada, pela fé, lançando-se para o lado ferido de Jesus, e é enterrada com Ele fora da visão da justiça vingativa. Mas há que se fazer uma aplicação pessoal a Jesus como abrigo; e isso é que, de tanto adiares dia a dia entrar nEle, é de temer que morrereis “nos vossos pecados”. Que triste palavra é esta! Foi isso que nosso Senhor falou para os judeus incrédulos; e Ele diz o mesmo para nós agora: “Se não credes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados”. Pensar que alguém irá ler estas linhas e ainda assim ser da miserável companhia que perecerá faz o coração de qualquer um palpitar. Que o Senhor o impeça por Sua grande graça!
Eu ouvi, outro dia, uma notável figura, que usarei como uma ilustração do caminho da salvação pela fé em Jesus.
Um ofensor cometeu um crime pelo qual ele deve morrer, mas isso foi há muito tempo, quando as igrejas eram consideradas santuários onde os criminosos podiam se esconder, e assim escapar da morte.
Veja o transgressor! Ele corre para a igreja, os guardas o perseguem com suas espadas em punho, exigindo o seu sangue! Eles o seguem até a porta da igreja. Ele apressa o passo, e justo quando eles estão para pegá-lo, e fazê-lo em pedaços na entrada da igreja, sai dali o Bispo, e segurando a cruz, ele diz, “para trás, para trás! Não manchem os arredores da casa de Deus com sangue! Para trás!” Os fortes soldados a uma respeitam o emblema, e se retiram, enquanto o pobre fugitivo se esconde atrás do manto do Bispo.. É assim também com cristo. O pecador culpado voa direto para Jesus; e por mais que a Justiça o persiga, Cristo levanta Suas mãos feridas, e clama à Justiça, “Para trás! Eu abrigo este pecador; no lugar secreto do meu tabernáculo eu o escondo; eu não o deixarei perecer, pois ele coloca sua confiança em mim”. Pecador, voe para Cristo! Mas você responde, “Eu sou muito vil”. Quanto mais vil você for, mais você O honrará ao crer que Ele pode proteger mesmo você. “Mas eu sou um pecador tão grande”. Então mais honra será dada a Ele se você tiver fé para confiar n‟Ele, apesar de ser um grande pecador. Se você estiver um pouco doente, e você disser ao seu médico – “Senhor, eu estou confiante em suas habilidades para curar”, não há grande elogio em sua declaração. Qualquer um pode curar uma dor de dedo, ou uma febre insignificante. Mas se você está muito doente com uma complicação de doenças que duramente lhe atormentam, e você disser – “Senhor, eu não procuro nenhum médico melhor; não procurarei nenhum conselho que não o seu; Eu me confio alegremente a você”, que honra você lhe conferiu, que você pode confiar sua vida em suas mãos mesmo durante um perigo extremo e imediato! Faça o mesmo com Cristo; deixe sua alma a Seus cuidados: faça-o deliberadamente, e sem dúvidas. Ouse deixar todas as outras esperanças: arrisque tudo em Jesus; eu digo “arrisque”, mas não há nada realmente arriscado nisso, pois Ele é abundantemente capaz de salvar. Se entregue simplesmente a Jesus; não deixe que nada além da fé esteja em sua alma concernente a Jesus; creia nEle, e confie nEle, e você nunca será envergonhado de sua confiança; “Aquele que nEle crê não será envergonhado” (I Pe 2:6).






28 - Necessitamos Sempre Aumentar a Fé

Deus dispôs a criação de tal forma para que exibisse o Seu  poder infinito.
Ele tem prazer em manifestar a Sua graça, amor, misericórdia, condescendência num mundo que ficou sujeito à miséria  do pecado, mas também é Seu prazer exibir o Seu grande poder  contra todo o mal, e especialmente contra os  poderes  que  se  levantam contra Ele e contra o Seu povo.
E este poder se manifestará aonde quer que se encontrem aqueles que esperam e confiam na  força do Seu braço, enfim aqueles que como Davi, não ficam assombrados com os gigantes  que atravessam o caminho deles, porque a sua fé não está depositada no seu próprio poder  e  capacidade, mas somente em Deus.
Mas, quando nós olhamos para o estado e condição  da  igreja  no mundo, nós vemos quão fraca é a fé da maioria  dos  cristãos,  com seus grandes temores e desânimos, por causa das grandes tentações, oposições e perseguições que lhes  sobrevêm.
Quão vigorosamente e nitidamente estas coisas impressionam os seus espíritos, dando vantagens a seus adversárias  espirituais  - então será sempre manifesta a necessidade de aumentar a fé nAquele em quem podemos todas as coisas por causa do Seu poder infinito.
Assim, se a nossa paz interior ou  exterior parecer  enfraquecer quanto à necessidade desta consideração de que o Espírito Santo é um Consolador Onipotente, nós devemos pelo exercício da fé  nesta verdade, fazer provisão para o futuro, considerando que  nós  não sabemos o que pode nos acontecer no mundo.
E se nós viveremos para ver a igreja em tempestades, como certamente ela terá que enfrentar, então o nosso principal amparo e suporte deve ser o Consolador todo-poderoso.








29 - Viver Pela Fé

“Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.” (Hab 2:4)

Esta foi a revelação que Deus fez ao profeta Habacuque em sua perplexidade em razão de que muitos morreriam em Israel sob o poder dos babilônios, e o restante do povo de Deus seria levado em cativeiro.
Onde, quando e como se cumpririam as boas promessas de paz e de vida da parte de Deus para Israel?
Habacuque não podia entendê-lo, até que lhe veio a resposta da parte do Senhor.
 Vida e paz é algo que está associado à justiça divina, que é obtida por fé.
Aquele que a possui viverá para sempre, ainda que morra fisicamente.
É para este propósito que o pecador é justificado pela fé em Cristo.
Daí o apóstolo ter afirmado em Romanos 6:
“Oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.”

“E, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.”

Como Deus poderia se comprazer, se agradar de quem anda de modo contrário à verdade revelada nas Escrituras?
Como poderia aprovar tal comportamento que é contrário à Sua vontade?
Por exemplo: o que Deus espera de uma mãe em relação a seus filhos, senão que seja exemplo para eles e lhes ensine a caminhar na justiça do evangelho.
Isto demandará sobretudo que os corrija, discipline e repreenda, segundo a doutrina da Palavra de Deus, com amor e longanimidade.
Em suma,  ela deve se esforçar através da oração e do ensino, até ver Cristo formado neles.
Este é o principal aspecto da prática justiça que Deus espera ver numa mãe que é cristã.
O mesmo se aplica aos deveres dos esposos, dos filhos, dos líderes, dos servos.
O cristão não recua na fé para a perdição da alma.
Mas se diz que, Deus não se compraz nele,  caso venha a recuar, ou seja, a não perseverar na prática da Palavra, pois foi justificado para ser justo, para viver pela fé na verdade e na justiça.
Daí nosso Senhor afirmar no Sermão do Monte que são bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça.
Estes são saciados por Deus em sua fome e sede para poderem viver segundo o padrão da justiça divina, revelada no Evangelho.








30 - A DIFERENÇA ENTRE CAMINHAR ATRAVÉS DE VISTA, E CAMINHAR POR FÉ 

Por John Wesley (adaptado)

 "Porque caminhamos por fé, e não através de vista".  (2 cor 5:7)

 Você é um cristão em Jesus Cristo? Você está se sentindo infeliz porque não tem dinheiro o bastante para comprar tudo o que gostaria de ter? Parece-me que você está equivocado quanto ao sentido da vida, porque o dinheiro somente pode comprar coisas visíveis, e o cristão é chamado a buscar não o que é visível, mas o que é invisível e que não se pode comprar com dinheiro. Bondade, amor, fé, paz, alegria, perdão e outras realidades espirituais invisíveis como estas; podem ser adquiridas pelo dinheiro? E sem estas coisas, há algum verdadeiro sentido na vida? Isto sem falar que estas coisas são eternas, e as visíveis são passageiras, e estarão na sua posse somente enquanto viver neste mundo.

“Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. (II Cor 4.18)

1. A breve declaração do apóstolo de que os cristãos andam por fé e não por vista, resume e abrange completamente a experiência de todos aqueles que são verdadeiramente filhos de Abraão, porque viverão como imitadores da fé daquele que foi designado como pai deles, por causa da fé que tivera.

2. Todos os verdadeiros cristãos, e somente estes podem dizer:  “Nós caminhamos por fé, e não através de visão." Mas, antes que  nós possamos caminhar por fé, temos que viver por fé, e não através de vista. E a todos os cristãos nosso Senhor disse: “Porque eu vivo, vocês também viverão”. Esta vida aqui referida é a vida do céu, a vida repleta de um novo senso espiritual pelo qual somos exercitados a discernir,  entre bem e mal espiritual.

3. Através do sentido da visão nós tomamos conhecimento do mundo visível, da superfície da terra, até a região das estrelas. Mas, o que é o mundo visível para nós, senão um ponto na criação, comparado com todo o universo?

4. Todos nossos sentidos externos, são adaptados evidentemente para este mundo externo, visível. Eles são projetados para nos servir durante nossa curta estada aqui, enquanto habitamos nestas moradas de barro. Eles não têm nada a ver com o mundo invisível;  não são adaptados para isto, não podem ter nenhum  conhecimento do eterno, que pertence ao mundo invisível; embora estejamos completamente assegurados da sua existência, a partir de observação de qualquer coisa do mundo visível, conforme se afirma em Rom 1.20.
“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;”  (Rom 1.20).

5. Mas, se podemos depreender a existência deste mundo invisível, no entanto não podemos discerni-lo nem compreendê-lo com nossos sentidos, nem com aquele que é o de maior alcance para nos colocar em contato com as coisas visíveis, que é a visão.

6. Mas não há nenhuma ajuda? Temos que permanecer em trevas totais quanto ao que é relativo ao invisível e ao mundo eterno? Nós não podemos afirmar isto porque como vimos antes, há rastros apontando para este mundo invisível, pelo que se pode ver do poder de Deus na criação.

7. Mas todos estes rastros de luz reunidos, não podem ajudar a produzir senão um lânguido crepúsculo quanto à compreensão do que é invisível. E desta forma, Deus coloca um juízo sobre todos os homens que se julgam sábios, deixando-lhes vedados os segredos daquele mundo que há de permanecer para sempre, de maneira que nenhum deles venha a se gloriar na sua própria sabedoria e conhecimento, porque esta se refere somente às coisas passageiras, e não daquelas coisas eternas que poderão ser conhecidas somente por revelação divina.

8. Então, para Sua exclusiva glória, Deus designou a fé como o meio de se poder compreender e experimentar estas realidades espirituais, celestiais e divinas, que são eternas. Foi por meio da fé, que até mesmo aqueles, que viveram antes de Cristo ter se manifestado na carne, puderam andar como vendo o que é invisível.

“Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.”  (Hb 11.27).
 9. Quando o plano de Deus estiver concluído em relação à nova criação espiritual, que está se formando em Jesus Cristo, este mundo  visível passará, porque o propósito da sua existência era o de incitar à descoberta destas regiões desconhecidas, que permanecerão para sempre e que não poderão jamais ser removidas ou abaladas, como são todas as coisas deste mundo presente.

10. Aqueles que caminham por fé têm os olhos da sua compreensão abertos pelo derramar da luz divina em sua alma, por meio da qual lhes é permitido ver aquilo que é invisível: o Senhor e as coisas divinas. O que seus olhos não tinham visto, nem penetrado em seus ouvidos e corações, Deus lhes revela pela unção do Santo que lhes ensina todas as coisas.

11. Aqueles que vivem por fé, devem caminhar por fé. Isto significa que não devem mais orientar seus julgamentos relativos a bem e mal tendo como referência as coisas visíveis e temporais, mas as coisas que são invisíveis e eternas.  Eles sabem que as coisas visíveis são de pequeníssimo valor, porque morrem como um sonho, mas ao contrário, quanto às coisas invisíveis, lhes são de alto valor porque nunca morrerão.
Tudo que é invisível, é eterno; assim como o espírito é eterno. Então, aquele que caminha por fé não terá seus desejos e afetos aprisionados pelas coisas visíveis que são temporais, mas pelas coisas invisíveis que são eternas. O próprio Deus colocará esta disposição correta no coração que Lhe for fiel, para atribuir o devido valor ao tesouro celestial no qual deve estar o coração dos que Lhe amam verdadeiramente. Estes tudo sacrificarão, a tudo renunciarão neste e deste mundo visível, para poderem fazer a vontade de Deus, no ministério e no modo de vida que Ele designar a cada um deles.  Paulo foi empobrecido de bens e de honrarias deste mundo quando foi chamado por Cristo, mas foi enriquecido como poucos, com o verdadeiro tesouro e com a verdadeira honra que procedem de Deus.
  Por isso Jesus disse o seguinte:
“E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida do homem não consiste na abundância do que possui.”  (Lc 12.15).
 A vida consiste em ter tal comunhão com Deus, andando por  fé,  e tendo nEle todo o nosso prazer, que o próprio Deus colocará  sentido, gosto, prazer e significado em tudo o que fizermos e tivermos neste mundo, porque seremos movidos pelo Seu amor e nos fará alegres e gratos em toda e qualquer situação. De que adianta ter muitos bens, se não temos uma consciência em paz com o Senhor, e se Ele não nos dá a paz e alegria necessários para desfrutarmos o que temos, seja pouco ou muito, ou até mesmo nada?
Estes que caminham por fé, fixam o objeto da sua busca e seus afetos nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra. Eles buscam somente as coisas que são, onde Jesus está assentado à destra de Deus, porque sabem que as coisas que são vistas, são temporais e falecem como uma sombra, por isso as consideram como nada, e elas não podem prender seus corações, porque miram as coisas que não são vistas e que são eternas.
Eles julgam todas as coisas, discernindo se são boas ou más, para promoverem ou impedirem o bem estar deles, não no tempo, mas na eternidade. Tudo pesam de acordo com a busca deste equilíbrio: “Que influência isto terá no meu estado eterno? Em que pode melhorar a minha comunhão com Deus e uma maior consagração ao Seu serviço? Assim, estes que caminham verdadeiramente por fé, regulam todos os seus temperamentos e paixões seguindo o exemplo dos profetas e dos apóstolos, que lhes foram dados por Deus, para serem imitados quanto à maneira de se caminhar neste mundo. Eles não se permitem serem desviados deste alvo.
Eles regulam todos os seus temperamentos e paixões, todos os seus desejos, alegrias e temores por este padrão. E Deus lhes ajudará nisto, em face do sincero desejo de obedecerem o Seu mandamento, de terem o coração fixado no tesouro celestial, e não nas coisas deste mundo. Por isso  regulam todos os seus pensamentos e objetivos, suas palavras e ações, se preparando para aquele mundo invisível e eterno, para o qual irão brevemente. Eles sabem que não têm uma morada fixa aqui neste mundo, e que são apenas peregrinos e forasteiros a caminho da sua verdadeira pátria celestial e eterna. Sabem que estão no mundo, mas não pertencem a ele.

12. Irmãos, vocês são do número destes que permanecem diante de Deus? Vocês O veem com quem vê Aquele que é invisível? Vocês têm fé, a   fé viva, a fé de uma criança? Vocês podem dizer: A vida que eu vivo agora, eu vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e se deu por mim? Vocês caminham por fé? Observe a pergunta: eu não pergunto, se você amaldiçoa, ou jura, ou profana o domingo, se você faz mais ou menos o bem,  ou se assiste a todas as ordenações de Deus, ou vive em qualquer pecado externo. Suponha que você é inocente em todos estes aspectos, e eu ainda pergunto, no nome do Senhor, por qual padrão você julga o valor das coisas? Pelo mundo visível ou invisível?
Eu lhe trago o assunto num único exemplo: O que você acha melhor; que seu filho seja um sapateiro piedoso, ou um senhor profano? O que lhe parece mais plausível; que sua filha seja uma filha de Deus, e caminhar a pé, ou uma filha do diabo e andar somente em carros luxuosos? Quando a pergunta que estiver interessando se referir ao casamento de sua filha; você consideraria o corpo dela mais importante que sua alma? Tenha então conhecimento de que você está no caminho do inferno, e não no caminho do céu, porque está caminhando através da vista e não por fé. Eu não pergunto, se você vive em qualquer pecado externo ou omissão; mas, se você busca no teor geral de sua vida, as coisas do alto, que realmente são, ou as coisas daqui debaixo, que não são? Você fixa seu afeto nas coisas daqui debaixo ou nas coisas que são do alto? (Col 3.1-5). Se é nas coisas que são aqui debaixo, seguramente está caminhando para a destruição, e está experimentando a morte espiritual pela quebra da sua comunhão com Deus, cujo amor não pode permanecer naquele que ama o mundo e as coisas que são do mundo.
Meus queridos amigos, deixe todo homem e toda mulher entre vocês, lidarem honestamente consigo mesmos perguntando ao seu próprio coração: O que eu estou buscando no dia a dia? O que eu estou desejando? O que eu estou procurando? Terra ou céu? As coisas que são vistas, ou as que não são vistas? Quem é o seu objetivo: Deus ou o mundo? Se o mundo for o seu objetivo, toda a sua religião é vã, e você não tem ainda conhecido o caminho de Deus.
13. Cuide para que seus afetos, seu desejo, sua alegria, sua esperança, sejam fixados não em objetos passageiros, em coisas que desaparecem como uma sombra, mas naquelas coisas que não mudam e que são incorruptíveis; aquelas coisas que permanecerão mesmo quando o céu e a terra passarem, e não se achar nenhum lugar para eles.
Se você fizer uma justa avaliação das coisas, segundo Deus as vê, então o seu corpo será todo luminoso, porque o seu olhar será bom, pois verá com os olhos da alma, como quem vê o invisível, e estará caminhando por fé  e não por vista. Toda a sua alma desfrutará da luz de Deus, e verá a luz do Seu glorioso amor; não somente verá, como também lhe será concedido pelo Senhor poder experimentá-lo com alegria e paz inefáveis.

14. Cuide portanto, para que todo o seu desejo esteja voltado para o Senhor, e Ele mesmo lhe fará participante de todas as coisas que são lícitas e boas. Você terá uma relação adequada com todas as coisas deste mundo sem ser dominado por nenhuma delas, porque não será nelas que estará todo o seu desejo e coração.

15. Cuide para se precaver de desejos tolos e danosos que surjam de qualquer coisa visível ou temporal. Todos estes desejos foram resumidos pelo apóstolo João, naquela expressão geral de advertência de não amarmos o mundo nem as coisas do mundo (I João 2.15).
Não dê lugar a nenhum desejo da carne, dos olhos, ou à soberba da vida (desejo de honrarias, posições, louvores pessoais), que não procedem de Deus Pai, mas do mundo (I João 2.16). A razão disso é expressada pelo apóstolo da seguinte forma: “E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” (I João 2.17). Nós temos aqui a mesma advertência que Paulo havia feito aos coríntios: “E os que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a aparência deste mundo passa.” (I Cor 7.31).

16. Observe bem: Esta é a religião cristã verdadeira, e somente esta; não esta ou aquela opinião, ou sistema de opiniões. A verdadeira religião é um viver e entrar na eternidade, e isto só pode ser alcançado por aquela vida que está escondida com Cristo Jesus, em Deus. De maneira que, se não permanecemos em Cristo, não podemos permanecer na verdade, na fé, na vida eterna.

17. Esta verdadeira religião não será portanto, apreciada pelos que são do mundo, antes será odiada por eles, porque se opõe ao sistema do mundo. Não é do mundo. Não ama o mundo. E assim, o mundo não pode amar aquilo que não é seu e que não lhe ama. Se fosse do mundo, o mundo a amaria. Mas, como não demonstra interesse, afeto e desejo pelo que o mundo oferece, não pode então contar com a apreciação do mundo, e será perseguida por ele. Não somente porque seja diferente, mas por ser um modo de vida infinitamente mais elevado do que aquele que o mundo tem a oferecer, e que é passageiro, enganoso, que não valoriza as coisas eternas e invisíveis que Deus preparou para que colocássemos nelas todo o nosso interesse e afeto.
  Este é o ensino direto da Bíblia, é o ensino de Jesus e dos apóstolos, e que é chamado de verdade. A única verdade, como já dissemos anteriormente. Para quem anda por vista e não por fé soará exagerado, radical, fanático, desequilibrado, alienado ou qualquer outro adjetivo que costumam atribuir-lhe os que têm mente carnal, mas para os que são espirituais;  é toda a sua vida, é o verdadeiro tesouro, é a pérola de grande valor, é a certeza e a garantia da salvação de suas almas, e somente estes podem ver e experimentar isto, porque é concedido àqueles que caminham por fé e não por vista.

“26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.
28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?
29 Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele,
30 Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.
31 Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?
32 De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.
33 Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14.26-33).







31 - A FÉ DE RAABE

Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)

“Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos espias.” (Hb 11.31)

Em quase    todas as capitais da Europa há variedades de arcos do triunfo ou colunas, que são recordações dos valiosos feitos dos generais do país,    seus imperadores, ou seus monarcas. Você encontrará, em alguns as muitas    batalhas de um Napoleão, e em outros, você encontrará retratadas as vitórias do Almirante Nelson. Parece então que,    consequentemente, essa fé, que é mais poderosa do que todos os poderosos, deveria ter uma coluna levantada em sua honra, na qual suas ações valorosas fossem registradas.       
O autor de Hebreus tomou para si a responsabilidade de levantar a estrutura, e ele erigiu a mais magnífica coluna no capítulo diante de nós. Ele relata as vitórias da fé. Começa com    um triunfo da fé, e então prossegue com os demais. 
Nós temos, em um lugar, a fé triunfando sobre a morte; Enoque não penetrou os portões do hades, mas alcançou o céu por uma outra estrada diferente daquelas que são habituais aos homens. 
Nós temos a fé, em um outro lugar, medindo forças com o tempo; Noé, advertido por Deus a respeito das coisas que não se viam ainda, lutou com o tempo, pois o dilúvio estava    cento e vinte anos adiante; no entanto, na confiança da fé, ele creu contra toda a expectativa racional, contra toda a probabilidade, e sua fé era mais do que compatível com o tempo demasiado que deveria aguardar. 
Nós temos a fé triunfando sobre a fraqueza. Abraão teve um filho em sua idade avançada. E então nós temos a fé triunfando sobre a afeição natural, porque nós vemos Abraão escalar o alto do monte e levantar a faca para matar o seu único e amado filho sob o mandado de Deus.       
Nós vemos a fé, outra vez, sendo alistada nas fraquezas da idade avançada e os sofrimentos do último esforço, como nós lemos, "pela fé Jacó, quando estava morrendo, abençoou os filhos de José, e adorou, inclinando-se sobre o seu bordão.”.
Então nós temos a fé combatendo a sedução de uma corte rica. Pela fé Moisés “considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito”. Nós vemos a fé destemida em coragem quando Moisés abriu mão do Egito, não temendo a fúria do faraó, e igualmente paciente no sofrimento quando permaneceu vendo Aquele que é invisível.
Nós temos a fé dividindo mares, e ruindo abaixo paredes fortificadas. E então, como se a grande vitória devesse ser registrada por último, nós temos a fé entrando nas fileiras do pecado, e vencendo uma luta com a iniquidade, e revelando alguém mais do que vencedor. “Raabe, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos espias.”. Que esta mulher não era nenhuma mera anfitriã, mas uma real prostituta, eu tenho demonstrado abundantemente a cada ouvinte sincero enquanto leio este capítulo. Eu estou persuadido disto, que nenhum comentarista estaria disposto a negar o pecado dela. Eu penso que este triunfo da fé sobre o pecado    não é o único aqui registrado, mas se há alguma superioridade atribuível às façanhas da fé, esta é, em certo sentido, a maior delas. O quê? Fé, tu lutarias com a luxúria horrenda? "Sim", a fé responderia. "eu encontrei esta abominação de iniquidade; eu livrei    esta mulher das câmaras nojentas do vício, da armadilha maliciosa do encantamento, e da terrível penalidade da transgressão; sim, eu    a trouxe para fora, salva e resgatada, dei-lhe pureza de coração, e renovei nela a beleza da santidade; e seu nome será gravado agora no rol de meus triunfos como a mulher completamente cheia de pecados, que foi contudo salva pela fé.". 
Eu terei algumas coisas para dizer a respeito desta vitória notável da fé sobre o pecado, que levará vocês a verem que isto foi realmente um triunfo proeminente da fé.    Eu farei minhas divisões de maneira que você possa    recordar. A fé desta mulher era uma fé: a) salvadora,    b) singular, c) estável, d) abnegada, e) simpatizante e f) santificadora.
Destaquemos então tais particularidades da fé desta mulher:

I. Em primeiro lugar, a fé desta mulher era FÉ SALVADORA. Todas as demais pessoas mencionadas em Hebreus 11 foram salvas, sem dúvida, pela fé; mas eu não encontro registrado especialmente no que concerne a alguns deles que não pereceram    em razão da sua fé; enquanto a respeito    desta mulher se diz que somente ela foi salva em meio à destruição geral de Jericó por causa da sua fé. E, sem dúvida, a sua salvação não foi meramente de natureza temporal, não meramente o livramento do seu corpo da espada, mas a redenção de sua alma do inferno. Óh! Que coisa poderosa é a fé, quando livra a alma de ir para o fundo do abismo! Quão poderosa é a torrente do pecado que está    sempre a jorrar, que nenhum braço é suficientemente forte para fazê-la cessar, a não ser o braço da divindade, que pode fazer o pecador parar de estar correndo sempre e apressadamente para baixo, como um rio, na direção das trevas do golfo do desespero, e, quando se aproxima deste golfo, tão impetuosa é a torrente da ira divina, que nada pode arrebatar a alma da perdição, mas somente uma expiação que seja tão divina quanto o próprio Deus. E a fé é o instrumento que realiza todo o trabalho. Ela retira o pecador do córrego do pecado, e assim, sob a onipotência do Espírito Santo, o salva desse grande redemoinho de destruição no qual a sua alma estava sendo conduzida. Que coisa grande é salvar uma alma!       
Você nunca poderá saber quão grande é isto, a menos que você tivesse a qualidade de um salvador de outros homens. Você, o homem heróico que, ontem, quando a casa estava pegando fogo, escalou a escada que rangia, e sufocado pela fumaça, entrou no quarto superior, pegando um bebê em sua cama e uma mulher na janela, sustentando a ambos em seus braços, e os salvou do perigo com o risco da sua própria vida, e todos puderam dizer-lhe quão grande coisa é ser salvo por um amigo. Aquele nobre coração da juventude que, ontem, saltou no rio, colocando-se a si mesmo em perigo, e arrebatou da morte um homem que estava se afogando, fez com que ele sentisse quando chegou em segurança à margem do rio, que grande coisa era salvar uma vida. Ah! mas você não pode dizer quão grande coisa é salvar uma alma. Isto é somente para    nosso Senhor Jesus Cristo que pode lhe dizer isso, porque é o único que foi dado como Salvador dos pecadores. E recorde, você somente pode saber como a fé é uma grande coisa    sabendo o valor infinito da salvação de uma alma.
Agora, “pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída”. Que ela foi realmente salva, não somente no sentido evangélico, como também no sentido temporal, parece-me estar provado na sua recepção dos espiões que eram símbolo da entrada da Palavra no seu coração, e    a sua preservação pelo fio vermelho era uma evidência da fé, retratando a fé no sangue de Jesus, o Redentor. Mas quem pode medir o comprimento e a largura da palavra salvação. Ah! Este foi um poderoso resultado da    ação da fé quando ela a ganhou em segurança. Pobre pecador! Tenha conforto. A mesma fé que salvou Raabe pode salvá-lo. És uma das irmãs de Raabe no tocante à culpa? Ela foi salva, e você também o será se Deus te conceder o arrependimento. Mulher! Sentes repulsa por ti mesma?    Se porventura você se encontra nesta congregação pensando consigo mesma: “eu estou envergonhada de estar aqui, eu sei que eu não tenho o direito de estar entre pessoas que são puras e honestas”. Eu te convido ainda a permanecer; e fazer desta igreja a tua casa de oração. Tu não és uma intrusa! Tu és bem-vinda! Tu tens o direito sagrado de frequentar a corte da misericórdia. Tu tens o direito sagrado de estar aqui; porque os pecadores são convidados a estarem aqui, semelhantemente como tu. Creia em Cristo, e então, como Raabe, não perecerás juntamente com os desobedientes, mas serás salva.
E agora há algum cavalheiro na audiência que possa estar pensando: "será que há um evangelho para mim; um tipo de santuário para homens maus, pelo qual, até    a pior pessoa possa ser salva?”. Sim, há um tal evangelho. Esta é a antiga objeção que Celso usou contra Orígenes em sua discussão. "Mas," disse Orígenes: "é verdade, Celso, que o evangelho de Cristo é um santuário para ladrões, usurpadores, assassinos e prostitutas. Mas saiba isto, ele não é meramente um santuário, ele é também um hospital, para curar os pecados deles, livrando-os de suas doenças, e eles não serão mais tarde o que eles foram antes de receberem o evangelho.". Eu não peço que nenhum homem venha hoje a Cristo, e que continue então em seus pecados. Se assim fora, eu estaria lhe pedindo um absurdo.    
Nós repetimos outra vez, que o principal dos pecadores é bem-vindo tanto quanto o melhor dos santos. A fonte cheia de sangue foi aberta para o imundo, a veste de Cristo foi tecida para os despidos; o bálsamo do Calvário foi preparado para os doentes; a vida veio ao mundo para levantar os mortos. E Oh! vocês perecendo com suas almas culpadas, possa Deus dar-lhes a fé    de Raabe, e vocês acharão a salvação e estarão com vestes brancas    imaculadas cantando um interminável aleluia a Deus e ao Cordeiro.

II. A fé de Raabe era uma FÉ SINGULAR. A cidade de Jericó estava a ponto de ser atacada; dentro de seus muros havia muitas pessoas de todas as classes e caracteres, e sabiam muito bem isto, que se a sua cidade fosse atacada todos eles estariam condenados à morte; mas ainda assim, é estranho dizer, não havia um só deles que tivesse se arrependido do pecado, ou quem tivesse pedido misericórdia, exceto esta mulher que tinha sido uma prostituta. Ela, e somente ela seria salva, solitariamente no meio de uma multidão. Agora, você percebeu quão difícil é ter uma fé singular? É a coisa mais fácil do mundo crer quando todos os outros crêem, mas a dificuldade é crer em algo sozinho, quando ninguém mais pensa como você; ser um campeão solitário da causa da justiça quando o inimigo passa em revista seus milhares na batalha. Esta era a fé de Raabe. Ela não teve ninguém que tivesse sentido como ela havia sentido, que pudesse penetrar em seus sentimentos e avaliar o valor da sua fé. Ela se levantou só. Óh! é uma coisa nobre    ser    seguidor solitário da verdade menosprezada. Há alguns que poderiam lhe dizer como permaneceram firmes de pé solitariamente. Houve    dias em que o mundo derramou continuamente sobre eles um rio de infâmia e calúnia, mas eles obstruíram a corrente, e, continuaram pela graça, tirando força da sua própria fraqueza, e em seu sucesso foram elogiados e aplaudidos por muitos daqueles que os haviam desprezado anteriormente. Fizeram então com que o mundo lhes desse o nome de “grandes”.    Mas onde registraram a sua grandeza?
Eles permaneceram firmes de pé na tempestade, assim como estiveram firmes na calmaria – eles estavam contentes em servir a Deus solitariamente assim como quando corriam com cinquenta. Para sermos bons nós devemos ser singulares. Os cristãos devem nadar contra a correnteza. Os peixes mortos sempre são levados pela correnteza, mas a força dos peixes vivos os capacita a nadar contra a mesma. Agora, os homens religiosos mundanos    irão    apenas como vão todos os demais.
Ó! não há nenhuma grande virtude em um homem, nenhuma grande força de vontade perfeita, a menos que ele ouse ser singular. A maioria de vocês está sempre receosa em ficar fora de moda, e vocês gastam mais dinheiro do que deveriam porque vocês pensam que devem ser respeitáveis. Vocês não ousariam mover-se em oposição a seus irmãos e irmãs do seu círculo de convivência, e consequentemente, envolvem-se em dificuldades. Vocês fecham os olhos nas ricas lojas de modas, e em seguida muitas coisas erradas são toleradas porque é o costume. Mas um homem com força de vontade não é um que tenta ser singular, mas que ousa ser singular, quando sabe que    ser singular é o correto. Agora, a fé de Raabe,    pecadora que era,    teve esta glória, esta coroa sobre sua cabeça, que ela ostentou sozinha, cheia de fé entre os incrédulos entre os quais se encontrava. E por que Deus não concederia a mesma fé a você, pobre pecador, mas arrependido ouvinte? Você vive em uma rua sem importância, numa casa que nada contém, e cujos moradores não guardam o dia do Senhor, e onde residem homens e mulheres irreligiosos. Mas se você tiver a graça em seu coração você ousará fazer o certo. Você não pertence a um clube de infiéis; se você lhes fizesse um discurso sobre a sua própria consciência, eles certamente o vaiariam; e se você abrisse mão da companhia deles, eles o perseguiriam. Vá e tente isto. Ouse. Veja, se você pode fazê-lo; porque se você tiver medo dos homens, você pode cair numa armadilha que lhe trará aflição e poderá ser seu pecado. Lembre-se, o pior dos pecadores pode tornar-se o mais audaz dos santos; os piores homens no exército do diabo, quando se convertem, tornam-se os mais fiéis soldados de Jesus.
A esperança da cristandade tem sido liderada geralmente pelos homens que têm provado a alta eficácia da graça num grau eminente por terem sido salvos entre os maiores pecadores. Vá e o Senhor lhe dará esta elevada fé singular! Lembre-se de Raabe que era uma prostituta, e deixou-nos este maravilhoso exemplo de fé vencedora singular que transformou a sua vida, e levou Deus a honrá-la incluindo-a na genealogia de nosso Senhor Jesus Cristo. A sua fé e santidade a tornaram uma mulher notável e ela veio a ser desposada por um dos príncipes de Judá, Salmon (Mt 1.5), e viria a ser mãe de Boaz, que desposou Rute, e que viria a ser a bisavó do Rei Davi (Rute 4.17-22). 
Mas esta mulher era tão forte na fé que toda sua família foi salva da destruição. Mulher jovem! você tem um pai, e ele odeia o Salvador. Óh! ore por ele. Mãe! você tem um filho: ele zomba de Cristo. Clame a Deus por ele. Ah, meus jovens amigos, nós temos orado pouco pela salvação dos nossos familiares. Eu sinto que eu nunca seria abençoado por Deus sem as orações de minha mãe. Eu pensava que era um grande incômodo ter semelhante tempo gasto em oração, e    mais especialmente para clamar, como minha mãe costumava fazer. Eu teria rido diante da idéia de alguém me falando acerca destas coisas, mas quando ela orava ela dizia: “Senhor, salve meu filho Charles”, e então eu era quebrantado e chorava. Ah! E quanto a você jovem! Sua mãe está morrendo, e a única coisa que pode tornar amargo o seu leito de morte é você zombar de Deus e odiar a Cristo. Óh! este é o último grau da impiedade, quando alguém não se importa com os sofrimentos de sua mãe. Eu esperaria não ter os tais aqui, mas quantos de vocês têm sido tão abençoados, como têm nascido de homens piedosos e mulheres que podem levar isso em consideração: que perecer com as orações da mãe é perecer horrivelmente; porque se as orações de uma    mãe não puderam nos trazer a Cristo, elas são como gotas de óleo que caem nas chamas do inferno que as farão queimar mais ferozmente sobre a alma eternamente. Tome cuidado para não apressar a sua ida para o inferno sob as orações de sua mãe! 
Há uma anciã chorando. Você sabe por que? Eu creio que tenha filhos também, e que os ama. Eu deparei com um pequeno incidente outro dia, após pregar. Havia um menino pequeno no canto da mesa, e seu pai perguntou-lhe, "o que faz seu pai amar você, John?". Disse o pequenino prontamente, "porque eu sou um menino bom.". "sim." disse o pai, "não o amaria se você não fosse um menino bom.". Eu virei para o bom pai e o adverti, que eu não estava completamente convicto sobre a verdade da última observação, porque eu acredito que o amaria ainda que ele fosse ruim.

III. Além disso, a fé desta mulher era UMA FÉ ESTÁVEL, que ficou firme no meio da dificuldade. Eu tenho ouvido de um cristão que certa ocasião foi solicitado pelo dirigente da sua igreja, depois de um longo período de seca, que orassem a Deus pedindo que chovesse. “Bem", ele disse,    "meu bom homem, eu obedecerei, mas não é de nenhum proveito, fazê-lo quando o vento está no leste, eu tenho certeza disto.". Há muitos que têm esse tipo de fé: crêem quando as probabilidades são favoráveis a eles, mas quando a promessa e a probabilidade se separam, então seguem a probabilidade e não ficam com a promessa. Dizem, "a coisa é provável, consequentemente eu acredito nela.". Mas isto não é    fé, isto é vista. A fé verdadeira exclama, "a coisa é improvável, contudo eu creio nela.". Isto é fé real. Fé é dizer que "montanhas, quando escondidas na escuridão, são tão reais quanto quando o dia está claro.". Fé é olhar através dessa nuvem, não com o olho da vista, que nada viu, mas com os olhos da fé, que tudo viram, e dizer: "Eu confio nele quando eu não o posso    localizar; eu ando sobre o mar tão firmemente como se fosse uma rocha; Eu ando tão firmemente na tempestade quanto sob a luz do sol, e descanso quando surgem as ondas do oceano tanto quanto em minha cama.”. A fé de Raabe era um tipo de fé como esta, porque era firme e duradoura.
Temos que ter uma conversa com Raabe esta manhã, porque eu suponho que a velha Incredulidade comungou com ela. Agora, minha senhora, você não vê o absurdo desta situação ? Porque, o povo de Israel estava do outro lado do rio Jordão, e não havia nenhuma ponte: como eles atravessariam? Certamente eles deveriam dirigir-se para muito além, num ponto acima do rio, onde se poderia passar pelo Jordão a pé; e então Jericó estaria segura por um longo tempo. Eles teriam que passar por outras cidades antes de chegarem a Jericó, e, além dos cananitas serem fortes, os israelitas não passavam de um bando de escravos; eles seriam em breve, feitos em pedaços, e isto seria o fim deles; consequentemente, não abrigue estes espiões. Por que arriscar    sua vida em uma tal    improbabilidade?”. "Ah", ela diz, "eu não me importo com o Jordão; minha fé pode crer além do Jordão, senão seria somente uma fé em terra seca.". Não muito depois, depois abriu as águas do rio, e eles marcharam através do Jordão a pé enxuto, e a fé ficou mais forte. "Ah!" ela diz, secretamente consigo, o que ela teria dito de todo o coração aos seus vizinhos: "vocês não acreditarão agora?    vocês não suplicarão agora pela misericórdia?". "Não" eles dizem: "os muros de Jericó são fortes; poderá    a tropa de Israel resistir-nos? E olhe, amanhã as tropas terão ido embora, e o que eles irão fazer? Eles simplesmente só sabem tocar chifres de carneiros”; os vizinhos dela dizem: "por que você, Raabe, não pretende dizer no que você crê agora? Eles estão furiosos, gritando como se fossem loucos.". O povo está apenas rodeando a cidade, e todos preparam suas línguas, exceto uns poucos sacerdotes que tocam chifres de carneiros.”. "Porque isto é ridículo. Era completamente uma coisa nova na guerra ouvir homens tomar uma cidade tocando chifres de carneiros.". Isso foi no primeiro dia; provavelmente no dia seguinte, pensou Raabe, eles viriam com escadas para escalar os muros; mas não, chifres de carneiros    outra vez, até o sétimo dia; e esta mulher manteve o fio escarlate na janela por todo o tempo, guardando seu pai, sua mãe,    irmãos e irmãs na casa, e não os deixou sair, e no sétimo dia, quando o povo fez um grande barulho, o muro da cidade caiu ao chão; mas sua fé superou sua timidez feminina, e permaneceu dentro da casa, embora o muro tivesse caído em terra
A casa de Raabe permanecera sozinha sobre o muro, como um fragmento solitário entre uma ruína universal, e ela e sua casa foram salvas. Agora você teria pensado como uma planta tão rica pôde crescer num solo tão pobre - que    fé forte poderia crescer em um coração pecaminoso como o de Raabe? Ah! mas é justamente aqui que Deus manifesta a sua grande administração. "Meu pai é o lavrador", disse Cristo. Todo agricultor pode retirar uma boa colheita de um bom solo; mas Deus é o lavrador que pode fazer    crescer cedros nas rochas, que    pode não somente pôr o hissopo em cima do muro, mas põe o carvalho lá também    e faz a    maior fé aparecer na posição mais improvável. Toda a glória à Sua graça! Pecadores podem    chegar a ter uma grande fé. "Tenha então bom ânimo, pecador! Se Cristo pode conduzir-te ao arrependimento, tu não tens qualquer necessidade em pensar em ser o menor na família. Óh! não, teu nome pode ser escrito entre os poderosos, e podes vir a ser um memorável e triunfante exemplo do poder da fé.

IV. A fé desta mulher era uma FÉ ABNEGADA. Ela ousou arriscar sua vida por causa dos espiões. Sabia que se fossem encontrados em sua casa seria condenada à morte; mas embora ela estivesse enfraquecida diante do seu ato culposo, diante dos de Jericó, ainda assim ela preservou os espias, e    tornou-se tão forte que ela correria o risco de ser morta para salvar aqueles dois homens. Isto é uma coisa que podemos fazer quando somos aptos a negarmo-nos a nós mesmos. Um americano disse certa ocasião: "Eu tenho uma boa religião; da melhor espécie de religião; que não me custa um centavo ao ano; no entanto eu acredito que eu sou    verdadeiramente um homem religioso como qualquer um.". "Ah!" disse alguém que o tinha ouvido: "o Senhor tenha misericórdia da    sua alma mesquinha e miserável, porque se você tivesse sido realmente salvo não ficaria contente por gastar apenas um centavo ao ano.”. “um centavo ao ano"! Eu considero perigosa tal afirmação, que nada há na fé deste homem que não exercita a abnegação.
Se nós nunca damos qualquer coisa à causa de Cristo, trabalhemos para Cristo, neguemo-nos a nós mesmos por Cristo. Eu poderia chamar alguns de vocês de    hipócritas: vocês cantam, "e se eu pudesse fazer alguma reserva, e o dever não    chamasse, eu amo meu Deus com    zelo tão grande, que eu    lhe daria tudo de mim.". Sim, mas vocês não são diferentes deste; porque vocês sabem bem que aquilo que    vocês fazem não é tudo, nem meio, nem ainda a milésima parte do que deveriam fazer. Eu suponho que vocês pensam que vocês são pobres, entretanto o ganho anual de vocês é certo, mas vocês o retêm para si mesmos, sob a noção de que “quem tem dado ao pobre, tem emprestado ao Senhor.". Isto é investimento e não abnegação, ou renúncia.
Esta mulher disse, "se eu tivesse que morrer por estes homens, eu o faria; eu estou preparada,    até para, de um mau nome, e uma má fama,    como os que eu tenho para ter um nome pior ainda; como uma traidora do meu país. Eu estou preparada para ser entregue à infâmia, se isto for necessário, por ter traído meu país alojando estes espiões estrangeiros, porque eu sei o que Deus fará.". Irmãos, não confiem em sua fé, a não ser que tenha uma abnegação como esta. A fé e a abnegação, são como gêmeos siameses, que crescem unidos e devem viver unidos, e o alimento que alimentou um, alimentará a ambos. Mas esta mulher, pobre pecadora como era, negaria a si mesma. Ela derramou sua vida, assim como uma outra mulher, que era uma pecadora e entregou seu valioso vaso de alabastro, e quebrando-o, ungiu com ele a cabeça de Cristo.

V. A fé desta mulher era UMA FÉ SIMPATIZANTE. Ela não creu somente para o bem de si mesma; ela buscou misericórdia para o próximo. Ela disse: “assim como usei de misericórdia para convosco, também dela usareis para com a casa de meu pai; e que me dareis um sinal certo, de que conservareis a vida a meu pai e a minha mãe, como também a meus irmãos e a minhas irmãs, com tudo que têm, e de que livrareis as nossas vidas da morte.”. Eu conheço um homem que caminha sete quilômetros cada Domingo para ouvir a pregação do evangelho em determinado lugar. Você sabe muito particularmente, que há todo o tipo de evangelho para os mais variados gostos refinados, cujo espírito consiste em mau gênio, segurança carnal,    arrogância, e em consciência cauterizada. Mas este homem havia se encontrado um dia com um amigo, que lhe disse, "onde está sua esposa?". "Esposa?" respondeu-lhe. "Oh! não", disse o homem; "ela nunca vai a qualquer lugar.". "Bem, mas," disse ele, "você não tenta trazê-la, e as crianças?". "Não; o fato é o seguinte, eu penso que se eu olhar por mim mesmo é o suficiente.". "Bem," disse o outro, "e você acredita que você é um eleito de Deus?". "Sim.", ele respondeu. "Bem, então," disse o outro, "eu não penso que você seja, porque você é pior que os gentios e os publicanos, porque você não    se importa com sua própria casa; consequentemente eu penso que você não tem muita evidência de ser um eleito de Deus, porque ele ama os que são seus.". Assim por mais certa que seja a realidade da nossa fé é necessário que ela deseje alcançar a outros. Você dirá, "você quer fazer proselitismo."Sim; e você replicará, que Cristo disse aos fariseus: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque rodeais o mar e a terra para fazer um    prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós.”. O espírito de proselitismo é o espírito do cristianismo, e nós deveríamos ser desejosos de possui-lo. Se qualquer homem disser, "eu acredito que tais e tais coisas são verdadeiras, mas eu não desejo que ninguém mais creia nisto, eu direi a você, isto é uma mentira; ele não crê, porque é impossível, crer em algo de todo o coração e realmente crer em algo, sem desejar que outros creiam da mesma maneira. E eu estou certo disto, apesar de ser impossível saber o valor da salvação sem desejar ver outros sendo salvos. O pastor renovado, Whitefield disse isto: "tão logo que me converti, eu quis usar de todos os meios para a conversão de todos os meus conhecidos. Havia um bom número de jovens com os quais eu havia jogado cartas, com quem eu havia pecado, e transgredido juntamente. A primeira coisa que eu fiz, foi ir às suas casas para ver se eu podia trazê-los à salvação, e eu não pude descansar enquanto eu não tive o prazer de ver muitos deles sendo salvos pelo Senhor.”. Este é o primeiro fruto do Espírito, uma espécie de instinto do novo convertido. Ele deseja que os outros experimentem o que ele experimentou. Disse um jovem, ao escrever-me esta semana, "eu estou orando pelo meu companheiro no escritório. Eu tenho desejado que ele seja salvo, mas até o    presente não há nenhuma resposta às minhas orações.". Não dê um centavo pela piedade do homem que não dilatar-se a si mesmo. A menos que nós desejemos que outros provem os benefícios que nós temos experimentado, nós somos então monstros desumanos ou hipócritas cruéis. E disse-me    um ministro à mesa, "eu tive um exemplo disto ontem. Eu entrei na casa de uma mulher que teve um filho que se perdeu inteiramente na vida, e ela estava tão cheia de saudade do seu filho como se ele fosse o Primeiro Ministro, ou tivesse sido o filho mais fiel do mundo.”.    Bem, jovem, você retrocederá ante o amor como neste    caso ? O amor que lhe dará satisfação, e não se voltará contra você ? 
Mas talvez essa mulher – eu a vi chorando ainda agora – cuja mãe, já se foi há muito tempo atrás, e que era casada com um marido brutal, que a deixou pobremente viúva; traz à sua mente os dias da infância, quando uma grande Bíblia era aberta e lida junto á lareira, e “Pai nosso que estás no céu” era sua oração noturna. Agora, talvez, Deus está começando algo bom em seu coração. Óh! que ele a trouxesse agora,    apesar dos seus setenta anos de idade, a amar o Salvador! Então ela teria um novo começo de vida em seus últimos dias, que serão os seus melhores dias.    
VI. A fé de Raabe era uma FÉ SANTIFICADORA. Raabe continuou sendo uma prostituta depois de ter crido? Não. Ela não continuou. Eu não creio que ela era uma prostituta quando os espias vieram à sua casa, apesar do mau nome que ela carregava, mas eu estou convicto de que ela não era uma prostituta quando foi desposada depois por Salmon, príncipe de Judá,    e o seu nome foi incluído entre os ancestrais de nosso Senhor Jesus Cristo. Ela veio depois a ser mulher de piedade eminente e que era temente a Deus. Agora, você pode    ter uma fé morta que arruinará a sua alma. A fé que o salvará é uma fé que santifica. "Ah!" diz o bêbado, "eu gosto do evangelho, senhor; eu creio em Cristo;" então ele vai ao bar hoje à noite, e começa a embriagar-se. “Senhor, aquele não é o cristão em Cristo?”. "Sim," dizem outros, "eu creio em Cristo;" e quando começa a falar o faz com palavras superficiais, talvez permaneça na lascívia e no pecado como dantes. Senhor, você fala falsamente; você não crê em Cristo. Essa fé que salva a alma é uma fé real, e uma fé real santifica os homens. Faz-lhes dizer: "Senhor, tens    perdoado os meus pecados; eu não pecarei mais. Tens sido tão misericordioso comigo que eu renunciarei à minha culpa; tens-me tratado tão amavelmente, que eu te servirei até morrer, e se me deres a graça, e socorrer-me, eu serei santo como tu és santo.”. Você pode não ter fé, e ainda viver no pecado. Crer é ser santo. As duas coisas têm que caminhar juntas. A fé morta é uma fé corrompida, que vive no pecado, não a fé que teve Raabe, que fez dela uma mulher santa. O mesmo Deus que santificou a muitos está aqui! O mundo tem buscado todos os processos e maneiras de reformar os homens: mas só há uma coisa que reformará os homens para sempre. E isto é a fé na pregação do evangelho. Mas nesta época, a pregação tem sido muito desprezada. Você lê os jornais, você lê um livro, você ouve o professor; você assiste à TV, e gasta muito tempo com ela, mas onde está o pregador?
Nós queremos ser mais sinceros, na apresentação do discurso relativo à verdade    e apelamos às consciências, e até que o consigamos, nós nunca veremos qualquer grande permanente reforma. Mas pregadores da Palavra de Deus, embora pareça loucura, prostitutas são transformadas, ladrões tornam-se honestos, e o pior dos homens vêm ao Salvador. Mais uma vez, deixem-me afetuosamente convidar o mais vil dos homens, a se entregar a Cristo.    
"Venham, necessitados, venham e sejam bem vindos ao generoso prêmio da glorificação, com verdadeira fé e verdadeiro arrependimento. Perto está a graça que ele nos traz. Venha a Jesus e a compre sem dinheiro.”.
Seus pecados serão perdoados, suas transgressões serão afastadas, e você, de agora em diante não viverá mais pecando, e Ele o guardará até o fim. 
Possa Deus abençoar-nos em nome de Jesus! Amém!








32 - A Relação da Fé com a Bíblia

Enquanto alguém permanecer na condição de não convertido a Cristo, e por conseguinte sem a habitação do Espírito Santo, não poderá aceitar toda a Bíblia como sendo a vera Palavra de Deus, e nem mesmo entendê-la adequadamente.
Isto porque Deus associou a revelação do significado da Palavra à fé em Jesus Cristo. De modo que, sem confiar no Senhor, e sem a instrução, direção e iluminação do Espírito Santo, não é possível compreender as Escrituras e nem mesmo aceitá-la como a verdade que deve ser aplicada à nossa vida.
Primeiro a fé, e somente depois a compreensão e a experiência.
Abraham Kuyper se expressou muito bem a tal respeito da seguinte maneira:
“A fé não é o operar de uma faculdade inerente no homem natural; nem um novo sentido acrescentado aos cinco; nem uma nova função da alma; nem uma faculdade primeiramente latente e agora ativa; mas uma disposição, um modo de ação, implantado pelo Espírito Santo na consciência e na vontade da pessoa regenerada, através da qual ela torna-se capacitada para aceitar a Cristo.
A relação entre Escritura e fé é facilmente determinada. Ambas existem para o bem do pecador, em virtude do pecado, e para remover o pecado; uma não sem a outra, ambas pertencendo uma à outra. Sem a Bíblia, a fé é um olhar sem sentido. Sem a fé, a Bíblia é um livro fechado.
A experiência o prova. Pessoas agraciadas com a faculdade da fé, mas ignorantes quanto à Sagrada Escritura, ou erroneamente instruídas, não fazem nenhum progresso; uma vez instruídas, elas vivem e se fortalecem. Ao contrário, para pessoas familiares com a Bíblia desde tenra idade, mas sem fé, a Bíblia se lhes parece como um livro fechado; a Palavra não penetra neles. Mas quando a Escritura e a fé salvadora abençoam a alma, então a glória do Espírito Santo aparece; pois foi Ele quem primeiro proporcionou a graça particular da Escritura, e então também aquela graça particular, da fé.
Esta é a razão porque os argumentos pela verdade da Escritura nunca beneficiam nada. Alguém a quem a fé é concedida, gradualmente aceitará a Escritura; se não agraciado com a fé, ele nunca aceitará a Escritura, embora fosse inundado com apologética. Certamente que é nossa a tarefa de assistir almas sedentas, explicar ou remover dificuldades, algumas vezes mesmo para silenciar um escarnecedor; mas fazer com que alguém não cristão tenha fé na Escritura encontra-se completamente além da capacidade humana.
A fé e a Escritura pertencem-se juntamente; o Espírito Santo designou uma para a outra. A última é arranjada de tal forma a ser aceita pelo pecador que seja agraciado com a fé. E a fé é uma disposição, reconciliando completamente a consciência e a Escritura. Portanto o "testimonium Spiritus Sancti" deveria ser tomado, não no sentido racionalista ou Ético de ser a operação sobre uma certa disposição universal, mas como um testemunho real do Espírito Santo, quem habita na consciência e nos dá a experimentar a adaptação - como aquela do olho à cor - da Escritura à fé.”







33 - Uma Razão Por que Deus Não se Comunica Visivelmente

Deus quer ser conhecido por nós em Sua essência e caráter.
Por isso se comunica conosco em espírito e mediante a fé.
Ele nos leva a conhecê-lo pelo que vemos a passar a existir em nossa própria personalidade como fruto resultante da nossa comunhão espiritual com Ele, e segundo confirmação do testemunho das Escrituras.
Sabemos que Deus é...
longânimo por Ele nos tornar longânimos,
misericordioso por nos ensinar a ser misericordiosos,
amor, por nos habilitar a amar com o Seu amor.
E isto se aplica ao conhecimento de todos os Seus demais atributos, excetuando-se a Sua onisciência, onipresença e onipotência.
Qual proveito haveria, para este propósito, em que Deus se manifestasse a alguém apenas por lhe permitir ter visão de Sua pessoa ou audição do som da Sua voz?
É assim que chegamos a conhecer outros seres humanos?
Não necessitamos conviver com aqueles que desejamos conhecer, e andar com eles em nossa jornada para ter um vislumbre correto da sua personalidade e caráter?
Quanto mais isto se aplica a Deus se tivermos por alvo conhecê-lo de fato e de verdade.

“a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória,” (I Pedro 1.8)







34 - “Homem de pequena fé, por que duvidaste ?”

Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)

Parece que a dúvida está destinada a ser uma companhia permanente e maldita da fé. Como a poeira que é levantada pelas rodas de uma carruagem, as dúvidas anuviam naturalmente a fé. Alguns homens de pequena fé sempre estão envolvidos em temores; sua fé é forte o bastante somente para deixá-los em dúvida. Se eles não tivessem nenhuma fé, então não teriam dúvidas, mas tendo-a pequena, e assim tão pequena, eles estão perpetuamente submetidos a pensamentos angustiantes, suspeitas e temores. Eu suponho que enquanto o homem estiver neste mundo ele deve ser perfeito em alguma coisa; e certamente isto será completamente impossível se não for perfeito na fé.  Ele tem alcançado uma grande, forte e estável fé,  todavia, algumas vezes,  sujeita à dúvida. Ele, que tem uma fé colossal, descobrirá algumas vezes que as nuvens do medo flutuarão acima da sua confiança. Algumas vezes, o Senhor deixa propositalmente que seus filhos desistam de voar em sua graça, e lhes permite começarem a afundar, de forma que possam aprender que a fé não é um trabalho propriamente deles, mas é em primeiro lugar um presente (dom) de Deus; e deve ser sempre mantida e guardada viva no coração, pela doce influência do Espírito Santo. Eu entendo que Pedro era um homem de grande fé. Quando outros duvidaram, Pedro creu. Ele declarou ousadamente que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo, e por sua fé ele recebeu do Mestre o seguinte elogio, “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, não foi carne nem sangue quem te revelou mas meu Pai que está nos céus.”.  Ele tinha uma fé tão forte, que ao comando de Cristo ele pôde andar sobre as ondas como se fosse vidro sob os seus pés, entretanto, mesmo assim ele seu permitiu afundar. A fé o abandonou, e ele olhou para as ondas e o vento, e começou a afundar, e o Senhor lhe disse, “Homem de pequena fé, por que duvidaste ?”; era como se tivesse dito. “Pedro, a tua grande fé é um dom meu, e a grandeza dela é um trabalho meu.  Não pense que tu és o autor da tua própria fé; eu te deixarei e esta grande fé desaparecerá rapidamente, e como alguém que não tivesse fé, tu crerias nas ondas e temerias o vento, e não terias confiança no poder do teu Mestre, e conseqüentemente afundarias.”.
      Eu penso estar inteiramente seguro ao concluir esta manhã, que há alguns aqui que estão cheios de dúvidas e temores. Eu tenho certeza que  todo verdadeiro crente tem seus momentos de indagação ansiosa. O coração que nunca duvidou não tem ainda aprendido a crer. Como dizem os fazendeiros, “a terra que não produzir espinhos também não produzirá o trigo;” e o coração que não pode produzir a dúvida não pode ainda compreender o significado do que é crer.
       Sim, há pessoas relutantes aqui, que sempre têm tido uma pequena fé, mas que também podem ter grandes corações, que são valentes de verdade, que estão vivendo agora um momento de desânimo e horas de trevas em seus corações.
         Mas, esforço-me para confortar-lhes nesta manhã, pois há em nosso texto bíblico um princípio de sabedoria. Se o homem crê em algo isto sempre o colocará diante da seguinte pergunta: “Por que você crê ? Qual evidência você possui  para saber que está totalmente correto quanto ao que crê ?". Nós cremos em evidências.  Agora, a maior parte das dúvidas de muitos homens insensatos, é que eles não duvidam de evidências. Se você colocar diante deles a pergunta, “por que você  duvida ?”, eles não serão capazes de responder corretamente à indagação.  Note ainda, se as dúvidas dos homens é dolorosa, o mais sábio caminho para livrá-los é pela simples observação de que eles possuem um argumento firme. “Ó tu de pequena fé, por que duvidaste ?”. Se você crê em algo você necessita de evidência, e antes de você crer em algo você necessita também de uma evidência.. Crer sem evidência é ser crédulo, e duvidar sem evidência para descrer é ser tolo. Nós deveríamos ter um fundamento firme para as nossas dúvidas assim como deveríamos ter uma base para nossa fé. O texto, então apresenta o mais excelente princípio, e  trata com as mentes desconfiadas ao lhes apresentar a pergunta: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?”.
        Eu me esforçarei para apresentar a você o seguinte plano esta manhã. Eu dividirei o sermão em apenas duas partes. Na primeira, eu me dirigirei a alguns de vocês que se encontram em grandes dificuldades em relação a circunstâncias temporais, vocês são o povo de Deus, mas têm sido dolorosamente tentados e começam a duvidar. Eu repartirei com vocês alguns assuntos espirituais. Há também aqui alguns que são verdadeiramente de Deus, mas que estão duvidando. A estes eu apresento a questão: “Homem de pequena fé, por que duvidaste ?”.
 
        I. Primeiro, então, sobre CIRCUNSTÂNCIAS TEMPORAIS, Deus não preparou para o seu povo um caminho sem problemas para o céu.. Antes que sejamos coroados precisamos lutar; antes que possamos entrar na cidade celestial devemos realizar uma cansativa peregrinação.  Religião ajuda-nos nos problemas, mas não é o suficiente para levar-nos a vencê-los ou sermos livrados deles. É através de muitas tribulações que o crente entrará no reino de Deus. Agora, quando o crente está cheio de fé ele passa pela aflição com uma canção em seus lábios; ele penetra na fornalha enfumaçada sem temor de ser devorado pelas chamas, ou como Jonas ele poderá descer às grandes profundezas, sem estar alarmado com o mar furioso. Enquanto a fé o segura, o temor é um estranho; mas algumas vezes,  durante diversos, grandes e dolorosos problemas, o crente começa a temer que ele certamente ao final será submetido, e deixa-se a si mesmo a perecer ante o desespero.
    Agora, qual é razão para você duvidar ? Eu devo recorrer ao plano do texto e colocar a grande questão, “Homem de pequena fé, por que duvidaste ?”. Aqui será adequado perguntarmos a nós mesmos: Por que teria Pedro duvidado ? Ele duvidou por duas razões. Primeiro, porque ele deu muita importância para a segunda causa e em segundo lugar, porque ele deu muito pouca importância para a primeira causa.  A resposta se aplicará também a você meu temeroso irmão. Esta é a razão porque você duvida, porque você está dando muita importância às coisas que você está vendo, e também está dando muito pouca atenção ao seu Amigo, que está quase sendo despercebido, e que está atrás dos seus problemas e que sairá do esconderijo para libertá-lo. Veja o pobre Pedro no barco – seu Mestre  convida-o a vir; em um momento ele se atira ao mar, e para sua própria surpresa ele se vê andando sobre as ondas. Ele  olha para baixo, e realmente, é um fato, seus pés estão sobre as ondas, e ainda por cima, ele se encontra ereto; ele dá um passo adiante e percebe que ainda se encontra caminhando com segurança. “Oh!”. Pedro pensa, “isto é maravilhoso“. Ele começa a se maravilhar com o espírito e a maneira do homem que lhe havia capacitado a fazer uma tal coisa; mas, então, de repente, um vento começou a soprar com um imenso uivo; que assobiou junto ao ouvido de Pedro, e ele disse consigo mesmo. “Ah! Vão começar a ser formados imensos vagalhões no mar e eu vou certamente ser derrubado.".  Tão logo o pensamento penetrou em seu coração ele começou a afundar; e as ondas começaram a encobrI-lo. Enquanto ele fechou seus olhos para as ondas e para o vento, e os guardou somente abertos à ordem do Senhor, ele permaneceu de pé na Sua presença, ele não afundou, mas no momento em que ele fechou seu olhos para Cristo, e olhou a tempestade de vento e assombrou-se com a profundidade do mar, ele começou a afundar. Ele poderia ter atravessado léguas do Atlântico, ele poderia ter cruzado o largo Pacífico, se ele tivesse mantido seu olhar em Cristo, e nunca uma ventania teria feito com que ele recuasse um só passo, mas ele teria afundado num pequeno riacho se começasse a olhar para a segunda causa, e a esquecer o Grande Cabeça e Mestre do Universo que lhe ordenou caminhar sobre o mar. Eu digo, a real razão de Pedro ter duvidado foi, que ele olhou a segunda causa (as circunstâncias exteriores) e não a primeira (Cristo). Bem, esta é a razão porque você duvida.  Deixe-me provar-lhe agora por um momento. Você está desanimado por causa de cuidados temporais; qual é a razão de você estar sendo vencido pelos problemas ?”. “Porque”, diz você, “Eu nunca estive numa condição igual a esta em toda a minha vida. Ondas sobre ondas de problemas têm vindo sobre mim. Eu tenho perdido um amigo e depois outro. Isto se parece como se as coisas boas estivessem sempre fugindo de mim. Uma vez tive uma maré de afundamentos, e agora  estou em declínio, e o meu pobre barco está sendo destroçado nas pedras, e eu não tenho achado água suficiente para ele flutuar, o que me sucederá ?”. Ou então, Oh!, senhor meus inimigos têm conspirado contra mim em todos os caminhos para destruir-me, oposição sobre oposição têm me ameaçado. Minha loja deve ser fechada; a falência está fitando a minha face, e eu sei que nada de bom ocorrerá comigo.". Ou, além disso, seus problemas ganham uma nova forma, e você sente que está sendo chamado para algum importante serviço para o Senhor, e você o considera    (os problemas) insignificante comparado ao  trabalho que está posto diante de você. Se você tivesse uma grande fé você poderia fazê-lo; mas com sua pobre pequena fé você está completamente batido. Você não poderá agir assim de maneira nenhuma.
    Agora, o que é tudo isto comparado com a ação de olhar a segunda causa ? Você está olhando para os seus problemas, não para o Deus que dispersa os seus problemas; você está olhando para si mesmo, não para o Deus que habita em você, e que prometeu sustentá-lo. Ó alma ! isto foi suficiente para fazer o coração mais poderoso duvidar, se olhar somente para as coisas que são vistas. Ele estaria mais próximo do reino dos céus se não tivesse uma causa para afundar e morrer, se ele não tivesse nada para olhar, o que o olho não pudesse ver e o ouvido não pudesse ouvir.
    Que milagre ocorrerá enquanto você estiver desconsolado, quando começa a olhar a cada uma das coisas como se elas sempre fossem inimigas da fé ?
    Mas eu lembro você que foi desde que deixou de olhar para Cristo que você se deixou abater pelo problema.
    Deixe-me perguntar-lhe, você não tem pensado em Cristo menos do que deveria ? Eu não suporei que você tem negligenciado a oração, ou que tem deixado de ler a  sua Bíblia; mas,  você ainda tem tido doces pensamentos acerca de Jesus em sua cabeça ? Você tem sido capaz de entregar seus problemas a Ele e dizer: “Senhor, tu conheces todas as coisas; eu confio tudo em tuas mãos ?”. Permita-me indagar-lhe, você tem considerado que Jesus é onipotente, e então, que é capaz para cuidar de você, que ele é cheio de fé, e deve guardá-lo, porque ele tem prometido fazê-lo em sua Palavra ? Você não tem colocado os seus olhos nas suas tribulações, e não em suas mãos ? Não estará você olhando para a pessoa injusta que o tem ferido, mais do que para tirar do coração esta injustiça ? Oh, reconhece, que você nunca pode alegrar-se e ter paz enquanto você estiver olhando para estas coisas que são visíveis ou que podem ser captadas pelos sentidos, a segunda causa do seu problema, é que a sua única esperança, o seu único refúgio e alegria deve ser olhar para ele no Santo dos Santos. Pedro afundou quando ele olhou para as circunstâncias exteriores, tanto quanto você. Ele nunca teria cessado de andar sobre as ondas, nunca teria começado a afundar, se ele olhasse somente para Cristo, nem você deverá deixar de olhar somente para Ele.
    E aqui, deixem-me agora começar a discutir com vocês na condição de povo de Deus sobre quem está passando por problemas dolorosos, a fim de que Cristo não deixe que vocês afundem. Deixem-me abafar seus temores com umas poucas palavras de consolação. Vocês estão agora na mesma condição de Pedro, vocês são como Pedro, vocês são servos de Cristo. Cristo é um bom mestre. Vocês nunca ouviram dizer que Ele deixou afundar qualquer um dos seus servos que estivessem envolvidos em uma missão por Ele designada. Ele não tomará conta dos que são seus ? Seria dito por fim que um dos discípulos de Cristo foi deixado a perecer enquanto se encontrava obediente a Cristo ? Eu diria que ele seria um mau mestre se ele enviasse você numa missão que visasse à sua destruição. Pedro, quando estava na água, onde estava onde seu mestre que lhe havia chamado para ali estar, e você em seu problema agora, está não somente como servo de Cristo, mas está onde Cristo escolheu colocá-lo. Suas aflições, lembre-se, não vêm do leste nem do oeste, nem seus problemas surgiram sem fundamento. Todos os seus sofrimentos são-lhes enviados pelo seu Deus. O remédio que você está tomando agora foi preparado no céu. Cada gota desta amarga mistura que enche sua boca foi medida pelo médico celestial. Não há uma medida a mais de problemas em sua taça, além do que Deus determinou colocar ali. Sua carga foi pesada por Deus antes de você ter sido chamado para carregá-la. O mesmo Senhor que lhe deu misericórdia tem-lhe levado para fora, o mesmo Deus que o abençoou com alegria é o mesmo que agora tem-lhe lavrado com tristezas. Você está onde Deus o colocou. Pergunte a si mesmo:  Pode isto ser possível, que Cristo colocaria seu próprio servo em perigosas condições e o deixaria lá ? Eu tenho ouvido em fábulas,  de demônios que atraem os homens procurando afundá-los no mar; mas é Cristo qual  sereia ? Atrairá ele seu povo às rochas ? Ele os tentará a entrarem num lugar em que os destruirá ? Deus me livre ! Se Cristo os chamar para dentro do fogo, ele os tirará de lá, e se ele os convidar a andarem sobre o mar, ele os capacitará a fazê-lo em segurança. Não duvide alma, se tiveres de ir lá, então poderás temer, mas desde que Cristo o colocou lá, ele os livrará de novo.
    Permita que ele seja o pilar da sua confiança – você é seu servo, ele não o deixará. Olhe para o alto, então, quando os problemas vierem cercar você, olhe para o seu Mestre, que em suas mãos tem planejado todas as coisas.
    Lembre-se também, quem é que o conduz onde quer que você estiver. Não é um tirano que pretende conduzi-lo para dentro dos problemas. Não é um coração duro e que não ama que deseja vê-lo passar por dificuldades para satisfazer seu desejo caprichoso. Ah, de forma alguma é Cristo o seu problema. Lembre-se do seu sangue em suas mãos,  e você não pode pensar que a mão que foi ferida por causa da sua libertação do pecado, possa agora voltar-se para enforcar você.            
    Lembre-se dos olhos que choraram por você na cruz, e podem os olhos que choraram por você serem cegos quando você está em sofrimento ?  Lembre-se do coração que foi rasgado por sua causa, e poderá o coração que sangrou não se interessar em resgatar você da morte, sendo duro e sem emoção, quando você encontra-se estupefato em aflições ? Este é Cristo que está no meio da tempestade com você, de pé sobre as ondas. Ele está sofrendo assim como você. Pedro não é apenas alguém caminhando no mar, seu Mestre está lá também com ele. E assim está Jesus conosco todos os dias, conosco em nossos problemas, sofrendo conosco assim como sofreu por nós.
    Pode ele deixar você, ele que o comprou, e que é seu marido, ele que tem andado com você, que tem lhe socorrido até aqui, ele que o ama mais do que ama a si mesmo, o abandonaria ? Ó voltem os seus olhos das rudes ondas, não ouçam por muito tempo o imenso temporal, voltem seus olhos para o seu amado Senhor, para o seu fiel amigo, e fixem sua confiança nele, que mesmo agora no meio da tempestade, clama: “Sou eu. Não tenham medo.”.
    Eu oferecerei uma outra reflexão a cada um de vocês à medida que estão agora em  graves problemas, que são considerados como um temporal, e em verdade são – Cristo tem socorrido vocês permanentemente. Isto não os consola ? Ah, Pedro, por que temeste de modo que vieste a afundar ? Foi um milagre que você não tenha afundado logo de início. Que poder é este que o tem mantido seguro até agora ? Certamente não é propriamente nosso. Você afundou alguma vez no coração do oceano; ó homem, sem que Deus o tivesse socorrido, se Jesus não lhe fez flutuar, Pedro, também seria em breve uma carcaça flutuante. Ele que o ajudou então a caminhar tanto tempo quanto tens caminhado, certamente é capaz para ajudá-lo em todo o seu caminho até ele tomá-lo em suas mãos no Paraíso para glorificá-lo. Deixe qualquer crente olhar para o seu passado, e ele ficará atônito quanto ao  que ele foi, ao que é, e quanto onde ele está. A vida de todo crente é uma seqüência de milagres, maravilhas ligadas a outras maravilhas, numa cadeia perpétua. Maravilhoso, crer, que tem sido sustentado até agora, e que não pode aquele que o preservou até aqui, preservá-lo até o fim ? O que está aquela onda barulhenta pondo em risco para sobrepujar-nos – o que está ?  Porque  suportou ondas maiores do que esta no passado. Onde está aquele imenso vendaval ? Porque, ele salvou você quando o vento era mais forte do que este. Ele nos salvou em problemas que não poderemos esquecer de citar aqui .Ele nos livrou da pata do leão e da pata do urso, ele não esquecerá de nós agora.
    Em tudo isto, eu tenho trabalhado para voltarem seus olhos daquilo que estão vendo para aquilo que não pode ser visto, mas cada um de vocês deve crer.
    Um ministro de Cristo, que estava habituado a visitar aqueles que eram conhecidos por sua piedade, com o objetivo de poder aprender da experiência deles, convidou um velho crente que tinha sido distinguido por sua santidade. Para sua grande surpresa, entretanto, quando ele sentou-se ao lado da sua cama, o homem em erro lhe disse, “Ah ! Eu perdi meu caminho. Eu pensei certa ocasião que eu era um filho de Deus, agora eu acho que eu tenho sido uma pedra de tropeço para outros, por quarenta anos. Eu tenho enganado a igreja e enganado a mim mesmo, e agora eu descobri que eu sou uma alma perdida.”. O ministro mui sabiamente disse-lhe, “Ah ! então eu suponho que você se enquadra na canção do bêbado e você gosta de entretenimentos do mundo e se delicia com coisas profanas e pecaminosas ?”. Ah ! não,”, disse ele, “eu não posso suportar isto, eu não posso permanecer no pecado de novo contra Deus”. “Oh, então”, disse o ministro, “então não é com algo parecido que Deus o trancará no inferno com homens que você não pode suportar aqui. Se agora você odiar o pecado, depender de Deus, ele não o trancará para sempre com os pecadores. Mas, meu irmão,”, disse o ministro “diga-me o que o levou a este angustiante estado de espírito ?”. “Ó senhor,” disse ele, “isto foi porque eu desviei o  olhar do Deus providente, para mim mesmo. Eu consegui salvar cerca de cem libras, e eu tenho mentido maldosamente neste últimos seis meses, e eu venho pensando que estas minhas  cem libras seriam gastas em breve, e então que o faria. Eu pensava que eu iria para o  asilo de pobres, eu não tenho amigos para cuidarem de mim, e eu tenho pensado acerca destas minhas cem libras. Eu sei que em breve eu partirei, e então, como pode o Senhor cuidar de mim. Eu nunca tive qualquer dúvida ou temor até que eu comecei a ter preocupações temporais. O tempo passou quando eu poderia ter deixado tudo isto com Deus. Se eu não tivesse cem libras, eu teria plena certeza de que ele seria meu provedor, mas eu começo a pensar agora que eu não posso prover a mim mesmo. No momento eu penso isto, que meu coração está em trevas.”. O ministro então conduziu-o a lançar fora toda confiança no braço de carne, e disse-lhe que sua dependência de pão e água não estava em suas cem libras, mas no Deus que é o possuidor dos céus e da terra – que o seu pão  lhe estava sendo dado assim como a sua água. Deus tomaria cuidado disto, pois estaria somente cumprindo sua promessa. O pobre homem, quanto ao assunto da providência estava pronto para lançar-se inteiramente sobre Deus, e então suas dúvidas  e temores acalmaram-se, e mais uma vez ele começou a andar sobre o mar de problemas, e não afundou. Oh ! crente, se você tiver o seu negócio em suas próprias mãos, definhará brevemente nos problemas. Nunca houve um homem que começasse a  trazer seus problemas para as mãos de Deus, e que não ficasse satisfeito o suficiente para tomá-los de volta em suas próprias mãos outra vez. Se entregarmos todos os nossos assuntos, quer temporais, quer espirituais,  nas mãos de Deus, nós não teremos falta de qualquer coisa proveitosa, e o que é melhor ainda, nós não teremos cuidados, nem problemas, nem pensamentos, nós devemos lançar todos as nossas sobrecargas sobre ele para que ele as carregue para nós. Não há necessidade de dois carregarem, Deus e suas criaturas também. Se o Criador carrega para nós, então a criatura pode cantar ao longo de todo o dia  com alegria e satisfação: “Mortais cessem de trabalhar e sofrer. Deus fez provisões para o amanhã.”.

II. Mas agora, na segunda parte do discurso, eu tenho que falar de COISAS ESPIRITUAIS. Ao crente, estas são as causas de mais problemas do que toda a experiência temporal. Em questão da alma e da eternidade muitas dúvidas virão à tona. Eu todavia, as dividirei em dois tipos de dúvidas – dúvidas da nossa aceitação presente, e dúvidas da nossa final perseverança.  
             Há muitos do povo de Deus que são muito atormentados e inquietados com dúvidas acerca de sua aceitação atual. “Oh !” eles dizem “houve um tempo quando eu sabia que eu era um filho de Deus; eu tinha certeza que eu era de Cristo, meu coração voava ao céu sob a sua palavra; eu olhava para Cristo pregado na cruz, eu fixava toda a minha confiança nele, e um doce, calmo e abençoado descanso enchia meu espírito.”
             “eram horas cheias de paz que eu experimentava então. Quão doce é ainda a sua memória ! Mas, eles deixaram-se sentir saudades da vaidade. O mundo nunca se satisfará.”.
             E agora, diz o duvidoso, “agora eu tenho medo de nunca ter conhecido o Senhor, eu penso que eu tenho enganado a mim mesmo, e que eu tenho sido um hipócrita. Oh, como eu posso saber que eu sou de Cristo, eu daria tudo que tenho no mundo, se ele me fizesse conhecer que ele é meu amado, e que eu sou dele. Agora, alma, eu irei tratar com você assim como eu tenho discorrido acerca de Pedro. Suas dúvidas surgiram por ter olhado para a segunda causa, e não para Cristo. Deixe-nos ver se isto não é verdade. Por que você duvida ? Sua resposta é, “eu duvido, porque eu sinto muito o meu pecado. Oh, quantos pecados eu tenho cometido ! Quando eu me converti a Cristo eu pensava que eu era o principal dos pecadores, mas agora eu sei  o que sou. Dia após dia eu tenho feito acréscimos à minha culpa, e desde a minha pretendida conversão,” diz este duvidoso, “eu tenho sido um maior pecador do que tinha sido antes. Eu tenho pecado contra a luz e contra o conhecimento, contra a graça, e a misericórdia, e o favor. Nunca houve debaixo do céu de Deus um pecador como eu.” . Mas, alma, isto não é olhar para a segunda causa ?  É verdade, você é o principal dos pecadores, tenha isso por garantia, deixe-nos discutir acerca disto. Os seus pecados são diabólicos assim como você disse que são. Confia nisto, que você é o pior, assim como você pensou que é. Pensou ser mau o bastante, mas não tão mau em sua própria estima quanto realmente é. Seus pecados parecem-lhe como nuvens esvoaçantes, mas aos olhos de Deus eles são como montanhas elevadas que não têm pico. Coloque isto abaixo, para começar, as ondas são grandes e os ventos são imensos. Eu não discutirei isto. Eu pergunto-lhe, o que o levou a agir desse modo ?  Não há na Palavra de Deus mandamento para olhar para Cristo ? Grandes são os pecados, mas Cristo é maior do que tudo. Eles são negros, mas seu sangue pode lavá-lo mais alvo do que a neve. Eu sei que os pecados merecem condenação, mas os méritos de Cristo merecem a salvação. Isto é verdade, o abismo do inferno é a sua porção legal, mas o céu é a sua porção graciosa (concedida pela graça);    Quê ! Cristo está sem poder para tratar do seu pecado ? Isto não pode ser ! Supor isto seria fazer a criatura mais poderosa do que o Criador.
         Quê ? A culpa prevalece mais diante de Deus do que a justiça de Cristo ? Você não pode pensar de Jesus assim tão pequeno que seus pecados podem sobrepujá-lo e vencê-lo ? Ó homem, os teus pecados são como montanhas, mas o amor de Cristo é como o dilúvio nos dias de Noé, que prevaleceu sobre o topo das montanhas que cobriu; olhar para o teu pecado em vez de olhar para o Salvador é o que tem produzido a tua dúvida. Estás olhando para a segunda causa que nos leva a afundar, e não para ele que é maior do que tudo.
          “Não, mas,” você replica, “não é o meu pecado senhor, que me causa pesar, é isto: eu me sinto endurecido, eu não sinto o meu pecado como deveria. Oh se eu pudesse chorar como muitos choram ! Se eu pudesse  orar  como muitos oram  ! Então eu penso que eu poderia ser salvo. Se eu pudesse sentir os terrores que alguns homens bons têm sentido, então eu penso que  eu poderia crer. Mas eu não sinto nenhuma destas coisas. Meu coração parece uma pedra de gelo, duro como granito, e tão frio como um iceberg.. Isto não se derreterá. Você pode pregar, mas isto não me atinge; eu posso orar, mas meu coração parece mudo, eu posso até mesmo ler a narrativa sobre a morte de Cristo, e ainda assim a minha alma não é movida por isto. Oh certamente eu não sou salvo !”. Ah isto é olhar para a segunda causa de novo ! Você pode ter esquecido a Palavra que diz, “Deus é maior do que o nosso coração”. Você esqueceu isto ? Ó filho de Deus ! Envergonhe-se disto, você está procurando por consolação onde ela não pode ser encontrada. Busca em si mesmo a paz ! Porque, ela nunca poderá ser encontrada neste território de guerras que é o seu coração. Olha para o seu próprio coração para se alegrar ! Não há nada aí, neste deserto árido do pecado. Volte, volte seus olhos para Cristo: ele pode limpar seu coração, ele pode criar vida, e luz, e verdade no seu interior, ele pode lavá-lo até ficar mais branco do que a neve, e limpar a sua alma e fazê-lo rapidamente, e pode fazê-la viver e sentir, e mover, ao ponto de ouvires a mais simples palavra, e obedecer até o mandamento que lhe for murmurado. Ó não olhe agora para a segunda causa; que é fixar os olhos nas coisas, olhe para a grande primeira causa (Cristo); pois, de outro modo eu colocarei de novo para você a questão, “Por que duvidaste homem de pequena fé ?”.
           “Ainda,” diz outro, “eu posso crer, apesar do meu pecado e da minha dureza de coração, mas, você sabe, que ultimamente eu tenho perdido a comunhão com Cristo, tanto assim que eu não posso ter o pensamento que eu venha a ser um náufrago. Oh! Senhor, há momentos quando Cristo me visita com a mesma doce presença de amor. Eu era qual a ovelha da parábola; eu bebia da sua taça, e alimentava-me à sua mesa, e descansava em seus braços, freqüentemente ele levava-me à sua sala de banquete, e sua bandeira sobre mim era o amor. Que festejo eu tinha então ! Eu era aquecido pelo brilho da sua face. Sempre era verão para a minha alma. Mas agora é inverno, e o sol se foi, e a casa do banquete  foi fechada. Não há frutos sobre a mesa; nem vinho nas garrafas da promessa; eu vim ao santuário, mas não encontrei conforto; eu voltei a ler a Bíblia, mas não achei alívio; eu caí sobre meus joelhos, mas a antiga corrente de oração parecia ter se transformado num riacho seco.”. Ah! alma, mas não estás ainda olhando para a segunda causa ? Estas são as mais preciosas de todas as coisas secundárias, mas ainda não deves olhá-las, mas para Cristo. Lembre-se,  não é isto o que te salva, mas a morte de Jesus; não é o conforto de Cristo que visita a tua alma, que realiza a tua salvação; é o próprio Cristo que visita a  casa do luto, e o jardim do Getsêmani.
            Jonas teve um vez uma aboboreira, e quando a aboboreira morreu ele começou a se entristecer. Bem poderia alguém ter dito a ele, “Jonas ! Tu perdeste a tua aboboreira, mas não perdeste o teu Deus.”; E nós, ainda mais dizemos a você; que não perdeu o seu amor; você perdeu a luz da sua face, mas não perdeu o amor do seu coração; você tem perdido a sua doce e graciosa comunhão, mas ele é ainda o mesmo, e ele o fez crer na sua fidelidade e o levou a confiar nele na escuridão e a contar com ele no meio do vendaval e do temporal.  Não olhe para nenhuma destas coisas exteriores e interiores mas para Jesus somente. Cristo sangrou, Cristo agonizou, Cristo morreu, Cristo foi sepultado, Cristo ressuscitou, Cristo ascendeu, Cristo intercedeu. Esta é a coisa para a qual você deve olhar – Cristo, e somente ele. E olhando para isto você será confortado. Mas olhe para qualquer outra coisa e você começará a afundar; como Pedro, as ondas o enfraquecerão, e  terás que clamar, “Senhor, salva-me, ou eu perecerei.”.
           Mas, novamente, para concluir: outros do povo de Deus estão temerosos que nunca serão capazes de perseverar e ficar firmes até o fim. “Oh !” diz um destes, “eu sei que ainda virei a fracassar e a perecer, pelo olhar ! – veja, que coração mau de incredulidade eu possuo; eu não posso viver um dia sem pecar; meu coração é tão traidor, é como uma bomba; basta uma fagulha de tentação e ele  explodirá para a minha eterna destruição. Como um recipiente de substância inflamável é o meu coração, como posso ter esperança de escapar, enquanto eu caminho no meio de uma chuva de centelhas.” “Oh !” disse um, “eu sinto minha natureza tão inteiramente vil e depravada que eu não posso esperar que venha a perseverar na fé. Se eu agUentar por uma semana, ou mês isto será um grande trabalho, mas agUentar por toda a minha vida até morrer – oh! Isto é impossível.”. Olhando para a segunda causa de novo, você não está ?
      Por favor, você deve lembrar que se você espera ser uma pessoa suficientemente forte para perseverar na graça, isto é totalmente impossível, ainda que por dez minutos, muito mais por dez anos ! Se a sua perseverança depende de você mesmo você será um homem perdido. Você deve registrar isto como coisa certa. Se você tem um jota ou um til para fazer com sua perseverança na graça divina você nunca verá a face de Deus no fim; você cairá da graça, sua vida será extinta, e você deve perecer, se sua salvação depende de si mesmo. Mas lembre, você tem agora mesmo sido guardado estes meses e estes anos. O quê está produzindo este resultado? A divina graça, e a graça de Deus pode guardá-lo por um ano ou por um século, e ainda pela eternidade, se for necessário. Ele que começou a carregá-lo há de continuar carregando, de outro modo ele seria falso em sua promessa e negaria a si mesmo. “Ah! Mas,” você diz, “senhor, eu não posso dizer com quantas tentações eu tenho sido cercado; eu estou num grupo de pessoas onde todos riem de mim; e eu estou ganhando apelidos porque eu sigo a causa de Cristo. Eu tenho sido capaz até aqui para suportar suas censuras e seus gracejos; mas agora eles estão adotando uma outra estratégia; eles estão tentando me afastar da casa de Deus, e levar-me para locais de entretenimento mundano, e eu sinto que isto está me atraindo como nunca dantes. Também  como que uma centelha de esperança para quem pretende sobreviver dormindo no meio do oceano, assim é a graça que deveria viver no meu coração.”.  Ah! mas, alma, quem tem feito você viver até aqui ? Quem tem ajudado você a dizer até agora, “Não !”, a cada tentação ? Quem, senão o Senhor teu Redentor. Não poderias tê-lo feito por muito tempo, se não tivesse sido feito por ele; e ele que te ajudou a ficar de pé por tanto tempo nunca o colocará em vergonha. Se você é um filho de Deus, e viesse a cair e a perecer, que desonra isto não seria para Cristo ! “Ah !” o diabo diria, “aqui está o filho de Deus, e Deus o tem expulsado de sua família, e eu o terei no inferno para sempre. É isto que Deus faz com seus filhos – ama-os um dia, e depois os odeia – dize-lhes que estão perdoados, e depois os condena – recebe-os em Cristo, e ainda assim os envia para o inferno ?”. Isto pode ser ? Isto ocorrerá ? Nunca. Não enquanto Deus for Deus. “Aha!” novamente, diz Satanás, “os crentes têm vida eterna dada a eles. Aqui está um que teve vida eterna, e esta vida eterna acabou. Não era eterna. A promessa era uma mentira. Era uma vida temporária; não era uma vida eterna. Aha!” diz ele, “eu tenho achado uma falha na promessa de Cristo, ele lhes deu somente vida temporária, e a chamou de eterna.”. E ainda, o arquiinimigo diria, como se fosse possível que algum filho de Deus venha a perecer: “Aha ! eu tenho uma das jóias da coroa de Cristo aqui;” e ele tomaria posse dela, e desafiaria a Cristo na face rindo-se dele com escárnio. “Esta é a jóia que tens comprado com o teu próprio sangue. Aqui está um daqueles para os quais viestes ao mundo para salvar e no entanto não pudeste salvá-lo. Tu o compraste e pagaste um preço altíssimo por ele, e no entanto eu o tenho comigo, ele era uma jóia da tua coroa, e ainda aqui ele é, na mão do príncipe das trevas, teu inimigo. Aha ! rei com uma coroa danificada ! tens perdido uma das tuas jóias.”. Isto pode ocorrer ? Não, nunca, e então para todos os que têm crido a certeza do céu é como se eles estivessem lá. Se tu tens te lançado simplesmente em Cristo, nenhuma morte, ou inferno, haverão de te destruir. Lembre-se do que disse o velho Mr. Berridge, quando ele se encontrou com um amigo certa manhã: “Como tem passado Mr. Berridge ?”. “Bem o suficiente, obrigado,” disse ele. “e a certeza do céu é como se eu estivesse lá, porque eu tenho uma sólida confiança em Cristo.”. Um homem feliz deve ser tal qual ele, que sabe e sente que é verdade ! E ainda, se vocês não sentem isto, se vocês são filhos de Deus, eu coloco esta questão para vocês: “Por que duvidaram ?”. Se tens crido em Cristo, que te salvou e que te manterá salvo, se entregaste a ti mesmo em suas mãos: “eu sei em quem eu tenho crido e estou bem certo de que ele  é poderoso para guardar o que eu tenho entregado a ele.”.          
            “Sim”, diz alguém. “este não é o temor que me amedronta, minha única dúvida é se eu sou ou não um filho de Deus.”. Eu concluirei, então discorrendo sobre o velho fundamento. Alma, se desejas saber se és um filho de Deus, não olhes para ti mesmo, mas olha para Cristo. Vocês que estão aqui hoje, que desejam ser salvos, mas ainda temem nunca podê-lo, nunca olhem para si mesmos para encontrarem alguma aceitação diante de Deus. Não para si, mas para Jesus; não para o coração, mas para Cristo; não para o homem, mas para o Criador do homem. Ó pecador ! não penses que tu tens alguma coisa que possa te recomendar a Cristo. Venha a ele como tu estás. Ele não necessita de nenhum bom trabalho teu – nem de bons sentimentos também. Venha como estás. Tudo isto que tu não tens para poder entrar no céu, ele comprou para ti, e ele dar-te-á; tudo isto te será dado espontaneamente se tão somente o pedires. Somente venha, e ele não te lançará fora. Mas você pode dizer, “Oh, eu não posso crer que Cristo é capaz de salvar um pecador como eu.”. Eu replico, “Homem de pequena fé, por que duvidaste ?”.  Ele já salvou pecadores piores do que você, somente faça um teste com ele, somente o teste-º
               “Aventure-se nele, arrisque completamente, não confie em nenhum outro.”;  
              Teste-o, faça prova dele; e se você achá-lo falso, uma fraude, então diga em todo lugar que Cristo foi falso. Mas isto nunca acontecerá. Vá a ele; diga-lhe que você é uma pobre alma caída, sem a sua poderosa graça; peça-lhe para ter misericórdia de você. Diga-lhe que você está determinado, que você está perecendo, que você morrerá aos pés da sua cruz. Vá e una-se a ele, crucificado e sangrando na cruz; olhe para ele na face, e diga, “Jesus, eu não tenho outro refúgio; se tu me rejeitares, eu estarei perdido; mas eu nunca me irei de ti; eu me juntarei a ti em vida, e estarei junto contigo na morte, tu és a única rocha da salvação da minha alma.”.  Confie nisto, você não será despedido vazio; você será aceito, se você simplesmente crer. Oh, possa Deus capacitar você pela influência do Espírito Santo, a crer, e então, nós não colocaremos a questão, “Ó tu de pequena fé, por que duvidaste ?”; Eu oro a Deus agora, para aplicar estas palavras para o teu conforto. Elas são palavras muito simples, e palavras muito humildes; mas elas satisfarão ao coração simples e humilde. Se Deus os abençoar, a ele seja a glória !


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