sexta-feira, 23 de outubro de 2015

96) Misericórdia 97) Missões

96) MISERICÓRDIA

ÍNDICE

1 - Devemos Ter a Mesma Misericórdia Que Há em Deus
2 - Quando a Misericórdia é Eficaz
3 - Como se Alcança a Misericórdia de Deus
4 - “Eu te conheci no deserto em terra muito seca." (Oseias 13.5)
5 - “A misericórdia de Deus." (Salmo 52.8)
6 - Como a Misericórdia Triunfa Sobre o Juízo
7 - Salvos Pela Misericórdia e Não Por Obras
8 - Se Compadece de Nossa Miséria Espiritual
9 - Infinita Misericórdia


1 - Devemos Ter a Mesma Misericórdia Que Há em Deus

Em Rom 1.18 a 21 lemos:

Rom 1:18 A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça;
Rom 1:19 porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.
Rom 1:20 Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;
Rom 1:21 porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.

Nesta porção das Escrituras, o Espírito Santo, falou pela boca do apóstolo Paulo, nos versículos 20 e 21 qual é o motivo de Deus se irar contra os  homens ímpios, a saber: eles não glorificam a Deus e nem são gratos a Ele, por tudo que percebem dos Seus atributos invisíveis e do Seu  eterno poder, desde o princípio do mundo, atributos e poder estes que podem ser observados através das coisas que  Deus criou.
Veja que o  texto fala de atributos e de poder.
E nisto destacamos especialmente o amor, a misericórdia, a paciência, a longanimidade, a graça, a onipotência, e todos os demais atributos correlatos a estes, que fazem com que  Deus seja bom até mesmo para com pecadores como são todos os homens.
Afinal, não há um único justo  sequer no mundo, desde que o primeiro homem pecou e virou as costas para o Senhor.
Deus seria totalmente justo caso julgasse  e  mantivesse a todos os homens do  mundo, e de todas as épocas, debaixo das sucessivas manifestações do Seu desagrado e ira contra tal ingratidão e falta de glorificação do Senhor por causa da falta de um procedimento santo em suas vidas.
Todavia, não somente é longânimo Ele próprio com todos os homens, como também ordena aos que se tornaram Seus filhos por meio da fé em Jesus Cristo, que O imitem especialmente nos seus atributos de amor e de misericórdia, amando o próximo como a si mesmos.
Como? Deus ordena que aqueles que Lhe são gratos e que o glorificam, amem os Seus inimigos? Sim.
Ele ordena que se dê alimento e bebida para matar a fome e a sede de quem persegue os que andam retamente?
Sim. Porventura não o  registrou em Sua Palavra?
O grande motivo para isto é que o Senhor não tem levado o pecado em conta nesta dispensação da graça, pois tem adiado tudo para o dia do grande Juízo.
E por que Ele o faz?
Porque sabe que, espiritualmente falando, todas as pessoas se encontram naturalmente cegas quanto à sua condição de mortas espirituais perante Ele, como também que elas desconhecem a extensão e profundidade do Seu amor, da Sua justiça, bondade e misericórdia, para com todos os homens, em razão desta condição enferma com a qual todos se encontram perante Ele.
É por isso que se compadece.
E nos chama a agir de igual forma, depois que o conhecemos.  
Agora, veja que o argumento bíblico diz que ao agirem contra a revelação da misericórdia e da bondade de Deus, não se convertendo a Ele e deixando de Lhe dar a glória devia, tais pessoas se tornam ingratas e irreverentes, e serão indesculpáveis no dia do  grande Juízo de Deus, porque deram as costas à mão perdoara que lhes fora estendida.
E não serão indesculpáveis por causa de uma única manifestação de bondade para com elas em face de todo o mal que praticam.
Serão indesculpáveis, porque, na verdade, Deus lhes tem dado um longo tempo para se arrependerem e se converterem em face de toda a bondade e longanimidade, que não apenas Ele, como todos os Seus filhos amados, têm  demonstrado por elas por toda e uma longa  vida na terra.
E são mais indesculpáveis ainda, porque o que  se lhes pede para que tal quadro seja alterado, é que simplesmente reconheçam a sua condição de afastamento espiritual do seu criador, na qual se encontram, e que confiem em Jesus Cristo para ser o Senhor e Salvador de suas vidas, que lhes habilite a se reconciliarem com Deus e a agirem e viverem de modo que Lhe seja agradável.
Tudo o que fizeram de mau, e por um longo tempo, lhes seria perdoado instantaneamente, no momento mesmo em que se convertessem a Deus.
Todavia, como não se arrependem, não se convertem, não  são  gratos a Deus e nem o glorificam, então, apesar dEle  não desistir  de continuar sendo bom para com eles, não poderá ter qualquer amor de intimidade e comunhão com os tais, e nada poderá fazer, por causa da sua incredulidade, senão deixá-los entregues a si mesmos, e isto  fará com que aumentem  ainda mais a sua cota de pecados contra os céus  e contra Deus.
Olhem para o ministério de Jesus aqui na terra, conforme o relato dos evangelhos.
Por acaso não  mostrou tal amor, bondade, misericórdia e poder de curar, até mesmo a ingratos e maus? (e afinal há alguém que seja perfeitamente bom? Alguém que cujo espírito não necessite ser curado?)
Ele revelou em pessoa, que o caráter do  evangelho é realmente o de misericórdia, perdão, amor e bondade, para com todos os pecadores.
E isto está sendo manifestado no mundo, desde então, até agora, e até o último instante da vida de cada pessoa que tem passado por aqui.
Ora, em face de tudo isto, o que devemos pensar, quanto ao  juízo  eterno de fogo a que  ficarão sujeitos todos os que resistirem bravamente à tão grande oferta de graça que Deus está fazendo em Cristo, para que sejamos perdoados e reconciliados com Ele?
Haverá porventura qualquer injustiça ou maldade da parte de Deus nisto?
Ninguém poderá ir para o céu sem ser transformado.
Jesus derramou seu sangue na cruz para que fôssemos lavados e curados do pecado.
Pagou um grande preço sendo visitado pela ira de Deus que castigou nEle, na cruz, a nossa culpa.
E rejeitando o único remédio pelo qual poderíamos ser curados, seria de se esperar que saíssemos deste mundo ilesos, perfeitos e abençoados?
Oh não!
Contra isto clama até a própria natureza, pois aprendemos dela, que o que não se renova se estraga, morre, acaba.
Deus tem usado de misericórdia e sido longânimo para com todas as pessoas, e tanto isto é verdadeiro, que ordena àqueles que o têm conhecido que sejam também misericordiosos assim como Ele.
É por isso que está escrito na Bíblia que o juízo é sem misericórdia sobre aquele que não usar de misericórdia.
Porque assim como é Deus, deve ser o homem a quem Ele criou para ser à sua exata imagem e semelhança.
Deus perdoa e esquece os pecados dos maiores transgressores quando eles se arrependem, e os tem suportado com grande paciência e bondade, enquanto isto não acontece, na expectativa de que o façam.
Por isso devemos sempre lembrar, nas perseguições que sofremos, das seguintes palavras proferidas pelo apóstolo Pedro, em I Pe 3.13:

1Pe 3:14 Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom?
1Pe 3:14 Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados;
1Pe 3:15 antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,
1Pe 3:16 fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo,
1Pe 3:17 porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal.






2 - Quando a Misericórdia é Eficaz

“E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne.” (Jd 1.22,23)

O apóstolo recomenda o uso de misericórdia para com aqueles que se mostram resistentes ao evangelho, e que são governados pela carnalidade.
Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou que os que forem misericordiosos também alcançarão misericórdia, e que é um dever ser misericordioso assim como Deus é em sua natureza, o qual não tem prazer em afligir os filhos dos homens, Lam 3.33.
Todavia, deve ser considerado que a misericórdia, como ela se encontra em Deus, que é segundo o que temos revelado na Bíblia, não é um mero sentimento de compaixão para com as nossas misérias, porque ela compreende todo um conjunto de ações voltadas especialmente para o nosso resgate das garras do mal, tanto externo quanto interno, de modo que possamos ser achados efetivamente naquela condição bem-aventurada que Jesus veio nos trazer.
     Daí dizer o apóstolo que devemos nos empenhar em salvar os que estão na dúvida, como alguém que tira uma pessoa de um incêndio. Na verdade, os que não têm fé em Cristo já se encontram julgados e debaixo de uma condenação de fogo eterno, conforme Ele mesmo afirmou, João 3.18,  e se nada for feito por eles, em lhes levar o evangelho com misericórdia, é bem provável que perecerão em tal estado.
 Duvidar da bondade, do amor e da salvação que está em Jesus Cristo, não lhe traz qualquer honra, ao contrário, é uma grande desonra e um impedimento para que a salvação seja concretizada. É por confiarmos inteiramente nele que somos salvos, e assim, o apóstolo nos instrui a conduzir estes que duvidam a uma condição de plena fé, porque é somente por esta que poderão ser salvos.
Deus deve ser temido porque apesar de ser profundamente misericordioso, não pode agir contra o atributo da sua justiça e também contra a sua santidade, que determinam a condenação eterna de todo aquele que não for justificado por meio da fé em Cristo.
A sua justiça teve que ser satisfeita primeiro com o ato misericordioso da morte de Jesus em nosso lugar, para que pudéssemos ter um fundamento firme para a nossa justificação.
É de crucial importância sabermos isto, porque a misericórdia nada poderá fazer em nosso favor se a exigência da justiça não for atendida. Devemos estar vestidos com a justiça de Cristo, que nos está sendo oferecida gratuitamente, mediante o nosso arrependimento e fé nele, e então a misericórdia achará um caminho para completar o seu trabalho em nos ajudar, fazendo com que todas as coisas contribuam para o nosso bem.
Não há outro modo para se arrebatar alguém do fogo do inferno. Isto é feito somente por se dar pleno crédito à mensagem do evangelho. Não somos nós propriamente que arrebatamos alguém do fogo, mas o próprio Cristo, pelo seu poder, quando se tem fé na sua Palavra.






3 - Como se Alcança a Misericórdia de Deus

Em Êxodo 33.19 e em Rom 9.15 está escrito que Deus concederá a nós a sua graça para alcançarmos a sua misericórdia para a salvação da nossa alma, conforme a sua própria determinação e soberania.
Portanto, nunca foi, e jamais será dito, de alguém que foi ou que será salvo por Cristo, por causa de algum bem que tenha feito, ou por um simples desejo de não ser eternamente condenado pela justiça divina.
A salvação é dada por Deus por pura graça e misericórdia a pecadores que se encontram perdidos.
Mas qual é o critério da concessão desta graça e misericórdia?
Que evidências nos foram dadas na Bíblia para sabermos que a temos obtido?
Dentre as tantas apresentadas, a maior é a testificação do Espírito Santo com o nosso espírito de que estamos seguramente salvos em Jesus Cristo.
Outra de grande importância, é a tristeza que temos quando pecamos, e a fé que em Jesus depositamos para que sejamos perdoados e purificados.
Podemos saber que estamos a caminho da obtenção da graça e da misericórdia divinas quando começamos a perceber que não podemos ser salvos pela nossa própria justiça, e que dependemos inteiramente do sacrifício de Jesus na cruz para sermos justificados.
Quando percebemos que não há qualquer mérito em nós e nas nossas melhores obras, e que de fato, tudo em nós está manchado pelo pecado.
Mas ainda assim, desejamos ser purificados e aperfeiçoados pelo Espírito Santo, para sermos confirmados na Palavra do Evangelho e em toda boa obra do Espírito operada em nós e por meio da nossa instrumentalidade.
Sabemos que estamos a caminho da graça e da misericórdia quando nos arrependemos e amamos os mandamentos de Cristo, conforme se encontram registrados na Bíblia.
Quando somos movidos a orar no Espírito, suplicando não apenas por nós, mas intercedendo por todos os homens, e especialmente pelos santos.
Quando amamos os irmãos com o próprio amor de Jesus Cristo, que nos move a isto.
Enfim, podemos ver que em tudo isto se exclui qualquer merecimento nosso, pois de Deus temos tudo recebido.
Com humildade, oferecendo-lhe a confissão e o louvor dos nossos lábios, certamente o encontraremos habitando em nosso interior, pelo Santo Espírito.






4 - “Eu te conheci no deserto em terra muito seca." (Oseias 13.5)

Sim, Senhor, tu realmente me conheceste no meu estado caído, e ainda assim, tu me escolheste para ti. Quando eu era repugnante e abominável, tu me recebeste como teu filho, e satisfizeste o meu desejo. Bendito seja o teu nome para sempre por esta livre, rica, abundante misericórdia.
Desde então, minha experiência interior tem sido muitas vezes um deserto; mas tu tens ainda me recebido como o teu amado, e derramado rios de amor e graça em mim para me alegrar e me fazer frutífero.
Sim, quando as minhas circunstâncias exteriores têm sido como as piores, e eu tenho vagado em uma terra seca, a tua doce presença tem me consolado.
Os homens não me conheceram quando o desprezo me aguardava, mas tu conheceste a minha alma nas adversidades, para que nenhuma aflição ofuscasse o brilho do teu amor.
Senhor mais gracioso, eu te engrandecerei por toda a tua fidelidade para comigo em circunstâncias tentadoras, e eu lamento que eu tenha em qualquer momento esquecido de ti e  deixado que meu coração se elevasse, quando, eu devia tudo à tua gentileza e ao teu amor. Tem misericórdia de teu servo quanto a isto!
Minha alma, se Jesus assim te reconheceu na tua baixa condição, esteja  certa de que é por causa dele que agora estás em tua prosperidade. Não se glorie por teus sucessos mundanos, de modo a ter vergonha da verdade ou da pobre igreja com a qual tu foste associada. Siga Jesus no deserto; carregue a cruz com ele, quando o calor da perseguição se  tornar ardente.
Ele se apropriou de ti, ó minha alma, na tua miséria e vergonha - nunca seja assim traiçoeira como para se envergonhar dele. Ó porque se envergonhar ainda mais com o pensamento de ter vergonha do meu melhor Amado! Jesus, minha alma se apega a ti.

"Eu vou voltar para ti em dias de luz,
Assim como em noites de tribulações,
Tu brilhas em meio a tudo o que é brilhante!
Tu, o mais amado dos amados!"

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.








5 - “A misericórdia de Deus." (Salmo 52.8)

Medite um pouco sobre esta misericórdia do Senhor. Ela é uma terna misericórdia. Com gentil toque amoroso, ela sara os quebrantados de coração, e lhes ata as suas feridas.
O Senhor é tão gracioso na forma de ministrar a sua misericórdia! Ela é grande. Não há nada pequeno em Deus, a sua misericórdia é como ele - ela é infinita. Você não pode medi-la. Sua misericórdia é tão grande que perdoa grandes pecados de grandes pecadores, depois de grandes períodos de tempo, e, em seguida, dá grandes favores e privilégios, e nos levanta para grandes alegrias no grande céu do grande Deus.
É misericórdia imerecida, como, aliás, toda a verdadeira misericórdia deve ser, porque misericórdia merecida é apenas um equívoco de justiça.
Não havia direito por parte do pecador para tal tipo de consideração do Altíssimo; tendo o rebelde sido condenado ao fogo eterno, ele teria merecido justamente a condenação, e se é livrado da ira, apenas o amor soberano é a causa, porque nada havia no próprio pecador. Isto é a riqueza da misericórdia .
Algumas coisas são grandes, mas têm pouca eficácia em si mesmas, mas a misericórdia é um estímulo para seus espíritos caídos; um unguento de ouro para os seus ferimentos; uma bandagem celestial para seus ossos quebrados; uma carruagem real para os seus pés cansados; um seio de amor para o seu coração turbado.
 É uma misericórdia múltipla, variegada. Como Bunyan diz: "Todas as flores no jardim de Deus são duplicadas." Não há misericórdia solitária. Você pode pensar que você tem senão uma misericórdia, mas você as achará num amplo conjunto de misericórdias. É abundante misericórdia. Milhões a têm recebido, e ainda está muito longe de serem esgotadas; são renovadas, plenas, e livres para sempre. É misericórdia infalível. Nunca te deixará. Se a misericórdia é tua amiga, a misericórdia estará contigo na tentação para te guardar  da queda; contigo em tribulações para evitar que naufragues; com a tua vida para ser a luz e a vida do teu semblante; e contigo na morte para ser a alegria da tua alma quando o conforto terreno estiver diminuindo rapidamente.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







6 - Como a Misericórdia Triunfa Sobre o Juízo

Tradução e adaptação elaboradas pelo Pr Silvio Dutra, de citações extraídas do comentário de autoria de Thomas Manton, sobre o segundo capítulo da epístola de Tiago.

“Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo.” (Tiago 2.13)

Tiago disse no versículo anterior: “Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade”.
Ele lembra ao cristão que ele deveria proceder como quem não está debaixo do rigor da aliança das obras; porque se você se permitir qualquer pecado ou fazer qualquer coisa contra qualquer parte da lei régia, você nada pode esperar além de juízo sem misericórdia. Ser cruel em não prover os seus irmãos e não ter misericórdia para com eles é um pecado que vai colocá-lo nesta condição, não somente por ser isto uma transgressão  da lei, mas um pecado especial, que parece requerer tal julgamento.
“Porque o juízo será sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia” – Nesta expressão Tiago se reporta ao efeito do pacto de obras, que é o julgamento, sem qualquer mistura de misericórdia, a lei do pacto feito com Adão e sua descendência, nada faz para diminuir a transgressão, como também implica a retaliação de Deus: homens duros acharão justamente uma  dura recompensa.
(A aliança feita por Deus com Adão para que em tudo fosse obedecido, e que a menor transgressão de Sua vontade seria punida com a morte (física, espiritual e eterna) permanece em pleno vigor. Daí decorre que todos morrem à semelhança de Adão, porque todos são pecadores. A força do argumento do apóstolo Tiago neste texto de Tg 2.13, para os cristãos, é que, apesar de não estarem debaixo do juízo aqui referido no verso 13, deveriam ser cuidadosos no exercício da misericórdia, uma vez que há tal juízo terrível repousando sobre aqueles que estão debaixo da lei e não da graça, revelando o quanto desagrada à justiça de Deus não sermos misericordiosos. Com esta advertência, Tiago tencionava despertar para a verdade aqueles que havia repreendido anteriormente por estarem fazendo acepção de pessoas na reunião pública da igreja, por desprezarem os pobres e honrando os ricos, e que não demonstravam a evidência de uma fé viva, por negligenciarem as necessidades de seus irmãos na fé. Então a misericórdia é um dever, mesmo para os que estão debaixo da nova aliança com Cristo – nota do tradutor.)
“A misericórdia triunfa sobre o juízo” - A palavra é κατακαυχᾶται (glória, levantar a cabeça), como um homem fará quando algo é feito com glória e sucesso. Esta última parte do texto, tem sido interpretada por alguns como sendo a misericórdia de Deus, outros a entendem como se referindo à misericórdia do homem. Aqueles que se referem a Deus, pretendem expô-lo desta forma: Eles merecem um juízo severo, e se não for assim com todos, é apenas porque a misericórdia de Deus triunfou sobre a Sua justiça. Os que se referem à misericórdia do homem o expõem deste modo: no conflito e competição entre os atributos relativos aos pecadores, a misericórdia adquire a vitória e a superioridade, e assim se alegra, como quando os homens repartem os despojos.
O apóstolo fala aqui da misericórdia que o homem mostrou ao homem: porque no texto parece haver uma tese e uma antítese, uma posição e uma oposição. Na posição, o apóstolo afirmou que o impiedoso não deve encontrar qualquer misericórdia; na oposição, que a misericórdia achou o juízo vencido; isto é, aquele que se compadece não está em perigo de condenação, pois Deus não vai condenar aqueles que imitam a sua própria bondade, e, portanto, ele pode se regozijar quanto a seus temores, como quem tem escapado. Agora, o ortodoxo, que vai por este caminho de aplicar isto à misericórdia do homem, não faça dessa aplicação uma causa da nossa aceitação por Deus, mas uma evidência; a misericórdia mostrada aos homens, sendo um seguro penhor daquela misericórdia que ele deve obter com Deus. Confesso que tudo isso é racional; mas olhe para a frase do texto, e você vai encontrar alguns inconvenientes no presente parecer, pois será uma fala de um som e uma construção mais ásperos afirmar que a nossa misericórdia deve triunfar sobre o juízo de Deus; porque, então, o homem parece ter algum tipo de glória diante de Deus, que é o contrário do que Davi afirmou, e que nega que qualquer obra nossa possa ser justificável à Sua visão – Sl 143.2, “Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente.”, ou ser capaz de  segurar a cabeça ou o pescoço contra o Seu juízo, contrariando a Cristo, que proíbe esta alegria contra o julgamento divino, embora estejamos conscientes de nós mesmos quanto à realização do nosso dever, Lucas 17.10, e contrariamente a Paulo que diz não haver qualquer glória nossa diante de Deus, Rom 4.2. Todo o triunfo que temos contra a justiça de Deus é a vitória da sua misericórdia, por isso eu creio que esses dois sentidos podem ser bem ajustados e modificados cada pelo outro, assim: É a misericórdia de Deus que se regozija sobre a sua justiça, e é a misericórdia no homem que nos possibilita regozijarmo-nos na  misericórdia de Deus, e, portanto, a sabedoria do apóstolo Tiago deve ser observada na elaboração do texto de modo que pode ser indiferentemente compatível com ambos os sentidos. Sim, sobre uma consideração mais precisa e íntima das palavras, eu acho que a oposição no texto do apóstolo não pode repousar tanto entre falta de misericórdia e misericórdia, quanto entre o juízo sem misericórdia e o juízo vencido por misericórdia.
O homem misericordioso se gloria como aquele que se compadece recebeu, pela misericórdia de Deus, regozijar-se com a justiça de Deus em seu nome; ele pode se regozijar sobre Satanás, sobre o pecado, a morte, o inferno, e sobre sua própria consciência. No tribunal do céu a misericórdia de Deus se alegra, no tribunal da consciência, a misericórdia do homem.
A condição dos homens sob o pacto das obras (diferente do pacto da graça em Jesus) é muito miserável. Eles se encontram com a justiça, sem qualquer misericórdia.
A palavra de Deus não fala de qualquer consolo para eles. Ou dever exato, ou miséria extrema, eram os termos desse pacto das obras. “Cumpra e viverás” e “Não cumpra e morrerás”, é a única voz que você deve ouvir enquanto você estiver debaixo daquele mandamento dado a Adão e à sua descendência. Deus perguntou a Adão: Que fizeste? Não tens te arrependido? Adão havia morrido espiritualmente em razão da desobediência e necessitava do arrependimento que é para a vida, para si mesmo, e isto se aplica, individualmente, a cada pessoa da sua descendência. Por isso, se lê em Ezequiel 18, “A alma que pecar essa morrerá”. A mínima violação é fatal. Ao homem caído o dever daquela aliança é impossível, a sua pena é intolerável. Pecados de omissão não podem ser expiados por deveres subsequentes. Pagamento de novos débitos não quitarão os antigos. Você teria esperança na misericórdia de Deus? Um atributo não é exercido para prejudicar um outro. Naquele pacto Deus tencionou glorificar a justiça, e você está compromissado com uma lei justa, e tanto a lei e a justiça devem ser satisfeitas. Como a palavra não fala de qualquer conforto, assim não há qualquer providência. Todas as dispensações de Deus são judiciais: Ez 7.5 “Assim diz o SENHOR Deus: Mal após mal, eis que vêm”. Suas cruzes são completamente maldições. Não há nada que lhes sucedeu que estejam sob o pacto da graça, mas há algo bom nisto; algo para convidar a esperança, ou para aliviar a tristeza: “Na ira Deus se lembra da misericórdia” - Hab 3.2. A vara não é transformada numa serpente, e, portanto, consola, Sl 23.5. Considerando que, todos estas consolações são salgadas com uma maldição, e em seus desconfortos não há nada, senão um rosto e uma aparência de ira. Mas o pior da aliança das obras é daqui em diante. Quando ele tratou com seu povo, tudo em misericórdia, ele lidará com todos eles em julgamento: Apo 14.10, “também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira,”, ou seja, somente o ingrediente da ira. No entanto, é dito no Sl 75.8,  “Porque na mão do SENHOR há um cálice cujo vinho espuma, cheio de mistura; dele dá a beber; sorvem-no, até às escórias, todos os ímpios da terra.”, cheio, misturado com todos os tipos de pragas, mas sem mistura, sem a menor gota de misericórdia.
Oh! como suportarão aqueles tormentos que estão sem misericórdia e sem fim? Apo 20.7, “Eles serão lançados no lago que arde com fogo e enxofre, onde serão atormentados para todo o sempre”, nada há mais doloroso para o sentido do fogo, e tudo isso para todo o sempre. Há uma eternidade que é sem medida e sem fim, que é o inferno do inferno, que depois que mil anos tiverem passado, o verme não morre, e o fogo não se apaga.
Bem, então, o inferno deve despertar aqueles que estão sob o pacto de obras para virem sob a bandeira da graça. Aqueles que estão condenados naquela coorte têm liberdade de apelar (recorrer) a outra (a do evangelho), e quando você estiver morto e perdido debaixo da primeira lei, você pode estar vivo para Deus, Gál 2.19. Deixe que o inferno, o vingador do sangue – o Goel do Velho Testamento - faça você fugir para a cidade de refúgio, que é Cristo. Mas você vai dizer, que agora não está sob o pacto das obras? O pacto das obras não foi feito apenas com Adão, mas com toda a sua descendência. A condição daquela aliança feita por Deus com Adão e com a sua descendência era de obediência perfeita ou então a morte. E cada homem natural, enquanto naturais, enquanto apenas um filho de Adão, está obrigado ao teor da mesma. A forma desta lei corre universalmente, e por isso foi reafirmada no pacto da Lei, através de Moisés, pois se diz: “Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las.” (Gál 3.10). É maldito todo aquele que quebrar um mandamento, sem exceção, senão aquele que estiver debaixo da graça de Jesus.  Se a lei das obras tivesse sido revogada e colocada de lado hoje, desde a queda de Adão, Cristo não ter-se-ia feito maldição como nosso substituto e penhor, pois ele carregaria a nossa dívida com ele, ao submeter-se ao dever e à pena do nosso compromisso, por isso se diz que ele nasceu sob a lei, para remir os que estavam sob a lei, e assim também em Gál 3.13 “Cristo se fez maldição por nós”, isto é, no nosso lugar.
 E, novamente, a lei do pacto de obras com Adão e com a sua descendência não é revogada, porque é uma regra  imutável, segundo a qual Deus procede: “Nem um til da lei passará” - Mat 5.18, até que tudo seja cumprido, tanto pela criatura, ou sobre a criatura. É o pacto de obras que condena todos os filhos de Adão. O rigor do que trouxe Cristo do céu para cumpri-lo para os crentes. Ou devemos ter Cristo para cumpri-lo por nós, ou pela nossa violação do mesmo, devemos morrer para sempre. E, portanto, o apóstolo Tiago diz que no dia do juízo Deus procederá com todos os homens de acordo com as duas alianças. Alguns são julgados pela lei da liberdade, e alguns pelo juízo sem misericórdia, os dois pactos têm dois cabeças principais para os aliançados, para eles e seus herdeiros - Adão e Cristo, portanto, enquanto tu és herdeiro de Adão, tu tens o compromisso de Adão sobre ti. O pacto das obras foi feito com Adão e sua descendência, que eram todos homens naturais. O pacto da graça com Cristo e sua descendência,  que são os crentes, (que são julgados segundo a lei da liberdade que Ele conquistou para os que nele creem. Liberdade da condenação eterna, e de tudo o que se referia ao pacto das obras, cuja lei permanece sobre todos os descendentes de Adão que não estão em Cristo.Nos capítulos 4 e 5 de Romanos, o apóstolo Paulo faz referência a ambos os pactos e este compromisso com Adão e Cristo, quer para a morte no primeiro, quer para a vida, no segundo – nota do tradutor).







7 - Salvos Pela Misericórdia e Não Por Obras

Por Robert Murray M'Cheyne

“Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tito 3.5,6)

1. O CAMINHO DO PERDÃO
Quando uma pessoa se encontra sob convicção de pecado, experimenta o sentimento de que todos os dias Deus está irado para com ela. Tal pessoa se afunda em uma condição de melancolia, “laços de morte cercam-na, e angústias do inferno se apoderaram dela”. Quando Deus visita esta pessoa, em sua misericórdia, Ele o faz pelo meio de revelar ao coração o Senhor Jesus Cristo. Deus manifesta a sua “benignidade.... e o seu amor para com todos” (Tito 3.4). O Espírito Santo faz resplandecer a face de Jesus Cristo, mostrando ao perdido como o Senhor Jesus teve compaixão dele, veio a este mundo por causa dele, obedeceu e morreu no lugar dele; mostrando também que o pior dos pecadores pode recebê-Lo como seu Salvador. O pecador contempla o Cordeiro de Deus e seu coração enche-se de paz, ao crer nEle. Ora, isto é o que significam as palavras “segundo a sua misericórdia, ele nos salvou”.
1.1 - Algumas almas estão procurando a salvação por meio de “obras de justiça”. Você sofre no cumprimento de deveres religiosos; lê a Bíblia e ora, alimenta os famintos, veste os despidos, para fazer compensação por pecados cometidos e colocar sobre Deus a obrigação de salvá-lo. Destas palavras, torna-se evidente que você não compreende o caminho que conduz ao céu. Este caminho está fechado para você, visto que, “não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou” (Tito 3.5); e que, “se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão” (Gl 2.21).
1.2 - Como podemos ser salvos? É por meio da “manifestação da benignidade e do amor de Deus, nosso Salvador”. Você acha que tem de fazer alguma coisa, para mudar a atitude de Deus, enquanto Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, por meio da oferta de Si mesmo, fez tudo o que era necessário, para abrir o caminho da reconciliação com Deus, que é “bom e compassivo” (Sl 86.5). Aprenda a não olhar para dentro de si, e sim a olhar para fora, a fim de obter paz. Você está examinando detalhadamente a sua vida de trevas e o seu coração que está em trevas ainda mais densas. Você está debilitando os seus olhos, para encontrar algum raio de luz em seu coração. Isto é inútil. Alguém já tentou ver o nascer do sol olhando para uma caverna? Olhe para fora, contemple a benignidade e o amor de Deus, nosso Salvador. É a descoberta da pessoa, ofícios, beleza, obra consumada e espontaneidade de Deus, nosso Salvador, que enche o coração de paz, e os lábios, de louvor.

“Os meus terrores desapareceram ante o seu doce nome, meus temores de culpa baniram- se, com ousadia eu vim beber livremente na fonte que outorga vida. Jeová-Tsidkenu é tudo para mim.”

2. O CAMINHO DA SANTIDADE

“Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo.”

2.1 - É um “lavar”. A obra do Espírito Santo em um coração perdoado é designada por lavar, porque é um ato de tornar limpo. O coração natural é corrupto e vil; nada que flui de nossa natureza pode limpá-lo — nenhuma boa resolução, nenhum juramento, nenhum esforço pode mudar o coração natural (Jer 13.23). Somente o Espírito Santo pode fazer isso.
2.2 - É o “lavar regenerador”, ou seja, o novo nascimento. Não é uma lavagem exterior do corpo, e sim uma mudança interior, na alma. Não é o batismo com água, e sim com o “Espírito Santo”. Oh! quantas vezes já lavei meu corpo, deixando-o limpo! Mas, eu já experimentei o lavar regenerador”? Há algum tempo fui lavado nas águas do batismo; mas também fui batizado com o Espírito Santo?
2.3 - É um lavar constante. A água que Cristo outorga será, na alma, “uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.14). Muitos lugares, quando são bem lavados, permanecem limpos por algum tempo. No entanto, isso não acontece com o coração do homem, que é um terrível poço de iniquidade. O “rio da água da vida” tem que ser derramado neste coração e jorrar perpetuamente através dele. Temos de ser regados a cada momento. Oh! feliz a alma que possui em seu íntimo a Fonte das águas vivas. Não conhecemos nosso coração enganoso, se não sentimos nossa necessidade da inesgotável fonte do Espírito Santo, a fim de purificar- nos de toda imundícia.
2.4- É uma renovação do Espírito Santo. Quando uma casa se torna rachada e prestes a cair, nenhum reparo melhorará sua condição. Ela precisa ser destruída e construída novamente. O coração de um pecador é como esse tipo de casa. A lepra do pecado está arraigada nas suas paredes. Tal coração tem que ser destruído e construído novamente. Isto é a renovação do Espírito Santo. Quando temos um inverno longo e severo, as árvores permanecem secas e sem folhas, parecem mortas e não podem dar frutos; e, se o inverno continuar por muito tempo, elas poderão morrer. Mas quando o verão sopra outra vez sobre as árvores, a seiva ascende aos galhos em um fluxo vigoroso e abundante — “A figueira começa a dar seus figos, e as vides em flor exalam o seu aroma” (Ct 2.13). A face da terra é renovada (Sl 104.30). O coração do pecador é como uma árvore morta. Estar sem Cristo é o inverno da alma. Todavia, quando Cristo é revelado, e a alma chega ao amor de Deus, e o Espírito Santo é enviado ao coração, a pessoa se torna uma nova criatura e canta: “Sou como a oliveira verdejante, na Casa de Deus” (Sl 52.8).
Por último, o Espírito é derramado sobre nós abundantemente. Os cristãos frequentemente se lamentam de que há poucas gotas do Espírito caindo em nossos dias. Infelizmente, existem muitas razões para esta queixa, mas pelo menos em um aspecto ela não é verdadeira. Onde quer que exista um simples crente, ali o Espírito Santo foi derramado abundantemente. Quando contemplo todo o mundo permanecendo na impiedade e vejo milhares de armadilhas colocadas diante de minha alma, em todos os caminhos; quando ouço o rugir do leão que anda em derredor, procurando a quem possa devorar; e, antes de tudo, quando vejo a lei dos meus membros lutando contra a lei da minha mente, sou tentado a clamar: “Algum dia perecerei às mãos de Saul”. Ainda que eu tivesse legiões de anjos ao meu lado, eles não poderiam me sustentar. Nenhuma criatura pode guardar-me de cair. Mas Jesus disse: “A minha graça te basta”. Ele derrama o Espírito Santo abundantemente. Que gotejar contínuo de chuva, que jorrar constante da fonte de água, que abundante fluir do rio de Deus é necessário para suster minha alma desamparada! Deus seja louvado por seu Santificador que habita em nós. “Ora, àquele que é poderoso para me guardar de tropeços e me apresentar com exultação, imaculado diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!”(Jd 24-25)







8 - Se Compadece de Nossa Miséria Espiritual

“Rom 7:14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.
Rom 7:15 Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.
Rom 7:16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
Rom 7:17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.
Rom 7:18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
Rom 7:19 Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.”

Nestas palavras do apóstolo Paulo está descrita de modo sucinto e verdadeiro qual é a condição de todo o gênero humano.
O quadro apresentado diante de nós é de total impotência para praticar somente aquilo que é bom, e a facilidade e capacidade para praticar o que é mau.
Como esta condição é natural e nos acompanha desde o nascimento até o dia da nossa morte, sem se tratar de algo dependente de escolha pessoal através do exercício de nossa vontade, Deus se compadece de nós e preparou uma via de escape da condenação e maldição que paira sobre nossas cabeças em decorrência deste fato.
De modo que a permanência na condenação não é ditada por causa de nossa impotência para o bem e facilidade para a prática do mal, mas pela rejeição da oferta graciosa de libertação e remissão que Ele preparou para nós no sacrifício de Jesus Cristo.
A natureza pecaminosa que herdamos do primeiro homem criado por Deus somente pode ser subjugada pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, e através do trabalho do Espírito Santo.
Ainda que não a vejamos inteiramente subjugada enquanto estivermos neste mundo, podemos constatar, enquanto em Cristo, que ela é cada vez mais enfraquecida, enquanto a nova natureza recebida pela graça se torna proporcionalmente mais forte.
Todavia temos a promessa do perdão, da longanimidade e da misericórdia de Deus para os nossos pecados presentes, por causa da nossa união com Jesus Cristo, e da perfeição em santidade quando formos recebidos por Ele na glória.
De modo que podemos dizer juntamente com o apóstolo Paulo:
“Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
Rom 7:25a Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.”
Se dependemos inteiramente de nosso Senhor para ter a vitória, então o exercício da nossa vontade para a prática do bem e para a rejeição do mal deve consistir basicamente em recorrer ao auxílio da Sua graça divina para tal propósito.
É somente pela lei do Espírito da vida em Cristo Jesus, pela operação da Sua graça e virtude, que podemos obter a vitória sobre a lei do pecado e da morte.







9 - Infinita Misericórdia

“Não é Efraim meu precioso filho, filho das minhas delícias? Pois tantas vezes quantas falo contra ele, tantas vezes ternamente me lembro dele; comove-se por ele o meu coração, deveras me compadecerei dele, diz o SENHOR.” (Jeremias 31.20)

Samaria, capital do Reino do Norte ou Israel, ficava situada em Efraim, de modo que Israel e Efraim eram palavras usadas como sinônimas.
Por ocasião da escrita deste texto de Jeremias, o Reino do Norte havia sido levado em cativeiro pelos assírios, há mais de um século, enquanto Jeremias desenvolvia o seu ministério profético no Reino do Sul, ou Judá.
Este texto do trigésimo primeiro capítulo de Jeremias foi proferido no contexto da Nova Aliança que é nele prometida.
A compaixão do filho extraviado, julgado pelo pecado, e a lembrança terna dele por Deus, é apontada como uma das causas do estabelecimento de uma Nova Aliança, com as promessas dos versos 31 a 35, de perdão e esquecimento dos pecados cometidos anteriormente, por aqueles que fossem chamados por Deus para serem confirmados para sempre na Sua presença.
Somos como o Efraim de Deus, sendo agora restaurado e reconciliado, porque havíamos provocado o Senhor frequentemente com os nossos pecados e apostasias, mas Ele se compadeceu do nosso pecado e lamentou o estado em que nos encontrávamos.
Ele nos atraiu para Si porque sentiu o nosso coração aspirando por conhecê-Lo e amá-Lo, e pronto para o arrependimento.
Oh, que grande misericórdia está sendo oferecida a nós, porque nossos pecados eram muitos e monstruosos, mas o Senhor se dispôs a perdoá-los todos, porque lançaria o terrível juízo devido a todos os nossos pecados sobre o Seu próprio Filho Unigênito, que não tinha qualquer pecado, fazendo com que morresse em nosso lugar na cruz.
Assim, por mais vergonhosa que possa ter sido a nossa conduta, por mais corrompido que tenha sido o nosso coração, há esperança para nós, porque esta infinita misericórdia perdoadora e reconciliadora é o caráter mesmo do evangelho de Jesus Cristo.

“Miq 7:18 Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia.
Miq 7:19 Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.

Miq 7:20 Mostrarás a Jacó a fidelidade e a Abraão, a misericórdia, as quais juraste a nossos pais, desde os dias antigos.”














97) MISSÕES

ÍNDICE

1 - Não Há Satisfação Maior
2 - Minimizando a Bíblia? Pastores que Buscam Quantidade e Contextualização Radical em Missões
3  - Inspirado pela Incrível Igreja Primitiva
4 - Então Virá o Fim
5 - Quatro Ondas de Mudança em Missões
6 - Quando nós enviamos uma pessoa à sua morte
7 - Fazer Missões Quando Morrer é Lucro
8 - Nossa Principal Missão Neste Mundo


1 - Não Há Satisfação Maior

Motivação Centrada em Deus para Missões Globais

Por John Piper

Dever é bom, mas prazer é melhor. Imagine-me trazendo uma dúzia de rosas para minha esposa em nosso aniversário de casamento. Ao segurá-las para ela à porta, ela sorri e diz: "Oh, Johnny, elas são lindas, por que fez isso?" Suponha que eu levante minha mão de uma maneira modesta e diga "é minha obrigação."
Então qual é o problema? É o dever uma coisa ruim? Não, não é ruim. Mas só te leva até um lugar. Se você quiser romance, a obrigação não o alcança. A resposta certa para a pergunta de minha esposa seria: "Não pude resistir. Minha felicidade ficou fora de controle. Na verdade, para tornar o meu dia perfeito, eu realmente gostaria de sair com você esta noite."
A coisa maravilhosa desta resposta é que faz duas coisas que muitas pessoas acham que não combinam. Expressa minha alegria e faz com que ela se sinta honrada. Muita gente acha que se eu fizer uma coisa porque me deixa feliz, não posso honrar a outra pessoa. Mas pode sim! Por que? Porque se alegrar em uma pessoa é um elogio muito grande. Se puderes desfrutar de alguém, duas coisas assombrosas acontecem: Recebes alegria; e eles recebem a glória. O prazer é a medida de seu tesouro.
Uma Descoberta Que Mudou a Minha Vida

Este é um pensamento revolucionário em relação a Deus. Isto é o que quero dizer: Deus é mais glorificado em você quanto mais você estiver satisfeito dele. Esta é uma descoberta que muda tudo. Quer dizer que a busca da glória de Deus e busca da sua alegria não estão em desacordo. São, de fato, uma só.
A meta principal do homem é glorificar a Deus AO desfrutar dele para sempre. Não ao desfrutar dinheiro e conforto e prestígio e poder e sucesso, mas ao desfrutar DELE, Deus! E todas as outras coisas por causa dele. Santo Agostinho orou "Ama a você muito pouco quem ama a qualquer outra coisa com você, o qual ele ama não por sua causa." O mandamento bíblico, "Deleita-te no Senhor," (Salmos 37:4) é outra maneira de dizer, "Façam tudo para a glória de Deus" (1 Coríntios 10:31). Deus é mais glorificado em você quanto mais você for satisfeito dele.
E a emoção maior no coração de Deus é ser glorificado. Ele nos criou para a Sua glória (Isaías 43:7); chamou a Israel para ser Seu povo para a Sua glória (Isaías 49:3); Jesus viveu (João 17:4) e morreu (João 12:27-28; Romanos 3:25-26) e ressuscitou (Romanos 6:4) e reina (Filipenses 2:11) para a glória de Deus; ele nos escolheu antes da fundação do mundo para a Sua glória (Efésios 1:4-6); Ele nos perdoa para a Sua glória (Salmos 25:11; Isaías 43:25); Ele trabalha em nós para a Sua glória (1 Pedro 4:11); Ele nos chama para fazer de tudo para a Sua glória (1 Coríntios 10:31); e seu objetivo é que tudo neste mundo se encha com o conhecimento de Sua glória assim como as águas cobrem o mar (Habacuque 2:14), e que, no porvir, a glória do SENHOR seja a maravilhosa luz dos dias eternos (Apocalipse 21:23).
Se a glória de Deus é o maior desejo de seu coração, então deveria ser o maior desejo dos nossos. E se Deus é mais glorificado quanto mais estamos satisfeitos nele, então não devemos economizar em nada para maximizar nossa alegria nele. Mas onde esta alegria máxima pode ser encontrada? Bem, nós já dissemos: em Deus! Sim, mas aqui podemos cometer um erro sutil e devastador. Seja cauteloso.
Como Funciona a Alegria?

Existe algo sobre a natureza da alegria que é incansável. Ela é expansiva por natureza. Ela quer se expressar. Imagine-me no campeonato de futebol de meu filho e alguém dizendo pra mim "A você é permitido ter toda a alegria que quiser na atuação de seu filho, mas você não pode expressá-la verbal ou fisicamente." Seria minha alegria completa? Não. Existe algo na alegria que se completa apenas quando é expressada. A alegria cresce por expansão. Ela cresce ao se estender a outros. Minha felicidade aumenta quando se torna sua felicidade.
Isso quer dizer que a busca humana por alegria vai em direção ao coração missionário de Deus. Você já pode ver isto. Mas deixe-me explicar: Deus é a fonte de alegria porque Ele é ofuscantemente glorioso, e infinitamente digno, e lindo de tirar o fôlego, e incrível em poder, e inescrutável em sabedoria, e ilimitado em conhecimento, e tenro em misericórdia, e terrível em ira, e a fonte e fundação de toda verdade e bondade e beleza. Quando nós o vemos pelo que Ele realmente é, e nos afastamos das cisternas rotas do mundo que não nos podem satisfazer (Jeremias 2:13), encontramos "alegria inefável e gloriosa" (1 Pedro 1:8).
Mas esta alegria, como toda alegria, quer ser expressada. Quer expandir. Se não se estender e alargar, começa a estagnar. Existe algo sobre Deus que não pode ser contido. E conter a alegria que temos em Deus é perder a alegria em Deus. Mas perder alegria em Deus é desonrá-lo — assim como minha esposa ficaria desonrada se eu dissesse "É minha obrigação", em vez de "É meu prazer." Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele.
Então, nossa alegria tem que ser expressada — por causa de Deus e por nós mesmos. Deus deseja que a glória dele seja refletida na alegria do povo redimido de toda tribo, língua e nação (Apocalipse 7:9). Ele deseja louvor universal. Portanto, evangelismo global é o caminho para a máxima alegria e o máximo louvor.
Missões e a Glória de Deus

As missões não são a meta principal da igreja. A glória de Deus é a meta principal da igreja — porque é a meta principal de Deus. A meta final de todas as coisas é que Deus possa ser exaltado com afeição profunda por uma comunidade redimida de incontáveis pessoas de toda tribo e língua e gente e nação (Apocalipse 5:9; 7:9).
Missões existe porque louvor não existe. Quando o reino finalmente chegar em glória, missões cessará. Missões vem em segundo; louvor em primeiro. Se esquecermos disto e invertermos seus papéis, a paixão e o poder para ambos diminuirá.
Alguns Testemunhos Finais

J. Campbell White, secretário do Movimento Missionário Laymen escreveu em 1909,
A maioria dos homens não está satisfeita com o rendimento permanente de suas vidas. Nada pode satisfazer completamente a vida de Cristo em seus seguidores exceto a adoção do propósito de Cristo para o mundo que ele veio redimir. Fama, prazer e riqueza são só lascas e cinzas em contraste com a alegria ilimitada e duradoura de trabalhar com Deus para o cumprimento de Seus planos eternos. Os homens que tem posto tudo a cargo de Cristo estão recebendo desta vida as mais doces e inestimáveis recompensas.
Este é o testemunho de praticamente todos os grandes missionários na história da igreja. Entregar suas vidas trouxe vida de volta a eles. Eles provaram de novo e de novo as palavra do Senhor: "Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salva-la-á." (Marcos 8:35). Em outras palavras, a alegria em Deus cresce ao se expandir para outros. Jesus disse a Pedro: "Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes mais já no tempo presente casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, e com eles perseguição; e, na era futura, a vida eterna" (Marcos 10:29-30). Você não pode dar mais do que Deus.
Em 4 de dezembro, 1857, David Livingstone, o missionário pioneiro na África, fez uma apelo comovente aos estudantes da Universidade de Cambridge, mostrando o que tinha aprendido destas palavras de Jesus ao longo dos anos:
De minha parte, nunca deixei de me regozijar no fato de que Deus me nomeou a tal ofício. As pessoas comentam do sacrifício que tenho feito em passar tanto tempo de minha vida na África... É sacrifício fazer aquilo que traz a melhor recompensa em atividade saudável, consciência de fazer o bem, paz de espírito, e uma esperança brilhante de um destino glorioso depois desta vida? Isso não é, enfaticamente, um sacrifício. Eu diria mais, é um privilégio. Ansiedade, doença, sofrimento ou perigo, agora e naquela época, o renunciar das conveniências comuns e benefícios desta vida, podem nos fazer pausar e levar nosso espírito a titubear e nossa alma a se abater, mas deixe que seja apenas por um momento. Todos estes são nada em comparação com a glória que há de ser revelada em e por nós. Eu nunca fiz um sacrifício.
E dizendo isto, Livingstone pagou a Deus o tributo mais elevado. Não era somente obrigação. Era alegria profunda — além da que este mundo pode prover. Deus foi glorificado nele porque ele estava satisfeito em Deus. E sua satisfação veio não com os confortos de uma vida confortável na Inglaterra, mas com a visão expansiva de dar sua vida e sua alegria nas fronteiras.
É isso. Isso é a motivação mais profunda e mais centrada em Deus. Pensar novamente nisso faz meu coração bater mais rápido. Ó, que Deus nos conceda olhos para ver onde a verdadeira satisfação pode ser encontrada — para a glória de Deus!






2 - Minimizando a Bíblia? Pastores que Buscam Quantidade e Contextualização Radical em Missões

Por John Piper

Venho considerando uma possível relação entre a minimização da Bíblia nas famosas igrejas que buscam quantidade e em algumas das formas radicais de contextualização que têm emergido nas missões. Talvez não haja nenhuma conexão, mas fico pensando. O denominador comum que considero é a perda da confiança que declarar o que a Bíblia diz no poder do Espírito Santo pode criar e sustentar a igreja de Cristo.

Essa manhã eu li João 2:11, "Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele". Curvei-me e orei, "Ó Senhor, é assim que a fé acontece. Às pessoas foram dados olhos para ver Tua glória em Tua pessoa e em Tuas ações. Por favor não me deixe abandonar o ministério que põe toda a ênfase no "evangelho da glória de Cristo que é a imagem de Deus" (2 Coríntios 4:4).

Então eu fui lembrado de outro texto em João que conecta a revelação da glória de Cristo com a palavra escrita de Deus. João 20:30-31, "Jesus, pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome". Os sinais que revelam a glória de Cristo que incita a fé não são, sobretudo, novos sinais dados nos dias de hoje, mas os sinais que estão escritos nos evangelhos. Eles foram escritos "para que creiais". Ele "manifestou Sua glória. E Seus discípulos creram nEle". É assim que a fé surge. Jesus disse: quando o Espírito Santo vier "Ele me glorificará!" (João 16:14). Assim declaramos a plenitude da gloriosa Pessoa e Trabalho de Cristo na história. É assim que a igreja é criada e mantida.

Parece-me que um número crescente de pastores e missionários tem perdido a confiança nessa verdade. Eles têm concluído que a lacuna entre a glória de Cristo e as necessidades sentidas pelos seus próximos, ou entre a glória de Cristo e a religião do público, é simplesmente grande demais para que a plenitude da palavra de Deus preencha. O resultado final parece ser a minimização da Palavra de Deus em sua robusta e gloriosa plenitude.

Isso está na minha linha de frente agora porque, nas últimas semanas, tenho recebido um fluxo constante de depoimentos de santos aflitos que dizem em tantas palavras, "Nosso pastor não proclama para nós o que a Bíblia diz e significa. As mensagens não são revelações da glória de Cristo, elas são conselhos com um toque de religiosidade". E tenho lido sobre certos tipos de contextualização do evangelho em missões que parecem minimizar a plenitude da revelação bíblica, que os convertidos devem compartilhar com os outros. Então venho considerando se há conexões.

Não desejo ingenuamente equiparar o conglomerado cultural do Cristianismo ocidental com o verdadeiro e espiritual corpo de Cristo. Eu consigo apreciar o evitar da palavra "Cristã" em um contexto de missões onde isso signifique: religião ocidental degenerada, materialista, desonesta. E eu percebo que a maioria das formas que "fazemos igreja" são especificadas mais pela cultura do que ordenadas biblicamente. Mas existem outras questões que me incomodam:

1) Estão os novos convertidos a Cristo aceitando o essencial da fé bíblica, e eles os anunciam por amor aos outros? Por exemplo, eles aceitam e anunciam que a Bíblia é a única, inspirada e infalível, revelação escrita de Deus, e que Cristo é Deus e foi crucificado pelo pecado e ressuscitado dos mortos sobre toda autoridade?

2) Os costumes religiosos antigos dos convertidos a Cristo, os quais eles podem estar mantendo, estão comunicando regularmente uma falsidade sobre o que o convertido pretende e crê?

3) As palavras sendo usadas pelos convertidos estão enganando as pessoas em vez de tornar a verdade mais clara? Os missionários e convertidos estão seguindo o compromisso de Paulo com a integridade: "Antes, rejeitamos as coisas que, por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade" (2 Coríntios 4:2)?

Posso estar errado sobre essa conexão de minimização da Bíblia entre os pastores que buscam quantidade e os missionários de contextualização radical, mas é difícil não ver uma perda de fé no poder da Palavra de Deus quando eu ouço que a Bíblia não é pregada em casa, e quando eu leio das fronteiras: "Nós temos poucas esperanças em nosso tempo de vida para crer que uma mudança cultural, política e religiosa grande o suficiente possa ocorrer em nosso contexto de forma que muçulmanos possam se tornar abertos a aderir ao Cristianismo em larga escala".

Vamos orar para que o Espírito Santo venha com poder em nossos dias com o objetivo de mostrar poderosamente a glória de Cristo na declaração da Palavra de Deus onde estas glórias são reveladas com autoridade infalível e convertedora.

Pastor John






3  - Inspirado pela Incrível Igreja Primitiva

Por John Piper

Tenho lido "Uma História das Missões Cristãs" de Stephen Neil. É algo impressionante ser apanhado no espírito daqueles primeiros séculos quando o Cristianismo se espalhou por toda parte por inúmeros e desconhecidos santos por culturas totalmente pagãs. Em 300 d.C., não havia parte do Império Romano que não houvesse sido de alguma forma penetrada pelo Evangelho. Quais fatores humanos Deus ordenou para fazer surgir este incrível Movimento Cristão? Stephen Neil sugere seis.

O primeiro e principal foi a ardente convicção que tomou conta de um grande número dos cristãos primitivos. O historiador da igreja Eusébio de Cesareia (260-340 d.C.) descreveu a forma pela qual o evangelho se espalhou:
Naquela época [no começo do segundo século] muitos cristãos sentiram suas almas inspiradas pela santa palavra com um desejo apaixonado de perfeição. Sua primeira ação, em obediência às instruções do Salvador, foi vender todos os seus bens e distribuí-los aos pobres. Então, deixando suas casas, se prepararam para cumprir a função de um evangelista, tornando sua ambição a pregação da palavra da fé àqueles que ainda não haviam ouvido nada dela, e o comprometimento aos livros dos divinos Evangelhos. Eles se contentavam simplesmente em lançar os fundamentos da fé entre esses povos estrangeiros: então nomearam outros pastores, e deram a eles a responsabilidade de edificar aqueles que eles tinham apenas trazido para a fé. Assim sendo, eles seguiram para outros países e nações com a graça e ajuda de Deus (História Eclesiástica, III, 37, 2-3).
A sólida mensagem histórica que os cristãos traziam era, de fato,boas notícias, e uma alternativa bem-vinda às religiões de mistério daquele dia.
As novas comunidades cristãs eram elogiadas pela pureza de suas vidas.
As comunidades cristãs eram marcadas pela lealdade mútua e uma superação de antagonismos entre as classes alienadas.
Os cristãos eram conhecidos por um desenvolvimento elaborado do serviço de caridade, especialmente àqueles dentro da comunidade. O Imperador Juliano, escrevendo no início do século quarto, lamentou o progresso do Cristianismo porque afastava as pessoas dos deuses romanos. Ele disse,
Ateísmo [isto é, a fé cristã] tem avançado particularmente através do serviço prestado em amor a estranhos, e através do cuidado com o enterro dos mortos. É um escândalo que não haja nenhum único judeu que seja um mendigo, e que os galileus ateus não somente cuidam de seus próprios pobres mas dos nossos também; enquanto aqueles que pertencem a nós buscam em vão pela ajuda que devíamos dar a eles.
A perseguição de cristãos e sua prontidão a sofrer teve um impacto dramático nos não-cristãos. Neil observa, “Sob o Império Romano, os cristãos não tinham nenhum direito legal de existir ... Todo cristão sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele teria que testemunhar a sua fé e que isso iria custar sua própria vida”.
Aqui estamos no final do segundo milênio. Que Deus levante centenas de milhares de cristãos e comunidades cristãs super-comuns com esse tipo de paixão.

Pastor John






4 - Então Virá o Fim

Por John Piper

Eu não conheço nenhuma promessa missionária mais inspiradora do que esta palavra de Jesus:
“ este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.”
Não: “Este evangelho deve ser pregado.”
Não: “Este evangelho pode ser pregado.”
Mas: “Este evangelho será pregado.”
Esta não é uma grande comissão, nem um grande mandamento. É uma grande certeza, uma grande confiança.
Quem ousa falar assim? Como é que ele sabe que vai? Como ele pode ter certeza que a igreja não irá falhar em sua tarefa missionária?
Resposta: A graça do serviço missionário é tão irresistível quanto a graça da regeneração. Cristo pode prometer proclamação universal, porque ele é soberano. Ele conhece o futuro sucesso das missões, porque ele faz o futuro. Todas as nações ouvirão!
A "nação" não é um "país". Quando o Antigo Testamento falava de nações ele se referia a grupos como os jebuseus, perezeus, heveus amorreus, moabitas, cananeus, filisteus, etc. "Nações" são grupos étnicos com sua própria cultura peculiar.
Jesus viveu com o Antigo Testamento e, sem dúvida apreciava palavras como estas:
Salmo 22:27 - "Todos os confins da terra se lembrarão e se voltarão para o Senhor, e todas as famílias das nações  adorarão diante de ti "
Salmo 67:12 - "Que Deus tenha misericórdia de nós ... que o teu caminho possa ser conhecido sobre a terra, a tua força salvadora entre todas as nações . "
Salmo 72:11 , 17 - "Que todos os reis se prostrem diante dele, todas as nações o servirão ... Que os homens sejam abençoadas por ele,  todas as nações o chamarão bem-aventurado!"
Salmo 82:8 - "Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois a ti pertencem todas as nações ! "
Salmo 86:9 - " Todas as nações que fizeste virão e se curvarão diante de ti, Senhor, e glorificarão o teu nome. "
Salmo 117:1 - "Louvai ao Senhor, todas as nações ! Louvai-o, todos os povos!"
Como o Filho de Deus soberano e Senhor da Igreja, Jesus simplesmente assumiu este propósito divino e afirmou como uma certeza absoluta: "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações."
A causa de missões mundiais é absolutamente certeza de sucesso. Ele não pode falhar. Não é razoável, portanto, que oremos com muita fé, que  invistamos com grande confiança, e que tenhamos um senso de certeza de triunfo?

Seu plantador de semente,

Pastor John






5 - Quatro Ondas de Mudança em Missões

Por John Piper

Se Deus se agradar em responder nossas orações em favor de missões, elas podem se tornar quatro ondas que vêm sobre milhares de pessoas e igrejas. Estas são as ondas pelas quais estou orando:
Onda 1: colocar a evangelização mundial nas paixões de uma nova geração.
"Missional" é a palavra de nossos dias. Contudo, a obra de missões não é realizada sempre no mundo. Fazer missões significa transpor uma barreira étnica e linguística (que pode exigir 20 anos), a fim de implantar o evangelho em um povo que não tem acesso ao evangelho. A obra de missões elabora estratégias para alcançar não somente pessoas não alcançadas, mas também povos não alcançados. "Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos" (Sl 67.3). A Onda 1 se tornaria o DNA de "missional".
Onda 2: entretecer de novo o horror do inferno em nossa compaixão.
Eu oro para que o slogan de missões mundiais seja: nós nos preocupamos com todo sofrimento, especialmente o sofrimento eterno. Todas estas palavras são importantes: sofrimento, eterno, especialmente, todo, preocupamos, nós. Cada uma delas denota carga. A Onda 2 resultaria em que essa carga seria carregada em milhares de trens evangélicos direcionados à vizinhança e às nações.
Onda 3: destruir percepções erradas sobre o que é necessário em missões.
Espero que nosso pensamento sobre a evangelização dos povos destrua a noção de que missões podem ficar em nossa pátria agora, porque todas as nações têm vindo até nós. A região em que eu moro está sendo atualmente referida pela City Vision como "a mais etnicamente diversa e única da América, onde se fala mais de 100 línguas". Isso muda bastante a maneira como fazemos missões. Mas uma coisa que isso não muda é o fato de que o Joshua Project cataloga não algumas centenas, e sim 6.933 povos que, globalmente, não têm uma presença autossustentável do evangelho. Outro conceito errado que eu gostaria de ver destruído é o de que os ocidentais devem apenas mandar dinheiro, em vez de irem como missionários. Minha paráfrase: que outros deem o seu sangue. Nós damos o nosso dinheiro. Falando de maneira realista, a maioria dos povos não alcançados não têm melhor acesso ao nosso dinheiro do que nós o temos. "Não alcançado", em seu sentido pleno, significa: não há nenhum missionário no povo para o qual você poderia enviar dinheiro, se quisesse fazer isso. Portanto, a Onda 3 resultaria em fazer tudo: missões aos povos não alcançados que vivem entre nós, apoiar missões de outras igrejas que enviam e, em especial, mobilizar sua própria igreja para alcançar os milhares de povos que não têm acesso ao evangelho.
Onda 4: convencer os pastores de que uma paixão pela glória mundial de Deus é boa para os crentes de nosso país.
Se a luz de sua vela pode brilhar até milhares de quilômetros, ela está queimando com bastante intensidade no seu próprio lar. Que tipo de cristãos queremos que nossas igrejas produzam? Considere: cristãos indiferentes, que gastam a maior parte de seu tempo livre em entretenimento mundano, raramente oram, choram ou trabalham para alcançar os povos que perecem. Não os afague. Confronte-os. Exorte-os a ter uma vida. Assistir a filmes todas as noites os deixa espiritualmente sem poder e vazios. Eles precisam de uma causa muito nobre pela qual podem viver. E pela qual podem morrer.
A Onda 4 faria de missões mundiais o ponto de ebulição para muitos crentes despertados.







6 - Quando nós enviamos uma pessoa à sua morte

Por John Piper

Ronnie Smith foi morto com um tiro em Benghazi, Líbia, terça-feira. Ele tinha 33 anos. Era marido e pai. Os líderes da igreja da qual ele era membro me deram permissão para falar acerca da sua morte de forma pública e cuidadosa.
Uma das razões pelas quais quero falar acerca disso é porque o Ronnie escreveu a nós do Desiring God ano passado e nos disse que uma das minhas mensagens foi bastante significante em sua decisão de ir junto com sua família para a Líbia.
Anita agora é uma viúva, e seu filho Hosea perdeu o pai.
Chorando com os que choram
Como eu me sinto ao falar acerca do que o levou à sua morte?
Eu chorei essa manhã ao orar por Anita e Hosea. Chorar com os que choram não foi um mandamento naquele momento; foi a tristeza tomando conta de mim. Eu me lembro de quando eu tinha 33 anos. Essa era a idade que eu tinha quando Deus me chamou ao ministério pastoral. Eu estava iniciando o meu ministério na mesma idade que o ministério de Ronnie terminou. Assim como o de Jesus.
Depois da tristeza e simpatia, minha resposta foi (e é) oração. “Senhor, dê à Anita uma grande fé. Ajude-a a chorar – mas não como aqueles que não têm esperança. Torne aquele pequeno garoto orgulhoso do seu pai. Que eles vivam sobre as glórias de Romanos 8 – os gemidos deste mundo caído que aguarda (Romanos 8.23), e a sólida certeza de que, embora sejamos mortos todos os dias, ainda assim, em todas essas coisas somos mais que vencedores (Romanos 8.36-37).”
Algo pior do que a morte
Sendo sóbrio. Ronnie não é a primeira pessoa que morreu fazendo o que eu as encorajei a fazer. Ele não será o último. Se eu pensasse que a morte fosse a pior coisa que poderia acontecer a uma pessoa, eu estaria cheio de ressentimentos.
Mas o ponto central da vida do Ronnie é que há algo pior do que a morte. Então ele estava disposto a arriscar a sua própria vida a fim de salvar outros de algo ainda pior. E ele poderia arriscar a sua própria vida porque sabia que seu próprio risco e morte poderiam lhe trazer “um eterno peso de glória” (2 Coríntios 4.17); Ele sabia que Deus era capaz de suprir cada necessidade da sua esposa e filho (Filipenses 4.19).
Não, não estamos brincando. Quando eu prego que correr riscos é o correto, eu sei o que eu estou fazendo. Quando eu digo “Deus é mais satisfeito em nós quando estamos mais satisfeitos nele – especialmente no sofrimento”, eu sei o que sofrimento pode significar. Quando eu digo, “Não tenham medo, o máximo que podem lhe fazer é mata-lo” (Mateus 10.28), eu levo a sério as palavras de Jesus: “entregarão alguns de vocês à morte…Contudo, nem um fio de cabelo da cabeça de vocês se perderá (Lucas 21.16-18).”
Inunde o mundo com substitutos
Finalmente, eu chamo centenas de vocês para tomar o lugar do Ronnie. Eles não nos matarão rápido o suficiente. Que os substitutos inundem o mundo. Nós não buscamos a morte. Nós buscamos a eterna alegria do mundo – incluindo a dos nossos inimigos. Se eles nos matarem enquanto nós os amamos nós estamos em boa companhia. Jesus não nos chama para uma vida fácil ou segura. Ele nos chamou para amar, pela causa do Seu nome. Em todo lugar. Entre todos os povos.
Anita e Hosea, eu amo vocês. Eu sinto muito, muito, pela perda de vocês. Eu admiro vocês e o Ronnie profundamente. Apeguem-se firmemente a isso: “Deus não destinou vocês (ou Ronnie) para a ira, mas para alcançar a salvação, mediante nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos em união com ele” (1 Tessalonicenses 5.9-10).






7 - Fazer Missões Quando Morrer é Lucro

Por John Piper

Minha afirmativa de vida em missão, bem como e a declaração de missão de minha igreja é: Existimos para espalhar paixão pela soberania de Deus em todas as coisas, para a alegria de todos os povos.

Amo essa declaração por diversas razões. A Primeira é porque sei que não pode falhar. Sei que não falha porque é uma promessa. Mateus 24.14: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim”. (Espero que você saiba que “todas as nações” não signifique estados políticos, e sim, grupos de povos, agrupamentos etno-linguísticos). Podemos ter certeza absoluta de que cada uma dessas nações será penetrada pelo evangelho a ponto de podermos dizer que está presente uma testemunha compreensível e auto-propagadora.

Permita que eu lhe dê algumas razões pelas quais podemos ter certeza disso.

É Certa a Promessa

A promessa é certa por diversas razões.

1. Jesus nunca mente. “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.” Foi Jesus que declarou Mateus 24.35 – não eu.

Sendo assim, essa missão em que embarcaremos juntos vai passar. Será completa, e você pode embarcar e gozar o triunfo ou pode desistir e desperdiçar sua vida. Tem apenas essas duas escolhas, pois não existe uma opção mediana que diga: “Quem sabe isso não vai acontecer e estarei do lado melhor se não subir no barco”. Isso não é o que acontece.

2. Já foi pago o resgate por essas pessoas dentre as nações. Conforme Apocalipse 5.9-10: “entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” O resgate foi pago e Deus não volta atrás no pagamento feito por seu Filho.

Amo a história dos morávios. No norte da Alemanha dois deles subiam em um barco, prestes a se venderem como escravos nas Índias Ocidentais, a fim de pregar o evangelho aos escravos e sabendo que nunca mais iriam voltar. Enquanto o barco começava a sair do porto eles levantaram as mãos dizendo: “Que o Cordeiro receba a recompensa de seu sofrimento”. Com isso, estavam dizendo que Cristo já havia comprado essas pessoas. Eles as encontrariam mediante a pregação do Evangelho indiscriminadamente, pela qual o Espírito Santo chamaria para si os que lhe pertenciam.

Sendo assim, sei que não falhará, pois a dívida de cada um do povo de Deus em todo o mundo já foi paga. As ovelhas perdidas, como Jesus as chamou, espalhadas pelo mundo todo, entrarão no aprisco à medida que o Pai as chame mediante a pregação do evangelho.

3. A glória de Deus está em jogo. Existem centenas de textos a esse respeito. Usarei apenas um para ilustrar. Romanos 15.8-9, “Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais; e para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia, como está escrito: Por isso, eu te glorificarei entre os gentios e cantarei louvores ao teu nome”. Todo o propósito da Encarnação era glorificar o Pai mediante a manifestação de sua misericórdia às nações.

A glória de Deus está em jogo na Grande Comissão. Em 1983 na de Bethlehem Baptist Church, eu e Tom Steller – meu auxiliar de muitos anos – tivemos, os dois, encontros surpreendentes com Deus. No meio da noite, Tom, não conseguia dormir, então se levantou, colocou uma música de John Michael Talbot, deitou no sofá e escutou nossa teologia traduzida em missões. Nós somos um povo que busca dar glória a Deus, mas ainda não havíamos dado sentido às missões como deveríamos. John Michael Talbot cantava a respeito da glória de Deus encher a terra como as águas cobrem o mar – e Tom chorou por uma hora.

No mesmo tempo, Deus estava movendo a mim e minha esposa Nöel a perguntar “O que poderemos fazer para tornar nosso lugar como plataforma de lançamento para missões?” Tudo contribuiu para tornar-se parte de um momento elétrico na vida de nossa igreja, fluindo por uma paixão pela glória de Deus.

4. Deus é soberano. Tempos atrás eu fazia uma série de pregações sobre o livro de Hebreus. Chegamos ao capítulo 6, que é um trecho muito difícil sobre a questão de serem ou não as pessoas cristãs quando elas se desviam ou caem. Nos versos 1-3 há uma declaração surpreendente (apenas um pedacinho da enorme evidência bíblica pela qual eu sou calvinista!) que diz: “Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus, o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno. Isso faremos, se Deus permitir”. Quando vimos isso, um incrível silêncio caiu sobre minha congregação, pois percebemos suas implicações. “Quer dizer que talvez Deus não permita que um corpo de crentes siga em frente até atingir a maturidade?”

Deus é soberano! É soberano na igreja e também soberano entre as nações! Um testemunho disso se encontra no artigo da revista Cristianity Today que saiu há um tempo, re-contando a história de Jim Elliot, Nate Saint, Pete Flemming, Roger Youderian, e Ed McCully. Steve Saint conta como o seu pai foi atacado pelas lanças dos índios Auca no Equador. Ele relata a história após ter conhecido novos detalhes de intriga na tribo Auca que foi responsável pela matança quando essa não deveria ter acontecido, e aparentemente não teria, pois não poderia ocorrer. No entanto, aconteceu. Tendo descoberto a respeito dessa intriga, Steve escreveu esse artigo.

Quero ler uma frase que me fez voar da minha poltrona da sala. Disse ele: “Enquanto [eles, os nativos] descreviam suas lembranças, ocorreu-me como tinha sido incrivelmente improvável o assassinato naquela praia dos coqueiros. Foi uma anomalia que não pode ser explicada senão pela intervenção divina”.

“O assassinato de meu pai só pode ser explicado em termos da intervenção divina”. Você está ouvindo o que esse filho está dizendo? Deus matou o meu pai. Ele acredita nisso – e eu também.

Conforme Apocalipse 6.11, quando temos um vislumbre da sala do trono e dos mártires cujo sangue foi derramado em favor do evangelho dizendo “Até quanto, Senhor? Até quando ficará sem vingar nosso sangue?” a resposta vem prontamente: “Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram”. Deus diz: Descansem até que o número determinado esteja complete. Ele tem um número certo de mártires. Quando este número estiver complete, virá o fim.

O Preço é o Sofrimento

O Preço é o sofrimento, e a volatilização contra a igreja no mundo atual não está diminuindo. Está aumentando, especialmente entre os grupos que carecem do evangelho. Não existe um país fechado. Tal idéia é estranha – não tem raiz ou base bíblica, e teria sido incompreensível para o apóstolo Paulo, que entregou sua vida em cada cidade por onde passava. Portanto, existem mártires lendo este livro!

Estatisticamente, isso é fácil predizer. Em domingo recente, enfocamos a igreja sofredora em nosso culto. Essa Fraternidade de Missões Mundiais (World Mission Fellowship) estava envolvida, e todos assistiram vídeos ou ouviram histórias de lugares como o Sudão, onde o domínio muçulmano sistematicamente condena ao ostracismo, persegue e faz cristãos morrerem de fome, de modo que lá existam cerca 500 mártires a cada dia.

Canso de ouvir as pessoas procurando posições de emprego em minha igreja, que está situada no centro da cidade de Minneapolis. Todos nós moramos no centro da cidade e uma das primeiras perguntas que fazem é: “Meus filhos estarão seguros aqui?” E quero dizer: “Você pode fazer desta a sua décima pergunta, em vez da primeira?” Estou cansado de ouvir isso. Estou cansado de ver as prio-ridades norte-americanas. Quem prometeu que os seus filhos estariam seguros no chamado de Deus?

O grupo de Jovens com uma Missão (YWAM –Youth With A Mission1) é um grupo radical, de olhos indômitos, que amo muito. Recentemente recebi um email que dizia o seguinte:

Cento e cinquenta homens armados de machados cercaram a sede ocupada pela equipe da YWAM na Índia. A turba fora incitada por outros grupos religiosos num esforço de mandá-los para longe. Enquanto a turba pressionava, alguém em momento chave falou em favor da equipe, e resolveram dar 30 dias para que eles fossem embora. A equipe achava que não deveria ir e que sua obra ministerial na cidade estava em jogo. Puderam ver muitos frutos nessa região não alcançada anteriormente, e há grande potencial para muito mais. No passado, quando a violência rompeu entre grupos religiosos rivais, as pessoas perderam suas vidas. Orem, por favor, pedindo que nossa equipe tenha sabedoria nessa questão.

Isso é exatamente o oposto do que vejo na maior parte da América quando as pessoas resolvem o lugar de sua moradia. Não escuto, por exemplo, alguém dizendo: “Não quero sair porque fui chamado para cá e aqui é que está a necessidade”. Vocês podem se juntar a mim para reverter as prioridades do povo evangélico americano? Essas parecem estar entretecidas em nossa cultura consumista, de modo que sempre caminhamos para o conforto, para a segurança, para as facilidades, para o bem-estar, longe do estresse, longe dos problemas, e longe do perigo. Devia ser o contrário! “Quem vem após mim, que tome sua cruz e morra”!

Simplesmente não entendo! A igreja tem absorvido uma cultura consumista de conforto e abastança. Isso permeia toda a igreja, e cria pequenos ministérios e igrejas onde são realizadas coisas seguras, agradáveis, umas para com as outras. Pequenas excursões seguras são feitas para ajudar mais algumas pessoas. Mas, ah! Não vamos viver lá e não vamos morar ali, nem mesmo em certos lugares dos Estados Unidos – quanto mais na Arábia Saudita!

Estive em Amsterdã falando a outro maravilhoso grupo missionário de olhos indômitos, Fronteiras (Frontiers), dirigido por Greg Livingstone. Que grupo maravilhoso! Quinhentas pessoas sentadas diante de mim, que arriscam suas vidas diariamente entre os povos muçulmanos. Ouvi-los é impressionante! Durante a conferência, estavam recebendo emails, sobre os quais levantavam-se e liam, dizendo: “Por favor, orem por Fulano. Ontem ele foi esfaqueado no peito três vezes, e o pior é que seus filhos estavam vendo. Está no hospital em condições críticas”. Então eles explicam: “Este é um missionário ao mundo islâmico,” e passamos a orar por ele. No dia seguinte, chega outra mensagem eletrônica. Desta vez, seis irmãos no Marrocos foram presos. “Vamos orar por eles”, e assim fizemos. Foi assim durante toda a conferência, e no final, os missionários estavam prontos para retornar a seus postos.

Vocês acham que ao voltar aos Estados Unidos conseguiria ser o mesmo? Acham que conseguiria ficar à frente de minha igreja e dizer: “Vamos ter cultos agradáveis, confortáveis. Vamos ter conforto e segurança. Ora, o Gólgota não é um condomínio de Jerusalém. “Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13.13).

O Sofrimento é também o meio

Ao dizermos que haverá mártires e sofrimento, eu ainda não disse o principal sobre o preço de realizar a obra. Isso é porque o sofrimento é o meio, e não apenas o preço. É o meio pelo qual realizamos missões.

Eis o que tenho em mente. Passo a ler um versículo muito importante: Colossenses 1.24. Alguns anos atrás, o significado dele veio como estrondo em minha vida. Eu mostrarei como.

Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja;

Paulo era uma pessoa muito estranha. “Regozijo nos meus sofrimentos por vós” é bastante contra a cultura, nada “americano”, contra aquilo que é humano. “Me alegro em meus sofrimentos por vocês, e na minha carne, faço a minha parte em favor de seu Corpo [ou seja, o ajuntamento dos eleitos de Deus] ao preencher o que resta das aflições de Cristo”. Ora, isso parece estar no limite da blasfêmia! O que quer dizer por “preencher o que resta” das aflições de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo?

Ele não está dizendo que aumenta o mérito ou valor redentor do sangue de Jesus. Não é que complete o mérito e o valor expiatório do sangue de Jesus. Não quer dizer isso. Então, o que Paulo estaria dizendo?

Digitei a palavra grega para preencher (ou completar) e a expressão o que resta em meu programa de Bíblia. Achei na Escritura apenas mais um lugar onde as duas palavras aparecem juntas. Está em Filipenses 2.30: “visto que, por causa da obra de Cristo, chegou ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, para suprir a vossa carência de socorro para comigo”.

A situação é que Epafrodito foi enviado da igreja de Filipos até Paulo em Roma. Arriscou sua vida para chegar até ali, e Paulo o elogia por ter arriscado sua vida. Diz aos filipenses que eles deveriam receber tal pessoa com honra, porque esteve para morrer e arriscou seu pescoço para completar o seu ministério para com eles. Eis aqui o versículo paralelo:

Chegou ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, para suprir a vossa carência de socorro para comigo.

Essas duas palavras aparecem juntas “para completar o que faltava no socorro de vocês para comigo”. Abri meu antigo (de mais de cem anos) comentário Vincent sobre Filipenses, e este faz uma explanação que, creio eu, seja uma interpretação perfeita de Colossenses 1.24. Diz Vincent:

O presente a Paulo da parte dos Filipenses foi uma dádiva da igreja como corpo. Era uma oferta de amor, dada com sacrifício. O que faltava era a apresentação pessoal desta oferta. Isso era impossível, e Paulo representa Epafrodito como tendo suprido essa falta mediante seu afetuoso e zeloso ministério.

Temos aqui um quadro de uma igreja que deseja comunicar amor enviando dinheiro até Roma, e não podem fazê-lo pessoalmente. São pessoas demais, e Roma é longe demais. Assim, dizem a Epafrodito: “Epafrodito, represente-nos e complete aquilo que falta do nosso amor. Não existe nada que falte no amor exceto a expressão pessoal dele. Leve isso com você e comunique-o a Paulo”.

Creio ser exatamente o que quer dizer Colossenses 1.24. Jesus morreu e sofreu por pessoas em todo o mundo, de todas as nações. Foi ele então sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras. Ascendeu ao céu, de onde reina sobre toda a terra. Deixou uma tarefa a ser realizada aqui.

Paulo compreendia que em sua missão faltava uma coisa nos sofrimentos de Jesus. A oferta de amor de Cristo deveria ser apresentada pessoalmente por meio de missionários aos povos por quem ele morreu. Paulo diz: “Isso eu faço. Em meus sofrimentos, eu completo o que falta nos sofrimentos de Cristo.” Quer dizer que é a intenção de Cristo que a Grande Comissão seja uma apresentação às nações dos sofrimentos de sua cruz, mediante os sofrimentos de seu povo. Acabará desta maneira. Se você quer se alistar para a Grande Comissão, para isso que estará se comprometendo.

Há alguns anos, eu estava trabalhando com Alegrem-se os Povos, e me escondi no seminário Trinity em Deerfield, Ilinois. Estava “escondido” porque não queria que ninguém soubesse onde eu estava, para que não me incomodassem. Minha esposa e meus filhos permaneceram em casa, e eu trabalhava 18 horas por dia.

Soube então que J. Oswald Sanders estaria falando na capela. Ele contava oitenta e nove anos. Era um veterano e grandíssimo líder de missões. Perguntei com meus botões: “Será que devo aparecer em público e arriscar ter de conversar com um monte de gente, ser convidado para jantar e essas coisas todas, impedindo-me de terminar o meu trabalho?” Mas, queria muito ouvi-lo, e assim, fui ouvi-lo às escondidas no fundo da capela. Esse homem idoso ficou ali em pé, e eu estava cheio de admiração, desejoso de que, quando eu tivesse 89 anos, fosse como ele. Relatou uma história que personifica muito bem Colossenses 1.24.

Disse que certa vez havia na Índia um evangelista que caminhava pelas estradas em diversos vilarejos, pregando o evangelho. Era homem simples, sem estudo, disposto a entregar sua vida por ele, que amava Jesus de todo coração. Chegou em um vilarejo que não tinha o evangelho. Era o final do dia e ele estava exausto, mas entrou na cidadezinha e ergueu sua voz para compartilhar o evangelho com os que estavam na praça. Eles zombaram, ridicularizaram-no e o expulsaram do vilarejo. Tão cansado estava – sem mais recursos emocionais – que se deitou sob uma árvore, em desânimo total. Dormiu sem saber se acordaria na manhã seguinte. Pelo que ele sabia, poderiam até mesmo matá-lo.

Quando acabara de escurecer, de repente, ele despertou e deu um pulo. Parecia que todo mundo do vilarejo estava ao seu redor, olhando para ele. Ele pensou que, na certa, esses homens o matariam. Começou a tremer, e um dos maiorais da vila disse: “Viemos ver que tipo de homem você é, e quando vimos os seus pés cheios de bolhas, soubemos que é um homem santo. Queremos que nos diga por que você ficou com os pés machucados só para falar conosco”. Ele pregou-lhes o evangelho e, conforme disse J. Oswald Sanders, todos do vilarejo creram. É a isso que Paulo está se referindo com a afirmativa: “Completo em meus sofrimentos o que falta das aflições de Jesus.”

Tenho mais um pequeno parêntese sobre J. Oswald Sanders. Aos 89 anos ele disse: “Tenho escrito um livro por ano desde meus setenta anos”. Dezoito livros depois dos setenta! Existem pessoas em minha igreja e por toda a América que desistem da vida aos 65, morrendo em um campo de golfe no estado de Nevada, quando deveriam estar entregando suas vidas lá entre os muçulmanos, como fez Raymond Lull.

Raymond Lull foi grande estudioso de línguas orientais, missionário aos muçulmanos do Século XII, que se aposentou e voltou para a Itália. Por algum tempo continuou sua vida acadêmica, mas eventualmente desistiu, perguntando: “O que é que estou fazendo? Vou morrer aqui na Itália. Por que não atravessar o Mediterrâneo para morrer na Argélia?” E então, sabendo que a pregação pública lhe custaria sua vida, entrou em um navio, contando ele mais de oitenta anos de idade, e atravessou o Mediterrâneo. Permaneceu incógnito enquanto encorajava a igreja, e decidiu que esse tempo seria tão propício quanto qualquer outro. Assim, ele se levantou para pregar, e aqueles o mataram. Que jeito de deixar a vida!

Atentem, especialmente aqueles que estão na casa dos sessenta anos. Falo comigo mesmo, pois, quando você é idoso não tem nada a perder com o martírio, e ainda consegue descontos nas passagens.

Por que deveríamos pensar que trabalhar quarenta ou cinquenta anos signifique que poderemos brincar e jogar nos últimos quinze anos antes de nos encontrar com o Rei? Não entendo. São apenas mentiras de nossos tempos. Somos fortes aos 65 e somos fortes aos 70. Lembro-me quando minha mãe foi morta, meu pai quase morreu também, em um acidente de ônibus em Israel. Eu o peguei dez dias depois – ele e o corpo de minha mãe viajando na ambulância, e o tempo todo, de Atlanta a Greenville, ele estava ali deitado, com as costas abertas porque seus ferimentos eram tão sérios que não puderam suturá-los. Ele ficava dizendo: “Deus deve ter um propósito para minha vida. Certamente, Deus tem um propósito para mim!”

Os próximos 30 anos de vida de meu pai foram de um ministério profícuo! Quando ele tinha quase 80 anos, trabalhava pelas nações mais que nunca antes. Preparava lições em Easley, na Carolina do Sul, incluindo algumas gravações. Essas iam para 60 nações, com cerca de 10,000 pessoas vindo à fé em Jesus a cada ano, porque Deus poupou a vida de meu pai naquele acidente e fez com que ele não acreditasse que deveria se aposentar.

O Prêmio Satisfaz

Agora o ultimo ponto: Como amamos desse modo? Onde obtemos tal dedicação? Estamos prontos para isso? Acha que tem dentro de você o que precisa para suportar isso?

Leia a Historia de Missões Cristãs (A History of Christian Missions) de Stephen Neill. Ele descreve o que aconteceu no Japão quando o evangelho foi até lá nos anos de 1500. O imperador passou a acreditar que a incursão da fé cristã em sua esfera religiosa era de tal forma uma ameaça que teriam de dar um fim nela. Ele acabou com ela com incrível brutalidade! Foi o fim da igreja no Japão. Não tenho dúvidas que a dureza e dificuldade no Japão de hoje é em grande parte devida ao gigantesco (se bem que temporário) triunfo do diabo no começo dos anos 1600.

Vinte e sete jesuítas, quinze frades e cinco sacerdotes seculares conseguiram escapar da ordem de serem banidos. Os primeiros martírios de europeus ocorreram somente em abril de 1617 , quando um jesuíta e um franciscano foram decapitados em Omura, e um dominicano e um agostiniano um pouco mais tarde na mesma região. Foi praticada toda espécie de crueldade sobre as vítimas dessa perseguição. A crucificação foi geralmente o método empregado no caso de cristãos japoneses. Em uma ocasião, 70 japoneses em Yedo foram crucificados de cabeça para baixo quando a maré estava baixa, e ainda morreram afogados quando a maré subiu e os cobriu.

Chorei ao ler esse relato, pois tenho uma imaginação suficientemente boa para imaginar a água subindo enquanto sua esposa está num de seus lados e seu filho de dezesseis anos do outro.

Você está pronto? Acha que tem essa garra dentro de você? Não tem. Ninguém tem esse tipo de desenvoltura em si mesmo. Onde vai conseguir? É com isso que quero terminar.

Você conseguirá ao crer nas promessas de Deus. Meu texto predileto sobre como obter os recursos para viver assim está em Hebreus 10.32-34.

Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em que, depois de iluminados, sustentastes grande luta e sofrimentos; ora expostos como em espetáculo, tanto de opróbrio quanto de tribulações, ora tornando-vos co-participantes com aqueles que desse modo foram tratados.

Ora, deixe-me parar um pouco aqui para mostrar a situação como a vejo. Nos primórdios da igreja surgiu a perseguição. Alguns sofreram direta e publicamente, enquanto outros foram contemplados com compaixão. Alguns estavam presos e outros foram visitá-los. Assim, eles foram forçados a decidir. Naquela época, os que estavam presos provavelmente dependiam dos outros para comida e água e quaisquer cuidados físicos que precisassem, mas isso significava que seus amigos e vizinhos teriam de identificar-se publicamente para ajudá-los. É um negócio arriscado quando alguém foi preso por ser cristão. Aqueles que ainda estavam livres ficaram escondidos por algumas horas, perguntando “O que vamos fazer?” Talvez alguma pessoa tenha dito: “O Salmo 63.3 expressa que “a tua graça é melhor do que a vida”. O firme amor do Senhor é melhor do que a vida – então, vamos em frente!”

Se Martinho Lutero estivesse ali, teria falado:

Se temos de perder

Família, bens, prazer,

Se tudo se acabar,

E a morte enfim chegar,

Com ele reinaremos!

Vamos em frente! 2

Foi exatamente o que fizeram. Leiamos o resto da história. O versículo 34: “Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável”.

Não precisamos muita imaginação para entender o que aconteceu. Não sei precisamente de todos os detalhes, mas ocorreu o seguinte: Eles tiveram compaixão dos prisioneiros, e então foram assisti-los e ajudá-los. Suas propriedades – casas, carruagens, cavalos, mulas, banquetas de marcenaria, cadeiras – qualquer coisa que tivessem – foram tomados pela turba e incendiados, ou talvez apenas saqueados e jogados na rua por gente com enormes facões. Quando olharam por cima dos ombros o estrago que acontecia, eles regozijaram.

Ora, se essa não for a sua atitude – quando alguém a quem você está tentando ministrar destrói o seu computador ou você vai de carro até a favela e eles quebram o pára-brisa do seu carro, roubam o rádio ou furam os pneus – se você não for assim, também não será bom candidato ao martírio. A pergunta é: “Como poderemos ser assim?” Eu quero ser assim. É por isso que amo este trecho!

Não sou exemplo perfeito disso, mas quero aprender a ser assim, para quando uma pedra vir voando pela janela da minha cozinha – como já aconteceu duas vezes no passado – esmigalhando o vidro, e a esposa e os filhos caem no chão sem saber se foi uma bala ou uma granada – quero poder dizer: “Esse não é um ótimo bairro em que morar?” Aqui é que estão as necessidades. Vê aqueles cinco rapazes adolescentes que acabaram de passar de carro? Eles precisam de Jesus. Se eu sair daqui, quem vai falar-lhes de Jesus?

Quando seu filhinho é empurrado da bicicleta e eles a tomam e saem correndo, quero poder tomá-lo no colo quando está chorando e dizer: “Meu filho, isso é ser missionário. Isso é preparação para o campo de missões! É formidável!”

Dei uma mensagem baseada em Colossenses 1.24 em Pensacola, na Florida, anos atrás. Meu filho Abraão, na época com 16 anos, estava junto e ouviu-me dizer grande parte do que estou dizendo hoje sobre essa espécie de sofrimento peso-pesado. Entrando no carro para voltar para casa, minha esposa perguntou a Abraão: “Bem, o que você acha que Deus estava fazendo ali?” Ele respondeu: “Vou comprar uma passagem só de ida para o país mais difícil do mundo”. Só isso. Bati a cabeça no teto do carro. Puxa! Isso é grande!

Ainda não cheguei ao ponto principal do texto. Como é que eles tinham condições de se alegrar com o saquear de seus bens e o risco de morte por que passavam? Agora entendi: “tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável”. É isso que chamo de fé na graça futura.

Se você for cristão, Deus está oferecendo-lhe promessas indescritivelmente maravilhosas. “Não te deixarei nem te desampararei”. Portanto, poderá dizer em confiança: ‹“O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem? (Hebreus 13.5-6) Bem, na verdade, o homem pode nos matar. Mas isso não seria derrota, porque sabemos o que diz Romanos 8.36-39:

Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Sendo assim, nada, no fim, poderá nos prejudicar. Lembre o que Jesus disse em Lucas 21. 12-21: “lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres... Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça.”. É como Romanos 8. Tudo – incluindo a morte – contribui juntamente para o nosso bem. Quando você morre, você não perece. Morrer é lucro. Fazer missões até morrer é lucro. É a vida mais grandiosa do mundo.

Oro, portanto, para que você venha comigo e abandone o a vida de segurança, mil facilidades e conforto, para uma alternativa de retirada, afastada, de vazio. Deixe isso tudo para trás e una-se a esse movimento incrivelmente poderoso. Existem cristãos de toda parte do mundo prontos a entregar suas vidas por amor de Cristo. Convido-o a fazer o mesmo.







8 - Nossa Principal Missão Neste Mundo

“Mar 16:14 Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado.
Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.
Mar 16:16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.”

Depois de sua ressurreição nosso Senhor Jesus Cristo disse aos onze apóstolos (Judas já havia se suicidado) que a missão deles e daqueles que haveriam de crer através do seu testemunho era a de pregarem o evangelho em todo o mundo.
Este verbo “pregai” do texto é vertido da palavra “kerussô” do original grego, que significa anunciar, proclamar, divulgar.
Ainda que Deus separe pessoas para este propósito, de modo especial, todavia esta é a principal missão de todos os que creem em Cristo, a saber, a de tornar o evangelho conhecido de todas as pessoas, em todo o mundo.
Não é para propósitos políticos, triunfalistas ou mesmo de expansão religiosa que tal ordenança nos foi dada pelo Senhor.
É para que a sua própria justiça decorrente da sua morte em nosso lugar na cruz (para a nossa justificação e salvação) seja ofertada, e assim, possa ser aceita e recebida pela mão da fé, ou então rejeitada pela incredulidade.
Evidentemente, o Seu desejo é o de que todos fossem salvos pela recepção da Sua graça, simplesmente por meio da fé nEle.
Todavia, Ele sabe desde toda a eternidade que não são poucos os que o rejeitarão pelos mais variados motivos e justificativas.
Enquanto durar a dispensação da graça, até que Ele volte, o convite do Evangelho permanecerá, dando oportunidade inclusive aos muitos que têm resistido ao convite por anos a fio.
O Senhor é fiel em cumprir a sua promessa de salvação feita a todo o que crer, mesmo para estes que o fizerem tardiamente, ainda que em idade avançada.
Assim sucede para que se comprove que de fato não somos salvos por nosso méritos, mas por sua exclusiva graça, bondade, longanimidade e misericórdia. 


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