sexta-feira, 23 de outubro de 2015

93) Mansidão 94) Mente 95) Milagres

93) MANSIDÃO

ÍNDICE

1 - Mansidão, Gentileza e Humildade
2 - Os Violentos não Falam por Cristo
3 - Não Injuriemos Quem nos Injuria


1 - Mansidão, Gentileza e Humildade

A mansidão merece uma atenção especial uma vez que figura como uma das partes do caráter do cristão que são destacadas por nosso  Senhor nas bem-aventuranças em Mateus 5.1-12.
Um espírito manso e humilde é o espirito de Cristo, de modo que uma disposição iracunda, irritadiça e prepotente não é pertencente à divindade.
A mansidão é um dos componentes do fruto do Espírito Santo porque ela faz parte do caráter do próprio Deus, e desta devemos compartilhar.
É por conseguinte, com espírito de mansidão de coração, e não apenas exterior, que devemos viver neste mundo, e esta deve estar presente no nosso comportamento e ações, mesmo quando somos perseguidos e contraditados, quando corrigimos os erros daqueles que se encontram sob a nossa autoridade, e não devemos abdicar dela diante de todos os homens.
Como todas as demais virtudes de Cristo, a mansidão deve ser aprendida no exemplo do próprio Senhor e segundo a eficácia da Sua graça operando em nós.
Não há outro modo de se ter um coração sossegado, aquietado, e em paz, em mundo conturbado como o nosso, a não ser por se ter aprendido a ser manso e humilde como é o nosso Senhor.
Para confirmar que o caráter dos cidadãos do Seu Reino do Céu é o de mansidão, nosso Senhor nos revelou esta verdade quando cumpriu a profecia entrando triunfalmente em Jerusalém montado em um jumentinho.
Deus se agrada de nós, portanto, somente quando agimos com mansidão de coração, porque esta a ninguém faz mal, e não conturba a paz que Ele tanto ama.
Como seria de se esperar, o mundo não valoriza a mansidão divina – ao contrário – valoriza um comportamento irreverente, arrogante, agressivo, conforme o que é muito comum de se ver e ser aplaudido em filmes, novelas televisivas, e  até mesmo nas relações interpessoais no ambiente de trabalho e nos lares de um modo geral.
De tanto acostumados que podemos ficar à exibição deste tipo de comportamento corremos o risco de refletir o mesmo em nossas atitudes e ações, sem sequer nos darmos conta disto, uma vez que a prática é amplamente generalizada e tolerada.
Falar em mansidão, gentileza e humildade em nossos dias soa como algo medieval, anacrônico, estranho.
Todavia, é aí onde Deus focaliza a Sua atenção e o Seu galardão, pois promete dar a terra como herança somente aos que têm um caráter manso.
Se quisermos ser bem-sucedidos na vida cristã, teremos que navegar na contramão desse mundo, especialmente nos dias em que vivemos.
Não há como conciliar o que o mundo aprova com o que Deus aprova.
A mansidão aqui referida não é aquela que é pertinente ao tipo de temperamento natural que é brando, melancólico ou fleumático, e este não se encontra portanto em nenhuma vantagem sobre aquele que é de temperamento sanguíneo ou colérico, uma vez que o temperamento natural, tanto num caso, como noutro, não se sustenta em mansidão de mente e coração diante das adversidades.
A mansidão aqui referida como afirmado nas Escrituras é fruto do Espírito Santo, e em assim sendo, importa que seja implantada pelo poder de Deus no nosso caráter. Isto é aprendido e incorporado à vida no exercício cotidiano dos embates que temos que enfrentar.
Sendo interior e fruto do Espírito ,a mansidão guardará as nossas mentes e corações em paz e tranquilos em toda e qualquer circunstância, por estarmos conscientes do seu valor e realidade.
Importa então, que sejam reanimados, aqueles que desacreditaram no valor ou realidade da mansidão, por algum tipo de frustração que sofreram em relação àqueles que pensavam ser detentores da citada virtude e que no entanto falharam em determinados momentos críticos em que foram colocados à prova. Certamente a mansidão que alegavam possuir era fruto do seu temperamento natural, e não o fruto do espírito que é forjado na nossa alma, porque este último é vitorioso e duradouro, tendo uma vez sido obtido e mantido em exercício.
Temos a Palavra para nos ensinar a respeito dessa verdade, e faremos bem em observá-la com o devido cuidado.
Leia a seguir os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras
1 – praus (grego) – manso, gentil, humilde
2 – praotes (grego) – mansidão, humildade, gentileza
3 – anavah (hebraico) – mansidão, brandura, gentileza, humildade
4 – anav (hebraico) – manso, humilde


1 – praus (grego) – manso, gentil, humilde

Mateus 5.5 Bem-aventurados os mansos (praus), porque eles herdarão a terra.

Mateus 11.29 Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso (praus) e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.

Mateus 21.5 Dizei à filha de Sião: Eis que aí te vem o teu Rei, manso (praus) e montado em um jumento, em um jumentinho, cria de animal de carga.

I Pedro 3.4 mas seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito manso (praus) e tranquilo, que é precioso diante de Deus.


2 – praotes (grego) – mansidão, humildade, gentileza

I Corintios 4.21 Que quereis? Irei a vós com vara, ou com amor e espírito de mansidão (praotes)?

II Corintios 10.1 Ora eu mesmo, Paulo, vos rogo pela mansidão (praotes) e benignidade de Cristo, eu que, na verdade, quando presente entre vós, sou humilde, mas quando ausente, ousado para convosco;

Gálatas 5.22 Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade.
Gálatas 5.23 a mansidão (praotes), o domínio próprio; contra estas coisas não há lei.

Gálatas 6.1 Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão (praotes); e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.

Efésios 4.2 com toda a humildade e mansidão (praotes), com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,

Colossenses 3.12 Revestí-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão (praotes), longanimidade,

I Timóteo 6.11 Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão (praotes).

II Timóteo 1.25 corrigindo com mansidão (praotes) os que resistem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade,

Tito 3.2 que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas moderados, mostrando toda a mansidão (praotes) para com todos os homens.

Tiago 1.21 Pelo que, despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestígio do mal, recebei com mansidão (praotes) a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas.

Tiago 3.13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão (praotes) de sabedoria.

I Pedro 3.15 antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão (praotes) e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós;


3 – anavah (hebraico) – mansidão, brandura, gentileza, humildade

2 Samuel 22.36 Também me deste o escudo da tua salvação, e tua brandura (anavah)me engrandece.
Salmo 18.35 Também me deste o escudo da tua salvação; a tua mão direita me sustém, e a tua mansidão (anavah) me engrandece.

Provérbios 15.33 O temor do Senhor é a instrução da sabedoria; e adiante da honra vai a humildade (anavah).

Provérbios 18.12 Antes da ruína eleva-se o coração do homem; e adiante da honra vai a humildade (anavah).

Provérbios 22.4 O galardão da humildade (anavah) e do temor do Senhor é riquezas, e honra e vida.

Sofonias 2.3 Buscai ao Senhor, vós todos os mansos da terra, que tendes posto por obra o seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão (anavah); porventura sereis escondidos no dia da ira do Senhor.


4 – anav (hebraico) – manso, humilde

Números 12.3 Ora, Moisés era homem mui manso (anav), mais do que todos os homens que havia sobre a terra.

Salmo 9.12 Pois ele, o vingador do sangue, se lembra deles; não se esquece do clamor dos humildes (anav).

Salmo 10.12 Levanta-te, Senhor; ó Deus, levanta a tua mão; não te esqueças dos humildes (anav).

Salmo 10.17 Tu, Senhor, ouvirás os desejos dos mansos (anav); confortarás o seu coração; inclinarás o teu ouvido,

Salmo 22.26 Os mansos (anav) comerão e se fartarão; louvarão ao Senhor os que o buscam. Que o vosso coração viva eternamente!

Salmo 25.9 Guia os mansos (anav) no que é reto, e lhes ensina o seu caminho.

Salmo 34.2 No Senhor se gloria a minha alma; ouçam-no os mansos (anav) e se alegrem.

Salmo 37.11 Mas os mansos (anav) herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz.

Salmo 69.32 Vejam isto os mansos (anav), e se alegrem; vós que buscais a Deus reviva o vosso coração.

Salmo 76.9 quando Deus se levantou para julgar, para salvar a todos os mansos (anav) da terra.

Salmo 147.6 O Senhor eleva os humildes (anav), e humilha os perversos até a terra.

Salmo 149.4 Porque o Senhor se agrada do seu povo; ele adorna os mansos (anav) com a salvação.

Provérbios 3.34 Ele escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes (anav).

Provérbios 16.19 Melhor é ser humilde de espírito com os mansos (anav), do que repartir o despojo com os soberbos.

Isaías 11.4 mas julgará com justiça os pobres, e decidirá com equidade em defesa dos mansos (anav) da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará o ímpio.

Isaías 29.19 E os mansos (anav) terão cada vez mais gozo no Senhor, e os pobres dentre os homens se alegrarão no santo de Israel.

Amós 2.7 Pisam a cabeça dos pobres no pó da terra, pervertem o caminho dos mansos (anav); um homem e seu pai entram à mesma moça, assim profanando o meu santo nome.

Sofonias 2.3 Buscai ao Senhor, vós todos os mansos (anav) da terra, que tendes posto por obra o seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão; porventura sereis escondidos no dia da ira do Senhor.






2 - Os Violentos não Falam por Cristo

Porque Jesus é manso e humilde de coração e requer que todos os que se dizem seus discípulos sejam seus imitadores.
Porque o Seu reino não é deste mundo e não se impõe pela força, mas pelo Espírito Santo e pelo Amor.
Porque é prometido aos mansos e não aos violentos que herdarão a terra.
Se alguém fala em fazer justiça segundo os padrões deste mundo, que fale por si mesmo, mas não deve receber qualquer crédito se diz que o faz em nome de Jesus, do evangelho ou da religião.
Jesus não veio condenar mas salvar. Veio nos trazer vida abundante e cheia de paz no espírito, para nos tornar amorosos, misericordiosos, pacientes sob injustiças sofridas e sobretudo, tardios em se irar, tal como Ele é.
Quem veio roubar, matar e destruir é o diabo, o seu arqui-Inimigo.
Corações cheios de ira contra pessoas ou instituições, de pessoas que dizem estar a serviço de Deus, necessitam na verdade, de arrependimento ou de conversão.
Porventura o Espírito de Cristo é um espírito agitador de massas? O Espírito Santo é quem promove revoluções e perturbações da ordem pública, para o atingimento de fins políticos, econômicos, militares ou quaisquer outros, nesta presente dispensação da graça?
A espada de divisão que Cristo trouxe ao mundo, e a divisão que ela produz não tem o caráter de uma convulsão social que convoque os cristãos a serem perturbadores da paz. Ao contrário, é dito pelo Senhor que os pacificadores são bem-aventurados, e os que suportam injustiças e perseguições por causa do seu amor ao Evangelho, e estes que são pacificadores, pacientes e longânimos, são também mansos, humildes de espirito, puros de coração, prudentes e simples e têm um coração quebrantado.
O que tem Jerusalém a ver com Roma? O que tem a ver o cristão com o mundo? Ou a nova pátria celestial pela qual aspiramos com os reinos deste mundo?
Se Deus nos tem dado espírito de poder, não podemos esquecer que este poder é de caráter espiritual, e que o mesmo espírito é de amor e de moderação.
É em paz que se semeia o fruto da justiça de Cristo revelada no Evangelho.







3 - Não Injuriemos Quem nos Injuria

Não devemos injuriar aqueles que nos injuriam, tal como Cristo e os apóstolo fizeram no passado.
Não devemos tentar justificar a nossa própria honra e dignidade perante aqueles que nos caluniam, não somente porque não poderão entender nossos argumentos, em face da carnalidade deles, como também por sermos chamados a defender não a nossa honra mas a do Senhor.
O coração deve ser guardado pelo consolo que o Espírito Santo nos dá quando nos armamos do pensamento de suportar sofrimentos por amor a Cristo. E que grandes consolações elas serão!
 A causa do evangelho e não a nossa é que deve avançar. Muitas almas devem ser salvas para Cristo e não para nós mesmos. E devem ser edificadas no testemunho da verdade quanto ao modo como devem caminhar neste mundo pelo exemplo que acharem em nossas próprias vidas, de perdão, amor, misericórdia, bondade, paz e todas as demais virtudes que estão em Cristo, e que também serão achadas em nós à proporção da nossa submissão a Ele.
E guardemos também nossos corações por saber que estes sofrimentos não podem ser comparados com a gloria futura a ser revelada em nós, quando recebermos do Senhor o louvor pela nossa fidelidade a Ele e à Sua Palavra.
Não somos chamados a vencer debates teológicos, mas a vencer o pecado e o diabo. Não somos chamados a impor nossa visão a outros, mas conduzir as pessoas a Cristo e ao Seu evangelho. Não é a nossa importância que está em questão, mas a glória e a honra do Senhor.
Quanto a nós, convém de fato que diminuamos cada vez mais, e que o nome do Senhor seja cada vez mais elevado e exaltado através da nossa própria humilhação perante Ele. Daí que estas perseguições e injustiças não são contra nós, mas a nosso favor, porque nos ajudam a estarmos sempre pequenos e humildes diante de Deus, a quem de fato pertencem a grandeza, a majestade e o poder.
Somos apenas vasos de barro que contém a excelência do poder de Deus. Não é propriamente nosso este poder, mas sempre será dAquele, diante do qual convém estarmos sempre com nossos joelhos dobrados diante dEle em humilde adoração.
Afinal todos não estarão diante dEle nAquele dia confessando que Ele é o Senhor para a glória de Deus Pai? Como poderíamos andar então inchados aqui neste mundo seja por causa do nosso conhecimento ou do que for, se tudo o que temos, é porque recebemos dEle!














94) MENTE

ÍNDICE

1 - Tranquilidade de Mente
2 - Vontade e Inclinação Moral e Espiritual
3 - Onde eu me Situo em Tudo Isto?
4 - Significado Bíblico de Renovação da Mente
5 - O que Significa Amar a Deus com Toda a sua Mente?
6 - Como ter uma Mente Espiritual
7 - Pensamentos como Flores
8 - A Mente Carnal conduz a Morte
9 - A Fonte do Conhecimento Espiritual do Cristão
10 - A Futilidade da Mente Natural


1 - Tranquilidade de Mente

A questão não é: qual é o tipo problema suposto ou real que pode roubar a nossa paz de mente, mas: como a nossa mente reage aos diversos tipos de problemas, especialmente quando se apresentam a nós em primeira mão.
Ficamos imediatamente alarmados e assim permanecemos por longo tempo?
Nossa capacidade de pensar racionalmente fica prejudicada?
Procuramos achar alívio na imediata solução do problema?
Ficamos na expectativa de que aqueles que lhe deram causa sejam imediatamente responsabilizados, achando que com isto acharíamos alguma paz de espírito?
Pensamos que Deus não cuidou devidamente de nós ou que foi injusto em permitir que passássemos pelas condições que nos estão afligindo?
Recuamos ou procuramos resolver a situação independentemente de não ter pensado sobre qual seria o melhor modo de fazê-lo, ou até mesmo se seria oportuno fazê-lo?
Enfim, muitas outros questionamentos poderiam ser apresentados, todavia não é o nosso propósito fazer um diagnóstico sobre a forma como reagimos às coisas que podem perturbar a nossa paz de mente, mas se temos nos preparado mental e espiritualmente para enfrentá-las.
Dos cristãos da Igreja Primitiva nos é relatado nas Escrituras que aceitaram com alegria o espólio dos seus bens, Heb 10.34; suportaram afrontas por causa do nome de Jesus se regozijando, Atos 5.41, e se alongam os testemunhos acerca da paciência e paz com que sofreram todas as suas tribulações.
Certamente, o que lhes capacitava a isto era a grande confiança que eles tinham na providência de Deus; sabendo que tudo que era permitido por Ele que lhes sucedesse era para o seu próprio bem, em todo progresso em aumento de fé e crescimento espiritual; que os olhos do Senhor estavam constantemente sobre eles e suas circunstâncias de vida, e que ainda que não fossem livrados do problema propriamente dito, seriam preservados em perfeita paz pelo poder da Sua graça, operando em seus corações.
Quando nos concentramos no problema podemos desesperar ou perder a nossa paz, ainda que pelo tempo em que estivermos com os nossos olhos desviados do Senhor.
O apóstolo Pedro, tendo aprendido a sua lição em várias oportunidades, como quando afundava nas águas por ter temido o tamanho das ondas e a fúria da tempestade, e foi livrado quando clamou por socorro ao Senhor, nos dá o seguinte conselho caso estejamos sofrendo por motivo de quaisquer tribulações: “Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem.”, I Pe 4.19. Este “encomendem” do texto significa  entregar ao cuidado de Deus.
Veja que ele não diz que devemos entregar os nossos corpos, os nossos problemas ou o que ou quem estiver lhe dando causa, senão à nossa própria alma, ou seja, especialmente a nossa mente, que é uma das faculdades da alma, que é a parte mais atingida nestas ocasiões aflitivas.
Ele nos aconselha a deixarmos a nossa mente sob o cuidado de Deus, para que a paz de Cristo possa nos preservar em perfeita tranquilidade de mente – a sua paz sobrenatural que excede todo o entendimento, Fil 4.7, e que nos é comunicada quando nos exercitamos  cotidianamente para sermos achados na seguinte condição, apontada pelo apóstolo:
“Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos.
Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.
Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” (Fil 4.4-7).






2 - Vontade e Inclinação Moral e Espiritual

Por vontade entendemos muito mais do que a faculdade da mente humana em fazer escolhas e tomar decisões, porque a vontade não é um poder soberano em nós, uma vez que pode ser influenciada por diversos fatores que pesarão preponderantemente em muitas das nossas escolhas e decisões, que apesar de serem o fruto do exercício de nossa vontade, pode-se dizer das mesmas que foram involuntárias, em diversas situações, ou seja, quando não nos achávamos no domínio pleno destas escolhas e decisões.
Daí termos associado à vontade, a nossa inclinação moral e espiritual, porque por um conjunto de fatores que não chegamos a compreender muito bem, há toda uma disposição diferenciada de pessoa para pessoa para pender para os mais diversos tipos de ânimo, espírito, temperamento, humor, padrões de obediência e de rebelião, enfim, de todo o somatório de poderes que operam na mente, no espírito e corpo de cada pessoa, e que determinam o seu pendor ou inclinação moral e espiritual.
De um modo geral, toda a humanidade se encontra naturalmente indisposta para as coisas espirituais, celestiais e divinas, e isto configura, na verdade, um estado de inimizade e oposição a tudo o que se refira efetivamente à vontade de Deus e seus mandamentos.
Mas, mesmo neste caso, alguns possuem um pendor natural para as coisas que são consideradas comportamentalmente aprovadas pela sociedade, e outros que vão na direção contrária a isto. E nem sempre uma chamada boa educação pode responder sozinha para a determinação de um bom comportamento.
Há vários fatores intrínsecos formadores da própria personalidade que preponderam sobre tudo o mais que se possa fazer de esforço para melhorar o procedimento daqueles que costumam fazer um uso inadequado da vontade por seguirem inclinações perniciosas inerentes à sua própria constituição interior.
Pessoas há que simplesmente não se permitem serem amoldadas por boas influências externas, sejam elas de qual natureza forem, naturais ou espirituais. E isto permanece como um grande mistério até hoje para todos nós, porque sucede assim.
Deus, que é o criador de tudo e de todos, não criou qualquer tipo de mal moral ou espiritual.
Portanto, não se pode atribuir isto a uma falha de fabricação, mas a um fator estranho que se introduziu não somente na criação dos homens, como também na dos anjos que se transformaram em demônios, porque sendo ambos seres morais, dotados de vontade própria, escolheram e se inclinaram para longe de Deus e do padrão de vida e de comportamento que nele existem e que dele emanam para todas as suas criaturas que lhe são obedientes.
Mas, no melhor dos homens, em razão da inimizade natural pecaminosa que há em todos, há a necessidade de nos esforçarmos para nos inclinarmos para as coisas que são de Deus, segundo o pendor do Espírito Santo, para que possamos ter a nossa vontade sendo dirigida pela boa, perfeita e agradável vontade de Deus, em tudo o que é justo e santo, Rom 8.6-13; 12.1,2.

Assim, bem irá ao que se arrepender e se humilhar diante de Deus reconhecendo a sua plena dependência dele para tudo o que é bom e aprovado, uma vez observadas todas as limitações e dificuldades a que estamos naturalmente expostos.







3 - Onde eu me Situo em Tudo Isto?

Com esta pergunta de caráter pessoal em nosso título queremos conduzir o presente assunto no seu próprio campo de pertinência, uma vez que as questões que serão abordadas dizem respeito à nossa personalidade como um todo composto de várias partes, e portanto, a proposta da indagação seria a de que aqueles que assim o desejassem, possam analisar a si mesmos quanto às medidas que possuem de cada um dos pontos enfocados.
À guisa de orientação geral, cabe destacar que, a par de estarmos apresentando um estudo analítico de partes constituintes da personalidade, o nosso foco será o homem total, assim compreendido: corpo, alma e espírito, uma vez que sendo a divindade composta por três pessoas distintas e no entanto haver um só Deus, de igual forma, as três partes constituintes da humanidade aqui na Terra, são as três referidas, e o ser humano é uma só pessoa a par de ter um espírito, uma alma e um corpo físico.
Muito bem. Feitas estas considerações de caráter geral, passemos ao estudo analítico propriamente dito.
Há, neste mundo, dois reinos distintos de operações distintas, sendo um natural do qual todos participam, e o segundo, espiritual, do qual passam a participar apenas aqueles cujos espíritos são renascidos do Espírito Santo.
Tanto num reino quanto noutro, as ditas faculdades ou habilidades naturais ou espirituais se encontram e são aperfeiçoadas ou deterioradas nos seguintes campos:

1 - inteligência intelectual
2 - inteligência emocional
3 – caráter
4 – conhecimento
5 – sabedoria
6 – vontade e inclinação moral e espiritual.

Todos estes seis aspectos básicos constituintes da personalidade são encontrados tanto no reino natural, quanto no espiritual, sendo amplamente distintos em suas formas de ser e de expressão.

1 – Inteligência Intelectual

Não pretendemos esgotar os diversos significados desta expressão, senão relacioná-la apenas às diferentes capacidades das pessoas em adquirir conhecimentos e resolver problemas, especialmente pelo uso do raciocínio. Estas capacidades são diversas e em muitos casos independentes e também múltiplas em todos os campos possíveis de serem investigados, quer no campo natural, quer no espiritual.
Assim, a Inteligência Intelectual Natural, se relaciona a tudo o que é pertencente ao mundo natural visível ou invisível. Ela abrange todos os processos lingüísticos, filosóficos, científicos, tecnológicos, ontológicos e tudo quanto possa ser aprendido do que chamamos de coisas pertencentes ao universo físico tangível ou intangível.
Por seu turno, a Inteligência Intelectual Espiritual, se relaciona exclusivamente às coisas que podem ser somente entendidas por iluminação e revelação do Espírito Santo, I Cor 2. Estas coisas são espirituais, celestiais e divinas, e apesar de serem manifestadas ao nosso espírito, podem ser apreendidas e discernidas pela mente que foi e que está sendo renovada progressivamente pelo Espírito Santo.
Como afirmamos anteriormente, ambos os tipos de inteligência mencionados pertencem a campos distintos, e portanto ser muito inteligente nas coisas temporais, não implica necessariamente que se tenha inteligência espiritual, e a recíproca é também verdadeira, porque é possível ser muito inteligente espiritualmente falando, e ser pouco inteligente no que se refere às coisas naturais. Assim, um cristão não está necessariamente em vantagem em relação ao não cristão no que se refere ao domínio das coisas naturais, como este, não está no que tange às espirituais em relação ao cristão.
Todavia, por ser o homem corpo, alma e espírito, a inteligência intelectual pode não somente ser afetada em si mesma, como também afetar consideravelmente outros campos da personalidade, que destacamos anteriormente (Inteligência Emocional, caráter, conhecimento, sabedoria, vontade e inclinação moral), por vários fatores.
Por exemplo, portadores de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) ou TDA (sem hiperatividade), que é caracterizado por falta de concentração, impulsividade e hiperatividade ou excesso de energia.  O TDA ocorre em crianças e adultos, homens e mulheres, abrangendo todas as camadas socioeconômicas, níveis de escolaridade e graus de inteligência.  Nos EUA há cerca de 17 milhões de pessoas que sofrem este distúrbio presentemente.
Apesar de cerca de um terço conseguir superar o problema na adolescência, os demais terão que conviver com o TDA ao longo de suas vidas neste mundo. E ainda, que possa haver um considerável controle com o uso adequado de fármacos receitados por médicos psiquiatras, e pelo acompanhamento psicológico do método de disciplina comportamental, sempre haverá uma grande influência, mas não para tornar a pessoa menos inteligente, ao contrário, porque são muito inteligentes acima da média, intelectualmente falando, mas podem sofrer sérios prejuízos nas demais áreas da personalidade destacadas anteriormente. (inteligência emocional,  conhecimento etc).
 Isto porque são os principais sintomas dos portadores adultos de TDA:

  - dificuldades em organizar as tarefas diárias;
  - tendência a ser desorganizado e a perder objetos;
  -  irritação com tarefas repetitivas ou monótonas;
  - preferência por ambientes agitados;
  -  numa conversa, começa a falar antes do fim de uma pergunta ou de uma resposta;
  -  distração e "sonhos acordados" constantes, principalmente quando está lendo ou ouvindo por obrigação;
  - períodos de sonolência durante o dia;
  - falhas de memória;
  - comportamento impulsivo. Falar e agir sem medir as consequências;
  - alterações rápidas de humor;
  - em alguns casos, envolvimento com uso abusivo de drogas.

Vemos que estes fatores podem afetar até mesmo a Inteligência Intelectual Espiritual, e todos os demais campos pertinentes ao chamado homem espiritual total, porque tudo isto contribui para a dispersão na concentração exigida especialmente para a prática  da oração e meditação da Palavra de Deus; uma vez que a mente está naturalmente indisposta, distraída e irritada.
E tudo no mundo espiritual chama e se desenvolve no ambiente de ordem, concentração e paz.
Todavia, quando se é nascido do Espírito Santo, ainda que não dissolvidas totalmente, estas desvantagens apontadas podem em muito ser mitigadas pelo poder da graça de Cristo, através das novas disposições implantadas na nova criatura, que vão na contramão de tudo o que se encontra no TDA, a par de que, isto demandará, como em todos os demais aspectos componentes da personalidade, de um crescimento gradual e progressivo que será consumado com o processo da santificação do corpo, alma e espírito.

2 – Inteligência Emocional

Não pretendemos nos prender à exploração completa deste conceito, conforme muitos o fizeram, especialmente Salovey e Mayer, e Goleman, dos quais estamos destacando apenas a definição das habilidades apresentadas por este último como sendo as principais categorias do que se chama de Inteligência Emocional:

1.         Auto-Conhecimento Emocional - reconhecer as próprias emoções e sentimentos quando ocorrem;
2.         Controle Emocional - lidar com os próprios sentimentos, adequando-os a cada situação vivida;
3.         Auto-Motivação - dirigir as emoções a serviço de um objetivo ou realização pessoal;
4.         Reconhecimento de emoções em outras pessoas - reconhecer emoções no outro e empatia de sentimentos; e
5.         Habilidade em relacionamentos inter-pessoais - interação com outros indivíduos utilizando competências sociais.

 Quando falta ou quando se é pequena a chamada Inteligência Emocional, assim considerada pelos termos destacados anteriormente, haverá prejuízos especialmente nas chamadas relações inter-pessoais, pela falta de um controle adequado sobre as emoções, e que se traduzirá geralmente em explosões de ira, irritações e alterações de humor, muitas vezes injustificadas.
Isto depõe contra a possibilidade de um viver harmônico em interações sociais, e especialmente na comunhão espiritual quando isto se refere à Inteligência Emocional Espiritual.
Como o fruto do Espírito Santo é paz, alegria, bondade, benignidade, longanimidade, amor e domínio próprio, ainda que a Inteligência Emocional Natural, por maior que seja, não responda a este fruto citado, que é eminentemente sobrenatural e celestial, ou seja, que nos vem do Alto, todavia, aqueles que não a possuem naturalmente ou de modo deficiente terão maiores dificuldades em serem ajustados ao padrão de comportamento que Deus espera forjar em todos os seus filhos amados, sem que isto caracterize, no entanto, uma impossibilidade, para o Deus ao qual são possíveis todas as coisas.
Assim, quando aqueles que se encontravam com maiores dificuldades para o seu aperfeiçoamento espiritual, chegam a alcançá-lo por lutarem para o buscarem em Deus, muito maior é a glória de Deus nestes casos, pela plena evidência do seu poder transformador de vidas.
Parece-nos portanto, que ele permitiu estas deficiências naturais, que entraram na criação por causa do pecado original, para que ele tivesse uma glória ainda maior, pela demonstração do seu poder de cura, amor e cuidado misericordioso demonstrados para todos aqueles que recorrem a ele para serem socorridos, por meio da fé em Jesus Cristo, por meio de quem nos são concedidas todas as coisas.
Antes de concluir esta parte, cabe ressaltar que os que são de temperamento calmo e brando, não estão também excluídos da necessidade do cuidado de Deus, porque podem ficar tímidos por conta de suas disposições naturais e não virem a investir e a fazer progresso com ousadia no reino de Deus, por um firme testemunho de fé, especialmente nas circunstâncias adversas.
E, além disso, são mais facilmente tentados a confundir a santificação que procede do Espírito Santo com o seu fruto de mansidão, longanimidade, etc, com o temperamento natural que eles possuem, e que como afirmamos anteriormente, não consiste no fruto de santificação que nos leva a servir e a adorar a Deus com um coração puro e uma boa consciência.
Enfim, ser calmo não significa que se esteja vivendo na fé e na direção do Espírito Santo.

3 – Caráter

A par de existirem várias formas de definição do que seja caráter, estaremos restringindo o uso do termo à sua forma de apresentação indireta na Bíblia como se referindo à própria essência da personalidade, a qual é identificada pelo bom nome da pessoa, como ocorre em Mateus 10.40, onde caráter foi vertido de onoma, no original grego, que significa nome.
Assim, podemos definir caráter como sendo o modo de viver segundo determinados valores específicos.
Teríamos assim um bom ou um mau caráter, dependendo destes valores.
Um bom caráter segundo o que é relativo ao mundo civil é portanto aquele que segue as regras e valores aprovados da sociedade em que se vive.
E um bom caráter segundo o que é relativo ao reino de Deus é aquele que segue as regras e os mandamentos de Deus.
Por conseguinte, todo o comportamento que sistematicamente viola estas regras, tanto num campo de abrangência, quanto noutro, pode ser dito pertencente a alguém de mau caráter.
A formação do caráter pode ser altamente influenciada pelo meio em que se vive, de modo que aqueles que andam com os sábios poderão vir a ser sábios, mas aquele que andar em má companhia poderá ter o seu caráter moldado por seus maus companheiros.
Do cristão se requer que seja um bom caráter tanto no chamado mundo civil, quanto no reino de Deus, porque lhe é imposto dar a César o que é de César e a Deus e o que é de Deus.
E, a propósito, não é possível ser um bom caráter segundo Deus, quando não se é um bom cidadão.
O Cristão carrega sobre si o bom nome de Cristo, e é seu dever portanto, moldar o seu caráter a este nome, porque importa que haja nele o mesmo caráter que há em Cristo, que em tudo é obediente ao Pai.
Um espírito santificado deve influenciar os hábitos de uma mente e de um corpo também santificados, porque tudo o que se pensa, se imagina, que se faz com o corpo, deve seguir o pendor do espírito e não o da carne (natureza pecaminosa).

“E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai.” (Fil 2.22)

4 – Conhecimento

Há um conhecimento natural que todos os homens podem alcançar, dentro dos limites considerados anteriormente, e um conhecimento espiritual que somente aqueles que são nascidos do Espírito Santo podem obter.
Tanto num caso como noutro (natural e espiritual) pode existir progresso no aumento do conhecimento, sendo que no que tange ao espiritual, isto será possível não apenas mediante o nosso esforço em diligência para adquirir o citado conhecimento, como também somos dependentes da iluminação e revelação do Espírito Santo, e daí a necessidade da oração e da prática da Palavra de Deus.
E como vimos antes, um bom caráter, será o fator principal gerador de uma boa consciência, em uma maior aplicação para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de nossa inteligência intelectual e emocional, notadamente no que se refere ao campo espiritual, e muito contribuirá para uma maior aquisição de conhecimento das coisas espirituais, celestiais e divinas, porque, apesar de Deus trabalhar com a nova natureza que recebemos pela fé em Cristo, tudo reflete no homem total que somos, a saber, corpo, alma e espírito.
O conhecimento espiritual no qual o cristão deve se empenhar para o seu crescimento é o relativo à graça de Jesus, ou seja, em tudo o que é chamado a receber e a viver segundo lhe está disponibilizado em Cristo, pela sua graça, 2 Pe 3.18.

5 – Sabedoria

Sabedoria, biblicamente falando, abrange muito mais do que a definição clássica de se fazer o uso adequado dos conhecimentos adquiridos.
Este é um assunto por demais extenso, e por isso gostaríamos de resumi-lo ao enfoque da sabedoria e sensatez que é segundo Deus, e o da sabedoria e sensatez que é segundo o mundo.
O próprio texto grego do original do Novo Testamento nos ajuda muito no estabelecimento de tal distinção porque possui palavras específicas para indicar um uso mais preciso das referidas palavras.
Por exemplo: a palavra sábio no grego, quando indica o tipo de conhecimento, habilidades e mentalidade adquiridos, é geralmente fronimos.
E quando indica o conjunto de conhecimentos e o modo da sua aplicação, a palavra geralmente usada é sofós.
Agora, tanto num caso, como no outro, é possível ser sábio e sensato segundo Deus, nas coisas espirituais, celestiais e divinas; ou então ser sábio segundo o mundo e a carne apenas nas coisas terrenas e naturais, ou então nas do reino espiritual da maldade.
Toda pessoa chega a este mundo naturalmente desprovida do conhecimento de Deus, e portanto não pode possuir a sensatez, a sabedoria, a prudência e inteligência divinas, traduzidas no modo de discernir todas as pessoas e coisas, segundo o modo de Deus discerni-las.
Tal sabedoria, somente pode ser  adquirida, e crescer em graus, mediante a conversão e consagração a Cristo.
Nós lemos em I Cor 1.26,27 o seguinte:
“Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes;”
A expressão “as coisas loucas” foi traduzida da palavra grega, morós, usada por Paulo no original grego, no gênero neutro, a qual significa néscio, insensato, tolo ou estulto. Significado este, que encontramos nos demais textos do Novo Testamento que utilizam a referida palavra.
Como a referência “as coisas loucas” está em contraposição à citação “os sábios”, então teríamos uma melhor tradução com “Deus escolheu os insensatos, ou tolos, do mundo, para envergonhar os sábios”.
Mas Deus pode escolher e amar pessoas insensatas?
Sim. Deus pode amar o insensato e não a sua insensatez.
Os crentes estão também sujeitos a serem insensatos, ou seja, a não terem discernimento, não como um atributo permanente, mas por lapsos avulsos de bom senso.
Todavia, em Ef 5.17 os crentes são convocados a não serem insensatos, mas procurar saber a vontade de Deus.
Mesmo crentes estão sujeitos a serem sábios segundo o mundo em muitos sentidos, mas eles têm o que o mundo não tem, que é a fonte da verdadeira sabedoria habitando neles, a qual é Cristo, e que pode levá-los a terem cada vez mais a sabedoria que é segundo Deus.
Pela rápida exploração destes conceitos relativos à sabedoria, podemos entender que não é à toa que Deus nos ordena a não nos gloriarmos na nossa sabedoria, Jer 9.23, porque ela está sujeita a diversas limitações em si mesma, e não responde por si só, a tudo o que compõe a nossa personalidade, conforme estamos analisando em todas as partes deste estudo.

 6 – Vontade e Inclinação Moral e Espiritual

Por vontade entendemos muito mais do que a faculdade da mente humana em fazer escolhas e tomar decisões, porque a vontade não é um poder soberano em nós, uma vez que pode ser influenciada por diversos fatores que pesarão preponderantemente em muitas das nossas escolhas e decisões, que apesar de serem o fruto do exercício de nossa vontade, pode-se dizer das mesmas que foram involuntárias, em diversas situações, ou seja, quando não nos achávamos no domínio pleno destas escolhas e decisões.
Daí termos associado à vontade, a nossa inclinação moral e espiritual, porque por um conjunto de fatores que não chegamos a compreender muito bem, há toda uma disposição diferenciada de pessoa para pessoa para pender para os mais diversos tipos de ânimo, espírito, temperamento, humor, padrões de obediência e de rebelião, enfim, de todo o somatório de poderes que operam na mente, no espírito e corpo de cada pessoa, e que determinam o seu pendor ou inclinação moral e espiritual.
De um modo geral, toda a humanidade se encontra naturalmente indisposta para as coisas espirituais, celestiais e divinas, e isto configura, na verdade, um estado de inimizade e oposição a tudo o que se refira efetivamente à vontade de Deus e seus mandamentos.
Mas, mesmo neste caso, alguns possuem um pendor natural para as coisas que são consideradas comportamentalmente aprovadas pela sociedade, e outros que vão na direção contrária a isto. E nem sempre uma chamada boa educação pode responder sozinha para a determinação de um bom comportamento.
Há vários fatores intrínsecos formadores da própria personalidade que preponderam sobre tudo o mais que se possa fazer de esforço para melhorar o procedimento daqueles que costumam fazer um uso inadequado da vontade por seguirem inclinações perniciosas inerentes à sua própria constituição interior.
Pessoas há que simplesmente não se permitem serem amoldadas por boas influências externas, sejam elas de qual natureza forem, naturais ou espirituais. E isto permanece como um grande mistério até hoje para todos nós, porque sucede assim.
Deus, que é o criador de tudo e de todos, não criou qualquer tipo de mal moral ou espiritual.
Portanto, não se pode atribuir isto a uma falha de fabricação, mas a um fator estranho que se introduziu não somente na criação dos homens, como também na dos anjos que se transformaram em demônios, porque sendo ambos seres morais, dotados de vontade própria, escolheram e se inclinaram para longe de Deus e do padrão de vida e de comportamento que nele existem e que dele emanam para todas as suas criaturas que lhe são obedientes.
Mas, no melhor dos homens, em razão da inimizade natural pecaminosa que há em todos, há a necessidade de nos esforçarmos para nos inclinarmos para as coisas que são de Deus, segundo o pendor do Espírito Santo, para que possamos ter a nossa vontade sendo dirigida pela boa, perfeita e agradável vontade de Deus, em tudo o que é justo e santo, Rom 8.6-13; 12.1,2.
Assim, bem irá ao que se arrepender e se humilhar diante de Deus reconhecendo a sua plena dependência dele para tudo o que é bom e aprovado, uma vez observadas todas as limitações e dificuldades a que estamos naturalmente expostos.
E, ao concluirmos esta nossa breve reflexão gostaria de indagar a mim mesmo: e então, onde é que eu me se situo em tudo isto? Estou estagnado, vencido pelas circunstâncias que me são adversas tanto exteriores, quanto interiores, ou estou fazendo progresso em Cristo Jesus para superá-las?








4 - Significado Bíblico de Renovação da Mente

Muitos séculos antes de o homem se entregar à pesquisa científica da mente, o escritor da inspiração sagrada a ela se referiu estando, portanto, totalmente livre da influência das especulações filosóficas e das práticas empíricas, recentes, relativas ao estudo da mente, e muito menos ocupado em tratar as enfermidades cuja origem está relacionada ao cérebro.
Também não se ocupa a Bíblia em analisar o inconsciente freudiano e todos as demais funções cerebrais relacionadas ao sistema nervoso parassimpático uma vez que a ação da graça divina trata e opera em justa cooperação com o consciente. As manifestações do inconsciente são imaginárias e não estão sujeitas a qualquer linha racional e lógica, conforme pode-se constatar nos sonhos e notadamente nos pesadelos.
De modo que ao falar sobre a mente a Bíblia alude simplesmente ao intelecto, ao entendimento racional, que ainda que esteja no seu melhor estado, livre de qualquer anomalia psicossomática, necessita ser renovado pelo Espírito Santo.
Em nenhuma parte da Bíblia somos incentivados a adorar e a servir a Deus num culto que se baseie exclusivamente em sentimentos, emoções, e muito menos em estados alterados de mente produzidos pela manipulação de técnicas psicológicas, até mesmo porque ajuda a empanar a compreensão e prática racional dos mandamentos de Deus quando as pessoas buscam somente experimentar sensações agradáveis e não propriamente conhecer e fazer a vontade do Senhor.
Evidentemente que os sentimentos e as emoções acompanham geralmente a nossa adoração, mas não deve ser neles que devemos basear o nosso conhecimento de Deus e comunhão com Ele, mas exclusivamente na prática racional da Sua Palavra.
Todavia, deve ser considerado que Deus utiliza de variados meios para abrir caminho nos corações de pedra, de modo a produzir conversões, para a habitação do Espírito Santo.
Isto explica porque muitas das conversões narradas no Novo Testamento foram produzidas com o simples anúncio do nome de Jesus Cristo como sendo o salvador prometido nas Escrituras. Veja o caso do  centurião Cornélio com a visita de Pedro, do cego de nascença e da mulher samaritana por Jesus, do coxo no templo com Pedro e João, da mulher que ungiu os pés de Jesus na casa do fariseu Simão, do coxo que foi introduzido pelo telhado em Cafarnaum, o ladrão na cruz, e em tantos outros exemplos narrados na Bíblia.
A grande comprovação de que a salvação é de fato somente pela graça está em que esta é concedida por Deus quando o conhecimento acerca da Sua completa vontade for ainda muito pequeno, ou até mesmo inexistente.
Nos dias dos grandes avivamentos nos dias dos irmãos Wesley, de Jonathan Edwards, Evan Roberts, etc, foi a intensidade da forma de culto com cânticos e êxtases espirituais que produziu a abertura do caminho nas mentes, pelas emoções, para que o Espírito Santo produzisse as conversões.
Por isso vemos o apóstolo Paulo ensinando em Romanos 10 que o ato de confessar a Jesus como Senhor e Salvador com os lábios, crendo no coração que Deus o ressuscitou entre os mortos, pode produzir conversões.
Para o mesmo efeito, exortava os crentes a entoarem hinos e cânticos espirituais, uma vez que trabalhando nas emoções podem abrir o caminho para o mesmo efeito esperado.
Então a proclamação do nome de Jesus por aqueles que o conhecem de fato e que praticam a Sua palavra em vidas santificadas e consagradas pode ser honrada por Deus com a produção de conversões.
Todavia, esta proclamação, pregação do evangelho, da boa nova de que há salvação disponível em Cristo para todo aquele que nele crer, e simplesmente olhar para ele com os olhos da fé, não é tudo quanto se espera do ministério cristão.
O Senhor ordenou que se pregasse o evangelho, mas que também se fizesse discípulos em todas as nações ensinando-lhes tudo o que ele ordenou para ser guardado, ou seja, cumprido por eles.
Isto demanda, portanto, não apenas conhecimento das Escrituras por parte do discipulador, como também o cuidado de instruir na verdade todos aqueles que se converteram recentemente.
Sem isto, dificilmente alguém perseverará na fé ou mesmo terá a sua vida edificada na verdade.
Agora, não podemos esquecer também que conversões baseadas em sentimentos e emoções, especialmente as estimuladas pelos dirigentes de cultos religiosos interesseiros, cujo propósito não seja o de glorificar exclusivamente a Deus e honrar a Sua Palavra, devem ser colocadas sob suspeita, uma vez que os frutos do ministério dos falsos pastores e profetas não pode ser um bom fruto de uma árvore boa.
Também deve ser considerado que estratégias agressivas para abrir canais emocionais para um trabalho de poder do Espírito Santo nos corações, produzindo conversões, podem gerar mais escândalos e resistências ao Espírito do que facilitar o seu trabalho, como por exemplo ordenar que as pessoas caiam no chão, e façam bizarrices para experimentarem o poder de Deus. É de se esperar que pessoas com um mínimo de bom senso não se sujeitem a isto.
Conhecendo o poder do impacto emocional sobre as mentes o apóstolo Paulo tinha o cuidado de evitar que até mesmo o uso descuidado de um dom sobrenatural do Espírito Santo – o de línguas – pudesse evitar um impacto negativo nos ouvintes, conforme podemos ver em I Coríntios 14.14,15,19.
Ao se fazer uma análise detida das passagens bíblicas destacadas abaixo, relativas ao assunto do nosso título, observamos claramente que ao falar de mente a Palavra de Deus a relaciona a entendimento espiritual da revelação divina, mas de modo nenhum, exclui a participação da nossa compreensão racional da revelação escrita.
O Espírito Santo não põe à parte o nosso intelecto na comunicação e ensino da verdade. Ao contrário, a via comum da sua comunicação é a nossa mente, especialmente pela aplicação à meditação da Bíblia.
A verdade já está revelada de uma vez por todas na Palavra de Deus, de modo que tudo o que necessitamos é que o nosso entendimento seja aberto pelo Espírito para a correta compreensão e interpretação da mesma. E para tal propósito Deus levanta mestres para o ensino da Igreja, mestres estes que necessariamente devem ter sido, eles próprios, instruídos pelo Espírito Santo para o entendimento da Palavra.
É por esta via que se faz a renovação da mente ordenada aos crentes nas Escrituras, e não por meio de êxtases espirituais ou qualquer forma mística de se cultuar a Deus, de maneira que somos orientados a fazer uma renovação que se baseie num culto racional, ou seja, por meio de uma mente devidamente instruída nas Escrituras.
A mente foi despertada na conversão, e Deus passou a ser conhecido pessoalmente, mas há necessidade de se prosseguir neste conhecimento de Jesus e da Sua graça (II Pedro 3.8).
O culto não deve ser fantasioso, fantástico, imaginário, mas real e verdadeiro, conforme importa que Deus seja adorado, a saber, em espírito e em verdade. E sem o uso adequado de nossas faculdades mentais, de nosso intelecto, de nosso pensamento, jamais poderíamos adorar de tal modo, em razão do nosso desconhecimento da Palavra revelada, notadamente no que se exige de nós em relação aos mandamentos divinos.
Todavia, não devemos ficar reféns do uso exclusivo da razão para o conhecimento da vontade de Deus, uma vez que necessitamos principalmente da convicção, iluminação, instrução e direção do Espírito Santo, tanto para a nossa conversão, quanto para a nossa santificação.
Sem esta operação sobrenatural do Espírito Santo a simples leitura da Palavra torna-se inócua, como a isto se refere o apóstolo dizendo que a letra mata sem o trabalho vivificante do Espírito Santo, porque não podemos achar a salvação que nos conduz  à vida eterna por somente conhecermos a letra da Palavra, conhecimento este que sem a salvação somente servirá para agravar a nossa morte espiritual, pois que estaremos sufragando a nossa própria condenação pelo conhecimento da verdade não praticada.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras 1 - Logikos – racional, razoável, da palavra; 2 – Metamorfoo – transformar, mudar, transfigurar; 3 – Nous – mente, intelecto, entendimento, pensamento; 4 – Dianoia – mente, entendimento, pensamento; e 5 – Anakainosis – renovação; do texto original grego do Novo Testamento relativas ao assunto, acessando o seguinte link:

http://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/5389357






5 - O que Significa Amar a Deus com Toda a sua Mente?

Por John Piper

O que significa amar a Deus com toda a sua mente? Existem vários componentes para o amor intelectual por Deus.

1.    Dedicar nossas mentes a conhecê-lO.
2.    Pensar clara e verdadeiramente sobre Ele, para que não tenhamos ideias falsas em nossas mentes.
3.    Não estar satisfeito com o mero conhecimento intelectual dos Seus atributos, caráter, e atos, mas intencionalmente devotar esforço para entregar nossas afeições (emoções) a Deus.
Se uma pessoa não mudar de um conhecimento intelectual de Deus e de uma maneira correta de pensar sobre Deus para uma entrega emocional a Deus, ela ainda não o amou com sua mente. A mente ainda não amou até que tenha entregue seus pensamentos às emoções, onde elas são abraçadas. Assim, mente e coração estão trabalhando em certa harmonia e você experimenta ambos: amor intelectual e emocional por Deus.
Eu prefiro que as pessoas lidem com a mídia que contém violência e sexo, onde Deus é uma realidade urgente – embora não exista nada parecido na existência - em vez de uma mídia completamente limpa de tudo que é mau, mas que também é absolutamente sem Deus.
Acho que a TV, os filmes, e a maioria dos meios de comunicação nos ferem: 1) pela sua ignorância e apatia em relação a Deus, e 2) por sua trivialidade. Portanto, não é apenas abandonar a realidade para a qual fomos criados, a saber, Deus; é também constantemente diminuir nossas almas pelos pensamentos mais tolos, de modo que a capacidade de conhecer Deus é reduzida. Ele não é apenas retirado do quadro geral; a capacidade de apreciar algo grande como Deus está sendo diminuída por causa do entretenimento tolo a que as pessoas se entregam.







6 - Como ter uma Mente Espiritual

Por John Piper

Este artigo foi motivado pelo passeio de minha mente em um domingo à tarde sobre os vídeos de comerciais da Apple. São engraçados. Mas enquanto eu ponderava entre o Mac e o PC, comecei a me perguntar se eu fui afastado de ter uma mente espiritual. De verdade, eu acredito que é possível pensar sobre computadores de uma maneira espiritual. Mas será que eu estava fazendo isso? Ou eu estava sendo atraído à fascinação e desejo que faz com que sintamos Deus distante, a Bíblia desinteressante, o céu irrelevante e o inferno inconcebível? Foi um momento crítico. Deus me pegou.
Ter uma mente espiritual é uma questão de vida e morte. Paulo diz em Romanos 8:6, “A inclinação da carne é morte, mas a inclinação do Espírito é vida e paz”. A frase “a inclinação do Espírito” traduz a frase nominal phronēma tou pneumatos —“mentalidade do Espírito”. Não há uma palavra única no português que seja equivalente à phronēma. Não é apenas “mente” mas é “atitude”. E não apenas “mentalidade” mas “configuração de atitude”. É a moldura e a disposição de nossa mente. Dizer que temos uma “phronēma do Espírito” é dizer que o Espírito está moldando nossa configuração-de-mente-e-atitude conforme a sua própria. Exalta a Cristo e valoriza a Deus, e ama a Palavra de Deus e vê as pessoas e as coisas com uma consciência divina persistente.
Desejo ter uma mente espiritual o tempo todo. Quero ver o mundo com olhos espirituais—computadores e tudo. Então eu parei de contemplar o computador e escrevi as seguintes estratégias sobre como ficar e permanecer com uma mente espiritual. Não estão listadas em nenhuma ordem especial. Apenas como elas surgiram para mim com alguns ajustes.
Perceba que a sua natureza exterior está se desgastando e sua natureza interior deve ser renovada pela configuração de sua mente nas coisas que são do alto.
Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos sendo desgastados, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno. (2 Coríntios 4:16-18)
Dê passos radicais para manter sua mente pura.
Vocês ouviram o que foi dito: "Não adulterarás". Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. (Mateus 5:27-29)
Faça com que Deus seja a alegria de todas as suas alegrias.
Então irei ao altar de Deus, a Deus, a fonte da minha plena alegria. Com a harpa te louvarei, ó Deus, meu Deus! (Salmos 43:4)
Literalmente a frase “a fonte da minha plena alegria” é “a alegria da minha alegria”. Considero que isso significa que em todas as nossas alegrias Deus deve ser a alegria das alegrias. Toda alegria deve se tornar uma alegria em Deus. Se uma alegria não pode oferecer uma prova de quem Deus é, e ser gozada ainda mais por isso, então é uma alegria não espiritual.
Veja cada pessoa que você conhece como se fosse vê-la daqui a cem anos.
Chegou o dia em que o mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão. O rico também morreu e foi sepultado. No Hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado. (Lucas 16:22-23)
De modo que, de agora em diante, a ninguém mais consideramos do ponto de vista humano. (2 Coríntios 5:16)
Pondere que, em todo o momento, até mesmo no mais feliz, há miséria e pranto em 10.000 lugares, alguns deles muito perto.
Isso não acabaria com toda a nossa alegria? Melhor ser verdadeiro e triste do que feliz e falso. No entanto, eu não acho que temos que escolher entre os dois. É possível sermos verdadeiros e felizes e entristecidos. É por isso que Paulo diz estar “entristecido, mas sempre alegre" (2 Coríntios 6:10). Leia esta história comovente que nos contou David Brickner (líder do Judeus para Jesus).
Alguns meses atrás, eu estava em um vôo voltando para casa de uma reunião quando o homem que estava sentado atrás de mim começou a ficar sem fôlego. Uma chamada no interfone do avião solicitou um médico. Logo um médico e muitas enfermeiras vieram ajudar o homem, mas sem sucesso. Comecei a orar pelo homem e sua esposa, que estava sentada ao lado dele. O piloto anunciou que devido a uma emergência médica o avião pousaria em Edmonton. Eu podia ouvir a atividade atrás de mim se intensificar enquanto o médico e as enfermeiras se revezavam fazendo a reanimação cardiorrespiratória. Se você nunca esteve próximo a uma pessoa que está morrendo apesar dos esforços, posso garantir que não é muito pior do que aquilo que vemos na televisão. O som do ar sendo forçado para fora dos pulmões de um ser humano, o som e o cheiro da morte foram horríveis. Eu ouvi o médico dizer, “Horário do óbito, 10:25 da manhã”.
Então, o capitão anunciou que a situação do passageiro havia sido "estabilizada", e portanto seguiríamos até São Francisco. Não sei quantas pessoas perceberam que o que foi anunciado como uma passagem de uma emergência havia sido na verdade um anúncio velado sobre a perda da vida de um homem. Certamente, os que de nós estavam perto sabiam disso. Os comissários de bordo colocaram um cobertor sobre a cabeça dele. Sua esposa, ainda ao lado dele, estava chorando e gemendo. E assim, os comissários de bordo começaram a andar entre os corredores... e serviram o almoço! Almoço!? Como alguém naquela cabine poderia comer após o que havia acontecido? Mas eles comeram. (Judeus para Jesus, Boletim Informativo, Novembro de 2006, p. 1)
Essa é uma parábola do mundo em qualquer época. Alguns estão comendo o almoço e milhares estão em prantos. Isso ajuda a lembrar disso quando somos levados para longe da realidade por algum comercial de computador.
Lembre-se da advertência de Jesus sobre o que sufoca a vida espiritual: cuidados, riquezas e prazeres da vida.
As que caíram entre espinhos são os que ouvem, mas, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas preocupações, pelas riquezas e pelos prazeres desta vida, e não amadurecem. (Lucas 8:14)
As preocupações desta vida, o engano das riquezas e os anseios por outras coisas, sufocam a palavra, tornando-a infrutífera. (Marcos 4:19)
Pondere o que é fragrância boa para Deus e no que Ele se deleita!
E vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus. (Efésios 5:2)
Porque para Deus somos o aroma de Cristo. (2 Coríntios 2:15)
Não é a força do cavalo que lhe dá satisfação, nem é a agilidade do homem que lhe agrada; o Senhor se agrada dos que o temem, dos que colocam a esperança no seu amor leal. (Salmos 147:10-11)
Seja amigo de pessoas de mente espiritual.
Aquele que anda com os sábios será cada vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal. (Provérbios 13:20)
Não se deixem enganar: "as más companhias corrompem os bons costumes". (1 Coríntios 15:33)
Leia obras de autores apaixonados por Deus e com a mente espiritual.
Por exemplo, leia os sermões de Jonathan Edwards e John Owen no Volume Sete de suasObras, Sobre a Mente Espiritual. Aqui estão alguns exemplos de títulos de sermões do volume 25 da edição da Yale das Obras de Edwards, apenas para que você tenha um sabor de como as coisas eram diferentes naqueles dias:
"A Grande Preocupação de um Vigia de Almas"
"A Beleza da Piedade na Juventude"
"O Casamento da Igreja com Seus Filhos, e com Seu Deus"
"Renda-se à Palavra de Deus, ou Seja Quebrantado por Sua Mão"
"Fé Salvadora e Obediência Cristã Provêm do Amor Divino"
"A Paz Que Cristo Dá aos Seus Seguidores Verdadeiros"
"A Desumanidade dos Homens para com Deus"
"Cristo é para o Coração como um Rio para uma Árvore plantada junta a Ele"
"Deus é Infinitamente Forte"
Pondere que sua vida muito em breve ficará sem um corpo.
Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor. (2 Coríntios 5:8)
Quão ligadas ao seu corpo estão as suas alegrias?
Pense no quanto a vida é curta.
Pois, "toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória, como a flor da relva; a relva murcha e cai a sua flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre". Essa é a palavra que lhes foi anunciada. (1 Pedro 1:24-25)
Peça por uma mente espiritual.
Satisfaze-nos pela manhã com o teu amor leal, e todos os nossos dias cantaremos felizes. (Salmos 90:14)
Os salmistas oram com frequência pelo coração e mente que desejam ter.
Lembre-se que você morreu com Cristo e crucificou a carne.
Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. (Gálatas 5:24)
A chave mais básica para a mente espiritual é a garantia profunda de que você realmente morreu e ressuscitou com Cristo e que você é perdoado e justificado com ele.
Aceite o sofrimento que Deus designou como disciplina para desenvolver uma mente espiritual melhor.
Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade de suportar, a ponto de perdermos a esperança da própria vida. De fato, já tínhamos sobre nós a sentença de morte, para que não confiássemos em nós mesmos, mas em Deus, que ressuscita os mortos. (2 Coríntios 1:8-9)
Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus lhes trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos. Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos, para assim vivermos! Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados.(Hebreus 12:7-11)
Vá ao hospital orar com uma pessoa moribunda.
É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério! (Eclesiastes 7:2)
Eu fui na semana passada e isso teve, como sempre, um efeito realista sobre mim e afastou muito do mundanismo de minha mente.
Arrisque-se ser chamado insensato e estranho.
Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se o dono da casa foi chamado Belzebu, quanto mais os membros da sua família! (Mateus 10:25)
Perceba que milhões de pessoas nas outras religiões do mundo não estão a procura de pessoas mais descoladas de cultura americana ou inteligência tecnológica. Elas estão em busca de um "homem santo", de um "homem de Deus".
A questão não será "ele é perspicaz e de fala rápida e esperto?". A questão será "Ele ora muito? Ele conhece seu Livro Sagrado, a maioria de cor? Ele nega a si mesmo e tem seu foco em Deus? Ele é poderoso em sua fraqueza?"
Desejoso de ter uma mente espiritual com vocês,

Pastor John






7 - Pensamentos como Flores

Em Romanos 8.6 lemos que a inclinação da carne dá para morte, mas a inclinação do Espírito dá para a vida e paz. Em outras palavras isto significa que ser carnal é estar morto espiritualmente, e ser espiritual é ter vida eterna e paz.
Pensamentos e meditações que procedem de afetos espirituais são as primeiras coisas em que consiste a mentalidade espiritual, e por meio do que ela se comprova.
Nossos pensamentos são como as flores de uma árvore na primavera.
Você pode ver uma árvore na primavera toda coberta com flores, de forma que nada mais dela aparece. Milhares destas flores caem e não vêm a dar em nada.
Frequentemente onde há muitas flores há menos frutos.
Mas se houver algum fruto, seja ele de que tipo for, bom ou ruim, ele deve vir de alguma dessas flores.
A mente do homem está coberta com pensamentos, como uma árvore com flores.
“Como o homem pensa em seu coração, assim ele é.” (Pv 23.7).
Pensamentos normalmente voluntários são a melhor medida e indicação da estrutura de nossas mentes.
Por isso nosso Senhor diz que a boca fala aquilo do que o coração está cheio.
Assim a predisposição do coração pode ser avaliada pela predominância de pensamentos voluntários – aquilo que pensamos normal e espontaneamente.
Se pensamos deste modo sobre as coisas celestiais e divinas, isto é um sinal de que somos espirituais, porque este é o furto produzido por estas flores que são os nossos pensamentos.
Mas, se ao contrário, nos dispomos a pensar espontaneamente com exclusividade sobre coisas naturais e terrenas, então isto é indicativo de que nos falta aquela espiritualidade que Cristo veio nos trazer.








8 - A Mente Carnal conduz a Morte

Por João Calvino

Porque os que se inclinam para a carne...(Rm 8.5,6). O apóstolo introduz esta distinção entre a carne e o espírito, não só para confirmar sua afirmação anterior de que a graça de Cristo pertence tão-somente aos que, uma vez regenerados pelo Espírito, se esforçam por uma vida de inocência, mas também viver para ajudar os crentes com uma consolação oportuna, para que não se desesperem ante a consciência de suas muitas enfermidades. Visto que excetuara da maldição somente os que vivem uma vida espiritual, poderia parecer estar eliminando toda a humanidade da esperança da salvação. Quem se encontrará neste mundo adornado com pureza angelical, de modo a não mais ter nada a ver com a carne? Era, pois, indispensável que Paulo adicionasse esta definição do que se acha subentendido nas expressões: estar na carne e andar segundo a carne. A princípio, ele não faz esta distinção em termos tão precisos. Entretanto, como veremos mais adiante, seu propósito é inspirar os crentes com esperança inabalável, não obstante estejam ainda atados à sua carne. Contudo não se entregam ao domínio da concupiscência, mas se confiam à diretriz do Espírito Santo.

Quando diz que os homens carnais cuidam ou vivem a cogitar das coisas da carne, ele declara que não considera carnais àqueles que aspiram a justiça celestial, e, sim, àqueles que são completamente devotados ao mundo. Portanto, traduzi (povouaiv) por uma palavra de sentido mais amplo - “mente” [=cogitant] -, visando a que os leitores viessem compreender a que ele se refere somente aos que são excluídos do número dos filhos de Deus, aqueles que se entregam às fascinações da carne e aplicam suas mentes e zelos aos desejos depravados. Ora, na segunda cláusula, ele reanima os crentes para que alimentem firme esperança, para que se sintam estimulados a meditar sobre a justiça [procedente[ do Espírito. Sempre que o Espírito reina, é um sinal da graça salvífica de Deus, assim como a graça de Deus não existe onde o Espírito é extinto e o reino da carne prevalece. Reiterarei sucintamente, aqui, a admoestação a que me referi antes, a saber: estar na carne, ou viver segundo a carne, significa o mesmo que privar-se do dom da regeneração. Todos aqueles que continuam a viver como “homens carnais”, para usar uma expressão popular, na verdade tal é o seu estado.

Porque a mente da carne conduz à morte. Erasmo traduz “afetos” [=affectum] para cogitatio; a Vulgata, “prudência” [ =prudentiam]. Contudo, visto ser indiscutível que a expressão de Paulo é a mesma usada por Moisés quando fala da imaginação [=figmentum] do coração [Gn 6.5; 8.21], e que esta palavra inclui todos os sentidos da alma, desde a razão e o entendimento até aos afetos, parece-me que “mente” \—cogitatió\ é mais adequada à passagem. Embora Paulo tenha usado a partícula yáp, estou certo de que esta é confirmativa, pois existe um gênero de concessão aqui. Tendo apresentado uma breve definição do que estar na carne significa, ele agora adiciona o fim que aguarda a todos quantos se entregam à carne. Ele assim prova por meio de contraste que aqueles que permanecem na carne não podem ser participantes da graça de Cristo, pois ao longo de todo o curso de sua vida não fazem outra coisa senão precipitar-se para a morte.

Esta é uma passagem mui notável. Aprendemos dela que, ao seguirmos o curso da natureza, damos um mergulho no abismo da morte, porquanto não produzimos outra coisa para nós mesmos senão a destruição. Paulo logo adiciona uma cláusula contrastante com o fim de ensinar-nos que, se alguma parte de nós tende para a vida, é o Espírito que manifesta seu poder, já que nem mesmo uma única fagulha de vida procede de nossa carne. Paulo a chama de vida devotada às coisas espirituais, visto que ela é vida vivificante, ou que conduz à vida. Pelo termo paz ele quer dizer, segundo o costume hebraico, tudo quanto faz parte do bem-estar. Cada ação do Espírito de Deus, em nosso íntimo, visa à nossa bem-aventurança. Entretanto, não há razão para atribuir a salvação às obras, por este motivo, porque, embora Deus inicie nossa salvação e finalmente a completa ao renovar-nos segundo a sua imagem, todavia a única causa de nossa salvação está em seu beneplácito, pelo qual ele nos faz participantes de Cristo.








9 - A Fonte do Conhecimento Espiritual do Cristão

Todos os crentes santificados têm uma habilidade e poder na mente e compreensão renovada, para ver, conhecer, discernir, e receber, as coisas espirituais, os mistérios do evangelho, a mente de Cristo, de forma devida e espiritual.
É verdade que nem todos possuem este poder e capacidade no mesmo grau; mas cada um deles tem uma suficiência do mesmo, a fim de discernir o que diz respeito a si mesmos e seus deveres. Alguns deles parecem, na verdade, ser muito fracos em conhecimento, e em comparação com outros, muito ignorantes, porque existem diferentes graus nestas coisas; Ef 4.7. E alguns deles são mantidos nessa condição por sua própria negligência e preguiça. Eles não usam como deveriam, nem melhoram os meios de crescimento na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, que Deus lhes prescreve - Heb 6.14-16. Mas todo aquele que é verdadeiramente santificado, e que assim tem recebido o menor grau da graça salvadora, tem luz suficiente para entender as coisas espirituais do evangelho de uma forma espiritual.
Quando os mistérios do evangelho são pregados aos crentes, de alguns deles pode ser declarado que aqueles que são de menor capacidade e habilidade podem não ser capazes de compreender corretamente a doutrina, que é necessária para ser proposta para a edificação daqueles que são mais maduros em  conhecimento. No entanto, não há nenhum entre os menos  hábeis deles, que não possua uma visão espiritual para as coisas em si mesmas pretendidas, e que são necessárias para a sua fé e obediência na condição em que eles se encontram. Disto a Escritura dá um testemunho abundante que não pode ser questionado. Porque temos "recebido o Espírito de Deus, para que possamos conhecer as coisas que nos são dadas livremente por Deus”. Em virtude do que temos recebido, sabemos ou discernimos as coisas espirituais -1 Coríntios 2.12. Então nós "conhecemos a mente de Cristo" - verso 15. Esta é a substância daquele duplo testemunho - 1 João 2.20,27. Esta unção permanente não é outra, senão a graça inerente habitual que pleiteamos, e por ela, já que é uma santa luz em nossa mente, nós sabemos todas as coisas; o entendimento que nos é dado conhecer o que é verdade - 1 João 5.20. Somente é o dever dos crentes se esforçarem continuamente para a melhoria e ampliação da luz que eles têm, no exercício diário do poder espiritual que têm recebido, e na utilização dos meios da graça - Heb 5.

Texto extraído do tratado de John Owen, intitulado A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







10 - A Futilidade da Mente Natural

Por D. M. Lloyd Jones

Consideremos a futilidade da posição moderna. Meditemos no terrível desperdício de energias que há quando a sinceridade e o zelo não são orientados pelo conhecimento e pela verdade. Naturalmente que essa situação se faz presente em todas as áreas. Se voltarmos a nossa atenção para as experiências científicas, por exemplo, veremos que confiar no zelo e na sinceridade em meio à busca por resultados, sem que se tenha uma certa soma de conhecimentos, é obviamente inútil e até altamente perigoso. Em qualquer área da vida, o conhecimento é essencial, e o mero fervor, à parte do conhecimento, não pode produzir os resultados desejados. Ora, se compreendemos que, no final das contas, temos de nos preocupar com Deus e em sermos agradáveis a Ele, quão infinitamente mais importante é entender, antes de fazermos qualquer coisa, que o conhecimento de sua vontade e de seu propósito para nós é absolutamente vital.
Essa é uma verdade que pode ser demonstrada de duas formas principais. O argumento de Paulo, no tocante aos pontos de vista de seus contemporâneos, foi que nada conseguiam senão estabelecer a sua própria justiça, visto que confiavam no seu zelo e sinceridade à parte do conhecimento. A causa desse erro, segundo afirmou o apóstolo, é que ignoravam a justiça de Deus; eram ignorantes não só do caminho divino da salvação, mas também daquilo que Deus exige. O próprio Senhor Jesus, certa vez, fez precisamente essa acusação contra os fariseus, quando disse: "Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração; pois aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus" (Lc 16.15).
Poderia haver qualquer coisa tão inútil quanto essa circunstância? Talvez tal situação possa ser vista mais claramente no caso dos judeus dos dias de nosso Senhor e de Paulo. Apresentavam-se eles com todo o seu zelo e sinceridade, com suas boas obras e sua moralidade. Abnegavam-se e sofriam; oravam e jejuavam, contribuindo com seus bens para alimentar os pobres. No entanto, suas boas obras não tinham qualquer valor, pelo motivo simples de não serem o que Deus pedia deles. Estabeleciam os seus próprios padrões, agiam conforme suas próprias idéias e tradições e, então, eram capazes de enumerar grandes realizações e grande quantidade de atos de justiça. Contudo, aquilo não tinha valor. Não passava de justiça própria; não era justiça requerida por Deus. E o que tornava ainda mais ridícula a questão é que tinham persuadido a si mesmos de que faziam tudo isso para o agrado de Deus. Seu propósito, afirmavam, era o de agradar a Deus e de se justificarem aos olhos dEle; no entanto, em última análise, praticavam tudo a fim de agradarem a si mesmos. E tudo por não quererem ouvir o que dissera o próprio Deus e por confiarem em seu próprio zelo, em suas próprias idéias, recusando-se a serem iluminados quanto àquilo que Deus, de fato, requeria.
Ora, pensemos. Não existem, em nossos dias, os que fazem a mesma coisa? Não existem aqueles que ignoram a Palavra de Deus, que se recusam a levar em conta o evangelho, com sua luz e seu conhecimento? Que se conservam afastados da casa de Deus e de toda a forma de instrução no tocante a essas questões; que argumentam que tudo quanto é mister é que alguém seja sincero, honesto em seus negócios, que se dedique à caridade, que seja amigável e afável?
A esses precisamos dizer o mesmo que Paulo disse a seus contemporâneos — ao fazerem tudo isso estão simplesmente estabelecendo a sua própria justiça. Não pomos em dúvida a sinceridade ou a honestidade deles. Admitimos neles ambas as qualidades, tal como fez Paulo no caso dos antigos fariseus. A pergunta vital, entretanto, é: Qual é o valor de tudo isso? Não se trata do caminho de Deus. Não se trata da justiça do modo como Deus a vê, mas apenas da justiça própria. Certamente, a essência da sabedoria é que, antes de começarmos a agir ou de procurarmos agradar a Deus,devemos descobrir o que Deus tem a dizer sobre a questão. Antes de tudo, devemos conhecer o que Deus pensa sobre a justiça e quais as exigências dEle.
Todavia, os homens e as mulheres de nossos dias, tal como os judeus da antiguidade, aceitam ordens de toda a parte, exceto da Palavra de Deus. Dependem das afirmações de alguns escritores modernos e vivem de acordo com suas próprias idéias, não segundo os ensinamentos de Jesus de Nazaré, o Filho de Deus. Que continuem, que prossigam nesse caminho, cega e ignorantemente. Que teimem em estabelecer a sua própria justiça, rejeitando o evangelho de Jesus Cristo; e por certo chegará o dia quando descobrirão que "aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus" (Lc 16.15).
A pergunta vital a ser feita, por conseguinte, é: A quem estamos agradando, na realidade? A nós mesmos ou a Deus? Temo-nos submetido ao seu caminho? Podemos afirmar que temos sujeitado a Ele nossa vontade, entregando-a a Ele? Em caso contrário, todos os nossos atos de justiça serão como "trapo da imundícia" (Is 64.6), e em nada nos ajudarão.
A segunda maneira pela qual podemos demonstrar a futilidade da confiança no zelo, que não leva em conta o conhecimento, é lembrarmo-nos do padrão que foi estabelecido por Deus. Paulo lembrou aos seus contemporâneos o que disse Moisés, ao transmitir a lei aos judeus: "O homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá por ela" (Rm 10.5). Essas palavras poderiam ser traduzidas da seguinte forma: "Todo que cumprir a lei, viverá por ela". Deus entregou a sua lei, a sua perspectiva acerca da retidão; e, em essência, foi isto o que Ele disse: "Se guardares tudo isso, terás obedecido aos meus mandamentos. É isso o que eu exijo. Essa é a única maneira de agradar-me".
No que consiste essa maneira de agradar a Deus? Examinemos a questão em profundidade. Falamos em agradar a Deus mediante os nossos próprios esforços sinceros. Pois bem, consideremos o que deveríamos fazer. Pode o homem fazer expiação por seus próprios erros e pecados passados? Pode ele apagar as suas próprias transgressões? Pode ele aguçar a sua consciência e limpar a sua memória? Mais do que isso, pode ele viver no presente, de modo que verdadeiramente se satisfaça? Pode ele resistir às tentações? Sempre vive o homem à altura de seus próprios padrões? Pode ele controlar os seus pensamentos, os seus desejos, as suas inclinações e imaginações, bem como cada uma de suas ações? Em outras palavras, por meio de seus mais intensos esforços, pode o homem, e consegue ele, ser bem-sucedido, vivendo, realmente, segundo suas próprias regras de vida?
Consideremos o padrão divino. Leiamos a lei, conforme foi dada aos filhos de Israel, os Dez Mandamentos e a lei moral, que Saulo reconheceu não poder cumprir, apesar de todo o seu zelo, quando percebeu o verdadeiro significado da lei. Examinemos, em seguida, o Sermão da Montanha e as várias afirmativas de nosso Senhor acerca da santidade de Deus. Ponderemos, então, a vida perfeita de Jesus. É isso o que temos de fazer. Essa é a retidão que teríamos de alcançar. Pode alguém realizar tal feito? Podem todas as boas intenções, toda a sinceridade e todo o zelo de que alguém é capaz, prover poder suficiente para escalar tão grandes alturas? Esse é o monte que temos de subir — o monte da santidade de Deus. Somos informados que, sem a santidade, ninguém jamais verá ao Senhor (Hb 12.14). Haverá alguém capaz de produzir tal santidade? Haverá poder suficiente, na minúscula máquina de nossa vida, para conduzir-nos a tão vertiginosas alturas? Indaguemos ao apóstolo Paulo. Indaguemos a Agostinho, a Lutero e a João Wesley. Façamos perguntas a todas as almas mais nobres que o mundo já viu, a todos os de espírito mais sincero e mais zeloso que a humanidade já conseguiu produzir. Então, qual poderoso coro e em voz uníssona, eles responderão, dizendo:

Não são os labores de minhas mãos
Que podem cumprir as exigências de tua lei.
Se meu zelo desconhecesse descanso,
Se minhas lágrimas para sempre se vertessem,
Nem assim seria expiado um único pecado.
Tu precisas salvar e Tu somente!

Ora, se eles fracassaram, quem poderia obter sucesso? Oh, a insensatez, a futilidade, a cegueira e a presunção de toda essa atitude! O que há de melhor em nós e tudo que somos não bastam. E salientemos que, se isso acontece com os sinceros e zelosos, quão mais inexoravelmente condenados ao fracasso são aqueles que não fazem qualquer esforço ou que continuam a viver no pecado, impensada e desatentamente, e que, na realidade, de forma nenhuma se importam com Deus!















95) MILAGRES

ÍNDICE

1 - O Grande Milagre
2 - “Ela foi curada imediatamente." (Lucas 8.47)


1 - O Grande Milagre

O testemunho que dou a seguir, que poderia chamar de o grande milagre ou a vitória da fé, se refere às circunstâncias que acompanharam primeiro, um infarto do miocárdio que tive em 2006, e depois, um câncer de intestino em 2010.
Quando digo vitória da fé, não me refiro à capacidade de crer que seria curado, mas vitória da fé que é mediante a nossa comunhão com o Senhor Jesus Cristo. A fé que professamos nEle e em Sua Palavra. A fé que nos transformou em novas criaturas.
Muito bem, o grande milagre não foi a cura propriamente dita, mas a grande paciência, paz e alegria sobrenaturais que me foram concedidas pelo poder da graça, que pude experimentar com a presença do Senhor durante todo o longo período de ambas enfermidades.
Em nenhum dos casos fui impedido de ministrar e de continuar dando testemunho do grande amor e bondade do Senhor, porque era capacitado para isto pela graça de Jesus, e por vezes me surpreendia, quando nos cultos de adoração, me achava mais entregue ao louvor e adoração do Senhor, do que todos os demais membros da congregação que não padeciam de qualquer enfermidade. Ainda que não tivesse qualquer mérito para isto, senão por contar exclusivamente com a grande misericórdia e bondade de Deus.
Então o testemunho do grande milagre é este: Apesar de sermos pecadores limitados e imperfeitos, Deus é fiel em cumprir tudo o que nos tem prometido em sua palavra, de jamais nos desamparar ou abandonar, e de jamais nos deixar órfãos, pois estará conosco todos os dias, até a consumação dos séculos.

“Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.” (Hebreus 13.5)

“Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros.” (João 14.18)

“E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mt 28.20)






2 - “Ela foi curada imediatamente." (Lucas 8.47)

Um dos milagres mais tocantes e ensino do Salvador é o da mulher que sofria de uma hemorragia havia doze anos. Quando ela tocou na orla da veste do Senhor e foi curada, ela imaginou que a virtude saiu de Cristo por uma lei de necessidade, sem o seu conhecimento ou direção da Sua vontade. Além disso, ela deveria desconhecer a generosidade do caráter de Jesus, porque ela não teria ido por detrás, escondida, para ter furtivamente a cura que Ele estava tão pronto para dar.
A miséria deve sempre ser colocada de frente com a misericórdia. Se ela tivesse conhecido o amor do coração de Jesus, ela teria dito: "Eu nada tenho, mas vou me posicionar onde Ele possa me ver - sua onisciência vai lhe mostrar  o meu caso, e seu amor operará minha cura instantaneamente." Admiramos a sua fé, mas nos maravilhamos com sua ignorância. Depois que ela obteve a cura, ela se alegrou com tremor: ela ficou feliz que a virtude divina tivesse feito uma maravilha nela, mas ela temia que Cristo fosse remover a bênção, e colocasse uma negativa sobre a concessão de Sua graça: ela pouco compreendia a plenitude do seu amor!
Nós não temos uma visão tão clara  dEle tanto quanto poderíamos desejar; nós não conhecemos as alturas e profundidades do seu amor, mas sabemos com certeza que ele é bom demais para retirar da alma trêmula o dom que ela tem sido capaz de obter.
Mas aqui está a maravilha disto: tão pouco como era o seu conhecimento, a sua fé, porque era a fé verdadeira, a salvou e salvou de uma só vez. Não foi nenhum milagre atrasado e tedioso, mas um milagre da fé instantâneo.
Se tivermos fé como um grão de mostarda, a salvação é nossa posse presente e eterna. Se somos inscritos na lista dos como o mais fraco da família, ainda assim, somos herdeiros através da fé - nenhum poder, humano ou diabólico, pode  nos expulsar da salvação. Se não ousamos  inclinar a cabeça sobre o peito do Senhor como João fizera, mas se podemos nos aventurar na multidão por detrás dele, e tocar na orla do seu manto, estamos curados.
Coragem, tímido! a tua fé te salvou; vai em paz.
"Sendo justificados pela fé, temos paz com Deus."

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

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