sexta-feira, 23 de outubro de 2015

74) História da Igreja

74) HISTÓRIA DA IGREJA

ÍNDICE

1 - HISTÓRIA DA IGREJA - PARTE I
2 - HISTÓRIA DA IGREJA - PARTE II
3 - O Valor de Aprender História
4 - O Exemplo dos Puritanos Ingleses – Parte 1
5 - O Exemplo dos Puritanos Ingleses – Parte 2
6 - O Exemplo dos Puritanos Ingleses – Parte 3
7 - Conhecendo a Deus Através da História de Israel
8 - Aprendendo da História dos Israelitas dos Dias de Moisés


1 - HISTÓRIA DA IGREJA - PARTE I

“Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência” (Jr 3.15).

HISTÓRIA DA IGREJA

PARTE I

A IGREJA ANTIGA

I. SÉCULO I (1-100)

1. A ORIGEM DA IGREJA

A igreja de Cristo sempre existiu na mente e coração do Pai, desde antes da fundação do universo, segundo podemos ver através dos seguintes textos bíblicos:

a) “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef 1.4).
b) “O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (1 Pe 1.20).

O plano de Salvação estava traçado no coração de Deus desde o eterno passado. O sacrifício, nos planos de Deus, fora feito antes da fundação do universo, isto é, antes mesmo de ser efetuado na cruz do Calvário, o Cordeiro de Deus já era conhecido do Pai (Ap 13.8b).
Assim sendo, tanto o projeto da Igreja no coração de Deus, como a sua formação pelo Ministério de Cristo, quanto a sua confirmação, no dia de Pentecostes, consolidou-se pelo poderoso derramamento do Espírito Santo (At 2).

2. A PLENITUDE DOS TEMPOS

Leia o texto bíblico de Gálatas 4.4: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”.
A "plenitude do tempo" não quer dizer que o mundo estivesse pronto a se tornar cristão, mas que nos desígnios de Deus, havia chegado o momento de enviar o seu Filho para “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10).
A Palestina, onde o cristianismo deu seus primeiros passos, ocupava uma posição geográfica privilegiada, pois abrangia uma área que era cortada pelas grandes rota comerciais que uniam o Egito à Mesopotâmia, e a Arábia com a Ásia Menor.
Esse foi um dos principais motivos descritos na história do Antigo Testamento, pelo qual esta área era tão cobiçada, e por várias vezes, invadida por vários impérios na antiguidade.
A língua predominante na época era o grego (koiné); uma língua quase que universal, apesar do império dominante ser o império romano, que unia em um só governo boa parte do mundo conhecido.
A difusão da língua grega (koiné) também foi um fator determinante na pregação e divulgação do Evangelho, favorecendo, sobretudo, a comunicação entre os povos.
O Império Romano era constituído de um governo relativamente pacífico e próspero. Suas cidades estavam em pleno crescimento, e viajar já não era mais difícil, pois muitas estradas, interligando as mais longínquas regiões do Império, haviam sido construídas.
Apesar de haver muitas religiões e filosofias – a política dos romanos era, em geral, tolerante em relação à religião e aos costumes dos povos conquistados – o “mundo romano” estava vazio espiritualmente. Tudo estava pronto para a recepção do Cristianismo.


3. O NASCIMENTO DA IGREJA

Leia o seguinte texto: “E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo” (Ef 3.9).
Através dele vemos que a Igreja, que antes era um mistério "oculta em Deus", fora revelada em Cristo, tornando-se o "segredo de Deus", conhecido aos homens.
A expressão "oculto em Deus" indica que a Igreja esteve sempre na mente de Deus, vindo a ser conhecida somente através do ministério terreno de Jesus Cristo e do Espírito Santo.
A Igreja de Deus começou a se revelar e a se formar quando João Batista disse: “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1.36).
A Igreja de Cristo iniciou sua história com um movimento de âmbito mundial, no dia de Pentecostes, cinqüenta dias após a ressurreição, e dez dias depois da ascensão do Senhor Jesus Cristo.
Na manhã do dia de Pentecostes:

a) Os 120 discípulos de Jesus permaneciam reunidos em oração, no Cenáculo (At 1.12-14 e 2.1).
b) “Línguas repartidas como que de fogo” foram vistas descerem sobre eles (At 2.3).
c) Falaram em outras línguas, “conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2.4).

O evento do Pentecostes causou um efeito tríplice nos discípulos de Cristo:

a) Iluminou a mente dos discípulos quanto ao objetivo e sentido da Igreja (Ef 1.18).
b) Compreenderam que o Reino de Deus não era no sentido político (Jo 18.36).
c) Que eles deveriam ficar totalmente na plenitude e na dependência do Espírito Santo (Lc 24.49).

4. O CRESCIMENTO DA IGREJA

Observe os seguintes textos bíblicos: “E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais” (At 5.14); e “E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé” (At 6.7).
Esse crescimento tinha uma razão de ser, e era a arma usada pela Igreja para crescer de forma abundante: o testemunho de seus membros (1 Tm 4.12).
Enquanto aumentava o número de membros, aumenta na mesma proporção o número de testemunhas, pois cada membro da Igreja se constituía numa testemunha de Cristo onde quer que estivesse (At 1.8). Os motivos desse crescimento foram:

a) Perseveravam na doutrina dos apóstolos (At 2.42).
b) Perseveravam na comunhão e no partir do pão (At 2.42).
c) Perseveravam na oração (At 2.42).
d) Possuíam temor (At 2.43).
e) Muitos sinais e maravilhas se faziam (At 2.43).
f) Muita alegria e sinceridade (At 2.46).
g) Pregavam com toda a ousadia a Palavra de Deus enquanto o Senhor Jesus operava sinais e maravilhas entre eles (Mc 16.20 e At 4.29b).
h) Primavam pela plenitude do Espírito Santo em suas vidas (At 4.31 e Ec 9.8).

Os cristãos eram, inicialmente, firmes na fé e no testemunho cristão, puros em seu caráter cristão, e abundantes no amor. Faltava-lhes, entretanto, a visão e o zelo missionário. Foi necessário o surgimento de severa perseguição, para que eles decidissem a ir a outras regiões, como missionários itinerantes (At 8.4).
Na perseguição iniciada com a morte de Estevão, a Igreja dispersou-se por toda a terra. Alguns chegaram até Damasco e outros até Antioquia e dali para todas as partes do Império, dando início ao cumprimento da Grande Comissão que Cristo havia dado aos seus discípulos (Mc 16.15).
Foi a partir dessas perseguições que os cristãos, fugindo de seus perseguidores, passaram a pregar o Evangelho fora de Jerusalém e testemunhando das maravilhas que Jesus operava (At 8.5-8).
Essas perseguições se intensificaram sobre a Igreja, principalmente no último período do século I (60-100), conhecido como "Era Sombria"; além das heresias gnósticas que estavam sendo, astutamente, infiltradas na Igreja para combater a sã doutrina dos apóstolos (2 Tm 4.3; Tt 1.9 e 2.1).
As perseguições a Igreja são reveladas na Bíblia em diversas passagens: Os apóstolos foram presos várias vezes (At 4 e 5.17-42); Estevão, torna-se o primeiro mártir (At 7); Os cristãos fogem de Jerusalém (At 8.1-8); além da morte de Tiago e a da prisão de Pedro (At 12. 1-17).

5. O CONTEXTO HISTÓRICO

Essa época foi bastante agitada na Palestina, onde ocorreram muitas revoltas dos judeus nacionalistas (zelotes e sicários) contra Roma, principalmente a partir do ano 52.
Nesse contexto histórico surge a figura de Flavio Josefo, sacerdote levita que, ao abandonar a causa judaica e passar para o lado dos romanos, veio a se tornar um dos maiores historiadores judaicos.
Para tentar conter a revolta dos judeus, Roma contra-ataca enviando tropas sob o comando de Vespasiano que cercam Jerusalém. Após isso, Vespasiano passa o comando para seu filho Tito, e vai para Roma onde assume o posto de imperador, passando a comandar todo o império romano.
Já como imperador, Vespasiano dá ordem a Tito para destruir Jerusalém no ano 70; e, posteriormente, Massada, último foco de resistência judaica, no ano 73, dando início a Diáspora (dispersão) dos judeus.
Perseguições Romanas: a primeira grande perseguição ocorreu durante o reinado de Nero (54-68), principalmente pela recusa dos cristãos em promoverem culto em honra ao imperador romano, que se autoproclamava um “deus humano”.
Os cristãos eram perseguidos também por divulgarem a existência e por prestarem culto a um outro Rei: o Senhor Jesus, visto com desconfiança por Roma como um concorrente divino (anunciando o Reino de Deus entre os homens) e também como possíveis conspiradores para derrubar César e estabelecerem um reino cristão ao invés do império romano (Jo 18.33-38 e 19.13-22).
O rei Herodes também, pelo mesmo motivo (o medo da concorrência de um outro rei), já havia anteriormente procurado matar Jesus, após receber a visita dos magos em Jerusalém (Mt 2.1-3, 7-8, 13-18).
Assim sendo, as perseguições que inicialmente surgiram por motivos religiosos, tornaram-se com o passar do tempo e do crescimento do cristianismo, a terem conotação política, por medo de Roma de que os cristãos viessem a depor o imperador e a instaurar um novo reinado, pois os cristãos diziam que o seu Rei estava vivo e que o seu Reino seria implantado nesse mundo, pelos seus seguidores (a Igreja).
Outra grande perseguição contra os cristãos ocorreu sob o governo de Domiciano (81-96). Neste período o apóstolo João é preso em Patmos, recebe do Senhor Jesus, e escreve o livro do Apocalipse. Após a morte de Domiciano, João é solto, volta para Éfeso e escreve o Evangelho e as três Epístolas.

II. SÉCULOS II e III (101-300)

1. O CONTEXTO ECLESIÁSTICO

A partir do século II, a perseguição a Igreja manteve-se contínua, alternando períodos mais intensos com períodos mais brandos.
Nesse período, por força da perseguição, a Igreja se expande ao longo do Império Romano, através da ação dos chamados “missionários itinerantes”. O evangelismo pessoal ganha força e o cristianismo começa a atingir todas as camadas da população desde os mais humildes até as mais altas esferas do poder do império romano, chegando inclusive mais tarde, à cúpula romana.
A pregação do evangelho levara os cristãos a serem vistos como exemplo de vida, de bondade, de honestidade, de moralidade e, principalmente, na prática do amor fraternal, onde eles se ajudavam mutuamente e também aos não-cristãos, fato que levava as pessoas a ficarem maravilhadas com a postura dos cristãos diante de situações imprevistas, pois isso nunca tinha sido visto por eles, no cotidiano do império romano.
Os solados romanos se convertiam em grandes números, até chegar a ponto de no século III, o cristianismo vir a ser a religião dominante entre as tropas romanas.
A partir daí surge um impasse entre os soldados romanos: Como eles poderiam perseguir os cristãos, seus irmãos na fé?
A Igreja tem períodos de crescimento (perseguições) e também de inchaço (períodos mais tranqüilos). Mas o retorno das perseguições serviria para “purificar” a Igreja, pois permaneciam somente os crentes genuínos e fiéis ao Senhor.
É nesse período que surge o Credo Apostólico, a mais antiga e a mais simples declaração da crença cristã. A natureza trinitariana do Credo Apostólico fica evidente. A fé em “Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra” é afirmada em primeiro lugar. Mas o centro do credo é a confissão a respeito de “Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor”. É dada especial atenção aos eventos envolvidos na sua concepção, nascimento, sofrimento, crucificação, ressurreição, ascensão, exaltação e juízo vindouro. Na terceira parte confessa-se a fé no Espírito Santo.
Nesta época surgiram também três escolas teológicas. Uma em Alexandria, outra na Ásia Menor e outra no restante da África. Os maiores vultos da historia do Cristianismo passaram por essas escolas: Orígenes, Tertuliano e Cipriano.

2. OS GRANDES PERSEGUIDORES DA IGREJA

1. Imperador Trajano (98 a 117 a.D.): Estabeleceu a Lei, que sendo o cristão acusado de qualquer coisa e não negar fé seria castigado. Não tendo acusação estaria livre. Ele mandava crucificar e depois lançar às feras.

2. Imperador Adriano (117 a 138 a.D.): Morreu em agonia, gritando, "Quão desgraçado é procurar a morte e não encontrar".

3. Imperador Marco Aurélio (161 a 180 a.D.): Mandava decapitar e lançar às feras. Apesar de possuir boas qualidades como homem e governante justo, contudo foi um terrível perseguidor dos cristãos. Opunha-se, pois, aos cristãos por considerá-los inovadores. Milhares foram decapitados e devorados pelas feras na arena. Os Imperadores acima mencionados foram considerados como os "bons imperadores", pois nenhum cristão podia ser preso sem culpa definida e comprovada. Contudo, quando se comprovavam as acusações e os cristãos se recusavam a retratar-se, os governantes eram obrigados, a por em vigor a lei e ordenar a execução.

4. Imperador Severo (193 a 211 a.D.): Mandava decapitar e lançar às feras. Iniciou uma terrível perseguição que durou até à sua morte em 211 a.D. Possuía uma natureza mórbida e melancólica; era muito rigoroso na execução da disciplina. Tão cruel fora o espírito do imperador, que foi considerado por muitos, em sua época, como o anticristo.

5. Imperador Décio (249 a 251 a.D.): Décio observava com inveja o poder crescente dos cristãos, e determinou reprimi-lo. Via as igrejas cheias enquanto os templos pagãos desertos. Por conseqüência, mandou que os cristãos se apresentassem ao Imperador para comunicar a religião. Quem renunciava recebia um certificado, que não renunciava era considerado criminoso e conduzidos às prisões e sujeitos às mais horrorosas torturas.

6. Imperador Diocleciano (305 a 310 a.D.): A última, a mais sistemática e a mais terrível de todas as perseguições romanas deu-se neste governo. Em uma série de editos determinou-se que:

I. Todos os exemplares da Bíblia fossem queimados.
II. Todos os templos construídos em todo o império durante meio século fossem destruídos.
III. Todos os pertencentes as ordens clericais fossem presos.
IV. Ninguém seria solto sem negar o Cristianismo.
V. Pena de morte para quem não adorasse aos deuses romanos. Ele prendia os cristãos dentro dos templos e depois ateava fogo.

3. OS PRIMEIROS MÁRTIRES

1. Inácio de Antioquia: Seu nome deriva-se do latim: Igne (fogo) e Natus (nascido). Discípulo do apóstolo João, Inácio foi bispo em Antioquia da Síria. Ele viveu no período de 60 a 117 d.C., aproximadamente, e tornou-se célebre pela fidelidade a Cristo em meio às perseguições sofridas e às cadeias que enfrentou.
Pouco antes da sua morte na arena do Coliseu, em Roma, e convicto da sua eterna salvação ele afirmou: “Sou trigo de Deus, serei triturado pelos dentes das feras para tornar-me o puro pão de Cristo”.
O historiador Eusébio de Cesaréia, afirma que Inácio foi enviado da Síria para Roma e, posteriormente, lançado às feras do Coliseu como alimento, por causa de seu testemunho de Cristo ao se negar a participar do culto do imperador. Seu martírio aconteceu por volta do ano 117 d.C.

2. Policarpo: Bispo da Igreja de Esmirna, na Ásia Menor, nasceu em 69 e morreu queimado vivo, numa fogueira, no ano 155. Policarpo também fora discípulo do apóstolo João, e havia assumido o pastorado daquela Igreja durante o período de exílio de João, na ilha de Patmos.
Periodicamente, por ocasião da celebração do culto a Cibele, uma série de jogos de caráter esportivo e religioso eram disputados na cidade de Esmirna e ao vencedor desses jogos, era conferido um prêmio especial chamado: “Coroa de Esmirna”. A expressão “Coroa da Vida” citada por Jesus em Ap 2.10 como o prêmio do crente é uma referência direta a essa premiação dos Jogos de Esmirna.

4. OS APOLOGISTAS DA IGREJA

1. Justino, o mártir (100-166), grego, viveu na Palestina. Inicialmente filósofo, converteu-se ao cristianismo, passando a ser um ardoroso pregador e defensor do Evangelho até ser martirizado. Justino era um dos homens mais competente de seu tempo, e um dos principais defensores da fé. Seus livros, que ainda existem, oferecem valiosas informações acerca da vida da igreja nos meados do século II. Seu martírio deu-se em Roma, no ano 166.

2. Irineu (130-200), natural de Esmirna e influenciado pela pregação de Policarpo, do qual foi discípulo. Irineu foi um dos grandes combatentes do gnosticismo, tendo escrito uma vasta literatura contra essa heresia. Irineu foi ordenado bispo no ano de 180, na Gália, tendo se dedicado à obra missionária e a literatura antignóstica.

3. Tertuliano (160-225), era advogado, natural da cidade de Cártago, no norte da África e filho de família pagã abastada. Ele estudou Direito e exerceu a profissão em Roma. Tinha o domínio da língua grega e possuía grande erudição em filosofia e história. Inteligente, culto, zeloso e defensor da moral cristã, escreveu vários livros.
Tertuliano converteu-se ao cristianismo entre os anos 190 e 195, provavelmente em Roma, e passou a dedicar-se ao estudo da literatura cristã, tanto ortodoxa quanto herética. Pouco tempo depois voltou a Cartago, onde foi ordenado presbítero e lá viveu até a sua morte que ocorreu entre os anos 222 e 225.
Tertuliano esteve vinculado à Igreja de Roma, no período em que houve uma grande perseguição contra os cristãos movida pelo Imperador Sétimo Severo no Norte da África, em 202, que reacendeu o puritanismo natural em Tertuliano, levando-o a simpatizar-se de certa forma com o montanismo. O que mais chamava à atenção neste movimento eram os seus aspectos ascéticos e antimundanos.
Por volta do ano 200, Tertuliano rompeu com a Igreja Católica, passando a criticá-la veemente, em reiterados protestos. Alguns historiadores afirmam, que antes de sua morte  fundou uma seita própria.
Entre 197 e 220, Tertuliano, dedicou-se à carreira literária de defesa e explicação do cristianismo. Foi o primeiro escritor eclesiástico mais importante da língua latina. Seu estilo era muito bom de ler, porque a sua escrita era vívida, satírica e fácil de ler-se.
Seu método era muito parecido com o de um advogado expondo em um tribunal. O intenso fervor espiritual que demonstrava tornava-o sempre admirável no que escrevia. Ele foi intitulado de o “pai da teologia latina”.
Tertuliano, não era um teólogo especulativo. Seu pensamento se baseava em apologistas como Irineu e também no de guardiões da tradição da Ásia Menor, tanto as idéias estóicas como os conceitos jurídicos. Dava o sentido de ordem e de autoridade o que era peculiar aos romanos. Todos os assuntos que escrevia eram formulados com clareza e definição peculiar à mente jurídica.
Por esse motivo, ele foi considerado mais do que qualquer outro escritor anterior, emprestando precisão a muitos conceitos teológicos até então pouco compreendidos.

4. Cipriano (200-258): Discípulo de Tertuliano. Cipriano se notabilizou como um grande administrador e professor, além de ter escrito várias obras, principalmente no campo da eclesiologia, e tendo, por conseguinte, influenciado muitos dos atuais conceitos de hierarquia católica e também na criação e formação da doutrina da transubstanciação.
Cipriano foi o herdeiro intelectual de Tertuliano, a quem chamava de mestre. Acredita-se que ele nasceu em Cartago, por volta do ano 200, onde passou toda a sua vida. Era abastado e culto, tendo se destacado como professor de retórica.
Por volta do ano 246, converteu-se à fé cristã, e pouco tempo depois foi escolhido e designado para o cargo de bispo da Igreja de Cartago. Na perseguição aos cristãos que se verificou em 250, ele conseguiu escapar fugindo. Contudo, em 258, enfrentou heroicamente a perseguição tendo sido martirizado, decapitado e morto. Cipriano foi muito consagrado pelas gerações que se seguiram.
Cipriano ensinava que a Igreja é a única comunidade de cristãos visível e ortodoxa. Segundo ele: “Há um só Deus e Cristo é um só, e há uma só Igreja e uma só cátedra fundada sobre a rocha pela palavra do Senhor”. “Seja quem for, ou o que for, quem não está na Igreja de Cristo não é cristão”. “Não pode ter a Deus por Pai quem não tem a Igreja como mãe”. E, “Fora da Igreja não há salvação”.
Cipriano considerava Pedro como o bispo típico. Referia-se a Roma como “a Igreja principal, de onde se origina a unidade do sacerdócio”. Para ele, Roma era claramente a igreja mais eminente em dignidade, contudo não admitia a autoridade do bispo de Roma sobre os outros, mesmo em matéria de jurisdição, ou mesmo considerá-lo mais do que primeiro entre todos os bispos da Igreja.
Cipriano ensinava também que a Ceia do Senhor é um sacrifício oferecido a Deus pelo sacerdote. Ele referia-se ao martírio cristão como sendo “a semente que dá fruto a cento por um”, e ao celibato voluntário, como “a semente que produz sessenta por um”.

5. Clemente de Alexandria (155-225): Natural de Atenas, na Grécia, e filho de pais pagãos, ele não deve ser confundido com Clemente de Roma, um dos pais apostólicos.
Clemente tinha um alto apreço pela sabedoria grega, tendo estudado filosofia com muitos mestres de sua época, tendo se utilizado bastante dos princípios da filosofia, como ferramentas auxiliar na interpretação das Escrituras.
No início do século II, foi fundada na cidade de Alexandria, uma Escola de Formação Cristã, com o objetivo de discipular os novos convertidos ao cristianismo, vindos do paganismo e das diversas religiões orientais.
Seu primeiro diretor foi Parteno, um outrora estudioso do estoicismo e agora convertido ao cristianismo. Clemente, de 190 a 202 e Orígenes de 203 a 231, foram respectivamente, seus sucessores à frente dessa instituição de ensino teológico.
Sua obra intitulada Protrepticus, ou Exortação aos Gentios, escrita por volta do ano 190, é considerada como um dos principais documentos missionários de cunho apologético que defende a superioridade do cristianismo em relação às demais filosofias e religiões existentes. Além dessa obra, ele também escreveu, dentre outras Paedagogus, um tratado sobre moralidade cristã, destinado à juventude de seu tempo.

6. Orígenes (185-254): Natural de Alexandria, no Egito, ele foi discípulo de Clemente de Alexandria. Nascido em lar evangélico, Orígenes teve de assumir a responsabilidade de sua família aos 16 anos, em virtude do martírio de seu pai, tendo recebido excelente formação cristã.
Essa formação, aliada a sua grande capacidade e competência, fez com que ele assumisse a direção da escola de formação cristã, em substituição à Clemente, em 203, com apenas 18 anos de idade, ofício que ele exerceu até o ano de 231.
Apesar de sua fama e grande importância, Orígenes optou por uma vida ascética, chegando, inclusive, a dormir nas ruas em tábuas de madeira.
Orígenes, ao longo de toda sua vida, tornou-se um estudioso das Escrituras e exerceu, juntamente com Tertuliano, grande influência na Igreja de seus dias. Segundo algumas estimativas, Orígenes chegou a escrever cerca de seis mil pergaminhos.
De toda essa sua vasta produção literária, a mais famosa foi sem dúvida, a obra intitulada De Principiis, escrita por volta do ano 230, na qual ele apresenta, pela primeira vez na história da Igreja, um estudo cristão sobre Teologia Sistemática – embora com algumas falhas doutrinárias, principalmente em relação à área de Cristologia.

5. AS HERESIAS

a) Ebionismo: Heresia surgida nos círculos judaicos, no final do século I. Esse nome é derivado do hebraico: “ebheyôn”, que significa "pobre", "necessitado", "miserável", "mendigo", "pedinte de esmolas".  Apesar de haver alusões, tanto de Hipólito quanto de Tertuliano, a um certo Ebião, como suposto fundador dessa seita, esta palavra relembra o título com que a igreja judaico-cristã de Jerusalém gostava de ser reconhecida.
O historiador Eusébio de Cesaréia (260-340), com uma dose de malícia, diz que este nome “manifesta a pobreza de sua inteligência”, e também que eles tinham a respeito de Cristo "pensamentos pobres e de baixa estima". Eles criam que a fé não era suficiente para a salvação, sendo preciso que os homens observassem a Lei.
Havia um determinado grupo de ebionitas “heterodoxos” que cria que Jesus era somente um mero homem, filho de José e Maria, porém um sincero observante da Lei.  Segundo eles, Jesus fora qualificado para o exercício do seu ministério através do batismo e pela descida do Espírito Santo, para ser um profeta e mestre; porém o Espírito Santo o teria abandonado no Calvário. No entanto, como Messias predestinado, Ele voltaria a terra para reinar.
Este grupo desejava manter a qualquer preço o monoteísmo do Antigo Testamento – preservando a Lei mosaica e uma forma de ascetismo: todos os cristãos deveriam ser circuncidados, nem que para isso, tivessem de negar a divindade de Cristo e a Sua concepção virginal, o que de fato muitos fizeram.
Na tentativa desesperada de preservar o monoteísmo bíblico, os ebionitas rejeitavam todos os textos bíblicos que falavam da divindade e da eternidade do Filho de Deus.
Eles rejeitavam os escritos do apóstolo Paulo, chamando-o de “apóstata da lei”; todavia, honravam a Tiago e Pedro. Devemos, ainda, acentuar que todo ebionita é subordinacionista, isto é, a divindade do Filho, quando aceita, seria menor do que a de Deus.  O Filho é ontologicamente subordinado ao Pai.
A expressão “Ebionita”, na Teologia Moderna, passou a significar aqueles que negam a divindade plena de Cristo.

b) Gnosticismo: O gnosticismo surgiu no primeiro século da era cristã e afetou grandemente as Igrejas neotestamentárias. Essa heresia tinha sido introduzida na Igreja de Colossos e nas circunvizinhanças, e era, em sua essência, uma heresia de origem judaico-filosófica, bem mais perniciosa e devastadora do que a que assolou as Igrejas da Galácia (judaizantes).
Os gnósticos eram grupos eram constituídos de falsos mestres (Cl 2.4-8) que se “convertiam” a Jesus, entravam nas Igrejas e disseminavam ensinamentos heréticos que combinavam o ritualismo farisaico com o ascetismo dos essênios.
Paralelamente, existia também uma corrente denominada de ascetismo, que consistia de práticas filosóficas, através das quais as pessoas eram levadas a buscar e a alcançar um plano superior de “elevação espiritual”, em conjunto com a aplicação de princípios filosóficos místicos. Esses grupos deveriam ser oriundos da seita dos Essênios, visto que era comum entre eles, a prática de um judaísmo místico-filosófico, que incluía, dentre outras coisas, culto de adoração aos anjos (Cl 2.18).
Eles também propunham a crença em muitos seres divinos, conhecidos como "aeons" que servem de mediadores entre o homem e um inatingível Deus. O mais baixo de todos esses "aeons" que estava em contacto direto com os homens teria sido Jesus Cristo.
Os gnósticos se orgulhavam e se autoproclamavam os detentores da sabedoria e do conhecimento. Segundo eles, somente através do conhecimento (gnosco), e da razão humana, o homem poderia conhecer e desenvolver a sua fé.
Entretanto, esse princípio encontra-se em desacordo com a Palavra de Deus; pois esta afirma, textualmente: “Pela fé entendemos...” (Hb 11.3a). Isso significa dizer que, a fé é o único meio pelo qual o homem consegue chegar ao conhecimento de Deus, ou seja, ao “gnosco” de todas as coisas. O gnosticismo causou grandes males às Igrejas da Ásia, em seus primórdios.
A verdade é que, sendo o gnosticismo muito mais uma filosofia do que uma religião, encontra-se basicamente interessado no desenvolvimento do conhecimento filosófico, e não no exercício da fé. O gnosticismo introduzido em Colossos, além de negar a atuação de Deus na criação do mundo, procurava introduzir, nos cultos, alguns cerimoniais de adoração aos anjos, juntamente com princípios da mitologia universal, largamente praticada na Grécia e em Roma.
Ao estudarmos o gnosticismo observamos, ali, as bases para o surgimento do culto à Maria, do culto às imagens, da doutrina da transubstanciação, dentre outros. Essa heresia tinha ainda, como objetivo, procurar encobrir e obscurecer a sã doutrina e a obra redentora de Cristo, negando-lhe a divindade, bem como a natureza do pecado no homem e a base da sua salvação, que é a graça de Deus, mediante a fé. A partir da difusão dessas heresias, duas correntes doutrinárias e heréticas surgiram no âmbito da Igreja.
A primeira corrente chama-se “monaquismo”. Esse posicionamento filosófico argumenta que “a carne é má” e que, como conseqüência, o pecado ocorre e habita permanentemente, no corpo da pessoa. Em função disso, para que o homem pudesse se livrar do pecado de seu corpo, ele precisaria buscar, na prática do ascetismo, o desenvolvimento mental, e através dele, alcançar a elevação espiritual. Muitas religiões orientais existentes atualmente baseiam-se nesses princípios.
A segunda corrente chama-se: “antinomianismo”. Esse posicionamento filosófico defende o princípio de que como o pecado existe, unicamente, no corpo, ele não pode atingir e muito menos afetar a alma do homem. Dessa maneira, o homem poderia desfrutar de uma vida plena de prazeres, inclusive os da carne, sem que isso viesse a contaminar a sua alma.
Esse ponto de vista era igualmente compartilhado e defendido pelos epicureus, com os quais Paulo havia se encontrado no Areópago, em Atenas, em sua segunda viagem missionária (At 17.18-21). Como o apóstolo Paulo conhecia bem as bases e os princípios dessas doutrinas filosóficas, pode escrever aos colossenses, repassando e relembrando os fundamentos básicos do cristianismo (Cl 1.14-18; 3.1-3) e, sobretudo, dar orientações à Igreja sobre o procedimento correto a ser utilizado.(Cl 2.4, 8, 18, 20-23).
A propagação e a aceitação dessas filosofias dentro das Igrejas possibilitou o surgimento de uma das primeiras heresias do cristianismo: a negação da encarnação de Cristo. Como os gnósticos argumentavam que a carne é má e pecaminosa, Cristo não poderia ter assumido a forma humana, ou seja, ter se tornado homem, pois jamais um ser divino poderia ter vindo em carne.
Dessa maneira, a história de Cristo seria, segundo eles, uma invenção dos cristãos primitivos, ou até mesmo uma lenda, criada para justificar a fé cristã em um Deus que, na verdade, nunca teria vindo a esse mundo e muito menos encarnado. Assim sendo, se Cristo não se fez homem, então a cruz não teria existido, Cristo não teria morrido e nem teria havido ressurreição. Tudo seria pura ficção e fruto da imaginação dos cristãos.
Além de Colossos, o apóstolo Paulo também enfrentou esse mesmo problema na Igreja de Corinto (1 Co 15.12-22). Além de Paulo, o apóstolo João também teve problemas com o surgimento dessa heresia maligna (1 Jo 4.1-3). Judas, em sua epístola universal, também adverte a Igreja contra os falsos mestres que haviam se infiltrado no meio do povo de Deus (Jd 3-4).
O apóstolo Paulo, cuidadoso como sempre, não apenas com as Igrejas, mas também com as lideranças das mesmas, escreve ao jovem pastor Timóteo (1 Tm 1.3-20), alertando-o quanto ao perigo que os ensinamentos filosóficos gnósticos representavam para as Igrejas.
Em sua primeira epístola, Paulo orienta Timóteo a: (a) Não permitir que essas doutrinas sejam ensinadas na Igreja (1.3); (b) Ter cuidado com as vãs filosofias (2.8). (c) Ter cuidado com os que falam na igreja (4.2-3). (d) Ter cuidado com a doutrina (4.16a; 6.3-5); (e) Ter cuidado com a falsa ciência (6.20-21).

c) Montanismo: Essa heresia foi criada por Montano, natural da Frigia, Ásia, por volta do ano de 155. Os montanistas se achavam cheios do Espírito Santo e eram contrários à direção da Igreja através de homens, pois estes bloqueavam a ação do Espírito Santo. Segundo eles o somente o Espírito Santo bastava para dirigir tudo, sem precisar da intervenção humana.

d) Docetismo: Essa heresia surgiu no século II, como desdobramento do gnosticismo, e segundo a qual o corpo de Cristo não era real, mas apenas aparente. Os docetistas também negavam que Jesus tivesse realmente nascido de Maria.

e) Monarquianismo Humanitariano: Seu primeiro representante foi Teódoto, que havia chegado a Roma vindo da cidade de Bizâncio, no ano 190, como resultado de uma perseguição. Teódoto viria a ser, mais tarde, excomungado pelo bispo de Roma, Vítor (186-198). No entanto, o mais destacado defensor desta doutrina, foi Paulo de Samosata, que era bispo de Antioquia por volta do ano 260.
Paulo de Samosata ensinava que Jesus era originariamente um mero homem, sendo elevado a uma posição superior no batismo, quando recebeu o poder do céu. Este poder, que passou a residir na pessoa humana de Jesus – como em mero recipiente –, qualificou-o para o exercício de seu ministério neste mundo.
Assim sendo, Jesus fora elevado a uma posição intermediária entre Deus e os homens, não sendo, portanto, essencialmente divino, e ainda segundo ele, a consciência de ser o portador do Logos foi crescendo gradativamente em Jesus, a partir do seu batismo.
Para ele, Jesus era o filho adotivo de Deus; portanto, a sua "divindade" era apenas de honra, de adoção, e não de essência; ela ocorrera pela graça de Deus.
Essa “teologia adocionista” foi condenada no Sínodo de Antioquia, realizado no ano 268, no qual Samosata foi excomungado.

f) Sabelianismo: Essa heresia, surgida por volta do ano 200, teve como principal representante Sabélio, que era presbítero da Igreja de Ptolemaida por volta do ano 250, e que teria disseminado essa heresia em Roma, por volta do ano 215.
Esta heresia era uma forma de modalismo – heresia cristã criada por Fótino (300-376), um herético grego, bispo de Esmirna, que reduzia as pessoas divinas a simples “modos” de uma única pessoa em Deus.
O Sabelianismo foi conhecido no Ocidente como “Patripassianismo” – Cristo era a encarnação do Pai, o qual encarnando, também sofreu, e no Oriente apenas como Sabelianismo.
Para Sabélio, não havia Trindade; Pai, Filho e Espírito Santo eram apenas nomes diferentes para a mesma pessoa; deste modo, os três eram apenas um, e não pessoas independentes. Ele considerava as três Pessoas da Trindade como sendo três diferentes modos de ação ou manifestação divina.
Assim sendo, haveria apenas uma única Pessoa; ficando a Trindade reduzida a três modos de manifestação de uma única Pessoa.
Epifânio, bispo de Salamina, descrevendo os ensinamentos do Sabelianismo, escreveu por volta do ano 375: “Eles ensinam que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma só e mesma essência, três nomes apenas dados a uma só e mesma substância”.

g) Maniqueísmo: Heresia criada pelo persa Mani ou Manes (216-276), segundo a qual o Universo foi criado e é dominado por dois princípios antagônicos e irredutíveis: Deus ou o bem absoluto, e o mal absoluto ou o diabo. O maniqueísmo se fundamenta em dois princípios opostos: o bem e o mal.

h) Apolinarismo: Apolinário era Bispo em Laodicéia, por volta do ano 350, quando declarou que a natureza divina tomou lugar da natureza humana de Cristo. Ele negava a existência de uma mente humana em Jesus Cristo, a qual teria sido substituída pela ação da divindade do Verbo. Esta heresia foi condenada no Concílio de Constantinopla em 381 a.D.

i) Nestorianismo: Nome proveniente de Nestório (380-451), Bispo de Constantinopla (428-431). Adversário voraz do arianismo, seu primeiro ato oficial como patriarca, foi incendiar uma capela ariana.
Nestório afirmava que Jesus Cristo era constituído de duas pessoas e duas naturezas. Ele sustentava que cada uma das duas naturezas de Jesus tinha a sua própria subsistência e personalidade e que a união entre elas era harmônica, moral e afetiva.
Os seus ensinamentos foram rejeitados pelos Concílios de Éfeso (431) e de Calcedônia (451), e em decorrência disso, ele foi mandado para um mosteiro em Antioquia, depois exilado (435-436) na distante cidade de Petra, na Arábia, de onde finalmente foi para o oásis de Upper, no Egito, onde passou o restante de seus dias.
Mesmo sendo rejeitado pelos Concílios da Igreja, o Nestorianismo acabou sendo bem aceito por várias igrejas existentes na região de Odessa, na Síria. Mais tarde, eles foram perseguidos e banidos pelo imperador, acusados de heresia, indo se estabelecer em definitivo na Pérsia onde cresceram de forma independente, espalhando-se, posteriormente, pela Ásia.
Essas igrejas nestorianas eram dirigidas, inicialmente, por um arcebispo que alguns anos mais tarde (498) tomou para si o título de Patriarca do Oriente.
Nesse mesmo Concílio de Éfeso (431), em que Nestório foi banido e suas obras foram queimadas, foi aprovado a utilização do termo: “Mãe de Deus”.
Nestório, por sua vez, se opunha à aplicação do termo “Mãe de Deus”, à pessoa de Maria.

j) Monofisismo ou Eutiquianismo: Nome derivado de Êutico (378-454) que era o arquimandrita (cargo superior nos mosteiros da Igreja Oriental, hoje Ortodoxa Grega) de um mosteiro em Constantinopla. Êutico também era discípulo de Cirilo de Alexandria. A sua doutrina surgiu como uma espécie de reação ao Nestorianismo.
Ele sustentava que a encarnação é o resultado da fusão do divino com o humano em Jesus, sendo a natureza humana absorvida pela divina ou, que desta fusão surgisse uma nova substância “híbrida”, ou seja, um “terceiro tipo de natureza”.
O Monofisismo defendia a posição de que Cristo tem uma única natureza: a divina, revestida de carne humana, ou seja, envolvia uma pessoa e uma natureza.
Devemos observar que, dentro desta perspectiva, Jesus não salvaria ninguém, já que Ele não seria nem verdadeiro homem, nem verdadeiro Deus.
O Eutiquianismo foi condenado no Sínodo Permanente de Constantinopla, em 22 de novembro de 448. Todavia, em outro Concílio, convocado pelo imperador Teodósio II (408-450), realizado em agosto de 449, na cidade de Éfeso, Êutico foi reabilitado.
Isto ocorreu à revelia do bispo de Roma Leão I, que havia elaborado uma “Carta Dogmática”, também conhecida como “Tomo”, em 13 de junho de 449, combatendo a doutrina da natureza única de Cristo.
Dióscoro, sucessor de Cirilo († 444) como patriarca de Antioquia, foi quem presidiu este “concílio” – com plenos poderes imperiais –, impedindo inclusive que os três enviados do bispo de Roma lessem a “Carta Dogmática” perante o Concílio.
No entanto, dois anos depois, foi convocado o Concílio de Calcedônia, em 23 de maio de 451, pelo imperador Marciano. Calcedônia anulou a decisão do “concílio” de Éfeso, e o invalidou como Concílio da Igreja, condenando o Eutiquianismo, e exilando Êutico e Dióscoro.
As Igrejas que aderiram ao Monofisismo dividiram-se, com o tempo, em três grandes grupos:

a) Igreja da Armênia: Surgiu no início do século III, e se recusou a aceitar as decisões do Concílio de Calcedônia (451). Permanece separada até os dias de hoje.
b) Igreja Jacobita: Essa Igreja surgiu no século VI e tem seu nome derivado do bispo Jacob, de Odessa, na Síria. Posteriormente, eles espalharam-se pela Ásia e Mesopotâmia. Atualmente, é constituída de poucas igrejas, e sem expressão no mundo.
c) Igreja Copta: Esta Igreja reúne todos os cristãos, não gregos, que estão no Egito. Essa igreja foi condenada e considerada herética pela Igreja Romana, e permanece separada e isolada.

6. A ASSOCIAÇÃO DAS IGREJAS

Para combater as heresias, surge na segunda metade do século II, entre as Igrejas, um movimento liderado pelo bispo de Roma, de forma a agregar essas Igrejas, criando uma espécie de “associação universal de igrejas”. A palavra “universal” significa “católica”.
Essa “associação” visava, em princípio, uniformizar as igrejas quanto à parte doutrinária, buscando reunir todos os fragmentos apostólicos para formar um único documento e distribuir entre as igrejas, visando combater o gnosticismo e algumas heresias tais como: regeneração batismal, batismo infantil e, mais tarde, o arianismo.
A “associação de igrejas” também realizou vários debates quanto à parte eclesiológica, principalmente no diz respeito ao tipo e a forma de governo das igrejas, a fim de acabar com as divergências que existiam entre as igrejas.
Mesmo sendo membros dessa “associação”, as Igrejas continuariam a funcionar livremente, mantendo a autonomia administrativa, e tendo a igreja de Roma (ou seja, o bispo de Roma) a incumbência de “supervisionar” e de “verificar” se as decisões tomadas pela “associação” estariam sendo cumpridas por todas as igrejas.
Nessas reuniões eram discutidos assuntos diversos, tais como: heresias, composição do cânon, definições de caráter doutrinário, padronização na organização e no funcionamento das igrejas, etc.
Dessas reuniões saíram decisões que mais tarde vieram a ser conhecidas pela expressão “dogma”.
O dogma é uma declaração doutrinária, que uma vez votada, acordada e aprovada pela associação deveria ser aceito por todas as igrejas, sem nenhuma objeção e muito menos qualquer contestação, devendo ser imediatamente colocado em prática por todas as igrejas.
De acordo com as deliberações da associação, a igreja que viesse a descumprir qualquer decisão seria penalizada com o desligamento da associação, e conseqüentemente, tratada como “igreja herética”.
Essa “associação de igrejas” viria a se tornar o “embrião” do que hoje conhecemos como Igreja Católica Apostólica Romana.
Cinco Igrejas “brigavam” pela supremacia e pela liderança dessa associação: Roma, Constantinopla, Alexandria, Jerusalém e Antioquia.
Surgem nessa época, nas igrejas, as figuras de bispo, presbítero e diácono, que eram separados e distintos dos demais membros da Igreja.
O culto nas Igrejas era ministrado, inicialmente aos domingos (dia do Senhor) pela manhã, bem cedinho, pois naqueles tempos o domingo era um dia normal de trabalho.
O culto consistia na leitura das Escrituras, seguida de períodos de orações, cânticos de hinos e de pregação da Palavra, e encerrando com a Ceia do Senhor (Eucaristia) que pela sua importância tinha uma liturgia própria.
Com a ênfase dada à moralidade, como parte essencial da vida cristã, começaram a surgir, dentro das igrejas, um movimento espiritual objetivando aperfeiçoar, ainda mais, a santidade e o conceito de vida integral para Deus, com criação do “voto de pobreza” e “voto de abstenção sexual”, destinado para aqueles que quisessem viver uma “vida cristã ascética”, ou seja, separada para Deus e completamente longe dos prazeres deste mundo, tanto material, quanto carnal.
A criação e a implantação desses votos no meio das Igrejas propiciou, mais tarde, o surgimento dos monastérios e das ordens monásticas e também do celibato para os sacerdotes, que foi tornado oficial, pela Igreja, a partir do século IV.
Pouco a pouco, começaram a surgir nas igrejas, fórmulas de oração, de liturgia e de ordem de culto, em especial quando havia batismo.
A perseguição continua e somente diminuiu no período do imperador Galieno, dando início ao período conhecido com “Pax Longa” (260-303).

III. SÉCULO IV (301-400)

1. A UNIÃO ENTRE A IGREJA E O ESTADO

No ano 305, quando Diocleciano abdicou o trono imperial, a religião cristã era terminantemente proibida, e aqueles que a professassem eram castigados com torturas e morte. Logo após a abdicação de Diocleciano, quatro aspirantes ao trono imperial iniciaram uma guerra entre si (Constantino, Majêncio, Licínio e Maximino). Os dois rivais mais poderosos eram Majêncio e Constantino.
Constantino afirmava ter visto no céu uma cruz luminosa com os seguintes dizeres: “Por este sinal vencerás”. Crendo ser um aviso de Deus, ele então ordenou que seus soldados empregassem para a batalha o famoso símbolo conhecido como “Lábaro”, que passou a ser o estandarte do exército romano.
Em batalha travada sobre a ponte Mílvio, Constantino venceu o exercito de Majêncio e este morreu afogado caindo nas águas do rio. Após esta vitória, Constantino fez aliança com Licínio e posteriormente com Maximino os outros dois pretendentes a coroa.
No ano de 311 surge o Edito de Tolerância, promulgado em seu leito de morte por Galério, imperador do império romano do oriente, através do qual o império reconhecia a insanidade que era a perseguição aos cristãos, pois o cristianismo já havia atingido proporções inimagináveis dentro e fora dos limites do império, e entre os próprios romanos.
Dois anos depois, em 313, é promulgado o Edito de Milão pelos então imperadores Constantino (Ocidente) e Licínio (Oriente), que estabeleceria em definitivo a liberdade religiosa para todos.
Em 323 a.D., Constantino alcançou o posto supremo de Imperador, e o cristianismo foi então favorecido. Os templos das Igrejas foram restaurados e novamente abertos em toda parte.
Em todo o império os templos pagãos eram, em geral, mantidos pelo Estado, mas com, a conversão de Constantino, passaram a ser concedido às Igrejas e ao clero cristão, e o Domingo foi proclamado como dia de descanso e de adoração a Deus.
Assim sendo, do reconhecimento do cristianismo como religião oficial do império romano, surgiram alguns bons resultados, tanto para o povo como para a igreja:

a) As perseguições acabaram.
b) A crucificação foi abolida.
c) Templos restaurados e muitos construídos.
d) As lutas de gladiadores foram proibidas.

Apesar do triunfo do cristianismo haver proporcionado um grande alívio para os cristãos, a aliança da Igreja Romana com o Estado, inevitavelmente, trouxe maus resultados para o cristianismo, quais sejam:

a) As Igrejas eram mantidas pelo Estado, e a cúpula e seus ministros contemplados com uma série de privilégios, pois além de não pagarem impostos ao império, seus eventuais julgamentos eram feitos de forma particular e “especial”.
b) Iniciaram-se as perseguições aos pagãos, que eram obrigados a se batizarem, sob pena de sofrerem sanções por parte do imperador. Ocorreram, dessa forma, muitas “conversões” falsas.
c) Como ser cristão era “estar por cima”, todos queriam ser membros da Igreja e quase todos eram aceitos. Homens mundanos, ambiciosos e sem escrúpulos, todos almejavam postos na Igreja, para, assim obterem prestígio, notoriedade e qualquer tipo de influência social e política dentro do império.
d) Os cultos de adoração a Deus aumentaram em “suntuosidade e esplendor”, mas diminuíram em espiritualidade e não tinham mais a mesma pureza e o mesmo amor fraternal que eram a marca registrada dos cristãos, no passado.
e) Pouco a pouco, sob a justificativa de ganhar outros povos para Jesus, as festividades pagãs foram sendo gradativamente introduzidas no calendário festivo da Igreja, porém com outros nomes, dando início ao que conhecemos hoje como “sincretismo religioso”.
f) A adoração a Vênus e Diana foi substituída pela adoração a virgem Maria e quadros com imagens dos mártires da Igreja começaram a aparecer nos templos, e foram aos poucos se tornando objeto de reverência e, mais tarde, de adoração.

2. A FUNDAÇÃO DE CONSTANTINOPLA

Os quatro primeiros séculos da era cristã foram marcados a deterioração social, moral e política do Império Romano e ao seu conseqüente declínio territorial.
Muitos desses povos, até então submissos e subjugados por Roma começam a se rebelar, e ante a fragilidade de seu opressor, iniciam um levante que culmina com a gradativa libertação do domínio romano. Em 373, os visigodos atacaram e venceram os romanos, e também depuseram e mataram o imperador romano Valêncio.
Essa vulnerabilidade e fragilidade de Roma levam Constantino a transferir a sede do governo romano para a cidade de Bizâncio, em 330, que tem seu nome mudado para Constantinopla, atual Istambul, capital da Turquia.
O Imperador Constantino, agora convertido ao catolicismo, compreendeu que a cidade de Roma estava intimamente ligada à adoração pagã, cheia de templos e estátuas pagãs. Ele desejava uma capital sob os auspícios da nova religião católica. Na nova capital, a Igreja seria verdadeiramente honrada e considerada, e não haveria mais nenhum templo pagão.
Constantino chegou a construir, em Roma, a igreja do Salvador e por sua permissão, os papas passaram a ocupar um palácio oferecido por sua esposa Fausta. Muito tempo depois, no século XV, a igreja do Salvador viria a ser demolida, para dar lugar à atual Basílica de São Pedro.
Por volta do ano 363, todos os governadores professavam o cristianismo, e antes de findar o século IV, o cristianismo, foi virtualmente estabelecido como religião do Império.
No final do século IV, após a transferência da nova capital do império para Constantinopla, deu-se a divisão do império. As fronteiras eram tão grandes que um imperador sozinho não podia defender seu vastíssimo território.
No ano 395, Teodósio I, o Grande, divide o Império em dois, ficando o seu filho Arcádio com o governo do Império Romano do Oriente, sediado em Constantinopla, e o seu irmão Honório com a difícil tarefa de governar o Império Romano do Ocidente.
O Império do Oriente recebeu o nome de Império Bizantino, derivado da cidade de Bizâncio, que ficava situada às margens do Estreito de Bósforo, região limite da Europa.
Bizâncio havia sido fundada pelos gregos no séc. VII a.C., até que veio a se tornar a capital do Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino (330 a 1453), tomando o nome de Constantinopla, atual Istambul.
Durante os primeiros anos, a sede do Império no Ocidente era Milão, mas o início das ameaças bárbaras provou a fragilidade da capital. Em função disso, no ano 402, Honório decide então mudar a capital para a mais bem protegida cidade de Ravena. A nova capital resistiria mais tarde às invasões bárbaras dos visigodos (godos do ocidente).
A partir do final do século IV, sucessivas insurreições dos povos bárbaros contra o domínio romano, principalmente vindo no norte da Europa, acabaram por destruir o já frágil e debilitado Império Romano do Ocidente.
Em 410, Alarico, liderando os visigodos, invade e pilha a velha cidade de Roma, aprisionando Galla Placidia, filha do imperador Teodósio I. O sucessor de Alarico é Ataulfo, que mais tarde se casa com Galla Placidia em Narbonne, no ano de 413.
Entretanto, Ataulfo viria a morrer pouco tempo depois, e Galla Placidia entregue ao seu meio-irmão Honório que a casa em 416 com Constâncio, um general do Império.
Após a morte de Constâncio, Honório persegue a irmã com intenções incestuosas, o que a leva a fugir para Constantinopla em busca do auxílio do seu sobrinho, o imperador Teodósio II.
Com a morte de Honório em 423, vítima de uma grave doença (hidropisia – ver texto de Lucas 14.1-4), Teodósio II entrega à Galla Placidia, a capital Ravena, de onde ela reinaria durante vinte e cinco anos em nome do seu filho, o imperador Valentiniano III, filho do seu casamento com o general Constâncio.
Durante um quarto de século e até a sua morte, em 27 de Novembro de 450, Galla Placidia conseguiria manter a paz na capital Ravena. Data deste período, a construção da Basílica de São João Evangelista, do Batistério Neoniano e, mais tarde, do Mausoléu de Galla Placidia.
Em virtude da fragilidade, vulnerabilidade e incapacidade do exército romano em conseguir conter as incursões dos povos bárbaros contra Roma, por diversas vezes foi necessária até mesmo a intervenção e a intermediação da Igreja Romana, como a que ocorreu no ano de 452, quando a intervenção pessoal do papa Leão I, foi decisiva para evitar a destruição da cidade de Roma por Átila, o líder dos hunos.
Da mesma forma aconteceu em 455, quando Genserico e seus seguidores do norte da África, chegaram e atacaram furiosamente a cidade de Roma, a intervenção de Leão I foi novamente fundamental, e um acordo foi feito, permitindo que Genserico ficasse na cidade por apenas duas semanas e que pudesse levar tudo o que quisesse, contanto que não destruísse a cidade.
Finalmente, no ano de 476, o rei bárbaro Odoacro fez cair o Império do Ocidente, depondo o imperador Rômulo Augusto, o último imperador romano do ocidente. Ravena é capturada, e Roma passa a ser “governada” pela Igreja Romana.
Com isso, o papa assumiu “o poder e glória do império romano ocidental”, abrindo alas para a criação do “Santo Império Romano”, e por conta disso, muitos outros erros ainda mais graves vieram a ser cometidos.
No ano 493, os ostrogodos ainda chegaram a conquistar, por algum tempo, o sul da Itália. Os godos eram oriundos do norte da Europa, antiga Germânia, que no período compreendido entre os séculos III e V, invadiram por diversas vezes, os impérios romanos do Ocidente e do Oriente. Eles dividiam-se em ostrogodos (godos do leste europeu) e visigodos (godos do oeste europeu).
Somente no período de 527-565, sob o reinado de Justiniano I, governante do Império do Oriente ou Bizantino, é que a Itália, agora reintegrada ao império do oriente, ficaria livre dos ostrogodos e o poder papal em Roma seria novamente restaurado. Justiniano I foi quem criou e desenvolveu o famoso Código Justiniano de leis.

3. OS CONCÍLIOS DA IGREJA

Esses Concílios realizados pela Igreja, num total de oito, foram convocados por diferentes imperadores, e eram denominados Ecumênicos ou Concílios do Império.
Nenhum desses concílios foi convocado pelos papas. Todos eles foram realizados entre as igrejas do Oriente ou Igrejas Gregas, e foram apenas assistidos por alguns representantes do ramo Ocidental da Igreja - a Igreja de Roma.

a) O primeiro desses Concílios foi realizado em na cidade de Nicéia, na Ásia, em maio de 325. Foi convocado por Constantino, o Grande, e assistido por 318 bispos. Sua finalidade era combater a heresia ariana - doutrina de Ário, presbítero de Alexandria entre os anos 280 e 336, segundo a qual Cristo era uma criatura de natureza intermediária entre a divindade e a humanidade.
Ário (250-336), nasceu na Líbia e foi educado em Antioquia da Síria, tendo como mestre a figura enigmática de Luciano de Antioquia († 312), que teria sido discípulo de Paulo de Samosata, bispo de Antioquia, no final do século III.
Ário teve os seus ensinamentos condenados em Antioquia, em fevereiro de 325, e ratificados, três meses depois, no Primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia (20 de maio de 325). Como decisão deste concílio, Ário foi então deportado para a Ilíria, antiga região montanhosa da costa setentrional do Mar Adriático.
Mesmo no exílio, ele continuou escrevendo e aumentando consideravelmente a sua influência, contando sempre com um bom número de amigos fiéis, dentre os quais o grande articulador político do grupo ariano, o bispo Eusébio de Nicomédia († 342).
O arianismo, mesmo condenado em Nicéia, juntamente com os anátemas emitidos por este Concílio, continuou desfrutando de ampla aceitação entre um bom número de Igrejas no século IV, e só começou a perder força a partir do Concílio de Constantinopla (381), quando a posição e decisão do Concílio de Nicéia, contrária ao arianismo, foi reafirmada e ratificada.
O arianismo permaneceu vivo e ativo até o final do século VII, e nos nossos dias ainda “vive”, através das Testemunhas de Jeová.
Se por um lado o arianismo desfrutou de boa aceitação devido ao grande número de seguidores influentes e a tolerância explícita do imperador Constantino – que desejava a tudo custo manter a unidade do império –, ele encontrou um adversário perseverante que, apesar da pequena estatura, tornou-se um gigante na defesa da ortodoxia bíblica: Atanásio (296-373), o jovem bispo de Alexandria entre 328 e 373, que mesmo sendo perseguido e exilado, conseguiu exercer poderosa influência na teologia ocidental, preservando a unidade da igreja e uma sã teologia bíblica, sustentando a divindade e a humanidade de Jesus.
O ponto de vista do arianismo é de que há um só Deus (Pai) não-gerado, sem começo, único, verdadeiro, único detentor de imortalidade. Para os arianos, Jesus Cristo não era da mesma substância do Pai (da mesma natureza), mas sim de uma substância similar (de natureza semelhante).

b) O segundo Concílio reuniu-se em Constantinopla, em 381. Foi convocado pelo imperador romano Teodósio, o grande, reunindo seus participantes de maio a julho de 381 para, dentre outros assuntos, deliberar e rejeitar a heresia conhecida como apolinarianismo - doutrina herética do bispo Apolinário, da Igreja de Laodicéia, que negava a existência de uma natureza humana em Jesus Cristo, a qual teria sido substituída pela natureza divina.
Além disso, ele serviu também para ratificar a decisão do Concílio de Nicéia, contra o arianismo. Esse Concílio foi assistido por cerca de 150 bispos, visto que nos primeiros séculos, a palavra bispo designava simplesmente pastores de igrejas locais. Foi nesse concílio que a Igreja Cristã recebeu o nome de Católica, com base no decreto “Cunctos Populos”.
A questão do Espírito Santo: Logo após o Concílio de Éfeso ter sido encerrado e deliberado quanto às divergências sobre o "Logos", surgiu nos meios cristãos uma outra questão: a função do Espírito Santo!
O que representaria o Espírito Santo na Trindade? Seria Ele apenas mera criatura, como propunha - Macedônio, bispo de Constantinopla, que deu o nome dessa questão de “Macedonismo ou Pneumatomaquismo?”.
O imperador Teodósio, preocupado com essa indefinição por parte da Igreja acerca da Pessoa e da Obra do Espírito Santo, incluiu também essa questão na pauta das discussões, e após inúmeras análises e debates, esse Concílio deliberou e definiu que: “O Espírito Santo é Deus e da mesma substância que o Pai e o Filho”.
Em conseqüência, foi acrescentado ao símbolo de fé Niceno – o Credo de Nicéia, as palavras: "Cremos no Espírito Santo, Senhor e Fonte de Vida, que procede do Pai, que é adorado e glorificado com o Pai e o Filho e quem falou pelos profetas", dando origem ao Credo Niceno.
O Credo Niceno deriva-se, portanto, do Credo de Nicéia, composto pelo Concílio de Nicéia (325), com pequenas modificações efetuadas pelo Concílio de Constantinopla (381) e ratificado pelo Concílio de Calcedônia (451).
Um pouco mais tarde, o Credo Niceno viria a ser novamente alterado pelo Concílio de Toledo (589), realizado pela Igreja Ocidental (Roma), mediante a inclusão do termo latino “filioque”, no qual é expresso que “o Espírito Santo procede do Pai e do Filho”.
Essa alteração feita pelo bispo de Roma durante o Concílio de Toledo, à revelia da Igreja do Oriente e sem a convocação do imperador, acirrou mais ainda as divergências entre Roma e Constantinopla e foi um dos motivos que levou a separação das duas igrejas, alguns séculos mais tarde.
A forma final do Credo Niceno expressa mais precisamente a doutrina da Trindade, contra o arianismo, sendo aceito por católicos e protestantes, mas não pela Igreja Ortodoxa que se recusa, até hoje, a aceitar a alteração feita pelo Concílio de Toledo.
Nesse Concílio foi também atribuída à cidade de Constantinopla (antiga Bizâncio) o status de “proeminência” sobre as demais sedes cristãs, tipificando-a como a mais importante, logo depois de Roma, uma vez que já naquela ocasião, esta cidade era considerada como "a segunda Roma".
Vale apenas destacar que este Concílio não teve a presença nem do Papa, e nem de algum legado seu, mas suas conclusões foram reconhecidas explicitamente pela Igreja Romana a partir do século VI, apenas no que diz respeito às deliberações acerca da divindade do Filho e do Espírito Santo.
Este Concílio contou ainda com a presença de vários historiadores eclesiásticos, dentre eles, Gregório Nazianso.
O Concílio de Constantinopla ajudou também na formação de uma consciência mais firme a respeito das regras da fé cristã, e foi graças a ele que o resultado das decisões do Concílio de Nicéia constituiu-se definitivamente como patrimônio das Igrejas orientais e ocidentais, marcando com isso o início do declínio do arianismo no seio da Igreja.
Nesse Concílio ficou ainda decidido que os “bispos de uma diocese civil não deveriam se intrometer nos assunto de outra diocese, decisão que até hoje prevalece”.
A Confissão da divindade do Espírito Santo - decidida nesse encontro - ficou conhecida como "Símbolo de Constantinopla", uma oração bastante conhecida, e que faz parte até hoje do Credo católico, considerado como o credo mais importante de toda a história do Cristianismo.
A condução desse Concílio ficou praticamente nas mãos dos bispos, com muito pouca interferência do imperador Teodósio. No início, esse Concílio foi presidido por Melício e, depois de sua morte, ocorrida ainda durante os trabalhos, essa tarefa passou para Gregório Nazianso, que renunciou em favor de Nectário de Constantinopla, um importante funcionário da administração estatal, e que ao que parece, no momento de sua nomeação nem era batizado.

c) O terceiro Concílio foi realizado em 431, na cidade de Éfeso e foi convocada por Teodósio II e por Valentiano III, com o objetivo de por um ponto final na questão da controvérsia nestoriana, heresia criada por Nestório, o qual afirmava que Jesus Cristo era constituído de duas personalidades, associadas a duas naturezas. Este Concílio contou com a presença de 250 bispos.
O Concílio de Éfeso reconheceu e aprovou o título de “Mãe de Deus”, dada à Maria, ressaltando assim que a natureza humana, por ela transmitida a Cristo, pertence Àquele que desde sempre é Filho de Deus.
O pelagianismo foi analisando e condenado como heresia por esse Concílio e também, posteriormente, pelo Segundo Concílio de Orange, em 529.
A condenação do Concílio de Éfeso serviu para ratificar a decisão tomada no ano anterior (430) pelo imperador Teodósio II, de banir os seguidores do pelagianismo para fora dos limites de seu império.

d) O quarto Concílio reuniu-se na cidade de Calcedônia, em 451, e foi convocado pelo imperador Marciano. Entre quinhentos e seiscentos bispos metropolitanos, (metropolitanos eram pastores da cidade ou pastores das primeiras Igrejas), estiveram presentes a este Concilio.
Este Concílio reexaminou e ratificou a decisão do Concílio de Éfeso (431) que condenou o nestorianismo, heresia criada e disseminada por Nestório, segundo a qual Jesus Cristo seria constituído de duas personalidades (duas pessoas) que estariam associadas às suas duas naturezas.
Este Concílio ainda condenou e anulou a decisão do falso “concílio” de Éfeso, ocorrido em agosto de 449, declarando-o sem validade, como Concílio da Igreja, ratificando a decisão do Sínodo de Constantinopla (novembro de 448), que havia rejeitado e condenando o Monofisismo.
Foi ainda nesse Concílio que foi promulgada a doutrina que conhecemos como "Mariolatria". Este dogma compreende a adoração de Maria, mãe de Cristo. Esta nova doutrina criou, no principio, uma grande divergência entre os participantes, além de um grande tumulto. Mesmo sob sérias objeções, esse dogma foi finalmente aceito como doutrina da Igreja Católica.
É bom lembrar que nessa época ainda não havia a figura do “papa” e as igrejas encontravam-se de certa forma “dominadas” pelos cinco principais patriarcas, que eram os bispos de Antioquia, Jerusalém, Constantinopla, Alexandria e Roma, que disputavam, entre si, a posição de líder da Igreja.
Roma, por sua vez, reclamava e reivindicava para si, a primazia e a autoridade apostólica, pois ela era a única que declarava poder mencionar o nome de dois apóstolos como seus fundadores, isto é, Pedro e Paulo.
A organização da Igreja de Roma e bem assim seus dirigentes defendiam fortemente estas afirmações. Neste ponto há um contraste notável entre Roma e Constantinopla. Roma havia feito os imperadores, ao passo que os imperadores fizeram Constantinopla.
Além disso, o bispo de Roma procurava se destacar entre os demais, ao demonstrar e exercitar um “cristianismo prático” entre o seu rebanho. Nenhuma outra igreja a sobrepujava na questão do cuidado para com os pobres, não somente com os seus membros, mas também entre os pagãos.
Foi assim que, em todo o ocidente, o bispo de Roma começou a ser considerado como autoridade principal e máxima de toda a Igreja. E foi dessa forma que, no Concílio de Calcedônia, no ano 451, Roma passou a ocupar o primeiro lugar, ficando Constantinopla com o segundo.

e) O quinto Concílio foi realizado em Constantinopla, no ano de 553. Foi o segundo que se realizou ali. Ele foi convocado pelo imperador Justiniano objetivando acabar com a controvérsia monofisista - doutrina daqueles que admitiam em Jesus Cristo uma só natureza.
Esse Concílio foi assistido por 165 bispos, e além do monofisismo, foram igualmente condenados outros documentos escritos, tidos como profanos pela Igreja.

f) O sexto Concilio foi realizado  no ano 680, e também foi realizado em Constantinopla. Foi convocado por Constantino Pogonato, para condenar heresias no âmbito da Igreja. Foi neste Concilio que o papa Honório foi condenado, deposto e excomungado pela Igreja.
Cabe salientar que, até este tempo, o dogma da “infalibilidade papal” ainda não havia sido declarado e nem decretado. Esse dogma da Igreja Romana só viria a ser decretado durante o Concílio Vaticano I, realizado nos anos 1869-1870.
Este conselho tornou mais clara a Definição do Concílio de Calcedônia (451), a despeito das duas naturezas de Jesus Cristo – Deus e Homem.
O assunto era importante por causa da existência do Monofisismo (uma natureza) – heresia que defendia que Cristo teve apenas uma só natureza (divina) e que essa natureza bloquearia a sua natureza humana.
Algumas pessoas até ensinavam que a morte de Cristo teria ocorrido pelo fato dEle não ter conseguido conviver com essas duas naturezas.
Este Concílio rejeitou esta visão, como também os ensinamentos heréticos do Monofisismo, através do documento intitulado “Declaração de Fé do Terceiro Concílio de Constantinopla”.
Esta Declaração se constituiu num esforço concentrado da Igreja para conduzir a sua doutrina através da tênue linha teológica existente entre a heresia do Monofisismo (uma natureza e uma pessoa) e a heresia dos Nestorianos (duas naturezas e duas pessoas).

g) O sétimo Concílio foi realizado em Nicéia, no ano 787. Esse Concílio foi convocado pela imperatriz Irene e ao longo dele, duas novas “doutrinas” foram discutidas, aprovadas e adicionadas ao catolicismo e, conseqüentemente, promulgadas por este Concílio.
A primeira das “doutrinas” ali sancionadas e adicionadas foi permissão dada aos adversários dos iconoclastas para a “adoração de imagens”, constituindo-se numa violação direta e gritante do mandamento de Deus: "Não farás para ti imagens de escultura” (Ex 20.3-5).
A segunda “doutrina” foi a implantação do “culto dos santos”, doutrina que, sabidamente, não tem base e nenhuma justificação na Bíblia.
Martírio (obras)  Pessoas Especiais  Pinturas, Bustos, Imagens  Beatificação  Canonização Adoração.
Beatificação: Inclusão, pela autoridade pontifícia (papa), de uma pessoa falecida, de reconhecidas virtudes, no rol dos bem-aventurados.
Canonização: Decisão papal que inscreve, solenemente, um membro do corpo da Igreja, de excepcionais virtudes cristãs e que praticou reconhecidos milagres, no número dos santos honrados pelo culto público.

h) O oitavo e último dos Concílios convocados pelos imperadores, conhecidos como “Concílios do Oriente” reuniu-se em Constantinopla em 869 a.D. Esse concílio foi convocado por Basílio Maredo, pois a Igreja tinha entrado em uma seríssima disputa de legitimidade, representatividade, autoridade e poder sobre os cristãos, face aos desdobramentos da controvérsia iconoclasta, e, principalmente, a uma calorosa (e pouco cristã) discussão entre os líderes dos dois grandes ramos do catolicismo: o Papa Nicolau I, em Roma e o Patriarca Pônico, o grego, em Constantinopla.
A discussão e a divergência entre eles, sobre qual seria a verdadeira Igreja, foi tão grande e chegou a tal ponto, que eles se “excomungaram mutuamente”.
Este antagonismo entre essas duas correntes do catolicismo perdurou e se aprofundou até o ano de 1054, quando a cisão entre ambas foi “oficializada” e, com isso, as duas vertentes foram definitivamente separadas, uma da outra, gerando a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa do Oriente.
Até hoje, todas as tentativas para reunificá-las têm falhado e desde esse tempo o poder de Latrão (isto é, dos papas e de Roma) começou a ter ainda mais ascendência religiosa e influência política nas nações católicas, e os pontífices, e não mais os imperadores, é que passaram a convocar os Concílios.

4. HISTORIADORES E TEÓLOGOS PÓS-NICENOS

Após a realização do Concílio de Nicéia, em 325, surgem no âmbito da Igreja alguns historiadores e vários teólogos, conhecidos “os pais da igreja”. Para alguns a influência teológica maior foi a de Agostinho, mas segundo outros, é possível que a influência de Jerônimo tenha sido mais duradoura do que a de Agostinho.
Jerônimo não foi um pensador como Agostinho, mas sua presença se tornou marcante no ocidente por duas de suas obras mais conhecidas: a tradução vulgata da Bíblia (utilizada até hoje pela Igreja Católica) e a Introdução do Monarquismo.

4.1. OS HISTORIADORES

1. Eusébio de Cesaréia (260-340): Ele escreveu sua História Eclesiástica onde apresenta a história da Igreja desde Abraão até 324. A narrativa do martírio de Policarpo encontra-se descrita por Eusébio em sua obra “História Eclesiástica”. Ele deu estrutura cronológica para toda a história medieval. Escreveu a biografia de Constantino onde enaltece a figura do imperador. Foi acusado de ser semi-ariano.

2. Sócrates: Ele nasceu em Constantinopla e escreveu a história da Igreja de 305 até 439. É um autor não crítico, e simplesmente ignorava a Igreja no ocidente (romana). Ele apresenta uma coleção inestimável de dados e documentos.

3. Sozomen: Ele foi criado em Gaza, mas viveu em Constantinopla após 406. Apresenta a história da Igreja de 323 a 439. Foi educado para ser monge. Dá destaque ao monarquismo em detrimento de outros dados como a verdadeira filosofia cristã. A biografia é a principal força de sua história.

4.2. OS TEÓLOGOS

1. Atanásio (298-373): Ele assistiu e participou do Concílio de Nicéia em 325, em oposição à Ário. Após a morte de Cirilo, Atanásio foi eleito bispo de Alexandria, no ano de 328.
Ferrenho opositor do arianismo, Atanásio, ao longo do seu bispado, chegou a ser exilado cinco vezes por Constantino e também pelos seus sucessores, os quais ainda permaneciam simpatizantes do arianismo.
Entretanto, seu prestígio, força e influência cresceram e se tornaram tão grande, que os últimos dois mandatos de exílio não puderam ser cumpridos. Nesse período a ortodoxia nicena já havia triunfado sobre o arianismo.
O Cânon do Novo Testamento se fixou de forma quase universal no século IV, com Atanásio.
Em 367, Atanásio enviou uma carta contendo a lista dos livros sagrados que deveriam ser lidos nas Igrejas. Era exatamente a mesma que contém os atuais 27 livros do Novo Testamento.
O cânon neotestamentário só foi definitivamente reconhecido e fixado, quando uma lista idêntica a de Atanásio foi aprovada no Concílio de Cartago (397).
Esta decisão foi ratificada pelo Concílio de Hipona, em 419.

2. João Crisóstomo (345-407): Crisóstomo foi um grande expositor e orador, e ficou conhecido em sua época como “boca de ouro”. Com a morte da sua mãe em 374, seguiu uma vida extremamente ascética até 380. Foi ordenado em 386 e se tornou patriarca de Constantinopla em 398. Foi banido em 404 por ter denunciado as vestimentas extravagantes da imperatriz, bem como a colocação de uma estatueta dela em prata na Igreja ao lado de Santa Sofia. Morreu no exílio em 407.
Ainda existem centenas de seus sermões. A leitura destes sermões mostra a força da sua pregação que era acrescida da forte e marcante personalidade de seu autor. A grande maioria destes sermões versam sobre as epístolas de Paulo. Crisóstomo procurava levar em consideração o contexto de sua época, e assim, aplicar aos seus dias o sentido literal do texto.

3. Teodoro de Mopsuéstia (350-428): Foi um dos principais exegetas da antiguidade. Em contraste com os alexandrinos, ele, juntamente com Crisóstomo, procurava proclamar e salientar o sentido natural do texto. Foi defensor, pelo menos em parte, de Nestório. Defendeu insistentemente a integridade da humanidade de Cristo.

4. Basílio de Cesaréia (329-379): Foi indicado bispo da Igreja de Cesaréia, em 370. Logo em seguida começou uma série de negociações teológicas, primeiro com Atanásio e depois com o papa Dâmaso para promover a reunião das igrejas que estavam divididas face às controvérsias que ainda existiam entre as igrejas, sobre a questão da Trindade.
Como um exímio organizador e legislador, criou uma nova concepção de instituição monástica. Colocou como um ideal a ser seguido, o comportamento dos cristãos em Jerusalém e destacou daí a obediência dos cristãos à seus superiores.

5. Gregório de Nissa (331-395): Irmão mais novo de Basílio, Gregório foi um estudante da Bíblia e das obras de Orígenes. Ele foi eleito bispo em 371 e tornou-se um dos maiores defensores do Credo de Nicéia.
Foi o primeiro a procurar estabelecer, por considerações racionais, a totalidade das doutrinas ortodoxas, utilizando-se, para tanto, das ferramentas da filosofia como instrumentos de auxílio para uma melhor compreensão da teologia. Embora divergisse de Orígenes, especialmente no tocante à cosmologia, na maior parte das vezes aceitou o ensino deste, no que podia acomodá-lo à fé explícita da Igreja.

6. Gregório de Nazianso (330-390): Foi eleito bispo em 372, e juntamente com Basílio e Gregório, procurou reconciliar as duas proposições de Atanásio: a identidade de essência entre Pai e Filho com a distinção de personalidade entre Pai e Filho.
Os dois gregórios também procuraram adotar a doutrina de Orígenes que defendia o princípio de que o Logos uniu-se com a natureza sensível pela mediação de uma alma humana racional. Para tanto, acrescentaram que o Logos tomou todas as partes da natureza humana em comunhão consigo e as permeava.

7. Jerônimo (345-419): Foi o autor da Vulgata, versão usada pela igreja católica que ele traduziu do grego e do hebraico para o latim, salvo os Salmos que já haviam sido traduzidos da Septuaginta, também conhecida como versão dos setenta (LXX).
Jerônimo nasceu por volta do ano 345 em Aquiléia (Veneza), extremo norte do Mar Adriático, na Itália. Ele passou a maior parte da sua juventude em Roma estudando línguas e filosofia. Apesar da história não relatar pormenores de sua conversão, sabe-se que ele foi batizado quando tinha entre dezenove e vinte anos e logo após isso, Jerônimo embarcou em uma peregrinação pelo Império Romano que levou aproximadamente vinte anos.
Sua viagem iniciou-se pela Gália, onde estudou Teologia por alguns anos, aperfeiçoou o grego e adotou a vida monástica. Voltando para Aquiléia esteve durante três anos trabalhando com o Bispo Valeriano.
Em 375, Jerônimo partiu para Antioquia da Síria, onde aprendeu o hebraico e estudou intensivamente as Escrituras. Depois de dois anos foi ordenado a padre pelo Bispo Paulino. Partindo dali, foi para Constantinopla, onde por dois anos foi discípulo de Gregório, e grandes mestres entre eles Gregório de Nicéia, Basílio de Cesaréia e outros eminentes Pais da Igreja.
Sua peregrinação terminou no ano 382, quando se fez secretário de Dâmaso, bispo de Roma, que lhe sugeriu a possibilidade de fazer uma nova tradução da Bíblia. Com a morte de Dâmaso, Jerônimo partiu de Roma em direção à Palestina, no ano 386. Graças à generosidade de Paula, uma rica senhora romana a quem tinha ensinado hebraico, viveu num retiro monástico em Belém, por 35 anos.
No período compreendido entre os anos 386 a 390, ele dedicou-se em escrever várias obras. A maior delas, foi a tradução da Bíblia para o Latim, conhecida como Vulgata. Jerônimo foi cuidadoso na busca de suas informações e procurou usar as versões mais antigas e manuscritos bíblicos já não existentes.
Trabalhando sobre o princípio que o texto original da Bíblia estava livre de erros, ele começou um estudo profundo dos manuscritos juntamente com a Septuaginta, a fim de determinar, entre muitos outros, que texto poderia se considerar como original e verdadeiro.
Esta versão da Bíblia tem sido amplamente usada pela Igreja Ocidental e tem sido, até recentemente, a única Bíblia oficial da Igreja Católica Romana, desde o Concílio de Trento.
Também nesse mesmo período, ele completou a tradução, bem como os comentários do Novo Testamento. Entre os anos 390 e 398, ele escreveu muitas obras e comentários que são usados até o dia de hoje; traduziu escritos de outros eruditos, dentre eles Orígenes, para o Latim; e atualizou a obra de Eusébio de Cesaréia, "História Eclesiástica", gravando os eventos ocorridos na Igreja entre os anos 325 e 378.
Seu amor pela vida ascética fez dele um propagador do ascetismo, chegando no final de sua vida, entre os anos 405 e 420, ao extremo da abstinência da alimentação normal, do trabalho e do casamento.
Jerônimo introduziu dois outros elementos à Igreja ocidental que tiveram grandes repercussões lá:

a) Introduziu a vida ascética na Europa Ocidental. A importância disto só pode ser avaliada à luz da forma que a Igreja tomaria, na Europa medieval.
b) Introduziu também Orígenes ao Ocidente. Por causa de uma tradução tendenciosa por parte de Rufino, Jerônimo fez uma tradução literal da obra de Orígenes, e por conta disso, mais tarde ficou embaraçado ao ter seu nome ligado à Orígenes. Mesmo discordando dos ensinos de Orígenes, Jerônimo sempre o admirou, e também ao seu estilo de escritor.

8. Ambrósio de Milão (340-397): Foi um grande administrador eclesiástico, pregador e teólogo. Foi a pregação de Ambrósio que trouxe Agostinho ao evangelho. Ele era governador imperial da área ao redor de Milão quando o bispo da cidade morreu em 374. O povo unanimemente queria que Ambrósio aceitasse ser bispo.
Crendo ser isto a vontade de Deus, renunciou ao seu cargo político, distribuiu seus bens aos pobres e, após sua eleição, iniciou um estudo intensivo das Escrituras. Foi um grande pregador, apesar de sua exposição ser desfigurada pela interpretação alegórica que apresentava das Escrituras.
Ambrósio resistiu ao imperador Teodósio, não permitindo que ele participasse da Santa Ceia até que humilde e publicamente se arrependesse do massacre imposto aos tessalonicenses. Aparentemente, foi Ambrósio quem introduziu a prática de cantar hinos, na Igreja Ocidental.

9. Aurélio Agostinho (354-430): Aurélio Agostinho destaca-se entre os Padres como Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos. E como Tomás de Aquino se inspira na filosofia de Aristóteles, e será o maior vulto da filosofia metafísica cristã, Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo.
Agostinho, pela profundidade do seu sentir e pelo seu gênio compreensivo, fundiu em si mesmo o caráter especulativo da patrística grega com o caráter prático da patrística latina, ainda que os problemas que fundamentalmente o preocupam sejam sempre os problemas práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação.
Agostinho nasceu em Tagasta, cidade da Numídia – um antigo reino situado no Norte da África, mais ou menos na região da atual Argélia, de uma família burguesa, a 13 de novembro do ano 354 a.D. Seu pai, Patrício, era pagão, recebido o batismo pouco antes de morrer; sua mãe, Mônica, pelo contrário, era uma cristã fervorosa, e exercia sobre o filho uma notável influência religiosa.
Indo para Cartago – uma cidade-estado fundada pelos fenícios em 814 a.C., na região próxima à atual Tunis, capital da Tunísia, norte da África (destruída pelos romanos em 146 a.C., e pelos árabes em 698 d.C.) – a fim de aperfeiçoar seus estudos, começados na pátria, desviou-se moralmente.
Em Cartago, Agostinho se tornou adepto do maniqueísmo – doutrina do persa Mani ou Manes, surgida no século III, sobre a qual se criou uma seita religiosa que teve adeptos na Índia, China, África, Itália e Espanha, e segundo a qual o Universo foi criado e é dominado por dois princípios antagônicos e irredutíveis: Deus ou o bem absoluto, e o mal absoluto ou o Diabo.
Essa doutrina que se funda em princípios opostos, bem e mal. De acordo com os historiadores, Agostinho não teria passado de um mero "ouvinte", durante os nove anos (dos 19 aos 28 anos) em que esteve ligado à heresia maniqueísta.
Durante muitos anos, Agostinho também fascinado pela astrologia, embora não tenha chegado a praticar adivinhação. Após esfriar sua simpatia para com o maniqueísmo, Agostinho passou pelo ceticismo e pelas especulações neoplatônicas.
Caiu em uma profunda sensualidade, que, segundo ele, é uma das maiores conseqüências do pecado original; dominou-o longamente, moral e intelectualmente, fazendo com que aderisse ao maniqueísmo, que atribuía realidade substancial tanto ao bem como ao mal, julgando achar neste dualismo maniqueu a solução do problema do mal e, por conseqüência, uma justificação da sua vida.
Tendo terminado os estudos, abriu uma escola em Cartago, donde partiu para Roma e, em seguida, para Milão. Afastou-se definitivamente do ensino em 386, aos trinta e dois anos, por razões de saúde e, mais ainda, por razões de ordem espiritual.
Nesse ínterim, depois de maduro exame crítico, ele abandona o maniqueísmo, abraçando a filosofia neoplatônica que lhe ensinou a espiritualidade de Deus e a negatividade do mal.
Entretanto a conversão moral demorou ainda, por razões de luxúria. Finalmente, como por uma fulguração do céu, sobreveio a conversão moral e absoluta, no mês de setembro do ano 386.
Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, à carreira, ao matrimônio; retira-se, durante alguns meses, para a solidão e o recolhimento, em companhia da mãe, do filho e de alguns discípulos, perto de Milão.
Aí ele escreveu seus diálogos filosóficos, e, na Páscoa do ano 387, juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio, recebeu o batismo em Milão das mãos de Ambrósio de Milão, cuja doutrina e eloqüência muito contribuíram para a sua conversão. Tinha trinta e três anos de idade.
Depois da conversão, Agostinho abandona Milão, e, falecida a mãe em Óstia, volta para Tagasta. Aí vendeu todos os haveres e, distribuído o dinheiro entre os pobres, funda um mosteiro numa das suas propriedades alienadas. Ordenado padre em 391, e consagrado bispo em 395, governou a igreja de Hipona até à morte, que se deu durante o assédio da cidade pelos Vândalos, a 28 de agosto do ano 430. Tinha setenta e cinco anos de idade.
Após a sua conversão, Agostinho dedicou-se inteiramente ao estudo da Sagrada Escritura, da teologia revelada, e à redação de suas obras, entre as quais têm lugar de destaque as filosóficas. As obras de Agostinho que apresentam interesse filosófico são, sobretudo, os diálogos filosóficos: Contra os acadêmicos, Da vida beata, Os solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o mestre, Sobre a música. Interessam também à filosofia os escritos contra os maniqueus: Sobre os costumes, Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da natureza do bem.
Dada, porém, a mentalidade agostiniana, em que a filosofia e a teologia andam juntas, compreende-se que interessam à filosofia também as obras teológicas e religiosas, especialmente: Da Verdadeira Religião, As Confissões, A Cidade de Deus, Da Trindade, Da Mentira.
O longo período de conflito com os donatistas – seita religiosa fundada no séc. IV, por Donato, Bispo de Cartago – teve início em 398; e a partir de 412, com os pelagianos.
Mesmo tendo rejeitado o donatismo, Agostinho, entretanto, adotou a hermenêutica de Ticônio, um dos seus líderes. Em seus últimos anos de ministério, Agostinho se dedicou ao problema da relação entre a soberania divina e a responsabilidade humana; da graça de Cristo e o pecado original, em 418; e a predestinação dos santos e o dom da perseverança, em 429.
A controvérsia com os donatistas foi em relação à questão da santidade da Igreja, pois os donatistas estavam preocupados principalmente com questões de disciplina. Não podiam separar o caráter apóstata do bispo do valor dos atos litúrgicos celebrados por ele. Assim o caráter imoral ou indigno do oficiante destruía a santidade, e conseqüentemente, o efeito divino do ato litúrgico.
Agostinho, por sua vez, rejeitou a ligação donatista entre a santidade da Igreja e a santidade empírica do clero. Escreveu sete livros sobre batismo, contra os donatistas, bem como três outros para responder a duas cartas de Petiliano. Por fim, Agostinho terminou por se ajuntar aos que usariam da força, para trazer os donatistas de volta ao arraial católico.
A controvérsia contra o pelagianismo, também ocupou bastante a vida de Agostinho. O monge inglês Pelágio havia acusado Agostinho de heresia. O problema em questão estava na relação entre o poder divino para salvar, e a vontade humana para responder ao poder salvador. Agostinho admitia alguma liberdade humana, mas insistia que tanto o poder salvador como a resposta humana vem de Deus.
O ensino de Pelágio, por outro lado, admitia que Adão fora criado mortal; que ele teria morrido mesmo sem a queda e que o pecado de Adão feriu e afetou apenas a Adão; que cada um nasce inocente, mas de fato acaba caindo em pecado. Para ele, haviam homens sem pecado antes de Cristo.
Para Pelágio, ao nascer, a criança tem vida eterna, mesmo sem o batismo. Perde-a ao praticar pecado concreto ao chegar à idade da razão. O batismo não salva nem regenera. O mal, por sua vez, é comunicado pelo mau exemplo dos homens. Assim tanto Adão como Cristo influenciaram a raça humana. A graça é necessária para redimir do pecado. Deus dá tanto a regeneração, bem como a habilidade de agir. A lei tem o efeito de trazer os perdidos a Cristo.
Para Agostinho, o pecado de Adão é transmitido a todos os homens pela semente humana (Rm 5.12). Ele também ensinava que Adão foi nosso representante. Estabeleceu a distinção entre "voluntas" (vontade com capacidade de agir) e "velleitas" (desejo sem liberdade para agir).
Segundo Agostinho, os eleitos têm "voluntas"; os perdidos "velleitas”. A graça que liberta o homem é proveniente de Deus sendo, portanto, irresistível. Não há em Agostinho o conceito de dupla predestinação.
Desde o seu retiro a Cassiciacum, para se preparar para o batismo, Agostinho viveu nas Escrituras. Acima de tudo era um estudante da Bíblia. Todos os seus sermões têm por base as Escrituras: ou o texto do calendário ou outro por ele escolhido. Seu vocabulário e estilo são permeados com a maneira antiga e rude das antigas traduções latinas da Bíblia.
Ele começou com a interpretação alegórica de Ambrósio (a Bíblia falava do mundo das idéias eternas), mas o estudo o levou a ser preocupado com os eventos históricos. A sua interpretação continua influenciando os teólogos de hoje.

IV. SÉCULO V (401-500)

O DESENVOLVIMENTO DO PODER NA IGREJA ROMANA

As igrejas, que até então eram livres e autônomas, começaram a perder esses direitos com o Papa Inocêncio I, que no ano 401, dizendo-se “governante das igrejas de Deus” exigia que todas as controvérsias fossem levadas a ele”.
Nessa época, surge o pelagianismo, doutrina de Pelágio, um heresiarca inglês, a qual negava o pecado original e a corrupção da natureza humana e, conseqüentemente, a necessidade do batismo. Pelágio combatia ferrenhamente as posições doutrinárias de Agostinho.
Em sua visão teológica, Pelágio sustentava basicamente que todo homem nasce moralmente neutro, e que é capaz, por si mesmo, sem qualquer influência externa, de converter-se a Deus e obedecer à sua vontade, quando assim o deseje. Essa foi uma das grandes disputas durante a Reforma protestante: a natureza e a extensão do pecado original.
No ano 597, Agostinho chegou às terras inglesas, por ordem do Papa Gregório I para “converter” os anglicanos, mas achou um cristianismo já funcionando muito bem.
A Grã-Bretanha, nos primórdios da era cristã, era uma fortaleza inexpugnável, além de ser um porto seguro para o crescimento e desenvolvimento de um cristianismo puro, genuíno e verdadeiro, e permanecera assim durante aproximadamente seis séculos, desde os tempos apostólicos.
Essas igrejas foram plantadas em terras inglesas, possivelmente, por missionários itinerantes que, voluntariamente, partiram da Palestina para evangelizar todo o império romano, chegando assim às ilhas britânicas, a fronteira norte do império romano.
Um pregador autônomo gaulês, por nome de Patrick (385-461), mais tarde chamado de São Patrício, havia feito um bom trabalho no meio daquelas igrejas, existentes desde os tempos apostólicos. Patrício não era católico, porque a igreja católica ainda não tinha chegado lá.
Patrício, quando jovem, fora seqüestrado por piratas e vendido, como escravo, na Irlanda donde escapou após seis anos de sua captura. Mesmo assim, voltou pouco tempo depois como missionário, tendo batizado centenas pessoas, estabelecendo inúmeras igrejas, e ajudando-as a escolher seu pastor.
Os padres católicos só chegaram às terras inglesas 136 anos depois da morte de Patrício. Os ingleses, inicialmente, resistiram feroz e bravamente ao catolicismo, mas finalmente foram forçados a aceitá-lo, como decisão do Sínodo de Whitby, no ano 664.
Os britânicos preservaram maravilhosamente na fé que tinham recebido, originalmente, de forma incorrupta, em paz e tranqüilidade, até o tempo do Imperador Diocleciano.

RESUMO DOS ACONTECIMENTOS DOS CINCO PRIMEIROS SÉCULOS

a) A mudança gradual do governo teocrático e democrático da Igreja para o governo eclesiástico.
b) A mudança da salvação pela graça para a salvação pelo batismo (regeneração batismal).
c) A mudança do batismo de crentes, com a inclusão do batismo infantil.
d) A hierarquia organizada. Casamento da Igreja com Estado.
e) A sede do Império Romano muda-se para Constantinopla.
f) O batismo infantil estabelecido por lei e tornado compulsório.
g) Os cristãos nominais começam a perseguir os cristãos.
h) A “Idade de Trevas” começa em 426 a.D., onde todo o vestígio de liberdade religiosa é desfeito, coberto e enterrado por muitos séculos.
i) As igrejas fiéis aos ensinamentos neotestamentários passam a ser perseguidas por Roma e tratadas como heréticas. São ainda estimuladas para o mais longe possível do poder temporal católico.
j) O remanescente destas igrejas se espalhou por todo o mundo, escondendo-se em florestas, montanhas, vales, grutas e cavernas, dando origem a diversos grupos de crentes que viviam na “clandestinidade”, fugindo da perseguição que a Igreja Romana os impingia (ver grupos independentes).

PARTE II
A IGREJA MEDIEVAL

Desde a queda de Roma (476) até a queda de Constantinopla (1453)

1. O PROGRESSO PAPAL

Com a mudança da capital do império para Constantinopla, Roma foi gradativamente perdendo o seu prestígio, ficando assim politicamente fraca, e em função disso, extremamente vulnerável ao ataque de muitos povos que, no passado, haviam sido dominados, e muitas vezes humilhados, pelos romanos.
Vários destes povos, após se libertarem das garras do império, cercaram e atacaram Roma, e alguns deles chegaram, inclusive, a saquear a cidade, em represália a tudo que os romanos lhes havia feito, pois o ódio nutrido contra os romanos era muito grande.
Com a fragilidade do império, o poder e a influência da Igreja, cresceu extremamente e, em muitas ocasiões, a interferência do papa foi decisiva para evitar a destruição da cidade de Roma pelos invasores bárbaros provenientes do norte da Europa.
O termo "papa", significa simplesmente "papai", sendo, portanto, um termo de carinho e respeito, este termo era usado para qualquer bispo, sem importar se ele era de Roma. Como Roma era, pelo menos de nome, a capital do Império, a igreja e o bispo desta cidade logo se viram em posição de destaque.
Quando os bárbaros invadiram o Império, a igreja de Roma começou a seguir um rumo bem diferente de Constantinopla. No Ocidente, o Império desapareceu, e a igreja veio a ser a guardiã do que restava da velha civilização. Por isto, o papa, chegou a Ter grande prestígio e autoridade.
Porém, enquanto que no Oriente duvidava-se de sua autoridade, em Roma e vizinhanças esta autoridade se estendia até além dos assuntos religiosos. Tudo isto nos mostra que em uma época em que a Europa estava em caos, o papado preencheu o vazio, proporcionando certa estabilidade.

2. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO PAPADO

A autoridade monárquica do papa é fruto de um longo processo. De um bispo igual aos outros, o de Roma passa a ser o primeiro entre os demais, e finalmente aceito como “cabeça” incontestável da Igreja.

2.1. ATÉ CONSTANTINO

Os antigos autores católicos têm insistido que a Igreja de Roma foi fundada por Pedro e que tenha tido uma linha de papas, vigários de Cristo, desde então.
Entretanto, ao examinarmos detalhadamente a questão de Pedro e Paulo terem estado em Roma, concluímos que eles realmente estiveram lá e que ali foram martirizado. Por outro, não há nenhuma base histórica confiável que indique que Pedro tenha fundado a Igreja ou passado seus direitos aos bispos subseqüentes.
Nem mesmo os famosos documentos espúrios, conhecidos como “Pseudas Decretais De Isidoro”, surgidos no ano 857, e utilizados pelo papa Nicolau I (858-867), e pelos demais papas subseqüentes para justificarem o cargo e autoridade papal, podem ser levados em conta, já que são documentos comprovadamente falsos e, portanto, sem nenhuma credibilidade.
Esses falsos “decretais” eram documentos pretensamente atribuídos a bispos dos séculos II e III que, segundo eles, “exaltavam o poder dos papas”.
Esses documentos foram, na verdade, invenções corruptas e premeditadas, cuja falsidade só foi descoberta depois da morte desse Papa.
Nicolau I (858-867), aproveitando-se de um momento de agitação e desordens, utilizou-se desses falsos documentos que “afirmavam a absoluta soberania e legalidade do papado”, procurando, com isso, firmar os direitos de supremacia do papa e de sua jurisdição suprema. Ele havia mentido ao afirmar que esses documentos haviam estado por séculos na igreja.
As “Pseudas Decretais de Isidoro” oficializaram e selaram até hoje a pretensão do bispo de Roma de ser o “Chefe da Igreja” com base na “antigüidade” desses falsos documentos, e dessa forma o papado que era recente, tornou-se coisa antiga.
Os historiadores registraram que esses falsos documentos serviram para fortalecer, ainda mais, o papado, antecipando em cerca de cinco séculos o poder temporal deles, além de servir de base para as leis canônicas da Igreja Católica Romana.
A lista dos primeiros bispos de Roma consta destes nomes: Lino, Cleto ou Anacleto, Clemente (91-100), Evaristo, Alexandre (109-119), Sixto I (119-127), Telesforo (127-138), Higino (139-142), Pio I (142-157), Aniceto (157-168), Soter (168-177), Eleutero (177-193). Estas datas são aproximadas, uma vez que temos poucas informações a respeito desses períodos e, conseqüentemente, desses pontificados.
Vitor (193-202). Parece ser o primeiro a procurar estabelecer a autoridade papal além das fronteiras de sua igreja.
Cipriano. Bispo em Cartago durante o pontificado de Cornélio e Estevão contribuiu bastante para fortalecer a autoridade do bispo de Roma. Defendeu as reivindicações “petrinas” (Mt 16.18) sem, entretanto colocar o papa sobre os demais bispos.
Estevão (253-257). Procurou forçar as demais igrejas a seguir o costume romano quanto ao cálculo da data da páscoa.
Um outro elemento que contribuiu para fortalecer a posição de Roma neste período foi a crescente prática das igrejas rurais ou de pequenas cidades serem relacionadas a alguma igreja em cidade grande ou incorporadas num sistema diocesano. Esta prática começou no século II como resultado do sistema missionário das igrejas mães.

2.2. DE CONSTANTINO A CARLOS MAGNO

A oficialização da Igreja trouxe em seu bojo rápido desenvolvimento hierárquico. Constantino se considerava bispo e até bispo dos bispos em coisas formais e até doutrinárias. Sem sua permissão não se podia reunir um sínodo. Roma surge como árbitro entre as igrejas.
No conflito entre os arianos e Atanásio, este contribuiu para fortalecer o pedido de alguns opositores que haviam recorrido ao bispo de Roma, pedindo que convocasse um concílio. Esta e outras questões entre as igrejas do leste e as da África foram exploradas pelos papas para fortalecer suas próprias posições. Assim questões religiosas seriam resolvidas pelo “sumo-pontífice” de religião, e não mais pelos magistrados civis.
Siricius (354-398). Conseguiu que um concílio realizado em Roma decretasse que nenhum bispo deve ser consagrado sem o conhecimento e consentimento do bispo de Roma. Mesmo que seja um decreto falso, é muito antigo e exerceu grande influência.
Inocêncio I (402-417). Demonstrou grande ousadia em explorar as reivindicações de Roma, exigindo submissão universal a sua autoridade. Insistia que era a obrigação de todas as igrejas ocidentais se conformarem aos costumes de Roma.
Celestino (422-432). Durante o exercício do seu papado foi resolvida a controversa questão do direito de se apelar a Roma, nas decisões das províncias. Celestino manipulou as questões de uma maneira que sempre saía ganhando o prestígio de Roma, até o ponto de dispensar os cânones de um concílio geral.
Leão I (440-461). De origem humilde, insistia que era sucessor de Pedro e que não se pode infringir a autoridade deste. Conseguiu do jovem e fraco imperador Valentino III um edito em que este reconhece a primazia da “Igreja de Pedro” e insiste que ninguém pode agir sem a permissão desta Igreja.
Gregório I (589-604). Possivelmente o maior papa deste período. Filho de um senador, adotou o costume monástico. Pretendia ser missionário aos ingleses quando foi consagrado papa aos 49 anos de idade.
Reclamou de Máximo, que fora eleito patriarca de Constantinopla no lugar de seu candidato e, em conseqüência, suspendeu todos os bispos que o consagraram sob pena de anátema de Deus e do apóstolo Pedro. Repreendeu o patriarca de Constantinopla por ter assumido o título de bispo ecumênico.
O Estado do Vaticano desenvolveu-se com o papa Estevão II, nos anos 741-752, que instigou Pepino, o Breve, e seu exército, a conquistar territórios na Itália e doá-los à Igreja. Carlos Magno, seu pai, confirmou essa doação no ano 774, elevando o catolicismo à posição de poder mundial surgindo o “Santo Império Romano”, sob a autoridade do Papa-Rei que durou 1.100 anos.

3. A COROAÇÃO DE CARLOS MAGNO

A coroação de Carlos Magno abriu a história política e eclesiástica da Europa para um novo período, no qual os dois poderes o civil e o papal aparecem intimamente ligados, em busca de ideal comum de poderio e domínio.
Leão III (795-816). O período começa com Leão III assentado na cadeira pontifical. Foi ele quem colocou Carlos Magno como imperador no ano 800.
Estevão IV (816-817). Este papa coroou o Rei Luiz o Pio, em Roma, ato que elevou ainda mais a posição do papa.
Gregório IV (827-844). Foi nos dias desse papa que apareceram falsos documentos a favor da prerrogativa papal, conhecidos como “Decretais de Isidoro”. Gregório IV defendeu Roma contra os sarracenos.
Nicolau I (858-867). Ascendeu a cadeira papal num momento de agitação e desordens, aproveitando-se dos documentos falsos a favor da absoluta soberania e irresponsabilidade do papado, procurou firmar os direitos de supremacia do papa e de sua jurisdição suprema.
O Papa Nicolau I foi o primeiro a usar coroa. Ele se serviu, com muita maestria, dos famosos e heréticos “Decretais de Isidoro” para justificar-se como papa da Igreja.
Adrião II (867-872). Trabalhou principalmente à sombra a influencia atingida pelo seu antecessor.
João VIII (872-882). O maior problema durante o papado de João VIII foi a ameaça sarracena (mulçumanos), forçando-o a pedir ao novo imperador Carlos a sua proteção, mas Carlos e o papa aceitaram o tratado humilhante com os sarracenos.
O período de 882 a 903 caracteriza-se pela torpe degradação do poder papal. O poder papal enfraqueceu-se notadamente. As eleições pontifícias feitas nesse período são memoráveis pela torpeza que as acompanhou.
O papa Formoso subiu ao poder em 891 e, dois anos depois de um pontificado violento e repressor, morreu provavelmente envenenado.
Estevão VI foi aprisionado e morto. E depois foi eleito o papa Marino, cujo pontificado durou apenas meses.
João X, feito papa, procurou anular os atos de Estevão, e de fato conseguiu revogar muitos deles.
Leão V, depois de um breve pontificado, foi morto por seu próprio capelão, seu sucessor, Mas ao assassino coube o mesmo fim trágico, decorrido apenas oito meses.
O período de 903 a 963: Com Sergio III, começa a influência terrível e perniciosa vinda de uma aventureira e alta linhagem sobre o governo papal. De 936 a 956 o papado esteve sob inf1uência de Alberico que nomeou quatro papas.
Um filho do mesmo, sob o nome de João XIII, assumiu o ofício papal, sendo o seu pontificado considerado como um dos mais imorais e licenciosos na história da Igreja. Este papa morreu assassinado.
Otão, o Grande, fez sentir a sua interferência no papado em 983, com a convocação de um sínodo para depor o imoral João XIII e substituí-lo por Leão VIII.
Durante este período, até 1073, foram nomeados vários papas e os imperadores se colocaram no direito de nomear e assim controlá-los, para evitar a dissolução completa do clero.
O período de crescimento do poder papal que havia começado com o pontificado de Gregório I (589-604), teve o seu apogeu no tempo de Gregório VII, mais conhecido por Hildebrando.
Hildebrando (1021-1085). Ele foi eleito como resultado de um imenso anseio popular e assumiu o papado em 1073, com o nome de Gregório VII. Ele é considerado, inquestionavelmente, como o maior estadista eclesiástico da Idade Media. Seu objetivo foi transformar em um fato concreto o domínio universal e absoluto do papado, e sua política foi direcionada integralmente a este propósito.
Hildebrando reformou o clero que se havia corrompido, elevou as normas de moralidade de todo o clero, exigiu celibato dos sacerdotes, libertou a igreja da influência do estado, pondo fim à nomeação de papas pelos reis e imperadores. Hildebrando impôs a supremacia da Igreja sobre o Estado.
Inocêncio III (1198-1216), aproveitou-se das prerrogativas papais implantadas pelo seu antecessor e prosseguiu na mesma linha, consolidando algumas delas e ampliando outras. Foi durante seu papado que o poder papal, que evoluía gradativamente através dos séculos chegou ao auge.

4. O CISMA DE 1054

Desde a divisão do império romano por Constantino, em 313, sempre houve discordância entre as duas vertentes da Igreja, seja campo teológico (a origem da pessoa do Espírito Santo, alterações no credo niceno, a controvérsia iconoclasta), eclesiológico (celibato, uso de barba, etc), político (datas de celebração divergentes, interferências mútuas na nomeação de clérigos e patriarcas, etc), científico, social, artístico e, principalmente, na questão da supremacia religiosa, pois ambos os lados reivindicavam para si o título de “verdadeira Igreja”.
Este antagonismo entre as duas correntes do catolicismo, que já vinha crescendo ao longo dos séculos, atingiu o seu clímax com a realização dos últimos concílios e das decisões tomadas por ambos.
Essa divergência perdurou até o ano de 1054, quando uma divergência sobre a questão da utilização de pães asmos (não-levedado) na Eucaristia, gerou uma nova polêmica e provocou uma grande discussão entre as duas respectivas vertentes da Igreja.
O ápice dessa questão ocorreu no dia 16 de julho de 1054, quando alguns enviados de Roma colocaram na catedral de Santa Sofia um decreto em que o bispo de Roma havia decidido pela excomunhão dos Patriarcas do Oriente.
Através desse ato e da conseqüente reação enérgica dos patriarcas orientais, a cisão foi oficializada, e as duas vertentes foram definitivamente separadas, uma da outra, gerando assim a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa Grega ou do Oriente.
Essa “excomunhão mútua” só veio a ser desfeita recentemente, em 7 de dezembro de 1965, mediante entendimentos entre o papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras.
Com essa divisão, os domínios da Igreja Ortodoxa ficaram circunscritos à Ásia, a algumas áreas do leste europeu e ao Oriente Médio, enquanto que a Igreja Romana ficaria com todo o restante da Europa.

5. AS CRUZADAS

Um grande movimento da Idade Média, sob a inspiração e mandado da Igreja Romana, foram as Cruzadas, que se iniciaram em 1096, no fim do século XI, e duraram aproximadamente dois séculos, com o objetivo de libertar os lugares santos do Oriente Médio, que estavam em poder dos invasores muçulmanos.
As cruzadas surgiram como uma resposta de Roma ao avanço e à crescente influência dos muçulmanos no cenário mundial, principalmente em redutos até então pertencentes à Igreja Romana, tal como a península ibérica que havia sido invadida, em 711, pelos mouros – designação dada aos povos que habitavam a Mauritânia, no norte da África. Essa invasão moura na península ibérica durou aproximadamente 700 anos.
A Primeira Cruzada foi anunciada pelo papa Urbano II, era composta de 275.000 dos melhores guerreiros, para combater os Sarracenos que tinham invadido Jerusalém. Após grande batalha, Jerusalém foi reconquistada.
Nessa primeira cruzada eles conquistaram a Terra Santa, o principado de Antioquia, e os condados de Trípoli e Edessa, ficando estes praticamente independentes do rei de Jerusalém. Nas cidades mais importantes surgiram centros comerciais italianos. O país ficou dividido em quatro arcebispados, sob um patriarca do rito latino, com sede em Jerusalém. E também foram estabeleceram numerosos mosteiros.
A Segunda Cruzada foi convocada em virtude das invasões dos sarracenos às províncias adjacentes ao reino de Jerusalém. Sob a influência de Luiz VII da França e Conrado III da Alemanha, um grande exército foi conduzido em socorro dos lugares reconhecido como santos.
Nessa Segunda Cruzada, entretanto, não houve aquele calor ardente, nem o empenho da primeira, e como conseqüência suas forças pereceram na Ásia Menor e as que alcançaram a Palestina sofreram grave derrota em 1148, quando intentavam tomar Damasco. Foi um desastre total deixando profundo ressentimento no Ocidente contra o Império do Oriente em face do fracasso.
Na Terceira Cruzada três grandes exércitos foram chefiados pelo Imperador Frederico Barba Ruiva, considerado o maior soldado da época; pelo rei Filipe Augusto, da França; e pelo rei Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra. Frederico morreu afogado acidentalmente na Cilícia e seu exército, sem a sua vigorosa direção tornou-se ineficaz.
As desavenças existentes entre o rei da França e o rei da Inglaterra se encarregaram de esvaziar a expedição que se tornou um fracasso, com o rei Filipe retornando para a França, juntamente com o seu exército.
A coragem de Ricardo I, sozinho, não foi suficiente para conduzir seu exército para Jerusalém. Entretanto, ele fez um acordo com os mulçumanos para que os cristãos tivessem acesso e o direito de visitar o local do santo sepulcro. Apenas a cidade de foi recuperada, e Jerusalém permaneceu em poder dos mulçumanos.
A Quarta Cruzada foi um completo fracasso e teve grandes conseqüências políticas e religiosas. Em vez de se dirigirem para a Terra Santa que era o ponto crucial do conflito entre cristãos e mulçumanos, resolveu se deslocar na direção de Constantinopla. Eles fizeram guerra a Constantinopla, conquistaram-na e saquearam-na, ficando a cidade, posteriormente, a mercê dos inimigos.
O papa Inocêncio III não gostou desta idéia e havia proibido este desvio do propósito inicial, que tinha como meta derrubar o Imperador Isaque II. Tudo isto por causa de uma promessa feita por Aleixo, filho do deposto Isaque II, prometendo aos cruzados um bom pagamento pelo auxílio, para que ele viesse a assumir como Imperador.
O imperador Isaque II foi derrubado, mas Aleixo não conseguiu cumprir suas promessas, motivo pelo qual os cruzados tomaram Constantinopla em 1204 e saquearam seus tesouros. As relíquias das igrejas foram as mais visadas. O Império Oriental acabou sendo manipulado por Roma, com um patriarca latino sendo nomeado papa. Essa “conquista latina” tornou-se um desastre porque enfraqueceu o Império Oriental e agravou, ainda mais, o ódio entre as duas vertentes grega e romana.
No ano 1212 foi organizada uma expedição composta somente por crianças, que ficou sendo conhecida como a “Cruzada das Crianças”. Essa expedição estava sob o comando de um francês chamado Estevão, e de um alemão da cidade de Colônia, chamado Nicolau, e conseguiu reunir milhares e milhares de crianças.
Essa “cruzada infantil” foi um completo fracasso, além de uma grande irresponsabilidade por parte da Igreja Romana, pois quando esse grupo atravessava a Itália, muitas dessas crianças foram feitas prisioneiras e vendidas, como escravos, para o Egito.
A Quinta Cruzada, foi empreendida e comandada pelo rei francês Luiz IX. Ele invadiu a Palestina através do Egito, mas não obteve êxito. Ele foi derrotado e feito prisioneiro pelos mulçumanos, e somente foi libertado, após o pagamento de uma grande soma em dinheiro.
A Sexta Cruzada teve como líder o imperador Frederico II, da Alemanha, que partiu em 1227, adoeceu e retornou. Ao chegar o Papa Gregório IX o considerou desertor e, tendo outros motivos para hostilizá-lo, o excomungou.
Em 1228, Frederico II partiu novamente em direção à Palestina e, no ano seguinte, assinou um tratado feito com o sultão do Egito, através do qual obteve a posse de Jerusalém, Belém, Nazaré e de Haifa, um ponto da costa. Jerusalém estava novamente em poder dos cristãos.
Entretanto, em 1244, a cidade de Jerusalém foi definitivamente perdida para os muçulmanos. Quando o espírito das Cruzadas estava morrendo o Rei Francês Luís IX, levou uma expedição desastrosa contra o Egito.
Esta Sétima Cruzada teve a direção do rei francês Luís IX, mas também contou com a ajuda do príncipe Eduardo I da Inglaterra, e a rota escolhida foi novamente a África. Entretanto, Luís IX acabou sendo preso e morto num ataque em Tunis, em 1270, e Eduardo I voltou para ocupar o trono na Inglaterra e a cruzada se transformou num total fracasso. A última possessão latina na Palestina foi perdida em 1291. Esta foi considerada a última Cruzada.

Considerando os seus objetivos, as cruzadas foram um fracasso. Não conquistaram de modo permanente a Terra Santa. Não se tem certeza de ter evitado o avanço do Islamismo. O seu custo foi muito caro em vidas e em bens.
Acredita-se, entretanto, que as cruzadas motivaram o crescimento da Europa, principalmente no comércio das cidades ao Norte da Itália e a grande rota comercial dos Alpes e do Reno cresceram de importância. A rica civilização do Oriente contribuiu para o enriquecimento da cultura européia.
Por toda a Europa houve melhora do desenvolvimento intelectual. O desenvolvimento teológico através do escolaticismo se desenvolveu e a Igreja presenciou muitos movimentos religiosos populares.
As Universidades se desenvolveram, juntamente com a literatura e a área artística. Com o período das Cruzadas, teve início uma fase de despertamento espiritual e de desenvolvimento intelectual, que culminaria com a chegada da “Renascença Européia”, no século XV.
O advento das cruzadas permitiram também uma expansão do catolicismo por todo o mundo, inclusive à Ásia. Essas viagens, que ficaram mundialmente conhecidas, foram empreendidas por Marco Pólo, no período entre 1271-1295.

6. O DESENVOLVIMENTO DA VIDA MONÁSTICA

Este movimento desenvolveu-se grandemente na Idade Média entre homens e mulheres, com bons e maus resultados. Com o crescimento dessas comunidades, tornava-se necessária alguma forma de organização, de modo que nesse período surgiram quatro grandes ordens monásticas:

a) Ordem dos Beneditinos: Fundada por São Bento em 529, em Monte Cassino, na Itália. Essa ordem tornou-se a maior de todas as ordens monásticas da Europa. Suas regras exigiam plena obediência ao superior do mosteiro, a renúncia a todos os bens materiais, bem como a castidade pessoal. Eles cortavam bosques, secavam e saneavam pântanos, lavravam os campos e ensinavam ao povo muitos ofícios úteis.
b) Ordem dos Cistercienses: Essa ordem surgiu em 1098, com objetivo de fortalecer a disciplina dos Beneditinos, que a essa altura já não era tão rígida como no princípio. Seu nome deve-se a cidade francesa de Citeaux, fundada por São Roberto. Essa ordem deu ênfase às arte, à arquitetura e especialmente à literatura, copiando e escrevendo livros.
c) Ordem dos Franciscanos: Fundada em 1209 por São Francisco de Assis, tornou-se a mais numerosa de todas as ordens. Por causa da cor que usavam, tornaram-se conhecido como os “frades cinzentos”.
d) Ordem dos Dominicanos: Ordem espanhola fundada por São Domingos, em 1215. Os Dominicanos e os Franciscanos diferenciavam-se das outras ordens, pois eram pregadores, iam por toda parte a fortalecer a fé dos crentes.

No início, cada ordem monástica era um benefício para a sociedade, apresentando muitos bons resultados:

a) Os mosteiros davam hospedagem aos viajantes, aos enfermos e aos pobres. Serviam de abrigo e proteção aos indefesos, principalmente às mulheres e crianças.
b) Guardavam em suas bibliotecas muitas obras antigas da literatura clássica e cristã. Sem as obras escritas nos mosteiros, a Idade média teria passado em branco.
c) Os monges serviram como missionários na expansão do evangelho, até mesmo entre os bárbaros.

Mas, com o passar do tempo e apesar dos bons resultados iniciais que vieram com a implantação do sistema monástico, começaram a aparecer também muitas falhas que produziram também péssimos resultados:

a) O monasticismo apresentava o celibato como a forma de vida espiritual mais elevada, o que é claramente contrário às Escrituras.
b) O monasticismo impôs a adoção da vida monástica a milhares de pessoas das classes nobres da época.
c) Os lares e as famílias foram, assim, constituídos não pelos melhores, mas pelos de ideais inferiores, já que os melhores, não participavam da família, nem da vida social, nem da vida cívica nacional.
d) O crescimento da riqueza dos mosteiros levou seus ocupantes à indisciplina, ao luxo, à ociosidade e até a imoralidade.

O descrédito no sistema monástico atingiu níveis tão alarmantes que, no início do século XVI, os mosteiros estavam tão desmoralizados no conceito do povo, que foram muitos deles foram suprimidos, e os que neles habitavam foram obrigados a trabalhar para se manterem.

7. O DECLINIO DO PODER PAPAL

Do século XIII em diante começa o suave declínio do poder papal para o que concorreram fatos e circunstâncias históricas diferentes:

a) Com o século XIII desapareceu completamente o interesse e o gosto pelas cruzadas.
b) A corrupção constante na corte de Roma, o favoritismo e o mercantilismo que presidiam as decisões do Papa e da cúria romana, igualmente estimulava a dissidência.
c) A imoralidade dominava o clero.
d) A cadeira papal era objeto de prestígio político e, conseqüentemente, de uma ambição sem limites e desenfreada.

Bonifácio VII (1294-l303), subiu a cadeira pontífica no meio destas condições tão favoráveis ao papado, mas sem se adaptar a elas conservou aquele espírito de arrogância e prepotência, muito característico de seus antecessores.
Em 1305, foi eleito um francês, Clemente V, como papa. Este não foi a Roma, mas estabeleceu sua corte Papal em Avignon, na França, e tornou-se subserviente a Felipe, rei da França.
Aqui, ele e seus sucessores, todos franceses, serviram durante aproximadamente setenta anos. O papado só retornaria ao Vaticano em 1377, trazido de volta por Gregório XI.
Tão notório se tornaram as condições que os historiadores católicos estigmatizaram o período de cativeiro babilônico do papado. Em virtude da presença da corte papal de Roma em Avignon, na França, a Europa conseguiu muitas inimizades.
O catolicismo dividiu-se, ficando uma parte com a França e outra com a Itália. Aparecem então dois papas um lançando maldições sobre o outro e cada qual julgando-se legitimo chefe da cristandade.
Em1408, houve uma conferência em Livorno, entre representantes dos dois papas, e um ano depois reunia-se um concílio geral, na cidade de Pisa. Discutida largamente a questão, ambos os papas foram declarados heréticos e excomungados.
O concílio elegeu então a Papa, o cardeal de Milão que tomou o nome de Alexandre V. A questão não ficou resolvida, pois, três papas levantaram-se disputando a cadeira pontifícia, cada um formando em torno de si um considerado número de admiradores.
O pontificado de Nicolau V (l448-1455) foi notável, tendo sido construído nesse tempo o Vaticano e a Basílica de São Pedro, considerados como duas magníficas obras de arte. Talvez nesta época tenha-se resolvido o problema dos três papas.
Inocêncio VIII (l484-l492). Para melhorar a fortuna de seus filhos ilegítimos, pelejou contra Nápoles e recebia tributo anual de Sultão, por manter seu irmão e rival na prisão, em vez de enviá-lo como cabeça de um exercito, contra os inimigos da cristandade.
Isto se deu numa época de ignorância, senão no período do renascimento literário e quando a Europa tinha entrado numa era de invenções e descobrimentos destinados a transformar a civilização. O estado de desmoralização em que a Igreja Romana se achava na véspera da reforma era um fato geralmente reconhecido.

8. OS PRIMÓRDIOS DA REFORMA

Cinco grandes movimentos de reformas surgiram na igreja; contudo, o mundo não estava preparado para recebê-los, de modo que foram reprimidos com sangrentas perseguições.

a) Os Albigenses: Grupo surgido em 1170, no sul da França. Eles rejeitavam a autoridade da tradição, distribuíam o Novo Testamento e opunham-se às doutrinas romanas do purgatório, à adoração de imagens e às pretensões sacerdotais. O papa Inocêncio III (1198-1216) promoveu uma grande perseguição contra eles, e a seita foi dissolvida com o assassinato de quase toda a população da região.
b) Os Waldenses: Apareceram ao mesmo tempo, em 1170, com Pedro Waldo, que lia, explicava e distribuía as Escrituras, as quais contrariavam os costumes e as doutrinas dos católicos romanos. Foram cruelmente perseguidos e expulsos da França. Apesar das perseguições, eles permaneceram firmes, e atualmente constituem uma parte do pequeno grupo de protestante na Itália.
c) John Wycliff (1320-1384): Wycliff era um teólogo inglês que havia sido grandemente influenciado pelos ensinamentos de Valter Lollard. Ele se recusava a reconhecer a autoridade do papa e opunha-se a ela. Era contra a doutrina da transubstanciação, considerando o pão e o vinho meros símbolos. Traduziu o Novo Testamento para a língua inglesa e seus seguidores foram perseguidos e exterminados por Henrique V, rei da Inglaterra no século XV.
d) Jan Huss (1373-1415): Nascido em 1373, Huss foi um dos inúmeros leitores e seguidores de Wycliff. Pregou as mesmas doutrinas, e especialmente proclamou a necessidade de se libertarem da autoridade papal. Foi excomungado pelo papa, e então retirou para algum esconderijo desconhecido. Ao fim de dois anos voltou a convite do papa João XXIII, para participar de um concílio católico-romano, na cidade de Constança, sob a proteção de um salvo-conduto. Entretanto, o “acordo” foi violado sob o pretexto de que “não se deve ser fiel a hereges”. Com isso, Jan Huss foi preso, condenado e morreu queimado.
e) Jerônimo Savonarola (1452-1498): Nascido em 1452 foi monge dominicano, em Florença, na Itália. A grande catedral enchia-se de multidões ansiosas, não só de ouví-lo, mas também para obedecer aos seus ensinos. Pregava contra os males sociais, eclesiásticos e político de seu tempo. Foi preso, condenado e enforcado e seu corpo queimado na praça de Florença em 1498.

A perseguição romana aos grupos que se opunham à Roma foi, nessa época, intensificada. Esses grupos foram conhecidos através de muitos e variados nomes.
Além dos grupos acima, encontramos também os Donatistas (grupo fundado, ainda no século IV, por Donato, bispo de Cartago que questionava a questão da ética ministerial e das doações para as Igrejas), os Paterinos (grupo herético que só admitiam uma oração, o padre-nosso.), além dos Paulicianos Cátaros, e dos Anabatistas.
Um pouco mais tarde sugiram também os Petrobrussianos, os Arnoldistas, os Henricianos, os Albigenses e os Waldenses. Algumas vezes um desses grupos se destacava e outras vezes o outro. Alguns sempre se evidenciavam, por estarem sob persistente e cruel perseguição.
Além desses, existiram ainda os Lollardos, grupo fundado por Valter Lollard, um pastor “waldense”, da Holanda. Ele foi à Inglaterra no tempo do Rei Eduardo III, e evangelizou muitas pessoas. Um historiador chegou a afirmar que naquela época mais da metade dos ingleses eram lollardos.
Lollard foi martirizado numa fogueira, morrendo queimado em 1320 d.C. Isto aconteceu na Inglaterra, cerca de duzentos anos antes da Reforma Protestante. Muitos dos seus discípulos tomaram o nome de Wiclifitas (John Wycliff, 1320-1384).
Não devemos pensar que todos os que sofrerem perseguições estavam integralmente fiéis ao Novo Testamento. Na maioria eram leais. E alguns deles, consideradas as circunstancias em que viveram e lutaram, eram maravilhosamente leais.
Lembremo-nos de que muitos dos que viveram neste longo período, possuíam somente partes do Novo Testamento ou do Velho Testamento para uso particular. A imprensa não tinha sido inventada. O que eles possuíam eram manuscritos em pergaminho ou peles, sendo por isto, grandes e volumosos. Poucas famílias ou Igrejas possuíam cópias completas da Bíblia. Antes do término formal do Cânon, em fins do século IV, havia provavelmente, muito poucos manuscritos completos do Novo Testamento.
Além disso, durante toda a “Idade Média”, e durante o período da perseguição, muitos esforços foram feitos pela igreja romana para destruir os manuscritos das Escrituras que estavam nas mãos dos perseguidos. Assim, em muitos casos, os grupos só possuíam pequenas partes da Bíblia que eram permutados, entre eles, para leitura e meditação.
Para prevenir a disseminação dos ensinamentos heréticos, assim definidos por serem contrários aos da Igreja Católica, muitos planos e medidas extremas foram adotados. Em primeiro lugar, todo e qualquer escrito, que contivesse idéias diferentes das posições católicas, seria queimado, especialmente os livros.
Esta é, de acordo com a História, a principal razão porque é difícil de se apresentar um relato mais detalhado e minucioso da História da Igreja. Por toda parte, os que persistiam em escrever e pregar, experimentavam a morte pelo martírio.
Este foi um período de trevas espirituais e terrivelmente sangrento para os crentes. Matava-se em nome de Deus.
Os Donatistas e Paulicianos foram proeminentes entre esses grupos. Os católicos, por estranho como pareça, acusavam a todos que recusavam a abandonar sua fé, que recusavam a crer como católicos - chamando-os de heréticos e os condenavam como tais.
Os chamados católicos tinham se tornado mais completamente paganizados e judaizados do que mesmo cristianizados e estavam sendo manejados mais pelo poder civil do que pelo poder religioso. Eles cuidavam mais de fazer novas leis, do que em obedecer as Leis de Deus, de acordo com as Escrituras.
Uma das suas declarações deste tempo foi: fora da Igreja não há salvação, da Igreja Católica, criando, portanto um dilema: ou o homem é católico, ou está perdido. Não há outra alternativa.

9. AS INDULGÊNCIAS

A doutrina das indulgências e a venda de indulgências foram um novo acréscimo absolutamente contrário às doutrinas do Novo Testamento. Mas para tornar “válida” e “prática” essa heresia, uma outra precisa ser criada: o estabelecimento de um crédito, que não obstante tivesse o lastro no céu era, contudo acessível à terra.
Assim, o mérito das “boas obras” como um meio de salvação, devia ser ensinado. Para justificá-lo, colocaram as reservas celestes que davam valor às indulgências passíveis de aumento.
O primeiro lastro do fundo das indulgências, foi o que veio pelo trabalho perfeito de Jesus. Como Ele não praticou o mal, a totalidade de suas boas obras não seriam usadas em seu próprio benefício, mas colocada no fundo de reservas das indulgências. Ainda mais, todo o excedente das boas obras necessárias à salvação dos apóstolos seria adicionado a esse depósito, bem como excedentes das vidas de todos os santos, o que tornou essa reserva imensamente grande.
Toda essa, imensa riqueza foi creditada à única Igreja, que tinha permissão para usá-la em suprir as necessidades de algum pecador perdido, cobrindo de cada um o que julgava lhe ser possível pagar, para que lhe beneficiasse com o crédito celestial. Seguiu-se a venda das indulgências.
Cada pessoa as poderia comprar para si, ou para seus amigos ou mesmo para os amigos mortos.
Os preços variavam na proporção das ofensas cometidas ou a serem cometidas. Isto foi, muitas vezes, levada a absurdos terríveis, dos quais até católicos não descrêem. Algumas histórias ou enciclopédias dão uma lista de preços pelos diferentes pecados para os quais as indulgências eram vendidas.

10. O PURGATÓRIO

Mas, uma outra nova doutrina se tornou necessária, imperativa mesmo, para tornar efetivas essas duas últimas.
É a doutrina chamada do Purgatório, um lugar intermediário entre o céu e o inferno, no qual todos devem passar para serem purificados de todos os “pecados veniais” (pecados dignos de vênia, ou seja, desculpáveis e perdoável).
Mesmo os santos deveriam passar através desse lugar, permanecendo lá até à completa purificação, pelo fogo, a menos que eles possam ser socorridos pela aplicação do lastro das indulgências, o que somente pode ser exercido por meio de orações e compra das mesmas pelos vivos; daí a venda das indulgências.
Há, ainda a doutrina do “limbo”, que é o lugar onde, segundo a teologia católica posterior ao século XIII, se encontram as almas das crianças muito novas que, embora não tivessem alguma culpa pessoal, morreram sem o batismo que as livrasse do pecado original.

11. OS CONCÍLIOS ROMANOS

Após a separação entre as Igrejas Romana e Ortodoxa grega, ocorrida em 1054, foram convocados pelo bispo de Roma vários concílios denominados de Lateranenses ou ocidentais.
Essa expressão – Lateranenses – significa tudo o que pertence, ou é relativo a Latrão, designação dada a qualquer das quatro basílicas maiores de Roma - S. João de Latrão, onde se realizaram vários concílios ecumênicos.
O primeiro desses Concílios foi convocado pelo papa Calixto II, em 1123. Assistiram-no cerca de 300 bispos. Nesse concílio foi declarado que o padre romano não poderia casar-se. Isto foi chamado celibato do clero. Nesse Concílio foi também decidido que apenas o papa teria o direito de nomear os bispos da Igreja.
O segundo Concílio foi realizado anos mais tarde, em 1139, convocado pelo papa Inocêncio II com a finalidade principal de condenar o trabalho de dois grupos dissidentes de cristãos, os quais foram conhecidos como Petrobrussianos e Arnoldistas.
Além disso, foi debatida a questão da divisão da Igreja entre oriente e ocidente, buscando esforços para acabar com essa divisão e tentar a reconciliação entre ambas.
O terceiro Concílio foi convocado pelo papa Alexandre III, em 1179, 40 anos depois do concílio precedente, a fim de examinar e condenar o que eles chamavam “erros e impiedades’’ dos Waldenses e Albigenses”, e deliberar acerca da implantação de normas de disciplina na Igreja para aqueles que viessem a discordar das doutrinas católicas.
O quarto Concílio foi convocado pelo papa Inocêncio III, em 1215 e parece ter sido o mais assistido dentre todos os grandes concílios. De acordo com a História “havia presentes a esse concílio 412 bispos, 800 abades e priores, embaixadores da Corte Bizantina e um grande número de príncipes e nobres”.
Nessa ocasião foi promulgada uma nova doutrina: a da "Transubstanciação", segundo a qual o pão e o vinho da Ceia do Senhor são transformados, realmente, no corpo e no sangue do Senhor, logo após a palavra consagratória do sacerdote.
Esta doutrina entre outras, foi a pedra de toque dos reformadores, poucos séculos mais tarde. Segundo o ensino desta doutrina todos os que participaram ou participam da Ceia do Senhor comeram o próprio corpo e beberam o próprio sangue de Jesus Cristo.
A Confissão Auricular - confissão dos pecados, individualmente, aos ouvidos do sacerdote - parece ter tido seu início nesse concilio.
Mas provavelmente, o mais sanguinário evento de todos que têm sido trazidos sobre os povos em toda a história do mundo, foi o que é conhecido como a “Inquisição” e outros tribunais semelhantes, criados para processar e combater as “heresias” dos que eram contrários à doutrina de Roma.
O mundo todo está cheio de livros que combatem esse ato de crueldade inexcedível, não obstante ter sido criado por um povo que se dizia dirigido pelo Senhor! Não existe nada, absolutamente nada, que possa ultrapassar a crueldade da Inquisição!
O quinto Concílio foi convocado no ano de 1229, na cidade de Toulouse, na França, e nele foi tomada uma das mais vitais resoluções para os católicos. Trata-se do decreto, segundo o qual a Bíblia Sagrada seria negada ao uso de todos os leigos, de todas as Igrejas Católicas, a não ser aos padres e oficiais superiores. Essa determinação é simplesmente inconcebível e incompreensível, face ao claro ensino da Palavra de Deus: "Examinais as Escrituras porque vós cuidais ter nelas a vida eterna e são elas que de mim testificam" (Jo 5.39).
O quinto Concílio foi convocado para reunir-se em Lion, na França, pelo papa Inocêncio IV em 1245. Parece ter sido o seu principal objetivo excomungar e depor o imperador Frederico I da Alemanha, que não aceitava a ingerência da Igreja em seu governo, fato que gerou uma grande desavença entre a Igreja e o imperador da Alemanha.
O sexto Concílio foi convocado em 1274, tendo por objetivo reunir outra vez, os dois grandes grupos - o Romano e o Grego - formando uma única e grande Igreja Católica. Esta grande assembléia falhou completamente no seu propósito.
A Igreja, noiva adúltera desde o ano 313, quando foi realizado o seu casamento sob a égide de Constantino, o Grande, tinha se tornado a cabeça da casa, ditando normas nos governos estabelecidos e colocando ou arrancando do trono os reis e rainhas, a seu bel prazer.
O sétimo Concílio foi convocado em 1311, para acabar com os Templários e sua grande influência e poder dentro da Igreja.
Os Templários eram cavaleiros protetores, instalados por Balduíno II, rei de Jerusalém em uma residência ao lado ocidental do palácio construído nas proximidades das ruínas do Templo de Salomão. Dai o nome: Cavaleiros dos Templos, ou Os Templários.
Em 1127 o Papa Honório II havia aprovado os Templários como Ordem, dando a eles vestimentas especiais: um hábito branco com uma cruz vermelha no peito. Pouco tempo depois foram redigidos os estatutos dos templários, imitando a ordem de São Benedito.
Entretanto, com o passar do tempo, a Ordem se tornou tão poderosa a ponto da Igreja "cerrar" os olhos e compartilhar os benefícios que a riqueza dos templários proporcionava.
O problema dos Templários não era o fundamento doutrinário nem religioso, mas sim o mundo material que os rodeava. A medida em que as riquezas se multiplicavam, foram se tornando agiotas dos reis, cobrando juros exorbitantes, alegando que sua fortuna fora conquistada a custa de muito sangue, e assim foram perdendo a sensibilidade da moral, para em seguida tornarem-se beberrões e libertinos, justificando seus bacanais com a desculpa de que Salomão tinha um harém de belas mulheres e nem por isso deixara de levantar o templo mais famoso em honra à Deus.
Em suas missões pelo Oriente, começaram a misturar a doutrina cristã com ensinamentos muçulmanos e fazer com que tudo se resumisse aos seus rituais - daí a acusação de heresia que viria mais tarde do rei da França, apoiado pela Santa Igreja.
Os Templários, no entanto, consideravam Deus como uma Deidade Una, pertencente a todos os povos e sistemas religiosos, sendo exemplo de absoluta bondade e amor.
O oitavo Concílio foi convocado em 1414, pelo papa João XXIII, na cidade de Constança, visando acabar com divergências internas, na cúpula da Igreja. Foi também nesse Concílio que Jan Huss foi julgado e condenado à morte como herege, pela Igreja Católica.
Huss foi um dos inúmeros leitores e seguidores de John Wycliff. Pregou as mesmas doutrinas, e especialmente proclamou a necessidade de se libertarem da autoridade papal. Foi excomungado pelo papa, e então retirou para algum esconderijo desconhecido.
Ao fim de dois anos voltou a convite do papa João XXIII, para participar de um concílio católico-romano, na cidade de Constança, sob a proteção de um salvo-conduto.
Entretanto, o “acordo” foi violado sob o pretexto de que “não se deve ser fiel a hereges”. Com isso, Jan Huss foi preso, condenado e morreu queimado.
Outros dois Concílios foram convocados com o objetivo de promover reformas internas na Igreja. O primeiro na cidade de Basiléia, em 1431 e o segundo na cidade de Roma, em 1512.
Em ambos os Concílios, a Igreja buscava uma maneira de frear o intenso clamor social que se levantava contra a Igreja em virtude dos inúmeros escândalos que afloravam no meio do clero romano e que estavam levando a Igreja a um completo descrédito junto à população.
Concílio de Trento (1545-1563): Um dos abomináveis e desumanos instrumentos de combate a Reforma Protestante, que foi assim chamado porque se reuniu em Trento, norte de Itália, no Tirol, de 1545 a 1563, e durou 18 anos. Em Trento, a Igreja Católica iniciou uma redefinição de seus dogmas essenciais, ao longo das três fases distintas.
A primeira fase (1545-1547) tratou dos temas colocados pelos protestantes, dedicando-se a justificá-los.
A segunda fase (1551-1552) concentrou-se na questão dos sete sacramentos.
Na terceira e última fase (1561-1563) foram tratadas as questões relativas à disciplina eclesiástica, e também do problema da residência episcopal, considerado, unanimemente, um assunto chave para a execução da Reforma.
No final do mesmo, a Igreja Romana tinha formulado uma declaração completa e reformulada de sua doutrina.
Assim ela dispunha de novas armas em sua batalha, para conquistar o que havia perdido.

Muito sangue foi derramado em guerras políticas e religiosas até o ano de 1806, quando Napoleão aprisionou o Papa Pio VII (1740-1823).
Anos mais tarde, em 20 de setembro de 1870, Vítor Emanuelli derrotou “as tropas do papa” tornando-se o primeiro rei da Itália, pondo fim no Santo Império Romano.
Com isso, os papas ficaram confinados ao Vaticano até 1929, quando Mussolini e Pio XI assinaram o tratado de Latrão, legalizando esse estado religioso.

12. A QUEDA DE CONSTANTINOPLA

A queda de Constantinopla, em 1453, foi assinalada na História Mundial como sendo a linha divisória entre os tempos medievais (Idade Média) e os tempos modernos (Idade Moderna).
Província após província, as cidades do grande império romano do oriente foram sendo gradualmente tomadas, até ficar somente a cidade de Constantinopla, que finalmente, em 1453, caiu diante do domínio otomano turco, sob as ordens de Maomé II.
O famoso templo de Santa Sofia foi transformado em mesquita e a cidade de Constantinopla, atual Istambul, tornou-se a capital do Império Otomano ou Turco e assim terminou também o período da Igreja Medieval.
Terminava assim o Império Bizantino ou Império Romano do Oriente, criado por Constantino em 330, com a transferência da sede do Império Romano, da cidade de Roma para a cidade de Bizâncio, que teve seu nome trocado para Constantinopla.

13. A IGREJA ORTODOXA

A Igreja Católica Ortodoxa Oriental, de acordo com seus registros históricos, nasceu no tempo dos apóstolos e sobrevive até nossos dias pela força da tradição, da Bíblia e dos sete Sacramentos. Até o ano 842 ela esteve unida à Santa Sé e fazia parte da única Igreja Católica Apostólica Romana. No entanto, desde o começo, foram surgindo questionamentos. As Igrejas do Oriente negavam a supremacia do Papa, líder das Igrejas Romanas do Ocidente.
No século IX, os desentendimentos foram intensificados. O Papa Nicolau I depôs o Patriarca Fócio de seu posto. Este revidou com uma carta sinodal, fazendo acusações de ordem disciplinar e doutrinárias.
Tempos depois, em 1054, o Patriarca Miguel Cerulário comandou a separação das duas igrejas, fazendo nascer a Igreja Católica Oriental, até hoje com sede em Constantinopla, no Oriente Médio. Em 1764 foi construída a primeira Igreja Ortodoxa em Londres, na Inglaterra, pelos esforços do Patriarca de Alexandria, Mateus.
Várias tentativas de união entre Roma e Constantinopla foram feitas, mas sem resultados. Em 1965, o Papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras I, em nome do ecumenismo, anularam a excomunhão que existia entre as duas igrejas.
Na Grécia e na Finlândia ela se tornou uma Igreja estatal. Quase toda a população é católica ortodoxa. Nos Estados Unidos os ortodoxos formam uma comunidade de cinco milhões de fiéis, decorrentes da imigração da Europa Oriental.
A Igreja Ortodoxa encontra-se hoje espalhada pelo mundo inteiro: Europa (de Portugal à Rússia), Ásia (Médio e Extremo Oriente), Américas (do Brasil ao Canadá), África (Uganda, Quênia) e Oceania (Austrália), num total de mais de 350 milhões de seguidores.

I. SER ORTODOXO

É ortodoxo quem pertence à sociedade dos fiéis cristãos que, unidos pela fé ortodoxa, seguem os ensinamentos e a doutrina da Igreja Ortodoxa e obedecem a seus Pastores em tudo o que é concernente à Glória de Deus e à Salvação da alma.
É ortodoxo quem vive a fé e pratica as virtudes pregadas pela Igreja Ortodoxa, à qual foi agregado como filiado por meio do Batismo ministrado por seus sacerdotes. Assiste nas Igrejas Ortodoxas a todas as cerimônias, recebe os sacramentos, escuta a voz de Deus através dos pastores e empenha-se em viver do culto e da Graça derramada sobre todos os crentes.
É ortodoxo quem ama o Verdadeiro Deus e ama a Jesus Cristo e a Sua doutrina, conforme o ensina a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa.
Em outras palavras, é chamado de ortodoxo, aquele que crê segundo as doutrinas expressas pelas Igrejas Ortodoxas, pois a palavra grega "ortodoxia" significa “doutrina reta”.


II. OS DEZ MANDAMENTOS

A Igreja Católica Apostólica Ortodoxa conservou os dez mandamentos da Lei de Deus em sua forma original, sem a menor alteração. O mesmo não sucedeu com o texto adotado pela Igreja Católica Apostólica Romana, no qual os dez mandamentos foram arbitrariamente alterados, ficando totalmente eliminado o segundo mandamento e o último dividido em duas partes, formando dois mandamentos distintos.
Esta alteração da Verdade constitui um dos maiores erros teológicos desde que a Igreja Romana cindiu a união da Igreja Ortodoxa no século XI.
Esta modificação nos dez mandamentos, introduzidos pelos papas romanos, foi motivada pelo Renascimento das Artes a partir do século XV. Os célebres escultores daquela época tiveram, assim, amplo setor de atividades artísticas, originando obras de grande valor e estimação. Não obstante, as esculturas representando Deus, Maria, os santos e os anjos, estavam em completo desacordo com o segundo mandamento de Deus.
Havia, pois, duas alternativas, ou impedir a criação de estátuas ou suprimir o segundo mandamento. Os papas escolheram esta última solução, caindo em grave erro.
Qualquer lei errônea - e toda adição à Bíblia é errônea – inevitavelmente leva à criação de outra e outras, e assim sucessivamente, sem que haja um limite. Eis porque Cristo não deu nem às suas Igrejas nem aos bispos poderes legislativos.
Convém notar outra vez, mais particularmente, porque o Novo Testamento inclui no seu término essas significativas palavras: "Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro, que se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro, e se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida e da cidade santa, que estão escritos neste livro" (Ap 21.18,19).

III. DIFERENÇAS DOUTRINAIS ENTRE A IGREJA ORTODOXA E A ROMANA

Constitui diferença fundamental a infalibilidade papal e a pretensa supremacia universal da jurisdição de Roma, que a Igreja Ortodoxa não admite, pois ferem frontalmente a Sagrada Escritura e a Santa Tradição. Existem, ainda, outras distinções, abaixo relacionadas em dois grupos básicos:

a) diferenças gerais.
b) diferenças especiais.

Uma idéia dessas diferenças é contida na seguinte resenha esquemática, de cuja leitura se infere uma possibilidade de superação, quando pairar, acima das paixões, o espírito de fraternidade que anima o labor dos verdadeiros cristãos.

3.1. Diferenças Gerais: são diferenças dogmáticas, litúrgicas e disciplinares; são elas:

a) A Igreja Ortodoxa só admite sete Concílios, enquanto a Romana adota vinte.
b) A Igreja Ortodoxa discorda da procedência do Espírito Santo do Pai e do Filho; unicamente do Pai é que admite.
c) A Sagrada Escritura e a Santa Tradição representam o mesmo valor como fonte de Revelação, segundo a Igreja Ortodoxa. A Romana, no entanto, considera a Tradição mais importante que a Sagrada Escritura.
d) A consagração do pão e do vinho, durante a missa, no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, efetua-se pelo Prefácio, Palavra do Senhor e Epíclese (invocação do Espírito Santo), e não pelas expressões proferidas por Cristo na Última Ceia, como ensina a Igreja Romana.
e) Em nenhuma circunstância, a Igreja Ortodoxa admite a infalibilidade do Bispo de Roma. Considera a infalibilidade uma prerrogativa de toda a Igreja e não de uma só pessoa.
f) A Igreja Ortodoxa entende que as decisões de um Concílio Ecumênico são superiores às decisões do Papa de Roma ou de quaisquer hierarcas eclesiásticos.
g) A Igreja Ortodoxa não concorda com a supremacia universal do direito do Bispo de Roma sobre toda a Igreja Cristã, pois considera todos os bispos iguais. Somente reconhece uma primazia de honra ou uma supremacia de fato (primus inter pares).
h) A Virgem Maria, igual às demais criaturas, foi concebida em estado de pecado original. A Igreja Romana, por definição do papa Pio IX, no ano de 1854, proclamou como "dogma" de fé a Imaculada Concepção.
i) A Igreja Ortodoxa repele a agregação do "Filioque", aprovado pela Igreja de Roma, no Símbolo Niceno-Constantinopolitano.
j) A Igreja Ortodoxa nega a existência do limbo (local onde, segundo a teologia católica posterior ao séc. XIII, se encontram as almas das crianças muito novas que, embora não tivessem alguma culpa pessoal, morreram sem o batismo que as livrasse do pecado original) e do purgatório.
k) A Igreja Ortodoxa não admite a existência de um Juízo Particular para apreciar o destino das almas, imediatamente, logo após a morte, senão um só Juízo Universal.
l) O Sacramento da Santa Unção pode ser ministrado várias vezes aos fiéis em caso de enfermidade corporal ou espiritual, e não somente nos momentos de agonia ou perigo de morte, como é praticado na Igreja Romana.
m) Na Igreja Ortodoxa, o ministro comum do Sacramento do Crisma é o Padre; na Igreja Romana, o Bispo, extraordinariamente, o Padre.
n) A Igreja Ortodoxa não admite a existência de indulgências.
o) No Sacramento do Matrimônio, o Ministro é o Padre e não os contraentes (noivos).
p) Em casos excepcionais, ou por graves razões, a Igreja Ortodoxa acolhe a solução do divórcio.
q) São distintas as concepções teológicas sobre religião, Igreja, Encarnação, Graça, imagens, escatologia, Sacramentos, culto dos Santos, infalibilidade, Estado religioso...

3.2. Diferenças especiais: são diferenças disciplinares ou litúrgicas que não transferem dogma à doutrina, como por exemplo:

a) Na Igreja Ortodoxa, só se permitem ícones nos templos.
b) Os sacerdotes ortodoxos podem optar livremente entre o celibato e o matrimônio.
c) O batismo é por imersão.
d) No Sacrifício Eucarístico, na Igreja Ortodoxa, usa-se pão com levedura; na Romana, sem levedura.
e) Os calendários ortodoxo e romano são diferentes, especialmente, quanto à Páscoa da Ressurreição.
f) A comunhão dos fiéis é efetuada com as espécies, pão e vinho; na Romana, somente com pão.
g) Na Igreja Ortodoxa, não existem as devoções ao Sagrado Coração de Jesus, Corpus Christi, Via Crucis, Rosário, Cristo-Rei, Imaculado Coração de Maria e outras comemorações análogas.
h) O processo da canonização de um santo é diferente na Igreja Ortodoxa; nele, a maior parte do povo atua no reconhecimento de seu estado de santidade.
i) Existem, somente, três ordens menores na Igreja Ortodoxa: leitor, acólito e sub-diácono; na Romana, quatro: ostiário, leitor, exorcista e acólito.
j) O Santo Mirão e a Comunhão na Igreja Ortodoxa se efetuam imediatamente após o Batismo.
k) Na fórmula da absolvição dos pecados no Sacramento da Confissão, o sacerdote ortodoxo absolve não em seu próprio nome, mas em nome de Deus - "Deus te absolve de teus pecados"; na Romana, o sacerdote absolve em seu próprio nome, como representante de Deus - "Ego absolvo a peccatis tuis...".
l) A Ortodoxia não admite o poder temporal da Igreja; na Romana, é um dogma de fé tal doutrina.

IV. OS PATRIARCADOS ORTODOXOS

1. Patriarcado de Constantinopla

De acordo com seus registros históricos, o apóstolo André, irmão de Pedro, fundou a Igreja de Constantinopla nos primeiros anos do cristianismo.

2. Patriarcado de Alexandria

A Igreja de Alexandria foi fundada pelo apóstolo São Marcos. Fora conferido ali o título de papa, pela primeira vez na história, ao Patriarca Hiraclas, em 232, e na seqüência ao Patriarca Teófilo, no ano 390.

3. Patriarcado de Antioquia

Os fundadores da Igreja de Antioquia foram os corifeus (auxiliares que se destacam dos demais) dos apóstolos, Pedro e Paulo. O primeiro Concílio Ecumênico reconheceu no bispo de Antioquia a primazia sobre todos os bispos do Oriente, tendo o segundo Concílio confirmado a decisão do primeiro Concílio.
Enquanto o Terceiro Concílio Ecumênico reconheceu a independência da Igreja de Chipre, a primeira a se separar da Igreja de Antioquia, o IV Concílio concedeu ao bispo de Antioquia o título de patriarca, colocando-o na terceira categoria, após os patriarcas de Constantinopla e Alexandria.
Em 1098 os cruzados ocuparam Antioquia e foram deslocados pelos árabes em 1648. Por isso o Patriarcado de Antioquia estabeleceu-se em Damasco no ano de 1342.

4. Patriarcado dos Assírios

Os assírios separaram-se da Igreja de Antioquia em 451, os caldeus em 498 e os armênios em 538.  Já a Igreja Siriana Jacobita separou-se definitivamente da Igreja de Antioquia, em 513.

5. Católicos de Rito Maronita

Os católicos maronitas declararam-se independentes do Patriarcado de Antioquia em 685, e se submeteram ao Bispo de Roma, em 1183, na era do Patriarca Ermia Hamchiti.

6. Os Gregorianos

Em 1050, os gregorianos desligaram-se do Patriarcado de Antioquia. No século XVI, as missões religiosas européias começaram a se realizar no Oriente. Em 1648 o Patriarca Makário empreendeu uma visita histórica à Rússia e a todos os países balcânicos. Em 1724, os gregos católicos deixaram a Igreja de Antioquia.

7. Patriarcado de Jerusalém

O apóstolo Jacó (Tiago) fundou a Igreja de Jerusalém (mãe de todas as Igrejas Cristãs). No ano 52 ele presidiu o Sínodo Apostólico. Nesta mesma Igreja, Helena, mãe do imperador romano Constantino, afirmou ter encontrado ali, fragmentos da cruz de Cristo e, por conseguinte, construiu a Igreja da Ressurreição, o Berço e mais outros templos sobre a gruta, o Gólgota e o Santo Sepulcro.

8. Patriarcado Russo

O apóstolo André é considerado o primeiro pregador do cristianismo na Rússia. Propagou-se a doutrina cristã na Rússia na era do Imperador Romano de Constantinopla, Basílio I (867-886). A princesa russa Olga foi batizada em 975 pelo Patriarca Ecumênico, na catedral Hagia Sofia.
A queda de Constantinopla, em 1453, praticamente dividiu a Igreja oriental em dois grupos: a Igreja Ortodoxa Russa e a Igreja Ortodoxa Grega, oriunda do patriarcado de Constantinopla que fugira de lá com a invasão dos turcos otomanos.
Essa divisão já vinha se desenhando desde que os invasores tártaros mongóis invadiram a Rússia no século XIII. Nessa época, a fragilidade do império romano oriental já dava sinais evidentes de sua incapacidade de gerir o império e a conseqüente igreja oriental.
As igrejas da Rússia perceberam isso e em 1325, em conseqüência da invasão mongol, o arcebispo da Igreja Ortodoxa na Rússia transferiu a sede da igreja, da cidade de Kiev, na Ucrânia, para a cidade de Moscou, a fim de que pudessem resistir melhor aos invasores mongóis.
Isso fez com que a cúpula da Igreja Russa ficasse ainda mais unida e sujeita em torno de sua liderança local, e ainda mais isolada, da já distante e impotente Constantinopla. Com a queda de Constantinopla em 1453, a Igreja Ortodoxa Russa foi oficializada, ficando assim separada da Igreja Ortodoxa Grega.
A Igreja Ortodoxa Russa foi oficializada como Igreja Oficial da Rússia no ano de 1589, mantendo, entretanto, a sua união com o estado russo. A criação da igreja russa foi acompanhada de algumas mudanças internas, principalmente, nas áreas de liderança e organização eclesiástica.
Somente em 1657, é que o Patriarcado Russo passou a ser definitivamente independente, desligando-se por completo do Patriarcado de Constantinopla.

9. Patriarcado da Geórgia

O cristianismo ingressou na Geórgia na primeira metade do século IV, por intermédio de uma escrava síria de nome Nuna, que conseguiu converter o rei Mirban para o cristianismo, juntando-se seus adeptos ao Patriarcado de Antioquia.
A Igreja da Geórgia declarou-se independente da Igreja de Antioquia, no fim da gestão do Patriarca de Antioquia, Pedro III.

10. Patriarcado da Sérvia

Os povos da Sérvia adotaram o cristianismo na segunda metade do século IX, ano 870, por intermédio de missionários enviados pelo Patriarcado Ecumênico, sendo a sede de seu bispado a cidade de Rask.

11. Patriarcado da Romênia

O cristianismo propagou-se na Romênia graças aos esforços do Patriarcado Ecumênico, auxiliado pelos povos eslavos, por intermédio dos missionários bizantinos. A Romênia, submetida espiritualmente ao Patriarcado de Constantinopla, em 1885, separou-se no tempo do Patriarca Ecumênico Joaquim IV. Em 1925 o Patriarcado da Romênia foi fundado oficialmente.

12. Patriarcado da Bulgária

O cristianismo ingressou nos Bálcãs no meado do século IX, graças aos missionários e pregadores enviados pelo Patriarcado Ecumênico. O rei Bóris adotou o cristianismo em 864, graças aos esforços de sua irmã, a princesa Teodora e o gigantesco empenho de Metódio, que conclamou o povo búlgaro a adotar o cristianismo.
O rei Simão declarou em 927 o arcebispo da Bulgária, Patriarca independente, desligando-o do Patriarcado de Constantinopla, fixando a sede em Dorostol (atual Silestra) e depois em Okhrida e Ternovo.
Nos fins do século XIV (1393-1398), a Bulgária foi conquistada pelos otomanos que eliminaram o Arcebispado de Ternovo, e suas dioceses ficaram submetidas ao Patriarcado de Constantinopla, bem como subordinaram o Arcebispado de Okhrida em 1767, ao Patriarca Ecumênico Samuel.
A Igreja da Bulgária separou-se do Patriarcado Ecumênico em 1860 e, em 1872 declarou-se definitivamente independente, tornando-se Patriarcado em 1953, sendo oficialmente reconhecida pelas Igrejas Ortodoxas em 1961.


AO REI DOS REIS E AO SENHOR DOS SENHORES
SEJA A GLÓRIA, O LOUVOR E A HONRA
PARA TODO O SEMPRE
AMÉM!

Pr Sérgio de Oliveira










2 - HISTÓRIA DA IGREJA


PARTE II

“Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência” (Jr 3.15).

HISTÓRIA DA IGREJA

PARTE II


I. OS ANTECEDENTES DA REFORMA PROTESTANTE

1. CONDIÇÕES EXISTENTES ANTES DA REFORMA

Antes da reforma, a igreja havia se tornado totalmente corrupta, vendia indulgências, cobrava altos impostos e disputava o poder com o estado romano. Luxo e riquezas se contradiziam com a fé cristã. A autoridade papal havia se auto-outorgada acima da autoridade da Bíblia. Motivos estes que fizeram com que John Wycliff, John Huss, Jerônimo Savonarola, Erasmo de Roterdã e Lutero, se levantassem para combater toda esta gama de incoerências.
Erasmo defendia que a igreja precisava ser reformada porque havia abandonado os verdadeiros ideais cristãos. Afirmava que a vida era muito mais importante que a doutrina ortodoxa, e que os frades enquanto se ocupavam com distinções sutis levavam vidas escandalosas.
Erasmo desejava a reforma dos costumes e a prática da decência e da moderação. A igreja se desviou dos ensinos do evangelho e estava dando lugar aos vícios pagãos.

1.1. OS WALDENSES

Os Waldenses eram seguidores de Pedro Waldo um ex-comerciante de Lyon que ouvira falar da lenda de São Aleixo, que tinha abandonado o seu povoado para se dedicar à vida ascética, tendo se dedicado de tal forma que ao retornar ao seu povoado não fora reconhecido, tendo passado o resto de seus dias à porta de sua própria casa pedindo esmolas.
Após sua morte foi reconhecido em face de documentos que carregava consigo. Deste modo Waldo se entregou à pobreza e a pregação da Palavra. Foi proibido de pregar pelo bispo de Lyon. Apelou para o papa em Roma tendo sido igualmente proibido. Regressou a Lyon e continuou a sua pregação.
Por fim um concílio reunido em Verona o condenou. Continuou pregando e espalharam-se por diversas cidades. Mais tarde, quando as perseguições se tornaram mais fortes se refugiaram nos vales mais retirados dos Alpes. Muitos dos valdenses mais tarde aceitaram os mensageiros da reforma e se uniram a eles.

1.2. JOHN WYCLIFF

John Wycliff viveu na época do cativeiro babilônico do papado, e do início do Grande Cisma que começou em 1378. Ele se destacou na tentativa de corrigir as doutrinas da igreja medieval de modo que elas fossem ajustadas aos ensinos bíblicos.
Estudou na Universidade de Oxford, tendo se tornado famoso por sua lógica e erudição. Destacou-se por sua mente privilegiada, levava seus argumentos até as últimas conseqüências.
Wycliff saiu da universidade em 1371 para se colocar a disposição da coroa inglesa. Sua corrente doutrinária sobre o “senhorio” à medida que foi se desenvolvendo, atacava não somente o papa e os poderosos senhores da igreja, mas também o estado. Esta doutrina questionava se o senhorio era legítimo? Quais as suas origens? Como era reconhecido? etc. Motivo pelo qual muitos dos nobres que o apoiavam no início aos poucos foram se afastando dele.
Suas doutrinas sobre a santa ceia entraram em choque com os ensinos oficiais da igreja. Seus ataques contra os frades igualmente levou-o a muitos inimigos. Com base nestas controvérsias o reitor da universidade convocou uma assembléia em 1380 para discutir os ensinos de Wycliff sobre a ceia, tendo sido condenado por pequena margem de votos. Durante vários meses esteve em sua própria casa, onde continuou escrevendo seus livros.
Em 1381, ele se retirou para sua paróquia de Lutterworth que recebera da coroa por seus serviços prestados. Passou dificuldades financeiras, já que havia trocado o cargo eclesiástico que exercia por um outro menos lucrativo recebendo pequena quantia em compensação. Em Lutterworth ele continuava escrevendo seus livros.
Em 1382 sofreu uma embolia. Em 1384, sofreu uma segundo embolia que o levou a morte. Como havia morrido em comunhão com a igreja foi enterrado em terra consagrada. Mais tarde o concílio de Constança o condenou e seus restos mortais foram exumados e queimados, e suas cinzas lançados no rio Swift.
Os ensinos de John Wycliff foram relevantes porque demonstraram que havia incoerência tanto na hierarquia da igreja como do estado, principalmente na questão do senhorio e do pagamento dos impostos que eram exigidos também tanto pela autoridade papal como pelo estado.

1.3. JAN HUSS

Jan Huss nasceu na pequena aldeia de Hussinek por volta de 1370. Era filho de uma família de camponeses. Aos dezessete anos ingressou na Universidade de Praga, tendo vivido a maior parte de sua vida na capital de seu país. Foi exilado e encarcerado por dois anos em Constança.
Foi nomeado reitor da universidade e pregador da capela de Belém em 1402, tendo se dedicado a reforma que muitos tchecos desejavam. Sua capela se transformou num centro reformador, tal era a eloqüência e o fervor com que Huss se pronunciava. Embora a hierarquia da igreja o encarasse temerosa, muitos dos nobres e grande parte do povo o seguia e ainda contava com o apoio de reis.
Em 1411, foi excomungado pelo cardeal Colonna, porque Huss se negou a ir a Roma, para atender a convocação do papa Alexandre V para dar conta de suas ações. Huss, no entanto, continuou pregando a reforma no púlpito de Belém, chegando a incentivar a desobediência ao papa, porque afirmava que a autoridade final é da Bíblia e que o papa que não estivesse conforme ela não merecia ser obedecido.
Levantou-se conta a indulgência afirmando que somente Deus poderia concedê-la e que ninguém poderia vender o que vem unicamente de Deus. O rei proibiu que fosse criticada a venda de indulgência. Roma interpretou a posição de Huss como uma heresia e em 1412 Huss foi novamente excomungado por não ter comparecido diante da corte papal, tendo se fixado um prazo para ele se apresentar. Caso não se apresentasse nenhuma cidade poderia recebê-lo porque seria interditada.
A partir daí Huss se refugiou no sul da Boêmia, onde continuou a sua atividade literária. Mais tarde Huss teve a garantia do imperador Sigismundo, para comparecer a um grande concílio que aconteceria em Constança, onde deveria se defender. Jan Huss partiu para o concílio só que lá chegando teve que se avistar com o papa João XXIII que o acusou de herege, a partir daí, tornou-se prisioneiro.
O imperador que lhe garantira salvo-conduto não estava em Constança quando Jan Huss lá chegara, tendo ficado muito irado porque havia prometido fazer com que o seu salvo-conduto fosse respeitado. Em seguida, o imperador ficou muito preocupado com os rumores de que Huss era um herege e temia ser acusado de protetor de hereges.
Finalmente Jan Huss comparece diante da assembléia todo acorrentado e é formalmente acusado de ser seguidor das doutrinas de Wycliff. João não conseguia expor seu ponto de vista diante da algazarra que se fazia na assembléia, tendo sido adiado a decisão para outro dia. Na assembléia seguinte Huss foi ouvido e demonstrou que era perfeitamente ortodoxo.
Em momento algum se retratou de suas doutrinas ou de suas heresias como era acusado. Houve muita controvérsia sobre a questão e em nenhum momento Huss fraquejou com relação ao seu posicionamento. Finalmente, Huss disse: - “apelo para Jesus Cristo, o único juiz todo-poderoso e totalmente justo. Em suas mão eu deponho a minha causa, pois Ele há de julgar cada um não com base em testemunhos falsos e concílios errados, mas na verdade e na justiça”.
Continuaram insistindo com ele para que se retratasse, mas ele continuava firme. Levaram-no para a fogueira depois de escarnecerem dele. Antes de sua morte orou dizendo: “Senhor Jesus, por ti sofro com paciência esta morte cruel. Rogo-te que tenhas misericórdia dos meus inimigos”.
Huss morreu cantando os salmos. Jan Huss foi muito importante porque ele contestou a autoridade papal, a venda de indulgências e pregava a reforma da igreja.

1.4. JERÔNIMO SAVONAROLA

Jerônimo Savonarola era um frade dominicano natural de Ferrara. Foi educado por seu avô paterno que era um médico muito conhecido tanto por seu conhecimento como por sua devoção moral. Savonarola nunca abandonou as orientações recebidas de seu avô e ainda jovem se uniu à ordem dos pregadores de São Domingos, onde se distinguiu por sua dedicação ao estudo e à santidade.
Em Florença, Savonarola tornou-se um expositor das Escrituras para os frades do convento dominicano de São Marcos. Sua fama se espalhou, e muitas pessoas vinham ouvi-lo. Durante meio ano expôs o livro de Apocalipse e o que no início era apenas conferências passou a ser sermões, nos quais atacava a corrupção da igreja e profetizava que a igreja teria de passar por uma grande tribulação antes de ser restaurada. Atacava os poderosos, cujo luxo e avareza se constatava com a fé cristã.
Ao ser eleito prior de São Marcos, Savonarola mandou vender todos as propriedades do convento para dar o dinheiro aos pobres. Tendo servido de exemplo para outros conventos que o chamavam para proceder reformas semelhantes às que instaurou no convento Florentino.

1.5. WILLIAM TYNDALE

O PAI DA BÍBLIA INGLESA

William Tyndale nasceu aproximadamente em 1483, na vila de North Nibley. Ordenado ao sacerdócio em 1502, ele se distinguiu em Oxford recebendo o seu de Bacharel em Artes, em 1515. Mais tarde ele se transferiu para Cambridge, onde se tornou familiarizado com Erasmo e o seu Novo Testamento Grego. Enquanto atravessava esse tempo de reflexão, Tyndale experimentou uma iluminação espiritual semelhante à de Lutero.
Quanto mais ele estudava esse tesouro recém descoberto, mais acentuada se tornava a sua preocupação no sentido de que os seus companheiros ingleses dele compartilhassem. Foi durante esse período de formação que aconteceu a clássica discussão de Tyndale com um papista fanático.
Antagonizado pela sua incapacidade de refutar a racionalização bíblica de Tyndale, o exasperado sacerdote gritou: "seria melhor que ficássemos sem as leis de Deus do que sem as leis do papa", ao que Tyndale retorquiu indignado: “Desafio o papa e todas as suas leis; e se Deus me poupar a vida por muitos anos, levarei um garoto que conduz o arado a conhecer mais a Escritura do que vós”.
Com essas audaciosas palavras representando a motivação de toda a sua vida, Tyndale decidiu resgatar os seus iletrados patrícios da desesperança e infelicidade do Romanismo, declarando: “Essa causa apenas me conduziu a traduzir o Novo Testamento. Porque eu havia percebido, por experiência, como seria impossível levar o povo leigo à verdade, a não ser que as Escrituras fossem claramente colocadas diante dos seus olhos na língua mãe”.
O pedido de Tyndale para se alojar com o renomado Cuthbert Tonstal, Bispo de Londres. recebeu uma fria negativa. Do mesmo modo como o estalajadeiro de Belém negou abrigo à "Palavra Viva", o prelado indiferente fez o mesmo ouvido surdo à "Palavra Escrita", nenhum deles reconhecendo o tempo de sua visitação.
O Senhor compensou essa humilhação, enviando Tyndale até um comerciante simpático, o qual não apenas abriu sua residência em Londres, para o reformador, como ainda lhe deu dez libras de presente, pedindo-lhe que orasse por "seu pai, sua mãe, suas alma e todas as almas cristãs". Contudo seis meses depois do início da tradução, Tyndale detectou uma crescente hostilidade dos oficiais lacaios contra o seu projeto.
Grande parte dessa pressão foi atribuída às pazes de Henrique VIII com Roma, a respeito do controvertido pedido de anulação do seu casamento com a "estéril" rainha Catarina. Tyndale conclui com tristeza: “A partir daí, percebi que não apenas no palácio do bispo de Londres, mas em toda a Inglaterra, não havia lugar onde eu pudesse tentar uma tradução das Escrituras”.
Em face dessas condições inaceitáveis, Tyndale transferiu-se para a Alemanha, em 1524, sem imaginar que jamais colocaria os pés novamente em solo inglês. Ele é conhecido como "o apóstolo da Inglaterra".
Tendo garantido alojamento em Hamburgo, o fugitivo fez uma peregrinação imediata até Wittenberg. O patrocínio negado a Tyndale por Tonstal foi mais do que compensado pelo audacioso Lutero, que iria declarar sem timidez: “Nasci para a guerra e a luta contra as facções e os demônios”.
O Dr. J. R. Green captou o espírito contagiante de Lutero com a narrativa da visita deste a Tyndale: “Encontramo-lo em seu caminho para a cidadezinha que havia repentinamente se tornado a cidade sagrada da Reforma. Estudantes de todas as nações ali se reuniam com um entusiasmo que lembrava aquele dos cruzados. ‘Quando vinham para ver a cidade’, conta-nos um contemporâneo, ‘retornavam graças a Deus com as mãos preparadas para de Wittenberg, como a partir de Jerusalém fosse a luz da verdade do evangelho espalhada até aos confins da terra’. Foi por insistência de Lutero que Tyndale ali traduziu os evangelhos e as epístolas”.
Tyndale receberia muita coragem para suas futuras experiências da parte do austero alemão, cuja visão pessoal sobre os perturbadores era essa: "você não pode enfrentar um rebelde com a razão. Sua melhor resposta é esmurrá-lo no rosto até que ele sangre pelo nariz".
Com o coração reanimado, Tyndale iniciou o seu esforço pioneiro de produzir a Bíblia Inglesa traduzida diretamente das línguas originais. Partiu dele uma excepcional concessão para uma tão grandiosa ventura. O professor Herman Buschais descreveu Tyndale para Spalatin como:
Um homem tão versado nas sete línguas: Hebraico, Grego, Latim, Italiano, Espanhol, Inglês e Francês, que qualquer uma que ele falasse poderia dar a impressão de ser a sua língua nativa.
Esta erudição foi confirmada no comparecimento de Tyndale diante dos editores de Colônia, Quental e Byrschmann, antes de completar um ano. Embora desconhecido a Tyndale, o arquiinimigo de Lutero, o teólogo católico John Cochlaeus, Deão da Igreja da Bendita Virgem em Frankfurt, seguiu direto em suas pegadas. Quando viu os católicos na Alemanha preparados com Bíblias até às orelhas, Cochlaeus se queixou:
O Novo Testamento de Lutero se multiplicou e espalhou de tal maneira através dos editores que até mesmo alfaiates e sapateiros, sim, até mesmo as mulheres e as pessoas ignorantes, que aceitaram esse novo evangelho luterano e podiam ler um pouco de alemão, estudavam-no, com a maior avidez, como sendo a fonte de toda a verdade. Alguns o memorizaram, carregando-o no íntimo.
Em poucos meses esse povo ficou tão letrado que não se envergonhava de debater sobre a fé e o evangelho, não apenas com os leigos católicos, mas até mesmo com os padres e monges e doutores em divindades.
Cochlaeus não podia permitir que esse pesadelo alcançasse a Inglaterra. Certo dia ele escutou por acaso alguns tipógrafos discutindo a respeito da obra de Tyndale. Embriagando-os com uma certa quantidade de vinho, ele ficou perplexo ao descobrir que o Novo Testamento Inglês já estava sendo impresso. Depois de ver apenas dez folhas completadas, Tyndale foi advertido da chegada de magistrados. Auxiliado pelo seu copista, William Roye, ele pôde transferir os preciosos documentos para Worms, deixando ao chão um padre frustrado.
Com a comparativa segurança da "retaguarda" oferecida por Lutero, as primeiras três mil cópias do Novo Testamento de Tyndale foram completadas em 1525 pelo editor de Worms - Schoeffer – e contrabandeadas para a Inglaterra, em barris, pilhas de roupa e sacos de farinha.
Ao contrário da tradução dos manuscritos latinos de Wycliff, a obra de Tyndale foi diretamente traduzida do Grego e, mais que isso, do Textus Receptus da segunda e terceira edições de Erasmo. Erasmo havia rejeitado as leituras Alfa e Beta da Vulgata, pavimentando, assim, a estrada para centenas de mártires em Smithfield, os quais iriam morrer por causa do Texto Majoritário.
Tendo sido alertado por Cochlaeus da "importação pendente de perniciosa mercadoria", o clero inglês ficou de sobreaviso nos portos. Muitas Bíblias foram interceptadas e queimadas em cerimônias, na Saint Paul Cross em Londres, pelo bispo Tonstal, que as chamava de "uma oferta queimada ao Deus Todo Poderoso".
Esse bispo enfatuado afirmava ter encontrado 2.000 erros na mesma. Sir Thomas More acrescentou: "tentar encontra erros no livro de Tyndale foi o mesmo que tentar água no mar". More seria degolado mais tarde, como um traidor da pátria.
Sem se intimidar, Tyndale exclamou no espírito do seu mentor alemão: “Ao queimar o Livro eles fizeram exatamente o que eu esperava; provavelmente eles vão também me queimar, se for essa a vontade de Deus”.
Contudo, apesar desse diabólico esforço, muitos dos volumes reprovados foram dispersos pela terra (quase 50.000, segundo alguns cálculos). As dores sofridas no sentido de proteger esses Novos Testamentos podem ser vislumbradas através do que um sóbrio crente escreveu: “Guardas perigosos cheios de whisky, que em vão buscavam essa coluna, gozavam de clandestinidade e esconderijo com sofrimento ansioso”.
Enquanto tudo à volta era miséria e escuridão, estes livros nos mostravam o beijo sem fronteira, além da tumba, libertos dos padres venais – do castigo feudal. Ele permitiu ao sofredor seus passos fatigados até Deus. E quando essa sofrida maldição na terra aconteceu. Esta principal riqueza do seu filho desceu.
Que o poder do Novo Testamento de Tyndale foi causa de alarme entre os católicos ficou evidenciado pela carta do bispo de Nikke ao seu superior, na qual se lia em parte: "está além do meu poder, ou de qualquer homem espiritual, impedir isso agora, e se assim continuar por muito tempo, ele a todos nos destruirá".
Com a cabeça erguida, Tyndale se mudou para Marburg, em 1528, onde ficou sob a proteção de Felipe, o Magnânimo, Conde de Hesse. Após ter trabalhado, por quase um ano, no Pentateuco, ele embarcou para Hamburgo, porém sofreu um naufrágio na viagem, perdendo o manuscrito de Deuteronômio, recém-concluído. Após uma chegada com atraso em Hamburgo, ele foi residir com Margaret von Emmerson, onde concluiu a tradução de Gênesis até Deuteronômio.
Com o seu aparecimento na cidade livre de Antuérpia (para conseguir a impressão desses novos livros), Tyndale arquitetou um plano engenhoso para repor suas urgentes carências financeiras. Já ficou conhecido que o arrogante bispo Tonstal, levado ao desespero pela divulgação do Novo Testamento, havia tentado salvaguardar-se, removendo-os do comércio através de uma compra ilegal. Contudo, sem que Tonstal o soubesse, o comerciante intermediário do qual ele se aproximou, Augustine Pakinghton, era um dos simpatizantes e mantenedores de Tyndale.
Depois disso, os Novos Testamentos reimpressos logo alcançaram a Inglaterra. Então o bispo mandou procurar novamente Pakinghton indagando como era possível que os livros fossem ainda tão abundantes? "Meu senhor", respondeu o comerciante, "realmente eu acho que seria melhor que comprásseis também os tipos pelos quais eles são impressos". Que esse conselho não foi seguido, nem é preciso declarar.
Com o lucro do seu "mais novo cliente", Tyndale entregou o seu Pentateuco, em 1530, através da Casa publicadora Hans Luft, de Marburg, com a sua tradução de Jonas sendo publicada na Antuérpia, no ano seguinte.
Por esse tempo a animosidade contra Tyndale havia aumentado consideravelmente. Além das traduções desprezadas, seus diversos ataques verbais contra Roma não estavam lhe angariando muitos amigos:
"A parábola do Maligno Mamom", 1528; "A Obediência de um Cristão" e "Como os Governantes de Cristo Devem Governar", em 1530; e sua "Prática de Prelados", também em 1530. Numa de suas notas marginais em Jonas ele comparou a Inglaterra com Nínive.
No ano de 1535, um crédulo Tyndale foi traído por um agente secreto católico, Henry Phillips, o qual havia angariado a confiança do reformador. Depois de tomar um empréstimo de última hora no valor de 40 shillings, de sua generosa vítima, os dois homens seguiram para a pensão de Tyndale, a fim de jantar.
O traidor Phillips insistiu pretensiosamente como o seu "amigo", para ir na frente. Logo que saiu, Phillips, no espírito de Judas Iscariotes, apontou na direção dele pelas costas, como sinal combinado para identificá-lo aos oficiais. O idoso santo foi preso e levado depressa para o calabouço da fortaleza próxima de Vilvorde, dezoito milhas ao norte de Antuérpia, na Bélgica.
Como o julgamento do seu Mestre por Pilatos, o caráter de Tyndale era inquestionável, impressionando até mesmo o promotor do Imperador que o levara a considerá-lo como “um homem sábio, piedoso e bom”. Durante os dezoito meses do seu encarceramento, Tyndale se manteve firme.
Um dos documentos mais tristes existentes em toda a história da igreja (tirado dos arquivos do Concílio de Brabant) é uma carta escrita em Latim, pela própria mão do reformador, para o governador de Vilvorde, talvez o Marquês Burgon:
“Creio, cheio de legítima adoração, que não estarei despercebido do que pode ter sido determinado com respeito a mim. Daí porque peço a Vossa Senhoria, e isso pelo Senhor Jesus, que se devo permanecer aqui pelo inverno, Vossa Senhoria diga ao comissário que faça a gentileza de enviar-me, dos meus pertences que estão com ele, um boné contra o frio, visto como sinto muito frio na cabeça e sou afligido pelo contínuo catarro, que aumentou muito nesta cela. Também uma capa de inverno, pois a que tenho é muito fina; também uma peça de roupa para agasalhar minhas pernas. Meu sobretudo está gasto; minhas camisas também estão gastas. Ele tem uma camisa de lã e, por favor, ma envie. Também tenho com ele perneiras de pano grosso para usar por cima. Ele tem também toucas quentes de dormir”.
“Peço que me seja permitido ter uma lâmpada à noite. É de fato aterrador ficar sentado sozinho no escuro. Mas, antes de tudo, peço que ele gentilmente me permita ter uma Bíblia hebraica, uma gramática hebraica e um dicionário hebraico, para que eu aproveite o tempo estudando. Em compensação, Vossa Senhoria possa conseguir o que mais deseja, contanto que seja apenas para a salvação de sua alma. Mas se qualquer outra decisão foi tomada a meu respeito para ser executada antes do inverno, terei paciência, aceitando a vontade de Deus, para glória da graça do meu Senhor Jesus Cristo, cujo Espírito eu oro que possa dirigir sempre o vosso coração. Amém!”. Assinado: W. Tyndale.
De fato, foi a vontade de Deus que o seu servo passasse ali, não apenas aquele inverno, mas a próxima primavera e também o verão. Temos confiança de que ele conseguiu seus auxílios lingüísticos, visto como deixou atrás dele a tradução completa, de Josué até 2ª Crônicas.
Com as folhas do outono de 1536 anunciando a aproximação certa de outro inverno, o tempo da partida de Tyndale havia chegado. Condenado pelo decreto do Imperador, na assembléia de Augsburgo, a data de sua execução foi estabelecida para 6 de outubro de 1536. Foxe nos transporta até essa cena sombria:
Trazido para o local da execução, ele foi atado à estaca, estrangulado por um carrasco e depois consumido pelo fogo, na cidadezinha de Vilvorde, em 1536, gritando na estaca, em alta voz com fervorosa preocupação: “Senhor, abre os olhos do Rei da Inglaterra!”.
Quando o fiel Tyndale estava terminando a obra de sua vida, com uma última e incompreensível oração pela iluminação do rei, ele não podia imaginar que a resposta do céu já estava a caminho. McClure relata o miraculoso testemunho de que:
O que foi mais estranho em tudo isso e inexplicável para aqueles dias é que na hora exata em que Tyndale, por obtenção dos eclesiásticos ingleses e pelo tácito consentimento do rei inglês, Henrique VIII, foi queimado em Vilvorde, uma edição paginada de sua tradução era impressa em Londres, com o seu nome na página titular e por Thomas Berthlet, com a própria patente de impressão do rei. Essa foi a primeira cópia das Escrituras impressa em solo inglês.
Contudo, muito mais significativo do que esse misterioso rasgo da Providência foi a sanção oficial dada pelo próprio Henrique VIII, de duas Bíblias Inglesas dentro de um ano, a partir do martírio de Tyndale. A primeira destas foi a Bíblia Coverdale, nomeada segundo o antigo revisor em Antuérpia, Miles Coverdale (1488-1569).
A Bíblia Coverdale mantém a honra exclusiva de ser a primeira Bíblia Inglesa completa já impressa. Como Wycliff, Coverdale era fraco nas línguas originais, de modo que sua obra consistiu do Novo Testamento e do Pentateuco, com os demais livros do Velho Testamento sendo conseguidos, primeiramente da tradução alemã de Lutero, com pequeno empréstimo da Vulgata Latina e da Bíblia Suíça de Zurique.
Embora Coverdale tivesse sido forçado a publicar sua primeira edição em Colônia (1535), ele muito prudentemente dedicou-a ao rei da Inglaterra e também teve o cuidado de excluir o estilo controverso das notas marginais associadas com a Bíblia de Tyndale.
Não é difícil entender a boa vontade de Henrique VIII de pessoalmente autorizar essa Bíblia (segunda edição da Coverdale de 1537), quando a capa o apresentava sentado e coroado, empunhando uma espada na página dedicatória, creditando-o como "defensor da fé". A diplomacia de Coverdale coincidia com a recente quebra do controle de Roma sobre as igrejas inglesas.
Embora sem renunciar às doutrinas católicas o Ato de Supremacia aprovado pelo Parlamento em 11/11/1534, foi certamente o passo mais importante em direção à Reforma Inglesa.
A segunda Bíblia a receber sanção especial naquele ano foi outra aventura discreta. Conhecida como a Bíblia de Mateus, essa tradução foi realmente feita por John Rogers (1500-1555), o qual usou o pseudônimo de Thomas Matthews, em vista de sua bem conhecida associação com Tyndale.
O melhoramento fundamental da Bíblia de Matthews foi a inclusão das obras de Tyndale "escritas no cárcere" – Josué e 2 Crônicas. Com o Pentateuco de Tyndale e o Novo Testamento basicamente intactos, a Bíblia Coverdale preencheu o vácuo, visto como Rogers assegurou alguma assistência das versões francesas de Le Fevre e Olivertan.
Como a Bíblia Coverdale, a de Rogers foi também autorizada pelo rei, que tornou legal que a mesma pudesse ser comprada, lida, reimpressa e vendida. Do lado mais claro, a Bíblia de Mateus é algo referido como "a Bíblia do homem que bate da mulher", por causa da nota, fora de época, em 1 Pedro 3.1, onde se lê: "Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra".
Logo depois veio a Grande Bíblia de 1538, nomeada conforme o seu tamanho especial (16" por 11"). Ela era basicamente uma revisão da Bíblia de Mateus feita por Miles Coverdale, com pouca mudança, exceto pela remoção das notas marginais controversas de Rogers.
A Grande Bíblia teve a distinção de ser a primeira Bíblia oficialmente autorizada para uso público nas igrejas da Inglaterra, pelo que foi exigido que ela fosse literalmente acorrentada a uma parte do mobiliário da igreja, onde os paroquianos tinham "acesso à mesma para ler".
Com a obesidade de Henrique, forçando-o provavelmente a pensar na eternidade (tendo engordado tanto que precisava ser levantado com roldanas para montar no cavalo), o rei sancionou oficialmente a Grande Bíblia com: "Em nome de Deus, deixe-a partir para o estrangeiro, junto o nosso povo". Sem dúvida, Tyndale teria dado uma risada, por razões óbvias. Em janeiro de 1547, o próprio Henrique partiu desta terra.

2. A SITUAÇÃO NA EUROPA NO SÉCULO XIV

A partir do século XIV é que podemos perceber a desagregação do mundo medieval. Essa progressiva desagregação é demonstrada nos diferentes níveis da realidade social. No plano econômico, assistimos à derrocada da economia feudal e ao renascimento do comércio, que culminará com as grandes navegações do século XVI.
No plano social, temos o desenvolvimento de uma camada de mercadores e o progressivo declínio da nobreza feudal. No plano político, ocorre progressivamente uma centralização do poder nas mãos dos reis. As soberanias feudais locais vão desaparecendo. O rei, aliado aos mercadores, vai sujeitando à sua autoridade o poder da nobreza feudal e da igreja.
No plano religioso, assistimos ao declínio da igreja, com o surgimento de uma série de movimentos que irão culminar com a Reforma Protestante. No plano cultural, temos o Renascimento cultural ou Renascença.
Todas essas transformações que ocorrem na Europa Ocidental, a partir do século XIV, estão intrinsecamente ligadas entre si e atuando umas sobre as outras.

2.1. O RENASCIMENTO OU RENASCENÇA

Até os fins da Baixa Idade Média, a igreja monopolizava a educação e a cultura na Europa Ocidental. A cultura era teocêntrica, isto é, o pensamento e as artes ocupavam-se somente com o estudo de Deus e da vida sobrenatural. Com o surgimento de novas condições de vida em sociedade, uma nova cultura começou a aparecer.
Essa nova cultura tinha um caráter humanista (valorização do homem e suas obras), leigo e antropocêntrico (colocação do homem como centro do universo). É ao surgimento e desenvolvimento dessa cultura leiga, humanista e antropocêntrica que atribuímos o nome de Renascimento Cultural.

2.2. FATORES QUE LEVARAM AO RENASCIMENTO

O Renascimento Cultural foi um produto das transformações ocorridas na Europa Ocidental a partir da Baixa Idade Média. Essas transformações foram:

a) O Renascimento Comercial, ou seja, a generalização do comércio pela Europa Ocidental.
b) O Renascimento Urbano, que implicou um crescimento e surgimento de novas funções para as cidades. A cultura renascentista foi uma cultura eminentemente urbana.
c) O surgimento e ascensão de uma camada de mercadores. Os ideais elaborados pelo Renascimento correspondiam, de um modo geral, aos interesses desse grupo. Foram os mercadores os principais elaboradores e financiadores da cultura renascentista.
d) A centralização do poder nas mãos dos reis. Na medida em que foram centralizando o poder em suas mãos, os reis foram submetendo a igreja a sua autoridade. Esta submissão possibilitou a ascensão dos mercadores e o surgimento de uma cultura renascentista.
e) O declínio da igreja que monopolizava a cultura medieval. Com o declínio da igreja, foram surgindo novos centros de saber na Europa Ocidental - as Universidades - que se desenvolveram a partir do século XI, financiadas pelos mercadores. Retoma-se o estudo de toda a cultura clássica e especificamente do direito comercial romano.
f) O desaparecimento dos ideais de vida da Idade Média, que possibilitou o surgimento de um novo homem - o humanista. Entre esses ideais, que desapareceram, podemos citar: a cavalaria - que, além de arma de guerra era o código de honra da nobreza feudal, passou, com o renascimento, a ser tratada com desprezo e até mesmo a ser ridicularizada; a escolástica - que buscava a conciliação da fé com a razão, passou a ser desdenhada.

II. A REFORMA PROTESTANTE

1. A SITUAÇÃO DA EUROPA NA ÉPOCA

Durante todo o período feudal, o predomínio cultural pertenceu à Igreja católica, que monopolizava a educação e a cultura. A igreja era a única instituição centralizada de toda a Europa feudal e sua força era superior à dos reis. O homem medieval era profundamente religioso. A Igreja pregava o amor ao próximo e a humildade. Contudo, havia uma grande contradição entre o que ela pregava e o que praticava.
Nos séculos XIV e XV, a degeneração da igreja atingiu um grau monstruoso. O alto clero vivia num ambiente de luxo. Moitas pessoas se convenciam então de que a igreja se afastara da doutrina original de Cristo, sendo necessário fazê-la retornar ao ponto de partida.
Com o surgimento das Universidades, muitos eruditos, passaram a ler a Bíblia independentemente das interpretações da igreja, difundindo a doutrina original de Cristo. Esses eruditos, tal como Erasmo de Rotterdam, propunham uma reforma no interior da própria igreja. Também os camponeses e artesãos medievais, explorados pelos senhores leigos e eclesiásticos, moviam contra a igreja violentas lutas armadas. Essas lutas contra os abusos do poder da igreja assumiam um caráter de heresia.
O primeiro grande movimento dessa natureza foi o movimento “hussita” (devido ao seu líder Jan Huss), que irrompeu na segunda década do século XV no reino de Boêmia. A igreja viu-se obrigada a fazer sérias concessões aos rebeldes ante a derrota das tropas dos cruzados e mercenários por ela contratados. A igreja, pela primeira vez em sua história, teve que tratar publicamente com os hereges, aceitando suas petições.
Outro movimento popular herético foi o movimento liderado por Wycliff na Inglaterra. Os camponeses queriam a abolição da servidão e da cobrança dos dízimos pela igreja. Wycliff pregou até o confisco dos bens dos mosteiros, tendo sido apoiado nessa reivindicação pela nobreza inglesa, interessada nas terras da igreja. As suas propostas teológicas eram revolucionárias, marcadas por um caráter anticlerical, antifeudal e democrático.
Para Wycliff, qualquer homem estava tão próximo de Deus quanto os padres, tendo, portanto, o direito íntimo de juízo em matéria de religião. Os sacramentos tinham pouca importância em comparação com a pregação e estudo da Bíblia. O homem era mais importante sendo ativo no mundo do que trancado num mosteiro.
Erasmo, ao nível da crítica intelectual, e John Huss e Wycliff, ao nível dos movimentos populares, podem ser considerados os precursores da Reforma.

2. OS FATORES QUE PRECIPITARAM A REFORMA PROTESTANTE

a) A expansão marítima e comercial: Essa expansão fortaleceu a sociedade européia, interessada na reforma religiosa. Tal interesse se devia tanto à moral econômica católica do "preço justo", elaborada por Tomás de Aquino, que constituía um obstáculo ao desenvolvimento do comércio, como também ao alto custo do clero.
b) A formação das monarquias nacionais: com o surgimento dos Estados centralizados, o poder real e a igreja entraram em conflito na medida em que esta última constituía um empecilho ao fortalecimento do poder real. Por outro lado, os dízimos, a venda das indulgências e de relíquias sagradas retiravam dos Estados Nacionais uma boa parte da renda que era transferida para o papado na Itália.
c) O Renascimento Cultural: Na medida em que desenvolveu uma cultura antropocêntrica, um espírito de crítica, o individualismo levou ao declínio da escolástica e contribuiu para a Reforma Protestante.
d) O Declínio da Igreja Romana: A venda de indulgências e de cargos religiosos tornou a igreja alvo de crítica da maior parte de seus fiéis.

3. A SITUAÇÃO DA ALEMANHA NA ÉPOCA DA REFORMA

Na Alemanha, o poder real era fraco. O chamado Santo Império Romano Germânico era formado por uma multiplicidade de principados, nos quais o poder político era exercido pela grande nobreza. A dinastia dos Habsburgos (imperadores do Sacro Império), necessitava do apoio do Papa para manter sua frágil hegemonia sobre os principados. Uma grande quantidade de terras do Sacro Império pertencia às instituições eclesiásticas. O maior comércio de indulgências era o da Alemanha.
Era nessa região que a igreja obtinha as suas maiores rendas. Apesar das contradições entre as várias classes sociais, todas elas tinham um inimigo comum - a igreja. A nobreza feudal tinha interesse em apoderar-se das terras da igreja; a grande burguesia queria um clero menos custoso e ao mesmo tempo desejava impedir a fuga de capitais para Roma; os camponeses e os artesãos viam na igreja o seu grande explorador, com a cobrança dos dízimos, das rendas feudais, etc.

4. FATORES QUE INDUZIRAM A REFORMA NA ALEMANHA

Um fator primordial foi o ódio voltado por todas as classes sociais à Igreja Católica. Outro fator foi o desenvolvimento do humanismo na Alemanha, com o aparecimento das Universidades. Esses humanistas satirizavam a vida dissoluta do clero, a moral religiosa medieval e as instituições eclesiásticas.
Entretanto, o fator imediato responsável pela deflagração da Reforma na Alemanha foi a venda de indulgências. O para Leão X, necessitando de dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro, encarregou o monge Tetzel de vender as indulgências na Alemanha. Este levou ao máximo tal comércio.
Lutero, um monge agostiniano, afixou na igreja de Wittenberg, onde era pregador, as 95 teses, combatendo a venda de indulgências. Em virtude dessa atitude, Lutero foi ameaçado de excomunhão pelo papa Leão X, caso não voltasse atrás. Lutero recusou-se a uma retratação, sendo excomungado e convocado a comparecer frente à Dieta Imperial, que iria se reunir em Worms, para ser julgado.
Nessa Assembléia, pelo fato de muitos príncipes eleitores serem também hostis à Igreja, nada foi feito contra o monge. Entretanto, o imperador Carlos V fez passar um édito, declarando Lutero fora da lei. Todavia, passado o perigo da perseguição pelos soldados do rei, Lutero reiniciou a sua luta e o édito nunca foi posto em execução. A partir daí, a reforma proposta por ele expandiu-se pela Alemanha.
A partir do século X, papas e imperadores envolveram-se numa disputa de poder. Este conflito criou antagonismos entre Roma e o Sacro Império Romano-Germânico, potencializados durante os séculos XIV e XV. O descontentamento provocado pelos impostos papais e pela submissão a dignatários eclesiásticos estendeu-se a outras áreas da Europa.
Já no século XIII, o papado foi criticado pelos precursores da Reforma por causa da cobiça, imoralidade e arrogância de vários de seus membros. A Igreja reconhecia a necessidade de uma reforma, mas nesta época, não ocorreram mudanças radicais.
O humanismo e a invenção da imprensa derrubaram o escolasticismo como filosofia principal da Europa ocidental, privando os líderes da Igreja do monopólio sobre a cultura. Isto gerou as condições para que Martinho Lutero e Calvino instituíssem a Reforma.

5. A AUTORIDADE DO PAPA É CONTESTADA

Até o final da Idade Média, todos os cristãos permaneceram unidos em torno da autoridade do papa, que era o chefe máximo da Igreja Católica. No início da Idade Moderna, porém, alguns cristãos passaram a protestar contra os abusos da autoridade papal. Alguns desses cristãos deixaram de obedecer ao papa e separam-se da igreja de Roma. Os principais representantes dessa linha de pensamento que rompeu com o papado foram:

a) LUTERO, que fundou o Luteranismo na Alemanha.
b) CALVINO, que criou o Calvinismo na Suíça.
c) HENRIQUE VIII, que iniciou um movimento de protesto e rebeldia na Inglaterra, originando o anglicanismo.

Todos esses movimentos receberam o nome de Reforma ou, precisamente, Reforma Protestante. A partir da Reforma (século XVI), os cristãos dividiram-se em dois grupos: de um lado os católicos, que permaneceram fiéis à autoridade do papa e às doutrinas da igreja católica; de outro, os protestantes que não mais aceitavam essa autoridade e eram contra uma série de pontos da doutrina católica.

6. AS CAUSAS DA REFORMA PROTESTANTE

6.1. CAUSAS DE NATUREZA RELIGIOSA

Até a época da Reforma, os homens viviam atormentados pelo medo de ir para o inferno, por causa dos pecados. Eles seguidamente rezavam pedindo a Deus que os perdoasse. Os ricos davam dinheiro à Igreja, procurando desse modo “comprar” sua entrada no céu.
Os papas e os bispos viviam em grande luxo. Como grandes senhores estavam sempre rodeados de escritores e artistas. Nos mosteiros, os abades interessavam-se apenas por seus ganhos e negligenciavam as obrigações religiosas.
No século XV, o cônego de Langres, Nicolas de Clamagnes, descreveu assim os abusos da Igreja: “Como podemos suportar que ninguém possa se tornar eclesiástico, sem antes pagar um alto preço, e que ninguém possa receber os sacramentos sem pagar antecipadamente uma certa soma em dinheiro?”.
“Muitos bispos nunca estiveram em sua cidade, nunca viram sua igreja e nem visitaram sua diocese... Quanto aos cardeais, eles têm o coração tão duro, a palavra tão arrogante, o gesto tão insolente que, se um escultor quisesse representar a imagem do orgulho, não poderia faze-lo melhor do que apresentar a imagem de um cardeal”, afirmou Langres.
Esses abusos eram mal vistos. Muitos católicos desejavam que os religiosos vivessem uma religião mais pura, mais próxima daquela praticada pelos primeiros cristãos. Eles desejavam uma reforma da igreja.

6.2. CAUSAS DE NATUREZA ECONÔMICA

A Igreja condenava as atividades burguesas – afirmava que o comerciante, não era agradável a Deus. O fato de a igreja cobrar impostos provocava ressentimentos. As arrecadações do papa esgotavam os países mais ao norte da Europa, e enriqueciam a Itália. A Europa do norte sentia-se como se estivesse dominada por uma potencia estrangeira, que lhe impunha tributos.
O papa exercia grande poder nas regiões sob influência do catolicismo, interferindo constantemente nas questões locais. Com o desenvolvimento do sentimento de nacionalidade, em diversos países começou a surgir forte oposição à interferência estrangeira e, portanto, ao papa.

6.3. CAUSAS DE NATUREZA CULTURAL

Sob a influência do Renascimento, espalho-se pela Europa uma nova maneira de pensar, caracterizada pelo individualismo e pelo espírito crítico. Isso fez com que muitas “verdades” da Igreja passassem a ser discutidas e questionadas. Com a invenção da técnica de impressão, difundiram-se os conhecimentos e o hábito da leitura, que durante muitos séculos tinham sido privilégio de uma minoria. Esses fatos contribuíram para a formação de uma consciência crítica entre os fiéis.

6.4. CAUSAS DE NATUREZA SOCIAL

“Que o diabo me leve”. Esta expressão, considerada uma blasfêmia, poderia levar à fogueira aquele que a pronunciasse nos séculos XV e XVI. A igreja condenava quem invocasse o nome do diabo ou quem usasse mecanismos de curandeirismo. Muitos curandeiros foram jogados na fogueira por ordem do papa. Desde o renascimento, os curandeiros, não eram mais vistos como loucos, e sim como representantes do diabo na Terra. Por isso mereciam morrer queimados.
A igreja, na ânsia de impor totalmente seu poder, considerava os curandeiros os piores inimigos do cristianismo. Porém, no século XV, como a miséria era grande e as doenças proliferavam, era normal que o povo acreditasse em quem lhe prometesse dias melhores.
Havia padres especializados em denunciar os autores das bruxarias. Foi uma verdadeira “caça as bruxas”. Havia torturas cruéis antes do condenado ser levado à fogueira, a ponto de o próprio acusado terminar admitindo que cometera um crime. “Sim, eu me encontrei com o diabo”, no mínimo era isso que confessava, mesmo sabendo que não dizia a verdade. Mas o que dava mais prazer ao tribunal que julgava o coitado era ouvir: “Eu tomei poção mágica, contendo sangue de crianças que foram depois devoradas durante um ritual ao qual o diabo sob forma de um bode”. Muita gente teve que professar inocentemente estas palavras.
Estas e outras causas contribuíram para revoltar o povo, pois estava na hora de dar um basta naquela situação.

III. OS REFORMADORES

I. MARTINHO LUTERO

Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, na Alemanha, na vila de Eisleben. Lutero teve um preparo religioso com base na piedade simples da família alemã da Idade Média. O grande desejo de seu pai era vê-lo formado em direito, e apesar de ter estudado, quando estava preparado para iniciar sua carreira profissional, para o desapontamento do pai, tornou-se monge.
Desejava a certeza da salvação, e com este propósito empreendeu-se em peregrinações, jejuns, sacrifícios, que iam além dos suportáveis por um ser humano normal. No mosteiro, travou consigo uma grande luta interior, pois não encontrava ali, o que esperava alcançar.
Foi através do evangelho que Martinho Lutero, libertou-se de tanta angústia. Quando recebeu um trabalho para lecionar na Universidade de Wittenberg, Lutero estudou a obra de Bernardo Claraval, e encontrou a verdade a respeito da graça Divina para com os pecadores. Além disso, era um ardente leitor da Bíblia.
Em 1511, Lutero fez uma visita em Roma. Rezou em muitas igrejas, viu muitas relíquias e ouviu muitas estórias sobre milagres. Para livrar seu pai do purgatório, subiu de joelhos a Scala Sancta, e em cada degrau recitava o “Pai Nosso”. Ao chegara ao topo surgiu uma pergunta. Quem sabe se tudo isso é verdade?

1. Uma Descoberta Revolucionária

Foi no início de 1512, enquanto lia a Epístola de Paulo aos Romanos, que Lutero encontrou a declaração revolucionária: “O justo viverá da fé” (Rm 1.17). Estas palavras com labaredas de Deus incendiaram sua mente. Descobriu que a salvação lhe pertencia, simples e unicamente por fé na obra que Cristo consumou na cruz.
A partir daí Lutero se empreendeu nos estudos das Escrituras, e das obras dos grandes escritores cristãos. Pelo estudo dos Salmos, e das epístolas de Paulo, ele afirmou que Deus salva os pecadores mediante a fé no Seu amor revelado em Jesus Cristo.
Contra essa verdade, militavam os ensinos que pregavam a salvação adquirida pelas obras e sacramento ministrados pela igreja. Mas Lutero tinha a convicção da verdade. Essa experiência trouxe novo impulso à sua vida, impulso necessário para reformar a Igreja que havia sido paganizada.

2. Lutero em Wittenberg

Por mais de quatro anos Lutero trabalhou em Wittenberg, decepcionado, mas sem romper com os líderes da igreja. Suas lições na Universidade tinham sabor de um vinho novo, em comparação aos ensinamentos dos professores conformados com estado que igreja se encontrava na época. Ele tinha uma capacidade extraordinária de citar as Escrituras e aplica-las às necessidades espirituais do povo. As suas descobertas, fizeram dele um pregador notável, e dotado do Espírito Santo.

3. O Problema das Indulgências

Numa cidade próxima a Wittenberg, em 1517, apareceu um frade, chamado Tetzel, vendendo indulgências emitidas pelo papa. Várias pessoas se apresentaram em Wittenberg, munidas de cartas de indulgências. Seguras do perdão confessaram pecados graves, sem se arrepender, e Lutero não as quis absolve-las. O conhecimento adquirido por Lutero, já o fazia capaz de julgar os méritos das vendas de Indulgências papais.
No dia 31 de outubro de 1517, Lutero afixou na porta da catedral, as suas teses denunciando o abuso das vendas de Indulgências. Ele imaginava que teria o apoio do papa, mas jamais poderia imaginar a repercussão de suas teses. Myconius um contemporâneo de Lutero afirmou. “As teses, em apenas 15 dias percorreram quase toda a cristandade, como se os anjos fossem os mensageiros”.

4. Lutero Intimado a ir a Roma

A primeira atitude do papa Leão X foi intimar Lutero a Roma, mas o eleitor da Saxônia, admirador de Lutero, propôs que o caso fosse resolvido na Alemanha. Os enviados do papa, em conferências com Lutero, nada puderam fazer, pois Lutero estava convicto de suas teses, e ainda declarou que o papa não tinha autoridade divina, e que os concílios eclesiásticos não eram infalíveis, o que levou o rompimento de Lutero com a igreja romana.
No mês de janeiro de 1521, o papa publicou a terrível sentença final, excomungando Lutero, e o condenando a sentença penal de “heresia”. Mas, para que essa bula tivesse efeito legal, dependia das autoridades civis, levar Lutero a morte. Ele fora chamado diante do rei Carlos V, que estava pressionado pelo papa. Certo que marchava para a morte Lutero não temeu e disse: “Ainda que haja lá tantos demônios, quanto sejam as telhas nos telhados, confiando em Deus, eu lá estarei”, e partiu.
A sentença de morte contra Lutero teria que ser cumprida rapidamente, o que não aconteceu, porque o príncipe da Saxônia o salvou, levando-o para um castelo, onde permaneceu muitos meses disfarçado com o nome de “Cavaleiro Jorge”, e o mundo o considerava morto. Contudo no seu retiro foi lhe concedido o direito de escrever, e o mundo logo soube, que as literaturas saíra de sua pena, e que ele vivia.
Profundo conhecedor do grego e do hebraico, Lutero traduziu o Novo Testamento para a língua do seu povo, em apenas três meses. Contudo a maior obra sua foi dar ao povo alemão Bíblia na sua própria língua.

EVENTOS IMPORTANTES DESSA ÉPOCA

Para esboçar a Reforma, podemos sugerir os seguintes como alguns dos eventos importantes:

a) 1517: Lutero prega as 95 teses na porta da Igreja Castelo, em Wittenberg.
b) 1520: Lutero publica três livros importantes: A Liberdade do Homem Cristão; O Cativeiro Babilônico da Igreja; e Uma Carta Aberta à Nobreza Cristã.
c) 1521: Excomunhão de Lutero; ele recusa negar suas crenças diante a Dieta de Worms; ele queima a bula do Papa.
d) 1522: Lutero, no exílio, faz uma tradução do Novo Testamento em Alemão, e, depois, volta para orientar a reforma em Wittenberg.
e) 1523: Sob a pregação de Zuínglio, a cidade de Zurique abraça a Reforma.
f) 1529: A Dieta de Spira declara a Reforma fora da lei; os príncipes evangélicos protestam, daí a origem do nome "protestantes". Lutero e Zuínglio encontram-se em Marburg, mas não concordam sobre a Ceia do Senhor.
g) 1531: Zwinglio morreu na Guerra de Cappel.
h) 1534: Henrique VIII declara a si mesmo cabeça da Igreja da Inglaterra.
i) 1536: A primeira edição das Institutas da Religião Cristã de Calvino.
j) 1537: Menno Simmons é ordenado bispo anabatista.
k) 1541: Calvino começa a Reforma em Genebra.
l) 1545: O início do Concílio de Trento.
m) 1546: Morte de Lutero.
n) 1559: O Ato de Uniformidade na Inglaterra estabelece a Igreja Anglicana como uma via média entre o Catolicismo e o Calvinismo. Volta de John Knox para a Escócia.
o) 1564: Morte de Calvino.

Poucos se esforçaram mais que Martinho Lutero para diminuir o abismo entre a fé salvadora e a ação social. O desejo de agir em prol dos necessitados apareceu resumidamente nas "95 teses", onde Lutero argumentou que é melhor dar aos pobres e emprestar às necessitadas que comprar indulgências. Esta medida serviu para providenciar uma verba para o sustento dos pobres e ao mesmo tempo estimular o envolvimento da população na assistência social em Wittenberg.
A ênfase do entendimento social de Lutero era para que os necessitados fossem amparados. Para ele, o cristão justificado se torna livre para poder, através da fé, viver uma vida de serviço decorrente do amor a Deus. O crente justificado deve pensar como Lutero: "Me entregarei ao meu próximo como Cristo se ofereceu por mim; farei nada por meu próximo nesta vida senão o que reconheço como sendo necessário, edificador e saudável, porque pela fé gozo uma abundância de todas as coisas em Cristo".
A ação social é decorrente de uma mudança baseada na liberdade da justificação pela graça por meio da fé. O resultado será um novo compromisso moral com a sociedade.
O exemplo que Lutero deixou é simples: o cristão deve viver uma vida onde seu amor por Deus seja espontâneo, não visando qualquer recompensa material ou espiritual, mas simplesmente com o objetivo de fazer a vontade de Deus, pois a vida cristã consiste "em tudo querer o que Deus quer, buscar a glória de Deus e nada desejar para si, pois é no cuidado pelos mais fracos e desamparados que Deus é glorificado".
Prédica para que se mandem os filhos à escola (1530): "O pregador atua em favor das almas, livrando-as do pecado, da morte e do diabo. No entanto, ele também realiza tão-somente grandes e imponentes obras em favor do mundo: ensina e instrui todas as categorias sociais como se devem conduzir exteriormente em seus cargos e posições, para agirem com justiça perante Deus. Pode consolar os tristes, aconselhar, intermediar em casos de conflito, reconciliar consciências confusas, ajudar a manter a paz, a reconciliar, a viver em harmonia e inúmeras obras mais diariamente. Pois um pregador confirma, fortalece e ajuda a preservar a autoridade, toda a paz secular, resiste aos sediciosos, ensina obediência, bons costumes, disciplina e honra; instrui pai, mãe, filhos, empregados, em suma, a cada qual em sua função e estado secular. (...) Para dizer a verdade, a paz temporal (...) é, no fundo, um fruto do ministério da pregação".
Lutero, além de professor em Bíblia, era o pastor da igreja da cidade de Wittenberg, e começou a pregar sua fé recém-descoberta para a congregação. Mas, ao mesmo tempo, um monge chamado Johann Tetzel, representante do papa Leão X, estava vendendo indulgências. O monge afirmava: "Não vale a pena atormentar-te: podes resgatar teus pecados com dinheiro! Pagando, podes escapar dos sofrimentos do purgatório e aliviar os dos outros!", e tudo embalado pelo cântico: "Quando uma moeda no fundo do cofre cai, a alma direto para o céu vai." Para Lutero, isto era uma perversão do Evangelho!
Em 31 de outubro de 1517 ele afixou, na porta da Igreja do Castelo, em Wittenberg, as 95 teses que haveriam de marcar o princípio da Reforma. Elas começam com a famosa exortação: "Ao dizer ‘Arrependei-vos’ (Mt 4.17), nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência".
Os eventos se sucederam com rapidez. Em 1518, Frederico, Eleitor da Saxônia, deu seu apoio a Lutero. Em 1519, participou do debate de Leipzig. Em 10 de dezembro de 1520, queimou os livros de "Direito Canônico" e a bula papal que o ameaçava de excomunhão.
Em começos de 1521, ele foi convocado a Worms, perante o Imperador Carlos V e os príncipes da Alemanha, para dar contas de seu ensino. Depois de dois dias de debates, onde o que estava em jogo era a autoridade das Escrituras, ao ser instado a retratar-se e retornar à comunhão com Roma, Lutero exclamou: "Já que me pede uma resposta simples, darei uma que não deixa margem a dúvidas: A não ser que alguém me convença pelo testemunho da Escritura Sagrada ou com razões decisivas, não posso retratar-me. Pois não creio nem na infalibilidade do papa, nem na dos concílios, porque é manifesto que freqüentemente se tem equivocado e contradito. Fui vencido pelos argumentos bíblicos que acabo de citar e minha consciência está presa na Palavra de Deus. Não posso e não quero revogar, porque é perigoso e não é certo agir contra sua própria consciência. Que Deus me ajude. Amém”. Era a noite de 18 de abril de 1521, e um novo dia raiou para a cristandade.
Em 1529, os príncipes católicos reuniram-se em torno de uma resolução que impedia a introdução da Reforma em seus territórios, mas reclamavam liberdade de culto romano nos territórios conquistados pela Reforma.
A recusa solene dos príncipes de "fé evangélica" (como se chamavam) de concordar com esta imposição tornou-os conhecidos como "protestantes".
Até sua morte, com 62 anos, em 18 de fevereiro de 1546, na vila onde nasceu, em Eisleben, Lutero esteve continuamente envolvido nas controvérsias de seu tempo. Por esta época, sua influência já se havia espalhado não só pela Alemanha, mas também por partes da Holanda, Suécia, Dinamarca e Noruega. Lutero foi sucedido por seu amigo Filipe Melanchthon.

II. FILIPE MELANCHTHON

Um dos mais importantes amigos e colaboradores de Lutero foi Filipe Melanchthon (1497-1560). Este erudito lançou os fundamentos da escola elementar popular. O que guiava sua perspectiva do ensino era que "alguns não ensinam absolutamente nada das Sagradas Escrituras; alguns não ensinam às crianças nada além das Sagradas Escrituras; ambos os quais não se deve tolerar".
Em 1528, seus "Artigos de Visitação" para as escolas foram promulgados como lei na Saxônia, e sua obra como educador público passou a ser uma dimensão adicional em sua vida. Ele propôs a divisão dos estudantes em três classes, divididas em faixas etárias.

a) Na primeira divisão, as crianças estudavam o alfabeto, a oração do Pai Nosso e o Credo dos Apóstolos.
b) Na segunda divisão, eram estudados pelos adolescentes o Decálogo, o Credo e o Pai Nosso. Os Salmos mais fáceis (112, 34, 128, 125, 133) deveriam ser decorados, assim como deve-riam ser estudados o Evangelho de Mateus, as epístolas de Paulo a Timóteo, a primeira epístola de João e os Provérbios de Salomão. Tudo isto lado a lado com o estudo de física, lógica, gramática, moral e história.
c) No último nível (o equivalente à faculdade), os estudantes deveriam se dedicar ao latim, gramática, dialética, retórica, filosofia, matemática, física e ética. Aqueles que estavam sendo preparados para ensinar na igreja, além destas matérias deveriam aprender grego e hebraico, pois em seu entendimento, este conhecimento deveria servir ao estudo e pregação de um Evangelho puro.

Melanchthon entendia que Cristo tinha colocado toda a cultura debaixo de Seu controle, acreditando que este entendimento impediria os cristãos de viverem vidas grosseiras, enquanto, ao mesmo tempo, os impediam de atribuir mais importância à cultura humana do que à fé cristã.
O estudo das letras estava sempre subordinado ao estudo das Escrituras Sagradas, mas ele disse: "Aplico-me a uma coisa, a defesa das letras. Convém que com o nosso exemplo se inflame a mocidade de admiração pelas letras, e que as ame por amor delas, e não pelo proveito que delas possa tirar. A ruína das letras traz consigo a desolação de tudo o que é bom: a religião, os costumes, coisas divinas e coisas humanas. Quanto melhor é um homem, tanto maior é o ardor que tem por salvar as letras; porquanto sabe que das pestes a mais perniciosa é a ignorância. Uma escuridão terrível cairá em nossa sociedade, se o estudo das ciências for negligenciado". Este ensino abrangente tinha por objetivo tornar os cristãos ativos no mundo, dissipando as trevas de uma fé corrompida e supersticiosa e da ignorância.
Melanchthon tem sido considerado o fundador do ensino controlado e sustentado pelo Estado, tendo tirado as escolas do controle privado. Pelo menos cinqüenta e seis cidades procuraram sua ajuda na reforma de suas escolas. Ele ajudou a reformar oito universidades e a fundar outras quatro. Escreveu numerosos livros didáticos para uso nas escolas e, mais tarde, foi chamado o "Instrutor da Alemanha".
Na Alemanha, 1997 foi declarado o "ano de Melanchthon" por causa das celebrações do aniversário do nascimento deste grande reformador. As celebrações ocorreram sob o patrocínio do governo federal alemão, e as festividades começaram com uma cerimônia realizada em 31 de outubro de 1996, na Igreja do Castelo, em Wittenberg.

III. JOÃO CALVINO

João Calvino nasceu em 10 de julho de 1509, na cidade de Noyon, na França. Ele tinha apenas três anos quando sua mãe morreu. A sua infância foi marcada por dias em que a igreja romana, e suas crendices tinham forte influência sobre o povo. A igreja dizia que tinha alguns fios de cabelo de João Batista, um dente do Senhor, um pedaço do maná do Antigo Testamento, migalhas da multiplicação dos pães e alguns fragmentos da coroa de espinhos usados por Jesus.
Destinado ao sacerdócio, Calvino foi enviado a Paris quando tinha quatorze anos, para estudos de ordem eclesiástica. Cinco anos depois o seu pai decidiu que ele estudasse direito, e o enviou para Orleans. Após o falecimento de seu pai, Calvino resolveu seguir a sua vocação: enveredar pela cultura das letras.
Quando, onde e como Calvino se tornou protestante, não se sabe ao certo. Sabe-se, no entanto, que sua mudança resultou dos novos estudos de Lutero.
Ele declarou-se protestante em 1533 e, ao fim daquele ano, acompanhado de outros protestantes, teve de fugir de Paris, em virtude de forte e violenta perseguição. Esteve por três anos na Basiléia onde escreveu o livro As Institutas da Religião Cristã, que o levou a ser considerado como um dos mais ilustres líderes do protestantismo.
Em 1535, ele precisou fugir de Paris, por suas convicções protestantes, exilando-se na Basiléia. Em 1536, ao passar por Genebra, Calvino foi coagido a iniciar um trabalho ali, mas em 1538 foi expulso da cidade, pelo rigor das reformas que propôs. De 1538 a 1541, ele mudou-se para Estrasburgo, onde pastoreou a igreja de refugiados franceses naquela cidade.
Lá, Calvino travou contato com Martim Bucer (1491-1551), que influenciou profundamente sua teologia, principalmente acerca da doutrina do Espírito Santo e da disciplina eclesiástica.
Em 1541, em virtude do caos moral, social e espiritual de Genebra, Calvino foi convidado a retornar a essa cidade, onde, depois de grandes lutas, conseguiu implementar seu programa de reformas, mudando completamente toda a Genebra, tornando-a um exemplo para toda a cristandade.
O reformador escocês, John Knox (1503-1572), disse que Genebra era "a mais perfeita escola de Cristo que jamais houve na terra desde a época dos apóstolos". Em 1564 Calvino morreu, e suas últimas palavras foram: "É suficiente para mim viver e morrer para Cristo, que é, para todos os seus seguidores, um ganho tanto na vida quanto na morte." Devido a seu próprio pedido, não se ergueu lápide alguma sobre o lugar de sua sepultura. Foi sucedido por Teodore de Beza (1519-1605), também um refugiado francês.
A maior obra de Calvino foi, sem dúvida, as Institutas da Religião Cristã, que era "uma chave abrindo caminho para todos os filhos de Deus num entendimento bom e correto das Escrituras Sagradas". Na edição final de 1559, ela alcançou 1500 páginas! Uma olhada no esboço desta obra nos mostra um resumo de sua teologia, que seguia o padrão do Credo dos Apóstolos.

a) Volume I: "O conhecimento de Deus, o Criador" – o conhecimento de Deus, Escrituras, Trindade, Criação e Providência.
b) Volume II: "O conhecimento de Deus, o Redentor" – a Queda, o Pecado humano, a Lei, o Antigo Testamento e o Novo Testamento, Cristo, o Mediador, sua Pessoa (Profeta, Sacerdote e Rei) e sua Obra (Expiação).
c) Volume III: "O modo pelo qual recebemos a graça de Cristo, seus benefícios e efeitos" – Fé e Regeneração, Arrependimento, Vida Cristã, Justificação, Oração, Predestinação e Ressurreição Final.
d) Volume IV: "Os meios externos pelos quais Deus convida-nos à sociedade de Cristo" – Igreja, Sacramentos e Governo Civil.

A influência de Calvino se estendeu a vários países, tais como Suíça, França, Holanda, Alemanha, Hungria, Polônia, Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.
Foram os reformados franceses que realizaram o primeiro culto evangélico em terras brasileiras, em 10 de março de 1557, e foram os reformados holandeses que construíram o primeiro templo protestante no Brasil – construído na Ilha Maurício, no ano de 1642, em forma da cruz grega, chamado de Templo Gallicum. Depois da expulsão dos holandeses, esse templo foi consagrado pela Igreja Católica à "Nossa Senhora do Ó" e, atualmente, é dedicado ao "Divino Espírito Santo".

1. Benefícios da Obra de Calvino

Por sua obra em Genebra, Calvino alcançou três grandes benefícios para o Protestantismo em geral:

a) A vida moral da cidade foi um exemplo do que a fé transformada podia fazer.
b) Genebra foi transformada em refúgio para os perseguidos por causa da Reforma.
c) Foi também um lugar de preparação para os líderes do Protestantismo.

2. Influências Reformistas na França

Embora Calvino estivesse longe da França há vinte e sete anos, permanecia como líder da Reforma naquele país. Seus livros se espalhavam como relâmpagos por todo o país, e eram aceitas e propagadas pelos humanistas franceses. Mas quando os livros de Lutero começaram a circular pela França, foi grande a perseguição contra todos os que defendiam a Reforma.
Em 1538 o rei Francisco I decidiu mover forte campanha contra o ensino reformado. Foi no ardor das perseguições que Calvino tornou-se o líder mais eficaz do movimento protestante no país. Não obstante o sangue derramado e muitos mortos, a Reforma espalhou por toda a França. Mas só em 1559, foi organizada uma igreja protestante nacional.

3. Os Huguenotes

O rápido crescimento da influência da Reforma contribuiu para que grande parte da aristocracia francesa fosse conquistada. Esses grandes nobres, não se submetiam facilmente a perseguição, e organizaram um movimento de expansão das verdades do Evangelho, e também uma luta contra o governo, com o intuito de alcançar liberdade religiosa. Por essas atitudes, ganharam o nome de “huguenotes”.
Esse nome foi a princípio o apelido dado, pelos católicos, aos protestantes, pois eles se reuniam em frente ao portão do palácio do Rei Hugo, daí o nome de huguenotes.
Em 1562 desabrochou uma guerra, sendo os huguenotes comandados pelo almirante Coligny e príncipe Condé. Ambos lutavam contra a tirania da rainha Catarina de Médicis. Essa guerra foi a primeira das oito guerras, que durante trinta anos, quase arruinaram a França. O partido católico-romano estava decidido a lançar mão de todas as crueldades, como de fato o fez. Esse partido era dirigido pelos jesuítas e pelo rei Filipe II, da Espanha.

4. O Massacre de São Bartolomeu

O espírito do partido católico-romano manifestou-se no horrível massacre da noite de 24 de agosto de 1582, dia de São Bartolomeu. Num certo período de paz, muitos dos huguenotes reuniram-se em Paris, para a cerimônia de casamento de um de seus líderes, Henrique de Navarra.
Num ataque noturno por ordem de Catarina de Médicis, milhares de huguenotes e muitos de seus líderes foram mortos. Rapidamente quase cem mil protestantes foram mortos por toda a França. Nas ruas de Paris, escorria sangue.
Esse fato envergonha até hoje o povo francês, que se pudessem, arrancariam esta página vergonhosa de sua história. Após o massacre o papa, de Roma, enviou congratulações a Catarina, e ambos se regozijaram pelo que fizeram aos protestantes.
Apesar deste terrível golpe, os protestantes se reabilitaram e continuaram a luta até 1598, quando a guerra terminou com célebre Edito de Nantes, que concedeu ao Protestantismo um pouco mais de tolerância.

5. A Visão Social de Calvino

João Calvino foi um dos mais notáveis reformadores, e a ação social estava entre as suas principais preocupações. Ele tinha como princípio básico nesta área que em Cristo não há mais nem escravos nem livres, pois nosso Senhor aboliu todas as divisões de classes. Isso significa que o cristão vive a fé autêntica quando encontra seus irmãos numa fraternidade que exclui toda discriminação.
Calvino jamais estabeleceu uma conexão entre riqueza ou pobreza e o favor ou desfavor de Deus em relação a indivíduos. Antes, ele entendeu a riqueza e a pobreza como expressões do favor ou do julgamento de Deus sobre toda a comunidade, que então deveria redistribuir os seus recursos com vistas ao bem comum: "Por que é então que Deus permite a existência da pobreza aqui embaixo, a não ser porque ele deseja dar-nos ocasião para praticarmos o bem?"
André Bieler resume o pensamento do reformador: "Somos todos ricos em relação a alguém. O rico tem uma missão econômica de providenciar ao mais pobre parte de sua riqueza, de tal maneira que o pobre deixa de ser pobre e ele mesmo deixe de ser rico".
Esta igualdade pregada pelo reformador tem como objetivo levar os membros do corpo de Cristo à restauração social do mundo, uma vez que pela fé o crente em Cristo sendo restaurado à imagem de Deus, reconstitui suas relações com seu próximo. Calvino devolveu ao cristianismo a comunhão espiritual que Cristo estabelece entre os membros de seu corpo, fazendo com que estes supram as necessidades uns dos outros. Esta igualdade é da vontade de Deus. Conforme o reformador: "A vontade de Deus é que haja tal analogia e igualdade entre nós. Cada um socorra os indigentes na medida de suas possibilidades, a fim de que alguns não sofram necessidades enquanto outros têm em supérflua abundância".
A preocupação de Calvino de que a igreja tivesse esta prática fez com que ele recriasse o serviço diaconal. Mas ele sempre advertiu que todos os cristãos são responsáveis uns pelos outros. Genebra foi o primeiro lugar na Europa a ter leis especiais que proibiam: jogar fezes, urina e lixo nas ruas; fazer fogo ou usar fogão num cômodo sem chaminé; ter uma casa com sacadas ou escadas sem que as mesmas tenham grades de proteção; permitir que as parteiras deitem-se em suas camas com os bebês recém-nascidos (a lei visava proteger o nenê da contaminação); alugar uma casa sem o conhecimento da polícia; sendo comerciante, cobrar além do preço permitido ou roubar no peso e também (e isso se estendia aos produtores), estocar mercadorias para fazê-la faltar no mercado e assim encarecê-la.
Calvino considerava os negócios como uma forma legítima de servir a Deus e de trabalhar para a sua glória. Ele via a circulação de dinheiro e os bens e serviços como uma forma concreta da comunhão dos santos, e defendia que aqueles que se envolviam nos negócios deveriam ter como objetivo ajudar os pobres e os ricos. Ele pensava que seria bom restaurar o ano do jubileu - uma redistribuição periódica da riqueza de modo que essa brecha nunca se tornasse permanente.
Em um sermão, ele disse: "Deus mistura os ricos e os pobres para que eles possam encontrar-se e ter comunhão uns com os outros, de modo que os pobres recebam e os ricos repartam". Assim sendo, defendeu alguma intervenção por parte do governo para a proteção do bem comum, a fim que "os homens respirem, comam, bebam e mantenham-se aquecidos" (Institutas IV.20.3).
Os pastores em Genebra também intercediam diante do Conselho em favor dos pobres e dos operários. O próprio Calvino intercedeu várias vezes por aumentos de salários para os trabalhadores. Os pastores pregavam contra a especulação financeira, e fiscalizavam parcialmente os preços contra a alta provocada pelos monopólios.
Debaixo da influência dos pastores, o Conselho limitou a jornada de trabalho dos operários. A vadiagem foi proibida por leis: os vagabundos estrangeiros que não tivessem meios de trabalhar deveriam deixar Genebra dentro de três dias após a sua chegada. E os vagabundos da cidade deveriam aprender um ofício e trabalhar, sob pena de prisão. O Conselho instituiu cursos profissionalizantes para os vadios e os jovens, para que eles pudessem entrar no mercado de trabalho.
O pensamento social de Calvino pode ser resumido assim:

a) É necessário começar por saber qual a atitude que o Senhor deseja que tenhamos diante dos bens materiais: quais os meios lícitos de ganhá-los e qual o seu uso adequado e legítimo.
b) Não devemos buscar os bens terrenos por cobiça. Se vivermos na pobreza, devemos suportá-la pacientemente; se tivermos riquezas, não devemos nos prender a elas nem confiar nelas, devendo estar dispostos a renunciá-las se isso convier a Deus. Tanto o possuir como o não possuir devem ser indiferentes e sem maior valor, considerando a bênção de Deus como maior do que todas as coisas, buscando o reino espiritual de Jesus Cristo sem nos envolvermos em ambições iníquas.
c) Trabalhemos honestamente para ganhar a vida. Recebamos nossos lucros como vindos das mãos de Deus. Não usemos de má fé para nos apossarmos dos bens dos outros, mas sirvamos ao próximo com consciência limpa. Que o fruto de nosso trabalho seja o salário justo. Ao vender e ao comprar não usemos de fraude, astúcia ou mentira. Apliquemos ao nosso trabalho a mesma honestidade e lealdade que esperamos dos outros.
d) Finalmente, quem nada possui não deixe de render graças a Deus e de comer seu pão com alegria. Quem muito possui não use de glutonaria, de luxo, de orgulho e de vaidade, gastando dinheiro com coisas supérfluas; antes, seja em tudo moderado, e empregue seus bens em ajudar e socorrer o próximo, reconhecendo-se como quem recebeu seus bens de Deus e que deles há de um dia prestar contas. Devemos nos lembrar que o que tem em abundância use apenas o necessário para que o que nada tem não fique privado.

Em resumo, assim como Jesus Cristo deu-se por nós, também comuniquemos ao próximo, com amor, as graças que recebemos, ajudando-o na sua pobreza e socorrendo-o na sua miséria. Isto é o que nos cabe fazer.

IV. ULRICH ZWÍNGLIO

Ulrich Zuínglio (1484-1531) nasceu em Wildhaus, uma pequena aldeia nos Alpes da Suíça de língua alemã, dois meses depois do nascimento de Lutero, em 1º de janeiro de 1484. Sua formação foi grandemente influenciada pelo espírito liberal do Humanismo.
Humanismo  “Doutrina que se situa expressamente numa perspectiva antropocêntrica, em domínios e níveis diversos, assumindo, com maior ou menor radicalismo, as conseqüências daí decorrentes. Manifesta-se o humanismo no domínio lógico e no ético. No primeiro, aplica-se às doutrinas que afirmam que a verdade ou a falsidade dum conhecimento se definem em função da sua fecundidade e eficácia relativamente à ação humana; no segundo, aplica-se àquelas doutrinas que afirmam ser o homem o criador dos valores morais, que se definem a partir das exigências concretas, psicológicas, históricas, econômicas e sociais que condicionam a vida humana” (Dic. Aurélio).
A reforma na Suíça não seria um resultado direto da obra de Lutero, mas sim uma reforma paralela à da Alemanha. Houve pontos de contato, mas a origem foi independente. Em seus sermões atacou ensinamentos e práticas da Igreja que se afastavam da Bíblia e da simplicidade do cristianismo original.
Em 1506, Zuínglio recebeu seu título de Mestre em Artes, foi ordenado sacerdote, e serviu na paróquia de Glarus. Lá ele continuou seus estudos, chegando a dominar o grego, sendo um feito extraordinário, pois havia muitos sacerdotes que nunca tinham lido o Novo Testamento! Diz-se que Zuínglio chegou a decorar todas as epístolas paulinas – em grego!
Por volta de 1516, depois de estudos diligentes no NT, Zuínglio foi despertado para a fé evangélica. Esse acontecimento levou Zuínglio a voltar-se para as Escrituras com fervor ainda mais sincero.
Zuínglio também passou a sentir hostilidade contra o sistema medieval de penitências e relíquias (como a imagem negra da Virgem Maria), que atacou em 1518. Zuínglio criticou severamente a veneração aos santos e relíquias, as promessas de curas milagrosas e os abusos na prática das indulgências. Por basear suas afirmações nas Escrituras, obteve grande apoio popular.
Logo depois, em 1519, Zuínglio foi chamado para ser o sacerdote da Grande Catedral da cidade de Zurique, onde ficou até o fim da vida. Sobre o portal dessa igreja, pode-se ler a seguinte inscrição: "A reforma de Ulrich Zuínglio começou aqui, em 1º de janeiro de 1519".
Em 1523, compareceu ao Conselho de Zurique onde reivindicou a supremacia das Sagradas Escrituras sobre os dogmas da Igreja e opôs-se ao celibato e à concepção sacramental da Eucaristia. O Conselho deliberou e decidiu pela independência do cantão de Zurique que, com Zwinglio, tornou-se uma Teocracia.
Um dos grandes momentos da Reforma ocorreu no início daquele ano, quando Zuínglio começou o culto com a proclamação da sua intenção de pregar sermões expositivos, capítulo por capítulo, começando no Evangelho de Mateus. Esta série de sermões foi seguida por preleções em Atos, em 1 e 2 Timóteo, Gálatas, 1 e 2 Pedro, até que em 1525, já havia pregado em todo o NT (menos Apocalipse), daí voltando-se para o Antigo.
Segundo seu amigo e sucessor Henrique Bullinger (1504-1575), ele recusava-se "a cortar em pequenos pedaços o evangelho do Senhor". Ao permitir que a Bíblia falasse diretamente à sua congregação, Zuínglio presenciou uma ávida corrida de seus paroquianos para escutá-lo, enchendo a Catedral.
Neste ínterim, instigadas pelo papa, as regiões católicas da Suíça se organizaram, e em 1531 realizaram um ataque de surpresa contra a cidade de Zurique. Zuínglio perdeu a vida enquanto servia como capelão das tropas de Zurique, na batalha de Kappel, e suas últimas palavras foram: "Vocês podem matar o corpo, mas não podem matar a alma".
Em 1523, Zuínglio havia dito: "Não tenham medo, meus amigos! Deus está do nosso lado, e protegerá os que são seus. Vocês de fato realizaram algo grandioso e encontrarão oposição por causa da pura Palavra de Deus, sobre a qual apenas alguns se importam de pensar. Vão em frente, em nome de Deus!"
Zuínglio encontrou-se com Martinho Lutero em 1529, mas não chegaram a um acordo sobre numerosas questões, entre elas as que tratavam dos problemas da consubstanciação e transubstanciação.
Duas de suas obras fundamentais, A Exposição e a Prova das Teses (1523, em que apresenta 67 teses de sua doutrina), e “De vera et falsa religione comentarius” (1525), onde analisa essas teses de sua doutrina, são dedicadas ao monarca Francisco I, da França.

IV. AS RAMIFICAÇÕES DA REFORMA

I. O CALVINISMO

João Calvino (1509-1564), teólogo francês considerado pelas igrejas protestantes, da tradição reformada, como principal expoente da Reforma protestante. Recebeu instrução para o sacerdócio e estudou Direito. Em 1536, publicou o “Christianae religionis institutio” (A instituição da religião cristã), obra que o colocou na vanguarda do protestantismo. Neste mesmo ano, visitou Genebra, chamado por Guilherme Farel, para participar do movimento reformista da cidade, do qual foram ambos expulsos.
Em 1541, voltou a Genebra para, novamente, dirigir o movimento reformista. Redigiu o rascunho das novas Ordens — que o Governo modificaria e adaptaria como constituição — regulamentando, simultaneamente, assuntos sagrados e profanos. Propôs a melhoria das condições de vida dos habitantes através da construção de hospitais e instalação de novas indústrias. Nesta época, Genebra foi ameaçada pelos exércitos católicos comandados por Emanuel Philibert, duque de Savóia.

1. TEOLOGIA

Segundo Calvino, a natureza da teologia e de todas as instituições humanas estão especificadas na Bíblia. Calvino procurou aproximar-se da palavra de Deus e exortou a Igreja a recuperar sua pureza original. Em “Christianae Religionis Institutio”, sua principal obra, articulou a teologia bíblica de maneira racional, seguindo o credo apostólico. Os quatro livros da edição definitiva (1559) estão concentrados nos artigos Pai, Filho, Espírito Santo e Igreja.
Calvino sublinhou a transcendência da soberania de Deus, a natureza da opção e da predestinação, os pecados do orgulho e da desobediência, a autoridade das Escrituras e a natureza da vida cristã. Cada um destes ensinamentos foi utilizado, de alguma forma, como doutrina central do calvinismo. Sua teologia foi considerada subjacente à tradição paulino-agostiniana. João Calvino tentou seguir um caminho intermediário entre a ênfase exclusiva na divina providência e a insistência apenas na responsabilidade humana.
Define-se Calvinismo como sendo a teologia cristã do reformador da Igreja João Calvino. Dentre seus dogmas incluem-se a soberania absoluta de Deus e a doutrina da justificação por meio da fé. Para Calvino, não existia o livre arbítrio; ele elaborou também uma doutrina da predestinação. A Bíblia constitui a única norma para uma vida de fé. Muitos de seus princípios tiveram implicações sociais, como o que determina que a economia e o trabalho penoso fazem parte da virtude moral.
No século XVII, em muitos lugares o calvinismo foi adotado por grupos protestantes, como o movimento huguenote na França e o puritanismo na Inglaterra. Huguenotes foi o nome pelo qual ficaram conhecidos os protestantes franceses de meados do século XVI, na maioria seguidores de Calvino.
A princípio, foram bem aceitos por muitos intelectuais e membros da nobreza e gozaram da proteção do rei Francisco I, que depois retirou o seu apoio a eles. Porém, o número de protestantes franceses aumentou, provocando preocupação e receio entre os católicos.
O ódio religioso foi intensificado pela rivalidade política entre a dinastia Valois, que ocupava o trono francês, e a dinastia Guise, conduzindo o país à guerra civil. Entre 1562 e 1568, sucederam-se oito sangrentos confrontos entre católicos e protestantes franceses. Henrique IV promoveu uma conciliação com os católicos, convertendo-se em 1563.
Em 1598, promulgou o Edito de Nantes, que proporcionava aos huguenotes uma liberdade religiosa quase completa. Entretanto, Luís XIII e, sobretudo, Luís XIV instigaram novas perseguições, que levaram à revogação do Edito, em 1685.
As perseguições, conseqüência do desaparecimento da liberdade religiosa, provocaram a fuga de centenas de huguenotes. Muitos se refugiaram na região montanhosa de Cevenas (França) e passaram a ser conhecidos pelo nome de “camisards”.
Ao longo do século XVIII, os protestantes franceses foram, gradualmente, recuperando seus direitos religiosos, e a aprovação de várias leis, no fim do século XIX, concedeu finalmente a plena liberdade religiosa a todos os grupos religiosos franceses.

II. PRESBITERIANISMO

Presbiterianismo, uma das Igrejas dos movimentos presbiteriano e reformador. As Igrejas desta tradição originaram-se na Reforma protestante do século XVI.
O governo dos anciãos caracteriza a organização das Igrejas Presbiteriana e Reformada. Sua estrutura mistura elementos democráticos e hierárquicos. O poder equilibra-se entre as congregações e os corpos mais elevados do governo eclesiástico. Cada congregação é governada por uma sessão ou consistório e está integrada a um presbitério que coordena suas atividades em uma área geográfica.
Os membros do presbitério são pastores e anciãos de um conjunto de congregações. A autoridade de nomear sacerdotes pertence ao presbitério. Os presbíteros pertencem aos sínodos, unidades geográficas maiores, a uma assembléia ou a um sínodo geral que representa toda a Igreja.
As raízes do presbiterianismo estão na teologia de João Calvino (1509-1564), cujo objetivo era estabelecer uma Igreja governada pelo princípio do Novo Testamento, que fala do dever do ancião. Calvino, contudo, não insistiu em que o presbiterianismo fosse a única forma de governo permitida pela Bíblia (ver Calvinismo).
Embora a Bíblia seja a autoridade máxima, as Igrejas Presbiterianas também são conhecidas como Igrejas Confessionais por emitirem declarações sobre teologia e práticas eclesiásticas. O culto presbiteriano permite flexibilidade nas formas e práticas, mas baseia-se na definição de Calvino sobre as características da Igreja: a proclamação do Evangelho e a celebração dos sacramentos.
John Knox (1503-1572), reformador religioso escocês, fundador da Igreja presbiteriana na Escócia. Era sacerdote católico quando, atraído por George Wishart, reformador escocês, ingressou na Igreja anglicana e, em 1511, foi nomeado Capelão-real.
Quando a católica Maria Tudor tornou-se Maria I, rainha da Inglaterra (1553), Knox fugiu para Genebra onde conheceu João Calvino. Na volta, apoiou a rebelião protestante contra a regência. Em 1560 a confissão de fé dos reformadores, redigida principalmente por Knox, foi adaptada pelos Estamentos (assembléias protestantes) e pelo Parlamento escocês e recebeu status de credo.
O retorno de Maria I à Escócia reviveu antigas rivalidades, mas o Partido Protestante retomou, finalmente, o controle. As leis de 1560, favoráveis à religião reformada, foram ratificadas. Knox continuou exercendo considerável influência. Sua obra mais conhecida é A história da Reforma na Escócia, publicada em 1581 e 1664.

III. OS BATISTAS

Os Anabatistas, grupos religiosos protestantes que surgiram na Europa durante a Reforma, acreditavam que a fé que cada pessoa tivesse em Deus era de suprema importância. Eles defendiam a não-violência e eram radicalmente contra as igrejas governadas pelo Estado.
Este movimento se baseava em congregações voluntárias de convertidos e batizavam seus membros adultos, mesmo que já tivessem sido batizados na infância. Os grupos anabatistas mais representativos são os Irmãos Suíços, os Irmãos de Hutterian e os menonitas.
Os Batistas formam um grupo protestante, cujos membros aceitam os princípios básicos da Reforma do século XVI, embora tenham acrescentado outras crenças e práticas, que incluem, inclusive, o batismo, ministrado somente a adultos e por imersão, a separação da igreja e o estado e a autonomia das igrejas locais. A importância dos batistas provém da ênfase especial que colocam nestas e noutras crenças, como também no grande número de membros.
A grande maioria dos batistas (quase 30 milhões por volta da década de 1980) estão repartidos dentro de 27 grupos nos Estados Unidos, país onde constituem entre um terço e a metade de toda a população protestante. Apesar de os batistas de hoje adotarem os princípios e crenças religiosas dos anabatistas, ainda existem alguns estudiosos que insistem em negar a existência de uma verdadeira conexão entre estes dois grupos.
Segundo eles, o movimento batista contemporâneo teria surgido no começo do século XVII na Holanda e na Inglaterra, sob a direção de John Smith e Thomas Helwes, líderes separatistas ingleses da Igreja anglicana.

IV. OS METODISTAS

Os Metodistas compõem um movimento protestante que data de 1729, quando um grupo de estudantes da Universidade de Oxford (Inglaterra) começou a reunir-se para praticar o culto e os serviços cristãos. Deram ao grupo o nome de ‘Clube Santo’ e a seus membros de ‘metodistas’, pela forma metódica com que realizavam suas práticas religiosas.
Dentro do grupo de Oxford estavam John Wesley, considerado o fundador do metodismo, e seu irmão Charles. Os irmãos Wesley apoiavam-se no arminianismo e rejeitavam a ênfase calvinista na predestinação. Eram partidários da doutrina da perfeição cristã e da salvação pessoal por meio da fé.
Pouco tempo depois da morte de John Wesley em 1791, seus seguidores começaram a dividir-se em vários grupos religiosos, com pequenas diferenças doutrinárias. Em 1881 realizou-se uma conferência metodista ecumênica com o objetivo de coordenar os distintos grupos espalhados pelo mundo. Desde então e a cada determinado tempo, fazem esse tipo de reunião.
Os metodistas admitem dois sacramentos: o Batismo e a Ceia do Senhor, que pode ser interpretada de duas formas: uma, para celebrar a presença de Cristo e outra para manter o estrito sentido comemorativo.
John Wesley (1703-1791), teólogo e pregador inglês, fundador do Metodismo. Em 1725, ordenou-se diácono e, três anos depois, passou a fazer parte do clero da Igreja Anglicana.
Fundou, em Oxford, com seu irmão Charles, o Holy Club cujos membros deviam cumprir, com rigor e método, os preceitos e as práticas religiosos, entre eles, visitar prisioneiros e confortar enfermos. Por este motivo, foram chamados, ironicamente, de “metodistas” pelos companheiros de universidade. Wesley enfatizava a religião pessoal e alcançou grande popularidade assegurando que todos eram filhos de Deus.
Em 1784, publicou uma declaração que estabelecia regras para as congregações metodistas. No mesmo ano, encarregou seu ajudante Thomas Coke, um clérigo anglicano, da organização metodista nos Estados Unidos, outorgando-lhe poderes para ministrar sacramentos. Estas ordenações significavam um passo decisivo para a ruptura com a Igreja Anglicana, embora a separação só tenha ocorrido depois de sua morte.

V. OS MENONITAS

Os Menonitas sugiram como um grupo religioso evangélico protestante, na Suíça, em 1520. Eles apoiavam o reformador Zwinglio. Sua ruptura com o reformador deveu-se à divergência de opinião sobre o batismo dos meninos, daí passarem a ser classificados e chamados de “anabatistas”. Como se negavam a aceitar o conceito de uma Igreja estatal, a aprovar a guerra ou o serviço militar, foram vítimas de perseguições.
Na mesma data surgiu um movimento paralelo nos Países Baixos, liderado por Menon Simons, de cujo nome deriva os menonitas, o qual assumiu uma posição mais radical. Defende o ideal da comunidade religiosa, baseada nos modelos do Novo Testamento.
A Bíblia é interpretada segundo a consciência de cada um, ela é a única autoridade quanto a assuntos doutrinais. Os ministros da fé não são mediadores entre Deus e os fiéis. Celebram a Ceia do Senhor, mas não como um sacramento.

VI. OS CRISTÃOS-NOVOS

Cristãos-novos era o termo que designava, em Portugal e no Brasil colonial, a condição de todo judeu que se convertia ao cristianismo. No final do século XV, no reinado de D. Manuel I, o Venturoso, foi imposto aos judeus o batismo. O clima de intolerância religiosa e o interesse do absolutismo em garantir a homogeneidade religiosa do país, já que a Igreja submetia-se ao rei (padroado) explicam essa medida política.
A maioria dos conversos, entretanto, permaneceu fiel a sua religião original, o que gerou posteriormente reação da Inquisição (ver Inquisição em Portugal).
Os cristãos novos tiveram importante papel econômico no mundo português, inclusive no comércio de açúcar e metais preciosos. Somente no governo do marquês de Pombal foram eliminadas as distinções entre cristãos velhos e novos.
Apesar de abrir as procissões dos autos-de-fé, o estandarte da Inquisição não permaneceu como símbolo desse período da História. A imagem emblemática daquela época trágica são as fogueiras que queimaram e torturaram milhares de "hereges".

V. A CONTRA-REFORMA

A reação católica começou em 1541, com severas medidas para reprimir o Protestantismo. Os principais objetivos da reação foram:

a) Expurgar a Igreja, começando com o clero manchado por abuso e imoralidades;
b) Quebrar as forças de ação do Protestantismo;
c) Reconquistar o terreno perdido;
d) Dar novo vigor às atividades missionárias romanas.

Foram três os meios empregados pela igreja católica contra o Protestantismo: (1) a Sociedade de Jesus; (2) a Inquisição e (3) o Concílio de Trento.

1. A SOCIEDADE DE JESUS

O seu fundador foi Inácio de Loyola, um soldado que aos 28 anos de idade recebeu grave ferimento que o aleijou para o resto da vida. Sua vida tomou outro rumo. Sentiu então o desejo de se aproximar de Deus e alcançar a paz divina. Entrou num convento, e depois de penitências, lançou os seus pecados aos pés do Criador, e por fé alcançou a certeza de perdão de sua alma, e pôs sua vida a serviço de Deus.
Até então ele tinha seguido as pegadas de Lutero. Loyola, porém seguiu outra direção, pois ainda era integralmente um homem da Idade Média. Cria sem nenhuma dúvida que a Igreja Romana fora divinamente ordenada por Deus. Para ele a verdadeira religião consistia em devoção absoluta, trazer de volta os que tinha abandonado a igreja, quebrar as forças dos oponentes, e aniquilar todo pensamento contrário.
Em 1540, a Sociedade de Jesus foi formalmente organizada com Loyola, e mais nove pessoas. Tanto sacerdotes como leigos eram recebidos na Ordem. O propósito da Sociedade de Jesus era promover o progresso eclesiástico e lutar contra os inimigos da igreja católica, por todos os meios possíveis. Era um trabalho incessante de total lealdade ao papa, de maneira inquestionável.
Cada membro dessa sociedade jurava lealdade aos seus superiores imediatos, como se eles estivessem no lugar de Jesus Cristo, com capacidades de julgar os erros dos membros.
Os jesuítas eram enviados a diversos lugares pelo mundo, fazendo reuniões interessantes, abrindo escolas e promovendo obras assistenciais, combatendo as idéias protestantes. Outro método era de caráter político. Os jesuítas dedicaram a inspirar nos governos católicos, o ódio aos protestantes, o que resultou grandes perseguições aos protestantes em vários países.
Essa pressão fez os jesuítas os dominadores da igreja católica. O espírito deles era o da Contra – Reforma e o seu ideal era esmagar os dissidentes, principalmente o Protestantismo.

2. A INQUISIÇÃO

Os líderes da Contra Reforma defenderam com todas as forças a crença medieval, de que era justo o uso da força contra a heresia. Mas a igreja romana tinha seus próprios meios de repressão. Junto com a inquisição operava a Congregação do Index, que condenava os livros com os quais a Igreja não concordava.
Esta lista de livros condenados incluía todos os escritos protestantes, e todas as versões da Bíblia, exceto a Vulgata. A atividade da congregação não se limitava em apenas combater os protestantes, mas também todo o pensamento que conduzisse ao progresso. Várias pesquisas e estudos de toda natureza foram praticamente aniquilados na Itália e na Espanha.
O tribunal da Inquisição foi um instrumento de terror, atraso utilizado pela igreja católica contra todos que divergissem sua doutrina (chamados de hereges). Essas pessoas eram submetidas a interrogatórios, durante os quais eram torturadas até confessarem seus crimes. Os judeus foram alvos prediletos da Inquisição, sendo obrigados a se converterem ao cristianismo, caso contrário eram condenados a morte na fogueira. Os rituais eram realizados em praça pública.
O catolicismo atingiu o seu ponto mais baixo em 1560. O Protestantismo tinha prevalecido em muitos países e parecia ter muitas conquistas em perspectivas. Em 1566 a igreja romana tomou ofensiva, chefiada por Pio V, que foi o papa de espírito combativo. Os métodos já referidos o capacitaram a atacar o Protestantismo com uma força ainda não utilizada. Teve também o apoio de fortes governos, especialmente do imperador alemão, e dos soberanos da França e da Espanha.
Iniciou-se a reconquista. Em grandes regiões do império alemão. Os governantes que até então eram tolerantes ao protestantismo, foram possuídos de um ódio tremendo, imbuídos do espírito da Contra Reforma. Pelo trabalho dos jesuítas, e pelas perseguições, essas regiões se tornaram oficialmente católicas. Tais regiões incluíam a Áustria, Stíria, Caríntia, Bavária e grande parte da região do Reno. Aconteceu o mesmo na Polônia. Nos países baixos a Contra-Reforma conquistou as províncias do Sul.
O maior desses empreendimentos foi dirigido contra a Inglaterra. Era claro que enquanto a Inglaterra conservasse o seu poder, o protestantismo não podia ser aniquilado. Foi então que a Igreja Católica tentou dar o golpe de morte a seu inimigo mais poderoso, enviando sob comando de Felipe II, da Espanha, a Grande Armada espanhola contra a Inglaterra. Mas a resposta inglesa, e uma terrível tempestade destruíram a Grande Armada, e a Inglaterra protestante foi salva.
Resumindo, a Contra-reforma, movimento que nasceu dentro da Igreja Católica Apostólica Romana nos séculos XVI e XVII e tentou revitalizar a Igreja, opondo-se ao protestantismo. A própria igreja se recusa a aceitar este termo e preferem as denominações de Reforma ou Restauração católica. Além disto, apontam a espiritualidade dos líderes do movimento que não tinham nenhuma relação direta com a Reforma protestante.
O século XV se caracterizou pelas exigências de uma reforma dentro da Igreja Católica para corrigir os abusos religiosos e como reação ao escândalo do Grande Cisma do Ocidente. Só quando Paulo III se tornou papa, em 1534, a Igreja atingiu a força necessária para enfrentar o desafio do aparecimento dos protestantes.
Sua mais destacada atuação foi o Concílio de Trento, em 1545. Uma poderosa corrente de repressão, iniciada em torno de 1542, invadiu o catolicismo romano quando este instituiu o Index Livrorum Proibitorum (Índice dos livros proibidos) e promoveu o recrudescimento da Inquisição.

3. O CONCÍLIO DE TRENTO

Um dos abomináveis e desumanos instrumentos de combate a Reforma Protestante, que foi assim chamado porque se reuniu em Trento, norte de Itália, no Tirol, de 1545 a 1563, e durou 18 anos, em três fases distintas. No final do mesmo, a Igreja Romana tinha formulado uma declaração completa da sua doutrina. Assim ela dispunha de novas armas em sua batalha, para conquistar o que havia perdido.
Em Trento, a Igreja Católica iniciou uma redefinição de seus dogmas essenciais, ao longo das três fases. A primeira fase (1545-1547) tratou dos temas colocados pelos protestantes, dedicando-se a justificá-los. A segunda fase (1551-1552) concentrou-se na questão dos sete sacramentos.
No período final (1561-1563) foram tratadas condições disciplinárias, frisando o problema da residência episcopal, considerado, unanimemente, um assunto chave para a execução da Reforma.

3.1. AS CONSEQÜÊNCIAS DO CONCÍLIO DE TRENTO

Além de resolver questões doutrinárias e disciplinares fundamentais para os católicos, o Concílio também impregnou seus dirigentes de um espírito de coesão essencial para a revitalização da Igreja durante o período seguinte também conhecido como Contra-reforma.
Inquisição em Portugal (Tribunal do Santo Ofício), estabeleceu-se oficialmente em Portugal no século XVI (1547). Seu objetivo era manter puro os dogmas da fé católica (ver Igreja Católica Apostólica Romana). Para isto, prendia, processava e punia os hereges (ver Heresia), ou seja, aqueles que, sendo cristãos, não acreditavam na doutrina da Igreja ou não cumpriam seus deveres espirituais. Foi instalado pelo papa, a pedido do rei, em uma época que cumpria ao Estado zelar pela pureza da fé de seus súditos.
A inquisição portuguesa perseguiu protestantes, portugueses descendentes de islâmicos, os chamados mudéjares, homossexuais, muitas mulheres, geralmente, acusadas de bruxaria e, principalmente, cristãos-novos, isto é, judeus que tinham sido obrigados a receber o batismo. Todos, segundo a crença oficial, capazes de ameaçar a soberania do trono na metrópole e nas colônias.
O Tribunal do Santo Ofício funcionou com apoio do rei e da Igreja. Existia marcada hierarquia que começava no inquisidor-geral, seguindo-se os inquisidores, deputados, qualificadores, comissários, notários, promotores, até chegar, na base da pirâmide, a anônimos cidadãos.
Estes eram pessoas comuns que, aceitas nos quadros da inquisição - depois de demonstrar conhecimento de assuntos da fé, capacidade de guardar segredo, posses materiais e, principalmente, provar ter sangue limpo que, na linguagem inquisitorial, significava não descender de judeus - contavam aos superiores qualquer problema de heresia que viessem a saber.
O Tribunal atuava em suas sedes ou através de visitações feitas a determinados lugares ou regiões. Nelas, ouvia denúncias e confissões, perdoando ou dando início aos processos, conforme a gravidade do caso.
A inquisição portuguesa teve três tribunais no reino: Lisboa, Coimbra e Évora, esta última particularmente violenta. No Ultramar, apenas em Goa funcionou um tribunal. Os julgamentos podiam demorar meses. Mas quem caía nas mãos do Santo Ofício sabia que o menos pior que poderia lhe acontecer era a desgraça pública. Mesmo quem não era condenado a morrer na fogueira, tinha os bens confiscados e recebia a pena de humilhação: não podia falar com ninguém, afastava-se dos familiares e vestia, obrigatoriamente, uma bata que o apontava como condenado da inquisição.
Para obter uma confissão, a igreja aprovara o uso de tortura, aplicada pelos padres envolvidos nos interrogatórios. A ordem dominicana (ver Ordem dos predicadores), a mesma de Tomás de Torquemada, o famoso inquisidor espanhol, foi particularmente atuante na caça aos hereges e judeus.
Após uma condenação, o condenado tinha direito a suplicar clemência. Entre a sentença e sua execução, às vezes corria mais de um ano. As execuções aconteciam em Autos da Fé, procissões que começavam pela manhã com os condenados vestindo suas melhores roupas, caminhando em direção às fogueiras armadas no atual Rocio ou às margens do rio Tejo, em Lisboa. O Auto, era uma festa para a população que se comprimia para assistir o espetáculo e, muitas vezes, contou com a assistência da família real: rei, rainha e infantes. Por isto mesmo - e por considerá-lo didático - a igreja o esticava por muitas horas. Era comum os condenados esperarem que os inquisidores fizessem uma refeição festiva, antes de ouvirem a sentença final.
Podia acontecer de um ou outro ser perdoado na última leitura da sentença e receber uma pena mais leve. Os realmente destinados às fogueiras tinham dois destinos. Se admitissem a culpa, recebiam um garrote antes de o fogo ser aceso. Se não o fizessem, insistindo em jurar inocência, eram queimados vivos. A tal ponto a inquisição tornou-se violenta que muitos condenados que morreram de causas naturais antes da execução da sentença, foram enterrados e, na época do Auto de Fé, desenterrados para que seus corpos pagassem a culpa devida.
Tanta perseguição provocou, entre os cristãos-novos, uma fuga maciça de Portugal. Como não podiam atravessar a fronteira da Espanha porque uma ordem real impedia, determinando que os cristãos-novos fugitivos de Portugal e presos em território espanhol fossem levados diretamente à fogueira, restava a eles a opção dos arquipélagos Madeira e Açores e o Brasil.
É significativo o número de cristãos-novos que emigraram para o Brasil nos três séculos em que, oficialmente, funcionou a inquisição portuguesa, encerrada no século XIX (1821).
O Brasil e as ilhas atlânticas ficaram sob a jurisdição do Tribunal de Lisboa. Para aqui vieram algumas Visitações como as da Bahia (1591 e 1618), a de Pernambuco (1593) e a do Pará (1762). O processo inquisitorial era diferente na medida em que podia ser interrompido no momento em que houvesse a confissão completa. A tortura foi aplicada, mas não como regra. A escala penal também não era fixa, dependendo da gravidade da falta e da atitude do réu: ia desde a admoestação à pena pecuniária.
No entanto, houve casos de cristãos-novos serem repatriados do Brasil para Portugal, onde acabaram sendo executados na fogueira. Entre eles destaca-se o escritor Antônio José, conhecido pelo apelido de: O Judeu.

VI. O PROTESTANTISMO PELO MUNDO

INTRODUÇÃO

O Protestantismo, uma das três principais divisões religiosas da cristandade, junto com a Igreja Católica e a Ortodoxa, começou, no século XVI, como um movimento reformista da Igreja cristã ocidental e culminou na Reforma protestante, separando as Igrejas reformadas da católica. Seu objetivo era restaurar a verdadeira fé cristã.
As quatro principais igrejas protestantes que emergiram nessa época da Reforma são: Luterana, conhecida como evangélica na Europa continental; Calvinista ou Reformada, Anabatista e Anglicana. Todas estas igrejas rejeitam a autoridade do papa e enfatizam a importância da Bíblia e da fé individual.
A publicação das 95 Teses de Martinho Lutero, em 1517, marca o começo da Reforma. Em princípio, Martinho Lutero atacou a venda indiscriminada de indulgências para financiar a construção da basílica de São Pedro, em Roma, e queria realizar reformas ideológicas dentro da Igreja. Mas deparou-se com forte oposição. Recusando-se a rever suas posições, Lutero negou a autoridade de Roma e foi excomungado. Suas idéias se estenderam por toda a Alemanha e, em seguida, pela Europa.
Alguns anos depois, surgiu um movimento reformista mais radical em Zurique, na Suíça, dirigido pelo pastor suíço Ulrich Zwinglio (1484-1531). O reformista dominante da geração posterior foi João Calvino (1509-1564). Suas idéias eram menos radicais que as de Zwinglio, mas favoreciam um severo sistema político que unisse o Estado e a Igreja com o propósito de manter a moral e a doutrina corretas.
A Igreja Anglicana, no reinado de Eduardo VI e Isabel I, chegou a se tornar uma instituição protestante, conforme foi definido nos Trinta e Nove Artigos da Igreja.
No século XVII, foi definida a ortodoxia protestante, enfatizando a autoridade da Bíblia e uma lógica religiosa mais rigorosa. Em 1670, surgiu, na Alemanha, o pietismo como resposta ao intelectualismo protestante. A influência do pensamento científico e do Iluminismo na teologia protestante se refletiu no racionalismo, uma tendência que surgiu entre os séculos XVII e XVIII.
Sua expressão mais pura foi o Deísmo – sistema teológico que rejeitava toda espécie de revelação divina e, portanto, a autoridade de qualquer Igreja, mas que aceitavam a existência de um Deus, destituído de atributos morais e intelectuais, e que poderia ou não ter influenciado na criação do Universo.
Outra forma de racionalismo protestante do século XVIII foi o Unitarismo – grupo herético, que se dizia protestante, mas que negava o dogma da Trindade, reconhecendo em Deus uma só pessoa.
A reação contra as tendências intelectuais e formalizantes do protestantismo continuou durante o século XVIII com o surgimento de vários movimentos evangélicos que se mantinham fiéis aos princípios da experiência religiosa pessoal com Deus. Na Inglaterra, este movimento de reação adotou o nome de Metodismo e, nas colônias americanas, Evangelismo.
Durante o século XIX, o protestantismo transformou-se em movimento mundial como resultado de intensa atividade missionária. Além disto, tornou-se cada vez mais variado à medida que surgiam novas seitas e tendências religiosas, como o liberalismo teológico que defendia um cristianismo liberal e desvinculado com os princípios bíblicos.
O século XX produziu duas reações contra o liberalismo teológico. Uma foi o Fundamentalismo, movimento evangélico que se baseava na infalibilidade da Bíblia. A outra, a Teologia da Crise, ligada ao teólogo suíço Karl Barth (1886-1968).
Um fator importante foi a aparição do Movimento Ecumênico que favoreceu a união de muitas igrejas protestantes, das mais variadas tendências religiosas, e que levou à formação do Concílio Mundial de Igrejas (1948). Foram estabelecidos diálogos com a Igreja Católica, Ortodoxa e com outras crenças não-cristãs.

A. O PROTESTANTISMO NA ALEMANHA

1. PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DA REFORMA LUTERANA

A religião luterana tinha um caráter nacional na medida em que rompeu com o papado e colocou os pastores dessa igreja sob a direção dos príncipes alemães. A igreja luterana simplificou os rituais religiosos, tendo excluído todos os sacramentos da igreja católica, exceto dois - o batismo e a eucaristia - segundo Lutero, instituídos pelo próprio Cristo.
A confissão passava a ser feita diretamente com Deus. Todo homem era considerado capaz de interpretar livremente a Bíblia. A reforma luterana foi uma reforma moderada que favoreceu a nobreza feudal e a grande burguesia.
A nobreza feudal foi favorecida tanto pelo fato de que os pastores dessa igreja ficavam sob a direção dos príncipes, como também pelo fato dela haver se apoderado das terras da igreja. A grande burguesia foi favorecida, na medida em que se viu liberada das grandes obrigações financeira para com a igreja católica, permanecendo tais rendas na Alemanha.

2. HISTÓRIA DO LUTERANISMO

A evolução inicial do luteranismo foi influenciada pelos acontecimentos políticos. O imperador Carlos V não pôde impedir o avanço luterano porque estava ameaçado pelos turcos. Seguiram-se guerras religiosas intermitentes que terminaram com a Paz de Augsburgo (1555), onde foi determinado que a religião do governante de um território, dentro do Sacro Império Romano-Germânico, deveria ser a mesma de seus súditos. Desta forma, as igrejas luteranas receberam autorização oficial para acolher fiéis. Após a Guerra dos Trinta Anos, o luteranismo sobreviveu e consolidou-se.
As origens do pietismo remontam ao final do século XVII quando foi proclamada a conversão individual, que revitalizou o luteranismo na Alemanha, permitindo que a Reforma se estendesse a outros países. Durante o século XVIII, a teologia luterana refletiu-se no racionalismo, exacerbado pelo Iluminismo.
No século XIX, o teólogo alemão Friedrich Schleiermacher (1769-1834) enfatizou a experiência religiosa universal e exerceu grande influência sobre os luteranos liberais. Ao mesmo tempo, o idealismo, principal movimento da filosofia moderna alemã, teve profundos efeitos no pensamento teológico luterano. No século XX, a neo-ortodoxia existencialista do teólogo calvinista suíço Karl Barth (1886-1968) foi a influência mais importante na teologia luterana.
Martinho Lutero (1483-1546), teólogo e reformador religioso alemão, iniciou a Reforma protestante. Personagem fundamental da história moderna européia, sua influência alcançou não somente a religião, mas a política, a economia, a educação, a filosofia, a linguagem, a música e outras áreas culturais.
No verão de 1512, doutorou-se em Teologia na Universidade de Wittenberg e assumiu a cátedra de Teologia Bíblica, que conservou até a morte. Foi atuante pregador, professor e administrador. Ao estudar o Novo Testamento para a preparação de suas aulas, convenceu-se de que os cristãos são salvos não por seus próprios esforços e méritos, mas pelo dom da graça de Deus, aceita pela fé.
Em 1517, Lutero expôs, na porta da Igreja de Todos os Santos de Wittenberg, suas 95 teses, escritas em latim (ver Língua latina), contra a venda de indulgências. Lutero defendeu suas opiniões, energicamente, nos debates universitários públicos em Wittenberg e outras cidades. Em 1520, esta posição acabou provocando um inquérito, por parte da Igreja romana, que acabou com a condenação a seus ensinamentos e sua excomunhão pelo papa Leão X.
Na Dieta de Worms pediram-lhe que se retratasse ante as autoridades seculares e eclesiásticas, mas ele se negou. O eleitor Federico, o Sábio, manteve-o em seu castelo de Wartburg, onde Lutero iniciou a tradução do Novo Testamento do original grego (ver língua grega) para o alemão (ver Língua alemã), importante contribuição para o desenvolvimento da língua alemã.
Em 1529, Lutero publicou seu pequeno catecismo onde explica, em linguagem simples, a teologia da Reforma evangélica. Proibido de assistir à Dieta de Augsburgo por ter sido excomungado, Lutero delegou a defesa dos reformadores, formulada na Confissão de Augsburgo (1530), a seu colega e amigo, o humanista Felipe Melanchthon. Sua influência estendeu-se ao norte e a leste da Europa e seu prestígio contribuiu para que Wittenberg se tornasse um centro intelectual.
Destacam-se, entre outras obras, Da liberdade do cristão (1519), Manifesto à nobreza cristã da nação alemã (1520), O cativeiro babilônico da Igreja (1520) e Da Escravidão do Arbítrio (1525).

3. A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

O luteranismo proclama a autoridade definitiva da Palavra de Deus. A salvação é um presente da graça soberana e a fé, a única forma para se chegar à salvação.
O princípio básico da religião luterana é o da justificação pela fé. Através desse princípio, Lutero dava maior valor à fé do que às boas obras praticadas pelos fiéis como meio de ganhar a salvação. O fiel, para ganhar o paraíso, não deveria jejuar e sim se submeter totalmente à vontade de Deus.
A Bíblia é considerada o núcleo fundamental do culto luterano. O luteranismo também recomenda a consulta aos Livros Apócrifos do Antigo Testamento e aceita a autoridade dos três credos ecumênicos (Apóstolos, Nicéia e Atanásio), contidos no Livro da Concórdia. Os sacramentos foram reduzidos ao batismo e à eucaristia porque, segundo a interpretação luterana das Escrituras, somente estes dois foram instituídos por Cristo.
Sem alterar demais a estrutura da missa medieval, o luteranismo estimulou a participação comunitária no culto. Ao contrário dos sacerdotes católicos romanos, o clero luterano pôde contrair matrimônio.
No que se refere à organização e ao governo da Igreja, as comunidades luteranas européias estão vinculadas a seus respectivos governos como igrejas oficiais. Nos países não-europeus, as igrejas são organizações religiosas voluntárias.

4. AS CONSEQÜÊNCIAS DA REFORMA LUTERANA

A Revolta dos Cavaleiros (1522-1523): Os cavaleiros pertenciam à pequena nobreza que estava sendo empobrecida com a concentração da terra nas mãos dos grandes príncipes leigos e eclesiásticos. Imbuídos da doutrina luterana, que pregava uma igreja nacional e a subordinação do poder espiritual ao temporal, os cavaleiros levantaram-se contra os príncipes católicos. Essa revolta liderada por Ulrich Von Wutten e Francis Von Sickingen foi rapidamente dominada pela grande nobreza.

A Guerra Camponesa de 1523-1525 (a Revolta Camponesa de Thomas Münzer): entre os seguidores de Lutero, os mais radicais eram os anabatistas. Em matéria de religião, eram extremamente individualistas, rejeitando qualquer sacerdócio e acreditando que Deus continuava a se comunicar diretamente com os eleitos. Do ponto de vista social, a seita anabatista era composta por camponeses empobrecidos, por aprendizes de tecelão, ou seja, pelas camadas mais baixas da sociedade alemã. Seu principal líder era Thomas Münzer, que pregava o desaparecimento da propriedade privada. Os camponeses e os aprendizes das cidades revoltaram-se contra o domínio da grande e pequena nobreza, dos sacerdotes e dos cidadãos ricos das cidades.

Os camponeses revoltosos queriam que lhes fossem devolvidas as terras comunais, usurpadas pelos senhores e a diminuição do tributo em espécie e em trabalho. Na Alemanha Central, o movimento tornou-se tipicamente revolucionário, com os camponeses exigindo a abolição da servidão e a posse comunitária da terra.
Em toda a Alemanha eram queimados os conventos e os castelos da nobreza feudal. Em algumas regiões, as cidades auxiliaram o movimento camponês. A falta de união e organização nas forças camponesas facilitou o seu esmagamento pela grande nobreza, aliada aos cavaleiros, aos burgueses, à igreja luterana e à igreja católica. O próprio Lutero incentivou o esmagamento dos camponeses. Mais de 100 mil foram mortos e Münzer foi decapitado.
A Paz Religiosa em Augsburgo: as terras clericais passaram para a mão da grande nobreza. Mesmo alguns bispos abandonaram a igreja católica e se tornaram senhores dos principados eclesiásticos. A igreja católica, vendo-se enfraquecida, permitiu que alguns príncipes católicos ficassem com as suas terras. Mas, no período compreendido entre 1530-1540, houve um aumento do número de príncipes protestantes.
Carlos V, imperador do Santo Império, era católico. Temendo perder a coroa para algum príncipe protestante, pois o imperador era eleito pelos príncipes, Carlos V voltou-se contra os príncipes protestantes. Os principados, vendo na ação do imperador uma tentativa de fortalecimento do seu poder, agitaram-se. Alguns príncipes católicos se aliaram aos príncipes protestantes, que também recebiam ajuda dos reis de França, e derrotaram Carlos V.
Assumiu o poder Fernando I que, em 1555, assinou a paz religiosa de Augsburgo, onde ficou estabelecido que a religião do príncipe seria a religião do principado. Assim sendo, o norte da Alemanha tornou-se protestante e o sul, católico.
A Reforma Luterana, pelo fato de favorecer a nobreza feudal, expandiu-se pelos países dominados por essa nobreza, tais como Suécia, Dinamarca e Noruega.
Vemos, com isso, que a Reforma Protestante foi um movimento predominantemente de transformação religiosa, iniciado fora da própria igreja e em oposição a ela. Seria um erro considerar a Reforma como puramente um movimento religioso, pois este movimento teve implicações econômicas, políticas e sociais na medida em que refletiu as lutas de classe entre nobreza, burguesia, artesãos e camponeses do início da Idade Moderna. Na Suíça, os responsáveis pela Reforma foram Ulrich Zuínglio e João Calvino.
A história do protestantismo alemão nos anos seguintes a Reforma, é desalentadora. Teve início uma era de disputas teológicas inúteis.

5. ORTODOXIA LUTERANA

Um dos resultados destas disputas teológicas foi à elaboração em 1577, de um credo chamado “A Fórmula da Concórdia”. Ela condenava a doutrina da predestinação. As igrejas eram frias e cheias de formalidades.

6. PIETISMO

Nessa época surgiu um movimento de vigor e poder espiritual, conhecido pelo nome de Pietismo. Seu primeiro líder foi Filipe Jacó Spener, que como pastor em Frankfurt, Spener muito se esforçou para que seu povo alcançasse um Cristianismo ardente e sincero. Pregava sermões de caráter prático e fervoroso. Insistia na verdade da regeneração. Spener reavivou a doutrina básica da Reforma, o sacerdócio universal dos crentes.
O Pietismo inspirou em outras terras, forte impulso pelo poder espiritual, o que produziu grandes resultados. A Irmandade Morávia foi um resultado desse movimento.

7. OS MORAVIANOS

Teve como seu fundador o Conde Nicolau, nobre austríaco que foi profundamente influenciado pelo Pietismo. Quando tinha apenas 21 anos de idade, comprou um território na Saxônia, com o intuito de levar a termo seu plano. Em pouco tempo foi essa região habitada de um modo providencial.
Certos membros da irmandade da Boêmia, corpo religioso resultante da obra de João Huss, tendo sido perseguidos na Morávia, conseguiram permissão de Nicolau para se estabelecerem no território a ele pertencente. Assim começou a formação dessa irmandade que recebeu o nome de Abrigo do Senhor.

7.1 AS MISSÕES MORAVIANAS

As atividades missionárias, que tornaram famosos os moravianos, começaram em 1731. Dois grupos deles foram enviados a São Tomé, nas Índias Ocidentais, e dois outros foram enviados para Groelândia, onde o herói norueguês Hans Egede já tinha plantado o evangelho.
Seguiu-se uma verdadeira torrente de missionários, de sorte que durante a vida de Nicolau, havia muitos de seus irmãos trabalhando na Europa, Ásia, África, Américas do Norte e Sul. Em qualquer onde se encontrassem, demonstravam a mesma coragem, consagração e amor a todos os homens.

B. O PROTESTANTISMO NA INGLATERRA

INTRODUÇÃO

Igreja Anglicana, também conhecida no Brasil como Igreja Episcopal é, atualmente, a igreja oficial da Inglaterra. Mais especificamente corresponde ao ramo da Igreja cristã que, desde a Reforma, recebeu o nome de Anglicana. A disciplina da Igreja inglesa foi, originalmente, introduzida e estabelecida por missionários itinerantes e, posteriormente, pelos monges celtas e gauleses, até a chegada de Agostinho de Canterbury às terras inglesas, no ano de 597.
A partir desta data, as práticas dos cristãos celtas foi gradativamente “padronizada” e convenientemente “adaptada” aos ritos da Igreja Romana. No Sínodo de Whitby, no ano de 664, decidiu-se romper a união com a Igreja da Irlanda. Depois da vitória dos normandos sobre os anglo-saxões na famosa batalha de Hastings, em 1066, a influência continental fortaleceu a união entre a Igreja inglesa e o papado. Durante o período medieval, os reis ingleses procuravam formas de limitar o poder e a influência de Roma na igreja e na vida dos cidadãos ingleses, mas não obtiveram sucesso, até a subida de Henrique VIII ao trono.

1. DOUTRINA

A doutrina da Igreja Anglicana baseia-se nos Trinta e Nove Artigos e no Book of Common Prayer (livro de orações habituais), de 1562, que contém os antigos credos de um cristianismo não dividido. A religião anglicana difere da católica principalmente por negar a autoridade do papa, além de autorizar a ordenação de mulheres como sacerdotes.

2. RESUMO HISTÓRICO

Foi Henrique VIII quem provocou a ruptura com a Igreja Católica ao se divorciar de sua primeira mulher, Catarina de Aragão, filha de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, os reis católicos da Espanha. Como deste casamento só nascera uma filha mulher — mais tarde, a rainha Maria Tudor I —, e tendo-se apaixonado por Ana Bolena, levaram Henrique VIII pedir ao papa, em 1527, a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão. O divórcio foi negado e o rei tentou, durante alguns anos, solucionar o problema sem provocar conflitos com Roma.
Finalmente, em 1532, Henrique VIII tomou a decisão de romper com o papa. Em janeiro de 1533, o rei desposou Ana Bolena e, em 1534, o Parlamento inglês aprovou o  Estatuto da Supremacia que transformava Henrique VIII, e todos os seus descendentes, em chefe supremo da Igreja da Inglaterra, ou Igreja Anglicana.
Entre 1529 e 1536, as ações do Parlamento marcaram o início da Igreja Anglicana como igreja nacional. Henrique VIII recebeu o apoio dos ingleses.
Após a morte de Henrique VIII, em 1547, o trono inglês viria a ser ocupado pelo rei Eduardo VI. Apesar de ser apenas um garoto, ele conduziu seu país ao Protestantismo. Este movimento foi provavelmente devido ao fato de Eduardo ter sido treinado por conselheiros protestantes. Com seu zelo de jovem, Eduardo abriu a porta para a doutrina e a prática protestante fluir e crescer à medida que os anos se passavam.
Todavia, a morte prematura de Eduardo VI levou a uma radical e criminosa mudança na Inglaterra. Esta mudança trouxe de volta a guerra pelo trono que foi finalmente tomado por Maria Tudor I, em 1553, por Maria Tudor I – filha de seu primeiro casamento com Catarina de Aragão, em 1553, e com isso, a Inglaterra voltou a subjugar-se à obediência papal.
Maria I foi sucedida por Elizabeth I (filha de Henrique VIII e Ana Bolena) em 1558, e a maioria das leis eclesiásticas de Henrique VIII foi reimplantada.
Após a morte de Elizabeth I, o trono inglês foi ocupado por Jaime I (1603), filho de sua prima, a rainha Maria Stuart da Escócia. A inquietação decorrente das mudanças religiosas associou-se aos conflitos entre o Parlamento e o Absolutismo. Surgiu um novo problema quando Jaime II tentou reimplantar o catolicismo romano, mas se viu obrigado a ceder seu trono, depois da revolução de 1688, a Guilherme III e a Maria II.

3. OS PURITANOS

A origem do puritanismo está ligada às confusões amorosas do rei Henrique VIII (1509-1547) e à chegada do protestantismo continental à Inglaterra. O movimento puritano, em seus primórdios, foi claramente apoiado e influenciado por João Calvino (1509-1564), que a partir de 1548 passou a se corresponder com os principais líderes da reforma inglesa. Em 1534 é promulgado o Ato de Supremacia, tornando o rei o “governante supremo da Igreja da Inglaterra”. Este decreto separou a Igreja da Inglaterra do controle de Roma, todavia mesmo com esta separação a Inglaterra continuou amplamente católica na prática e na doutrina.
Com a anulação do seu casamento com Catarina de Aragão, filha dos reis católicos de Espanha (da qual nasceu Maria Tudor) e sobrinha de Carlos V, o rei Henrique VIII e o Parlamento inglês separam a Igreja da Inglaterra de Roma, em 1536.
Nesse ano, Miles Coverdale publicou a Bíblia completa em inglês. Os livros de Lutero circulavam livremente em Oxford e Cambridge. A princípio, Henrique VIII buscou favorecer a Reforma, mas depois, de 1539 a 1547, moveu uma perseguição aos protestantes.
Em 1539, foram aprovados pelo Parlamento os Seis Artigos, que tornavam obrigatória a crença em doutrinas características da Igreja Católica Romana: a transubstanciação, a comunhão sob uma espécie, o celibato e a confissão auricular. Na teologia, a Igreja continuou fiel a Roma. O rei morreu doutrinariamente católico romano. A Reforma, então, teve início na Inglaterra pela autoridade do rei e do Parlamento.
Em 1547, Eduardo VI, um menino muito enfermo, tornou-se rei. A Reforma protestante avançou rapidamente na Inglaterra, pois o Duque de Somerset, o regente do trono, simpatizava-se com a fé reformada. Naquele mesmo ano, o Parlamento autorizou os leigos a tomarem o cálice da comunhão e repeliu os Seis Artigos.
Em 1549, legalizou o casamento dos clérigos e determinou que os cultos não mais deveriam ser em latim, mas em inglês. Thomas Cranmer, o grande líder da Reforma na Inglaterra, publicou o Livro de Oração Comum, dando ao povo a sua primeira liturgia em inglês.
Maria Tudor I, católica romana, tornou-se rainha em 1553. Assessorada pelo Cardeal Reginald Pole, em 1554 ela restaurou a sua religião. Em 1555, ela intensificou a perseguição os protestantes. Trezentos deles foram martirizados, entre eles, o arcebispo de Cantuária, Thomas Cranmer, e os bispos Latimer e Ridley. Oitocentos protestantes fugiram para o continente, para cidades como Genebra e Frankfurt, onde absorveram os princípios doutrinários dos reformadores continentais.
Durante seu reinado de cinco anos, ela ativamente restaurou o sistema católico e começou a livrar sistematicamente a Inglaterra dos protestantes. Esta atividade deu-lhe o renomado nome de “Maria, a sanguinária”.
Em 1558, aos 25 anos, Elizabeth I (1533-1603) ascendeu ao trono e estabeleceu o “Acordo Elizabetano”, que era insuficientemente reformado para satisfazer àqueles que logo seriam conhecidos como “puritanos”. Em seguida, Elizabete promulgou o Ato de Uniformidade (1559), que autorizou o Livro de Oração Comum e restaurou o Ato de Supremacia, e com ele, surgiu o pensamento de que as guerras religiosas da Inglaterra estavam "resolvidas".
Mas isso só durou por um curto período. Mesmo com esta "paz", muitos na Inglaterra ainda clamavam por reformas maiores na Igreja. Este clamor por mais reformas originou um grupo de pessoas que viria a formar uma grande parte dos fundamentos batistas. Este grupo era conhecido como “os puritanos”.
Em 1562 foram redigidos os Trinta e Nove Artigos da Religião, que são o padrão histórico da Igreja da Inglaterra, e a partir de janeiro de 1563 foram estabelecidos pelo Parlamento como a posição doutrinária da Igreja Anglicana (juntamente com o Livro de Oração Comum, que é católico, mas destituído de seus elementos supersticiosos). Como teste de ortodoxia, os estudantes de Oxford tinham que subscrever os Artigos, assim como todos os ministros e professores de religião. Em Cambridge, as leis não eram tão rígidas.
Em torno de 1567-68, uma antiga controvérsia sobre vestimentas atingiu seu auge na Igreja da Inglaterra. A questão imediata era se os pregadores tinham de usar os trajes clericais prescritos. Entretanto, essa controvérsia era apenas um símbolo da questão maior a respeito de cerimônia, ritual e liturgia na igreja, os “trapos do papado”. A controvérsia marcou uma crescente impaciência entre os puritanos com relação à situação de uma igreja “reformada pela metade”.
Thomas Cartwright, professor da Universidade de Cambridge, perdeu sua posição por causa de suas pregações sobre os primeiros capítulos de Atos, nas quais argumentou a favor de um cristianismo simplificado e uma forma presbiteriana de governo eclesiástico.
A primeira igreja presbiteriana foi a de Wandsworth, fundada em 1572. Um pouco antes disso, em 1570, Elizabeth I fora excomungada pelo Papa Pio V.
Elizabeth I morreu em 1603, sem deixar herdeiros. Ela indicou como seu sucessor Tiago I, filho de Maria Stuart, que já governava a Escócia. Quando o rei foi coroado, os puritanos, por causa da suposta formação presbiteriana do rei, inicialmente tiveram esperança de que sua situação melhorasse.
Para enfatizar sua esperança eles lhe apresentaram, quando de sua chegada em 1603, a Petição Milenar, assinada por cerca de mil ministros puritanos, em que pediam que a igreja anglicana fosse completamente “puritana” na liturgia e administração.
Em 1604, encontram-se com o novo rei na conferência de Hampton Court para apresentar seus pedidos. O rei ameaçou “expulsá-los da terra, ou fazer pior”, tendo dito que o presbiterianismo “se harmonizava tanto com a monarquia como Deus com o diabo”. Em 1620, um grupo de puritanos congregacionais emigrou para a colônia de Plymouth, Massachusetts, Estados Unidos, a bordo do famoso Mayflower.
Em 1625, Carlos I, opositor dos puritanos, foi coroado rei. Em 1628, William Laud tornou-se bispo de Londres (em 1633 foi nomeado Arcebispo de Cantuária) e empreendeu medidas severas para eliminar a dissidência da Igreja Anglicana. Ele buscou instituir práticas cerimoniais consideradas “papistas”, além de ignorar a justificação pela fé, por causa de suas ênfases arminianas, oprimindo violentamente os puritanos e forçando-os a emigrarem para a América.
Em 1630, John Winthrop liderou o primeiro grande grupo de puritanos até a Baía de Massachusetts, e em 1636 foi fundado o Harvard College. Laud tentou impor o anglicanismo na Escócia, só que isto degenerou num motim que serviu para aliar puritanos e escoceses calvinistas.
Em 1638, os líderes escoceses reuniram-se numa “Solene Liga e Aliança”, e seus exércitos marcharam contra as tropas do rei, que fugiram. Em 1640, o Parlamento restringiu o poder do rei Carlos I. As emigrações para a Nova Inglaterra estacionaram consideravelmente.
Tristemente, a maioria das pessoas hoje não possui uma compreensão apropriada dos puritanos. Eles tendem a ser interpretados como velhos fanáticos que só queriam estragar o prazer de todo mundo. Contudo, a visão moderna dos puritanos está longe da verdade. Talvez a contribuição seguinte sobre os verdadeiros puritanos nos coloque no caminho para um entendimento correto:
A questão essencial em entender os puritanos é que eles eram pregadores antes de qualquer outra coisa. Quaisquer que fossem seus esforços eles eram conduzidos por sua preocupação em reformar o mundo através da Igreja e, todavia estes esforços foram frustrados pelos líderes da Igreja. O que os manteve unidos, encorajou seus esforços, e deu-lhes a dinâmica para persistirem foi a sua consciência de que eram chamados para pregar o Evangelho. Os puritanos queriam ver a verdadeira reforma bíblica alcançar a Igreja.
Estes antigos puritanos foram conduzidos pelo Bispo Hooker e Thomas Cartwright e começaram a clamar por uma Igreja “pura”. Contudo, a rainha e a Igreja da Inglaterra não estavam dispostas a discutir com estes puritanos e assim começaram a forçar a conformidade religiosa pela lei. Assim encerrou-se um breve período de paz religiosa.

4. A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER

Conseguindo a maioria no Grande Parlamento, os Puritanos, afinal, alcançaram poder para tomar a Igreja na Inglaterra como desejavam. Dessa maneira foi convocada pelo parlamento da Inglaterra, a Assembléia de Westminster de 1643 a 1649, composta pelos principais teólogos puritanos.
A essa assembléia coube a responsabilidade de apresentar os planos para uma reforma definitiva na igreja nacional. Ao mesmo tempo no propósito de alcançar o auxílio da Escócia na guerra contra o rei Carlos, aceitou a “Liga Solene” e o “Pacto”, este último era uma ampliação do “Pacto Escocês”, e obrigava os que o aceitassem, a defender a igreja, como também tornar em conformidade com elas as igrejas da Inglaterra e da Irlanda.
A Assembléia de Westminster, assim chamada por reunir-se na Abadia de Westminster, templo anglicano de Londres, foi convocada pelo Parlamento da Inglaterra em 1643 para deliberar a respeito do estabelecimento do governo e liturgia da igreja e “para defender a pureza da doutrina da Igreja Anglicana contra todas as falsas calúnias e difamações”.
Essa memorável assembléia é considerada a mais notável assembléia protestante de todos os tempos, tanto pela distinção dos elementos que a constituíram, como pela obra que realizou e ainda pelas corporações eclesiásticas que receberam dela os padrões de fé e as influências salutares durante esses trezentos anos.
A Assembléia era constituída de 121 clérigos e 30 membros do Parlamento. Entre eles se encontravam homens de vasta e profunda erudição teológica, além de se distinguirem pelo seu ardor religioso e pelo seu caráter. Encontravam-se episcopais, entre os quais o arcebispo James Ussher, os erastianos, que entendiam com Erastus, de Heidelberg, que o Estado devia ser a sede final da autoridade eclesiástica, a cujo grupo pertencia o popular e erudito John Lighfoot, autor das célebres Horae Hebraicae e Talmudicae, os independentes (ou congregacionais), incluindo Thomas Goodwin, mais tarde capelão de Cromwell, e Philip Nye, regressados do exílio na Holanda, os presbiterianos Edmund Calamy, Thomas Gataker, Edward Reynolds e Herbert Palmer.
O moderador nomeado pelo Parlamento foi o Dr. William Twisse – ele mesmo um presbiteriano –, homem dos mais célebres de seus dias pela sua erudição teológica, coroado de honras na Universidade de Oxford e conhecido em toda a Europa pelos seus escritos.
Havia também oito representantes da Escócia, entre eles, Samuel Rutherford, professor de teologia e deão do St. Mary’s College em St. Andrews, um dos mais populares pregadores daquele país. Estes eram altamente influentes, mas não tinham direito a voto. A Escócia era aliada do Parlamento por um tratado, a “Solene Liga e Aliança”.
Apesar das diferenças nos conceitos de governo eclesiástico e nas relações da Igreja com o Estado, havia uma real unanimidade a favor de uma posição consistentemente calvinista, rejeitando como erros o arminianismo, o catolicismo romano e os sectários (diggers, fifth-monarquians, levellers, quakers).
A Confissão de Fé de Westminster, completada em dezembro de 1646, é a última das confissões reformadas clássicas e decididamente a mais influente no mundo de fala inglesa e mesmo além dele. Richard Baxter, que não participou da Assembléia, a seu modo um gigante entre os puritanos, deu seu testemunho favorável.
Os teólogos aí congregados eram homens de grande erudição, piedade, capacidade ministerial e fidelidade e, segundo a informação de toda história a esse respeito e de outras fontes de evidência, o mundo cristão nunca teve, desde os dias apostólicos, um sínodo de teólogos mais excelente do que este, e o Sínodo de Dort (1618-19).
Embora tenha regido a Igreja da Inglaterra apenas por um breve período, a Confissão de Fé foi adotada de um modo geral por presbiterianos britânicos, escoceses e americanos, bem como por muitos grupos congregacionais e batistas.
Essa assembléia escreveu e submeteu a apreciação do parlamento, uma Constituição completa para a Igreja da Inglaterra. Além de um esquema para o governo eclesiástico, foi apresentada a “Comissão de Fé”, considerada como credo para uso da igreja.
O projeto foi aprovado pelo parlamento, que ratificou assim o sistema de governo presbiteriano. Mas ele nunca foi aceito plenamente. Não foi fácil a aplicação dessa forma de governo, em razão da confusão reinante no país, provocada pela guerra entre o parlamento e o rei Carlos.

5. OLIVER CROMWELL - LORDE PROTETOR DA INGLATERRA

Em 1645, Laud foi executado e irrompeu uma guerra civil. Graças à habilidade militar de Oliver Cromwell, os “Ironsides” (a cavalaria puritana bem treinada e disciplinada), que constituíam o padrão do exército parlamentar (o New Model Army), derrotaram o exército do rei, na batalha de Naseby. A guerra civil terminou no ano seguinte e a forma episcopal de governo eclesiástico foi abolida da Igreja da Inglaterra.
Em 1649, Carlos I foi executado e Oliver Cromwell, um congregacional, assumiu o papel principal no governo inglês, até sua morte em 1658. Como Lorde Protetor da Inglaterra, Cromwell, não satisfeito com o controle presbiteriano do Parlamento, o dissolveu, com o apoio do exército, de maioria congregacional. Ele era tolerante em assuntos de religião e ao morrer deixou um herdeiro fraco demais para substituí-lo.
Mas, em 1660, com a ascensão de Carlos II ao trono, a monarquia foi restaurada na Inglaterra e a constituição política episcopal foi restabelecida na Igreja Anglicana.
Através de um novo Ato de Uniformidade (o famoso Código Clarendon), em 1662, o uso exclusivo de um Livro de Oração Comum revisado foi reforçado, enquanto mais de dois mil pastores puritanos foram demitidos ou destituídos de suas paróquias. Entre eles estavam Manton, John Owen, Goodwin, Burgess, Richard Baxter, Calamy, Poole, Caryl, Charnock, Gouge, John Howe, Vincent, John Flavel e Philip Henry – o pai de Mathew Henry, o famoso comentarista da Bíblia.
Quem não fosse anglicano não poderia colar grau nas Universidades de Oxford e Cambridge, e isto ocasionou a fundação de muitas academias não-conformistas. Tal fato marcou o fim do período puritano, iniciando-se então o “não-conformismo”.
O puritanismo não conseguiu substituir as estruturas de razoabilidade que o anglicanismo ofereceu à nação inglesa. As estruturas sociais anglicanas permaneceram, em tese, as mesmas do catolicismo romano, expurgado de suas superstições mais escandalosas. Apenas para uma pequena e influente minoria esta situação não era satisfatória; e esse grupo era chamado de “os puritanos”.
Eles perderam as grandes batalhas públicas que enfrentaram, mas legaram um testemunho que, com o não-conformismo, transformou a nação inglesa a longo prazo.
Em todos esses eventos, o apoio de Calvino ao movimento de reforma da Igreja na Inglaterra não foi apenas circunstancial, através de escritos e cartas endereçadas à primeira geração de reformadores britânicos, mas também se verificou através de uma herança teológica de grande influência para as gerações puritanas subseqüentes (presbiteriana, congregacional e batista), estabelecendo um padrão de ortodoxia e piedade que atinge todas as esferas da vida.

6. OS SEPARATISTAS

Estas exigências de conformidade da parte da forças políticas e religiosas da Inglaterra originaram um grupo conhecido como os “Separatistas”. Os princípios por trás deste movimento eram a liberdade da Igreja do domínio do Estado, doutrina pura ao invés de doutrina diluída ou comprometida, e reforma geral da Igreja.
Os separatistas tomaram a Bíblia a sério e determinaram-se a conduzir suas vidas por seus ensinos. Eles enfatizavam que a Igreja era formada somente por aqueles que foram redimidos, não um corpo de oportunistas politicamente orientados.
Eles se recusavam a crer que a Bíblia ensinasse um governo eclesiástico hierárquico (governo de cima para baixo), ao invés disso clamando por um governo eclesiástico que tivesse alguma participação do povo (governo a partir dos níveis mais rasteiros).
Eles preferiam uma liturgia simples de adoração que enfatizasse o Deus Santo. Eles sentiam que os documentos estatais e os auxílios escritos da Igreja da Inglaterra levavam as pessoas a focalizarem sobre as formas e não sobre o Deus Soberano; por isso estes tipos de “auxílio” eram detestados.
Foi deste tipo de clamor por pureza na Igreja, tanto na adoração como na prática diária, que a “denominação batista” como é conhecida hoje, emergiu através do movimento separatista inglês. A melhor evidência histórica confirma esta origem, e nenhum grande erudito se levantou nesta metade de século para desafiá-la.
À execução do rei em 1649, segui-se o estabelecimento do governo da comunidade. Não obstante a muitas incertezas dominantes no período desse governo, havia liberdade religiosa. Não se permitia, porém a liberdade ao romanismo, e a velha forma da igreja inglesa, pois eram consideradas perigosas. Além disso, havia igreja de várias denominações, como presbiterianos, congregacionais, batistas, etc.

7. A SOCIEDADE DOS AMIGOS (OS QUAKERS)

Nessa época surgiu a “Sociedade dos Amigos”, ou dos “Quakers”. Por muitos anos a Inglaterra foi perturbada pelas disputas religiosas, principalmente as que se relacionavam com a forma de governo. Tudo isso aborrecia os ingleses, que resolveram seguir os ensinamentos de George Fox.
Este ensinava que a igreja deveria seguir as instruções do Espírito Santo, e que não deveria existir nenhuma forma de governo fixo. George Fox foi um dos maiores líderes religiosos do seu tempo e fervoroso evangelista que alcançou grande número de conversões.

8. O GOVERNO NAS MÃOS DOS PURITANOS

Os Puritanos, com o apoio do governo fortaleceram a religião. Foram aprovadas leis que exigiam um alto padrão moral do povo. Essas medidas tornaram o governo impopular entre os ingleses. Devido a esse descontentamento, em 1660, restabeleceram a monarquia, com a elevação de Carlos II ao trono.

A GRANDE EXPULSÃO E PERSEGUIÇÃO

Por se oporem aos acontecimentos, cercas de dois mil ministros presbiterianos, congregacionais e batistas foram expulsos de suas igrejas. Seguiram-se várias tentativas de banir os dissidentes. Atos oficiais proibiam assistências as reuniões que não fossem da igreja oficial. Por não estar em acordo com as leis, na época foi preso por doze anos, o célebre cristão e escritor batista John Bunyan (1628-1688), que na prisão escreveu o livro “O Peregrino”.

DEPRAVAÇÃO MORAL E SOCIAL

Uma terrível onda de imoralidade atingiu a aristocracia inglesa, afetando também as outras camadas da sociedade da época, devido à oposição do parlamento ao Puritanismo. Depois da severidade da regra puritana, a situação tomou um extremo oposto. O rei foi corrupto, e contribuiu para o agravamento da situação. O Puritanismo parecia ter sido aniquilado. Mas isto não aconteceu.

A REVOLUÇÃO

Os acontecimentos dessa época mostraram que o povo preferia que a igreja nacional permanecesse como no tempo da Reforma, ao invés do regime imposto pelos puritanos. Isto não significava que o Protestantismo inglês fosse duvidoso, e a prova se viu, quando Tiago II, sucessor do rei Carlos II, tentou transformar a igreja nacional, em igreja católica romana.
O povo lutou com obstinada coragem, lançando mão de todos os recursos disponíveis para que tal coisa não acontecesse. Apelaram para Guilherme, príncipe de Orange e chefe de estado da Holanda, que enviou seu exército para apoiar o povo inglês. O rei Tiago II fugiu para a França, enquanto Guilherme se tornou soberano na Inglaterra.
Essa revolução que aconteceu em 1689, decidiu em favor da Inglaterra vária questões da mais alta importância, como as seguintes:

a) Que o poder pertencesse ao povo;
b) Que a Inglaterra continuasse Protestante;
c) Que houvesse liberdade de culto.

Mesmo assim, após a revolução, a igreja inglesa passou por períodos de tristeza, devido à frieza de seus líderes, que pouco faziam em prol do avivamento do evangelho. Isso levou o povo a se afastar da igreja, mas os não-conformistas, porém, eram mais vigorosos, e seriam eles que haveriam de influir, e muito, no futuro religioso dessa nação, e conseqüentemente no futuro religioso do mundo.

9. O REAVIVAMENTO POR MEIO DE WESLEY

Em meio às incertezas quanto ao futuro da Igreja na Inglaterra, Deus levantou John Wesley, através do qual haveria de sacudir aquela nação, e trazer ao mundo o impulso religioso mais forte já visto depois da Reforma.
John Wesley nasceu em 1703, em Lincolnshire, paróquia do seu pai, um dos ministros mais zelosos que havia na Inglaterra. Teve como mãe uma mulher de vida santa, e de altas virtudes cristãs. Já adulto, foi estudar em Oxford, destacando-se como homem de letras.
Entrou para o ministério, e por alguns anos serviu na paróquia de seu pai. Depois voltou para Oxford par lecionar grego, e tornou-se líder de um grupo de estudantes que eram escrupulosos e metódicos em termos de religiosidade e deveres escolares. Dessa maneira ficaram conhecidos como Metodistas.
Entre eles estavam o irmão de John Wesley, chamado Charles Wesley, e um estudante pobre chamado George Whitefield.

9.1. A Conversão de Wesley

A convite do general Oglethorp, Wesley foi à Geórgia, como um dos ministros da sua nova colônia na América. Não teve muito êxito, mas, contudo, foi aí que Wesley conheceu alguns missionários morávios, nos quais descobriu uma alegria e confiança em Deus, que julgara jamais ter experimentado. Começou a sentir uma profunda mudança religiosa em sua vida. Voltou depois à Inglaterra, continuando sob a influência dos morávios, culminando com sua conversão que ocorreu em 1738, durante um movimento religioso em Londres. Anos depois ele mesmo descreveu este fato:
“Senti que confiei em Cristo, em Cristo somente, para minha salvação e alcancei grande segurança e a certeza da purificação dos meus pecados, dos meus próprios pecados, e livrei-me da lei do pecado e da morte”.
No ano seguinte a sua conversão ele realizou seu primeiro trabalho, firmando-se como líder de um grande avivamento. Em março de 1739, pregou ao ar livre para um grupo de gente humilde, perto de Bristol. A partir daí Wesley trabalhou infatigavelmente por quase cinqüenta anos.

9.2. Charles Wesley e George Whitefield

Dois valorosos cooperadores no ministério de Wesley. Carlos destacou-se como eficiente pregador, mas a sua principal colaboração para o reavivamento foi dada através dos hinos que ele compôs – cerca de seis mil. Já Whitefield desenvolveu enorme atividade como evangelista itinerante.

9.3. Oposição ao Avivamento

Na obstante os irmãos Wesley e Whitefield serem ministros da Igreja na Inglaterra, eles foram proibidos de pregar nas igrejas oficiais. O alvoroço às vezes provocado nas pregações destes ministros era considerado desagradável aos ouvidos dos moderadores da época, fato que ocorre até nos dias de hoje ao no Brasil. Dessa forma foram excluídos das Igrejas e sofreram amarga oposição dos clérigos da Igreja Oficial.

9.4. Os Evangélicos

Não era possível que um avivamento tão grande, deixasse de afetar a vida da igreja inglesa. Surgiu um partido poderoso, denominado de “Evangélicos”, composto de eclesiásticos, e também de leigos que foram influenciado pelo movimento vivificador. Tal influência se fez sentir na religião pessoal, na pregação e em toda obra ministerial.

9.5. A Pregação do Reavivamento

A pregação por um reavivamento não era, como disse Wesley, nada de novo. Era a proclamação da livre Graça de Deus em Cristo Jesus, e da salvação livre, gratuita, pela fé no Salvador. Era o convite de Deus ao arrependimento e à fé. Os hinos do reavivamento ensinavam e revelavam estas grandes verdades, e o povo as entendia e as aceitava.
Entre esses hinos podem citar-se, “Jesus, Amado Salvador”, “Rocha Eterna”, e muitos outros. A velha história e antiga mensagem do genuíno Evangelho, que por muitos anos fora conhecida na Inglaterra, aparecera agora anunciada com verdadeiro zelo, e verdadeira paixão.

9.6. A Organização da Igreja Metodista

Um dos grandes resultados do reavivamento de Wesley foi à formação da igreja Metodista. Na verdade Wesley não desejava este resultado. Mas a organização de uma nova igreja se viu forçada a acontecer, pois por muitos anos o clero anglicano antipatizou os “Evangélicos” até que eles se tornaram fortes o bastante para se organizarem.
Em 1784, a Igreja Metodista foi definitivamente organizada. Sete anos depois, quando Wesley faleceu, a igreja já contava com cerca 77.000 membros.

9.7. Despertamento Espiritual

Outro resultado ainda maior do reavivamento por meio de Wesley foi à elevação espiritual que afetou todo o país. Milhares de pessoas passaram de um Cristianismo teórico e morto, para um Cristianismo vivo e prático. Muitos deles pertenciam às classes trabalhadoras, e foi assim que uma forte influência espiritual dominou a sociedade inglesa. A própria igreja oficial da Inglaterra e as igrejas livres receberam novo alento, novo espírito em grande proporção.

9.8. Obras Sociais

Esse departamento revelou-se de um modo maravilhoso no desenvolvimento das obras sociais de caráter cristão. Todos os homens sentiam-se impulsionados ao amor entre si e ao serviço em favor de seus semelhantes. Foi nessa época que surgiu o abençoado movimento de ensino bíblico popular, denominado “Escola Dominical”.
A primeira Escola Dominical foi iniciada em 1780 por Robert Raikes, um jornalista cristão, culto e rico. Foi um dos primeiros passos na educação na Inglaterra, e o começo de um movimento mundial das Escolas Dominicais. A escola de Robert Raikes era destinada às crianças pobres, e nela eram ministradas aulas de Educação Religiosa, acompanhada de alfabetização e ética em geral.
Naquela época, ilustres cristãos se destacaram como líderes de movimentos de interesse nacional, tais como: reformas nas penitenciárias, combate ao trabalho de menores, casas de amparo a menores e idosos, além de hospitais.

9.9. O Movimento Missionário Moderno

O maior de todos os resultados do reavivamento de Wesley foi o moderno movimento missionário. O reavivamento deu um impulso para o serviço cristão destinado a obra missionária além mar. Coube a Guilherme Carey, sapateiro e pregador leigo batista, iniciar o movimento missionário. A despeito da oposição, ele impressionou aos seus ouvintes, com a visão que tinha de um mundo pagão, que seria convertido a Cristo.
Em 1792, ele organizou a “Sociedade Batista para a propaganda do Evangelho Entre os Pagãos”. O primeiro missionário enviado foi o próprio Guilherme Carey, destinado a realizar um nobre trabalho na Índia. O exemplo dos batistas foi logo seguido. A “Sociedade Missionária de Londres” foi organizada em 1795, formada principalmente pelos Congregacionais.
Em 1799 os “Evangélicos” fundaram a “Sociedade Eclesiástica Missionária". Os Metodistas também se organizaram. Tal entusiasmo missionário se espalhou pela Escócia, América e pelo continente europeu.

C. O PROTESTANTISMO NA ESCÓCIA E NA IRLANDA

A restauração de Carlos II ao reino da Escócia foi seguida de uma reação semelhante à que houve na Inglaterra. Em 1661, o Parlamento Escocês restabeleceu os bispos na Igreja, e declarou o rei como chefe da Igreja naquele país. Removeu também de suas paróquias muitos ministros, que foram substituídos por homens incompetentes.
Como forma de protesto, a grande maioria da população abandonou as igrejas, para ouvir os ministros expulsos em praça pública ou nas suas próprias casas. O governo então resolveu forçar o povo a assistir às reuniões nas igrejas, valendo-se de leis opressivas.

1. Os Pactuantes Perseguidos

Surgem, então, os Pactuantes – poderosos grupos de pessoas que insistiam em permanecer a antiga forma presbiteriana, contrariando ao rei Carlos II. Contra essas pessoas moveu-se uma cruel perseguição cujo resultado foi torná-la, ainda, mais firme. Entretanto, essa oposição ao governo transformou-se então em rebelião armada, que terminou na batalha da Ponte Bothwell, em 1679, onde os rebeldes foram derrotados.
Em decorrência disso, o movimento se dividiu: uma parte dos Pactuantes cessou a revolta, mas a outra parte permaneceu firme em oposição ao rei, sob o comando de Richard Cameron, e por isso receberam o nome de “Cameronianos”. Esse grupo foi duramente perseguido por todas as partes, mas eles permaneceram firmes, preferindo abandonar suas próprias casas e profissões, a ter que violar suas convicções quanto ao que julgavam ser à vontade de Deus.

2. A Igreja Escocesa volta a ser Presbiteriana

O fim dessa perseguição veio com a ascensão ao poder, de Guilherme e Maria, em 1689. O Presbiterianismo foi, então, restabelecido na Escócia para nunca mais ser perturbado. Alguns “Cameronianos” não aprovaram de todo essa restauração, pois segundo eles não havia sido feita referência ao Acordo, que para eles eram de suma importância. Dessa forma eles se recusaram a fazer parte da Igreja, e se organizaram, criando assim a Igreja Reformada Presbiteriana.

3. O Presbiterianismo na Irlanda

Durante a primeira metade do século XVII, grandes extensões de terra do norte da Irlanda, foram tomadas pelo governo inglês. O povo irlandês que residia naquela região ficou desabrigado e emigrou para o Sul. Suas propriedades foram ocupadas pelos novos colonos que vieram da Escócia e Inglaterra.
Foi assim que a província de Ulster, na Irlanda (atual Irlanda do Norte), veio a ser habitada, quase que toda por gente presbiteriana. Durante o século seguinte eles foram terrivelmente maltratados, e perseguidos pela Igreja Oficial da Irlanda, que era episcopal.
Por isso, entre os anos 1713 a 1775, milhares de escoceses - irlandeses emigraram para a América, onde desempenharam notável papel na formação do povo americano.

VII. SÉCULO XIX

1. CHARLES HADDON SPURGEON
(1834-1892)

Já no século XIX, temos o aparecimento de um dos principais pregadores da história da Igreja, que foi Charles Haddon Spurgeon. Spurgeon foi pastor do Tabernáculo Metropolitano de Londres, e é mundialmente conhecido como O Príncipe dos Pregadores. O Sr. Spurgeon era um mestre da palavra falada e escrita, exercendo uma grande influência na vida e ministério de milhares de pastores e obreiros cristãos, tanto da sua época como das posteriores, sendo assim admirado por todos devido a sua graça, inteligência e sabedoria espirituais.
Um dos grandes evangelistas de todos os séculos, Dwight L. Moody, que ganhou aproximadamente 1 milhão de almas para Cristo, confessou abertamente que sua veemência vinha da Bíblia e de Spurgeon - "Tudo o que ele já disse, eu li. Meus olhos se deleitam nele. Se Deus pode usar o Sr. Spurgeon, por que não deveria Ele usar a nós outros ?". Os sermões de Spurgeon foram publicados semanalmente no maior jornal da Inglaterra durante os anos de 1855 a 1917, ou seja, mesmo após a sua morte.
Em 1861, Spurgeon inaugurou o Tabernáculo Metropolitano de Londres que comportava até 6.000 pessoas e que sempre estava lotado na sua época. Fundou ainda o Colégio Spurgeon, seminário batista onde ele dava aulas, que chegou a ter 1.500 alunos.
Ele morreu em Mentone, no sul da França em 1892, devido a graves problemas de saúde, mas as suas pregações continuam falando e vidas têm sido abençoadas através das riquezas literárias que este grande servo de Deus nos deixou.
O célebre Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) foi um pastor batista muito influente na Inglaterra. Em 1854 iniciou um ministério de 38 anos consecutivos na capela batista na Rua New Park, em Londres e, com apenas vinte e dois anos de idade era o pregador mais popular de Londres.
Em 1861 foi edificado o Tabernáculo Metropolitano nas Ruas Elephant e Castle, um templo com capacidade de abrigar 6 mil pessoas, onde Spurgeon ministrou ininterruptamente até sua morte. Junto ao Tabernáculo foi criado um seminário e uma sociedade de colportagem que enfatizava a distribuição de literaturas. Calcula-se que 14 mil membros foram acrescentados àquela Igreja durante o ministério de Spurgeon. Teve muitos de seus sermões publicados, num total de 3.800 deles!
Na obra "Lições Aos Meus Alunos" encontramos farto material resultante de preleções deste ilustre pregador que bem podem expressar sua preocupação com a relevância que a pregação precisa encontrar nas vidas dos ouvintes. Assim Spurgeon expressa sua preocupação com o desempenho eficiente dos pregadores:
“É desejável que os ministros do Senhor sejam os elementos de vanguarda da Igreja. Na verdade, do Universo todo, pois a época o requer. Portanto, quanto a vocês, em suas qualificações pessoais, dou-lhes este moto: Sigam avante. Avante nas conquistas pessoais, avante nos dons e na graça, avante na capacitação para a obra, e avante no processo de amoldagem à imagem de Jesus”.
Sobre a eficiência na comunicação da Verdade ao povo, Spurgeon afirmava que o ministro só seria verdadeiramente eficiente se fosse apto para ensinar. Sobre ministros inaptos, ele asseverou em tom hilário:
“Vocês sabem de ministros que erraram a vocação e, evidentemente, não têm dons para exercê-la. Certifiquem-se de que ninguém pense a mesma coisa de vocês. Há colegas de ministério que pregam de modo intolerável: ou nos provocam raiva, ou nos dão sono. Nenhum anestésico pode igualar-se a alguns discursos nas propriedades soníferas. (...) Se alguns fossem condenados a ouvir os seus próprios sermões, teriam merecido julgamento, e logo clamariam como Caim: ‘É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo’. Tomara que não caiamos sob a mesma condenação”.
Esta tão bem humorada declaração de Spurgeon demonstra sua preocupação com a relevância da pregação na vida dos ouvintes.

2. HUDSON TAYLOR
(1832-1905)

Hudson Taylor nasceu em Yorkshire na Inglaterra em 1832, em um lar evangélico. Quando criança, Hudson costumava ouvir o seu pai falar sobre a China: - Pôr que não há mais missionários que vão para a China? - Há milhões de Chineses que não sabem absolutamente nada sobre Jesus - reclamava seu pai. O pequeno Hudson com apenas cinco anos dizia: - Eu vou, eu serei um missionário na China!
Seus pais sorriam e entreolhavam-se, pois Hudson era uma criança muito frágil, estava constantemente enfermo. Ele só conseguiu ir para a escola aos 11 anos, mas aos 4, já sabia ler e escrever, pois aprendera com seu pai. Aos 13 anos, Hudson se afastou do evangelho. Não sentia o desejo de ler a bíblia, nem tão pouco de orar. Também foi nessa época que Hudson passou a trabalhar com seu pai, que pacientemente lhe ensinou a medir, misturar e preparar remédios. Podia ler os grossos livros de medicina que pertenciam a seu pai.
Aos 17 anos, aconteceu uma coisa que transformou a vida de Hudson. Era seu dia de folga, sua mãe viajara e ele não tinha nada para fazer. Procurou alguns livros para ler, achou um folheto e foi para a estrebaria, deitou-se confortavelmente no feno e começou a ler. Este folheto falava sobre a obra consumada de Cristo. Naquele momento percebeu que precisava aceitar a salvação em Jesus Cristo. Ajoelhou-se e agradeceu pela salvação de sua alma.
Ele ficou tão feliz que precisava contar para alguém! Resolveu contar para sua irmã Amélia, mas fez ela prometer que não contaria a ninguém. Quando sua mãe chegou de viagem, Hudson correu para encontrá-la. - Tenho boas notícias! Ele exclamou. - Eu sei, estou muito alegre com as notícias que você tem para me contar. - Como a senhora ficou sabendo? Amélia contou? - Não, há duas semanas senti um grande desejo de orar por sua salvação. Fui para o quarto e orei por você. De repente, soube que Deus respondeu e agradeci.
Hudson estava feliz, aos domingos quando terminava o chá da tarde, ele e Amélia começaram a visitar pessoas. Entregava folhetos e falava de Jesus. Lia diariamente a sua Bíblia, acordava às 5:00 h. da manhã para estudar a Bíblia.
O desejo de ir para a China, cada dia crescia em seu coração. Certo dia, conheceu uma bonita jovem, professora de música. Ele a amava profundamente, resolveu conversar com os pais da moça, pedindo-a em casamento. Os pais responderam, sim! Mas, ele teria que desistir da China. Por um momento pensou em desistir, mas lembrou-se dos milhares de chineses que não conheciam o Senhor Jesus. O namoro foi desfeito.
Hudson foi para a Faculdade de Medicina, em Londres. Ele estava ocupado, estudando e trabalhando no Hospital da Faculdade. Certa ocasião, ficou gravemente enfermo. O médico o aconselhou a ir para casa, colocar a casa em ordem, pois ele iria morrer. Hudson lhe respondeu: - Acho que não vou morrer, pois a China espera por mim!". Deus não permitiu que Hudson morresse. Após algumas semanas, estava de volta aos estudos. Em 19 de setembro de 1853, aos 21 anos de idade, Hudson subiu a bordo do navio "Dumfries" e navegou em direção à China. A viagem duraria 5 meses.
Ao chegar em Xangai, ficou hospedado em um quarto de um missionário inglês. Pôr longas horas, Hudson estudava a língua chinesa. Alugou um barco onde transportava uma sacola de remédios e instrumentos médicos. Tinha centenas de folhetos evangélicos e novo testamento que doava àqueles que sabiam ler.
Certa vez, Hudson e o outro missionário estavam indo para outra cidade chamada Tungchow. - É melhor não irem lá. É uma cidade muito má, advertiu um amigo chinês. Mas, Hudson não desistiu. Ao chegarem, os soldados começaram a bater e a dar pontapés em Hudson e no outro missionário. Decidiram levá-los ao Mandarim, que atenciosamente ouviu Hudson explicar a razão de sua vinda. O Mandarim mandou servir chá aos missionários e pediu aos soldados que os protegessem. Hudson logo se identificou com o povo chinês. Cortou os cabelos e os tingiu de preto, e ficou com uma longa trança preta. Usava roupas e calçados típicos dos chineses e comia com palitos.
Quando Hudson mudou para uma cidade chamada Ning-pô, transformou o sótão de sua casa numa escola para meninos, e a outra parte, em uma enfermaria e um refeitório, onde alimentava entre 40 e 70 famintos. A noite, a mesma sala virava um salão de cultos, onde ensinava a palavra de Deus. Perto dali, havia uma escola para meninas chinesas, cuja professora inglesa chamava-se Maria Dyer, que veio a ser sua esposa. Durante a semana Maria juntava as crianças na sala e as ensinava a ler e a escrever, usando como texto a Palavra de Deus, Hudson tratava os doentes, dava de comer aos pobres e pregava a palavra, e foi convidado a assumir um hospital. Houve muitas decisões, mas uma marcou a vida do missionário.
O senhor Ni era um líder religioso. Certo dia passava em frente a missão e decidiu entrar. Após o culto, o senhor Ni aceitou a Cristo e fez a seguinte pergunta: - Há quanto tempo vocês conhecem essas boas notícia em seu país? - Há centenas de anos, respondeu Hudson. - O que? Centenas de anos? Só agora mandaram alguém nos contar? Eu pai procurou a verdade por mais de 20 anos e morreu sem encontrar.
Com tantas atividades Hudson ficou muito doente. Em julho de 1860, ele, Maria e sua filhinha Gracie e o pintor cristão Wang Lae-Dyun, viajaram para a Inglaterra. Hudson foi examinado pelos médicos e aconselhado a não voltar a China. Ao contrário, orou ao senhor pedindo cinco missionários para China.
Logo começou as fazer a tradução do novo testamento para o dialeto Ning-Po. (Havia 11 províncias no interior que não tinha um missionário). Deus ouviu a oração de Hudson e enviou os cinco missionários. Deus falou ao seu coração que deveria pedir mais. Ele temeu e não obedeceu, sentiu-se triste e abatido. Decidiu obedecer e pediu 22 (dois para cada província). Deus os enviou.
Retornaram para a China e fundaram a "Missão do Interior da China". Mas Deus ainda não estava contente e não permitiu que Hudson ficasse satisfeito, pois queria que orasse por mais obreiros. Numa noite Hudson orou: Senhor, envia-nos 70 missionários nos próximos 3 anos. E agradeceram pelos missionários que Deus enviaria. Deus não os desapontou, enviou 78 missionários.
Enquanto Hudson andava pelas colinas, vales e planícies do interior da China, pensava em milhares de pessoas que ainda não ouviram do Senhor Jesus. Orou ao Senhor pedindo 100 missionários para o próximo ano. Em 1887, chegaram 102 missionários.
-Vamos pedir a Deus mais 1000 missionários em 5 anos! Hudson viajou pela Europa, América e Austrália Em cada lugar falava da necessidade de mais missionários para a China. 1153 servos foram testificar de Jesus na China. Para Hudson cada homem, mulher e criança da China e de todo o mundo, era precioso. Ele dizia: "Teremos que responder à Deus se não lhes contarmos como serem salvos" .

3. ROBERT MURRAY McCHEYNE
(1813-1843)

Robert Murray McCheyne nasceu em 21/05/1813, em Edimburgo, Escócia. Foi autorizado a pregar aos 22 anos, ordenado ao pastorado, em Dundee - Escócia, aos 23 anos e morreu seis anos mais tarde, em 1843, com apenas 29 anos de idade. Ele raramente pregava fora da sua terra nativa. Também não escreveu livros e era extremamente frágil de saúde. Entretanto, o impacto do "profeta de Dundee", como era conhecido, permanece até hoje. A História registra que toda a Escócia foi sacudida por ele, e com a sua morte, ela pranteou.
Seu breve ministério foi marcado por um coração totalmente entregue ao seu Senhor, o qual experimentou um reavivamento pessoal, e sabia quão necessária era esta mensagem para a Igreja.
No século XIX, o Espírito Santo agiu ampla e profundamente na Escócia em conjunção com o ministério de um jovem, dedicado e talentoso pastor chamado: Robert Murray McCheyne. Um livro com suas cartas e mensagens foi compilado por um contemporâneo, Dr. Andrew Bonar, e depois de sucessivas edições, continua a ser fonte de inspiração e sondagens de coração para inúmeras pessoas entre o povo de Deus.
Há princípios divinos nos tratamentos de Deus com seu povo, e nesta questão de avivamento em particular. Alguns desses princípios podem ser observados no começo do ministério de McCheyne, antes do despertamento. Uma das áreas que podemos observar foi a questão da disciplina na igreja, assunto em que há muita divergência de opinião e prática entre as igrejas hoje. Ou existe uma negligência quase completa da disciplina, ou, em alguns poucos casos, encontramos uma punição rígida incoerente com o espírito de Cristo, de corrigir e restaurar.
Sobre isto, McCheyne escreveu: “No princípio do meu ministério, eu era totalmente ignorante da vasta importância de disciplina na igreja. Pensei que o meu grande e único trabalho fosse orar e pregar. Considerei que as almas fossem tão preciosas, e o tempo tão curto, que dediquei todo meu tempo e cuidado e força para ministrar na palavra e na doutrina. Quando casos de disciplina eram apresentados diante de mim e dos presbíteros, eu sentia uma certa repugnância. Era um dever do qual me retraía; e posso dizer que quase me afugentou completamente da obra do ministério”.
“Mas aprouve a Deus, que ensina seus servos de forma bem diferente da forma como o homem ensina, abençoar alguns casos de disciplina, trazendo a conversão manifesta e inquestionável das pessoas que foram tratadas; e desta hora em diante uma nova luz penetrou minha mente: vi que se a pregação é uma ordenança de Deus, também o é a disciplina na igreja. Agora estou profundamente convicto que ambos são de Deus, e são duas chaves que Cristo confiou a nós. A primeira é a chave da doutrina, por meio da qual destrancamos os tesouros da Bíblia; a segunda é a chave da disciplina, por meio da qual abrimos ou fechamos o caminho para as ordenanças da fé que selam nossas almas. Ambas são dons de Cristo, e nenhuma das duas pode ser ignorada sem conseqüências sérias”.
A coerência cristã no caminhar diário por parte do pastor e dos líderes da igreja é indispensável para trazer convicção do Espírito Santo sobre os pecadores. McCheyne tomava muito cuidado para ser coerente, pois sabia que uma palavra impensada, uma crítica severa, ou um assunto de contenda desnecessária poderia ser uma pedra de tropeço para seu povo.
Dr. Bonar disse: “Devemos não só falar fielmente ao povo nos nossos sermões, mas viver fielmente diante deles também. Talvez descubramos que a razão por que tantos que pregam o evangelho em todos seus aspectos, e com muito fervor, não recebem a aprovação de Deus dando fruto de almas convertidas, se encontre na falta de graça que se manifesta nestes momentos descontraídos da vida”.
“... porque aos que me honram, honrarei”, disse Deus em 1 Samuel 2.30. Sabe-se há muito que as pessoas toleram facilmente que se pregue contra seus pecados o quanto quiser, desde que depois da pregação não seja duro com elas, e que fale como elas falam, e viva como elas vivem. McCheyne, pelo contrário, não agia assim, como podiam testemunhar todos que o conheciam.
O anseio de McCheyne pelo avivamento foi expresso intensamente numa carta para o Rev. W. C. Burns, que posteriormente foi usado por Deus em avivamentos:
“Tudo que vejo no mundo, e todo dia quando estudo a Bíblia, me faz orar com mais fervor para que Deus inicie e realize uma obra profunda, pura, ampla, e permanente na Escócia. Se não for uma obra profunda e pura, só terminará em confusão, entristecendo o Espírito Santo de Deus pelas suas irregularidades e incoerências; Cristo não receberá glória, e o povo em geral ficará endurecido, enchendo suas bocas com reprovação”.
“Estou cada vez mais convicto de que, se quisermos ser instrumentos de Deus em tal obra, teremos de ser purificados de toda impureza de carne e espírito. Ó clame por santidade pessoal, constante intimidade com Deus pelo sangue do Cordeiro! Deleite-se na sua luz, recline-se nos braços de amor, encha-se com seu Espírito; senão, todo sucesso no ministério só resultará na sua eterna confusão”.
“Você sabe o quanto sempre insisti nisso com você. É porque também sinto a necessidade, eu mesmo. Tome cuidado, caro amigo. Não considere nenhum pecado trivial; lembre que terá conseqüências eternas. Ah, se tivéssemos o coração de Brainerd por santidade total – para ser santo como Deus é santo, puro como Cristo é puro, perfeito como nosso Pai no céu é perfeito! Ó que corpo maldito de pecado carregamos, que nos obriga a quebrar os princípios maravilhosos do evangelho! Como seríamos mais úteis, se estivéssemos mais livres do orgulho, da exaltação própria, da vaidade pessoal, e do pecado secreto, que só nosso coração conhece! Ó pecados desprezíveis, que destroem nossa paz, e arruínam almas!”.
Quando o avivamento começou a cair do céu como chuva suave, o jovem pastor falou novamente da sua oração para que a obra fosse pura e permanente:
“Ainda estou tão ansioso para que a obra de Deus seja pura, e sem mistura com erros e ilusões satânicas; e por isto quando oro pelo avivamento da obra de Deus, sempre acrescento que seja puro e permanente. Vi duas pessoas despertadas depois que cheguei de viagem, sem o uso de praticamente qualquer meio externo. Se forem confirmadas como conversões genuínas, creio que nunca duvidarei da possibilidade de qualquer outra”.

McCheyne estava sempre apreensivo para que o povo de Deus jamais deixasse contendas e disputas derrotar a obra do Espírito. “Que não haja contenda entre vocês”, ele dizia. “Que todos procurem estar no lugar mais baixo aos seus pés, ou no lugar mais perto, inclinando sua cabeça de forma mais completa no seu peito. Que toda conversa, meditação, e leitura, os conduzam ao Cordeiro de Deus. Satanás deseja desviar suas mentes para perguntas e fábulas, que geram discussões”.
“Mas o Espírito glorifica Jesus; atrai para Jesus; leva-o a apegar-se ao Senhor Jesus com inteiro propósito de coração. Busque santidade pessoal. Paulo nos ensina que foi para este fim que a graça de Deus lhe apareceu (Tt 2.11,12). Foi por isto que Cristo morreu; foi por isto que o escolheu; foi por isto que o converteu, para fazê-lo, junto com todos, pessoas santas, cartas vivas de Cristo, monumentos daquilo que Deus pode fazer no coração do pecador”.
“Você sabe o que é a verdadeira santidade? É Cristo em vós, a esperança da glória. Que ele habite em você, e assim todas suas características brilharão no seu coração e rosto. Ó que sejamos como Jesus! Isto é o céu, esteja onde for. Acho que poderia ser feliz entre demônios, se tão somente o velho homem estivesse totalmente morto em mim, e eu estivesse totalmente conformado à semelhança de Cristo! Mas graças a Deus, não teremos que passar por semelhante prova, pois não só seremos semelhantes a Jesus, mas estaremos com ele para contemplar sua glória!”.
O avivamento pelo qual McCheyne orou e se preparou veio durante sua ausência. O Rev. W. C. Burns que o estava substituindo, escreveu a respeito do poderoso mover do Espírito de Deus:
“Foi como uma enchente represada, rompendo todos os obstáculos. Lágrimas corriam de muitos olhos, e alguns caíam no chão, gemendo e clamando por misericórdia. Daquela noite em diante, houve reuniões diariamente por muitas semanas; e a natureza extraordinária da obra exigia cultos extraordinários. A cidade inteira foi abalada. Muitos crentes duvidaram; os ímpios se enfureciam; mas a Palavra de Deus crescia poderosamente e prevalecia (At 19.20). Houve casos em que famílias inteiras foram afetadas ao mesmo tempo. Outros homens de Deus na região apressaram-se para auxiliar na obra”.
“Quando McCheyne chegou da sua viagem pela Europa, a bênção continuava. Ele viu tantas evidências do avivamento pelo qual orou, que seu coração se regozijou. Não sentiu nenhuma inveja porque outro instrumento recebeu a honra no lugar onde ele mesmo lutara com tantas lágrimas e provações. Com magnanimidade cristã genuína, regozijou-se que a obra do Senhor fora realizada, sem se importar por meio de quem”.
Estes são os fundamentos de avivamento que devem ser reconhecidos e lançados por pastores e obreiros: oração, arrependimento, sondagem de coração, e coerência de vida dentro e fora da igreja.

UM RESUMO DA APOSTASIA

Mencionamos abaixo, algumas das doutrinas heréticas que não têm apoio nas Escrituras Sagradas, e a data em que foram oficialmente implantadas pela Igreja Romana:

a) 310 - Reza pelos mortos.
b) 320 - Uso de velas.
c) 375 - Culto dos santos.
d) 431 - Culto à virgem Maria.
e) 503 - Obrigatoriedade de se beijar os pés do papa.
f) 850 - Uso da água benta.
g) 993 - Canonização dos santos.
h) 1073 - Celibato Sacerdotal.
i) 1184 - Instituição da Santa Inquisição.
j) 1190 - Venda de Indulgências.
k) 1200 - Substituição do pão pela hóstia.
l) 1215 - Dogma da transubstanciação.
m) 1229 - Proibição da leitura bíblica.
n) 1316 - Instituição da reza da “Ave Maria”.
o) 1546 - Introdução dos livros apócrifos, no Concílio de Trento.
p) 1870 - Dogma da infalibilidade papal.
q) 1950 - Dogma da ascensão de Maria.


AO REI DOS REIS E AO SENHOR DOS SENHORES
SEJA A GLÓRIA, O LOUVOR E A HONRA
PARA TODO O SEMPRE
AMÉM!

Pr Sérgio de Oliveira








3 - O Valor de Aprender História

Uma Lição a partir de Judas

Por John Piper

A pequena carta de Judas nos ensina algo sobre o valor de aprender história. Este não é o ponto principal da carta, mas é um fato impressionante.
Neste penúltimo livro da Bíblia, Judas escreve para encorajar os santos a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (versículo 3). A carta é um chamado à vigilância em vista de “certos indivíduos [que] se introduziram com dissimulação... homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (versículo 4). Judas descreve essas pessoas em termos vívidos. Eles “dizem mal do que não sabem” (versículo 10); são “murmuradores, são descontentes, andando segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes arrogâncias; são aduladores dos outros, por motivos interesseiros” (versículo 16). Eles “promovem divisões, [e são] sensuais, que não têm o Espírito” (versículo 19).

Este é uma avaliação devastadora de pessoas que não estão fora da igreja, mas que “se introduziram com dissimulação.” Judas quer que eles sejam reconhecidos pelo que são, de forma que a igreja não seja enganada e arruinada pelos seus falsos ensinos e comportamentos imorais.

Uma de suas estratégias é compará-los a outras pessoas e eventos na história. Por exemplo, ele diz que “Sodoma e Gomorra... havendo-se entregado à prostituição como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno, sofrendo punição” (versículo 7). Assim, Judas compara aquelas pessoas com Sodoma e Gomorra. Seu ponto ao fazer isto é dizer que Sodoma e Gomorra são postas como “um exemplo” do que acontecerá quando as pessoas vivem como estes intrusos estavam vivendo. Assim, na mente de Judas, conhecer a história de Sodoma e Gomorra é muito útil para ajudar a detectar tal erro e desviá-lo dos santos.

Similarmente, no versículo 11 Judas acumula três outras referências a eventos históricos como comparações com o que está acontecendo em seus dias entre os cristãos. Ele diz: “Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Corá”. Isso é impressionante! Por que se referir a três incidentes históricos diferentes como estes, que aconteceram milhares de anos atrás —Gênesis 19 (Sodoma), Gênesis 3 (Caim), Números 22-24 (Balaão), Números 16 (Corá)? Qual é o ponto?

Aqui estão três pontos:

1) Judas assume que os leitores conhecem estas histórias! Isto não é incrível? Era o século primeiro depois de Cristo! Não havia nenhum livro nas casas das pessoas! Nenhuma Bíblia disponível! Nenhuma história em CD!  Apenas instrução oral! E ele assume que eles conheceriam tais histórias: Qual é “o caminho de Caim,” “o erro de Balaão” e “a rebelião de Corá?” Você sabe? Isto não é surpreendente? Ele espera que eles conheçam! Isso me faz pensar que os nossos padrões de conhecimento da Bíblia na igreja de hoje são muito baixos.

2) Judas assume que conhecer a história iluminará a situação presente. Os cristãos tratarão com o erro mais eficazmente hoje se eles conhecerem situações similares de antigamente. Em outras palavras, a história é valiosa para o viver cristão. Saber que Caim era invejoso e que além de odiar seu irmão, também se ofendeu com sua comunhão verdadeira com Deus, te alertará para vigiar contra tais coisas mesmo entre irmãos. Saber que Balaão caiu e fez da Palavra de Deus um meio de ganho mundano, te tornará mais capaz de identificar este tipo de coisa. Saber que Corá desprezou a autoridade legítima e ressentiu-se com a liderança de Moisés, te protegerá de gente facciosa que não gosta de ninguém sendo visto como seu líder.

3) Não é claro, então, que Deus ordenou que estes eventos acontecessem e que fossem registrados como história, para que aprendêssemos a partir deles e nos tornássemos mais sábios e perspicazes sobre o presente, por causa de Cristo e de sua igreja? Nunca pare de aprender a partir da história! Adquira algum conhecimento todo dia. Demos aos nossos filhos uma das melhores proteções contra a tolice do futuro, a saber, um conhecimento do passado.

Aprendendo com você, por Cristo e o seu reino,

Pastor John





4 - O Exemplo dos Puritanos Ingleses – Parte 1

John Woen

Por Errol Hulse

Por que deveriam os cristãos de hoje ter algum interesse pelos Puritanos ingleses? A resposta para isso é que os Puritanos ingleses deixaram para a Igreja Cristã uma das mais valiosas bibliotecas de livros expositivos. Em anos recentes tem havido um redescobrimento desta herança literária.
Quem eram os Puritanos ingleses?

Quando ocorreu a Reforma do século XVI três focos distintos de reforma se desenvolveram: o alemão, o suíço (incluindo a França) e o inglês. Destes três o mais fraco e menos auspicioso era o inglês. No princípio a oposição era feroz. Foram queimados até a morte na estaca 277 líderes cristãos durante o reinado da Rainha Maria. Ela chegou a ganhar o título de “Maria a Sanguinária’ durante o seu reinado de 1553 a 1558. Felizmente o reinado dela foi curto. No entanto, foi pelo sangue derramado e pelas cinzas queimadas dos mártires que a causa de Cristo cresceu e prosperou. Foi durante o reinado da Rainha Elizabeth (1558-1603) que o movimento Puritano nasceu. Ministros piedosos multiplicaram-se pela nação.
Esses ministros apoiaram um ao outro em uma fraternidade religiosa. No início os Puritanos receberam o nome Puritano porque eles buscaram purificar a Igreja Nacional de Inglaterra. Em tempos posteriores, porém, eles foram chamados de Puritanos por causa da pureza de vida que eles buscaram. Eles tinham a intenção de reformar a Igreja da Inglaterra. O seu anseio era conformar a Igreja nacional à Palavra de Deus em seu governo, adoração e prática.
"Na exposição de Baxter da Vida Cristã vemos a idéia Puritana de que a graça deve permear a natureza."
A Rainha Elizabeth era a cabeça da Igreja nacional e ela se opôs e bloqueou o avanço da reforma. Quando James I (que reinou entre 1603 a 1625) subiu ao trono havia a esperança de que finalmente a reforma progredisse. Ao invés disso a luta se intensificou. Nada melhorou quando Charles I subiu ao trono em 1625. Os ministros começaram a desacreditar de que haveria alguma melhora e alguns partiram para a América onde uma nova estirpe de Puritanos se desenvolveu. A situação chegou a um clímax quando a guerra civil começou durante a década de 1640. Naquele tempo Oliver Cromwell tornou-se o governador supremo em lugar do Rei. Quando Cromwell morreu não havia ninguém satisfatório para substituí-lo. A nação voltou à monarquia. Charles II subiu ao trono.
A luta na Igreja renovou-se com conflitos ainda mais árduos do que antes. Um ato do Parlamento foi aprovado, o qual exigia plena conformidade com regras que os Puritanos simplesmente não poderiam seguir. Em 1662 mais de 2000 ministros e líderes da Igreja de Inglaterra foram forçados a sair. Em lugar de comprometer suas consciências eles optaram por renunciar. Os historiadores consideram que o período Puritano encerrou-se naquele ano, 1662. Porém foi depois de 1662 que os Puritanos escreveram algumas de suas melhores obras. John Bunyan ficou preso durante doze anos depois de 1662. Foi na prisão que ele escreveu O Peregrino.
Dois Puritanos que viveram neste período posterior merecem especial atenção.
John Owen (1616-1683) é chamado “O Príncipe dos Puritanos’. Ele foi capelão no exército de Oliver Cromwell e vice-chanceler da Universidade de Oxford, mas a maior parte da sua vida ele serviu como pastor de uma igreja. Suas obras escritas somam 24 volumes e representam o que há de melhor em termos de teologia no idioma inglês. Em vários assuntos importantes como o Espírito Santo, Mortificação do Pecado e Apostasia, ele é insuperável.
Richard Baxter (1615-1691) foi um prolífico escritor e incluído em seus trabalhos está O Manual Cristão (The Christian Directory) que consiste em uma aplicação prática detalhada do evangelho a todos os aspectos da vida. Esta provavelmente é a exposição desse tipo mais abrangente que já foi escrita.
Na exposição de Baxter da Vida Cristã vemos a idéia Puritana de que a graça deve permear a natureza.
"É fácil ver quão próximos os batistas reformados estão dos presbiterianos (os filhos de João Calvino) quando comparamos a 2ª Confissão de Fé Batista de Londres de 1689 com a Confissão de Fé de Westminster. Vinte e oito dos trinta e dois capítulos são virtualmente idênticos. Estas Confissões de Fé representam o ponto alto do Puritanismo."
Durante o período pré-reforma a graça e a natureza ficavam separadas. Este é o conceito do Universo em dois pavimentos. Escada acima está o espiritual e santo. Escada abaixo fica o pecaminoso, carnal e profano. Por exemplo, o clero foi proibido de se casar já que o matrimônio era considerado terrestre e, portanto, pecaminoso. Lutero reformou isso em parte e trouxe a graça para ficar lado a lado com a natureza. Por exemplo, ele se casou com uma ex-freira, Catarina. João Calvino foi mais adiante e ensinou que a graça deve permear a natureza. O que é terreno deve ser santificado pelo divino. Os Puritanos foram mais adiante ainda e ensinaram com maior detalhamento do que Calvino que os princípios bíblicos devem ser aplicados a todos os aspectos da vida. Há princípios bíblicos ou ética bíblica para o matrimônio, a educação de crianças e condução do lar, para os professores e professores universitários, médicos, advogados, arquitetos e artistas, para os fazendeiros e jardineiros, políticos e magistrados, para os homens de negócios e lojistas, para os militares e para os banqueiros. Para os Puritanos a dicotomia (divisão) entre natureza e graça, que era a visão prevalecente entre os teólogos medievais, estava essencialmente errada. Eles negaram qualquer ensino do tipo em que as coisas divinas são coisas santas e as terrestres são malditas e maculadas. Para os Puritanos a graça tem que penetrar e permear toda a vida terrestre e tem que santificá-la. Até mesmo os sinos dos cavalos são santificados para Deus (Zac 14:20).
Em contraste com isso os Anabatistas se retiraram da sociedade com base no argumento de que esta era pecadora e corrupta. Os Anabatistas desencorajavam os homens de tornarem-se políticos ou magistrados. Com respeito à guerra tanto Calvino quanto os Puritanos ensinaram que a defesa era permitida. Os Anabatistas eram pacifistas e não queriam ter nenhuma relação com assuntos militares. É importante que lembremos que há tipos diferentes de batistas. Por exemplo, John Bunyan era um batista firmemente arraigado na tradição Puritana assim como os batistas reformados de hoje. É fácil ver quão próximos os batistas reformados estão dos presbiterianos (os filhos de João Calvino) quando comparamos a 2ª Confissão de Fé Batista de Londres de 1689 com a Confissão de Fé de Westminster. Vinte e oito dos trinta e dois capítulos são virtualmente idênticos. Estas Confissões de Fé representam o ponto alto do Puritanismo. Os Puritanos ingleses seguiram o exemplo de Calvino ao se envolverem com todos os aspectos da vida.
Por exemplo, Calvino era muito ativo na promoção da educação. Em 1559 ele fundou a Academia de Genebra com o intuito de construir uma Comunidade Cristã. Esta Academia atraiu estudantes de todas as partes da Europa e ao tempo da morte de Calvino, em 1564, contava com 1200 estudantes. Os Puritanos estavam igualmente preocupados de forma apaixonada com a educação e com os altos padrões acadêmicos. Quase todos os Puritanos eram formados em Oxford e Cambridge. Sidney Sussex College e Emmanuel College, em Cambridge, eram famosas instituições de ensino puritanas.
Calvino também preocupava-se com o sustento das 5000 famílias de refugiados que afluíram para Genebra entre 1542 e 1560. Ele foi fundamental no estabelecimento de dois hospitais e em um deles havia uma indústria de tecidos bem como uma tecelagem e uma fábrica de potes. (cf Building a Christian World View, vol 2, p 242, edited by W. Andrew Hoffecker, Presbyterian and Reformed, 1988). Até aqui eu descrevi Calvino em termos positivos. Como Lutero e como todos os demais líderes ele também teve pés de barro. Havia tendências autoritárias em Genebra que desfiguraram em parte o ministério de Calvino. Recomendo os ensaios no volume editado por Hoffecker por apresentarem uma visão equilibrada de Calvino em detrimento daqueles que idolatram aquele reformador.



5 - O Exemplo dos Puritanos Ingleses – Parte 2

Thomas Watson

Por Errol Hulse

"Quando olhamos atrás para aquele período deveríamos notar que pressões e provações podem extrair o que há de melhor nos cristãos. A alta qualidade da exposição bíblica, equilibrada entre doutrina, experiência e aplicação prática foram frutos da tribulação."
Esse interesse universal no bem-estar humano e essa preocupação social estão amplamente refletidos nas vidas dos Puritanos. Quando olhamos atrás para aquele período deveríamos notar que pressões e provações podem extrair o que há de melhor nos cristãos. A alta qualidade da exposição bíblica, equilibrada entre doutrina, experiência e aplicação prática foram frutos da tribulação. Em nossa geração a republicação deste material pela Banner of Truth na Inglaterra, e posteriormente pela editora americana Soli Deo Gloria tornou disponíveis muitos livros Puritanos preciosos.
A pergunta fica no ar: Por que os Puritanos são tão eficientes ensinando a teologia reformada levando-se em consideração que tantos outros falharam? A resposta é que o gênio espiritual dos Puritanos sempre repousou no fato deles serem homens de oração. Para eles a teologia não era somente um exercício acadêmico ou intelectual. A teologia reformada foi projetada para transformar vidas e inspirar ação. Este gênio era um gênio espiritual no qual os Puritanos cultivavam a oração, a doutrina, a experiência e a aplicação prática em equilíbrio e harmonia. Hoje costumamos ouvir o clamor de que Cristo une, mas a doutrina desune! Deem-nos Cristo, não doutrina, é o lema! Para os Puritanos isso não passava de tolice superficial. Cristo vem a nós envolto no ensino bíblico, ou seja, na doutrina. Além disso, é a doutrina que dirige a vida. Doutrina é essencial. Ela é fundamental para tudo, mas deve ser aplicada de maneira amorosa e persuasiva.
O exemplo Puritano em aplicar a doutrina Cristã e o mandato cultural

As cartas neotestamentárias de Romanos, Efésios e 1 Pedro ilustram o princípio de uma aplicação tripartite do evangelho: primeiro nossa posição na igreja, segundo no matrimônio e na família, e terceiro a nossa posição no mundo.
Primeiro a vida deve ser mudada e deve ser trazida sob o domínio de Cristo. A partir da Igreja como o centro onde o crente deveria ser inspirado pela pregação ele sai para o mundo. Lá, no mundo, ele deve ser o sal da terra e a luz do mundo (Mat 5:13-16).
Como vemos na Confissão de Westminster e na Confissão Batista de 1689 os Puritanos acreditavam nas doutrinas da graça como a eleição e a redenção particular (Rom 8:28-30). Eles seguiram Calvino, resistindo a falsas racionalizações humanas. Por exemplo, eles resistiram à idéia de que Deus só ama os eleitos e odeia os não eleitos. Esse erro é chamado de hipercalvinismo. É um erro muito sério que está ocorrendo repetidas vezes nos dias de hoje. Os Puritanos eram peritos no seu entendimento do conceito de graça comum embora eles não tenham usado esse termo. O seu ensino está completamente de acordo com o modo pelo qual a doutrina da Graça Comum é exposta pelo Professor John Murray (cf. Works). Eles acreditavam que o Espírito Santo está constantemente em atividade, refreando o mal e promovendo o bem por toda a sociedade. Os Puritanos acreditavam no amor universal de Deus por todo o gênero humano (1 Tim 2:1-6; 2 Ped 3:9). Eles acreditavam na provisão universal de Deus para todo o gênero humano de acordo com a aliança feita com Noé como representante do mundo inteiro (Gen 8:20-22 e Sal 145).
Os Puritanos sustentavam que o mandato cultural de explorar e desenvolver toda a criação baseia-se em Gênesis 1:28-30. O Cristão deve esforçar-se para ser perfeito em toda boa obra e assim ele se esforça, sabendo que só Deus pode torná-lo perfeito em toda boa obra (veja Heb 13:21 KJV). Incluídos nas boas obras estão todos os aspectos do trabalho e da pesquisa. Toda vocação lícita deve ser perseguida usando princípios bíblicos como guia. O princípio importante é que os Puritanos trabalharam de dentro para fora, ou seja, da Igreja para fora, para o mundo. É correto os cristãos encorajarem a reforma de sociedade em todas as áreas: educação, política, economia, medicina, ciência. Porém é possível tornar-se tão absorto em nossa chamada secular com todas as suas elevadas exigências a ponto de acabarmos perdendo o equilíbrio da Igreja e da família. Equilíbrio é essencial. Os Puritanos personificaram esse equilíbrio.




6 - O Exemplo dos Puritanos Ingleses – Parte 3

Por Errol Hulse

"O princípio importante é que os Puritanos trabalharam de dentro para fora, ou seja, da Igreja para fora, para o mundo."
Sermões foram pregados em temas como o cuidado universal quanto aos detalhes no trabalho o que incluía a necessidade de ser probo, digno de confiança e honesto; cumprindo os contratos ou acordos. Os Puritanos eram rígidos em opor-se à corrupção e ao nepotismo na vida dos negócios. Eles não hesitaram em pregar em textos do tipo: “Balança enganosa é abominação para o SENHOR, mas o peso justo é o seu prazer.’ (Prov 11:1).
Quase todos os Puritanos pregaram sermões sequenciais e expositivos cobrindo, desta forma, todos os assuntos contidos na Bíblia. Mas eles estavam preparados para romper com esse método sempre que fosse necessário. Durante a guerra civil na década de 1640 uma cidade foi invadida por soldados leais ao rei. Estes soldados se comportaram muito mal. Parte do seu mau comportamento estava em jurar e praguejar. O ministro daquela cidade era um Puritano chamado Robert Harris. Ele pregou um sermão em Tiago 5:12: Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo. Isso foi tão efetivo e tão condenatório para aqueles rudes soldados que eles ameaçaram atirar em Harris se ele pregasse novamente naquele texto. Destemidamente, no domingo seguinte ele anunciou como seu texto Tiago 5:12 e começou a expor! Ele chegou a ver um dos soldados preparar sua arma para atirar. Mas o soldado foi contido e não teve coragem de atirar no pastor. A convicção em seguir a ética bíblica em todos os assuntos custou caro aos Puritanos. Na adoração a Deus eles não estavam preparados para ceder, submetendo-se a regras feitas por homens ou criadas através da tradição.
O mesmo era verdade quanto à vida nos negócios ou no comércio. A ética Puritana do trabalho tornou-se famosa. É chamada de ética protestante do trabalho. Ela significa que o trabalhador sempre dá honestamente o seu melhor serviço. Ele nunca rouba tempo ou bens do seu empregador. Por outro lado o empregador Cristão deve ser justo com seus empregados e tratá-los bem (Tiago 5:1-6).
O cuidado escrupuloso quanto a detalhes está refletido no documento Puritano conhecido como Catecismo Maior de Westminster.
Qual é o oitavo mandamento? Resposta: O oitavo mandamento é: “Não furtarás.’
Quais são os deveres exigidos no oitavo mandamento? Resposta: Os deveres exigidos no oitavo mandamento são: a verdade, a fidelidade e a justiça nos contratos e no comércio entre os homens, dando a cada um o que lhe é devido, a restituição de bens ilicitamente tirados de seus legítimos donos; a doação e a concessão de empréstimo, livremente, conforme as nossas forças e as necessidades de outrem; a moderação de nossos juízos, vontades e afetos, em relação às riquezas deste mundo; o cuidado e empenho providentes em adquirir, guardar, usar e distribuir aquelas coisas que são necessárias e convenientes para o sustento de nossa natureza, e que condizem com a nossa condição; o meio lícito de vida e a diligência no mesmo; a frugalidade; o impedimento de demandas forenses desnecessárias e fianças, ou outros compromissos semelhantes; e o esforço por todos os modos justos e lícitos para adquirir, preservar e adiantar a riqueza e o estado exterior, tanto de outros como o nosso próprio.
Os Puritanos sobressaíram-se na pregação de um modo prático e muitos dos seus sermões refletem claramente esta preocupação em ser prático. Aqui estão alguns exemplos de títulos de sermões extraídos dos famosos sermões de Cripplegate que foram pregados em Londres e recentemente republicados em seis grandes volumes:
Que luz deve brilhar em nosso trabalho? (Richard Baxter)

Como devem ser encorajadas e apoiadas as mulheres que deram à luz? (Richard Adams)
Como devemos perguntar por notícias não como atenienses, mas como cristãos? (Henry Hurst)
A esperança Puritana e o futuro

Em relação à segunda petição da Oração que o Senhor nos ensinou, Venha o Teu Reino, o Catecismo de Westminster sugere que deveríamos orar para que o reino do pecado e de Satanás seja destruído, o evangelho seja propagado por todo o mundo, os Judeus sejam chamados, a plenitude dos Gentios seja trazida, a Igreja seja plenamente equipada com todos os ministros do evangelho e as ordenanças, purificada da corrupção e aprovada e mantida pelos magistrados civis.
Os Puritanos acreditavam no reino de Cristo no presente. Eles ensinaram que não devemos ser desencorajados pelas trevas que prevalecem. Nós sempre podemos esperar a oposição feroz e o ódio de Satanás. No entanto, devemos sempre observar a soberania de Deus. Devemos lembrar a promessa de que Cristo reinará até que todos Seus inimigos se tornem estrado dos seus pés. Quando o Seu plano de evangelização mundial estiver completo ele virá e conquistará o último inimigo que é a morte (Sal 110:1; 1 Cor 15:25). Os Puritanos sustentavam que nós estamos nos últimos dias, isto é, a última e definitiva dispensação. É durante esse tempo que o monte da casa do SENHOR será estabelecido como principal entre os montes (Isa 2:2). É por esse tempo que a pedra citada por Daniel na interpretação do sonho de Nabucodonosor tornar-se-á uma montanha enorme e encherá a terra inteira (Dan 2:35 e 44). De acordo com os Puritanos esse é o tempo em que teremos que interceder para que as nações se tornem a herança de Cristo e os confins da terra venham a ser sua possessão (Sal 2:8). A Confissão Puritana de Westminster não é pré-milenista em seu ensino.
"A Confissão Puritana de Westminster não é pré-milenista em seu ensino."
A visão Puritana dá lugar à esperança quando declara que nós devemos cumprir a grande comissão de ensinar todas as nações. Como Iain Murray mostra em seu livro A Esperança Puritana (The Puritan Hope), a escatologia dos Puritanos ingleses está no coração do grande movimento missionário mundial do século XIX. Esta visão positiva do futuro conhecida como escatologia da vitória tem tremendas implicações porque inspira visão. Motiva o esforço e o empreendimento. Se nós acreditarmos que o mal superará tudo, estaremos sujeitos ao temor e ao desespero. Assim não estaremos inclinados a nos esforçar muito. Já se o Evangelho for destinado a prevalecer em todas as nações então seremos inspirados a tentar grandes coisas para Deus. Buscaremos ganhar as nações para Cristo. E ganhar as nações para Cristo significa dizer que os corações de homens e mulheres serão renovados e trazidos à obediência ao Evangelho. O reino de Deus está dentro de nós. É daquela posição de estar “em Cristo’ que nós aplicamos os ensinos da Bíblia a todas as esferas da vida como Calvino e os Puritanos ingleses procuraram fazer.
Com respeito à cultura nós temos um mandato para desenvolver todas as esferas e trazer todas as áreas da vida humana sob as ordens e o domínio do Príncipe da Paz (Sal 8). Devemos orar sempre para que a Sua justiça prevaleça. Devemos orar a oração do Salmo 72. Precisamos declarar que o Príncipe da Paz prevalecerá. Nossa expectativa é de que ele defenda os aflitos dentre as pessoas e que salve os filhos dos necessitados. Precisamos orar para que a terra inteira seja cheia da Sua glória assim como as águas cobrem o mar (Sal 72). Os Puritanos creram nessas perspectivas como tendo cumprimento certo. O futuro era tão glorioso quanto as promessas de Deus. Essas promessas têm um efeito radical em nossas vidas de oração. Que todos nós sejamos incitados a não dar nenhum descanso ao SENHOR até que ele estabeleça a Sua Igreja e faça dela um objeto de louvor na terra (Isa 62:6,7).








7 - Conhecendo a Deus Através da História de Israel

Através da Sua atuação na história de Israel, Deus revelou através das páginas do Velho Testamento a estrita beleza do Seu caráter justo, imparcial e amoroso.
Ele equilibra com a mais pura perfeição todos os Seus atributos divinos, não deixando de ser misericordioso quando julga com justiça.
Por Sua longanimidade podemos firmar a nossa esperança em dias melhores e abençoados por Ele, quando nos arrependemos de nossas transgressões.
À guisa de ilustração destas verdades comentaremos adiante o 26º capítulo de Isaías no qual é profetizada a glória futura do Israel de Deus juntamente com o Messias, com as boas promessas de livramento para Judá, apesar de ter sido decretado pelo Senhor que eles seriam conduzidos antes para o cativeiro em Babilônia, pára serem curados da sua idolatria.
Importava encorajar os judeus a manterem firme a esperança messiânica, a saber, a guardarem a vontade de Deus para a manifestação do Salvador prometido.
No entanto, sabemos que estas promessas de bênçãos para Judá foram mescladas várias vezes com juízos divinos, quando a nação voltava a se desviar da Sua presença, sendo portanto entregue nas mãos de opressores.
É importante frisar, que mesmo ao retornarem de Babilônia permaneceram debaixo do governo sucessivo de medos e persas, de gregos e de romanos.  Somente por um breve período, nos dias dos Macabeus, Israel foi uma nação soberana, sem estar debaixo do jugo de qualquer outra nação.
Então a aplicação destas profecias de Isaías apontam não para a glória de Judá na terra, quer na dispensação do Antigo, quer na do Novo Testamento.
Mas à glória que desfrutariam por meio da mediação e governo do Messias prometido.
É bom lembrarmos sempre, ao ler todo o livro de Isaías, qual foi o caráter da sua chamada por Deus, conforme vemos no sexto capitulo, quando foi profetizado que ele deveria revelar o endurecimento que haveria em Israel até o final da dispensação da graça.
Então não seria de se esperar que Deus falasse da glória de um povo que permaneceria endurecido, apesar de todo o favor e cuidado que tivesse para com eles.
Na verdade sempre foi pela ação de um remanescente fiel, representado nas pessoas de Esdras, Neemias, e outros servos piedosos do Senhor, que Judá foi preservado, e não pela piedade de todo o povo.
Nós lemos no último versículo da profecia do 26º capítulo:

“Pois eis que o Senhor está saindo do seu lugar para castigar os moradores da terra por causa da sua iniquidade.”

Pode parecer, pela leitura do restante do capítulo, que esta afirmação está deslocada e fora de contexto. No entanto, é por ela que podemos entender o caráter da paz e da glória de Judá, que é prometida no mesmo capítulo.
Ela é resultante da confiança total no Senhor, conforme o povo é conclamado a fazer em todo o tempo.
Esta promessa de paz não se destina aos que permanecem na prática deliberada do pecado, porque deles se diz no verso 10:

“Ainda que se mostre favor ao ímpio, ele não aprende a justiça; até na terra da retidão ele pratica a iniquidade, e não atenta para a majestade do Senhor.”

Então o que se reserva para os ímpios é o que se afirma no verso 11:

“Senhor, a tua mão está levantada, contudo eles não a vêem; vê-la-ão, porém, e confundir-se-ão por causa do zelo que tens do teu povo; e o fogo reservado para os teus adversários os devorará.”

Mas para os justos é prometido por Deus a paz, porque Ele mesmo fará todas as suas obras para o Seu povo (v. 12).
Ainda que outros dominem sobre o povo, que é a herança do Senhor, é somente o Seu santo nome que eles exaltam (v. 13).
O povo do Senhor será aumentado na terra pelo próprio Deus e para a Sua exclusiva glória (v. 14).
Ele faria a obra do evangelho avançar até aos confins da terra (v. 15), mas para isto, deveria ser buscado na angústia, que são produzidas pelas Suas correções, derramando os seus corações perante Ele em oração.
O povo deve ser santificado e consagrado pelas tribulações, para que aprenda a orar e a buscar ao Senhor, porque é assim que Ele faz a Sua obra avançar através da Igreja, que assim se Lhe consagra (v. 16).
E estas orações devem ser agonizantes, como a mulher que está com as contrações do parto (v. 17) porque são orações para que sejam geradas novas vidas, pelo Espírito Santo, vidas não naturais, mas novas criaturas em Cristo Jesus.
Não basta ter as dores de parto e não orar, porque isto não produzirá vida, senão vento (v. 18), porque o poder do próprio homem não pode trazer livramento à Terra, dos poderes opressivos do inferno, que mantêm os homens em cadeias, senão somente o poder do próprio Deus, pelo Espírito, quando o Seu povo ora incessantemente, sem esmorecer, para que Ele mantenha avivada a Sua obra sobre a Terra.
Mas para os que oram sem esmorecer, a promessa é de vida para os que se encontram mortos. A vida abundante de Jesus que livra da morte espiritual e eterna, e que traz também a promessa da ressurreição dos corpos dos que nEle creem (v. 19).
Os que habitam no pó podem exultar porque há esperança de vida para eles, porque o orvalho de Deus, Jesus Cristo, é orvalho de luz, a luz que dá a vida de Deus aos homens (v. 19b); mas os que não vêm para a luz por amarem as trevas, o Senhor fa-los-á cair na terra das sombras em que eles gostam de viver (v. 19c).
Deus está indignado contra o pecado, e manifestará a Sua ira contra o ímpios, mas o Seu povo é convocado a entrar nas suas câmaras e fechar as suas portas sobre si, para se esconder por um  só momento, até que Deus consuma a Sua indignação desarraigando o ímpio da terra (v. 20). Isto fala da necessidade de oração, de paciência, de perseverança, de esperar quietos no Senhor, enquanto padecemos neste mundo de trevas.
Assim, o que se aprende de tudo isto é que bem irá ao que ama e pratica a justiça, e mal irá ao que odeia a Deus e a Sua justiça.
Há boas promessas para o verdadeiro Israel de Deus, o qual é formado por pessoas de todas as nações cujo coração é circuncidado por meio da fé em Jesus Cristo.
Estes, mesmo em suas fraquezas e desvios ocasionais poderão contar sempre com a ajuda do Senhor que os disciplinará e corrigirá sempre que necessário para que sejam conduzidos em glória à Sua presença, santos, irrepreensíveis e inculpáveis.

"Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo." (Salmo 73.1)









8 - Aprendendo da História dos Israelitas dos Dias de Moisés

O maná, citado no 11º capítulo do livro Números, representa a provisão de Deus estritamente necessária para a manutenção da nossa vida.
Há muitas situações em que muitos servos de Deus são assim providos pelo Senhor, para serem provados em sua fé, de modo que possam se revelar gratos pela Sua misericordiosa provisão, sem a qual não poderiam sobreviver.
Todavia, não são poucos os que murmuram, quando são encontrados nesta condição de terem que sobreviver com o estritamente necessário, porque se sentem frustrados em não alcançarem tudo quanto têm ambicionado.
Era exatamente esta a situação que Israel estava experimentando em sua caminhada no deserto, só que em vez de serem gratos e se regozijarem em Deus, pela misericórdia de lhes ter livrado da escravidão no Egito, e lhes dar o maná de forma miraculosa, eles se deixaram vencer por suas cobiças carnais e endurecidos pelo pecado, vieram a murmurar não poucas vezes, porque estavam se rebelando contra a situação que estavam sendo obrigados a experimentar pela vontade do Senhor.
Eles não queriam se submeter ao desígnio de Deus, ao contrário queriam satisfazer aos desejos do seu próprio coração, e assim, queriam ter de volta a mesma alimentação que tinham à sua disposição no Egito, ainda que debaixo de escravidão.
A fraqueza da lei pela carne (Rom 8.3) revelou-se plenamente na Antiga Aliança, pois apesar de estarem sob o regime da lei, a lei descobriu o pecado dos israelitas, mas não pôde destruí-lo; pois isto pode ser feito somente pelo poder da graça.
Tão logo partiram do Sinai, em face das dificuldades do deserto, no qual haviam caminhado três dias, eles reclamaram e mostraram abertamente o seu descontentamento, e isto despertou o fogo do juízo de Deus, que consumiu as extremidades do arraial, e o povo clamou a Moisés, e este clamou ao Senhor, e o fogo apagou (Núm 11.1,2).
Deus admite a nossa queixa quando há uma razão justa para isto, como vemos, por exemplo, no Sl 142.1,2:

“Com a minha voz clamo ao Senhor; com a minha voz ao Senhor suplico. Derramo perante ele a minha queixa; diante dele exponho a minha tribulação.”

Queixar-se da condição é uma coisa, e queixar-se de Deus é outra muito diferente, e é nisto que consite a murmuração.
Então, quando esta queixa é contra o Senhor, podemos estar certos de despertar o Seu juízo contra nós, assim como se deu com os israelitas.
O fogo que havia consumido Nadabe e Abiú estava cercando os israelitas e ameaçando consumi-los.
Eles haviam murmurado várias vezes desde que haviam saído do Egito, mas não houve nenhuma manifestação da ira de Deus contra eles, como estava ocorrendo agora, porque eram indesculpáveis, pois conheceram perfeitamente qual era a vontade do Senhor em relação a eles, nos doze meses em que permaneceram no Sinai para o fabrico do tabernáculo e para receberem a Lei e os mandamentos de Deus para eles.
Aquele fogo havia sido apenas um fogo de advertência, de modo que não viessem a murmurar no futuro, e a evitarem assim, que lhes sobreviesse algum juízo.
Aquele lugar recebeu um novo nome, a saber, Taberá, que significa queima.
Porém, por influência do misto de gente que havia se juntado aos israelitas, quando deixaram o Egito, que é denominado no hebraico por aspesof, que significa mistura, e pelo grande desejo manifestado por eles de voltarem ao Egito, para comerem das comidas daquela terra, o povo de Israel se deixou influenciar fortemente e veio a murmurar de novo contra o Senhor, porque queriam especialmente comer carne todos os dias, e não estavam satisfeitos em terem que comer o maná.
Aqueles que eram de outra nacionalidade, e que haviam deixado o Egito juntamente com os israelitas, queriam apenas a terra prometida, mas não o Senhor, e muito menos passarem pelas provações que seriam necessárias até que viessem a alcançá-la.
Certamente, pouco lhes agradava terem que se submeter às ordenanças de Deus. Este fermento levedou a massa inteira.
Por isso a Bíblia é bastante enfática em ordenar aos cristãos a não se colocarem em jugo desigual com aqueles que desprezam o Senhor e os Seus mandamentos,  para participarem das suas práticas e/ou ficarem debaixo da influência dos seus hábitos e costumes, pois o resultado será sempre este que o povo de Israel experimentou, a saber, desviar-se dos caminhos de Deus.
Sempre será oportuno atentar para a ordem do apóstolo:

”E com muitas outras palavras dava testemunho, e os exortava, dizendo: salvai-vos desta geração perversa.” (At 2.40)

As pessoas que levaram Israel à ruína, nos dias de Moisés, sequer haviam sido contadas quando foi feito o censo, porque não tinham qualquer participação na genealogia dos filhos da promessa, a saber, dos descendentes de Jacó.
Com isto não se sentiam obrigados a terem qualquer compromisso com Deus.
Muitos israelitas se igualaram a eles, apesar de saberem que estavam arrolados entre os aliançados com o Senhor, pela promessa que Ele havia feito aos patriarcas.
É preciso saber distinguir entre o amor que é devido a todos os nossos semelhantes, pela nossa descendência comum em Adão, mas é preciso também reconhecer que fazemos parte de uma nova Cabeça, de uma nova criação, e que as coisas antigas já passaram, pois em Cristo tudo se fez novo.
Quando a semente santa se mistura àqueles que vivem escravizados ao pecado, os seus ouvidos se fecharão às instruções dos ministros de Deus, e se deixarão conduzir por doutrinas, costumes e hábitos estranhos e abomináveis ao Senhor.
A porta da salvação está aberta para todos. A graça de Jesus está disponível para todos os que se arrependerem do pecado.
Então não se trata de discriminação ou acepção de pessoas, porque o próprio Deus não o faz. Mas o que se pode esperar quando alguém faz acepção de Deus e o rejeita deliberadamente? Que se minta ou que se disfarce, dizendo que faz parte do contingente daqueles que o amam e servem?    
O espírito de queixa se alastra como fogo, e todas as famílias de Israel vieram a chorar reclamando que nada tinham para comer além do maná.
Foi tão grande a pressão que fizeram sobre Moisés, lhe pedindo que lhes desse carne a comer, que ele derramou toda a aflição de sua alma perante o Senhor, pedindo até mesmo que lhe tirasse a vida, pois o encargo de conduzir todo aquele povo era pesado demais para ser suportado por ele.
No meio da calamidade o Senhor proveria um alívio para Moisés, designando setenta anciãos aos quais revestiria com o poder sobrenatural do Espírito, para que o auxiliassem.
Como sinal de que estes tinham recebido o Espírito de Deus, para também liderarem o povo, debaixo da liderança geral de Moisés, foi-lhes dado que profetizassem, e até mesmo dois deles que não se encontravam no ajuntamento, por não estarem na tenda da congregação, mas fora no arraial, que também profetizaram, e se diz que nenhum deles profetizou depois disto, porque Moisés era o profeta de Deus entre eles, e isto evitaria que viessem a disputar a posição de Moisés no futuro, movidos por ambição, ciúme, rebelião ou por influência de Satanás; e disseminassem ensinos como sendo proferidos por Deus para o povo de Israel, quando na verdade não passariam de enganos.
Deus poderia fazer com que todos tivessem os mesmos dons e poderes espirituais, para o exercício da liderança, mas isto faria com que muitos deixassem de reconhecer aqueles que Ele tem levantado para liderar o Seu povo.
Nós vemos este cuidado e critério do Senhor, ao longo de toda a história da Igreja, e desde os dias apostólicos, quando muitos, eram batizados com o Espírito Santo, somente quando um dos apóstolos estivesse presente entre eles, apesar de terem sido evangelizados antes, por outros servos de Cristo (At 8.16; 19.3-5).
Quando o Senhor ordenou a Moisés que dissesse ao povo que se santificasse, porque lhes daria carne para um mês inteiro, Moisés se sentiu constrangido e protestou diante de Deus, porque como diria aos israelitas que Ele havia prometido dar carne, para um mês inteiro, porque somente de homens preparados para a guerra havia mais de 600.000 mil almas?
Mas a resposta do Senhor foi dada com uma pergunta: “Porventura tem-se encurtado a mão do Senhor?”, e a isto acrescentou: “agora mesmo verás se a minha palavra se há de cumprir ou não.”
Moisés disse as palavras do Senhor ao povo, e a Bíblia nada fala sobre a reação deles, mas é bem possível que muitos tenham não apenas duvidado da promessa de Deus, em face da Sua grandiosidade, e não seria nada improvável, que muitos deles tivessem até escarnecido tanto de Moisés, quanto do Senhor, e não seria de se estranhar que os que viriam a ser submetidos ao juízo que lhes sobreviria, quando estivessem comendo a carne, fossem contados entre estes que não eram dignos de se alimentarem do milagre operado por Deus, em face da sua incredulidade.
De fato a incredulidade mata não somente com a morte física e espiritual, como também com a eterna, pois a única forma de se ter vida e vida em abundância é pela fé em Cristo.
Muitos descreem da promessa de Deus de nos dar não apenas provisão para um mês inteiro, no meio do grande deserto espiritual de nossas vidas, mas para a vida eterna, e não com o alimento que vai para lugar escuso, mas com o alimento espiritual que está em Jesus Cristo, e que permanece para sempre.
Realmente é uma oferta muito grandiosa, imerecida por nós, mas todos os que tiverem um coração simples e sincero, e a pegarem com a mão humilde da fé, receberão o seu cumprimento, e serão salvos.  
O desejo dos israelitas seria satisfeito por Deus, pois lhes daria carne de codornizes para mais de um mês, e era tanta carne que eles levaram dois dias recolhendo aqueles pássaros no campo.
Entretanto a satisfação do desejo não seria para o bem deles, senão para juízo, pois não puderam ter o prazer de desfrutar com alegria e satisfação o que colheram, pois antes mesmo que engolissem o alimento, quando a carne ainda estava entre os seus dentes, muitos deles foram feridos com uma praga mortal que lhes sobreveio da parte do Senhor, em razão da manifestação da Sua ira contra o seu pecado.
O nome do lugar onde foram sepultados passou a se chamar Quibrote-Taavá, que significa no hebraico “túmulo do desejo”, pois o desejo deles foi sepultado juntamente com eles naquele lugar.
Aqui está uma grande lição que é mais importante ter pouco com contentamento do que muito sem estar satisfeito, porque sem a aprovação de Deus, nada do que venhamos a conquistar, mesmo da parte dEle, poderá fazer com que estejamos alegres, em paz e com contentamento em nossos corações.
Aquilo que é alcançado pela obstinação do nosso ego carnal contra a vontade do Senhor para nós, não poderá jamais ser traduzido em bênção para as nossas vidas.  
Não havia nenhuma falha no maná, mas mentes descontentes acham falhas onde elas não existem.
Veem penúria onde está havendo provisão miraculosa da parte de Deus.
O mau humor há de dominar a todo aquele que não aprender a viver contente em toda e qualquer situação, que é a norma bíblica de vida para todos os filhos de Deus.
A falta de contentamento conduz imediatamente à ingratidão, e é da vontade dEle que em tudo Lhe demos graças.
É uma ofensa a Deus deixar os nossos desejos irem além da nossa fé.
É neste sentido que nos é ordenado não estarmos ansiosos por coisa alguma, porque os nossos desejos, não raro, podem nos conduzir à ansiedade.
Em I Cor 10.6 nós somos alertados que tudo o que foi registrado na Bíblia em relação à história de Israel, foi para advertência da igreja de Cristo, de modo a não incorrer nos mesmos erros em que eles incorreram:

“Ora, estas coisas nos foram feitas para exemplo, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.” (I Cor 10.6).

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