sexta-feira, 23 de outubro de 2015

125) Renúncia 126) Repreensão

125) RENÚNCIA

ÍNDICE

1 - Renúncias Necessárias
2 - A Amputação Que É Necessária Para Entrar no Céu
3 - “...quem neste mundo odeia a sua vida,” (Jo 12.25)
4 - O perigo em ser um cristão de classe média cheio de conforto
5 - Renúncia e Abnegação
6 - O Verdadeiro Significado da Renúncia   
7 - Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo


1 - Renúncias Necessárias

Nós lemos no texto de Lucas 14.25-35 o seguinte:

“25 Ora, iam com ele grandes multidões; e, voltando-se, disse-lhes:
26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.
28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar?
29 Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a zombar dele,
30 dizendo: Este homem começou a edificar e não pode acabar.
31 Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra outro rei, não se senta primeiro a consultar se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?
32 No caso contrário, enquanto o outro ainda está longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.
33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.
34 Bom é o sal; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor?
35 Não presta nem para terra, nem para adubo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”

A obediência e serviço a Cristo são na verdade uma sequência de renúncias feitas por amor a Ele, e para que a Palavra de Deus se cumpra em nossas vidas.
Por exemplo, há necessidade que os pais renunciem a seus filhos, e os filhos a seus pais, para que o propósito de Deus relativo ao casamento se consolide, pelo ato de deixar o homem pai e mãe, se unir à sua mulher, para que não sejam mais dois, mas uma só carne aos olhos do Senhor.
Todavia, há uma renúncia suprema que se impõe ao próprio casal, de maneira que deverão aprender a renunciar-se mutuamente, para que o amor e serviço a Cristo, venham em primeiro lugar em suas vidas.
Por isso, nosso Senhor enunciou claramente às multidões que O seguiam, as condições necessárias para o discipulado, porque ninguém poderá ser Seu discípulo se não renunciar a tudo quanto possui.
Quem quiser ser discípulo de Cristo terá que aprender a renunciar a tudo que lhe seja muito querido, e até à Sua própria vontade.
Ninguém poderá guardar a palavra de perseverança do Senhor, que consiste em não negar o Seu nome e os Seus mandamentos, sejam quais forem as circunstâncias, caso não se tenha um sincero amor a Cristo que seja superior a tudo o mais que ame neste mundo, incluindo a sua própria vida.
Isto porque nas situações práticas da vida, o serviço ao Senhor exigirá renúncias da parte de Seus discípulos.
Eles terão que sacrificar os interesses de outras pessoas e até os seus próprios interesses, para que possam, não raras vezes, se dedicarem ao serviço do Senhor.
Para melhor esclarecer o caráter da renúncia que se exige dos discípulos, nosso Senhor comparou tal renúncia como aquela que se faz necessária aos que se empenham numa guerra.
Eles terão que reunir recursos para a batalha e terão que deixar todas as demais coisas que eles amam para que possam se dedicar aos combates que terão que empreender na guerra em que estiverem empenhados.
Para o mesmo propósito usou a ilustração de quem edifica uma torre.
Ele não poderá concluir a construção caso não calcule o custo dos materiais e caso não se dedique totalmente ao projeto da torre que pretende construir.
Isto lhe tomará tempo e dinheiro e não poderá estar mais dedicando a totalidade do seu tempo a outras atividades e interesses.    
O afeto natural pelas pessoas que amamos terá que ceder lugar muitas vezes ao afeto espiritual, que decorre do amor celestial divino, para o atendimento daqueles aos quais devemos servir pela vontade do Senhor, toda vez que tais afetos colidirem.
Servir ao Senhor é então comparado aos sacrifícios e renúncias  que se exigem daqueles que se empenham numa guerra ou num projeto de construção.
Quando o nosso afeto natural pelos nossos pais entrar em competição com o nosso dever evidente para com Cristo, nós temos que dar prova do nosso amor ao Senhor, cumprindo o que se exige de nós, conforme revelado na Sua Palavra, mesmo quando isto signifique contrariar aqueles que amamos, ou então que tal implique um grande sacrifício a ser feito por nós.
Cristo deve ter a preferência em todas as coisas, se quisermos fazer a Sua vontade, e sermos agentes da sua  bênção para muitas pessoas que necessitam do seu amor.
Quantos interesses de amigos terão que ser deixados para trás para que possamos fazer a vontade de Deus, em relação a algum serviço prático que Ele nos tenha ordenado.
Não raras vezes, Deus colocará o nosso amor por Ele à prova, fazendo com que tenhamos a oportunidade de demonstrar na prática a nossa dependência dEle, e fidelidade a Ele e à Sua Palavra, em meio às tribulações que nos alcançam em forma de enfermidades, carências, perseguições, etc.
Se não estivermos dispostos a fazer a renúncia total que Cristo exige de nós, é certo que o inferno se rirá, e muitas pessoas também rirão de modo escarnecedor por termos começado um relacionamento com o Senhor, e não termos permanecido de modo constante na realização e consumação do nosso amor a Ele, por Lhe termos voltado as nossas costas.
  Assim, todo verdadeiro cristão deve ter  uma posição firme e definida contra todo tipo de apostasia e corrupção de mente e de espírito, porque tal apostasia e corrupção lhe tornarão inútil para os propósitos de Deus, e ele virá por fim a ser como o sal que perdendo o seu sabor, para nada mais presta senão para ser lançado fora para ser pisado pelos homens, como disse Jesus.







2 - A Amputação Que É Necessária Para Entrar no Céu

“E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do
que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível onde
não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.
E, se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor entrares na vida aleijado do que, tendo os dois pés, seres lançado no inferno onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.
E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no inferno, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.” (Marcos 9.43-48)

Com este ensino, nosso Senhor Jesus Cristo enfatizou a vital importância da salvação da alma, pela demonstração que caso fosse necessário para obtê-la, deveríamos amputar partes importantes do nosso corpo físico, que por suposição, fossem a causa de nos manterem aprisionados ao pecado.
É evidente que Ele não está recomendando uma prática de mutilações literais, porque nos é ordenado também por Deus o cuidado com a preservação do nosso corpo físico.
Mas, para ilustrar que em não raros casos, a salvação será obtida por renúncias a práticas pecaminosas, que serão dolorosas para nós, e muitas vezes, que até mesmo colocarão em risco a nossa integridade física – quantos não foram e que têm ainda sido martirizados por conta da fé que abraçaram, ainda que não tivessem tropeçado, dando causa a isto - todavia, sofreram com paciência e voluntariamente o martírio sabendo que havia uma vida muito melhor e eterna lhes aguardando, a qual, na verdade, já estavam experimentando desde que se converteram a Cristo.
O ensino de nosso Senhor alude à mortificação do pecado, que deve ser feita por todos os cristãos. Este é um dever que deverão operar para a sua santificação, pelo corte de afeições pecaminosas e todo o tipo de inclinações carnais que os levem a pecar. Os que se entregam a este trabalho evidenciam em si mesmos que entraram no reino de Deus, e por conseguinte, jamais serão lançados no inferno eterno.
A ilustração da amputação dos membros indica portanto que o trabalho de mortificação do pecado não é algo nocional, ou de mero caráter intelectual, mas algo que será realizado em nossa própria vida, atingindo o âmago do nosso ser, pelo despojamento do velho homem, da natureza terrena decaída no pecado que foi crucificada juntamente com Cristo, recebendo a necessária sentença de morte para que possamos viver em novidade de vida.
Nosso Senhor não fez portanto, uma aplicação relativa a um suposto castigo de pecados cometidos, mas uma alusão à remoção necessária do pecado, para que possamos entrar no reino de Deus.    
Assim, as concupiscências que combatem contra a alma devem ser removidas.
Esta amputação de caráter espiritual não é para morte, assim como na ilustração apresentada por nosso Senhor não foi  indicada a amputação de qualquer órgão vital. É uma remoção para vida e não para morte. Assim como quem amputa um órgão gangrenado para continuar vivendo, neste caso apresentado a retirada das inclinações e dos hábitos pecaminosos visam mais do que permitir que continuemos vivendo esta vida natural, senão que obtenhamos a vida espiritual eterna.
Outra parte importante do ensino de Jesus é o de que a alma embora esteja morta com suas partes gangrenadas pelo pecado, ela pode ainda ser recuperada, desde que nos apresentemos a Ele para a realização deste trabalho de remoção daquelas coisas que são para nós a causa do nosso tropeço, e que impedem  a nossa entrada no reino de Deus.
Assim, aqueles que carregam este corpo de morte do pecado em sua jornada terrena, mas do qual vão se despojando ao longo de sua caminhada, haverão de ter a sua entrada no reino de Deus, amplamente suprida.








3 - “...quem neste mundo odeia a sua vida,” (Jo 12.25)

O mesmo Jesus que disse em João 12.25.26: “Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.  Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.", também disse que veio a este mundo para que tivéssemos vida, e que a tivéssemos em abundância (Jo 10.10).
Não há qualquer paradoxo entre as duas passagens bíblicas citadas; ao contrário, são idênticas e complementares mutuamente.
O ponto a ser destacado é que nosso Senhor se refere a dois tipos de vida: a natural, relativa a este mundo cuja fonte reside na nossa natureza terrena pecaminosa, a qual deve ser perdida pelo trabalho da cruz, por odiarmos o pecado que em nós habita e que há no mundo; e a vida que é santa, espiritual e celestial que recebemos por meio da fé em Jesus, pois é este o tipo de vida abundante que somente Ele pode nos dar.
A manifestação desta vida celestial abundante independe de circunstâncias, se somos ou não afligidos por provações em forma de enfermidades, perseguições, pobreza, e até mesmo pelas tentações da carne, do mundo e do diabo.
Aquele que tem carregado a sua cruz diariamente, e que tem crucificado o seu ego, seguindo o pendor do Espírito Santo por caminhar em santificação com Jesus, terá uma fonte de paz, alegria, gratidão, amor, jorrando em seu interior para a vida eterna.
Não importa que esteja preso injustamente, por anos, como sucedeu com José no Egito, conforme o conselho e determinação de Deus, para bons propósitos definidos para o aperfeiçoamento de José na paciência e na santificação; enquanto o mordomo de faraó, que havia transgredido contra o próprio rei, foi colocado por ele em liberdade em poucos dias.
Os apóstolos foram também presos e duramente perseguidos, mas perseveraram na fé, na paciência e na esperança, enquanto aqueles que os oprimiam prosperavam materialmente neste mundo, e no entanto, não haviam alcançado a vida eterna abundante que eles possuíam.
Deus corrige, repreende e disciplina apenas aqueles que são seus filhos, e esta é uma das razões porque são provados por Ele em circunstâncias em que os que os ímpios são livrados rapidamente, enquanto o crente permanece por maior período debaixo dos mesmos sofrimentos em que eles se encontravam.
Nestas tribulações dos crentes estão sendo forjadas a fundamentação do caráter, a paciência, a perseverança, a fé e a esperança.
É evidente que naqueles que amam o tipo de vida que o mundo tem a oferecer, ou seja, as coisas e os tipos de comportamentos que são contrários à vontade e santidade de Deus; nenhuma destas graças está sendo forjada, até mesmo porque não as desejam ou conhecem; e como aqueles que amam o mundo permanecem como inimigos de Deus, jamais obterão a vida eterna que está em Jesus.








4 - O perigo em ser um cristão de classe média cheio de conforto

Por John Piper

Ser cristão nestes dias nos Estados Unidos é algo muito confortável, classe-média e respeitável. Quais são os perigos nisso?
A Bíblia é muito clara ao dizer em 1 Timóteo 6:9 que exercitar a piedade como um meio de ganho - ganho financeiro - é mortal; e a mortalidade disso está no desejo de ser rico. O texto diz para não desejar ser rico, porque “os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição.” Em outras palavras, é suicídio querer ser rico.
Um dos principais perigos em ficarmos confortáveis em nosso cristianismo é que com o passar do tempo esse conforto tende a parecer com algo que Deus - ou o mundo - nos deve; e o que nós chamávamos de "luxo" antes passa a ser chamado de “necessidade” agora. Cada vez mais nós queremos coisas, e segurança, e conforto. E até mesmo as nossas conversas com as pessoas tendem para assuntos tais como alguma coisa nova, especial, que acabamos de comprar e deixamos de falar na linguagem do Reino. É um tipo de gangrena progressiva com um rosto sorridente que corrói o coração do Reino.
"E até mesmo as nossas conversas com as pessoas tendem para assuntos tais como alguma coisa nova, especial, que acabamos de comprar e deixamos de falar na linguagem do Reino. É um tipo de gangrena progressiva com um rosto sorridente que corrói o coração do Reino."
Quando Jesus disse em Mateus 6:31-33 - “não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” - ele estava nos alertando para que não entrássemos em uma condição em que estivéssemos nos afogando em coisas. Em outras palavras: “Entreguem-se a energias mentais e emocionais que dizem respeito aos assuntos do Reino, e deixem comida, vestes e bebida cuidarem de si mesmos.” E parece que nós entendemos isso quase que completamente às avessas.
Nós nos envolvemos em situações em que ficamos falando sobre o que nós vestimos, e sobre comida e brinquedos e casas, e só de vez em quando um assunto do Reino surge e Cristo entra na conversa. Eu penso que Jesus é afligido por isso e gostaria que nós invertêssemos as coisas.
Fale sobre Cristo, e missões, e ministério, e sobre produzir um impacto para Jesus. Oh sim, você precisa de um lugar para morar. Certamente você precisa de um meio para ir de um lugar para outro. É claro que provavelmente você precisa de um computador nestes dias, de forma que você possa se comunicar através de e-mail. Mas deixe a sua conversação e a sua energia fluir principalmente na visão do Reino e nos assuntos do Reino.








5 - Renúncia e Abnegação

Qual é o grande motivo da renúncia e abnegação que nos são exigidas por nosso Senhor Jesus Cristo?
Creio que seja o compromisso total que é necessário ter com Ele e com o evangelho.
Em várias passagens Ele ilustrou o caráter deste compromisso pleno quando citou, por exemplo, que quem lança mão do arado e olha pra trás não é apto para o reino de Deus (Lucas 9.61); que quem começa a construção de uma torre ou uma guerra deve concluí-las empenhando-se até o fim (Lucas 14.28-32).
O arar o campo, a construção da torre ; e a declaração de guerra devem ser minuciosamente calculados e não podem ser abandonados ou interrompidos de modo algum, sob pena de termos o nosso trabalho prejudicado e não concluído.
Fomos empregados como lavradores e construtores, e alistados como soldados de Cristo ao nos convertermos a Ele, e para agradá-lo deveremos cuidar inteiramente dos interesses do seu reino.
Em consequência teremos que renunciar a muitos projetos e desejos pessoais; teremos que priorizar o nosso tempo para Cristo e o reino, e isto certamente encurtará o tempo que dispendemos sobretudo com os nossos familiares e as pessoas que exigem muito da nossa atenção em nossos relacionamentos, e por isso Jesus disse que:
“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14.26)
Como isto contraria os nossos sentimentos e vontade naturais, então necessitaremos colocar em prática o que Ele nos ensina:
Primeiro,
“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me;” (Lucas 14.27)
E em seguida,
“Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14.33)
Não há outra alternativa para vencer nossos afetos naturais que possam nos impedir de servir ao Senhor inteiramente senão a crucificação do nosso ego com todos os seus desejos.
Teremos que contrariar nossos desejos e até a própria vida para que possamos servir a Cristo da maneira pela qual convém ser servido.
Ele nos deu o exemplo supremo disto não fazendo a sua própria vontade, senão a do Pai, para que pudesse consumar a nossa salvação.
De igual forma isto se aplica a nós, porque não podemos nos empenhar na obra de salvação de almas, sem que se veja operando em nós, não a nossa, mas a vontade do Senhor.

Você pode ler toda a Bíblia (Velho e Novo Testamento) com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:

http://interpretabiblia.blogspot.com.br/






6 - O Verdadeiro Significado da Renúncia   

“26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo...
33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14.26, 27, 33).

O verdadeiro significado da renúncia cristã não diz respeito tanto ao que abandonamos e o esforço que realizamos, quanto por quem  o fazemos, a saber, se por nós mesmos ou por Cristo.
Este desapego às coisas que mais amamos, inclusive a nós mesmos, conforme nos é imposto pelo Senhor para segui-lO, é de caráter totalmente diferente das renúncias que as pessoas costumam fazer  para atingirem seus objetivos, porque elas o fazem por si mesmas e por aquilo que escolhem fazer, e não para Cristo, e segundo a Sua vontade divina.
O cristão é portanto chamado a se auto negar e carregar a cruz que mortificará o seu ego, para poder seguir verdadeiramente a Cristo, de maneira que possa dizer de fato que tem feito a vontade de Deus neste mundo, e não a sua própria vontade.
Nós selecionamos apenas três versículos da porção de Lucas 14.25-35 nos quais Jesus expôs as condições exigidas por Ele para o discipulado, de maneira que aqueles que pretendem segui-lO fazendo a Sua vontade estejam plenamente instruídos quanto ao que será exigido deles para tal, de maneira que possam se armar do pensamento das coisas que terão que fazer e ao que terão que renunciar se pretenderem fazer de fato a vontade de Deus.
Todos os que pretenderem seguir a Cristo têm que contar com o pior, e se prepararem adequadamente.
É possível que muitos discípulos de Jesus pensassem que Ele lhes diria o seguinte: “Se qualquer homem vier a mim, e for meu discípulo, ele terá honras e riquezas em abundância neste mundo.”. Mas Ele lhes disse exatamente o contrário disto, e lhes revelou que deveriam se dispor a deixar tudo o que fosse querido a eles, e deveriam ser desmamados de tudo aquilo em que buscavam o seu conforto e segurança, e que teriam aflições.
Eles deveriam morrer para tudo aquilo que lhes desse conforto e segurança no mundo e morrerem inclusive para si mesmos, não mais vivendo para fazer a vontade do eu, de maneira que pudessem conhecer e praticar a vontade de Deus.    
Assim ninguém pode ser discípulo de Cristo se não estiver disposto a contrariar a vontade de seus familiares (v. 26) quando esta vontade entrar em competição com a de Deus. E não somente isto, deve estar disposto a contrariar a sua própria vontade e vida. Se não for sincero nisto e se não o fizer, não poderá ser constante e perseverante na obra de Deus, a não ser que ame mais a Cristo do que qualquer outra coisa neste mundo, e esteja disposto a se separar de tudo aquilo que ele possuir oferecendo-o como um sacrifício para Deus, de maneira que Cristo possa ser glorificado por esta nossa separação para nos consagrarmos inteiramente a Ele (tal como os mártires que não amaram as suas vidas diante da morte).
É somente quando nos separamos dos afetos que nos prendem a este mundo, que somos capacitados a servir melhor a Cristo.
Assim Abraão se separou do próprio país dele, e Moisés da corte de faraó.
Não é feito nesta passagem de Lucas menção a casas e terras porque a filosofia ensinará a olhar para isto  com desprezo; mas o cristão considera isto de uma maneira bem mais elevada, por saber que tudo o que o homem amar seja em seu relacionamento com pessoas ou bens, se ele for um discípulo de Cristo, terá que amar menos estas coisas do que a Cristo, e estar disposto a se separar delas caso seja necessário para continuar seguindo ao Senhor.
Não que as pessoas que amamos devam ser em algum grau desprezadas, mas deve ser perdido o conforto e satisfação que achamos nelas para que somente Cristo seja todo o conforto e sustentáculo de nossas vidas. E é a este tipo de renúncia a que o Senhor se refere ao dizer que é necessário renunciar a tudo para ser seu discípulo, isto é, aqueles que pretendem segui-lo não podem ter a razão da sua esperança e conforto em qualquer coisa ou pessoa deste mundo, porque terão que aprender a depender inteiramente do Senhor porque Deus os provará muitas vezes vendo falhar ou faltar estes confortos, e não raro, mesmo aqueles que muito amamos e prezamos se levantarão contra nós quando perceberem a nossa plena disposição de nos consagrarmos inteiramente a Deus.
Quando nosso dever para com nossos pais entrar em competição com nosso dever evidente para Cristo, nós temos que dar a preferência a Cristo. Se nós tivermos que negar a Cristo para não sermos banidos por nossos parentes, nós temos que perder a companhia deles e permanecer fiéis a Cristo.
Todo homem ama a sua própria vida, mas nós não podemos ser discípulos de Cristo se nós não O amamos mais que nossas próprias vidas. A experiência dos prazeres da vida espiritual e a esperança da vida eterna farão com que esta dura declaração do Senhor se torne fácil. Quando a tribulação e a perseguição surgirem por causa da Palavra, então principalmente a tentação será superada se nós amarmos mais a Cristo.
A tentação constante de buscarmos a Deus para que Ele faça a nossa vontade, em vez de nos inteirarmos qual seja a vontade dEle para conosco, para que nos empenhemos em fazê-la, só pode ser tratada pela cruz, que imporá sua sentença de morte sobre os desejos carnais de nossa alma, de forma que sejamos conduzidos pelo Espírito Santo.
Há um grande equívoco em se pensar que uma grande fé é aquela que consegue obter coisas de Deus para própria e exclusiva conveniência pessoal. Mas, ao contrário uma fé verdadeira em exercício nos capacitará a renunciar a tudo e a fazer com amor e paciência perseverante a obra que Deus nos tem designado, enquanto descansamos na Sua promessa de suprir aquilo que nos for necessário.
Esta fé verdadeira em exercício fará muitas petições a Deus, mas somente daquilo que for da Sua vontade, para que possamos continuar a Seu serviço neste mundo, que não devemos amar, e do qual devemos estar desmamados.
A verdadeira fé nunca levará um cristão amadurecido e devidamente instruído a buscar o que seja da sua própria conveniência, mas somente aquilo que é aprovado e conveniente de ser pedido a Deus.
Ele saberá desfrutar o melhor desta vida, sem qualquer ascetismo, mas nada terá o domínio de sua vontade e coração, porque este domínio pertencerá ao Senhor, que sempre quer o melhor para nós.
Os que são verdadeiramente discípulos de Cristo estão construindo uma torre que os aproxima cada vez mais das realidades do céu, e eles sabem que a construção desta torre lhes impõe o custo da mortificação dos seus pecados, da renúncia ao mundo e ao eu, e de tudo o mais que é necessário para permanecerem em sua obediência a Deus.
Eles são também como reis empenhados numa grande guerra contra os poderes das trevas, contra o pecado, e contra as tentações do mundo.
E a vitória nesta guerra lhes exigirá o custo da vigilância, da oração perseverante, de estarem equipados continuamente com toda a armadura de Deus, resistindo firmes na fé ao diabo, vivendo em sobriedade.
Enfim, o discipulado cobra o preço da consagração total a Deus, porque o homem de coração dobre não obterá nada do Senhor. Não se pode servir a dois senhores. Ou se serve a Deus ou às riquezas. Ao que é terreno ou ao que é celestial. Ao que é do Espírito Santo ou ao que é da carne. À luz ou às trevas. Não se pode ter um pouco de um e um pouco de outro nestas coisas citadas. Se tivermos um não teremos o outro. Porque onde estiver o nosso tesouro, ali estará também o nosso coração. Mas é comum que muitos se enganem pensando que estão seguindo a Cristo e fazendo uma obra verdadeira para Deus enquanto não renunciam a tudo quanto devem renunciar para que Cristo e somente Cristo seja o grande prazer e objetivo de suas vidas.  
A vida cristã é uma declaração de guerra contra o pecado, o diabo e o mundo, para que almas possam ser resgatadas das trevas para a luz de Jesus. E somente os que têm calculado o custo desta guerra e pago efetivamente o preço necessário poderão desfrutar das grandes vitórias que obterão pelo auxílio da graça do Senhor.
Sem esta renúncia que é imposta aos discípulos de Cristo eles não poderão ter sal em si mesmos para preservar este mundo da corrupção, e salgarem a vida de muitos com o testemunho de suas próprias vidas. Sem renúncia o sal perde o sabor e quando isto acontece é lançado fora e será pisado pelos homens, porque terá perdido a sua função de salgar para preservar. Isto ensina de modo muito claro que o Senhor somente pode usar aqueles que estiverem consagrando efetivamente suas vidas.








7 - Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo

Nosso Senhor Jesus Cristo foi quem proferiu as palavras do nosso título.
Há muitos ensinamentos para nós quanto a isto, na chamada de Eliseu.
Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de I Reis 19.19-21:
“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, estando ele com a duodécima; chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre ele.
20 Então, deixando este os bois, correu após Elias, e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei. Respondeu-lhe Elias: Vai, volta; pois, que te fiz eu?
21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois, e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se levantou e seguiu a Elias, e o servia.” .
 Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no lugar de Elias, conforme se vê no verso 16, quando lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por profeta.
Não foi numa escola de profetas, nem num templo, que Eliseu foi chamado, mas no seu local de trabalho, quando arava o campo com doze juntas de bois, sendo que ele próprio arava com uma destas juntas.
E não tem sido assim o método comum com o qual muitos têm sido chamados pelo Senhor, para deixarem suas atividades seculares, para viverem do evangelho?
Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua chamada, pois se diz que arava com doze juntas de bois.
Ele ofereceu tudo o que tinha como um holocausto, nas mãos do Senhor, como símbolo da sua renúncia ao seu antigo modo de vida, quando matou os seus bois e fez uma fogueira para assar a carne com os instrumentos com os quais arava a terra.
Ele não seria mais agricultor dali por diante, porque se desfez dos meios que eram necessários para a realização do seu antigo sustento de vida.
Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu para ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser um homem importante, que tinha servos, era simples e trabalhador, porque se diz que ele também estava trabalhando no arado, quando podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus empregados.
Pessoas que buscam uma vida de mordomia neste mundo não serão chamadas por Deus para a Sua obra.
O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais, não foi uma desculpa para demorar a atender à chamada do Senhor, como a citada em Lucas 9.61. Ele somente o fizera por uma questão de respeito e dever para com os seus pais.  
Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas lembrou-lhe somente que havia lançado o seu manto sobre ele, como uma indicação de que estava sendo chamado por Deus para ser preparado por ele, Elias, para o ministério, e isto estava representado no fato de que estaria debaixo das vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado.
Eliseu se colocou humildemente na posição de servo de Elias, e era o servo que lavava as mãos do profeta como se vê em II Reis 3.11.
Há renúncias impostas para o exercício do ministério
Muitos que são chamados pelo Senhor, especialmente para a obra de missões, vivendo pela fé, custam a entender em princípio, qual é o caráter da chamada deles.
Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual, demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de sangue, quando o Senhor o chamou para o ministério profético através de Elias (I Rs 19.19-21).
Muitos ficaram perplexos por grande tempo até entenderem que as perdas que sofreram em suas vidas, foram decorrentes desta chamada do Senhor para o exercício do ministério.
O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama, tal como fizera com todos os apóstolos, que tudo tiveram que deixar para poder segui-lO.
A quantas coisas e pessoas estamos apegados, ainda que não estejamos devidamente conscientizados de tal realidade.
E dificilmente entendemos que muitas perdas que sofremos, e guinadas violentas que são produzidas por Deus em nossas vidas, têm o propósito de nos tornar desimpedidos para a realização da Sua obra.
Se não houver esta renúncia aprendida e recebida de modo voluntário, pela consagração de tudo o que somos e do que temos ao Senhor, não será possível trabalhar para Deus, porque o nosso coração estará apegado àquelas coisas e pessoas das quais, o Senhor sabe que devemos nos desprender primeiro (não deixar de lhes assistir, nem abandoná-las, mas não ser presa de laços sentimentais e emocionais, ou de dependência financeira, psicológica ou de qualquer outra ordem), para que possamos então fazer a Sua vontade, sem que sejam tais coisas e pessoas a principal ocupação de nossos pensamentos, afeições e desejos.
Quando Deus chamou Eliseu através do profeta Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu, indicando que a autoridade espiritual que estava sobre Elias, seria transferida por Deus, no tempo oportuno, para Eliseu.
Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para poder seguir Elias, para ser preparado para ser o seu sucessor.
Quando Jesus lança sobre nós a sua capa concedendo-nos dons, capacitações, e Sua autoridade, é para a realização da Sua obra, e não da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a nossa.
Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos! Adeus parentes! Adeus interesses particulares! Adeus sonhos seculares! É a atitude que devemos ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que fomos chamados para a realização de uma obra específica para Deus.
Aqueles que não se auto negarem não poderão tomar diariamente a sua cruz.
E sem tomar a cruz é absolutamente impossível seguir a Jesus.
Porque a cruz nos imporá renúncias, empenhos, deslocamentos, que a nossa carne não sente nenhum prazer neles.
A cruz será um objeto de ofensa para aqueles que não se auto-negarem primeiro.
Eles se escandalizarão com os sofrimentos e aflições que a cruz lhes trará quando estiverem empenhados na realização da obra do Senhor.
Por isso, os apóstolos nos advertem quanto à necessidade de estarmos armados com o pensamento de que importa suportar todo tipo de tribulação e oposição, que nos possam sobrevir por causa da nossa consagração ao serviço de Deus.
Assim, aqueles que têm sido chamados por Deus, em vez de ficarem perplexos e gemendo por causa das coisas que estão sofrendo, devem aprender, tal como Paulo, a se gloriarem nas tribulações que estiverem sofrendo, e nas renúncias que o próprio Deus lhes está impondo, porque estas aflições são a prova mesma de que estão empenhados numa obra que procede verdadeiramente de Deus, e isto é um motivo não para tristeza, mas para alegria, é uma grande honra, e não uma condição humilhante; uma grande vantagem, recompensa e riqueza espiritual, e nenhuma tragédia ou miséria. Afinal, deixaram de confiar no cuidado dos homens, para viverem debaixo do cuidado do Deus Altíssimo e Onipotente.    
Gloriemo-nos portanto somente no Senhor, nas tribulações e na Sua cruz, porque, por meio de todas estas coisas, somos capacitados a sermos bem sucedidos na obra que realizamos para a glória do Seu nome, e por meio das quais cessarão todos os nossos fracassos e vazio de vida.
Eliseu que o diga! Tudo o que ele realizou para Deus se tornou um grande exemplo para nós, de que vale muito a pena tudo deixar para podermos seguir a Jesus.














126) REPREENSÃO


ÍNDICE

1 - Como podemos Preparar Nossos Corações Para Suportar Reprovações
2 - “Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los e voltemos para o Senhor.” (Lamentações 3.40)
3 - Admoestação dos Insubmissos
4 - Correção - um Fruto do Amor
5 - Ajudar, Consolar, Mas Também, Pregar, Admoestar, Repreender e Exortar
6 - DESVENDANDO O MISTÉRIO DE LEVÍTICO 19.17 


1 - Como podemos Preparar Nossos Corações Para Suportar Reprovações

“Fira-me o justo, será isso uma gentileza; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo. Continuarei a orar enquanto os perversos praticam maldade." (Sl 141.5)

Para que possamos receber reprovações de uma forma devida, três coisas devem ser consideradas:
1. A qualificação geral do reprovador,
2. A natureza da reprovação, e,
3. O assunto relativo à mesma.
O salmista deseja que seu reprovador seja uma pessoa justa : "Que o justo me fira", "repreenda-me."
Dar e receber repreensões, é um ditame da lei da natureza, através do qual cada homem é obrigado a procurar o bem dos outros, e para promovê-lo de acordo com sua capacidade e oportunidade.
A primeira coisa a ser considerada é dirigida por aquele amor que é devido aos outros; e a segunda, por aquilo que é devido para nós mesmos: estas são as duas grandes regras, e  a medida para os deveres de todas as sociedades, seja civil ou espiritual.
É desejável que aquele que reprova seja uma pessoa justa, porque deve ter um senso do mal a ser reprovado.
E se a repreensão for feita sem sabedoria e humildade,  todos os seus benefícios serão perdidos.
Por isso nosso Senhor nos diz que devemos primeiro tirar a trave de nossos olhos antes que tiremos o argueiro dos olhos do nosso irmão (Mat 7.3-5).
2. A natureza de uma reprovação deve também ser considerada. Assim cada repreensão pode ser:
1. Autoritária, (da parte de quem possui autoridade)
2. Fraterna
3. Simplesmente amigável e ocasional
Há uma autoridade especial que acompanha as reprovações ministeriais na Igreja. Está em foco a reprovação pessoal privada, realizada por aqueles que detêm autoridade ministerial, porque é ordenado por Deus que os ministros  exortem, repreendam, admoestem, e reprovem, conforme a ocasião exigir.
Não cumprir isto significa desprezar a autoridade de Jesus Cristo que assim o determina. Ele repreende a todos quantos ama (Apo 3.19). Assim, toda autoridade para a reprovação ministerial emana dele.
A repreensão autoritária dos pais é um dos principais deveres dos pais para com seus filhos.
A negligência deste dever produzirá os Hofnis, Finéias e Absalões.
A repreensão autoritária civil é a exercida por governantes e chefes. Esta é também ordenada por Deus para o bem da sociedade civil.
A repreensão fraternal é a que é comum entre os membros da mesma igreja, em virtude de suas obrigações  para com Cristo e uns com os outros. (Mat 18.15; Lev 19.17;  Rom 15.14; 1 Tes 5.14; Heb 3.12,13; 12.15,16).
Por último, as repreensões são amigáveis ou ocasionais, quando administradas por qualquer pessoa, conforme as razões e oportunidades o exijam.
Se o assunto da reprovação for verdadeiro, então deve ser devidamente considerado.
Se for um assunto privado, então deve ser tratado apenas com o próprio faltoso, conforme nosso Senhor nos instrui a fazer em Mateus 18.
Em se tratando de pecado público ou que seja ofensa que dê ocasião a escândalo, não precisa ser reprovado em particular.
Todos os males da humanidade, seja de pessoas ou de nações, concebidos ou perpetrados, são efeitos da nossa prevaricação fatal da lei de nossa criação.
Caim foi o primeiro transgressor violento e aberto das regras e limites da sociedade humana.
Como de um só homem, Deus trouxe todos os demais à existência, é um dever tanto da lei de Deus quanto da própria natureza, cuidar e preservar a continuidade deste mesmo DNA comum, que nos identifica como seres humanos e não como qualquer outra criatura. Daí, não furtarás, não adulterarás, não darás falso testemunho, não matarás etc.
Portanto, se interpõem as reprovações e repreensões no intuito de prevenir tais transgressões e violações e para manter o bem comum e a paz e continuidade da vida em sociedade em qualquer dimensão de relacionamento considerada.
Por exemplo desprezar as repreensões que sejam necessárias para a manutenção do amor fraternal é abrir uma porta para o ódio e antipatia mútuos, que, aos olhos de Deus, equivalem ao homicídio (Lev 19.17; I João 3.15).
Por isso demonstramos falta de amor e respeito para com Deus e suas leis quando desprezamos as repreensões das quais nos tornamos dignos de receber, e que visam à correção do nosso procedimento, com vistas à manutenção do amor fraternal.
Em princípio todos necessitamos destas repreensões porque o pecado trouxe à alma humana um estado ruim de inimizade contra Deus e contra o próximo.
Quantos não foram despertados de suas apostasias em razão das repreensões que receberam? Quantos não foram despertados do sono espiritual no pecado em que se encontravam? Quantas armadilhas e tentações não foram evitadas?
Daí Davi afirmar:
“Fira-me o justo, será isso  uma gentileza; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo.”
Devemos portanto encarar cada reprovação que nos é dada como uma forma de dever. Isso vai remover o senso de ofensa que poderíamos ter contra o reprovador.
E se estivermos convencidos de que é dever do outro nos reprovar, não podemos deixar de estar convencidos de que é nosso dever ouvi-lo e dar a devida consideração àquilo que devemos consertar.
A Bíblia está repleta de exemplos quanto àqueles que se recusaram a dar ouvidos à repreensão que receberam e que caíram em ruína diante de Deus.
Assim, devemos cuidar de sermos curados pela graça de Deus, de nossas disposições mentais, emocionais, iracundas, exaltadas, orgulhosas, presunçosas, preconceituosas, que nos levam a rejeitar reprovações e repreensões.
“O que repreende o escarnecedor traz afronta sobre si; e o que censura o perverso a si mesmo se injuria.
Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e ele te amará.” (Prov 9.7,8).
“O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura.” (Prov 29.1).
A norma bíblica para a repreensão é que seja feita com longanimidade (sendo tardio em se irar contra o mal) e com doutrina (segundo os preceitos da Palavra de Deus), (II Tim 4.2).
A melhor maneira de manter as nossas almas numa prontidão correta para receber reprovações, que possam nos ser dadas por qualquer pessoa, é manter e preservar as nossas almas e espíritos, num temor constante de reverência às repreensões de Deus, que estão registradas na sua Palavra. Foi por causa da negligência ou desprezo dessas reprovações, que Deus derramou a sua ira sobre a humanidade no dilúvio e em várias ocasiões na história de Israel, no Velho Testamento, como forma de advertência para nós a quem o fim dos tempos tem chegado.








2 - “Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los e voltemos para o Senhor.” (Lamentações 3.40)

A esposa  que com carinho ama seu marido ausente anseia pelo seu retorno; uma separação prolongada de seu amado é uma semi-morte para o seu espírito, e assim se dá com as almas que muito amam o Salvador, elas precisam ver o seu rosto, elas não podem suportar que ele esteja longe sobre os montes de Betel, e não mais manter comunhão com elas. Um olhar reprovador, um dedo erguido será doloroso para filhos amorosos, que temem ofender seu terno pai, e que somente se alegram diante de seu sorriso.
Amado, foi assim uma vez com você. Um texto da Escritura, uma ameaça, um toque da vara da aflição, e você foi para os pés de seu Pai, chorando, "Mostre-me por que contendes comigo?" É assim agora? Você se contenta em seguir Jesus de longe? Você pode contemplar uma comunhão com Cristo suspensa, sem alarmar-se? Você pode suportar o seu Amado andando ao contrário de você, porque você anda ao contrário dele? Os seus pecados separam você e o seu Deus, e seu coração está em repouso? Oh, deixe-me carinhosamente alertá-lo, pois é uma coisa grave quando podemos viver contentes sem o gozo presente do rosto do Salvador. Esforcemo-nos para sentir o quão isto é  mau - pouco amor pelo nosso Salvador agonizante, pouca alegria em nosso precioso Jesus, pouca comunhão com o Amado! Faça uma verdadeira preparação na sua alma, enquanto se entristece pela dureza de seu coração. Não pare na tristeza! Lembre-se de onde você recebeu pela primeira vez a salvação. Vá imediatamente para a cruz. Lá, e somente lá, o seu espírito pode ser vivificado.
Não importa o quão duros, quão insensíveis, quão mortos possamos nos ter tornado, vamos para lá novamente com todos os trapos e pobreza, e contaminações de nossa condição natural. Vamos abraçar aquela cruz, vamos olhar para aqueles olhos lânguidos, vamos nos banhar nessa fonte cheia de sangue, isso vai trazer de volta para nós o nosso primeiro amor; o que irá restaurar a simplicidade de nossa fé, e a ternura do nosso coração.

Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido e adaptado por Iza Rainbow







3 - Admoestação dos Insubmissos

Nós temos na porção de I Tessalonicenses citada a seguir, alguns dos deveres dos cristãos, segundo a ordenança do apóstolo Paulo, que ele recebera de nosso Senhor Jesus Cristo.

“1Ts 5:14 Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos.
1Ts 5:15 Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e para com todos.
1Ts 5:16 Regozijai-vos sempre.
1Ts 5:17 Orai sem cessar.
1Ts 5:18 Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
1Ts 5:19 Não apagueis o Espírito.
1Ts 5:20 Não desprezeis as profecias;
1Ts 5:21 julgai todas as coisas, retende o que é bom;
1Ts 5:22 abstende-vos de toda forma de mal.
1Ts 5:23 O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”

Não é no momento, nosso intuito, comentar cada uma das ordenanças destacadas, mas focar nossa atenção à primeira exortação dadas aos cristãos quanto ao dever de se admoestar os insubmissos.
Admoestar significa repreender branda e benevolamente, denunciando o mal feito e encarecendo o bem a fazer.
A repreensão deve ser branda em razão de seguir o mesmo espírito recomendado para o modo de se tratar com os fracos (amparar), com os desanimados (consolar), e em relação a todos (com longanimidade).
Como a admoestação se aplica aos que são insubmissos, ou seja, aos que não se submetem à doutrina do evangelho, aos que resistem à Palavra de Deus, apesar de se declararem cristãos, então, na falta de arrependimento, e insistência em permanecerem no citado comportamento, os mesmos devem ser disciplinados, conforme se ordena em textos como os seguintes, que foram dirigidos também aos tessalonicenses:

“2Ts 3:6 Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes;
2Ts 3:7 pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto que nunca nos portamos desordenadamente entre vós,”

“2Ts 3:14 Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado.”

Desta forma, observamos que Cristo não deixa de ser paciente, longânimo, condescendente, amparador e consolador em relação a todos os cristãos, mas os submeterá à disciplina da aliança feita com eles, caso andem contrariamente ao modo que devem se comportar, conforme revelado nas Escrituras.








4 - Correção - um Fruto do Amor

"porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe." (Hebreus 12:6)

É a maravilha das maravilhas que Deus ame os pecadores - e ainda, isto é um fato glorioso. Nada está mais claramente revelado em Sua Palavra - mas é algo muito difícil de acreditar, por vezes.
Quando nossas almas estão em trevas, quando os  nossos assuntos temporais estão debaixo de confusão, e quando os  nossos corpos estão com dor - então não é fácil acreditar que Deus nos ama. No entanto, nossas próprias tribulações fluem do Seu amor, e são uma prova disso!
Sim, Deus ama o Seu povo - não porque Ele veja  qualquer beleza ou excelência neles - mas simplesmente porque Ele escolhe amá-los. E porque Ele os ama – Ele os corrige por suas loucuras, e os açoita por seus pecados! Todos os Seus filhos precisam de disciplina, e todos eles a recebem - alguns mais, outros menos; alguns, de uma forma - e alguns de outra.
Se o Senhor não nos amasse - Ele nos permitiria que continuássemos no pecado, e para encher a medida de nossas iniquidades. Se Ele nos amasse menos do que Ele nos ama - Ele poderia nos corrigir menos; mas porque o Seu amor por nós é infinito, terno e eterno - Ele parece lidar severamente conosco.
Vamos tomar cuidado para não confundirmos a natureza de nossas aflições, ou interpretar mal o projeto de Deus em nossos problemas. Em vez disso, vamos nos esforçar para crer no Seu amor, descansar em Suas promessas, levar-Lhe todos os nossos pensamentos, sentimentos e temores ao Seu trono, e dizer: "Ainda que Ele me mate – nEle confiarei!" (Jó 13:15).
Atribulado crente, Deus te ama! Ele te ama apesar de sua fé ser pequena, e seus temores fortes. Ele te ama apesar de  suas fraquezas serem muitas. Ele vai mostrar o Seu amor por você - de qualquer maneira que ele julgar ser a melhor!
Ó Pai, derrama Teu amor em meu coração - e assim enche meu coração com amor por Ti! Ajuda-me a bendizer-Te por Teu amor e louvar-Te por cada golpe de Tua vara de correção!
" Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te." (Apocalipse 3:19)

Texto de James Smith, traduzido por Silvio Dutra.








5 - Ajudar, Consolar, Mas Também, Pregar, Admoestar, Repreender e Exortar

Os olhos de Deus e de Jesus Cristo estão continuamente sobre os Seus ministros, acompanhando os passos deles e atitudes; de maneira que darão contas a Deus de tudo o que fizeram neste mundo enquanto se encontravam ainda neste corpo mortal.
Tendo falado a Timóteo do peso da responsabilidade dos ministros do Evangelho, o apóstolo Paulo lhe apresentou de maneira resumida, quais são os principais deveres dos mesmos (II Tim  4.2):

Primeiro: Pregar a Palavra, instando a tempo e fora de tempo.
Em segundo lugar: Admoestar.
Em terceiro: Repreender.
E em quarto: Exortar.
Sendo que tudo isto deve ser feito com toda longanimidade e doutrina.
Nós veremos agora, mais detalhadamente, cada um destes deveres.
Em primeiro lugar, o da pregação da Palavra.
Muito pode ser dito sobre a verdadeira pregação, mas não é nosso propósito esgotar o assunto neste breve comentário.
A pregação da Palavra é citada em primeiro lugar por Paulo porque é este o principal dever do ministro do evangelho.
Eles não devem pregar fábulas, invenções, filosofia, psicologia, sociologia, ou seja o que for que seja diferente da Palavra de Deus.
Por isto Paulo não disse simplesmente a Timóteo para pregar, mas para pregar a Palavra. Ele definiu assim o que deve ser pregado.
A ação de instar a tempo e fora de tempo tem a ver com a aplicação da pregação, porque o dever do ministro não é apenas o de pregar sermões mas aplicar a Palavra à vida dos seus ouvintes, e isto ele deve fazer instando com eles em toda ocasião oportuna.
Em segundo lugar há também o dever do pastor de admoestar as pessoas.
Admoestar é o mesmo que repreender, censurar, corrigir.
Os ministros do evangelho também estão encarregados deste dever por Deus em relação às ovelhas, porque todos os que são tornados filhos de Deus por meio da fé em Cristo, estão automaticamente debaixo da disciplina da aliança que Deus fez com eles através do sangue de Jesus Cristo.
No décimo oitavo capítulo do evangelho de Mateus Jesus detalhou o modo de aplicação desta disciplina corretiva.
Muito se fala da finalidade da disciplina que é a de conduzir os filhos de Deus ao arrependimento por suas faltas relativas a um viver deliberado no pecado, mas infelizmente isto tomou em nossos dias a conotação de tolerância para com os seus pecados, quando que, apesar de ser verdade que há esta finalidade de conduzir ao arrependimento, nosso Senhor deixou claramente afirmado que aquele que não se arrepender deve ser considerado como um gentio e publicano, isto é, como um estranho para a Igreja.
Este abrandamento da disciplina, ou até mesmo a falta da sua aplicação tem levado indiretamente muitos cristãos a viverem sem qualquer temor do Senhor em suas Igrejas, e também a não respeitarem e honrarem àqueles que foram levantados por Ele para apascentarem as suas vidas. A consequência é que o poder do Espírito fica ausente na congregação.
Mas Paulo disse a Timóteo que ele estava encarregado deste dever de corrigir os indisciplinados, e não somente ele, como todos os ministros do evangelho, porque têm recebido do Senhor, autoridade para reter e perdoar pecados na Igreja.
Não que o poder seja propriamente deles, mas têm recebido autoridade delegada para exercerem essa disciplina em nome de Cristo e segundo a Sua vontade e Palavra.
Assim, não é nenhuma agressão pessoal que um ministro da Palavra faz quando repreende cristãos de sua congregação por causa de faltas praticadas por eles.
Ao contrário ele está velando pelas suas almas e cumprindo o dever que lhe foi imposto por Cristo. Ele está exibindo verdadeiro amor e misericórdia para com os faltosos, de maneira a livrá-los de futuros juízos no tribunal de Cristo, quanto todos terão que prestar contas a Deus.
 A palavra usada no original grego para admoestação é elégko e esta mesma palavra é usada em textos como Ef 5.11, 13; Tito 1.13; 2.15 e Hb 12.5, por exemplo, onde é traduzida por correção, reprovação e repreensão.
Em terceiro lugar, é dever do pastor repreender.
Isto pode parecer uma repetição do dever anterior de admoestar, mas a palavra usada por ele no original grego para repreender é outra palavra diferente de elégko.
Aqui ele usou a palavra epitimáu que encontramos em outros textos tais como Mt 8.26; 16.22; 17.18; Jd 1.9.
Esta palavra significa repreender, advertir, prevenir, e também admoestar, tanto quanto admoestar inclui também o significado de repreender.
A diferença básica entre estas duas ações consiste então no alvo de cada uma delas, porque a palavra grega elégko tem o alvo de reprimir, de corrigir, e epitimáu, o de prevenir.
Com a primeira ação nós combatemos e confrontamos diretamente o mal através da palavra de admoestação, e na segunda nós o prevenimos através da palavra de aconselhamento.
A palavra de repreensão preventiva, eptimáu, tem por alvo principalmente mostrar aos cristãos o quanto Deus fica desgostoso com as faltas deles, de maneira que sejam levados ao arrependimento.
Finalmente, o quarto dever do pastor apontado por Paulo é o de exortar.
A exortação tem em vista incentivar à perseverança na busca de santidade.
Assim devem ser também exortados os que estão firmes na fé, de maneira que busquem fazer um progresso cada vez maior em santificação, e para que nunca venham a se desanimar em seus esforços em diligência rumo à maturidade cristã e preservação da fidelidade deles a Deus.
Desde o início desta epístola, Paulo lembrou a Timóteo o dever dos ministros do evangelho de serem pacientes no sofrimento no exercício do seu ministério.
Então, não podem esquecer que devem pregar, instar, admoestar, repreender, e exortar com toda a longanimidade, isto é, não perdendo a paciência em ira contra as ovelhas, mesmo contra as indisciplinadas.
O conteúdo destas ações pastorais deve ser segundo a sã doutrina, e não por qualquer outro meio.
Em suma, este trabalho deve ser feito muito pacientemente, para que seja efetivo.
O motivo alegado por Paulo para ter encarregado Timóteo destes deveres, e não somente ele, mas a todos que ele deveria ordenar e ensinar a fazer as mesmas coisas que lhe estava ordenando tinha em vista principalmente manter a pregação da verdade no mundo porque ele sabia que o erro se manifestaria de uma tal forma na Igreja a partir de uma determinada época que muitos se desviariam de ouvir a sã doutrina e se voltariam às fábulas, isto é, a mitos, contos, estórias espetaculares, por preferirem dar ouvidos a coisas agradáveis segundo os seus desejos carnais, e assim escolheriam mestres para si na Igreja que lhes ministrassem segundo estes desejos carnais deles, rejeitando toda forma de admoestação, repreensão e exortação a uma vida santificada.
Em face deste perigo que se aproximava e que assolaria a Igreja em todas as partes do mundo, nada seria mais necessário do que esta firme posição em defesa da verdade, que deveria ser achada nos ministros do evangelho, em face das pressões que eles sofreriam das pessoas para afrouxarem na doutrina.









6 - DESVENDANDO O MISTÉRIO DE LEVÍTICO 19.17 

“Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti pecado por causa dele.”  (Lev 19.17)

Por Thomas Manton (adaptado)

Eu vou falar com você neste momento sobre o cristão e a  reprovação fraterna. Nosso primeiro cuidado deveria ser que nós mesmos não fôssemos achados transgressores por causa do nosso próximo, por não participarmos dos pecados de outros; não somente por conivência às más ações deles, como também por uma conivência silenciosa por não lhes advertirmos quanto aos seus pecados, quando somos convocados por Deus, para a Sua glória, que lhos advirtamos quanto ao seu dever, e do perigo que estão correndo.
O ódio é proibido quando a reprovação é prescrita, porque é um impedimento ou obstáculo que deve ser removido, porque há uma suposição de se cometer uma injustiça, quando se nutre ódio ou ira no coração, que não permanecerá neste estado por muito tempo lá e se transformará em vingança e maldade. Basta portanto, mostrar-lhes o pecado que praticaram com vistas a trazê-los ao arrependimento.
De Absalão se diz o seguinte em II Sm 13.22: “Absalão, porém, não falou com Amnom, nem mal nem bem, porque odiava a Amnom por ter ele forçado a Tamar, sua irmã.”.
Amnon praticou a injustiça, mas Absalão não lhe reprovou, porque ele o odiou. Maldade implacável e desejo de vingança são escondidos debaixo de silêncio e dissimulação: Ele não falou nem mal, nem bem a  Amnon, quanto ao assunto do estupro da sua irmã; e ele não reprovou o fato de maneira que pudesse esconder a sua malícia, até a ocasião em que pudesse levar a sua vingança à execução.
Então Deus, conhecendo bem esta disposição do homem, deu através de Moisés este mandamento de não se odiar o irmão, e reprová-lo de forma sábia. Portanto, reprove-o pelas injustiças que praticar, mas não lhe odeie por tais coisas.
Semelhante a isto é a lei de Cristo em Lc 17.3: “Tende cuidado de vós mesmos; se teu irmão pecar, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe.”. Ele diz: “Tende cuidado de vós mesmos” quando o teu irmão pecar, porque você ficará exposto à possibilidade de guardar ódio e rancor contra ele, e em vez disso, deve repreendê-lo e se dispor a perdoá-lo caso se arrependa.
Faça o máximo para reduzir qualquer ofensa, embora tenha sido prejudicado; não deseje se vingar, mas busque uma oportunidade para lhe perdoar diante do seu arrependimento.
“Ora, se teu irmão pecar, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão;”  (Mt 18.15).
Quer dizer, o teu amor deve remover todos os pensamentos de vingança contra ele; sim, e o levará a se esforçar a usar todos os métodos prudentes para trazê-lo a um senso da sua falta para contigo, e os modos mais discretos e suaves serão realizados primeiro.
Aquele que não reprova o seu irmão quando ele faz qualquer coisa errada, realmente não o ama, e o odeia.
Há duas coisas que nos exigem a reprovação – zelo pela glória de Deus, e amor à alma do nosso próximo.
Há uma falha no nosso zelo se nós não buscarmos vindicar a honra de Deus quando ela for ferida por outros: Salmo 69.9: “Pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim.”.
Danos feitos a Deus e ao evangelho são como injustiças pessoais feitas a nós mesmos. Assim há uma falha em nosso amor por outros se deixamos as suas almas ficarem em perigos de juízos divinos, sem que os reprovemos com vistas a conduzi-los ao arrependimento. Assim, a reprovação é oposta ao ódio, e a lisonja que é falsa e uma corrupção do amor: Prov 28.23: “O que repreende o homem gozará depois mais amizade do que aquele que lisonjeia com a língua.”.
Quando nós estivermos a ponto de reprovar outros pelas suas faltas, temos que temer ofendê-los, porque toda a amizade seria rompida entre nós e eles, e assim fica-se sujeito à tentação de incorrer em outros pecados. Entretanto, haja em princípio um pequeno desagrado da parte reprovada, ela verá com o tempo que você lhe mostrou uma verdadeira amizade, considerando que outros lhe agradaram e o lisonjearam nos seus pecados, e tendo cuidado pelo humor dele, não tiveram nenhum cuidado em relação à sua alma, na verdade odiaram a sua alma, porque se o amassem de fato procurariam livrá-lo das consequências danosas eternas sobre a sua alma em razão do pecado.
É possível que você possa enfurecer um insensato mau e arrogante, entretanto, você cumpriu o seu dever para livrar a sua própria alma.
Mas de outros, você obterá gratidão por ter-lhes feito um verdadeiro serviço de amor. De modo que o temor de romper uma amizade provará ser um meio de nutrir o verdadeiro amor. Prov 9.8: “Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e ele te amará.”.
“5 Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto.
6 Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos.”  (Pv 27.5,6).
Uma repreensão franca é feita quando, às vezes,  convencemos os homens dos seus erros, ou dos seus pecados, e isto é melhor do que amor encoberto, porque isso é inútil e não nos ajuda em nada.
Aquele que me ajuda a deixar o caminho errado, como quem salva alguém de se afogar ou ser queimado pelo fogo, embora ele quebre um braço ou perna, terá salvo a minha vida, ainda que tenha usado um remédio amargo como o da repreensão, mas terá feito a mim um grande benefício muito mais do que aquele que somente professa um grande amor por mim, e me deixa perecer em meus pecados.
Uma reprovação afiada é chamada em Provérbios de feridas leais produzidas pelo amigo, porque visa ao meu bem, mas os beijos de um inimigo não fazem bem algum à minha alma, além de serem enganosos. Por beijos devem ser entendidas todas as declarações de amor que encobrem as nossas faltas, ou que visem fazer-nos o mal de maneira encoberta, tal como Joabe beijou Amasa e o apunhalou (II Sm 20.9,10), e Judas beijou Cristo e o traiu (Mt 26.48,49).
“Porque o SENHOR repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem.”  (Pv 3.12). O verdadeiro amor repreende a quem quer bem. Deus ama os seus filhos afetuosamente, mas não deixará que se percam nos seus pecados, e para isto Ele usará às vezes de disciplina para corrigi-los.
Satanás procura manter os homens adormecidos em seus pecados, oferecendo-lhes os prazeres da carne, mas Deus usará a vara da correção para desviar os seus filhos disto.
“Fira-me o justo, será isso uma benignidade; e repreenda-me, será um excelente óleo, que não me quebrará a cabeça; pois a minha oração também ainda continuará nas suas próprias calamidades.”  (Sl 141.5).
Davi percebeu quanto dano tinham produzido em Saul aqueles lisonjeadores que o cercavam, e por isso julgava uma grande bênção de Deus ter amigos piedosos e fiéis sobre ele que não concordariam com qualquer injustiça que viesse a praticar, como também o reprovariam por isto.
A reprovação pode parecer como uma ferida à carne que está orgulhosa e impaciente para não ser contraditada; mas é o fruto de um amor sincero; e é comparado a um óleo precioso que é derramado na nossa cabeça, para a nossa saúde e alegria.
Voltando agora ao nosso texto de Lev 19.17 apreciemos a própria exortação: “não deixarás de repreender o teu próximo”. E nós temos aqui tanto o objeto (o próximo), quanto o ato (a repreensão).
Em Lc 10.29 Jesus ensinou que o próximo é aquele que necessita do nosso amor, seja ele um judeu ou um samaritano. Isto é, seja um amigo ou inimigo, como também ensinou diretamente em Mt 5.43,44.
A ordenança se aplica assim a todas as pessoas, mas especialmente aos da família da fé (Gál 6.10).
Os incrédulos são nosso próximo e devem ser amados com um amor verdadeiro, além do amor que dedicamos aos irmãos (filadélfia) que é o amor ágape, que é requerido entre os cristãos (II Pe 1.7).
Então este dever da reprovação deve ser praticado especialmente na Igreja. (Mt 18.15-17).
O ato de reprovação deve ser feito com misericórdia e prudentemente.
“Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé.”  (Tt 1.13).
“exortes, com toda a longanimidade e doutrina.”  (II Tim 4.2).
Uma censura orgulhosa não é uma reprovação amorosa. Requer-se paciência, amor, longanimidade e doutrina para que se possa obter um melhor resultado.
“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.”  (Gál 6.1).
Nossa indignação contra o pecado não nos deve transportar para além da nossa piedade pela pessoa, e não deve ser motivo para o rigor e severidade de censura que procedem de orgulho e que visa submeter o errado, em vez de ajudá-lo a se levantar da sua queda.
O que está em vista é a correção do nosso irmão e não a destruição dele, ou nos compararmos a ele, fazendo uma boa opinião em relação a nós mesmos como se fôssemos singulares em santidade.
Por isso todas as circunstâncias devem ser pesadas prudentemente, para que se possa agir da maneira correta.
“Como pendentes de ouro e gargantilhas de ouro fino, assim é o sábio repreensor para o ouvido atento.”  (Pv 25.12). Quer dizer, a reprovação sábia é uma joia preciosa.
Finalmente, consideremos em nosso texto de Lev 19.17 o argumento pelo qual este dever nos é ordenado: “e não levarás sobre ti pecado por causa dele”. Assim como não devemos deixar que nenhuma fagulha de fogo venha a incendiar a roupa de outros, de igual modo não devemos deixar que nenhuma marca pecaminosa permaneça nas consciências deles e conversações, e para tanto devemos exortá-los a buscar o perdão que há na graça de Cristo, em face do seu arrependimento.
Mas ao reprovarmos outros, devemos ter o cuidado de não condenarmos a nós mesmos, por sermos achados também na prática do pecado tanto quanto eles (Rom 2.1).
Aquele que tinha o dever de salvar uma alma da morte e que se mostrou indiferente a isto terá também o seu castigo por ter se omitido no dever que lhe é imposto por Deus para a alertar o seu próximo quanto ao perigo que corre a sua alma em pecado (Ez 3.18).
Esta reprovação fraterna é um dever necessários pelo qual todos os cristãos estão ligados, e obrigados por Deus a praticarem.
A reprovação é uma advertência e não um ato que visa à humilhação ou destruição.
Especialmente os ministros do evangelho devem dar atenção especial a isto, trabalhando para convencer os malfeitores dos seus maus caminhos, mas isto é um dever de todos os cristãos (I Tes 5.14).  Isto é uma forma do amor e de zelo pela santidade ao Senhor que é devido por todos os cristãos mutuamente.
“14 Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe.
15 Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão.”  (II Tes 3.14,15).
Todos os cristãos têm o dever de preservar a Igreja de Cristo de escândalos, e é por isso que ao verem que qualquer homem tenha abandonado o caminho do Senhor, é seu dever preveni-lo de sua falta.
Sabendo que os homens são hábeis para serem pacientes com os seus pecados, assim também são em relação aos pecados dos outros, e sendo este dever de reprovação de grande utilidade, Satanás procurará por todos os meios tentar impedir isto com o seu poder, de maneira que a maioria das pessoas são omissas em relação a isto, por causa do endurecimento natural reforçado pelo Inimigo quanto à recepção da reprovação como um ato de amor, e não como motivo para indignação.
Todavia, independente disto somos obrigados a ajudar a levantar todo o que está caído em seus pecados, assim como nos dispomos a levantar naturalmente quem sofre uma queda, fisicamente falando, e fica na expectativa de receber auxílio para ser levantado.
“Dize-lhes mais: Assim diz o SENHOR: Porventura cairão e não se tornarão a levantar? Desviar-se-ão, e não voltarão?”  (Jer 8.4). Por isso Deus ordena como um ato de amor através do profeta, que aqueles que estão caídos se disponham a se levantar.
Levantar um irmão caído é portanto, uma dívida de amor que temos para com ele.
Se a Lei de Deus ordena a ajuda ao próximo a levantar um animal de carga de sua posse que tenha caído (Ex 23.4; Dt 22.1), quanto mais não é nosso dever levantar os homens que se encontram caídos, pela pregação do evangelho a eles, alertando-lhes do perigo que correm se permanecerem caídos em seus pecados.
Por isso Deus se dirige de modo duro aos maus pastores que não ajudam as ovelhas de suas igrejas a permanecerem de pé e saudáveis diante dEle: “As fracas não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza.” (Ez 34.4).
Contudo, como dissemos antes, este não é um dever exclusivo dos pastores, mas um dever de amor que todos os cristãos devem ter mutuamente entre si:
“Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros.”  (Rom 15.14).
Este texto de Romanos confirma a necessidade de bondade e conhecimento para o exercício desta admoestação mútua.

“8 Não te precipites em litigar, para que depois, ao fim, fiques sem ação, quando teu próximo te puser em apuros.
9 Pleiteia a tua causa com o teu próximo, e não reveles o problema a outrem,
10 Para que não te desonre o que o ouvir, e a tua infâmia não se aparte de ti.”  (Pv 25.8-10).

Se nós corremos para a lei, sem usar de métodos de bondade e prudência, nós corremos o risco de perda e infâmia, pelo modo indevido que podemos conduzir a reprovação de faltas alheias.

“22 E apiedai-vos de alguns, usando de discernimento;
23 E salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica manchada da carne.” (Jd 22,23).
Deve ser considerado o valor deste preceito, que não é uma direção arbitrária que nós podemos omitir ou observar a nosso bel prazer, mas é um preceito necessário que devemos obedecer.
Em Provérbios 24.11,12, nós vemos uma reafirmação da ordenança de Levítico 19.17:
“11 Livra os que estão sendo levados à morte, detém os que vão tropeçando para a matança.
12 Se disseres: Eis que não o sabemos; porventura aquele que pesa os corações não o percebe? e aquele que guarda a tua vida não o sabe? e não retribuirá a cada um conforme a sua obra?” (Pv 24.11,12).
Este mandamento deve ter o seu equilíbrio com a ordenança de Cristo de não se lançar pérolas e coisas santas aos cães e aos porcos.
Evidentemente, seria um grande pecado negar o conhecimento da fonte de salvação a quem tem grande sede por ela e não sabe como encontrá-la, e estando no nosso domínio fazê-lo seria um grande pecado a nossa omissão.
De modo que a Palavra nos ordena a não admoestar o ímpio e insensato porque a repreensão não entrará neles, mas é um dever repreender os sábios, sobretudo os que são da família da fé, para que se tornem ainda mais sábios.
O apóstolo Paulo pratica de maneira muito consciente este preceito pelo temor de não ser responsabilizado por Deus pelas vidas que se perdessem debaixo do seu ministério e haviam sido colocadas ao alcance da sua ministração, conforme podemos ver por exemplo em suas palavras em At 20.17-27:

“17 De Mileto mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja.
18 E, tendo eles chegado, disse-lhes: Vós bem sabeis de que modo me tenho portado entre vós sempre, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia,
19 servindo ao Senhor com toda a humildade, e com lágrimas e provações que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram;
20 como não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que útil seja, ensinando-vos publicamente e de casa em casa,
21 testificando, tanto a judeus como a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus.
22 Agora, eis que eu, constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali acontecerá,
23 senão o que o Espírito Santo me testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações,
24 mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
25 E eis agora, sei que nenhum de vós, por entre os quais passei pregando o reino de Deus, jamais tornará a ver o meu rosto.
26 Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.
27 Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus.”.

Certamente muito devia pesar para o apóstolo não somente os textos da Lei de Moisés, do Livro de Provérbios, dentre outros, como também a citação de Ezequiel 33.2-9:

“2 Filho do homem, fala aos filhos do teu povo, e dize-lhes: Quando eu fizer vir a espada sobre a terra, e o povo da terra tomar um dos seus, e o constituir por seu atalaia;
3 se, quando ele vir que a espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o povo;
4 então todo aquele que ouvir o som da trombeta, e não se der por avisado, e vier a espada, e o levar, o seu sangue será sobre a sua cabeça.
5 Ele ouviu o som da trombeta, e não se deu por avisado; o seu sangue será sobre ele. Se, porém, se desse por avisado, salvaria a sua vida.
6 Mas se, quando o atalaia vir que vem a espada, não tocar a trombeta, e não for avisado o povo, e vier a espada e levar alguma pessoa dentre eles, este tal foi levado na sua iniquidade, mas o seu sangue eu o requererei da mão do atalaia.
7 Quanto a ti, pois, ó filho do homem, eu te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; portanto ouve da minha boca a palavra, e da minha parte dá-lhes aviso.
8 Se eu disser ao ímpio: O ímpio, certamente morrerás; e tu não falares para dissuadir o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniquidade, mas o seu sangue eu o requererei da tua mão.
9 Todavia se advertires o ímpio do seu caminho, para que ele se converta, e ele não se converter do seu caminho, morrerá ele na sua iniquidade; tu, porém, terás livrado a tua alma.”.

Nós estamos assim, debaixo do perigo de ter que suportar o castigo por causa do pecado que não reprovamos, por não termos principalmente alertado às pessoas que estão debaixo da influência do nosso ministério que elas estão em grave perigo vivendo no pecado. Especialmente os ministros do evangelho estão encarregados deste dever, mas é um dever comum a todos os cristãos.
Devemos lembrar que é uma questão de vida eterna, ou de morte espiritual ou eterna, que se encontram no cumprimento do preceito, e assim, toda negligência carrega consigo grande culpa. Isto deveria nos estimular mais ao nosso dever de pregar o evangelho a toda criatura.
No caso de cristãos que são admoestados a que se arrependam de seus pecados, que recebemos o galardão da fidelidade em cumprir o preceito, em razão do que Jesus diz em Suas palavras, que com isto, ganhamos o nosso irmão, isto é, nós o recuperamos para viver para Deus através da nossa admoestação (Mt 18.15).
No caso de incrédulos, o mesmo amor que nos levaria a livrá-los da iminência de uma morte física temporal,  deveria ser exercido muito mais para tentar livrá-los da morte eterna (Hb 3.12,13).
Não somente os que são superiores a outros têm o dever de reprovar os pecados dos que lhes são inferiores, mas estes têm o mesmo dever para com os seus superiores, como Joabe fez em relação ao rei Davi, bem como o profeta Natã. E este dever em relação aos superiores é ainda maior porque o perigo que eles correm é maior do que o nosso, porque Deus cobrará mais de quem mais é dado.
Entretanto, em relação aos superiores nós devemos usar de modéstia e reverência (I Tim 5.1).
O admoestador deveria ter uma chamada para tal função por alguma forma de relação existente entre ele e  o ofensor. Como por exemplo, de ministro e profeta, como no caso de Davi e Natã, ou como conselheiro, como no caso de Joabe quando reprovou Davi; ou como relação matrimonial, no caso de Abigail que reprovou Nabal; ou ainda de um filho em relação ao pai, como Jônatas fez com Saul (I Sm 19.4); de um servo para o seu senhor, como Daniel fez em relação a Nabucodonosor (Dn 5.27); de um amigo para o seu amigo (Pv 27.6) etc.  De maneira que este dever é universal, e deve ser realizado na ocasião apropriada.
Quem dera, todos tivessem um coração humilde e uma cerviz amolecida para aceitarem a repreensão, porque conforme se diz em Provérbios 15.31,32:
“31 O ouvido que escuta a advertência da vida terá a sua morada entre os sábios.
32 Quem rejeita a correção menospreza a sua alma; mas aquele que escuta a advertência adquire entendimento.”.
Quem rejeita a correção por não dar ouvido à advertência, menospreza a sua alma. E quantos não estão dispostos a isto por causa do endurecimento do pecado?
De modo que todo aquele que for verdadeiramente prudente, dará ouvido à repreensão, que é segundo a doutrina, como se vê em Pv 17.10:
“Mais profundamente entra a repreensão no prudente, do que cem açoites no insensato.”.
Nós vemos assim, quão importante é este dever, e nós faríamos bem em lhe dar a devida atenção, porque tem sido ordenado pela boca de Deus.
Agora, a palavra de Deus nos ordena e revela em muitos lugares que esta repreensão deve ser feita com muita mansidão (II Cor 2.4; Gál 6.1). Nós devemos ser extremamente cuidadosos para não agirmos farisaicamente coando mosquitos e engolindo camelos.
O dever é o de prevenir o pecado e não o de detratar, censurar ou caluniar. Se fizermos isto estaremos transformando o próprio dever num outro pecado (Ef 5.4).
Assim, a reprovação é um ato de amor ou misericórdia pelo qual nós buscamos através da persuasão, tirar nosso irmão do pecado para o arrependimento. É um ato de amor e misericórdia e não de orgulho ou vanglória. É um ato de misericórdia para com o nosso irmão na sua miséria espiritual, que esteja provocando a ira de Deus.
Esta admoestação deve ser feita entre aqueles que estão caminhando na verdade, ou a tendo como alvo de suas vidas, e na atmosfera de uma verdadeira comunhão espiritual entre aqueles que com um coração puro louvam ao Senhor (Col 3.16). De maneira que o ofensor verá que é Deus que lhe está reprovando e não o homem.
Não se trata portanto de se ter simplesmente conhecimento das palavras das Escrituras, para estar habilitado ao exercício da reprovação mútua, mas, como no dizer de Paulo em Romanos 15.14, os cristãos devem estar cheios do amor de Deus e de conhecimento da Sua vontade para tal exercício.
O coração não deve estar longe de Deus, mas perto dele, quando se repreende um irmão.
Não se deve portanto reprovar com base em boatos incertos, ou por ruim suspeita, porque o amor não suspeita mal (I Cor 13.6).
Temos também que considerar que há casos em que apesar da reprovação não ocorrerá um arrependimento completo e sincero, e assim, quando não há nenhuma evidência de que a reprovação alcançará o seu fim, nós podemos dar um tal caso como de nenhuma esperança, como vemos nas palavras do Senhor através do profeta Ezequiel:
“3 E disse-me ele: Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se rebelaram contra mim; eles e seus pais têm transgredido contra mim até o dia de hoje.
4 E os filhos são de semblante duro e obstinados de coração. Eu te envio a eles, e lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus.
5 E eles, quer ouçam quer deixem de ouvir (porque eles são casa rebelde), hão de saber que esteve no meio deles um profeta.
6 E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras; ainda que estejam contigo sarças e espinhos, e tu habites entre escorpiões; não temas as suas palavras, nem te assustes com os seus semblantes, ainda que são casa rebelde.
7 Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes.” (Ez 2.3-7).

Muitas vezes, pensamos que podemos ajudar estas casas rebeldes com a nossa reprovação do mau caminho deles, mas por um mistério que somente Deus conhece, eles não se arrependerão, e bem faríamos então em não alimentar esperanças apesar de receber de Deus, pelo Espírito, a direção de repreender o pecado deles, que no caso servirá apenas para o agravamento da ofensa e não para a cura deles, não pela falta de desejo de Deus ou nosso de que sejam curados, mas pela sua própria rebeldia obstinada, em se justificarem em seus pecados. Eles não creem na possibilidade de uma vida verdadeiramente santa, e o seu coração está por demais apegado ao mundo e à sua própria vontade, para que se submetam à vontade do Senhor, permitindo serem humilhados e transformados por Ele.
Neste caso, a repreensão tem em vista glorificar o nome de Deus e vindicar a Sua santidade, para que eles saibam que houve entre eles um profeta de  Deus, e vejam o poder de Deus na vida do Seu profeta, de maneira que fiquem injustificáveis em seu endurecimento no pecado. Eles são incorrigíveis e se levantarão contra o próprio Deus e contra aqueles que são por Ele enviados, criticando a obra que estão fazendo, ou se opondo, ainda que indiretamente a ela, por insuflarem e envenenarem os corações com palavras mentirosas e invejosas àqueles que se encontram debaixo da influência deles, mas em tudo isto prestarão contas ao Senhor no Tribunal de Cristo, e poderão receber severas sanções ainda neste mundo.
Assim a reprovação ministerial deve ser dada mesmo nos casos em que não haja nenhuma esperança. As águas do santuário devem continuar fluindo, embora haja estes maus obreiros que em vez de cooperarem com o trabalho de Deus, se opõem a ele, criando condições para tentar inviabilizá-lo.  Assim, as águas do rio de águas vivas devem continuar fluindo quer os homens bebam delas ou não. E os que têm o dever de proclamar o puro evangelho em vidas puras devem continuar fazendo isto a par de todas estas oposições que sempre existiram e sempre existirão até que Cristo venha com glória e poder para estabelecer o Seu reino na terra em Sua forma final e dar o pago a cada um segundo as suas obras.
O mordomo fiel não deve portanto, ficar intimidado pelos obreiros da iniquidade, ainda que se digam ministros verdadeiros do evangelho, porque a fidelidade será recompensada agora e também no por vir.
Contudo, nos é imposto o dever de reprovar e protestar continuamente contra o pecado, ainda que obstinadamente os tais se recusem a emendarem o seu caminho diante de Deus (II Pe 1.13).
Entretanto, a ordenança do Senhor de Mt 7.6 de não se dar coisas santas aos cães e pérolas aos porcos, deve sempre ser observada nestes casos, de maneira que o Espírito nos conduzirá a ficar calados perante aqueles que agiriam como cães ou porcos diante das coisas sagradas de Deus, e nisto devemos seguir o exemplo de Jesus quando foi provocado por Herodes, não lhe dizendo uma única palavra.
Alguns desprezam e desdenham das suas corrupções, porque no seu endurecimento contra o trabalho da graça pelo Espírito, permanecem cegos em seus pecados e endurecidos neles, tal como os fariseus nos dias de Jesus, que a seus próprios olhos se consideravam muito santos, e sequer eram convertidos.
Entretanto, em tudo devemos ser criteriosos de forma a não passar nenhum julgamento precipitado sobre quem quer que seja quanto a esta condição de cão e porco, porque nos é ordenado que não julguemos para que não sejamos julgados. Isto é, este julgamento não deve ser movido por uma razão de desprezo pessoal carnal, ou por qualquer outro motivo ou meio injustificável, senão somente por um juízo adequado, consciente, espiritual da condição do fruto que é produzido pela árvore que estamos julgando, se é bom ou mau. Há portanto critério para o julgamento para que não erremos e não sejamos conduzidos pela carne neste processo, senão unicamente pelo Espírito de Deus, tendo um coração humilde e simples como o das pombas.
O critério para esse julgamento não deve consistir em sentimentos pessoais mas na verdade revelada da Palavra de Deus.
A questão da oportunidade adequada para todo tipo de reprovação é um fato a ser considerado devidamente, conforme o critério geral de Ec 3.1. 7: “Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu... tempo de estar calado, e tempo de falar;”.
 Pela verdade da Palavra expressa em Pv 12.1, nós podemos concluir que a grande maioria da humanidade é insensata, porque não ama a correção:
“O que ama a correção ama o conhecimento; mas o que aborrece a repreensão é insensato.”  (Pv 12.1).
Daí decorre que a maior parte das reprovações serão rechaçadas, e devemos estar cientes disto, para não nos desestimularmos pensando que estamos fracassando no cumprimento do nosso dever de pregar e ensinar a verdade do evangelho, e de repreender segundo a doutrina o irmão faltoso. Lembremos que devemos fazer a nossa parte e o próprio Deus tratará com os rebeldes e contradizentes.
Devemos ter em conta quanto a estes, as palavras do apóstolo em Tito 3.10: “Ao homem faccioso, depois da primeira e segunda admoestação, evita-o,”. Porque se aplica aqui neste caso as situações sem esperança a que já nos referimos.
 Devemos lembrar que a disciplina está na verdade, nas mãos do próprio Deus, que mantém permanente controle sobre as almas dos homens, de modo que se a Sua Palavra é a verdade, como de fato é, então a ameaça de Prov 15.10, cumprir-se-á e não falhará para aqueles que deixam o caminho da verdade e que se endurecem em seus pecados recusando-se a viverem de maneira consagrada e santa diante de Deus:
“Há disciplina severa para o que abandona a vereda; e o que aborrece a repreensão morrerá.”  (Pv 15.10).
Deus exemplificou isto na vida de Ananias e Safira, e em muitos na Igreja de Corinto, para nossa advertência, quanto ao risco que corremos em andar contrariamente à Sua vontade.
É melhor se corrigir do que morrer. Ainda que não seja a correção da morte física, haverá a correção da morte espiritual, que é a quebra da comunhão com Deus, e isto, todo cristão rebelde há de experimentar, e quão dura coisa isto é.
Sabedor desta verdade espiritual o autor de Hebreus roga a toda a igreja de Cristo que se submeta às correções de Deus.
“e já vos esquecestes da exortação que vos admoesta como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido;”  (Hb 12.5).
É muito conhecida nossa a citação de Pv 29.1, mas poucos dão a ela a devida consideração que deveriam dar a bem de suas almas:
“Aquele que, sendo muitas vezes repreendido, endurece a cerviz, será quebrado de repente sem que haja cura.” (Pv 29.1).
Destruições súbitas podem ser determinadas por Deus, quando menos as esperarmos, por causa do nosso endurecimento no pecado, e resistência ao conserto depois de sermos várias vezes repreendidos.
Há, por incrível que possa parecer, até mesmo muitos ministros do evangelho, que em razão de orgulho espiritual se recusam a se submeter humildemente debaixo da potente mão de Deus, que lhes traz repreensões de várias maneiras quanto ao seu mau caminhar.
Qual é o amor que estes ministros do evangelho têm por sua família?
Sendo negligente no seu caminhar com Deus e deixando de se esforçar em seu testemunho para andar humildemente com aqueles que servem a Deus com um coração puro, como pode afirmar que ama de fato ao Senhor, à sua família, aos seus irmãos em Cristo?
Como pode ter a aprovação e a bênção do Senhor justificando o erro e o pecado, e fazendo da graça de Jesus um motivo para luxúria?
Como poderá promover algum serviço real no reino de Deus, deixando-se vencer pelo ciúme e inveja daqueles que estão procurando consagrar verdadeiramente suas vidas ao Senhor?
Como poderá se firmar na verdade vivendo na dissimulação de lábios, afirmando amor e amizade somente de língua, mas não de fato e  de verdade?
Como poderá ser reerguido por Deus se não se humilha diante dEle nas provações que tem vivido?
Como poderá ser curado do pecado justificando suas faltas e atribuindo a causa do seu insucesso a outros?
Como poderá afinal ser santificado se recusa a verdade da Palavra da maneira nua e crua como se encontra revelada na Bíblia?
Quando alguém se considera dono da Igreja de Deus, como Diótrefes, quando pensa que as ovelhas de Cristo são da sua própria posse, quando vive para usar o rebanho para os seus interesses, e não para ser modelo dos cristãos de maneira a conduzi-los a uma vida consagrada a Cristo, pouca esperança há para que uma tal pessoa seja curada do seu mal, porque se alinha entre aqueles a quem Jesus chamou de lobos vestidos em peles de ovelhas, que não se submetem a Ele e à Sua Palavra, mas que, recusando-se a se auto negarem e a carregarem a cruz, sentem-se vítimas de tudo e de todos, e sempre andarão em busca da realização dos seus próprios sonhos egoístas.
São nuvens sem água, pedras de tropeço na obra de Deus, homens desqualificados para o ministério, que entraram nele simplesmente para ficarem inchados em seu orgulho, e imprestáveis para Deus.
Todo aquele que repreender um tal homem como este, ainda que o faça por amor e com lágrimas, há certamente de ser ferido por ele, conforme prediz a Palavra do Senhor, porque ele é justo aos seus próprios olhos, e acha que se encontra acima de toda verdade e justiça, e não se submeterá à correção de Deus, e assim irá de mal a pior, por mais que tente demonstrar por um viver hipócrita que está cheio da plenitude de Deus.
Estes fazem parte do número daqueles aos quais o Senhor se refere dizendo que com os lábios o louvam, mas o seu coração está distante dEle.

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