sexta-feira, 23 de outubro de 2015

91) Liderança \ Apascentar \ Governar 92) Longanimidade

91) LIDERANÇA\ APASCENTAR\ GOVERNAR

ÍNDICE

1 - Apascentar
2 - Muito Mais que Um Pregador
3 - Ninguém é Líder na Igreja Sem Ser Chamado por Deus



1 - Apascentar

“Procura conhecer o estado das tuas ovelhas e cuida dos teus rebanhos,” (Pv 27.23)

“Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros.” (João 21.15)

Uma das principais funções do pastor é a de usar o seu cajado para afastar o ataque dos lobos sobre o seu rebanho.
Muitas vezes, estes lobos não vêm de fora, mas atuam no próprio rebanho, ou individualmente no próprio interior de cada ovelha, em forma de endurecimento e rejeição à recepção do alimento necessário para que esteja saudável, a saber, a Palavra de Deus, que é o alimento do espírito.
Sempre há uma resistência natural e persistente do lobo representado na nossa natureza decaída no pecado, no fascínio pelo mundo, nas investidas dos espíritos imundos, que furtam o nosso alimento.
Desta forma, importa que os pastores não somente forneçam o alimento das ovelhas (Palavra), em face desta possibilidade sempre presente de um furto fácil.
Elas devem ser ensinadas a preservar o seu alimento com toda a diligência, e nisto coopera tanto a oração dos pastores em seu favor, quanto a oração das próprias ovelhas, para que sejam livradas do mal.
Uma boa ação preventiva é a de manter as ovelhas empenhadas com a obra de Deus, especialmente no cuidado relativo à santificação de suas vidas para tal propósito, não apenas na participação de atos devocionais, como também na prática efetiva do amor e das boas obras.
A inércia e a indolência produzirão enfermidade e morte espiritual no rebanho.

“Atos 20:28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.
Atos 20:29 Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho.
Atos 20:30 E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles.”

“Saúda-vos Epafras, que é dentre vós, servo de Cristo Jesus, o qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de Deus.” (Col 4.12)






2 - Muito Mais que Um Pregador

Por John MacArthur

Quais são as responsabilidades do pastor, além de pregar e estudar?

A resposta para a sua pergunta está no título que você usou: pastor. Este título é cheio de significado e estabelece as principais responsabilidades de um ministro.
Uma das metáforas favoritas de Jesus para a liderança espiritual, uma que Ele utilizava frequentemente para descrever a si mesmo, era a de pastor – uma pessoa que supervisiona o rebanho de Deus. Um pastor guia, alimenta, cria, conforta, corrige, e protege – responsabilidades que caem sobre todo líder de igreja. Na verdade, a palavra pastor quer dizer pastor de ovelhas.
"Como ovelhas perdidas, pessoas perdidas precisam de um resgatador – um pastor - para conduzi-las à segurança do aprisco."
Pedro escreveu estas palavras a presbíteros que deveriam estar familiarizados com ovelhas e pastoreio:
"Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, (...) pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória.” (1 Pedro 5:1-4)
Para oferecer-lhe um quadro mais completo do seu papel como pastor, aqui vai um panorama sobre a natureza das ovelhas, a tarefa dos pastores, e como eles se comparam ao papel do pastor na igreja. Note os princípios de liderança eclesiástica que eles contêm. Eles determinam o que deveria preencher a sua agenda como pastor.

Pastores São Resgatadores

Uma ovelha pode estar completamente perdida a apenas alguns quilômetros de sua casa. Sem senso de direção e sem instinto para achar o aprisco, uma ovelha perdida normalmente ficará vagando de um lado para outro em um estado de confusão, desassossego, e até mesmo de pânico. Ela precisa de um pastor para trazê-la para casa.
E assim quando Jesus viu as multidões, perdidas, espiritualmente desorientadas e confusas, Ele as comparou a ovelhas sem pastor (Mateus 9:36). O profeta Isaías descreveu as pessoas perdidas como aquelas que, tal qual a ovelha, andam desgarradas - cada uma se desviando pelo caminho (Isaías 53:6).
Como ovelhas perdidas, pessoas perdidas precisam de um resgatador – um pastor - para conduzi-las à segurança do aprisco. Um pastor faz isso conduzindo os perdidos para Jesus, o Bom Pastor que dá Sua vida pelas ovelhas (João 10:11).

Pastores São Alimentadores

Ovelhas passam a maior parte das suas vidas comendo e bebendo, mas elas não atentam para a sua dieta. Eles não sabem a diferença entre plantas venenosas e não-venenosas. Por isso o pastor tem que vigiar a dieta delas cuidadosamente e tem que proporcionar-lhes pasto rico em nutrientes.
Em Seu encontro com Pedro, descrito em João 21, Jesus apontou-lhe a importância de alimentar as ovelhas. Duas vezes em Sua ordem para Pedro, Jesus usou o termo grego bosko que significa "eu alimento" (vv. 15, 17).
"O recurso mais importante de liderança espiritual é o poder de uma vida exemplar."
O objetivo do pastor não é agradar a ovelha, mas alimentá-la. Não é coçar-lhe os ouvidos, mas nutrir-lhe a alma. Ele não deve oferecer meros lanches rápidos de leite espiritual, mas a carne substanciosa da verdade bíblica. Aqueles que não alimentam o rebanho são inadequados para serem pastores (cf. Jeremias 23:1-4; Ezequiel 34:2-10).

Pastores São Líderes

Pedro desafiou seus companheiros presbíteros a "apascentar o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele"2 (1 Pedro 5:2 - ARC). Deus confiou-lhes a autoridade e a responsabilidade de conduzir o rebanho. Os pastores são responsáveis pela forma como lideram, e o rebanho pela forma como segue (Hebreus 13:17).
Além do ensino, o pastor exerce liderança do rebanho pelo seu exemplo de vida. Ser um pastor exige viver entre as ovelhas. Não é tanto uma liderança vinda de cima, mas uma liderança vinda de dentro. Um pastor eficiente não reúne suas ovelhas vindo por trás delas, mas conduz o rebanho indo à frente. Elas o vêem e imitam suas ações.
O recurso mais importante de liderança espiritual é o poder de uma vida exemplar. 1 Timóteo 4:16 instrui um líder de igreja: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes."

Pastores São Protetores

Ovelhas são quase completamente indefesas - elas não conseguem chutar, arranhar, morder, saltar, ou correr. Quando atacadas por um predador, elas amontoam-se em vez de sair correndo. Isso as transforma em presas fáceis. Ovelhas precisam de um pastor que as proteja para que possam sobreviver.
Cristãos precisam de proteção semelhante contra o erro e contra aqueles que o disseminam. Os pastores impedem suas ovelhas espirituais de se desviarem, defendem-nas contra os lobos selvagens que de outra forma as destruiriam. Paulo preveniu os pastores de Éfeso a ficarem alertas e protegerem as igrejas sob o cuidado deles:
"Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles." (Atos 20:28-30)

Pastores São Confortadores

Ovelhas não possuem um instinto de auto-preservação. Elas são tão humildes e mansas que se você as maltratar, elas são facilmente esmagadas em espírito e podem simplesmente render-se e morrer. O pastor tem que saber os temperamentos individuais das suas ovelhas e tomar cuidado para não infligir tensão excessiva. Consequentemente, um pastor fiel ajusta seu conselho à necessidade da pessoa a quem ele está auxiliando. Ele deve “admoestar os insubmissos, consolar os desanimados, amparar os fracos e ser longânimo para com todos.” (1 Tessalonicenses 5:14).

O Bom Pastor e os seus "Subpastores"

Jesus é o exemplo perfeito de um pastor amoroso. Ele engloba tudo o que um líder espiritual deveria ser. Pedro O chamou de "Supremo Pastor" (1 Pedro 5:4). Ele é nosso grande Resgatador, Líder, Guardião, Protetor, e Confortador.
Líderes de igreja são "subpastores" que guardam o rebanho sob os olhos atentos do Supremo Pastor (Atos 20:28). Eles têm uma responsabilidade de tempo integral porque eles ministram para pessoas que, como ovelhas, frequentemente são vulneráveis, indefesas, sem discernimento, e propensas a desviar-se.
Pastorear o rebanho de Deus é uma tarefa gigantesca, mas para pastores fiéis traz a rica recompensa da coroa imarcescível de glória que será concedida pelo Supremo Pastor quando Ele se manifestar (1 Pedro 5:4).
Se o seu pastor estiver levando a cabo os deveres requeridos no título do cargo que ocupa fielmente, lembre-se de seguir esta advertência da Bíblia:
"Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros." (Hebreus 13:17)







3 - Ninguém é Líder na Igreja Sem Ser Chamado por Deus

Deus já havia confirmado a escolha da casa de Arão para o sacerdócio com um milagre de juízo e ira, pois destruiu os líderes rebeldes que haviam seguido Datá, Coré e Abirão (Núm 16),  e o confirmaria também com um milagre de graça (Núm 17), pois ordenou que fossem colocadas no interior do tabernáculo, diante da arca do testemunho, varas com os nomes dos príncipes das tribos de Israel, e na vara da tribo de Levi seria escrito o nome de Arão, e disse que a vara correspondente ao homem que fosse o seu escolhido para o sumo sacerdócio brotaria miraculosamente, e no dia seguinte, quando Moisés entrou no tabernáculo, apenas a vara de Arão não somente havia brotado como produzira gomos, rebentara em flores e dera amêndoas maduras (Núm 17.8).
Moisés trouxe todas aquelas varas à presença dos israelitas e pelo mandado do Senhor tornou a colocar a vara de Arão perante a arca do testemunho, de forma que ficasse revelado para sempre a Israel, que o nome que estava registrado naquela única vara que havia frutificado era o nome de Arão.
Esta foi uma ação preventiva da parte do Senhor, para que cessassem as murmurações dos israelitas quanto a tentarem questionar a chamada exclusiva de Arão e de sua casa para o sacerdócio, de modo que não fossem exterminados pelos Seus juízos, em face das rebeliões deles.
Um pai sábio procura eliminar as situações que dão ocasião às desobediências de seus filhos, de modo que não tenha que puni-los.
Foi este mesmo cuidado preventivo que o Senhor teve em relação aos israelitas, com a medida descrita no 17º capítulo do livro de Números.
Com este milagre de graça, o Senhor revelava que o ministério do sumo sacerdote não era um ministério para morte, senão para a vida, pois varas mortas foram colocadas diante do testemunho, e somente a do sumo sacerdote rebrotou e frutificou.
Mais do que de vida é ministério de ressurreição, porque aquela vara não poderia reviver, a não ser por uma ação miraculosa e poderosa da parte de Deus.
Cristo é Sumo Sacerdote, para que o Seu povo tenha vida e ressuscite.
Assim também, todos os ministros a Seu serviço têm um ministério com a mesma função e característica, cabendo-lhes, portanto, intercederem junto de Deus em prol da humanidade, para que pecadores que se encontram mortos espiritualmente sejam perdoados e revivificados por Cristo.
Tudo isto nos faz lembrar das palavras do Senhor Jesus em Jo 15.16:

“Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.”

Todavia, os israelitas não entenderam o sentido preventivo do milagre e as palavras de Deus, relativas ao fato de que nenhum estranho à casa de Arão deveria disputar o sacerdócio para que não morresse.
Eles eram de fato um povo de dura cerviz, como o Senhor se havia referido a eles, pois em vez de se humilharem, e se sujeitarem à poderosa mão do Senhor, na sua aflição, eles se queixaram de estarem sendo tratados de modo muito inflexível e duro, e que nenhum deles poderia sobreviver diante de um Deus tão exigente.
Vejamos o teor das suas palavras:

“Então disseram os filhos de Israel a Moisés: Eis aqui, nós expiramos, perecemos, todos nós perecemos. Todo aquele que se aproximar, sim, todo o que se aproximar do tabernáculo do Senhor, morrerá; porventura pereceremos todos?” (Núm 17.12,13)

Eles estavam em fel de amargura e é uma coisa muito ruim se irritar contra Deus, quando estamos em aflição, porque a nossa angústia servirá somente para aumentar as nossas dores.
Devemos, ao contrário, nos submeter e ter bom ânimo como nos é ordenado pela Palavra, para o nosso próprio bem, para que sejamos curados de nossas murmurações, orgulhos, vaidades, endurecimentos, enfim de todas as formas de manifestação do pecado.
Deus tem um propósito bom quando nos corrige, e chama ministros para zelarem por nossas almas, que é o de nos fazer participantes da Sua santidade, de modo que possamos ter intimidade e comunhão com Ele, e sermos livres de nossas mazelas que militam contra as nossas almas.

Ele é um Pai sábio e amoroso e faremos bem em nos sujeitar à Sua correção e aos meios que Ele tem provido para o nosso próprio bem e de toda a Sua Igreja, especialmente chamando alguns para exercerem o ministério de liderança do Seu povo, o qual deve ser exercido com longanimidade e amor.

















92) LONGANIMIDADE

ÍNDICE

1 - Necessitados de Longanimidade e Misericórdia
2 - Deus é Paciente, mas Nunca Indiferente
3 - O MODO DA LONGANIMIDADE
4 - “O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder..." (Naum 1.3)
5 - Ah Se não Fosse Pela Longanimidade Divina! Ai de Nós!
6 - Precisamos de Longanimidade
7 - Longanimidade Comprovada na Prática
8 - A Longanimidade e Amor Evangélicos


1 - Necessitados de Longanimidade e Misericórdia


Um dos principais alvos do aprendizado prático em nossas vidas, da longanimidade e da misericórdia divinas, é o de nos tornar aptos a sermos uma bênção nas mãos de Deus, especialmente para aqueles com os quais nos relacionamos.
Bom é o fruto da justiça, mas sem o da longanimidade e da misericórdia, pouca utilidade teremos num mundo que está sujeitado ao pecado.
Na verdade precisamos disto, em primeiro lugar,
para nós mesmos, porque se não formos longânimos e misericordiosos para conosco, dificilmente o seremos em relação a outros.
Estamos rodeados de fraquezas e imperfeições, e deste modo, o amor jamais poderia expressar a sua melhor face, que é a de aceitação e de bem querer ao nosso próximo, não fora pelo exercício de longanimidade e misericórdia.
“Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.
 Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.
 Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana.” (Gálatas 6.1-3)
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo afirma no Sermão do Monte:
“ Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5.7-8)
O evangelho é por isso, graça para com os pecadores.
Perdão para os que se arrependem.
Socorro presente aos desamparados e necessitados.
Alívio para o cansado e sobrecarregado.
E como poderão achar isto em nós, se estamos desprovidos de longanimidade e misericórdia?
Como almas serão ganhas para o amor de Cristo, se o que se encontra em nós é somente amargura e desventura?
Como não serão julgados por nós, os que estão escravizados ao pecado, se não tivermos um coração perdoador, compassivo e quebrantado?
Que o Senhor continue  tendo misericórdia e longanimidade para conosco, porque a maioria de nós tem falhado em ser isto, de que tanto necessitamos!
Para que nos levantemos, e não pensemos de nós mesmos aquilo que diz o apóstolo:
“Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana.” (Gálatas 6.3)






2 - Deus é Paciente, mas Nunca Indiferente

Devemos evitar uma longa permanência na prática de qualquer pecado conhecido, porque há limites na paciência de Deus. A longanimidade de Deus aguarda por um tempo para que haja o esperado arrependimento (1 Pe 3.20; 2 Pe 3.9).
Deus jamais deixará de ser longânimo (tardio em se irar) por exercer os seus juízos, porque permanece com o seu atributo da longanimidade agindo em relação a muitos outros que o provocam com a prática deliberada do pecado, enquanto suspende, segundo a sua própria soberania e autoridade, a longanimidade em relação a alguns que sofrem da sua parte uma rejeição final e fatal, que os conduzirá a uma condenação eterna.
Quando o rei Herodes ordenou a morte do apóstolo Tiago, irmão de João, pela sua espada sedenta do sangue dos justos, Deus não lhe trouxe qualquer juízo imediato, mas quando depois, discursava aos judeus, se apresentando a eles como se fosse o próprio Deus, partiu deste um juízo de morte terrível, no qual ele foi consumido ainda vivo, enquanto falava, pelos vermes. E não padece qualquer dúvida que seu espírito desceu ao Hades, em cadeias eternas.
Bem-aventados portanto, são todos aqueles que não abusam da longanimidade de Deus, e que têm o temor que lhe é devido, de modo a não viverem no pecado, por recorrerem à graça de Jesus, a qual Deus concede, por misericórdia, a todos os que lhe temem e obedecem.






3 - O MODO DA LONGANIMIDADE

Em I Cor 13.4 se afirma que o amor é longânimo.
Com isto se afirma que o amor  nos dispõe a suportar com paciência os danos e ofensas recebidos de outros.
O amor cristão nos convoca a suportar  danos humildemente.
Então, os danos devem ser suportados sem fazermos qualquer coisa para nos vingarmos.
Então, aquele que exercita longanimidade para com o seu próximo, suportará os danos recebidos dele sem se vingar ou retaliar, seja por meio de ações prejudiciais ou palavras amargas.
Nós não deveríamos deixar de amar nosso próximo porque ele nos prejudicou.
Quando  permitimos que os danos que nós sofremos perturbem a nossa tranquilidade de mente, e nos coloquem num estado de excitação e tumulto, então nós deixamos de suportá-los no verdadeiro espírito de  longanimidade.
Se permitimos que o dano nos descomponha e  inquiete, e que nos afaste de nosso descanso interior, nós não podemos desfrutar, nem estar num estado de nos desencarregarmos corretamente de nossos vários deveres, e especialmente no que se refere aos nossos deveres para com Deus, sobretudo o da oração e o da meditação na Palavra.
E tal estado de mente é o contrário do espírito de longanimidade que suporta humildemente os danos que são citados no texto.
A longanimidade é uma parte essencial da natureza de Deus, e por isso somos chamados a ser também longânimos, ou seja, tardios em se irar, que é o significado desta palavra.
Deste modo, nós devemos não somente suportar um dano pequeno humildemente, mas também um tratamento bastante prejudicial de outros.
Nós devemos perseverar e continuar numa condição quieta, independentemente de circunstâncias.
O amor a Deus nos dispõe a imitá-lo, e então nos dispõe a tal longanimidade como ela se encontra nEle.







4 - “O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder..." (Naum 1.3)

Jeová "é tardio em irar-se."
Quando a misericórdia veio ao mundo ela conduziu cavalos alados; os eixos das rodas de sua carruagem estão vermelhos com  o calor da velocidade; mas quando a ira saiu, ela veio com passos lentos, porque Deus não tem prazer na morte do pecador.
O cetro da misericórdia de Deus está sempre em suas mãos estendidas; sua espada da justiça está em sua bainha, empunhada por esta mão de amor traspassada que sangrou pelos pecados dos homens.
"O Senhor é tardio em irar-se", porque ele é grande em poder . Ele é realmente tão grande em poder, que tem poder sobre si mesmo. Quando o poder de Deus faz com que restrinja a si mesmo, então este é o poder de fato: o poder que amarra a onipotência é onipotência transcendente, em seu maior grau de excelência.
Um homem que tem uma mente forte pode suportar ser insultado por muito tempo, e só se ressente do mal quando um senso de direito exige a sua ação.
A mente fraca fica irritada com pouco, mas a mente forte suporta isto como uma rocha que não se move, embora mil destruidores a golpeiem, e lancem sua malícia como nuvens sobre o seu cume.
Deus marca seus inimigos, e ainda assim ele não se agita em seu íntimo, mas segura a sua ira. Se ele fosse menos divino do que ele é, ele logo enviaria seus trovões, e esvaziaria as comportas do céu; ele logo teria destruído a Terra com o ardente fogo de suas regiões mais baixas, e o homem teria sido completamente destruído, mas a grandeza de seu poder nos traz misericórdia.
Caro leitor, qual é o seu estado neste dia? Você pode por  uma humilde fé olhar para Jesus e dizer: "Meu substituto, tu és a minha rocha, a minha confiança"? Então, amado, não tenhas medo do poder de Deus; porque, pela fé tens fugido para Cristo em busca de refúgio, e o poder de Deus não precisa mais aterrorizar-te, do que o escudo e a espada do guerreiro não aterrorizam aqueles aos quais ele ama. Regozija-te muito porque Aquele que é "grande em poder" é teu Pai e Amigo.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







5 - Ah Se não Fosse Pela Longanimidade Divina! Ai de Nós!

Podemos aspirar a ter comunhão e vida com Deus e em Deus, somente por causa da sua graça, longanimidade e misericórdia.
Ai de nós se Ele não fosse mais do que paciente e amoroso em sua natureza divina, que sempre nos dá múltiplas oportunidades, não somente para acharmos a salvação, como também para sermos renovados em purificação do Espírito, por causa dos nossos pecados atuais.
Num período... aprisionado pelo pecado, mas num dado momento... liberto pelo poder de Cristo. E não raro, esta luta prossegue em nossa jornada terrena, porque um bem precioso chamado perdão pleno pela justificação que é somente pela graça, mediante a fé, nos foi concedido quando tivemos nosso primeiro encontro pessoal com Cristo, ou seja, quando nos convertemos a Ele.
E a mesma fé que nos justificou é o único meio que continuará nos conduzindo ao perdão e às bênçãos de Deus.
Como Deus sabia que não haveria no homem nenhum modo de salvar a si mesmo do pecado, Ele deliberou, desde a eternidade, salvar pela graça mediante a fé.
Então se uma pessoa insiste em ser salva por obras, ela permanecerá sob a condenação de Deus, porque está sendo desobediente à Sua ordenação, de que aquele que for salvo, o será pela Sua graça, e mediante a fé.
As boas obras devem ser praticadas, mas não com o fim de sermos salvos por Cristo, porque isto ocorre somente pela graça e mediante a fé.
É pela fé no sangue que Jesus derramou na cruz que somos lavados e perdoados dos nossos pecados.
Deus revelou esta verdade pelo Espírito ao rei Davi, a qual lemos no Sl 32.1,2, cujas palavras Paulo usou em Rom 4.7 e 8: “7 Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, E cujos pecados são cobertos. 8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado.”.
Então a justificação é uma declaração da parte de Deus em relação a quem se converte, de que esta pessoa é agora justa diante dEle, ou seja, está justificada do pecado, por causa da obra realizada por Jesus em seu favor.
Esta justiça que é atribuída à pessoa é a justiça do próprio Cristo. É a veste de Cristo com a qual ela agora está vestida.
Uma vez justificada, esta pessoa é chamada a ter esta mesma justiça sendo-Lhe agora implantada, isto é, incorporada em sua nova natureza, recebida do alto, pelo Espírito, de maneira que seja aperfeiçoada na justiça evangélica, mas isto não faz parte do ato da justificação, que como vimos antes, é uma declaração feita por Deus de que somos agora justos aos Seus olhos por causa de Cristo,   e não uma implantação da Sua justiça em nós.
Esta implantação da justiça é feita pela regeneração e santificação do Espírito Santo, sendo que a santificação é um processo progressivo, e não instantâneo tal como se dá com a justificação e a regeneração.
E a prova que esta bênção da justificação, que nos dá a salvação, não é somente para os judeus se comprova pelo fato de ter sido Abraão justificado pela fé, quando ainda era um gentio em Ur dos caldeus.
Porque Abraão só foi circuncidado em seu prepúcio depois de ter crido em Deus e ter sido justificado, de maneira que não é a circuncisão do prepúcio que justifica uma pessoa conforme os judeus costumavam ensinar, porque não foi por ter sido circuncidado que Abraão foi justificado.
Aconteceu justamente o contrário: ele foi circuncidado porque foi justificado, isto é, ele recebeu a circuncisão como um sinal comprobatório da justificação que é pela fé.
De maneira que os cristãos que são justificados devem trazer em si este sinal comprobatório que também foram circuncidados por terem crido, já não mais no prepúcio, mas no coração.
A circuncisão dos judeus era um ato de despojamento da carne do prepúcio.    
Então a circuncisão do cristão na Nova Aliança com Cristo consiste no despojamento da carne, não do prepúcio, mas do princípio operativo do pecado, que a Bíblia chama de carne; e que consiste em tudo aquilo que nos impeça de ter uma vida de comunhão no espírito com Deus.
Lembremos que o motivo alegado por Deus de que não permaneceria mais atuando nos homens nos dias de Noé, porque estes eram carnais, significava que eles haviam se tornado insensíveis, e completamente endurecidos à ação do Espírito Santo que procurava conduzi-los ao arrependimento, conforme lemos em Gên 6.3.
Deve ser levado em conta também que a promessa da Nova Aliança foi feita a Abraão, mais de quatrocentos anos antes da Lei ter sido dada a Moisés no Sinai.
Isto significa que ao dizer que no descendente de Abraão seriam benditas, todas as nações da terra, Deus estava mostrando que o modo de alguém ser salvo não seria por causa da Lei, mas pela promessa que fez a Abraão, de salvar também a muitos do mesmo modo como fizera com Abraão, a saber, somente pela fé.
Se a herança prometida a Abraão, de uma pátria celestial, para ele e aqueles que seriam considerados seus descendentes, tivesse sido feita pela Lei, a promessa de Deus teria sido aniquilada, mas isto é impossível, porque não foi pela Lei, mas pela justiça que é pela fé, que os homens são salvos, como Paulo afirma nos versos 13 e 14 deste quarto capítulo de Romanos.    
Se a promessa fosse pelas obras da Lei todos continuariam debaixo da ira e da maldição de Deus, porque não há quem guarde perfeitamente todos os mandamentos, durante todos os dias da sua vida.
Se alguém pretendesse ser salvo pela Lei e não pela fé, esta seria a única maneira de ser salvo, a saber, pela guarda perfeita da Lei.
Ainda que a Lei não deva ser desconsiderada e descumprida, não há quem possa cumpri-la perfeitamente, porque o princípio do pecado permanece operando na carne e exigindo que seja mortificado diariamente pela operação da cruz.
Então, todos os homens, de todas as épocas, quer antes da Lei, como foi o caso de Abraão, quer depois da Lei, sempre foram e continuarão sendo justificados somente pela fé, de maneira que sendo por fé, a justificação será pela graça do Senhor, conforme Ele estabeleceu, para que ninguém se glorie diante dele por suas próprias obras, como Paulo afirma no verso 16.
Assim o registro da justificação de Abraão pela fé, não se encontra em Gên 12, somente por causa dele, mas também por nós que temos sido justificados pela mesma fé com a qual ele foi justificado, para que não somente estejamos convictos sobre o modo pelo qual Deus salva, mas para que possamos ser efetivamente salvos da mesma maneira como Ele salvou Abraão, como se vê em Gên 15.6:
“E creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-lhe isto como justiça.”.
A grande prova que a justificação que dá vida eterna é pela fé no Filho de Deus está no fato da ressurreição de Jesus.
Portanto, pela Sua ressurreição Ele comprovou que possui o poder de dar vida eterna aos que estão  mortos em seus pecados, a saber todos os homens, e dentre os quais se encontrava o próprio Abraão.
E a ressurreição de Jesus foi também o sinal confirmatório de que a justiça divina havia sido plenamente satisfeita.
É importante que não há nenhum resto mortal de Jesus na terra; assim como também não há de Elias e Enoque, porque foram arrebatados.
Mas nenhum dos dois ressuscitou dos mortos como Jesus havia ressuscitado antes dEle ter subido ao céu, depois de ter experimentado a morte por todos os homens, para dar vida aos que crêem no Seu nome.







6 - Precisamos de Longanimidade

A longanimidade é uma atitude pessoal de não se irar com facilidade e rapidamente em relação aos outros.
Portanto, ao tratarmos de assuntos como a ira de Deus, que  é  um  dos Seus atributos, sobre assuntos relativos ao Seu juízo, e ao inferno, não  devemos esquecer de que Deus é longânimo, e que por isso, muitas vezes retarda o Seu juízo, dá oportunidades imensas aos Seus inimigos para se arrependerem, suporta com muita longanimidade as iniquidades dos vasos de ira, e não se permite ter qualquer perturbação de mente por causa das transgressões deles.  E é particularmente neste aspecto que Jesus nos chama a imitar o  Seu  próprio exemplo de mansidão e humildade, que são a base da sua completa longanimidade. De outra forma, por exemplo, como o próprio apóstolo Paulo poderia  ter sido salvo, a não ser pela completa longanimidade de Jesus, da qual ele  dá testemunho em I Tim 1.16, porque afinal foi perseguidor da Igreja  antes da sua conversão. Ele afirma ser o principal dos pecadores por causa desta perseguição da Igreja, ao qual Jesus demonstrou que é de fato totalmente longânimo, porque de outra forma não lhe teria perdoado e teria executado  o Seu juízo sobre ele desde há muito. Mas como é paciente na expectativa de que o pecador se arrependa e se converta, ele pôde ser  salvo,  assim  como  todos aqueles que têm sido alvo da longanimidade de Deus, porque não foi longânimo somente para com ele, Paulo, mas é para com todos os pecadores.
"mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim,  o  principal,  Cristo  Jesus mostrasse toda a sua longanimidade, a fim de que eu servisse de  exemplo aos que haviam de crer nele para a vida eterna." (I Tim 1.16).
Por isso é preciso ter cuidado para não esquecermos que  Deus  é  longânimo, especialmente quando pregamos temas sobre a Sua  ira  e  juízos,  ou  quando exercemos a disciplina na Igreja, porque Deus permanece  longânimo,  misericordioso e amoroso,apesar de ser terrível a Sua ira e  de  ser poderoso  em Seus juízos, e é por isso que somente Ele pode julgar com perfeita  justiça, porque ao julgar não deixa de ser longânimo e misericordioso.







7 - Longanimidade Comprovada na Prática

Desde que nosso Senhor Jesus Cristo instituiu uma nova dispensação (a da graça) com a Sua morte e ressurreição, foi instituído também um tempo de completa longanimidade para com todos os pecadores.
Muitos juízos que eram imediatos nos dias do Velho Testamento sobre determinadas práticas, como por exemplo, a da idolatria, da impureza sexual, do homicídio doloso, entre outras, têm sido postergados para o Dia do Juízo Final, durante o período da dispensação da graça em que vivemos.
Todavia, vemos muitas demonstrações desta graça divina operando mesmo nos dias do Antigo Testamento, como podemos ver no relato constante do final do 21º capítulo de I Reis, e deste podemos entender a  razão pela qual Deus permite que pessoas ímpias prosperem por um longo tempo enquanto vivem neste mundo.
O perverso Acabe havia se humilhado diante do Senhor por causa do juízo que proferiu contra ele pela boca do profeta Elias.
Ainda que aquela fosse uma humilhação de um arrependimento apenas externo, e não do coração, porque continuou nos seus pecados, tendo apenas ficado abatido e temeroso do mal que foi proferido sobre ele e sobre a sua casa, por causa de todos os males que praticara em Israel, e principalmente por ter se apoderado da vinha de Nabote, que foi o fato catalisador daqueles juízos.
Foi tal o impacto da palavra de Deus através de Elias sobre ele, que rasgou as suas vestes, jejuava e andava vestido de saco (I Reis 21.27).
Com isto ele conseguiu mover a compaixão e a bondade de Deus, não para revogar o juízo, mas para adiar a execução relativa ao extermínio da sua casa, que não seria feito enquanto ele vivesse, mas nos dias em que seu filho estivesse reinando depois dele.
Mas não foi dado a ele o conforto de sabê-lo, porque o Senhor não lhe revelou a sua decisão, mas ao profeta Elias (v. 29).
Esta passagem nos ensina muito sobre a grande longanimidade e bondade de Deus, porque se um homem como Acabe com uma penitência parcial, e um arrependimento apenas externo conseguiu prolongar a vida da sua casa, então um penitente sincero que tenha se arrependido em seu coração dos seus pecados, terá de fato não somente a sua vida prolongada na terra, como irá justificado para a sua casa celestial, para estar para sempre na presença de Deus.
As faltas de Acabe eram imensas e terríveis, mas poderiam também serem perdoadas, para efeito de justificação, caso ele se arrependesse realmente dos seus pecados, ainda que não fosse livrado das consequências deles, e dos justas correções do Senhor.
Não foi pouca coisa que o Senhor considerou em sua longanimidade em relação a ele, porque o crime praticado contra Nabote, seu vizinho do palácio, que ele tinha em Jizreel,  na tribo de Issacar, foi extremamente abominável, pois foi perpetrado para consumar a satisfação de um desejo, contra o mandamento que diz “não cobiçarás”, e mais do que satisfazer uma cobiça, era na verdade para tentar abafar o seu descontentamento em não poder anexar à sua propriedade o vinhedo vizinho, que pertencia a Nabote.
Quando Nabote se recusou a vender-lhe a propriedade ou trocá-la por uma outra, porque era uma herança que vinha passando de pais para filhos desde a antiguidade, Acabe ficou de tal modo desgostoso e indignado que se recusava a comer porque havia perdido a fome.
E quando ele expôs o caso a Jezabel ele estava se vendendo a ela para que tomasse a iniciativa maligna, que ele certamente sabia que ela tomaria para que o seu desejo fosse satisfeito.
E a perversa Jezabel realmente formulou um plano diabólico, de modo que os filhos de Nabote não poderiam reclamar o seu direito à herança, depois que ele fosse morto, porque morreria acusado falsamente de ter cometido um crime de estado, pois seria testemunhado contra ele, por duas pessoas de Belial, que ele havia blasfemado contra Deus e contra o rei, de maneira que um tal crime faria com que Nabote fosse morto por apedrejamento, e não daria o direito de posse aos herdeiros legítimos, e desta forma Acabe poderia assumir o direito vitalício sobre a propriedade de Nabote.
Para isto Jezabel usou o sinete real, que ao que tudo indica deveria ser usado por ela em várias outras ocasiões, debaixo da omissão do rei em favor dela, para praticar as suas maldades, como por exemplo a de obtenção do apoio dos anciãos para exterminar os profetas do Senhor.
Esta era Jezabel e não admira que tenha sido profetizado contra ela por Elias que seria devorada pelos cães (v. 23).
O descontentamento é um grande pecado diante do Deus bondoso e provedor, que cuida especialmente das necessidades dos Seus filhos.
O descontentamento é um pecado que traz consigo o seu próprio castigo, pois atormenta os homens, entristece os seus espíritos e enferma o corpo.
Por isso é ordenado aos cristãos que em tudo deem graças, porque em vez de descontentamento pelas suas circunstâncias presentes, deveriam aprender a suportar as suas cruzes com o pensamento fixado nas misericórdias que desfrutam, especialmente a relativa ao reino futuro que aguarda por eles.








8 - A Longanimidade e Amor Evangélicos

“1 Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, restaurai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.
2 Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo." (Gál 6.1,2).

A palavra grega paraptoma, usada por Paulo e traduzida por “ofensa” no verso 1, é a mesma palavra usada em várias passagens do Novo Testamento para se referir a pecados ou faltas, e usada por Jesus no Pai Nosso, onde se diz “perdoa as nossas ofensas”.
Então não significa apenas injúrias, mas todo tipo de falta que possa ser praticada contra o próximo.
Tiago faz o mesmo uso desta palavra quando diz que devemos confessar nossas ofensas uns aos outros.
Paulo não estava portanto se referindo aqui a erros doutrinais, mas a pecados  que operam na carne e que sujam o coração do cristão. E ele expõe a maneira como isto deve ser tratado na Igreja: os que são fortes devem levantar o caído com espírito de mansidão.
Esta norma deveria ser seguida particularmente pelos ministros da Palavra.
Os pastores devem reprovar o caído, mas quando veem que o caído sente e se entristece pela sua condição, devem, confortá-lo e cobrirem a sua falta com o amor que cobre multidão de pecados.
Assim como o Espírito Santo é inflexível quanto  ao assunto de manter a doutrina da fé e a verdade entre os cristãos, Ele é também muito misericordioso para com os pecados dos homens, contanto que os pecadores se arrependam - o arrependimento é essencial porque Ele não consola aquele que vive deliberadamente no pecado, apesar de ser um Consolador amoroso e fiel.
A palavra no original grego para o verbo restaurar do verso 1 é katartizo, que significa restaurar como quem liga de novo um osso que foi quebrado.
Deste modo, o dever do cristão espiritual não é o de condenar o cristão fraco, mas de restaurá-lo com a paciência e o cuidado com que um ortopedista cuida de uma fratura.
O espírito de mansidão é o modo correto determinado pelo apóstolo de fazê-lo.
Não com ira e paixão, como aqueles que triunfam sobre a queda de um irmão, mas como aqueles que choram por eles e lamentam a sua queda e perda, assim como nosso Senhor vai à procura da ovelha perdida para reconduzí-la ao aprisco.
Muitas reprovações necessárias perdem a sua eficácia quando são aplicadas em ira.
Ainda mais um cuidado é colocado pelo apóstolo para aqueles que estiverem empenhados no trabalho de restaurar os que estão caídos.
Eles devem olhar por si mesmos de maneira que não venham também a cair como eles.
Nós também podemos ser tentados e sermos vencidos pela tentação, e isto nos ajudará a ter em mente, enquanto ajudamos outros, que não somos melhores do que eles, porque como disse Agostinho, “não há nenhum pecado que uma pessoa cometa, que outra pessoa também não possa cometer”.
Nós andamos em lugares escorregadios neste mundo, e como diz Tiago, tropeçamos em muitas coisas.
Daí a advertência de I Cor 10.12:

“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia.”.

E em razão da nossa fraqueza e debilidade comum, somos orientados a carregar os fardos uns dos outros (verso 2), porque é nisto que consiste principalmente a Lei de Cristo relativa ao novo mandamento que Ele deu ao povo de Deus, a saber, que nos amemos uns aos outros assim como Ele nos amou.
Jesus não esmagou a cana quebrada, e nos é imposto o dever de fazer o mesmo, porque foi por amor ao pecador e por ser paciente com a sua fragilidade que Ele procedeu de tal maneira.
Aqueles que se gloriam no seu conhecimento das coisas de Deus e que não vivem de acordo com esta regra, tal como era o caso dos falsos apóstolos, na verdade nada são, e estão enganando a si mesmos.
Eles se consideram mestres, e não o são; eles se consideram superiores aos demais pecadores e não o são.
Cada qual deve examinar as suas próprias obras segundo esta regra que foi exposta, e então terá motivo de se gloriar em si mesmo, e não naquilo que os outros estão fazendo debaixo das suas ordens.
Afinal, cada um dará contas de si mesmo a Deus, e não será considerado de modo algum no Juízo, como atenuante ou agravante, quanto fomos ajudados ou atrapalhados por outros.
Particularmente o trabalho do ministério deve ser auto examinado por esta regra, de modo que permaneçamos em dependência e humildade diante de Deus.
Não será pela quantidade de louvores que recebemos dos outros que seremos aprovados por Deus. Ao contrário, há um grande perigo nisto, e por isso fomos devidamente alertados pelo Senhor.
A carga que cada um levará respectivamente citada em Gál 6.5 se refere ao julgamento das nossas obras no Tribunal de Cristo, quando cada cristão dará contas de si mesmo a Deus.

"Porque cada qual levará a sua própria carga." (Gál 6.5)

E, se há um tal tempo terrível para ser esperado, quando Deus julgará a cada um conforme as suas obras, isto serve de uma boa razão para julgarmos a nós mesmos e qual tem sido afinal o nosso trabalho na presença de Deus.

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