sexta-feira, 23 de outubro de 2015

129) Retidão 130) Revelação

129) RETIDÃO

ÍNDICE

1 - A Vida Reta
2 - O Desejo de Balaão
3 - Vale a Pena Ser Justo
4 - A Vida Justa
5 - “Sim, as minhas palavras fazem o bem ao que anda retamente;” (Miquéias 2.7b)


1 - A Vida Reta

É em razão do caráter prático da fé, quanto ao cumprimento das ordenanças de Deus, que se afirma na Bíblia que o nosso culto é racional, ou seja, a fé possui também este caráter prático de ser comprovada através do fato de darmos crédito aos mandamentos de Deus, para os praticarmos.
Demonstramos então que cremos verdadeiramente em Deus, quando Lhe obedecemos praticando tudo o que nos tem ordenado na Bíblia, para esta presente dispensação do Espírito Santo, ou da graça.
É assim que se revela que somos de fato pessoas de fé. Pelo testemunho prático de nossas vidas pelo que pode ser observado pelos outros no nosso modo de proceder, ou seja, no nosso comportamento.
Daí o apóstolo Tiago ter afirmado o seguinte:

“17 Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.
18 Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.”

E também de o apóstolo Paulo ter afirmado que aquele que não cuida dos seus familiares tem negado a fé e é pior do que o infiel, porque muitos não cristãos assumem responsabilidades no compromisso que têm em relação a seus esposos e filhos, cuidando deles e vivendo para eles, coisa esta, que muitos cristãos não fazem por serem negligentes e desobedientes.
Como posso afirmar que tenho fé em Deus e não provejo o sustento de minha esposa, e não cuido dos interesses dela muito mais do que os meus próprios interesses, e vivendo para agradá-la, e não a mim mesmo, e amando-a e respeitando-a,  tratando-a sem aspereza, conforme Deus exige dos maridos em Sua Palavra?
Como posso afirmar que tenho fé em Deus e não trago os meus filhos em sujeição em obediência a Cristo, e não governo o meu lar vivendo para eles, e provendo o seu sustento, educando-os na justiça e na verdade, e em todos os caminhos de Deus?
O mesmo tipo de raciocínio se aplica às esposas e aos filhos, nos deveres que lhes são ordenados, respectivamente, na Palavra de Deus.
A prática destas ordenanças e deveres é para ser aprendida durante toda a nossa jornada terrena, e o Senhor nos chama a fazer progressos cada vez maiores em tal aprendizado e prática.
A vida cristã é portanto algo muito difícil, e diríamos até mesmo impossível de ser vivida se não nos for concedida graça da parte de Deus para tal fim.
E esta graça será achada somente por um caminhar em humildade perante o Senhor, reconhecendo que não poderemos chegar a ser esposos, pais e filhos exemplares, caso não sejamos ajudados e capacitados por Deus, para tal objetivo.
Todavia, Ele não nos ajudará e capacitará caso não nos movamos a orarmos e a sermos praticantes da Sua Palavra.
Por isso Deus não quer que sejamos meros ouvintes da Palavra, mas verdadeiros praticantes, sabendo que este aprendizado é para toda a vida, e que exigirá portanto de nós, paciência e perseverança, à medida que vamos sendo tornados cada vez mais responsáveis, operosos, amáveis, dedicados e habilitados a fazermos renúncias e sacrifícios por amor aos nossos familiares e ao nosso próximo.
Assim, importa reter cada nível maior de graça que tivermos alcançado e não nos darmos por satisfeitos com o nível que tivermos atingido, por sabermos que há níveis muito mais elevados de perfeição para serem alcançados e praticados, conforme é da vontade de Deus para todos os Seus filhos, que sejamos perfeitos assim como Ele é perfeito.
A nossa imperfeição nunca será portanto, aceita por Deus, como uma desculpa para os nossos fracassos.
Nem tampouco o excesso de confiança carnal de estarmos fazendo o que é certo poderá ser de algum auxílio, ao contrário, será mais um dos motivos do nosso fracasso.
Não é portanto, de se admirar que até mesmo pastores estão sujeitos a fracassarem como esposos ou pais, quando não praticam os preceitos de Deus relativos ao modo como devemos caminhar em Cristo, particularmente nos deveres ordenados na Bíblia para os esposos e os pais.  
Nem mesmo a aplicação da disciplina dos quartéis em nossos lares nos trará um viver vitorioso, mas nos submetermos aos mandamentos de Deus.
Somente um viver em retidão, segundo a direção do Espírito Santo, mediante prática da justiça evangélica revelada na Bíblia, poderá nos conduzir a recebermos da parte de Deus, harmonia, alegria e paz verdadeiros para os nossos relacionamentos.
Esta é a razão de a Bíblia afirmar que devemos nos empenhar em buscar e alcançar a paz em nossos relacionamentos, apartando-se do mal e praticando o que é bom (I Pe 3.11), porque este é o único modo de vermos dias felizes e acharmos prazer em viver, uma vez que é somente sobre os que procedem de modo justo que Deus faz os Seus olhos repousarem para atender às suas orações e abençoá-los (I Pe 3.9,12).
Este é um dos principais motivos de se exigir dos pastores que sejam exemplo dos fiéis na prática de todas as coisas ordenadas na Bíblia, para que os cristãos possam achar neles qual é o modo prático pelo qual importa que vivam para Deus (I Tim 4.12, Tito 2.7).






2 - O Desejo de Balaão

“Que eu morra a morte dos justos , e seja o meu fim como o deles! (Números 23.10)

O falso profeta Balaão saiu para amaldiçoar aquilo que Deus tinha abençoado.
Mas Deus revela suas maravilhas nos seus santos, por livrá-los disso, e por guardá-los de perigos, que eles sequer nunca imaginaram. Eles nunca pensaram que teriam um inimigo como Balaão. A igreja de Deus é uma glorioso ajuntamento. Enquanto eles se mantêm perto de Deus, seu estado é inexpugnável, como podemos ler neste relato do livro de Números.
Nem Balaque, príncipe dos midianitas, nem Balaão, que foi contratado para amaldiçoá-los, poderiam prevalecer, mas a maldição retornaria sobre as suas próprias cabeças.
As palavra do título do nosso texto foram proferidas por Balaão, e expressam o seu desejo.
E quanto às mesmas podemos dizer o seguinte:
Primeiro, que os homens justos morrem, e têm um fim, assim como os demais.
Segundo, que o estado da alma continua após a morte. Seria vão que ele desejasse ter “a morte dos justos", caso a alma não subsistisse depois da morte.
Em terceiro lugar, que o estado dos homens justos em seu final é um estado abençoado, porque isto era o desejo de Balaão, “Que eu morra a morte dos justos, e seja o meu fim como o deles!”
Em quarto lugar, há um excelente estado do povo de Deus, e  eles desejam isto: “Que eu morra a morte dos justos, e seja o meu fim como o deles!”
Cristo, em sua primeira vinda, não veio para redimir nossos corpos da morte física, mas as nossas almas da condenação. A sua segunda vinda será para redimir nossos corpos da corrupção para a "gloriosa liberdade” da ressurreição. Por conseguinte, tanto os sábios quanto os tolos morrem. Aqueles cujos olhos e mãos se levantaram a Deus em oração, e cujos pés os levavam para o santo lugar de culto e oração; bem como aqueles cujos olhos estão cheios de adultério, e cujas mãos estão cheias de sangue, morrem todos igualmente, de forma semelhante. Frequentemente isto é considerado o mesmo aos olhos do mundo. A morte vem para o bem, e para o bem em sua maior glória, pois a concha deve ser quebrada antes que se possa chegar à pérola. Assim a morte nos prepara para uma vida abençoada depois que o corpo é deitado na sepultura, e a alma volta às mãos de Deus. E a morte agora dá um fim ao pecado, que deu causa à mesma, e isso nos faz conformados ao Filho de Deus, nosso irmão mais velho, que morreu por nós.
Então considerando que não passaremos muito tempo aqui neste mundo, devemos nos empenhar na obra que Deus tem colocado em nossas mãos com toda a diligência e fielmente, com todas as nossas forças.
Também, a certeza da morte deve nos levar a usar com moderação todas as coisas terrenas (I Cor 7.29).
Balaão não desejou a morte dos justos porque haja qualquer excelência na morte, mas porque ela será uma bênção para a continuidade da alma, apenas dos justos.
A Escritura, a razão e a natureza demonstram isso, que a alma tem uma subsistência de si mesma, distinta da vida que existe no corpo.
Há uma vida dupla, a própria da alma (espírito), e a vida do corpo. Agora, quando a vida do corpo se for, a vida da alma terá a vida no céu. E isto é um fato quanto ao homem total, porque Abraão era Abraão quando ele morreu, quando sua alma estava no céu, e seu corpo no túmulo.
Nossas almas estão projetadas por Deus para serem capazes de coisas sobrenaturais e excelentes.
Elas são capazes de receber graça e glória, de ter comunhão com Deus, de ter o abençoado carimbo da imagem de Deus. Vamos então usá-las para finalidade que Deus lhes deu. Nossas almas não merecem que as tratemos tão mal, como que as traindo, lançando-as no pó da terra, e pisando na coroa que seria reservada para elas.
O que pode manter o nosso corpo irrepreensível, sem ser corrompido, se a alma for tirada?
Vivendo de modo santo podemos ter a certeza de sermos mais do que abençoados ao término da nossa jornada terrena.
A morte, para aqueles que viveram aqui na justiça de Cristo significa o fim de todos os pecados do corpo e da alma. É o começo da mais plena felicidade.
Eles são felizes em sua morte, porque “a sua morte é preciosa aos olhos de Deus." Os anjos estão prontos para lhes servir, para levar suas almas para o lugar de felicidade eterna. Eles são felizes em sua morte, porque eles estão no Senhor.  Quando a morte separa a alma do corpo, não obstante, nem a alma, nem o corpo são cortados de Cristo. "Eles morrem no Senhor”; portanto, ainda são felizes.
E no céu, aguardarão a ressurreição do corpo.
Existem três graus de vida:
A vida no útero, neste mundo, e no céu.
A vida no útero é uma espécie de prisão, onde a criança vive por um tempo.
A vida neste mundo, é uma espécie de alargamento, mas, ai de mim! Esta vida sempre será inferior à vida bendita e gloriosa no céu, a par de todos os doces confortos do mundo.
Os homens santos são abençoados e felizes, não somente antes da morte, no direito e título que eles têm para o céu, mas na morte, porque então eles são investidos na posse daquilo que os torna felizes em todos os sentidos. Portanto, isto pode nos ensinar que são verdadeiramente sábios.
Um homem sábio é aquele que tem um final melhor do que os demais, e que trabalha para esse fim. Um verdadeiro cristão tem um final melhor do que qualquer pessoa comum. Seu fim é estar seguro em outro mundo, e ele trabalha e emprega todas suas forças para este objetivo. "Que meu fim seja como o deles", diz Balaão, insinuando que há um melhor final no que diz respeito à condição que ele havia considerado.
O objetivo de um homem santo não é o de ter a sua felicidade aqui na Terra, mas seu fim é provar a comunhão eterna com Deus no céu.
O mundano não tem tal fim. Ele tem um desejo natural de ser salvo, como veremos depois, mas não pode saber qual é o seu fim, pois ele não trabalha para isto. Ele nunca está satisfeito em vagar por este mundo, ele nunca está cansado de acumular ou procurar riquezas, ele nunca está satisfeito com o prazer, porque o seu objetivo está focada nas coisas desta vida, e elas não têm a capacidade de encher a alma de plenitude e satisfação, porque ela não pode ser enriquecida com as coisas que são terrenas, senão somente com as que são celestiais.
Como este tesouro celestial se encontra totalmente escondido na pessoa de Cristo, então devemos nos empenhar muito para sermos justos, e trabalhar para Cristo, e para que a justiça de Cristo seja nossa, e não vivermos pelo ego, mas deixar que Cristo viva em nós, nos instruindo e capacitando a viver esta vida rica e preciosa do céu.
Cristo se tornou da parte de Deus para nós a nossa justiça. Cristo é a nossa justiça aqui neste mundo e continuará sendo depois da nossa morte, e no dia do julgamento.
Como diz o apóstolo, “não tendo justiça própria”, Fp 3.9.      
Fazendo assim teremos o mesmo fim que está reservado para todos os justos, na sua morte, pois é vivendo como um justo que se pode ter a morte de um justo, coisa da qual Balaão estava excluído porque não viveu como um justo aqui neste mundo.
Ele tinha apenas uma complacência e prazer em pensar na coisa desejada, mas nenhum desejo de trabalhar para este fim. Era um desejo de um fim sem os meios adequados. Assim foi um fraco desejo passageiro.
Onde existem os verdadeiros desejos, eles não são apenas constantes, como também nos levam a atender às condições necessárias para realizá-los.
O desejo de ser como um justo deve, portanto, nos levar a trabalhar com constância em tudo o que seja verdadeiro e justo e buscarmos pela justiça de Cristo, que é a única justiça permanente e inviolável.
Além disso, um verdadeiro desejo nos levará a remover tudo o que possa impedir a sua concretização, no caso da justiça do cristão, o grande impedimento é o pecado que deve ser perdoado para que sejamos justificados e para recebermos poder do Espírito para nos despojarmos dele progressivamente.
Quando o anjo apareceu a Balaão, com a sua espada desembainhada, para parar o seu caminho, não obstante ele  estava tão entusiasmado com a cobiça, e tão cego, que nem o milagre do jumento que lhe repreendeu, nem o do anjo em seu caminho, nem mesmo Deus no caminho, poderia detê-lo. Ai! onde estava então esse desejo? Na glória das coisas terrenas, que ele receberia pelo espólio do povo de Deus. Portanto, vemos que ele agiu contra todos os meios que foram utilizados para detê-lo em sua jornada.
Se um homem desejar ser bom e justo, e desejar deixar os seus pecados, ele não vai lutar contra os meios.
E muitos desses meios são pessoas e circunstâncias que Deus  levanta para nos alertar quanto ao nosso mau caminhar, e então, somos gratos a Deus por isso, porque serão os instrumentos que nos despertarão para o nosso arrependimento.
E portanto, não agiremos como Balaão que não atendeu à repreensão do anjo e não se desviou do mau caminho do seu coração.
E ainda, os verdadeiros desejos da graça crescem. Embora sejam pequenos no começo, como as fontes, no entanto, assim como as águas que vêm a partir delas, eles crescem mais e mais, até o ponto de termos um desejo de uma perfeita união e comunhão com Deus no céu. Os desejos de uma alma abençoada nunca serão satisfeitos plenamente enquanto não tiverem chegado ao céu.
Assim, até que um cristão seja perfeito no corpo e na alma, ele terá desejo sobre desejo até que todos sejam realizados.
O apóstolo Pedro diz: “desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação,” (I Pe 2.2).
Se os desejos pela graça forem fortes eles se tornarão mais fortes ainda. Eles crescem mais fortes e não ficarão satisfeitos com qualquer coisa deste mundo, mas removerão todos os impedimentos que se interponham na conquista de maiores graus de graça na comunhão com Deus.
Os desejos de um cristão crescem, e nunca estão satisfeitos até que ele tenha a felicidade perfeita e plena no céu.
Os desejos, eu confesso, são a melhor evidência para se conhecer um cristão; porque as obras podem ser hipócritas, mas os desejos são naturais. Portanto, devemos considerar nossos desejos, o que eles são, verdadeiros ou não, pois a primeira coisa que interessa à alma são desejos e pensamentos. Pensamentos despertam desejos.
Esta agitação interna imediata da alma descobre a verdade da alma melhor do que as coisas exteriores. Vamos, portanto, examinar frequentemente os nossos desejos.
Se desejamos santidade e a restauração da imagem de Deus, a nova criatura, e ter vitória contra nossas corrupções; estejamos num estado em que não possamos pecar contra Deus, para ter o Espírito, para ser regenerado e renovado.
Balaão desejou a felicidade eterna, mas ele não desejava a imagem de Deus sobre a sua alma, pois então ele não teria agido como um diabo avarento por toda a sua vida, até ser morto pela espada dos israelitas segundo o mandado de Deus.
O ímpio não pode desejar estar no céu com um desejo correto, porque como devemos desejar estar no céu?
Para sermos libertos do pecado, para que possamos louvar a Deus e amar a Deus, para que não possa haver qualquer luta entre a carne e o Espírito.
O ímpio deseja isso? Não. Sua felicidade consiste em desfrutar de prazeres sensuais na carne que está em permanente estado de inimizade contra Deus.
Para que possamos ter desejos santos necessitamos de revelação.
Os desejos se seguem à descoberta, os desejos são o respiro da alma sobre a descoberta de uma excelência na qual ele crê. Portanto,  vamos implorar a Deus por espírito de revelação, para descobrir a excelente condição que pode ser atingida pelo seu povo.
E porque isto é concedido através da utilização dos meios da graça, vamos nos apresentar com toda a diligência em tais meios, os quais são a oração, a meditação na Palavra, a prática das boas obras, o estar na companhia dos santos, e especialmente entre aqueles que são melhores em graça do que nós, porque isto pode provocar em nós desejos por maior santidade.
Podemos portanto conhecer a nossa condição espiritual pelo exame dos nossos desejos: se eles nos inclinam e elevam para as coisas celestiais e divinas ou se nos puxam para baixo, para as coisas que fazem provisão para a carne.
Pedro se refere ao “desejos que lutam contra as nossas almas” (I Pe 2.11).
Estes desejos são nossos inimigos mortais porque nos alijarão da vida do céu por toda a eternidade, se por causa deles não nos convertermos a Cristo, e podem também matar o crescimento da vida da graça que habita naqueles que são de Cristo.
Em breve “o céu e a terra passarão” (Mat 24.35), e o mundo com a sua concupiscência (desejos e paixões) passarão juntamente. Viveremos então na baixeza, inconstância e incerteza das coisas que nossas almas desejam, sabendo que isto será a causa da sua destruição e ruína?
Devemos portanto aprender como mortificar essas paixões terrenas, para que possamos ganhar as nossas almas na nossa perseverança nisto.
Alimentemos portanto nossas almas, continuamente, com melhores pensamentos. Façamos isto desde a mais tenra idade para que as cobiças e maus desejos não se instalem e se enraízem na alma, dificultando em muito o trabalho da sua remoção na época da maturidade.
Havendo ao contrário, bons pensamentos e desejos enraizados na alma, isto será um forte suporte para prevenir uma presente e futura entrada de pensamentos e desejos maus.
A constância deste exercício espiritual formará o hábito da santidade que nos levará a cumprir nossos deveres com alegria, amor a Deus e à Sua Palavra, e de modo voluntário.

NOTA: Este texto é uma releitura feita pelo Pr Silvio Dutra, com a tradução do original em inglês de um sermão, em domínio público, de autoria de  Richard Sibbes.

De Sibbes é dito que tinha o céu estampado em sua face, e que antes de ter ido para o céu ele trouxe o céu à terra em sua própria vida. Assim, ao fazer esta releitura estamos procurando dar honra a quem é devido honra segundo a norma bíblica.







3 - Vale a Pena Ser Justo

“Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor.” (Salmo 34.15)

Em dias como os nossos em que a iniquidade se tem multiplicado, e nos quais a corrupção aumenta, os justos se tornam cada vez mais raros, e por conseguinte, mais valiosos aos olhos de Deus.
São como o ouro que é valioso por conta de sua raridade.
Vale a pena investir em ser justo, sempre, e especialmente agora, porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos para fazer-lhes bem.

“Porque o Senhor é justo, e ama a justiça; o seu rosto olha para os retos.” (Salmo 11.7)







4 - A Vida Justa

"Porque eu o tenho escolhido, a fim de que ele ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para praticarem retidão e justiça; a fim de que o Senhor faça vir sobre Abraão o que a respeito dele tem falado." (Gênesis 18.19)

O caráter de Abraão era bem conhecido de Deus.
O amor de Abraão pelo Senhor e pela Sua justiça o levaria a ensinar sua família a caminhar nos Seus caminhos, de tal modo que o testemunho da sua fé e obediência seria seguido por muitos nas gerações seguintes.
Deus lhe ensinaria a praticar a retidão e a justiça e Abraão a transmitiria aos seus, de modo que esta retidão e justiça fosse praticada pela nação que seria formada a partir dele, a saber, Israel, para que através dela o Messias fosse trazido ao mundo no tempo oportuno.
Assim Abraão não somente orava e adorava a Deus com a sua família, mas ele lhes ensinava a fazer a vontade de Deus, segundo o conhecimento que ele tinha de tal vontade, por ser um profeta do Senhor.
Este o dever do qual estão encarregados todos os que são chefes de família. Eles devem instruir todos os que se encontram debaixo de sua responsabilidade a viverem de modo reto, sendo honestos e verdadeiros em seus relacionamentos com todos os homens.
Cabe-lhes ensinarem sobretudo os seus filhos a prestarem o devido culto de adoração a Deus, que é segundo a Sua Palavra.
Deus foi o intrutor de Abraão para que ele instruísse os de sua casa, e de igual modo somos instruídos pelo Espírito Santo para o mesmo propósito.
Não somente Abraão foi escolhido. Muitos têm sido escolhidos por Deus ainda hoje para espalharem o conhecimento sobre a Sua vontade em toda a Terra.
E mais do que conhecimento, temos recebido dEle o poder para praticarmos os Seus mandamentos, por meio da graça, que é mediante a fé em Jesus.
Temos um tribunal instalado por Ele em nossas conciências, que nos faz sentir culpados quando pensamos ou fazemos coisas que são contrárias à Sua natureza divina, e não há como nos sentirmos aprovados senão pelo perdão e restauração que procedem de Jesus.
A consciência não pode ser abrandada, de maneira que aqueles que permanecem deliberdadamente na prática de um viver que não seja segundo o padrão da retidão divina, violam suas consciências e dão de ombros para o que é reto, mas não podem, contudo, viver em paz consigo mesmos, pois sabem bem lá fundo que estão em desacordo com o modo de vida ao qual deveriam se aplicar, e que sempre é segundo a vontade de Deus, conforme este árbitro que Ele colocou em todas as pessoas, a saber, a nossa consciência.      
"Rom 2:14 Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.
Rom 2:15 Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se,
Rom 2:16 no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho."








5 - “Sim, as minhas palavras fazem o bem ao que anda retamente;” (Miquéias 2.7b)

Quando a nação rebelde de Israel dos dias do profeta Miquéias, perguntou ironicamente que se por acaso se cumpririam os juízos proferidos por Deus contra ela pela boca dos profetas, e quando zombando disseram se por acaso o Espírito do Senhor estava irritado com os seus pecados, como  querendo afirmar que isto era impossível, a resposta divina foi um retumbante “Sim”; acrescido de uma razão para a referida ira contra o pecado do Seu próprio povo, a saber, as suas palavras somente podem fazer o bem aos que andam retamente – com um procedimento justo conforme definido pelos Seus mandamentos.

O favor do Senhor será mostrado somente ao que se esforça para agradá-lO, por observar e tentar com sinceridade guardar a Sua Palavra, com constância e perseverança, a par de toda e qualquer circunstância.













130) REVELAÇÃO

ÍNDICE

1 - “E me manifestarei a ele." (João 14.21)
2 - Ai de Nós se Ele Não nos Ajudasse a Crer!
3 - A Natureza da Revelação Espiritual
4 - A Importância da Revelação Escrita
5 - Não Espere Novas Revelações


1 - “E me manifestarei a ele." (João 14.21)

O Senhor Jesus dá revelações especiais de si mesmo ao seu povo. Mesmo se a Escritura não declarasse isso, existem muitos dos filhos de Deus que poderiam testemunhar a verdade disto em suas próprias experiências.
Eles têm tido manifestações de seu Senhor e Salvador Jesus Cristo de uma maneira peculiar, não como a mera leitura ou audição poderiam fazer. Nas biografias de santos eminentes, você vai encontrar muitos casos registrados em que Jesus tem tido prazer, de uma forma muito especial, de falar com as suas almas, e desdobrar as maravilhas de sua pessoa, sim, por isso têm suas almas mergulhadas na felicidade de tal forma que eles pensavam estar no céu, embora  não estivessem lá, mas estavam bem perto, no limiar do mesmo – porque  quando Jesus se manifesta ao seu povo, é o céu na terra, é o paraíso em embrião, é a felicidade iniciada.
As manifestações especiais de Cristo exercem uma influência santa no coração do crente.
Um efeito será a humildade . Se um homem diz: "Eu tenho tido tais e tais comunicações espirituais, eu sou um grande homem", ele nunca teve qualquer comunhão com Jesus afinal, pois "Deus atenta para o humilde, mas ao soberbo, resiste." Ele não precisa chegar perto deles para conhecê-los, e nunca lhes dará quaisquer visitações do seu amor.
Outro efeito será a felicidade , pois na presença de Deus há delícias perpetuamente.
A santidade será certamente o seguinte. Um homem que não tem santidade nunca teve esta manifestação especial. Alguns homens professam grandes realizações; mas não devemos acreditar em qualquer um deles, a menos que vejamos que as suas obras respondem ao que ele diz. "Não erreis: Deus não se deixa escarnecer." Ele não irá conceder seus favores aos ímpios.
Assim, haverá três efeitos da proximidade com Jesus - humildade, felicidade e santidade. Que Deus lhos dê a ti, cristão!

Texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.






2 - Ai de Nós se Ele Não nos Ajudasse a Crer!

A grande prova real do amor de Jesus para conosco está em que somos fracos demais para podermos crer nele de nós mesmos, a fim de alcançarmos a salvação da nossa alma dos grilhões do pecado e do diabo em que ela naturalmente se encontra.
Então é pela manifestação, pela revelação do seu poder operante espiritual em nós, abrindo os nossos olhos da fé para vê-lo, e os nossos corações para recebê-lo, o único modo pelo qual podemos ser alcançados por ele, para participarmos da sua própria vida.
Quão grande certeza passamos a ter da sua pessoal real e viva desde o momento em que ele passa a se manifestar em nós.
E tudo isto, alcançamos somente pelo arrependimento e pela fé nele, e por nada mais.

João 14.21: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.”

João 14.23: “Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.”

Leiamos portanto a Bíblia com espírito reverente, e nos esforcemos para lançar longe de nós toda dúvida quanto a qualquer ensino de Jesus, pois é dando crédito à Sua Palavra, observando-a e guardando-a que ele se manifesta a nós, levando-nos a experimentar não somente as verdades que dele se afirmam na Palavra, como também e principalmente a sua própria pessoa.







3 - A Natureza da Revelação Espiritual

Por John Newton (autor do mundialmente conhecido hino  Amazing Grace)

Deus está próximo; "Nele vivemos, nos movemos e existimos." A eternidade está próxima; estamos à beira da mesma. A morte está próxima, avançando em nossa direção com passos apressados​​. As verdades da Palavra de Deus são mais certas em si, e da maior consequência para nós. Mas não percebemos nenhuma destas coisas, e não somos afetados por elas, porque nosso entendimento é obscuro, e porque há paredes espessas de ignorância, preconceito e incredulidade, perante os olhos da mente, e que as mantêm afastadas da nossa visão, mesmo aquelas noções de verdade que  por vezes, pegamos ouvindo e lendo, mas são como janelas num quarto escuro, elas são adequadas para permitir a entrada da luz, mas não podem produzir qualquer luz de si mesmas.
Penso, portanto, que podemos concluir, que Deus está revelando essas coisas para nós somente para significar a sua efetiva mudança em nós pelo seu Espírito Santo, assim como ele nos dispõe e nos permite a experimentá-las. Ele envia uma luz divina para a alma, e as coisas começam a parecer tão simples, e perguntamo-nos na nossa antiga estupidez, por que não pudemos percebê-las antes. Pelo poder do seu Espírito, com o qual ele quebra as paredes que nos prendiam e nos confinavam ao nosso modo de ver, e uma nova e impensada perspectiva aparece de repente diante de nós. Então a alma vê o perigo em que se encontrava: "Eu pensei que me protegia, mas eu acho que eu estou no meio dos inimigos. A culpa me persegue, o medo, o laço, e a cova, estão diante de mim, que caminho deverei seguir?" Então ele percebe seu erro: "Embora meus pontos de vista estivessem confinados, eu pensei que não havia nada além do tempo de vida para ser cuidado, mas agora eu vejo uma eternidade sem limites para além disso." Isto traz também um vislumbre das glórias do mundo melhor, das belezas da santidade, da excelência de Jesus. Esta luz é primeiramente fraca e imperfeita, mas cresce mais forte através da utilização de meios designados, e como é aumentada, cada coisa aparece com uma forte evidência.
Podemos mais particularmente ilustrar esta obra do Espírito Santo, com o modo que ele influencia as principais faculdades da alma, o entendimento, afeições e vontade. Por natureza, a vontade é perversa e rebelde, e as afeições alienadas de Deus; a causa primária desses transtornos está na escuridão do não entendimento. Aqui, então, começa a mudança.
O Espírito de Deus ilumina o entendimento, pelo que o pecador percebe que as coisas são, tal como representadas na palavra de Deus, que ele é um transgressor contra a lei divina, e por esse motivo desagradável para a ira de Deus, perante a qual ele não é somente culpado, mas corrompido e impuro, e totalmente incapaz ou para reparar os males passados, ou para mudar o seu próprio coração e vida. Ele vê que o grande Deus poderia justamente recusar-lhe a graça, e que ele não tem qualquer recurso para oferecer ao tribunal de juízo.
Esta descoberta iria afundá-lo em desespero, se ela não fosse mais longe, porque, pela mesma luz que ele descobre a si mesmo, ele começa a ver a idoneidade, sabedoria e glória, no método de salvação revelado no evangelho.
Ele lê e ouve sobre a pessoa, sofrimentos e ofícios de Cristo, de uma forma muito diferente do que ele fizera antes, e como que, atendendo à palavra ministrada, suas apreensões de Jesus e de seu entendimento tornam-se mais claros e distintos, uma esperança espiritual acontece e aumenta em sua alma, e os efeitos certeiros disso é que ele se sente seu amor ficar forte por Aquele, que tanto o amou e que morreu por seus pecados. Contemplando, por fé, o Senhor Jesus Cristo, como sangrando e morrendo na cruz, e sabendo para quem, e em que  conta, ele sofreu, ele aprende a odiar, com um ódio amargo, esses pecados que o pregaram lá. O amor incrível de Cristo o constrange a considerar todas as coisas que ele antes valorizava, como escória e esterco, para a excelência do conhecimento de seu Salvador.
Nem a sua fé pára por aqui, ele  vê aquele que uma vez sofreu e morreu, subindo triunfante do túmulo, e ascendendo ao céu no caráter do representante, amigo, e precursor de seu povo. Tendo tal Sumo Sacerdote , ele é incentivado a permanecer perto de Deus, para reivindicar um interesse nas promessas, em relação à vida que agora existe, e que está por vir. Assim, possuindo, no começos da graça, um penhor da glória que deverá ser revelada, uma verdadeira, universal, mudança ocorre necessariamente nas afeições. Agora, as coisas velhas já passaram; e tudo se fez novo: a alma já não se une voluntariamente ao pó, ou pode ser satisfeita com as coisas terrenas, mas tem sede de comunhão com Deus, e de um aumento de santidade. O pecado não é mais aceito, ou prazeroso, mas se opõe e vigia contra ele, e qualquer desvio da santa vontade de Deus excita o mais sincero pesar e humilhação, e leva à aplicação renovada do sangue e da graça de Jesus para o perdão e força. Assim, a vontade é semelhantemente introduzida numa sujeição incondicional e se rende ao poder de Cristo, e atua voluntariamente em seu serviço, como já fizera antes contra ele.
Para que o que é denominado de liberdade da vontade humana deveria consistir numa indiferença suspensa entre o bem e o mal, é um refinamento, que, no entanto admirado e aplaudido por muitos, é igualmente contrário tanto à razão sadia e à experiência universal. A vontade, em todas as pessoas e casos, é determinada pelos atuais ditames do entendimento, e a inclinação dos afetos.
Por discorrer tanto assim sobre o Espírito de Deus, eu não quero dizer, como você pode perceber pelo que eu deixei agora de dizer, que pretendo excluir sua santa palavra, ou a pregação do evangelho. Todas essas verdades e perspectivas já estão contidas na palavra de Deus, mas sem a luz do Espírito elas não são discernidas. Elas são pregadas a você no culto público. Nós testificamos uma e outra vez as coisas que temos visto e ouvido da palavra da vida; e quando são, em alguma medida afetadas com a evidência, estamos prontos para saber como qualquer um de vocês pode, eventualmente, evitar percebê-las, até que lembremos como éramos e, então, sabemos, por experiência própria, que devemos pregar, e vocês ouvem em vão, a menos que agrade ao Senhor abrir seus corações. Mas, observem,
1. O Espírito de Deus ensina e ilumina por sua palavra como  instrumento. Não há revelação a partir dele, senão a que é (assim como a nossa percepção disto) derivada das Escrituras.
Pode-se supor iluminações e fortes impressões sobre a mente, nas quais a palavra de Deus não tem lugar ou preocupação; mas isso por si só é suficiente para desaprová-las, e para provar que não provêm do Espírito Santo. Pois,
2. As Escrituras são a regra nomeada e provada, pela qual todas as nossas pesquisas e descobertas, todas as nossas aquisições no conhecimento religioso, devem ser provadas. Se elas são realmente de Deus, elas estarão sob esta regra, e respondem à palavra face a face como diante de um espelho, mas não o contrário. "À lei e ao testemunho; se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles", Isa 8.20. Se aqueles que desprezam todas as alegações da influência do Espírito de Deus, com entusiasmo, não têm sido frequentemente informados, e esperamos que, reconheçam, não  a revelação interna, mas por meio da palavra de Deus, e em concordância com ela, eles seriam menos inescusáveis em repetir as acusações de loucura e paixão, que ignorantemente são lançadas contra a obra do Espírito, e a todos os que professam a dependência dele.
Para aqueles que são inquiridores da verdade realmente sinceros e santos, o que tem sido dito sobre esta parte do nosso assunto, vai, espero, sugerir a conveniência de duas direções. A partir daí aprender,
1. a estabelecer um valor alto para a palavra de Deus. Tudo o que é necessário para te tornar sábio para a salvação está lá, e neste  precioso livro você pode encontrar uma direção para todas as dúvidas, a solução de todas as dificuldades, a promessa adequada para cada circunstância. Poderá ser informado de sua doença pelo pecado, e o remédio fornecido pela graça. Você pode ser instruído a conhecer a si mesmo, para conhecer a Deus e Jesus Cristo, no conhecimento de quem se levanta para a vida eterna. As maravilhas do amor que  redime, as glórias da pessoa do Redentor, a felicidade do povo redimido, o poder da fé, e a beleza da santidade, estão aqui de maneira  útil e confortável, salvar da morte, e trazer algo do céu à terra.
Mas essa verdadeira sabedoria não pode ser encontrada em qualquer outro lugar. Se você se afastar das Escrituras, em busca tanto de presente paz ou esperança futura, sua procura vai acabar em decepção. Esta é a fonte de águas vivas: se você abandoná-la, e dar preferência às cisternas rotas de sua própria imaginação, elas o abandonarão quando você mais precisar delas. Exulte, portanto, que um tal tesouro é colocado em sua mão, mas se alegre com tremor. Lembre-se que isso não é tudo o que você quer: a menos que Deus lhe dê um coração para usá-lo corretamente, seu privilégio somente agravará a sua culpa e miséria. Portanto lembre-se,
2. da necessidade da oração. Pois, embora as coisas de consequência mais próxima de você na Bíblia, e você deveria lê-la mais e mais, até você conhecer todo o livro de memória, mas você não vai entender, ou discernir a verdade como ela está em Jesus, a menos que o Senhor, o Espírito o revele a você. A dispensação da verdade está na sua mão, e sem ela todas as vantagens imaginárias de superior capacidade, a aprendizagem, a crítica , e os livros, se mostrarão tão inúteis como para o cego. O grande incentivo é que este Espírito infalível, tão necessário para nos guiar pelo caminho da paz, é prometido a todos os que sinceramente o buscarem. Por este Espírito outorgado Jesus é exaltado, e ele disse: "Todo aquele que vier a mim, de maneira alguma o lançarei fora.” Portanto, regue a sua leitura com a oração frequente. Agora passamos aos,

Caracteres das pessoas que têm sucesso em suas inquirições, e têm as coisas relativas à salvação de Deus reveladas a eles, pois eles são,

Chamados de bebês.

1 . Elas são em sua maior parte bebês na estima do mundo. Eles são desprezados pelo sábio e prudente por causa de suas capacidades fracas, pequenas realizações, e sua aparente insignificância na vida comum. Mas o Senhor não negligencia nenhuma deles. Ele não faz acepção de pessoas. Nas bênçãos da sua providência comum, aqueles que estão mais imediatamente à sua própria mão, como o ar e a luz, a saúde e a força, as faculdades da visão e audição etc, ele dá tão livremente, e em tão grande perfeição, assim para os pobres como para os ricos, para os ignorantes quanto para os aprendizes. E assim é com relação à sua graça. Nossa incapacidade é fundada na nossa natureza, e é comum a todos, e não em qualquer nomeada circunstância. Ele está tão pronto para salvar o plebeu quanto o nobre. Muitos dos grandes e sábios ficam ofendidos com isso. Como eles ocupam a terra, estão dispostos a ocupar o céu do mesmo modo, somente para si. Mas o Senhor tem designado de outra forma, e isto tem sido uma reprovação constante do evangelho, pois aquelas poucas pessoas comuns (Marcos 12.37; João 7.48,49) têm pensado que vale a pena ser notado.

2. Eles são bebês em sua própria estima.

Não que alguns sejam mais humildes do que os outros por natureza e, portanto, o Senhor lhes dá uma preferência por conta disso, pois por natureza somos todos iguais, igualmente destituídos do menor bem; mas a expressão nos ensina, que aqueles a quem o Senhor tem o prazer de revelar estas coisas, ele primeiro esvazia e humilha, os retira  de toda glória terrena, e os leva a uma dependência dele. O verdadeiro crente é frequentemente comparado a um criança pequena, e é fácil de entender esta instrutiva comparação.
1. A criança ou o bebê têm pouco conhecimento, e sua capacidade e poderes são ainda muito débeis. Todos, cujo entendimento tem sido espiritualmente iluminado irão reconhecer a si mesmos crianças a esse respeito. O pouco que sabem lhes convence de sua ignorância.
Eles estão convencidos de que sua visão das coisas é fraca, parcial, confusa; que seus julgamentos são fracos; que se o Senhor não prevenisse isto, eles são muito susceptíveis de serem enganados pela astúcia de Satanás, e pela traição de seus próprios corações. Eles sentem que não têm em si mesmos suficiência de pensar corretamente.
2. A criança é dócil ao ensino. Consciente da sua própria ignorância, eles ouvem tudo sobre elas, e acho que cada um está qualificado para lhes ensinar algo. Entre os homens ninguém é verdadeiramente dócil, mas aqueles que sabem que precisam ser ensinados. O homem  natural, se possui algumas vantagens, acha que todos precisam da sua ajuda. O cristão humilde dá esta prova, pela confissão de que sua ignorância é genuína, e que o seu coração, está desejoso de aprender com todos. Ele está pronto para ouvir e tardio para falar, e para abrir mão de suas convicções carnais. Embora ele não vá concordar com cada coisa que ele ouve sem prova ou exame, ele está disposto a receber instrução, e é agradecido àqueles por quem ele é instruído. Ele está com medo de ser enganado, de ceder a preconceitos e, portanto, alegremente melhora todos os meios de informação.
3. A criança é simples e dependente. Ela não tem razão, mas implicitamente recebe o que é dito por seus pais, ou por aqueles a quem ele acha mais sábios do que ele. Tal resignação, de fato, os crentes não se atrevem a fazer de sua compreensão a todos os homens, porém podem estimá-los no principal, pois ele aprendeu com a palavra de Deus, a não colocar sua confiança no homem, mas este é o desejo do coração renovado, no que diz respeito ao ensino da Palavra e do Espírito de Deus. Ele não permite arrazoar ou questionar aqui,  nem que ele venha a dizer com Nicodemos: "Como pode ser essas coisas?" É o suficiente para ele que Deus tem dito isto, e é capaz de torná-lo bom. Isto é um temperamento feliz. Desta forma inumeráveis dificuldades que surgem a partir de aparências e sofismas são evitadas, e a mente, pela fé, navega em segurança em todo o imenso oceano de conjecturas e opiniões que os insubordinados à palavra de Deus estão prontos a levantar.
É verdade que há vários graus desta simplicidade, e em quem possui em maior medida, há um remanescente princípio de orgulho e incredulidade, que lhe custa muitas orações e muitos conflitos para serem subjugados. Mas isso, em algum grau, é essencial para o caráter daqueles que são ensinados por Deus, que eles desejam e se esforçam para se submeterem totalmente à sua orientação e vontade, em todas as coisas.
Aqui, então, está um tópico apropriado para o auto-exame. Que cada um pergunte ao seu coração, tenho esta disposição simples, como uma criança?
Se você tem, se for o seu desejo ser ensinado por Deus, se a sua palavra é a sua regra, se você depende do seu Espírito para ensinar-lhe todas as coisas, e para levá-lo como se fosse pela mão, sensato que, a menos que você seja assim conduzido e guiado, você  certamente se extraviará; seja grato por isso, aceite-o como um símbolo para o bem. Você nem sempre foi assim; houve um tempo quando você era sábio aos seus próprios olhos, e prudente em sua própria visão. Você tem uma boa razão em esperar que o Senhor, que tem já lhe ensinou a depender dele, vai lhe mostrar tudo o que é necessário para você conhecer.
Porém, se este não for o caso, e se inclinar para o seu próprio entendimento, que surpresa há em que você esteja ainda andando na escuridão e na incerteza? Você vai dizer, li a Bíblia diligentemente; eu não tenho sofrido pequenas dores para examinar as coisas, para ver qual das muitas divisões que existem entre os cristãos possui a verdade, mas eu ainda estou perdido. Certamente, se algumas doutrinas religiosas  foram proibidas nas Escrituras, eu deveria tê-las encontrado lá? Eu respondo, sem diminuir sua sagacidade ou sua sinceridade,  seu caso é facilmente contestado a partir do versículo que estamos considerando; se suas perguntas não são realizadas em humilde dependência do Espírito de Deus. Também muitas instâncias que poderiam ser produzidas por homens que laboram por anos naquilo que parece um dos mais louváveis empreendimentos, a saber, a explanação das  Escrituras para o uso de outros, têm no final estado num grau notável de instabilidade de opiniões em si mesmos, e os únicos frutos visíveis de suas leitura e do esforço empreendido, foram erro, invenção e insatisfação, de modo que seus trabalhos têm sido um exemplo para a primeira parte do nosso texto, uma prova no ponto como as coisas de Deus são muitas vezes escondidas completamente do sábio e  do entendido.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra de um texto de John Newton em domínio público.






4 - A Importância da Revelação Escrita

“Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas.” (Tiago 1.18)

“ Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.

Os apóstolos Tiago e Pedro se referem, respectivamente, nestes textos bíblicos, a um novo nascimento mediante a palavra de Deus. Trata-se da regeneração operada pelo Espírito Santo quando se responde com fé em Jesus Cristo à pregação do evangelho.

Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (João 17.17)

Com estas palavras nosso Senhor Jesus Cristo se refere em sua oração sacerdotal ao trabalho realizado por Deus na santificação dos crentes através do uso da Sua Palavra.

Disto tudo se depreende a nossa crucial necessidade da revelação escrita da Bíblia, para que nela crendo possamos tanto ser convertidos a Cristo (salvos – justificados e regenerados), quanto a fazermos progresso na vida cristã (santificados).

A razão de tanto se solicitar que se creia na Bíblia e que meditemos continuamente através da sua leitura visa a atender ao propósito anteriormente citado relativo à nossa transformação em novas criaturas em Cristo, como também à nossa edificação espiritual em santificação, do que a qualquer outro objetivo secundário.

Sem fé na Palavra da verdade revelada e escrita não há conversão, e nem mesmo santificação, sendo que esta última somente cresce em graus na mesma proporção em que aumenta o nosso conhecimento e prática da Palavra de Deus.








5 - Não Espere Novas Revelações

1. “Havendo Deus, antigamente, falado.” (Hb 1.1-3)

O propósito desta introdução consiste no enaltecimento da doutrina de Cristo. Aqui aprendemos não só que devemos receber essa doutrina com reverência, mas também que devemos repousar exclusivamente nela. Para que se entenda melhor esse fato, é indispensável que observemos a antítese das cláusulas em separado. Em primeiro lugar, o Filho de Deus é contrastado com os profetas; em segundo lugar, nós, com os patriarcas; em terceiro lugar, as variadas e múltiplas formas de expressão que Deus adotou em relação aos pais, até chegar à última revelação que nos é comunicada por Cristo. Não obstante, dentro dessa diversidade o autor põe diante de nós o Deus único, no caso de alguém concluir que a lei está em divergência com o evangelho, ou que o autor deste seja distinto do autor daquela. Portanto, para que pudéssemos apreender o ponto crucial desse contraste, o seguinte confronto poderá servir de ilustração:
Deus falou
Outrora, pelos profetas:  agora, pelo Filho.
Então, aos pais: agora, a nós.
Antes, diversas vezes: agora, nestes últimos dias.
Com o assentamento desse alicerce, a concordância entre a lei e o evangelho é estabelecida, porque Deus, que é sempre o mesmo, cuja Palavra é imutável e cuja verdade é inabalável, falou em ambos igualmente. É preciso, contudo, que observemos a diferença entre nós e os patriarcas, visto que Deus se dirigiu a eles no passado de uma forma diferenciada de nós hoje. Primeiramente, nos tempos dos patriarcas ele se utilizou dos profetas; no tocante a nós, porém, ele nos deu seu próprio Filho como Embaixador. Nesse aspecto, portanto, nossa condição é muito melhor. Além do mais, Moisés se acha incluído na categoria de profeta, como um daqueles que são inferiores ao Filho. E pela forma como se processou a revelação, também estamos em melhor situação, pois a diversidade de visões e de outras administrações que existiram no Velho Testamento evidenciava que não havia ainda uma ordem definida e definitiva de fatos, tal como sucede quando tudo se acha perfeitamente estabelecido. Esse é o significado da frase "diversas vezes e de diversas maneiras". Deus poderia ter seguido o mesmo método perenemente até ao fim, se tal método houvera sido perfeito em todos os sentidos. Segue-se, pois, que essa variedade constituía um sinal de imperfeição. Além do mais, tomo essas duas palavras no seguinte sentido: "diversas vezes" tem referência às várias mudanças de tempos. O termo grego significa literalmente "em muitas partes", como, por exemplo, quando tencionamos falar com mais amplitude ou posteriormente. Mas o termo grego (em minha opinião) indica diversidade no próprio método divino. Quando ele diz: "nestes últimos dias nos falou", o sentido consiste em que não há mais razão para ficarmos ainda em dúvida se devemos esperar alguma nova revelação. Não foi apenas uma parte da Palavra que Cristo trouxe, e, sim, a Palavra final. É nesse sentido que os apóstolos entenderam a expressão "os últimos tempos" e "os últimos dias". E Paulo entende a mesma coisa, ao escrever: "de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado" (1 Co 10.11). Se Deus agora falou sua Palavra final, é conveniente que não avancemos mais, assim como devemos deter nossos passos quando nos aproximamos dele. É muitíssimo necessário que reconheçamos ambos esses aspectos; pois constituía-se um grande obstáculo para os judeus o fato de não considerarem a possibilidade de Deus haver transferido para outro tempo um ensino mais completo. Viviam satisfeitos com sua própria lei, e não se apressaram rumo ao alvo. Em contrapartida, uma vez tendo Cristo aparecido, um mal opositor começou a prevalecer no mundo. Os homens se esforçaram para ir além de Cristo. Que outra coisa faz todo o sistema do papado, senão transgredir esse limite que o apóstolo delimitou? Portanto, assim como o Espírito de Deus, nesta passagem, convida a todos a irem a Cristo, assim os proíbe a ultrapassarem essa Palavra final da qual ele faz menção. Resumindo, o limite de nossa sabedoria está posto aqui no evangelho.

2. A quem constituiu herdeiro. O autor glorifica a Cristo com esse sublime enaltecimento à guisa de incitar-nos a reverenciá-lo, pois assim como o Pai fez todas as coisas sujeitas a Cristo, nós, igualmente, pertencemos ao seu reino.
Ele declara igualmente que nenhum bem pode ser encontrado fora dele visto ser ele o herdeiro de todas as coisas. Por essa razão, segue-se que somos os mais miseráveis e destituídos de todas as boas coisas, a menos que ele nos socorra com suas riquezas. Ademais, ele acrescenta que essa honra, ou seja, exercer autoridade sobre todas as coisas, pertence por direito ao Filho de Deus, porquanto todas as coisas foram feitas por ele; embora essas duas prerrogativas sejam atribuídas a Cristo por razões distintas. O mundo foi criado por ele na qualidade de sabedoria eterna de Deus, a qual assumiu a diretriz de todas as suas obras desde o princípio. Essa é a prova da eternidade de Cristo; naturalmente que ele teria que existir antes que o mundo fosse por ele criado. Mas se a questão for sobre a extensão de tempo, então nenhum princípio será encontrado. Tampouco se detrai algo de seu poder, ao afirmar-se que o mundo foi criado por ele, ainda que não o tenha criado por iniciativa própria. É uma forma usual de se expressar quando se afirma que o Pai é o Criador. O que se acresce em algumas passagens - pela Sabedoria [Pv 8.27], ou pelo Verbo [Jo 1.3], ou pelo Filho [Cl 1.16] - possui a mesma força se se disser que a própria Sabedoria foi nomeada como Criadora. Deve-se notar que existe aqui uma distinção de pessoas, entre o Pai e o Filho, não só com referência aos homens, mas também com referência ao próprio Deus. A unidade de essência requer que, o que é próprio da essência de Deus, pertence tanto ao Filho quanto ao Pai. E assim, tudo quanto pertence exclusivamente a Deus, é comum a ambos. Tal fato não impede que cada um possua as propriedades de sua própria pessoa. O título “herdeiro” é atribuído a Cristo em sua manifestação na carne. Pois, ao fazer-se homem e revestir-se de nossa própria natureza, ele recebeu para si essa herança a fim de restaurar para nós o que fora perdido em Adão. No princípio Deus estabelecera o homem como seu filho, para ser ele o herdeiro de todas as coisas; mas o primeiro homem, por meio de seu pecado, alienou-se de Deus, tanto ele próprio como também sua posteridade, e privou a todos tanto da bênção divina quanto de todas as demais coisas. Só começaremos a desfrutar as boas coisas de Deus, por direito, quando Cristo, que é o herdeiro de todas as coisas, nos admitir em sua comunhão. Ele tornou-se o herdeiro para poder fazer-nos ricos por meio de suas riquezas. Aliás, o apóstolo lhe atribui esse título para que pudéssemos saber que sem ele somos destituídos de todas as boas coisas. Se porventura considerarmos o termo “todo” como pertencente ao gênero masculino, então esta cláusula significará que todos nós devemos estar sujeitos a Cristo, visto que fomos entregues a ele pelo Pai. Prefiro, porém, lê-lo como neutro, significando que somos privados da posse legal do céu e da terra, bem como de todas as criaturas, a menos que tenhamos comunhão com Cristo.

Por João Calvino


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