sexta-feira, 23 de outubro de 2015

135) Santificação

135) SANTIFICAÇÃO

ÍNDICE

1 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 1
2 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 2
3 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 3
4 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 4
5 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 5
6 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 6
7 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 7
8 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 8
9 - HÁ DEFICIÊNCIAS COM AS QUAIS TEMOS QUE VIVER
10 - Aprendendo com Tiago Sobre a Natureza Verdadeira da Santificação
11 - SANTIFICAÇÃO
12 - Santificação
13 - Deus Jamais Aprovará o Nosso Imediatismo
14 - A Santidade é Requerida Universalmente
15 - Santificação
16 - O Que é Não Praticar a Iniquidade Segundo o Evangelho
17 - Significado de Ser Santificado
18 - Santificação não é Justificação
19 - O Método Divino para Comunicar Santidade
20 - A Fonte da Nossa Santificação
21 - Santificação
22 - O Princípio de Santidade na Nova Criatura
23 - A Santificação Não é Opcional
24 - A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes
25 - A Finalidade da Santificação
26 - O Que é o Hábito da Santidade?
27 - O Hábito da Santidade
28 - A Batalha da Santificação


1 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 1

O pecador é transformado em santo quando nasce de novo pelo Espírito.
Na sua conversão ele é santificado ao ser transformado em uma nova criatura.
Ele recebe um novo coração, uma nova natureza, a natureza divina, e assim tem acesso à santidade que o faz aceitável a Deus.
Esta é a razão pela qual o apóstolo Paulo se refere aos cristãos em todas as suas epístolas, chamando-os de santos,  apesar de muitos deles serem ainda carnais, como, por exemplo, eram muitos dos  cristãos coríntios  (I Cor 1.2; 6.11; 14.33; II Cor 1.1; 13.12; Ef 1.1; 2.19; Fp 1.1; Col 1.2; Jd 3) que eram santos, separados para Deus, apesar de não serem ainda cristãos espirituais.
 Entretanto, aquele que foi santificado pelo Espírito, é chamado a prosseguir em santidade, através do processo de santificação, que não deve cessar ao longo de toda a sua vida (Jo 17.17,19; Ef 4.12;I Tes  5.23; Apo 22.11).
Este processo consiste basicamente no despojamento das obras da  carne (natureza terrena) e do revestimento das virtudes de Cristo.
O texto de Hebreus 12.14 diz, “segui a paz com todos e a santificação” – ambas as coisas, tanto a paz quanto a santificação devem ser seguidas de forma prática.
Se a santificação tivesse sido obtida em sua forma plena e final na regeneração (novo nascimento), não haveria necessidade de se mandar segui-la, ordenança que não se aplica à justificação, por ter sido obtida de uma vez para sempre na conversão.
Santificação é conformidade à vontade de Deus, e obediência aos mandamentos do Senhor. Isto é o trabalho do Espírito na alma, pelo qual o homem é feito semelhante a Deus, e torna-se participante da natureza divina, sendo livrado da corrupção que há no mundo através da cobiça.
 Não é dito em Heb 12.14 “perfeição de santificação”, mas, “santificação”.
A santificação é uma coisa que cresce.
Ela pode ser na alma como o grão de mostarda, e ainda não estar desenvolvida; ela pode ser uma vontade e um desejo no coração, um suspiro, uma aspiração.
Com as águas do Espírito de Deus, ela crescerá como o grão de mostarda até se tornar uma árvore.
A santificação, no coração regenerado, é como criança, não está madura – está perfeita em todas as suas partes, mas não perfeita no seu desenvolvimento.
Uma criança é um ser perfeito, mas não quanto ao desenvolvimento que ainda terá até ser uma pessoa madura.
Por conseguinte, quando nós achamos muitas imperfeições e muitas falhas em nós mesmos, não devemos concluir que isto significa que não temos interesse na graça de Deus.
A santificação requer que o coração esteja em Deus, e que pulse de amor por Ele.
“Sem santificação ninguém verá o Senhor”.
Isto quer dizer, nenhum homem pode ter comunhão com Deus nesta vida, e na vida por vir, sem santidade.
“Podem dois caminharem juntos se não houver entre eles acordo?”.
Santificação é uma palavra que significa mais do que purificação, porque ela inclui mais do que a ideia de sermos limpos, ela inclui também a necessidade de estarmos adornados com todas as virtudes de Cristo.
“Por causa deles eu me santifico a mim mesmo”. Estas são palavras que foram proferidas por Jesus em Jo 17.
No caso do Senhor não pode significar purificação do pecado, porque ele não tinha pecado.
A santificação do Senhor era sua consagração ao completo propósito divino, sua absorção na vontade do Pai.
Assim, nossa própria santificação também significa a nossa consagração à vontade de Deus, além da nossa purificação, já que somos pecadores.
“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Ninguém pode santificar uma alma mas somente o Todo Poderoso Deus, o grande Pai dos espíritos.
Somente aquele que nos fez pode fazer-nos santos.
A regeneração é onde a santificação começa, é totalmente o trabalho do Espírito de Deus.
Cada pensamento sobre santidade, e cada desejo posterior por pureza, vêm somente do Senhor, porque nós, por natureza, somos inclinados ao pecado.
Assim que a última vitória sobre o pecado em nós, e sermos feitos perfeitamente como o nosso Senhor, deve ser inteiramente o trabalho do Senhor Deus, que faz novas todas as coisas, desde que  não temos nenhum poder para realizar tão grande trabalho em nós mesmos.
Isto é uma criação (Tg 1.18). Nós podemos criar esta nova vida?
Isto é uma ressurreição. Nós podemos levantar da morte, pelo nosso próprio poder?
Nossa natureza degenerada (terrena) pode estar rumando em direção à putrefação, mas não pode jamais retornar à pureza ou à perfeição por si mesma; por isto está sentenciada à morte, pela nossa identificação com a crucificação de Jesus, e temos recebido uma nova natureza de Deus pela fé, que está realizando em nosso espírito um trabalho de santificação, e isto é de Deus, e de Deus somente.
Uma santificação real é inteiramente do início ao fim o trabalho do Espírito do Deus bendito.
Veja então que grande coisa é a santificação, e como é necessário para isto que o nosso Senhor orasse ao seu Pai: “Santifica-os na verdade”.  
Todavia, somente a verdade não santifica o homem.
Ele pode permanecer num credo ortodoxo, mas se isto não tocar o nosso coração e influenciar o nosso caráter, qual é o valor da nossa ortodoxia?
Não é a doutrina que, de si mesma, nos santifica, mas o Pai santifica usando a doutrina como meio.
A verdade é o elemento em que nós devemos viver para sermos santos.
A falsidade (mentira) conduz  ao pecado; a verdade conduz à santidade; mas há o espírito mentiroso, e há também o Espírito da verdade, e  por estes o erro e a verdade são usados como meios para se atingir o fim, respectivamente.
A verdade deve ser aplicada com poder espiritual à mente, à consciência, ao coração, senão o homem pode receber a verdade, e ainda permanecer na injustiça.
Eu creio que isto é a coroação do trabalho de Deus no homem, que seu povo seja perfeitamente livre do mal.
Ele os escolheu para que sejam seu  povo particular, zeloso de boas obras; Ele os redimiu para que fossem livres de toda a iniquidade, e purificados; ele os chamou efetivamente para uma elevada e santa vocação, a saber para a verdadeira santidade.
Todo o trabalho do Espírito de Deus na nova natureza tem em mira a purificação, a consagração, o aperfeiçoamento de todos aqueles que Deus, em amor, tomou para Si.





2 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 2

Tudo o que nos sucede na caminhada para o céu tem o propósito de nos preparar para o fim último da nossa jornada.
Nosso caminho através do deserto tem por objetivo nos  provar, para que possamos conhecer quem realmente somos, e para que nossos males possam ser descobertos, e nos arrependermos, e assim, para que nos apresentemos a Deus, no fim, sem máculas, diante do Seu trono.
Nós estamos sendo educados pelos céus, para o encontro na assembleia dos perfeitos.
Ainda não se manifestou o que seremos, mas seremos como Ele, porque o veremos assim como Ele é.
Nós estamos sendo levantados: através de um duro combate, longa vigilância, e paciente espera,  estamos sendo levantados em santidade.
Estas tribulações que trilham o nosso trigo e que lançam a palha para longe, estas aflições que consomem nossas escórias, e que tornam nosso ouro mais puro, têm um objetivo glorioso em vista.
Todas as coisas cooperam juntamente para o bem daqueles que amam a Deus; e o resultado esperado de tudo isso será a apresentação dos escolhidos a Deus, não tendo mancha ou ruga ou qualquer coisa semelhante.
Não devemos pensar que a santificação ocorre instantaneamente, quando se ouve um pregador sincero.
Este não é o trabalho de um momento, de alguns dias, ou da habilidade humana, mas é o próprio Deus que deve trabalhar em nós.
Devemos, antes de tudo, ter a habitação do Espírito Santo.
É pela fé em Cristo que se é renascido pelo Espírito. É também pela mesma fé que somos santificados, assim como temos crido para o seu perdão e justificação.
Como a santificação é forjada nos cristãos? Jesus disse em João 17: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.”.
Observem como Deus tem juntado a verdade e a santificação.
Tem havido uma tendência recentemente para se dividir a verdade da doutrina; a verdade do preceito.
Nenhuma vida santa será produzida em nós por crer na falsidade.
A santificação em seu caráter visível vem da edificação em fé no interior do coração, ou de outra forma é uma mera casca.
Boas obras são o fruto da verdadeira fé, e a verdadeira fé é uma sincera crença na verdade.
Cada verdade conduz à santificação, cada erro de doutrina, direta ou indiretamente conduz ao pecado.
E não estamos falando de mero conhecimento intelectual, mas de conhecimento espiritual, por experiência pessoa, na implantação das virtudes de Cristo em nossa nova natureza, recebida pela fé nEle (longanimidade, amor, benignidade, paciência, domínio próprio, alegria etc).
Por isso, somente o ensino que é segundo a  Palavra de Deus revelada, nos santificará.
A matemática é uma verdade, mas ninguém é santificado por ela.
O erro pode soprar sobre você, ele pode mesmo levar você a pensar que você está santificado, mas há uma grande e séria diferença entre ostentar santificação e estar santificado de fato, uma grave diferença entre se sentir mais purificado que outros, e estar sendo realmente aceito por Deus.
A verdade nunca é a sua opinião, nem minha; sua mensagem, nem minha.
Jesus disse, “a tua Palavra é a verdade”.
O que santifica os homens não é apenas a verdade, mas a verdade que está revelada na Palavra de Deus.
É uma bênção que toda a verdade que é necessária para nos santificar esteja revelada na Palavra de Deus, tanto que nós não temos que gastar nossas energias tentando descobrir a verdade, mas podemos, para nosso maior proveito, usar a verdade revelada nas Escrituras.
Não haverá mais revelações da verdade, não são mais necessárias.
O cânon está fixado e completo, e por isso se diz que nada deve ser retirado ou acrescentado à Palavra, sob a pena de lhe serem acrescentadas as pragas descritas em Apo 22.18,19.
O Senhor nunca reescreveu ou reeditou Sua Palavra e certamente nunca o fará, porque ela, verdade que é, permanece para sempre.
Nosso ensino pode estar cheio de erros, mas o Espírito não erra.
A fé foi entregue de uma vez por todas aos santos.
A Escritura sozinha é a verdade absoluta e eterna.
É por isso que nos é ordenado que a Palavra de Deus habite ricamente em nosso coração, e para tanto, será necessário que a leiamos e que meditemos nela dia e noite.
É pela leitura e meditação das Escrituras que se chega ao conhecimento do caráter de Deus, e a termos temor e tremor em nossa caminhada diante dEle e da Sua justiça.
Quando a verdade for totalmente usada, ela destruirá o pecado diariamente, nutrirá a graça, inspirará nobres desejos, e produzirá ações santas.
Agora, ninguém espere ter uma verdadeira santificação sem isto.






3 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 3

Quando o Senhor diz “sede santos por que eu sou santo” o que está em foco é uma convocação direta a ser imitado.
Jesus é o nosso exemplo de vida que devemos seguir, se desejamos de fato ser santificados.
Por isso há várias convocações diretas na Palavra neste sentido em Mt 10.25; Fil 2.5; I Cor 11.1; Ef 5.1; I Ts 1.6;  I Pe 2.21;  I Jo 2.6; 4.17, entre outras.
A imitação de Cristo está embutida na ordenança bíblica que nos manda nos revestirmos de Cristo ou do novo homem, o que é a mesma coisa (Rom 13.14; Ef 4.24; Col 3.10).
Cabe ressaltar que na regeneração já ocorreu um revestimento do novo homem, e um despojamento do velho homem, mas tanto uma coisa quanto outra (revestimento e despojamento) devem prosseguir na santificação.
Quando encontramos na Palavra de Deus, citações ao fato de já termos sido lavados, santificados, revestidos do novo homem e despojados do velho, a referência se aplica no caso à REGENERAÇÃO (novo nascimento), e quando há uma exortação no sentido de se prosseguir com o trabalho de purificação da alma, de despojamento da carne, mortificação da natureza terrena e revestimento de Cristo ou do novo homem, a referência então se aplica ao processo da SANTIFICAÇÃO, que deve prosseguir por toda a vida, até que sejamos recebidos na glória.
A santificação consiste basicamente na ordenança de Rom 13.14: revestir-se de Cristo e nada dispor para a carne quanto às suas concupiscências.
E para revestir-se externamente de Cristo é necessário primeiro conhecê-lo interiormente.
Jesus deve ser recebido no coração por fé, antes de poder se manifestar na vida pela santidade.
Para que a luz apareça e ilumine é preciso primeiro acender a lâmpada.
É assim que a luz do cristão brilha no mundo, pelo testemunho de sua própria vida, pelas virtudes visíveis de Cristo que se manifestam na mesma.
Esta luz pode brilhar mais em uns do que em outros, conforme o nível de sua consagração, e consequentemente, da sua santificação.
Assim, o exterior e visível deve ser precedido e  inspirado pelo interior e invisível, para que o mundo não possa negar que somos filhos da luz e do dia (I Tes 5.5,8).
Não basta que Cristo seja o alimento que sustém o homem interior, é também necessário que seja o vestido que cobre o homem exterior, e que deve ser visto pelo mundo, através do seu testemunho.
O cristão deve estar vestido de Cristo em todo o tempo, e deve estar de tal maneira vestido do Senhor, que se confunda com Ele.
Na conversão, quando é regenerado pelo Espírito esta exortação é cumprida num sentido parcial, pois o cristão se reveste de Cristo como um manto de justiça.
A justiça de Cristo que é imputada ao cristão na justificação, passa a ser dele, porque Cristo agora lhe pertence e ele a Cristo.
Embora injusto por natureza, o cristão passa a ser justo.
Mas a ordenança de Rom 13.14 não se refere à justificação, mas à santificação.
Entretanto o ato de se revestir de Cristo só pode ser cumprido por aqueles que já foram justificados e regenerados.
Devemos nos revestir de Cristo, continuamente, para que a santidade de Cristo seja reproduzida em nossa conduta diária.
Se é a Cristo que devemos ir para obter o perdão e a justificação, não devemos ir a outro para obter a santificação (I Cor 1.30).
Havendo começado com Jesus, devemos seguir com Ele até o fim.
O ato de se revestir de Cristo consiste em imitá-lo.
Ele é o modelo, o único modelo que deve ser seguido pelos cristãos.
Devemos andar no mundo como Cristo andava.
Uma pergunta deve acompanhar o cristão em todas as áreas de atividades e situações de sua vida:
“o que faria Jesus em meu lugar?”, e sua ação deve ser norteada pela resposta a tal pergunta.
É pela vida de Jesus que devemos modelar a nossa.
O motivo ativo e potente que nos encoraja a imitar Jesus como nosso modelo é a santificação das nossas almas.
Acheguemo-nos ao Senhor e Ele nos dará o vigor que nos falta.
Sem a graça que está em Cristo Jesus não é possível ter a verdadeira santidade.
O próprio Moisés e todos os que agradaram a Deus na dispensação da lei foram assistidos e fortificados pela graça, que também operou mediante a fé.
A fonte da verdadeira santidade está em que “o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim, da graça.”.
Todos os que agradam a Deus não são os que se deixam constranger pela força dos Seus mandamentos, como quem serve a um rude patrão, mas, são os que O servem como filhos que estimam e amam a seu Pai.
A motivação do cristão deve repousar na gratidão pela graça e redenção de Jesus, que lhe trouxe a salvação.
Não é no Sinai que deve buscar o estímulo à sua santidade, mas no Calvário.
Inflamado de amor pelo Salvador, que morreu por ele, será a sua felicidade estar pronto para viver ou para morrer, para trabalhar ou para sofrer pelo seu Senhor.
O desejo de ser louvado e o temor de ser censurado não são motivos para a santidade, são indignos de quem pertence a Cristo.
O servo do Senhor não pode se fazer servo dos homens, agindo como que para agradar a homens.
Antes, a glória do seu Mestre é sua paixão, e tudo o mais é sem importância.
Dizer “revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” é o mesmo que dizer, “revesti-vos da perfeição”.
Assim, o cristão deve se revestir das virtudes que fazem parte do caráter de Jesus.
Não de parte destas virtudes, mas de todas elas.
Não é somente sua humildade ou doçura, ou amor, ou zelo o que devemos imitar, mas a sua completa santidade.
A nossa comunhão com Cristo deve ser tão íntima, que a sua personalidade possa ser reproduzida em nós.
A nossa vontade deve ser conformada à dEle.
É a vontade de Deus que sejamos cada vez mais semelhantes a Jesus (Rom 8.29).





4 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 4

Lendo o texto de Col 3.12-14 vemos que Paulo está descrevendo o traje do cristão.
As vestes que ali são descritas devem ser usadas permanentemente.
Nenhuma delas deve ser deixada de lado.
Todas devem ser vestidas.
Não apenas no domingo, mas durante todos os dias da semana.
As primeiras vestes citadas são a misericórdia e a bondade.
Somos tão misericordiosos, benignos, ternos e compassivos com os nossos semelhantes como é o próprio Cristo?
Pela santificação, obtivemos este traje, e estamos com ele vestidos?
Esforçamo-nos para alcançá-lo?
Se não, a nossa alegada santidade está nua em parte.
Longe de nós a presunção da igreja de Laodiceia que lhe custou a reprimenda de Apo 3.17.
Em seguida são citadas como parte do vestuário de Cristo, a mansidão e a humildade.
Jesus não oprime nem tiraniza a ninguém.
Ele foi sempre humilde, manso e cheio de graça, sendo o Mestre de todos, e o Senhor dos senhores.
Somos arrogantes e duros de coração por natureza. É somente pelo trabalho de quebrantamento do Espírito Santo que deixamos de sê-lo.
Há também os vestidos da longanimidade e da paciência, no trato com os semelhantes.
Há cristãos que se não fazem tudo a seu gosto, logo se encolerizam.
São egoístas, obstinados, iracundos e suscetíveis.
Não se sujeitam à disciplina do Espírito Santo, e nem à autoridade da Palavra de Deus.
A verdade que servem é a própria, engendrada por sua imaginação e sentimentos carnais.
Estas vestes da velha natureza devem ser trocadas pelas vestes de Jesus, da longanimidade (tardio em se irar) e da paciência.
Devemos ser pacientes ainda quando tenhamos sido vítimas de grandes injustiças: mais vale sofrer do que devolver mal por mal (Rom 12.17-21; I Pe 2.19-23; 4.12-14).
O apóstolo segue dizendo:
“Perdoai-vos mutuamente...”.
Não é evidente que tal ensino não é da terra, mas que nos veio do céu? T
Tratemos pois de colocá-lo em ação.
Vesti-vos do Espírito de Cristo, e sua língua não soltará palavras tão amargas.
Vesti-vos do seu amor, e seu coração não abrigará sentimentos tão ásperos.
Que suas almas se encham de sua santidade, e de boa vontade perdoarão, não sete, mas setenta vezes sete.
Agora, o cinturão que mantém em seu lugar cada peça deste vestuário espiritual é:
“Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.”.
Este cinturão é divino: o amor.
Tudo o que temos feito tem muito pouco valor se nossas animosidades não têm sido sepultadas com o velho homem.
Ainda que tenhamos muitos defeitos, que não nos falte o amor pelo Senhor e por nossos semelhantes.
E finalmente:
“a paz de Deus governe os seus corações e sejam agradecidos.”.
A gratidão deve ser achada entre os discípulos de Jesus.
Bem-aventurada a alma que está em plena possessão de si mesma, sempre tranquila e descansada.
Se desejamos ser semelhantes a Jesus devemos estar vestidos da Sua paz.





5 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 5

Uma pessoa santa, além das virtudes destacadas em Col 3.12-14 também possui: submissão, domínio próprio, auto negação, amor fraternal por seus irmãos em Cristo, pureza de coração, temor de Deus, fidelidade em todos os deveres e relacionamentos, e todas as demais virtudes que caracterizam o cristão fiel, segundo o que está revelado na Bíblia.
Apesar de estarmos revestidos de Jesus, temos necessidade ainda de lutar contra a carne como se diz em Rom 13.14.
Não devemos ser indulgentes com a carne, nem desculpá-la.
Nunca digamos: “Cristo me tem perdoado porque tenho mau gênio, e não posso livrar-me dele.”.
Nunca justifiquemos aquilo que em nós não se encontra na natureza de Cristo.
Alguém pode dizer: “Sou muito alegre por natureza e assim, um pouco de prazer mundano me é necessário.”.
Jogo perigoso é este!
Está fazendo o que a Palavra proíbe.
Está adulando a carne para satisfazer os seus desejos.
Cuidado!
Não se deve dar trégua ao pecado, nem por um dia, uma hora, um minuto, um segundo.
Nossa obediência deve ser sem interrupção.
Não devemos consentir que a carne levante a cabeça, pois não se pode saber até onde é capaz de nos arrastar.
A carne é voraz e nunca se sacia.
Não devemos lhe dar nem ainda as migalhas que caem da mesa.
Revesti-vos do Senhor Jesus e já não haverá lugar para as concupiscências da carne.
O pecado está onde Cristo não está.
Qual é o vestido de casamento que nos fará dignos de ir ao encontro de Cristo e participar do Seu triunfo? É o próprio Cristo.
Se aqui neste mundo Ele é meu adorno, e minha formosura, posso estar seguro de que Ele será minha glória durante a eternidade.  
A carne é tão ardilosa que os próprios mandamentos de Deus, que nos são dados para vida (Rom 7.10), ela os utiliza para reviver o pecado (a carne gosta do que é proibido – Rom 7.9), e assim, o pecado, se prevalecendo do mandamento, pelo próprio mandamento nos engana e mata (Rom 7.11).
Diante de um inimigo tão ardiloso, que ainda opera na natureza terrena do cristão, toda vigilância e cuidado são poucos.
Por é necessário estar sempre alerta quanto à presunção espiritual, sobre a qual somos exortados em I Cor 10.12:
“Aquele, pois que pensa estar de pé tome cuidado para não cair.”.
O diabo e a nossa própria carne (natureza terrena) podem nos enganar imitando com o vício da presunção, a virtude da completa segurança da fé, que é uma das bênçãos que é obtida com o verdadeiro progresso na santificação, quando a salvação pela graça, mediante a fé, caminha rumo à perfeição, pelo amadurecimento na confiança no Senhor, e no trabalho que Sua graça tem realizado em nós.
Temos o grande direito de crer que estamos de pé, se cremos que o estamos através do poder de Deus.
Pois, quando cremos que estamos de pé, sem que haja comunhão real com o Senhor, quando damos acolhida a pequenos pecados que sejam, quando não há mais um trabalho de santificação na vida, porque não o buscamos, e vivemos segundo o mundo, então se aplica a nós o que o texto afirma: “aquele que pensa”.
Pensamos que estamos de pé, mas de fato não estamos.
Estamos sim, rumo a uma queda, que ainda que não seja final, há de nos manter afastados da comunhão com o Senhor, por apagarmos o Espírito Santo (I Tes 5.19; Tg 4.4, 8-10).
Assim, não estamos falando contra a fé poderosa que alguém alega possuir.
Quem dera todos a possuíssemos.
Mas estamos falando contra esta presunção não santa.
Há muitos que se aventuram no meio da tentação, frequentando companhias, locais, situações que são fontes de tentação, e que se gabam dizendo: “você pensa que eu sou fraco para pecar ?”. “Não, eu estarei de pé!”. “Dê-me um copo de bebida; eu nunca serei um alcoólatra.”. “Dê-me a pornografia em suas variadas formas (TV, vídeos, internet, casas de má fama etc) e eu me manterei puro em meu corpo e espírito.”. Assim são as pessoas presunçosas.
Não é preciso ir muito longe para achá-los.
A própria igreja está repleta deles.
Há em cada igreja homens que pensam estar de pé; homens que se gabam em si mesmos, por imaginarem ter força e poder, mas não vivem a vida dos filhos de Deus, eles não têm sido humilhados ou quebrados em espírito, ou se têm sido, adotam uma segurança carnal até que se transformem em gigantes que pisam a flor da humildade sob os seus pés.
Qualquer cristão está sujeito a ser presunçoso, cedendo a uma falsa segurança carnal.
É um mal contra o qual devemos sempre vigiar, daí a exortação do Espírito pela boca de Paulo em I Cor 10.12.
São fatores que, dentre outros, podem favorecer a presunção:
1 – Prosperidade mundana – “eu estou de pé, e a minha prosperidade prova isto”, é o que diz o presunçoso.
2 – Pensamentos leves sobre o pecado – perde-se o temor de pecar que se sentia quando era novo convertido. “Não é um pequeno pecado?” – diz o presunçoso, e ainda: “Nós tropeçamos um pouco, falamos e fazemos umas poucas cousas não santas, mas no tocante à maior parte da nossa vida espiritual temos sido perseverantes.”.
3 – Fracos pensamentos sobre o valor da fé. Nenhum de nós valoriza a fé o suficiente. Baixos pensamentos acerca de Cristo, significa baixos pensamentos acerca do estado eterno das nossas almas e do valor da fé que nos salva e santifica. Isto nos conduz a sermos descuidados com a segurança da nossa salvação. Tomemos cuidado com as fracas e baixas ideias sobre o evangelho, para que não sejamos apanhados repentinamente pelo mal.
A palavra do evangelho é o poder para a salvação de todo o que crê.
É uma palavra mais do que preciosa, de valor inestimável.
E é assim que nos convém estimar a Palavra de Deus.
4 – Ignorância sobre o que somos e sobre onde somos firmados.
Muitos cristãos não têm aprendido ainda o que eles são.
O primeiro ensino de Deus é revelar qual é a condição real da nossa natureza terrena, que devemos mortificar continuamente pelo Espírito (Col 3.5).
Mas não chegamos a conhecer isto perfeitamente, mesmo depois de muitos anos de termos conhecido Jesus.
A corrupção dos nossos corações não é desenvolvida em apenas uma hora. Há cristãos que pensam que têm um bom coração. Jeremias tinha um coração melhor do que o deles e mesmo assim disse: “o coração é enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá ?” (Jer 17.9).
Na verdade, sem Cristo o nosso espírito está morto, completamente destituído da vida de Deus, e da comunhão com Ele.
É preciso estar consciente na constante luta entre a velha natureza e a nova, que se trava no coração de qualquer cristão, para que, em vigilância e oração constantes, possamos estar de pé diante do trono.
5 – O orgulho é a mais grave causa da presunção.
O verdadeiro cristão, ainda que não tenha a possibilidade de sofrer uma queda final, está muito propenso a cair. Qualquer cristão pode se desviar do caminho, e quando se desvia, se acometerá a si mesmo com muitas tristezas.
O cristão que pensa estar de pé definitivamente, e que não depende da graça diariamente, buscando santificar-se mais e mais, está muito mais exposto ao perigo de cair mais do que outros, porque será descuidado em meio à tentação.
Ele pensa que é muito forte, e em meio aos ataques do inimigo mantém sua espada na bainha, e nem sequer se dá-se conta da luta espiritual, e assim, não ora, não medita na Palavra para aplicá-la à vida, não tem compromisso real com Cristo, não frequenta a igreja com assiduidade, confia em sua prosperidade material e financeira, e considera a falta de tribulações como sinal da aprovação e bênção de Deus.
Vale lembrar que o Espírito Santo abandona os corações onde habita o orgulho.
Ele não se demorará em tal companhia. A graça é dada a quem se humilha e é negada a quem se exalta.





6 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 6

Nunca podemos dizer que a santificação chega ao amadurecimento e perfeição total, ou que todas as virtudes citadas até aqui, especialmente as de Col 3.12-14, sejam achadas em total florescimento e força, para que possamos dizer que a pessoa é santa.
Não, longe disto.
A santificação é sempre um trabalho progressivo, e consoante a concessão da graça do evangelho, que trabalha muito mais com a nossa consagração a Deus e à Sua Palavra, do que com a nossa perfeição presente, quanto aos nossos pensamentos, motivações, sentimentos e ações.
As virtudes ou graças de algumas pessoas são como plantas em germinação, em outras, como plantas crescidas, e ainda em outras como plantas maduras com frutos.
Mas todas elas tiveram um começo.
Nós nunca devemos desprezar “o dia dos humildes começos” (Zac 4.10).
E a santificação neste mundo, no melhor dos snaos, é um trabalho imperfeito.
A história dos maiores santos que já viveram contem muitos “poréns”, “todavias” e “emboras”.
O ouro nunca será sem algumas escórias e nós nunca brilharemos sem algumas nuvens, até que alcancemos a Jerusalém celestial.
Os homens e mulheres mais santificados têm tido muitas manchas e defeitos, quando comparados com o padrão elevado e santo da Palavra de Deus.
Suas vidas estão continuamente em guerra com o pecado, e o diabo; e algumas vezes vocês os verão não submetendo o Inimigo e a carne, mas sendo submetidos.
Assim, não é pelo tanto que ainda haja de imperfeições e fraquezas em nós, que estaremos impedindo ou desacelerando o processo de santificação, mas o quanto não nos arrependemos do nosso procedimento contrário à vontade de Deus.
Enquanto tivermos o temor do Senhor e da Sua Palavra, enquanto confessarmos os nossos pecados, e nos arrependermos de nossas más obras, buscando andar do modo que Deus aprova, sempre haverá esperança para o nosso caso, quanto a fazermos progresso em santificação.
Afinal, a carne está sempre lutando contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, e “todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tg 3.2; Gál 5.17).      
Mas todo verdadeiro cristão, renascido do Espírito, perseguirá o alvo da santificação.
E corajosa e confiantemente eu digo, que a verdadeira santificação é uma grande realidade.
Ela é algo que pode ser visto nos homens e mulheres, e mesmo em crianças, e que pode ser sentido por todos ao seu redor.
Eu sei que o caminho pode ir de um ponto a outro, e ter muitas curvas e deformações, e a pessoa pode ser verdadeiramente santa, e ainda ser rodeada por muitas fraquezas.
O ouro não é menos ouro porque está misturado com algum liga metálica; nem a luz é menos luz porque é fraca e turva; nem a graça é menos graça porque é jovem e fraca.
Mas depois de todas estas considerações eu não posso dizer que uma pessoa mereça ser chamada “santificada”, que deliberadamente se permite continuar habitualmente nos seus pecados, e que não se sente envergonhada por causa deles.
Eu não ousaria chamar de “santo” quem faz um hábito deliberado negligenciar os deveres conhecidos, e que pratica aquilo que sabe que Deus tem claramente proibido em Sua Palavra.
John Owen se expressou muito bem quanto a isto: “Eu não entendo como um homem pode ser um cristão verdadeiro sem que o seu pecado não lhe seja a maior aflição, tristeza e problema.”.





7 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 7

Estamos Santificados?
Esta é a pergunta de maior importância para as nossas almas.
Se a Bíblia é a verdade, e é certo que é, a menos que nós sejamos santificados, nós não seremos salvos.
Há três coisas que de acordo com a Bíblia, são absolutamente necessárias à salvação de cada homem e mulher cristão.
Estas três coisas são a justificação,  a regeneração e a santificação.
Aquele em quem falte alguma destas três coisas, não poderá ir para o céu quando morrer.
Onde, então está o dano em perguntar, “estamos santificados ?”.
Onde está o bom senso de rejeitar a inquirição?
Esta é uma questão muito apropriada para ser tratada nos dias atuais.
Estranhas doutrinas têm se levantado ultimamente sobre todo o assunto da santificação.
Alguns parecem confundi-la com a justificação. Outros a fragmentam em nada, sob o pretenso zelo pela livre graça.
Outros levantam um erro de uma santificação padrão diante dos seus olhos, e falham ao tentar alcançá-la em suas vidas através de repetidas mudanças de igreja a igreja, na vã esperança que eles acharão o que eles desejam.
Num dia como este, o calmo exame da pergunta em título, pode ser de grande utilidade para nossas almas.
Em primeiro lugar, nós temos que considerar a natureza da santificação. A que se refere a Bíblia quando fala de um homem “santificado”?
Santificação é o trabalho espiritual interior que o Senhor Jesus Cristo opera no homem pelo Espírito Santo, quando Ele o chama para ser um autêntico cristão, separando-o do seu natural amor ao pecado e ao mundo, e põe um novo princípio em seu coração, e o torna praticamente devoto em sua vida.
O instrumento pelo qual o Espírito efetua este trabalho é geralmente a Palavra de Deus, embora algumas vezes Ele utilize as aflições e visitações providencias.
O sujeito deste trabalho de Cristo pelo seu Espírito, é chamado na Escritura de homem santificado.
Aquele que supõe que Jesus Cristo somente viveu e morreu e ascendeu ao céu para prover justificação e perdão dos pecados do Seu povo, tem ainda muito que aprender.
Enquanto ele não sabe isto,  está desonrando o nosso bendito Senhor, e fazendo-lhe somente um Salvador pela metade.
O Senhor Jesus tem se responsabilizado por tudo que as almas do seu povo necessitam; não somente em livrá-las da culpa de seus pecados, através da Sua morte expiatória, mas pelo domínio dos seus pecados, pela habitação do Espírito Santo em seus corações; lhes santificando.
Ele é, assim, não somente sua justiça, mas também sua santificação (I Cor 1.30).
Ouça o que a Bíblia diz em Jo 17.19; Ef 5.25-27; Tt 2.13,14; I Pe 2.24  e Col 1.22.
Deixe-me apresentar o significado destes cinco textos cuidadosamente considerados.
Se palavras significam algo, elas ensinam que Cristo toma para si a responsabilidade pela nossa santificação, não menos do que pela justificação.
Ambas são igualmente providas porque neste pacto eterno está ordenado em todas as coisas e certamente, que o Mediador é Cristo.
De fato, Cristo em Heb 2.11 é chamado “o que santifica”, e Seu povo, “os que são santificados”.
O assunto diante de nós é tão profundo e de vasta importância, que requer, para que seja devidamente entendido, que seja  avaliado, clareado e marcado em todos os seus lados.
A santificação, então, é o resultado invariável desta vital união com Cristo que a verdadeira fé dá ao cristão.
“Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5).
O ramo que não produz fruto não é um ramo vivo da videira.
A união com Cristo que não produz efeito no coração e na vida é uma mera união formal, que é sem valor diante de Deus.
A fé que não tem uma influência santificadora sobre o caráter não é melhor do que a fé dos demônios.
Ela é uma “fé morta, porque é somente isto”.
Isto não é o dom de Deus, a fé dos eleitos de Deus.
Em resumo, se não há santificação de vida, não há fé real em Cristo.
A verdadeira fé opera pelo amor.
Ela constrange o cristão a viver no Senhor com um profundo senso de gratidão pela redenção.
Isto o faz sentir que ele nunca pode fazer muito por Ele, que morreu no seu lugar.
Sendo muito perdoado ele ama muito.
Aquele que é lavado pelo sangue caminha na luz.
Aquele que tem uma real e viva esperança em Cristo, purifica-se a si mesmo assim como Ele é puro (Tg 2.17.20; Tt 1.1; Gál 5.6; I Jo 1.7; 3.3).
Quanto maior a santificação, maior a consciência espiritual de que se estava morto, separado da vida de Deus, e da comunhão com Ele, porque o oposto disto, ou seja, vida e comunhão, crescem à medida que a santificação aumenta em graus.
A santificação, também, é a inseparável consequência da regeneração.
Aquele que é nascido de novo do Espírito, que foi feito nova criatura, recebe uma nova natureza e um novo princípio, e sempre vive uma nova vida.
A regeneração que um homem pode ter, e ainda viver descuidadamente no pecado ou de forma mundana, é uma regeneração que nunca é mencionada na Escritura.
Ao contrário, João expressivamente diz que aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado, mas pratica a justiça, ama os irmãos, guarda-se a si mesmo e vence o mundo (I Jo 2.29; 3.8-14; 5.4-18).
Numa palavra, onde não há santificação, não há regeneração, e onde não há vida santa não há novo nascimento.
Isto é, sem dúvida, uma dura coisa para se dizer a muitas almas; mas, dura ou não, isto é simplesmente a verdade bíblica.
De modo que ninguém dê descanso à sua alma enquanto não tiver obtido isto. Porque caso se satisfaça com uma mera confissão religiosa, corre o grande perigo de permanecer ainda sujeito à condenação eterna, por nunca ter sido redimido por Cristo, ainda que pense que o tenha sido.
Por isso, em Sua misericórdia, Deus nos dá evidências seguras na Bíblia, para que possamos saber se fomos ou não regenerados, e por conseguinte, se estamos sendo santificados, porque esta sempre se seguirá em todos os que nasceram de novo do Espírito, por terem crido em Cristo.
Assim o engano ou o auto engano poderão ser evitados, a bem do futuro eterno de nossas almas.
Isto está escrito claramente, que aquele que é nascido de Deus é um cuja “semente permanece nele, e ele não pode viver pecando porque ele é nascido de Deus.” (I Jo 3.9).
A santificação, ainda, é a única e certa evidência da habitação do Espírito Santo que é essencial à salvação.
“Se alguém não tem o Espírito de Cristo esse tal não é dEle.” (Rm 8.9).
Muitos se iludem por sentimentos, dizendo que sentem algo lhes dizendo no seu interior que são salvos.
Apesar de o Espírito Santo testificar com o nosso espírito que fomos salvos, não se pode ter por seguro que toda voz ouvida no coração seja do Espírito, porque a carne ou o Inimigo poderão nos enganar.
Então essa testificação do Espírito Santo, aumenta em graus, naqueles que se santificam.
E é especialmente pela constatação pessoal do aumento das suas graças transformadoras em nós, que podemos ter a plena certeza que somos de fato de Cristo (pelo aumento da longanimidade, do amor aos irmãos e a Deus, da benignidade, paciência etc).
O Espírito nunca permanece adormecido e ocioso na alma: Ele sempre faz Sua presença conhecida pelo fruto que Ele produz no coração, no caráter e na vida.
“O fruto do Espírito”, diz Paulo, “é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio,” (Gál 5.22,23).
Quando estas coisas são encontradas, há o Espírito: quando estas coisas não existem, os homens estão mortos diante de Deus.
O Espírito é comparado ao vento, e, como o vento, Ele não pode ser visto pelos nossos olhos de carne.
Mas assim como nós conhecemos o efeito que o vento produz nas ondas, nas árvores, na fumaça, assim nós podemos saber que o Espírito está no homem pelos efeitos que Ele produz na conduta dos homens.
É possível supor que nós temos o Espírito, se nós também “andarmos no Espírito” (Gál 5.25), produzindo o fruto que é consequente dessa santa
Assim, os que são realmente “guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus.” (Rom 8.14).




8 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 8

A santificação, ainda, é a única e clara marca da eleição de Deus.
Os nomes e números dos eleitos são uma coisa secreta, sem dúvida, que Deus tinha sabiamente guardado em Seu próprio poder, e não revelou ao homem.
Não é dado a nós neste mundo estudar as páginas do livro da vida, e ver se nós estamos inscritos nele.
Mas se há uma coisa claramente estabelecida sobre a eleição, é esta, que os homens e mulheres eleitos podem ser conhecidos e distinguidos pelas suas vidas santas.
Isto está expressamente escrito que eles são “eleitos através da santificação do Espírito (I Pe 1.2); predestinados para serem conformes à imagem do Filho de Deus (Rom 8.29); escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo para serem santos e irrepreensíveis (Ef 1.4).
Portanto, quando Paulo viu a operosidade da fé, a abnegação do amor, e a firmeza da esperança dos cristãos  tessalonicenses (I Tes 1.3), ele disse, que reconhecia através disso a eleição deles por Deus (I Tes 1.4).
Aquele que se vangloria em ser eleito de Deus, enquanto ele está deliberada e habitualmente vivendo no pecado, está somente enganando a si mesmo, e dizendo uma perversa blasfêmia, porque com isso desonra a santidade de Deus, pois não há qualquer sombra de pecado em Deus.
Mas onde não há, pelo menos, alguma aparência de santificação, nós podemos estar completamente certos de que não há eleição.
A verdade da Palavra é que o Espírito Santo santifica todos os eleitos de Deus.
A santificação, ainda, é uma coisa que sempre será vista, assim como a Grande Cabeça da Igreja, de quem isto procede, não pode ser escondida.
Cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto (Lc 6.44).
Uma pessoa verdadeiramente santificada pode ser tão vestida de humildade, que ela pode ver em si mesma, nada além de fraquezas e defeitos.
Como Moisés, quando ele veio ao monte, ele pode não ter tido consciência que sua face brilhava.
Como os justos na importante parábola das ovelhas e dos bodes, que não podiam ver que eles tinham feito algo para o seu Mestre quando o fizeram a outros (Mt 25.37).
Mas ainda que não vejam isto em si mesmos ou não, outros sempre verão neles, um tom, um caráter e uma forma de vida não vista em outros homens.
A luz pode ser muito turva, mas se houver somente uma centelha num quarto escuro, ela será vista.
A vida pode estar muito débil, mas se houver pulsação, ainda que fraca, isto será percebido.
É exatamente o mesmo que ocorre com o homem santificado: sua santificação será algo sentido e visto, embora ele mesmo não possa compreender isto.
Um santo em quem nada pode ser visto mas mundanismo ou pecado, é um tipo de monstro não reconhecido pela Bíblia.
A santificação, ainda, é uma coisa pela qual cada cristão é responsável.
Cada homem na terra é responsável diante de Deus, e todos os perdidos estarão mudos e sem desculpas no último dia.
Cada homem tem poder para “perder sua própria alma” (Mt 16.26).
Deus tem dado aos cristãos graça e um novo coração, e uma nova natureza, de modo que tem negado a eles toda a desculpa, caso não vivam para o Seu louvor.
Este é um ponto que é muito esquecido.
Um homem que professa ser um verdadeiro cristão, enquanto se assenta ainda, contente com um muito baixo grau de santificação (se de fato ele tem alguma), e friamente diz que ele “nada pode fazer quanto a isto”, é de fato uma muito lamentável visão, de um homem muito ignorante.
Contra esta ilusão deixem-nos vigiar e estar em guarda.
Se o Salvador de pecadores nos der uma graça renovadora, e nos chamar, pelo Seu Espírito, nós podemos estar certos que Ele espera que usemos a nossa graça, e que não venhamos a dormir como os demais.
É o esquecimento disto a causa de muitos cristãos entristecerem o Espírito Santo, e se tornarem inúteis.    
A santificação, ainda, é uma coisa que permite o crescimento e o progresso.
Um homem pode escalar um degrau após outro em santidade, e ser mais santificado num período de sua vida do que em outro.
Mais perdoado e mais justificado do que era quando creu no princípio ele não pode ser, embora ele possa sentir isto com mais intensidade.
Mais santificado ele certamente pode ser, porque cada graça em seu novo caráter pode ser fortalecida, ampliada e aprofundada.
Este é o evidente significado da última oração de  nosso Senhor por seus discípulos, quando ele usou as palavras, “santifica-os” (Jo 17.17), e Paulo orou pelos tessalonicenses “o mesmo Deus da paz vos santifique em tudo” (I Tes 5.23).
Em ambos os casos a expressão claramente implica a possibilidade de aumento da santificação; enquanto que uma expressão paralela como “justifica-os” nunca é encontrada uma só vez nas Escrituras, aplicada aos cristãos, porque eles não podem ser mais justificados do que eles já estão.
A justificação é recebida de uma vez para sempre na conversão e não é portanto um processo.
Já a santificação é um processo que dura toda a vida.
A ideia de uma “santificação imputada” numa experiência de poder em avivamento do Espírito não tem respaldo bíblico e contraria a verdade da Palavra e da própria experiência prática, porque não existe uma santificação completa que se receba de uma vez para sempre em determinado momento da vida.
O que pode ocorrer é um renovo espiritual que desperte a santidade que estava adormecida, mas esta necessitará ser sempre mantida e renovada e aumentada.
A ordem de Cristo em Apocalipse é que o que é santo, santifique-se mais ainda.
Isto denota a necessidade de exercício espiritual, de disciplina, de esforço, de vigilância constante, perseverança e diligência.
Há necessidade de formação progressiva de um hábito de santidade na vida, em todas as suas áreas.
Se há um ponto em que os santos mais consagrados a Deus concordam, é este que eles veem mais, e conhecem mais, e sentem mais, e fazem mais, e se arrependem mais, e creem mais, à medida que avançam na vida espiritual, e em proporção à intimidade da sua caminhada com Deus.
Em resumo, eles crescem na graça, como Pedro exorta os cristãos a fazerem (II Pe 3.18), e progridem cada vez mais, conforme as palavras de Paulo em I Tes 4.1.    
A santificação, ainda, é uma coisa que depende grandemente do diligente uso dos meios das Escrituras.
Quando eu falo “meios” eu me refiro à leitura da Bíblia, à sua prática na vida, à presença regular à adoração pública, a regular escuta da Palavra de Deus, a constância na oração, e a regular recepção da Ceia do Senhor.
Eu não posso achar qualquer exemplo de algum santo eminente que sempre tenha negligenciado tais coisas.
Elas são apontadas como canais através dos quais o Espírito Santo conduz novos suprimentos da graça à alma, e fortalece a obra que ele tem começado no homem interior (nova criatura, nova natureza).
Deixem os homens chamarem isto de deveres legalistas. Que o façam se lhes agrada, mas eu nunca recuarei em declarar minha crença de que não há ganhos espirituais sem esforço ou sofrimento. Eu seria como um agricultor que espera prosperar em seu negócio, se contentando em semear seu campo e nunca cuidar dele até a colheita.
Assim é o cristão que espera alcançar muita santidade mas que nunca foi diligente na leitura da sua Bíblia, em suas orações, e no uso do dia do Senhor, para a adoração e serviço.







9 - HÁ DEFICIÊNCIAS COM AS QUAIS TEMOS QUE VIVER

Somos muitos devedores a John Wesley, pela grande sabedoria que Deus lhe deu, e pela sinceridade do mesmo em expor as realidades que nos acompanham em nossa jornada cristã.
Por exemplo, muitos sofrem por causa das coisas que pensam, ou pela incapacidade de se fixarem somente nas coisas espirituais, celestiais e divinas, sem que possam deixar de abrigar qualquer queixa em seus corações, quando estão passando por enfermidades desconfortantes, que mexam poderosamente com o sistema nervoso central dos mesmos, produzindo aquilo que Wesley chama de “pensamentos inconstantes”; que fogem da norma bíblica, de ocupar o pensamento com aquilo que é agradável, que tenha boa fama e louvor.
Por longos sessenta anos tenho sofrido de constantes crises de rinite alérgica, e quadros gripais intensos, que se agravaram com os medicamentos à base de cortisona, que tomei por um extenso período, ignorando os males que produzem tais medicamentos.
A conseqüência disto é que o meu sistema nervoso central foi muito atingido, a ponto de não poder me conter tranqüilo quando estou acometido de tais severas crises de rinite, que aprouve, à providência, até a presente data, não me curar definitivamente das mesmas.
Minhas defesas orgânicas são muito baixas; de sorte que a mínima alteração de temperatura a que fique exposto, é o suficiente para disparar todo o referido processo.
Atendi a apelos para cura física, vezes sem conta. Orei com todas as minhas forças ao Senhor pedindo que me curasse; todavia, a enfermidade tem me seguido, lembrando-me que não é preciso muito coisa para mexer com a minha paz de espírito.
Quão grande agonia é ficar sem poder respirar adequadamente, e com uma terrível secreção a me sufocar.
Para complicar o quadro, sou hipertenso, e não posso lançar mão da maioria dos antialérgicos e descongestionantes, porque alteram a pressão arterial.
Então, encontro consolo nas palavras de Wesley, que extraí do seu sermão intitulado “pensamentos inconstantes”, onde descreve estas condições e situações em que não é possível permanecer inabalável, salvo se houver uma intervenção direta e miraculosa da parte de Deus, curando-nos ou nos fortalecendo com a Sua graça.
São palavras de Wesley:

“Em relação à última espécie de pensamentos inconstantes, o caso é muitíssimo diferente (Wesley se referiu aos pensamentos inconstantes que são resultantes da incredulidade, de ímpios, o que não é o nosso caso – nota do articulista). Enquanto a causa não for removida, não podemos com boas razões esperar que cessem os efeitos. Mas, as causas ou ocasiões de tais pensamentos permanecerão enquanto permanecermos no corpo. Enquanto isto se verificar, temos toda razão para crer que os efeitos também permanecerão.
Para focalizar o assunto de modo mais particular, suponha-se que uma alma, embora santa, habite um corpo combalido; suponha-se que o cérebro esteja completamente desorganizado, de modo que a esse estado suceda furiosa loucura. Todos os seus pensamentos não serão selvagens e desconexos, enquanto durar aquela desordem?
Suponha-se que uma febre ocasione essa loucura temporária, que chamamos “delírio”; pode haver qualquer concatenação de pensamentos enquanto o delírio não for debelado?
Sim, suponha-se que o que se chama “perturbação nervosa” chegue a tão alto grau, que determine, no mínimo, um estado de semi-loucura; não haverá, então, milhares de variações de pensamento?
Esses pensamentos disparatados, não devem continuar enquanto subsistir a desordem que os determina?
O caso não será o mesmo, em relação aos pensamentos que se formulam sob a ação de dores violentas?
Eles mais ou menos continuarão, enquanto durarem aquelas penas, e isto por inevitável imposição da natureza. Tal imposição, de igual modo, prevalecerá, nos casos em que os pensamentos sejam conturbados, fragmentados ou interrompidos por qualquer defeito de apreensão, juízo ou imaginação, oriundo da constituição natural do corpo.
E quantas interrupções podem resultar da inexplicável e involuntária associação de nossas idéias!
Todas elas são, porém, direta ou indiretamente causadas pela pressão feita sobre a mente pelo corpo corruptível. Nem podemos, entretanto, esperar que elas sejam removidas, até que “este corpo corruptível seja revestido de incorrupção”.
Somente quando dormirmos no pó, seremos libertados dos pensamentos inconstantes, ocasionados por aquilo que vemos e ouvimos em meio daqueles que nos rodeiam. Para evitar isto, seria necessário sairmos do mundo, porque, enquanto permanecermos nele, enquanto homens e mulheres estiverem à volta de nós, e tivermos olhos para ver e ouvidos para ouvir, as coisas que vemos e ouvimos diariamente, por certo que nos afetarão a mente, e mais ou menos quebrarão e interromperão a seqüência de nossos pensamentos.”
Bendito seja Deus por tais palavras verdadeiras.
Sejamos então, pacientes e sábios em nosso aconselhamento em relação aos que estão sofrendo.
Não sejamos consoladores molestos, como os amigos de Jó.
Não tentemos justificar a Deus condenando quem não é digno de condenação ou reprimenda, porque, como temos visto, não há nenhum mortal sobre a face da terra que possa produzir seu próprio consolo, mesmo quando o busca em Deus.
Por mais que se esforce em tal sentido, enquanto Deus não agir trazendo livramento das dores que fustigam seu corpo e alma, não poderá esperar ser achado com um largo sorriso em seus lábios e grande alegria em seu coração; senão gemidos, lamentos e tristezas que o próprio Deus entende, por saber que elas estão realizando o efeito desejado por Ele, de nos manter conscientes de nossas inabilidades e fraquezas, para que quando estivermos vivendo nos dias de conforto e alegria, não esqueçamos que isto é fruto da Sua graça.







10 - Aprendendo com Tiago Sobre a Natureza Verdadeira da Santificação

O apóstolo Tiago nos diz o seguinte no terceiro capítulo de sua epístola:

“1 Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.
2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.
3 Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.
4 Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa.
5 Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia.
6 A língua também é um fogo; como mundo de iniqüidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno.
7 Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana;
8 Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.
9 Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
10 De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.
11 Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?
12 Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.
13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.
14 Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
16 Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.
17 Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
18 Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.”

Tiago não estava proferindo verdades para se tornarem motivo de discussões e debates teológicos, mas para serem colocadas em prática, em simplicidade de mente e de espírito, e com mansidão de coração.
Ele sabia como a natureza terrena aprecia se gabar de grandes feitos.
Como ama desenvolver teorias com o fim de se mostrar esclarecida e sábia.
Então, ele começa este capítulo pondo logo um antídoto contra este mal e uma séria advertência quanto ao perigo que há em especular com a verdade revelada por Deus, para se obter a reputação de mestre.
Ele diz que Deus julgará com maior rigor aqueles que se entregarem a especular sobre a verdade e que no final nada alcançaram em termos de uma vida piedosa, senão uma língua eloqüente e falta de verdadeiro entendimento espiritual e de verdadeira santificação.
Afinal, a verdade não foi dada para ser especulada mas para ser obedecida e vivida.
Coisas espirituais se discernem espiritualmente e com a mente de Cristo, e não propriamente com a nossa mente natural, corrompida pelo pecado.
A grande prova que o simples conhecimento intelectual das coisas de Deus sem um viver piedoso e dirigido pelo Espírito, está exposto a muitos juízos porque não há nenhum valor em falar da verdadeira doutrina, de se bendizer a Deus, de orar a Ele, e ao mesmo tempo amaldiçoarmos os homens feitos à semelhança de Deus.
Uma obra misturada com bênção e maldição; com acertos e com erros, não pode contar com a aprovação do Senhor.
Uma tal vida não pode ser útil no Seu serviço e não dar um bom testemunho da nossa condição de sermos filhos de Deus.
A nossa fonte deve jorrar permanente e somente águas vivas através de nós, e esta água é cristalina. limpa, doce, potável, apropriada para gerar e manter a vida eterna.
Logo, o que deve fluir de nós são águas limpas e somente águas limpas.
A nossa árvore deve dar apenas bons frutos e somente bons frutos.
É preciso crescer e amadurecer espiritualmente pela obediência à Palavra que foi enxertada em nós na regeneração, dando-se a devida e séria atenção à necessidade de aplicação de todas as coisas em que temos sido instruídos pelo Senhor, pelos apóstolos e pelos profetas em Sua Palavra, se desejamos de fato, ser conhecidos como homens e mulheres de Deus.
Muitos têm se enganado em nossos dias, quando andam completamente distraídos, quanto a estas coisas necessárias, e sem darem a devida atenção às advertências dos apóstolos do Senhor, que haviam aprendido diretamente dEle, o modo pelo qual importa vivermos para Deus.  
Muitos arriscam uma piada suja aqui, e um testemunho da Palavra ali. Que grande desonra há para Cristo neste modo de proceder. É basicamente sobre isto que Tiago está nos advertindo.
Esta não é de modo nenhum a forma correta de se viver para Deus.
A verdadeira sabedoria e conhecimento da vontade de Deus são demonstrados quando se vive em submissão (mansidão) à Sua vontade.
Sem consagração ao Senhor não pode haver um trabalho de disciplina do Espírito para a crucificação das paixões e desejos da nossa carne, de maneira que as obras da carne sejam destruídas, e o lugar delas seja ocupado pelo fruto correspondente do Espírito, como por exemplo, o orgulho substituído pela humildade; o rancor pelo amor; a falsidade pela verdade; a hipocrisia pela sinceridade; a falta de zelo pelo fervor; a dissensão e a ira pela paz e tudo o mais que importa que sejamos despojados do velho homem, para sermos revestidos pelo que é da nova criatura em Cristo Jesus.
Crentes não podem abrigar nem se deixarem governar por sentimentos facciosos em seus corações, especialmente contra a própria obra do Senhor e daqueles que têm andado no Espírito.
Não devem viver em inveja amarga por não estarem contentes com aquilo que eles são, e nem com as coisas que têm recebido do Senhor.
As coisas na Igreja não devem ser resolvidas politicamente mas debaixo do temor e da direção do Espírito.
Quando a unidade do Espírito é quebrada, especialmente por causa de sentimentos invejosos, em vez de uma obra de Deus entre nós, nós teremos a perversidade reinando nos corações e perturbação de mentes e de espíritos, porque estas coisas não vêm do alto, da parte do Senhor, mas são terrenas, diabólicas, e fazem parte das paixões e desejos da alma, por não estarem os crentes com suas vontades, egos, sentimentos, emoções e tudo o que pertence á alma, crucificado pela cruz que eles deveriam carregar diariamente com gratidão e paz em seus corações.              
Quando Deus reina de fato pelo Seu Espírito na congregação, o que se vê entre os crentes é uma sabedoria pura, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia, de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia, porque o Senhor produz o fruto de justiça, somente quando este é semeado na paz, por aqueles que se exercitam na paz, se esforçando para preservarem a unidade do Espírito no vínculo da paz.
Tiago nos adverte em última instância, neste terceiro capítulo, que devemos estar muito vigilantes quanto ao uso que fazemos da nossa língua, estando conscientes de que ela poderá ser usada de modo muito contrário à vontade de Deus, tanto por falta de sabedoria, quanto por um uso impróprio pecaminoso, uma vez que temos uma natureza terrena que foi corrompida pelo pecado e que deve ser crucificada, para que recebamos uma nova natureza do Espírito.
Ele não nos alerta para apenas sabermos que temos uma tal natureza, mas para nos lembrar do dever que temos agora como filhos de Deus de fazer um uso santo e edificante em todo o nosso falar.
É especialmente pelo governo da nossa língua que nós provaremos que temos sido de fato transformados em pessoas retas e aperfeiçoadas pelo Espírito Santo de Deus.
Se nossa conversação não é santa e edificante, a nossa religião é vã e temos nos enganado a nós mesmos.
Porque aquele que estiver sendo de fato santificado pelo Espírito, e por estar enriquecido com a Palavra de Cristo, haverá de demonstrar isto na sua maneira de conversar e falar.
Muitos pregadores do evangelho têm falhado neste ponto, porque ao mesmo tempo em que pregam verdades bíblicas, eles se permitem revelar o quanto ainda há do governo do velho homem em seus corações, e eles expressam isto nas coisas que eles falam.
Assim, a mensagem fica arruinada por causa desta mistura de águas doces com águas amargosas que procedem das suas bocas.
A língua deve ser uma boa serva do nosso espírito e não como um cavalo desgovernado.
O fogo quando é servo é de grande utilidade, mas quando se torna senhor pode fazer uma grande devastação. Enquanto sob domínio será útil, mas sem domínio é destruidor.
De igual maneira quando um cavalo é dócil ele é muito útil, mas caso se desgoverne e entre em disparada saindo de debaixo do controle daquele que o dirigia, ele poderá produzir sérios danos e acidentes.
Assim importa que os crentes tragam suas línguas debaixo do domínio do Espírito Santo, e que eles exerçam efetivamente um governo sobre elas, de maneira que profiram palavras que sejam boas somente para a edificação dos ouvintes.
Nenhum homem pode domesticar a língua sem a ajuda e graça sobrenatural do Espírito.
Não é uma coisa fácil conseguir tal governo sobre a língua porque importa antes deixar que Deus transforme os nossos corações de onde de fato procedem todos os males, inclusive o da maledicência.                    








11 - SANTIFICAÇÃO

Há um modo de ensinar a verdade, que destrói vidas espirituais em vez de edificá-las.
Não é da vontade de Deus que se faça um uso errado da verdade, porque sempre há que se levar em conta o modo e a capacidade que as pessoas podem recepcioná-la.
Os que pregam o evangelho, especialmente, devem dar grande atenção e terem muito cuidado com isto, porque a palavra do evangelho é um poder, uma dinamite, que mal utilizado pode destruir em vez de edificar.
Veja o caso de Jesus dizendo aos apóstolos que ainda tinha muito que lhes ensinar, mas que naquela hora eles não poderiam suportar o ensino relativo a toda a verdade, e por isso eles receberiam tais revelações no momento apropriado pelo Espírito Santo.
Alimento sólido não deve ser dado a quem ainda está se alimentando do leite da verdade, porque pode-se ficar intoxicado ao se fazer uso errado da dosagem, ou por se ter um entendimento diverso do seu verdadeiro significado por falta da maturidade espiritual necessária para se entender tudo o que  está relacionado especialmente à doutrina da graça.
Leva  tempo  para alguém entender (se chegar a entender), tudo o que está relacionado à eleição, à justificação, à regeneração ou à santificação.
Por exemplo, se somente dissermos a uma pessoa que  uma vez salvo sempre salvo; muitos poderão em razão de sua fraqueza e visão ainda carnal entenderem esta palavra como um estímulo para cruzarem os braços e agirem segundo o mundo.
Poderão pensar de modo inconveniente que, independentemente do  que eles possam viver ou fazer, Deus os salvará e eles estarão na glória como qualquer outro cristão.
Daí não terem feito, aqueles que foram usados para produzir a Bíblia, uma declaração direta como esta de; “uma vez salvo sempre salvo”, porque em Sua sabedoria infinita, Deus conhece a natureza humana, e a limitação e corrupção da mente do homem por causa do pecado original.  
Ao contrário, o que vemos na Palavra são sérias advertências quanto à necessidade de perseverança na fé para a certeza da salvação, e necessidade também da santificação sem a qual ninguém verá o Senhor.
É fácil entendermos o motivo disto. O cristão é salvo para ser santificado.
A salvação está associada à santificação.
Se ocorresse o caso de alguém pensar que é um convertido sem ter nascido de novo, e sem buscar a santificação do Espírito, é óbvio que esta pessoa ainda estaria na carne e vivendo segundo o mundo, apesar de pensar que é um cristão.
A Bíblia não ensina a perseverança como a evidência visível da salvação apenas para um período, mas para toda a vida cristã, porque Jesus afirmou que os salvos são aqueles que perseverarem até o fim.
O que o Senhor tinha principalmente em vista com este ensino, senão nos alertar para a necessidade de uma perseverança em santidade e fé durante todos os dias da nossa vida?
Assim procedendo, ao sairmos deste mundo pela morte, poderemos ter, até neste momento, a plena convicção de que somos de fato salvos e que iremos para o céu.
Logo, é pela evidência da perseverança e da santificação que sabemos que somos do grupo daqueles que foram salvos pelo Senhor, e não propriamente pela nossa convicção mental em determinado ensino teológico.
Uma igreja que esteja compromissada com o ensino da verdade para a salvação e edificação de vidas jamais deixará de incentivar os seus membros a uma busca cada vez maior da santificação.
É desta forma que poderão ter plena certeza da esperança da sua salvação, e não pelo fato de conhecerem as verdades relativas à mesma, pois é possível que alguém conheça estas verdades mentalmente, sem que nunca tenha tido uma experiência real de salvação.
Mais do que isto, devem se santificar e perseverar não apenas por causa da sua segurança eterna pessoal, mas para que o Espírito Santo possa promover uma obra verdadeira, e fazer avançar o reino de Cristo, pois sem santificação isto é simplesmente impossível.
Não são apenas os interesses pessoais dos cristãos que estão envolvidos neste assunto da prática da verdade, nem o simples conhecimento da verdade, pois como vimos, mais do que a própria vontade, é a vontade de Deus que está envolvida nisto, e é por causa dela que foram salvos, de maneira que pudessem ser santificados pelo Espírito.








12 - Santificação

I. Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si um novo coração e um novo espírito, são além disso santificados real e pessoalmente, pela virtude da morte e ressurreição de Cristo, pela sua palavra e pelo seu Espírito, que neles habita; o domínio do corpo do pecado é neles todo destruído, as suas várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as graças salvadores, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá a Deus.
Ref. I Cor. 1:30; At. 20:32; Fil. 3:10; Rom. 6:5-6; João 17:17, 19; Ef. 5-26; II Tes 2:13; Rom. 6:6, 14; Gal. 5:24; Col., 1:10-11; Ef. 3:16-19; II Cor. 7:1; Col. 1:28, e 4:12; Heb. 12:14.
II. Esta santificação é no homem todo, porém imperfeita nesta vida; ainda persistem em todas as partes dele restos da corrupção, e daí nasce uma guerra contínua e irreconciliável - a carne lutando contra o espírito e o espírito contra a carne.
Ref. I Tes 5:23; I João 1:10; Fil. 3:12; Gal. 5:17; I Ped.2:11.
III. Nesta guerra, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que ficam, contudo, pelo contínuo socorro da eficácia do santificador Espírito de Cristo, a parte regenerada do homem novo vence, e assim os santos crescem em graça, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.
Ref. Rom. 7:23, e 6:14; I João 5:4; Ef. 4:15-16; II Ped. 3:18; II Cor. 3:18, e 7: 1.
Cristo é também a nossa santificação, além da nossa justiça, sabedoria e redenção (I Cor 1.30), entretanto, na santificação, há que se considerar também as obras do crente, o seu esforço e diligência para que seja santificado, a purificação e fortalecimento da sua fé etc, entretanto, como é Deus mesmo quem nos santifica pela Palavra, a incluímos na parte referente ao que Jesus fez e tem feito por nós, e não na referente ao que devemos fazer para Jesus, apesar de ser cabível a inclusão do assunto também nesta parte.
Como vimos em nosso estudo sobre REGENERAÇÃO, o pecador passa a  ser santo quando nasce de novo pelo Espírito. Na sua conversão ele é santificado ao ser transformado em uma nova criatura. Ele recebe um novo coração, uma nova natureza, a natureza divina, e assim tem acesso à santidade que o faz aceitável a Deus. Esta é a razão pela qual o apóstolo Paulo se refere aos crentes em todas as suas epístolas, chamando-os de santos,  apesar de muitos deles serem ainda carnais, como, por exemplo, eram muitos dos  crentes coríntios  (I Cor 1.2; 6.11; 14.33; II Cor 1.1; 13.12; Ef 1.1; 2.19; Fp 1.1; Col 1.2; Jd 3) que eram santos, separados para Deus, apesar de não serem ainda crentes espirituais.
 Entretanto, aquele que foi santificado pelo Espírito, é chamado a prosseguir em santidade, através do processo de santificação, que não deve cessar ao longo de toda a sua vida (Jo 17.17,19; Ef 4.12;I Tes  5.23; Apo 22.11). Este processo consiste basicamente no despojamento das obras da  carne (natureza terrena) e do revestimento das virtudes de Cristo.
O texto de Hebreus 12.14 diz, “segui a paz com todos e a santificação” – ambas as coisas, tanto a paz quanto a santificação devem ser seguidas de forma prática. Se a santificação tivesse sido obtida em sua forma plena e final na regeneração (novo nascimento), não haveria necessidade de se mandar segui-la, ordenança que não se aplica à justificação, por ter sido obtida de uma vez para sempre na conversão.
Santificação é conformidade à vontade de Deus, e obediência aos mandamentos do Senhor. Isto é o trabalho do Espírito na alma, pelo qual o homem é feito semelhante a Deus, e torna-se participante da natureza divina, sendo livrado da corrupção que há no mundo através da cobiça.
 Não é dito em Heb 12.14 “perfeição de santificação”, mas, “santificação”. A santificação é uma coisa que cresce. Ela pode ser na alma como o grão de mostarda, e ainda não estar desenvolvida; ela pode ser uma vontade e um desejo no coração, um suspiro, uma aspiração. Com as águas do Espírito de Deus, ela crescerá como o grão de mostarda até se tornar uma árvore. A santificação, no coração regenerado, é como criança, não está madura – está perfeita em todas as suas partes, mas não perfeita no seu desenvolvimento. Uma criança é um ser perfeito, mas não quanto ao desenvolvimento que ainda terá até ser uma pessoa madura. Por conseguinte, quando nós achamos muitas imperfeições e muitas falhas em nós mesmos, nós não devemos concluir que isto significa que não temos interesse na graça de Deus. A santificação requer que o coração esteja em Deus, e que pulse de amor por Ele.
“Sem santificação ninguém verá o Senhor”. Isto quer dizer, nenhum homem pode ter comunhão com Deus nesta vida, e na vida por vir, sem santidade. “Podem dois caminharem juntos se não houver entre eles acordo?”.
Santificação é uma palavra que significa mais do que purificação, porque ela inclui mais do que a ideia de sermos limpos, ela inclui também a necessidade de estarmos adornados com todas as virtudes de Cristo.
“Por causa deles eu me santifico a mim mesmo”. Estas são palavras que foram proferidas por Jesus em Jo 17. No caso do Senhor não pode significar purificação do pecado, porque ele não tinha pecado. A santificação do Senhor era sua consagração ao completo propósito divino, sua absorção na vontade do Pai. Assim, nossa própria santificação também significa a nossa consagração à vontade de Deus, além da nossa purificação, já que somos pecadores.
“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Ninguém pode santificar uma alma mas somente o Todo Poderoso Deus, o grande Pai dos espíritos. Somente aquele que nos fez pode fazer-nos santos.
A regeneração é onde a santificação começa, é totalmente o trabalho do Espírito de Deus. Cada pensamento sobre santidade, e cada desejo posterior por pureza, vêm somente do Senhor, porque nós, por natureza, somos inclinados ao pecado. Assim que a última vitória sobre o pecado em nós, e sermos feitos perfeitamente como o nosso Senhor, deve ser inteiramente o trabalho do Senhor Deus, que faz novas todas as coisas, desde que não temos nenhum poder para realizar tão grande trabalho em nós mesmos.
Somente a verdade não santifica o homem. Ele pode permanecer num credo ortodoxo, mas se isto não tocar o nosso coração e influenciar o nosso caráter, qual é o valor da nossa ortodoxia? Não é a doutrina que, de si mesma, nos santifica, mas o Pai santifica usando a doutrina como meio.  A verdade é o elemento em que nós devemos viver para sermos santos. A falsidade (mentira) conduz  ao pecado; a verdade conduz à santidade; mas há o espírito mentiroso, e há também o Espírito da verdade, e  por estes o erro e a verdade são usados como meios para se atingir o fim, respectivamente. A verdade deve ser aplicada com poder espiritual à mente, à consciência, ao coração, senão o homem pode receber a verdade, e ainda permanecer na injustiça. Eu creio que isto é a coroação do trabalho de Deus no homem, que seu povo seja perfeitamente livre do mal. Ele os escolheu para que eles sejam seu  povo peculiar, zeloso de boas obras; Ele os redimiu para que fossem livres de toda a iniquidade, e purificados; ele os chamou efetivamente para uma elevada e santa vocação, a saber para a verdadeira santidade. Todo o trabalho do Espírito de Deus na nova natureza tem em mira a purificação, a consagração, o aperfeiçoamento de todos aqueles que Deus em amor tomou para Si.
Tudo o que nos sucede na caminhada para o céu tem o propósito de preparar-nos para o fim de nossa jornada. Nosso caminho através do deserto tem por objetivo provar-nos, para que nossos males possam ser descobertos, e nos arrependermos, e assim nós possamos nos apresentar no fim sem máculas diante do trono. Nós estamos sendo educados pelos céus, para o encontro na assembleia dos perfeitos. Ainda não se manifestou o que nós seremos, nós seremos como Ele, porque nós o veremos assim como Ele é. Nós estamos sendo levantados: através de um duro combate, longa vigilância,  e  paciente  espera, nós estamos sendo levantados em santidade. Estas tribulações que trilham o nosso trigo e que lançam a palha para longe, estas aflições que consomem nossas escórias, e que tornam nosso ouro mais puro. Todas as coisas operam juntamente para o bem daqueles que amam a Deus; e o resultado esperado de tudo isso será a apresentação dos escolhidos a Deus, não tendo mancha ou ruga ou qualquer coisa semelhante. Assim eu tenho lembrado a vocês que a oração por santificação é oferecida ao divino Pai, e isto nos conduz a cuidar-nos inteiramente para o nosso Deus. Não imaginem que esta santificação se seguirá necessariamente porque vocês ouvem um pregador sincero, ou por se unirem em sagrada adoração. Meus irmãos, Deus mesmo deve trabalhar em vocês, o Espírito Santo deve habitar em vocês, e isto só pode advir pela fé no Senhor Jesus. Creia nele para a sua santificação, assim como têm crido para o seu perdão e justificação. Somente Ele pode prover santificação a vocês, porque isto é um dom de Deus através de Jesus Cristo nosso Senhor. Como a santificação é forjada nos crentes? “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.”. Observem como Deus tem juntado a verdade e a santificação. Cristianismo é vida que cresce na verdade de Jesus Cristo, que é o caminho e a verdade tanto quanto é a vida, e ele não é propriamente recebido pelo salvo se ele não for aceito neste caráter triplo.
Nenhuma vida santa será produzida em nós por crer na falsidade. A santificação em seu caráter visível vem da edificação em fé no interior do coração, ou de outra forma é uma mera casca. Boas obras são o fruto da verdadeira fé, e a verdadeira fé é uma sincera crença na verdade. Cada verdade conduz à santificação, cada erro de doutrina, direta ou indiretamente conduz ao pecado. A deformação de entendimento trará inevitavelmente uma deformação da vida mais cedo ou mais tarde. A linha reta da verdade atuando no coração produzirá um curso direto de graciosa caminhada na vida.
Mesmo que o próprio Deus somente nos santifique pela verdade. Somente o ensino que é trazido da Palavra de Deus santificará vocês, e que nenhuma verdade fora da Palavra de Deus, não poderá  santificar vocês. A matemática é uma verdade, mas ninguém é santificado por ela. O erro pode soprar sobre você, ele pode mesmo levar você a pensar que você está santificado, mas há uma grande e séria diferença entre ostentar santificação e estar santificado de fato, uma grande diferença entre sentir-se superior a outros e estar sendo realmente aceito por Deus. Creia-me, Deus trabalha a santificação em nós pela verdade da Palavra, e por nada mais.  Mas o que é a verdade? Este é o ponto. A verdade é o que eu posso imaginar do que me seja revelado por alguma comunicação particular? Eu sou tão fantasista que eu me alegro em alguma especial revelação, e eu dirijo minha vida por vozes, sonhos e visões? Irmãos, não caiam nesta ilusão que é tão comum. A Palavra de Deus para nós é a Sagrada Escritura. Toda a verdade que santifica os homens está na Palavra de Deus. Não ouçam aqueles que clamam, “Ei-lo aqui!” e “Ei-lo lá!”. Faremos bem em atentar para a verdade revelada em Col 2.18: “Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo alguma na sua mente carnal.”. Deus pode usar sonhos e visões para alertar-nos e consolar-nos ou para qualquer outro propósito proveitoso, mas jamais o fará para salvar-nos ou para santificar-nos, porque a Palavra da verdade já está revelada de uma vez para sempre na Bíblia. Ela é o fundamento, a rocha, sobre a qual a igreja de Cristo é edificada.
A verdade nunca é a sua opinião, nem minha; sua mensagem, nem minha. Jesus disse, “a tua Palavra é a verdade”. O que santifica os homens não é apenas a verdade, mas a verdade que está revelada na Palavra de Deus. É uma bênção que toda a verdade que é necessária para santificar-nos está revelada na Palavra de Deus, tanto que nós não temos que gastar nossas energias tentando descobrir a verdade, mas podemos, para nosso maior proveito, usar a verdade revelada para tal propósito divino. Não haverá mais revelações da verdade, não são mais necessárias. O cânon está fixado e completo, e por isso se diz que nada deve ser retirado ou acrescentado à Palavra, sob a pena de lhe serem acrescentadas as pragas descritas em Apo 22.18,19. O Senhor nunca reescreveu ou reeditou Sua Palavra e certamente nunca o fará, porque ela, verdade que é, permanece para sempre. Nosso ensino pode estar cheio de erros, mas o Espírito não erra. A fé foi entregue de uma vez por todas aos santos. A Escritura sozinha é a absoluta verdade, a essencial verdade, a decisiva verdade, a autoritativa verdade e a eterna verdade. A verdade que nos é dada na Palavra de Deus é o que santifica todos os crentes.
Aprendam, então, meus irmãos, como sinceramente vocês devem pesquisar as Escrituras. Vejam como devem persistentemente ler este Livro de Deus. Se ele é a verdade, e a verdade com que Deus nos santifica, estudemô-lo, nos apossemos e nos mantenhamos nele. Quando a verdade for totalmente usada, ela destruirá o pecado diariamente, nutrirá a graça, inspirará nobres desejos, e produzirá ações santas.
  Um dos pontos de falha para ser mais profundamente lamentado seria a falha dos membros da igreja na santificação. Se vocês próprios agem como outros costumam fazer, que testemunho pode ser dado? Se suas famílias não são dirigidas graciosamente, se seus negócios não são conduzidos sob princípios da mais estrita integridade; se sua fala é questionável como a pureza da sua honestidade; se suas vidas estão abertas para sérias censuras – como pode Deus aceitá-los ou enviar bênçãos à igreja que vocês pertencem? Isto tudo é falsidade e engano falar que vocês são do povo de Deus quando mesmo os homens do mundo são desonrados por vocês. A fé de vocês no Senhor Jesus deve operar sobre suas vidas para torná-los fiéis e verdadeiros, isto deve operar constantemente em seus pensamentos, palavras e atos, ou então vocês nada conhecem sobre o poder salvador. Não me venham com suas experiências, e suas convicções, e suas profissões de fé, a menos que vocês santifiquem o nome de Deus em suas vidas. Nós temos obedecido a Palavra de Deus? Nós temos determinado, como igreja, guardar os velhos caminhos, temos abraçado a antiga fé? Que nós possamos nos entregar a isto para a nossa santificação. A Bíblia é o nosso tesouro. Nós devemos prezar cada folha dela. E entendermos de uma vez por todas que nada e ninguém mais além da própria Palavra são necessários para a nossa santificação (Jo 17.17).
Contra isto, está muito em voga atualmente, o falso pensamento que tem sido disseminado nas igrejas de que a santificação não pode ser iniciada a menos que as pessoas possam estar sob os cuidados de um conselheiro que seja capaz de trazer à tona traumas escondidos, coisas do passado, e que somente depois que a pessoa for libertada dos problemas do passado é que ela poderá tratar com o presente e com o futuro. Mas, não há nada nas Escrituras que sequer recomende tal coisa. A Bíblia recomenda exatamente o oposto, isto é, que a pessoa olhe para o futuro, para a sua santificação (Fil 3.13,14; Lam 3.21). O futuro espiritual do crente não está dependente do passado. Ele está dependente de sua ação presente com vistas ao futuro, não em sua ação presente para voltar ao passado. Quem está em Cristo é nova criatura, as cousas antigas já passaram (II Cor 5.17).
Geralmente, o retorno ao passado tem em vista descobrir um culpado por aquilo que somos no presente. Mas a Bíblia ensina claramente, que somos os únicos responsáveis pelo que somos e aí estão incluídos os nossos pecados. Desta forma, nada há para lucrar com o voltar ao passado e tentar descobrir algo no passado como um tipo de chave que descortinará o futuro. A chave para abrir o futuro está em agir no presente, colocando-se no Senhor Jesus, e não fazer provisão para a carne. Quando alguém entende que a santificação depende da possibilidade de se descobrir traumas passados para se curar deles, está dizendo basicamente que o Espírito Santo pode lhe santificar se puder achar um bom conselheiro para dar a partida em sua vida. Essa pessoa está dizendo que o Espírito Santo não pode tratar de qualquer coisa em relação ao presente e ao futuro até que alguém mais trate do seu passado.
Quando Jesus se referiu à grande realidade de que todos estão sujeitos às aflições do mundo, incluiu aí, tanto o passado, quanto o presente e o futuro. E apontou a sua vitória sobre o mundo como o fator onde podemos e devemos fixar o nosso bom ânimo em sermos também vitoriosos, caminhando pela fé nEle, que o trabalho de santificação do Espírito prosseguirá em nossas vidas, até chegarmos a ser perfeitos, na glória, assim como Jesus é perfeito. Ele é o nosso modelo. E fomos predestinados por Deus para sermos semelhantes a Ele (Rom 8.28,29).    
Quando o Senhor diz “sede santos por que eu sou santo” o que está em foco é uma convocação direta a ser imitado. Jesus é o nosso exemplo de vida que devemos seguir, se desejamos de fato ser santificados. Por isso há várias convocações diretas na Palavra neste sentido em Mt 10.25; Fil 2.5; I Cor 11.1; Ef 5.1; I Ts 1.6;  I Pe 2.21;  I Jo 2.6; 4.17, entre outros. A imitação de Cristo está embutida na ordenança bíblica que nos manda revestir-nos de Cristo ou do novo homem, o que é a mesma coisa (Rom 13.14; Ef 4.24; Col 3.10). Cabe ressaltar que na regeneração já ocorreu um revestimento do novo homem, e um despojamento do velho homem, mas tanto uma coisa quanto outra (revestimento e despojamento) devem prosseguir na santificação. Quando encontramos na Palavra citações ao fato de já termos sido lavados, santificados, revestidos do novo homem e despojados do velho, a referência se aplica no caso à REGENERAÇÃO (novo nascimento), e quando há uma exortação no sentido de se prosseguir com o trabalho de purificação da alma, de despojamento da carne, mortificação da natureza terrena e revestimento de Cristo ou do novo homem, a referência então se aplica ao processo da SANTIFICAÇÃO que deve prosseguir por toda a vida, até que sejamos recebidos na glória.
A santificação consiste basicamente na ordenança de Rom 13.14: revestir-se de Cristo e nada dispor para a carne quanto às suas concupiscências. E para revestir-se externamente de Cristo é necessário primeiro conhecê-lo interiormente. Jesus deve ser recebido no coração por fé, antes de poder manifestar-se na vida pela santidade. Para que a luz apareça e ilumine é preciso primeiro acender a lâmpada. É assim que a luz do crente brilha no mundo, pelo testemunho de sua própria vida, pelas virtudes visíveis de Cristo que se manifestam na mesma. Esta luz pode brilhar mais em uns do que em outros, conforme o nível de sua consagração, e consequentemente, da sua santificação.
Assim, o exterior e visível deve ser precedido e  inspirado pelo interior e invisível, para que o mundo não possa negar que somos filhos da luz e do dia (I Tes 5.5,8). Não basta que Cristo seja o alimento que sustém o homem interior, é também necessário que seja o vestido que cobre o homem exterior, e que deve ser visto pelo mundo, através do seu testemunho. O crente deve estar vestido de Cristo em todo o tempo, e deve estar de tal maneira vestido do Senhor que se confunda com Ele. Na conversão, quando é regenerado pelo Espírito esta exortação é cumprida num sentido parcial, pois o crente se reveste de Cristo como um manto de justiça. A justiça de Cristo que é imputada ao crente na justificação, e passa a ser dele, porque Cristo agora lhe pertence e ele a Cristo. Embora injusto por natureza, o crente passa a ser justo conforme já estudamos detalhadamente no assunto da  JUSTIFICAÇÃO. Mas a ordenança de Rom 13.14 não se refere à justificação, mas à santificação. Entretanto o ato de revestir-se de Cristo só pode ser cumprido por aqueles que já foram justificados e regenerados, a saber, os  crentes. Devemos nos revestir de Cristo, continuamente, para que a santidade de Cristo seja reproduzida em nossa conduta diária. Se é a Cristo que devemos ir para obter o perdão e a justificação, não devemos ir a outro para obter a santificação (I Cor 1.30). Havendo começado com Jesus, devemos seguir com Ele até o fim.
O ato de revestir-se de Cristo consiste em imitá-lo. Ele é o modelo, o único modelo que deve ser seguido pelos crentes. Devemos andar no mundo como Cristo andava.
Dizer “revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” é o mesmo que dizer, “revesti-vos da perfeição”. Assim, o crente deve se revestir das virtudes que fazem parte do caráter de Jesus. Não de parte destas virtudes, mas de todas elas. Não é somente sua humildade ou doçura, ou amor, ou zelo o que devemos imitar, mas a sua completa santidade. A nossa comunhão com Cristo deve ser tão íntima, que a sua personalidade possa ser reproduzida em nós. A nossa vontade deve ser conformada à dEle. É a vontade de Deus que sejamos cada vez mais semelhantes a Jesus (Rom 8.29).
Lendo o texto de Col 3.12-14 vemos que Paulo está descrevendo o roupeiro do crente. As vestes que ali são descritas devem ser usadas permanentemente. Nenhuma delas deve ser deixada de lado. Todas devem ser vestidas. Não apenas no domingo, mas durante todos os dias da semana. As primeiras vestes citadas são a misericórdia e a bondade. Somos tão misericordiosos, benignos, ternos e compassivos com os nossos semelhantes como é o próprio Cristo? Esforçamo-nos para alcançá-lo? Se não, a nossa alegada santidade está nua em parte. Longe de nós a presunção da igreja de Laodiceia que lhe custou a reprimenda de Apo 3.17.
Em seguida são citadas como parte do vestuário de Cristo, a mansidão e a humildade. Jesus não oprime nem tiraniza a ninguém. Ele foi sempre humilde, manso e cheio de graça, sendo o Mestre de todos, e o Senhor dos senhores. Vocês são arrogantes e duros por natureza? Revistam-se de Cristo. Lutem contra o seu mau humor, e procurem ser semelhantes a seu Mestre que era manso e humilde de coração. Há também os vestidos da tolerância e da paciência no trato com os semelhantes.
Há crentes que se não fazem tudo a seu gosto, logo se encolerizam. São egoístas, obstinados, iracundos e suscetíveis. Estas vestes da velha natureza devem ser trocadas pelas vestes de Jesus da tolerância e da paciência. Devemos ser pacientes ainda quando tenhamos sido vítimas de grandes injustiças: mais vale sofrer do que devolver mal por mal (Rom 12.17-21; I Pe 2.19-23; 4.12-14).
O apóstolo segue dizendo: “Perdoai-vos mutuamente...”. Não é evidente que tal ensino venha do céu? Tratemos pois de colocá-lo por obra. Vesti-vos do Espírito de Cristo, e sua língua não soltará palavras tão amargas. Vesti-vos do seu amor, e seu coração não abrigará sentimentos tão ásperos. Que suas almas se encham de sua santidade, e de boa vontade perdoarão, não sete, mas setenta vezes sete.
Agora, o cinturão que mantém em seu lugar cada peça deste vestuário espiritual: “Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.”. Este cinturão é divino: o amor. Tudo o que temos feito tem muito pouco valor se nossas animosidades não têm sido sepultadas com o velho homem. Ainda que tenhamos muitos defeitos que não nos falte o amor pelo Senhor e nossos semelhantes.
E finalmente: “a paz de Deus governe os seus corações e sejam agradecidos.”. A gratidão deve ser achada entre os discípulos de Jesus. Bem-aventurada a alma que está em plena possessão de si mesma, sempre tranquila e descansada. Se desejamos ser semelhantes a Jesus devemos estar vestidos da Sua paz.
Uma pessoa que está se santificando, além das virtudes destacadas em Col 3.12-14 também possui: submissão, domínio próprio, auto negação, amor fraternal por seus irmãos em Cristo, pureza de coração, temor de Deus, fidelidade em todos os deveres e relacionamentos e todas as demais virtudes que caracterizam o crente fiel, segundo o que está revelado na Bíblia.
Apesar de estarmos revestidos de Jesus temos necessidade ainda de lutar contra a carne como se diz em Rom 13.14. Não devemos ser indulgentes com a carne, nem desculpá-la. Nunca digamos: “Cristo me tem perdoado porque tenho mau gênio, e não posso livrar-me dele.”. Nunca justifiquemos aquilo que em nós não se encontra na natureza de Cristo.
Alguém pode dizer: “Sou muito alegre por natureza e assim, um pouco de prazer mundano me é necessário.”. Jogo perigoso ! Está fazendo o que a Palavra proíbe. Está adulando a carne para satisfazer os seus desejos. Cuidado ! Não se deve dar trégua ao pecado, nem por um dia, uma hora, um minuto, um segundo. Nossa obediência deve ser sem interrupção. Não devemos consentir que a carne levante a cabeça, pois não se pode saber até onde é capaz de arrastar-nos. A carne é voraz e nunca se sacia. Não devemos dar-lhe nem ainda as migalhas que caem da mesa. Revesti-vos do Senhor Jesus e já não haverá lugar para as concupiscências da carne. O pecado está onde Cristo não está. Qual é o vestido de casamento que nos fará dignos de ir ao encontro de Cristo e participar do Seu triunfo? É o próprio Cristo. Se aqui neste mundo Ele é meu adorno, e minha formosura, posso estar seguro de que Ele será minha glória durante a eternidade.  
A carne é tão ardilosa que os próprios mandamentos de Deus que nos são dados para vida (Rom 7.10) ela os utiliza para reviver o pecado (a carne gosta do que é proibido – Rom 7.9), e assim, o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo próprio mandamento nos engana e mata (Rom 7.11). Diante de um inimigo tão ardiloso, que ainda opera na natureza terrena do crente, toda vigilância e cuidado são poucos. Sendo necessário, principalmente estar alerta para a presunção espiritual. Na busca da santificação devemos estar alertas para o perigo da presunção espiritual sobre a qual somos exortados em I Cor 10.12: “Aquele, pois que pensa estar de pé tome cuidado para não cair.” (ainda que não seja uma queda para perdição eterna).
O diabo e a nossa própria carne (natureza terrena) podem nos enganar imitando com o vício da presunção, a virtude da completa segurança da fé, que é uma das bênçãos que é obtida com o verdadeiro progresso na santificação, quando a salvação pela graça, mediante a fé, caminha rumo à perfeição, pelo amadurecimento na confiança no Senhor e no trabalho que Sua graça tem realizado em nós.
Temos o grande direito de crer que estamos de pé, se cremos que o estamos através do poder de Deus. Pois, quando cremos que estamos de pé, sem que haja comunhão real com o Senhor, quando damos acolhida a pequenos pecados que sejam, quando não há mais um trabalho de santificação na vida, porque não o buscamos, e vivemos segundo o mundo, então se aplica a nós o que o texto afirma: “aquele que pensa”. Pensamos que estamos de pé, mas de fato não estamos. Estamos sim, rumo a uma queda, que ainda que não seja final, há de nos manter afastados da comunhão com o Senhor, por apagarmos o Espírito Santo (I Tes 5.19; Tg 4.4, 8-10).
Assim, não estamos falando contra a fé poderosa que alguém alega possuir. Quem dera todos a possuíssemos. Mas estamos falando contra esta presunção não santa.
Há muitos que se aventuram no meio da tentação, frequentando companhias, locais, situações que são fontes de tentação, e que se gabam dizendo: “você pensa que eu sou fraco para pecar?”. “Não, eu estarei de pé!”. “Dê-me um copo de bebida; eu nunca serei um alcoólatra.”. “Dê-me a pornografia em suas variadas formas (TV, vídeos, internet, casas de má fama etc) e eu me manterei puro em meu corpo e espírito.”. Assim são as pessoas presunçosas.
Não é preciso ir muito longe para achá-los. A própria igreja está repleta deles. Há em cada igreja homens que pensam estar de pé; homens que se gabam em si mesmos por imaginarem ter força e poder, mas não vivem a vida dos filhos de Deus, eles não têm sido humilhados ou quebrados em espírito, ou se têm sido, adotam uma segurança carnal até que se transformem em gigantes que pisam a flor da humildade sob os seus pés.
Qualquer crente está sujeito a ser presunçoso, cedendo a uma falsa segurança carnal. É um mal contra o qual devemos sempre vigiar, daí a exortação do Espírito pela boca de Paulo em I Cor 10.12.
São fatores que, dentre outros, podem favorecer a presunção:
1 – Prosperidade mundana – “eu estou de pé, e a minha prosperidade prova isto”, é o que diz o presunçoso.
2 – Pensamentos leves sobre o pecado – perde-se o temor de pecar que se sentia quando era novo convertido. “Não é um pequeno pecado?” – diz o presunçoso, e ainda: “Nós tropeçamos um pouco, falamos e fazemos umas poucas cousas não santas, mas no tocante à maior parte da nossa vida espiritual temos sido perseverantes.”.
Pecado – uma pequena coisa! Isto não é um veneno ! Quem sabe que isto pode causar a morte? Pecado – uma pequena coisa ! Não podem as rapozinhas estragarem a vinha? Pecado – uma pequena coisa ! Não podem os pequenos golpes do machado derrubar o carvalho imponente? Pecado – uma pequena coisa ! Ele te fará sofrer angústia, amargor e infelicidade, até que venhas a ficar endurecido.
3 – Fracos pensamentos sobre o valor da fé. Nenhum de nós valoriza a fé o suficiente. Baixos pensamentos acerca de Cristo, significa baixos pensamentos acerca do estado eterno das nossas almas e do valor da fé que nos salva  e  santifica. Isto nos conduz a sermos descuidados com a segurança da nossa salvação. Tomemos cuidado com as fracas e baixas ideias sobre o evangelho, para que não sejamos apanhados repentinamente pelo mal. A palavra do evangelho é o poder para a salvação de todo o que crê. É uma palavra mais do que preciosa, de valor inestimável. E é assim que nos convém estimar a Palavra de Deus.
4 – Ignorância sobre o que somos e sobre onde somos firmados. Muitos crentes não têm aprendido ainda o que eles são. O primeiro ensino de Deus é revelar qual é a condição real da nossa natureza terrena, que devemos mortificar continuamente pelo Espírito (Col 3.5). Mas não chegamos a conhecer isto perfeitamente, mesmo depois de muitos anos de termos conhecido Jesus. A corrupção dos nossos corações não é desenvolvida em apenas uma hora. Há crentes que pensam que têm um bom coração. Jeremias tinha um coração melhor do que o deles e mesmo assim disse: “o coração é enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jer 17.9). A visão do coração humano em seu real estado, é uma visão terrível que só o Senhor conhece perfeitamente (Jer 17.10). A ignorância disto nos faz presunçosos, pois dizemos: “eu tenho uma boa natureza, uma nobre disposição, não estou sujeito a nenhuma paixão que alguns têm;  estou de pé, seguro; minhas inclinações para o mal são relativamente ocasionais.”.
É preciso estar consciente na constante luta entre a velha natureza e a nova, que se trava no coração de qualquer crente, para que, em vigilância e oração constantes, possamos estar de pé diante do trono.
5 – O orgulho é a mais grave causa da presunção. Ele pode se manifestar de variadas formas:
a) Orgulho do talento. Faz com que nos sintamos superiores ao nos compararmos com outros.
b) Orgulho da graça. É uma espécie de graça arrogante e orgulhosa que leva o crente a dizer: “eu tenho grande fé, eu não falho, há os que fraquejam na fé, mas eu não.”. Os que se gabam da graça têm uma pequena graça para se gabar. Se não alimentamos a lâmpada continuamente com o óleo do Espírito, ainda que ela brilhe hoje, amanhã estará apagada.        
c) Orgulho dos privilégios – sucesso ministerial, cargos exercidos na igreja, não são em si mesmos garantia para se estar de pé. O orgulho pelas cousas que nos têm trazido privilégios no reino de Deus podem gerar presunção. O orgulho precede a queda, e o espírito soberbo é responsável pela destruição. Tomemos cuidado, e vigiemos nossos passos.
O verdadeiro crente, ainda que não tenha a possibilidade de sofrer uma queda final, está muito propenso a cair. Qualquer crente pode se desviar do caminho, e quando se desvia, se acometerá a si mesmo com muitas tristezas.
O crente que pensa estar de pé definitivamente, e que não depende da graça diariamente, buscando santificar-se mais e mais, está muito mais exposto ao perigo de cair mais do que outros, porque será descuidado em meio à tentação. Ele pensa que é muito forte, e em meio aos ataques do inimigo mantém sua espada na bainha, e nem sequer dá-se conta da luta espiritual, e assim, não ora, não medita na Palavra para aplicá-la à vida, não tem compromisso real com Cristo, não frequenta a igreja com assiduidade, confia em sua prosperidade material e financeira, e considera a falta de tribulações como sinal da aprovação e bênção de Deus. Vale lembrar que o Espírito Santo abandona os corações onde habita o orgulho. Ele não se demorará em tal companhia. A graça é dada a quem se humilha e é negada a quem se exalta.
Nunca podemos dizer que a santificação chega ao amadurecimento e perfeição total, ou que todas as virtudes citadas até aqui, especialmente as de Col 3.12-14, sejam achadas em total florescimento e força para que possamos dizer que a pessoa é santa. Não, longe disto. A santificação é sempre um trabalho progressivo. As virtudes ou graças de algumas pessoas são como plantas em germinação, em outras, como plantas crescidas, e ainda em outras como plantas maduras com frutos. Mas todas elas tiveram um começo. Nós nunca devemos desprezar “o dia dos humildes começos” (Zac 4.10). E a santificação neste mundo, no melhor, é um trabalho imperfeito. A história dos maiores santos que já viveram contem muitos “poréns” e “todavias” e “emboras”, antes de você chegar ao fim. O ouro nunca será sem algumas escórias e nós nunca brilharemos sem algumas nuvens, até que alcancemos a Jerusalém celestial. Os homens e mulheres mais santificados têm tido muitas manchas e defeitos quando comparados com o padrão elevado e santo da Palavra de Deus. Suas vidas estão continuamente em guerra com o pecado, e o diabo; e algumas vezes vocês os verão não submetendo, mas sendo submetidos. A carne está sempre lutando contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, e “todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tg 3.2; Gál 5.17).      
Mas ainda, além de tudo isto, eu estou certo que para ter o tipo de caráter que eu tenho fracamente traçado é o desejo do coração e a oração de todos os verdadeiros crentes. Eles perseguem este alvo mesmo que eles não o alcancem. Eles podem não alcançar isto, mas eles sempre almejam isto. É para isto que eles se esforçam e trabalham para ser, se não é isto o que eles são. E corajosa e confiantemente eu digo, que a verdadeira santificação é uma grande realidade. Ela é algo que pode ser visto nos homens e mulheres, e mesmo em crianças, e que pode ser sentido por todos ao seu redor. Eu sei que o caminho pode ir de um ponto a outro, e ter muitas curvas e deformações, e a pessoa pode ser verdadeiramente santa, e ainda ser rodeada por muitas fraquezas. O ouro não é menos ouro porque está misturado com alguma liga metálica; nem a luz é menos luz porque é fraca e turva; nem a graça é menos graça porque é jovem e fraca. Mas depois de todas estas considerações eu não posso dizer que uma pessoa mereça ser chamada “santa” que deliberadamente se permite continuar habitualmente nos seus pecados, e que não se sente envergonhada por causa deles. Eu não ousaria chamar de “santo” quem faz um hábito deliberado negligenciar os deveres conhecidos, e que pratica aquilo que sabe que Deus tem claramente proibido em Sua Palavra. John Owen expressou-se muito bem quanto a isto: “Eu não entendo como um homem pode ser um crente verdadeiro sem que o seu pecado não lhe seja a maior aflição, tristeza e problema.”.








13 - Deus Jamais Aprovará o Nosso Imediatismo

Vivemos numa época de imediatismos, mas Deus nunca foi e jamais será imediatista.
No próprio mundo natural que ele criou, tem nos ensinado esta verdade sobre a sua pessoa e ações.
Não criou tudo instantaneamente, mas em seis dias, como tem determinado um período para o tempo de plantar, de crescer, de amadurecer.
Ainda que a justificação e a regeneração sejam instantâneas, todavia, são concedidas após um árduo trabalho do Espírito Santo para nos convencer do pecado e nos conduzir ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo. E considere-se ainda, que ambas têm o propósito de abrir a porta para o longo e permanente trabalho progressivo da nossa santificação, pela Palavra de Deus, com vistas à nossa transformação à imagem e semelhança de nosso Senhor Jesus Cristo.

Não há portanto algo como uma santificação da hora, uma santificação convocada para um período determinado para propósitos específicos, diferentes daquele que foi designado por Deus desde antes da fundação do mundo, porque a santificação da qual todos os que creem têm sido feitos participantes é uma e a mesma santificação que é algo que cresce em graus no curso de toda a nossa jornada terrena, e que tem em vista muito mais o nosso próprio amadurecimento e aperfeiçoamento espiritual do que qualquer outro propósito secundário que os homens possam nos propor pela sua própria invenção e interesses.








13 - Aquele que é limpo de mãos e puro de coração

“Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente.” (Salmos 24.4)

  A santidade prática exterior é uma marca muito preciosa da graça.
É de recear que muitos mestres têm pervertido a doutrina da justificação pela fé de tal forma a ponto de tratar as boas obras com desprezo;  e, nesse caso, eles receberão desprezo eterno no último grande dia.

Se as nossas mãos não estão limpas, vamos lavá-las no sangue precioso de Jesus, e levantar mãos puras para Deus. Mas "mãos limpas" não será suficiente, a menos que elas estejam conectadas com "um coração puro."  A verdadeira religião é o trabalho do coração.

 Podemos lavar o exterior do cálice e do prato tanto quanto quisermos, mas se as partes internas estiverem sujas, estaremos completamente imundos aos olhos de Deus, pois o nosso coração representa mais verdadeiramente o que somos do que nossas mãos; a essência mesma da vida do nosso ser, reside na natureza interior e, portanto, há necessidade imperiosa de pureza interior. Os puros de coração verão a Deus, todos os outros são apenas morcegos cegos.

   O homem que nasce para o céu "não entregou a sua alma à vaidade." Todos os homens têm as suas alegrias , pelas quais suas almas se elevam; o mundano eleva a sua alma em prazeres carnais, que são meras vaidades, mas o santo ama coisas mais substanciais; como Jeosafá, ele é elevado nos caminhos do Senhor. Aquele que se contenta com as cascas, será contado entre os porcos. O mundo te satisfaz? Então, tens a tua recompensa e porção nesta vida; faça muito proveito dela, porque não conhecerás outra alegria.

"Nem jura enganosamente." Os santos ainda são homens de honra. A palavra do homem cristão é o seu único juramento, mas que é tão bom quanto vinte juramentos de outros homens. O falso falar manterá qualquer homem fora do céu, pois um mentiroso não entra na casa de Deus, qualquer que seja sua profissão ou atos. Leitor, este texto te condena, ou esperas subir ao monte do Senhor?

Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido por Iza Rainbow








14 - A Santidade é Requerida Universalmente

"Visto que todas essas coisas hão de ser assim dissolvidas, que pessoas é necessário que sejais em procedimento santo e piedade?" (2 Pe 3.11)

Com estas palavras o apóstolo Pedro afirmou de maneira implícita que a destruição de todas as coisas no universo pelo Juízo de Deus para a criação de um novo céu e de uma nova terra, seria devida à falta de um procedimento santo e de piedade na humanidade.
Ele havia argumentado anteriormente em sua epístola contra os falsos mestres e os escarnecedores que vivem impiamente e que zombam não somente daqueles que vivem de modo santo, como das próprias ameaças do juízos vindouros de Deus, especialmente os que serão precipitados com o segundo advento de Cristo.
Ora, se o motivo da destruição é este que foi apontado, como podem então os cristãos viverem de modo não santo e impiedoso?
Eles são salvos por Cristo para serem libertos do pecado de modo a viverem consagradamente a Deus na prática da justiça e da santidade.
Por isso o apóstolo arrazoa conosco sob forma de perquirição quanto ao tipo de pessoas que devemos ser no assunto da santificação e de um viver piedoso.
Esta ênfase colocada por ele no procedimento santo e piedoso nos adverte quanto à necessidade de empenho, diligência e constância em nossa caminhada cristã, porque esta é a única forma de sabermos se fomos de fato salvos por Cristo, uma vez que um procedimento santo e piedoso forjado pelo próprio homem, sem a operação do Espírito Santo em sua vida, poderá conduzi-lo a um terrível engano.
O dever da santidade é um dever universal imposto por Deus a todas as criaturas morais, sejam homens ou anjos. Onde faltar a santidade, haverá juízo, e já não mais juízo sob as águas como no dilúvio, mas juízo de fogo, conforme profetizado nas Escrituras.
Será um juízo de fogo não de ourives, ou seja, para purificação, mas um juízo de fogo consumidor para exterminar o pecado e com ele juntamente o pecador não arrependido e santificado.
Daí se afirmar em Hebreus 12.14 que sem santificação ninguém verá o Senhor.
 É algo duro e terrível para se dizer, mas é a pura verdade que no devido tempo será devidamente confirmada e consumada.
Felizes os que se dão por avisados quanto ao atendimento da advertência do apóstolo e que respondem com suas vidas santificadas à perquirição apresentada:
“Que tipo de pessoas é necessário que sejais?”








15 - Santificação

Por J. C. Ryle

A santificação não consiste na casual realização de ações corretas. Antes, é a operação habitual de um novo princípio celestial que atua no íntimo, influenciando toda a conduta diária de uma pessoa, tanto nas grandes quanto nas pequenas coisas. A sua sede é o coração, e, tal como o coração físico, exerce influência regular sobre cada aspecto do caráter de uma pessoa. Não se assemelha a uma bomba de água que só fornece água quando alguém a aciona; mas parece-se mais com uma fonte perpétua, de onde a torrente jorra perene e espontaneamente, com naturalidade.
Herodes ouvia João Batista "de boa mente", ao mesmo tempo em que seu coração era inteiramente mau aos olhos de Deus (Mc 6.20). Por semelhante modo, há dezenas de pessoas hoje em dia que parecem ter ataques espasmódicos de "atos de bondade", conforme os poderíamos chamar, e que fazem muitas coisas boas sob a influência da enfermidade, da aflição de morte na família, das calamidades públicas ou de alguma súbita agonia da consciência. Contudo, o tempo todo qualquer pessoa inteligente poderá observar claramente que tais pessoas não se converteram e que elas nada conhecem acerca da "santificação." Um verdadeiro santo, tal como Ezequias (2 Cr 31.21), age "de todo o coração" e poderá dizer, juntamente com o salmista: "Por meio dos teus preceitos consigo entendimento; por isso detesto todo caminho de falsidade" (Sl 119.104).
Desafio qualquer pessoa a ler cuidadosamente os escritos do apóstolo Paulo para neles encontrar grande número de claras orientações práticas, atinentes ao dever do cristão, em cada relacionamento da vida, e acerca de nossos hábitos diários, de nosso temperamento e de nossa conduta de uns para com os outros. Essas orientações foram registradas por inspiração divina, para orientação perpétua dos crentes professos. Aquele que não dá atenção a essas normas talvez seja aceito como membro de uma igreja ou denominação evangélica, mas certamente não será aquele que a Bíblia chama de homem "santificado."








16 - O Que é Não Praticar a Iniquidade Segundo o Evangelho

Tradução e adaptação de citações extraídas do sermão de Thomas Manton, baseadas no Salmo 119.3, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.

“Eles não praticam iniquidade, mas andam nos seus caminhos” - (Salmo 119.3)

O salmista continua ainda a descrição de um homem bem-aventurado. Nos dois primeiros versículos, a santidade (que é o caminho para a evidência da bem-aventurança) é considerada em relação ao sujeito e ao objeto da mesmo, a vida e o coração do homem. A vida do homem: “Bem-aventurados os retos em seus caminhos." O coração do homem: “eles buscam com todo o coração."
Agora, a santidade é considerada, em suas partes, de forma negativa e positiva. As duas partes da santidade são:  1 - abster-se do pecado e 2 -  aplicar-se para agradar a Deus. Você tem ambas neste versículo: “Eles não praticam iniquidade, mas andam nos seus caminhos."
Primeiro, você tem o homem bem-aventurado descrito negativamente, eles não praticam iniquidade. Ao ouvir estas palavras, ocorre uma dúvida, como pode então alguém ser bem-aventurado? porque “não há homem que viva e não peque”, Ec 7.20, e Tg 3.2: "Tropeçamos em muitas coisas”. Negá-lo, é uma mentira evidente contra a verdade, e contra a nossa. experiência. "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós", 1 João 1.8. A expressão pode ser mal interpretada por um lado, afirmando-se a impecabilidade e perfeição dos santos. Por outro lado, pode ser mal interpretada por pessoas de uma consciência fraca e tenra, para o impedimento de seu consolo e regozijo em Deus. Quando ouvem que é este o caráter de um homem abençoado, “eles não praticam iniquidade,” eles concluem contra a sua própria regeneração, como sendo a causa de suas falhas diárias.
Para evitar estas dificuldades, perguntarei:
1. O que é praticar a iniquidade?
2. Quem são as pessoas entre os filhos dos homens das quais pode ser dito que não praticam a iniquidade?
Em primeiro lugar o que é praticar iniquidade? Se fizermos disto o nosso comércio e prática para continuar em desobediência intencional. Pecar é uma coisa, mas fazer do  pecado nosso trabalho é outra: 1 João 3.9, "Aquele que é nascido de Deus não comete pecado;” ele não faz do pecado o seu trabalho, e Mat 7.23, "Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade." Esse é o caráter dos obreiros reprováveis ​​da perversidade. Então temos João 8.34, "todo aquele que comete pecado é servo do pecado." O pecado é o seu comércio constante: Sl 139.24, "Veja se há algum caminho mau em mim.” Ninguém está absolutamente livre do pecado, mas não é o seu comércio, a sua maneira, o seu trabalho. Quando um homem faz a sua aplicação de mente e negócio seguir um curso de pecado, então é dito dele ser praticante da iniquidade.
Em segundo lugar, quem são aqueles dos quais é dito que  não praticam iniquidade segundo Deus, embora eles falhem, muitas vezes por fraqueza da carne e por causa da violência da tentação? Resposta:
1. Todos que são renovados pela graça, e reconciliados com Deus, por meio de Jesus Cristo; a estes Deus não imputa qualquer pecado para a condenação, e a seu ver não praticam iniquidade. Isto é notável em 1 Reis 14.8. Diz-se de Davi que "Ele guardou os meus mandamentos e me seguiu de todo o coração, e fez somente o que era reto aos meus olhos." Como pode ser isso? Podemos delinear Davi por suas falhas, elas estão registradas em toda a palavra, mas aqui um véu é aplicado sobre elas, Deus não as colocou em sua conta. Há um motivo duplo porque suas falhas não foram estabelecidas em sua conta. Em parte, por causa de seu estado geral; pois elas estão em Cristo, tomadas em favor através dele, e "não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo." Rom 8.1; por isso os erros e omissões particulares não alteraram sua condição. O que não deve ser entendido como se um homem não devesse se humilhar, e pedir perdão a Deus por suas fraquezas, não, porque, então, eles praticariam iniquidades, e elas serão postas em registro contra eles. Isto foi a fantasia grosseira dos Valentinianos, que afirmavam que não se contaminavam com o pecado que praticavam; embora,  pessoas obscenas, ainda assim eles eram a seu ver como o ouro na poeira. Não, não, nós devemos recuperar a nós mesmos através do arrependimento, para obter o favor de Deus. Quando Davi se humilhou e se arrependeu, então Natã disse, 2 Sam 12.13: "O Senhor perdoou o teu pecado."
Em parte, também, porque sua inclinação habitual é fazer o contrário. Puseram-se a cumprir a vontade de Deus, para buscar e servir ao Senhor, embora eles estejam com muitas  fraquezas. Um homem mau peca com deliberação e prazer, sua inclinação é para fazer o mal, ele faz provisão para as concupiscências. Rom 13.12, e as serve por uma sujeição voluntária, Tito 3.3. Mas aqueles que são renovados pela graça, não são devedores à carne; eles tomaram outra dívida e obrigações com eles, que é o servir ao Senhor, Rom 8.12.
Em parte, também, porque o curso e o modo geral é fazer o contrário​​- tudo funciona de acordo com a sua forma; a ação constante de uma natureza estão de acordo com o seu tipo. Assim, a nova criatura, as suas operações constantes estão de acordo com a graça. Um homem é conhecido por seu costume, e no curso de seus esforços, o que é o seu negócio. Se um homem constantemente, com facilidade, é levado muitas vezes ao pecado, ele descobre um hábito de alma, o temperamento de seu coração.
Os prados podem ser atravessados, mas o chão do  pântano é alagado com o retorno de cada maré. Um filho de Deus pode ser levado a agir de forma contrária à inclinação da nova natureza; mas quando os homens são afundados e são vencidos com o retorno de cada tentação, e apostatam, isto evidencia o hábito do pecado.
E em parte, porque o pecado nunca leva à derrota facilmente, mas com alguns desgostos e resistências da nova natureza. Os filhos de Deus fazem o seu negócio evitar todo pecado, observando, orando, e os mortificando: Sl 39.1, "eu disse, eu vou tomar cuidado com os meus caminhos, para que eu não peque com a minha língua." E então há uma resistência ao pecado. Deus tem plantado graças em seus corações; o temor de Sua majestade, que opera a resistência, e, portanto, não há uma provisão completa do que eles fazem. Esta resistência, por vezes, é mais forte; então a tentação é vencida: "Como eu posso fazer esta maldade e pecar contra Deus?" Gên 39.9. Às vezes é mais fraca, e, então, é vencida pelo pecado, embora contra a vontade de um homem santo: Rom 7.15,18: "O mal que eu odeio, esse eu faço”. Isto é o mal que eles odeiam; eles protestam contra isso, pois eles são como homens que estão oprimidos pelo poder do inimigo. E então há um remorso depois do pecado: "O coração de Davi o acusou.” Lhes entristece e envergonha terem praticado o mal. Há ternura na nova natureza; Pedro pecou abominavelmente, mas ele saiu e chorou amargamente.
Bem, então, o ponto é este:
Doct. 1 Aqueles que são e serão bem-aventurados são os que fazem o seu negócio evitar todo o pecado.
Posso ilustrar isso por estas razões:
1. Certamente eles serão abençoados, porque eles cuidam para remover aquilo que excita contendas e disputas, o muro de separação entre Deus e eles. É o pecado que separa: Isa 59.2: "Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus.” Foi isso que lançou os anjos do céu, quando eles pecaram, Deus já não poderia suportar a sua companhia. Isto lançou Adão para fora do paraíso. Isto é o que impede os homens de terem comunhão com Deus.
2. Estes estão se preparando para o gozo de suas grandes esperanças: Col 1.12: "Quem nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz," I João 3.3: “Aquele que tem esta esperança purifica-se, assim como ele é puro."
Quando Ester foi escolhida para ser a noiva e esposa daquele grande rei, teve seus meses de purificação. O tempo que passamos no mundo são os meses de nossa purificação;  isto é o que eles têm em mente como sendo o seu negócio, eles estão se preparando para a felicidade eterna. Eles se lembram de que são pequenos para aparecer diante do grande Deus, portanto, devem ser preparados.
José lavou as suas vestes quando ele estava para ir diante de Faraó.
Eles têm essa esperança de que verão a Deus como ele é, e que devem ser como ele, e ele vai aparecer para o seu conforto, por isso eles estão se preparando mais e mais.
3. Neles se inicia a verdadeira felicidade. Há graus na bem-aventurança - os anjos que nunca pecaram, os santos glorificados que pecaram, mas que não pecam mais; os santos sobre a terra, nos quais o pecado não reina; por isso é aqui que a felicidade deles começa. Como o pecado é tirado, por isso a nossa felicidade aumenta; primeiro Deus começa conosco com a justificação; ele tira o poder condenatório que está no pecado; e na santificação o trabalho prossegue, para que o pecado não reine posteriormente, portanto, estes começaram a sua felicidade, e eles se apressam em sua direção em ritmo acelerado.
Aplicação 1. Para julgamento e análise, se podemos ser contados entre os homens bem-aventurados, sim ou não. Há alguns que pensam, porque os filhos de Deus estão sujeitos a tantas falhas, e havendo tantas artimanhas e males no coração do homem, que não pode haver um julgamento sobre o caso entre os pecados do regenerado e do não regenerado. Mas, certamente, há uma diferença entre o pecado de um, e o do outro, e essa diferença pode ser discernida: 1 João 3.9, "Todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando." Agora observe no verso 10: “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo." Isto é o que distingue os filhos de Deus dos filhos do diabo. Bem, então, como devemos gerir esta descoberta, para que possamos ser capazes de julgar nossos próprios estados?
Primeiro, vamos considerar como o pecado pode estar em um homem abençoado, em um filho de Deus.
1. Eles têm uma natureza corrupta, eles têm pecado em si, bem como as demais pessoas, isto é enfim a sua miséria: Rom 7.24, "Miserável homem que sou", diz o santo apóstolo. O pecado, embora seja dejectum - derrubado em relação à regência, mas não é ejectum - expulso em relação à inerência; sua natureza corrupta permanece nele. Alguém comparou isto a uma figueira selvagem, ou hera em uma parede; corte o caule, os galhos, ramos, mas ainda haverá algo que estará brotando novamente até cobrir a parede. Assim é o pecado que habita em nós, apesar de nós orarmos, nos esforçarmos, e cortar as brotações aqui e ali, mas até que ele seja arrancado totalmente depois da nossa morte, ele permanece  conosco.
2. Eles têm suas falhas e fraquezas diárias: Ec 7.20, “Não não, não há  um homem justo sobre a terra, que faça o bem, e que nunca peque." Aqueles que, por seu estado geral, são homens justos e virtuosos, ainda carregam certos pecados dos quais não podem se livrar, e que são inevitáveis, como pecados de ignorância e, leviandade, dos quais não seremos livrados enquanto estivermos neste estado imperfeito. Assim também imperfeições de dever, pois não podemos servir a Deus com aquele elevado grau de reverência, alegria e perfeição que Ele requer. Há fraquezas inevitáveis ​​que são de fato perdoadas.
3. Eles podem ser culpados de alguns pecados que por falta de vigilância poderiam ser evitados, como os pensamentos vãos, ociosos, discursos apaixonados, e muitas ações carnais. É possível que estes possam ser evitados pelas assistências comuns da graça, e se mantivermos uma estrita vigilância sobre nossos próprios corações. Mas, neste caso, os filhos de Deus podem ser vencidos ​​e subjugados pela rapidez ou violência da tentação: Gál 6.1: "Se um homem for surpreendido nalguma falta, o tal” etc; Tg 1.14, “'Todo homem é tentado quando é atraído e seduzido pela sua própria concupiscência”.
4. Eles pode então cair abominavelmente, como Noé por excesso de bebida; Ló por incesto; Davi por adultério; Pedro por negação. Falhas e fraquezas que não são determinadas pela pequenez ou grandeza do ato, mas por outras circunstâncias concomitantes. Não pela pequenez do ato. Permitir-se afeto para os pequenos pecados é mortal e condenável: aquele que é infiel no pouco será infiel no muito. Cristãos, onde as tentações são fracas e impotentes, e de uma ligeira importância, elas podem ser mais facilmente refutadas, de modo que nossa rebelião a Deus por pequenos pecados pode ser maior. Um homem pode ter grandes afetos aos pequenos pecados; assim, isto pode se revelar uma iniquidade, um pecado abominável.
Por outro lado, grandes pecados podem ser fraquezas, como o incesto de Ló, o adultério de Davi, quando não é feito com pleno consentimento da alma, quando seus corações não estão totalmente carregados com elas. Iniquidades são determinadas pela sua forma: Judas 15, "para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele.”, quando, com pleno consentimento da vontade, e quando isto é o curso de um ódio e desprezo habitual de Deus.
5. Um filho de Deus pode ter alguns males particulares, que podem ser chamados pecados predominantes (não com respeito à graça, que é impossível, que um homem seja renovado e tenha esses pecados que resistem à graça); mas deles se pode dizer que têm um predomínio em comparação com outros pecados; ele pode ter alguma inclinação especial para alguns males acima de outros. Davi teve a sua iniquidade, Sl 18.23. Veja, como os santos têm graças particulares; Abraão era eminente na fé, Timóteo na sobriedade, Moisés, na mansidão, etc. Então eles têm suas corrupções particulares que são mais adequadas ao seu temperamento e curso da vida. Pedro parece estar inclinado a tergiversação, e à hesitação em um tempo de angústia. Vamos encontrá-lo muitas vezes tropeçando nesse tipo de pecado; na negação de seu mestre, novamente, em Gál 2. 12, é dito que ele dissimulou por causa dos judeus, pois Paulo lhe resistiu na cara, porque era repreensível. É evidente, por experiência, que há corrupções particulares para as quais os filhos de Deus estão mais inclinados: isto aparece pelo grande poder e influência que elas têm para comandar outros males a serem praticados, pela sua inclinação para elas.
Em segundo lugar, quando a graça traz isto à lume, onde reside a diferença?
1. No fato de que eles não podem cair naquelas iniquidades em que há uma absoluta contrariedade à graça, como o ódio a Deus e a apostasia total, de modo que não podem pecar o pecado que é para a morte, 1 João 5.16.
2. No fato de que eles não pecam com todo o coração: Sl 119.176, “eu tenho andado desgarrado como ovelha perdida; procura o teu servo, pois não me esqueço dos teus mandamentos." Havia um pouco de Deus no coração, quando ele estava consciente de si mesmo de andar desgarrado, e Davi diz em outro lugar: “Eu não me apartei perversamente dos teus preceitos.”. Quando eles pecam, é com a antipatia e a relutância da nova natureza; isto é mais um estupro do que um consentimento. Bernard diz: “Um filho de Deus sofre pecado mais do que pratica, e o seu coração protesta contra isto.”
3. Isto não é o curso deles; não constante, fácil e frequente. Recaídas em pecados grosseiros, afirmam uma aversão habitual a Deus, pois o hábito é determinado pela constância e uniformidade dos atos; portanto, isto sucede de vez em quando debaixo de alguma grande tentação. Há pecado, e há uma forma de pecar: Sl 139.24, "Sonda-me e vê se há alguma forma de maldade em mim".
4. Quando eles caem, não descansam no pecado: "Será que eles caem, e não se levantarão?" Jer 8.4. Eles podem cair na terra, mas eles não repousam e não chafurdam como porcos na lama. Uma fonte pode ser enlameada, mas trabalha para ficar limpar de novo. A agulha que foi tocada com a magnetita pode ficar desconcertada, mas nunca pára até que ela aponte para o Norte novamente. Os filhos de Deus têm suas falhas, mas buscam o seu perdão, correm para o seu advogado, 1 João 2.1, humilham-se diante de Deus.
5. Suas quedas são santificadas. Quando eles têm ardido sob o pecado, eles crescem mais vigilantes. Um filho de Deus pode ter a pior na batalha, mas não na guerra. Algumas vezes a parte carnal pode conseguir a vitória, e eles podem cair,  mas não numa queda final, mas veja a questão: Sl 51.6 : "No oculto me fazes conhecer a sabedoria." Davi pecou contra o Senhor, mas aprendeu a sabedoria, nunca confiar num coração impertinente, mas achou-se no fim, melhor.
6. A Graça é descoberta pelos esforços constantes que eles fazem contra o pecado. Qual é o curso constante de um cristão? Eles gemem sob os resquícios do pecado, que é o seu fardo, que eles têm uma natureza tão má, Rom 7.24. Eles voam para a graça de Deus em Cristo para receberem perdão diariamente, 1 João 1.9. Eles estão sempre lavando suas vestes no sangue do Cordeiro, Apo 7, e todos os dias estão se limpando da imundícia que contraem pelo pecado: João 13.10, “Aquele que está lavado, não necessita lavar senão os pés." Um homem que veio de uma viagem, num país onde havia o costume de se andar descalço, quando chegou em casa, teve que lavar seus pés. Assim, um homem que se reconcilia com Deus, ainda que tenha tomado um banho, na fonte que Deus abriu para lavar a impureza, deve ainda, todos os dias, lavar seus pés, limpando-se pelo sangue de Cristo, cada vez mais, porque ele contraiu uma nova contaminação. Então, usará todos os esforços contra isto, Col 3.5; com a oração, esforçando-se, vigiando, mortificando as disposições da carne. Eles não vivem voluntariamente e sem oposição  debaixo do pecado e da sua tirania escravizante. A bendita e  habitual inclinação deles  é fazer o contrário, por isso que se diz que não praticam iniquidade, ao passo que aqueles que são imprudentes e descuidados de sua alma, do pecado e que nunca o colocam para fora do coração, são os obreiros da  iniquidade.
Aplicação 2. Se este é o caráter de um homem abençoado, fazer disto o nosso negócio para evitar o pecado, então aqui está o cuidado para o povo de Deus:
1. Ter cuidado com todo o pecado.
2. Ser muito cauteloso contra os pecados graves, cometidos contra a luz da consciência.
3. Tomar cuidado com a continuação no pecado.
Em primeiro lugar, para ter cuidado com todo o pecado. Quanto mais você tem a marca de um homem abençoado: 1 João 2.1, “estas coisas vos escrevo, para que não pequeis." Apesar de você ter sido perdoado e purificado pelo sangue de Cristo, de você ter um advogado, todavia, não peque. Agora os motivos para manter esse cuidado são tomados a partir de Deus, de nós mesmos, e a partir da natureza do pecado.
1. De Deus. Não pecar. Por quê? Porque é uma ofensa a Deus. Considere como o pecado é contrário a todas as pessoas da Trindade. A Deus, o Pai, como um legislador, sendo um desprezo de sua autoridade, 1 João 3.4. O pecado é ἀνομίαν, “a transgressão da lei”, ou seja, um ato de deslealdade e rebelião contra a coroa do céu. A desconsideração para com a lei divina. O pecado aberto como ele foi proclamado como sendo rebelião e guerra contra Deus; e o pecado privado é uma conspiração contra Ele. Todas as criaturas têm uma lei: Sl 148.6, “puseste-lhes um limite, além do qual não podem passar.” E elas são menos exorbitantes em seus movimentos do que nós. Pecar é uma maior violação da lei da natureza para o homem do que para o mar que ultrapassa os seus limites. As criaturas não têm sentido e razão, mas elas não passam além da lei que Deus definiu para elas. Isto deveria prevalecer com a nova criatura em Cristo Jesus,  especialmente, com aqueles cujos corações Deus tem adequado à lei, de modo que eles oferecem uma violência à sua própria consciência. Tenham cuidado para não entrar em conflito com Deus, desprezando a sua autoridade. Qualquer pecado leve que é cometido a lei o proíbe: 2 Sam 12.9, “Por isso tu desprezas os seus mandamentos?” Deus vela muito  sobre a sua lei, e um til não passará dela, - e você a despreza, vai torná-la sem efeito, quando você ceder ao pecado. Além disto é um abuso do seu amor: 1 João 3.1, "Vede que grande amor o Pai nos mostrou," vocês são filhos de Deus, e serão descuidados com o seu amor? Seus pecados são como a traição de Absalão contra seu pai. Os recabitas são elogiados por terem obedecido à ordem de seu pai, Jer 35. O pai deles estava morto, mas o nosso está vivo; vocês serão filhos renunciando a Deus e tomando partido do diabo, e cometendo pecado, - vocês a quem o Pai mostrou tanto amor a ponto de lhes chamar de seus filhos? Então isto é um erro contra Jesus Cristo - ao seu mérito, ao seu exemplo. Ao seu mérito. Cristo veio para tirar o pecado, e você vai ligar os cabos mais rapidamente do que Cristo veio para soltar? Então você irá derrotar o propósito de sua morte, e colocar o seu Redentor exposto à vergonha. Você procura anular a grande finalidade para a qual Cristo veio, que foi para remover o pecado. E, além disso, você deprecia o valor do preço que ele pagou, porque você faz do sangue de Cristo uma coisa barata, quando despreza a graça e a santidade, ao não fazer nada daquilo que Lhe custou tão caro, e você diminui a grandeza dos Seus sofrimentos.
E isto é um erro contra o seu padrão. Você deve ser "puro como Cristo é puro", 1 João 3.3, e veja 3.7, ser "justo como ele é justo." Você deve descobrir a pessoa santa que Cristo foi, por uma conformidade a ele em sua conversação. Agora, você vai desonrá-lo? Que Cristo estranho você pregará para o mundo, quando seu nome está sobre você - você dará lugar para ao pecado e à insensatez? E é um erro contra Deus, o Espírito Santo, para tristeza dele. Seu grande e primeiro trabalho foi nos lavar do pecado, Tito 3.5. Você se esquece  que este trabalho foi feito no seu coração, quando retorna ao pecado novamente, e que você "tem sido purgado de seus antigos pecados", 2 Pedro 1.9, e a habitação permanente do Espírito no coração é para verificar as concupiscências da carne, e para prevenir os atos pecaminosos. "Se, pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis." Rom 8.13.
2. Por um argumento tirado de nós mesmos, isto é muito inadequado para você. Nos professamos regenerados e nascidos de Deus: 1 João 3.9, "Aquele que é nascido de Deus não peca." Isto não é somente contrário ao seu dever, mas à sua nova natureza, porque você é uma nova criatura. Seria monstruoso o ovo de uma criatura trazer uma ninhada de outro tipo. Isto é uma produção não natural, a saber, a de uma nova criatura pecar, por isso para vocês que são nascidos de Deus, isto é incomum e inadequado. Não desonre o seu nascimento do alto.
3. Considere a natureza do pecado; se você lhe der lugar, ele irá invadir ainda mais. Os pecados roubam no trono insensivelmente, e ficando acostumados a eles em nós por muito tempo, nós não podemos facilmente sacudir o jugo ou nos livrar de sua tirania. Eles vão de pouco a pouco, e ganham força por atos multiplicados. Portanto, devemos ter muito cuidado para evitar todo o pecado.
A segunda parte do cuidado é, cuidado com os pecados graves, cometidos contra a luz e a consciência. Quando somos tentados a pecar, digamos com José: Gênesis 39.9, “'Como posso fazer essa maldade e pecar contra Deus?" Há maior deliberação e vontade em qualquer ação, o pecado é a mais suja. Considere, pecados imundos são uma mancha que vai ficar muito tempo em nós. Veja 1 Reis 15.5, "Davi andou em todos os caminhos do Senhor, e não se desviou de tudo o que lhe ordenou em todos os dias da sua vida, a não ser no caso de Urias, o hitita". Ora, havia muitas outras coisas na qual Davi falhou; você lê sobre sua timidez e desconfiança em Deus: “eu vou perecer um dia pela mão de Saul.” Lemos de sua dissimulação, fingindo-se de louco na companhia dos filisteus. Lemos sobre a sua injustiça para com Mefibosete, sua afeição exagerada por Absalão, sua indulgência para com Amon. Lemos sobre o seu censo do povo, e, desobediência a Deus, que custou a vida de milhares de pessoas instantaneamente, e todas elas são grandes falhas, mas estas foram facilmente lavadas, mas o caso de Urias, deixou uma cicatriz e uma mancha que não foi facilmente lavada.
Em terceiro lugar, cuidado com a continuação no pecado. Como podemos continuar no pecado? Em que sentido? Há três coisas que eu vejo no pecado – Falta, culpa e mancha.
1. A falta é continuada quando os atos inerentes a ela se  repetem, quando caímos no mesmo pecado de novo e de novo. Recaídas são muito perigosas, como um osso quebrado, muitas vezes no mesmo lugar, você está em perigo disso, antes da brecha ser bem feita entre Deus e você, como Ló duplicando o seu incesto: aventurar-se uma vez e, novamente, é muito perigoso.
2. A culpa acompanhará um homem até que haja o arrependimento sério e solene, até que se processe o perdão em nome de Cristo.
3. Existe a mácula, a mancha, pela qual os escolásticos entendem uma inclinação para pecar novamente, a má influência do pecado perseverando até usarmos esforços sérios para mortificar a raiz dele. Quando temos sido derrotados por qualquer desejo, esta luxúria deve ser mortificada. Por exemplo, Jonas se arrependeu de abandonar a sua chamada, quando ele foi lançado no ventre da baleia, mas o pecado apareceu de novo, porque ele não mortificou a raiz, que era o seu orgulho. Então, não é o suficiente lamentar o pecado, mas devemos lancetar a ferida, e descobrir a raiz e o cerne da questão antes, e então tudo ficará bem.
Um homem pode se arrepender da erupção do pecado, o primeiro ato, mas a inclinação para o pecado, novamente, não é retirada. Juízes 16.2. Sansão amou uma mulher de Gaza, e ela lhe havia traído, mas pela remoção dos portões da cidade, ele salvou a sua vida: possivelmente sobre aquela experiência ele deve ter se  arrependido de sua loucura e amor desordenado por aquela mulher. Mas, ai! a raiz do pecado permaneceu: por isso ele se apaixonou por outra mulher, Dalila. Portanto, para que você fizesse o que é seu dever, você deveria olhar para a culpa, para que a mesma não seja renovada, para que não seja continuada por omissão de arrependimento; e para que também a mancha não fique sobre você, por não procurar a raiz da fraqueza, a causa do pecado pela qual temos sido derrotados. Assim, para a primeira parte do texto, “eles não praticam iniquidade.”
A segunda parte do texto é, “eles andam em seus caminhos.” Esta é a parte positiva, não somente evitando o pecado, mas a prática da santidade, está implícita. Observe;
Doct. 2. Não é suficiente apenas evitar o mal, mas temos que praticar o bem.
"Eles não praticam iniquidade,” então “eles andam nos seus caminhos." Por quê?
1. A lei de Deus é positiva, bem como negativa. Em cada comando existem preceitos e proibições, para que possamos ter a Deus, bem como renunciar ao diabo, e manter comunhão com Ele, assim como evitar a nossa própria miséria: Amós 5.15, "Aborrecei o mal, e amai o bem", Rom 12.9, "Aborrecei o mal, apegando-se ao que é bom."
2. As misericórdias de Deus são positivas, bem como privativas. Nossa obediência deve corresponder às misericórdias de Deus. Agora, Deus não somente nos livra do inferno, com também nos chama para a glória. João 3.16: O fim da vinda de Cristo é que "não pereçamos" (é a parte privativa), mas "para que tenham a vida eterna" (é a parte  positiva). Na aliança Deus se comprometeu em ser "um sol e um escudo”, Sl 84.11, não somente um sol, que é a fonte da vida e da vegetação e bênçãos, mas um escudo para nos defender do perigo no mundo, por isso a nossa obediência deve ser positiva, bem como privativa.
Aplicação. Isto reprova aqueles que descansam em negativas. Como foi dito do imperador, que não foi tão vicioso quanto virtuoso. Muitos têm toda a sua religião executada em cima de negativas: Lucas 17.11: "Eu não sou como este publicano." Esse solo nada é, embora não produza espinhos e abrolhos, se não produzir boas colheitas. Não somente o servo rebelde é lançado no inferno, o qual bateu no seu conservo, que comeu e bebeu com o bêbado, mas o servo ocioso, que enterrou o seu talento. Meroz é amaldiçoado, não porque se opôs a lutar, mas por não ajudar - Juízes 5.23. O rico não tirou a comida de Lázaro, mas ele não lhe deu de suas migalhas. Muitos dirão, não servi nenhum outro deus; Ai! mas amou, reverenciou e obedeceu ao Deus verdadeiro? No segundo mandamento, eu abomino ídolos, mas tem prazer nas ordenanças? Eu não juro e não nego o nome de Deus por  maldições; ai! mas glorificas a Deus e o honra? Eu não violo o sábado; mas tu o santificas? Tu não fazes coisas erradas com  teus pais, mas os reverencia? E tu que não és assassino, fazes o bem a teu próximo? Tu não és adúltero, mas és sóbrio e temperado de modo santo em todas as coisas? Geralmente os homens cortam metade da sua conta, como o mordomo infiel da parábola. Nós não pensamos nos pecados de omissão. Se não estamos bêbados, se não somos adúlteros, e pessoas profanas, nós não pensamos o que significa não ser omisso com relação a Deus, e falta de reverência à sua santa majestade; para deleitar-se nEle e nos Seus caminhos.
Em último lugar, tome conhecimento do conceito, pelo qual os preceitos de Deus são expressos, aqui eles são chamados de caminhos, "que anda nos seus caminhos” – Como é isto? - não como ele nos deu um exemplo, para ser santo como ele é santo, e justo assim como ele é justo, mas seus caminhos são os seus preceitos. Por que eles são os seus caminhos? Porque eles são designados por Deus, e prescritos por ele. Que mostra o mal de deserção e extravio dele. Porque isto é um desprezo de Deus e da sua autoridade e sabedoria. O grande e sábio Deus, tem descoberto um caminho para que a criatura caminhe nele, para que possa alcançar a verdadeira felicidade; e estaríamos ainda andando em atalhos? Isto é  um desprezo de sua bondade: "Ele te declarou, O homem, o que é bom,” como andar passo a passo. Então, eles são os caminhos de Deus, pois eles levam ao prazer dEle. A partir daí podemos aprender que muitos que desejam estar onde ele está, não entrarão ali, porque eles não andam no caminho que conduz a Ele. Um homem nunca pode chegar a um lugar, caso não vá pelo caminho que vai levá-lo para lá: assim  nunca chegarão à alegria de Deus numa condição abençoada, aqueles que não tomaram o caminho do Senhor para a bem-aventurança, que não seguem o curso que Deus tem prescrito para eles na sua palavra.








17 - Significado de Ser Santificado

Nós vemos em várias passagens do Velho Testamento que havia ordenanças para que se santificasse tanto coisas quanto pessoas, sendo que o significado mais usual desta prática estava relacionado à sua separação para o serviço sagrado de Deus, ou seja, à sua dedicação ou consagração para tal mister.
Todavia, ensinava-se também a necessidade de purificação para a referida consagração. Assim, os principais significados da santificação se relacionam aos atos de separar e purificar, sendo que a purificação deveria ser cuidadosa e progressiva no caso de pessoas, em razão da luta constante contra o pecado.
Como não há no próprio homem o poder de vencer o pecado, subentende-se que o trabalho de santificação deve ser realizado e conduzido pelo próprio Deus. Daí Ele afirmar desde o Velho Testamento que é Ele quem santifica o seu povo (Lev 21.8; João 1.17.17).
A razão da santificação está em que Deus é santo, de modo que os que são seus também devem ser santos (Lev 11.44; 20.26; I Pe 1.16).
O meio ou instrumento da santificação do crente é a Palavra de Deus e não a observância de cerimônias e rituais religiosos externos porque estes não têm o poder de purificar e transformar nossas mentes e corações. A causa de tal instrumentalidade da Palavra está relacionada ao fato da nossa necessidade de transformação moral e espiritual segundo o caráter do próprio Cristo, e a verdade relativa a este caráter está contida na revelação escrita inspirada pelo próprio Deus, ou seja, na Bíblia.
O campo da santificação é o homem total, a saber, do seu espírito, alma e corpo (I Tes 5.23)
Há falsos ou equivocados pastores e mestres na Igreja de Cristo que ensinam erroneamente contra o testemunho abundante das Escrituras relativo à necessidade de santificação de todos os crentes, sob a alegação de que somente Deus é santo, e que portanto, falar de tal necessidade de santificação dos crentes é coisa de fanáticos e presunçosos.
Podemos ver quanto isto é perigoso para as almas debaixo de tal ensino errôneo, pelos vários textos bíblicos que apresentamos a seguir, relativos à santificação, destacando em cada versículo a palavra encontrada no texto original grego do Novo Testamento.
Leia-os e tire as suas próprias conclusões quanto a quem devemos realmente ouvir, se a eles ou a Deus, através da Sua revelação escrita!

1 - Hagiosune - santidade, propriedade de ser santo

2 Coríntios 7.1 Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação (hagiosune) no temor de Deus.

I Tessalonicenses 3.13 Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade (hagiosune) diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos.


2 – (Hagiasmos) – santificação, processo de purificação, de separação do mal

Romanos 6.19 Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia, e à maldade para maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para santificação (Hagiasmos).

Romanos  6.22 Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação (Hagiasmos), e por fim a vida eterna.

I Coríntios 1.30 Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação (Hagiasmos), e redenção;

I Tessalonicenses 4.3 Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação (Hagiasmos); que vos abstenhais da fornicação;

I Tessalonicenses  4.4 Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação (Hagiasmos) e honra;

I Tessalonicenses 4.7 Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação (Hagiasmos).

II Tessalonicenses 2.13 Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação (Hagiasmos) do Espírito, e fé da verdade;

I Timóteo 2.15 Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação (Hagiasmos).

Hebreus 12.14 Segui a paz com todos, e a santificação (Hagiasmos), sem a qual ninguém verá o Senhor;
(Nota: a santificação, seja ela de qual grau for, pequeno  ou grande, contínuo ou intermitente, é algo que sempre acompanha a justificação e a regeneração, de modo que se há ausência total deste processo divino na vida de uma pessoa, ela não pode afirmar com certeza que está segura da sua salvação. Assim, a perseverança em santificação é a melhor evidência da nossa salvação (II Pe 1.10,11).

I Pedro 1.2 Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação (Hagiasmos) do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.


3 – Hagiazô – ser santificado, purificado, separado, consagrado

Mateus 6.9 Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado (Hagiazô) seja o teu nome;

João 17.17 Santifica-os (Hagiazô) na tua verdade; a tua palavra é a verdade.

João 17.19 E por eles me santifico (Hagiazô) a mim mesmo, para que também eles sejam santificados (Hagiazô) na verdade.

Atos 20.32 Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados (Hagiazô).

Atos 26.18 Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados (Hagiazô) pela fé em mim.

I Coríntios 1.2 À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados (Hagiazô) em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:

I Corintios 6.11 E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados (Hagiazô), mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus.

I Coríntios 7.14 Porque o marido descrente é santificado (Hagiazô) pela mulher; e a mulher descrente é santificada (Hagiazô) pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos.

Efésios 5.26 Para a santificar (Hagiazô), purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,

I Tessalonicenses 5.23 E o mesmo Deus de paz vos santifique (Hagiazô) em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

I Timóteo  4.5 Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada (Hagiazô).

II Timóteo  2.21 De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado (Hagiazô) e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra.

Hebreus  2.11 Porque, assim o que santifica (Hagiazô), como os que são santificados (Hagiazô), são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos,

Hebreus  10.10 Na qual vontade temos sido santificados (Hagiazô) pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez.

Hebreus  10.14 Porque com uma só oferta aperfeiçoou para sempre os que são santificados (Hagiazô).

Hebreus  10.29 De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado (Hagiazô), e fizer agravo ao Espírito da graça?

Hebreus  13.12 E por isso também Jesus, para santificar (Hagiazô) o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta.

I Pedro 3.1515 Antes, santificai (Hagiazô) ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós,

Judas 1.1 Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados, santificados (Hagiazô) em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo:

Apocalipse 22.11 Quem é injusto, seja injusto ainda; e quem é sujo, seja sujo ainda; e quem é justo, seja justificado ainda; e quem é santo, seja santificado (Hagiazô) ainda.








18 - Santificação não é Justificação

A santidade é imanente em Deus porque Ele é santo em si mesmo. Isto é, Ele é santo em Sua própria natureza. A santidade é o estado mesmo da Sua natureza.
Nós dizemos que esta santidade é evangélica porque ela é o resultado da nossa fé no evangelho, e é infundida em nós no trabalho do Espírito Santo tanto na regeneração quanto no processo progressivo da santificação.
Na epístola aos Romanos Paulo discorre no sexto capítulo sobre o dever da santificação, que é um trabalho diferente da justificação e que deve se seguir a ela, e então aqui ele destaca a necessidade das obras juntamente com a fé e o trabalho da graça, para a santificação:
“12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas concupiscências;
13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.
14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum.
16 Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?
17 Mas graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;
18 e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.
19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os vossos membros como servos da impureza e da iniquidade para iniquidade, assim apresentai agora os vossos membros como servos da justiça para santificação..” (Rom 6.12-19).
Em toda esta passagem ele está falando de santificação e não de justificação, e demonstra claramente que além da justiça de Cristo que nos foi imputada, atribuída para justificação, nós precisamos desta justiça que é infundida, implantada pelo trabalho progressivo do Espírito Santo, no qual há também o concurso das nossas obras de justiça, sem as quais não haverá nenhum trabalho da graça em santificação, porque esta graça será derramada por Deus conforme a nossa disposição em obedecer a Sua vontade, e que o apóstolo define pela expressão de apresentar nossos membros a Deus para serem usados por Ele para o fim da nossa santificação.







19 - O Método Divino para Comunicar Santidade

O próprio Deus é a fonte absoluta, a suprema causa eficiente de toda a graça e santidade. Porque somente ele é original e essencialmente santo, assim como somente ele é bom, sendo assim a primeira causa da santidade e bondade de outros. Por isso é chamado de "Deus de toda graça” - 1 Pe 5.10. O autor, possuidor, e doador da mesma. "Ele tem vida em si mesmo, e vivifica a quem quer” - Jo 5.26. “Com ele está a fonte da vida” - Sl 36.9. "Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” – Tiago 1.17.
Deus, de sua própria plenitude, se comunica com suas criaturas, seja pelo caminho da natureza, ou pelo caminho da graça.
Em nossa primeira criação Deus implantou sua imagem em nós, em justiça e santidade, e pela criação de nossa natureza; e se tivéssemos continuado naquele estado, a imagem mesma de Deus deveria ter sido comunicada por propagação natural. Mas, desde a Queda e a entrada do pecado, Deus não mais comunica santidade por qualquer meio da natureza, ou propagação natural. Porque, se ele fizesse isso, não haveria necessidade de que todo aquele que nasce deva nascer de novo, para que possa entrar no reino de Deus; como nosso Salvador afirma - Jo 3.3. Porque poderia ter graça e santidade de seu primeiro nascimento. Nem poderia ser dito dos crentes, que eles "não são nascidas do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” - Jo 1.13, porque a graça poderia ser comunicada a eles por meios naturais.
Foi a velha invenção Pelagiana, que afirmou que o que temos por natureza, temos pela graça, porque Deus é o autor da natureza. Assim seria, se a natureza fosse pura, mas ela é corrupta; e o que temos portanto, temos de nós mesmos em contradição com a graça de Deus. "O que é nascido da carne é carne”, e não temos mais nada de uma santidade por propagação natural.
Assim, Deus nada comunica a qualquer pessoa, relativamente à graça, senão na e pela pessoa de Cristo como o mediador e cabeça da Igreja -  Jo 1.18. Na velha criação todas as coisas foram feitas pela Palavra eterna, a pessoa do Filho, como a sabedoria de Deus - Jo 1.3; Col 1.16. Não houve imediata emanação do poder divino da pessoa do Pai, para a produção de todos os seres criados, senão na e pela pessoa do Filho, sua sabedoria e poder sendo um e o mesma que atuou nele. E o suporte de todas as coisas no curso da providência divina, é também o seu trabalho imediato; donde se diz “sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder" - Heb 1.3. E assim é com a nova criação, no que diz respeito à sua pessoa como mediador. “A imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, tendo a preeminência em todas as coisas; ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas” - Col 1.15,17,18. No levantar de toda a nova criação, que é de uma nova vida espiritual e santidade, comunicada a todas as suas partes, o trabalho é realizado imediatamente pela pessoa de Cristo, o mediador, e ninguém tem qualquer parte nele, senão o que é recebido e derivados dele.
Isto é claramente afirmado em Ef 2.10. Assim, diz o apóstolo quanto a isto: “a cabeça de todo homem é Cristo, e a cabeça de Cristo é Deus” - I Coríntios 11.3; e isto, tanto em influência, quanto como regra. Assim como Deus não governa imediatamente a Igreja, senão na e pela pessoa de Cristo, a quem ele deu para ser cabeça sobre todas as coisas; de igual modo, ele não administra qualquer graça ou santidade a qualquer pessoa, senão na mesma ordem; ou seja, por Cristo, porque "a cabeça de todo homem é Cristo, e a cabeça de Cristo é Deus."

Texto extraído do tratado de John Owen, intitulado A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.








20 - A Fonte da Nossa Santificação

“Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,” (I Cor 1.30)

Este texto afirma expressamente que Jesus se tornou para os crentes SANTIFICAÇÃO, além de sabedoria, justiça e redenção.
O fato de ter se tornado santificação para nós, é, que sendo filiados a Ele, à Sua pessoa como nossa cabeça, o princípio da vida espiritual e santidade nos crentes é dEle derivado; e em virtude de sua união com Ele, que é a fonte real da força e graça espiritual pela qual a sua santidade é preservada, mantida e aumentada, sendo constantemente comunicada a eles.
É nisto que consiste toda a diferença entre a graça e a moralidade.
A santidade cristã provém da graça e não da moralidade humana.
Ela é derivada do Senhor Jesus Cristo, em virtude de nossa união com ele, é é graça evangélica, pois seu resultado é a nossa conformação ao evangelho.









21 - Santificação

Por Jonathan Edwards

O fim supremo da bondade dos agentes morais é a glória de Deus.

As Escrituras se referem à glória de Deus como o seu fim supremo na bondade da parte moral da criação; e tal fim serve de parâmetro maior para o valor da sua virtude.

Como está escrito em Filipenses 1.10,11: "Para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus". Aqui, o apóstolo mostra como os frutos da justiça nesses agentes são valiosos, e como cumprem o seu fim, ou seja, ao serem, "mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus". João 15.8: "Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto", significando que esse é o meio pelo qual o grande fim da religião deve ser cumprido. E, em 1 Pedro 4.11,o apóstolo orienta os cristãos a usar esse fim como referência para todos os seus atos religiosos: "Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!".

E, ocasionalmente, a adoção e a prática da verdadeira religião, o arrependimento dos pecados e a busca pela santidade são expressos como glorificação de Deus, como se fossem a síntese e o final de toda a questão. Apocalipse 11.13: "e morreram, nesse terremoto, sete mil pessoas, ao passo que as outras ficaram sobremodo aterrorizadas e deram glória ao Deus do céu". Apocalipse 14.6,7: "Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória", como se essa fosse a síntese e o fim da virtude e da religião, o grande objetivo ao se pregar o evangelho em toda parte ao redor do mundo. Apocalipse 16.9: "e nem se arrependeram para lhe darem glória". Isso equivale a dizer que não deixaram os seus pecados e não se voltaram para a verdadeira religião a fim de que Deus pudesse receber aquilo que é o grande fim visado por ele na religião que requer dos homens (Veja, também, SI 22.21 -23; Is 66.19; 24.15; 25.3; Jr 13.15,16; Dn 5.23; Rm 15.5,6.).

Assim como o exercício da verdadeira religião e da virtude pelos cristãos é expressado em síntese ao glorificarem a Deus, também quando se fala da boa influência destes sobre outros, é usada a mesma forma de expressão. Mateus 5.16: "Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus". 1 Pedro 2.12: "mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação".









22 - O Princípio de Santidade na Nova Criatura

O princípio de santidade na nova criatura é permanente, e permanece para sempre. Ele nunca deixará de inclinar e dispor toda a alma a atos e deveres de obediência a Deus, até que ele chegue à plenitude do desfrute de Deus. Isto é água viva, e aquele que beber da mesma, nunca mais terá sede, isto é, ainda que com uma necessidade total dos suprimentos de graça, é uma fonte de água que salta para a vida eterna - João 4.14.
Este princípio de santidade surge, e sem intervalo, permanece sempre, porque é água viva da qual os atos vitais são inseparáveis, de modo permanente, sem cessar, ele brota em vida eterna, e não falha, até que aqueles nos quais ele se encontra, estejam alojados em segurança no completo desfrute do mesmo. Este é expressamente prometido na aliança: "Vou colocar o meu temor no seu coração, e eles não se apartarão de mim." (Jer 32.40). É verdade, que é o nosso dever, ter todo o cuidado e diligência, no uso de todos os meios, para preservar, valorizar e melhorar tanto o próprio princípio, e os seus desempenhos nestas disposições santas. Devemos mostrar até o fim toda a diligência até a plena certeza da esperança – Hebreus 6.11. E é no uso de meios, e no exercício da graça, que isto é infalivelmente mantido e preservado -Isaías. 49.31. E também é verdade que, às vezes, em alguns homens, sobre a interposição de ferozes tentações, com a operação de desejos violentos e traiçoeiros, o princípio em si pode parecer parar por uma temporada até ser totalmente sufocado, e isto foi o que sucedeu com Davi em sua triste queda e decadência.
No entanto, tal é a natureza deste princípio de santidade, que é imortal, eterno, e que jamais morrerá absolutamente; tal é a relação dele com a aliança da graça, fidelidade de Deus, e mediação de Cristo, com o que ele nunca deve cessar totalmente ou ser extinto.
É este princípio vivo de santidade que inclina o coração a todos os deveres da santa obediência até à sepultura. Sim ordinariamente, e onde seu trabalho real e tendência não for interrompido por maldição ou negligência ou amor ao mundo, prospera e cresce continuamente até o fim. Por isso, alguns não são apenas frutíferos, mas vigorosos e florescentes em sua velhice, e assim como o homem exterior decai, todavia o homem interior se renova diariamente em força e poder. Mas, como todos os outros princípios de obediência, quaisquer que sejam, como são em sua própria natureza sujeitos à decadência e a murchar, todas as suas atuações ficam insensíveis, mais fracas e menos eficazes, quando há aumento de sabedoria carnal, ou o amor do mundo, ou alguma poderosa tentação que uma vez ou outra coloca um fim absoluto neles; e eles não têm utilidade alguma.
Mas o princípio permanece vivo e pronto para atuar porque a nova natureza divina que está nos crentes, lhes dispõe e inclina de forma imparcial, uniforme, e permanentemente, a todos os atos e deveres de santa obediência.
Uma coisa que ainda deve ser esclarecida para que ninguém se engane sobre este assunto, é esta, que aqueles que são, portanto, constantemente inclinados e dispostos a todos os atos de uma vida espiritual celeste, existem ainda neles disposições e inclinações contrárias também.
Existe ainda neles inclinações e disposições para o pecado, provenientes das sobras de um princípio habitual contrário. Este é chamado pela Escritura de "carne", "luxúria", o pecado que habita em nós, o “corpo da morte”; sendo que ainda remanesce nos crentes aquela viciosa, corrompida, depravação de nossa natureza, que veio a nós pela perda da imagem de Deus, dispondo toda a alma a tudo o que é mau. Isto ainda permanece neles, inclinando-os para o mal, e tudo que é então, de acordo com a potência e eficácia que remanesce na velha natureza em vários graus. Diversas coisas são aqui observáveis; como:
(1) Isto que é singular nesta vida de Deus. Há na mesma mente, vontade e afeições, ou seja, de uma pessoa regenerada, hábitos contrários e inclinações, opondo-se continuamente um ao outro e atuando negativamente sobre os mesmos objetos e fins. E isto não procede de qualquer desarmonia ou desordem entre as faculdades distintas da própria alma, como nos homens naturais existem atos adversos entre as suas vontades e afeições, por um lado pelo pecado; e a luz das suas mentes e consciências, por outro lado, proibindo o cometimento do pecado, e condenando sua comissão, cuja desordem é discernível à luz da natureza, e é suficientemente debatida pelos antigos filósofos. Mas esses hábitos contrários, inclinações e atos, estão nas mesmas faculdades.
(2) Como isto não pode ser apreendido senão por virtude de uma convicção e reconhecimento anterior, tanto da total corrupção da nossa natureza pela Queda, quando da renovação inicial da mesma por Jesus Cristo, em que esses hábitos e disposições contrárias consistem, por isso não pode ser negado sem uma aberta rejeição do evangelho, e contradizendo a experiência de todos os que creem, ou conhecem alguma coisa sobre o que é viver para Deus. Nós nada mais intentamos senão aquilo que o apóstolo afirma tão claramente; Gál 5.17: “A carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne”, isto é , na mente, vontade e afeições dos crentes, e estes se opõem um ao outro; pois são princípios contrários atendidos por inclinações e atos contrários, de modo que os crentes não podem fazer o que querem.
(3) Não pode haver hábitos contrários, meramente naturais ou morais, do mesmo assunto, no que diz respeito ao mesmo objeto, ao mesmo tempo; pelo menos eles não podem sê-lo em qualquer grau elevado, de modo a inclinar e agir contrariamente um ao outro com urgência ou eficácia. Porque inclinações violentas para o pecado, e uma consciência feroz para condenar o pecado, pelas quais os pecadores são por vezes atingidos, não são hábitos contrários no mesmo objeto. Somente a consciência traz isso sem o concurso do juízo de Deus, contra o que a vontade e as afeições estão empenhadas.
O pecado e a graça não podem governar o mesmo coração, ao mesmo tempo. Também não podem ter a mesma alma em inclinações contrárias igualmente eficazes.
Mas, por natureza, o vicioso, depravado, hábito do pecado, ou a carne, é totalmente predominante e universalmente predominante, constantemente inclinando a alma ao pecado. Por isso “todos os desígnios dos corações dos homens são maus, e continuamente”, e “os que estão na carne não podem agradar a Deus”. Não habita nenhum bem neles, nem podem fazer qualquer coisa que é boa; ou seja a velha natureza e o pecado, pois sempre se inclinam para o que é mau.
Mas, com a introdução do novo princípio de graça e de santidade em nossa santificação, este hábito de pecado é enfraquecido, prejudicado, e assim incapacitado, de modo que não poderá inclinar para o pecado, com a constância e prevalência como fazia no passado, nem com a mesma urgência e violência. Por isso, se diz na Escritura que o pecado foi destronado pela graça, de modo que não reinará como um senhor sobre nós – Rom 6.12.
Mas esta carne, este princípio do pecado, contudo possa ser destronado, corrigido, prejudicado, e enfraquecido, ele nunca é total e absolutamente expulso da alma nesta vida. Lá ele permanecerá, e lá funcionará, seduzirá, e tentará, mais ou menos, de acordo como a sua força restante. Por causa disto, e da oposição que, portanto, se levanta contra ele, o princípio de graça e de santidade não pode, perfeita, nem absolutamente, inclinar o coração e alma para a vida de Deus, e os mesmos atos, de modo que aqueles, nos quais ele se encontra, deveriam ser sensíveis de não se oporem a esta vida de Deus, ou para não fazerem movimentos e inclinações para o pecado, que são contrários à mesma. Pois, a carne luta contra o Espírito, bem como o Espírito contra a carne, e estes são contrários. Esta é a analogia entre estas dois estados. No estado de natureza, o princípio do pecado, ou carne, é predominante e governa na alma, mas há uma luz permanecendo na mente, e um julgamento na consciência, que estão sendo aumentados com instruções e convicções que continuamente se opõem à natureza, e condenam o pecado tanto antes quanto após a sua comissão. Nos que são regenerados é o princípio de graça e de santidade que é predominante e governa; mas não há ainda neles um princípio de cobiça e de pecado, que se rebela contra o governo da graça, em muito maior proporção que a luz e as convicções se rebelam contra o governo do pecado nos que não são regenerados (não nascidos do Espírito Santo). Porque, assim como eles impedem os homens de cometerem muitos males, para os quais o princípio dominante do pecado fortemente lhes inclina, e os coloca em muitos deveres que não gostam; assim como estes, por outro lado, naqueles que são regenerados; comprometem-se em fazer muitas coisas boas para as quais o seu princípio dominante lhes inclina, e os leva a praticar muitos males que eles abominam.

Texto extraído do tratado de John Owen, intitulado A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.








23 - A Santificação Não é Opcional

Por D. M. LLoyd Jones

O perdoar-nos e o libertar-nos da condenação e do inferno nunca constituem um fim em si mesmos, e nunca devem ser considerados como tal. São apenas um meio para um fim ulterior. Não podemos deter-nos no perdão e na justificação.

Vamos examinar mais de perto o que o apóstolo ensina aqui sobre esta grande doutrina da santificação. O primeiro princípio é que nada é tão completamente antibíblico como separar justificação e santificação. Muitos o fazem. Dizem eles: "Você pode crer no Senhor Jesus Cristo como seu Salvador, e seus pecados serão perdoados, e você será justificado. E poderá parar aí". Dizem mais: "Naturalmente você não deve fazer isso, deve prosseguir e dar o segundo passo. Contudo existem muitos cristãos", dizem eles, "que param aí. Creem em Cristo para a salvação e são justificados e perdoados; certamente são cristãos, porém não se ocupam da santificação". E então eles o exortam a "aceitar" a santificação como anteriormente "aceitaram" a justificação. Tal ensino é uma completa negação daquilo que o apóstolo diz aqui, e é completamente anti-bíblico. A morte de Cristo não visa meramente a dar-nos perdão, e a justificar-nos, e a tomar-nos legalmente justos aos olhos de Deus. "A si mesmo se entregou por ela, para (a fim de)...". É somente uma primeira ação de uma série; não é uma ação final, em nenhum sentido, e jamais deveríamos parar ali.

O apóstolo não ensina esta verdade somente aos efésios; ele a ensina a todas as igrejas. Vocês a encontrarão na Epístola aos Romanos, capítulo oito, versículo 3 e 4. Também em Tito 2:14: "Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras". É por isso que Ele Se entregou por nós; não meramente para que pudéssemos ser perdoados, nem meramente para salvar-nos do inferno, mas para purificar e separar para Si este povo peculiar, zeloso de boas obras. O Senhor Jesus disse tudo isso em Sua oração sacerdotal (João 17:19): "E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade".

Parar na justificação não é somente errado quanto ao pensamento; é impossível por esta razão: que é uma obra realizada por Cristo; é Ele que faz isto em nós. Ele Se entregou pela Igreja. Por que? Para poder santificar e purificar a Igreja. Ele é que vai fazer isso. Todo o problema surge do fato de que alguns persistem em considerar a santificação como uma coisa que compete a nós realizar. Isso jamais é ensinado em parte alguma das Escrituras. O ensino das Escrituras é o seguinte: Cristo pôs Seu coração e Seu afeto na Igreja. Lá estava ela, sob condenação, em seu pecado, em seus trapos e em sua baixeza! Ele veio, houve a encarnação, Ele tomou sobre Si a "semelhança da carne do pecado" (Romanos 8:3). Ele tomou os pecados dela sobre Si, e os suportou em Seu próprio corpo no madeiro. Ele sofreu o castigo, Ele morreu, Ele fez a expiação e nos reconciliou com Deus. Assim a Igreja está livre da condenação. Mas isso não O satisfaz. Ele quer que ela seja gloriosa, Ele quer apresentá-la "a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante”“. Portanto, Ele começa imediatamente a prepará-la para esse destino. Não pode parar no primeiro passo; Ele vai adiante, para santificá-la. Noutras palavras, Sua morte na cruz por nós e por nossos pecados foi simplesmente o primeiro passo neste grande processo. E Ele não se detém no primeiro passo. Ele tem um propósito completo para a Igreja, e o vai cumprindo passo a passo.

Gostaria de expressar isto vigorosamente. Em última análise, eu e você não temos escolha nesta questão da santificação. É algo que Cristo realiza. Ele morreu por você, e depois, tendo morrido por você, Ele vai lavá-lo, santificá-lo, purificá-lo - e Ele mesmo fará isso. Que ninguém se engane sobre isto. Se Ele morreu por você, levará adiante o processo de santificação em você, e finalmente o tornará perfeito. Há algo de alarmante em torno disto; no entanto, é ensino bíblico essencial. Se eu e você não nos submetermos voluntariamente a este ensino, Ele tem outro meio de purificar-nos; e o usará - "Porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a qualquer que recebe por filho" (Hebreus 12:6). Ele não permitirá que você fique onde estava, em sua imundície e vileza, dizendo: "Está tudo bem comigo, Cristo morreu por mim, eu estou perdoado, sou cristão". Ele não aceitará isso! Ele o amou, você Lhe pertence; e Ele o tornará puro. Se você não vier voluntariamente, e do modo certo, Ele o colocará naquela academia de ginástica sobre a qual lemos em Hebreus.

Ele aparará as arestas, eliminará a imundície e a vileza; Ele lavará você. Isso pode acontecer por meio de uma enfermidade que Ele fará sobrevir a você. Estes pregadores da "cura divina" que dizem que Deus nunca envia doença, estão simplesmente negando as Escrituras. Como um dos Seus métodos, Ele castiga. As circunstâncias que o cercam podem ser más, você pode perder o emprego, ou uma pessoa que lhe é cara pode morrer. Cristão! Uma vez que você Lhe pertence, uma vez que Cristo morreu por você, Ele o tornará perfeito. Lute contra Ele quanto quiser em sua estultícia, Ele o lançará por terra, Ele o purificará, Ele o aperfeiçoará. Esse é o ensino; é uma coisa que Ele realiza. A santificação não é determinada por mim e por você - "E a si mesmo se entregou por ela, para (a fim de) a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra". O primeiro princípio que devemos entender é que a santificação é primária e essencialmente uma coisa que o Senhor Jesus Cristo faz para nós. Ele tem os Seus meios para fazê-lo. Naturalmente, a santificação inclui obediência da nossa parte. Mas você não precisa colocar aí a sua ênfase principal. A decisão pela santificação não é nossa; É dEle. Foi tomada na eternidade, antes da fundação do mundo. É Sua atividade, Sua operação; e, tendo morrido por você, Ele o fará. Resista a Ele, e o risco será seu. Ele levará cada um dos filhos, que foram chamados, para aquela glória final e sempiterna. Como Hebreus o expressa, se Ele não tratar você deste modo, significará que você é um "bastardo", e não um filho legítimo (Hebreus 12:5-11).

Esse é, pois, o grande princípio que constitui a base deste ensino apostólico. Como Cristo o leva a efeito? Veja-se a resposta na palavra "santificar"; "como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar". Esta palavra "santificar" é empregada de muitas maneiras na Bíblia, mas o seu sentido primário é, "ser separado" ou "separar"; "ser separado para Deus, para Sua posse peculiar e para Seu uso". Você verá em Êxodo 19, por exemplo, que o monte no qual Deus se encontrou com Moisés e lhe deu os Dez Mandamentos, foi "santificado" desse modo. É chamado "monte santo" porque foi separado. Não houve alteração na montanha, mas foi separada para os propósitos de Deus, para o uso de Deus, para ser possessão peculiar de Deus. Os vasos que eram usados no cerimonial do templo eram igualmente santificados ou separados. Não houve mudança material nos copos e nos pratos, todavia como deviam ser utilizados somente no templo e para o serviço de Deus, não podiam ser empregados no uso comum. Ser santificado significa ser separado para Deus e para o Seu uso e propósito especial, como Sua possessão peculiar. Portanto, somos um "povo para Sua possessão pessoal".









24 - A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes

A lei que Deus, por sua graça, escreve em nossos corações, responde à lei que está escrita na Palavra que nos foi dada; e, como a primeira é o único princípio, assim a última é a única regra, de nossa obediência evangélica. Para este fim tem Deus prometido que a sua Palavra e o seu Espírito devem sempre acompanhar um ao outro, sendo o Espírito para revivificar as nossas almas, e a Palavra para guiar as nossas vidas; Isaías 59.20. E a Palavra de Deus pode ser considerada como a nossa regra em uma relação tríplice:

(1) Como requerendo a imagem de Deus em nós. A retidão habitual de nossa natureza com relação a Deus, e nossa vida para ele, nos  é ordenado na Palavra, sim, e é operado em nós desse modo. Toda a renovação de nossas naturezas, todo o princípio de santidade anteriormente descrito, não é senão a Palavra transformada em graça em nossos corações; porque nós "nascemos de novo pela semente incorruptível da Palavra de Deus.” O Espírito nada opera em nós, senão o que a Palavra primeiro requer de nós. Isto é, portanto, a regra do princípio interior da vida espiritual, e o crescimento da mesma não é senão seu aumento em conformidade com essa Palavra.

(2) No que diz respeito a todos as situações reais, propósitos do coração, todos os atos internos de nossas mentes, todas as volições da vontade, todos os movimentos de nossas afeições, devem ser regulados por essa Palavra que nos obriga a amar o Senhor nosso Deus com todas as nossas mentes, todas as nossas almas, e todas as nossas forças.
Nisto está a sua regularidade ou irregularidade sendo provadas. Tudo da santidade que está neles consiste na sua conformidade com a vontade revelada de Deus.

(3) No que diz respeito a toda a nossas ações externas e deveres, privados, públicos, de piedade, de retidão, em relação a nós mesmos ou aos outros; Tito 2.12. Esta é a regra da nossa santidade. Tanto quanto o que somos, e o que fazemos, deve responder a isto.
Sejam quais forem os atos de devoção ou deveres de moralidade que possam ser realizados sem que isto seja observado, não pertence à nossa santificação.

Texto extraído do tratado de John  Owen, de mesmo título, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.









25 - A Finalidade da Santificação

É para o fim da renovação da imagem de Deus em nós que a santificação se faz necessária. E este fim é, para que possamos viver para Deus; sermos feitos à semelhança de Deus, para que possamos viver para Deus. Por causa da depravação de nossa natureza, ficamos alienados desta vida de Deus, esta vida espiritual divina; Ef 4.18. Nós não gostamos disto, senão que temos aversão a esta vida divina. Sim, estamos sob o poder da morte, isto é universalmente oposto à vida; "porque a inclinação da carne é morte;” Rom 8.6. Isto se refere à vida de Deus, e a todos os atos que pertencem a esta vida.
Essa mente carnal tem uma inimizade contra Deus; "não está sujeita à lei de Deus, e nem na verdade pode estar” Rom 8.7. Esta é a inclinação que se encontra diretamente contra as coisas espirituais, ou à mente e vontade de Deus, em todas as coisas que dizem respeito a uma vida de obediência para si mesmo. Agora, como esse princípio da santidade é aquele que é introduzido em nossas almas, em oposição e para a exclusão da mente carnal, assim esta disposição e inclinação é oposta à fraqueza da mente carnal, como tendendo sempre para ações espiritualmente boas, de acordo com a mente de Deus.
Isto é aquilo que é pretendido na promessa da aliança; Jeremias 32.39: "Eu lhes darei um só coração, para que me temam”, que é o mesmo que vemos em Ez 11.19: “com espírito novo”. Um coração novo, como se tem declarado, é a nova natureza, a nova criatura, o novo princípio sobrenatural espiritual de santidade. O primeiro efeito, o primeiro fruto disto é, o temor de Deus permanente, ou uma nova inclinação espiritual e inclinação da alma em toda a vontade e os mandamentos de Deus. E este novo espírito, este temor de Deus, ainda é expressado como a inseparável consequência do novo coração, ou a escrita da lei de Deus em nossos corações, o que é o mesmo. Por isso é chamado de “temer o Senhor e a sua bondade;” Os 3.5. Da mesma forma, isto é expressado pelo amor, que é a inclinação da alma para todos os atos de obediência a Deus e comunhão com ele, com prazer e satisfação. É um respeito a Deus e à sua vontade, com uma reverência devida à sua natureza, e um prazer nele adequado à relação da aliança que ele fez conosco.
Isto é expressado ainda de modo mais espiritual: "A inclinação do Espírito é vida e paz;” Rom 8.6; isto é, a tendência e inclinação da mente para as coisas espirituais, é o meio pelo qual vivemos para Deus, e desfrutamos de paz com ele. Isto é vida e paz. Por natureza, nós somente apreciamos as coisas da carne, e pensamos nas coisas terrenas; Fp 3.19. Nossas mentes ou corações são inclinados para elas,  dispostos para elas, prontos para todas as coisas que nos levam ao gozo delas, e satisfação nelas. Mas, nós nos inclinamos para as coisas que são de cima, ou inclinamos nossas afeições para elas; Col 3.3. Em virtude disto Davi professou que a sua alma estava apegada a Deus, Salmo 63.8. Ou inclinada fervorosamente a todos aqueles caminhos pelos quais ele poderia viver para ele, e que seriam o seu prazer.
Cada natureza tem a sua disposição aos desempenhos adequados a ela. O princípio da santidade é tal natureza, uma natureza nova ou divina; onde quer que esteja, sempre inclina a alma para os deveres e atos de santidade; que origina uma disposição constante para eles. Assim como pelo princípio contrário, o princípio do pecado e da carne é prejudicado e subjugado, por essa disposição graciosa, a inclinação para o pecado que está em nós, é enfraquecida, prejudicada, e gradualmente removida. 









26 - O Que é o Hábito da Santidade?

Hábitos que são adquiridos pela repetição de muitas ações têm uma eficácia natural para serem preservados por si mesmos, até que alguma oposição que lhes seja muito difícil para suportarem, prevalecem contra eles, o que é muitas vezes (embora não facilmente) feito. 
Mas a santidade é preservada em nós pelas atuações constantes e poderosa influência do Espírito Santo. É Ele quem opera isto em nós, e que também o preserva em nós. E a razão disto é, porque a fonte da santidade está em nossa cabeça, Cristo Jesus; sendo apenas uma emanação da virtude e do poder dele para nós, pelo Espírito Santo; se isto não é real, e sempre continuado, o que está em nós iria morrer e murchar de si mesmo. Veja Ef 4.16; Col 3.3; João 4.14. Isto está em nós como a seiva frutificante está no ramo da videira ou da oliveira. Isto está lá real e formalmente, e é a causa da frutificação do ramo. Mas não pode viver por si mesmo, senão por uma emanação contínua e comunicação da raiz. Deixe que seja interceptado e murchará rapidamente. Assim se dá com este princípio em nós, no que diz respeito à sua raiz, Cristo Jesus. 
Embora este princípio ou hábito de santidade seja do mesmo tipo ou natureza em todos os crentes, em todos os que são santificados, ainda há neles graus muito distintos do mesmo. Em alguns, é mais forte, vivo, vigoroso e florescente, em outros mais fraco, débil, e inativo, e isso em tão grande variedade, e em muitas ocasiões, que não pode ser aqui descrito. 
Embora o hábito de santidade não seja adquirido por qualquer ato de dever ou obediência, pois nos vem de fora e é divinamente preservado, aumentado, fortalecido e melhorado celestialmente, Deus tem designado que devemos viver no exercício dos mesmos, e através da multiplicação destes atos e deveres, ele é mantido vivo e operante, sem o quê será enfraquecido e decaído. 
A operação de Deus na nossa santificação é expressada em Deut 30.6: “O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, para amar o Senhor teu Deus com todo o teu coração, e de toda a tua alma, para que vivas."
A finalidade da santidade é para que possamos viver, e o principal trabalho de santidade é amar o Senhor nosso Deus com todo o nosso coração e alma. E isso é o efeito da circuncisão do nosso coração por Deus, sem a qual não existirá. Cada ato de amor e de temor, e, consequentemente, de todos os deveres de santidade quaisquer que sejam, é uma consequência da circuncisão dos nossos corações por Deus. 
Deus escreve sua lei em nossos corações; Jer 31.33. "Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei em seus corações." O hábito ou princípio que descrevi, nada mais é que uma transcrição da lei de Deus, implantada e permanente em nossos corações, que nos leva a concordar e a corresponde com toda a vontade de Deus expressada nela. 
Esta é a santidade quanto ao seu hábito e princípio. Isto é mais plenamente expresso em Ezequiel 36.26, 27. "Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.”
Todo o conjunto de tudo o que a obediência real, e todos aqueles deveres de santidade que Deus exige de nós, estão contidos nestas expressões: “andeis em meus estatutos, guardeis os meus juízos para praticá-los." Antecedentemente temos o princípio e causa: Deus dá um novo coração e um novo espírito. Este novo coração é um coração com a lei de Deus escrita nele, como antes mencionado; e este novo espírito é a inclinação habitual deste coração para a vida de Deus, ou para todos os deveres de obediência. E aqui a suma de tudo o que temos afirmado, é confirmada; ou seja, que antecedentemente a todos os deveres e atos de santidade quaisquer que sejam, e como a segunda causa deles, há, pelo Espírito Santo, um novo princípio espiritual ou hábito de graça, comunicado a nós, e habitando em nós, então a partir disto somos feitos e denominados santos. 

Texto extraído do tratado de John Owen, intitulado A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.









27 - O Hábito da Santidade

I. É forjado e preservado nas mentes e almas de todos os crentes, pelo Espírito de Deus, um princípio sobrenatural ou hábito de graça e de santidade, pelo qual eles são capacitados a conhecer e a viver para Deus, e realizar aquela obediência que é requerida e aceita por meio de Cristo, no pacto da graça, essencialmente ou especificamente distinta de todos os hábitos naturais, intelectuais e morais, mas que pode ser adquirida ou melhorada por estes meios. 

II. Há um trabalho imediato ou a operação eficaz do Espírito Santo, por sua graça, necessário a todo ato de santa obediência, seja ele interno apenas na fé e no amor, ou externo; isto é, a todos os atos santos de nossa compreensão, vontade e afetos, e a todos os deveres de obediência em nosso caminhar diante de Deus. 

A primeira destas afirmações que não é apenas uma verdade, mas é de tão grande peso e importância, que a nossa esperança de vida e salvação depende delas, e é a segunda o grande princípio que constitui a nossa profissão de fé cristã. E há quatro coisas que são para serem confirmadas a respeito disto. 

1. Que há um tal hábito ou princípio sobrenatural, infundido ou criado nos crentes pelo Espírito Santo, e sempre presente neles. 
2. Isso, de acordo com a natureza de todos os hábitos, inclina e dispõe a mente, vontade e afeições, para os atos de santidade adequados à sua própria natureza, e no que diz respeito ao seu fim apropriado, e que nos leva a encontrar a Deus e a viver para Ele. 
3. Isto faz não somente a inclinação e disposição de mente, mas lhe dá o poder, e lhe capacita a viver para Deus em toda santa obediência. 
4. Isto difere especificamente de todos os outros hábitos, intelectuais ou morais, que por qualquer meio, podemos adquirir; ou dons espirituais que possam ser conferidos a todas as pessoas. 

No manejo destas coisas, devo manifestar a diferença que há entre uma vida sobrenatural espiritual de santidade evangélica, e um curso de virtude moral, que alguns, para a rejeição da graça de nosso Senhor Jesus Cristo, não se esforçam para substituir. De tal vida espiritual, sobrenatural, celestial, assim denominada a partir de sua natureza, causas, atos, e fins, devemos ser participantes da mesma neste mundo, se nos importarmos em alcançar a vida eterna em outro. 

E aqui devemos considerar o que somos capazes para a natureza, a glória e a beleza da santidade, e confesso, que muito pouco disso posso compreender. É um assunto de fato, muitas vezes falado; mas a essência e a verdadeira natureza dela, estão muito escondidas dos olhos de todos os homens. O senso que é proposto na Escritura, é o que eu desejo experimentar e que me esforçarei para declarar. Mas, assim como não somos nesta vida perfeitos nos deveres de santidade, não mais somos no conhecimento de sua natureza. 

Em primeiro lugar, portanto, eu digo, que ela é um hábito sobrenatural gracioso, ou um princípio de vida espiritual. E com relação a isto podemos destacar brevemente estas três coisas: 1. Mostrar o que significa tal hábito. 2. Provar que existe um hábito requerido para a santificação, sim, que a natureza da santidade consiste nisto. 3. Declarar, em geral, as suas propriedades. 

Texto extraído do tratado de John Owen, intitulado A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.
O Hábito da Santidade

I. É forjado e preservado nas mentes e almas de todos os crentes, pelo Espírito de Deus, um princípio sobrenatural ou hábito de graça e de santidade, pelo qual eles são capacitados a conhecer e a viver para Deus, e realizar aquela obediência que é requerida e aceita por meio de Cristo, no pacto da graça, essencialmente ou especificamente distinta de todos os hábitos naturais, intelectuais e morais, mas que pode ser adquirida ou melhorada por estes meios. 

II. Há um trabalho imediato ou a operação eficaz do Espírito Santo, por sua graça, necessário a todo ato de santa obediência, seja ele interno apenas na fé e no amor, ou externo; isto é, a todos os atos santos de nossa compreensão, vontade e afetos, e a todos os deveres de obediência em nosso caminhar diante de Deus. 

A primeira destas afirmações que não é apenas uma verdade, mas é de tão grande peso e importância, que a nossa esperança de vida e salvação depende delas, e é a segunda o grande princípio que constitui a nossa profissão de fé cristã. E há quatro coisas que são para serem confirmadas a respeito disto. 

1. Que há um tal hábito ou princípio sobrenatural, infundido ou criado nos crentes pelo Espírito Santo, e sempre presente neles. 
2. Isso, de acordo com a natureza de todos os hábitos, inclina e dispõe a mente, vontade e afeições, para os atos de santidade adequados à sua própria natureza, e no que diz respeito ao seu fim apropriado, e que nos leva a encontrar a Deus e a viver para Ele. 
3. Isto faz não somente a inclinação e disposição de mente, mas lhe dá o poder, e lhe capacita a viver para Deus em toda santa obediência. 
4. Isto difere especificamente de todos os outros hábitos, intelectuais ou morais, que por qualquer meio, podemos adquirir; ou dons espirituais que possam ser conferidos a todas as pessoas. 

No manejo destas coisas, devo manifestar a diferença que há entre uma vida sobrenatural espiritual de santidade evangélica, e um curso de virtude moral, que alguns, para a rejeição da graça de nosso Senhor Jesus Cristo, não se esforçam para substituir. De tal vida espiritual, sobrenatural, celestial, assim denominada a partir de sua natureza, causas, atos, e fins, devemos ser participantes da mesma neste mundo, se nos importarmos em alcançar a vida eterna em outro. 

E aqui devemos considerar o que somos capazes para a natureza, a glória e a beleza da santidade, e confesso, que muito pouco disso posso compreender. É um assunto de fato, muitas vezes falado; mas a essência e a verdadeira natureza dela, estão muito escondidas dos olhos de todos os homens. O senso que é proposto na Escritura, é o que eu desejo experimentar e que me esforçarei para declarar. Mas, assim como não somos nesta vida perfeitos nos deveres de santidade, não mais somos no conhecimento de sua natureza. 

Em primeiro lugar, portanto, eu digo, que ela é um hábito sobrenatural gracioso, ou um princípio de vida espiritual. E com relação a isto podemos destacar brevemente estas três coisas: 1. Mostrar o que significa tal hábito. 2. Provar que existe um hábito requerido para a santificação, sim, que a natureza da santidade consiste nisto. 3. Declarar, em geral, as suas propriedades. 

Texto extraído do tratado de John Owen, intitulado A Obra Positiva do Espírito na Santificação dos Crentes, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.









28 - A Batalha da Santificação

Após ter discorrido consistentemente sobre a obra que Jesus realizou em nosso favor para sermos justificados somente pela graça e mediante a fé nEle, nos capítulos 3 a 5 de Romanos, o apóstolo vai nos revelar a partir do sexto capítulo, que, se por uma lado esta justificação nos trouxe paz, reconciliação com Deus, por outro, ela abriu uma verdadeira e contínua guerra contra o pecado que habita em nossa própria natureza terrena, que apesar de já não reinar como um senhor absoluto sobre a nossa vontade, pois quem reina agora é a graça por meio de Cristo Jesus, todavia, não resta qualquer alternativa para quem foi justificado senão a de ser imitador de Deus como seu filho amado.
Foi para este propósito de nos purificar do pecado que Jesus morreu no nosso lugar, carregando sobre Si mesmo os nossos pecados e culpa, no madeiro.
É aqui, pela negligência desta verdade, que podemos entender a atual apostasia da Igreja, justamente por fazer  concessões a tantas formas de pecado, pela incompreensão do fato de que por se estar debaixo da graça de Cristo, e não mais condenado pela Lei, não somos autorizados por Deus a continuar na prática do pecado.
O vencedor ao qual Jesus se refere nos capítulos 2 e 3 do livro de Apocalipse, é sobretudo aquele que venceu as suas paixões carnais por trazê-las constantemente crucificadas, por meio da vigilância e oração contínuas e perseverantes, num procedimento inteiramente santo, ou então que esteja aplicado na busca sincera deste objetivo.
Alguém indagará: “mas como viver uma vida de pureza num mundo tão poluído como este chamado mundo pós-moderno no qual temos vivido? Como viver uma vida de fé em verdades absolutas num mundo em que tudo é considerado como verdades ocasionais e relativas?”
Mas é justamente nisto que consiste a profecia bíblica de que este tempo do fim, seria de dias difíceis para se viver a vida cristã conforme ela convém ser vivida, porque são múltiplas e variadas as formas de tentação que guerreiam contra a alma do crente.
Contudo, ele não será aprovado por Deus se não lutar e prevalecer contra toda forma de pecado, quer em pensamentos, atos ou palavras, porque Deus não muda, e a Sua vontade e Palavra também são imutáveis.
As ordenanças bíblicas para que se tenha um coração puro, uma vida casta, um pensamento que se fixe somente em “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.” (Fp 4.8)
Há uma grande armadilha para nos conduzir ao pecado sobretudo nos meios virtuais da Internet, da TV, e em filmes, propagandas comerciais, enfim, em tudo o que nos entra pelos olhos e pelos ouvidos.
Para nossa reflexão podemos considerar e avaliar devidamente o testemunho dos Prs David Wilkerson e John Piper, que declararam publicamente que  sequer tinham TV, aparelhos de DVD e coisas do gênero, e o motivo de terem deliberado não assistir mais TV prendeu-se ao fato de terem percebido a armadilha que há na interrupção das programações, concernente a propagandas comerciais que são incentivos à carnalidade e ao consumismo.
E sobre nós soa constantemente a advertência do Senhor quanto ao uso que fazemos dos nossos sentidos que nos colocam em contato com o mundo em que vivemos.

“Mat 6:22 São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso;
Mat 6:23 se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!”

Especialmente os que são jovens, devem ter uma particular atenção e cuidado em relação a isto, fugindo sempre das paixões que são mais inerentes à mocidade.
Veja que no uso da Internet há uma possibilidade de uso seletivo das atividades que podem ser ali realizadas, mas no que se refere à TV comercial, o telespectador é um mero agente passivo das coisas que desfilarão diante dos seus olhos e ouvidos, e muitas vezes, não terá a oportunidade de escapar do laço que lhe será lançado através de uma chamada de propaganda que seja um incentivo a se contaminar com aquilo que é impuro, e que pode imprimir em sua mente padrões de pensamentos impuros, que o tornam mais vulnerável à tentação para pecar.
Há situações de escravidão tão extremas,  que seria melhor nem ligar a TV, porque há uma contaminação generalizada em quase toda a sua programação, que nos leva a ficar irritados e revoltados com coisas pelas quais deveríamos estar intercedendo, como por exemplo a instigação que é feita pelos repórteres e âncoras de programas que denunciam o crime e a corrupção, e que colocam toda a culpa nos políticos e na polícia; quando bem sabemos que o mal reside no coração de toda pessoa por causa da nossa natureza pecaminosa, e os próprios meios midiáticos cooperam para este aumento da iniquidade, e assim a sociedade atual está completamente desviada dos caminhos de Deus, e então tudo o que acontece é mera consequência desta causa maior do abandono de Deus e dos Seus preceitos.
Então, não é nada fácil ter uma vida consagrada a Deus nestes dias, pois somos chamados a ser sal e luz neste mundo de trevas, sem que nos deixemos contaminar por ele.
Assim, como no dizer do apóstolo, quem quiser ser vaso de honra e idôneo para uso do Senhor, terá que se purificar de todos estes erros que nos afastam da comunhão com Deus (II Tim 2.20-22).
Não basta ter a intenção de vencer o pecado para que se possa servir a Deus de modo frutífero e aprovado, porque é possível estar bem intencionado e continuar sendo vencido pelas paixões que guerreiam contra a alma.
É recorrendo a Jesus e nos esforçando para atuar no Seu Reino que é de justiça, amor, paz, e santidade, que achamos graça e auxílio para vencermos nossas inclinações carnais, pois Ele as mortificará pelo Espírito Santo, que em nós habita, e colocará em nossos lábios uma canção de louvor ao nosso Deus, gratidão e paz nos nossos corações, e disposições santas para servi-Lo.
 Ninguém se iluda portanto, que seja possível ser eficazmente usado por Deus, e viver de modo que lhe seja inteiramente agradável, quando se vive ainda na prática do pecado.
E ninguém pense também que achará graça e auxílio para vencer o pecado aguardando que venha um poder inesperado do céu, sem que o busquemos, que nos vacine contra todo tipo de tentação e de inclinação carnal, pois não é assim que funciona a ação da graça de Jesus. Nós devemos caminhar na direção das coisas de Deus nos esforçando em rejeitar e evitar aquelas coisas e comportamentos que são abomináveis para Ele, e então Ele nos dará a graça e a força necessárias para vencê-las. É assim que a nossa fidelidade a Ele é provada.
E se porventura nos encontramos ainda endurecidos e com os nossos olhos vendados, de maneira a não sabermos o que é lícito ou não, o que nos convém ou não, devemos orar para que o Senhor nos revele estes pecados que ainda estão ocultos aos nossos olhos espirituais, e Ele certamente nos levará não somente a enxergá-los como também a ter verdadeiro horror desses pecados, dos quais fugiremos como quem foge de uma serpente venenosa.

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