sexta-feira, 23 de outubro de 2015

131) Sabedoria 132) Sã Doutrina 133) Sacramentos - Ceia e Batismo

131) SABEDORIA

ÍNDICE

1 - Conhecimento e Sabedoria
2 - O Modo de se Obter a Verdadeira Sabedoria
3 - Quem São os Sábios?
4 - A Verdadeira Fonte da Sabedoria
5 - Sabedoria Celestial
6 - Sabedoria


1 - Conhecimento e Sabedoria

1 - Conhecimento

Há um conhecimento natural que todos os homens podem alcançar, dentro de certos limites, e um conhecimento espiritual que somente aqueles que são nascidos do Espírito Santo podem obter.
Tanto num caso como noutro (natural e espiritual) pode existir progresso no aumento do conhecimento, sendo que no que tange ao espiritual, isto será possível não apenas mediante o nosso esforço em diligência para adquirir o citado conhecimento, como também somos dependentes da iluminação e revelação do Espírito Santo, e daí a necessidade da oração e da prática da Palavra de Deus.
Um bom caráter, será o fator principal gerador de uma boa consciência, em uma maior aplicação para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de nossa inteligência intelectual e emocional, notadamente no que se refere ao campo espiritual, e muito contribuirá para uma maior aquisição de conhecimento das coisas espirituais, celestiais e divinas, porque, apesar de Deus trabalhar com a nova natureza que recebemos pela fé em Cristo, tudo reflete no homem total que somos, a saber, corpo, alma e espírito.
O conhecimento espiritual no qual o cristão deve se empenhar para o seu crescimento é o relativo à graça de Jesus, ou seja, em tudo o que é chamado a receber e a viver segundo lhe está disponibilizado em Cristo, pela sua graça, 2 Pe 3.18.  

2 – Sabedoria

Sabedoria, biblicamente falando, abrange muito mais do que a definição clássica de se fazer o uso adequado dos conhecimentos adquiridos.
Este é um assunto por demais extenso, e por isso gostaríamos de resumi-lo ao enfoque da sabedoria e sensatez que é segundo Deus, e o da sabedoria e sensatez que é segundo o mundo.
O próprio texto grego do original do Novo Testamento nos ajuda muito no estabelecimento de tal distinção porque possui palavras específicas para indicar um uso mais preciso das referidas palavras.
Por exemplo: a palavra sábio no grego, quando indica o tipo de conhecimento, habilidades e mentalidade adquiridos, é geralmente fronimos.
E quando indica o conjunto de conhecimentos e o modo da sua aplicação, a palavra geralmente usada é sofós.
Agora, tanto num caso, como no outro, é possível ser sábio e sensato segundo Deus, nas coisas espirituais, celestiais e divinas; ou então ser sábio segundo o mundo e a carne apenas nas coisas terrenas e naturais, ou então nas do reino espiritual da maldade.
Toda pessoa chega a este mundo naturalmente desprovida do conhecimento de Deus, e portanto não pode possuir a sensatez, a sabedoria, a prudência e inteligência divinas, traduzidas no modo de discernir todas as pessoas e coisas, segundo o modo de Deus discerni-las.
Tal sabedoria, somente pode ser  adquirida, e crescer em graus, mediante a conversão e consagração a Cristo.
Nós lemos em I Cor 1.26,27 o seguinte:
“Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes;”
A expressão “as coisas loucas” foi traduzida da palavra grega, morós, usada por Paulo no original grego, no gênero neutro, a qual significa néscio, insensato, tolo ou estulto. Significado este, que encontramos nos demais textos do Novo Testamento que utilizam a referida palavra.
Como a referência “as coisas loucas” está em contraposição à citação “os sábios”, então teríamos uma melhor tradução com “Deus escolheu os insensatos, ou tolos, do mundo, para envergonhar os sábios”.
Mas Deus pode escolher e amar pessoas insensatas?
Sim. Deus pode amar o insensato e não a sua insensatez.
Os crentes estão também sujeitos a serem insensatos, ou seja, a não terem discernimento, não como um atributo permanente, mas por lapsos avulsos de bom senso.
Todavia, em Ef 5.17 os crentes são convocados a não serem insensatos, mas procurar saber a vontade de Deus.
Mesmo crentes estão sujeitos a serem sábios segundo o mundo em muitos sentidos, mas eles têm o que o mundo não tem, que é a fonte da verdadeira sabedoria habitando neles, a qual é Cristo, e que pode levá-los a terem cada vez mais a sabedoria que é segundo Deus.
Pela rápida exploração destes conceitos relativos à sabedoria, podemos entender que não é à toa que Deus nos ordena a não nos gloriarmos na nossa sabedoria, Jer 9.23, porque ela está sujeita a diversas limitações em si mesma, e não responde por si só, a tudo o que compõe a nossa personalidade.






2 - O Modo de se Obter a Verdadeira Sabedoria

“Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento.” (Tg 1.5,6)

A sabedoria é necessária para o devido desempenho de cada atividade da vida, mas é mais particularmente necessária para um cristão, em razão das muitas dificuldades às quais ele está sujeito por motivo de sua profissão cristã.  Porque nada lhe faz se afastar mais cedo do serviço do seu Deus, do que seus amigos e familiares que o incentivam a voltar ao mundo.
Todo tipo de tentação aparece em seu caminho, para que de alguma forma possam alcançar seu propósito, e afastá-lo do caminho que ele tem escolhido. Elas não falham em lhe apresentar, a injúria que se levantará contra a sua reputação e interesses mundanos, e a dor que este seu novo curso ocasiona àqueles cuja felicidade ele é obrigado a compartilhar. Não raro também a autoridade dos familiares se interpõe para deter o seu progresso, e impedir o uso dos meios, que ele tem achado propícios para o seu bem-estar espiritual. Aqueles livros que melhor informam a sua mente, a companhia que mais fortalece o seu coração, e aquelas ordenanças que mais edificam a sua alma, são proibidos pelos pais, e nenhuma alternativa lhe resta, senão abandonar a sua busca das coisas celestiais, ou incorrer no desprezo e ódio de  seus amigos mais queridos. O que deve ser feito agora? Ele deseja manter uma consciência sem ofensa, mas como isto pode ser feito? Se ele é fiel a seu Deus, ele ofende o homem, e, se ele agrada o homem, ele viola o seu dever para com Deus. O princípio que ele deve adotar é em si mesmo puro e simples; ou seja, ele deve obedecer a Deus, e não ao homem. Mas aplicar este princípio é uma dificuldade que frequentemente o  envolve num maior embaraço. Se ele não relaxar em nada, ele parece absurdo ao extremo; se sua obediência a Deus for  levada longe demais, ele põe em perigo a sua paz de espírito e bem-estar de sua alma.
Também, na maneira de realizar o que a sua consciência dita, ele também está em perda. Ele pode ser muito ousado, ou demasiado tímido; muito fiel, ou muito obsequioso. As diferentes disposições de todos aqueles com quem ele tem que tratar, devem ser consultadas, e a sua conduta deve ser adaptada a eles em todas as situações diversificadas em que ele é chamado a agir. Mas "quem é suficiente para estas coisas?" Muitas vezes ele deseja um conselheiro experiente para orientá-lo, e quase se sente no desespero de nunca alcançar tal medida de sabedoria, conforme é necessária para ele.
É às pessoas em tais circunstâncias que o apóstolo Tiago dirige as instruções do nossos texto. Ele supõe que eles tenham "caído em várias tentações", e que estão trabalhando para "possuir suas almas com paciência", para que "a paciência possa ter a sua obra perfeita, e que ele possa ser perfeito e completo, sem nada faltar." Mas como é que tudo isso é efetuado? Qualquer marinheiro pode dirigir um navio em um mar calmo, mas como alguém tão inexperiente agirá numa tempestade, sem correr o risco de ser desviado do seu curso? Para estas questões ansiosas o apóstolo dá uma resposta; quando ele nos ensina,

I. Como buscar a sabedoria

A verdadeira sabedoria é dom de Deus

Mesmo a sabedoria terrena deve, em realidade, ser atribuída a Deus como seu autor. As pessoas que construíram o tabernáculo e todos os seus utensílios receberam toda a sua habilidade de Deus (Êx 36.1,2), e mesmo aqueles que se movem numa esfera que pode ser suposta que seja devida à sua própria capacidade, não podem ser mais hábeis em seu trabalho, se não forem instruídos pelo próprio Deus (Is  28.23,29).
Mas a sabedoria espiritual está ainda mais longe do alcance da nossa mera razão, porque é conhecimento sobre as coisas que, "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano” (I Cor 2.9), e que somente podem ser reveladas pelo Espírito de Deus (I Cor 2.12). É enfaticamente "a sabedoria que vem do alto" (Tg 3.17), e que pode vir somente do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. O Espírito de Deus, cujo ofício é o de comunicá-la aos homens, é chamado de "o Espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de poder, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11.2), e a ele somos direcionados "para abrir os olhos do nosso entendimento",  e "nos guiar em toda a verdade” (Jo 16.13),  uma vez que é apenas pela unção derivada dele, que podemos obter discernimento espiritual.

Devemos buscá-la em oração fervorosa,

Estudando, sem duvidar, o estudo das próprias Escrituras Sagradas, é necessário, porque é somente pela palavra escrita que o nosso curso é regulado. Mas para estudar devemos acrescentar humilde e fervorosa súplica; de acordo com essa direção de Salomão, “Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento,  e, se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do SENHOR e acharás o conhecimento de Deus. Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na sinceridade, guarda as veredas do juízo e conserva o caminho dos seus santos. Então, entenderás justiça, juízo e eqüidade, todas as boas veredas. Porquanto a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento será agradável à tua alma.” (Prov 2.1-10)
 Assim , encontramos o apóstolo Paulo clamando a Deus em nome da Igreja de Éfeso, “para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele,” (Ef 1.17), e, para os Colossenses ele orou para que também eles, pelo mesmo Espírito “transbordassem de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual;” (Col 1.9).
E procurando a sabedoria desta forma todos nós seremos encorajados, tanto para uma visão geral da bondade de Deus, quanto para uma  compreensão de uma promessa particular.
"Deus a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto", "ele abre a mão, e enche todas as coisas que vivem com abundância", ele "dá tanto  para os maus e para os bons, para os justos e para os injustos." Se então ele dá tão abundantemente àqueles que não o buscam, ele vai recusar o seu Espírito Santo àqueles que lho pedem? É verdade que  eles não são dignos de tão rica bênção? e, assim como Jefté censurou aqueles que solicitaram sua ajuda para lutar contra os amonitas, dizendo-lhes: "Porventura, não me aborrecestes a mim e não me expulsastes da casa de meu pai? Por que, pois, vindes a mim, agora, quando estais em aperto?” (Jz 11.7); de igual  Deus poderia nos dizer: "Vós tendes resistido ao meu Espírito, e se rebelaram contra a luz, vezes sem conta, e como podem esperar que eu deveria lhes ajudar ainda?" Mas ele não vai deixar de atender ao choro suplicante, mas certamente irá abençoar os seus desejos.
Isso ele nos assegura por uma promessa expressa: "peça-a a Deus, e isso lhe será dado" (Tg 1.5,6). Esta promessa pode ser invocada, conforme muitas outras que ele nos deu para o mesmo efeito, e na forma, e na medida em que ela deve ser cumprida, deve ser deixada ao cuidado de Deus, porque ele a concederá plenamente a todos os que esperarem nele. Não que um homem será considerado infalível, ou terá tal sabedoria transmitida a ele que o impedirá de cometer erros em todos os graus; e assim tanto quanto suas necessidades o exijam, Deus certamente satisfará a todos os que o buscarem com sinceridade e verdade.
Para que nenhum homem busque sabedoria em vão, Tiago acrescenta uma advertência, a partir da qual podemos aprender,

II. Como garantir a realização da mesma

"Devemos pedir com fé, em nada duvidando". Aqui será bom que eu mostre,

1. O que é a fé que somos chamados a exercer,

Ela não diz respeito àquela coisa individual, que podemos estar procurando, porque podemos  possivelmente estar procurando por algo que Deus vê que seria prejudicial para nós, ou, se revelaria prejudicial, por ser incompatível com os fins que ele tem determinado realizar.  Quando nosso bendito Senhor orou para a remoção do amargo cálice e Paulo para a remoção do espinho na sua carne, nem uma nem outra oração foi atendida literalmente, embora ambas tenham sido respondidas da maneira mais satisfatória para os suplicantes, e de modo mais propício para a honra de Deus.
Assim, a coisa específica que pedimos, poderá ser retida, mas nós devemos ter a certeza de receber algo melhor em seu lugar, e é com essa dimensão somente que a nossa fé deve ser exercida, exceto onde haja uma promessa expressa para invocarmos, e, em seguida, podemos seguramente esperar que o que pedimos será concedido para nós.
Devemos "pedir com fé, em nada duvidando", se nós duvidarmos no final, a nossa dúvida se erguerá, a ponto de não sermos mais totalmente convencidos do poder de Deus para nos ajudar, ou termos alguma suspeita relativa à sua vontade. Mas, limitar o seu poder é pecaminoso ao extremo, e duvidar de sua vontade é, como o apóstolo João o expressa, "fazer de Deus um mentiroso", porque a promessa do texto é para toda criatura debaixo do céu, que pede com fé. Eu bem sei que as pessoas fingem justificar as suas dúvidas na sua própria indignidade, mas isto é uma mera falácia, porque cada homem é indigno, e, se indignidade fosse uma desqualificação para privar o  homem de todo o direito de esperar a bênção em resposta a suas orações, então nenhum homem vivo tem o direito de esperar pela bênção, e a promessa de Deus é uma mera nulidade. Nossa  necessidade de sabedoria é pressuposta na própria petição que é oferecida a ele, e quanto mais profundamente sentimos a nossa necessidade, mais de boa vontade e mais amplamente a vontade de Deus nos concederá a bênção. Oramos para ter sabedoria, embora estejamos pedindo, não com base em qualquer merecimento imaginário nosso, mas pelo simples fato de ter sido livremente prometido por Deus para nós; e, nesse ponto de vista, devemos levantar as nossas mãos, "sem ira, e também, sem dúvida".

2 . Isto certamente alcança o fim pretendido

Em algumas circunstâncias, o cumprimento da promessa parece exceder toda a esperança razoável, senão os limites da possibilidade. Mas, na proporção em que parece exceder a esperança, devemos "crer na esperança", assim como fez Abraão, quando a promessa foi dada a ele de ter uma posteridade tão numerosa como as estrelas do céu. Nosso Senhor nos ensinou isso de uma forma muito marcante. Para seus discípulos, que expressaram sua surpresa com a figueira, que ele tinha amaldiçoado, e murchou no  mesma hora, ele disse: "Ao que Jesus lhes disse: Tende fé em Deus; porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco.” (Marcos 11.2-24).
A verdade é que Deus, se assim posso dizer, sente a sua própria honra implicada no cumprimento de sua palavra, e, portanto, não por nossa causa, mas por causa do seu próprio nome, ele vai cumprir a coisa que hoje tem saído de sua boca. No entanto, não somente para seu próprio bem ele fará isso, mas por nossa causa também, pois, "os que o honram ele honrará".

ENDEREÇO

1 . Àqueles que são inconscientes de sua necessidade de sabedoria

Embora os homens sejam sensíveis o suficiente de sua ignorância em relação às ciências humanas, eles quase universalmente julgam-se competentes para decidir todas as coisas relacionadas com a sua fé ou prática. Mas muito apropriada é a declaração de Salomão: “O que confia no seu próprio coração é um tolo." (Prov 28.26).
Com respeito às coisas espirituais, somos todos por natureza cegos, e precisamos aprendê-las, pois as ignoramos, para que tenhamos nosso entendimento aberto para compreendê-las. Em todos nós falta sabedoria excessivamente e a todos nós se aplicam igualmente estas palavras de Salomão, "Confia no Senhor de todo o teu coração e não se apoie na tua própria compreensão, em todos os teus caminhos reconhece-o, e ele endireitará as tuas veredas.”

2 . Aqueles que estão desanimados por sua falta de sabedoria

Se você olhar para a grandeza de suas dificuldades, ou de sua insuficiência para enfrentá-las, você pode muito bem enfraquecer e falhar, mas se você olhar para Deus, não há motivo para ficar desencorajado. Pois, ele não pode "colocar força na boca de pequeninos e crianças de peito?" E "ele não colocou o seu tesouro em vasos de barro de propósito para que a excelência do poder seja vista como dele? (2 Cor 4.7). Veja como ele reprovou Jeremias por seus pensamentos desanimados, e  que ficasse contente por ser "fraco, para que sua força pudesse ser aperfeiçoada em sua fraqueza". Veja como ele repreendeu Pedro também por ter duvidado, e assim tome cuidado para você não duvidar.
Se você está duvidando, ele o repreende claramente, que "você não deve esperar receber qualquer coisa do Senhor" (Tg 1.7), mas, se você crer, de acordo com a sua fé isso lhe será concedido (Mat 9.29).

Tradução e adaptação de um texto em domínio público, de Charles Simeon.






3 - Quem São os Sábios?

Quem é o homem insensato? É um homem que ouve os ditos de Jesus e não os pratica. Ele é comparado a um homem que era tolo o suficiente para construir a sua casa sobre a areia. Seria melhor que este homem nada construísse, porque o custo do edifício foi perdido. Ele poderia ter tido o dinheiro para seu uso e alegria, se não o tivesse desperdiçado construindo uma casa sobre a areia. Um homem insensato, de fato!
Quem é o sábio? É o homem que ouve as palavras de Jesus e as pratica. Ele é comparado a um homem que edificou a sua casa sobre a rocha. De um ponto de vista temporal, nada é mais propício para a felicidade do homem do que um bom lar. Não há melhor uso que possa ser feito com dinheiro do que gastá-lo na construção de uma casa, desde que a casa seja construída sobre um alicerce seguro. Um homem que ouve a Palavra de Deus e faz isso é comparado a tal homem. Porque construir um caráter cristão em obediência à Bíblia é a maior sabedoria. Porque está construindo uma mansão no céu. A verdadeira experiência cristã real e vida custam algo, mas eles pagam, porque ficarão de pé.
A mera profissão de cristianismo pode custar algo também, mas isto não é pago, uma vez que não vão ficar de pé. Um homem que constrói sua casa sobre a areia pode construir com um custo menor do que o daquele que cava fundo e coloca o seu fundamento sobre a rocha, mas no momento em que o primeiro homem mais precisa de sua casa, quando o vento sopra e a chuva cai torrencialmente – ela é destruída. Por outro lado, o homem que constrói sobre a rocha tem uma casa para abrigá-lo das tempestades. Da mesma forma, aquele que constrói uma experiência cristã em obediência à Palavra de Deus terá algo para lhe servir num momento de necessidade.
Assim, aprendemos a partir da parábola do sábio e do tolo  construtores que obedecer a Bíblia é o verdadeiro caminho da vida de Jesus.

Extraído do livro como viver uma vida santa, de James Orr – traduzido pelo Pr Silvio Dutra







4 - A Verdadeira Fonte da Sabedoria

O apóstolo Tiago sabia como a natureza terrena aprecia se gabar de grandes feitos, como ama desenvolver teorias com o fim de se mostrar esclarecida e sábia.
Então, ele coloca no 3º capítulo de sua epístola um antídoto contra este mal e uma séria advertência quanto ao perigo que há em especular com a verdade revelada por Deus, para se obter a reputação de mestre.
Ele diz que Deus julgará com maior rigor aqueles que se entregarem a especular sobre a verdade e que no final nada alcançaram em termos de uma vida piedosa, senão uma língua eloquente e falta de verdadeiro entendimento espiritual e verdadeira santificação.
Afinal, a verdade não foi dada para ser especulada, mas para ser obedecida e vivida.
Coisas espirituais se discernem espiritualmente, e com a mente de Cristo; e não propriamente com nossa mente natural, corrompida pelo pecado.
A assertiva de Tiago que o simples conhecimento intelectual das coisas de Deus sem um viver piedoso e dirigido pelo Espírito, está exposto a muitos juízos; se comprova em que não há nenhum valor em falar da verdadeira doutrina, de se bendizer a Deus, de orar a Ele, e ao mesmo tempo amaldiçoarmos os homens criados à Sua semelhança.
Uma obra misturada com bênção e maldição; com acertos e com erros, não pode contar com a aprovação do Senhor.
Tal vida não pode ser útil ao Seu serviço e não dará um bom testemunho da nossa condição de sermos filhos de Deus.
A nossa fonte deve jorrar permanente e somente águas vivas através de nós.
Esta água é cristalina, limpa, doce, potável, apropriada para gerar e manter a vida eterna.
Logo, o que deve fluir de nós são águas limpas e somente águas limpas, que procedem do trono de Deus.
A nossa árvore deve dar apenas bons frutos.
A verdadeira sabedoria e conhecimento da vontade de Deus são demonstrados quando se vive em submissão (mansidão) à Sua vontade.
Sem consagração ao Senhor não pode haver um trabalho de disciplina do Espírito para a crucificação das paixões e desejos da nossa carne, de maneira que as obras da carne sejam destruídas, e o lugar delas seja ocupado pelo fruto correspondente do Espírito, como por exemplo, o orgulho substituído pela humildade; o rancor pelo amor; a falsidade pela verdade; a hipocrisia pela sinceridade; a falta de zelo pelo fervor; a dissensão e a ira pela paz e tudo o mais que importa que sejamos despojados do velho homem, para sermos revestidos pelo que é da nova criatura em Cristo Jesus.
Cristãos não podem abrigar, nem se deixarem governar por sentimentos facciosos em seus corações, especialmente contra a própria obra do Senhor e daqueles que têm andado no Espírito.
Não devem viver em inveja amarga por não estarem contentes com aquilo que são, nem com as coisas que têm recebido do Senhor.
Tiago nos adverte em última instância, neste capítulo, que devemos estar muito vigilantes quanto ao uso que fazemos da nossa língua, estando conscientes de que ela poderá ser usada de modo muito contrário à vontade de Deus, tanto por falta de sabedoria, quanto por um uso impróprio pecaminoso, uma vez que temos uma natureza terrena que foi corrompida pelo pecado e que deve ser crucificada e renovada pelo Espírito.
Ele não nos alerta para apenas sabermos que temos tal natureza, mas para nos lembrar do dever que temos de fazer um uso santo e edificante em todo o nosso falar.
Se nossa conversação não é santa e edificante, a nossa religião é vã e temos nos enganado a nós mesmos.
Porque aquele que estiver sendo de fato santificado pelo Espírito, e por estar enriquecido com a Palavra de Cristo, haverá de demonstrar isto na sua maneira de conversar e falar.
A língua deve ser uma boa serva do nosso espírito e não como um cavalo desgovernado.
O fogo, quando é servo é de grande utilidade, mas quando se torna senhor pode fazer uma grande devastação. Enquanto sob domínio será útil, mas sem domínio é destruidor.
De igual maneira quando um cavalo é dócil, ele é muito útil, mas caso se desgoverne e entre em disparada saindo de debaixo do controle daquele que o dirigia, ele poderá produzir sérios danos e acidentes.
Assim, importa que o cristão traga sua língua debaixo do domínio do Espírito Santo, e que exerça efetivamente um governo sobre ela, de maneira que profira palavras que sejam boas somente para a edificação dos ouvintes.
Nenhum homem pode domesticar a língua sem a ajuda e graça sobrenatural do Espírito.
Não é uma coisa fácil conseguir tal governo sobre a língua, porque importa antes deixar que Deus transforme nosso coração, de onde de fato procedem todos os males, inclusive o da maledicência.    









5 - Sabedoria Celestial

Havia em Davi mais sabedoria e santidade do que em muitos cristãos de nossos dias, porque ele se dispôs a viver inteiramente para o agrado de Deus, buscando viver no caminho da Sua sabedoria e santidade, e Deus fez com que ele encontrasse a ambos, e que os percorresse de modo que se tornava cada vez mais sábio e mais santo.
Veja com que discernimento ele sabia que o verdadeiro sucesso não consiste na realização de nossos próprios projetos, e de se acumular muitos bens, fama e poder neste mundo, caso se tenha um coração ímpio, porque, por fim tudo isso terá sido perdido, e haverá um terrível juízo aguardando por aqueles que fizeram de tais coisas o deus deles, e que não colocaram por conseguinte a sua confiança inteiramente no Senhor.
Veja que são as palavras de um rei que tinha força, fama, riquezas e poder, e no entanto, não permitiu que seu coração e desígnios fossem dirigidos pelo que possuía, ou mesmo pelo desejo que é muito comum de aumentá-los, quando se anda segundo a carne e não segundo o espírito.
Davi diz aos homens que façam o bem, e que se alimentem da verdade, agradando-se do Senhor, porque somente assim fazendo, o coração poderá achar a verdadeira satisfação que procede de Deus, porque os desejos que serão achados no coração serão somente os desejos que são aprovados por Ele, e ali colocados por Ele próprio.
Deus tudo faz quando entregamos o nosso caminho a Ele e temos uma fé verdadeira que conduzirá tudo a bom termo no que se refere à nossa caminhada.
Estes que não vivem a invejar a prosperidade dos ímpios, mas que fazem do próprio Senhor o grande objetivo de suas vidas, verão por fim que é esta a condição necessária para que Ele faça sobressair a nossa justiça como a luz, e o nosso direito como o sol do meio-dia.
Ou seja, Ele será o nosso advogado e juiz em todas as nossas causas, de modo que podemos achar nEle descanso e paz para as nossas almas, sem que tenhamos que nos irritar com aqueles que prosperam em seus caminhos à custa de levarem a cabo os seus maus intentos.
O cristão não deve aceitar a provocação que lhe seja feita pelo diabo, quer diretamente, quer indiretamente por meio dos seus instrumentos, e deve manter a paz de mente e de espírito em toda e qualquer circunstância.
Por isso deve deixar a ira e abandonar o furor e não viver impacientemente por coisa alguma, porque no fim o resultado nunca será bom.
O cristão deve ter o temor do Senhor permanentemente, e não imitar as obras das trevas, porque Ele tem um juízo determinado contra todos os que praticam o mal, mas os que esperam no Senhor herdarão a terra, conforme a Sua promessa.
Não é afinal isto que Jesus promete no Sermão do Monte aos mansos?
Ninguém deve se precipitar num juízo incorreto, pensando que o ímpio há de prevalecer, porque o Senhor é longânimo e paciente, e tem determinado um dia em que julgará toda a carne.
Neste dia, o ímpio será desarraigado da terra, mas os justos a receberão por herança, e viverão numa perfeita paz juntamente com o Senhor e  uns com os outros.
Por isso o cristão é chamado a orar pelo ímpio, por mais que este lhe persiga, porque este se encontra debaixo de uma terrível condenação da qual poderá ser livrado somente caso se converta ao Senhor.
Assim, Davi afirma que mais vale o pouco do justo do que a abundância de muitos ímpios, porque esta de nada lhes valerá no dia do Juízo.
Davi sabia que a justificação que é pela graça, mediante a fé, nos torna herdeiros de uma herança eterna.
Deus havia feito promessas específicas em tal sentido para os fiéis da sua casa, de que usaria de bondade eterna para com eles, conforme podemos ver em outras passagens deste salmo, em que ele afirma que aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e que o Senhor firma os passos do homem bom de tal modo que se cair não ficará prostrado, porque o segura pela sua mão – isto fala da segurança eterna da salvação do justo.
Deus cuida de tal maneira do justo que ainda que venha a ter fome, não mendigará o pão jamais, porque o Senhor o sustentará.
Davi diz destes que se apartam do mal e que fazem o bem, que a morada deles será perpétua, isto é, eterna.
Isto porque o Senhor não desampara os seus santos, e os preservará para sempre, conforme tem prometido de não lançar fora a nenhum que venha a Ele.
Davi diz que os justos não apenas herdarão a terra mas que habitarão nela para sempre; porque o Senhor não os deixará nas mãos do perverso, e nem os condenará no juízo.
Davi estava falando de coisas escatológicas pelo Espírito, porque disse que o Senhor exaltaria o justo para possuir a terra, e que ele presenciaria isto quando os ímpios fossem exterminados, e que eles serão exterminados a um só tempo juntamente com a descendência deles, ou seja, os que são tão ímpios quanto eles.
Vale a pena inserir no comentário deste salmo a promessa que Deus fez a Davi quanto à segurança eterna da salvação, conforme palavras de II Samuel 23.1-7:                
 “1 São estas as últimas palavras de Davi: Diz Davi, filho de Jessé, diz o homem que foi exaltado, o ungido do Deus de Jacó, o suave salmista de Israel.
2 O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua palavra está na minha língua.
3 Falou o Deus de Israel, a Rocha de Israel me disse: Quando um justo governa sobre os homens, quando governa no temor de Deus,
4 será como a luz da manhã ao sair do sol, da manhã sem nuvens, quando, depois da chuva, pelo resplendor do sol, a erva brota da terra.
5 Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o meu desejo?
6 Porém os ímpios todos serão como os espinhos, que se lançam fora, porque não se pode tocar neles;
7 mas qualquer que os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança; e a fogo serão totalmente queimados no mesmo lugar.”
As últimas palavras proferidas por Davi são extraordinárias e comprovam que ele havia sido realmente exaltado e ungido por Deus, e foi inspirado pelo Espírito Santo para ser o mavioso salmista de Israel, sendo conhecido em todas as partes do mundo em todos os séculos, pelos Salmos que escreveu debaixo desta inspiração (v. 1).
Ele não tinha o Espírito de Deus apenas no seu coração, guardando comunhão com Ele, mas permitiu que Ele usasse a sua língua, para proferir a Sua Palavra através da Sua boca (v. 2).
Davi regeu a todos que foram colocados debaixo do seu governo pelo Senhor, com o temor de Deus, porque o fizera com justiça (v. 3), tal como faria Neemias, depois dele (Ne 5.15).
Deus mesmo, a quem Davi chama de a Rocha de Israel (v. 3), havia lhe falado que aqueles que governam deste modo, são como a luz da manhã, quando sai o sol, como uma manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva (v. 4).
Assim, é descrito o caráter de todos os justos que reinarão juntamente com Cristo, porque, falando ainda pelo Espírito, Davi aplica estas palavras à sua casa, dizendo: “Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o meu desejo?”.
Esta certeza da salvação eterna, para todos os que estão na casa de Davi, por sua associação com Cristo, que pertence a esta casa, e é Senhor sobre ela, pois não foi estabelecida pelo homem, mas pelo próprio Deus, é devido ao pacto, que nas palavras do Espírito, pela boca de Davi, é “em tudo bem ordenado e seguro”.
Este é o caráter da aliança da graça, e é por ser uma aliança eterna que ela prosperará e jamais frustrará o desejo de qualquer um que tiver colocado no Senhor a Sua confiança, participando da aliança eterna, que foi prometida a Davi.
Na verdade, não há outra esperança de salvação senão por meio das condições da aliança prometida a Davi.
Tanto que aqueles que permanecerem na condição de filhos de Belial, por não estarem assim aliançados com Deus, serão lançados fora, sem uma só exceção, como espinhos, porque não podem ser tocados com as mãos, isto é, não se permitem serem transformados e educados na justiça por Deus.
Por isso, quem os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança, e a fogo serão totalmente queimados no seu lugar (v. 6,7).
As pessoas ímpias estão sujeitas não apenas ao braço da justiça dos magistrados terrenos, como também serão sujeitados ao braço forte do juízo eterno do Senhor, que os queimará num fogo eterno, que jamais se apagará.
Os filhos de pais piedosos nem sempre são tão santos e devotados quanto deveriam ser, tal como se deu com o próprio Davi, que a par de todo o seu amor e esforço para santificar os seus filhos, teve entre eles Amnom e Absalão, que eram ímpios.
Isto nos revela que é a corrupção e não a graça, que corre no sangue.
Por isso, a casa de Davi é típica da Igreja de Cristo, que é a casa dEle (Hb 3.3).
Cristo não é fiel a toda a sua casa, na condição de um servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas como Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa terrena.
O Senhor da casa espiritual de Davi é Cristo, e não o próprio Davi, porque este foi impedido de continuar o seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas Cristo, que vive e reina para sempre, reina sobre toda a Sua casa, e sobre todos aqueles que lhes foram dados pelo Pai, em todas as nações.
Deus fez uma aliança com a cabeça da Igreja, o Filho de Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre a qual as portas do inferno não prevalecerão, ou seja, nunca poderão predominar sobre a Sua casa.
E esta segurança é garantida por Deus e realizada na Rocha segura que é Cristo, que é o autor e consumador da nossa fé e salvação.
Desta forma, é nEle que se cumprem todas as promessas da aliança da graça feita com Davi.
A aliança que Deus fez com um rei terreno apontava para a aliança que Ele fizera antes que houvesse mundo, no céu, com Aquele que reinará para sempre.  
Por isso as promessas da aliança eterna são chamadas de fiéis misericórdias prometidas a Davi:
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).
É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura e eterna.
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação.
Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela.
Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a glória de Deus, de modo que se a obra não for completada na terra, ela o será no céu.
E para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos. Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que não lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.
Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador.
E se diz que a aliança é segura, porque está assim bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu.
Ela está tão bem estruturada, que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será concluída no céu.
Uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo. Ainda que todos os aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática da justiça.
As misericórdias prometidas aos aliançados são seguras, e operarão de acordo com as condições estabelecidas em relação à necessidade de arrependimento e fé.
A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura.
É segura porque e suficiente.
Nada mais do que isto nos salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo. É somente disto que a nossa salvação depende.

“Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.
Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde.
Confia no SENHOR e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade.
Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração.
Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará.
Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia.
Descansa no SENHOR e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios.
Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal.
Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no SENHOR possuirão a terra.
Mais um pouco de tempo, e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar e não o acharás.
Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz.
Trama o ímpio contra o justo e contra ele ringe os dentes.
Rir-se-á dele o Senhor, pois vê estar-se aproximando o seu dia.
Os ímpios arrancam da espada e distendem o arco para abater o pobre e necessitado, para matar os que trilham o reto caminho.
A sua espada, porém, lhes traspassará o próprio coração, e os seus arcos serão espedaçados.
Mais vale o pouco do justo que a abundância de muitos ímpios.
Pois os braços dos ímpios serão quebrados, mas os justos, o SENHOR os sustém.
O SENHOR conhece os dias dos íntegros; a herança deles permanecerá para sempre.
Não serão envergonhados nos dias do mal e nos dias da fome se fartarão.
Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do SENHOR serão como o viço das pastagens; serão aniquilados e se desfarão em fumaça.
O ímpio pede emprestado e não paga; o justo, porém, se compadece e dá.
Aqueles a quem o SENHOR abençoa possuirão a terra; e serão exterminados aqueles a quem amaldiçoa.
O SENHOR firma os passos do homem bom e no seu caminho se compraz;  se cair, não ficará prostrado, porque o SENHOR o segura pela mão.
Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão.
É sempre compassivo e empresta, e a sua descendência será uma bênção.
Aparta-te do mal e faze o bem, e será perpétua a tua morada.
Pois o SENHOR ama a justiça e não desampara os seus santos; serão preservados para sempre, mas a descendência dos ímpios será exterminada.
Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre.
A boca do justo profere a sabedoria, e a sua língua fala o que é justo.
No coração, tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão.
O perverso espreita ao justo e procura tirar-lhe a vida.
Mas o SENHOR não o deixará nas suas mãos, nem o condenará quando for julgado.
Espera no SENHOR, segue o seu caminho, e ele te exaltará para possuíres a terra; presenciarás isso quando os ímpios forem exterminados.
Vi um ímpio prepotente a expandir-se qual cedro do Líbano.
Passei, e eis que desaparecera; procurei-o, e já não foi encontrado.
Observa o homem íntegro e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade.
Quanto aos transgressores, serão, à uma, destruídos; a descendência dos ímpios será exterminada.
Vem do SENHOR a salvação dos justos; ele é a sua fortaleza no dia da tribulação.
O SENHOR os ajuda e os livra; livra-os dos ímpios e os salva, porque nele buscam refúgio.”







6 - Sabedoria

Sábio é aquele que tem capacidade de adquirir conhecimentos e aplicá-los de forma eficaz.
Não estaremos enfocando aquele tipo de sabedoria que é do mundo, cuja procedência não é celestial e espiritual, senão terrena, diabólica e animal, conforme o dizer de Tiago, a qual é eficaz para a prática do mal, e não do bem.
Antes de tudo, deve ser dito que o próprio Cristo é a sabedoria do crente (I Cor 1.30), uma vez que fora da comunhão com Ele e sem o conhecimento que dEle procede, não pode existir qualquer sabedoria que seja segundo a vontade de Deus.
Tanto a sabedoria natural como a de Aoliabe, de Bezalel nos dias de Moisés, e do próprio rei Salomão, assim como a sabedoria espiritual à qual se refere o apóstolo Tiago, e que devemos pedir a Deus -  ambas são de procedência divina. A sabedoria para o bem é um dom de Deus.
Antes de sua queda, Satanás era dotado de sabedoria - de grande sabedoria - mas esta se corrompeu totalmente com sua rebelião.
Todos os crentes são dotados em menor ou maior grau da sabedoria que procede do alto, para que possam conhecer os mistérios do reino de Deus e discernirem todas as coisas relativas à comunhão com Cristo. Mas, há um dom chamado palavra de sabedoria que é concedido especialmente àqueles que ministram ao corpo de Cristo; como pastores, mestres, profetas, evangelistas e nos demais ministérios e serviços que são concedidos pelo Espírito Santo para um fim proveitoso.
Pastores são dotados com o dom de governo, mestres, com o de ensino, e assim cada um com a sua principal necessidade para o cumprimento do ministério é capacitado por Deus para o citado fim.
 Assim a sabedoria tem a ver principalmente, com a capacitação recebida para discernir, decidir, aplicar, desenvolver, entender, ministrar e tudo o mais que esteja relacionado em conformidade com a vontade de Deus.
Precisamos, portanto de ter inteligência espiritual para não pedirmos a Deus sabedoria para algum ministério para o qual Ele não nos tenha chamado, senão para o desempenho das coisas que fomos chamados por Ele para realizar. A sabedoria não é concedida segundo a nossa própria vontade, mas segundo a vontade do Senhor, para o que Ele tiver designado para a nossa vida.
Muitos se sentem infelizes e frustrados pela falta deste conhecimento, e permanecem na expectativa de algo que jamais receberão, quando importava orarem para conhecer qual seja a vontade específica de Deus para eles.
Importa também sabermos que a sabedoria pode e deve aumentar em graus, conforme Deus nos chame para desempenhar serviços maiores, que demandem uma maior capacidade de discernimento e decisão nas questões que fomos chamados a resolver ou realizar.
Em tudo, porém, importa que o poder e a glória sejam exclusivamente de Deus, e não propriamente nossos, e para tanto o Senhor chama as coisas que não são e as que são desprezíveis, como por exemplo, a nossa falta de habilidade, força, sabedoria, conhecimento etc., para que ao nos suprir com os mesmos, possamos permanecer humildes e tributar-Lhe toda a honra, glória e louvor.
Embora saibamos que toda a sabedoria procede de Deus, contudo devemos buscá-la com todo o fervor, e nos sujeitarmos com temor ao Senhor em todas as provações em que formos chamados por Ele a experimentar, com a finalidade principal de nos tornar humildes, pois Ele primeiro abate, para depois exaltar. É o Seu método imutável, portanto devemos ser pacientes debaixo de nossas aflições.
Lembremos que está escrito que, ao que se humilha Deus concede mais graça, e esta graça se traduz, sobretudo em recebermos mais sabedoria em nosso viver cristão.

Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacada a palavra sabedoria, no Velho e no Novo Testamento;
1. sophia – grego, e
2. chokmah – hebraico), acessando o seguinte link:


Você pode ler toda a Bíblia (Velho e Novo Testamento) com a interpretação de capítulo por capítulo acessando o seguinte link:


http://interpretabiblia.blogspot.com.br/












132) SÃ DOUTRINA

ÍNDICE

1 - De Onde Procede o Viver Cristão?
2 - Preservando o Evangelho
3 - A Sempre Presente Necessidade de Reforma
4 - Sã Doutrina + Fé + Arrependimento


1 - De Onde Procede o Viver Cristão?

Reflexão sobre o poder do conhecimento correto
Por John Piper

É admirável que o apóstolo Paulo confronte diversas vezes o fracasso em fazer o que é certo com a falta de conhecimento do que é certo. Por exemplo:
O conhecimento correto impede a permanência no pecado.
“Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum... Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?” (Romanos 6.1-3).
O conhecimento correto impede o aviltamento da Graça.
“Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum! Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça?” (Romanos 6:15-16).
O conhecimento correto impede a jactância.
“Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” (1 Coríntios 5.6).
O conhecimento correto capacita a resolução de conflitos.
“Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!” (1 Coríntios 6.2-3).
O conhecimento correto impede a fornicação.
“Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne... Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Coríntios 6.15-19).
Paulo está apenas ecoando a ênfase de Jesus, que disse: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8.32); “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17.17).
Portanto, não vagueie em seus pensamentos. Não seja passivo no que concerne à sua mente. Em vez disso,
Faze o teu ouvido atento à sabedoria
e inclina o coração ao entendimento.
Clama por inteligência
e por entendimento alça a voz.
Busca a sabedoria como a prata,
Procura-a como a tesouros escondidos.

(ver Provérbios 2.2-4)









2 - Preservando o Evangelho

O apóstolo Paulo estava preso e às portas do martírio sob Nero, mas estava em paz e alegre no Seu Deus.
Ele desejava somente ter mais de Cristo, como fizera durante toda a sua vida ministerial.
Estava portanto pleno, contente, apesar de ter sido privado de sua liberdade para estar reunido com a Igreja pregando o evangelho.
Muitos haviam lhe abandonado, conforme ele afirmou no final de II Timóteo 1, mas podia se alegrar pelos poucos que haviam permanecido fielmente ao seu lado.
Prova que eram vasos de honra com os quais Deus poderia contar no prosseguimento da obra do evangelho depois que ele fosse convocado a estar para sempre na Sua presença.
A obra do evangelho prosseguiria. Não poderia ser paralisada porque o Senhor sempre terá estes vasos de honra que são fiéis em fazer toda a Sua vontade, e que não amam a própria vida mesmo em face da morte.
Os que são fiéis a Deus e que sustentam o testemunho do verdadeiro evangelho na terra, têm muitas aflições e sofrimentos, e por isso devem aprender a serem coparticipantes destas aflições do evangelho a que Paulo se refere, isto é, que são resultantes dele.
Nisto encontrarão conforto e alívio mútuos, por saberem que estes sofrimentos se cumprem entre todos aqueles que servem verdadeiramente a Deus com uma consciência pura.  
Assim, todos os que estão empenhados numa obra de Deus verdadeira devem estar preparados para sofrer aflições, que lhes virão tanto por resistência dos principados e potestades, quanto por permissão divina para provação da fé dos Seus servos, de modo que sejam achados humildes e dependentes dEle em todas as coisas, enquanto permanecem fiéis e contentes em toda e qualquer circunstância.
Deus quer salvar almas, quer fazer avançar a pregação, mas deseja sobretudo ensinar aos Seus filhos estas lições de obediência a Ele, pela renúncia às suas próprias vontades, sentimentos e emoções.
Isto significa que se o lugar de reunião para a adoração estiver cheio ou vazio, com as pessoas alegres ou tristes, não importa, você estará lá fielmente pregando e ensinando o verdadeiro evangelho, estando contente com o Seu Deus; ou mesmo que se levantem contra você e digam todo o mal e mentira contra você, não ficará detido por isto, mas levará a obra de Deus adiante.
Paulo estava preso e seria morto, mas disse a Timóteo que a pregação do evangelho não poderia parar.
Com isto ele comprovou que o que importa não é vivermos para cumprir o que seja do nosso próprio interesse, mas aquilo que é do interesse de Deus, e o principal interesse do Senhor em relação a este mundo é dar vida aos que estão mortos espiritualmente, e isto somente pode ser feito através da pregação do evangelho de Cristo.
Por isso a obra não pode parar, ainda que alguns de nós sejamos paralisados por prisões, por morte ou seja pelo que for.
O propósito do evangelho é a nossa salvação. Uma salvação que consiste numa chamada para sermos santos, conforme se vê no verso 9: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação...”. Tanto que se afirma na Palavra que sem santificação ninguém verá o Senhor.
O evangelho que nós pregamos foi planejado por Deus antes mesmo de ter criado os céus e a terra, e o próprio homem.
Então a proclamação do evangelho é um dever para todos aqueles que foram salvos, especialmente para os ministros que são chamados por Deus para tal propósito.
Jesus venceu a morte e trouxe luz, imortalidade e vida pelo evangelho.
Importa pois que se dê a todos o testemunho de fé da vitória da Sua vida ressurrecta sobre a morte.
Deus confiou à Igreja (não instituição ou organização, mas ao corpo vivo de crentes) o bom depósito das sãs palavras do evangelho de Cristo, o qual deve ser guardado pelo Espírito Santo que em nós habita.
É pela Palavra verdadeira do evangelho que Deus pode gerar vida espiritual e santidade nos que são salvos. Não se pode libertar, dar vida, e santificar a não ser por meio da verdade. E a verdade está em Cristo Jesus, na Palavra do evangelho revelada a nós.    
Se a doutrina pregada não for a sã doutrina será impossível ter vidas santificadas, saudáveis espiritualmente, por causa da nossa pregação e ensino.
Ao contrário, uma doutrina imperfeita produzirá vidas espirituais defeituosas e enfermas.
Daí ser ordenado que se mantenha o depósito das sãs palavras, conforme foram reveladas pelo Senhor, a Paulo e aos demais apóstolos.
Há virtude curativa somente na palavra que for verdadeiramente conforme a sã doutrina.
A sã doutrina é portanto uma joia inestimável de infinito valor que deve ser adequadamente guardada.
Esta guarda foi confiada por Deus a todos os cristãos, especialmente aos ministros do evangelho.
Importa portanto que este depósito da verdade seja preservado no testemunho das nossas próprias vidas santificadas por esta verdade, de maneira que seja guardada pura e integralmente, conforme convém ser e como é da vontade de Deus.
Não admira que o Senhor mesmo proíba em tantas passagens da Bíblia que nada seja acrescentado ou retirado da Sua Palavra revelada escrita, exatamente para que não se perca esta integridade e pureza.
Aqueles que haviam apostatado da fé, não poderiam de modo algum preservar a pregação da verdade e é por isto que Paulo fez menção deles.
Ele não queria enfatizar o fato de ter sido abandonado por eles, mas mostrar a Timóteo que há necessidade que os vasos de honra permaneçam como vasos de honra para preservação do testemunho da verdade do evangelho, porque não são poucos os que recuam na fé e se tornam por conseguinte, imprestáveis para os propósitos de Deus.
Os que apostatam da fé, apostatam também da doutrina de Cristo.








3 - A Sempre Presente Necessidade de Reforma

Conhecendo o Presente pelo que Sucedeu no Passado

Reformar, segundo a etimologia da própria palavra (re – formar), significa trazer novamente à forma original.
Não se trata portanto de criar algo novo, ou de se acrescentar ou retirar algo do que se tornou envelhecido, como muitos assim o entendem, mas manter o estado original de algo que foi mudado.
A chamada Reforma Protestante tinha este caráter. Ela não foi basicamente uma luta contra a Igreja Romana, mas um esforço em fazer com que o genuíno evangelho de Jesus Cristo fosse pregado e ensinado à igreja, tal e qual se encontra registrado nas páginas da Bíblia, para ser por ela praticado.
O evangelho não necessita de reforma, porque está revelado de uma vez para sempre nas páginas das Escrituras, especialmente nas do Novo Testamento.
Quem necessita então sempre de reforma é a igreja, porque esta sim, é dada a se desviar da prática dos mandamentos ordenados pelo Senhor em Sua Palavra.
As repreensões dirigidas por nosso Senhor a igrejas nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse bem demonstram esta necessidade de reforma pela via do arrependimento e retorno à estrita obediência aos Seus mandamentos.
Mesmo no caso das duas igrejas que não receberam repreensões (Esmirna e Filadélfia), todavia foram alertadas sobre a necessidade de permanecerem na fidelidade em que se encontravam na ocasião.
O conteúdo destas repreensões e advertências do Senhor muito nos ajudam a entender o estado presente da igreja em todo o mundo. Podemos ter uma visão correta da necessidade específica de reforma de cada uma delas, a partir do que lhes é recomendado por nosso Senhor Jesus Cristo, a cabeça da Igreja.
Veja o caso da igreja em Éfeso:

“Apo 2:1  A o anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro:
Apo 2:2 Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos;
Apo 2:3 e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer.
Apo 2:4 Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.
Apo 2:5 Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.
Apo 2:6 Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.
Apo 2:7 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus.”

Por que Éfeso foi repreendida a ponto de ser ameaçada a deixar de ser igreja (remoção do candeeiro), caso não se arrependesse de ter abandonado o primeiro amor e suas primeiras obras, uma vez que fora elogiada por sua correta ortodoxia, por seu labor, rejeitando os falsos apóstolos e o seu ensino, e rejeitando toda forma de hierarquismo eclesiástico (nicolaítas), perseverando e suportando provas por causa do nome de Jesus sem se deixar esmorecer?
Éfeso nos ajuda a entender porque apesar de pregarmos e defendermos o verdadeiro evangelho, ainda corremos o risco de não praticá-lo em nossas vidas, ou seja, não guardarmos os mandamentos do Senhor relativos à nossa santificação. É possível ser ouvinte da Palavra verdadeira e não praticá-la na vida. Este era o problema com Éfeso e com um grande número de igrejas em nossos dias.
Santificação não decorre de apenas se conhecer, pregar e ensinar o evangelho verdadeiro, mas em colocá-lo em prática em nossos pensamentos, ações e palavras.
O primeiro amor aqui referido pelo Senhor, certamente reporta aos dias em que sob a direção do apóstolo Paulo e Timóteo aquela igreja andou em verdadeira santidade de vida, amando e praticando os mandamentos do Senhor registrados na Bíblia.
Mas como Éfeso era uma cidade cosmopolita, e na qual se encontrava o colossal templo e culto à deusa Diana ou Astarte, e tendo a maioria dos convertidos sido alcançados de uma vida pagã e idolátrica, eles deviam ser muito tentados em voltar ao antigo modo de vida de adoração pagã, na qual o adorador serve a quem quiser e vive como quiser.
O cristianismo todavia não é inclusivista, mas exclusivista pois admite somente a adoração do único Deus vivo e verdadeiro e que se pratique somente a Sua Palavra.
Não admira que encontremos no final da primeira epístola de João, uma advertência quanto à necessidade de se guardarem os seus destinatários incontaminados da idolatria.
E certamente Éfeso contava entre os destinatários originais daquela primeira epístola do apóstolo, uma vez que por anos ele havia se fixado em Éfeso e havia supervisionado todas as igrejas da Ásia Menor, especialmente as mencionadas nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse.
Nada justifica a falta de reforma da igreja, mesmo quando se encontra debaixo de forte perseguição, como foi o caso de todas aquelas sete igrejas do Apocalipse, uma vez que o imperador romano Domiciano estava assolando a igreja no período do seu reinado (81-96 d.c.) exigindo que fosse adorado como Senhor e Deus. O próprio João foi deportado para Patmos por sua ordem, e muitos crentes estavam sendo martirizados.
Todavia, Éfeso permaneceu firme e perseverou conforme testemunho do próprio Senhor Jesus.
O que poderia se esperar a mais de uma igreja perseverante como aquela?
Santificação.
Sempre será procurado pelo Senhor o fruto da santificação nos Seus servos, independentemente das circunstâncias em que estejam vivendo.
O argumento de que a pressão da mídia é muito forte em nossos dias, que as fontes de tentação são múltiplas e variadas, que a iniquidade tem corroído terrivelmente toda a sociedade, enfim, tudo o que for contra a possibilidade de se manter uma vida santa sem pressões, não será justificado pelo Senhor por não praticarmos os Seus mandamentos.
Isto deve ser visto na vida, partindo do coração, sendo um amor não apenas de palavras, mas por obras e de fato.
Veja que Éfeso tinha muitas obras, mas não eram as obras da fé. E por isso lhe foi requerido o retorno à prática das primeiras obras que faziam em santificação.
Não existe portanto uma reforma de igreja dissociada do testemunho da nossa própria vida.
Muitos ouvirão o verdadeiro evangelho por anos seguidos, e no entanto, não permitirão que o Espírito Santo reforme os seus corações, trazendo-lhes à condição em que sempre deveriam se encontrar, a saber, crescendo na graça e no conhecimento de Jesus pela prática amorosa de todos os Seus mandamentos.         









4 - Sã Doutrina + Fé + Arrependimento

Há pregadores do evangelho que não conhecem adequadamente a doutrina da justificação pela graça mediante a fé, mas que na prática, creem que Deus pode converter pessoas que se encontrem em quaisquer condições, de modo que apelam para que aceitem a Cristo, e sejam incluídas no rol de membros de suas respectivas congregações.
Outros há que conhecem profundamente a doutrina da justificação pela graça mediante a fé, todavia, são céticos quanto à conversão de determinados tipos de pessoas, conforme o sistema particular de avaliação deles de quem é digno de ser salvo por Cristo ou não, e lhes falta o zelo e fervor requeridos na entrega da mensagem do evangelho.
Ora, tanto num caso quanto noutro, há perigos e deficiências a serem apontadas.
No primeiro, corre-se o risco de se criar nos ouvintes uma ilusão quanto a terem obtido uma conversão que de fato não ocorreu, por falta de arrependimento ou ainda pelo perigo de se crer num “Jesus” criado pela imaginação, sem atinar com o propósito da Sua obra de expiação em relação aos pecadores.
Não é pelo simples fato de ter sido aceito à comunhão de uma determinada congregação que podemos ter por certo que nos convertemos a Cristo.
Neste caso, a fé do pregador não está baseada na verdade do evangelho, que aponta para a necessidade de arrependimento e mortificação do pecado para a santificação, de modo que crer num Cristo que nada exige de nós, significa desconsiderar ou desprezar o Seu sacrifício e trabalho na nossa salvação, de modo que não Lhe dando a honra devida, não podemos ser honrados por Deus Pai, conforme o próprio Senhor Jesus Cristo nos ensinou.
No segundo caso, o conhecimento frio da letra do evangelho, transmitido pelo pregador, pode conduzir a uma ortodoxia morta que não traga o poder do Espírito Santo juntamente com a pregação, para produzir a conversão de pecadores, em razão da incredulidade do próprio pregador no poder da mensagem que ele prega, ou então, por pensar equivocadamente que Deus faça acepção de pessoas.
Na panela da salvação não podem faltar portanto os seguintes ingredientes: fé, fervor, doutrina do evangelho verdadeiro e arrependimento.












133) SACRAMENTOS - CEIA E BATISMO

ÍNDICE

1 - O Batismo: uma Sepultura
2- Verdadeiramente Comendo a Carne de Jesus – Parte 1
3- Verdadeiramente Comendo a Carne de Jesus – Parte 2
4- Verdadeiramente Comendo a Carne de Jesus – Parte 3


1 - O Batismo: uma Sepultura

por Charles Haddon Spurgeon

 “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida..” (Romanos 6:3-4)

Que não se entre em controvérsia neste texto sobre o batismo, por mais que sobre ele alguns tenham levantado questões sobre o batismo infantil e adulto, imersão ou aspersão. Se qualquer pessoa puder interpretar de maneira consistente e conclusiva este texto sem considerar que a imersão é o genuíno batismo cristão, eu realmente gostaria de ver como ela o faz. Eu mesmo sou bem incapaz de realizar tal feito, e não imagino como fazê-lo. Eu me contento em aceitar o ponto de vista que o batismo significa um sepultamento dos crentes nas águas em nome do Senhor, e assim eu irei interpretar o texto.
Se alguém tem outra perspectiva, deveria ao menos se interessar em saber qual o significado que damos ao rito do batismo, e espero que eles não discordem do sentido espiritual apenas por diferirem do sinal externo. Afinal, o emblema visível não é o assunto proeminente no texto. Que Deus Espírito Santo nos ajude a chegar ao ensino real.
Eu não entendo que Paulo esteja dizendo que pessoas impróprias como os incrédulos, hipócritas, e enganadores que são batizados o sejam na morte de nosso Senhor. Ele diz “todos nós que”, colocando-se com o resto dos filhos de Deus. Ele pretende dizer que estes são os que tem direito ao batismo, e que a ele vem com seus corações em um estado correto. Sobre tais pessoas, Paulo diz, “ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?” Ele nem mesmo pretende dizer que todos aqueles que foram batizados por direito tiveram completo entendimento do seu significado espiritual; pois, se o tivessem, não haveria necessidade da pergunta: “Ou não sabeis?” Parece que havia alguns batizados que não sabiam realmente o significado de seu próprio batismo. Eles tinham fé, e uma quantidade de conhecimento suficiente para torná-los dignos recebedores do batismo, porém não haviam sido corretamente instruídos na doutrina do batismo; talvez só estivesse enxergando no batismo o aspecto da lavagem, mas ainda não discerniram a característica do enterro.
Eu irei além, ao questionar se algum de nós conhece de maneira plena o significado das ordenanças que Cristo instituiu. Até agora somos como crianças brincando na praia em relação às coisas espirituais, enquanto o oceano está diante de nós. O melhor que podemos fazer é entrar no mar só até a altura dos joelhos, como nossos filhos fazem. Poucos de nós estamos aprendendo a nadar; e quando aprendemos, só nadamos até onde podemos pisar os pés em segurança. Quem de nós jamais perdeu de vista a praia e nadou no Atlântico do amor divino, onde a verdade profunda está realmente no fundo, e o infinito é o que se vê ao redor?
Oh, que Deus nos ensine diariamente aquilo que já sabemos em parte, e que a verdade que vimos de forma embaçada venha a nós de forma mais clara, até vermos tudo como que na presença da total luz do sol. Isso só pode ocorrer se nosso caráter se tornar mais claro e puro; pois vemos de acordo com o que somos; e tal como é o nosso olho, assim também é como vemos. O puro de olhos só pode ver um Deus Santo e Puro. Seremos como Jesus quando o virmos como Ele é (I João 3:2), e certamente não o veremos como Ele é até sermos como Ele. Nas coisas celestiais nós O vemos tanto quanto nós O temos em nós mesmos. Aquele que comeu a carne e o sangue de Cristo espiritualmente é o homem que pode vê-lO na santa ceia, e aquele que foi batizado em Cristo vê Cristo no batismo. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância (Mateus 25:29).
O batismo anuncia a morte, sepultamento e a ressurreição de Cristo, e também nossa comunhão com Ele. Seu ensino tem dois pontos. Primeiro, pensem na união representativa com Cristo, de tal forma que, quando nosso Senhor foi morto e enterrado, foi para nosso próprio benefício, e desta forma fomos enterrados com Ele. Isso nos ensina do batismo na medida que declara abertamente uma crença. Declaramos através do batismo que cremos na morte e Jesus, e desejamos comungar de todo Seu mérito.
Mas há outro assunto tão importante quanto este: trata-se da realização da nossa união com Cristo, que é demonstrada por meio do batismo, não tanto como uma doutrina da nossa confissão, mas como uma experiência nossa. Há um tipo de morte, de sepultamento, de ressurreição, e de viver em Cristo que deve se apresentar em todos nós que realmente somos membros do corpo de Cristo.

I Primeiramente, então, eu gostaria que você pensasse em NOSSA UNIÃO REPRESENTATIVA COM CRISTO como é estabelecida no batismo como uma verdade a ser crida. Nosso Senhor Jesus é o substituto do Seu povo, e quando Ele morreu foi para o bem desse povo e em seu lugar. A grande doutrina da nossa justificação depende disso, que Cristo tomou nossos pecados, ficou em nosso lugar, e como nosso procurador sofreu, sangrou, e morreu para apresentar em nosso lugar um sacrifício pelo pecado. Nós devemos nos lembrar dEle, não como uma pessoa privada, mas como nosso representante. Somos enterrados com Ele no batismo até a morte para mostrar que O aceitamos como sendo para nós morto e enterrado.
O Batismo como um enterro com Cristo significa, primeiro, aceitar a morte e sepultamento de Cristo como sendo para nós. Vamos fazer isso agora mesmo com todo o nosso coração. Que outra esperança temos? Quando nosso Divino Senhor desceu das alturas da glória e tomou sobre si a nossa humanidade, Ele se tornou um comigo e com você; e, tendo sido achado em forma humana (Filipenses 2:7), ao Pai agradou colocar o pecado sobre Ele, até mesmo os seus e os meus pecados (Isaías 53). Você não aceita essa verdade, e concorda que o Senhor Jesus deve ser o sofredor da nossa culpa, e permanecer em pé em seu lugar à vista de Deus? “Amém! Amém!” digam todos vocês.
Ele subiu ao madeiro carregado com toda essa culpa, e lá Ele sofreu em nosso lugar e legalmente foi penalizado como nós deveríamos sofrer. Agradou ao Pai, ao invés de moer a nós, moê-lO. Ele O pôs para sofrer, fazendo sua alma uma oferta pelo pecado. Não aceitamos gratos a Jesus como nosso substituto? Oh amados, tendo sido batizados nas águas ou não, eu coloco essa questão diante de vocês: “você aceita o Senhor Jesus como seu representante substituto?” Pois se não O aceitam, vocês devem sofrer a própria culpa e carregar seu próprio sofrimento, e estar de pé no seu próprio lugar diante do olhar da justiça irada de Deus. Muitos de nós dizemos no mais profundo do coração –
“Minha alma se volta para ver
O sofrimentos que Tu suportaste,
Quando segurado na maldita árvore,
E espera que sua culpa esteja lá”
Agora, sendo sepultados com Cristo no batismo, selamos que a morte de Cristo foi em nosso benefício, e que estávamos com Ele, e morremos nEle, e, como prova de nossa fé, consentimos na tumba de água, e nos deixamos ser sepultados de acordo com Seu mandamento. Esse é um fato de fé fundamental – Cristo morto e sepultado por nós; em outras palavras, substituição, procuração, sacrifício vicário. Sua morte é a base da nossa segurança: não somos batizados no Seu exemplo, ou em Sua vida, mas em Sua morte. Aqui nós confessamos que toda a nossa salvação depende da morte de Jesus, cuja morte nós aceitamos como tendo acontecido por nosso benefício.
Mas isso não é tudo; pois se eu devo ser sepultado, não deve ser tanto porque eu aceito a morte substitutiva de outro por mim , mas por qué eu mesmo estou morto. Batismo é um reconhecimento de nossa própria morte em Cristo. Mas porque um homem vivo deveria ser enterrado? Porque ele deveria ser enterrado porque outro morreu em seu benefício? Meu sepultamento com Cristo não significa somente que Ele morreu por mim, mas que eu morri nEle, de tal forma que minha morte com Ele precisa de um enterro com Ele. Jesus morreu por nós porque ele é um conosco (João 17:11, 21).
O Senhor Jesus Cristo não tomou sobre si os pecados do Seu povo por uma decisão arbitrária de Deus; mas era totalmente natural e próprio que Ele deveria tomar os pecados do Seu povo, pois eles são Seu povo, e Ele é sua cabeça definitiva. Era necessário Cristo sofrer por esta razão – que Ele era o representante do Seu povo pela aliança. Ele é a Cabeça do corpo, a Igreja; e se os membros pecaram, entende-se que a Cabeça, ainda que não tenha pecado, deva sofrer as consequências das ações do corpo. Assim como há um relacionamento natural entre Adão e aqueles que estão em Adão, assim há também entre o segundo Adão e os que estão nEle (Romanos 5:12-21).
Eu aceito o que o primeiro Adão fez em relação ao meu pecado. Alguns de vocês podem discordar disto, e com toda a dispensação do pacto, se quiserem; mas como agradou a Deus colocar as coisas dessa forma, e eu sinto os efeitos disso, eu não vejo uso algum para a minha discórdia com isso. Tal qual aceito o pecado do pai Adão, e sinto que eu pequei com ele, assim também com alegria intensa aceito a morte e sacrifício pela culpa de meu segundo Adão, e me regozijo que nEle eu morri e ressuscitei. Eu vivi, eu morri, eu guardei a lei, eu satisfiz a justiça através da aliança da Cabeça. Deixe-me ser enterrado no batismo que eu mostrarei a todos em volta que eu creio que eu era um com meu Senhor na morte e enterro pelo pecado.
Olhem para isso, ó filhos de Deus, e não temam. Essas são grandes verdades, seguras e confortantes. Vocês estão entre as grandes ondas do Atlântico agora, mas não tenham medo. Percebam o efeito santificador dessa verdade. Suponha que um homem seja condenado à morte por causa de um grande crime; suponha, aliás, que ele morreu por aquele crime, e agora, por alguma obra maravilhosa de Deus, após ter sido morto, ele foi vivificado de novo. Ele está novamente entre os homens, como ressurreto dentre os mortos, e qual é o estado de sua consciência quanto à sua ofensa? Ele irá cometer aquele crime de novo? Um crime pelo qual ele morreu? Eu digo enfaticamente: Deus proíba. Ele certamente dirá: “eu provei da amargura desse pecado, e eu fui miraculosamente levantado da morte que me sobreveio, e revivi; agora eu odiarei aquilo que me matou, e o abominarei com toda a minha alma.”
Aquele que recebeu o pagamento do pecado deve aprender como evitá-lo no futuro. Mas, você responde que “nós nunca morremos assim. Nunca fomos obrigados a pagar a dívida do nosso pecado.” Correto. Mas aquilo que Cristo fez por você vem a ser a mesma coisa, e o Senhor olha para isso como a mesma coisa. Você é então um com Jesus, de tal forma que você deve considerar a morte dEle como a sua morte; Seus sofrimentos como o castigo que lhe traz a paz (Isaías 53: 5). Você morreu na morte de Jesus, e agora por uma graça estranha e misteriosa você é resgatado do poço de corrupção (Salmo 40:1-2) para uma vida nova. Como você poderia voltar novamente ao pecado? Você viu o que Deus pensa do pecado: você percebe que Ele o abomina totalmente; pois quando foi posto sobre Seu Filho Amado, Ele não O poupou, mas O pôs em sofrimentos e O levou à morte. Pode você, depois disso, voltar-se àquela coisa maldita que Deus odeia? Certamente, o efeito dos grandes sofrimentos do Salvador sobre seu espírito deve ser a santificação. Como viveremos para o pecado, nós que para ele morremos (Romanos 6:1-14)? Como podemos nós, que já passamos debaixo da maldição (Gálatas 3:13-14), e suportamos sua pesada punição, tolerar seu poder? Deveríamos voltar a esse mal assassino, vil, virulento, e abominável? Não pode ser. A graça o proíbe. Que Deus não o queira.
Essa doutrina não é a conclusão de todo o assunto. O texto nos descreve como sepultados, mas com a perspectiva de ressurreição. “Fomos, pois, sepultados com Ele na morte pelo batismo;” – com qual objetivo? – “para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, assim também andemos nós em novidade de vida.” Ser sepultado com Cristo! Para quê? Para que você permaneça morto para sempre? Não, mas agora onde Cristo está, você deve ir aonde Cristo for. Segure-se nEle, então: Ele vai, então primeiro ao sepulcro, mas depois segue para fora do sepulcro; pois quando a terceira manhã chegou, Ele levantou. Se você é de fato um com Cristo, você deve ser um com Ele e passar por tudo; Você será um com Ele na morte, e um com Ele no seu sepultamento, e então você virá a ser um com Ele em Sua ressurreição.
Sou agora um homem morto? Não, bendito seja o Seu nome, pois está escrito que “porque eu vivo, vós também vivereis” (João 14:19). Fato é que eu estou morto em um sentido, “considerai-vos mortos”. Mas não estou em outro pois “a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus” (Colossenses 3:3). E como um homem estaria absolutamente morto se ele tem uma vida oculta? Não; já que eu sou um com Cristo eu sou o que Cristo é: como Ele é um Cristo vivente, eu sou espírito vivente. Que coisa gloriosa é ter retornado dos mortos, porque Cristo nos deu vida. Nossa velha vida legal foi tirada de nós pela sentença da lei, e a lei nos vê como mortos (Romanos 7:1-6); mas agora recebemos uma nova vida, uma vida fora da morte, uma vida ressurreta em Cristo Jesus. A vida do cristão é a vida de Cristo. Não é a vida da primeira criação nossa, mas da nova criação a partir dos mortos. Agora, pois, andamos nós em novidade de vida (Romanos 6:4), frutificando para a santificação (Romanos 6:22), justiça, e alegria pelo Espírito de Deus. A vida na carne é para nós um obstáculo; nossa vida está no Seu Espírito. No melhor e mais elevado sentido, nossa vida é espiritual e celestial. Isso também é doutrina que deve ser guardada muito firmemente.
Eu quero que vocês vejam a força disso; pois eu estou buscando resultados práticos nesta manhã. Se Deus deu a você e a mim uma vida inteiramente nova em Cristo, como pode essa vida ser desperdiçada da mesma forma que a vida velha? Há o espiritual que quer viver como carnal? Como podem vocês que eram os servos do pecado, que foram libertos pelo sangue precioso, voltar à velha escravidão (Gálatas 5:1)? Quando vocês estavam na vida do primeiro Adão, vocês viviam em pecado, e o amavam; mas agora vocês foram mortos e enterrados, e feitos para andarem em novidade de vida: como pode ser que vocês estejam voltando aos rudimentos do mundo de onde o Senhor vos tirou? Se vocês vivem em pecado, vocês serão falsos na sua profissão de fé; pois vocês professarão estarem vivos para Deus (Romanos 6:11)? Se vocês andam na concupiscência, vocês vão pisar as doutrinas benditas da Palavra de Deus, pois elas levam à santidade e pureza. Você faria do cristianismo apenas uma palavra e um provérbio se, depois de tudo, vocês que saíram da morte espiritual exibissem uma conduta em nada melhor que a vida do homem comum, e um pouco superior à vida que você mesmo levava.
Isso tudo visto que muitos de vocês que foram batizados disseram ao mundo “estamos mortos para o mundo, e fomos trazidos para uma nova vida”. Nossos desejos carnais estão dessa forma vistos como mortos, pois agora vivemos numa ordem de vida totalmente nova. O Espírito Santo nos deu uma nova natureza, e por mais que estejamos no mundo, não somos dele, mas somos feitos novo homem, “criados em Cristo Jesus” (Efésios 2:10). Essa é a doutrina que pregamos a todo homem, que Cristo morreu e ressuscitou, e que Seu povo morreu e ressuscitou nEle. Dessa doutrina cresce a morte para o pecado e vida para Deus, e desejamos por cada ação e cada momento de nossas vidas ensiná-la a todos que nos veem.
Não é esta uma doutrina preciosa? Ó, se vocês de fato são um com Cristo, o mundo deveria os achar se sujando? Deveriam os membros de uma Cabeça generosa e graciosa, invejarem e serem gananciosos? Deveriam os membros de uma Cabeça gloriosa, pura e perfeita, ser depredados com as concupiscências da carne e com as vaidades de uma vida em vão? Se os crentes são de fato identificados com Cristo de forma tal que eles são Seu tudo, eles mesmos não deveriam ser santos? Se nós vivemos em virtude pela nossa união com Seu corpo, como podemos viver como vivem os gentios? Como pode ser que tantos crentes professos exibam uma vida meramente mundana, vivendo para os negócios e o prazer, mas não para Deus, em Deus, ou com Deus? Eles dão uma pitada de religião numa vida mundana, e esperam cristianizá-la. Mas não conseguirão. Eu sou chamado a viver como Cristo viveria em minhas circunstâncias; escondido em meu quarto ou no púlpito público, eu sou chamado a ser o que Cristo seria no mesmo caso. Eu sou chamado a provar aos homens que aquela união com Cristo não é ficção, nem sentimento fanático: mas que somos movidos pelos mesmos princípios e agimos pelos mesmos motivos.
Batismo é então, de fato, um credo, e vocês podem lê-lo nestas palavras: “unidos com Ele na semelhança da Sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da Sua ressurreição.”


II Mas, em segundo lugar, UMA UNIÃO REAL COM CRISTO também acontece no batismo, e isso é mais uma questão de experiência que de doutrina.

1. Primeiro, há a morte, e então uma questão de experiência atual do crente verdadeiro. “Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?”. É contrário a todas as leis enterrar aqueles que ainda estão vivos. Enquanto não morrerem, o homem não pode ter o direito de ser enterrado. Muito bem, então, o cristão está morto – morto, primeiro, para o domínio do pecado. Toda vez que o pecado lhe chamava, antes, ele respondia, “aqui estou eu, pois você me chamou.” O pecado mandava em seus membros, e se o pecado dizia, “faça isso,” ele o faria, como o soldado obediente ao seu centurião; pois o pecado mandava em todas as partes da sua natureza, e exercia sobre ele uma tirania suprema.
Mas a graça mudou tudo isso. Quando nos convertemos nos tornamos mortos para o domínio do pecado. Se o pecado nos chama agora, recusamos a ir para ele, pois estamos mortos. Se o pecado nos dá um comando nós não o obedecemos, pois estamos mortos para a sua autoridade. O pecado vem a nós hoje – ó, que ele não o faça – e acha em nós a velha corrupção que está crucificada, mas ainda não morta; porém, ele não tem domínio sobre nossa verdadeira vida. Bendito seja Deus, o pecado não pode reinar sobre nós, por mais que possa nos assediar e nos trazer mal. “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.” Nós pecamos, mas sem permissão. Com que tristeza olhamos para as nossas transgressões! Quão sinceramente nos empenhamos em evitá-las! O pecado tenta manter seu poder usurpador sobre nós; mas não o reconhecemos como soberano. O mal entra em nós como um intruso ou um estranho, e trabalha em triste confusão, mas não habita em nós sobre um trono; é alguém de fora, rejeitado, e não mais honrado com prazer. Estamos mortos para o reino do poder do pecado.
O crente, se espiritualmente sepultado com Cristo, está morto para o desejo de tal poder. “O quê!” diz você, “não têm os homens piedosos desejos de pecado?” De fato, eles têm. A velha natureza que há neles deseja o pecado; mas o homem verdadeiro, o ego real, deseja ser purgado de qualquer espécie ou traço de mal. A lei que opera em seus membros corre para o pecado, mas a vida no coração constrange à santidade (Romanos 7:14-23). Eu posso falar honestamente, por mim mesmo, que meu desejo mais profundo de minha alma é viver uma vida perfeita. Se eu pudesse ter meu melhor desejo realizado, eu nunca pecaria de novo; e, apesar disso, eu consinto com o pecado de tal forma que me torno responsável quando transgrido, meu eu mais interior aborrece a iniquidade. O pecado é meu fardo, não meu prazer; minha miséria, não meu deleite; pensando nisso eu clamo, “desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24). No centro do nosso coração nosso espírito se inclina firmemente para o que é bom, verdadeiro e celestial, de tal forma que o homem real tem prazer na lei de Deus, e busca de todo coração o que é bom. A verdadeira tendência atual do desejo e vontade de nossa alma não é para o pecado, e o apóstolo não nos ensinou mera fantasia quando disse, “Porque aquele que está morto está livre do pecado” (Romanos 6:7).
Além disso, em segundo lugar, estamos como que mortos à busca intensa e aos objetivos de uma vida ímpia e pecaminosa. Irmãos, há entre vocês alguém que professa ser servo de Deus vivendo para si mesmo? Então vocês não são servos de Deus; pois aquele que realmente nasceu de novo vive para Deus: o objetivo de sua vida é a glória de Deus e o bem dos seus semelhantes. Esse é o prêmio colocado à frente do homem movido por Deus, e para isso ele corre.
“Eu não corro para isso”, diz um. Bem, então você não chegará ao destino desejado. Se você corre atrás dos prazeres do mundo e suas riquezas, você talvez alcance o prêmio de que está atrás, mas você não pode conquistar o “prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:14). Eu espero que muitos de nós possamos dizer honestamente que estamos agora mortos para qualquer objetivo na vida, exceto a glória de Deus em Cristo Jesus. Estamos no mundo, e temos que viver como os outros homens vivem, levando para frente nosso negócio regular; mas tudo isso está subordinado em segundo plano, e não nos agarramos nisso; nossos alvos estão além de algo mutável. O vôo de nossa alma, como o da águia, está acima dessas nuvens: como aquele pássaro que do sol recebe luz nas rochas, que mesmo descendo às planícies, ainda assim seu prazer é planar buscando a luz, indo acima das nuvens negras de tempestade, e olhando para todas as coisas terrenas como inferiores. Semelhantemente nossa vida que nos foi dada graciosamente segue em frente e acima; não somos do mundo, e as questões do mundo não são aquelas em que nós gastamos a maioria das nossas forças.
Novamente, estamos mortos no sentido que estamos mortos para a orientação do pecado. A concupiscência da carne guia um homem para todos os lados. Ele determina seu curso pela pergunta, “o que é mais prazeroso? O que me dará mais gratificação imediata?” O caminho dos ímpios é traçado pela mão do desejo egoísta: mas vocês que são verdadeiros cristãos têm outro guia, vocês são liderados pelo Espírito em um caminho direito. Você pergunta, “o que é bom e o que é aceitável aos olhos do Altíssimo?” Sua oração diária é “Senhor, mostra-me o que queres que eu faça”. Vocês estão vivos para o ensino do Espírito, que os conduzirá a toda a verdade; mas vocês estão surdos, sim, mortos para os dogmas da sabedoria carnal, às oposições da filosofia, aos erros da orgulhosa sabedoria dos homens. Guias cegos que caem (Mateus 15:14) com suas vítimas na vala são evitados por vocês, que escolheram o caminho do Senhor. Que abençoado estado de coração é este! Eu creio, meus irmãos, que já o percebemos de todo! Conhecemos a voz do pastor, e não seguiremos o estranho (João 10:4-5). Um é o vosso professor, e submetemos nosso entendimento à sua instrução infalível.
Nosso texto deve ter tido um significado fortíssimo entre os romanos do tempo de Paulo, pois eles estavam mergulhados em todas as formas de vícios odiosos. Pegue um romano normal daquele período, e você o verá como um homem acostumado a gastar grande parte de seu tempo no anfiteatro, embrutecido pelas visões brutais de espetáculos sangrentos, nos quais gladiadores se matavam para divertir uma multidão de folga. Ensinados em tal escola, o romano era cruel o quanto se pode ser, e além disso feroz na satisfação de suas paixões. Um homem depravado não era considerado totalmente degradado; não somente nobres e imperadores eram monstros do vício, mas os professores públicos eram impuros. Quando aqueles que eram considerados como morais eram corruptos, você pode imaginar como eram os imorais. “Divirta-se; siga atrás dos prazeres da carne”, essa era a regra da época.
O cristianismo introduziu um novo elemento. Veja um romano convertido pela graça de Deus! Que mudança há nele! Seu vizinho lhe diz, “você não estava no anfiteatro esta manhã. Como pôde perder a visão dos cem germânicos que arrancaram as entranhas uns dos outros?” “Não”, ele diz, “eu não estava lá; eu não suportaria estar lá. Estou completamente morto pra isso. Se você me forçasse a estar lá, eu teria de fechar meus olhos, pois não poderia olhar para assassinato ser cometido por esporte!”. O cristão não se acomodava em locais de licenciosidade; ele estava realmente morto para tamanha imundície. A moda e os costumes da época eram tais que os cristãos não conseguiriam consentir com eles, e assim eles se tornaram mortos para a sociedade. Os cristãos não somente não iam atrás do pecado público, mas eles falavam dele com horror, e suas vidas o repreendiam. Coisas que as multidões consideravam com alegria, e falavam exaltando-as, não davam prazer ao seguidor de Jesus, pois ele estava morto para tais males. Essa é a nossa confissão solene quando decidimos nos batizar. Falamos, por atos que são mais audíveis que palavras, que estamos mortos para aquelas coisas em que os pecadores se deleitam, e queremos ser assim considerados.
2. O pensamento seguinte em batismo é a sepultara. Primeiro vem a morte, e então se segue o sepultamento. Agora, o que é o enterro, irmãos? Enterro é, antes de tudo, o selo da morte; é o certificado da perda. “Está tal homem morto?” diz você. Outro responde, “porque, meu caro? Ele foi enterrado há um ano”. Há exemplos de pessoas enterradas vivas, e eu temo que isso aconteça com triste frequência no batismo, mas não é natural, e de forma alguma é a regra. Eu temo que muitos tenham sido enterrados vivos no batismo, e tenham posteriormente se levantado e saído da sepultura como estavam. Mas se o enterro é verdadeiro, é uma prova da morte. Se eu consigo dizer com verdade, “fui sepultado com Cristo trinta anos atrás”, eu certamente estou morto.
Certamente o mundo pensava assim, pois não pouco depois do meu enterro com Jesus eu comecei a pregar o Seu nome, e então o mundo me teve como perdido, e disser: “ele fede”. Começaram a dizer toda sorte de mal contra o pregador; mas quanto mais eu cheirava mal em suas narinas, mais eu me sentia melhor, pois tanto mais certamente eu estava morto para o mundo. É bom para o cristão ser ofensivo aos homens rebeldes. Vejo como nosso Mestre fedia na estima dos ímpios quando clamavam “crucifica-o! Crucifica-o!” por mais que nenhuma corrupção poderia chegar perto de Seu corpo santo, ainda assim Seu caráter perfeito não era saboreado por aquela geração perversa. Deve haver, portanto, em nós a morte para o mundo, e alguns dos efeitos da morte, ou nosso batismo é vão. Tanto quanto o sepultamento é a prova da morte, então nosso enterro com Cristo é o selo de nossa mortificação para o mundo.
Mas o sepultamento é, a seguir, a manifestação da morte. Enquanto o homem está vivo, os que passam não sabem que ele está morto; mas quando acontece o funeral, e ele é levado pelas ruas, todos sabem que ele está morto. É isso que o batismo deve ser. A morte do crente para o pecado é inicialmente um segredo, mas por uma confissão aberta ele leva todos os homens a saberem que ele está morto com Cristo. Batismo é o rito funerário pela qual a morte para o pecado é abertamente estabelecida diante de todos os homens.
O sepultamento é também a separação da morte. O homem morto não está mais em sua casa, mas é colocado à parte como um não é mais contado entre os vivos. Um corpo não é uma companhia bem-vinda. Mesmo o objeto mais amado depois de um tempo não pode ser tolerado quando a morte fez seu trabalho sobre ele. Mesmo Abraão, que ficou por tanto tempo unido a sua amada Sara, dé visto dizendo, “sepulte o morto de diante da minha face” (Gênesis 23:1-4). Tal é o crente quando sua morte para o mundo é totalmente conhecida: ele é má companhia na opinião dos mundanos, e eles o vêm como o estraga-prazeres. O verdadeiro santo é colocado em separado na mesma classe que Cristo, de acordo com Sua palavra, “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós” (João 15:20). O santo é colocado fora do arraial (Hebreus 13:13) na mesma cova que seu Senhor; pois assim como Ele foi, assim somos nós também neste mundo. Ele está sepultado pelo mundo naquele único cemitério de fé, se assim o devo chamar, onde todos os que estão em Cristo estão juntamente mortos para o mundo, com o epitáfio para todos eles, “Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3:3).
E a cova é o lugar – eu não sei de onde tirar uma palavra disso – da fixação da morte; pois quando um homem é morto e enterrado você jamais espera vê-lo voltando para casa novamente: tanto quanto este mundo está informado, morte e sepultamento são irreversíveis. Eles me dizem que espíritos andam pela terra, e todos nós vimos no jornal “A verdade sobre fantasmas”, mas eu tenho minhas dúvidas neste assunto. Nas questões espirituais, entretanto, eu temo que alguns não estejam muito sepultados com Cristo, mas andam entre as tumbas. Me entristece muito que seja assim. O homem em Cristo não pode andar como fantasma, pois ele está vivo em outro lugar; ele recebeu um novo ser e, portanto, ele não pode andar murmurando e espiando entre os hipócritas que estão mortos a seu redor. Veja o que nosso capítulo fala sobre o Senhor: “sabendo que, havendo Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.” (Romanos 6:9-10). Se de fato fomos vivificados das obras mortas nós jamais devemos voltar-nos a elas. Eu posso até pecar, mas o pecado não pode ter domínio sobre mim; eu posso ser um transgressor e ir longe do meu Deus, mas jamais eu poderia voltar à velha morte novamente. Quando a graça do meu Senhor me tomou, e me enterrou, ela forjou em minha alma a convicção que dali em diante e para sempre eu era para o mundo um homem morto.
Eu estou verdadeiramente grato em não ter comprometido isso, mas ter ido direto para fora. Eu desembainhei a espada, e lancei fora a bainha. Digam ao mundo que é melhor eles não tentarem nos buscar de volta, pois estamos tão estragados para ele como se estivéssemos mortos. Tudo que poderiam ter de nós seriam nossas carcaças. Digam ao mundo para não nos tentar mais, pois nossos corações estão mudados. O pecado pode encantar o homem velho dependurado na cruz, e ele deve até virar o seu olho luxuriante naquela direção, mas ele não pode seguir seu relance, pois ele não pode descer da cruz: O Senhor teve o cuidado de martelar bastante, e Ele pregou suas mãos e pés firmemente, de tal forma que a carne crucificada permanecerá no lugar de sofrimento e morte. Sendo isso também verdade, a genuína vida que está em nós não pode morrer, pois nasceu de Deus; nem pode habitar em tumbas, pois seu chamado é à pureza e alegria e liberdade; e a esse chamado se rende.
3. Chegamos até a morte e o sepultamento; mas o batismo, de acordo com o texto, representa também a ressurreição: “como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Romanos 6:4). Agora, note que o homem que está morto em Cristo, e sepultado com Cristo, é também levantado dentre os mortos em Cristo, e esse é um trabalho especial sobre ele. Nenhum morto está ressuscitado, mas o nosso Senhor mesmo é “as primícias dos que dormem” (I Coríntios 15:20). Ele é o primogênito dos mortos (Colossenses 1:18). A Ressurreição foi uma obra especial no corpo de Cristo pela qual Ele foi levantado, e aquela obra, que começou na cabeça, vai continuar até todos os membros serem co-participantes, pois:
“Apesar de nossos pecados exigirem
Que nossa carne se tornar pó;
Ainda assim como Senhor nosso Salvador se levantou,
E assim farão todos os que o seguem”
Pois para nossa alma e espírito, a ressurreição começou em nós. Não chegou a nossos corpos ainda, mas será dada a eles no dia determinado. No presente um trabalho especial foi forjado sobre nós pelo qual fomos levantados dentre os mortos. Irmãos, se vocês tivessem morrido e sido sepultados, e tivessem ficado deitados por uma noite, digamos, no Cemitério Woking, e se uma voz divina lhe chamasse diretamente para fora da cova quando as estrelas silenciosas ainda brilhavam no céu aberto – se, digo eu, vocês tivessem se levantado definitivamente do monte verde de relva, que se solitário deveria ser o vasto cemitério na noite escura! Como você poderia sentar na vala e esperar pela manhã! Essa é realmente a condição que diz respeito ao presente mundo mal. Você foi uma vez igual a todos os pecadores ao seu redor, morto em pecado (Efésios 2:1), e dormindo a cova encomendada pelo mal. O Senhor pelo Seu poder chamou você para fora de sua tumba, e agora você está vivo entre os mortos. Não pode haver amizade aí para você, pois, que comunhão pode haver entre os vivos e os mortos? Os homens lá no cemitério que acabaram de ser chamados não achariam ninguém no meio dos mortos com quem pudessem conversar, e não poderão achar companhia neste mundo. Ali jaz uma caveira, mas ela não pode ver pelos buracos dos olhos; nem tampouco há discurso vindo de sua boca cruel. Eu vejo uma massa de ossos depositados no canto: o que vive olha para eles, mas eles não podem ouvir ou falar. Imagine-se lá. Tudo que você poderia dizer aos ossos seria perguntar, “poderão viver estes ossos secos?” (Ezequiel 37:3). Você seria um estrangeiro nessa casa de corrupção, e você desejaria sair o quanto antes de lá. Essa é sua condição no mundo: Deus te levantou dentre os mortos, e da companhia com a qual você tinha regularmente suas conversações.
Agora, eu clamo a vocês, não volte e cave na terra, para abrir as covas e achar um amigo lá. Quem tiraria a tampa de um caixão e clamaria: “venha, você deve beber comigo! Você deve ir ao teatro comigo!” Não, nós abominamos a ideia de associarmo-nos com a morte, e eu tremo ao ver um cristão professo tentar ter comunhão com homens mundanos. “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo” (II Coríntios 6:17). Vocês sabem o que aconteceria a você caso depois de ter sido levantado, e fosse forçado a sentar perto de um corpo morto recentemente tirado da cova. Você clamaria: “eu não posso suportar isso; não posso aguentar isso”; você preferiria estar do lado oposto do vento em relação ao corpo horrendo. Assim também com o homem que está realmente vivo para Deus: atos de injustiça, opressão, ou impureza ele não pode suportar; pois a vida se opõe à corrupção.
Note que, assim como fomos levantados por um trabalho especial de entre os mortos, esse levantar é pelo poder de Deus. Cristo foi trazido novamente “dos mortos pela glória do Pai.” O que isso significa? Porque não disse, “pelo poder do Pai“? Ah, amados, glória é uma palavra maior; pois todos os atributos de Deus são exibidos em toda sua pompa solene na ressurreição de Cristo dentre os mortos. Lá havia a fidelidade do Senhor; não havia Ele declarado que o ressuscitaria dos mortos (Isaías 55:3), e que não permitiria que o Seu Santo visse corrupção (Salmo 16:10)? Não foi o amor do Pai visto nisso? Eu estou certo de que houve um deleite no coração de Deus ao trazer de volta a vida ao corpo de Seu Filho amado. E assim, quando eu e você somos tirados de nossa morte em pecados, não é meramente o poder de Deus, não é meramente a sabedoria de Deus que é vista, é a “glória do Pai”.
Oh, pensar que cada filho de Deus que foi chamado foi chamado pela “glória do Pai“. Exigiu não somente o Espírito Santo, a obra de Jesus e a obra do Pai, mas a própria “glória do Pai“. Se a menor centelha de vida espiritual tem de ser criada pela “glória do Pai”, qual será a glória daquela vida quando chegar à perfeição plena, e quando formos como Cristo, e vê-lo como Ele é (I João 3:2)! Oh amados, tenham em alta conta a nova vida que Deus lhes deu. Pensem nela em lhes tornando mais ricos do que se vocês tivessem um mar de pérolas, mais do que se vocês tivessem descendido do mais elevado dos príncipes. Há em você aquilo que requer todos os atributos de Deus para vir a existir. Ele poderia fazer um mundo somente com poder, mas você deve ser levantado de entre os mortos pela “glória do Pai”.
Note a seguir que essa vida é algo inteiramente novo. Nós somos chamados a andar em “novidade de vida“. A vida de um cristão é algo inteiramente diferente da vida de outros homens, totalmente diferente da sua própria vida antes de sua conversão, e quando as pessoas tentam falsificá-la, eles não conseguem.
Uma pessoa lhe escreve uma carta e quer que você acredite que ele é um crente, mas dentro de uma meia-dúzia de sentenças aparece uma linha que trai o impostor. O hipócrita copiou suas expressões de maneira ordenada, mas não totalmente. Há uma maçonaria entre nós, e o mundo olha-nos de fora por um pouco, e aqui e ali eles tomam alguns de nossos símbolos; mas há um símbolo privado, que eles nunca conseguirão imitar, e assim em certo ponto eles se quebram. Um ateu pode orar tanto quanto um cristão, ler tanto a Bíblia quanto um cristão, e mesmo ir além de nós no exterior; mas há um segredo que ele não sabe e não consegue falsificar. A vida divina é uma novidade tão grande que o irregenerado não tem uma cópia com que trabalhar. Em todo cristão ela é tão nova como se ele fosse o primeiro cristão. Ainda que em todos haja a imagem e a inscrição de Cristo, ainda há uma borda branqueada ou algo dessa prata verdadeira que esses falsificadores não podem copiar. É algo novo, uma história, algo fresco de Deus.
E, por último, essa vida é algo ativo. Eu já desejei que Paulo não tivesse sido tão rápido enquanto o lia. Seu estilo viaja em botas de sete léguas. Ele não escreve como um homem qualquer. Eu realmente gostaria de dizer a ele que se ele tivesse escrito este texto na ordem apropriada, deveria ser, “Como Cristo foi levantado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também devemos ser levantados”. Mas veja; Paulo pulou tanto assunto enquanto falamos: ele chegou a “andemos”. O andar inclui a vida, que o simboliza, e Paulo pensa tão rápido quando o Espírito de Deus está sobre ele que ele passou direto da causa para o efeito. Tão logo recebemos a nova vida nos tornamos ativos: não sentamos e dizemos, “eu recebi uma nova vida: quão grato eu devo estar. Eu vou na quietude usufruir disso”. Oh, queridos, não. Nós temos de fazer algo diretamente enquanto estamos vivos, e começamos a andar, e assim o Senhor mantém-nos durante toda a nossa vida em Sua obra; ele não nos permite ficar sentados contentes com o mero fato de vivermos, nem permite que gastemos nosso tempo examinando se vivemos ou não; mas nos dá uma batalha para lutar, e a seguir outra; Ele nos dá Sua casa para construir, Sua fazenda para arar, Seus filhos para cuidar, e Suas ovelhas para alimentar.
Às vezes temos tempos de lutas ferozes com nosso próprio espírito, e tememos que o pecado e Satanás irão enfim prevalecer, até que nossa vida será dificilmente reconhecida, mas é sempre reconhecida pelos atos. A vida que é dada àqueles que estavam mortos, com Cristo, é uma vida enérgica, forte, que está sempre ocupada para Cristo, e, se pudesse, moveria céus e terra para sujeitar todas as coisas àquele que é sua Cabeça.
Essa vida Paulo nos diz que não tem fim. Uma vez recebida, nunca sairá de você. “havendo Cristo ressuscitado dos mortos já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele“. É também uma vida que não está mais debaixo do pecado ou da lei. Cristo veio sob a lei enquanto estava aqui (Gálatas 4:4), e teve os nossos pecados sobre si (Isaías 53:6), e assim morreu; mas depois que Ele ressuscitou não havia mais pecado sobre Ele. Em Sua ressurreição tanto o pecador quanto o Fiador estão livres. O que Cristo teve de fazer depois de ressuscitar? Carregar mais pecados (Hebreus 7:27)? Não, mas simplesmente viver para Deus. É aí onde eu e você estamos. Não temos pecados mais para carregar; está tudo sobre Cristo. O que temos de fazer? Toda vez que tivermos uma dor de cabeça, ou nos sentirmos enfermos, clamaremos, “essa é a punição pelo meu pecado?” Nada disso. Nossa punição foi plenamente satisfeita, pois recebemos a sentença capital, e estamos mortos: nossa nova vida deve ser para Deus.
“Tudo o que resta para mim
É somente amor e canção,
E esperar a vinda dos anjos
Para me levar aos céus.”
Eu tenho agora que servi-lO e ter prazer nEle, e usar o poder que Ele me deu para chamar outros dos mortos, “desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará” (Efésios 5:14). Eu não vou voltar à cova da morte espiritual nem ao meu caixão de pecado; mas pela graça divina vou continuar a crer em Jesus, e ir de força em força, não debaixo da lei, não temendo o inferno, nem esperando merecer o céu, mas como uma nova criatura (II Coríntios 5:17), amando por ter sido amado primeiro (I João 4:19), vivendo para Cristo pois Cristo vive em mim (Gálatas 2:19-20), ardentemente esperando a glória que será revelada (Romanos 8:18) em virtude da minha união com Cristo.
Pobre pecador, você não sabe nada sobre essa morte e sepultamento, e nunca saberá até que você tenha o poder de ser chamado filho de Deus (João 1:12), que Ele dá a todos os que crêem no Seu nome. Creia no Seu nome, e será todo seu. Amém e amém.

PORÇÃO DAS ESCRITURAS LIDA ANTES DO SERMÃO – Romanos 6









2- Verdadeiramente Comendo a Carne de Jesus – Parte 1

Por Charles Haddon Spurgeon,

“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.”( João 6:53-56)

Nosso Senhor Jesus, nesta passagem, não alude à Ceia do Senhor, como alguns que, desejando manter suas superstições sacramentais, ousaram afirmar! Eu não vou me apoiar no argumento de que não havia ainda a Ceia do Senhor no momento para que se fizesse alusão a ela, por mais que haja certa força nessa idéia, mas eu prefiro lembrá-los que tal interpretação desta passagem não seria verdadeira. Deve-se confessar, mesmo pelo mais ardente advogado do significado do sacramento, que as expressões usadas por nosso Senhor não são universalmente e, sem exceção, verdadeiras se usadas nesse sentido, pois não é verdade que aqueles que nunca tomaram a Ceia do Senhor não têm vida em si mesmos, já que se diz em todos os lugares que centenas de milhares de crianças mortas na infância são, sem dúvida, salvas, e elas nunca comeram a carne de Cristo nem beberam Seu sangue, se a Ceia do Senhor é aqui mencionada.
Houve também muitos outros em tempos passados que, por sua conduta, provaram que a vida de Deus estava em suas almas, e eles não puderam comer o pão do altar, por causa de doenças, excomunhão, prisões e outras causas. Certamente há outros, mesmo que eu não os tenha por escusados, que negligenciaram vir àquela ordenança comemorativa abençoada, e ainda, entretanto e apesar disso, eles são verdadeiramente filhos de Deus. Poderia o maior dos maiores homens da igreja enviar qualquer Quaker, mesmo o mais santo e devoto, para o abismo sem fim? Se este texto realmente se referisse à Ceia do Senhor, então é certo que o ladrão que morreu na cruz com Jesus (Lucas 23:39-43) não poderia entrar no céu, pois ele nunca se sentou na mesa da comunhão, mas se converteu na cruz – e sem Batismo ou Ceia do Senhor – foi direto com seu Mestre ao Paraíso!
Nunca ninguém poderá provar, sim, é totalmente falsa a idéia de que ninguém tem vida eterna se não recebeu o pão e o vinho da mesa da comunhão. Por outro lado, é certamente e igualmente inverídico que qualquer que comer a carne de Jesus tem vida eterna, se por isso se entende por qualquer pessoa que toma parte na Eucaristia, pois há recebedores indignos, não um ou outro, mas a serem achados aos milhares. Aliás, há apóstatas que deixam a mesa do Senhor pela mesa dos demônios e profanam o Santo nome que uma vez professavam amar! Há também muitos que receberam o pão e o vinho do sacramento e vivem em pecado – que aumentam seu pecado por ousarem vir à mesa e que, tememos, morrerão nos seus pecados como muitos outros.
Não-regenerados estão muito aptos a considerar como grande coisa o sacramento e nada de Cristo. Eles valorizam muito o pão e o vinho do (suposto) “altar”, mas eles nunca souberam o que é comer a carne e beber o sangue de Cristo. Esse comer e beber indigno – carnalmente comendo pão, mas não espiritualmente comendo a carne do Redentor – para eles a ordenança é mais uma maldição que uma bênção. Nosso Senhor não se referia à refeição de Sua ceia, e sua linguagem não sustenta tal interpretação. É evidente que os judeus não compreenderam o Salvador e pensara que Ele se referia ao comer Sua carne literalmente. Não admira que eles se escandalizem por tal discurso, pois, entendido literalmente, é horrível e revoltante ao máximo!
Mas mais admirável é o fato de que há milhões de pessoas que aceitam erro tão monstruoso como verdade e acreditam em literal alimentação com o corpo do Senhor Jesus! Esse é provavelmente o ponto mais alto de absurdo profano que a superstição jamais alcançou – acreditar que tal ato de canibalismo como implicaria o comer literalmente a carne de Cristo poderia prover graça à pessoa culpada de tal horror! Enquanto pasmamos que os judeus compreenderam tão mal o Salvador, pasmamos mil vezes mais que existe na face da terra homens em seu senso ainda não submetido a um sonho lunático que se prezam por defender tal erro assustador das Sagradas Escrituras e, ao invés de ficarem escandalizados, como os judeus ficaram, por um discurso medonho, na verdade consideram seu uma doutrina vital de sua fé – que eles literalmente devem comer a carne de Cristo e beber Seu sangue!
Irmãos e irmãs, se fosse possível que Nosso Senhor requeresse de nós acreditar em tal dogma, certamente exigiria o esforço de credulidade mais estupendo da parte de um homem razoável – e o deixar de lado todas as decências da natureza. De fato, pareceria ser necessário, antes que você pudesse se tornar cristão, que você devesse se livrar totalmente de sua razão e humanidade! Certamente seria um evangelho mais adequado a selvagens e loucos que para pessoas em perfeito juízo e à parte do barbarismo absoluto! Eu realmente questiono se as guerras civis na África se usam de práticas tão antinaturais.
Não nos é exigido, entretanto, acreditar em algo tão impossível, tão degradante, tão blasfemo, tão horroroso a toda decência da vida! Nenhum homem jamais comeu a carne de Cristo ou bebeu Seu sangue em um sentido literal e corporal. Um ato tão bestial, não, tão demoníaco, nunca aconteceu, nem poderia. Não, irmãos, os judeus estavam em erro – eles cometeram o engano de tomar literalmente o que Cristo expressou espiritualmente. Totalmente cegos como resultado da incredulidade, eles tropeçaram no meio-dia como se estivessem de noite e se recusaram a ver o que havia sido explanado tão claramente. O véu estava em seus corações. Ah, quão pronto está o homem a perverter as Palavras do Senhor!
Eu creio que se Cristo tivesse a intenção de ser literal, então os judeus teriam espiritualizado Seu discurso, mas tal é a perversidade da mente humana, que quando Ele falou espiritualmente então imediatamente eles interpretaram-no de uma maneira carnal e grosseira. Não vamos cair no mesmo erro deles, mas que a Graça Divina nos leve a ver que as Palavras de nosso Senhor são espírito e são vida. Não vamos nos prender nas cadeias da letra que mata, mas seguir o espírito que vivifica. O significado espiritual é suficientemente claro para o homem espiritual, pois a ele pertence o discernimento espiritual. Mas para o não-regenerado, essas coisas são ditas em parábolas, porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem (Mt 13:13).
Nosso primeiro objetivo será, o que significa, então, comer a carne e beber o sangue de Cristo? E nosso segundo ponto de inquirição deverá ser, quais as virtudes deste ato?

I. Primeiro, então, O QUE SIGNIFICA COMER A CARNE E BEBER O SANGUE DE CRISTO? É uma metáfora muito linda e simples, quando entendida como se referindo espiritualmente à Pessoa de nosso Senhor. O ato de comer e beber são transferidos do corpo à alma e a alma é apresentada como se alimentando – se alimentando de Jesus como o Pão da Vida. Comer é interiorizar dentro de si algo que está fora, que você recebe dentro de si e se torna uma parte de você e é usada para a sua construção e sustento. Esse algo supre uma grande necessidade da sua natureza e quando você o recebe, renova a sua vida. Essa é a essência da metáfora e bem descreve o ato e resultado da fé.
Para comer a carne e beber o sangue de Cristo, primeiro, precisamos crer na realidade de Cristo – não podemos tê-lo como um mito, uma personagem imaginária, uma invenção de gênio, ou uma concepção da mente Oriental, mas devemos acreditar que uma Pessoa como tal atualmente e de forma real viveu e ainda vive. Devemos crer que Ele era Deus e ainda assim condescendeu a encarnar na terra e aqui viveu, morreu, foi sepultado e ressurgiu. “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue”. É uma forma de expressar a existência atual e verdadeiro materialismo do corpo do Senhor e a certeza e veracidade de Sua existência em natureza humana. Você não pode ser salvo a não ser que creia em um Cristo histórico, uma Pessoa real-
Havia um homem, um homem real,
Que uma vez no Calvário morreu,
E veios de sangue e água
Pelo seu lado ferido desceram
Essa mesma Pessoa, em Sua própria Personalidade, ascendeu aos céus. Ele agora está sentado à destra do Pai e certamente virá, não tardará, para ser o Juiz dos vivos e mortos. Não devemos usar os termos, carne e sangue, a não ser que queiramos indicar uma Pessoa – tal linguagem não descreveria a criação de um sonho, um fantasma, ou um símbolo. Antes de tudo, para você ser salvo, você precisa crer em Jesus Cristo, o Filho de Deus, como tendo se manifestado em natureza humana entre os filhos dos homens. “O verbo se fez carne e tabernaculou entre nós”, e os Apóstolos declaram que eles viram a Sua glória, glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade. (João 1:14)
Devemos crer não somente na realidade do Salvador, mas na realidade da Sua encarnação, entendendo que enquanto ele era divino, Ele era humano, também, que Ele não assumiu natureza humana em aparência externa, como certos hereges têm dito, mas que Cristo veio em carne e, como tal, foi ouvido, visto, tocado e segurado. Ele foi, em um corpo mesmo, realmente pendurado no madeiro, foi realmente levado à cova. Tomé, de verdade, pôs seu dedo nas feridas dos cravos e pousou sua mão no Seu lado. Devemos crer que Ele certamente e sem sombra de dúvida levantou de entre os mortos e que em Seu próprio corpo real, Ele ascendeu aos céus. Não devem restar dúvidas acerca desses fatos fundamentais. Se queremos nos alimentar de Cristo, Ele deve ser real a nós, pois um homem não come e bebe sombras e fantasias.
Devemos também verdadeiramente acreditar na morte do Filho de Deus Encarnado. A menção de Sua carne como comida, fora Seu sangue que é bebida, indica morte. O sangue está na carne enquanto há vida. Sua morte é mais que subentendida no quinquagésimo primeiro verso de João 6, onde nosso Senhor diz, “e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne”. Irmãos e irmãs, nós devemos acreditar na morte do nosso Senhor pois ela alcança a expiação do pecado, para que a fé se alimente do Seu corpo como dado pela vida do mundo.
Há alguns que professam crer na vida de Cristo e eles O tem como um grande exemplo que nos salvará do egoísmo e outras maldades se O seguimos. Tal não é o ensino do texto – a bênção da vida eterna não é dada aos que seguem o exemplo de Cristo, mas aos que comem e bebem Seus carne e sangue, ou, em outras palavras, interiorizando Cristo em si mesmos! E a promessa não é feita para que se receba Seu exemplo ou Sua doutrina, mas Sua Pessoa, Sua carne, Seu sangue – Sua carne e sangue separados e, portanto, Ele como morto por nós e feito Sacrifício por nós. Assim como nas ofertas pacíficas o ofertante sentava e comia com o sacerdote a vítima que ele apresentou, assim Jesus Cristo, nosso Perdoador, é sacrificado por nós e devemos nos alimentar dEle como o Cordeiro de Deus, recebê-lO no Seu Caráter sacrificial e propiciatório, dentro de nossas almas.
É vão esperar por salvação em qualquer outra coisa! O Pai estabeleceu Ele como uma propiciação através da fé no Seu sangue. Se O recusarmos nesse Caráter, Cristo se nos torna inútil. Cristo o Exemplar não poderá salvá-lo se você O rejeitar como o Cristo que ofereceu Sua cabeça para a morte, mesmo a morte de cruz, sofrendo no lugar do Seu povo. Cristo como Rei não pode salvá-lo enquanto você não acreditar em Cristo como uma Vítima. Isso é absolutamente necessário à fé salvadora – a não ser que você coma Sua carne e beba o Seu sangue, qual seja, aceitá-lO em Sua verdadeira Personalidade, oferecido como Sacrifício pelo pecado, você não tem vida em si mesmo!
Isso é o que há para ser crido. Mas para comer, um homem não apenas crê que há pão à sua frente e aceita que o pão é alimento próprio a seu corpo, mas a próxima coisa que faz é se apropriar dele. Essa é uma parte importante no ato de se alimentar de Cristo. Como um homem, ao comer, dá as mordidas, as engole e diz, “isso é pão e creio que traz vida ao corpo e então deverá trazer vida a mim, e eu o tomo para ser meu pão,” assim devemos fazer com Cristo. Queridos irmãos e irmãs, devemos dizer, “Jesus Cristo foi feito propiciação pelos pecados, Eu O aceito como Propiciação do meu pecado. Deus O deu para ser o fundamento sobre o qual os pecadores devem construir sua esperança. Eu o tomo como o Fundamento das minhas esperanças. Ele abriu uma fonte para o pecado e para o imundo. Eu venho a Ele e desejo lavar o meu pecado e minha imundície na fonte do Seu sangue.”
Você não pode comer, evidentemente, a não ser que você faça a comida sua. De fato, nada é mais especificamente de propriedade de um homem do que aquilo que ele comeu – sua possessão daquilo não pode ser negada, nem se pode tirar dele. Assim você deve tomar Cristo para que Ele seja seu tanto quanto o pão que você come ou a água que bebe – Ele deve, sem restar dúvidas, ser seu pessoalmente e interiormente. Olhando para Ele em cima, na cruz, você deve dizer, “Salvador dos pecadores, aqueles que confiam em Ti são remidos. Eu também confio em Ti como meu Salvador e estou, assim, certamente redimido pelo Seu preciosíssimo sangue.” Comer consiste, em parte, em se apropriar da comida e assim, a não ser que você se aproprie da carne e do sangue de Cristo para ser sua esperança pessoal e confiança, você não pode ser salvo.
Eu me concentrei por hora em uma apropriação pessoal, pois cada homem come por si mesmo, e por mais ninguém. Você não pode comer por ninguém a não ser por si mesmo. E assim, ao tomar Cristo, você O toma para si. Fé é uma ação e responsabilidade sua – ninguém pode crer por você, nem tampouco você pode crer salvificamente por outro. Eu falo isto com reverência – o Espírito Santo, ele mesmo, não pode crer por nós, apesar de Ele poder, e de fato o faz, nos levar a crer. E, na verdade, se o Divino Espírito cresse por nós, nós não poderíamos obter a promessa, pois ela não é feita para a fé por procuração, mas somente para a fé pessoal. Não somos passivos na fé – devemos ser ativos e realizar o ato pessoal de se apropriar do Senhor Jesus para ser a comida e bebida da nossa alma.
Esse crer em Jesus e se apropriar dEle deve ir além para explicar o que significa comer Sua carne e beber Seu sangue. Comer e beber também consistem principalmente em receber. O que um homem come e bebe, ele apropria para si, e isso não por colocar em algum baú ou cofre, mas por receber em si mesmo. Você se apropria de dinheiro e coloca em seu bolso – poderá perdê-lo. Você faz o seguro de um pedaço de terra e descansa sobre isso, mas seu descanso poderá acabar. Mas quando você recebe, ao comer e beber, você colocou aquelas coisas boas aonde você nunca será roubado delas! Você as recebeu no sentido mais verdadeiro e seguro da palavra, pois você tem real possessão e usufruto dentro de si mesmo.
Agora, poder dizer, “Cristo é meu’, é uma bem-aventurança. Mas realmente tomar Cristo dentro de si por um ato de fé é a vitalidade e o prazer da fé! Ao comer e beber, o homem não é um produtor, mas um consumidor – Ele não é um doador ou entregador, mas ele simplesmente toma para si. Quando uma rainha come, quando uma imperatriz come, ela se torna tanto recebedora quanto o miserável na casa de trabalho. Comer é um ato de receber em todos os casos. E é, pois com a fé – você não tem de fazer, ser, ou sentir, mas apenas receber! O ponto da salvação não é algo que vem de você, mas o receber algo para você, Fé é um ato que o pecador mais miserável, o pecador mais vil, o mais fraco, o mais condenado pode realizar pois não é um ato que requer qualquer poder de sua parte, nem o desenvolver de algo dele, mas o simples receber em si mesmo!
Um vaso vazio pode receber e receber tudo mesmo porque está vazio. Oh, alma, você deseja ardentemente receber Jesus Cristo como o presente da misericórdia divina? Você, hoje, diz, “Eu assim o recebi?” Se é assim, você comeu Sua carne e bebeu Seu sangue! Se você recebeu o Deus Encarnado em sua alma, de tal forma que agora você confia nEle e nEle somente, então você comeu Sua carne e bebeu Seu sangue!
O processo de comer envolve ainda outra questão que eu dificilmente chamaria de uma parte dele, mas que está indissoluvelmente conectada com ele, a saber, a assimilação. O que é recebido, ao comer, desce às partes de dentro e lá é digerido e tomado para o corpo. Da mesma forma, a fé recebe e absorve dentro do homem o Pão que desceu dos céus, Cristo Crucificado. “Mas a palavra que ouviram”, lemos em Hebreus 4:2, “não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram”. No original, há a idéia de comida sendo levada dentro do corpo, mas que não chega a se misturar ao suco gástrico e, consequentemente, permanece indigesta, não-assimilada, sem proveito e até maléfica. Fé é para a alma o que o suco gástrico é para o corpo – tão rápido quanto Cristo é recebido dentro do homem, fé começa a agir sobre Ele – para extrair nutrientes de Sua Pessoa, obras e ações. E então Cristo começa a ser levado ao entendimento e ao coração, edifica todo o sistema do homem e se torna parte e natureza do homem renovado.
Assim como o pão, ao ser comido, se dissolve e é absorvido e depois se torna sangue e flui por todas as veias e ajuda a construir o corpo, assim também Cristo faz à alma. Ele se torna nossa vida e entra misteriosamente em vital união conosco. Como o pedaço de pão que comemos ontem não poderia, agora, ser retirado de nós, pois é parte de nós agora, assim também Jesus se torna um conosco. Você comeu o pão ontem e onde ele está agora nenhum filósofo poderia dizer. Parte dele poderia ter ido formar o cérebro e outras partes formar os ossos, tecidos e músculos. Mas sua substância se tornou sua substância, de tal forma que o pão habita em você agora e você nele, visto que ele constrói sua casa corporal.
Isso é se alimentar de Cristo – tomá-lO de tal forma que sua vida está oculta nEle, até você crescer e ser como Ele – até sua própria vida ser Cristo e o grande fato de que Jesus viveu e morreu se torna a mais elevada Verdade de Deus debaixo dos Céus para a sua mente – guiando toda a sua alma, tomando o controle e então a elevando ao mais alto posto. “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo todos morreram. E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (II Co 5:14-15). Tal qual as flores se alimentam da luz do sol até estarem pintadas com as cores do arco-íris, assim recebemos o Senhor Jesus até nos tornarmos atraídos com Sua formosura e Ele vive, de novo, em nós! Isso é comer Sua carne e beber Seu sangue.




3 - Verdadeiramente Comendo a Carne de Jesus – Parte 2

Por Charles Haddon Spurgeon

Agora eu farei uma série de comentários, um pouco fora de ordem, tendo em vista apresentar esse comer e beber misterioso em uma forma mais clara. Observe que Cristo é tão necessário a alma quanto o pão é para o corpo. Comida e bebida são requisitos absolutos – e assim você deve ter Cristo, ou você não pode ter vida no real sentido da palavra. Prive o corpo de comida, e ele morrerá – negue Cristo a um homem e ele está morto enquanto vive! Há em nós um desejo natural por comida e bebida, um apetite que nasce da necessidade e nos lembra – devemos trabalhar para ter um apetite tão grande por Cristo! Sua sabedoria está em saber que você precisa ter Jesus como seu Salvador pessoal e ao perceber isso você perecerá se não o receber! E está tudo bem com você se essa percepção lhe faz empregar todos os meios por Ele. Tenha fome dEle! Tenha sede dEle! Bem-aventurados os que têm fome e sede dEle, pois ele irá saciá-los.
Comida e bebida realmente satisfazem. Quando um homem ingere pão e água, tendo comido o suficiente, ele tem o que sua natureza requer. A necessidade é real e é também real a sua satisfação. Quando você ingere Cristo, seu coração obtém exatamente o que precisa. Você não pode, por si mesmo, saber quais são as necessidades da alma, mas sabendo ou não sabendo, suas necessidades todas serão supridas na Pessoa de Jesus Cristo. E se você O aceitar, tão certo quanto comida e bebida interrompem fome e sede, assim também Ele satisfará o anseio da sua alma. Não deseje mais nenhuma outra satisfação além dEle e não busque nada além ou menos que Ele. Cristo é tudo e mais que tudo! Ele é comida e bebida, também. Contente-se com Ele e com nada menos que Ele. Tenha fome dEle mais e mais, mas nunca deixe Ele para gastar o seu dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz (Isaías 55:2).
Amados, um homem com fome nunca se livra de sua fome falando sobre se alimentar, mas por comer. Assim também não falem tanto sobre Cristo quanto O recebam. Não olhe para as pilhas de comida e diga, “Sim, isso me satisfará – oh, se eu as tivesse,” antes, coma de uma vez. O Senhor o convida ao banquete, não para que você olhe, mas para que se sente e coma! Sente de uma vez! Não espere um segundo convite, mas sente-se e se alimente com o que é gratuitamente dado a você pela Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Você precisa que Ele forme em você a esperança do Céu – mas isso nunca ocorrerá enquanto você não receber Ele dentro de sua alma.
No comer saudável há prazer. Nenhuma pessoa saudável precisa ser convencida a comer, pois o paladar está consciente do prazer enquanto nos alimentamos – e de fato, ao nos alimentarmos de Jesus há uma doçura deliciosa que invade toda a alma. Reais são Seus pratos! Nada pode trazer mais prazer aos comedores imortais que Jesus agradando os crentes! Ele satisfaz a alma. Mil céus são experimentados no corpo e no sangue do Salvador. Se você algum dia perder o gosto por Cristo, com certeza você está sem saúde. Não pode haver sinal mais seguro de um estado triste do coração que não ter prazer no Senhor Jesus Cristo. Mas quando Ele é bem doce ao seu paladar. Quando mesmo uma palavra sobre Ele, como uma gota que cai do favo de mel, docemente sobre sua língua – então não há nenhum problema com você – seu coração vai muitíssimo bem. Mesmo que você esteja a ponto de desmaiar, é o desmaio da natureza, e não uma falha da graça! E se você se sentir doente, se é uma doença por Ele que sua alma ama, é então uma doença pela qual seria ótimo morrer!
Coma várias vezes já que nossos corpos vêm várias garfadas por dia – então vigie para que você tome parte da carne e do sangue de Jesus constantemente. Não se satisfaça por ter recebido Jesus ontem, mas o receba hoje também. Não viva com base no velho relacionamento ou experiências, mas vá a Jesus toda hora e não se contente até que Ele lhe encha de novo e de novo com Seu amor. Eu desejo que nós possamos nos tornar espiritualmente como certos animais que eu conheço que ficam no mercado e comem o dia inteiro e ainda durante a noite. Eu realmente me encheria de alegria ao possuir o apetite do carrapato do cavalo e nunca sentir que eu preciso parar! Feliz é o cristão que pode comer abundantemente da comida celestial, como sua esposa o alimenta, e nunca pára de comer enquanto Cristo está perto, mas continua comendo até adentrar bem na noite – e então acorda com o desejo de se alimentar do Pão do Céu!
É adequado estabelecer o quanto comer. As pessoas normalmente não têm vigor quando elas comem como podem sem ter refeições regulares. É adequado ter tempos estabelecidos quando você pode sentar à mesa e comer a comida de forma apropriada. Certamente, é sábio ter períodos certos de comunhão com Cristo, de meditar sobre Ele, para considerar Seu trabalho e receber Sua Graça. Com as crianças, vocês bem sabem, é “pequeno e constante”, e assim conosco, que seja preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali. (Is 28:10) Um lanche entre as refeições regulares geralmente cai muito bem ao homem que trabalha e assim, mesmo que você tenha tempos separados para estar sozinho com Cristo, não se negue uma “boquinha” no meio do caminho. Pegue um doce entre as refeições, e o leve à língua para adoçar a boca – um pensamento, um texto das Escrituras, ou uma preciosa promessa sobre Jesus.
Estou certo que posso dizer sobre alimentar-se de Cristo que nunca um homem foi culpado de glutonaria ao se alimentar do corpo e do sangue de Cristo. Quanto mais você come de Cristo, mas você pode comer dEle. Rapidamente enjoamos de qualquer comida, mas nunca do Pão do Céu! Constantemente nos encontramos doentes quando o assunto é o Senhor porque nós não nos alimentamos dele o quanto deveríamos, mas nunca podemos dizer que comemos demais. Quando o recebemos até nos enchermos, descobrimos que ele amplia nossa capacidade e estamos mais aptos a usufruir de Sua preciosidade.
Observe que o texto nos diz que o crente irá comer Sua carne e beber Seu sangue, para observar que Cristo é verdadeira comida e bebida. Ele é Tudo em Tudo, e Tudo em Um. Um homem não deve somente comer Cristo, deve também beber Cristo – o que quer dizer, ele não pode receber Cristo de uma forma somente, mas em todas as formas; não uma parte de Cristo, mas tudo de Cristo – Não somente a carne de Cristo como Encarnado, mas o sangue de Cristo como o Sacrifício oferecido e o Cordeiro sangrento. Você deve ter um Cristo inteiro e não um Cristo dividido! Você não recebeu de verdade a Cristo se você diz ter selecionado esta e aquela virtude nEle. Você deve abrir a porta e deixar um Cristo inteiro entrar e tomar posse da sua alma.
Você deve receber não apenas Seu trabalho, obras, Graças, mas Ele mesmo, Ele por inteiro. Aqueles que rejeitam o sangue de Cristo não recebem Graça de fato, pois o sangue tem menção especial. Oh, que duras fincadas eu ouvi dizer, mesmo há pouco, sobre aqueles que pregam o sangue de Cristo! Deixem-nos dizer se quiserem, é por sua própria conta e risco! Mas para mim, meus irmãos e irmãs, eu espero merecer a censura deles ainda mais e pregar o sangue de Cristo mais abundantemente, pois não há nada que possa dar satisfação à alma e calar aquela dura, forte sede que acomete nossa natureza, que não o sangue de Jesus como o Cordeiro que foi morto antes da fundação do mundo! (Ap 13:8).
Amados, é um doce pensamento que a carne e o sangue de Cristo é comida para toda ocasião. Ela serve para bebês na Graça e igualmente se adéqua aos anciãos. Ela serve cristãos doentes – eles não poderiam tem um bocado melhor – e serve os cristãos no vigor da sua força. É adequada para a manhã, para a noite, e para o meio-dia! É comida pela qual se vive e comida pela qual se morre – sim, aquele que a come não verá a morte eternamente! É comida para dias de festa e para dias em que choramos e nos lamentamos. É comida para o lugar inóspito e comida para os jardins reais – comida, eu já ia dizer, para o Céu mesmo – pois qual melhor comida nossas almas irão achar, mesmo lá, que Seus carne e sangue? E lembre-se que todo o povo de Deus é livre para comê-la – sim, e toda alma que tem fome é bem-vinda! Ninguém precisa perguntar se pode comer ou não. Está estabelecida como comida para todas as almas dos crentes, qualquer que tenha sido seu caráter anterior. Venham e sejam bem-vindas, venham e sejam bem recebidas, almas famintas, almas sedentas! Venham comer Sua carne e beber Seu sangue!
Tenho tentado mostrar, em tópicos, o que é comer Sua carne e beber Seu sangue. É receber inteiramente a Cristo dentro de si ao confiar-se a si mesmo inteiramente a Ele como um homem confia sua vida no pão que come e na água que bebe. Como vocês sabem que o pão irá alimentar vocês? Como vocês sabem que a água lhes dará sustento? Bem, vocês sabem por experiência – vocês experimentaram – e descobriram que pão e água lhes fazem bem. Porque vocês não comem do concreto de Paris? Porque vocês não bebem ódio? Vocês sabem bem porquê!
Vocês sabem que podem confiar no pão para lhes constituir e na água para lhes refrescar e, da mesma forma, vocês não comem de sacerdócio forjado e de falsas doutrinas, mas a bendita Pessoa e obra de Jesus Cristo em Sua vida e em Sua morte sacrificial. Vocês comem disso, pois sentem que podem se alimentar disso – essas são as delicadas provisões que suas almas amam!




4 - Verdadeiramente Comendo a Carne de Jesus – Parte 3

Por Charles Haddon Spurgeon

II Agora vamos considerar brevemente QUAIS SÃO AS VIRTUDES DE COMER E BEBER DE CRISTO. Olhem para as suas Bíblias, e no quinquagésimo terceiro verso vocês descobrem que esse ato é essencial. “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”. É essencial, pois se você não possui vida em si mesmo, você não tem nada que seja bom. “Não tendes vida e vós mesmos”.
Vocês conhecem a moderna teoria de que há germes de vida em todo homem que apenas precisam de se desenvolver. A Paternidade Universal coloca algum bem em todos nós e o que Ele precisa fazer é educar-nos e trazer isso à tona. Essa é a noção filosófica, ma não é como Cristo nos apresenta! Ele diz, “se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.” Não, nenhum átomo de vida de verdade! Não há vida para ser educada. O pecador está morto (Ef 2:1) e nele não há nada bom. Se for para ele ter algo bom terá de entrar dentro dele – deve ser uma importação – e não poderá nunca vir até ele exceto em conexão com o comer a carne e beber o sangue de Cristo!
Mas suponha que um homem tenha muita convicção de pecado? Ele começa a ver o mal do pecado e se apavora com a ira vindoura. Isso é esperançoso, mas eu relembro solenemente todos os que estão neste estado, que se não comerdes a carne do Filho do Homem vocês não têm vida. Enquanto não crerem em Cristo, vocês não têm vida. Enquanto não tiverem se lavado no Seu precioso sangue, vocês continuam mortos em delitos e pecados. Oh, não se sintam satisfeitos porque sentem algumas convicções legais! Não sentem em gratidão porque vocês estão de alguma forma incomodados na mente! Você não se pode ter por satisfeito enquanto não receber a Cristo! Você NÃO TEM VIDA em si mesmo até ter recebido Cristo!
Mas talvez você tenha participado de cerimônias. Você se batizou e tomou os sacramentos. Sim, mas se você nunca comeu Cristo, O tomou dentro de si, você não tem vida em si mesmo! Você está morto enquanto vive! Agora, aqui há prova em nosso texto de que vida não quer dizer existência, como as pessoas hoje dizem, que, quando lêem, “o pecador morre”, dizem que ele deixa de existir. Homens ímpios têm existência em si, mas é algo totalmente diferente da vida eterna – e você nunca deve confundir existência com vida ou morte, com não-existência – Elas são coisas bem diferentes!
O homem não convertido, sem Cristo, não tem de fato vida em si mesmo. Vocês membros da Igreja, têm vida em vós mesmos – verdadeira vida? Vocês não têm se não comeram da carne de Cristo! Vocês podem ter sido por muitos anos professos, mas já alguma vez comeram Cristo e beberam Cristo? Se não, vocês NÃO têm vida em vós mesmos! Vocês podem ser excelentes pessoas morais. Seu caráter pode ser um padrão para os outros. Talvez tudo que haja em você seja lindo. Mas se Cristo não está no seu coração, você é o filho da natureza, vestido elegantemente, mas morto. Você não é o filho vivo da Graça – você é a estátua lindamente polida, mas, como no mármore frio, não há vida em você! Nada além de Cristo pode ser vida para a alma e as maiores excelências que a natureza humana pode alcançar sem Ele passam longe da salvação. Você PRECISA ter Jesus, ou a morte existe em você e você existe na morte!
Essa é a primeira virtude de se alimentar de Cristo, é absolutamente essencial. Agora, em segundo lugar, é vital. Leia o verso seguinte – “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.” Isso equivale a dizer que ele foi vivificado por receber dentro de si um Cristo inteiro – ele está, portanto, vivo! Por mais que ele seja levado, vez ou outra, a duvidar disso pelo estado do seu coração, se ele realmente recebeu a Cristo, ele foi ressuscitado de entre os mortos e está vivo! E ainda, ele sempre estará vivo, pois “tem a vida eterna.” Agora, uma vida que pode morrer evidentemente não é vida eterna e a vida que o arminiano obtém como resultado da fé, de acordo com seu próprio testemunho, não é vida eterna pois pode chegar a um fim.
Boa alma, eu sei que se ele realmente creu em Jesus, ele docemente irá descobrir o seu erro e sua alma vai seguir em tentação e tentativa, pois será nele, “uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). Será nele uma semente “incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.” (I Pe 1:23). Oh, que creiamos na preciosa doutrina da Preservação Final dos Santos! “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue TEM a vida eterna.” Ele a tem agora! É uma vida que durará tanto quanto Deus, Ele mesmo – eterna como o Trono de Javé!
E então, sobre o corpo, irá morrer, não? Sim, mas tal é o poder da vida que Cristo coloca em nós, que o corpo, ele mesmo, há de ressurgir! Temos a palavra de nosso Senhor empenhada nisso – “E eu o ressuscitarei no último dia.” Ainda que o corpo esteja morto por causa do pecado, pelo espírito vive para a justiça – mas há uma redenção vindo para esta pobre natureza – e para este mundo material em que vivemos. Quando Cristo vier, então a criação será liberta da condição em que foi presa e nossos corpos materiais, com o resto da criação, serão emancipados! Os corpos dos santos serão livres de toda imperfeição, corrupção e desvio! Viveremos, então, na imagem gloriosa de Cristo e o Senhor cumprirá Sua palavra graciosa, “eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.” (Jo 11:25). Esse comer e beber de Cristo, então, é vital.
Em terceiro lugar é substancial, “Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida.” Isso entra em contraste com o caráter não substancial dos símbolos. Os judeus comendo dos sacrifícios eram uma mera sombra, “mas”, diz Jesus, “minha carne é verdadeira comida.” Isso também é dito em oposição à comida carnal. Comida carnal, sendo comida, apenas constitui o corpo e então desaparece, mas não toca a alma. Mas se alimentando de Cristo, a alma é alimentada e alimentada com vida eterna, de tal forma que Jesus afirma ser “verdadeira comida”.
Vocês já foram a uma ministração em que o pregador prega sobre tudo e qualquer coisa que não Cristo? Vocês ficaram alimentados? Bem, se vocês são avoados, talvez se emocionem com qualquer coisa que seja dita. Mas eu sei, se vocês são filhos de Deus, não importa quem pregue, ou quão pobre seja sua linguagem – se ele prega Cristo vocês sempre sentem como tendo sido alimentados – sua alma é satisfeita com as gorduras quando Cristo é o assunto! Não há comida para a alma que se compare a Cristo – e o frescor mais doce vem das partes mais fracas de Cristo – visto que a força de Deus é perfeita em Sua fraqueza!
Você me diz “o que você quer dizer?”. Bem, nosso Senhor, no texto, diz, “minha carne é verdadeira comida,” e não, “minha Divina cabeça.” “Meu sangue é verdadeira bebida”, não minha Ressurreição e Ascensão. Não “meu segundo advento”, mas minha fraqueza como homem, minha morte como homem, meus sofrimentos, meus lamentos, meus gemidos – essas são as melhores comidas para os crentes. Vocês não acham isso também? Oh, eu me regozijo com a segunda vinda de Cristo, mas há momentos em que essa doutrina não me dá um átomo de conforto! As estrelas mais brilhantes que servem de luz do dia para o peregrino ignorante são aquelas que queimam em volta da Cruz! Estranho é que nos voltemos àquele ponto aonde o sofrimento culmina para achar nosso mais puro conforto, mas assim é – “Minha carne é verdadeira comida” – Cristo em Sua fraqueza! “Meu sangue é verdadeira bebida” – Cristo derramando sua alma na morte (Is 53:12)! Essa é a mais verdadeira e a melhor comida para o coração!
Agora, irmãos, se vocês querem crescer na Graça, se alimentem de Cristo! Se vocês desejam se tornar fortes no Senhor, se alimentem de Cristo! Se você deseja aquele algo que lhe constituirá por inteiro, permanentemente e bem, se alimente de Cristo, pois outras coisas há que são comida e bebida, mas Sua carne é verdadeira comida, e Seu sangue é verdadeira bebida! É um prato substancial! E, por último, outra virtude dessa dieta é que produz união. Note no verso seguinte – “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.” Que palavras maravilhosas – “permanece em mim.” Você obtém, ao ter Cristo em você como um Cristo inteiro, o viver em Cristo e Cristo em você!
Há essa diferença entre esses dois privilégios – viver em Cristo é a paz da Justificação. Você crê nEle, confia a si mesmo a Ele, você sente que morreu com Ele e ressuscitou com Ele (Rm 6:4) – que você subiu aos céus com Ele – e, assim, você é aceito nele e assim vive nEle! O Ele viver em você é outra coisa, a saber, a paz da Santificação, pois quando você se alimentou de Cristo, ele entrou em você e permanece em você, vivendo, de novo, em você. Ele fala pelos seus lábios, ama com seu coração, olha pelos seus olhos, trabalha com suas mãos e testemunha entre os filhos dos homens pela sua língua – Ele vive em você! Oh, estrondosa união! Bendita união!
O verso seguinte faz tudo ficar mais maravilhoso, ainda, pois diz “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá.” Três coisas vivas – o Pai que vive, o Filho que vive, e então o crente que vive. Há o Pai que tem vida em Si mesmo como Deus. E há o filho como mediador, Deus-Homem, que deriva sua vida do Pai. E então o crente, vivendo da vida que vem de Deus através de Jesus Cristo. Ó abençoada união é essa, não somente com Jesus, mas através de Jesus com o Pai! Assim Cristo diz, “porque eu vivo, vós também vivereis.” (Jo 14:19). Ele vive pelo Pai e nós vivemos por Ele – e tudo isso porque nós o recebemos e nos alimentamos dEle!


Oh, meus irmãos e irmãs, eu lhes desafio, abram suas bocas amplamente para Cristo e O comam para si mesmos! Dêem a Ele um lote em vossos corações, sim, deixem Ele viver para sempre no melhor espaço da sua natureza, no lugar mais escondido da alma! Tenham fome dele! Se alimentem dEle todos os dias e quando o fizerem, e ele habitar em vocês a vocês nEle, então conte aos outros sobre Ele e espalhem Seu nome querido em todo lugar, para que pecadores famintos e perecendo saibam que há milho no Egito e pão para se receber em Cristo! E que muitos venham e comam e bebam dEle como vocês. Eu lhes constranjo, irmãos e irmãs, lembrem-se disso, e que o Senhor abençoe vocês, por amor do Seu nome. Amém.


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