sexta-feira, 23 de outubro de 2015

115) Proteção 116) Provação e Aflição

115) PROTEÇÃO

ÍNDICE

1 - “... poderoso para vos guardar de cair." (Judas 24)
2 - “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.” (Hebreus 13.5)
3 - “E o Senhor te guiará continuamente" (Isaías 58.11)
4 - “Até aqui o Senhor nos ajudou." (1 Samuel 7.12)
5 - “Eu estou convosco todos os dias." (Mateus 28.20)
6 - Amparo
7 - Abrigo Seguro
8 - “Meu refúgio és Tu no dia do mal” (Jer 17.17)
9 - Deus nos Guarda do Mal
10 - Socorro na Tribulação - SALMO 116


1 - “... poderoso para vos guardar de cair." (Judas 24)

Em certo sentido, o caminho para o céu é muito seguro, mas em outros aspectos, não há nenhuma estrada tão perigosa.
Ele está cercado de dificuldades.
Um passo em falso (e como é fácil acontecer isto se a graça estiver ausente), e para baixo nós vamos.
Aquilo que é um caminho escorregadio é o que alguns de nós têm que trilhar!
Quantas vezes temos de exclamar com o Salmista: "Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos.”, Sl 73.2.
Se fôssemos fortes homens da montanha de pés firmes, isso não sucederia tanto, mas em nós mesmos, quão fracos somos! Na melhor das estradas logo escorregamos, nos caminhos mais planos, quanto tropeçamos.
Estes nossos joelhos enfraquecidos dificilmente podem suportar o nosso peso cambaleante.
A palha pode nos derrubar, e um seixo pode nos ferir, somos meras crianças trêmulas dando os primeiros passos na caminhada da fé, nosso Pai celestial nos segura pelo braço porque, senão, em breve cairíamos.
Oh, se somos impedidos de cair, quanto devemos bendizer o poder paciente que cuida de nós a cada dia!
Pensemos quão somos propensos ao pecado, quão aptos a escolher o perigo, e quão forte é a nossa tendência para cair, e essas reflexões nos farão cantar mais docemente do que já fizéramos antes: "Glória Àquele que é poderoso para nos guardar de cair."
Temos muitos inimigos que tentam nos empurrar para baixo. A estrada é acidentada e nós somos fracos, mas além disso, os inimigos se escondem numa emboscada, e aparecem quando menos esperamos, e eles trabalham para nos desarmar, ou para nos lançar no precipício.
Apenas um braço Todo-Poderoso pode nos preservar destes inimigos invisíveis, que procuram nos destruir. Esse braço está envolvido na nossa defesa. Aquele que prometeu é fiel, e é poderoso para nos impedir de cair, de modo que, com um profundo sentimento de nossa fraqueza absoluta, podemos manter uma firme crença na nossa perfeita segurança, e dizer, com confiança alegre:

"Contra mim terra e inferno se unam,
Mas do meu lado está o poder divino;
Jesus é tudo, e ele é meu!"

Texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







2 - “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.” (Hebreus 13.5)

"Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como a Admá? Como fazer-te um Zeboim? Meu coração está comovido dentro de mim, as minhas compaixões, à uma, se acendem." (Oseias 11.8)

Israel foi escolhido entre todas as demais nações da humanidade, e distinguido por muitos e grandes  privilégios. Eles foram o objeto de especial consideração divina, na própria formação da nação.
Todavia, deles foi dado o testemunho pelos profetas que haviam adorado a falsos deuses, e que continuamente se desviavam de Jeová, abusando da sua misericórdia e longanimidade para com eles. Mas, ainda assim, o Senhor foi gracioso e lhes falou da forma como lemos em nosso texto.
Vemos esta expressão da graça de Deus, especialmente em relação à Igreja de Cristo, quando sua compaixão, sua misericórdia se acende nele à vista das transgressões cometidas pelos crentes.
Não é mais a Sua ira consumidora, que conduz à condenação eterna, que se verá sobre aqueles que foram resgatados pelo sangue de Cristo, uma vez que Ele fez a promessa de perdoar os seus pecados e de não mais lembrar de suas iniquidades por causa da nova aliança que fizera com eles por meio do sangue que Jesus derramou na cruz.
O pecado dos crentes entristece ao Espírito Santo e pode até mesmo apagar a sua atuação em suas vidas, mas jamais poderá fazer com que sejam apagados os seus nomes do Livro da Vida, porque foram lá escritos com o sangue do Cordeiro, desde antes da fundação do mundo.
O Senhor não aprovará o seu comportamento desviado, mas jamais fará com que se aparte a sua graça e misericórdia deles. Por amor de Seu Filho Unigênito, ele não lhes abandonará e nem desamparará.
Foi para doentes e não para sãos que Jesus morreu na cruz (Mateus 9.12).
Foi por inimigos de Deus que Ele se ofereceu para reconciliá-los com Ele.
Não é de se admirar portanto que use de completa longanimidade para com eles, suportando-lhes os maus costumes, até que sejam aperfeiçoados completamente na glória celestial.
Este foi, afinal, o caráter da promessa da nova aliança feita através do Seu sangue.
Os que são espirituais no corpo de Cristo se entristecerão com aqueles que são fracos e carnais, mas lhes suportarão com paciência, sabendo que tanto quanto eles foram afinal, objeto da mesma misericórdia e salvação, por meio da fé em Jesus Cristo.







3 - “E o Senhor te guiará continuamente" (Isaías 58.11)

"O Senhor te guiará." Não um anjo, mas Jeová te guiará. Ele disse que não iria atravessar o deserto diante do seu povo, um anjo deve ir adiante deles para guiá-los no caminho; mas Moisés disse: “se tua presença não vai comigo, não nos faça subir daqui."
Cristão, Deus não tem lhe deixado na sua peregrinação terrena, sob a orientação de um anjo; ele irá na vanguarda. Você não pode ver a nuvem e a coluna de fogo, mas o Senhor nunca te
"O Senhor te guiará." Quão certo é que ele faz isto! Quão certo é que Deus não nos abandonará! Seus preciosos "eu devo" e "eu vou" são melhores do que os juramentos dos homens.
"Eu nunca te deixarei, nem te desampararei."
Então, observe o advérbio continuamente. Nós não somos meramente guiados algumas vezes, mas temos tido um monitor perpétuo; não ocasionalmente, para ser deixados ao nosso próprio entendimento, e assim a vagar, mas estamos constantemente ouvindo a voz orientadora do Grande Pastor, e se nós seguirmos de perto em seus calcanhares, não devemos errar, mas seremos guiados por um caminho certo para uma cidade na qual habitaremos.
Se você tem que mudar a sua posição na vida, se você tem que emigrar para terras distantes; se deveria acontecer que você fosse lançado na pobreza, ou erguido de repente numa posição mais responsável do que aquela que você ocupa agora; se você é jogado no meio de estranhos, ou entre inimigos, ainda não tema, porque "o Senhor te guiará continuamente".
Não há dilemas dos quais você não será livrado se viver perto de Deus, e seu coração se manterá aquecido com amor santo.
Não fica confuso quem anda na companhia de Deus. Como Enoque, caminhe com Deus, e você não pode confundir o seu caminho. Você tem sabedoria infalível para dirigi-lo, imutável amor para lhe confortar e eterno poder para defendê-lo. "Jeová" - marque a palavra -  "Jeová te guiará continuamente".

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.








4 - “Até aqui o Senhor nos ajudou." (1 Samuel 7.12)

A palavra "até agora" parece ser uma mão apontando na direção do passado. Vinte ou setenta anos, e ainda, "até aqui o Senhor nos ajudou!" Na pobreza, na riqueza, na doença, na saúde, em casa, no estrangeiro, na terra, no mar, na honra, na desonra, na perplexidade, na alegria, no julgamento, em triunfo, na oração, na tentação, "até agora o Senhor nos ajudou!"
Temos prazer em olhar uma longa avenida de árvores. É agradável olhar de ponta a ponta da longa vista, uma espécie de templo verdejante, com seus pilares de ramos e seus arcos de folhas; de igual modo contemple os  longos corredores de seus anos passados, com os ramos verdes da cobertura  da misericórdia e os fortes pilares da bondade e da fidelidade que sustentaram as suas alegrias. Não há também pássaros cantando nos ramos? Certamente deve haver muitos, e todos eles cantam a misericórdia “até aqui” recebida.
Mas a palavra também aponta para a frente . Porque quando um homem  escreve: "até aqui", ele ainda não está no fim, ainda há uma distância a ser percorrida. Mais provas, mais alegrias, mais tentações, mais triunfos, mais orações, mais respostas, mais fadigas, mais forças, mais lutas, mais vitórias, e então vem a doença, a velhice, a debilidade, a morte. Acabou agora? Não! há  ainda mais um despertar à semelhança de Jesus, tronos, harpas, canções, salmos, vestes brancas, a face de Jesus, a sociedade dos santos, a glória de Deus, a plenitude da eternidade, as infinitas bem-aventuranças. Oh! tenha bom ânimo, cristão, e com grata confiança entoe o teu "Ebenezer", porque:

Aquele que tem te ajudado até agora
Te ajudará em toda a tua jornada.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.








5 - “Eu estou convosco todos os dias." (Mateus 28.20)

É bom que há Alguém que é sempre o mesmo, e que está sempre conosco. É bom que há uma rocha estável em meio às ondas do mar da vida. Ó minha alma, não deixe teus afetos serem enferrujados e consumidos pela traça, como tesouros em decomposição, mas coloque o teu coração sobre Aquele que permanece sempre fiel a ti. Não construa a tua casa sobre a areia movediça de um mundo traiçoeiro, mas ache as tuas esperanças sobre esta Rocha, que, em meio às chuvas que caem, e enchentes que rugem, permanecerá inamovível e segura.
Minha alma, eu te ordeno, coloque o teu tesouro no único cofre seguro; guarde as tuas joias, onde tu não possas perdê-las. Põe tudo o que é teu em Cristo; coloque todos os teus afetos em sua pessoa divina, toda a tua esperança no seu mérito, toda a tua confiança no seu sangue eficaz, toda a tua alegria na sua presença, e assim podes rir da perda, e desafiar a destruição.
Lembre-se que todas as flores do jardim do mundo se desvanecem por turnos, e vem o dia em que nada será deixado, senão apenas a terra negra e fria. O extintor da morte deve em breve apagar a tua vela. Oh! Quão doce é ter luz quando a vela se for! O dilúvio escuro deve em breve se lançar sobre ti e tudo o que tens; então consagre o teu coração Àquele que nunca te deixará; confia-te Àquele que irá contigo através da correnteza do rio da morte, e que te irá aportar com segurança na costa celestial, e te fará assentar-se com ele nos lugares celestiais para sempre.
Vá, entristecido filho da aflição, diga teus segredos para o Amigo que é mais achegado do que um irmão. Confie todas as tuas preocupações Àquele que nunca poderá ser tirado de ti, que nunca te deixará, e que nunca te deixará abandoná-lo,  "Jesus Cristo, o mesmo ontem, e hoje, e eternamente." "Eis que estou convosco todos os dias"; é suficiente para a minha alma viver nAquele que jamais me abandonará.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







6 - Amparo

Como lemos no Salmo 46.1, Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na

Temos de fato nEle, um forte amparo e suporte para nos sustentar em nossa inerente

fraqueza. De nós mesmos somos fracos para vencer o pecado, os ataques do diabo, e suportar

oposições, sobretudo de caráter espiritual, mas precisamos aprender como desfrutar o amparo

do Senhor, de modo que possamos falar juntamente com o salmista:

“Surpreenderam-me eles no dia da minha calamidade, mas o Senhor foi o meu amparo.”

Davi sempre dizia que podia contar com o amparo do Senhor, porque guardava os Seus

mandamentos. Vemos assim, que o melhor aconselhamento que se pode dar a alguém que se

acha enfraquecido e caído em sua vida espiritual, para achar o apoio e fortaleza de Deus, é

instruir tal pessoa com mansidão, a guardar a Palavra do Senhor, conforme a indicação do

“corrigindo com mansidão os que resistem, na esperança de que Deus lhes conceda o

arrependimento para conhecerem plenamente a verdade,” (II Timóteo 2.25).

Esta é a forma de amparar os fracos, conforme ordenado em I Tessalonicenses 5.14:

“Exortamo-vos também, irmãos, a que admoesteis os insubordinados, consoleis os

desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos.”

Uma parte do dever dos que são espiritualmente fortes é este; de amparar os fracos

“Ora nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a

Isto nos é ordenado por Cristo, conforme vemos nas palavras do apóstolo:

“Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.”(Gálatas 6.2)

Porque uma das maiores expressões do amor de Deus é a instrução e correção mútuas,

Hebreus 12.6 :pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho.

Hebreus 12.7: É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é o

Hebreus 12.10: Pois aqueles por pouco tempo nos corrigiam como bem lhes parecia, mas

este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.

Apocalipse 3.19: Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e




Abrigo Seguro
(Depois de ter estado internado por 62 dias para o tratamento de um coração infartado, de um edema pulmonar e de insuficiência renal, em meio a grandes provações levantadas pelo Inimigo através de toda sorte de pessoas (médicos, enfermeiros, companheiros de quarto etc) posso atestar a verdade do texto a seguir – nota do tradutor)








7 - Abrigo Seguro

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás, a sua verdade será o teu escudo e broquel."  (Salmo 91.4)

Que palavras condescendentes! Não posso expressar o sentimento que eu sinto pela grande bondade do Senhor para conosco ao afirmar o Seu cuidado protetor para com o Seu povo. O Senhor aqui se compara a uma galinha que cobre a sua ninhada e Ele fala não só das asas, que dão abrigo, mas Ele entra em detalhes e fala das penas que dão calor, conforto e repouso. "Ele te cobrirá com as suas penas e debaixo das suas asas te confiarás."
Usando, portanto, o instinto maternal como um emblema de sua própria sensibilidade parental, Deus compara a Si mesmo a uma ave mãe que cuida, valoriza e protege os seus pequeninos.
Não é somente concedida a proteção do perigo, mas uma sensação de conforto e felicidade que é comunicada, fazendo o filho de Deus sentir que ele está em casa, à sombra do Onipotente. Ele sente que tem todos os confortos que ele possa precisar quando vem se esconder debaixo de um senso abençoado da Presença Divina e sente o calor que flui do coração de Deus.
Quando este texto se aplica a um crente? "Ele te cobrirá com as suas penas e debaixo das suas asas te confiarás." Bem, pode ser invocado em casos de perigo extremo. Não duvido que os servos de Deus, em tempos de perigo no mar, quando as enormes ondas rugiram e a tempestade se desencadeou e o navio parecia que seria feito em pedaços, muitas vezes acudiu a seus corações esse pensamento: "Agora, Aquele que mantém as águas na concha da sua mão vai cuidar de nós, e nos cobrirá com as suas penas e debaixo das suas asas podemos confiar."
Talvez neste momento, até em algum camarote do navio, ou em meio ao barulho e tumulto e a fúria do oceano, quando muitos estão alarmados, há cristãos com rostos serenos, esperando pacientemente a vontade de seu Pai - se será para chegar ao porto do Céu, ou para ser poupado para voltar à terra no meio das provações da vida e se esforçar mais uma vez. Eles sentem que eles são bem tratados. Eles sabem que a tempestade está sob o controle de Deus que os guardará e nada pode machucá-los, nada pode acontecer com eles, senão o que Deus permite.
Oh, como isto acalma o coração ansioso, ou temeroso e cheio de pressentimentos, e faz com que o coração fique tranquilo para sentir que Ele nos cobre com as suas penas, e que debaixo das suas asas pode confiar!
Eu sei que essas calamidades são pesadas ​​e difíceis de suportar. Se não fosse por isso, nunca deveríamos ser equipados com tão forte consolação.
Criem coragem e digam para si mesmos: "Agora eu vou provar que a promessa é verdadeira, "Ele te cobrirá com as suas penas e debaixo das suas asas te confiarás." Bendito seja Deus, pois a promessa diante de nós está disponível para dias ensolarados, como também para cada hora desta vida mortal.
Há perigos em toda parte e o cuidado guardião de Deus nunca pode ser dispensado. Se andarmos corretamente, nunca nos aventuraremos a começar um único dia sem primeiro obter a proteção divina.
Quando - devo perguntar de novo – quando esta promessa pode ser invocada? Bem, Amado, pode ser particularmente invocada em momentos de tentação. Homens cristãos sinceros não são tanto temerosos de provações que surgem de tentações. Se você pudesse extrair o elemento tentador de nossas aflições você seria desprovido de pelo menos metade da sua amargura. Sofrer é pouco, mas ser provocado para o pecado - isto é a grande causa do medo.
Como as tentações são apenas as coisas que você teme, cabe a você orar: "Não nos deixeis cair em tentação", mas lembre-se, se a Providência de Deus em algum momento permitir que você seja tentado, então poderá achar abrigo nesta graciosa Palavra de Deus, "Ele te cobrirá com as suas penas e debaixo das suas asas te confiarás."
Então, mais uma vez, este texto pode ser muito abençoadamente aplicado às nossas almas e eu espero que será, em tempos de provações esperadas. Eu não acho que seja certo para nós anteciparmos provações em tudo. "Basta a cada dia o seu mal." Nós nunca devemos sentar e começar a preocupar-nos sobre o que pode acontecer, porque o mal que tememos talvez nunca venha a acontecer.
Muitos verdadeiros servos de Deus têm dito para si mesmos, "O que farei quando eu ficar velho? Eu sou capaz, agora, de tocar a vida, mas o que farei quando estes membros atrofiados não puderem mais ganhar o meu pão de cada dia?" O que Fazer? Por que, você terá o mesmo Pai, então, como você tem agora para socorrê-lo e você terá a mesma providência, então como a tem agora, para suprir suas necessidades! Você agradece a Deus pelo seu pão de cada dia, agora, e você deve ter o seu pão de cada dia, então, porque Ele te cobrirá com as suas penas e debaixo das suas asas te confiarás!
Deixe o amanhã desconhecido trazer com ele o que ele puder, pois ele não pode trazer-nos qualquer coisa, senão o que Deus permitir.
 Há uma hora em que este texto será particularmente consolador para nós, e essa é a hora da morte. Ah, podemos cantar, graças a Deus estou indo para casa! Sabemos que não é a morte em alguns aspectos. É apenas uma mudança em nosso modo de vida. Ausente do corpo, estamos sempre presentes com o Senhor! Por que, então, "Ele deve cobrir-nos com as suas penas e debaixo das suas asas vamos confiar."
Há alguns perigos nos quais a Providência de Deus não preservou o Seu povo, mas ainda assim Ele os cobriu com as suas penas em outro sentido, dando-lhes a Graça Divina para suportarem seus problemas.
Agora, se você tiver poucas provações, você terá pouca fé, mas se você tiver muita fé, você deve esperar ter grandes provações. Um crente fiel e confirmado na Palavra poderá ser mais e mais aperfeiçoado através de grandes tribulações. A fé será aperfeiçoada e aumentada e o crente terá força suficiente para carregar a sua cruz. Você sentirá, como um querido santo disse uma vez que a coisa mais doce em todo o mundo era a Cruz de Cristo. E que, que carregar a cruz de Cristo foi a melhor coisa para contemplar a sua glória. Você verá que seus sofrimentos se tornam suas misericórdias e suas provações tornam-se seus confortos. Você deve gloriar-se na tribulação e encontrar a luz no meio da escuridão e ter alegria indizível na época de sua tristeza.
E você pode estar certo de que Ele te cobrirá com as suas penas, porque temos centenas de promessas para isto. Não há tempo para citá-las todas, mas há uma como esta: "Ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei." E aqui está outra: "Quando passares pelas águas, eu serei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão: quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em cima de você ". E depois há esta: "não temas, porque eu sou contigo: não te assombres, porque eu sou teu Deus eu te fortaleço, e sim, eu vou te ajudar. " Há centenas de promessas como essas, e Ele iria quebrá-las?  Ó descanse nele, então! Ele deve cobrir-nos com as suas penas, porque a Sua própria Palavra diz isso!








8 - “Meu refúgio és Tu no dia do mal” (Jer 17.17)

Charles Haddon Spurgeon

O caminho do cristão nem sempre é brilhante e ensolarado; há tempos de escuridão e tormenta.
É verdade que na Palavra de Deus está escrito "Os seus caminhos são caminhos deliciosos, e todas as suas veredas, paz.", e também é uma grande verdade que a religião dá ao homem tanto felicidade na terra quanto gozo no céu, mas a experiência nos diz que, se o percurso do justo é "como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito", às vezes essa luz é eclipsada.
Em determinadas épocas, o sol do cristão fica encoberto pelas nuvens, e ele caminha na escuridão sem ver a luz.
Há muitos que se regozijam na presença de Deus durante um certo tempo; eles se aquecem ao sol dos primeiros estágios da carreira cristã e caminham por "pastos verdejantes" junto a "águas tranquilas"; mas, de repente, descobrem que o céu tão lindo está cheio de nuvens; em vez de andar pela terra de Gósen, agora eles têm de andar pelas areias do deserto; em vez de água doce eles encontram águas agitadas, amargas, e dizem: "Se eu fosse filho de Deus, com certeza isso não aconteceria."
Oh! não digas isso, tu que estás andando na escuridão.
Os grandes santos de Deus precisam beber o absinto; os Seus filhos mais queridos precisam carregar a cruz.
Nenhum cristão desfruta de prosperidade contínua; nenhum cristão pode sempre deixar a harpa no salgueiro.
É possível que, a princípio, o Senhor tenha lhe dado um caminho suave e sem nuvens, pois você era frágil e inseguro.
Ele amaina o vento para a ovelha tosquiada; mas, uma vez que sua vida espiritual está mais forte, você precisa ter as experiências mais maduras e difíceis dos filhos adultos de Deus.
Precisamos de ventos e tempestades para exercitar a nossa fé, para cortar o galho podre da autodependência, e para sermos enraizados com mais firmeza em Cristo.
O dia do mal nos revela o valor da nossa gloriosa esperança.








9 - Deus nos Guarda do Mal

Para o propósito de se prevenir do grande mal do mistério da iniquidade, que pelos séculos vem assolando a Igreja e que tem se intensificado nos nossos dias, o apóstolo nos mostra o antídoto no terceiro capítulo de 2 Tessalonicenses.
Primeiro de tudo orando para que a Palavra do Senhor, isto é a palavra da verdade do evangelho, seja propagada e glorificada, tal como Paulo havia pedido aos tessalonicenses para que orassem por ele para tal propósito (v. 1).
O erro e a mentira são vencidos com a verdade.
Também orando para que sejamos livres da ação dos homens que são perversos e maus, sabendo que a fé não é de todos, isto é, há pessoas que sempre estarão neste mundo a serviço do mistério da iniquidade, e devemos não somente nos acautelar deles, como também pedir a Deus que nos livre da ação deles, que possa neutralizar o nosso testemunho, ou nos conduzir ao engano (v. 2).
Nós devemos orar para que as oposições à pregação do evangelho sejam removidas, e ele tenha livre curso aos ouvidos e às consciências e aos corações das pessoas.
Deus é poderoso para nos confirmar na fé e nos guardar do maligno, assim como estava confirmando e guardando os tessalonicenses (v. 3).
 É sabendo isto e confiando nisto que devemos nos entregar à prática da oração incessante em favor dos santos.
Além da oração, nos preveniremos do mal que se multiplica ao nosso redor no mundo à medida que o tempo avança, obedecendo as ordenanças que encontramos na Palavra de Deus, especialmente aquelas que nos foram passadas pelos apóstolos de Cristo (v. 4).









10 - Socorro na Tribulação - SALMO 116

O início deste salmo é muito parecido com o Salmo 18, de maneira que é possível que seja também de autoria de Davi.
O salmista declara o seu amor pelo Senhor porque Ele ouve a sua voz e súplicas, inclinando os Seus ouvidos para atendê-lo, motivo porque estava determinado a invocá-lO enquanto vivesse.
Mesmo com os laços de morte que lhe haviam cercado em grandes perigos, e as angústias do inferno que se apoderaram da sua alma, fazendo-o cair em tribulação e tristeza.
Ele invocou o nome do Senhor pedindo-Lhe que livrasse a sua alma.
Ele sabia que Deus é justo, mas também compassivo e misericordioso, e por isso tinha sempre bom ânimo em Lhe dirigir clamores.
Sabia também que o Senhor vela pelos que são pobres de espírito, como ele, o próprio salmista, de modo que achando-se prostrado, foi salvo da sua angústia pelo Senhor.
Quando Deus opera na alma ela volta ao seu sossego, que é a condição em que deve se encontrar, conforme o propósito de Deus na criação do homem.
Assim, em sua confiança no Senhor, o salmista foi livrado da morte que sentia em sua alma, das suas lágrimas, e da queda na tentação e na ruína.
Como sua segurança estava em andar na presença do Senhor, então estava determinado a fazê-lo durante todo o tempo da sua peregrinação neste mundo.
Ele mantinha a fé, mesmo quando dizia que estava sobremodo aflito.
Enquanto esteve perturbado em sua paz de mente e espírito, disse que todo homem é mentiroso.
Todavia o Senhor quebrou todas as cadeias que acorrentavam a sua alma, e o libertou completamente, de modo que se dispôs a ofertar ao Senhor, pelos benefícios que havia recebido dEle, e percebeu que não havia maior oferta do que tomar o cálice da salvação e invocar o nome do Senhor.
Por isso cumpriria todos os seus votos feitos ao Senhor na presença de todo o Seu povo, para que lhes servisse de testemunho da sua consagração.
A citação do verso 15 de que “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos.”, merece uma reflexão especial quanto ao seu significado, porque à vista do Senhor a morte dos Seus santos é tão preciosa, que não satisfará aos desejos ímpios de um Saul, de um Absalão, nem de quaisquer inimigos de Davi, para que triunfassem sobre ele, lhe tirando a vida.
Davi sabia, pelo Espírito Santo, que morreria em ditosa velhice, em seu leito, para que o nome do Senhor fosse glorificado, por tê-lo poupado de tantos perigos de morte, revelando assim o Seu poder para preservar os Seus santos.
Se a alguns deles permite saírem deste mundo pelo martírio, é pelo mesmo motivo de ser glorificado neles, pela total falta de temor que eles demonstram em face da morte, porque são assistidos pelo Seu poder.
Mas nenhum santo, morrerá sem que isto seja do desígnio de Deus.
Então esta citação de ser preciosa a morte dos santos aos olhos de Deus, deve ser entendida no contexto bíblico em que se afirma que é preciosa para Ele a vida deles (II Rs 1.13), bem como o seu sangue (Sl 72.14).













116) PROVAÇÃO E AFLIÇÃO

ÍNDICE

1 - Até Que Nível de Prova se Pode Suportar?
2 - Refinados no Fogo das Provações
3 - “A prova da vossa fé." (I Pedro 1.7)
4 - Antídoto Feito do Próprio Veneno
5 - Lapidar um Diamante Exige um Trabalho Paciente
6 - O Sábio e Poderoso Controle de Deus nas Nossas Aflições
7 - Salmo 119.67 - Conhecendo o Bem que Há na Aflição
8 - Encontros com Deus na Hora da Aflição
9 - Por Que Se Alegrar Por Ter Passado Pela Provação?
10 - “É o suficiente para o discípulo ser como o seu mestre." (Mateus 10.25)
11 - “No mundo tereis aflições" (João 16.33)
12 - Este Terrível Vento Leste!
13 - A Provação Bíblica da Fé
14 - Fardos Inevitáveis ​​da Vida
15 - A Prova da Vossa Fé
16 - Tendo Bom Ânimo num Mundo de Aflições
17 - Problema: O Melhor Amigo da Fé
18 - Abatidos mas não Destruídos
19 - Aflições Aliviadas
20 - O Bom Efeito da Tribulação
21 - Quando a Fé é Provada
22 - Por Que o Justo é Afligido?
23 - "No mundo tereis aflições." (João 16:33)


1 - Até Que Nível de Prova se Pode Suportar?

Antes de tudo, devemos ter em permanente consideração que há sempre um controle da parte de Deus para que não sejamos provados além daquilo que possamos suportar e que Ele também nos dá a graça necessária para que sejamos livrados (I Cor 10.13).
Todavia, nem sempre o cristão está consciente desta verdade, ou ainda que a conheça, pode considerar que seja possível que Deus falhe naquilo que nos prometeu, ou então que haja alguma situação excepcional à qual a promessa divina não se aplique, porque poderá, a seu juízo, pensar que ficam excluídas as provações às quais nós mesmos tenhamos dado causa, por um mau comportamento ocasional, ou por negligência dos nossos deveres espirituais para com Deus.
Não devemos esquecer que a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2.13), ou seja, ela será sempre concedida por Deus àqueles que têm também usado de misericórdia para com o seu próximo, livrando-os assim de muitos juízos que nos viriam da parte de Deus, caso não fôssemos misericordiosos.
Daqui aprendemos também que a misericórdia de Deus sempre acompanha os Seus juízos corretivos, e assim, não permitirá que sejamos provados além das nossas forças, e se compadecerá de nós, dando-nos, a Seu tempo, o escape.
Para quem pensa que não é possível triunfar sobre determinados tipos de provações, especialmente aquelas que são muito pesadas, a vida do apóstolo Paulo nos foi dada como resposta, para que saibamos que não há grau de provação que seja maior do que a graça de Jesus.
Veja o seu próprio testemunho em I Cor 11.3-33/12.1-10:
11.3  São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.
24  Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um;
25  fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar;
26  em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos;
27  em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez.
28  Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas.
29  Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame?
30  Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza.
31  O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é eternamente bendito, sabe que não minto.
32  Em Damasco, o governador preposto do rei Aretas montou guarda na cidade dos damascenos, para me prender;
33  mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo, e assim me livrei das suas mãos.
12.1 Se é necessário que me glorie, ainda que não convém, passarei às visões e revelações do Senhor.
2  Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)
3  e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)
4  foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir.
5  De tal coisa me gloriarei; não, porém, de mim mesmo, salvo nas minhas fraquezas.
6  Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-me para que ninguém se preocupe comigo mais do que em mim vê ou de mim ouve.
7  E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.
8  Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.
9  Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.
10  Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.

Vemos assim, pelo testemunho de Paulo, que não há provação que possa vencer o cristão, quando ele se consagra inteiramente à vontade e ao serviço de Deus.
Há muitos cristãos que estão sofrendo terríveis injustiças e perseguições, todavia, nenhum deles tem motivo para se afastar do Senhor, ou alegar que foi abandonado por Ele.
Nenhum deles terá razão quando afirmar que foi desamparado pela justiça, e que servir a Deus não foi afinal um bom negócio, porque suas tribulações aumentaram em vez de diminuírem.
Ainda que nos obriguem a comer o pão da aflição, diariamente, Deus untará com seu Santo óleo as nossas feridas, e abrandará as nossas dores, e trará paz e sossego aos nossos corações.
Este é um mundo adverso, no qual os inimigos do homem podem ser até mesmo os da sua própria casa. O reino das trevas está presente no mundo e sempre estará até que Cristo volte para inaugurar o Seu reino de paz e justiça eterno e perfeito.
Assim, enquanto estivermos no mundo, necessitaremos da paciência e da perseverança, e sobretudo da fé para buscarmos socorro e auxílio no Senhor, para que sejamos fortalecidos, tal como Paulo, em nossas fraquezas.    
Lembremos que se diz que: “...através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus.” (At 14.22b).
Porque há necessidade das tribulações para que tanto o corpo, e especialmente a alma, sejam quebrados por Deus, e uma vez crucificados tais desejos, o espírito possa assumir de novo o comando que lhe fora reservado por Deus desde o princípio, e daí se dizer o seguinte em Rom 5.3-5:
“3 E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,
4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”







2 - Refinados no Fogo das Provações

Deus quer que sejamos tal como Ele é. Isto é: que sejamos seus imitadores.
Deus é paciente, longânimo, perdoador, benigno, amoroso, justo, e tudo o mais que é condizente com o Seu caráter bom e perfeito.
Então teremos que aprender a ser pacientes, longânimos, perdoadores, benignos, amorosos, justos e etc.
Assim, para o propósito de aprendermos a paciência, o Senhor permitirá que passemos por várias tribulações, para que sejamos pacientes de modo prático e verdadeiro.
E que possamos também louvar a glória da sua graça, que sempre nos assistirá e nos livrará de todas essas tribulações, conforme ele nos tem prometido fazer, se tão somente permanecermos firmes na fé, aguardando pacientemente pelo seu socorro.
Assim, isto não poderá ser feito sem estarmos em comunhão com Cristo, porque é a força da Sua graça que nos capacitará ao exercício da paciência.
De igual modo, para sermos amorosos, justos, serenos, perdoadores e misericordiosos, o Senhor permitirá que sejamos submetidos a várias injustiças, tanto contra nós, como contra as pessoas que nos sejam queridas.
De maneira que, aprenderemos a receber a implantação dos atributos divinos em nossa nova natureza, recebida na conversão, do Espírito Santo, por meio do fogo da fornalha da provação.
Então, teremos que aprender a clamar muitas vezes, apresentando nossas petições ao Senhor, em meio às nossas tristezas e aflições, para acharmos consolo e graça para suportarmos tudo com paciência e bom ânimo.







3 - “A prova da vossa fé." (I Pedro 1.7)

A fé inexperiente pode ser a verdadeira fé, mas certamente é pouca fé, e é provável que se mantenha assim enquanto estiver sem provações. A fé nunca prospera tão bem como quando todas as coisas são contrárias a ela: as tempestades são seus treinadores, e os relâmpagos são seus iluminadores.
Quando reina a calmaria no mar, coloque as velas como quiser, mas o iate não se moverá, pois num oceano adormecido a quilha dorme também. Mas deixe os ventos soprarem e então o barco será levado em direção a seu porto desejado.
Nenhuma flor é de tão lindo azul como aquelas que crescem ao pé da geleira congelada, nem estrelas brilham tão brilhantemente como aquelas que iluminam o céu polar; a água não é tão doce como a que brota no meio da areia do deserto; e nenhuma fé é tão preciosa como a que vive e triunfa na adversidade.
A fé provada traz experiência. Você não poderia ter crido em sua própria fraqueza caso não tivesse sido obrigado a passar através dos rios; e você nunca teria conhecido a força de Deus se  não tivesse sido apoiado no meio das tempestades.
A fé aumenta em solidez, segurança e intensidade, mais ela é exercitada com a tribulação. A fé é preciosa, e sua provação é preciosa também.
Não deixe isso, porém, desencorajar aqueles que são novos na fé. Você vai ter provações suficientes, sem procurá-las: a porção completa será medida para você na época devida. Enquanto isso, se você ainda não pode reivindicar o resultado de uma longa experiência, seja grato a Deus pela graça que você tem; louve ao Senhor pelo grau de confiança santa que  tiver alcançado; ande de acordo com essa regra, e você deverá ter ainda mais e mais a bênção de Deus, até que sua fé remova montanhas e conquiste impossibilidades.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.







4 - Antídoto Feito do Próprio Veneno

Quando a Bíblia fala em tribulações, especialmente no contexto do Novo Testamento, isto não se refere especificamente a problemas graves e sérios em relação às nossas condições de saúde física e às demais diversas áreas do nosso viver, como a sentimental, emocional e financeira, ainda que isto não seja excluído.
Todavia, a referência mais comum diz respeito às lutas espirituais contra os principados e potestades das trevas que tentam impedir a todo o custo a nossa consagração a Deus e a continuidade do nosso empenho na oração, no culto de adoração público, e em tudo o mais que lhe é devido.
O controle da intensidade e profundidade de todas as nossas tribulações está sob o cuidado de Deus, de modo que não sejamos atribulados além do que possamos suportar, como se afirma em I Cor 10.13, onde não somente isto é afirmado, como também que Deus proverá a força que necessitamos bem como o livramento destas tribulações no momento oportuno.
O apóstolo Paulo não pediu o espinho na carne que lhe fora enviado, e nem seria de se supor que ele o pedisse. E assim também nós, não devemos pedir tribulações, mas é certo que elas nos virão à medida da nossa necessidade, para o nosso benefício e aperfeiçoamento em maturidade espiritual, conforme isto se encontra controlado pelo Senhor.
Assim, nunca devemos ficar numa posição de permanente perplexidade e desânimo enquanto debaixo de aflições, uma vez conhecendo nós qual é o seu grande objetivo. Ao contrário devemos ter a firme convicção de que produzirão afinal em nós um bom fruto, e também devemos buscar ânimo e força em nosso Senhor Jesus Cristo, especialmente pela oração e meditação na Sua Palavra.
  O pecado original trouxe a toda a humanidade a morte espiritual e um estado ruim da alma em desordens de todo o tipo que a tornam totalmente diferente daquela imagem e semelhança com Deus, que havia sido designada por Ele em seu conselho eterno.
E Deus, em sua infinita sabedoria, tem usado estas desordens que nos afligem para o nosso próprio bem, por extirpar de nós pelo processo da mortificação pelo  Espírito Santo, todas as nossas paixões carnais, para o qual cooperam grandemente estas aflições que perturbam a alma, e que não permitem que ela fique acomodada na condição ruim e mortal em que entrou por causa do pecado.
Assim, nos é ordenado por Deus que o invoquemos no dia da angústia, com a sua promessa de nos livrar para que possamos glorificá-lo, Salmo 50.15.
Desta forma, as aflições cooperam para o propósito de orarmos incessantemente a Deus, porque até os nossos próprios pecados diários são para nós, um motivo de grande aflição.
O Senhor conhece perfeitamente a nossa indisposição natural para a oração, e por isso, em sua sabedoria e amor permite que sejamos aproximados dele por este meio que nos leva a buscar nele auxílio e socorro, a saber as tribulações.
Assim, Deus prepara o antídoto para a picada mortal do pecado, com o seu próprio veneno, uma vez que não vivemos, em razão do pecado, num mundo de perfeição de justiça, paz e amor.








5 - Lapidar um Diamante Exige um Trabalho Paciente

“Estou muito aflito; vivifica-me, Senhor, segundo a tua palavra.” (Salmo 119.107)
As aflições são um meio de cura necessário para o pecado. "Todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que produza mais fruto ainda.", João 15.2.
Especialmente aqueles que se consagram a Deus e que são usados por ele necessitam de aflições para que não fiquem inchados pelo orgulho e vaidade, de modo que possam ser mantidos humildes diante de Deus e dos homens. Por isso Paulo aprendeu a ser grato pelos espinhos na carne, 2 Cor 12.7.
É muito instrutivo observar que o salmista não clama por libertação imediata da sua aflição em seu clamor dirigido a Deus, antes, lhe pediu para ser vivificado segundo a sua Palavra divina.
Os que têm sido experimentados nisto sabem muito bem que o primeiro e grande efeito das aflições é o de tentar afastar o nosso espírito e nossos pensamentos da alegria e comunhão que vínhamos mantendo com Deus. Não há portanto outro meio para sermos firmados nesta alegria e comunhão quando o vento da tempestade da aflição está sobre nós, senão, não apenas em nos refugiarmos nas boas promessas da Palavra  de Deus para nós, como também em sermos vivificados nas convicções já aprendidas acerca de tudo o que temos herdado em Cristo, que inclui não somente coisas agradáveis, mas também a participação em suas aflições e sofrimentos, em alguma medida.
Com isto nossas graças são renovadas e nos fortalecem a mente e o espírito ainda que estejamos vagando pelos vales do sofrimento. Foi isto que nosso Senhor quis ensinar ao apóstolo na sua experiência do espinho na carne, que a Sua graça era suficiente para ele, ou seja, de nada mais necessitava para ser vitorioso sobre aquilo que o humilhava, senão somente estar fortalecido pela graça.
Além disso o fruto imediato de se suportar as aflições com paciência cristã, no poder do Espírito Santo, é o fruto pacífico de justiça que nos torna habilitados a participar mais efetivamente da  própria santidade de Deus, Hebreus 12.11, uma vez removido, pelo extintor da aflição,   o combustível do fogo que acenderia o nosso orgulho e vaidade.
Somos dados naturalmente à euforia e não à sobriedade. Ao entusiasmo e não ao domínio próprio. A alegrarmo-nos na carne fora de medida em razão dos nossos sucessos em nossos empreendimentos e orações, e então, as aflições, geralmente operadas pelas resistências e golpes desferidos pelo inferno nos trazem ao devido quebrantamento e espírito e humildade que nos manterão sóbrios, moderados e vigilantes.
Além disso, grandes e fortes paixões carnais só podem ser subjugadas  por grandes aflições.
Por isso muitos pensam que haja contradição na verdade que quanto mais tentamos nos aproximar de Deus por uma correta santificação, mais somos atribulados. Todavia, isto é verdadeiro e bíblico, pois todos os que se santificam, vivem isto em suas experiências, e daí ter afirmado o apóstolo que todo aquele que quiser servir a Cristo de maneira piedosa será perseguido, 2 Tim 3.12; e que assim nos importa entrar na posse do reino de Deus através de muitas tribulações, Atos 14.22.
Por conseguinte, quanto mais experimentarmos da vida de Deus, mais tribulações teremos, porque não somente o reino das trevas se levantará em maior grau contra nós, como também o próprio Deus permitirá isto para que sejamos mantidos em toda vigilância e oração espiritual, que contribuirão para o nosso aperfeiçoamento na justiça, no amor e na verdade.
Não aprenderíamos paciência, longanimidade, paz e misericórdia, a não ser por este meio de vencer com Deus nas aflições que temos aqui embaixo. Tudo isto nos prepara portanto para vivermos a vida do céu já a partir da nossa jornada terrena.









6 - O Sábio e Poderoso Controle de Deus nas Nossas Aflições

 “Acaso, é esmiuçado o cereal? Não; o lavrador nem sempre o está debulhando,”. (Isa 28:28a)

A debulha da aflição não tem por propósito causar qualquer dano ao homem interior do cristão, porque o grão será mantido íntegro na debulha, e dele nada se perderá, senão somente a sua casca e palha.
O trabalho do lavrador não é somente o de debulhar, mas também de preparar a terra, cultivá-la, plantar a semente e cuidar da plantação até que chegue o tempo da colheita.
Ora, assim também procede em relação aos cristãos o Grande Agricultor que é Deus.
As aflições dos homens ímpios torna-lhes mais orgulhosos, mas aquelas aflições que nos levam a orar mais e que nos levam para mais perto de Deus, tornando-nos mais semelhantes a Cristo, estas são aflições abençoadas.
Por isso Davi disse: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos." (Sl 119.71)
Todas as aflições dos cristãos estão debaixo do controle de Deus, porque ele não permitirá que a pressão sobre o grão não exceda a medida adequada, de modo a não prejudicá-lo. Como dissemos antes, o seu objetivo é apenas o de remover o que não serve, a saber, a casaca do pecado, a palha dos maus hábitos e tudo aquilo que impede o crescimento da graça que foi plantada por ele nos nossos corações.
“Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.” (I Cor 10.13)
Temos um amplo testemunho nas vidas de muitos cristãos que sairam muito melhorados espiritualmente de suas aflições.
É no nosso aperfeiçoamento espiritual até à plena semelhança com Cristo que Deus está interessado, porque foi para este propósito que ele nos criou.
Quando usamos a fé que professamos para outros fins, estaremos certamente  mercadejando a Palavra de Deus para objetivos interesseiros egoístas pecaminosos que afastarão os nossos ouvintes para muito além deste alvo proposto pelo Senhor para aqueles que desejam se aproximar dele.
Assim, a paciência é recomendada na Bíblia para todas as aflições que experimentarmos porque é para este propósito que as provações nos são enviadas por Deus.
“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.” (Tiago 1.3,4)
Se não nos armarmos do pensamento que devemos ser pacientes na tribulação e depositar toda a nossa confiança no Senhor, para sermos fortalecidos pela sua graça, certamente interromperemos a ação da nossa perseverança que deve ser completa, para que sejamos aprovados em nossas tribulações.
 Devemos também nos encorajar com o pensamento verdadeiro de que estas aflições são designadas para durarem uma temporada, caso necessário, com vistas ao refinamento da nossa fé, I Pedro 1.6. Assim, devemos nos consolar com a certeza de que Deus proverá o escape, como ele tem sido fiel em fazê-lo com todos os seus servos ao longo de toda a história da Igreja.







7 - Salmo 119.67 - Conhecendo o Bem que Há na Aflição

Tradução e adaptação elaboradas pelo Pr Silvio Dutra, de citações extraídas do comentário de autoria de Thomas Manton, sobre o Salmo 119.36.

“Antes de ser afligido andava errado, mas agora guardo a tua palavra” (Salmo 119.67)

Neste versículo, você pode observar duas coisas:

1. O mal na prosperidade - antes de ser afligido andava errado.
2. O bem na adversidade - mas agora guardo a tua palavra. Antes andava errante, mas agora atento ao seu dever. Ou, se quiser, aqui está a necessidade das aflições e a utilidade delas.

1. A necessidade, "Antes de ser afligido andava errado”. Alguns pensam que Davi, personifica a libertinagem e a obstinação de toda a humanidade. Se assim fosse, no entanto, a pessoa em quem o exemplo é dado é notável. Se esta foi a disposição do profeta e homem de Deus, e se ele precisava desta disciplina, muito mais nós: se ele pôde dizer isto, com verdade de coração, que ele foi piorado por sua prosperidade, precisamos ser sempre zelosos conosco; e se não fosse por este flagelo, que nos aflige, esqueceríamos o nosso dever e a obediência que devemos a Deus.
2. A utilidade e benefício das aflições, "mas agora guardo a tua palavra." Guardar a lei é uma palavra genérica. O uso da vara da disciplina de Deus é para nos levar para casa com  Deus, e a aflição nos impeliu para fazer melhor uso da sua palavra: ela nos mudou da vaidade para a seriedade, do erro para a verdade, do orgulho para a modéstia. E o apóstolo nos diz que o próprio Jesus Cristo aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu, Heb 5.8, e aqui Davi foi feito melhor pela cruz.
Podemos observar nas palavras do texto três coisas:

1. A confissão de suas andanças, "andava errado”.
O pecado dá causa às aflições. Há aqui um reconhecimento secreto de sua culpa, que o seu pecado foi a causa do castigo que Deus trouxe sobre ele.

2. O método que Deus usou para conduzi-lo ao seu dever, "Eu fui afligido”.
A verdadeira noção e a natureza da aflição para o povo de Deus. A cruz muda a sua natureza, e não é uma punição destrutiva, mas uma ministração medicinal, e um meio de nossa cura.

3. O sucesso ou o efeito do método divino: "Eu tenho guardado a tua palavra".
A finalidade é a obediência, ou guardar a palavra de Deus. A soma de tudo é, eu estava fora do caminho, mas a tua vara me afligiu, e me levou para a obediência novamente.
Eu poderia observar muitos pontos, mas a doutrina de todo o versículo é:
Doutrina: Que o fim da aflição que nos vem de Deus, é para reconduzir o seu povo desviado para o caminho reto.
Vou explicar este ponto por estas considerações.
1. Que o homem é de uma natureza desviada, apto para abandonar o caminho que conduz a Deus e à verdadeira felicidade. Somos todos assim por natureza: Isa 53.6 “Todos nós, como ovelhas, nos desviamos.” As ovelhas superam todas as demais criaturas, quanto a estarem sujeitas a se desviar, e se não forem cuidadas e guardadas da melhor maneira possível, são incapazes de se manterem fora do erro, e quando erram, são incapazes de voltar ao redil por si mesmas.
Por isso as ovelhas são o símbolo usado pelo Espírito Santo para representar a natureza da humanidade. Mas isto se dá melhor conosco depois de termos recebido a graça? Não; nós somos, em parte, ainda assim. O melhor de nós, se for deixado por sua própria conta, quão breve se desviará do caminho certo? em que erros tristes incorrerá? Sl 19.12: "Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas.” Desde que recebemos a graça, todos nós temos os nossos desvios; embora os nossos corações sejam ajustados para andarem com Deus para o principal na vida cristã, mas sempre e logo estamos nos desviando da nossa obediência, transgredindo os nossos limites, e negligenciando o nosso dever. Bem que  Davi tinha razão em dizer, Sl 119.176, “eu ando desgarrado como ovelha perdida: oh, procura o teu servo!"
Nós nos extraviamos, não somente por ignorância, mas por perversidade de inclinação: Jer 14.10, “Assim eles gostavam de andar errantes, e não detiveram os seus pés. “Temos corações que amam vagar; amamos mudanças, ainda que seja para pior, e assim estaremos fazendo excursões para os caminhos do pecado.
2. Este pendor para se desviar é muito aumentado e incentivado pela prosperidade, que, embora seja boa em si mesma, no entanto, por sermos tão perversos por natureza, fazemos o pior uso dela.
Que os maus se tornam piores por causa da prosperidade, é evidente: Isa 26.10, “Ainda que se mostre favor ao perverso, nem por isso aprende a justiça;". A luz do sol em cima do monte de esterco nada produzirá, senão fedor, e o sal do mar vai tornar salgado tudo o que cair nele. Então, os homens ímpios convertem tudo ao seu modo e gosto. Nenhuma misericórdia ou juízo de Deus farão qualquer gracioso e amável trabalho sobre eles, mas, se tudo for bem com eles, tomam mais liberdade para viverem livre e profanamente. O temor de Deus, que é o grande freio de toda maldade, é menor e praticamente fica perdido neles quando não veem qualquer mudança em seu caminhar: Sl 55.19: "porque não há neles mudança nenhuma, e não temem a Deus.” Este pequeno temor servil que eles têm, o qual poderia guardá-los de ficarem vagando, é então perdido, e quanto mais suavemente Deus tratar com eles, mais incrédulos e seguros eles ficam.
Quando eles se tornam prósperos e sem problemas, ficam mais obstinados do que nunca.  Mas não é assim com o povo de Deus também? Sim, na verdade, Davi, cujo coração bateu quando ele cortou a orla do manto de Saul quando estava vagando no deserto, pôde planejar a morte de Urias, seu servo fiel, enquanto ele Davi estava confortavelmente em seu palácio.
Perdemos muita ternura de consciência, vigilância contra o pecado, muito desta diligência viva que devemos  manifestar na realização da vida espiritual, quando estamos em facilidades e todas as coisas vão bem conosco. Estamos aptos a entrar na carne quando temos tantas iscas para alimentá-la; e para aprender a estar contente em Cristo quando há plena prosperidade é uma lição mais difícil do que aprender a estar contente quando se é humilhado, Fp 4.12, e, portanto, se Deus não nos corrigir, cresceremos descuidados e negligentes.
O princípio de toda a obediência é a mortificação da carne, o que naturalmente não podemos suportar. Depois que temos nos apresentado e submetido a Deus, a carne estará procurando sua presa, e se rebelando contra o espírito, até que Deus arranque suas seduções de nós. Por isso o Senhor se vê forçado a nos quebrar por diversas aflições para nos conduzir em ordem. Nós o forçamos a nos humilhar pela pobreza, ou vergonha, ou doenças, ou por meio de conflitos domésticos, ou alguma inconveniência da vida natural e animal, e tudo o que valorizamos muito. Além disso, nossos afetos pelas coisas celestes definham quando todas as coisas sucedem conosco neste mundo de acordo com o desejo do nosso coração, e esta frieza e indolência não são facilmente removidas.
Muitos são como os filhos de Rúben e Gade, Números 32, que quando encontraram pastagens convenientes do outro lado do Jordão, estavam contentes com que fosse a sua herança, sem procurar qualquer coisa na terra prometida. Então seus desejos são estabelecidos insensivelmente aqui, e têm menos interesse no bem do mundo vindouro.
3. Quando sucede assim conosco, Deus julga conveniente enviar as aflições. Grande parte da sabedoria da providência de Deus é para ser observada;
a) Em parte na época de aflição, em que o estado e a postura da alma nos surpreendem, quando andamos errantes, quando mais precisamos disto, quando o nosso abuso da prosperidade clama em voz alta por isto; quando as ovelhas se desviam, o cão é solto para buscá-las. Deus ordena a sua providência para as nossas necessidades: 1 Pedro 1.6, “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações,”. Ai! muitas vezes vemos que as aflições são altamente necessárias e oportunas, tanto para evitar uma enfermidade que está crescendo em nós, ou para nos recuperar de algum curso mal no qual nos desviamos de Deus. Paulo estava em perigo de se tornar orgulhoso, e então Deus mandou um espinho na carne. Esta disciplina é muito boa e necessário antes de a doença se espalhar longe demais.
b) Grande parte da sabedoria e providência divina também são observadas, em parte, no tipo de aflição. As várias concupiscências devem ter  remédios específicos. O orgulho, a inveja, a cobiça, a libertinagem, a emulação, têm todas as suas curas apropriadas.
Todos os pecados se referem a três fontes impuras: 1 João 2.16, "Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo." A partir dos desejos (concupiscência) da carne surgem não apenas os atos grosseiros de lascívia, fornicação, adultério, gula, embriaguez, que assolam boa parte da humanidade, e surge também um amor desordenado a prazeres, companhias vãs, e entretenimentos vãos, a complacência carnal, ou a satisfação carnal.
A concupiscência dos olhos, a avareza e a mentalidade mundana, produzem miséria, rapinas, contendas, conflitos, ou o desejo imoderado de adquirir casa sobre casa, campo sobre campo, e toda sorte de bens e confortos materiais.
Do orgulho (soberba) da vida vem a ambição, conceito elevado de nós mesmos, escárnio e desprezo dos outros, afetação por honra e reputação no mundo, a pompa, finura de trajes e inúmeras vaidades, para constranger a outros! Agora, Deus, que pode se encontrar com os seus servos quando eles estão tropeçando em qualquer tipo destas coisas referidas, envia as aflições como seus mensageiros fiéis para detê-los em sua carreira, para que a carne não possa navegar e levá-los para longe com um vendaval completo.
Contra os desejos da carne, ele manda doenças e enfermidades; contra os desejos dos olhos, a pobreza e decepções em nossas relações; contra o orgulho da vida, desgraças e vergonha, e às vezes ele faz variações na forma da dispensação destas aflições, porque sua providência guarda um teor, e cada cura será aplicada conforme o temperamento de cada pessoa, nem tudo vai funcionar da mesma forma para todos.
A sabedoria de Deus pode ser observada no tipo de aflição, e quão apropriado é este trabalho que é feito; porque Deus faz todas as coisas em número, peso e medida. Em parte pela maneira como ele vem sobre nós, por quais instrumentos e de que tipo. Quantos se fazem miseráveis por uma cruz imaginada! e assim, quando todas as coisas estão bem com eles, suas próprias paixões se tornam um fardo para si mesmos, e quando não estão feridos em sua honra, nem sofrendo perda de imóveis, nem agredidos em sua saúde, nem suas relações cortadas e conflitadas, mas sendo cobertos com toda a felicidade temporal, parece não haver qualquer espaço ou lugar para qualquer aflição ou problema em suas vidas, e ainda assim, na plenitude de sua suficiência, Deus lhes traz um terror e um peso, ou então por seus próprios temores, ou pela falsa imaginação de alguma perda ou desgraça, Deus os torna desconfortáveis ​​e cheios de inquietação, e eles se tornam mais problemáticos do que aqueles que estão em conflitos reais, sim, com os maiores males. Hamã é um exemplo: ele foi um dos príncipes do reino da Pérsia, que nadava em riqueza e todos os tipos de delícias, em grau de dignidade e honra, ao lado do próprio rei, e,  ainda, porque Mordecai, um judeu pobre, não lhe fez a reverência esperada, disse: “Tudo isso não me satisfaz", Ester 5.19.
Assim, tão logo Deus envie um verme na cabaça mais justa, e uma insatisfação na propriedade mais próspera do mundo, e os homens não terão descanso dia e noite, especialmente se uma centelha da sua ira brilhar na consciência: Sl 39.11: “Quando castigas o homem com repreensões, por causa da iniqüidade, destróis nele, como traça, o que tem de precioso.”. Há um segredo que a traça come todo o seu contentamento, pois eles estão sob terror, desânimo e falta de paz: Deus lhes ensina que nada pode ser apreciado de forma satisfatória para além da sua própria bênção: "Um fogo não soprado deve consumi-los”, Jó 20.26.
c) Em parte, vemos também a sabedoria e a providência de Deus, na continuidade das aflições. Deus ordena, tirar e lançar em aflições a seu próprio prazer, e quando ele vê que elas agiram em nosso proveito.
Variedade de aflições podem atingir o melhor e mais querido dos filhos de Deus, havendo nos melhores muitas corrupções, tanto para serem descobertas e subjugadas, e muitas graças para serem provadas: 1 Pedro 1.6 “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações,”, e Tiago 1.2, "Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações". Um problema opera nas mãos de outro, e a sucessão deles é tão necessária quanto o primeiro golpe sofrido.
4. A aflição assim enviada tem um uso notável para nos conduzir a um senso e cuidado do nosso dever. As aflições são comparadas nas Escrituras ao fogo que purga a nossa escória: 1 Pedro 1.7. “Para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo;”. As aflições são comparadas também à poda da tesoura  que corta os ramos inúteis, e faz com que os demais sejam mais  frutíferos: João 15.2. Então, Heb 12.11, “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.”.
Portanto, não devemos ficar desanimados quando Deus usa as aflições para o nosso próprio bem.
“e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado;  porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais ( Deus vos trata como filhos ); pois que filho há que o pai não corrige?” (Heb 12.5-7)
Não devemos portanto suportar as aflições com falta de sabedoria, com uma mente insensata, que possa nos impedir de alcançar o propósito de Deus que se encontra embutido nelas. Qual pai ficaria contente com a rejeição por parte de seus filhos, de sua disciplina e correção?
Por que o homem se queixaria do castigo merecido do seu pecado? Sobretudo quando isto é feito pelas mãos de um Pai de amor?
O fim da correção pela aflição é o nosso arrependimento e a nossa transformação, tanto para corrigir o pecado passado, quanto para prevenir o pecado ainda por vir.
Assim, ainda que gemamos dizendo: “Senhor, dá-me outra cruz, mas não esta!”, devemos reconsiderar o dito irrefletido de nossos lábios, e aceitarmos com submissão voluntária a cruz que Deus sabe de antemão, que é a única que se ajusta para a correção da nossa condição. Trocá-la por outra não produzirá o efeito esperado por Deus em nós.
Deus não sente prazer em nos afligir, isto lhe dói em seu coração de Pai perfeitamente amoroso que é. “Ele não aflige, nem entristece os filhos dos homens, de bom grado." (Lam 3.33).
Afinal todo este enfraquecimento do pecado e do nosso ego carnal tem em vista possibilitar o nosso fortalecimento com a graça.
Daí estar escrito: Prov 24.10: "Se te mostras fraco no dia da angústia, a tua força é pequena."








8 - Encontros com Deus na Hora da Aflição

Há uma diferença entre as aflições que são provindas da mão de Deus, e as que são o resultado das perseguições e da violência dos homens.
Mas a ambas pode ser aplicado o que o apóstolo afirma em Rom 5.3,4:
“E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.”
Em ambas as fontes de provações a mão de Deus sempre estará controlando tudo, não permitindo que sejamos provados além da nossa capacidade de suportar, e atuando de forma que tudo coopere para o bem daqueles que o amam. Este é o fim a ser alcançado segundo o Seu propósito.
Se não sofremos por sermos ímpios ou malfeitores, mas na condição de filhos de Deus, mesmo quando somos por Ele corrigidos por causa dos nossos pecados, e necessidade de crescimento espiritual, sempre haverá este controle e assistência que recebemos da parte do nosso Pai eterno, que tem por alvo nos tornar coparticipantes da sua santidade.
Por isso a fé deve estar acima de tudo o que nos sucede.
Vivendo na fé, esperando sempre no Senhor em todas as circunstâncias, mesmo as de enfermidades graves, sempre encontraremos ocasião para nos alegrarmos e estarmos em paz nEle, conforme nos proporciona com a Sua doce presença em nossos momentos difíceis, fortalecendo o nosso espírito.
Isto tem sido testemunhado por muitos até mesmo na hora da morte de entes amados, em razão do grande suprimento de paz que recebem da parte da graça do Senhor.
Por isso Deus ordena aos seus filhos que não temam nada que possam sofrer neste mundo, especialmente o que lhes vier da parte dos homens, porque Ele se encontra em Seu sublime e elevado trono de glória e poder, e nada de real valor será perdido por nós ou em nós.








9 - Por Que Se Alegrar Por Ter Passado Pela Provação?

“Meus irmãos , tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações”. (Tiago 1.2)

Passardes - (do verbo grego  peripésete, 2ª pessoa do plural (vós) do 2º aoristo ativo do modo subjuntivo de Peripitw, que significa cair no meio de; ficar cercado de; dar em ou ir ter a um lugar acidentalmente; encontrar-se em. Temos então para o texto: “que vós passasseis ou que vós tivésseis passado”).
Não teríamos então no texto uma exortação à busca de novas provações, mas ter por motivo de alegria o ter passado por várias delas que contribuirão para o amadurecimento espiritual. Certamente isto não exclui as que ainda poderão vir, e que certamente virão, mas tornamos a afirmar que não temos aqui um estímulo para que se busque provações ou tentações, até mesmo porque nosso Senhor nos ensina a orar ao Pai, para que não nos deixe cair nelas, ou seja, ser conduzidos a elas.
Várias – (do grego poikílois, que significa, variadas, diversas –  a palavra poikílos é feminina no grego, e se encontra no caso locativo plural, conforme indicado pela desinência “ois” – assim temos “em variadas”.
Provações – do grego peirasmois, que significa tentações ou provações – a palavra peirasmós  é masculina no grego, e se encontra também no caso locativo plural – assim temos “em provações” ou “em tentações”)
Como o que está em foco no argumento do apóstolo é a provação da fé, então temos uma melhor tradução com a própria palavra provação, conforme a achamos na versão atualizada da SBB, porque a par de toda tentação ser uma provação, nem toda provação da fé é uma tentação, como, por exemplo, a que Deus submeteu a Abraão em relação a seu filho Isaque, quando lhe pediu que o oferecesse em sacrifício.
Deus a ninguém tenta, conforme o próprio Tiago vai afirmar mais adiante nesta sua epístola.
Então as tentações são produzidas por outros agentes, especialmente o diabo, e também por nossas próprias cobiças.
O apóstolo diz que estas variadas provações são para motivo de alegria, não que sejam uma fonte de alegria em si mesmas, mas no bom resultado para o qual contribuirão posteriormente, como por exemplo o refinamento e confirmação da nossa fé.
Thomas Manton disse com propriedade:
“O cristão vive acima do mundo, porque ele não julga de acordo com o mundo. O desprezo do apóstolo Paulo por todos os acidentes deste mundo é decorrente do seu julgamento espiritual a respeito deles: Rom 8.18 “Tenho por certo que as aflições deste mundo presente não podem ser comparadas com a glória a ser revelada em nós”.
E ainda:
“As aflições para o povo de Deus não somente são uma ocasião para ministrar a paciência, mas muita alegria. O mundo não tem razão para pensar sobre a religião de Cristo de um modo negro e sombrio: como diz o apóstolo, “A fraqueza de Cristo é mais forte que a força dos homens”, 1 Coríntios 1.25, o pior modo da graça é melhor do que o melhor do mundo; “toda a alegria, quando em diversas provações”. Um cristão é uma ave que pode cantar no inverno, bem como na primavera, ele pode viver no fogo como na sarça de Moisés, que ardia, e não ser consumido. O conselho do texto não é um paradoxo, criado apenas para noção e discurso, ou alguma fantasia, mas uma observação, construída em cima de uma experiência comum e conhecida: este é o modo de os crentes se alegrarem por suas provações.
Certamente um espírito abatido vive muito abaixo da altura dos privilégios e princípios cristãos. Paulo, em sua pior condição sentiu uma exuberância de alegria: “Estou me regozijando”;  e também, em outro lugar ele foi mais longe ainda ao dizer: Rom 5.3: “nos gloriamos nas tribulações” que denota uma maior alegria. 2 Cor 6.10 é o lema de Paulo “contristados, mas sempre alegres”, e este pode ser o lema de todo cristão.”








10 - “É o suficiente para o discípulo ser como o seu mestre." (Mateus 10.25)

Ninguém contesta essa afirmação, pois seria impróprio para o servo ser exaltado acima de seu Mestre.
Quando nosso Senhor estava na terra, qual foi o tratamento que ele recebeu?
Foram suas reivindicações reconhecidas? Suas instruções seguidas, suas perfeições adoradas, por aqueles a quem ele veio para abençoar? Não. "Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens."
Fora do arraial era o seu lugar: carregar a cruz era a sua ocupação.
O mundo lhe deu consolo e descanso? "As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça."
Este mundo inóspito não lhe proporcionou qualquer abrigo: ele o expulsou e o crucificou. Do mesmo modo - se você é um seguidor de Jesus, e mantém uma consistente, caminhada e conversação cristã - você deve esperar ter uma parte de sua vida espiritual que, em seu desenvolvimento público, estará sob a observação dos homens. Eles vão tratá-lo como eles tratavam o Salvador - eles irão desprezá-lo. Não sonhe que estes que amam o mundo vão admirá-lo, ou que por mais santo e mais semelhante a Cristo que você seja, mais as pessoas vão agir pacificamente em relação a você.
Eles não valorizaram a gema polida, e como eles valorizariam a joia bruta? "Se eles chamaram o dono da casa de Belzebu, quanto mais eles chamariam os seus domésticos?"
Se formos mais semelhantes a Cristo, seremos mais odiados por seus inimigos. Seria uma triste desonra para um filho de Deus ser o favorito do mundo. É um presságio muito ruim ouvir um mundo perverso batendo palmas e clamando: "Muito bom" para o homem cristão. Ele pode começar a olhar para o seu caráter, e maravilhar-se se não tem feito algo de errado, quando o injusto lhe dá a sua aprovação. Sejamos fiéis ao nosso Mestre, e não sejamos cúmplices de um mundo cego e ímpio que lhe despreza e rejeita.
Longe de nós a buscar uma coroa de honra, onde nosso Senhor encontrou uma coroa de espinhos.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.









11 - “No mundo tereis aflições" (João 16.33)

Queres perguntar a razão disto, cristão?
Olhe para o alto, para o teu Pai celeste, e veja-o puro e santo. Tu sabes que serás um dia como ele?
Queres ser facilmente conformado à Sua imagem? Será que precisarás de muito refinamento na fornalha da aflição para ser purificado? Será que vai ser uma coisa fácil se livrar das tuas corrupções, para que sejas perfeito assim como vosso Pai que está nos céus é perfeito?
Em seguida, cristão, volte os teus olhos para baixo. Tu sabes que tens inimigos debaixo dos teus pés? Tu eras servo de Satanás, e nenhum rei deseja perder de bom grado seus súditos. Tu achas que Satanás te deixará sozinho? Não, ele sempre estará ao teu redor, "como leão que ruge, buscando a quem possa tragar." Espera então problemas, quando olhares para baixo de ti.
Então olha em volta de ti. Onde estás? Tu estás no território do inimigo, és um estrangeiro e peregrino.
O mundo não é teu amigo. Se for, então não és amigo de Deus, pois quem é amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
Tenha certeza de que encontrarás inimigos em toda parte. Quando te deitares, pense que descansarás no campo de batalha; quando andares, suspeite de uma emboscada em cada esquina. Como se diz dos mosquitos, que picam mais aos estranhos do que aos nativos, assim as aflições da terra serão mais acentuadas para ti.
Por fim, procura dentro de ti , no teu próprio coração e observa o que está lá. Pecado e ego ainda estão no teu interior. Ah! se tu não tens o diabo para te tentar, nenhum inimigo para lutar contigo, e nenhum mundo para te seduzir, tu ainda acharias em ti mesmo mal suficiente para ser um problema doloroso para ti, pois "o coração é enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente mau.”
Espere problemas, então, mas não fique desalentado por causa disso, porque Deus é contigo para te ajudar e te fortalecer. Ele tem dito: "Eu serei contigo quando estiveres em dificuldades, eu te livrarei e te honrarei."

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.








12 - Este Terrível Vento Leste!

"Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos.” (Colossenses 3.15)

Eu não sei como isto acontece, mas durante os últimos dois ou três dias, eu fui chamado a simpatizar com um monte de tristezas, como eu nunca havia experimentado num tão curto espaço de tempo. Um mensageiro de miséria seguiu no calcanhar de outro, cada um com notícias duras. E isso não é tudo, pois também tenho ficado perplexo com uma grande quantidade de pecados, brigas e faltas. As pessoas estão murmurando, resmungando, se preocupando e lutando por todos os lados. Isso tem me tentado tanto que eu me sinto pouco equipado para atuar como consolador, porque eu mesmo preciso de conforto. Tenho procurado animar os outros até que eu tenha bebido do seu cálice de tristeza - eu tentei fazer a paz para  outros até o ponto de temer perder a minha própria - eu tentei responder às queixas  das pessoas até o ponto de ficar tentado a ter um resmungo ou dois na minha própria conta.
Talvez eu possa aliviar a minha mente com o sermão que eu espero entregar. Eu disse a alguém a quem muito estimo: "Eu não sei como isto acontece, mas parece que todo mundo está fora de rumo agora." Sua resposta foi sábia: "O vento está no leste." Este fato representa um grande assunto, porque:
Quando o vento está no leste, “isto não é bom para o homem nem para os animais." Algumas pessoas sentem o vento leste de modo terrível – isto faz  com que mordam a primeira pessoa que encontrarem. Estou contente de achar algum tipo de desculpa para os meus irmãos cristãos e, se eu não puder encontrá-la em nenhum outro lugar, mas no vento leste, eu vou fazer o melhor que puder dele. Mas eu espero sinceramente que o vento possa soprar em breve por mais um trimestre e que não venha novamente do leste, até que tenhamos um pouco de descanso, e renovado o nosso estoque de paciência. Se um vento cortante provoca desânimo, irritação, descontentamento e mau humor – possam os ventos suaves nos visitarem com frequência e nos trazerem a cura em suas asas!
Como o bom tempo não vai durar para sempre, será melhor estarmos preparados para a ventania. Isso fará com que nunca tenhamos uma fé que seja morta pelo vento - devemos ser feitos de material melhor do que este! No entanto, este vento é culpado e eu desejo, portanto, que isto o extinguisse. Se eu pudesse encontrar um canto aconchegante onde o vento leste cruel nunca foi sentido, eu me sentiria inclinado a promover um movimento de emigração para certas pessoas que eu não vou citar! Problemas e ventos leste virão para os servos de Deus e eles são enviados para nos fazer bem, porque talvez, se pudéssemos ter uma parede de proteção e nos sentarmos para sempre à luz do sol, sem o vento leste interferindo conosco, iríamos dormir, ou poderíamos vir a amar tanto este mundo a ponto de sermos relutantes em deixá-lo!
Seria uma coisa horrível para qualquer um de nós se o vento sul soprasse suavemente sobre nossas faces e sussurrasse gentilmente em nossos ouvidos uma longa e continuada alegria que pudesse ser achada na terra  porque então poderíamos ser tentados a nos sentarmos e dizer: "Alma, fique à vontade. Você tem, enfim, encontrado um lugar livre das provações do tempo. Portanto, coma, beba e seja feliz, e deixe o mundo futuro cuidar de si mesmo."
Desconforto familiar, maridos e esposas que não podem concordar, dificuldades domésticas, irmãos e irmãs que brigam, problemas da Igreja, os membros que não são tratados gentilmente por outros (que geralmente não são o mais amável tipo de pessoas, eles mesmos, eu aviso), dificuldades nos negócios, dificuldades na pregação - o mundo está repleto dessas coisas!
Quando o vento está no leste, nos deparamos com muitas pessoas que não conseguem ganhar salários suficientes, outros que acreditam que nunca foram bem tratados desde que nasceram. E todos estes aparecem em multidões quando o vento está no leste. Bons homens tornam-se fanáticos por algo novo, encontram falhas nos velhos amigos, despertam debates e discussões sobre nada - e isso acontece com mais frequência quando o vento está no leste. Quando esse tipo de espírito é encontrado entre o povo cristão, é muito triste. Mas certamente deve haver um remédio para isto!
Pretendo levá-los hoje ao grande Médico das almas, Jeová Rafá! - O Senhor que nos Cura - que é capaz de curar todas as nossas enfermidades e dar alívio permanente a todo o mal, para que o nosso espírito possa estar em repouso. Eu creio que nós temos uma receita neste versículo, que, se for bem observado, irá livrá-lo de todos os problemas, e fazê-lo cantar por longo tempo, e ajudá-lo a viajar da Terra para o Céu e ser, ao mesmo tempo , tão feliz como os pássaros no ar!
Aqui está: "Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos.” (Colossenses 3.15)

I. Em primeiro lugar, possuir a paz de Deus -  "Que a paz de Deus reine em vossos corações." Ela não pode ser o árbitro em seu coração, se você nunca sentiu o seu poder! Portanto, certifique-se de que você está realmente reconciliado com Deus por Jesus Cristo. Muitas pessoas têm paz, mas, infelizmente, ela é falsa paz. Eles têm a paz de um suave, gentil, tímido, tempo  - um tipo de paz, que, se não fere ninguém mais, muitas vezes arruína o seu próprio possuidor. Alguns têm a paz da ignorância, a paz da estupidez, a paz de absoluta indiferença - falsa paz. Estes são os seguidores daqueles falsos profetas que proclamavam: "paz, paz", onde não havia paz. Ai do homem cuja paz de espírito é como a suavidade mortal da correnteza quando esta se aproxima da cachoeira!
Muitos estão à vontade em uma condição que pode fazer com que o cabelo de um homem sábio fique branco numa noite.
A paz que precisamos ter é a paz de Deus, o que significa, eu acho que, em primeiro lugar, paz com Deus. Oh, que coisa abençoada é sentir que a grande causa da briga entre o nosso espírito caído e o grande Espírito é removida - que somos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho, que o pecado, o grande divisor, tem sido lançado nas profundezas do mar e que é estabelecida entre nós e Deus, uma comunhão feliz!
Espero que muitos de vocês estejam, a esta hora, desfrutando de muita paz. Se você tem isso, alegre-se nisto! Se você, então, está em paz com Deus, não aja perpetuamente como se a paz fosse questionável e duvidosa. Se cremos em Jesus Cristo, "sendo justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo." Oh, a alegria de saber que, "tanto quanto o oriente está longe do ocidente, assim tem ele afastado de nós as nossas transgressões" e que, portanto, nunca mais podem voltar de uma distância tão imensa, sim, nunca mais voltarão, pois o Senhor Jesus Cristo as tem lançado nas profundezas do mar, e se elas forem procuradas, não serão achadas! Sim, não devem ser, diz o Senhor! Bem-aventurado é o homem que tem paz com Deus por meio do sangue expiatório!
O crescimento espiritual procede disto, em seguida, a paz com Deus, no que diz respeito a todas as Suas providências que só pode vir através de uma completa submissão a toda a vontade divina, porque alguns há que não estão em paz com Deus, mesmo sobre uma Providência específica que lhes afligiu anos atrás. Eles permanecem discutindo com Deus sobre a morte de uma amada esposa, ou filho, ou mãe - eles não conseguem perdoar a Deus por ter tomado uma flor do seu próprio jardim. Se eles fossem sábios, não seriam, portanto, rebeldes, mas encontrariam em seu Salvador amoroso a recompensa por todas as suas perdas.
Esteja longe de nós levantar uma questão sobre o que a Providência de Deus já fez! Ele deve estar certo! O ponto é continuar se submetendo a esta Providência que está agora transpirando. Se, para o presente, a vontade do Senhor deve enviar-me a pobreza, a obscuridade, a dor, o cansaço, a vergonha, eu devo estar em paz com Deus quanto a tudo isto.
Se o Senhor me diz: "Vá através do mar e deixe todos os seus amigos:" Eu não devo me atrasar. Se Ele diz: "Pregue Verdades Divinas não desejáveis, que irão lhe dar inimigos", não devo hesitar. Se Ele diz: "Fique em casa com reumatismo", não devo sair. Se Ele nos nega aquilo que pensamos que iria nos fazer mais felizes,  mais úteis, não é de nenhuma utilidade para nós recalcitrarmos contra os aguilhões. O propósito divino certamente será cumprido e a miséria para nós será lutarmos contra o jugo, no esforço de tê-lo de outra forma que o amor e sabedoria infinita de Deus determinou que deve ser!
Se você não pode mudar de lugar, mude de idéia até que a sua mente lhe traga para o seu lugar e você o amará! Mas se Deus tem uma vontade e nós temos outra, é claro que a paz de Deus não será ainda o árbitro dos nossos corações. Embora perdoados e tendo terminado a grande causa da nossa guerra com Ele, ainda estamos levantando pontos menores de diferença e incitando estes conflitos.
A submissão voluntária ao nosso Pai é a paz de Deus. Esta paz de Deus é, também, a paz, como Deus deseja - como Deus aprova. Que, você sabe, é em primeiro lugar, paz perfeita consigo mesmo e depois com todos os homens, certamente, com o seu povo, mas também com toda a humanidade. "Se possível, tanto quanto está em vós, tende paz com todos os homens."
Sempre que tenho sofrido graves ofensas, tem sido uma satisfação para mim a sensação de que, se o meu Senhor Jesus Cristo fez expiação por minhas ofensas  e por meus erros, eu posso olhar também para Sua Expiação como expiação para o mal feito a mim como a Deus, pois Ele satisfez todas as partes em disputa.
Mas essa paz é chamada paz de Deus, porque é a paz que Deus opera na alma. Não posso produzir essa paz dentro de mim. Isto é impossível para a natureza humana não regenerada! Só Deus pode fazê-lo!
"A paz de Deus" significa a paz que nunca termina, eterna paz, a paz que vai morar com a gente em toda a nossa jornada mortal, até que entremos na terra da imortalidade!

II. Vejamos agora que, para você possuir esta paz de Deus, você deve deixar que ela seja o árbitro do seu coração.
Ela deve governar e ocupar o trono do seu coração.
Para que haja paz no coração, como em qualquer outro lugar, deve haver um governante. Aquelas pessoas que estão sempre interessadas em derrubar seus governantes, podem se despedir da paz. Qualquer pessoa que esteja inclinada à anarquia deve ler a "Revolução Francesa", de Carlyle com cuidado e perguntar a si mesma se o pior rei não é, afinal, muito melhor do que o despotismo da multidão.
Você deve ter um governo dentro de sua própria alma, e se nada lhe governa, eu lhe digo abertamente, que prevalecerá o diabo! O homem que não controla a si mesmo é controlado pelo diabo, pois ele deve ter um mestre em algum lugar.
Não podemos ter dois senhores, mas é bem certo que nós devemos ter um! Uma ou outra fonte vai dominá-lo. Será o seu Criador, ou seu Inimigo? Seu Salvador, ou o seu Destruidor? É um dom abençoado da Graça se um homem está habilitado a dizer, pelo Espírito Santo - "A paz de Deus deve reinar em meu coração." Paulo aconselhou isto - "Que a paz de Deus reine em vossos corações." É nos seus corações que ela deve governar, pois tem o poder de expulsar toda rebelião.
Você sabe que o árbitro nos jogos gregos decidiam como os corredores deveriam correr; como os lutadores deveriam lutar, de acordo com a lei do festival. Ele disse, talvez, que tal e tal golpe na luta foi um golpe sujo, e se ele disse isso, não havia questionamento - estava decidido. Nenhum homem jamais questionou ou poderia invalidar a decisão do árbitro! Sua voz terminava todo debate.
Agora, a paz de Deus faz o mesmo em nossos corações. Devemos estar decididos a julgar todas as coisas pela paz de Deus. "O que devo fazer neste caso? Devo me humilhar? Eu não gosto, mas como eu deveria agir? Devo me submeter?" O orgulho diz: "Nunca! Não, não! Nunca ceda!" Mas o que a paz de Deus diz? Ela diz: "Renda-se". Cristo diz: "Eu vos digo que não resistais ao perverso... mas quem vos ferir na face direita, oferece-lhe a outra, também. E se alguém quiser processá-lo na Lei, e lhe tirar o casaco, deixe que tenha a sua capa, também." Cristo decide que será bom ser um sofredor, em vez de se vingar.
Eu oro portanto, por vocês, queridos amigos, deixem que a paz de Deus decida por vocês em todas as provações de paciência, suportando erros e questões que conduzem a debate e separação

III. Muito resumidamente, eu quero, em terceiro lugar, dizer: Fortaleçam-se, queridos amigos, pelo Espírito de Deus, a fim de que possam deixar a paz de Deus reinar em seus corações e possam ser preservados de  qualquer violação desta paz celestial.
Lembre-se, você só pode ser feliz no coração e saudável no espírito, desde que  mantenha a paz de Deus. Você pode estar certo de se tornar miserável e infeliz – de tropeçar, aqui e ali, em faltas - se esta paz de Deus se for.
Estou certo de que não pode haver bênção onde não há paz. Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir.
Sempre que tenho que resolver uma disputa, eu sempre gosto de ter algo grande, uma coisa ruim nisto, que eu possa apontar para que logo concordemos com o ponto correto. Quando não posso, com o microscópio em meus olhos, descobrir o que tem ocorrido, acho que os irmãos são mais difíceis de serem conciliados. É mais fácil atirar numa coruja do que num mosquito! Pequenas diferenças irritam como minúsculos espinhos e você não pode tirá-los da carne. Oh, que o Espírito de Deus venha sobre as Igrejas e as transforme em corpos unificados de fogo! Então, elas não iriam cair aos pedaços por causa de contendas internas! Quando as almas estão sendo ganhas, quando o Evangelho está sendo apreciado, quando Cristo está sendo glorificado, quando a Igreja está em marcha, vencendo e para vencer através do poder divino que está nela, então existe paz dentro de suas fronteiras e seus cidadãos são alimentados com o mais fino trigo! Mas uma vez deixada a vida de Deus escassear e o Espírito de Deus partir, então a paz se afasta, também. Oh, deixe a paz de Deus reinar em seu coração, querido irmão, querida irmã, por causa da Igreja.
Tenho certeza de que se um cristão, sempre procurar falhas em todo mundo ele será de pouca utilidade à causa e ao reino de nosso Senhor. Aquele que, por onde passa, atua como um corvo que se eleva no ar com nenhum outro objetivo senão o de descobrir onde a carniça possa estar, eu digo, que não é um homem segundo o coração de Deus e nem fará prosperar a obra do Senhor entre os homens! Quando você ama seus irmãos cristãos para que suas faltas sejam cobertas por seu amor e você prefere admirar suas virtudes, a publicar suas enfermidades, então é que Deus é glorificado por você! Um povo feliz e pacífico de quem os homens podem dizer: "Veja como esses cristãos amam uns aos outros", brilham como astros no mundo e as trevas sentem o seu poder!
O trecho a partir do qual nosso texto é tomado nos oferece outras razões. Ele diz isso - "Para o que você também é chamado." Você foi chamado para a paz de Deus. Meu querido irmão, se você não é um homem pacífico, não tem herdado  sua verdadeira vocação. Quando o Senhor lhe chamou para fora do mundo, Ele lhe chamou para ser um pacificador. Ele chamou você com o propósito de que o Espírito da paz pudesse ser derramado em seu coração e que depois você pudesse levar essa paz consigo em sua própria família e entre todos os seus vizinhos e espalhá-la por toda parte. O Senhor Jesus nunca chamou um homem para ser um criador de contendas! Se uma mulher cristã, como ela se chama, vai de casa em casa com mexericos, ela não foi chamada por Deus para fazê-lo – disso estou certo!
Vocês que são os verdadeiros herdeiros do Céu são chamados à paz - busquem a paz e sigam-na. Onde quer que vá, trabalhe intensamente para fazer a paz. Se você vir dois meninos lutando, faça-os parar. Se você vir duas meninas de mau humor, tente fazê-las felizes uma com a outra. "Bem-aventurados os pacificadores".
Observe a seguir, "chamados em um corpo." Deve haver, portanto, a paz entre os cristãos porque somos chamados em um corpo de paz. Suponha que meu pé dissesse: "Eu não vou levar esse corpo pesado sobre mim. Veja o que eu tenho que sofrer com ele às vezes."  O que será de mim se os membros do meu corpo, começassem a brigar assim? E qual será a glória de Cristo, se seus membros viverem em disputas? O que faz a Cabeça se os membros que compõem seu único corpo místico nada têm para fazer, senão se esforçarem, um contra o outro?
Oh, não! Se você tiver qualquer diferença, acabe com elas hoje, peço-lhe, se você puder, mesmo que o vento leste seja tão penetrante! Se você tiver feito sem querer qualquer coisa que tenha entristecido a outros, tente remediá-lo. Ou se os outros têm entristecido você, termine o assunto por um doce e rápido perdão. Que seja tudo terminado com o vento leste! Somos chamados em um corpo, por isso vamos viver em paz saudável e que Deus, o Espírito Santo, o Senhor e Doador da paz, nos traga na paz de Deus e nos mantenha lá, pois para isso fomos chamados em um só corpo.

IV. O último ponto sobre o qual vou falar é este - mantenha-se correto, ocupe sua mente saudavelmente. "Como?" você pergunta. O texto diz: "Sede agradecidos." Essa é a maneira de manter a nossa paz com Deus! "Seja grato." Não reclame, mas bendiga o seu nome por tudo! Não brigue com ele, mas seja grato. Diga: "Aceitamos o bem das mãos do Senhor, e não receberíamos o mal? O Senhor o deu e o Senhor o tomou, bendito seja o nome do Senhor." Essa é a maneira de estar em paz com Ele - ser grato a todo momento. Bendito seja Deus por suas misericórdias e por suas misérias! Bendiga-o por seus ganhos e por suas perdas! Bendiga-o por suas alegrias e prazeres, e também por suas dores!  Bendiga-o da manhã à noite e através de todas as vigílias da noite. "Ele não nos trata segundo os nossos pecados". Seja grato!
Certamente, o vento está mudando de um ponto a outro - vamos encontrá-lo soprando por um outro trimestre! Eu não estou disposto a brigar com alguém, eu preferiria correr uma milha do que lutar por meio minuto! Não há ninguém no mundo que eu gostaria de enfrentar, meu coração está cheio de boa vontade para com todos os homens!
Ninguém no mundo é digno de contendermos contra ele como os nossos interesses temporais. Mesmo a lei necessária é incômoda e vexatória. Seja grato, então, e  com gratidão a Deus e gratidão para com aqueles ao seu redor, você pode ganhar o dia, oh, quão feliz será o dia! Na família e nos negócios, Deus será glorificado, a Igreja será dócil e unida - veremos tempos melhores e não resmungaremos por longo tempo por causa do vento leste! Que Deus lhes abençoe!

Tradução, adaptação e redução do sermão de nº 1693 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.







13 - A Provação Bíblica da Fé

Quando se fala na Bíblia de provação da fé do cristão, como por exemplo nos primeiros capítulos de I Pedro e Tiago, o que está em foco não é permanecer firme na fé para que recebamos de Deus soluções para os nossos problemas neste mundo, mas, sim, permanecer na comunhão com Cristo e prática da Sua Palavra, a par de todas as vicissitudes que aqui soframos.
Jó, Abraão, o profeta Jeremias, os apóstolos Paulo e Pedro, e muitos outros foram assim provados e foram vencedores porque confirmaram a sua fidelidade a Deus em tudo o que sofreram.

“Eles, pois, o venceram (o diabo) por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida.” (Apocalipse 12.11)









14 - Fardos Inevitáveis ​​da Vida

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"Porque cada qual levará o seu próprio fardo." (Gálatas 6.6)

Em um verso o apóstolo diz: "Carregai os fardos uns dos outros, e assim tereis cumprido a lei de Cristo", enquanto no versículo do nosso texto, ele diz: "Todo homem levará o seu próprio fardo." Ainda assim, ele não está se contradizendo. Ele estaria, se estivesse falando literalmente de encargos, mas ele está falando metaforicamente e, consequentemente, ele usa a figura em primeiro lugar, de uma maneira e depois de outra.
Pode ser útil para nós, irmãos, aprender a nunca tirar argumentos e doutrinas de metáforas.
A verdade é que existem cargas que podem ser compartilhadas e que devem ser compartilhadas. O fardo da dor, da necessidade pecuniária, o de problemas do coração às vezes podem ser suportados, mas, por outro lado, existem fardos que nenhum homem pode e nem deve compartilhar com seu companheiro, mas onde cada o homem deve se empenhar sozinho diante de Deus e ninguém pode ajudá-lo. É sobre este tipo de fardo que estaremos falando.
Ao falar dos três primeiros fardos que terei de mencionar, vou me dirigir a todos vocês, sejam santos ou pecadores, pois existem algumas verdades de Deus que são comuns a todos os homens. E esse é o primeiro fardo, o peso do pecado original. O peso da nossa depravação natural, o fardo de nossa natureza decaída, o fardo da nossa constituição, que é pervertida pelo mal - estes devemos, cada um de nós, tem que levar por si mesmo. Pode-se dizer que este não é nosso fardo, mas de Adão, mas o fardo do pai, se ele traz toda a família à pobreza, torna-se o fardo da família e de cada membro dela. Se a cabeça deve doer, não adianta a mão dizer: "Não é da minha conta." Há, também, de modo vital e íntimo a conexão entre o corpo inteiro da humanidade com Adão, sua cabeça, de modo que a queda de Adão se torna nossa,
A ruina de Adão se tornou a nossa ruína e a mancha no sangue pode ser encontrada em todos nós. Vocês estão "mortos em delitos e pecados". Mas, se alguma vez você é vivificado pela graça divina, você vai logo descobrir que "o corpo desta morte", como chama Paulo, o pecado que em nós habita, é um fardo muito pesado para você lutar contra ele e terá que lutar pessoalmente o conflito dentro de sua própria alma. Você vai ter de chamar a ajuda do Poder Divino, ou você nunca vai conseguir a vitória - mas, para vencer a sua própria corrupção, a superação de seus próprios pecados que o afligem e dos males que são mais poderosos em você do que em outros, porque você está constitucionalmente inclinado a eles - nessa batalha você terá que lutar por si mesmo! Você pode obter alguma ajuda com a experiência de outras pessoas, mas ainda assim, a luta e o conflito têm que ser vencidos por você.
Os jovens, nunca imaginam que todo o treinamento do mundo pode livrá-los de seu mal sem uma luta séria de sua própria parte! Não se concebe que as orações de uma mãe vão te dar uma boa consciência, a menos que você também aprenda de Cristo por si mesmo. Não se concebe que as repreensões de um pai podem vencer seu mau temperamento, a menos que você lute contra ele. E se você habitualmente tem uma tendência ao orgulho, não se concebe que as pregações do pastor contra o orgulho possam vencer o orgulho em você! Não, em nome de Deus, você deve ir para a sala de armas e pedir a espada do Espírito, para que pessoalmente, cingido com força divina, você possa obter através da oração fervorosa, vencer os pecados que afligem a sua própria alma! Nesse sentido, então, você terá que arcar com o seu próprio fardo.
Agora, enquanto há vida, há esperança. "Todo pecado e iniquidade serão perdoados aos homens. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados", mas a menos que o pecado seja removido, ele deve permanecer o nosso próprio fardo para sempre e sempre! Você não vai se livrar dele, se unindo à igreja. Você não pode se livrar dele, passando por rituais e cerimônias. Viemos através das portas da vida para este mundo sozinhos, vamos voltar através dos portões de ferro da morte, cada homem sozinho. E o julgamento, embora multidões serão reunidas, será um julgamento individual -  cada um pesado na balança, por si só, seja para ouvir o veredicto que eles são "aceitos no Amado", ou então ouvi-lo dizer: "Fostes pesado na balança e achado em falta."
Mais uma vez, ao falar assim, tanto para santos quanto a pecadores, "cada qual levará o seu próprio fardo" da Lei. Pelo pecado não escapamos da Lei. A Lei de Deus é obrigatória para todo o homem nascido de mulher, a menos que, por estar morto para a Lei por meio de Cristo, ele escapa do seu jugo e escravidão. Agora, o crente não está sob a Lei. Não me entenda mal. Quero dizer que ele não está sob a Lei, no sentido em que o pecador está sob ela. Ele não está sob o seu poder de condenar! Ele não está sob a Lei, mas ele está debaixo da graça! O princípio da Lei não o prende, é o princípio do amor que rege e governa o seu espírito. Agora, cada um que está sob a Lei é obrigado a cumpri-la pessoalmente. Olhem, meus queridos amigos que nunca fugiram para Cristo - olhe para onde você está. A Lei de Deus é como uma lei que Adão não conseguiu guardar, embora inocente. Como, então, você a guardará enquanto imperfeito? É uma Lei espiritual - uma Lei que diz respeito não somente às suas ações, mas suas palavras e seus pensamentos - como você pode guardá-la?  Feliz é o homem que escapou dos territórios da Lei de Deus e entrou nos domínios da Graça Divina!
E agora vamos deixar esses três pontos que são comuns a todos os homens e simplesmente falar dos fardos que os crentes que têm de carregar, cada um por si!
E em primeiro lugar, meus irmãos e irmãs, quando temos sido vivificados e despertados, veremos a necessidade diária para a confissão dos pecados e aqui, "cada qual levará o seu próprio fardo." Arrependimento é peculiarmente a Graça privada e pessoal. Lamentação pelo pecado é uma coisa para a própria câmara.
Na medida em que o pecado tem sido comum podem confessar em conjunto, mas na medida em que a culpa é, em cada caso particular, portanto, deve haver confissão individual.
Além disso, meus irmãos e irmãs, há um outro fardo que temos de carregar e que devemos assumir com alegria, e que é o jugo de Cristo Jesus: "Tomai o meu jugo sobre vós e aprendei de Mim". E então Ele acrescenta: "Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." Somos obrigados a obedecer a Cristo. Ele é o capitão, nós somos seus soldados. Devemos obedecer espontaneamente os comandos do nosso grande líder! Ele é o nosso pastor, devemos nos manter perto dEle, andando em Suas pegadas e deleitando em sua companhia. Ele é o médico, nós devemos seguir a Su prescrição, não hesitando, mesmo que o remédio que ele dá seja muito amargo. Perfeita obediência é o que Jesus Cristo tem o direito de reclamar de nós! Oh, que Ele nos dê a graça para que Ele possa receber de acordo com seus direitos!
Além disso, irmãos e irmãs, eu acho que devemos, cada um de nós, sentir que temos um fardo de oração para levar para o propiciatório. "Cada um levará o seu próprio fardo" a este respeito.
Assim, também, deve cada um de nós ter o seu próprio fardo de testemunhar de Cristo. Cada homem é chamado a dar testemunho da Verdade que ele conhece. Há muitas coisas que eu não sei, por que eu deveria, então, fingir dar  um testemunho sobre elas? Mas há cerca de duas ou três coisas que eu sei. Tenho a certeza sobre elas, e se eu não falar positivamente sobre elas, vou deixar de ter meu fardo diante do Senhor. E há alguma uma verdade de Deus, talvez, meu irmão, sobre a qual você tem um pouco de luz de Deus, um pouco mais leve do que seus vizinhos. Não esconda a Luz de Deus! Deus nunca acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire. Se você recebeu, seja por experiência ou pesquisa, qualquer luz especial que é peculiar a você espalhe-a quanto possa e como deve ser, a propriedade comum da Igreja de Deus, para a Glória de Deus!
Devemos lembrá-lo de que Jesus Cristo é o grande Carregador de Fardos  para todos os Seus santos, pois, apesar de, por um lado, você ter que arcar com seus próprios fardos, mas por outro lado, Cristo vai carregar todos os seus fardos para você! Seu fardo do pecado foi colocado sobre Ele como o bode expiatório para a sua alma.
Você deve lembrar que seu fardo é fácil de ser suportado quando Cristo está com você. Quando Jesus Cristo o fortalecer com todo o poder em seu homem interior e colocar em você Sua própria Onipotência para ser o seu socorro, então a carga deixa de ser um fardo para você por mais tempo!
E, bendito seja Deus, como nós temos o nosso próprio fardo, por isso temos a nossa própria alegria. O mais miserável e infeliz cristão no mundo, irá dizer-lhe, ele tem uma fonte secreta de alegria que os outros não têm. Na verdade, é de notar que aqueles que têm dores profundas geralmente têm proporcionalmente alegrias profundas!
Mais uma vez, é verdade que nós, todos nós, temos um fardo para carregar, mas não temos que carregar esse fardo por muito tempo. Você não tem muita pena de um homem que tem que transportar uma carga apenas durante o piscar de um olho. Bem, toda a vida não é mais do que isso! Basta pensar, meus queridos amigos sobre a eternidade - e que é então esta vida? Imaginar-nos sentados no céu em meio à bem-aventurança eterna, e que momento breve a nossa vida aqui vai parecer!









15 - A Prova da Vossa Fé

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"A prova da vossa fé." (I Pedro 1.7)

A verdadeira fé é, em todos os casos, a operação do Espírito de Deus. Sua natureza é purificadora, edificadora, celestial. Ela é de todas as coisas que podem ser cultivadas no peito humano, um dos bens mais preciosos. Ela é chamada de "fé preciosa", e também de "a fé dos eleitos de Deus." Onde quer que a fé é encontrada, é a marca de certeza da eterna eleição, o sinal de uma condição abençoada, a previsão de um destino celestial. É o olho da alma renovada, a mão da mente regenerada, a boca do espírito recém-nascido. É a evidência da vida espiritual - é a mola mestra da santidade – é o fundamento da alegria - é a profecia de glória - é o alvorecer de conhecimento infinito.
Se você tiver fé, você tem infinitamente mais do que aquele que tem todo o mundo e que é carente de fé. Para aquele, que crê é dito, "Todas as coisas são suas." A fé é a certeza da filiação, o penhor da herança, a compreensão da posse sem limites, a percepção do invisível. Dentro de sua fé reside a Glória. Se você tiver fé, você não necessita pedir por muito mais, salvo que sua fé pode crescer muito e que todas as promessas que são feitas para ela podem ser conhecidas e compreendidas por você. Aquele que tem fé é bem-aventurado porque ele agrada a Deus e está justificado diante do trono de santidade - tem pleno acesso ao Trono da Graça, e tem a preparação para reinar com Cristo para sempre.
Até agora, tudo é prazeroso. Mas então vem, nesta palavra, que a tantos assusta - "A prova da vossa fé." Você vê o espinho que cresce com essa rosa? Você não pode recolher a flor perfumada sem seu companheiro áspero. Você não pode possuir a fé sem experimentar a provação. Essas duas coisas estão juntas - fé e provação.
Deixe-me dizer isso - sua fé será certamente provada. Você pode ter certeza disso. Um homem pode ter fé e estar no presente sem provação. Mas nenhum homem jamais teve fé e esteve toda a sua vida sem provação. A própria natureza da fé implica um grau de provação.
 Eu não vejo como possa ser fé tudo o que não é provado pelo seu próprio exercício. Não se engane, Deus nunca nos deu a fé para brincadeira. Ela é uma espada, mas não foi feita para apresentação em um dia de gala. É uma espada que foi feita para cortar e ferir e matar. E quem a possui pode esperar, entre aqui e o Céu, que ele saberá o que significa a batalha.
Você não pode viver sem fé - porque uma e outra vez nos é dito, "o justo viverá pela fé". Sabendo que é a nossa vida, e que, precisaremos, portanto, sempre dela.
E se Deus lhes tem dado uma grande fé, meus queridos irmãos, vocês devem esperar grandes provações. Pois, à medida que a sua fé crescerá, você vai ter que fazer mais e aguentar mais. E se Ele faz a fé crescer, é com o propósito que ela seja usada ao máximo e exercitada ao máximo.
Esperem provações, também, porque a provação é o próprio elemento da fé. A fé é uma salamandra que vive no fogo, uma estrela que se move em uma esfera sublime, um diamante que faz o seu caminho através da rocha. Fé sem provação é como um diamante bruto, cujo brilho nunca foi visto. Fé inexperiente é tão pouca fé que alguns têm pensado que não se tem fé afinal. O que um peixe seria sem água, ou um pássaro sem ar, que seria a fé sem provação.
Tal é a natureza da fé que ela não prosperará, salvo em ocasiões que podem parecer ameaçar a sua morte. Na verdade, é a honra da fé ser provada. Algum homem pode dizer: "Eu tenho fé, mas eu nunca tive que crer sob dificuldades"? Quem sabe se você tem alguma fé? O homem dirá: "Eu tenho muita fé em Deus, mas eu nunca tive que usá-la em algo mais do que os assuntos comuns da vida, onde eu provavelmente poderia ter agido sem ela, tanto quanto com ela"? É esta a honra e louvor de sua fé? Você acha que essa fé trará qualquer grande glória a Deus, ou trazer-lhe qualquer grande recompensa? Se assim for, você está poderosamente enganado.
Daquele que foi provado por Deus e aprovado por Ele, é que se dirá: "Muito bem, servo bom e fiel." Tivesse Abraão parado em Ur dos caldeus com seus amigos e descansado e se divertido lá, onde estaria a sua fé? Ele teve a ordem de Deus para deixar o seu país para ir para uma terra que ele nunca tinha visto, para peregrinar ali com Deus como um estrangeiro, que habitava em tendas. E em sua obediência à sua chamada a sua fé começou a ser ilustre. Onde estaria a glória da sua fé, se não tivesse sido chamado para ações corajosas e de autonegação?
E quando Abraão veio para a prova mais severa, "Toma agora o teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas e oferece-o em holocausto sobre um dos montes que eu vou lhe mostrar". Quando ele se levantou de madrugada e recolheu a madeira e tomou o seu filho e andaram caminho de três dias, colocando seu rosto como um seixo para obedecer ao mandamento de Deus, quando, finalmente, ele tirou a faca, em obediência fiel ao Divino Comando – então sua fé foi confessada, elogiada e coroada.
Aqui a sua fé ganhou grande fama e tornou-se o "Pai dos fiéis", porque ele era o mais provado dos Crentes e ainda superou todos eles na crença infantil em seu Deus. Se Deus, então, deu a qualquer um de nós uma fé que é honrosa e preciosa ela será submetida com plena certeza à sua própria devida medida de provação.
E, além disso, queridos amigos, é necessária a prova de nossa fé para remover suas impurezas. Há muitos acréscimos de matéria sórdida sobre as nossas mais puras graças. Confundimos quantidade com qualidade. E uma grande parte do que pensamos que temos da experiência cristã e conhecimento cristão e zelo cristão e paciência cristã é apenas a suposição de que temos essas graças, e não a verdadeira posse.
Assim, o fogo cresce mais acirrado e a massa fica menor do que era antes. Existe alguma perda nela? Acho que não. O ouro não perde nada pela retirada de suas impurezas e nossa fé não perde nada pela dissipação de sua força aparente. A fé pode, aparentemente, perder, mas na verdade ganha. Pode parecer ser diminuída, mas não é realmente. Tudo o que vale a pena ter está lá.
Você terá provações, porque Deus, na Sua sabedoria, lhe dará a fé que você necessita. Não fique, no entanto, ansioso para entrar em provação. Não se preocupe se a tentação não vem agora. Você vai tê-la em breve. Entre o dia do nosso novo nascimento e o dia da nossa entrada na nossa herança, teremos provas bastante suficientes de nossa fé.
A sua fé vai ser provada de maneiras variadas. A prova de nossa fé não chega a todas as pessoas da mesma maneira. Há alguns cuja fé é provada a cada dia em sua comunhão com Deus.
Além de qualquer aflição externa, que o pensamento busca, esse sentimento interior que é um pouco mais do que pensamento, aquele santo segredo tremendo que vem sobre nosso espírito, quando Deus se aproxima, é a provação constante de Deus de nossas graças. Se você se afastar de Deus e viver sem comunhão com Ele, você pode manter em seu coração muita falsidade e fantasia que você está cheio de dons e graças espirituais. Mas se você se aproximar de Deus e andar com Ele, você não será capaz de manter uma opinião falsa de si mesmo. Lembre-se de que o Senhor Nosso Deus é um fogo consumidor.
Muitas vezes me lembrei da maneira em que as pessoas tentam melhorar as Escrituras quando dizem: "Deus fora de Cristo é um fogo consumidor." A Bíblia não fala assim. Ela diz: "Porque o nosso Deus é um fogo consumidor." Isto é, Deus em Cristo, que é o nosso Deus, é um fogo consumidor. E quando o seu povo viver nEle, a própria presença de Deus consome neles o amor ao pecado e todas as suas graças pretensiosas e realizações fictícias para que o falso desapareça e somente a verdade sobreviva. A presença de santidade perfeita está matando a jactância vazia e os fingimentos ocos.
Sempre que Jesus permanece conosco: "Ele se assentará como um refinador". A nenhum dos eleitos deixará sozinho em sua corrupção, "Ele purificará os filhos de Levi." É o próprio Senhor que será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros. Quem suportará o dia da sua vinda? Quem ama a santidade gostaria de fugir dela?









16 - Tendo Bom Ânimo num Mundo de Aflições

Vida sem sofrimento, de perfeita e plena saúde, felicidade, alegria, paz, pureza, amor, harmonia, há somente no céu.
A falta desta perfeição aqui na Terra é devida às consequências do pecado que há em toda a humanidade.
É de tal ordem e tão extensa a tragédia desta condição que até mesmo os demais seres vivos (vegetais e animais) dela compartilham pelas coisas que sofrem juntamente com a humanidade, e que fazem com que toda a criação esteja gemendo até agora, aguardando por aquele dia venturoso no qual será libertada desta condição de miséria latente.
Estas palavras não são de pessimismo, mas da mais pura expressão da verdade e realidade quanto ao nosso estado presente, e trazem também a esperança otimista da única forma de se libertar deste quadro terrível, que é por meio da fé em Jesus Cristo.
Mas, enquanto aqui estivermos, mesmo em Cristo, sempre teremos nossas alegrias misturadas com tristezas. Nem sempre em decorrência do que haja em nós, mas pelo que compartilhamos dos sofrimentos de nossos semelhantes e de toda a criação.
Todavia é segura e certa a concretização da promessa que Ele nos fez de alcançarmos a perfeição em glória quando da Sua segunda vinda para restaurar todas as coisas àquela condição original planejada por Deus para as Suas criaturas.
Vemos assim que não é desvantajoso sofrer e chorar enquanto aqui estivermos, e sentirmos profundamente nossas limitações e misérias, porque isto pode ser um fator contribuinte para nos conduzir à busca de socorro em Cristo, e por conseguinte à conversão.
Daí Ele ter dito que são bem-aventurados os que choram e os que sofrem por serem perseguidos por seu amor à justiça.
Deus se compadece profundamente não somente por estes que choram, como também por aqueles que são ignorantes quanto à sua real condição e que continuam buscando achar nesta vida motivos que lhes tornem felizes e alegres.
Não são poucos os que, neste segundo grupo, são conduzidos por Deus, por amor e misericórdia, através das vicissitudes que experimentam, a entenderem por fim que não é aqui o nosso lugar de paz e descanso. Que há uma grande luta a ser travada, por meio da fé, para vencer o pecado e todos os inimigos espirituais que operam neste mundo de trevas.
Não fosse pela infinita bondade, longanimidade e misericórdia de Deus, jamais seríamos objeto deste Seu trabalho de restauração paciente e progressiva do qual todos somos necessitados.
Deus está trabalhando para o nosso bem, enquanto sofremos.
Daí a exortação que nos é dirigida em Sua Palavra:

Heb 12:12 Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos;
Heb 12:13 e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado.









17 - Problema: O Melhor Amigo da Fé

Por John Piper

"Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança." (Tiago 1:2-3)

O teste de sua fé por meio de provações produz perseverança. Qual é o oposto de perseverança? Bem, suponho que o oposto de "perseverança" seja "extinção". Quando a fé não persevera ela extingue. Portanto, se você não quer que sua fé se apague aos poucos, você precisa de algumas provações. Porque Tiago diz que são as provações que "produzem perseverança."

Isso é estranho. A maioria de nós afirmaria que a fé persevera a pesar das provações, não por causa das provações. A maioria de nós pensa que quando o problema aparece a fé é ameaçada. Nós normalmente não atribuímos a duração da fé ao problema que surge. Mas duração é o que perseverança significa. Tiago diz que a fé dura, a fé persevera, porque ela se depara com problemas e ameaças.

Isso é estranho. Podemos estar dispostos a dizer que a fé torna-se mais profunda ou mais forte por meio de provações. Mas isso não é mesmo que dizer que a fé persevera por causa das provações. Isso é o mesmo que dizer que um maratonista é capaz de terminar a corrida porque ele fica levando trombadas. Algum corredor diria que sua habilidade de perseverar até o fim da corrida é potencializada pelo número de pessoas que o derrubam?

Talvez. imagine que houvesse um corredor que amasse flores. Aqui está ele, correndo no pelotão de frente quando de repente ele é desviado pela beleza de um jardim de rosas ao lado do Lago Calhoun. Esquecendo-se da corrida e do ritmo para conquistar a coroa, ele começa a sair da estrada para cheirar as flores. Mas de repente, do nada, alguém (!!) dá uma trombada em suas costas. Doe tanto que a sensibilidade de seu nariz para as rosas se vai. Mas de repente ele percebe que a corrida continua e somente aqueles que terminam a corrida ganham o prêmio. E ele está de pé e correndo.

E se isso acontece diversas vezes, algum esperto comentarista de esportes poderá escrever um artigo e dizer, "Ei amante de flores, considere a felicidade de ser derrubado, porque isso produz perseverança — o único corredor na maratona que terminou a corrida porque algum "fã" ficou derrubando ele!"

Talvez sejamos nós, corredores, os estranhos, não Deus.

E será que o ensino sobre prosperidade, saúde e riqueza de nossos dias é o inimigo da fé porque ensina que o melhor amigo da fé é sua inimiga?

Em direção à linha de chegada com você,

Pastor John









18 - Abatidos mas não Destruídos

Para nosso consolo e esperança Deus mandou registrar os seus grandes feitos do passado, na Bíblia, para que jamais duvidemos do Seu poder, justiça e amor, que estarão sempre atuando em favor daqueles que o amam e temem.
Tudo o que se levanta contra o Senhor haverá de cair, porque demonstrou fartamente na antiga dispensação da Lei, o que sucedeu aos inimigos de Israel quando este andava em fidelidade na Sua presença.
Ele quebra o arco do Inimigo e quebra a sua lança, e frustra todos os seus projetos malignos, transformando maldições em bênçãos.
Vivemos no meio das águas tumultuosas deste mundo exatamente para o propósito de aprendermos estas verdades, de modo prático em nossa experiência cotidiana.
 A experiência do apóstolo Paulo será a mesma que viverão todos aqueles que seguirem os seus passos quanto à fidelidade que é devida a Deus, como podemos ver em suas palavras em II Cor 4.8,9:

“Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados;
perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos;”








19 - Aflições Aliviadas

Temos no Salmo 31 mais uma das orações modelares de Davi que ele costumava fazer quando se encontrava debaixo de aflições e de angústias. Faríamos bem em lhe seguir os passos toda vez em que nos encontramos nas mesmas condições que ele havia experimentado, quando por causa do Seu amor pelo Senhor, muitos lhe armavam laços às ocultas, e nas quais sempre fazia do Senhor a sua fortaleza, e entregava o seu espírito nas Suas mãos para ser livrado.
Ele sabia perfeitamente que era uma coisa vã recorrer a ídolos para receber livramento.
Ao contrário, os laços aumentariam, porque Deus abomina os que adoram ídolos.
Sua confiança estava colocada inteiramente no Deus invisível cuja vontade está revelada na Bíblia.
Ele somente se alegrava e se regozijava quando o Senhor lhe manifestava a Sua benignidade o livrando das mãos dos inimigos, que angustiavam e afligiam a sua alma, e firmando os seus pés num lugar espiritual espaçoso, em que já não podia mais estar sendo oprimido.
A misericórdia do Senhor para com ele era tão grande, que mesmo quando Davi chegava a desesperar da vida, pensando que Ele lhe havia abandonado, e que seria destruído por seus inimigos, o Senhor sempre se manifestava no fim, lhe dando livramento.
De modo que a sua fé nEle, na Sua bondade e misericórdia, aumentava cada vez mais, pois via como Ele envergonhava os perversos, e emudecia os lábios mentirosos que falam insolentemente contra o justo, com arrogância e desdém.
Davi aprendeu que Deus sempre age assim com aqueles que se refugiam nEle.
Livrava Davi. Livra você. Livra a mim.
Crer no Senhor na hora da aflição é alívio garantido.
Certamente a fraqueza do espírito é mui grande na hora da angústia, e parece não ter forças ou sequer desejo de confiar em Deus e nem em si mesmo, mas é preciso lhe pedir socorro ainda que seja com um sinal de um levantar de um dedo, dizendo: “Senhor olha para mim. Sê o meu auxílio!”
Isto é infalível, porque Ele não se nega a ajudar a qualquer que o busque.
Por isso Davi conclamava todos a amarem ao Senhor, porque Ele preserva os fiéis para Si, para que o amem e o sirvam.
Ele havia aprendido também que a fé é sempre colocada à prova pelo Senhor, nas aflições que sofremos, para que aprendamos a não confiarmos em nossa própria justiça, em nossa santidade, em nossa capacidade, que são muito importantes, mas não para nos livrar no dia da angústia, porque nestas ocasiões temos que colocar toda a nossa confiança no poder de Deus, esperar com fé pela sua resposta e intervenção, clamando-Lhe por socorro.









20 - O Bom Efeito da Tribulação

Antes de ter sido afligido, Jó era um bom conselheiro, mas depois do seu sofrimento ele seria transformado por Deus não apenas num conselheiro excelente, como também num intercessor poderoso em favor dos que sofrem.
Ele já estava demonstrando as lições que estava aprendendo nestas palavras de grande humildade que lemos no 16º capitulo. Via agora quão fácil é consolar ineficazmente a outros quando não se passou pelas provas que eles estão experimentando.
Quão difícil é o caminho da consolação por mera palavras, porque viu que no seu próprio caso, não seriam palavras que lhe trariam alívio, nem mesmo o fato dele permanecer calado.
Quando somos atribulados em grandes angústias, pela permissão de Deus, do muito que aprenderemos, talvez a lição mais importante seja esta de que consolaremos a outros não com nossas palavras exortativas, mas com o próprio testemunho de que passamos por vales profundos tal como eles, e de que o Senhor não nos desamparou ainda que parecesse estar distante enquanto caminhávamos solitariamente tendo por companhia apenas a nossa própria dor.
É a isto que Paulo se refere em II Cor 1.3-7:
“3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação,
4 que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
5 Porque, como as aflições de Cristo transbordam para conosco, assim também por meio de Cristo transborda a nossa consolação.
6 Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação é a qual se opera suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos;
7 e a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação.”
Deus permitiu que Paulo chegasse ao extremo do desespero, conforme afirma no verso 8:
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira oprimidos acima das nossas forças, de modo tal que até da vida desesperamos;”
Todavia, o permitira para que aprendesse que Ele nunca nos desampara, mesmo quando parece que fomos desamparados por Ele, tal como Jó estava se sentindo.
E é isto que temos para compartilhar com outros que estão sofrendo as mesmas tribulações, tal como nós, para que sejam consolados, ao saberem, que por mais demorado que Deus possa parecer, Ele nos livrará de todas as nossas tribulações, conforme nos tem prometido, ainda que seja pela morte física, em paz, se isto estiver no conselho da Sua santa vontade.
Por isso o apóstolo afirma ainda nesta mesma epístola o seguinte:
“9 portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;
10 o qual nos livrou de tão horrível morte, e livrará; em quem esperamos que também ainda nos livrará,”
E também em II Cor 4.8-11:
“8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados;
9 perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
10 trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos;
11 pois nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.”
Aí está declarado de forma sucinta o propósito divino nos sofrimentos de Jó, e que ele não podia entender até que a perseverança tivesse a sua obra completa, de maneira que pudesse aprender de Deus, como estava sendo aperfeiçoado para consolar a outros e a interceder por eles, conforme havia feito pelos seus próprios amigos, para que fossem livrados da ira de Deus, conforme vemos no final do seu livro.
 Jó estava chegando no ponto que Deus desejava. Até então ele estava lutando vigorosamente contra as palavras injustas de seus amigos.
Mas agora, ele declara que Deus havia conseguido deixá-lo exausto, e que a penúria física havia avançado de tal forma que ele ficou muito magro, e isto testemunhava contra ele, que havia sido enfraquecido pelo Senhor, então não haveria nenhum proveito em querer se mostrar forte, quando o propósito de Deus era justamente o de enfraquecê-lo.
Ele o faz porque enquanto somos fortes por nós mesmos não podemos experimentar o poder da Sua graça, que se mostra forte somente naqueles que são enfraquecidos por Ele de tal forma, de maneira que vejam toda a sua insuficiência, e que confiem somente na suficiência que Ele supre, tal como Paulo havia aprendido e o declara no décimo segundo capitulo de II aos Coríntios.
A ruína veio violentamente sobre Jó quando ele se encontrava num ato de devoção oferecendo sacrifícios a Deus por cada um de seus filhos. Quando ele estava com sua alma descansada e em plena comunhão com o Senhor.
Não foi quando cometeu algum pecado que isto lhe sobreveio, mas quando estava santificado.
Deus o faz geralmente para que não associemos o motivo de nossas aflições a algum castigo por pecados que tenhamos praticado.
Ele o faz para que saibamos que é a hora da disciplina do Espírito. É a hora da provação da fé, para que seja aumentada ainda mais.
  O sentimento que temos é o mesmo de Jó, porque da paz espiritual e alegria em que nos encontrávamos somos sobressaltados como que se o Senhor nos agarrasse pelo pescoço e nos quebrantasse, despedaçando-nos e colocando-nos como um tipo de alvo no qual ordenará que os seus flecheiros lancem sobre nós as suas flechas (v. 12, 13).
Além disso, não nos sinaliza com nenhuma palavra consoladora ou de misericórdia. Deixa que pensemos que o quadro se agravará ainda mais, e que não seremos poupados.
E somos quebrantados em nosso espírito com golpe sobre golpe, como quem sofre o ataque da parte de um guerreiro.
O resultado destes ataques é o de que toda exaltação e glória pessoal são reduzidas a pó.
Deixamos de nos ter até mesmo em pouca estima. Nos sentimos como o pano com o qual se limpa o chão. Perdemos a vergonha de chorar publicamente. De admitirmos que somos menos do que nada a nossos próprios olhos.
Pode parecer estranho a muitos esta forma de tratamento usado por Deus. Não parece as ações de um Pai bondoso, senão cruel. No entanto, não há outro modo de sermos livrados de nossa vaidade e endurecimento. Portanto, trata-se da mais elevada exibição da Sua misericórdia e amor para com aqueles aos quais Ele ama.
Todo verdadeiro santo deve estr preparado em seu espírito para receber este tratamento, ao menos num determinado período de sua vida, se aspira de fato crescer na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, e tornar-se alguém do qual se possa dizer o mesmo que o Pai disse de nosso Senhor: “Este é meu filho amado em quem me comprazo.”. Não há outro modo para aprendermos humildade e mansidão, a submissão verdadeira que deve existir em todos aqueles que têm sido tornados semelhantes a Cristo.
É um erro portanto, dizer que as experiências de Jó foram exclusivas para ele, e que configuram uma exceção à regra geral de Deus.
Jó estava aprendendo a chorar somente diante de Deus, porque viu que os nossos amigos na verdade, zombam de nós, em nossas misérias, e que somente Deus pode defender o direito que o justo tem perante Ele (v. 20, 21)
Ele prosseguiria se defendendo das acusações injustas que estava recebendo da parte dos seus amigos, como veremos adiante, mas já não dando muita importância a elas, porque estava aprendendo que não há verdadeiro consolo e sabedoria nos homens, se eles não os recebem diretamente de Deus, por tê-lo aprendido numa experiência real e prática com Ele.









21 - Quando a Fé é Provada

Por D. M. Lloyd Jones

Precisamos começar entendendo que podemos nos encontrar numa posição em que nossa fé vai ser provada. Tempestades e provações são permitidas por Deus. Se estamos vivendo a vida cristã, ou tentando vivê-la no momento, na suposição que significa apenas vir a Cristo e então que nunca mais teremos qualquer preocupação na vida, estamos abrigando um terrível engano. É um erro e não é verdade. Nossa fé vai ser provada, e Tiago chega a ponto de dizer: "Tende grande gozo quando cairdes em várias tentações (ou provações)" (Tiago 1:2). Deus permite tempestades, Ele permite dificuldades, Ele permite que os ventos soprem e o mar se enfureça, e que tudo pareça estar dando errado e que nós mesmos estejamos em perigo. Precisamos aprender e entender que Deus não toma o Seu povo e o leva a algum tipo de Campos Elíseos em que estão protegidos de toda e qualquer infelicidade ou problema. Não — nós continuamos vivendo no mesmo mundo que os demais. Na verdade, o apóstolo Paulo parece ir ainda mais longe, dizendo aos filipenses: "Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele" (Filipenses 1:29). "No mundo", disse o Senhor, "tereis aflições; mas tende bom animo, eu venci o mundo" (João 16:33). "Tende bom ânimo" — sim, mas lembrem-se que terão tribulações. Paulo e Barnabé, visitando as igrejas durante suas viagens missionárias, advertiram-nas que "por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus" (Atos 14:22).

Precisamos começar entendendo que "estar prevenido é estar armado de antemão" neste assunto. Se temos uma concepção mágica da vida cristã, certamente vamos ter problemas, porque quando as dificuldades vierem, seremos tentados a perguntar: "Por que isto foi permitido?" E nunca deveríamos fazer essa pergunta. Se entendêssemos esta verdade fundamental, nunca faríamos tal pergunta. Nosso Senhor dorme e permite que o temporal venha. A situação pode realmente se tornar desesperadora, e nossas vidas podem aparentemente estar em perigo. Tudo parece estar contra nós, entretanto — bem, um poeta cristão o expressou por nós:

Quando tudo parece estar contra nós, Para nos levar ao desespero. . .
Mas ele não se deixa desesperar, porque continua dizendo:
Sabemos que há uma porta aberta, Alguém ouvirá nossa oração.. .

A situação pode parecer desesperadora: "Tudo parece contra nós, para nos levar ao desespero". Vamos então estar preparados para isso. Sim, mas devemos fazer mais que isso. Enquanto tudo isso está acontecendo conosco, o Senhor parece estar totalmente indiferente. É aí que entra o verdadeiro teste da fé. O vento e as ondas eram terríveis, e a água estava entrando no barco. Isso era terrível, mas o que mais os aterrorizou foi a aparente indiferença do Senhor. Adormecido, aparentemente sem se importar. "Mestre, não se te dá que pereçamos?" Ele parece indiferente, sem Se preocupar conosco, nem consigo mesmo, com Sua causa ou Seu reino. Imaginem os sentimentos daqueles homens! Eles O tinham seguido, ouviram Seus ensinamentos sobre a vinda do reino, tinham visto Seus milagres e estavam esperando que coisas maravilhosas acontecessem; e agora parecia que tudo ia acabar em naufrágio e afoga¬mento. Que anticlímax, e tudo por causa da Sua indiferença! Somos realmente muito inexperientes na vida cristã se não sabemos algo a respeito disso. Será que todos nós não conhecemos algo dessa situação de provas e dificuldades, sim e de uma sensação de que Deus parece não Se importar? Ele nada faz a respeito. "Por que Ele permite que eu, um cristão, sofra nas mãos de não cristãos?" muitos perguntam. "Por que Ele permite que as coisas deem errado comigo, e não com outra pessoa?" "Por que esse homem é bem sucedido, enquanto que eu sou um fracasso? Por que Deus não faz nada a respeito?" Com que frequência cristãos fazem essas perguntas! Eles têm indagado isso sobre a situação geral da Igreja hoje em dia. "Por que Ele não envia um reavivamento? Por que permite que humanistas e ateus tenham tanta proeminência? Por que Ele não interfere e faz algo, por que Ele não reaviva Sua obra?" Quantas vezes somos tentados a dizer tais coisas, exatamente como aqueles discípulos no barco!

O fato de Deus permitir essas coisas, e que muitas vezes parece até indiferente a respeito, realmente constitui o que estou descrevendo como a prova da fé. Essas são as condições sob as quais nossa fé é testada e provada, e Deus as permite, Deus permite tudo isso. Tiago chega até nos dizer que devemos "ter grande gozo" quando essas coisas nos acontecem. Este é um grande tema — a prova da fé. Não falamos muito sobre isso hoje em dia, não é? Mas se voltássemos ao século dezessete ou dezoito, descobriríamos que era um tema muito familiar. Creio que em certo sentido era o tema central dos puritanos. Certamente teve proeminência mais tarde no grande avivamento evangélico do século dezoito. A prova da fé, e como ter vitória sobre essas coisas, o andar pela fé e a vida de fé eram seus temas constantes.

Vamos agora passar para a segunda pergunta. Qual é a natureza da fé, o caráter da fé? Esta, acima de tudo, é a mensagem particular deste incidente, e sinto que se revela de forma especialmente clara no registro do Evangelho de Lucas. É por isso que estou analisando o incidente baseado nesse Evangelho, e enfatizando a forma como o Senhor colocou a pergunta: "Onde está a vossa fé?" Aí está a chave do problema. Observem a pergunta do Senhor. Parece inferir que Ele sabe muito bem que eles têm fé. A pergunta que Ele lhes faz é: "Onde está ela? Vocês têm fé, mas onde ela está neste momento? Devia estar aqui — onde está?" Ora, isso nos dá a chave para entender a natureza da fé.

Antes de tudo, quero colocá-lo de forma negativa. Fé, obviamente, não é uma questão de emoções. Não pode ser, porque nossas emoções numa situação assim podem ser muito variáveis. Um cristão não deve se sentir abatido quando tudo está dando errado. Ele tem o mandamento de se regozijar. Emoções pertencem à felicidade apenas, mas o regozijo envolve algo muito maior do que emoções; e se a fé fosse uma questão de emoções apenas, então, quando acontece algo errado ou os sentimentos mudam, a fé desaparece. Mas a fé não é uma questão de emoções apenas, a fé inclui o homem integral, incluindo sua mente, seu intelecto e seu entendimento. É uma resposta à verdade, como vamos ver.

A segunda coisa é ainda mais importante. A fé não é algo que atua automaticamente, não é algo que atua de forma mágica. E este é um erro do qual eu creio que todos nós, em alguma ocasião, fomos culpados. Parece que pensamos que a fé é algo que age automaticamente. Muitas pessoas, eu creio, concebem a fé como algo parecido com um termostato ligado a algum aparelho de aquecimento — você ajusta o termostato num certo nível, para manter a temperatura num determinado ponto, e ele opera automaticamente. Se a temperatura tende a subir além daquele nível, o termostato entra em operação e a faz baixar; se usamos a água quente e a temperatura da água tiver caído, o termostato entra em ação e esquenta a água de novo, e assim por diante. Não precisamos fazer nada a respeito, o termostato age automaticamente e mantém a temperatura no nível desejado automaticamente. E há muitas pessoas que aparentemente pensam que a fé atua dessa forma. Presumem que não importa o que lhes aconteça, a fé vai operar e tudo estará bem. Contudo, a fé não é algo que atua automaticamente ou de forma mágica. Se fosse assim, aqueles homens não teriam tido esse problema, a fé teria entrado em operação e eles estariam calmos e tranquilos e tudo acabaria bem. Mas a fé não é assim, e esses são conceitos muito errôneos a seu respeito.

O que é fé? Vamos examiná-la de forma positiva. O princípio ensinado aqui é que fé é uma atividade, é algo que precisa ser exercitado. Não entra em operação por si mesma, nós precisamos exercitá-la. É uma forma de atividade.

Quero dividir isso um pouco. Fé é algo que precisamos colocar em ação. Isso é exatamente o que o Senhor disse a esses homens. Ele disse: "Onde está a vossa fé?", o que significa: "Por que não estão tomando a sua fé e aplicando-a a esta situação?" Pois foi porque eles não fizeram isso, foi porque não colocaram sua fé em ação, que os discípulos se desesperaram e ficaram nesse estado de consternação. Como então podemos colocar a fé em ação? Que quero dizer, ao afirmar que a fé é algo que precisamos aplicar? Posso dividir minha resposta desta forma. A primeira coisa que preciso fazer quando me encontro numa situação difícil, é não permitir que a situação me controle. Este é um aspecto negativo. Esses homens estavam no barco, o Mestre estava dormindo, as ondas estavam jogando água dentro do barco, e eles não conseguiam tirar a água com suficiente rapidez. Parecia que iam naufragar, e o problema foi que eles se deixaram controlar pela situação. Eles deviam ter colocado sua fé em ação, assumindo o controle e dizendo: "Não vamos entrar em pânico". Deviam ter começado assim, mas não o fizeram. Permitiram que a situação os controlasse.

A fé se recusa a entrar em pânico. Gostam desse tipo de definição de fé? Isso lhes parece terreno demais, e pouco espiritual? Mas esta é a própria essência da fé. Fé é uma recusa de se entrar em pânico, aconteça o que acontecer. Acho que Browning tinha isso em mente quando definiu fé desta forma: "Para mim, fé significa incredulidade perpetuamente mantida em silêncio, como o dragão sob os pés de Miguel". Aí está Miguel, e aí está o dragão sob seus pés, e ele o mantém quieto sob a pressão do seu pé. Fé é incredulidade mantida em silêncio, mantida prisioneira. E foi isso que esses homens não fizeram, eles permitiram que a situação os controlasse, e entraram em pânico. Fé, entretanto, é uma recusa em deixar isso acontecer. Ela diz: "Não vou ser controlada por essas circunstâncias — eu estou no controle". Então, assumam o controle de si mesmos, ergam-se, dominem-se a si mesmos. Não percam o controle, perseverem e vençam.









22 - Por Que o Justo é Afligido?

Esta é uma indagação que permeia a mente e o coração de muitos, e não poucos chegam à conclusão temerária de que não vale a pena viver de modo justo, porque afinal, tanto o justo quanto o injusto são igualmente afligidos neste mundo.
Meu pai se tornou alcoólatra quando viu, há muitos anos atrás, um menino numa cadeira de rodas.
Lembro-me como se ainda fosse hoje, quando chegou embriagado em casa, e muito revoltado perguntava à minha mãe, que Deus era esse que permitia algo como aquilo.
Ele não sabia, e eu também não sabia à época, que a resposta para estas indagações da alma já haviam sido dadas por Deus há séculos, através das Escrituras, especialmente, no primeiro livro da Bíblia cuja escrita foi inspirada por Ele, a saber o livro de Jó. Temos todas as respostas neste único livro, mas gostaria de focar neste momento, apenas o que se pode aprender da narrativa dos seus capítulos 3º e 4º.
Enquanto Jó permaneceu calado remoendo-se apenas de dores, e provavelmente delirando em estado de semi-consciência, em razão da grande febre que deveria ter-lhe acometido como consequência da grave infecção que tomara conta de todo o seu corpo, não pôde expressar o seu lamento, como estava fazendo agora, depois de ter permanecido calado juntamente com seus três amigos, por sete dias e noites seguidos.
Todavia, tão logo expressou em termos veementes o seu grande lamento pela condição em que se encontrava, aquilo foi forte demais para os seus amigos tolerarem, porque Elifaz passou a acusá-lo de ser precipitado em suas palavras, e de hipócrita, porque Jó havia sido o conselheiro de muitos para que ficassem fortes e firmes em suas aflições, no entanto, não estava dando tal exemplo de fortaleza e ânimo, quando ele próprio foi atingido pelo sofrimento.
É deveras impressionante, como procuramos tirar daqueles que estão afligidos, um direito que o próprio Deus não lhes tira, a saber, o de se queixarem de suas dores. Jó não estava se queixando contra Deus, mas queixando-se da sua condição, e não há nada de pecaminoso nisto. O pecado de murmuração é mostrar insatisfação para com Deus, mas não por si mesmo, e pelas aflições que sofremos.
Deus as projetou para o grande propósito de nos preservar do mal, e do pior deles, que é o de dar as costas para Ele, o nosso amado e bondoso Criador.
Porque espera que recorramos a Ele em nossas provações para a busca de auxílio em ocasião oportuna, não meramente para sermos livrados da tribulação, mas sobretudo para recebermos a força da Sua graça para poder suportá-las.
Seria antinatural, ou seja, algo contrário à natureza normal, que não se lute pela manutenção da nossa vida, em face do instinto de sobrevivência que o próprio Deus colocou em nós para a nossa preservação; e de igual modo que não se fuja de toda forma de mal que possa nos causar algum tipo de sofrimento ou dano.
Na verdade, era isto o que as palavras do lamento de Jó expressavam. Ele considerava que seria melhor não existir do que estar passando por tudo aquilo que lhe sobreviera repentinamente, e sem que houvesse qualquer promessa ou sinal de esperança, de que aquele quadro fosse revertido.
Não é exatamente isto que sentimos, caso não sejamos assistidos e fortalecidos pela graça de Deus, a lhe dar glória em meio às aflições que nos atingem?
Se a graça estiver presente e atuando, somos fortalecidos e triunfamos sobre a dor. Nossa fé no Senor é aperfeiçoada pelo recebimento da Sua companhia e consolo, e também nosso caráter é igualmente aperfeiçoado, porque ao suportarmos dores e sofrimentos por amor a Cristo, não apenas nos identificamos com Ele em seus sofrimentos, como também, por este meio, somos livrados do nosso egoísmo latente, que não pode ser vencido por outro meio senão o da paciência em meio às tribulações.
Todavia, se para fins específicos, Deus nos deixa à mercê de nossas próprias forças e capacidades limitadas, sucumbimos, e o quadro normal de ser visto é o de que seremos achados desalentados e deprimidos, ainda que não abandonemos nossa confiança no Senhor, não Lhe voltemos as costas, e que continuemos nos sujeitando quietamente à Sua vontade, debaixo da Sua potente mão, tal como sucedera no caso de Jó.      
Qual foi a reação do próprio Senhor Jesus Cristo, quando em Sua agonia no Getsêmani?
Ele chegou a pedir ao Pai que se fosse possível, que passasse dEle aquele cálice de sofrimentos. Todavia, Ele permaneceu perfeitamente sujeito à vontade do Pai em todo o tempo.
Agora, seria de se esperar que alguém lhe dissesse naquela hora de extrema aflição que rejubilasse, saltando de alegria, a pretexto de que seria possível fazê-lo pelo fortalecimento da graça que Lhe seria concedida pelo Pai?
Quando a alma está angustiada até a morte, como se achava a de nosso Senhor no Getsêmani, o que se manifestará é a tristeza e não a alegria.
Se houvesse um sorriso na face de Jesus naquela hora, poder-se-ia dizer que seria um sorriso falso. E como pode ter parte com a falsidade Aquele que é em tudo verdadeiro?
O mundo gosta da dissimulação. Não pode suportar expressões de abatimento e de tristeza, que fazem também parte desta vida.
Há uma falsa ideia de que a vida só tem sentido quando não há provações, tribulações e aflições, e crer desta forma, é portanto se agarrar a uma utopia.
Por isso o mundo procura disfarçar suas tristezas debaixo de máscaras de uma suposta alegria.
Para este propósito os homens se drogam, se embebedam, e fazem um sem número de coisas para se mostrarem alegres, quando na verdade estão angustiados ou entristecidos, bem lá no fundo de suas almas.
Então não havia nada reprovável na atitude de Jó, ao manifestar a sua tristeza. Ao contrário, ele estava sendo absolutamente sincero e verdadeiro, e por isso continuava justo e aprovado aos olhos do Senhor.
Jó pôs em contraste a alegria das novas do dia do seu nascimento, com a intensa dor e tristeza que estava sentindo naqueles dias de sofrimento, que lhe pareciam que não teriam fim até o dia da sua morte.
Como ele não conhecia ainda de maneira plena o propósito de Deus nas aflições, pareceu-lhe muito estranho tudo aquilo que estava sofrendo.
O argumento lógico em sua mente era o seguinte: “Por que Deus o trouxera à vida, e o inspirara a viver em completa retidão perante Ele, se no final, seria colocado como um opróbrio à vista de todos, não como um testemunho de alguém que foi abençoado por Deus, mas ao contrário, que foi amaldiçoado por Ele?”
E mais: “Quem se sentiria inspirado a permanecer na prática da justiça, se o prêmio que Deus tinha reservado para os justos era aquele pelo qual ele estava passando?”.
Como qualquer outro, Jó era um refém de sua própria época, em que se costumava avaliar o favor e o amor de Deus pelos homens, na medida proporcional dos bens e saúde que eles possuíam e desfrutavam.  
À medida que a revelação de Deus, do Seu caráter e vontade foi progredindo, à medida que o tempo passava, até culminar com a revelação final que nos foi feita por Seu Filho Jesus Cristo, sabemos que há um bom propósito nas aflições que sofremos, e que sair deste mundo pelo martírio, é um privilégio, e não uma desonra.
Mas, devemos considerar que este conhecimento não estava disponível nos dias de Jó, e este foi um dos motivos de Deus tê-lo provado de tal forma, para que começasse a revelar ao mundo qual é o Seu propósito nas tribulações.
Todavia, apesar de toda a revelação que temos da parte de Deus na Sua Palavra, há ainda muitos Elifazes por aí fazendo um diagnóstico incorreto relativo ao problema do mal que sofremos.
Eles colocam tudo na avaliação comum de que se há sofrimentos e aflições, é porque pecamos, ou porque não temos exercido a nossa fé. Nem uma e nem outra coisa se aplicavam ao caso de Jó.
Contudo, Elifaz diagnosticou a aflição de Jó como sendo causa da iniquidade que ele havia semeado. É verdade que há uma lei da colheita segundo a semeadura, mas não era este o caso do sofrimento de Jó, porque não estava colhendo algum fruto mau de uma semente má que houvesse semeado.
O “doutor” de almas Elifaz havia portanto, errado em seu diagnóstico.
E, não satisfeito, com isto, colocou em dúvida a sinceridade da confiança de Jó no temor do Seu Deus, e a sua esperança na integridade dos seus caminhos.
Segundo ele, se Jó fosse realmente sincero nisto, não teria recebido todo aquele mal que lhe sobreviera repentinamente.
Em sua teologia estreita não havia lugar para sofrimento de justos.
É fato que a ira de Deus haverá de consumir o ímpio, mas Elifaz não sabia que Deus também é longânimo, isto é, tardio em se irar, e que por isso não executa logo o juízo, porque dá tempo ao homem para que se arrependa de seus pecados e viva, lançando todas as transgressões passadas no mar do esquecimento, além de apagar toda e qualquer culpa.
Todavia, Elifaz considerava que Jó estava sendo atingido por uma rajada da ira de Deus para ser consumido na sua iniquidade.
Quão errado e equivocado ele estava, apesar de ter dito certas verdades que se aplicam a muitos, mas não eram aplicáveis ao caso de Jó, e de tantos servos fiéis de Deus que sofreram, ou que ainda sofrem por amor a Ele, neste mundo.
Elifaz firmou a sua teologia sobre o sofrimento do homem e o castigo divino, de uma visão que lhe fora dada, e de uma voz que lhe dissera o seguinte:
“Pode o homem mortal ser justo diante de Deus? Pode o varão ser puro diante do seu Criador?”
Isto é uma verdade, porque não há nenhum justo, nenhum sequer, diante de Deus, pela sua própria justiça, e todos os que são justos perante Ele, o são, porque têm sido justificados pela fé em Cristo, e por terem sido redimidos no Seu sangue.
Só que em vez de Elifaz, reconhecer que o homem não pode de si mesmo ser justo diante de Deus, no entanto há graça, misericórdia e poder no próprio Deus para torná-lo justo perante Ele.
Então Elifaz se precipitou elaborando uma teologia conclusiva, em cima desta visão que recebera, na qual atribuiu consequentemente desconfiança da parte de Deus em todos os seus servos no céu, e até mesmo o fato de atribuir loucura a todos os seus anjos, inclusive aos eleitos, e segundo ele, de quão maior desconfiança da parte de Deus não gozam todos os homens que habitam na terra.
Que teologia desastrada foi esta a que Elifaz elaborou em cima de uma visão relativa à verdade que havia recebido! É assim que são formadas grandes heresias. Elas partem geralmente de um entendimento ou interpretação incorretos de uma verdade bíblica.
É importante, pois, se não desejamos ser achados como Elifaz, que confiramos verdades bíblicas com verdades bíblicas, coisas espirituais com espirituais, e que não sejamos precipitados em nossas conclusões sobre o modo de agir de Deus, generalizando todas as suas ações a partir de uma única declaração relativa ao Seu caráter ou atributos.
Satanás procura por todos os modos atacar o caráter de Deus. Se não ataca o Senhor diretamente perante os homens acusando-O de injustiça por permitir que sofram males, ele procura sutilmente, distorcer as verdades divinas, dando-lhes uma interpretação diferente do seu verdadeiro significado, para que em vez de os homens serem justos em suas avaliações relativas aos atos de Deus, lhe atribuam juízos e castigos por ações, que não são de Deus, mas que o próprio diabo usa para afligir os homens, tal como estava ocorrendo no caso de Jó, e Elifaz estava atribuindo tudo aquilo a um castigo de Deus porque, segundo Elifaz, Ele não podia confiar em Jó, como em qualquer ser na terra ou no céu.
Certamente Deus não se pode confiar à natureza terrena do homem que é decaída no pecado, mas daí, dizer que não pode confiar em nenhum dos Seus servos, vai uma distância muito grande, porque estes não possuem neste mundo apenas a natureza terrena, mas a própria natureza divina da qual foram feitos coparticipantes por meio da fé em Jesus.
E cabe dizer que no céu, nenhum cristão que para lá tenha ido, se encontra sob a influência da natureza terrena, assim como os anjos eleitos, de modo, que o Senhor pode confiar perfeita e plenamente neles, porque já não podem ser vencidos por qualquer tipo de mal.
Devemos nos acautelar, portanto, para não sermos achados como um tipo de Elizaz, que procurando consolar alguém que está sofrendo, acabe lançando sal e vinagre sobre as feridas que estiverem abertas, em nosso zelo pela defesa da justiça e santidade de Deus, condenando como malfeitor, quem está sofrendo por causa do Seu amor e fidelidade a Deus.
É muito fácil dizer para alguém que está sofrendo de modo terrível: “Você não terá cometido algum pecado oculto ou não confessado?”
No entanto, isto somente pode servir para agravar ainda mais o sofrimento de uma consciência fraca de alguém que esteja sofrendo por amor a Cristo e ao evangelho, e não necessariamente por algum pecado que tenha cometido.
É necessário ter cuidado na aplicação de aconselhamentos em tais casos, e insinuações relativas a pecados devem ser feitas somente por revelação do Espírito ao nosso espírito, e não por uma ruim suspeita, ou por um princípio de aconselhamento generalizante a que estejamos acostumados a usar.
Devemos ter cuidado para não vazar os olhos de nossos irmãos quando nos dispomos a tirar o pequeno cisco que há neles, quando temos a nossa visão prejudicada por alguma trave em nossos próprios olhos, que nos impeça de enxergar a verdade,  tal como sucedera no caso de Elifaz em relação a Jó.








23 - "No mundo tereis aflições." (João 16:33)

Poderíamos por à parte, por um momento, o fino véu que nos separa dos santos glorificados, e perguntar o caminho ao longo do qual eles foram conduzidos por uma aliança com Deus às suas alegrias presentes, como com poucas exceções, se há alguma, nós encontramos esta declaração de Jeová "Eu te escolhi na fornalha da aflição."
Todo mundo fala de alguma cruz peculiar; alguma provação doméstica, de parentesco ou pessoal, que eles encontraram a cada passo de sua jornada; que fez com que o vale que pisaram, fosse realmente, "um vale de lágrimas", e do qual se livraram somente quando o espírito, despojado de suas vestes carnais, fugiu para onde a tristeza e o gemido são sempre aniquilados.
O povo de Deus é um povo contristado. O primeiro passo que dão na vida divina está conectado com lágrimas de tristeza segundo Deus; e, à medida que eles caminham, tristezas e lágrimas fazem, senão seguir os seus passos.
Eles se entristecem pelo corpo de pecado que são obrigados a carregar com eles; e se entristecem pela sua propensão constante para apostatar, para se desviar, para viver abaixo do seu alto e santo chamado.
Eles lamentam que se quebrantam tão pouco; que choram tão pouco; que ainda que haja tanto pecado em suas vidas, que lhes conduz a grandes desvios, ainda são encontrados tão raramente na postura de se rebaixarem no pó diante de Deus.
Em conexão com isto, há o sofrimento que é resultante da disciplina necessária que a mão de correção do Pai que os ama quase diariamente lhes aplica. Porque é nesta luz que todas as suas aflições devem ser vistas, com tantas correções, tanta disciplina empregada por seu Deus na aliança, a fim de torná-los "participantes da Sua santidade." Visto sob qualquer outra luz, Deus é desonrado, o Espírito é entristecido, e o crente é roubado da grande bênção espiritual para a qual a provação foi enviada.

Texto de Octavius Winslow, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

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