sexta-feira, 23 de outubro de 2015

87) Justificação

87) JUSTIFICAÇÃO

ÍNDICE

1 - Justificação
2 - Uma Defesa da Doutrina da Justificação pela Fé
3 - Por que a Nossa Justificação Depende da Ressurreição de Cristo?
4 - Cristo, o Objeto e Fundamento da Fé para a Justificação, em sua Morte
5 - Andarão de Branco
6 - Significado de Ser Justificado Pela Fé
7 - Injustos Mas Justos
8 - A Maior Bem-Aventurança
9 - Os Efeitos da Justificação
10 - Salvos por Meio da Justificação
11 - JUSTIFICAÇÃO PELA GRAÇA
12 - JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ  


1 - Justificação

I. Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta justificação não consiste em Deus infundir neles a justiça, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas como justas. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles operada ou por eles feita, mas somente em consideração da obra de Cristo; não lhes imputando como justiça a própria fé, o ato de crer ou qualquer outro ato de obediência evangélica, mas imputando-lhes a obediência e a satisfação de Cristo, quando eles o recebem e se firmam nele pela fé, que não têm de si mesmos, mas que é dom de Deus.
Ref. Rom. 8:30 e 3:24, 27-28; II Cor. 5:19, 21; Tito 3:5-7; Ef. 1:7; Jer. 23:6; João 1:12 e 6:44-45; At. 10:43-44; Fil. 1:20; Ef. 2:8.
II. A fé, assim recebendo e assim se firmando em Cristo e na justiça dele, é o único instrumento de justificação; ela, contudo não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre anda acompanhada de todas as outras graças salvadoras (fruto do Espírito – paz, alegria, bondade, mansidão, domínio próprio, amor etc); não é uma fé morta, mas opera pelo amor.
Ref. João 3:16, 18, 36; Rom. 3:28, e 5: I; Tiago 2:17, 22, 26; Gal. 5:6.
III. Cristo, pela sua obediência e morte, pagou plenamente a dívida de todos os que são justificados, e, em lugar deles, fez a seu Pai uma satisfação própria, real e plena. Contudo, como Cristo foi pelo Pai dado em favor deles e como a obediência e satisfação dele foram aceitas em lugar deles, ambas livremente e não por qualquer coisa neles existente, a justificação deles é só da livre graça, a fim de que tanto a justiça restrita como a abundante graça de Deus sejam glorificadas na justificação dos pecadores.
Ref. Rom. 5:8, 9, 18; II Tim. 2:5-6; Heb. 10:10, 14; Rom. 8:32; II Cor. 5:21; Mat. 3:17; Ef. 5:2; Rom. 3:26; Ef. 2:7.
IV. Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar todos os eleitos, e Cristo, no cumprimento do tempo, morreu pelos pecados deles e ressuscitou para a justificação deles; contudo eles não são justificados enquanto o Espírito Santo, no tempo próprio, não lhes aplica de fato os méritos de Cristo.
Ref. Gal. 3:8; I Ped. 1:2, 19-20; Gal. 4:4; I Tim. 2:6; Rom. 4:25; I Ped. 1:21; Col. 1:21-22; Tito 3:4-7.
V. Deus continua a perdoar os pecados dos que são justificados. Embora eles nunca poderão decair do estado de justificação, poderão, contudo, incorrer no paternal desagrado de Deus e ficar privados da luz do seu rosto, até que se humilhem, confessem os seus pecados, peçam perdão e renovem a sua fé e o seu arrependimento.
Ref. Mat. 6:12; I João 1:7, 9, e 2:1-2; Luc. 22:32; João 10:28; Sal. 89:31-33; e 32:5.
VI. A justificação dos crentes sob o Velho Testamento era, em todos estes respeitos. a mesma justificação dos crentes sob o Novo Testamento.
Ref. Gal. 3:9, 13-14; Rom. 4:22, 24.
    Não poderíamos ser justificados se não tivéssemos antes, sido redimidos.
    A redenção é o preço pago como resgate para  libertar prisioneiros  da prisão. Jesus pagou com o seu sangue, de forma completa e definitiva, o preço exigido pela justiça divina, para livrar os pecadores da condenação eterna. Este resgate não tinha preço pois se refere à libertação de vidas. Quanto vale uma só vida?
   O pagamento de Cristo cobriu completa e perfeitamente, todos os  débitos de todos os crentes para com Deus. Todas as exigências da lei foram pagas na cruz. O recibo do cancelamento total da dívida foi encravado na  cruz (Col 2.13,14). Agora, não há nenhuma condenação para quem  está em Cristo (Rom 8.1), nenhuma chama do inferno destinada a eles. O  trabalho foi realizado completamente pelo próprio Cristo, sem o auxílio de qualquer pessoa.
  A justificação é o efeito ou resultado da aplicação dos benefícios  decorrentes da redenção. Como o débito foi pago por outro em nosso lugar, então somos declarados justos e sem culpa por Deus. Cristo se  apresentou na presença do Pai, no lugar dos pecadores, para receber a sentença e a execução da mesma, que eram destinadas a eles. Quando Deus disse em  relação aos que seriam redimidos por Cristo, que deveria condená-los e puni-los, Cristo se declarou culpado no lugar deles. Quando a execução da sentença foi determinada, Cristo declarou que deveria ser punido no lugar deles, e o fez  morrendo na cruz. Isto é o que se chama de doutrina da substituição ou sacrifício vicário. Cristo ficou no lugar do pecador, e nós ficamos  no lugar  de Cristo diante de Deus. Ele nos olha como se fôssemos Cristo, e somos aceitos por Ele com o mesmo amor que ama a Cristo. E somos considerados herdeiros, inclusive de uma coroa no céu, juntamente com Cristo. Tão logo que o pecador se arrepende ele é justificado de todos os  seus pecados. Ele está sem culpa diante de Deus, inteiramente  aceito pelo  Seu amor. Além disso, ele passa a ter méritos porque tomou a justiça de  Cristo para si. Os trapos do pecador (seus pecados) foram lançados sobre Cristo (Is 53.11b), e as vestes de Cristo foram colocadas no pecador arrependido.
A justificação é irreversível. Tão logo que o pecador toma o  lugar de Cristo, e Cristo toma o lugar do pecador, não há mais o temor de uma segunda troca. Cristo pagou o débito e este não será exigido novamente (Jo 3.14,18). O castigo que ele sofreu na cruz em nosso lugar não terá que ser sofrido por nós novamente. Ele não cancelou o escrito de dívida para que ele fosse reescrito outra vez (Col 2.13,14). Deus não dá o perdão gratuito para  voltar a condenar depois. Daí não mais haver condenação para quem está em Cristo  Jesus (Rom 8.1). Ninguém pode condenar a quem Deus justificou (Rom 8.33,34).
Tudo isto é obtido gratuitamente sem as nossas obras (Ef  2.8,9). Nunca será obtido com base nos nossos merecimentos. É obtido por nada, sem que nada façamos, além de crer. O ladrão que foi salvo na cruz, e as pessoas que aceitam a Cristo em seus leitos de morte, bem ilustram o fato de que a salvação/justificação é por meio da fé somente, e não das obras.
O evangelho de Cristo é tão imensamente precioso que  não poderia  ser comprado por qualquer valor deste mundo ou do universo. É por isso que Deus nos concede a salvação por graça, mediante o preço altíssimo e incalculável, que Jesus pagou com Sua própria vida e ao dispor-se a levar sobre Si a culpa de todos os nossos pecados.
Primeiro devemos ser justificados simplesmente pedindo para sermos salvos, e faremos as boas obras depois (Ef 2.10), pois que somos justificados, para sermos regenerados e santificados, porque a santidade é a essência mesma da natureza de Deus. Se alguém quiser ser justificado deve vir a Cristo como está, com todos os seus pecados, não lhe escondendo cousa alguma, porque é isto  o que  nos recomenda a Ele para sermos socorridos, a exposição sincera do nosso estado de miséria e o reconhecimento da nossa culpa, em razão do  pecado. Mostrando-lhe o estado de sujeira e os trapos de nossas roupas, ele as trocará pelas suas vestes de justiça alvas e limpas (Zac 3.1-5).
Precisamos de arrependimento e o desejo de deixar o pecado para sermos justificados, mas não é uma coisa nem outra a causa da nossa  justificação, ainda que necessárias, mas Cristo, Cristo, Cristo, somente Cristo.
Mas, para se arrepender, o pecador necessita do convencimento e da obra do Espírito Santo. O homem  dirigido pelo Espírito para ser justificado.  O homem necessita ser justificado porque foi criado para ser justo tanto para com os demais homens, quanto para com Deus. Quando o homem é trazido a Cristo, pelo Espírito, ele descobre  que sua vida tem sido manchada por várias ofensas contra a lei de Deus.
O Espírito Santo nos convence do pecado antes que possamos ser  justificados, para compreendermos que estamos cheios de pecados,  tanto em  nossas ações exteriores, quanto em nossos pensamentos e imaginação. O pensamento e a imaginação do nosso coração são continuamente maus. Ninguém pode alegar inocência diante do trono de Deus. A menos que o homem seja derrubado do seu orgulho em não se reconhecer pecador, Cristo nunca o levantará. Por ser um transgressor da lei de Deus, o  homem, sem  Cristo, nunca pode estar de pé diante dEle baseado em sua própria justiça. A possibilidade de ser justificado com base na justiça própria deve ser considerada como um caso totalmente perdido. O passado não poder ser apagado, e o futuro não será nada melhor, e assim a salvação pelas obras da lei será sempre uma impossibilidade (At 13.39; Rom 3.20,28; 4.1-8; 9.30-32; Gl 2.16; 3.11).
A lei amaldiçoa a todos os que  não cumprem  os seus  mandamentos (Dt 27.26; Gl 3.10,11) mas Jesus se fez maldição no nosso lugar para nos resgatar da maldição da lei (Gl 3.13,14). Os que não têm a Cristo permanecem debaixo da referida maldição (Gl 3.10). Mas o justificado é resgatado dela.
Os que buscam ser justificados pela lei, e não pela fé em Cristo, deveriam se lembrar que quem quebra a lei num só ponto se torna culpado de todos os demais (Tg 2.10). Um só pecado sujeita o transgressor à condenação eterna no inferno (Mt 5.18,19,22). Isto revela quão estrita é a justiça de Deus. E aponta para a grandeza da ira de tal justiça que foi despejada sobre Jesus quando pagou pelos nossos pecados na cruz, para satisfazer a exigência da justiça de Deus. O que concluímos disto é que qualquer pessoa que não tenha sido justificada por Cristo está sob condenação (Jo 3.36b), e nós, que temos sido justificados devemos levar o pecado muito a sério, sabendo que  a ira de Deus contra o pecado está revelada no castigo que Jesus sofreu na cruz.
 O homem só  pode ser justificado pelo caminho de Deus (a graça que está em Cristo) que é totalmente diferente do caminho através do qual não podemos ser  justificados (o mérito das nossas boas obras). Não somos justificados pela nossa própria obediência, mas pela obediência de Cristo (Rom 5.19).
Como a justificação não é pelo nosso merecimento, e sim pelos méritos de Cristo, é comum afirmar-se que a salvação é um dom (graça) imerecido. De fato não é  porque a mereçamos, que a recebemos, mas porque fomos eleitos  pelo amor de Deus para recebê-la. (Isto estudaremos pormenorizadamente no assunto relativo à eleição). E tudo o que se refere à nossa salvação (eleição, justificação, regeneração, santificação e glorificação) está em Cristo.
Quando o crente é abençoado com a bênção da justificação não é por  sua própria causa, mas por causa de Jesus. Deus apaga os seus pecados em  razão do que Jesus fez. O crente não tem méritos próprios mas tem recebido os méritos ilimitados de Jesus, ao ser vestido com  a Sua  justiça divina (Mt 22.11,12; Rom 10.4; I Cor 1.30). Todos os méritos de  Jesus são  imputados àqueles que são justificados pela sua graça. Cristo se fez pecado  por nós (II Cor 5.21) e nós fomos feitos reis e sacerdotes para Deus (I Pe 2.9;  Apo 5.9,10).
Estando vestido da justiça de Cristo, o crente não terá no céu uma justiça maior ou melhor do que a que tem na terra. É por isso que não será mais aceitável a Deus quando for para o céu, do que  aqui na terra, pois a mesma justiça de Jesus é a que os crentes possuem tanto na terra quanto  no céu. Uma justiça divina, melhor do que a que Adão tinha em seu estado de  inocência no Éden, que era uma justiça humana, baseada na sua própria justiça.O caminho de chegada a esta justificação é a fé. Não  por meio de  choros, orações, humilhações, trabalhos, leitura da Bíblia (ainda que tudo isso seja necessário depois que o crente é justificado) ou quaisquer outros meios, MAS PELA FÉ. É a graça quem justifica e salva, mas  sempre por meio da fé, porque Deus prometeu que seria apenas este o  único  meio  da  justificação (Hc 2.4; Rom 1.17; 5.1; Ef 2.8).
Mas a fé que conduz à justificação é uma fé viva, genuína, que  vem de Deus, do alto, que se manifesta em obras (I Tim 1.5; Tg 2.17-19). A fé sem fingimento que habitou na mãe e avó de Timóteo (II Tim 1.5). A fé que conduz ao arrependimento e  entrega da vida ao Senhor, para que seja por Ele transformada e santificada (este é um outro assunto que estudaremos sob os  temas de Regeneração e Santificação). Uma fé como esta não pode ser de nós mesmos, é uma fé que também recebemos como um dom de Deus.
O grande privilégio da justificação é que passamos a ter paz  com Deus (Rom 5.1). O temor do mal e do juízo vindouro terminam. O  crente se sente seguro nas mãos de Deus e descansa quanto ao destino eterno de sua alma, independentemente das circunstâncias adversas que possa sofrer neste mundo. O coração justificado pode experimentar a paz de Cristo em meio às aflições e tribulações.
Permanecendo em Cristo, os crentes não podem mais estar debaixo da maldição da lei, mesmo neste mundo, porque não apenas Deus os perdoou em Cristo quanto a todas as suas transgressões da lei, como estão destinados a viverem em perfeita harmonia com todas as exigências da lei moral de Deus, no  porvir, pela capacitação recebida do poder e graça de Deus, mediante a obra  de redenção realizada por Jesus, bem como pela regeneração e santificação operadas pelo Espírito Santo, que é o selo e a garantia da salvação dos  crentes. O Espírito que tem lutado contra a carne e mortificado a natureza  terrena do crente, na batalha constante que se  travará permanentemente  neste mundo, é a garantia que temos de Deus, de que Ele completará a Sua obra iniciada em nós na justificação e regeneração, de purificação do pecado e do revestimento de Cristo.
Como resultado ou consequência da justificação, somos regenerados e santificados pelo Espírito Santo, em Cristo. Somos feitos filhos de  Deus (Jo 1.12; I Jo 3.2), herdeiros de Deus, livrados da condenação da lei e da  morte, e temos vida eterna (Mt 25.46; Lc 18.30; 20.35,36; Jo 3.15,16,18;  3.36; 4.14,36; 5.24,29; 6.27,37,39,40,47,51,54, 57,58;  8.51; 10.10,28;  11.26; 12.25,50; 14.19; 17.2,3; At 13.46,48; Rom 1.17; 2.7; 5.9,17,18,21; 6.22,23; 8.1,2,6,16,18,32-35; 10.9,13; 14.4; I Cor 1.8,9;  2.12; 6.3;  9.25; 11.32; 15.49, 54; II Cor 1.24; 3.18; 4.17; 5.17; 13.6; Gl 4.6; 6.8; Ef  2.1,4,5,8-10; Fp 1.6,21; 3,21;  Col 1.12,  22,27; 2.13,14;  I Tes  1.10; 4.14,17; 5.9,10,23? II Tes 2.13,16,17; I Tim 1.15,16; 6.12; II Tim  1.9,10,12; 2.10; Tito 1.1,2; 3.4-7; Hb 1.14; 5.9; 6.17-20; 7.25; 8.12; 9.15; 10.14,39; 12.28; I Pe 1.3-5,22,23; 5.10; II Pe 1.3,4; 3.7,13; I Jo 1.2; 2.25; 3.1-3; 5.11-13, 20; II Jo 1,2).
Não podemos sentir a justificação, por ser um decreto legal da parte de Deus que nos livra da condenação e que nos imputa a justiça de Cristo, mas podemos sentir os seus efeitos sobre nós: o amor a Deus e aos irmãos em Cristo, o trabalho de purificação dos nossos pecados e o novo nascimento operados pelo Espírito Santo, a paz de Cristo em  nossos corações  e muitas outras evidências que comprovam que de fato fomos feitos  filhos de Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.          




2 - Uma Defesa da Doutrina da Justificação pela Fé

por Charles Haddon Spurgeon,

“E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.” Gálatas 5.24

De diversos lugares temos ouvido sérias e intensas objeções, e recentemente, no assunto e conteúdo da pregação dos evangelistas vindos da América que estão trabalhando entre nós. Claro que seus ensinamentos, assim como os nossos, estão abertos para julgamentos honestos e eles, temos certeza, prefeririam um tribunal que evitasse a investigação das coisas mais procuradas. Criticismos sobre nosso estilo de falar, cantar e etc, são tão sem importância que ninguém se importa em respondê-los. “A sabedoria é justificada pelos seus filhos.” É um desperdício de tempo para todos discutir sobre gostos pessoais, porém excelente seria agradar a todos, ou até mesmo sempre adaptar tudo para todas as constituições e condições. Portanto nós podemos deixar esses comentários de lado sem uma preocupação maior.
Mas sobre a questão da Doutrina muito tem sido dito e repetido, além disso, com uma boa dose de humor, nem sempre do melhor tipo. O que tem sido afirmado por uma certa classe de escritores públicos chega a isso: se você analisar essa Doutrina, “não se pode fazer qualquer bem real dizer aos homens que simplesmente por crer em Jesus Cristo, eles serão salvos”. E que isso “pode fazer às pessoas feridas muito graves, se levá-los a imaginar que eles tenham sido submetidos a um processo chamado “conversão” e que agora são “salvos para a vida””. Somos informados por estes senhores, pois deveríamos saber, sendo que falam de forma muito positiva, que a doutrina da “salvação imediata”, mediante a fé em Jesus Cristo, é muito perigosa. Dizem que certamente isso levará à degradação da moralidade pública, pois os homens não buscarão nem investirão nas virtudes práticas quando “somente a fé” é levantada a uma tão elevada posição. Dizem que se for assim, isso seria um erro grave e ai de quem levar os homens a esse erro!
Essa não é a verdade, temos certeza, mas por enquanto vamos examinar o campo de batalha. Por favor, notem que esta não é uma disputa destes senhores contra os nossos amigos D.L.Moody e Ira Sankey sozinhos! É uma disputa entre esses opositores e todos nós que pregamos o Evangelho! Pois, apesar de diferentes, assim como nós, no estilo da pregação, estamos todos prontos para definir o nosso “selo”, que é declarar da maneira mais clara possível que os homens são salvos pela fé em Jesus Cristo e salvos no momento em que creem! Nós todos confessamos e ensinamos que esse é um tipo de conversão – e que quando os homens são convertidos tornam-se em “outros homens”, diferentes do que eram antes – e começa uma nova vida que culminará na glória eterna.
Nós não somos tão covardes para permitir que os nossos amigos fiquem em pé sozinhos na frente da batalha, como se fossem pessoas estranhas com noções exclusivas que outros de nós discordamos. Como é a Salvação pela fé no sangue expiatório que está em causa, eles não pregam nada a mais do que temos pregado todas as nossas vidas! Eles não pregam nada a mais do que o consenso geral da cristandade protestante. Vamos deixar isso conhecido por todos e permitir que os arqueiros atirem em todos nós por igual! Então, além disso, se essa é a objeção, devemos ser como aqueles que se levantam para fazer conhecido que os opositores não se levantam contra nós simplesmente, e contra esses amigos que são mais destacados, mas contra a Fé Protestante, que estes mesmos senhores provavelmente professam para se gloriarem!
A Fé Protestante, em resumo, reside nesta mesma Justificação pela Fé que eles atacam. Foi a descoberta de que homens são salvos pela fé em Jesus Cristo, que primeiro despertou Lutero. Esse foi o raio de luz que desceu sobre o seu coração negro e pelo poder dessa luz o trouxe para a liberdade do Evangelho! Este é o martelo pelo qual o papado foi quebrado em tempos antigos e esta é a espada com que ele ainda está a ser ferido – a real “Espada do Senhor e de Gideão“. Jesus é o Salvador Todo-Suficiente e “Quem crê nele não é condenado” [Jo 3.18]. Lutero a usou, de fato, para dizer – e nós o apoiamos – que esta questão da Justificação pela Fé é o artigo pelo qual a Igreja deve ficar em pé ou cair!
Então, a chamada “Igreja”, que não possui esta Doutrina não é uma Igreja de Cristo! E é uma Igreja de Cristo se a detém, apesar de muitos outros erros nos quais ela pode ter caído. A batalha encontra-se realmente entre a doutrina papista do mérito e a doutrina protestante da Graça! E nenhum homem que se autodenomina um Protestante pode logicamente disputar essa questão contra nós e os nossos amigos. Vamos ir um pouco além do que isso. A oposição não é contra os senhores Moody e Sankey, mas contra todos os ministros evangélicos! Não é contra eles apenas, mas contra o nosso Protestantismo comum! E ainda mais – é contra a inspirada Palavra de Deus – pois se este livro ensina alguma coisa sobre o céu, certamente ensina que os homens são salvos pela fé em nosso Senhor Jesus!
Leia a Epístola aos Gálatas e seu julgamento pode ser até perverso, mas você não pode, por qualquer tipo de interpretação de palavras, negar a doutrina da Justificação pela Fé da Epístola. Ela foi escrita com o propósito de afirmar essa Verdade de Deus plenamente e defendê-la totalmente. Nem se pode livrar dessa Doutrina durante todo o Novo Testamento. Você certamente a encontrará não apenas “temperando” todas as Epístolas, mas positivamente saturando-as! E, você tomando capítulo por capítulo, você pode “espremer” delas, como foi feito com o velo de lã de Gideão [Juízes 6.38], esta verdade única – que a justificação diante de Deus é pela fé e não por obras da Lei. Assim, a oposição é contra a Bíblia – e deixem que aqueles que atiram seus enganos, compreendam que lutam contra o Espírito Eterno de Deus e contra o testemunho que Ele tem depositado pelos seus profetas e apóstolos! Negue a Inspiração e você não terá chão para pisar. Mas enquanto você acreditar na Bíblia você deve acreditar na Justificação pela Fé.
Mas agora vamos examinar este assunto de frente. É verdade, ou não, que as pessoas que creem em Jesus Cristo, tornam-se piores do que eram antes? Não estamos atrasados para responder ao inquérito e estamos em um ponto de observação que nos fornece dados abundantes para passarmos por cima. Afirmamos solenemente que os homens que creem em Jesus tornam-se mais puros, mais santos e melhores. Ao mesmo tempo, confesso que houve uma boa dose de conversa imprudente e enganadora, às vezes, por ignorantes defensores da Livre Graça. Temo, aliás, que muitas pessoas pensam que acreditam em Jesus Cristo, mas não fazem nada com relação à isso. Nós não defendemos declarações libertinas, ou negamos a existência de seguidores de mente fraca. Mas nós pedimos para sermos ouvidos e considerados.
Algumas pessoas dizem: “Você diz à essas pessoas que elas serão salvas após elas acreditarem em Cristo.” Exatamente isso. “Mas, por favor, me diga o que você quer dizer por ser salvo, senhor?” Eu direi, com grande prazer. Não queremos dizer que essas pessoas vão para o céu quando morrerem, independentemente do seu caráter. Mas, quando dizemos que, se eles acreditarem em Jesus serão salvos, queremos dizer que eles serão salvos de viver como eles viviam – salvos de serem o que são agora – salvos da libertinagem, da desonestidade, da embriaguez, do egoísmo e qualquer outro pecado que eles podem ter vivido. A coisa pode ser facilmente posta à prova! Se puder ser mostrado que aqueles que creram no Senhor Jesus foram salvos de viver em pecado, nenhum homem racional deveria levantar qualquer objeção à pregação de tal Salvação!
Salvação do pecado é uma coisa que todo moralista deveria recomendar e não censurar – e essa é a salvação que nós pregamos. Receio que alguns imaginam que eles só têm que acreditar em alguma coisa ou outra, e eles vão para o céu quando morrer. E que eles têm apenas de sentir uma certa emoção singular e está tudo certo com eles. Agora, se algum de vocês tem caído nesse erro, que Deus, em Sua misericórdia, tire-o daí, pois não é todo tipo de fé que salva, mas somente a fé dos eleitos de Deus. Não é qualquer tipo de emoção que muda o coração, mas a obra do Espírito Santo.
É de pequena importância ir para uma sala de inquérito e dizer “eu creio”. Semelhantemente, uma confissão não prova nada! Pode ser falsa. E tudo vai ser provado por isso – se você verdadeiramente acreditou em Jesus Cristo, você vai se tornar, a partir daquele momento, um homem diferente do que você era. Haverá uma mudança em seu coração e alma, na sua conduta e sua conversa. E, vendo que você mudou dessa maneira, aqueles que foram honestos opositores deixarão rapidamente as suas acusações, pois eles estarão na condição de quem viu o homem que foi curado com Pedro e João e, portanto, não podia dizer nada contra eles.
O mundo exige fatos e é isso que estamos fornecendo! É inútil gritar nosso remédio com palavras – devemos apontar para a cura. Sua mudança de vida será o argumento mais grandioso do Evangelho, se essa vida é para mostrar o significado do meu texto – “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.” Vamos discutir este texto de forma apologética, na esperança de derrotar o preconceito, se Deus permitir.

I - Observe, em primeiro lugar, que O RECEBER JESUS CRISTO PELA FÉ É, EM SÍ, UMA CONFISSÃO QUE TEMOS CRUCIFICADO A CARNE COM SUAS PAIXÕES E CONCUPISCÊNCIAS. Se a fé é como uma confissão, porque dizer que não está relacionado com uma vida santa? Deixe-me mostrar que esse é o caso. Fé é a aceitação de Jesus Cristo. Em que aspecto? Bem, principalmente como um Substituto. Ele é o Filho de Deus e eu sou um culpado pecador. Eu mereço morrer – o Filho de Deus fica no meu lugar e sofre por mim. E quando eu creio nele eu O aceito permanentemente.
Crer em Jesus era de uma forma muito bonita estabelecida na velha cerimônia da Lei, quando a pessoa trazia um sacrifício, colocava as mãos sobre a cabeça do novilho ou cordeiro e assim aceitava que a vítima ficasse em seu lugar, de modo que o sofrimento da vítima deveria ser seus sofrimentos. Agora, nossa fé aceita a Jesus Cristo como permanente em nosso lugar. O núcleo e coluna da confiança da fé reside no seguinte:
“Ele carregou, o que eu nunca poderia suportar,
A Ira do Seu Justo Pai”.
Cristo para mim, Cristo em meu lugar. Agora, tente captar o seguinte pensamento. Quando você crê, você aceita Cristo estando em seu lugar e professa que o que Ele fez, Ele fez por você – E o que Cristo fez em cima daquele madeiro? Ele foi crucificado e morto. Acompanhe o pensamento e perceba bem que pela fé você se considera como morto com Ele – crucificado com Ele.
Você realmente não compreendeu o que significa “fé”, a menos que você tenha entendido isso. Com Ele você sofreu a Ira de Deus, pois Ele sofreu em seu lugar. Você está agora nEle – crucificado com Ele, morto com Ele, sepultado com Ele, ressuscitado com Ele e glorificado com Ele – porque Ele representa você e sua fé aceitou a representação. Você vê, então, que você fez, no momento em que você acreditou em Cristo, uma declaração de que você está, a partir daquele momento, morto para o pecado? Quem pode dizer que o nosso Evangelho ensina os homens a viver em pecado, quando a fé que é essencial para a Salvação envolve uma confissão de morte a ele? A conversão começa com o concordar em ser considerado morto com Cristo para o pecado – não temos nós, aqui, a pedra fundamental da santidade?
Observe, também, que se ele seguir os mandamentos de Cristo, o primeiro passo que um cristão tem a dar depois que ele aceitou a posição tomada pelo Senhor Jesus, é outra confissão mais pública do que o primeira, ou seja, o seu batismo. Pela fé, ele aceitou a Cristo como morto no lugar dele, e ele se refere a si mesmo como estando morrido em Cristo. Agora, cada homem morto deve ser enterrado, mais cedo ou mais tarde. E assim, quando vamos para a frente e confessamos a Cristo, somos “sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” [Rm 6.4]
Todavia o Batismo não significa nada além de uma cerimônia, não tendo nenhum poder ou eficácia em si mesmo, mas como um sinal e um símbolo que nos ensina que verdadeiros crentes estão mortos e sepultados com Cristo. Então você vê as duas maneiras pelas quais, segundo o Evangelho, nós realmente e declaradamente nos entregamos a Cristo, que são a fé e o Batismo. “Quem crer e for batizado será salvo” [Marcos 16.16]. Agora, a essência da fé é aceitar a Cristo como me representando na Sua morte. E a essência do batismo é ser enterrado com Cristo, porque eu estou morto com Ele. Assim, nos primeiros passos da religião cristã, em seu primeiro ato interno e em seu primeiro símbolo externo, você entende que os crentes devem, de agora em diante, ser separados do pecado e purificados na vida.
Aquele que realmente acredita e sabe o que é ser sepultado realmente com Cristo, começou – na verdade, ele já tem, em certo sentido, efetuado completamente – o que o texto descreve como a crucificação da carne com as suas paixões e concupiscências. Porque, caros amigos, nunca devemos esquecer que o grande objetivo pelo o qual nos lançamos em Cristo é a morte do pecado! Se houver alguém no meio de nós que acreditou em Cristo somente para que possa escapar da agonia do Inferno – Oh, Irmãos e Irmãs, mvocê tem uma idéia muito pobre do que Jesus Cristo veio fazer no mundo! Ele é proclamado como um Salvador que “salvará o seu povo dos seus pecados” [Mateus 1.21]. Este é o alvo de sua missão! É verdade, Ele vem para dar o perdão, mas Ele nunca dá o perdão, sem dar arrependimento junto!
Ele vem para justificar, mas ele não justifica sem também santificar. Ele veio para nos libertar, não somente de ti, oh morte! Nem somente de ti, oh inferno! Mas de você, oh Pecado, a mãe da Morte, o progenitor do inferno! O Redentor passa o machado na raiz de todo o mal matando o pecado e, portanto, tanto quanto estamos preocupados, Ele põe um fim a morte e o inferno! Glória a Deus por isso! Agora, parece-me que se o início da fé cristã é tão manifestamente ligado com a morte para o pecado, eles fazem-nos uma grave injustiça ao supor que na pregação da fé em Jesus Cristo nós ignoramos os valores morais ou as virtudes, ou que nós desprezamos o pecado e os vícios! Nós não fazemos isso, mas nós proclamamos o único método pelo qual o mal moral pode ser condenado à morte e varrido! A recepção de Cristo é uma confissão da crucificação da carne com as suas paixões e concupiscências – o que mais pode propor o moralista mais puro? Que mais poderia ele reconhecer por ele mesmo?
II – Em segundo lugar, POR UMA QUESTÃO DE FATO, O RECEBER A CRISTO É ACOMPANHADO DA CRUCIFICAÇÃO DO PECADO. Vou agora expor a minha própria experiência de quando eu acreditei em Jesus. E enquanto eu faço isso alegro-me em lembrar que existem centenas, senão milhares neste lugar que experimentaram o mesmo. E existem milhões nesse mundo e mais milhões no Céu que sabem a Verdade a qual eu declaro. Quando eu acreditei que Jesus era o Cristo [O Salvador] e descansei minha alma nEle, eu senti em meu coração, a partir desse momento, um intenso ódio ao pecado, e de todos os tipos. Eu tinha amado o pecado antes, alguns pecados particularmente, mas esses pecados tornaram-se, a partir daquele momento, os mais detestáveis para mim e, embora a propensão para eles ainda esteja lá, o amor para eles não existia mais.
E quando eu, em qualquer momento pecava, sentia uma dor interior e horror em mim mesmo por fazer as coisas que antes eu concordava e gostava. Meu prazer para com o pecado tinha desaparecido. As coisas que um dia eu amei, eu abominava e corava só de pensar. Então comecei a caçar os meus pecados. Eu vejo, agora, um paralelo entre a minha experiência referente ao pecado e os detalhes da crucificação de Cristo. Eles enviaram Judas para o jardim para procurar o nosso grande Substituto, e foi justamente dessa forma que comecei a “caçar” o pecado, porque ele estava escondido em meio à escuridão da minha alma. Eu era ignorante e não sabia o que era pecado, pois era noite como em qualquer alma, mas, sendo encorajado a destruir o mal, meu espírito arrependido pegou emprestado lanternas e tochas, e saiu como se estivesse perseguindo um ladrão.
Eu vasculhei o jardim do meu coração vez após vez, com um ardor intenso para encontrar todo pecado. E eu busquei a Deus para me ajudar, dizendo: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos” [Salmos 139.23]. Eu não cessei até que eu tinha encontrado as minhas transgressões secretas. Essa busca interior é uma das minhas ocupações mais constantes. Eu policio minha natureza de novo, e de novo para tentar prender esses criminosos, esses pecados abomináveis, para que possam ser crucificados com Cristo! Oh você, em quem se esconde iniquidade por causa da sua ignorância espiritual, desperte para um exame rigoroso da sua natureza e não mais tolere que seu coração seja esconderijo para o mal!
Eu me lembro de quando eu encontrei o meu pecado. Quando o descobri, eu o agarrei e o arrastei para o Trono do Julgamento. Ah, meus irmãos e irmãs, vocês sabem quando isso ocorreu com vocês – e quão duro foi o julgamento que liberou a Consciência. Sentei-me no julgamento, eu mesmo. Eu levei o meu pecado de um tribunal a outro. Eu olhei para ele diante dos homens e tremia só de pensar que a maldade do meu exemplo pudesse arruinar as almas de outros homens! Eu olhei para o meu pecado diante de Deus e eu abominava-me no pó e nas cinzas [Jó 42.6]. Meu pecado era vermelho como o carmesim diante dEle e diante de mim também. Julguei o meu pecado e o condenei – condenado como um criminoso para morrer como um criminoso. Eu ouvi uma voz dentro de mim que, assim como Pilatos, dizia “Vou castigá-lo e deixá-lo ir! Vou envergonhá-lo um pouco. Não deixarei que o mal seja feito com muita frequência. Deixarei a luxúria ser controlada e mantida sob controle“.
Mas, ah, minha alma disse: “Crucifica-o! Crucifica-o!” E nada podia abalar meu coração desse propósito, que eu deveria matar todos os assassinos de Cristo, se possível, e não permitir que nenhum deles escapasse, pois a minha alma os odiava com ódio mortal e de bom grado os pregou todos na cruz. Lembro-me, também, como eu comecei a enxergar a vergonha do pecado. Assim como o meu Senhor foi cuspido, escarnecido e acusado, agora minha alma começou a derramar o desprezo sobre todo orgulho do pecado, desprezar as suas promessas de prazer e acusá-lo de milhares de crimes! Ele tinha me enganado. Ele me levou à ruína. Ele esteve bem perto de me destruir! Eu o desprezava e derramei esse desprezo sobre os seus enganos e tudo o que ele ofereceu de doçura e de prazer.
Oh pecado, quão vergonhoso uma coisa pode ser por sua causa! Eu vi que tudo é baseado, intermediado, e desprezívelmente concentrado em você! Meu coração machucou o pecado através do arrependimento, feriu-o com censuras e o golpeou negando a mim mesmo. Então, foram feitas uma afronta e um escárnio. Mas isso não bastou – o pecado deve morrer. Meu coração chorou pelo o que o pecado tinha feito e eu estava decidido a vingar a morte do meu Senhor por mim. Assim minha alma cantou a sua determinação:
“Oh, como eu odeio os meus desejos
Que crucificaram o meu Deus!
Aqueles pecados que perfuraram e pregaram sua carne
Rapidamente, no madeiro mortal!
Sim, meu Redentor, eles devem morrer!
Meu coração assim decretou:
Não vou poupar os culpados
Pelos quais meu Salvador sangrou”.
Então eu carreguei os meus pecados para o local da crucificação. Eles gostariam de ter escapado, mas o poder de Deus os impediu e, como uma escolta de soldados, os conduziu para a execução. A mão do Senhor estava presente e Seu Espírito todo revelador despiu meu pecado, como Cristo foi despido!
Ele pôs diante de meus olhos, até mesmo meu pecado secreto diante da luz da Sua Face! Oh, como foi um espetáculo quando eu O contemplei! Eu tinha olhado, antes, para as vestes luxuosas e as cores com as quais o pecado tinha se pintado para fazê-lo parecer tão bonito quanto Jezabel quando ela se pintou. Mas agora eu vi sua nudez e horror – e eu fiquei bem perto de entrar em desespero! Mas o meu espírito se ergueu, porque eu sabia que eu estava perdoado, e eu disse: “Jesus Cristo me perdoou, porque eu acreditei nEle. E eu vou levar minha carne à morte crucificando-a na Sua Cruz“. Conduzindo-a aos cravos, eu me lembro, como a carne se esforçou para manter a sua liberdade. Um, dois, três, quatro – os cravos entraram e prenderam a coisa maldita no madeiro com Cristo, para que ela não possa nem correr nem se esquivar – e, agora, glória a Deus, embora o meu pecado não esteja morto, ele está crucificado e deve, finalmente, morrer!
Está pendurada lá em cima. Posso vê-la sangrando a sua vida. Às vezes, esforça-se para descer e tenta arrancar os cravos, para ir atrás da vaidade. Mas os cravos sagrados a prendem bem rápido – é o abraço da morte e ela não pode escapar. Infelizmente, ela morre uma morte lenta, passando com muita dor e lutando! Mas ainda assim ela morre. E em breve o seu coração será traspassado com a lança do amor de Cristo e será totalmente aniquilada. Então, a nossa natureza imortal não mais será sobrecarregada com o corpo desta morte, mas, pura e imaculada, se elevará para estar perante a face de Deus para sempre.
Agora, eu não estou falando alegoricamente de coisas que deveriam ser feitas, mas, na verdade, não passam de meras idéias. Eu estou descrevendo em figura o que acontece na realidade – que cada homem que crê em Jesus imediatamente se esforça para se livrar do pecado. E você pode saber se ele acreditou em Jesus Cristo ou não, vendo se há uma mudança em suas motivações, sentimentos, vida e conduta. Você diz que duvida disso? Você pode duvidar se quiser, mas os fatos falam por si. Virão até mim, me atrevo a dizer, antes que esta semana termine, como na maioria das semanas da minha vida, homens que tinham sido escravos da intoxicação, agora sóbrios, por acreditarem em Jesus Cristo!
Mulheres desvirtuadas, que se tornaram puras e castas por crer em Jesus, virão, e tantos homens e mulheres que eram amantes de todos os tipos de prazeres malignos, que se apartaram imediatamente deles, e continuaram a resistir a todas as tentações porque eles são novas criaturas em Cristo Jesus! O fenômeno da conversão é único, mas o efeito da conversão é mais singular ainda! E não é uma coisa escondida – pode ser visto a cada dia. Se for simplesmente uma emoção na qual o homem sentiu uma aflição de espírito e, em seguida, bem breve, pensou que estava em paz e tornou-se feliz porque se auto-satisfez, eu não verei qualquer bem particular nele. Mas se é verdade que a regeneração altera os gostos e afetos dos homens, no final, as alterará radicalmente, transformando-as completamente em novas criaturas! Se é assim, eu digo, então Deus pode nos enviar milhares de conversões! E como isso é assim, nós estamos completamente certos, pois vemos isso sempre.
III - Em terceiro lugar, podemos ir um passo adiante e dizer que A RECEPÇÃO DE JESUS CRISTO NO CORAÇÃO PELA FÉ SIMPLES É CALCULADA PELA CRUCIFICAÇÃO DA CARNE. Quando um homem crê em Jesus, a primeira força que o ajuda a crucificar a carne é que ele tem visto a maldade do pecado, na medida em que viu Jesus, seu Senhor, morrer por causa disso. Os homens pensam que o pecado não é nada, mas o que pecado faz? O que ele não faz? O vírus do pecado, o que isso contamina? Sim, o que isso não contamina? Sua influência tem sido maligna na maior escala concebível.
O pecado inundou o mundo com sangue e lágrimas através de uma declarada guerra! O pecado cobriu o mundo com opressão e por isso tem esmagado o animo de muitos, e quebrado o coração de milhares! O pecado gerou a escravidão, a tirania, sacerdócio, revolta, calúnia e perseguição! O pecado tem sido o fundamento de todos os sofrimentos humanos. Mas a coroação, o ponto culminante da vilania do pecado foi quando Deus, Ele mesmo, desceu à Terra em forma humana – pura, perfeita, intenção de uma mensagem de amor – e veio para fazer milagres de misericórdia e redenção. Então o homem pecador nunca poderia descansar até que ele tivesse crucificado seu Deus encarnado! Os monarquistas inventaram uma palavra quando o Parlamento, após a Segunda Guerra Civil, ganha por Oliver Cromwell, executou o rei da Inglaterra em 1649. Chamaram os destruidores do rei Charles I de “regicidas”, e agora temos de criar uma palavra para descrever o pecado – o pecado é um Deicida.
Todo pecador, se pudesse, mataria a Deus, pois ele diz em seu coração: “Não há Deus”. Isso significa que ele deseja que não exista nenhum. Ele iria se alegrar, de fato, se ele pudesse ter a certeza de que Deus não existe. Na verdade, esse é o pesadelo de sua vida: que exista um Deus – um Deus justo, que o levará a julgamento! Seu desejo secreto é que não exista nenhuma religião e nem Deus, pois assim ele poderia, então, viver como quisesse. Agora, quando a um homem é dado ver que o pecado em sua essência é o assassino do Emanuel, Deus conosco, o seu coração se renova, ele odeia o pecado a partir desse exato momento. “Não”, ele diz: “Eu não posso continuar em tamanha maldade! Se esse é o verdadeiro significado de cada delito contra a Lei de Deus – que seria colocar Deus, Ele mesmo, fora do seu próprio mundo, se pudesse – eu não posso suportar isso.”
Seu espírito recua com horror, e ele sente -
“Meus pecados têm trazido a Ira
Sobre a cabeça inocente!
Quebrante, quebrante, meu coração, oh choque-se meus olhos!
E deixe minhas tristezas sangrarem.
Arrebente, Servo poderoso, a minha alma duríssima,
Até que as águas quentes fluam
E o profundo arrependimento domine meus olhos
Em angustia sincera”.

Então o crente tem visto também, na morte de Cristo, um exemplo surpreendente da Grande Graça de Deus, pois se o pecado é uma tentativa de assassinato de Deus – e é isto mesmo – então quão maravilhoso é que as criaturas que cometeram esse pecado não foram destruídas de uma vez! Quão notável seja o fato que Deus devesse considerar que vale a pena elaborar um plano para a sua restauração! E Ele, com uma habilidade incomparável, criou uma maneira que envolveu a entrega de Seu Unigênito e bem-amado Filho. Embora este fosse um pagamento inigualável, contudo, não voltou atrás. Ele “amou o mundo de tão maneira, que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” [João 3.16]. E isso por uma raça de homens que eram os inimigos desse Deus bom e gracioso!
“De agora em diante”, diz o crente em Cristo: “Eu não posso ter nada a ver com o pecado, uma vez que esse é uma ofensa a um Deus tão gracioso. Oh, você, maldito pecado, que conduziu o seu punhal no coração dAquele que possui toda a Graça e Misericórdia!” Isso faz com que o pecado seja excessivamente maligno. Além disso, o crente tem tido uma visão da Justiça de Deus. Aquele pecado não era o dEle próprio – Nele não havia pecado! Mas quando Ele voluntariamente o tomou sobre Si e foi feito maldição por nós, o Juiz de toda a terra não O poupou! Fazendo descer Seu arsenal de vingança Ele tomou Seus raios e atirou-os no Seu Filho, para Seu Filho ficar no lugar do pecador.
Não houve misericórdia para o Substituto do pecador. Ele teve que gritar como nunca alguém gritou, antes ou depois: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Uma cascata de aflição foi despejada em Seu espírito. A condenação do pecado o dominou. Toda a onda de choque de Deus veio sobre Ele. Agora, quando um homem vê este fato surpreendente, ele não pode mais ter um pensamento leviano da transgressão. Ele treme diante do Senhor três vezes Santo e chora secretamente no seu coração “como é possível eu pecar se esta é a opinião de Deus sobre o pecado? Se na Sua justiça, Ele feriu-O de uma forma sem limites, mesmo quando essa Justiça era apenas por imputação a Seu Filho, como Ele vai ferir quando sua culpa real está em mim? Oh Deus livra-me disso.” O crente também tem mais uma visão que, talvez, mais efetivamente do que qualquer outra altera a sua visão do pecado.
Ele viu o incrível amor de Jesus. Alguma vez você o viu, meu ouvinte? Se você viu, você nunca vai amar o pecado de novo! Oh, só de pensar que Aquele que foi o Mestre de toda a majestade do céu veio a ser vítima de toda a miséria do homem! Ele veio para Belém, e habitou entre nós, oferecendo mais de 30 anos trabalhosos de obediência à vontade do Pai. E no final Ele chegou ao cume de seus sofrimentos, a coroação da tristeza de Sua encarnação – Seu suor de sangue, e Sua morte agonizante na Cruz! Aquela foi uma Páscoa solene que Ele comeu com Seus discípulos, já com o Calvário em plena vista. Então ele se levantou e foi para Getsêmani.
“Getsêmani, a ‘prensa de azeite’,
(E o porquê deixe os chamados cristãos adivinhar)
O nome correto, o local adequado, onde a vingança se esforçou,
E apertou e lutou duro contra o Amor.
E foi ali que o Senhor da Vida chegou
E suspirou, e gemeu, e orou, e temeu;
O Deus encarnado prensado por tudo o que deveria suportar
Com bastante força, e nada a perder.”

Eis como Ele nos amou! Ele foi levado até Pilatos e foi açoitado. Açoitado com os terríveis açoites romanos, pesados, com pequenas bolas de chumbo e feitos de tendões entrelaçados de bois, no qual eles também colocaram pequenas lascas de ossos, de modo que cada golpe, uma vez que acertou, rasgou a carne! Nosso amado Senhor teve que sofrer isso de novo e de novo, sendo açoitado muitas vezes como esse verso parece declarar, que diz:
“Ele foi ferido pelas nossas transgressões,
E moído pelas nossas iniqüidades;
O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele.
E pelas suas pisaduras fomos sarados”.
[Isaías 53.5]

Contudo, Ele nos amou, ainda nos amou! As muitas águas não poderiam apagar Seu amor, nem as inundações poderiam afogá-lo. Quando eles O pregaram no madeiro, Ele ainda nos amou. Quando cada osso foi deslocado, Ele chorou em monólogo triste, “Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; [Salmo 22.14]” Ele nos amou ainda! Quando os cães O cercaram e os touros de Basã O rodeavam [Salmo 22.12], Ele ainda nos amou.
Quando o desmaio de pavor veio sobre Ele até que foi trazido para o pó da morte e seu coração derretido como cera [Salmo 22,14], Ele ainda nos amou! Quando Deus O abandonou e o sol se apagou, as trevas da meia-noite cobriram o meio-dia, e uma densa meia-noite cobriu o Seu espírito. A escuridão, como a do Egito, pôde ser sentida. Ele nos amou ainda! Até que tenha bebido a última gota da bebida indizivelmente amarga, Ele ainda nos amou! E quando a luz brilhou em Seu rosto e Ele pôde dizer: “Está consumado”, aquela luz brilhou sobre a face daquele que ainda assim nos amou! Agora, cada homem a quem foi dado o crer em Jesus e conhecer o Seu amor, diz: “Como posso ofende a Ele? Como posso entristecer a Ele? Há ações nesta vida que eu poderia de outra maneira fazer, mas agora não me atrevo, pois tenho medo de maltratar meu Senhor”.
E se você disser “Ora essa, você tem medo dEle?” A resposta será: “Não estou servindo com medo, pois para o inferno eu nunca poderei ir.” Do que eu estou com medo, então? “Tenho medo daquele rosto querido, no qual vejo a corrente de lágrimas que uma vez Ele derramou por mim. Tenho medo daquela querida testa que usou a coroa de espinhos em meu lugar. Eu não posso me rebelar contra tamanha bondade. Seu amor ensanguentado me acorrenta. Como posso fazer uma maldade tão grande como colocar o meu sofrido Senhor na vergonha?” Vocês não sentem isso, meus amados irmãos e irmãs? Mesmo se você nunca confiou no Senhor Jesus, você deveria se ajoelhar aos seus pés e beijar as marcas dos seus cravos por tamanho amor! E se Ele fosse usá-lo como um banquinho para os pés, se isso fosse elevá-Lo mesmo que um pouco, você teria isso como a maior honra da sua vida!
Sim, se Ele mandasse você ir para a prisão e morrer por Sua causa, e dissesse isso Ele mesmo, e colocasse as mãos perfuradas em você, você iria para lá tão alegremente como os anjos voam pelo Céu! Se ele mandasse você morrer por Ele, mas com a carne sendo fraca, o seu espírito estaria disposto! Sim, e a carne seria feita forte o suficiente, também, pois Jesus olharia para você e Ele pode, com um olhar, expulsar o egoísmo, a covardia, e tudo o que nos impede de nos oferecermos como um sacrifício a Ele!
“Falam de moralidade!
Cordeiro que sangra
A melhor moralidade
É Lhe amar!”

Quando estamos mais uma vez cheio de amor a Ti, Oh Jesus, o pecado torna-se o dragão contra o qual temos uma guerra ao longo da vida! A santidade se torna a nossa mais nobre aspiração e a buscamos com todo nosso coração, alma e força! Se a mente racional considera honestamente a religião de Jesus Cristo, ela verá que os cristãos devem odiar o pecado, se eles são sinceros em sua fé. Eu poderia ir mais longe do que isso, mas eu não vou.
IV - A última coisa de todas é esta. O ESPÍRITO SANTO ESTÁ COM O EVANGELHO E ONDE ELE ESTÁ, A SANTIDADE SERÁ PROMOVIDA. Nunca se deve esquecer que, embora o receber Jesus Cristo pela simples fé é uma confissão de morte para o pecado e traz com ela uma experiência de ódio ao pecado – e é esperado que aconteça – há mais uma coisa. Se, queridos amigos, em qualquer trabalho de reavivamento, ou qualquer ministério, não houver nada mais do que você pode ver ou ouvir, eu acho que as muitas críticas e zombarias poderiam ser, pelo menos, racionais, mas eles não são assim! Um fato grandioso os torna para sempre irracionais.
Onde quer que Jesus Cristo é pregado, está presente Um, que é grande em classe e alto em posição. Você não pode pensar que eu estou falando de qualquer autoridade terrestre. Não, estou falando do Espírito Santo – o sempre abençoado Espírito de Deus! Nunca há um sermão sobre o Evangelho pregado por um coração sincero sem que o Espírito Santo esteja lá, tomando as coisas de Cristo e as revelando aos homens. Quando um homem vira os olhos para Jesus e simplesmente confia nEle – nós concordamos que esta é uma questão vital – isso está acompanhando o ato – não, eu devo me corrigir, isso é a causa desse ato, um milagroso, sobrenatural poder que em um instante transforma um homem completamente, tirando-o do caminho para o caos e lhe dando vida nova! Se isto é assim, então crer em Cristo é algo muito maravilhoso.
Agora, se você for para o terceiro capítulo do Evangelho de João e também em suas epístolas, você verá que a fé está sempre ligada com a regeneração, ou o novo nascimento, novo nascimento que é obra do Espírito de Deus. Esse mesmo capítulo de João nos diz: “Necessário é nascer de novo“, e continua a dizer: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” [João 3.14,15]. Onde quer que haja fé em Jesus Cristo, um milagre de purificação foi feito no coração! Negue isso e você negará o testemunho das Escrituras, que dizem claramente que, “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus” [1 João 5.1]. E “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca” [1 João 5:18].
Porque você dúvida, se nós somos exemplos pessoais que podem garantir que foi dessa forma que aconteceu conosco? Não quero dizer que eu e um ou dois mais afirmam isso, mas as testemunhas podem ser achadas em centenas e milhares – e todos eles concordam em afirmar que o poder do Espírito Santo, mudou o curso de seus desejos e os fez amar as coisas que são santas, justas e verdadeiras. Portanto, Senhores, mesmo se você acredita ou não, você deve ser tão gentil que compreenda uma coisa muito claramente – que, se pregar a salvação pela fé é desprezível, desejamos ser ainda mais desprezíveis! Certamente você não pode culpar-nos por agir como nós fazemos, se o ponto central do nosso argumento está correto!
Se a pregação da Cruz, embora seja loucura para os que perecem, é, aos que creem em Cristo, a Sabedoria de Deus e o Poder de Deus, não vamos desistir de pregar Cristo para você! Se é assim que os homens são feitos novas criaturas – que, enquanto os outros estão debatendo sobre moral, nosso Evangelho planta e produz isso – não vamos desistir de trabalhar para falar, tão pouco trocar o organismo eficaz do Evangelho pelas invenções da filosofia! Em suas escolas e em seus púlpitos estabeleçam Cristo Crucificado como a esperança do pecador mais e mais claramente! Apele ao pecador que olhe para Jesus! Olhe e viva!
O Evangelho é o grande promotor da ordem social, o grande recuperador de viciados e pessoas desamparadas da sociedade, o elevador da raça humana! Essa doutrina do perdão gratuito e renovação graciosa, dada livremente aos mais desprezados para que creiam em Jesus Cristo, é a esperança da humanidade! Não há bálsamo em Gileade, e nunca teve – mas este é o bálsamo do Calvário, pois é o medicamento verdadeiro – e Jesus Cristo é o Médico infalível. Façam isso, pecadores! Façam isso! Olhe para Jesus e as paixões que você não pode vencer serão entregues ao Seu poder de limpeza! Creia em Jesus e as loucuras que se agarram a você, e o esmagam como as cobras enlaçaram Laocoonte e seus filhos, lhe deixarão livres delas!
Sim, elas devem morrer através do olhar de Jesus e devem sair de você. Creia em Jesus e você terá a primavera da excelência, o chapéu da pureza, a fonte da virtude, a destruição do mal, o broto da perfeição! Deus concede-nos, ainda, o provar do poder do Senhor Jesus em nós mesmos e para proclamar o Seu poder por todos os lados!
“Alegrar-nos-emos se, com o nosso último suspiro,
Podemos suspirar o Seu nome;
Preguem Ele a todos,
E gritem na morte,
Vejam, vejam o Cordeiro!”

Amém e Amém!




3 - Por que a Nossa Justificação Depende da Ressurreição de Cristo?

Fé Baseada na Ressurreição de Cristo

“Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou,” (Rom 8.34 a)

É a ressurreição de Cristo que dá sustentação à fé:
1. Por ser uma evidência da nossa justificação,
2. Por ter uma influência em nossa justificação.
Houve necessidade da ressurreição de Cristo, para a aquisição de nossa justificação.
O apóstolo faz a ênfase do argumento em favor da nossa justificação, na ressurreição do Senhor, porque ao se referir à sua morte como a primeira grande causa, ele aponta para esta segunda, como que afirmando a sua importância, por dizer: “ou, antes, quem ressuscitou”, como se tivesse reconhecido que o argumento da ressurreição poderia até mesmo ser colocado antes do relativo à morte, como prova da nossa justificação, porque aqui, o que ele quer demonstrar, é que não há qualquer base legal para sermos condenados à morte eterna por Deus, e a prova disso está marcada de forma bastante evidente na ressurreição de Jesus.
Alguém indaga: Por que vocês foram justificados? Por causa da morte de Cristo, respondemos. Então vem a réplica: “Mas quem garante que a morte de Jesus foi eficaz para que vocês fossem justificados?”, e a nossa resposta será: “Porque isto foi comprovado na sua ressurreição, que é a prova patente que ele foi aceito e justificado pelo Pai, morrendo em nosso lugar, carregando os nossos pecados sobre o seu corpo, I Pe 2.24.
Sua ressurreição comprova então que a justiça de Deus está  plenamente satisfeita pela morte de Cristo. Sua ressurreição pode nos dar plena certeza disso.
Em segundo lugar, ela teve e tem uma influência em nossa própria justificação, sim, e uma influência tão grande como a sua morte teve. Em ambos os aspectos, não podemos ser condenados, porque Cristo ressuscitou.
Ele ressurgiu dos mortos, e nós também juntamente com ele. Podemos ser justificados e vivificados porque ele vive. Nós vivemos porque ele permanece vivo, e vivo para sempre.
Como ele próprio afirmou: “porque eu vivo, vós também vivereis”, Jo 14.19.  
E temos a certeza de que podemos viver nele, porque ele pagou completamente toda a nossa dívida de pecados, e Deus está satisfeito com a oferta da Sua vida em sacrifício vicário, ou seja, em nosso lugar.
Se o Senhor tivesse pago a nossa dívida em sua morte, mas caso não revivesse em glória, em sua ressurreição, não poderíamos receber da sua vida, pela qual somos salvos e vivificados. Ele é o pão vivo que desceu do céu e alimenta o nosso espírito. Vivemos pela sua vida, e assim deveria ser, porque foi isto que foi pactuado entre ele e o Pai, antes mesmo que viesse ao mundo para efetuar a nossa redenção.
Após discorrer sobre a ressurreição em todo o 15º capítulo de I Coríntios, o apóstolo Paulo fecha o capítulo com um hino de triunfo sobre o pecado e a morte:
“1Co 15:55 Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
1Co 15:56 O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
1Co 15:57 Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.”
A nossa ressurreição não será para a segunda morte, conforme sucederá aos ímpios, mas para a vida, e isto comprova que temos participado da ressurreição de Cristo, porque fomos justificados por Deus juntamente com ele, em sua morte e ressurreição.
Assim, afirma o apóstolo:
“o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.” (Rom 4:25).
Nesta passagem se afirma expressamente que Jesus ressuscitou por causa da nossa justificação. Não que o termos sido justificados tenha sido a causa da sua ressurreição, mas o oposto disto, ou seja, somos justificados por causa da sua ressurreição.
Então a ressurreição de Cristo não foi apenas uma evidência, um meio de prova da nossa justificação, mas algo que teve uma influência causal na própria justificação.
Isto pode ser visto em I Coríntios 15.17, onde o apóstolo argumenta nos seguintes termos: “se Cristo não ressuscitou, permaneceis ainda nos vossos pecados e a sua fé é em vão”, ou seja, embora você possa ter a certeza de que a fé opera em você sobre o mérito da morte de  Cristo, no entanto, seria em vão, se Cristo não ressuscitasse, pois, neste caso, a sua justificação seria nula; e assim estariam ainda em seus pecados.
Ninguém deve duvidar quanto à verdade de que a morte de Cristo pagou a nossa dívida de pecados, mas ainda assim, dependíamos também da quitação dessa divida, e isto seria feito pela sua ressurreição. A conta deveria ser rasgada e devidamente quitada no céu, de modo que nós, devedores que éramos da justiça divina, pudéssemos ser liberados da nossa condição de devedores.
Em sua morte Jesus é o nosso Sacrifício, e em sua ressurreição e ascensão ao céu, Ele é o nosso Sacerdote e Advogado. Ambas funções são necessárias para a nossa redenção, e por isso elas se encontravam prefiguradas na Lei, onde nenhum sacrifício teria valor caso não fosse apresentado na presença do sumo sacerdote de Israel, e também no tabernáculo, e quanto ao sacrifício que era oferecido pelo pecado de toda a nação no dia da Expiação, o sangue teria que ser apresentado no Santo dos Santos, e deveria ser aspergido sobre o propiciatório da arca da aliança, que representava a presença de Deus. Assim, também nosso Senhor se apresentou como nosso Sumo Sacerdote no céu para apresentar o sangue do seu sacrifício na presença do Pai no Santo dos Santos celestial. Isto é devidamente explicado na epístola aos Hebreus.
Nenhum de nós poderia ter a plena justificação que nos dá o direito de acessarmos diretamente ao Pai, caso não tivéssemos a nosso Senhor Jesus Cristo intercedendo por nós, à sua direita, como nosso Sumo Sacerdote. Por isso importava que ele ressuscitasse dentre os mortos para realizar a sua função sacerdotal em nosso favor, de modo que sejamos aceitos por Deus Pai.
O Pai designou antes mesmo dos tempos eternos, Tito 1.1-3, o Filho para realizar estes ofícios para o nosso benefício e para a Sua glória.
Como o ato da justificação é um ato jurídico, no qual somos os beneficiados, em razão do pagamento da fiança da nossa libertação que foi pago por nosso Fiador, e por todas os atos  atributivos e imputativos para sermos considerados sem culpa e justos diante de Deus, e então poder desfrutar de tudo isto porque Jesus não apenas pagou o preço exigido em sua morte, como também, ressurgiu dos mortos para a realização de todo este aparato jurídico, necessário à nossa libertação e defesa contra nossos acusadores, agindo como nosso Advogado no céu, para garantir a nossa justificação. O apóstolo João, por isso, em sua primeira epístola ao falar de Jesus como nosso Advogado, I Jo 2.1, ele diz que ele é fiel e justo para nos “purificar de toda injustiça”, como se referindo de um modo peculiar ao ato da justificação, caso confessemos os nossos pecados, I João 1.9.
Como isto poderia ter sido feito senão pela sua ressurreição? Daí ser afirmado na Palavra que ele ressuscitou por causa da nossa justificação, ou seja, para ativá-la, para administrá-la, para não somente nos atribuir a sua própria justiça, como também para implantá-la progressivamente ao nosso caráter, por nos fazer participantes de sua própria vida e virtudes.
Daí a grande certeza do apóstolo ao indagar: Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? Quem os condenará? E então apresenta o argumento final: eles estão justificados e é Deus quem os justifica desta forma jurídica incontestável, quer perante toda a Terra, quer perante o céu, ou até mesmo perante o próprio inferno.
O plano de justificação dos pecadores é perfeito e completamente seguro, de forma que também é segura a salvação daqueles que são justificados por meio da fé em Cristo.
Não há neste plano divino qualquer brecha que possa dar ocasião a uma apelação ou ação por parte de tudo e todos que tentem anular o direito que Cristo conquistou para os justificados, de modo que eles podem repousar seguros que este direito nunca poderá lhes ser negado ou retirado, ainda que parcialmente.
“por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior aliança.” (Heb 7.22).
Tão perfeito é o ato da nossa justificação, que se diz que nosso Senhor aparecerá uma segunda vez em sua volta, sem pecado, Heb 9.28, ou seja, a justificação garantirá a nossa perfeição espiritual por ocasião de sua volta, de tal forma, que não haverá nenhuma  necessidade que ele carregue de novo os nossos pecados sobre si, como fizera em seu primeiro advento, para que pudéssemos receber esta justificação. Assim, aparecerá sem pecado, não que tivesse pecado antes, ou que estivesse com algum pecado no céu, mas sem a necessidade referida de fazer expiação pelo pecado em nosso lugar, uma segunda vez. Daí se dizer também, que tendo ele “ressuscitado dentre os mortos, já não morre mais”, Rom 6.9, ou seja, pela perfeita justificação que ele operou em nosso favor, jamais haverá necessidade de qualquer outra expiação que demandasse que ele morresse de novo pelos pecadores. E também se diz, que com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados, Heb 10.14.
Agora, todo este argumento da Palavra de Deus em favor da ressurreição de nosso Senhor como prova e causa da nossa justificação, encoraja e aumenta a nossa fé nele. Aumenta também a nossa gratidão e amor. Porque ainda que não cheguemos a ter um conhecimento pleno da real profundidade deste maravilhoso plano de salvação, ele funcionará para todos os que creem em Cristo, independentemente do citado conhecimento pleno.
Mas bem faremos em aumentar no conhecimento desta graça e do Senhor, conforme nos exorta a própria Palavra, para que jamais nos desviemos da Rocha na qual somos firmados por meio da fé.

“2 Pe 3:17 Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza;
2 Pe 3:18 antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno.”

 


4 - Cristo, o Objeto e Fundamento da Fé para a Justificação, em sua Morte

“Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu.” Rom 8.34

Veremos como não é a pessoa de Cristo simplesmente, mas Cristo morrendo, o objeto da fé para a justificação.
Não é olhando para o Cristo triunfante, mas sim para o Cristo crucificado que a fé opera para a nossa justificação; porque Ele se fez maldição em nosso lugar em sua morte. Ele foi tipificado pela serpente morta de bronze que Moisés levantou no deserto, e para a qual quando os que estavam morrendo olhavam, eram curados e viviam.
Quando se olha apenas para as excelências pessoais da glória que está em Jesus Cristo, e quando o coração se afeiçoa a ele somente nisto, comete-se um erro porque a primeira visão que uma alma humilde deve ter, é a de contemplá-lo como o seu Salvador, feito pecado por nós, e que se fez maldição em nosso lugar, obedecendo até a morte para nos remir do pecado, Rom 8.3.
Cristo, é, para nós, precioso e excelente em sua pessoa, ainda mais quando considerado com suas vestes salpicadas de sangue. Sim, e eu digo mais, que considerando a fé para justificação, que é, este ato o que justifica um pecador; porque esta justificação está baseada na obediência de Cristo até à morte.
Segundo a Lei, todas as coisas são purificadas com sangue, e sem sangue não há remissão de pecados, Heb 9.22.
Por isso Paulo diz em sua Epístola aos Coríntios, que nada conheceu entre eles senão Cristo, e este crucificado, 1 Coríntios 2.2.
Assim também, em sua Epístola aos Gálatas, ele chama a sua pregação entre eles de a pregação da fé, 3.2. E qual foi o objetivo principal do mesmo, senão apresentar Cristo crucificado diante de seus olhos? Gál 3.1.
Nosso Senhor instituiu a santa ceia para ser um memorial da Sua morte, porque é nesta que se baseia a nossa justificação.
Por isso a fé é chamada de fé em seu sangue, Rom 3.25, porque nosso Senhor derramou o seu sangue para a remissão dos pecados.
Assim, tanto em Ef 1.7 e Col 1.14, vemos que temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos pecados, a sua pessoa nos dá o direito legal para nos apropriarmos de todas as promessas, e seu sangue garante o seu cumprimento, porque fomos comprados por um preço completo e  adequado, 1 Tm 2.6.
E como o pecado é a força da lei, e das ameaças da mesma, assim a satisfação da justiça por Cristo é a força de todas as promessas do  evangelho.
Em uma palavra, uma alma humilde que recorre a Cristo, está agora viva e glorificada no céu, mas porque Ele foi crucificado e se fez pecado por nós.
A fé deve contemplar até o fim o Cristo crucificado, ou seja, para a intenção de Deus e de Cristo em seus sofrimentos, e não simplesmente para a história trágica de sua morte e sofrimentos. É o coração e mente, e intenção de Cristo no sofrimento, que a fé principalmente olhe para ele e o coração seja atraído para descansar no Cristo crucificado.
O desejo do coração de Cristo é o de que os pecadores possam alcançar o perdão, e o coração de Cristo está tão cheio nisto, para consegui-lo, de modo que o coração do pecador possa desejá-lo, e achar por fim, descanso nele.
Sem isso, a contemplação e meditação da história de seus sofrimentos, e da grandeza deles, será completamente inútil. E ainda, o uso principal que muitos crentes carnais fazem dos sofrimentos de Cristo, é simplesmente o de terem compaixão pelos sofrimentos do Senhor, e se indignarem com o fato dele ter padecido nas mãos daqueles que o crucificaram, mas isto nada mais é do que a história trágica como a de um grande e nobre personagem, cheio de virtudes heróicas, que comoverá os espíritos ingênuos, que leiam ou ouçam sobre isso, sim, e suas afeições são movidas na forma de uma ficção, elaborada por sua imaginação fantasiosa, o que é senão uma devoção carnal.
Em vez de focarmos no fato histórico, devemos sim, procurar entender o significado e propósito dos sofrimentos de Cristo, pelo que Ele próprio nos ensina nos evangelhos, e os seus apóstolos em suas epistolas, na Bíblia.
Por isso importa termos a mente de Cristo, 1 Cor 2.16, especialmente a sua mente em todos os seus sofrimentos.
Para que tivéssemos uma melhor compreensão do infinito significado e importância de sua morte, Deus instituiu os sacrifícios de animais e a Páscoa no Velho Testamento para tipificá-la, e também o revelou aos profetas, como vemos por exemplo em Isaías 53 e no Salmo 22.
“A saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.”, 2 Cor 5.19.
Cristo veio ao mundo para apresentar a si mesmo como sacrifício pelos nossos pecados, Heb 10.5.
“então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo; porquanto, após ter dito: Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei, acrescenta: Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para sempre. Ora, onde há remissão destes, já não há oferta pelo pecado.” (Hebreus 10.9-18).

“Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,” (Romanos 8.3).



5 - Andarão de Branco

“Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas.” (Apocalipse 3.4)
 Podemos entender isso como se referindo à justificação. "Andarão de branco", isto é, devem ter um senso constante de sua própria justificação pela fé, os quais devem saber que a justiça de Cristo é imputada a eles, para todos aqueles que têm sido lavados e foram feitos mais alvos do que a neve recém-caída.
Outrossim, isto se refere a alegria e satisfação, porque estavam com vestes brancas usadas pelos judeus em ocasiões festivas. Aqueles que não contaminaram as suas vestes terão seus rostos sempre brilhantes e entenderão o que Salomão disse: "Vai, pois, come com alegria o teu  pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras.” (Ecl 9.7)
Aquele que é aceito por Deus deve usar roupas brancas de regozijo e alegria, enquanto caminha em doce comunhão com o Senhor Jesus. De onde procedem tantas dúvidas, tanta miséria, e tristeza? É porque muitos crentes contaminaram as suas vestes com pecado e erro, e, portanto, perdem a alegria da sua salvação, e a comunhão do Senhor Jesus, eles não andam aqui embaixo de branco.
A promessa também se refere a andar de branco diante do trono de Deus. Aqueles que não contaminaram as suas vestes aqui  certamente andarão de branco lá em cima, onde as hostes celestiais vestidas de branco cantam eternos aleluias ao Altíssimo. Eles terão alegrias extraordinárias, além da felicidade sonhada, bem-aventuranças que a imaginação não conhece, bem-aventuranças jamais alcançadas. O "sem mácula no caminho" terá tudo isso, e não por mérito, nem por obras, mas por graça. Devem andar com Cristo de branco, porque ele os tornou "dignos". Em sua doce companhia beberão das fontes da água da vida.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.




6 - Significado de Ser Justificado Pela Fé

Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;” (Romanos 5.1)

“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” (Romanos 3.28)

Geralmente, quando perguntamos a alguém o que é ser justificado por meio da fé em Jesus Cristo, a resposta que costuma ser dada é que isto significa ser tornado justo por Deus, como se a justificação fosse um processo, assim como é a santificação. Todavia, como veremos adiante, a justificação não é um processo, uma operação de transformação, mas um ato declarativo de Deus do perdão de todos os nossos pecados, de modo que somos considerados livres de qualquer culpa ou condenação, e por conseguinte vistos por Ele como inocentados e justos, no momento mesmo em que nos convertemos a Cristo, e esta declaração divina jamais será invalidada.
Quando fazemos um exame cuidadoso da palavra justificação tanto no original grego do Novo Testamento, quanto no hebraico do Velho, vemos que o significado não é ser transformado em justo, mas ser considerado justo por Deus.
Evidentemente, não poderia ser outro o significado porque perfeitamente justo somente é o próprio Senhor.
É por meio da justificação que obtemos a salvação eterna de uma vez para sempre, no momento mesmo em que cremos em Cristo e somos considerados justos por Deus, uma vez que esta é a porta que se abre para a regeneração e a santificação do Espírito Santo. Em outras palavras, sem a justificação não pode haver nem regeneração, nem santificação. É a justiça do próprio Cristo que nos é imputada para a salvação do mesmo modo pelo qual Abraão fora também justificado no passado.
Vejamos então algumas ocorrências bíblicas da citada palavra:

1 - Logizomai (grego) – imputar, atribuir

Quando a Bíblia fala do modo da justificação, é dito que ela é imputada, atribuída, vendo-se portanto, claramente, que se trata de uma declaração divina quanto à condição que somos considerados por ele por estarmos em Cristo, a saber, de justificados.

Romanos 4.3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado (Logizomai) como justiça.

Romanos  4.4 Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado (Logizomai) o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida.

Romanos  4.5 Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada (Logizomai) como justiça.

Romanos  4.6 Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa (Logizomai) a justiça sem as obras, dizendo:

Romanos  4.8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa (Logizomai) o pecado.

Romanos  4.9 Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a incircuncisão? Porque dizemos que a fé foi imputada (Logizomai) como justiça a Abraão.

Romanos  4.10 Como lhe foi, pois, imputada (Logizomai)? Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas na incircuncisão.

Romanos  4.11 E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que creem, estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes seja imputada (Logizomai);

Romanos  4.22 Assim isso lhe foi também imputado (Logizomai) como justiça.

Romanos  4.23 Ora, não só por causa dele está escrito, que lhe fosse tomado em conta (Logizomai),
Romanos  4.24 Mas também por nós, a quem será tomado em conta (Logizomai), os que cremos naquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor;

Gálatas 3.6 Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado (Logizomai) como justiça.

Tiago 2.23 E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado (Logizomai) como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.


2 – dikaioô (grego) - considerar justo ou inocente

Mateus 12.37 Porque por tuas palavras serás justificado (dikaioô), e por tuas palavras serás condenado.

Lucas 18.14 Digo-vos que este desceu justificado (dikaioô) para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.

Atos 13.39 E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados (dikaioô), por ele é justificado (dikaioô) todo aquele que crê.

Romanos 2.13 Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados (dikaioô).

Romanos  3.4 De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está escrito: para que sejas justificado (dikaioô) em tuas palavras, e venças quando fores julgado.
Romanos  3.20 Por isso nenhuma carne será justificada (dikaioô) diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.

Romanos  3.24 Sendo justificados (dikaioô) gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.

Romanos  3.26 Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador (dikaioô) daquele que tem fé em Jesus.

Romanos  3.28 Concluímos, pois, que o homem é justificado (dikaioô) pela fé sem as obras da lei.

Romanos  3.30 Visto que Deus é um só, que justifica (dikaioô) pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão.

Romanos  4.2 Porque, se Abraão foi justificado (dikaioô) pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus.

Romanos  4.5 Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica (dikaioô) o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.

Romanos  5.1 Tendo sido, pois, justificados (dikaioô) pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;

Romanos  5.9 Logo muito mais agora, tendo sido justificados (dikaioô) pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.

Romanos  8.30 E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou (dikaioô); e aos que justificou (dikaioô) a estes também glorificou.

Romanos  8.33 Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica (dikaioô).
I Coríntios 6.11 E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados (dikaioô) em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus.

Gálatas 2.16 Sabendo que o homem não é justificado (dikaioô) pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados (dikaioô) pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada (dikaioô).

Gálatas  2.17 Pois, se nós, que procuramos ser justificados (dikaioô) em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma.

Gálatas  3.8 Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar (dikaioô) pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.

Gálatas  3.11 E é evidente que pela lei ninguém será justificado (dikaioô) diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.

Gálatas  3.24 De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados (dikaioô).

Gálatas  5.4 Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais (dikaioô) pela lei; da graça tendes caído.

Tito 3.7 Para que, sendo justificados (dikaioô) pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.

Tiago 2.21 Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado (dikaioô) pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?

Tiago 2.24 Vedes então que o homem é justificado (dikaioô) pelas obras, e não somente pela fé.
(Nota: Tiago não está dizendo que a justificação é um somatório de fé mais obras, mas que a fé que justifica é sempre evidenciada pelas boas obras da fé.)

Tiago 2.25 E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada (dikaioô) pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho?

Nota Geral: Os verbos logizomai e dikaioô não foram apresentados flexionados nas passagens bíblicas citadas.


3 - tsâdaq (hebraico) – considerar justo em sentido forense

Isaías 45.25 Mas no Senhor será justificada (tsâdaq), e se gloriará toda a descendência de Israel.

Isaías 53.11 Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará (tsâdaq) a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si.
(Nota: neste texto se afirma que a justificação é obtida somente por meio do nosso conhecimento pessoal e íntimo de Jesus Cristo, pois é a Ele que se refere a profecia de Isaías 53.)




7 - Injustos Mas Justos

Todas as pessoas, sem uma só exceção, nada possuem por natureza, que lhes recomende ao Reino dos Céus.
Mesmo no caso de Abel, Noé, Abraão, Moisés, Davi, Daniel, Isaías e tantos outros – homens dos quais o próprio Deus deu testemunho de serem justos e agradáveis perante Ele, haveria um juízo de condenação eterna sobre eles, caso Deus não lhes tivesse justificado do pecado, pela fé.
Afinal todos eles eram também pecadores assim como nós, e o salário do pecado para qualquer um é sempre a morte eterna.
Assim, há uma justiça perfeita que nos é atribuída pela fé, que é a de Jesus Cristo, que nos livra da condenação e que permite sermos agradáveis a Deus em obras de fé, arrependimento, justiça e busca da presença do Senhor por um andar digno perante Ele e todos os homens.
De modo que apesar de injustos que éramos aos olhos de Deus, antes da nossa conversão a Cristo, somos considerados justos por causa da pessoa, obra e méritos do Senhor Jesus.

Apesar de não sermos perfeitos na prática da justiça, enquanto vivermos neste mundo, todavia possuímos a justiça perfeita de Jesus que nos foi atribuída por Deus, simplesmente por causa do arrependimento e da fé, e esta justiça jamais será retirada de nós.



8 - A Maior Bem-Aventurança

“3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
4 Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida.
5 Mas, àquele que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.
6 Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo:
7 Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, E cujos pecados são cobertos.
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado.” (Romanos 4.3-8)

Se dependêssemos de nossa justiça própria para sermos reconciliados com Deus e habitar com Ele para sempre, todos estaríamos perdidos inapelavelmente.
Isto se dá em decorrência de todos sermos pecadores e a justiça perfeita de Deus sujeitar à condenação eterna por um único pecado cometido ao longo de todo o curso da vida.
E sabemos que não há ausência de pecado mesmo no maior dos santos que viveram, que vivem ou que ainda viverão na Terra.
Por isso Deus salva, justifica, simplesmente por graça e mediante a fé, porque nunca houve diante dele uma única pessoa perfeitamente justa.
E sabemos que para que esta justiça divina nos fosse imputada, atribuída, para a nossa justificação, a nossa dívida de pecados deveria, antes, ser liquidada.
Sendo pecadores jamais poderíamos fazê-lo, nem mesmo um anjo do céu, porque o liquidante deveria ser alguém digno e mais elevado do que os céus para quitar, pela riqueza infinita de seus méritos e graça, as dívidas de todos quantos se achegassem a Ele em busca de remissão.
Isto foi feito por Jesus quando morreu no nosso lugar na cruz, porque foi nEle, que não tinha qualquer pecado, que Deus castigou a nossa culpa, de modo que pôde se apresentar como sendo o nosso Grande Substituto, para que pudéssemos ser achados inculpáveis diante de Deus, apesar de sermos pecadores.
Então se diz na Escritura desde os dias do Velho Testamento, pelo Espírito Santo, através da boca do rei Davi (Sl 32.1,2), que bem-aventurado é todo aquele que é justificado pela fé, porque todas as suas maldades e os seus pecados são perdoados e cobertos pela graça e misericórdia de Deus, que determinou lançá-los todos no mar do esquecimento, sem qualquer intenção de lhes imputar dali por diante qualquer acusação ou condenação em juízo por causa do pecado, com vistas a um castigo eterno.
Cristo pagou a nossa conta, como Fiel Fiador e Salvador, satisfazendo inteiramente à exigência da justiça e santidade de Deus.




9 - Os Efeitos da Justificação

O primeiro deles é que por meio dela fomos resgatados da maldição da Lei, que afirma que é maldito de Deus todo aquele que não cumpre perfeitamente todos os seus mandamentos, e por conseguinte, somos livrados também da ira de Deus contra o pecado.
Enquanto o homem não é justificado, Deus permanece em guerra com ele. Mas uma vez  justificado, a guerra termina, porque é reconciliado com Deus por meio de Jesus, de maneira que se diz que agora desfruta de paz com Ele, em vez de se encontrar sujeito à Sua ira que se manifestaria certamente no dia do juízo, sujeitando-o a uma condenação eterna.
Por meio da justificação o cristão passa a participar da graça do evangelho, na qual ele estará firmemente seguro por causa da obra perfeita de redenção que foi feita em seu favor por Jesus.
Isto significa que ainda que ele venha a decair da graça, pela prática de pecados eventuais, esta queda nunca será numa forma final e definitiva, porque foi transformado em filho de Deus, por meio da justificação.
É a justificação que abre também para nós a esperança firme e segura de que participaremos da glória de Deus, como Paulo afirma em Rom 5.2.
Mas os efeitos da justificação não param por aí, porque uma vez sendo transformados em filhos de Deus, passamos a contar com a assistência da graça, a qual nos fortalece e ampara nas tribulações pelas quais a nossa fé é colocada à prova, para que possa crescer.
De maneira que isto não é para motivo de tristeza, mas para se dar glória a Deus, porque prova que de fato nos tornamos Seus filhos, e que agora estamos sendo aperfeiçoados por Ele através das tribulações, para que aprendamos a perseverança, a experiência e a esperança.
Quando Paulo diz em Rom 5.5 que a esperança não traz confusão porque o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado na justificação, o significado disto é que esta esperança evangélica é de plena e segura certeza do que temos recebido em Cristo, pela testificação do Espírito.
De maneira que quando alguém se converte de fato a Cristo, sendo justificado, tal pessoa não estará mais confusa acerca firmeza eterna da sua união com Deus, porque isto será aprendido através da sua paciência nas tribulações, que por fim lhe confirmarão na experiência e na esperança cristã.
E como Paulo disse nos versos 3 e 4 de Rom 5, esta esperança será fortalecida e aperfeiçoada pelas próprias tribulações, porque veremos o poder operante de Deus em meio a elas, nos conduzindo em triunfo em Cristo, porque a fé verdadeira que salva não pode ser destruída, e não recuará diante das aflições, porque é o próprio Deus quem fortalece aqueles que são agora Seus filhos.
De modo que o apóstolo nos assegura que, como efeito da paciência que podemos ter pelo Espírito, nas tribulações, depois de variadas experiências disto, seremos confirmados na fé, e com esta esperança inabalável da certeza do que temos alcançado em Cristo, quanto à segurança eterna da nossa salvação, toda dúvida e confusão de mente serão eliminadas de nós, pela certeza do amor de Deus por nós e em nós, em toda e qualquer circunstância.

"E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado." (Rom 5.5)

Mas o apóstolo acrescentou argumentos ao que havia falado antes, para demonstrar que de fato a nossa esperança não é algo incerto, mas algo a respeito do qual podemos ter a plena certeza de que jamais será frustrada.
E o grande argumento que Ele apresentou é que quando Cristo morreu por nós, ainda éramos fracos e ímpios.
Não foi por pessoas santas, e perfeitas na fé, que Ele morreu, mas por pecadores fracos e ímpios (não piedosos), como éramos todos nós antes da conversão.
Então se Jesus fez isto quando estávamos nesta condição de fraqueza e impiedade, quanto mais não garantirá a nossa salvação depois de termos sido tornados santificados pela Sua Palavra e pelo Espírito Santo, e fortalecidos pela Sua graça?
Deste modo, Jesus não morreu por justos, mas por injustos.
E se demonstrou o Seu amor por nós quando éramos ainda pecadores que nada ou pouco conheciam e viviam da santidade de Deus, muito mais podemos estar certos então de que não nos deixará e desamparará depois que fomos justificados pelo Seu sangue e adotados como filhos de Deus.
Podemos então ter a certeza da esperança que seremos salvos por Ele da ira vindoura, no Dia do Grande Juízo de Deus.
Outro grande argumento é o de que Deus nos reconciliou consigo mesmo através da morte de Jesus quando éramos Seus inimigos, porque vivíamos transgredindo os Seus mandamentos e indiferentes quanto ao modo como deveríamos andar na Sua presença.
E esta condição de inimizade com Deus, é decorrente da natureza pecaminosa que possuímos.
Portanto, se fomos reconciliados quando éramos inimigos, muito mais permaneceremos reconciliados depois que nos tornamos seus amigos por meio de Jesus.
Então podemos estar certos da segurança da nossa salvação por causa da vida de Jesus, que vive para interceder por nós e garantir plenamente aquilo que obtivemos como herança, por meio da fé nEle.





10 - Salvos por Meio da Justificação

A justificação é por pura graça e misericórdia de Deus, excluindo qualquer mérito do homem, como também pela verdade que toda a glória é devida ao Senhor, porque somente Ele é o Criador e o Salvador.
Sem Ele nada existiria. Sem Ele não haveria nenhuma salvação, nenhuma eleição, nenhuma justificação, nenhuma santificação, nenhuma glorificação, nenhuma cura, nenhum livramento da condenação, nenhuma herança para o cristão no céu.
Então, ao afirmar que se Abraão tivesse sido justificado por obras, teria motivo de se gloriar, mas não diante de Deus, Paulo queria dizer que ele teria realmente motivo de se gloriar em si mesmo, caso fosse possível alguém ser justificado por suas obras.
Mas, como isto é impossível, então ninguém deve se gloriar em si mesmo na Sua presença, senão somente no próprio Deus, que tudo opera em todos, e por meio de quem são todas as coisas.
Deste modo, não está sendo enfocado por Paulo que haja alguma obrigação de Deus em dar a salvação a qualquer pessoa como uma espécie de salário, de pagamento de uma dívida, por alguma boa obra que tenha sido praticada por aquele a quem Ele salvou.
Como Deus sabia que não haveria no homem nenhum modo de salvar a si mesmo do pecado, Ele deliberou, desde a eternidade, salvar pela graça mediante a fé.
Então se uma pessoa insiste em ser salva por obras, ela permanecerá sob a condenação de Deus, porque está sendo desobediente à Sua ordenação, de que aquele que for salvo, o será pela Sua graça, e mediante a fé. Tentar fazer valer a própria justiça sempre nos deixará desprovidos daquela Justiça que nos vem da parte de Deus pelo evangelho.
As boas obras devem ser praticadas, mas não com o fim de sermos salvos por Cristo, porque isto ocorre somente pela graça e por meio da fé. E é importante que se frise que estas boas obras se referem em primeiro lugar à transformação progressiva e gradual do cristão à imagem de Jesus, e depois se manifestam em atos de justiça, amor e bondade em relação ao próximo, porque esta é a consequência imediata daquele que tem caminhado com Deus, por ter sido reconciliado com Ele por meio da fé em Jesus.
É pela fé no sangue que Jesus derramou na cruz que somos lavados e perdoados dos nossos pecados.
Deus revelou esta verdade pelo Espírito ao rei Davi, a qual lemos no Sl 32.1,2, cujas palavras Paulo usou em Rom 4.7 e 8:

“7 Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado.”

Então a justificação é uma declaração da parte de Deus em relação a quem se converte, de que esta pessoa é agora justa diante dEle, ou seja, está justificada do pecado, por causa da obra realizada por Jesus em seu favor.
Esta justiça que é atribuída ao homem é decorrente da justiça do próprio Cristo. É a veste de Cristo com a qual ele agora está vestido.
Uma vez justificado, ele é chamado a ser justo em todo o seu procedimento, e assim há uma justiça procedente de Deus que deve ser nele implantada pelo Espírito, de maneira que seja aperfeiçoado na justiça evangélica, mas isto não faz parte do ato da justificação, que como vimos antes, é uma declaração feita por Deus de que somos agora justos aos Seus olhos por causa de Cristo,   e não uma implantação da Sua justiça em nós.
Esta implantação da justiça é feita pela regeneração e santificação do Espírito Santo, sendo que a santificação é um processo progressivo, e não instantâneo tal como se dá com a justificação e a regeneração, quando do nosso encontro pessoal com Jesus na nossa conversão.
E esta bênção da justificação, que nos dá a salvação, não é somente para os judeus, uma vez que Abraão foi justificado pela fé, quando ainda era um gentio em Ur dos caldeus; e foi circuncidado em seu prepúcio somente depois de ter crido em Deus e ter sido justificado, de maneira que não é a circuncisão do prepúcio que justifica uma pessoa conforme os judeus costumavam ensinar, porque não foi por ter sido circuncidado que Abraão foi justificado.
Aconteceu justamente o contrário: ele foi circuncidado porque foi justificado, isto é, ele recebeu a circuncisão como um sinal comprobatório da justificação que é pela fé.
De maneira que os cristãos que são justificados devem trazer em si este sinal comprobatório que também foram circuncidados por terem crido, já não mais no prepúcio, mas no coração.
A circuncisão dos judeus era um ato de despojamento da carne do prepúcio.    
Então a circuncisão do cristão na Nova Aliança com Cristo consiste no despojamento da carne, não do prepúcio, mas do princípio operativo do pecado, que a Bíblia chama de carne; e que consiste em tudo aquilo que nos impeça de ter uma vida de comunhão no espírito com Deus.
Lembremos que o motivo alegado por Deus de que não permaneceria mais atuando nos homens nos dias de Noé, porque estes eram carnais, significava que eles haviam se tornado insensíveis, e completamente endurecidos à ação do Espírito Santo que procurava conduzi-los ao arrependimento, conforme lemos em Gên 6.3.
Deve ser levado em conta também que a promessa da Nova Aliança foi feita a Abraão, mais de quatrocentos anos antes da Lei ter sido dada a Moisés no Sinai.
Isto significa que ao dizer que no Descendente de Abraão, que é Cristo, seriam benditas, todas as nações da terra, Deus estava mostrando que o modo de alguém ser salvo não seria por causa da Lei, mas pela promessa que fez a Abraão, de salvar também a muitos do mesmo modo como fizera com Abraão, a saber, somente pela fé.








11 - JUSTIFICAÇÃO PELA GRAÇA

Por Charles Haddon Spurgeon

“sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.” (Rom 3.24)

O
 monte do conforto é o monte do Calvário. A casa da consolação é edificada com a madeira da cruz. O templo do refrigério celestial está fundado  sobre a rocha que foi quebrada, quebrada pela lança que transpassou o seu lado.

Nenhuma cena da história sagrada pode trazer satisfação eterna à alma como a cena do Calvário.
Em nenhum outro lugar a alma achará consolação eterna como neste, onde a miséria reinou, onde a tristeza triunfou, onde a agonia atingiu o seu clímax.
Lá, a graça possui em seu seio uma fonte, que está sempre  a jorrar águas límpidas como cristal, e cada uma de suas gotas é capaz de aliviar as tristezas e agonias da humanidade.

Vocês têm tido seus períodos de tristeza, meus irmãos e irmãs em Cristo Jesus! E vocês confessarão que encontrarão conforto, não no monte Sinai ou no monte Tabor, mas no Getsêmani, no Gólgota vocês já têm encontrado conforto significativo para suas dores. As ervas amargas do Getsêmani têm freqüentemente lançado para longe as amarguras de suas vidas, a tortura do Gólgota tem muitas vezes dissipado as suas preocupações, e  os gemidos do Calvário têm colocado todos os gemidos em fuga.

Nós temos, então, um assunto que pode ser intitulado como confortando os santos de Deus, vendo que isto exigiu que a cruz fosse levantada, e desde então tem jorrado ricas e perenes bênçãos para todos os crentes.

Vocês percebem no nosso texto de Rom 3.24, antes de tudo, a redenção de Cristo Jesus; em segundo lugar, a justificação dos pecadores que dela decorre, e, finalmente, a maneira pela qual nos foi dada esta justificação - “gratuitamente pela sua graça”.

Falemos, então, primeiramente, da redenção que está em Cristo Jesus:

A representação da redenção é muito simples, e tem sido muito freqüentemente usada na Escritura. Quando um prisioneiro é tornado cativo, e quando é tornado um escravo por algum poder brutal, é muito comum, antes que ele possa ser posto em liberdade, que seja pago primeiro o preço ajustado para o seu resgate. Agora, comecemos pelo pecado de Adão, orientado pela culpa, e, real e verdadeiramente culpado, nós  fomos submetidos ao reprovável julgamento de Deus manifestado na vingança da lei. Nós fomos colocados nas mãos da justiça; e a justiça exige que sejamos escravos para sempre, a menos que possamos pagar o resgate, segundo o qual nossas almas poderiam ser redimidas. Nós somos, entretanto, pobres como corujinhas, e nós não temos como abençoar a nós mesmos. Nós somos como diz o hino “devedores falidos”, e há uma execução que foi colocada sobre a nossa casa. Todos nós fomos vendidos, fomos deixados desnudos, pobres e miseráveis, e nós não podemos de jeito nenhum achar um resgate. Era justo, então, que Cristo se apresentasse como nosso patrocinador, e  no lugar dos crentes, pagasse o preço exigido do resgate, para que nós pudéssemos ser livrados da maldição da lei e da vingança de Deus, e seguir nosso caminho, limpos, livres, justificados pelo Seu sangue.

Deixem-me mostrar-lhes algumas qualidades da redenção que está em Jesus Cristo: Vocês lembrarão a multidão que ele tem redimido. Não a mim apenas, não você apenas, mas uma multidão que nenhum homem é capaz de enumerar, que tem excedido, de longe, o número das estrelas do céu,  como tem excedido o cômputo de todos os mortais. Cristo comprou para si mesmo, muitos de cada nação e reino, e língua, sob o céu; ele redimiu dentre os homens de todas as graduações, desde a mais baixa delas; homens de todas as raças – pretos e brancos -; de todas as posições na sociedade, da melhor à pior. Para todos estes tem Jesus dado a si mesmo como resgate para que eles possam ser redimidos nele.
Agora, quanto a este resgate, nós temos que destacar, que  ele foi pago, e foi pago de uma só vez para sempre. Quando Cristo redimiu seu povo, ele fez isto perfeitamente; ele não deixou qualquer débito para ser pago. Nem ainda um único centavo para ser pago posteriormente. Deus exigiu de Cristo o pagamento por todos os pecados de todo o seu povo.

O sacrifício do Calvário não foi parte do pagamento, ele foi um completo e perfeito pagamento, e obteve uma completa e perfeita remissão para todos os débitos de todos os crentes que viveram, têm vivido, e que viverão até ao fim dos tempos.  No dia em que Jesus expirou na cruz, ele não deixou um único centavo para nós pagarmos a fim de satisfazermos a justiça de Deus.

Todas as exigências da lei foram pagas lá na cruz. Jesus foi dado como o grande sacerdote de todo o seu povo. E tendo santificado o seu nome, ele pagou o preço de uma vez para sempre. Assim, o resgate que não tinha preço, foi magnífica e liberalmente dado como preço exigido para as nossas almas. Ninguém deve pensar que seria maravilhoso se Cristo o tivesse pago parceladamente, um pouco agora e o restante depois. Os resgates dos reis têm sido pagos algumas vezes por partes, sendo quitados ao longo dos anos. Mas não é assim com o nosso Salvador; que de uma vez para sempre deu-se a si mesmo como sacrifício, e que também de  uma só vez liquidou o débito, dizendo: “Está consumado”, isto é, finalizado, nada deixando para ele fazer, nem mesmo para nós completarmos. Ele não fez a  besteira de pagar parte do pagamento, e nem mesmo declarou que ele voltaria de novo para morrer, ou que ele sofreria novamente, mas ele pregou que o resgate para todas as pessoas foi pago, para a mais alta miséria, e foi passado um completo recibo para este resgate, e Cristo cravou o recibo em sua cruz, e disse: “Está feito, está feito; eu tenho cancelado o escrito de dívida baseado nas ordenanças, Eu tenho cravado isto na cruz; quem poderá ser condenado no meu povo, ou poderá a lei acusá-los ? Eu tenho apagado, como a nuvem que se desfaz, as suas transgressões”.

E por Cristo ter pago este regate completamente,  vocês deverão anunciar que ele fez isto tudo para si mesmo?

Simão, o cireneu, pôde carregar a cruz, mas não pôde ser crucificado nela no nosso lugar. O sagrado círculo do Calvário foi ocupado por Cristo sozinho. Dois ladrões estavam ali com ele, não eram homens justos, a fim de que ninguém viesse a dizer que a morte daqueles dois homens justos ajudou o Salvador. Dois ladrões foram crucificados com ele. Aqueles homens puderam ver que havia majestade na sua miséria, e que ele poderia perdoar os homens, e revelou isto na sua soberania, mesmo quando ele estava morrendo.  Não havia nenhum homem justo para sofrer; nenhum dos discípulos participou da sua morte. Pedro não estava lá para ser crucificado, João não foi pregado numa cruz ao seu lado. Ele foi deixado ali sozinho.  Ele disse, “eu tenho que pisar o lagar do vinho sozinho, e não há ninguém comigo.”  Todo o enorme débito foi colocado sobre os seus ombros; todo o peso dos pecados de todo o seu povo estava colocado sobre ele. Uma vez ele pareceu balançar diante disto: “Pai, se for possível...”, Mas, outra vez ,ele colocou-se de pé  retamente: “Todavia não seja feita a minha vontade, mas a tua.”

Todo o castigo do seu povo estava destilado dentro de uma taça; nenhum lábio de qualquer mortal poderia sorvê-lo solitariamente. Quando ele o pôs nos seus próprios lábios, estava tão amargo, que quase o afastou: “Afasta este cálice de mim.”. Mas, seu amor pelo seu povo era tão forte, que ele tomou a taça em ambas as mãos, e através de um tremendo gole de amor ele bebeu a  seca maldição por todo o seu povo. Ele o sorveu todo, suportou tudo, sofreu tudo, de forma que, agora, para sempre, não há qualquer chama do inferno destinada a eles, nenhuma tortura; não lhes aguarda qualquer infortúnio eterno. Cristo já sofreu tudo o que eles deveriam sofrer, e eles serão livres. O trabalho foi completamente realizado por ele próprio, sem necessitar do auxílio de qualquer pessoa.

E reparem, mais uma vez, isto foi aceito. Na verdade, foi um belo resgate. A que se pode igualá-lo? A alma “excessivamente pesarosa, mesmo diante da morte”; um corpo despedaçado pela tortura; a morte pela mais desumana das formas, e a agonia de semelhante caráter, que nenhuma língua pode expressar isto, nem mesmo a mais esclarecida mente humana pode explicar tal horror. Isto foi um grande preço.
Mas, pensem: Ele foi aceito? Há preços que já foram pagos ou oferecidos para a liberação de escravos,os quais nunca foram aceitos pela parte à qual foram oferecidos, e então o escravo não podia ser libertado. Mas, a oferta de Cristo foi aceita. Eu mostrarei a evidência disto: Quando Cristo declarou que ele pagaria o débito de todo o seu povo, Deus enviou o oficial para prendê-lo, a fim de que pagasse o débito; ele o prendeu no jardim do Getsêmani, e agarrou-o, conduzindo-o a Pilatos, a Herodes e ao julgamento de Caifás; o pagamento estava todo pronto, e Cristo iria colocá-lo na sepultura. Ele estava lá, trancado na vil prisão, até que a aceitação fosse ratificada no céu. Ele dormiu em seu túmulo pelo prazo de três dias. Estava declarado que a ratificação seria feita desta forma: A garantia seria dada para sempre assim que  o seu compromisso afiançado fosse completado. Agora, imaginem o quadro relativo ao sepultamento de Jesus. Ele está no sepulcro. Ele pagou todo o débito, mas o recibo não havia ainda sido dado; ele repousava naquela estreita tumba. Lacrada com um selo numa enorme pedra, ele dorme tranqüilamente em seu túmulo; e o recibo da aceitação não lhe fora ainda dado por Deus; os anjos não tinham vindo ainda do céu para dizer: “O certificado está pronto, Deus tem aceito o teu sacrifício.” Agora, este mundo está em crise; ele é posto a tremer na balança. Deus aceitará o resgate, ou não?

Nós veremos: Um anjo vindo do céu com um brilho grandioso remove a pedra, e em seguida chega ao prisioneiro, sem qualquer algema em suas mãos deixa suas roupas na sepultura atrás de si; livre, nunca mais sofreria, nunca mais morreria.

Agora, se Jesus não pagou o débito, Ele nunca teria sido posto em liberdade.”
Se Deus não tivesse aceito seu sacrifício, ele ainda estaria em sua tumba neste momento, ele nunca teria  saído do seu túmulo. Mas sua ressurreição foi a promessa da sua aceitação por Deus.

Ele diria: “Eu tenho tido uma exigência para satisfazer-te até esta hora, exigência esta que eu paguei agora.” E a morte desistiu do seu prisioneiro Real, a pedra foi removida e o vencedor seguiu adiante, levando cativo o cativeiro.

E, além disso, Deus deu uma segunda prova da aceitação, porque ele recebeu seu Filho unigênito no céu, e o fez assentar-se à sua direita, acima de todos os principados e potestades; e, nisto, ele tinha a intenção de dizer a ele, “senta-te no teu trono, porque tens feito poderosos feitos; todas as tuas obras e todos os teus sofrimentos são aceitos como resgate dos homens.”

Oh, meus amados! Pensem que grande visão isto deve ter sido quando Cristo ascendeu à glória, que nobre certificado deve ter sido a aceitação dele por seu Pai! Vocês não sabem por que  não vêem a cena na terra? Isto é muito simples. Uns poucos discípulos estão de pé diante dele, e Cristo elevou-se nos ares num lento e solene movimento. Vocês  podem imaginar o que está para acontecer depois? Vocês podem, por um momento, conceber como e quando o poderoso conquistador entrou nos portões do céu, e os anjos vieram ao seu encontro?

“Eles trouxeram sua carruagem vinda do alto, para conduzi-lo ao seu trono; batendo suas asas triunfantes e clamando:“O glorioso trabalho está consumado!”

Vocês podem imaginar como ele foi estrondosamente aplaudido ao entrar nos portões do céu? Vocês podem conceber como eles se comprimiam mutuamente, para contemplar como ele chegou conquistando e manchado do sangue da luta? Vocês vêem Abraão, Isaque e Jacó, e todos os santos redimidos, vindo para contemplarem o Salvador e o Senhor? Eles tinham desejado vê-lo, e agora os seus olhos o contemplavam em carne e sangue, o conquistador da morte e do inferno! Vocês podem contemplá-lo, com o inferno e a morte dragada como cativeiro através das ruas reais do céu? Oh, que espetáculo foi aquele dia! Nenhum soldado romano jamais teve tal triunfo; ninguém jamais viu uma visão majestosa como aquela. A pompa de todo o universo, a realeza de toda a criação, querubins e serafins e todos os poderes criados, aumentaram o show, e o próprio Deus, o Eterno, o coroou, e apertou seu Filho em seu peito, e disse: “Muito bem, muito bem, tu tens concluído o trabalho que eu te dei para fazer. Descansa aqui para sempre.” Ah, mas ele nunca teria tido aquele triunfo, se ele não tivesse pago todo o débito. A menos que seu Pai tivesse aceito o preço acertado, o resgate nunca teria sido tão honrado, mas porque ele foi aceito, ele teve tal triunfo. Até aqui falamos do resgate, ou seja, da redenção.

E agora, com a ajuda do Espírito de Deus, deixem-me apresentar o efeito do resgate; sendo justificados, “justificados gratuitamente pela sua graça através da redenção.”

Então, qual é o significado da justificação?

Eu devo tentar o melhor para apresentar a justificação de modo simples e claro, mesmo à compreensão de uma criança. A justificação não é algo que possa ser obtido na terra pelos homens mortais, a não ser por um só caminho.

A justificação é um termo forense; e é sempre empregado em sentido legal. Um prisioneiro é trazido ao tribunal de justiça para ser julgado. Há somente uma forma pela qual o prisioneiro pode ser justificado - ele deve ser declarado sem culpa, e se ele for achado sem culpa, então ele é justificado, isto é, fica provado que ele é um homem justo. Se você achar este homem culpado, você não pode justificá-lo. A rainha pode perdoá-lo, mas ela não pode justificá-lo. A ação não é justificável, se ele fosse culpado, e ele não pode ser justificado. Ele pode ser perdoado, mas a realeza não poderá jamais limpar o caráter do homem. Ele é realmente tão criminoso ao ser perdoado quanto antes.

Não há meios entre os homens para justificar alguém de uma acusação que é  feita contra ele, exceto se provado que ele de fato não é culpado. Assim, a maravilha das maravilhas, é que nós somos comprovadamente culpados diante de Deus, em razão dos nossos pecados, e ainda assim nós somos justificados: O veredicto tem sido dado contra nós – culpados -, e apesar disso, nós somos justificados. Pode algum tribunal terreno fazer algo como isto? Não! Isto é possível por causa da redenção de Cristo. Todos nós somos culpados. Leiam o versículo 23 de Rom 3: “Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. O veredicto da culpa está dado aqui, e ainda assim nós somos declarados justificados gratuitamente pela sua graça, logo no versículo seguinte.

Agora, permitam-me explicar a forma como Deus justifica o pecador. Eu vou supor um caso impossível. Um prisioneiro foi julgado e condenado à morte. Ele é culpado, e não pode ser justificado, porque é culpado. Mas, agora, suponham por um momento que tal coisa como esta pudesse ocorrer: Uma outra pessoa tomasse sobre si toda a culpa deste homem, e por algum misterioso processo, que, fora de dúvida, é impossível entre os homens, viesse a este homem, e tomasse o caráter deste homem sobre si, ele, sendo um homem justo, tomaria o lugar do rebelde, e faria do rebelde um homem justo.

Nós não podemos fazer isto em nossos tribunais. Se eu fosse a um juiz, e ele decidisse que eu deveria ficar por anos na prisão no lugar de algum infeliz que foi condenado ontem a anos de prisão, eu não poderia tomar sobre mim a sua culpa. Eu posso tomar sua punição, mas não sua culpa. Assim, o que  a carne e o sangue não podem fazer, Jesus fez através da sua redenção. Aqui estou eu, pecador. Eu me apresento como representante de todos vocês. Eu estou condenado à morte. Deus diz: “Eu condenarei este homem, eu devo puní-lo”. Cristo entra, coloca-me ao seu lado, e coloca-se no meu lugar. Quando a sentença é declarada, Cristo diz de si mesmo “culpado”, toma minha culpa para ser a sua própria culpa. Quando a punição está para ser executada, outra vez vem Cristo:- “Puna-me”, ele diz, “eu tenho colocado minha justiça neste homem, e eu tenho tomado os pecados deste homem sobre mim. Pai, puna-me, e considere este homem como se fosse eu. Deixe-o reinar no céu, deixe-me sofrer a miséria que estava destinada a ele. Deixe-me sofrer a sua maldição, e deixe-o receber a minha bênção”.

 Esta maravilhosa doutrina da substituição de lugares de Cristo com os pobres pecadores é uma doutrina de revelação, porque isto nunca teria sido concebido pelo natural. Deixem-me explicar de novo, para evitar qualquer compreensão errônea. A forma pela qual Deus salva o pecador não é, como alguns dizem, passar sobre a punição. Não, a punição foi paga completamente. Ela foi colocada sobre outra pessoa que assumiu o lugar do rebelde. O rebelde deve morrer, Deus diz que ele deve. Cristo diz: “Eu serei o substituto do rebelde. O rebelde tomará o meu lugar, eu tomarei o seu.”. E Deus consente nisto. Nenhum monarca terreno teria poder para consentir numa tal troca. Mas o Deus do céu tem o direito de fazer como Lhe apraz. Em Sua infinita misericórdia Ele consentiu o arranjo. “Filho do meu amor”, Ele disse, “você deve ficar no lugar do pecador; você deve sofrer o que ele deveria sofrer; você deve ser considerado culpado, e então eu olharei o pecador de uma outra maneira. Eu o olharei como se ele fosse Cristo; Eu o aceitarei como se ele fosse meu Filho unigênito, cheio de graça e de verdade. Eu lhe darei uma coroa no céu, e eu o tomarei em meu coração para todo o sempre.”. Esta é forma como somos salvos, “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, através da redenção que está em Cristo Jesus”.

E agora permitam-me explicar um  pouco mais sobre algumas das características desta justificação:

Tão logo o pecador se arrepende ele é justificado. Ele é justificado de todos os seus pecados. Aqui se levanta um homem completamente culpado. Neste momento ele crê em Cristo, e ele recebe seu perdão, e seus pecados não estão mais perto dele, porque foram lançados nas profundezas do mar. Ele descansa nos braços de Cristo, e ambos passam a caminhar juntos. O homem está sem culpa à vista de Deus, aceito inteiramente no seu amor.- “O quê?”, diz você, “você está afirmando isto literalmente?” - Sim, eu estou. Isto é a doutrina da justificação pela fé. O homem cessa de ser considerado culpado pela justiça divina. No momento em que ele crê em Cristo sua culpa é totalmente removida. Mas eu vou um pouco mais além. Ele se torna justo, ele passa a ter méritos, porque, no momento em que Cristo toma os seus pecados, ele toma para si a justiça de Cristo; tanto que, quando Deus olha para o pecador que há uma hora atrás estava morto em seus pecados, ele o olha com o mesmo amor e afeição que ele sempre olhou seu Filho amado. Ele mesmo tem dito:“Assim como o Pai me amou,  também eu vos amei.” (Jo 15.9). Ele nos ama assim como o Pai o amou.

Vocês podem crer numa doutrina como esta?  Isto não ultrapassa toda a imaginação? Bem, esta é a doutrina do Espírito Santo; a doutrina pela qual todos nós esperamos ser salvos. Posso eu ilustrar isto melhor para alguma pessoa não esclarecida?  Eu lhes contarei a passagem que nos tem sido dada pelos profetas – a estória de Josué, o sumo sacerdote, citada em Zacarias 3. Josué estava trajado com vestes sujas. Estas roupas sujas representam seus pecados. Foi ordenado que suas roupas fossem tiradas. Isto é o perdão, para que pudesse ser vestido de finos trajes. Foi colada uma mitra em sua cabeça; foi vestido com vestes reais, que o tornaram rico e honrado. Isto é a justificação. Mas, de onde vieram estas vestes? Para onde foram as suas roupas sujas? Os trapos de Josué foram lançados sobre Cristo, e as vestes de Cristo foram colocadas em Josué. O pecador e Cristo fazem o que Jônatas e Davi fizeram. Jônatas deu suas vestes a Davi, e Davi deu suas vestes a Jônatas.

Deste modo, Cristo tomou nossos pecados sobre si, e nós tomamos a justiça de Cristo; e isto se faz por uma gloriosa substituição e permuta de lugares que os pecadores são libertados e justificados pela sua graça.
Mas, alguém diz, “ninguém é justificado assim até que ele morra.”. Creiam-me! Somos justificados neste mundo, quando cremos. No momento em que o pecador crê e confia no Cristo que foi crucificado, ele recebe o Seu perdão; salvação completa, através do Seu sangue.

Se este jovem entre nós crer em Cristo nesta manhã, tornando real a experiência espiritual que tenho descrito, ele está justificado aos olhos de Deus como ele estará quando comparecer diante do trono. Nenhum dos espíritos glorificados no céu são mais aceitáveis a Deus do que o do pobre homem aqui em baixo, que foi justificado pela graça. Isto é uma limpeza perfeita, isto é um perdão perfeito, é uma perfeita imputação de justiça; nós estamos completa, gratuita e totalmente aceitos por meio de Cristo Jesus nosso Senhor. Há ainda mais uma palavra sobre este assunto da justificação. Todos os que são justificados, são justificados irreversivelmente. Tão logo que o pecador toma o lugar de Cristo, e Cristo toma o lugar do pecador, não há mais o temor de uma segunda troca. Se Cristo tem uma vez pago o débito, o débito está pago, e nunca será exigido novamente; se vocês estão perdoados, vocês estão perdoados para sempre. Deus nunca dá ao homem o perdão gratuito com a assinatura da Sua própria mão, para depois cancelá-lo e punir à condenação eterna aquele que havia anteriormente perdoado. Longe de Deus agir de tal forma. Ele diz, “eu tenho punido Cristo para que você seja livre”. E depois disto, nós podemos “regozijarmo-nos na esperança da glória de Deus”, porque “sendo justificados pela fé temos paz com Deus através de nosso Senhor Jesus Cristo”. E agora eu ouço alguém dizer “que doutrina extraordinária!” Bem, alguém pode pensar desta forma; mas deixem-me dizer-lhes, isto é a doutrina professada por todas as igrejas protestantes, embora elas possam não pregá-la. Esta é a doutrina da igreja da Inglaterra, esta é a doutrina de Lutero, é a doutrina de todas as igrejas verdadeiramente cristãs; e se isto parece estranho aos seus ouvidos, é porque seus ouvidos são estranhos, e não porque a doutrina é estranha. Esta é a doutrina das Escrituras Sagradas, que afirma que ninguém pode condenar quem Deus justifica, e que ninguém pode acusar aqueles por quem Cristo morreu; porque eles estão totalmente libertados do pecado. Assim como um dos profetas diz, Deus não vê pecado em Jacó nem iniqüidade em Israel. No momento que eles crêem, seus pecados são imputados a Cristo, eles deixam de ser deles, e a justiça de Cristo é imputada a eles e lançada na conta deles, e assim são aceitos.

E agora, eu concluo com o terceiro ponto, com o qual serei breve e muito sincero: A MANEIRA DE SE OBTER ESTA JUSTIFICAÇÃO.

John Bunyan afirmou que há alguns cujas bocas estão sedentas por este grande dom da justificação. Não há alguns aqui que estão dizendo, “Oh! Se eu pudesse ser justificado! Mas, Senhor, eu posso ser justificado? Eu tenho sido um alcoólatra, eu tenho sido um blasfemo, eu tenho sido tudo o que é vil. Eu posso ser justificado? Cristo poderá tomar os meus pecados, e eu as suas alvas vestes?”. Sim, pobre alma, se você desejar isto; se  Deus tem feito você desejar isto, se você confessar o seu pecado, Cristo está desejando tomar os seus trapos e dar-lhe a sua justiça, para ser sua para sempre. “Bem, mas como isto pode ser  obtido?”, diz alguém. Ouça! “Gratuitamente pela sua graça”. “Gratuitamente”, porque não há preço que possa pagar isto; “por sua graça”; porque isto não é pelos nossos merecimentos. “Mas, senhor, eu tenho orado, e eu não penso que Deus me perdoará, a menos que eu faça algo para merecer isto”. Eu lhe digo,  se você  tentar isto na base de algum dos seus merecimentos, você nunca o terá. Deus dá a sua justificação gratuitamente; se você trouxer algo para pagá-la, ele o arremessará no seu rosto, e não dará a Sua justificação a você. Ele dá isto de outra forma, gratuitamente.

O velho Rowland Hill, certa vez, pregando numa feira, reparou em alguns homens que estavam vendendo suas mercadorias num leilão; então Rowland disse, -“eu vou realizar também um leilão, para vender vinho e leite, sem dinheiro e sem preço. -“Meus amigos,” disse ele, “encontrem uma grande dificuldade para fazerem os seus lances; minha dificuldade é fazer com que o lance de vocês seja inferior ao meu”. (Ninguém pode se desculpar diante de Deus por não ter sido justificado, porque a justificação é oferecida gratuitamente. Ninguém tem que se preocupar em dar um lance maior do que o de outra pessoa para comprar o bem mais precioso da vida – o que dará o homem em troca da sua alma? – nota do tradutor). Assim se dá com os homens, se eu pregasse a justificação para ser comprada por você por um preço elevado, quem sairia deste lugar tendo sido justificado? Se eu pregasse a justificação a vocês por caminharem centenas de quilômetros, nós não seríamos peregrinos na manhã do dia seguinte, cada um de nós? Se eu pregasse a justificação que consiste em flagelação e tortura, há muitos poucos aqui que não poderiam flagelar a si mesmos, e muitos poucos que não se torturariam. Mas quando isto é gratuitamente, gratuitamente, gratuitamente, os homens voltam atrás. “O quê?! Eu posso tê-lo por nada, sem fazer nada?”
   
Sim, senhor, você obterá a justificação mediante nada, ou então nunca a obterá por tudo o mais, pois ela é gratuita. “Mas eu não posso ir a Cristo e pedir pela sua misericórdia e dizer, Senhor, justifica-me porque eu não sou tão mau quanto os outros ?” Ele não o fará, senhor, porque isto é “pela sua graça”. “Mas eu não posso alimentar uma esperança, porque eu vou à igreja duas vezes ao dia?”. Não, senhor, isto é “pela sua graça”. “Mas eu não posso apresentar este pedido de que eu penso em ser melhor?”. Não, senhor, isto é “pela sua graça”. Você insulta Deus por trazer sua moeda falsificada para pagar o Seu tesouro. Oh! Quão pobres idéias os homens têm sobre o valor do evangelho de Cristo, ao pensar que podem comprá-lo!  Deus nunca aceitará seus centavos enferrujados para comprarem o céu com eles.
Um homem rico, certa ocasião, quando estava morrendo, teve uma idéia de que poderia comprar um lugar no céu por construir um asilo para os pobres. Um bom homem ao lado do seu leito de morte lhe perguntou:- “Quanto mais você pretende dar?”. -“Vinte mil libras”, ele respondeu. -“Isto não seria o bastante para comprar um lugar para que os seus pés pisem no céu, porque as ruas de lá são feitas de ouro, assim sendo qual é o valor que o seu ouro pode ter? Ele será tido por nada, já que todas as ruas são pavimentadas com ele.”. Não, amigos, nós não podemos comprar o céu com ouro nem com boas obras, nem orações, nem com nada no mundo.

 Mas como isto pode ser obtido? Isto é obtido por ser pedido somente. Assim como muitos de nós têm reconhecido que são pecadores, pode Cristo pedir por você. Você sabe que está desejando a Cristo? Você pode ter Cristo! “Quem quiser, venha a ele e tome de graça da água da vida”. Mas se você conceber suas próprias noções e dizer, “Não, senhor, eu penso que tenho que fazer muitas boas obras, e então eu crerei em Cristo.”. Você permanecerá sob maldição caso mantenha tal ilusão. Eu o previno sinceramente. Você não pode ser salvo assim. “Bem, mas nós não devemos fazer boas obras?”, Certamente que sim, mas vocês não devem confiar nelas para a sua justificação. Devem confiar em Cristo completamente, e então fazerem as boas obras depois.

Mas, alguém diz, “eu penso que se eu fizer boas obras, isto seria um pouco recomendado em meu favor”. Isto não será, senhor! Elas não seriam recomendáveis para tudo. Deixe um mendigo vir à sua casa com luvas brancas, e ele lhe diz que está sem dinheiro, e que deseja alguma caridade; as luvas brancas o recomendariam para receber a sua caridade? Ou seria um bom e novo chapéu que ele tivesse comprado nesta manhã que o recomendaria à sua caridade? “Não!” você diria, “você é um miserável impostor, você não é um necessitado, e você não terá nada de mim! Fora!”

A melhor roupa para um mendigo são trapos, e a melhor veste para um pecador que vem a Cristo é vir como ele está, com nada além dos seus pecados sobre si. “Mas não”, você diz, “eu devo ser um pouco melhor, e então eu penso que Cristo me salvará!”. Você não pode ser nada melhor. Tente o quanto você puder. E exceto – para usar um paradoxo – se você pudesse ser melhor a ponto de ser considerado digno de receber a justificação, você poderia ser o pior de todos para obtê-la; porque quanto mais você se reconhece pecador, é melhor para vir a Cristo para ser justificado; se você sente o seu pecado e renuncia a ele, venha a Cristo, embora você tenha sido a alma mais humilhada e desprezada, venha a Cristo; se você sente que em si mesmo nada tem que lhe possa recomendar a Deus, venha a Cristo.

   Eu não digo isto para encorajar a qualquer homem a continuar no pecado. Deus me livre! Se você continuar no pecado, você não deve vir a Cristo; você não pode fazê-lo; seus pecados o enganarão. Você não pode conduzir o seu navio com os remos do pecado. Em vez disso, venha a Cristo, e seja um homem livre. Não, senhor, isto é arrependimento; isto é deixar imediatamente de viver no pecado. Mas, anote isto, nunca é pelo próprio arrependimento, nem por desejar deixar o pecado, que você é salvo. É por Cristo, Cristo, Cristo, Cristo somente.

Mas eu sei que muitos de vocês irão embora e tentarão construir a sua própria torre de Babel para chegar ao céu. Alguns de vocês irão pelo caminho das obras, e alguns por outros. Vocês irão pelo caminho do cerimonial: Porão a estrutura do batismo infantil para a salvação; construirão a confirmação dele na Ceia do Senhor. “Eu irei para o céu”, você diz. “Eu não tenho guardado a Sexta Feira santa, e o dia de Natal? Eu sou um homem melhor do que aqueles dissidentes. Eu sou o homem mais extraordinário. Eu não tenho orado mais do que todos os demais?”. Você estará por muito tempo empenhado neste seu trabalho monótono sem avançar uma só polegada. Este não é o caminho para se chegar às estrelas. Alguém diz,  “Eu irei estudar a Bíblia, e crer em suas doutrinas; e não tenho dúvida que por crer corretamente nas doutrinas eu serei salvo.”. Certamente você não será! Você não pode ser mais salvo por crer corretamente nas doutrinas do que por você poder praticá-las corretamente. Alguém diz, “Eu gosto disto, eu crerei em Cristo, e viverei do modo que eu gosto.”. Certamente você não será justificado! Porque se você crer em Cristo ele não deixará você viver como a sua carne gosta, porque seu Espírito o constrangerá a mortificar suas afeições e desejos. Se ele lhe der graça para você crer, ele dará graça para você viver uma vida santa daí para a frente. Se ele der fé a você, ele lhe dará boas obras depois disso. Você não pode crer em Cristo, a menos que você renuncie a cada erro, e resolva servi-lo com todo o seu coração. Mas ainda alguém diz, “Esta é a única porta? E posso me aventurar através dela? Então eu o farei. Mas eu não posso entendê-lo completamente,  porque há pontos discordantes dentro de mim. Falam de uma grande porta, mas eu não posso ver a porta; falam do caminho, mas eu não posso ver o caminho. Falam da luta, mas eu não vejo qualquer luta, senão eu lutaria.”. Deixe-me então explicar-lhe. Eu encontro na Bíblia, “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores,” (I Tim 1.15). O que você deve fazer, senão crer nisto e confiar nele? Você nunca será desapontado com uma tal fé como esta. Deixe-me dar-lhe uma ilustração que eu tenho feito centenas de vezes, mas eu não posso achar outra melhor, e por isso a darei de novo.

A fé é algo como isto. Há uma estória sobre um capitão, um homem de guerra, cujo filho gostava de brincar em seu navio; e certa vez, correndo como um macaco, ele subiu o mastro do navio e alcançou um dos braços principais de sustentação das velas, e ele não tinha como retornar ao mastro para descer. Seu pai viu aquilo, e olhando para cima horrorizado, pensava: o que ele poderia fazer? Em poucos momentos seu filho cairia e seria feito em pedaços. O pobre menino estava apavorado. O pai pegou uma arma e a apontou para o menino dizendo: “na próxima vez em que o navio balançar, você deve se lançar ao mar, ou eu atirarei em você!”. Ele sabia que seu pai cumpriria a palavra; o barco balançaria para um lado, ele seria lançado ao mar, e os fortes braços dos marinheiros o resgatariam. Agora nós, como o menino, estamos, por natureza, numa posição de extremo perigo, da qual nunca poderemos escapar.
De modo infortunado, nós temos algumas boas obras de nós mesmos, como aquele mastro de sustentação das velas, e nós estamos apegados a ele tão afetuosamente, que nós nunca o largaremos. Cristo sabe que a menos que o larguemos nós seremos feitos em pedaços para sempre, porque esta confiança estragada irá nos arruinar. Ele, conseqüentemente diz, “pecadores, deixem a sua própria confiança, e se lancem ao mar do meu amor.”. Nós olhamos para baixo e dizemos, “eu posso ser salvo por confiar em Deus? Ele parece estar zangado comigo, e eu não poderia confiar nele.”. Ah, a terna misericórdia não persuadirá você ? – “aquele que crer será salvo.”. Deve a arma da destruição ser apontada na sua direção? Você deve ouvir a ameaça terrível – “o que não crer será condenado?”. O que se dá com você agora é o mesmo que se deu com o menino – sua posição é de iminente perigo em si mesma, e o seu desprezo pelo conselho do Pai é um assunto do mais terrível alarme, isto torna o perigo mais perigoso ainda.
Você deve fazer isto, ou então você perecerá! Abandone sua confiança em si mesmo! Isto é a fé, quando o pobre pecador abandona a sua confiança, lançando-a fora, e assim ele é salvo. Oh! Creiam em Cristo, pobres pecadores, creiam em Cristo! Vocês que conhecem a sua culpa e miséria venham, lancem-se a si mesmos sobre Ele, venham, e confiem no meu Mestre, e assim como ele vive, antes que eu nascesse, vocês nunca confiarão nele em vão, mas vocês serão perdoados, e seguirão seu caminho regozijando-se em Cristo Jesus.








12 - JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ  

Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)

“Justificados pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;” (Rom 5.1)

Nós não desejamos pregar nesta noite sobre este texto como uma mera matéria de doutrina. Todos vocês crêem e entendem o evangelho da justificação pela fé, mas nós desejamos pregar isto como matéria de experiência, como uma coisa realizada, sentida, regozijada e compreendida na alma. Eu confio que há muitos aqui que não somente conhecem que o homem pode ser salvo e justificado pela fé, mas que podem dizer em sua própria experiência, “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo,” e que estão agora no presente momento caminhando e vivendo na alegria atual desta paz.
Desejando falar deste texto, então, neste sentido, eu pedirei a vocês para me acompanharem, não somente com seus ouvidos, e com a atenção que vocês têm me dado usualmente tão generosamente, mas também com os olhos do seu auto-exame, perguntando a si mesmos, enquanto nós prosseguimos passo a passo: “Eu sei isto? Eu o tenho recebido? Eu tenho falado de Deus desta maneira? Tenho sido conduzido por esta verdade?”. E nossa esperança será que algumas pessoas para quem estas coisas têm sido meramente externas até aqui, e portanto sem qualquer valor, venham a se entregar a Deus para serem por Ele dominadas, de maneira que possam em matéria de alma, coração e consciência, serem alegrados e encontrarem  a si mesmos onde sempre deveriam estar, quer dizer reconciliados com Deus, desfrutando alegremente e regozijando-se em paz com o Altíssimo.  

I. COISAS QUE O HOMEM DEVE DESCOBRIR ANTES DE TER PAZ COM DEUS

Você vê que Paulo, antes de ter citado esta justificação pela fé, tinha falado sobre o pecado. Não teria sido possível para ele ter dado uma definição inteligível de justificação sem mencionar que os homens são pecadores, sem informar que eles têm quebrado a lei sagrada de Deus, e que a lei, por si mesma, não poderia restaurá-los na graça de Deus.
Bem, agora as coisas sobre as quais eu vou falar adiante, são absolutamente necessárias.
Que coisas são estas? A primeira é a descoberta de que o homem é dirigido antes pelo Espírito de Deus para ser justificado, isto é importante para que seja justificado à vista de Deus. Muitas pessoas não sabem isto. Você foi fazer compras esta noite e encontrou um homem no caixa, e você lhe disse: “Bem, você nunca vai a um lugar de adoração?”. “Não,”. Ele diria, “mas eu estou quite com Deus por tudo que eu faço. “Como assim?”. “Bem, eu tenho um melhor negócio do que eles.”. “Qual?”. “Bem, eu nunca faltei ao trabalho; eu nunca enganei as pessoas; eu nunca menti; nunca roubei; não bebo; sou honesto, e isto é mais do que você pode dizer de alguns dos seus amigos religiosos.”. Agora, este homem tem de fato uma parte do caráter de um bom homem.  Há duas partes, mas ele pode somente ver uma, ou seja, este homem é justo para os homens. Ele vê isto, mas ele não vê que o homem deve ser também justo para Deus. E com isso se  este homem fosse realmente pensar um pouco mais, ele veria que a maior obrigação da criatura deve ser, não com seus companheiros, mas com o seu Criador, e que, ainda que o homem seja justo para outro homem, caso ele seja injusto para Deus, ele não poderá escapar da mais severa penalidade. Mas, oh! A maioria dos homens pensa que conquanto que eles guardem as leis da terra, desde que eles dêem aos demais homens o que lhes é devido, não importa que o dia do Senhor lhes seja um assunto para ser escarnecido.  Deus será usado como se fosse um homem, e a lei de Deus será pisada debaixo dos seus pés. Agora, eu penso que todos aqui colocarão seus dedos em suas frontes por um momento pensando, que já viram isto. Mesmo que um homem possa dizer diante de qualquer juiz ou júri: “Eu não tenho injuriado em nada o meu próximo; eu sou justo diante dos homens,”, ainda assim isto não faz que o caráter do homem seja perfeito. A menos que ele seja também capaz de dizer: “E eu sou também justo diante da presença de Deus que me fez, e de quem eu sou servo,” ele tem somente guardado uma  parte, e tem deixado a mais importante, a saber: a lei de Deus para ele.
A próxima coisa é a seguinte: Quando o homem  é trazido a Cristo pelo Espírito Santo, ele descobre que sua vida passada tem sido manchada por sérias ofensas contra a lei de Deus. Antes que o Espírito Santo venha habitar em nós, somos como um quarto escuro. Nós não podemos enxergar dentro dele. Nós não podemos descobrir as teias de aranhas, as coisas sujas e nojentas que podem estar escondidas nele. Mas quando o Espírito de Deus vem jorrando na alma, o homem é surpreendido ao perceber que ele é o que é, e especialmente se ele se assentou e abriu o livro da lei, e, na luz do Espírito divino, lê esta lei perfeita, e compara com ela as próprias imperfeições de seu coração e sua vida. Ele então se achará doente em si mesmo, ainda que se deteste e algumas vezes se desespere. Talvez há alguém aqui que dirá: “Eu sei que eu tenho sido muito casto toda minha vida, porque o mandamento diz: “Não adulterarás,  e eu nunca tenho quebrado isto, eu estou limpo disto.”. Ah!, Mas agora ouça Cristo explicar o mandamento: “Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela.”. Agora, então, quem entre nós pode dizer que não tem feito isto? Quem há sobre a terra, se este é o significado do mandamento, que pode dizer, “eu estou inocente?”; Se a lei de Deus, como nós a temos nas Escrituras,  tem tal caráter, não com nossas ações exteriores somente, mas com nossas palavras, e com nossos pensamentos e nossas imaginações – se isto se aplica amplamente a todas as mais secretas partes do homem, então quem de nós pode alegar inocência diante do trono?  
Não, amados irmãos, isto deve ser compreendido por você, e por mim, antes que nós possamos ser justificados, que nós estamos cheios de pecados. O que eu quero dizer com isso é o mesmo que  dizer que um ovo está cheio de alimento. Todos somos pecadores. O pensamento e a imaginação do nosso coração são maus, e somente maus, e continuamente. Se alguns de vocês têm se acobertado com a idéia de que são justos, eu oro a Deus para que tenha misericórdia de vocês e que lhes faça verem a si mesmos, porque se vocês nunca enxergarem sua própria nulidade, vocês nunca entenderão a Toda-suficiência de Cristo. A menos que vocês sejam derrubados, Cristo nunca os levantará. A menos que vocês saibam que estão perdidos, vocês nunca necessitarão do Salvador que veio “buscar e salvar o perdido.”. Esta é a segunda descoberta, então; que é importante ser justo antes diante de Deus, mas que  por causa da espiritualidade da lei moral de Deus, e nossa conseqüente inabilidade para guardá-la perfeitamente, nós estamos muito longe de permanecermos firmes e continuamente de pé, baseados na nossa própria justiça.
Então chegamos a uma outra descoberta, quer dizer, que conseqüentemente é absolutamente impossível para nós esperar que possamos ser sempre justos diante de Deus, na base dos nossos próprios feitos. Nós devemos ter isto na conta de um caso totalmente perdido. O passado é passado: que nunca poderá ser apagado por nós; e o futuro, não obstante toda a nossa profunda esperança de aperfeiçoamento, será provavelmente nada melhor, e assim a salvação pelas obras da lei se tornará para nós uma sombria impossibilidade. A lei diz, “Maldito todo aquele que não permanece em todas as cousas escritas no livro da lei, para praticá-las.”. Eu estava conversando certa ocasião com um de nossos mais ilustres e nobres judeus, e quando eu lhe perguntei se ele cria na justiça perfeita - e eu cria que se algum homem pudesse ser justificado pela sua conduta moral, este homem seria o judeu - e quando eu disse a ele, “Está escrito na sua própria lei: “Maldito é todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei”; você tem guardado todas estas coisas?”. Ele disse, “eu não tenho.”. “Então,” eu disse, “a maldição está sobre você e como você espera escapar disto?”. E eu descobri que esta é uma questão para a qual ninguém teria uma resposta, e esta é a questão que, quando corretamente entendida, ninguém pode responder, exceto pelo apontamento da cruz de Cristo e dizendo: “ Ele se fez maldição por nós para que nós fôssemos abençoados.”. A menos que você e eu guardemos a lei de Deus perfeitamente, quão pouco perto estamos de obter a perfeição. Isto é como se Deus tivesse se comprometido conosco em fazer de nós um vaso perfeito de cristal, e ele dissesse: “Se você guardar tudo, e apresentar isto a mim, você terá uma recompensa.”. Mas nós temos quebrado isto, ah! meus irmãos, a maioria de nós tem quebrado o vaso. Sim, e temos perdido a recompensa, porque a condição era que deveríamos ser perfeitos completamente, e uma pequena quebra é uma violação da condição que fora colocada para que a recompensa fosse dada.  
     Nunca afirme que você não tem violado os mandamentos de Deus. Não, senão que os tem quebrado. Você tem colocado a si mesmo fora da lista. Isto  parece severo quando você diz algumas vezes às pessoas que se elas violarem a lei num só ponto, elas terão quebrado toda ela; mas isto não é tão duro como parece, porque se dissermos ao homem que está descendo para o interior de uma mina de carvão usando uma longa corrente que, se ele quebrar um só elo da corrente, não haverá problema, desde que os outros milhares de elos estejam ligados; se houver somente um elo que seja quebrado, o cesto cairá e o pobre minerador será feito em pedaços. Ninguém pense que isto é duro. Todos reconhecem que se trata de uma matéria de lei da mecânica, que a resistência da corrente deve ser medida  pela sua parte mais frágil. E então a resistência da nossa obediência deve ser avaliada pelo ponto mais sujeito a falhas. (Isto é, seria por superar completamente as fraquezas às quais estamos mais propensos, que poderíamos estar guardando perfeitamente a lei de Deus – nota do tradutor). Ai de mim! Nossa obediência tem falhado, e por isso, nenhum de nós pode ser sempre justo diante de Deus.
Agora, eu lhe pergunto: Você tem entendido tudo até este ponto? Isto é importante para ser justo diante de Deus: Nós vemos que não somos assim: nós vemos que não podemos ser assim? Nós estamos totalmente convencidos que pela nossa própria obediência à lei de Deus, estaríamos sem qualquer esperança para  sermos aceitos e estarmos de pé diante do Altíssimo. Eu oro ao Espírito Eterno para convencê-lo de tudo isto, ou você ficará batendo à porta até que você esteja completamente certo do que Deus tem determinado para sempre, para tal, ou então tentará escalar este Alpes, e cairá num precipício, até que esteja convencido que é impossível para você escalá-lo e chegar a Deus no caminho de Deus, que é totalmente diferente do seu. Eu confio que todos nós estamos convencidos disto.
Deixem-me alertá-los sobre mais uma descoberta preliminar. O homem tendo entendido tudo isto, repentinamente descobre que, na medida em que ele não é justo diante de Deus, e não pode ser, ele está no presente momento sob condenação. Deus nunca é indiferente ao pecado. Se, então o homem não se encontra no estado em que Deus pode justificá-lo, ele está no estado em que Deus deve condená-lo. Se você não é justo diante de Deus, você está condenado agora mesmo. Você não será condenado imediatamente, isto é verdade, mas a condenação está vindo contra você, e o sinal disto é a sua incredulidade, porque “o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”.
Alguns de vocês se levantariam de seus assentos esta noite se repentinamente tivessem a informação que vocês têm sido condenados pela corte de seu país, mas quando eu digo que você tem sido condenado pela Corte do Céu, isto desliza pela sua consciência como pingos de água ou de óleo acima de uma pedra de mármore. E ainda, meus ouvintes, se ainda não entenderam o significado do que eu estou dizendo – e eu oro a Deus, ao Espírito Santo para fazer-lhes conhecer isto -  e isto faria seus ossos se agitarem! Deus tem lhe condenado. Você está fora de Cristo. Você tem quebrado sua lei. Deus tem elevado sua mão para ferir-lhe, e apesar da sua misericórdia tardar por um instante, apesar disso dias e horas terão ido logo, e então a condenação tomará a forma de execução, e o que será da sua alma então? Agora, você deve perceber a sentença de condenação  sobre a sua alma, ou então você nunca será justificado, porque até que nós não sejamos condenados por nós mesmos, nós não poderemos ser absolvidos por Deus. Novamente, eu digo: você tem experimentado isto, meu caro  ouvinte? Se sente a sentença de morte sobre você, dê graças por isto, porque agora a vida poderá ser-lhe dada da mão da graça de Deus.

II. DESCUBRA O EVANGELHO APRENDENDO O QUE É DITO A NÓS PELO ESPÍRITO DE DEUS

Este conhecimento do Evangelho eu posso lhes dar numas poucas sentenças, especialmente estas: que, na medida em que o homem permanece no pecado, o caminho da obediência está para sempre fechado, de forma que nós – nenhum de nós – pode passar disto para uma verdadeira justificação. Deus tem agora determinado para tratar com os homens num caminho de misericórdia, para perdoar-lhes todas as suas ofensas, para dar-lhes o seu amor, para recebê-los em graça, e para amá-los livremente. Nós temos sido saciados na sua infinita sabedoria, para desenvolvermos um caminho no qual sem injuriar a sua justiça, ele pode ainda receber o mais imerecedor dos filhos dos homens em Seu coração, e fazer dele Seu filho, e pode abençoá-lo com todas as suas bênçãos que seriam dele para que viesse a guardar perfeitamente a lei de Deus, e que agora virá sobre ele sob a forma de dom e imerecida graça que procede dEle mesmo.
Eu confio que nós temos aprendido isto, que há um plano de salvação somente pela graça; e isto é uma grande coisa para saber que onde a graça está, não há nenhum trabalho para o homem fazer relativamente à sua justificação. É uma coisa abençoada nunca confundir em sua cabeça a doutrina das obras, e a doutrina da aceitação pela graça, porque há uma diferença essencial e eterna entre ambas. Eu espero que você tenha todo o conhecimento para não misturar as duas. Se nós somos salvos pela graça, isto não pode ser comprado pelos nossos próprios méritos, mas se nós dependemos dos nossos méritos, então nós não podemos apelar à graça de Deus, desde que duas coisas diferentes nunca podem ser misturadas juntamente. Isto deve ser totalmente pelas obras, ou trabalho, ou então totalmente pela graça. O plano da salvação de Deus exclui todo o nosso trabalho. “Não pelas obras para que ninguém se glorie.”. Isto nos vem pela condição da graça, somente pela pura graça. E isto é plano de Deus, especialmente que, considerando que nós não podemos ser salvos pela nossa própria obediência, nós devemos ser salvos pela obediência de Cristo (Rom 5.19). Jesus, o Filho de Deus, apresentou-se pessoalmente em carne, viveu uma vida de obediência à lei de Deus, e em conseqüência desta obediência, foi achado na forma de homem, ele humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz, e a vida e morte do nosso Salvador realizou uma completa guarda e honra desta lei que nós temos quebrado e desonrado, e o plano de Deus é este: “Eu não posso abençoar você pela sua própria causa, mas eu irei abençoar você por causa de Jesus; e agora olho para você através dEle, eu posso abençoar você apesar de não merecer isto de maneira nenhuma; eu posso ignorar o seu não merecimento; eu posso apagar os seus pecados como uma nuvem, e lançar suas iniqüidades nas profundezas do mar em razão do que Ele fez; você não possui qualquer mérito, mas Ele tem méritos ilimitados; você está cheio de pecados e deve ser punido, mas Ele foi punido no seu lugar, e agora eu posso entrar em acordo com você.”. Esta é a linguagem de Deus, colocada em palavras humanas, “eu posso me reconciliar com você nos termos da misericórdia através dos méritos do meu Filho amado.”. Este é o caminho, então, no qual o evangelho vem até você. Se você crê em Jesus, que diz, se você confiar nele, todos os Seus méritos são seus méritos; são imputados a você: todos os sofrimentos de Jesus são seus sofrimentos. Cada um dos seus méritos é imputado a você.            
Você está de pé na presença de Deus se você estiver em Cristo, porque Cristo ficou de pé na presença de Deus para ficar no seu lugar – Ele está no seu lugar, e você está no lugar dEle. Substituição! Esta é a palavra! Cristo o substituto dos pecadores. Cristo levantou no lugar dos homens, e sofreu a ira da divina oposição ao pecado, ele “fez pecado por nós aquele que não conheceu o pecado.”. O homem é levantado no lugar de Cristo, e recebe o sol do divino favor, no lugar de Cristo.
E isto, eu digo, é através da confiança, isto é, da fé. O caminho de Deus para a recepção da conexão com Cristo é através da sua confiança nele. “Então, sendo justificados” – como? Não por obras, este não é o elo, mas – “sendo justificados pela fé, temos paz com Deus através de nosso Senhor Jesus Cristo.”.  Cristo ofereceu a Deus a substituição: através da fé nós a aceitamos, e a partir deste momento Deus tem aceitado a nós.
Agora, eu desejo levá-los a isto, queridos amigos. Vocês sabem isto? Vocês têm sido ensinados sobre isto pelo Espírito de Deus? Talvez vocês tenham aprendido isto desde crianças na Escola Dominical, e têm aprendido em várias classes desde então, mas vocês o têm experimentado em suas próprias almas, e sabem que o caminho da salvação de Deus é simplesmente através e totalmente dependente do seu amado Filho? Você sabe então, que você tem sido aceito, e que você depende agora de Jesus? Se o sabe, então é triplamente feliz!
Mas, indo adiante, eu tenho agora que enfatizar por um minuto ou dois:

III. O GLORIOSO PRIVILÉGIO DO TEXTO
 
Falemos agora sobre este glorioso privilégio, palavra por palavra.
“Sendo justificados”. O texto fala-nos que cada crente está no presente momento perfeitamente justificado diante de Deus. Você sabe  que Adão estava  nu e em inocência no Paraíso. Igual a isto está cada crente. Ah, e mais do que isso. Adão podia falar com Deus porque ele estava sem pecado, e nós também acessamos com ousadia à presença de Deus nosso Pai, através do sangue de Jesus, que nos limpa. Agora, eu não digo que isto é um privilégio de uns poucos e eminentes santos, mas aqui eu olho ao redor desses bancos da igreja e vejo meus irmãos e irmãs – uma grande multidão, centenas deles – todos, esta noite estão diante de Deus – tão perfeitamente, tão completamente; tão justos que eles nunca podem ser de outra forma mais justos; tão justos que mesmo no céu eles não serão mais aceitáveis a Deus do que são aqui nesta noite. Este é o estado ao qual a fé trouxe o pobre, perdido, culpado, atado, desastrado pecador. O homem pode ter sido tudo isto antes de ter crido em Cristo, mas assim que ele creu em Jesus, os méritos do Senhor tornaram-se seus méritos, e ele está de pé na presença de Deus como se ele fosse perfeito, “sem mancha ou ruga, ou coisas como estas” por meio da justiça de Cristo.
Repare, entretanto, como nós temos afirmado quanto ao estado de justificação, o meio através do qual o alcançamos. “Tendo sido justificados pela fé”. O caminho de chegada a este estado de justificação não é por meio de choros, por orações, por humilhações, nem trabalho, nem pela leitura bíblica, nem por ir à igreja, nem por sacramentos, nem pela absolvição sacerdotal, mas pela fé, a qual é simplesmente total confiança na fidelidade de Deus, a confiança na promessa de Deus, porque a justificação é uma promessa de Deus, e merece a sua confiança. É a segurança com toda a nossa força naquilo que Deus tem dito. Isto é fé, e cada homem que possui esta fé está perfeitamente justificado esta noite. (Spurgeon sabia que a fé expulsa a incredulidade e com isto abre o canal necessário para que a graça nos santifique e nos coloque inculpáveis diante de Deus e em condições de estar em comunhão com Ele – nota do tradutor).
Eu sei o que o diabo dirá a você: “você é um pecador!”. Diga-lhe que você sabe, mas que você tem sido justificado de tudo. Ele lhe apontará a grandeza do seu pecado. Diga-lhe sobre a grande justiça de Cristo. Ele lhe apontará todos os seus contratempos e suas recaídas, suas ofensas e seus erros. Diga-lhe, e à sua própria consciência, que você sabe tudo isto, mas que Jesus Cristo veio salvar os pecadores, e que, embora você seja um grande pecador, Cristo é totalmente capaz para lançar fora todos os seus pecados. Alguns de vocês, parece-me, não confiam em Cristo enquanto pecadores. Vocês possuem uma espécie de fé deformada e misturada. Vocês confiam em Cristo apesar de pensarem nele somente para fazer algo para vocês, e vocês podem fazer o restante. Eu lhe digo que enquanto olharem para si mesmos, vocês não podem saber o que a fé significa. Vocês devem estar convencidos de que não há nada de bom em si mesmos; devem saber que são pecadores, e que em seus corações vocês são como grandes e escuros pecadores como os piores e vis, e você deve vir a Jesus e largar esta sua justiça imaginária, e sua pretensiosa bondade, e deve fazer dEle o seu tudo, e confiar nEle. Oh! Sentir seu pecado e mesmo assim conhecer a Sua justiça. Ter as duas coisas ao mesmo tempo – arrependimento por causa do pecado, e ainda a gloriosa confiança no todo-suficiente sacrifício “Oh! Se você pudesse compreender o que diz a esposa no livro de Cantares: “Eu sou morena, mas formosa...Não olheis para o eu estar morena, porque o sol me queimou.” (Ct 1.5,6). Porque foi disto que nós viemos – escuro em mim mesmo, tão escuro quanto o inferno, a ainda assim “formoso”, belo, amável, inexpressivelmente glorioso através da justiça de Jesus.                
  Meus caros irmãos e irmãs, vocês podem sentir isto? Se vocês não podem senti-lo, vocês podem crer nisto? E vocês cantarão com as palavras de Joseph Hart:
“Nesta garantia tu és livre.
Suas mãos queridas foram pregadas por ti;
Vestido com a vestimenta
que te foi dada pelo Salvador,
Santo és como o Santo Bendito Deus.”
Por causa disto você está diante de Deus, sendo aceito como Cristo é aceito, e apesar de ter sido concebido no pecado e na corrupção do seu coração, você é tão querido por Deus quanto Cristo é querido; e é aceito na justiça de Cristo, assim como Cristo é aceito em Sua própria obediência.
Este é ponto que nós desejamos indagar nesta noite. Você tem entendido até esse ponto que é pela fé que nós somos justificados? Se é assim eu o conduzirei um passo adiante, isto é, a observar que nós somos “justificados pela fé através de nosso Senhor Jesus Cristo”. Há o fundamento, há o motivo principal. Há a árvore que sustenta os frutos. Nós somos justificados pela fé, mas não pela fé de nós mesmos. Fé em si mesmo é uma graça preciosa, mas não pode por si mesma justificar-nos. É “por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. Ainda que seja simples esta observação, eu devo repeti-la esta noite, porque é difícil para nós guardarmos isto em nossa mente. Mas lembrem que a fé não é o trabalho do Espírito dentro de nós, mas o trabalho de Cristo na cruz. É sobre isto que eu devo descansar à medida que minha meritória esperança não é o fato abençoado de que eu seja agora um herdeiro do céu, mas num fato ainda mais abençoado, que o Filho de Deus me amou e se entregou a si mesmo por mim. Meus caros irmãos, quando tudo está bem conosco, há uma tentação em dizer: “Bem, agora está tudo bem comigo, porque eu lutei por isto, e eu sinto isto.”. Muito bom, estas evidências têm o seu lugar, mas você pode igualmente ter claras evidências que você não é perfeito; quando você diz: “Oh! Miserável homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte?” você encontrará isto no lugar das suas lindas evidências, e você terá que correr para a cruz.
Houve um tempo quando eu, também achei um grande conforto em crer no trabalho do Espírito de Deus em minha alma, e dava graças a Deus por isto, mas agora eu tenho aprendido a caminhar onde o pobre peregrino Jack caminhou:
“Eu sou um pobre pecador, mas Jesus Cristo é meu tudo em todas as coisas.”.
   Irmãos, o fundamento em que nos sustentamos está quebrado. Nós devemos construir sobre a nossa rocha. No topo de algumas montanhas os homens, algumas vezes constroem um elevado com pilhas de madeiras. Bem, agora, algumas destas plataformas instáveis, você sabe, balançam, mas quando você caminha fora delas, na própria montanha, você está seguro, e nunca balança com o risco de cair. Assim também construímos algumas vezes as plataformas instáveis da nossa experiência e das nossas boas obras – tudo muito bem em nosso caminho, mas então elas tremem na tempestade. Confie então tão somente no Senhor, e una sua alma à Rocha, não obstante tudo isto, o Espírito Santo foi dado para tal propósito. Oh! Creia-me, que a alma está segura no lugar em que deve viver, a saber, em Jesus.
 “Justificados pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;”.
E em conseqüência, o precioso, o precioso privilégio que o homem experimenta: “temos paz com Deus”.
Suponha que você esteja numa grande tempestade no meio do mar. Você é justificado pela fé, e diz, “Bem, deixe que as ondas rujam; deixem-nas bater palmas: meu Pai tem as águas na palma de sua mão. Por que eu estaria temeroso?”. Deixe-me dizer-lhe que é algo valioso crer que Deus colocou em nós este estado calmo de mente quando “a terra está repleta de todas as formas de guerras”. Isto se compara ao crente quando lhe sobrevém um temporal de tribulações. Sobrevêm problemas sobre problemas, até o ponto de parecer a algo como que se todas as casas de negócios fossem falir. Nada é fixo e exato. O homem perdeu a confiança e a segurança em seu companheiro. Tudo está caminhando para pior. Mas o crente diz: “Deus está no leme, tudo é controlado pelo grande Rei: “Ele está em toda a parte, e tudo governa, e todas as coisas atendem ao seu mandar.”.
Isto é algo para ser experimentado, que meu Pai não pode dar-me uma jornada ruim. Mesmo que ele venha a usar a sua vara sobre mim, é para fazer-me bem, e eu lhe agradecerei por isto, porque eu tenho perfeita paz com ele.
E então quando a morte chegar, e sentir, “eu estou indo para Deus, e estou feliz por ir, porque não estou indo como um prisioneiro a um juiz, mas como a esposa para casar com o esposo, como uma criança que volta da escola para os braços dos seus pais. Oh! Isto é morrer com o senso de paz com Deus!
Agora, se você crer em Cristo, você será justificado pela fé. Sendo justificado, seu coração sentirá que esta perfeita paz é trazida para dentro dele.
Isto ocorre simplesmente crendo, simplesmente confiando. Oh! Creia nele! Confie nele, e ele será a alegria da sua alma para ter paz com Deus, a qual o mundo não pode dar a você, e que o mundo também nunca poderá tirar de você, porque você a terá eternamente.
Deus conceda isto a cada um de nós ! Amém !  




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